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A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: AÇÃO-REFLEXÃO-AÇÃO. Jonas Henrique Almeida da Silva (Discente do curso de especialização Saberes e Práticas na Educação Básica - Políticas Públicas e Projetos Socioculturais em Espaços Escolares - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Centro de Filosofia e Ciências Humanas - Faculdade de Educação e Docente da rede pública estadual ) RESUMO Este trabalho analisa a Educação Física como área de produção e reprodução de conhecimento que estabeleceu historicamente numa relação de poder agindo ora como protagonista num projeto de “assepsia social” (Ghiraldeli Jr, 1988) através da tendência higienista; ora através da tendência militarista; ou influenciada pela tendência pedagogicista ou ainda influenciada pela tendência competitivista. Vimos que todas as tendências da educação física serviram aos interesses das elites para manter o status quo. O trabalho pretende ainda promover a discussão sobre a prática pedagógica da educação física, no sentido de estabelecer a mudança do status quo acreditando na escola pública como espaço-tempo de educação. As propostas deste trabalho são tentativas de inserção da Educação Física como componente curricular da escola, pois a Educação Física sempre esteve “ausente”. Mas para legitimar a Educação Física apresentamos argumentos plausíveis para a sua inclusão e permanência no currículo escolar. É importante lembrar que a inserção desta disciplina no currículo só terá relevância com a reflexão das nossas ações, participação na luta no processo de transformação social, rompendo com o desprazer estabelecido, com a passividade que parece permanente, com a supervalorização do trabalho, com a Educação Física servindo para restabelecer a força de trabalho para uma maior produção dos trabalhadores. As reflexões apresentadas neste trabalho são das discussões da disciplina Formação Continuada do curso de especialização Saberes e Práticas na Educação Básica - Políticas Públicas e Projetos Socioculturais em Espaços Escolares a partir da leitura dos textos: “Formação de professores: identidade e saberes da docência e Formação continuada de professores: tendências atuais.” Portanto, surgem questões inquietantes, a saber: Por que razões a Educação Física escolar está historicamente enraizadas nas meras praticas? A Educação Física tem transformado algo no seio da sociedade ao longo deste tempo ou ela tem-se prestado a servir de mascaramento ideológico, onde a inconsciência ocupa o lugar da consciência crítica? Palavras-chave: Educação Física Escolar; Cultura corporal. Legitimação.

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A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: AÇÃO-REFLEXÃO-AÇÃO.

Jonas Henrique Almeida da Silva (Discente do curso de especialização Saberes e Práticas na Educação Básica - Políticas Públicas e Projetos Socioculturais em Espaços Escolares - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Centro de Filosofia e Ciências Humanas - Faculdade de Educação e Docente da rede pública estadual )

RESUMO Este trabalho analisa a Educação Física como área de produção e reprodução de conhecimento que estabeleceu historicamente numa relação de poder agindo ora como protagonista num projeto de “assepsia social” (Ghiraldeli Jr, 1988) através da tendência higienista; ora através da tendência militarista; ou influenciada pela tendência pedagogicista ou ainda influenciada pela tendência competitivista. Vimos que todas as tendências da educação física serviram aos interesses das elites para manter o status

quo. O trabalho pretende ainda promover a discussão sobre a prática pedagógica da educação física, no sentido de estabelecer a mudança do status quo acreditando na escola pública como espaço-tempo de educação. As propostas deste trabalho são tentativas de inserção da Educação Física como componente curricular da escola, pois a Educação Física sempre esteve “ausente”. Mas para legitimar a Educação Física apresentamos argumentos plausíveis para a sua inclusão e permanência no currículo escolar. É importante lembrar que a inserção desta disciplina no currículo só terá relevância com a reflexão das nossas ações, participação na luta no processo de transformação social, rompendo com o desprazer estabelecido, com a passividade que parece permanente, com a supervalorização do trabalho, com a Educação Física servindo para restabelecer a força de trabalho para uma maior produção dos trabalhadores. As reflexões apresentadas neste trabalho são das discussões da disciplina Formação Continuada do curso de especialização Saberes e Práticas na Educação Básica - Políticas Públicas e Projetos Socioculturais em Espaços Escolares a partir da leitura dos textos: “Formação de professores: identidade e saberes da docência e Formação continuada de professores: tendências atuais.” Portanto, surgem questões inquietantes, a saber: Por que razões a Educação Física escolar está historicamente enraizadas nas meras praticas? A Educação Física tem transformado algo no seio da sociedade ao longo deste tempo ou ela tem-se prestado a servir de mascaramento ideológico, onde a inconsciência ocupa o lugar da consciência crítica?

Palavras-chave: Educação Física Escolar; Cultura corporal. Legitimação.

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AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: ILUSÃO OU TRANSFORMAÇÃO?

