A TELEVISO E SUAS REPRESENTAES DAS MANIFESTAES DE RUA

NO BRASIL: CIDADOS OU PERSONAGENS?1

Ana Luiza Coiro Moraes,2 Alisson Machado,

3 Tainan Pauli Tomazetti.

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Resumo.

Neste artigo, examinamos a representao miditica nas coberturas feitas por trs emissoras

de televiso dos movimentos de rua nas cidades do Brasil, em momentos diferentes. Entre

as primeiras notcias e as notcias das semanas seguintes, percebe-se que as coberturas criam

dois personagens: o manifestante pacfico e o vndalo. Tais personagens substituem a

reflexo sobre demandas cidads em pauta e, sobretudo, buscam legitimar as coberturas

iniciais das emissoras, contrrias aos movimentos.

Palavras-chave

Televiso; representao; cidadania; personagens miditicas; manifestaes de rua.

Abstract.

In this paper, we examine the representation in the media coverage made by three television

stations of street movements in the cities of Brazil, at different times. Among the first news

and the news of the next few weeks, it is perceived that the coverage creates two characters:

demands on the agenda and, above all, seek to legitimize the initial coverage of the stations,

which is contrary to the movements.

Keywords.

Television; representation; citizenship; media characters; street demonstrations.

Introduo.

Este artigo um esforo para, desprovidos do olhar distanciado reclamado por Lvi-Strauss,

analisar a cobertura miditica das manifestaes de rua no Brasil, ainda em curso no

momento em que se escreve, mas cujo pice se deu no ms de junho de 2013. Para tanto,

escolhemos como recorte as notcias veiculadas em trs emissoras de televiso, em dois

momentos: as primeiras notcias, quando imagens de destruio e confrontos dominavam as

telas e se faziam acompanhar de falas que se posicionavam contra a baderna nas ruas; e as

notcias posteriores, em que imagens das marchas das multides passaram a ser narradas

como movimentos de cidadania e patriotismo. Chama-nos a ateno nesta cobertura a

representao de dois personagens entre os cidados que protagonizaram estes

acontecimentos nas cidades brasileiras: o manifestante pacfico e o vndalo.

E, para examinar tais representaes de demandas cidads, que se iniciaram contra o

aumento das passagens de nibus em So Paulo e se multiplicaram em cidades e se

particularizaram em pautas reivindicatrias, buscamos em primeiro lugar situar

historicamente os espaos pblicos de visibilidade dos cidados e sua movimentao: da

gora mdia.

A seguir, contextualizamos o prprio conceito de representao, para refletir sobre as

escolhas discursivas e a criao das personagens miditicas, e, finalmente, encaminharmos a

descrio e anlise do recorte escolhido por este artigo da cobertura miditica dos

movimentos de rua no Brasil.

Cidadania e espaos de visibilidade dos sujeitos.

No Ocidente, os processos sociais que envolvem a organizao da vida pblica dos sujeitos

remontam aos sculos IX e VII a.C., quando gregos e fencios fundaram um sistema de

organizao coletiva: a polis. A cidade-estado se constitua em espao de articulao de

aes e decises coletivas, sob leis comuns, subordinadas a conselhos de cidados (como a

boul ateniense), comercializando bens e compartilhando a defesa do territrio atravs de

um s exrcito (Guarinello, 2003).

Rodrigues (1999) informa que a mesma diviso helnica entre a noo de politiko (a polis,

que abriga a comunidade organizada formada pelos cidados) e a de oikeios (o espao da

intimidade) viria a ser regulamentada no direito romano na oposio entre o dominium do

publicus, de um lado, e do privatus, de outro. E tal diviso veio a regular tambm a ordem

feudal, quando se assegurava o livre acesso do povo ao espao pblico a compreendidas

as estradas, as praas, os rios, isto , aquilo que escapa ao domnio privado.

neste contexto da ordem medieval que surge a idia de comunidade,

enquanto conjunto dos espaos comuns subtrados a uma apropriao

exclusiva [...] Ao senhor feudal reservado o papel da representao da

ordem coletiva, manifestada aos olhos de todos, tanto pelos seus atributos

como pelos seus smbolos. A pertena esfera pblica relativiza-se em

funo do nvel relativo da notoriedade que tanto as coisas como as pessoas

possuem (Rodrigues, 1997, p. 37).

No esforo de separar a cidade de Deus (a Igreja) da cidade dos homens (a comunidade

poltica), So Toms de Aquino (1227-1274) dizia que a natureza original dos seres

humanos recebida de Deus inclua um senso de justia que postulava o dever de dar a cada

um o que lhe devido, conforme as suas necessidades e mritos. Isso encontrou

aplicabilidade na esfera pblica como instrumento para assegurar a ordem social absolutista:

a hierarquia vigente entre superiores e inferiores, numa ordenao divina que se

materializava nas aes concretas do bom governo do prncipe cristo virtuoso (Chau,

1994, p. 393).

