Martins 2009
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Paulo Nuno Torro Pinto Martins
A MECNICA QUNTICA E O PENSAMENTO DE AMIT GOSWAMI LISBOA 2009
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Dissertao de Doutoramento
Paulo
Martins
2009
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Paulo Nuno Torro Pinto Martins
A MECNICA QUNTICA E O PENSAMENTO DE AMIT GOSWAMI Dissertao apresentada para obteno do Grau de Doutor em Histria e Filosofia das Cincias Especialidade de Epistemologia das Cincias pela Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Cincias e Tecnologia. LISBOA 2009
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Dedico este trabalho quela que o Eterno Feminino.
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Agradecimentos Agradeo ao Professor Doutor Antnio Manuel Nunes dos Santos e Doutor Joo
Manuel Resina Rodrigues as sugestes que mantivemos ao longo deste trabalho, e que
foram para mim uma preciosa ajuda para a realizao desta tese. Agradeo-lhes tambm
o incentivo, (atravs de diversas maneiras), que me foram manifestando ao longo deste
trabalho.
Agradeo ao Professor Doutor Amit Goswami o apoio que me dispensou, em particular
no esclarecimento de algumas questes mais controversas deste trabalho.
Agradeo ao Professor Doutor Joaquim Fernandes a solicitude com que me enviou a
informao que lhe pedi, durante a elaborao desta tese, sobre o II Simpsio
Internacional Fronteiras da Cincia organizado pelo Centro Transdisciplinar de
Estudos da Conscincia (CTEC).
Agradeo FCT (Fundao para a Cincia e Tecnologia) o apoio que me deu para o
pagamento de despesas de impresso desta tese.
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Resumo Desde 1930 que tm sido feitas especulaes, sobre a possvel harmonia pr-
estabelecida entre a Mecnica Quntica e as filosofias da ndia, embora essas
especulaes nunca tenham sido levadas muito longe.
Assim, este trabalho uma contribuio para um estudo mais profundo deste tema,
particularmente verificando se os escritos de Amit Goswami (pensador educado na
tradio Hindu e professor de Fsica Quntica na Universidade de Oregon (E.U.A.))
ajudam de algum modo a entender os clebres paradoxos da Mecnica Quntica
quando vistos atravs da filosofia do idealismo monista.
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Abstract Since 1930, some speculations about possible pre-establish harmony between
Quantum Mechanics and the Indian philosophies have been made. However, these
speculations have never gone very far.
Thus, this work is a contribution towards a more indepth study of this theme, particulary
to see if the writings of Amit Goswami (a Hindu thinker and a teacher of Quantum
Physics at the University of Oregon (U.S.A.)) can help to understand the famous
paradoxes of Quantum Mechanics, when looking at them through the philosophy of
monistic idealism.
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Simbologia e Notaes Ahamkara: Termo snscrito para designar o plano arquetpico Vijnanamaya Kosha.
Akhyati: Palavra snscrita que designa separao (do Todo).
Anima: Termo psicolgico que designa o lado feminino inconsciente num homem.
Animus: Termo psicolgico que designa o lado masculino inconsciente numa mulher.
Arqutipo: Termo proveniente do latim archetypum, e do grego designando
modelo original de todos os seres ou coisas sensveis. Em termos psicolgicos designa
um smbolo ou imagem Junguiano do Inconsciente Pessoal (como seja o arqutipo
anima/animus, referido anteriormente) e do Inconsciente Colectivo (constitudo por
imagens ou smbolos pertencentes a uma dada cultura, sociedade, povo) que tomam uma
forma concreta quando so projectados no mundo material objectivo.
Assagioli, Roberto: Psiclogo italiano do sculo XX, fundador da corrente
Transpessoal (ou psico-sntese) na psicologia.
Asvaghosa: Filsofo budista, do sculo II a.C., pertencente escola Vijnanavadins.
Atman: Termo snscrito que designa Alma.
Avidya: Palavra snscrita que significa ignorncia.
Behaviorismo: Corrente da psicologia que defende que a explicao do comportamento
humano encontrada apenas nos padres de estmulo/resposta/reforo dum indivduo.
Bhakti Yoga: Um dos caminhos do Yoga caracterizado pelo amor ou devoo a Deus.
Bhuta: Termo snscrito correspondente ao plano Pranamaya Kosha (plano vital).
Brahmanas: Livro que contm os comentrios sobre os Vedas.
Brahmasutra: Texto clssico de exposio dos Upanishads, escrito por Badarayana
no sculo IX a.C. .
Buddhi: Termo snscrito que designa Campo de Conscincia.
Budismo: Escola filosfica Indiana fundada por Gautama Buda (O Iluminado), no
sculo VI a.C., sendo composta pelas correntes Theravada (Sautrantikas, Vaibhasitas),
Yogacara (Vijnanavadins) e Madhyamika(Sunyavadins) (ver descrio detalhada
nas pginas 95-110).
vii
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Campo da Conscincia: Termo psicolgico correspondente ao termo percepo (por
vezes tambm designado por campo da percepo ou da mente). neste campo de
conscincia que surgem determinados arqutipos que depois so reflectidos ou
projectados no mundo material objectivo (ver descrio detalhada nas pginas 4-9).
Carvaka: Escola de filosofia Indiana defensora das doutrinas filosficas materialistas.
No se sabe ao certo o sculo do seu aparecimento, nem a pessoa que fundou tal escola
(ver descrio detalhada nas pginas 117-119).
Chakra: Termo snscrito que designa roda/vrtice. Existem 7 chakras principais
(alm de muitos outros secundrios) que resultam do cruzamento de 72 000 nadis
(termo snscrito que designa condutos) existentes no ser humano.
Daiva: Termo snscrito que designa destino.
Darsanas: Palavra snscrita que designa escolas. Existem 6 escolas que seguem a
autoridade Vdica (astika), e que so representadas pelos sistemas Yoga, Samkhya,
Nyaya, Vaisesika, Mimansa e Vedanta. Existem outras 3 escolas que no seguem a
autoridade Vdica (nastika), e so representadas pelos sistemas Carvaka, Budismo e
Jainismo.
Dharana: Termo snscrito que designa concentrao/disciplina.
Dharma: Termo snscrito que designa tudo o que cognoscvel.
Dharmakirtti: Filsofo budista, do sculo VII d.C., pertencente escola Theravada,
cuja principal contribuio para as filosofias da ndia foi a sua concepo de Tempo
Transpessoal cclico.
Dhyana: Termo snscrito que designa meditao.
Ego: Termo que designa o aspecto condicionado do Self (tambm identificado com a
palavra personalidade).
Epifenomenalismo: Termo que designa a ideia de que os fenmenos mentais, e a
conscincia em si, so fenmenos secundrios da matria e/ou redutveis a interaces
entre esta.
Epistemologia: Ramo da filosofia que estuda os mtodos, origem, natureza e limites do
conhecimento, sendo tambm o ramo da cincia que estuda o modo como conhecemos.
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Estado de conscincia: Termo que designa diferentes estados de percepo ou do
Campo da Conscincia. Exemplos so a viglia, sono tranquilo (ou N-REM), sono
com sonhos (ou REM) e sono paradoxal, sendo estes dois ltimos correspondentes a
estados avanados de meditao (para uma descrio detalhada ver pginas 139-143).
Experincia Transpessoal ou mstica: Experincia directa da Conscincia Una, alm
da personalidade ou do Ego/eu pessoal.
Gunas: Termo snscrito que designa, na psicologia Indiana, as diferentes qualidades de
um determinado estado de conscincia, correspondente estas a diferentes impulsos na
terminologia psicolgica moderna. So trs os gunas: sattwa (criatividade ou
equilbrio), rajas (natureza ou impulso da libido) e tamas (condicionamento
passado, educao, inrcia).
Idealismo Monista: Filosofia defendida pela escola filosfica Vedanta que define a
Conscincia Una como o fundamento e a base de todo o ser. Os objectos de uma
realidade emprica so reflexos arquetpicos que surgem de modificaes do Campo
da Conscincia.
Inconsciente: Conceito psicolgico em que se define que a Conscincia Una est
presente (pois a base de todo o ser), mas na qual no existe Percepo (ver descrio
detalhada nas pginas 9-10).
Inconsciente Colectivo: Conceito psicolgico, introduzido por Jung, referente a
contedos psquicos que so comuns a vrios indivduos, culturas, mas dos quais no
nos apercebemos.
Inconsciente Pessoal: Termo psicolgico que designa as memrias reprimidas, instintos
e percepes subliminais, de natureza pessoal, que afectam as aces conscientes
atravs de impulsos inconscientes.
Jainismo: Escola filosfica Indiana fundada por Jina (ou Mahavira), no sculo V a.C.,
sendo composta pelas correntes Svetambaras e Digambaras. A sua principal
contribuio para as filosofias da ndia foi a Teoria do Karma (ver descrio detalhada
nas pginas 111-117).
Jnana yoga: Um dos caminhos do Yoga, o qual caracterizado pelo
conhecimento/sabedoria obtido atravs da meditao.
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Karma: Termo snscrito que designa aco (individual, familiar e/ou colectiva)
podendo esta estar relacionada com pensamentos, sentimentos, palavras e/ou aces.
Karma yoga: Um dos caminhos do Yoga, no qual o indivduo age duma maneira
altrusta, renunciando ao interesse pessoal dos frutos dessa mesma aco.
Karmendriya: Termo snscrito correspondente ao plano Annamaya Kosha (fsico).
Karuna: Palavra snscrita que designa compaixo.
Kilesas: Termo snscrito que designa sofrimento/morte.
Kosha: Termo snscrito que designa plano de conscincia. Existem 7 planos de
conscincia (Mnada, Anandamaya Kosha, Vijnanamaya Kosha, Manomaya Kosha,
Kamamaya Kosha, Pranamaya Kosha e Annamaya Kosha) correspondentes aos
diferentes Campos de conscincia (ver descrio detalhada nas pginas 87-89).
Kuruksetra: Termo snscrito que designa batalha no plano Kamamaya Kosha
(emocional/desejo) e Manomaya Kosha (mental concreto).
Lbido: Termo freudiano para a fora vital, tambm frequentemente usado como energia
sexual.
Mahat: Termo snscrito que designa alma.
Manas: Termo snscrito usado para designar o plano mental concreto Manomaya
Kosha.
Mantra: Termo snscrito que significa parar de pensar (no sentido de no utilizao
do intelecto). Existem alguns mantras Sagrados, como por exemplo, o Gayatri
Mantra.
Manvatara: Termo snscrito que designa manifestado.
Maslow, Abraham: Psiclogo do movimento Humanista.
Maya: Termo snscrito que designa iluso/glamour.
