Mente e Criatividade

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Mente e Criatividade  A mente precisa de um Mestre  Amado Osho, Na mente, no processo de pensar, há muita energia. Como  podemos usar essa energia de um modo criativo e construtivo? A perg unta é muito co mp le xa . Soa si mp les, mas não é simples. Você está perguntando: “A mente é cheia de energia; como usar essa ener gi a de modo criativo e construtivo?”. Quem vai usar essa energia...? Se a própria mente for usar essa energia, ela nunca poderá ser criativa e nunca poderá ser construtiva. É isso o que está acontecendo por todo o mundo. É isso o que está acontecendo na ciência... Toda a miséria da ciência é que a mente está usando a própria energia... Mas a mente é uma força negativa – ela não pode usar nada criativamente, ela precisa de um mestre. A mente é um serviçal...! Votem um mestre? Assim, para mim a questão é... a meditação desenvolve o mestre interno. Ela o torna completamente alerta e consciente de que a mente é um instrumento. Agora então, o que quer que você queira fazer, você pode fazer. E se você não quiser fazer nada com ela, você pode pô-la de lado e pode permanecer em absoluto silêncio. Neste momento, você nã o é o mestre – nem po r cinco minutos... Você não pode dizer à mente: “Por favor, fique silenciosa por cinco minutos.”. Esses serão os cinco minutos nos quais a mente ficará mais veloz, correndo mais do que nunca... – porque ela terá de mostrar a você quem é o mestre. Há uma famosa história no Tibet... Um homem queria aprender a arte dos milagres; assim, ele começou a servir a um santo de quem se pensava ser um conhecedor de todos os segredos. E ele serviu ao santo dia após dia. E fechou seu pprio negócio. O velho santo lhe dizia repetidamente: “Eu não sei nada. Você está desperdiçando seus negócios desnecessariamente, e está se tornando uma carga para mim, porque sempre que olho para você... Durante vinte e quatro horas por dia, você fica sentado aí, em cima de mim, e eu não sei nada de milagres. O que fazer?”. O homem disse: “V ocê não pode escapar de mim tão facilmente. Eu ouvi di zer que você te m esses se gr edos

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Mente e Criatividade

 A mente precisa de um Mestre

  Amado Osho,Na mente, no processo de pensar, há muita energia. Como

  podemos usar essa energia de um modo criativo econstrutivo? 

A pergunta é muito complexa. Soa simples, mas não ésimples.

Você está perguntando: “A mente é cheia de energia; comousar essa energia de modo criativo e construtivo?”.

Quem vai usar essa energia...?

Se a própria mente for usar essa energia, ela nunca poderá

ser criativa e nunca poderá ser construtiva.

É isso o que está acontecendo por todo o mundo. É isso o queestá acontecendo na ciência... Toda a miséria da ciência é quea mente está usando a própria energia... Mas a mente é umaforça negativa – ela não pode usar nada criativamente, elaprecisa de um mestre. A mente é um serviçal...!

Você tem um mestre?

Assim, para mim a questão é... a meditação desenvolve omestre interno. Ela o torna completamente alerta e consciente

de que a mente é um instrumento. Agora então, o que querque você queira fazer, você pode fazer. E se você não quiserfazer nada com ela, você pode pô-la de lado e podepermanecer em absoluto silêncio.

Neste momento, você não é o mestre – nem por cincominutos... Você não pode dizer à mente: “Por favor, fiquesilenciosa por cinco minutos.”. Esses serão os cinco minutosnos quais a mente ficará mais veloz, correndo mais do quenunca... – porque ela terá de mostrar a você quem é omestre.

Há uma famosa história no Tibet... Um homem queriaaprender a arte dos milagres; assim, ele começou a servir aum santo de quem se pensava ser um conhecedor de todos ossegredos. E ele serviu ao santo dia após dia. E fechou seupróprio negócio.

O velho santo lhe dizia repetidamente: “Eu não sei nada. Vocêestá desperdiçando seus negócios desnecessariamente, e estáse tornando uma carga para mim, porque sempre que olhopara você... Durante vinte e quatro horas por dia, você ficasentado aí, em cima de mim, e eu não sei nada de milagres. Oque fazer?”.