Nas tentativas de legitimação da educação física utilizamos o currículo

ampliado:

“O currículo capaz de dar conta de uma reflexão pedagógica ampliada e

comprometida com os interesses das camadas populares tem como eixo a

constatação, a interpretação, a compreensão e a explicação da realidade

social complexa e contraditória. Isso vai exigir uma organização

curricular em outros moldes, de forma a desenvolver uma outra lógica

sobre a realidade, a lógica dialética, com a qual o aluno seja capaz de

fazer uma outra leitura. Nesta forma de organização curricular se

questiona o objeto de cada disciplina ou matéria curricular e coloca-se

em destaque a função social de cada uma delas no currículo. Busca

situar a sua contribuição particular para a realidade social e natural no

nível do pensamento/reflexão do aluno. Isso porque o conhecimento

matemático, geográfico, artístico, histórico, lingüístico, biológico ou

corporal expressa uma determinada dimensão da“realidade” e não a

sua totalidade” (COLETIVO DE AUTORES, p.28).

Nas aulas de Educação Física os conteúdos devem ser oferecidos para integrar e

introduzir os alunos na cultura corporal de movimento ajudando a transformar a prática

educativa.

O planejamento de ensino e aprendizagem deve buscar dialogar com o Projeto

Político-Pedagógico da escola, portanto, o planejamento deve ser construído de maneira

participativa, no qual os alunos devem ser motivados no primeiro momento a

conceituarem a Educação Física podendo discutir os conteúdos e objetivos propostos,

organizando-se para buscar modos de execução das atividades a serem planejadas; no

segundo momento os incentivado a experienciação das atividades e apreensão do

conhecimento; e no terceiro para conclusões, avaliação da aula e projetos para as aulas

seguintes. E por fim, como instrumento de coleta, podemos utilizar a observação

participante, respeitando o princípio da não exclusão, segundo o qual, nenhuma

atividade planejada possa excluir qualquer aluno das aulas de Educação Física, e o

princípio da diversidade, proporcionando atividades diferenciadas e não privilegiando

apenas um tipo, por exemplo, futebol, mas não existe um esporte que desenvolva a

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cultura e a identidade nacional e também porque o futebol está muito presente nas

periferias, nas minorias sociais sendo um campo fértil de estudos e intervenções.

Mas vimos que muitas vezes o futebol acaba sendo negado como conteúdo das

aulas de educação física, pois se acha que outros conteúdos de devem serem ensinados e

que o futebol sempre os alunos praticam. Mas o problema não é só querer ampliar os

conteúdos e sim como esses conteúdos podem ser vivenciados. Por que não o futebol?

Somos sujeitos agentes de transformação ou conteudistas preocupados com a

quantidade de informação a ser transmitida ou ensinada?

A Problemática

A sociedade em que vivemos baseia-se na lógica do capital e a tendência que

predomina é a da destruição das forças produtivas.

Há na sociedade um grande complexo econômico: capital especulativo (sem controle);

capital produtivo (industrial e agrícola); capital estatal (PIB) e economia solidaria ou

não.

As transformações macro-sociais atingem diretamente a educação:

− Concentração de riquezas nas mãos de poucos;

− Mercado de trabalho competitivo e seletivo;

− Intensificação da migração (êxodo rural nos últimos 50 anos);

− Mudança do papel da mulher na sociedade (trabalho, família e política);

− Envelhecimento da população;

− O processo de globalização e o neoliberalismo não permitirão e não permitem a

ampliação da educação garantindo acesso e permanência para todos;

− Estreitamento do processo educativo (ênfase no ensino primário);

− A real consciência do que seja viver em uma sociedade de classes;

− Posse individual de bens coletivos de produção, e aí, se fundamenta a exclusão e a

exploração;

− As políticas públicas são verticalizadas.

Nos últimos dez anos as políticas educacionais sofreram mudanças profundas nas

reformas educacionais tirando, portanto, o papel do estado de garantir a educação:

− Reformas curriculares;

− Educação à distância;

− Centralização do controle do ensino através da avaliação;

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− Parcerias público/privadas.

Desta forma alguns impactos atingem diretamente a educação:

− Transição de paradigma;

− Educação do campo com políticas compensatórias (reposição da escolarização

perdida);

− Crescimento da demanda da educação de jovens e adultos;

− Analfabetos funcionais, reprovação e evasão.

A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: FORMAÇÃO, CONTRUÇÃO DE

IDENTIDADE E PRÁTICA PEDAGÓGICA.

A Educação Física como área de produção e reprodução de conhecimento se

estabeleceu historicamente numa relação de poder agindo ora como protagonista num

projeto de “assepsia social” através da tendência higienista; ora através da tendência

militarista com uma concepção que visava impor a toda sociedade padrões de

comportamentos estereotipados, frutos da conduta disciplinar própria ao regime de

caserna, visando à formação do cidadão soldado; ou influenciada pela tendência

pedagogicista com a concepção que vai reclamar da sociedade a necessidade de encarar

a Educação Física não somente como uma prática capaz de promover saúde ou de

disciplinar a juventude, mas de encarar a Educação Física como uma prática

eminentemente educativa, e, mais que isso, ela vai advogar a “educação do movimento”

como a única forma de promover a educação integral; ou ainda influenciada pela

tendência competitivista que esteve a serviço de uma hierarquização e elitização social.

Seu objetivo principal foi à caracterização da competição e da superação individual

como valores fundamentais e desejados para uma sociedade moderna. A Educação

Física competitivista voltava-se, então, para o culto do atleta herói.

Vimos que todas as tendências da Educação Física serviram ou ainda servem aos

interesses da elite brasileira para manter o “status quo”. E aí surge uma questão

fundamental: como romper com esse modelo e transformar algo no seio da escola por

intermédio da Educação Física?

