Manuel Zimbro

história secreta da aviaçãonotas com gravidade para pôr em órbita uma aspiração comumdesenhos, esculturas, notas

O que é secreto é desconhecido e o que é desconhecido é novo.o que de facto é, só pode ser novo.nada se repete!nada é mais imprevisível, mais sagrado, mais misterioso que a novidade.seja o que for do passado do presente ou do futuro, não é novo – o que é novo não é do tempo,e só será do agora, se for inteiramente descondicionado e livre.o agora é fulminante.

“não há nenhum tesouro escondido no universo”.a novidade floresce na paisagem interior, como o fogo nos cozinhados dentro de um forno.sem pausa sai do que é exterior para entrar num interior que nunca é absolutamenteinterno.Imperturbável, mas muito acordada, a sensibilidade responde a todas essas modificações,em equilíbrio.

as rãs, os melros e outros, imobilizam-se para escapar ao perigo,e de tal modo, que parecem sem vida.a figueira deixa-se comer os figos pelos pássarossem pio.

Coisas sensíveis em equilíbrio

O que está a acontecer – acontece – é um facto, porque está a deixar de acontecer.nada se repete, nada permanece idêntico a si mesmo,as Coisas – todas elas – são incessantemente outra coisa.ou seja, a vida é a morte do que acontece,um único movimento de fluxo, impensável, com risos e com lágrimas, imenso, sem rupturanem limites, sem tempo, sem contra tempo.se tal não acontecesse, se as Coisas fossem imortais, o mundo aos nossos olhos não teria expressão, seria sempre a mesma coisa,talvez qualquer coisa, que nem sequer uma coisa de plástico é.

tanto o conhecido que já está acumulado na memória, como o desconhecido que ainda não está, mas que em breve passará a estar,são as gravações, os registos das Coisas que percepcionamos: objectos, acções, acontecimentos, experiências, encontros, etc...esses registos auxiliam-nos na relação no mundo, são úteis, graças a eles executamos astarefas no domínio prático,mas não são as Coisas nem as percepções,são o (nosso) registo.

o que quer que seja só poder ser abordado segundo um aspecto,e, segundo esse aspecto é registado na memória.é impossível abordar e registar completamente uma Coisa, apenas se registam uma parte;aquela que importa ou que convém.daí que, mesmo útil, todo o registo seja parcial.

não se pode compreender inteiramente uma Coisa em nenhuma visão de pormenor,só implicitamente podemos abranger a (sua) totalidade.mas, como isso não é registável (pela memória) nem provável (pelo pensamento),não servindo nenhuma comparação, sem qualquer utilidade imediata e pessoal, é posto delado, porque não serve para nada.e o que é registado, por ser mastigável pelo pensamento (um glutão que não se rala nada com parcialidades) passa a ser considerado real.deste modo aquele que “quer” ver tudo, para ver tudo “como quer”, separa-se daquilo que vê,e cria uma visão fragmentada do mundo,onde o mundo é visto como se fosse constituído por coisas independentes,estilhaços ou fragmentos, cujo fragmento central é o “eu” que tudo quer.não obstante a gravidade da incorrecção, isso é transmitido, é propagado, é ensinado,e o ensino é uma dessas coisas fragmentadas.

consciente ou inconscientemente, este processo permite que o uso do registo da memória – o pensamento – venha ocupando cada vez mais um lugar de privilégio, invadindo e apoderando-se do frágil lugar da realidade – nova e desconhecida – pondo-se à frente de tudo, como a água de uma enxurrada, inundando e distorcendo apercepção do puro acontecimento – condicionando a Coisa que é.que nunca é tão simplista quanto o pensamento gosta de fazer crer, para dar a impressão dea poder dominar quando a autopsia explicando-a à (sua) vontade.

de tal modo o homem vem permitindo que o pensamento invada esse campo – denovidade desconhecida – mesmo à sua frente,que aquilo que “vê”, porque deixa de ver – ao voltar a cabeça, indo dormir, etc... – deixa de ter importância real diante daquilo a que chama “realidade” e que na realidade é o que “pensa ter visto”.nesse insustentável processo, que magoa há milhares de anos, onde cada vez mais ele sedeixa abusar pelo que tem fixo na mente,há uma coisa que se deteriora – e vê-se – a olhos vistos: a sensibilidadeaquilo que dá resposta viva a tudo o que incessantemente muda, quer no exterior quer nointerior do ser vivo.

e este responder, de depurada e subtil precisão, que em si nada guarda,se tantas vezes é confundido com as “delicadezas artísticas”, as “poéticas afectações”, as“liberdades aladas dos maneirismos açucarados”,é porque o confundem, já tendo sido abusados pelo pensamento, pelos sentimentos,deixando a novidade afogar-se, perturbados que estão: irritados,impressionados, melindrados, ofendidos, afeiçoados,já não vêem nada novo.e sem sensibilidade, não há resposta nova.que novidade há para descobrir no que se pensa conhecer, quando foi o própriopensamento que fixou o conhecido?reparar-se-á na extrema sensibilidade dos bigodes dos gatos? Um bicho que se pensaconhecer.na asa da semente do pinheiro? nas pontas dos dedos das próprias mãos? no que nosolha quando o olhamos?hoje a novidade, é só conceito – um embrulho sem vida.por isso à sensibilidade é associada a tal delicadeza artística, o fiel da balança, a película

fotográfica, a finura de mecanismos... coisas fininhas, mas nunca invisíveis, se não o pensamento morria à míngua.

a sensibilidade é doutra dimensãoé ela, o hífen, que liga as mãos-cérebro-coração no nascente acto de fazer, ou de não-fazer.vemos a sua presença e também vemos a sua ausência no que o homem deixa feito, estejaou não concluído.

aqui, para tentar vê-la na sua mais elevada expressão – no equilíbrio – liga-la-emos aoacto de voar.

é tudo uma questão de sensibilidade,mas porque, como já se disse, consciente ou inconscientemente, o homem vemtransformando em dormente comodidade, requinte e contabilidade,voar é hoje para ele ou desnecessário ou absurdo, apesar de ter vindo de uma quimera,hoje satisfeita sem exigência, pelo estrondo útil do motor de reacção.

ou será um luxo considerar isto? ou uma fantasia?não! O que faz um ser sensível é a sensibilidadesó a sensibilidade pode cuidar e responder adequadamente à vida, à ordem, ao mundo, a coisas tão importantes como por exemplo a natureza,disso que é inteligência sem causa, em equilíbrio,e não do chamado ambiente, que é disso que se rodeia o ego – a única maneira eficaz deproteger a floresta ainda virgem, é não pôr lá os pés.é ainda ela a sensibilidade que responde ao relampejo deste agora,um único em toda a nossa vida.

o tempo é um dado importante, desde que não sirva para nos dar importância.o medo alimenta o tempo e o tempo alimenta o egoque a vontade do homem violento e aéreo, fixa – abstraindo o resto – num ponto centrale dominador, o “eu”,o qual reage sempre com desagrado quando lhe tiram o tapete debaixo dos pés,seja voador ou não.(o que é o melhor que pode acontecer quando se cultiva alguma imagem de si, o pior, éouvir-se precisamente o que se esperava ouvir.)

um ser afogado pelo egoísmo não tem sensibilidade para ver esse egoísmo,tantas e tantas vezes revestido pelo altruísmo.

a sensibilidade não é da mente, e os perturbadores sentimentos destroem-na.

Voos directos

Voar é próprio das aves,mas nos insectos, nos mamíferos, nos peixes, nos vegetais, há voo.nas pedras há voo, ou aliás, houve...a aetite, era uma pedra que se encontrava ou no ar ou nos ninhos de águias, tinhapropriedades terapêuticas e era por isso procurada.hoje já ninguém a encontra, talvez porque hoje já ninguém necessita de a encontrar.porém: estrelas cadentes, bólides, meteoritos, asteroides, aerólitos, cometas, planetas, onosso planeta,gravitam, deslocam-se, voam, evoluem no espaço sem apoio material...em todos há voo,mantido segundo uma órbita, onde tanto o sentido de atracção como o de inércia impede-osde “cair”.

mesmo que o homem olhe para a gaivota a voar, será que vê o voo?e depois, quando a gaivota pousa na praia, será o significado do verbo voar livre de expectativas? livre do que tem em mente?livre, e não oponente do verbo pousar?

aperceber-se-á desse voo directo do ar que entra e sai pelas asas do nariz? ou só se apercebe quando espirra?mesmo o ar voa,graças a isso que chamamos vento, este pequeno e antigo pinhal aqui ao lado propaga-seatravés dos ares, voou directamente até aqui – os pinhões são alados.

sem o pesado fardo dos sentimentos, graças a uma indescritível sensibilidade, voam assementesmas como aqui não nos ocupa o saber botânico, mas a consideração impensável, (hojeimpensável porque ontem não se reparou nela)consideraremos, não as sementes que voam, mas o voar...das sementesque sem vento não voam,e interrogar-nos-emos sobre o atordoamento que leva o homem a não voar.esse ser sensível que sem ar não vive.

Lista de espera

Só depois de secas as sementes voam.nuns casos voa a semente só, noutros voa o fruto e nele viaja a semente – as sâmaras.as sementes, como tudo o que voa, voam para aterrar.aterram, enterram-se, poisam, arpoa, prendem-se, espetam-se, e lá ficamno solo germinam e depois propagam-se.todas se afastam da árvore de onde provêm, às vezes voam agarradas aos pares,muitas são levadas para bem longe, depende do vento, outras nem sequer tocam na terra.

há sementes que com uma asa, após terem planado, descem na vertical num rodopiohelicoidal, e ao aterrarem enterram-se, levantando uma minúscula nuvem de poeira,para depois lá se imobilizarem durante centenas de anos.há outras, pretas e esféricas, que se deslocam sem asas, dentro de nuvens brancas de uma finíssima textura, que lhes garante a sustentação e a força ascensional.outras, saindo de um balão protector que se abre em três gomos, navegam agarradas a umleve círculo da mesma substância dobrado a meio,como que levadas num tapete voador.outras ainda, tendo uma espécie de penugem cuja sensibilidade capta a temperatura...voando enfim, com espantosa subtileza.para tal, as sementes dispõem de recursos específicos e de tal modo incríveis, que mesmo sea direcção não lhes é própria, mesmo se não há escolha,o acaso que então as guia é cheio de sentido,em si é como uma pista, deserta, única, disponível.

os feijões para se disseminarem dir-se-ia que também voam, mas não voam, saltam.ao secar, a casca estala, e ele lá salta, cai e rebola, imobilizando-se por vezes bem longe.porém não houve sustentação, nem tão pouco houve aterragem, apenas houvedeslocamento e queda.cair e aterrar não são a mesma coisa.na queda, revela-se totalmente a atracção terrestre,na aterragem, essa força, se bem que continue a existir, é atenuada por outra força,que puxa em sentido contrário.

o feijão não voa, mas por exemplo: as sementes do pinheiro, do jasmim, do oelandro, da sardinheira, da buganvília, da sumaúma, da tília, do álamo, do

salgueiro, do ulmeiro, do bordo, do plátano, do freixo, da alface, da alcachofra, do jacarandá, do dente-de-leão, da serralha, do cardo, voam.tudo o que é leve voa.

