MACHADO, Igor José de Renó. Estado-nação, identidade-para-o-mercado e representações de...

download MACHADO, Igor José de Renó. Estado-nação, identidade-para-o-mercado e representações de nação.

of 28

Transcript of MACHADO, Igor José de Renó. Estado-nação, identidade-para-o-mercado e representações de...

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    1/28

    Estado-nao, identidade-para-o-mercado

    e representaes de nao1

    Igor Jos de Ren Machado2

    Professor do Departamento de Cincias Sociais UFSCar

    RESUMO: Este artigo se prope a explorar o conceito de identidade-para-o-mercado, criado a partir das idias de Jameson, contidas em seu livro Ps-modernismo: a lgica cultural no capitalismo tardio, e explorado por meio dereflexes que remetem s questes, da minha pesquisa de doutorado, sobrea imigrao brasileira no Porto. Apoiado nessa perspectiva, pode-se verificaro papel central do Estado-nao na produo e articulao de identidades-para-o-mercado e de imagens identitrias de fcil consumo num mercadoglobal.

    PALAVRAS-CHAVE: identidade, ps-modernismo, imigraes internacio-nais, Estado-nao.

    Introduo

    A inteno deste artigo , primeiramente, relacionar as idias de Jameson

    (1996) sobre o pastiche ou simulacro da historicidade, caractersticas,para ele, de uma forma ps-moderna de cultura do capitalismo tardio,ao que chamarei de pastiche (ou simulacro) da identidade na mesmacultura ps-moderna, a identidade-para-o-mercado. Estabelecerei umarelao entre suas idias sobre a falta de profundidade atual da percepoda histria com processos que considero semelhantes na constituio

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    2/28

    - 208 -

    IGOR J. DE REN MACHADO . ESTADO-NAO, IDENTIDADE-PARA-O-MERCADO...

    das identidades (nacionais, tnicas) no mundo de hoje. Como exemplo

    de anlise, recorrerei situao dos imigrantes brasileiros em Portugal eao processo de construo de identidades-para-o-mercado. Veremos queas representaes de nao, tanto de Portugal como do Brasil, so fun-damentais no desenvolvimento desse processo.

    Tambm compararei a identidade-para-o-mercado com o que Said(1990) chamou de orientalismo, como exemplo do fenmeno do simu-lacro no mundo ps-moderno. Como primeira concluso, refletiremosrapidamente sobre o papel do Estado-nao na sua conexo e responsa-bilidade no desenvolvimento das identidades-para-o-mercado.

    1. Jameson e o pastiche da historicidade

    Para analisar os processos de essencializao de identidade, elaboro oconceito de identidade-para-o-mercado com base nas idias de Jameson,

    para quem a forma cultural do capitalismo tardio a ps-modernidade.Segundo esse autor, o ps-modernismo seria marcado pelo pastiche dahistoricidade e deve ser visto como a dominante cultural da lgica docapitalismo tardio (1996, p. 72). Nesse sentido, ele afirma que a faltade profundidade, a superficialidade, um achatamento da percepo dahistria e uma cultura da imagem e do simulacro so constitutivos dops-moderno. Proponho que o capitalismo tardio seja tambm marca-do pelo pastiche da identidade, que replicaria todas essas caractersti-

    cas do capitalismo tardio.A fragmentao da ps-modernidade marcada por um mundo

    transformado em mera imagem de si prprio (idem, p. 45). Nesse con-texto, o passado transformado em uma grande coleo de imagens,um simulacro fotogrfico. Esse repertrio pode ser relacionado ao queHuyssen (1991) tambm imaginou como acervo ps-moderno, em-

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    3/28

    REVISTADE ANTROPOLOGIA, SO PAULO, USP, 2004, V. 47 N 1.

    - 209 -

    bora buscasse nisso um lado positivo no encontrado em Jameson, para

    quem o simulacro esmaece a percepo da historicidade. Essa lgicado simulacro, com sua transformao de novas realidades em imagensde televiso, faz muito mais do que meramente replicar a lgica do ca-pitalismo tardio: ela a refora e a intensifica (Jameson, 1996, p. 72).

    Assim, vivemos uma forma cultural de vcio da imagem que, ao trans-formar o passado em uma miragem visual, em esteretipos, ou textos,abole, efetivamente, qualquer sentido prtico do futuro e de um proje-to coletivo (idem, p. 72-3).

    Esse o raciocnio bsico, o qual chamarei de falta de historicidade,para relacion-lo a uma semelhante falta de historicidade da identida-de na ps-modernidade, ou seja, no capitalismo tardio3. Proponho umaligao entre a falta de historicidade, como definida por Jameson, e aproduo de culturas objetivadas4 no capitalismo tardio. O pasticheda histria, ou seja, a prpria falta de capacidade de representar a hist-ria, caracterstico do capitalismo tardio, pode ser relacionado ao

    pastiche da identidade em sistemas capitalistas, que se torna cada vezmais solidificada, essencializada e objetivada, sem histria prpria, re-duzida a imagens de fcil consumo para a indstria cultural. A essepastiche de identidade dou o nome de identidade-para-o-mercado.

    Essas identidades so formadas e construdas em processos semelhan-tes queles do simulacro da percepo da historicidade, por meio da qualpedaos desconectados e imagens recortadas de um passado nostlgicoso montados como material espiritual para essas mesmas identidades

    (pedaos que so, da mesma forma, imagens vazias do passado, despro-vidas de profundidade histrica). Verificamos esses processos, por exem-plo, na justificao da Guerra do Golfo, apoiados na imagem e no este-retipo do rabe terrorista recentemente inflados pelo ataque s TorresGmeas de 11 de setembro de 2001 ou at na produo de desenhosanimados como Aladim, onde a essncia da diferena, efetivamente,

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    4/28

    - 210 -

    IGOR J. DE REN MACHADO . ESTADO-NAO, IDENTIDADE-PARA-O-MERCADO...

    vende. A atualidade da anlise de Said (1990), por exemplo, reflete-se

    na adequao dessa criao do Oriente a novos ambientes ps-moder-nos, que se utilizam das imagens e essncias elaboradas, como modelos,para moldar sentimentos dos mais variados, produzindo imagens e idiasda identidade sem profundidade.

    Para melhor demonstrar a eficincia e efetividade da identidade-para-o-mercado, pode-se lembrar que na Copa do Mundo de futebol de1998, na Frana, o Brasil pde ser reduzido a um cartaz que traduziriatoda sua cultura5. Em geral, competies como essas so estimulantesde imagens de identidade com grande impacto e circulao, e com aconseqente solidificao de diferenas e a essencializao de caracte-rsticas eternizadas e petrificadas em imagens de apelo comercial. Impe-ra a linguagem visual, que nos permite esquecer toda a histria que fez efaz que algumas imagens sejam (no que representem) as prprias iden-tidades que deveriam simbolizar. Nesse sentido, isto , no da solidifi-cao de imagens da identidade, podemos entender a identidade-para-

    o-mercado e a crise da historicidade, ambas, como parte do mesmoprocesso, chamado por Jameson de dominante da lgica cultural docapitalismo tardio.

