Manual para Abordagem ao Grupo Vermelho

13
P R O M A P PROGRAMA MULTIPLICADOR DE AÇÕES PREVENTIVAS “Um programa de amigos” MANUAL PARA ABORDAGEM AOS COLABORADORES EM POSSÍVEL CODIÇÃO DE DEPENDÊNCIA “GRUPO VERMELHO” James Costa Moura Currículo Lattes : http://lattes.cnpq.br/2175318437548550 Rosane de Sousa Miranda Currículo Lattes : http://lattes.cnpq.br/1963334333188201 “A mente que se abre a uma nova idéia, jamais volta ao seu tamanho original." (Albert Einstein) Balsas/MA, 2009

description

Manual para abordagem de pessoas em possível condição de dependência de substâncias psicoativas

Transcript of Manual para Abordagem ao Grupo Vermelho

Page 1: Manual para Abordagem ao Grupo Vermelho

P R O M A P

PROGRAMA MULTIPLICADOR DE AÇÕES PREVENTIVAS

“Um programa de amigos”

MANUAL PARA ABORDAGEM AOS COLABORADORES EM POSSÍVEL CODIÇÃO DE DEPENDÊNCIA

“GRUPO VERMELHO”

James Costa Moura

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2175318437548550

Rosane de Sousa Miranda Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1963334333188201

“A mente que se abre a uma nova idéia, jamais volta ao seu tamanho original."

(Albert Einstein)

Balsas/MA, 2009

Page 2: Manual para Abordagem ao Grupo Vermelho

2

MANUAL PARA ABORDAGEM AOS COLABORADORES EM POSSÍVEL CONDIÇÃO DE DEPENDÊNCIA

“GRUPO VERMELHO”

Introdução Embora necessária, não se mostra tarefa fácil construir um manual

de orientação para abordagem aos membros do grupo vermelho, ou seja, pessoas em possível estado de dependência, em virtude da delicadeza com que usualmente tratamos o assunto e as maneiras menos danosas de abordarmos pessoas nessa condição.

Baseando-nos na produção acadêmica acerca das intervenções à

dependência e experiência própria dos integrantes da equipe de consultoria, idealizamos o presente instrumento que se propõe tão somente ser um guia de orientação a partir do qual cada membro do grupo de acolhida/encaminhamento poderá desenvolver sua própria técnica de intervenção/abordagem inicial.

Para maior aproveitamento do presente guia, recomendamos como

pré requisito, a leitura do material complementar, anexo ao mesmo e, que dele, é parte integrante; leitura essa considerada indispensável por abordar de forma detalhada conceitos citados e utilizados no presente guia.

Para iniciarmos uma intervenção breve em colaboradores que

estão no grupo vermelho, devemos considerar alguns aspectos: 1- O ambiente/local da entrevista; 2 – Duração da entrevista/ Quantidade de atendimentos diários por

entrevistador; 3- O estado de ânimo (motivação) do entrevistador; 4- Segurança do entrevistador em realizar a entrevista motivacional

(EM); 5- O estado de ânimo (motivação) do entrevistado; 6- Entrevista propriamente dita. 1 – Ambiente/local da entrevista: O local onde se realizará a

entrevista deverá ser na medida do possível aconchegante (mobília adequada, café, chá) climatizado, neutro (que não o local de trabalho do entrevistado), podendo ser onde trabalha o entrevistador. A iluminação deverá ser confortável, de maneira que não irrite os olhos, mas permita um bom contato visual. Deverá ser tranqüilo onde não haja interrupção durante o processo de intervenção, para tanto deve possuir porta com chave. É aconselhável que na porta exista uma sinalização de que neste momento a sala está sendo ocupada, deixando claro que não deve haver interrupção.

Page 3: Manual para Abordagem ao Grupo Vermelho

3

2 – Duração da entrevista / quantidade de atendimentos diários por entrevistador: Recomendamos que a entrevista inicial tenha duração entre 1 a 2 horas e as sessões posteriores, entre 15 e 20 minutos. Cada entrevistador deverá realizar no máximo 4 entrevistas.

