Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

286
MANUAL DO TRIPULANTE DE AMBULÂNCIA DE TRANSPORTE

Transcript of Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Page 1: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

MANUAL DO TRIPULANTE

DE AMBULÂNCIA DE

TRANSPORTE

Page 2: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte
Page 3: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Terceira Edição 2010

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte

3/2010

© Março de 2010, Instituto Nacional de Emergência Médica, I.P.

Todos os direitos reservados.

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer processo electrónico,

mecânico, fotográfico ou outro, sem autorização prévia e escrita do Instituto Nacional de Emergência

Médica, I.P

Page 4: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte
Page 5: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

PREFÁCIO

Tripular uma ambulância de transporte de doentes é um acto cuja especificidade deve ser

devidamente realçada, pois o papel do TAT é indissociável da missão fundamental da mesma:

transportar um doente a uma unidade de saúde, em segurança, com rapidez e com capacidade

de assistência durante o transporte.

É o processo de selecção e de formação que determinarão o bom desempenho dos

profissionais.

Exigem-se aptidões físicas, psicomotoras e comportamentais, bem como conhecimentos e

aptidões técnicas.

Acima de tudo, o TAT deve rever-se na ética profissional dos que lidam com os bens mais

preciosos do ser humano: a saúde e a vida.

Estes dependem de uma cadeia em que nenhum dos elos pode falhar - a Cadeia de

Sobrevivência.

Transportar bem o doente ou sinistrado ao seu destino é uma responsabilidade de todos, um

trabalho de equipa.

Ao editar este manual o INEM presta assim o serviço a que está por missão obrigado,

promovendo um paradigma de formação de qualidade, que há-de traduzir-se no mais elevado

nível dos cuidados ao doente ou sinistrado.

Este é o 1º de vários manuais que estamos a produzir, com a colaboração, elevado

profissionalismo e sentido de missão e responsabilidade que caracterizam os trabalhadores do

SIEM, do qual o INEM é coordenador.

O Presidente do Conselho Directivo do Instituto Nacional de Emergência Médica

Abílio António Ferreira Gomes

Page 6: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte
Page 7: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Ficha Técnica

COORDENAÇÃO TÉCNICA

Sofia Madeira

Médica, Assistente de Medicina Interna, Coordenadora do Centro de Formação de Coimbra,

INEM/DRC

AUTORES

Sofia Madeira

Médica, Assistente de Medicina Interna,

Coordenadora do Centro de Formação de Coimbra, INEM/DRC

Raquel Ramos

Médica, Assistente de Anestesiologia,

Coordenadora do Centro de Formação de Lisboa, INEM/DRLVT

Luís Meira

Médico, Assistente de Anestesiologia,

Director Regional do Porto, INEM/DRP

Page 8: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

Ficha Técnica TAT.01.10

Page 9: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Ficha Técnica

FICHA TÉCNICA DA TERCEIRA EDIÇÃO

COORDENAÇÃO TÉCNICA

Sofia Madeira

Médica, Assistente de Medicina Interna,

Coordenadora do Centro de Formação de Coimbra, INEM/DRC

AUTORES

Sofia Madeira

Médica, Assistente de Medicina Interna,

Coordenadora do Centro de Formação de Coimbra, INEM/DRC

Raquel Ramos

Médica, Assistente de Anestesiologia,

Coordenadora do Centro de Formação de Lisboa, INEM/DRLVT

Luís Meira

Médico, Assistente de Anestesiologia,

Director Regional do Porto, INEM/DRP

PROCESSAMENTO DE TEXTO E TRATAMENTO DE IMAGEM

Sofia Madeira - Médica, Assistente de Medicina Interna, Coordenadora do CFC, INEM/DRC

Ulisses Oliveira - Enfermeiro Graduado, Formador do CFC, INEM/DRC

José Soares - Enfermeiro Especialista, Formador do CFC, INEM/DRC

Rui Marcelino - Enfermeiro Graduado, Formador do CFC, INEM/DRC

Jody Rato - Assistente Técnico, Formador do CFC, INEM/DRC

José Maleiro - Assistente Técnico, Formador do CFC, INEM/DRC

Henrique Lourenço - Assistente Técnico, Formador do CFC, INEM/DRC

Carlos Pereira - Assistente Técnico, Gabinete de Comunicação e Imagem, INEM

REVISÃO DE TEXTO

Sofia Madeira - Médica, Assistente de Medicina Interna, Coordenadora do CFC, INEM/DRC

Ulisses Oliveira - Enfermeiro Graduado, Formador do CFC, INEM/DRC

Helena Lalanda Castro - Directora do Departamento de Emergência Médica, INEM

Marina Salvador - Assistente Técnica, Departamento de Emergência Médica, INEM

Page 10: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

Ficha Técnica TAT.01.10

Page 11: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Ficha Técnica

COLABORARAM NA TERCEIRA EDIÇÃO

Amândio Henriques - Médico, Consultor de Medicina Geral e Familiar

Ulisses Oliveira - Enfermeiro Graduado, CFC, INEM/DRC

José Soares - Enfermeiro Especialista, CFC, INEM/DRC

Rui Marcelino - Enfermeiro Graduado, CFC, INEM/DRC

José António Maleiro - Assistente Técnico, CFC, INEM/DRC

Jody Rato - Assistente Técnico, CFC, INEM/DRC

Henrique Lourenço - Assistente Técnico, INEM/DRC

Daniel Silva - Assistente Técnico, INEM/DRC

Pedro Melo - Assistente Técnico, INEM/DRC

Jorge Melo - Assistente Técnico, INEM/DRC

Cristina Nunes - Assistente Técnico, INEM/DRC

Artur Albino - Assistente Técnico, INEM/DRC

Teresa Oliveira - Assistente Técnico, CFC, INEM/DRC

AGRADECIMENTOS:

Aos nossos formandos;

Aos nossos formadores;

Aos nossos filhos:

Sofia Morais

Andreia Maleiro

Lourenço Porto

José Filipe Porto

Page 12: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

Ficha Técnica TAT.01.10

Page 13: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Índice

ÍNDICE

Capítulo 1 - Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano ........................................ 1

Objectivos ................................................................................................................ 1

1. Introdução e Definições ....................................................................................... 2

2. Pele ...................................................................................................................... 5

3. Sistema Músculo-Esquelético .............................................................................. 5

4. Sistema Nervoso ............................................................................................... 11

5. Órgãos dos Sentidos ......................................................................................... 13

6. Sistema Cardiovascular ..................................................................................... 14

7. Sistema Respiratório.......................................................................................... 16

8. Sistema Digestivo .............................................................................................. 18

9. Sistema Urinário ................................................................................................ 19

10. Sistema Reprodutor ......................................................................................... 20

Capítulo 2 - Sistema Integrado de Emergência Médica ..................................... 23

Objectivos .............................................................................................................. 23

1. Conceitos e Definição ........................................................................................ 24

2. Evolução da Emergência Médica Pré Hospitalar em Portugal .......................... 24

3. Fases do SIEM .................................................................................................. 29

4. Intervenientes do SIEM ..................................................................................... 30

5. Organização do SIEM ........................................................................................ 31

Capítulo 3 - Exame da Vítima ............................................................................... 37

Objectivos .............................................................................................................. 37

1. Introdução .......................................................................................................... 38

2. Exame Primário ................................................................................................. 38

3. Avaliação de Sinais Vitais .................................................................................. 43

4. Exame Secundário ............................................................................................ 45

Page 14: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

Índice TAT.01.10

Capítulo 4 - Suporte Básico de Vida ................................................................... 53

Objectivos .............................................................................................................. 53

Introdução .............................................................................................................. 54

1. A Cadeia de Sobrevivência ............................................................................... 55

2. Riscos para o Reanimador ................................................................................ 57

3. Suporte Básico de Vida no Adulto ..................................................................... 60

4. Posição Lateral de Segurança ........................................................................... 75

5. Abordagem da Via Aérea .................................................................................. 79

6. Situações Especiais em Suporte Básico de Vida ............................................ 101

7. Reanimação Pediátrica .................................................................................... 104

Capítulo 5 - Oxigenoterapia ............................................................................... 129

Objectivos ............................................................................................................ 129

1. Introdução ........................................................................................................ 130

2. Princípios Fundamentais na Administração de Oxigénio ................................ 130

Capítulo 6 - Hemorragias ................................................................................... 139

Objectivos ............................................................................................................ 139

1. Introdução ........................................................................................................ 140

2. Classificação das Hemorragias em relação à Origem ..................................... 140

3. Classificação das Hemorragias em relação à Localização ............................. 141

4. Sinais e Sintomas das Hemorragias ................................................................ 142

5. Cuidados de Emergência ................................................................................ 142

Capítulo 7 - Hipovolemia .................................................................................... 145

Objectivos ............................................................................................................ 145

1. Introdução ........................................................................................................ 146

2. Causas de Hipovolemia ................................................................................... 146

3. Sinais e Sintomas de Hipovolemia .................................................................. 146

4. Cuidados de Emergência ................................................................................ 148

Page 15: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Índice

Capítulo 8 - Traumatologia ................................................................................. 149

Objectivos ............................................................................................................ 149

1. Introdução ........................................................................................................ 150

2. A Abordagem da Vítima de Trauma ................................................................ 150

3. Lesões dos Tecidos Moles .............................................................................. 152

4. Traumatismos Oculares ................................................................................... 158

5. Neurotraumatologia ......................................................................................... 158

6. Traumatologia dos Membros ........................................................................... 161

Capítulo 9 - Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma .... 165

Objectivos ............................................................................................................ 165

1. Introdução ........................................................................................................ 166

2. Estabilização Cervical com Alinhamento Manual ............................................ 166

3. Aplicação do Colar Cervical ............................................................................. 170

4. Rolamento ....................................................................................................... 172

5. Levantamento .................................................................................................. 176

6. Imobilização em Plano Duro ............................................................................ 181

7. Colete de Extracção ........................................................................................ 183

8. Extracção Rápida ............................................................................................ 190

9. Remoção do Capacete .................................................................................... 194

10. Imobilização Vertical ...................................................................................... 196

11. Imobilizações dos Membros Superiores ........................................................ 199

12. Imobilizações dos Membros Inferiores .......................................................... 200

13. Transporte de Doentes .................................................................................. 203

Capítulo 10 - O Tripulante e a Ambulância ....................................................... 205

Objectivos ............................................................................................................ 205

1. Introdução ........................................................................................................ 206

2. Normas de Conduta ......................................................................................... 206

3. A Ambulância ................................................................................................... 207

4. O Acompanhamento das Pessoas Transportadas .......................................... 208

5. Considerações sobre Segurança..................................................................... 209

6. A Condução da Ambulância e a sua Segurança ............................................. 214

Page 16: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

Índice TAT.01.10

Anexo A - Parto Iminente Noções básicas ....................................................... 217

1. Introdução ........................................................................................................ 217

2. Assistência ao Parto ........................................................................................ 217

3. Preparação para Assistir ao Parto ................................................................... 218

4. Cuidados ao Recém-Nascido .......................................................................... 220

5. Cuidados ao Cordão após o Período Expulsivo .............................................. 221

6. Cuidados com a Placenta ................................................................................ 222

7. Casos Particulares ........................................................................................... 223

Anexo B - Glossário ........................................................................................... 229

Bibliografia .......................................................................................................... 261

Page 17: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Índice

ÍNDICE DE FIGURAS

Capítulo 1

Figura 1 - Diversos tipos de células ................................................................................................................. 2

Figura 2 - Planos anatómicos .......................................................................................................................... 4

Figura 3 - Estrutura da pele ............................................................................................................................. 5

Figura 4 - Ossos do crânio ............................................................................................................................... 7

Figura 5 - A coluna vertebral e os diferentes tipos de vértebras das regiões superiores ................................. 7

Figura 6 - Caixa torácica .................................................................................................................................. 8

Figura 7 - Ossos da bacia ou cintura pélvica ................................................................................................... 8

Figura 8 - Ossos do membro superior ............................................................................................................. 9

Figura 9 - Ossos da mão ................................................................................................................................. 9

Figura 10 - Ossos do membro inferior ........................................................................................................... 10

Figura 11 - Ossos do pé ................................................................................................................................ 10

Figura 12 - Sistema Nervoso Central ............................................................................................................. 11

Figura 13 - Medula espinal, no interior do canal raquidiano, protegida pelas vértebras ................................ 12

Figura 14 - Corte do coração, com identificação do fluxo do sangue ............................................................ 14

Figura 15 - Células do sangue: vários eritrócitos (1), dois leucócitos (2) e algumas plaquetas (3) ............... 16

Figura 16 - Principais constituintes do sistema respiratório ........................................................................... 17

Figura 17 - Principais constituintes do sistema digestivo ............................................................................... 18

Figura 18 - Principais constituintes do sistema urinário ................................................................................. 19

Figura 19 - Principais constituintes do sistema reprodutor feminino .............................................................. 20

Figura 20 - Principais constituintes do sistema reprodutor masculino ........................................................... 21

Capítulo 2

Figura 21 - Estrela da Vida com as diversas fases do SIEM ......................................................................... 29

Capítulo 3

Figura 22 - Avaliação do estado de consciência ............................................................................................ 39

Figura 23 - Permeabilização da via aérea ..................................................................................................... 40

Figura 24 - Pesquisa de ventilação ................................................................................................................ 40

Figura 25 - Reactividade das pupilas ............................................................................................................. 42

Figura 26 - Palpação da artéria radial ............................................................................................................ 44

Figura 27 - Avaliação rápida da temperatura ................................................................................................. 45

Figura 28 - Observação e palpação da cabeça e face .................................................................................. 47

Figura 29 - Observação e palpação dos ombros e clavícula ......................................................................... 48

Figura 30 - Observação e palpação do tórax e abdómen .............................................................................. 49

Figura 31 - Observação e palpação da coluna dorso e lombar ..................................................................... 49

Figura 32 - Observação e palpação muito suave da cintura pélvica .............................................................. 50

Figura 33 - Observação e palpação dos membros inferiores ........................................................................ 50

Figura 34 - Observação e palpação dos membros superiores ...................................................................... 51

Page 18: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

Índice TAT.01.10

Capítulo 4

Figura 35 - Cadeia de sobrevivência da vítima adulta ................................................................................... 55

Figura 36 - Avaliação do estado de consciência............................................................................................ 62

Figura 37 - Primeiro pedido de ajuda ............................................................................................................. 63

Figura 38 - Pesquisa de corpos estranhos na cavidade oral ......................................................................... 64

Figura 39 - Extensão da cabeça e elevação do queixo ................................................................................. 64

Figura 40 - A avaliar os sinais de circulação durante 10 segundos ............................................................... 65

Figura 41 - Activação do sistema de emergência .......................................................................................... 67

Figura 42 - Posicionamento / compressões torácicas ................................................................................... 68

Figura 43 - Colocação da máscara de bolso (pocket mask) / Ventilação boca-máscara ............................... 69

Figura 44 - Manobras de SBV a 2 reanimadores (com máscara de bolso e com insuflador manual) ........... 70

Figura 45 - Colocação em Posição Lateral de Segurança (PLS)................................................................... 76

Figura 46 - Colocação em Posição Lateral de Segurança (PLS)................................................................... 77

Figura 47 - Colocação em Posição Lateral de Segurança (PLS)................................................................... 77

Figura 48 - Colocação em Posição Lateral de Segurança (PLS)................................................................... 77

Figura 49 - Colocação em Posição Lateral de Segurança (PLS)................................................................... 78

Figura 50 - Desfazer a Posição Lateral de Segurança (PLS) ........................................................................ 79

Figura 51 - Obstrução da via aérea ............................................................................................................... 80

Figura 52 - Desobstrução da via aérea, Aplicação das pancadas interescapulares ...................................... 82

Figura 53 - Desobstrução da via aérea, Colocação das mãos na Manobra de Heimlich ............................... 83

Figura 54 - Desobstrução da via aérea, Manobra de Heimlich ...................................................................... 83

Figura 55 - Desobstrução da via aérea, Manobra de Heimlich ...................................................................... 84

Figura 56 - Extensão da cabeça e elevação da mandíbula ........................................................................... 88

Figura 57 - Sub-luxação da mandíbula .......................................................................................................... 89

Figura 58 - Tubos orofaríngeos (tubos de Guedel), escolha do tamanho e introdução do tubo .................... 90

Figura 59 - Tubo nasofaríngeo. Escolha do tamanho e colocação do tubo ................................................... 92

Figura 60 - Aspiração de secreções .............................................................................................................. 93

Figura 61 - Máscara de bolso (pocket mask) ................................................................................................. 94

Figura 62 - Ventilação com máscara de bolso em posição lateral ................................................................. 95

Figura 63 - Ventilação com máscara de bolso em posição cefálica .............................................................. 96

Figura 64 - Insuflador manual (“ambu”), máscaras faciais e garrafa de oxigénio .......................................... 97

Figura 65 - Ventilação com insuflador manual ............................................................................................... 98

Figura 66 - Cadeia de sobrevivência pediátrica ........................................................................................... 106

Figura 67 - Avaliação da resposta ............................................................................................................... 108

Figura 68 - Grito de ajuda ............................................................................................................................ 108

Figura 69 - Pesquisa de corpos estranhos .................................................................................................. 109

Figura 70 - Permeabilização da via aérea com extensão da cabeça e elevação da mandíbula .................. 109

Figura 71 - “posição neutra”na extensão da cabeça no lactente ................................................................. 109

Figura 72 - Pesquisa de respiração normal (VOS) ...................................................................................... 110

Figura 73 - Posição de recuperação ............................................................................................................ 110

Figura 74 - Ventilação boca-máscara na criança ......................................................................................... 111

Figura 75 - Ventilação boca-a-boca e nariz no lactente ............................................................................... 111

Figura 76 - Ventilação com máscara de bolso ............................................................................................. 112

Page 19: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Índice

Figura 77 - Pesquisa de sinais de circulação ............................................................................................... 113

Figura 78 - Compressões torácicas no lactente ........................................................................................... 114

Figura 79 - Compressões torácicas na criança ............................................................................................ 115

Figura 80 - Ventilação na criança ................................................................................................................ 115

Figura 81 - Ventilações sem perder a referência do ponto das compressões torácicas .............................. 116

Figura 82 - Ventilações e compressões torácicas com dois reanimadores ................................................. 116

Figura 83 - Pancadas interescapulares no lactente ..................................................................................... 125

Figura 84 - Compressões torácicas no lactente ........................................................................................... 126

Figura 85 - Pancadas inter-escapulares e compressões abdominais na criança ........................................ 127

Capítulo 5

Figura 86 - Dispositivos para administração de oxigénio por inalação ........................................................ 132

Figura 87 - Manómetro. Neste exemplo, a pressão da garrafa é de 200 bar ............................................... 136

Figura 88 - Debitómetro. Neste exemplo, o débito é de 3 litros / minuto ..................................................... 136

Capítulo 6

Figura 89 - Diferentes tipos de hemorragias, conforme a origem ................................................................ 141

Capítulo 8

Figura 90 - Cálculo da área queimada. Regra dos nove.............................................................................. 156

Figura 91 - Fracturas (fechada e exposta) do fémur .................................................................................... 161

Capítulo 9

Figura 92 - Estabilização cervical: abordagem posterior com a vítima sentada .......................................... 167

Figura 93 - Estabilização cervical: abordagem lateral com a vítima sentada ............................................... 168

Figura 94 - Estabilização cervical: abordagem anterior com a vítima de pé ................................................ 169

Figura 95 - Estabilização cervical: abordagem com a vítima em decúbito dorsal ........................................ 170

Figura 96 - Escolher o tamanho do colar cervical ........................................................................................ 171

Figura 97 - Aplicação da peça anterior, Introdução da peça posterior ......................................................... 171

Figura 98 - Centrar a peça posterior, Aperto da peça posterior ................................................................... 172

Figura 99 - Alinhamento e imobilização segundo o eixo nariz-umbigo-pés ................................................. 172

Figura 100 - Posicionamento para rolamento de vítima em decúbito dorsal ............................................... 173

Figura 101 - Posicionamento do plano com a vítima rolada até próximo do ângulo recto ........................... 173

Figura 102 - Posicionamento da vítima no final do rolamento ..................................................................... 174

Figura 103 - Colocação dos apoios de cabeça, fase final da imobilização no plano rígido ......................... 175

Figura 104 - O chefe da equipa mandará “colocar mãos” ............................................................................ 176

Figura 105 - O chefe da equipa mandará “introduzir mãos” ........................................................................ 177

Figura 106 - O chefe da equipa mandará levantar ao dizer “três” ............................................................... 177

Figura 107 - O chefe da equipa mandará “introduzir o plano duro” ............................................................. 178

Figura 108 - O chefe da equipa mandará “baixar a vítima centrada no plano duro” .................................... 178

Figura 109 - O chefe da equipa manterá o alinhamento e a imobilização em posição neutra ..................... 179

Figura 110 - Adaptação à altura, divisão em duas partes e colocação de uma de cada lado ..................... 179

Page 20: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

Índice TAT.01.10

Figura 111 - Introdução de cada uma das partes da maca através de pequeno rolamento ........................ 180

Figura 112 - Fecho das partes da maca na cabeça depois nos pés ............................................................ 180

Figura 113 - Colocação em local definitivo, abertura da maca e remoção das partes e imobilização ......... 181

Figura 114 - Preparação do plano e imobilização cervical .......................................................................... 182

Figura 115 - Vítima correctamente imobilizada em plano duro, com ‘aranha’ e imobilizadores de cabeça . 182

Figura 116 - Imobilização cervical ............................................................................................................... 184

Figura 117 - Colete de extracção ................................................................................................................. 184

Figura 118 - Colocação e adaptação às axilas do colete de extracção ....................................................... 185

Figura 119 - Colocação das precintas do tórax ........................................................................................... 185

Figura 120 - Colocação da almofada cervical .............................................................................................. 186

Figura 121 - Colocação dos cabrestos ........................................................................................................ 186

Figura 122 - Manutenção da estabilização e colocação das precintas dos membros inferiores ................. 187

Figura 123 - Colocação da precinta superior do tórax ................................................................................. 187

Figura 124 - Rodam, colocam, deslizam sobre o plano duro ....................................................................... 188

Figura 125 - Mantém os membros inferiores flectidos ................................................................................. 188

Figura 126 - Centrada no plano, reajustadas as precintas segue-se a imobilização ................................... 189

Figura 127 - Devem ser aplicadas as precintas da maca da ambulância .................................................... 189

Figura 128 - O socorrista faz a imobilização possível da vítima contra o seu corpo .................................... 191

Figura 129 - Colocada no solo, faz o apoio possível à coluna dorsal, até decúbito dorsal .......................... 191

Figura 130 - O socorrista coloca-se junto à nuca da vítima ......................................................................... 192

Figura 131 - O socorrista faz a imobilização possível da coluna cervical .................................................... 192

Figura 132 - O socorrista rola a vítima até à posição de decúbito dorsal, sem perder a atenção à coluna

cervical ........................................................................................................................................................ 192

Figura 133 - Imobilização do capacete e da cabeça e abertura da viseira .................................................. 195

Figura 134 - Abertura da precinta e imobilização cervical ........................................................................... 195

Figura 135 - Retira suavemente o capacete e avisa da saída ..................................................................... 196

Figura 136 - Substitui a imobilização cervical .............................................................................................. 196

Figura 137 - Posição do segundo elemento que, na foto, encobre o primeiro elemento ............................. 197

Figura 138 - Posição dos dois elementos e descida do plano e da vítima .................................................. 198

Figura 139 - Posição dos dois elementos e descida do plano e da vítima .................................................. 198

Capítulo 10

Figura 140 - Os principais passos da limpeza higiénica das mãos .............................................................. 213

Anexo A

Figura 141 - Posição da grávida para o parto .............................................................................................. 218

Figura 142 - Fases do parto ........................................................................................................................ 220

Figura 143 - Aspiração da boca e nariz do recém-nascido .......................................................................... 221

Figura 144 - Laqueação do cordão umbilical ............................................................................................... 222

Figura 145 - Parto com apresentação pélvica ............................................................................................. 224

Figura 146 - Manobra para libertação da cabeça num parto pélvico ........................................................... 224

Figura 147 - Prolapso do cordão umbilical .................................................................................................. 225

Figura 148 - Apresentação de um membro ................................................................................................. 226

Page 21: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Índice

ESQUEMAS

Capítulo 4

Esquema 1 - Algoritmo de SBV Adulto .......................................................................................................... 72

Esquema 2 - Algoritmo de SBV Adulto - Excepção ....................................................................................... 73

Esquema 3 - Algoritmo Desobstrução da Via Aérea ...................................................................................... 86

Esquema 4 - Algoritmo de SBV Pediátrico .................................................................................................. 118

Esquema 5 - Algoritmo de SBV em Neonatologia ....................................................................................... 123

Page 22: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

Índice TAT.01.10

Page 23: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano 1/262

CAPÍTULO 1- ANATOMIA E FISIOLOGIA DO CORPO HUMANO

OBJECTIVOS

No final desta unidade modular, os formandos deverão ser capazes de:

1. Identificar os principais planos anatómicos;

2. Listar e descrever as principais funções da pele;

3. Identificar e localizar os principais ossos do corpo humano mencionando as respectivas

referências anatómicas;

4. Listar, descrever e localizar os principais constituintes anatómicos e conhecer as

funções do sistema nervoso (central e periférico);

5. Enumerar os órgãos dos sentidos e conhecer as suas funções;

6. Listar, descrever e localizar os principais constituintes anatómicos e conhecer as

funções do sistema cardiovascular;

7. Listar, descrever e localizar os principais constituintes anatómicos e conhecer as

funções do sistema respiratório;

8. Listar, descrever e localizar os principais constituintes anatómicos do sistema digestivo;

9. Listar, descrever e localizar os principais constituintes anatómicos do sistema urinário;

10. Identificar os principais constituintes anatómicos do sistema reprodutor (feminino e

masculino).

Page 24: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

2/262 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano TAT.01.10

1. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES

O tripulante de ambulância lida directamente com situações de doença ou acidente. Por este

motivo, deve possuir conhecimentos básicos de anatomia e fisiologia e compreender o

significado das expressões e termos normalmente utilizados por técnicos de saúde.

Anatomia é a ciência médica que estuda a forma e o relacionamento dos diversos

componentes do corpo humano e Fisiologia a ciência que estuda o seu funcionamento.

O corpo humano é composto por uma infinidade de pequenas estruturas denominadas células.

As células são elementos microscópicos e representam a unidade anatómica e fisiológica

fundamental à vida. Existem diferentes tipos de células, cada uma com características

particulares e adaptada a um tipo específico de funções (Capítulo 1. Figura 1).

Capítulo 1. Figura 1 - Diversos tipos de células.

Tecido é um conjunto de muitas células com características semelhantes, agrupadas para

desempenhar uma função específica. Existem quatro grupos primários de tecidos: epitelial,

conjuntivo, muscular e nervoso. O tecido epitelial tem funções de protecção, secreção e

absorção e encontra-se, por exemplo, na pele (epiderme) ou a revestir o estômago. O tecido

conjuntivo tem funções de suporte e protecção e encontra-se, por exemplo, nos tendões,

ossos e cartilagens. O tecido muscular tem como principal função a contracção e encontra-se

nos músculos esqueléticos, no músculo cardíaco e em alguns órgãos contrácteis como, por

exemplo, o estômago ou o intestino. O tecido nervoso responde a diferentes tipos de

estímulos e permite a comunicação entre diferentes zonas do corpo, através da transmissão de

impulsos nervosos e encontra-se, por exemplo, no encéfalo, na medula e nos nervos.

Page 25: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano 3/262

Órgão é uma estrutura formada por vários tecidos que, em conjunto, contribuem para a

execução de uma função específica. São exemplos de órgãos o coração, os pulmões ou o

fígado.

Sistema é um grupo de órgãos relacionados entre si e que, actuando de forma coordenada,

desempenham uma função essencial. São exemplos o sistema nervoso, o sistema

cardiovascular, o sistema respiratório, o sistema digestivo, o sistema urinário ou o sistema

reprodutor. O termo aparelho pode ser utilizado como sinónimo de sistema.

Por organismo entende-se o conjunto de todos os órgãos, nas respectivas posições

anatómicas, trabalhando coordenadamente para assegurar a execução das funções vitais. O

corpo humano é um exemplo de um organismo. A sua divisão em cabeça, tronco e membros é

conhecida.

Posição anatómica (Capítulo 1. Figura 2), significa o corpo humano na vertical, olhando em

frente e com as palmas das mãos viradas para a frente. Posição erecta é a posição do corpo

de pé, na vertical. Posição de decúbito dorsal é a posição do corpo humano deitado, com as

costas para baixo. Posição de decúbito ventral é a posição do corpo humano deitado sobre o

abdómen (costas para cima). Posição de decúbito lateral é a posição do corpo humano

deitado sobre o lado esquerdo (DLE - decúbito lateral esquerdo), ou direito (DLD - decúbito

lateral direito).

Page 26: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

4/262 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano TAT.01.10

Capítulo 1. Figura 2 - Planos anatómicos.

Linha média é uma linha vertical imaginária que divide o corpo em lado direito e esquerdo.

Em anatomia, estes termos referem-se aos lados correspondentes do corpo quando este está

virado para nós, isto é, quando estamos frente a frente com a vítima, o lado esquerdo desta

está à nossa direita e vice-versa. Os termos medial e lateral referem-se a posições mais

próximas ou mais afastadas da linha média, respectivamente.

Anterior e posterior significam respectivamente, à frente e atrás. Por exemplo, na cabeça, a

face é anterior e a nuca posterior. Superior e inferior significam acima de e abaixo de,

respectivamente. Por exemplo, o nariz está numa posição superior em relação à boca.

Proximal e distal significam respectivamente, próximo e afastado de um ponto de referência e,

habitualmente, usam-se para os membros superiores e inferiores, relativamente ao ombro ou à

anca. Por exemplo, o cotovelo está numa posição proximal relativamente à mão.

Page 27: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano 5/262

Os planos anatómicos referem-se a planos imaginários localizados em posições específicas,

possibilitando a divisão do corpo humano em duas partes (Capítulo 1. Figura 2). O plano sagital

divide o corpo humano em duas partes, direita e esquerda. O plano horizontal divide o corpo

humano em duas partes, superior e inferior. O plano frontal divide o corpo humano, permitindo

determinar as localizações anterior e posterior.

2. PELE

A pele é o órgão de revestimento do corpo que assegura a relação entre o meio interno e o

externo tendo funções de protecção, regulação da temperatura, excreção (de suor e gorduras)

e sensitiva (fornecendo informações sobre o frio, o calor e a dor) (Capítulo 1. Figura 3).

Capítulo 1. Figura 3 - Estrutura da pele.

A epiderme é a camada mais externa da pele. Na derme encontram-se as glândulas

sudoríparas e sebáceas, os folículos pilosos, os vasos sanguíneos e as terminações nervosas

sensitivas.

3. SISTEMA MÚSCULO-ESQUELÉTICO

Embora o sistema muscular e o sistema esquelético constituam sistemas específicos,

frequentemente são descritos em conjunto: sistema músculo-esquelético.

Page 28: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

6/262 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano TAT.01.10

Fundamentalmente, o sistema músculo-esquelético garante o suporte e o movimento. Além

das funções de suporte e locomoção, este sistema protege vários órgãos vitais e alguns ossos

têm no seu interior a medula óssea, onde são produzidas células do sangue (os glóbulos

vermelhos e a maior parte dos glóbulos brancos).

A Miologia é a parte da anatomia que estuda os músculos.

Existem três tipos de músculos:

Músculo esquelético, constituído por fibras longas que se fixam aos ossos

directamente ou por tendões. Os seus movimentos são voluntários. São estes os

músculos que integram o sistema músculo-esquelético.

Músculo liso, constituído por fibras curtas. Este tipo de músculo localiza-se em vários

órgãos e os seus movimentos são involuntários. Como exemplo da acção dos músculos

lisos temos os movimentos do estômago durante a digestão.

Músculo cardíaco, constituído por fibras ramificadas umas nas outras. Os seus

movimentos são involuntários e rítmicos.

A Artrologia é o ramo da Anatomia que estuda as articulações.

As articulações são junções de dois ou mais ossos e podem ser:

Imóveis, como são todas as articulações da cabeça, com excepção das do maxilar

inferior.

Semi-móveis, como são as articulações entre os corpos vertebrais.

Móveis, em que os topos ósseos, juntos por ligamentos, são lubrificados pelo líquido

sinovial e envolvidos por uma cápsula articular. As articulações móveis permitem os

movimentos, através da acção dos músculos esqueléticos. Os movimentos podem ser

de flexão, extensão, adução, abdução e rotação.

A Osteologia é o ramo da Anatomia que estuda os ossos.

Quanto à sua forma, os ossos dividem-se em curtos, compridos, planos e irregulares.

Os ligamentos ligam ossos entre si, nas articulações.

Os tendões ligam os músculos aos ossos.

O esqueleto é composto pelos vários ossos, unidos pelas articulações e pode dividir-se em

cabeça, coluna, tórax, bacia, membros superiores e membros inferiores.

Page 29: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano 7/262

A cabeça é formada pelo crânio e pela face. O crânio é uma caixa óssea que alberga e protege

o encéfalo e a face. Além de essencial na vida de relação (expressividade e por albergar vários

órgãos dos sentidos) é onde se encontram as portas de entrada do sistema respiratório e

digestivo.

Os ossos do crânio são oito e os da face catorze. O único osso móvel da cabeça é o maxilar

inferior ou mandíbula (Capítulo 1. Figura 4).

Capítulo 1. Figura 4 - Ossos do crânio.

A coluna vertebral é constituída por uma série de ossos independentes, denominados

vértebras, unidos entre si por diversos ligamentos, permitindo obter uma coluna semi-flexível

com curvaturas, formando uma estrutura excepcionalmente forte, protectora do sistema

nervoso (medula espinal). É composta por trinta e três vértebras: sete cervicais (a base do

crânio está apoiada na primeira), doze torácicas ou dorsais, cinco lombares, cinco sagradas e

quatro coccígeas (Capítulo 1. Figura 5). As primeiras 24 vértebras estão separadas por discos

intervertebrais.

Capítulo 1. Figura 5 - A coluna vertebral e os diferentes tipos de vértebras das regiões superiores.

Page 30: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

8/262 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano TAT.01.10

O tórax assemelha-se a uma caixa que protege, entre outras estruturas, os pulmões, o

coração, os grandes vasos e parte do tubo digestivo. É constituído por doze pares de costelas

(sete verdadeiras, três falsas e duas flutuantes) que se articulam posteriormente com as doze

vértebras torácicas. Na região anterior do tronco, as primeiras dez costelas articulam-se com o

esterno, através de ligações cartilagíneas. O esterno é o osso vertical oposto à coluna,

localizado na linha média (Capítulo 1. Figura 6).

Capítulo 1. Figura 6 - Caixa torácica.

A bacia, também designada por cintura pélvica, é composta pelos ossos ilíacos e, na região

posterior, pela coluna sagrada e coccígea (Capítulo 1. Figura 7).

Capítulo 1. Figura 7 - Ossos da bacia ou cintura pélvica.

A coluna lombar e a bacia limitam, em conjunto com músculos próprios, o abdómen. A região

abdominal é também um espaço de protecção de órgãos importantes.

Page 31: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano 9/262

Os membros superiores (Capítulo 1. Figura 8) articulam-se com a região superior do tórax

através da cintura escapular. Têm uma importância fundamental no apoio às funções vitais e

dividem-se em braço, antebraço e mão.

Capítulo 1. Figura 8 - Ossos do membro superior.

A articulação do ombro ou escápulo-úmeral, entre a cintura escapular e o braço, articula a

clavícula e a omoplata (ossos da cintura escapular) com o úmero (osso do braço). A articulação

do cotovelo, entre o braço e o antebraço, articula o úmero com os ossos do antebraço (rádio e

cúbito). A articulação do punho articula os ossos do antebraço com os ossos da mão, ao nível

do carpo. No carpo existem oito ossos, no metacarpo cinco e nas falanges catorze (Capítulo 1.

Figura 9).

Capítulo 1. Figura 9 - Ossos da mão.

Page 32: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

10/262 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano TAT.01.10

Os membros inferiores (Capítulo 1. Figura 10) articulam-se com a cintura pélvica. Têm funções

de locomoção e dividem-se em coxa, perna e pé.

Capítulo 1. Figura 10 - Ossos do membro inferior.

A articulação da anca ou coxo-femural, entre a bacia e a coxa, articula o osso ilíaco com o

fémur (osso da coxa). A articulação do joelho, entre a coxa e a perna, articula o fémur e a

rótula com os ossos da perna (tíbia e perónio). A articulação tíbio-társica articula os ossos da

perna com os ossos do pé, ao nível do tarso. Os ossos do tarso ou tornozelo são sete, os do

metatarso são cinco e os das falanges são catorze (Capítulo 1. Figura 11).

Capítulo 1. Figura 11 - Ossos do pé.

Page 33: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano 11/262

4. SISTEMA NERVOSO

O sistema nervoso regula as diferentes funções do organismo e estabelece a relação entre

este e o meio ambiente.

O sistema nervoso divide-se em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico

(SNP). O SNC é constituído pelo encéfalo e pela medula espinal (Capítulo 1. Figura 12) e o SNP

pelos diferentes nervos.

Capítulo 1. Figura 12 - Sistema Nervoso Central.

O encéfalo localiza-se no interior da caixa craniana e é constituído pelo cérebro, pelo cerebelo

e pelo tronco cerebral. A medula espinal por sua vez, localiza-se no canal raquidiano, no

interior da coluna vertebral. O SNC está protegido por estruturas ósseas (crânio e vértebras) e

por três superfícies membranosas que constituem as meninges:

Duramáter, que reveste a face interna do crânio;

Aracnoideia;

Piamáter, que está em contacto directo com o tecido nervoso.

Entre a aracnoideia e a piamáter circula um líquido claro e límpido, denominado líquido

céfalo-raquidiano (LCR), com funções de protecção. As meninges e o LCR funcionam como

um verdadeiro “amortecedor” mecânico entre as estruturas ósseas e o sistema nervoso central.

Page 34: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

12/262 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano TAT.01.10

Essencialmente o cérebro desempenha três tipos de funções:

Sensitivas (olfactiva, auditiva, visual, gustativa e táctil);

Motora (relacionada com os movimentos e seu controlo);

De integração (ligadas à actividade mental).

O cerebelo tem por principal função a coordenação dos movimentos voluntários.

O tronco cerebral é um conjunto de estruturas responsáveis pela ligação entre o encéfalo e a

medula espinal.

No tronco cerebral existem agrupamentos de células que formam os núcleos de origem da

maior parte dos nervos cranianos. Estes nervos são de grande importância, sendo

responsáveis por funções fundamentais de que são exemplos as contracções cardíacas, o

controle da respiração ou a regulação da deglutição, entre outras.

Como já foi referido, a medula espinal é protegida pela coluna vertebral localizando-se no

interior do canal raquidiano (Capítulo 1. Figura 13). As lesões da coluna, abaixo da 1ª vértebra

dorsal ou torácica, podem produzir paraplegia (paralisia dos membros inferiores). As lesões

acima ou seja, a nível cervical, podem causar paralisia dos quatro membros, situação

denominada tetraplegia.

Capítulo 1. Figura 13 - Medula espinal, no interior do canal raquidiano, protegida pelas vértebras.

O sistema nervoso periférico é constituído pelos nervos cranianos, cuja maioria emerge da

base do crânio (tronco cerebral) e pelos nervos raquidianos que se originam na medula.

Page 35: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano 13/262

Quanto à sua fisiologia, o sistema nervoso pode ser classificado em sistema nervoso

voluntário (funções que podem ser controladas pela vontade) e sistema nervoso autónomo

(SNA) ou neuro-vegetativo.

O SNA controla várias funções de órgãos e aparelhos do organismo de forma automática sem

que seja necessário ou, na maior parte das vezes, possível qualquer intervenção consciente.

São exemplos a respiração, a pressão arterial, a motilidade e secreção digestiva, a micção, a

sudação e muitas outras funções.

5. ÓRGÃOS DOS SENTIDOS

A visão é o sentido que nos permite construir imagens do que nos rodeia. A luz reflectida (ou

emitida) pelos objectos é captada pelos olhos e após atingir as células fotossensíveis da retina,

é convertida em impulsos nervosos que são transmitidos ao cérebro, através dos nervos

ópticos. No cérebro, os impulsos nervosos são interpretados de modo a formar a imagem que

lhes deu origem.

A audição é o sentido que permite captar o som do ambiente que nos rodeia. As ondas

sonoras são transformadas em impulsos nervosos no ouvido que são conduzidos ao cérebro

através dos nervos auditivos onde são identificados como sons.

O olfacto é o sentido que permite através de receptores específicos, detectar as substâncias

voláteis transportadas pelo ar até às fossas nasais e identificá-las no cérebro como odores.

O gosto é o sentido que permite através da estimulação das papilas gustativas localizadas na

língua, detectar e identificar os paladares básicos: amargo, doce, ácido, salgado e um quinto

paladar, associado a alimentos como a carne e recentemente identificado, que recebeu a

designação de umami (termo Japonês que significa “delicioso”).

O tacto é o sentido que nos permite obter as sensações de temperatura e textura das

superfícies, através das terminações nervosas que existem na pele. Estas terminações

nervosas existem em maior número ao nível da ponta dos dedos e a sua estimulação gera

impulsos nervosos, posteriormente identificados pelo cérebro.

Page 36: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

14/262 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano TAT.01.10

6. SISTEMA CARDIOVASCULAR

O coração é o órgão que bombeia o sangue, mantendo-o constantemente em circulação

através da sua contracção rítmica.

O coração é composto por duas metades não comunicantes, a direita e a esquerda, cada uma

das quais constituída por uma aurícula e um ventrículo que comunicam entre si através de

válvulas unidireccionais.

Capítulo 1. Figura 14 - Corte do coração, com identificação do fluxo do sangue.

No coração direito circula sangue venoso carregado de produtos que é necessário eliminar e

que resultam da actividade das células. Este sangue é conduzido à aurícula direita através

das veias cava inferior e superior, passando depois através da válvula aurículo-ventricular

direita (válvula tricúspide) para o ventrículo direito que, dando início à circulação pulmonar

(pequena circulação), o bombeia através das artérias pulmonares para os pulmões onde é

oxigenado.

Page 37: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano 15/262

No coração esquerdo circula sangue arterial, rico em oxigénio. Na aurícula esquerda é

recebido o sangue oxigenado que vem dos pulmões (da circulação pulmonar), conduzido pelas

veias pulmonares. Este sangue passa depois através da válvula aurículo-ventricular esquerda

(válvula mitral) para o ventrículo esquerdo que, dando início à circulação sistémica (grande

circulação), o bombeia através da aorta para todo o corpo (Capítulo 1. Figura 14).

O pericárdio é a membrana que envolve o coração. Tem dois folhetos, um parietal e outro

visceral, existindo entre ambos um líquido lubrificante.

O miocárdio é o músculo que forma as paredes do coração.

A contracção dos ventrículos designa-se sístole e o seu relaxamento diástole.

No adulto médio, em cada contracção cardíaca, são expelidos cerca de setenta mililitros de

sangue, o que corresponde a cerca de cinco litros por minuto.

A frequência cardíaca é o número de contracções do coração durante um minuto.

O pulso é a força exercida na parede das artérias pelas ondas de sangue, provocadas pelas

contracções cardíacas que fazem o sangue chegar a todas os tecidos do corpo (circulação). O

pulso pode ser sentido em várias zonas, quando se palpa uma artéria que se localiza perto da

superfície. Em condições normais, o pulso tem uma frequência de sessenta a cem pulsações

por minuto no adulto e mais de cem na criança. Pode ser rítmico ou arrítmico e forte ou fraco.

As artérias, que levam o sangue para os vários tecidos do corpo, subdividem-se em arteríolas

e estas em capilares.

As veias, que trazem de volta o sangue ao coração, resultam da junção de vénulas que, por

sua vez, são o resultado da reunião dos capilares.

Um adulto normal tem cerca de cinco litros e meio de sangue. O sangue é constituído por um

líquido que se chama plasma e por três tipos de células: os eritrócitos (glóbulos vermelhos)

que vivem cerca de cento e vinte dias transportando oxigénio, os leucócitos (glóbulos

brancos) que actuam em defesa do organismo e os trombócitos (plaquetas) com um papel

importante na coagulação sanguínea.

Page 38: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

16/262 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano TAT.01.10

Capítulo 1. Figura 15 - Células do sangue: vários eritrócitos (1), dois leucócitos (2) e algumas plaquetas (3).

Num centímetro cúbico de sangue existem cerca de cinco milhões de glóbulos vermelhos, sete

mil glóbulos brancos e duzentas mil plaquetas.

7. SISTEMA RESPIRATÓRIO

O corpo humano pode ser privado de alimentos e de água durante algum tempo mas todas as

células do organismo carecem de oxigénio para viver e funcionarem com eficiência. O oxigénio

é essencial para que as células possam extrair dos alimentos a energia de que necessitam.

A respiração é o processo utilizado para assegurar as trocas de oxigénio e de dióxido de

carbono a nível dos pulmões.

As portas de entrada do ar com o oxigénio necessário à função respiratória são a boca ou as

fossas nasais, a que se segue a faringe. A faringe, que é comum ao aparelho digestivo e

respiratório e se inicia ao nível da 4ª vértebra cervical, tem duas aberturas inferiores, uma para

o esófago (a digestiva) e uma anterior para a laringe. Esta tem uma estrutura, a epiglote, que

baixa no início e durante a deglutição, encerrando a glote e impedindo os alimentos de

entrarem para a traqueia. A laringe situa-se ao nível da “maça de Adão” e no seu interior estão

as cordas vocais. Estas são responsáveis pelos sons que emitimos, desempenhando um

papel fundamental na fala.

No interior do tórax, a traqueia bifurca-se em dois brônquios principais que penetram nos

pulmões ao nível da 4ª/5ª vértebras dorsais.

3 2

1

Page 39: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano 17/262

Nos pulmões, os brônquios dividem-se por diversas vezes originando sucessivamente, os

brônquios segmentares e os bronquíolos que, finalmente, terminam nos alvéolos (Capítulo 1.

Figura 16). É nos alvéolos que o oxigénio do ar passa para o sangue e o dióxido de carbono é

eliminado.

Capítulo 1. Figura 16 - Principais constituintes do sistema respiratório.

Cada pulmão tem cerca de trezentos milhões de alvéolos, constituindo no total uma superfície

de cerca de cem metros quadrados para se efectuarem as trocas gasosas.

A capacidade pulmonar total, após inspiração forçada, é de cerca de cinco litros de ar. O

volume de ar corrente que corresponde ao volume de ar expirado após uma inspiração ou uma

expiração normais (não forçados), é de cerca de meio litro de ar.

A via aérea pulmonar é acompanhada de duas outras redes vasculares, a arterial e a venosa,

que diminuem de calibre na mesma direcção, terminando na rede de capilares perialveolares.

Os dois pulmões estão separados entre si pelo mediastino, espaço onde se encontra o

coração e onde passam o esófago e os grandes vasos.

A pleura é a membrana que envolve os pulmões, tem dois folhetos, um parietal e outro

visceral, existindo entre eles, um líquido lubrificante.

Page 40: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

18/262 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano TAT.01.10

Com excepção da expiração normal, os movimentos respiratórios resultam da acção de vários

músculos. A expiração normal é um processo completamente passivo que resulta da

elasticidade dos pulmões, assemelhando-se ao esvaziar de um balão de borracha cheio de ar.

A frequência respiratória média, em repouso, é de cerca de dezasseis ciclos por minuto no

adulto, vinte no adolescente, vinte e cinco na criança e quarenta e cinco no recém-nascido.

8. SISTEMA DIGESTIVO

Os órgãos do aparelho digestivo (Capítulo 1. Figura 17) têm como função essencial a

preparação dos alimentos para serem absorvidos e utilizados pelas células do corpo humano.

Capítulo 1. Figura 17 - Principais constituintes do sistema digestivo.

O processo de alteração da composição química e física dos alimentos de maneira a que

possam ser absorvidos e utilizados pelas células do corpo é conhecido como digestão e

constitui a principal função do sistema digestivo.

Page 41: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano 19/262

Os alimentos são ingeridos pela boca onde se inicia o processo digestivo. Esses alimentos

progridem ao longo do tubo digestivo passando sucessivamente pela faringe, esófago,

estômago, intestino delgado e intestino grosso. Finalmente, os restos alimentares não

absorvidos, são excretados através do ânus.

São órgãos ou estruturas anexas ao tubo digestivo os dentes, a língua, as glândulas

salivares, o fígado, a vesícula biliar e o pâncreas.

9. SISTEMA URINÁRIO

O sistema urinário é constituído pelos rins, os ureteres, a bexiga e a uretra (Capítulo 1. Figura

18).

Capítulo 1. Figura 18 - Principais constituintes do sistema urinário.

O sistema urinário tem por função formar e excretar a urina, mantendo o nível de água do

corpo e regulando a composição química do meio interno para além de possibilitar a eliminação

de substâncias nocivas ao organismo, filtrando e purificando o sangue.

