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Projeto de Pesquisa: Escrita Autobiográfica e História da Educação Matemática Maria Laura Magalhães Gomes Departamento de Matemática e Programa de Pós-graduação em Educação da UFMG Agosto de 2014

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Projeto de Pesquisa: Escrita Autobiográfica e História da

Educação Matemática

Maria Laura Magalhães Gomes

Departamento de Matemática e Programa de Pós-graduação em

Educação da UFMG

Agosto de 2014

Introdução

Os textos autobiográficos têm se tornado, em tempos mais recentes, objetos de

estudo de diversos campos do conhecimento, que os têm investigado de acordo com

diferentes perspectivas. No Brasil e no contexto internacional, as diversas formas de

escrita autobiográfica, escrita autorreferencial ou, ainda, escrita de si vêm recebendo

reconhecimento e visibilidade crescentes, tanto nas instâncias acadêmicas, como no

mercado editorial. Gomes (2004), mesmo considerando que, na área da história, em

nosso país ainda não são muitos os estudos que refletem sistematicamente sobre esse

tipo de escritos, aponta que iniciativas frequentes nessa direção se têm dado nas áreas da

literatura e da história da educação. Em tais domínios, de fato, temos observado a

constituição dos textos autorreferenciais em objetos e fontes de pesquisa, tendo a

atenção a eles resultado em uma série de trabalhos, entre os quais podemos citar, por

exemplo, Vianna (1995), no campo da literatura; Mignot, Bastos e Câmara (2000),

Lacerda (2003), Melo (2008), Alcântara (2008) e Mignot e Silva (2011), no da história

da educação1.

No que diz respeito à história da educação, Antonio Viñao (2000) indica alguns

objetivos que podem ser perseguidos com o uso das fontes autobiográficas: a

reconstrução dos processos e modos de educação de uma geração ou grupo social em

uma época ou contexto determinado; a busca de semelhanças e diferenças nos modos de

educação de gerações ou grupos sociais distintos; a análise da autopercepção

socioprofissional e dos modos de vida de professores; o interesse por um aspecto

1 Vianna (1995) estudou a escrita memorialística feminina buscando compreender o processo de

composição da escrita memorialística em interação com a construção de uma identidade da mulher no

Brasil. Lillian de Lacerda (2003) procurou entender as condições de acesso à leitura e os processos de

formação de leitoras no Brasil mediante o estudo da escrita memorialística de doze mulheres nascidas

entre 1843 e 1916. Mignot, Bastos e Cunha (2000) organizaram uma coletânea de artigos que abordam

escritos autobiográficos de tipos diversos e analisam neles aspectos também diversos. Alcântara (2008)

investigou a docência de Botyra Camorim, uma professora primária paulista na primeira metade do século

XX a partir de seus escritos, inclusive sua autobiografia. Melo (2008) pesquisou o modo como o médico e

escritor mineiro Pedro Nava se apropriou das culturas do escrito no início do século XX no quadro de um

conjunto de práticas de transmissão dessas culturas usando como fonte principal de sua pesquisa a obra

memorialística do autor. Mignot e Silva (2011) exploram os sentidos de um tom autobiográfico inscrito

em relatórios de viagens de três professores que, em missão oficial como educadores, foram à Europa, nos

primórdios da república brasileira, para conhecer e estudar o sistema educacional de alguns países.

específico que se constitui em objeto de investigação, como a educação doméstica, o

trabalho infantil, as primeiras leituras, a visão que se oferece dos professores etc.

Um aspecto específico de nosso interesse encontra-se no passado da educação

matemática no Brasil, em sentido amplo: estamos nos referindo, aqui, a experiências

escolares ou não, nas quais estejam envolvidos processos de ensino e aprendizagem de

conhecimentos matemáticos; amiúde, o estudo desses processos se entrelaça aos demais

objetivos que podem ser perseguidos com o uso de materiais autobiográficos em

história da educação elencados por Viñao e acima mencionados. Assim, investigar os

processos de ensino e aprendizagem dos conhecimentos matemáticos de tempos

pretéritos pela ótica da escrita autorreferencial pode significar, muitas vezes, procurar

conhecer tais processos do ponto de vista de gerações ou grupos sociais distintos, ou a

partir das percepções de alunos e professores sobre suas experiências, sobre a escola e

as práticas pedagógicas nela desenvolvidas em determinados momentos.