    A especificidade da identidade-para-o-mercado que ocorre no mer-cado, para o mercado e atravs do mercado. A identificao do sujeitocom os modos de vida coletivos (as vises de mundo) mediada pelomercado. Isso pode incluir processos de mercantilizao de identidade como os descritos por Handler (1984), Herzfeld (1997) e Machado

    (2003) ou no. O mais comum a ocorrncia da identidade mercan-tilizada, ou seja, de indivduos que se definem pelo acesso ao consumode determinados bens. Outra forma transformar uma identidade emsustento econmico. Vender e sustentar-se no mercado de trabalho pe-las imagens de identidade uma forma de identidade-para-o-mercado,que no exclui outras. O fato que os brasileiros mercantilizam a iden-

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    5/28

    REVISTADE ANTROPOLOGIA, SO PAULO, USP, 2004, V. 47 N 1.

    - 211 -

    tidade, mas o processo de identificao d-se no por causa da venda, e

    sim por mecanismos internos de valorizao de novas formas de classifi-cao (a definio das categorias que constroem o mundo), que tm re-lao ntima com a venda so impulsionadas por ela , mas vo almdelas.

    As novas categorias de definio do que o brasileiro na cidade doPorto so caractersticas de uma identidade-para-o-mercado: essencia-lizadas, desconectadas, sem noo de historicidade, reduzidas a imagensvazias. Isso s pode acontecer numa configurao social o capitalismotardio. A identidade-para-o-mercado um conceito que descreve umaforma de identificao hegemnica no capitalismo atual no sentidogramsciano da construo de um consenso til aos dominantes6. Tam-bm uma forma privilegiada de identidade nos atuais embates no espa-o social, seguindo o conceito de Bourdieu (1989), ou seja, so as for-mas predominantes de construo da realidade determinadas pelainfluncia de quem tem capital social, cultural e simblico7. A mercan-

    tilizao da identidade um processo emprico que acontece em dife-rentes contextos histricos e sociais, no um conceito. A especificidadedo processo que descrevo entre os brasileiros que eles mercantilizamuma identidade-para-o-mercado, um processo que s pode acontecerno capitalismo tardio.

    A identidade-para-o-mercado, mais do que uma forma cultural docapitalismo tardio, um mecanismo importante para a construo deidentidades sob a gide do capital financeiro. Para alm disso, uma das

    variveis do campo social que permitem a perpetuao do sistema capi-talista. Atravs da identidade-para-o-mercado, o capital perpetua umconsenso fundamental, pois o motor de identificao de indivduos passanecessariamente pelo mercado. Demonstro esses argumentos com oexemplo retirado de minha pesquisa de campo no Porto, Portugal, entreimigrantes brasileiros, na qual vemos em ao a essencializao, petri-

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    6/28

    - 212 -

    IGOR J. DE REN MACHADO . ESTADO-NAO, IDENTIDADE-PARA-O-MERCADO...

    ficao e mercantilizao cultural, que nomeio identidade-para-o-mer-

    cado. Procurarei demonstrar por meio de uma rpida narrativa comoessas imagens de identidade so constituintes dos sentimentos e das iden-tificaes de pessoas no capitalismo tardio.

    2. Um caso de identidade-para-o-mercado

    As reflexes apresentadas neste artigo so baseadas no trabalho de campo,realizado entre maro e outubro de 2000, para a feitura da tese de dou-torado (Machado, 2003), alm de em duas outras estadias mais rpidas,a primeira em janeiro e fevereiro de 1998 e a segunda em fevereiro de2002. Meu recorte espacial circunscreveu uma grande rea, uma vez queos brasileiros no se agrupam em lugares especficos da cidade. O centroda pesquisa foi a cidade do Porto, onde se concentra grande parte dasatividades econmicas dos brasileiros, mas os imigrantes moram nas ci-

    dades volta, que poderamos chamar de grande Porto. So elas: Mato-sinhos, Lea da Palmeira, Vila Nova de Gaia, Maia, Gondomar, Valongo.O fato de estarem espalhados por lugares dispersos e, muitas vezes,

    longe uns dos outros facilita, ou potencializa, o papel de bares e restau-rantes brasileiros como os pontos de encontro privilegiados, os lugaresonde brasileiros travam conhecimento uns com os outros e estreitamsuas redes de relaes. Os bares e restaurantes, onde uma parte conside-rvel da pesquisa foi realizada, so, de certa forma, os ns de redes sociais

    que se espalham no uniformemente pela grande Porto e tambm porcidades do interior do norte de Portugal. Conectam, num mesmo am-biente, vrias redes de trabalhadores de diversos lugares, formandoum mapa do mundo do trabalho de imigrantes brasileiros no Porto8.

    O alvo da pesquisa foi majoritariamente os imigrantes pobres, bus-cando um contraste em relao imagem vigente na poca que pressu-

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    7/28

    REVISTADE ANTROPOLOGIA, SO PAULO, USP, 2004, V. 47 N 1.

    - 213 -

    punha uma imigrao brasileira altamente qualificada e bem remunera-

    da9

    . Essa imagem era derivada dos nmeros oficiais da imigrao emPortugal. Mas essas afirmaes eram baseadas em dados que apresenta-vam limitaes e ofereciam um quadro que poderia ser distorcido10. Aimigrao brasileira no Porto no predominantemente de classe m-dia, como ainda se imagina em reportagens de televiso no Brasil e mes-mo em algumas mdias portuguesas. Ao contrrio, a maioria das pessoas pobre e com baixa formao escolar.

    O universo mais significativo da vida cotidiana dos imigrantes odo trabalho. Este ou a busca de um emprego, de certa forma, confereum nexo central s aes e relaes dos imigrantes. As relaes de ami-zade em geral se formam nos locais de trabalho; a descoberta dos baresnoturnos para os imigrantes tambm apresentada aos recm-chegadospelos companheiros de trabalho mais antigos; a busca de emprego se fazatravs das relaes de amigos ou conhecidos de conhecidos que traba-lham em algum lugar onde possvel arranjar servio; as brincadeiras

    nos churrascos e nas confraternizaes se referem aos acontecimentosdos locais de trabalho etc.Por outro lado, a relao com a sociedade portuguesa tambm passa

    pelo local de trabalho: os primeiros patres portugueses, as primeirasexperincias de explorao, a percepo da fragilidade da situao deilegalidade, o contato com fregueses portugueses (no caso dos que tra-balham como atendentes). O trabalho, motivo primeiro da imigrao,como atestam vrias entrevistas que realizei entre os imigrantes, uma

    preocupao onipresente para a grande maioria dos brasileiros com osquais entrei em contato. O universo do trabalho medeia tanto a relaodos imigrantes com a comunidade brasileira, j instalada no Porto,como com a sociedade portuguesa. por esse motivo que o cotidianodos imigrantes tem relaes intrnsecas com o universo do trabalho,razo pela qual importante tentar entender como a experincia do

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    8/28

    - 214 -

    IGOR J. DE REN MACHADO . ESTADO-NAO, IDENTIDADE-PARA-O-MERCADO...

