Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

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UFCD 3537 QUADRO DA PSICOLOGIA EVOLUTIVA

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UFCD 3537

QUADRO DA PSICOLOGIA EVOLUTIVA

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Quadro da Psicologia Evolutiva

Índice

Introdução......................................................................................................3

Âmbito do manual.......................................................................................3

Objetivos.....................................................................................................3

Carga horária..............................................................................................3

1.Velhice - psicologia evolutiva......................................................................4

1.1.A velhice no quadro da psicologia evolutiva.........................................4

1.1.1.Conceito de psicologia evolutiva.....................................................4

1.1.2.Conceito de tarefas evolutivas........................................................7

1.1.3.O estudo da velhice no campo da psicologia evolutiva.................13

1.1.4.O estudo científico do processo de envelhecimento.....................19

2.Redes de apoio..........................................................................................26

2.1.As pessoas idosas e o meio ambiente.................................................26

2.1.1.A diversidade do meio ambiente..................................................26

2.1.2.A família e a comunidade.............................................................28

2.1.3.As Instituições formais..................................................................29

2.1.4.Caracterização e natureza das Instituições formais......................30

2.1.5.institucionalização das pessoas de idade.....................................34

2.1.6.A vida quotidiana nas Instituições................................................37

3.Grupos e Instituições de ajuda..................................................................41

3.1.Da família aos amigos: a presença da rede informal..........................42

3.2.As novas formas de solidariedade.......................................................45

3.2.1.Formais.........................................................................................45

3.2.2.Informais.......................................................................................48

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Quadro da Psicologia Evolutiva

Bibliografia...................................................................................................51

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Quadro da Psicologia Evolutiva

Introdução

Âmbito do manual

O presente manual foi concebido como instrumento de apoio à unidade de

formação de curta duração nº 3537 – Quadro da psicologia evolutiva,

de acordo com o Catálogo Nacional de Qualificações.

Objetivos

Reconhecer os princípios básicos de psicologia evolutiva, dando

particular ênfase à velhice como etapa do desenvolvimento humano.

Reconhecer, caracterizar e distinguir as diferentes redes de apoio

disponíveis e possíveis de serem utilizadas junto de pessoas idosas.

Reconhecer a importância das pessoas idosas na forma como

contribuem para uma cidadania interveniente e responsável.

Carga horária

50 horas

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Quadro da Psicologia Evolutiva

1.Velhice - psicologia evolutiva

1.1.A velhice no quadro da psicologia evolutiva

1.1.1.Conceito de psicologia evolutiva

Como tantas outras disciplinas científicas (como a história ou a

geologia, por exemplo), a psicologia evolutiva trabalha com a mudança ao

longo do tempo. Como as outras disciplinas nas quais se divide o amplo

campo da psicologia, a psicologia evolutiva trata da conduta humana. O que

diferencia a psicologia evolutiva das disciplinas não-psicológicas

mencionadas anteriormente é que o seu objeto de estudo é a conduta

humana, tanto em seus aspetos externos e visíveis como nos internos e

não-diretamente percetíveis. Mas em relação às outras disciplinas

psicológicas, o que a diferencia é o seu interesse pela conduta humana do

ponto de vista das suas mudanças e transformações ao longo do tempo.

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Quadro da Psicologia Evolutiva

A psicologia evolutiva é a disciplina que estuda o comportamento humano

enquanto instrumento de adaptação da nossa espécie ao meio ambiente.

Isto significa que podemos entender os nossos comportamentos como algo

que resulta de uma evolução ao longo de toda a nossa história, desde os

primórdios da existência da espécie humana.

O raciocínio humano, como acontece hoje, é fruto das pressões

evolutivas, relacionadas com as necessidades de sobrevivência dos

nossos antepassados.

O principal objetivo da Psicologia Evolutiva: Identificar a evolução das

adaptações emocionais e cognitivas que representam a “natureza humana

psicológica”, isto é, estudar e perceber de que forma os humanos tiveram

de evoluir de forma a poderem adaptar-se às condições e situações que

lhes surgem ao longo da vida.

O comportamento humano que hoje conhecemos sobreviveu a milhares de

anos de pressão ambientais. Tudo isto diz respeito a uma parte da

Psicologia Evolutiva que podemos designar de Filogenética pois tem a ver

com a nossa Filogénese, a evolução da nossa espécie.

Ora, no mundo primitivo e selvagem era impensável um ser humano

viver tantos anos quantos hoje vivemos. A nossa longevidade tem

vindo a aumentar muito porque, graças ao nosso cérebro e à

inteligência que desenvolvemos, conseguimos alterar as nossas

condições de vida de tal forma que já controlamos muitas das

causas que causavam a nossa morte em idades muito mais

prematuras.

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Quadro da Psicologia Evolutiva

Daqui resulta que a velhice é um fenómeno que nós próprios criámos

ao aumentar a longevidade da nossa espécie (e até a dos nossos

animais de estimação).

De forma interessante, a longevidade criou-nos desafios adicionais. Quando

antes morríamos antes de perder a grande parte das nossas capacidades

físicas e mentais, agora temos que aprender a adaptar-nos a essa mesma

perda de capacidades.

Ou seja, a nossa existência, que nos primórdios de diferenciava entre idade

imatura (dependente dos progenitores) e idade madura (independente e

com capacidade reprodutora), passou a ser, no presente, mais complexa e

diferenciada.

Temos uma fase de imaturidade e dependência classificada como infância,

uma idade de maior maturidade mas ainda dependente que é a

adolescência, um percurso pela maturidade e independência que começa

na idade adulta e segue pela meia-idade e, por fim, um retorno a algum

grau de dependência na etapa que precede a morte: a velhice.

E esta diferenciação, este percurso que cada ser faz individualmente,

conduz-nos a uma outra vertente da Psicologia Evolutiva, eventualmente

mais pertinente para os nossos objetivos, e que pode ser designada de

Ontogenética.

Esta designação relaciona-se com a origem e evolução do nosso Ser, ou

seja, a forma como evoluímos enquanto pessoas, ao longo das nossas vidas.

Principais características da psicologia evolutiva

As mudanças estudadas pela psicologia evolutiva têm um caráter

normativo ou semi-normativo, que não possuem as mudanças

estudadas noutras disciplinas psicológicas interessadas na mudança.

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Quadro da Psicologia Evolutiva

Normativo significa que os processos estudados pela psicologia

evolutiva são aplicáveis a todos os seres humanos ou a grandes

grupos deles (por exemplo, à maioria dos membros de uma cultura

determinada em um dado momento histórico). Em oposição aos fatos

normativos, existem fenómenos que se referem ao que é próprio de

determinados indivíduos.

As mudanças estudadas pela psicologia evolutiva têm a relação com

a idade que, habitualmente, não existe em outras disciplinas

psicológicas interessadas na mudança. A psicologia evolutiva dedica-

se às mudanças vinculadas à idade ou, para sermos mais exatos, ao

período da vida humana em que a pessoa se encontrar.

Princípios da psicologia Evolutiva

1. O cérebro é um sistema físico que funciona como um computador.

Os seus circuitos são criados para gerar comportamentos

apropriados às circunstâncias ambientais.

2. Os nossos circuitos neuronais foram selecionados de forma natural

para resolver problemas/questões que os nossos antepassados

enfrentaram durante a história evolutiva da nossa espécie.

3. A consciência é apenas a ponte do ice-berg, a maioria das coisas

que se passa na nossa cabeça está escondida de nós próprios.

4. Existem diferentes circuitos neuronais especializados na resolução

de diferentes problemas adaptativos.

5. A nossa mente moderna alberga uma mente da idade da pedra.

1.1.2.Conceito de tarefas evolutivas

A vida dos seres humanos desenvolve-se por etapas que constituem o ciclo

de vida. Ao longo dessas etapas, o indivíduo vai-se confrontando com

tarefas, desafios que tem de ultrapassar, para passar à etapa seguinte –

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TAREFAS EVOLUTIVAS. É a forma como resolve esses desafios que conduz

o seu desenvolvimento.

A resolução da tarefa evolutiva depende das necessidades e características

individuais e das pressões externas, e prepara o indivíduo para a etapa de

desenvolvimento seguinte, gerando ajustamento pessoal e social, o que se

considera e chama de maturidade.

As tarefas evolutivas são desafios normativos associados à idade

cronológica. Esses desafios são influenciados por:

Maturação biológica

Pressão da sociedade, expectativas sociais

Desejos e aspirações pessoais

Oportunidades e competências

Valores que fazem parte da personalidade do indivíduo

A realização das tarefas evolutivas de cada estádio de desenvolvimento é

considerada um indicador de maturidade

Período da Infância

A infância é o período durante o qual desenvolvemos mais rapidamente um

variadíssimo conjunto de capacidades. Essa evolução tem sido amplamente

estudada sob múltiplas perspetivas, visto que há desenvolvimentos ao nível

psicomotor, ao nível do raciocínio, ao nível das competências relacionais,

etc.

