Maria Cristina Guimaraes A RELIGIOSIDADE NA...

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Maria Cristina Guimaraes A RELIGIOSIDADE NA OBRA DE LUCIO RIBEIRO Monografia para conclusao de curso apresentada ao curso de p6s-graduayao em Poeticas Contemporaneas no Ensino da Arte da Universidade Tuiuti do Parana como requisito para a obtencao do titulo. Prof.aDr Andrea Cristina Lisboa de Miranda ,/ PONTA GROSSA 2006

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Maria Cristina Guimaraes

A RELIGIOSIDADE NA OBRA DE LUCIO RIBEIRO

Monografia para conclusao de curso apresentadaao curso de p6s-graduayao em PoeticasContemporaneas no Ensino da Arte daUniversidade Tuiuti do Parana como requisito paraa obtencao do titulo

ProfaDr Andrea Cristina Lisboa de Miranda

PONTA GROSSA2006

USTA DE FIGURAS

FIGURA 1- ESTAyAO ARTE PONTA GROSSA 19

FIGURA 2 - LILITH CRUCIFICADA 19

FIGURA 3- VILA HILDA PONTA GROSSA 20

FIGURA 4- OBRA SEM TITULO20

FIGURA 5- PULP ITO DA IGREJA N SRA DE GUADALUPE21

FIGURA 6 - MOSTEIRO DA RESSURRElyAO 21

FIGURA 7- BiBLIA DE LUCIO RIBEIRO22

FIGURA 8 - ILUSTRAyAO LlVRO DAS PALAVRAS 23

FIGURA 9- AUTO RETRATO 124

FIGURA 10- HOMEM ANGUSTIADO 25

FIGURA 11- PALHAyO 125

FIGURA 12- PALHAyO 2 27

FIGURA 13- AUTO RETRATO 2 27

FIGURA 14- AL TRulsMO DISCRETO 28

FIGURA 15- CAPA DO EVANGELIARIO 29

FIGURA 16- NOlTE DE NATAL 30

FIGURA 17-ANUNCIAyAO DO NASCIMENTO DE JESUS AOSPASTORES 31

FIGURA 18- VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS 32

FIGURA 19- ADORAyAO A VIRGEM MARIA 32

FIGURA 20 - ADORAyAO DOS REIS MAGOS 33

FIGURA 21- o REGRESSO DOS REIS MAGOS 34

SUMARIO

INTRODUCAO 5

2 FUNDAMENTACAO TEO RICA 7

21 BIOGRAFIA DO ARTISTA 7

22 MOSTEIRO DA RESSURREIltAO 8

23 INFLUENCIAS 11

3 CAMINHOS PERCORRIDOS 19

4 OBRAS 24

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS 24

42 ILUMINURAS DO EVANGELIARIO 29

CONSIDERACOES FINAlS 36

6 REFERENCIAS 39

RESUMO

o objetivo deste trabalho e levantar dados relevantes da obra de Lucio Ribeiroparticularmente no que S8 refere a rela~ao arte e religiao assim como mostrar agrande producao do mesma para que venha ao conhecimento do publico em gera1 evisa tambern a valorizacao do artista local Para isto apresenta-se no inicio quem edeg artista estudado deg que e deg Mosteiro da RessurreiGao onde deg artista viveu seusultimos anos de vida e depois e feita uma pesquisa bibliografica sabre as influemciasartisticas que cercaram a obra de Lucio Ribeiro Segue-se com 0 resultado obtidocom a pesquisa de campo nos lugares que tiveram relacao com 0 artista e mostram-S8 algumas obras para que S8 possa ter uma visao de como eram seus trabalhosPar ultimo analisam-se trabalhos com aspectos religiosos produzidos antes edepois do ingresso do artista na vida monastica e como a religiosidade sempre fezparte da vida e obra do mesma E passivel afirmar que a pesquisa 0 cantata compessoas relacionadas ao artista estudado principalmente 0 manuseio e registro dasobras fcram fatcres determinantes e necessarios para a com preen sao da obra deLucio Ribeiro

Palavras-chave Arte Religiao Lucio Ribeiro

1 INTRODUCAO

Atualmente observamos inumeras publicacoes com excelentes fotes de

obras de artistas do mundo todD inclusive do Brasil Tambem na internet 5e tern

acesso a varies museus e galerias virtuais Entretanto existe urn grande abismo

entre tudo isto e a arte produzida a nivel regional

E muito ditieil encontrar alguem que nao tenha vista uma reproducao au

ouvido falar sabre a Mona Lisa de Leonardo da Vinci mas e muito raro encontrar

alguem que conheca uma obra ou urn artista de sua cidade Par isse considerou-se

ser de extrema importancia 0 resgate das obras em registro academico de urn artista

local para a valorizacao do pensamento artistico e a memoria cultural da cidade

Escolheu-se trabalhar a respeito de urn artista local Lucio Mauro Ribeiro

que e pouco conhecido apesar de existir uma galeria em seu nome cujo artista

recebeu em urna home nag em postuma Inicia-se 0 trabalho falando sobre quem e

Lucio Mauro Ribeiro e em seguida tern-se algumas informac6es acerca do Mosteiro

da Ressurreicao onde Lucio se tornou monge e viveu ate sua morte As obras

estudadas neste trabalho fazem parte do acervo do Mosteiro da Ressurreicao sao

obras produzidas antes e depois da entrada de Lucio ao mosteiro

Continua-se 0 trabalho com infarmac6es sobre os movimentos e artistas que

influenciaram as obras do artista em primeiro lugar fala-se sobre 0 movimento

expressionista suas raizes e caracteristicas depois sobre alguns artistas como

Egon Schiele que tem suas caracteristicas bern visiveis nos desenhos produzidos

pelo artista estudado e a maiaria destes desenhos gravuras e aquarelas foram

produzidos antes de Lucio ingressar para a vida monastica

Na sequencia comenta-se sobre a Arte Bizantina que tern como uma das

formas de expressao os manuscritos com iluminuras que tern referencia com 0

evangeliario produzido por Lucio serao citadas algumas caractersticas e 0 parque

da existencia destes livros

Par ultimo descreve-se a metodologia usada para 0 levantamento das obras

e a analise de algumas obras escolhidas como referencia ja que sua producao e

vasta e que possam dar urn aspecto geral de como 0 artista trabalhou de diferentes

formas a religiosidade em sua obra

2 FUNDAMENTACAO TEORICA

21 BIOGRAFIA DO ARTISTA

Lucio Mauro Ribeiro (1972 - 2002) Nasceu na cidade de Arapoti Parana e

radicou-se em Ponta Grossa Parana cnde comecou a participar de eventos

artisticos trabalhando diferentes linguagens como desenho teatro e dan9a Formado

no curso Superior de Pintura na Escola de Musica e belas Artes do Parana

aprimorou-se em desenho gravura 1 e pintura

Participante ativo da nova geracao de artistas visuais em 1994 obteve sua

principal premia9ao no Salao Curitiba Arte 10 com 0 1deg Premio contemplado com

uma viagem de estudos a China pel a obra 0 Jardim das Oliveiras

Participou em exposic6es coletivas como a 1a Mostra de Novas Artistas do

Lapis em 1988 no SENAC em Ponta Grossa Parana recebendo 0 Premio

Revelacao par varios anos participou de exposilt6es no Centro de Cultura tambem

em Penta Grossa

Oesde sua chegada em Curitiba para fazer a faculdade de Artes participou

de inumeros saloes como em 1993 0 XXIII Sa lao da Primavera no Clube

Concordia as Freqiientadores 93 na Sala Gilda Belzack no Solar do Baraa e no

Museu da Gravura de Curitiba Em 1994 no 11deg Salao Banestado de artistas ineditos

na Galeria Banestado Ga foi men cion ado anteiormente) Recebeu tambem a 1deg

premia na Salao da Escola de Musica e Belas Artes do Parana No mesma ana

1 De um modo geral chama-se gravura 0 multiplo de uma Obra de Arte reproduzida a partir de umamatriz Mas Irata-se aqui de um reprodu~o numerada e assinada uma a uma compondo destaforma uma edicao restrita diferente do poster que e um produto de processos graficos automaticose reproduzido em Jargaescala sem a intervenraodo artistaUm carimbo pode ser a matriz de urna gravura a grosso modo Mas quando esse carimbo e fruto daeabora~o e manipulayao minuciosa de um artista temos um original - uma matriz - de ondesurgirao as imagens que levarao um titulo uma assinatura a data e a numerayao que a identificamdentro da produrao desse artista torna-se uma Obra de Arte Podem ser feitas namadeira(xilogravura) no metal na pedra (litografia) serigrafia e no lin6leomiddot (FontehttplIwwwcasadacuJturaorgarteJArtigos_o_que_e_arte_definicoeslgr01gravura_conceito_histhtml)

participou do Salao do Mar no Museu da Esta~80em Antonina Parana ja no ano de

1995 participou de coletivas na Galeria do INTER - Centro Cultura Brasil- Estados

Unidos em Curitiba e do salao Indicados 94 da Sala Miguel Bakun tambern em

Curitiba

No ano de 1996 participou da Pintura do 4deg Ano da Escola de Musica e

Belas Artes do Parana Em 1997 em parceria com Miguel Nicolau Neto no SESC

de Ponta Grossa fez a exposiao 199 com mais de 500 desenhos em papel A4

pendurados em varais Ja em 1998 tambem no SESC - Ponta Grossa participou no

3deg Encontro de Artistas Plasticos Pontagrossenses e da produCao de paineis para 0

evento Folclore de nossa gente no clube Princesa dos Campos tambem em Ponta

Grossa

Lucio fez exposi~5es individuais em Ponta Grossa no periodo de 1991 a

1997 em varios locais como 0 SESC Galeria Banestado Caixa Econ6mica Federal

Centro de Cultura e na Estayao Arte que possui desde 2003 a sala Lucio Ribeiro e

de onde foram obtidas as primeiras informa~oessobre a vida e obra do Lucio Em

Curitiba tambem fez individuais em 1994 no Restaurante Tiziano e no Espayo das

Artes

Eram varias as tecnicas que Lucio usou em suas exposiyoes como 0

desenho a pintura a gravura e tambem algumas tecnicas mistas Em junho de 1999

ingressou no Mosteiro da Ressurreiy80 situado em Ponta Grossa e la trabalhou

iluminuras e pinturas de tema religioso ate a sua morte em 4 de julho de 2002

22 MOSTEIRO DA RESSURREHAo

o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da

clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das

persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no

inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco

de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e

a simplicidade de suas origens fossem abafados

Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do

deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro

com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais

Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre

se conservou na Igreja

A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao

mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e

nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge

nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos

bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de

sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro

Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas

conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna

disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida

par urn mestre e urna comunidade

Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e

entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida

em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se

10

naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de

oferenda e como servi90 aos horn ens

o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -

foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de

Sao Bento de Sao Paulo

A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase

desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio

no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do

conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em

comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja

Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da

Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria

Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para

ende a comunidade se transladeu no ana seguinte

o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando

sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes

de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de

Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de

Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya

jovialidade espontaneidade e de simplicidade

A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que

desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro

oferece

E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a

trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros

II

personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou

a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu

traco expressionista caracteristico

23 -INFLUENCIAS

A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a

alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da

chamada vanguarda hist6rica do seculo xx

o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade

industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma

visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico

o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor

frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi

empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao

da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a

maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain

Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias

impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as

novissimas direc6es da arte francesa

Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado

te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se

tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por

artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie

12

de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer

manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de

expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em

1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais

consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)

ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam

parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que

eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se

integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van

Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris

Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de

tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes

da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de

verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento

convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a

intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es

emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas

tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam

estes temas mais livre e arrebatador

Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde

afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de

arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia

Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)

13

o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria

ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma

associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao

individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e

buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural

conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de

comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica

(BEHR 2001 p19)

o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e

temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e

Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram

sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a

xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste

trabalho

Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa

autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao

e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele

pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a

escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992

p240)

Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a

expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das

caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a

valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao

presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt

U

14

corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus

impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das

figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania

Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se

desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem

se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a

gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao

estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi

urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense

Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter

(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este

grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado

p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira

Guerra Mundial

Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de

Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior

sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo

grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas

do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e

Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e

Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix

produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos

primeiros tempos

Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as

demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial

15

Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que

este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8

importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade

maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas

e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio

do seculo XX

o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas

vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi

conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde

desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus

desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn

breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram

queimados

Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido

como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para

Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo

relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim

mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio

Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta

tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo

nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um

expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na

16

emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997

p171)

A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado

em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0

ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a

religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0

material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa

proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade

de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a

Igreja que estabelecia 0 dogma

o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus

Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em

suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de

hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao

pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que

as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte

manuscritos com iluminuras sao

Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)

Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em

masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras

17

foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001

p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser

condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor

das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

arte do Ocidente Medieval

Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

USTA DE FIGURAS

FIGURA 1- ESTAyAO ARTE PONTA GROSSA 19

FIGURA 2 - LILITH CRUCIFICADA 19

FIGURA 3- VILA HILDA PONTA GROSSA 20

FIGURA 4- OBRA SEM TITULO20

FIGURA 5- PULP ITO DA IGREJA N SRA DE GUADALUPE21

FIGURA 6 - MOSTEIRO DA RESSURRElyAO 21

FIGURA 7- BiBLIA DE LUCIO RIBEIRO22

FIGURA 8 - ILUSTRAyAO LlVRO DAS PALAVRAS 23

FIGURA 9- AUTO RETRATO 124

FIGURA 10- HOMEM ANGUSTIADO 25

FIGURA 11- PALHAyO 125

FIGURA 12- PALHAyO 2 27

FIGURA 13- AUTO RETRATO 2 27

FIGURA 14- AL TRulsMO DISCRETO 28

FIGURA 15- CAPA DO EVANGELIARIO 29

FIGURA 16- NOlTE DE NATAL 30

FIGURA 17-ANUNCIAyAO DO NASCIMENTO DE JESUS AOSPASTORES 31

FIGURA 18- VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS 32

FIGURA 19- ADORAyAO A VIRGEM MARIA 32

FIGURA 20 - ADORAyAO DOS REIS MAGOS 33

FIGURA 21- o REGRESSO DOS REIS MAGOS 34

SUMARIO

INTRODUCAO 5

2 FUNDAMENTACAO TEO RICA 7

21 BIOGRAFIA DO ARTISTA 7

22 MOSTEIRO DA RESSURREIltAO 8

23 INFLUENCIAS 11

3 CAMINHOS PERCORRIDOS 19

4 OBRAS 24

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS 24

42 ILUMINURAS DO EVANGELIARIO 29

CONSIDERACOES FINAlS 36

6 REFERENCIAS 39

RESUMO

o objetivo deste trabalho e levantar dados relevantes da obra de Lucio Ribeiroparticularmente no que S8 refere a rela~ao arte e religiao assim como mostrar agrande producao do mesma para que venha ao conhecimento do publico em gera1 evisa tambern a valorizacao do artista local Para isto apresenta-se no inicio quem edeg artista estudado deg que e deg Mosteiro da RessurreiGao onde deg artista viveu seusultimos anos de vida e depois e feita uma pesquisa bibliografica sabre as influemciasartisticas que cercaram a obra de Lucio Ribeiro Segue-se com 0 resultado obtidocom a pesquisa de campo nos lugares que tiveram relacao com 0 artista e mostram-S8 algumas obras para que S8 possa ter uma visao de como eram seus trabalhosPar ultimo analisam-se trabalhos com aspectos religiosos produzidos antes edepois do ingresso do artista na vida monastica e como a religiosidade sempre fezparte da vida e obra do mesma E passivel afirmar que a pesquisa 0 cantata compessoas relacionadas ao artista estudado principalmente 0 manuseio e registro dasobras fcram fatcres determinantes e necessarios para a com preen sao da obra deLucio Ribeiro

