MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como...

15
MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: ITUIUTABA-MG (DÉCADAS DE 1950 E 1960) Isaura Melo Franco Universidade Federal de Uberlândia- UFU/CAPES [email protected] Sauloéber Tarsio de Souza Universidade Federal de Uberlândia - UFU [email protected] Palavras-chave: Cultura Estudantil. Ituiutaba. Décadas de 1950 e 1960. O presente trabalho decorre de pesquisa de mestrado vinculada ao Programa de Pós- Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia-MG, linha de História e Historiografia da Educação. Temos como objeto de estudo a cultura estudantil secundarista no município de Ituiutaba no período entre as décadas de 1950 e 1960, momento de intensa atividade dos organismos dos estudantes, em sua maioria representantes do ensino secundário. Esse período caracteriza-se pela projeção dessa categoria como elemento social atuante por todo o país, assim, buscaremos refletir sobre o perfil dos clubes e grêmios lítero-educativos, os limites e possibilidades de suas ações, bem como as representações construídas em torno deles e veiculadas pela imprensa local. Construímos nosso referencial teórico, também a partir do conceito de cultura escolar dentro de uma abordagem histórica, sendo entendida como um conjunto de normas que determinam conhecimentos a serem ensinados e condutas a serem incorporadas, e um conjunto de práticas que permitem a difusão desses conhecimentos e a inclusão desses comportamentos (JULIA, 2001). Nesse sentido, projetando tal conceito sobre nosso objeto, acreditamos que a cultura estudantil é constituída por conjunto de práticas e princípios comuns aos grupos de estudantes localizados em determinados contextos espaciais e temporais, influenciando em suas ações e visões de mundo. Desse modo, nosso principal objetivo constitui-se em identificar parte do cotidiano e das sociabilidades escolares que deram forma a cultura dos estudantes no contexto acima apresentado. Acreditamos que a importância desse estudo se deve parcialmente pelo ineditismo do tema, já que a historiografia da educação brasileira ainda conta com poucos

Transcript of MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como...

Page 1: MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré (cuja música ‘Pra não dizer que não falei

MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: ITUIUTABA-MG (DÉCADAS DE 1950 E 1960)

Isaura Melo FrancoUniversidade Federal de Uberlândia- UFU/CAPES

[email protected]

Sauloéber Tarsio de SouzaUniversidade Federal de Uberlândia - UFU

[email protected]

Palavras-chave: Cultura Estudantil. Ituiutaba. Décadas de 1950 e 1960.

O presente trabalho decorre de pesquisa de mestrado vinculada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia-MG, linha de História e

Historiografia da Educação. Temos como objeto de estudo a cultura estudantil secundarista no

município de Ituiutaba no período entre as décadas de 1950 e 1960, momento de intensa

atividade dos organismos dos estudantes, em sua maioria representantes do ensino secundário.

Esse período caracteriza-se pela projeção dessa categoria como elemento social atuante por

todo o país, assim, buscaremos refletir sobre o perfil dos clubes e grêmios lítero-educativos,

os limites e possibilidades de suas ações, bem como as representações construídas em torno

deles e veiculadas pela imprensa local.

Construímos nosso referencial teórico, também a partir do conceito de cultura escolar

dentro de uma abordagem histórica, sendo entendida como um conjunto de normas que

determinam conhecimentos a serem ensinados e condutas a serem incorporadas, e um

conjunto de práticas que permitem a difusão desses conhecimentos e a inclusão desses

comportamentos (JULIA, 2001).

Nesse sentido, projetando tal conceito sobre nosso objeto, acreditamos que a cultura

estudantil é constituída por conjunto de práticas e princípios comuns aos grupos de estudantes

localizados em determinados contextos espaciais e temporais, influenciando em suas ações e

visões de mundo.

Desse modo, nosso principal objetivo constitui-se em identificar parte do cotidiano e

das sociabilidades escolares que deram forma a cultura dos estudantes no contexto acima

apresentado. Acreditamos que a importância desse estudo se deve parcialmente pelo

ineditismo do tema, já que a historiografia da educação brasileira ainda conta com poucos

Page 2: MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré (cuja música ‘Pra não dizer que não falei

estudos em relação ao desvendamento da cultura que circulava na educação secundária no

período entre 1930 e 1960 (SOUZA, 2008).

Para a execução deste trabalho consideraremos alguns princípios comuns ao oficio do

historiador, pois se trata de um estudo pertencente à historiografia da educação, a qual

necessita de um forte rigor metodológico encontrado no campo da história. Logo, devemos

ressaltar que: “[...] a história da educação como especialização da história não é uma refutação

da pedagogia. É um deslocamento que cria um novo ângulo de apreensão das questões

pedagógicas saturadas de historicidade” (NUNES; CARVALHO, 2005, p. 31-32). Desse

modo, ponderamos a importância da abertura da área da educação ao diálogo com outras áreas

do conhecimento cientifico como forma de contribuição para a expansão da compreensão dos

fenômenos humanos.

