Manual PCIF Revisado - 2010[1]

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CORPO DE BOMBEIROS DA PMPR

MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS

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CORPO DE BOMBEIROS DA PMPR MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS

O Corpo de Bombeiros da PMPR autoriza a reproduo total ou parcial, desde que citada a fonte.

3 Edio Revisada e Ampliada Curitiba, PR, abril de 2010

Comandante do Corpo de Bombeiros da PMPR Cel. QOBM Geraldo Domaneschi Chefe do Estado do Corpo de Bombeiros da PMPR Cel. QOBM Hercules William Donadello Chefe da 3 Seo do Estado Maior/CCB Ten-Cel. QOBM Carlos Ferreira Nascimento Chefe do Centro de Ensino e Instruo do CB Cap. QOBM Gerson Gross

Equipe de Elaborao Major QOBM Edemilson de Barros Major QOBM Paulo Henrique de Souza Major QOBM Fernando Raimundo Schunig Cap. QOBM Ivan Ricardo Fernandes

Reviso Ortogrfica Naemi Rosana Habermann Avila Organizao Major QOBM Edemilson de [email protected]

Aos nossos grandes mestres! Cel. BMRR Rene Raul Wengeroth Silva Ten-Cel. BMRR Joo Carlos Pinkner In Memorian

PREFCIO Este Manual de Preveno e Combate a Incndios Florestais uma atualizao dos antigos alfarrbios que foram elaborados para suprir a necessidade surgida logo aps os incndios florestais no Paran em 1963, sendo uma obra direcionada a todos os bombeiros que j atuaram em fogo de vegetao. Os primeiros mementos na rea de incndio florestal foram de autoria do falecido Coronel QOBM Ren Raul Wengeroth Silva, que foi um estudioso de assuntos de bombeiro de um modo geral, sempre buscando com isso a melhoria da instruo e principalmente a padronizao de condutas operacionais. Destaco tambm nesta rea de incndios florestais a importante colaborao do falecido Tenente Coronel Joo Carlos Pinkner, pioneiro juntamente com outros Oficiais do Corpo de Bombeiros do Paran pela implantao e divulgao dos Cursos de Combate a Incndio Florestal no Estado do Paran e para outras corporaes da Federao. A evoluo nesta rea tcnica possibilitou a ida de Oficiais Bombeiros Militares para os Estados Unidos da Amrica, tanto que em 1993 fomos eu e o Major Barros representar o Estado do Paran num intercmbio com o US Forest Service / Department of Agriculture do Governo Americano, de onde trouxemos conhecimentos para a aplicao na doutrina de combate a incndios florestais no Estado. Na sequncia foram ministrados vrios cursos nesta rea aos integrantes da nossa Corporao e das Coirms, sempre trazendo novos conhecimentos e consequentemente o aperfeioamento profissional digno de ser estendido a diversos segmentos ligados ao setor florestal. Em sntese, este trabalho um compndio de literatura, de conhecimentos prticos e o mais importante, de muita paixo pela preveno e combate a incndios florestais. Congratulo-me com o Major Barros, um exemplo de bombeiro na Corporao, pela sua iniciativa e dedicao esperando que este manual, bem elaborado e organizado, sirva a todos, sendo uma forma de colaborao na preservao do meio ambiente para as futuras geraes. Marcos Antonio Jahnke, Maj. QOBM, Corpo de Bombeiros do Paran

Pintura Queimada leo sobre tela de Alfredo Andersen (1860/1935) Retrata um incndio florestal no Estado do Paran Fonte: Acervo do Palcio Iguau Sede do Governo do Estado do Paran

INTRODUO No ano de 1963 o Estado do Paran foi assolado por um dos maiores incndios florestais que se tem notcia. Chamou-se naquela poca tal evento de Paran em Flagelo. Foram queimados aproximadamente 2.000.000 ha entre plantaes, florestas e campos, tendo ainda o trgico saldo de 73 mortes, cerca de 4.000 residncias queimadas, desabrigando 5.700 famlias. Por ser um assunto novo na poca, as aes de combate foram extremamente dificultadas, tendo em vista a escassez de pessoal especializado e recursos necessrios. A partir deste fato, vislumbrou-se a necessidade de organizar, no Estado do Paran, uma estrutura para o combate a incndios florestais, com homens treinados, material e equipamento especializado. Foram desenvolvidos estudos viabilizando a implantao de um Curso que contemplasse o assunto em questo e o Corpo de Bombeiros da PMPR formava ento, no ano de 1967, a primeira turma no Curso de Preveno e Combate a Incndios Florestais. A formao e doutrina foi baseada no sistema do United States Forest Service, graas ao empenho e dedicao do ento Tenente Ren Raul Wengenroth Silva, que com a ajuda do Sargento Richard Pedro Bahr e de Celso Schoeniger traduziram manuais norte americanos, adaptando-os e elaborando assim o Manual de Preveno e Combate a Incndios Florestais, que possibilitou ao Corpo de Bombeiros do Estado do Paran assumir a vanguarda de tal atividade, formando combatentes em diversos Estados da Unio, bem como participando de diversas operaes em outros Estados, como na Fora Tarefa que integrou as equipes na ajuda ao combate a incndios florestais no Estado de Roraima em 1998. Atualmente o Corpo de Bombeiros do Paran j formou na atividade de preveno e combate a incndios florestais mais de 1000 combatentes e prevencionistas oriundos de vrios Estados do Brasil, contribuindo desta forma, para a manuteno de nossas matas, florestas e na preservao do meio ambiente.

CURITIBA, PR, ABRIL DE 2010

SUMARIO 1 TEORIA BSICA FLORESTAL.............................................................. 1.1 FOGO.................................................................................................. 1.1.1 Combustvel........................................................................................ 1.1.1.1 Classificao dos combustveis............................................ 1.1.2 Comburente........................................................................................ 1.1.3 Calor................................................................................................... 1.1.3.1 Unidades de calor................................................................ 1.1.3.2 Calor de combusto............................................................. 1.1.3.3 Absoro de calor................................................................ 1.1.3.4 Mtodos de transmisso de calor......................................... 1.1.4 Temperatura....................................................................................... 1.1.4.1 Ponto de fulgor.................................................................... 1.1.4.2 Ponto de combusto............................................................ 1.1.4.3 Ponto de ignio.................................................................. 1.1.5 Tetraedro do fogo............................................................................... 1.2 ESTUDO GERAL DA COMBUSTO......................................................... 1.2.1 Fases da combusto........................................................................... 1.2.1.1 Pr-aquecimento.................................................................. 1.2.1.2 Destilao ou Consumo dos Gases....................................... 1.2.1.3 Incandescncia ou Consumo de Carvo................................ 1.2.2 Classificao das combustes............................................................. 1.2.2.1 Vivas................................................................................... 1.2.2.2 Lentas.................................................................................. 1.2.2.3 Espontneas......................................................................... 1.2.3 Elementos resultantes da combusto.................................................. 1.2.3.1 Fumaa................................................................................ 1.2.3.2 Chama................................................................................. 1.2.3.3 Gases.................................................................................. 1.3 INCNDIO........................................................................................... 1.3.1 Causas de incndios........................................................................... 1.3.1.1 Quanto origem.................................................................. 1.3.1.2 Causas primrias de incndios............................................. 1.3.1.3 Causas secundrias de incndios......................................... 1.3.2 Classificao dos incndios................................................................ 1.3.2.1 Quanto s propores.......................................................... 1.3.2.2 Quanto propagao........................................................... 1.3.2.3 Quanto aos locais................................................................. 1.3.3 Processos de extino........................................................................ 1.3.3.1 Retirada do material combustvel......................................... 1.3.3.2 Resfriamento....................................................................... 1.3.3.3 Abafamento......................................................................... 1.3.4 Agentes Extintores............................................................................. 1.3.4.1 gua.................................................................................... 1.3.4.2 Retardantes qumicos........................................................... 1.3.4.3 Terra do solo....................................................................... 16 16 16 16 17 17 17 17 17 18 20 20 20 20 20 21 21 22 22 22 22 22 22 22 25 25 26 26 27 27 27 28 28 28 28 28 28 30 30 30 30 30 30 31 32

2 FATORES DE PROPAGAO DE INCNDIOS FLORESTAIS....................... 34 2.1 FATORES DO MEIO AMBIENTE.............................................................. 34 2.1.1 Combustveis...................................................................................... 34

2.1.2

2.1.3

2.2 2.3 2.3.1 2.3.2 3. 3.1 3.2 3.2.1 3.2.2 3.2.3 3.2.4 3.2.5 3.2.6 3.2.7 3.2.8 3.2.9

2.1.1.1 Umidade do combustvel...................................................... 2.1.1.2 Arranjo vertical do combustvel............................................ 2.1.1.3 Carga do combustvel........................................................... 2.1.1.4 Compactao do combustvel............................................... 2.1.1.5 Tamanho e forma do combustvel........................................ 2.1.1.6 Continuidade do combustvel............................................... 2.1.1.7 Propriedades qumicas do combustvel................................. Fatores Climticos.............................................................................. 2.1.2.1 Velocidade e direo do vento.............................................. 2.1.2.2 Umidade relativa do ar......................................................... 2.1.2.3 Precipitao......................................................................... 2.1.2.4 Temperatura........................................................................ 2.1.2.5 Estabilidade Atmosfrica...................................................... Topografia.......................................................................................... 2.1.3.1 Inclinao............................................................................. 2.1.3.2 Exposio............................................................................ 2.1.3.3 Elevao............................................................................... PARTES DE UM INCNDIO FLORESTAL.................................................. PROPAGAO DE INCNDIOS FLORESTAIS........................................... Propagao pelo vento....................................................................... Propagao pela ao das correntes de conveco............................. MATERIAIS E EQUIPAMENTOS DE COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS....................................................................................... BOMBAS.............................................................................................. FERRAMENTAS E APARELHOS............................................................... Faco com bainha............................................................................... Foice................................................................................................... Machado lenhador (Pulaski)................................................................. Enxada................................................................................................ Rastelo................................................................................................ Mcleod................................................................................................ Ps e cortadeiras................................................................................. Queimador para incndio controlado.................................................. Motosserra.......................................................................................... Roadeira............................................................................................ Abafador............................................................................................. Mangueiras e esguichos...................................................................... Bomba Costal e Mochila Costal............................................................ Manuteno das ferramentas.............................................................. MATERIAL DE ILUMINAO................................................................. Lanterna de mo................................................................................. Lanterna de cabea............................................................................. Gerador de energia............................................................................. Extenses e lmpadas......................................................................... EQUIPAMENTO DE PROTEO INDIVIADUAL (EPI)................................. Capacete............................................................................................. Protetor auricular................................................................................ Protetor de vista.................................................................................. Leno em algodo............................................................................... Balaclava.............................................................................................