Souza (2000, p. 52) defende que, para compreender o que a escola realizou em seu

passado, não é bastante estudar ideias, programas, discursos, papéis sociais nela

desempenhados, práticas e métodos de trabalho, tornando-se necessário também “tentar

compreender a maneira com que professores e alunos reconstruíram sua experiência,

como constituíram relações, estratégias, significações por meio das quais construíram a

si próprios como sujeitos históricos.” Essa proposição, que consideramos válida

também naquilo que concerne ao que a educação realizou no passado especialmente em

relação aos conhecimentos matemáticos, conduz a uma abordagem como aquela

recomendada pela autora, isto é, uma abordagem que inclua o ponto de vista de alunos e

professores, sobretudo, e que não se restrinja aos discursos em geral mais

frequentemente evidenciados e valorizados, como os dos governos, dos autores de

programas e livros didáticos, dos sujeitos que, em determinado momento, tiveram

algum tipo de destaque nos meios educacionais.

A leitura de livros de memórias e autobiografias de pessoas diferenciadas quanto

à trajetória de vida, profissão, inserção socioeconômica e política, relações com a

cultura escrita e concepções socioculturais, dentre outros aspectos, tem nos mostrado as

potencialidades dos materiais autobiográficos para a investigação em história da

educação matemática. Para ilustrar essas potencialidades, comentaremos rapidamente

passagens de três livros desse gênero assinados pelos escritores brasileiros Augusto

Meyer (1966), Humberto de Campos (1951) e Sylvia Orthof (1987), publicados

originalmente respectivamente em 1949, 1933 e 1987. Essas passagens integram as

memórias dos três autores e nos remetem a diferentes aspectos da educação matemática

em tempos passados.

Augusto Meyer (1966, p. 53) fala das dificuldades e de seu próprio sofrimento,

quando criança, nos primeiros contatos com a educação matemática escolar no Rio

Grande do Sul, na primeira década do século XX, referindo-se à “dura experiência dos

números que o trouxe acovardado diante das quatro operações” e relatando que elas lhe

custaram um “esforço doloroso, deixando arranhões na pele sensível do amor-próprio”.

Humberto de Campos narra suas vivências de práticas escolares com a matemática no

final do século XIX, em uma escola de primeiras letras no interior do Maranhão,

abordando a realização de uma arguição oral referente à tabuada e à prova dos nove, na

qual um componente importante era o castigo físico com “bolos” de palmatória

ministrados pelos próprios estudantes. Sylvia Orthof traça o retrato de sua professora de

matemática do ginásio, nível de estudos imediatamente posterior ao curso primário em

sua época, em uma escola particular da cidade do Rio de Janeiro, na década de 1940,

relatando suas percepções quanto a diferentes facetas da prática pedagógica dessa

professora e expressando seus sentimentos como aluna em relação à docente e a suas

maneiras de abordar a matemática.

Nos três casos, localizamos alusões expressivas à educação matemática brasileira do

passado, inseridas nas narrativas autobiográficas de Meyer, Campos e Orthof, que

revelam os modos como antigos estudantes, ao recordar sua vida, interpretaram essa

educação. Assim como os trechos referidos, inúmeros outros, significativos para o

conhecimento de diferentes aspectos da história da educação matemática, podem ser

encontrados em escritos autobiográficos.

Parece-nos pertinente, portanto, desenvolver um projeto de pesquisa para investir

nas múltiplas possibilidades de trabalho que podem vincular escrita autobiográfica e

história da educação matemática, dando continuidade aos estudos que iniciamos no pós-

doutorado2 e nos quais temos prosseguido

3. Pesquisar nesse contexto envolve,

2 Com apoio de bolsa de pós-doutorado sênior do CNPq (Processo 150270/2010-0), realizamos estágio

na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP, Campus de Rio Claro) no período de

01/08/2010 a 31/07/2011, sob a supervisão do Prof. Dr. Antonio Vicente Marafioti Garnica, junto ao

GHOEM-Grupo de Pesquisa em História Oral e Educação Matemática.

simultânea e indispensavelmente, desenvolver estudos de natureza teórico-metodológica

relativos à escrita autorreferencial, e proceder ao levantamento e mapeamento de

escritos autorreferenciais relevantes para uma melhor compreensão do passado da

educação matemática em nosso país. Envolve, ainda, identificar temáticas relevantes

para a história da educação matemática que podem ser focalizadas, com proveito, pela

via do trabalho com a escrita autobiográfica, e proceder a investigações sistemáticas

sobre essas temáticas com parâmetros teórico-metodológicos adequados. São esses os

principais propósitos do presente projeto.

Escrita autobiográfica e história da educação matemática

Como já foi dito, a escrita autobiográfica, também chamada escrita de si ou

escrita autorreferencial, tem sido considerada, por diversos autores, como fonte e objeto

importante para a pesquisa em História da Educação (VIÑAO, 2000 e 2004; GOMES,

2004; MIGNOT, 2003).