A infância é um período de dependência relativamente aos adultos

(normalmente os progenitores) e durante esta etapa espera-se que a

criança se ocupe a aprender algumas competências básicas que são

consideradas fundamentais para a adaptação à vida adulta.

Esta é também uma importante etapa de socialização e de construção de

valores. As crianças aprendem a relacionar-se, cumprir regras, a partilhar e

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a defender-se. Também neste plano tudo acontece de forma muito rápida e

exigente.

Período da Adolescência

A adolescência corresponde a um período em que o indivíduo prossegue no

caminho da autonomização, muito embora se mantenha a dependência. Na

nossa sociedade, atualmente, prevê-se que um adolescente continue a

investir o seu tempo e o seu esforço na sua educação, de forma a construir

a sua futura autonomia.

Já na posse de capacidades de pensamento abstrato e formal, o adolescente

está em condições de apreender conhecimentos de maior complexidade.

As alterações que se operam ao nível hormonal e da estrutura corporal são

acompanhadas de impulsos e fortes motivações para o estabelecimento de

relações íntimas e para a descoberta da sua sexualidade.

As necessidades identitárias e de integração em grupos de pertença,

tornam-se também imperativas e esse movimento de aproximação e de

afinidade com os pares é simultâneo a um afastamento relativamente à

influência normativa dos pais/educadores.

Todos estes movimentos produzem muitos conflitos que fazem com que o

processo de autonomização possa tornar-se um percurso muito complicado

e doloroso.

Idade Adulta

Entrar na idade adulta significa assumir responsabilidades cívicas e sociais,

estabelecer e manter um padrão económico de vida e ajudar os filhos a

serem futuros adultos responsáveis e felizes.

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Ao mesmo tempo, é importante promover a sua saúde e o seu bem-estar,

quer através da construção de um relacionamento, quer através do

desenvolvimento de atividades de lazer.

É nesta fase que o desenvolvimento das capacidades atinge o seu apogeu e

começa o declínio. Torna-se por isso necessário aceitar e ajustar-se às

mudanças físicas da meia-idade.

É igualmente necessário aprender a lidar com a autonomização dos filhos e

com a dependência crescente de pais cada vez mais idosos.

O sentido de identidade continua a desenvolver-se ao longo da idade adulta

e a busca do sentido da vida assume uma importância fundamental.

Período da Velhice

Quando se chega a uma idade avançada há um conjunto de capacidades

físicas e mentais que se foram deteriorando ao longo dos anos.

Naturalmente, nem todas as pessoas envelhecem da mesma maneira, quer

fisicamente, quer psicologicamente. Há pessoas que mantêm as suas

capacidades durante mais anos enquanto outras apresentam uma

deterioração mais precoce. E aí reside o desafio do envelhecimento

saudável.

A velocidade com que esta deterioração se dá pode ser retardada com

hábitos de vida saudáveis e com um quotidiano ativo e estimulante. Fazer

uma alimentação saudável, fazer exercício físico adequado e realizar

atividades sociais e intelectualmente desafiantes são apenas alguns

exemplos de como se pode envelhecer com qualidade.

Se ao longo da vida a pessoa não agiu preventivamente, as exigências de

uma velhice minimamente saudável comportam uma mudança de hábitos,

por si só, bastante difícil.

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O idoso deve também adaptar-se às falhas de memória, às mudanças do

sono, à diminuição da força ou da agilidade para atividades que antes eram

fáceis e às dores.

Quando a pessoa se reforma sofre também uma grande alteração nos seus

hábitos de vida, algo que requer também importantes ajustamentos. A

pessoa que se reforma não tem, necessariamente, que ficar inativa. Pelo

contrário. É muito importante que a pessoa encontre outras atividades que

a preencham e deem uso aos seus conhecimentos e capacidades.

Quando há perda de poder económico e passa a haver dependência

financeira relativamente aos familiares mais próximos (principalmente os

filhos) essa sensação de menos-valia é ainda mais acentuada.

Este ajustamento não é nada fácil e implica encontrar formas de sentir e de

comunicar uma identidade positiva. Implica igualmente aprender a lidar

com a crescente falta de autonomia e de liberdade que tende a ocorrer.

Com o passar dos anos, a dimensão da família tende a alargar, mas a

família nuclear vai ficando progressivamente mais pequena à medida que

os filhos vão saindo de casa dos pais. Chega a um ponto em que o casal tem

que reaprender a viver só.

Por outro lado, quanto mais tempo vivemos, mais pessoas queridas

perdemos. São os familiares, os amigos e, por vezes o(a) nosso(a)

companheiro(a). Nem sempre é fácil aprender a viver sem pessoas que

fizeram parte da nossa vida durante anos.

A viuvez é uma perda muito importante que produz transformações muito

grandes na vida da pessoa. Não é apenas nos casais harmoniosos que a

viuvez comporta grande sofrimento. Até nos casais conflituosos o padrão de

permanente atrito desempenha um papel importante na vida afetiva das

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pessoas. Também nesses casos a morte de um companheiro produz um

enorme vazio.

A convivência com a perda relembra e reforça a eminência da própria

morte. Essa é também uma preparação que a pessoa idosa deve fazer de

forma a conseguir continuar a viver tranquilamente e com qualidade.

O idoso que vive em sua casa ou com familiares precisa que a casa sofre

alterações para ajudar na sua deslocação e segurança. As escadas e as

casas de banho são, normalmente, espaços que exigem requisitos especiais

de adaptação ao idoso.

O idoso que vai viver para uma instituição (lar) tem que se adaptar a um

ambiente completamente diferente da sua casa. Apesar de poder ganhar

em termos de conforto e da qualidade dos cuidados de saúde, deixa de

estar no seu “território” para estar num espaço alheio, deixa de ser único

para ser um entre muitos, perde grande parte da sua autonomia bem como

a liberdade de alterar o espaço onde vive.

A perda de autonomia das pessoas idosas é a principal razão pela qual

existe este curso. Se todos os idosos se mantivessem completamente

autónomos até ao momento da sua morte não haveria necessidade de

formar profissionais especializados no apoio a estas pessoas.

A total autonomia funcional do idoso implica que este seja capaz de realizar

sozinho um conjunto de atividades:

Ter capacidade para se orientar em relação ao tempo, aos lugares e

às pessoas;

Cozinhar e alimentar-se;

Tomar banho e cuidar da sua higiene pessoal;

Manter a casa, as louças e as roupas limpas;

Controlar os esfíncteres;

Manter-se de pé e caminhar;

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Subir escadas;

Não correr riscos de acidentes (sobretudo incêndios);

Ir às compras;

Dispor de dinheiro e saber controlá-lo;

Seguir instruções (como receitas e prescrições médicas)

Manter os contactos sociais.

A solidão e o isolamento podem resultar em apatia, depressão e falta de

apetite, pelo que o idoso nestas condições pode facilmente descurar a sua

alimentação e a sua saúde.

Muitos homens viúvos nem sabe, o que comprar para comer ou como

cozinhar e daí resulta em que acabam por fazer uma dieta desequilibrada.

As pessoas em estado de confusão mental não têm condições mínimas de

autonomia para viverem sozinhas.

As limitações motoras costumam também ser um impedimento à autonomia

do idoso, obrigando a que recebam assistência (frequentemente, ao

domicílio) de forma a conseguirem alimentar.se convenientemente e

manter as condições de higiene pessoal e da casa.

A pobreza é outro limitador da autonomia de muitos idosos, alguns não

dispõem de rendimentos suficiente para a alimentação e para os

medicamentos, pelo que têm de recorrer à ajuda de terceiros.

1.1.3.O estudo da velhice no campo da psicologia evolutiva

Os modelos evolutivos procuram definir etapas de desenvolvimento, com

tarefas específicas que as pessoas têm de resolver e que lhes vai permitir

crescer/evoluir, tornar-se mais equilibradas.

As pessoas têm assim de integrar a sua experiência, considerando-a parte

essencial do desenvolvimento, e ultrapassar as barreiras que vão surgindo

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encarando-as como necessárias ao processo de crescimento. Faz parte

também do desenvolvimento o estabelecimento de objetivos e prioridades

que vão conduzir a resolução das tarefas e o percurso de vida.

Teoria do ciclo de vida

O desenvolvimento humano ocorre durante toda a vida, sendo cada período

do ciclo de vida influenciado pelo que aconteceu antes e afetando o que virá

depois.

Este modelo compreende um processo abrangente, influenciado pelo

contexto histórico, que procura um equilíbrio entre ganhos e perdas.

Características:

Multidireccionalidade

O desenvolvimento durante a vida envolve um equilíbrio entre crescimento

e declínio. As pessoas ganham numa área, mas podem perder noutras.

Plasticidade

Muitas capacidades podem ser modificadas com treino e prática, mesmo

tarde na vida, mas o potencial para a mudança não é ilimitado.

História e contexto

Cada pessoa desenvolve-se num conjunto específico de circunstâncias ou

condições definidas pelo tempo e pelo lugar. Os seres humanos influenciam

e são influenciados pelo seu contexto histórico e social, não respondem

apenas ao ambiente, interagem com ele e modificam-no.