Meditao: Processo de controlo das modificaes da mente que permite uma
expanso do Campo de conscincia e, portanto, da percepo.
Mimansa: Escola filosfica Indiana fundada por Jaimini, no sculo III a.C., cuja
principal contribuio para as filosofias da ndia foi a Teoria da Percepo (ver
descrio detalhada nas pginas 159-168).
Moska ou Mukti: Termo snscrito que designa libertao das limitaes do Ego.
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Mundo da manifestao: Designao idealista monista do mundo imanente da nossa
experincia do espao-tempo fsico comuns, para distingui-lo do mundo transcendente
das ideias e dos arqutipos. Tanto o mundo transcendente, como o imanente existem na
Conscincia Una, o primeiro como formas de possibilidade (ideias), e o segundo
como o resultado manifestado duma observao consciente.
Nadis: Termo snscrito que significa condutos. Existem cerca de 72000 nadis no
corpo humano, sendo os 3 mais importantes denominados por Ida, Pingala e Sushumna.
Nagarjuna: Filsofo budista, do sculo III a.C., sendo um dos fundadores da escola
Madhyamika, e cuja principal contribuio para as filosofias da ndia foi a introduo
dos conceitos de Impermanncia e Interdependncia.
Nirvana: Ver Samadhi.
Nyaya: Termo snscrito que significa significado correcto. Tambm uma das escolas
das filosofias da ndia fundada por Kanada (ver tambm escola Vaisesika).
Palavras polissmicas: Palavras com mais de um significado que podero parecer
ambguas em certos contextos, como por exemplo palma (de rvore ou parte da mo).
Patanjali: Sbio indiano, do sculo VI a.C., fundador da escola Yoga, e cuja principal
contribuio para as filosofias da ndia foi a Teoria dos Ksanas (contido no Yoga
Sutras).
Paramataman: Termo snscrito que significa Deus.
Pralaya: Termo snscrito que significa no-manifestado.
Pramana: Termo snscrito que significa movimento pelo qual o vu da ignorncia
removido.
Pramata: Termo snscrito que significa Sujeito da conscincia, isto , o ser
consciente que realiza a observao auto-referencial.
Prameya: Termo snscrito que significa objectos arquetpicos.
Psicologia Transpessoal: Corrente da psicologia que defende que a conscincia se
estende para alm do Ego condicionado (ou personalidade), fazendo justia ao lado
espiritual do ser humano.
Psique: Postulado da psicologia que define um sistema dinmico, onde a satisfao da
parte consciente designada por progresso, enquanto que a satisfao da parte
inconsciente designada por regresso.
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Puranas: Termo snscrito que significa antiga narrao. Existem vrios que foram
escritos entre os sculos IX e XI, dos quais se destacam o Bhagavad-Gita, Yoga-
Vasistha e Bhagavata-Purana (ver descrio detalhada nas pginas 180-184).
Purusha: Termo snscrito que significa Brahman ou Deus.
Rajas: Termo snscrito semelhante concepo de libido no pensamento Ocidental.
Rishi: Termo snscrito que significa sbio.
Sankara: Filsofo, do sculo IX a.C., fundador da escola Vedanta, cuja principal
contribuio para as filosofias da ndia foi a Teoria da Iluso.
Santa: Termo snscrito que significa passivo.
Samadhi: Termo snscrito que designa a experincia Transpessoal, na qual o indivduo
experimenta a verdadeira natureza da Alma. Existem vrios nveis de Samadhi,
como por exemplo, savikalpa e nirvikalpa.
Samkhya: Termo snscrito que significa nmero. Tambm escola filosfica Indiana
fundada por Kapila, no se sabendo ao certo o sculo em que ter vivido (ver descrio
detalhada nas pginas 119-131).
Samsara: Termo snscrito que designa os ciclos de existncia dos seres vivos,
caracterizados pelo prazer/dor gerados pela perpetuao da ateno do eu pessoal
sobre si prprio.
Samskaras: Termo snscrito que designa os estados de conscincia passados e/ou
inconscientes.
Satori: Termo da filosofia zen equivalente a Samadhi.
Sattwa: Palavra snscrita que na psicologia hindu equivalente criatividade.
Seva: Termo snscrito que designa servio.
Shiva: Autor dos Upanishades, no se sabendo ao certo em que sculo ter vivido.
Este termo serve tambm para designar a ideia de Deus, nas filosofias da ndia.
Sila: Termo snscrito que designa carcter.
Sincronicidade: Termo usado, por Jung, para designar coincidncias significativas entre
acontecimentos devido a uma interdependncia entre eles.
Sombra: Termo psicolgico que designa o lado inconsciente no ser humano.
Tamas: Termo snscrito que designa aco condicionada.
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Tantra: Termo snscrito que significa doutrina. Tambm escola filosfica Indiana, do
sculo IX, que d maior relevo prtica de ritos, em detrimento de prticas meditativas
(ver descrio detalhada nas pginas 188-190).
Tempo transpessoal cclico: Medida de tempo definida em funo da evoluo cclica
dos veculos da conscincia ou do Campo da conscincia (ver descrio detalhada nas
pginas 96-104).
Teoria da Iluso: Teoria das filosofias da ndia que defende que a iluso/glamour o
resultado da ateno permanente do Ego sobre si mesmo (ver descrio detalhada nas
pginas 169-177).
Teoria do Karma: Teoria das filosofias da ndia que defende que todas as aces
praticadas (por pensamento, desejo e palavra) tm um efeito causal no mundo visvel,
cujo resultado se manifesta segundo um Tempo Transpessoal cclico (ver descrio
detalhada nas pginas 111-116).
Teoria dos Ksanas: Teoria das filosofias da ndia que defende que os fenmenos
aparentemente contnuos (medidos pelo tempo fsico) que conhecemos por
intermdio da mente, consistem numa sequncia de estados descontnuos (medidos
pelo tempo transpessoal cclico) do Campo da conscincia (ver descrio detalhada
nas pginas 137-140).
Teoria da Percepo: Teoria das filosofias da ndia que defende que a percepo do
mundo visvel depende do Campo de conscincia do ser que os observa (ver descrio
detalhada nas pginas 157-168).
Teoria da Reencarnao: Teoria das filosofias da ndia que defende que cada alma
passa por uma srie de vidas, de modo a verificar-se a evoluo cclica dos veculos da
conscincia mental, emocional e fsico (ver descrio detalhada nas pginas185-188).
Upanishads: Tratado filosfico contido nos Aranyakas, da autoria de Shiva, que tm
como objectivo desfazer ignorncia/sofrimento.
Urdu: Palavra snscrita que significa linguagem dos campos.
Vaisesika: Escola filosfica fundada por Kanada, no sculo VI a.C., e cuja principal
contribuio para as filosofias da ndia foi a distino entre verdade relativa (apreenso
intelectual) e verdade ltima (apreenso intuitiva) da realidade (ver descrio
detalhada nas pginas 147-158).
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Vaisnava: Escola filosfica fundada por Yamuna (sculo X) e Ramanuja (sculo XI), e
cuja principal contribuio para as filosofias da ndia foi a Teoria da Reencarnao
(ver descrio detalhada nas pginas 184-188).
Varagya: Termo snscrito que significa indiferena (ao prazer/dor).
Vedanta: Termo snscrito que designa a mensagem final nos Vedas. Tambm
representa uma escola filosfica Indiana fundada por Sankara, no sculo IX a.C., e cuja
principal contribuio para as filosofias da ndia foi a Teoria da Iluso (ver descrio
detalhada nas pginas 169-177).
Vedas: Termo snscrito que significa conhecimento. Tambm designa uma coleco
de 4 livros Sagrados, compostos pelo Rig-Veda (mantras, hinos de louvor), Yajur-
Veda (rituais), Sama-Veda (cantos) e Atharva-Veda (frmulas mgicas que contm
o Ayur-Veda), cujo autor e o sculo da compilao so desconhecidos.
Vijnana: Termo snscrito que designa estados sucessivos de conscincia.
Yoga: Termo snscrito que significa unio ou controle das modificaes da mente.
Tambm uma escola filosfica Indiana constituda por 3 correntes, nomeadamente a
Karma-Yoga, Jnana-Yoga e Bhakti-Yoga (ver descrio detalhada nas pginas
131-146).