O homem disse: “Você não pode escapar de mim tãofacilmente. Eu ouvi dizer que você tem esses segredos

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escondidos. Mas se você é teimoso, eu também sou teimoso.Morrerei sentado aqui, mas eu aprenderei o segredo”.

Finalmente, o santo disse: “Escute aqui. Este é o mantra” –não era nada demais, era um mantra simples –: “basta repetirom, om, omkar e todos os segredos e todos os milagres se

tornarão disponíveis a você, à medida que você for setornando cada vez mais e mais sintonizado com o mantra.”.

O homem saiu correndo para casa. Enquanto ele estavadescendo os degraus do templo, o santo disse: “Espere!Esqueci-me de uma coisa: depois de tomar o banho, quandoestiver se sentando para entoar o mantra, lembre-se de nãodeixar nenhum macaco entrar em sua mente”.

O homem disse: “Você está ficando senil!? Em toda a minhavida, nenhum macaco entrou na minha mente. Não sepreocupe!”.

Ele disse: “Eu não estou preocupado. É só para torná-lociente; assim, você não voltará mais tarde para me dizer queum macaco perturbou tudo”.

O homem disse: “Não há perigo quanto a macacos. Tudo jáentrou nesta mente, mas... um macaco!? Não me lembro dissoabsolutamente, nem mesmo em sonho”.

Mas assim que ele começou a se dirigir para casa, ficouespantado: macacos começaram a aparecer na tela de suamente – macacos enormes, gargalhando. Ele disse: “Meu

Deus!”. Ele tentou empurrá-los: “Fora! Sumam-se daqui! Nãotenho nada a fazer com macacos, e muito menos hoje!”. Masele ficou surpreso, porque não era somente um macaco, erauma longa fila: eles vinham de todos os lados.

Ele disse: “Meu Deus, eu jamais pensei que dentro da minhamente estivessem escondidos tantos macacos! Mas antes,deixe-me tomar um banho.”. Mas foi muito difícil tomar umbanho, porque ele gritava sem parar: “Saia!”, “Sumam-sedaqui!”.

Finalmente, sua mulher bateu na porta – “O que estáhavendo? Quem está aí dentro do banheiro? Você estásozinho?”.Ele disse: “Estou sozinho”.

  “Mas então por que você está gritando “fora!”, “suma-sedaqui!” tão alto? Ele disse: “É porque esses macacos...”.A mulher disse: “Você ficou louco!? Que macacos? Não hámacacos aqui. Pare com isso já!”.Ele disse: “Estranho... Essa mulher nunca foi tão dura comigo,mas, de certo modo, ela está certa, porque não há ninguémno banheiro. Mas se eu disser que eles estão na minha cabeçaserá pior ainda”.

Ele sentou-se no seu oratório, mas os macacos continuavam

dentro de sua cabeça! Ele fechava os olhos, e lá estavamtodos eles sentados ao seu redor. Ele disse: “Eu jamais

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imaginei que os macacos estivessem tão interessados emmim... Por que vocês estão me incomodando!? Uns ficamdentro da mente e, se fecho minha mente, outros estãosentados ao meu redor. Eles me empurram de um lado paraoutro, e rindo! Eu sou um homem silencioso, e esse não é umcomportamento justo!”.

E novamente a mulher olhou para dentro do oratório e disse:  “Com quem você está falando?”.

Ele disse: "Meu Deus, agora tenho de explicar algo que eumesmo não compreendo! Não me perturbe mais esta noite.Amanhã cedo eu irei falar com aquele velho”.

A noite toda ele tomou várias chuveiradas, esfregou osabonete tanto quanto pôde para se lavar bem, mas não haviameio. O banheiro estava tão cheio de macacos, que até andardentro do banheiro estava difícil, sair do banheiro estava

difícil. Quando ele retornou ao seu oratório, eles estavamsentados em todo o espaço – até mesmo no seu lugar haviaum macaco entoando om, om, om...

O homem disse: “Não posso esperar até amanhã.”. Era meia-noite. Ele correu para o templo, acordou o velho e lhe disse:

  “Que espécie e mantra você me deu!?”.

Ele respondeu: “Eu lhe disse, era essa a condição. Eis por quedurante muitos anos eu não disse nada a ninguém – porqueessa condição é irrealizável. Simplesmente abandone essaidéia de milagres, e os macacos desaparecerão”.