3 – Estado de ânimo (motivação) do entrevistador: O

entrevistador deverá estar sóbrio (em todos os sentidos), calmo a ponto de tentar transmitir essa calma e segurança ao entrevistado.

4 – Segurança do entrevistador em realizar a entrevista: O

entrevistador deverá estar seguro de poder realizar a EM. Deverá estar munido dos subsídios necessários para poder intervir motivando o entrevistado para a mudança, estando consciente de que a motivação não virá nas primeiras sessões de EM. Contudo, se não se sentir seguro, poderá remarcar a entrevista inicial para dia posterior ou solicitar sua substituição por outro entrevistador. É necessário que saiba que se já iniciada a entrevista, sua substituição por outro entrevistador poderá ensejar mudança de linguagem e conseqüente perda do vínculo de confiança (feeling) se este já tiver sido estabelecido.

Os subsídios de que falamos, deverão ser adquiridos através de capacitação e formação continuada através de leitura e estudos dos textos complementares anexos a este manual e demais publicações pertinentes.

Deverá ainda estar atento para alguns critérios necessários para o sucesso da Intervenção:

- Postura isenta e ética; - Confidencialidade e sigilo; - Confiança; - Respeito e valorização das diferenças; - Valorização da participação do paciente em seu processo de

cuidado; - Comportamento receptivo e calor humano; - Escuta ativa; - Linguagem clara e acessível, compatível com o nível educacional

do entrevistado; - Desconstruir mitos comuns relativos a usuários de Substâncias

Psicoativas (SPA): (Marginalidade, resistência, pouca adesão, “não cuidam da saúde”).

5 – Estado de ânimo do entrevistado: O estado de ansiedade em

que o entrevistado se apresentar ao local deverá ser levado em consideração pelo entrevistador como referência para dar início/prosseguimento à EM. Caso já tenha iniciado a entrevista e por ventura não conseguir criar o feeling com o entrevistado, este deverá ser dispensado mediante compromisso de posterior entrevista.

6 – Entrevista propriamente dita: Entrevista Motivacional (EM) é

“um estilo de aconselhamento diretivo, centrado na pessoa, que visa estimular a mudança do comportamento, ajudando a pessoa a explorar e resolver sua ambivalência” Rollnick e Miller (22).

Page 4: Manual para Abordagem ao Grupo Vermelho

4

Por se tratar de um método bastante utilizado onde a subjetividade é indispensável como fator que concede personalismo à EM cada entrevistador acaba por desenvolver a técnica que melhor se adapte ao público ao qual se destina; não obstante, certos critérios e recomendações deverão ser levados em consideração e, a seguir, apresentaremos uma técnica bastante utilizada a partir da qual cada entrevistador poderá desenvolver a sua própria.

Aqui abordaremos a técnica em si, nos abstendo de conceitos específicos, que deverão ser adquiridos com a leitura complementar do material em anexo.

Princípios Básicos da EM 1-Expressar empatia; 2-Desenvolver discrepância; 3-Evitar discussões; 4-Fluir com a resistência; 5-Estimular auto eficácia. 1 – Expressar empatia: Aceitar a postura do paciente, tentando

entende-lo sem julgamento ou crítica. Escutar criticamente (escuta ativa): esta técnica é específica da EM. Não é tão frutífero apenas ouvir o que o paciente diz. O elemento essencial aqui é o como o terapeuta responderá ao que ouve: o terapeuta de certa forma adivinha o que o paciente quer dizer, decodificando aquilo que ouviu e refraseando e/ou parafraseando para o paciente na forma de uma afirmação. (Ex: Terapeuta - Deixa-me ver se entendi o que você está dizendo...);

Assumir a ambivalência como algo normal é parte do processo de motivação para a mudança.

