MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NO ENSINO DE GEOGRAFIA: CONTRIBUIÇÕES POLÍTICAS E PRÁTICAS...

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  UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO  DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE   DEPS CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA JEAN FELIPE NUNES ANUNCIAÇÃO JOICY MARIANA GONÇALVES DE ALVARENGA REGISSON SILVA MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NO ENSINO DE GEOGRAFIA: CONTRIBUIÇÕES POLÍTICAS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO COTIDIANO ESCOLAR VITÓRIA, ES 2015

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TCC Licenciatura

Transcript of MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NO ENSINO DE GEOGRAFIA: CONTRIBUIÇÕES POLÍTICAS E PRÁTICAS...

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO

    DEPARTAMENTO DE EDUCAO, POLTICA E SOCIEDADE DEPS

    CENTRO DE EDUCAO

    CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

    JEAN FELIPE NUNES ANUNCIAO

    JOICY MARIANA GONALVES DE ALVARENGA

    REGISSON SILVA

    MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NO ENSINO DE

    GEOGRAFIA: CONTRIBUIES POLTICAS E PRTICAS

    PEDAGGICAS NO COTIDIANO ESCOLAR

    VITRIA, ES

    2015

  • JEAN FELIPE NUNES ANUNCIAO

    JOICY MARIANA GONALVES DE ALVARENGA

    REGISSON SILVA

    MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NO ENSINO DE

    GEOGRAFIA: CONTRIBUIES POLTICAS E PRTICAS

    PEDAGGICAS NO COTIDIANO ESCOLAR

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao

    Departamento de Educao, Poltica e Sociedade do

    Centro de Educao da Universidade Federal do

    Esprito Santo, como requisito parcial para obteno do

    grau de Licenciatura em Geografia. Orientador: Prof.

    Dr. Soler Gonzalez. Coorientador: Srgio Rodrigues dos

    Anjos

    VITRIA, ES

    2015

  • JEAN FELIPE NUNES ANUNCIAO

    JOICY MARIANA GONALVES DE ALVARENGA

    REGISSON SILVA

    MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NO ENSINO DE GEOGRAFIA:

    CONTRIBUIES POLTICAS E PRTICAS PEDAGGICAS

    NO COTIDIANO ESCOLAR

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Departamento de Educao, Poltica e

    Sociedade do Centro de Educao da Universidade Federal do Esprito Santo, como requisito

    parcial para obteno do grau de Licenciatura em Geografia.

    COMISSO EXAMINADORA

    Aprovada em:___/____/_____

    ____________________________________________________

    Professor Doutor Soler Gonzalez

    Universidade Federal do Esprito Santo.

    Orientador

    __________________________________________________

    Professor Srgio Rodrigues dos Anjos

    Prefeitura Municipal de Vitria.

    Coorientador.

    __________________________________________________

    Professor Doutor. Jos Amrico Cararo

    Universidade Federal do Esprito Santo.

  • AGRADECIMENTOS

    Eu, Jean Felipe, Agradeo antes de tudo a minha famlia que foi a base de tudo para eu

    conseguir realizar esse curso. Aos meus pais Sandra e Elson pelo apoio e ajuda em vrios

    momentos difceis dessa caminhada. A minha irm Stefnia pelo incentivo e colaborao em

    muitos momentos. Aos meus avs Ilmo e Rosa pelo carinho em todo esse tempo; e tambm

    meu amigo irmo de corao Emisel pelo grande companheirismo. A todos os amigos

    prximos sempre incentivando e felicitando com o andar do curso. Agradeo tambm a todos

    os professores parceiros das disciplinas de Estgio Supervisionado e em especial ao professor

    Rogrio Luiz que me acompanha desde o ensino fundamental nessa caminhada.

    Eu, Joicy Mariana, agradeo primeiramente a Deus por ter me concedido a beno de realizar

    meu sonho de cursar esta faculdade, me dando foras para vencer cada obstculo enfrentado

    nessa jornada. Agradeo a minha famlia que o meu alicerce; em especial aos meus pais,

    Edlaine e Josias, pelo carinho e apoio incondicional; ao meu irmo Jhonatan que me

    incentivou em todos os momentos; e a minha tia de corao, Luiza, que sempre esteve ao lado

    da minha famlia como um anjo da guarda. Tambm agradeo aos meus amigos, Jean e

    Regisson, que realizaram esse trabalho ao meu lado, encarando comigo cada desafio. Vocs

    todos me ajudaram a concretizar essa vitria, por isso a dedico a vocs.

    Eu Regisson, agradeo primeiramente a Deus, pela minha vida e oportunidade que me

    concedeu de ser aprovado no Vestibular e estar apresentando este trabalho como forma de

    concluso. A meus pais, Jos Batista e Tereza Maria que tenho um amor incondicional e

    sempre me apoiaram em meus estudos, me compreendendo e me incentivando

    significativamente. Ao meu irmo Gleidson Silva, que sempre foi um exemplo de vida,

    perseverana e pessoa com quem compartilho assuntos acadmicos. A Josimar Vitorino, que

    de forma tranquila compreendeu, compreende e tenho certeza que compreender minha

    hrdua rotina de estudos, me incentivando e me auxiliando quando preciso; alm de saber que

    sou um exemplo para ele, em nveis de estudo, de esforo e dedicao. Isso tambm um

    grande incentivo pra mim. Aos meus melhores amigos Miriam Filgueira e Emerson Santos,

    que conseguem me descontrair da rotina e me despertar para o lado alegre e divertido da vida.

    So verdadeiros ombros e ouvidos. minha afilhada Ksia Gomes, que tenho um amor

  • especial. Simplesmente minha irm em Cristo, conselheira e uma irm de considerao.

    Minha intercessora a Jesus.

    Enfim, ns juntos, agradecemos a todos os professores do curso de Geografia, pois cada um

    contribuiu de forma singular para nos preparar para a vida docente. A escola EMEF Octaclio

    Lomba que nos acolheu com todo o carinho, nos possibilitando participar do seu cotidiano, e,

    por conseguinte, oportunizando a realizao deste estudo. Por fim, ao nosso orientador Dr.

    Soler Gonzalez pela confiana dedicada a ns desde o princpio, e por nos ensinar o sentido

    de lecionar atravs do amor que demonstra em faz-lo. E ao nosso coorientador Srgio

    Rodrigues dos Anjos, por ns receber to afetivamente, e se dispor a nos ajudar na construo

    deste trabalho.

  • RESUMO

    O presente trabalho se dispe a pensar sobre as noes de meio ambiente e sustentabilidade

    plausveis para uma educao ambiental crtica. Voltando-se para o ensino de Geografia na srie

    do 9 ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Octaclio Lomba, localizada no

    municpio de Vitria-ES. Destacando que a Educao Ambiental deve ser um instrumento de

    articulao entre os saberes socioambientais, a cidadania e a tica, assumindo por tanto seu

    carter poltico. Tendo isso em vista, este trabalho tem como objetivo geral problematizar

    as noes de meio ambiente e sustentabilidade no ensino de Geografia atravs de oficinas

    pedaggicas, analisando suas contribuies polticas e pedaggicas no cotidiano escolar. E

    mais especificadamente visa possibilitar aproximaes entre as noes de Meio Ambiente e

    Sustentabilidade com o cotidiano escolar por meio dessas oficinas pedaggicas no ensino de

    Geografia; e tambm averiguar as potencialidades de seu uso no ensino de Geografia, para

    valorizar as percepes e opinies dos discentes, e promover a colaborao e o respeito

    mtuo no cotidiano escolar.

    Palavras-chave: Cotidiano Escolar; Educao Ambiental; Ensino de Geografia, Meio Ambiente e

    Sustentabilidade.

    ABSTRACT

    The present work is willing to think about the concepts of environment and sustainability

    plausible for a critical environmental education, turning to the teaching of geography at ninth

    grade series of Municipal Elementary School "Octaclio Lomba", located in the municipality

    of Vitria-ES. Noting that environmental education should be an instrument of articulation

    between environmental knowledge, citizenship and ethics, she assumes, therefore, its political

    character. In this context, this paper aims to discuss the general concepts of environment and

    sustainability in teaching Geography through pedagogical workshops, analyzing their political

    contributions and in everyday pedagogical school, in addition to close and look into the

    potential of using these workshops in an attempt to assess the perceptions and opinions of

    students, promoting collaboration and mutual respect in school everyday.

    Key words: School Everyday; Environmental Education; Teaching of geography;

    environment and sustainability.

  • SUMRIO

    1. APRESENTAO.........................................................................................................7

    2. ASPECTOS GEOGRFICOS E SOCIOAMBIENTAIS DO CAMPO DA

    PESQUISA....................................................................................................................11

    2.1 Dinmicas espaciais do campo da pesquisa: da Fazenda Marupe Vila Maruhype e

    aos dias atuais...............................................................................................................13

    2.2 Aproximaes com o cotidiano e o ambiente escolar...................................................20

    3. AS NOES DE MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE COM PRTICAS

    PEDAGGICAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA COM O COTIDIANO

    ESCOLAR....................................................................................................................24

    3.1 Problematizando as noes de meio ambiente e sustentabilidade com os artefatos

    culturais do cotidiano escolar.......................................................................................24

    3.2 As potencialidades de um projeto pedaggico no ensino de Geografia e seus

    atravessamentos com as noes de meio ambiente e sustentabilidade no cotidiano

    escolar...........................................................................................................................31

    3.3 Prticas de ensino de geografia no cotidiano escolar: problematizando as noes de

    meio ambiente e sustentabilidade.................................................................................37

    4. O POTENCIAL DO AMBIENTAL NOS COTIDIANOS ESCOLARES...................45

    4.1 Perspectivas de Educao Ambiental no contexto escolar...........................................45

    4.2 As oficinas pedaggicas como redes de conversaes no cotidiano escolar:

    problematizando as noes de meio ambiente e sustentabilidade................................50

    5. CONSIDERAES FINAIS....................................................................................... 60

    6. REFERNCIAS...........................................................................................................63

    7. ANEXO A: PROJETO PEDAGGICO PR-EXISTENTE: ESTUDANDO O

    ENTORNO DA IHA DE VITRIA.............................................................................66

    8. ANEXO B PROJETO PROPOSTO: NOSSO AMBIENTE ESCOLAR...............71

  • 7

    1. APRESENTAO

    O presente trabalho, se propondo a pensar a educao ambiental no ensino da geografia de

    forma crtica, aborda a temtica a partir das noes de meio ambiente e sustentabilidade.

    Buscando refletir sobre as potenciais contribuies polticaspedaggicas que estas noes

    trazem no cotidiano escolar. A nossa pesquisa se deu na Escola Municipal de Ensino

    Fundamental (EMEF) Octaclio Lomba localizada no bairro de Marupe, no municpio de

    Vitria-ES.