O homem disse: “Eu vim aqui para isso! Eu não quero nenhummilagre, não quero nenhum segredo. Apenas me ajude, porfavor, a me livrar desses macacos, porque eles estão sentadospor toda parte; e, se eu abrir a minha loja amanhã, elesestarão sentados por toda a loja. Sou um pobre negociante.Entrei no negócio errado – este não é o meu negócio. Vocêcontinua com o seu trabalho, mas, por favor, se puder meajudar...”.

O santo disse: “Não há nenhum problema. Se você abandonara idéia de milagres, esses macacos desaparecerão. Eles são osguardiões dos milagres”.

Se você tentar parar de pensar por cinco minutos, entrarãomais pensamentos do que nunca – pela simples razão demostrar a você que você não é o mestre. Assim,primeiramente a pessoa tem de conseguir a mestria; e o meiode se tornar o mestre não é dizer aos pensamentos: “Pare!”. Omeio de se tornar o mestre é observar todo o processo depensamento.

Se o homem tivesse simplesmente observado os macacos,tivesse permitido que eles rissem, tivesse permitido que elesfizessem o que quer que estivessem fazendo; se ele tivesse

sido simplesmente uma testemunha, aqueles macacos teriamsumido, ao ver que aquele homem parecia estar

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absolutamente indiferente, absolutamente desinteressado.

Seus pensamentos têm de compreender uma única coisa: quevocê não está interessado neles. No momento em que vocêtiver firmado isso, você terá alcançado uma grande vitória.

Simplesmente observe. Não diga nada aos pensamentos. Não julgue. Não condene. Não os mande embora. Deixe-os fazer oque quer que estejam fazendo, qualquer ginástica – deixe-osfazerem; você simplesmente observa e desfruta. Trata-se deum belo filme. E você se surpreenderá: simplesmenteobservando, chega um momento em que os pensamentos nãomais estarão presentes, não haverá nada para observar.

Essa é a porta que tenho chamado de nada, de vazio.Por essa porta entra o seu ser verdadeiro, o mestre.E esse mestre é absolutamente positivo; em suas mãos, tudose transforma em ouro.

Se Albert Einstein fosse um meditador, a mesma mente teriaproduzido a energia atômica não para destruir Hiroshima eNaghasaki, mas para ajudar o todo da humanidade a elevarseu padrão de vida. Sem meditação, a mente é negativa, elaestá fadada a estar a serviço da morte. Com meditação, omestre está presente, e o mestre é positividade absoluta. Emsuas mãos, a mesma mente, a mesma energia torna-secriativa, construtiva, afirmativa da vida.

Assim, você não pode fazer nada diretamente com a mente.Você terá que dar umas voltinhas; primeiro você tem de trazer

o mestre para dentro. Está faltando o mestre e, duranteséculos, o serviçal pensou que ele era o mestre.Simplesmente, deixe o mestre entrar e o serviçal,imediatamente, compreenderá. Basta a presença do mestre eo serviçal cai aos pés do mestre e espera por alguma ordem,qualquer coisa que o mestre queira que seja feito – ele estápronto.

A mente é um instrumento tremendamente poderoso. Nenhumcomputador é tão poderoso quanto a mente do homem – nãopode ser, porque ele é feito pela mente do homem. Nada podeser, porque tudo é feito pela mente humana. Uma única mentehumana tem tão imensa capacidade: num pequeno crânio, umcérebro tão pequeno, pode conter todas as informaçõescontidas em todas as bibliotecas da terra – e essa informaçãonão é tão pequena assim.

Uma única biblioteca, a biblioteca britânica, tem tantos livros,que, se pusermos aqueles livros em fila, lado a lado, elesdarão três voltas ao redor da terra. E uma biblioteca maiorexiste em Moscou, uma biblioteca similar existe em Harvard; ehá bibliotecas similares em todas as grandes universidades domundo. Mas uma única mente humana pode conter toda ainformação contida em todas essas bibliotecas. Os cientistas jáconcordam que talvez não sejamos capazes de fazer um

computador comparável à mente humana, que comporte tantonum espaço tão pequeno.