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ndice de Matrias Captulo Pgina Dedicao.................................................................................................................. i Agradecimentos .......... iii Resumo .......... v Abstract ......... vi Simbologia e Notaes ......... vii ndice de Matrias ........... xv ndice de Figuras .... xvii ndice de Quadros ... xviii Prefcio ..... xix I - A Cincia e a Filosofia dos Gregos at s Teorias da Relatividade Introduo: as principais correntes na psicologia ... 1 O mito: a Alegoria da Caverna ... 10 A matemtica e a astronomia na Antiga Grcia .................................... 17 A cincia e a filosofia no Renascimento . 26 A Mecnica Clssica ... 43 A Teoria do Caos 49 As Teorias da Relatividade . 57 A Fsica nos princpios do sculo XX 76 II - Concepo do Conhecimento nas Filosofias da ndia Introduo s filosofias da ndia: o conceito de Conscincia Una 85 A escola Budista: a concepo de Tempo cclico .. 95 A escola Jainista: a Teoria do Karma ... 111 A escola Carvaka .. 117 A escola Samkhya: a Teoria Cosmolgica 119 A escola Yoga: a Teoria dos Ksanas e a meditao . 131 As escolas Nyaya-Vaisesika: a Teoria da Lgica . 147 A escola Mimansa: a Teoria da Percepo .. 159 A escola Vedanta: a Teoria da Iluso ... 169 Introduo ao estudo de alguns Puranas .. 180 A escola Vaisnava: a Teoria da Reencarnao 184 As escolas Saiva e Tantra . 188 xv
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ndice de Matrias (continuao) Captulo Pgina III - A estrutura formal da Mecnica Quntica e alguns factos paradoxais A Axiomtica e a estrutura Formal da Mecnica Quntica . 191 A experincia da Dupla Fenda: a dualidade onda/partcula ... 201 Bohr e a filosofia de Kant ... 212 Bohr e a filosofia do Positivismo: o Crculo de Viena . 220 A Interpretao de Copenhaga ou Standard . 227 A concepo do tempo . 231 A experincia da Escolha Retardada: a questo da opo/escolha .. 236 O pensamento de Amit Goswami: como e quando o colapso... 238 O efeito da Descoerncia e o problema da Medio ....................................... 242 O Teorema de Gdel ........ 251 Os modelos do crebro-mente ..... 255 O pensamento de Amit Goswami: o mecanismo do crebro-mente ... 257 A Teoria da Mente Hologrfica ... 266 A Cosmologia Darwinista ... 277 O pensamento de Amit Goswami: a necessidade de observadores .... 278 A experincia conceptual de Einstein, Podolsky e Rosen .. 286 O Teorema de Bell ...... 288 A experincia de Alain Aspect: a no-localidade ....... 292 O pensamento de Amit Goswami: a conscincia no-local ....... 294 IV - A Fsica Quntica e o pensamento de Amit Goswami As experincias de Tony Marcel . 297 As experincias de Jacobo Grinberg-Zylberbaum ... 302 As experincias de Libet e Feinstein ....... 304 As experincias de Zaborowski ....... 306 O pensamento de Amit Goswami: sntese e concluses... 307 Notas .... 311 Bibliografia .. 323 xvi
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ndice de Figuras Captulo Pgina
1.1 - Esquema das diferentes reas e nveis de conscincia . 4
na mente humana
2.1 Esquema dos 7 chakras principais e respectivos planos 88
de conscincia no ser humano
3.1 Esquema do dispositivo experimental de Aspect .. 291
4.1 Comparao dos potenciais evocados com os potenciais transferidos.. 303
de EEG, para dois casos diferentes (a) e (b)
xvii
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ndice de Quadros Captulo Pgina
2.2 Quadro de comparao dos principais aspectos entre as filosofias . 94
no pensamento Oriental e Ocidental
xviii
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Prefcio A Fsica Clssica (Mecnica, Electromagnetismo) prope uma descrio determinista
do Universo. A Mecnica Quntica tem a este respeito um esquema que parece
paradoxal a quem se formou na mentalidade clssica. Um sistema fsico definido por
uma funo de estado (funo de onda ou vector de onda), e tudo o que se pode
saber sobre o sistema num dado instante est contido na funo de onda (que
designaremos por ). Se a funo de onda uma descrio do sistema, com alguma
parecena com aquilo que classicamente se chama imagem ou descrio uma
questo filosfica em aberto, havendo duas atitudes fundamentais: a) Bohr que defende
que esta uma questo ociosa, pois tudo o que adianta saber que da funo de onda
se tiram concluses objectivas; b) Penrose que um pouco mais realista, atribuindo
uma realidade fsica objectiva na descrio quntica, denominada por estado quntico,
isto , descreve a realidade do mundo. Como quer que seja, o que a Mecnica
Quntica tem de mais bizarro vem a seguir: a Equao de Schrdinger d-nos a
evoluo da funo de onda ao longo do tempo, sendo esta completamente
determinista (que designaremos por Q). Contudo, sempre que fazemos uma medio
desencadeia-se um processo pouco elaborado de transposio dos fenmenos do mundo
linear e simples do nvel quntico, para o mundo real da experimentao. Este processo
envolve o chamado colapso da funo de onda ou Reduo do vector de estado
(que designaremos por R), sendo este procedimento quem introduz a incerteza na Teoria
Quntica. Assim, enquanto que o processo determinstico Q o que tem envolvido a
maior parte do trabalho dos fsicos, por seu lado, os filsofos tm estado mais intrigados
com o processo no-determinstico da Reduo do vector de estado R, tendo este
processo levantado vrias questes filosficas fundamentais, nomeadamente como e
quando que se verifica a Reduo do vector de estado? Ser que so necessrios
observadores (ou seres conscientes) para se verificar a Reduo do vector de estado?
E, qual o mecanismo do crebro/mente quando se d a Reduo do vector de
estado? A este propsito, Roger Penrose cr que necessria uma teoria que incorpore
aquilo a que se chama a Reduo objectiva da funo de onda, na qual a conscincia
tenha um papel fundamental.
xix
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este exactamente o objectivo principal desta tese. De facto, autores recentes como
Amit Goswami, cientista nascido e formado na ndia e, actualmente professor de Fsica
Quntica na Universidade de Oregon (E.U.A.), defende que os clebres paradoxos da
Mecnica Quntica podero ser entendidos quando vistos luz das filosofias da
ndia, particularmente atravs da filosofia do idealismo monista. certo que o
problema do conhecimento tem atravessado toda a filosofia Ocidental, embora os
pensadores no europeus tenham sido em geral ignorados, (excepo feita cultura
Islmica, com a qual houve algum contacto desde o sculo XII). J no sculo XIX, e
sobretudo no sculo XX, surge um interesse pelas filosofias da ndia, introduzindo a
ideia de que na sagacidade da ndia, a questo do conhecimento reserva surpresas para
quem se limitou a estudar apenas a cultura e a filosofia Ocidental. um facto curioso
que os fundadores da Mecnica Quntica tinham alguns conhecimentos das filosofias
do Oriente: Schrdinger tinha algum conhecimento das filosofias da ndia, Bohr tinha
algum contacto com as concepes de Buda e Lao-Tse, mais adiante encontramos obras
como o Tao da Fsica, de Capra, ou o Congresso de Crdova de 1979 que sugerem
que as filosofias da ndia so o meio natural para pensar a Mecnica Quntica. Assim,
este trabalho uma contribuio para um estudo mais profundo deste tema, tendo-se,
para este efeito, dividido esta tese em quatro captulos. O Captulo I dedicado ao
estudo da Histria da Cincia, onde faremos uma comparao entre os princpios que
regem a Mecnica Clssica at s Teorias da Relatividade (como sejam, o
determinismo, a objectividade forte e a localidade) com os da Mecnica Quntica
(regidos pelo Princpio da Incerteza, a objectividade fraca e a no-localidade), bem
como uma breve referncia s principais correntes da psicologia (em particular, a
Psicanaltica e a Transpessoal). Relativamente corrente Transpessoal, faremos um
estudo das diferentes reas e nveis de conscincia na mente humana (Figura 1.1),
enquanto que, na corrente Psicanaltica, iremos fazer referncia a um esquema proposto
por Jung, o qual considera que existe o mundo dos arqutipos (constitudo por figuras
Gestlticas), o mundo mental/psique (que engloba o Inconsciente colectivo/pessoal e o
Campo da conscincia/percepo, onde vo aparecer determinados arqutipos) e o
mundo fsico (resultado da projeco dos arqutipos que esto no Campo de
conscincia), estando todos estes mundos contidos na Conscincia Una.
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No Captulo II faremos um estudo das filosofias da ndia (e, respectiva comparao
com a filosofia Ocidental), particularmente, no que diz respeito s concepes de
conscincia e do tempo (que so diferentes das do pensamento Ocidental). Quanto ao
conceito de conscincia, preconizado pelo pensamento Oriental, comearemos por
referir a viso dum sbio Indiano, do sculo XX, Sri Aurobindo, que considera que a
Conscincia Una (que no Ocidente corresponde ideia de Deus) a base do ser (Esta
prvia e incondicionada, e no um epifenmeno da matria), sendo este conceito
comparado com as diversas posies do pensamento Ocidental. A este propsito,
apresentaremos os diferentes planos de conscincia (Figura 2.1), onde introduziremos a
concepo do Tempo Transpessoal cclico (que mede a evoluo/expanso do
Campo de Conscincia), defendida pela escola Budista, bem como a Lei do Karma,
(Lei natural relativa aos efeitos manifestados no mundo visvel, resultantes de
determinados pensamentos, sentimentos, palavras e aces praticados), preconizada
pela escola Jainista, fazendo-se a respectiva comparao com as concepes Ocidentais
de tempo, e da Lei da Causalidade. Seguidamente, iremos mencionar a escola
Indiana Samkhya que defende que o Cosmos evolui de maneira cclica, onde aps
perodos de manifestao, se seguem perodos de no-manifestao, sendo a
Conscincia Una, (ou Som Primordial), o suporte dos diversos planos de
conscincia de tudo o que existe manifestado, e no manifestado (fazendo-se a
respectiva comparao com as concepes veiculadas pelo pensamento Ocidental).
Associada a esta escola Indiana, faremos referncia a uma outra, o Yoga (do snscrito
Unio), que prope diversas etapas para a expanso do Campo conscincia/mente,
nomeadamente, o Pranayama (controle da bioenergia) e a Meditao (controle
das modificaes da mente). A este propsito, vamos referir que os sbios da ndia
defendem, (na Teoria dos Ksanas), que a tcnica de Pranayama poder ser uma
chave para a compreenso do Tempo Transpessoal cclico. Quanto meditao e
concepo Oriental da Conscincia Una como base do ser, vamos fazer a comparao
com os trabalhos realizados pelo neurocirurgio Holands Herms Romijn, o qual
procurou investigar, (atravs de diversos electroencefalogramas), se a Conscincia Una
(como base do ser) tambm estaria presente noutros estados de conscincia (como, por
exemplo, durante o sono ou quando meditamos), tendo chegado concluso de que o
sono e a meditao so estados particulares de conscincia.
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Outra questo, muito importante para as filosofias da ndia, a maneira como feita a
apreenso da realidade, defendendo a escola Indiana Nyaya-Vaisesika que esta poder
ser feita a dois nveis: a) Ao nvel da verdade relativa; b) Ao nvel da verdade ltima.
Nesta sentido iremos verificar, atravs da comparao entre o pensamento Oriental e
Ocidental, que enquanto o pensamento Ocidental procurou fazer o estudo da apreenso
da realidade ao nvel da verdade relativa, (mencionando-se a contribuio do
pensamento Ocidental para o estudo da lgica), exprimindo atravs de leis (como, por
exemplo, as leis fsicas) a realidade fsica, pelo contrrio, o pensamento Oriental
procurou essas leis, mas ao nvel da verdade ltima ou metafsica (como, por exemplo,
a lei do Karma). No entanto, iremos referir alguns pontos de analogia entre estes dois
modos de pensar, nomeadamente, entre o Princpio Unificante, do pensamento Oriental,
(no qual a Conscincia Una se manifesta no Universo atravs de tendncias
complementares) e o Princpio do Terceiro Includo, do pensamento Ocidental,
proposto por Stphane Lupasco, mais tarde clarificado por Basarab Nicolescu (que
considera que aquilo que mutuamente exclusivo, num determinado nvel da realidade,
poder ser uno (por intermdio da Conscincia Una) noutro nvel da realidade). Ainda
a propsito da apreenso da realidade, iremos fazer referncia escola Indiana
Mimansa, a qual procurou perceber como seria feita a percepo da realidade. Assim,
mencionaremos um esquema, proposto por Jaimini, composto por pequenas cabeas
manifestadas, onde existem (no seu interior) os objectos arquetpicos em potncia,
enquanto que no seu exterior existem os objectos empricos como reflexo dos
primeiros. Acrescente-se que as pequenas cabeas manifestadas, bem como os
objectos arquetpicos e empricos existem todos na Conscincia Una (servindo este
esquema como base para o modelo do crebro/mente, proposto por Amit Goswami).