A formiga (mesmo sem asas) a poalha, a cinza, a pena, o pólen, a nuvem, a bola de sabão,Voam,dir-se-ia que nas formas ápteras a levíssima pequenez funciona como um órgão alado.

voar é uma postura intermédia entre dois momentos críticos que são a decolagem e a aterragem.pelo momento não faremos distinção entre voar e librar-se, ou seja, entre deslocar-se eequilibrar-se no ar – suspender-se ou pairar.seja homem ou semente, (e até máquina) o problema que é voar, reside essencialmente naaterragem e descolagem,mesmo sendo a aterragem uma mera queda, se não houver consciência do (seu) sofrimentoque é o caso da formiga,se a integridade não for afectada, mesmo o “ir pelos ares” seria voo.

tradicionalmente para o homem, voar consiste em manter-se, deslocar-se e dirigir-se no arsegundo a sua vontadeportanto, também consiste na consciência de o ter feito,para poder comentar o feito e provar que o fez.talvez por isso, qualquer ponto alto dominando o espaço vazio, seja um apelo a “voar”.o que demonstra bem, a fria e longínqua relação que ele tem com o meio aéreo,a relação, entre a modesta ascensão que partiria de baixo, e a queda dominadora vinda decima,ou será apenas a atracção a queda-livre?

quando a questão da descolagem e aterragem estão resolvidas, quando nos podemos salvardissoa dificuldade em manter-se no ar não é nenhuma,ou seja, é igual à e se manter de pé – a postura bípede não é nata, é ensinada.essencialmente essa dificuldade não se encontra no meio aquático ou aéreo, primeiroencontra-se em si.mesmo o caminhar na terra, o “dirigir-se segundo a sua vontade própria” já cria inúmerasdificuldades – sobretudo à terra.

enquanto não se cair em si,enquanto não se encontrar o centro de gravidade em si – esse ponto que no próprio corpo écentro e equilíbrio – e a partir de lá libertarmos toda a energia, esvaziarmo-nos, não é emagrecendo para ficar mais leve,que um dia sendo tão leve se voa.enquanto não se examinar e descobrir com uma intensidade apaixonada se pode ou nãohaver imediatamente uma total e fulminante mutação de psiquismo,- e não é esperar tornar-se qualquer coisa, é já - tudo o que se fizer é bem pouco e pouco valerá,mesmo seguindo uma dieta rigorosa; mesmo “voando” só em voos azuis; mesmo praticando disciplinas severas; mesmo que um enorme progresso tecnológico dote a televisão a cores de cheiro, de gosto e de tacto; mesmo que esse mesmo progresso permita tanto aos ricos quanto aos pobres serem levados em alegres voos siderais ali e acolá noutra galáxia.

compreendida no enérgico campo vazio da nossa paisagem interior – o psiquismo – há aconsciênciaque é feita do que contém,originalmente é como um deserto e o que contém é só sentido – sem direcção – emtodas as direcções,tudo o resto: “cobiças, invejas, experiências, nomes, formas, memórias, crenças, ansiedades,tristezas, opiniões, julgamentos, valores”, e por aí fora, é essencialmente lastroque se aprisionae que faz viver na esperança ou na lista de espera de um dia vir a ter autorização paralevantar voo.

enviadas do estrangeiro, por uma amiga, recebemos hoje sâmaras de bordopor via aérea.

“Cair em si”

Voar.voar é próprio do povo aéreo, e de tal modo é que algumas espécies enquanto voamacasalam,ou cantam, ou caçam, ou comem, ou defecam.

no que diz respeito ao homem, porque estaria “voar” apenas relacionado com os engenhos

que ele inventa e com os sonhos que ele tem?por serem produzidos por ele?porém, mesmo se inventou o automóvel ainda anda, mesmo se inventou o barco aindanada, mesmo se sonha ainda dorme.porque não voará?porque não se poderá elevar ligeiramente, um pequeno palmo, e depois pousar um poucomais à frente?sem grande espalhafato, com jeito,ou até mesmo desengonçado e com uma certa dificuldadenão se trataria de fazer voos transatlânticos, seriam só um metro ou dois!

se o homem se desloca na água – nada – porque não se deslocará no ar?por ser mais anfíbio que aéreo?mesmo se a água está fria, ele despe-se para nadar,porque teria, para voar, de vestir qualquer coisa, que o iria tornar ainda mais pesado?sem imitar os peixes, é-lhes possível usar as mãos não como barbatanas,porque será que ainda não chegou a compreender o pleno uso das mãos?ou será que por estar tão carregado de lastro (sempre com o cérebro ocupadíssimoproduzindo os tais engenhos) já não tem mãos a medir?o que de resto lhe propicia “voos” cada vez mais requintado,à medida que se lhe vai adormentando a sensibilidade, que é muito mais leve que o ar.

no momento crucial em que ele descola as duas mãos do chão, deixa de gatinhar – ergue-se,apoiado pelos grandes põe-se em pé, sustentado pelo mundo chega-se mais ao céu –aprende a andar.daí a aprender a correr é um passo.mas à força de andar por hábito, de imitar o andar e as correrias de outros, rapidamente caina tradicional competição para se tornar o melhor de todos – o campeão.e afastando-se deles, isolado, vence (ou perde) separado de tudo.por isso luta violentamente – para vencer – um campeonato.então, se é que voar ainda tem algum significado, significa apenas velocidade,força voraz e aceleração para fazer mover e elevar a própria carga que transporta, e que dedia para dia com o registo de tantas vitórias e derrotas, torna-se cada vez maispesada,sobretudo a carga do porão da consciência.

a montante de qualquer engenho ou voo engenhoso fabricado pelo homem: foguetão,aeroplano a vapor, aeróstato ou asa de cera,

há e haverá sempre, mesmo moderada pela inércia, a “atracção para cima”,a atracção para esse lado,senão, nunca o homem teria tido a percepção da maçã que “cai para baixo”.nem tão pouco teria podido adaptar a linguagem de modo a descrever isso aos que ainda não se tinham apercebido.

(que saiba a história, foram precisos dezoito séculos para que fosse aceite a proposição deAristarco de Samos: pôr a Terra na condição de satélite do Sol).após ter saído – tecnicamente – do sistema geocêntrico, onde os corpos “perfeitos” eramos celeste, e os “imperfeitos” eram terrestres,descentralizado o relacionamento do planeta, rejeitada a aparência, parecendo cair em si,tudo levaria a crer que se tornaria menos egocêntrico,mais modesto, e naturalmente mais respeitador daquilo aonde desde sempre estáinevitavelmente inserido, e que ele próprio é uma das suas inúmeras expressões– o universo inteiro.mas tal não aconteceu, a saída foi meramente técnica.aos celestes epiciclos sucederam as mecânicas equações,à razão do diabo sucedeu o diabo da razão.o seu problema central (eu, poder, perfeição, nação, raça, medo, segurança, desconfiança, orgulho, ódio, inveja, ambição, violência) não só se mantém como progride.prova-o a facilidade com que se torna predador,a facilidade com que encara a matança organizada que é a guerra.a leviandade com que chama paz a guerra e faz guerra à guerra,perpetuando a guerra.- e o que não torna mais insensível que a guerra!- aí, as ideias são de tal forma diabólicas e cegas, de tal forma banhadas em irracionalidade edemência,que na primeira experiência atómica, os instrumentos que a deviam medir e que foramcolocados longe da deflagração, desintegraram-se com ela, “o que em si é uma medida”.mas justamente graças às ideias, graças às ideias de perfeição e imperfeição de um louco,graças à guerra,graças às duas últimas grandes guerras mundiaisa aviação progrediu,a com a maior das naturalidades, permitiu de tal forma a expansão do caminho da máquina,então já em curso,que o homem pôs de lado qualquer outra possibilidade de se relacionar de facto com omeio aéreodesenvolvendo somente a possibilidade mecânica,

na construção de aeronaves e elevadores.

a aeronáutica permite ao homem a sustentação a deslocação e a direcção no meio aéreo,mas será que ele voa?quando se desloca de automóvel não diz que caminha, quando se desloca de barco não dizque nada,porque de facto o que anda é o automóvel e o barco,mas quando se desloca de avião – voa – diz ele.

não! seja tripulante ou passageiro, o homem que “voa” num avião de facto não voa, o quevoa é o avião.a prova é que se a máquina cai, mesmo contra a sua vontade ele cairá com ela.(pois isso, logo desde o principio, antes do pára-quedas, ele mune-se da protecção de umsanto padroeiro,um homem são, inteiro, um “pobre de espírito” cujas sensíveis demonstrações dos forteslaços com o ar – do céu – o santificaram:o obediente Giuseppe da Copertino).

e, chegados aqui, voltamos a perguntar: se até a máquina voa, porque é que ele não voa?mas, refastelado que está, deslocando-se segundo a sua vontade, sentado numa cadeira“bem pensada” (mesmo se durante o voo há alguma turbulência) pensa,que outra coisa não é possível, nem necessário. – andar de avião! Isso basta, para lhe garantir a expansão do seu domínio do arque até já conseguiu “condicionar”, “comprimir” e “liquefazer”, segundo a sua vontade.é por isso que se encontram tão poucas disposições em procurar as provas do contrário– do desconfortável e desconcertante desnudamento do impensável.

a superfície da terra é imensa profundidade,não é necessário ir mais fundoà superfície da terra encontramo-nos com o céu infinito – em todo o sítio.mas a realidade, esse tão simples encontro, não é fácil, nem confortável, nem seguro.para que servem as promessas ou as esperanças de uma vida um pouco mais fácil de servivida,se se mantiverem os ruidosos e tensos apetites desse “eu” que nervosamente, querinterminavelmente sempre mais e mais,sobretudo poder mais, para poder cada vez mais “puxar para si”,sem poder “cair em si”.

(com ventos favoráveis, o avião aterrou no aeroporto de Lisboa quinze minutos mais cedo,mas a escada para fazer descer as pessoas chegou só à hora prevista.)

“Puxar para si”

Ascender, elevar-se, descolar, levantar voo, é para o homem, ciente de ser atraído, umaquestão de postura,um esforço não deliberado – sem a vontade própria – cuja forte inércia tende a abolir oque quer que o atraia para um só lado.voar – deslocar-se no ar – é outra coisa, requer uma consideração de outra natureza.mas,o forte enraizamento de crenças, programas, hábitos, ideias fixas...cada vez mais bloqueiam a sua simples abordagem.

quem considera olha atentamente e quem olha atentamente vê,não de uma maneira especial, ou desta ou daquela maneira, vê simplesmentesem pensar – que já viu, que está a ver ou que irá ver – vê em silêncio,meditar, medir, medicar, moderar, são igualmente consideraçõesonde o olhar que nada foca, nada fixa, nada concentraresplandece em todas as direcções, como a luz do sol.quando o pensamento está calado e no seu lugar adequado, não há separação entre o queconsidera e o que é considerado,vê-se a partir do vazio o vazio.só há a visão que flui.tal é a natureza da consideração que constantemente põe à prova e faz escoar aextraordinária energia contida naquilo que estrutura as nossas visões domundo.só a consideração modera as fixações.considerar não é pois das palavras.

mas que seja a abordagem dessa consideração – com palavras – mesmo isso já deixadúvidastão obstruída está a energia do sentido que elas encerram, tão distorcida está a vitalidade dalinguagemmas apesar de tudo e de toda a entropia (como não estamos aqui para outra coisa)tentemos por em órbita o seguinte:

não é só por andar de avião – sem apanhar chuva – que o homem já não se interroga sobrea possibilidade de voar,a proeza, é certo, retira-lhes prioridade, o conforto, como já se disse, adormece-omas sobretudo não se interroga, digamo-lo abertamente, dado o completo alheamento emque se encontra diante da nua Liberdade,daquela que é singular, despida das utilíssimas vestes legais dos “direitos & garantias”.outra que a que “voa com a poesia açucarada!,estar diante dela ou diante de nada é para ele a mesma coisa.filha da Verdade incorruptível e irmã gémea (verdadeira) da Novidade imprevisível,fresca como água nascente da montanha, agreste com os orégãos da serra,diante dela, diante disso que está sempre nu mesmo à frente do nariz,que não é um programa nem vem de nenhum programa,diante de tudo isso que se encontra à margem dos dogmas e das ideias prévias, encontraráo homem sentido?será capaz de considerar que a antecipação não tem sentido?será capaz de considerar, com inteira liberdade, que mesmo a chamada ligação entre todas as coisas é falsa?diz-se ligação, mas de facto, não implica nenhuma separação conectada por uma qualquerespécie de interacção,todas as coisas têm já em si um profundo sentido – plenamente livre.

chegados aqui,e como para o ser humano descolar as duas solas do solo é uma coisa e desloca-lasenquanto as mantém descoladas outra,passamos a distinguir os dois conceitos, voar e levantar voo, para favorecer uma maiorpausa reflexiva,como se a fizéssemos entre nadar e flutuarmuito embora estejamos cientes da sua inseparabilidade, pois que, tudo o que voa ou quenada depende de ter levantado voo ou flutuado.

para as descolar,tarefa relativamente arriscada,torna-se necessário esvaziar o espíritodespir a mente de todas as espécies de roupagens, sejam atraentes ou não.como se tratasse de despir a roupa para se lançar à água, que, uma vez encharcada, é lastroque faz afogar.para haver elevação tem de haver essa nudez, é ela a mente nua que assinala a necessárialeveza – despi-la, é esse o risco.

o sentido vertical, o impulso interno e o puro movimento singular, requerendo cuidadosa eclara introspecção, partem do centro de gravidade e não da vontade consciente.este último é influenciado e influencia a postura correcta (imóbil, direita e aguda) cujoequilíbrio (justo da forte inércia) faz elevar,sem perder o tino, nem andar com a cabeça no ar.contrariando sem rivalidade mas com reciprocidade toda a atracção unilateral.o que nos levanta é leve pureza.