Nosso objeto de estudo, faz parte de uma renovação temática que vem sendo

desenvolvida atualmente nas pesquisas historiográficas. Pois concordamos com a perspectiva

defendida pelo historiador francês Michel de Certeau (1979, p.35), a qual nos indica que:

O historiador não é mais um homem capaz de construir um império. Não visa mais o paraíso de uma história global. Ele aí vem circular em torno de racionalizações adquiridas. Trabalha nas margens. Sob esse ponto de vista, torna-se um andarilho. Numa sociedade favorecida pela generalização, dotada de poderosos meios centralizadores o historiador avança na direção das fronteiras das grandes regiões exploradas.

Nesse sentido, pretendemos dar voz e vez aos jovens estudantes de uma cidade

interiorana, distante dos grandes centros urbanos do país, até porque a grande maioria dos

estudos sobre o movimento estudantil no Brasil se refere as capitais, principalmente ao eixo

Rio - São Paulo. Logo buscamos valorizar a memória da cultura vivenciada por estes sujeitos,

relacionado sempre o contexto local com o nacional, já que se trata de um período de grande

efervescência política e social dos movimentos estudantis.

Por consideramos a cultura estudantil como algo intrínseco a sociedade que a permeia,

já que entendemos que a atuação dos estudantes não é um fato isolado na sociedade,

destacaremos a importância do estudo do cenário político-social nacional da época analisada,

tendo sempre em vista a relação entre micro e macro, pois acreditamos que o particular é

expressão do desenvolvimento geral.

Na década de 1950, merece destaque o debate sobre nossa primeira LDBEN (Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional) n. 4024/61. A discussão sobre esta se iniciou

Page 3: MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré (cuja música ‘Pra não dizer que não falei

quando o ministro da educação e saúde pública do governo Dutra (1946-1951), Clemente

Mariani, constitui uma comissão para elaborar o anteprojeto da LDB, visando atender a um

dos dispositivos da Constituição de 1946, que mencionava a competência da União para

legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Mas o então deputado e ex-ministro

Gustavo Capanema, vendo no projeto a expressão de uma rivalidade política, elaborou

parecer em 1949 que resultou no arquivamento do projeto. Somente em 1957, foram

retomadas as discussões sobre este, marcadas pelo conflito entre escola pública e escola

particular. Assim a promulgação de nossa primeira LDB ocorreu somente em 1961,

representando o equilíbrio entre os defensores da escola pública e da privada. (SAVIANI,

2007).

Nossa primeira LDB (1961) teve orientação liberal de caráter descentralizador,

concedeu autonomia aos Estados para a organização de seus sistemas de ensino, além de

garantir a equivalência plena aos diversos ramos do ensino secundário que passaram a dar

acesso a qualquer carreira do ensino superior. Por outro lado, beneficiou amplamente a

iniciativa privada e não criou condições que possibilitassem a universalização da educação.

Na década de 1960 destaca-se a chegada dos militares ao poder, por meio do golpe

militar que impôs a deposição ao presidente João Goulart em 31 de março de 1964, ocorrendo

uma ruptura política para a manutenção da ordem socioeconômica do capitalismo de mercado

associado dependente.

Com o advento da ditadura, o discurso progressista e revolucionário foi censurado

pelo conservadorismo, pela voz da “Ordem”, da “Moralidade”, da “Pátria” e da “Família”. A

primeira resposta à ditadura foi o musical Opinião, em dezembro de 1964, com Nara Leão, Zé

Kéti e João do Vale, acompanhado pela idéia de que a arte seria “tanto mais expressiva”

quanto mais tivesse uma opinião, um conteúdo político. Expressava os sentimentos de toda

uma geração de intelectuais, artistas e estudantes, que sonhavam com a aliança entre povo e

intelectual, o sonho da revolução nacional e popular. No teatro a peça “Liberdade, Liberdade”

realizada pelo Teatro de Arena e no cinema o filme “Opinião Pública” de Jabor também

traziam o debate político como essência, explorando novas linguagens para driblar a repressão

militar. Nessas atividades de militância política e cultural propunha-se “[...] política externa

independente”, “reformas estruturais”, “libertação nacional”, “combate ao imperialismo e ao

latifúndio” (HOLLANDA e GONÇALVES, 1999, p.14).