Conceituar a escrita autobiográfica não é algo simples e nem algo que se faça

uniformemente entre os pesquisadores de diversos campos do conhecimento. Para Jean

Starobinski (1970), três condições essenciais caracterizam a escrita autobiográfica: a

identidade entre autor e herói da narração, a presença de uma narração e não de uma

descrição4, e a cobertura, pela narrativa, de uma sucessão temporal suficiente para que

apareça o traçado de uma vida. Um escrito autobiográfico fica definido, portanto, como

um escrito em que essas três condições são contempladas. No entanto, tais condições

comportam um grau alto de variabilidade, uma vez que o autobiógrafo pode escrever

uma página ou vários volumes; “contaminar” a narrativa de sua vida pelos

acontecimentos dos quais foi testemunha distante; datar com precisão os momentos de

sua narração; fazer um exame de consciência no momento em que escreve; escolher

diversos estilos particulares, de modo que não há estilo ou forma obrigatórios para a

escrita autobiográfica. Todavia, Starobinski destaca que é somente dentro das três

condições gerais anteriormente citadas que o estilo de cada autor se afirmará. O estilo é,

nesse sentido, o modo próprio de cada autobiógrafo satisfazer as três condições, que

3 Algumas produções que decorreram desses estudos são: Gomes (2012), Garnica, Gomes e Andrade

(2012); Garnica, Gomes e Andrade (2013); Gomes (2013); Gomes; Tizzo e Silva (2013); Gomes (2014) e

Gomes (2014 a). 4 Entendemos “narração” como “narrativa”, isto é, exposição de um acontecimento ou de uma série de

acontecimentos mais ou menos encadeados, reais ou imaginários, por meio de palavras ou imagens. Uma

“descrição” seria, diferentemente, uma representação oral ou escrita de alguma coisa, ou seja, uma

exposição.

demandam somente a narração verídica de uma vida, e deixam ao escritor o cuidado de

regrar sua modalidade particular, seu tom, ritmo, extensão, etc. Starobinski completa

suas considerações acerca do estilo indicando a indissociabilidade entre a narração e o

estilo na constituição da escrita autobiográfica. O autor enfatiza que, na narrativa em

que o narrador toma como tema o próprio passado, a marca individual do estilo adquire

caráter essencial, uma vez que a escrita autobiográfica se caracteriza pela conjunção da

autorreferência explícita da própria narração com o valor autorreferencial implícito de

um modo singular de elocução (STAROBINSKI, 1970, p. 84).

No interior da conceituação de Starobinski, bem como da de outros autores, a

escrita autobiográfica pode se realizar de maneiras muito diversificadas: nela se

inscrevem desde as formas mais tradicionais, como os livros de memórias e as

autobiografias, os diários e as cartas, até as formas menos “evidentes” representadas

pelas coleções de fotografias e outros papéis e objetos, ou ainda por quaisquer

documentos constituintes de uma “memória de si” simbolizada pela guarda de registros

que materializem a história do indivíduo e dos grupos a que pertence. Considera-se,

nesse caso, em uma visão alargada para a escrita autorreferencial, que a coleta e o

armazenamento desses registros são atos biográficos narrativos das pessoas.

Uma perspectiva bastante estendida acerca da escrita autobiográfica é a de Artières

(1998), que, referindo-se ao fato de a cultura escrita ter se tornado um componente

imprescindível à inserção dos indivíduos na organização das sociedades modernas,

enfatiza o arquivamento da vida de cada um como uma injunção social continuamente

imposta às pessoas. Segundo o autor, o arquivamento de nossa vida não é, porém,

concretizado ao acaso, já que sempre fazemos acordos com a realidade, manipulamos a

existência, omitimos, rasuramos, riscamos, grifamos, enfatizamos passagens. Das várias

práticas de arquivamento presentes nas sociedades modernas, sobressai-se, pois, o que

se poderia denominar uma intenção autobiográfica. As elaborações de Artières

conduzem, assim, a uma ampliação na concepção de escrita autobiográfica, já que, além

das formas mais comumente lembradas dessa escrita – as memórias, as cartas e os

diários –, passamos a pensar nos acervos e arquivos pessoais, que podem incluir

fotografias, livros, cadernos, documentos e outros objetos, como uma forma de escrita

autobiográfica.

Embora reconhecendo as dificuldades da tarefa de elaborar uma classificação geral

dos escritos autorreferenciais, pelo desafio de fixar os limites da escrita autobiográfica e

pelas variações relativas a épocas e lugares distintos, Antonio Viñao (2000, 2004)

procura estabelecer uma categorização para esses escritos. Alertando para o fato de que

o que é considerado autobiografia, memórias, carta, diário, livro ou caderno com

anotações e recortes é algo que se modifica no espaço e no tempo, muitas vezes não

correspondendo a sua denominação formal, o autor enumera alguns tipos de escritos

autobiográficos: as autobiografias e memórias, as entrevistas autobiográficas, os diários,

pessoais e profissionais, os autorretratos5. Antonio Viñao (2000, 2004) considera ainda

as agendas, a correspondência, os arquivos pessoais e as “folhas de méritos e serviços”,

que seriam uma espécie de Curriculum vitae comentado.

