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AS FREGUESIAS DO DISTRITO DO PORTO NAS MEMÓRIAS PAROQUIAIS DE 1758 Memórias, História e Património

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  • AS FREGUESIAS

    DO DISTRITO DO PORTO

    NAS MEMRIAS

    PAROQUIAIS

    DE 1758

    Memrias, Histria e Patrimnio

  • Coleco PORTUGAL NAS MEMRIAS PAROQUIAIS DE 1758

    Volumes publicados:

    Vol. 1 As freguesias do Distrito de Braga nas Memrias Paroquiais de 1758. A construo de um imaginrio minhoto

    setecentista. Braga, 2003

    Vol. 2 As freguesias do Distrito de Viana do Castelo nas Memrias Paroquiais de 1758. Alto Minho: Memria, Histria e Patrimnio. Casa Museu de Mono / Universidade do Minho, 2005

    Vol. 3 As freguesias do Distrito de Vila Real nas Memrias Paroquiais de 1758. Memrias, Histria e Patrimnio. Braga, 2006

    Vol. 4 As freguesias do Distrito de Bragana nas Memrias Paroquiais de 1758. Memrias, Histria e Patrimnio. Braga, 2007

    Vol. 5 As freguesias do Distrito do Porto nas Memrias Paroquiais de 1758. Memrias, Histria e Patrimnio. Braga, 2009

    Prximos volumes: Vol. 6 As freguesias do Distrito de Viseu nas Memrias Paroquiais de 1758.

    Vol. 7 As freguesias do Distrito de Aveiro nas Memrias Paroquiais de 1758.

  • JOS VIRIATO CAPELA HENRIQUE MATOS

    ROGRIO BORRALHEIRO

    AS FREGUESIAS

    DO DISTRITO DO PORTO

    NAS MEMRIAS PAROQUIAIS

    DE 1758

    Memrias, Histria e Patrimnio

    COLECO

    B R A G A | 2 0 0 9

  • NOTA INTRODUTRIA

    Em obedincia ao programa editorial da Coleco Portugal nas Memrias Paroquiais de

    1758, publica-se agora o volume 5 das Memrias Paroquiais respeitantes ao Distrito do Porto.

    Com esta publicao vai-se ao encontro, pelo menos no que diz respeito regio do grande

    Porto, de uma rea cultural onde as Memrias Paroquiais foram precocemente e em grande

    extenso objecto de interesse e curiosidade local. Elas fizeram parte dos contedos e temas de

    referncia de alguns investigadores e historiadores locais que ao longo da 1. metade do sculo

    XX se interessaram pela Histria Municipal e Local. Em especial, os autores que mais

    intensamente ao longo das dcadas de 1920-1940, em correlao com o surto dos movimentos

    regionalistas, municipalistas e descentralizadores, prestaram mais ateno Histria das terras e

    para ela procuraram as bases, os fundamentos e as origens histrico-culturais1. Em alguns casos

    as Memrias Paroquiais foram mesmo objecto de publicao sistemtica, como base do suporte

    da construo da identidade e histria municipal2. Este programa de estudo e publicao das

    Memrias teve depois continuidade no ps 1975 com o surto da Histria Local, em muitos casos

    em correlao com o revigoramento da vida municipal e apoiada pelos municpios.

    Por isso quando iniciamos a reunio de materiais para a publicao deste volume, fomos de

    certo modo surpreendidos com o enorme volume de Memrias que j tinham sido dadas

    estampa e eram conhecidas da Cultura e Histria das Terras, mais do que da Histria e

    Historiografia Nacional. E que de um modo quase geral e sistemtico cobrem os concelhos

    envolventes do Porto e a cidade.

    o caso das edies mais precoces dos anos de 1920/1930, para os municpios de Vila do

    Conde, Paredes e Gondomar, s seguintes das dcadas de 1950-1970 de Santo Tirso,

    Matosinhos, Pvoa de Varzim e Porto, at s edies (ou reedies), mais recentes de Vila Nova

    de Gaia, Penafiel e Paredes.

    A edio do presente volume respeitante ao Distrito do Porto que continua a enquadrar-se

    para efeito de arrumao de publicaes nos quadros concelhios e por eles no Distrital

    aproxima-se aqui muito de perto do quadro da Diocese Portucalense, dada a proximidade do

    desenho do Distrito com o da Diocese.

    O quadro diocesano e da sua administrao portuense apresenta-se-nos ento muito robusto3