Outros autores também destacam a ocorrência dessas manifestações culturais que

representaram contestação ao regime antidemocrático, assim como é revelado a seguir:

Page 4: MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré (cuja música ‘Pra não dizer que não falei

[...] apesar da repressão e da censura, o país vive um período de efervescência cultural, notadamente na área da música popular e do teatro. A partir de 1965, têm início os festivais de música e com eles o surgimento de compositores como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré (cuja música ‘Pra não dizer que não falei de flores’ encarna o sentimento antiditadura dos estudantes de todo o país), Milton Nascimento, Gilberto Gil, Caetano Veloso etc. Como contraponto surge também Roberto Carlos – o ‘rei da jovem guarda’ – cuja música é mais comercial e desvinculada de preocupações políticas. No teatro Millôr Fernandes, José Celso Martinez, Oduvaldo Viana Filho (Vianinha), Chico Buarque e outros foram responsáveis por espetáculos como o ‘Show Opinião’, ‘Liberdade-Liberdade’ e ‘Roda-Viva’ de forte cunho político. Contudo, o terrorismo de direita não dá sossego a esses grupos de teatro (GERMANO, 2005, p. 116).

Esse clima de agitação cultural, vivenciado nos anos de 1960 “[...] se deu juntamente

com a transformação dos comportamentos, o surgimento das novas esquerdas, com a

crescente insatisfação das classes médias intelectualizadas em relação ao regime, com o

crescimento da população universitária e com as revoltas estudantis” (GROPPO, 2000, p.

286). Os processos de contestação ao governo além da veiculação no teatro, cinema e na

música, também foram perceptíveis em outras artes como a literatura, a poesia e as artes

plásticas. Entretanto, esses grupos de artistas politizados também foram perseguidos pelo

sistema repressor.

Nesse cenário, o governo militar, com o objetivo de manter a ordem socioeconômica

existente exerceu severa repressão contra a sociedade civil, acusando o movimento estudantil

de subversivo e de possuir ideais comunistas, devido à contestação, principalmente pela UNE,

do agravamento das desigualdades sociais provocado pelas alterações políticas e com reflexos

no sistema educacional.

Logo, surgiram os acordos MEC-USAID entre o Ministério da Educação (MEC) e a

United States Agency for International Development (USAID), que visavam dar assistência

técnica e reorganizar o sistema educacional brasileiro, de acordo com os interesses do

capitalismo internacional.

Assim esses acordos, que permeavam todos os níveis educacionais, obedeciam a um

plano de dominação ideológica e cultural do Brasil e de toda a América Latina. No ensino

primário, esses convênios conseguiram uma maior dominação, devido aos contatos dos norte-

americanos com os governos estaduais. Já o ensino médio foi a parte mais difícil de atuação

destes, pois nesse nível a maior parte das instituições eram pertencentes à iniciativa privada.

No ensino superior, a autonomia das universidades conseguiu por muito tempo conter a

completa dominação desses convênios (POERNER, 1995).

Page 5: MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré (cuja música ‘Pra não dizer que não falei

De modo geral, a entrega da reorganização do sistema educacional aos técnicos norte-

americanos, serviram para agravar ainda mais a crise educacional (ROMANELLI, 2007).

A participação dos estudantes foi importante para que a educação brasileira não fosse

totalmente entregue ao controle dos Estados Unidos, visto que: “[...] a reação estudantil, o

amadurecimento do professorado e a denúncia de políticos nacionalistas com acesso à opinião

pública evitaram a total demissão brasileira no processo decisório da educação nacional”

(CUNHA & GÓES, 2002, p.32).

O governo ditador, também empreendeu as reformas educacionais 5.540/68 e

5.692/71, que visavam ajustar a educação às exigências do mercado de trabalho.

De um modo geral, podemos afirmar que um dos graves problemas das reformas

educacionais empreendidas no período estudado foi o baixo investimento financeiro na escola

pública e o favorecimento da ampliação da rede privada.

O marco temporal de nosso estudo foi delimitado a partir do entendimento de que as

medidas na educação escolar são sempre relacionadas a questões de ordem política, de forma

que o estudo sobre as décadas de 1950 e 1960 se torna bastante relevante, pois são anos

marcados por efervescência política e social. Sendo necessário destacar que as ações

estudantis tiveram grande repercussão nas lutas sociais e políticas do país, com destaque para

a União Nacional dos Estudantes (UNE), que exerceu oposição ao governo militar.

Quanto à metodologia, utilizamos como fonte primária de pesquisa a leitura de jornais

locais do período correspondente, tendo como base a premissa de que estes representam um

produto cultural de sujeitos específicos em determinado contexto histórico (AMARAL, 2011).

Pois possibilitam a análise das manifestações da época de uma forma cotidiana, aproximando-

nos de discursos que permeavam determinada conjuntura.

Embora os jornais tenham sido considerados durante algum tempo fontes suspeitas de

pesquisa, como demonstra sua pouca utilização em estudos até a década de 1970, por estarem

vinculados a interesses subjetivos, consideramos que a utilização dos jornais como fonte de

pesquisa é um rico manancial para os estudos historiográficos. Pois apresentam o movimento

da história de uma forma cotidiana, transmitindo e gerando novos acontecimentos no contexto

de suas produções, sendo imbuídos de significações e representações sociais, que

devidamente analisadas, funcionam como importantes instrumentos desveladores do contexto

investigado.