2 – Desenvolver discrepância: Entre o atual comportamento do paciente (por exemplo: o consumo de substâncias psicoativas-SPA) e objetivos mais amplos (por exemplo: estabilidade no trabalho e na família). Evidenciar a distância entre onde a pessoa está e onde ela gostaria de estar, é importante para que o paciente:

a- Tenha consciência das conseqüências do atual comportamento;

b- Ficar mais motivado diante da discrepância entre o comportamento atual e objetivos futuros;

c- Deve ser estimulado a apresentar argumentos para a mudança.

3 – Evitar Discussões: Confrontações diretas e discussões são contra produtivas, gera defesa, também suscitam resistência e essa resistência por parte do paciente é um sinal para o terapeuta mudar de estratégia. As discussões geralmente surgem da tentativa do terapeuta confrontar o paciente com seu problema e consequentemente querer encaixá-lo em alguma categoria (isto é, por exemplo, o terapeuta esperar que o paciente se assuma como alcoólatra ou drogado). Categorizar é desnecessário.

Page 5: Manual para Abordagem ao Grupo Vermelho

5

4 – Fluir com a resistência: Saber reconhecer o momento do paciente e saber usá-lo (ao invés de ir contra ele) pode ser positivo. Ter em mente que as percepções do paciente podem mudar (principalmente se forem de relutância ao tratamento, ao contato terapêutico ou mesmo à mudança propriamente dita), se o terapeuta estiver bem preparado para fazê-lo; Novas perspectivas são bem recebidas, porém não devem ser impostas e, o paciente é uma rica fonte para possíveis soluções de problemas.

5 – Estimular auto eficácia: Um conceito bastante importante quando se fala de EM. Conceito criado por Bandura é a crença da própria pessoa na sua habilidade de executar uma tarefa. Auto eficácia é considerada um elemento chave no processo de motivação para mudança. Para estimular a auto eficácia é necessário que o terapeuta acredite na possibilidade de mudança e transmita essa crença ao paciente, ter esperança na variedade de abordagens a qual o paciente pode recorrer. Que o paciente, por sua vez, deve ser responsável por escolher e realizar uma mudança pessoal.

Algumas Estratégias

Tendo em vista que a motivação é um estado mutável é apropriado pensar em estratégias que aumentem a probabilidade de mudança. Por haver vasta literatura sobre o que motiva as pessoas a mudarem seu comportamento resumimos, a seguir, algumas estratégias que podem ser adotadas, asseverando que uma abordagem efetiva somente será conseguida conjugando-se várias dessas estratégias, uma vez que não existem técnicas mágicas, mas possibilidades:

1 - Aconselhar: Por mais valorizados que seja o aspecto ora diretivo, ora não diretivo da EM, às vezes, um conselho claro, na hora e da forma certa, pode fazer a diferença. E de um bom conselho faz parte: identificar o problema ou a área de risco, explicar porque a mudança é necessária e recomendar uma mudança específica;

2 - Remover Barreiras: Uma pessoa no estágio de contemplação pode estar considerando vir ao tratamento, mas estar preocupada em fazê-lo devido a alguns obstáculos do tipo custo, transporte, horário, etc. Essas barreiras podem interferir não só na entrada no tratamento como também no processo de mudança, já que muitas vezes essas barreiras são mais de atitude ou internas do que abertas (isto é, a pessoa que ainda não sabe se vale a pena mudar, por exemplo. Neste caso, a abordagem deve ser mais cognitiva do que prática). O terapeuta bem preparado deve auxiliar o paciente a identificar essas barreiras e ultrapassá-las, asssistindo-o na busca de soluções práticas para o problema;

3 - Oferecer opções de escolha: É provado que a motivação é aumentada quando a pessoa percebe-se capaz de decidir livremente sem influência externa ou sem ter sido obrigada a fazê-lo. Portanto, é indispensável que o terapeuta ajude o paciente a sentir sua liberdade (e consequentemente responsabilidade) de escolha, o que fica facilitado se o terapeuta oferecer várias alternativas para o paciente optar;