35 36 37 37 37 38 38 38 38 39 40 41 41 42 42 43 43 43 44 44 44 47 47 48 48 48 48 49 49 49 49 49 50 50 51 51 51 52 53 53 54 54 55 55 55 56 56 56 56

3.2.10 3.2.11 3.2.12 3.2.13 3.2.14

3.3 3.3.1 3.3.2 3.3.3 3.3.4 3.4 3.4.1 3.4.2 3.4.3 3.4.4 3.4.5

3.4.6 3.4.7 3.4.8 3.4.9 3.5 3.5.1 3.6 3.6.1 3.6.2

Luva de vaqueta.................................................................................. Bota.................................................................................................... Polainas em couro............................................................................... Roupa resistente a chama................................................................... VECULOS DE COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS.............................. Veculos pesados................................................................................ COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS COM AERONAVES........................ Emprego de avies.............................................................................. Emprego de helicpteros.................................................................... 3.6.2.1 Segurana nas operaes com helicpteros.......................... 3.7 MATERIAIS ESPECIAIS DE COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS............. 3.7.1 Kit pick-up para incndios florestais.................................................. 3.7.2 Extintor de exploso........................................................................... 4. 4.1 4.1.1 4.1.2 4.1.3 4.2 4.3 4.3.1 4.3.2 4.3.3 5. 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 5.6 5.6.1 5.6.2 ORGANIZAO DE PESSOAL ............................................................. GUARNIES DE INCNDIOS FLORESTAIS............................................. Guarnio de Combate a Incndio Florestal (GCIF)............................... Guarnio de Queima (GQ).................................................................. Guarnio de Tombamento (GT).......................................................... SOCORRO DE INCNDIOS FLORESTAIS................................................. PRONTIDO DE INCNDIOS FLORESTAIS.............................................. Prontido Reduzida............................................................................. Prontido Padro................................................................................. Prontido Ampliada............................................................................. TCNICAS E TTICAS DE COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS....... DETECO.......................................................................................... COMUNICAO................................................................................... MOBILIZAO..................................................................................... CHEGADA AO LOCAL........................................................................... ESTUDO DA SITUAO........................................................................ COMBATE AO INCNDIO...................................................................... Ataque Direto..................................................................................... Ataque Indireto................................................................................... 5.6.2.1 Aceiro Progressivo............................................................... 5.6.2.2 Aceiro por Setor................................................................... 5.6.2.3 Princpios de Construo de Aceiros..................................... Tcnicas de Queimadas....................................................................... RESCALDO.......................................................................................... COMBATE INICIAL................................................................................ Caractersticas do Combate Inicial....................................................... Informaes iniciais............................................................................ Localizando o incndio....................................................................... Anlise de comportamento do fogo.................................................... Procedimentos no deslocamento......................................................... Chegada na rea do incndio.............................................................. Avaliaes do Combate Inicial............................................................. Informaes iniciais a serem repassadas............................................. COMBATE A GRANDES INCNDIOS....................................................... O Sistema de Comando de Incidentes................................................. 5.9.1.1 Princpios do SCI..................................................................

57 57 57 57 58 59 59 60 61 63 66 66 67 69 69 69 69 70 70 70 70 70 70 74 74 75 75 75 75 77 77 78 78 79 79 80 80 80 81 81 81 81 81 81 83 84 84 87 87

5.6.3 5.7 5.8 5.8.1 5.8.2 5.8.3 5.8.4 5.8.5 5.8.6 5.8.7 5.8.8 5.9 5.9.1

5.9.1.2 Estrutura e funes do SCI................................................... 5.9.1.3 Instalaes do SCI................................................................ 5.9.1.4 Gerenciamento de recursos.................................................. 5.9.1.5 Situao do Incidente........................................................... 5.9.1.6 Comunicaes no Incidente.................................................. 5.9.2 Caractersticas de um grande incndio florestal.................................. 5.9.2.1 Transio entre o combate inicial e o combate a um grande incndio florestal................................................................. 5.9.2.2 Assuno do comando......................................................... 6. 6.1 6.2 6.2.1 PREVENO CONTRA INCNDIOS FLORESTAIS................................ PROTEO CONTRA INCNDIOS FLORESTAIS....................................... PREVENO CONTRA INCNDIOS FLORESTAIS..................................... Remoo e controle de riscos e causas de incndios florestais ocasionados pelo homem................................................................... 6.2.1.1 Classificao do risco florestal............................................. 6.2.1.2 Origem do incndio florestal................................................ 6.2.1.3 Riscos e causas.................................................................... Preveno da propagao do fogo....................................................... 6.2.2.1 Construo de aceiros de segurana.................................... 6.2.2.2 Cortinas de segurana.......................................................... 6.2.2.3 Construo de audes.......................................................... Tcnicas de queimadas....................................................................... 6.2.3.1 Queima contra o vento......................................................... 6.2.3.2 Queima a favor do vento...................................................... 6.2.3.3 Queima de flancos............................................................... 6.2.3.4 Queima em manchas............................................................ 6.2.3.5 Queima central..................................................................... 6.2.3.6 Queima em V (Chevron)....................................................... Deteco e aviso de incndio.............................................................. Plano de proteo florestal.................................................................. 6.2.5.1 Objetivos de um plano de proteo florestal........................ Vigilncia florestal.............................................................................. ASPECTOS LEGAIS................................................................................ Cdigo Florestal.................................................................................. Decreto Lei 97.637............................................................................. Decreto Lei 6.515............................................................................... Decreto Estadual 4.223....................................................................... Decreto Estadual 6.416.......................................................................

87 87 87 88 88 89 89 90 99 99 99 99 99 99 100 101 102 103 103 103 103 104 104 104 104 105 105 105 105 106 109 110 111 112 115 116 118 118 118 119 119 119 119 119 120 120 121

6.2.2

6.2.3

6.2.4 6.2.5 6.2.6 6.3 6.3.1 6.3.2 6.3.3 6.3.4 6.3.5 7. 7.1 7.1.1 7.1.2

METEOROLOGIA APLICADA A INCNDIOS FLORESTAIS.................... CONDIES METEOROLGICAS........................................................... Temperatura....................................................................................... Umidade............................................................................................. 7.1.2.1 Presso de vapor.................................................................. 7.1.2.2 Umidade absoluta................................................................ 7.1.2.3 Razo da mistura................................................................. 7.1.2.4 Umidade relativa.................................................................. 7.1.2.5 Medidas de umidade............................................................ 7.1.2.6 Umidade dos combustveis................................................... 7.1.3 Vento..................................................................................................

7.1.3.1 Tipos e caractersticas de ventos.......................................... 7.1.4 Nuvens............................................................................................... 7.1.5 Precipitao........................................................................................ 7.1.5.1 Medidas de precipitao....................................................... 7.1.6 Presso Atmosfrica............................................................................ 7.1.7 Estabilidade Atmosfrica..................................................................... 7.1.7.1 Levantamento orogrfico...................................................... 7.2 CLCULO DE RISCO DE INCNDIO....................................................... 7.2.1 Clculo do ndice de perigo empregando frmulas.............................. 7.2.1.1 Frmula de Angstron............................................................ 7.2.1.2 Frmula de Monte Alegre..................................................... 7.2.1.3 Frmula de Monte Alegra alterada........................................ 7.3 NDICES DE DESCONFORTO HUMANO.................................................. 8. 8.1 8.2 8.2.1 8.2.2 8.2.3 8.2.4 8.3 8.3.1 8.3.2 8.3.3 8.3.4 PERCIA APLICADA A INCNDIOS FLORESTAIS.................................. DETERMINAO DA ORIGEM DO INCNDIO......................................... PRINCPIOS DA PROPAGAO DO FOGO.............................................. Vento.................................................................................................. Declividade......................................................................................... Combustveis...................................................................................... Barreiras............................................................................................. INDICADORES DA DIREO DO FOGO................................................. Indicadores nos talos das gramneas................................................... Indicadores de combustveis protetores.............................................. Indicadores de queima em forma de cava............................................ Padro de carbonizao...................................................................... 8.3.4.1 Forma de jacar................................................................. 8.3.4.2 Congelamento dos galhos das rvores............................... 8.3.4.3 Manchas.............................................................................. 8.3.4.4 Fuligem................................................................................ DETERMINAO DA CAUSA DO INCNDIO........................................... Categoria das causas de incndio........................................................ Eliminao das causas......................................................................... MTODOS DE INVESTIGAO.............................................................. INDICADORES DE FONTE DE IGNIO.................................................. Relmpagos........................................................................................ Dispositivos incendirios.................................................................... Incndios causados pela ao humana em fontes de ignio bvias.... Incndios causados pela ao humana e cujas fontes de ignio no so bvias........................................................................................... MATERIAIS PARA PERCIA..................................................................... Objetos demarcadores........................................................................ Rgua................................................................................................. m..................................................................................................... Cmera............................................................................................... Materiais escritos................................................................................ Trena de ao....................................................................................... Bssola............................................................................................... GPS..................................................................................................... AES NECESSRIAS........................................................................... A caminho do incndio.......................................................................

