MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

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MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO,GERMANISMOE CRISTIANISMONOS SÉCULOS V - VI

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TEXTOS DIDÁTICOS

IFCS

ROMANISMO,GERMANISMO

E CRISTIANISMONOS SÉCULOS V - VI

Programa de EstudosMedievais

Maria Sonsoles Guerras

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS

ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NO

SÉCULO V - VI

MARIA SONSOLES GUERRAS

PROGRAMA DE ESTUDOS MEDIEVAIS N° 1

RIO DE JANEIRO 1992

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Í N D I C E

INTRODUÇÃO MARCOS

TEMPORAIS

JUSTIFICATIVA

PLANO

1. SÉCULO IV

1.1. Teodõsio

2. SÉCULOS V E VI

2.1. O Império Romano do Ocidente e a instabi-

lidade política.

2.2. O Império Romano do Ocidente e a irrupção

dos bárbaros.

2.3. 0 assentamento dos germanos.

3. OS REINOS BÁRBAROS

3.1. As Galias

3.1.1. Os Visigodos nas Galias

3.3.1. Os Burgúndios

3.3.2. Os Francos

3.2. 0 Norte da África

3.3. A Península Italiana

3.3.1. Os Hêrulos

3.3.2. Os Ostrogodos

3.3.3. Os Bizantinos

3.3.4. Os Lombardos

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6. PERMANÊNCIAS E RUPTURAS 42

6.1. Permanências bárbaras 42

6.2. Permanências romanas 43

6.3. Fatores que estimularam a fusão 44

6.3.1. A Religião 44

6.3.2. O Exército 44 6.3.3.. A Língua

45

6.4. A Fusão 46

6.4.1. As monarquias bárbaras 46

6.4.2. 0 Direito romano e os direitos germanos.

47

6.4.3. Impostos 49

6.4.4. A Economia Agrária 49

6.4.5. Os sistemas de dependência 50

6.-1.6. Cidades e comércio 52

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6.5. O Cristianismo

53

6.5.1. 0 Monacato 53

6.5-2. A cristianização do poder político 55

6.5.3. A Igreja e a Cultura 55

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

CRONOGRAMA

MAPAS

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ROMANISMO, GERMANISMO E CRIST Í ANISMO

S É CULOS V A VI

Introdu çã o

O período que pretendemos estudar é o que se estende

pelos séculos IV, V e VI e tem como referência espacial a bacia

do Mediterrâneo, ponto de convergência ou eixo ao redor do qual

está s ituado e gira todo o mundo romano na antigüidade.

A história tradicional denominava-o de "passagen da An

tiguidade para a Idade Média". Hoje, seguindo Peter Brown, Henri

Marrou e Franz Georg Maier, nós o chamamos de Antigüidade Tardia.

Nem todos os especialistas estão de acordo sobre a extensão tem-

poral deste período. Nós escolhemos os seguintes pontos referen-

ciais:

MARCOS TEMPORAIS

0 nosso estudo começa com Diocleciano,- autor de grandes reformas

no final do século III. Constantino continua as reformas, mas sua

obra mais famosa é a de ter dado fim às persegui. ções contra a

Igreja Católica. É autor do chamado "Edito de Milão", mediante o

qual o cristianismo passa a ser uma religião re conhecida pelo

estado romano, "lícita". Este fato é de importância capital na

história posterior. 0 trabalho termina com a análise da passagem

do VI para o VII século. Eis alguns pontos de referência: - a

morte de Justiniano, imperador do Império Romano

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.02.

do Oriente ou Bizantino, em 565, assinala a última tentativa de

restauração do império como unidade política, feita por um imDe

rador romano propriamente dito.

- pouco tempo depois, em 632, se inicia a -'expansão mu .

çulmana e a rápida conquista de grande parte da Europa feita pe

Los ãrabes, sob a bandeira de Maoraé.

Enquanto isso, os reinos germânicos correm sortes di-

versas :

- as Gálias, em 561, após a morte de Clotário, perdem a

unidade que tinham conseguido nos tempos de Clóvis com a expulsão

dos visigodos e o território se divide em três reinos:

Austrásia, Néustria e Borgonha.

- também na Itália se assinala o fim do reino dos os-

trogodos de Teodorico. Os lombardos, em 572, conquistam Pávia na

planície do rio Pó e, a partir desse momento, a península I-

tãlica fica dividida entre duas soberanias: o reino lombardo,

última formação estatal germânica, e a parte ainda dependente do

Império Romano do Oriente-

- o reino dos suevos, na península Ibérica, é anexado

pelos visigodos em. 585. A partir desta data, com o território

unificado, e depois de convertidos ao catolicismo, os visigodos

vão partir para seus maiores dias de glória.

- no papado, a figura de Gregório Magno (590-604) tara

bém representa um dado de muita importância nesta passagem do VI

para o VII século. Costuma ser considerado como o primeiro papa

medieval- .

Foi necessário fazer todo percurso, não para gravar

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.03.

nomes e datas e sim para melhor conhecer o contexto. Reafirmar

raos as palavras de Pierre Ghuvin célebre historiador francês:

"as datas são necessárias: no entanto, não devemos dar-lhes de-

masiada importância."

JUSTIFICATIVA

Consideramos necessário o estudo destes séculos, ou se

ja, da Antigüidade Tardia, para a melhor compreensão do processo

histórico. Os manuais, por via de regra, silenciam este perío do.

A história de Roma termina com a invasão dos bárbaros e a

história medieval tem início com os reinos bárbaros já formados

plenamente nos séculos VII e VIII. Há um parêntese que vai do

século IV até a ascensão dos carolíngeos no século VII. Silenciar

estes séculos parece-nos um erro, pois, sendo a história um

processo, não pode ser vista como uma série de compartimentos es

tanques,. desconectados uns dos outros.

Julgamos existir, neste período histórico, três compo-

nentes característicos (1): que se interpenetram e se interligam

de tal maneira nestes séculos que, chegando à plena Idade Média,

não encontraremos mais o Império Romano e sim o "Sacro Império

Rómano-Germânico", situado não nas margens do Mediterrâneo e sim

no coração da Europa. Chamar-se-á Cristandade. Deixando ausente

algum destes elementos, não poderemos entender o que foi a Idade

Média.

A Antigüidade Tardia, portanto, foi uma etapa original

do processo histórico que, se apresenta permanências em relação à

Antigüidade Clássica, também nos oferece as primeiras manifes-

tações dos elementos mais característicos da Idade Média.

(1) Romanismo, germanismo e cristianismo.

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PIANO

Dentro deste quadro, nossa abordagem irá privilegiar

algumas das permanências e rupturas que julgamos mais caracte-

rísticas. O nosso fio condutor serio as interrelações entre es-

ses três elementos já citados: romanismo, germanismo e cristia-

nismo.

Inicialmente estudaremos o século IV, destacando den-

tro do mesmo a figura do imperador Teodósio, não em vão chamado

de "o Grande". Já nos últimos dias do século IV (morre em 395),

ele está no ponto de inflexão de um período que começou com as

reformas de Diocleciano e Constantino no início do mesmo século.

Passaremos depois ao estudo dos séculos V e VI como

um todo. 0 protagonismo não é mais do Império Romano e sim dos

reinos bárbaros: sua formação, estruturação e características

mais marcantes nos primeiros tempos de sua existência como uni-

dades políticas independentes. À seguir, a Igreja e o Papado,

sua caminhada desde o momento em que Teodósio a declarou Igreja

oficial do Império Romano até a época de Gregório I, o Magno, o

papa que simboliza a passagem para a Idade Média.

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1 - S É CULO IV

Desnecessário será insistir na idéia de aue o Bai

xo Império Romano não é ma momento de decadência ou de sim

pies transição para a Idade Media. Pelo contrário, ele tem

suas características próprias entre as quais destacaremos

algumas:

10-0 primeiro fator que dá um sentido original ao

século IV é a existência de um estado forte, centralizado e

burocratizado. Esta foi a obra de Diocleciano e Cons-

tantino para salvar o império depois da chamada "crise do

III século". 0 sistema criado por Diocleciano, chamado de

Tetrarquia, a reforma administrativa e militar, o freio â

evasão fiscal, a vinculação familiar ao ofício do pai, a po

lítica fiscal, os novos impostos, o edito de preços e as no

vas moedas são algumas das medidas que, objetivando a manu-

tenção da unidade e a estabilidade do sistema imperial romã

no, o levaram de um regime político liberal para um estado

absoluto, fiscalista e burocrático.

2P - Ao mesmo tempo, o poder assume um car á ter sa -

grado, diferente do alto império. O imperador não é deus,po

rém participa da divindade. Este caráter divino não é pessoal

do imperador e sim do cargo, da magistratura. Com Cons

tantino, depois de sua conversão, se elabora uma nova teolo_

gia política: a origem do poder está em Deus, que age através

dos homens, e estes são os soldados, o Senado ou a própria

dinastia. 0 poder, portanto, não emana da pessoa que o

ostenta, não tem as características da realeza oriental ou

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helenística. É uma nova concepção do poder, que é descenden

te, provém de Deus, e não mais do povo, dos comícios do tem

po da Republica. Agora, o antigo cidadão romano passa a ser

"súdito" do estado.

30 - Um terceiro fator característico é a unidade territorial

do império, mantida até a morte de Teodósio. Se ria falso

pensar que a antiga tetrarquía de Díocleciano tivesse

implicado numa verdadeira divisão do império. Por um iado,

Diocleciano conservou sempre a supremacia em toda a sua

força e, por outro, o sistema representou uma colegial^ dade

do poder, criada para evitar o triste espetáculo dos

pronunciamentos militares e usurpações da época precedenre.

Podemos considerar a unidade do império, também, não só na

direção leste-oeste, mas também na norte-sul: a presença de

fortes concentrações de tropas nas fronteiras ao norte do

império, por causa da instalação dos germanas, re força a união

entre estas terras, antes longínquas, e o eixo fundamental do

mundo romano, que era o mar Mediterrâneo. O estabelecimento da

capital da Prefeitura das Gálias em Tre veris não é nada mais

do que um exemplo.