    trabalho se articula construo de uma identidade brasileira especfica

    aos brasileiros imigrantes.Os trabalhadores brasileiros dirigem-se principalmente para o mer-

    cado de atendimento ao pblico. A hotelaria ainda era, em 2000, a me-lhor fonte de empregos, principalmente por uma suposta vantagemestrutural dos brasileiros: eles tm fama de festivos, simpticos e, almdisso, falam portugus. Essa fama garante espao no mercado e deter-minadas caractersticas so esperadas deles. As principais so a alegria,simpatia e cordialidade. Acreditando que os brasileiros so portadoresatvicos de uma srie de caractersticas, os empregadores portuguesesprocuram por estes imigrantes para determinados trabalhos. por issoque o atendimento em geral era a grande fonte de emprego para bra-sileiros na cidade do Porto. Muitos trabalhavam como garons, vendedo-res de lojas, representantes de vendas, msicos. De certa forma, esse emi-grante em Portugal um entretainer. O papel do entretainerdelegado aobrasileiro no , contudo, isento de conotaes ideolgicas: o processo

    que se desenrola o de uma subordinao sistemtica do brasileiro aosesteretipos que rotulam todos eles como pessoas alegres e simpticas.Os brasileiros passam pelo que chamo de processo de exotizao. Esse

    processo um fenmeno social de efetivao dos esteretipos tem re-lao ntima com a sua produo mas vai alm da mera constatao dasua existncia. Para alm de ser submetida ao orientalismo (Said,1990), a prxis da populao brasileira estereotipada se relaciona com asimagens constitudas do imaginrio hegemnico portugus de uma for-

    ma ativa. Ou seja, os imigrantes brasileiros no apenas esto sujeitos construo das imagens estereotipadas por determinados agentes depoder, mas tambm so sujeitos ativos da exotizao. Assim, adaptar-semais eficientemente aos esteretipos portugueses pode conferir maiorpoder a determinadas pessoas. Quero indicar que a forma como os bra-sileiros na cidade do Porto organizam sua vida coletiva permite enten-

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    9/28

    REVISTADE ANTROPOLOGIA, SO PAULO, USP, 2004, V. 47 N 1.

    - 215 -

    der como eles progressivamente vo se tornando exticos, no sentido

    determinado por um universo simblico portugus abarrotado de ima-gens sobre os brasileiros.

    O mercado de trabalho fundamental na anlise da construo daorganizao social dos brasileiros no Porto, como tambm na constru-o de identidades essencializadas referentes a imagens estereotipadassobre o Brasil11. A determinao de um lugar no mercado de trabalhopara os brasileiros tem implicaes tanto na organizao da vida comona construo de identidades. Encaixar-se no esteretipo portugus so-bre o brasileiro facilita a vida do imigrante, que consegue seu empregomais rapidamente. Por outro lado, a imagem que o imigrante desenvol-ve como a do autntico brasileiro passa a ser a imagem exotizada. Nummovimento coletivo de exotizao, as percepes sobre a identidade bra-sileira comearam a se aproximar dos esteretipos portugueses. Os este-retipos ganharam vida, e os brasileiros viraram a imagem que delesesperavam os portugueses. Tendo em vista que relaes de poder entre

    os imigrantes passam, entre outras coisas, pelo controle de uma largarede de possveis empregadores portugueses, os lderes acabam sendoalguns entre os que podem ser acionados em casos de busca de empre-go. Esses lderes so brasileiros que, tendo se encaixado nas imagens cor-rentes sobre o Brasil, conseguiram inserir-se solidamente no mercadode trabalho12. Tornaram-se intermediadores, cuja situao proporcionaacmulo de poder entre os demais imigrantes brasileiros.

    Um processo fundamental para entender o cotidiano dos brasileiros

    o jogo de centralidades. Chamo de jogo da centralidade a luta, entrebrasileiros, para estabelecer diferenciaes entre si. O estar no mundode imigrantes brasileiros marcado por uma aproximao a um cen-tro. No caso dos brasileiros no Porto a luta para se parecer com umaimagem de identidade brasileira baseada na idia estereotipada que vigeem Portugal e permite a existncia de um lugar especfico no mercado

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    10/28

    - 216 -

    IGOR J. DE REN MACHADO . ESTADO-NAO, IDENTIDADE-PARA-O-MERCADO...

    de trabalho. A questo , ento, quem mais ou menos brasileiro. O

    jogo da centralidade uma constante avaliao, por cada imigrante, dasua prpria centralidade em relao aos demais imigrantes. um atocomplexo de classificao que recorre a diferentes variveis. Os brasilei-ros se aproximam ao centro da brasilidade por rotas diferentes. A dife-renciao um instrumento de poder que serve para distanciar os ou-tros do centro das representaes. A elaborao de fronteiras, simblicasou no, por parte de imigrantes, no um exerccio de incluir-se numgrupo, mas de excluir outros. Ou seja, os limites na aproximao a essaimagem central so impostos aos outros, na esperana de ser mais cen-tral por afast-los. Chamo de centralidade essa idia que descreve umprocesso.

    Os termos brasilidade, abrasileirar so usados no sentido espec-fico do jogo da centralidade: ou seja, abrasileira-se aquele que conse-gue alguma legitimidade no sentido das determinaes do centro exem-plar, que aqui relaciono com uma identidade-para-o-mercado. O

    centro exemplar a coleo de imagens estereotipadas sobre o Brasil(samba, futebol, sexualidade e mestiagem) que regem a conduta daspessoas envolvidas nesse processo. O fato que, quando um brasileirose demonstra mais prximo da identidade-para-o-mercado, ele se tornamais central. bom frisar que a idia de falsidade, que ronda a repro-duo das imagens essencializadas, uma idia nativa e faz parte doprprio jogo da centralidade. Embora seja o jogo da centralidade queorganiza uma filosofia nativa em Portugal por meio do modelo ideal

    essencializado da brasilidade , a prpria possibilidade de falsidade im-plcita nesta filosofia um dos conceitos nativos que fundamenta o jul-gamento da centralidade. por esse motivo que me sinto vontade emlidar com a produo da identidade entre os brasileiros com o termopara-o-mercado, pois uma forma de relao com a suposta essnciaque est inscrita nos modos de vida destas pessoas.

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    11/28

    REVISTADE ANTROPOLOGIA, SO PAULO, USP, 2004, V. 47 N 1.

    - 217 -

    Vale lembrar que o jogo da centralidade envolve a dinmica organi-

    zao do cotidiano e das disputas polticas entre os brasileiros no Porto.O prestgio e as posies de poder so centralizados por aqueles que aomenos aparentam ter a vida considerada, perante os demais brasileiros,como prxima ao modelo ideal. Esse modelo corresponde a uma iden-tidade-para-o-mercado, uma identidade pautada pela solidificao deimagens estereotipadas sobre a essncia do brasileiro. Em suas aes, osbrasileiros sempre procuram uma forma de construir para si mesmosalguma centralidade que seja reconhecida pelos demais.

    O mecanismo bsico de abrasileiramento a forma de ocupao nomercado de trabalho. Ou seja, participar do mercado da alegria confe-re centralidade aos brasileiros. Isso acontece, entre outras coisas, porqueo trabalho nesse mercado depende da representao portuguesa sobre oBrasil e de um reconhecimento de brasilidade por parte do empregador.Ou seja, conferida uma brasilidade compulsria aos participantes des-se mercado simplesmente porque os portugueses acreditam que os bra-

    sileiros so naturalmente preparados para estas atividades. O reconheci-mento de brasilidade, por parte do mercado de trabalho portugus, mais um elemento centralizador no jogo da centralidade.