121 122 123 124 124 125 126 126 127 127 127 128 129 132 132 132 132 132 133 133 133 133 133 134 134 135 135 135 135 136 137 137 138 138 138 139 139 139 142 142 143 143 143 143 143 143 143 143 143

8.4 8.4.1 8.4.2 8.5 8.6 8.6.1 8.6.2 8.6.3 8.6.4 8.7 8.7.1 8.7.2 8.7.3 8.7.4 8.7.5 8.7.6 8.7.7 8.7.8 8.8 8.8.1

8.8.2 Chegando ao local do incndio........................................................... 9. 9.1 9.1.1 9.1.2 9.1.3 9.1.4 9.1.5 9.2 9.2.1 9.2.2 9.2.3 9.3 9.3.1 9.3.2 9.3.3 9.3.4 9.3.5 9.3.6 9.4 TCNICAS DE ORIENTAO E NAVEGAO...................................... MAPAS................................................................................................ Mapas topogrficos............................................................................. Sistema UTM....................................................................................... Escala................................................................................................. Como ler uma carta topogrfica.......................................................... Curvas de nvel................................................................................... BSSOLA............................................................................................. Declinao magntica......................................................................... Componentes de uma bssola............................................................ Azimute.............................................................................................. 9.2.3.1 Azimutes sobre o mapa........................................................ 9.2.3.2 Azimutes no campo............................................................. GPS..................................................................................................... Waypoints......................................................................................... Funo GO TO.................................................................................. Funo MOB..................................................................................... Consideraes importantes................................................................. Empregando rotas no GPS................................................................... Uso do GPS em um incndio florestal.................................................. 9.3.6.1 Empregando uma carta topogrfica...................................... 9.3.6.2 Empregando uma aeronave.................................................. PERCURSO DE CAMINHADAS................................................................

144 148 148 148 148 148 149 150 150 150 151 152 152 154 154 155 155 155 156 156 156 156 157 157 160 160 160 160 160 160 161 162 162 162 162 164 165 165 166 166 166 166 166 166 166 167 167 167

10. SOCORROS DE URGNCIA NOS INCNDIOS FLORESTAIS.................. 10.1 ATENDIMENTO INICIAL VTIMA DE TRAUMA...................................... 10.1.1 Controle da cena................................................................................. 10.1.1.1 Segurana do local............................................................... 10.1.1.2 Mecanismo de trauma.......................................................... 10.1.1.3 Abordagem da vtima........................................................... 10.2 RESSUSCITAO CRDIO-PULMONAR.................................................. 10.2.1 RCP em adultos................................................................................... 10.2.1.1 Abertura de vias areas........................................................ 10.2.1.2 Ventilao............................................................................ 10.2.1.3 Compresso torcica............................................................ 10.3 FERIMENTOS....................................................................................... 10.3.1 Atendimento a vtimas de ferimentos.................................................. 10.4 FRATURAS E LUXAES...................................................................... 10.4.1 Classificao das fraturas................................................................... 10.4.2 Sinais e Sintomas................................................................................ 10.4.3 Atendimento a vtimas de fraturas...................................................... 10.4.4 Luxaes............................................................................................ 10.4.4.1 Sinais e sintomas................................................................. 10.4.4.2 Cuidados de emergncia...................................................... 10.5 QUEIMADURAS.................................................................................... 10.5.1 Anatomia da pele................................................................................ 10.5.1.1 Epiderme............................................................................. 10.5.1.2 Derme.................................................................................. 10.5.1.3 Tecido subcutneo...............................................................

10.5.2 Classificao das queimaduras............................................................ 10.5.2.1 Quanto s causas................................................................. 10.5.2.2 Quanto profundidade........................................................ 10.5.2.3 Quanto extenso............................................................... 10.5.2.4 Quanto localizao............................................................ 10.5.2.5 Quanto gravidade.............................................................. 10.5.3 Atendimento ao queimado.................................................................. 10.6 ACIDENTES COM ANIMAIS PEONHENTOS........................................... 10.6.1 Ofdios................................................................................................ 10.6.1.1 Gnero Bothropos................................................................ 10.6.1.2 Gnero Crotalus................................................................... 10.6.1.3 Gnero Micrurus.................................................................. 10.6.2 Aranhas.............................................................................................. 10.6.2.1 Aranha Marron..................................................................... 10.6.2.2 Aranha Armadeira................................................................ 10.6.3 Escorpies.......................................................................................... 10.6.4 Insetos................................................................................................ FATORES DE CONVERSO.............................................................................. EVOLUO DOS INCNDIOS FLORESTAIS NO ESTADO DO PARAN.............

167 167 167 167 167 168 168 168 169 170 170 171 172 172 172 172 173 175 177

FLUXOGRAMA DE DESPACHO E ATENDIMENTO DE OCORRNCIA DE INCNDIO FLORESTAL.................................................................................... 178 REFERNCIAS.................................................................................................. 179

MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPR

01

TEORIA BSICA FLORESTAL

SEM EXCEES: SEGURANA EM PRIMEIRO LUGAR!

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPR1. TEORIA BSICA FLORESTAL 1.1 FOGO o desenvolvimento de luz e calor produzidos simultaneamente pela combusto de certos corpos. Para fins de aplicaes prticas, foi idealizada uma representao para o fogo, sendo ele o resultante de um elemento geomtrico de trs lados (Tringulo do Fogo), que se obteria quando se reunissem trs elementos componentes que so o combustvel, o comburente (oxignio) e calor, cada um com uma denominao especial. elemento que serve propagao do FOGO. de campo de

1.1.1.1 Classificao dos combustveis Os combustveis classificados: a. Quanto ao estado fsico: Slidos: estes combustveis para entrarem em combusto, tem que passar do estado slido para o gasoso. So os comumente encontrados no ambiente florestal. Ex: grama, arbustos, rvores. Gasosos: So diversos gases inflamveis. O perigo destes gases reside principalmente na possibilidade de vazamento dos mesmos, podendo formar com o ar atmosfrico, misturas explosivas que facilmente atingem uma fonte de ignio. Ex: gs liquefeito de petrleo (GLP). Lquidos: Raramente encontrados nos incndios florestais, exceto quando atingem depsitos de estocagem destes produtos. Ex: lcool, gasolina etc. b. Quanto volatilidade Volteis: Na temperatura ambiente desprendem vapores capazes de inflamar; No Volteis: Necessitam aquecimento para inflamar. c. Quanto propagao do fogo Leves: Compem-se de grupo de folhas secas, folhas mortas, arbustos, vegetais oleosos (cedro). So combustveis de fcil propagao e muitas vezes servem de base para combusto em combustveis pesados; de so assim

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FIGURA 1 Tringulo do fogoFONTE: Acervo de Major QOBM Edemilson de Barros

Em qualquer incndio florestal necessrio haver combustvel para queimar, oxignio para manter as chamas e calor para iniciar e manter o processo de queima. Se retirarmos qualquer um destes elementos, ou mesmo reduzi-los a certos nveis, o processo da combusto invivel. 1.1.1 Combustvel Os combustveis em sua maioria so compostos orgnicos, verificando-se em sua molcula normalmente tomos de carbono e de hidrognio. o

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRPesados: So combustveis de propagao lenta. Por exemplo: grandes troncos, rvores de grande porte. 1.1.2 Comburente o gs que serve para produzir e manter a combusto por meio da sua combinao com os gases provenientes do aquecimento dos combustveis. O comburente mais abundante o Oxignio (O2) que encontrado a 21% na atmosfera. Experincias mostraram que se reduzirmos a porcentagem de oxignio abaixo de 15% no teremos o processo da combusto. 1.1.3 Calor uma forma de energia. Nos incndios florestais, normalmente a energia para ignio o calor que ser originado das maneiras mais diversas, tais como: brasas, pontas de cigarros, queima de lixo, resduos de escapamento de veculos, etc. A temperatura de ignio dos combustveis florestais est entre 260 a 400 C. 1.1.3.1 Unidades de calor a. Quilo-caloria (Kcal) a quantidade de calor que deve ser fornecida a um quilograma de gua para elevar a sua temperatura de um grau Celsius. b. Caloria (cal) a quantidade de calor que deve ser fornecida a um grama de gua para elevar a sua temperatura de um grau Celsius. c. BTU (British Thermal Unit) a quantidade de calor que precisa ser fornecida a uma libra de gua para elevar sua temperatura de um grau Fahrenheit. 1.1.3.2 Calor de combusto Definimos calor de combusto como sendo a quantidade de calor liberada por unidade de massa ou por unidade de volume, quando se queima completamente uma substncia. Os calores de combusto dos combustveis slidos e lquidos so normalmente expressos em Kcal ou BTU/libra. O calor de combusto de algumas substncias apresentado na tabela a seguir:SUBSTNCIA Madeira Gs de carvo Gs Natural Carvo lcool Etlicoleo Combustvel

CALOR DE COMBUSTO 4500 kcal/kg 5400 Kcal/m3 9000 a 22500 Kcal/m3 7000 a 9500 Kcal/m3 7000 Kcal/kg 10.000 kcal/kg

1.1.3.3 Absoro de calor A gua capaz de realizar este fenmeno. Sabemos que a gua, para elevar sua temperatura de um grau, precisa de uma unidade de calor chamada caloria. Quando a temperatura da gua atingir 100C, sua massa absorveu certo nmero de calorias. Suponhamos que um litro de gua a 10C de temperatura, para atingir 100C de temperatura, precisar de 90 Kcal. Para um litro de gua atingir, do ponto de ebulio ao ponto de vapor, sua massa absorve mais 540 Kcal. Portanto, o litro de gua utilizado para extinguir o fogo absorver, do estado

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRlquido ao estado de vapor, 540+90=630 calorias. Conclui-se que, para absorver todo o calor contido num quilograma de um corpo qualquer em combusto, sero precisos tantos quilogramas de gua quantos o nmero 630 couber no nmero de calorias desprendidas por tal corpo. Exerccio de fixao 1: leo combustvel 10.000 Kcal/Kg. Quanto de gua ser necessrio para absorver o calor de leo combustvel? 10.000 630 = 15,8 l combustveis prximos, a fim de que o incndio possa avanar ou se propagar. Essa transferncia de calor pode ocorrer por conduo, radiao e conveco. a. Conduo a transferncia de calor por contato direto com a fonte aquecida de calor. Quando uma substncia aquecida ela absorve calor e sua atividade molecular interna aumenta. O aumento da atividade molecular acompanhado de um aumento de temperatura. A capacidade de conduzir calor varia bastante entre diferentes substncias. Os materiais combustveis florestais so maus condutores de calor, da a pequena importncia da conduo na propagao dos incndios florestais. b. Radiao a transferncia do calor pelo espao, por meio de ondas ou raios, em todas as direes, velocidade da luz. Radiao o nico meio de transferncia de calor que no requer uma substncia intermediria entre a fonte de calor e a substncia receptora, podendo processar-se inclusive no vcuo, como por exemplo o aquecimento da terra pelo sol.

