Materiais de Colagem e Cimentação em Ortodontia 273

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Tópico Especial

Palavras-chave:Esmalte. Adesivos.Resina Composta.

* Professora Doutora em Dentística do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá e doCESUMAR, PR.

** Professor Doutor em Dentística da Universidade Paranaense (UNIPAR), em Umuarama, PR.*** Professora Doutora em Dentística da Universidade Estadual de Ponta Grossa e da UNIPAR, PR.

Renata Corrêa Pascotto*Márcio Grama Hoeppner**Stella Kossatz Pereira***

sibilidade de retenção micromecânica demateriais restauradores acrílicos, por meiodo tratamento do esmalte dental comácido fosfórico a 85% e a penetração domonômero resinoso nos espaços criadosno esmalte condicionado. Esse foi o mar-co que deu início ao desenvolvimento demateriais e técnicas adesivas que revolu-cionaram os procedimentos odontológi-cos existentes até então.

Atualmente a Ortodontia lança mãodas técnicas adesivas para fixar braque-tes e outros acessórios ortodônticos commaior resistência de união, rapidez emínimo desconforto para o paciente.Apesar disso, vários acessórios se des-locam durante o tratamento, muitas ve-zes devido à negligência dos profissio-nais quanto a alguns passos na técnicaadesiva que são fundamentais para aretenção a longo prazo. Dessa forma, oobjetivo desse tópico especial é abordaros principais cuidados durante a técni-ca adesiva de fixação de braquetes aoesmalte ou sobre diferentes materiaisrestauradores, bem como os sistemasadesivos e resinosos disponíveis paraessa finalidade a fim de orientar o pro-fissional durante as manobras clínicasde instalação do aparelho fixo na clíni-ca ortodôntica.

ResumoA colagem de acessórios na clínica orto-dôntica é realizada freqüentemente uti-lizando a técnica do condicionamentoácido do esmalte seguido da aplicaçãodo sistema adesivo e cimento resinoso.Apesar da técnica de colagem com re-sina composta apresentar valores deadesão satisfatórios ao esmalte, váriosacessórios se deslocam durante o trata-mento, atrasando a finalização do caso.Dessa forma, nesse tópico especial sãoabordados os principais cuidados duran-te a técnica adesiva de fixação de bra-quetes ao esmalte ou sobre diferentesmateriais restauradores, bem como ossistemas adesivos e resinosos disponí-veis para essa finalidade a fim de orien-tar o profissional durante as manobrasclínicas de instalação do aparelho fixo.

INTRODUÇÃODurante muito tempo, a falta de ade-

são à superfície dental limitou os traba-lhos dos profissionais da área Odontoló-gica. Na Ortodontia, todos os dentes re-cebiam bandas fixadas com cimento defosfato de zinco para possibilitar a movi-mentação ortodôntica. A técnica de con-dicionamento ácido introduzida porBuonocore8 (1955), demonstrou a pos-

RenataPascotto

Materiais de Colagem e Cimentação em OrtodontiaParte II – Sistemas Adesivos ResinososOrthodontic Bonding AgentsPart II – Composite Resin Systems

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ADESÃO AO ESMALTE DENTALO esmalte dental é constituído pre-

dominantemente de componentesinorgânicos (95%), 4% de matériaorgânica e de 1 a 4% de água. Entreos cristais de hidroxiapatita existemmicroporos, chamados espaços inter-cristalinos, por onde circula o fluidoadamantino. No esmalte maduro,num corte transversal, os prismasapresentam a forma hexagonal pla-na e estão orientados em ângulo retocom a superfície externa do esmalte(Fig. 1), proporcionando uma super-fície treliçada que, quando seletiva-mente condicionada, produz umabase ideal para a retenção mecânicadas resinas (Fig. 2).