Page 6: Manual para Abordagem ao Grupo Vermelho

6

4 - Diminuir a vontade: Se um comportamento é mantido apesar de suas más consequências, é porque este também traz algo de bom. É função do terapeuta identificar os aspectos do comportamento de uso de uma substância do paciente que o está estimulando a manter-se nele, a partir daí buscar formas de diminuir esses incentivos. Nem sempre, a simples constatação racional destes aspectos negativos é suficiente. Pesquisas mostram que o comportamento tem mais chance de mudar se as dimensões afetivas ou de valor forem afetadas. Uma possível abordagem é a de aumentar a consciência do paciente para as consequências adversas do comportamento;

5 - Dar feedback (retorno, realimentação): Caso o paciente não saiba bem onde se encontra no processo terapêutico, fica difícil saber para onde ir. Muitas pessoas acabam por não mudar por falta de retomo quanto à sua atual situação. Portanto, deixar o paciente sempre a par de seu estado presente é um elemento essencial para motiva-lo para a mudança;

6 - Clarificar objetivos: somente dar feedback também não é suficiente. É importante compará-lo com uma meta pré-estabelecida, que oriente o percurso de ação. Portanto, é importante auxiliar o paciente a estabelecer certos objetivos e que estes sejam realistas e atingíveis;

7 - Ajuda ativa: O terapeuta deverá estar ativa e positivamente interessado no processo de mudança do paciente e isto pode ser expresso pela iniciativa em ajudar e pela expressão de cuidado (por exemplo, um simples telefonema frente a uma falta). Muito se discute se esta atitude estaria tomando das mãos do paciente a responsabilidade pelo tratamento. Os criadores da EM dizem: '”a idéia é que primeiro é necessário engajar e manter o paciente no tratamento e depois se preocupar com sua responsabilidade” (Rollnick e Miller).

Como lidar com a ambivalência

A ambivalência segundo o Dicionário Aurélio é o “Estado de quem experimenta ao mesmo tempo, numa determinada situação, sentimentos opostos”. Ou seja, ao mesmo tempo em que o paciente deseja mudar seu comportamento dependente por compreender ser este prejudicial, não consegue por ter sentimentos de prazer, quando do uso de SPA. A ambivalência já foi citada como um aspecto comum a ser encarado no tratamento de dependentes químicos. De certa forma, a EM é centrada no gerenciamento terapêutico da ambivalência. Para tal, é preciso, antes de mais nada, entender como a ambivalência atua naquele paciente em particular: quais são, para este paciente, as partes do conflito, sem pressupô-las. Vale também definir as motivações do paciente bem como suas expectativas quanto à mudança, aspectos estes que podem estar tomando algum lado da balança. Ao invés de encará-la como um 'mau sinal' e tentar persuadir o paciente a mudar, o ideal é encará-la como normal, aceitável e compreensível. Dessa forma. o terapeuta poderá perceber o quão complexo é o dilema do paciente.

Page 7: Manual para Abordagem ao Grupo Vermelho

7

Como lidar com a resistência

Como lidar com a resistência é outro aspecto essencial em (EM) e é neste sentido que a abordagem aqui é radicalmente oposta das técnicas de confronto. Um dos objetivos em (EM) é o de evitar estimular ou aumentar a resistência: quanto mais o paciente resistir, menos chance de mudar ele terá (16) e também estará mais propenso a desistir do tratamento.

De acordo com a perspectiva da EM, a resistência é algo que surge durante o tratamento, da relação terapeuta-paciente. Segundo Prochaska e DiClemente (24) a resistência pode ser um sinal de que o terapeuta está usando técnicas inapropriadas para o estágio de mudança na qual o sujeito se encontra naquele momento. De alguma forma é como se o paciente dissesse: 'Ei espera um pouco, pois eu não estou te seguindo!' Existem vários tipos de comportamento por parte do paciente que assinalam resistência: discutir, interromper, negar e ignorar, mas o que importa não é tanto identificar o tipo mas sim o fato de alguma resistência estar existindo. De certa forma, é comum existir alguma resistência em todo processo terapêutico, especialmente no início. Cabe ao terapeuta perceber se esta relutância inicial vai tomar-se um padrão e é no como o terapeuta responde à resistência que faz a diferença e distingue a EM das demais técnicas.

