Marx Por Misses
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Marx: por Mises, por Marx (Parte 1)
Brasil - MonBlog - Este é o primeiro de uma série de artigos onde são analisados e
confrontados os escritos do liberal Ludwig von Mises (1881-1973) e do comunista Karl
Marx (1818-1883). O que Mises disse que Marx disse? E o que Marx realmente disse?
São as questões aqui levantadas e verificadas.
Trata-se de um trabalho árduo, pela pesquisa que demanda, e polêmico, pelas idéias que
envolve. Mas importante pela influência que exercem os dois autores.
Como sugere o título do artigo, inicia-se pelas afirmações de Mises a respeito da teoria
de Marx, ou seja, sobre "o que Mises disse que Marx disse". Na sequência compara-se as
afirmações de Mises com as originais de Marx, ou seja, com "o que Marx realmente
disse".
Todos os grifos nas citações foram feitos por mim. Nas citações de Mises são destacados
os trechos que são comparados com Marx. Já no autor comunista é destacado aquilo que
responde mais diretamente as afirmações de Mises.
Para um melhor acompanhamento do leitor são reproduzidos, muitas vezes, citações
longas, principalmente de Mises. O objetivo dessa metodologia é permitir que o leitor
possa visualizar de forma mais precisa o desenvolvimento das idéias do autor.
Foram considerados os trechos de Mises que se dirigem mais diretamente a Marx e sua
teoria. Os parágrafos foram numerados para que o leitor saiba de onde se partiu e possa
confrontar com o original completo. Na utilização das obras de Marx tomou-se o cuidado
de se levar em conta o que já se encontrava disponível para leitura na época de Mises.
Nesta longa estrada que resolvemos caminhar iniciamos com a provocativa série de
discursos oficiais proferidos por Mises, na Biblioteca Pública de São Francisco, em 1952:
"Marxism Unmasked: From Delusion to Destruction". O presente artigo versa sobre a sua
primeira parte: "Mente, Materialismo e o destino do Homem".
"5. As idéias de Marx e de sua filosofia realmente dominam nossa época. A interpretação
dos eventos atuais e a interpretação da história em livros populares, bem como nos
escritos filosóficos, novelas, peças de teatro, e assim sucessivamente, são geralmente
Marxistas. No centro está a filosofia Marxista da história. Desta filosofia é tomado
emprestado o termo "dialético", que é aplicado a todas suas idéias. Mas isso não é tão
importante como é compreender o que materialismo marxista significa.
(...)
15. Marx desenvolveu o que ele pensava ser um novo sistema. De acordo com sua
interpretação materialista da história, as "forças produtivas materiais" (esta é uma
tradução exata do Alemão) são as bases de tudo. Cada etapa das forças produtivas
materiais corresponde a uma fase definida de relações de produção. As forças produtivas
materiais determinam as relações de produção, isto é, o tipo de possessão e propriedade
que existem no mundo. E as relações de produção determinam a superestrutura. Na
terminologia de Marx, capitalismo ou feudalismo são relações de produção. Cada um
destes foi necessariamente produzido por uma fase particular das forças produtivas
materiais. Em 1859, Karl Marx disse que uma nova fase das forças produtivas materiais
produziria o socialismo."
Há relações de produção capitalista e feudal, assim como há produção capitalista e feudal.
Porém não há capitalismo e feudalismo como relações de produção, assim como não há
capitalismo e feudalismo como produtos simplesmente. Não existe produto capitalista -
embora alguns forcem a barra com declarações do tipo: "o computador é um produto
capitalista" - mas existe produção capitalista. Por isso que na terminologia de Marx,
capitalismo e feudalismo são modos - e não relações - de produção:
"Nas suas grandes linhas, os modos de produção asiático, antigo, feudal e, modernamente,
o burguês podem ser designados como épocas progressivas da formação económica e
social. As relações de produção burguesas são a última forma antagónica do processo
social da produção, antagónica não no sentido de antagonismo individual, mas de um
antagonismo que decorre das condições sociais da vida dos indivíduos; mas as forças
produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam, ao mesmo tempo,
as condições materiais para a resolução deste antagonismo. Com esta formação social
encerra-se, por isso, a pré-história da sociedade humana." (Para a Crítica da Economia
Política)
"16. Mas o que são estas forças produtivas materiais? Da mesma forma que Marx nunca
disse o que era uma "classe", ele nunca disse exatamente o que são as "forças produtivas
materiais". Após analisar suas obras nós descobrimos que as forças produtivas materiais
são as ferramentas e as máquinas. Num de seus livros [Misère de la philosophie — A
miséria da Filosofia], escrito em Francês em 1847, Marx afirma que "a fábrica manual
produz o feudalismo – a fábrica a vapor produz o capitalismo." (3) Ele não disse isto neste
livro, mas em outras obras ele escreveu que surgiriam outras máquinas que iriam produzir
o socialismo."