    O funcionamento do jogo da centralidade estruturanteda vida so-cial desses trabalhadores e disputado de vrias maneiras: pela valori-zao de origens regionais ou de algumas atividades como o futebol, amsica, a capoeira etc., pela negociao do acesso s redes familiares por-tuguesas e s oportunidades de emprego. Um dos mecanismos do jogo

    a articulao de uma memria mtica que legitima os principais inter-medirios brasileiros. O jogo da centralidade o centro nevrlgico doscircuitos de reciprocidade entre os imigrantes, funcionando como umcdigo moral que d sustentabilidade ao sistema e, ao mesmo tempo,como instrumento poltico das lutas entre os imigrantes.

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    12/28

    - 218 -

    IGOR J. DE REN MACHADO . ESTADO-NAO, IDENTIDADE-PARA-O-MERCADO...

    preciso fazer a ressalva que havia (e h) uma fonte dupla de produ-

    o dos esteretipos que viraram realidade na experincia dos imigran-tes brasileiros pobres do Porto: o prprio Estado brasileiro, preocupadoem vender a imagem do tropical extico e da nao mestia para finsde turismo e solidificao da identidade nacional , e a sociedade por-tuguesa que tem, desde o perodo colonial, constantemente reelaboradoimagens sobre o Brasil. Em meu trabalho13 deixei de lado a produo deesteretipos sobre os brasileiros fabricada pelo prprio Estado nacionale pela sociedade civil brasileira, dedicando especial ateno segundadas fontes, a sociedade portuguesa, a fim de analisar as especificidadesdos processos de exotizao em Portugal. Acredito que, embora possamser vislumbrados em outros contextos nacionais, tais processos aconte-cem sempre de forma diferenciada, segundo as sociedades de recepodos imigrantes.

    O que esse processo demonstra como o momento atual marcadopor movimentos de essencializao da identidade, quando os smbolos

    e as representaes desconexos de um discurso nacional ou das repre-sentaes da ex-metrpole tornam-se o norte e o nexo da vida de pes-soas em variados contextos. Um dos mecanismos de reforo da iden-tidade-para-o-mercado justamente o espao hierarquizado do mercadode trabalho, no caso da migrao. O exemplo dos brasileiros no Portoindica como determinadas pressuposies simblicas impem compor-tamentos a sujeitos como resultado de processos complexos de exotiza-o, nos quais os sujeitos so ao mesmo tempo vtimas e agentes de uma

    subordinao ativa.Em Portugal, o exotismo imposto e passa a ser a verdade e a ser

    compartilhado inclusive pelos brasileiros. Esse discurso de poder e cria-o de imagens pode ser visto em plena ao na forma como os imi-grantes brasileiros, portugueses retornados e luso-brasileiros, assumemcertas vises exticas a respeito do Brasil, por um lado e, por outro, na

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    13/28

    REVISTADE ANTROPOLOGIA, SO PAULO, USP, 2004, V. 47 N 1.

    - 219 -

    forma como a imprensa portuguesa trata o Brasil e seus imigrantes, como

    um pedao da extica ex-colnia em conflito com cidados europeus(superiores, portanto), disputando postos no mercado de trabalho e con-tribuindo para uma invaso brasileira (negativa) em Portugal.

    Pode-se identificar, grosso modo, uma forma hegemnica de repre-sentao e construo da identidade brasileira entre os imigrantes bra-sileiros em Portugal. Pode-se dizer que objetivam a cultura brasileira(Handler, 1984). Essa representao produzida principalmente entreaqueles com profisses relacionadas noite e aos produtos culturais, oua bens simblicos, que so vendidos aos consumidores portugueses

    juntamente com uma idia corrente sobre quem so os brasileiros e so-bre o Brasil, uma apropriao do discurso hegemnico do exotismo.Esses so cantores(as), msicos, professores(as) de ginstica e de capoei-ra, donos(as) de bares brasileiros, garons etc. H ainda as profissionaisdo sexo, que vendem tambm esteretipos e so numerosas no Porto.

    O discurso dos vendedores da cultura extica prevalece entre os

    imigrantes, alm de tudo por encontrar reflexo na viso/imagemhegemnica estereotipada sobre o Brasil. Apesar das diferenas entre osbrasileiros imigrantes em Portugal, no que tange s suas origens, pode-mos ver um processo de construo de uma nova forma cultural, basea-da na identidade-para-o-mercado. Essa passa a ser o denominador co-mum entre os brasileiros e o centro das construes identitrias no Porto.Vemos que, como afirma Sahlins (1990, p. 9), a cultura colocada emrisco na ao e, neste caso, submetida a transformaes14. Assim, vemos

    que as imagens-sntese da identidade brasileira (como a do cartaz-essn-cia) so ponto de partida para a prpria insero no mundo desses imi-grantes brasileiros, que representam sua vida cotidiana de acordo comelas. Tornam essas imagens sem profundidade na forma de sobreviver,como um capital cultural que automaticamente conferido se se ade-quar s imagens hegemnicas. Assim que muitos brasileiros acabam se

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    14/28

    - 220 -

    IGOR J. DE REN MACHADO . ESTADO-NAO, IDENTIDADE-PARA-O-MERCADO...

    tornando brasileiros autnticos apenas quando chegam ao Porto. A

    identidade-para-o-mercado criarealidades e comportamentos, elagerapessoas que se identificam com suas imagens esvaziadas e estereotipadas.

    3. O Estado-nao e as imagens de identidade

    Chegamos agora a um ponto onde fica evidente a necessidade de consi-derarmos o papel do Estado-nao na produo, na reproduo e noapagamento dessas identidades-para-o-mercado, j que no discurso ofi-cial que muitas dessas imagens so reforadas, esquecidas ou inventadas.

    J anunciando uma concluso parcial, vemos que se o papel do Estado-nao se altera no contexto ps-moderno, ele no deixa de ser relevante,se no por outros motivos, apenas por ser o centro de disputas e lutaspolticas em torno do qual se constroem, ainda hoje, imagens de identi-dade, ou seja, os prprios discursos nacionais. Fonte, assim, entre outras

    conseqncias, de material simblico para insero na indstria cultural.Para ilustrar este argumento, acompanharei, novamente, a relaoentre Brasil e Portugal, onde podemos ver como os Estados se empe-nham na construo de imagens de identidade e como se do algumasdisputas nesse terreno. Vejo esse imaginrio hegemnico como produ-zido num encontro colonial e depois ps-colonial no sentido dadopor Dirlik (1997). Embora apoiado na anlise de Said, baseio-me noque Herzfeld chamou de practical orientalism15. Tambm levo em con-

    siderao o que Fox (1992, p. 145-52) chamou de affirmative orienta-lism, referindo-se possibilidade de o orientalismo servir de base a con-testaes polticas dos prprios orientais, como no caso de Ghandi.

    essa percepo de um orientalismo prtico, para alm da pers-pectiva mais textual de Said (um professor de literatura comparada), quepermite que entendamos a produo de imagens de identidade, de iden-

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    15/28

    REVISTADE ANTROPOLOGIA, SO PAULO, USP, 2004, V. 47 N 1.

