MAFALDA VEIGA FEZ-SE À ESTRADA E CONQUISTOU OS...

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Mafalda Veiga fez-se à estrada e pisou, novamente, o chão de Guimarães no passado dia 26 de Março. Desta vez, movida pela iniciativa n@escolas do Diário de Notícias, a cantora e compositora dirigiu-se à Sociedade Martins Sarmento, onde colaborou com os alunos da Escola Secundária Francisco de Holanda numa entrevista que se imortalizou na memória daqueles que assistiram. ão, Abril nem sempre é sinónimo de águas mil. Estava calor, muito calor. O sol brindava Guimarães com um dia radiante, luminoso e prometedor. Até o clima se uniu ao evento para nos proporcionar um dia inesquecível e especial. Porque, afinal de contas, íamos ser jornalistas por um dia e entrevistar uma das mais conceituadas compositoras portuguesas: Mafalda Veiga! Era o Dia DN! Depois de ultrapassada a primeira fase do concurso n@escolas, estávamos ansiosos pela chegada da cantora. Havíamos preparado tudo com entusiasmo e, naquele instante, sentia-se a expectativa no ar perante o momento em que a nossa convidada entraria pela porta do Salão Nobre da Sociedade Martins Sarmento (local onde foi realizada a entrevista por motivo de obras na escola). Por volta das três horas, ela, com jeito de “menina e moça”, apesar dos seus 44 anos, pisou finalmente o chão da imponente sala com um sorriso e logo se ouviu um aplauso acolhedor vindo da assistência. «O compasso marcava o ritmo. Era dia de Natal e os sinos exultavam o nascimento do Menino. Algures em Lisboa, uma mãe dava à luz uma criança embalada pelo espírito natalício. Decorria, então, o ano de 1965.» Era este o início da nota biográfica que elaborámos. Depois da sua leitura, pudemos, ainda, visualizar um vídeo no qual Mafalda interpretava a canção “Abraça-me bem” do seu mais recente álbum, “Chão”. Iniciada a entrevista, os alunos arregaçaram as mangas e, de cartões em punho, questionaram a cantora sobre vários assuntos, desde a sua carreira profissional à sua vida pessoal. Nunca imaginei que pudesse ter outra profissão que não estivesse ligada à expressão artística., referiu Mafalda, que quando era mais nova ponderara ser pintora. No entanto, enveredou pela área musical, ao perceber que através da arte dos sons, conseguia sintetizar um pouco de tudo aquilo que gostava de exprimir. Inicialmente, Mafalda Veiga compunha em inglês e espanhol e, ao ser questionada pelos alunos acerca da mudança para o português, frisou que escrever as palavras com todos os sentidos e recursos que estas possam dar, para transmitir mais claramente aquilo que sentimos, é um privilégio que só a língua materna consegue abarcar. Há muito boa música em português., afirmou, considerando que a desvalorização da música em Portugal é um problema do país. Para além disso, a compositora não só partilhou com o público a entrega que deposita em cada verso das suas letras, como confessou que não consegue eleger a sua canção preferida, mostrando-se fiel a todas as suas composições. Quase que me sinto a trair pelas costas as canções!”. Exclamação que arrancou sorrisos da assistência! Sempre com enorme simpatia e simplicidade, numa conversa descontraída, Mafalda abordou, ainda, a importância da escrita no seu auto-conhecimento, visto que esta a obriga a materializar em palavras o que sente. É como se tivesse que percorrer um caminho que a conduz para mais perto da pessoa que é, revelando que para o fazer necessita de solidão. Quando questionada se a composição a estimula mais do que cantar, Mafalda respondeu muito prontamente que «não». Referiu que escrever as canções é a base do caminho todo e cantá-las uma consequência de as compor. Gosta de escrever para as pessoas, apesar de não as conhecer, esperando que elas encontrem as suas próprias histórias nas canções que canta. N MAFALDA VEIGA FEZ-SE À ESTRADA E CONQUISTOU OS AFONSINHOS DE GUIMARÃES Escola Secundária Francisco de Holanda Guimarães Mafalda Veiga e os entrevistadores

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Mafalda Veiga fez-se à estrada e pisou, novamente, o chão de Guimarães no passado dia 26 de Março. Desta vez, movida pela iniciativa n@escolas do Diário de

Notícias, a cantora e compositora dirigiu-se à Sociedade Martins Sarmento, onde colaborou com os alunos da Escola Secundária Francisco de Holanda numa entrevista que se imortalizou na memória daqueles que assistiram.