A utilização de soluções ácidassobre a superfície dentária tem o pro-pósito de criar por meio de uma des-mineralização seletiva seguida dapenetração de uma resina fluida nasmicroporosidades formadas, umasólida união entre o material resino-so e o esmalte dental, em procedi-mentos clínicos de colagem de bra-quetes ortodônticos. Durante a reali-zação do condicionamento ácido doesmalte dental realiza-se a remoçãoparcial de cristais prismáticos einterprismáticos de hidroxiapatita, ea criação de uma zona de porosidadee aumento da energia superficial, bemcomo o aumento da área de contato(umectabilidade) permitindo a criaçãode retenção ao monômero resinoso.

Algumas variáveis podem influen-ciar na retenção dos materiais resi-nosos ao esmalte condicionado,

como: o tempo de condicionamentoácido; o tipo de ácido; a forma deaplicação, a concentração e a formafísica do ácido; a necessidade de re-moção do material orgânico presen-te na superfície adamantina pré-con-dicionamento, assim como a conta-minação da superfície condicionada,pela saliva.

No esmalte, os ácidos utilizadossão o fosfórico e o maleico. O ácidofosfórico existe nas concentrações de10, 32, 35 e 37% e o ácido maleicoa 10%, que proporciona uma resis-tência de união bem menor. O po-tencial de ionização das diferentesconcentrações de ácido fosfórico dis-poníveis no mercado é semelhante,produzindo um padrão ideal de con-dicionamento do esmalte e conse-qüente retenção (GWINNETT;GARCIA-GODOY15, 1992). Quanto àforma física em que se apresenta oácido, não há diferença no padrãode condicionamento do esmalte den-tal, quer seja tratado com ácido naforma de gel, semi-gel ou solução (lí-quido). Entretanto, há a necessida-de da remoção de detritos orgânicospresentes sobre a estrutura a ser con-dicionada com o propósito de melho-rar a ação do agente condicionador(HOEPPNER16, 1995). Essa remoçãopode ser realizada com pasta de pe-dra-pomes e água, com auxílio detaça de borracha ou escova tipoRobinson, como também por meio dautilização de um sistema propulsor dejatos de bicarbonato de sódio. O tem-po de ataque com o ácido fosfórico é

variável na literatura, de 15 segun-dos a 1 minuto. O aumento no tem-po de condicionamento resulta emmaior dissolução química do esmaltee zona de condicionamento mais pro-funda, porém, não há correlaçãoentre a profundidade de condiciona-mento e a força adesiva entre resinae esmalte condicionado. Assim, a re-dução do tempo classicamente pro-posto de 60 segundos, tem interesseclínico de redução do tempo operató-rio e também interesse biológico de-vido à redução da quantidade de es-trutura de esmalte permanentemen-te perdida. Dessa forma, o tempo decondicionamento recomendado paraa aplicação do ácido fosfórico no es-malte é de 30 segundos. Vale a penaressaltar, que em pacientes mais ido-sos, devido ao processo de matura-ção pós-eruptiva do esmalte ou mes-mo pacientes jovens que residem emáreas com programas de fluoretaçãode águas ou que estejam submetidosà terapia de aplicações tópicas deflúor, deve-se condicionar o esmaltepor um tempo maior, já que nessascondições, a camada externa do es-malte é menos susceptível aos efei-tos dos ácidos (CARVALHO10, 1998).

A característica da superfície deesmalte condicionada é de importân-cia fundamental para a resistência deunião. Clinicamente, o esmalte con-dicionado assume um aspecto es-branquiçado e sem brilho, fosco ouopaco. Caso áreas brilhantes após ocondicionamento estiverem presen-tes, isto indica presença de placa ou

FIGURA 1 – Estrutura prismática do esmalte que se estende dajunção amelo-dentinária até a superfície externa do dente. 1000X.

FIGURA 2 – Estrutura do esmalte condicionado com ácidofosfórico a 37% por 30 segundos.