Podemos observar que ainda hoje depois de reflexões profundas acerca da

história da Educação Física no imaginário social impera a figura do professor

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militarista, do professor formador de atleta e que os conteúdos a serem ensinados nas

aulas devem ser de preparação esportiva na busca de medalhas em competições. Tanto

que isso é verdade que nas últimas olimpíadas como fomos culpabilizados pelos

fracassos dos atletas brasileiros e vimos o Galvão Bueno incentivando a cobrança aos

professores de Educação Física esse papel. Os pais dos alunos quando nos encontram

perguntam logo se o filho será ou não um esportista.

Outro exemplo emblemático foi à exigência do teste físico no concurso da

Prefeitura de Barra Mansa 2010 que segundo o edital item 8.5.2:

“Serão convocados para a Avaliação Física os candidatos aos cargos de

Guarda Municipal Feminino e Guarda Municipal Masculino,

considerados aptos na Avaliação Psicológica, os candidatos ao cargo de

Auxiliar de Serviços Gerais aprovados na prova prática e os candidatos

ao cargo de Maqueiro e de Professor I – Educação Física aprovados e

classificados na Prova Objetiva em 4 (quatro) vezes o número de vagas

disponível em cada cargo, em ordem decrescente do total de pontos

observados os empates.”

E também a identidade do professor de Educação Física vista conforme figura

abaixo de uma apostila preparatória para concursos.

Para se entender melhor o conceito de identidade, utiliza-se o exemplo se Silva

(2000), quando afirma “sou brasileiro”, por trás da afirmação deve-se ler “não sou

argentino”, “não sou chinês”, “não sou japonês” e assim por diante Partindo para a

escola, o maior identificador da disciplina de Educação Física com outras disciplinas, o

que faz dela ser considerada um componente curricular igual às demais é a apresentação

da cultura, no caso, a corporal, como a matemática, apresenta a cultura numérica e as

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outras disciplinas apresentam de forma didática as suas particularidades organizadas e

estruturadas durante séculos.

O que identifica a disciplina de Educação Física dentro do ensino tradicional é o

fato de não proporcionar conteúdos que ajudem diretamente na promoção do vestibular.

Ou seja, não é importante estudar e vivenciar a disciplina de Educação Física dentro da

escola, pois não aparece nos concursos de vestibulares.

Na escola a Educação Física pode ser considerada diferente pelo fato do seu

conteúdo salutar, como exemplo, os jogos, os esportes, as danças, as lutas, as ginásticas.

Em relação ao professor de Educação Física, pode-se citar em primeiro lugar a

vestimenta, pois sempre está usando roupas adequadas para a prática de atividade física

para ministrar a aula também é um diferenciador, pois o professor de Educação Física

utiliza apito, bolas de vários tipos, bambolês, cordas entre outras, são características da

Educação Física.

Vimos que muitas vezes a tarefa principal da aula de Educação Física é

introduzir os alunos nos modelos socialmente dominantes do esporte e qualificar os

indivíduos para participar dos contextos específicos de ação e normas do esporte.

Rendimento e competição possuem uma dimensão objetiva, isto é, uma comparação

possível de mensuração de movimentos, que são nada mais nada menos que as

concepções dominantes de normas e valores do esporte, oferecidas cotidianamente nas

práticas de Educação Física e que são vistas como desejáveis para transmitir, mas

também, estes valores e normas são imutáveis.

Mas para entendermos isso recorremos a Pimenta (1999) quando diz que a

profissão de professor, como as demais, emerge em dado contexto e momento

históricos, como resposta a necessidade que estão postas pelas sociedades, adquirindo

estatuto de legalidade.

Notamos que o desporto é um produto da sociedade, mas tem alguma autonomia

dela. Esta autonomia dá ao desporto a possibilidade de ser visto como ator que

influencia a sociedade.

Na sociedade capitalista moderna, o desporto tem de ser visto essencialmente em

termos econômicos, é um importante artigo de consumo.

Há, portanto, um grande poder do mito. Ele atua sobre a imaginação das pessoas,

cria um sentimento transcendente de unidade entre o ser e o universo, semelhante ao

efeito da poesia. Para ser efetivo, o mito deve criar claridade eufórica.

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O mito tem a capacidade de fazer o indivíduo esquecer a realidade social em que

vive e passar a viver num mundo em que se sente.

O desporto hoje em nossa sociedade torna-se mito através das grandes

campanhas publicitárias, principalmente dos produtos Nike.

O desporto é uma agência social e econômica extremamente poderosa devido à

sua qualidade mitológica.

O mito tem a capacidade ideológica de apoiar a ordem social, econômica e

estrutura de poder vigente, escondendo as contradições e divisões da realidade social.

Vimos que somos cobrados a todo o momento a realizar a inclusão dos alunos

neste processo, na visão de que a sociedade é que deve facilitar a inclusão dos excluídos

e a outra visão é que os excluídos que devem promover a própria inclusão por

competências individuais e se não conseguem são culpados pelo fracasso por não terem

se esforçado o bastante, mas vimos que não existem excluídos deste processo, pois

todos nós fazemos parte dele, o que existe é que alguns são mais favorecidos que outros.