para deslocá-las,a operação é em si menos complicada e mais corriqueira, mas torna-se mais complexa dadoque,tanto o sentido (horizontal) como o impulso (exterior) só são possíveis graças àsustentação de um movimento colectivo,da comunidade onde se insere o que se elevou.ou seja, o homem nunca poderá voar pelos seus próprios meios, precisará sempre dasustentação do seu semelhante.se precisou dele para aprender a andar, para aprender a falar, etc., porque não precisaria delapara se deslocar no ar, ainda por cima sendo mais pesado que ele?depois de singularmente se ter elevado, voar é um trabalho de conjunto que necessita doapoio do mundo, isento de fricções e atritos dada a fluidez do meio.só graças à confiança mútua ao equilíbrio à harmonia e à conivência de toda a colectividade,ele poderá procurar-se a necessária energia para se mover no espaço sem apoio material.

mas claro, enquanto a harmonia for utopia, o que será voar senão absurdidade?quanto mais o homem “puxar para si”,o que significa exactamente ser atraídomenos possibilidade tem de voar, de se elevar, ou até mesmo de simplesmente compreendero sentido da sua existência,de viver sem conflitos com o “outro”, seja marido, mulher, vizinho ou estrangeiro.

o ser humano – indivisível em si, mas dividido e dividindo-se entre si – aos poucos foi-setornando animal insensível culturalmente civilizado, cujas prioridades“progrediram” sem nunca se terem alterado muito,ainda hoje são delineadas pela força, pela violência, pela astúcia, pelo poder, pelo domínio,

pelo domínio de tudo, e muito especialmente daquilo que se assemelha mais a si: o seusemelhante.que desde longa data vem distinguindo como “inferior” ou “superior”sendo a “igualdade” uma figura também distinta e igualmente conflituosa.Porque é o egoísmo o próprio conflito, é ele ou isso que diferencia e faz comparação,De resto grotesca, dado essa “igualdade” ter sido sempre significado separação entre e nuncaharmonia com,mesmo após a abolição da escravatura.

agimos no mundo segundo a relação que temos com ele.se o mundo é visto ou pensado como sendo construído por fragmentos independentesserá desse modo que o espírito do homem nele funcionará – fragmentado excluindo-se num “eu aqui” que se refugia e se abstrai do outro “eu ali”,se na “sua” visão geral do mundo o homem tudo incluir num conjunto indiviso, o “seu”espírito mover-se-á dessa maneira,e a partir disso naturalmente surgirá uma acção harmoniosa e ordenada no interior do todo,“estabelecer-se-á uma relação profunda e duradoira com a natureza, com a humanidade ecom todos os seres vivos da terra inteira”.só, o homem inteiro vive no mundo inteiro, e é no mundo inteiro que vale a pena viver.daí que, no chamado “seu” espírito, na “sua” visão, na “sua” ideia, o ”eu” não tome posse,por não ser seu.o pronome possessivo é uma palavra,e no domínio das relações de facto, é como um marco numa partilha que por muito queesteja fixo inscrito e enterrado,apenas é uma das inúmeras referências que nos auxiliam e permitem partilharmos a relaçãona vida, sem dolorosas separações.

é esse “eu” que pensa ser ser,que é a figura central, a imagem culturalmente favorecida, o promotor de todos os conflitosque interminavelmente “puxam para si”.

hoje, a mais forte atracção na comunidade dos homens atrai-os para si mesmos,e, encantados com o engradecer dessa carnuda parte central, fixados a atraentes ideaissão incapazes de se equilibrarem numa órbita de sentido comum – livre, harmoniosa, frugal e serena.

são incapazes de tocar nesta única orquestra a imprevisível música da novidade.

e tão ocupados estão em solucionar problemas,– que em cascatas as próprias soluções vão fazendo renascer, cada vezmais numerosos eterríveis, mesmo nas barbas de cada geração– que nunca puderam abordar seriamente esse problema central,cuja abordagem é já em si bem mais importante que qualquer solução.

socialmente o que une as pessoas não é a harmonia é a desilusão,a união é harmonia, e o que está unido não precisa de se unir.quando a união é limitada não é união.os grandes dramas: intempéries, calamidades, catástrofes, acentuam a desunião.muito embora existam seres realmente bondosos, nessas alturas trágicas o que é comum é“salve-se quem puder”nos espectáculos dramatizados: o futebol, os comícios políticos, certas festas sociais,religiosas ou populares etc... os adeptos, apoiantes ou festeiros ao se entregarem ao culto, ao gritarem, ao gritarem como possessos ou outra coisa qualquer,libertam, esvaziam, descarregam a energia num exorcismo colectivo,fazem-no em sociedade, mas fa-lo-ão em conjunto? em harmonia?e mesmo se psiquicamente é salutar o medíocre efeito desse rito socialserá sempre o confronto, a competição, o duelo, a insegurança que se exibem.será sempre um passo mais para afastar e fazer adiar uma relação de facto harmoniosa.será sempre uma passo mais para adiar o desmoronamento das paredes que o “eu” construiupara garantir a segurança da sua imagem.são essas paredes que os seres encontram, quando entre si se encontram,e essas paredes não são gente, são ideias.

a sociedade dos homens é a relação dos homens, não é os homens.na comunidade dos homens, onde cada um “puxa para si”, como poderá havercomunicabilidade, comunhão?caso houvesse:na base de uma Confiança comum estabelecer-se-ia de facto uma relação haveria livre comunicação, tudo passaria a ser comunicado e naturalmente haveria acompreensão dum sentido comum,é a comunicação livre e directa que instaura a comunidade, e não a administração dequalquer política ou religião, que parecem esgotar a realidade, gerindo-a comouma empreitada.

comunicar livremente é comunicar sem barreiras, com confiança, sem programas – isso é osilêncio,não há premeditação, diz-se o que se tem a dizer – simplesmente com seriedade entra-se emcomunicação,e quando se está em comunicação, está tudo ditoo que é importante passa pelo silêncio, pelas palavras do silêncioé o silêncio – imobilidade psicológica – que cria a ordem, não é o pensamento,o que o pensamento cria são as barreiras, os programas, paraísos e infernos com os quais as tais administrações constroem as instituições, as leis, que não podem sersérias porque são solidamente fixas,e não sendo vulneráveis atropelam a Liberdade.a relação harmoniosa, surge da clara compreensão do que se é,e não é uma receita, mandamento, método ou lei que cria.quantas são as instituições que caminhem nesse sentido?

não é possível comunicar tudo quando paira o pecado que interdita e castiga.que a música poderá sair da orquestra onde cada músico “puxa para si”?ao fazer o que inevitavelmente tem de ser feito – a sua interpretação.

quanto à música a tocar, bastaria seguir a eterna partitura da Imprevisível Novidade.cujo sentido comum nunca é igual para todos – nem para os insectos é.o sentido comum é variável, como o sentido das palavras,que lhes dá significados diversos e divertidosquanto às suas semelhanças; isso depende da sensibilidade.

falar e escutar; o que fala escuta e o que escuta fala,quando se ensina aprende-se, quando se aprende ensina-senão há desperdício de energia, nem domínio, nem competição.quando há sentido comum, instaura-se o diálogo e descobrem-se dimensões novas,impensáveis, surpreendentessem confusão, com a fusão dos intervenientes.só desse modo, altamente organizado, se pode realmente Fazer qualquer coisa – trabalhar– em conjunto.

as moléculas trabalham em conjunto para fazer células, as células trabalham em conjuntopara fazer órgãos, os órgãos trabalham em conjunto para fazer os seres vivos,nós, seres vivos, será que trabalhamos em conjunto para fazer uma comunidade?ou seremos apenas meros empregados, hoje desempregados, dessa maneira de nosassociar,

cujo principal trabalho é exclusivamente cerebral e produtivo?

foi-nos ensinado a andar, a falar, a escrever... e, ensinaram-nos a pensar.aprendemos também como estar à mesa, a não nos apoiarmos nos cotovelos.aprendemos tudo isso, mas não foi em conjunto, foi com esforço, com imenso desperdíciode energia, com imensa parcialidade e sob efeitos e sofrimentos de uma qualquer atracção.o que aprendemos não foi, nem é, livre nem fácil,se fosse,se fosse de facto em conjunto, a energia, a compreensão teriam uma amplitude tal que compouco esforço, ou seja, imensa belezajá teria havido espaço para até nos terem ensinado a voar.

mas as prioridades desta sociedade são de outra ordem,o que ela ensina é a votar – livremente, obrigatoriamente, secretamente,eternamente conformada com o brilho baço e remediado “do mal o menos” conivente com o perverso “mal necessário”.todavia, para o homem se elevar, mesmo se a sociedade faliu, resta a possibilidade ainda nãoobliterada da elevação singular.e mesmo se a carga hereditária é muito pesada, mesmo sobrecarregados pelos desígnios daconstelação sob a qual nascemostentemos pôr em órbita a pura singularidade que faz elevar,e depois, talvez um dia, juntos de facto, alguns cheguem a voar.alguns, pois que – como as sementes – nem todos têm a mesma vocação.

em equilíbrio está a serenidade – a paz insondável – um movimento imperturbável, imenso,sem ruptura nem limites,contendo os risos e as lágrimas,que mesmo se puxam por tentação, também se esticam e atendem,o que significa, que ao se prestar atenção à distracção está-se atento.aceitá-los a ambos – ir-se abaixo, cair, e nisso vir a cima, erguer-se.uma dádiva que ao fazer reparar na postura também faz reparar a postura, a purasingularidade que eleva e faz descolar as duas solas do solo,ensinando a infatigável capacidade de se endireitar e a tenacidade de voltar sempre aoprincípiosem nos perdermos na impaciência,sem “ir aos ares”, como o irrepreensível Sempre-em-pé,que é como um pêndulo voltado ao contrário.

“Ir aos ares”

É em si, no centro de gravidade onde o ser humano se deve apoiar para exercer qualquer força. esse ponto, invisível e imaterial, não se encontra na parte superior, nem numa extremidadedo nosso corpo, encontra-se sim, sensivelmente no centro do volume da sua figura total.a cabeça, obviamente, não é o lugar apropriado para se sobrecarregar com forças,eventualmente, pode servir para carregar com pesos,que na maior parte dos casos são transportados em equilíbrio, dado terem em si o seupróprio centro de gravidade.de resto, quando se equilibra uma carga sobre a cabeça, quando se faz o pino por exemplo,graças à atenta resposta da sensibilidade, sentimo-lo.a cabeça não é o lugar apropriado para carregar com tudo,se o centro de gravidade é deslocado para lá, o homem viverá como um pêndulo que oscilaora para um lado ora para outro,e quando pára o homem cai.quando o apoio é exercido no centro de gravidade, é naturalmente ele que absorve todas asforças,instaura-se lá o equilíbrio e há fragilidade de pensamento – ou seja, menos peso nacabeça.(é difícil haver equilíbrio quando as cargas estão mal distribuídas)- é simples – tudo então, a partir do centro de gravidade, torna-se mais simplese leve,mesmo o peso das coisas impensáveis.

na semente que voa, é o equilíbrio entre o peso do grão que tende a descer e a sensibilidadeda asa que tende a subir, que realiza o voo.se a asa não tivesse lastro, elevar-se-ia como a labareda.se o lastro não tivesse asa cairia como a chuva.

a “gravidade universal” atrai reciprocamente todos os corpos, sem ela o homem não poderiaexistir.haver reciprocidade na atracção significa também haver inércia,inércia essa que também puxa, mas em sentido contrário.(se houvesse só atracção na atracção não poderíamos descolar os pés, não daríamos sequerum passo, coladas que estavam as solas ao solo.se houvesse apenas inércia não nos chegaríamos sequer a levantar)

uma coisa é ser atraído para todos os lados, outra é ser só um.

é porque se é atraído por um lado que se cai nesse lado,se simultaneamente também se for repelido, se se oferecer uma certa resistência, não se irápara muito longe do lugar onde se esteve,ou ficar-se-á mesmo onde se está (caso a capacidade de resistir se equilibre com a de atrair).

a Lua não cai no nosso solo porque na sua órbita está constantemente a cair e a afastar-seda Terra.as interrogações sobre atracção e a inércia não se esgotam numa equaçãoo mecânica, redutorado espectro visível,podem é com isso, as coisas invisíveis perder “visibilidade”.