Se a conceituação da escrita autobiográfica e a classificação de escritos como

autobiográficos são empreendimentos complexos, o mesmo se passa em relação ao

objeto que nos interessa vincular a tais escritos – a história da educação matemática –,

uma vez que, na comunidade dos envolvidos com as relações entre história e educação

matemática, não é possível identificar um consenso acerca da filiação e da identidade

desse campo de estudos. Trata-se de uma questão advinda, em grande parte, da

polissemia de termos como história, história da matemática, história da educação e

educação matemática, que são vistos pelos pesquisadores sob muitos e diferentes

prismas. A despeito da diversidade e complexidade envolvidas na conceituação da

história da educação matemática, nossa posição em relação ao tema é bem expressada

pela formulação de Miguel e Miorim (2002), que distinguem esse campo de

investigação quando “destacamos da atividade matemática aquela dimensão que se

preocupa exclusivamente em investigar os processos intencionais de circulação,

recepção, apropriação e transformação dessa atividade” e incluímos nele “todo estudo

de natureza histórica que investiga, diacrônica ou sincronicamente, a atividade

matemática na história, exclusivamente em suas práticas pedagógicas de circulação e

apropriação do conhecimento matemático e em práticas sociais de investigação em

educação matemática” (MIGUEL; MIORIM, 2002, p. 187). Adotamos, portanto, uma

conceituação da história da educação matemática ampla o suficiente para abranger mais

do que o estudo, ao longo do tempo, das ideias educacionais ou doutrinas pedagógicas

relativas à matemática ou o estudo da matemática como disciplina escolar, e é com esse

5 Segundo Viñao, o autorretrato é um texto breve, independente ou integrado a outro mais amplo,

circunscrito à descrição dos traços físicos e psicológicos de quem escreve.

significado alargado que pretendemos estabelecer elos entre escrita autobiográfica e

história da educação matemática.

A escrita autobiográfica, como foi discutido anteriormente, pode se manifestar

em formas muito variadas quando levamos em conta a concepção ampliada de escritos

autobiográficos que apresentamos. Há escritos autobiográficos de diversos tipos que

interessam à história da educação matemática, como fonte ou objeto de estudo. Para a

pesquisa aqui proposta, no entanto, intencionamos concentrar esforços sobre aqueles

textos mais comumente associados à escrita autorreferencial, a saber, os livros de

autobiografias e memórias.

Sobre autobiografias e memórias

Se ser é haver sido, o passado constitui o material de base, o caminho,

para se indagar quem se é. Mas qualquer passado, pessoal ou

histórico, só se recupera por intermédio da imaginação. A memória é

força dinâmica e criadora, que transmuta sem cessar seus elementos.

[...] A autobiografia é, em suma (e não pode ser outra coisa), uma

versão de si mesmo que o autobiógrafo oferece ao público

(GLUSBERG, 1995, p.95).

As autobiografias e memórias em sentido estrito (confissões, recordações,

testemunhos, impressões) são textos que narram vidas, independentemente de um

caráter mais ou menos pessoal, íntimo, profissional ou público. Frequentemente,

autobiografias e memórias são distinguidas do seguinte modo: na autobiografia, o

centro da atenção é o eu que recorda e dá conta de sua vida e sua pessoa, ao passo que,

nas memórias, o que prepondera não é o eu que recorda e narra, mas sim o mundo

exterior, os acontecimentos e personagens que são recordados e dos quais se fala.

Assim, as memórias tenderiam a ser uma cosmorrepresentação e a autobiografia uma

autorrepresentação. Contudo, como Viñao (2000) e outros autores indicam, essa

distinção é de natureza mais teórica e acadêmica do que conceitual, uma vez que o mais

comum é a combinação, em um mesmo texto, de ambos os aspectos, e o uso indiferente,

nos títulos, de um ou outro dos termos. Na verdade, é impossível à narrativa “restringir-

se à focalização do eu que narra”, pois este, “ao desencadear a retrospecção, olha não

apenas para si e para outros eus que com ele interagiram, e com os quais estabeleceu

relações recíprocas, mas também para um determinado contexto histórico-geográfico,

que pode ser objeto de maior ou menor atenção” (MIRANDA, 1992, p. 37).