Precisamos refletir que a responsabilidade é da maioria desfavorecida de lutarem

pela transformação social.

Para escola que reproduz este imaginário social não há problemas, pois o

professor de Educação Física poder manter ainda a disciplina, a ação seletiva, a

organização dos eventos festivos e cívicos sem vínculo com ações pedagógicas, onde o

papel da Educação Física na escola é gastar as energias dos alunos para ficarem mais

calmos, atrelada aos ideais olímpicos.

O papel do professor de Educação Física se restringe a estabelecer a ordem.

Conforme diz Pimenta (1999) a identidade é um processo de construção do

sujeito historicamente situado.

A Educação Física e o conhecimento trabalhado ao longo da vida escolar

Nas aulas de Educação Física escolar, geralmente identificava-se o professor

desenvolvendo seu trabalho de forma mecânica, repetitiva, reproduzindo os mesmos

testes no início e no final dos períodos letivos, ao longo dos anos. Esse mesmo professor

“planejava” as aulas segundo uns modelos estanques, independentes do Projeto Político-

Pedagógico, que poderia ser resumido em: correr em coluna, por um ou por dois, no

sentido anti-horário, um determinado número de voltas ao redor da quadra – essa fase

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denominada aquecimento; realizar uma série de exercícios ginásticos localizados, no

modelo e ritmo do professor e uma pratica desportiva na fase da aula denominada

principal.

Quadro 1 - Conhecimentos trabalhados ao longo da vida escolar.

ATIVIDADES ANOS ESCOLARES

Vivências motoras/recreação 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental

Iniciação esportiva 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental

Ensino dos desportos (futebol, voleibol,

handebol e basquetebol)

Ensino Médio

Concluímos que os resultados da Educação Física na escola são ações com

trabalhos repetitivos, falta de fundamentação teórica e conseqüentemente gera-se a falta

de legitimidade da disciplina.

Diante desta realidade devemos trabalhar a Educação Física numa perspectiva de

transformação, rompendo com os padrões impostos pela classe dominante do esporte de

rendimento. Pois este reflete os ideais do liberalismo econômico instalado em nossa

sociedade onde alguém tem que perder para que outro possa ganhar.

E de acordo com Pimenta (1999) não basta produzir conhecimento, é preciso

produzir condições de produção do conhecimento.

E ainda de acordo com Pimenta (1999):

“...a escola (e os professores) tem um grande trabalho a realizar com as

crianças e os jovens, que é proceder à mediação entre a sociedade da

informação e os alunos, no sentido de possibilitar-lhes pelo

desenvolvimento da reflexão adquirirem a sabedoria necessária à

permanente construção do humano.” (p.22)

Mas ainda encontramos algumas cadeias de resistência para manter o modelo

tradicional: a direção, a coordenação, professores, pais e alunos.

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Aspectos legais

Quadro 2 – Comparação de aspectos legais da Educação Física.

LEI 5.692 - 1971 LEI 9.394 - 1996 E 2003

3 AULAS 2 AULAS

ATIVIDADE COMPONENTE CURRICULAR

DISPENSA DISPENSA

O artigo 26 da LBD 9.394/96 prevê:

§ 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente

curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e as condições da

população escolar.

E ainda segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), as pessoas com

mais de 30 anos, que tenham prole, que tenham uma jornada de trabalho superior a seis

horas, podem optar por fazer ou não as aulas de Educação Física. Na própria lei já

encontramos um primeiro obstáculo para trabalhar, pois esta trata a Educação Física

ainda como uma simples atividade desprezando seu cunho pedagógico.

Mas Oliveira (1999) aponta a real situação da Educação Física no sistema de

ensino:

“... uma análise da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional

demonstra o espaço reservado hoje para a Educação Física (no sentido

mais amplo) nos currículos básicos: nenhum! A ambigüidade da lei não

garante qualquer possibilidade de permanência nos currículos da escola

básica”.

Hoje observamos algumas dificuldades enfrentadas pelos professores que

distanciam a Educação Física da legitimidade:

- Desinteresse e indisciplina dos alunos;

- Condições de trabalho (falta de espaço e material; muitas aulas para lecionarem;

escolas dominadas pelo crime organizado, etc.)

Mesmo com essas dificuldades encontramos uma realidade da Educação Física

na escola na qual os alunos consideram a disciplina como preferida, crescendo assim, a

sua importância; existe uma prática pedagógica diversa com diferentes exigências sobre

o perfil do professor; aconteceram também alguns avanços em políticas públicas, na

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produção acadêmica, na sistematização dos conteúdos com propostas advindas de

algumas abordagens da Educação Física e por fim com a construção de alguns materiais

didáticos, como exemplo a Proposta Curricular do Estado de São Paulo para a disciplina

de Educação Física para o Ensino Fundamental (5º ao 9º ano) e Ensino Médio.