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resinas antigas remanescentes. Es-sas áreas devem ser repreparadas erecondicionadas, até que seja obser-vado o aspecto opaco padrão. Quan-do não protegido pelo monômero re-sinoso e em contato com a saliva, aárea condicionada sofre reminerali-zação. Porém, esse contato não podeocorrer antes da aplicação do siste-ma adesivo ou da inserção do mate-rial resinoso, pois corre-se o risco decomprometer a retenção do compó-sito. Embora encontremos na litera-tura trabalhos afirmando que os no-vos sistemas adesivos são capazesde manter a união ao esmalte conta-minado pela saliva, após a aplicaçãodo ácido fosfórico4,11,12, é prudente arealização de um novo condiciona-mento. Este deverá ser realizado porum tempo menor, comparado ao ini-cial, com o propósito de não com-prometer a retenção da resina com-posta17,24.

Após aplicação, o ácido fosfóricoe os produtos que se formam sobre oesmalte dental, resultantes da suaação desmineralizadora, devem sercompletamente removidos com jatode água ou spray para não interferirna força de união do material res-taurador (BATES et al.3, 1982). O sim-ples enxague do colorido do ácido dasuperfície não elimina os produtos dereação com o esmalte que podem in-terferir na infiltração do agente ade-sivo (Fig. 3). Recomenda-se parauma rinsagem adequada o tempo

mínimo de 20 segundos em todas asáreas condicionadas (CARVALHO10,1998).

O condicionamento do esmaltepromove a remoção da smear layer,cria microporosidades, aumenta aenergia e a área de superfície do es-malte. O agente adesivo, pelo seu fá-cil escoamento, preenche os micro-poros formando tags que promovema retenção micromecânica (Fig. 4).As forças de união necessitam resis-tir aos estresses causados pela oclu-são, pela movimentação ortodôntica,pela contração de polimerização dasresinas compostas e pelas diferençasno coeficiente de expansão térmicalinear entre a resina composta e odente. No esmalte, a resistência deunião encontrada nas pesquisas invitro varia de 20 a 22 Mpa, valoressuficientes para resistir a dinâmica damovimentação ortodôntica desde quea técnica adesiva tenha sido execu-tada criteriosamente.

Com o propósito de simplificar osprocedimentos clínicos, foram lança-dos recentemente no comércio, al-guns sistemas adesivos que dispen-sam a utilização de um agente con-dicionador previamente à aplicaçãodo monômero resinoso. Esses siste-mas, denominados de self etchingprimer ou primers auto-condicionan-tes (Ex: Clearfil Liner Bond 2 -Kuraray, Prompt L-Pop - ESPE, EtchPrimer 2.0 - Degussa), apresentamem um único recipiente (frasco) um

agente condicionador e um primer.Porém, algumas desvantagens têmsido consideradas, tais como: padrãode condicionamento ácido do esmal-te menos retentivo do que o obtidocom o ácido fosfórico e menor sela-mento marginal (FERRARI et al.13,1997). Assim, a utilização do ácidofosfórico seguido da aplicação do sis-tema adesivo na técnica tradicional,ainda representa a melhor alternati-va clínica para a adesão ao esmalte(ROSA; PERDIGÃO23, 2000).

Os procedimentos adesivos noesmalte são relativamente simplese sua estrutura favorece uma mai-or uniformidade de resultados, po-rém é fundamental seguir a técnicaadesiva com relação ao tempo decondicionamento e lavagem do áci-do, evitando a contaminação dasuperfície antes da aplicação do sis-tema adesivo a fim de obter umaadesão duradoura. A aplicação ina-dequada do sistema adesivo, repre-senta o motivo mais freqüente defalha de adesão (LEINFELDER20,2001). Portanto, é de suma impor-tância que o profissional trabalhecom um sistema que apresente re-sultados clínicos comprovados esiga corretamente as recomenda-ções do fabricante.

SISTEMAS ADESIVOSOs sistemas adesivos atuais, carac-

terizam-se pela técnica do condiciona-mento ácido total (Tab. 1). Os ade-

FIGURA 3 – Superfície do esmalte após condicionamentoácido e lavagem insuficiente apresentando produtos dereação não removidos e que afetarão negativamente aadesão.

FIGURA 4 – Tags resinosos formados pela penetração doagente adesivo nas microporosidades resultantes do con-dicionamento ácido do esmalte.