    - 221 -

    tidades-para-o-mercado, como fruto de disputas polticas em andamen-

    to, nas quais o Estado-nao tem grande importncia. Entretanto, opapel do Estado-nao tem sido alvo de dvidas, e alguns autores fre-qentemente afirmam que sua importncia tem sido diminuda pormeio do avano das culturas globais. Appadurai, por exemplo, afirmaque we are in process of moving to a global order in which the nation-statehas become obsolete and other formation for allegiance and identity havetaken its place (1994, p. 421). Ianni (1996, p. 17) tambm afirma areduo da soberania do Estado-nao. Outros autores pretendem en-tender os fluxos de significados e objetos materiais num esforo de des-crio de uma cultura transnacional, o que diminuiria a autonomiado Estado-nao (Appadurai & Breckenridge, 1988; Hannerz, 1997).

    As teorias do sistema mundial, por sua vez, preocupam-se com a for-mulao de idias sobre a dimenso cultural da globalizao. Hannerz(1994) fala em culturas globais, Appadurai (1994) atenta para a frag-mentao e disjuno de processos culturais, Featherstone (1994) anali-

    sa processos culturais, enquanto Friedman (1994) trata de culturas glo-bais especficas (como as de consumo). Na verdade, so vrias teorias dosistema mundial, cada qual com nfases diferentes em diversos aspectos,mas todas acentuam a diminuio da importncia do Estado-nao. Noentanto, considero que a importncia do Estado-nao na definio oumesmo no debate e na referncia a essas culturas desterritorializadas con-tinua efetiva. Tambm no cabe aqui discutir, apenas indicar, que talvezas velhas identidades nacionais continuem com seu papel hegemnico

    na arregimentao dos sentimentos de identidade.Temos visto que o Estado-nao portugus fundamental na produ-

    o de identidade-para-o-mercado de brasileiros imigrantes. Foi o Esta-do que perpetuou imagens sobre o Brasil por meio de ideologias oficiais,como o luso-tropicalismo portugus, analisado por Castelo (1998)16.Essas imagens coloniais foram reelaboradas no novo contexto social

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    16/28

    - 222 -

    IGOR J. DE REN MACHADO . ESTADO-NAO, IDENTIDADE-PARA-O-MERCADO...

    portugus ps-Unio Europia. Mas tambm outra srie de ideologias

    do Estado balizam a produo de identidades no Portugal atual, e elasse referem ao que podemos chamar de lusofonia.

    No caso especfico do Brasil e de Portugal, ao tratarmos da relaoentre continuidades e descontinuidades entre ex-colnia e ex-metrpo-le, entre discursos de Estado e inveno de similaridades (Feldman-Bianco, 2001a), da produo de discursos hegemnicos, que modelama conscincia de brasileiros, adentramos num campo discursivo que al-guns autores (Feldman-Bianco, 1996; Almeida, 1998; Leal, 1998; San-tos, 1996; Santos 1994) tm tratado como lusofonia (a construo des-ses discursos trocados entre pases de lngua portuguesa). Essa discussolevanta questes relacionadas ao papel do Estado-nao no mundo atual.

    O ingresso de Portugal na Comunidade Europia trouxe conseqn-cias no que se refere entrada de imigrantes em Portugal. Como afirmaFeldman-Bianco:

    Portugal began to be perceived by citizens of its former overseas extensions asan open gate to Europe. Hence, in addiction to receiving growing numbers of

    returning migrants, the post-colonial state was faced with an increasing influx

    of immigrants originally from the (now) independents nations of Portuguese

    Africa as well as Brazil. (1996, p. 31)

    Em contradio com o discurso da irmandade, Portugal tem estabe-lecido leis cada vez mais duras de restrio entrada de imigrantes. Es-

    sas medidas esto em sintonia com as determinaes europias, muitomais do que com a imaginao de centro portuguesa.

    Por outro lado, acentuando a importncia dos discursos oficias doEstado e de sua relao com diferentes populaes, Feldman-Bianco(1996, 2001a e 2001b) e Santos (1996) demonstram como a situaodos migrantes brasileiros em Portugal ambgua. Lideranas migrantes,

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    17/28

    REVISTADE ANTROPOLOGIA, SO PAULO, USP, 2004, V. 47 N 1.

    - 223 -

    formadas por brasileiros, luso-brasileiros e portugueses retornados, ex-

    ploram os discursos oficiais do Estado portugus e da CPLP (Comuni-dade dos Pases de Lngua Portuguesa), que reafirmam a irmandade en-tre os pases de lngua portuguesa. A prpria Comunidade dos Pases deLngua Portuguesa permite aos migrantes reivindicar direitos com basena irmandade entre ex-colonizador e ex-colnias. Afinal, se a ptria alngua, todos os migrantes (somando o caso dos africanos) tm o direi-to cidadania da lngua.

    Como demonstra Santos (1996), o discurso da mestiagem e o usoda lngua so referncias na construo das diferenas entre brasileiros eportugueses. Os brasileiros, imaginados nas pginas da imprensa imi-grante, so aqueles que tm ginga e falam de uma forma diferente.Temos o reforo dos esteretipos/imagens do discurso hegemnico. Asestratgias de construo de diferenas passam pelos usos da lngua, asdiferenas a partir das semelhanas (Hall, 1996). Tambm aspermann-ciasso fundamentais na construo da diferena, por meio da impor-

    tncia do discurso da mestiagem (que paradoxalmente vem sendo apro-priado por discursos oficiais portugueses, os quais reconstroem oimaginrio de um pas entre a Europa e o Atlntico). Estamos lidan-do, dessa forma, com a criao ou reproduo de ideologias nacionalis-tas (Fox, 1990) que procuram reinventar a centralidade portuguesa emalgum nvel. Ou seja, podemos ver, por meio desse exemplo, o papeldos Estados-nao em centralizar o embate em torno das construes(imagticas) hegemnicas, em cristalizar as imagens que so o material

    de construo de identidades-para-o-mercado.Essa conjuntura bastante carregada de discursos oficiais contradit-

    rios, discursos nacionalistas(idem) controversos, alimentada por con-tradies entre ideologias luso-brasileiras (bases dos discursos de irman-dade, por meio da idia de fronteiras ambguas), por um lado, e pelacrescente subordinao de Portugal s prerrogativas da Comunidade

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    18/28

    - 224 -

    IGOR J. DE REN MACHADO . ESTADO-NAO, IDENTIDADE-PARA-O-MERCADO...

    Europia, por outro. Essas ideologias luso-brasileiras foram construdas

    a partir da obra de Gilberto Freyre e de seu reflexo em alguns autoresportugueses, como demonstra Almeida (1998), e estiveram ligadas aogoverno salazarista e ao colonialismo tardio de Portugal. O discurso luso-tropical (e a criao de idias sem profundidade sobre a miscigenaoracial) serviu como legitimao da dominao portuguesa nas colniasafricanas e influenciou tambm as relaes com o Brasil. Visto comofilhos do gnio portugus, as colnias e ex-colnias foram narradas apartir dessa ideologia gilbertiana, conferindo-lhes uma posio inferiore tutelada (Castelo, 1998).