40 - Constatamos também, neste século, uma cons -

ci ê ncia de restaura çã o , que nos é transmitida pela literatu ra

da época. Os "Panegírícos", característicos deste período, são

fruto do desejo de renovar as glórias do passado, por parte

da aristocracia romana e das oligarquias municipais. A

historiografia parece partir do mesmo princípio: reavivar as

lembranças do passado glorioso de Roma. As "Bio grafias

Imperiais" de Aurélio Vítor e o "Breviário de Histó

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ria àe Roma" de Eutrópio são um exemplo entre muitos.

Se olharmos para a poesia, não é possível ignorar

o célebre canta a Roma de Rutílio Namaciano, onde está cla-

ramente explicitado este sentimento de restauração da gran-

deza romana;

Escuta, 5 belíssima rainha do mundo, que i teu; Roma recebida entre as esferas ce-lestes! Escuta, mãe dos homens e dos deu-ses que, graças aos teus templos, nos fa-' zem sentir menos longe do céu! A ti canta mos e sempre te cantaremos enquanto o des_ tino no-Io permitir. Nenhum homem são pode esquecer-se de ti, porque tu difundes os benefícios como o sol os seus raios por todos os lugares banhados pelo oceano.:.

Este nacionalismo exaltado toma também forma nos

autores cristãos. Não e exclusivo dos pagãos. Para o histo-

riador Paulo Orósio, por exemplo, o Deus dos cristãos salva

o império e a civilização romana purificando-a. À consciên-

cia imperial romana renovada, os cristãos unem a sua fé.

50 - Outro fator que individualiza este século é

a cristianiza çã o do imp é rio , a grande eclosão da Igreja no

estado e na sociedade. Depois do fim das perseguições,o cris_

tianisrao se integra no mundo romano. A "Roma aeterna" dos

poetas e literatos expressa os sentimentos dos homens deste

momento em que o destino do império se considera identifica

do com o da igreja cristã.

A nova religião se afirma entre a aristocracia se

natorial romana. É freqüente, nesta época, os bispos proce-

derem desta alta aristocracia senatorial: Ambrósio de Milão,

antes magistrado romano, é ura exemplo e outro, entre

muitos, Sidõnio Apolinar, membro da alta nobreza senatorial

das Gãlias.

Page 15: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

Aparece a arte das grandes Basílicas romanas. É o

século de ouro da Patríst-ica, a principal produção da inte-

lectual idade cristã neste período. Seus elementos essenciais

são: 10 a cultura bíblica, 2 0o instrumental filosófico

clássico e 3? a dialética. A filosofia deu à teologia cristã

método e linguagem próprios para poder ser entendida pela

sociedade romana. Grandes figuras se destacam, tanto no

oriente como no ocidente: São Basílio, São João Crisóstomo,

Santo Ambrósio de Milão, São Jerônirno, Santo Agostinho,etc.

Eusébio de Cesaréia formula a primeira teologia política-

cristã. Faz um paralelo entre a monarquia divina e o império

e afirma que os imperadores são, como os bispos, iguais aos

apóstolos. A partir destes princípios, os imperadores

legislam em matéria religiosa e convocam e presidem

concílios. Do outro lado do ângulo, vemos a Igreja pedindo

ajuda ao Estado, seja contra Donato, bispo rebelde da África,

seja contra os heréticos arianos. Neste século IV se dá iní-

cio à união entre a Igreja e ò Estado, ao chamado "cesaropa

pismo".

Aceleram-se as conversões em virtude das vantagens

oferecidas por Constantino e Teodósio, principalmente, e a

Igreja se torna firme sustentáculo do regime imperial. O

cristianismo integra a tradição romana política e patrió-

tica.

Aparecem também novas formas de espiritualidade,

fruto do desenvolvimento do cristianismo: são freqüentes as

peregrinações ã Terra Santa, as datações para sustento das

igrejas', o culto aos mártires e o desenvolvimento do

monaraca

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.09.

to. Se grande parte da aristocracia romana se retira para o

campo, para as "viilae", os cristãos também o fazem, porém

com um objetivo de retiro, ascetismo e oração. Para isso,

constroem igrejas locais. ,

1.1. TEOD Ó SIO

0 imperador Teodósio <378-395) é chamado 0

Grande pelas medidas de radical transcendência tomadas

durante seu reinado: o estabelecimento dos germanos

dentro das fronteiras do império; a divisão deste, na

hora da morte em "pars orientalis" e "occidentalis" e a

proclamação do cristianismo como religião oficial do

estado romano.

Teodósio nasceu na Península Ibérica, nos

confins da Galícia, de uma família hispano-romana pro_

fundamente cristã. Iniciou-se nas armas com seu pai

Teodósio, o Velho, grande general de Valentiniano I.

Quando, por ordem deste, o pai foi assassinado, certa

mente por intrigas palacianas, o filho se retirou à

vida privada em sua província de origem.

Em 378, o imperador Valente morre lutando

contra os germanos em Adrianópolis e Graciano, filho

de Valentiniano, nomeia Teodósio para governar a parte

oriental do império. Não é este o momento de estudar

as causas desta nomeação.

A primeira tarefa de Teodósio não pode_

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.10.

ria ser outra a não ser o restabelecimento ca gaz nas

fronteiras. Teodósiõ. não atuou diretamente no terreno

militar contra os germanos e preferiu pactuar com os

inimigos - Em 382, firmou um tratado mediante o qual

os godos se instalavam dentro do império, entre o Da-

núbio e os Bálcãs, como uma nação autônoma, unida ao

império por um tratado de federação (foedus). Nem sequer

impostos tinham que pagar. Sua única obrigação era a

milíciae recebiam dos romanos alimentos,além das terras.

Ao mesmo tempo, o imperador germanizou o e-

xéreito até em seus postos dirigentes mais elevados.

Hoje é difícil julgar se Teodósiõ poderia ter feito

outra negociação ou, até, ter lutado contra os godos.

Possivelmente, não tinha outra possibilidade melhor,

porém; a longo prazo, esta terminou sendo uma solução

perigosa. De momento, desapareceu a ameaça dos godos e

restabeleceu-se a paz na fronteira, mas a situação que

fica agora não é a mesma que antes da assinatura do

pacto: os inimigos de ontem, hoje amigos, em virtude de

um pacto, mediante a entrega de umas terras do império,

serão, de agora em diante, os que defendam as restantes

fronteiras desse império que já foi desgarrado por eles.

Este estabelecimento dos germanos em terras romanas

representou uma grave ruptura da política anterior e

resultou em fatais conseqüências para o império.

A segunda medida importante, que atin-

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.11.

ge profundamente o império, acontece na hora da morte

de Teodósio cora a divis ã o deste entre seus filhos: Ar

cádio e Honório.

Lembremos que a Tetrarquia : implantada por

Diocleciano não implicava na divisão do império. Foi

uma repartição das tarefas administrativas e milita-

res que facilitava a articulação e preservava, cuida-

dosamente, o sistema imperial. Agora, com a morte de

Teodosio, se dá a divisão territorial do império.E

juridicamente?

A divisão do território é real e cada um de

les tem completa autonomia de poder e governo em suas

áreas respectivas. Juridicamente continua a existir a

unidade imperial, ao menos na teoria: editos e leis

são promulgados por ambos imperadores conjuntamente.A

idéia de poder unitário aparece também nas institui-

ções, similares em ambas partes do império, tanto na

organização central como na provincial. E ainda deveria

reinar uma unanimidade, reforçada com o papel

atribuído ao bárbaro Estilicão, tutor único, imposto pe_

Io pai aos dois irmãos. Do ponto de vista formal, por

tanto, não houve divisão.

A importância do ato de Teodosio é a abertu

ra de uma brecha, de um caminho que levará em breve ã

consumação da divisão.

As diferenças entre oriente e ocidente no

mundo romano já vinham de muito tempo. Agora, no sécu

Io IV, elas se acentuam. No oriente, a vida nas cida-

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des continua ativa, as grandes concentrações urbanas

exigem mais e melhor comércio. Agricultura, indústria,

comércio e economia monetária são, em grandes traços,

as características mais marcantes.

Mo ocidente, o quadro é bem diferente: a. po-

pulação do campo cresce às custas da Urbana,criando de

sequilíbrios e empobrecendo a vida econômica, que cada

dia se concentra mais na agricultura e na troca de pro

autos. Também há muitas diferenças na política ecle-

siástica: os patriarcas orientais, por exemplo, se o-

põem às tentativas centralizadoras do bispo de Roma: as

controvérsias teológicas levam às heresias de cunho

dogmático no oriente, enquanto que, no ocidente, os

grandes problemas se dão no campo da moral e da disci-

plina eclesiástica. Até o relacionamento igreja-estado

corre por caminhos diversos em ambas partes do império.

A tudo isto ainda devemos acrescentar, espe-

cificamente no século IV, a pressão dos germanos, mais

forte nas fronteiras ocidentais do que nas orientais.

As rivalidades pessoais entre os altos cargos

de ambas as partes do império, tanto do exército como

da administração civil, latentes nos reinados an-

teriores, se marcam e acentuam cada vez mais.

Assim, dividido territorialmente o império,

de forma oficial e definitiva, a ficção da unidade ju-

rídica não resistirá por muito tempo, porque o ato de

Teodosio era o princípio da confirmação de uma realida

de muito antiga e arraigada.

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.13.

Se Teodósio marca um ponto de inflexão

na política de defesa das fronteiras, estabelecendo os

germanos dentro do império e, igualmente, na ruptura da

unidade imperial, existe um outro dado, característico

em sua política, onde encontramos não só permanência,

como também afirmação da obra começada por Constantino.

É a consolida çã o do cristianismo , declarado religião

oficial do estado romano em 380, com o Edito de

Tessalônica.

Nas vésperas do advento de Teodósio, o cris-

tianismo tinha progredido consideravelmente. Perfil ava

-se a evangelização do mundo romano. O Oriente parecia

conquistado, tanto na cidade como no campo. No Ocidente,

se verificam contrastes entre as diversas províncias e o

paganismo está, ainda, muito arraigado. A conversão dos

imperadores e as leis por eles promulgadas tinham feito

retroceder em parte o paganismo. Mas a realidade, apesar

disso, é que no campo se perpetua uma vida religiosa

muito primitiva e os ambientes aristocráticos também

permanecem, em parte, fechados. A alta aristocracia

senatorial aferrava-se à manutenção das tradições

romanas, ã conservação do Altar da Vitória no Senado,

aos antigos cultos, às tradições literárias e, até, ao

ressurgir de uma nova religiosidade, com r£ dobrado

vigor por causa do neoplatonismo.