Palavras-chave Arte Religiao Lucio Ribeiro

1 INTRODUCAO

Atualmente observamos inumeras publicacoes com excelentes fotes de

obras de artistas do mundo todD inclusive do Brasil Tambem na internet 5e tern

acesso a varies museus e galerias virtuais Entretanto existe urn grande abismo

entre tudo isto e a arte produzida a nivel regional

E muito ditieil encontrar alguem que nao tenha vista uma reproducao au

ouvido falar sabre a Mona Lisa de Leonardo da Vinci mas e muito raro encontrar

alguem que conheca uma obra ou urn artista de sua cidade Par isse considerou-se

ser de extrema importancia 0 resgate das obras em registro academico de urn artista

local para a valorizacao do pensamento artistico e a memoria cultural da cidade

Escolheu-se trabalhar a respeito de urn artista local Lucio Mauro Ribeiro

que e pouco conhecido apesar de existir uma galeria em seu nome cujo artista

recebeu em urna home nag em postuma Inicia-se 0 trabalho falando sobre quem e

Lucio Mauro Ribeiro e em seguida tern-se algumas informac6es acerca do Mosteiro

da Ressurreicao onde Lucio se tornou monge e viveu ate sua morte As obras

estudadas neste trabalho fazem parte do acervo do Mosteiro da Ressurreicao sao

obras produzidas antes e depois da entrada de Lucio ao mosteiro

Continua-se 0 trabalho com infarmac6es sobre os movimentos e artistas que

influenciaram as obras do artista em primeiro lugar fala-se sobre 0 movimento

expressionista suas raizes e caracteristicas depois sobre alguns artistas como

Egon Schiele que tem suas caracteristicas bern visiveis nos desenhos produzidos

pelo artista estudado e a maiaria destes desenhos gravuras e aquarelas foram

produzidos antes de Lucio ingressar para a vida monastica

Na sequencia comenta-se sobre a Arte Bizantina que tern como uma das

formas de expressao os manuscritos com iluminuras que tern referencia com 0

evangeliario produzido por Lucio serao citadas algumas caractersticas e 0 parque

da existencia destes livros

Par ultimo descreve-se a metodologia usada para 0 levantamento das obras

e a analise de algumas obras escolhidas como referencia ja que sua producao e

vasta e que possam dar urn aspecto geral de como 0 artista trabalhou de diferentes

formas a religiosidade em sua obra

2 FUNDAMENTACAO TEORICA

21 BIOGRAFIA DO ARTISTA

Lucio Mauro Ribeiro (1972 - 2002) Nasceu na cidade de Arapoti Parana e

radicou-se em Ponta Grossa Parana cnde comecou a participar de eventos

artisticos trabalhando diferentes linguagens como desenho teatro e dan9a Formado

no curso Superior de Pintura na Escola de Musica e belas Artes do Parana

aprimorou-se em desenho gravura 1 e pintura

Participante ativo da nova geracao de artistas visuais em 1994 obteve sua

principal premia9ao no Salao Curitiba Arte 10 com 0 1deg Premio contemplado com

uma viagem de estudos a China pel a obra 0 Jardim das Oliveiras

Participou em exposic6es coletivas como a 1a Mostra de Novas Artistas do

Lapis em 1988 no SENAC em Ponta Grossa Parana recebendo 0 Premio

Revelacao par varios anos participou de exposilt6es no Centro de Cultura tambem

em Penta Grossa

Oesde sua chegada em Curitiba para fazer a faculdade de Artes participou

de inumeros saloes como em 1993 0 XXIII Sa lao da Primavera no Clube

Concordia as Freqiientadores 93 na Sala Gilda Belzack no Solar do Baraa e no

Museu da Gravura de Curitiba Em 1994 no 11deg Salao Banestado de artistas ineditos

na Galeria Banestado Ga foi men cion ado anteiormente) Recebeu tambem a 1deg

premia na Salao da Escola de Musica e Belas Artes do Parana No mesma ana

1 De um modo geral chama-se gravura 0 multiplo de uma Obra de Arte reproduzida a partir de umamatriz Mas Irata-se aqui de um reprodu~o numerada e assinada uma a uma compondo destaforma uma edicao restrita diferente do poster que e um produto de processos graficos automaticose reproduzido em Jargaescala sem a intervenraodo artistaUm carimbo pode ser a matriz de urna gravura a grosso modo Mas quando esse carimbo e fruto daeabora~o e manipulayao minuciosa de um artista temos um original - uma matriz - de ondesurgirao as imagens que levarao um titulo uma assinatura a data e a numerayao que a identificamdentro da produrao desse artista torna-se uma Obra de Arte Podem ser feitas namadeira(xilogravura) no metal na pedra (litografia) serigrafia e no lin6leomiddot (FontehttplIwwwcasadacuJturaorgarteJArtigos_o_que_e_arte_definicoeslgr01gravura_conceito_histhtml)

participou do Salao do Mar no Museu da Esta~80em Antonina Parana ja no ano de

1995 participou de coletivas na Galeria do INTER - Centro Cultura Brasil- Estados

Unidos em Curitiba e do salao Indicados 94 da Sala Miguel Bakun tambern em

Curitiba

No ano de 1996 participou da Pintura do 4deg Ano da Escola de Musica e

Belas Artes do Parana Em 1997 em parceria com Miguel Nicolau Neto no SESC

de Ponta Grossa fez a exposiao 199 com mais de 500 desenhos em papel A4

pendurados em varais Ja em 1998 tambem no SESC - Ponta Grossa participou no

3deg Encontro de Artistas Plasticos Pontagrossenses e da produCao de paineis para 0

evento Folclore de nossa gente no clube Princesa dos Campos tambem em Ponta

Grossa

Lucio fez exposi~5es individuais em Ponta Grossa no periodo de 1991 a

1997 em varios locais como 0 SESC Galeria Banestado Caixa Econ6mica Federal

Centro de Cultura e na Estayao Arte que possui desde 2003 a sala Lucio Ribeiro e

de onde foram obtidas as primeiras informa~oessobre a vida e obra do Lucio Em

Curitiba tambem fez individuais em 1994 no Restaurante Tiziano e no Espayo das

Artes

Eram varias as tecnicas que Lucio usou em suas exposiyoes como 0

desenho a pintura a gravura e tambem algumas tecnicas mistas Em junho de 1999

ingressou no Mosteiro da Ressurreiy80 situado em Ponta Grossa e la trabalhou

iluminuras e pinturas de tema religioso ate a sua morte em 4 de julho de 2002

22 MOSTEIRO DA RESSURREHAo

o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da

clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das

persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no

inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco

de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e

a simplicidade de suas origens fossem abafados

Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do

deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro

com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais

Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre

se conservou na Igreja

A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao

mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e

nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge

nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos

bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de

sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro

Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas

conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna

disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida

par urn mestre e urna comunidade

Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e

entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida

em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se

10

naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de

oferenda e como servi90 aos horn ens

o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -

foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de

Sao Bento de Sao Paulo

A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase

desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio

no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do

conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em

comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja

Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da

Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria

Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para

ende a comunidade se transladeu no ana seguinte

o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando

sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes

de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de

Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de

Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya

jovialidade espontaneidade e de simplicidade

A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que

desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro

oferece

E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a

trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros

II

personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou

a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu

traco expressionista caracteristico

23 -INFLUENCIAS

A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a

alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da

chamada vanguarda hist6rica do seculo xx

o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade

industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma

visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico

o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor

frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi

empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao

da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a

maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain

Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias

impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as

novissimas direc6es da arte francesa

Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado

te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se

tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por

artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie

12

de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer

manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de

expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em

1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais

consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)

ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam

parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que

eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se

integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van

Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris

Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de

tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes

da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de

verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento

convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a

intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es

emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas

tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam

estes temas mais livre e arrebatador

Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde

afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de

arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia

Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)

13

o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria

ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma

associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao

individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e

buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural

conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de

comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica

(BEHR 2001 p19)

o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e

temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e

Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram

sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a

xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste

trabalho

Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa

autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao

e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele

pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a

escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992

p240)

Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a

expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das

caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a

valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao

presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt

U

14

corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus

impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das

figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania

Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se

desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem

se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a

gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao

estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi

urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense

Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter

(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este

grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado

p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira

Guerra Mundial

Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de

Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior

sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo

grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas

do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e

Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e

Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix

produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos

primeiros tempos

Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as

demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial

15

Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que

este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8

importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade

maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas

e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio

do seculo XX

o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas

vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi

conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde

desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus

desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn

breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram

queimados

Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido

como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para

Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo

relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim

mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio

Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta

tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo

nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um

expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na

16

emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997

p171)

A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado

em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0

ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a

religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0

material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa

proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade

de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a

Igreja que estabelecia 0 dogma

o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus

Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em

suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de

hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao

pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que

as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte

manuscritos com iluminuras sao

Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)

Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em

masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras

17

foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001

p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser

condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor

das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

arte do Ocidente Medieval

Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

SUMARIO

INTRODUCAO 5

2 FUNDAMENTACAO TEO RICA 7

21 BIOGRAFIA DO ARTISTA 7

22 MOSTEIRO DA RESSURREIltAO 8

23 INFLUENCIAS 11

3 CAMINHOS PERCORRIDOS 19

4 OBRAS 24

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS 24

42 ILUMINURAS DO EVANGELIARIO 29

CONSIDERACOES FINAlS 36

6 REFERENCIAS 39

RESUMO

o objetivo deste trabalho e levantar dados relevantes da obra de Lucio Ribeiroparticularmente no que S8 refere a rela~ao arte e religiao assim como mostrar agrande producao do mesma para que venha ao conhecimento do publico em gera1 evisa tambern a valorizacao do artista local Para isto apresenta-se no inicio quem edeg artista estudado deg que e deg Mosteiro da RessurreiGao onde deg artista viveu seusultimos anos de vida e depois e feita uma pesquisa bibliografica sabre as influemciasartisticas que cercaram a obra de Lucio Ribeiro Segue-se com 0 resultado obtidocom a pesquisa de campo nos lugares que tiveram relacao com 0 artista e mostram-S8 algumas obras para que S8 possa ter uma visao de como eram seus trabalhosPar ultimo analisam-se trabalhos com aspectos religiosos produzidos antes edepois do ingresso do artista na vida monastica e como a religiosidade sempre fezparte da vida e obra do mesma E passivel afirmar que a pesquisa 0 cantata compessoas relacionadas ao artista estudado principalmente 0 manuseio e registro dasobras fcram fatcres determinantes e necessarios para a com preen sao da obra deLucio Ribeiro

Palavras-chave Arte Religiao Lucio Ribeiro

1 INTRODUCAO

Atualmente observamos inumeras publicacoes com excelentes fotes de

obras de artistas do mundo todD inclusive do Brasil Tambem na internet 5e tern

acesso a varies museus e galerias virtuais Entretanto existe urn grande abismo

entre tudo isto e a arte produzida a nivel regional

E muito ditieil encontrar alguem que nao tenha vista uma reproducao au

ouvido falar sabre a Mona Lisa de Leonardo da Vinci mas e muito raro encontrar

alguem que conheca uma obra ou urn artista de sua cidade Par isse considerou-se

ser de extrema importancia 0 resgate das obras em registro academico de urn artista

local para a valorizacao do pensamento artistico e a memoria cultural da cidade

Escolheu-se trabalhar a respeito de urn artista local Lucio Mauro Ribeiro

que e pouco conhecido apesar de existir uma galeria em seu nome cujo artista

recebeu em urna home nag em postuma Inicia-se 0 trabalho falando sobre quem e

Lucio Mauro Ribeiro e em seguida tern-se algumas informac6es acerca do Mosteiro

da Ressurreicao onde Lucio se tornou monge e viveu ate sua morte As obras

estudadas neste trabalho fazem parte do acervo do Mosteiro da Ressurreicao sao

obras produzidas antes e depois da entrada de Lucio ao mosteiro

Continua-se 0 trabalho com infarmac6es sobre os movimentos e artistas que

influenciaram as obras do artista em primeiro lugar fala-se sobre 0 movimento

expressionista suas raizes e caracteristicas depois sobre alguns artistas como

Egon Schiele que tem suas caracteristicas bern visiveis nos desenhos produzidos

pelo artista estudado e a maiaria destes desenhos gravuras e aquarelas foram

produzidos antes de Lucio ingressar para a vida monastica

Na sequencia comenta-se sobre a Arte Bizantina que tern como uma das

formas de expressao os manuscritos com iluminuras que tern referencia com 0

evangeliario produzido por Lucio serao citadas algumas caractersticas e 0 parque

da existencia destes livros

Par ultimo descreve-se a metodologia usada para 0 levantamento das obras

e a analise de algumas obras escolhidas como referencia ja que sua producao e

vasta e que possam dar urn aspecto geral de como 0 artista trabalhou de diferentes

formas a religiosidade em sua obra

2 FUNDAMENTACAO TEORICA

21 BIOGRAFIA DO ARTISTA

Lucio Mauro Ribeiro (1972 - 2002) Nasceu na cidade de Arapoti Parana e

radicou-se em Ponta Grossa Parana cnde comecou a participar de eventos

artisticos trabalhando diferentes linguagens como desenho teatro e dan9a Formado

no curso Superior de Pintura na Escola de Musica e belas Artes do Parana

aprimorou-se em desenho gravura 1 e pintura

Participante ativo da nova geracao de artistas visuais em 1994 obteve sua

principal premia9ao no Salao Curitiba Arte 10 com 0 1deg Premio contemplado com

uma viagem de estudos a China pel a obra 0 Jardim das Oliveiras

Participou em exposic6es coletivas como a 1a Mostra de Novas Artistas do

Lapis em 1988 no SENAC em Ponta Grossa Parana recebendo 0 Premio

Revelacao par varios anos participou de exposilt6es no Centro de Cultura tambem

em Penta Grossa

Oesde sua chegada em Curitiba para fazer a faculdade de Artes participou

de inumeros saloes como em 1993 0 XXIII Sa lao da Primavera no Clube

Concordia as Freqiientadores 93 na Sala Gilda Belzack no Solar do Baraa e no

Museu da Gravura de Curitiba Em 1994 no 11deg Salao Banestado de artistas ineditos

na Galeria Banestado Ga foi men cion ado anteiormente) Recebeu tambem a 1deg

premia na Salao da Escola de Musica e Belas Artes do Parana No mesma ana

1 De um modo geral chama-se gravura 0 multiplo de uma Obra de Arte reproduzida a partir de umamatriz Mas Irata-se aqui de um reprodu~o numerada e assinada uma a uma compondo destaforma uma edicao restrita diferente do poster que e um produto de processos graficos automaticose reproduzido em Jargaescala sem a intervenraodo artistaUm carimbo pode ser a matriz de urna gravura a grosso modo Mas quando esse carimbo e fruto daeabora~o e manipulayao minuciosa de um artista temos um original - uma matriz - de ondesurgirao as imagens que levarao um titulo uma assinatura a data e a numerayao que a identificamdentro da produrao desse artista torna-se uma Obra de Arte Podem ser feitas namadeira(xilogravura) no metal na pedra (litografia) serigrafia e no lin6leomiddot (FontehttplIwwwcasadacuJturaorgarteJArtigos_o_que_e_arte_definicoeslgr01gravura_conceito_histhtml)

participou do Salao do Mar no Museu da Esta~80em Antonina Parana ja no ano de

1995 participou de coletivas na Galeria do INTER - Centro Cultura Brasil- Estados