Para ilustrarmos esta realidade citamos uma pesquisa feita por Darido (2004)

intitulada “A educação física na escola e o processo de formação dos não praticantes

de atividade física, com o objetivo de verificar as origens e as razões pelas quais os

alunos se afastam da prática da atividade física regular analisando o universo da

Educação Física na escola. Especificamente procurou-se: a) levantar o número de

dispensados das aulas de Educação Física na escola; b) investigar as opiniões dos

alunos a respeito das aulas de Educação Física e como elas se modificam ao longo dos

ciclos escolares; c) verificar quando os alunos iniciam o afastamento das aulas de

Educação Física escolar e da prática da atividade física fora da escola; e d) levantar

informações do porque ocorre o afastamento dos alunos nas aulas de Educação Física.

Os dados foram coletados a partir da aplicação de um questionário contendo 14

questões a 1.172 alunos divididos entre a 5ª e 7ª série do Ensino Fundamental e 1º ano

do Ensino Médio da rede pública estadual de Rio Claro. Os resultados indicaram que

há um progressivo afastamento dos alunos das aulas de Educação Física e da prática

da atividade física fora da escola, além de um aumento do número de alunos que não

freqüentam/participam/apreciam as aulas regularmente.

Tabela 1 - Resultados referentes à questão a disciplina preferida dos alunos.

5ª série

7ª série

1º ano do EM

Educação Física

48,1%

49,7%

44%

Português

14,2%

5,4%

7,6%

Ciências

10,3%

13,5%

11,4%

Educação

Artística

10%

7,4%

8,3%

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Matemática

7,2%

11,6%

14,8%

Geografia

5,6%

6%

1,5%

Inglês

3%

3,4%

8,1%

História

1,6%

3%

4,3%

Possibilidades de ampliação dos conteúdos da Educação Física

O professor de natação não pode ensinar o aluno a nadar na areia fazendo-o imitar

seus gestos, mas leva-o a lançar-se na água em sua companhia para que aprenda a

nadar lutando contra as ondas, fazendo seu corpo coexistir com o corpo ondulante que

o acolhe e repele, revelando que o diálogo do aluno não se trava com seu professor de

natação, mas com a água. O diálogo do aluno é com o pensamento, com a cultura

corporificada nas obras e nas práticas sociais e transmitidas pela linguagem e pelos

gestos do professor, simples mediador.

(Marilena Chaui)

Vivemos numa sociedade de classes em que as elites dominantes transmitem os

valores de seus interesses, procurando nos fazer crer que esses são os únicos e

verdadeiros. Essa inculcação de valores limita o nosso poder de reflexão e contribui no

sentido de amenizar os conflitos e perpetuar o sistema. Entendemos, também, que além

dos interesses de classe não podemos nos descuidar das questões individuais. Embora

nossa maneira de pensar seja bastante semelhante, somos seres individuais, com

necessidades diferenciadas.

Acreditamos, portanto que o ensino deve ter como objetivo contribuir para o

desenvolvimento da consciência individual e sobre a sociedade em que vivemos.

Vimos anteriormente que a Educação Física no seu processo histórico serviu e ainda ser

muitas das vezes de mascaramento ideológico e reproduziu todos os valores do sistema

capitalista.

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A Educação Física tem transformado algo no seio da sociedade ao longo deste

tempo ou ela tem-se prestado a servir de mascaramento ideológico, onde a

inconsciência ocupa o lugar da consciência crítica?

De acordo com PARANÁ (2006):

“Refletir sobre as práticas corporais significa buscar a

superação de uma visão que vinculou, por muito tempo, a

Educação Física a uma perspectiva voltada para o

desenvolvimento de aptidões físicas, o que priorizou,

historicamente, na escola, a simples execução de exercícios

físicos destituídos de uma reflexão sobre o fazer corporal.”

Notamos que não existe tempo mais propício para a construção e ação de uma

práxis pedagógica revolucionária onde educação só pode ser vinculada a uma pedagogia

claramente socialista, cuja teoria seja alicerçada no materialismo histórico-dialético e no

marxismo como concepção de homem e de história comprometidos com a práxis

revolucionária.

Os conteúdos da Educação Física devem ser substanciados, significativos aos

alunos e desta forma transformados em objeto de estudo. Devendo, portanto, os atores

do processo educativo passar pelo processo de letramento dos elementos da cultura

corporal de movimento. E desta forma surgem perguntas inquietantes: quais conteúdos?

Haverá formas e meios de pensarmos em uma divisão sistematizada dos conteúdos da

Educação Física? Qual o conteúdo preferido? Qual o conteúdo mais importante?

Alguns autores defendem a sistematização, como Kunz, o coletivo de autores,

mas também existem outros que não defendem a sistematização, como por exemplo,

Daólio.

Na busca de legitimação surgiram historicamente contribuições apresentadas

segundo Darido (1998): Psicomotricidade, Desenvolvimentista, Construtivista, Críticas

(superadora e emancipatória), Jogos cooperativos, Saúde renovada e PCN.

Notamos que muitas dessas abordagens têm influenciado a prática pedagógica

aqui no Rio de Janeiro, mas podemos ver que nenhuma delas foram organizadas por

autores que atuam aqui no Rio de Janeiro. O que tem provocado certos problemas pela

diversidade de realidades encontradas aqui e que muitas das vezes a internacionalização

dessas abordagens provocam limitações no processo de ação-reflexão-ação.