O resultado refere-se a quantidade para absoro de um litro de leo combustvel. Exerccio de fixao 2: Incndio em reflorestamento de pinus, com 100 toneladas de madeira. Total: 100.000 kg de madeira Calor de Combusto: 4500 cal/kg 100.000 * 4500= 450.000.000 cal 450.000.000 cal = 715.000 litros 630 Portanto seriam necessrios perto de 715.000 litros de gua para a extino de tal incndio admitindo-se que toda a gua se vaporize. 1.1.3.4 Mtodos de transmisso de calor Uma fonte de calor suficientemente forte uma das condies necessrias para a ocorrncia e a continuidade da combusto para os

FIGURA 2 Ao da radiao.Autor: Sd. QPM 2-0 Antonio Marcos de Lima Andrade

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRc. Conveco a transferncia de calor por meio do movimento circular ascendente de massas de ar aquecidas. O ar aquecido diminui sua densidade, tornando-se mais leve e tendendo a subir. Segundo o princpio da conveco, o fogo pode criar condies de turbulncia aspirando oxignio pelos lados e lanando para cima o ar aquecido. Esse processo responsvel pelo barulho que se ouve em grandes incndios que se movimentam rapidamente. interior das peas individuais de combustvel (pedaos de madeira) por conduo para que a combusto continue. Para que o fogo se propague, o calor deve ser transferido para o combustvel que ainda no queimou e essa transferncia feita principalmente por radiao ou conveco. Se no existe vento e o terreno plano, a coluna de conveco praticamente vertical. Nesse caso a transferncia de calor para o combustvel frente do fogo insignificante e a radiao tornase o mais importante mtodo de transmisso do calor que sustenta a combusto. A presena de vento e uma topografia acidentada favorecem o movimento convectivo e ento a conveco passa a ser o processo dominante na propagao, principalmente dos grandes incndios. d. Deslocamento de corpos inflamados O combustvel florestal ao queimar pode lanar frente da linha de fogo, fagulhas ou material florestal em brasa. Tal fenmeno ocorre principalmente em funo da ao do vento. Regies de extensas florestas, reflorestamentos e campos so mais suscetveis a tais fenmenos.

FIGURA 3 Ao da conveco.Autor: Sd QPM 2-0 Antonio Marcos de Lima Andrade

Todos os trs mtodos de transferncia de calor conduo, radiao e conveco - geralmente esto atuando simultaneamente em um incndio florestal. No entanto o grau de importncia de cada mtodo varia de acordo com a situao. No incio de um incndio, o calor de uma fagulha pode ser transferido para o combustvel por qualquer um dos mtodos, ou por uma combinao dos mesmos. Ocorrida a ignio, o calor de qualquer um dos combustveis deve ser transferido para o

FIGURA 4 Deslocamento de corpos.Autor: Sd QPM 2-0 Antonio Marcos de Lima Andrade

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRDevemos considerar ainda que o incndio florestal quando assume propores maiores cria condies prprias, principalmente correntes de ar em funo da conveco. Ex: fagulhas, quedas de rvores e animais se deslocando pela floresta com o pelo em chamas. e. Correntes ou descargas eltricas Ocorrem principalmente devido a incidncia de raios. J foram registrados casos no Estado do Paran de incndios florestais que tiveram origem em funo de descargas atmosfricas. Outro ponto que se deve considerar so as torres de alta tenso, pois pode haver rompimento de cabos energizados que ao cair na vegetao podem dar incio aos incndios. 1.1.4 Temperatura A idia sobre a temperatura tem sua origem na sensao que nos diz que um corpo est frio ou quente. Todos os corpos combustveis para entrarem em combusto, necessitam atingir determinadas temperaturas: 1.1.4.1 Ponto de fulgor a temperatura mnima na qual os corpos combustveis comeam a desprender vapores que se incendeiam em contato com uma fonte externa de calor, entretanto a combusto no se mantm, devido a insuficincia na quantidade de vapores emanados dos combustveis. 1.1.4.2 Ponto de combusto a temperatura mnima na qual os gases desprendidos dos corpos combustveis, ao entrar em contato com a fonte externa de calor, entram em combusto e continuam a queimar. 1.1.4.3 Ponto de ignio a temperatura mnima na qual os gases desprendidos dos corpos combustveis entram em combusto, apenas pelo contato com oxignio do ar, independente de qualquer fonte de calor externa. 1.1.5 Tetraedro do Fogo O fenmeno qumico da Combusto uma reao que se processa em cadeia, que aps a partida inicial, mantida pelo calor produzido durante o processamento da reao. Assim, na combusto do Carbono para formao do CO2, temos a seguinte reao. C + 02 CO2 + 92,2 Kcal/Mol A cadeia de reaes formada durante a combusto propicia a formao de produtos intermedirios instveis, principalmente radicais livres prontos para combinar-se com outros elementos, dando origem a novos radicais ou finalmente a corpos estveis. Portanto, na rea de combusto sempre teremos a presena de radicais livres. A estes radicais livres cabe a responsabilidade da transferncia de energia necessria transformao da energia qumica em calorfica, decompondo as molculas ainda intactas e desta maneira provocando a propagao do fogo em uma cadeia de reao. Exemplificaremos abaixo, a combusto do Hidrognio no ar: 2H2+O2+En. 4H(Rad)+2O(Rad) Duas molculas de Hidrognio, reagem com uma molcula de oxignio ativadas por uma fonte de energia trmica e produz quatro molculas

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRradicais ativos de H e dois radicais ativos de O. Cada radical de H combina-se com uma molcula de O produzindo um radical ativo de hidroxila (OH), mais um radical ativo de O: H(Rad)+O2 OH(Rad)+O(Rad) Cada radical ativo de O reage com uma molcula de H produzindo outro radical ativo de hidroxila mais um radical ativo de hidrognio. O(Rad)+H2 OH(Rad)+H(Rad) Cada radical ativo de hidroxila reage com uma molcula de H produzindo o produto final estvel (gua) e mais um radical ativo de hidrognio. OH (Rad) + H2 H2O + H A figura 5, representa o estudo da combusto como um quadrado (ou tetraedro), tendo em sua base o combustvel, em suas laterais o Comburente (Oxignio) e o Calor (Fonte de Ignio) e na aresta superior a Reao em cadeia. 1.2 ESTUDO GERAL DA COMBUSTO A combusto uma reao qumica muito frequente na natureza. um processo que se realiza sob temperatura elevada (temperatura de ignio), entre o comburente (oxignio do ar) e os tomos, principalmente de carbono e hidrognio de certas substncias que pelo fato de se prestarem bem a esse processo, so chamados de combustveis. Pelo exposto, resumiremos dizendo que a combusto uma combinao acompanhada de calor e frequentemente de luz. Assim sendo, o fenmeno combusto pode ser por exemplo: o fato de o carvo arder no ar ambiente, ou o tungstnio arder em atmosfera de cloro, porm as combustes mais frequentes e mais antigas conhecidas, so as oxidaes, ou seja, a reao do combustvel quando aquecido temperatura de ignio com o oxignio. 1.2.1 Fases da Combusto Quando um combustvel submetido ao do calor, ocorre um aumento de temperatura que decorrente do movimento de acelerao das molculas do material. Com o acrscimo da quantidade de calor, algumas dessas molculas se desprendem e formam vapor ou gs, e se a quantidade de calor for suficiente, o vapor poder se transformar em chamas, iniciando-se o processo da

FIGURA 5 Tetraedro do fogo.FONTE: Manual de combate a incndios Corpo de Bombeiros da PMPR/CEI.

Assim sucessivamente se forma a cadeia de combusto produzindo sua prpria energia de ativao (calor) enquanto houver suprimento de combustvel (hidrognio). Como consequncia do acima exposto, aparece mais um elemento essencial do fogo: a REAO EM CADEIA.