Unidos em Curitiba e do salao Indicados 94 da Sala Miguel Bakun tambern em

Curitiba

No ano de 1996 participou da Pintura do 4deg Ano da Escola de Musica e

Belas Artes do Parana Em 1997 em parceria com Miguel Nicolau Neto no SESC

de Ponta Grossa fez a exposiao 199 com mais de 500 desenhos em papel A4

pendurados em varais Ja em 1998 tambem no SESC - Ponta Grossa participou no

3deg Encontro de Artistas Plasticos Pontagrossenses e da produCao de paineis para 0

evento Folclore de nossa gente no clube Princesa dos Campos tambem em Ponta

Grossa

Lucio fez exposi~5es individuais em Ponta Grossa no periodo de 1991 a

1997 em varios locais como 0 SESC Galeria Banestado Caixa Econ6mica Federal

Centro de Cultura e na Estayao Arte que possui desde 2003 a sala Lucio Ribeiro e

de onde foram obtidas as primeiras informa~oessobre a vida e obra do Lucio Em

Curitiba tambem fez individuais em 1994 no Restaurante Tiziano e no Espayo das

Artes

Eram varias as tecnicas que Lucio usou em suas exposiyoes como 0

desenho a pintura a gravura e tambem algumas tecnicas mistas Em junho de 1999

ingressou no Mosteiro da Ressurreiy80 situado em Ponta Grossa e la trabalhou

iluminuras e pinturas de tema religioso ate a sua morte em 4 de julho de 2002

22 MOSTEIRO DA RESSURREHAo

o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da

clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das

persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no

inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco

de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e

a simplicidade de suas origens fossem abafados

Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do

deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro

com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais

Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre

se conservou na Igreja

A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao

mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e

nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge

nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos

bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de

sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro

Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas

conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna

disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida

par urn mestre e urna comunidade

Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e

entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida

em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se

10

naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de

oferenda e como servi90 aos horn ens

o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -

foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de

Sao Bento de Sao Paulo

A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase

desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio

no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do

conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em

comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja

Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da

Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria

Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para

ende a comunidade se transladeu no ana seguinte

o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando

sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes

de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de

Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de

Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya

jovialidade espontaneidade e de simplicidade

A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que

desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro

oferece

E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a

trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros

II

personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou

a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu

traco expressionista caracteristico

23 -INFLUENCIAS

A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a

alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da

chamada vanguarda hist6rica do seculo xx

o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade

industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma

visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico

o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor

frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi

empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao

da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a

maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain

Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias

impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as

novissimas direc6es da arte francesa

Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado

te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se

tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por

artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie

12

de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer

manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de

expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em

1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais

consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)

ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam

parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que

eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se

integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van

Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris

Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de

tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes

da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de

verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento

convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a

intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es

emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas

tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam

estes temas mais livre e arrebatador

Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde

afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de

arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia

Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)

13

o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria

ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma

associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao

individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e

buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural

conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de

comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica

(BEHR 2001 p19)

o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e

temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e

Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram

sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a

xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste

trabalho

Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa

autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao

e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele

pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a

escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992

p240)

Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a

expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das

caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a

valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao

presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt

U

14

corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus

impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das

figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania

Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se

desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem

se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a

gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao

estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi

urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense

Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter

(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este

grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado

p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira

Guerra Mundial

Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de

Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior

sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo

grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas

do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e

Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e

Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix

produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos

primeiros tempos

Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as

demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial

15

Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que

este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8

importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade

maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas

e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio

do seculo XX

o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas

vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi

conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde

desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus

desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn

breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram

queimados

Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido

como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para

Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo

relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim

mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio

Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta

tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo

nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um

expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na

16

emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997

p171)

A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado

em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0

ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a

religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0

material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa

proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade

de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a

Igreja que estabelecia 0 dogma

o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus

Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em

suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de

hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao

pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que

as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte

manuscritos com iluminuras sao

Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)

Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em

masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras

17

foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001

p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser

condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor

das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

arte do Ocidente Medieval

Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

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BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

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DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

RESUMO

o objetivo deste trabalho e levantar dados relevantes da obra de Lucio Ribeiroparticularmente no que S8 refere a rela~ao arte e religiao assim como mostrar agrande producao do mesma para que venha ao conhecimento do publico em gera1 evisa tambern a valorizacao do artista local Para isto apresenta-se no inicio quem edeg artista estudado deg que e deg Mosteiro da RessurreiGao onde deg artista viveu seusultimos anos de vida e depois e feita uma pesquisa bibliografica sabre as influemciasartisticas que cercaram a obra de Lucio Ribeiro Segue-se com 0 resultado obtidocom a pesquisa de campo nos lugares que tiveram relacao com 0 artista e mostram-S8 algumas obras para que S8 possa ter uma visao de como eram seus trabalhosPar ultimo analisam-se trabalhos com aspectos religiosos produzidos antes edepois do ingresso do artista na vida monastica e como a religiosidade sempre fezparte da vida e obra do mesma E passivel afirmar que a pesquisa 0 cantata compessoas relacionadas ao artista estudado principalmente 0 manuseio e registro dasobras fcram fatcres determinantes e necessarios para a com preen sao da obra deLucio Ribeiro

Palavras-chave Arte Religiao Lucio Ribeiro

1 INTRODUCAO

Atualmente observamos inumeras publicacoes com excelentes fotes de

obras de artistas do mundo todD inclusive do Brasil Tambem na internet 5e tern

acesso a varies museus e galerias virtuais Entretanto existe urn grande abismo

entre tudo isto e a arte produzida a nivel regional

E muito ditieil encontrar alguem que nao tenha vista uma reproducao au

ouvido falar sabre a Mona Lisa de Leonardo da Vinci mas e muito raro encontrar

alguem que conheca uma obra ou urn artista de sua cidade Par isse considerou-se

ser de extrema importancia 0 resgate das obras em registro academico de urn artista

local para a valorizacao do pensamento artistico e a memoria cultural da cidade

Escolheu-se trabalhar a respeito de urn artista local Lucio Mauro Ribeiro

que e pouco conhecido apesar de existir uma galeria em seu nome cujo artista

recebeu em urna home nag em postuma Inicia-se 0 trabalho falando sobre quem e

Lucio Mauro Ribeiro e em seguida tern-se algumas informac6es acerca do Mosteiro

da Ressurreicao onde Lucio se tornou monge e viveu ate sua morte As obras

estudadas neste trabalho fazem parte do acervo do Mosteiro da Ressurreicao sao

obras produzidas antes e depois da entrada de Lucio ao mosteiro

Continua-se 0 trabalho com infarmac6es sobre os movimentos e artistas que

influenciaram as obras do artista em primeiro lugar fala-se sobre 0 movimento

expressionista suas raizes e caracteristicas depois sobre alguns artistas como

Egon Schiele que tem suas caracteristicas bern visiveis nos desenhos produzidos

pelo artista estudado e a maiaria destes desenhos gravuras e aquarelas foram

produzidos antes de Lucio ingressar para a vida monastica

Na sequencia comenta-se sobre a Arte Bizantina que tern como uma das

formas de expressao os manuscritos com iluminuras que tern referencia com 0

evangeliario produzido por Lucio serao citadas algumas caractersticas e 0 parque

da existencia destes livros

Par ultimo descreve-se a metodologia usada para 0 levantamento das obras

e a analise de algumas obras escolhidas como referencia ja que sua producao e

vasta e que possam dar urn aspecto geral de como 0 artista trabalhou de diferentes

formas a religiosidade em sua obra

2 FUNDAMENTACAO TEORICA

21 BIOGRAFIA DO ARTISTA

Lucio Mauro Ribeiro (1972 - 2002) Nasceu na cidade de Arapoti Parana e

radicou-se em Ponta Grossa Parana cnde comecou a participar de eventos

artisticos trabalhando diferentes linguagens como desenho teatro e dan9a Formado

no curso Superior de Pintura na Escola de Musica e belas Artes do Parana

aprimorou-se em desenho gravura 1 e pintura

Participante ativo da nova geracao de artistas visuais em 1994 obteve sua

principal premia9ao no Salao Curitiba Arte 10 com 0 1deg Premio contemplado com

uma viagem de estudos a China pel a obra 0 Jardim das Oliveiras

Participou em exposic6es coletivas como a 1a Mostra de Novas Artistas do

Lapis em 1988 no SENAC em Ponta Grossa Parana recebendo 0 Premio

Revelacao par varios anos participou de exposilt6es no Centro de Cultura tambem

em Penta Grossa

Oesde sua chegada em Curitiba para fazer a faculdade de Artes participou

de inumeros saloes como em 1993 0 XXIII Sa lao da Primavera no Clube

Concordia as Freqiientadores 93 na Sala Gilda Belzack no Solar do Baraa e no

Museu da Gravura de Curitiba Em 1994 no 11deg Salao Banestado de artistas ineditos

na Galeria Banestado Ga foi men cion ado anteiormente) Recebeu tambem a 1deg

premia na Salao da Escola de Musica e Belas Artes do Parana No mesma ana

1 De um modo geral chama-se gravura 0 multiplo de uma Obra de Arte reproduzida a partir de umamatriz Mas Irata-se aqui de um reprodu~o numerada e assinada uma a uma compondo destaforma uma edicao restrita diferente do poster que e um produto de processos graficos automaticose reproduzido em Jargaescala sem a intervenraodo artistaUm carimbo pode ser a matriz de urna gravura a grosso modo Mas quando esse carimbo e fruto daeabora~o e manipulayao minuciosa de um artista temos um original - uma matriz - de ondesurgirao as imagens que levarao um titulo uma assinatura a data e a numerayao que a identificamdentro da produrao desse artista torna-se uma Obra de Arte Podem ser feitas namadeira(xilogravura) no metal na pedra (litografia) serigrafia e no lin6leomiddot (FontehttplIwwwcasadacuJturaorgarteJArtigos_o_que_e_arte_definicoeslgr01gravura_conceito_histhtml)

participou do Salao do Mar no Museu da Esta~80em Antonina Parana ja no ano de

1995 participou de coletivas na Galeria do INTER - Centro Cultura Brasil- Estados

Unidos em Curitiba e do salao Indicados 94 da Sala Miguel Bakun tambern em

Curitiba

No ano de 1996 participou da Pintura do 4deg Ano da Escola de Musica e

Belas Artes do Parana Em 1997 em parceria com Miguel Nicolau Neto no SESC

de Ponta Grossa fez a exposiao 199 com mais de 500 desenhos em papel A4

pendurados em varais Ja em 1998 tambem no SESC - Ponta Grossa participou no

3deg Encontro de Artistas Plasticos Pontagrossenses e da produCao de paineis para 0

evento Folclore de nossa gente no clube Princesa dos Campos tambem em Ponta

Grossa

Lucio fez exposi~5es individuais em Ponta Grossa no periodo de 1991 a

1997 em varios locais como 0 SESC Galeria Banestado Caixa Econ6mica Federal

Centro de Cultura e na Estayao Arte que possui desde 2003 a sala Lucio Ribeiro e

de onde foram obtidas as primeiras informa~oessobre a vida e obra do Lucio Em

Curitiba tambem fez individuais em 1994 no Restaurante Tiziano e no Espayo das

Artes

Eram varias as tecnicas que Lucio usou em suas exposiyoes como 0

desenho a pintura a gravura e tambem algumas tecnicas mistas Em junho de 1999

ingressou no Mosteiro da Ressurreiy80 situado em Ponta Grossa e la trabalhou

iluminuras e pinturas de tema religioso ate a sua morte em 4 de julho de 2002

22 MOSTEIRO DA RESSURREHAo

o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da

clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das

persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no

inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco

de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e

a simplicidade de suas origens fossem abafados

Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do

deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro

com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais

Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre

se conservou na Igreja

A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao

mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e

nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge

nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos

bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de

sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro

Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas

conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna

disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida

par urn mestre e urna comunidade

Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e

entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida

em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se

10

naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de

oferenda e como servi90 aos horn ens

o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -

foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de

Sao Bento de Sao Paulo

A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase

desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio

no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do

conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em

comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja

Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da

Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria

Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para

ende a comunidade se transladeu no ana seguinte

o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando

sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes

de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de

Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de

Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya

jovialidade espontaneidade e de simplicidade

A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que

desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro

oferece

E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a

trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros

II

personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou

a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu

traco expressionista caracteristico

23 -INFLUENCIAS

A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a

alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da

chamada vanguarda hist6rica do seculo xx

o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade

industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma

visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico

o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor

frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi

empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao

da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a

maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain

Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias

impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as

novissimas direc6es da arte francesa

Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado

te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se

tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por

artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie

12

de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer

manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de

expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em

1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais

consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)

ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam

parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que

eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se

integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van

Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris

Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de

tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes

da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de

verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento

convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a

intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es

emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas

tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam

estes temas mais livre e arrebatador

Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde

afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de

arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia

Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)

13

o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria

ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma

associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao

individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e

buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural

conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de

comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica

(BEHR 2001 p19)

o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e

temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e

Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram

sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a

xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste

trabalho

Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa

autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao

e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele

pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a

escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992

p240)

Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a

expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das

caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a

valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao

presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt

U

14

corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus

impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das

figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania

Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se

desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem

se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a

gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao

estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi

urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense

Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter

(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este

grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado

p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira

Guerra Mundial

Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de

Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior

sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo

grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas

do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e

Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e

Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix

produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos

primeiros tempos

Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as

demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial

15

Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que

este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8

importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade

maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas

e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio

do seculo XX

o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas

vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi

conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde

desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus

desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn

breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram

queimados

Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido

como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para

Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo

relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim

mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio

Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta

tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo

nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um

expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na

16

emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997

p171)

A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado

em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0

ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a

religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0

material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa

proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade

de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a

Igreja que estabelecia 0 dogma

o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus

Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em

suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de

hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao

pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que

as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte

manuscritos com iluminuras sao

Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)

Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em

masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras

17

foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001

p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser

condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor

das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

arte do Ocidente Medieval

Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

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ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

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MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