Entre os muitos pesquisadores que se têm debruçado sobre a escrita autobiográfica,

frequentemente citado nos textos que abordam a temática, um nome de destaque é o do

francês Philippe Lejeune, que, desde a publicação de seu primeiro livro,

L’autobiographie en France, em 1971, tem produzido ensaios teóricos e análises sobre

a expressão autobiográfica. As elaborações de Lejeune nos parecem férteis para

qualquer estudo sobre a escrita autobiográfica, e por isso aqui apresentamos uma breve

discussão dos pontos que nelas se nos afiguram como centrais. O primeiro deles é a

conceituação inicial do autor para a autobiografia. Para estabelecer o corpus que

analisaria, em seu primeiro livro, Lejeune propôs a seguinte definição para a

autobiografia:

“Narrativa retrospectiva em prosa que uma pessoa real faz de sua própria existência,

quando focaliza sua história individual, em particular a história de sua personalidade”

(LEJEUNE, 2008, p. 14).

Lejeune comenta que sua posição como definidor precisa ser relativizada e

explicitada: “historicamente, esta definição não pretende cobrir mais que um período de

dois séculos (desde 1770) e só diz respeito à literatura europeia” (LEJEUNE, 2008, p.

14). Ele também explica que essa definição encerra diversos elementos: a forma da

linguagem (narrativa em prosa), o assunto tratado (vida individual, história de uma

personalidade), a situação do autor (identidade entre autor e narrador), a posição do

narrador (identidade entre narrador e personagem principal e perspectiva retrospectiva

da narrativa). Lejeune acrescenta ainda que, com essa definição proposta inicialmente,

para ser uma autobiografia, uma obra precisa preencher simultaneamente todas essas

condições. No entanto, ele reconhece que certas condições podem não ser totalmente

preenchidas, e flexibiliza sua definição dizendo que o texto deve ser principalmente

uma narrativa, a perspectiva principalmente retrospectiva (isso não exclui nem seções

de autorretrato, nem diário da obra, nem construções temporais complexas); o assunto

deve ser principalmente a vida individual, mas a crônica e a história social ou política

também podem ocupar um espaço. Em contrapartida, duas condições não podem falhar,

pois são elas que opõem a autobiografia à biografia e ao romance pessoal; essas

condições são a situação do autor e a posição do narrador: deve haver identidade entre o

autor (cujo nome remete a uma pessoa real) e o narrador e identidade entre o narrador e

o personagem principal. Contudo, a questão da relação de identidade entre autor,

narrador e personagem levanta vários problemas, discutidos em detalhe por Lejeune

(2008, p. 15-44; p. 55-56).

Sem nos determos para apresentar ou comentar essa discussão, passemos ao

essencial no trabalho de Lejeune. O conceito central de sua obra é o de pacto

autobiográfico6 – um contrato de leitura entre o autor-narrador-personagem e o leitor.

Esse conceito, que já se apresentava no primeiro livro do pesquisador francês, foi

retomado e desenvolvido em trabalhos posteriores seus, publicados em 1975, 1986 e

20057. A autobiografia passa a ser, com a proposição da noção de pacto autobiográfico,

qualquer texto regido por um tal pacto. Nas palavras de Lejeune, no pacto

autobiográfico, “o autor propõe ao leitor um discurso sobre si, mas também uma

realização particular desse discurso, na qual a resposta à pergunta “quem sou eu?”

consiste em uma narrativa que diz “como me tornei assim”” (LEJEUNE, 2008, p. 54).

Entretanto, Lejeune adiciona outra dimensão ao pacto autobiográfico: além de referir-se

à intenção do autor, aspecto que acabamos de mencionar, ele considera também a

intenção que o leitor atribui a esse autor. Em outros termos, diz o próprio Lejeune,

“imaginei sob a forma de um contrato único um duplo processo: o compromisso e o

sistema de apresentação escolhido pelo autor e o modo de leitura escolhido pelo leitor”

(LEJEUNE, 2008, p. 57). No que diz respeito ao autor, o pacto seria o compromisso que

ele assume de contar diretamente sua vida (ou uma parte, ou um aspecto de sua vida)

com um espírito de verdade. O pacto autobiográfico se opõe ao pacto de ficção (ou

pacto romanesco). De acordo com Lejeune, o autor de um romance (mesmo se

inspirado em sua vida) não nos pede que acreditemos em tudo que conta, mas

simplesmente que brinquemos de acreditar. O autobiógrafo, por outro lado, nos promete

que o que vai dizer é verdadeiro, ou pelo menos, é o que ele crê verdadeiro. Ele se

comporta como um historiador ou um jornalista, com a diferença que o assunto sobre o

qual promete dar uma informação verdadeira é ele mesmo. O compromisso de dizer a

verdade sobre si pode ser reconhecido pelo leitor de várias maneiras. Por vezes, pelo

título: Memórias, Lembranças, Histórias de minha vida... Por vezes, pelo subtítulo

(“autobiografia”, “narrativa”, “lembranças”, “diário”), e, por vezes, simplesmente pela

6 Além de nomear o livro de Lejeune publicado no Brasil (LEJEUNE, 2008), o conceito é utilizado no

nome e no conteúdo do site mantido pelo autor (http://www.autopacte.org/) (Acesso em 19/08/2014).