Um dos grandes desafios seria pensarmos sim em uma organização de uma

proposta curricular partindo de debates, encontros, seminários e fóruns feitos por

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professores e estudantes de Educação Física gerando uma orientação na prática

pedagógica aqui no Rio de Janeiro pensando na diversidade de realidades encontradas: a

cidade, o meio rural, as regiões praieiras, a baixada fluminense, as favelas, etc.

Desta forma não mais pensaríamos em trazer algo de fora, como uma “camisa de

força” uma “receita de bolo” a serem seguidas, como é o exemplo da proposta curricular

de São Paulo criada pelos seguintes autores Adalberto dos Santos Souza, Jocimar

Daolio, Luciana Venâncio, Luiz Sanches Neto, Mauro Betti, Sérgio Roberto Silveira

como podemos observar abaixo:

Quadro 3 – Exemplo da sistematização dos conteúdos.

8ª SÉRIE

1º Bimestre

2º Bimestre

3º Bimestre

4º Bimestre

Luta

Modalidade:

Capoeira

– Capoeira como

luta jogo e esporte

– Princípios técnicos

e táticos

– Processo histórico

Esporte

Modalidade coletiva:

a escolher

– Técnicas e táticas

como fatores de

aumento da

complexidade do jogo

– Noções de

arbitragem

O esporte na

comunidade escolar e

em seu entorno:

espaços, tempos e

interesses

Espetacularização do

esporte e o esporte

profissional

– O esporte na mídia

– Os grandes eventos

Esporte

Jogo e esporte:

diferenças

conceituais e na

experiência dos

jogadores

Modalidade

“alternativa” ou

popular em outros

países: rugby,

beisebol, badminton,

frisbee, ou outra

– Princípios técnicos

e táticos

– Principais regras

– Processo histórico

Atividade rítmica

Organização de

festivais de dança

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esportivos

Atividade rítmica

As manifestações

rítmicas de

diferentes

Grupos

socioculturais

– As manifestações

rítmicas na

comunidade

Escolar e em seu

entorno: espaços,

tempos e interesses

Manifestações

rítmicas ligadas à

cultura jovem:

hip-hop, streetdance

e/ou outras

– Diferentes estilos

como expressão

sociocultural

– Principais passos/

movimentos

Atividade rítmica

Manifestações

rítmicas ligadas à

cultura jovem: hip-

hop, streetdance e/ou

outras

– Coreografias

Esporte

Organização de

campeonatos

Podemos observar que os conteúdos citados no quadro acima, como hip-hop,

streetdance, rugby, badminton, frisbee se tornariam difíceis de serem colocados em

prática primeiro pelo déficit no processo de formação de professores aqui no Rio de

Janeiro pelos currículos das universidades distantes desta realidade, outra dificuldade

seria a falta de uma política de formação continuada, como pensar nesta aplicação com

professores formados há muitos anos, isso seria um choque para estes professores, outra

dificuldade também seria a falta de espaços físicos e materiais nas escolas públicas.

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Essa lógica reforça a perspectiva “clássica” da formação de professores apontada

por Candau (1997), aonde a universidade é o lócus do saber e cabe apenas aos

professores executarem as teorias construídas pelos “pensadores”

Estaríamos elaborando, portanto, uma orientação para o Rio de Janeiro através

de uma construção coletiva e não apenas por algumas pessoas.

Desta forma poderíamos levantar quantas manifestações de jogos e brincadeiras,

quantas danças e atividades rítmicas, quantos esportes, quantas lutas, quantas formas de

ginástica, atividades circenses podemos registrar aqui no Rio de Janeiro e confrontar

com todas as manifestações da cultura corporal do ser humano.

Nós podemos avançar na medida em que organizarmos as ações da Educação

Física no âmbito escolar como fundamentação teórica, planejamento adequado,

conteúdos sistematizados e metodologias participantes.

Na justificativa de legitimar a Educação Física, observamos o alcance da

especificidade que a ela é dada considerando-se que é finalidade da Educação Física na

escola, integrar e introduzir os alunos no mundo da cultura física, formando o cidadão

que vai usufruir partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da

atividade física (o jogo, o esporte, a dança, a ginástica).

Devemos, nesse sentido, trabalhar a Educação Física numa perspectiva de

transformação, rompendo com os padrões impostos pela classe dominante do esporte de

rendimento. Pois este reflete os ideais do liberalismo econômico instalado em nossa

sociedade onde alguém tem que perder para que outro possa ganhar.

Diante do exposto podemos compreender o nosso compromisso como

educadores desde já, pois as escolas da rede pública estadual são locais onde os alunos

passam horas diárias e podemos retratar a rotina: os alunos chegam à escola e são

obrigados a utilizar uniforme; muitos alunos vêm para escola direto do trabalho e

acabam por vários motivos chegando atrasados e são algumas vezes proibidos de entrar;

permanecem a maior em sala de aula, sem vivenciar os outros espaços importantes da

escola.