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRcombusto. No ambiente florestal observamos trs fases distintas: 1.2.1.1 Pr-aquecimento Nesta fase, o material combustvel secado, aquecido e parcialmente destilado, porm no existem chamas. O calor elimina o vapor dgua e continua aquecendo o combustvel at a temperatura de ignio, aproximadamente entre 260 e 400C para a maioria do material florestal. 1.2.1.2 Destilao ou Combusto dos Gases Os gases destilados do combustvel se acendem e se queimam, produzindo chamas e altas temperaturas, que podem atingir 1250C ou um pouco mais. Nesse estgio do processo de combusto os gases esto queimando, mas o combustvel propriamente dito ainda no est incandescente. Olhando-se atentamente um pedao de madeira que est queimando, por exemplo um fsforo aceso, observa-se que as chamas no esto ligadas diretamente superfcie da madeira, mas separadas dela por uma fina camada de vapor ou gs. Isto ocorre porque combustveis slidos no queimam diretamente, necessitando primeiro serem decompostos ou pirolisados pela ao do calor, em vrios gases uns inflamveis e outros no. 1.2.1.3 Incandescncia ou Consumo do Carvo Nesta fase o combustvel (carvo) consumido, restando apenas cinzas. O calor gerado intenso, mas praticamente no existem chamas nem fumaa. A quantidade de calor liberada nesta fase depende do tipo de combustvel mas de um modo geral pode-se dizer que 30 a 40% do calor de combusto da madeira est no seu contedo de carbono. Embora haja certa superposio entre elas, as trs fases da combusto podem ser perfeitamente observadas em um incndio florestal. A primeira a zona na qual folhas e gramneas se enrolam e se crestam, a medida que so pr-aquecidas, pelo calor das chamas que se aproximam. Em seguida vem a zona de combusto dos gases, onde se destacam as chamas. Aps a passagem das chamas vem a terceira e menos distinta das zonas, a do consumo de carvo. 1.2.2 Classificao das Combustes 1.2.2.1 Vivas So as que se processam com certa rapidez, produzindo calor e desenvolvimento de luz ou incandescncia. 1.2.2.2 Lentas Tambm chamadas Eremacause, so combustes em que o desenvolvimento de calor pequeno e no se faz notar; por exemplo: combusto no interior do organismo dos seres organizados. 1.2.2.3 Espontneas Chama-se combusto espontnea o fato de alguns corpos terem como propriedade caracterstica, a possibilidade de se combinarem com o oxignio do ar ou de outro portador (agentes oxidantes) com que estejam em contato, ocasionando uma reao exotrmica, isto , com desprendimento

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRde calor, o que favorece sua combusto, sem o concurso de uma fonte externa de calor, centelha ou outra causa de incndio. A combusto espontnea, iniciase normalmente por uma lenta reao qumica (oxidao) que gera algum calor e este processo vai se acelerando at tomar lugar uma rpida oxidao. Com exceo de alguns corpos sujeitos a uma rpida oxidao, o processo de combusto espontnea lento e a ignio pode ocorrer aps dias ou mesmo semanas, durante os quais a temperatura se elevou lentamente. Pode ocorrer sem efeitos perigosos, desde que o calor gerado v se dissipando medida que for sendo produzido e desse modo no chega a atingir o ponto de ignio do corpo em que ocorrer. As condies abaixo favorecem um aquecimento perigoso de muitas substncias, principalmente as sujeitas combusto espontnea. a. Presena da umidade Em certos casos, este fator, dentro de determinados limites, pode favorecer o aquecimento, como por exemplo o carvo de lenha. O carvo de lenha tambm sujeito combusto espontnea. O fabricado com lenha pesada e em retortas mais sujeito do que aquele feito com madeira leve e em fornos. A combusto espontnea ocorre mais facilmente no carvo recente do que no velho, o material mais triturado oferece maior perigo. Este tipo de combusto tambm pode ocorrer em produtos vegetais sujeitos a fermentao por bactrias ou enzimas. Nesta hiptese o aquecimento dar-se- em dois ou mais estgios: o primeiro at 70 ou 80 C, provocado pela fermentao ou outra ao microbiana, pois, acima desta temperatura cessam todas as atividades vitais dos microorganismos e enzimas. O aumento de temperatura no segundo estgio atribudo a uma oxidao qumica que faculta ao corpo alcanar seu ponto de ignio. A madeira quando sujeita a uma prolongada ao de temperatura no muito alta, pode queimar espontaneamente, devido a formao de carbono poroso ou carvo na superfcie exposta da mesma. b. Pirlise A pirlise definida como sendo a decomposio qumica de uma substncia, pela ao do calor. Ela avana em trs estgios, como segue: Certos gases, inclusive o vapor dgua, lentamente so liberados da decomposio da madeira (usada como exemplo). O componente combustvel destes gases aumenta durante os primeiros estgios da pirlise. Primeiro, a superfcie da madeira atacada. Com aumento da temperatura a reao se move mais a fundo na madeira. A evoluo gasosa continua e, se disponvel a mnima energia de ignio, os gases entram em ignio, quando o limite de inflamabilidade mais baixo atingido. Na temperatura em que a ignio ocorre, o processo qumico geral se altera de endotrmico para exotrmico e a reao se torna auto sustentadora. Nesta temperatura de ignio, os gases liberados so, em primeiro lugar, muito ricos em CO2 e vapor dgua para sustentar a chama por muito tempo. Entretanto, o calor da

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRchama inicia uma reao piroltica secundria em srie e ocorre a combusto em fulgor total (chama) na fase de destilao gasosa dos vapores. A evoluo do gs pode ser rpida, o suficiente para limpar a superfcie da madeira e excluir o ar, evitando-se assim, o retardamento da penetrao de calor, consequentemente se retardado a efetivao da temperatura de ignio nas partes mais profundas da madeira. A medida que a temperatura aumenta, a superfcie chamuscada comea a fulgurar e o ar envolvente suporta a combusto. Quando se inicia a pirlise, devemos considerar se um equilbrio negativo de calor gerado ou no pela reao. Se o calor liberado concentrado e suficiente para manter o andamento da reao de oxidao, e se mais calor est sendo gerado do que aquele que se perde pela conduo, conveco e radiao, ocorre um equilbrio de calor positivo. Se, no entanto, todo ou a maioria do calor gerado perdido (como sucede com um palito de fsforo em vento forte), ocorre um equilbrio de calor negativo e o fogo apaga-se. Ao mesmo tempo, uma condio conhecida como Feedback (alimentao de retorno) pode existir. Feedback o uso de algum calor gerado para preparar a queima de pores vizinhas do material inflamvel, causando a pirlise daquele material. Se o processo de alimentao neste sentido for inadequado, o fogo extingue-se. Somando-se ao calor gerado durante o processo da pirlise a concentrao do agente oxidante, outro fato que determina se a ignio se faz notar, e a combusto pode ou no ocorrer. Para a maioria dos materiais, parece haver um mnimo de concentrao de agentes oxidantes sob os quais a combusto no ocorrer. Excees: os combustveis slidos (nitratos de celulose) que contm oxignio em suas molculas constituintes. O oxignio nas molculas pode ser liberado pelo calor, embora o suprimento de ar seja mnimo ou inexistente. No necessrio haver presena de ar para que ocorra uma reao de pirlise. Exemplo disso o mnimo de ar presente nas fornalhas de cozimento, em que a madeira reduzida carvo vegetal e coque. Outro exemplo o tolueno aquecido em um recipiente ventilado que exposto ao fogo. Em resumo, a cincia de proteo contra o fogo fundamenta-se nos seguintes princpios: Um agente oxidante, um material combustvel e uma fonte energtica so essenciais combusto. O material combustvel deve ser aquecido sua temperatura de ignio antes de queimar. A combusto continuar at que: O material combustvel se extinga ou seja removido. A concentrao de agentes oxidantes seja reduzida abaixo da concentrao necessria a alimentar a combusto. O material combustvel seja resfriado abaixo de sua temperatura de ignio. Haja inibio quimicamente. de chamas,

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPR1.2.3 Elementos Combusto 1.2.3.1. Fumaa So partculas do material combustvel em suspenso, inflamados ou no (resduos da combusto) juntamente com outras substncias que podero ser: poeiras, cinzas, gases, etc. A cor da fumaa, ou seja, sua maior ou menor transparncia, serve de orientao prtica na identificao do material combustvel que est queimando. Resultantes da tipos de fumaa tem um padro definido quanto hora do dia em que aparecem, volume e cor da fumaa e durao do tempo em que permanecem visveis. Fumaa Falsa: Se faz passar por fumaa sob certas condies de luz ou de tempo atmosfrico, tais como despenhadeiros, rochedos distantes, clareiras de mato ou arbustos, pequenas reas de mata seca, poeira de carros, elementos vivos e colunas de nevoeiro ou nuvens. As fumaas falsas devem ser assinaladas no mapa do incidente. Quando em dvida quanto a uma possvel fumaa falsa, assinale-a como um INCNDIO. Fumaa Ilegtima: Quaisquer fumaas no autorizadas por Lei ou Permisso, ou quaisquer fogos sem controle. Assinale todas as fumaas ilegtimas como sendo INCNDIO. b. Descrio da Fumaa A sua descrio de volume, tipo e cor da fumaa, ser uma indicao da grandeza, intensidade do fogo e do material em combusto.TIPO DESCRIO Fumaa em pequena extenso.

FIGURA 6 Fumaa resultante de I.F.FONTE: Acervo do Corpo de Bombeiros/PMPR.

a. Identificao da Fumaa A capacidade de identificar rpida e apropriamente a fumaa, poder auxiliar o comandante da operao de combate a incndio a decidir que atitude tomar. Poderemos tratar com trs tipos de fumaa: Legitima, Falsa e Ilegtima. Fumaa Legtima: Tem autorizao legal ou permisso e esto sob controle. Elas vm de fontes tais como locomotivas, serrarias, ranchos, queima de detritos, operaes ou acampamentos, e devem ser frequentemente registradas no mapa do incidente. TaisFino Pesada Crescente

Fumaa em intensidade.

maior

Grande volume de fumaa erguendo-se verticalmente, podendo espalhar ou ter um efeito de agitao no alto. Fumaa que seguida por correntes de ar e d um grande efeito de propagao. Fumaa distendida grandes reas. sobre

Vaga

Espalhada

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRA cor da fumaa indica o tipo de material em combusto:COR Branca Cinza Avermelhada Negra Amarela TIPO DO MATERIAL

Grama, ervas. Arbustos leves. Arbustos pesados, carvalho, toras resinosas. Geralmente ervas. pinho e

No combate aos incndios florestais as equipes de ataque direto e ataque indireto utilizam a base das chamas como uma referncia de ataque ao fogo. 1.2.3.3 Gases Os gases produzidos pela reao do combustvel com comburente, dependem do corpo combustvel. a. Gs Carbnico (CO2) Por ocasio da combusto o carbono do combustvel combina-se com oxignio do ar na proporo de dois tomos de oxignio para um de carbono, dando como resultado o gs carbnico, que produto da combusto completa.