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sivos de quarta geração são constituí-dos basicamente de um agente condi-cionador para esmalte e dentina (re-moção da smear layer e smear plug,desmineralização da dentina inter eperi-tubular, e exposição das fibrascolágenas), primer (a base de água,álcool ou acetona + monômero resino-so hidrofílico) e do agente adesivo (re-sina fluida com ou sem carga, foto ouquimicamente ativada). Também pode-mos encontrar no mercado os siste-mas adesivos da quarta geração sim-plificados, os quais são constituídos deagente condicionador de esmalte edentina e uma única solução, onde estáassociado primer e adesivo.

Após desmineralização do esmal-te, a aplicação do primer tem a fun-ção de penetrar no interior dos mi-croporos, aumentando a energia su-perficial e umectabilidade do substrato(SWIFT Jr.; PERDIGÃO; HEYMANN27,1995). O solvente presente no primertem a função de transportar o mo-nômero resinoso para o interior daestrutura condicionada. Após infiltra-ção, este é removido pela evapora-ção. Os três tipos de solventes en-contrados na composição do primersão: acetona, álcool e água. A aceto-na, por ser altamente volátil, nãoapresenta boa propriedade de molha-mento na estrutura dentária seca(FINGER; BALKENHOHL14, 2000). Já

condicionante. Quando comparadosaos sistemas da quarta geração,apresentam algumas vantagens. Ini-cialmente por dispensar o uso de umcondicionador ácido dos substratosesmalte e dentina, não exigem lava-gem e a secagem dos tecidos den-tais; e não há a necessidade defotopolimerizar o sistema adesivo.Assim, somente dois passos são ne-cessários: a aplicação do sistemaadesivo e jato de ar para melhorar asua distribuição (LEINFELDER20,2001). Quanto à efetividade dessesadesivos, embora alguns estudos te-nham mostrado que o esmalte den-tal tratado com esse sistema apresen-ta um padrão de condicionamentosimilar ao obtido com o ácido fosfó-rico (BRESCHI et al.7, 1999), outrossão categóricos em afirmar que emesmalte a técnica tradicional de con-dicionamento ácido proporciona va-lores mais elevados de adesão(BISHARA; GORDAN; VONWALD;JAKOBSEN5, 1999).

RESINAS COMPOSTASAs resinas compostas apresen-

tam-se constituídas por quatro com-ponentes principais: a) matriz orgâ-nica; b) partículas de carga inorgâ-nica; c) agente de união; e d)ativadores e inibidores de polimeri-zação (SPYRIDES; CHEVITARE26,

a água, por ser pouco volátil, estámais indicada para situações clínicasonde ocorre secagem excessiva daestrutura dentária condicionada. Sis-temas adesivos contendo no primerálcool podem ser indicados para assituações de estrutura dentária úmi-da e seca. Dessa forma, sobre o subs-trato seco, recomenda-se aumentaro tempo de contato, enquanto que so-bre a estrutura úmida recomenda-seaumentar o número de aplicações doprimer (LENHARD19, 2000). Outrofator a ser discutido, é a presença departículas de carga nos sistemas ade-sivos. Estas são acrescentadas como propósito de aumentar a força ade-siva. (VAN MEERBEEK et al.29,1996). Assim, sistemas adesivoscontendo nanopartículas surgiram nomercado, com dimensão suficientepara infiltrar nos espaços interfibri-lares (TAY; MOULDING; PASHLEY,28

1999).Recentemente, surgiram os siste-

mas adesivos de quinta geração. Es-tes dispensam a aplicação de umagente condicionador previamente àaplicação do monômero resinoso,simplificando a técnica adesiva. Es-ses sistemas são considerados capa-zes de tratar esmalte e dentina simul-taneamente com uma única soluçãoácida, por isso denominados de self-etching-primer ou primer auto-

Gerações Marca comercial

4a Geração Sistemas adesivos convencionais: Sistemas adesivos simplificados (2 em 1):