Deixemos de lado a questão das classes pois não é o ponto aqui. Do assunto que aqui nos
interessa, em um primeiro momento percebe-se que Mises não apreendeu o que, para o
marxismo, integra as forças produtivas. Por isso as reduz às máquinas e as ferramentas.
No próprio livro citado, "A Miséria da Filosofia", Marx explica que as máquinas
constituem uma força produtiva:
"As máquinas são tão pouco uma categoria econômica como o boi que puxa o carro. As
máquinas são apenas uma força produtiva. A fábrica moderna, que se baseia na aplicação
das máquinas, é uma relação social de produção, uma categoria econômica." (p.120)
Obviamente que tal citação não é suficiente para demonstrar a incompreensão de Mises,
muito pelo contrário. Porém na mesma obra Marx vai incluir nas forças produtivas a
ciência e os próprios homens.
"Em 1770, a população da Grã-Bretanha era de 15 milhões e a população produtiva era
de 3 milhões. O poder científico da produção igualava uma população de mais de 12
milhões de indivíduos; portanto, havia 15 milhões de forças produtivas. Assim o poder
produtivo estava para a população como 1 está para 1, e o poder científico estava para o
poder manual como 4 está para 1." (p.91)
"Uma classe oprimida é a condição vital de qualquer sociedade baseada no antagonismo
das classes. A libertação da classe oprimida implica, portanto, necessariamente a criação
de uma sociedade nova. Para que a classe oprimida possa libertar-se, é necessário que os
poderes produtivos já adquiridos e as relações sociais existentes não possam mais existir
lado a lado. De todos os instrumentos de produção, o maior poder produtivo é a própria
classe revolucionária. A organização dos elementos revolucionários como classe
pressupõe a existência de todas as forças produtivas que podiam ser geradas no seio da
sociedade antiga." (p.155)
Se ainda resta alguma dúvida com relação à ciência como força produtiva na teoria
marxista, ela pode ser dissipada acessando-se "Teorias da Mais-Valia" onde Marx diz
com todas as letras que "(...) também à ciência e as forças naturais aparecem como forças
produtivas do capital" (p.386) e que "O capital é, portanto produtivo: 1. ao forçar a
execução de trabalho excedente; 2. ao absorver as forças produtivas do trabalho social e
as forças produtivas sociais gerais, como a ciência, e delas se apropriar (personificando-
as)" (p.387).
Se Mises leu "A Miséria da Filosofia" como pôde reduzir as forças produtivas às
máquinas e as ferramentas? Neste segundo momento podemos até sair do terreno da
especulação de incompreensão do autor "austríaco" para uma sórdida deturpação da teoria
divergente. Mas por enquanto mantenhamos a cautela.
Realmente Marx nunca disse no "A Miséria da Filosofia" que "surgiriam outras máquinas
que iriam produzir o socialismo", mas também não disse isso em nenhuma outra obra. E
nem poderia dizer já que seu conceito de forças produtivas, como vimos, é muito mais
amplo do que a redução misesiana das "máquinas e ferramentas". Mises fez essa dedução
após referir-se a um trecho dessa obra o qual é bom conferir na íntegra para evitar falsas
interpretações:
"Proudhon economista compreendeu muito bem que os homens fabricam o pano, os
tecidos de seda em determinadas relações de produção. Mas o que ele não compreendeu
é que essas relações sociais determinadas são também produzidas pelos homens, da
mesma maneira que o tecido, o linho, etc. As relações sociais estão intimamente ligadas
às forças produtivas. Adquirindo novas forças produtivas, os homens mudam seu modo
de produção e, mudando o modo de produção, a maneira de ganhar a vida, mudam todas
as suas relações sociais. O moinho manual nos dará a sociedade com o suserano; o moinho
a vapor, a sociedade com o capitalismo industrial." (p.100)
Não são novas máquinas que levam a outro modo de produção mas novas forças
produtivas, das quais as máquinas são uma parte - e isso não ocorre de forma mecânica
como veremos mais adiante. Impossível concordar com a afirmação de Mises após ler o
trecho inteiro.
Feitos os esclarecimentos acima veremos mais abaixo, nos parágrafos seguintes, que a
sequência do desenvolvimento teórico de Mises sobre esse tema acaba se transformando
em uma constrangedora maçaroca de sandices que só pode apresentar algum sentido para
aqueles que nunca abriram um livro de Marx na vida e preferem pegar interpretações de
terceiros que melhor lhes convêm, ou aqueles que nunca conseguiram ler Marx com a
mente mas somente com o fígado.
"17. Marx tentou arduamente evitar a interpretação geográfica do progresso, porque isso
já havia caído em descrédito. O que ele disse foi que as "ferramentas" eram a base de
progresso. Marx e [Friedrich] Engels [1820-1895] acreditavam que novas máquinas
seriam desenvolvidas e que elas conduziriam ao socialismo. Eles alegravam-se com as
novas máquinas, pensando que isso significava que o socialismo estava próximo. No livro
Francês de 1847, ele criticou aqueles que davam importância à divisão do trabalho; ele
afirmou que as ferramentas eram importantes.
