Maria Catarina Azevedo - Poemas sobre o tempo e a escuridão

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1 Fotografia: M.ª Catarina Azevedo Escola Secundária Artística António Arroio 2011/2012 Disciplina de Português - Professora Elisabete Miguel Mª Catarina Azevedo nº18 10ºF

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Maria Catarina Azevedo, 10.º ano, n.º18, turma F, Escola Artística António Arroio - Disciplina de Português - Professora Eli

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Fotografia: M.ª Catarina Azevedo

Escola Secundária Artística António Arroio 2011/2012

Disciplina de Português - Professora Elisabete Miguel

Mª Catarina Azevedo nº18 10ºF

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Introdução

Como foi pedido, selecionei vinte poemas que tivessem um tema em comum,

fiz a respetiva ilustração, de pelo menos um deles, e escrevi um pequeno texto sobre o

porquê desta ilustração. Muitos textos têm em comum a crueldade do tempo, a

infelicidade do tempo passar depressa demais e de não se poder ter feito tudo o que

se queria fazer quando se podia.

Decidi escolher estes dois temas, o tempo e a escuridão, pois são os que eu

mais aprecio na poesia e são os que mais me interessam atualmente. Alguns dos

poemas, no entanto, fogem um pouco ao tema pois foi-me difícil encontrar uns de

que realmente gostasse.

Escrevi dois dos vinte poemas e traduzi a maior parte dos textos estrangeiros,

pois não encontrei a respetiva tradução. Peço já desculpa se houver algum erro grave.

Coloquei a versão original de cada um dos poemas estrangeiros nos anexos.

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Num Tempo Negro

“Num tempo negro, o olho começa a ver,

Eu encontro a minha sombra na escuridão aprofundada;

Eu oiço o meu eco no bosque ecoante - -

Um senhor da natureza a chorar para uma árvore.

Eu vivo entre a garça e a carriça,

Bestas da colina e serpentes do covil.

O que é a loucura senão a nobreza da alma

Em desacordo com a circunstância? O dia está em chamas!

Eu conheço a pureza do puro desespero,

A minha sombra presa contra uma parede suada.

Aquele sitio entre as rochas - - será uma caverna,

Ou um caminho enovelado? A borda é o que eu tenho.

Uma tempestade constante de correspondências!

Uma noite a fluir de pássaros, uma lua enraivecida,

E em pleno dia a meia-noite vem outra vez!

Um homem vai longe para descobrir o que ele é - -

A morte do próprio numa longa noite sem lágrimas,

Tudo formas naturais a resplandecer com uma luz não natural.

Negra, negra a minha luz, e negro o meu desejo.

A minha alma, como uma mosca enlouquecida pelo calor no verão,

Continua a zumbir no parapeito. Que eu sou eu?

Um homem caído, eu saio para fora do meu medo.

A mente entra em si própria, e Deus a mente,

E um é Um, livre no vento dilacerante.”

-Theodore Roethke, tradução minha

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Só de Restos se Consagra o Tempo

Só de restos se consagra o tempo, força

cerrada na inutilidade destas

cores campestres, quando o sol em Novembro

escurece os sobreiros. Só de restos me

espera a cerimónia de viver,

trânsito e transigência do silêncio,

ocultado no meu corpo. Só de restos

o trespassa o tempo, máscara e manto. Morro

muito antes da morte, sem saber se os anjos

foram gaivotas hirtas no piedoso

musgo dos rios ou se hão-de ser maçãs

ou ciência, loendros ou lembrança,

inocentes, lúcidos sonos ou oblata

de seda, a deus cedida, em pagamento

da paz. Só do que chega ao fim, se corrompe

e apodrece, se imagina o princípio,

a majestade das coisas, o silêncio

irrevelado que o corpo desconhece.

Orlando Loureiro Neves, in Mar que Futuro

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Menos Tempo

Menos tempo do que o que é preciso para dize-lo, menos lágrimas do que as que são

precisas para morrer; Eu tomei conta de tudo,

aqui o têm. Eu fiz um recenseamento das pedras, elas são tão numerosas como os

meus dedos e mais

alguns; Eu distribui alguns panfletos às plantas, mas nem todas estavam dispostas a

aceitá-los. Eu

fiz companhia com música por um segundo apenas e agora não sei o que pensar do

suicídio, pois

se eu alguma vez quiser separar-me de mim mesmo, a saída está deste lado e, eu

acrescento maliciosamente, a entrada, a

reentrada está no outro. Tu vês o que ainda tens a fazer. Horas, mágoa, eu

não guardo uma

contagem razoável deles; Estou sozinho, olho para fora da janela; não há nenhuma

pessoa a passar, ou melhor

nenhuma pessoa passa (sublinho passa). Não conheces este homem? É o senhor

OMesmo.