    Posto que, o contexto contemporneo, de globalizao neoliberal, trs como diferencial

    histrico a preocupao com problemas ambientais, compreendemos que fundamental

    discutir sobre as concepes de educao ambiental que queremos adotar no ensino de

    geografia. Questionamos assim, sobre quais so as preocupaes e responsabilidades que

    precisam ser assumidas pelo professor na abordagem da temtica ambiental.

    Esse um assunto recente, que s tomou contornos mundiais a partir da dcada de 1960,

    anterior a isso a dominao da natureza era vista como uma soluo - o desenvolvimento. a

    partir desse perodo que se coloca explicitamente a questo ambiental. (PORTO-

    GONALVES, 2012, p.51). E mais ainda que, incorporada pela lgica do mercado, essa

    temtica muitas vezes dotada de um sentido limitado ao meio natural, que, separando o

    homem da natureza, constitu uma perspectiva que estipula um modo de vida

    ecologicamente correto pautado no consumo de um mercado verde e nos discursos de

    alienao vinculados pela mdia, como acentuam Guimares e Codes (2014).

    Freire (2000, p. 48) defende que para escapar desses discursos miditicos necessrio o

    aumento de criticidade com que nos podemos defender desta fora alienante. Esta continua

    sendo uma tarefa fundamental de prtica educativo-democrtica.

    Tendo isso em vista, bem como a gnese da Geografia enquanto cincia social e natural,

    ressaltamos o papel afirmado pelas diretrizes curriculares da disciplina geogrfica em

    abordar a questo ambiental, trazendo esse dever do olhar crtico, afirmado por Freire. Nesse

    sentido, trazemos nesse estudo, como diretriz do nosso pensamento as concepes de Reigota

  • 8

    (2012) sobre educao ambiental. Entendendo-a como uma filosofia de ensino, que assume o

    seu carter poltico na formao de sujeitos conscientes de seus direitos e deveres enquanto

    cidados e na promoo de um ambiente harmonioso, onde as relaes entre homens e entre

    sociedade e natureza sejam regidas pela tica.

    Nos baseamos, portanto, nas reflexes de Reigota para pensar o ambiente escolar, seu

    cotidiano e micro poltica. Admitindo que o cotidiano escolar mltiplo e complexo, como

    afirma Alves (2001), a realizao de uma Pesquisa com o Cotidiano se caracteriza como uma

    difcil tarefa, mas ao mesmo tempo como uma fonte imprescindvel de conhecimento.

    necessrio entender que ao entrar na escola nos deparamos com situaes j colocadas e

    realidades sendo vividas, portanto, entender o que est acontecendo ali como decifrar as

    incgnitas que estruturam a dinmica daquele cotidiano especfico.

    Ao mergulhamos na tarefa de tatear o cotidiano da EMEF Octaclio Lomba, foi preciso

    conhecer suas caractersticas fsicas, o contexto geogrfico da regio na qual a escola est

    inserida; o contexto social do pblico atendido; as concepes e princpios defendidos pela

    escola (no s em seus documentos, mas nas relaes que ali esto estabelecidas), entre outros

    pontos.

    Para conseguir as respostas e entendimentos necessrios para decifrar o cotidiano desta

    instituio, utilizamos como fonte principal as conversas com os sujeitos da pesquisa (alunos,

    professores, funcionrios, e demais membros da comunidade escolar). Tendo em vista que,

    Trabalhar com as histrias narradas mostra-se como uma tentativa de dar visibilidade a esses

    sujeitos, afirmando-os como autoresautoras (FERRAO, 2007).

    Abrindo nossa percepo ao que estava se passando ali na escola, bem como ouvindo as

    narrativas dos sujeitos da instituio escolar, foi possvel criar o arcabouo de informaes

    que necessitvamos para tecer nossa proposta de interveno a partir das oficinas

    pedaggicas.

    Destacamos que, o papel do nosso professor parceiro e coorientador, Srgio Rodrigues dos

    Anjos, foi de fundamental importncia durante todo o processo de construo da proposta, por

    ter nos auxiliado no levantamento de projetos passados e em andamento ligados educao

  • 9

    ambiental na escola; na verificao das possibilidades de trabalho a serem explorados dentro

    da temtica, trazidos pela escola, e em especial pela turma do 9 ano; no planejamento e

    ajustes das atividades das oficinas em relao ao tempo disponvel; e na construo dos

    objetivos plausveis com aquele cotidiano escolar.

    Foi possvel, assim, verificar nas falas tanto do professor Srgio, quanto nos demais sujeitos

    da pesquisa, a demanda da instituio por um trabalho voltado para a reflexo sobre o

    ambiente escolar, que lamentavelmente sofre bastante com o desprezo e a depredao.

    Assim, decidiu-se, que nosso objetivo geral seria problematizar as noes de meio ambiente e

    sustentabilidade no ensino de Geografia e suas contribuies polticas e pedaggicas no

    cotidiano escolar atravs de oficinas pedaggicas. E a partir dos desdobramentos desse ponto,

    foram traados dois objetivos especficos.

    A aproximao entre as noes de Meio Ambiente e Sustentabilidade com o cotidiano escolar

    por meio de oficinas pedaggicas no ensino de Geografia veio como a primeira especificao

    a se trabalhar naquele ambiente. E como outra vertente especfica, tratamos de averiguar as

    potencialidades do uso de oficinas pedaggicas, no ensino de Geografia, para valorizar as

    percepes e opinies dos discentes, e promover a colaborao e o respeito mtuo no

    cotidiano escolar.

    Para atingir esses objetivos formulamos junto ao professor Srgio, um projeto pedaggico

    intitulado Nosso Ambiente Escolar, onde as discusses sobre as questes ambientais so

    colocadas atravs de oficinas pedaggicas, e so discutidas da escala global, regional e local,

    focando para a discusso das relaes existentes dentro da escola.

    Essas oficinas utilizaram como recursos metodolgicos atividades envolvendo: produo de

    fotografias, aula de campo, narrativas, produo de painel, vdeos, msica e debates. Sendo

    que, ao planejar cada atividade nos questionamos em como ns, na posio de professores,

    poderamos dar conta de trabalhar os contedos programados e ao mesmo tempo buscar

    atravs deles os conhecimentos prvios que os alunos detm. Para assim forjar as aulas na

    relao de troca de conhecimento professoraluno, assumindo que o aluno trs consigo saberes

    de suas vivncias pessoais; e que, como diz Freire (1996), cabe ao:

  • 10

    ao professor ou, mais amplamente, escola, o dever de no s respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os da classes populares, chegam a ela saberes socialmente construdos na prtica comunitria mas tambm... discutir com os alunos a razo de ser de alguns desses saberes em relao com o ensino dos

    contedos. (FREIRE, 1996, p.15)

    Enfim, todo o processo da pesquisa foi imensamente desafiador, pois propor algo em um

    ambiente recm-conhecido sempre arriscado, e naturalmente dvidas vo surgindo aos

    passos da pesquisa, tais como: Como fomentar a reflexo sobre a sustentabilidade no

    ambiente escolar quando boa parte dos alunos demonstram desprezo por ele? Essa, entre

    outras questes foram se levantando ao longo do percurso, desafiando-nos a debat-las,

    discuti-las e averigua-las em nosso caminho aventurado.

  • 11

    2. ASPECTOS GEOGRFICOS E SOCIOAMBIENTAIS DO CAMPO DA

    PESQUISA

    Figura 1: Fachada da escola EMEF Octaclio Lomba. Foto dos autores.

    O nosso Trabalho de Concluso de Curso desejou potencializar, com os objetivos e a

    metodologia adotada, algumas problematizaes envolvendo as noes de meio ambiente e

    sustentabilidade a partir de prticas pedaggicas no cotidiano escolar de uma Escola de

    Ensino Fundamental da Prefeitura de Vitria. A instituio escolhida para a realizao da

    pesquisa foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental (E.M.E.F.) Octaclio Lomba,

    localizada no bairro Marupe.

    O grupo procurou esta escola em especial por j ter ouvido falar do histrico muito positivo

    do professor de Geografia da escola, Srgio Rodrigues dos Anjos, reconhecido por seu

    empenho e comprometimento na docncia, seu sucesso na realizao de projetos pedaggicos,

    bem como sua receptividade com graduandos do Curso de Licenciatura em Geografia da

    UFES. Pois, h anos ele tem sido um grande colaborador, recebendo os graduandos que

  • 12

    realizam os estgios obrigatrios, e tambm os graduandos vinculados ao Programa de

    Monitoria da Prefeitura Municipal de Vitria.

    Nosso primeiro contato com a escola e seu cotidiano ocorreu numa tarde de quinta-feira, dia

    19 de maro, turno escolhido para a realizao da pesquisa e das prticas pedaggicas nas

    aulas de Geografia. Nessa conversa inicial com a pedagoga Lavnia Mnica Corra, o grupo

    manifestou o desejo de realizar algumas prticas pedaggicas nesta escola, tendo como foco

    as noes de meio ambiente e sustentabilidade.

    Na tarde do dia 24 de maro, retornamos escola e conversamos com a Diretora, o professor

    de Geografia e a Pedagoga. Sendo muito afveis e atenciosos, eles nos apresentaram as

    dependncias da escola, se prontificando a colaborar no que fosse preciso ao nosso estudo.

    Esta receptividade foi fundamental para o grupo e para as prticas pedaggicas que iramos

    realizar junto com a escola.

    Tendo sido aceito pela instituio, o grupo iniciou um processo de reconhecimento dos

    contextos sociais, culturais, histricos e geogrficos da comunidade escolar. Aproximando-se

    das relaes existentes entre a escola e o bairro, e as potencialidades socioambientais da

    regio. Pensando nessas potencialidades como elementos fundamentais para nossa

    problematizao em relao ao ensino de Geografia e as noes de meio ambiente e

    sustentabilidade.

    Nesse sentido, as conversas com os sujeitos da pesquisa, estudantes, professores/as e demais

    funcionrios da escola, contriburam a partir de suas narrativas, para que pudssemos

    compreender e nos aproximar do contexto geogrfico da pesquisa, no caso o contexto da

    regio em que se insere a escola, e o cotidiano escolar - o entre muros.

    Ferrao (2012) afirma que trabalhar com as narrativas das redes de conversao, nos trs

    uma possibilidade de fazer valer as dimenses de autoria, autonomia, legitimidade, beleza e

    pluralidade de estticas dos discursos dos sujeitos cotidianos.

    Dessa forma, apresentamos a seguir, alguns elementos fundamentais que nos auxiliaram a

    pensar no nosso objetivo de problematizar e de aproximar as noes de meio ambiente e

  • 13

    sustentabilidade no contexto do ensino de Geografia com foco nos saberesfazeres que so

    praticados no cotidiano escolar da pesquisa, considerando tambm aspectos geogrficos e

    socioambientais da Regio de Marupe e do municpio de Vitria.