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Mas o resultado desse imenso presente ao homem não temsido benéfico – porque o mestre está ausente e o serviçal estácomandando o espetáculo. O resultado é guerras, violência,assassinatos, estupros. O homem está vivendo num pesadelo,e o único meio de sair disso é trazer o mestre para dentro. Ele

está aí, você tem apenas de puxá-lo para si. E a observação éa chave: simplesmente observe a mente. No momento em quenão houver nenhum pensamento, imediatamente, você serácapaz de se ver – não enquanto mente, mas como algo além,algo transcendental à mente.

E uma vez que você esteja sintonizado com o transcendental,então, a mente está em suas mãos. Ela pode ser imensamentecriativa. Ela pode fazer desta própria terra o paraíso. Não hánenhuma necessidade de qualquer paraíso a ser procurado láem cima nas nuvens, assim como não há necessidade de seprocurar por qualquer inferno – porque o inferno nós já o

criamos. Estamos vivendo nele.

Ouvi contar que um grande político morreu. Naturalmente, eleestava com medo de que fosse mandado para o inferno. Eleconhecia toda a sua vida: ela fora de crimes e nada mais. Éimpossível conseguir o poder político sem crimes. Para ir maisalto na escada do poder, você tem de esmagar, matar, destruir– você tem de fazer de tudo. Mas se tiver sucesso, então, vocêé perdoado, ninguém se lembra de que você fez alguma coisaerrada. E ele era um político de sucesso. Mas, à medida que iamorrendo, foi ficando com medo: ele lembrou-se de todo oseu passado e teve certeza de que: “Estou indo para o inferno.

Agora, nada mais pode me ajudar. Aqueles truques políticosnão valerão nada aqui”.

Mas, quando ele abriu os olhos, estava diante do céu. Ele nãopodia acreditar naquilo. Ele perguntou aos anjos que o haviamlevado até lá: “Parece haver algum engano, algum erroburocrático. Este é o céu, e vocês me trouxeram aqui!?”.

  “Este é o céu, com certeza. E não há nenhum erro, vocêganhou-o”.

O homem disse: “De que é que você está falando? Eu fiz tudoque podia fazer de errado!”.

Eles disseram-lhe: “Nós sabemos, mas toda a sua vida vocêviveu no inferno e, agora, enviá-lo para o inferno novamentenão seria justo. Além do mais, nosso inferno parecerá muitofora de moda. Você viveu num inferno ultramoderno, e nósnão queremos nos sentir envergonhados. Nosso inferno émuito velho, nossos métodos de tortura são muito antigos; evocês refinaram tudo tão bem, que, na verdade, você riria –

 ‘Isso lá é inferno!...?’. Assim, o único jeito... Até mesmo Deusficou sem saber. Você está atrasado três dias. Você deve termorrido há três dias, mas levou três dias para Deus tomar suadecisão. Finalmente decidimos: ‘É melhor levá-lo para o céu,

porque ele já viveu o bastante no inferno’ .

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As pessoas ainda continuam pensando que o inferno está emalgum outro lugar, debaixo da terra – e você está vivendonele... Essa é a beleza! – e que o céu está em algum outrolugar lá em cima.

Você pode transformar este inferno em céu se a sua mente

puder estar sob a direção do mestre, de sua própria natureza.E trata-se de um processo simples...

Mas não tente diretamente com a mente, caso contrário, vocêestará entrando numa encrenca. A pessoa pode até entrar nainsanidade. Se você tentar colocar a energia de sua mente emdireções criativas... – você nem mesmo é capaz de pará-la porum instante e fica tentando direcioná-la para uma dimensãocriativa! – você vai enlouquecer. Você terá um colapsonervoso.

Não toque na mente. Primeiramente, apenas descubra onde

está o mestre. Trata-se de um mecanismo complicado. Deixe omestre estar presente e a mente funciona como um serviçal,muito perfeitamente.

No Oriente, nós fizemos isso. Gautama, O Buda, poderia ter-setornado Albert Einstein sem nenhuma dificuldade; ele era umgênio muito maior. Mas toda a sua vida foi devotada àtransformação das pessoas, para dentro da consciência, paradentro da compaixão, para dentro do amor, para dentro dabem-aventurança.

Osho,The Osho Upanishad. # 4. Q. 2, p. 71

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