Nesse site, informa-se que Autopacte é o nome de um personagem do ensaísta e moralista francês Jean de

La Bruyère (1645-1696) utilizado por Lejeune para troçar de si mesmo. 7 Em Lejeune (2008), a primeira parte, intitulada “O pacto autobiográfico”, inclui três artigos: “O pacto

autobiográfico”, “O pacto autobiográfico (bis)” e “O pacto autobiográfico, 25 anos depois”, publicados

originalmente, respectivamente em 1975, 1986 e 2005.

ausência de menção a “romance”. Por vezes, há um prefácio do autor, ou uma

declaração na quarta capa do livro. Enfim, muito frequentemente, o pacto

autobiográfico traz a identidade de nome entre o autor cujo nome está na capa e o

narrador-personagem que conta sua história no texto.

Nosso propósito, neste projeto, é o de trabalharmos com livros nos quais seja

possível identificar algumas das manifestações apontadas por Lejeune para que se

reconheça o compromisso de o autor dizer a verdade sobre si ao leitor: o título, o

prefácio, alguma declaração específica do autor ou simplesmente a identidade de nome

entre o que figura na capa e o narrador-personagem do texto.

Objetivos e procedimentos

O objetivo geral desta pesquisa é investigar a escrita autobiográfica em livros de

memórias e autobiografias de autores diversos, sobretudo brasileiros, no que diz

respeito à história da educação matemática. A perspectiva de investigação aqui proposta

é a de tratar esses textos concomitantemente como fonte e objeto de pesquisa.

Para tanto, propomos os seguintes procedimentos:

1) levantar livros de memórias e autobiografias potencialmente interessantes para a

investigação sobre o passado da educação matemática8;

2) mapear, na leitura dessas obras, as passagens alusivas à experiência dos autores

quanto à educação familiar, escolar, ou proporcionada por outras instâncias, com

ênfase particular nas referências aos processos de ensino e aprendizagem de

conhecimentos matemáticos;

3) realizar um fichamento dos mesmos livros, no qual sejam registrados, além de

informações editoriais e sobre os autores, as passagens mapeadas do texto

referentes à educação em geral e à educação matemática em particular

consideradas mais significativas na primeira leitura, bem como os excertos de

reflexões dos autobiógrafos acerca da escrita autorreferencial que empreendem;

8 Esse trabalho teve início em nosso estágio de pós-doutorado. Apresentamos, mais adiante, uma lista

inicial de obras memorialísticas a serem focalizadas.

4) identificar, mediante o mapeamento e o fichamento, temáticas relevantes para a

história da educação matemática a serem focalizadas pela via dos escritos

autorreferenciais9;

5) ampliar e aprofundar conhecimentos teórico-metodológicas sobre a escrita

autobiográfica que subsidiem as investigações temáticas sugeridas pelo

mapeamento;

6) realizar estudos que conectem escrita autobiográfica e história da educação

matemática, com fundamentação nos procedimentos anteriores.

Para a realização dos estudos propostos, cuja meta principal é vincular escrita

autobiográfica e história da educação matemática, torna-se essencial fixar algumas

diretrizes. Parâmetros teórico-metodológicos, que não são exclusivos para o campo da

História da Educação Matemática, vêm sendo colocados pelos pesquisadores em

História e História da Educação para o trabalho com a escrita autobiográfica. Sem a

pretensão de constituir um rol completo desses parâmetros, mesmo porque um dos

propósitos primordiais deste projeto é ampliar e aprofundar os estudos de natureza

teórico-metodológica acerca da escrita autorreferencial10

que temos realizado,

procuramos, a seguir, sistematizar um conjunto inicial de diretrizes que nos parecem,

num primeiro momento, as mais relevantes para balizar trabalhos historiográficos

referentes à educação matemática que façam da escrita de si fonte ou objeto.

Parâmetros teórico-metodológicos visando à pesquisa em História da

Educação Matemática conectada à escrita autobiográfica

Se alguém se põe a escrever uma autobiografia, é porque tem

em mente fixar um sentido em sua vida e dela operar uma síntese.