Estratégias para lidar com a resistência:

A - Reflexão simples: uma boa resposta à resistência é uma de não -resistência. Simplesmente constatar que o paciente discorda ou que ele sente algo, permite explorar melhor a situação ao invés de aumentar as defesas (Exemplo: Paciente - Não sou eu que tenho problemas. Se bebo, é porque minha esposa está sempre me enchendo... Terapeuta - Parece que para você, a razão de você beber são os seus problemas conjugais);

B - Reflexão amplificada: a idéia seria devolver ao paciente o que ele disse de uma forma amplificada ou mesmo exagerada (Exemplo: Paciente - Eu consigo controlar minha bebida. Terapeuta - Então quer dizer que você não tem nada a temer, álcool não é um problema para você). Deve ter-se cuidado pois um comentário deste num tom sarcástico pode ter o efeito inverso de aumentar a resistência, enquanto que o apropriado é fazê-lo diretamente, de forma a apoiar o paciente;

C - Reflexão de dois lados: uma abordagem baseada na escuta crítica é constatar o que o paciente diz e acrescentar a isto, o outro lado da ambivalência do paciente, utilizando material fornecido anteriormente em outras sessões (Exemplo: Paciente - Está bem, eu tenho problemas com drogas, mas eu não sou um drogado. Terapeuta - Você não tem dificuldade em assumir que as drogas estão te prejudicando, mas você não quer ser taxado.);

D - Mudar o foco: aqui a idéia é mudar o foco de atenção do paciente de algo que parece uma barreira para sua evolução (Exemplo: Paciente - Eu sei que o que você quer de mim é que eu pare de usar tudo, fique totalmente careta, mas isso eu não vou fazer! Terapeuta - Ei, espera aí. Nós só estamos

Page 8: Manual para Abordagem ao Grupo Vermelho

8

começando a conversar. Eu ainda não tenho condições de dizer o que é melhor para você, por isso não vamos ficar emperrados nesta discussão. Agora, o que devemos fazer é);

E - Concordar, mas com alguma mudança: aqui o terapeuta concorda com algo que o paciente diz, mas muda sutilmente de direção (Exemplo: Paciente - Não sei porque você e minha mulher pegam tanto no meu pé por causa do meu beber. E os problemas dela? Terapeuta - Você tem razão, temos de ter uma visão mais ampla: problemas de bebida envolvem sempre a família);

F - Enfatizar escolha e controle pessoal: estar sempre assegurando à pessoa que, no fim das contas, quem tem a última palavra é o paciente, ajuda a diminuir a relutância (Exemplo: Terapeuta - Ninguém pode mudar o seu hábito. No fim das contas, quem decide é você);

G - Reinterpretar: isto é, colocar os comentários do paciente num outro contexto ou mesmo dar-lhe outra interpretação, alterando o sentido (Exemplo: Paciente - Eu não agüento mais tentar parar e não conseguir, eu desisto. Terapeuta - Realmente, muitas vezes é difícil ver uma luz no fim do túnel. Eu percebo seu esforço em parar e te admiro por isso. Lembre-se do processo de mudança que discutimos: quanto mais vezes você passar pelas fases, mais chance de chegar à manutenção você terá.);

H - Paradoxo terapêutico: é como dizer ao paciente: "OK talvez seja melhor mesmo você continuar usando drogas..." de uma forma calma, de modo que o paciente resistindo ao terapeuta, possa mover-se adiante, assumindo que não quer mais usar drogas. Porém, esta estratégia requer muita experiência e deve ser usada com cuidado.

Intervenção Motivacional Breve (IMB)

Existem cinco passos a serem seguidos na aplicação de uma Intervenção Motivacional Breve (Fleming, M e col. 1999):

1. Avaliação e feedback: A aplicação de questionário para triagem do problema é o primeiro passo. No caso do Promap, já se procedeu através da aplicação do Questionário de Avaliação do Consumo de Substâncias Psicoativas (QAPCS_I), podendo o mesmo ou outros instrumentos ser utilizados para subsidiarem o entrevistador/terapeuta na IMB.