Amalgambond Plus (Parkell) Bond 1 (Jeneric Pentron)

All Bond 2 (Bisco) Excite Dental Adhesive (Ivoclar-Vivadent)

Imperva Bond (Shofu) One Step (Bisco)

OptiBond (Kerr) OptiBond Solo Plus (Kerr)

PAAMA 2 (SDI) Permaquick PQ1 (Ultradent)

Scotchbond Multi-Purpose (3M) Prime & Bond 2.1 (Dentsply Caulk)

Prime & Bond NT (Dentsply Caulk)

Single Bond (3M)

Stae (SDI)

Syntac Single Component (Vivadent)

Syntac Sprint (Vivadent)

5a Geração Clearfil SE Bond (Kuraray)

Etch & Prime 3.0 (Degussa)

Prompt L-Pop (ESPE)

TABELA 1Exemplos de sistemas adesivos.

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causar a inclusão de bolhas de ar; b)falta de controle do tempo de polime-rização; c) instabilidade de cor cau-sada pelo componente ativador dareação; d) porosidade superficial comconseqüente manchamento; e e) re-dução das propriedades físicas comalto índice de desgaste (SPYRIDES;CHEVITARE26, 1986; PHILLIPS22,1993; PEREIRA21, 1995). Algunsmateriais representantes das resinascompostas quimicamente ativadassão: Adaptic (JOHNSON &JOHNSON), Concise (3M),Alphaplast (DFL), Simulate (Kerr),Miradapt (J & J), Isoplast (Vivadent).

Nas resinas fotoativadas, o pro-cesso de ativação ocorre apenas noslocais onde há incidência de luz comcomprimento de onda entre 400 e500nm. Desta forma, os aparelhosfotopolimerizadores devem apresen-tar filtros que permitam a passagemda luz com comprimento de ondaapenas nesse intervalo (luz azul).

Entre as principais vantagens dosistema fotopolimerizável destacam-se: maior controle do tempo de traba-

1986; BUSATO et al.9, 1997;BARATIERI; CHAIN2, 1998). A ma-triz orgânica é composta por monô-meros: o BIS-GMA e o UDMA, ediluentes, que servem para reduzir aviscosidade dos monômeros e facili-tar a incorporação das partículas inor-gânicas: o TEGDMA e o DEGMA. Aporção inorgânica das resinas com-postas visa aumentar significativa-mente as propriedades desses mate-riais. As partículas mais usadas sãoas de quartzo, vidro e sílica. A matrizorgânica e as partículas inorgânicassão unidas por um agente de ligaçãoou de união, que evita a penetraçãode água na interface entre ambas,assim como o deslocamento das par-tículas do interior da matriz.

O processo de polimerização daresina composta só é possível atra-vés de sistemas ativados por compo-nentes químicos (resinas compostasautopolimerizáveis) ou por luz visível(fotopolimerizáveis). O sistema auto-polimerizável apresenta algumas des-vantagens: a) necessidade de mistu-ra das porções do material podendo

lho pelo profissional, possibilidade depolimerizar a resina através das es-truturas dentárias, menor inclusão debolhas de ar no interior do material eresultados estéticos satisfatórios.

Uma das classificações utilizadasé aquela que considera o tipo e o ta-manho das partículas de carga, e su-gere a divisão em resinas compostasde macropartículas, micropartículas ehíbridas (ou microhíbridas) (Tab. 2).

Resinas Compostas de Macro-partículas

As resinas de macropartículas sãotambém conhecidas como tradicionaisou convencionais. Essa definição foiadotada pelo tamanho relativamentegrande das partículas inorgânicas – en-tre 10 e 80µm – e pelo formato irregu-lar. O componente de carga mais utili-zado é o quartzo, em proporções de 70a 80% em peso. Alguns exemplos deresina composta de macropartículas são:Adaptic (JOHNSON & JOHNSON),Concise (3M) e Bisfil 2B (Bisco). Essesmateriais apresentam grande dificulda-de de polimento – conseqüência da alta