18. Nós não devemos esquecer que ferramentas não caem do céu. Elas são produto de
idéias. Para explicar as idéias, Marx disse que as ferramentas, as máquinas - as forças
produtivas materiais - se refletem nos cérebros dos homens e assim as idéias surgem. Mas
as ferramentas e as máquinas são, elas mesmas, o produto das idéias. Além disso, antes
de existir máquinas, deve existir a divisão do trabalho. E antes de existir a divisão do
trabalho, idéias definidas precisam ser desenvolvidas. A origem destas idéias não pode
ser explicada por algo que só é possível numa sociedade, que é, ela mesma, produto de
idéias.
19. O termo "materiais" fascinou as pessoas. Para explicar mudanças em idéias, mudanças
em pensamentos, mudanças em todas essas coisas que são os produtos de idéias, Marx os
reduziu a mudanças em idéias tecnológicas. Nisto ele não era original. Por exemplo,
Hermann Ludwig Ferdinand von Helmholtz [1821–1894] e Leopold von Ranke [1795-
1886] interpretaram a história como a história da tecnologia.
20. É tarefa da história explicar por que determinadas invenções não foram postas em
prática por pessoas que tiveram todo o conhecimento físico requerido para sua construção.
Por que, por exemplo, os antigos gregos, que tiveram o conhecimento técnico, não
desenvolveram estradas de ferro?"
Ainda que muito do exposto nestes trechos não faça sentido diante do esclarecimento
anterior, é bom fazer mais algumas observações para evitar possíveis confusões.
Em primeiro lugar, o "livro Francês de 1847" foi uma resposta de Marx à "Filosofia da
Miséria" de Proudhon. Portanto não poderia criticar "aqueles" mas somente "aquele". Em
segundo lugar Marx critica Proudhon não por dar importância à divisão do trabalho mas
por sua concepção da mesma:
"A divisão do trabalho é, segundo Proudhon, uma lei eterna, uma categoria simples e
abstrata. É, portanto, também necessário que a abstração, a idéia, a palavra baste para
explicar a divisão do trabalho nas diferentes épocas da história. As castas, as corporações,
o regime manufatureiro, a grande indústria devem ser explicados pela simples palavra:
dividir. Estudemos, em primeiro lugar, o sentido de dividir e não se terá necessidade de
estudar as numerosas influências que dão à divisão do trabalho um caráter determinado
em cada época." (p.115)
As "ferramentas" não são, para Marx, a base do progresso. Segundo ele, este se daria
pelas contradições e antagonismos no interior da sociedade:
"As coisas se passam de modo completamente diferente do que pensa Proudhon. No
próprio momento em que a civilização começa, começa a produção a basear-se no
antagonismo das ordens, dos estados, das classes, enfim, no antagonismo do trabalho
acumulado e do trabalho imediato. Sem antagonismo não há progresso. Essa a lei que a
civilização seguiu até nossos dias. Até o presente as forças produtivas se desenvolveram
graças a esse regime do antagonismo das classes." (A Miséria da Filosofia, p.58-59)
Mas se só há progresso com antagonismo então como seria no socialismo? Seria então
uma sociedade estagnada? Pode perguntar um misesiano. Não é essa a perspectiva
colocada por Marx:
"Só numa ordem de coisas na qual já não haja classes e antagonismos de classes deixarão
as evoluções sociais de ser revoluções políticas." (Idem, p.156)
As "ferramentas e máquinas são produtos de idéias"? Que grande novidade que contou o
senhor Mises! Ele nos dá essa informação no intuito de querer zombar do marxismo. Mas
como ele - e não Marx - reduz as forças produtivas às "ferramentas e máquinas" então
tem de dizer que seriam somente essas que refletiriam nos cérebros dos homens e criariam
as idéias. Por fim nos informa outra "novidade": também a sociedade é produto de idéias.
Ora, ora, vejamos a seguir quem poderá zombar por último.
Para Marx o processo todo se dá da seguinte maneira: os homens nascem em uma
determinada sociedade com um determinado tipo de forças produtivas legadas pelas
gerações passadas. Estes homens então interagem com essas forças produtivas e vão
transformando-as ao mesmo tempo em que os transformam a si próprios.