Teodósio afirma sua posição ideológica com

uma ativa legislação restritiva e condenatória, decidi

do a dar o golpe de graça no paganismo. Proibiu os sa-

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.14.

crifícios e visitas aos templos pagãos,sob pena de for

tes sanções e, mais tarde, declarou a ilegalidade do

paganisno em qualquer de suas formas: todos os sacrifá

cios, até os domésticos, ficaram reprõvadqs, os lugares

de culto seriam confiscados e, até os governadores que

não denunciassem ou castigassem estes cultos seriam

condenados.

A legislação de Teodosio se estendeu também

aos heréticos, arianos fundamentalmente e, até, aos

apostatas.

Esta política religiosa do imperador foi mui

to ampla, abrangendo todas as esferas da vida da

sociedade. Por exemplo: foi o primeiro imperador a não

assumir o título de "Pontifex Maximus"; expulsou bispos

he réticos de suas dioceses; convocou e dirigiu

concílios; ajudou a determinar a organização

eclesiástica; acabou com os jogos olímpicos; enfim,

Teodosio fez vaier inequivocamente a autoridade do

imperador até em questões de fé.

Se Teodosio era um fervoroso católico por suas origens

familiares, não podemos esquecer, também, a influência

que sobre ele exerceu o poderoso bispo de Milão,

Ambrósio, a figura mais marcante da Igreja católica

ocidental, sobretudo depois da morte do papa Damaso. A

aproximação entre os dois se deu a partir do momento em

que Teodosio chegou a Milão e ali residiu por dois anos

depois de vencer o usurpador Máximo, que durante algum

tempo dominara boa parte do ocidente do ira

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.15.

pério. Uma vez instalado em Milão, Teodósio passou a

praticar uma política de tolerância e apaziguamento,

perdoando com facilidade os senadores romanos que , ti-

nham compactuado com o usurpador Máximo e mostrando-se

tolerante com o paganismo deles. Este foi o primeiro

ponto de discórdia entre o imperador e o bispo. A este

seguiram-se outros, até que o bispo, Ambrósio, enfren-

tou abertamente Teodósio e lhe negou a participação nos

ofícios religiosos. O imperador terminou humilhando-se,

e, a partir de então, a política religiosa de Teodósio

atingiu os maiores limites do endurecimento.

Como o paganismo podia ser declarado ilegal e

perseguido, mas nunca poderia ser erradicado por de-

creto, o Senado romano tentou, outra vez, encontrar

apoios políticos para favorecer seus próprios interes-

ses . Nomearam Eugênio imperador. Este se declarou ime-

diatamente a favor do paganismo, concedeu aos senadores

romanos suas tradicionais subvenções

econômicas,organizou pomposas cerimônias, ressuscitou

todos os mais antigos rituais e restabeleceu solenemente

o Altar da Vitória no Senado.

Teodósío se colocou novamente a caminho para

reconquistar o Ocidente do novo usurpador Eugênio.

Desta vez a confrontação entre ambos tinha um marcado

caráter religioso. Depois de uma aniquiladora vitória,

Teodósio chegou triunfante a Roma e nomeou como cônsu-

les dois senadores cristãos. Seu filho Konório foi

aclamado Augusto. Estava consolidada a sua obra:

dominados

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.16.

os germanos dentro do império, vencidos os usurpadores,

estabelecida a religião católica como a oficial do es-

tado romano e assegurada a sua descendência no império,

dividido entre seus dois filhos aclamados em

Constantinopla e em Roma. Pouco tempo depois morreu em

Milão.

Teodósio foi a última grande figura do . Oci-

dente romano que decidiu soberanamente as grandes quês

toes do império: desde a política externa e a estraté-

gia militar até a política eclesiástica. E.1& quis ser

um soberano cristão e realizar um estado cristão em que

a fé deveria ser não só o fermento da sociedade, como

também o princípio político que deveria informar toda a

ordem terrena.

2 - S É CULOS V E VI

Quando Teodósio morreu, em 395, deixou firme a di-

nastia nos dois tronos imperiais: em Constantinopla era

sucedido por seu filho Arcãdio de 17 anos, e e m Milão por

Honório, de 11, ambos colocados sob a tutela do vândalo

Estilicão, a quem Teodósio tinha concedido as mais altas

dignidades militarese até unido ã própria família, casando-o

com uma sobrinha. Portanto, a sucessão não apresentava

problemas no momento. A fachada do império continuava sendo

magnífica e o estado romano aparecia impressionante aos olhos

dos cidadãos.

No entanto, a morte de Teodósio representa um ponto

de inflexão na já longa vida do Império Romano. Iniciam-se

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.17.

as profundas transformações que vão caracterizar a política

no Mediterrâneo durante os séculos seguintes.

0 cristianismo continua lentamente a sua expansão,

• enquanto a divisão do império no oriente e no ocidente se

aprofunda até chegar a converter as duas partes em inimigos,

Mas o dado mais significativo, a curta distância,

foi a rápida irrupção a instalação dos germanos dentro das

antigas províncias do império, convertendo-as em unidades

políticas independentes.

A fraqueza política do Império Romano dividido e a

ocupação do território pelos germanos correm paralelos durante

todo o século V. Já no século VI, assistimos às lutas pela

manutenção do equilíbrio e, ao mesmo tempo, pelo predomínio do

poder, não só entre os diversos reinos germânicos, como também

entre estes e o Império Romano do Oriente, com capital em

Constantinopla, que, na pessoa do imperador Justiniano, tentou

reconquistar o ocidente, unificando novamente todo o antigo

Império Romano.

A partir deste momento, devido ã amplitude do tema e

principalmente às profundas diferenças existentes entre as

duas partes do império, nossa atenção se dirige,

exclusivamente, ao Império Romano do Ocidente e aos reinos

germanos nele instalados. São eles que passam a ocupar o

primeiro lugar na política ocidental.

Estudaremos, em primeiro lugar, a evolução dos rei-

nos instalados no continente assim como o papel da Igreja e do

papado neste mesmo período. Depois destacaremos algumas das

permanências e rupturas havidas entre os três elementos ca-

racterizadores da Antigüidade Tardia: romanismo, germanismo e

cristianismo.

Page 25: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

-18.

. O IMP É RIO ROMANO DO OCIDENTE E A INSTABILIDADE POL Í TICA

O período que vai da morte de Teodósio (395) até o ano

de 4 76, em que tradicionalmente se coloca a fim do

Império Romano do Ocidente, divide-se em dois mo mentos;

o primeiro até 45S, com a morte do último representante

da dinastia teodosiana e o segundo, até o fim. Os

sucessores de Teodósio são Honorio (395 -- 423) e

Valentiniano III (425-455) . Nenhum deles teve a força e

o poder político do fundador da dinastia. Pelo contrário,

instala-se um novo tipo de governo,em que o imperador

reina, porém não governa. Ele delega todas as suas

funções executivas num homem de coda sua confiança, que

costuma ser um militar, um bárbaro, na maio ria das

ocasiões. A crescente penetração dos germanos no

exército e este exercício dos altos cargas pelos rasemos

têm um papel decisiva na crise política do século V.

Estes homens - Estilicão -r Constante e Aécio,

entre outros, - são os verdadeiros responsáveis pelos

destinos romanos e estão rodeados de todo tipo de pro-

blémas, além dq_ já muito difícil tarefa do governo ord_i

nãrio em tempos de crise.

As sublevações militares e as usurpações do

poder imperial, as invejas e conspirações são constantes

, estando seus responsáveis sujeitos ã morte, às vezes,

até pela própria mão do imperador.

Com a morte de Valentiniano III se inicia ura

Outro período, em que os problemas só tendem a se agra-

var. De 455 até 476, ou seja, em 21 anos se sucedem no-

Page 26: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.19.

ve imperadores» As intrigas e os golpes do estado são

contínuos e o único objetivo que perseguem é sentar no

trono o candidato de cada uma das facções políticas.As

sim, por sua falta de legitimidade política, a figura

'imperial cai no raais completo desprestigio. 0 caminho

que leva ao fim do poder do imperador romano no ocidente

é muito curto e está muito bem traçado. Damos, apenas ,

alguns dados.

Petrônio Máximo, sucessor de Valentiniano III,

proclamado pelo Senado, antes do fim de um ano de gover

no foi morto pelo povo. Pouco depois, o imperador do 0-

riente, Leão I, favorável a uma intervenção no ocidente,

não querendo, no entanto, ser imperador também do Oci-

dente, nomeia Rícimer como homem forte. Este nomeia e

destrona imperadores e até manda matá-los, como no caso

de Majoriano em 461.

Assim chegamos ao ano de 476,em que Rõmulo Au

gusto, último imperador do ocidente, é destronado. Isto

representa o ponto final lógico de um processo que se ti.

nha iniciado havia algum tempo. O autor, Odoacro, barba

ro, rei dos hérulos, chefe do exército romano, acantona do

na Itália, remete a Constantinopla as insígnias impe_

riais. É uma usurpação a mais entre as muitas já aconte

cidas, com apenas uma diferença: Odoacro não sobe ao po

der e presta sua homenagem ao único imperador com poder

efetivo: o do oriente. Certamente os contemporâneos^ a-

costumados a tantas trocas de mando súbitas e violentas,

não perceberam as conseqüências deste momento histórico. 0

poder imperial romano era uma pura ficção já havia muito

tempo.

Page 27: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.20.

. 0 Í MP É RIO ROMANO DO OCIDENTE E A IRRUP ÇÃ O DOS B Á RBAROS

Paralelamente a esta instabilidade colítica,o

Império Romano travava outra luta para manter 2 integri

dade do.seu território.

Os godos, estabelecidos há algum tempo nas

fronteiras orientais do império, acossados pelos hunos,

solicitam, como já vimos, auxílio do imperador Teodósio

e este os estabelece como federados dentro do território

romano. A solução de momento pareceu ser adequada; no

entanto, as conseqüências não corresponderam às ex-

pectativas .

Poucos anos depois da morte de Teodósio, era

406, uma massa heterogênea de invasores atravessa o rio

Reno. São, entre outros, suevos, vândalos e alanos que,

depois de percorrer as Gálias, se instalam na Península

Ibérica. Os suevos se estabelecem na desembocadura do

rio Douro e na atual Galícia. Os vândalos, apôs uma bre_

ve estadia no sul da Península, região à qual deram o no

me de "Andaluzia", atravessam o mar e se estabelecem na

África. Em 430* assim como os suevos, conseguem de Roma o

estatuto de federados.