Assim, a partir de 1400, as cortes dos soberanos centralizariam as funes inerentes ao

espao pblico at uma nova ordem social ser introduzida pela Revoluo Francesa (1789),

quando se reestruturou a natureza representativa do poder, e o ttulo cidado passou a

substituir o de nobreza. Da mesma forma, novos meios de produo surgiram com a

Revoluo Industrial, que se desenvolveu em diferentes pontos da Europa ao longo de quase

um sculo (1750/1820), afetando o funcionamento da sociedade com a produo e

comercializao em grande escala de objetos manufaturados e com o surgimento de um

vasto mercado consumidor (e de estratgias para estimular o consumo) integrado por uma

populao cujo apetite se voltaria aos mais variados artigos: objetos e artefatos, mas

tambm produes culturais e artsticas.

Ao passo que a burguesia consolidava seu papel dominante na organizao social e

precisava publicizar sua disponibilidade de produtos, preos e regras de circulao,

engendraram, em fins do sculo XVII, o momento oportuno para o surgimento da imprensa

peridica. No estado burgus se desenvolve, sob a Aufklrung5, a exposio da opinio

livre do cidado, dando assim origem a partir da segunda metade do sculo XVIII ao

aparecimento da categoria da opinio pblica e sua institucionalizao como um campo

autnomo de legitimidade (Rodrigues, 1997, p. 40).

Neste contexto surge a profisso de jornalista, prtica atrativa, segundo Hauser (1972, p.

892-893), para jovens talentosos que so excludos de qualquer carreira poltica por falta

de meios. Mas, conclui este autor, rapidamente a atividade jornalstica passa a ser

compreendida como um negcio e evolui para a forma de indstria, torna-se simplesmente,

um meio de adquirir capital e publicidade.

Na contemporaneidade, Martn-Barbero (2003, p. 58) observa que as transformaes do

espao globalizado modificaram o sentido de lugar do mundo, embora tenham

privilegiado, efetivamente, apenas um espao: a nica dimenso realmente mundial at

agora o mercado, que, mais do que unir, busca unificar. Disso resulta que os indivduos,

imersos na lgica do consumo global e da mdia, veem alteradas as suas possibilidades de

prticas cidads.

Homens e mulheres percebem que muitas das perguntas prprias dos

cidados a que lugar perteno e que direitos isso me d, como posso me

informar, quem representa meus interesses recebem sua resposta mais

atravs do consumo privado de bens e dos meios de comunicao de massa

do que nas regras abstratas da democracia ou pela participao coletiva em

espaos pblicos (Canclini, 1999, p. 37).

Esta centralidade da mdia na esfera pblica leva a indagaes a respeito da sua legitimidade

na construo e veiculao das demandas sociais e, ainda, por meio de que representaes

isso se d. Segundo Charaudeau (2006), trs campos legitimam a mdia como centralizadora

das discusses acerca das muitas abordagens sociais:

O campo poltico, diante do qual as mdias se legitimam por uma dupla ao,

de contra-poder, ao opor-se a este campo, e de interface com a sociedade

civil, o que a leva a denunciar; o campo econmico, no qual as mdias se

legitimam por sua capacidade de alcanar o grande pblico, o que as leva a

dramatizar; o campo da cidadania, no qual as mdias se legitimam por uma

aptido em realizar um projeto de construo da opinio pblica, o que as

leva a serem credveis (Charaudeau, 2006, p.93).

Nessas configuraes, a mdia, atravs da utilizao de estratgias que se desenvolvem no

campo ideolgico, estabelece um elo com os cidados.

Para os meios de comunicao, trata-se de reportar os atos e discursos de

reivindicao mais ou menos organizados (manifestaes, greves,

reclamaes, elogios) direcionados aos poderes pblicos. Assim, o campo

miditico reconhece a importncia dos sujeitos comuns que tm algo a dizer,

tanto como testemunhas, analistas ou pensadores, quanto como

representantes diretos de diferentes reas do debate social (Coiro Moraes,

Dellazzana e Kroth, 2012, p. 7).

No entanto, lembra-nos Charaudeau (2006, p. 194), o cidado somente inscrito na cena

miditica quando faz parte das intrigas dramticas do mundo social e pode ser exibido em

espetculo. Para ele, existe uma interrelao entre a representao miditica e os cidados,

pois estes so levados a nela buscar a visibilidade para a expresso de suas prerrogativas.

Em seu relatrio, a ANDI Agncia Nacional de Direitos da Infncia (2007) identifica

alguns dos elementos essenciais que caracterizam uma sociedade democrtica na

contemporaneidade. Dentre eles esto a diviso de poderes, a afirmao de direitos civis

como a liberdade de imprensa e expresso e polticos, a realizao de eleies regulares, o

fortalecimento dos mecanismos de controle (accountability) do prprio Estado e a garantia

da atuao plena de algumas instituies no estatais, sendo a mdia uma das mais centrais.