Page 42: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

20/262 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano TAT.01.10

10. SISTEMA REPRODUTOR

A reprodução não é essencial à sobrevivência individual. No entanto, é essencial para a

continuação de qualquer espécie.

Na espécie humana, à semelhança de outras espécies animais, existem dois seres de

características distintas, macho e fêmea e só pela junção de elementos existentes apenas em

cada um deles é possível a reprodução. Assim, só com a fecundação de um óvulo (produzido

pela fêmea) por um espermatozóide (produzido pelo macho) é possível a criação de um novo

ser, semelhante aos progenitores.

O sistema reprodutor feminino está situado na parte inferior do abdómen, entre a bexiga e o

recto e é constituído pelos ovários, as trompas de Falópio, o útero e a vagina (Capítulo 1.

Figura 19).

Capítulo 1. Figura 19 - Principais constituintes do sistema reprodutor feminino.

O sistema reprodutor masculino é constituído pelos testículos, os canais deferentes, as

vesículas seminais, a próstata, a uretra e o pénis (Capítulo 1. Figura 20).

Page 43: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano 21/262

Capítulo 1. Figura 20 - Principais constituintes do sistema reprodutor masculino.

Canal deferente

Vesícula

Seminal

Próstata

Uretra

Testículos

Pénis

Bexiga

Page 44: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

22/262 Anatomia e Fisiologia do Corpo Humano TAT.01.10

Page 45: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Sistema Integrado de Emergência Médica 23/262

CAPÍTULO 2 - SISTEMA INTEGRADO DE EMERGÊNCIA MÉDICA

OBJECTIVOS

No final desta unidade modular, os formandos deverão ser capazes de:

1. Descrever a organização e o funcionamento do Sistema Integrado de Emergência

Médica.

Page 46: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

24/262 Sistema Integrado de Emergência Médica TAT.01.10

1. CONCEITOS E DEFINIÇÕES

1.1. Emergência Médica

É a actividade na área da saúde que abrange tudo o que se passa desde o local onde ocorre

uma situação de emergência até ao momento em que se conclui, no estabelecimento de saúde

adequado, o tratamento definitivo que aquela situação exige.

1.2. Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM)

‘Conjunto de meios e acções extra-hospitalares, hospitalares e inter-hospitalares, com a

intervenção activa dos vários componentes de uma comunidade, logo pluridisciplinar,

programados de modo a possibilitar uma acção rápida, eficaz e com economia de meios, em

situações de doença súbita, acidentes ou catástrofes, nas quais a demora de medidas

adequadas, diagnóstico e terapêutica, pode acarretar graves riscos ou prejuízo ao doente’.

2. EVOLUÇÃO DA EMERGÊNCIA MÉDICA PRÉ HOSPITALAR, EM PORTUGAL

2.1. O início do Socorro a Vítimas de Acidente na Via Pública, em Lisboa.

Em 1965 iniciou-se o socorro a vítimas de acidente na via pública, em Lisboa. As ambulâncias

eram activadas através do número de telefone ‘115’, a tripulação era constituída por elementos

da Polícia de Segurança Pública (PSP) e o transporte efectuado para o hospital. O serviço

estendeu-se de seguida às cidades do Porto, Coimbra, Aveiro, Setúbal e Faro.

2.2. O Serviço Nacional de Ambulâncias (SNA)

Com o objectivo de ‘assegurar a orientação, a coordenação e a eficiência das actividades

respeitantes à prestação de primeiros socorros a sinistrados e doentes e ao respectivo

transporte’ foi criado em 1971, o Serviço Nacional de Ambulâncias (SNA). Este serviço

constituiu os chamados ‘Postos de Ambulância SNA’, dotados de ambulâncias com

equipamento sanitário e de telecomunicações, sedeadas na PSP (nas cidades de Lisboa,

Porto, Coimbra e Setúbal), na GNR e em Corporações de Bombeiros, numa uma rede

organizada que abrangia todo o país.

Page 47: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Sistema Integrado de Emergência Médica 25/262

2.3. O Gabinete de Emergência Médica (GEM)

No ano de 1980, após um ano de trabalho desenvolvido por uma Comissão de Estudo de

Emergência Médica e que culminou com a apresentação de uma proposta de desenvolvimento

de um Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM), foi constituído o Gabinete de

Emergência Médica (GEM) que tinha como principal atribuição a elaboração de um projecto de

organismo que viesse a desenvolver e coordenar o Sistema Integrado de Emergência Médica

(SIEM).

2.4. O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM)

Como resultado do trabalho desenvolvido pelo GEM, em 1981 foi criado o Instituto Nacional de

Emergência Médica (INEM) sendo extintos o SNA e o GEM.

Dispondo o INEM à partida dos meios de socorro/transporte (instalados pelo SNA na PSP e em

Quartéis de Bombeiros), das centrais 115 e de uma rede de avisadores SOS colocados em

estradas nacionais e tendo como principal objectivo o desenvolvimento e coordenação do

SIEM, reorganizou e desenvolveu as Centrais de Emergência e os Avisadores SOS e

remodelou os Postos de Ambulância, estabelecendo acordos com Bombeiros, Polícia e Cruz

Vermelha para a constituição de Postos de Emergência Médica (PEM) e Postos Reserva.

2.4.1. O Centro de Informação Antivenenos (CIAV)

Logo no ano seguinte, em 1982, o INEM põe em funcionamento na sua sede, a primeira

Central medicalizada de informação toxicológica, o Centro de Informação Antivenenos (CIAV).

2.4.2. O Centro de Formação de Lisboa

Nos anos seguintes, o INEM põe em funcionamento o Centro de Formação de Lisboa que tem

como finalidade a formação de Médicos, Enfermeiros, Operadores de Central e Tripulantes de

Ambulância em Técnicas de Emergência Médica.

Actualmente existem Centros de Formação em Lisboa, Porto e Coimbra e, na dependência do Centro de Formação de Lisboa, está em funcionamento um Núcleo de Formação em Faro.

Page 48: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

26/262 Sistema Integrado de Emergência Médica TAT.01.10

2.4.3. Os Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU)

Em 1987 o INEM desenvolve e põe a funcionar em Lisboa, o primeiro Centro de Orientação de

Doentes Urgentes (CODU), uma nova central medicalizada para atendimento das chamadas

de emergência médica, triagem telefónica, aconselhamento e accionamento dos meios de

emergência adequados.

Na actualidade, quatro Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) em Lisboa, Porto, Coimbra e Faro, fazem a cobertura de todo o território do continente, medicalizando o alerta (os pedidos de socorro da área da Emergência Médica feitos através do 112, o Número Europeu de Emergência).

2.4.4. O subsistema de Transporte de Recém-Nascidos de Alto Risco

Ainda em 1987, com o objectivo de uma melhor e mais adequada assistência e transporte

medicalizado a prematuros e outros recém-nascidos em risco, para uma unidade de saúde com

neonatologia, o INEM implementa o subsistema de Transporte de Recém-Nascidos de Alto

Risco.

O INEM mantém este subsistema de assistência e transporte com a colaboração dos Hospitais Pediátricos de Lisboa, Porto e Coimbra.

2.4.5. As Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER)

Complementando e melhorando a medicalização do socorro e do transporte, o INEM

implementa em 1989, um sistema que consiste na deslocação de uma viatura ligeira com uma

equipa médica e equipamento adequado, chamada Viatura Médica de Emergência e

Reanimação (VMER) que, sob orientação do CODU Lisboa, não só pode acorrer a situações

de extrema urgência no domicílio ou na via pública, medicalizando o seu transporte, como pode

acorrer e apoiar o socorro/transporte de doentes que se desloquem para unidades de saúde

em ambulâncias de socorro, medicalizando-as.

Na actualidade, este tipo de socorro medicalizado estende-se a todo o território do continente, também com colaboração dos Hospitais das áreas geográficas de referência, com equipas médicas formadas pelo INEM e coordenadas pelos CODU.

Page 49: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Sistema Integrado de Emergência Médica 27/262

2.4.6. O Centro de Orientação de Doentes Urgentes Mar (CODU MAR)

De modo a permitir o aconselhamento médico, o eventual accionamento de meios de

evacuação e o encaminhamento hospitalar de situações de emergência que se verifiquem em

inscritos marítimos, o INEM implementou em 1989, o Centro de Orientação de Doentes

Urgentes Mar (CODU MAR).

2.4.7. O Serviço de Helicópteros de Emergência Médica (SHEM)

Tendo como objectivo a melhoria da assistência e do transporte de doentes críticos para as

unidades de saúde mais adequadas, em Julho de 1997, o INEM implementou o Serviço de

Helicópteros de Emergência Médica (SHEM), colocando em serviço dois aparelhos dedicados

em exclusivo à Emergência Médica, o Heli 1 no aeródromo de Tires (em Cascais) e o Heli 2 no

aeródromo de Espinho. Actualmente, o Heli 2 está sedeado no Hospital de Pedro Hispano, em

Matosinhos.

Estes helicópteros, inicialmente a funcionar apenas durante o período diurno, a partir de

Outubro de 2002 passaram a funcionar 24 hora por dia.

Durante o ano de 2000, em colaboração com o antigo Serviço Nacional de Bombeiros,

actualmente Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), foi iniciado o Helitransporte

nocturno de doentes críticos através da medicalização do Helicóptero de Santa Comba Dão.

Para isso, além de garantir o material necessário, o INEM passou a assegurar a presença

física de uma equipa médica durante a noite na Base de Santa Comba Dão.

Actualmente, o Serviço de Helicópteros de Emergência Médica (SHEM) funciona vinte e quatro horas por dia, fazendo a cobertura de todo o território do continente e a sua actuação é coordenada pelos CODU.

2.4.8. O Serviço de Ambulâncias de Emergência (SAE)

Com a mobilização nacional motivada pela realização do Campeonato da Europa de Futebol

de 2004, o maior evento desportivo até aí realizado em Portugal, integrado nos preparativos

necessários para garantir que esse evento viesse a ser um êxito e onde o INEM teve um papel

preponderante, foi criado o Serviço de Ambulâncias de Emergência (SAE), inicialmente em

Lisboa e no Porto. Assim, a partir do ‘Euro 2004’, o INEM passou a dispor de ambulâncias de

Suporte Básico de Vida (SBV) com a valência de Desfibrilhação Automática Externa (DAE),

tripuladas por Técnicos de Ambulância de Emergência (TAE), devidamente qualificados.

Page 50: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

28/262 Sistema Integrado de Emergência Médica TAT.01.10

No âmbito do SAE, foram ainda implementados em Lisboa e no Porto, os Motociclos de

Emergência Médica. Tripulados por um TAE, estes meios permitem um socorro particularmente

rápido em situações onde o intenso trânsito citadino pode condicionar algum atraso.

A partir de 2007, com o enquadramento proporcionado pela Reestruturação da Rede de

Urgências planeada pelo Ministério da Saúde, o SAE estendeu-se a todo o território nacional.

Ainda no âmbito da Reestruturação da Rede de Urgências, foram criadas as ambulâncias de

Suporte Imediato de Vida (SIV), tripuladas por um TAE e um Enfermeiro.

2.4.9. O Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC)

Também desde 2004, o INEM dispõe de Psicólogos que contribuem para uma melhoria na

qualidade da resposta dada em diversas situações de emergência. Para atingir este objectivo,

foi criado o Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC).

Os psicólogos do CAPIC garantem, 24 horas por dia, o apoio psicológico das chamadas

telefónicas recebidas nos CODU que o justifiquem e, através das UMIPE (Unidades Móveis de

Intervenção Psicológica de Emergência), podem ser accionados para o local das ocorrências

onde a sua presença seja necessária.

O CAPIC assegura ainda a prestação de apoio psicológico aos operacionais do SIEM, em

todas as situações em que estes são confrontados com elevados níveis de stress.

2.4.10 Outros Meios do INEM

Além dos serviços e dos meios de intervenção já referidos, o INEM dispõe ainda de vários

meios com capacidade de intervenção em situações excepcionais, nomeadamente catástrofes

ou acidentes graves de que resultem vítimas em número elevado.

Entre estes meios podem ser referidas as Viaturas de Intervenção em Catástrofe (VIC), as

Viaturas para Intervenção em situações envolvendo agentes NRBQ (Nuclear & Radiológicos,

Biológicos e Químicos) e o Hospital de Campanha.

As VIC estão sedeadas em cada uma das quatro Delegações Regionais do INEM (Lisboa,

Porto, Coimbra, e Faro) e podem ser accionadas a qualquer momento. Estas viaturas permitem

a montagem de Postos Médicos Avançados, melhorando as condições em que as equipas dos

vários meios de socorro intervêm, permitindo a prestação de melhores cuidados de emergência

no local das ocorrências.

Page 51: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Sistema Integrado de Emergência Médica 29/262

As viaturas NRBQ dispõem dos equipamentos adequados à intervenção em situações

envolvendo radioactividade, agentes biológicos ou agentes químicos.

O Hospital de Campanha garante ao INEM a capacidade de montar rapidamente uma estrutura

provisória de tipo hospitalar que permite receber, assistir e, se necessário, manter em regime

de internamento, um número considerável de doentes. Constituído por vários módulos que

permitem dimensionar o Hospital de Campanha em função de necessidades específicas, além

de várias enfermarias, dispõe de um Bloco Operatório e de uma Unidade de Cuidados

Intensivos além de possuir capacidade para realização de várias análises e radiografias.

3. FASES DO SIEM

Tendo como base o símbolo da ‘Estrela da Vida’, a cada uma das suas hastes corresponde

uma fase do SIEM.

Capítulo 2. Figura 21 - Estrela da Vida com as diversas fases do SIEM

3.1. Detecção

Corresponde ao momento em que alguém se apercebe da existência de uma ou mais vítimas

de doença súbita ou acidente.

3.2. Alerta

É a fase em que se contactam os serviços de emergência, utilizando o Número Europeu de

Emergência - 112.

Page 52: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

30/262 Sistema Integrado de Emergência Médica TAT.01.10

3.3. Pré-socorro

Conjunto de gestos simples que podem e devem ser efectuados até à chegada do socorro.

3.4. Socorro

Corresponde aos cuidados de emergência iniciais efectuados às vítimas de doença súbita ou

de acidente, com o objectivo de as estabilizar, diminuindo assim a morbilidade e a mortalidade.

3.5. Transporte

Consiste no transporte assistido da vítima numa ambulância com características, tripulação e

carga bem definidas, desde o local da ocorrência até à unidade de saúde adequada,

garantindo a continuação dos cuidados de emergência necessários.

3.6. Tratamento na Unidade de Saúde

Esta fase corresponde ao tratamento no serviço de saúde mais adequado ao estado clínico da

vítima. Em alguns casos excepcionais, pode ser necessária a intervenção inicial de um

estabelecimento de saúde onde são prestados cuidados imprescindíveis para a estabilização

da vítima, com o objectivo de garantir um transporte mais seguro para um hospital mais

diferenciado e/ou mais adequado à situação.

4. INTERVENIENTES NO SIEM

São intervenientes no sistema:

O público;

Operadores das Centrais de Emergência 112;

Operadores dos CODU;

Agentes da autoridade;

Bombeiros;

Tripulantes de ambulância;

Médicos e enfermeiros;

Pessoal técnico hospitalar;

Pessoal técnico de telecomunicações e de informática.

Page 53: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Sistema Integrado de Emergência Médica 31/262

5. ORGANIZAÇÃO DO SIEM

A capacidade de resposta adequada, eficaz e em tempo oportuno dos sistemas de emergência

médica às situações de emergência é um pressuposto essencial para o funcionamento da

cadeia de sobrevivência (Capítulo 4).

O INEM

O INEM - Instituto Nacional de Emergência Médica é o organismo do Ministério da Saúde ao

qual cabe coordenar o funcionamento do Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM), no

território de Portugal Continental, de forma a garantir às vítimas em situação de emergência, a

pronta e correcta prestação de cuidados de saúde. A prestação de socorros no local da

ocorrência, o transporte assistido das vítimas para o hospital adequado e a articulação entre os

vários intervenientes no SIEM (hospitais, bombeiros, polícia, etc.), são as principais tarefas do

INEM.

A organização da resposta à emergência, fundamental para a cadeia de sobrevivência,

simboliza-se pelo Número Europeu de Emergência - 112 e implica, a par do reconhecimento da

situação e da concretização de um pedido de ajuda imediato, a existência de meios de

comunicação e equipamentos necessários para uma capacidade de resposta pronta e

adequada.

O INEM, através do Número Europeu de Emergência - 112, dispõe de vários meios para

responder com eficácia, a qualquer hora, a situações de emergência médica.

As chamadas de emergência efectuadas através do número 112 são atendidas em Centrais de

Emergência da PSP/ GNR. Actualmente, no território de Portugal Continental, as chamadas

que dizem respeito a situações de saúde são encaminhadas para os CODU do INEM em

funcionamento no Lisboa, Porto, Coimbra, e Faro.

CODU

Compete aos CODU atender e avaliar no mais curto espaço de tempo, os pedidos de socorro

recebidos, com o objectivo de determinar os recursos necessários e adequados a cada caso. O

funcionamento dos CODU é assegurado em permanência por médicos e operadores de

central, com formação específica para efectuar:

O atendimento e triagem dos pedidos de socorro;

O aconselhamento de pré-socorro, sempre que indicado;

Page 54: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

32/262 Sistema Integrado de Emergência Médica TAT.01.10

A selecção e accionamento dos meios de socorro adequados;

O acompanhamento das equipas de socorro no terreno;

O contacto com as unidades de saúde, preparando a recepção hospitalar dos doentes.

Em caso de acidente ou doença súbita ligue, a qualquer hora, o 112. A sua colaboração é

fundamental para permitir um rápido e eficaz socorro às vítimas pelo que é fundamental que

faculte toda a informação que lhe seja solicitada.

Ao ligar o 112 deverá estar preparado para informar:

A localização exacta da ocorrência e pontos de referência do local, para facilitar a

chegada dos meios de socorro;

O número de telefone de contacto;

O que aconteceu (ex. acidente, parto, falta de ar, dor no peito etc.);

O número de pessoas que precisa de ajuda;

A condição em que se encontra(m) a(s) vítima(s);

Se já foi feita alguma coisa (ex. controlo de hemorragia);

Qualquer outro dado que lhe seja solicitado (ex. se a vítima sofre de alguma doença ou

se a(s) vítima(s) de um acidente está(ão) encarcerada(s)).

AO LIGAR 112, ESTEJA PREPARADO PARA RESPONDER A:

- ‘O QUÊ?’

- ‘ONDE?’

- ‘COMO?’

- ‘QUEM?’

Siga sempre as instruções que lhe derem, pois estas constituem o pré-socorro e, muitas vezes,

são fundamentais para ajudar a(s) vítima(s). Apenas desligue o telefone quando lhe for dito

para o fazer e esteja preparado para ser contactado posteriormente para algum esclarecimento

adicional.

Os CODU têm à sua disposição diversos meios de comunicação e de actuação no terreno,

como sejam as Ambulâncias INEM, os Motociclos de Emergência, as VMER e os Helicópteros

de Emergência Médica. Através da criteriosa utilização dos meios de telecomunicações ao seu

dispor, têm capacidade para accionar os diferentes meios de socorro, apoiá-los durante a

prestação de socorro no local da ocorrência e de acordo com as informações clínicas recebidas

Page 55: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Sistema Integrado de Emergência Médica 33/262

das equipas no terreno, seleccionar e preparar a recepção hospitalar da(s) vítima(s)

envolvida(s).

AMBULÂNCIAS

As ambulâncias de socorro coordenadas pelos CODU estão localizadas em vários pontos do

país, associadas às diversas delegações do INEM, sedeadas em Corpos de Bombeiros ou

Delegações da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP). A maior parte das Corporações de

Bombeiros estabeleceu com o INEM protocolos para se constituírem como Postos de

Emergência Médica (PEM) ou Postos Reserva. Muitas das Delegações da CVP são Postos

Reserva.

As Ambulâncias dos Postos de Emergência Médica (PEM) são ambulâncias de socorro do

INEM colocadas em corpos de Bombeiros, com os quais o INEM celebrou protocolos.

Destinam-se à estabilização e ao transporte de doentes que necessitem de assistência durante

o transporte e a sua tripulação e equipamento permitem a aplicação de medidas de Suporte

Básico de Vida. A tripulação é constituída por dois elementos da corporação e, pelo menos um

deles, deve estar habilitado com o Curso de TAS (Tripulante de Ambulância de Socorro). O

outro tripulante, no mínimo, deve estar habilitado com o Curso de TAT (Tripulante de

Ambulância de Transporte).

As Ambulâncias SBV do INEM são ambulâncias de socorro igualmente destinadas à

estabilização e transporte de doentes que necessitem de assistência durante o transporte,

permitindo a sua tripulação e equipamento, a aplicação de medidas de Suporte Básico de Vida

e Desfibrilhação Automática Externa. São tripuladas por 2 TAE do INEM, devidamente

habilitados com os Cursos de TAS (Tripulante de Ambulância de Socorro), Condução de

Emergência e DAE (Desfibrilhação Automática Externa).

As Ambulâncias SIV do INEM constituem um meio de socorro em que, além do descrito para

as SBV, há possibilidade de administração de fármacos e realização de actos terapêuticos

invasivos, mediante protocolos aplicados sobre supervisão médica. São tripuladas por um TAE

e um Enfermeiro do INEM, devidamente habilitados. Actuam na dependência directa dos

CODU, e estão localizadas em unidades de saúde.

Têm como principal objectivo a estabilização pré-hospitalar e o acompanhamento durante o

transporte de vítimas de acidente ou doença súbita em situações de emergência.

Page 56: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

34/262 Sistema Integrado de Emergência Médica TAT.01.10

MOTAS

As Motas de Emergência, tripuladas por um TAE, graças à sua agilidade no meio do trânsito

citadino, permitem a chegada mais rápida do primeiro socorro junto de quem dele necessita.

Reside aqui a sua principal vantagem relativamente aos meios de socorro tradicionais.

Naturalmente limitada em termos de material a deslocar, a carga da moto inclui Desfibrilhador

Automático Externo, oxigénio, adjuvantes da via aérea e ventilação, equipamento para

avaliação de sinais vitais e glicemia capilar, entre outros. Tudo isto permite ao TAE a adopção

das medidas iniciais necessárias à estabilização da vítima até que estejam reunidas as

condições ideais para o seu eventual transporte.

UMIPE

As Unidades Móveis de Intervenção Psicológica de Emergência (UMIPE) são veículos de

intervenção concebidos para transportar um psicólogo do INEM para junto de quem necessita

de apoio psicológico, como por exemplo, sobreviventes de acidentes graves, menores não

acompanhados ou familiares de vítimas de acidente ou doença súbita fatal. São conduzidas

por um elemento com formação em condução de veículos de emergência. Actuam na

dependência directa dos CODU, tendo por base as Delegações Regionais.

VMER

As Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER) são veículos de intervenção pré-

hospitalar, concebidos para o transporte de uma equipa médica ao local onde se encontra o

doente. Com equipas constituídas por um médico e um enfermeiro, dispõem de equipamento

para Suporte Avançado de Vida em situações do foro médico ou traumatológico.

Actuam na dependência directa dos CODU tendo uma base hospitalar, isto é, estão localizadas

num hospital. Têm como principal objectivo a estabilização pré-hospitalar e o acompanhamento

médico durante o transporte de vítimas de acidente ou doença súbita em situações de

emergência.

HELICÓPTEROS

Os Helicópteros de Emergência Médica do INEM são utilizados no transporte de doentes

graves entre unidades de saúde ou entre o local da ocorrência e a unidade de saúde. Estão

equipados com material de Suporte Avançado de Vida sendo a tripulação composta por um

médico, um enfermeiro e dois pilotos.

Page 57: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Sistema Integrado de Emergência Médica 35/262

Os CODU coordenam:

AMBULÂNCIAS DE SOCORRO DOS BOMBEIROS E DA CVP

AMBULÂNCIAS SBV E SIV DO INEM

MOTOCICLOS DE EMERGÊNCIA

UMIPE

VMER

HELICÓPTEROS

O INEM presta também orientação e apoio noutros campos da emergência tendo, para tal,

criado vários sub-sistemas:

CODU MAR

O Centro de Orientação de Doentes Urgentes Mar (CODU MAR) tem por missão prestar

aconselhamento médico a situações de emergência que se verifiquem em inscritos marítimos.

Se necessário, o CODU MAR pode accionar a evacuação do doente e organizar o acolhimento

em terra e posterior encaminhamento para o serviço hospitalar adequado.

CIAV

O Centro de Informação Antivenenos (CIAV) é um centro médico de informação toxicológica.

Presta informações referentes ao diagnóstico, quadro clínico, toxicidade, terapêutica e

prognóstico da exposição a tóxicos em intoxicações agudas ou crónicas.

O CIAV presta um serviço nacional, cobrindo a totalidade do país. Tem disponíveis médicos

especializados 24 horas por dia, que atendem consultas de médicos, outros profissionais de

saúde e do público em geral.

Em caso de intoxicação ligue:

CIAV

808 250 143

Transporte de Recém-Nascidos de Alto Risco

O Subsistema de Transporte de Recém-Nascidos de Alto Risco é um serviço de transporte

inter-hospitalar de emergência, permitindo o transporte de recém-nascidos em situação de

risco e bebés prematuros para hospitais com Unidades de Neonatologia e/ou determinadas

especialidades ou valências.

Page 58: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

36/262 Sistema Integrado de Emergência Médica TAT.01.10

As ambulâncias deste Subsistema dispõem de um médico especialista, um enfermeiro e um

TAE, estando dotadas com todos os equipamentos necessários para estabilizar e transportar o

recém-nascido.

Este serviço funciona 24 horas por dia, durante todo o ano.

Page 59: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Exame da Vítima 37/262

CAPÍTULO 3 - EXAME DA VÍTIMA

OBJECTIVOS

No final desta unidade modular, os formandos deverão ser capazes de:

1. Listar e descrever as medidas gerais de segurança da tripulação e da vítima;

2. Listar e descrever os passos da realização do exame primário da vítima, utilizando a

nomenclatura ABC;

3. Listar e descrever os passos para a realização do exame secundário sumário;

4. Identificar as situações de perda de conhecimento;

5. Identificar as situações de Paragem Cardio-Respiratória (PCR);

6. Listar e descrever os passos para a permeabilização da via aérea (sem recurso a

técnicas invasivas).

Page 60: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

38/262 Exame da Vítima TAT.01.10

1. INTRODUÇÃO

O exame de uma vítima, seja qual for a sua origem (súbita ou traumática), compreende uma

avaliação primária que tem como objectivo identificar e corrigir situações que coloquem a

vítima em perigo vida imediato, avaliação e registo dos sinais vitais e uma avaliação secundária

onde situações que não colocam a vítima em perigo imediato de vida, podem porém agravar a

sua situação clínica, se não forem prestados cuidados de emergência adequados.

Antes de qualquer procedimento relacionado com o exame da vítima, torna-se fundamental e

prioritário garantir as condições de segurança ou seja, certificarmo-nos que não existe perigo

para a equipa de socorro ou para a vítima.

Asseguradas as condições de segurança e garantindo que a nossa intervenção não vai resultar

perigo para a vítima e/ou equipa de socorro, devemos então iniciar a avaliação da vítima,

abordando-a, nunca esquecendo que uma situação detectada deve ser corrigida.

Podemos então concluir que o Exame da vítima compreende:

Verificar e garantir as condições de segurança;

Exame Primário - Identificar e corrigir as situações que coloquem a vítima em perigo

imediato de vida;

Exame Secundário - Identificar e corrigir as situações que não colocam a vítima em

perigo imediato de vida mas se não forem prestados cuidados de emergência

adequados podem agravar a situação clínica;

Avaliação e registo dos parâmetros vitais.

2. EXAME PRIMÁRIO

O Exame Primário assenta numa nomenclatura internacional, o A B C D E, que deriva da

língua inglesa (A-airway, B-breathing, C-circulation, D-disability e E-exposure que significam,

respectivamente, via aérea, ventilação, circulação, disfunção neurológica e exposição).

O objectivo do exame primário é identificar e corrigir situações que coloquem a vítima em

perigo imediato de vida, isto é, situações que comprometam as funções vitais.

Page 61: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Exame da Vítima 39/262

Nesta fase, o Tripulante de Ambulância deve efectuar um exame rápido e eficaz, sendo o mais

objectivo possível, tentando não perder tempo e procurando alterações/lesões que possam

comprometer as funções vitais levando-a a um perigo imediato de vida.

Para isso, o Tripulante de Ambulância deve:

Avaliar o estado de consciência;

Avaliar ventilação;

Detectar hemorragias externas graves;

Detectar sinais evidentes de hipovolémia;

2.1. Avaliação do Estado de Consciência:

1. Avaliar se a vítima se encontra consciente isto é, se responde quando estimulada. Para

tal, abana-se suavemente nos ombros e pergunta-se em voz alta: ‘Está bem? Sente-se

bem?’;

Capítulo 3. Figura 22 - Avaliação do estado de consciência.

2. Perante uma vítima inconsciente deve de imediato e sem abandonar a vítima, gritar por

ajuda pois é provável que necessite do auxílio de mais alguém;

3. Na ausência de resposta, a vítima é considerada inconsciente, correndo perigo de

vida.

Em caso de acidente e numa situação desconhecida com vítima inconsciente, devemos

suspeitar sempre que a vítima possa ter lesões crânio-encefálicas e/ou vértebro-medulares.

Está bem? Sente-se bem?

AJUDA! Está aqui uma pessoa desmaiada!

Page 62: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

40/262 Exame da Vítima TAT.01.10

2.2. Permeabilização da Via Aérea

A obstrução da via aérea por queda da própria língua (devido ao relaxamento muscular) ou

pelo acumular de secreções, vómito, sangue ou mesmo por existência de objectos estranhos,

tais como dentes, próteses dentárias, comida, etc., é uma situação muito grave que pode

ocorrer nas vítimas inconscientes. Assim, a permeabilização da via aérea é fundamental.

Capítulo 3. Figura 23 - Permeabilização da via aérea.

2.3. Pesquisa de Ventilação Espontânea

Após ter efectuado a permeabilização da via aérea (Capítulo 3. Figura 23), o Tripulante de

Ambulância deve iniciar a pesquisa de ventilação espontânea, aproximando a sua face da face

da vítima, observando o tórax e mantendo a via aérea aberta, verificando se esta ventila.

Assim, durante 10 segundos, (Capítulo 3. Figura 24) deve:

VER - se existem movimentos torácicos;

OUVIR - se existem ruídos de saída de ar pela boca ou nariz da vítima;

SENTIR - o ar que sai da boca ou do nariz da vítima a bater na sua face.

Capítulo 3. Figura 24 - Pesquisa de ventilação.

Page 63: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Exame da Vítima 41/262

Perante a ausência de ventilação, o Tripulante de Ambulância deve actuar de acordo com o

algoritmo de Suporte Básico de Vida (SBV), como descrito no Capítulo 4.

2.5. Detecção de Hemorragias Externas Graves

Após ter verificado que a vítima respira normalmente, observe-a como um todo e procure a

existência de hemorragias externas graves. As hemorragias externas graves são facilmente

identificáveis.

Uma hemorragia abundante vai colocar em risco a vida da vítima pelo que é fundamental

proceder ao seu controlo de imediato.

2.6. Detecção de Sinais Sugestivos de Hipovolemia

A hipovolemia é a diminuição do volume sanguíneo em circulação. Tem várias causas mas é

sempre uma situação grave que pode conduzir à morte. Além de eventuais sinais de

hemorragia externa (que podem não existir), repare especialmente na face da vítima e procure

sinais como:

Palidez;

Sudorese (suores);

Cianose (cor azulada / roxa).

Se estiverem presentes, suspeite de hipovolemia e aplique de imediato os cuidados de

emergência com vista a controlar ou minimizar a situação.

2.7. Caracterização do Estado de Consciência

Para o Tripulante de Ambulância, recomenda-se a quantificação da resposta da vítima de

acordo com a escala AVDS, em que:

A Alerta;

V Responde a estímulos Verbais;

D Responde a estimulação Dolorosa;

S Sem resposta.

Por exemplo, perante uma vítima que não reage à estimulação verbal (quando se fala com ela)

mas esboça movimentos quando se belisca a pele, dizemos que ela apresenta um estado de

consciência D na escala AVDS.

Existem outras formas de avaliar o estado de consciência utilizadas por equipas médicas.

Page 64: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

42/262 Exame da Vítima TAT.01.10

2.7.1. Estado e Reactividade das Pupilas

Para além da escala AVDS, deve avaliar-se a resposta pupilar à luz. Esta resposta é um bom

indicador da existência ou não de sofrimento cerebral. Para isso, deve incidir uma luz

directamente sobre cada uma das pupilas.

Capítulo 3. Figura 25 - Reactividade das pupilas.

Verifique se a reacção é idêntica em ambas. Se não existir contracção pupilar ou se esta for

diferente de pupila para pupila, poderá indicar sofrimento do Sistema Nervoso Central.

2.7.2. Lateralização da Resposta Motora dos Membros

A avaliação deste ponto consiste na comparação da força e mobilidade dos membros superior

e inferior de um hemicorpo com o outro hemicorpo ou seja, a comparação da força e

mobilidade entre o braço esquerdo e o braço direito e entre a perna esquerda e a perna direita.

Para se proceder a esta comparação pode-se recorrer a um estímulo verbal em que se pede à

vítima que aperte alternadamente cada uma das mãos ou que faça força com cada um dos

pés.

2.8. Exposição com Controlo de Temperatura

A vítima, particularmente em situações de trauma, deve ser completamente exposta. No caso

dos traumatizados, deve recorrer-se ao corte das suas roupas e nunca à tentativa de as

despir, sempre com a preocupação de mobilizar a vítima apenas o necessário para remover as

roupas. Neste caso, se a vítima estiver consciente, deve-lhe ser explicado que é necessário

proceder ao corte das roupas (danificando-as) para melhor se poder prestar a assistência

necessária.

A privacidade da vítima deve ser sempre respeitada, tendo o cuidado de se expor apenas o

necessário ou, se possível, efectuando a exposição no interior da ambulância.

Page 65: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Exame da Vítima 43/262

Deve existir uma grande preocupação na manutenção da temperatura corporal da vítima. Esta

preocupação deve existir em todas as situações mas é particularmente importante em caso de

traumatizados ou de crianças.

Em resumo:

EXAME PRIMÁRIO

Garantir as condições de segurança no local para a equipa e para a vítima;

Avaliar o estado de consciência da vítima:

Pesquisar ventilação espontânea, durante 10 seg.;

Detectar hemorragias externas graves e sinais sugestivos de hipovolemia;

Em vítimas inconscientes ou resultantes de trauma, suspeitar sempre de lesões crânio-encefálicas e/ou vértebro-medulares.

Todas as alterações encontradas no exame primário e que colocam em risco imediato a vida da vítima, devem ser resolvidas imediatamente e por ordem de prioridade.

CUIDADOS DE EMERGÊNCIA DURANTE O EXAME PRIMÁRIO

Desobstruir e manter a permeabilidade da via aérea;

Iniciar manobras de reanimação cardio-respiratória, se indicado;

Controlar hemorragias externas graves, prevenir e/ou combater a hipovolemia;

Proteger a coluna vertebral durante todo o exame da vítima.

3. AVALIAÇÃO DE SINAIS VITAIS

No âmbito do curso de técnicas de emergência médica para tripulante de ambulância de

transporte, o objectivo é a caracterização da ventilação, do pulso e da pele.

3.1. Caracterização da Ventilação

Para caracterizar a ventilação é necessário avaliar:

A frequência, que corresponde ao número de ciclos por minuto;

(No adulto, consideram-se valores normais entre 12 a 20 ciclos por minuto);

A amplitude, que pode ser superficial, normal, ou profunda;

O ritmo, que pode ser regular ou irregular.

Page 66: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

44/262 Exame da Vítima TAT.01.10

3.2. Caracterização do Pulso

Chama-se pulso à força exercida na parede das artérias pelas ondas de sangue provocadas

pelas contracções cardíacas que fazem o sangue chegar a todos os tecidos do corpo

(circulação). Assim, numa vítima com circulação é possível palpar o pulso em vários locais,

nomeadamente nas artérias carótidas, femurais, radiais ou umerais.

Na caracterização do pulso é necessário avaliar:

A frequência, que corresponde ao número de pulsações por minuto;

(Consideram-se valores normais entre 60 a 90 pulsações por minuto);

A amplitude, que pode ser cheia ou fina;

O ritmo, que pode ser regular ou irregular.

Devem ter-se também em conta os seguintes aspectos (Capítulo 3. Figura 26):

Os dedos utilizados para palpar o pulso devem ser sempre o indicador e o médio;

Deve-se evitar comprimir excessivamente a artéria para não suprimir o pulso.

Capítulo 3. Figura 26 - Palpação da artéria radial.

3.3. Caracterização da Pele

Na avaliação das características da pele importa considerar:

A TEMPERATURA

A medição da temperatura faz-se através de um termómetro, seguindo as suas indicações

de utilização. De acordo com o valor encontrado, considera-se:

Temperatura elevada ou hipertermia, se o valor indicado pelo termómetro é superior a

37º,5 C;

Temperatura normal ou apiréxia, se o valor está entre os 35º,0 C e os 37º,5 C;

Page 67: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Exame da Vítima 45/262

Temperatura abaixo do normal ou hipotermia, se o valor é inferior a 35º,0 C. Convém

referir que os termómetros vulgares normalmente não permitem determinar

temperaturas abaixo deste valor.

Porque fornece um valor exacto, o método de avaliação da temperatura com um termómetro é

o mais indicado. No entanto, o tripulante pode avaliar rapidamente a temperatura de alguém,

de forma indirecta, através da comparação com a sua própria temperatura. Para tal, deve

colocar as costas da sua mão na testa da vítima (Capítulo 3. Figura 27).

Se sentir que a vítima está mais quente, é provável que esta esteja com hipertermia. Pelo

contrário, sentir uma testa fria poderá significar que a vítima está hipotérmica.

Embora rápido, este método não substitui a avaliação com um termómetro e deve ser utilizado de forma meramente indicativa.

Capítulo 3. Figura 27 - Avaliação rápida da temperatura.

A COLORAÇÃO e a existência ou não de HUMIDADE

A avaliação da coloração e humidade da pele faz-se através da observação das zonas

expostas, nomeadamente da face e das mãos. O exame da pele pode revelar uma coloração

que vai da palidez ao roxo, numa pele que pode estar seca ou suada.

4. EXAME SECUNDÁRIO

No exame secundário, o objectivo é identificar as situações que não colocam a vida da vítima

em perigo imediato mas que se não forem corrigidas poderão agravar a situação clínica.

Page 68: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

46/262 Exame da Vítima TAT.01.10

No âmbito do curso de técnicas de emergência médica para tripulante de ambulância de

transporte, cabe apenas a realização de um exame secundário sumário.

4.1. Recolha de Informação

Deve-se tentar recolher, através da vítima, familiares, testemunhas ou outros, algumas

informações importantes que podem ser lembradas pela referência CHAMU, (tradução da

mnemónica inglesa AMPLE):

C Circunstâncias do acidente;

H História anterior de doenças da vítima;

A Alergias;

M Medicação habitual;

U Última refeição.

Estes dados poderão ser de importância vital para o tratamento intra-hospitalar.

Além da recolha de informação junto de pessoas, pode ser importante recolher outros indícios.

Por exemplo no caso de intoxicação, a recolha de embalagens de medicamentos ou de outros

produtos pode ser extremamente importante para identificação de tóxicos e / ou da quantidade

de produto ingerido.

No entanto, em situações que possam envolver a necessidade de investigação policial, é

extremamente importante respeitar o local da ocorrência, mexendo apenas naquilo que é

estritamente necessário deslocar para se poderem prestar os cuidados adequados à(s)

vítima(s). São exemplos as situações de agressão, com ou sem vítimas mortais e as situações

em que a vítima provavelmente está cadáver e não há causa de morte evidente ou existem

sinais de morte não natural.

Em qualquer situação de emergência ou urgência, a calma é essencial, não só para tranquilizar

a vítima e os familiares, mas também para evitarmos precipitações.

Deve-se fazer primeiro uma boa colheita de dados para tomar as decisões apropriadas.

Nunca constitui perda de tempo fazer as perguntas necessárias para esclarecer a situação.

A precipitação, essa sim, é que pode fazer perder tempo e vidas.

É preciso ter em atenção que um interrogatório demasiado demorado também pode ser

incorrecto.

Page 69: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Exame da Vítima 47/262

Devemos ainda respeitar outros princípios como por exemplo: no caso de vítima de trauma,

devem-se procurar outras vítimas e suas lesões ou no caso de um morto, este deverá ser

retirado do local sem que as outras vítimas se apercebam do falecimento do amigo ou familiar.

4.2. Observação sistematizada

Consiste num exame feito através da avaliação da vítima da cabeça aos pés, na tentativa de

identificar lesões que possam ter escapado à observação no exame primário. Para tal deve-se

observar e palpar conforme descrito mais à frente.

Durante o exame, o tripulante deve estar sempre atento aos sinais vitais e às suas eventuais

alterações, interrompendo o exame sempre que as mesmas revelem potenciais riscos para a

vida.

Como proceder à observação sistematizada:

1. Iniciar o exame a partir da cabeça, considerando no entanto nas situações de trauma a

imobilização cervical como prioritária;

2. A vítima não deve ser movimentada mais do que o necessário;

3. Se durante o exame suspeitar de alguma lesão grave, deve-se interromper o exame e

prestar os cuidados de emergência adequados.

4.2.1. Cabeça e Face:

1. Observar e palpar, utilizando as pontas dos dedos e sempre de luvas calçadas para

garantirmos a nossa protecção, examinar a parte posterior da cabeça (zona occipital),

prosseguindo para a parte superior (zona dos parietais) e lateralmente até às orelhas

(zona dos temporais);

Capítulo 3. Figura 28 - Observação e palpação da cabeça e face.

Page 70: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

48/262 Exame da Vítima TAT.01.10

2. Examinar depois a parte anterior (zona do frontal) incluindo as arcadas orbitarias,

passando de seguida para o maxilar superior;

3. Examinar o nariz e as orelhas procurando vestígios de líquido céfalo-raquidiano (LCR)

ou sangue;

4. Proceder ao exame da boca para procurar dentes partidos ou a abanar, placas dentárias

e outros objectos estranhos;

5. Em caso de traumatismos crânio-encefálico, a palpação do couro cabeludo e da região

frontal devem ser feitas com extremo cuidado para não se pressionarem eventuais

zonas de fractura do crânio o que iria provocar o agravamento da situação

4.2.2. Pescoço:

1. Sem mexer com a cabeça ou pescoço, examinar o pescoço (coluna cervical), palpando

com as mãos desde a base do crânio;

2. Se a vítima apresentar dor nesta zona ou se encontrar alguma deformidade e se já não

tiver sido feito, esta é a melhor altura para, nessa posição, fazer o alinhamento e a

imobilização manual da coluna cervical e colocar um colar cervical de modo a imobilizar

correctamente o pescoço.

4.2.3. Ombro e clavícula:

1. Examinar o ombro palpando-o de trás para diante (da omoplata para a clavícula);

Capítulo 3. Figura 29 - Observação e palpação dos ombros e clavícula.

4.2.4. Tórax e Abdómen:

1. Observar o esterno e as costelas (toda a caixa torácica);

2. Todos os orifícios devem ser tapados, nunca retirando objectos empalados ou armas

brancas;

Page 71: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Exame da Vítima 49/262

3. Olhar para o peito da vítima de forma a verificar se ele expande e relaxa e se o

movimento de cada hemitórax é simétrico;

Capítulo 3. Figura 30 - Observação e palpação do tórax e abdómen.

4. Palpar o abdómen, comparando sempre a metade direita com a esquerda com cuidado

de modo a evitar provocar dor mais acentuada à vítima. Verificar e identificar as zonas

do abdómen mais dolorosas.

4.2.5. Coluna Dorso e Lombar:

1. Observar a coluna deslizando os dedos suavemente por debaixo do corpo, com

movimentos curtos, até onde for possível, sem provocar movimentos da cintura e

membros.

Capítulo 3. Figura 31 - Observação e palpação da coluna dorso e lombar.

Os objectos empalados não devem ser retirados.

4.2.6. Pélvis:

1. Colocar uma mão em cada lado da cintura pélvica e detectar assimetrias ou

deformidades;

Page 72: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

50/262 Exame da Vítima TAT.01.10

Capítulo 3. Figura 32 - Observação e palpação muito suave da cintura pélvica.

2. Se a vítima referir dor ou se sentir algum movimento (deslocação), suspeitar de fractura

e não voltar a mexer, imobilizando de imediato conforme indicado.

4.2.7. Membros Inferiores:

1. Palpar cada um dos membros inferiores, da pélvis até aos pés;

2. Verificar reacções anormais e/ou assimétricas;

3. Pedir à vítima, se consciente, para exercer força no pé para cima e para baixo contra a

mão do socorrista, de modo a verificar se a força e mobilidade estão mantidas. Repetir

para o pé do outro lado;

Capítulo 3. Figura 33 - Observação e palpação dos membros inferiores.

4. A realização desta manobra não quer dizer levantar ou movimentar o membro. Perante

a suspeita de trauma, o membro não deve ser levantado ou movimentado, nem de uma

forma activa nem passivamente.

Page 73: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Exame da Vítima 51/262

4.2.8. Membros Superiores:

1. Palpar ambos os membros superiores, do ombro até à extremidade dos dedos. Pedir à

vítima, se consciente, para apertar a sua mão, de modo a verificar se a força e

mobilidade estão mantidas:

Capítulo 3. Figura 34 - Observação e palpação dos membros superiores.

2. Como para os membros inferiores, isto não quer dizer levantar ou movimentar o

membro. Perante a suspeita de trauma, tal não deve ser efectuado, nem activa nem

passivamente.

Em resumo:

Todas as alterações identificadas no exame secundário embora não colocando a vida em perigo imediato, devem ser corrigidas para não agravar a situação clínica da vítima.

Page 74: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

52/262 Exame da Vítima TAT.01.10

Page 75: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 53/262

CAPÍTULO 4 - SUPORTE BÁSICO DE VIDA

OBJECTIVOS

No final desta unidade modular, os formandos deverão ser capazes de:

1. Listar e descrever os passos para colocar a vítima em Posição Lateral de Segurança

(PLS);

2. Listar e descrever a técnica de desobstrução da via aérea em vítimas com obstrução

parcial ou total;

3. Descrever o equipamento / material de permeabilização das vias aéreas e a sua

utilização: aspirador de secreções e tubo orofaríngeo;

4. Listar e descrever as técnicas de reanimação em vítima adulta ou pediátrica, de acordo

com os algoritmos;

5. Descrever as particularidades anatómicas e fisiológicas das crianças que justificam

adaptações dos procedimentos de Suporte Básico de Vida (SBV);

6. Identificar as principais causas de Paragem Cardio-Respiratória (PCR);

7. Descrever a sequência de procedimentos adequada aos vários grupos etários;

8. Reconhecer a obstrução da via aérea;

9. Listar e descrever a sequência de procedimentos adequada à desobstrução da via

aérea, de acordo com o grupo etário.

Page 76: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

54/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

INTRODUÇÃO

- Emergência médica, boa tarde.

- Mande-me uma ambulância, rápido! O meu vizinho acabou de desmaiar e está a ficar roxo!

- Ele respira?

- Acho que não. Depressa! Querem deixar o homem morrer?

- A ambulância vai já a caminho, bem como uma equipa médica. Quer fazer alguma coisa para

ajudar a salvar o seu vizinho? Sabe fazer suporte básico de vida?

- Eu já lhe disse que o que quero é uma ambulância......

Quando surge uma paragem cardíaca e/ou respiratória as hipóteses de sobrevivência para a

vítima variam em função do tempo de intervenção. A medicina actual tem recursos que

permitem recuperar para a vida activa, vítimas de paragem cardíaca e respiratória desde que

sejam assegurados os procedimentos adequados em tempo oportuno. Se o episódio ocorrer

num estabelecimento de saúde, em princípio, serão iniciadas de imediato manobras de suporte

básico e avançado de vida, pelo que existe uma maior probabilidade de sucesso.

No entanto, a grande maioria das paragens cardio-respiratórias ocorre fora de qualquer

estabelecimento de saúde: no mercado, no café, em casa, no centro comercial ou no meio de

uma estrada e na sequência de um acidente ou de uma doença súbita. A probabilidade de

sobrevivência e recuperação nestas situações depende da capacidade do indivíduo que

presencia o acontecimento saber quando e como pedir ajuda e iniciar de imediato o Suporte

Básico de Vida (SBV).

A chegada de um meio de socorro ao local, ainda que muito rápida, pode demorar tanto

como... 6 minutos! Se os elementos que presenciaram a situação não souberem actuar em

conformidade, as hipóteses de sobrevivência da vítima terão caído de 98% para...11%! Em

condições ideais, todo o cidadão devia estar preparado para saber fazer “SBV”.

No nosso país existe ainda um longo caminho a percorrer neste âmbito, constituindo o curso

que irá frequentar, uma etapa essencial desse percurso.