Causalidade múltipla

O desenvolvimento humano é influenciado por diversos fatores e deve ser

analisado tendo em conta todos eles.

Neste sentido, a trajetória de vida implica:

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Crescer – envolve o alcance de níveis cada vez mais altos de

funcionamento ou de capacidade adaptativa;

Manter – envolve estabilidade dos níveis de funcionamento face a

novos desafios contextuais ou de perda;

Regulação de perdas – significa funcionamento em níveis mais

baixos quando a manutenção ou a recuperação não forem mais

possíveis.

O desenvolvimento intelectual, na idade adulta e na velhice ocorre segundo

os seguintes princípios:

1.O envelhecimento é um processo que acarreta mudanças de

natureza fisiológica, traduzidas no declínio das capacidades

intelectuais dependentes do funcionamento neurológico, sensorial e

psicomotor.

2.As mudanças intelectuais de base genética/fisiológica não

significam descontinuidade da capacidade adaptativa e

incompetência cognitiva generalizada.

3.O desenvolvimento intelectual é uma experiência heterogénea, ou

seja, pode ocorrer de modos diferentes para indivíduos que vivem em

contextos sociais e históricos distintos.

4.O envelhecimento intelectual é um processo multidimensional e

multidirecional.

5.Respeitando os limites impostos pela biologia e as possibilidades

abertas pela educação formal e não formal a que foram expostos ao

longo da vida, é possível alterar o desempenho intelectual dos idosos

por meio de intervenções educacionais.

Teoria de Erikson

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Quadro da Psicologia Evolutiva

A Teoria Psicossocial do Desenvolvimento da Personalidade desenvolvida

em 1950 por Erikson entende o desenvolvimento do indivíduo como fruto da

interação dos fatores individuais com os culturais.

Processa-se ao longo de oito estádios, momentos críticos no

desenvolvimento do indivíduo ao nível do crescimento físico, sexual,

maturidade cognitiva e da sua adaptação e integração em termos sociais.

Segundo Erikson, o desenvolvimento humano ocorre em 8 fases, existindo

em cada uma das fases uma crise de personalidade, uma questão que é

particularmente importante naquela fase, e cuja resolução influenciará o

percurso de vida.

Idade Crise de

desenvolvimento

Características Virtude

Nascimento até

12-18 meses

Confiança vs

Desconfiança

O bebé desenvolve um sentimento em

relação ao mundo como um lugar bem e

seguro ou não.

Esperança

12-18 meses

até aos 3 anos

Autonomia vs

Vergonha

A criança desenvolve um equilíbrio entre a

independência e a dúvida e vergonha.

Vontade

3 a 6 anos Iniciativa vs

culpa

A criança desenvolve iniciativa quando

experimenta coisas novas e não é

subjugada pelo fracasso.

Propósito

6 anos até à

puberdade

Produtividade vs

inferioridade

A criança/jovem deve aprender as

habilidades da cultura ou enfrentar

sentimentos de inferioridade.

Habilidad

e

Puberdade ao

início da idade

adulta

Identidade vs

isolamento

O adolescente deve determinar a sua

própria noção de identidade ou

experimentas confusão entre papéis.

Fidelidade

Jovem Adulto Intimidade vs

isalamento

A pessoa procura estabelecer um

compromisso com os outros; caso não

tenha éxito pode sofrer com o isolamento

e o egocentrismo.

Amor

Idade adulta Geratividade vs O adulto maduro preocupa-se em Cuidado

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Quadro da Psicologia Evolutiva

estagnação estabelecer e orientar a geração seguinte,

caso contrário sente empobrecimento

pessoal.

Terceira idade Integridade vs

desespero

A pessoa aceita o seu percurso de vida, o

que lhe permite aceitar a própria morte;

Caso contrário cai em desespero por

incapacidade de reviver a vida.

Sabedoria

As crises ocorrem de acordo com uma sequência de maturação e devem ser

resolvidas satisfatoriamente para um desenvolvimento saudável do

indivíduo.

A resolução adequada de cada uma das 8 crises implica um equilíbrio entre

um traço positivo e outro negativo correspondente.

A resolução das crises psicossociais inerentes aos ciclos do

desenvolvimento descritas por Erikson é um exemplo de tarefa

evolutiva.

a) Geratividade (versus estagnação)

Para um envelhecimento harmonioso, o adulto maduro deve desenvolver a

geratividade, em equilíbrio com a estagnação.

Como?

Contribuir para causas futuras por meio de produção de algo significativo,

pelo cuidado e manutenção dos outros. Dedicar-se a algo, acreditar e

empenhar-se. Validar a própria existência.

Implica:

Investir nos seus conhecimentos e nas suas qualidades, preocupando-

se em deixar um legado pessoal de experiência;

Cuidar de outros seres humanos (família e fora dela);

Atuar como conselheiro, educador, orientado;

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Quadro da Psicologia Evolutiva

Envolver-se na manutenção e progresso de instituições sociais, da

sociedade, no bem-estar da humanidade.

b) Integridade (versus Desespero)

O último estádio, a velhice, é geralmente assumido como começando por

volta dos 65 anos, contudo, mais do que uma idade definida, o processo

psicológico que instala a problemática específica deste estádio é a

progressiva consciência da finitude da vida e da proximidade da morte, que

passa a ser uma realidade provável.

Esta etapa final tem, segundo ERIKSON, a ver com a capacidade para cada

pessoa integrar e aceitar tudo aquilo que fez e foi até aí. Para se atingir uma

real integração do ego é essencial ter-se realizado, com um razoável grau

de sucesso, as tarefas inerentes aos sete estádios anteriores.

Para além desta definição, ERIKSON identifica um conjunto de indicadores

de integridade:

1. A pessoa aceita a vida que levou e não tem sentimentos fortes de

pesar por a sua vida não ter sido diferente;

2. A pessoa aceita que, salvo circunstâncias extraordinárias, cada um

é responsável pela sua vida;

3. A pessoa é capaz de defender a dignidade do seu estilo de vida,

mesmo estando consciente de que existem estilos de vida

alternativos igualmente defensáveis;

4. A pessoa reconhece o valor de outras formas de expressão da

integridade;

5. A pessoa reconhece o seu próprio lugar no universo.

A resolução positiva deste dilema do final da vida humana tem como

consequência a aquisição de uma forma de sabedoria e serenidades

pessoal.

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Quadro da Psicologia Evolutiva

Se isso não tiver acontecido uma das consequências pode ser um

sentimento crescente de inutilidade, de isolamento e de desespero.

Segundo ERIKSON o sentimento de desespero está de alguma forma

associado à consciência da proximidade da morte porque esta aparece

como um sinal de que não se tem tempo para voltar atrás e refazer as

nossas opções fundamentais de vida e reparar os erros que comentemos.

Como alternativa, o idoso pode nesta altura fazer uma espécie de fuga para

a frente convencendo-se que tem todas as respostas (uma espécie de

retorno à adolescência) num forte dogmatismo em que apenas admite sua

opinião como a correta.

1.1.4.O estudo científico do processo de envelhecimento

A geriatria e a gerontologia são campos científicos e profissionais que se

preocupam com o envelhecimento. A ciência do envelhecimento foi

marcada por grandes avanços, principalmente nas últimas décadas

O aumento do número de idosos em todo o mundo foi um fator importante

para o desenvolvimento do campo, que propõe uma investigação dedicada

ao estudo exclusivo do envelhecimento, da velhice e do idoso.

A Gerontologia é um campo de estudos interdisciplinar que investiga os

fenómenos fisiológicos, psicológicos, sociais e culturais relacionados com o

envelhecimento do ser humano. É um campo multiprofissional e

multidisciplinar.

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Quadro da Psicologia Evolutiva

A Gerontologia procura alternativas adequadas de intervenção junto da

população idosa, tendo como perspetiva final a melhoria da qualidade de

vida e a manutenção da capacidade funcional desta população.

O estudo científico dos cuidados de gerontologia tem por objetivo utilizar

todos os conhecimentos sobre o processo de envelhecimento a fim de

determinar os cuidados e os serviços que visem a saúde, a longevidade e a

autonomia (ou o mais alto nível de funcionamento durante a velhice) do

idoso.

Os cuidados em gerontologia baseiam-se no seguinte:

Os idosos representam um grupo heterogéneo com estilos de vida e

necessidades variadas;

Os idosos devem ser livres de escolher como e onde querem viver;

A maior parte dos idosos é, em geral, saudável;

A maioria dos idosos é membro activo da sociedade e deseja

continuar a sê-lo;

O potencial de uma pessoa não está ligado à sua idade cronológica;

As necessidades de saúde e as necessidades de serviços sociais

variam muito entre os " jovens idosos " e "velhos idosos " e também

entre os homens idosos e as mulheres idosas.

A manutenção da autonomia da pessoa idosa está mais ligada a

fatores socioeconómicos e familiares que a serviços profissionais.