Portanto, a mediao dos meios e profissionais de comunicao elemento decisivo na

construo da dimenso pblica contempornea.

Numa democracia participativa, o acesso e o controle sobre os processos de

produo da mdia por parte do pblico tornam-se uma dimenso vital da

participao poltica. Num quadro de fragilizao das estruturas polticas

como hoje vivemos, o grande conjunto de reivindicaes populares fica

rfo, sem a defesa das entidades historicamente representativas. E quem

assume esse papel, ento, a mdia uma instituio privada com fins

lucrativos, desempenhando o papel que pertenceu no passado s instituies

de presso, como se ela, a mdia, fosse de fato seu portador histrico e

legtimo. [...] Para Habermas, a esfera pblica o espao onde indivduos

privados discutem questes pblicas, um espao que faz a mediao entre a

sociedade e o Estado (Romais, 2001, p. 52)

Assim, surge o questionamento sobre as responsabilidades da mdia numa democracia, uma

vez que em suas demandas cidads os sujeitos se inserem em jogos de poder e disputas por

um espao em que convivem ofertas de consumo, interesses polticos e econmicos de

grupos hegemnicos e inmeros discursos e noes que compem os complexos sistemas de

representao que configuram a dimenso pblica contempornea.

Representaes e personagens.

Definida por Stuart Hall (1997, p. 17), representao parte essencial do processo pelo qual

os significados so produzidos e trocados entre os membros de uma cultura, por meio da

linguagem, de signos e imagens: a produo do significado do conceito em nossa mente

atravs da linguagem. a ligao entre conceitos e linguagem que nos permite referendar

tanto o mundo "real" de objetos, pessoas ou eventos, quanto mundos imaginrios de objetos,

pessoas e eventos fictcios.

Para Woodward (2000), os processos envolvidos na produo de significados so

engendrados por meio de sistemas de representaes conectados com os diversos

posicionamentos assumidos pelos sujeitos, no interior de sistemas simblicos. A autora

salienta as representaes de diferenas como centrais nas prticas de significao atravs

das quais os sujeitos se identificam/classificam no interior de uma cultura.

Os sistemas sociais e simblicos produzem as estruturas classificatrias que

do um certo sentido e uma certa ordem vida social e as distines

fundamentais entre ns e eles, entre o fora e o dentro, entre o sagrado e o

profano, entre o masculino e o feminino que esto no centro dos sistemas

de significao da cultura (Woodward, 2000, p. 67-68).

Alm disso, ao serem partilhadas, as representaes tornam-se significados culturais que

no esto apenas na cabea. Elas organizam e regulam as prticas sociais, influenciam

nossas condutas e consequentemente tm efeitos reais, prticos [...] definem o que ser

normal, quem pertence e, portanto, quem excludo.. (Hall, 1997, p. 13).

Conforme Soares (2007) os meios de comunicao, na modernidade, so a concretizao

mxima das formas de representao. Para o autor, os produtos da mdia, sejam eles textos

ou programas, produzem imagens colhidas do mundo emprico elevadas categoria de

representantes de pessoas, situaes, fatos (Soares, 2007, p. 51). Nessa perspectiva,

salienta Soares, embora a suposta liberdade criativa dos autores das representaes

miditicas os livre, em parte, da responsabilidade sobre aquilo que produzido, essas

produes se tornam, mesmo que inconscientemente, formas de avaliao da sociedade. As

representaes postas em cena podem, assim, naturalizar as estruturas e diferenas sociais,

idealizar determinadas categorias e demonizar outras.

Mais problemtico o uso retroativo da representao meditica, a qual, ao

invs de ser considerada como substituto simblico de algo,

involuntariamente tomada pela audincia como prprio objeto ou assunto

representado, sendo usada como seu equivalente, numa verdadeira reificao

da representao (Soares, 2007, p. 53).

Apesar dos significados, nas representaes, no serem transparentes, os discursos

miditicos os apresentam como expresso da verdade. Com frequncia a mdia organiza as

representaes, em binrios incisivamente opostos, aponta Hall (1997, p. 17),

acrescentando que nos sistemas de representao existe um conjunto de representaes

mentais de pessoas, objetos, eventos e idias, por meio dos quais interpretamos/atribumos

significados ao mundo. Mas, nestes sistemas, do mesmo modo convivem as representaes

de uma cadeira, um amigo, o Carnaval e tudo aquilo que pertence ao plano do concreto,

quanto os seres e ideias abstratas, como anjos, sereias, Deus e Diabo, Cu e Inferno, uma

personagem de romance ou de telenovela, por exemplo.