Em relação à utilização do conceito de representação nesse estudo, recorremos ao

sentido atribuído por Chartier (1990), o qual entende as representações como elementos de

Page 6: MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré (cuja música ‘Pra não dizer que não falei

transformação do real e que atribuiriam sentido ao mundo. A construção desse sentido ou

simbolismo social não ocorreria dentro de uma liberdade absoluta, pois as representações

necessariamente, teriam em sua concepção, um fundo de apoio nas condições reais de

existência, ou seja, as idéias-imagens possuiriam um mínimo de concreticidade extraída do

cotidiano para que tivessem aceitação social, de forma que:

As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinados pelos interesses de grupo que as forjam. Daí, para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos proferidos com a posição de quem os utiliza. As percepções do social não são de forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a impor uma autoridade à custa de outros, por ela menosprezados, a legitimar um projeto reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas (CHARTIER, 1990, p.17).

Desse modo, consideramos que as representações veiculadas pelos jornais não são

discursos neutros, pois apresentam linguagens que aspiram aos interesses e visões de mundo

de certos grupos ligados a esses veículos de comunicação.

Assim as representações presentes nesses periódicos permitem abordagens mais

amplas em relação ao fenômeno educacional, possibilitando o estudo de concepções

pedagógicas e ideologias que circulavam pelo imaginário da população local. Dessa forma,

sua importância está no fato de que, como afirmou Capelato (1988) sua atividade não consiste

apenas em transmitir, mas, igualmente, em gerar acontecimentos, compondo-os com

elementos de uma visão bastante particular do mundo, somatória de subjetividade e de

interesses aos quais o jornal está vinculado.

De modo geral, acreditamos que assumir o jornal como fonte para a pesquisa histórica

não significa pensá-lo como receptáculo de verdades. Ao contrário, deve-se pensá-lo a partir

de suas intencionalidades, pois é uma fonte parcial, fragmentária e carregada de

subjetividades.

Nesse sentido, consideramos que os jornais devem ser investigados de forma

científica, considerados como documentos-monumentos, pois como afirma Le Goff (1995),

estes são produtos da sociedade que os produziu de acordo com as relações de força

existentes, necessitando que os pesquisadores possuam uma visão crítica sobre a fonte

utilizada.

Além disso, torna-se importante nos atentar aos ensinamentos de Carlo Ginzburg,

referindo-se as raízes de um paradigma indiciário modelador das ciências humanas, os quais

Page 7: MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré (cuja música ‘Pra não dizer que não falei

nos revelam que o trabalho historiográfico exige a consideração de vestígios, pequenos

detalhes, sinais que também são representativos de uma dada realidade histórica, caminhando

lado a lado com um rigor flexível, considerando-se que: “Ninguém aprende o ofício de

conhecedor ou de diagnosticador limitando-se a pôr em prática regras preexistentes. Nesse

tipo de conhecimento entram em jogo [...] elementos imponderáveis: faro, golpe de vista,

intuição” (GINZBURG, 1989, p.179). Assim buscamos nesse trabalho, além de um forte rigor

teórico e metodológico, desenvolver uma sensibilidade aguçada para o desvelamento e análise

de questões específicas ao nosso objeto de estudo.

Consultamos às coleções dos seguintes jornais: “Gazeta de Ituiutaba”, “Folha de

Ituiutaba”, “Correio do Pontal”, “Correio do Triângulo”, “Cidade de Ituiutaba” e “Município

de Ituiutaba”, todos com veiculação nesse período, constantes do acervo da Fundação Cultural

de Ituiutaba. Mesmo considerando-se que nesse arquivo as coleções dos jornais não estavam

completas, foram analisadas mais de 530 notícias sobre o universo escolar entre os anos de

1949 e 1970.

Em seguida, utilizamos à história oral, por julgarmos que esta metodologia de pesquisa

é um poderoso recurso para a investigação histórico-educativa, tendo em vista que esta: “[...]

permite o registro de testemunhos e o acesso a histórias dentro da história e, dessa forma,

amplia as possibilidades de interpretação do passado” (ALBERTI, 2006, p.155). Assim,

acreditamos que à história oral é uma rica fonte para a pesquisa à medida que valoriza a

memória dos sujeitos envolvidos em determinados acontecimentos sucessíveis de serem

historicizados.