A partir destes princípios é possível enunciar três objetivos que suportam os

cuidados em gerontologia:

1.Ajudar o cliente idoso a compreender o envelhecimento e a

distinguir os aspectos normais e patológicos;

2.Ajudar o cliente idoso a controlar o processo de envelhecimento

através de intervenções que visem a promoção da saúde, a

conservação da energia e a qualidade de vida;

3.Ajudar o cliente idoso a selecionar os problemas patológicos que

por vezes acompanham o envelhecimento.

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Quadro da Psicologia Evolutiva

A Geriatria é o ramo da medicina associado ao estudo, prevenção e

tratamento das doenças e da incapacidade em idades avançadas.

Objetivos da Geriatria:

Manutenção da saúde em idades avançadas

Manutenção da funcionalidade

Prevenção de doenças

Deteção e tratamento precoce

Máximo grau de independência

Cuidado e apoio durante doenças terminais

Tratamentos seguros.

Os diversos estudos identificam as seguintes componentes no processo de

envelhecimento: biológico, psicológico e social.

Envelhecimento biológico:

Perda progressiva de funcionalidade e de adaptação ou de resistência

face ao stresse

Vulnerabilidade do organismo e gradual probabilidade de morte

Adaptação na manutenção da homeostase (em função da idade).

Envelhecimento psicológico

Alterações associadas ao aspeto intelectual e à história de vida do

indivíduo

Adaptação da capacidade de autorregulação psicológica do indivíduo

(em relação à componente biológica)

Envelhecimento social

Adaptação do padrão de interação entre o ciclo de vida do indivíduo e

a estrutura social em que está inserido

Desempenho do indivíduo, em termos comportamentais, esperado

pela sociedade (em função da idade que tem)

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Quadro da Psicologia Evolutiva

Atribuição de novas normas, posições, oportunidades ou restrições ao

indivíduo (em função da idade que tem).

Podemos afirmar que do ponto de vista biopsicossocial, não se envelhece da

mesma forma, no mesmo ritmo e na mesma época cronológica.

Assim, o envelhecimento é comum a todos, mas existem características

próprias de pessoa para pessoa, consoante a constituição biológica e a

estrutura da personalidade, em estreita interação com o meio ambiente.

Uma vez que envelhecer não é um processo linear, mas vários processos

que ocorrem a diversos ritmos e com naturezas distintas, existem duas

noções decorrentes dessa assunção: a variabilidade intra-individual e a

variabilidade inter-individual, as quais englobam tanto uma natureza

positiva como negativa quanto à sua orientação.

A noção de variabilidade intra-individual implica que as mudanças nas

dimensões biológica, psicológica ou social do indivíduo não são

necessariamente simultâneas e conjuntas.

Quando um indivíduo regista uma perda de autonomia física pode

apresentar uma capacidade cognitiva normal, ou vice-versa. Dentro desta

noção, considera-se ainda que as mudanças que ocorrem numa mesma

dimensão (seja biológica, psicológica ou social) não ocorrem

necessariamente também com a mesma cadência.

Por exemplo, as capacidades relacionadas com o sistema nervoso central,

como a visual e a auditiva, podem sofrer mudanças desfasadas no tempo.

Quando a capacidade visual entra em declínio, a auditiva pode manter-se

razoável.

22

Page 24: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

Apesar de ambas estarem relacionadas com a mesma divisão anatómica,

não apresentam a mesma evolução nas condições de funcionamento nem o

mesmo ritmo de envelhecimento.

Já o conceito de variabilidade interindividual reporta-se à heterogeneidade

dos indivíduos no processo de envelhecimento. À medida que envelhecem,

os indivíduos tornam-se mais distintos entre si devido às suas experiências

e ao modo como vivem e percecionam a realidade.

Apesar de ambos pessoas idosas, um indivíduo com 70 anos é diferente de

um com 85 anos, pertencendo a diferentes categorias da fase da velhice. A

variabilidade interindividual também tem lugar quando dois indivíduos com

a mesma idade envelhecem de forma discrepante, em processos distintos.

Tanto na variabilidade intra-individual como na interindividual do processo

de envelhecimento verificam-se diferentes ritmos, mas também orientações

opostas, que podem ser positivas ou negativas.

A orientação positiva tem lugar quando os indivíduos realçam os aspectos

positivos de envelhecer, como a experiência e sabedoria; a negativa quando

destacam as perdas de capacidades físicas, mentais e de estatuto social. Há

teorias que enfatizam a orientação positiva e outras, a orientação negativa,

mas ambas têm repercussões no processo de envelhecimento.

Para além do facto de o processo não se processar com a mesma orientação

ou ritmo no mesmo indivíduo ou de igual forma em todos os indivíduos,

existem ainda três componentes de envelhecimento distintas, a biológica, a

psicológica e a social.

Estando cada uma envolvida num determinado aspeto desse processo, o

seu decurso também se refletirá na variabilidade inter-individual ou de

variabilidade intra-individual.

23

Page 25: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

Respeitante ainda às componentes biológica, psicológica e social do

envelhecimento, cabe aqui referir dois conceitos diferenciados mas que

também se relacionam, o declínio e a deterioração:

O declínio define-se como o enfraquecimento de uma determinada

função ou capacidade do organismo, experimentada por todos os

seres humanos.

Já a deterioração ocorre quando esse enfraquecimento se desvia

significativamente da média do grupo etário a que o indivíduo

pertence, estando associado, em geral, à patologia.

Em virtude desta distinção, pode, assim, falar-se de envelhecimento normal

e de envelhecimento patológico.

As mudanças associadas ao envelhecimento tanto podem ser típicas ou

normais, como mudanças atípicas ou patológicas. As primeiras inserem-se

no conceito de envelhecimento normal (ou senescência) enquanto que as

segundas no conceito de envelhecimento patológico (ou senilidade).

O envelhecimento normal (ou senescência) refere-se às diversas alterações

que são universais, progressivas, irreversíveis e inevitáveis nos seres vivos,

no qual a doença pode não estar presente. Têm lugar nas dimensões de

natureza biológica e psicológica do indivíduo e implicam a ausência de

patologias físicas ou psicológicas incapacitantes.

Apesar de relacionado com a ação do tempo sobre o organismo, o

envelhecimento normal é influenciado pelo estilo de vida, alimentação,

saúde, exposição ao stresse, condição social e educação do indivíduo,

manifestando-se em diferentes graus nos diferentes indivíduos.

Denominado também como envelhecimento primário, o envelhecimento

normal envolve parâmetros biológicos aceitáveis para cada fase do ciclo de

vida.

24

Page 26: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

O envelhecimento patológico (ou senilidade) tem lugar quando surgem

patologias que restringem o quotidiano do indivíduo. Caracteriza-se por

alterações de maior dimensão em relação às consideradas normais para

determinada idade e com tendência a evoluir de forma mais rápida.

Também denominado envelhecimento secundário, dá-se quando as doenças

alteram os parâmetros biológicos considerados normais para cada faixa

etária ou quando a idade biológica do indivíduo é superior à sua idade

cronológica.

As causas da sua ocorrência resultam da interação entre mecanismos

genéticos, fatores ambientais e estilos de vida. Com o avançar da idade, há

maior probabilidade de se desenvolverem cataratas, hipertensão arterial,

osteoporose, cancro, diabetes, acidentes vasculares cerebrais, osteoartrose,

esclerose.

Estas alterações que dão origem ao envelhecimento patológico (ou

senilidade) podem, contudo, ser prevenidas ou mesmo revertidas.

25

Page 27: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

2.Redes de apoio

2.1.As pessoas idosas e o meio ambiente

2.1.1.A diversidade do meio ambiente

Apoio social

Conceito interativo que se refere às transações que se estabelecem entre

indivíduos, no sentido de promover o seu bem-estar físico e psicológico

(Barrón, 1996).

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Page 28: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

O apoio assume-se como um processo promotor de assistência e ajuda

através de fatores de suporte que facilitam e asseguram a sobrevivência

dos seres humanos.

O ser Humano é um ser social, as outras pessoas são um aspeto necessário

da sua vida, tendo desde o nascimento uma tendência natural para interagir

com os outros.

Alguns contextos de vida, dos quais os idosos fazem parte, são compostos

pelas pessoas com as quais mantêm relações significativas e que também

podem ser definidas como redes de suporte social.

Estas redes sociais são compostas geralmente por familiares e amigos

significativos e assumem um papel indispensável ao desenvolvimento e

qualidade de vida do idoso. Tendo em conta todo o conjunto de situações

que o vulnerabilizam, contribuem para diminuir o stress e para o idoso

manter maior controlo em lidar com determinadas situações.

O apoio social, desta forma, pode ser visto como um processo promotor de

assistência e ajuda através de fatores de suporte que facilitam e asseguram

a sobrevivência dos seres humanos através da promoção do seu bem-estar

físico e psicológico.

Trata-se de um processo dinâmico e complexo, que envolve transações

entre indivíduos e as suas redes sociais, no sentido de satisfazer

necessidades sociais, promovendo e completando os recursos pessoais que

possuem, para enfrentarem as novas exigências e atingirem novos

objetivos.