    Tanto como produtor principal de imagens sobre os brasileiros, nocaso do Estado imperial portugus (que durou at 1974), quanto comoprodutor de um campo discursivo no qual as diferenas podem serorganizadas, como o caso do Estado ps-imperial portugus17, pormeio da lusofonia, vemos que o Estado-nao continua um elementorelevante na arregimentao de sentimentos e na construo de identi-

    dades. No caso dos brasileiros atualmente, a resposta s imagens este-reotipadas sobre o Brasil18 em Portugal passa pela construo de umaidentidade-para-o-mercado, marcada pela relao estrutural com o mer-cado (tanto o mercado de trabalho na cidade do Porto como o mercadode consumo cultural dos portugueses nesta cidade, repletos de ima-gens sobre o Brasil extico19).

    Comentrios finais

    Vimos, assim, como o Estado-nao, no caso o portugus, central nadefinio e construo das identidades-para-o-mercado e que, ao redorde suas imposies, se estabelecem lutas polticas de acesso e/ou contes-tao a essas imagens (como no caso dos imigrantes). Tambm o dilogo

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    19/28

    REVISTADE ANTROPOLOGIA, SO PAULO, USP, 2004, V. 47 N 1.

    - 225 -

    com outras fontes de discursos hegemnicos, patrocinados por outros

    Estados, como o mito brasileiro da miscigenao racial, importantepara entendermos o desenvolvimento de identidades-para-o-mercado,como ilustra o caso do luso-tropicalismo.

    Minha anlise considera que o Estado-nao importante para a re-produo do capitalismo tardio, j que um grande centro de produ-o de imagens, um agente de fragmentao da realidade em identida-des mediadas pelo mercado. por meio dele que o capital internacionalescapa da regulamentao pois circula livremente e por meio deleque se desenvolve uma indstria cultural que tem como centro a co-mercializao de imagens essencializadas das identidades espalhadas pelomundo. Podemos assim identificar o engano de Jameson ao considerarque a fragmentao da ps-modernidade resulta numa incapacidade he-gemnica das classes dominantes:

    Se, antes, as idias de uma classe dominante (ou hegemnica) formavam a

    ideologia da sociedade burguesa, os pases capitalistas avanados so, emnossos dias, o reino da heterogeneidade estilstica e discursiva sem norma.

    Senhores incgnitos continuam a reajustar as estratgias econmicas que

    limitam nossas vidas, mas no precisam (ou no conseguem) mais impor

    sua fala. (Jameson, 1996, p. 44)

    Pois justamente o contrrio, ou seja, a prpria fragmentao, nocaso, a fragmentao imposta por identidades-para-o-mercado, que per-

    mite a hegemonia, quando se controla mesmo a circulao das imagensque vo designar essa ou aquela identidade. A luta fica restrita produ-o de imagens sem profundidade histrica que, uma vez consolidadas,so inseridas no jogo da indstria cultural, perdendo a capacidade decontestao que em algum momento tiveram. Portanto, quanto maisincgnitos e menos visveis esses senhores mencionados por Jameson,

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    20/28

    - 226 -

    IGOR J. DE REN MACHADO . ESTADO-NAO, IDENTIDADE-PARA-O-MERCADO...

    mais hegemnica se torna a reproduo mercantil das identidades rasas

    espalhadas pelo mundo e menosdevem impor sua fala.Este artigo se props a explorar o conceito de identidade-para-o-mer-

    cado, alm de desenvolver algumas reflexes que remetem s questesde minha pesquisa de doutorado sobre a imigrao brasileira no Porto.Para tanto, refleti sobre a especificidade da construo da diferena nocapitalismo tardio por meio do conceito de identidade-para-o-mercado.Pensando a identidade-para-o-mercado como uma forma de produode diferenas exclusivas do capitalismo tardio, devemos entend-la apartir de um parmetro cultural capitalista. Sahlins, em Cultura e razo

    prtica, j demonstrava como o capitalismo um sistema simblico que,como outro qualquer, arbitrrio. A economia capitalista aparece comoum sistema cultural e a prpria forma de existncia social da fora ma-terial determinada por sua integrao no sistema cultural (Sahlins,1986, p. 227). Alm do mais, os sistemas simblicos articulam centrosde produo simblica privilegiada, que infletem toda a cultura com

    base em determinados pressupostos. Na cultura ocidental, a economia o locusprincipal de produo simblica (idem) e a produo de mer-cadorias um modo privilegiado de produo e transmisso simblica.

    No estgio mais recente do movimento do sistema simblico do ca-pitalismo (capitalismo tardio), no qual a economia e a produo de va-lor continuam os locide produo simblica privilegiados, a prpriacultura est a servio da valorizao, o que podemos ver por meio daconstruo de identidades-para-o-mercado e de sua relao estrutural

    com os mercados. Obviamente que poderamos pensar na anlise feitapor Sahlins como j antecipando a idia da produo de mercadoriascomo reprodutora de subjetividades, na medida em que elas estabele-cem as distines sociais no capitalismo:

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    21/28

    REVISTADE ANTROPOLOGIA, SO PAULO, USP, 2004, V. 47 N 1.

    - 227 -

    Assim procede a economia, como locus institucional dominante: produz

    no somente objetos para sujeitos apropriados, como sujeitos para objetosapropriados. (Sahlins, 1986, p. 237)

    Demonstrei de que modo se solidificam, na identidade-para-o-mer-cado, esteretipos criados complexamente no cruzamento de tradiesnacionais de representao (no caso, a brasileira e a portuguesa), e comoeles so os motores de uma nova subjetividade que se cria ou, em ter-mos antropolgicos, de uma nova cultura que surge na experincia imi-grante. Uma cultura-para-o-mercado, uma cultura que colabora com avalorizao do capital, um resultado das novas formas de estruturaoda produo de valor no capitalismo. E, para que tal processo funcione,imagino que o Estado-nao um instrumento fundamental.

    Notas

    1 Gostaria de agradecer as valiosas e produtivas sugestes do parecerista annimo daRevista de Antropologia.

    2 Doutor em Cincias Sociais, pelo IFCH/Unicamp; pesquisador do Cemi/Unicamp.E-mail: igorr@ unicamp.br ou [email protected].

    3 Entendo o capitalismo tardio como a configurao atual do sistema capitalista, mar-cado pela terceira revoluo industrial, ou seja, a da microeletrnica (Kurz, 1998),pela produo flexvel (Harvey, 1994) e pela hegemonia do capital financeiro.

    4 Entendo por culturas objetivadas a produo de artefatos culturais (como filmescinematogrficos) que tm referncias em tradies culturais, mas que so produ-tos feitos para um mercado consumidor vido pelo diferente. Mas essas produ-es objetivadas tm uma eficcia real, pois produzem efeitos, identificaes e atidentidades. A idia de orientalismo prtico de Herzfeld (1997) permite enten-der essa faceta das culturas objetivadas.

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    22/28

    - 228 -

    IGOR J. DE REN MACHADO . ESTADO-NAO, IDENTIDADE-PARA-O-MERCADO...