FIGURA 7 Fumaa branca.FONTE: Acervo de Andr Vilas Boas.

b. Monxido de Carbono (CO) Em determinadas circunstncias, principalmente em ambientes confinados, quando a combusto se realiza em lugares com pouca ventilao, a quantidade de oxignio disponvel, embora suficiente para alimentar combusto, no para fornecer dois tomos para cada de carbono. A combusto se realiza com unio apenas de um tomo de oxignio para um de carbono, formando o monxido de carbono que um gs caracterstico das combustes incompletas. Neste caso, por no estarem satisfeitas todas as valncias do carbono, este instvel e vido por oxignio. Dada esta ltima particularidade, apresenta dois riscos que so particularmente de periculosidade extrema. explosivo e altamente txico. Se for respirado,

1.2.3.2 Chama a parte visvel da combusto. A cor da chama muitas vezes poder indicar o material em combusto.

FIGURA 8 Chama resultante de I.F.FONTE: Acervo de Major QOBM Edemilson de Barros

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRmesmo em baixas concentraes, vai retirar o oxignio contido no sangue, levando o indivduo morte. Quando misturado com ar atmosfrico em determinadas propores (12,5%), forma uma mistura explosiva. comum a confuso que se faz entre o CO e o CO2. O CO2 no txico, nem explosivo. um gs inerte, por isso no alimenta combusto e mesmo utilizado como agente extintor. Um ambiente rico em CO altamente txico. 1.3 INCNDIO Aps o estudo da combusto passaremos a estudar o incndio. Inicialmente, isso parecer uma redundncia, pois quem fala em incndio, geralmente fala de fogo. Em princpio, isso verdade, porm uma verdade que no resiste ao argumento de que o fogo foi primeiro elemento que o homem lanou mo para dar incio a sua evoluo como ser humano inteligente, mas tambm verdade ter sido ele um dos primeiros elementos a causar a destruio daquilo que ele produzia. Assim sendo, podemos definir incndio como toda e qualquer destruio ocasionada pelo fogo, de bens materiais, mveis e imveis, alm de danos fsicos ou morais aos seres humanos. Toda e qualquer destruio pelo fogo, que se processa fora do desejo e do controle do humano, com prejuzos considerveis e no previstos, tem a denominao de incndio. Consideramos incndios aqueles eventos que causem prejuzos e que fujam do controle humano. Por exemplo queima de combustveis em uma usina termo-eltrica no pode ser considerada como incndio, em contrapartida o fogo que destri um reflorestamento, causando prejuzos morais e materiais considerado como incndio. Desta forma, chegamos a uma definio de incndio. INCNDIO TODA E QUALQUER DESTRUIO OCASIONADA PELO FOGO, QUE PROVOQUE DANOS MORAIS E MATERIAIS DE MONTA. INCNDIO FLORESTAL O TERMO USADO PARA DEFINIR UM FOGO INCONTROLADO QUE SE PROPAGA LIVREMENTE E CONSOME DIVERSOS TIPOS DE MATERIAL COMBUSTVEL EXISTENTES EM UMA FLORESTA. Apesar de no ser muito apropriado o termo incndio florestal muitas vezes generalizado para definir incndios em outros tipos de vegetao tais como: capoeiras, campos e pradarias. 1.3.1 Causas de incndios Causa de incndio o conjunto de aes materiais, humanas e naturais que possam produzir ou transmitir o fogo, causando o incndio. As causas de incndios tem a seguinte classificao: 1.3.1.1 Quanto origem a. Natural Independe da vontade ou ao do homem. Ex.: descargas atmosfricas (raios). b. Dolosa Caracteriza-se pela inteno e consumao do fato, constituindo o crime. Enquadram-se nesta classificao os incndios causados por incendirios.

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRc. Culposa Ocorrem por imprudncia, impercia ou negligncia. Ex.: Incndio decorrente de uma queimada de lavoura ou queimada controlada. d. Acidental o fator que produz uma causa independente da vontade humana, sem haver culpa ou dolo. 1.3.1.2 Causas primrias de incndios a. Natureza Fsica Originados por um fenmeno fsico. Ex.: atrito, irradiao, conveco e conduo do calor. b. Natureza Qumica Originados por fenmeno qumico. Ex.: reaes qumicas que liberem calor. c. Natureza Biolgica Originados por fenmenos biolgicos. So normalmente reaes onde intervm a ao de seres vivos inferiores, geralmente bactrias. Ex.: fermentao. 1.3.1.3 Causas secundrias de incndios Caracterizam-se por corpos incendiados que podero produzir novos incndios. 1.3.2. Classificao dos Incndios 1.3.2.1 Quanto s propores No Estado do Paran os incndios seguem a classificao preconizada pela 1 Edio do Manual de Combate a Incndios Florestais, sendo: Princpios de Incndios; Pequenos Incndios; Mdios Incndios; Grandes Incndios; Incndios Extraordinrios.

O professor Ronaldo Viana Soares, em sua obra Proteo Florestal 2. Ed. 1971A, estabeleceu uma diviso em classes de incndio, conforme a rea atingida em hectares (ha): CLASSE A: < 1ha CLASSE B: 1-10 ha CLASSE C: 10-100 ha CLASSE D: 100-1000 ha CLASSE E: > 1000 ha 1.3.2.2 Quanto propagao Incndio com fogo rasteiro; Incndio com fogo de copa; Incndio com fogo total.

1.3.2.3 Quanto aos locais Terrenos particulares; Plantaes; Reservas Florestais; Bosques; Campos.

A classificao mais adequada para definir os tipos de incndios se baseia no grau de envolvimento de cada estrato do combustvel florestal desde o solo mineral at o topo das rvores no processo da combusto. Neste caso os incndios so classificados em subterrneos, superficiais e de copa. a. Incndios subterrneos Os incndios subterrneos propagam-se pelas camadas de hmus

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRou turfa existentes sobre o solo mineral e abaixo do piso da floresta. Esses combustveis so de textura fina, relativamente compactados e isolados da atmosfera. Os incndios subterrneos ocorrem geralmente em florestas que apresentam grande acumulao de hmus e em reas alagadias, tais como brejos ou pntanos, que quando secas formam espessas camadas de turfa abaixo da superfcie. no decompostos, tais como folhas e galhos cados, gramneas, arbustos, enfim, todo material combustvel at cerca de 1,80 metros de altura. Esses materiais, principalmente durante perodos de seca, so bastante inflamveis e por isto os incndios superficiais apresentam propagao relativamente rpida, abundncia de chamas e muito calor. Entretanto quando comparados com outros tipos, os incndios superficiais no so muito difceis de combater, a no ser em condies extremamente favorveis propagao dos mesmos.

FIGURA 9 Incndio subterrneo.Autor: Sd QPM 2-0 Antonio Marcos de Lima Andrade

Normalmente os incndios subterrneos so precedidos por incndios superficiais. Devido ao pouco oxignio disponvel na zona de combusto, nos incndios subterrneos o fogo se propaga lentamente, sem chamas e com pouca fumaa. A intensidade do calor e o poder de destruio destes incndios so bastante altos. b. Incndios Superficiais Os incndios superficiais propagam-se na superfcie do piso da floresta, queimando os restos vegetais

FIGURA 10 Incndio de superfcieAutor: Sd QPM 2-0 Antonio Marcos de Lima Andrade

c. Incndios de copa Os incndios de copa caracterizam-se pela propagao do fogo pelas copas das rvores, independentemente do fogo superficial. Geralmente considera-se incndio de copa aquele que ocorre em combustveis acima de 1,80 metros de altura. Com exceo de casos excepcionais, como alguns incndios causados por raios, todos os incndios de copa originam-se de incndios superficiais. Este o mais

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRespetacular dos tipos de incndios florestais. Propaga-se rapidamente, liberando grande quantidade de calor e tornando o combate extremamente difcil. 1.3.3.3 Resfriamento Este processo consiste na reduo ou eliminao da energia produtora da reao em cadeia (calor). Baixando a temperatura, no ocorrer a evoluo e a continuao do fogo, pois foi baixado o ponto de ignio do combustvel (absoro do calor). 1.3.3.4 Abafamento Este processo consiste em impedir que o comburente, oxignio contido no ar atmosfrico, permanea em contato com o combustvel em porcentagens suficientes para a combusto. O oxignio do ar atmosfrico se encontra na proporo de 21% (vinte e um por cento), no entanto, o teor mnimo do oxignio para existir combusto, gira em torno de 16% (dezesseis por cento). Este processo largamente usado no combate a incndios florestais, quer usando terra ou com abafadores. 1.3.4 Agentes Extintores So substncias destinadas extino dos incndios, onde normalmente utiliza-se a gua, espuma, p qumico seco ou CO2. Nos incndios florestais so utilizados os seguintes agentes extintores: GUA AGENTES QUMICOS TERRA DO SOLO 1.3.4.1 gua A gua o agente extintor mais usado na extino dos incndios devido a sua alta capacidade de absorver calor. Quando eficientemente aplicada, a gua

FIGURA 11 Incndio de copaAutor: Sd QPM 2-0 Antonio Marcos de Lima Andrade

1.3.3 Processos de Extino Quando estudamos o fogo, conclumos que a combusto ocorrer sempre, quando em propores convenientes, reunindo-se combustvel, comburente e energia para ignio. A recproca verdadeira. Sempre que eliminamos um ou mais dos fatores, o fogo se extinguir. 1.3.3.1 Retirada do material combustvel Caracteriza-se este processo de extino pela retirada do material combustvel impedindo deste modo que o fogo continue. Este processo, embora econmico ideal (no requer qualquer tipo de agente extintor). Este processo muito utilizado no setor florestal por meio da construo de aceiros, geralmente aplicado em conjunto com outros processos.