    Pois, acreditamos em uma prtica do ensino de Geografia articulada com o espao geogrfico

    vivido e praticado pela comunidade escolar, e, nas perspectivas metodolgicas

    interdisciplinares, sobretudo, com prticas pedaggicas e de ensino que contemplem as

    dimenses ticas, estticas e polticas do processo educativo, como ensina Freire (2009).

    2.1. Dinmicas espaciais do campo da pesquisa: da Fazenda Marupe Vila Maruhype e

    aos dias atuais.

    A EMEF Octaclio Lomba atende a populao da Regio Administrativa nmero 4,

    denominada como Regio de Marupe1. Segundo dados da Prefeitura Municipal de Vitria a

    regio engloba uma das reas de ocupao mais antigas do municpio, surgindo na dcada de

    1930 com o loteamento Vila Maruhype, que mais tarde foi chamado Vila Maria. Por sua vez,

    o loteamento tem origem na Fazenda Marupe2 (p.13).

    De acordo com Campos Jnior (2002), apesar de ser a propriedade de maior extenso na ilha

    de Vitria, contando-a em sentido norte-sul, estar fora da influncia da mar, e ser uma rea

    de prolongamento natural do permetro urbano, a fazenda s chegou aos rgos pblicos em

    1920 quando foi vendida para o Estado. At ento ela pertenceu ao Sr. Brian Barry, norte-

    americacano que era o gerente comercial da casa de exportao de caf, que na primeira

    dcada do sculo XX vendeu a fazenda para o Sr. Nicolau Von Schilgen, cnsul da

    Alemanha.

    1 O nome Marupe deriva do mosquito Maru de Maruim, portanto Marupe significa Caminho de mosquitos.

    No comeo de sua urbanizao, era motivo de vergonha para os habitantes do lugar serem identificados como

    moradores de uma regio identificada pela infestao de mosquitos. 2 Mapa retirado do livro A construo da cidade formas de produo imobiliria em Vitria de Campos

    Jnior (2002, p. 64). A imagem mostra um planta de 1896 da ilha da capital, destacando a rea da Fazenda

    Marupe (que esta em tom mais escuro e circulada).

  • 14

    Figura 2: Planta da Ilha de Vitria destacando a localizao da Fazenda Marupe, que est em tom escuro e

    circulada.

    Campos Jnior acredita que a Fazenda Marupe foi passada para as mos pblicas to

    tardiamente porque seus proprietrios anteriores teriam nessas terras interesses de especulao

    imobiliria, mas como suas expectativas sobre o mercado no se concretizaram, o

    empreendimento foi repassado ao Estado. O autor questiona enfaticamente:

    Que outro interesse poderiam ter os citados cidados pela Fazenda Marupe, se no tinham suas histrias ligadas terra? No eram fazendeiros, nem durante todo o

    tempo que foram proprietrios da Marupe dedicaram-se produo agrcola. (Campos Jnior, 2002, p.56).

    O autor afirma tambm que, ainda em 1920, a fazenda foi comprada pelo Banco do Esprito

    Santo, que a partir de 1924 se desfez dela por meio de doaes Prefeitura Municipal de

    Vitria.

    Segundo dados da prefeitura, foi s a partir da dcada de 1940 que regio de Marupe

    comeou a efetivar sua ocupao, em decorrncia de um processo de xodo rural que

  • 15

    acarretou um grande aumento populacional da capital capixaba. Nesse momento ela tambm

    comeou a ganhar aparatos pblicos - como o Cemitrio Boa Vista e o Parque Municipal

    Horto de Marupe.

    Atravs das imagens satlite capturadas pela ferramenta Google Earth3 possvel ter uma

    noo da dinmica de crescimento da regio entre as dcadas de 1970, 1998 e 2015.

    Figura 3: Imagem satlite da Regio de Marupe em 1970.

    3 Google Earth uma ferramenta gratuita de computador, que se utiliza de um mosaico de imagens, para gerar

    imagens bidimensionais e tridimensionais, mapas, e simular diversas paisagens.

  • 16

    Figura 4: Imagem satlite da Regio de Marupe em 1998.

    Figura 5: Imagem satlite da Regio de Marupe em 2015.

  • 17

    De acordo com a Prefeitura Municipal de Vitria (PMV) 4, atualmente a Regio

    Administrativa de Marupe a mais populosa, contando com os 12 bairros: Joana Darc,

    Andorinhas, Itarar, So Benedito, Bonfim, Santa Martha, Bairro da Penha, So Cristovo,

    Santos Dumont, Santa Ceclia, Marupe e Tabuazeiro (como nos mostra o mapa a seguir), ela

    possui cerca de 54.402 habitantes (IBGE 2010).

    Figura 6: Mapa da Regio Administrativa Nmero 4. Retirado da web pgina da PMV.

    Sendo tambm a terceira em rea, com 5.684.216m, e apenas a sexta em densidade

    demogrfica, com 7.122 hab/km. A renda mdia da regio em 2010 era de R$ 806,72, ou seja

    a populao local tem uma clara fragilidade econmica, e com cerca de 98,6% das pessoas

    com mais de dez anos alfabetizadas. As figuras a seguir mostram imagens de dois bairros

    pertencentes regio.

    4 http://legado.vitoria.es.gov.br/regionais/home.asp

  • 18

    Figura 7: Bairro Bonfim. Foto da pgina web:

    https://www.youtube.com/watch?v=MMHPhDCP

    O bairro Marupe o principal da regio administrativa, possuindo diversos equipamentos

    pblicos, principalmente prximos principal via rodoviria da regio, a Avenida Marupe,

    que um referencial de localizao no municpio, alm de ser umas das principais avenidas

    da capital capixaba. Ressalta-se que a escola em que realizamos nosso trabalho de pesquisa se

    localiza justamente em uma rua transversal Avenida Marupe, tendo assim, o acesso fcil a

    todos estes aparatos.

    A escola faz divisa com o cemitrio municipal Boa Vista, que o maior do municpio, se

    localiza muito prxima de aparatos com: o 1 Batalho da Polcia Militar; o Hospital Santa

    Rita de Cssia e o Hospital Universitrio; o Centro Biomdico da Universidade Federal do

    Esprito Santo; a Casa do Cidado - entidade que presta servios gratuitos a populao; e a

    parques naturais Municipais e Reservas Ambientais.

    Encontram-se nas proximidades os parques naturais como: o Parque Municipal de

    Tabuazeiro, Parque Municipal Horto de Maurpe, Parque Estadual da Fonte Grande, Parque

    Municipal Barreiros, Alm da Pedra dos Dois Olhos, que um marco geomorfolgico do

    municpio.

    Essa proximidade com os parques naturais tambm foi uma caracterstica que aguou nosso

    desejo em abordar as temticas socioambientais no cotidiano escolar da EMEF Octaclio

    Lomba. Perguntamos-nos se estes alunos vivenciam estes espaos em seus cotidianos, ou se

    ao menos possuem conscincia de sua proximidade e facilidade de acesso. Tambm pensamos

    Figura 8: Bairro So Benedito. Foto da pgina

    web: https://contornos.wordpress.com

  • 19

    sobre as potencialidades que estes espaos trazem para problematizar as noes de meio

    ambiente e sustentabilidade no ensino de Geografia.

    Figura 9: Imagem Satlite da Regio Administrativa de Marupe, destacando a Escola EMEF Octaclio Lomba e

    os parques ambientais que se localizam prximos a ela.

  • 20

    Apesar de a proximidade ter nos chamado a ateno para possibilidades de atividades

    envolvendo estes parques ambientais, ao entrar na escola nos deparamos com um contexto de

    trabalho, contemplando diferentes situaes, experincias, saberes, fazeres e tenses. E foi o

    contexto deste cotidiano escolar que traou os contornos do nosso estudo, delimitando outras

    formas de trabalho, mas sem perder de vista nossos objetivos e o rigor metodolgico.

    Nesse sentido, concordamos com Oliveira e Alves (2001, p.28) ao comentar sobre a

    complexidade da vida cotidiana e dos cotidianos escolares, dizendo que o cotidiano,

    mantendo mltiplas e complexas relaes com o mais amplo, tecido por caminhos prprios

    tranados com outros caminhos. Entende-se assim, que o cotidiano escolar traa o seu

    prprio caminho, estabelecendo as possibilidades e potencialidades para o trabalho docente;

    portanto, na pesquisa com os cotidianos nosso papel ter sensibilidade para decifr-lo, nos

    deixando percorrer por tudo que ali vivido e experimentado.

    2.2. Aproximaes com o cotidiano e o ambiente escolar.

    A criao da EMEF Octaclio Lomba surgiu da necessidade de desmembramento da escola

    EMEF Cecliano Abel de Almeida, iniciando seu funcionamento por meio do Decreto n

    6.655 de 2006, ou seja, uma escola recente. As primeiras turmas foram as do segundo

    seguimento do fundamental, mas em 2009 a escola passou a atender tambm s crianas das

    sries iniciais. A equipe pedaggica se divide em duas supervises, que so a equipe de 1 ao

    5 ano (sries iniciais), e a do 6 ao 9 ano (sries finais).

    A EMEF Octaclio Lomba funciona no horrio matutino e vespertino e no atende ao pblico

    da EJA (Educao Jovens e Adultos). Seus turnos funcionam respectivamente nos horrios de

    07 h s 12 h e de 13h s 18h, contando com 12 turmas por turno.

    Por meio das observaes do cotidiano escolar, da captura de narrativas, e de entrevistas com

    o professor Srgio, com a diretora e com as pedagogas dos dois segmentos do turno matutino,

    foi possvel destrinchar alguns aspectos do trabalho pedaggico da instituio, que foram

    cruciais para o entendimento das relaes que acontecem dentro dos muros da escola. Entre

  • 21

    esses tais aspectos salientou-se a parceria e cooperao estabelecida entre a equipe

    pedaggica.

    Abaixo, um trecho da conversa com o professor Srgio, aborda como as relaes entre

    educadores/as contribuem, de forma poltica e pedaggica, no contexto da aprendizagem

    coletiva e nos movimentos de aproximao escolacomunidadeescolar5.

    Quando a gente tem um grupo de profissionais efetivos e o trabalho comprometido, a

    percepo do aluno com o professor j diferente, o respeito passa a ser maior, a confiana

    no nosso trabalho... Nossos alunos so alunos carentes, com vrios problemas sociais, muito

    fortes, que tumultuam a vida, o psicolgico desses alunos. E por incrvel que parea os

    meninos confiam na gente. Isso ajuda de certa forma a melhorar o ambiente escolar... Hoje

    nossa equipe de profissionais uma equipe bacana. Ns no temos conflitos, ns temos

    respeito entre a gente. Ento isso tambm ajuda, o aluno percebe isso.