Classificação Marca comercial Fabricante

Macropartículas Adaptic Jonhson & Jonhson

Alphaplast DFL

Concise Ortodôntico 3M

Simulate Kerr

Isoplast Vivadent

Micropartículas Amelogen Microfill Ultradent

Durafill VS Kulzer

Filtek A110 3M

Heliomolar Vivadent

Renamel Microfill Cosmedent

Híbridas APH Dentsply

Amelogen Universal Ultradent

Carisma Kulzer

Esthet – X Dentsply

Filtek Z250 3M

Glacier SDI

Herculite XRV Kerr

Point 4 Kerr

Tetric Ceram Vivadent

TPH Spectrum Dentsply

Transbond XT 3M

Z100 3M

TABELA 2Classificação, marcas comerciais e fabricantes de algumas resinas compostas disponíveis comercialmente.

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rugosidade superficial, desenvolvida pelaabrasão da matriz orgânica e desloca-mento das partículas inorgânicas comaparecimento de lacunas na sua super-fície, o que aumenta o acúmulo de placabacteriana, a retenção de substânciascorantes e o manchamento do materialrestaurador.

Resinas Compostas de Micro-partículas

Apresentam partículas de carga dedióxido de silício, sílica coloidal oupirolítica com tamanho entre 0,02 a0,04µm. As resinas compostas demicropartículas apresentam proprie-dades físicas e mecânicas inferioresàs das resinas convencionais. Essaredução das suas propriedades éjustificada pela composição de cercade 50% em volume de matriz orgâ-nica. Essas resinas não são indica-das para áreas com alta concentra-ção de tensões, entretanto, podem serindicadas para restaurações estéticasde dentes anteriores e em locais pró-ximos ou em contato com os tecidosgengivais, pois apresentam excelen-te lisura de superfície.

Resinas Compostas Híbridas ouMicrohíbridas

As resinas compostas híbridas oumicrohíbridas possuem dois tipos departículas inorgânicas na sua compo-sição. Elas compõem a geração demateriais multiuso que associam partí-culas de vidro com tamanho médio de0,04 a 0,7µm com partículas de sílicade 0,04µm. As resinas compostas hí-bridas modernas são formadas poraproximadamente 10 a 20% em pesode micropartículas e 50 a 60% de ma-cropartículas de vidro e de metais pe-sados (BARATIERI; CHAIN2, 1998).

Essas resinas apresentam altaresistência mecânica e ao desgaste,com possibilidade de obter excelentepolimento final. Com o aumento nopercentual de carga, a distância en-tre as partículas diminui aliviando atensão na matriz resinosa e melho-rando a resistência do material. Aincorporação de micropartículas en-

rijece a matriz orgânica e aumenta aforça coesiva da matriz, dificultandoa propagação de rachaduras(BARATIERI; CHAIN2, 1998).

As principais características dasresinas compostas híbridas são: altaporcentagem de carga, alta resistên-cia à fratura, boa resistência ao des-gaste, polimento e estabilidade de corexcelentes. Pelas suas propriedades,elas podem ser indicadas em áreasde esforços mastigatórios diretos.

Adesão a Diferentes SubstratosMuitas vezes o profissional se de-

para com a necessidade de aderir oacessório ortodôntico sobre diferentesmateriais restauradores, como amál-gama, resina composta ou cerâmica,e fica em dúvida de qual a melhor for-ma de proceder para obter valores deretenção satisfatórios. Quando hou-ver uma restauração em amálgama ouresina composta na superfície vesti-

bular do dente a receber o braquete,antes da aplicação da técnica adesi-va, o profissional deverá criar reten-ções mecânicas na superfície da res-tauração, seja por meio de asperiza-ção com ponta diamantada, micropo-rosidades a partir de jateamento compartículas de óxido de alumínio(Microetcher) ou confecção de orifí-cios com broca esférica no ¼ a fim deobter uma colagem efetiva.