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPR o meio mais econmico de se combater um incndio. No combate aos incndios florestais, o problema como obter gua em quantidade suficiente e como us-la da maneira mais eficiente possvel. Em incndios superficiais de baixa ou mdia intensidade, quando as condies permitem o trabalho de bombeamento, a gua o meio mais rpido e prtico para extinguir o fogo. Em incndios superficiais de maior intensidade, distantes de estradas, a aplicao da gua torna-se cara, somente podendo ser feita com o auxlio de mangueiras ou combate areo. Porm, mesmo quando existem limitaes e sem seu uso direto nos grandes incndios, a gua essencial na operao de rescaldo. Como a gua um elemento muito importante na extino do fogo, mas as vezes difcil de conseguir e transportar, ela deve ser usada com muito cuidado para se obter a maior eficincia possvel. O calor de combusto do material florestal cerca de 4000 kcal/kg, enquanto o calor latente de evaporao da gua cerca de 500 kcal/kg. Por isso a gua no deve ser aplicada diretamente sobre as chamas, onde o calor mais intenso, mas sim na base das chamas, com a finalidade de resfriar o material combustvel que ainda no est queimando. A capacidade de combate a incndios florestais com a utilizao da gua pode ser melhorada com a utilizao de aditivos que a tornam mais viscosa e com maiores propriedades de aderncia ao combustvel, como veremos a seguir. 1.3.4.2 Agentes qumicos A gua, como agente de extino do fogo, pode ser mais eficiente ainda com a adio de agentes qumicos que so substncias que reduzem a inflamabilidade da vegetao. Segundo POULAIN (1970), os retardantes qumicos melhoram as propriedades extintoras da gua por torn-la mais viscosa e aderente vegetao, por reduzir a evaporao da gua aplicada sobre a vegetao e por efeitos inibidores diretos sobre a combusto. O efeito dos agentes, entretanto, independente da umidade, isto , mesmo depois de seco o material combustvel tratado com os agentes qumicos continua com sua capacidade de inflamabilidade reduzida. Uma chuva porm pode lavar o combustvel removendo o retardante qumico, reduzindo ou mesmo eliminando seu efeito protetor. Os agentes qumicos mais utilizados so formados a base de fosfato diamnico, fosfato monoamnico, sulfato de amnia e borato de clcio e sdio. Alm dos agentes que se adicionam gua, existem tambm os retardantes em p (normalmente avermelhados) que so utilizados em alguns pases lanados de aeronaves com grande capacidade para transporte de carga. Tal agente em contato com o fogo gera reaes que inibem sua progresso pela diminuio da taxa de oxignio, causando at mesmo a extino completa dos incndios.

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPR1.3.4.3 Terra do Solo A terra do solo pode tambm ser utilizada como agente extintor em incndios florestais, sendo lanada na base das chamas. Desta forma ela age por abafamento e por resfriamento, pois contm umidade.

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FATORES DE PROPAGAO DE INCNDIOS FLORESTAIS

SEM EXCEES: SEGURANA EM PRIMEIRO LUGAR!

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPR2. FATORES DE PROPAGAO INCNDIOS FLORESTAIS DE Tais componentes interagindo entre si na ocorrncia de um incndio, determinam as caractersticas do comportamento do fogo em um dado momento. Observando os sete fatores listados abaixo dos combustveis, vemos que a umidade est em primeiro, justamente por ser o fator determinante no combate de um incndio florestal. Abaixo do clima vemos a velocidade e direo do vento como os fatores crticos propagao dos incndios florestais. Topografia o mais constante dos fatores que fazem parte do meio ambiente do fogo. A inclinao do terreno o tpico significativo, pois pode causar profundos efeitos no comportamento do fogo. 2.1.1 Combustveis Combustvel qualquer material orgnico vivo ou morto, no solo, abaixo do solo ou no ar, capaz de entrar em ignio e queimar. Combustveis so encontrados em uma infinita combinao de tipo, quantidade, tamanho, forma, posio e arranjo no ambiente florestal. O combustvel amplamente encontrado no ambiente florestal, desde grama esparsa e material morto conferas de grande densidade e devido a sua composio complexa possu alto ndice de inflamabilidade. Os combustveis em sua essncia so constitudos pela vegetao predominante em uma determinada rea. O Estado do Paran conta com apenas 2,5% da superfcie brasileira, porm, detm em seu territrio a grande maioria das principais unidades fitogeogrficas que ocorrem no pas. Originalmente 83% de sua superfcie eram cobertos por florestas.

O comportamento do fogo pode ser definido pela maneira como o combustvel tem sua ignio, chamas se desenvolvem e incndios florestais se propagam e exibem outros fenmenos. A supresso de um incndio florestal est baseada na perfeita assimilao dos fatores que influenciam o comportamento do fogo, pois pode-se precisar quais os esforos e medidas a serem tomadas, quais os meios mais indicados para o eficiente combate de cada tipo de incndio, bem como podese prever os riscos que os combatentes vo encontrar e as formas de san-los. 2.1 FATORES DO MEIO AMBIENTE

FIGURA 12 Fatores de influncia dos incndios florestais.FONTE: Acervo do Corpo de Bombeiros/PMPR.

As condies locais, influncias e modificaes externas determinam o comportamento dos incndios. Os trs componentes fundamentais que alteram o comportamento do fogo so: COMBUSTVEL CLIMA TOPOGRAFIA DO TERRENO

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPREstas florestas pertencem a trs tipos principais, cada um com suas peculiaridades estruturais e florsticas: a Floresta Ombrfila Densa (no Litoral e Serra do Mar), a Floresta Ombrfila Mista ou Floresta de Araucria (no leste e sul da Regio Planaltina) e a Floresta Estacional Semi-Decidual (no oeste e norte do Estado). Estes trs tipos de Florestas so legalmente reconhecidos, no Brasil, como componentes do Bioma Mata Atlntica. Segundo Maack (1968), a vegetao nos 17% restantes da rea do Estado originalmente era composta por formaes no-florestais, entre estas esto os campos, encontrados nas regies de Ponta Grossa e Guarapuava, os cerrados, encontrados em fragmentos como na regio de Jaguariaiva, a vegetao pioneira de influncia marinha (restingas), fluviomarinha (mangues) e flvio-lacustre (vrzeas), e pela vegetao herbcea do alto das montanhas (campos de altitude e vegetao rupestre). O combustvel florestal classificado de acordo com a sua localizao em subterrneo, superficial e areo. a. Combustvel Subterrneo Todo material encontrado abaixo da superfcie da terra, como razes e pedaos de madeiras enterrados, comumentemente caracterizados pela denominao turfa. b. Combustvel Superficial Todo material localizado imediatamente acima do solo, como gramas, hmus, turfa, pedaos de madeiras mortas, pequenos galhos e pequenos arbustos. c. Combustvel Areo Todo combustvel verde ou morto, localizado no topo das rvores (copa), como grandes rvores, troncos mortos, e grandes arbustos. No ambiente florestal os combustveis coexistem e interagem entre si. Em muitas situaes os combustveis superficiais servem como fonte de propagao para que incndios atinjam a copa dos combustveis areos, como na figura 13.

FIGURA 13 Combustveis superficiais servindo como escada de propagao.FONTE: Acervo de Major QOBM Edemilson de Barros

2.1.1.1. Umidade do combustvel Equivale a porcentagem de gua contida no combustvel em relao a seu peso seco. O combustvel florestal encontrado com facilidade em todas as regies, variando de vegetaes rasteiras e esparsas at grandes florestas e reflorestamentos. Se analisarmos o potencial desse meio ambiente queimar, imediatamente incluiremos a umidade do material combustvel e carga do material como pontos extremos. Dados nos tem mostrado que quando a umidade do material combustvel chega acima de 25%, a ignio extremamente dificultada.

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FIGURA 14 Combustveis com teor de umidade elevado (DIFCIL PROPAGAO)FONTE: Acervo do Corpo de Bombeiros/PMPR.

FIGURA 15 Combustvel seco (RPIDA PROPAGAO)FONTE: Acervo de Major QOBM Edemilson de Barros

Em uma floresta em que o material combustvel esteja seco por conta de um perodo de estiagem, o fogo tem uma tendncia a se propagar de uma forma mais rpida. Com efeito florestas onde os combustveis possuem elevado umidade devido ao orvalho e por estarem verdes tendem a apresentar dificuldade na queima. Perodos de inverno com estiagem, aliados a dias frios onde ocorrem a formao de geadas, comuns no Sul do Brasil, tornam a vegetao extremamente seca, chegando algumas vezes ao ponto de arder em grandes incndios com rpida propagao. QUANDO O TEOR DE UMIDADE NO COMBUSTVEL GRANDE A IGNIO DIFICULTADA E AS CHAMAS SO POBRES, ENTRETANTO SE O TEOR DE UMIDADE BAIXO, A IGNIO OCORRE COM FACILIDADE, COM PROPAGAO E QUEIMA RPIDA. Isto se explica porque para se vaporizar a gua existente na umidade do combustvel necessrio uma grande quantidade de energia, o que vai gerar uma diminuio na energia calorfica para a queima daquele combustvel.