    1 Referem-se aqui alguns desses autores e obras: Dr. Jos do Barreiro Monografia de Paredes, Porto, 1922; Cnego J. Augusto Ferreira Vila do Conde e seu Alfoz. Origens e Monumentos, Porto, 1923; Camilo de Oliveira O concelho de Gondomar (Apontamentos monogrficos), Porto, 4 volumes, 1931-1936; Padre Agostinho de Azevedo A Terra da Maia, Porto, 1939; P. J. Monteiro de Aguiar A Terra de Penafiel, Porto, 1943; Padre M. Vieira de Aguiar Descrio histrica, Corogrfica e Folclrica de Marco de Canaveses, Porto, 1947; Descrio do concelho de Santo Tirso contida no Dicionrio Geogrfico de Portugal do Padre Lus Cardoso, Porto, 1955; Guilherme Felgueiras Monografia de Matosinhos, Lisboa, 1958. E tambm da bibliografia portuense: Cnego J. Augusto Ferreira Memrias Archeolgico-Histricas da cidade do Porto, Braga, 2 volumes, 1923 e 1924; Aurora Teixeira de Castro Monografia da cidade do Porto, Lisboa, 1926; Carlos Bastos (org.) Novas monografias do Porto, Porto, 1938. E tambm a mltipla produo acadmica de autores com vasta produo bibliogrfica sobre o Porto, o municpio, a cidade e o concelho, de Magalhes Basto, Torquato de Sousa Soares e Antnio Cruz. 2 Vide nota introdutria Edio das Memrias, pp. 121-122. 3 So obras de referncia para o estudo histrico da Diocese do Porto: D. Rodrigo da Cunha Catlogo dos Bispos do Porto, Porto, 1623 (2. impresso 1742); Cnego J. Augusto Ferreira Memrias archeolgico-histricas da cidade do Porto, 2 volumes, Braga, 1923-1924; Cndido Augusto Dias dos Santos O Censual da Mitra do Porto. Subsdios para o estudo da

  • capaz de fixar e estabilizar precocemente os seus limites, mas tambm resistir s foras da sua

    diminuio, vindas sobretudo dos poderes rgios, que do poder senhorial e temporal dos seus

    bispos pretende tambm diminuir o seu poder e jurisdio eclesistica. Importante golpe seria o

    desferido por Pombal com a criao da Diocese de Penafiel (1770-1778). Mas tal no vingaria

    nem sobreviveria ao afastamento do Ministro de D. Jos e do seu projecto de poder regalista de

    reordenamento do poder eclesistico e territorial e submisso dos bispos e quadros diocesanos.

    Mas este um assunto que tem os seus desenvolvimentos ps 1758. O quadro da diviso e

    administrao diocesana muito forte nas referncias dos procos memorialistas que sempre

    situam rigorosamente a posio das suas parquias no quadro do ordenamento da diviso e

    administrao eclesistico-diocesana, mas tambm no da administrao e governo eclesistico e

    pastoral, onde os direitos de padroado e apresentao vo largamente desenvolvidos, a Histria

    da Igreja Portucalense regularmente evocada a partir do Catlogo dos Bispos do Porto de D.

    Rodrigo da Cunha, obra maior da cultura e identidade poltico-religiosa do clero urbano e rural

    da diocese do Porto que poucos procos desconheceriam4. A fora e pregnncia da administrao

    diocesana eclesistica, vai expressa no longo espao que toma ainda na obra do Padre Agostinho

    Rebelo da Costa, na sua Descrio Topogrfica e Histrica da Cidade do Porto, de finais do

    sculo XVIII (1. edio 1788-1789).

    Particularmente robusta e desenvolvida a organizao e vida paroquial diocesana. Ela

    exprime-se desde logo pelo desenvolvimento mdio da dimenso demogrfica das parquias, e

    nelas pela centralidade paroquial das igrejas matrizes e da sua aco cultural e eclesistica.

    possvel atravs das Memrias Paroquiais seguir e compor o quadro geral das igrejas matrizes

    que em meados do sculo XVIII tm sacrrio e Santssimo Sacramento culto central

    actividade eucarstica e paroquial da igreja mas tambm da instalao de algumas confrarias

    centrais vida religiosa e administrao eclesistica das parquias, da administrao temporal da

    Igreja a confraria do Subsino e outras confrarias devocionais, suportes por excelncia do

    enquadramento e desenvolvimento de cultos estratgicos da Igreja Portuguesa. E tambm pelas

    demais instituies religiosas de enquadramento da populao, expresso na densidade de capelas,

    confrarias e irmandades e outros institutos pios, religiosos e sociais, todas elas contribuindo para

    o reforo e relevncia da parquia. E tambm grande e importante o papel social e religioso

    que os inmeros institutos e comunidades de religiosos tm na diocese e na cidade, com uma

    grande irradiao poltica e cultural. Este desenvolvimento das instituies da administrao

    eclesistica no quadro das parquias portuenses, explica tambm, com outros factores, o fraco

    desenvolvimento das estruturas civis e polticas da coroa e municpios, nos lugares e nas

    vintenas.

    Ao lado da Diocese, s a cidade do Porto exerce to grande fora poltica, enquadradora e

    centralizadora deste territrio, mas tambm significativa irradiao social e monumental, que

    nesta conjuntura ir reforar com o apoio do governo central.

    As Memrias Paroquiais urbanas, se bem que pobres para a caracterizao social-

    econmica urbana, so por outro lado, ricas de informao sobre as suas instituies religiosas e

    tambm da administrao poltica e civil e seus equipamentos. Jaime Ferreira Alves relevou j o

    seu contributo para a histria monumental e artstica da cidade no fim do longo ciclo do Barroco

    e incio do Neoclassicismo portuense, quando a cidade arranca para novos voos patrimoniais e

    urbansticos. Por outro lado, as Memrias rurais, sobretudo das reas peri e circum-urbanas e das

    Diocese nas vsperas do Conclio de Trento, Publicaes da Cmara Municipal do Porto, 1973. 4 A obra de D. Rodrigo da Cunha tambm largamente citada por outros procos memorialistas nortenhos da diocese

  • terras dos julgados ou ouvidorias que constituem o vastssimo termo do Porto, fornecem

    importantes elementos para vincar o pape