Pouco tempo depois, em 4 3 6, outro povo que a-

travessara as fronteiras, também era 406, se estabelece

como federado nas margens do rio RÓdano: são os burgún-

dios. Igualmente as ilhas Britânicas, por estas mesmas

datas, são vítimas de invasões. O abandono do território

por parte das legiões romanas favoreceu o assentamento

nelas de anglos, jutos e saxões.

Os visigodos, embora instalados oor Teodósio

Page 28: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

21

dentro das fronteiras, adotaram os mesmos procedimen-

tos que os outros grupos. Aspirando a obter melhores

terras e inconformados com a política anti-germanófila

adotada depois da morte de Teodósio, chefiados' por Ala

rico, em 410, invadem e saqueiam Roma durante três dias

. Este. fato, naturalmente, originou negociações que

culminaram com um novo pacto de federação: os visigo-

dos se estabeleciam nas Galias com a missão de livrar

a Península Ibérica dos primeiros invasores: suevos,

vândalos e alanos.

0 processo de decomposição do império dá um

passo a mais com a chegada dos hunos âs fronteiras romã

nas. Roma não tem mais legiões e, para fazer retroceder

Átila, tem que empregar um exército composto de bár

baros. Era o ano de 451.

Além da invasão do territfoio de forma vio-

lenta , como vimos até agora, os germanos também se ins-

talam no território de forma pacífica: é a migração.Es_

te é o caso dos francos, por exemplo. Estiveram ausen-

tes na grande oleada de 406, mas, em compensação, apro

veitaram as desordens que daí decorreram, avançaram e

se estabeleceram nos territórios da atual Bélgica, fi-

xando sua capital em Tournai,

O império se desmoronava lentamente; o poder

imperial era uma ficção, os exércitos romanos estavam

comandados por caudilhos bárbaros e bárbaros eram quase

todos os seus contingentes militares. A própria Roma,

assaltada pelos visigodos ern 410 e mais tarde, em 455,

pelos vândalos, cedeu seu papel de capital a Milão e a

Ravena.

Page 29: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.22.

Assistimos ao último ato do drama na Itália.

No ano de 476, as tropas aclamam rei seu chefe Odoacro,

que depõe Rõmulo Augusto, último imperador romano no 0-

cidente. Em 488, Zenon, imperador do oriente, querendo

livrar Constantinopla das invasões, desvia -'diplomatica-

mente os ostxogodos, concedendo-lhes, em regime de pacto

de federação, a península italiana a fim de que eles a

livrassem das hordas de Odoacro. Era 493 se estabelece

o reino ostrogodo na Itália, com Teodorico como repre-

sentante do poder imperial do oriente.

Desta forma culminava o processo desintegra-

dor do império do ocidente, estabelecendo-se assim um

novo quadro político na bacia do Mar Mediterrâneo.

Na hora do assentamento dos grupos germanos

no império, o sistema que prevaleceu, salvo poucas ex-

ceções, foi o dos pactos de federação.A depredação sis

temática somente parece ter ocorrido em poucos casos,

correspondentes a povos com baixo nível de romanização:

anglo-saxões, vândalos e, bem mais tarde, lombardos.

0 ASSENTAMENTO D OS GERMANOS

Os problemas originados pela irrupção dos ge£

manos no interior do império passaram por uma tentativa

de solução mediante a implantação do sistema de pactos

de federação (foedus). Entre 395 e 476 foram fir toados

mais de cem pactos entre o Império e os diversos grupos

de germanos.

Estes pactos implicavam na combinação de duas

Page 30: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.23.

instituições anteriores: o "hospitium" e a "hospitali-

tas". 0 "hospitium" , desde muito tempo antes, havia re

guiado as relações entre os cidadãos romanos.e os não--

romanos, ainda não integrados ao sistema social romano.

A "hospitalitas", vigente desde a república, exigia

dos provinciais a provisão de alojamento ao exerci. to

romano acampado naquele território ou lugar. Sendo os

bárbaros estrangeiros e assumindo funções militares,

adequavam-se perfeitamente a estas instituições, embora

com pequenas adaptações. A "hospitalitas" tradicional

era uma obrigação temporal e provisória, enquanto que

o "hospitium" ligava ambas as partes perpetuamente.

Agora, os bárbaros assentados passam a ser considera-

dos aliados (socii) do império e, consequentemente, a

cessão das terras deveria ser a título permanente.

Teodõsio marcou a pauta desta política e seus

sucessores, pela lei de "hospitalitas" de 398, a regu-

lamentam. O fisco imperial dava alimentos e subsídios

para as tropas e cada família, onde estivesse alojada,

daria um terço de sua propriedade. Assim chegou-se ã

divisão das terras entre romanos e germanos.

Na realidade, estes pactos de federação, como

instrumento legal da ocupação do território, duraram

muito pouco. A partir de 476, não existindo mais o

imperador no ocidente, os tratados ou pactos perderam

automaticamente seu valor. Desapareceu totalmente a

"ficção imperial".

Page 31: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.24.

3 - OS REINOS B Á RBAROS

3.1. AS G Á LIAS

A partir do momento das invasões, encontramos

as Gálias divididas entre vários povos: r.o sul, os visi

godos, com capital em Toiosa; a leste, os burgúndios,no

vale do Rodano e capital em Lião e, ao norte, os francos

, separados em dois grupos êcmcos e diversos reinos

locais. No centro, um pequeno território, resto da anti

ga dominação romana, controlado pelo general Siágrio.

3.1.1. OS VISIGODOS NAS G Á LIAS

Os visigodos estão instalados nesta re-

gião desde 418, quando do ultimo pacto feito com

os romanos.

O reino dos visigodos nas Gálias chega ao

seu apogeu com o rei Eurico (466-484),que es tende

seu poder desde o Atlântico até os rios Rodano e

Loira e promulga o primeiro código de leis dos

germanos, que leva seu nome,demonstrai! do desta

forma sua independência com relação a Roma, jã

antes de 476. Depois de sua morte, os dias dos

visigodos nas Gálias estão contados. Alarico II,

seu sucessor, não pode conter a for ça expansiva

dos francos chefiados por Clóvis. Ele é vencido em

507 na batalha de Vouille. A partir desta data os

visigodos se deslocam defi

Page 32: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.25.

nitivamente das Gálias para a Península Ibérica.

Sua nova capital será Toledo.

OS BURGUNDIOS

Os burgündios entram no império em 406

e, era 413, ja são federados do império. São con

tados entre os germanos mais romanizados, pos-

sivelmente porque, já muito tempo antes de sua

instalação dentro das fronteiras imperiais,man

tinham relações comerciais cora Roma.

Uma vez instalados, mantém as estruturas

administrativas do antigo império. A aristocracia

romana colabora com os reis burgündios, entre os

quais se contam alguns com o títu Io de "magister

militum per Gallias". São permitidos os casamentos

mistos e, embora arianos, não fazem oposição aos

católicos. Seu reino du rou pouco tempo, pois,

militarmente, não puderam medir suas forças com as

dos francos. Cló-vis lutou contra eles, como

fizera com os visi godos, no intuito de alargar as

fronteiras do seu próprio reino. Fracassou e

apenas os subme teu a tributo. Foram seus

sucessores que o con seguiram em 532,

transformando o mapa das Gálias . Os burgúndios

não tiveram a mesma, sorte dos visigodos. Seu

reino desapareceu absorvido pelos francos, que

ficam como únicos donos nas Gálias.

Page 33: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.26.

3.1.3. OS FRANCOS

A unificação do território das Gálias

correspondeu, portanto, aos francos. 0 impulso

primeiro e decisivo foi dado por Clóvis, rei

do pequeno território de Tournai desde 4 81. Em

primeiro lugar, eliminou os restos da domina-

ção romana na região central, vencendo Siágrio.

A seguiu, suprimiu, igualmente, os outros pe-

quenos reinos francos. Fortalecendo assim sua

posição, venceu os alamanos em Tolbiac, na fron

teira.

A segunda fase se iniciou com a conver

são de Clóvis ao catolicismo. Esta conversão do

rei e seu povo foi de grande transcendência pa_

ra a história do ocidente medieval, porque os

francos tornaram-se o braço armado do Papado

durante toda a Idade Média;

Clóvis, pretextando o motivo religioso de serem

arianos, lutou corítra visigodos e bur gúndios,

apoderando-se do território dos primeiros e

impondo pesados tributos aos segundos. Morreu em

511, mas com sua morte não pa rou a expansão

territorial dos francos. Depois de dominarem os

burgundios, ainda conquistaram pequenos

territórios, tanto na direção do Medi_ terrãneo

como na Germãnia. Por volta de 560,os francos

atingiram seu apogeu, convertendo-se no mais

extenso dos reinos fundados pelos germanos no

ocidante e, possivelmente também, no

Page 34: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.27.

único em que as relações entre vencedores e

vencidos eram sólidas dorque unidos pela mesma

religião.

Entretanto, em 561, com a morte de Cio

târio, um dos filhos dê Clóvis, as rivalidades

existentes entre as diversas regiões dividiram

o reino'em três unidades: Borgonha, Neüstria e

Austrásia, que serão a base fundamental do novo

poder dos reis carolíngios.

0 NORTE DA Á FRICA

Os vândalos, que irromperam no império em 4 06

e passaram algum tempo na Península Ibérica, se insta-

laram definitivamente na África em 429. Este reino teve

uma duração muito curta e os seus dias de glória se

confundem com os de seu rei Genserico (428-477).

Onicos entre os germanos que conseguiram uma

frota, exerceram um real domínio no Mediterrâneo, con-

quistando os principais postos de abastecimento de Ro-

ma: Norte da África, Sicília, Cõrcega e Sardenha. Outra

demonstração de força foi o assalto e saqueio de Ro ma

em 455 durante vários dias.

Considera-se que o reino dos vândalos foi o que

teve menores índices de romanização: o rei Genserico

quase não falava latim: confiscaram os bens dos antigos

proprietários e não se instalaram de acordo com as

normas dos pactos de federação: não permitiram os casa

mentos mistos e perseguiram cruelmente os católicos.

Page 35: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.28.