"Esta concepção da história assenta, portanto, no desenvolvimento do processo real da
produção, partindo logo da produção material da vida imediata, e na concepção da forma
de intercâmbio intimamente ligada a este modo de produção e por ele produzida, ou seja,
a sociedade civil nos seus diversos estádios, como base de toda a história, e bem assim na
representação da sua ação como Estado, explicando a partir dela todos os diferentes
produtos teóricos e formas da consciência — a religião, a filosofia, a moral, etc., etc. —
e estudando a partir destas o seu nascimento; deste modo, naturalmente, a coisa pode
também ser apresentada na sua totalidade (e por isso também a ação recíproca destas
diferentes facetas umas sobre as outras). Ao contrário da visão idealista da história, não
tem de procurar em todos os períodos uma categoria, pois permanece constantemente com
os pés assentes no chão real da história; não explica a práxis a partir da ideia, explica as
formações de ideias a partir da práxis material, e chega, em consequência disto, também
a este resultado: todas as formas e produtos da consciência podem ser resolvidos não pela
crítica espiritual, pela dissolução na "Consciência de Si" ou pela transformação em
"aparições", "espectros", "manias", etc., mas apenas pela transformação prática
[revolucionária] das relações sociais reais de que derivam estas fantasias idealistas — a
força motora da história, também da religião, da filosofia e de toda a demais teoria, não é
a crítica, mas sim a revolução. Ela mostra que a história não termina resolvendo-se na
"Consciência de Si" como "espírito do espírito", mas que nela, em todos os estádios, se
encontra um resultado material, uma soma de forças de produção, uma relação
historicamente criada com a natureza e dos indivíduos uns com os outros que a cada
geração é transmitida pela sua predecessora, uma massa de forças produtivas, capitais e
circunstâncias que, por um lado, é de fato modificada pela nova geração, mas que por
outro lado também lhe prescreve as suas próprias condições de vida e lhe dá um
determinado desenvolvimento, um caráter especial -, mostra, portanto, que as
circunstâncias fazem os homens tanto como os homens fazem as circunstâncias." (A
Ideologia Alemã)
Sobre a sociedade, diz Marx:
"(...) o caráter social é o caráter universal de todo o movimento; assim como a sociedade
produz o homem enquanto homem, assim ela é por ele produzida." (Manuscritos
Econômico-Filosóficos, p.139)
Torna-se portanto infundada a acusação de que Marx reduziu as mudanças de idéias e
pensamentos "a mudanças em idéias tecnológicas".
Contra a tríade determinista misesiana "idéias-divisão do trabalho-máquinas" não há
remédio melhor do que a dialética, pois a dinâmica do processo produtivo muitas vezes
inverte essa ordem. Novas máquinas produzidas podem gerar uma nova divisão do
trabalho e com elas acarretar em novas idéias na sociedade. Não precisa divagar muito e
nem ir longe para constatar isso, basta analisar o advento e desenvolvimento da
informática. Mas só para complementar vale a pena conferir as palavras de Marx:
"(...) À medida que a concentração dos instrumentos se desenvolve, desenvolve-se
também a divisão e vice-versa. É isso o que faz com que qualquer grande invenção na
mecânica seja seguida de maior divisão do trabalho e cada crescimento na divisão do
trabalho por sua vez determina novas invenções mecânicas." (p.125)
Mises encerra esse trecho com o provocativo questionamento a respeito de porque os
antigos gregos não desenvolveram as estradas de ferro. Parece óbvio que suas forças
produtivas não se desenvolveram a tal ponto. Leonardo da Vinci, no século XVI, projetou
uma série de inventos, como o helicóptero, que só se materializaram séculos depois
quando as forças produtivas haviam avançado. "Não consegue superar o horizonte
burguês", zombaria Marx, se vivo fosse, do zombador que tenta aplicar ad infinitum as
categorias burguesas.
"21. Assim que uma doutrina se torna popular, ela é simplificada de tal forma que permita
a compreensão das massas. Marx dizia que tudo depende das condições econômicas.
Como declarou em seu livro Francês [A miséria da Filosofia] de 1847, ele entende que a
história das fábricas e ferramentas desenvolveram-se independentemente. Segundo Marx,
todo o movimento da história humana aparece como conseqüência natural do
desenvolvimento das forças produtivas materiais, as ferramentas. Com o
desenvolvimento das ferramentas, a estrutura da sociedade muda e, conseqüentemente,
tudo o mais muda também. Por tudo o mais, ele quis dizer a superestrutura. Autores
Marxistas, escrevendo depois de Marx, explicaram tudo na superestrutura como resultado
de mudanças definitivas nas relações da produção. E eles explicaram tudo nas relações
de produção como resultado das mudanças nas ferramentas e máquinas. Isto foi uma
vulgarização, uma simplificação, da teoria marxista. Marx e Engels não foram
completamente responsáveis por isso. Eles criaram muitas tolices, mas eles não são
responsáveis por toda a tolice de hoje.
22. Qual é a influência desta teoria marxista sobre as idéias? O filósofo René Descartes
[1596-1650], que viveu no início do século XVII, acreditava que o homem tinha uma
mente e que o homem pensa, mas que os animais eram simplesmente máquinas. Marx
afirmou, naturalmente, que Descartes viveu numa época em que a "Manufakturperioden",
as ferramentas e máquinas, eram tais que ele foi forçado a explicar sua teoria afirmando
que os animais eram máquinas. Albrecht von Hailer [1708-1777], um Suíço, afirmou a
mesma coisa no século XVIII (ele não gostava da igualdade perante a lei dos governos
liberais). Entre estes dois homens, viveu La Mettrie, que também explicou homem como
uma máquina. Portanto, o conceito de Marx, de que as idéias eram um produto das
ferramentas e máquinas de uma determinada época, é facilmente refutado.