Finalmente, ainda relacionado com o modo de apreenso da realidade, faremos o
estudo da escola Indiana Vedanta, a qual procurou compreender o que provocaria a
iluso nos seres conscientes, defendendo, a este propsito, que a conscincia durante o
processo involutivo, se projecta em planos de conscincia cada vez mais
grosseiros, evidenciando-se este facto atravs de vus que encobrem a Essncia
de cada ser (o Real veladode Bernard dEspagnat). Estes vus vo surgir devido
perpetuao da ateno do Ego/eu pessoal sobre si prprio, aprisionando a Alma.
xxii
-
No entanto, durante o processo evolutivo d-se o rasgar desses vus atravs duma
expanso do Campo de conscincia/percepo, sendo esta concepo Oriental
comparada com os conceitos veiculados pelo pensamento Ocidental. De acordo com
aquele raciocnio, a escola Indiana Vaisnava defende a Teoria da Reencarnao (como
evoluo cclica dos veculos da conscincia), sendo a Ressurreio, (tal como
defendida pelo pensamento Ocidental), a etapa final deste processo. Este estudo das
filosofias da ndia vai permitir abordarmos no Captulo III, o pensamento de Amit
Goswami relativamente a alguns paradoxos e quebra-cabeas (como os efeitos no-
locais), existentes na Mecnica Quntica. Quanto ao estudo da dualidade onda-
partcula, comearemos por referir a conhecida experincia da dupla fenda,
mencionando o comportamento quntico curioso que se verifica, quando se abrem as
duas fendas, verificando-se, para o caso dum nico electro, que este nunca vai parar a
um ponto onde a densidade de probabilidade nula, tendo preferncia pelos pontos
onde a densidade de probabilidade mxima. Analisaremos, ento, as trs atitudes
principais, em relao interpretao dos resultados obtidos anteriormente: a) Bohr e a
Escola de Copenhaga que defendem que no sabemos se tem sentido pensarmos, se a
realidade ao nvel microfsico existe no espao-tempo fsico, propondo o Princpio da
Complementaridade e o Princpio da Incerteza; b) Einstein que defende que a realidade
algo que existe no espao-tempo fsico, sendo independente da nossa observao, e
evolui de maneira determinista. Esta atitude foi apoiada por Louis de Broglie atravs da
Teoria da Onda Piloto, ainda que esta descrio exija o recurso a um conjunto de
variveis, designadas por variveis ocultas; c) Amit Goswami que defende que ns
nunca vemos a ondcula de um objecto quntico, pois experimentalmente esta revela-
se como ponto/partcula localizada. Entre observaes, o objecto quntico espalha-
se/existe em potncia fora do espao-tempo, (semelhante a arqutipos ou figuras
Gestlticas, tal como indicadas no esquema de Jung, no Captulo I), embora se torne
partcula imanente, quando a Conscincia Una faz o colapso da funo de onda
desta, na presena de observadores conscientes que realizam uma observao auto-
referencial. Para percebermos melhor esta posio, vai fazer-se referncia experincia
da escolha retardada, atravs da qual Amit Goswami vai defender que escolhemos o
resultado que se manifesta, carecendo de importncia o momento no tempo em que
optamos.
xxiii
-
Esta posio de Amit Goswami encontra apoio experimental, atravs das experincias
realizadas na rea da psicologia por Tony Marcel e Libet (referidas no Captulo IV). De
seguida, analisaremos outra questo importante para a Mecnica Quntica, relativa ao
problema da medio, atravs da descrio da experincia conceptual do Gato de
Schrdinger, nomeadamente, a existncia duma sobreposio quntica macroscpica,
e o facto dos resultados obtidos estarem correlacionados com os aparelhos de medio.
A este propsito, iremos referir as diversas posies de como e quando dever ocorrer o
colapso da funo de onda, durante o processo de medio: a) Griffiths e Omns que
defendem, atravs das Histrias Descoerentes (DH), que o colapso da funo de onda
espontneo, ainda que, at agora, no tenha havido evidncia experimental que
confirme tal concepo. H ainda, dentro desta posio, quem defenda que a
sobreposio coerente no algo literal, propondo seguirmos conjuntos estatsticos,
ainda que esta posio no tenha em conta que a Mecnica Quntica , igualmente,
formulada para aplicar-se a objectos nicos; b) Escola de Copenhaga que defende que
o colapso da funo de onda ocorre quando um aparelho clssico mede um objecto
quntico, terminando quando aquele emite um clique, ainda que neste caso surja a
ambiguidade no traado da linha entre o mundo macro/micro; c) Hugh Everett que
defende que a sobreposio coerente ocorre em Universos paralelos, sendo o tempo
de colapso, da funo de onda, infinito. No entanto, estes Universos no interagem
entre si, sendo por isso difcil de submeter esta interpretao a um teste experimental;
d) John von Neumann e Paul Wigner que defendem que a conscincia que inicia o
colapso da funo de onda, ainda que neste caso, sendo a conscincia um
epifenmeno da matria, seja difcil percebermos como que esta tem eficcia causal
sobre a prpria matria; e) Amit Goswami que defende que a operao de medio
ocorre, quando a Conscincia Una, (Esta est fora da jurisdio da Teoria Quntica, tal
como entendida por Sri Aurobindo, no Captulo II), faz o colapso da funo de onda,
por intermdio de observadores conscientes, que fazem uma observao auto-
referencial com percepo (tal como entendida pela escola Indiana Mimansa, referida
no Captulo II), o que no caso dos seres humanos implica a necessidade dum
crebro/mente. Atravs desta abordagem possvel responder questo, colocada no
incio desta tese, de como e quando se verifica o colapso da funo de onda.
xxiv
-
Para complementar esta posio, de Amit Goswami, faremos de seguida referncia s
diferentes posies relativas ao mecanismo do crebro/mente, da qual destacaremos trs
principais: a) O modelo da Inteligncia Artificial Forte ou dos Funcionalistas que
defendem que o crebro/mente um biocomputador, em que o crebro o hardware,
enquanto que a mente o software, ainda que com este modelo seja difcil de entender
quem d sentido aos smbolos processados pelo software; b) O modelo de John Eccles e
Karl Popper, no qual um crebro de ligao, localizado no hemisfrio cerebral
dominante, faz a mediao entre os mundos 1 e 2 de Popper, enquanto que o sentido
vem do mundo 3 da mente, se bem que seja difcil de perceber, com este modelo, de
onde vem o poder causal da mente; c) O modelo de Amit Goswami que defende que o
crebro/mente um sistema interactivo, com componentes clssicas e qunticas, (sendo
este modelo idntico ao proposto por Hameroff-Penrose). A componente quntica tem
programas no algortmicos, (sendo esta tese partilhada por Feynman, o qual defende
que um computador clssico jamais poder simular a no-localidade), sendo o veculo
do reconhecimento auto-referencial (ou da conscincia com percepo). A componente
quntica permite o colapso da funo de onda por parte da Conscincia Una, (que
existe fora do espao-tempo fsico, embora podendo actuar dentro deste), atravs de
uma causa descendente. Esta ideia igualmente defendida por Penrose, o qual vai ser
mencionado a propsito do Teorema de Gdel, defendendo que a conscincia existe
antes da capacidade algortmica do computador. Os actos subsequentes de observao,
de estmulos semelhantes, sero reflectidos pela componente clssica, (que actua como
um computador com programas algortmicos), a qual vai criar a memria, sendo
agora a escolha condicionada em funo da escolha anterior. Este modelo do
crebro/mente, proposto por Amit Goswami, encontra apoio atravs da teoria da mente
hologrfica, bem como atravs dos trabalhos realizados pelos neurofisiologista
Grinberg-Zylberbaum (descritos no Captulo IV), permitindo assim abordar a outra
questo, colocada igualmente no incio desta tese, relativa ao mecanismo crebro/mente.
Temos, no entanto, de referir que esta posio implica a existncia de observadores
conscientes capazes de realizar uma observao auto-referencial, sendo, no entanto,
difcil de percebermos como tal ter acontecido, nos ltimos milhes de anos, quando
parece que durante a maior parte do tempo no havia seres humanos para a fazer.
xxv
-
Neste sentido, comearemos por expor a Cosmologia Darwinista, (enraizada em ideias
Newtonianas clssicas), a qual defende que as mutaes aleatrias vo produzir
mutaes genticas (ao nvel do gentipo), indo a natureza seleccionar, (ao nvel do
fentipo), as mais convenientes para que sobrevivam. No entanto, esta posio no
explica as lacunas fsseis, nem a marcha biolgica do tempo, alm de que, segundo esta
tese, no h um desgnio ou finalidade particular por detrs da Vida. Por outro lado,
iremos mencionar a posio de Amit Goswami, segundo o qual a finalidade do
Universo manifestar criativamente os arqutipos que existem em potncia, (como
ondas de possibilidade, tal como definidas em Mecnica Quntica), na Conscincia
Una. O Universo inicia a sua evoluo apenas em possibilidade, at evoluo e
aparecimento de um par simbitico, (sistema quntico/aparelho de observao),
estvel e auto-referencial, capaz de organizar-se, preservar-se, reproduzir-se e de
perceber-se a si prprio, como algo separado do seu ambiente: a clula viva. Iremos
complementar esta posio, mencionando o Princpio Antrpico Forte, (segundo o qual
o Universo tem uma finalidade Csmica que desenvolver observadores conscientes),
complementando-o com o da Teoria do Equilbrio Pontuado, segundo o qual a
evoluo biolgica processada segundo dois ritmos diferentes: a) o primeiro ritmo
contnuo, gradual e causal acomodando mudanas evolutivas durante uma longa escala
de tempo, (reflectindo as mudanas evolutivas Darwinistas); b) o segundo ritmo
descontnuo e rpido, atravs da qual a Conscincia Una escolhe aquela espcie que
contiver uma expresso fenotpica, em termos do novo trao, que esteja de acordo com
o Seu propsito. Se este novo trao impedir o cruzamento com o antigo, temos ento
uma nova espcie, denominando-se este processo por especiao quntica. Esta
posio, de Amit Goswami, vai assim permitir abordar a outra questo, colocada no
incio desta tese, relativa necessidade de observadores. Temos, no entanto, de
acrescentar que a concepo defendida por Amit Goswami pressupe a existncia duma
Conscincia Una no-local. Neste sentido, iremos referir o Teorema de Bell e a
experincia de Alain Aspect, (que veio na sequncia da experincia conceptual proposta
por Einstein-Podolsky-Rosen), que mostram que uma Conscincia Una que
correlaciona e faz o colapso da funo de onda distncia instantaneamente, ter de
ser em si no-local (mesmo que se postulem variveis ocultas , estas tero de ser no-
locais).