    As relaes cotidianas entre educadores e estudantes, pautadas na tica e no combate s

    formas de opresso e de violao da vida, so fundamentais ao desenvolvimento de qualquer

    trabalho pedaggico, comprometido com a concepo de uma escola que seja um espao de

    convivncia e de aprendizagem. Paulo Freire (1996, p.16), ao abordar as relaes ticas na

    educao, nos ensina que No possvel pensar os seres humanos longe, sequer, da tica,

    quanto mais fora dela.

    fundamental para a cidadania pensar na escola como espao de convivncia e na educao

    como um ato poltico (Freire), e de afirmao da vida coletiva e cotidiana de forma

    sustentvel, conforme nos ensina Reigota (2012), que ao abordar o papel da educao

    ambiental afirma que:

    A educao ambiental deve procurar favorecer e estimular possibilidades de se estabelecer coletivamente uma nova aliana (entre os seres humanos e a natureza e entre ns mesmos) que possibilite a todas as espcies biolgicas (inclusive a

    humana) a sua convivncia e sobrevivncia com dignidade. (REIGOTA, 2012, p. 14)

    5 A juno desses termos para dar a entender que um no pode existir sem o outro, como diz Nilda Alves

    (2001): um tem relao com o outro e s existe nesta relao, por isso uni-los se torna necessrio.

  • 22

    As palavras de Reigota explicam como a sustentabilidade se d na relao dos cidados entre

    si e com o meio ambiente. A nova aliana, explicitada por ele, se coloca no sentido de

    estabelecer um convvio saudvel e harmonioso entre as pessoas e o meio, estimulando o

    exerccio da cidadania na luta pelos direitos de todos. Nesses direitos esto englobados o

    direito diversidade, seja ela biolgica (fauna e flora), ou scio-culturais (culturais,

    religiosas, sexuais, etc.); e tambm o direito de viver em um ambiente saudvel, usufruindo de

    uma vida digna, com sade, moradia, trabalho, e educao de qualidade.

    Na escola, que foi campo da pesquisa, foram percebidas algumas situaes de depredao dos

    bens pblicos, como tambm de descaso e falta de investimentos pelo poder municipal,

    constatados pelo estado de conservao de equipamentos de usos coletivos e da estrutura

    fsica da escola.

    No fragmento de uma conversa com o professor de Geografia, so apresentadas algumas

    pistas para praticarmos e problematizarmos as noes de meio ambiente e sustentabilidade no

    ensino de Geografia e no cotidiano escolar, possibilitando aos estudantes e toda a comunidade

    escolar, olhares crticos e de indignao frente aos usos praticados com os espaos fsicos e

    equipamentos coletivos do ambiente escolar, criando movimentos individuais e coletivos de

    problematizaes frente s relaes insustentveis e de convivncias cotidianas.

    O nosso trabalho maior, hoje, tem sido em cima disso. De no riscar a escola, no sair

    pixando de qualquer jeito, no quebrar o espao fsico da escola, preservar o ambiente,

    preservar a si prprio... um trabalho de base, um trabalho de sementinha que no final vai

    surtindo efeito.

  • 23

    Figura 10: Mosaico com imagens da escola produzidas pelos alunos na terceira oficina.

    Qual a atitude e a responsabilidade de ns, educadores ou educadoras, diante desse descaso?

    Como pensar na criao de um espao que se destina educao, sociabilidade e

    aprendizagem, marcado por situaes de abandono? A educao tambm um ato poltico em

    prol da qualidade de vida no cotidiano escolar? Construir um ambiente escolar saudvel

    consiste em vivenciarmos, coletivamente, prticas pedaggicas ticas, socioambientais e de

    sustentabilidade?

    So questes que se aproximam dos nossos objetivos, ao problematizarmos as noes de meio

    ambiente e sustentabilidade no ensino de Geografia a partir das relaes produzidas nos

    espaostempos do ambiente escolar, concebendo a educao como um ato poltico, associado

    s dimenses ticas e estticas de convivncia.

  • 24

    3. AS NOES DE MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE COM PRTICAS

    PEDAGGICAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA COM O COTIDIANO ESCOLAR.

    Antes de traar qualquer proposta, foi preciso conhecer como a temtica ambiental vinha

    sendo trabalhada junto aos alunos da EMEF Octclio Lomba. Nesse sentido, foi preciso

    conhecer os projetos que tinham sido executados anteriormente, que traziam a temtica, alm

    de tomar cincia de como os livros didticos adotados abordam o tema, como a escola

    entende e defende a educao ambiental em seus princpios poltico-pedaggicos.

    S assim foi possvel formular propostas metodolgicas concisas - adequadas ao tempo que

    tnhamos disponvel para a realizao das atividades de interveno junto ao 9 ano mas

    consistentes para nos dar condies de alcanar os nossos objetivos.

    3.1 Problematizando as noes de meio ambiente e sustentabilidade com os artefatos

    culturais do cotidiano escolar.

    A escola Octcilio Lomba atende ao primeiro e ao segundo seguimento do ensino

    fundamental. Os espaos de usos coletivos so distribudos pelos andares de acordo com as

    atividades e seriaes, e, tm como caracterstica arquitetnica a verticalidade do prdio

    principal.

    A escola dispe dos servios essenciais de gua tratada, energia eltrica, esgoto tratado, coleta

    de lixo peridica e acesso internet. Alm disso, possui equipamentos para uso didtico-

    expositivo, como TV, DVD, copiadora, retroprojetor, impressora, aparelho de som, projetor

    multimdia (datashow), fax, cmera fotogrfica, filmadora e computadores.

    No que se refere aos documentos da escola, esto em fase de elaborao, o Projeto Poltico

    Pedaggico (PPP), o Plano de Ao de 2015 e o currculo da Secretaria Municipal de

    Educao.

    Partindo da concepo de cotidiano escolar, como proposto por Nilda Alves (1998),

    entendemos que a ausncia desses documentos escolares, no significa que a escola concluiu

    seus afazeres e prticas envolvendo seus projetos e atividades cotidianas. O fato de a escola

  • 25

    no apresentar um PPP pronto no significa descompromisso burocrtico, apesar de

    entendermos que a gesto da escola deva envolver a participao de todos e todas, estudantes,

    familiares e educadores/as.

    Considerando a complexidade do cotidiano escolar (redes de relaes/micropolticas/ saberes/

    fazeres), destacamos Carvalho, dialogando com Ferrao (2012, p.14), nos recorda que:

    falar sobre o cotidiano escolar, currculo e trabalho cooperativo ou comunidades compartilhadas implica acompanhar movimentos que vo transformando a cultura da escola, fortalecendo a criao coletiva e individual, ou seja, questionar os

    possveis do coletivo inseridos no cotidiano escolar, para que se constituam nas dimenses pessoal, profissional e coletiva de forma processual e relacional.

    Nota-se no ambiente da escola que o conjunto de prticas e aes pedaggicas no possui um

    carter de atividades fechadas; em contrapartida todo o cotidiano presente, os projetos de

    variadas disciplinas e as obrigaes curriculares convencionais (tais como levantamento de

    dados da instituio, plano de aulas dos professores, horrio das aulas por turma) formam o

    parmetro para o desenvolvimento do plano de ao da escola.

    Houve um entendimento de que tudo j est em processo de acontecimento no ambiente,

    pois o Plano de Ao da escola trata de vrios temas pertinentes composio da mesma e

    seus projetos, h um andamento sistematizado e sempre h de se acrescentar o que vir com

    esses cotidianos, como diz Ferrao:

    Os estudos com o cotidiano, ao acontecerem em meio ao que est sendo feito, isto , em meio aos processos de tessitura e contaminao das redes, expressam o

    entremeado das relaes dessas redes nos diferentes espaostempos vividos. (FERRAO, 2007; p.81)

    O encontro com a instituio consiste em habitarmos e praticarmos as tessituras do cotidiano

    escolar, suas tenses, conflitos, fazeres, poderes e saberes, percorrendo os espaostempos dos

    lugares e os usos de artefatos culturais escolares materiais didticos, murais, cartazes,

    pichaes, enfim, praticar o cotidiano escolar praticar experincias, tenses conflitos,

    desejos e saberes, vividos e negociados, cotidianamente, entre as coletividades e sujeitos que

    o inventam.

    artefato escolar , portanto, tudo aquilo que, independente do contexto de sua criao, propsito, funo e manual de instrues usado por professores e alunos

    em suas prticas cotidianas de aprenderensinar, dentrofora das scolas, de modo a

    alargar as possibilidades para a realizao dos currculos compreendidos como redes

  • 26

    de relaes, significaes, saberesfazeres e poderes. (SOARES; SANTOS, 2012, p.3).

    Nessas trajetrias pelas singularidades do cotidiano escolar da EMEF Octaclio Lombar, foi

    possvel nos aproximar de alguns materiais didticos e artefatos culturais disponibilizados

    para o ensino de Geografia, dentre eles, o livro didtico, computadores do laboratrio de

    informtica, cartazes e documentos escolares.

    Os artefatos culturais produzem saberes e currculos, conforme as autoras acima mencionam.

    Diante disso, buscamos conhecer o material didtico fornecido aos estudantes, no intuito de

    encontrarmos pistas que nos apontassem como as noes de meio ambiente e sustentabilidade,

    ou seja, como as problemticas socioambientais so apresentadas, fomentadas e abordadas por

    esses artefatos culturais. Para o Ensino de Geografia do 6 ao 9 ano a escola adota a coleo

    didtica denominada Projeto Ararib.

    Figura 11: Capa do livro de Geografia do 9 da coleo Projeto Ararib.

    Fonte: http://issuu.com/ed_moderna/docs/araribageografia9

    Esta coleo aborda os temas curriculares de forma objetiva e aparentemente resumida, sendo

    os contedos divididos e subdivididos em pequenos captulos, com alguns textos auxiliares

    indicados como de carter de curiosidade.

    A coleo de Geografia Projeto Ararib aborda minimamente as questes que se referem

    educao ambiental e sustentabilidade em seus volumes. No livro do 9 ano a temtica

  • 27

    brevemente pincelada junto ao contedo de Globalizao. O contedo mencionado

    encontra-se na unidade 2 intitulada Globalizao e Organizaes Mundiais e subdividido

    no tema 2 intitulado Globalizao e Meio Ambiente.

    Figura 12: Introduo do captulo Globalizao e meio ambiente do 9 ano.

    Fonte: http://issuu.com/ed_moderna/docs/araribageografia9

    Verifica-se que a problemtica socioambiental, suas causas e consequncias esto neste livro

    atreladas muitas vezes Globalizao e associada aos discursos fatalistas de problema e

    impacto. Segue um fio da conversa com o professor de Geografia da escola, abordando seu

    modo de pensar e de usar o livro didtico no contexto do ensino de Geografia.