Tudo depende, primeiro da sensibilidade que escuta a vocação(vocare) a íntima chamada da voz interior,e depois da resposta que a mesma sensibilidade lhe dá(dessa resposta nasce o sentido de responsabilidade)a vocação não se ensina nem se aprende – escuta-se – não tem nada que ver com umofício, como os protestantes querem que tenha)pois sem ela, tanto podemos cair na gravidade terrestre, como na celestee seja afogar-se na escuridão cá de baixo ou no deslumbramento lá em cima, é morrer porasfixia.afogados na gravidade terrestre, tudo o que faremos é deitar contas à vida, durante toda avida, e fazendo da vida uma conta passa-se a vida a fazer de conta.afogados na atracção celeste, também se faz de conta a vida inteira pois tudo o que faremosé cair, como mosquitos, numa luz que em vez de esclarecer, confunde.baixo do que em cima”.porém, exemplos já houve de gerações que ele “caiu em cima”, não segundo as leis dagravidade, mas segundo as do “tribunal do santo ofício”.

quantos maiores forem as quedas mais chocantes são os embates.as sementes que voam nas zonas urbanizadas poucas possibilidades têm de chegar agerminar.

Elevar-se.elevar-se no ar, é antes de tudo, suscitado pela vocaçãoque reclama o desnudamento da mente e a libertação do sentido da energia,o sinal da leveza.mas, como já se disse, essa consideração, põe à prova a extraordinária energia contidanaquilo que estrutura as nossas visões do mundo,

e como temos tendência a dar uma importância psicológica particularmente elevada àsnossas ideias familiares,torna-se por isso arriscado fazê-lo, pois que as convicções que pareciam seguras podemdesmoronar-se, a solidez do que era louvável pode ruir, a força de um hábito quebrar-se, a lógica de um conceito sumir-se, uma ideia eclipsar-se...contudo, ainda é mais arriscado não o fazer!não o fazer, é passar a vida a chapinhar no velho charco de água estagnada, convivendo comos micro-organismos da obstinação,que em suspensão nos infectam com os mortais condicionamentoslimitando e fazendo adiar a consideração de algo realmente novo, imprevisível, impensável.

mesmo apesar de termos aprendido a não ligar às coisas impensáveis,temos este presente vivo da vida até para as considerarpois que, uma vez chegada a altura em que mesmo as pensáveis serão dificilmenteconsideradas,estaremos então mais aptos para não desistir de o fazer.

“o que quer que se faça é feito com esforço – implica fazer esforço”.para a árvore enraizar a raiz tem de esforçar-se ao passar por entre a terra justa,se a terra é dura haverá pouco espaço para passarse a terra é frouxa haverá muita folga na passagem.se o feijão que nasce, lhe é retirado o esforço para vencer a inércia dos torrões da terra queainda gravita sobre as pequenas folhas,ele nunca florirá.

se não há esforço há capitulação.se se desiste não pedimos o melhor de nós – a excelência.porém, o esforço que é forçado – pela vontade própria – é resistente e tenso,solidifica rigidamente o ego, amplia as nossas limitações condicionando o flexível florir dasensibilidade.tanto o verdadeiro esforço como a verdadeira resistência implicam intensidade e não força – são capacidades vulneráveis, quando estamos cientes dos nossos limites.e graças à vulnerabilidade, que não é fraqueza mas sim abertura total, vemos quãodespreendidos somos da tensão consciente,ou seja, do esforço do ego.

no esforço que não é forçado – vindo do vazio e não de crenças ou de ideias nem do “eu”que faz força julgando-se o mais forte – não se adquire nada, antes pelocontrário, dá-se tudo.

de facto só se dá – tudo – quando não se tem nada.a força tem várias formas, e a mais forte é a que não tem força própria.a força que não é própria é sem limites – energia sem causa nem motivo,fluxo que nos dá tudo, e tudo o que precisa que se lhe dê, é passagempara passar de um estado a um estado outro, dando forma, materializando, desmaterializandosem perder nem ganhar nada, sem preencher nada, deixando intacto o vazio

“a energia está onde está a vacuidade”.tanto está na vacuidade do espaço cósmico, como na vacuidade da onda do oceano, comona do rebento da violeta, como na do coração do homem,é ela que faz que esse impermanente coração eleve o sangue até ao cérebro (apesar dagravidade universal) e que garante a coesão ao edifício celular, onde as moléculas, sem encantamentos, juntas num sentido comum, são atraídas entre si.

aprendemos como devemos estar à mesa, a não nos apoiarmos nos cotovelos.Mas será que reparámos que ao nos apoiarmos nos cotovelos deslocávamos o centro deGravidade, precisamente para os cotovelos, o que desequilibra e faz perder apostura?e isso, talvez, porque estávamos a fazer duas coisas ao mesmo tempo; estávamos à mesa eestávamos a pensar.quando sobretudo não é necessário pensar no que se está a fazer.fazer, e pensar no que se está a fazer, é fazer duas coisas ao mesmo tempo.é preciso é estar livre e plenamente ciente do que acontece,pôr todos os sentidos implicados no que se faz,pôr as mãos a pensar, nunca desempregá-las.fazer seu o que acontece – bebê-lo, nunca se separar dele.

à mesa, sem cotovelos apoiados, direitos, apoiados em equilíbrio no centro de gravidade,respira-se com outra profundidade,não nos perdemos com o que nos passa pela cabeça,não nos curvamos atraídos só para um ladonão enchemos, distraidamente, o chão de migalhas,e também será escusado matar as formigas que as viriam comer.

a cultura de uma postura deliberada é impostura,a postura é encontrada com o próprio perder da postura,eis qualquer coisa que ninguém pode encontrar por nós.do mesmo modo é o equilíbrio encontrado com o desequilíbrio, e a estabilidade com ainstabilidade.em qualquer dos casos é graças vulnerabilidade das coisas que as podemos encontrar.

portanto, cuidadosamente, devemos não as fixar nunca – não há nenhuma estabilidade queseja fixa,o equilíbrio fixo e estável, inflexível, não dura muito e provoca desequilíbrio mesmo se fisicamente não haja em nós nada que caia.

o equilíbrio pode parecer estável porque os movimentos que o encontram, ínfimos e subtis,são os mesmos que o fazem perder.mesmo o designado estático, não é fixo nem completamente imóvel,estáticas serão as ideias, se não forem vulneráveis.tudo no Universo é equilíbrio.

não importa, portanto, perder a postura, importa sim a capacidade de não perder apaciência com ela,de não se “ir pelos ares” com isso.reparar no desequilíbrio repara o equilíbrio – equilibrar-se, tal é a resposta da sensibilidade.e ao repará-lo, largando tudo e deixando-se “cair em si” profundamente, sem tensão nempressas,apoiarmo-nos onde nos devemos apoiar e encontrarmos o centro de gravidade em nós.com essa descoberta e com tudo o que ela implica, dificilmente seremos levados ou atraídospor um só lado,e se o formos, sê-lo-emos para todos,ou então não o seremos de todo.

Todas as coisas têm um centro de gravidade, um ponto invisível onde se exercem todas asForças atractivas e inertes, materiais e imateriais.no ser humano esse ponto encontra-se no baixo ventre, dentro da moldura óssea da bacia,entre a região lombar e sensivelmente dois a três dedos abaixo do umbigo.é aí onde o esforço – sem esforço – deve ser apoiado,de lá parte a leveza, quando a mente se despede lá parte a elevação, quando o pensamento se calade lá parte a respiração, quando estamos em paz.é lá o lugar mais importante do ser, um imenso oceano de energia, vital para o corpo e espírito inseparáveis.

contudo, muitas serão as circunstâncias, e mais serão as solicitações, que nos levam aodesequilíbrio sem repararmos nele.para se encontrar esse lugar de equilíbrio, a meio de tanta agitação, com tão pouco sentido e sem sentido comum,

a imobilidade – muitíssimo acordada, viva, flexível, nunca estática – é um atalho no caminhopara irmos ao seu encontro.

Portanto, ao escutar a vocação há que reunir circunstâncias,Sensíveis e possíveis para abordar e responder a isso, sem dar satisfações a qualquer partede si.começar por parar.sentar-se cuidadosamente num lugar agreste – limpo – deixar o pensamento em paz,desfazer-se, da absurdidade que é “deixar de pensar”.ficar sentado apenas – sem estar a secar nem a curtir sentado – estar sem tempo.estar quieto, por fora e por dentro, como para observar de perto um animal selvagemque fareja a saída do nosso mais pequeno piscar de olhos – da alma.faro esse que penetra todo o universo,porque é o universo.porque não é outra coisa que nós mesmos – nus – despidos da antiga roupa que já nãonos serve, nem serve para nada.que nos apertava e fazia mal, mas não sabíamos porquê,habituados que estávamos a vesti-la desde a infância.o que nos veste então, será a água pura e corrente da confiança primordial,que salpica até bem longe, sem sentido e para todo o ladopara lá do antes e do depois do serque é.

encontrar o centro de gravidade em si é encontrar o equilíbrio em siencontrar o equilíbrio em si é encontrar a liberdade em sie quando o homem se liberta de si, livra-se de tudo – do que o atrai, do que o repele, doque o prende.só um homem livre tem sensibilidade para librar-se, ou seja, equilibrar-se no ar.então o mundo, seja ele dolorosa prisão ou liberdade condicionada, estrá sempre a nascerporque estará sempre a morrer.

só a libertação de energia gera energia.(como a libertação de energia contida no núcleo do átomo gerou aquela tão dramáticaenergia)

se voar é uma aspiração do homem, é porque, mesmo adormecida, a nua Liberdade ainda oinspira.elevar-se no ar é um acto livre, autêntico, verdadeiro.

para o homem autêntico sem qualidades não há separação entre o céu a terra e o homem.e para voar não é o vento que importa, o que importa é a Verdade.

a elevação para esse homem estará sempre ligada com a humilde relação que ele tem com omundo.nunca se dará ares de nada, jamais lhe passará pela cabeça transformar essa vocação emmais uma atracção, exibindo-a publicamente.e se porventura se eleva, não será para satisfazer um qualquer capricho ou apetite pessoal,fá-lo-á ascender a força de uma necessidade absoluta, sem que alguma coisa de si próprio – pensamento ou vontade – intervenha.elevar-se-á direito, com infinita atenção,secretamente, em curtíssimas ascensões nocturnas ou em lugares inacessíveis.ninguém dará por nada.

Orientação no espaço

Quando um ascensor descola rapidamente, temos a impressão que nos enterrarmos nochão, e quando bruscamente pára parece que continuamos a subir.no homem, a subtileza de um pequeno órgão do ouvido interno,responde às mudanças de velocidade rectilínea (aceleração linear), aos movimentos derotação (influenciando a posição dos olhos e da cabeça), edá resposta à tonicidade muscular necessária que a manutenção do equilíbrio requer,assinalado por exemplo, a iminência da vertigem, a tontura, a mais pequenavacilação, etc.esse órgão assinala o equilíbrio, orienta-nos no caminho, não é o caminho – o caminho nãoé nosso.

é com grande sensibilidade que os órgãos das nossas percepções consideram o vastocampo de medida com que diariamente se encontram,e em que diariamente se encontram.não são eles que separam “o que é visto do que vê”, não são eles que comovem ou atraem,eles apenas moderam (com medida) o que está a acontecer, medindo-o em silêncio.a rosa é vermelha, silenciosamente, sem escolha, essa será a cor considerada, e só depois

virá a ser pronunciada – comunicada.

“para os olhos verem as cores, têm que estar despedidos delas”.