Síntese que envolve omissões, seleção de acontecimentos a serem

relatados e desequilíbrio entre os relatos (uns adquirem maior peso,

são narrados mais longamente do que outros), operações que o autor

só é capaz de fazer na medida em que se orienta pela busca de uma

significação: busca essa que lhe dirá quais acontecimentos ou

9 Nos estudos que desenvolvemos até o momento, emergiram algumas dessas temáticas, como as

representações dos professores de matemática por parte dos alunos; o ensino de matemática na

escolarização inicial, seja na escola de primeiras letras, com o mestre-escola, seja na educação seriada, no

curso primário; as práticas pedagógicas com a matemática em momentos de reformas educacionais

conforme os relatos de memórias de professores; a caracterização do exercício da docência em

matemática na escola secundária. Trabalhamos alguns desses temas em Gomes (2008) e Gomes (2011,

2011a). Alternativamente, em vez de o objeto de estudo ser um tema específico da educação matemática

no passado focalizado pelos textos, a própria obra autobiográfica pode se constituir nesse objeto, como no

caso em que o autor é ou foi professor de matemática. 10

Veja-se a bibliografia de potencial interesse para esses estudos apresentada ao final deste projeto.

reflexões devem ser omitidos e quais (e como) devem ser narrados. É

essa busca também que prevalece na estrutura do texto, os relatos

ganhando sentido à medida que vão sendo narrados, acumulando-se

uns aos outros, de modo que a significação se constrói no momento

mesmo em que o autor escreve a autobiografia (ALBERTI, 1991, P.

77).

As principais diretrizes que, segundo pensamos, devem orientar o estudo dos

escritos autobiográficos em conexão com a história da educação matemática, sejam eles

tomados como fonte ou como objeto de investigação, podem ser especificadas como: 1)

a dimensão subjetiva da escrita autobiográfica; 2) a convivência de tempos na escrita

autobiográfica; 3) as relações do texto autobiográfico com seu autor; 4) a dimensão

subjetiva da leitura da escrita autobiográfica.

No que diz respeito à dimensão subjetiva da escrita autobiográfica, é

fundamental observar que trabalhar com a escrita autobiográfica demanda

deslocamentos nos procedimentos de crítica às fontes. Como nota Gomes (2004), não

existe a possibilidade de se saber “o que realmente aconteceu”; o que importa para o

historiador é exatamente a ótica assumida pelo registro escrito autobiográfico e como

seu autor a expressa. O documento autorreferencial não diz “o que houve”, mas sim “o

que o autor diz que viu, sentiu e experimentou, retrospectivamente, em relação a

determinado acontecimento” (Gomes, 2004, p. 15). Se é precisamente o modo subjetivo

que interessa ao pesquisador, trabalhar nessa perspectiva não significa ser menos

“rigoroso” do que assumir a postura radicalmente oposta da pretensão à objetividade e à

neutralidade. O trabalho de crítica não é maior ou menor do que o necessário com

outros tipos de documentos, mas precisa levar em conta as peculiaridades e

propriedades da escrita de si. O alerta, no que diz respeito ao caráter de veracidade dos

escritos autobiográficos, concerne à questão da percepção desses documentos como

uma expressão do que “verdadeiramente aconteceu”. Acreditamos, assim como a autora

citada, que nenhum tipo de documento retrata o que “verdadeiramente” se passou. Em

síntese, trabalhar com a escrita autobiográfica é tratar de uma “história escrita no

plural”, em que o interesse é “plural, múltiplo, heterogêneo, disperso”; pensa-se “não

mais NA história, mas NAS histórias possíveis, nas versões históricas”, que podem ser

legitimadas “como verdades dos sujeitos que as vivenciaram e as relatam” (GARNICA,

2008, p. 135).

Ao nos referirmos à convivência de tempos na escrita autobiográfica, enfatizamos

um aspecto a que o pesquisador precisará sempre dirigir sua atenção: o autobiógrafo, ao

recordar o passado, o faz no presente em que escreve, que é outro tempo. Discorrer

sobre o passado comporta, assim, sempre, uma dimensão anacrônica, impossível de ser

totalmente apagada. Associa-se tal dimensão à subjetividade do autobiógrafo, já que ela

também se constitui a partir do repertório sociocultural que ele construiu ao longo do

tempo, daquilo que suas ideias da época em que escreve lhe indicam que deve ser

enfatizado.

Em relação à terceira das diretrizes que elencamos acima, isto é, quando se

consideram as relações do texto autobiográfico com seu autor, diversos pontos precisam

ser realçados. Há que se levar em conta, por exemplo, a natureza das intenções do

escrito autobiográfico, bem como o público a quem cada autor se dirige. Existem, como

lembra Viñao (2000), textos intimistas, ressentidos, vingativos, nostálgicos,

justificativos, catárticos, intencionalmente educativos, resultados de desejos ou

necessidades pessoais do autor, escritos ou não para serem publicados. Há que se ter

atenção, ainda, quanto às escolhas dos modos de escrita, que podem ser simples e

concisos, afetados e empolados, literariamente belos, meramente descritivos ou

profundamente reflexivos, retratando em maior ou menor medida costumes e valores...