As necessidades sociais são: a afiliação, o afeto, a pertença, a identidade, a

segurança e a aprovação e podem satisfazer-se mediante a provisão de

ajuda a dois níveis:

• Sócio emocional – Que engloba afeto, simpatia, compreensão,

aceitação e estima de pessoas significativas

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Page 29: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

• Instrumental – Que compreende conselho, informação, ajuda com

a família ou com o trabalho e ainda a ajuda económica.

Assim, podemos considerar que o apoio social cumpre três grandes funções:

• Apoio emocional – diz respeito à disponibilidade de alguém com

quem se pode falar, e inclui as condutas que fomentam sentimentos

de bem-estar afetivo. Estes fazem com que o sujeito se sinta querido,

amado e respeitado e integram expressões ou demonstrações de

amor, afeto, carinho, simpatia, empatia, estima.

• Apoio material e instrumental – caracteriza-se por ações ou

materiais proporcionados por outras pessoas e que servem para

resolver problemas práticos e/ou facilitar a realização de tarefas

quotidianas. Este tipo de apoio, tem como finalidade diminuir a

sobrecarga das tarefas e deixar tempo livre para atividades de lazer.

O apoio material só é efetivo, quando o recetor percebe esta ajuda

como apropriada. Se isto não acontece a ajuda é avaliada como

inadequada, o que pode acontecer sempre que o sujeito sente

ameaçada a sua liberdade ou se sente em dívida.

• Apoio de informação – refere-se ao processo através do qual as

pessoas recebem informações ou orientações relevantes que as ajuda

a compreender o seu mundo e/ou ajustar-se às alterações que

existem nele.

2.1.2.A família e a comunidade

O ciclo de vida familiar descreve o modo como as famílias evoluem e se

transformam ao longo da sua existência. As várias abordagens ao ciclo de

vida veem a família como um sistema que se move ao longo do tempo,

incorporando elementos e perdendo membros.

Cada vez mais, se assiste ao prolongamento do ciclo de vida familiar, onde

os idosos têm um papel relevante.

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Page 30: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

Com o envelhecimento, as redes sociais vão sendo diferenciadas e,

progressivamente, tornam-se mais restritas, na medida em que, chegada à

velhice, estão ligadas algumas barreiras que não só dificultam e modificam

a manutenção de relações, como lhes causam alguma instabilidade.

Com a velhice, surgem perdas relacionais marcadas pela morte de amigos e

familiares, existe uma maior vulnerabilidade pessoal face às limitações

físicas e psicológicas e à mudança das suas necessidades, bem como um

aumento das barreiras ambientais e contextuais (por exemplo: diminuição

do estatuto económico-social).

Além da diminuição de tamanho das redes sociais, verificasse uma redução

dos níveis de reciprocidade das relações, uma vez que o idoso tende a

concentrar as suas relações mais na família do que na rede de amigos.

Para o idoso, as suas fontes de apoio, no que diz respeito aos amigos,

assumem uma conotação diferente, as amizades são mais expressivas e

livres, baseadas na partilha de interesses; os amigos têm um efeito muito

positivo no bem-estar subjetivo do idoso e são uma importante rede de

apoio emotivo e instrumental.

Enquanto, na família os encontros são algumas vezes conflituosos e ligados

a rotinas, nos amigos, os encontros são vistos de uma forma mais

estimulante. Por sua vez, os encontros com vizinhos baseiam-se sobretudo

na proximidade e entreajuda.

Os familiares são os maiores prestadores de apoio para a resolução dos

problemas e os amigos permitem um melhor acesso às atividades de

ocupação.

No entanto, alguns idosos, perante os problemas de saúde agravados,

desistem de substituir o seu grupo de amigos, uma vez que criam poucas

29

Page 31: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

expectativas perante novas relações, ou por razões de lealdade face aos

antigos ou falecidos ou de necessidade própria.

As condições favoráveis aos desenvolvimentos pessoal e social dos

indivíduos e famílias não se confinam apenas ao (s) núcleo(s) familiar(es)

mas também aos grupos de pertença e à rede social de apoio, fundamental

para o seu bem estar e saúde mental.

Compreender, apoiar o indivíduo e a família ao nível das suas fragilidades,

na promoção do seu bem-estar e no desenvolvimento de capacidades de

como atuar, implica necessariamente uma visão e atuação sistemática,

nestas diferentes vertentes em interação.

2.1.3.As Instituições formais

A importância dos serviços geriátricos cresce à medida que aumenta a

população idosa nas nossas comunidades, pois muitos dos idosos não

dispõem de toda a ajuda que necessitam por via da família e da sua rede

social.

Ou porque requerem cuidados de saúde contínuos ou porque não têm

condições de estar sozinhos em casa sem se colocarem em risco, muitos

idosos precisam do apoio de instituições de suporte que prestam esses

serviços de uma forma profissional.

Vejamos alguns exemplos das modalidades que o apoio aos idosos pode

assumir e do tipo de instituições que os presta.

2.1.4.Caracterização e natureza das Instituições formais

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Page 32: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

Os equipamentos com maior implementação no mercado são os destinados

ao internamento definitivo, tendo sido, durante muito tempo, a única

modalidade disponível: idosos que necessitassem apenas de apoio em

cuidados específicos, podendo permanecer em casa, eram forçados a

abdicar consideravelmente da sua autonomia e independência.

Apesar de a percentagem de idosos institucionalizados ser bastante

reduzida (2,5%), os seus elevados custos e os efeitos nefastos que

representava nos casos de semi-independência criaram a necessidade de

desenvolver serviços implantados na comunidade, direcionados para a

inclusão do idoso.

Apresenta-se em seguida uma caracterização sumária das várias

modalidades existentes:

CENTRO DE CONVÍVIO

Conceito:

Resposta social, desenvolvida em equipamento, de apoio a atividades

sócio recreativas e culturais, organizadas e dinamizadas com

participação ativa das pessoas idosas de uma comunidade.

Objetivos:

Prevenir a solidão e o isolamento;

Incentivar a participação e potenciar a inclusão social;

Fomentar as relações interpessoais e intergeracionais;

Contribuir para retardar ou evitar a institucionalização.

Destinatários:

Pessoas residentes numa determinada comunidade, prioritariamente

com 65 e mais anos.

CENTRO DE DIA

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Page 33: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

Conceito:

Resposta social, desenvolvida em equipamento, que presta um

conjunto de serviços que contribuem para a manutenção das pessoas

idosas no seu meio sociofamiliar.

Objetivos:

Proporcionar serviços adequados à satisfação das necessidades dos

utentes;

Contribuir para a estabilização ou retardamento das consequências

nefastas do envelhecimento;

Prestar apoio psicossocial;

Fomentar relações interpessoais e intergeracionais;

Favorecer a permanência da pessoa idosa no seu meio habitual de

vida;

Contribuir para retardar ou evitar a institucionalização;

Contribuir para a prevenção de situações de dependência,

promovendo a autonomia.

Destinatários:

Pessoas que necessitem dos serviços prestados pelo Centro de Dia,

prioritariamente pessoas com 65 e mais anos.

CENTRO DE NOITE

Conceito:

Resposta social, desenvolvida em equipamento, que tem por

finalidade o acolhimento noturno, prioritariamente para pessoas

idosas com autonomia que, por vivenciarem situações de solidão,

isolamento ou insegurança necessitam de suporte de

acompanhamento durante a noite.

Objetivos:

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Page 34: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

Acolher, durante a noite, pessoas idosas com autonomia;

Assegurar bem-estar e segurança;

Favorecer a permanência no seu meio habitual de vida;

Evitar ou retardar a institucionalização.

Destinatários:

Prioritariamente pessoas de 65 e mais anos com autonomia ou, em

condições excecionais, com idade inferior, a considerar caso a caso.

RESIDÊNCIA

Conceito:

Resposta social, desenvolvida em equipamento, constituída por um

conjunto de apartamentos com espaços e/ou serviços de utilização

comum, para pessoas idosas, ou outras, com autonomia total ou

parcial.

Objetivos:

Proporcionar alojamento (temporário ou permanente);

Garantir à pessoa idosa uma vida confortável e um ambiente calmo e

humanizado;

Proporcionar serviços adequados à problemática biopsicossocial das

pessoas idosas;

Contribuir para a estabilização ou retardamento das consequências

nefastas do envelhecimento;

Criar condições que permitam preservar e incentivar a relação inter-

familiar.

Destinatários:

Pessoas de 65 e mais anos ou de idade inferior em condições

excecionais, a considerar caso a caso.

LAR DE IDOSOS

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Page 35: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

Conceito:

Resposta social, desenvolvida em equipamento, destinada a

alojamento coletivo, de utilização temporária ou permanente, para

pessoas idosas ou outras em situação de maior risco de perda de

independência e/ ou de autonomia.