é com a sensibilidade, que o nosso relacionamento no mundo se torna possível, ao tornar-sesensível.sensibilidade e sensação não são a mesma coisaa sensibilidade não dissente,a sensibilidade não regista nem permite registar seja o que for com que se relacione,pelo contrário, tudo o que faz é respondersempre pela primeira vez, por muita idade que tenha.são os sentimentos – extensões do pensamento, ao fazerem sair da cartola da memória asmágicas imagens passadas – que minam a sensibilidade, com as suas perturbadoras comoções.construindo entre muitas outras coisas, por exemplo, as poéticas afectações açucaradas(que aviam muito bem os animados anseios dos programas político-culturais),as atracções, as emoções, as experiências...,e qualquer experiência é uma cicatriz da memória.

negar os sentimentos, as sensações, o tempo, o pensamento, é também afirmá-los.é preciso é descobrir-lhes o lugar correcto e adequado.abandonar sem esperança: ambições, iras, possessões, medos, recordações, hábitos, ideias,crenças, imagens, tempo, espaço... abandonar tudo o que seja pensamento, o norte inclusive,e não ficar desnorteado.permanecer só o fulminante faiscar da relaçãoagorano mundo.

vejamos bem! o norte real não pertence ao pensamento, ao conhecido, à memória,a Estrela Polar é sempre nova às nossas percepções,mesmo as Guardas da Ursa Maior são de registo variável.as constelações agrupam as estrelas mas as estrelas não estão separadas,a esfera celeste é inteiramente constelada – enérgico segredo aberto.se o pensamento não galgar o campo da relação real, como faz a erva daninha, passando porcima de tudo,toda a orientação, essencialmente, será silêncio.modesta é a trivialidade da cintilante gota de orvalho.

de facto a vida não é pensável, se for, é cálculo.

a vida impensável precisa de ser penetrada e compreendida com imensa seriedadee só em silêncio, quando se deixa o pensar em paz, podemos compreender o que é.para que serve uma orientação perfeita, se não se vê onde se põem os pés?para que serve? senão para controlar a viagem com toda a segurança, para que o amanhãaconteça segundo as previsõese quando o “amanhã acontece segundo as previsões”, e disso se tiram conclusões,experiências, exemplos dignos de serem seguidosfixou-se o conhecidoperpetuaram-se as raízes do tempo eperdeu-se a novidade.

milhares de anos são como um sopro,aquela enorme massa rochosa ainda ontem era líquido quentíssimoque escorria sobre aquele outro líquido que antes de ontem já tinha arrefecido um pouco.imperceptivelmente, o ouro vai-se modificando (entre o seu aparecimento e o seudesaparecimento, serão tantas as gerações de homens que aparecem edesaparecem que ele se torna, para eles inalterável).aquele ínfimo ponto que voa, é um pinheiro gigantesco.um século particular poder ser um momento na história da humanidade.

não! os dias não passam por causa do temponem tão pouco o tempo passa por causa deles,o que são dias, senão nova claridade e nova escuridão, incolores – sempre desconhecidas de novo.não é o tempo que faz ter pressa, é a mente desejosa que corre e que apressa.poupar minutos, para quê?se nos perdermos na ilusão que ao poupá-los, ganhamos alguma coisa.para quê correr mais depressa que a luz? Se os nossos átomos se dispersariam e nósesfumar-nos-íamos.

difícil é não deixar vestígios,e, sem história, sem sair do anonimato, ir assinalando apesar de tudo,as mais pequenas, incríveis e remotas paragens onde paira o equilíbriode tudo com tudo.

a decomposição da batata gerou miríades de seres voadores.haverá uma distinta entre a matéria que está inanimada e a que não está?tanto o vivo como o morto não pertencem ambos à Vida?não será essa interrogação a própria matéria da consciência?também ela uma expressão – insegura – da Vida.

uma vela que dure mesmo há mil anos só depois de acesa dá luz,

terá de se gastar toda para dar toda a luz, terá que, ao chegar ao fim, apagar-se – esse é oseu fim,porém, o fim dela não é o fim da luz.

diante de tanta vulnerabilidade, tão facilmente espezinhada, é crime não escutar a vocaçãomas ainda é mais criminoso condicioná-la, impedindo-a de ser escutada,e nada fazer para que ela não perca mais audiência, é igualmente criminoso. e quantas vocações não haverá que nunca são escutadas, que nunca foram escutadas, quenunca serão escutadas,vozes ignoradas, perdidas, num qualquer medíocre conformismo, numa massiva formação,no estoiro de uma droga, de um prestígio, de uma ilusão ou de uma causa justa.

é tudo uma questão de sensibilidade.e por muito pesado que o homem seja,se está ciente onde põe os pésnaturalmente que nunca esmagará até à morte,o frágil rebento da erva que nasce no caminho.

assim, sob a enérgica estrutura deste céu nocturno,atraídos pela candura das sementes que voamem todas as direcções,fomos levados a abordar o misterioso firmamento da mente e a terrestre profundidade docoração do homem,cujos desígnios incorporam os desenhos dos seus actostornando manifesta a dimensão intacta e comum que diariamente sustenta e acolhe uns eoutros.

sempre à volta do sol,dedicamos isto às nossas amigas Ursas, à Maior e à Menor,

S.M.Z.

Secret history of the aircraftNotes with gravity to put common aspiration into orbit

That which is secret is unknown and what is unknown is new.that which is, in fact, can only be new.nothing repeats itself.nothing is more unpredictable, more sacred, more mysterious than novelty, whether from the past the present or the future, it is not new – what is new is not of timeand will only be from now, if wholly free.the now is fulminating.

“there is no treasure hiding in the universe”.novelty flourishes in our inner landscape, like the heat in food cooked in an oven,without a pause, it comes out of what is exterior to enter an inferior never absolutelyinternal.imperturbable, but very awake, the sensitivity answers all the modifications,in equilibrium.

frogs, blackbirds and others, still themselves to escape danger,and in such a way that they seem lifeless.the fig-tree lets its figs be eaten by birdswithout a whistle.

Sensitive things in equilibrium

What is happening – happens – it is a fact, because it is stopping happening,Nothing is repeated, nothing remains identical to itself,The Things – all of them – are ceaselessly another Thing,that is, life is the death of that which happens,a single movement of flux unthinkable, with laughter and tears, immense, without rupture orlimits, without time, without hindrance.if such did not happen, if Things were immortal, the world to our eyes would have noexpression, it would always be the same thing.

both the known which is already accumulated in memory and the unknown which is notthere yet, but soon will be,

are the recordings, the registers of the Things we perceive: objects, actions, events,experiences, encounters…these registers help us in relation to the world, they are useful, thanks to them we carry outour tasks on the practical level,but they are neither the Things nor the perceptionsthey are (our) register.

whatever it is can only be approached from one aspect,and, according to that aspect it is registered in memory.it is impossible to approach at and register a Thing completely, one only registers a part; thatwhich is important or convenient.thus, even being useful, all registering is partial.

one cannot wholly comprehend a Thing in any detailed vision,only implicitly may we comprise (its) totality.but, as this is not registerable (in memory) nor probable (in thought),having no comparison, nor any immediate and personal utility it is thrust aside, as it isn’tgood for anything.and what is registered, by being chewable for thought (a glutton which doesn’t care aboutpartialities) becomes considered real.In this way he who “wants” to see everything, to see everything “as he wants to”, becomesseparated from what he sees,and creates a fragmented vision of the world,where the world is seen as if it were made up of independent things slivers or fragments, ofwhich the main fragment is the “I” which wants all.notwithstanding the gravity of the incorrection, this is transmitted, propagated, is taught,and teaching is one of these fragmented things.

conscious or unconsciously, this process allows the use of the registering of memory –thought – to more and more come to occupy a place of privilege,invading and taking over the fragile place of reality – new and unknown – placing itself ahead of everything, like the water from a torrent, soaking and distorting theperception of the pure event – conditioning the Thing that is.that is never simplistic as thought likes to make believe, to give the impression of beingable to dominate it when it autopsies it explaining it at (its) will.

In such a way that man goes on allowing thought to invade this field – of unknown novelty – right in front of him,

that what he “see” because he stops seeing – on turning his head, going to sleep, etc… – stops being really important faced with what he calls “reality” and which is reallythat which “he thinks he has seen”.in this unbearable process, which has been hurting for thousands of years, where it is moreand more abused by what is fixed in the mind,there is something which is deteriorating – and one can see it - visibly: sensitivitythat which gives a living answer to all that which is ceaselessly changing, both on theoutside and the inside of the living being.

and if this reply, of pure and subtle precision, which in itself holds nothingis so often confused with “artistic delicateness”, “poetic affections”, “winged liberties”, “sugary mannerisms”,it is because those who confuse it, having already been abused and thought, by sentiment,leaving the novelty to drown, disturbed as they are: irritated, impressed, vexed,offended, moulded,no longer see anything new.and without sensitivity there is no new answer.what novelty is there to be discovered in what one thinks one knows, when it was thoughtitself which fixed the known?will one notice the extreme sensitivity of cats’ whiskers? an animal which one thinks oneknows.in the wing of the seed of the pine? in the tips of the fingers of one’s hands? in thatwhich looks at us when we look at it?today novelty is only a concept – a lifeless parcel.thus sensitivity is associated with the artistic delicateness, the pointer of a balance,photographic film, the fineness of mechanism… delicate things, but never invisible,if not, thought would starve to death.

sensitivity is from another dimensionit is that, the hyphen, which links the hands-brain-heart in the nascent act of doing or notdoing,we see its presence and we also see its absence in that which man leaves done, whether it isfinished or not.

here, in order to see it in its highest expression – in the equilibrium – we will link it to the

act of flight.

it is all a question of sensitivity,but as, as has already been said, consciously or unconsciously, man is becomingtransformed into a dormant commodity, refinement and accountancy,flight is today either unnecessary or absurd, despite coming from chimera,today satisfied without demand, by the useful roaring of the reaction engine.or is it luxury to consider this? or a fantasy?no! what makes a sensitive being is sensitivityonly sensitivity can adequately care for and answer to life, to order and the world,to such important things as the nature for example,of that which is causeless intelligence, in equilibrium,and not of the so-called environment, as it is with that the ego is surrounded – the only efficient way to protect the still virgin forest is not to set foot in it.it is also sensitivity which responds to the lightning of the now,a single one throughout all our life.

time is an important data, as long as it isn’t used to give us importance.fear feeds time and time feeds the egothat the will of the violent and aerial man fixes – abstracting the rest – in a central anddominating point, the “I”,which always reacts with displeasure when the rug is pulled beneath its feet,whether it is a flier or not.(which is the best thing that can happen when one cultivates an image of oneself, the worst,is to hear from oneself that which one expected to hear.)

a being drowned in egoism doesn’t have the sensitivity to see this egoism,so many, many times coated in altruism.sensitivity is not of the mind, and disturbing sentiments destroy it.

Direct flights

Flying is proper to the birds,but in insects, mammals, fish, and vegetables there is flight.in stones there is flight, or rather, there was…eaglestone was a stone found either in the air or in eagle’s nest, it had therapeuticproperties and thus was much sought out.today nobody finds it, perhaps because today no one needs it.yet: shooting stars, meteors, meteorites, asteroids, aeroliths, comets planets, our planet,gravitate, move, fly, evolve in space without material support…in all of them there is flight,

carried out according to an orbit, in which the sense of attraction as that of inertiastop them from “falling”.

even if man looks at the seagull in flight, does he see the flight?and then, when the seagull sets down on the beach, will the meaning of the verb to fly befree from expectations? Free from what is in mind?free, and not opposite to the verb to set down?

will he be aware of that direct flight of air that enters and leaves the wings of his nose?or will he only be aware of it when he sneezes?even air flies,thanks to what we call wind, this small, old pine grove here nearby was propagated throughthe air, it flew directly to here – the pine-nuts have wings.

without the heavy burden of sentiments, thanks to an indescribable sensitivity, seeds fly.but as we are not here interested in botanical knowledge, but the unthinkable consideration, (unthinkable today because we didn’t notice it yesterday)we will consider not the seeds which fly, but the flight…or the seedswhich do not fly without wind,and we will question ourselves upon the giddiness which leads man not to fly. that sensitive being who cannot live without air.