Page 77: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 55/262

1. A CADEIA DE SOBREVIVÊNCIA

À luz do conhecimento actual, considera-se que há três atitudes que modificam os resultados

no socorro às vítimas de paragem cardio-respiratória:

Pedir ajuda accionando de imediato o sistema de emergência médica;

Iniciar de imediato manobras de Suporte Básico de Vida (SBV);

Aceder à desfibrilhação tão precocemente quanto possível e sempre que indicado.

Estes procedimentos sucedem-se de uma forma encadeada e constituem uma cadeia de

atitudes em que cada elo articula o procedimento anterior com o seguinte. Surge assim o

conceito de Cadeia de Sobrevivência composta por quatro elos, ou acções, em que o

funcionamento adequado de cada elo e a articulação eficaz entre todos eles é vital para que o

resultado final possa ser uma vida salva.

Os quatro elos da cadeia de sobrevivência da vítima adulta são:

1. Acesso precoce ao sistema de emergência médica (112);

2. Início precoce de SBV;

3. Desfibrilhação precoce;

4. Suporte Avançado de Vida (SAV) precoce.

Capítulo 4. Figura 35 - Cadeia de sobrevivência da vítima adulta.

1.1. Acesso Precoce

O rápido acesso ao sistema de emergência médica assegura o início da cadeia de

sobrevivência. Cada minuto sem chamar socorro reduz as possibilidades de sobrevivência.

Para o funcionamento adequado deste elo é fundamental que quem presencia uma

determinada ocorrência seja capaz de reconhecer a gravidade da situação e saiba activar o

sistema de emergência, ligando adequadamente 112.

Page 78: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

56/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

A incapacidade de adoptar estes procedimentos significa falta de formação. A consciência de

que estes procedimentos podem salvar vidas humanas deve ser incorporada o mais cedo

possível na vida de cada cidadão.

1.2. SBV Precoce

Para que uma vítima em perigo de vida tenha maiores hipóteses de sobrevivência é

fundamental que sejam iniciadas de imediato, no local onde ocorreu a situação, manobras de

reanimação. Isto só se consegue se quem presencia a situação tiver a capacidade de iniciar o

Suporte Básico de Vida.

O SBV permite ganhar tempo, mantendo alguma circulação e alguma ventilação até à

chegada de socorro mais diferenciado, capaz de instituir procedimentos de Suporte Avançado

de Vida.

1.3. Desfibrilhação Precoce

A maioria das paragens cardio-respiratórias no adulto ocorre devido a uma perturbação do

ritmo cardíaco a que se chama fibrilhação ventricular (FV). Esta perturbação do ritmo

cardíaco caracteriza-se por uma actividade eléctrica caótica de todo o coração, em que não há

contracção do músculo cardíaco e, portanto, não é bombeado sangue para os tecidos.

O único tratamento eficaz para esta arritmia é a desfibrilhação que consiste na aplicação de

um choque eléctrico, externamente, a nível do tórax da vítima, para que ao atravessar o

coração, possa parar a actividade caótica que este apresenta.

Também este elo da cadeia deve ser o mais precoce possível porque a probabilidade de

conseguir tratar a FV com sucesso depende do tempo. A desfibrilhação logo no 1º minuto em

que se instala a FV pode ter uma taxa de sucesso próxima dos 100 % mas ao fim de 8 - 10

minutos a probabilidade de sucesso é quase nula.

1.4. SAV Precoce

Este elo da cadeia é uma “mais-valia”. Nem sempre a desfibrilhação por si só é eficaz para

recuperar a vítima ou, por vezes, pode mesmo não estar indicada. O SAV permite conseguir

uma ventilação mais eficaz (através da entubação traqueal) e uma circulação também mais

eficaz (através da administração de fármacos). Idealmente deverá ser iniciado ainda na fase

pré-hospitalar e continuado no hospital, permitindo a estabilização das vítimas de PCR que

foram reanimadas.

Page 79: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 57/262

A cadeia de sobrevivência representa simbolicamente o conjunto de procedimentos que

permitem salvar vítimas de paragem cardio-respiratória. Para que o resultado final possa ser,

efectivamente, uma vida salva, cada um dos elos da cadeia é vital e todos devem ter a mesma

força. Todos os elos da cadeia são igualmente importantes: de nada serve ter o melhor SAV se

quem presencia a PCR não sabe ligar 112.

Quando sujeitas a situações de pressão, as cadeias partem pelo elo mais fraco. A paragem

cardíaca é a mais emergente das situações com que se defrontam os profissionais de saúde. O

acontecimento é geralmente inesperado e o sucesso do tratamento exige rapidez e

coordenação. Nesta situação, a cadeia de sobrevivência como todas as cadeias, partirá pelo

seu elo mais fraco.

Em resumo:

O bom funcionamento da cadeia de sobrevivência permite salvar vidas em risco.

Todos os elos da cadeia de sobrevivência são igualmente importantes.

A cadeia de sobrevivência tem apenas a força que tiver o seu elo mais fraco.

2. RISCOS PARA O REANIMADOR

Por vezes, o desejo de ajudar alguém que nos parece estar em perigo de vida, pode levar-nos

a ignorar os riscos que podemos correr. Se não forem garantidas as condições de segurança

antes de se abordar uma vítima poderá, em casos extremos, ocorrer a morte da vítima e do

reanimador.

Existe uma regra básica que nunca deve ser esquecida: o reanimador não deve expor-se, a si ou a terceiros, a maiores riscos que aqueles que corre a própria vítima.

Antes de se aproximar de alguém que possa eventualmente estar em perigo de vida, o

reanimador deve assegurar primeiro que não irá correr nenhum risco:

Ambiental – choque eléctrico, derrocadas, explosão, tráfego, etc.;

Intoxicação – exposição a gás, fumo ou tóxicos;

Infeccioso – tuberculose, hepatite, HIV, etc.

Page 80: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

58/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Na maioria das vezes, uma avaliação adequada e um mínimo de cuidado são suficientes para

garantir as condições de segurança necessárias.

Se pára numa estrada para socorrer alguém, vítima de um acidente de viação, deve:

Posicionar o seu carro para que este o proteja funcionando como escudo, isto é, antes

do acidente no sentido no qual este ocorreu;

Sinalizar o local com triângulo de sinalização à distância adequada;

Ligar as luzes de presença ou emergência;

Usar roupa clara para que possa mais facilmente ser visível;

Desligar o motor para diminuir a probabilidade de incêndio.

Estas medidas simples são, em princípio, suficientes para garantir as condições de segurança.

No caso de detectar a presença de produtos químicos ou matérias perigosas é fundamental

evitar o contacto sem luvas com essas substâncias e não inalar vapores libertados pelas

mesmas.

As situações em que vítima sofreu uma intoxicação podem representar risco acrescido para

quem socorre, nomeadamente no caso de intoxicação por fumos ou gases tóxicos como os

cianetos ou o ácido sulfúrico. Para o socorro da vítima de intoxicação é importante identificar o

produto bem como a sua forma de apresentação (em pó, líquida ou gasosa) e contactar o CIAV

para uma informação especializada, nomeadamente sobre possíveis antídotos.

Em caso de intoxicação por produtos gasosos é fundamental não se expor aos vapores

libertados que nunca devem ser inalados. O local onde a vítima se encontra deverá ser arejado

ou, na impossibilidade de o conseguir, a vítima deverá ser retirada do local.

Nas situações em que o tóxico é corrosivo (ácidos ou bases fortes) ou em que pode ser

absorvido pela pele, como os organofosforados (exemplo: 605 forte®), é obrigatório além de

arejar o local, usar luvas e roupa de protecção para evitar qualquer contacto com o produto,

bem como máscaras para evitar a inalação.

Se houver necessidade de ventilar a vítima com ar expirado, deverá ser sempre usada

máscara ou outro dispositivo com válvula unidireccional, para não expor o reanimador ao ar

expirado da vítima. Nunca efectuar ventilação boca-a-boca.

Page 81: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 59/262

Em resumo:

Ao socorrer vítimas em que possa ter ocorrido uma intoxicação deverá cumprir rigorosamente as medidas universais de protecção, isto é, usar luvas, bata, máscaras e óculos (ou máscara com viseira).

A possibilidade de transmissão de infecções entre a vítima e o reanimador tem sido alvo de

grande preocupação sobretudo mais recentemente, com o receio da contaminação pelos vírus

da hepatite B ou C e pelo VIH. Não existe, no entanto, qualquer registo de transmissão destes

vírus durante a realização de ventilação boca-a-boca. A transmissão de qualquer um dos vírus,

mesmo no caso de contacto com saliva, é altamente improvável a não ser no caso de a saliva

estar contaminada com sangue.

O sangue é o principal veículo de contágio em relação ao qual devem ser adoptadas todas as

medidas universais de protecção.

São igualmente importantes medidas de protecção em relação ao contacto com fluidos

orgânicos como o sémen ou secreções vaginais, líquidos amniótico, pleural, peritoneal ou

cefaloraquidiano. Não se consideram necessárias as mesmas medidas de protecção em

relação a fluidos orgânicos como a saliva, secreções brônquicas, suor, vómito, fezes ou urina,

na ausência de contaminação com sangue.

Estão descritos alguns casos de transmissão de infecções durante a realização de ventilação

boca-a-boca, nomeadamente casos de tuberculose cutânea, meningite meningocócica, herpes

simplex e salmonelose. No entanto, a frequência de ocorrência destes casos é baixa.

Existe um risco pequeno mas real, de infecção por picada com agulha contaminada, pelo que é

necessário adoptar medidas cuidadosas no manuseio de objectos cortantes ou picantes os

quais devem imediatamente ser colocados em contentores apropriados.

Em resumo:

Podemos dizer que, embora a ventilação boca-a-boca pareça segura, é recomendável a utilização de métodos de interposição sobretudo nos casos em que a vítima tem sangue na saliva;

Um lenço é uma protecção ineficaz e pode, inclusivamente, aumentar o risco de infecção;

O sangue é o principal veículo de contaminação pelo que devem ser adoptados cuidados redobrados sobretudo com os salpicos de sangue, utilizando roupa de protecção adequada, luvas e protecção para os olhos.

Page 82: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

60/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

2.1. Treino de Suporte Básico de Vida em Manequins

A correcta formação em SBV implica o treino em manequins pelo que surgiu a preocupação

com o eventual risco de transmissão de infecções durante o treino. O risco de transmissão de

infecções nestas circunstâncias é extremamente baixo. Não existe qualquer registo de que

alguma vez tenha ocorrido uma infecção associada ao treino de SBV em manequins (mais de

70 milhões de pessoas só nos EUA).

No caso de não serem utilizadas máscaras individuais, as superfícies dos manequins são

desinfectadas com um produto apropriado que minimiza o risco de transmissão de vírus,

bactérias ou fungos entre os praticantes.

3. SUPORTE BÁSICO DE VIDA NO ADULTO

Nos países ocidentais, umas das principais causas de morte são as doenças cardiovasculares.

A maioria destas mortes (cerca de 2/3) ocorre fora do ambiente hospitalar.

Não obstante o desenvolvimento tecnológico nos últimos anos, o aperfeiçoamento das técnicas

de reanimação cardio-respiratória (RCR), a formação em Suporte Básico e Avançado de Vida e

a criação de sistemas organizados de emergência médica, morrem anualmente em todo o

mundo milhões de pessoas por ausência, atraso ou insucesso das manobras de RCR.

O objectivo da RCR é recuperar vítimas de paragem cardio-respiratória, para uma vida

comparável à que tinham previamente ao acontecimento. O sucesso das manobras de RCR

está condicionado pelo tempo pelo que, quanto mais precocemente se iniciar o SBV, maior é a

probabilidade de sucesso. Se a falência circulatória durar mais de 3 - 4 minutos vão surgir

lesões cerebrais que poderão ser irreversíveis. Qualquer atraso no início de SBV reduz as

hipóteses de sucesso.

O Suporte Básico de Vida é um conjunto de procedimentos bem definidos e com

metodologias padronizadas que tem como objectivo reconhecer as situações de perigo de vida

iminente, saber como e quando pedir ajuda e saber iniciar de imediato, sem recurso a qualquer

dispositivo, manobras que contribuam para a preservação da ventilação e da circulação de

modo a manter a vítima viável até que possa ser instituído o tratamento médico adequado e,

eventualmente, se restabeleça o normal funcionamento respiratório e cardíaco.

Page 83: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 61/262

As manobras de SBV não são, por si só, suficientes para recuperar a maior parte das vítimas de paragem cardio-respiratória.

O SBV destina-se a ganhar tempo, mantendo parte das funções vitais até à chegada do

Suporte Avançado de Vida. No entanto, em algumas situações em que a falência respiratória

foi a causa primária da paragem cardio-respiratória, o SBV poderá reverter a causa e conseguir

uma recuperação total.

O Suporte Avançado de Vida (SAV) executado por equipas médicas diferenciadas, implica a

utilização de fármacos, ventilação por entubação traqueal, monitorização cardíaca e

desfibrilhação eléctrica.

Como referido anteriormente, o conceito de suporte básico de vida implica que seja praticado

sem recurso a qualquer equipamento específico.

3.1. Etapas e Procedimentos

O SBV inclui os seguintes elementos:

Avaliação inicial;

Manutenção de via aérea permeável;

Ventilação com ar expirado;

Compressões torácicas.

Os três elementos do SBV, após a avaliação inicial, são designados por “ABC”, com as iniciais

a resultarem dos termos ingleses Airway, Breathing e Circulation:

A - Via Aérea (“Airway”);

B - Ventilação (“Breathing”);

C - Circulação (“Circulation”).

Como referido anteriormente, o conceito de Suporte Básico de Vida implica que seja praticado

sem recurso a qualquer equipamento específico. A utilização de algum equipamento para

permeabilizar a via aérea (exemplo: tubo orofaríngeo) ou de máscara facial para ventilação

com ar expirado (exemplo: máscara de bolso) implica a designação de “SBV com adjuvantes

de via aérea”.

Page 84: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

62/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

3.1.1. Posicionamento da Vítima e do Reanimador

As manobras de SBV devem ser executadas com a vítima em decúbito dorsal, no chão ou num

plano duro.

Se a vítima se encontrar por exemplo, numa cama, as manobras de SBV, nomeadamente as

compressões torácicas, não serão eficazes uma vez a força exercida será absorvida pelas

molas ou espuma do próprio colchão. Se a vítima se encontrar em decúbito ventral deve ser

rodada em bloco, isto é, mantendo o alinhamento da cabeça, pescoço e tronco.

O reanimador deve posicionar-se junto da vítima para que, se for necessário, possa fazer

ventilações e compressões sem ter que fazer grandes deslocações.

3.1.2. Sequência de Acções

A avaliação inicial consiste em:

1. Avaliar as condições de segurança no local;

2. Avaliar se a vítima responde;

Depois de assegurar que estão garantidas as condições de segurança, aproxime-se da

vítima e pergunte em voz alta “Está bem? Sente-se bem?”, enquanto a estimula batendo

suavemente nos ombros.

Capítulo 4. Figura 36 - Avaliação do estado de consciência.

Está bem?Sente-se bem?

Page 85: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 63/262

3. Se a vítima responder, pergunte o que se passou, se tem alguma queixa, procure ver

se existem sinais de ferimentos e, se necessário, vá pedir ajuda, ligando 112. Desde

que isso não represente perigo acrescido, deixe-a na posição em que a encontrou;

4. Se a vítima não responder, informe o reanimador 2 se for o caso e prossiga a

avaliação. Se estiver sozinho, peça ajuda gritando em voz alta “Preciso de ajuda!

Tenho aqui uma pessoa desmaiada!”. Não abandone a vítima e prossiga com a

avaliação;

Capítulo 4. Figura 37 - Primeiro pedido de ajuda.

A etapa seguinte é a via aérea - A.

Pelo facto da vítima se encontrar inconsciente, os músculos da língua perdem o seu tónus

habitual (isto é, relaxam) e a queda da língua para trás (na vítima em decúbito dorsal) pode

causar obstrução da via aérea. Este mecanismo é a causa mais frequente de obstrução da via

aérea num adulto inconsciente. Outros factores como vómito, sangue, dentes partidos ou

próteses dentárias soltas podem condicionar também obstrução da via aérea.

5. É assim fundamental proceder à permeabilização da via aérea:

Desaperte a roupa à volta do pescoço da vítima e exponha o tórax;

Verifique se existem corpos estranhos na boca (comida, próteses dentárias soltas,

secreções). Se existirem deve removê-los, mas somente se os visualizar;

Coloque a palma de uma mão na testa da vítima e os dedos indicador e médio da

outra mão no bordo do maxilar inferior;

AJUDA! Está aqui uma

pessoa desmaiada!

Page 86: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

64/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Efectue simultaneamente a extensão da cabeça (inclinação da cabeça para trás) e

elevação do maxilar inferior (queixo).

As próteses dentárias bem fixas não devem ser removidas.

Capítulo 4. Figura 38 - Pesquisa de corpos estranhos na cavidade oral.

NOTA: Ao efectuar a elevação do maxilar inferior não comprima as partes moles do queixo,

devendo colocar os dedos apenas na parte óssea.

Capítulo 4. Figura 39 - Extensão da cabeça e elevação do queixo.

Nas situações em que a vítima possa ter feito traumatismo da coluna cervical não deve ser

feita a extensão da cabeça. Várias situações podem causar traumatismo da coluna cervical,

nomeadamente: acidentes de viação, quedas, acidentes de mergulho ou agressão por arma de

fogo. Nestes casos, a permeabilização da via aérea deve ser feita apenas por elevação do

maxilar inferior - sub-luxação da mandíbula.

Page 87: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 65/262

Após ter efectuado a permeabilização da via aérea passe à avaliação da existência de sinais

de circulação (respiração e pulso) - B e C.

6. Para verificar sinais de circulação deve manter a permeabilidade da via aérea,

aproximar a sua face da face da vítima olhando para o tórax e:

VER - se existem movimentos torácicos;

OUVIR - se existem ruídos de saída de ar pela boca ou nariz da vítima;

SENTIR - na sua face se há saída de ar pela boca ou nariz da vítima;

PALPAR - pulso central.

Capítulo 4. Figura 40 - A avaliar os sinais de circulação durante 10 segundos.

Deverá

VER,

OUVIR e

SENTIR (VOS) e

PALPAR pulso central (VOSP) durante 10 segundos.

Aquando da avaliação do VOS, deve procurar a existência de movimentos respiratórios

normais, isto é, observar o tórax elevar e baixar ciclicamente como numa respiração normal.

Algumas vítimas podem apresentar movimentos respiratórios ineficazes conhecidos por

“gasping” ou “respiração agónica” que não devem ser confundidos com respiração normal.

Estes movimentos não causam uma expansão torácica normal, correspondem a uma fase

transitória que pode preceder a ausência de movimentos respiratórios e tendem a cessar

rapidamente.

Em caso de dúvida actue como se a vítima não ventilasse.

Page 88: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

66/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

O pulso que deve ser pesquisado nesta situação é o pulso carotídeo. Mantendo-se a extensão

da cabeça com uma mão na testa da vítima (ou apoiando o cotovelo junto à cabeça da vítima e

segurando na parte óssea da mandíbula com os 4 últimos dedos enquanto se mantém a

abertura da boca com o 1º dedo) e localizando-se a zona da laringe «maçã de Adão» com as

pontas dos dedos indicador e médio da outra mão, desliza-se os dois dedos lateralmente até

encontrar o sulco existente entre a laringe e o músculo «esternocleidomastoideu». Este é local

onde passa a artéria carótida e onde deve palpar o pulso carotídeo.

Pressione apenas suavemente de forma a não comprimir totalmente a artéria. Procure palpar a

artéria do mesmo lado em que se encontra, e não do lado oposto; é mais fácil e não corre o

risco de causar obstrução da via aérea ao comprimir os tecidos sobre a traqueia.

Em caso de dúvida actue como se a vítima não tivesse sinais de circulação.

7. Se a vítima respira normalmente, deverá ser colocada em posição lateral de

segurança (PLS). Após a colocação em PLS, deverá ir pedir ajuda e regressar para

junto da vítima reavaliando-a frequentemente.

(A técnica para colocação em posição lateral de segurança será descrita mais à

frente.)

8. Se a vítima não respira mas tem pulso, deve ser activado de imediato o sistema de

emergência médica, ligando 112. O segundo elemento vai efectuar o pedido de ajuda

diferenciada e o primeiro inicia de imediato o suporte ventilatório.

Devem ser efectuadas 10 insuflações por minuto, reavaliando sinais de circulação (VOSP) ao

fim de cada minuto.

Cada insuflação deve demorar cerca de um segundo.

Deve contar cinco segundos e voltar a insuflar (ex: efectuar a primeira insuflação, e 1, e 2, e 3,

e , e 2, efectuar a segunda insuflação, …e 1, e 2, e 3, e 4, e 10, até à décima insuflação).

Ao fim de um minuto deve reavaliar sinais de circulação.

Page 89: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 67/262

Capítulo 4. Figura 41 - Activação do sistema de emergência.

9. Se a vítima não tem sinais de circulação deve ser activado de imediato o sistema de

emergência médica, ligando 112. O segundo elemento vai efectuar o pedido de ajuda

diferenciada e o primeiro inicia de imediato compressões torácicas.

Se estiver sozinho, após verificar que a vítima não respira ou não tem pulso, terá de

abandoná-la para efectuar o pedido de ajuda diferenciada, ligando para o 112 e ao fazê-lo,

deve informar que se encontra com uma vítima inconsciente que não respira ou não tem sinais

de circulação, fornecendo o local exacto onde se encontra. Se quando abandonou a vítima

tinha pulso, mas não ventilava, deverá reavaliar sinais de circulação após o regresso.

Se estiver alguém junto de si, deve pedir a essa pessoa que vá ligar o 112 dizendo-lhe se

necessário, como proceder, isto é, deve dizer que a vítima está inconsciente e não respira ou

não tem sinais de circulação e fornecer o local exacto onde se encontra, e que regresse

novamente.

Este pedido de ajuda diferenciada é extremamente importante para que a vítima possa ter SAV

o mais rápido possível, já que é improvável que a vítima recupere apenas com manobras de

SBV. Como foi referido anteriormente, a causa mais frequente de PCR num adulto, é de origem

cardíaca, habitualmente devido a uma perturbação do ritmo cardíaco – fibrilhação ventricular,

cujo único tratamento é a desfibrilhação.

Page 90: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

68/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Noutras situações como as de quase-afogamento, trauma, intoxicação e no caso de crianças

(idade anterior aos sinais de puberdade), sabe-se que a causa mais frequente de PCR é

primariamente de origem respiratória.

Por este motivo, no caso de se tratar de uma vítima de afogamento ou de uma criança,

deve prosseguir o SBV durante um minuto e só depois, se ainda estiver sozinho,

abandonar a vítima para ir solicitar ajuda, ligando 112.

10. Para iniciar compressões torácicas, a vítima deve estar em decúbito dorsal sobre uma

superfície rígida com a cabeça no mesmo plano do resto do corpo:

1. Ajoelhe-se junto à vítima;

2. Coloque a base de uma mão no centro do tórax da vítima;

3. Coloque a outra mão sobre esta;

4. Entrelace os dedos e levante-os, ficando apenas a base de uma mão sobre o

esterno e de forma a não exercer qualquer pressão sobre as costelas;

5. Mantenha os braços esticados e sem flectir os cotovelos, posicione-se de forma

que os seus ombros fiquem perpendiculares ao esterno da vítima;

Capítulo 4. Figura 42 - Posicionamento / compressões torácicas.

6. Pressione verticalmente sobre o esterno, de modo a que este baixe cerca de 4 a

5 cm;

Page 91: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 69/262

7. Alivie a pressão de modo a que o tórax possa descomprimir totalmente mas sem

perder o contacto da mão com o esterno;

8. Repita o movimento de compressão e descompressão por forma a obter uma

frequência de 100 / min (um pouco menos de 2 compressões por segundo);

9. O gesto de compressão deve ser firme, controlado e executado na vertical;

10. Os períodos de compressão e descompressão devem ter a mesma duração.

É útil contar em voz alta ‘1 e 2 e 3 e 4 e 5 e... e 29 e 1’ de forma a conseguir manter um ritmo

adequado e a coordenação com o outro reanimador.

11. Para iniciar a sincronização das compressões com ventilações:

1. Ao fim de 30 compressões, permeabilize a via aérea (extensão da cabeça e

elevação da mandíbula);

2. Efectue 2 insuflações, que deverão demorar cerca de 1 segundo cada;

3. Reposicione as mãos, sem demora, na correcta posição sobre o esterno e

efectue mais 30 compressões torácicas;

4. Mantenha a relação compressões torácicas e ventilações numa relação de 30:2.

Capítulo 4. Figura 43 - Colocação da máscara de bolso (pocket mask) / Ventilação boca-máscara.

Se as ventilações iniciais não promoverem uma elevação da caixa torácica, então na próxima

tentativa deve:

1. Observar a cavidade oral e remover qualquer obstrução visível;

2. Confirmar que está a ser efectuada uma correcta permeabilização da via aérea;

Page 92: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

70/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

3. Efectuar 2 ventilações antes de reiniciar compressões torácicas.

Entrada do Segundo Elemento

Quando o segundo elemento que foi efectuar o pedido de ajuda diferenciada regressar, deve

posicionar-se para iniciar as compressões torácicas, aproveitando o tempo em que o primeiro

elemento efectua as 2 insuflações para localizar o ponto onde deverá fazer as compressões.

Deste modo reduzem-se as perdas de tempo desnecessárias.

Capítulo 4. Figura 44 - Manobras de SBV a 2 reanimadores (com máscara de bolso e com insuflador manual).

Deve iniciar as compressões logo que esteja feita a segunda insuflação, aguardando apenas

que o outro reanimador se afaste não esperando que a expiração se complete passivamente.

As mãos devem ser sempre mantidas em contacto com o tórax mesmo durante a fase das

insuflações tendo o cuidado, nesta fase, de não exercer qualquer pressão, caso contrário

aumenta a resistência à insuflação de ar, a ventilação não é eficaz e ocorre insuflação gástrica

com a consequente regurgitação.

O reanimador que está a fazer as insuflações deverá preparar-se para as iniciar logo após a

30ª compressão, com o mínimo de perda de tempo possível.

Isto requer treino para que não haja perda de tempo mas sem prejuízo da correcta execução

das manobras.

Troca de Reanimadores

É natural que ao fim de algum tempo o reanimador que está a fazer as compressões esteja

cansado pelo que se torna necessário trocar. A troca deve ser efectuada perdendo o menos

tempo possível e idealmente a cada 2 minutos (5 ciclos de 30:2).

Page 93: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 71/262

O reanimador que está a fazer as compressões deve anunciar (ex: durante as insuflações) que

pretende trocar no final da próxima série de 30 compressões. Durante essa série de 30

compressões o reanimador que estava a fazer as ventilações preparara-se para passar a fazer

compressões.

Logo que complete a série de 30 compressões o mesmo reanimador deve efectuar de seguida

as duas insuflações. Durante esse período o outro reanimador localiza o ponto de apoio das

mãos, para que uma vez terminada a segunda insuflação possa fazer de imediato

compressões.

As manobras uma vez iniciadas devem ser continuadas sem interrupção até que:

Chegue ajuda diferenciada e tome conta da ocorrência;

A vítima inicie respiração normal;

O reanimador esteja exausto.

Nas situações de PCR só deve interromper as manobras de SBV, para reavaliação da vítima, caso esta apresente algum sinal indicador da presença de respiração normal.

Nesse caso o reanimador deve confirmar a presença de respiração normal, efectuando o VOSP.

Page 94: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

72/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Capítulo 4. Esquema 1 - Algoritmo de SBV Adulto

Page 95: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 73/262

Capítulo 4. Esquema 2 - Algoritmo de SBV Adulto - Excepção

Page 96: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

74/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

3.2. Problemas Associados ao SBV

O SBV quando executado correctamente, permite manter a vítima viável até à chegada do

SAV. Podem no entanto ocorrer alguns problemas.

3.2.1. Problemas com a Ventilação

O principal problema que pode ocorrer com a ventilação é a insuflação de ar para o estômago,

que pode provocar a saída do conteúdo do mesmo para a via aérea, provocar a elevação do

diafragma que restringe os movimentos respiratórios, tornando a ventilação menos eficaz.

Fazer insuflações com grande quantidade de ar, a grande velocidade e durante um curto

período de tempo, facilita a ocorrência de insuflação gástrica, que uma vez detectada NÃO

DEVE ser resolvida comprimindo o estômago uma vez que apenas estará a causar

regurgitação do conteúdo do mesmo.

No caso de vítimas desconhecidas e na ausência de algum mecanismo de barreira para

efectuar a ventilação, não deverá efectuar ventilação boca-a-boca. Neste caso é preferível

efectuar apenas compressões torácicas em vez de não efectuar nenhum SBV.

3.2.2. Problemas com as Compressões

As compressões torácicas, mesmo quando correctamente executadas, conseguem gerar

apenas aproximadamente 25 % do débito cardíaco normal. Efectuá-las obliquamente em

relação ao tórax, pode fazer rolar a vítima e diminuir a sua eficácia. É também importante que o

tórax descomprima totalmente após cada compressão para permitir o retorno de sangue ao

coração antes da próxima compressão, optimizando assim o débito cardíaco.

As compressões torácicas podem causar fractura de articulações condro-costais (articulação

das costelas com o esterno), lesão de órgãos internos, rotura do pulmão, do coração ou do

fígado. Este risco é minimizado, mas não totalmente abolido, pela correcta execução das

compressões.

A preocupação com as potenciais complicações do SBV não deve impedir o reanimador de

iniciar prontamente as manobras de SBV dado que, no caso de uma vítima em paragem

cardio-respiratória, a alternativa ao SBV é a morte.

Page 97: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 75/262

3.2.3. Reavaliações e Suspensão de Manobras de SBV

As hipóteses de uma vítima de paragem cardio-respiratória recuperar actividade cardíaca

espontânea sem Suporte Avançado de Vida são muito reduzidas pelo que não faz qualquer

sentido reavaliar a existência de ventilação, excepto se a vítima fizer qualquer movimento.

Caso contrário, não deve interromper as manobras de SBV até à chegada do SAV.

Os esforços de reanimação só podem ser terminados por decisão médica.

Mesmo que lhe possa parecer infrutífero, não deve suspender as manobras de SBV sem indicação médica.

Em resumo:

O suporte básico de vida é uma medida de suporte que permite manter a vítima viável até à chegada do Suporte Avançado de Vida.

A sequência de acções baseia-se na metodologia ABC: via Aérea, Ventilação, Circulação.

É fundamental saber como e quando pedir ajuda e iniciar precocemente as manobras de SBV.

4. POSIÇÃO LATERAL DE SEGURANÇA

Tal como foi referido anteriormente, se a vítima respira mas está inconsciente, deve ser

colocada em posição lateral de segurança (PLS).

Quando uma vítima se encontra inconsciente em decúbito dorsal, mesmo que respire

espontaneamente, pode desenvolver um quadro de obstrução da via aérea e deixar de respirar

devido ao relaxamento dos músculos da língua e à sua consequente queda para trás.

A via aérea pode também ficar obstruída por regurgitação do conteúdo gástrico, secreções ou

sangue.

Nestes casos a vítima deve ser colocada numa posição que mantenha a permeabilidade da via

aérea, garantindo a não obstrução por queda da língua permitindo a livre drenagem de um

qualquer líquido da cavidade oral, evitando a entrada do mesmo nas vias respiratórias,

nomeadamente no caso de a vítima vomitar.

Page 98: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

76/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

A Posição Lateral de Segurança deve respeitar os seguintes princípios:

Ser uma posição o mais “lateral” possível de modo a que a cabeça fique numa posição

em que a drenagem da cavidade oral se faça livremente;

Ser uma posição estável;

Não causar pressão no tórax que impeça a respiração normal;

Possibilitar a observação e acesso fácil à via aérea;

Ser possível voltar a colocar a vítima em decúbito dorsal de forma fácil e rápida;

Não causar nenhuma lesão à vítima.

É particularmente importante não causar nenhuma lesão adicional à vítima com a colocação

em PLS. Por este motivo, no caso de existir suspeita de traumatismo da coluna cervical, não

está indicada a colocação da vítima em PLS. Se há suspeita de trauma, a vítima só deve ser

mobilizada se for de todo impossível manter a permeabilidade da via aérea de outro modo e

neste caso, deve ser sempre respeitado simultaneamente o alinhamento da coluna cervical.

4.1. Como deve Proceder para Colocar uma Vítima em PLS:

1. Ajoelhar ao lado da vítima e estender-lhe as duas pernas;

2. Permeabilizar a via aérea, através da extensão da cabeça e elevação da mandíbula;

3. Retirar óculos e objectos volumosos (chaves, telefones, canetas etc.) dos bolsos da

vítima, alargar a gravata (se apropriado) e desapertar o colarinho;

4. Colocar o braço da vítima mais próximo de si, dobrado a nível do cotovelo, de forma

a fazer um ângulo recto com o corpo da vítima ao nível do ombro e com a palma da

mão virada para cima;

Capítulo 4. Figura 45 - Colocação em Posição Lateral de Segurança (PLS).

5. Dobrar o outro braço sobre o tórax e encostar a face dorsal da mão à face da vítima,

do lado do reanimador;

Page 99: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 77/262

6. Com a outra mão, segurar a coxa da vítima do lado oposto ao reanimador,

imediatamente acima do joelho e levantá-la, por forma a dobrar a perna da vítima a

nível do joelho;

Capítulo 4. Figura 46 - Colocação em Posição Lateral de Segurança (PLS).

7. Manter uma mão a apoiar a cabeça e puxar a perna, a nível do joelho, rolando o

corpo da vítima na direcção do reanimador, num espaço criado para o efeito;

8. Ajustar a perna que fica por cima, de modo a formar um ângulo recto a nível da coxa

e do joelho;

Capítulo 4. Figura 47 - Colocação em Posição Lateral de Segurança (PLS).

9. Se necessário, ajustar a mão sob a face da vítima para que a cabeça fique em

extensão;

Capítulo 4. Figura 48 - Colocação em Posição Lateral de Segurança (PLS).

Page 100: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

78/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

10. Verificar se a via aérea se mantém permeável, certificando-se que a vítima respira

sem fazer ruído;

11. Vigiar regularmente.

Capítulo 4. Figura 49 - Posição Lateral de Segurança (PLS).

Se a vítima tiver que permanecer em PLS por um longo período de tempo, recomenda-se que

ao fim de 30 minutos seja colocada sobre o lado oposto, para diminuir o risco de lesões

resultantes da compressão sobre o ombro.

Se a vítima deixar de respirar espontaneamente é necessário voltar a colocá-la em decúbito

dorsal.

Em resumo:

As vítimas inconscientes que respiram devem ser colocadas em PLS, desde que não haja suspeita de trauma.

A colocação em PLS permite manter a permeabilidade da via aérea e evitar a entrada de conteúdo gástrico na via aérea.

4.2. Como deve Proceder para Voltar a Colocar a Vítima em Decúbito Dorsal:

1. Ajoelha-se por trás da vítima;

2. Apoiar com uma mão a anca da vítima e estender a perna que está por cima,

alinhando-a com a outra;

3. Sem deixar de apoiar a anca, retirar a mão que se encontra sob a face da vítima e

colocar o braço sobre o tórax, ao longo do corpo;

4. Mantendo uma mão a segurar a anca da vítima, apoiar a cabeça com a outra;

5. Com um movimento seguro e firme, puxar ao nível da coxa, rolando a vítima sobre

as coxas do reanimador, mantendo simultaneamente a outra mão a apoiar a

cabeça;

Page 101: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 79/262

Capítulo 4. Figura 50 - Desfazer a Posição Lateral de Segurança (PLS).

6. Afastar-se progressivamente de forma a acompanhar o movimento da vítima até

esta estar em decúbito dorsal;

7. Estender o outro braço ao longo do corpo.

Em resumo:

As vítimas inconscientes que respiram devem ser colocadas em PLS, desde que não haja suspeita de trauma.

A colocação em PLS permite manter a permeabilidade e evitar a entrada de conteúdo gástrico na via aérea.

5. ABORDAGEM DA VIA AÉREA

5.1. Obstrução da Via Aérea em Vítima Adulta

5.1.1. Epidemiologia, Causas e Reconhecimento

A obstrução da via aérea é uma emergência absoluta que, se não for reconhecida e resolvida,

leva à morte em minutos.

Uma das formas mais frequentes de obstrução da via aérea é a resultante de uma causa

“extrínseca” à via aérea – alimentos, sangue ou vómito. Qualquer objecto sólido, pode

funcionar como corpo estranho e causar obstrução da via aérea – obstrução mecânica.

Page 102: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

80/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

A água não actua como “corpo estranho” pelo que não estão indicadas manobras de

desobstrução da via aérea em vítimas de afogamento uma vez que podem causar

complicações e apenas atrasam o início de SBV.

Pode também ocorrer obstrução da via aérea por edema dos tecidos da via aérea, como por

exemplo, no caso de uma reacção anafilática (alergia), uma neoplasia (cancro) ou uma

inflamação da epiglote (epiglotite) sendo esta última mais frequente nas crianças - obstrução

patológica.

A obstrução da via aérea deve ser considerada numa vítima que faz paragem respiratória

súbita, fica cianosada e inconsciente sem motivo aparente.

Capítulo 4. Figura 51 - Obstrução da via aérea.

Nos adultos, a obstrução da via aérea por corpo estranho ocorre habitualmente durante as

refeições, com os alimentos, e está frequentemente associada a alcoolismo ou tentativa de

engolir grandes pedaços de comida, mal mastigados. Os doentes idosos com problemas de

deglutição estão também em risco de obstrução da via aérea por corpo estranho e devem ser

aconselhados a comer de forma cuidadosa.

A obstrução da via aérea, sobretudo quando ocorre num local público, como um restaurante, é

frequentemente confundida com um ataque cardíaco.

É importante distinguir a obstrução da via aérea de outras situações dado a abordagem ser

diferente. Na obstrução mecânica da via aérea, existem várias manobras que podem ser

efectuadas com o objectivo de resolver a obstrução e que, caso sejam bem sucedidas, podem

evitar a paragem respiratória.

Page 103: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 81/262

5.1.2. Classificação

A obstrução da via aérea pode ser total ou parcial. Na obstrução parcial, onde ainda existe a

passagem de algum ar, a vítima começa por tossir, ainda consegue falar e pode fazer algum

ruído ao respirar.

Enquanto a vítima respira e consegue tossir de forma eficaz, o reanimador não deve interferir

devendo apenas encorajar a tosse, vigiar se a obstrução é ou não resolvida e se a tosse

continua a ser eficaz.

A vítima com obstrução parcial da via aérea pode, logo à partida, apresentar uma tosse

ineficaz, dificuldade respiratória marcada e cianose ou estes sinais podem surgir

progressivamente se a situação não for resolvida. Neste caso, é necessário actuar rapidamente

como se de uma obstrução total se tratasse.

Na obstrução total, onde já não existe passagem de ar na via aérea, a vítima não consegue

falar, tossir ou respirar, nem emite qualquer ruído respiratório. Poderá demonstrar grande

aflição e ansiedade e agarrar o pescoço com as duas mãos. É necessário actuar rapidamente,

pois se a obstrução não for resolvida a vítima poderá rapidamente ficar inconsciente e morrer.

No caso de obstrução total da via aérea causada por corpo estranho, deve começar por tentar

a desobstrução da via aérea com aplicação de pancadas interescapulares e, no caso de

insucesso, tentar então compressões abdominais ou manobra de Heimlich.

5.1.3. Sequência de Actuação na Obstrução Mecânica

Vítima Consciente

Enquanto a vítima respira e consegue tossir de forma eficaz o reanimador não deve interferir,

devendo apenas encorajar a tosse, vigiar se a obstrução é ou não resolvida e se a tosse

continua a ser eficaz.

Se uma vítima consciente com obstrução da via aérea se apresenta com tosse ineficaz,

incapaz de falar ou de respirar, proceda de imediato à aplicação de pancadas

interescapulares.

Técnica para Aplicação de Pancadas Interescapulares:

1. Colocar-se ao lado e ligeiramente por detrás da vítima;

2. Suportar o corpo de vítima com uma mão, a nível do tórax, mantendo-a inclinada para a

frente, numa posição tal que se algum objecto for deslocado com as pancadas, possa

sair livremente pela boca;

Page 104: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

82/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

3. Aplicar pancadas com a base da outra mão na parte superior das costas, ao meio entre

as omoplatas, isto é, na região interescapular;

4. Cada pancada deverá ser efectuada com a força adequada tendo como objectivo

resolver a obstrução;

5. Após cada pancada, deve verificar-se se a obstrução foi ou não resolvida, aplicando até

5 pancadas no total.

Capítulo 4. Figura 52 - Desobstrução da via aérea - Aplicação das pancadas interescapulares.

Se a obstrução não for resolvida com a aplicação das pancadas interescapulares, passar à

aplicação de compressões abdominais - Manobra de Heimlich.

Esta manobra causa uma elevação do diafragma e aumento da pressão nas vias aéreas,

provocando uma espécie de “tosse artificial” e forçando a saída do corpo estranho.

Com a execução da manobra de Heimlich poderão ocorrer complicações como rotura ou

laceração de órgãos, torácicos ou abdominais ou ainda regurgitação do conteúdo gástrico e

consequente aspiração.

A ocorrência de complicações pode ser minimizada pela correcta execução da manobra, isto é,

nunca comprimir sobre o apêndice xifóide ou na margem inferior da grelha costal, mas sim na

linha média abdominal, um pouco acima do umbigo. No entanto, mesmo com uma técnica

totalmente correcta, podem ocorrer complicações.

Page 105: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 83/262

Técnica para Execução da Manobra de Heimlich:

1. Colocar-se por trás da vítima;

2. Colocar os braços à volta da vítima ao nível da cintura;

3. Fechar uma das mãos, em punho, e colocar a mão com o polegar encostado ao

abdómen da vítima, na linha média um pouco acima do umbigo e bem afastada do

apêndice xifóide;

Capítulo 4. Figura 53 - Desobstrução da via aérea – Colocação das mãos na Manobra de Heimlich.

4. Com a outra mão, agarrar o punho da mão colocada anteriormente e puxar, com

um movimento rápido e vigoroso, para dentro e para cima na direcção do

reanimador;

Capítulo 4. Figura 54 - Desobstrução da via aérea – Manobra de Heimlich.

5. Cada compressão deve ser um movimento claramente separado do anterior e

efectuado com a intenção de resolver a obstrução;

Page 106: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

84/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Capítulo 4. Figura 55 - Desobstrução da via aérea - Manobra de Heimlich.

6. Repetir as compressões abdominais até 5 vezes, vigiando sempre se ocorre ou

não resolução da obstrução e o estado de consciência da vítima.

Repetir alternadamente 5 pancadas interescapulares e 5 compressões abdominais até à desobstrução ou até a vítima ficar inconsciente.

A manobra de Heimlich também pode ser executada pela própria vítima de obstrução da via

aérea, caso se encontre sozinha. Para tal deverá colocar uma mão em punho, um pouco acima

do umbigo e com a outra mão em cima da primeira, comprimir para cima e para dentro com um

movimento rápido. No caso de não obter sucesso poderá comprimir a porção superior do

abdómen contra uma superfície rija como por exemplo, as costas de uma cadeira ou um varão

de escadas.

A manobra de Heimlich só deve ser aplicada a vítimas de obstrução da via aérea conscientes.

Existem no entanto, duas excepções às quais não deve ser aplicada a manobra de Heimlich:

às grávidas no final da gravidez e às vítimas francamente obesas.

Nestas duas situações aplica-se a técnica de compressões torácicas.

Page 107: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 85/262

Vítima Inconsciente

No caso de uma vítima de obstrução da via aérea ficar inconsciente durante a tentativa de

desobstrução da via aérea, o reanimador deve:

1. Amparar a vítima até ao chão para que esta não se magoe;

2. Activar o sistema de emergência médica, ligando 112;

3. Iniciar compressões torácicas, seguindo o algoritmo de SBV;

4. Pesquisar a cavidade oral antes de efectuar as insuflações.

Em resumo:

A obstrução da via aérea é uma situação emergente que pode levar à morte da vítima em poucos minutos.

Reconhecer a situação e iniciar de imediato medidas adequadas pode evitar a paragem cardio-respiratória e salvar uma vida.

Page 108: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

86/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Capítulo 4. Esquema 3 - Algoritmo Desobstrução da Via Aérea

5.1.4. Actuação na Obstrução Anatómica

A actuação perante uma situação de obstrução anatómica da via aérea, isto é, vítima

inconsciente e que não respira, já foi abordada no capítulo de suporte básico de vida.

5.1.5. Actuação na Obstrução Patológica

A actuação perante uma situação de obstrução patológica da via aérea que não respira é a

descrita no algoritmo de SBV. Se a vítima respira, os profissionais de saúde procedem à

administração de oxigénio.

Page 109: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 87/262

Em resumo:

A obstrução da via aérea é uma situação emergente que pode levar à morte da vítima em poucos minutos.

Reconhecer a situação e iniciar de imediato medidas adequadas pode evitar a paragem cardio-respiratória e salvar uma vida.

5.2. Técnicas de Permeabilização da Via Aérea

A permeabilização da via aérea e o restabelecimento da ventilação são objectivos essenciais

em SBV, com o intuito de evitar lesões por hipóxia nos órgãos nobres, em particular no

cérebro.

O reconhecimento da obstrução da via aérea já foi abordado no ponto anterior, a propósito da

obstrução mecânica.

No entanto, para além do estridor que surge na obstrução por corpo estranho ou na obstrução

patológica por inflamação dos tecidos da via aérea, outros ruídos podem ser audíveis no caso

de obstrução parcial da via aérea. O reconhecimento destes ruídos pode servir também para

distinguir as possíveis causas.

O gorgolejo (ruído semelhante ao gargarejo) é característico das obstruções parciais por um

fluido - vómito, sangue ou secreções.

O ressonar ocorre habitualmente na obstrução parcial causada por queda da língua. Uma vez

reconhecida a obstrução da via aérea é necessário proceder de imediato à sua

permeabilização.

A permeabilização da via aérea pode ser obtida com técnicas básicas que devem ser

conhecidas de todos (leigos e profissionais de saúde). Existem ainda algumas técnicas

adjuvantes que devem ser do conhecimento dos profissionais de saúde envolvidos na

prestação de socorro.

5.2.1. Técnicas Básicas de Permeabilização da Via Aérea

Extensão da Cabeça e Elevação da Mandíbula

Esta técnica já descrita anteriormente, permite permeabilizar a via aérea nas situações de

obstrução causada pela queda da língua, no doente inconsciente e em decúbito dorsal.

Page 110: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

88/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

No entanto, a obstrução da via aérea causada pela base da língua não se explica

exclusivamente por um fenómeno dependente da gravidade uma vez que pode ocorrer mesmo

que o doente não esteja em decúbito dorsal.

Na vítima inconsciente, há disfunção dos músculos da língua, faringe, pescoço e laringe que

pode causar incapacidade em manter a permeabilidade da via aérea quando a cabeça está

numa posição neutra ou em flexão. Assim, podemos ter vítimas inconscientes com obstrução

da via aérea causada pela língua ou outras estruturas da via aérea superior mesmo quando se

encontram em decúbito lateral ou ventral.

Geralmente, este tipo de obstrução resolve-se com a extensão da cabeça e elevação da

mandíbula.

Capítulo 4. Figura 56 - Extensão da cabeça e elevação da mandíbula.

Tal como já foi referido anteriormente, esta técnica não deve ser usada em vítimas em relação

às quais existe suspeita de traumatismo da coluna cervical uma vez que a extensão da cabeça

pode agravar lesões existentes a nível da coluna cervical.

A consequência mais temível é a eventual recuperação de uma vítima que ficará com sequelas

permanentes - tetraplegia.

Sempre que existir suspeita de trauma é fundamental manter o alinhamento da cabeça –

pescoço - tronco pelo que a permeabilização da via aérea deve ser efectuada usando a técnica

de sub -luxação da mandíbula.

Page 111: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 89/262

Sub-luxação da Mandíbula

Esta técnica de permeabilização da via aérea é uma técnica alternativa que pode ser usada

quando a técnica de extensão da cabeça e elevação do queixo não permite uma adequada

permeabilização da via aérea, quando existe uma obstrução nasal exigindo a abertura da boca

para abrir a via aérea e é a técnica preferencial nas situações de suspeita de trauma da coluna

cervical.

Procedimento para Efectuar a Sub-luxação da Mandíbula:

1. Identifique o ângulo da mandíbula;

2. Coloque os dedos indicadores por trás dos ângulos da mandíbula e faça pressão

para cima e para a frente de forma a provocar deslocação do maxilar inferior para a

frente;

3. Com os polegares, empurre o queixo ligeiramente para baixo para manter a boca

aberta.

Capítulo 4. Figura 57 - Sub-luxação da mandíbula.

Quando utilizada para permeabilização da via aérea em doentes com suspeita de traumatismo

da coluna cervical, esta manobra deve, idealmente, ser efectuada simultaneamente com

estabilização manual da coluna cervical. Isto requer a existência de uma segunda pessoa para

manter a cabeça numa posição neutra e estabilizar a coluna cervical. No entanto, é importante

referir que a permeabilização da via aérea é fundamental dado que a morte por hipóxia,

consequente à obstrução da via aérea, é muito mais frequente que a ocorrência de tetraplegia,

como consequência da manipulação da coluna cervical.