Todo este comportamento criou uma resistência

latente em toda a população. Z a esta, veio se juntar a

ação do Império do Oriente. Dois motivos levaram o im

perador Justiniano a agir: os transtornos; que os navios

dos vândalos provocavam ao tráfico no Mediterrâneo

principalmente ao comércio bizantina, e, também as pe£

seguições aos católicos. 0 norte da África converteu--

se no primeiro objetivo real da política de Justiniano:

a reconquista do ocidente e a reunificação do irap£ rio.

Mo ano de 53 3, o reino dos vândalos deixou de e-xistir

e o território foi incorporado ao domínio do Im pério

Bizantino.

A PEN Í NSULA ITALIANA

3.3.1. OS H É RULOS

Quando Odoacro destronou o último impe_

rador romano, Romulo Augusto, tomou o título de

rei que seus soldados lhe deram e pretendeu

governar em nome do imperador do oriente. Esta

boa vontade de aparecer' como um continuador do

governo imperial não conseguiu o reconhecimento

de Constantinopla, que enviou os ostrogodos

para reconquistar a Península.

Page 36: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.29.

Page 37: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

3.3.2. OS OSTRQGODOS

Chefiados por Teodorico,dominaram Odoa cro e

seus soldados e se instalaram na Itália.

Teodorico recebeu do Império do Oriente os

títulos de cônsul e "magister militum".

Pretendeu atuar como um verdadeiro restaurador

do império. Na qualidade de caudilho dos ostro

godos, era rei para seu povo; frente à popula-

ção romana, aparecia com os títulos recebidos

do oriente.

Foi também o artífice de uma política

internacional em que se colocou com cabeça de

uma espécie de confederação de povos germanos.

Para isto, uniu vários membros de sua família,

e até ele próprio, com as famílias dos outros

reinos germanos, mediante uma política matrimo

nial.

O reino de Teodorico foi um dos que con

servaram mais a vida e a cultura romana. Insta

lados fundamentalmente na parte norte da Penín

sula, concentraram-se nas regiões de Ravena,on

de instalaram a capital em Verona, em Pavia e em

Milão- Conservaram o Senado de Roma e toda a

administração do império, paralela à ostrogo da

e só unificada na pessoa do rei, Teodorico. Este

restaurou o Coliseu de Roma e, em Ravena,

levantou várias igrejas, além de um grandioso

mausoleo.

Page 38: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI
Page 39: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.30.

Teodorico morreu em 526 e no ?.no se-

guinte Justfiniano subia ao trono em Constanri-

nopla, querendo reconstruir o antico Império

Romano. Depois de conquistar o norie ca África

aos vândalos, em 533, tinha como próximo obje-

tivo a Itália.

OS BIZANTINOS

A conquista da Itália pelos bizantinos

nio foi tão rápida quanto a dos vândalos.

O pretexto para a intervenção dos bi-

zantinos em Itália foi o problema sucessório

ocorrido com a morte de Teodorico. Sendo assas

sinada a filha de Teodorico, este quis ser o

vingador enviando seu exército para assim con-

quistar a Itália. Com a conquista, entre outros

pontos, de Roma, Nápoles e Sicília, os bi.

zantinos pensaram que a Itália tinha voltado ao

domínio imperial. Não contaram com a forte

resistência oferecida pelos ostrogodos, agrupa

dos em torno de um novo rei, Totila. Foram ne-

cessários dezoito longos anos para que os bi-

zantinos conseguissem dominar a Itália.

QS LOHBARDOS

Como auxiliares dos generais bizanti-

nos, os lombardos já tinham lutado na Itália.

Agora a conquista era por conta própria. Esta,

Page 40: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.31.

a partir de 566, não lhes foi difícil, pois as

tropas imperiais bizantinas estavam cansadas

por causa da longa resistência oferecida pelos

ostrogodos anteriormente.

A debilidade política dos lombardos foi grande.

Não conseguiram um reino unificado.Nun ca

superaram o estágio da justaposição dos "du

cados"; os duques não eram funcionários da rea

leza e sim vitalícios, sempre sucedidos pelos

seus próprios filhos. Este rudimentar estada

lombardo se localizou no norte da Itália e tam

bém na região de Tuscia, compreendendo igual-

mente os importantes ducados de Spoleto e Bene

vento.

Os bizantinos continuaram mantendo po-

sições em torno a Ravena, Calábria e Lacio, em

bora sua presença na Península se tornasse ca-

da vez mais reduzida.

Na incapacidade do Império de dominar

os lorobardos, os papas terminam erigindo—se em

poder paralelo crescente, tentando evitar que

se conseguisse a unidade territorial da Penín-

sula.

Page 41: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.32.

4 - A PEN Í NSULA IB É RICA

4.1. OS SUEVOS

O texto do historiador hispano Idãeio, contem-

porâneo das invasões, nos transmite a distribuição de

regiões levada a efeito em 411 pelos povos germanos,

que dois anos antes a haviam invadido. A Galícia cor-

respondeu aos suevos. A sua situação, no extremo noroes

te da Península, iivrou-os de ser aniquilados, como a-

conteceu com os alanos, nas campanhas levadas a efeito

pelos visigodos. Estes, como já foi dito,estabelecidos

nas Gálias como federados, tinham como missão livrar a

Hispãnia de seus primeiros invasores.

Em 448, os suevos estendiam seu domínio por qua

tro das cinco províncias romanas da Hispãnia, na forma de

roubos e pilhagens. Somente a Tarraconense estava livre

destas incursões. Pouco tempo depois, estendendo -se este

tipo de ações também à Tarraconense, o império os

confina novamente na Galícia, mediante um novo pacto de

federação. Os suevos, insistentes-, violam novamente o

tratado. Desta vez são os visigodos, em nome do império,

que lhes infringem uma grave derrota em 456.

No tempo de Eurico, rei dos visigodos, estando

ainda a capital em Tolosa, a estrela dos suevos começa a

declinar, enquanto este rei, como dissemos anteriormente

, estende os seus domínios. Este longo período de

decadência chega até 585, quando os visigodos, já cora a

capital em Toledo, conquistam toda a Península. Eles

Page 42: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

23.

repetem a mesma obra que fizeram os francos no norte

dos Pirineus ê da qual eles mesmos foram vítimas. 0

reino suevo desaparece incorporado ao vísigodo.

OS VISIGoDoS Em TOLEDO

0 longo percurso iniciado pelos visigodos nos

Bálcãs e sua estadia em Roma, saqueada por três dias,

parecia ter chegado ao fim quando eles se instalaram

nas Gálias na qualidade de federados. Durante mais de

setenta anos ali permaneceram, cumprindo o solicitado

por Roma: forçaram os vândalos a ir para a África,eli_

minaram os alanos e lutaram quase constantemente contra

os suevos. Alcançaram o apogeu com Eurico, considerando

como o maior monarca germano do V século. Seu poder era

soberano, não limitado nem sequer pelo impé_ rio, que

deixou de existir exatamente durante seu rei nado.

Vencidos os visigodos per Clõvis, são obrigados

a se deslocarem para o sul dos Pirineus. A nova

capital é agora Toledo. Depois da derrota diante dos

francos, a situação fica difícil: vivem algum tempo

sob a tutela de Teodorico, rei dos ostrogodos ;os fraii

cos não perdem ocasião de fazer incursões em seu ter-

ritório; os suevos, embora debilitados, ainda oferecem

resistência e as guerras civis entre os pretenden tes ao

trono favorecem a instalação dos bizantinos na Península

Ibérica. Os imperiais, como são chamados nos documentos

da época, continuam as conquistas com o in

Page 43: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.34.

tuito de restabelecer o império e sua antiga integri-

dade .

Com a chegada ao trono do rei Leovigildo(573--

5S6), a monarquia visigoda encontra o início de seus

dias melhores. A primeira e principal tarefa deste rei

foi realizar a efetiva implantação da autoridade visi

goda sobre todo o território nacional. De 573 até 578,

em sucesivas operações militares, fez desaparecer o

reino dos suevos, lutou contra certos grupos, vascos

entre outros, que viviam em estado de independência e,

igualmente, contra os bizantinos, já instalados a les

te da Península.

A força do poder real, a partir de Leovigildo,

tem a sua expressão plástica na adoção de usos maies-

taticos e cerimonial inspirado no modelo bizantino,as

sim como na moeda de ouro cunhada com seu próprio nome.

Enquanto no reino franco a desordem poiítica

se instalava e o reino se dividia, a posição da reale

za, no reino visigodo, era cada vez mais forte.

Recaredo, o filho de Leovigildo, (568-601) rea

liza a unidade religiosa convertendo-se ao catolicis-

mo. O reino dos visigodos passa por seus maiores dias

de alória.

Page 44: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.25.

5 - O CRISTIANISMO E A IGREJA

No século IV vimos como o imperador Teodósio, com

o Edito de Tessaionica, de 380, decretava .a confessionabili

dade do Império Romano: o poder público proibia o paganismo,

desterrava as heresias e impunha o cristianismo.

Wos séculos V e VI devemos considerar a Igreja e

suas transformaçeos no quadro das invasões e dos primeiros

reinos germanos.

5.1. A CIDADE

A cidade foi para o cristianismo,desde os pri.

meiros séculos, a base de sua estrutura, inspirada na

organização administrativa romana. Agora, na hora da

crise do mundo romano, o bispo passa a ser o defensor

ou protetor da cidade, diante dos abusos do estado rç^

mano. Mais tarde, frente aos invasores germanos, será o

único interlocutor. Quando todo o aparelho adminis-

trativo estatal romano entra'em decomposição, resta o

bispo como a única autoridade da cidade.

5.2. 0 CAMPO

Durante os primeiros séculos, a Igreja tinha

se desenvolvido principalmente na cidade. Agora,com a

ruralização da sociedade, fenômeno típico destes tem-

pos , aparece a necessidade de organização do campo:

clero rural e lugares de culto. Os bispos criaram i-

grejas nos "vici" ou aldeias. O responsável pela cris_

Page 45: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.36.

tianização era um sacerdote com poderes delgados do

bispo, única autoridade, na qualidade de sucessor dos

apóstolos. Este foi o primeiro passo para a criação do

regime paroquial.