A partir de então, começamos a desenvolver um trabalho na condição de

professores de Educação Física da rede pública estadual, com várias tentativas de

legitimação da Educação Física, buscando a superação, primeiramente, da concepção de

Educação Física que alguns professores têm, de uma disciplina responsável apenas de

cuidar do corpo ou de recrear os alunos para passar o tempo, onde o lugar do raciocínio

e do pensamento é o espaço dentro da sala de aula. Mas a efetiva superação desta

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concepção veio através de um processo árduo de auto-reflexão, debates, troca de

experiências no curso de especialização Saberes e Práticas na Educação Básica -

Políticas Públicas e Projetos Socioculturais em Espaços Escolares da UFRJ, e a

superação veio também com a participação no conselho de classe da escola,

conscientizando e refletindo sobre a importância da Educação Física.

O outro passo para vencer a falta de movimento, causada pela permanência em

sala de aula, sentados a maior parte do tempo, foi dar importância à experimentação dos

movimentos em situação prática, além do conhecimento cognitivo e da experiência

afetiva advindos da prática de movimentos.

Diante do planejamento participativo procuramos vivenciar uma proposta

concreta e realizável, na qual, dividimos pedagogicamente em mapeamento, vivências e

aprofundamento. Em um primeiro momento os alunos foram conhecer a realidade local:

a história do município, a história da escola; os espaços públicos e privados de lazer do

município, os projetos da prefeitura para o esporte e lazer, o crescimento demográfico, a

estética urbana e o processo de favelarização. No segundo momento fizeram o

conhecimento real do espaço escolar realizando o levantamento do espaço físico e

material e dos horários da escola. Isso num processo de reflexão da escola que temos e a

que queremos. E completar este mapeamento, os alunos responderam três questões: O

que significa Educação Física e qual o seu objetivo? Que ações a Educação Física

deveria realizar para atingir os objetivos de mudança/transformação? Liste abaixo quais

conteúdos você gostaria que as aulas de Educação Física trabalhassem durante esse ano.

No terceiro momento a realização de debates envolvendo a comunidade escolar

e a comunidade local, no sentido de refletir a importância da Educação Física na vida

das pessoas, conscientizando-as em se organizarem para reivindicar aos poderes

públicos espaços e equipamentos para o lazer.

No processo pedagógico das vivências os alunos construíram e vivenciaram o

futebol e futsal, o voleibol, o handebol, o basquetebol e ampliaram para o cinema, o

grafite, o hip-hop, o funk, a capoeira, a poesia, o teatro, caminhadas nos bairros e

caminhadas ecológicas, o tênis, atividades de consciência corporal, atividades rítmicas e

expressivas, outras formas de manifestações da dança, a transformação e utilização de

materiais alternativos nas diversas lutas (barbante, cabo de vassoura, garrafa plástica,

TNT, bola de aniversário, papelão, etc.). Nesta fase das vivências puderam vivenciar os

elementos históricos de cada atividade planejada, compreendendo, analisando,

repensando, criando e recriando novas formas de manifestações corporais atuais.

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Puderam também construir novos materiais para a realização das práticas corporais.

Tudo isso fazendo parte dos conteúdos específicos e planejados da Educação Física. E

com isso não havendo a exclusão, garantindo acesso de todos os alunos as atividades

planejadas anteriormente, incluindo homens e mulheres nas aulas, onde no primeiro

momento encontramos certas resistências por parte das mulheres, por estarem

condicionadas a estarem separadas em aulas de Educação Física vivenciadas há tempos

atrás, mas vimos outra resistência foi por parte dos jovens e dos idosos com alguns

conflitos geracionais, mas com o passar do tempo que as resistências foram vencidas,

pois as aulas promoviam um espaço de superação, confronto de diferenças e rupturas de

padrões preestabelecidos.

Além disso, não trabalhamos apenas com um tipo de conteúdo. Proporcionamos

vivências em todos os elementos da cultura corporal. Percebemos a importância da

aprendizagem de conteúdos diversos e significativos.

Na fase pedagógica do aprofundamento os alunos registram em seus cadernos

através de desenhos ou com construção de textos toda a fase das vivências. Pesquisam

temas vivenciados. Utilizamos para isso também o laboratório de informática e

biblioteca. Realizam entrevistas com os familiares, amigos e professores da escola sobre

as práticas corporais.

No processo avaliativo utilizamos um questionário aberto com as seguintes

perguntas: Do que mais gostou? Do que menos gostou? O que a Educação Física

contribuiu na sua formação como estudante e ser humano? O que você achou da

participação da turma e também da sua nas aulas de Educação Física? Que nota você

daria para a sua participação? Dê sugestões de atividades a serem vivenciadas nas

próximas aulas. Utilizamos também um quadro aonde os alunos são motivados a

responderem o que aprenderam nas aulas de Educação Física.

E para a avaliação individual utilizamos alguns critérios importantes:

1) Enfrentar desafios colocados em situações de vivências dos elementos da cultura

corporal de movimento, respeitando, questionando e resignificando as regras e

adotando uma postura cooperativa;

2) Estabelecer algumas relações entre a prática de atividades corporais e a

conjuntura social;

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3) Valorizar e apreciar diversas manifestações da cultura corporal,

identificando suas possibilidades de lazer e aprendizagem e criar

possibilidades de ampliação dos conteúdos da educação física escolar.

Enfim, utilizamos neste processo avaliativo um quadro de referência para avaliação de

cada aluno.

Quadro 4 – Descritores para avaliação individual.