5.2.2. Técnicas de Permeabilização da Via Aérea com Adjuvantes

Os adjuvantes de permeabilização da via aérea são úteis para manter a permeabilidade da via

aérea. No entanto, não substituem a manutenção do posicionamento da cabeça em extensão e

elevação do queixo.

Page 112: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

90/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Via Aérea Orofaríngea

O tubo orofaríngeo também conhecido por tubo de Guedel, é um tubo plástico curvo, rígido e

achatado, de forma a ficar bem ajustado entre a língua e o palato duro.

Existem vários tamanhos desde tubos apropriados quer para recém-nascidos quer para adultos

grandes.

A escolha do tamanho do tubo é feita por estimativa e deve ser previamente realizada antes da

sua inserção. Deve escolher um tubo com o comprimento correspondente à distância entre a

comissura labial e o ângulo da mandíbula ou o lóbulo da orelha.

Se o tubo orofaríngeo não for correctamente introduzido, a língua pode ser empurrada para

trás, agravando a obstrução em vez de a aliviar.

O tubo orofaríngeo só deve ser utilizado em vítimas que se encontram inconscientes. Se a

vítima tiver reflexos a nível da faringe, a introdução do tubo orofaríngeo pode induzir o vómito

ou provocar um espasmo laríngeo.

Capítulo 4. Figura 58 - Tubos orofaríngeos (tubos de Guedel), escolha do tamanho e introdução do tubo.

Técnica para Colocação do Tubo Orofaríngeo:

1. Abrir a boca e verificar se não existem corpos estranhos que possam ser empurrados

para a faringe durante a introdução do tubo;

2. Se forem visíveis, retirá-los previamente à inserção do tubo;

Page 113: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 91/262

3. Introduzir o tubo orofaríngeo na cavidade oral em posição invertida, isto é, com a parte

convexa virada para a língua;

4. Introduzi-lo até passar o palato duro e então rodá-lo 180º, de forma que a parte côncava

fique virada para a língua e continuar a empurrar em direcção à faringe;

5. Se a qualquer momento sentir que a vítima reage à introdução do tubo, por exemplo

tossindo, deve retirá-lo.

Após a colocação do tubo orofaríngeo, deve ser confirmada novamente a permeabilidade da

via aérea efectuando o VOS.

Via Aérea Nasofaríngea

O tubo nasofaríngeo é um tubo de plástico maleável, biselado numa das extremidades e com

um rebordo na outra extremidade. Como o nome indica, é introduzido por uma narina devendo

a extremidade biselada ficar na faringe.

Existem vários tamanhos numerados de acordo com o seu diâmetro interno, em milímetros,

aumentando o seu comprimento com o aumento do diâmetro. Os tamanhos usados nos adultos

são habitualmente 6 - 8, devendo ser adequados ao diâmetro da narina. Deve ser medida a

porção de tubo a introduzir, medindo a distância da narina ao lóbulo da orelha ou ao ângulo da

mandíbula e usando o alfinete ou outro dispositivo proximal de segurança (que acompanha

cada tubo) para marcar essa distância no tubo, de forma a evitar a introdução excessiva.

Este tubo é melhor tolerado que o tubo orofaríngeo em doentes que não estão profundamente

inconscientes. Pode ainda ser colocado em situações em que não é possível conseguir a

colocação do tubo orofaríngeo, como acontece na impossibilidade de abrir a boca da vítima ou

em caso de fracturas do maxilar inferior.

O tubo nasofaríngeo não pode ser colocado em doentes em relação aos quais exista a

suspeita de fractura da base do crânio.

A introdução do tubo pode causar hemorragia nasal e se o tubo for demasiado longo pode

induzir vómito ou espasmo laríngeo.

Page 114: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

92/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Capítulo 4. Figura 59 - Tubo nasofaríngeo. Escolha do tamanho e colocação do tubo.

Técnica para Colocação do Tubo Nasofaríngeo:

1. Confirmar a permeabilidade da narina e lubrificar o tubo;

2. Inserir o tubo na narina pela extremidade biselada, empurrando na vertical ao longo do

pavimento da fossa nasal, com movimentos de rotação;

3. Introduzir o comprimento calculado até que a extremidade biselada fique na faringe;

4. Se for sentida alguma resistência durante a introdução do tubo deve ser retirado e

tentada a introdução na outra narina.

Após a colocação do tubo nasofaríngeo, deve ser confirmada de novo a permeabilidade da via

aérea, efectuando o VOS.

Se for possível com qualquer uma das técnicas obter a permeabilização da via aérea e a vítima

retomar ventilação espontânea, deve ser colocada em PLS.

Deve administrar oxigénio sempre que possível, de acordo com a recomendação apropriada à

situação clínica da vítima.

5.2.3. Aspiração de Secreções

Nas situações de obstrução parcial da via aérea por um fluido – vómito, sangue ou secreções,

é necessário proceder à aspiração da cavidade oral e da orofaringe, utilizando para tal o

aspirador de secreções, de forma a manter a permeabilidade da via aérea.

Page 115: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 93/262

Capítulo 4. Figura 60 - Aspiração de secreções.

A aspiração da cavidade oral pode ser feita com uma sonda rígida “tipo Yankauer” ou com uma

sonda de aspiração de maior calibre, sobretudo nos casos em que é preciso aspirar conteúdo

alimentar espesso.

Quando a vítima já tem uma via orofaríngea colocada e é necessário efectuar a aspiração, para

além da aspiração da cavidade oral pode ser necessário também aspirar o seu interior de

forma a manter a permeabilidade da via aérea. Nestas situações, deve utilizar-se uma sonda

de calibre apropriado, habitualmente de menor calibre que a utilizada para aspiração da

cavidade oral, de forma a permitir a sua manipulação no interior do tubo.

É necessário ter em atenção que a sonda não deve ser introduzida profundamente mas apenas

o necessário para aspirar as secreções ou outros fluidos presentes na hipofaringe, de forma a

manter a permeabilidade da via aérea. Introduzir a sonda profundamente terá como

consequência a estimulação das zonas da faringe que condicionam o reflexo de vómito ou

mesmo a indução de um espasmo laríngeo com o consequente agravamento da obstrução da

via aérea.

A aspiração de secreções deve ser feita de forma cuidada para não causar traumatismos da

mucosa da cavidade oral ou da faringe. A sonda deve ser introduzida sem estar em aspiração

e ser retirada em aspiração activa, efectuando movimentos circulares suaves.

Os aspiradores de secreções permitem seleccionar diferentes pressões de vácuo para

utilização em adultos ou em crianças.

Page 116: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

94/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Em resumo:

Na maioria das situações é possível conseguir a permeabilização da via aérea utilizando técnicas básicas que devem ser do conhecimento de todos;

Depois de cada intervenção é necessário confirmar sempre o resultado efectuando o VOS;

Os profissionais de saúde têm ainda recurso a adjuvantes das técnicas básicas que facilitam e aumentam a eficácia do processo de permeabilização da via aérea;

É fundamental o conhecimento das várias técnicas para uma correcta utilização na prática.

5.3. Ventilação com Adjuvantes da Via Aérea

A ventilação com ar expirado pode ser iniciada em qualquer local sem recurso a qualquer

equipamento; no entanto, proporciona apenas cerca de 16 % de oxigénio. Há situações em que

esta técnica não é exequível como no caso da presença de sangue ou vómito na boca ou pelo

risco de infecções ou intoxicações.

Existem dispositivos que permitem interpor uma barreira entre o reanimador e a vítima e, por

vezes, administrar simultaneamente oxigénio de forma a aumentar a concentração de oxigénio

no ar expirado. São designadas por máscaras de bolso ou pocket masks.

Capítulo 4. Figura 61 - Máscara de bolso (pocket mask).

5.3.1. Ventilação com Ar Expirado com Máscara de Bolso

A máscara de bolso é um dispositivo composto por uma máscara facial, com uma válvula

unidireccional. A válvula unidireccional permite ao reanimador soprar para o interior da boca da

vítima e o ar expirado pela vítima não reflua para o reanimador, sendo eliminado por um orifício

de escape. Fica assim isolada, a via aérea da vítima da do reanimador.

São habitualmente transparentes para permitir detectar a presença de sangue ou vómito que

possa surgir. Algumas têm uma conexão para ligação de oxigénio suplementar.

Existem duas técnicas para efectuar a ventilação boca-máscara:

Page 117: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 95/262

A posição lateral, em que o reanimador se coloca ao lado da vítima, implica a permeabilização

da via aérea, por extensão da cabeça e elevação do maxilar inferior e é a adequada para a

situação de SBV a um reanimador quando a vítima se encontra em PCR, dado que com esta

técnica, o reanimador está posicionado de forma a poder efectuar compressões e ventilações.

Procedimento - Posição Lateral:

1. Coloque-se ao lado da vítima para que possa efectuar ventilações e compressões;

2. Aplique a máscara na face da vítima tal como descrito anteriormente;

3. Pressione a máscara contra a face da vítima com o polegar e indicador (da mão mais

próxima da cabeça) sobre o vértice da máscara e o polegar da outra mão no bordo da

máscara, junto ao queixo;

4. Coloque os restantes dedos ao longo do bordo da mandíbula de forma a fazer a

elevação do maxilar inferior e faça simultaneamente a extensão da cabeça;

5. Comprima apenas na margem da máscara para que não existam fugas de ar;

Capítulo 4. Figura 62 - Ventilação com máscara de bolso em posição lateral.

6. Faça insuflações soprando na válvula unidireccional, observando a expansão do tórax.

A posição cefálica, em que o reanimador se coloca acima da cabeça da vítima, é adequada

para a situação de paragem respiratória, quando o reanimador está sozinho ou no caso de

SBV a dois reanimadores. Esta posição permite boa observação da expansão torácica uma vez

que o reanimador olha directamente para o tórax da vítima e é a adequada quando se

permeabiliza a via aérea por sub-luxação da mandíbula.

Procedimento - Posição Cefálica

1. Coloque-se acima da cabeça da vítima e aplique a máscara na face da vítima,

colocando o bordo mais estreito da máscara no sulco entre o queixo e o lábio inferior e

o vértice da mesma acima do nariz;

Page 118: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

96/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

2. Coloque os polegares e a base das mãos ao longo dos bordos maiores da máscara e

os indicadores e os restantes dedos debaixo do ângulo da mandíbula;

3. Pressione a máscara contra a face da vítima, com os polegares e base da mão ao

mesmo tempo que efectua a elevação da mandíbula com os indicadores, de forma a

não existirem fugas de ar;

4. Se a situação da vítima o permitir, faça simultaneamente a extensão da cabeça;

Capítulo 4. Figura 63 - Ventilação com máscara de bolso em posição cefálica.

5. Faça insuflações soprando na válvula unidireccional, observando a expansão do tórax.

Uma forma alternativa de fixar a máscara nesta técnica é colocar os polegares e indicadores

em círculo ao longo dos bordos da máscara e usar os restantes dedos de ambas as mãos para

fazer a elevação do maxilar inferior e a extensão da cabeça.

Oxigénio

Sempre que a máscara o permite, deve ser conectado oxigénio a 15 litros / minuto. Quando se

administra oxigénio suplementar, a mais de 10 litros / minuto, conseguem-se concentrações de

oxigénio de cerca de 40 % pelo que se recomendam volumes de ventilação menores. O

volume de ar que se pretende insuflar é, neste caso, de 400 - 600 ml, suficiente para ventilar

eficazmente a vítima e diminuindo a probabilidade de ocorrência de regurgitação do conteúdo

gástrico. Tal como referido anteriormente, o volume de ar deve ser apenas o necessário para

causar uma expansão torácica, tal como numa respiração normal.

5.3.2. Ventilação com Insuflador Manual

O Insuflador manual é o dispositivo mais frequentemente utilizado para ventilação dos doentes

em paragem respiratória. Vulgarmente conhecido apenas por “AMBU” é composto por um

balão de material plástico auto-insuflável, com uma válvula unidireccional, acoplado a uma

máscara facial, semelhante à máscara de bolso.

Page 119: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 97/262

A compressão do balão causa a insuflação de ar na inspiração e a válvula unidireccional

permite a saída do ar expirado para a atmosfera.

Existem insufladores manuais de vários tamanhos, adequados a ventilação de adultos

(capacidade de 1600 ml) e a neonatais (250 ml). Estes últimos podem, no entanto, não permitir

a correcta ventilação de recém-nascidos com alguns dias ou lactentes. Os insufladores

manuais a utilizar em pediatria devem ter, pelo menos, 450 - 500 ml.

Existem máscaras de vários tamanhos, devendo ser seleccionada aquela que permita tapar

completamente a boca e nariz da vítima e que, ao ser colocada com um bordo no queixo, não

tape os olhos da vítima.

Capítulo 4. Figura 64 - Insuflador manual (“ambu”), máscaras faciais e garrafa de oxigénio.

O insuflador manual tem uma conexão para ligar uma fonte de oxigénio e permite obter

concentrações de oxigénio da ordem dos 50 %. No entanto, se não for conectado oxigénio

apenas se obtêm concentrações de 21 %. Se for utilizado um sistema de reservatório de

oxigénio, simultaneamente com um débito de oxigénio superior a 10 litros / minuto, podem

atingir-se concentrações próximas dos 90 %.

Tal como referido em relação à ventilação com máscara facial com oxigénio suplementar, os

volumes desejáveis são apenas de 400 - 600 ml o que deve ser controlado através da

observação da expansão torácica.

Page 120: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

98/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

A utilização apenas por um reanimador não está recomendada uma vez que é necessário

muito treino para se conseguir uma boa adaptação da máscara à face da vítima apenas com

uma mão enquanto a outra comprime o balão.

Capítulo 4. Figura 65 - Ventilação com insuflador manual.

Não havendo boa adaptação da máscara à face da vítima, existem fugas de ar que impedem

uma correcta ventilação. A fuga de ar não se compensa aumentando a velocidade de

compressão do balão que, tal como nos outros métodos de ventilação, deve ser lenta durante a

fase de insuflação de ar, pelos motivos já anteriormente expostos. Se ocorrerem fugas de ar,

deve ser revisto o posicionamento das mãos e a localização da máscara na face da vítima.

O volume de ar não deve ser excessivo, uma vez que provoca entrada de ar para o estômago

e consequente regurgitação, mas apenas o necessário para causar uma adequada expansão

do tórax. Tal como nos outros métodos referidos, é necessário observar de forma sistemática a

expansão torácica para avaliar a eficácia da ventilação.

O insuflador manual deve ser utilizado quando se encontram presentes dois reanimadores,

com treino na sua utilização. Um deles adapta a máscara à face da vítima com ambas as mãos

(tal como descrito em relação à máscara facial em posição cefálica) e o outro comprime

lentamente o balão para efectuar a insuflação de ar.

Deve estar garantida a permeabilidade da via aérea, sendo útil a colocação de um tubo

orofaríngeo, mas é fundamental a manutenção do correcto posicionamento da cabeça em

extensão e elevação da mandíbula.

No caso de a vítima se encontrar em PCR, um reanimador adapta a máscara e mantém o

posicionamento da cabeça, enquanto o outro efectua alternadamente as compressões e as

insuflações.

Page 121: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 99/262

O reanimador que adapta a máscara deve estar em posição cefálica e avaliar a eficácia da

expansão torácica, dado que se encontra melhor posicionado para esse efeito.

Quando da chegada do SAV, e após ser efectuada a entubação traqueal, continua a usar-se o

insuflador manual para efectuar a ventilação, retirando a máscara e adaptando-o ao tubo

endotraqueal.

Em resumo:

A ventilação com máscara facial com válvula unidireccional é segura, eficaz e requer treino menos prolongado que a ventilação com insuflador manual;

A ventilação com insuflador manual só deve ser o método de escolha quando estão presentes duas pessoas treinadas na sua utilização;

A ventilação com oxigénio suplementar melhora a sua eficácia.

5.4. Variantes das Técnicas de Ventilação

5.4.1. Boca-a-Boca:

1. Assegure que a cabeça da vítima permanece em extensão e o queixo levantado,

mantendo a palma de uma mão na testa da vítima e os dedos indicador e médio da

outra mão, no bordo do maxilar inferior;

2. Tape o nariz da vítima pinçando-o entre os dedos polegar e o indicador da mão que

está na testa;

3. Mantenha a extensão da cabeça e a elevação do queixo, sem fechar a boca da vítima;

4. Inspire profundamente, isto é, encha bem o peito com ar;

5. Coloque os lábios à volta da boca da vítima, certificando-se que não há fuga de ar;

6. Sopre continuamente para o interior da boca da vítima, observando simultaneamente a

expansão do tórax; deverá demorar cerca de 1 seg.;

7. Afaste a sua boca da boca da vítima, mantendo o posicionamento da cabeça da vítima,

para permitir a saída do ar.

5.4.2. Boca-Nariz

A ventilação boca-a-nariz está recomendada quando é impossível ventilar pela boca, o que

pode acontecer por:

Impossibilidade de abrir a boca da vítima;

Existência de lesões graves da face;

Dificuldade em conseguir uma boa adaptação da boca à boca da vítima.

Page 122: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

100/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Para ventilar por este método, deve manter a cabeça da vítima inclinada para trás, com uma

mão na testa, usar a outra mão para levantar o maxilar e simultaneamente cerrar os lábios.

Deve, então, fazer uma inspiração profunda, colocar a sua boca à volta do nariz da vítima e

insuflar, fazendo duas insuflações pausadas (tal como descrito anteriormente). Quando retirar a

boca, a vítima expira passivamente, podendo ser necessário abrir intermitentemente a boca da

vítima para permitir a expiração.

A técnica de ventilação boca-a-nariz pode ainda ser adequada para iniciar precocemente a

ventilação no salvamento de vítimas de submersão (afogamento). Neste caso, as mãos são

habitualmente necessárias para suportar a cabeça da vítima fora de água, podendo não ser

possível efectuar a ventilação boca-a-boca.

5.4.3. Boca-Estoma

Algumas pessoas, por motivo de doença ou de acidente, são operados à laringe, ficando com

ela total ou parcialmente removida ou mesmo obstruída. Neste caso, as pessoas passam a

respirar por um orifício que comunica directamente com a traqueia e que se situa na base do

pescoço, imediatamente acima do esterno (orifício de traqueostomia ou estoma).

O procedimento para ventilação boca-estoma é em tudo semelhante à ventilação boca-a-boca:

1. Inspire profundamente;

2. Coloque a sua boca à volta do orifício do estoma;

3. Sopre lentamente até ver o tórax expandir;

4. Retire a boca do estoma para permitir a saída de ar.

Nesta situação, não é necessário fazer a extensão da cabeça para permeabilizar a avia aérea,

uma vez que o orifício de traqueostomia se encontra localizado em comunicação directa com a

traqueia.

Pode sair ar pela boca e/ou nariz da vítima durante a ventilação boca-estoma, impedindo a

correcta ventilação o que pode ser evitado encerrando a boca e o nariz da vítima com uma das

mãos.

Page 123: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 101/262

Pode estar inserida no estoma uma cânula de traqueostomia (tubo de plástico rígido) que se

não estiver permeável (por ex: por acumulação de secreções) e não for possível a sua

desobstrução, deve ser retirada. Se a cânula estiver permeável, a ventilação pode ser

efectuada soprando na cânula.

6. SITUAÇÕES ESPECIAIS EM SUPORTE BÁSICO DE VIDA

Existem algumas situações especiais em que se justifica complementar as manobras gerais de

suporte básico de vida com atitudes adequadas à situação específica, podendo haver

necessidade de efectuar pequenas alterações.

6.1. Afogamento

O termo afogamento utiliza-se para designar a submersão num líquido, condicionando

sufocação. Quando ocorre paragem cardio-respiratória, existe primariamente uma paragem

respiratória causada pela impossibilidade de respirar submerso num fluído. Por estar muitas

vezes associado a hipotermia, algumas recomendações são comuns, sendo por vezes possível

a recuperação da vítima após período prolongado de paragem.

Ao retirar a vítima da água, é necessário garantir sempre primeiro a segurança do reanimador.

A vítima deve ser retirada da água na horizontal, considerando sempre a possibilidade de

traumatismo craniano e/ou da coluna cervical quando existir história de mergulho ou acidente

em desportos aquáticos. Nestas situações é necessário manter sempre o alinhamento da

cabeça – pescoço – tronco e, se for preciso, rodar a vítima em bloco. Devem adequar-se as

manobras de permeabilização da via aérea à situação de suspeita de trauma.

Iniciar SBV o mais precocemente possível, devendo o pedido de ajuda diferenciado ser feito

apenas após 1 minuto (3 ciclos de 30:2) de SBV. Deverá efectuar 5 insuflações antes de

iniciar o minuto de SBV.

Não devem ser efectuadas manobras de desobstrução da via aérea na tentativa de expulsar

água das vias aéreas inferiores, dado que só vão atrasar o início do SBV podendo mesmo

causar complicações. A maioria das vítimas de submersão não faz qualquer aspiração de

água.

Page 124: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

102/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

6.2. Electrocussão

As consequências de um choque eléctrico dependem de vários factores, nomeadamente, do

tipo de corrente, da sua intensidade e do tempo de contacto com a fonte de energia. As lesões

causadas pela corrente de alta tensão são habitualmente mais graves. No entanto, pode

ocorrer paragem cardio-respiratória em acidentes com a corrente doméstica, no momento da

aplicação do choque.

É fundamental garantir a segurança de quem socorre.

Desligar sempre a fonte de energia antes de abordar a vítima. No caso de corrente de alta

voltagem, há possibilidade de a mesma ser conduzida à distância por um fenómeno de “arco

voltaico”.

Iniciar SBV logo que possível considerando sempre a possibilidade de existência de

traumatismo da coluna cervical e adequando as manobras a essa situação.

6.3. Gravidez

A gravidez é uma situação especial pela existência simultânea de duas vítimas – a mãe e o

feto. As probabilidades de sobrevivência do feto dependem do sucesso da reanimação da mãe.

No último trimestre da gravidez, pelas dimensões que o útero atinge, o retorno de sangue ao

coração pode estar comprometido, pela compressão que o útero faz sobre a veia cava inferior.

Se não existir retorno de sangue ao coração, não é possível manter circulação.

A descompressão da veia cava inferior consegue-se colocando uma almofada (ou algo

equivalente) debaixo da anca direita da vítima, para que o útero seja deslocado para a

esquerda.

As manobras de SBV não sofrem qualquer outra alteração.

6.4. Hipotermia

A hipotermia define-se pela presença de uma temperatura central <35º C ocorrendo

habitualmente, quando a vítima fica exposta, durante um período prolongado de tempo, ao frio.

As vítimas que ingeriram álcool ou drogas ou as que ficam inconscientes são mais susceptíveis

à hipotermia.

Page 125: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 103/262

Sabe-se que a hipotermia confere algum grau de “protecção” aos órgãos nobres,

nomeadamente ao cérebro, pelo que é frequente a recuperação total (isto é sem sequelas

neurológicas) de vítimas que estiveram longos períodos de tempo em PCR (sobretudo as mais

jovens).

É fundamental aquecer a vítima. Para isso, devem ser retiradas as roupas frias ou molhadas,

cobrir a vítima e colocá-la em local abrigado. Se possível, aquecer o ambiente (ex: célula

sanitária da ambulância).

Caso não exista paragem respiratória é fundamental manter a permeabilidade da via aérea e

aquecer a vítima, não esquecendo que não devem ser efectuados movimentos bruscos, por

exemplo, na colocação em PLS ou no transporte da vítima, uma vez que podem desencadear

arritmias e levar à paragem cardio-respiratória.

6.5. Intoxicações

Só abordar a vítima se existirem condições de segurança para o reanimador, nomeadamente,

a não exposição ao tóxico e a existência de luvas e outras formas de protecção para o corpo.

Tentar saber com exactidão o que aconteceu, isto é, qual o tóxico em causa, qual a sua forma

de apresentação, há quanto tempo ocorreu a intoxicação e por que via (inalado, ingerido,

derramado, etc.). Procurar embalagens vazias, restos de medicamentos ou outros produtos,

cheiros característicos, seringas ou agulhas ou ainda, sinais de corrosão da pele ou da boca

por forma a esclarecer com exactidão o que aconteceu.

Se for necessário efectuar ventilação com ar expirado, a vítima só deve ser ventilada através

de máscara facial ou outro dispositivo com válvula unidireccional. Conectar fonte de oxigénio

sempre que disponível, em concentrações elevadas, EXCEPTO na suspeita de intoxicação

com paraquato (pesticida ex: Gramoxone) na qual NUNCA deve ser administrado oxigénio.

6.6. Outras Situações Especiais

Uma vítima de PCR não deve ser movida do local onde foi encontrada apenas por

conveniência do reanimador e as manobras de SBV não devem ser interrompidas até á

chegada de ajuda, a não ser que a vítima mostre sinais de recuperação.

Page 126: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

104/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Caso o local onde se encontra a vítima não seja seguro, como por exemplo, em caso de

incêndio, risco de agressão ou desmoronamento, esta deve ser removida para um local seguro

onde se possa iniciar de imediato o SBV.

Na situação em que não é possível deslocar ao local onde a vítima se encontra, uma equipa

que possa efectuar SAV, há necessidade de efectuar o transporte da vítima até uma unidade

hospitalar onde possa então ser instituído o SAV.

Nestas circunstâncias, poderá haver necessidade de transportar a vítima por locais onde não é

possível manter continuamente o SBV (por ex.: escadas). Recomenda-se nestes casos que

sejam efectuadas manobras de SBV nos patamares e que seja combinado um sinal, ao qual as

manobras são interrompidas e a vítima transportada para o patamar seguinte o mais

rapidamente possível, onde é reiniciado o SBV. As interrupções devem ser breves e, sempre

que possível, evitadas. Não deve ser interrompido o SBV no transporte para a ambulância nem

durante o transporte até ao hospital.

Em resumo:

A regra geral de abordagem das situações especiais é a mesma de todas as situações que requerem suporte básico de vida.

Conhecer as pequenas modificações necessárias em função de cada situação, optimiza o suporte básico de vida.

A maioria das vítimas de PCR por situações especiais é jovem, o que lhes confere melhor probabilidade de recuperação.

7. REANIMAÇÃO PEDIÁTRICA

A criança tem características anatómicas e fisiológicas particulares pelo que é necessário

adaptar os procedimentos de SBV a essas características.

No essencial, os princípios gerais são os mesmos do adulto. Existem no entanto algumas

diferenças que devem ser tidas em consideração.

Todas as estruturas anatómicas são mais frágeis pelo que todas as manobras têm que ser

feitas com uma maior suavidade para não causar traumatismos à criança.

Page 127: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 105/262

A criança está particularmente sujeita a situações de obstrução da via aérea dado que é de

menores dimensões e colapsa com facilidade. Também a língua, de dimensões relativas

maiores, mais facilmente causa obstrução da via aérea.

A frequência cardíaca nas crianças é mais elevada que nos adultos e a manutenção de uma

circulação adequada está muito dependente da frequência cardíaca, isto é, só pelo facto de

apresentar uma frequência cardíaca baixa, a criança pode apresentar sinais de insuficiência

circulatória.

Como veremos mais adiante, face a uma frequência cardíaca baixa e sinais de má perfusão

periférica é necessário tratar como se de ausência de sinais de circulação se tratasse.

A criança está também predisposta a desenvolver com maior facilidade processos de

hipotermia quando exposta pelo que o controlo da sua temperatura deverá ser um aspecto a

ter em atenção, evitando exposições prolongadas e tentando manter o ambiente onde se

encontra, aquecido.

7.1. Cadeia de Sobrevivência Pediátrica

A cadeia de sobrevivência pediátrica corresponde a um conjunto de acções que se considera,

melhorarem o prognóstico das crianças em situação de emergência. Os componentes desta

cadeia diferem dos descritos para o adulto, por factores que se prendem com a epidemiologia

(causas) da PCR na criança.

Ao contrário do que acontece com o adulto, em Pediatria, a PCR não é, habitualmente, um

acontecimento súbito. Os problemas mais frequentes são os relacionados com a via aérea e

ventilação. Na criança, são raros os acidentes cardíacos primários pelo que é fundamental e

prioritário permeabilizar a via aérea e restabelecer a respiração. Nas crianças com patologia

cardíaca congénita, a PCR pode ser de causa primária cardíaca.

Tipicamente, a PCR na criança é o resultado final de um processo de deterioração progressiva

da função respiratória e, posteriormente, circulatória. Inicialmente, a insuficiência respiratória

corresponde a um estado de compensação mas com o agravamento da hipóxia, rapidamente

se deteriora ocorrendo paragem respiratória, seguida de paragem cardíaca.

Na criança com menos de 1 ano, a principal causa de PCR é, primariamente, respiratória

(infecções, obstrução da via aérea, pré-afogamento). No entanto, após o 1.º ano de vida, a

causa de PCR está frequentemente relacionada com trauma.

Page 128: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

106/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

As situações em que a criança está mais vezes em risco acontecem em casa ou próximo dela,

habitualmente com alguém conhecido por perto.

Pelo exposto, compreende-se que a “Prevenção” tem particular importância uma vez que, se a

situação de insuficiência respiratória for detectada precocemente e tratada de forma adequada,

pode ser evitada a PCR.

O início de SBV, o mais rápido possível, é fundamental. Na criança, a instituição precoce de

SBV eficaz, está associada a recuperação de sinais de circulação e ventilação com

recuperação total, sem défices neurológicos.

A activação do sistema de emergência médica deve ser feita apenas após ter efectuado cerca

de um minuto de SBV, excepto no caso específico (e pouco frequente) de crianças com doença

cardíaca conhecida ou história de arritmias, em que deve ligar 112 antes de iniciar o SBV.

Os 4 elos que compõem a Cadeia de Sobrevivência Pediátrica são:

1. A Prevenção da Paragem Cardio-Respiratória;

2. O Suporte Básico de Vida;

3. A Activação do Sistema de Emergência Médica – 112;

4. O Suporte Avançado de Vida.

Capítulo 4. Figura 66 - Cadeia de sobrevivência pediátrica

7.2. Suporte Básico de Vida em Pediatria

O conceito de Suporte Básico de Vida Pediátrico pressupõe um conjunto de procedimentos

encadeados com o objectivo de fornecer oxigénio ao cérebro e coração, sem recurso a

equipamentos diferenciados, até que o suporte avançado de vida possa ser instituído.

Page 129: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 107/262

Do ponto de vista do SBV pediátrico definem-se 3 grupos etários:

O neonato - recém-nascido nas primeiras horas de vida;

O lactente - até ao ano de idade;

A criança - de um ano até à puberdade.

Geralmente, o termo recém-nascido aplica-se a crianças nos primeiros 28 dias de vida. No

entanto, o SBV em recém-nascidos nas primeiras horas de vida tem algumas particularidades

que devem ser do conhecimento de todos os que podem estar envolvidos no seu cuidado,

desde o momento do parto.

Este campo particular do SBV pediátrico deve, portanto, ser do conhecimento dos profissionais

de saúde.

Após as primeiras horas de vida, as diferenças de procedimentos devem ser baseadas no

tamanho da criança, mais do que na idade.

A diferença entre uma criança de 10 meses e de 18 meses é pequena. É possível que uma

criança de 20 meses ou mesmo 2 anos tenho um tamanho mais apropriado à aplicação das

manobras de SBV recomendadas para o lactente.

7.2.1. Etapas e Procedimentos

A sequência de procedimentos, é a mesma que foi descrita para os adultos, isto é, após a

avaliação inicial segue as etapas “ABC”:

A - Via Aérea.

B - Ventilação.

C - Circulação.

Como em qualquer outra situação, deve começar por avaliar as condições de segurança

antes de abordar a criança.

Uma vez garantidas as condições de segurança, avalie se a criança responde. Tratando-se

de uma criança pequena não a deve abanar, estimule-a mexendo nas mão e / ou nos pés ao

mesmo tempo que chama em voz alta.

Page 130: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

108/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Se a criança responder, se mexer ou cumprir instruções que lhe são dadas, como abrir os

olhos ou apertar a mão, deixá-la na posição em que está ou na que ela pretender adoptar e ir

pedir ajuda se necessário, reavaliando-a frequentemente.

Capítulo 4. Figura 67 - Avaliação da resposta.

Se a criança não responder, ou informa o reanimador 2 e prossegue a avaliação ou, se

estiver sozinho, pede ajuda gritando em voz alta “Preciso de ajuda tenho aqui uma criança

desmaiada!”.

Capítulo 4. Figura 68 - Grito de ajuda.

Não abandone a vítima e prossiga a avaliação.

Abra a boca da criança e procure ver se existem corpos estranhos - retire-os apenas se forem

visíveis.

AJUDA! Tenho aqui uma

criança desmaiada!

Bebé… Bebé…

Estás bem? Sentes-te bem?

Page 131: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 109/262

Capítulo 4. Figura 69 - Pesquisa de corpos estranhos.

Permeabilize a via aérea, efectuando a manobra de extensão da cabeça e elevação da

mandíbula, se não existir suspeita de trauma. Caso contrário, faça apenas a sub-luxação da

mandíbula.

Nos lactentes e nas crianças pequenas, a sub-luxação da mandíbula é facilmente conseguida

colocando apenas 1 ou 2 dedos no ângulo da mandíbula e empurrando-a para a frente.

Capítulo 4. Figura 70 - Permeabilização da via aérea com extensão da cabeça e elevação da mandíbula.

No lactente em decúbito dorsal, a cabeça fica habitualmente flectida em relação ao pescoço.

Deve ser efectuada uma ligeira extensão da cabeça de forma a obter uma “posição neutra”,

isto é, a face do lactente fica paralela ao plano onde está deitado. Deve ter muito cuidado para

não pressionar os tecidos moles abaixo do queixo pois pode causar obstrução da via aérea.

Capítulo 4. Figura 71 - “posição neutra”na extensão da cabeça no lactente.

Page 132: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

110/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Mantendo a via aérea aberta, pesquise a existência de respiração normal, efectuando o VOS

durante 10 segundos: Vendo, Ouvindo e Sentindo (tal como descrito para a vítima adulta).

Capítulo 4. Figura 72 - Pesquisa de respiração normal (VOS).

Se a criança respira normalmente e não há evidência de trauma, coloque-a em posição de

recuperação, peça ajuda e reavalie periodicamente se mantém ventilação adequada.

A posição de recuperação usada nas crianças obedece aos mesmos princípios da PLS do

adulto e pode ser usada a mesma técnica. Nos lactentes, sugere-se a colocação em decúbito

lateral, usando uma almofada ou um lençol dobrado, colocado por trás a nível das costas, para

manter a posição estável.

Capítulo 4. Figura 73 - Posição de recuperação.

Se a vítima não respira normalmente, mantenha a permeabilidade da via aérea e inicie a

ventilação com ar expirado, efectuando 5 ventilações.

Cada insuflação de ar deve ser lenta e feita durante 1 - 1,5 seg., com um volume de ar

suficiente para causar uma expansão torácica visível e após cada insuflação, deve afastar a

boca e manter a via aérea permeável para permitir a expiração e repetir o procedimento,

voltando a encher o peito de ar antes de cada insuflação para melhorar o conteúdo de oxigénio

no ar expirado que irá insuflar.

Page 133: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 111/262

Na criança (do 1.º ano até aos sinais de puberdade), deve utilizar a técnica de ventilação boca-

máscara tal como descrito anteriormente para o adulto.

Capítulo 4. Figura 74 - Ventilação boca-máscara na criança.

No lactente, a técnica alternativa é a ventilação boca-a-boca e nariz:

1. Mantenha a permeabilidade da via aérea, assegurando que a cabeça está em posição

neutra;

2. Encha o peito de ar e adapte a sua boca à volta da boca e do nariz do lactente;

3. Soprar para o interior da boca e nariz, lentamente durante 1 a 1,5 seg., de forma a

causar uma expansão torácica adequada, isto é, tal como numa respiração normal.

Capítulo 4. Figura 75 - Ventilação boca-a-boca e nariz no lactente.

Nas situações em que não consegue efectuar uma boa adaptação da boca à volta da boca e

nariz é igualmente adequado efectuar ventilação boca-a-boca ou boca-a-nariz e mais uma vez

se recorda que não é a idade que marca o limite mas, efectivamente, o tamanho da vítima.

Embora as máscaras de bolso com válvula unidireccional sejam de tamanho único é

igualmente possível, efectuar ventilação boca-máscara na criança ou mesmo no lactente.

Page 134: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

112/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Nestes casos, a adaptação da máscara à face da criança é feita em posição invertida em

relação ao anteriormente descrito, isto é, colocando o vértice da máscara virado para o queixo.

Capítulo 4. Figura 76 - Ventilação com máscara de bolso.

Se tiver dificuldade em conseguir ventilações eficazes deve:

1. Reabrir a boca da vítima e procurar objectos visíveis e neste caso removê-los;

2. Reposicionar a cabeça de forma a permeabilizar adequadamente a via aérea, tentando

outro método (exemplo: sub-luxação da mandíbula);

3. Tentar ventilar de novo, fazendo-o somente até cinco tentativas;

4. Se apesar de tudo não conseguir, passar às compressões torácicas.

A pesquisa de corpos estranhos na cavidade oral através da exploração digital “às cegas” não deve ser feita.

A introdução do indicador apenas deve ser feita para remover um corpo estranho visível, sempre com o máximo cuidado para não empurrar o objecto.

Após 5 insuflações, passe à avaliação de sinais de circulação. Procure os seguintes sinais

durante não mais de 10 segundos:

Presença de ventilação normal, efectuando o VOS;

Movimentos;

Tosse;

Existência de pulso.

Na criança, deve palpar o pulso carotídeo e no lactente o pulso braquial, na parte interna do

braço.

Page 135: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 113/262

Capítulo 4. Figura 77 - Pesquisa de sinais de circulação.

Se a vítima apresenta sinais de circulação mas não ventila, continue a ventilação com ar

expirado, a uma frequência de 20 insuflações / minuto (insufle durante 1 segundo, espere 2

segundos e volte a insuflar).

Reavalie a presença de sinais de circulação ao fim de 1 minuto:

Se mantiver sinais de circulação e ventilar, coloque-a em posição de recuperação;

Se não ventilar e estiver sozinho, deve ir pedir ajuda, levando se possível a criança

consigo, por forma a manter o SBV.

Na ausência de sinais de circulação ou se não tem a certeza de haver algum sinal de

circulação, deve iniciar compressões torácicas.

Se detectar pulso palpável, deve contar a frequência cardíaca; se esta for < 60 / minuto e existirem sinais de má perfusão periférica deve igualmente iniciar compressões torácicas, tal como na ausência de sinais de circulação

As compressões torácicas, tanto nos lactentes como nas crianças, devem ser efectuadas

sobre a metade inferior do esterno, um dedo acima do apêndice xifóide que, percorrendo

uma das grelhas costais inferiores, se localiza onde as duas se encontram.

As compressões devem ser realizadas de forma a causar uma depressão de aproximadamente

um terço da altura do tórax, a uma frequência de 100 por minuto.

É diferente a forma de realizar correctamente as compressões torácicas nas crianças e

nos lactentes.

Page 136: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

114/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Técnica para executar compressões torácicas nas crianças:

1. Ajoelhar junto da criança;

2. Palpar o bordo inferior da grelha costal e localizar o apêndice xifóide;

3. Colocar o bordo de uma mão ,um dedo acima do apêndice xifóide;

4. Levantar os dedos de forma a não comprimir as costelas;

5. Mantendo o braço esticado, sem flectir o cotovelo, posicionar-se de forma que o ombro

fique perpendicular ao ponto de apoio da mão;

6. Pressionar o tórax cerca de um terço da sua altura;

7. Aliviar a pressão sem retirar a mão do esterno;

8. Repetir o procedimento 15 vezes a uma frequência de, pelo menos, 100 / min.;

9. Permeabilizar a via aérea e efectuar duas ventilações;

10. Manter compressões / ventilações na relação de 15:2.

Não deve ser apenas a idade da criança a determinar a técnica a aplicar. Nas crianças

maiores poderá ser necessário usar o mesmo método do adulto, ou seja, sobrepor a outra

mão à que se encontra um dedo acima do apêndice xifóide, entrelaçar os dedos e levantá-los

de forma a não exercer pressão sobre o hemitórax oposto, mantendo os braços esticados e

sem flectir os cotovelos, pressionando verticalmente sobre o esterno. Neste caso, é usada

também a relação compressões / ventilações 15:2.

Capítulo 4. Figura 78 - Compressões torácicas no lactente.

Page 137: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 115/262

Capítulo 4. Figura 79 - Compressões torácicas na criança.

Capítulo 4. Figura 80 - Ventilação na criança.

Técnica para executar compressões torácicas nos lactentes - 2 dedos:

1. Manter a permeabilidade da via aérea, mantendo a cabeça em posição neutra, com

uma mão na cabeça do lactente;

2. Colocar a ponta de dois dedos sobre o terço inferior do esterno do lactente, um dedo

acima do apêndice xifóide;

3. Comprimir o tórax na vertical, com a ponta dos dedos, de forma a causar uma

depressão de cerca de 1/3 da sua altura;

4. Aliviar a pressão de forma a permitir ao tórax retomar a sua forma e voltar a comprimir

de forma a conseguir uma frequência de pelo menos 100 / min.;

5. Fazer 15 compressões seguidas de 2 insuflação e assim sucessivamente (15:2);

6. Para evitar perdas de tempo desnecessárias, os dedos devem permanecer sobre o

tórax, sem exercer pressão enquanto se fazem as ventilações;

Page 138: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

116/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Capítulo 4. Figura 81 - Ventilações sem perder a referência do ponto das compressões torácicas. No caso de estarem presentes dois reanimadores profissionais de saúde e se a estrutura física

da criança o permitir, deve ser usada preferencialmente a técnica de compressão com os 2

polegares. Neste caso, um dos reanimadores efectua compressões e o outro as ventilações da

seguinte forma:

1. O reanimador que efectua as compressões deve estar colocado aos pés do lactente;

2. Colocar os dois polegares, lado a lado no meio do esterno, com a ponta apontando para

a cabeça, no local já anteriormente referido para as compressões e segurar o lactente

envolvendo o tórax com ambas as mãos;

3. Se o lactente é muito pequeno, poderá ser necessário sobrepor os dois polegares de

forma a não comprimir sobre as costelas;

4. Pressionar o tórax causando uma depressão de cerca de um terço da sua altura;

5. Aliviar a pressão de forma a permitir ao tórax retomar a sua posição inicial e voltar a

comprimir a uma frequência de pelo menos 100 / min.;

6. O reanimador que efectua as ventilações deve estar colocado acima da cabeça do

lactente e efectuar as ventilações, fazendo duas insuflação após cada série de 15

compressões, utilizando sempre que possível o suplemento de oxigénio.

Capítulo 4. Figura 82 - Ventilações e compressões torácicas com dois reanimadores.

Page 139: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 117/262

Caso estejam presentes dois reanimadores, um inicia o SBV enquanto o outro vai ligar ao 112,

logo que seja detectada a paragem respiratória.

Caso esteja presente apenas um reanimador, devem ser mantidas as manobras de SBV

durante 1 minuto (5 ciclos de 15/2 ou 3 ciclos 30/2 se for o caso) altura em que, se ainda

estiver sozinho, deverá ir pedir ajuda ligando o 112.

Antes de ir pedir ajuda, deve reavaliar a existência de sinais de circulação e actuar de acordo

com aquilo que observar (por exemplo, colocar a criança em posição de recuperação se esta

recuperou ventilação).

No caso dos lactentes, ou sempre que a criança seja suficientemente pequena para ser

transportada ao colo, deve levá-la consigo para manter as manobras de SBV durante esse

período de tempo.

Após o pedido de ajuda, apenas deverá reavaliar o latente ou a criança se, quando a deixou

para pedir ajuda, ela apresentava sinais que entretanto se pudessem ter deteriorado, como a

existência de ventilação e / ou circulação.

A única excepção a realizar 1 minuto de SBV antes de pedir ajuda é o caso duma criança que

colapsa subitamente perante o reanimador e este se encontra sozinho com a vítima.

Neste caso a causa provável da paragem cardíaca é uma arritmia e a criança pode necessitar

de desfibrilhação.

Após o pedido de ajuda, deve regressar para junto da criança e continuar as manobras de

SBV até que:

A vítima apresente sinais de vida (movimentos ou respiração);

Chegue ajuda diferenciada;

Fique exausto e incapaz de continuar o SBV.

Page 140: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

118/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Capítulo 4. Esquema 4 - Algoritmo de SBV Pediátrico

Page 141: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 119/262

7.3. Suporte Básico de Vida em Neonatologia

A reanimação dos neonatos, isto é, dos recém-nascidos no período imediatamente após o

parto e nas primeiras horas de vida, tem algumas particularidades e diferenças relativamente

ao algoritmo base de SBV pediátrico.

Estima-se que cerca de 8 a 10 em cada 1000 recém-nascidos poderá necessitar de

reanimação. Sabe-se que em algumas situações (ex: apresentações complexas), o risco de

necessidade de reanimação é frequente, no entanto, qualquer recém-nascido pode, de forma

inesperada, necessitar de reanimação. É fundamental que todos os profissionais que possam

vir a estar envolvidos na prestação de cuidados durante o parto, tenham treino adequado em

reanimação neonatal.

Logo após o parto, a grande prioridade é o estabelecimento de ventilação adequada.

O coração do neonato continua a bater por longos períodos de tempo (20 minutos ou mais),

mesmo com uma deficiente oxigenação. Normalmente, mesmo quando já ocorreu alguma

deterioração da função cardíaca existe uma boa resposta à ventilação e oxigenação, não

sendo, habitualmente, necessário efectuar compressões torácicas.

Manter o neonato aquecido é outro aspecto fundamental. Para tal, é necessário secá-lo dado

que com a pele húmida o neonato perde rapidamente calor.

Sequência de acções

1. Manter o Neonato quente:

Cuidar do aquecimento do ambiente onde irá decorrer o parto e do material

necessário à secagem e cobertura seca do neonato;

Após o parto consumado, manter o recém-nascido à altura do útero materno até o

cordão estar devidamente clampado;

Secar imediatamente o neonato e mantê-lo aquecido, coberto com toalhas ou

lençóis secos, apenas com a face descoberta. A secagem do neonato funciona

como uma significativa estimulação e permite tempo para avaliar a coloração, tónus,

respiração e frequência cardíaca;

Avaliar rapidamente coloração da pele, tónus (*), respiração e frequência cardíaca.

Page 142: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

120/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

(*) Tónus: tensão muscular que existe mesmo em repouso. No neonato normal, existe uma

postura em flexão, um certo grau de tensão muscular que se traduz por uma leve resistência à

mobilização dos seus membros, mesmo quando este está em repouso.

A avaliação da frequência cardíaca é melhor aferida através da audição com um estetoscópio.

Poderá também ser avaliada pela palpação do cordão umbilical, embora uma frequência baixa

no cordão nem sempre indique uma verdadeira frequência cardíaca baixa e a avaliação de

pulso periférico não é valorizável. Esta avaliação deve ser repetida regularmente,

particularmente a frequência cardíaca, todos os 30 segundos durante um processo de

reanimação.

Um neonato saudável nascerá com uma coloração azulada mas terá um bom tónus, chorará

alguns segundos após o parto, terá uma boa frequência cardíaca (a frequência cardíaca é de

cerca de 120-150 batimentos por minuto) e rapidamente ficará rosado. Um neonato menos

saudável, nascerá com uma coloração azulada, terá um pior tónus muscular, poderá ter uma

frequência cardíaca mais baixa (menos de 100 batimentos por minuto) e poderá não iniciar

ventilação adequada nos primeiros dois minutos. Um neonato doente nascerá pálido e flácido,

não respirando e com uma frequência cardíaca baixa ou muito baixa.

O primeiro sinal de melhoria no neonato é o aumento da frequência cardíaca.

Um recém-nascido que está rosado, apresenta bom tónus (não está flácido), respira

regularmente, 30 a 60 segundos após o parto, e tem uma frequência cardíaca superior a 100

por minuto, não necessita de mais que cuidados de rotina.

Um recém-nascido que está hipotónico (flácido), bradicárdico, cianosado ou pálido ou

que não respira adequadamente, necessita de reanimação imediata.

Se necessário, peça ajuda imediatamente.

2. Via Aérea

Antes do neonato poder ventilar eficazmente, a via aérea deve ser permeabilizada:

A melhor forma de permeabilizar a via aérea é colocar o neonato em decúbito dorsal

com a cabeça em posição neutra. A maior parte dos neonatos terá um occipital

relativamente proeminente, o qual tende a provocar uma flexão do pescoço se deitado

numa superfície plana. Isto pode ser evitado colocando algum suporte debaixo dos

ombros, tendo a preocupação de não provocar a hiperextensão do pescoço.

Page 143: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 121/262

Se o neonato estiver muito flácido também poderá ser necessária a elevação do queixo

ou protusão da mandíbula.

3. Ventilação

Se o neonato não estiver a respirar adequadamente passados 90 segundos do

nascimento, efectuar 5 insuflações. Até este momento, os pulmões do neonato

estiveram cheios de líquido. A entrada de ar nos pulmões nestas circunstâncias

poderá requerer pressões positivas, de cerca de 30cm de água, aplicada em cada

uma das 5 insuflações durante não mais de 2-3 segundos.