Assim, ao atribuir significados dicotmicos aos cidados que se manifestavam nas ruas

brasileiras, criando dois personagens, a cobertura miditica cria um sistema de

representao no interior do qual j no se pode distinguir o factual do ficcional.

A ideia de personagem miditico, alis, nasce com o fait divers, formato que se constituiu

atravs dos relatos factuais com enredo, que por vezes compartilhavam temas

(acontecimentos extraordinrios) e personagens com os folhetins. Neste tipo de relato, o

quem (personagem) tem primazia sobre o que (o acontecimento), e os fatos sociais so

apagados pela performance de seus protagonistas: O Fait Divers mostra os conflitos

histricos, mas os demonstra por um espelho nico: a Fatalidade, em seu espectro

ahistrico, apaziguante da conflituosidade histrica (Ramos, 1998, p. 112).

Buscamos, ento, analisar as representaes miditicas das manifestaes de rua no Brasil,

examinando os dois personagens que, maneira folhetinesca, despontaram nas coberturas

de trs emissoras de televiso.

Vndalos e manifestantes pacficos: personagens miditicos.

Para esta anlise, selecionamos, no perodo de 6 a 18 de junho, notcias sobre as

manifestaes de rua no Brasil, veiculadas nos seguintes canais de televiso, que

posteriormente foram disponibilizadas nos sites dos mesmos: Record News, canal de

televiso aberto, Globo News e Band News, canais de televiso por assinatura. Definimos

este recorte temporal por percebermos que, neste curto perodo, ocorreu uma forte mudana

no discurso de representao a respeito dos manifestantes, nessas emissoras. Cabe salientar,

ainda, que esta escolha est direcionada ao fato de que tais canais produzem contedo

jornalstico 24 horas.

Passamos a uma breve contextualizao das manifestaes que tomaram as ruas do Brasil

no ms de junho deste ano. Elas surgiram primeiramente para contestar o aumento do preo

das passagens municipais na cidade de So Paulo. Em seu incio, a maioria dos

manifestantes eram estudantes que utilizam o transporte pblico da cidade. Aps violentos

atos repressivos da polcia, a manifestao contou com o apoio dos demais grupos da

sociedade civil e disseminou-se por muitas outras cidades do pas, passando a abranger uma

grande variedade de temas, como o fim da corrupo, aumento dos investimentos na rea da

sade e educao, o descontentamento com os gastos excessivos para a Copa do Mundo da

FIFA, o repdio PEC 37 (Proposta de Emenda Constituio que limitava o poder de

investigao criminal polcia federal, retirando o poder de investigao do Ministrio

Pblico) e ao PDC 234/11 (Projeto de Decreto Legislativo conhecido como cura gay),

entre outros temas.

A primeira notcia que selecionamos foi veiculada no dia 6 de junho, pela Record News e

mostra as primeiras manifestaes ocorridas em So Paulo. A ncora salienta o confronto

entre os policiais e os manifestantes, ressaltando que estes trancaram a Avenida Paulista. As

imagens so areas, demonstrando como o trnsito ficou problemtico na regio. Ela

salienta ainda alguns atos como a pichao de bares, quebra de algumas vidraas, pequenos

incndios e a depredao das lixeiras, e relata o trabalho da polcia na tentativa de disperso

da manifestao. Aps estes comentrios, a jornalista revela o motivo da manifestao: o

aumento do preo das passagens de nibus, trens e metrs na cidade, que passou de valor de

R$3,00 para R$3,20, salientando que este aumento pesa no oramento mensal dos

estudantes. Ela comenta que eles pedem por melhorias no transporte pblico e pela insero

do passe livre na cidade. Ao final, comenta a promessa dos manifestantes de que se o preo

da passagem no baixasse, que a cidade pararia em protesto.

Este vdeo retrata o incio das manifestaes. Nele, ainda no h uma dicotomia referente s

representaes dos manifestantes, como veremos nas outras notcias. Contudo, podemos

perceber que o discurso comea a salientar alguns atos de violncia referentes aos protestos,

sobre os quais os demais relatos miditicos iro ater-se.

A segunda notcia selecionada foi veiculada na Band News, no dia 11 de junho. Ela destaca

o confronto entre os manifestantes e a polcia, mostrando somente os atos considerados

como vandalismo e violncia: pichaes, depredaes, tentativas de incndios de nibus e

de invaso nos terminais rodovirios. Mostra, ainda, o conflito armado e a tentativa de

conteno da manifestao por parte dos policiais. As imagens demonstram o cenrio

catico e violento das manifestaes. A notcia salienta que a populao, principalmente

aquelas pessoas que utilizavam os nibus da cidade no momento do conflito, ficaram

apreensivas e em situao de pnico. A notcia termina com as imagens de uma pessoa

sendo detida e levada pela polcia, sem dizer os motivos que levaram deteno.