Deixe-me apresentar-lhe a madame Madame.

E as suas crianças. Depois volto atrás nos meus passos, os meus passos voltam atrás

também, mas eu não

sei exactamente a que é que eles voltam. Eu consulto um horário; os nomes das

cidades foram

substituídos pelos nomes das pessoas que me têm sido bastante próximas. Deverei ir

para A, regressar a B,

mudar em X? Sim, claro que vou mudar em X. Fornecido que eu não perca a ligação

com o aborrecimento!

Aqui estamos: o aborrecimento, as lindas paralelas, ah! Quão belas são as paralelas

sob a perpendicular

de Deus.

Andre Breton, tradução minha

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O Tempo Vive

O tempo vive, quando os homens, nele,

se esquecem de si mesmos,

ficando, embora, a contemplar o estreme

reduto de estar sendo.

O tempo vive a refrescar a sede

dos animais e do vento,

quando a estrutura estremece

a dura escuridão que, desde dentro,

irrompe. E fica com o uivo agreste

espantando o seu estrondo de silêncio.”

Fernando Echevarría, in Sobre os Mortos

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Podes, ó Tempo, Entrar: Eu Te Convido

Podes, ó Tempo, entrar: eu te convido

A ser hóspede meu, que eu nunca faço

Distinção quando és bom ou mau, pois passo

Os meus dias, de ti nunca esquecido.

Ou me batas à porta, enfurecido,

Envolto em furacões, com torvo braço,

Ou entres brandamente, passo a passo,

Cum sorriso na boca apetecido:

Ou me sejas contrário, ou venturoso,

Eu me acomodo a ti e a pouco custo,

Se visitar-me vens, tempestuoso.

Às tuas intenções sempre me ajusto.

Tu, a quem pensa, és sempre proveitoso:

Feliz quem te ama sem pavor nem susto.

Francisco Joaquim Bingre, in Sonetos

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O Tempo Gastador de Mil Idades

O Tempo gastador de mil idades,

Que na décima esfera vive e mora,

Não descansa co'a Fúria tragadora,

De exercitar, feroz, suas crueldades.

Ele destrói as ínclitas cidades,

As egípcias pirâmides devora:

Sua dentada fouce assoladora,

Rompe forças viris, destrói beldades.

O bronze, o ouro, o rígido diamante,

A sua mão pesada amolga e gasta

Levando tudo ao nada, em giro errante.

Como trovão feroz rugindo arrasta,

Quanto cobre na Terra o sol radiante,

Só da Virtude com temor se afasta.

Francisco Joaquim Bingre, in Sonetos

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Quão Breve Tempo é a Mais Longa Vida

Quão breve tempo é a mais longa vida

E a juventude nela! Ah!, Cloe, Cloe,

Se não amo nem bebo,

Nem sem querer não penso,

Pesa-me a lei inimplorável, dói-me

A hora invicta, o tempo que não cessa,

E aos ouvidos me sobe

Dos juncos o ruído

Na oculta margem onde os lírios frios

Da ínfera leiva crescem, e a corrente

Não sabe onde é o dia,

Sussurro gemebundo.

Ricardo Reis, in Odes

Heterónimo de Fernando Pessoa

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Eu não Quero o Presente, Quero a Realidade

Vive, dizes, no presente,

Vive só no presente.

Mas eu não quero o presente, quero a realidade;

Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.

O que é o presente?

É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.

É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.

Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.

Não quero incluir o tempo no meu esquema.

Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas

como cousas.

Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.

Eu nem por reais as devia tratar.

Eu não as devia tratar por nada.

Eu devia vê-las, apenas vê-las;

Vê-las até não poder pensar nelas,

Vê-las sem tempo, nem espaço,

Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.

É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.

Alberto Caeiro, in Poemas Inconjuntos

Heterónimo de Fernando Pessoa

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Tempo

O tempo é um velho corvo

de olhos turvos, cinzentos.

Bebe a luz destes dias só dum sorvo

como as corujas o azeite

dos lampadários bentos.

E nós sorrimos,

pássaros mortos

no fundo dum paul

dormimos.

