Manuela Carneiro Da Cunha - Os Mortos e Os Outros (2)

download Manuela Carneiro Da Cunha - Os Mortos e Os Outros (2)

of 89

Transcript of Manuela Carneiro Da Cunha - Os Mortos e Os Outros (2)

oVJ

a::

o ~ rt o VJ

(!l

o VJ

o Crt ~ o VJ

li"

MANUELA

CARNEIRO

DA CUNHA

Os Mortos e os OutrosUma anlise do sistema funerrio e da noo de pessoa entre os ndios Krah

''?1'o;.;'~

,.-

~. (t \'"''t"I 'I " ,.",':,_1

j~.

ti,t'l...

l . ,;;,

,_, ....

I

li

EDITORA HUCITEC So Paulo, 1978

~~-

~- j

') I

Direitos autorais, 1978, de MariQ.Manuela Ligeti Carneiro da Cunha. Direitos de publicao reservados pela Editora de Humanismo, Ci

-.,

Objetivos

e estratgias

Introduo Sangue e transgresses de fronteiras Resguardo, fronteiras e fora vital ...................... Captulo VII: ESCATOLOGIA Reflexo e reflexo As fontes As metamorfoses do kar O espao dos mekar A oposio vivos/mortos Os mortos e a consanginidade A eliminao da afinidade: a ausncia A . ~or~ologia da ald,eia. dos mortos Dlnannca e permanencla Captulo VIII: HERANA INEXISTE:NCIA A herana .. , O culto dos ancestrais: Concluso: OS MORTOS E CULTO

. . . . . . . de paham ......... . . SUA . . .

f

(?O

objetivo deste trabalho duplo: ~tltflr evid~nciar as re~~~.~J.:~!;iy.~~t"JQs, tentar esclarecer aspectos da noo:-~.Jie-ss~~ en~e ..o~ ndic:>s_~r~l~: . Estes dois propsitos exigem estratgias de abordagem distintas: o primeiro poder ser apreendido atravs degma anlise -~!-1h.-(i..~Ld9, labopdo.(;O:J1i~:J1~-rit~al e jurdico que' so as e }PJ'!g~ies funYJ4Ii.-.s ..das desries escatolgi~-~~~sgi-." ~e uma etnofisi~ enfim doconjuntog._~~PI~se_n~a_~_gue cercam a idia da morte. ~ O segiiiidtJ:,porm, s pode ser indiretamente buscado nas entn~lilhas" do primeiro, e requer, por assim dizer, tticas .sl'D-rephcIas, emboscadas que de repente surpreendam essa fugidia noo de pessoa. Pensou-se por bastante tempo, sobretudo na antropologia social britnica, que, ao antroplogo ou ao socilogo cabia to-somente o estudo das identificaes sociais, isto , no fundo, do status enquanto conjunto de direitos e deveres; seu objeto de estudo no podia ultrapassar a "persona" sem invadir os terrenos de caa da psicologia e portanto desnaturar-se enquanto tipo especfico de explicao. No entanto, Devons e Gluckman (1964) mostraram que as cincias humanas no se distinguem entre si pelos seus objetos mas pelas variveis que privilegiam e as relaes que entre elas visam a estabelecer. Tomar portanto a pessoa como objeto de estudo antropolgico, embora pudesse cheirar a heresia, se justifica enquanto se pretende procura de uma etnopsicologia, ou seja, tentativa de apreender l]ls categorias a que uma sociedade especfica recorre para elaborar sua noo de pessoa. Para tanto tivemos muito mais a aprender com a chamada corrente de "psicologia histrica", do que com antroplogos que a ortodoxia entrava em territrios melhor demarcados.

o

.\~ ~ ..\

DOS ANCESTRAIS:

sua inexistncia

,

SO OUTROS

HEFERE:NCIAS

BIBLIOGRFICAS

x

1

No se trata portanto somente, embora se trate primeiro, por uma questo de mtodo, de evidenciar a personalidade social. Para abordar este primeiro nvel, o da ..Ressoa revestida do seu status, a razo logstica da escolha do tema-da morte patente: IUqrte " no se satisfaz em destruir o que chamalllos organismo, mas inicia . tambm um pr()cesso de dissoluo do homem.Qc:ial,e isso em r) vrios estgios de seu ciclo de vida, Nos outros ritos que desde iJ , Van Gennep se convencionou chamar "de passagem", nascimento,J:y:;')& casamento, iniciao, o estgio no ciclo de vida (e eventualmente