1 INTRODUCAO

Atualmente observamos inumeras publicacoes com excelentes fotes de

obras de artistas do mundo todD inclusive do Brasil Tambem na internet 5e tern

acesso a varies museus e galerias virtuais Entretanto existe urn grande abismo

entre tudo isto e a arte produzida a nivel regional

E muito ditieil encontrar alguem que nao tenha vista uma reproducao au

ouvido falar sabre a Mona Lisa de Leonardo da Vinci mas e muito raro encontrar

alguem que conheca uma obra ou urn artista de sua cidade Par isse considerou-se

ser de extrema importancia 0 resgate das obras em registro academico de urn artista

local para a valorizacao do pensamento artistico e a memoria cultural da cidade

Escolheu-se trabalhar a respeito de urn artista local Lucio Mauro Ribeiro

que e pouco conhecido apesar de existir uma galeria em seu nome cujo artista

recebeu em urna home nag em postuma Inicia-se 0 trabalho falando sobre quem e

Lucio Mauro Ribeiro e em seguida tern-se algumas informac6es acerca do Mosteiro

da Ressurreicao onde Lucio se tornou monge e viveu ate sua morte As obras

estudadas neste trabalho fazem parte do acervo do Mosteiro da Ressurreicao sao

obras produzidas antes e depois da entrada de Lucio ao mosteiro

Continua-se 0 trabalho com infarmac6es sobre os movimentos e artistas que

influenciaram as obras do artista em primeiro lugar fala-se sobre 0 movimento

expressionista suas raizes e caracteristicas depois sobre alguns artistas como

Egon Schiele que tem suas caracteristicas bern visiveis nos desenhos produzidos

pelo artista estudado e a maiaria destes desenhos gravuras e aquarelas foram

produzidos antes de Lucio ingressar para a vida monastica

Na sequencia comenta-se sobre a Arte Bizantina que tern como uma das

formas de expressao os manuscritos com iluminuras que tern referencia com 0

evangeliario produzido por Lucio serao citadas algumas caractersticas e 0 parque

da existencia destes livros

Par ultimo descreve-se a metodologia usada para 0 levantamento das obras

e a analise de algumas obras escolhidas como referencia ja que sua producao e

vasta e que possam dar urn aspecto geral de como 0 artista trabalhou de diferentes

formas a religiosidade em sua obra

2 FUNDAMENTACAO TEORICA

21 BIOGRAFIA DO ARTISTA

Lucio Mauro Ribeiro (1972 - 2002) Nasceu na cidade de Arapoti Parana e

radicou-se em Ponta Grossa Parana cnde comecou a participar de eventos

artisticos trabalhando diferentes linguagens como desenho teatro e dan9a Formado

no curso Superior de Pintura na Escola de Musica e belas Artes do Parana

aprimorou-se em desenho gravura 1 e pintura

Participante ativo da nova geracao de artistas visuais em 1994 obteve sua

principal premia9ao no Salao Curitiba Arte 10 com 0 1deg Premio contemplado com

uma viagem de estudos a China pel a obra 0 Jardim das Oliveiras

Participou em exposic6es coletivas como a 1a Mostra de Novas Artistas do

Lapis em 1988 no SENAC em Ponta Grossa Parana recebendo 0 Premio

Revelacao par varios anos participou de exposilt6es no Centro de Cultura tambem

em Penta Grossa

Oesde sua chegada em Curitiba para fazer a faculdade de Artes participou

de inumeros saloes como em 1993 0 XXIII Sa lao da Primavera no Clube

Concordia as Freqiientadores 93 na Sala Gilda Belzack no Solar do Baraa e no

Museu da Gravura de Curitiba Em 1994 no 11deg Salao Banestado de artistas ineditos

na Galeria Banestado Ga foi men cion ado anteiormente) Recebeu tambem a 1deg

premia na Salao da Escola de Musica e Belas Artes do Parana No mesma ana

1 De um modo geral chama-se gravura 0 multiplo de uma Obra de Arte reproduzida a partir de umamatriz Mas Irata-se aqui de um reprodu~o numerada e assinada uma a uma compondo destaforma uma edicao restrita diferente do poster que e um produto de processos graficos automaticose reproduzido em Jargaescala sem a intervenraodo artistaUm carimbo pode ser a matriz de urna gravura a grosso modo Mas quando esse carimbo e fruto daeabora~o e manipulayao minuciosa de um artista temos um original - uma matriz - de ondesurgirao as imagens que levarao um titulo uma assinatura a data e a numerayao que a identificamdentro da produrao desse artista torna-se uma Obra de Arte Podem ser feitas namadeira(xilogravura) no metal na pedra (litografia) serigrafia e no lin6leomiddot (FontehttplIwwwcasadacuJturaorgarteJArtigos_o_que_e_arte_definicoeslgr01gravura_conceito_histhtml)

participou do Salao do Mar no Museu da Esta~80em Antonina Parana ja no ano de

1995 participou de coletivas na Galeria do INTER - Centro Cultura Brasil- Estados

Unidos em Curitiba e do salao Indicados 94 da Sala Miguel Bakun tambern em

Curitiba

No ano de 1996 participou da Pintura do 4deg Ano da Escola de Musica e

Belas Artes do Parana Em 1997 em parceria com Miguel Nicolau Neto no SESC

de Ponta Grossa fez a exposiao 199 com mais de 500 desenhos em papel A4

pendurados em varais Ja em 1998 tambem no SESC - Ponta Grossa participou no

3deg Encontro de Artistas Plasticos Pontagrossenses e da produCao de paineis para 0

evento Folclore de nossa gente no clube Princesa dos Campos tambem em Ponta

Grossa

Lucio fez exposi~5es individuais em Ponta Grossa no periodo de 1991 a

1997 em varios locais como 0 SESC Galeria Banestado Caixa Econ6mica Federal

Centro de Cultura e na Estayao Arte que possui desde 2003 a sala Lucio Ribeiro e

de onde foram obtidas as primeiras informa~oessobre a vida e obra do Lucio Em

Curitiba tambem fez individuais em 1994 no Restaurante Tiziano e no Espayo das

Artes

Eram varias as tecnicas que Lucio usou em suas exposiyoes como 0

desenho a pintura a gravura e tambem algumas tecnicas mistas Em junho de 1999

ingressou no Mosteiro da Ressurreiy80 situado em Ponta Grossa e la trabalhou

iluminuras e pinturas de tema religioso ate a sua morte em 4 de julho de 2002

22 MOSTEIRO DA RESSURREHAo

o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da

clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das

persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no

inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco

de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e

a simplicidade de suas origens fossem abafados

Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do

deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro

com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais

Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre

se conservou na Igreja

A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao

mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e

nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge

nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos

bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de

sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro

Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas

conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna

disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida

par urn mestre e urna comunidade

Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e

entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida

em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se

10

naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de

oferenda e como servi90 aos horn ens

o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -

foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de

Sao Bento de Sao Paulo

A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase

desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio

no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do

conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em

comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja

Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da

Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria

Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para

ende a comunidade se transladeu no ana seguinte

o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando

sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes

de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de

Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de

Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya

jovialidade espontaneidade e de simplicidade

A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que

desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro

oferece

E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a

trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros

II

personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou

a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu

traco expressionista caracteristico

23 -INFLUENCIAS

A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a

alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da

chamada vanguarda hist6rica do seculo xx

o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade

industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma

visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico

o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor

frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi

empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao

da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a

maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain

Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias

impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as

novissimas direc6es da arte francesa

Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado

te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se

tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por

artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie

12

de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer

manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de

expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em

1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais

consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)

ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam

parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que

eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se

integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van

Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris

Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de

tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes

da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de

verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento

convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a

intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es

emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas

tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam

estes temas mais livre e arrebatador

Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde

afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de

arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia

Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)

13

o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria

ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma

associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao

individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e

buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural

conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de

comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica

(BEHR 2001 p19)

o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e

temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e

Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram

sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a

xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste

trabalho

Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa

autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao

e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele

pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a

escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992

p240)

Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a

expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das

caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a

valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao

presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt

U

14

corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus

impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das

figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania

Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se

desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem

se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a

gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao

estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi

urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense

Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter

(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este

grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado

p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira

Guerra Mundial

Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de

Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior

sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo

grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas

do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e

Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e

Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix

produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos

primeiros tempos

Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as

demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial

15

Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que

este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8

importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade

maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas

e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio

do seculo XX

o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas

vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi

conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde

desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus

desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn

breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram

queimados

Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido

como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para

Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo

relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim

mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio

Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta

tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo

nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um

expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na

16

emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997

p171)

A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado

em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0

ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a

religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0

material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa

proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade

de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a

Igreja que estabelecia 0 dogma

o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus

Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em

suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de

hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao

pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que

as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte

manuscritos com iluminuras sao

Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)

Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em

masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras

17

foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001

p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser

condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor

das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

arte do Ocidente Medieval

Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

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DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

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MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

evangeliario produzido por Lucio serao citadas algumas caractersticas e 0 parque

da existencia destes livros

Par ultimo descreve-se a metodologia usada para 0 levantamento das obras

e a analise de algumas obras escolhidas como referencia ja que sua producao e

vasta e que possam dar urn aspecto geral de como 0 artista trabalhou de diferentes

formas a religiosidade em sua obra

2 FUNDAMENTACAO TEORICA

21 BIOGRAFIA DO ARTISTA

Lucio Mauro Ribeiro (1972 - 2002) Nasceu na cidade de Arapoti Parana e

radicou-se em Ponta Grossa Parana cnde comecou a participar de eventos

artisticos trabalhando diferentes linguagens como desenho teatro e dan9a Formado

no curso Superior de Pintura na Escola de Musica e belas Artes do Parana

aprimorou-se em desenho gravura 1 e pintura

Participante ativo da nova geracao de artistas visuais em 1994 obteve sua

principal premia9ao no Salao Curitiba Arte 10 com 0 1deg Premio contemplado com

uma viagem de estudos a China pel a obra 0 Jardim das Oliveiras

Participou em exposic6es coletivas como a 1a Mostra de Novas Artistas do

Lapis em 1988 no SENAC em Ponta Grossa Parana recebendo 0 Premio

Revelacao par varios anos participou de exposilt6es no Centro de Cultura tambem

em Penta Grossa

Oesde sua chegada em Curitiba para fazer a faculdade de Artes participou

de inumeros saloes como em 1993 0 XXIII Sa lao da Primavera no Clube

Concordia as Freqiientadores 93 na Sala Gilda Belzack no Solar do Baraa e no

Museu da Gravura de Curitiba Em 1994 no 11deg Salao Banestado de artistas ineditos

na Galeria Banestado Ga foi men cion ado anteiormente) Recebeu tambem a 1deg

premia na Salao da Escola de Musica e Belas Artes do Parana No mesma ana

1 De um modo geral chama-se gravura 0 multiplo de uma Obra de Arte reproduzida a partir de umamatriz Mas Irata-se aqui de um reprodu~o numerada e assinada uma a uma compondo destaforma uma edicao restrita diferente do poster que e um produto de processos graficos automaticose reproduzido em Jargaescala sem a intervenraodo artistaUm carimbo pode ser a matriz de urna gravura a grosso modo Mas quando esse carimbo e fruto daeabora~o e manipulayao minuciosa de um artista temos um original - uma matriz - de ondesurgirao as imagens que levarao um titulo uma assinatura a data e a numerayao que a identificamdentro da produrao desse artista torna-se uma Obra de Arte Podem ser feitas namadeira(xilogravura) no metal na pedra (litografia) serigrafia e no lin6leomiddot (FontehttplIwwwcasadacuJturaorgarteJArtigos_o_que_e_arte_definicoeslgr01gravura_conceito_histhtml)

participou do Salao do Mar no Museu da Esta~80em Antonina Parana ja no ano de

1995 participou de coletivas na Galeria do INTER - Centro Cultura Brasil- Estados

Unidos em Curitiba e do salao Indicados 94 da Sala Miguel Bakun tambern em

Curitiba

No ano de 1996 participou da Pintura do 4deg Ano da Escola de Musica e

Belas Artes do Parana Em 1997 em parceria com Miguel Nicolau Neto no SESC

de Ponta Grossa fez a exposiao 199 com mais de 500 desenhos em papel A4

pendurados em varais Ja em 1998 tambem no SESC - Ponta Grossa participou no

3deg Encontro de Artistas Plasticos Pontagrossenses e da produCao de paineis para 0

evento Folclore de nossa gente no clube Princesa dos Campos tambem em Ponta

Grossa

Lucio fez exposi~5es individuais em Ponta Grossa no periodo de 1991 a

1997 em varios locais como 0 SESC Galeria Banestado Caixa Econ6mica Federal

Centro de Cultura e na Estayao Arte que possui desde 2003 a sala Lucio Ribeiro e

de onde foram obtidas as primeiras informa~oessobre a vida e obra do Lucio Em

Curitiba tambem fez individuais em 1994 no Restaurante Tiziano e no Espayo das

Artes

Eram varias as tecnicas que Lucio usou em suas exposiyoes como 0

desenho a pintura a gravura e tambem algumas tecnicas mistas Em junho de 1999

ingressou no Mosteiro da Ressurreiy80 situado em Ponta Grossa e la trabalhou

iluminuras e pinturas de tema religioso ate a sua morte em 4 de julho de 2002

22 MOSTEIRO DA RESSURREHAo

o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da

clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das

persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no

inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco

de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e

a simplicidade de suas origens fossem abafados

Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do

deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro

com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais

Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre

se conservou na Igreja

A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao

mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e

nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge

nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos

bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de

sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro

Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas

conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna

disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida

par urn mestre e urna comunidade

Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e

entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida

em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se

10

naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de

oferenda e como servi90 aos horn ens

o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -

foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de

Sao Bento de Sao Paulo

A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase

desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio

no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do

conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em

comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja

Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da

Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria

Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para

ende a comunidade se transladeu no ana seguinte

o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando

sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes

de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de

Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de

Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya

jovialidade espontaneidade e de simplicidade

A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que

desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro

oferece

E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a

trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros

II

personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou

a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu

traco expressionista caracteristico

23 -INFLUENCIAS

A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a

alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da

chamada vanguarda hist6rica do seculo xx

o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade

industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma

visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico

o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor

frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi

empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao

da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a

maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain

Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias

impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as

novissimas direc6es da arte francesa

Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado

te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se

tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por

artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie

12

de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer

manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de

expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em

1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais

consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)

ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam

parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que

eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se

integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van

Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris

Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de

tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes

da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de

verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento

convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a

intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es

emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas

tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam

estes temas mais livre e arrebatador

Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde

afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de

arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia

Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)

13

o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria

ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma

associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao

individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e

buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural

conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de

comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica

(BEHR 2001 p19)

o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e

temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e

Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram

sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a

xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste

trabalho

Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa

autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao

e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele

pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a

escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992

p240)

Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a

expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das

caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a

valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao

presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt

U

14

corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus

impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das

figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania

Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se

desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem

se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a

gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao

estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi

urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense

Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter

(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este

grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado

p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira

Guerra Mundial

Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de

Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior

sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo

grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas

do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e

Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e

Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix

produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos

primeiros tempos

Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as

demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial

15

Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que

este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8

importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade

maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas

e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio

do seculo XX

o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas

vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi

conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde

desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus

desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn

breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram

queimados

Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido

como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para

Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo

relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim

mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio

Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta

tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo

nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um

expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na

16

emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997

p171)

A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado

em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0

ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a

religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0

material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa

proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade

de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a

Igreja que estabelecia 0 dogma

o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus

Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em

suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de

hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao

pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que

as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte

manuscritos com iluminuras sao

Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)

Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em

masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras

17

foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001

p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser

condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor

das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

arte do Ocidente Medieval

Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

2 FUNDAMENTACAO TEORICA

21 BIOGRAFIA DO ARTISTA

Lucio Mauro Ribeiro (1972 - 2002) Nasceu na cidade de Arapoti Parana e

radicou-se em Ponta Grossa Parana cnde comecou a participar de eventos

artisticos trabalhando diferentes linguagens como desenho teatro e dan9a Formado

no curso Superior de Pintura na Escola de Musica e belas Artes do Parana

aprimorou-se em desenho gravura 1 e pintura

Participante ativo da nova geracao de artistas visuais em 1994 obteve sua

principal premia9ao no Salao Curitiba Arte 10 com 0 1deg Premio contemplado com

uma viagem de estudos a China pel a obra 0 Jardim das Oliveiras

Participou em exposic6es coletivas como a 1a Mostra de Novas Artistas do

Lapis em 1988 no SENAC em Ponta Grossa Parana recebendo 0 Premio

Revelacao par varios anos participou de exposilt6es no Centro de Cultura tambem

em Penta Grossa

Oesde sua chegada em Curitiba para fazer a faculdade de Artes participou

de inumeros saloes como em 1993 0 XXIII Sa lao da Primavera no Clube

Concordia as Freqiientadores 93 na Sala Gilda Belzack no Solar do Baraa e no

Museu da Gravura de Curitiba Em 1994 no 11deg Salao Banestado de artistas ineditos

na Galeria Banestado Ga foi men cion ado anteiormente) Recebeu tambem a 1deg

premia na Salao da Escola de Musica e Belas Artes do Parana No mesma ana

1 De um modo geral chama-se gravura 0 multiplo de uma Obra de Arte reproduzida a partir de umamatriz Mas Irata-se aqui de um reprodu~o numerada e assinada uma a uma compondo destaforma uma edicao restrita diferente do poster que e um produto de processos graficos automaticose reproduzido em Jargaescala sem a intervenraodo artistaUm carimbo pode ser a matriz de urna gravura a grosso modo Mas quando esse carimbo e fruto daeabora~o e manipulayao minuciosa de um artista temos um original - uma matriz - de ondesurgirao as imagens que levarao um titulo uma assinatura a data e a numerayao que a identificamdentro da produrao desse artista torna-se uma Obra de Arte Podem ser feitas namadeira(xilogravura) no metal na pedra (litografia) serigrafia e no lin6leomiddot (FontehttplIwwwcasadacuJturaorgarteJArtigos_o_que_e_arte_definicoeslgr01gravura_conceito_histhtml)

participou do Salao do Mar no Museu da Esta~80em Antonina Parana ja no ano de

1995 participou de coletivas na Galeria do INTER - Centro Cultura Brasil- Estados

Unidos em Curitiba e do salao Indicados 94 da Sala Miguel Bakun tambern em

Curitiba

No ano de 1996 participou da Pintura do 4deg Ano da Escola de Musica e

Belas Artes do Parana Em 1997 em parceria com Miguel Nicolau Neto no SESC

de Ponta Grossa fez a exposiao 199 com mais de 500 desenhos em papel A4

pendurados em varais Ja em 1998 tambem no SESC - Ponta Grossa participou no

3deg Encontro de Artistas Plasticos Pontagrossenses e da produCao de paineis para 0

evento Folclore de nossa gente no clube Princesa dos Campos tambem em Ponta

Grossa

Lucio fez exposi~5es individuais em Ponta Grossa no periodo de 1991 a

1997 em varios locais como 0 SESC Galeria Banestado Caixa Econ6mica Federal

Centro de Cultura e na Estayao Arte que possui desde 2003 a sala Lucio Ribeiro e

de onde foram obtidas as primeiras informa~oessobre a vida e obra do Lucio Em

Curitiba tambem fez individuais em 1994 no Restaurante Tiziano e no Espayo das

Artes

Eram varias as tecnicas que Lucio usou em suas exposiyoes como 0

desenho a pintura a gravura e tambem algumas tecnicas mistas Em junho de 1999

ingressou no Mosteiro da Ressurreiy80 situado em Ponta Grossa e la trabalhou

iluminuras e pinturas de tema religioso ate a sua morte em 4 de julho de 2002

22 MOSTEIRO DA RESSURREHAo

o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da

clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das

persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no

inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco

de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e

a simplicidade de suas origens fossem abafados

Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do

deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro

com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais

Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre

se conservou na Igreja

A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao

mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e

nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge

nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos

bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de

sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro

Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas

conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna

disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida

par urn mestre e urna comunidade

Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e

entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida

em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se

10

naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de

oferenda e como servi90 aos horn ens

o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -

foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de

Sao Bento de Sao Paulo

A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase

desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio

no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do

conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em

comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja

Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da

Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria

Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para

ende a comunidade se transladeu no ana seguinte

o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando

sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes

de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de

Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de

Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya

jovialidade espontaneidade e de simplicidade

A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que

desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro

oferece

E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a

trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros

II

personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou

a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu

traco expressionista caracteristico

23 -INFLUENCIAS

A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a

alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da

chamada vanguarda hist6rica do seculo xx

o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade

industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma

visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico

o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor

frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi

empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao

da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a

maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain

Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias

impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as

novissimas direc6es da arte francesa

Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado

te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se

tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por

artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie

12

de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer

manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de

expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em

1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais

consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)

ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam

parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que

eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se

integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van

Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris

Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de

tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes

da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de

verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento

convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a

intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es

emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas

tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam

estes temas mais livre e arrebatador

Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde

afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de

arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia

Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)

13

o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria

ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma

associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao

individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e

buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural

conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de

comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica

(BEHR 2001 p19)

o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e

temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e

Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram

sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a

xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste

trabalho

Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa

autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao

e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele

pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a

escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992

p240)

Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a

expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das

caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a

valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao

presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt

U

14

corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus

impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das

figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania

Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se

desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem

se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a

gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao

estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi

urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense

Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter

(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este

grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado

p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira

Guerra Mundial

Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de

Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior

sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo

grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas

do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e

Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e

Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix

produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos

primeiros tempos

Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as

demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial

15

Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que

este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8

importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade

maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas

e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio

do seculo XX

o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas

vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi

conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde

desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus

desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn

breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram

queimados

Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido

como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para

Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo

relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim

mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio

Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta

tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo

nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um

expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na

16

emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997

p171)

A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado

em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0

ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a

religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0

material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa

proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade

de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a

Igreja que estabelecia 0 dogma

o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus

Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em

suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de

hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao

pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que

as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte

manuscritos com iluminuras sao

Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)

Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em

masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras

17

foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001

p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser

condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor

das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

arte do Ocidente Medieval

Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

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DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

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MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

participou do Salao do Mar no Museu da Esta~80em Antonina Parana ja no ano de

1995 participou de coletivas na Galeria do INTER - Centro Cultura Brasil- Estados

Unidos em Curitiba e do salao Indicados 94 da Sala Miguel Bakun tambern em

Curitiba

No ano de 1996 participou da Pintura do 4deg Ano da Escola de Musica e

Belas Artes do Parana Em 1997 em parceria com Miguel Nicolau Neto no SESC

de Ponta Grossa fez a exposiao 199 com mais de 500 desenhos em papel A4

pendurados em varais Ja em 1998 tambem no SESC - Ponta Grossa participou no

3deg Encontro de Artistas Plasticos Pontagrossenses e da produCao de paineis para 0

evento Folclore de nossa gente no clube Princesa dos Campos tambem em Ponta

Grossa

Lucio fez exposi~5es individuais em Ponta Grossa no periodo de 1991 a

1997 em varios locais como 0 SESC Galeria Banestado Caixa Econ6mica Federal

Centro de Cultura e na Estayao Arte que possui desde 2003 a sala Lucio Ribeiro e

de onde foram obtidas as primeiras informa~oessobre a vida e obra do Lucio Em

Curitiba tambem fez individuais em 1994 no Restaurante Tiziano e no Espayo das

Artes

Eram varias as tecnicas que Lucio usou em suas exposiyoes como 0

desenho a pintura a gravura e tambem algumas tecnicas mistas Em junho de 1999

ingressou no Mosteiro da Ressurreiy80 situado em Ponta Grossa e la trabalhou

iluminuras e pinturas de tema religioso ate a sua morte em 4 de julho de 2002

22 MOSTEIRO DA RESSURREHAo

o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da

clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das

persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no

inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco

de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e

a simplicidade de suas origens fossem abafados

Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do

deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro

com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais

Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre

se conservou na Igreja

A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao

mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e

nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge

nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos

bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de

sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro

Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas

conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna

disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida

par urn mestre e urna comunidade

Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e

entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida

em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se

10

naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de

oferenda e como servi90 aos horn ens

o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -

foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de

Sao Bento de Sao Paulo

A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase

desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio

no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do

conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em

comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja

Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da

Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria

Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para

ende a comunidade se transladeu no ana seguinte

o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando

sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes

de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de

Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de

Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya

jovialidade espontaneidade e de simplicidade

A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que

desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro

oferece

E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a

trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros

II

personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou

a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu

traco expressionista caracteristico

23 -INFLUENCIAS

A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a

alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da

chamada vanguarda hist6rica do seculo xx

o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade

industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma

visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico

o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor

frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi

empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao

da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a

maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain

Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias

impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as

novissimas direc6es da arte francesa

Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado

te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se

tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por

artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie

12

de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer

manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de

expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em

1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais

consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)

ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam

parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que

eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se

integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van

Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris

Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de

tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes

da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de

verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento

convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a

intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es

emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas

tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam

estes temas mais livre e arrebatador

Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde

afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de

arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia

Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)

13

o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria

ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma

associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao

individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e

buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural

conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de

comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica

(BEHR 2001 p19)

o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e

temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e

Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram

sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a

xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste

trabalho

Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa

autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao

e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele

pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a

escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992

p240)

Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a

expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das

caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a

valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao

presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt

U

14

corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus

impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das

figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania

Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se

desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem

se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a

gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao

estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi

urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense

Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter

(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este

grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado

p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira

Guerra Mundial

Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de

Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior

sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo

grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas

do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e

Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e

Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix

produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos

primeiros tempos

Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as

demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial

15

Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que

este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8

importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade

maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas

e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio

do seculo XX

o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas

vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi

conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde

desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus

desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn

breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram

queimados

Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido

como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para

Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo

relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim

mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio

Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta

tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo

nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um

expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na

16

emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997

p171)

A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado

em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0

ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a

religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0

material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa

proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade

de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a

Igreja que estabelecia 0 dogma

o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus

Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em

suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de

hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao

pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que

as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte

manuscritos com iluminuras sao

Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)

Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em

masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras

17

foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001

p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser

condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor

das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

arte do Ocidente Medieval

Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

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CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

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FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

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MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

o monaquismo brotou na Igreja num momenta de grande desafio saindo da

clandestinidade das catacumbas e casas particulares onde se refugiara das

persegui90es a Igreja viu-se colocada na situa9ao oposta foi necessaria assumir no

inicio do seculo IV a papel de religiao oficial do Imperio Romano Ela corria 0 risco

de ser tragada por essa dificil convivencia com 0 poder deixando que seus valores e

a simplicidade de suas origens fossem abafados

Os primeiros monges afastaram-se das cidades para buscar na solidao do

deserto e numa vida pobre 0 clima propicio ao conhecimento de si e ao encontro

com Oeus Eles mantiveram viva a liga9ao da Igreja com suas fontes espirituais

Embora seja um modo de vida especial a vocacao monastica desde entao sempre

se conservou na Igreja

A identidade do mange se define pela escolha de urn modo de vida que e ao

mesmo tempo marginal e implicltamente critico em rela9ao a sociedade em geral e

nos nossos tempos especialmente em rela9ao a sociedade de consumo Um monge

nao foge do mundo nem a adela mas dele se afasta Renuncia a si mesmo e aos

bens que poderia obter para si no mundo para seguir ao Cristo no deserto lugar de

sofrimento e tenta9oes mas tambem de autenticidade e encontro

Assim colocando-se a certa distcSlncia da sociedade livre de suas

conven90es e imperativos 0 mange entrega-se totalrnente ao Cristo e assume urna

disciplina cunhada pela sabedoria de uma tradi9ao espiritual que Ihe e transrnitida

par urn mestre e urna comunidade

Sendo alguem que busca a Deus a mange se dispOe a urn continuo e

entusiasrnado processo de conversao no dia a dia de sua vida comunitiuia reunida

em torno de urn pal 0 Abade sinal de Deus que e PaL E a ora9ao une-se

10

naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de

oferenda e como servi90 aos horn ens

o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -

foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de

Sao Bento de Sao Paulo

A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase

desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio

no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do

conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em

comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja

Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da

Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria

Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para

ende a comunidade se transladeu no ana seguinte

o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando

sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes

de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de

Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de

Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya

jovialidade espontaneidade e de simplicidade

A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que

desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro

oferece

E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a

trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros

II

personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou

a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu

traco expressionista caracteristico

23 -INFLUENCIAS

A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a

alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da

chamada vanguarda hist6rica do seculo xx

o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade

industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma

visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico

o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor

frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi

empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao

da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a

maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain

Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias

impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as

novissimas direc6es da arte francesa

Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado

te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se

tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por

artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie

12

de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer

manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de

expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em

1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais

consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)

ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam

parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que

eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se

integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van

Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris

Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de

tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes

da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de

verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento

convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a

intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es

emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas

tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam

estes temas mais livre e arrebatador

Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde

afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de

arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia

Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)

13

o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria

ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma

associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao

individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e

buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural

conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de

comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica

(BEHR 2001 p19)

o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e

temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e

Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram

sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a

xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste

trabalho

Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa

autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao

e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele

pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a

escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992

p240)

Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a

expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das

caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a

valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao

presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt

U

14

corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus

impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das

figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania

Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se

desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem

se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a

gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao

estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi

urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense

Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter

(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este

grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado

p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira

Guerra Mundial

Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de

Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior

sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo

grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas

do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e

Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e

Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix

produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos

primeiros tempos

Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as

demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial

15

Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que

este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8

importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade

maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas

e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio

do seculo XX

o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas

vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi

conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde

desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus

desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn

breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram

queimados

Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido

como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para

Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo

relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim

mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio

Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta

tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo

nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um

expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na

16

emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997

p171)

A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado

em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0

ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a

religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0

material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa

proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade

de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a

Igreja que estabelecia 0 dogma

o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus

Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em

suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de

hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao

pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que

as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte

manuscritos com iluminuras sao

Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)

Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em

masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras

17

foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001

p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser

condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor

das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

arte do Ocidente Medieval

Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

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BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

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CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

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MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