Desse modo realizamos entrevistas semi-estruturadas a um dos antigos proprietários e

editores dos jornais pesquisados e a alguns dos ex-representantes do movimento estudantil

local do período analisado. Levando em consideração o fato de que os sujeitos a serem

entrevistados nesse estudo, se encontram atualmente em uma faixa etária superior a 60 anos

de idade, trabalharemos com a memória de pessoas idosas, considerando que:

[...] no estudo das lembranças das pessoas idosas [...] é possível verificar uma história social bem desenvolvida: elas já atravessaram um determinado tipo de sociedade, com características bem marcadas e conhecidas; elas já viveram quadros de referência familiar e cultural igualmente reconhecíveis: enfim, sua memória atual pode ser desenhada sobre um pano de fundo mais definido do que a memória de uma pessoa jovem, ou mesmo adulta, que de algum modo, ainda está absorvida nas lutas e contradições de um presente

Page 8: MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré (cuja música ‘Pra não dizer que não falei

que a solicita muito mais intensamente do que a uma pessoa de idade (BOSI, 2007, p.60).

Nesse sentido, ponderamos que estudar a memória de pessoas idosas, as quais se

ocupam mais conscientemente de seu passado, contribuirá para o desvelamento de fragmentos

e representações que compõem o contexto investigado.

Dessa forma, compartilhamos do entendimento de que as lembranças das pessoas mais

velhas devem ser valorizadas, por fatos lógicos, pois nossa cultura e educação contêm

infinitos aspectos que são repassados por essas pessoas às gerações mais jovens,

contemplando assim o homem como sujeito histórico, social e cultural.

Recorremos também à leitura das Atas da Câmara Municipal de Ituiutaba, referente às

décadas de 1950 e 1960, as quais revelam embates e ações políticas discutidos nas reuniões

entre prefeito e vereadores locais.

Em relação à análise de nosso objeto de estudo, a leitura dos jornais locais apontou

que na década de 1950, o município contava com várias organizações estudantis, como a UEI

- “União Estudantil de Ituiutaba”, o “Clube Estudantil Rui Barbosa de Ituiutaba”, o “Clube

Estudantil Ituiutabano”, o Grêmio “Lítero-educativo” pertencente ao Colégio Santa Tereza e o

grêmio “Lítero-educativo” do Educandário Ituiutabano.

Observamos que as comemorações cívicas eram comuns no meio estudantil tijucano,

como verificamos nas matérias: “21 de Abril no Educandário Ituiutabano – Educandário abre

suas portas para que todos assistam a comemoração do dia 21 de Abril pelos estudantes”, do

Jornal “Correio do Pontal” de 25/04/1958; e “Exaltada a memória de Tiradentes no Ginásio

São José”, do Jornal “Folha de Ituiutaba” de 26/04/1958, a qual anunciava a realização de

uma “festinha lítero-musical” dos alunos da instituição em comemoração ao dia de Tiradentes

. Esperava-se do estudante sua dedicação integral aos interesses da pátria, elemento de

sedimentação dos princípios da nação brasileira, juntamente com o fortalecimento da

instituição familiar e a tradição cristã do povo.

A veiculação pela sociedade tijucana da época de valores morais, cívicos e patrióticos

no meio estudantil, era um fator comum nesse período no Brasil que vivia a propagação da

ideologia do nacionalismo desenvolvimentista, a qual estimulava a valorização de princípios,

características e símbolos nacionais para o desenvolvimento do país.

Page 9: MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré (cuja música ‘Pra não dizer que não falei

Constatamos que a maior parte dos dirigentes estudantis em Ituiutaba, era composta

por estudantes do sexo masculino do ensino médio. As exceções eram os Grêmios “Lítero-

educativos” divulgados a cada ano, pertencentes ao Colégio Santa Tereza, que era uma

instituição confessional com cobrança de mensalidades, destinada à escolarização de

estudantes do sexo feminino. Ainda nos anos de 1950 às mulheres era permitido muito menos

que aos homens, não se via com bons olhos a atuação feminina na política estudantil,

especialmente nas localidades interioranas e tradicionais.

Em decorrência do cruzamento de fontes, leitura dos jornais locais e das atas

municipais, percebemos que o proprietário do jornal “Correio do Pontal” que circulou entre

(1955-1959), era também vereador em Ituiutaba no governo de Antonio Martins (1955-1959),

justamente no mesmo período de circulação do jornal, e foi acusado por vereador de outro

partido político, de utilizar seu jornal em favor de seus interesses políticos, como confirma ata

da Câmara Municipal de Ituiutaba da reunião do dia 19/11/1955. Logo, concordamos com

Wirth (1982, p.131), por entendermos que:

A imprensa local foi outro marco do regionalismo mineiro [...] Geralmente pertencia ao chefe político local, cujo domínio era disputado por um chefe rival com sua própria imprensa. Fica evidente que os jornais desempenharam uma função primordial na política local. Como foro para o combate verbal, a imprensa deu às celebridades locais um meio de sustentar a violência em nível menor, sem tiroteios ou assassinatos [...] A imprensa foi um pilar para a política, comércio e cultura no centro de gravidade do estado, a nível local.