Objetivos:

Acolher pessoas idosas, ou outras, cuja situação social, familiar,

económica e /ou de saúde, não lhes permite permanecer no seu meio

habitual de vida;

Assegurar a prestação dos cuidados adequados à satisfação das

necessidades, tendo em vista a manutenção da autonomia e

independência;

Proporcionar alojamento temporário, como forma de apoio à família;

Criar condições que permitam preservar e incentivar a relação

intrafamiliar;

Encaminhar e acompanhar as pessoas idosas para soluções

adequadas à sua situação.

Destinatários:

Pessoas de 65 e mais anos ou de idade inferior em condições

excecionais, a considerar caso a caso.

Dada a elevada procura, as listas de espera de lares (especialmente os

públicos) são consideráveis. Muitas vezes, em função das vagas, as famílias

vêm-se forçadas a optar por instituições que não seriam primeira escolha, o

que implica, geralmente, o afastamento dos idosos do seu meio, um maior

espaçamento entre visitas, o aumento dos encargos financeiros e

diminuição do nível de satisfação com esta solução.

Quando o idoso conserva autonomia suficiente para estar em casa e a

família, vizinhança ou amigos se mobiliza, é possível escolher outra solução.

34

Page 36: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

Estes apoios são, frequentemente, desconhecidos, quer pela falta de

divulgação por parte dos organismos correspondentes, quer pela limitada

proatividade de quem a eles pode recorrer.

Os serviços de proximidade implicam um esforço de articulação e

complementaridade: os serviços de saúde asseguram os cuidados

especializados e os cuidadores informais evitam o isolamento. O sénior

espera destes o apoio emocional e social por lhe serem mais próximos,

embora os cuidados instrumentais possam ser prestados por outra pessoa.

Os sistemas mistos são os que maiores benefícios apresentam por

respeitarem e promoverem a autonomia e independência do idoso.

2.1.5.institucionalização das pessoas de idade

O recurso a um centro de dia, de convívio ou ao serviço domiciliário, tem a

intenção de manter o sénior em casa. As duas primeiras opções relacionam-

se com um carácter mais lúdico e social, enquanto que a terceira indica

necessidades mais técnicas.

A modalidade de apoio escolhida deve enquadrar-se nas necessidades do

idoso, pretendendo conservar a sua autonomia e independência pelo maior

tempo possível.

O idoso deve continuar em casa enquanto estiverem garantidas cinco

condições que asseguram a sua qualidade de vida:

• Estabilidade clínica;

• Apoio de um cuidador competente;

• Ambiente adequado ou adaptado às necessidades pessoais e dos

cuidadores;

• Acesso aos diversos serviços profissionais;

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Page 37: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

• Apoio financeiro adequado.

A institucionalização resulta de situações agudas, mas também de ocasiões

em que as famílias se sentem impotentes e exaustas e procuram algum

alívio, resistindo em aceitar o regresso do idoso. É frequente a lotação dos

hospitais com esta população aumentar muito no período de férias ou

festas.

Quando hospitalizado, os níveis de desconforto e desagrado do sénior

aumentam muito e a condição física deteriora-se rapidamente.

Estatisticamente, os índices de mortalidade aumentam cerca de 20% nos

seis meses seguintes após um primeiro internamento.

Estes aspectos negativos resultam de um conjunto de fatores que vão

promover a associação de toda a experiência a uma aproximação da

incapacitação e morte:

• Desconhecimento: do meio, das pessoas, da linguagem e

procedimentos;

• Anulação da identidade: standardização de cuidados e rotinas,

retirada de roupas e objetos pessoais;

• Retirada do poder deliberativo: direito a opinião a nível de comida,

visitas e horários;

• Sujeição a procedimentos intrusivos e dolorosos.

Geralmente, a institucionalização permanente ocorre na sequência de uma

reavaliação aquando da morte do cônjuge ou após uma queda ou doença.

As más condições de habitabilidade (muitas escadas, muita humidade, frio),

o local da residência (muito isolada, de difícil acesso) ou o medo do

isolamento (segurança física ou incapacidade de contacto em situação de

emergência) e solidão, são fatores que conduzem à tomada de decisão.

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Page 38: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

Considerando que esta irá alterar a vida do idoso, ele pode e deve ser

envolvido na escolha do lar podendo a sua participação ser:

• Preferencial - exerce o direito de decisão. Tipicamente após a morte

do cônjuge, perante a insegurança ou a perceção de sobrecarga para

os familiares mediante o desenvolvimento de dependência;

• Estratégica - reflete um planeamento ao longo da vida. Frequente

em pessoas solteiras e/ou viúvas, sem filhos ou em que estes moram

longe ou não têm condições financeiras para apoiar, sendo o sénior

proactivo na procura e selecção da instituição, na sua inscrição e até

pagamento de quotas para reservar lugar;

• Relutante - resistência ou desacordo relativamente à

institucionalização, sendo o idoso forçado;

• Passiva - os idosos dementes ou resignados, que aceitam sem

qualquer reclamação as decisões de terceiros sem questionar.

Em situações de institucionalização permanente, o idoso fica numa situação

de dupla pertença entre família e organização, tendo de tomar partido,

frequentemente, em função das críticas que surgem de parte a parte.

Esta é uma posição ingrata, pois, cada parte se vai ressentir mediante a sua

escolha, agindo de acordo com a sua perceção do acontecimento: a família

sente que houve um afastamento e os cuidadores formais sentem

ingratidão.

Destacam-se, pela sua vulgaridade, algumas situações:

• Os profissionais criticam a família pela sua ausência e pouco

interesse - além de não trazer benefícios, o utente fica ressentido

com ambos;

• Queixas infundadas do idoso - provocam o afastamento dos

cuidadores formais que se sentem indignados com a sua injustiça e

ingratidão;

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Page 39: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

• O afastamento da família - fonte de tensão para o idoso, por se

sentir rejeitado, e para a instituição que tem de tomar decisões que

são da responsabilidade do núcleo familiar.

A fim de evitar este tipo de situações, a entidade deve apostar em dois

aspectos importantes: a adequada formação da sua equipa e a adoção de

uma comunicação direta com a família, evitando o ruído adicionado por

cada intermediário.

Por este motivo, é essencial o esforço para que as famílias continuem a

acompanhar os seus idosos. O envolvimento nas atividades dinamizadas e

os contributos que possam fazer para estas, mediante o conhecimento

privilegiado que têm da pessoa, permitem diminuir a despersonalização dos

serviços e aumentar o sentimento de integração e pertença.

2.1.6.A vida quotidiana nas Instituições

Os idosos adaptam-se mais facilmente a um “bom lar”, que é geralmente

definido com base nos seguintes critérios:

• Tem atividades de animação;

• Possibilita saídas (passeios, acesso fácil às atividades de lazer da

comunidade);

• Fornece boa alimentação;

• Tem pessoal simpático e competente e não está sempre a mudar;

• Permite ter quarto individual;

• Promove o companheirismo entre os residentes;

• Oferece conforto físico;

• Disponibiliza serviços de apoio (fisioterapia, enfermagem, educação

física);

• É seguro;

• Não é demasiado grande.

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Page 40: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

O seu nível de satisfação aumenta quando os profissionais lhes fornecem

informações sobre a sua doença, prognóstico e se preocupam com o seu

estado de saúde geral em oposição àqueles que mostram sempre pressa

não dão explicações e agem como se estivessem a fazer um favor.

O consentimento, a escolha, o envolvimento do sénior são determinantes

para o sucesso de qualquer que seja a opção de cuidados.

A nível institucional, podem ser desenvolvidos manuais internos de boas

práticas, a fim de prevenir este efeito (disponíveis inclusivamente na

internet). Quanto ao apoio informal, tornam-se necessárias ações de

sensibilização e formação comportamental.

Só com o respeito dos direitos fundamentais de todos os envolvidos (idoso,

família, amigos, cuidadores formais e informais, dirigentes e pessoal

técnico) se pode garantir uma boa prestação de cuidados.

Apresentam-se, de seguida, os valores fundamentais das relações entre

cidadãos. Considerando essencial lembrar que o idoso, mesmo demenciado,

continua a ser uma pessoa, é neles que se deve basear toda a relação de

prestação de cuidados.

Acrescenta-se, para cada um, sugestões de situações muito comuns que

ilustram o respeitado por esses valores.

Dignidade

Serve de base a todos os valores e princípios de que nascem os direitos que

lhe são reconhecidos. São de evitar expressões que diminuam a pessoa

como, por exemplo, falar dela na sua presença como se não estivesse ali.

Respeito

Demonstrar que se respeita alguém é transmitir-lhe que é importante, que é

tida em consideração por quem a rodeia. Na relação de apoio pode

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Page 41: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

manifestar- se na contenção quanto a comentários menos agradáveis sobre

a habitação da pessoa ou a sua apresentação.

Em caso de institucionalização, a valorização das tentativas de caracterizar

o seu espaço, o cuidado com os objetos pessoais, com as suas histórias e

experiências será a forma de demonstrar o apreço e valor que o utente

merece.