10

naturalmente ao trabalho manual ou intelectual realizado par todos em espirito de

oferenda e como servi90 aos horn ens

o Mosteiro da Ressurreiyao - herdeiro e protagonista de uma tradicc3oviva -

foi fundado em 26 de junho de 1981 por alguns monges provenientes do Mosteiro de

Sao Bento de Sao Paulo

A fundacao deveria ser no sui do pais onde a vida monastica era quase

desconhecida 0 mosteiro que seria dedicado a Ressurreiyao do Senhor teve inicio

no santuEuio mariana da Vila Velha na cidade de Ponta Grossa ao lado do

conhecido ponto turistico e em terrene pertencente ao Estado do Parana cedido em

comodato a Curia diocesana que e vista como 0 governo da Igreja

Entre junho de 1981 e agosto de 1985 a comunidade viveu no santuario da

Vila Velha a trinta quil6metros da cidade de Ponta Grossa em situa9aO precaria

Em 1984 iniciou-se a construl)ao do mosteiro no terreno atual (colonia Eurides) para

ende a comunidade se transladeu no ana seguinte

o Mosteiro da Ressurreicao e uma comunidade de monges que militando

sob a Regra de Sao Bento que se resume em era trabalha e Ie acolhe vocal(oes

de distintas partes do pais de culturas e temperamentos diverses A comunidade de

Ponta Grossa se empenha em viver a projeto de continua converS30 e busca de

Deus numa vida de verdadeira fraternidade num clima de alegria confianya

jovialidade espontaneidade e de simplicidade

A comunidade monastica esta sempre aberta a acolher as pessoas que

desejam partilhar da Oral(30 e do ambiente de silencio e recolhimento que 0 mosteiro

oferece

E foi neste ambiente que Lucio resolveu viver em 1999 onde passou a

trabalhar no atelie de pintura produzindo telas com imagens de santos e outros

II

personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou

a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu

traco expressionista caracteristico

23 -INFLUENCIAS

A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a

alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da

chamada vanguarda hist6rica do seculo xx

o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade

industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma

visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico

o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor

frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi

empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao

da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a

maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain

Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias

impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as

novissimas direc6es da arte francesa

Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado

te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se

tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por

artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie

12

de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer

manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de

expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em

1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais

consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)

ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam

parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que

eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se

integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van

Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris

Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de

tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes

da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de

verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento

convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a

intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es

emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas

tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam

estes temas mais livre e arrebatador

Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde

afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de

arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia

Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)

13

o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria

ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma

associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao

individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e

buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural

conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de

comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica

(BEHR 2001 p19)

o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e

temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e

Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram

sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a

xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste

trabalho

Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa

autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao

e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele

pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a

escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992

p240)

Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a

expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das

caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a

valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao

presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt

U

14

corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus

impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das

figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania

Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se

desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem

se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a

gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao

estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi

urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense

Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter

(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este

grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado

p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira

Guerra Mundial

Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de

Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior

sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo

grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas

do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e

Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e

Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix

produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos

primeiros tempos

Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as

demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial

15

Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que

este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8

importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade

maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas

e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio

do seculo XX

o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas

vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi

conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde

desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus

desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn

breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram

queimados

Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido

como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para

Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo

relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim

mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio

Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta

tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo

nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um

expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na

16

emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997

p171)

A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado

em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0

ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a

religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0

material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa

proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade

de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a

Igreja que estabelecia 0 dogma

o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus

Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em

suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de

hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao

pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que

as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte

manuscritos com iluminuras sao

Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)

Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em

masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras

17

foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001

p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser

condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor

das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

arte do Ocidente Medieval

Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

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BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

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CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

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MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

II

personagens sagrados (leones) para serem vendidos na loja do mosteiro e comecou

a produzir 0 evangeliiuio que mesmo com temas limitados conseguiu manter seu

traco expressionista caracteristico

23 -INFLUENCIAS

A influencia mais visivel na obra de Lucio Ribeiro e 0 expressionismo que ea denomina~o nao apenas de urn movimento mas a denominarao generica dada a

alguns movimentos e escolas artisticas que fizeram parte junto com Qutros da

chamada vanguarda hist6rica do seculo xx

o expressionismo pelo menDS no seu inicio era contra a sociedade

industrial a massificarao e pregava 0 retorno a natureza sendo uma arte com uma

visao revolucioniuia mas totalmente contra 0 progresso tecnol6gico

o termo expressionismo foi aplicado pela primeira vez em 1901 pelo pintor

frances Julien Auguste Herve no Salon des Independents em Paris mas s6 foi

empregado na Alemanha em 1911 na apresentaltao do catalogo da 22 Exposiltao

da Primavera organizada pela Secessao de Berlim Com excetao de Picasso a

maioria dos artistas dessa sele~o era do circulo de Matisse como Braque Derain

Friez Marquet Van Dongen e outros Devido a Secessao possuir fortes tendeuromcias

impressionistas expressionisten era 0 termo rna is apropriado para designar as

novissimas direc6es da arte francesa

Matisse em Paris adotou 0 termo em 1908 que foi publicado no tratado

te6rico do artista para definir a pintura dos artistas parisienses que mais tarde se

tornaram os fauves Ja na Alemanha 0 termo expressionismo foi difundido por

artistas tambem do circulo de Matisse e despertou entusiasmo e virou uma especie

12

de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer

manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de

expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em

1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais

consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)

ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam

parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que

eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se

integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van

Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris

Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de

tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes

da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de

verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento

convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a

intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es

emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas

tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam

estes temas mais livre e arrebatador

Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde

afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de

arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia

Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)

13

o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria

ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma

associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao

individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e

buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural

conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de

comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica

(BEHR 2001 p19)

o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e

temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e

Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram

sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a

xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste

trabalho

Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa

autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao

e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele

pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a

escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992

p240)

Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a

expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das

caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a

valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao

presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt

U

14

corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus

impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das

figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania

Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se

desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem

se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a

gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao

estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi

urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense

Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter

(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este

grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado

p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira

Guerra Mundial

Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de

Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior

sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo

grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas

do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e

Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e

Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix

produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos

primeiros tempos

Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as

demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial

15

Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que

este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8

importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade

maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas

e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio

do seculo XX

o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas

vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi

conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde

desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus

desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn

breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram

queimados

Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido

como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para

Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo

relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim

mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio

Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta

tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo

nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um

expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na

16

emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997

p171)

A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado

em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0

ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a

religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0

material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa

proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade

de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a

Igreja que estabelecia 0 dogma

o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus

Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em

suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de

hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao

pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que

as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte

manuscritos com iluminuras sao

Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)

Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em

masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras

17

foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001

p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser

condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor

das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

arte do Ocidente Medieval

Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

12

de designag2lo radical contra a aJte aceita e consagrada a partir dal qualquer

manifestacao artistica que fosse inovadora era chamada erroneamente de

expressionismo Somente com 0 surgimento do grupo Die Brucke (A Ponte) em

1905 e Der 8Jaue Reiter (0 Cavaleiro Azul) em 1912 que 0 termo ganhou mais

consistencia solidez para denominar uma tendencia artistica (GULLAR 2000)

ODie Briicke foi 0 nome dado a uma associa9Bo de artistas da que faziam

parte Ernest Ludwig Kirchner Erich Heckel Karl Schmidt-Rottluff Fritz Bieyl que

eram estudantes de arquitetura da Escola Tecnica Superior de Dresden Tambem se

integraram no grupo 0 belga Emil Nolde 0 alemao Max Pechstein 0 frances Van

Dongen que serviu de ponte com 0 grupo dos fauves de Paris

Este grupo de jovens artistas procurava uma nova maneira de viver e de

tazer arte Par issa decidem se integrar a natureza e buscar as verdadeiras fontes

da vida e da arte para isso saem da cidade que para eles e urn lugar falsificador de

verdadeiros sentirnentos onde e imposto as pessoas um comportarnento

convencional E um dos pontos fundamentais da poetica do expressionismo a

intolerimcia para com a lei uma disciplina e ao contra rio a obediencia as press6es

emotivas do proprio ser (DE MICHELI 2004 p80) Nao se afastam dos temas

tradicionais como nus e paisagens mas 0 que muda e a maneira como tratavam

estes temas mais livre e arrebatador

Em 1906 0 grupo expos na gale ria Seifert divulgando seu programa onde

afirmavam acreditar em uma nova geragEio de criadores e tambem consumidores de

arte Segundo Shulamith Behr 0 programa dizia

Acreditando na evolU9aO continua em uma nova gera9ao de criadores eapreciadores convocamos toda a juventude E como a juventude traz afuturo desejamos obter liberdade de movimento e de vida em oposi9aO aasvelhos e bem estabelecidos poderes Quem quer que extravase direta eautenticamente aquila que a faz criar e um dos nossos (2001 p 18)

13

o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria

ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma

associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao

individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e

buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural

conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de

comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica

(BEHR 2001 p19)

o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e

temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e

Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram

sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a

xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste

trabalho

Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa

autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao

e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele

pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a

escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992

p240)

Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a

expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das

caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a

valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao

presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt

U

14

corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus

impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das

figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania

Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se

desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem

se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a

gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao

estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi

urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense

Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter

(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este

grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado

p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira

Guerra Mundial

Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de

Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior

sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo

grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas

do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e

Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e

Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix

produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos

primeiros tempos

Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as

demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial

15

Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que

este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8

importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade

maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas

e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio

do seculo XX

o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas

vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi

conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde

desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus

desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn

breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram

queimados

Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido

como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para

Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo

relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim

mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio

Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta

tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo

nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um

expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na

16

emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997

p171)

A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado

em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0

ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a

religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0

material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa

proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade

de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a

Igreja que estabelecia 0 dogma

o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus

Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em

suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de

hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao

pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que

as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte

manuscritos com iluminuras sao

Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)

Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em

masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras

17

foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001

p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser

condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor

das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

arte do Ocidente Medieval

Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

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DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

13

o programa evidenciava uma atitude nao-academica do grupo que S8 abria

ao publico buscando uma relayao mais pr6xima com a sociedade propondo uma

associa980 a todos que se opunham ao tradicionalismo a produy8o industrial e ao

individualismo Mostrando assim porque inicialmente se juntaram em comunidade e

buscaram a natureza como fuga a vida urbana sufocante A critica cultural

conhecida na Alemanha como Kulturkritik almejava reviver n0908s pre-industria is de

comunidade e inspirar uma espiritualidade renovada na identidade germanica

(BEHR 2001 p19)

o grupo alternava-se entre estudios localizados no suburbia de Dresden e

temporadas nas margens do lago Moritzburg ande nessa epoca Heckel Kirchner e

Rottluff come9aram a fazer esculturas de madeira Mas a gravura e a desenho faram

sempre as principais tecnicas usadas pel as integrantes do grupo principalmente a

xilogravura tambem presente na obra de Lucio Ribeiro 0 artista pesquisado neste

trabalho

Em relayao a pintura Emil Nolde influenciou novas gerayoes pelo usa

autonomo da cor e da tinta aplicada diretamente na tela Argan pensa que ( ) nao

e preciso que a pintar escolha as cares segundo urn criteria de verossimilhan9a ele

pode realizar suas figuras em vermelho amarelo au azul da mesma maneira que a

escultor e livre para executar suas obras em madeira pedra au bronze (1992

p240)

Desta maneira a pintura da ao pintar uma liberdade que favorece a

expressao de conteudos nao controlaveis racionalmente isto e uma das

caracteristicas do expressionismo que influencia a arte contemporanea a

valoriza9ao dos fatores passionais e irracionais Esses fatares tambem estao

presentes na xilogravura mas de modo diferente devido aos limites de gr ~~llbTgogt

U

14

corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus

impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das

figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania

Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se

desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem

se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a

gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao

estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi

urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense

Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter

(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este

grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado

p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira

Guerra Mundial

Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de

Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior

sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo

grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas

do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e

Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e

Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix

produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos

primeiros tempos

Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as

demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial

15

Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que

este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8

importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade

maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas

e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio

do seculo XX

o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas

vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi

conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde

desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus

desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn

breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram

queimados

Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido

como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para

Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo

relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim

mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio

Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta

tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo

nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um

expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na

16

emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997

p171)

A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado

em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0

ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a

religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0

material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa

proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade

de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a

Igreja que estabelecia 0 dogma

o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus

Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em

suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de

hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao

pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que

as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte

manuscritos com iluminuras sao

Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)

Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em

masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras

17

foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001

p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser

condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor

das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

arte do Ocidente Medieval

Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

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ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

14

corte da madeira que gravador esta sujeito dificultando a exposil)2Io dos seus

impulsos interiores Par issa esses impulsos sao expressos no primitivism a das

figuras e na referencia a arte tribal da Africa e da Oceania

Em 1911 Die BrOcke transfere-se para Berlim ja sem Emil Nolde que se

desliga do grupo em 1907 mas Oscar Kokoschka que marava em Viena tambem

se muda para Berlim e entra em cantato com Hewart Walden que mais tarde funda a

gale ria e 0 jarnal Der Sturn e e atraves de public890es que pintores e escritores sao

estimulados e se integram fazendo reuni6es discutindo arte paUtica e literatura foi

urn periocto muito rico que resultou no surgimento do expressionismo berlinense

Em 1913 a grupo Die Briicke se dissolve mas Qutro grupo a Blaue Reiter

(Cavaleiro Azul) fundado em 1911 par Franz Marc e Kandinsky ainda resistia Este

grupo nasceu na fervilhante vida intelectual e artistica de Munique e foi considerado

p~r muitos 0 ponto mais alto do expressionismo da Alemanha antes da Primeira

Guerra Mundial

Apesar de possuir algumas caracteristicas semelhantes ao grupo de

Dresden 0 grupo Blaue Reiter se diferenciava por expressar a necessidade interior

sem considerar a realidade exterior As primeiras exposi96es organizadas pelo

grupo tinham obras de Cezanne Gauguin e Van Gogh depois ja continham artistas

do proprio grupo como Marc e Kandinsky Jawlensky Kubin Schnabel e

Wittenstein e mais tarde aderiram Macke Otto Fischer Kogan e

Mogilewsky(GULLAR 2000) Apos a guerra artistas com George Grosz e Otto Oix

produziram suas obras com muita distorcao e exagero como no expressionismo dos

primeiros tempos

Em 1933 os nazistas suprimiram 0 expressionismo juntamente com as

demais correntes artisticas e que so voltaram a luz ap6s a Segunda Guerra Mundial

15

Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que

este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8

importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade

maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas

e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio

do seculo XX

o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas

vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi

conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde

desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus

desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn

breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram

queimados

Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido

como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para

Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo

relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim

mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio

Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta

tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo

nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um

expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na

16

emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997

p171)

A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado

em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0

ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a

religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0

material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa

proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade

de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a

Igreja que estabelecia 0 dogma

o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus

Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em

suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de

hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao

pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que

as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte

manuscritos com iluminuras sao

Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)

Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em

masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras

17

foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001

p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser

condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor

das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

arte do Ocidente Medieval

Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

15

Percebe-se que a expressionismo tai uma rea9210 ao impressionismo ja que

este movimento S8 preocupou apenas com as sensat6es de luz e cor naD S8

importando com as sentimentos humanos e com a problematica da sociedade

maderna Ao contrtuio 0 expressionismo procurou expressar as emo90es humanas

e interpretar as angustias que caracterizavam psicologicamente 0 homem do inicio

do seculo XX

o artista Egan Schiele (1890-1918) que tambem era expressionista mas

vivia na Austria era pintar e desenhista estudou na Academia de Viena e hi

conheceu Klimt que nos primeiros anos influenciou a sua obra rna is tarde

desenvolveu urn 8stilo pr6prio e ficou conhecido principal mente pelos seus

desenhos de nus bastante er6ticos e polemicos que a leva ram a ser preso por urn

breve periodo sob acusaryao de indecencia e muitos dos desenhos foram

queimados

Ian Chilvers afirma que suas figuras sao tipicamente solitiuias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimento (2001 p481) Ap6s sua morte em 1918 viria a ser reconhecido

como urn dos majores artistas do expressionismo E foi uma grande influencia para

Lucio Ribeiro Em conversa informal com seu irmao (em julho de 2006) a mesmo

relatou ele nao tirava 0 livre de Egon Schiele debaixo do braco foram anos assim

mostrando a grande importancia de Schiele para Lucio

Na obra de Lucie Ribeiro e passive I notar atraves de seus traryos esta

tendencia de traduzir em linhas as sentimentos rna is dramaticos do homem mesmo

nas iluminuras que seguem uma tradiryao bizantina podemos observar um

expressionismo estilizado como afinna Donis A Dondis a distorcao e a enfase na

16

emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997

p171)