Desse modo, destacamos a utilização de parte da imprensa local, nos anos de 1950,

como veículo representativo de determinados anseios políticos.

Na década de 1960, podemos destacar o surgimento de novas entidades estudantis

como: o “Comitê Estudantil masculino pró Lott; o “Movimento Estudantil Unido de

Ituiutaba”; a Liga Ituiutabana de Esportes Colegiais (LIEC); o grêmio estudantil “Visconde de

Cairú”; e o grêmio “Pe. Gaspar Bertoni”. Além da reestruturação do grêmio Lítero-recreativo

“Profº. Álvaro Brandão de Andrade” e permanência da existência da “União Estudantil de

Ituiutaba” e do grêmio “Bernardo Guimarães”.

Percebemos por meio dos jornais consultados, desde a década de 1950 até os anos

iniciais de 1960, o engajamento político de parte dos estudantes em Ituiutaba, dentre as

matérias jornalísticas que revelam tal característica, destacamos a seguinte, pertencente ao

Jornal “Folha de Ituiutaba” de 10 de julho de 1963:

Page 10: MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré (cuja música ‘Pra não dizer que não falei

Nesta notícia, verificamos a manifestação de estudantes secundaristas que

denunciavam o descaso político estadual e federal por obras públicas na região, e alertavam o

então governador do Estado José Magalhães Pinto, por meio de telegrama enviado para a

tomada de urgentes providencias, e a ocorrência do fato à população local através da

imprensa.

Observamos também pela imprensa tijucana a exaltação dos nomes de jovens

ituiutabanos que estudavam em outras localidades, como demonstram as seguintes matérias

do jornal “Folha de Ituiutaba”: “Candidatos de Ituiutaba aprovados nos vestibulares de

Direito”, (04/03/1959) – divulgação dos nomes de aprovados no vestibular realizado em

Uberaba; “Estudantes de Ituiutaba brilham em São Paulo” – jovens ituiutabanos estudando em

São Paulo organizaram equipe de futebol de salão”, (24/05/1961); “Diretório Acadêmico 21

de Abril – o diretório da Faculdade de Direito em Uberlândia tem estudante tijucano na

presidência, (22/02/1964). Tal fato foi justificado, por meio dos depoimentos colhidos, por

serem esses jovens estudantes em sua maioria, pertencentes à classe social privilegiada com

preocupações pequeno burguesas. Realidade esta comum a nível nacional, visto que neste

período o acesso à educação escolar se restringia a uma pequena parcela da sociedade

brasileira.

Na cultura estudantil tijucana dos anos de 1950 e 1960 também estava presente à

circulação de periódicos estudantis como os jornais: “A Voz dos Estudantes” do Clube

Estudantil Rui Barbosa, “Tribuna Estudantil” da UEI, “Sentinela do Estudante” dos alunos

dos colégios Santa Tereza e São José, além da coluna “Vida Estudantil” presente no jornal

“Correio do Triângulo” no período entre maio a outubro de 1964.

Encontramos anexado ao Jornal “Correio do Triângulo” de 09/08/1964, um exemplar

do jornal “Sentinela do Estudante”, apresentado como “porta-voz do Colégio São José”, em

Page 11: MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré (cuja música ‘Pra não dizer que não falei

edição de agosto de 1964, ano dois, n. 3, em que estão anunciadas festas religiosas,

homenagens dos alunos ao dia dos pais, ao aniversário de Ituiutaba que completaria 63 anos e

aos padres. Além de colunas humorísticas em relação ao futebol, “Fatos e Boatos” sobre a

vida pessoal de professores e alunos dos Colégios São José e Santa Tereza, palavras-cruzadas

e diversos artigos sobre o posicionamento de alunos referente a normas de conduta aceitáveis

pela sociedade tijucana da época.

Em análise desses pronunciamentos estudantis, nos chamou atenção o artigo: “O que

eu penso das mulheres” escrito pela estudante Leila Maria do Colégio Santa Tereza, em que

está explicitamente declarada uma concepção de educação feminina propagada desde o Brasil

Colônia, favorável a formação moral das mulheres para serem mães e esposas, como podemos

verificar a seguir:

Todo homem que se considera um candidato a felicidade, deve ter cautela na escolha de sua companheira e colocar em primeiro plano as qualidades morais da criatura e não as físicas: estas passageiras, aquelas a garantia do sêlo de uma perfeita felicidade conjugal, ao lar, ao esposo e aos filhos que vierem e que transformem sua casa num santuário onde o marido possa repousar ao regressar do trabalho, enfim um misto de espôsa e mãe, uma mulher que compartilhe com o marido seus momentos de alegria e amargura e que não troque seu lar pelas futilidades do mundo (“Correio do Triângulo”, 16/09/1964).

Artigos como esse eram comuns no meio estudantil em outros estados brasileiros, pois

refletiam uma concepção de educação moralizante presente no país nesse período, como

afirma Souza (2008, p.200) em relação ao estudo sobre a cultura escolar da década de 1950

em São Paulo.