Se a frequência estivesse abaixo dos 100 batimentos por minuto inicialmente, então

ela deverá subir rapidamente conforme o sangue oxigenado chega ao coração. Se a

frequência cardíaca aumentar, poderemos assumir que os pulmões foram

adequadamente insuflados. Se a frequência cardíaca aumentar mas o neonato não

iniciar ventilação espontânea, deve-se continuar uma ventilação suave com uma

frequência de 30-40 por minuto, até que inicie ventilação espontânea.

Se a frequência cardíaca não aumentar após a ventilação artificial, então os

pulmões não estão a ser insuflados correctamente ou o neonato necessita de mais

do que estas intervenções. O mais provável de ter acontecido é uma falha na

eficácia da insuflação dos pulmões.

É importante saber:

1. A cabeça do neonato está em posição neutra?

2. É necessária protusão da mandíbula?

3. É necessário um maior tempo de insuflação?

4. É necessário o apoio duma segunda pessoa na permeabilização da via

aérea?

5. Existe alguma obstrução na orofaringe?

6. Deverá ser utilizado um tubo orofaríngeo?

Confirme que a cabeça está em posição neutra, que a pressão e o tempo de insuflação

são os correctos e que o tórax expande a cada insuflação. Se mesmo assim o tórax não

expandir, peça ajuda na permeabilização da via aérea e considere a obstrução da

orofarínge.

Se a frequência cardíaca se mantiver lenta (menos de 60 min.) ou ausente após as 5

insuflações iniciais, independentemente de uma boa expansão torácica, inicie

compressões torácicas.

Page 144: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

122/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

4. Compressões Torácicas

Quase todos os neonatos a necessitar de ajuda ao nascimento responderão à insuflação

pulmonar eficaz com um aumento da frequência cardíaca seguida rapidamente por ventilação

normal. Porém, alguns casos muito raros poderão necessitar de compressões torácicas.

As compressões torácicas apenas deverão ser iniciadas quando houver a garantia de

eficaz ventilação.

Nos neonatos, a forma mais eficaz de efectuar compressões torácicas é abranger o

tórax com ambas as mãos, de forma que os 2 polegares possam efectuar pressão no

terço inferior do esterno, imediatamente abaixo de uma linha imaginária intermamilar.

O tórax deve ser comprimido de forma rápida e firme, deprimindo o tórax cerca de um

terço do seu diâmetro antero-posterior.

A relação compressões/insuflações no neonato é de 3:1.

As compressões torácicas deslocam o sangue oxigenado dos pulmões para o coração.

Permita tempo suficiente durante a fase de descompressão para que o coração se

reencha de sangue. Assegure-se que o tórax expande a cada ventilação.

Page 145: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 123/262

ALGORITMO DE SUPORTE BÁSICO DE VIDA EM NEONATOLOGIA

Capítulo 4. Esquema 5 - Algoritmo de SBV em Neonatologia

Apneia ou FC <100 min.

FC <60 min.

FC <60 min.

Avaliar respiração, frequência

cardíaca, coloração e tónus

Ventilar com pressão positiva

Assegurar insuflação pulmonar eficaz

e depois iniciar compressões

torácicas

Assegurar SAV

NASCIMENTO

Gestação de termo?

Ausência de líquido amniótico?

Respira ou chora?

Bom tónus muscular?

Cuidados de rotina

Aquecer

Secar

Permeabilizar a via aérea

Avaliar coloração

Aquecer

Permeabilizar a via aérea

Secar, estimular

Page 146: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

124/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

7.4. Obstrução da Via Aérea na Idade Pediátrica

Ao contrário do que acontece no adulto, a obstrução da via aérea nas crianças é uma

situação mais frequente.

A maioria das situações de obstrução da via aérea nas crianças ocorre durante a alimentação

ou quando as crianças estão a brincar com objectos de pequenas dimensões. Muitas vezes

são situações presenciadas pelo que o socorro pode ser iniciado de imediato, ainda com a

vítima consciente.

Na criança, a obstrução da via aérea por corpo estranho manifesta-se por dificuldade

respiratória de início súbito, com tosse e estridor. Estes mesmos sinais também podem surgir

na obstrução da via aérea por infecção ou inflamação como na epiglotite mas o seu início é

habitualmente menos abrupto e acompanhado por febre. Nestas situações não está indicado

proceder a manobras de desobstrução da via aérea.

Deve-se suspeitar de obstrução da via aérea:

Se a alteração do estado da criança for muito súbita;

Se não existirem outros sinais de doença;

Se existir história de a criança ter comido ou brincado com objectos de pequenas

dimensões imediatamente antes do início dos sintomas.

Se a obstrução é parcial a criança tosse, consegue falar ou chorar, faz algum ruído a respirar

e pode estar agitada. Neste caso, desde que a criança consiga tossir não deve interferir,

encorajando-a apenas a continuar a tossir.

Quando a obstrução é total a criança não consegue tossir, falar ou chorar e não se ouve

qualquer ruído respiratório. Pode inicialmente manter-se reactiva ou ficar inconsciente.

Na obstrução total da via aérea é necessário actuar rapidamente, caso contrário, em poucos

minutos a PCR será inevitável.

Várias técnicas e várias sequências de actuação têm sido defendidas em relação à

desobstrução da via aérea nas crianças, sendo difícil provar o benefício indiscutível de umas

sobre as outras.

Nos lactentes podem ser utilizadas pancadas interescapulares e compressões

torácicas.

Page 147: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 125/262

Nas crianças com mais de 1 ano são usadas pancadas interescapulares e compressões

abdominais.

As compressões abdominais estão contra-indicadas nos lactentes com menos de 1 ano pelo perigo de causarem lesões nos órgãos intra-abdominais.

O objectivo de qualquer das manobras recomendadas é provocar um aumento súbito da

pressão intratorácica que funcione como uma “tosse artificial” e desobstrua a via aérea.

7.4.1 Sequência de Actuação para Desobstrução da Via Aérea no Lactente

Consciente:

1. Segure o lactente em decúbito ventral com a cabeça mais baixa que o resto do

corpo, suportando a cabeça com uma mão e apoiando o tórax no antebraço e / ou

na coxa (neste último caso deverá estar sentado);

2. Aplique pancadas interescapulares (nas costas, entre as duas omoplatas) com o

bordo da mão, usando uma força adequada ao tamanho da criança para tentar

remover o corpo estranho. Se necessário, aplicar até um total de 5 pancadas

interescapulares;

Capítulo 4. Figura 83 - Pancadas interescapulares no lactente.

3. Se não conseguir deslocar o objecto e remover o corpo estranho, passe à

aplicação de compressões torácicas;

4. Com uma mão, segure a cabeça do lactente na região occipital e rode-o em bloco,

para que este fique em decúbito dorsal sobre o outro antebraço. Mantenha a

cabeça a um nível inferior ao do resto do corpo;

Page 148: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

126/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

Capítulo 4. Figura 84 - Compressões torácicas no lactente.

5. Faça compressões torácicas tal como explicado na técnica de compressões

torácicas com 2 dedos mas mais lentas (frequência aproximada de 20 / minuto) e

abruptas com o objectivo de deslocar o corpo estranho;

6. Faça até 5 compressões, se necessário, para tentar desobstruir a via aérea;

7. Após as 5 compressões torácicas inspeccione a cavidade oral, removendo algum

objecto apenas se for visível;

8. Repita sequências de 5 pancadas interescapulares / 5 compressões torácicas até

a obstrução ser resolvida ou o lactente ficar inconsciente.

7.4.2. Sequência de Actuação para Desobstrução da Via Aérea na Criança

Consciente

1. Se a criança consegue respirar e tossir deve apenas encorajá-la a tossir;

2. Se a tosse for ineficaz ou a criança desenvolver dificuldade respiratória marcada é

necessário actuar rapidamente. Grite imediatamente por ajuda e avalie o estado de

consciência da criança;

3. Aplique pancadas interescapulares, até um total de 5 (se necessário);

4. Se a obstrução persiste, efectue compressões abdominais – manobra de Heimlich,

até 5 tentativas;

Page 149: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Suporte Básico de Vida 127/262

Capítulo 4. Figura 85 - Pancadas inter-escapulares e compressões abdominais na criança.

5. Verifique se houve saída do corpo estranho;

6. Repita a sequência anteriormente descrita até resolução da obstrução ou até a

criança ficar inconsciente.

No latente ou na criança, enquanto não ocorrer a resolução e se mantiver consciente, a

sequência deve ser mantida sem que se abandone a vítima. No entanto deve-se tentar gritar

por ajuda, ou enviar alguém para pedir ajuda se ainda não foi feito.

No latente ou na criança, se a obstrução for resolvida, com a expulsão do corpo estranho,

deve ser feita uma avaliação do estado da vítima. É possível que parte do corpo estranho que

causou a obstrução ainda permaneça no tracto respiratório. Se existir qualquer dúvida, deve

ser procurada ajuda médica.

A aplicação em crianças da manobra de Heimlich requer que o reanimador se coloque de

joelhos atrás da vítima em vez de permanecer de pé ou que coloque a criança em cima de um

objecto (ex.: uma caixa ou uma cadeira) e a força a aplicar tem de ser adequada ao seu

tamanho.

As compressões abdominais poderão, eventualmente, causar lesões internas. Assim, quando

tiverem sido efectuadas, as crianças tratadas devem ser examinadas por um médico.

Page 150: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

128/262 Suporte Básico de Vida TAT.01.10

7.4.3 Sequência de Actuação para Desobstrução da Via Aérea no Lactente ou na Criança

Inconsciente

Coloque o latente ou a criança sobre uma superfície plana e dura.

1. Grite por ajuda e, se possível, envie alguém para pedir ajuda;

2. Não abandone a vítima neste momento;

3. Verifique a existência de algum corpo estranho na boca e se for visível remova-o;

4. Não tente efectuar a manobra digital para retirar o corpo estranho se este não

estiver visível, nem repita este procedimento continuamente;

5. Tente efectuar 5 ventilações verificando a eficácia de cada ventilação; se a

ventilação não promover a expansão torácica, reposicione a cabeça antes de nova

tentativa;

6. Inicie SBV (compressões torácicas);

7. Ao fim de 1 minuto (5 ciclos de 15:2 ou 3 ciclos de 30:2), se ainda estiver sozinho

deve activar o sistema de emergência médica;

8. Pesquise a cavidade oral antes de tentar efectuar as insuflações;

9. Se for observado um corpo estranho, deve tentar removê-lo através da manobra

digital.

No latente ou na criança, sempre que parecer que a obstrução foi resolvida, deve ser

permeabilizada a via aérea como anteriormente referenciado e avaliar a ventilação.

Se continuar sem respirar normalmente, fazer novamente 5 ventilações e reiniciar o algoritmo

de SBV.

Se a criança recuperar consciência e a sua respiração se tornar eficaz, deverá ser colocada na

posição de recuperação, monitorizando continuamente o nível de consciência e a respiração

até à chegada da ajuda diferenciada.

Page 151: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Oxigenoterapia 129/262

CAPÍTULO 5 - OXIGENOTERAPIA

OBJECTIVOS

No final desta unidade modular, os formandos deverão ser capazes de:

1. Descrever as indicações de oxigenoterapia;

2. Descrever as precauções a ter no manuseamento e na administração de oxigénio;

3. Calcular a capacidade das garrafas de oxigénio

Page 152: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

130/262 Oxigenoterapia TAT.01.10

1. INTRODUÇÃO

O oxigénio é vital para a vida. Todas as células do corpo humano necessitam,

ininterruptamente, deste gás para efectuar os seus processos metabólicos de forma adequada.

Nenhuma célula consegue sobreviver muito tempo sem oxigénio. Neste aspecto, as células do

cérebro e do coração são particularmente sensíveis à sua falta e, uma vez mortas, não são

substituídas, tornando-se a sua perda irreversível.

O ar ambiente é composto por vários gases, com o oxigénio a existir numa percentagem de

apenas cerca de 21 % (esta percentagem verifica-se ao nível do mar e diminui com a altitude).

Após cada inspiração, dos 21 % de O2 do ar ambiente que atinge os alvéolos pulmonares, só

parte passará para a corrente sanguínea, em função das necessidades do organismo

existentes na altura. No entanto, existem situações em que o indivíduo não consegue inspirar a

quantidade necessária e suficiente de oxigénio, colocando em risco a sua própria vida.

É fundamental que o tripulante saiba reconhecer as situações em que está indicada a

administração de O2 e efectuá-la de forma correcta. Assim, a oxigenoterapia é, como o próprio

nome indica, uma terapêutica efectuada com oxigénio. Como qualquer tratamento, requer

cuidados específicos.

2. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS NA ADMINISTRAÇÃO DE OXIGÉNIO

Perante os objectivos atrás descritos e antes de administrar oxigénio, o tripulante terá que ter

em conta vários aspectos importantes:

Quando deve administrar oxigénio à vítima?

Como administrar oxigénio?

Que quantidade de oxigénio administrar (débito)?

Que cuidados a ter com a vítima durante a administração de oxigénio?

Que cuidados a ter com o material durante a administração de oxigénio?

Qual a quantidade (volume) de oxigénio que se encontra na garrafa e mediante

determinado débito, para quanto tempo dispõe de oxigénio?

Page 153: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Oxigenoterapia 131/262

2.1. Quando Administrar Oxigénio?

A administração de oxigénio está indicada nas seguintes situações:

Alterações do estado de consciência. Quando o cérebro não é oxigenado

correctamente, vão surgir alterações do estado de consciência, podendo a vítima

apresentar-se confusa, desorientada ou mesmo inconsciente;

Alterações da ventilação. Ventilação rápida e superficial ou difícil. Uma ventilação

deste tipo não permite que as trocas gasosas se processem de forma eficaz;

Alterações do pulso. O coração efectua o ‘bombeamento’ contínuo do sangue para

todas as partes do corpo. No entanto, se o coração apresentar alguma alteração, o

sangue pode não chegar aos vários órgãos em quantidade suficiente para garantir

um fornecimento de oxigénio adequado;

Quando do aparecimento de cianose. Este sinal traduz a existência de um défice de

oxigénio no sangue;

Dor torácica. A dor pode aparecer por diversos motivos (enfarte, distensão

muscular, etc.) mas, só por si, pode impedir a vítima de respirar livremente.

Quando a vítima apresente sinais de hipovolemia;

Politraumatizados;

Hemorragias. Uma vez que o oxigénio é transportado pelo sangue, a perda deste

leva, inevitavelmente, à diminuição do oxigénio nos órgãos.

2.2. Como Administrar Oxigénio?

Para a administração de oxigénio existem diversos tipos de equipamentos e técnicas.

Por insuflação

Quando a vítima já não consegue ventilar por si própria, é necessário ‘forçar’ a entrada de

oxigénio para os seus pulmões. Assim, o método de insuflação é utilizado sempre que é

necessário ventilar artificialmente uma vítima.

Por inalação

Este método é utilizado sempre que a vítima apresente dificuldade em manter uma

ventilação eficaz, embora ainda ventile por si.

Neste capítulo iremos abordar basicamente os recursos para administração de oxigénio por

inalação.

De acordo com a legislação em vigor, a ambulância deve estar equipada com sistemas e

equipamentos de oxigenoterapia, devendo existir um portátil e um fixo.

Page 154: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

132/262 Oxigenoterapia TAT.01.10

O equipamento portátil destina-se a ser utilizado essencialmente no local, durante o transporte

do local para a ambulância e da ambulância para a unidade de saúde.

O equipamento fixo destina-se a ser utilizado durante o transporte da vítima para a unidade de

saúde.

Fundamentalmente, existem dois dispositivos importantes a considerar para a administração

de O2 por inalação:

1. Cânula nasal (óculos nasais);

2. Máscara simples.

Capitulo 5. Figura 86 - Dispositivos para administração de oxigénio por inalação.

Na utilização da cânula nasal, as concentrações de oxigénio obtidas são mais baixas que na

máscara simples. No entanto, convém referir que a cânula nasal é de fácil colocação e pouco

traumatizante para a vítima (consciente).

A máscara, por seu lado, possibilita também uma colocação fácil e permite concentrações de

oxigénio mais elevadas que a cânula nasal, uma vez que abrange a face da vítima ao mesmo

tempo (boca e nariz).

Cânula Nasal

Também conhecida por ‘óculos nasais’, devido à sua forma de colocação, é um método de

administração de oxigénio de baixo débito e baixas concentrações, muito utilizado em

situações de emergência.

Cânulas Nasais Máscara Simples

Page 155: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Oxigenoterapia 133/262

A sua colocação é de grande facilidade e de maior comodidade para a vítima. Antes de

colocar a cânula nasal, o tripulante deve ter a preocupação de acalmar e esclarecer a

vítima em relação ao seu procedimento, e manter uma atitude calma e segura.

Como colocar a cânula nasal:

1. Alargue o laço da cânula deslizando a corrediça;

2. Coloque cada uma das extremidades da cânula numa narina;

3. Passe cada um dos ramos da cânula por detrás dos pavilhões auriculares da vítima;

4. Ajuste a cânula à região submaxilar mas mantenha-a folgada;

5. Mantenha a vigilância dos sinais vitais, em especial da ventilação.

Máscara Simples

A máscara simples é constituída por uma matéria plástica, transparente e maleável, com o

formato da face, permitindo assim uma aplicação e adaptação fácil. Tem ainda orifícios

para exalação do ar expirado (em alguns tipos de máscaras existem mesmo válvulas de

escape). O fornecimento de oxigénio é feito através do tudo de conexão que vem

directamente do debitómetro.

A máscara é mais eficaz pelo facto de permitir uma maior inalação e concentração de

oxigénio pois, como já foi mencionado, abrange tanto o nariz como a boca. O facto de ser

transparente possibilita ao tripulante aperceber-se da existência de vómito ou secreções na

boca da vítima, bem como de indícios de cianose labial.

Para a aplicação da máscara proceda da seguinte forma:

1. Acalme a vítima e explique-lhe o que vai fazer. Se esta recusar a sua aplicação não

force e escolha outro meio para a administração de oxigénio;

2. Conecte a máscara ao debitómetro, através do tubo de conexão;

3. Adapte a máscara à face da vítima, colocando em primeiro lugar a parte mais estreita

da máscara na parte superior do nariz e, só depois, adaptando a parte restante à face.

A boca e o nariz deverão ficar totalmente cobertos pela máscara;

4. Exerça uma ligeira pressão sobre a máscara, de modo a evitar fugas de oxigénio

durante a sua administração. Fixe-a com o respectivo elástico;

5. Se a vítima não tolerar a máscara, não argumente ou insista. Peça então a sua

colaboração para que apenas segure e mantenha a máscara o mais próximo possível

da face, recebendo, deste modo, o ar enriquecido em oxigénio (em especial nas

crianças);

Page 156: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

134/262 Oxigenoterapia TAT.01.10

6. Mantenha a vigilância dos sinais vitais, em especial da ventilação.

Se a vítima recusar a máscara, tente outro meio.

Tenha em atenção um possível vómito.

2.3. Que quantidade de Oxigénio administrar?

O tripulante da ambulância de transporte irá usar a única regra que se generalizará para as

situações abaixo referidas, independentemente do método de administração a utilizar.

Assim, perante situações de:

Paragem ventilatória;

Paragem cardio-respiratória;

Intoxicações graves com dificuldade ventilatória (por organofosforados, monóxido de

carbono ou fumos);

Vítimas com sinais de hipovolemia;

Politraumatizados.

Administre oxigénio a 15 litros / minuto.

Em todas as outras situações:

Administre oxigénio a 3 litros / minuto.

Se o doente faz oxigénio no domicílio, mantenha o mesmo débito durante o transporte, dando

também esta informação ao médico na unidade de saúde. Se houver indicação médica

diferente, cumpra sempre essa prescrição.

Salvo indicação médica, na fase pré-hospitalar, o oxigénio não deve ser humidificado.

Quando estiver perante uma situação de intoxicação por Paraquato (Gramoxone®), NÃO administre oxigénio.

Page 157: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Oxigenoterapia 135/262

Em resumo:

QUANTIDADE DE OXIGÉNIO A ADMINISTRAR

Em situações de paragem ventilatória, paragem cardio-respiratória e intoxicações graves: 15 litros / minuto;

Em todas as outras situações: 3 litros / minuto;

Se a vítima faz O2 no domicílio: manter o mesmo débito;

Alterações às quantidade indicadas somente por indicação médica;

Não humidificar o O2 na fase pré-hospitalar;

Não administrar O2 numa vítima intoxicada com Paraquato.

2.4. Regras de segurança para o manuseamento de equipamentos de administração de

Oxigénio

Os cuidados a ter com a administração de oxigénio, serão divididos em duas partes:

Em relação à vitima;

Em relação ao material.

2.4.1. Em Relação à Vítima:

Acalme a vítima, explicando sempre o que irá fazer. A colaboração da vítima é muito

importante quando o tripulante está a administrar oxigénio. Assim, sempre que possível,

solicite a sua colaboração,

Adapte o equipamento com cuidado e suavemente;

Observe constantemente o sistema de administração de oxigénio, bem como a sua

eficácia;

Avalie e registe os sinais vitais com frequência e esteja atento a alterações dos sinais e

sintomas.

2.4.2. Em Relação ao Material:

Verifique se o sistema de oxigénio está preparado;

Não fume ou faça lume na célula sanitária. Além de ser proibido por lei, o oxigénio é

explosivo e comburente (alimenta as combustões). Embora o oxigénio em

concentrações elevadas apresente um odor característico, uma fuga pode passar

despercebida;

Não utilize qualquer tipo de gordura nem lubrifique o material. O oxigénio em contacto

com gorduras é altamente explosivo;

Page 158: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

136/262 Oxigenoterapia TAT.01.10

Utilize sempre material esterilizado (incluindo todos os meios de administração e os

tubos de conexão à fonte de oxigénio) e manipule-o com bastante cuidado;

Procure manter sempre seco e limpo todo o sistema, nomeadamente o debitómetro e o

copo humidificador (se existir),

Antes de colocar na vítima qualquer tipo de material para administração de oxigénio,

verifique e prepare antecipadamente todo o sistema de oxigénio, seguindo a sequência:

1. Abra a torneira da garrafa;

2. Observe a pressão no manómetro;

Capitulo 5. Figura 87 - Manómetro. Neste exemplo, a pressão da garrafa é de 200 bar.

3. Abra a torneira do debitómetro durante alguns segundos e a seguir feche-a

novamente (o sistema está purgado);

4. Conecte o equipamento de administração de oxigénio à fonte de oxigénio e adapte-

o à vítima;

5. Abra a torneira do debitómetro com bastante suavidade até que a quantidade

indicada para a situação seja atingida;

Capitulo 5. Figura 88 - Debitómetro. Neste exemplo, o débito é de 3 litros / minuto.

Page 159: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Oxigenoterapia 137/262

Depois de utilizar o sistema de oxigénio e colocar no recipiente adequado o tubo de

conexão e o sistema de inalação, efectue a seguinte sequência:

1. Feche a torneira do debitómetro e verifique qual a pressão de oxigénio existente

ainda na garrafa de oxigénio, indicada no manómetro;

2. Feche a torneira da garrafa;

3. Abra a torneira do debitómetro durante algum tempo, até sair todo o oxigénio

existente na tubagem do sistema.

2.5. Regras de cálculo do tempo disponível nas Garrafas de Oxigénio

A falta de oxigénio durante o transporte de um doente é um acontecimento que pode ter

consequências extremamente graves. Para evitar esta situação, é necessário que o tripulante

verifique e calcule se a quantidade de oxigénio é suficiente.

Todas as garrafas de oxigénio possuem na sua face superior (coroa da garrafa) a inscrição da

capacidade da garrafa em litros (vazia).

Para proceder ao cálculo do tempo de que dispõe, é necessário identificar os seguintes

parâmetros:

C - Capacidade (litros) da garrafa vazia, inscrita na parte superior da garrafa;

P - Pressão (bar) a que se encontra o oxigénio no momento da verificação, indicada pelo

manómetro;

D - Débito (litros / minuto) de oxigénio que está a ser administrado à vítima.

Utilizando os dados referidos anteriormente, aplique a seguinte fórmula:

MINUTOS DISPONÍVEIS = CAPACIDADE x PRESSÃO

DÉBITO A ADMINISTRAR

Exemplo:

Capacidade da garrafa (em litros) = 15 litros

Pressão de oxigénio da garrafa (em bar) = 200 bar

Débito de oxigénio pretendido = 15 litros / minuto

MINUTOS DISPONÍVEIS = Capacidade x Pressão

= 3.000

= 200 minutos Débito a administrar 15

Page 160: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

138/262 Oxigenoterapia TAT.01.10

As margens de segurança

Para compensar as possíveis perdas de oxigénio que possam existir e também para facilitar os

cálculos, aplique os seguintes valores no campo referente ao débito utilizado:

Se administrar oxigénio a 3 litros / minuto, execute os cálculos utilizando 10 como o

valor do débito;

Se administrar oxigénio a 15 litros / minuto, execute os cálculos utilizando 20 como o

valor do débito.

Exemplos:

Se transporta um doente com dificuldade respiratória e estiver a utilizar uma garrafa de 15 litros

e esta se encontrar a 200 bar de pressão, a fórmula a aplicar é a seguinte:

MINUTOS DISPONÍVEIS = 15 x 200

= 300 minutos (5 horas) 10

Se transportar uma vítima em paragem ventilatória, utilizando a mesma garrafa referida

anteriormente, os valores a utilizar na fórmula são os seguintes:

MINUTOS DISPONÍVEIS = 15 x 200

= 150 minutos (2,5 horas) 20

Segundo a legislação em vigor, as garrafas de oxigénio devem ser sujeitas a prova hidráulica de cinco em cinco anos.

Page 161: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Hemorragias 139/262

CAPÍTULO 6 - HEMORRAGIAS

OBJECTIVOS

No final desta unidade modular, os formandos deverão ser capazes de:

1. Classificar as hemorragias em relação à origem;

2. Descrever os tipos de hemorragias;

3. Descrever os métodos de controlo de uma hemorragia externa;

4. Descrever a importância de hemorragias internas.

Page 162: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

140/262 Hemorragias TAT.01.10

1. INTRODUÇÃO

Sempre que o sangue sai do espaço vascular estamos perante uma hemorragia.

As hemorragias sendo uma emergência necessitam de um socorro rápido e imediato. É

imperioso que a equipa de socorro actue de forma pronta e eficaz.

A perda de grande quantidade de sangue é uma situação perigosa que pode rapidamente

causar a morte.

A paragem respiratória e a paragem cardíaca são as únicas situações que terão prioridade

sobre esta. Contudo, a paragem respiratória e a existência de uma hemorragia abundante são

ambas de tão grande importância que, sempre que seja possível, um elemento deverá socorrer

a paragem respiratória enquanto outro elemento prestará cuidados à hemorragia. Regra geral a

abordagem na avaliação e tratamento segue a sequência ABCDE.

Um adulto com 75 Kg de peso tem cerca de 5,5 litros de sangue. A perda de 1 litro de sangue

no adulto, de 0,5 litro na criança ou de 25 a 30 ml num recém-nascido pode levar rapidamente

ao choque.

A gravidade da hemorragia depende de vários factores, como o tipo de vaso atingido (artéria,

veia, capilar), da sua localização e do seu calibre. O corte do principal vaso sanguíneo do

pescoço, braço ou coxa pode causar uma hemorragia tão abundante que a morte pode surgir

nos primeiros três minutos.

2. CLASSIFICAÇÃO DAS HEMORRAGIAS EM RELAÇÃO À ORIGEM

Hemorragia Arterial

Resulta do rompimento de uma artéria. O sangue é vermelho vivo e sai em jacto, a cada

contracção do coração. É uma hemorragia muito abundante e de difícil controlo.

Hemorragia Venosa

Resulta do rompimento de uma veia. O sangue é vermelho escuro e sai de forma

regular, embora possa ser abundante. Não sendo tão dramática como a arterial, poderá

ser fatal se não for detectada a tempo. Normalmente é mais fácil de controlar.

Page 163: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Hemorragias 141/262

Hemorragia Capilar

Ocorre devido à ruptura de minúsculos vasos capilares provocada por uma ferida. Esta

hemorragia é de fácil controlo, podendo parar espontaneamente.

Capítulo 6. Figura 89 - Diferentes tipos de hemorragias, conforme a origem.

3. CLASSIFICAÇÃO DAS HEMORRAGIAS EM RELAÇÃO À LOCALIZAÇÃO

Hemorragias Externas

As hemorragias externas implicam feridas na pele, podem ser observadas e são

facilmente reconhecidas.

Hemorragias Internas

As hemorragias internas implicam saída de sangue dos vasos para o interior do

organismo. O reconhecimento e identificação tornam-se mais difíceis. Este tipo de

hemorragias pode ocorrer devido a situações de trauma ou de doença.

Por sua vez as hemorragias internas são ainda divididas em:

Visíveis

Quando o sangue acaba por se exteriorizar por orifícios naturais do corpo (boca, nariz,

ouvidos, ânus, vagina, etc.).

Invisíveis

Quando não há saída de sangue para o exterior. Suspeitamos da hemorragia interna

em função dos mecanismos de lesão e dos sinais e sintomas que a vítima apresente.

3.1. Importância das Hemorragias Internas:

A hemorragia interna pode ser grave e levar à morte sem que exista perda de sangue visível,

ou ser visível apenas em pequena quantidade acumulando-se o sangue no interior do

organismo. O controlo destas hemorragias muitas vezes só pode ser feito no hospital.

Page 164: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

142/262 Hemorragias TAT.01.10

Por isso devemos suspeitar de hemorragia interna sempre que esteja presente uma destas

situações:

Quando o mecanismo de lesão possa ter provocado um impacto forte ao nível do

abdómen ou tórax;

Quedas de altura superior à do corpo da vítima;

Feridas penetrantes provocadas por armas de fogo ou armas brancas (pistolas, facas,

navalhas, etc.);

Politraumatizados graves, com suspeita de fracturas (por exemplo uma fractura do

fémur pode provocar rapidamente uma perda de um litro ou mais de sangue);

Quando o doente refere história de úlcera gástrica e/ou duodenal ou de aneurismas;

Vómito com sangue ou tipo borra de café.

4. SINAIS E SINTOMAS DAS HEMORRAGIAS

A vítima poderá apresentar os sinais e sintomas abaixo descritos podendo, no entanto, só

estarem presentes alguns deles:

Saída evidente de sangue (nas hemorragias externas ou internas visíveis);

Ventilação rápida e superficial;

Pulso rápido e fino;

Pele pálida e suada;

Hipotermia (pele fria);

Mal-estar geral e diminuição da força muscular;

Sede;

Ansiedade e agitação;

Inconsciência.

5. CUIDADOS DE EMERGÊNCIA

5.1. Métodos de Controlo das Hemorragias Externas

Como as hemorragias podem representar risco imediato para a vida da vítima, há necessidade

de actuar com rapidez e eficácia. Para o seu controlo existem três métodos: pressão directa

(compressão manual directa), pressão indirecta (compressão digital à distância) e garrote.

Page 165: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Hemorragias 143/262

Pressão Directa

Também designada por compressão manual directa, é o método escolhido na maioria das

situações de hemorragia externa. Como proceder:

1. Comprima o local com uma compressa esterilizada;

2. Se necessário, coloque outras compressas por cima. Se estas ficarem ensopadas em

sangue, substitua-as, mas nunca retire as primeiras compressas que colocou;

3. Passe uma ligadura de modo a segurar as compressas e mantenha a pressão.

Utilize a técnica da pressão indirecta quando não for possível efectuar a pressão directa.

Pressão Indirecta

Também designada por compressão digital à distância, consiste em efectuar pressão com os

dedos nos pontos de compressão das artérias, isto é, na raiz dos membros, onde a artéria

passa junto ao osso. Ao comprimi-la impede a passagem do sangue para o membro afectado.

Esta técnica só pode ser utilizada para controlar hemorragias nos membros.

Garrote

O garrote só deve ser utilizado como último recurso, devido às lesões que provoca nos tecidos.

O garrote aplica-se quando todos os outros métodos falharem ou quando existe amputação ou

destruição de um membro e a hemorragia se mantém activa. Quando o aplicar deve retirar a

roupa do membro, não esquecendo que, uma vez aplicado, não deve ser aliviado. Por

questões de segurança deverá deixar sempre o membro garrotado bem à vista e registar a

hora da garrotagem. O material a utilizar na garrotagem tem de ser uma faixa de tecido não

elástico e sempre largo.

Além dos métodos anteriormente referidos, pode-se obter maior eficácia no controlo das

hemorragias se forem associados métodos auxiliares:

Elevação do Membro

Nas feridas ou lesões de um membro, além de aplicar uma ou mais compressas sob

pressão, deve elevar o membro, caso não exista outra lesão associada. A força da

gravidade contraria a corrente sanguínea e a manutenção do membro elevado acima do

nível do coração, ajuda a parar a hemorragia.

Page 166: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

144/262 Hemorragias TAT.01.10

Imobilização

A imobilização da zona afectada reduz a hemorragia e facilita os mecanismos de

reparação das lesões vasculares.

A técnica da pressão directa não poderá ser utilizada quando a hemorragia está associada a uma fractura ou se no local da hemorragia existirem objectos empalados (objectos estranhos como facas, vidros, ferros, etc.).

Neste caso, aplique outra das técnicas de controlo de hemorragias.

5.2. Outras Medidas de Actuação

A perda de grande quantidade de sangue pode levar a situações graves com risco de vida.

Para além das medidas anteriormente referidas deve:

1. Manter a permeabilidade das vias aéreas;

2. Administrar oxigénio a 15 litros/minuto;

3. Não dar nada a beber;

4. Manter a temperatura corporal.

Page 167: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Hipovolemia 145/262

CAPÍTULO 7 - HIPOVOLEMIA

OBJECTIVOS

No final desta unidade modular, os formandos deverão ser capazes de:

1. Relacionar hemorragia com a diminuição do volume sanguíneo;

2. Descrever as etapas de actuação em situação de hipovolemia.

Page 168: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

146/262 Hipovolemia TAT.01.10

1. INTRODUÇÃO

Por hipovolemia entende-se a diminuição da quantidade de sangue em circulação.

Numa primeira fase, o organismo reage à diminuição do volume de sangue com vários

mecanismos de compensação, cujo objectivo é o de manter o fornecimento de sangue e

oxigénio aos órgãos mais sensíveis à sua diminuição, tais como o cérebro e o coração.

Frequentemente, esta situação é detectada tardiamente quando os mecanismos de

compensação já não são capazes de dar resposta, numa fase em que a morte pode ocorrer

em pouco tempo. Por esta razão, quanto mais prontamente se quebrar a reacção em cadeia

efectuando um socorro rápido e eficaz, menos lesões resultarão para a vítima.

2. CAUSAS DE HIPOVOLEMIA

A hipovolemia é a diminuição do volume de sangue circulante.

Causas da instalação de hipovolemia:

Perda de sangue por hemorragia interna ou externa;

Perda de plasma sanguíneo, por infiltração nos tecidos, no local das queimaduras,

contusões ou esmagamentos;

Perda de líquidos por vómitos repetidos, diarreia ou outras perturbações intestinais

(sobretudo nas crianças) ou ainda por febre alta, suportada. Esta perda desidrata o

corpo, diminui o volume de líquidos e, por consequência, o volume de sangue existente

em circulação.

3. SINAIS E SINTOMAS DE HIPOVOLEMIA

A hipovolemia deverá ser presumida e prevenida em todos os acidentados que tenham

hemorragias graves, lesões por esmagamento, fracturas (nomeadamente do fémur e/ou bacia),

amputações, feridas graves ou queimaduras extensas.

Page 169: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Hipovolemia 147/262

Os sinais e sintomas da hipovolemia são vários e nem sempre aparecem em todos os casos.

A avaliação da extensão e gravidade das lesões é mais importante que qualquer sinal ou

sintoma em particular.

O mais importante é suspeitar, prevenir e socorrer antes dos sintomas surgirem. As vítimas

com hipovolemia podem perder elevada quantidade de sangue sem apresentarem sinais ou

sintomas significativos.

Os sinais e sintomas de hipovolemia que devem ser detectados pelo tripulante são:

Alterações do estado de consciência;

Numa fase inicial a vítima pode apresentar-se lúcida. Com o evoluir da situação,

começa a apresentar modificações do estado de consciência cada vez maiores, com

desorientação, alterações do comportamento e agitação, podendo tornar-se pouco ou

nada colaborante. Numa fase mais adiantada, a vítima fica progressivamente mais

apática e, eventualmente, acaba por ficar inconsciente.

Ventilação rápida e superficial;

A ventilação torna-se progressivamente mais rápida, superficial e irregular.

Pulso rápido e fino;

O pulso tende a ficar rápido, fino e difícil de palpar em pulsos periféricos. Nos casos

mais graves, pode mesmo ficar irregular e ser apenas palpável em artérias centrais.

Alteração da coloração da pele;

A pele apresenta-se pálida, essencialmente a nível das extremidades (lábios, lóbulos

das orelhas e nos dedos).

Alterações da temperatura e humidade da pele;

A pele fica fria e viscosa devido à vasoconstrição. Podem aparecer suores frios.

Náuseas e vómitos;

Por vezes, a vítima apresenta náuseas (sensação de vómito) e vómitos.

Sede e secura das mucosas.

Frequentemente a vítima refere sede e secura das mucosas da boca, lábios e língua.

Page 170: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

148/262 Hipovolemia TAT.01.10

4. CUIDADOS DE EMERGÊNCIA

Os seguintes cuidados de emergência deverão ser aplicados a todas as vítima de hipovolemia:

1. Combater a causa;

Controle possíveis hemorragias, imobilize fracturas, alivie a dor nas queimaduras e

limpe e cubra todas as feridas.

2. Manter a permeabilidade das vias aéreas;

3. Administrar oxigénio;

4. Posicionar a vítima;

A posição ideal para uma vítima com hipovolemia é a posição de decúbito dorsal com

elevação dos membros inferiores a cerca de 30º. Assim, pela força da gravidade,

aumenta o afluxo de sangue aos órgãos nobres. No entanto é necessário ter o bom

senso de não colocar a vítima nesta posição se agravar o seu estado.

5. Manter a temperatura corporal;

Utilize uma manta isotérmica e tape a vítima por baixo e por cima. Dispa-a das roupas

húmidas para evitar descidas de temperatura acentuada. Não utilize meios artificiais de

aquecimento (botijas de água quente, cobertores eléctricos ou outros), pois podem

causar vasodilatação periférica o que diminui a perfusão nos órgãos nobres, podendo

ainda causar queimaduras.

6. Não dar nada a beber;

Apesar da vítima poder referir muita sede, não deve ser dado nenhum líquido a beber.

Pode ajudar humedecendo os lábios e a língua com uma compressa embebida em

água.

Page 171: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Traumatologia 149/262

CAPÍTULO 8 - TRAUMATOLOGIA

OBJECTIVOS

No final desta unidade modular, os formandos deverão ser capazes de:

1. Descrever os mecanismos de trauma;

2. Listar e descrever as medidas de protecção da equipa, vítima e outros intervenientes.

3. Classificar o tipo de lesões dos tecidos moles;

4. Listar os mecanismos de lesão e agentes mais frequentemente responsáveis por

queimaduras;

5. Descrever as medidas de emergência a efectuar em situações de trauma dos tecidos

moles.

Page 172: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

150/262 Traumatologia TAT.01.10

1. INTRODUÇÃO

O trauma acontece quando o corpo sofre a acção súbita de uma energia cinética (movimento),

térmica (calor) ou eléctrica.

Um dos mecanismos mais frequentes de trauma resulta da absorção por parte do corpo de

energia cinética, ou seja, a energia mecânica inerente aos corpos em movimento.

O corpo pode receber uma certa quantidade de energia sem sofrer danos. Os tecidos moles

podem romper ou deformar na presença de pequenos traumatismos mas tecidos mais

consistentes, como o osso, resistem a forças de maior intensidade. Determinadas áreas, como

o cérebro, a espinal medula e os olhos, bem como os pequenos vasos sanguíneos, são

especialmente vulneráveis a pequenas forças.

Além da energia cinética envolvida no trauma é importante conhecer a região anatómica que

sofreu o impacto para assim se preverem as lesões a encontrar e a sua gravidade ou seja,

quais os danos possíveis além dos declaradamente visíveis.

Danos resultantes de forças elevadas como por exemplo, acidentes rodoviários, armas de fogo

e quedas, podem danificar várias estruturas e a vítima pode, por vezes, sofrer lesões

irreversíveis.

2. A ABORDAGEM DA VÍTIMA DE TRAUMA

Durante a primeira hora (hora de ouro) após o acidente, a possibilidade de sobrevivência é

elevada e, quanto mais cedo forem aplicados os cuidados de emergência, maiores são as

possibilidades de recuperação.

É importante referir que, se um politraumatizado grave for assistido numa unidade de saúde

que possua os meios necessários à sua estabilização, a possibilidade de sobrevivência é mais

alta, tendo algumas estatísticas determinado que esta taxa decresce 1 % por cada minuto

perdido.

Page 173: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Traumatologia 151/262

Para que os cuidados prestados sejam adequados, é necessário que:

A resposta à chamada seja eficaz;

O material esteja sempre preparado;

A actuação seja rápida e correcta junto da(s) vítima(s);

A equipa proceda de forma coordenada, para que se possa obter uma maior

rentabilização por parte de cada elemento;

Sempre que possível, as etapas do exame da vítima e as tarefas a executar, não

excedam os 10 minutos;

Só em casos excepcionais, o exame secundário seja efectuado durante o transporte ou

fora do local do acidente.

A comunicação com o hospital, através da Central Coordenadora, deve ser efectuada assim

que possível. É fundamental recordar que o exame primário permite ao tripulante determinar a

existência de lesões que colocam a vida da vítima em risco imediato e nunca deverá ser

interrompido, excepto para desobstruir as vias aéreas, iniciar manobras de reanimação e

controlar hemorragias graves para prevenir a hipovolemia.

Apenas em situações excepcionais, nas quais a posição da vítima não permite realizar o

exame primário, esta deverá ser rolada para decúbito dorsal antes de se iniciar o exame

primário.

2.1. Alguns princípios na Abordagem da Vítima de Trauma

Realize o exame primário da vítima. A coluna da vítima de trauma deve ser sempre

alinhada segundo o eixo nariz-umbigo-pés;

Inspeccione cada área do corpo. Procure alterações evidentes;

Inspeccione a cabeça, o pescoço e a coluna cervical. Aplique o colar cervical se

necessário;

Inspeccione a área do tórax;

Inspeccione se existem lesões abdominais;

Inspeccione se existem lesões visíveis na pélvis;

Inspeccione as extremidades. Pesquise se estão mantidas a sensibilidade e a função

motora.

Observe a pele procurando alterações da coloração, humidade e temperatura;

Verifique e, corrija se necessário, o alinhamento da coluna vertebral para que

possa ser efectuada uma passagem segura para o plano duro ou maca de vácuo (tipo

‘Coquille’);

Page 174: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

152/262 Traumatologia TAT.01.10

Reavalie os sinais vitais em cada 15 minutos para uma vítima estável e cada cinco

minutos para uma vítima que não esteja estabilizada.

2.2. Alteração dos Sinais Vitais

Os sinais vitais são geralmente afectados pelo trauma da seguinte forma:

Ventilação rápida e superficial (pode surgir por lesão da cabeça, pescoço ou tórax);

Pulso rápido e fino (pode existir hipovolemia);

A hipertermia poderá surgir em traumatismos crânio-encefálicos graves;

A hipotermia pode surgir quando existem traumatismos medulares ou ainda em vítimas

com hipovolemia.

3. LESÕES DOS TECIDOS MOLES

As lesões dos tecidos moles dizem respeito à pele e às camadas musculares adjacentes sendo

frequentes em acidentes de todos os tipos.

A gravidade deste tipo de lesões depende, não apenas da extensão e profundidade, mas

também da existência de lesões associadas.

3.1. Lesões Fechadas

Nas lesões fechadas há lesão das camadas de tecido por baixo da pele, sem que esta tenha

qualquer solução de continuidade. São muito dolorosas, causam edema (inchaço) local e são

acompanhadas por traumatismo de vasos sanguíneos, originando hemorragias internas:

As equimoses (nódoas negras), quando os vasos sanguíneos atingidos são capilares;

Os hematomas, quando há lesão em vasos de maior calibre.

3.2. Lesões Abertas

As lesões abertas, que apresentam alteração da continuidade da pele e ou mucosas, são

vulgarmente chamadas feridas:

Escoriações são lesões superficiais geralmente conhecidas por ‘arranhões’ ou

‘esfoladelas’. São lesões que sangram pouco, mas extremamente dolorosas e que

geralmente contêm partículas de sujidade. Resultam normalmente do atrito da pele

contra superfícies rugosas;

Page 175: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Traumatologia 153/262

Nos hematomas, o tripulante deve imobilizar a zona para evitar o agravamento da hemorragia e porque, associada ao hematoma, pode existir uma fractura.

Feridas incisas são soluções de continuidade da pele que podem envolver os tecidos

adjacentes. São habitualmente conhecidas por ‘golpes’ ou ‘cortes’, sendo provocadas

por objectos cortantes. Têm bordos regulares que após encostados encerram a ferida;

Lacerações, são feridas em que os bordos se apresentam irregulares, não implicando

normalmente perda de tecido;

Avulsões, são feridas em que os bordos se apresentam irregulares, com perda de

tecido, são provocadas por objectos rombos, não se conseguindo o encerramento da

ferida;

Feridas perfurantes, são lesões produzidas por instrumentos que actuam em

profundidade, tais como agulhas, estiletes, picadores de gelo, pregos, paus aguçados,

balas, etc.;

Nas feridas por arma de fogo pode existir um orifício de saída do projéctil e, como em

todas as feridas perfurantes, podem existir associadas fracturas e / ou lesões dos

órgãos vitais que se encontravam no trajecto do projéctil;

Amputações, são lesões nas quais uma parte do corpo fica separada do resto, quer

seja por corte quer seja por arrancamento;

Eviscerações, são lesões em que há secção da parede abdominal e exteriorização das

vísceras.

3.3. Cuidados de Emergência

Nas lesões abertas o Tripulante de Ambulância deve:

1. Controlar as hemorragias;

2. Lavar abundantemente a zona lesada, com soro fisiológico;

3. Cobrir a ferida com um penso esterilizado;

4. Não retirar objectos empalados, nem fazer pressão directa no local. Imobilizá-los e, se

necessário, aplicar a técnica da compressão à distância (indirecta);

5. Nas situações de amputação, envolver a parte amputada em compressas esterilizadas,

embebidas em soro fisiológico, e colocá-la dentro de um saco de plástico esterilizado e

fechado. Este saco deverá, por sua vez, ser colocado dentro de outro saco com gelo e

acompanhar a vítima, até ao hospital. O tripulante deve ter o cuidado de manter a parte

amputada fora do alcance da vista da vítima;

Page 176: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

154/262 Traumatologia TAT.01.10

6. Nos casos de evisceração, lavar abundantemente as vísceras e a ferida com soro

fisiológico e tapar toda a zona com compressas grandes (pensos de abdómen),

mantendo-as humedecidas com soro fisiológico.

Nunca tente colocar ou reintroduzir as vísceras no interior da cavidade abdominal

3.4. Queimaduras

As queimaduras são lesões da pele e / ou tecidos subjacentes, resultantes do contacto ou

acção de um agente exterior.

As queimaduras constituem um dos acidentes mais frequentes, ocorrendo em variadíssimas

circunstâncias e em todas as idades. A maioria consiste em pequenas lesões que decorrem

sem grandes complicações. Contudo, algumas podem ser fatais ou potencialmente fatais,

exigindo um socorro correcto e precoce, pois dele depende a sobrevivência da vítima e,

também, o resultado funcional e estético final.

Para avaliar a gravidade das queimaduras é necessário ter em conta:

A causa da queimadura;

A extensão da superfície corporal queimada;

A profundidade da queimadura;

O local da queimadura;

A idade da vítima.

3.4.1. Causas das Queimaduras

Queimaduras térmicas

Aquelas que são provocadas por acção do calor ou frio. Podemos incluir neste tipo as

provocadas pelo sol, fogo, líquidos ferventes, gelo, neve, etc.

Queimaduras eléctricas

Nas queimaduras eléctricas é importante ter presente que existe sempre uma porta de

entrada (ponto de contacto com o corpo), um trajecto e uma porta de saída (local de

saída da carga eléctrica do organismo).

As queimaduras eléctricas podem ainda interferir com o funcionamento do sistema

nervoso, podendo provocar paragem respiratória, ou interferir com o ritmo do coração,

podendo provocar paragem cardíaca.

Page 177: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Traumatologia 155/262

As fracturas ósseas também são frequentes, sobretudo quando a corrente eléctrica é de

alta tensão.

Queimaduras químicas

As queimaduras químicas são provocadas por acção de ácidos e bases, sendo muito

comuns na indústria: No entanto, devido à presença de muitas substâncias

potencialmente capazes de provocar lesão nos tecidos do organismo, também ocorrem

com alguma frequência no domicílio.