ão, Abril nem sempre é sinónimo de águas mil. Estava calor, muito calor. O sol brindava Guimarães com um dia radiante, luminoso e prometedor. Até o clima se uniu ao evento para nos proporcionar um

dia inesquecível e especial. Porque, afinal de contas, íamos ser jornalistas por um dia e entrevistar uma das mais conceituadas compositoras portuguesas: Mafalda Veiga! Era o Dia DN!

Depois de ultrapassada a primeira fase do concurso n@escolas, estávamos ansiosos pela chegada da cantora. Havíamos preparado tudo com entusiasmo e, naquele instante, sentia-se a expectativa no ar perante o momento em que a nossa convidada entraria pela porta do Salão Nobre da Sociedade Martins Sarmento (local onde foi realizada a entrevista por motivo de obras na escola). Por volta das três horas, ela, com jeito de “menina e moça”, apesar dos seus 44 anos, pisou finalmente o chão da imponente sala com um sorriso e logo se ouviu um aplauso acolhedor vindo da assistência.

«O compasso marcava o ritmo. Era dia de Natal e

os sinos exultavam o nascimento do Menino. Algures em

Lisboa, uma mãe dava à luz uma criança embalada

pelo espírito natalício. Decorria, então, o ano de 1965.»

Era este o início da nota biográfica que elaborámos. Depois da sua leitura, pudemos, ainda, visualizar um vídeo no qual Mafalda interpretava a canção “Abraça-me bem” do seu mais recente álbum, “Chão”.

Iniciada a entrevista, os alunos arregaçaram as mangas e, de cartões em punho, questionaram a cantora sobre vários assuntos, desde a sua carreira profissional à sua vida pessoal.

“Nunca imaginei que pudesse ter outra

profissão que não estivesse ligada à expressão

artística.”, referiu Mafalda, que quando era mais nova ponderara ser pintora. No entanto, enveredou pela área musical, ao perceber que através da arte dos sons, conseguia sintetizar um pouco de tudo aquilo que gostava de exprimir.

Inicialmente, Mafalda Veiga compunha em inglês e espanhol e, ao ser questionada pelos alunos acerca da mudança para o português, frisou que escrever as palavras com todos os sentidos e recursos que estas possam dar, para transmitir mais claramente aquilo que sentimos, é um privilégio que só a língua materna consegue abarcar. “Há muito boa

música em português.”, afirmou, considerando que a desvalorização da música em Portugal é um problema do país. Para além disso, a compositora não só partilhou com o público a entrega que deposita em cada verso das suas letras, como confessou que não consegue eleger a sua canção preferida, mostrando-se fiel a todas as suas composições. “Quase que me sinto a

trair pelas costas as canções!”. Exclamação que arrancou sorrisos da

assistência! Sempre com enorme simpatia e simplicidade,

numa conversa descontraída, Mafalda abordou, ainda, a importância da escrita no seu auto-conhecimento, visto que esta a obriga a materializar em palavras o que sente. É como se tivesse que percorrer um caminho que a conduz para mais perto da pessoa que é, revelando que para o fazer necessita de solidão.

Quando questionada se a composição a estimula mais do que cantar, Mafalda respondeu muito prontamente que «não». Referiu que escrever as canções é a base do caminho todo e cantá-las uma consequência de as compor. Gosta de escrever para as pessoas, apesar de não as conhecer, esperando que elas encontrem as suas próprias histórias nas canções que canta.