Podemos considerar essa narrativa jornalstica como representante do incio do modo de

tratamento das manifestaes, realizada principalmente pela mdia televisiva no pas. Alm

de ganhar destaque miditico somente os atos de violncia e vandalismo oriundos dos

protestos, ela ainda destaca de forma dicotmica os atores sociais. Pelo discurso

apresentado, os manifestantes esto separados da sociedade civil. Esta, no participa, nem

comunga das prerrogativas dos movimentos. Ao contrrio disso, a populao representada

de forma apreensiva e assustada, como sendo uma das possveis vtimas das manifestaes.

Os policiais so apresentados como personagens que lutam pelo bem-estar social, para

conter a violncia apresentada como sendo prpria da natureza desses protestos.

A terceira notcia selecionada foi veiculada pela Globo News, no dia 12 de junho. Enquanto

a ncora do jornal fala e as imagens vo sendo apresentas, aparece no GC (Gerador de

Caractere) a seguinte informao: Depredao e 20 detidos em mais uma noite de protestos

em So Paulo, discurso que marca o modo de tratamento das notcias referentes s

manifestaes, adotado pela emissora. Ela chama por outra jornalista, que est na capital

paulista, e salienta que, desta vez, o protesto foi ainda mais violento. Ouvimos da jornalista

afirmaes como: A cidade tenta voltar ao normal., Hoje dia de limpar a sujeira,

consertar o que foi quebrado e calcular os prejuzos., Foram seis horas, teve vandalismo e

confronto entre os manifestantes e os policias. De um lado pedras, de outro bombas de gs e

balas de borracha. A populao ficou no meio de tudo, e assustada. Ela salienta a

depredao e os atos de violncia cometidos pelos manifestantes. Outra reprter entra ao

vivo, mostrando os cenrios dessa depredao e os estragos em uma estao de metr e em

um banco.

A notcia destaca ainda a depredao em outro terminal rodovirio, afirmando que ele foi

alvo dos manifestantes, exibindo as pichaes e outras depredaes ao patrimnio.

Tambm expe os policiais feridos e os manifestantes detidos, ao passo que demonstra a

inconvenincia da manifestao, interrompendo o trnsito, impossibilitando o comrcio de

abrir suas portas e dificultando a rotina da cidade. Ouvimos da reprter: E claro, a

populao ficou no meio dessa confuso toda.. Ela qualifica a manifestao como

confuso, chamando a reportagem realizada no momento das manifestaes.

A reportagem mostra a violncia por parte dos manifestantes, os atos de vandalismo e o

pnico instaurado. Busca alguns civis como fontes para destacar o medo da populao frente

s manifestaes. Outra reprter, responsvel pela cobertura, compara o centro da cidade de

So Paulo a uma cena de guerra, mostrando que os manifestantes responderam ao

policial utilizando pedras e fogo. Um taxista reclama de no poder trabalhar em funo das

ruas estarem bloqueadas. A reprter comenta: O que se viu foi muita sujeira e destruio

seguido da expresso depois de toda a baderna. A notcia continua apontando o

vandalismo e a destruio aps os atos e os policias feridos durante a manifestao,

destacando os objetos apreendidos, como pedras, fogos de artifcio e pedaos de madeira.

Atravs do relato de um comandante (fonte policial), ficamos sabendo que foram os

manifestantes que comearam as agresses. Ao final da notcia, a reprter fala que toda a

revolta comeou em funo do aumento das passagens, mas que o reajuste ainda ficou

abaixo do ndice inflacionrio. Ela diz que o grupo de manifestante se autodenomina

Movimento pelo Passe Livre, sendo formado pela ala mais radical do movimento

estudantil, apoiado pelos partidos de esquerda, como o PSOL e o PSTU. Sublinha que a

bandeira principal do grupo a extino da tarifa de nibus na cidade, o passe livre.

Essa notcia, atravs de seu discurso e das imagens mostradas, reafirma o carter violento,

baderneiro e criminoso das manifestaes. Ela consolida a representao dos manifestantes

como separados da sociedade civil, um grupo de viles criminosos, deslegitimando suas

aes e ligando a elas um sentido de violncia gratuita. Todos os manifestantes so

representados como sendo vndalos. Para isso, o discurso noticioso faz uso de fontes

contrrias ao movimento, como dos civis, interpelados pela dificuldade de locomoo na

cidade, inseridos em um cenrio catico. Alm disso, faz uso das fontes oficiais, como os

policiais, para demonstrar que a represlia teve como fim legtimo a conteno da

manifestao violenta.

So os manifestantes, representados como vndalos, os responsveis pela destruio de

alguns pontos da cidade, pelas pichaes e outras depredaes. A cidade estar em cenrio

de guerra, descrito por ela, remete diretamente representao dos atores sociais como

vndalos, violentos e criminosos. A sociedade civil figura nessa narrativa como separada

dos manifestantes e como sua vtima. Os policias so representados como combatentes de

uma onda de violncia generalizada. Seu papel de reorganizar a sociedade e manter a

ordem. Seguidas vezes a reportagem se ancora em imagens de confronto, violncia e

embate, associando-as aos manifestantes, todos representados como vndalos e violentos.