23. John Locke [1632-1704], o conhecido filósofo do empirismo, declarou que tudo na
mente do homem provém da experiência dos sentidos. Marx afirmou que John Locke era
um porta-voz da doutrina classista da burguesia. Isto conduz a duas deduções diferentes
das obras de Karl Marx: (a) A interpretação que ele deu a respeito de Descartes é que ele
vivia numa época em que as máquinas foram introduzidas e, portanto, Descartes explicou
o animal como uma máquina; e (b) A interpretação que ele deu a respeito da inspiração
de John Locke -- que ela veio do fato de que ele era um representante dos interesses
classistas dos burgueses. Aqui estão duas explicações incompatíveis para a origem das
idéias. A primeira destas duas explicações, no sentido de que as idéias são baseadas em
forças produtivas materiais, as ferramentas e máquinas, é inconciliável com a segunda, a
saber, que os interesses de classe determinam as idéias.
24. Segundo Marx, todos são forçados - pelas forças produtivas materiais - a pensar de
tal maneira que o resultado mostre seus interesses de classe. Você pensa da forma que
seus "interesses" forçam você pensar; você pensa de acordo com seus "interesses" de
classe. Seus "interesses" são algo independente da sua mente e suas idéias. Seus
"interesses" existem no mundo além de das suas idéias. Conseqüentemente, a produção
de suas idéias não é nenhuma verdade. Antes da aparição de Karl Marx, a noção de
verdade não tinha qualquer significado para todo o período histórico. O que o pensamento
das pessoas produziu no passado sempre foi "ideologia", não verdade.
(...)
29. A influência dessa idéia de "interesses" é enorme. Em primeiro lugar, é importante
lembrar que esta doutrina não afirma que os homens agem e pensam de acordo com o que
eles consideram ser seus próprios interesses. Em segundo lugar, recorde que ela considera
os "interesses" como independentes dos pensamentos e idéias dos homens. Estes
interesses independentes obrigam os homens a pensar e agir de uma forma definida.
Como um exemplo da influência que esta idéia possui sobre nosso pensamento hoje, eu
poderia mencionar um Senador Americano - não é um Democrata - que afirmou que as
pessoas votam de acordo com seus "interesses"; ele não disse de acordo com o que eles
pensam ser seus interesses. Esta é a idéia de Marx - assumindo que "interesses" são algo
definido e além das idéias de uma pessoa. Esta idéia de doutrina de classe foi
primeiramente desenvolvida por Karl Marx no Manifesto Comunista.
(...)
32. Assim, estes dois homens, Marx e Engels, que reivindicaram que a mente proletária
era diferente da mente da burguesia, estavam numa posição embaraçosa. Então eles
incluíram uma passagem no Manifesto Comunista para explicar: "Quando o tempo
chegar, alguns membros da burguesia se unirão às classes emergentes". Porém, se alguns
homens conseguem se livrar da lei de interesses de classe, então a lei não é mais uma lei
geral."
E eis que surge a velha acusação de determinismo econômico! Olhando para as citações
anteriores percebemos que trata-se de uma acusação leviana e infundada. Mas para quem
ainda tiver alguma dúvida pode ler a resposta que Engels deu a Joseph Bloch, em 1890,
sobre o assunto.
Mas à acusação de determinismo econômico somou-se a de que Marx teria dito que as
"fábricas e ferramentas desenvolveram-se independemente". Independentemente de que?
De quem? Se se refere às forças produtivas vale complementar uma explicação anterior
para que fique bem entendido: para Marx os homens se defrontam com forças produtivas
legadas por gerações passadas e por isso ingressam em uma relação de produção
independente da sua vontade:
"(...) na produção social da sua vida os homens entram em determinadas relações,
necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a
uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais." (Para
a Crítica da Economia Política)
Porém, na sequência do processo os homens interagem com essas forças produtivas,
transformando-as ao mesmo tempo em que transformam-se a si próprios como pudemos
constatar na citação de "A Ideologia Alemã".
Mas é preciso reconhecer que Mises faz uma observação importante: a de que alguns
autores que reivindicavam o marxismo estavam fazendo uma leitura vulgar da obra de
Marx e Engels. Isso é verdadeiro, porém, vindo de alguém que reduziu as forças
produtivas no marxismo "às ferramentas e máquinas", ou seja, que fez uma leitura vulgar
do marxismo, torna-se contraditório e até irônico.
Na sequência constatamos quanta moral Mises tem para criticar os "marxistas vulgares".
Ele reduzirá a influência que exerce as forças produtivas nas idéias dos homens em
determinado período histórico assinalado por Marx a uma via de mão única, qual seja:
forças produtivas-idéias. Só que Marx é mais denso do que imaginam os "vulgares",
sejam eles pretensos "marxistas", sejam eles antimarxistas. Vimos, por mais de uma vez
aqui, que para ele o processo é mais complexo, é dialético.