Queimaduras por radiação

As radiações mais comuns são os raios ultravioleta (que existem nos raios solares), os

Raios X e as produzidas por substâncias radioactivas.

3.4.2. Extensão das Queimaduras

Quanto mais extensa for a área queimada, maior será a sua gravidade.

A pele representa a principal barreira contra todos os agentes agressores do meio em que

vivemos. Assim, quanto maior for a área de pele queimada, mais vulnerável fica a vítima,

particularmente, às infecções. De facto, as infecções são a principal causa de mortalidade dos

grandes queimados.

Um outro aspecto importante prende-se com as grandes perdas de líquidos através das zonas

queimadas, proporcionais à área atingida.

Pelos motivos apontados, a determinação da área queimada é extremamente importante. Para

determinar a extensão da superfície corporal queimada, a regra mais utilizada é a denominada

.

Regra dos Nove

A aplicação desta regra difere nas crianças e no adulto. Enquanto a cabeça do adulto equivale

a cerca de 9 % da área corporal total, na criança com um ano de idade equivale a 18 % e na

criança com cinco anos a 14 %. Difere também nos membros inferiores, na medida em que

cada membro do adulto representa cerca de 18 % da área corporal total, na criança com um

ano 14 % e na criança com cinco anos 16 %.

Page 178: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

156/262 Traumatologia TAT.01.10

Capítulo 8. Figura 90 - Cálculo da área queimada. Regra dos nove.

3.4.3. Profundidade das Queimaduras

A profundidade das queimaduras é classificada em graus:

1º Grau

São as menos graves pois envolvem apenas a epiderme (superfície exterior da pele). A

pele fica vermelha, quente, sensível e dolorosa.

2º Grau

Este tipo de queimadura envolve já a primeira e a segunda camadas da pele,

respectivamente a epiderme e a derme. A pele fica com flictenas (bolhas) e muito

dolorosa.

3º Grau

Existe destruição de toda a espessura da pele (epiderme e derme) e dos tecidos

adjacentes. A pele fica acastanhada ou negra se tiver sido causada por calor seco ou,

pode ficar esbranquiçada se produzida por calor húmido. Estas queimaduras não são

dolorosas porque as terminações nervosas sensitivas são destruídas.

3.4.4. Localização das Queimaduras

As queimaduras das vias aéreas são sempre graves. Deve sempre suspeitar-se de atingimento

das vias aéreas, quando existem queimaduras da face, sobretudo em redor da boca e nariz. A

vítima pode apresentar tosse, expelindo partículas de carvão e sangue, e ter dificuldade

respiratória devido ao edema da laringe, podendo ainda apresentar flictenas nos lábios e

língua.

Page 179: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Traumatologia 157/262

As queimaduras das mãos e pés, ou a nível de qualquer articulação, são consideradas graves,

pela possibilidade da perda dos movimentos. De igual modo, as queimaduras complicadas com

feridas ou fracturas, bem como as queimaduras dos órgãos genitais, são sempre graves.

3.4.5. Cuidados de Emergência

O primeiro passo na actuação é interromper o processo, isto é, afastar a vítima do agente que

causou a queimadura, ou vice-versa.

Nunca esqueça que o primeiro e melhor socorro para uma queimadura é a água.

Os cuidados de emergência visam fundamentalmente:

Aliviar a Dor;

Prevenir a Hipovolemia;

Prevenir a Infecção.

Cada queimadura deve ser coberta para evitar o contacto com o ar, o que diminui a dor. Deve

utilizar compressas esterilizadas para evitar a contaminação da superfície queimada. Se a

extensão da queimadura é grande, utilizar lençóis esterilizados ou, na falta destes, lençóis

limpos.

Não utilizar qualquer tipo de gorduras. Aplicar compressas frias e húmidas para aliviar a dor.

Nas queimaduras das extremidades, mergulhar o membro em água fria ou envolvê-lo em

compressas embebidas em água fria ou soro fisiológico para aliviar a dor. Quando a

queimadura atinge dedos, axilas, etc., (isto é, sempre que duas zonas da pele estejam em

contacto), deve colocar pensos a separá-las, para impedir que adiram.

A roupa da vítima não deve ser retirada quando está ‘colada’ à queimadura pois pode agravar

a lesão.

Quando a queimadura é produzida por agentes químicos líquidos, deve retirar-se toda a roupa

e lavar a vítima abundantemente com água. Quando se trata de um pó, deve primeiro sacudi-lo

muito bem antes de lavar, a fim de evitar a sua diluição durante a lavagem.

Page 180: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

158/262 Traumatologia TAT.01.10

4. TRAUMATISMOS OCULARES

Nos traumatismos oculares a melhor atitude no pré-hospital é não interferir, proteger apenas a

lesão com um penso ocular ou compressa esterilizada e transportar a vítima.

Tranquilizar a vítima, dar-lhe apoio explicando tudo o que se está a fazer e porquê

(especialmente porque se lhe tapam os olhos) e transportar em decúbito dorsal;

Não tente retirar qualquer corpo estranho ou objecto empalado do globo ocular pois pode provocar um agravamento sério da lesão.

5. NEUROTRAUMATOLOGIA

5.1. Lesões Crânio-Encefálicas

Quando o cérebro sofre um traumatismo pode ficar edemaciado, aumentando de volume, tal

como acontece noutros tecidos. Porém, o cérebro encontra-se dentro da caixa craniana que,

sendo uma estrutura rígida, limita o aumento do volume cerebral provocando um efeito

compressivo sobre este. Neste caso, os centros que coordenam as funções vitais, como a

ventilação, podem ficar comprometidos, deixando de funcionar correctamente devido à

compressão que sofrem.

As lesões que podemos encontrar nos traumatismos crânio-encefálicos (TCE) são os

hematomas do couro cabeludo, feridas do couro cabeludo e as fracturas de crânio.

5.1.1. Sinais e Sintomas

Os sinais e sintomas presentes numa vítima com lesões crânio-encefálicas podem ser:

Inconsciência;

Sonolência;

Tonturas;

Cefaleias;

Irritabilidade;

Desorientação no tempo e no espaço;

Náuseas e / ou vómitos;

Perturbações na visão;

Page 181: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Traumatologia 159/262

Lesões cranianas evidentes (feridas e fracturas).

5.1.2. Cuidados de Emergência

1. Manter a vítima em repouso;

2. Controlar eventual hemorragia;

3. Não esquecer que todo o traumatizado craniano, até prova em contrário, tem associado

traumatismo da coluna vertebral, pelo que a vítima deve ser imobilizada como tal;

4. Em caso de hemorragia pelo ouvido deve colocar apenas uma compressa para

embeber o sangue sem fazer compressão;

5. Em caso de hemorragia abundante pelo nariz ou boca, prevenir a aspiração do sangue;

6. Elevar a cabeceira da maca a 30º com a vítima em plano duro o que faz com que a

cabeça da vítima fique num plano ligeiramente superior;

7. Administrar oxigénio a 15 litros / minuto;

8. Manter a vigilância apertada do estado de consciência e sobretudo registar as

alterações;

9. Efectuar um transporte calmo e suave;

10. Transmitir ao CODU e / ou à equipa médica que receba a vítima, todos os dados que

observou e registou;

Perante qualquer vítima inconsciente após acidente e nos traumatismos acima das clavículas suspeite sempre de TCE.

Todas as vítimas com TCE ou suspeita devem ser tratadas como tendo traumatismo vértebro-medular associado.

5.2. Traumatismos Vértebro-Medulares

Os traumatismos da coluna são situações potencialmente graves uma vez que podem lesar a

espinal medula. Devem ser socorridas pelo tripulante com o máximo cuidado, porque a sua

intervenção pode determinar a qualidade de vida da vítima.

Deve sempre suspeitar-se de lesão vértebro-medulares, nas situações de:

Acidente de viação;

Acidente de mergulho;

Queda ou salto de altura superior à da vítima;

Traumatismo acima das clavículas;

Soterramento;

Choque eléctrico;

Page 182: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

160/262 Traumatologia TAT.01.10

Agressão por arma de fogo;

Politraumatismos;

Vítima de TCE inconsciente;

Traumatismo directo sobre a coluna.

5.2.1. Sinais e Sintomas

Na avaliação destas vítimas é de extrema importância determinar se a vítima foi mobilizada ou

se movimentou após o acidente e quais os sinais e sintomas que apresenta.

Estes podem ser:

Dor local;

Diminuição ou perda total da força muscular ao nível dos membros;

Sensação de formigueiro e / ou ausência da sensibilidade a nível dos membros;

Paralisias dos membros (impossibilidade de mobilizar);

Incontinência de esfíncteres (saída involuntária das fezes e urina);

Dificuldade ou paragem ventilatória, pulso rápido e fraco em caso de hemorragia

associada.

5.2.2. Cuidados de Emergência

A preocupação fundamental é impedir que a vítima se movimente, mantendo um perfeito

alinhamento da coluna (segundo o eixo nariz - umbigo - pés).

Este objectivo é conseguido com o cumprimento de algumas regras fundamentais na

abordagem destas vítimas:

1. Manter uma atitude calma e segura;

2. Administrar oxigénio a 3 litros / minuto;

3. Garantir desde o primeiro momento a tracção (puxar ligeiramente), alinhamento e

imobilização da coluna cervical, atitude que nunca deve ser abandonada. A utilização

de um colar cervical de quatro apoios é obrigatória;;

4. Nas situações de encarceramento ou nas vítimas de acidente automóvel deve recorrer à

utilização de colete de extracção. Estas vítimas nunca devem ser mobilizadas excepto

se houver perigo de vida no local onde se encontram (desabamento, explosão, fogo,

etc.) ou se houver necessidade de iniciar manobras de suporte básico de vida;

5. O levantamento nunca deverá ser efectuado por menos de cinco elementos no adulto,

devendo a cabeça e o tronco ser da responsabilidade da tripulação;

Page 183: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Traumatologia 161/262

6. Transportar a vítima imobilizada em maca de vácuo (‘Coquille’) ou, em alternativa, se

o tempo previsto de transporte não exceder os 15 minutos, através de um plano rígido

com estabilizadores de cabeça;

7. Manter a vítima aquecida;

8. Transportar calma e suavemente evitando trepidação.

6. TRAUMATOLOGIA DOS MEMBROS

Fractura é toda e qualquer alteração da continuidade de um osso. Habitualmente resulta de um

traumatismo directo, mas pode igualmente surgir na sequência de um traumatismo indirecto.

Embora as fracturas dos membros geralmente não coloquem em perigo a vida da vítima no

imediato podem, quando tratadas incorrectamente, provocar graves problemas.

A abordagem pré-hospitalar das fracturas passa, basicamente, pela sua correcta

imobilização, a melhor arma no auxílio do controlo da hemorragia e da dor.

6.1. Classificação das Fracturas

Abertas. São habitualmente designadas por fracturas expostas e os topos ósseos

comunicam directamente com o exterior.

Fechadas. São fracturas em que não há descontinuidade da pele.

Complicadas de ferida. São fracturas fechadas em que, na sua proximidade, existem

feridas (não relacionadas com a fractura).

Capítulo 8. Figura 91 - Fracturas (fechada e exposta) do fémur.

Page 184: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

162/262 Traumatologia TAT.01.10

Perante uma suspeita de fractura, a existência de ferida associada deve implicar o tratamento como se se tratasse de fractura exposta, até prova em contrário.

6.2. Sinais e Sintomas

Dor: diminui com a tracção e imobilização da fractura, constitui o sintoma mais fiel;

Impotência funcional: manifesta-se pela impossibilidade de efectuar o movimento

habitual daquele local. Por vezes é possível mobilizar o membro mas sempre de uma

forma dolorosa e limitada;

Deformidade: manifesta-se pela angulação anormal ou encurtamento do membro;

Crepitação: é a sensação de mobilidade anormal que se pode ouvir e sentir e resulta

do roçar dos topos ósseos. No entanto, não deve ser pesquisada em virtude de ser

muito dolorosa e poder agravar as lesões;

Edema: surge quase sempre, sendo uma reacção normal à agressão traumática;

Equimoses ou hematomas: são mais frequentes nos traumatismos directos.

Exposição dos topos ósseos: habitualmente, significa grande violência traumática

pois a energia cinética necessária para provocar uma fractura com descontinuidade da

pele é bastante elevada.

6.3. Cuidados de Emergência

Os cuidados de emergência perante suspeita de fracturas a nível pré-hospitalar passam pela

imobilização provisória:

Numa fractura não imobilizada ou incorrectamente imobilizada as perdas hemorrágicas

são muito maiores;

A dor, sendo produzida pelo roçar dos topos ósseos nos tecidos e uns nos outros, é

tanto mais intensa quanto mais incorrecta for a imobilização da fractura;

As duas situações anteriores contribuem para o agravamento do estado do doente.

6.4. Regras Gerais de Imobilização

Uma fractura ou suspeita de fractura deve ser sempre imobilizada, independentemente

da distância ao hospital;

Nas fracturas dos ossos longos imobiliza-se sempre a articulação acima e abaixo da

fractura;

A sequência de imobilização de uma fractura passa pela tracção (puxar ligeiramente)

prévia da mesma, segundo o eixo em que se encontra o membro, seguida de

alinhamento e finalmente imobilização;

Page 185: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Traumatologia 163/262

Em caso de fracturas em articulações, não deve ser feita tracção ao membro,

imobilizando-se na posição encontrada;

A imobilização deve ser feita com talas de madeira almofadadas, tendo o cuidado de

atender sempre ao estado circulatório do membro;

Após a imobilização, avalie a cor, o pulso periférico, a temperatura e sensibilidade da

extremidade do membro imobilizado;

Na presença de fracturas expostas, deve lavar a ferida e os topos ósseos

abundantemente com soro fisiológico, antes da imobilização, cobrindo a ferida e topos

ósseos com compressas embebidas em desinfectante.

Page 186: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

164/262 Traumatologia TAT.01.10

Page 187: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 165/262

CAPÍTULO 9 - TÉCNICAS DE EXTRACÇÃO E IMOBILIZAÇÃO DE VÍTIMAS DE TRAUMA

OBJECTIVOS

No final desta unidade modular, os formandos deverão ser capazes de:

1. Descrever as seguintes técnicas de imobilização e remoção:

- Imobilização cervical e aplicação do colar cervical;

- Rolamento;

- Levantamento;

- Remoção do capacete;

- Aplicação do colete de extracção;

- Chave de Rautek;

- Utilização da maca Scoop (pluma);

- Utilização da maca de vácuo (Coquille);

- Imobilização em plano duro;

- Imobilizações nos membros superiores:

- Imobilização da cintura escapular e úmero;

- Imobilização do cotovelo, antebraço, punho e mão.

- Imobilizações nos membros inferiores:

- Imobilização da cintura pélvica, fémur, joelho, perna e pé;

2. Aplicar as técnicas de imobilização e remoção de vítimas, utilizando o equipamento

adequado;

3. Descrever as opções e os cuidados a dispensar à vítima durante o transporte;

4. Descrever os cuidados a ter na passagem da vítima no hospital.

Page 188: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

166/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

1. INTRODUÇÃO

As técnicas de imobilização e remoção de vítimas de trauma têm, ao longo dos anos, vindo a

ser modificadas e adaptadas mas obedecendo sempre aos mesmos princípios. Entre esses

princípios, um destaca-se pela sua importância: mover a vítima somente o necessário para a

sua correcta remoção e imobilização, mantendo ou melhorando o seu estado, após a chegada

das equipas de socorro.

Assim, aqui constam todas as técnicas praticadas na formação em Emergência ministrada pela

Formação Técnica do INEM.

Temos consciência que novas técnicas e novos equipamentos fazem já parte do nosso

quotidiano mas, no entanto, a sua implementação na prática da formação técnica, implica o

consenso de todas as entidades envolvidas, pelo que ficam passíveis de ser incluídas em

futuras actualizações deste manual.

Devem ser evitados todos os movimentos desnecessários na execução das técnicas.

2. ESTABILIZAÇÃO CERVICAL COM ALINHAMENTO MANUAL

Objectivos: Manter a região cervical alinhada numa posição neutra até que a vítima esteja

completamente imobilizada.

Indicações: Quando há suspeita de lesão vertebro-medular.

Contra-indicações: O socorrista deve parar imediatamente o movimento se, do movimento

cuidadoso da cabeça e do pescoço para uma posição alinhada neutra, resultar alguma das

seguintes situações:

Espasmo da musculatura do pescoço;

Aumento da dor;

Aparecimento ou aumento de défice neurológico, como dormência, formigueiro ou perda

de capacidade motora;

Comprometimento da ventilação.

Page 189: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 167/262

Técnica:

Uma vez que, a partir do mecanismo de trauma, existe a suspeita de lesão vertebro-medular, o

primeiro passo é estabelecer de imediato uma imobilização da coluna cervical com alinhamento

manual em posição neutra, segundo os seguintes princípios::

A cabeça é segura e cuidadosamente mobilizada e alinhada em posição neutra, a não

ser que haja contra-indicação;

O alinhamento é mantido, sem qualquer tracção, em posição neutra;

No doente sentado ou de pé deve ser aplicada apenas uma tracção suficiente para

causar alívio de peso axial (tirar o peso da cabeça de sobre o resto da coluna cervical);

A cabeça deve ser mantida continuamente na posição alinhada neutra por imobilização

manual até que se complete a imobilização mecânica do tronco e da cabeça. Desta

maneira a cabeça e o pescoço do doente são imobilizados imediatamente,

permanecendo assim até depois do exame no hospital;

Mover a cabeça para uma posição alinhada neutra provoca menos risco do que

transportar o doente com a cabeça em posição desalinhada. Além disso, tanto a

imobilização como o transporte são muito mais simples com o doente em posição

neutra;

O movimento para uma posição alinhada neutra não deve ser tentado se as lesões do

doente são tão graves que a cabeça está numa posição em que parece não prolongar a

linha média dos ombros. Nestas situações a cabeça do doente deverá ser imobilizada

na posição em que foi encontrada inicialmente.

2.1. Abordagem Posterior com a Vítima Sentada:

1. O socorrista coloca-se por trás da vítima;

Capítulo 9. Figura 92 - Estabilização cervical: abordagem posterior com a vítima sentada.

Page 190: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

168/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

2. Coloca as suas mãos lateralmente sobre os pavilhões auriculares da vítima, sem

movimentar a cabeça;

3. Os polegares são colocados horizontalmente contra a porção posterior do crânio e os

indicadores também horizontalmente em direcção à região peri-orbitária;

4. Os quintos dedos (dedos mínimos) são colocados imediatamente abaixo do ângulo da

mandíbula;

5. Os restantes dedos são colocados lateralmente na face da vítima;

6. A pressão é aplicada de modo a manter a cabeça numa posição estável;

7. Se a cabeça não está alinhada numa posição neutra o socorrista mobiliza lentamente a

cabeça, até conseguir o alinhamento (excepto se estiver contra-indicado);

8. O socorrista aproxima os seus braços e apoia-os no banco, nos apoios de cabeça ou no

seu tronco, para se manter mais estável.

2.2. Abordagem Lateral com a Vítima Sentada:

1. Colocando-se ao lado da vítima, o socorrista passa o seu braço do lado posterior da

vítima sobre o ombro desta e apoia, com a sua mão em chave polegar indicador, a

região occipital, de modo a não deixar que a cabeça mexa;

Capítulo 9. Figura 93 - Estabilização cervical: abordagem lateral com a vítima sentada.

2. Entretanto, cuidadosamente, coloca o polegar e o indicador da outra mão, um de cada

lado da face da vítima, abaixo da região malar. Os restantes dedos são colocados junto

ao indicador de forma que o quinto (o mínimo) seja colocado imediatamente abaixo do

ângulo da mandíbula;

3. Se a cabeça não está alinhada numa posição neutra o socorrista mobiliza lentamente a

cabeça, até conseguir o alinhamento (excepto se estiver contra-indicado);

Page 191: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 169/262

4. Tem de ser mantida a pressão suficiente para suportar e estabilizar a cabeça;

5. O socorrista encosta os seus dois antebraços no tronco da vítima para efectuar um

suporte adicional.

2.3. Abordagem Anterior com a Vítima de Pé:

1. Posicionando-se directamente em frente da vítima, o socorrista coloca as suas mãos de

ambos os lados da cabeça desta sobre os pavilhões auriculares, sem movimentar a

cabeça;

Capítulo 9. Figura 94 - Estabilização cervical: abordagem anterior com a vítima de pé.

2. Se a cabeça não está alinhada numa posição neutra o socorrista mobiliza lentamente a

cabeça, até conseguir o alinhamento (excepto se estiver contra-indicado);

3. Tem de ser mantida a pressão suficiente para suportar e estabilizar a cabeça;

4. O socorrista encosta os seus dois antebraços no tronco da vítima para efectuar um

suporte adicional.

O socorrista também pode usar este método quando se ajoelha ao lado do tórax de uma vítima deitada em decúbito dorsal e está virado de frente para a face desta.

Page 192: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

170/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

2.4. Abordagem com a Vítima em Decúbito Dorsal:

Capítulo 9. Figura 95 - Estabilização cervical: abordagem com a vítima em decúbito dorsal.

1. O socorrista posiciona-se atrás da cabeça da vítima, na posição de ajoelhado ou

deitado;

2. As mãos do socorrista são colocadas de cada lado da cabeça da vítima, cobrindo com

as palmas da mão os pavilhões auriculares desta;

3. Os dedos do socorrista são colocados lateralmente, na face da vítima, a apontar

longitudinalmente na direcção dos pés (caudal), de modo a estabilizar a cabeça: os

dedos médios em direcção aos ângulos da mandíbula, os anelares e os mínimos em

direcção à região occipital, envolvendo-a;

4. Os cotovelos e os antebraços podem ser apoiados ou no chão ou nos joelhos do

socorrista, para um suporte adicional.

3. APLICAÇÃO DO COLAR CERVICAL

Objectivos: Manter a região cervical alinhada numa posição neutra até que a vítima esteja

completamente imobilizada.

Colocar um colar cervical de dimensão adequada, com uma eficiente actuação técnica.

Indicações: Quando há suspeita de lesão vertebro-medular.

Contra-indicações: Não existem se a técnica estiver indicada e for executada

adequadamente.

Page 193: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 171/262

Técnica:

Esta técnica deverá ser executada sempre que haja suspeita de traumatismo da coluna, após

remoção do capacete, antes de aplicar o colete de extracção ou efectuar o levantamento e

depois de efectuar o rolamento:

1. O primeiro elemento deve fazer ou manter, de acordo com a posição e a situação da

vítima, o alinhamento e a imobilização da cabeça e coluna cervical, em posição neutra,

deixando liberto o pescoço, para que seja mais fácil a aplicação do colar cervical;

Capítulo 9. Figura 96 - Escolher o tamanho do colar cervical

2. O segundo elemento, procederá à escolha do tamanho do colar cervical, medindo a

distância do ângulo da mandíbula à base do pescoço;

3. Os passos da aplicação do colar dependem do tipo de colar e das suas instruções de

colocação. No entanto, sempre que possível, deve-se optar por um colar de duas peças

e quatro apoios, ajustando primeiro a parte anterior do colar ao pescoço da vítima,

colocando, de seguida, a parte posterior do colar (base), procedendo então ao ajuste

final;

Capítulo 9. Figura 97 - Aplicação da peça anterior, Introdução da peça posterior

Page 194: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

172/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

Capítulo 9. Figura 98 - Centrar a peça posterior, Aperto da peça posterior

Capítulo 9. Figura 99 - Alinhamento e imobilização segundo o eixo nariz-umbigo-pés.

4. O primeiro elemento mantém sempre o alinhamento em posição neutra (segundo o eixo

nariz-umbigo-pés) e a imobilização, durante os movimentos que for necessário realizar

de seguida com a vítima.

Para o transporte da vítima em plano rígido é obrigatória a aplicação de aranha ou dos três cintos do plano e depois destes de estabilizadores laterais de cabeça.

4. ROLAMENTO

Objectivos: Mobilizar uma vítima para um plano duro, mantendo estabilização com

alinhamento manual e com o mínimo movimento da coluna vertebral.

Indicações: Para posicionar uma vítima para cima de um plano duro ou outro equipamento

que permita transportá-la; para rodar uma vítima com suspeita de trauma vertebro-medular,

com o objectivo de examinar a face posterior do tronco.

Contra-indicações: Vítimas em decúbito dorsal com suspeita de trauma da bacia; trauma

bilateral dos membros, objectos empalados e eviscerações.

Técnica: A técnica tem de ser adaptada de acordo com a posição em que a vítima se encontra.

Page 195: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 173/262

4.1. Vítima em Decúbito Dorsal:

1. Enquanto o primeiro socorrista se coloca à cabeça da vítima e mantém o alinhamento

com estabilização em posição neutra, o segundo socorrista aplica o colar cervical de

tamanho adequado;

Capítulo 9. Figura 100 - Posicionamento para rolamento de vítima em decúbito dorsal.

2. O primeiro socorrista continua a cabeça (mantendo o alinhamento com estabilização em

posição neutra), o segundo socorrista ajoelha-se ao nível do tórax da vítima e o terceiro

ajoelha-se ao nível dos joelhos;

3. Os braços e as pernas são alinhados junto ao corpo e o plano duro colocado no lado

oposto aos socorristas;

4. A vítima é agarrada pelos ombros e pelas ancas em simultâneo, de modo a manter as

extremidades alinhadas em posição neutra e é rolada suavemente na direcção do

segundo e terceiro socorristas;

5. O plano duro é apoiado no bordo lateral oposto aos socorristas ou, quando colocado por

um quarto elemento, aplicado contra o dorso da vítima. Deve ser posicionado de forma

que a sua porção terminal (zona dos pés) fique na região entre os joelhos e os

tornozelos da vítima e a porção superior (zona da cabeça) fique colocada acima da

cabeça da vítima;

Capítulo 9. Figura 101 - Posicionamento do plano com a vítima rolada até próximo do ângulo recto.

6. A vítima é rolada para cima do plano duro ou desce junto com este para o solo com a

vítima em cima;

Page 196: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

174/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

7. Uma vez o plano colocado no solo, a vítima é firmemente agarrada pelos ombros,

região pélvica e membros inferiores, sendo de seguida deslocada para cima e para o

lado, ao longo do plano duro, até ser posicionada com a cabeça colocada no topo do

plano e o corpo centrado;

Capítulo 9. Figura 102 - Posicionamento da vítima no final do rolamento.

8. A manutenção da estabilização com alinhamento em posição neutra deve ser feita sem

puxar pela cabeça (ou pescoço) da vítima.

4.2. Vítima em Decúbito Ventral:

Quando a vítima se apresenta em decúbito ventral, pode ser utilizado um método de

estabilização semelhante ao descrito para a vítima em decúbito dorsal:

1. Procede-se do mesmo modo ao alinhamento inicial dos membros;

2. A posição do segundo e terceiro socorristas e a colocação das mãos são também as

mesmas;

3. É também obrigatório manter o alinhamento;

Nesta situação o colar cervical só pode ser colocado depois da vítima estar colocada e alinhada sobre o plano duro e nunca antes.

4. Se possível, a vítima deve ser sempre rolada na direcção contrária àquela para onde a

sua face esta inicialmente voltada;

5. O primeiro socorrista coloca-se à cabeça da vítima e mantém o alinhamento com

estabilização em posição neutra;

6. O plano duro é colocado entre os socorristas e a vítima e apoiado no bordo lateral,

posicionado de forma que a sua porção terminal (zona dos pés) fique acima dos

tornozelos da vítima;

Page 197: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 175/262

7. Enquanto o segundo socorrista ajoelhado ao nível do tórax da vítima agarra com uma

mão o seu ombro mais distante e com a outra o punho e a anca, o terceiro, ajoelhado

ao nível dos joelhos agarra com uma mão o braço e a anca e com a outra os membros

inferiores da vítima;

8. A vítima é rolada em direcção ao plano duro, de forma que quando já está deitada de

lado, perpendicular ao chão, dado que a cabeça rodou menos que o tronco, fica

devidamente alinhada;

9. Depois de o segundo e o terceiro socorristas reposicionarem três das mãos no lado

oposto da vítima, uma fixa o plano duro, a vítima e o plano são descidos para o solo.

Firmemente agarrada pelos ombros, região pélvica e membros inferiores, a vítima é de

seguida deslocada para cima e para o lado, ao longo do plano duro, até ser posicionada

com a cabeça colocada no topo do plano e o corpo centrado. Finalmente é colocado o

colar cervical;

10. A manutenção da estabilização com alinhamento em posição neutra é feita sem puxar

pela cabeça (ou pescoço) da vítima.

Capítulo 9. Figura 103 - Colocação dos apoios de cabeça, fase final da imobilização no plano rígido.

Completado o rolamento e colocado o colar cervical do tamanho adequado, a vítima é imobilizada no respectivo plano rígido, com aranha ou precintas e aplicados os apoios de cabeça.

Page 198: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

176/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

5. LEVANTAMENTO

Objectivos: Proceder ao levantamento de uma vítima mantendo o alinhamento da coluna

vertebral em posição neutra, segundo o eixo nariz – umbigo – pés.

Indicações: Quando há suspeita de lesão vertebro-medular.

Contra-indicações: A técnica só deve ser executada se existirem pelo menos quatro

elementos treinados para a sua execução (sendo seis o número ideal).

Técnica:

1. Antes de se realizar um levantamento deverá sempre ser aplicado o colar cervical;

2. O chefe da equipa manterá o alinhamento e a imobilização em posição neutra, segundo

o eixo nariz – umbigo – pés, e comandará os movimentos;

3. O segundo e o terceiro elementos ajoelhados de um dos lados da vítima e o quarto e o

quinto elementos do outro lado, com o mesmo joelho no chão, colocam correctamente

os membros superiores e inferiores da vítima de forma a permitir o levantamento;

4. O sexto elemento pegará no Plano Duro, que a seu tempo introduz debaixo da vítima;

5. Os elementos posicionados lateralmente à vítima, colocam as mãos sobre esta, para

percepcionarem a sua correcta localização durante o levantamento, de forma a distribuir

o peso da cintura escapular, do tronco, do abdómen, da cintura pélvica e dos membros

inferiores da vítima, a fim de que esta seja mobilizada o menos possível. O Chefe de

equipa dará indicação ‘Colocar mãos!’;

Capítulo 9. Figura 104 - O chefe da equipa mandará ‘colocar mãos’.

Page 199: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 177/262

6. Introduzirão as mãos debaixo da vítima, nas localizações definidas, sem perturbar o

alinhamento, com movimentos de deslizamento. O Chefe de equipa dará indicação

‘Introduzir!’;

Capítulo 9. Figura 105 - O chefe da equipa mandará ‘introduzir mãos’.

7. Aplicando a força para cima e para a frente farão o levantamento em bloco, até à altura

dos joelhos, sempre seguindo indicação expressa do chefe de equipa ‘À minha voz

três, levantar! – Um … dois … três!’;

Capítulo 9. Figura 106 - O chefe da equipa mandará levantar ao dizer ‘três’.

8. O Plano Duro será introduzido por baixo da vítima, pelo lado dos pés, de forma que o

topo do plano fique a um nível superior ao da cabeça da vítima, com cuidado para não

traumatizar o chefe de equipa: ‘Plano duro!’;

Page 200: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

178/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

Capítulo 9. Figura 107 - O chefe da equipa mandará ‘introduzir o plano duro’.

9. Farão de seguida, sob indicação do chefe de equipa, o abaixamento em bloco, de forma

que a vítima fique posicionada com a cabeça colocada no topo do plano e o corpo

centrado: ‘Baixar!’;

Capítulo 9. Figura 108 - O chefe da equipa mandará ‘baixar a vítima centrada no plano duro’.

10. As mãos deverão ser retiradas com os mesmos cuidados como quando foram

introduzidas;

11. Logo que a vítima está correctamente posicionada sobre o plano duro, seguindo

indicação do chefe, procede-se de seguida à sua imobilização no respectivo plano

rígido.

5.1. Maca Pluma (SCOOP)

Objectivos: Conhecer os objectivos da utilização deste tipo de equipamento. Utilizar

adequadamente a maca ‘Scoop’.

Indicações: Quando há suspeita de lesão vertebro-medular, e apenas para transferir a vítima

para plano duro.

Page 201: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 179/262

Contra-indicações: Só deve ser utilizada estando a vítima em decúbito dorsal e não pode ser

usada como maca de transporte.

Técnica:

1. Antes de se aplicar a maca ‘Scoop’ deverá ser colocado, usando a técnica adequada,

um colar cervical;

2. O primeiro elemento deve proceder ou manter o alinhamento e a imobilização em

posição neutra da coluna cervical;

Capítulo 9. Figura 109 - O chefe da equipa manterá o alinhamento e a imobilização em posição neutra.

3. O segundo e o terceiro elementos devem colocar a maca ao lado da vítima e adaptá-la

à sua altura, abrindo-a e dividindo-a em duas partes;

Capítulo 9. Figura 110 - Adaptação à altura, divisão em duas partes e colocação de uma de cada lado.

4. O segundo elemento agarra no ombro mais distante e na anca da vítima e alivia-a

ligeiramente, rolando-a para si, de modo a facilitar a introdução de metade da maca

pluma pelo terceiro elemento. Sem mudarem de posição estes dois elementos alternam

o procedimento de modo a ser introduzida a outra metade da maca;

Page 202: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

180/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

Capítulo 9. Figura 111 - Introdução de cada uma das partes da maca através de pequeno rolamento.

5. Estes segundo e terceiro elementos procedem ao fecho da maca, unindo-a primeiro em

cima e depois junto aos pés da vítima;

Capítulo 9. Figura 112 - Fecho das partes da maca na cabeça depois nos pés.

6. O segundo e terceiro elementos, pegando pelos apoios laterais e à ordem do primeiro

elemento, que deverá manter o alinhamento e a imobilização em posição neutra da

coluna cervical, procedem ao levantamento da vítima;

Page 203: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 181/262

Capítulo 9. Figura 113 - Colocação em local definitivo, abertura da maca e remoção das partes e

imobilização.

7. Após a colocação da vítima no local definitivo, o segundo e terceiro elementos abrem a

maca, começando por cima, e, executando um movimento para fora e para cima,

retiram alternadamente as duas metades da maca.

6. IMOBILIZAÇÃO EM PLANO DURO

Objectivos: Manter a estabilidade da coluna vertebral numa vítima com suspeita de trauma,

vértebra medular.

Indicações: Quando há suspeita de lesão vertebro-medular e quando é necessário proceder à

imobilização rápida de uma vítima instável.

Contra-indicações: Deve ser utilizado apenas durante o tempo indispensável pois o seu uso

prolongado pode provocar úlceras de pressão.

Técnica:

1. A base do imobilizador de cabeça deve estar previamente colocada no plano duro;

2. O primeiro elemento procede ou mantém o alinhamento da coluna cervical;

3. O segundo elemento, se a técnica ainda não estiver executada, coloca o colar cervical;

Page 204: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

182/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

Capítulo 9. Figura 114 - Preparação do plano e imobilização cervical.

4. Este elemento coloca seguidamente o cinto do tórax e depois o cinto da região pélvica

de forma a não permitir qualquer movimento longitudinal ou lateral do tronco da vítima;

5. O passo seguinte é a colocação dos imobilizadores de cabeça;

6. O segundo elemento substitui o primeiro no alinhamento da coluna cervical, aplicando a

mão aberta em chave polegar indicador, sob o maxilar inferior, juntamente com o colar

cervical, exercendo pressão no sentido do plano e para cima;

7. O primeiro elemento aplicará as almofadas, lateralmente, ajustadas ao crânio, fazendo

encaixar as orelhas da vítima nos orifícios existentes;

8. Este elemento procede, de seguida, à colocação dos cabrestos de fixação, primeiro o

cabresto do frontal que prende na parte lateral inferior das almofadas, depois o do

mento, cruzando com o primeiro para fixação superior;

Capítulo 9. Figura 115 - Vítima correctamente imobilizada em plano duro, com ‘aranha’ e imobilizadores de

cabeça.

9. Finalmente são fixadas as pernas imediatamente abaixo do joelho e acima do tornozelo,

devendo os espaços livres ser almofadados de modo a que a vítima não se mobilize

nem deslize.

Page 205: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 183/262

6.1. Alinhamento Cervical em Posição Neutra - Almofadado

Objectivos: Colocação inferior à cabeça e pescoço da vítima de almofadado para manter o

alinhamento em posição neutra.

Indicações: Sempre que devido à anatomia da vítima se torne necessário.

Técnica:

1. O preenchimento do espaço inferior à cabeça e pescoço com lençol dobrado ou

qualquer outra estrutura pouco depressível, para não ceder ao peso do corpo, de modo

a manter o alinhamento em posição neutra;

2. Para proceder a este almofadado, em vítima em decúbito dorsal, deve utilizar-se a

altura necessária para manter o alinhamento da abertura do ouvido com o topo do

ombro, ficando a face centrada na linha média.

7. COLETE DE EXTRACÇÃO

Objectivos: Proceder à extracção de uma vítima com suspeita de lesão vertebro-medular,

mantendo a protecção, imobilização e estabilização da coluna vertebral:

Indicações: Quando há necessidade de proceder à extracção de uma vítima sentada, com

suspeita de lesão vertebro-medular.

Contra-indicações: Vítima crítica.

Técnica:

1. Durante a execução da técnica devem ser constantemente vigiados os sinais vitais e

verificar se surge dificuldade respiratória antes da aplicação do colete;

2. O primeiro e o segundo elementos executam e mantém a imobilização e o alinhamento

em posição neutra da coluna cervical, segundo o eixo nariz-umbigo-pés, devendo ser

colocado um colar cervical;

Page 206: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

184/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

Capítulo 9. Figura 116 - Imobilização cervical.

3. Um elemento abre o colete guardando os ‘cabrestos’ e a almofada em local propício à

sua próxima utilização;

Capítulo 9. Figura 117 - Colete de extracção.

4. O colete é seguro pelas ‘abas inferiores’, à frente do corpo do socorrista, apanhando

conjuntamente as precintas dos membros inferiores, entretanto desprendidas dos seus

locais de fixação, uma de cada um dos respectivos lados;

5. Este elemento introduz lateralmente o colete de extracção, fazendo-o deslizar pelas

costas da vítima para que as abas e as precintas passem para o outro lado e sejam

apanhadas pelo terceiro elemento;

Page 207: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 185/262

Capítulo 9. Figura 118 - Colocação e adaptação às axilas do colete de extracção.

6. O segundo e o terceiro elementos ajustam muito bem e em conjunto, um de cada lado,

as abas às axilas e ao tórax e fixam-as de seguida, com a precinta do meio, depois com

a inferior;

Capítulo 9. Figura 119 - Colocação das precintas do tórax.

7. O ajustamento inicial faz-se segurando a precinta a meio do tórax com uma mão e

traccionando com a outra na parte da precinta logo a seguir ao fecho, sempre com

atenção a possíveis lesões da vítima nesta área do corpo;

Page 208: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

186/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

8. Se necessário, o segundo elemento dobra a almofada de forma a preencher a curvatura

cervical e coloca-a no espaço entre o colete de extracção e a coluna e antes da

colocação dos cabrestos o terceiro elemento substitui o primeiro na imobilização

cervical;

Capítulo 9. Figura 120 - Colocação da almofada cervical.

9. De seguida o primeiro elemento, com a ajuda do segundo, aplicam os ‘cabrestos’,

começando pelo frontal, de forma que este prenda em baixo e aplicam depois o do

mento que prende em cima;

Capítulo 9. Figura 121 - Colocação dos cabrestos.

10. Finalmente o primeiro elemento reassume a imobilização cervical;

11. O segundo e o terceiro elementos, um de cada vez, de cada lado, colocam as precintas

dos membros inferiores de forma a que, vindas de trás, fiquem a passar por baixo das

raízes das coxas, directamente no sentido do meio destas. Para isso fazem-nas

deslizar, com movimentos em serra até à posição adequada;

12. De seguida, passando por cima da outra coxa, prendem-nas no encaixe destas que se

localizam nas abas contra laterais;

Page 209: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 187/262

Capítulo 9. Figura 122 - Manutenção da estabilização e colocação das precintas dos membros inferiores.

13. Fixam depois o cinto superior das abas laterais, sem perturbar a respiração;

Capítulo 9. Figura 123 - Colocação da precinta superior do tórax.

14. Por fim, segurando sempre antes do fecho com uma mão e traccionando com a outra na

parte a seguir àquele, ajustam-se todas as precintas, sem perturbar a função

respiratória da vítima.

7.1. Remoção de Vítimas com Colete de Extracção

Técnica: As vítimas podem ser retiradas, com a ajuda de um plano duro, pela traseira da

viatura, por um ou pelo outro lado (ex: portas), conforme as circunstâncias, a situação clínica,

as dificuldades de espaço, ou outras:

Page 210: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

188/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

1. Após a aplicação correcta do colete de extracção inicia-se a remoção da vítima,

mantendo um elemento a imobilização e o alinhamento em posição neutra segundo o

eixo nariz-umbigo-pés;

2. Um outro elemento apoia o plano duro, enquanto os restantes rodam/colocam,

deslocam/deslizam a vítima sobre este plano;

Capítulo 9. Figura 124 - Rodam, colocam, deslizam sobre o plano duro.

3. Sempre que, para que se proceder à remoção de uma vítima, as circunstâncias

exigirem uma rotação, o elemento que mantém a imobilização em posição neutra,

comanda a execução da técnica, com a ajuda das pegas traseiras e de forma

coordenada com os outros elementos;

4. Um terceiro elemento mantém os membros inferiores da vítima sempre flectidos até que

possam ser aliviadas as precintas;

Capítulo 9. Figura 125 - Mantém os membros inferiores flectidos.

Page 211: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 189/262

Pode também retirar-se a vítima pela frente, em ‘cadeira’.

5. Rodada a vítima de frente para o exterior (saída), de forma coordenada pelo elemento

que mantém a imobilização em posição neutra, o segundo e o terceiro elementos, com

uma mão na pega lateral e a outra na coxa homolateral da vítima, retiram-na em

‘cadeira’ e colocam-na sobre um plano rígido, mantendo os membros inferiores sempre

flectidos até que possam ser aliviadas as precintas;

Capítulo 9. Figura 126 - Centrada no plano, reajustadas as precintas segue-se a imobilização.

6. Nesta altura podem ser aliviadas/retiradas as precintas dos membros inferiores e, após

alinhar a vítima, são reajustadas as precintas superiores (do tórax e abdómen) e

procede-se de seguida à imobilização no respectivo plano rígido;

Capítulo 9. Figura 127 - Devem ser sempre aplicadas as precintas da maca da Ambulância.

7. Caso não exista plano duro, a vítima deve ser colocada directamente na maca da

Ambulância.

Page 212: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

190/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

8. EXTRACÇÃO RÁPIDA

Objectivos: Estabilização manual duma vítima com lesões que colocam a vida em perigo,

antes ou durante a sua mobilização.

Indicações: Para extracção de vítimas cujo exame primário revela lesões críticas que colocam

a vida em perigo;

Quando a zona do acidente é insegura e claramente perigosa para a Vítima e para a equipa ou

quando a vítima tem de ser extraída rapidamente para permitir o acesso a outra vítima mais

grave.

Contra-indicações: Não deverá nunca ser usada como ‘escolha’ ou ‘preferência’ do socorrista,

mas apenas pelos critérios mencionados nas indicações da técnica.

8.1. Com um Socorrista (CHAVE DE RAUTEK)

A técnica, utilizada apenas quando um socorrista se encontra sozinho, depende da posição da

vítima sendo as indicações e contra-indicações as descritas para a ‘extracção rápida’.

8.1.1. Vítima Sentada:

1. Na vítima sentada o elemento que vai aplicar a técnica deverá colocar-se lateralmente à

vítima, ligeiramente atrás, olhando na mesma direcção;

2. O socorrista faz passar o seu membro superior mais afastado por baixo da axila mais

próxima da vítima;

3. Sobe e, com a mão aberta em chave polegar indicador, aplicada no maxilar inferior fixa

a coluna cervical e a cabeça contra a sua cabeça ou o seu corpo;

4. O seu outro membro superior entra, também, por trás do outro ombro da vítima passa

por baixo da axila e fixa, se possível, os dois punhos da vítima;

Page 213: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 191/262

Capítulo 9. Figura 128 - O socorrista faz a imobilização possível da vítima contra o seu corpo.

5. Quando não é possível fixar os dois punhos, fixa apenas o punho contralateral da

vítima, o outro punho, o cinto, ou a roupa;

6. O socorrista retira então o acidentado apoiado contra o seu corpo e sem perder a

atenção à coluna cervical, fá-lo deslizar até ao solo;

Capítulo 9. Figura 129 - Colocada no solo, faz o apoio possível à coluna dorsal, até decúbito dorsal.

7. O socorrista coloca a bacia do acidentado no solo (ou sobre um plano duro), apoia o

joelho de fora no solo e, inicialmente, a coluna dorsolombar da vítima com a outra

perna, sem perder a atenção à coluna cervical;

8. Faz deslizar o cotovelo posterior para baixo para substituir a perna e faz deslizar de

seguida a vítima para a posição de decúbito dorsal.

8.1.2. Vítima Deitada em Decúbito Ventral:

1. Na vítima deitada em decúbito ventral o elemento que vai aplicar a técnica deverá

colocar-se lateral, do lado da nuca da vítima, olhando na mesma direcção;

Page 214: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

192/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

Capítulo 9. Figura 130 - O socorrista coloca-se junto à nuca da vítima.

2. Para fazer a imobilização possível da coluna cervical do acidentado, fixa com a mão do

seu membro superior do lado da nuca da vítima, a região occipital da mesma, em chave

polegar-indicador;

3. Fazendo entrar o seu outro membro superior por baixo da axila da vítima, do lado da

sua face, fixa, com a outra mão aberta em chave polegar-indicador o seu maxilar

inferior;

Capítulo 9. Figura 131 - O socorrista faz a imobilização possível da coluna cervical.

4. Utilizando o seu membro superior que fixa o maxilar e que se encontra encostado e

para baixo do tórax do acidentado, o socorrista rola a vítima até à posição de decúbito

dorsal, no solo (ou para cima de um plano duro), sem perder a atenção à coluna

cervical.

Capítulo 9. Figura 132 - O socorrista rola a vítima até à posição de decúbito dorsal, sem perder a atenção à

coluna cervical.

Page 215: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 193/262

8.2. Com três ou mais Socorristas

Indicações e contra-indicações: As descritas neste capítulo para ‘extracção rápida’, tendo

indicação quando estão disponíveis três ou mais socorristas (estando a vítima na posição de

sentada, por exemplo numa viatura).

Técnica:

1. Em primeiro lugar é iniciada a estabilização, com alinhamento manual, da cabeça e

pescoço;

2. Para proceder à estabilização é mais fácil se o socorrista conseguir ter acesso à vítima

pelo banco de trás. Se tal não for possível, deverá colocar-se lateralmente;

3. Logo que, através de uma destas abordagens, a cabeça e o pescoço da vítima são

trazidos para a posição neutra, deve ser rapidamente colocado um colar cervical do

tamanho adequado;

4. Uma maca com o plano duro em cima deve ser aproximada da porta do veículo. Se não

for possível trazer a maca até junto do veículo, outro socorrista terá de segurar

firmemente o plano que irá receber a vítima;

5. Enquanto a estabilização manual é mantida pelo primeiro elemento, o tronco da vítima

(porção superior e inferior) e os membros inferiores são controlados respectivamente

pelo segundo e terceiro elemento;

6. A vítima é rodada, efectuando uma série de pequenos movimentos, controlados, até

que a estabilização manual já não possa continuar a ser mantida pelos socorristas

nestas posições;

7. Depois de colocar os membros inferiores em posição que permita a sua mobilização, o

terceiro, ou um quarto socorrista, aproxima-se então pelo exterior do veículo e através

da porta por onde irá sair a vítima substitui e assegura o controlo da estabilização

manual da coluna cervical, ao lado do segundo socorrista;

8. O socorrista que estava no banco de trás, sai do carro e assegura o controlo da porção

inferior do tronco e dos membros inferiores e a rotação da vítima é continuada até que

esta possa sair para fora do veículo através da porta aberta e possa ser colocada sobre

o plano duro;

9. O plano é colocado com a porção terminal (zona dos pés) em cima do assento do

veículo e com a porção superior (da cabeça) em cima da maca da ambulância ou se

não for possível trazer a maca até junto do veículo, outro socorrista terá de segurar

firmemente o plano;

10. Enquanto o tronco da vítima é mobilizado para cima do plano, mantém-se o controlo do

tórax e da região pélvica e membros inferiores, a vítima é deslizada ao longo do plano;

Page 216: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

194/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

11. O socorrista que mantém a estabilização manual tem de estar atento para não puxar a

vítima, mas apenas apoiar e manter a estabilização da cabeça e do pescoço;

12. Após a colocação da vítima sobre o plano, esta deverá ser fixada ao mesmo, primeiro a

porção superior do tronco, seguida da região pélvica, depois a cabeça e finalmente os

membros inferiores;

13. Se não existirem condições de segurança no local, a vítima deve ser deslocada para

uma zona sem perigo, antes de ser fixada ao plano, e este à maca.