Um exemplo disso a apresentao das pedras, fogos de artifcio e outros instrumentos que

seriam utilizados pelos manifestantes, como provas desse vandalismo. Limpar a sujeira,

calcular os prejuzos, fazer consertos, so afirmaes que remetem desaprovao das

manifestaes.

Os sentidos que percebemos nas trs notcias elencadas o esforo da mdia em pontuar um

discurso que representa os manifestantes enquanto uma massa fervorosa violncia

ilegtima. Em nenhum momento os ativistas so considerados como parte da sociedade civil,

como pessoas que utilizam o espao pblico para manifestar suas demandas cidads. Para

construir sua narrativa, o discurso noticioso busca construir representaes dos indivduos

envolvidos nos protestos. Os manifestantes, de modo geral e, neste momento, so

representados como vndalos, violentos e criminosos, que buscam desestabilizar a ordem

social. A sociedade civil, atravs dos relatos dos passantes no envolvidos nas

manifestaes, representada como vtima do caos instaurado. Os policiais so

representados como defensores da ordem social combatentes, ou heris, possuindo a funo

de livrar a sociedade civil daqueles que, em funo de seus atos, a desestabilizam. As

narrativas buscam deslegitimar os protestos, atribuindo a eles um carter de vandalismo.

Perde-se a dimenso poltica das manifestaes em imagens de violncia e destruio que

so a todo tempo reiteradas.

Agora passamos a descrever e analisar as notcias sobre as manifestaes veiculadas nos

mesmos canais de televiso uma semana aps as notcias acima analisadas. Nelas podemos

perceber uma mudana na forma de representao das manifestaes.

Desse grupo, a primeira notcia selecionada foi veiculada pela Record News, no dia 17 de

junho, que transcorre como as demais analisadas. Na maior parte do tempo, a reprter relata

os atos de violncia e vandalismo realizados pelos manifestantes, e, ao final, diz: Cabe

ressaltar [...] que essa passeata transcorreu pacfica a maior parte do tempo. Arrastou cerca

de 100 mil pessoas pela Avenida Rio Branco. Pessoas que deixavam o trabalho por volta

das seis horas da tarde desceram e aderiram ao movimento. Houve chuva de papis picados

dos escritrios em apoio aos manifestantes [...] s que um grupo saiu da avenida na tentativa

de invadir o prdio (da Assembleia Legislativa) e da comeou todo esse tumulto.

Podemos perceber, nesta notcia, o incio de uma nova abordagem realizada pela mdia

televisiva sobre as manifestaes. Embora ela saliente os aspectos violentos ocorridos em

funo dos protestos, demonstra que, em grande parte a manifestao ocorreu

pacificamente. Ressalta que os atos de violncia exibidos so de autoria de um pequeno

grupo de manifestantes, que no esto em consonncia com a maioria pacfica. Percebe-se

que a representao referida aos manifestantes posteriormente se transformou, e agora eles

figuram em dois grupos, um que age legitimamente representando as demandas cidads e

outro que destoa da maioria, provocando os atos de vandalismo.

A prxima notcia foi veiculada pela Globo News, no dia 18 de junho. A ncora diz que esse

dia foi um dia histrico para os brasileiros, que 250 mil pessoas foram s ruas em diversas

cidades do pas para protestar contra o aumento das tarifas de nibus, contra a violncia e

pela melhoria dos servios pblicos: [...] eram mais de 100 mil estudantes e trabalhadores

que caminharam para construir um pas melhor. A notcia mostra os manifestantes de

forma mais prxima, batendo palmas e celebrando o ato de cidadania, bem como suas

faixas, bandeiras e cartazes. As fontes escolhidas so os prprios manifestantes, que

comentam os motivos pelos quais esto nas ruas. Todos os manifestantes selecionados falam

sobre o desejo de paz e liberdade. Aplausos, canes e imagens que mostram a distribuio

de flores pelos manifestantes tambm compem a narrativa. Um reprter usa a expresso

dia histrico. Outra reprter, que sobrevoa a manifestao, chama a ateno do

telespectador para o fato da maioria dos manifestantes estar usando roupas brancas: uma

imagem muito bonita de se ver. O reprter retoma, comentando: Pessoas de todas as

idades se uniram ao processo democrtico. Muitas fontes so ouvidas e todas elas

ressaltam os motivos pelos quais protestam. A maioria delas fala em melhorias para a sade

e para a educao e da legitimidade dos indivduos em ocupar as ruas para protestar.

Ouvimos do reprter: Nas mos da criana mais flores, enquanto vemos uma criana s

costas do pai. Um manifestante aparece entregando flores aos policiais.