A literatura tem demonstrado queo condicionamento prévio da cerâmi-ca com ácido fluorídrico entre 8 e 20%durante 1 a 3 minutos, seguido daaplicação do agente silanizador au-menta a resistência de união destematerial à resina composta (LACY etal.18, 1988; SORENSEN; KANG;AVERA25, 1990). O ácido fluorídricopromove uma degradação superficialda porcelana, com aumento deporosidades, responsáveis pelo embri-camento micromecânico entre o

Asperização da superfície com ponta diamantada ou jateamento

⇓⇓⇓⇓⇓

Retenções adicionais com broca esférica no ¼

⇓⇓⇓⇓⇓Condicionamento com ácido fosfórico a 37% por 30 segundos para limpeza

⇓⇓⇓⇓⇓Lavagem e secagem

⇓⇓⇓⇓⇓

Aplicação do sistema adesivo, fotopolimerização

⇓⇓⇓⇓⇓Aplicação da resina de colagem

QUADRO 1Colagem sobre amálgama ou resina composta.

Asperização da superfície com ponta diamantada ou jateamento

⇓⇓⇓⇓⇓Condicionamento com ácido hidrofluorídrico entre 8 e 20% por 1 a 3 min.

⇓⇓⇓⇓⇓Lavagem e secagem

⇓⇓⇓⇓⇓

Silanização

⇓⇓⇓⇓⇓Secagem

⇓⇓⇓⇓⇓Aplicação do sistema adesivo, fotopolimerização

⇓⇓⇓⇓⇓

Aplicação da resina de colagem

QUADRO 2Colagem sobre cerâmica.

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cimento resinoso e a porcelana e osilano seria responsável pela uniãoquímica entre esses dois substratos,já que os radicais silicofuncionais seunem à sílica ou ao vidro da cerâ-mica e os radicais organofuncionaisse copolimerizam com a matriz or-gânica dos cimentos resinosos(ANAGNOSTO-POULOS; ELÍADES;PALAGHIAS1, 1993). Porém, Bourkee Rock6 (1999), avaliando a resis-tência adesiva de braquetes orto-dônticos sobre a porcelana feldspá-tica submetida a diferentes tratamen-tos de superfície, demonstraram quea asperização da porcelana ou a apli-cação do ácido fluorídrico, além de da-

nificarem a superfície do material nãomelhoram significativamente a resis-tência adesiva à resina composta. Poroutro lado, esse trabalho demonstrouque os melhores resultados foramobservados quando da aplicação doácido fosfórico a 37% por 60 segun-dos para limpeza, seguido da apli-cação do silano, sistema adesivo eresina de colagem. Dessa forma,caso a restauração cerâmica a rece-ber a colagem do acessório for emdente posterior, onde a remoção doglaze superficial não afetará a esté-tica final e houver necessidade deretenção maior, consideramos con-veniente a utilização da seqüência

descrita no quadro 2. Por outro lado,em se tratando de uma coroa cerâ-mica anterior, onde a resistênciaadesiva não é tão crítica, pode-selançar mão da técnica adesiva pre-cedida pela aplicação apenas dosilano a fim de aumentar a resistên-cia adesiva.

Diante dos avanços tecnológicosdos materiais e técnicas adesivas,atualmente é possível obter uma re-tenção adequada e duradoura dosacessórios ortodônticos sobre a su-perfície dental hígida ou restauradacom diferentes materiais, desde quea técnica clínica de colagem seja cri-teriosamente seguida.

AbstractThe orthodontic brackets usually arebonded to enamel with a composite resinadhesive used with an acid etchant anda conventional primer. Although theresin/acid adhesive system techniqueprovided strong shear bond strength

values, there are several bracketsdebonded during orthodontic treatment.In this special topical are presented theprincipal care necessary during adhesivebonding brackets technique to enamelor under different restorative materials

and the different adhesive and compositesystems used to aid the dentist duringthe orthodontic bonding brackets.

Key words: Enamel. DentalAdhesives. Composite Resin.

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Endereço para correspondênciaAv. Dr. Luiz Teixeira Mendes, 495, sl. 01 - Zona 0487.015-000, Maringá, [email protected]