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No Captulo IV, referiremos algumas experincias, nas reas da psicologia e
neurofisiologia, que do apoio ao pensamento de Amit Goswami: a) Na rea da
psicologia, mencionaremos os trabalhos de Tony Marcel e Libet que mostram que a
opo/escolha concomitante da conscincia com percepo (mas no da conscincia
sem percepo); b) Na rea da neurofisiologia, mencionaremos as experincias, levadas
a cabo por Jacobo Grinberg-Zylberbaum, com yoguis, as quais levam concluso de
que a Conscincia Una que causa o colapso de estados de actos semelhantes em
dois crebros, quando estes esto correlacionados por meio duma inteno consciente.
Finalmente, faremos uma sntese dos pontos mais significativos do pensamento de Amit
Goswami: a) A existncia duma Conscincia Una como base do ser, (e no da matria,
e afins, como campos, energia, etc), sendo Esta responsvel pelo colapso da funo de
onda por meio duma causa descendente, sempre que seres conscientes observam auto-
referencialmente (ou seja, com percepo), ainda que a aplicao da Teoria Quntica
psicologia, nomeadamente, na definio de um espao de estados mentais, seja matria
para futura investigao, na rea da fsica-matemtica; b) A reformulao da concepo
do tempo, onde haja uma sntese harmoniosa entre o tempo fsico (proposto pelo
pensamento Ocidental), e o Tempo Transpessoal Cclico relativo evoluo dos
veculos da conscincia (veiculado pelo pensamento Oriental), sendo este trabalho,
matria para futura investigao na rea da filosofia da cincia; 3) A referncia ao
mecanismo do crebro/mente, com componentes qunticos/clssicos, ainda que a
localizao exacta destas componentes na estrutura do crebro, seja tambm matria
para futura investigao na rea da neurologia e inteligncia artificial; 4) O papel
desempenhado por seres conscientes na intencionalidade e nos desgnios da
Conscincia Una, atravs da referncia ao Princpio Antrpico Forte e Teoria do
Equilbrio Pontuado, ainda que o mecanismo para a especiao quntica, seja
igualmente matria para futura investigao na rea da evoluo biolgica e
inteligncia artificial.
xxvii
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Antes de terminar este prefcio, ainda uma ltima palavra, para mencionarmos a
oportunidade do estudo do pensamento de Amit Goswami trazer um novo contributo
para as diversas reas de investigao cientfica, nomeadamente para a introduo da
ideia da conscincia como fundamento de todo o ser, admitindo-a como a base de um
novo paradigma cientfico o da cincia na conscincia.
xxviii
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I - A Cincia e a Filosofia dos Gregos at s Teorias da Relatividade
Todas as culturas esto ligadas a tradies, de maneira consciente e sobretudo
inconsciente. Na Grcia comeou a estabelecer-se uma oposio entre este conjunto (a
doxa) e o conjunto dos enunciados obtidos por um processo de averiguao (a
episteme, a cincia). Esta oposio foi-se evidenciando ao longo do tempo, tendo
sido radicalizada pelo pensamento moderno: para ele, o inconsciente e o mito no tm
valor. O sculo XX teve, em todo o caso, de repensar as relaes entre, por um lado, o
inconsciente e o mito, e por outro lado, a filosofia e a cincia.
que toda a criao autntica, (seja obra de arte ou teoria cientfica), enraza no
inconsciente e no mito. De facto, a psicologia moderna, que nasce com a obra de
Fechner e Wundt, serve-se (nas palavras de Fechner(1)), por um lado, da introspeco
como mtodo para determinar os fenmenos internos ou factos da conscincia, e
por outro lado, da observao fisiolgica que lhe permite determinar as correlaes entre
esses fenmenos e os fenmenos fsicos.
O lado fisiolgico abordado particularmente, pelos movimentos da psicologia
denominados por Cognitivo e Behaviourista (da palavra inglesa behaviourism,
comportamento). No Cognitivismo, defendido, por exemplo, por Ulric Neisser, a
valorizao dada ao papel dos processos de conhecimento (vulgarmente designado, de
modo menos exacto, por processos mentais), e influncia destes na vida emocional e
no comportamento humano. No Comportamentalismo v-se o ser humano em termos de
respostas aprendidas (a minha famlia, a minha cultura, o meu pas, ...), identificando-se
este com um conjunto de conceitos psicossocialmente condicionados e aprendidos nos
quais opera, sendo o papel do psiclogo Behaviourista modificar estas respostas atravs
da aplicao de determinadas tcnicas, de modo a ser benfico para um determinado ser.
Exemplos destas tcnicas Behaviouristas, utilizadas por Ivan Pavlov, J.B.Watson e
Robert Sharpe, so a desensibilizao (atravs de relaxamento), reforo positivo
(como um elogio, sorriso) e reforo negativo (atravs da remoo duma situao
desagradvel).
1
-
Por outro lado, no incio dos anos 60, alguns tericos de renome, como Carl Rogers,
Maslow e Assagioli, consideraram que a psicologia estava a desvalorizar o ser humano
nas suas possibilidades. Na verdade, este no era mais do que um organismo
condicionado e determinado pela sua prpria biologia e meio ambiental, estudando-o de
modo excessivamente analtico, sem valorizar outras reas. Assim nasceu o movimento
Humanista da psicologia, o qual veio a ser determinante para o aparecimento da
psicologia Transpessoal. A psicologia Humanista procura investigar no s o que a
pessoa num determinado momento, mas tambm revelar o potencial humano, a
criatividade, a auto-transcendncia, e as possibilidades de liberdade humana,
independentemente dos condicionamentos da sua prpria personalidade/Ego. Este inclui
o lado personaque a mscara (termo introduzido pelos Esticos, que significa o
que est voltado para o mundo), e o lado inconsciente (designado por lado sombra).
Por exemplo, Abraham Maslow delineou uma srie de seis estgios no processo de
desenvolvimento psicolgico da mente humana, a qual comea por necessidades bsicas
de satisfao do Ego, como sejam o dinheiro, a fama e o poder, at ao ltimo estgio de
desejo de conhecimento de si prprio, num nvel mais profundo e interior,
correspondente ao seu Eu Superior/Alma. Dentro das vrias tcnicas, utilizadas pela
psicologia Humanista para o autoconhecimento, temos a Bissociao, onde contextos
diferentes se unem harmoniosamente, resultando num insight duma determinada
situao, sendo por isso um elemento chave para o acto da Criatividade. Maslow (2)
fala-nos, a este propsito, das experincias de pico (as chamadas vivncias de
Conscincia Csmica) experimentadas, por exemplo, por msticos, nas experincias
Satori, do Budismo Zen, e Taosmo, em que a diferena temporal entre o Ego/Eu
pessoal (Amit Goswami designa por Self Clssico, pois est relacionado com os
processos de percepo secundria ou autopercepo, do tipo eu sou isto...)
aumentada em relao ao Eu Transpessoal (Amit Goswami designa por Self
Quntico, pois est relacionado com os processos de percepo primria que
envolvem o reconhecimento, entre dois ou mais arqutipos que esto no Campo da
Conscincia).
2
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Por exemplo, conta-se que Arquimedes, quando descobriu o Princpio da Flutuao,
saiu do banho nu gritando, Eureka, Eureka, o que era o resultado duma experincia
criativa entre o Self Clssico e o Self Quntico. A este propsito, refira-se que a
psicologia do Tibete menciona sete faixas de conscincia da identidade do Self,
(incluindo o Self Clssico e o Self Quntico), e que tem origem na ideia Indiana de
3 tipos de pulses ou 3 gunas, referidas no Bhagavad Gita(3): Tamas que o
impulso do condicionamento do passado, a inrcia, a educao e o condicionamento
ambiental; Rajas que so os instintos inconscientes, a libido ou a natureza (Tamas
e Rajas esto relacionadas com o Self Clssico); Sattwa que o equilbrio e a
Criatividade, sendo um modo de cognio relacionado com o Self Quntico. Assim, o
Campo da conscincia/mente est intimamente ligado harmonia entre os
pensamentos e as emoes negativas e positivas, sendo estes justamente o meio para
aceder a um nvel mais profundo da mente, permitindo assim a verdadeira Criatividade.
Distingue-se entre Criatividade interna e externa, sendo a Criatividade externa,
(designada por Coletivizao), destinada sociedade em geral, enquanto que a
Criatividade interna, (designada por Individuao), dirigida para a transformao
pessoal do indivduo. o relacionamento entre estes dois processos de Individuao e
Coletivizao que pode dar origem maior Criatividade possvel.
Devemos acrescentar que a cultura da ndia estabelece 4 perodos de desenvolvimento
da Criatividade: Brahmacharya, (que significa celibato), que inclui a infncia e o
jovem adulto;Garhastha, (que significa viver como chefe de famlia), onde h a
identidade com o Ego/eu pessoal, (Self Clssico), exteriorizando-o em actividades
locais dicotmicas, (prazer/dor, sucesso/fracasso), desfrutando-se os frutos agridoces
do mundo sensvel, e onde se , igualmente, influenciado pelo inconsciente colectivo e
pessoal; Banaprashtha, (que significa morador na floresta), que um perodo
voltado para dentro, de auto-explorao e Individuao, no cultivo do despertar de
buddhi, e que poder levar a experincias Transpessoais, designadas por
experincias de pico, onde h a percepo do Self-Quntico.
3
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Esta inclui diversas etapas, onde os temas do inconsciente colectivo se manifestam,
frequentemente, atravs de sonhos, e da compreenso dos mitos, e que podem levar a
uma maior liberdade do Ego/eu pessoal; Finalmente, temos a etapa Sanyas,
(literalmente renncia), que culmina na transcendncia de todas as dualidades do
Ego/eu pessoal, designada por Moksha no Hindusmo, Nirvana no Budismo. Esta
ltima etapa particularmente abordada pela psicologia Transpessoal, e vivida como
um Samadhi (ao que se sabe poucas pessoas na Terra chegaram a esta etapa
espiritual). Aqui h uma renncia do Ego/eu pessoal em prol da Conscincia
Csmica, A qual denominada por Atman, pela psicologia Oriental, por No-Self,
pelo o Budismo, por Alma, pelo Cristianismo, e por Self-Transpessoal, pela psicologia
Transpessoal. A interpretao da expanso da conscincia humana, feita pela psicologia
Transpessoal, baseada na Figura 1.1, da autoria do psiclogo Italiano, fundador da
psicossntese, Roberto Assagioli (4), o qual mostra uma ponte entre o Ego/eu
pessoal, e o Eu Superior/Alma (que o receptculo da centelha divina do nosso Eu
Espiritual que No-manifestado). A mente , pois, a ponte de unio entre o nosso Ser
interior ou Eu Superior/Alma e o mundo externo/fsico.