2. Negociação da meta de tratamento: O terapeuta deverá estabelecer uma meta de tratamento em acordo com o paciente. Se o paciente estiver fazendo uso nocivo o terapeuta pode sugerir como meta o uso controlado. Se o paciente tiver uma dependência já instalada a melhor meta é a abstinência.

3. Técnicas de modificação de comportamento: É muito importante que o terapeuta reconheça o estado de motivação do paciente. Isto vai ajudar na manutenção da meta estabelecida. Se o paciente esta numa fase

Page 9: Manual para Abordagem ao Grupo Vermelho

9

pré contemplativa, ou seja, ainda não se reconhece como dependente ou que seus problemas tem relação com o seu uso de SPA, o terapeuta deverá motiva–lo para tratamento. O paciente necessita antes de estabelecer mudanças no seu comportamento, estar convencido de que a quantidade que esta bebendo esta lhe causando prejuízos. O esquema abaixo ilustra as fases da motivação e o, quadro I mostra o balanço entre os prós e contras relacionados ao uso de SPA. A investigação das áreas de vida com problemas relacionados ao consumo auxilia neste momento. (família, trabalho, amizades, religião,etc).

Quadro I

Quadro para avaliação dos riscos e benefícios de usar SPA

Usar Parar de usar

Vantagens · "relaxa" · Reúne os amigos · Esquece os problemas

· melhora o desempenho no emprego. · Melhora a relação com a família. · Economiza dinheiro. · Melhora a saúde.

Desvantagem

· Perde o controle e a crítica do que faz. · Coloca em risco a saúde física. · Sente-se deprimido no dia seguinte. · Ressaca.

· Perde os amigos. · Não sei como me divertir sem o álcool.

Esquema do Processo de Mudança de Comportamento

Page 10: Manual para Abordagem ao Grupo Vermelho

10

Se o paciente está numa fase contemplativa, ou seja, sabe que o uso está prejudicando, mas ainda não consegue estabelecer nenhuma mudança de comportamento, o terapeuta pode dar instruções objetivas com relação a mudança da rotina e ambiente: não ter a SPA em casa, não freqüentar ambientes onde só se utiliza aquela SPA, evitar a companhia dos amigos que utilizam.

4. Material de auto - ajuda: O terapeuta pode fornecer ao paciente material didático informativo sobre uso de SPA.

5. Seguimento: Para garantir a efetividade a longo prazo, o prosseguimento após o término do ciclo de sessões deverá ser bem planejado, que poderá ser uma visita mensal à sala/consultório (ou outra designação que pareça mais acolhedora) do Promap ou uma visita domiciliar onde exista este tipo de atendimento ou um telefone podem ser efetivos.

Estrutura das sessões

Diferente da Entrevista Inicial os componentes da intervenção breve podem ser incorporados em uma sessão com duração entre 15 e 20 minutos. O número de sessões pode variar de acordo com a gravidade. Se o paciente faz um uso nocivo (características do grupo amarelo, porém no grupo vermelho, assim caracterizado de acordo com a avaliação detalhada do QAPCS_I do colaborador), estudos têm demonstrado que três ou quatro sessões podem ser suficientes. Se o paciente apresenta sintomas de abstinência, só na primeira semana podem ser necessárias duas sessões. Se os sintomas forem leves, uma sessão por semana por três semanas e mais uma sessão por mês por três ou quatro meses à sala/consultório (ou outra designação que pareça mais acolhedora) do Promap são suficientes. Abaixo estão exemplos de intervenções seguindo os passos descritos anteriormente.

1. Primeira sessão: Avaliação e feed back

Questões com relação ao consumo de SPA visando estabelecer um diagnóstico. (Quanto com que freqüência, quando, Com quem, quais os estímulos ambientais?). Se houver ideação suicida ou algum outro problema, o terapeuta deverá considerar o encaminhamento ao especialista.