    5 Sobre a relao entre futebol e nao, ver Machado (2000).

    6 O conceito de hegemonia de Gramsci pressupe a sociedade civil: Podem-se fixardois grandes planos superestruturais: o que pode ser chamado de sociedade civil(isto , o conjunto de organismos designados vulgarmente como privados) e o dasociedade poltica ou Estado, planos que correspondem, respectivamente, fun-o de hegemonia que o grupo dominante exerce em toda a sociedade e quela dedomnio direto ou de comando, que se expressa no Estado e no governo jurdico.(...) Os intelectuais so os prepostos do grupo dominante para o exerccio dasfunes subalternas da hegemonia social e do governo poltico, isto : 1) do con-senso espontneo dado pelas grandes massas da populao orientao impressa

    pelo grupo fundamental dominante vida social, consenso que nasce historica-mente do prestgio (...) obtido pelo grupo dominante por causa de sua posio ede sua funo no mundo da produo (...) (Gramsci, 2000a, p. 21). A hegemo-nia um processo que envolve um consenso ativo e voluntrio (Gramsci, 2000a,p. 436), liderado pelos intelectuais do grupo dominante, responsvel por fazer dosprincpios morais da classe dominante os de toda a sociedade. Esse processo exigeuma mistura de convencimento e fora:O exerccio normal da hegemonia, no terreno clssico do regime parlamentar,caracteriza-se pela combinao da fora e do consenso, que se equilibram de modo

    variado, sem que a fora suplante em muito o consenso (Gramsci, 2000b, p. 95).E esse processo tanto nacional como internacional: Toda relao de hegemonia necessariamente uma relao pedaggica, que se verifica no apenas no interiorde uma nao, entre diversas foras que a compem, mas em todo campo interna-cional e mundial, entre conjuntos de civilizaes nacionais e continentais(Gramsci, 2000a, p. 399).

    7 Para Bourdieu, pode-se representar o mundo social em forma de um espao (avrias dimenses) construdo na base de princpios de diferenciao ou de distri-buio constitudos pelo conjunto das propriedades que actuam no universo socialconsiderado e os agentes so assim definidos pelas suas posies relativasnesteespao (Bourdieu, 1989, p. 133-4). Isto resulta em que o espao social e as dife-renas que nele se desenham espontaneamente tendem a funcionar simbolicamen-te como espaos dos estilos de vida(...), isto , de grupos caracterizados por estilos devida diferentes (idem, p. 144). Portanto, os princpios de construo de identida-des so fruto de uma lgica poltica do campo social, resultado da capacidade maior

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    23/28

    REVISTADE ANTROPOLOGIA, SO PAULO, USP, 2004, V. 47 N 1.

    - 229 -

    ou menor dos grupos de se definirem e de quais os mecanismos que podem utilizar

    para o fazerem. A construo da realidade, do mundo social mediada pelas cate-gorias construdas no espao social: Mediante um trabalho de construo destanatureza que se no faz de uma s vez mas por uma srie de aproximaes constroem-se, pouco a pouco, espaos sociais os quais embora s se ofeream emforma de relaes objectivas muito abstractas e se no possa toc-los apontando adedo so o que constitui toda a realidade do mundo social (Bourdieu, 1989,p. 30). O princpio de predominncia das formas hegemnicas de construodas possibilidades de identidade segue a lgica poltica, pois, aos que esto numasituao desvantajosa, resta apenas aceitar a regra do jogo e tentar, atravs dele,

    aumentar o prprio capital social: O princpio do movimento perptuo que agitao campo (...) reside (...) na prpria luta, sendo produzida pelas estruturas consti-tutivas do campo, reproduz as estruturas e as hierarquias deste. Ele reside nas acese nas reaces dos agentes que, a menos que se excluam do jogo e caiam no nada,no tm outra escolha a no ser lutar para manterem ou melhorarem a sua posiono campo, quer dizer, para conservarem ou aumentarem o capital especfico que sno campo se gera (idem, p. 85).

    7 O Porto continua a ser o segundo maior concentrador de brasileiros em Portugal.Mas, com cerca de 11% dos imigrantes, essa cidade viu menos brasileiros serem

    legalizados em 2001 do que Faro, por exemplo. Ao contrrio da regio de Lisboa, oPorto concentra pouca imigrao em portugus, e apenas os nmeros de gui-neenses so de alguma relevncia, ainda assim menor que os de chineses (Macha-do, 2003, p. 303). O maior contingente de ilegais no Porto era (embora no tenha-mos conhecimento sobre a situao atual) de ucranianos, com 5.510 legalizaesem 2001, seguidos de 1.933 legalizaes de brasileiros (idem, p. 308).

    9 Ver Machado (1997) e Baganha & Gis (1998/1999).10 Sobre os dados a respeito da imigrao em Portugal, Baganha e Gis afirmam que

    sabemos extremamente pouco sobre os imigrantes em Portugal, porque a nicafonte disponvel com consistncia interna apresenta srias limitaes, dado que onmero de caractersticas dos imigrantes, tratadas e divulgadas pelo MAI-SEF, muito restrito e a sua divulgao sistemtica com alguma profundidade s se ini-cia em 1990 (1998/1999, p. 262). Portanto, continuam os autores: O que sa-bemos refere-se sobretudo ao fluxo legal, pelo que conveniente salvaguardar ahiptese de as caractersticas conhecidas serem uma pobre e, muito provavelmente,

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    24/28

    - 230 -

    IGOR J. DE REN MACHADO . ESTADO-NAO, IDENTIDADE-PARA-O-MERCADO...

    errnea representao do fluxo imigratrio global. Quer os estudos da componente

    ilegal do fluxo imigratrio portugus noutros perodos histricos, quer a informa-o disponvel sobre as partidas ilegais para a Europa depois da II Guerra Mun-dial, mostram que o fluxo clandestino substancialmente diferente do fluxo ile-gal (Baganha & Gis 1998/1999, p. 250).

    11 Uma discusso sobre a origem e o desenvolvimento dessas representaes, por parteda sociedade portuguesa, realizada em Machado (2003).

    12 Na tese de doutorado (Machado, 2003) demonstro que no apenas o controledo mercado de trabalho que proporciona mais prestgio e poder, mas que esta uma das dimenses mais relevantes.

    13 Refiro-me tese de doutorado defendida em 2003 (Machado, 2003).14 Ao contrrio do que afirma Sahlins em outro artigo (1997), mais do que conti-

    nuidade, a cultura submetida a transformaes nos processos migratrios.15 Para Herzfeld, orientalism is more relative and negotiable than appears to be the

    case in Saids textualist, and descontextualizing, perspective; and it is this property

    that has led me to generate a more agent-oriented view of it(1997, p. 96).16 Obviamente, esse consenso em torno das imagens sobre o Brasil convive com in-

    meras reaes e vises contrrias na sociedade portuguesa, que no so, entretan-to, hegemnicas. A preponderncia de determinadas imagens sobre o Brasil no

    se restringe ao Estado, claro, mas se espalha pela sociedade civil. Mas inegvelque foi o Estado o agente da produo dessa representao hegemnica, como ahistoriografia de Castelo (1998) o demonstra.

    17 A idia do Estado como organizador de um campo discursivo no qual as lideran-as imigrantes podem exigir direitos, desde que inseridos neste campo, foi-mesugerida verbalmente por Joo de Pina Cabral, durante a realizao do trabalhode campo.

    18 Margarido (2000) sugere que h uma continuidade entre as imagens do pensa-mento imperial e a lusofonia, que no passaria de uma reatualizao daquelas an-tigas hierarquias coloniais.