Figura 1.1 - Esquema das diferentes reas e nveis de conscincia da mente humana 4
-
Neste esquema, poderemos ver o Inconsciente inferior (1), por vezes chamado de
subconsciente ou inconsciente pessoal, e que contm as memrias dolorosas, os
conflitos no resolvidos que esto reprimidos e/ou esquecidos, assim como as
energias instintivas (sendo esta a rea com que lida a psicologia Psicanaltica, que
veremos adiante). O Inconsciente intermedirio (2) que representa aquelas ideias e
potenciais que so facilmente acessveis ao Campo da Conscincia/Mente e ao Eu
pessoal. O Inconsciente Superior/Superconsciente (3) de onde emanam, por
exemplo, os melhores lampejos de intuio e de criatividade. O Inconsciente
colectivo (7) que representa os contedos arquetpicos comuns, no s de um
indivduo, mas tambm de uma cultura, povo e sociedade. O Campo da
Conscincia/Mente (4) que bombardeado pelos contedos provenientes do
Inconsciente (1,2,3 e 7) e do Mundo exterior, e que a surgem e desaparecem, tais
como, pensamentos e sentimentos (designados por Objectos da Conscincia). Este
Campo da Mente est relacionado com a Percepo da realidade. Assim, na
Percepo Inconsciente, (ou Conscincia sem percepo), estamos a referirmo-nos a
eventos que so captados como estmulos como, por exemplo, os pensamentos e os
sentimentos inconscientes (que afectam os nossos pensamentos e sentimentos
conscientes), mas que no temos percepo de os estar a perceber, ou seja, no
reconhecemos as nossas percepes. Quando, no entanto, reconhecemos determinados
Objectos da Conscincia e, portanto, reconhecemos as nossas percepes
conscientemente (ou seja, Conscincia com percepo primria ou Autoconscincia),
surge o chamado Sujeito da Conscincia (designado por Self Quntico por Amit
Goswami), com o qual nos identificamos. Este , portanto, o que opta por um dos
Objectos da Conscincia ou arqutipos que esto no Campo da conscincia/mente.
O Ego/eu pessoal (5), correspondente ao Self Clssico, o que regista e traduz a
experincia do Self Quntico no mundo visvel, atravs de aces de Autopercepo
(ou Conscincia com percepo secundria), do tipo Eu sou isto,..., realizadas pelo
crebro (atravs dos 5 sentidos, em particular o da viso).
5
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Finalmente, encontra-se o Eu Superior (6), tambm designado por Alma (que o
receptculo para o Eu Espiritual), que o verdadeiro Eu, (representado por uma
figura do Sol, cujo significado ser abordado na parte II, desta tese), sendo Este igual
em todos os seres humanos. neste sentido que esta corrente da psicologia afirma que
existe um nico Eu Uno ou Conscincia Una, o Ser Universal ou o Imanifesto, que em
linguagem religiosa designamos como Deus Transcendente. Esta tese encontra apoio nas
filosofias da ndia, (que sero abordadas em maior detalhe na parte II, desta tese),
quando defendem que a conscincia de cada ser humano no separada da
conscincia dos outros seres humanos, existindo apenas um nico sujeito, e no sujeitos
separados, isto , o sujeito-Conscincia Una unitivo. Esta a posio defendida por
Amit Goswami.
Assim, neste sentido, o objectivo do Campo da Conscincia/Mente(4) procurar
expandir-se atravs da identificao com uma Realidade muito mais ampla,
correspondente ao Eu Superior/Alma (6), que em ltima anlise leve liberdade
total do Ego/eu pessoal (5) (Self Clssico), e consequente abertura dos chakras
(do snscrito, rodas ou vrtices de energia). Estes vo estar relacionadas com o
nvel de percepo do ser humano, (este tema ser abordado na parte II, desta tese),
sendo esta a razo porque a psicologia Transpessoal se dedica a investigar os
mecanismos de induo, para os estados modificados do Campo da
Conscincia/mente, tais como: Japa (repetio introversora dum mantra ou do
Nome de Deus), Pranayama (controlo da bioenergia), meditao (que permite
fechar o hiato entre (4) e (6), por um processo de Unio/Yoga ou ponte,
designada por antakarana). Por outro lado, como se verificou pela Figura 1.1, a mente
a ponte de unio entre a nossa Alma, (que est contida no Imanifesto Silencioso que
contm todos os padres arquetpicos), e o mundo externo visvel, (o mundo
manifestado, captado pelos 5 sentidos), sendo neste Campo da mente/conscincia que
podem aparecer/nascer novos arqutipos que se manifestaro, depois, no mundo
exterior, manifestado e visvel.
6
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De referir que se designa por pensamentos-forma ou padres arquetpicos, os padres
mentais (positivos ou negativos) criados a partir de desejos pessoais, do inconsciente
pessoal e/ou colectivo, bem como de aspiraes que acabam por se manifestar no
mundo visvel. Assim, a importncia da correcta meditao, referida pela psicologia
Transpessoal, (por vezes designada por pensamento e emoo controlada), o de
permitir focalizar a mente, por um acto de vontade, no Eu superior/Alma, sem
interferncia de pensamentos ou desejos pessoais do Ego/eu pessoal, aumentando,
assim, a nossa percepo do nosso Eu Superior que se encontra no nosso interior. Por
outras palavras, a correcta meditao permite expandir e unir o Campo da
Mente/conscincia (onde esto os padres arqutipos do mundo manifestado visvel)
com o Eu Superior. Esta teoria foi estudada, e aprofundada, atravs dum trabalho
levado a cabo pelo notvel cirurgio Holands Herms Romijn (5), o qual defende que a
separao entre o Campo da mente/conscincia e o Eu Superior/Alma ampla,
mas que diminui quando o Campo da mente/conscincia presta alguma ateno
Alma (atravs dos mecanismos de induo referidos pela psicologia Transpessoal,
como sejam, Japa, meditao, Pranayama), acabando por ser atrado por ela, por um
processo de Unio ou Yoga.
A investigao deste mdico, envolveu o estudo de electroencefalogramas (EEG), de
Yoguis (pessoas com vrios anos de prtica de meditao), tendo-se verificado que o
padro de EEG destes, quando entravam em meditao, era diferente de outras
pessoas que normalmente no a praticavam (este estudo ser mencionado mais
detalhadamente na parte II, desta tese, quando falarmos da escola Yoga). Em sntese,
os resultados obtidos, nesta experincia, mostraram que o processo de Unio ou
Yoga, (resultante de vrios anos de meditao), dava origem a uma expanso do
Campo da Conscincia/mente, (que est contido na Conscincia Una), originando o
nascimento/aparecimento de novos padres arquetpicos.
7
-
Deve acrescentar-se que, segundo a psicologia Transpessoal, o reconhecimento de
um determinado arqutipo, pode ser considerado um aspecto essencial da vontade (que
poder ser treinada atravs da correcta meditao). Neste caso, a psicologia
Transpessoal refere-se a dois tipos de comportamento que podem reger este processo. O
primeiro tipo de comportamento aquele em que este reconhecimento baseado
essencialmente em respostas condicionadas apreendidas (pela famlia, cultura, pas),
identificando-se com um conjunto de conceitos psicossocialmente aceites. O segundo
tipo de comportamento, que a psicologia Transpessoal refere, aquele em que o
reconhecimento resulta fundamentalmente dum processo de insight, por vezes,
designado por intuio (faremos um estudo detalhado deste conceito, na parte II desta
tese, nas pginas 163-168). Refira-se, a este propsito, que Einstein disse um dia que
as leis fundamentais da Fsica no so obtidas nem por deduo, nem por induo,
mas por uma espcie de palpite que resulta duma comunho profunda com a
Natureza.
ainda de mencionar, que a psicologia Transpessoal defende que a meditao vai
estimular a luz do Eu Superior/Alma, indo Esta iluminar o lado mais inconsciente
do Campo da mente, (ou o lado sombra, relativos a determinados pensamentos, e/ou
emoes mais negativos), contribuindo assim para uma expanso deste. Isto tanto pode
acontecer durante a meditao receptiva, atravs de insights e intuies, como
tambm atravs do sonho, (onde podemos ter acesso ao nosso lado inconsciente/lado
sombra ou a determinados arqutipos que se encontram na nossa mente). Isto leva-
nos a abordar outra corrente da psicologia, que lida particularmente com o lado
inconsciente (ou lado sombra), denominada por Psicanaltica ou psicologia abissal
(das profundezas). Esta desenvolveu-se a partir dos trabalhos de Freud, Adler e Jung,
embora os trabalhos de Jung sejam, particularmente, amplos para abarcar a vida
instintiva, e formar uma ponte com a psicologia Transpessoal.
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O trabalho de Jung (6) desenvolveu um conceito de Inconsciente que sintetizou as
teorias de Freud (na qual as desordens, dum determinado tipo, esto ligadas a problemas
sexuais e a experincias recalcadas na infncia) e de Adler (que postulou a teoria de
que a verdadeira motivao do ser humano era o poder), bem como fazer justia ao
lado espiritual do ser humano. Entre as vrias premissas, do pensamento Junguiano,
destaca-se aquela que defende que os factos psicolgicos como, por exemplo, os
sonhos, as visualizaes e as intuies so to reais, como os fenmenos que
ocorrem no mundo visvel, ainda que no possam ser objectivamente medidos.
Encontramos, aqui, uma certa semelhana com os 3 mundos de Karl Popper: o mundo
1 designa o fsico; o mundo 2 o mundo mental ou psicolgico; e o mundo 3 o das
teorias, da linguagem. A interaco entre os 3 mundos pressupe que o Universo
aberto, incluindo o indeterminismo que alberga a liberdade e a criatividade. Uma outra
premissa, do pensamento de Jung, a de que a psique - que inclui o lado consciente e
inconsciente (ver Figura 1.1) - e o mundo material esto em contacto recproco e
contnuo, (sendo a psique e a matria dois aspectos diferentes duma nica e mesma
coisa), embora a psique no possa ser localizada no espao e no tempo fsico, tendo
antes uma caracterstica No-manifestada. Alm disso, enquanto que o mundo material
regido por leis de casualidade, a psique engloba um campo vastssimo da nossa
experincia, que denominamos por acaso, e que Jung designou por Sincronicidade
(sendo este um termo designado para descrever acontecimentos sem uma relao
causal, em termos de espao-tempo fsico, excepto num reino No-manifestado). Por
outro lado, o Inconsciente Pessoal e o Inconsciente Colectivo so constitudos por
padres emocionais e mentais primordiais, existentes nos smbolos dos diversos mitos,
e que Jung denominou por Arqutipos. De facto, Jung sugeriu que muitas das nossas
experincias so influenciadas por temas arquetpicos do Inconsciente Pessoal, (como
seja o arqutipo anima/animus- que so, respectivamente, a contraparte feminina
no homem, e a masculina na mulher) e do Inconsciente Colectivo, (constitudo por
imagens ou smbolos pertencentes a uma dada cultura, sociedade e povo), que tomam
uma forma concreta quando so projectados no mundo material objectivo.