As representações sobre a mulher também aparecem nos jornais estudantis [...] e remetem ao lugar reservado a ela no lar, destacando suas virtudes e qualidades de mãe e esposa. [...] a empreitada da moralização é acentuada, tanto para mulheres quanto para homens, reproduzindo por assim dizer, as regras de conduta consideradas socialmente exemplares.

É necessário ressaltar que a educação da mulher para ser mãe e esposa, dentro de

preceitos morais, era defendida por vários setores da sociedade brasileira, como a Igreja

Católica e o governo que defendiam uma visão tradicional de família.

Outro artigo analisado foi “Amai-vos uns aos outros”, de José Rocha em que

percebemos a emulação de valores cristãos para a disciplinarização das condutas dos jovens

estudantes, no que se refere à relação professor-aluno, como é verificado abaixo:

Page 12: MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré (cuja música ‘Pra não dizer que não falei

São como um corpo os professores e alunos. Cada membro recebe as alegrias e tristezas [...] É necessário seguir uma linha de retidão que se abre à nossa frente ou corremos o sério risco de nos tornarmos coveiros da alegria na comunidade. Todavia o cúmulo do desaforo é querermos capacitar-nos de toda razão, e longe de arrependermos das faltas, culpar os outros; equivale a submeter o próximo as mais duras provações (“Correio do Triângulo”, 16/09/1964).

Percebemos que a educação moral estava em íntima ligação com princípios cristãos,

como verificamos também em outros artigos presentes em jornais locais, dentre estes: “O

Ensino – aproximação de Deus Celestial”, Jornal “Folha de Ituiutaba” de 17/06/1959 e

“Educar os filhos quer dizer conduzi-los a Cristo”, mensagem do Colégio Normal Santa

Tereza divulgada pelo Jornal “Cidade de Ituiutaba” de 16/09/1967. Com estas, podemos

observar a veiculação de uma concepção de educação condizente com a formação de cidadãos

cristãos.

Nos anos de 1960 também era freqüente na imprensa local a veiculação de artigos que

valorizavam a exaltação do patriotismo entre os estudantes, como revelam os seguintes: “De

Rui Barbosa a Estudantes Brasileiros”, mensagem do jornal “Correio do Triângulo” de

17/05/1964, ressaltando a importância da propagação de ideais patrióticos no meio estudantil;

e “Civismo na Universidade” do Jornal “Cidade de Ituiutaba” de 14/10/1967, o qual

salientava a necessidade de veiculação de princípios cívicos e cristãos entre os estudantes para

o afastamento do materialismo, de teorias subversivas e marxistas. Assim, observamos a

difusão nesse jornal de ideais que visavam à conformação dos estudantes ao regime militar e à

ordem social capitalista vigente, utilizando para essa finalidade a doutrina cristã. Tal discurso

era comum pelas forças hegemônicas do país nesse período, visto que o golpe militar recebeu

apoio das autoridades mais influentes da Igreja Católica, as quais temiam a instalação de

presença comunista no Brasil.

De acordo com os depoimentos colhidos, salientamos que as ocasiões em que os

estudantes desenvolveram práticas culturais em sintonia com a comunidade local, superando o

espaço escolar, como a atuação do movimento estudantil, os torneios esportivos, as festas

cívicas e a imprensa estudantil, representaram importantes possibilidades de socialização para

os alunos secundaristas do período em questão.

A guisa de conclusão, ressaltamos que este estudo nos possibilitou desvendar parte do

cotidiano e das sociabilidades escolares que deram forma a cultura estudantil presente em

Ituiutaba-MG nos anos de 1950 e 1960 como: as principais ações realizadas pelos líderes

estudantis, além de suas relações com as forças políticas e com a imprensa; os processos

Page 13: MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré (cuja música ‘Pra não dizer que não falei

envolvidos, como a escolha da diretoria das entidades estudantis locais, que aconteciam na

maioria das vezes por eleições que tinham destaque nos jornais da época; a valorização

cultural da divulgação dos trabalhos dos estudantes e de professores, assim como o prestígio

social dos estudantes dos níveis secundário e universitário; a propagação de ideais cívicos,

patrióticos, morais e cristãos no meio estudantil em Ituiutaba; o perfil das entidades estudantis

do município que apresentavam caráter social e desportivo, com a valorização do exercício

esportivo, a promoção de ações culturais e a preocupação com causas assistencialistas; a

identificação de algumas idéias relativas à educação profissional; e o controle dos órgãos

estudantis nos anos de 1960 por membros e setores externos a classe.

De acordo com os jornais consultados, percebemos uma mudança no perfil do

estudante/aluno após a implantação da ditadura civil-militar em 1964. Visto que,

anteriormente ao golpe militar, as matérias jornalísticas ressaltam estudantes secundaristas e

universitários com participações políticas ativas por meio de reivindicações aos governantes.