Junto a estas igrejas, erigidas pelos bisDOs, se

criaram, em grande número, oratórios ou santuários,

construídos e dotados pelos grandes proprietários nos

seus territórios ou "villae" para atender às famílias

dos colonos, encomendados e servos que trabalhavam em

seus domínios. Os fundadores consideravam estas igrejas

como bens de sua propriedade e nomeavam os dirigentes

que haviam de dirigi-las. Isto deu ocasião a muitos

abusos e só muitos séculos depois se tentará corrigi-

los.

0 PAGANISMO

0 paganismo não tinha sido proscrito da socie

dade, apesar da legislação de Teodósio, e a irrupção dos

germanos só veio agravar o problema. Era um paganismo

cheio de superstições, de crenças e práticas pri.

raitivas. Como as conversões nestes séculos não são in

dividuais, como acontecia nos primõrdios da Igreja, e sim

grupais, principalmente entre os germanos, a conversão do

rei levava à conversão do povo, mas os indi. viduos

conservavam muito facilmente as práticas pagas, que são

hábitos e costumes antiquíssimos. As atas dos concílios

são documentos fundamentais para o estudo deste processo

de cristianização do paganismo.

Page 46: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.37.

. O ARIANISMO E OS GERMANOS

As invasões permitiram ã Igreja anunciar o e-

vangelho aos povos germanos. A conversão destes e sua

integração com as populações romanas:foi a grande obra

da Igreja nestes séculos. No entanto, essa conversão

e integração não foi conseguida num primeiro momento,

porque a maioria dos povos gerraanos se converteu do

paganismo para o arianismo e foi necessário um segundo

passo para sua entrada na Igreja Católica, que era o

credo professado pelos romanos, principalmente no

ocidente.

0 arianismo germânico é um problema de grande

interesse, porque sobrevive, durante alguns séculos,

no raundo germano, ao mesmo tempo que desaparece como

fenômeno religioso entre as populações de cultura gre

co-latina. O arianismo penetrou entre os germanos por

meio dos visigodos, que foram os primeiros a adotar

este credo. As razões da preferência estão diretamente

ligadas às circunstâncias em que se deu sua instalação

nas fronteiras orientais do império, ainda no século

IV. Muitos arianos tinham sido prescritos do império

pelos imperadores católicos e viviam nas fronteiras,

onde certamente entraram em contato com os vi. sigodos.

0 bispo godo Ulfilas foi o grande responsável: formou

ura grupo de clérigos arianos, compôs um alfabeto e, a

seguir, fez a versão da Bíblia para av'

língua gótica, medidas essas que foram muito eficazes

para a conversão dos povos germanos por causa desse

primeiro passo dado pelos visigodos.Mas isto não é tudo.

Page 47: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.38.

Quando estes povos se assentaram dentro do Im

pério Romano, embora em número muito pequeno, queriam

conservar sua identidade, usos e costumes e, nesta si

tuação, o credo ariano era um dado a mais nesta seoa-

ração entre romanos e germanos.

SÓ no.século VI é que começam as conversões.

Os primeiros, na ordem do tempo, são os burgúndios,se

guidos dos suevos. Os visigodos, os primeiros que oro

fessaram a fé ariana, e por meio de quem ela chegou

aos outros grupos, foram os últimos a aceitar o credo

católico. Essas conversões dos povos germanos estavam

precedidas e acompanhadas de uma real integração entre

ambas populações. A conquista definitiva dos linti tes

territoriais, a unidade social, jurídica e religiosa

se impuseram como elementos necessários e im-

prescindíveis na formação das nacionalidades.

A incorporação dos povos germanos ã Igreja Ca

tólica fez com que, no próprio século VI, indivíduos

destes grupos, geralmente de famílias nobres, se in-

corporassem ao episcopado. As atas dos concílios das

Gálias e da Península Ibérica, principalmente, nos

transmitem os nomes.

Os francos são um caso ã parte, pois são os ú

nicos que passam diretamente do paganismo para a Igre

ja Católica na hora da conversão de Clóvis. Este dado

tem que ser tomado em consideração na hora de analisar,

durante toda a Idade Média, o relacionamento entre os

francos e o Papado.

Page 48: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.32'.

Page 49: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

5.5. FORTALECIMENTO DA IGREJA E CRESCIMENTO DA

AUTORIDADE PONTIF Í CIA

Se a crise do século V ajudou o

fortalecímen-to da Igreja, dando autoridade aos

bispos nas cidades, não menos importantes foram os

resultados da mesma era Roma.: o fato dos

imperadores abandonarem a "urbe" para estabelecer a

capital em Milão ou Ravena e a atuação do papa Leão

I (440-461), defendendo a capital, por duas vezes,

dos hunos de Atila e dos vândalos de Genserico,

foram momentos decisivos.

De grande importância também, nesta série

de ocorrências é o decreto de Valentiniano III

(455),que dá força de lei, para toda a Igreja, aos

decretos ema nados do bispo de Roma: Seu governador

Aécio tinha que obrigar o bispo que, se chamado por

Roma, não quisse£ se comparecer. Este decreto tem

sido considerado como o reconhecimento oficial do

primado romano em todo o ocidente.

Esta doutrina do primado de Roma consegue seu

desenvolvimento teórico poucos anos depois, com o pa-

pa Gelásio (492-496). Em carta ao imperador do orien-

te, Anastásio, coloca as bases da doutrina dos dois

poderes: o pontifício e o real ou imperial. Ambos são

"rectores" do mundo, mas o primeiro é maior que o se-

gundo. Gelásio afirma que o poder pontifício é "auto-

ritas", que é fonte de direito, énquantc que ok impe-

rial é "potestas", aquele que executa o que ordena a

"autoritas".

Page 50: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI
Page 51: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.40.

. GREGORIO I, O MAGNO

O papa Gregório I, o Magno (590-604),

homem de rica personalidade, excelente admi-

nistrador, hábil diplomata e homem com grande

visão de futuro, recolheu os resultados dos

alicerces anteriormente colocados.

Inicialmente, seu trabalho esteve res

trito ã cidade de Roma, que pertencia ao Impe

rio Romano do Oriente, após a conquista da Pe

nínsula em tempos de Justiniano. Frente à in-

capacidade ou negligência das autoridades bi-

zantinas para defender a cidade de Roma da no

va invasão dos lombardos, o pontífice se en-

carrega dos serviços públicos, procurando a-

tenuar as desgraças que a cidade vinha sofren

do: fome, epidemias, roubos e pilhagens dos

lombardos. Mais tarde, sua ação se estende

também para fora da cidade de Roma,porque nem

os bizantinos conseguem expulsar os novos in-

vasores nem estes chegam a ampliar seu terri-

tório. Assim, numa Itália dividida e com au-

sência de poder, o papa ganha existência polí-

tica.

Atuou, também, junto aos reinos barba

ros. Em seu pontificado se deu a conversão dos

visigodos, de cujo processo ele não esteve

ausente conforme a correspondência que se

conserva da época. Alternando métodos diploma

Page 52: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

. 41.

ticos e missões evangelizadoras, Levou o evan

geiho a anglos e saxões.

Não pode ficar esquecida a fundamenta

ção de doutrina política que envolveu toda a

obra gregoriana. Gregório I chama o imperador

de "dominus" e os reis germanos de "filii".Es_

tes nomes expressam com toda claridade o lu-

gar que ocupam os diversos poderes temporais,

não só entre si, como também em relação ao po

der pontifício. É respeitoso para com o impé-

rio. Lembra ao imperador que lhe foi dado todo

o poder para que o reino terreno esteja a

serviço do celeste. Não pretende a subordina-

ção do império ao papado, não quer esvaziar a

idéia de estado do seu conteúdo específico.

Aos reis bárbaros, ele vai oferecer um

suporte doutrinai. O papa sabe que as monar-

quias. germanas careciam de uma idéia de esta-

do. Por isso, afirma constantemente que devem

exercer a justiça cristã, fazendo respeitar a

ordem exigida pela outra autoridade, a do pa-

pado.

Não se pode afirmar que a Igreja de

Gregório restringisse a idéia de estado.O que

ele fez foi criar a seu favor o dinamismo da-

quele .

Com razão costuma-se dizer que Gregó-

rio, o Grande, é o primeiro papa medieval.Com

ele, Roma passa a ser a de Pedro e Paulo enão

Page 53: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.42.

a de Rõmulo e Remo, a capital e o entro

cristandadé.

6 - PERMAN Ê NCIAS E RUPTURAS

Os estadas bárbaros e a Igreja assentados no Mediter

rãneo ocidental sã.o os grandes protagonistas dos séculos V e

VI. A grande novidade com relação aos séculos anteriores é

que agora não são estranhos entre si. Os reinos se converte-

ram ao catolicismo e a Igreja mantém diálogo com eles.

Nestes séculos se produz uma fusão das contribuições

bárbaras e da civilização romana. Romanidade, germanidade e

cristandadé se misturam nos aspectos humano, institucional,

social, econômico, religioso.e, fundamentalmente, cultural. A

herança romana continua vigente e passa â mentalidade bárbara

através do cristianismo que a adaptou às necessidades do

momento.

6.1.. PERMAN Ê NCIAS BARBARAS

Os germanos eram poucos. Não alteraram a demo-

grafia romana. Alguns grupos como os vândalos e os os-

trogodos, desapareceram logo. No entanto, entre os bár

baros o desejo de sobrevivência é grande e é por isso se

proíbem os matrimônios mistos, se reservam o direito de

levar armas e os visigodos querem substituir o no me de

"Romania" pelo de "Gothia".

Page 54: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.43.

O regime de pactos de federação dos germanos

com o império os ajuda neste ideal de manutenção de sua

própria cultura. Eles devem um serviço militar a Roma,

mas em compensação recebem terras e conservam seus pró

prios chefes ou reis. As exceções a este sistema foram

poucas: os francos se instalaram em terras abandonadas,

por exemplo.

O bárbaro estava separado do romano também pela

religião. O problema do arianismo tomou caráter po-

lítico. Os visigodos foram expulsos das Galias por

causa da diferença de religião e, uma vez

estabelecidos na Península Ibérica, a conversão foi o

primeiro passo, fundamental para a constituição da

unidade nacional. Teodorico, grande admirador da

civilização romana, man teve uma igreja ariana paralela

à católica durante todo o seu reinado.

Na maior parte dos reinos bárbaros, aparece,

inicialmente, uma estrutura estatal dualista, em que

germanos e romanos viviam conforme suas próprias leis

e instituições.