Mas aceitemos por um instante a via de mão única misesiana só para poder tratar de outra
vulgaridade produzida pelo "austríaco": a de que haveria uma contradição entre as forças
produtivas e ao mesmo tempo os interesses de classes influenciarem nas idéias dos
homens.
Só pode achar inconciliável tal possibilidade quem reduz "vulgarmente" as forças
produtivas "às ferramentas e as máquinas" pois como constatamos anteriormente, no
"livro Francês de 1847", Marx considerava os próprios homens como integrantes das
forças produtivas, inclusive a "classe revolucionária".
Os interesses de classes como algo intransponível e uma "lei geral" é uma criação de
Mises, não de Marx. Marx sempre soube que nem sempre uma classe tem consciência de
seus interesses.
"As condições econômicas tinham a princípio transformado a massa da população do país
em trabalhadores. A dominação do capital criou para essa massa uma situação comum,
interesses comuns. Assim essa massa já é uma classe diante do capital, mas não o é ainda
para si mesma. Na luta, de que assinalamos apenas algumas fases, essa massa se reúne,
se constitui em classe para si mesma. Os interesses que ela defende se tornam interesses
de classe. Mas a luta de classe com classe é uma luta política". (p.154)
No "Manifesto Comunista" Marx diz:
"Será preciso grande perspicácia para compreender que as idéias, as noções e as
concepções, numa palavra, que a consciência do homem se modifica com toda mudança
sobrevinda em suas condições de vida, em suas relações sociais, em sua existência social?
Que demonstra a história das idéias senão que a produção intelectual se transforma com
a produção material? As idéias dominantes de uma época sempre foram as idéias da classe
dominante."
Logo trata-se de mais uma vulgaridade atribuir a Marx uma concepção segundo a qual
"todos são forçados - pelas forças produtivas materiais - a pensar de tal maneira que o
resultado mostre seus interesses de classe" ou que Marx nega que os "homens agem e
pensam de acordo com o que eles consideram ser seus próprios interesses" - até porque
ao constatar que as "idéias dominantes de uma época" são as "da classe dominante" está
a se reconhecer que tais idéias se fazem presentes no seio das classes dominadas que ao
assimilar e internalizar tais idéias acreditam ser os seus interesses os mesmos das classes
dominantes:
"A elevação de salários desperta no trabalhador igual anseio de enriquecer que no
capitalista, mas só o pode satisfazer pelo sacrifício do seu corpo e espírito." (Manuscritos
Econômico-Filosóficos, p.69)
Cabe ressaltar ainda que o fato de "as idéias dominantes de uma época" serem as "da
classe dominante" não impedem que hajam outras idéias, não dominantes, de outros
grupos ou classes. É importante fazer esse esclarecimento para reduzir o espaço para mais
vulgaridades.
Mas Mises consegue construir algo incrível na sua análise. Ele afirma que os "interesses
independentes obrigam os homens a pensar e agir de uma forma definida". E ainda coloca
essa aberração no colo de Marx!
Ora se os interesses estão independentes dos homens significa que os homens ainda não
adquiriram consciência desses interesses. Logo não podem ser obrigados a pensar e agir
por eles.
Por fim é preciso esclarecer que a "doutrina de classe" de Marx apareceu antes do
"Manifesto Comunista", no próprio "livro Francês de 1847" há várias referências a isso e
até um capítulo intitulado "Greves e coligações dos operários". Portanto, o que é
"facilmente refutado" são as incompreensões e distorções misesianas a respeito da teoria
marxista.
"33. A idéia de Marx era que as forças produtivas materiais conduzem os homens de uma
fase para outra, até eles alcançarem o socialismo, que é o fim e o ápice de tudo. Marx
disse que o socialismo não pode ser planejado com antecedência; a história cuidará dele.
Na visão de Marx, esses que afirmam como o socialismo funcionará são apenas
"utópicos".
34. O Socialismo já estava intelectualmente derrotado no tempo que Marx escreveu. Marx
contestava seus críticos afirmando que aqueles que estavam em oposição eram somente
"burgueses". Ele afirmou que não era necessário derrotar os argumentos dos seus
oponentes, mas somente desmascarar sua origem burguesa. E como sua doutrina não
passava de ideologia burguesa, não era necessário lidar com isto. Isto deveria significar
que nenhum burguês pudesse escrever alguma coisa a favor do socialismo. Assim, todos
escritores estavam ansiosos para provar que eles eram proletários. Também seria
oportuno mencionar neste momento que o precursor do socialismo francês, Saint-Simon
(4), era descendente de uma famosa família de duques e condes.
(...)
37. Em 1825, Hegel disse que havíamos alcançado um estado de coisas maravilhosas. Ele
considerou o reino da Prússia de Friedrich Wilhelm III [1770-1840] e a Igreja da União
Prussiana (Prussian Union Church) como a perfeição do governo secular e espiritual.