N

MAFALDA VEIGA FEZ-SE À ESTRADA E CONQUISTOU OS AFONSINHOS DE GUIMARÃES

Escola Secundária Francisco de Holanda Guimarães

Mafalda Veiga e os entrevistadores

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Mafalda Veiga falou, ainda, da sua relação muito especial com a música. “Eu gosto que a emoção que a música me provoca tenha um ritual, que seja um

momento especial.” Não gosta que haja música em todo o lado, como em muitos dos estabelecimentos em que entra, considerando que se banaliza a sua importância. “Acho importante o silêncio, às vezes,

para podermos apreciar melhor a música nos momentos em que ela nos vai tocar mais.”, afirmação emocionante a que a assistência respondeu com agrado.

A nível mais pessoal, os entrevistadores indagaram a cantora acerca das causas sociais em que se envolve. Ela referiu que acha fundamental que nós, portugueses, tenhamos a capacidade de nos indignarmos perante o que está errado e que é sempre preciso “as pessoas estarem lá”, pois só assim se faz alguma coisa. Mafalda defendeu, também, que “A felicidade está sempre ali para irmos buscar. Nunca é um dado adquirido. (…) Preservo em mim

a capacidade de sonhar.” Baseada numa frase de Tom Waits que diz “You

must risk something that matters”, revelou, ainda, que durante a sua vida, tenta, de facto, arriscar algo que seja realmente importante para saber quem é e o que é capaz de fazer. Fá-lo, porque considera que, por vezes, apostámos em decisões que não têm grande valor, pois sabemos que, se correr mal, o problema não é grave, todavia acabamos por não ser capazes de realizar os nossos sonhos e desejos.

No final de todas as perguntas, os entrevistadores pediram à Mafalda que cantasse um dos seus temas, pedido a que ela muito gentilmente acedeu, apesar da sua constipação. De guitarra ao colo, a assistência cantou com a Mafalda a canção “Estrada” do novo álbum “Chão”.

�“Meu amor, não quero mais palavras rasgadas, nem

o tempo cheio de pedaços de nada. Não me dês sentidos

para chegar ao fim. Meu amor, só quero ser feliz!” �

Depois das questões do público, da leitura da nota de agradecimento e do final da entrevista, a cantora felicitou o trabalho dos alunos e a qualidade

das perguntas elaboradas, agradecendo, por fim, a todos os que estavam presentes. Estava encerrada, então, a actividade.

Logo após o final da entrevista, os alunos-repórteres foram questionar o público sobre a sua opinião em relação à actividade. Madalena Ribeiro, professora na escola, considera que “é lamentável que projectos como este não aconteçam com mais frequência, pois os alunos estiveram muito atentos e interessados”. Por outro lado, a aluna Mafalda Viana frisou o bom desempenho dos colegas, referindo, ainda, que “a entrevista estava muito bem estruturada”. Já Fernanda Gonçalves, encarregada de educação, pensa que “actividades como esta são uma mais valia, porque estimulam a criatividade e o empenho dos alunos” e que as canções da Mafalda “transmitem serenidade”.

Simultaneamente à ocorrência da entrevista no Salão Nobre, decorreu nos claustros a actividade Flash

Interview, em que os alunos participantes contaram as suas melhores histórias em apenas 2 minutos.

O Dia DN estava, então, a aproximar-se do fim. Era tempo de voltar para casa e o sol, lá fora, continuava a brilhar. Obrigado, Mafalda, porque tal como tu, queremos preservar em nós a capacidade de sonhar!

De máquina fotográfica ao peito De bloco de notas na mão

Andámos como jornalistas Oh, que grande emoção!

Obrigado, Diário de Notícias

Foi grande a sensação De sermos jornalistas por um dia

Ganhámos o “nosso chão”!

“Os Afonsinhos”

Cláudia, Diogo, Guilherme, Joana, Sandra

A boa disposição após a entrevista

A batalha estava ganha: Mafalda Veiga conquistou “Os

Afonsinhos”