A ncora retoma a fala na bancada: Como a gente viu, cerca de 100 mil manifestantes

protestaram em paz no centro do Rio de Janeiro, mas uma minoria partiu para o vandalismo,

provocando destruio em ruas e prdios.. Segue ento, um relato jornalstico, tal qual as

outras notcias analisadas anteriormente, mostrando o caos, a violncia e o vandalismo por

parte dos manifestantes. Porm, desta vez, a notcia pontua que essas aes so de autoria de

um pequeno grupo de manifestantes, chamados de minoria radical e violenta, que foram,

inclusive, rechaados pela maioria, composta por manifestantes pacficos.

Nos primeiros instantes da notcia percebemos a mudana da abordagem jornalstica em

relao aos protestos, considerados agora, como movimento social legtimo da ao

democrtica. Os protestos que antes haviam sido representados somente atravs de

figuraes que conferiam violncia s manifestaes, so agora tomados pela mdia

televisiva como um importante momento histrico que o pas vive.

No discurso noticioso a sociedade civil incorporada ao montante considerado pacfico e,

portanto, legtimo, das manifestaes. Os prprios manifestantes pacficos so ouvidos em

suas demandas. A seleo de suas falas utilizada para construir a representao da

atmosfera pacfica da manifestao. Para isso, a notcia sinaliza as roupas brancas usadas

pelos representantes, a distribuio de flores e a participao de pessoas de vrias faixas

etrias, desde crianas at idosos.

Em contrapartida representao das manifestaes sociais agora mostradas como um

movimento pacfico, a notcia aborda a dicotomia entre os participantes. Um conflito

instaurado entre os manifestantes pacficos, de um lado, e de outro, os manifestantes

vndalos, caracterizados como um grupo minoritrio e radical. Os manifestantes pacficos

so representados como contrrios aos atos de violncia, negando, tal como a mdia, a

legitimidade desses atos.

A ltima notcia elencada foi veiculada pela Band News, no dia 21 de junho. Ela mostra as

manifestaes em vrias cidades do pas. O jornalista fala que em Vitria, a manifestao

que comeou pacfica, terminou em tumulto, com algumas depredaes feitas por um

pequeno grupo de manifestantes (os vndalos), sendo repreendidos pela maioria pacfica.

Situao que se repete em Florianpolis, em Palmas e Uberlndia.

Esta notcia resume as manifestaes ocorridas em algumas cidades do pas e reitera a

representao maniquesta entre os manifestantes pacficos, que tomam o espao pblico

para reivindicar seus direitos democrticos de cidados e aqueles, considerados uma

minoria, responsveis pelos atos de vandalismo, violncia e destruio. Em todas as cidades,

os manifestantes revoltosos no so reconhecidos como legtimos pelos manifestantes

pacficos, reafirmando o discurso que, anteriormente, a mdia televisiva em questo, vinha

anunciando.

Os sentidos que podemos perceber na anlise das notcias a diferena na forma de

tratamento das manifestaes ocorridas no Brasil. Em um curto perodo de tempo a mdia

televisiva passou a considerar como legtima as manifestaes de rua, antes apenas

consideradas como vandalismo, violncia e tentativa de desestabilizar a ordem pblica.

A sociedade civil, que antes era representada como uma esfera fora das manifestaes e,

alm disso, representada de forma vitimizada, foi, em um segundo momento, incorporada a

elas. A mdia passou a considerar legtima a ocupao do espao pblico, quando estas

tomam a maioria das grandes cidades do pas e quando a classe trabalhadora insere-se, em

peso, s demandas das manifestaes. Em seu incio, os protestos eram associados apenas

aos grupos de estudantes que reivindicavam contra o aumento do preo das passagens. Os

discursos miditicos, em um primeiro momento, no salientaram a dimenso poltica desses

atos de protesto. Somente com o transcorrer das aes e com a grande adeso s

manifestaes da sociedade em geral, que a mdia passou a representar o movimento como

um ato poltico, de ao cidad, visando transformao da realidade do pas.

Vale salientar que, desde o incio, os protestos transcorreram seu curso natural. Havia sim,

conflitos internos e externos, prprios das manifestaes sociais, porm apenas os atos mais

revoltosos e propriamente sensacionalistas foram marcados pelo discurso miditico.

Destacamos que as manifestaes nunca se transformaram no sentido de serem violentas em

seu incio e passarem a ser pacficas. O que se transformou foi o discurso miditico sobre

elas. Uma prova disso o apagamento, nas primeiras coberturas, dos mesmos elementos que

foram ressaltados nas demais para compor a representao dos manifestantes pacficos.

Pouco vemos a caminhada das primeiras manifestaes, nem seus cartazes, faixas, suas

palavras de ordem, ou, ainda, seus depoimentos. Embora eles sempre estivessem l. E nos

momentos que os vemos, eles servem apenas para denotar a violncia dos atos.