Marx afirmou, como Hegel, que havia história no passado, mas que não haverá mais
nenhuma história quando nós alcançarmos um estado que é satisfatório. Assim, Marx
adotou o sistema Hegeliano, embora usasse forças produtivas materiais em vez de Geist.
As forças produtivas materiais passam por várias fases. A fase presente é muito ruim, mas
há uma coisa em seu favor - ela é a fase preliminar necessária para o aparecimento do
estado perfeito do socialismo. E o socialismo está próximo."
Em "Crítica do Programa de Gotha" Marx faz várias referências a aspectos da organização
social no socialismo, logo não poderia considerar "utópico" quem se dedicasse a tal
empreitada. No "Manifesto Comunista" ele criticou os chamados "socialistas utópicos"
não por eles querer explicar como funcionaria o socialismo mas por suas limitações e
incompreensões do movimento histórico que os levavam a ações sem eficácia e até
conciliadoras.
"A atividade social substituem sua própria imaginação pessoal; às condições históricas
da emancipação, condições fantasistas; à organização gradual e espontânea do
proletariado em classe, uma organização da sociedade pré-fabricada por eles. A história
futura do mundo se resume, para eles, na propaganda e na prática de seus planos de
organização social. (...)
(...)
Mas, a forma rudimentar da luta de classe e sua própria posição social os levam a
considerar-se bem acima de qualquer antagonismo de classes. Desejam melhorar as
condições materiais de vida para todos os membros da sociedade, mesmo dos mais
privilegiados. Por conseguinte, não cessam de apelar indistintamente para a sociedade
inteira e mesmo se dirigem de preferência à classe dominante. Pois, na verdade, basta
compreender seu sistema para reconhecer que é o melhor dos planos possíveis para a
melhor das sociedades possíveis.
Repelem, portanto, toda ação política e, sobretudo, toda ação revolucionária, procuram
atingir seu fim por meios pacíficos e tentam abrir um caminho ao novo evangelho social
pela força do exemplo, por experiências em pequena escala que, naturalmente, sempre
fracassam. A descrição fantasista da sociedade futura, feita numa época em que o
proletariado, pouco desenvolvido ainda, encara sua própria posição de um modo
fantasista, corresponde as primeiras aspirações instintivas dos operários e uma completa
transformação da sociedade."
Sobre o desenvolvimento das forças produtivas levarem ao socialismo, ou a qualquer
outra sociedade, é preciso fazer algumas observações. Marx leva em conta nesse processo
as formas ideológicas vigentes que influenciam no pensamento dos homens que se
deparam com a contradição das forças produtivas com as relações de produção.
"Com a transformação do fundamento económico revoluciona-se, mais devagar ou mais
depressa, toda a imensa superstrutura. Na consideração de tais revolucionamentos tem de
se distinguir sempre entre o revolucionamento material nas condições económicas da
produção, o qual é constatável rigorosamente como nas ciências naturais, e as formas
jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em suma, ideológicas, em que os
homens ganham consciência deste conflito e o resolvem." (Para a Crítica da Economia
Política)
Portanto é completamente descabido atribuir a Marx uma concepção segundo a qual o
desenvolvimento das forças produtivas levaria, ou "conduziria" (par.17), ou "produziria"
(par.15), de forma mecânica e "natural" (par.21) outro modo de produção. E tal
observação é feita por Marx no único livro de 1859 contrariando a acusação de Mises nos
parágrafos destacados (17,15 e 21).
E sendo assim é falso fazer uma leitura de que para Marx o comunismo seria inevitável.
Como ele mesmo diz nos "Manuscritos Econômico-Filosóficos":
"O comunismo constitui a fase da negação da negação e é, por consequência, para o
seguinte desenvolvimento histórico, o fator real, imprescindível, da emancipação e da
reabilitação do homem. O comunismo é a forma necessária e o princípio dinâmico do
futuro imediato, mas o comunismo não constitui em si mesmo o objetivo da evolução
humana - a forma da sociedade humana." (p.148)
É conhecido e reconhecido que em toda a sua obra Marx se dedica não só a analisar o
sistema capitalista como as ideologias que lhes dão sustenção e consequentemente os
teóricos burgueses que produzem tais ideologias. À luz disso, Mises, que alega ter
analisado várias obras de Marx, afirma que Marx não achava "necessário derrotar os
argumentos dos seus oponentes, mas somente desmascarar sua origem burguesa", que
"não era necessário lidar com isto" pois bastaria mostrar que os oponentes eram
"burgueses" e ponto. Aqui o "austríaco" decai da vulgaridade para a mais sórdida
deturpação. Daria para escrever mais de um livro só com as citações de Marx criticando
e contrapondo-se teoricamente aos divergentes ideológicos.
Como complemento desta absurda deturpação Mises ainda coloca sobre os ombros do
marxismo o fardo, criado por ele e não por Marx, de que "nenhum burguês" poderia
"escrever alguma coisa a favor do socialismo". Ele sequer se deu por conta de que
parágrafos antes havia zombado da "lei geral" dos interesses de classes pelo fato de Marx
admitir que membros de uma classe poderiam apoiar outra classe. Ou seja, Mises entrou
em frontal contradição com a sua própria interpretação do marxismo!