Waiting List

Only after droughts do the seeds fly.in some cases only the seed flies, in others the fruit flies and within it travels the seed – the samaras.seeds, like everything which flies, fly in order to land.they land, burrow in, set down, dig in, take hold, stick in, and there they staythey germinate in the soil and then propagate.they all move far from the tree from which they came, at times they travel in pairs,many are carried far off, it depends on the wind, others never even touch land.

there are seeds which with one wing, after gliding, descend vertically in a helicoid whirling,and on landing are buried, raising a tiny cloud of dust,for then to remain immobile for hundreds of years.

there are others, black and spherical, which travel without wings, within white clouds ofextremely thin texture, which guarantees them sustenance and the force to rise up.others come out of a protective balloon which opens into three sections, travel clinging to alight circle of the same substance bent in the middle,as if being carried on a flying carpet.others still, with a sort of fluff whose sensitivity captures temperature, travel dangerously atlow altitude, some centimetres from the earth’s crust.we have seen one that so-to-speak travels in the shadows, (other temperatures) of the leavesof the agapanthus.and after a spectacular flight of several metres, at the speed of the prevailing wind, it endedup caught in a spider’s web.the wind itself then freed it and carried it on its journey, disappearing among the awns of thehay.

all the seeds which cross the skies, all this intense air traffic,is moved by an absolute necessity,it goes on without an intention of its own, but with surprising sensitivity,responding to the lightest breeze, reading the slightest differences of pressure, reacting tothe light, to the temperature…flying thus, with amazing subtlety.to do so, seeds have specific and such incredible resources that even if the direction is notof their making, even if there is no choice,the chance that then guides them is full of sense,in itself it is like a barren, single, available pathway.

one would say that beans also fly to spread themselves, but they do not fly, they jump.as it dries, the shell cracks, opens, and wraps itself round the bean until it thrusts it away bysqueezing it so much.there is a crack, and it leaps, falls and rolls, often coming to a stop far away.yet there was no sustenance, nor was there a landing, there was just displacement and fall.falling and landing are not the same thing.in falling one totally shows the earthy attraction,in landing this force, although it continues to exist, is attenuated by another force,which pulls in the opposite direction.

the bean doesn’t fly, but for example: the seed of the pine, the jasmine, the oleander, the geranium, the bougainvillea, the kapok, the linden, the poplar,

the elm, the willow, the maple, the plane-tree, the ash, the lettuce, the artichoke, the jacaranda, the dandelion, the saw-thistle, the thistle, fly.all that is light flies.the ant (even without wings), dust, ash, feathers, pollen, clouds, soap bubbles all fly.one would say that in the wingless shapes the light smallness works like a winged organ.to fly is an immediate posture between two critical moments which are take-off andlanding.for the moment we will not distinguish between flying and hovering, that is, between movingand balancing or being suspended in the air.whether a man or a seed, (and even a machine) the problem is that flying lies essentially inlanding and take-off,even when the landing is a mere fall, if there is no conscience of (its) suffering, which is the case of the ant,if integrity is not affected, even “blowing up” would be flight.

traditionally for man, flying involves staying, going and moving in the air according to hiswillyet it also exists in the conscience of having done it.in order to comment upon the prowess and prove that he did it.perhaps for this reason any high point which dominates open space is an appeal to “fly”.which well demonstrates the far-off and cold relationship it has with air.the relationship between modest ascension from below and the dominating fall from above,or is the free-fall only attraction?

when the question of take-off and landing are solved, when we can be saved from this the difficulty of remaining in the air is none at all,that is, it is the same as standing up – the two-legged posture is not innate, it is taught.this difficulty does not lie essentially within the aquatic or aerial field, it is firstly found initself.even walking on the earth, “going according to one’s will” already creates innumerabledifficulties – particularly for the earth.until one sinks into oneselfuntil one finds the centre of gravity within oneself – that point which in our body is centreand balance – and from whence we release all energy, we empty ourselves, it is not in slimming to become lighter,that one day being so light that one flies.until we examine and discover with an impassioned intensity whether there may or not

immediately be a total and fulminating mutation of the psychism,– and it is not to expect to become something, it is right now – everything that is done is little and will be worth little,even following a strict diet, even “flying” only on the blue flights, even practising toughdisciplines, even if an enormous technological progress gives colour TV smell,taste and touch, even if the same progress allows rich and poor alike to becarried in joyful sidereal flights here and there in another galaxy.comprised within the empty energy field of our inner space – psychism – there isconsciencewhich is made up of what it contains,originally it is like a desert and what it contains is only sense – without direction – in alldirections,all the rest: “greed, envy, experiences, names, form, memories, beliefs, anxieties, sorrows,opinions, judgements, values,” and so on, is essentially ballast whichimprisons,and gives life in the hope or on the waiting list of one day having permission for take-off.

today we received samaras of silver maple, sent to us from abroad by a friend by air mail.

“To sink into oneself”

Flying.flying is proper to the aerial people, and so much so that some species mate while flying, or sing, or hunt, or eat, or defecate.

as for man, why should “flying” be only related to the devices he invents and the dreams he has? because they are produced by him?however, even though he invented the car he still walks, even though he invented the boathe still swims, even though he dreams he still sleeps.why will he not fly?why can’t he lift himself up slightly, a palm, and then land a little further on?without great fuss, with skill,or even clumsily and with a certain difficultyit wouldn’t be a question of transatlantic flights, it would just be a metre or two!

if man can move through water – he swims – why can’t he travel through air? because he is more amphibian than aerial?even if the water is cold he undresses to swim,why would he have, in order to fly, to put something on which make him heavierstill?

without imitating fish it is possible for him to use his hands not like fins,why in order to fly does he insist on imitating the birds, using them like wings?or is it that he has not yet understood the full use of hands?or is it that he is so laden with ballast (always with his brain so very busy producing such devices) that he has his hands full?which, besides, allows him more and more refined “flights”,as he goes on having his sensitivity numbed, which is much lighter than air.

at the crucial moment that he takes his two hands off the floor he stops crawling – he risesup,supported by big people he stands up, sustained by the world he comes closer to the sky –he learns to walk.from this to running is a small step.but through habitually walking, imitating the walking and runnings of others, he rapidly fallsinto the traditional competition to become the best of all, the championand getting away from them, isolated, he wins (or loses) separated from all.so he struggles violently – to win – a championship.then, if flying still has some meaning, it means only speed,voracious strength and acceleration to move and elevate the very load he carries, and whichday by day with the register of so many victories and defeats, becomesheavier and heavier,especially that of the hold of the conscience.

upstream of any device or ingenious flight made by man: rocket, steam flying machine,airship or wax wings,there is and always will be, even if moderated by inertia, the “attraction for above”,the attraction for that place,otherwise man would never have been aware of the apple that “falls down”, nor would he have been able to adapt language to describe this to those who had neverbeen aware of it.

(according to history, eighteen centuries were needed before Aristarchus of Samus’proposition was accepted: making the earth a satellite of the sun)

after leaving – technically – the geocentric system, where the “perfect” bodies were thecelestial, and the “imperfect” ones earthly,decentralizing the relating of the planet, rejected the appearance, appearing to sink intooneself,everything led to believe that one would become less egocentric,

more modest, and naturally more respectful of that within he has since the beginningbeen inevitably set, and of which he himself is one of its innumerable expressions– the whole universe.but this didn’t happen, the exit was merely technical.mechanical equations followed on from celestial epicycles,the devil of reason followed on from the devil’s reason.his main problem (I, power, perfection, nation, race, fear, security, distrust, pride, hatred, envy, ambition, violence) are not only maintained but progressing.proof of this is the ease with which he still kills his own, or with which he kills other livingbeings,the ease with which he becomes a predator,the ease with which he looks upon the organised slaughter known as war,the lightness with which he calls peace to the war he makes upon war,perpetuating war.– and what doesn’t make one more insensitive than war! – there, ideas are so diabolical and blind, so bathed within irrationality and dementia, that in the first atomic experiment the instruments which should have measured it andwhich were placed far from the deflagration were disintegrated by it, “which is ameasurement in itself”.but precisely due to ideas, due to the ideas of perfection and imperfection of a madman, dueto war,due to the last two warsaviation progressed,and with the greatest natural ease, has allowed the expansion of the path of the machine,already under way,the man put aside any other possibility of really relating to the aerial spacedeveloping only the mechanical possibility,in the construction of aircraft and elevators.

aeronautics allows man sustentation, dislocation and direction in the aerial space, but doeshe fly?when one goes in a car one doesn’t say walk, when one goes in a boat one doesn’t say one swims,because what goes is the car and the boat,but when one goes by plane – he flies – he says.no! whether crew or passenger, the man who “flies” in the plane in fact does not fly, whatflies is the plane.the proof is that if the machine falls, even against his will he will fall with it(thus, ever since the beginning, before the parachute, he has taken on the protection of a

patron saint,a sound man, whole, a “poor in spirit” whose sensitive demonstrations of close relationswith the air – of the sky – have sanctified him:the obedient Giuseppe da Copertino.)

and, having reaching this far, we ask again: if even the machine can fly, why cannot he fly? but, lolling as he is, traveling at ease, sitting in a “well-thought-out” seat (even if duringthe flight there is some turbulence) he thinksthat anything else is not possible, not necessary. – going by plane! that’s enough toguarantee him expansion of his domination over the airwhich he has already been able to “condition”, “compress” and “liquefy”, at will.it is for this reason that there are so few inclinations to search for proof as to the contrary – as to the uncomfortable and off-putting denudation of the unthinkable.

the surface of the earth is an immense depth,one doesn’t need to go deeperon the surface of the earth we meet the infinite sky – all over.but, in fact, this is so simple meeting is not easy, nor comfortable, nor safe.what use are the promises or the hopes of a life a little more easily lived,if one kept the noisy and tense appetites of this “I” which nervously interminably alwayswishes for more and more,especially to be able to do more, to be more able “to pull towards oneself”without being able “to sink into oneself”.

(with favourable winds, the aeroplane landed in Lisbon Airport fifteen minutes early, but the mobile staircase for people to get off only arrived on time.)

“To pull towards oneself”

To ascend, elevate, take off, lift off, is for man, aware of being attracted, a question of posture, a non-deliberate effort – without a will of its own – whose strong inertia tends toAbolish whatever attracts it to one single side.to fly – to move through the air – is something else, it requires consideration of anotherkind.

but,the deep-rooted nature of beliefs, programmes, habits, fixed ideas…more and more block out the simple approaching of it.

he who considers looks attentively and he who looks attentively sees,

not in a special way, or in this or that way, he sees simplywithout thinking – that he saw, that he is seeing or that he will see – he sees in silence,to meditate, measure, medicate, moderate, are equally considerationswhere the gaze that focuses nothing, fixes nothing, concentrates nothinggleams in all directions, like the light of the sun.when thought is quiet and in its right place there is no separation between what considersand what is considered,emptiness is seen from emptiness.there is only sight which flows.such is the nature of consideration that it constantly tests and strains the extraordinaryenergy contained in that which structures our visions of the world.only consideration moderates fixations.consideration is thus not of words.

but to be the approaching at this consideration – through words – even this leavesdoubtsso obstructed is the energy of the sense that they enclose, so distorted is the vitality oflanguage.but despite everything and all the entropy (as we are not here for anything else) let us try toput the following into orbit:it is not just by going by plane – without being rained on – that man no longer questionshimself about the possibility of flying,the feat, surely, removes his priority, comfort, as has been said, puts him to sleep but he specially doesn’t question himself, let us say it plainly, given the complete alienationin which he exists as to naked Freedom,that which is singular, stripped of the most useful legal gowns of “rights & guarantees”.other than that which “flies with the sugary poetry”,to be faced with it or faced with nothing is the same thing for him.daughter of the incorruptible Truth and (true) twin sister of unpredictable Novelty,cool as water from the mountain spring, and rough as the wild marjoram,faced with her, faced with that which is always naked in front of one’s nose,which is not a programme nor comes from any programme,faced with all this which is outside dogmas and previously held ideas, can man find sense?can he be able to consider that anticipation makes no sense?can he be able to consider, with complete freedom, that even the so-called connectionbetween all things is false?one says connection, but in fact it doesn’t imply any connected separation by any kind of

interaction,all things already have a deep meaning within themselves – full free.

having reached here,and as for the human to lift the two soles off the soil is one thing and move them while theyare lifted is another,we will now distinguish the two concepts, flying and taking off, in order to allow a greaterreflective pause,as if we were doing it between swimming and floatingalthough we are aware of their inseparability, as everything that flies or swims depends onhaving taken off or floated.

to lift them off the ground,a relatively risky task, it is necessary to empty one’s spiritstrip the mind of all kinds of dressings, whether they say are attractive or not.as if taking one’s clothes to jump into the water, as once it is wet it becomes ballastwhich makes one drown.for there to be elevation there must be that nakedness, it is the naked mind which marksout the necessary lightness – undressing it is the risk.the vertical sense, internal impulse and the pure singular movement, requiring careful andclear introspection, come from the centre of gravity and not from the consciouswill.the latter is influenced and influences correct posture (still, upright and acute) whoseequilibrium (fitting to the strong inertia) makes one elevate,without losing one’s wits not going round with one’s head in the clouds.being contrary to all unilateral attraction with reciprocation without rivalry.what lifts us up is light purity.

to make them move in the air,the operation is in itself less complicated and more commonplace, but becomes morecomplex given that,both the sense (horizontal) and the (exterior) impulse are only possible thanks to thesustaining of a collective movement,of the community in which exists within that which elevated it.that is, man will never be able to fly by his own means, he will always need to be sustainedby his own kind.if he needed it to learn to walk, to learn, to talk, etc., why should he not need it to travelthrough the air, especially as he is heavier than it?

after the singular elevation, flying is a group effort which needs the support of the world, freefrom frictions and attritions, given the fluidity of the medium.only with mutual confidence as to the equilibrium and harmony and connivance of thewhole collectivitywill he be able to find the necessary energy to move himself through space without materialsupport.