Individualidade

Um aspeto particular do respeito, traduz-se no reconhecimento da diferença

(de ideias, opiniões, aparência, religião, gostos, procedimentos, decisões) e

na valorização desta.

Conhecer os idosos, a forma como gostam de ser tratados, as preferências a

nível de atividades ou refeições, as histórias que contam, os seus contextos

vivenciais, amigos ou familiares com que se relacionam é mais uma forma

de lhes demonstrar a importância que têm para os outros, de os fazer sentir

em casa (quando estão institucionalizados) e de os fazer sentir queridos.

Autonomia

Como tem vindo a ser referido, um idoso que se conserve autónomo sente-

se mais saudável e empenha-se mais na sua vida ativa.

Deste modo, ao invés de o substituir em tarefas que pretende desempenhar

com o pretexto de que não deve cansar-se ou que é mais rápido se for outra

pessoa a fazer, deve encorajar-se a sua participação, desde que segura,

sempre que possível.

Numa instituição, o utente pode querer ajudar nas refeições, ou noutras

pequenas tarefas, e esta deve estar fisicamente preparada em termos de

mobilidade e segurança.

Deliberação

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Page 42: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

Um dos requisitos básicos da autonomia, é essencial que o utente continue

a decidir os seus assuntos enquanto disso for capaz: o que veste, o que

come, quando realizar as atividades e quais integrar.

Mais uma vez, para além de se promover o estilo de vida ativo, transmite-se

ao idoso o valor que lhe é reconhecido enquanto pessoa.

Privacidade e intimidade

Em instituição ou apoio domiciliário, cuidador formal ou informal, familiar,

amigo ou vizinho, deve respeitar a privacidade e intimidade do idoso.

O facto de ele estar mais limitado em termos de autonomia, não implica que

se possa invadir a sua esfera íntima (cartas, telefonemas, cuidados de

higiene) transformando-a em domínio público. Só se deve estar presente

quando o idoso disso fizer questão.

Confidencialidade

Apenas a própria pessoa poderá revelar informações da sua vida pessoal,

devendo as mesmas ser geridas de acordo com a forma como foram

disponibilizadas: em confidência, em conversa casual, ou numa anedota.

Igualdade

Evitar qualquer tipo de discriminação em função de sexo e orientação

sexual, idade, raça, religião, convicções políticas, situação económica ou de

saúde. Mitos e preconceitos devem ser esquecidos quando se presta

cuidados, garantindo o respeito por todos.

Participação

O utente da rede de cuidados deverá ter uma opinião sobre a mesma, a

nível da estrutura, organização, funcionamento, envolvimento de pessoas e

em qualquer aspeto que considere pertinente.

41

Page 43: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

Os cuidadores ou responsáveis pela organização de redes de cuidados

deverão aceitar as suas sugestões, valorizando-as. A nível institucional,

qualquer inovação deve envolver os utentes interessados no processo de

análise e planeamento, sendo comunicada antes da sua implementação e

podendo ser alterada mediante as suas sugestões.

Outro modo de promover a participação dos idosos é envolvê-los, por

exemplo, na organização das atividades: jogos, ateliers, passeios, filmes ou

outras.

Os direitos do idoso passam, portanto, pelo seguimento destes valores:

poder expressar as suas opiniões, ser respeitado em todos os aspectos e

diferenças, relacionar-se (a todos os níveis) com quem escolher, manter o

controlo financeiro e efetivo dos seus bens enquanto o mesmo for possível e

ser cuidado por alguém com formação e adequada, que lhe assegure os

serviços contratados, com qualidade.

No fundo, o idoso tem direito a ver as suas necessidades (físicas, psíquicas

e emocionais) corretamente detetadas e satisfeitas.

3.Grupos e Instituições de ajuda

42

Page 44: Manual Ufcd 3537 - Quadro Da Psicologia Evolutiva (1)

Quadro da Psicologia Evolutiva

3.1.Da família aos amigos: a presença da rede informal

Os familiares e amigos são quem melhor conhece o idoso, tendo, por este

motivo, maior probabilidade de corresponder às suas necessidades.

Organizado numa base informal, o apoio é influenciado pela evolução da

estrutura e dinâmica familiares na sociedade atual, em que as relações são

constituídas de modo a privilegiar valores como a autonomia e o

individualismo, valorizando-se a realização pessoal/profissional de cada um

e respeitando-se a sua privacidade.

Tradicionalmente, cabia aos filhos tratar dos pais quando estes

envelheciam. Posteriormente o Estado assumiu-se como promotor do bem-

estar social, sendo os cuidados mediados por instituições e agentes com

formação e especialização na área, com o objetivo de melhorar as

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Quadro da Psicologia Evolutiva

condições de vida dos mais desfavorecidos e cujas redes de apoio informal

se revelam fracas ou inexistentes.

Este conjunto de serviços e equipamentos pretende abranger as diferentes

necessidades ou níveis de carência da população.

Inicialmente, as instituições apresentavam-se como detentoras de um

conhecimento não acessível aos familiares, impondo os cuidados sem

qualquer tipo de justificação.

Por volta dos anos 1970/1980, houve uma viragem: são revalorizados os

programas centrados nos agregados familiares e num contexto comunitário,

o que facilita o empenho geral e esbate a autoridade simbolizada pelos

contextos oficiais.

No entanto, a intervenção tende a ser pensada e dirigida a uma só pessoa,

mesmo assumindo que existem outros envolvidos: a família continua a ter

de obedecer às prescrições profissionais, o que a torna “colaborante”, sem

que as suas necessidades sejam de facto ouvidas e muito menos atendidas.

Estão definidos quatro modelos de articulação entre profissionais do apoio

formal e família:

• Especialista - clássico, em que o técnico é a autoridade e a família

tem a função de fornecer informação para que ele decida, devendo,

depois, cumprir as indicações;

• Transplante - os técnicos partilham e transferem alguns dos seus

saberes para os clientes, agindo como instrutores e consultores que

guiam a vida dos outros;

• Negociação - baseada na abordagem consumista, coloca o cliente

no papel de consumidor, reconhecendo-lhe direitos e exigências

sobre o serviço prestado. Frequentemente estas são depois

desvalorizadas e os clientes inferiorizados. É neste âmbito que, por

exemplo, os familiares colaboram nas atividades num centro de dia;

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Quadro da Psicologia Evolutiva

• Parceria - a parceria implica uma associação de pessoas numa

relação de igualdade, reconhecendo reciprocamente conhecimentos,

capacidades e partilhando as tomadas de decisão na procura de

consensos.

Vulgarmente, as expectativas de cuidadores formais e rede informal não

são clarificadas, sentindo ambos que o seu papel é óbvio e que deve ser o

outro a justificar as suas ações. Esta falta de diálogo origina frustrações,

conflitos e deceções mútuas, sendo o idoso apanhado nesta ambiguidade e

sofrendo.

Neste tipo de contexto, são frequentes as seguintes dificuldades:

1.Identificar objetivamente o cliente (o idoso ou a família),

Atribuindo o respectivo nível de importância (principal e secundário)

nas tomadas de decisão.

2. Definir e aceitar regras

Ao serem rigorosas e impostas pelo profissional, poderão ser

incompreendidas e desencorajadas pelo cuidador informal.

Os conflitos e a confusão do idoso, as acusações mútuas de

negligência ou inflexibilidade levarão ao término da relação por

incompatibilidade.

3. Estabelecer limites:

A intervenção do profissional em áreas não contratadas

especificamente é sentida como intrusão sua, causando desconforto

do idoso e família.

4. Atribuir responsabilidades:

Culpar a instituição indiscriminadamente por falhas no serviço

prestado pode deixar o profissional posição difícil quanto à lealdade.

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Quadro da Psicologia Evolutiva

5. Criar alianças:

As relações familiares colocadas à prova reavivam questões antigas

entre irmãos ou com os pais.

As diferentes opiniões quanto ao apoio necessário podem induzir uma

ligação aos técnicos, que deverão manter-se neutros e agir no melhor

interesse do idoso, confirmando informações e afastando-se se

necessário.

6. Ter excesso de zelo:

Perante situações particularmente fragilizantes, os profissionais

tendem a mostrar-se altamente competentes, acabando por

substituir a família.

Mas o seu afastamento será interpretado como abandono, impelindo

a um maior empenho do técnico e gerando-se um ciclo que se auto-

perpetua.

O treino da família é essencial para preservar a importante

autonomia desta e o seu acompanhamento do idoso.

3.2.As novas formas de solidariedade

3.2.1.Formais

Existem, ao nível formal, centenas de instituições que disponibilizam

serviços de apoio a idosos, públicas e privadas. Mediante as necessidades

de cada caso e a análise de outros fatores poderá ser tomada uma decisão.

São igualmente relevantes medidas intersectoriais que têm vindo a ser

implementadas para promover a segurança e qualidade de vida da

população geriátrica:

Programa “Apoio 65 - Idosos em Segurança”

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Quadro da Psicologia Evolutiva

Em vigor desde 1996, visa promover a segurança dos idosos mais isolados

através do policiamento de proximidade que valoriza a comunicação polícia-

-cidadão (em colaboração com a PSP).