PERMAN Ê NCIAS ROMANAS

A ruralização do mundo romano seguiu seu curso

e até se pode afirmar que se tornou mais aguda com a

irrupção dos germanos. A falta de autoridade, a queda

no comércio e a tendência a autonomia dentro das "vil-

lae" foram elementos aceleradores do processo.

0 latifúndio em sua forma romano-tardia com

Page 55: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.49-

na, o mesmo pode ser dito da maioria dos códi

gos dos outros reinos germanos.

3. IHPOSTOS

Os reinos germanos herdaram do impé-

rio romano a organização tributária e o apar£

lho de recaudação que continuou operando ainda

depois das invasões. Assim, os reis bárbaros

mantiveram em seu conjunto, embora com al gumas

simplificações, o sistema romano, e ex_i giram

como tributo básico o "capitatio-luga-tio" que

gravava as terras e as pessoas que as

cultivavam. Este imposto era pago pelas po

pulações romanas e sobre elas continuou a re-

cair. Em geral, as propriedades dos bárbaros

ficaram isentas.

. A ECONOMIA AGRARIA

A tendência ao crescimento e expansão

da economia agrária tende a se afirmar, embora

as cidades, com sua indústria e comércio,

continuem a desenvolver um papel importante

na vida econômica.

A riqueza da aristocracia senatorial,

tanto romana como provincial, consiste, funda

mentalmente, em grandes propriedades, e sua

cultura lhes permite monopolizar, freqüente-

Page 56: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.50.

mente, os cargos civis e as funções episcopa-

is. A aristocracia germana, como já dissemos,

segue os mesmos caminhos. E todos eles são co

nhecidos com diversos nomes: "optimates", "DO

tentes", "honorati", etc.

O sistema romano da grande propriedade,

"villae", seguido também pelos germanos,

consiste numa grande propriedade, dividida em

duas partes: o "ager" e o "saltus". 0 "ager" é

a terra trabalhada juntamente com os edifícios

de residência, tanto do proprietário como dos

camponeses. O "saltus" são as terras não

trabalhadas utilizadas para caça, pesca e

criação de gado.

6.4,5. OS SISTEMAS DE DEPEND Ê NCIA

Desde o século III, o império tinha

conhecido o fenômeno que impulsionava os fra-

cos a procurar a proteção dos grandes proprie_

tários. Duas formas revestia esta relação: a

entrega de suas terras, por parte de um peque

no proprietário, a um poderoso , e a encomen-

dação pessoal de um homem livre a um senhor

poderoso.

A primeira, o "colonato", muito fre-

qüente , convertia o pequeno proprietário em

colono de suas próprias terras, entregues ago

ra ao terratenente. Se diminuía a liberdade,

Page 57: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.51.

em compensação ganhava em segurança contra o

fisco. Na realidade, ficava falta de liberdade

porque não poderia nunca mais reaver as suas

terras. Mo correr dos anos, o cerco se

estreitou na medida em que as funções públicas

se transferiam do estado, quase inexisten te,

para-o proprietário. A justiça, a milícia e os

impostos são agora, atribuições dos gran des

senhores. Vemos assim nascer o "regime se

nhorial".

A "encomendação pessoal" e a segunda

fórmula de dependência que conheceu o Baixo

Império. Um homem livre se entregava ao pode-

roso, obrigando-se a prestar-lhe serviços. A

compensação era a entrega de terras.

A crise e a desaparição do império,jun

tamente com as invasões, aumentaram a insegu-

rança e, com ela, a necessidade de proteção.

As fórmulas continuaram sendo as mesmas.Os es

tados bárbaros as reconhecem e acrescentam ain

da outra reavivando um antigo costume:a "clieri

tela". Os homens livres se submetera a ura chefe

a quem juram defender até com sua vida.São

pessoas de condição livre e formam a comitiva

do rei. E agora os grandes senhores também or_

ganizam a sua. A ruralização da vida ajudava

ou premiava estes "patrocinados" ou clientes

com entrega de terras. Estão aparecendo, por-

tanto , os rasgos pré-feudais.

Page 58: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.52.

Nestas condições, uma nova distinção

social aparece. Ja não tem maior importância ser

romano ou germano. É tudo a mesma coisa. 0 que

vale é ser pobre ou ser rico, ser colono ou ser

senhor. Nesta diferença se baseia a sociedade

romano-gerraãníca: no topo estão os grandes

senhores, leigos ou eclesiásticos, guer reiros ou

bispos; na base, estão os servos,os colonos, os

clientes, etc. Não importa se são romanos ou

germanos.

6.4.6. CIDADES E COM É RCIO

As cidades continuam a existir, embora

sua superfície esteja bem reduzida. Continuam

a ser o centro, não da vida administrati va e

sim da comercial e, mais ainda, da religiosa.

Junto ao "castrum", rodeado de muralhas,

estão os "suburbia", em que se encontram os

comerciantes gregos, sírios e judeus. Assim, o

papiro do Egito chega a Marselha,o tri go da

África a Roma, o azeite da Espanha ao norte das

Gálias e as especiarias da China e da Índia,

junto com as sedas de Constantino-pla, a Ravena.

Até os fins do século VI,todos os países do

ocidente bárbaro mantinham relações comerciais

cora o Mediterrâneo oriental.

Page 59: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.53.

O CR Í STIANISMO .

As permanências romanas que caracterizam estes

séculos são reforçadas pela Igreja. Esta, herdeira da

romanidade, a prolonga no âmbito da civilização,

escolhendo o que ela precisa para suas crenças, - é o

caso da filosofia, e para estender sua influência aos

povos germanos.

Depois de ter ajudado e mantido a poDulação

durante as invasões, os bispos, que em suas dioceses,

perpetuam o marco da cidade romana, se convertem em

verdadeiros chefes, não só espirituais, como também

temporais. Graças às doações feitas pelos fiéis às i-

grejas, os bispos convertem-se em construtores de i-

grejas e de cidades, onde perpetuam as tradições ar-

tísticas romanas. A estas igrejas, dedicadas, quase

sempre, aos mártires, protetores da cidade,açodem ver

dadeiras multidões de peregrinos. A cidade passa a ter

uma função religiosa e, consequentemente, os bispos

passam a ter grande influência. Convertem-se em figuras

políticas de grande prestígio e os íreis vão buscar

apoio neles freqüentemente.

5.5.1. 0 MONACATo

Os monges foram um elemento muito di-

nâmico dentro da Igreja nestes séculos.Um pri

meiro movimento tinha chegado do oriente è im

plantado alguns mosteiros no ocidente no sécu

Io IV. Era um ideal baseado no eremitismo e no

Page 60: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.54.

ascetismo individual. Frente a estes monges,

mais tarde, uma outra forma de vida se espa-

lhou por todo o ocidente. É o mosteiro, como

comunidade corporativa e orgânica, sob a dire

ção de um abade. É a grande obra de São Bento,

com a regra escrita entre os anos de 530 e

556. Por isso é chamado o "pai dos monges do

ocidente".

Os monges beneditinos levaram a Europa a

noção de uma fazenda ideal, por seu permanente

contato com o mundo rural e graças ao trabalho

do campo que deviam realizar para se sustentar.

0 abade era sempre mais eficaz que os senhores

leigos na organização das tarefas. Contribuíram,

principalmente, com os escritórios, onde a cópia

de manuscritos permitiu con servar e transmitir

a cultura antiga, e também com escolas, onde a

cultura se desenvolveu. São Bento nunca pensou

que seus monges fossem ministros nem que

exercessem funções políticas. No entanto, os

reis pensaram que muna época em que era tão

difícil achá-los, não era prático perder as

oportunidades e foram procurar nos mosteiros

mestres, conselhe^ ros, escrivãos, etc.

Page 61: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.55.

. A CRISTiANIZACÃO DO PODER POLÍTICO

A conversão dos povos germanos propor

cionou ã Igreja uma situação de. privilégio em.

cada um dos reinos. Os bispos souberam apro-

veitá-la. Trataram de convencer os novos go-

vernantes de que o poder político que tinham

conseguido pela força deveria ser empregado

para fins morais e religiosos.

0 novo ideal de realeza estava refor-

çado por um cerimonial inédito que impressio-

nava os súditos e tornava mais respeitável a

figura do rei. Cerimonias como a unção sagrada

e a coroação solene se estenderam a todos os

reinos germanos. Controladas pela hierarquia

eclesiástica, incorporavam a tradicional idéia

germana de que o principal dever do monarca é

guardar o direito da comunidade.0 rei prometia

cumprir fielmente esta tarefa e um juramento

religioso confirmava sua promessa. Assim,

cerimônias, solenidades e juramentos cumpriam

os objetivos da Igreja de manter sua presença

junto a autoridade política secular.

A IGREJA E A CULTURA

0 interesse que se concede aos inte-

lectuais e aos centros culturais nos séculos

V e VI não está era sua importância criadora e

sim no fato de que é neste momento que se co-

Page 62: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.56.

Locaram os fundamentos intelectuais da Europa

medieval. São quase sempre monges ou bispos os

que mantêm acesa a chama da cultura.Neste sen

tido é, portanto, de grande transcendência, o

concilio de Vaison, em 52 9, em que se decide

a criação, em todo o reino dos francos, de es

colas episcopais para a educação do clero.

Na Itália de Teodorico aparecem nomes

muito conhecidos: Boécio (480-525), que fa2 a

tradução da "Lógica" de Aristóteles e escreve

"A consolação da Filosofia" e Cassiodoro,(485 -

583), principal defensor do sistema educativo

romano. Do mosteiro de Vivarium, fundado por

ele, estimulou entre os monges o amor pelo

trabalho intelectual e a cópia das obras

antigas. Sua obra mais famosa são as "Insti-

tuições", onde faz uma introdução à teologia e

um esquema ou classificação das artes liberais

ou sistema educativo romano. Esta classi

ficação se conservou durante toda a Idade Mé-

dia.

Outro autor que não deveria ficar es-

quecido é Gregorio Magno, o papa de quem ja

falamos anteriormente. Conservam-se dele 848

cartas, dois tratados os "Moralia" e a Pasto-

ral, além de inúmeras homilias.

Nas Gálias aparece o bispo Gregorio de

Tours, que escreveu a "História dos francos".