Situação esta que muda com a consolidação do novo regime político, em que a classe

estudantil surge nas páginas dos jornais de forma adequada ao sistema autoritário, não

apresentando nenhuma exigência ou contestação as forças políticas instituídas, mas

preocupada com atividades recreativas e assistencialistas. Fazendo-nos acreditar que a cultura

estudantil tijucana foi marcada por atividades que conformaram os estudantes ao sistema

autoritário então vigente.

Esses dois momentos distintos perceptíveis nos jornais locais quanto à participação

política do estudante/aluno, não indicam que estes após a implantação da ditadura militar,

mesmo não tendo suas relações políticas divulgadas pela imprensa, tenham sido sujeitos

despolitizados durante esse período. Visto que, segundo um dos ex-representantes da UEI nos

anos de 1964 a 1966, esta entidade era aliada às forças políticas direitistas por meio de seus

dirigentes. Tal fato foi justificado pelo depoente, devido a UEI neste período ser dirigida em

sua maioria, por estudantes filhos de fazendeiros, os quais temiam a presença comunista no

município, denunciando por meio de telegramas enviados aos militares, qualquer

manifestação local suspeita de caráter subversivo.

Desse modo, acreditamos que parte dos estudantes secundaristas em Ituiutaba, nos

anos de 1964 a 1966 por meio da UEI, principal órgão de representação estudantil local,

aderiu e militou a favor do sistema político militar ditatorial.

Page 14: MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré (cuja música ‘Pra não dizer que não falei

De modo geral, percebemos que a cultura vivenciada pelos estudantes secundaristas

em Ituiutaba, principalmente na década de 60, foi delineada por caráter mais assistencial e

recreativo do que político, o que reforçava a estrutura social excludente do país.

Essa peculiaridade local pode ser reflexo da repressão aos estudantes dos grandes

centros de forma que mesmo nas cidades interioranas mais distantes, como Ituiutaba, os

reflexos de 1964 foram percebidos de forma acentuada, influenciando a cultura estudantil

local.

REFERÊNCIAS:

ALBERTI, V. Histórias dentro da História. In: PINSKY, C. (Org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2006.

AMARAL, G. L. do. As passeatas estudantis: aspectos da cultura escolar e urbana. In: Revista Brasileira de História da Educação, SBHE. Ed. Autores Associados, Campinas-SP, V.11, n.2, 2011.

BOSI, E. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Cia. das Letras, 2007.

CAPELATTO, M. H. R. Imprensa e História do Brasil. São Paulo: Contexto-EDUSP, 1988.

CERTEAU, M. A operação histórica. In: LE GOFF, Jacques; NORA, P. (Dir.) História novos problemas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.

CHARTIER, R. A História Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro; Lisboa; Bertrand Brasil: Difel, 1990.

CUNHA, L. A; GÓES, M. de. O Golpe na Educação. 11. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

GERMANO, J. W. Estado Militar e educação no Brasil. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

GINZBURG, C. Sinais: Raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, emblemas e sinais: morfologia e história. São Paulo: Cia. das Letras, 1989.

GROPPO. L. A. Uma onda mundial de revoltas: movimentos estudantis nos anos 1960. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, 2000. Disponível em: <http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000210231>. Acessado em: 12 dez. 2012.

HOLLANDA, H. B. e GONÇALVES, M.A. Cultura e participação nos anos 60. (Coleção Tudo é História: 41) 1. ed. (1982), 1ª reimpressão, São Paulo: Brasiliense, 1999.

JULIA, D. A cultura escolar como objeto historiográfico. Tradução: Gizele de Souza. Revista Brasileira de História da Educação. São Paulo, 2001, n. 1, p. 9-44.

Page 15: MEMÓRIAS DA CULTURA ESTUDANTIL TIJUCANA: … HISTORIA DAS CULTURAS... · de compositores como Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré (cuja música ‘Pra não dizer que não falei

LE GOFF, J. História e Memória. Campinas: Unicamp, 2003.

NUNES, C.; CARVALHO, M. Historiografia da educação e fontes. In: GONDRA, J. G. (Org.). Pesquisa em História da educação no Brasil. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

POERNER, A. J. O poder jovem. História da participação política dos estudantes brasileiros. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995.

ROMANELLI, O. de O. História da educação no Brasil (1930/1973). 23. ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 1999.

SAVIANI, D. História das idéias pedagógicas no Brasil. Campinas-SP: Autores Associados, 2007.

SOUZA, R. F. de. História da organização do trabalho escolar e do currículo no século XX: ensino primário e secundário no Brasil. São Paulo: Cortez, 2008.

WIRTH, J. D. O Fiel da Balança: Minas Gerais na Federação Brasileira 1889-1937. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982.