but of course, while harmony is a utopia, what can flying be except an absurdity?the more man “pulls towards oneself”,which exactly means to be attractedthe less chance he has of flying, of elevating himself, or even simply understanding the meaning of his existence,of living without conflicts with the “other”, be this husband, wife, neighbour or foreigner.

the human being – indivisible in itself, but divided and dividing among itself – has slowlybecome a culturally civilized insensitive animal,whose priorities have “progressed” without ever altering greatly,even today they are marked out by force, by violence, by cunning, by power, by domination by the domination of everything, and especially of that which is most like him: his own kind.which for a long time he has distinguished as “inferior” or “superior”“”equality” being also distinct and equally conflicting figure.because egoism is the conflict itself, it is he or it that differentiates and makes thecomparison,which is grotesque, given this “equality” has always meant separation between and neverharmony with.even after the abolition of slavery.

we act in the world according to the relationship we have with it.if the world is seen or the thought as being made up of independent fragments this will be the way man’s spirit will function it – fragmented excluded within an “I here” which hides and is abstracted from another “I there”,if in “his” general view of the world man includes everything, in an undivided set, “his” spiritwill move in that manner,and from then on there will naturally appear a harmonious and ordered action within thewhole,“there will be established a deep and lasting relationship with nature, with humanity and

with all the living beings on the whole earth”.alone, the whole man lives in the whole world, and it is only worthwhile living in the wholeworld.so that within the so-called “his” spirit, in “his” vision, in “his” idea, the “I” may not takehold,by not being his.the possessive pronoun is a word,and in the domain of the facto relationships, it is like a landmark in a sharing which no matterhow fixed, inscribed and buried it is,is merely one of innumerable references which help us and allow us to share our relationshipin life, without separations.

it is this “self” which thinks for itselfwhich is the central figure, the most favoured cultural image, the promoter of all the conflictswhich interminably “pulls towards oneself”.today the strongest attraction in the community of man attracts them to themselves and, charmed by aggrandizing of his fleshy central part, fixed to attractive ideas, they are incapable of being balanced within an orbit of common sense – free,harmonious, frugal and serene.they are incapable of playing the unpredictable music of novelty in this single orchestra.

and they are so busy solving problems,– which the very solutions of which regenerate, more and more numerously and terrible,under the nose of each generation –that they have never seriously been able to look at this central problem,the approach to which is vastly more important than any solution.

socially what unites people is not harmony it is disunityunion is harmony, and what is united does not need to unite.when union is limited it is not union.the great dramas, inclemency, calamities, catastrophes, accentuate disunity.although there are really kind beings, in these tragic times what is common is “everyone forhimself”in the dramatized shows: football, political meetings, certain social, religious or popularparties etc… where the fans or the party-goers give themselves to their worship,in screaming like demons or some other such thing.release, empty themselves, and discharge their energy in a collective exorcism,they do it in society, but do they do it together? in harmony.

even if psychically the mediocre effect of this social rite may be healthy,it will always be the confrontation, the competition, the duel, the insecurity which is ondisplay.it will always be a step further towards casting aside and putting off a truly harmoniousrelationship.it will always be a step further towards delaying the collapsing of the walls which the “I” hasbuilt to guarantee the security of its image.these are the walls that beings find, when they meet among themselves,and these walls are not people, they are ideas.

the society of men is the relationship of men, it is not men.in the community of men, in which each one “pulls towards oneself”, how can there becommunicability, communion?if there were:at the basis of common Trust there would be established a true relationship there would be free communication, everything would be communicated and naturally therewould be the understanding of a common meaning,it is free and direct communication which sets up a community, and not the administrationof any politics or religion, which seem to exhaust reality, running it like a workcontract.to communicate freely is to communicate without barriers, with trust, without programmes– that is silence,there is no premeditation, one says what one has to say – what is important goes throughsilence, by words of the silenceit is silence – psychological immobility – which creates order, it is not thought, what thought creates are barriers, programmes, paradises and hellswith which these administrations construct institutions, laws, which cannot be earnestbecause they are solidly fixed,and being invulnerable crush Freedom.the harmonious relationship arises from a clear understanding of what one is, and it is not a recipe, commandment, method or law which creates it.how many institutions move in this direction?

it not possible to communicate everything when sin hovers to ban and punish. what music could come from the orchestra in which each musician “pulls towards oneself”?in doing that which has inevitably to be done – his performance.

as for the music to play, it would be enough to follow the eternal score of Unpredictable Novelty,whose common sense is never the same for everyone – even for insects.

common sense is variable, like the meaning of words,which gives them diverse and diverted meaningsas for their similarities, this depends on sensitivity.

to speak and to listen; the speaker listens and the listener speaks,when one teaches one learns, when one learns one teachesthere is no waste of energy, nor domination nor competition.when there is common sense dialogue is established and new dimensions are discovered,unthinkable, surprising,without confusion, with the fusion of those in dialogue,only in this, highly organized way can one really Do something – to work – together.

molecules work together to make cells, cells work together to make organs, organs worktogether to make human beings,we, the human beings, do we work together to make a community?or are we merely the employees, today unemployed, of the manner of associating,whose principal task is exclusively cerebral and productive?

we were taught how to walk, speak, write… and we were taught to think.we also learned how to sit at table, and not rest on our elbows.we learned all this, but not together, it was through effort, through a great waste of energy, with great partiality and under the effects and sufferings on some other attraction.what we learned was not, nor is, free nor easy, – if it were,if it were truly together, energy, and understanding would be so vast that with a little effort,that is, with immense beautythere would have been the room for us to be taught to fly.

but the priorities of this society are of another order,what teaches is to vote – freely, obligatorily, secretly,eternally in conformity with the dull and patched shine of “the lesser of evils”conniving with the perverse “necessary evil”.

however, for man to elevate himself, even if society has failed, there is still the as yet notruled-out possibility of singular elevation.and even if the hereditary burden is very heavy, even overwhelmed by the designs od theconstellation in which we are bornlet us try to put into orbit the pure singularity which elevates,and then, perhaps one day, truly together, some will manage to fly.some, as – like seeds – not everyone has the same vocation.

within equilibrium is serenity – unfathomable peace – an imperturbable movement,

immense, without rupture nor limits,containing the laughter and the tearswhich even if they attract through temptation, also stretch and attend,which means that in being attentive to the distraction one is attentive.to accept them both – to collapse, to fall, and thus come up, to rise.a gift which in noticing the posture also repairs the posture, the pure singularity whichelevates and moves the two soles off the ground,teaching the indefatigable capacity of standing up straight and the tenacity of alwaysreturning to the beginning,without being lost in impatience,without “flying into a passion”, like the irreproachable Never-Fall-Down, which is like a pendulum in reverse.

“To fly into a passion”

It is in itself, in the centre of gravity, where the human being should support itself to exerciseany force.this point, invisible and immaterial, is not in the upper part, nor in an extremity of ourbody, it is found roughly in the centre of the volume of his total figure.the head is, obviously, not the appropriate place to overload with forces,it may be possibly used to carry weights,which are mainly carried in equilibrium, as they in themselves have their own centre ofgravity.besides, when one balances a load on one’s head, when one stands on one’s head, forexample, one clearly sees where the centre of gravity lies,due to the attentive response of sensitivity, we feel it.the head is not the appropriate place to carry everything,if the centre of gravity is shifted to it, man will live like a pendulum which oscillates to and fro, and when it stops man falls.when support is exercised on the centre of gravity, it is naturally this which absorbs allforces,equilibrium is set up and there is frugality of thought – that is, less weight on the head. (it is difficult to find equilibrium when loads are badly distributed) – it is simple – from the centre of gravity everything then becomes more

simple and light,even the weight of unthinkable things.

in the flying seed, it is the equilibrium between the weight of the grain which tends todescend and the sensitivity of the wing which tends to rise, which forms the

flight.if the wing didn’t have ballast, it would rise up like the blazing flame.if the ballast didn’t have a wing it would fall like rain.

“universal gravity” reciprocally attracts all bodies, without it man would be unable to exist.to have reciprocity in attraction means there is also inertia.inertia which also pulls, but in the opposite direction.(if there were only attraction in attraction we would not be able to lift our feet, we couldn’teven make a step, our soles would be glued to the soil.if there were only inertia we wouldn’t even be able to stand up)

one thing is to be drawn to all sides, another is to be drawn to only one.it is because one is attracted to one side that one falls into this side,if one is simultaneous repelled, if one offers a certain resistance, one won’t move far fromwhere one was,or one will remain where one is (should the capacity for resistance be equal to that of attracting).

the Moon does not fall onto our soil because in its orbit it is constantly falling to and beingpushed away from the Earth.interrogations on attraction & inertia cannot be explained away in a mechanical equation,reducing the visible spectrum,with such, invisible things may lose “visibility”.

Everything depends firstly on the sensitivity which listens to the vocation,(vocare) the intimate call of the inner voice,and then on the response that this sensitivity gives it.(from this response is born the sense of responsibilityvocation cannot be taught nor learned – it is listened to – it has nothing to do with craft,as the protestants wish it to be).as without it we may equally fall within earthly gravity as in the celestialand drown in the darkness down here or in the brightness above, is to die throughasphyxiation.drowned within earthly gravity, all we do is put in the days, for our whole life, and in makingthe days put in we spend our lives in a pretend put on.drowned within the celestial attraction, we also pretend all our lives as all we will do is fall – like mosquitoes – into a light which instead of clarifying, confuses.for the man of this century, given the weight of the inclinations, it is much more probable “tofall down than up”.

however, there have been examples of generations in which he “fell up”, not according tothe laws of gravity, but according to the “tribunal of the holy office”.

the greater the falls the more shocking were the clashes.the seeds which fly in urban zones have few possibilities of managing to germinate.

To raise oneself up.to raise oneself up in the air is, first of all, is prompted by vocationwhich urges the denuding of the mind and releasing of the sense of energy,the sign of lightness.but, as has been said, this consideration tests the extraordinary energy contained in thatwhich structures our visions of the world,and as we have a tendency to give particularly high psychological importance to ourfamiliar ideas,it thus becomes risky to do it, as the convictions which seem secure may crumble, thesolidity which was praiseworthy may cave in, the strength of a habitat break, thelogic of a concept vanish, an idea eclipses,yet, it is more risky not to do it!not to do it is to spend life splashing in the old pond of stagnant water, living with themicro-organisms of obstinacy,which in suspension infect us with mortal conditioningslimiting and delaying the consideration of something really new, unpredictable, unthinkable.

even though we have learned not to be attentive to unthinkable things, we have this present living of life to consider themas, once the time has arrived in which even the thinkable ones will be considered withdifficulty,we will then be more apt to not give up from doing it.

“whatever one does is done with effort – to do implies effort.”for the tree to take root the root has to make an effort to pass through the slack earth,if the earth is hard there will be little room to pass throughif the earth is loose the passage will have many slacks.if the bean is born without the effort to overcome the inertia of the clods of earth which stillsurround its little leaves,it will never flourish.

if there is no effort there is capitulation.if one gives up we are not asking the best of ourselves – excellence.

however, the forced effort – through our own will – is resistant and tense,it rigidly solidifies the ego and amplifies our limitations, conditioning the flexible flourishingof sensitivity.both real effort and real resistance imply intensity and not strength – they are vulnerablecapacities, when we are aware of our limits.and thanks to vulnerability, which is not weakness but total opening, we see how detachedwe are from conscious tension,that is, the effort of the ego.

in the effort which is not forced – coming from emptiness, not from beliefs or ideas or the“self” which applies strength thinking itself stronger – nothing is gained, ratherthe opposite, one gives everything.in fact one only gives – everything – when one has nothing.strength has various forms, and the strongest is that which doesn’t have its own.strength which isn’t its own is limitless – energy without cause or motive,flux which gives us all, and all that it needs to be given, it is passageto pass from one state to a new one, giving form, materializing, dematerializing, without losing nor gaining anything, without filling anything, leaving the emptiness intact.