Só lá do alto do poleiro azul

o sol doirado e verde,

o fulvo papagaio

(estou bêbedo de luz,

caio ou não caio?)

nos lembra a dor do tempo que se perde.

Carlos de Oliveira, in Colheita Perdida

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Tempo Revisitado

O tempo a que sempre regressamos

e nos visita um instante

O tempo que depois destruímos

construímos e ali-

mentamos se nos

alimenta

O tempo onde a luz buscamos e

a morte sempre

encontramos.

Casimiro de Brito, in Mesa do Amor

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Apocalipse

Quando passa o tempo, as coisas

retornam aos elementos. E as cria-

turas. Para a transformação

final. Mas nem o fim

permanece. O cardume dos lagos

que morre embranquecido

por fim é de água. Os boquilobos

multicolores na beira das áleas

caem na terra e são terra.

Fiama Hasse Pais Brandão, in Três Rostos - Ecos

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Inscrição

Os velhos deixam o mundo

felizes

o seu peso

os filhos descansam do cuidado

e imaginam a partida

choram a finitude quando ainda os sentem

no leito de morte

na dor quotidiana dos últimos dias

amam a distância das horas fugidias

por vezes os mortos pensam as flores

oferecidas

grinaldas coroas

e vão sublimes em direcção à terra condividida

cósmica.

José Maria de Aguiar Carreiro, in Chuva de Época

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Dia

De que céu caído,

oh insólito,

imóvel solitário na onda do tempo?

És a duração,

o tempo que amadurece

num instante enorme, diáfano:

flecha no ar,

branco embelezado

e espaço já sem memória de flecha.

Dia feito de tempo e de vazio:

desabitas-me, apagas

meu nome e o que sou,

enchendo-me de ti: luz, nada.

E flutuo, já sem mim, pura existência.

Octavio Paz, in Liberdade sob Palavra

Tradução de Luis Pignatelli

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Sou Uma Criatura

Como esta pedra

de São Miguel

assim fria

assim dura

assim enxuta

assim refractária

assim totalmente

desanimada

Como esta pedra

é o meu pranto

que não se vê

A morte

desconta-se

vivendo.

Giuseppe Ungaretti, in Sentimento do Tempo

Tradução de Jorge de Sena

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O Relógio

Pára-me um tempo por dentro

passa-me um tempo por fora.

O tempo que foi constante

no meu contratempo estar

passa-ma agora adiante

como se fosse parar.

Por cada relógio certo

no tempo que sou agora

há um tempo descoberto

no tempo que se demora.

Fica-me o tempo por dentro

passa-me o tempo por fora.

José Carlos Ary dos Santos, in Obra Poética

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Assombrado

Palavras há muito perdidas são-me lentamente sussurradas Ainda assim não consigo descobrir o que me mantém aqui

Quando durante todo este tempo tenho estado tão vazio por dentro

Eu sei que ainda aqui estás

A observar-me, a desejar-me

Eu consigo sentir-te a puxares-me para baixo

Temendo-te, amando-te

Não deixarei que me puxes para baixo

Caçando-te, eu consigo cheirar-te – vivo

O teu coração a palpitar na minha cabeça

A observar-me, a desejar-me

Eu consigo sentir-te a puxares-me para baixo

A salvar-me, a violar-me

A observar-me

Evanescence do CD Fallen

Tradução minha

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Tempo

Tempo — definição da angústia.

Pudesse ao menos eu agrilhoar-te

Ao coração pulsátil dum poema!

Era o devir eterno em harmonia.

Mas foges das vogais, como a frescura

Da tinta com que escrevo.

Fica apenas a tua negra sombra:

— O passado,

Amargura maior, fotografada.

Tempo...

E não haver nada,

Ninguém,

Uma alma penada

Que estrangule a ampulheta duma vez!

Que realize o crime e a perfeição

De cortar aquele fio movediço

De areia

Que nenhum tecelão

É capaz de tecer na sua teia!

Miguel Torga, in Cântico do Homem

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O Tempo

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!

Quando de vê, já é sexta-feira!

Quando se vê, já é natal...

Quando se vê, já terminou o ano...

Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.

Quando se vê passaram 50 anos!

Agora é tarde demais para ser reprovado...

Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.

Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das

horas...

Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...

E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.

Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.

A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Mário Quintana

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O Escritor Frustrado

Ele conta as palavras já escritas pelos dedos,

Que para ele não são suficientes.

Passam as horas, passam os dias, passa o tempo,

E o papel continua quase em branco.