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Assim, quando sonhamos ou quando estamos sob hipnose, o aspecto Ego/persona fica
enfraquecido, trazendo os contedos inibidos, que esto no Inconsciente, percepo
Consciente, isto , os contedos arquetpicos que esto no grande mar Inconsciente,
so integrados no Campo da conscincia/mente, atravs de um processo alqumico de
casamento psicolgico no ser individual, em direco meta de individuao, que
leva ao homem total. Refira-se que, segundo Jung, a relao entre o lado consciente e
o inconsciente compensatria, pelo que muito pouco num lado, resulta em excesso no
outro. Assim, em psicoterapia, e nas experincias de quase-morte, liberta-se grande
volume de condicionamento inconsciente reprimido, tanto Colectivo quanto Pessoal,
permitindo aceder a nveis de conscincia mais subtis da mente, pelo que numerosos
pacientes saem dessas experincias transbordando em paz. Este aspecto de alquimia do
Ego, capaz de o libertar da sua existncia temporal, e torn-lo em algo precioso, tem
sido evidenciado pelas diversas culturas ao longo dos tempos. Por exemplo, na China,
no sculo VI a.C., temos de referir a alquimia fisiolgica ou Nai Tan, bem como a
filosofia de Lao-Tse (sintetizada no livro Tao Te Ching- O Caminho da Vida), as
quais fazem referncia sntese de opostos, de modo a alcanar-se o senso de
Totalidade, isto , o Ser Verdadeiro. Estas mesmas ideias, Chinesas e Indianas, vo
influenciar a alquimia rabe (do rabe Al Kimiya), onde se encontram os smbolos
da Pedra Filosofal e do Elixir da Vida, particularmente, nos trabalhos de Jabir e Al-
Razi, este ltimo autor do texto Segredo dos Segredos. Refira-se ainda, a este
propsito, os trabalhos do Qumico Joaquim Perez Pariente(7), do Instituto de Catlise
do Conselho Superior de Investigaes Cientficas, em Madrid, na rea da qumica de
zelitos, em que procura comparar as transformaes dos metais comuns, efectuadas
nos processos catalticos, com a simbologia que encerra a Pedra Filosofal. Tambm
na Grcia, os filsofos Pr-Socrticos, e depois Plato e Aristteles apelam para o
simbolismo alqumico da transformao dos metais at se alcanar o ouro, a matria
primordial. Isto , particularmente, evidenciado no clebre mito Alegrico da Caverna,
descrito na Repblica de Plato (8): Imagina homens numa morada subterrnea em
forma de caverna, cuja entrada, aberta luz, se estende a todo o comprimento da
fachada; esto l dentro desde a infncia, com as pernas e o pescoo acorrentado, de
modo que no podem mudar de lugar, nem ver seno o que est sua frente porque as
cadeias os impedem de mover a cabea....
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A luz de um fogo aceso ao longe sobre uma elevao brilha atrs deles; entre o fogo e
os prisioneiros h uma estrada que sobe...Assemelham-se a ns, respondi eu. E, em
primeiro lugar, pensas que nesta situao tenham visto de si mesmos e dos seus
vizinhos outra coisa que no as sombras projectadas pelo fogo, na parte da caverna
que est sua frente?...E se existisse tambm um eco que retornasse os sons do fundo
da priso...Sendo assim, se pudessem conversar entre si, no pensas que acreditariam
nomear os objectos reais, ao nomear as sombras que veriam?... indubitvel, retomei
eu, que aos olhos dessas pessoas a realidade no poderia ser outra coisa seno as
sombras das reprodues...Examina agora como reagiriam, se algum os libertasse das
suas cadeias e os curasse da sua ignorncia,...e os forasse a erguer-se de sbito, a
virar o pescoo, a andar, a levantar os olhos para a luz, todos estes movimentos os
fariam sofrer ... no entanto, agora mais perto da realidade e virados para objectos mais
reais, viam mais perfeitamente...E se, continuei, eles fossem tirados de l fora,
fossem obrigados a transpor a subida rude e escarpada, e no a largassem at serem
arrastados para fora, para a luz do sol, no pensas que sofreriam e se revoltariam por
serem arrastados dessa forma...Por fim, penso, poderiam olhar e contemplar o sol tal
como , no reflectido nas guas, nem as suas imagens reflectidas sobre qualquer outro
ponto, mas o prprio sol no seu lugar...sou da tua opinio, disse ele, preferiria sofrer
tudo, a regressar a essa vida...E se fosse necessrio julgar de novo essas sombras e
concorrer com os prisioneiros que nunca deixaram as suas cadeias ...e eles o pudessem
agarrar com as mos e matar, no matariam? Mat-lo-iam certamente...Mas logo que,
chegados a esta regio superior, tivessem suficientemente contemplado o bem... j no
querer...as suas honras mais ou menos estimveis.
Poderemos verificar que esta narrativa vai desenrolar-se em quatro tempos: primeiro,
uma descrio da caverna, e do nosso agrilhoamento ao mundo sensvel das sombras;
segundo, o arrastamento para fora da caverna e a preparao do homem para a viso da
Conscincia Una (Bem); terceiro, a ascenso para a luz, e para o mundo do Ser, e a
viso do prprio Sol que o Bem; quarto, o regresso necessrio para junto dos homens
ainda agrilhoados.
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Na primeira etapa, da descrio dos homens agrilhoados na caverna, poderemos ver a
nossa trgica condio: um mundo artificial de realidades que nem sequer conhecemos
em si mesmas, e de que no percebemos seno a aparncia, a sombra, o eco ou as
miragens sempre em mudana, fugazes e efmeras. A fascinao e a iluso so totais,
j que estes cativos confundem, sem o saber, a Realidade com os simulacros de
realidade, mas no fim de contas confortvel: fazem seus os lugares-comuns em vigor,
duma forma mais ou menos passiva. Sujeitos ao condicionamento, eventualmente
intoxicao mental, esto duplamente presos: primeiro porque so vtimas, depois
porque so ignorantes a respeito do que os vitima. De facto, este mundo sensvel da
Caverna apenas uma cpia grosseira do mundo inteligvel, que est no campo das
Ideias, e nada melhor que o mito para sugerir o que se passa no mundo dos Arqutipos,
onde esto os modelos das sombras que vemos no mundo sensvel. O homem o
habitante dos dois mundos: certamente que pode satisfazer-se com a sua Caverna de
iluses enganadoras, mas o trgico aparente da nossa condio compensado por um
optimismo racionalista, confiante numa libertao possvel, pelo amor ao conhecimento
e sabedoria (Sofia). Segundo Plato, a Opinio (doxa) e a Cincia (episteme)
constituem todo o campo de conhecimento humano. A Opinio tem como domnio
especfico o conhecimento sensvel (que se divide em duas partes), enquanto Cincia
lhe corresponde o conhecimento racional (que se divide igualmente em duas partes).
Assim, na primeira etapa, de ignorncia total da Caverna, temos a possibilidade para a
suposio ou conjectura (eikasa), as quais tm por objectos as sombras e as imagens
do mundo sensvel aparente. Eventualmente, poderemos passar a uma opinio (doxa)
acreditada, do tipo diz-se que, embora no verificada (pistis tem o sentido de f, na
linguagem crist) que tem por objecto as coisas naturais, os seres vivos e os objectos da
arte. Surge ento, depois, uma segunda etapa na Alegoria da Caverna, onde temos a
Converso (periagoge) ou Convertere (voltar-se inteiramente) em que surge
Algum que empreende a tarefa de libertar o prisioneiro, convidando-o a superar-se
continuamente, correspondente esta etapa razo cientfica (dinoia), a qual procede
por meio de hipteses, partindo do mundo sensvel.
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Aqui os sofrimentos, de todas as espcies, tm por finalidade provocar uma rebelio em
relao nostalgia duma passividade perdida, (e como pode ser dolorosa toda a ruptura
com o passado), mas os trabalhos ainda agora comearam... preciso agora partir
conquista da Verdade, e para isso nada melhor do que aprender as Cincias abstractas
que segundo Plato, no contribuem tanto pelo seu contedo, mas pela sua virtude
propedutica, (cincias que despertam), preparando o ser humano para a viso do
Bem. Estas Cincias que tm por objecto os aspectos do Ser so: Aritmtica que a arte
do clculo que permite corrigir as aparncias dos sentidos; Geometria que a cincia
dos entes imutveis; Astronomia que a cincia do movimento mais ordenado e
perfeito, o dos Cus; Msica que a cincia da harmonia. Assim, a esta etapa do
conhecimento corresponde a razo cientfica (dinoia) e, tem por objecto os entes
matemticos e as Ideias (correspondente aos modelos ou Arqutipos referido por Jung).
A determinao dum objecto da cincia induz Plato formulao da Teoria das
Ideias. Esta consiste nos objectos ou entes que esto para alm das aparncias sensveis
feitas com os olhos, com os ouvidos e com os outros sentidos, consistindo a filosofia
em encaminhar o homem do sensvel at ao invisvel, fazendo-o recolher-se e
concentrar-se em si prprio, de maneira a ver o Ser em si. As Ideias so critrios de
avaliao, e elas prprias valores das coisas naturais, porque para julgar se duas coisas
so iguais, (bom, belo,...), servimo-nos da ideia de igual que a igualdade perfeita, a
que s imperfeitamente se adequam os iguais sensveis. As Ideias so as causas das
coisas naturais, declarando no admitir outras causas das coisas que no sejam as razes
(logoi) das prprias coisas, isto , a perfeio ou o fim a que elas se destinam, sendo o
ptimo e o excelente o nico objecto da cincia. Contudo, segundo Plato, o
inteligvel matemtico e as Ideias so apenas um meio para alcanar o mundo do Ser, o
Bem, no sendo este uma ideia, entre as outras mas a causa das ideias, ou seja, no a
substncia, no sentido em que as ideias so substncias, mas superior substncia.
Plato no lhe concede, no entanto, a polmica que a teoria do conhecimento moderna
lhe d, apanhada no radicalismo entre o realismo e o idealismo, e que no passa seno,
no fundo, da expresso da complementaridade entre o exterior e o interior, entre o
mundo manifestado e o imanifestado.