É uma tentativa de integrar a história nacio-

Page 63: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.57.

nal dentro da história eclesiástica. Na Penín

sula Ibérica/ lembramos os nomes de Sã.o Mar-

tim de Braga, bispo dessa cidade que escreveu

uma obra para a conversão dos pagãos, e São

Leandro, grande amigo e correspondente, do pa-

pa Gregório. Ma qualidade de Arcebispo de Se-

vilha, abriu uma escola em sua própria casa

para a educação dos clérigos, onde se educou a

grande figura das letras visigodas: Isidoro de

Sevilha. A sua biblioteca foi tão famosa na

época que vários autores contemporâneos e

posteriores a citam.

CONCLUS Ã O

No tempo decorrido entre o IV e o VI séculos, passa-

mos da existência do Império Romano para sua divisão em duas

partes: a oriental e a ocidental, num primeiro momento.

Depois, os estados bárbaros e a Igreja, - os novos

protagonistas -, se repartem o ocidente e estabelecem as ba

ses de uma nova convivência.

A Igreja impõe a teoria do poder e Roma transmite o

Direito.

A Igreja ê cada vez mais latina e ocidental e se ele

va constantemente no caminho do poder.

A sociedade é rural e cristã. 0 ruralismo é herança

de Roma e o cristianismo também.

A Igreja conserva e transmite a romanidade.

Page 64: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.58.

PARA AMPLIAR SEUS CONHECIMENTOS

1 - Fontes

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2 - Bibliografia de Apoio

- BONNASSIE, Pierre. Dicion á rio de Hist ó ria Medieval . Lisboa:

Dom Quixote, 1985-

- LOYN, Henry R. (org.). Dicion á rio da Idade M é dia . Rio de Ja

neiro: Jorge Zahar, 1990.

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bo-Edusp. 1979.

3 - Bibliografia Geral

- ARIES, Philippe; DUBY, Georges. Historia de Ia vida priva-

da. Imp é rio Romano y ANtiquedad Tardia , Madrid: Taurus,

1991.

- BRETONE, Mario. Hist ó ria do Direito Romano . Lisboa: Estam-

pa, 1990.

- DANIELOU, J.; MARROU, H. Mova Hist ó ria da Igreja I.Dos pri-

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mordios a S. Greqorio Magno. Petrópolis: Vozes, 1984.

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- OLIVEIRA, Waldir F. A Antig ü idade Tardia. São Paulo: Ãtica,

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Page 67: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

C R 0 N 0 G R A M A .60.

POLÍTICA ECONOMIA E SOCIEDADE CULTURA

284 Diocleciano proclamado imperador.

300 312. Batalha de Ponte Milvio

311. Edito de tole-rãncia313. Edito de Milão

325 325. Constantino, uni co imperador332. Constituição sobre o colonato341-43. Combates no Re no contra fran cos e alamanos

325. Concilio de Ni-cáia.328. Atanásio, bispo de Alexandria330. Constantinopla: capital do Impe rio.341. Ülfila converte os godos ao aria nismo.

350 352. Francos e alamanos invadem a Ga lia.360. Inicio da luta contra o padrona do.361. Juliano o Aposta ta.362. Edito de Juliano sobre os mestres cristãos.

370. Basílio, bispo de Cesaréia.

374. Concessão de "foe dus" aos alamanos

374. Ambrosio, bispo de Milão.

75 375. Chegada dos hu-nos. Batalha de Adrianopla.

379. Morte de Basilio de Cesaréia.

380. Instalação dos go dos na Panônia

380. Edito de Tessa-lónica.

381. Concilio de Constantinopla e confimaçio da fe

Page 68: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.61.

POLÍTICA ECONOMIA E SOCIEDADE CULTURA

382. Concessão dos "foedus" aos visigodos.3 90. Encontro de Teo-dosio com Ambro-sio de Milão: submissão da au-toridade civil â eclesiástica.395. Morte de Teodósio

3 82. Problemática co "Altar da Vitória".385. São Jerônitoo na Palestina.387. Batismo de Santo Agostinho..392. Proibição dos cul tos pagãos.398. Edito sobre ahos pitalidade.

400 Honório, imperador da Ocidente e Arcâdio do Oriente.406. 0 rio Reno é a-travessado pelos germanos.408-10. Tepdósio II imperador.410. Saque de Roma pelo visigodo Ala-rico.411. Suevos, vândalose aianos na Península Ibérica.412. Os visigodos sãoinstalados nas Galias.413. Concessão do "foedus" aos burgun-dios.419. Visigodos na Pe-nínsula Ibérica.

407. Morte de São João Crisóstomo420. Morte de São Je rõnirao.

425 4 28. Desembarque dos anglo-saxões na Bretanha Oriental428-77. Genserico,rei dos vândalos.429. os vândalos se instalam na Africa

426-29. ... "A Cidade de Deus".

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.62-

POLÍTICA ECONOMIA E SOCIEDADE CDLVTURA

430. Morte de Santa Agostinho.

448. época de maior poder e dominação dos suevos na Península Ibérica.

438. Publicação do "Có digo Teodosiano".

431. Concilio de Éfero.

432. Evangelização 'de Irlanda porSão Patrício.

439-45. Construção do mausoleo de Ca Ia Placidia era Ravena.440-461. São Leão, pa pa.

450 4 51. Atila ataca as Galias.452. Atila entra emItilia.453. Morte de Atila.

451- Concilio de Cal-cedonia e condena do monofisis-mo.

455. Pilhagem de Roma por Alarico rei dos vândalos.457-4 61. Reinado de Majoriano.457-474. Leio I, impe rador do 0-riente.

455. Valentiniano III, imperador,da for ça de lei para to da a Igreja aos decretos emanados do bispo de Roma.

75 476. Fira do Império no Ocidente.481. Clovis, rei dos francos.486. Os francos des-troem o reino de Siagno.

490-496. Unificação ' das tribus dos francos.4 93. Teodorico, rei dos ostrogodos

Leis de Eurico na Pe ninsula Ibérica.

492-96. Gelasio, Papa, a teoria dos "Dois Glá dios".

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POLÍTICA ECONOMIA E SOCIEDADE CULTURA

496. Conversão de Cio vis, rei dos francos.

500 507. Batalha de Vo-nilli: expulsão dos Visigodos da Galia.

Breviario de Alarico ou "Lex Romana Visi-gothorum".

511. Morte de Clovis, rei dos francos

Primeiros mosteiros irlandeses.324. Morte de BoecioSão Bento se retira ao deserta.

525 526. Morte de Teodo-rico, rei dos ostrogodos.

525. São Bento funda montecassino.

527. Justiniano, im-perador.

529. Concilio de \tei son: deve ser aberta uma escola em cada bispado.529. Fechamento de Escola de Atenas5 2 9-33. Código de Jus tiniano.

530-36. Os francos conquistara o reino dos bur gundios.533. Justiniano re-conquista África: fim do reino dos vândalos535. Justiniano re-conquista Roma.541-52. Totila, rei dos ostrogodos.

542. Grande peste em Oriente.

536. Construçio deSanta Sofia emConstantinopla.

537. Regra de SãoBento.

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POLÍTICA ECONOMIA E SOCIEDADE CULTURA

550 552. Introdução do bicho da seda no Ocidente.

553. Cassiano escreve "As institui ções".556. São Martinho de Braga cornos sue vos.

558-61. Clotário I, rei dos fran cos, unifica a Galia.563. Fim da recon-quista de Itália.565. Morte de Jus-tiniano.568. Guerras civis na Galia e divisão do terri. tório;Borgonha, NeSstria e Aus trásia.568. Entrada dos 1 ora bardos em Itália.573-86. Leovigildo, rei dos vi-sigodos.

559. Grande peste em Ocidente.

Morte de São Bento573-94. Gregõrio,bis po de Tours.

588-601. Recaredo, converte-se ao catolicismo.

-

75 584. Fundação do E-xarcado de Ra-vena.585. 0 reino dos suevos é anexadopelos visigodos

Gregorio de Tours e^ creve a "História ' dos francos"583. Morte de Casio-do ro.590-604. Gregorio o Grande, papa.

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.65.

POLÍTICA ECONOMIA E SOCIEDADE CULTORA

600 610-41. Herádio,im perador no Oriente.613-29. Clotário II,rei úni co dos franCOS.

614. Edito de Cletá-rio sobre a admi nistração públi ca.

610

622

. Maomé inicia as pregações.. A "Hegira" de Maomé.

625 634. Os árabes con quistam a Si-ria.636. Os árabes con quistam Pérsia642. Os árabes con quistam o Egi to.

643. Código de Rotá-rio.

632.

636.

Morte de Maomé.Morte de Isidoro de Sevilha.

S50 656. Ali Califa661. Assassinatode Ali começa a dinastia 0-miada.

654. Código visigodo de Recesvinto. 653.

653.

Fixação do texto do "Corão"Conversão dos lombardos ao ca tolicismo.

Page 73: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

EUROPA NO SÉCULO IV d. C.

FOSSIER, R. La Edad Media 1. Barcelona: Crítica-Grijalbo, L988.

.66.

Page 74: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

CAMINHOS DOS PRINCIPAIS POVOS BÁRBAROS

DURANTE AS INVASÕES

MITRE, E. Los Germanos y Ias grandes invasiones. Bilbao: Moreton, 1968.

.67.

Page 75: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

ASSENTAMENTO DOS BÁRBAROS

BALARD, M. et ai. Edad Media Occidental. De los b á rbaros ai Re-

nacimiento. Madrid: Akal, 1989.

.69.

Page 76: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

OS REINOS BARBAROS DEPOIS DE 476

GROUSSET, R. et LEONARD, E. Histoire universelle I. Des origines a

1'Islam. Paris: Gallimard, 1956.

.70.

Page 77: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

OS ESTADOS BÁRBAROS NO V SÉCULO

FOSSIER, R. La Edad Media I. Barcelona: Critica-Grijalbo, 1988.

.71.

Page 78: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

O MUNDO MEDITERRÂNEO NA ÉPOCA DE JDSTINIANO

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Page 79: MARIA SONSOLES GUERRAS - ROMANISMO, GERMANISMO E CRISTIANISMO NOS SÉCULOS V - VI

.73.

O IMPÉRIO DO ORIENTE E A RECONQUISTA DO OCIDENTE

BALARD, M. et ai. Edad Media Occidental. De los b á rbaros ai

Re-, nacimiento. Madrid: Akal, 1989.