8.2.1 Notas e princípios fundamentais para uma extracção rápida, com três ou mais

elementos, com sucesso:

O método descrito em 8.2 representa apenas um exemplo de extracção rápida cujos passos,

de acordo com as circunstâncias e o local, podem ser modificados desde que sejam mantidos

os seguintes princípios:

manter a estabilização manual sem interrupção ao longo de toda a extracção;

manter toda a coluna vertebral alinhada;

não efectuar movimentos desnecessários.

Para tal, a técnica deve ser executada do seguinte modo:

1. Um primeiro socorrista tem de manter permanentemente a estabilização da cabeça e do

pescoço; um segundo socorrista roda e estabiliza a porção superior do tronco e um

terceiro socorrista tem de controlar a porção inferior do tronco, da região pélvica e dos

membros inferiores;

2. Cada movimento deve ser controlado e de pequena amplitude, parando para

reposicionar e para preparar o movimento seguinte;

3. É impossível manter o alinhamento e a estabilização manual se se tentar mover a vítima

num movimento só, a pressa pode causar atrasos e movimento da coluna;

4. Cada situação e cada vítima podem requerer adaptação destes princípios;

5. Esta técnica só pode decorrer com eficiência se for previamente praticada;

6. Cada socorrista deve saber os movimentos que vão ser executados pelos outros.

9. REMOÇÃO DO CAPACETE

Objectivos: Retirar o capacete minimizando o risco de causar lesões adicionais.

Page 217: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 195/262

Indicações: Observar a calote craniana e a face; despistar ou controlar hemorragias ou outras

lesões; executar reanimação cardiorespiratória; garantir o acesso à via aérea; ou estabilizar a

coluna cervical correctamente.

Técnica:

Deve ser executada apenas por dois elementos com formação adequada:

1. O chefe da equipa imobilizará o capacete e, se a cabeça da vítima estiver acessível,

coloca as mãos lateralmente impedindo os movimentos, mas possibilitando a abertura

da viseira;

Capítulo 9. Figura 133 - Imobilização do capacete e da cabeça e abertura da viseira.

2. O segundo elemento, se for possível, abre a viseira (se estiver fechada), e procura

objectos empalados ou que façam obstrução mecânica da via aérea.

3. Em seguida corta/abre o aperto do capacete (fita do queixo) e colocando-se na melhor

posição, lateralmente, e olhando para a face da vítima, aplica as mãos abertas em

chave polegar-indicador, uma sob o maxilar inferior e a outra em posição oposta na

região occipital, a fim de fazer a imobilização possível da cabeça e da coluna cervical;

Capítulo 9. Figura 134 - Abertura da precinta e imobilização cervical.

4. O primeiro elemento, abre lateralmente o capacete retira-o, com muito cuidado,

oscilando-o, com movimentos firmes mas suaves, no seu eixo anteroposterior. É

fundamental o aviso da saída do capacete pois o outro elemento deve estar preparado

para o ressalto final e para suportar o peso da cabeça;

Page 218: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

196/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

Capítulo 9. Figura 135 - Retira suavemente o capacete e avisa da saída.

5. Este primeiro elemento, aplica lateralmente à cabeça da vítima as mãos abertas

também em chave polegar indicador, com os dedos polegares nas regiões malares e os

indicadores na região occipital, ou em posição inversa, ou intermédia conforme a

posição da vítima, substituirá o segundo elemento na imobilização da coluna cervical;

Capítulo 9. Figura 136 - Substitui a imobilização cervical.

6. O seu posicionamento e a colocação das mãos, devem prever a aplicação de outras

técnicas (ex.: rolamento), quando a vítima não se encontra em decúbito dorsal;

7. Quando a vítima é colocada em decúbito dorsal, deve proceder-se ao alinhamento em

posição neutra, tendo como pontos de referência o nariz – umbigo – pés. O segundo

elemento procede então à aplicação do colar cervical.

Se a vítima é encontrada em decúbito ventral e a coluna cervical está desalinhada, o alinhamento definitivo da vítima tendo como pontos de referência nariz - umbigo - pés, só será completado durante o rolamento que se seguirá à remoção do capacete.

10. IMOBILIZAÇÃO VERTICAL

Objectivos: Imobilizar completamente uma vítima em posição ortostática (de pé), mantendo a

cabeça e o pescoço alinhados numa posição neutra, minimizando o risco de lesões adicionais.

Page 219: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 197/262

Indicações: Para imobilizar a coluna vertebral numa vítima de trauma que está de pé (podendo

até estar a andar), mas em que há suspeita de lesão vertebro-medular.

Contra-indicações: Não existem (logo que a imobilização esteja indicada).

Técnica: Existem dois métodos para imobilizar uma vítima em posição de pé, dependendo

essencialmente do número de socorristas presentes.

10.1. Com dois Socorristas:

1. Quando não estão disponíveis mais socorristas, é possível e adequado proceder à

mobilização apenas com dois, que actuarão um de cada lado da vítima virados na

direcção desta;

2. Enquanto um elemento procede à estabilização manual da cervical, que deve ser

efectuada abordando a vítima pela frente, o segundo elemento deve aplicar um colar

cervical de tamanho adequado;

3. Este segundo elemento posiciona-se, lateralmente, de frente para a vítima e coloca o

plano duro encostado atrás desta. Segura com a mão do lado interior, cujo braço passa

pela axila da vítima, o plano duro num dos seus orifícios deste nível. A outra mão irá

substituir na imobilização cervical a mão do mesmo lado do outro elemento;

Capítulo 9. Figura 137 - Posição do segundo elemento que, na foto, encobre o primeiro elemento.

4. Os dois elementos, com as mãos exteriores, com os dedos abertos e a palma da

mão de encontro à face da vítima, fazem igual pressão para dentro (um na direcção do

outro), de modo a manter a estabilização cervical manual e a fixação da vítima ao plano

duro;

Page 220: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

198/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

Capítulo 9. Figura 138 - Posição dos dois elementos e descida do plano e da vítima.

5. A vítima é descida até ao chão, juntamente com o plano duro, com cuidado para o plano

não deslizar, devendo os dois socorristas trabalhar em simultâneo durante este

movimento, que deve ser seguro e síncrono, para assegurar a máxima estabilização

manual;

Capítulo 9. Figura 139 - Posição dos dois elementos e descida do plano e da vítima.

10.2. Com três ou mais Socorristas:

1. Enquanto um elemento procede à estabilização da cervical, com alinhamento manual,

que deve ser efectuada abordando a vítima por trás, um outro elemento deve aplicar um

colar cervical de tamanho adequado;

2. Dois elementos posicionam-se, lateralmente, de frente para a vítima e introduzem

lateralmente um plano duro encostado atrás desta;

3. Os seus braços passando pelas axilas da vítima, seguram com as mãos do lado interior

o plano duro nos seus orifícios deste nível;

Page 221: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 199/262

4. O primeiro elemento mantém a estabilização cervical enquanto a vítima é segura ao

plano duro e descida juntamente com este até ao chão, devendo os três socorristas

trabalhar em simultâneo durante este movimento, que deve ser seguro e síncrono, para

assegurar a máxima estabilização manual;

Quando a vítima e o plano estão no chão, a estabilização com alinhamento manual é mantida e a vítima é imobilizada no plano duro.

11. IMOBILIZAÇÕES DOS MEMBROS SUPERIORES

Notas:

Devem ser evitados movimentos desnecessários;

Atenção à possíveis lesões crânio-encefálicas ou da coluna;

Pesquisar pulso radial, sensibilidade e mobilidade;

Em todas as imobilizações o chefe da equipa mantém a imobilização e o alinhamento

em posição neutra segundo o eixo nariz-umbigo-pés e comanda os movimentos;

Estas vítimas, quando deitadas, podem ser transportadas, imobilizadas em plano duro

ou em maca de vácuo sendo neste caso mais seguro se a maca da ambulância for um

plano duro.

11.1. Imobilização Provisória da Cintura Escapular

Técnicas:

1- Nas vítimas sentadas, o segundo elemento ajusta comodamente o membro superior

lateralmente, com o antebraço flectido para a frente do corpo. O terceiro elemento

aplica as ligaduras, imobilizando o braço contra o tronco e apoiando o antebraço;

2- Nas vítimas deitadas, o segundo elemento ajusta comodamente o membro superior do

acidentado contra o tronco enquanto outros elementos imobilizam a vítima em maca de

vácuo.

11.2. Imobilização Provisória do Umero

Técnicas:

1- Nas vítimas sentadas, o segundo elemento ajusta sob tracção mas comodamente o

braço a uma tala de madeira almofadada, colocada lateralmente, com o antebraço

flectido para a frente do corpo. O terceiro elemento aplica as ligaduras, imobilizando o

braço contra a tala e depois contra o tórax, apoiando o antebraço;

Page 222: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

200/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

2- Nas vítimas deitadas, o segundo elemento ajusta sob tracção mas comodamente o

membro superior do acidentado a uma tala de madeira almofadada, o terceiro elemento

aplica as ligaduras, imobilizando o membro contra a tala, outros elementos imobilizam

de seguida a vítima em plano duro ou em maca de vácuo.

11.3. Imobilização Provisória do Cotovelo

Técnicas:

1- Nas vítimas sentadas, o segundo elemento ajusta comodamente o membro superior do

acidentado a duas talas de madeira almofadadas, colocadas lateralmente, com o

antebraço na máxima extensão possível. O terceiro elemento aplica as ligaduras,

imobilizando o braço e o antebraço contra as talas e depois contra o tórax;

2- Nas vítimas deitadas, o segundo elemento ajusta comodamente o membro superior do

acidentado a duas talas de madeira almofadadas, colocadas lateralmente, com o

antebraço na máxima extensão possível. O terceiro elemento aplica as ligaduras,

imobilizando o braço e o antebraço contra as talas, outros elementos imobilizam de

seguida a vítima em plano duro ou em maca de vácuo.

11.4. Imobilização Provisória dos Ossos do Antebraço Punho e Mão:

1. O segundo elemento ajusta, sob tracção, mas comodamente, o antebraço do

acidentado a uma tala de madeira almofadada, colocada do lado que não apresenta

tumefacção;

2. O terceiro elemento, colocando um rolo de ligadura entre a palma da mão e a tala,

quando for o caso, aplica as ligaduras, imobilizando o membro contra a tala desde o

braço até à mão, ou apenas do antebraço até à mão (dedos), nas lesões da mão.

12. IMOBILIZAÇÕES DOS MEMBROS INFERIORES

Notas:

Devem ser evitados movimentos desnecessários;

As fracturas da bacia podem ser a causa da perda de 3 litros de sangue;

A fractura do acetábulo implica normalmente fractura do ureter;

A fractura do acetábulo e do isquiopúbico implica normalmente fractura do ureter e da

bexiga e hemoperitoneu;

A fractura do isquiopúbico, do iliopúbico e da sacroilíaca é normalmente mortal em

cerca 70% dos casos;

Page 223: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 201/262

Atenção a possíveis lesões crânio-encefálicas, da coluna ou da bacia;

Atenção à possível lesão de outros órgãos;

A redução da luxação da anca é feita sob anestesia geral.

Pesquisar pulso pedioso, sensibilidade e mobilidade.

Nas fracturas expostas lavar;

Em todas as imobilizações o chefe da equipa mantém a imobilização e o alinhamento

em posição neutra segundo o eixo nariz-umbigo-pés e comanda os movimentos;

Estas vítimas devem ser transportadas, imobilizadas em plano duro ou em maca de

vácuo sendo neste caso mais seguro se a maca da ambulância for um plano duro.

12.1. Imobilização Provisória do Fémur

Notas:

Na fractura do colo do fémur o pé está, normalmente, em rotação externa;

As fracturas do fémur podem ser a causa da perda de 0,5 a 1,5 litros de sangue.

Técnica:

1. O segundo elemento mantém, até que seja completada a imobilização, a tracção e

alinhamento do membro inferior através das duas pontas de uma ligadura, com cerca

de 1,5 metros, que é colocada a meio na planta do pé e em que cada uma das duas

pontas desce lateralmente na direcção da perna, cruzando por baixo na sua parte

posterior, ao nível do terço inferior;

2. As duas pontas sobem depois na direcção do dorso do pé, uma de cada lado, onde

cruzam de novo, continuando em direcção à planta do pé depois de passarem por

dentro da ligadura já existente, pontas essas por onde é feita a tracção;

3. Outros dois elementos fazem lateralmente a aplicação de duas talas de madeira

almofadadas, uma interna outra externa, ou noutra posição alternativa se houver ferida

ou fractura exposta, talas que deverão ultrapassar a planta do pé. A externa deve

ultrapassar em cima a bacia e a interna terminar na zona inguinal;

4. A imobilização com ligaduras inicia-se de fora para dentro no terço inferior da perna, na

direcção da parte inferior do terço superior da coxa;

5. Daí dirige-se directamente à região inguinal, ao topo da tala interna, fixa-a e continua

por baixo da coxa na direcção do ponto de partida;

6. Completada uma circular à coxa sai por baixo na direcção do topo da tala externa, fixa-a

(pode cruzar a região abdominal para o lado oposto passar por baixo da região dorso

lombar) e segue na direcção, do interior da coxo-femural, do ponto de partida;

Page 224: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

202/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

7. Para completar a imobilização do membro inferior, deixando janelas se existirem feridas

ou exposições ósseas, a ligadura desce de novo até à tibiotársica;

8. Daqui cruza o dorso do pé, desce na direcção do topo inferior da tala interna, sobe de

novo dando uma volta à ligadura e à tala, para fixação, cruza outra vez no dorso do pé,

depois por baixo da tibiotársica, e cruza novamente o dorso do pé, na direcção do topo

inferior da tala externa e outra vez em trajecto ascendente, em volta da ligadura e da

tala na direcção do dorso do pé e da tibiotársica;

9. Os movimentos de fixação dos topos das talas (os ‘oitos’) poderão ser repetidos até

adequada imobilização.

12.2. Imobilização Provisória do Joelho

Notas:

Na fractura do joelho, há dor à palpação nas saliências ósseas;

Não forçar a tracção, imobilizar na posição.

Técnica:

1. O segundo elemento ajusta comodamente ao membro inferior do acidentado duas talas

de madeira almofadadas, colocadas lateralmente;

2. O terceiro elemento aplica as ligaduras, imobilizando a coxa e a perna contra as talas,

apoiando depois o membro.

12.3. Imobilização Provisória dos Ossos da Perna,Tornozelo e Pé

Notas:

Nas fracturas dos ossos da perna as vítimas podem perder 0,5 Litros de sangue;

Nas fracturas dos ossos da perna, a imobilização será feita com duas talas e o método

de aplicação das ligaduras para fixação dos seus topos e imobilização do membro e

idêntico ao utilizado nas fracturas do fémur;

Nas fracturas do tornozelo e pé não forçar a tracção, retirar o sapato e imobilizar na

posição em que se encontra, excepto se houver alteração circulatória (pé roxo) tentar

alinhar.

Atenção às fracturas da coluna vertebral nas quedas de pé

Page 225: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma 203/262

Técnica:

1. O segundo elemento ajusta comodamente ao membro inferior do acidentado duas talas

de madeira almofadadas, colocadas lateralmente;

2. O terceiro elemento aplica as ligaduras, imobilizando da coxa ao pé contra as talas,

utilizando a técnica de tracção do pé.

13. TRANSPORTE DE DOENTES

13.1. Em Maca de Vácuo

Indicações: Retirar vítimas de espaços reduzidos, quando não há suspeita de trauma vertebro-

medular. Imobilização dos membros. Transportes com duração superior a 15 minutos.

Contra-indicações: Suspeita de traumatismo vértebro-medular.

Técnica de aplicação da Maca de Vácuo:

1. A maca de vácuo é previamente estendida e distribuído o seu conteúdo de forma

equilibrada;

2. Após colocação da vítima a maca deve ser ajustada com cuidado, com atenção às

zonas a imobilizar, aos membros inferiores, aos membros superiores e à cabeça, sem

impedir a circulação;

3. Extrai-se de seguida o ar da maca de vácuo, com a ajuda do aspirador ou com a bomba

própria, mantendo o ajustamento;

4. No transporte a maca de vácuo deve sempre ser colocada sobre um plano duro ou a

maca da ambulância ser um plano duro, mesmo que a vítima tenha sido inicialmente

imobilizada com colete de extracção.

13.2. No Plano Duro

Se necessário, e se a duração prevista do transporte for inferior a 15 minutos, uma vítima pode

seguir em Plano Duro com estabilizadores da cabeça, até ao Hospital.

Técnica de aplicação do Plano Duro:

1. Centrar a vítima no plano duro;

2. Proceder à colocação da aranha ou das precintas;

3. Colocar os estabilizadores de cabeça;

Page 226: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

204/262 Técnicas de Extracção e Imobilização de Vítimas de Trauma TAT.01.10

4. Mantendo sempre a imobilização cervical, devem ser fixadas a aranha ou as precintas

do plano duro e os apoios de cabeça, e ajustadas e fixadas as precintas da maca da

Ambulância;

5. Não esquecer que a vítima no plano duro, pode escorregar para um lado e para o outro

pelo que, deve ser almofadada e o transporte terá de ser muito suave para não agravar

lesões.

13.3. Mudança no Hospital

A vítima deve ser mudada na maca de vácuo com uma maca pluma ou no plano duro, da maca

da ambulância para a maca hospitalar, que deverá ser um plano duro. No Hospital, antes de se

retirar a vítima da maca de vácuo ou do plano duro, devem reajustar-se os cintos do colete de

extracção, se for esse o caso.

Técnica:

1. Para retirar o plano duro aplica-se a técnica de levantamento, tendo em atenção o tipo

de imobilização que foi feito e mantendo o apoio da cabeça e coluna (alinhamento e

imobilização);

2. De igual forma, para retirar a maca de vácuo, após abrir a válvula, utiliza-se a técnica de

levantamento, mantendo os mesmos cuidados relativamente à cabeça e coluna;

3. Ambos os dispositivos devem ser puxados pela extremidade dos pés da vítima,

fazendo-os deslizar ao longo do corpo da vítima com cuidado e verificando se estão

completamente libertos;

4. Também o colete de extracção pode ser retirado aplicando a técnica do levantamento,

após libertar os cintos e remover os ‘cabrestos’ e a almofada, tendo sempre em atenção

o tipo de imobilização que foi feita e mantendo o apoio da cabeça e coluna;

5. Retira-se o colete de extracção fazendo-o deslizar lateralmente, para a parte superior,

segurando juntamente todas as extremidades dos cintos, no mesmo lado e através da

aplicação da técnica de levantamento;

6. Para realizar o levantamento para retirar um plano duro, uma maca de vácuo ou um

colete de extracção pode ser utilizada uma maca pluma;

7. Mantendo o alinhamento e a imobilização, pode trocar-se um colar cervical.

Ainda que imobilizada em maca de vácuo, colete de extracção ou plano duro, uma vítima pode fazer Rx.

Page 227: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 O Tripulante e a Ambulância 205/262

CAPÍTULO 10 - O TRIPULANTE E A AMBULÂNCIA

OBJECTIVOS

No final desta unidade modular, os formandos deverão ser capazes de descrever:

1. Os valores deontológicos inerentes à função de Tripulante de Ambulância (TA);

2. Os sectores que constituem uma Ambulância;

3. Os factores que contribuem para uma relação assertiva no desempenho da sua

actividade;

4. As condições de segurança e higiene no binómio TA - Ambulância.

Page 228: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

206/262 O Tripulante e a Ambulância TAT.01.10

1. INTRODUÇÃO

O TA, deverá conhecer o material, a Ambulância e respectivo equipamento, e conhecer as

suas normas de utilização e manutenção.

Deve ser conhecedor de normas de conduta das funções que desempenha, quer perante as

vítimas e toda a sociedade, quer o dever cívico, quando está em funções de condução do

veículo e aquando da utilização dos sinais sonoros e luminosos.

Deve ainda ter uma apresentação cuidada, usar linguagem adequada, de forma a criar inteira

confiança no elemento ao qual vai prestar a assistência.

A Ambulância e a tripulação no seu interior, devem estar constantemente preparados para

qualquer ocorrência que possa surgir, o que implica boas condições de funcionamento do

veiculo e higiene da célula sanitária. A tripulação nunca deve fumar no interior da Ambulância,

nem mesmo na cabine de condução.

2. NORMAS DE CONDUTA

Ética pode ser definida como a ciência que pretende estabelecer a distinção entre o bem e o

mal, tendo como objectivo o comportamento ideal.

Na área específica da emergência médica pré-hospitalar, cujos técnicos têm de desenvolver a

sua actuação num ambiente multi-reactivo, o conceito de ética tem de estar sempre presente.

Os elementos que integram a tripulação da Ambulância devem ter um comportamento

exemplar no relacionamento com o utente, com os familiares, os acompanhantes e o público.

A tranquilidade e a serenidade são factores determinantes para o desenvolvimento de uma

actuação eficaz, respeitando a integridade física e moral.

Dentro das suas competências, o TA deverá respeitar sempre os seguintes valores:

1. A sua principal responsabilidade é manter a vida e aliviar o sofrimento;

2. A sua actuação deve sempre pautar-se pelo respeito pela dignidade humana

independentemente da nacionalidade, raça, sexo, credo ou estatuto social;

Page 229: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 O Tripulante e a Ambulância 207/262

3. A confidencialidade da informação obtida no decurso da sua actividade é um princípio

que deve ser sempre respeitado;

4. Integrado em equipas multidisciplinares deve sempre respeitar e cumprir as decisões

dos técnicos de saúde mais qualificados;

5. A sua actividade deve ser desenvolvida com competência, mantendo para tal uma

constante actualização de conhecimentos.

3. A AMBULÂNCIA

Ambulância é um veículo normal, tipo furgão, com características e dimensões adaptadas às

funções a que se destina (o transporte ou o socorro / transporte de vítimas) e que, tal como as

cargas tipo, se encontram definidas por lei: Portaria n.º 1147/01 de 28 de Setembro, Portaria

n.º 1301-A/2002 de 28 de Setembro e Portaria n.º 402/2007 de 10 de Abril.

De acordo com a legislação referida, existem dois tipos de Ambulância de transporte:

A1 – Ambulância de transporte individual, para transporte de um ou dois

doentes em maca ou maca e cadeira de transporte;

A2 – Ambulância de transporte múltiplo, para transporte de até sete doentes

em cadeiras de transporte ou cadeira de rodas.

As Ambulâncias dividem-se interiormente em dois sectores distintos: a célula sanitária e a

cabina de condução. Com excepção das Ambulâncias A2, a separação entre estes dois

sectores deve ser feita através de uma divisória rígida e fixa.

3.1. A Célula Sanitária

A célula sanitária é a zona nobre de qualquer Ambulância, devendo por isso merecer a mais

cuidada atenção. De facto, é nessa zona que são socorridas e / ou transportados os doentes.

A primeira regra que deve ser cumprida em relação à célula sanitária é a sua manutenção em

condições de arrumação, asseio e higiene exemplares.

Todo o equipamento e o material a utilizar devem estar arrumados nos seus respectivos

lugares, em compartimentos cujo conteúdo deve estar devidamente identificado através de

etiquetas afixadas de forma visível.

Page 230: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

208/262 O Tripulante e a Ambulância TAT.01.10

Conforme estabelecido, o equipamento de maior uso deve estar mais facilmente acessível.

As garrafas de oxigénio devem merecer uma atenção especial para que não haja falhas no

abastecimento, assegurar que estejam sempre em condições de correcta e adequada

utilização, devidamente acondicionadas e com as válvulas apertadas.

De acordo com a actual legislação, as garrafas de oxigénio deverão ser instaladas na célula sanitária.

No caso das Ambulâncias A1 impõe-se uma chamada de atenção especial para o depósito de

água limpa (que deve ser limpo regularmente), substituída a água e estar sempre cheio. Por

seu lado, o depósito de águas sujas deve ser esvaziado sempre que necessário.

O Tripulante responsável pela Ambulância deve diligenciar para que a carga da célula sanitária

e de toda a Ambulância seja confirmada sempre que entra ao serviço e assegurar-se da sua

manutenção, substituição e / ou reposição sempre que necessário.

3.2. A Cabina de Condução

A cabina de condução ou habitáculo do condutor, deve possuir condições de segurança e

conforto adequados. Os seus dispositivos de iluminação, ventilação e aquecimento devem ser

independentes da célula sanitária.

Além do banco do condutor, só deve existir um outro banco que não pode ser utilizado para o

transporte de doentes.

Neste compartimento devem estar guardados os documentos da viatura.

4. O ACOMPANHAMENTO DAS PESSOAS TRANSPORTADAS

A presença do TA na célula sanitária durante o transporte do(s) doente(s) é obrigatória. A

presença do TA junto do doente durante o transporte, além de ser um factor de confiança e

alívio, permite desenvolver uma vigilância permanente.

No caso das Ambulâncias de Socorro, o acompanhamento da vítima é efectuado pelo TAS

(chefe de equipa).

Page 231: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 O Tripulante e a Ambulância 209/262

Caso ocorra agravamento da situação da ou das vítimas, o TA deverá contactar o Centro de

Orientação de Doentes Urgentes para solicitar orientações técnicas.

4.1. A Comunicação com as Pessoas Socorridas e / ou Transportadas

Em relação à comunicação com as vítimas importa reter que:

1. O TA deve identificar-se perante o doente, explicar as suas funções e esclarecê-lo

sobre a sua actuação;

2. O TA necessita de saber o nome do doente para que se possa dirigir a ele de forma

personalizada, sempre com um tom de voz moderado e calmo;

3. Sem perder a atenção a tudo o que o rodeia, o TA tem de aceitar com compreensão a

forma como as pessoas envolvidas nas ocorrências se manifestam e como expressam

os seus sentimentos;

4. A ansiedade deve ser reconhecida e, porque é necessário lidar com ela, o TA não deve

ter reacções de fuga. Pelo contrário, aceitando-a como natural e convivendo com ela,

mais facilmente encontrará formas de a controlar;

5. O TA deve esforçar-se por não transportar sentimentos negativos de doente para

doente;

6. A execução técnica correcta, sem ultrapassar as suas funções e competências, facilita

a comunicação humanizada nas ocorrências.

5. CONSIDERAÇÕES SOBRE SEGURANÇA

A vontade de cumprir não pode exceder a protecção do próprio tripulante e de terceiros.

Quando chamado a actuar, o TA deve salvaguardar a sua segurança e da equipa, bem como a

da vítima a transportar. Como regra básica, define-se que o tripulante não se deve expor, nem

a terceiros, a riscos maiores do que aqueles que corre a própria vítima.

A intervenção e todas as acções a desenvolver devem ser devidamente planeadas, para uma

actuação segura, com base nas informações recebidas. Este planeamento deve incluir a

preparação psicológica individual e da equipa.

O TA deve ter sempre presente que são obrigatórias algumas medidas gerais de higiene,

imunização e cuidados especiais para o transporte de doentes, com vista a diminuir o risco de

infecção para o doente e o tripulante.

Page 232: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

210/262 O Tripulante e a Ambulância TAT.01.10

A possibilidade de contágio de doenças infecto-contagiosas entre a vítima e o TA e vice-versa,

é uma preocupação que deve ser considerada devendo ser tomadas medidas cautelares. A

protecção individual do TA, associada às precauções universais, praticamente reduz a zero a

probabilidade de transmissão de infecções entre o TA e a vítima.

Para o cumprimento destas orientações, o tripulante deve prestar a melhor atenção a todas as

situações que possam pôr em causa a segurança. O local e o tipo de ocorrência podem, por si

só, indicar de imediato a gravidade da situação. É disto exemplo um acidente com um veículo

com matérias perigosas, que condiciona toda a actuação, fazendo-a depender de medidas de

segurança que terão de ser tomadas e que, em alguns casos, farão demorar a aproximação às

vítimas.

Em todas as situações de violência é necessário comunicar o sucedido às autoridades.

A cooperação de outras equipas (autoridade, desencarceramento, etc.) que garantam as

condições mínimas de segurança para a intervenção do TA é indispensável.

Ocorrências com tráfego rodoviário, fumos ou gases tóxicos, violência, soterramento, queda,

perigo de explosão, entre outros, permitem a avaliação rápida de riscos manifestos, no entanto,

existem situações onde os riscos são menos evidentes.

A utilização de meios aéreos, nomeadamente de helicópteros, implica um reforço das normas

de segurança por parte dos intervenientes que não devem aproximar Ambulâncias a menos de

40 metros, sem a prévia autorização da entidade responsável.

As situações de agressão e de suspeita de crime, requerem o cuidado de não destruir provas

que possam permitir às autoridades a investigação do caso.

Só após estarem garantidas as condições de segurança, se pode proceder à abordagem e

avaliação da vítima. Na observação do local, o TA deve analisar os factos, tentar perceber o

que se passou, sem esquecer que o próprio local pode dar informações para além das que for

possível obter das vítimas ou do público presente.

Na abordagem a ocorrências em locais privados, o TA deve solicitar autorização para entrar e

ter um cuidado acrescido na recolha da informação.

Page 233: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 O Tripulante e a Ambulância 211/262

Todos sem excepção têm direito a ser assistidos, sem juízos de valor, há no entanto

ocorrências em que a equipa é impedida de actuar e outras em que a vítima se recusa a ser

assistida, situações em que poderá ser necessária a intervenção prévia de outras equipas.

A intervenção em acidentes de viação é a situação em que se verificam mais acidentes com

pessoal das equipas de socorro por não terem sido tomadas as medidas de segurança ou

estas terem sido desrespeitadas. A correcta colocação das viaturas no local, a sinalização de

um acidente, não atravessar uma via rápida ou auto-estrada, são factores determinantes para

garantir a segurança no local da ocorrência. Nestas situações, o TA só deve iniciar a sua

intervenção depois de serem criadas condições de segurança, nomeadamente após a

imobilização e o corte da energia das viaturas envolvidas.

A intervenção em acidentes com gás, electricidade, armas brancas ou de fogo pode exigir a

intervenção de outras equipas especializadas para o corte do abastecimento da energia, ou

outra intervenção prévia, para serem criadas condições de segurança.

O TA deve ter sempre presente que só é possível prestar um socorro de qualidade,

trabalhando em equipa, em condições de segurança e com o equipamento necessário.

Todas as situações em que é necessário socorrer alguém, levam ao aumento da ansiedade e

do stress das vítimas, dos familiares, do público presente e de quem socorre. Assim, só uma

actuação em equipa, profissional, ponderada e calma, pode permitir qualidade no serviço

prestado.

5.1. As Precauções Universais

As precauções universais devem ser rigorosamente respeitadas:

O TA com feridas nas mãos só deve ter contacto com os doentes após calçar luvas;

Uso de dispositivos que actuam como barreiras físicas de protecção (luvas, batas ou

aventais, máscaras e protectores oculares) é obrigatório sempre que se preveja o

contacto com sangue ou outros produtos biológicos;

Sempre que se preveja a exposição a gotículas de sangue ou outros produtos

biológicos é obrigatório o uso de máscaras e protecção ocular;

Após cada contacto com doentes é obrigatório lavar e desinfectar as mãos;

As agulhas devem ser depositadas nos contentores próprios imediatamente após a sua

utilização (nunca reutilizar ou dobrar agulhas usadas);

Page 234: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

212/262 O Tripulante e a Ambulância TAT.01.10

Qualquer equipamento reutilizável (por exemplo: aspirador de secreções), deve ser

separado do restante material e logo que possível, devidamente lavado e desinfectado;

Os lixos contaminados devem ser recolhidos para futura incineração (exemplo: luvas,

aventais, compressas, etc.).

5.2. A Higiene das Tripulações

Como protecção individual podemos considerar:

O equipamento e fardamento;

A observação e avaliação dos riscos iminentes a cada situação;

A vacinação actualizada para a função;

O comportamento cauteloso.

As mãos são um veículo importante na transmissão de infecções, devendo sempre ser lavadas

antes de iniciar o trabalho e depois de sair da Ambulância; antes e depois de qualquer contacto

com os doentes; antes e depois de usar luvas; e depois de manipular resíduos ou roupa suja.

Na lavagem das mãos são muitas vezes esquecidas zonas críticas como os espaços

interdigitais, as pregas e as pontas dos dedos, pelo que se aconselham algumas regras

simples como:

Usar unhas curtas e sem verniz;

Retirar anéis, pulseiras e relógios;

Usar pensos impermeáveis quando a pele tem lesões;

Na maioria das situações, a lavagem higiénica das mãos e punhos com água e um

sabão dermoprotector durante um minuto e a secagem com toalhete de papel é a

atitude de higienização suficiente.

Na lavagem higiénica das mãos, que deve ser vigorosa e friccionando com movimentos

rotativos, são aconselhados os seguintes passos:

1. Iniciar a lavagem molhando as mãos com água corrente;

2. Accionar o dispositivo do sabão líquido com o cotovelo e esfregar até obter espuma;

3. A palma de uma mão contra palma da outra (Capítulo 10. Figura 140 - 1);

4. A palma da mão direita contra o dorso da mão esquerda e vice-versa (Capítulo 10. Figura

140 - 2);

5. A palma contra palma, com os dedos das mãos entrelaçados (Capítulo 10. Figura 140 - 3);

6. Os dedos da mão direita nos dedos da mão esquerda (Capítulo 10. Figura 140 - 4);

Page 235: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 O Tripulante e a Ambulância 213/262

7. O polegar esquerdo, com movimentos rotativos da mão contrária fechada sobre o dedo

e vice-versa (Capítulo 10. Figura 140 - 5);

8. A ponta dos dedos da mão direita na palma da mão esquerda e vice-versa, com

movimentos rotativos (Capítulo 10. Figura 140 - 6);

9. Os punhos, com movimentos rotativos da mão contrária fechada;

10. Passar as mãos por água corrente e secar com toalhetes de papel descartáveis;

11. Utilizar o toalhete de papel para fechar a torneira.

Palma a palma. Palma da mão no dorso da outra mão e vice-versa

Lavagem do espaço interdigital

Lavagem dos dedos Lavagem dos polegares Lavagem da ponta dos

dedos Capítulo 10. Figura 140 - Os principais passos da limpeza higiénica das mãos.

A desinfecção rápida das mãos com uma solução alcoólica a 70% durante meio minuto, até

secar por evaporação, é uma medida a tomar nas situações em que é necessária uma

desinfecção rápida, na ausência de lavatório com água corrente.

Após o contacto das mãos com fluidos orgânicos, à lavagem higiénica com água quente deve

seguir-se a desinfecção com soluto alcoólico a 70 %. Os salpicos de fluídos orgânicos devem

ser limpos com hipoclorito de sódio a 1%.

5.3. A Higiene da Ambulância

Doentes infectados devem ser transportados individualmente em cada Ambulância. As lesões

cutâneas devem ser protegidas com pensos impermeáveis, devem ser utilizadas máscaras e

outro material descartável e selados os compartimentos não utilizados.

A Ambulância e os equipamentos devem ser lavados e desinfectados.

Page 236: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

214/262 O Tripulante e a Ambulância TAT.01.10

O interior da Ambulância deve ser lavado com água quente e detergente, de diluição recente e

adequado à área a lavar, e enxuto com um pano limpo e seco.

O hipoclorito de sódio a 0,1 % é suficiente para responder às necessidades de desinfecção de

uma superfície, que deve ter sido lavada previamente. Nos locais conspurcados com fluídos

orgânicos, utiliza-se a diluição do hipoclorito de sódio a 1 %, deixado actuar durante cerca de

30 minutos, para depois passar água e secar bem. O álcool a 70 % é eficaz para a desinfecção

de superfícies. Estas devem ser sempre lavadas previamente à utilização do álcool. O

hipoclorito de sódio não está indicado para superfícies ou ligas metálicas.

Após a lavagem, o arejamento e a luz solar devem ser considerados como desinfectantes

económicos e eficazes.

6. A CONDUÇÃO DA AMBULÂNCIA E A SUA SEGURANÇA

As características externas das Ambulâncias, nomeadamente no que se refere a cores e

processos de sinalização, estão legalmente definidas, sendo por isso facilmente identificáveis

pelos outros condutores;

Regras de segurança a que deve obedecer um condutor:

Estar familiarizado com a viatura e seu equipamento;

Inspeccionar e testar a operacionalidade da viatura sempre que entra ao serviço,

verificando níveis de fluídos, funcionamento da suspensão, travões, luzes,

equipamentos de limpeza de pára-brisas, sinalização sonora e luminosa, ferramenta,

extintores e outros equipamentos e acessórios definidos para cada viatura;

Posicionar-se de forma confortável e operacional em relação a todos os comandos da

viatura segurando o volante na posição ‘10 horas e 10 minutos’;

O cinto de segurança tem de ser sempre utilizado;

Quando em marcha de emergência é aconselhado que sejam acesos os médios mas

nunca com os quatro piscas ligados em simultâneo;

A condução agressiva ou em ‘zig-zag’ não é segura nem úti e por tal motivo, fortemente

desaconselhada;

A velocidade deve ser moderada, ter em conta as características pessoais e da viatura,

os limites impostos e as informações de quem acompanha a vítima;

Page 237: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 O Tripulante e a Ambulância 215/262

A distância segura deve ser calculada tendo como referência o segundo carro que

segue à frente devendo, entre outros, saber:

O percurso de travagem após a reacção;

Que em média levamos 0,75 segundos para identificar uma situação perigosa,

tempo que a uma velocidade de 60 Km/h corresponde percorrer 12,5 metros

antes de reagir ao perigo;

Em situações de encadeamento luminoso levamos cerca de 6 segundos a

recuperar a visão nocturna, tempo que a uma velocidade de 60 Km/h

corresponde percorrer 100 metros sem que tenhamos recuperado

completamente a visão;

Para uma boa condução, é necessário ter em conta as características da viatura no

que se refere ao volume, peso e ponto de gravidade e aos sistemas de tracção,

direcção, travões, pneumáticos e iluminação;

O piso, as características da via, a hora do dia, o volume de tráfego e as condições

atmosféricas não devem também ser descuradas na análise efectuada pelo condutor.

Princípios gerais de segurança na condução de uma Ambulância:

O código da estrada não dá prioridade a uma Ambulância, nem mesmo às

Ambulâncias de socorro, pelo que o prosseguimento em marcha de emergência,

devidamente assinalada, deve estar sempre sujeito às condições de segurança que

permitam, sem causar acidentes, chegar à ocorrência;

Para além da serenidade, da frieza, da boa capacidade auditiva e visual, dos reflexos

rápidos e da boa capacidade de concentração, o condutor deve ter noção dos seus

limites;

A segurança do veiculo depende de vários factores e o condutor deve conhecer as

características especificas do veiculo que conduz. A segurança é maior, quanto maior

for a aderência da viatura ao solo;

As acelerações e desacelerações bruscas desequilibram a viatura provocando

alternâncias do ponto de gravidade e aumentando a probabilidade da perda de controlo

da mesma.

Page 238: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

216/262 O Tripulante e a Ambulância TAT.01.10

Page 239: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do TA de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Parto Iminente Noções Básicas 217/262

ANEXO A - PARTO IMINENTE: NOÇÕES BÁSICAS

1. INTRODUÇÃO

É possível que a ambulância seja chamada para transportar uma mulher que vai entrar ou já se

encontra em trabalho de parto.

Apesar de constituir um acontecimento natural, o parto frequentemente provoca ansiedade no

TA.

Para decidir se vai transportar a futura mãe para o hospital ou preparar-se para assistir o parto,

tem de avaliar a situação e determinar se este está ou não iminente.

A maioria dos partos decorre de forma natural e sem complicações. O trabalho de parto é um

processo fisiológico normal que culmina no nascimento do bebé. Durante esse processo o

tripulante apenas ajuda, recebendo a criança sem interferir ou puxar por ela.

Obstetrícia é a especialidade médica que estuda a gravidez, o parto e o puerpério

(período após parto).

2. ASSISTÊNCIA AO PARTO

A decisão de transportar ou não a grávida para o hospital depende da evolução do trabalho

de parto e das condições do local (casa própria, lugar público).

Se durante o transporte o parto se iniciar, deve parar o veículo, assistir o parto e, só depois,

continuar o transporte, sem velocidade e sem sinais sonoros.

Devem ser feitos todos os esforços para respeitar o pudor e a privacidade da mulher,

explicando sempre o que se vai fazer e porquê e pedir a presença de outra pessoa da família,

amiga ou vizinha, se possível também do sexo feminino.

Enquanto se examina a grávida é fundamental obterem-se respostas às seguintes questões:

Há quanto tempo começou com contracções?

Page 240: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do TA de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

218/262 Parto Iminente Noções Básicas TAT.01.10

Qual o intervalo entre elas?

Já ocorreu a ruptura da bolsa de águas?

Sente vontade de fazer força para fazer sair o bebé?

É o primeiro filho? (Em regra, o trabalho de parto de um primeiro filho demora mais

tempo que o dos seguintes)

Tempo de gestação? (Quantas semanas ou meses de gravidez?)

Sentia o bebé mexer normalmente nos últimos dias?

Já contactou com o médico? Para onde é que ele quer que seja transportada?

Durante uma contracção (dor) deve examinar a vulva para pesquisar se existe apresentação

da coroa cefálica (cabeça do bebé) ou qualquer outro tipo de apresentação.

Se não há apresentação da coroa cefálica (ou outra) e as contracções são de 7 em

7 minutos ou mais, há ainda tempo para fazer o transporte para o hospital em

decúbito lateral esquerdo, vigiando a ventilação e o pulso.

Se há apresentação da coroa cefálica (ou outra) durante as contracções, não deve

fazer o transporte da grávida e deve preparar-se para assistir ao parto.

Deve identificar o tipo de apresentação, isto é, a parte do corpo do bebé que vai sair primeiro:

Pela observação do couro cabeludo do bebé, na apresentação cefálica;

Pela observação da pélvis ou dos membros inferiores, na apresentação pélvica.

3. PREPARAÇÃO PARA ASSISTIR AO PARTO:

1. Preparar o kit de obstetrícia (kit de parto) e o local onde se vai dar o parto;

2. Colocar a grávida deitada em decúbito dorsal, com as coxas flectidas sobre o tronco,

puxando os joelhos para si e para fora;

Anexo A. Figura 141 - Posição da grávida para o parto.

Page 241: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do TA de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Parto Iminente Noções Básicas 219/262

3. Se houver tempo, colocar sob as nádegas da grávida um resguardo, protegido com um

lençol limpo, deixando a descoberto a região da abertura vaginal;

4. Outra pessoa deverá manter-se junto da cabeça da grávida para ela se sentir mais

apoiada. Deve ter à mão um balde ou bacia, pois é possível que a grávida vomite;

5. Não se deve dar nada a beber mas podem-se molhar os lábios da grávida;

6. Quem vai assistir ao parto deve retirar os anéis, relógio e pulseiras e lavar as mãos, as

unhas e os braços até ao cotovelo, com água e sabão;

7. Deve lavar o períneo da mulher com desinfectante e depois trocar de luvas calçando

luvas esterilizadas;

8. Deve colocar-se à frente do canal do parto. Com a mão esquerda receber a cabeça da

criança, de maneira a esta sair suavemente, durante as contracções;

9. Entretanto, deve manter uma atitude de apoio, calma e confiança. Deve encorajar a

parturiente, no intervalo das contracções, a só fazer força quando sente vontade disso;

10. Nas apresentações cefálicas, que são as mais frequentes, deve ter os seguintes

cuidados, para evitar lacerações do períneo da mulher que podem sangrar bastante:

a. Evitar que a expulsão da cabeça do bebé se faça de uma maneira brusca;

b. Apoiar a cabeça do bebé sem permitir que a parturiente faça movimentos

bruscos.

Quando o nascimento se faz normalmente, a cabeça começa a descer para a vagina da mãe

com cada contracção uterina. Nesta altura a grávida sente a necessidade de fazer força (como

para evacuar) porque a cabeça do bebé faz pressão contra o recto.

A cabeça sairá pela vagina, geralmente com a face voltada para baixo, rodando depois de lado,

para uma das pernas da mãe. A cabeça roda para um dos lados.

Em seguida, normalmente sai primeiro o ombro superior e depois o inferior. Finalmente, de

forma muito rápida, sai o resto do corpo. Dada a forma súbita como sai o resto do corpo, o

tripulante deve estar preparado para amparar o bebé. Nesta altura cessam as contracções.

Logo que toda a cabeça tenha saído, antes de deixar sair o corpo, deve explorar a região

cervical (pescoço) do bebé, à procura de uma possível circular do cordão umbilical. Se

verificar que existe uma circular do cordão e for completamente impossível fazê-la deslizar pela

cabeça do bebé, calma mas rapidamente, deve efectuar a laqueação do cordão nesse

momento:

1. Coloque duas pinças no cordão, separadas cerca de 5 cm;

Page 242: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do TA de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

220/262 Parto Iminente Noções Básicas TAT.01.10

2. Assegure-se que as pinças estão correctamente aplicadas e o cordão está firmemente

preso por ambas;

3. De imediato e antes de sair o resto do corpo do bebé, efectue o corte do cordão entre

as pinças. Assim, evitará a morte do bebé por asfixia e garantirá que o trabalho de parto

pode prosseguir.

Anexo A. Figura 142 - Fases do parto.

4. CUIDADOS AO RECÉM-NASCIDO

Depois de o bebé ter saído completamente, deve começar a respirar por si, chorando. Como

fazer chorar o bebé, se este o não fizer espontaneamente?

Deitar o recém-nascido de lado, de costas para a mãe;

Desimpedir as vias respiratórias, aspirando a boca e o nariz com a pêra de borracha.

Aperte-a e, só depois, deve introduzi-la na boca e nariz do bebé. Na falta de pêra,

pode-se limpar a boca e nariz do bebé com uma compressa esterilizada.

Page 243: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do TA de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Parto Iminente Noções Básicas 221/262

Anexo A. Figura 143 - Aspiração da boca e nariz do recém-nascido.

Se o bebé tem movimentos ventilatórios, iniciar os cuidados ao cordão. Caso contrário, deve-se

iniciar as manobras de reanimação:

Estimular o recém-nascido, dando-lhe palmadinhas nas plantas dos pés ou

esfregando-o ligeiramente. Não lhe deve bater ou metê-lo dentro de água;

Verificar se a criança respira e, se ela não estiver a ventilar deve, de imediato, fazer-

lhe a ventilação artificial;

Caso entre em paragem cardio-pulmonar, faça RCP.

Por momentos, os principais cuidados são dispensados ao bebé. Sempre a respirar, com o

coração a bater e sempre quente, o recém-nascido deve ser preparado para ir ao hospital.

Entretanto, deve avaliar os sinais vitais do bebé: choro, cor da pele, temperatura corporal e

pulso.

5. CUIDADOS AO CORDÃO APÓS O PERÍODO EXPULSIVO:

Apertar a pinça do kit obstétrico ou atar uma fita de nastro esterilizada à volta do cordão,

a cerca de 15 a 20 cm do umbigo do bebé e a cerca de 3 cm da 1ª para o lado da mãe;

Quando se atam as fitas, devem dar-se pelo menos 3 nós, apertando-os com cuidado

para não arrancar o cordão;

Cortar entre os 2 nós com uma tesoura esterilizada;

Envolver a ponta do cordão numa compressa esterilizada.

Page 244: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do TA de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

222/262 Parto Iminente Noções Básicas TAT.01.10

Anexo A. Figura 144 - Laqueação do cordão umbilical.

6. CUIDADOS COM A PLACENTA

A mãe volta a sentir contracções como aconteceu na dilatação, 15 a 30 minutos depois do

nascimento do filho. Esta fase envolve a expulsão da placenta e denomina-se dequitadura.

Desde o momento do nascimento da criança até que a placenta é expelida, podem decorrer até

cerca de 30 minutos.

É normal que a mãe, nesta altura, perca algum sangue. Como defesa contra a hemorragia o

útero contrai-se, ficando como uma bola dura.

Se, por qualquer razão, a expulsão da placenta se prolongar, não espere e inicie o transporte

da mãe e da criança para o hospital depois de o cordão umbilical estar laqueado pela pinça,

e de o cortar para poder prestar quaisquer cuidados que a criança necessite de maneira mais

adequada e fácil.

Não espere mais de 30 minutos pela saída da placenta. Se ao fim desse tempo ela não foi

expelida, envolva a extremidade do cordão numa gaze esterilizada e proceda ao transporte.

Não retirar a pinça colocada quando cortou o cordão.

Não deve em caso algum puxar pelo cordão apenas suportar e amparar a placenta.

A placenta deve ser metida num saco de plástico e levada para o hospital para ser observada e

se ter a certeza de que nenhum pedaço ficou na cavidade uterina.

Page 245: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do TA de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Parto Iminente Noções Básicas 223/262

Se após a dequitadura ocorrer grande hemorragia, pode vir a verificar-se hipovolemia.

Depois de se dar a dequitadura coloca-se um penso higiénico e manda-se a mãe estender as

pernas, tendo previamente retirado os lençóis ou resguardos sujos.

Durante o período de espera ou transporte, os recém-nascidos perdem calor com muita

facilidade. Por isso não deve lavar ou limpar o bebé, mas apenas secá-lo com um lençol ou

cobertor, tendo o cuidado de cobrir a cabeça a fim de evitar as perdas de calor, mas deixando-

lhe, no entanto, a face exposta para poder respirar. Claro que, se ainda não o fez, deve mostrar

a criança à mãe e colocá-la num lugar seguro ou entregá-la a outro elemento da equipa.