    A princpio eu parto do ponto de partida que nenhum livro de Geografia ele completo, no

    sentido da viso de cada um. Em relao ao meio ambiente, o livro deixa a desejar. O livro,

    mas, ns, enquanto professores, instrumento de transformao, mudana, interferncias

    pedaggicas, ns temos que fomentar isso no aluno, mas depende tambm no s do livro,

    mas depende do paralelo que ns vamos traando ao longo do ano letivo com o aluno

    O Professor assume o papel de colocar-se disposio para trabalhar os contedos alm do

    que proporcionado pelo livro didtico, assim cria-se uma identidade no s do ter, mas do

  • 28

    ser atravs do seu posicionamento poltico e cultural, ao mencionar que fomenta o papel de

    transformao e de interveno em cima do aluno. criado o mecanismo da prtica de

    assuno da identidade cultural, qual seja:

    Uma das tarefas mais importantes da prtica educativo-crtica propiciar as condies em que os educandos em suas relaes uns com os outros e todos com o

    professor ou a professora ensaiam a experincia profunda de assumir-se. Assumir-se

    como ser social e histrico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador,

    realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como

    sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto. (FREIRE, 1996; p.18-19).

    As problemticas socioambientais so abordadas a partir dos impactos da Globalizao. De

    forma sinttica, o livro discute vrias problemticas que causam os impactos no meio

    ambiente, encobertas com mensagens, discursos e imagens clichs, para culpabilizarem a

    populao pelo o progresso cientfico e tecnolgico, o agronegcio, os resduos e o consumo

    exacerbado dos recursos naturais do planeta. Assim como exemplifica Guimares e Codes

    (2014, p.7-8) em uma de suas pesquisas acerca da temtica envolvida:

    Ao assinar o jornal que j foi do seu pai, o pesquisador pode ver que a temtica da sustentabilidade habitava semanalmente o caderno de Negcios (veiculado

    conjuntamente com o de Economia) do Estado. Ali surgia um tema de pesquisa e uma pergunta perturbadora: por que a sustentabilidade ambiental ganha espao na

    editoria de negcios e de economia e no no caderno sobre as cidades ou sobre os cotidianos?.

    O livro apresenta contedos e atividades pedaggicas sobre as problemticas socioambientais

    do sculo XXI, os problemas e impactos causados pela sociedade moderna, a cultura do

    consumo, o aquecimento global, a crise da gua. Alm das Conferncias mundiais de Meio

    Ambiente, promovidas pelos Estados-naes, ao longo do sculo XX e XXI, que encerram o

    tema.

    De forma objetiva o livro aborda as noes de meio ambiente e sustentabilidade de maneira

    genrica, superficial e estereotipada, sem problematizar outras concepes e seus

    atravessamentos no cotidiano escolar e na vida cotidiana. Algumas questes apresentadas no

    livro so: O que causa a poluio e a degradao das guas?, O que efeito estufa? e

    Como ocorre o aquecimento global?.

    Esses questionamentos trabalham de maneira muitos simples os impactos ambientais e no

    exercitam atitudes crticas e de reflexo a partir das micro-relaes e das micro-polticas do

  • 29

    cotidiano escolar, ou seja, as relaes da vida cotidiana em torno das noes de meio

    ambiente e sustentabilidade ficam a cargo das prticas de ensino e pedaggicas realizadas

    entre professores/as e estudantes, envolvendo tambm o compromisso tico e poltico da

    gesto escolar, que consideramos que deva questionar: para quem educo? A favor de quem

    educo? Contra o qu educo?

    Nessa mesma perspectiva, tem-se o exemplo do livro do 7 ano, como explica Raphaela

    Desiderio, que ao analisar contedos desse volume da coleo, as problemticas

    socioambientais so abordadas de forma simplista e descritiva. Nesta coleo a abordagem

    encontrada no Tema 4 da unidade 3, intitulada Problemas sociais e ambientais nas cidades

    e no Tema 2 da Unidade 8, com o ttulo Regio Centro-Oeste, Impactos ambientais no

    Cerrado e no Pantanal:

    H certo reducionismo na abordagem do ambiental quando este aparece apenas atrelado aos conceitos de impacto e problema. Os temas apresentam o ambiental

    como realidade problemtica, mas de fato no apresentam possibilidades de solues

    a tais problemas. (DESIDERIO, 2008, p.12)

    Abordar as problemticas socioambientais envolve argumentos sobre a preservao do verde

    e as formas de evitar essa degradao, mas, como diz Desiderio (2008) a coleo trata apenas

    de impactos e problemas em sua realidade, ressaltando pouco para a possibilidade de resolver

    tais problemas.

    A fuga do senso comum sobre o ambiental, onde s se exalta o verde e os problemas

    atrelados a ele e as outras formas da natureza, como o ar e a gua, se d por um exerccio de

    ampliar a viso, para o que estamos vivenciando. Esse ambiente pode ser de qualquer

    natureza seja essa natureza verde, social, escolar, cultural, econmica, entre outras.

    So reflexes e dimenses que incluem tambm percepes sobre nossas atitudes perante aos

    outros, sejam esses outros o prprio ser humano e outros animais, assumindo atitudes

    ticas, estticas, polticas e cotidianas de auxiliar na coleta seletiva, conter a criao de lixes

    a cu aberto, no jogar lixo nas ruas, respeitar as pessoas e as suas diferenas, sejam em

    quaisquer ambientes sociais possveis, dentre eles, e no contexto desta pesquisa, os espaos de

    convivncia do cotidiano escolar.

  • 30

    O ambiente escolar pesquisado e pensado enquanto espao de convivncia, apresenta pistas

    que indicam relaes de desrespeito com os equipamentos pblicos utilizados como

    componentes fundamentais ao trabalho educativo e a qualidade de vida dos sujeitos que

    praticam e convivem no cotidiano escolar. Na viso do corpo pedaggico da instituio, o

    cotidiano escolar apresenta-se abalado e indica a necessidade de ser pensado coletivamente,

    criando outras formas de convivncia entre os sujeitos envolvidos, pois segundo a narrativa

    do professor de Geografia, Eles picham a parede, quebram carteiras...

    Tais atitudes e depoimentos por parte do professor de Geografia e de toda coletividade da

    comunidade escolar - nos fizeram pensar e problematizar: pode ser apenas um problema de

    gesto escolar? Essa condio e situao de depredao, uma responsabilidade que

    envolvem a todos e todas, professores/as, estudantes e familiares? Trabalhar noes

    socioambientais ticas, estticas e polticas, no currculo, nas prticas pedaggicas e na

    criao de ambientes saudveis, limpos e alegres, contribuem com processos de formao

    tica, poltica e sustentvel no cotidiano escolar e na sociedade?

    Segundo Barcellos (2012) para muitos as respostas das questes anteriores, envolvem,

    principalmente, professores/as de Geografia e de Cincias, decorrentes de pensamentos sobre

    educao e escola que remontam a poca dos poderes ditatoriais no Brasil, quando as questes

    de meio ambiente foram designadas para serem abordadas por profissionais capacitados,

    dentre eles, engenheiros, gegrafos, bilogos e qumicos.

    Seguindo o raciocnio de Barcelos (2012), o distanciamento criado entre a educao e o meio

    ambiente uma mentira que com o tempo se tornou verdade, pois com a propagao

    histrica desses pensamentos esse discurso e essa prtica se tornaram discursos de verdade.

    Para fugir desse absolutismo e ampliarmos outras possibilidades de abordagens sobre as

    problemticas socioambientais, apostamos em prticas pedaggicas que podem envolver o

    cotidiano e o ambiente escolar, abordando as relaes e as micro-polticas praticadas nesse

    espaotempo, na qual os prprios estudantes problematizem essas noes de meio ambiente e

    sustentabilidade, a partir das suas relaes cotidianas no espao escolar, contribuindo com a

    formao tica, esttica, poltica e sustentvel.

  • 31

    3.2. As potencialidades de um projeto pedaggico no ensino de Geografia e seus

    atravessamentos com as noes de meio ambiente e sustentabilidade no cotidiano

    escolar.

    Neste tpico do trabalho apresentaremos alguns movimentos e aproximaes relacionadas ao

    ensino de Geografia, a formao de professores/as e as noes de meio ambiente e

    sustentabilidade, trazendo as experincias e prticas pedaggicas de ensino realizadas pelo

    professor de Geografia da escola estudada.

    Nosso desejo, enquanto grupo de licenciandos em Geografia, foi de abordar a Educao

    Ambiental e as noes de meio ambiente e sustentabilidade no contexto do ensino de

    Geografia, a partir das relaes do cotidiano escolar, tendo em vista a relevncia do tema, que

    inclusive reconhecida pelas legislaes referentes educao, principalmente no artigo Art.

    3 da LEI N 9.265 que institui a Poltica Estadual de Educao Ambiental, vemos que A

    Educao Ambiental um componente essencial e permanente da educao estadual,

    devendo estar presente, de forma articulada, em todos os nveis e modalidades do processo

    educativo, em carter escolar e no-escolar.

    Com as narrativas e conversas com o professor de Geografia, foi possvel questionar se j

    ocorria na escola algum projeto com a temtica ambiental. O professor informou ao grupo que

    j trabalhava com um projeto que englobava a educao ambiental, visando analisar a ao

    antrpica no espao natural e geogrfico da cidade de Vitria, e explicando-nos

    detalhadamente o mesmo:

    Aqui no stimo ano ns temos um projeto chamado o entorno de Vitria, s no reparar

    essa baguna, eu cheguei e joguei tudo aqui, mas eu tenho esse projeto e s falta eu

    reestruturar para esse ano, dentro do entorno de Vitria ns temos os objetivos tambm:

    perceber a ao antrpica desordenada em nossa cidade, observando aspectos positivos e

    negativos e suas conseqncias para o espao natural e geogrfico.

    O projeto denominado o Estudando o entorno de Vitria. Utilizando as aulas de campo,

    como metodologia principal e dialogada por outras prticas metodolgicas, foi possvel

  • 32

    contemplar roteiros de estudos ao redor da cidade, com as turmas dos 7 anos do Ensino

    Fundamental.

    Figura 13: Mosaico de imagens com as aulas de campo do projeto Estudando o entorno de Vitria e oficinas

    com exposies interdisciplinares.

    O projeto que o professor desenvolve a partir de prticas pedaggicas de ensino focadas nas

    Aulas de campo, tem como objetivos potencializar e possibilitar os saberes dos estudantes

    em relao aos contextos socioambientais do espao geogrfico e da cidade de Vitria.

    Entre os melhores meios de realizar a prtica, recomendvel colocar os alunos em situao de trabalho, seja individualmente ou em grupo. A proposta levar o aluno

    diretamente ao campo, tomando como ponto de partida o conhecimento prvio,

    alimentado pela teoria e reforado com a observao direta da realidade. (TOMITA, 1999; p.14)

    Nesse sentido, a aula de campo uma metodologia fundamental no processo de ensino de

    Geografia, pois se legitima como eficaz ferramenta metodolgica para a leitura de mundo,

    aguando os sentidos do sujeito para a reflexo sobre contexto cotidiano, e permitindo a conexo entre

    a teoria, discutida em sala de aula, com a prtica desse cotidiano.