A tinta escorre pela caneta,

Ansiosa por criar,

Mas ele, cruel e insensato,

Atira-a ao chão.

Olhando à volta, não vê ninguém,

Perpetua então um dos seus vícios, fumar,

Hábito feio que muitos escritores têm,

Irão ter, ou são obrigados a deixar de ter.

Sai do quarto escuro, directo para a luz do dia,

Distrai-se, observa, vive a vida,

Vê o tempo passar,

E, por fim, inspira-se.

Engraçado como o mundo lá fora,

Tão luminoso e colorido,

Lhe dão ideais que são totalmente o oposto.

Vá-se lá saber o que se passa na mente dos escritores.

Maria Catarina Azevedo

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Simplesmente Não Pára

O relógio dá meia volta;

O desespero desembaraça-se,

Cria pontas soltas

E o tempo não pára.

Dou um grito,

Ninguém se importa;

Se a vida é um rei, eu sou um mero súbdito

E o tempo não pára.

Se o culpado sou eu

Porque choro?

Não consigo decidir este sentimento meu,

Se te odeio, se te adoro

E o tempo não pára.

Presta atenção,

A história está a acabar,

Mãos frias do vazio virão para me vir buscar;

E o relógio cai ao chão.

Ainda assim não sinto nada,

Nem sequer o abraço do desespero;

O relógio dá a última badalada,

Depois silêncio, escuridão, zero

Maria Catarina Azevedo

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Ilustração do poema “Simplesmente Não Pára”

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Explicação da ilustração do poema “Simplesmente Não Pára”

Neste desenho, que eu fiz digitalmente usando uma pen tablet e um programa

de desenho chamado SAI, o rapaz/humano apresenta-se num estado frágil e em

sofrimento e representa o ‘eu interior’ do poeta. O poema fala sobre o não querer

seguir em frente, querer ser amado, depressão, sentimentos confusos, é por isso que o

desenho em si, também é um pouco confuso. O humano tem a boca cozida, porque

apesar de querer falar, dizer como se sente, ser consolado, ele tem medo e vergonha.

As mãos, todas diferentes, representam tanto os monstros interiores como os

exteriores do rapaz, e estas estão a puxá-lo para um caminho novo que ele não quer

seguir, pois ele não aceita bem o desconhecido.

Usei uma escala de cinzentos, exceptuando o vermelho do sangue, para acentuar a

escuridão em volta do humano. O vermelho do sangue mostra que, apesar de não o

querer mostrar aos outros, o rapaz sente, e bastante.

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Ilustração do poema “O Escritor Frustrado”

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Conclusão

E assim concluo o meu trabalho. Gostei de o fazer e penso que cumpri os meus

objetivos. Apenas tenho pena de não ter conseguido encontrar um maior número de

poemas relativos a estes dois temas.

Dos poemas selecionados, o que mais me tocou foi O Tempo Vive, de Fernando

Echevarría.

Em relação às ilustrações, fi-las com tons acinzentados pois creio que assim

combinam melhor com o trabalho em si. Decidi utilizar o meio digital pois tenho mais

controlo e posso usar uma maior quantidade de tonalidades e texturas. Também

considerei pertinente colocar, em anexo, não só as versões originais dos textos que,

na falta de uma versão portuguesa, ousei traduzir como os outros textos de autores

estrangeiros.

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Webgrafia

Sítios que, ao longo da elaboração deste trabalho (janeiro e fevereiro,) utilizei:

www.citador.pt

www.famouspoetsandpoems.com

www.partidodoritmo.blogspot.com

www.poemasde.net

www.schaberries.wordpress.com

www.poetry-archive.com

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ANEXOS

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In a Dark Time

In a dark time, the eye begins to see,

I meet my shadow in the deepening shade;

I hear my echo in the echoing wood--

A lord of nature weeping to a tree.

I live between the heron and the wren,

Beasts of the hill and serpents of the den.

What's madness but nobility of soul

At odds with circumstance? The day's on fire!

I know the purity of pure despair,

My shadow pinned against a sweating wall.

That place among the rocks--is it a cave,

Or winding path? The edge is what I have.

A steady storm of correspondences!

A night flowing with birds, a ragged moon,

And in broad day the midnight comes again!

A man goes far to find out what he is--

Death of the self in a long, tearless night,

All natural shapes blazing unnatural light.

Dark, dark my light, and darker my desire.

My soul, like some heat-maddened summer fly,

Keeps buzzing at the sill. Which I is I?