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Numa terceira etapa, temos a Ascenso (anabasis). Aps ultrapassar o mundo dos
objectos sensveis e dos Arqutipos, agora reconhecidos e identificados, necessrio
deixar a Caverna, e seguir a costa rude e abrupta que sobe para o Sol. que no basta
desfazer-se das suas iluses antigas e reconfortantes, do mundo sensvel da Caverna,
nem ficar-se pelo mundo das Ideias ou Arqutipos, mas lev-lo causa das Ideias, ou
seja, ao mundo do Ser Verdadeiro, o Real, o Bem. A este grau de conhecimento
corresponde a inteligncia filosfica (nesis), a qual procede dialecticamente e tem
por objecto o mundo do Ser. Neste sentido, algumas correntes Neoplatnicas da
Antiguidade, insistindo na causalidade do Bem, identificam-no com Deus. A este
propsito, gostaramos de referir algumas analogias, entre estas 3 etapas da Alegoria da
Caverna e a Figura 1.1, de Assagioli, relativa s diversas reas e nveis de conscincia
da mente humana: entre a Caverna, onde os seres humanos se encontram totalmente
aprisionados, e as iluses do Ego (constitudo por persona/auto-imagem, virada para
o mundo, e pelo lado sombra/lado Inconsciente, do ser humano); entre as sombras,
que so reflectidas como cpias de Arqutipos na parede da Caverna, e a experincia
no mundo sensvel, a qual uma projeco dos Arqutipos que existem no Campo da
mente/conscincia; no aparecimento de Algum que nos convida a superarmo-nos
continuamente, atravs dum difcil esforo de alquimia pessoal, em direco
Sabedoria (Sofia), e a expanso de conscincia verificada pela unio consciente entre
o Ego/eu pessoal e o Eu Superior/Alma, representado pelo Sol (no-manifestado)
na Figura 1.1.
Devemos mencionar que na ltima etapa, o homem ao procurar compreender, (atravs
da meditao), os padres arquetpicos que esto no seu Campo da mente, e que o
condicionam, poder, ento, ter acesso ao seu Eu Superior/Alma. Em ltima anlise,
este processo leva liberdade Total do Ego/Eu pessoal, atravs da renncia deste, em
prol do Eu Superior, (que est contido na Conscincia Una), correspondente s
experincias de pico de Maslow, mencionadas anteriormente.
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Finalmente, necessrio o regresso da majestosa plancie. A mensagem clara: No
se tratar de lhes permitir permanecer l em cima ... Portanto devereis, cada um por
sua vez, voltar a descer para a morada comum a todos. A procura pessoal da Verdade,
exigente mas gratificante, no poderia desligar-se do dever, ingrato, mas talvez frutuoso
no futuro, da educao do outro. Por outras palavras, a mensagem do mito da Alegoria
da Caverna e do Platonismo a de que a filosofia no nem evaso, nem
enclausuramento, nem ruptura, ou -o apenas durante o tempo de uma ascenso pessoal.
Pelo contrrio, ela enraizamento, preocupao com o mundo e a histria, investimento
de si na morada comum do mundo. Como se a aquisio da Verdade no tivesse
verdadeiro sentido, a no ser quando partilhada com aqueles que se encontram na
Caverna das iluses, isto , como se o verdadeiro lugar da filosofia no fosse a
contemplao do Bem, como causa suprema, mas antes a utilizao de todos os
conhecimentos, que o filsofo pde adquirir nesse ponto mais alto do conhecimento,
para a fundao duma comunidade justa e feliz.
Segundo Plato, com efeito, faz parte da finalizao da educao do filsofo, o regresso
Caverna, o qual consiste na reconsiderao e na reavaliao do mundo humano,
portanto do seu mundo, luz do que se viu fora deste mundo. Dever, pois, reabituar-se
obscuridade da caverna em que se misturam cegamente a incapacidade, por um lado,
escrnios, sarcasmos, ameaas e desejo de assassnio, por outro. Concedero as honras
mximas aos que optam pelas sombras. Mas ele sabe que a verdadeira Realidade est
fora da Caverna, (que as sombras so apenas o reflexo), e vendo melhor que os
companheiros que ali ficaram, reconhecer os Arqutipos ou os modelos de cada
imagem, por ter visto o verdadeiro exemplar (o Bem). Assim, no experimentar mais
do que compaixo para com aqueles que se contentam com tal conhecimento, e o
julgam verdadeiro.
Em resumo, como se pode verificar no caso particular da Alegoria do mito da Caverna
e, mais, genericamente atravs da mitologia, o mito a histria do jogo da conscincia
humana. Em numerosas culturas, o mito inclui um tema que o mitlogo Joseph
Campbell (9) descreve como a jornada do heri.
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O heri sofre uma separao do seu mundo, para enfrentar foras misteriosas, e volta
para uma reunio ou unificao do conhecimento que teve. Esta religao, (religio
deriva etimologicamente do Latim religiere que significa religar), trouxe luz um
ensinamento de integrao, e uma nova maneira de manifestar o Eu interior/Eu
Superior/Alma na experincia da vida comum. Por exemplo, os Gregos manifestaram a
sua apreciao pelo fogo, e a habilidade tcnica, no mito de Prometeu: ele subiu ao cu,
roubou aos deuses o segredo do fogo, e doou-o humanidade, permitindo que a espcie
humana, assim dotada, participasse no quinho divino, e se tornasse agente da sua
prpria histria. Tambm Moiss, o heri de Israel, procurou Deus, no Monte Sinai, e
depois de receber os Dez Mandamentos voltou com eles, para unificar o seu povo. Na
ndia, Gautama (o Buda) renunciou ao conforto para empreender a jornada do heri que
culminou no seu Nirvana, voltando para pregar a Senda ctupla.
Genericamente, o mito da jornada do heri, e os retornos, tiveram como resultado uma
revoluo na dinmica da sociedade, uma mudana completa de paradigma,
(etimologicamente significa padro, marco do pensamento), que ns vemos hoje
reencenado na busca que a cincia empreende para descobrir a natureza da realidade.
Contudo, o herosmo individual de antigamente, cedeu lugar ao herosmo colectivo,
onde numerosos cientistas, artistas, filsofos desconhecidos do pblico palmilham o
caminho herico, atravs dos vrios estgios, tal como, referido no mito da Caverna. No
entanto, at chegarmos ao nvel actual de compreenso da Realidade, foram muitos os
marcos nesta jornada, e grande o nmero de heris que merecem ser referidos.
Como se sabe, os antigos tinham observado os astros, e medido com determinado rigor
as suas coordenadas, ao longo de meses e anos. Na Grcia, primeiro os Pitagricos (sc.
VI a.C.), e depois Eudxio (sc. IV a.C.) foram capazes de criar modelos matemticos
que representavam esses movimentos. Esses modelos tolerados pela observao, tal
como se podia fazer naquela poca, foram infirmados quando a observao se tornou
mais precisa, tal como aconteceu ao modelo de Hiparco-Ptolomeu, no sculo XVI.
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Devemos acrescentar que o pensamento moderno, cioso de ter descoberto a verdade,
desprezou estas tentativas, mas o sculo XX compreendeu que todas as nossas teorias
so afinal transitrias. Neste sentido, foram os Gregos quem criaram as primeiras teorias
cientficas. Atribui-se a Pitgoras (sc. VI a.C.) a exigncia de que os conhecimentos
matemticos sejam demonstrados. Esta exigncia, e a exigncia dum sistema vo
conduzir axiomatizao, iniciada por Euclides no sculo III a.C., rematada no sculo
XX.
Em relao a Pitgoras h uma certa controvrsia entre os historiadores, sobre se ele
realmente viajara pelo Egipto e pelos pases do Oriente, precisamente numa altura onde
estavam a surgir os grandes caminhos filosficos, com Confcio e Lao-Tse na China,
com Buda na ndia, com Zoroastro na Prsia. Documentalmente, sabe-se que emigrou
de Samos para a Grande Grcia, tendo arranjado casa em Crotona, onde fundou uma
escola (que acabou por ser dissolvida depois da primeira metade do sculo V) que foi
tambm uma associao religiosa, filosfica, cientfica, a qual procurava fundir o
racionalismo Ocidental com o misticismo Oriental. Alguns sobreviventes difundiram e
mantiveram viva a tradio Pitagrica em vrias partes do mundo Grego, mas nenhum
deles parece t-la registado para a posteridade, e o prprio Pitgoras nada escreveu.
Assim, quando Aristteles decidiu escrever a histria do pensamento Grego, no s foi
incapaz de distinguir as ideias de Pitgoras das dos seus discpulos, como tambm no
conseguiu distinguir as ideias dos primeiros discpulos, das ideias dos Pitagricos que
viveram mais tarde. Como quer que seja, Pitgoras apresenta-se como o depositrio de
uma Sabedoria que lhe teria sido transmitida pela Divindade. A esta sabedoria no
podiam os seus discpulos, (os akousmatics que apenas recebiam instrues espirituais,
e os mathematikoi que alm duma orientao espiritual, estudavam tambm matemtica
e filosofia), trazer nenhuma modificao, mas deviam permanecer fiis palavra do
mestre (ipse dixit). Alm disso, eram obrigados a conservar o segredo, e por esta razo a
escola cobriu-se de smbolos que ocultavam o significado da doutrina aos profanos. A
doutrina fundamental dos Pitagricos que a essncia das coisas o nmero, uma
filosofia resumida no seu famoso dito Tudo nmero.
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Devemos referir, a este propsito, que a maior parte das linguagens Ocidentais utiliza os
algarismos rabes, sendo estes provenientes do snscrito (antiga lngua Indiana) que
expressa na escrita Devanagari, onde os nmeros, para alm dum significado
quantitativo, tm tambm um significado simblico ou qualitativo. De facto, para
Pitgoras e os seus seguidores, o nmero era a chave para a compreenso, no apenas do
mundo fsico, mas tambm do mundo arquetpico ou modelo originrio das coisas,
pois o nmero constitua na sua perfeio ideal, a ordem implcita no mundo
arquetpico. Observaram, com efeito, como mltiplas propriedades e
comportamentos dos seres reais podem ser formulados matematicamente, e partiram da
hiptese de que todos os seres do Universo - o que so e a sua forma de comportar-se -
so formulveis matematicamente. A partir de ento, a cincia beneficiou
continuamente desta hiptese, confirmando-a sempre. Segundo Aristteles, na sua obra
Metafsica (Livro I), os Pitagricos, que haviam sido os primeiros a fazer progredir a
matemtica, atriburam ao nmero a funo de causa material da ordem do mundo.
Alm disso, o nmero como essncia do mundo a hiptese da ordem mensurvel dos
fenmenos. Esta foi a grande descoberta que lhes determina a importncia na Histria
da Cincia Ocidental, e at mesmo Oriental, (o clebre Teorema de Pitgoras que
relaciona o quadrado da hipotenusa com a soma do quadrado dos catetos, aparece em
escritos, nas matemticas Indianas, do scu