  • 33

    As prticas pedaggicas realizadas pelo professor de Geografia da escola, com perspectivas

    ticas, estticas e polticas na educao e no ensino de Geografia, potencializam as relaes de

    convivncia e de negociaes das diferenas entre os sujeitos e suas formas de aprendizagem,

    tendo como dispositivo a criao de momentos de experincias, com os locais, histrias,

    formas e dinmicas do municpio de Vitria. Problematizando: que corpo necessrio, nas

    prticas pedaggicas no ensino de Geografia?

    Este projeto vem sendo trabalhado desde o ano de 2009, com atualizaes permanentes pelo

    professor, tomando como referncia suas experincias anteriores e as experincias com os

    estudantes.

    Como o professor colaborador dialoga tambm, com as micro-relaes e as dimenses locais

    que envolvem as questes socioambientais do municpio de Vitria, nosso grupo entendeu

    que poderamos encontrar elementos para nossos objetivos de pesquisa, ou seja, problematizar

    as noes de meio ambiente e sustentabilidade no contexto do cotidiano escolar a partir de

    prticas pedaggicas no ensino de Geografia.

    As prticas pedaggicas realizadas pelo professor de Geografia envolvem diferentes materiais

    e artefatos culturais disponveis, assim como os usos de diferentes espaos de aprendizagens,

    como laboratrio de informtica, potencializando os saberes produzidos pelos estudantes,

    contextualizando-os com as suas prticas e experincias vividas a partir das aulas de campo.

    As escalas locais e globais entram em dilogos, possibilitando a insero de atividades

    diferenciadas com os estudantes, abordando as problemticas socioambientais do municpio

    de Vitria e as questes relacionadas ao meio ambiente e sustentabilidade, envolvendo

    estudos de monumentos histricos e da paisagem geogrfica, fomentando relaes de

    convivncia e prticas de ensino com a leitura da paisagem, a produo de textos, dentre

    outras atividades coletivas, englobando a paisagem e o espao geogrfico vivido.

    A temtica do nosso trabalho, ganha ares de impulso com o projeto realizado pelo professor.

    As dimenses ticas, estticas, pedaggicas e polticas que permeiam as prticas pedaggicas

    do projeto, e no ensino de Geografia, se aproximam dos objetivos deste trabalho de pesquisa,

  • 34

    no sentido de propormos intervenes pedaggicas, no intuito de exercitarmos outras formas

    de perceber e vivenciar as noes de meio ambiente e sustentabilidade, nas relaes

    praticadas no cotidiano escolar com o projeto Estudando o entorno de Vitria.

    As aulas de campo do projeto so pensadas de forma articulada e complementar, envolvendo

    percursos terrestres e martimos. O terrestre percorre pontos expressivos da Ilha de Vitria,

    tais como a Usina de Lixo, o Parque da Fonte Grande, a Rodoviria, Palcio Anchieta e etc. E

    o martimo, realizado de escuna, proporciona outras formas e vises da ilha, agora vista do

    mar para o continente, seguindo a rota manguezal ou complexo porturio.

    O mais importante a ser ressaltado a possibilidade de conciliar as discusses sobre as

    temticas e contedos propostos, articulando diferentes espaostempos de aprendizagens,

    dentre eles, as salas de aula e laboratrio de informtica, fomentando entre os estudantes,

    outras formas de pensarem suas relaes de convivncia, analisando e problematizando,

    coletivamente, o espao geogrfico da cidade, os lugares e espaos praticados no cotidiano,

    criando outros modos de olhar, entender e praticar o espao.

    Outra singularidade e potencialidade do projeto consiste em trabalhar a multidisciplinaridade,

    visto que o projeto realizado com as demais disciplinas de forma integrada: Educao Fsica,

    Cincias, Histria, Informtica, Artes, Ingls, Portugus e Matemtica. Nas narrativas com o

    professor de Geografia so apresentas as possibilidades pedaggicas de ensino de Geografia a

    partir da interdisciplinaridade.

    A interdisciplinaridade ou transdisciplinaridade ou outras denominaes que colocam,

    chegam ao mesmo padro. muito importante o envolvimento de todas as disciplinas na

    realizao do projeto ou quase todas as disciplinas para que o aluno perceba que vai ter uma

    aplicao disso na realidade. Ento, quando a gente faz um projeto, seja o Entorno de

    Vitria ou temas interdisciplinares, qualquer que seja o projeto dentro da escola, ele tem um

    objetivo, ele tem de alcanar o objetivo. E o objetivo desse projeto que o aluno possa

    colocar em prtica na sua vida, como cidado pleno. O entorno de Vitria um projeto que

    j desenvolvo a mais de seis anos, eu senti a necessidade dos alunos, principalmente da

    periferia, conhecer a sua cidade, conhecer seus monumentos histricos, conhecer o local em

    que convivem, os bairros prximos, adjacentes.

  • 35

    Dessa forma, as disciplinas se entrelaam formando uma teia de saberes, e possibilitando

    que as reflexes dos estudantes no fiquem retidas a apenas um campo disciplinar. Entre as

    atividades elaboradas sobre este momento de campo esto: produes de pinturas dos

    monumentos histricos, paisagens naturais e geogrficas; criao de fotografias e multimdias,

    mostrando diferentes aspectos da paisagem e a complexidade geogrfica da cidade, poemas,

    painis artsticos, exposio de textos elaborados pelos estudantes, professores/as, etc.

    Depois de o grupo ter tomado conhecimento sobre o projeto pr-existente, o professor revelou

    que ele, juntamente com a pedagoga pretendiam construir outro projeto, que promovesse,

    entre estudantes, funcionrio/as professores/as, outros modos de habitar e praticar, os espaos

    fsicos e os usos dos equipamentos, em prol do cuidado com o ambiente escolar.

    Eles relataram as pichaes das paredes, portas, banheiros, a falta de cuidado e respeito pelos

    bens da escola, a poluio sonora no cotidiano escolar, dentre outros problemas de ordem

    relacional. De acordo com a diretora da escola, seria uma grande oportunidade de promover

    uma interveno no cotidiano escolar a partir de princpios ticos, polticos e pedaggicos da

    Educao Ambiental.

    A potencialidade so os prprios meninos eu acho, so um grande potencial de futuro, eles

    comearem a compreender sobre a questo da reciclagem, da separao do lixo, terem essa

    conscincia de separar lixo orgnico, lixo reciclado, no misturar bem aproveitado, eu por

    exemplo em casa separo o meu lixo. uma medida de enfrentamento mesmo, de t fazendo o

    levantamento dos meninos que esto fazendo isso, dos casos de depredao mais grave, como

    pichao das paredes, torneiras, portas, ventiladores quebrados. A gente t levantando os

    meninos que fazem isso e chamando as famlias e responsabilizando-as, pois depredar

    crime, a ns fazemos todas as intervenes pedaggicas.

  • 36

    Figura 14: Imagens demonstrando a depredao dos patrimnios da instituio.

    A pedagoga da escola enfatiza o trabalho realizado pelo professor de Geografia no contexto

    da promoo de um cotidiano escolar mais saudvel para todos e todas, afirmando que O

    Srgio fez a iniciativa dos cartazes educativos pela escola. Nesse sentido o professor nos

    afirma:

    Eu estava colando alguns cartazes,como: jogue lixo no lixo... A escola limpa que eu falo, o

    olhar por exemplo, porque as vezes eles descem, deixam o ventilador ligado, luzes acesas,

    pichaes...eles tem mania de pichar a escola.

    A partir da nos questionamos sobre a gnese dos conflitos e problemas ambientais desse

    cotidiano escolar, eles advm apenas dos estudantes ou de toda comunidade escolar? Isso

    um problema do ser estudante, ou uma questo tica, esttica e poltica de nossos modos de

    ser sociedade na contemporaneidade? Qual a responsabilidade da educao neste

    contexto, pensando-a freireanamente, como um ato poltico?

  • 37

    Diante de todo o contexto com que o professor direciona os seus projetos e a necessidade de

    se vincular uma associao junto ao trabalho aqui presente, pensamos em trabalhar com as

    turmas do 8 ano A e B, onde as abordagens da Educao Ambiental e da Sustentabilidade so

    contempladas no projeto denominado Escola Limpa.

    O grupo viu a oportunidade para pensar, planejar e realizar, com o professor de Geografia e

    com essa turma, prticas pedaggicas que contemplam as nossas relaes cotidianas, na

    atualidade, bem como os efeitos destas relaes na vida cotidiana e planetria, e no prprio

    espao escolar, problematizando as noes de meio ambiente e de sustentabilidade.

    Ao analisar o calendrio letivo junto ao professor que ministra a disciplina de Geografia,

    verificou-se uma incompatibilidade de datas e de tempo hbil. A nossa aposta foi de

    realizarmos prticas pedaggicas, abordando as noes de sustentabilidade e de meio

    ambiente com as turmas do 9 ano, aproveitando os estudos em andamento sobre o tema

    Globalizao, relacionando-o com o contexto do espao e do cotidiano escolar.

    Trabalhar com o 9 ano pressupe estudos de temticas e de contedos curriculares do ensino

    de Geografia, articulado com a atualidade e dinmicas socioambientais, como o caso dos

    contedos relacionados com globalizao, sustentabilidade, impactos e problemas ambientais

    globais, crise hdrica, dentre outras, potencializando algumas problematizaes: quem so os

    responsveis pelos problemas socioambientais? O que meio ambiente e sustentabilidade?

    Qual a nossa responsabilidade tica, poltica, pedaggica e cognitiva, enquanto professores e

    professoras?

    3.3 Prticas de ensino de geografia no cotidiano escolar: problematizando as noes de

    meio ambiente e sustentabilidade

    Ao praticarmos os ritmos da escola e as redes de conversaes tecidas nas relaes cotidianas

    e pedaggicas, percebemos e pudemos constatar prticas de ensino e propostas pedaggicas

    que dialogam com os aspectos geogrficos, histricos e culturais da comunidade escolar. As

    problemticas socioambientais esto em voga nos discursos, na mdia e nas agendas

  • 38

    governamentais, no-governamentais e na sociedade civil, de modo que a comunidade escolar

    pesquisada tambm manifesta o compromisso ambiental, tico, esttico, poltico e

    pedaggico, ao incluir essas temticas em suas prticas pedaggicas.

    Na inteno e no compromisso tico, poltico e pedaggico de discutir e problematizar as

    questes socioambientais, com propostas de prticas pedaggicas, que apostam na escala do

    olhar e do perceber as relaes de convivncia, no espao geogrfico da vida cotidiana

    escolar, nosso grupo props momentos e movimentos que nos faam olhar e perceber nossa

    vida cotidiana como oficinas do viver.