Alguns exemplos de intervenção e feed back:

Como seu terapeuta estou preocupado com a quantidade que o Sr. está “consumindo” (bebendo, por exemplo) e como isto esta afetando sua saúde.

Menos que 10 por cento das pessoas “bebem” como você.

Você está “bebendo álcool” num nível considerado de alto risco para a sua saúde.

Page 11: Manual para Abordagem ao Grupo Vermelho

11

Nesta primeira sessão já é possível estabelecer uma meta: tratamento da síndrome de abstinência, beber seguro ou abstinência e combinar com o paciente a próxima sessão. Para negociação da meta, segue exemplos de intervenções:

1. Você precisa reduzir a quantidade que está bebendo. 2. O que você acha de tentar diminuir para duas ou três doses

por semana? 3. O que você acha de tentar reduzir a quantidade que vem

bebendo no próximo mês?

Observação: embora a abstinência seja desejável, não devemos ser hipócritas em considerá-la como única alternativa ou condição aceitável. Devemos também considerar a redução de danos, o beber recreacional como aceitável.

2. Segunda sessão:

Avaliação do consumo desde a última sessão. Se o paciente não conseguiu cumprir a meta, quais as dificuldades que encontrou.

Reforçar a meta a ser seguida.

Fornecer material para leitura e auto ajuda.

Preenchimento do quadro de vantagens e desvantagens de beber (quadro I).

Agendar a próxima sessão.

3.Terceira sessão:

Avaliação do consumo desde a última sessão.

Avaliar o quadro de vantagens e desvantagens.

Alguns exemplos de intervenção visando modificação do comportamento.

1. Aqui esta um lista de situações que fazem as pessoas beberem e algumas vezes perderem o controle. Vamos conversar sobre os caminhos que você pode percorrer para evitar tais situações.

2. Você identifica um membro da sua família ou amigo que possa ajudar você evitar as situações que fazem você beber?

Page 12: Manual para Abordagem ao Grupo Vermelho

12

4. Quarta sessão:

Avaliar o uso desde a última sessão.

Rever os pontos de maior dificuldade para enfrentar as situações de risco, e discutir estratégias para enfrentá-las.

Avaliar o progresso do tratamento até o momento e considerar o encaminhamento para centro especializado se necessário.

Conclusão

Assim concluímos este manual, esperando ter contribuído significativamente para a consolidação do Promap Agroserra, sabendo que o tema não se esgota aqui e que a excelência somente poderá ser alcançada mediante a contínua e incessante busca pelo conhecimento e aprimoramento de métodos e técnicas que facilitem a tão difícil arte de motivar as pessoas para a mudança e adoção de uma vida saudável.

Page 13: Manual para Abordagem ao Grupo Vermelho

13

Referências:

JUNGERMAN, Flávia S. & LARANJEIRA, RONALDO. Entrevista Motivacional: Bases teóricas e práticas.

MILLER, W.R. & ROLLNICK, S. Entrevista Motivacional, preparando as pessoas para a mudança de comportamentos aditivos.

PROCHASKA, J. O. & DiCLEMENTE, C.C. Estágios do Processo de Mudança.

SENAD-Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Prevenção ao Uso Indevido de Drogas: Curso de Capacitação para Conselheiros Municipais;

Legislação e Políticas Públicas sobre Drogas

TONICO, Leônidas Silva. Alcoolismo: Como enfrentar e superar.

PMERJ-Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro-Centro de Capacitação Proerd. Subsídios para Informações Preventivas.

Promap Agroserra. Programa Multiplicador de Ações Preventivas.

MOURA, J.C. Projeto Prevenção em Ambientes Específicos.

PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO PAULO. Guia Prático sobre Uso, Abuso e Dependência de Substâncias Psicotrópicas para Educadores e Profissionais da Saúde.

CLÁUDIO JERÔNIMO DA SILVA; LUÍS ANDRÉ P. G. CASTRO: RONALDO LARANJEIRA. Diagnóstico e Tratamento a Dependência e Uso Nocivo de Álcool.

SENASP-Secretaria Nacional de Segurança Pública. Curso Mediação de Conflitos_I.