Últimos cuidados a ter:

A mãe e a criança devem ser transportadas para o hospital, para serem examinadas

pelo médico. Mesmo que tudo tenha ocorrido sem problemas deve insistir, explicando

o porquê do transporte para o hospital;

Não esquecer de levar com a parturiente o boletim de gravidez e os exames

complementares efectuados anteriormente;

As manobras com o recém-nascido devem ser feitas com cuidado e suavidade.

7. CASOS PARTICULARES

7.1. Apresentação Pélvica

Na maioria dos partos, a cabeça do bebé é a primeira zona do corpo a sair. No entanto, pode

acontecer o contrário e saírem primeiro os pés ou as nádegas. Chama-se a esta situação,

apresentação pélvica.

Neste caso, deve-se transportar a grávida para o hospital, com as pernas e as nádegas

elevadas. Constitui excepção o facto de o parto ocorrer entretanto. Nesta situação deve assistir

o mesmo prestando os cuidados adequados.

Deve resistir à tentação de executar qualquer manobra inoportuna que poderia pôr em risco o

desenrolar do parto.

Page 246: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do TA de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

224/262 Parto Iminente Noções Básicas TAT.01.10

É de esperar que o parto nessa circunstância se processe rápida e facilmente. Se tal não

acontecer, a conduta a adoptar é a seguinte:

1. Instruir a parturiente para que se deite bem à beira da maca de tal forma que o bebé, à

medida que vai saindo através do canal vaginal, vá ficando pendente;

2. Sairão primeiro os membros inferiores. Com as mãos receba o bebé de maneira a este

ficar com as coxas flectidas sobre o tronco;

3. De seguida sairá o tronco e os membros superiores e, por fim, normalmente, sairá a

cabeça;

4. Com ambas as mãos vai receber o bebé de maneira a este ficar com as coxas flectidas

sobre o abdómen;

Anexo A. Figura 145 - Parto com apresentação pélvica.

5. Atenção às circulares do pescoço;

6. Logo que o cordão umbilical se exteriorize, deve-se fazer uma ansa do mesmo e

continuar a aguardar;

7. Se o trabalho de parto for interrompido quando aparecem as axilas:

a. Deve meter os dedos, indicador e médio no canal vaginal de modo a que a

palma da mão fique voltada para a face do bebé;

b. Deslizar os dedos até encontrar o queixo e o nariz do bebé e afasta-os depois de

modo a que o ar possa passar e a criança não sufoque. Esta manobra deve

fazer-se até que a cabeça saia completamente ou se chegue ao hospital;

Anexo A. Figura 146 - Manobra para libertação da cabeça num parto pélvico.

Page 247: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do TA de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Parto Iminente Noções Básicas 225/262

8. Deve-se administrar oxigénio à mãe a 3 litros / minuto e proceder ao transporte imediato

para o hospital.

7.2. Prolapso do Cordão Umbilical

Se o cordão umbilical é a primeira estrutura a sair, o parto não pode ser feito fora do hospital e

a mãe tem que ser rapidamente transportada.

Anexo A. Figura 147 - Prolapso do cordão umbilical.

Perante um prolapso do cordão umbilical, o objectivo é impedir que o bebé comprima o

cordão.

A grávida deve estar deitada de costas, com elevação das nádegas mediante uma almofada ou

cobertor (esta posição ajuda a diminuir a pressão do bebé na vagina). Com a mulher nesta

posição insira os dedos na vagina e com gentileza ‘empurre’ a cabeça do bebé (fazendo

pressão apenas sobre a superfície óssea), mantendo esta posição até à chegada ao hospital.

O cordão deve ser envolvido em compressa esterilizada, embebida em soro fisiológico

O transporte será feito sem perda de tempo, administrando à grávida oxigénio a 10 litros /

minuto.

7.3. Apresentação de um Membro

Nestas circunstâncias, deve cobrir o membro com um penso esterilizado, transportar a grávida

com as pernas e as ancas elevadas, por exemplo, com cobertores e transportar rapidamente a

parturiente ao hospital.

O transporte será iniciado sem perda de tempo, administrando à grávida oxigénio a 10 litros /

minuto.

Page 248: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do TA de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

226/262 Parto Iminente Noções Básicas TAT.01.10

Anexo A. Figura 148 - Apresentação de um membro.

7.4. Convulsões da Grávida durante o Parto

Outra eventualidade que pode ocorrer durante o transporte é o desencadeamento de crises

convulsivas por parte da grávida. Nestas circunstâncias, a conduta a adoptar, deve ser a

mesma que para quaisquer convulsões.

Esta situação é sempre extremamente grave, ficando a grávida, muitas vezes, a seguir às

convulsões, em coma. Por esta razão, a grávida deve ser transportada o mais rapidamente

possível para a maternidade, deitada para o lado esquerdo e com administração de oxigénio a

10 litros / minuto.

Porque os estímulos podem provocar novas convulsões, o transporte deve ser feito

suavemente, sem luzes, sirenes ou manobras bruscas.

7.5. Gémeos

O nascimento de 2 ou mais crianças não é, em si mesmo, um problema. O parto de gémeos

processa-se do modo habitual. Pode haver um intervalo de alguns minutos entre o nascimento

de cada bebé.

Geralmente, os gémeos são mais pequenos e perdem calor mais facilmente. Por isso, deve

haver um cuidado especial para os manter aquecidos

7.6. Prematuros

Um bebé que nasceu antes das 37 semanas de gestação ou tem baixo peso (peso inferior a

2.500 g), deve ser considerado prematuro.

Page 249: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do TA de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Parto Iminente Noções Básicas 227/262

O parto deve ser assistido como qualquer outro mas devem ter-se alguns cuidados

suplementares:

Cobrir o prematuro com um cobertor aquecido;

Laquear o cordão com muito cuidado devendo certificar-se que não fica a sangrar;

O prematuro é ainda mais susceptível a infecções que os outros recém-nascidos.

Por isso, não falar, tossir ou espirrar para cima dele (deverá usar, de preferência,

uma máscara protectora de modo a reduzir o risco de transmissão de infecções).

7.7. Aborto

Chama-se aborto ou abortamento à expulsão do bebé e da placenta, quando a criança não

está ainda suficientemente desenvolvida para viver por si só.

Quer o aborto tenha sido espontâneo ou provocado, não lhe compete julgar a mulher e, como

sempre, a sua atitude deve ser de apoio e competência profissional.

Esta situação causa, frequentemente, hemorragias graves que apresentam os seguintes

sintomas:

Pulso rápido;

Sudorese (transpiração);

Palidez;

Fraqueza;

Dor abdominal;

Hemorragia vaginal, com ou sem saída do feto.

A actuação do TA consiste em:

1. Deitar a parturiente com elevação dos membros inferiores;

2. Conservar a temperatura corporal da mesma, cobrindo-a com um cobertor;

3. Não tocar na área da vagina, pois facilmente se pode provocar infecção;

4. Aplicar pensos higiénicos ou compressas esterilizadas para embeber o sangue;

5. Administrar oxigénio a 3 litros / minuto. No caso de hemorragia abundante e / ou

presença de choque (pela hipovolemia) administrar a 10 litros / minuto;

6. Transportar para o hospital também o feto, se este tiver sido expelido, mas fora da vista

da mãe.

Page 250: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do TA de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

228/262 Parto Iminente Noções Básicas TAT.01.10

Page 251: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Glossário 229/262

ANEXO B - GLOSSÁRIO

A

ABC

Sigla (mnemónica) utilizada para a avaliação de uma vítima inconsciente.

A - Via aérea

B - Ventilação

C - Circulação

ABCDE

Sigla (mnemónica) utilizada para a avaliação de uma vítima de trauma.

A - Via aérea com controlo da coluna cervical

B - Ventilação

C - Circulação com controlo de hemorragias

D - Disfunção neurológica

E - Exposição com controlo de temperatura

Abdómen

Região anatómica do tronco, compreendida entre o tórax e a bacia (pélvis).

A cavidade abdominal, entre outras estruturas, contém o estômago, o intestino, fígado (e

vesícula biliar), pâncreas, rins (e glândulas supra-renais) e o baço.

Aborto (abortamento)

Morte ou expulsão de um feto, antes de atingida a idade gestacional compatível com a sua

viabilidade.

O aborto pode ser provocado ou espontâneo.

Abrasão

Lesão da pele ou mucosas, provocada por fricção.

Estas lesões são extremamente dolorosas e muito frequentes em motociclistas que deslizam

sobre uma superfície após uma queda.

Page 252: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

230/262 Glossário TAT.01.10

Acidente

Acontecimento repentino e imprevisto, provocado por acção do homem ou da natureza, com

efeitos relativamente limitados no tempo e no espaço susceptíveis de atingirem as pessoas, os

bens ou o ambiente.

Afasia

Perda da capacidade de falar ou compreender a linguagem falada ou escrita.

Afogamento; quase-afogamento

Afogamento designa a morte por asfixia ocorrida em meio líquido; quase-afogamento designa a

situação provocada pela submersão em meio líquido, em que a vítima é removida com vida ou

é reanimada após manobras adequadas.

Alergeno

Substância que provoca uma reacção alérgica em indivíduos sensibilizados.

Alergia

Reacção de hipersensibilidade provocada pelo contacto com substâncias estranhas

(alergenos) que, normalmente, não provocam este tipo de resposta.

A reacção pode ter diferentes graus de gravidade, da ligeira urticária à reacção anafilática com

choque, extremamente grave.

Alinhamento

Técnica para alinhar a coluna cervical segundo o eixo nariz – umbigo - pés.

Alvéolos pulmonares

Região terminal das vias aéreas, em forma de pequenos sacos agrupados em cachos,

rodeados de uma rede de capilares (por isso designados capilares peri-alveolares).

É ao nível dos alvéolos pulmonares que se processam as trocas de oxigénio e dióxido de

carbono entre o sangue e o ar inspirado.

Ambulância de socorro

Veículo com características definidas legalmente no que se refere à tripulação, equipamento e

ao próprio veículo e cuja principal função é a de prestar o socorro de emergência a vítimas de

doença súbita ou trauma e proceder ao seu transporte para o serviço de saúde mais adequado.

Page 253: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Glossário 231/262

Amenorreia

Falta de fluxo menstrual.

Amnésia

Perda parcial ou total da memória.

A amnésia pode ter diversas causas mas, frequentemente, surge como resultado de situações

traumáticas (físicas ou psicológicas).

A amnésia é frequente em alguns TCE, especialmente a amnésia que se verifica para os factos

relacionados com o acidente que causou o TCE.

Amputação

Secção (corte) de um membro ou de um segmento de um membro.

A amputação pode ser cirúrgica ou traumática.

Anatomia

Ciência médica que estuda e descreve o corpo humano.

Angina de Peito (angor pectoris)

Doença cardíaca caracterizada por dor pré-cordial ou sensação de opressão torácica, como

resultado de um deficiente fornecimento de oxigénio ao miocárdio.

A angina de peito surge, frequentemente, como resultado de um esforço ou emoção e

desaparece com o repouso e / ou a utilização de medicação adequada (comprimidos de

administração sub-lingual).

Esta situação difere do enfarte agudo do miocárdio pela resposta ao tratamento (repouso e

fármacos) e pela ausência de lesão irreversível.

Anisocória

Pupilas de tamanhos diferentes na mesma pessoa.

ANPC

Autoridade Nacional de Protecção Civil.

Antecedentes

Doenças e situações patológicas da vítima.

Anúria

Ausência de débito urinário.

Page 254: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

232/262 Glossário TAT.01.10

Aorta

Principal artéria do corpo humano.

Tem origem no ventrículo esquerdo, de onde recebe o sangue que distribui por todo o corpo

(grande circulação).

Apêndice Xifóide

Porção cartilagínea do esterno, localizada na sua região inferior.

Apneia

Ausência de ventilação.

Arma

Dispositivo capaz de provocar lesões traumáticas, de forma voluntária (agressão) ou

involuntária (acidente).

Embora muitos dispositivos possam receber esta designação, são frequentes as lesões

provocadas por armas brancas (facas, navalhas, etc.) ou por armas de fogo (pistolas,

espingardas, etc.)

Artéria

Vaso sanguíneo que conduz o sangue do coração para os tecidos.

Asma

Doença caracterizada por crises de dispneia motivadas por hipersensibilidade das pequenas

vias aéreas (brônquíolos) a uma série de substâncias (alergénios) e estímulos (por exemplo:

frio, emoções).

Após o contacto com o estímulo que desencadeia a crise, as pequenas vias aéreas vão

apresentar os seguintes fenómenos: broncoconstricção, edema e aumento de secreções.

Estes três fenómenos vão causar a obstrução da passagem do ar que pode ser severa.

Assistolia

Forma de paragem cardíaca.

Aterosclerose

Doença caracterizada pela deposição de lípidos (gorduras) na parede dos vasos sanguíneos

que, eventualmente, leva à oclusão desses vasos, impedindo a circulação de sangue.

Estes depósitos podem também provocar a formação de coágulos sanguíneos que, quando se

desprendem, formam êmbolos e causam a oclusão de vasos localizados noutras zonas.

Page 255: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Glossário 233/262

AVC (Acidente Vascular Cerebral)

Doença caracterizada pela interrupção do fornecimento de sangue a determinadas zonas do

cérebro, com perda das funções asseguradas por essas zonas.

Avulsão

Arrancamento. Termo utilizado para descrever o arrancamento traumático de dentes ou unhas.

B

Bacia

Região anatómica localizada abaixo do abdómen.

A bacia corresponde à região definida pelos ossos ilíacos que, por sua vez, delimitam a

cavidade pélvica.

Nesta cavidade localizam-se, entre outras estruturas, a bexiga, o recto e, na mulher, o aparelho

reprodutor.

Baixa Frequência

Telefone.

BAR

Rotura do saco das águas (antecede o parto).

Bradicardia

Frequência cardíaca inferior a 60 / minuto.

Bradipneia

Frequência ventilatória abaixo do normal.

Bronquite

Doença crónica do aparelho respiratório que se caracteriza pela inflamação dos brônquios.

Esta inflamação vai provocar a diminuição progressiva da função respiratória.

C

Page 256: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

234/262 Glossário TAT.01.10

Calamidade

Acontecimento ou série de acontecimentos graves, de origem natural ou tecnológica, com

efeitos prolongados no tempo e no espaço, em regra previsíveis, susceptíveis de provocarem

elevados prejuízos materiais e, eventualmente, vítimas, afectando intensamente as condições

de vida e o tecido socio-económico em áreas extensas do território nacional.

Catástrofe

Acontecimento súbito, quase sempre imprevisível, de origem natural ou tecnológica,

susceptível de provocar vítimas e danos materiais avultados, afectando gravemente a

segurança das pessoas, as condições de vida das populações e o tecido socio-económico do

país.

Cefaleias

Dores de cabeça.

Célula

Estrutura microscópica que constitui a unidade básica fundamental de todos os organismos

vivos.

Os organismos mais simples podem ter apenas uma célula (organismos unicelulares, como é o

caso das bactérias) ou várias (organismos pluricelulares, como é o caso de um animal ou de

uma planta).

O homem tem milhares de biliões de células que podem ser de vários tipos. São exemplos os

glóbulos vermelhos, os neurónios ou as células musculares.

Cerebelo

Órgão do Sistema Nervoso Central e um dos constituintes do encéfalo.

O cerebelo localiza-se na região posterior do crânio e a sua principal função é a de garantir a

coordenação dos movimentos.

Cérebro

O cérebro é um órgão do Sistema Nervoso Central e o maior constituinte do encéfalo.

O cérebro ocupa a maior parte da caixa craniana e desempenha importantes funções motoras,

sensitivas e de integração.

É constituído por dois hemisférios ligados por uma estrutura denominada corpo caloso.

Várias regiões do cérebro são responsáveis por funções específicas, de que são exemplos a

fala, a audição ou a actividade motora.

Page 257: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Glossário 235/262

CHAMU

Mnemónica utilizada para a colheita de informação:

C - Circunstâncias da ocorrência

H - História clínica prévia

A - Alergias

M - Medicação habitual

U - Última refeição

Choque

Situação caracterizada pelo fornecimento inadequado de sangue aos tecidos.

Esta situação, se não for corrigida rapidamente, coloca a vida da vítima em risco.

Consoante a causa, o choque pode ser de vários tipos: hipovolémico, neurogénico,

cardiogénico ou obstrutivo.

Choque anafilático

Reacção alérgica sistémica grave.

Cianose

Coloração azulada da pele, mucosas e / ou leito ungueal, devida a um défice de oxigénio.

O frio também pode provocar esta alteração.

CIAV

Centro de Informação Antivenenos.

Ciclo Ventilatório

Conjunto de uma inspiração e uma expiração.

Circulação

Movimento do sangue no interior dos vasos sanguíneos.

A grande circulação corresponde ao movimento do sangue entre o ventrículo esquerdo e a

aurícula direita. Destina-se a fornecer oxigénio e nutrientes aos tecidos e remover o dióxido de

carbono e substâncias tóxicas produzidas pelas células.

A pequena circulação corresponde ao movimento do sangue entre o ventrículo direito e a

aurícula esquerda. Destina-se a garantir a oxigenação do sangue e a eliminação do dióxido de

carbono a nível dos pulmões.

Page 258: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

236/262 Glossário TAT.01.10

CODU - Centro de Orientação de Doentes Urgentes.

Central responsável pela recepção de chamadas de emergência relacionadas com a saúde,

pela sua triagem, pelo accionamento e acompanhamento dos meios de socorro e, ainda, pelo

aconselhamento apropriado.

Colar Cervical

Dispositivo destinado a imobilizar a coluna cervical.

Existem diversos modelos de colar cervical mas os mais eficazes são os colares de quatro

apoios.

Colete de Extracção

Também conhecido por KED (Kendrick Extrication Device - Dispositivo de Remoção de

Kendrick), este dispositivo de imobilização foi especificamente concebido para imobilizar

vítimas de acidentes de viação e permitir a sua extracção do veículo sinistrado de forma

controlada.

Outras utilizações possíveis deste dispositivo incluem a imobilização do membro superior ou a

remoção de vítimas de locais de difícil acesso.

Contusão

Lesão traumática que se caracteriza pela manutenção da integridade da pele, com atingimento

mais ou menos marcado dos tecidos subjacentes.

Convulsões

Actividade muscular involuntária, associada a perda de consciência, que pode ser generalizada

ou localizada a um membro ou região.

As convulsões podem ser causadas por várias situações, como sejam a epilepsia, os AVC, os

TCE, ou as neoplasias cerebrais.

Coração

Órgão do sistema cardiovascular, localizado no tórax, constituído por quatro cavidades (duas

aurículas e dois ventrículos) e responsável pela circulação do sangue.

O coração funciona como uma bomba que mantém o sangue em constante circulação, à custa

da contracção do músculo cardíaco, principal constituinte deste órgão.

Crepitação

Sensação de mobilidade anormal que se pode ouvir e sentir nas fracturas.

Page 259: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Glossário 237/262

CVP

Cruz Vermelha Portuguesa.

D

Débito de O2

Número de litros de oxigénio a administrar.

Decúbito Dorsal

Corpo humano deitado sobre a região posterior, com a face para cima. (Ver Posição Supina)

Decúbito Lateral

Corpo humano deitado lateralmente, sobre o lado esquerdo ou direito.

Decúbito Lateral Esquerdo - DLE

Deitar sobre o lado esquerdo.

Decúbito Ventral

Corpo humano deitado sobre a região anterior, com a face para baixo.

Dequitadura

Expulsão da placenta durante o trabalho de parto.

Derme

Camada inferior da pele.

Na derme encontram-se glândulas sudoríparas e sebáceas, folículos pilosos, vasos

sanguíneos e as terminações nervosas sensitivas.

Desencarceramento

Processo de libertação de uma vítima encarcerada.

DFEM

Departamento de Formação em Emergência Médica. Estrutura formativa do Instituto Nacional

de Emergência Médica.

Page 260: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

238/262 Glossário TAT.01.10

Diabetes Mellitus

Doença caracterizada pela alteração dos mecanismos de controlo dos níveis de açúcar no

sangue (glicemia).

Diafragma

Músculo que separa o tórax do abdómen e é o principal músculo respiratório. A sua contracção

causa a expansão pulmonar que se verifica durante a inspiração.

Lesões da coluna vertebral acima de C4 podem provocar a paralisia deste músculo com morte

por asfixia.

Dióxido de Carbono

Um dos principais produtos do metabolismo.

Acima de determinados níveis torna-se tóxico pelo que o seu excesso tem que ser

continuamente eliminado.

Disartria

Dificuldade na articulação das palavras.

Disfagia

Dificuldade na deglutição.

Dismenorreia

Dor associada ao período menstrual.

Dispareunia

Dor associada ao acto sexual.

Dispneia

Sensação subjectiva de falta de ar.

Sintoma com diversas causas que incluem doenças do aparelho respiratório, doenças

cardíacas e doenças musculares.

Disritmia

Arritmia - Alteração do ritmo cardíaco.

Dissecção da Aorta

Rotura longitudinal da face interna da aorta.

Page 261: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Glossário 239/262

DLE - Decúbito Lateral Esquerdo

Deitar sobre o lado esquerdo.

DM2

Diabetes Mellitus tipo II - do adulto.

DMNIT

Diabetes Mellitus Não Insulino - Tratado (geralmente tipo II).

Dor

Sensação desagradável resultante de lesão tecidular ou percebida como tal.

DPOC

Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica.

E

EAM - Enfarte Agudo do Miocárdio

Lesão do miocárdio de que resulta a morte das células.

Esta situação é resultante de um défice de aporte de oxigénio ao miocárdio, um aumento das

necessidades de oxigénio ou ambas.

O enfarte agudo do miocárdio é uma causa de mortalidade importante e, normalmente, o

principal sintoma é a dor pré-cordial intensa.

EAP - Edema Agudo do Pulmão

Situação caracterizada pelo encharcamento dos alvéolos pulmonares por líquido proveniente

do sistema vascular.

É uma situação de falência respiratória grave que cursa com respiração ruidosa e sensação de

afogamento.

As causas de edema agudo do pulmão são várias e incluem patologia cardíaca (por exemplo, o

enfarte agudo do miocárdio) ou pulmonar (por exemplo, algumas infecções ou a exposição a

substâncias tóxicas).

Page 262: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

240/262 Glossário TAT.01.10

Edema

Inchaço. Acumulação de líquido entre as células dos tecidos, provocando o aumento de volume

desses tecidos.

O edema pode ter várias causas: origem cardíaca, inflamatória, por doença hepática, défice

nutricional ou outras.

Electrocussão

Situação em que se verificam lesões provocadas pela acção da corrente eléctrica sobre o

corpo.

Embolia

Oclusão de uma artéria por um êmbolo formado noutro local do aparelho circulatório.

São exemplos as embolias pulmonares e cerebrais.

Os êmbolos podem ser de vários tipos: coágulos sanguíneos, matéria gorda da medula óssea

(embolia gorda), líquido amniótico (embolia de líquido amniótico) ou mesmo substâncias

gasosas, como o ar (embolia gasosa).

Emético

Que provoca o vómito.

Empalamento

Situação em que se verifica uma lesão provocada por um objecto que permanece na ferida.

Encarceramento

Situação em que uma vítima não pode ser removida de determinado local por se encontrar

presa, sendo necessário recorrer a meios especiais de desencarceramento para a poder

libertar.

Encéfalo

Porção do Sistema Nervoso Central localizada dentro da caixa craniana.

É constituído pelo cérebro, cerebelo e tronco cerebral.

Enfisema Sub-cutâneo

Acumulação de ar no tecido celular sub-cutâneo.

Page 263: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Glossário 241/262

Entorse

Lesão articular por estiramento dos ligamentos.

A entorse da articulação tíbio-társica (tornozelo) por má colocação do pé durante a marcha é

muito frequente.

Epigastralgia

Dor localizada ao epigastro (estômago).

Epilepsia

Doença cerebral que se caracteriza pelo aparecimento de actividade eléctrica desordenada,

frequentemente provocada por um estímulo visual ou auditivo intenso.

A existência de convulsões é uma característica comum à maior parte das formas de epilepsia.

Epistáxis

Perda de sangue pelo nariz.

Equimose

Lesão da pele em que há rotura de capilares com extravasamento e acumulação de sangue,

formando as vulgares “nódoas negras”.

Eritrócitos

Glóbulos vermelhos. Células do sangue cuja principal função é o transporte de oxigénio dos

pulmões até aos tecidos. Para isso, têm uma substância (hemoglobina) capaz de captar

oxigénio a nível dos capilares pulmonares e libertá-lo nos capilares dos tecidos.

Escala AVDS

Escala de avaliação do estado de consciência.

Esfacelo

Lesão dos tecidos moles com destruição importante e perdas sanguíneas que podem ser

significativas.

Esterno

Osso plano de forma alongada, localizado na região anterior do tórax.

Expectoração

Produto com origem nos pulmões e que é expelido pela tosse.

Page 264: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

242/262 Glossário TAT.01.10

F

FA - Fibrilhação Auricular

Forma de arritmia cardíaca muito frequente nos idosos.

FC - Frequência Cardíaca

Número de batimentos cardíacos por minuto.

Febre

Conjunto de alterações provocadas por uma infecção e que inclui hipertermia, arrepios e

prostação.

Feto

Designação dada ao embrião a partir da sua implantação no útero e até ao parto.

Fibrilhação

Forma de alteração eléctrica cardíaca.

Fisiologia

Ciência médica que estuda e descreve o funcionamento do corpo humano.

Flictenas

Vesículas (bolhas) ao nível da pele, com conteúdo líquido, ocorrendo nas queimaduras do 2º

grau.

FR - Frequência Respiratória

Número de ciclos respiratórios por minuto.

Fractura

Solução de continuidade no tecido ósseo, normalmente provocada por um traumatismo.

Este tipo de lesão pode ter uma gravidade relativamente pequena (algumas fracturas dos

dedos), ou serem muito graves e colocarem a vítima em risco de vida (exemplo, algumas

fracturas da bacia).

As fracturas podem ser fechadas ou abertas.

Page 265: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Glossário 243/262

FV - Fibrilhação Ventricular

Forma de paragem cardíaca.

G

Garrote

Dispositivo, improvisado ou não, que se coloca envolvendo um membro em posição proximal a

uma hemorragia e pode ser apertado de modo a reduzir ou parar essa hemorragia.

Gesta

Número de gestações ou gravidezes.

Glicemia

Nível de glicose (açúcar) no sangue.

Glicose (glucose)

Um dos açúcares fornecidos pelos alimentos e utilizado pelas células como principal fonte de

energia.

H

Hematemese

Vómito de sangue pela boca, tipo «borra de café».

Esta situação resulta de hemorragia a nível do aparelho digestivo, em regra do esófago ou do

estômago.

Hematoma

Colecção de sangue sem contacto com o exterior (rotura de artéria ou veia).

Resulta da acumulação de sangue nos tecidos, após lesão de vasos sanguíneos.

Os hematomas podem localizar-se em qualquer tecido mas são particularmente graves quando

ocorrem a nível intra-craniano.

Hematúria

Perda de sangue das vias urinárias.

Page 266: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

244/262 Glossário TAT.01.10

Hemi

Prefixo que designa metade.

São exemplos: hemiparésia (paralisia de uma das metades do corpo) ou hemitórax (termo

usado para referir uma das cavidades pleurais).

Hemiparésia

Diminuição da força de um dos lados do corpo.

Hemiplegia

Perda de mobilidade de um dos lados do corpo.

Hemoglobina

Substância responsável pelo transporte de oxigénio para os tecidos, localizada nos glóbulos

vermelhos.

A nível dos capilares pulmonares o oxigénio liga-se à hemoglobina sendo posteriormente

libertado nos capilares tecidulares e passando para as células.

Hemoptise

Tosse acompanhada de perda de sangue vivo.

Esta situação resulta de hemorragia a nível pulmonar ou das vias aéreas inferiores.

Hemorragia

Extravasamento de sangue provocado por lesão de um vaso sanguíneo.

As hemorragias podem ser classificadas em arteriais ou venosas, consoante o tipo de vaso

lesado.

Por norma as hemorragias arteriais provocam maiores perdas sanguíneas e são mais difíceis

de controlar que as hemorragias venosas.

As hemorragias podem ainda ser classificadas em externas (visíveis) ou internas.

Estas últimas podem ser particularmente graves uma vez que são mais difíceis de diagnosticar

e o seu controle apenas pode ser feito recorrendo a cirurgia, pelo que podem provocar perdas

de sangue muito graves.

Hemotórax

Acumulação de sangue na cavidade pleural com colapso do pulmão.

Esta situação resulta normalmente de trauma e a sua gravidade depende da quantidade de

sangue que se perde.

Page 267: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Glossário 245/262

Hiper

Prefixo que designa maior ou mais elevado.

São exemplos: hipertensão, hiperglicemia ou hipertermia.

Hipertermia

Temperatura elevada, geralmente corresponde a febre.

Hipo

Prefixo que designa menor ou mais baixo.

São exemplos: hipotensão, hipoglicemia ou hipotermia.

Hipoglicémia

Nível de açúcar no sangue inferior ao normal.

Hipotermia

Temperatura abaixo do normal.

Hipóxia

Défice de oxigénio.

HTA - Hipertensão Arterial

Tensão arterial elevada.

I

Icterícia

Coloração amarelada da pele e mucosas, particularmente visível a nível ocular (escleróticas).

Normalmente esta situação resulta de doença hepática.

Imobilização

Princípio que deve ser aplicado a todas as vítimas de trauma com o objectivo de eliminar ou

reduzir os movimentos a que essa vítima será sujeita durante a prestação de socorro e o

transporte até ao hospital.

Page 268: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

246/262 Glossário TAT.01.10

Imobilização (de extremidade)

Técnica que recorre a dispositivos, normalmente rígidos (talas), com o objectivo de manter um

membro traumatizado na mesma posição, eliminando ou reduzindo os movimentos.

Imobilizadores Laterais da Cabeça

Dispositivos que, juntamente com o plano duro, garantem a imobilização da coluna.

Incontinência de Esfíncteres

Perda do controle dos esfincteres (urinário e / ou anal) com micção e / ou dejecção involuntária.

Esta situação ocorre com alguma frequência em caso de convulsões ou AVC.

INEM

Instituto Nacional de Emergência Médica.

Infecção

Doença provocada pela proliferação de determinado tipo de agente patogénico (capaz de

provocar doença).

Inflamação

Reacção normal do organismo com o objectivo de combater determinada lesão ou infecção.

Frequentemente, esta resposta torna-se excessiva constituindo um factor de lesão adicional,

tornando-se necessário combatê-la.

Insulina

Hormona segregada pelo pâncreas e responsável pela entrada da glicose para as células.

A incapacidade de produção de insulina provoca a diabetes mellitus (tipo I ou insulino-

dependente).

Intoxicação

Situação que resulta dos efeitos de um ou mais produtos tóxicos sobre o organismo.

Isquémia

Diminuição ou ausência de fornecimento de sangue a determinada área ou órgão.

L

Page 269: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Glossário 247/262

LCR - Líquido Céfalo-Raquidiano

Líquido que se localiza no espaço sub-aracnoideu e tem funções de protecção do Sistema

Nervoso Central.

A perda de líquido céfalo-raquidiano é uma consequência possível dos TCE graves.

Leucócitos

Glóbulos Brancos - Células do sangue, de diferentes tipos, cuja principal função é a defesa

contra substância externas e, particularmente, contra agentes infecciosos.

Levantamento

Técnica para colocar uma maca sob uma vítima de trauma.

Lipotímia

Tontura. Sensação de desmaio.

Não há total perda de consciência, geralmente a vítima deixa de ver mas não de ouvir.

Líquido Amniótico

Líquido que envolve o feto, protegendo-o durante a gestação.

A rotura da bolsa de águas, que antecede o parto, corresponde à perda deste líquido após

rotura do saco amniótico.

Líquido Pleural

Líquido “lubrificante” que se localiza na cavidade pleural e facilita o deslizamento dos folhetos

pleurais ocorrido com os movimentos respiratório, ao reduzir o atrito criado entre eles.

Líquido Sinovial

Líquido contido na cápsula articular, que “lubrifica” a articulação e facilita os movimentos dos

ossos envolvidos.

M

Maca Pluma (maca scoop)

Dispositivo que permite a remoção e o transporte de uma vítima, tendo sido especificamente

concebida para permitir a sua colocação sob a vítima com um mínimo de mobilização desta.

Page 270: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

248/262 Glossário TAT.01.10

Mastectomia

Remoção cirúrgica da mama.

Mediastino

Compartimento central da cavidade torácica onde, entre outras estruturas, se localizam o

coração, os grandes vasos, a traqueia e o esófago.

Medula Espinal

Órgão do Sistema Nervoso Central, localizado no canal raquidiano (ou medular) e cuja principal

função é a de conduzir impulsos nervosos da periferia para o encéfalo e vice-versa.

Melenas

Hemorragia digestiva - aparecimento de sangue escuro nas fezes - fezes negras.

Meninges

Conjunto das três estruturas membranosas cuja principal função é a protecção do Sistema

Nervoso Central, que envolvem totalmente. Essas estruturas são (do exterior para o interior):

dura-máter, aracnoideia e pia-mater.

Metabolismo

Conjunto dos processos (reacções) químicos e físico-químicos que ocorrem a nível celular.

Midríase

Pupilas dilatadas.

Miocardiopatia

Doença do músculo cardíaco.

Miose

Pupilas de tamanho menor do que o normal.

Monóxido de Carbono

Produto resultante de combustões extremamente tóxico.

O monóxido de carbono liga-se fortemente à hemoglobina em vez do oxigénio, comprometendo

o transporte deste para os tecidos.

Page 271: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Glossário 249/262

N

Náuseas

Enjoo. Sensação desagradável, muitas vezes associada ao vómito.

Necrose

Morte (tecidular).

O

Oligúria

Diminuição do débito urinário.

Órgão

Conjunto de tecidos que formam uma determinada estrutura mantendo uma função comum.

Ex. Coração.

Otorragia

Hemorragia pelo ouvido.

Oxigenação

Processo que ocorre a nível dos pulmões e que consiste na captação de oxigénio pelo sangue

venoso e a sua transformação em sangue arterial (ou oxigenado).

Oxigénio

Elemento indispensável à vida.

O oxigénio é necessário para que o organismo possa transformar os alimentos em energia.

Sem oxigénio a morte surge em poucos minutos.

P

Pâncreas

Órgão localizado na cavidade abdominal (atrás do estômago e do fígado).

O pâncreas é uma glândula responsável pela produção de suco pancreático (contendo várias

enzimas digestivas) e de insulina.

Page 272: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

250/262 Glossário TAT.01.10

Paragem respiratória

Ausência de movimentos respiratórios espontâneos.

Se não for reconhecida e prontamente resolvida, evolui para paragem cardio-respiratória em

poucos minutos.

Parestesias

Sensação de adormecimento ou formigueiros das extremidades.

Parto

Conjunto dos processos fisiológicos e mecânicos que levam à saída do feto (viável) e anexos

(placenta). Antes das 37 semanas de gestação designa-se por parto prematuro.

PCR - Paragem Cardio-Respiratória

Ausência de ventilação e de circulação.

Se não for revertida rapidamente conduz à morte.

Pericárdio

Estrutura membranosa em forma de saco que envolve o coração.

Período Neo-Natal

Primeiro mês de vida.

Neste período o bebé designa-se por recém-nascido.

Pia-máter

Fina membrana que recobre toda a superfície do sistema nervoso central.

A pia-máter é a meninge mais interna e está separada da aracnoideia pelo espaço sub-

aracnóideu, onde se encontra o líquido céfalo-raquidiano.

Pieira

Som sibilante característico da asma, audível na fase expiratória.

Plano Duro

Dispositivo de imobilização que consiste, basicamente, numa prancha onde pode ser colocada

uma vítima de trauma em decúbito dorsal.

Plasma

Fracção líquida do sangue.

Page 273: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Glossário 251/262

Pleura

Membrana constituída por dois folhetos que revestem os pulmões (folheto visceral) e a face

interna da cavidade torácica (folheto parietal).

Estes dois folhetos formam a cavidade pleural e, em conjunto com o líquido pleural, permitem o

deslizamento dos pulmões sobre a face interna da parede torácica durante os movimentos

respiratórios.

PLS - Posição Lateral de Segurança

Também designada por posição de recuperação.

Posição em que se coloca uma vítima inconsciente (na ausência de suspeita de traumatismo)

de modo a impedir a obstrução da via aérea por queda da língua e / ou a aspiração de vómito.

Geralmente DLE.

PMA

Posto Médico Avançado.

Pneumonia

Doença resultante da infecção do(s) pulmão(ões) por um agente patogénico.

Pneumotórax

Situação em que se verifica a acumulação de ar no espaço pleural com colapso do pulmão.

Embora possa surgir de forma espontânea, normalmente, o pneumotórax resulta de um

traumatismo.

Polidipsia

Aumento da ingestão de líquidos por sede exacerbada.

Polifagia

Aumento da ingestão de alimentos por fome exacerbada.

Politraumatizado

Vítima de trauma que apresenta pelo menos uma lesão grave em dois ou mais órgãos ou

sistemas.

Poliúria

Aumento da frequência das micções.

Page 274: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

252/262 Glossário TAT.01.10

Posição Anatómica

Corpo humano na vertical, olhando em frente e com as palmas das mãos voltadas para a

frente.

Em anatomia, esta é a posição em que são feitas todas as referências às estruturas do corpo

humano.

Posição Erecta

Corpo humano em pé, na vertical.

Posição Supina

Corpo humano em decúbito dorsal (costas para baixo) e palmas das mãos viradas para a

frente.

Precauções Universais

Conjunto de procedimentos que devem ser adoptados por todos os profissionais de saúde com

o objectivo de diminuir o risco de infecção resultante do contacto com doentes portadores de

doenças infecciosas ou produtos contaminados.

Precordialgia - Angor

Dor no peito - Dor localizada na região pré-cordial.

Termo usado para descrever a dor torácica associada a doença coronária.

Prematuro

Recém-nascido com menos de 37 semanas de gestação.

Prurido

Comichão.

PSC

Perda súbita de conhecimento - Desmaio.

PSP

Polícia de Segurança Pública.

Pulmões

Órgãos do sistema respiratório, localizados no tórax e responsáveis pela oxigenação do

sangue venoso e sua transformação em sangue arterial.

Page 275: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Glossário 253/262

Pulso Arrítmico

Pulso irregular.

Pulso Rítmico

Pulso regular.

Q

Queimadura

Lesão causada pela acção de diferentes tipos de energias em quantidades superiores às que a

pele e as mucosas conseguem tolerar.

As queimaduras podem ser térmicas, eléctricas, químicas ou por radiação.

R

Rautek (chave de)

Técnica de remoção rápida de uma vítima do interior de um veículo sinistrado, executada

apenas por uma pessoa.

Esta manobra apenas se justifica perante situações de risco de vida iminente, como seja o

risco de explosão ou situações de paragem respiratória ou cardio-respiratória.

RCP

Ressuscitação Cárdio-Pulmonar.

Recém-Nascido

Designação dada ao bebé durante o primeiro mês de vida.

Redução (de fractura)

Manobra executada com o objectivo de realinhar os topos ósseos e corrigir a deformidade

associada a uma fractura.

Retroesternal

Atrás do esterno.

Rolamento

Técnica para colocar uma vítima de trauma em decúbito dorsal.

Page 276: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

254/262 Glossário TAT.01.10

Rubor Facial

Vermelhidão da face.

Rx

Radiografia; Raios X.

S

Sangue

Líquido de cor vermelha que circula nos vasos sanguíneos.

O sangue é constituído por uma fracção líquida chamada plasma e por vários tipos de células

(eritrócitos, leucócitos e plaquetas).

O sangue pode ser arterial (rico em oxigénio) ou venoso (pobre em oxigénio).

O sangue venoso transforma-se em sangue arterial nos pulmões, ao captar o oxigénio dos

alvéolos. A este processo dá-se o nome de oxigenação.

A nível dos tecidos, o sangue arterial liberta o oxigénio e transforma-se em sangue venoso.

SAV

Suporte Avançado de Vida.

SBV

Suporte Básico de Vida.

SIEM

Sistema Integrado de Emergência Médica.

Sinais Vitais

Frequência Cardíaca, Frequência Respiratória, Tensão Arterial e Temperatura.

Sinal

Alteração objectiva, resultante de uma doença ou lesão, que pode ser avaliada por um

observador.

Síncope

Perda de consciência.

Page 277: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Glossário 255/262

Sintoma

Sensação provocada por uma doença ou lesão, descrita pela vítima (queixa) mas que não

pode ser avaliada de forma directa por outra pessoa.

Sistema

Conjunto de órgãos relacionados entre si que desempenham determinadas funções. Ex.

Sistema Circulatório.

SIV

Suporte Imediato de Vida.

SISA

Sinais e Sintomas Associados.

SHEM

Serviço de Helicópteros de Emergência.

SNA - Sistema Nervoso Autónomo

Divisão fisiológica do Sistema Nervoso, responsável por diversas funções que ocorrem de

forma automática.

Embora algumas das funções reguladas pelo SNA possam sofrer alguma intervenção

voluntária (por exemplo, a respiração), a maioria ocorre de forma completamente independente

da vontade (por exemplo, a digestão depois dos alimentos serem deglutidos).

SNB

Serviço Nacional de Bombeiros (já extinto).

Sub-luxação da mandíbula

Manobra que consiste em provocar o deslocamento anterior (para a frente) da mandíbula de

modo a impedir a obstrução da via aérea pela queda da língua.

Esta é uma das manobras de permeabilizarção da via aérea.

A sub-luxação da mandíbula pode ser conseguida através do levantamento do queixo ou

aplicando uma força de sentido anterior ao ângulo da mandíbula.

Sudorese

Aumento da produção de suor.

Page 278: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

256/262 Glossário TAT.01.10

Suicídio; Tentativa de Suicídio

Suicídio é a morte provocada pelo próprio.

Na tentativa de suicídio, a intenção da vítima foi frustrada ou tratou-se de uma forma dramática

de chamar a atenção de alguém, sem intenção real de acabar com a própria vida.

T

TA Diastólica (Mínima)

Pressão do sangue nas artérias quando o coração se relaxa.

TA Sistólica (Máxima)

Pressão do sangue nas artérias quando o coração se contrai.

TA

Tensão Arterial.

Tamponamento cardíaco

Situação muito grave resultante da acumulação de sangue no saco pericárdico (“saco” que

envolve o coração), com compressão do coração.

Taquicardia

Pulso rápido (aumento do número de pulsações). Frequência cardíaca superior a 100 / minuto.

Taquidisritmia

Frequência cardíaca acima do normal com o ritmo irregular.

Taquipneia

Frequência ventilatória acima do normal.

TCE (Traumatismo crânio-encefálico)

Lesão traumática do crânio com atingimento das estruturas do encéfalo.

Os TCE podem apresentar graus de gravidade que vão do traumatismo minor, sem qualquer

tipo de consequência, ao TCE muito grave, com lesões irreversíveis do encéfalo e perigo de

vida.

Page 279: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Glossário 257/262

Tecido

Conjunto de células agrupadas com a mesma função, origem e aparência. Ex. Tecido

Muscular.

Temperatura

Um dos sinais vitais. A temperatura do corpo, em condições normais, situa-se entre 35º,0 C e

37 º,5 C.

Tensão Arterial

Um dos sinais vitais.

A Tensão Arterial (TA) traduz a força exercida pelo sangue nas paredes das artérias.

Na avaliação da Tensão Arterial deve ser determinada a TA sistólica (máxima) e a diastólica

(mínima).

Tórax

Região anatómica do tronco compreendida entre o pescoço e o abdómen.

A cavidade torácica, entre outras estruturas, contém o coração (e grandes vasos), pulmões

(traqueia e brônquios) e é atravessada pelo esófago.

No tórax localiza-se ainda o mediastino onde se alojam o coração, os grandes vasos, a

traqueia e o esófago.

Tosse

Reflexo que se destina a expelir a expectoração ou corpos estranhos das vias aéreas.

A tosse também pode resultar de irritação das vias respiratórias.

Tóxico

Substância que pode ser absorvida ou administrada por várias vias e que tem a capacidade de

provocar alterações fisiológicas e anatómicas nefastas.

Tronco

Região anatómica formada pelo tórax, abdómen e bacia.

Tronco cerebral

Parte do sistema nervoso central localizada entre o cérebro e a medula.

Nesta zona do SNC localizam-se vários centros reguladores vitais, como o centro respiratório e

o centro cardiovascular.

Page 280: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

258/262 Glossário TAT.01.10

TVM

Traumatismo Vertebro-Medular.

U

Ureteres

Órgãos tubulares por onde passa a urina que se forma nos rins e que ligam estes dois órgãos à

bexiga.

Urina

Líquido formado nos rins e resultante da filtragem do sangue.

Através da urina são eliminados numerosos produtos que, ultrapassando determinados níveis,

se tornariam tóxicos.

Urticária

Pápulas (manchas ligeiramente elevadas) vermelhas na pele, associadas a prurido.

Útero

Órgão do aparelho reprodutor feminino onde se aloja o embrião (que se passa a chamar feto) e

onde este se desenvolve durante as 40 semanas de gestação.

V

Veia

Vaso sanguíneo que conduz o sangue dos tecidos para o coração.

Ventilação

Movimento inspiratório (entrada de ar para os pulmões) e um movimento expiratório (saída de

ar dos pulmões).

Ventre Agudo

Quadro cirúrgico que cursa com dor abdominal súbita e geralmente intensa.

Page 281: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Glossário 259/262

Vértebras

Ossos que formam a coluna vertebral.

Em número de 33, formam uma estrutura de suporte do corpo.

Têm ainda uma importante função de protecção da medula espinal, localizada no canal

raquidiano formado pelas vértebras.

Vertigens

Sensação de que os objectos se encontram em movimento.

Este sintoma está frequentemente associado a alterações a nível do ouvido médio.

VIC

Viatura de Interenção em Catástrofe.

Violação; Tentativa de Violação

Agressão de natureza sexual com o objectivo de ter relações contra a vontade da vítima.

Por tentativa de violação designa-se a agressão de natureza sexual em que não se chega a

verificar penetração.

VMER

Viatura Médica de Emergência e Reanimação.

Vollet costal

Retalho da grelha costal resultante da fractura de várias costelas.

Vómito

Expulsão do conteúdo gástrico através da boca, involuntário ou provocado.

O vómito pode ser causado por alterações do aparelho digestivo (por exemplo, devido a uma

gastro-enterite) ou do sistema nervoso central (por exemplo, devido a um TCE ou a uma

meningite).

Um acesso de tosse mais forte, especialmente nas crianças, também pode desencadear o

vómito.

X

Xarope de Ipeca

Substância administrada a uma vítima de intoxicação com o objectivo de lhe provocar o vómito.

Page 282: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

260/262 Glossário TAT.01.10

 

Page 283: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

TAT.01.10 Bibliografia 261/262

BIBLIOGRAFIA

GRAY’S ANATOMY: THE ANATOMICAL BASIS OF MEDICINE & SURGERY

Thirty-Eighth Edition

Henry Gray et all

Churchill Livingstone

TEXTBOOK OF MEDICAL PHYSIOLOGY

Tenth Edition

Arthur C., M. D. Guyton, John E. Hall

W B Sounders Co

ESSENTIALS OF ANATOMY AND PHYSIOLOGY

Third Edition

Rod R. Seeley, Trent D. Stephens, Philip Tate

WCB/McGraw-Hill

HANDLEY, A [et al] 2005,

European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation 2005

- Adult Basic Life Support and use of automated external defibrillators,

Resuscitation (2005) 67S1: S7-S23.

HANDLEY, A [et al] 2005,

European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation 2005

- Pediatric Life Support,

Resuscitation (2005) 67S1: S97-S133.

EMERGENCY - CARE AND TRANSPORTATION OF THE SICK AND INJURED

Eighth Edition

American Academy of Orthopaedic Surgeons

Editors: Bruce D. Browner, Andrew N. Pollak, Carol L. Gupton

Jones and Bartlett Publishers

Page 284: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

Manual do Tripulante de Ambulância de Transporte Departamento de Formação em Emergência Médica

262/262 Bibliografia TAT.01.10

EMERGENCY CARE

Sixth Edition

Harvey D. Grant, Robert H. Murray Jr., J. David Bergeron

Prentice Hall International Editions

CURRENT OBSTETRIC AND GYNECOLOGIC DIAGNOSIS & TREATMENT

Nineth Edition

Alan H. De Cherney, Laureen Nathan

McGraw-Hill / Appleton & Lange

DICIONÁRIO MÉDICO

2ª Edição

L. Manuila, A. Manuila, P. Lewalle, M. Nicoulin

Adaptação e revisão da edição portuguesa de João Alves Falcato

Climepsi Editores

Page 285: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte
Page 286: Manual - Tripulante de Ambulancia de Transporte

DEPARTAMENTO DE FORMAÇÃO EM EMERGÊNCIA MÉDICA

MANUAL DO TRIPULANTE DE AMBULÂNCIA DE TRANSPORTE