“energy is where emptiness is”.it is much in the emptiness of the cosmic space, in the emptiness of the ocean wave, inthe shoot of the violet, as in the heart of man,it is this which makes the impermanent heart rise the blood to the brain (despite universal gravity)and guarantees the cohesion of the cellular edifice, in which themolecules, without spells, together in a common meaning, are mutuallyattracted.

we learn how to sit at table, and not to rest on our elbowsbut do we notice that when we rest on our elbows we shift our centre of gravity, precisely toour elbows, which unbalances us and makes us lose our posture?and this is perhaps because we were doing two things at the same time; we were at table andwe were thinking.when above all it is not necessary to think about what one is doing.to do and to think about what one is doing is to do two things at the same time.it is necessary to be free and fully aware of what is happening,to put all the senses involved in what one does, to put our hands in thought, never to unemploy them.to make yours what happens – to drink it, never be separated from it.

at table, without our supporting elbows, held straight, in equilibrium in the centre of gravity,one breathes with a new depth,we don’t get lost in what goes through our head,we do not bend over attracted by one sidewe do not cover the floor with crumbs,and it is also useless to kill the ants which come there to eat.

the culture of a deliberate posture is an imposture,posture is found with the very loss of posture,here is something that no one can find for us.in the same way equilibrium is found through disequilibrium, and stability with instability.in any of the cases it is thanks to the vulnerability of things that we can find them.yet, carefully, we should never fix them – there is no stability that can be fixed.fixed, stable and inflexible equilibrium does not last long and causes disequilibrium, even if nothing in us physically falls.

equilibrium may appear stable because the movements which find it, tiny and subtle, are thesame as those which make it be lost.even the so-called static is neither fixed nor totally still.static are the ideas, if they are not vulnerable.everything in the Universe is equilibrium.

to lose one’s posture, therefore, doesn’t matter, what matters is the capacity not to loseone’s patience with it,not “to fly into a passion” over this.to notice the disequilibrium repairs the equilibrium – it equilibrates itself, such is theresponse of sensitivity,and in repairing it, dropping everything and letting “sinking deeply into oneself”, withouttension nor haste,we support ourselves where we should support and we find the centre of gravity within us.with this discovery and with all it implies, we will only with difficulty be led to or attracted toone side only,and if we are, we will be so for everyone,or we won’t be it at all.

all things have a centre of gravity, an invisible point on which all forces are exercised, theattractive and the inert, material and immaterial.in the human being this point is in the lower belly, within the bone frame of the spleen,

between the lumbar region and roughly two or three fingers below the navel.it is there where all effort should – effortlessly – be supported,from there comes lightness, when the mind is strippedfrom there comes elevation, when thought is quietfrom there comes breathing, when we are at peace.there is the most important place in the human being, a great “ocean of energy”, vital for theinseparable body and spirit.

yet, there are many circumstances, and more solicitations, which lead us into disequilibriumwithout noticing.to find this place of equilibrium, amid all and such agitation, with such little sense andwithout common sense,immobility – very wide awake, alive, flexible, never static – is a short cut on the way tomeet it.

Yet, on listening to the vocation one has to bring together the sensitive and possiblecircumstances in order to approach and respond to this,without having to give explanations to any part of oneself.to begin stopping,to sit down carefully in a wild place – clean – to leave thought in peace,to free oneself of the absurdity which is “to stop thinking”,to just sit down – not awaiting nor hardening in sitting down – to be without time.to be still, outside and in, as if to observe a wild animal from close rangewhich scents the movements of our slightest blink – of the soul.a scent which penetrates the whole universe,because it is the universe.because it is nothing if not us ourselves – naked – stripped of our former clothes thatdon’t fit us anymore, and are fit for nothing,those which squeezed and harmed us, but we didn’t know why,used as we were to wearing them from childhood.what we wear then, will be the pure and running water of primordial trust,which splashes far off, without sense and to everywherebeyond the before and after of the beingwhich it is.

to find the centre of gravity in oneself is to find equilibrium within oneselfto find equilibrium within oneself is to find freedom within oneselfand when man is free from himself he is free from everything – everything that attractshim, that repels him, that holds him.only a free man has the sensitivity to hover, that is, to equilibrate himself in the air.

and then the world, whether it is a painful prison or a period of parole, will always be beingborn because it is always dying.

only the releasing of energy generates energy.(as releasing of energy contained in the nucleus of the atom generated that so dramatic energy)

if flying is an aspiration of man’s, it is because, even asleep, naked Freedom still inspires him.to elevate oneself into the air is a free, authentic and true act.for the authentic man without qualities there is no separation between heaven and earthand man.and to fly it is not the wind that matters, what matters is Truth.

elevation for that man will always be linked to the humble relationship he has with the world.he will never put on any airs, it will never enter his head to transform that vocation into yetanother attraction, showing it off publicly.and if he perchance elevates, it will not be to satisfy any whim or personal appetite,the strength of an absolute need will make him rise, without anything of himself – a thoughtor will – intervening,he will rise up, with infinite attention,secretly, in very brief nightly ascensions or in an inaccessible place.without anyone noticing a thing.

Orientation in space

When a lift starts off quickly we have the impression that we are being buried in the ground,and when it stops abruptly it seems like we continue to rise.in man, the subtlety of a small organ in the inner earresponds to changes of rectilinear speed (linear acceleration), to the movements of rotation(influencing the position of the eyes and the head), andresponds to the necessary muscular tonicity that the maintaining of equilibrium requires,marking out, for example, the imminence of vertigo, dizziness, the slightestvacillation, etc.this organ marks out, guiding the way, it is not the way – the way doesn’t belong to us.

it is with great sensitivity that the organs of our perceptions consider the vast field ofmeasurements with which they are daily encountered,and in which they daily encounter themselves.it is not they who separate “what is seen from what sees”, it is not they who move or attract,they merely moderate (measuredly) what is happening, measuring it in silence.the rose is red, silently, without choice, that will be the considered colour, and onlyafterwards will it be pronounced – communicated.

“for eyes to see colours, they must be turned away from them”.

it is with sensitivity that our relationship in the world becomes possible in becomingsensitive.sensitivity and sensation are not the same thingsensitivity does not dissent,sensitivity does not register nor allow a registering of whatever it relates toon the contrary, all it does is respondalways for the first time, no matter how old it may be.it is sentiments – extensions of thought, in drawing the magic past images out of the hat of memory – that undermine sensitivity, with their disturbing commotions.building among many other things, for example, the sugary poetic affections (which very well make up the animated anxiousnesses of politico-cultural programmes),the attractions, the emotions, time, thought is also to affirm them.what is necessary is to discover this correct and proper place.to abandon without hope: ambitions, rages, possession, fears, memories, habits, ideas, beliefs, images, time, space… to abandon everything which is thought, includingthe north,without losing one’s north.remaining only the fulminating flash of the relationshipnowIn the world.

let us look carefully! the true north does not belong to thought, to the known, to memory, the Pole Star is always new to our perceptions,even the Guards of Ursa Major are of variable register.the constellations group together the stars but the stars are not separate,the celestial sphere is entirely constellated – an energetic open secret.if thought does not gallop over the field or real relationship, like the weeds do, passing overeverything,all orientation will, essentially, be silence.

modest is the triviality of the sparkling drop of dew.

in fact life is not thinkable, if it is, it is calculus.unthinkable life needs to be penetrated and understood with immense earnestness and only in silence, when one leaves thinking in peace, we may understand what it is. what is the use of a perfect orientation if we can’t see where we put our feet?what's it for? except for calculating the journey in safety so that tomorrow may happenaccording to the forecastsand when “tomorrow happens according to the forecasts” and conclusions, experiments,and examples worthy of following are drawnthe known has become fixedthe roots of time are perpetuated andnovelty has been lost.

thousands of years are like a breath,that enormous rocky mass was only yesterday a burning liquidwhich ran over that other liquid which had cooled down a little the day before yesterday. unperceptively, the gold becomes modified (between its appearance and its disappearancethere will have been so many generations of men who appear and disappear that it becomes, for them, unalterable).that tiniest point which flies is a giant pine-tree. a particular century may be a moment in the history of humanity.

no! days do not go by because of timenor does time go by because of them,what are days if not a new brightness and a new darkness, colourless – always unknownanew.it is not time which rushes, it is the desirous mind which hurries and makes haste.why save minutes?if we get lost in the illusion that by saving them we gain something.why run faster than light? if our atoms would disperse and we would go up in smoke.

it is difficult not to leave traces,and, without history, without leaving anonymity, marking out a trace despite all, the smallest, most incredible and remote places in which hovers the equilibrium of everything.

the decomposition of the potato has generated myriads of flying beings.is there a clear distinction between matter which is inanimate and what is not?between the being which is alive and that which is not?both the living as the dead, do not both belong to Life?or is this interrogation the very matter of consciousness?

itself also an expression – insecure – of Life.

a candle which as lasted even a thousand years, only once it is lit gives off light,it would have to be totally burnt out in order to shed all its light, it would have to reach inend, go out – that is its end,yet, its end is not the end of light.

faced with so much vulnerability, so easily crushed under foot, it is a crime not to listen tothe vocationbut it is even more criminal to condition it, stopping it being listened to,and to do nothing for it to lose more audience is equally criminal.and how many vocations might there be, which are never listened to, which have neverbeen listened to, and will never be listened to.ignored voices, lost within some mediocre conformism, within a massive formation, in thecracking of a drug of a prestige, of an illusion or of a just cause

it is all a question of sensitivity.and no matter how heavy man may be,if he is aware of where he puts his feethe will naturally never crush to deaththe fragile shoot of grass which is being born on the way.

thus, beneath the energetic structure of this nocturnal sky,attracted by the candour of the seeds which flyin all directions,we have been led to look at the mysterious firmament of the mind and the earthly profundityof the heart of man,whose unfathomable purposes embody the designs of his actsmaking manifest the intact and common dimension which daily sustains and welcomes eachothers.

always around the sun,we dedicate this to our friends Ursae, the Major and the Minor.

S.M.Z.

CONTRACAPA

No dia 20 de Junho de 1997, no Funchal, abre-se a PORTA 33 à história secreta da aviação, expondo desenhos (lápis sobre papel), esculturas (aeromodeladas) e estas notas (com gravidade).Esta exposição, ou seja, o que nos move, não gravita em torno do tradicional crescendo curricular, que, mesmo se ajuda a aconchegar a pessoal subsistência com Pão, sempre o rejeitámos, por deformar a colectiva sustentação com História. Cientes da nossa órbita, ponderadas as necessidades absolutas, achamos adequado poder dizer que: o que nos move sustenta-nos – e dê lá por onde der.Nesta história secreta da aviação, move-nos a natural sustentação (na dupla acepção do termo) e tudo o que ela suscita. Move-nos a ordem ou a arte e não o engenho. Move-nos a protecção desse património. Move-nos: uma vez findado o frenesi da mente “sem pensar nem no bem nem no mal, nesse preciso momento, ver qual é o nosso rosto genuíno – mesmo antes de termos nascido”. Entre ele e a semente de Tília, que diferença há?Move-nos o semelhante.Agora, move-nos um profundo agradecimento pela cooperação: do sorriso da Lourdes (Castro) em todo o sítio; da visão da Cecília (Vieira de Freitas) na Porta 33; da voz do Maurício (Pestana Reis) na Porta 33; da atenção do Manuel (Rosa) na Assírio e na Guide; da fala do Hermínio (Monteiro) na Assírio & Alvim; da cumplicidade do David (Prescott) na tradução; da acuidade do António (Lampreia) na revisão; da abertura da Porta (33) nesta ilha; e também pela presença do Hôgen (Daidô) neste mundo.

Shingen Manuel Zimbro – Ilha da Madeira 1997

On the 20 of June, in Funchal, PORTA 33 opens onto the secret history of the aircraft, exhibiting drawing (pencil on paper), sculptures (aero modelling) and these notes (with gravity).This exhibition, that is, that which moves us, does not gravitate around the traditional curricular crescendo, which, even if it helps to wrap personal subsistence with Bread, we have always rejected it, as it deforms collective sustenance with History. Aware of our orbit, having pondered the absolute necessities, we thought it adequate to be able to say that: that which moves us sustains us – and let it turn out as it will.In this secret history of the aircraft, what moves us is the natural sustaining (in both senses of the term) and everything which it gives rise to. Order or art moves us and not ingeniousness. Real co-operation moves us: the whole man, sound, without qualities – unthinkable. What moves us is the protection of this patrimony. What moves us: once the frenzy of the mind is over “without thinking either of good nor evil, at that precise moment, to see what is our genuine face – even before we have been born”. Between it and the Linden seed, what difference is there? The similar moves us.Now, what moves us is a profound thanks for co-operation: for the smile of Lourdes (Castro) everywhere; for the vision of Cecília (Vieira de Freitas) at Porta 33; for the voice of Maurício (Pestana Reis) at Porta 33; for the attention of Manuel (Rosa) at Assírio and at Guide; for the talk of Hermínio (Monteiro) at Assírio & Alvim; for the complicity of David (Prescott) on

translation; for the acuity of António (Lampreia) on revision; for the opening of Porta (33) in this island; and also for the presence of Hôgen (Daidô) in this world.

Shingen Manuel Zimbro – Madeira Island 1997