A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado

em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0

ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a

religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0

material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa

proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade

de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a

Igreja que estabelecia 0 dogma

o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus

Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em

suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de

hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao

pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que

as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte

manuscritos com iluminuras sao

Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)

Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em

masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras

17

foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001

p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser

condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor

das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

arte do Ocidente Medieval

Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

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REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

16

emoao fazem da arte bizantina um tipico exemplo de estilo expressionista (1997

p171)

A Arte Bizantina estava associ ada ao Imperio Romano do Oriente fundado

em 330 dC pelo imperador Constantino e terminou onze seculos depois com 0

ataque dos turcos a capital Constantinopla em 1453 A Arte Bizantina vinculada a

religiao crista teve como objetivo principal exprimir 0 primado do espiritual sabre 0

material da essenca sabre a forma e a elevayao mistica decorrente dessa

proposiao (ARTE 2006) Era uma arte teol6gica 0 artista nao tinha liberdade

de interpretacao individual seu papel era seT a voz de uma lei ortodoxa submetida a

Igreja que estabelecia 0 dogma

o Cristianismo que no sentido geral significa a religiao fundada por Jesus

Cristo e uma religiao onde 0 Livro sempre teve grande importfmcia A Biblta em

suas duas partes 0 Antigo e a Novo Testamento naa deixa de seT urn livro de

hist6ria naTTa a hist6ria do povo judeu e a biografia de Jesus Por esta razao

pedagogica e pela necessidade de retratar acontecimentos do texto sagrado e que

as cristaos iniciaram a ilustra9ao de livros Segundo a Dicionfuio Oxford de Arte

manuscritos com iluminuras sao

Livros escritos a mao e decorados com pinturas e ornamentos de diferentestipos A palavra iluminura vern do uso do verbo latino iIIuminare emconexao com 0 estilo orat6rio au narrativo onde tern a significado deuadornar As decoraCOes classificam-se em tr~s tipos principais (a)miniaturas ou imagens de tamanho reduzido nem sempre ilustrativasincorporadas no texto ou ocupando toda a pagina ou parte da margem (b)letras iniCiais contendo cenas ou decoracao elaborada(c)margens quepodem constituir em miniaturas ocasionalmente ilustradas ou maiscomumente compostas por motivos decorativosPodem enquadrar todo 0espaco do texto ou ocupar apenas uma pequena parte da margem dapagna(CHILVERS 2001 p267)

Os manuscritos eram feitos de pergaminho coura au velino geralmente em

masteiros au atelies de artistas leigos Durantes muitas geralaquooes as iluminuras

17

foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

concilios visando a instru9iio e a edifica9ao espirituai dos fieis (CHILVERS 2001

p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

corporayoes cnde 0 novo nao era bern vista quem quisesse inovar podia ser

condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

arte impessoal e tradicional Eles procuravam mais a profundidade e a esplendor

das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

arte do Ocidente Medieval

Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

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suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

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foram copiadas mas nao par falta de imaginayao criatividade mas porque as

figuras faziam parte do Carllter sagrado e inviolavel do livra

A funyao do artista de iluminuras era segundo 0 Dicionario Oxford de Arte

traduzir para a linguagem da arte 0 pensamento de te610905 e as decisoes dos

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p63) Nao existiam campos de valorizacao para estes artistas a que havia eram

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condenado por heresia au sacrilegio par isse sempre seguiam padr6es era uma

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das cores e a densidade e vitalidade da obra do que a ilusao de espayo com tres

dimensoes as imagens eram chapadas em primeiro plano

A escolha do tema as atitudes e express5es das figuras eram determinadas

p~r esquemas tradicionais cheios de significados Na arte bizantina tudo era vista

como uma pratica sacramental e nao tinha uma fun~ao didatica caracteristica da

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Ha grande quantidade de livros de Evangelhos ilustrados com miniaturas

que foram preservados e que sao geralmente dos seculos X e XI mas sem duvida

derivando de uma longa tradi~ao estes livros eram feitos para a nobreza e 0 clero

que na sua maioria nao sabiam ler Apesar de manter fidelidade aos modelos

anteriores esta obediemcia nunca foi rigida para a produrao de iluminuras ja para as

pinturas dos afrescos e mosaicos a abediemcia a reprodu~ao dos icones (imagem

de santos au outros personagens sagrados) era algo inviolavel

Nas iluminuras havia sempre espa~o de certa liberdade para interpretay03a

dos textos assim como era comum usar elementos decorativos com folhas flores

frutos animais coisas referente a arte popular como verernos mais adiante nas

18

iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

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ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

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CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

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GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

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iluminuras de Lucio Ribeiro E mesma com toda esta economia de me iDs e

direcionamento 56 no que era importante todos esses artistas conseguiram urn

resultado memoravel em comparacc3o com as nassas imagens realistas de jornais

revistas e televisao com as quais somas bombardeados diariamente

Seguindo essa Iradiltljo do livro iluminado Lucio Ribeiro Irabalhou nas

iluminuras de urn evangeliiuio que e 0 livra liturgico dos Evangelhos feitos pelos

quatro evangelistas Mateus Marcos Lucas e Joao usados nas missas solenes

Os textos produzidos nesse evangeliario sao fieis as Escrituras Sagradas No

capitulo 42 serao mostrados alguns exemplos de como Lucio trabalhou na

iluslrayao desles lextos

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3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

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A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

19

3 CAM1NHOSPERCORRIDOS

A pesquisa foi iniciada visitando-se as espacos dedicados a exposiCc30 de

obras de arte bern como as locais que estiveram diretamente ligados a vida do

Artista na cidade de Penta Grossa Dessa forma foram selecionados as seguintes

espagos para pesquisa Estagao Arte Vila Hilda (Fundagao Cultural) Igreja Nossa

Senhora Guadalupe e Mosteiro da Ressurreictao A seguir seraa apresentados cada

urn desses locais visitados e as informac6es obtidas durante 85sa primeira etapa da

pesquisa

A Estagao Arte (FIGURA 1) localiza-se

no Parque Ambiental Governador Manoel

Ribas no centro de Ponta Grossa Esse

espago e destinado pela prefeitura para a

realizacc3o de cursos das mais diferenciadas

Iinguagens artisticas como par exemple teatro

desenho e pintura Nesse local existe uma galeria de

arte cham ada Galeria Lucio Ribeiro onde ocorrem

exposiyoes de artistas de varias localidades

Durante a visita ao local a coordenadora do

espayo relatou a relayao da Galeria com 0 artista Lucio

Ribeiro e foi possivel obter um breve hist6rico que esta

exposto no painel da entrada da Galeria e dados sobre

a obra do Artista em exposiyao no local Lilith

Crucificada (FIGURA 2) Trata-se de um paineI de

madeira pintado com trayos fortes e vigorosos que

representa uma Figura mitol6gica de origem sumeria-

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

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40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

20

acadiana mulher que foi criada a imagem e semelhan9a do homem portanto quis

ter as mesmas direitos foi expulsa do Paraiso e torneu-se urn ente demoniaco que

perturba 0 sana dos homens baseada nesta historia fo criada figura que

conhecemos da Biblica chamada Eva a mulher submissa (LILITH 2006)

Ao visualizar a historico localizado no painel da entrada da Galeria

observam-se algumas reproduyoes de obras do Artista que estiveram em exposirao

no Centro de Cultura - Ponta Grossa em 1996 (serie denominada 0 Ciume) os

dados biograficos e 0 seu curricula artistico

um retrata fotografico de Lucio Ribeiro um

trecho escrito pelo artista plastico ponta-

grossense Joao Carneiro sabre a obra de

LuciouQ expressionismo usado como urna

arma quer 0 dialogo com a espectador as

figuras sem rosta a nossa atenyao seus gestos nosso carinho pois elas podem ser

qualquer urn de n6s suas acoes seus sentimentos os nossos sentimentos Sao a

expressao contida guardada escondida no interior de cada urn

A Vila Hilda (FIGURA 3) situa-se no centro de

Ponta Grossa e abriga a sede da Fundayao Cultural do

municipio

Durante a visitacao foi encontrada no acervo do local

uma obra do Artista (FIGURA 4) Esta obra nao possuia

indicacao de titulo e estava localizada no pi so superior do

predio Trata-se de uma figura humana pintada a 61eo

sobre madeira

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

21

A Igreja Cat61ica Nossa Senhora de

Guadalupe esta localizada no bairro Santa Paula

em Ponta Grossa regiao da cidade em que 0

Artista residiu a maior parte de sua vida Ali esta

localizada no pulpito do altar uma pintura sabre

madeira denominada 0 Bestiario de Cristo

Figura 5 - Pulpito da IgrejaN Sra de Guadalupe

(FIGURA 5) 0 padre responsavel pela par6quia e que conhece a familia de Lucio

Ribeiro frequentadora da igreja ate hoje relatou a forte liga~ao de Lucio com a

Par6quia que 0 estimulou a criacao da obra acima citada

a Mosteiro (figura 6) como mencionado no Capitulo anterior esta situ ado

atualmente na Colonia Eurides a uma distancia aproximada de 10 Km do centro da

cidade de Ponta Grossa Pertence a congregalao dos Manges Beneditinos da qual

Lucio Ribeiro fez parte nos ultimos tres anos de vida utilizando 0 nome lrmao

Encontra-se no local 142 obras do Artista

Bernardo

No Mosteiro funciona uma loja que

comercializa a produyao dos manges Alguns dos

trabalhos de Lucio Ribeiro foram ali vendidos

em diferentes tecnicas (gravuras pinturas e

desenhos) e com diferentes tematicas (temas religiosos retratos entre outros)

Muitas dessas obras foram produzidas antes do Artista ingressar na congregaC8o e

fizeram parte de seu acervo pessoa1

Dentre todas as obras que nos foram apresentadas no Mosteiro uma em

especial chama a atenyao Trata-se do Evangeliario produzido

Congregalao e que foi ilustrado par Lucio Ribeiro

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

22

Ja na casa do Artista foram realizadas cinco visitas e 281 obras foram

registradas atraves de fotografias

Torna-se quase impassivel descrever esta etapa do levantamento

bibliografico sem mencionar a carga emotiva vivenciada pel a mae do Artista durante

todos os encontros

Constatamos que 0 material

pertencente a familia permanecia intocado

desde a morte do Artista Recortes de

jornais desenhos fotos de familia pinturas

livres objetos pessoais entre Qutros

materia is conforme iam sendo manuseados

pela Mae resgatavam lembrancas que ate

entao nao haviam sido revividas Alguns trabalhos permaneciam nas paredes da

casa Existiam caixas com desenhos2 gavetas com fotografias e recortes de jornais

No atelier do Artista a sensacao era a de que alguem volta ria para continuar 0

trabalho Entre as pinturas estavam algumas que haviam sido premiadas em nivel

estadual Tambem a Biblia (FIGURA 7) que pertenceu ao Artista e que havia sida

ilustrada per ele ah~m de outros livros que faziam parte de sua coler80 pessoal

o relato da Mae foi emocionante Isso pode ser percebido quando ela

relembrava hist6rias as vezes relacionadas a infancia do Artista ja a Biblia de

Lucio possui ilustraroes que ocupavarn cad a esparo em branco do inicio ao tim do

Livro Descobriu-se tambem que durante tratamento psicol6gico Lucio Ribeiro

produziu urn livre (FIGURA 08) que servia como valvula de escape para todas as

2 Parte dos desenhos pertenciam a Serie 199 mostra realizada no SESe em 1997 que teve comoprolagonislas Lucio Ribeiro e Miguel Nicolau Neto Que colocaram a disposi9ao mais de 500desenhos a venda par R$1 993 Uma delas foi premiada no 4deg Salao do Mar de Antonina no Museu da Esta9ao localizado nacidade de Antonina

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suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

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40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

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FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

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Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

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28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

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42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

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FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

23

suas ansiedades Esse fato foi descrito pelo irmao de Lucio Ribeiro No livra

constam ilustrac6es feitas com nanquim aquarela colagens caneta esferograficaE

visivel ao folhar a forte representacao simb61ica (aureolas cruzes insetos) e as

desenhos de figuras humanas incompletas

Dessa forma ao final da fase

exploratoria foi passivel reunir parte da

produ9ao artistica de Lucio Ribeiro nurn total

de 426 trabalhos distribuidos em tecnicas

variadas como per exemplo desenhos

pinturas gravuras urn mural pintado na cidade

de Curitiba tres Bvres ilustrados entre Qutros

trabalhos

Apes 0 termino da coleta de dad as devido a complexidade da variada

produyao que exigiria uma pesquisa rnais aprofundada com maior tempo e

subsidies para a sua realiza9aO optou-se entao pela realiza9c3o de urn estuda sabre

a religiosidade contida nas obras utilizanda apenas 0 acerva do mosteiro que teve

parte dos trabalhos doados pela familia

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

24

40BRAS

41 DESENHOS GRAVURAS E PINTURAS

Muitos dos desenhos do aeervo do Mosteiro da Ressurreilaquoao foram

produzidos par Lucio antes de ingressar para a vida monastica sao trabalhos feitos

em papel A4 usanda as tecnicas de aquarela xilogravura linoleogravura grafite e

tecnicas mistas 0 tralaquoo continuo predomina em seus desenhos 0 que caracteriza

uma grande intensidade nervosa em sua obra

FIGURA 9 -AUTO RETRATO 1 (1995)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

Nota-se neste auto-retrato Figura 9 0 referendal ao religioso quando Lucio

coloca uma aureola sabre sua cabeya como sinal de santidade e a caracteristica do

tralaquoo continuo muito presente em quase tada sua obra

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

25

FIGURA 10 - HOMEM ANGUSTIADO (SI DATA)

Na figura 10 esta representado um homem de corpo contorcido maos

nervosas uma cruz ao fundo e ele tambem esta com uma aureola na cabeca 0

desenho de Lucio apresenta certa semelhan9a com a desenho de Egan Schiele

sabre a qual Ian Chilvers afirma suas figuras sao tipicamente solitarias e

angustiadas corpos emaciados e retorcidos expressando uma dolorosa intensidade

de sentimentos (2001 p 481)

FIGURA11 - PALHAtO 1 (SI DATA)

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

26

Na figura 11 tem-se urn palha90 com chifres talvez em referencia ao

demonio au ao pecado e mais uma vez a aureola representando a santidade

Hi urn sentido de dualidade santidade x pecado alegria x tristezaperfeiy~o x imperfei~o A imagem do palhalto e sempre cheia designificados E urn personagem que revela 0 que nao se vl escondendo partras da cara pintada as verdadeiras feicoes do artista Oesde suas origensna mais arcaica comedia au no medievo com as babos de corte construiuao longo de seu trajela um olhar irreverente do mundo com que Iraz a lanao grotesco e 0 ridlcula talvez como uma forma de chamar a nossa atencaopara a falibilidade humana 0 palhayo parece ressaltar 0 nossa ~avesso(MIRANDA 2005 p 2)