Só para evitar mais "diz-que-me-diz", veremos o que Marx diz sobre a possibilidade do
socialismo atingir outras classes da sociedade:
"Por fim, da concepção da história que desenvolvemos obtemos ainda os seguintes
resultados: 1) No desenvolvimento das forças produtivas atinge-se um estádio no qual se
produzem forças de produção e meios de intercâmbio que, sob as relações vigentes, só
causam desgraça, que já não são forças de produção, mas forças de destruição (maquinaria
e dinheiro) — e, em conexão com isto, é produzida uma classe que tem de suportar todos
os fardos da sociedade sem gozar das vantagens desta e que, excluída da sociedade [23],
é forçada ao mais decidido antagonismo a todas as outras classes; uma classe que constitui
a maioria de todos os membros da sociedade e da qual deriva a consciência sobre a
necessidade de uma revolução radical, a consciência comunista, a qual, evidentemente,
também se pode formar no seio das outras classes por meio da observação da posição
desta classe". (A Ideologia Alemã)
Por último Mises acusa Marx de defender o "fim da História". É verdade que alguns
marxistas vulgares chegaram a difundir que o comunismo representaria o "fim da
História". O próprio Gramsci criticou-os por isso.
Como nenhum remédio é mais eficaz contra todos os vulgares - sejam "marxistas", sejam
antimarxistas - do que a fonte original, então vamos a ela:
"Com os alemães, que não dispõem de quaisquer premissas, temos de começar por
constatar a primeira premissa de toda a existência humana, e portanto, também, de toda a
história, ou seja, a premissa de que os homens têm de estar em condições de viver para
poderem "fazer história". Mas da vida fazem parte sobretudo comer e beber, habitação,
vestuário e ainda algumas outras coisas. O primeiro acto histórico é, portanto, a produção
dos meios para a satisfação destas necessidades, a produção da própria vida material, e a
verdade é que este é um acto histórico, uma condição fundamental de toda a história, que
ainda hoje, tal como há milhares de anos, tem de ser realizado dia a dia, hora a hora, para
ao menos manter os homens vivos. Mesmo quando o mundo sensível é reduzido ao
mínimo, a um bastão, como com o sagrado Bruno[N12], pressupõe a actividade da
produção deste bastão. Assim, a primeira coisa a fazer em qualquer concepção da história
é observar este facto fundamental em todo o seu significado e em toda a sua dimensão, e
atribuir-lhe a importância que lhe é devida. Como é sabido, os alemães nunca o fizeram,
e por isso nunca tiveram uma base [Basis] terrena para a história nem, consequentemente,
um historiador. Os franceses e os ingleses, embora tenham concebido a conexão deste
facto com a chamada história apenas de um modo extremamente unilateral,
nomeadamente enquanto enredados na ideologia política, fizeram não obstante as
primeiras tentativas para dar à historiografia uma base materialista, tendo sido os
primeiros a escrever histórias da sociedade civil, do comércio e da indústria." (Marx. A
Ideologia Alemã)
"Na história até aos nossos dias é, sem dúvida, igualmente um facto empírico que cada
um dos indivíduos, à medida que a actividade se alarga à escala histórico-mundial, fica
cada vez mais escravizado sob um poder que lhe é estranho (cuja pressão eles imaginaram
como chicana do chamado Espírito do mundo, etc.), um poder que se tornou cada vez
mais desmedido e que em última instância se legitima como o mercado mundial. Mas, do
mesmo modo, está empiricamente provado que pelo derrubamento do estado de coisas
vigente na sociedade por meio da revolução comunista (da qual mais adiante falaremos)
e da abolição da propriedade privada que àquela é idêntica, este poder tão misterioso para
os teóricos alemães será dissolvido, e então será realizada a libertação de cada um dos
indivíduos na medida em que a história se transforma completamente em história
mundial." (Marx. A Ideologia Alemã)
Bibliografia
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Disponível em:
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MARX, Karl. A Miséria da Filosofia. Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal
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________ . Manuscritos Econômico-Filosóficos. Coleção A Obra-Prima de Cada Autor.
São Paulo: Editora Martin Claret, 2001.
________ . Teorias da Mais-Valia - Livro 4 de "O Capital" - Vol.1. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1980.
________ . Crítica do Programa de Gotha. Clássicos do Marxismo. Rio de Janeiro:
Editora e Livraria Ciência e Paz Ltda, 1984.
________ . Para a Crítica da Economia Política.
Disponível em:
http://www.marxists.org/portugues/marx/1859/01/prefacio.htm
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MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã.
Disponível em:
http://www.marxists.org/portugues/marx/1845/ideologia-alema-oe/index.htm
__________________________ . O Manifesto Comunista.
Disponível em: http://www.culturabrasil.pro.br/manifestocomunista.htm.