    Essas oficinas do viver supracitadas referem-se a maneira de nos colocarmos diante de todo o

    processo de vivncia do ambiente, tais como as relaes que j ocorrem na escola e as que

    construmos ao longo da nossa presena ao decorrer da interveno. Nesse contexto, mtodos

    como a cartografia inicial do local, as narrativas e a educao ambiental, por ns propostas,

    enrazaram a forma de se relacionar com os sujeitos trabalhados, tal como defende Gonzales e

    Ramos (2014, p.14):

    . Nossos desejos com as pesquisas em EA, numa perspectiva cartogrfica com os cotidianos escolares, esto em habitar espaos de convivncias que intensifiquem

    experincias cooperativas, amorosas e felizes, por meio das Oficinas culturais e das

    Oficinas de mapas, tomadas como Oficinas do viver, provocando conexes, fluxos,

    encontros, cartografias, narrativas, conversas e verdades inacabadas.

    A aposta de trabalhar as temticas da educao ambiental associadas s noes de meio

    ambiente e sustentabilidade no cotidiano escolar, com o ensino de Geografia, trouxe

    indagaes e inquietaes sobre essas abordagens metodolgicas de pesquisa em educao,

    que contemplam a pesquisa com o cotidiano (FERRAO, 2007). Segundo o autor, devemos

    estudar com o cotidiano e no sobre ele, o que segue a linha de raciocnio do presente

    trabalho, onde todos os sujeitos envolvidos na pesquisa caracterizam as redes de

    conhecimento e convivncia:

    Outro aspecto a ser destacado tem por objetivo descaracterizar a idia de redes de fazeressaberes como algo que acontece no cotidiano, como uma dada caracterstica

    ou propriedade do cotidiano. Consideramos cotidiano o prprio movimento de

    tessitura e partilha dessas redes. As redes no esto no cotidiano. Elas so o

    cotidiano! (FERRAO, 2007, p.6).

  • 39

    Ao praticarmos o ambiente e o cotidiano escolar, assim como o trabalho pedaggico e

    educativo do professor de Geografia, percebemos as potencialidades e os movimentos

    possveis para as discusses das problemticas que envolvem nossos objetivos de pesquisa e

    os contextos sociais, econmicos, culturais e geogrficos do campo da pesquisa e dos sujeitos

    envolvidos.

    Assim sendo, concebe-se aqui que o cotidiano escolar uma fonte rica de conhecimento para

    uso da pesquisa cientfica. E que, como afirma Nilda Alves (1998, p.16), ... o cotidiano forma

    um objeto complexo, o que exige tambm mtodos complexos para conhec-lo... preciso realizar

    um mergulho com todos os sentidos no que desejo estudar. Nesse sentido a autora entende que o

    cotidiano vivido um mar de multiplicidade, diversidade, imaginao, memrias,

    experimentaes, saberesfazeres; ela chama tudo isso de espaotempo de saber e criao,

    (ALVES, 1998, p.18).

    Ao se realizar qualquer tipo de interveno, h de se compreender que o cotidiano escolar

    dinmico, complexo, com relaes de saberes, fazeres, desejos e poderes, de maneira que as

    propostas das prticas pedaggicas devem considerar o trabalho j existente na escola, por

    isso se torna de suma necessidade habitar e praticar esse cotidiano, conforme no ensina

    Garcia, citada por Ferrao (2012).

    A prtica, para ns, portanto o critrio de verdade; ela que convalida a teoria. Assim partimos da prtica, vamos teoria a fim de a compreendermos e prtica

    retornamos com a teoria ressignificada, atualizada, recriada, dela nos valendo para

    melhor interferirmos na prtica. (GARCIA apud. FERRAO, 2012, p.12 )

    Ressaltamos que o cotidiano escolar no permeia apenas no contedo didtico, mas envolve

    todos os aspectos que os rodeia. Essa percepo traz uma importncia significativa para se

    pensar uma interveno.

    Tendo sido escolhida a escola EMEF Octaclio Lomba, buscamos destrinchar os meandros do

    cotidiano do campo da pesquisa. Mapeamos e cartografamos o cotidiano escolar e suas

    relaes complexas, afastando-nos de uma representao cartogrfica dotada de polgonos,

    linhas e coordenadas, mas de um mtodo de reconhecimento do lugar, de uma cartografia do

    lugar, a partir das suas micro-polticas cotidianas, prximo das noes de um mapeamento de

    samambaia, como sugere Cristiano Barbosa (2013).

  • 40

    as novas formas de grafar o espao buscam um mapa samambaia, que se propaga por caminhos difusos e aleatrios [] O mapa samambaia se abre para outras possibilidades que vo para alm do ver, do constatar e do mensurar

    como um rizoma aberto a variadas entradas e a conexes mltiplas. (BARBOSA, 2013, p.2).

    Na atitude tica, esttica e poltica adotada por quem aposta nas pesquisas com os cotidianos,

    o local foi percebido, praticado, analisado e mapeado, antes de iniciarmos as prticas

    pedaggicas e considerando a complexidade do cotidiano escolar. Com isso fundimos, nossos

    objetivos e desejos com a pesquisa, com o que j estava em curso na escola, nas prticas

    pedaggicas e curriculares.

    Como so abordadas as problemticas socioambientais no ensino de Geografia, e como essas

    temticas atravessam o currculo escolar e o cotidiano escolar? Essa questo configurou-se

    como nosso principal objetivo nesta pesquisa quando nos propomos a problematizar as noes

    de meio ambiente e sustentabilidade no ensino de Geografia, por meio de prticas

    pedaggicas no cotidiano escolar da EMEF Octaclio Lomba.

    Para alcanar tal objetivo habitamos o cotidiano escolar e aulas de Geografia de uma turma do

    9 ano, de maneira que o campo da pesquisa nos indicou algumas pistas e movimentos para

    pensarmos nos seguintes objetivos especficos: potencializar outros modos de pensar e

    praticar as noes de meio ambiente e sustentabilidade com prticas pedaggicas no ensino de

    Geografia com o cotidiano escolar; e, problematizar os saberes geogrficos, socioambientais e

    pedaggicos produzidos com narrativas, conversas e prticas pedaggicas no ensino de

    Geografia.

    Ao praticarmos os espaostempos do cotidiano escolar nos envolvemos e interferimos num

    ambiente mltiplo, dinmico, instvel, aberto, heterogneo, ressoando conversas, saberes,

    poderes e fazeres dos sujeitos e coletividades que o inventam, tecendo e fazendo tencionar,

    percepes sobre escola, educao e aprendizagem.

    Chegamos para uma conversa com o professor de Geografia. Crianas brincando e sendo

    felizes. Crianas sendo o que so no recreio, sinais de mudanas de aulas, tentativas de fugas

    por partes de estudantes que matam aulas pelos corredores e cantos vazios da escola, o

    cardpio do dia, cada dia um dia... cotidiano escolar.

  • 41

    Como eu no sabia qual seria a proposta de vocs, o que a gente pode fazer hoje, a gente

    pode ir l em cima, vou mostrar a escola pra vocs, vou dar uma volta pra vocs conhecerem

    a escola e a gente vai amadurecendo.

    As conversas foram tecendo as prticas pedaggicas do projeto, assim como as experincias

    do professor parceiro, com as verses anteriores do projeto, contemplando, na medida do

    possvel, as relaes entre as noes de meio ambiente e sustentabilidade com o ensino de

    Geografia.

    Com as conversas tessidas entre os sujeitos praticantes do cotidiano escolar, estabelecemos

    trocas e criamos outros modos de praticar o currculo escolar, pensando como multido

    (Ferrao, 2012), traando redes de saberes e fazeres que contribuem com o ensino de

    Geografia e a formao de professores/as.

    Desse modo, o currculo escolar, como multido e/ou democracia radical, envolve modos de vida coletiva, potencializados pelas conversaes e aes de seus

    praticantes integrados s mltiplas redes de trabalho educativo que incidem sobre o

    contexto escolar. (FERRAO; CARVALHO, 2012, p.4).

    Os estudantes estavam com emoes flor da pele. Os tempos de espera nas salas de

    professores/as, os usos do ptio, corredores, murais, salas de aulas, quadras, refeitrios,

    mesinhas, laboratrio de informtica e sala de vdeo, como multides que embalaram nossos

    objetivos e prticas pedaggicas, inspiradas nas oficinas do viver da vida cotidiana, pensando

    como as problemticas socioambientais as noes de meio ambiente, sustentabilidade e

    educao ambiental, atravessam o fazer pedaggico cotidiano. Foi ento que, indagamos o

    professor Srgio:

    _ Para voc qual a importncia de se trabalhar a educao ambiental na escola?

    _ de extrema importncia trabalhar esse tema, nossos alunos vm de uma cultura que no

    prioriza a educao ambiental. Eles jogam merenda para cima, mesmo tendo lixeira jogam o

    lixo fora dela, riscam as paredes, deixam os ventiladores e luzes ligadas. Minha escola

    precisa urgente de um projeto de educao ambiental, esse assunto bem complexo de se

    expor em algumas linhas.

    _Na sua opinio quais so os maiores desafios e potencialidades de se trabalhar esse tema?

  • 42

    _ envolver todo o corpo docente, trabalhar com comprometimento, trabalhar de forma

    macia para que o aluno absorva a importncia de preservao de nossa escola, o projeto

    poderia se at Projeto Escola Limpa.

    As falas do professor colaborador na entrevista-conversa do o tom do quanto necessrio

    trabalhar para a consolidao da Escola enquanto um espao de convivncia alegre, tico,

    solidrio e sustentvel. Nesse sentido, legitimada a importncia da discusso dessas

    questes no mbito da formao de professores/as, construo do currculo, do projeto

    poltico pedaggico das instituies de ensino. Essa discusso uma atitude tica e poltica

    dos que habitam e praticam o cotidiano escolar, refletindo sobre suas prticas pedaggicas.

    Assim, nosso grupo, pensando na possibilidade de criar esses espaostempos de reflexo

    sobre nossas prticas cotidianas e sobre as noes de meio ambiente e sustentabilidade,

    adotamos como dispositivo, o que denominamos neste trabalho como oficinas pedaggicas,

    apostando nas oficinas com redes de conversaes e na potncia dos saberes transversais

    produzidos com o conversar na convivncia.

    Nossa proposta se consistiu em atividades de envolvimento coletivo, criando espaos de

    convivncia entre estudantes, pesquisadores e professor de Geografia, potencializando redes

    de conversaes com o cotidiano escolar.

    Figura 15: Imagem da primeira oficina pedaggica. Figura 16: Imagem da segunda oficina pedaggica.

    As intervenes que ocorreram no ms de Abril de 2015, com o apoio da escola e do

    professor de Geografia, foram pensadas e articuladas para acontecerem em quatro momentos,

  • 43

    com oficinas pedaggicas como atitude pedaggica, tica, esttica e poltica com as redes de

    conversaes e espaos de convivncia no ensino de Geografia.

    Logo, as propostas comearam a ser formuladas levando-se em considerao os dados

    produzidos com os documentos escolares, as observaes no cotidiano escolar, narrativas,

    conversas, problematizando como as problemticas socioambientais e as noes de meio

    ambiente e sustentabilidade so veiculadas na mdia e nos meios de comunicao.