Neste trecho da poesia de Karla Mourno (1998) e possivel aproximar mais alguns sentidossimb61icos sobre 0 personagem representado

Poeticaa moral dos palhacosSem princfpios ou finalidadesCabecas sacrificadas em nomeda cOmica verdade

Todos n6s buf5es enrustidossufocados pelo desejode ser Deus

Anjo caidoo palhaco nao aspiraa imortalidade

Vive na dualidade mais erros que acertosmais feios que bonitosmais a alegria do riscoque a trisleza da conquista

Tarnbern na figura 12 rna is urn palhaco esta representado com a aureola s6

que desta vez com um rabo e orelhas de rato Existem algumas partes do corpo

faltando caracteristica tambem presente na obra de Egon Schiele

A figura 13 e uma gravura onde se tern Lucio se auto-retratando ou talvez 0

cavanhaque queira sugerir 0 demonio segurando uma cruz com a aureola e

provavelmente asas Pela data esta gravura foi feita quando Lucio estava na

faculdade de Belas Artes em Curitiba muito antes de ingressar para a vida

monastica

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

FIGURA 12 - PALHACO 2 (SI DATA)

FONTE Mostelro da Ressurreuao

FIGURA 13 - AUTO-RETRA TO 2 (SI DATA)

FONTE Mosteiro da Ressurreirao

27

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

28

A maioria de seus desenhos apresenta a aureola e quase todas as imagens

apresentam agressiva energia linear como em Egon Schiele sendo citado par Ian

Chilvers [ sendo sua obra tao admirada pela vigorosa maestria do desenho linear

quanta pela compaixao que inspiram suas imagens da humanidade as vezes

repulsivas (2001 p 481)

FIGURA 14 - AL TRUISTA DISCRETO (SI DATA)

Segue na figura 14 mais urn exemplo desta aguda intensidade nervosa

presente na obra de Lucio e esta gravura parece confirmar 0 auto-retrato 2 da

gravura anterior e mostra Lucio com asas aureola e fazendo sinais com as dedos

das maos 0 antagonism a presente na obra de Lucio figuras com chifres e asas

aureolas e rabo lembra mais uma vez as personagens muitas vezes repulsivos da

obra de Egan Schiele com figuras retorcidas e incompletas

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

29

42 ILUMINURAS DO EVANGEUARIO

o evangeliario (FIGURA 15) foi produzido por Lucio em papel canson as

iluminuras com aquarela tinta aeriliea e folha de auro as textes escritos no casa as

evangelhos fcram feit05 depois das ilustra~6es par Dutro mange Devida a marte

prematura de Lucio em 2002 chamado no mosteiro de

As imagens do Evangeliario fcram fotografadas

irmao Bernardo a evangeliinio ficou incompleto e

atualmente estao sendo produzidas novas ilustratoes

para completar as evangelhos Lucio sempre teve

grande liberdade para trabalhar as iluminuras usanda

como modele para seus desenhos as irmaos manges

seus superiores e caisas do cotidiano assim como

animais e plantas do mosteiro

pela pesquisadora durante uma visita ao Mosteiro da

Ressurrei9ao Como men cion ado anteriormente e no

Mosteiro que se encontra 0 Livro Figura 15 - eapa doEvangcliario

As citacoes biblicas que serao feitas no texto devem ser lid as da seguinte

forma Jo 21-5 significa Evangelho segundo Sao Joao capitulo 2 versiculos 123

45

30

FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

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FIGURA 16 - NOlTE DE NATAL

Na figura 16 Lucio usou uma miniatura de pagina inteira trabalhou a letra

inicial a capitular usanda urn mange cantando ele esta segurando 0 livro de

canticos gregorianos ja nas margens usou motivQs decorativQs neste Evangelho

de Sao Lucas 2 1-7 relata 0 nascimento de Jesus Cristo em Belem na Judeia

Na continua9aO do Evangelho de Sao Lucas 28-14 figura 17 Lucio mistura

mais uma vez temas da sagrada escritura com manges e animais da casa au seja

do proprio mosteiro no casa 0 anjo da anunciayao e Oem Rafael que eo urn Mestre

Prior que quer dizer assistente do Abade (pai espiritual e superior na comunidade)

que e 0 principal representante dos manges e as dais pastores sao representados

par irmaos manges de Lucio 0 cao aqui no caso uma femea tambem fazia parte

do mosteiro e se chamava Tuca Tradicionalmente era comum 0 usa de animais nas

iluminuras No Periodo Medieval 0 cao foi progressivamente tendendo a representar

o simbolo por excelencia da fidelidade como foi transmitido pelos autores da

Antiguidade tambem Lucio poderia estar representando a fidelidade a lealdade

atraves do cao

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

31

Toda a obra do Lucio e marcada par simbolismos principalmente religiosos

sao insetos asas aureolas chifres animais que refletem tambem todo a

sentimento do Artista

FIGURA 17 - ANUNCIAltAO DO NASCIMENTO DE CRISTO AOSPASTORES

Na figura 18 onde 0 Evangelho de Sao Lucas 216-20 se refere a Santa

Mae de Deus na miniatura que ocupa a pagina toda com a imagem de Maria com 0

menino Jesus nota-se em seu entorna simbolos do zodiaco referentes aos meses

do ano Carr-Gomm afirma Que a astrologia foi muito popular entre as seculos XIV e

XVI professores de astrologia eram nomeados para trabalhar nas universidades

governantes papas e principes consultavam astr610gos(2004 p230)

A a5trol09ia era aeeita pelo cristianismo porque S8 pensava que era dirigida

por Deus Os signos do zodiaco tambem eram usados para ilustrar os 12 meses do

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

32

ano juntamente com trabalhos agricolas correspondentes a cada mes e na pagina

direita tem-se representado a Sol e a Lua tambem fazendo referencia aD tempo

FIGURA 18 - VIRGEM MARIA E 0 MENINO JESUS

FIGURA 19 - ADORAiAO A VIRGEM MARIA

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

33

Na figura 19 que da sequencia ao Evangelho de Sao Lucas 2 21 ha a

representacao de urn quadra semelhante a urn icane com a imagem de Nessa

Senhora com 0 men ina Jesus sendo contemplada par urn mange que segundo Dam

Leandro (2006) seria 0 irmao Bernardo no casa Lucio se auto-retratando

Verifica-se 0 usa de folhas nas margens e que 0 mange Bernardo esta de

pes descalcos Segundo Carr-Gomm Cristo e os discipulos sao frequentemente

representados descalltos demonstrando obediencia a sua ordem (2004 p 76)

Ja na pagina seguinte observa-se nova mente urn mange representado junto

a letra inicial e mais abaixo Dom Luiz sendo representado no dia em que bateu com

o trator em uma arvore como urn sinal de carinho pelo irmao e tambem em

referencia ao trabalho manual que faz parte dos principios da ordem beneditina

FIGURA 20 - ADORAltAO DOS REIS MAGOS

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

34

Na figura 20 no Evangelho de Sao Mateus 2 1-6 que conta a vinda dos reis

magos do oriente a Jerusalem para adorar 0 menino Jesus Lucio nova mente usa as

seus superiores para representar as reis de cima para baixo temes 0 Abade Dom

Gabriel e Dom Geraldo

Junto com a letra inicial ha um camelo que para Carr-Gomm eram

considerados animais da realeza e sao vistas com os Reis Magos seguindo a

estrela (2004 p 44)

FIGURA 21 - 0 REGRESSO DOS REIS MAGOS

A figura 21 e a continuacao do capitulo 2 versiculo 6 -12 do Evangelho de

Sao Mateus na miniatura de pagina inteira urn mange com uma luneta seria Dam

Mateus e seu telescopia pais 905ta de estudar a5trol09ia

A vida no mosteiro passui tambem momentos de leitura cnde as manges

possuem uma biblioteca Ternes 17 mil volumes sendo mil exclusivamente sobre

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

35

arte contabiliza irmao Tiago (MONGUES 2006) Na sua maioria sao livres

religiosos mas existem ate romances para serern lidos 0 lema de Sao Bento

poderia ser resumido em ora trabalha e Ie A leitura tern urn espago privilegiado na

vida do monge em especial a leitura das Sagradas Escrituras A vida no mosteiro

favorece a busca do equilibrio temperando os momentos de trabalho (corpo) com a

leitura (alma) e a ora9poundjo (espirito)

Atras da Figura de Dam Mateus vemos outro mange na porta do claustra

pais todos as manges uma vez par mes fiearn isolados por 7 dias como sinal de

martirio

Verifica-se que Lucio Ribeiro fazia suas iluminuras sempre misturando a

sagrada escritura com as costumes da casa cenas do cotidiano e seus irmaos

manges mostrando 0 carinho que possuia per eles e uma das caracteristicas da

vida monastica que e a vida em comunidade

Nota-se tambem alem da referencia 80 cotidiano 0 forte tra90

expressionista do artista principal mente quando comparado as obras de Egan

Schiele artista que influenciou Lucio E mesmo tendo que trabalhar urn tema tao

especifico impasto pela sua situa9ao de monge nao deixou de mostrar sua

caracteristica expressionista

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

36

5 CONSIDERA~OES FINAlS

Foi muito importante para a realiz8cao da presente monografia ir a pesquisa

a campo para descobrir de onde vern esta religiosidade da obra de Lucio Sua mae

em conversa informal relatau que a familia sempre foi extremamente cat61ica e que

condenava muitas atitudes de Lucio que era urn rapaz reprimido sensivel e que

estava numa constante busca pessoal Podemos sentir isso em suas obras tao

cheias de tensao e emocao

Pudemos observar em todas as obras nos simbolos temas e gest05 a

intensidade religiosa que acompanhou 0 Artista Tambem se observou nos

desenhos que as caracterislicas do seu tra90 presentes nos primeiros trabalhos se

conservaram ate 0 fim quando 0 Artista trabalhou as iluminuras Seguindo os

mesmos passos de artistas da Idade Media com temas tao especificos como os

Evangelhos da Biblia Sagrada e inserindo cenas do cotidiano nao deixa de colocar

sua principal caracteristica que e 0 traco expressionista com uma enorme carga

emocional

Ao divulgar esta pesquisa a alguns colegas universitarios que ja sao

professores de Arte alguns desdobramentos foram possiveis Os mesmos aplicaram

em suas aulas a leitura de imagens com obras de Lucio uma destas aulas teve

como tema a expressao do desenho com tra90 continuo e foi pedido aos alunos que

com arames tentassem fazer urn desenho em que demonstrassem algum

sentimento que eles expressassem 0 que estavam sentindo e 0 resultado foram

trabalhos como uma mae segurando seu filho no colo uma bicicleta toda retorcida

uma pessoa arcada magra como se fosse urn andarilho e muitos outros exemplos

que surpreenderam pela carga sentimental que conseguiram exprimir

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

37

Outre colega ministrou uma aula sabre iluminuras usanda exemplos de

iluminuras da Idade Media comparadas com as iluminuras de Lucio Ribeiro ao final

pediu a partir de urn salmo bastante critica que os alunos produzissem a sua

pr6pria iluminura Foram obtidos muitos 6timos trabalhos com criticas a politica aviolencia as drogas ao consumismo e ao individualismo que mostraram que

nassos adolescentes estao Iigados com 0 que esta acontecendo no seu entorna

Mas em ambos as casas 0 que mais surpreendeu os alunos foi saberem que Lucio

Ribeiro era urn artista da cidade

o presente trabalho contribuiu para mostrar a grande importancia da

valoriz89ao de artistas locais para diminuir a distEmcia entre a Arte e as cidadaos e

como e importante trabalhar isto em sala de aula Com a obra de Lucio Ribeiro foi

possivel trabalhar varios temas com os alunos e esperamos que isso estimule e gere

outros trabalhos sobre artistas locais para ser trabalhada a leitura de imagens no

contexte escolar

Acreditamos que como professores de arte devemos auxiliar nossos alunos

a pensar sobre as diferentes linguagens visuais que se apresentam atualmente em

nossa sociedade Isto com a intencao de contribuir para a formacao de um cidadao

mais reflexivo e critico sobre 0 que Ihe e apresentado Paulo Freire fala que

( ) a promocao da ingenuidade para a criticidade nao se da

automaticamente uma das tarefas precipuas da pratica educativa-progressista e

exatamente 0 desenvolvimento da curiosidade critica insatisfeita ind6cil

Curiosidade com que podemos nos defender de irracienalismos decorrentes do eu

produzides per certo excesso de racionalidade de nesso tempe altamente

tecnologizado(1999 p35-36)

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

38

o desenvolvimento desta pesquisa tambem obteve como resultado urn

convite da Esta~ao Arte de Ponta Grossa para 0 trabalho ern urn projeto de

levantamento de todo 0 aeervo do artista e como resultado final deste trabalho sera

feita urna exposicao com as obras catalogadas4

TudD isto mostra a grande importancia da pesquisa e que esta deve ser

continua Como no caso do Lucio 0 que fo feito fo apenas um come~ existem

muitas eaisas ainda a serem exploradas e isto e 0 mais interessante da pesquisa

ela naD tern fim

Dentro do que S8 pretendia com esta monografia que era conhecer e

apresentar a prodwao de um artista local do contexto paranaense e mais

especificamente pontagrossense ampliando com ele 0 conhecimento sabre Arte

com a oportunidade de lidar diretamente com as obras acredita-se ter alcancado as

objetivos

40 convile foi extensivo ao colega de classe Juliano Axt da 40 ana do curso de Ucenciatura emArtes Visuais da Universidade Estadual de Panta Grossa

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

ARTE Bizantina Disponivel em hlppwwwhistoriadaartecombrlhtml Acesso em12 jun 2006

BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006

39

REFERENCIAS

ARGAN Giulio Carlo Arte Modema Sao Paulo Companhia das Letras 1992

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BEHR Shulamith Expressionismo Sao Paulo Cosac amp Naify Edi90es 2001

BiBLIA Portugues Biblia Sagrada TraduCao Joao Jose Pedreira de Castro 140ed rev e cor Sao Paulo Editora Ave-Maria 2001

CARR-GOMMSarah Dicionario de simbolos na arte guia ilustrado da pintura e daescultura ocidentais Tradu9aO Marta de Senna Bauru SP EDUSC 2004( Cole9aoPlural)

CHILVERS Ian DicionBrio Oxford de Arte Sao Paulo Martins Fontes 2001

DON DIS Donis A Sintaxe da Linguagem Visual 2 ed Sao Paulo Martins Fontes1997

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessarios a pratica educativa10 ed Sao Paulo Editora Paz e Terra SA 1999 (Cole9ao Leitura)

GRAVURA Disponivel emhttpwwwcasadaculturaorgarteArtigos_o_que_e_arte_definicoesgr01gravura_conceito_histhtml Acesso em 10 out 2006

GULLAR Ferreira Expressionismo Arte amp infonnaqilo Rio de Janeiro n 3 p 6-17nov 2000

LlLlTI-I Disponivel em httpwwwastrocomastrologyinJilithyhtm Acesso em 28set 2006

MICHELI Mario de As vanguardas artisticas -3ed-Sao Paulo Martins Fontes2004

MIRANDA Andrea de A moral da mascara e a imoralidade da aparencia Curitiba2005 p 2 (comunica9aO pessoal)

MONGES Beneditinos Disponivel em httpwwwEstadaocombr Acesso em 07jun 2006

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Nonnas tecnicas elabora9ao eapresenta9ao de trabalho academico - cientifico -2ed-Curitiba UTP 2006