    19 Chamo de consumo cultural do extico o espao de entretenimento para o p-blico portugus, baseado em representaes estereotipadas do Brasil na cidade doPorto, como restaurantes, boates, casas de prostituio, aulas de capoeira, aulas dedanas sensuais brasileiras (como so anunciadas).

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    25/28

    REVISTADE ANTROPOLOGIA, SO PAULO, USP, 2004, V. 47 N 1.

    - 231 -

    Bibliografia

    ALMEIDA, M. V. de.1998 Por um ps-lusotropicalismo: razes e ramificaes de discursos lusotropicalistas

    ou de como certos erros passam de uns manuais para os outros, paper apre-sentado na XXI ABA, Vitria, Universidade Federal do Esprito Santo.

    APPADURAI, A.1994 Disjuno e diferena na economia cultural global, in FEATHERSTONE,

    M. (org.), Cultura global: nacionalismo, globalizao e modernidade, Petrpolis,Vozes.

    APPADURAI, A. & BRECKENRIDGE, C.1988 Why public culture, Public Culture, vol. 1(1): 5-9.

    BAGANHA, M. I. & GOIS, P.1998/1999 Migraes internacionais de e para Portugal: o que sabemos e para onde va-

    mos?, Revista Crtica de Cincias Sociais, n. 52/53.

    BOURDIEU, P.

    1989 O poder simblico, Lisboa, Difel.

    CASTELO, C.1998 O modo portugus de estar no mundo. O luso-tropicalismo e a ideologia colonial

    portuguesa (1933-1961), Porto, Afrontamento.

    DIRLIK, A.1997 A aura ps-colonial na era do capitalismo global, Novos Estudos CEBRAP, n.

    49.

    FEATHERSTONE, M.1994 Introduo, in _______. (org.), Cultura global: nacionalismo, globalizao e

    modernidade, Petrpolis, Vozes.

    FELDMAN-BIANCO, B.1996 Imigrantes portugueses, imigrantes brasileiros. Globalizao, antigos imagin-

    rios e (re)construes de identidade (uma comparao triangular), in Projeto

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    26/28

    - 232 -

    IGOR J. DE REN MACHADO . ESTADO-NAO, IDENTIDADE-PARA-O-MERCADO...

    integrado: identidades: reconfiguraes de cultura e poltica. Estudos de migraes

    transnacionais de populao, signos e capitais, Enviado ao Pronex, Campinas,Unicamp.

    2001a Colonialism as a continuing project: the Portuguese Experience, Identities,vol. 8(4): 607-50.

    2001b Brazilians in Portugal, Portuguese in Brazil: constructions of sameness anddifference, Identities, vol. 8(4): 607-50.

    FOX, R.1990 Introduction, in _______. (ed.), Nationalist Ideologies and the Production of

    National Cultures, American Ethnological Society Monograf Series, n. 2.

    1992 East of Said, in SPRINKER, M. Edward Said, a critical reader, Cambridge,Blackwell.

    FRIEDMAN, J.1994 Ser no mundo: globalizao e localizao, in FEATHERSTONE, M. (org.),

    Cultura global: nacionalismo, globalizao e modernidade, Petrpolis,Vozes.

    GRAMSCI, A.2000a Cadernos do crcere, vol. 2, Os intelectuais, o princpio educativo. Jornalismo, Rio

    de Janeiro, Civilizao Brasileira.2000b Cadernos do crcere, vol. 3,Maquiavel. Notas sobre o Estado e a potica, Rio de

    Janeiro, Civilizao Brasileira.

    HALL, S.1996 Identidade cultural na dispora, Revista do Patrimnio Histrico e Artstico

    Nacional, n. 24.

    HANDLER, R.1984 On sociocultural discontinuity: nationalism and cultural objetification in

    Quebec, Current Anthropology,vol. 25(1).

    HANNERZ, U.1994 Cosmopolitas e locais na cultura global, in FEATHERSTONE, M. (org.),

    Cultura global: nacionalismo, globalizao e modernidade, Petrpolis,Vozes.1997 Fluxos, fronteiras, hbridos: palavras-chave da antropologia transnacional,

    Mana, vol. 3(1): 7-39.

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    27/28

    REVISTADE ANTROPOLOGIA, SO PAULO, USP, 2004, V. 47 N 1.

    - 233 -

    HARVEY, D.1994 A condio ps-moderna, So Paulo, Loyola.

    HERZFELD, M.1997 Cultural intimacy: social poetics in the Nation-State, Londres/Nova York,

    Routledge.

    HUYSSEN, A.1991 Mapeando o ps-moderno, in Ps-modernismo e poltica, Rio de Janeiro,

    Rocco.

    IANNI, O.1996 Teorias da globalizao, Rio de Janeiro, Civilizao Brasileira.

    JAMESON, F.1996 Ps-modernismo: a lgica cultural do capitalismo tardio, So Paulo, tica.

    KURZ, R.1998 Cultura degradada, Folha de S.Paulo, So Paulo, 15 mar., Mais!.

    LEAL, J.1998 The making of saudade. National identity and ethnic psycology in Portugal,

    paper apresentado na 6 SIEF Conference, Amsterd.

    MACHADO, F. L.1997 Contornos e especificidades da imigrao em Portugal, Sociologia problemas

    e prticas, n. 24.

    MACHADO, I. J. de R.

    2000 Futebol, cls e nao, Dados, vol. 43(1).2002 A lusofonia na mdia portuguesa, o caso da comemorao dos 500 anos brasi-

    leiros, Convergncia Lusada, vol. 19.2003 Crcere pblico: processos de exotizao entre imigrantes brasileiros no Porto, Por-

    tugal, Campinas, tese, Unicamp, 327 pp.

  • 7/30/2019 MACHADO, Igor Jos de Ren. Estado-nao, identidade-para-o-mercado e representaes de nao.

    28/28

    IGOR J. DE REN MACHADO . ESTADO-NAO, IDENTIDADE-PARA-O-MERCADO...

    MARGARIDO, A.2000 A lusofonia e os lusfonos. Novos mitos portugueses, Lisboa, Edies Universitrias

    Lusfonas.

    SAHLINS, M.1986 Cultura e razo prtica, Rio de Janeiro, Jorge Zahar.1990 Ilhas de histria, Rio de Janeiro, Jorge Zahar.1997 O pessimismo sentimental e a experincia etnogrfica: por que a cultura no

    um objeto em via de extino (parte I), Mana, vol. 3(1).

    SAID, E.

    1990 Orientalismo, So Paulo, Companhia das Letras.

    SANTOS, B. de S.1994 Pela mo de Alice, o social e o poltico na ps-modernidade, Porto, Afrontamento.

    SANTOS, G.1996 Sabi em Portugal: a imaginao da nao na dispora, Campinas, monografia,

    Unicamp, 95 pp.

    SOUSA SANTOS, M. I.1993 A poesia e o sistema mundial, in SANTOS, B. S. (org.), Portugal: um retrato

    singular,Porto, Afrontamento.

    ABSTRACT: This article aims to discuss the concept of market-identity,constructed from Jamesons bookPost-modernism, or the cultural logic of latecapitalism. The main idea is that the Nation-State stills the main player asproducer of easy consumed market-identities in a global market.

    KEY WORDS: Identities, Post-modernism, international migrations, Na-tion-State.

    Aprovado em junho de 2004.