01 Expressa com clareza as dúvidas e busca

assegurar a compreensão das mesmas

S QS R N SCO

02 Demonstra entusiasmo pelo conteúdo

apresentado

S QS R N SCO

03 Relaciona os conteúdos a realidade,

aproveitando analogias com a vida real

S QS R N SCO

04 Usa a criatividade e o senso crítico S QS R N SCO

05 Participa ativamente das aulas S QS R N SCO

06 É uma pessoa dinâmica e produtiva, com

bom aproveitamento do tempo

S QS R N SCO

07 Questiona e critica sobre os temas propostos

na aula

S QS R N SCO

08 Apresenta personalidade adequada S QS R N SCO

09 Promove clima favorável às atividades

propostas

S QS R N SCO

10 Relaciona a utilidade dos trabalhos

realizados na aula com a formação

pretendida

S QS R N SCO

11 Apresenta adequada comunicação S QS R N SCO

12 Respeita o colega como pessoa S QS R N SCO

13 Respeita a duração prevista para a aula S QS R N SCO

14 Pontualidade S QS R N SCO

15 Assiduidade S QS R N SCO

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S SEMPRE

QS QUASE SEMPRE

R RARAMENTE

N NUNCA

SCO SEM CONDIÇÕES DE OBSERVAR

CONCLUSÃO

Podemos concluir que a mudança estrutural da sociedade deve perpassar pela

educação. E segundo Aranha (1996):

“E aí reside nossa tarefa: repensar os rumos da escola sem otimismo

ingênuo, mas também sem pessimismo derrotista. O que, afinal, é

possível fazer dentro dos limites da escola e a partir se suas reais

possibilidades?... queremos reforçar a importância da dupla função da

escola: a de transmissora da herança cultural e a de local privilegiado

para a crítica do saber apropriado. Tarefa difícil essa, uma vez que já

nos referimos à crise (mundial) pela qual passa a escola nos tempos

atuais. Se é certo que ela reflete também a crise da cultura, podemos

compreender a dimensão do desafio posto aos educadores.

Se essa instituição torna-se indispensável como instância mediadora,

estabelecendo o vínculo entre as novas gerações e a cultura acumulada,

à medida que a sociedade contemporânea se torna mais complexa a

escola adquire, cada vez mais, um papel insubstituível”. (p.69)

Mas para isso é necessário repensar todo o currículo das licenciaturas, pois

atualmente vimos que a didática, a psicologia, a prática de ensino ainda é voltada para o

ensino e aprendizagem apenas de crianças das grandes cidades. E os adultos e idosos? O

meio rural? A região dos Lagos do nosso Estado? Portanto, é necessária a construção

coletiva de um currículo, onde a educação seja voltada para a prática social

considerando todas as especificidades. Vimos que é impossível educar crianças, jovens

e adultos se os educadores são desvalorizados. Com isso, se faz urgente o lançamento

do movimento de trabalhadores da Educação Física, mas para isso devemos saber quem

são esses trabalhadores do ponto de vista da sobrevivência e do trabalho (quais são as

atividades remuneradas, níveis de ganho, gastos correntes e extraordinários de todos os

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membros da família), levantar algumas histórias de vida; promover atividades

curriculares e extracurriculares que possam favorecer sua organização; gradativamente

articular redes de trabalhadores e educadores organizando feiras de troca; colocar em

debate o mundo do trabalho, a economia, a política e a sociedade; o educador deve

acordar o desejo de aprender nas crianças, jovens e adultos e refletir que desafios a

Educação Física pode trabalhar para estabelecer outra sociedade? As tentativas de

legitimação de a Educação Física devem ser grandes avanços, mas não depende

somente das nossas aulas, é preciso compreender em que ideologia a escola está situada,

pois a escola ainda é o lugar de transmissão de conhecimentos, do pensamento único, do

poder estabelecido, onde os professores mandam e os alunos obedecem, são eles que

dominam os conteúdos e os transmitem como donos da verdade. E o mecanismo de

controle está presente em todos os espaços, considera-se que o importante são os

comportamentos manifestos, observáveis, mensuráveis. E para romper com esta lógica

se fazem necessárias mudanças estruturais, que acabem com todo o sistema neoliberal.

Enfim, concluímos que as nossas tentativas de legitimação devem procurar

romper com toda a ideologia dominante e de não ser apenas uma disciplina qualquer,

sem nenhuma relevância para os alunos e nem somente legal, mas sim legítima.

“Venho do porão. Lugar de minoria, mas gente rebelde, de mente que pensa, e voz que

não cala. Gente que luta, resiste, e mesmo reluta, mas se atreve a pensar. Ser

consciente. Ver o que vive, e vivendo a vida, a vida enxergar. Discuto, analiso, revejo

valores, corto as amarras. Sem a certeza do certo, me agonio. Nem sempre, tenho a

resposta que quero, nem sempre a resposta que espero. Penso em mim, nos outros, na

fome, na miséria, no preconceito. Quero um mundo mais justo, mais fraterno, mais

solidário. Utopia. Responde a ideologia. Digo que não. A resposta respondo, com

elaboração e ação. Respondo com práxis”. (Caderno de textos da disciplina Didática

Geral do Curso XVII em especialização em Educação Física Escolar da Universidade

Federal Fluminense - Professor Waldyr Lins de Castro)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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