Nas primeiras coberturas, a mdia decidiu por representar as manifestaes como atos de

violncia e vandalismo, na tentativa de deslegitimar os movimentos. Para isso, construir sua

narrativa em torno de representar os manifestantes como vndalos, no papel de viles,

contrrios ordem e a paz da sociedade civil. Os policias, por sua vez, foram representados

como heris, nicos combatentes sobre os quais a sociedade civil despejava suas

esperanas. No transcorrer das manifestaes e com grande adeso social, o discurso

miditico precisou estrategicamente reformular-se.

De ato de rebeldia e violncia, as manifestaes passaram a ser representadas como um ato

histrico por luta e transformao social. Aqueles que protestavam passaram a ser

representados como manifestantes pacficos e, portanto, possuidores de demandas sociais

legtimas por reivindicaes. No entanto, para reafirmar seu discurso anterior, a mdia segue

ressaltando os atos de vandalismo, antes prprios de todas as manifestaes que vinham

acontecendo, mas agora apenas associados a um pequeno grupo considerado como radical e

de esquerda. Neste exerccio, ela encontra fora dentro do prprio movimento pacfico

criado por ela, que no reconhece aos atos violentos como prprios da manifestao

democrtica. Dessa forma, ela legitima o seu discurso atravs do discurso dos demais

manifestantes, construindo uma representao maniquesta entre ambos. Os valores

democrticos, dessa forma, pertencem somente aos manifestantes pacficos, que, ao menos

no discurso televisivo, passaram a figurar somente uma semana depois dos primeiros

noticirios sobre as manifestaes.

Consideraes finais

Desde que, a partir dos acontecimentos histricos do final do sculo XVIII, gradativamente,

os cidados passaram a assumir as funes de representao que antes se restringiam s

esferas feudal, monrquica e religiosa, tornando-se uma instncia de deciso e de

legitimidade, e arrogando-se o direito informao, foi possvel distinguir dois movimentos

nesse processo: 1) a emergncia da opinio pblica crtica, constituda como esfera

independente do estado nas diversas instncias sob a denominao de sociedade civil;

2) o deslocamento para os meios de comunicao das discusses concernentes esfera

pblica e o lugar de visibilidade das demandas cidads.

Assim, a representao miditica, ao apresentar dois personagens, que de forma maniquesta

separam manifestantes pacficos de vndalos, de forma alguma d conta da

complexidade das demandas dos cidados. Em especial nas primeiras notcias veiculadas

pelas emissoras analisadas, os jornalistas parecem sequer entender ou alcanar o significado

social da insatisfao popular nas ruas das principais cidades do pas (com governos,

partidos, poderes legislativos, isto , com todas as maneiras de atuao de uma democracia

que, segundo os manifestantes, no nos representa).

Entretanto, estas coberturas (e os personagens que introduzem) se inserem no que Hall

(1997) e Woodward (2000) chamam de sistemas de representao, que propem sentidos a

partir dos quais os indivduos podem posicionar-se. No interior destes sistemas de

representao, identidades sociais foram construdas (manifestantes pacficos e

vndalos), desencadeando um processo de identificao que passou a posicionar os

discursos subsequentes, tanto das coberturas jornalsticas que se seguiram quanto dos

prprios manifestantes.

Criando e alimentando esta relao maniquesta, os meios legitimaram sua cobertura inicial

francamente desfavorvel aos movimentos. como se afirmassem que desde o comeo das

manifestaes s foram de fato contrrios aos excessos de uma minoria (que, no

entanto, recebeu o maior tempo nas coberturas) de, nas palavras de jornalistas e ncoras,

baderneiros, marginais, vndalos e no cidados.

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1 A primeira verso deste artigo foi apresentada no GP Comunicao para a Cidadania do XXXVI Congresso

Brasileiro de Cincias da Comunicao (INTERCOM 2013), em setembro de 2013, na cidade de Manaus-AM,

Brasil.

2 Professora Visitante do Programa de Ps-Graduao em Comunicao da Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM). Doutora em Comunicao Social pla Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do sul

(PUCRS), realizou Estgio Ps-Doutoral no Programa de Ps-Graduao em Comunicao e Cultura da

Universidade Federal da Bahia (UFBA). anacoiro@gmail.com. 3 Mestrando do Programa de Ps-Graduao em Comunicao da UFSM. machado.alim@gmail.com 4 Mestrando do Programa de Ps-Graduao em Comunicao da UFSM. tainanpauli@gmail.com 5Aufklrung significa esclarecimento e refere-se ao conceito de Kant sobre a sada do homem de sua

menoridade, ou seja, quando transpe a fase em que incapaz de fazer uso do prprio entendimento sem o

direcionamento de outro indivduo (a menoridade), para atingir a etapa de autonomia, do esclarecimento (a

maioridade).