Além disso, embora as formas da escrita de si não possam ser separadas dos

códigos sociais de cada época – e essa faceta precise ser considerada na pesquisa –,

ainda assim existe espaço para a manifestação da qualidade individual do estilo. É

necessário lembrar que o estilo indica a relação do autor com seu passado, enquanto

revela uma maneira específica de se narrar ao outro. Essa maneira singular de contar as

próprias histórias, que se faz sentir mesmo em meio às normas e convenções da

sociedade de cada período, é algo inseparável daquilo que é contado, como

anteriormente sublinhamos ao nos referirmos à abordagem de Jean Starobinski.

Ainda no que concerne às relações entre texto e autor, é fundamental ter em

mente que os escritos autorreferenciais aludem a pessoas, instituições, contextos, nem

sempre conhecidos suficientemente pelo leitor, e seu uso precisa ser complementado,

nas pesquisas, pelo estudo de outros documentos, para que sua análise se realize de

maneira pertinente (GOMES, 2004; VIÑAO, 2000). Defendemos, porém, que as

interlocuções com outros textos sejam feitas sem que se coloque maior valor sobre

qualquer tipo específico de documento; acreditamos que cada recurso “abre a

possibilidade de conhecer propostas alternativas, ainda que não poucas vezes

conflitantes” (GARNICA; FERNANDES; SILVA, 2010). Trabalhar com escritos

autobiográficos implica, então, colocá-los em diálogo com outras fontes. No caso da

História da Educação Matemática, além dos trabalhos investigativos já realizados sobre

cada tema abordado, torna-se necessário mobilizar documentos legislativos, programas

de ensino, livros didáticos, impressos pedagógicos, cadernos e outros materiais

escolares.

Finalmente, cabe considerar a dimensão subjetiva da leitura da escrita

autobiográfica: a interpretação do escrito autobiográfico é sempre subjetiva, parcial e

situada. Os mesmos textos poderiam ser compreendidos e/ou interpretados de forma

distinta por leitores diferentes, que realizariam análises também subjetivas, parciais e

situadas, fundadas em suas vivências e repertórios socioculturais. Cada pesquisador tem

uma maneira própria de selecionar os trechos de um texto autobiográfico mais

expressivos para sua investigação, e, portanto, um mesmo escrito autobiográfico, como

qualquer outro documento que guarda traços do passado, está sempre aberto a novas

inquisições. As respostas que serão produzidas para elas, fruto das interações entre

autobiógrafo e pesquisador, resultarão em histórias possíveis, em versões históricas

(GARNICA, 2008).

Produtos esperados

Espera-se que a pesquisa resulte em pelo menos um relato por ano, de 2015 a

2017, a ser apresentado na forma de artigo em:

a) anais de eventos nacionais e internacionais de Educação e Educação

Matemática a exemplo da Reunião Anual da ANPED (2015 e 2016), do XI

Seminário Nacional de História da Matemática (2015), do XII ENEM-

Encontro Nacional de Educação Matemática (2016), do VI SIPEM-

Seminário Internacional de Pesquisa em Educação Matemática (2015); do

CIPA-Congresso Internacional de Pesquisa Autobiográfica; do III

ENAPHEM (2016);

b) periódicos nacionais e internacionais em Educação e Educação Matemática

inseridos no Qualis/CAPES.

Cronograma

Prevê-se que nos três anos (2015, 2016 e 2017) sejam desenvolvidas

continuamente as seguintes atividades:

1) levantamento, mapeamento e fichamento de obras autobiográficas

interessantes para o projeto.

2) ampliação e aprofundamento de estudos teórico-metodológicos sobre a

escrita autobiográfica.

3) a partir de temáticas identificadas nas obras autobiográficas, estudo de

pesquisas já finalizadas e levantamento e investigação em outras fontes

relacionadas a essas temáticas.

4) elaboração de artigos tematizando escrita autobiográfica e história da

educação matemática a serem submetidos a congressos nacionais e

internacionais e periódicos da área da Educação e da Educação Matemática.

5) apresentação dos trabalhos aceitos em congressos.

De modo geral, embora nem sempre seja possível seguir estritamente esta

orientação, podemos propor que o primeiro semestre de cada um dos três anos seja

destinado à pesquisa (levantamento, mapeamento, fichamento, estudos teóricos, busca

de materiais bibliográficos complementares) e o segundo à redação de textos para

submissão a eventos e periódicos.

Prevemos ainda, para o segundo semestre de 2017, a elaboração do relatório

final da pesquisa desenvolvida nos três anos de vigência da bolsa na forma de um livro.

Como proposta inicial, pode-se prever sua composição a partir de um texto introdutório

de caráter teórico-metodológico acerca da escrita autobiográfica articulada à história da

educação matemática seguido de um conjunto de artigos sobre diferentes temáticas do

passado da educação matemática focalizados pela via dos escritos autorreferenciais e/ou

sobre obras autobiográficas específicas nas quais esse passado seja colocado em relevo.

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