2.1.1.2 Arranjo vertical do combustvel Definimos arranjo vertical do combustvel como uma relao entre o tamanho relativo do combustvel e sua continuidade vertical. Para melhor compreendermos o arranjo vertical do combustvel imaginemos um ambiente florestal com combustveis de superfcie, como grama, combustveis baixos como pequenos arbustos e rvores de pequeno porte, combustveis de mdia altura como rvores em formao e combustveis de copa caracterizados por rvores formadas (maduras) com altura superior a 30 metros. Tais combustveis coexistem entre si no ambiente florestal e os de menor tamanho agem como se fossem uma escada para que o fogo atinja a copa das rvores de maior porte. Portanto, independente da altura mxima do combustvel existente em um determinado local, do nmero de espcies de combustvel envolvidas, todas tem relacionamento com o arranjo vertical. Em reflorestamentos prtica comum a desrama das espcies medida que vo crescendo com a finalidade de causar uma quebra no arranjo vertical, bem como evitar que folhas ou acculas em queda se depositem nos galhos mais prximos ao

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRsolo e tambm funcionem como escada para a propagao dos incndios. bustvel definida como o espao existente entre as partculas do material. Imaginemos um fardo com grama onde em uma primeira situao temos o mesmo espalhado em uma superfcie plana e em uma segunda situao o mesmo estaria compactado em um recipiente amarrado. No primeiro caso haveria maior rea de contato e mais circulao de ar entre as partculas, requerendo menos calor e tempo para a ignio do fogo. J no segundo caso devido compactao torna-se necessrio mais calor e maior tempo para a ignio.

FIGURA 16 Arranjo vertical do combustvelFONTE: Acervo de Major QOBM Edemilson de Barros

2.1.1.3 Carga do combustvel No ambiente florestal a carga do material combustvel dada como o peso do material seco dividido pela rea em que o mesmo se encontra, se totalmente consumido pelo fogo. Usualmente expressa em toneladas por acre (t/a). A carga do material combustvel varia de acordo com o tipo de vegetao, como nos exemplos abaixo:COMBUSTVEL Gramneas Arbustos rvores de grande porte CARGA 1 a 5 t/a 20 a 40 t/a 100 600 t/a FIGURA 17 Compactao do material combustvelFONTE: Acervo de Major QOBM Edemilson de Barros

importante observar que a carga do material combustvel envolve diferentes tipos de classes de combustveis, o arranjo do combustvel no terreno e uma particular distribuio sobre uma rea especfica. 2.1.1.4 Compactao do combustvel A compactao do material com-

2.1.1.5 Tamanho combustvel

e

forma

do

O tamanho e a forma do material combustvel afetam a razo rea de superfcie volume dos combustveis. Os combustveis leves tem uma razo rea de superfcie volume mais importante do ponto de vista florestal que os pesados. Imaginemos um cubo

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRcompacto com um metro de lado por um metro de profundidade, que totalizaria, portanto, 1 m e uma rea de superfcie de 6 m. Se dividirmos o cubo em 16 peas teremos o mesmo volume de combustvel (1 m), entretanto teremos uma rea de superfcie de 18 m. Qual a importncia deste fato no comportamento do fogo? Sabemos que combustveis de menor tamanho tem ignio e mantm o fogo mais facilmente que combustveis pesados. Portanto, se requer menos calor para a ignio em partculas menores de combustvel. 2.1.1.6 Continuidade do combustvel A continuidade do material combustvel refere-se distribuio horizontal do combustvel em uma determinada rea. Afeta diretamente na propagao, pois em locais onde h combustvel de forma contnua, sem barreiras naturais ou criadas, haver um caminho para o fogo percorrer, seja nos combustveis superficiais ou areos. Ao contrrio, uma descontinuidade do material combustvel acarretar em uma barreira para a propagao do fogo.

FIGURA 19 Descontinuidade do CombustvelFONTE: Acervo do Corpo de Bombeiros/PMPR

2.1.1.7 Propriedades combustvel

qumicas

do

Referem-se presena de substncias volteis no material combustvel florestal, como leos, resinas, ceras, breu, que podem alterar a taxa de propagao do fogo. Devido as suas caractersticas em povoamentos de conferas o fogo se propaga mais intensamente que em um povoamento de eucalyptus. 2.1.2 Fatores climticos Os fatores meteorolgicos que atuam diretamente no combustvel florestal, facilitando ou dificultando a propagao dos incndios, sero vistos separadamente. 2.1.2.1 Velocidade e direo do Vento O vento o mais varivel e o mais crtico fator que altera o comportamento do fogo, sendo tambm o mais imprevisvel deles. O vento resultado da diferena de temperatura causada por gradientes de presso entre diferentes reas, resultantes dos processos de aquecimento e resfriamento. O vento afeta a intensidade, direo e propagao do

FIGURA 18 Combustvel em continuidadeFONTE: Acervo do Corpo de Bombeiros/PMPR

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRfogo, pr aquecendo combustveis por radiao e conveco, fornece suprimento de oxignio necessrio propagao, favorece uma troca rpida de umidade entre o ar e os combustveis, o que os tornaro mais secos, carrega partculas de combustvel (fagulhas) e lana-as a frente da linha de fogo, em reas ainda no queimadas. Nos incndios de copa o vento torna possvel o transporte de calor e das chamas entre a copa das rvores.

FIGURA 21 Comportamento do vento conforme o perodo.Autor: Sd QPM 2-0 Antonio Marcos de Lima Andrade

2.1.2.2 Umidade relativa do ar Quando discutimos umidade na atmosfera importante conhecermos dois pontos de referncia para qualificar a umidade em qualquer tempo e lugar, que so o ponto de orvalho e a umidade relativa do ar. A umidade relativa do ar destacase no estudo do comportamento do fogo, principalmente em nossa regio onde existe, nos perodos crticos ecloso dos incndios florestais, uma tendncia a dias com umidade relativa do ar extremamente baixa. Fato semelhante ocorre na regio central de nosso pas que tambm violentamente assolada pelos incndios florestais, principalmente no cerrado. A umidade do material combustvel varia de acordo com a umidade relativa do ar, no caso da inexistncia de precipitaes. Os combustveis absorvem gua de uma atmosfera mida e a liberam em dias quentes, entretanto tal fenmeno est tambm intimamente ligado ao tamanho, compactao e arranjo do material. medida que a umidade relativa do ar decresce a velocidade de propagao do fogo aumenta, tornando-se o combate extremamente difcil. Outro ponto de destaque que merece a ateno de quem comandar

FIGURA 20 A ao do vento determina a intensidade e a propagao dos incndios florestais.FONTE: sobreventos.com

O incndio florestal, devido s suas caractersticas prprias, causa correntes locais que interagem ao efeito das correntes de ar, atuando na propagao do fogo. Pelo princpio das correntes de conveco o ar que est sobre as chamas (aquecido) tende a subir, alimentando a combusto com entrada de ar renovado. O mesmo processo ocorre quando o sol aquece o solo, fazendo com que o ar que est prximo ao mesmo se levante, o que nos permite observar que durante o dia a tendncia das correntes de vento subir os vales e declives, ocorrendo processo inverso a noite devido inverso das correntes.

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRas aes de combate aos incndios florestais o desgaste dos combatentes devido baixa umidade, que poder causar desidrataes e outras complicaes, portanto a rehidratao fator que deve ser colocado em primeiro plano para um combate eficaz e sem perda de pessoal. No perodo noturno, devido a existncia de uma maior umidade no ar, podemos ter a formao do orvalho, que resulta da condensao do vapor de gua sobre superfcies arrefecidas. Normalmente ocorre em noites claras, em que o calor do solo perdido por radiao, e consiste na formao de gotas de gua nas superfcies frias (folhas, ervas, pedras). Assim, se a temperatura da vegetao baixar, ento o excesso de vapor de gua existente na atmosfera condensa-se e deposita-se na vegetao, formando o orvalho. Neste caso, a tendncia do incndio de arder mais lentamente, devido a umidade absorvida pelos combustveis, fato este que favorece o combate noite, porque em certos casos, o combate durante o dia torna-se extremamente dificultado pelas condies climticas. Entretanto devemos sempre empregar todos os esforos para se combater os incndios durante o dia, pois o risco de acidentes menor, bem como no caso de grandes incndios necessrio se prever o descanso de pessoal empregado. Quando no for possvel tal combate, esforos maiores devem ser dispensados noite, desde que o terreno oferea condies para tal prtica. A tabela a seguir mostra a relao entre a umidade relativa do ar e a velocidade de propagao do fogo.UMIDADE RELATIVA DO AR (%) 45 41 40 31 30 26 25 16 < 16 FATOR DE PROPAGAO 1,0 1,4 2,0 2,8 3,2

2.1.2.3 Precipitao A ocorrncia de chuvas o principal fator na extino de um incndio florestal. Sua influncia direta na propagao do fogo evidente. Entretanto precisamos compreender de que forma ela age, principalmente no combustvel florestal.

FIGURA 22 Ao da chuva na floresta

FONTE: Acervo de Major QOBM Edemilson de Barros

Longos perodos de estiagem afetam o potencial de propagao do incndio, principalmente pela secagem do combustvel, o que aumentar a probabilidade de ignio e facilitar a propagao. Com a ocorrncia de precipitao o potencial de propagao pode ser reduzido a zero, mas devemos considerar que condies crticas de inflamabilidade no so revertidas facilmente, pois combustveis secos devido a longos perodos de estiagem

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MANUAL DE PREVENO E COMBATE A INCNDIOS FLORESTAIS CB/PMPRso umedecidos superficialmente com a ocorrncia de precipitao, mas na continuidade de tempo seco eles voltam as mesmas condies que se apresentavam, tornando-se novamente inflamveis. 2.1.2.4 Temperatura A temperatura do ar atua em conjunto com praticamente todos os demais fatores de propagao dos incndios florestais. Normalmente ela medida em um termmetro e mensurada em graus Celsius ( C) ou Fahrenheit ( F). Para converso de Celsius para Fahrenheit aplicar a frmula a seguir: Devemos lembrar que muito difcil medir a temperatura de um combustvel durante um incndio, portanto alguns pontos precisam sempre ser reavivados por quem for combater ou planejar o combate a um incndio florestal: Os combustveis finos aquecimento facilitado temperatura do ar e radiao; tem pela

Durante a parte mais quente do dia, os combustveis voltados para as encostas norte e oeste apresentam temperaturas mais altas que os