Programa Idosos em lar (PILAR)

Criado por Despacho do Secretário de Estado da Inserção Social de 20 de

Fevereiro de 1997, procura desenvolver e intensificar a oferta de lares para

idosos, através, por exemplo, do realojamento de idosos oriundos de lares

lucrativos sem condições de financiamento; do aumento da oferta em zonas

com baixa cobertura deste serviço; da criação/remodelação de lugares

dirigidos a utentes de Instituições Particulares de Solidariedade Social sem

condições de financiamento.

Programa de Apoio Integrado a Idosos (PAII)

Criado por despacho Conjunto de 1 de Julho de 1994, dos Ministros da

Saúde e do Emprego e Segurança Social, contempla um número

significativo de serviços:

Serviços de Apoio Domiciliário;

Centros de Apoio a Dependentes/Centros Pluridisciplinares de

Recursos - apoio temporário com vista à reabilitação de pessoas com

dependência, assegurando cuidados diversificados com base em

estruturas já existentes;

Formação de Recursos Humanos – habilitar agentes, formais e

informais para a prestação de cuidados; tecnologias, pretende

diminuir o isolamento devido a problemas de saúde, questões

geográficas, barreiras arquitetónicas. Através de uma central,

permite a intervenção atempada em caso de emergência;

Saúde e Termalismo - permitir à população idosa o acesso a

tratamentos termais e o contacto com meio social diferente,

prevenindo o isolamento social;

Passes para a terceira idade - sem restrições horárias para a

população com mais de 65 anos, fomentando a sua mobilidade,

integração social e participação na vida ativa.

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Quadro da Psicologia Evolutiva

Respostas Integradas que resultam da Articulação entre a Saúde e a Ação

Social

Por Despacho Conjunto 407/98, de 15 de Maio, que estão na origem de:

Unidades de Apoio Integrado (UAI) - centros que asseguram apoio ao

longo de 24 horas a pessoas que necessitem de cuidados

multidisciplinares que não podem ser prestados no domicílio;

Apoio Domiciliário Integrado - (ADI) - que assegura a prestação de

cuidados médicos e de enfermagem e a prestação de apoio social no

domicílio visando a promoção do autocuidado.

Plano Gerontológico Local

Planeamento de serviços e projetos em função de grupos e zonas de

intervenção prioritárias, feito por equipas multidisciplinares e intersectoriais,

mediante as suas orientações de intervenção

Programa de Conforto Habitacional dos Idosos

Inserida no âmbito do Programa Nacional de Ação para a Inclusão, começou

a ser implementada no distrito de Bragança, com a reparação de 137

residências. As obras passam pela substituição dos telhados, chão, paredes,

adaptação de cozinhas ou instalações sanitárias. Melhorando as condições

básicas de habitabilidade, pretende-se possibilitar o serviço de apoio

domiciliário e evitar a institucionalização e dependência.

Contratos Locais de Desenvolvimento Social

Pretendem combater a pobreza, aumentar os níveis de qualificação e

prevenir situações que conduzam à exclusão social em áreas

desqualificadas, industrializadas ou atingidas por calamidades, através do

estabelecimento de parcerias de âmbito local, que podem envolver os

serviços de emprego, de ação social e instituições.

Complemento solidário para idosos

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Quadro da Psicologia Evolutiva

Constitui-se num apoio financeiro de até 250 euros por cada período de três

anos, destinado a medicamentos, óculos, lentes e próteses dentárias

removíveis.

Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados

Aprovado em Conselho de Ministros a 16 de Março de 2006, tem como

público beneficiário as pessoas com dependência, visando diminuir o

número de internamentos.

Os serviços disponibilizados incluem unidades de internamento (para

convalescença, média duração/reabilitação, longa duração/manutenção e

cuidados paliativos), ambulatório (unidade de dia e de promoção da

autonomia), equipas hospitalares e equipas domiciliárias (de cuidados

continuados integrados e comunitárias de suporte paliativo).

Prevê, inclusivamente, a possibilidade de institucionalização temporária em

unidades de cuidados continuados de longa duração para que o cuidador

possa descansar.

A procura de apoio na prestação de cuidados deve começar na comunidade

local. Certas instituições surgem como organizadoras de serviços possíveis

graças a estas medidas ou a acordos com os vários sistemas de segurança

e proteção social ou seguros de saúde:

A Santa Casa da Misericórdia,

As organizações religiosas (casas ou centros paroquiais, associações

dos vários cultos),

As Casas do Povo e as Associações ou Comissões de Melhoramentos

ou Moradores (importantes dinamizadoras das aldeias portuguesas

no seu movimento regionalista),

Associações Comunitárias, de Pensionistas e Reformados,

Uniões de trabalhadores,

Entre outros exemplos.

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Quadro da Psicologia Evolutiva

Determinadas associações profissionais, sindicatos ou ordens, contam com

privilégios específicos, traduzidos em termos de subsídios, instituições de

acolhimento disponíveis, acesso a cuidados de saúde especializados mais

rápida e economicamente, ou contribuições em géneros.

3.2.2.Informais

A sociedade portuguesa continua a caracterizar-se pelos fortes laços de

solidariedade familiar e comunitária. No entanto, os cuidados prestados

pelas redes informais são muitas vezes resultantes de um sentimento de

obrigação: a pressão social acentua o carácter negativo da

institucionalização.

A retribuição do sacrifício dos pais, o querer corresponder a expectativas,

transmitir o exemplo aos filhos ou não suportar a censura dos vizinhos, são,

muitas vezes os principais motivos para reorganizar a vida familiar e

integrar o idoso.

O cuidador informal será respeitado pelas concessões que fará perante as

novas exigências do seu papel, embora raramente o assuma

voluntariamente: estudos demonstraram que mais facilmente há ajuda

quando não existe a perspetiva de encargo e dependência.

A contínua perda de autonomia do sénior ou a desistência de um

antecessor, a viuvez, uma doença ou acidente inesperados, poderão

despoletar a necessidade e o envolvimento progressivo.

O papel é assumido geralmente pelas esposas ou filhas (embora o número

de homens esteja a aumentar), que vivem próximo ou em coabitação com o

idoso.

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Quadro da Psicologia Evolutiva

A carreira de cuidador informal envolve 3 estádios:

Preparação e aquisição do papel;

Assunção das tarefas e responsabilidades relacionadas com os

cuidados em casa e, eventualmente, numa instituição formal;

Libertação da prestação de cuidados em resultado do falecimento do

idoso.

Prestar apoio envolve sentimentos contraditórios, momentos de angústia,

stresse e frustração. É um processo dinâmico que evolui reestruturando as

relações prévias mediante as necessidades.

Embora todos tenham os seus contextos vivenciais, a dependência implica

uma nova perceção de si e do outro, para todos os elementos do grupo

familiar, alterando-se os poderes: para o idoso, esta é a sua incapacidade

para realizar determinadas atividades básicas, enquanto que para o

cuidador é o dever de o substituir nessas mesmas atividades.

Este sentimento é particularmente presente quando se entra na esfera da

intimidade, sendo agravado pelo constrangimento mútuo.

Sendo a família um sistema, assumir a prestação de cuidados tem um

impacto enorme sobre a sua estrutura e restantes relações. A nova divisão

das tarefas, a reorganização de horários, responsabilidades e rotinas traz

transtornos e poderá ser fonte de conflitos, quer para o cônjuge de quem

cuida, quer para os filhos.

Por outro lado, a própria rede de cuidados tem carácter dinâmico, criando

inclusões e exclusões, hierarquias e subordinações, definindo obrigações

em função da proximidade subjetiva ou em termos de género, geracionais,

nacionais, étnicos, raciais ou de classe e de estilo de vida.

Os deveres individuais variam com o nível e forma de inserção, e o seu

estatuto instável vai-se alterando, tal como os contributos.

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Quadro da Psicologia Evolutiva

Conclui-se que as redes informais com base na família são limitadas em

termos de eficácia e de resposta dado o seu carácter restrito: funciona pelos

conhecimentos. Daí que seja essencial alargá-las, envolvendo amigos e

vizinhos, sempre que possível, repartindo a sobrecarga e aliviando a

pressão geral.

Em suma, em todo este processo, é essencial a proatividade. Do idoso, dos

cuidadores, da família, dos amigos e da comunidade.

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Quadro da Psicologia Evolutiva

Bibliografia

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Meio Social do Idoso, Manual Técnico, Ed. IFH - Instituto de Formação para o

Desenvolvimento Humano, 2007

Fernandes, Sandra, Vivências em lares de idosos: Diversidade de Percursos,

Dissertação de Mestrado em Gerontologia Social, Universidade

Portucalense, 2010

Ramilo, Teresa, Manual de psicologia do idoso, Instituto Monitor, 2000

Ribeiro, Óscar, Manual de Gerontologia Aspetos biocomportamentais,

psicológicos e sociais do envelhecimento, Ed. Lidel, 2012

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