    Tendo isso em mente as oficinas pedaggicas apostaram no trabalho coletivo e na

    convivncia, potencializando conversas e opinies sobre as noes de meio ambiente e

    sustentabilidade, e apresentando questes relativas responsabilidade socioambiental e

    poltica do governo, das empresas e da populao civil.

    As oficinas ento foram pensadas a partir de questionamentos dos propositores para a turma,

    almejando dessa forma conseguir captar suas opinies com as redes de conversaes.

    Adentrando em nossos objetivos, as oficinas apostaram no exerccio tico e poltico de

    problematizar as questes socioambientais, articulando-as com o cotidiano escolar e o ensino

    de Geografia, criando espaos para indagar: nossa escola sustentvel? Como podemos,

    estudantes, professores/as e comunidade escolar, pensar na escola como um espao do

    convivncia sustentvel, tico, alegre e solidrio?

    Paulo Freire (1996; p.12) salienta: No h docncia sem discncia, as duas se explicam e

    seus sujeitos, apesar das diferenas que os conotam, no se reduzem condio de objeto,

    um do outro. Nota-se que Freire releva nessa passagem a importncia significativa dos

    saberes dos estudantes.

    Com esse ideal a aplicao das oficinas pedaggicas reuniu contedos expositivos atravs de

    metodologias que buscavam a grande interao com os estudantes a partir de algumas

    problematizaes: o que meio ambiente? O que sustentabilidade? Ser que o ambiente

    escolar entra nesse contexto? Quem so os agentes sociais responsveis pelo meio ambiente?

    Qual seria esta responsabilidade? E dentro da escola, quem age sobre o ambiente escolar?

    Quem tem responsabilidade por ele?

  • 44

    Depois de acertados todos os pormenores, o projeto foi escrito para ser apresentado escola, e

    levou o nome de Nosso Ambiente Escolar6. Sendo assim foi iniciado o perodo de

    interveno com a realizao das oficinas.

    6 O projeto Nosso Ambiente Escolar segue em anexo.

  • 45

    4. O POTENCIAL DA EDUCAO AMBIENTAL NOS COTIDIANOS

    ESCOLARES.

    de competncia da Escola, como instituio de formao social, contribuir com a construo

    da cidadania, indo alm das responsabilidades de apenas ensinar os contedos, mas tambm

    cuidar dos alunos, num sentido muito mais amplo. Trata-se de fornecer a eles as

    possibilidades de uma formao a mais completa possvel, o que rene dimenses cognitivas,

    morais, ticas, polticas, etc. (CORDEIRO, 2012). Nesse sentido surge a questo: por qu

    abordar a Educao Ambiental na escola? Quais so as noes de meio ambiente,

    sustentabilidade e educao ambiental que se pretende trabalhar no cotidiano escolar?

    4.1. Perspectivas de Educao Ambiental no contexto escolar

    Sabemos que a educao ambiental uma temtica indispensvel dentro dos currculos

    escolares, sendo esta necessidade, inclusive, validada atravs das legislaes municipais,

    estaduais e a legislao federal. Portanto, ela um componente curricular obrigatrio em todo

    Brasil. Em mbito federal temos a lei No 9.795, de 27 de abril de 1999, que estipula a cerca da

    Poltica Nacional de Educao Ambiental, onde podemos ver que:

    Art. 1o Entendem-se por educao ambiental os processos por meio dos quais o indivduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades,

    atitudes e competncias voltadas para a conservao do meio ambiente, bem de uso

    comum do povo, essencial sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Art. 2o A educao ambiental um componente essencial e permanente da educao nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os nveis

    e modalidades do processo educativo, em carter formal e no-formal.

    No mbito estadual, a lei N 9.625 convalida a Educao Ambiental no solo capixaba, e, no

    municpio de Vitria, essa convalidao est na lei N 8.695. Segundo as Diretrizes

    Curriculares Nacionais da Educao Ambiental (DCNEA), necessrio salientar o papel

    transformador que a Educao Ambiental executa no atual contexto mundial, uma vez que as

    questes e as problemticas socioambientais so motivo de grande preocupao, visto o

    acelerado ritmo de degradao da natureza imposto pelo modelo de produo contemporneo.

  • 46

    Esse papel transformador se concretiza a partir de quando compreende-se que a Educao

    Ambiental no se trata de uma atividade neutra, pois envolve valores, interesses e vises de

    mundo. Sua prtica, portanto, deve possibilitar o entendimento do carter social contido na

    relao do individuo com a natureza e com os outros seres humanos.

    Visto isso, frisa-se que, a educao ambiental preconizada nas nossas legislaes, traz em si

    preocupaes no s com o ambiente natural, fauna, flora e recursos minerais, mas tambm,

    afirma a integrao equilibrada das mltiplas dimenses da sustentabilidade, ambiental, social,

    tica, cultural, econmica, espacial e poltica. Rejeitando portanto, o que Lea Tiriba (2007)

    chama de viso da cincia moderna, onde h uma separao entre Homem (sujeito) e

    Natureza (objeto). A concepo trabalhada aqui entende que o os seres humanos e as relaes

    sociais estabelecidas se do no espao natural, logo fazem parte deste espao.

    Podemos perceber na legislao que, as questes socioculturais se evidenciam como

    preocupaes. Como no Art. 6 da lei municipal 8.695, que diz que A Educao Ambiental

    deve estimular a cooperao, a solidariedade, a igualdade, o respeito s diferenas e aos

    direitos humanos, valendo-se de estratgias democrticas baseadas na equidade e justia

    social.

    Neste caso, Reigota (2012) sintetiza muito bem estes princpios em sua perspectiva sobre a

    educao ambiental. Sem dvida suas construes foram o fio condutor durante todo o

    processo de construo deste estudo. Para Reigota:

    a educao ambiental deve ser entendida como educao poltica, no sentido de que ela reinvindica e prepara os cidados e as cidads para exigir e construir uma

    sociedade com justia social, cidadanias (nacional e planetria), autogesto e tica

    nas relaes sociais e com a natureza (REIGOTA , 2012, p. 14).

    Tambm regido por lei que a educao ambiental no deve ser transmitida de forma isolada,

    disciplinarizada, mas sim de maneira interdisciplinar, transversal, integrada ao cotidiano dos

    discentes, como podemos constatar atravs do art. 6 da lei estadual N 9.265, onde so

    princpios que regem a Educao Ambiental em todos os seus nveis de ensino o pluralismo

    de ideias e concepes pedaggicas na perspectiva da multi, inter e transdisciplinaridade.

    Entende-se aqui que, a transversalidade pressupe um tratamento integrado sobre o saber, o

    que transcende a fragmentao disciplinar. Esse olhar integrado se coloca como uma

  • 47

    necessidade, uma vez que se entende o mundo real e o cotidiano vivido como transversais,

    pois neles os saberes no esto separados por gavetas, mas se encontram e se atravessam

    tecendo o sentido das coisas.

    Compreendendo isso, como a escola e o cotidiano escolar, com suas disciplinas delimitadas,

    formam os estudantes numa perspectiva transversal? H em todas as disciplinas escolares

    espao para se trabalhar as questes pertinentes educao ambiental? Como se

    desenvolveriam as possibilidades de colaborao e articulao entre as disciplinas, distintas

    em seus campos de estudo, no trabalho de uma temtica em comum?

    Tendo isso em vista, compreende-se que, a educao ambiental no deve se constituir na

    escola como uma disciplina em si, mas permear as disciplinas j existentes de forma a

    estabelecer dilogos entre elas. Esse constante exerccio de transversalidade potente para a

    aproximao entre o contedo destrinchado na escola e a complexidade do cotidiano escolar.

    Quando isso se efetiva os estudantes tm o embasamento e estmulo para refletir sobre o

    mundo fora de recortes disciplinares, ou seja, de forma transversal. Nesse sentido, Reigota

    (1996) comenta sobre como a educao ambiental deve consolidar-se dentro do sistema

    educacional, uma vez que:

    A tendncia da educao ambiental escolar de se tornar no s uma prtica educativa, ou uma disciplina a mais no currculo, mas sim se consolidar como uma

    filosofia de educao, presente em todas as disciplinas j existentes, e possibilitar

    uma concepo mais ampla do papel da escola no contexto ecolgico local e

    planetrio contemporneo (...) (REIGOTA, 1996: 47-48).

    Trabalhamos aqui, grupo, estudantes e o professor de Geografia, dentro do espaotempo

    dimensionado das aulas de Geografia, mas as discusses desencadeadas pelas atividades das

    oficinas pedaggicas criaram dilogos e redes de conversaes que transcenderam qualquer

    limite disciplinar.

    As discusses e atividades desenvolvidas permearam temticas pertinentes histria, cincias,

    filosofia, sociologia, incluindo tambm as dimenses e expresses estticas e artsticas com as

    oficinas de fotografia. Vrios saberes e fazeres possveis de serem explorados de maneira

    transversal a partir das prticas pedaggicas propostas com a turma.

  • 48

    Como o nosso foco de estudo foram as problemticas socioambientais e as noes de meio

    ambiente e sustentabilidade no ensino de Geografia, baseamo-nos tambm nas formulaes

    dos Parmetros Curriculares Nacionais para o ensino de Geografia no Ensino Fundamental.

    A compreenso das questes ambientais pressupe um trabalho interdisciplinar. A anlise de problemas ambientais envolve questes polticas, histricas,

    econmicas, ecolgicas, geogrficas, enfim, envolve processos variados, portanto,

    no seria possvel compreend-los e explic-los pelo olhar de uma nica cincia.

    Como o objeto de estudo da Geografia, no entanto, refere-se s interaes entre a

    sociedade e a natureza, um grande leque de temticas de meio ambiente est

    necessariamente dentro do seu estudo.

    Assim como as demais disciplinas, a Geografia escolar tem como prerrogativa curricular e

    pedaggica, as questes socioambientais e a educao ambiental, mas, nota-se que a disciplina

    geogrfica tem um diferencial para efetivar tais discusses pois, como dito por Mendona

    (2004), a Geografia , sem sombra de dvidas, a nica cincia que, desde a sua formao, se

    props ao estudo da relao entre os homens e o meio natural do planeta meio ambiente.

    (MENDONA, 2004, p. 22-23).

    Segundo os PCNs da competncia da disciplina geogrfica analisar as relaes entre

    preservao e degradao do meio ambiente, considerando nessa dinmica a mundializao

    dos fenmenos culturais, econmicos, tecnolgicos e polticos, que afetam a natureza em

    diversas escalas - local, regional, nacional e global.

    Possibilitando, nestas abordagens, o entendimento das causas, efeitos, intensidade,

    intencionalidade e o contexto espacial dos fenmenos que afetam o meio ambiente, buscando

    estabelecer bases de apoio aos estudantes para que possam desenvolver outros modos de

    pensar e praticar as noes de maio ambiente e sustentabilidade em suas prticas e viven