A fallen man, I climb out of my fear.

The mind enters itself, and God the mind,

And one is One, free in the tearing wind.

Theodore Roethke

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Moins de temps

Moins de temps qu'il n'en faut pour le dire, moins de larmes qu'il n'en faut pour

mourir : j'ai tout compté,

voilà. J'ai fait le recensement des pierres; elles sont au nombre de mes doigts et de

quelques

autres; j'ai distribué des prospectus aux plantes, mais toutes n'ont pas voulu les

accepter. Avec

la musique j'ai lié partie pour une seconde seulement et maintenant je ne sais plus

que penser du suicide car,

si je veux me séparer de moi-même, la sortie est de ce côté et, j’ajoute

malicieusement : l'entrée, la

rentrée de cet autre côté. Tu vois ce qu'il te reste à faire. Les heures, le chagrin, je n'en

tiens pas un

compte raisonnable; je suis seul, je regarde par la fenêtre; il ne passe personne, ou

plutôt

personne ne passe (je souligne passe). Ce Monsieur, vous ne le connaissez pas ? C’est

Monsieur Lemême. je vous présente Madame Madame.

Et leurs enfants. Puis je reviens sur mes pas, mes pas reviennent aussi mais je ne

sais pas exactement sur quoi ils reviennent. je consulte un horaire; les noms de villes

ont été

remplacés par des noms de personnes qui m'ont touché d'assez près. Irai-je à A,

retournerai-je à B,

changerai-je à X? Oui, naturellement, je changerai à X. Pourvu que je ne manque pas

la correspondance avec l'ennui!

Nous y sommes : l'ennui, les belles parallèles, ah! que les parallèles sont belles sous la

perpendiculaire

de Dieu.

Andre Breton

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Día

¿De qué cielo caído,

oh insólito,

inmóvil solitario en la ola del tiempo?

Eres la duración,

el tiempo que madura

en un instante enorme, diáfano:

flecha en el aire,

blanco embelesado

y espacio sin memoria ya de flecha.

Día hecho de tiempo y de vacío:

me deshabitas, borras

mi nombre y lo que soy,

llenándome de ti: luz, nada.

Y floto, ya sin mí, pura existencia.

Octávio Paz, in Liberdade sob Palavra

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Sono Una Creatura

Come questa pietra

del S.Michele

così freda

così dura

così prosciugata

così refrattaria

così totalmente

disanimata

Come questa pietra

è il mio pianto

che no si vede

La morte

si sconta

vivendo.

Giuseppe Ungaretti, in Sentimento do Tempo

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Haunted Long lost words whisper slowly to me

Still can't find what keeps me here

When all this time I've been so hollow inside

I know you're still there

Watching me, wanting me

I can feel you pull me down

Fearing you, loving you

I won't let you pull me down

Hunting you, I can smell you - alive

Your heart pounding in my head

Watching me, wanting me

I can feel you pull me down

Saving me, raping me

Watching me

Evanescence, Fallen

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ÍNDICE

Introdução __…__3 Num tempo negro; Theodore Roethke__…__5

Só de Restos se Consagra o Tempo; Orlando Neves__…__6

Menos tempo; Andre Breton__…__7

O Tempo Vive; Fernando Echevarría…8

Podes Entrar Ó Tempo: Eu Te Convido; Francisco Bingre__…__9

O Tempo Gastador de Mil Idades; Francisco Bingre__…__10

Quão Breve Tempo é a Mais Longa Vida; Ricardo Reis__…__11

Eu não Quero o Presente, Quero a Realidade; Alberto Caeiro__…__12

Tempo; Carlos de Oliveira__…__13

Tempo Revisitado; Casimiro de Brito…14

Apocalipse; Fiama Brandão…15

Inscrição; José Carreiro…16

Día; Octavio Paz…17

Sono Una Creatura; Giuseppe Ungaretti…18

O Relógio; José dos Santos…19

Assombrado; Evanescence…20

Tempo; Miguel Torga…21

O Tempo; Mário Quintana…22

O Escritor Frustrado; Maria Catarina Azevedo…23

Simplesmente Não Pára; Maria Catarina Azevedo…24

Ilustração do poema Simplesmente Não Pára…25

Explicação da ilustração do poema Simplesmente Não Pára__…__26

Ilustração do poema ‘O Escritor Frustrado’__…__27

Conclusão__…__28

Webgrafia__…__29

Anexos__…__31