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MESTRADO PROFISSIONAL Sustentabilidade Socioeconômica Ambiental DISSERTAÇÃO PARTICIPAÇÃO POPULAR NA GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA DE PEQUENAS E MÉDIAS CIDADES: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DOS CONSELHOS MUNICIPAIS DE MEIO AMBIENTE NA MICRORREGIÃO DO MÉDIO PIRACICABA - MG Cristina Maria Soares OURO PRETO, MG 2013

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MESTRADO PROFISSIONAL

Sustentabilidade Socioeconômica

Ambiental

DISSERTAÇÃO

PARTICIPAÇÃO POPULAR NA GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA DE

PEQUENAS E MÉDIAS CIDADES: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DOS

CONSELHOS MUNICIPAIS DE MEIO AMBIENTE NA MICRORREGIÃO DO

MÉDIO PIRACICABA - MG

Cristina Maria Soares

OURO PRETO, MG

2013

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Cristina Maria Soares

“PARTICIPAÇÃO POPULAR NA GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA DE

PEQUENAS E MÉDIAS CIDADES: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DOS

CONSELHOS MUNICIPAIS DE MEIO AMBIENTE NA MICRORREGIÃO DO

MÉDIO PIRACICABA – MG”

Orientador

Prof. Dr. Alberto de Freitas Castro Fonseca

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade Socioeconômica

Ambiental, Universidade Federal de Ouro Preto, como parte dos requisitos necessários para a

obtenção do título: “Mestre em Sustentabilidade Socioeconômica Ambiental – Área de

Concentração: Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental

OURO PRETO, MG

2013

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Catalogação: [email protected]

S676p Soares, Cristina Maria.

Participação popular na gestão pública de pequenas e médias cidades

[manuscrito] : uma análise comparativa dos conselhos municipais de meio

ambiente na microrregião do Médio Piracicaba / Cristina Maria Soares – 2013.

110f.

Orientador: Prof. Dr. Alberto de Freitas Castro Fonseca.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Núcleo de

Pesquisas e Pós-graduação em Recursos Hídricos. Programa de Pós-Graduação

em Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental.

Área de concentração: Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental.

1. Gestão ambiental - Teses. 2. Administração pública - Teses. 3.

Administração municipal - Teses. 4. Política ambiental - Teses. I. Fonseca,

Alberto de Freitas Castro. II. Universidade Federal de Ouro Preto. III. Título.

CDU: 502.131.1

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MEUS AGRADECIMENTOS:

A Deus, força, maior da minha vida;

Ao Prof. Dr. Alberto de Freitas Castro Fonseca, pela confiança, incentivo e

empenho na orientação deste trabalho;

A minha família, pelo apoio em todos os momentos;

A José Carlos e Lucas, pelo amor incondicional, companheirismo e compreensão

pelo tempo que a eles não dediquei;

Aos professores e colegas do mestrado, pelo aprendizado e pelos bons momentos

compartilhados;

Aos meus colegas de trabalho, pela torcida e disponibilidade em ajudar.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 1

1.1 OBJETIVOS ...................................................................................................................................... 4 1.2 ASPECTOS METODOLÓGICOS ......................................................................................................... 4

2. IMPORTÂNCIA E DESAFIOS DA PARTICIPAÇÃO POPULAR NA GESTÃO AMBIENTAL

PÚBLICA ....................................................................................................................................................... 10

2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO DE PARTICIPAÇÃO ........................................................... 10 2.2 TIPOS DE PARTICIPAÇÃO .............................................................................................................. 13 2.3 CONTEXTO HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA GESTÃO AMBIENTAL NO

BRASIL 18 2.4 IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA GESTÃO AMBIENTAL DOS MUNICÍPIOS ............. 22 2.5 CONSELHOS MUNICIPAIS DE MEIO AMBIENTE: ESPAÇOS DE PARTICIPAÇÃO? .......................... 26

3. A GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA MUNICIPAL E OS CONSELHOS MUNICIPAIS DE

MEIO AMBIENTE ....................................................................................................................................... 29

3.1. PROBLEMAS E DESAFIOS DA GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA MUNICIPAL ........................................... 29 3.2. INSTITUCIONALIZAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS CONSELHOS MUNICIPAIS DE MEIO AMBIENTE NO

BRASIL ........................................................................................................................................................ 36

4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................................................... 46

4.1 LOCALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA REGIÃO DO MÉDIO PIRACICABA .................... 46 4.2 O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA REGIÃO ....................................................................................... 50 4.3 ASPECTOS DEMOGRÁFICOS E SOCIOECONÔMICOS DOS MUNICÍPIOS PESQUISADOS ................... 53 4.4 PROBLEMAS AMBIENTAIS ............................................................................................................. 59

5. CONSELHOS MUNICIPAIS DE MEIO AMBIENTE DE PEQUENAS E MÉDIAS CIDADES

DA MICRORREGIÃO DO MÉDIO PIRACICABA: CENÁRIOS E DESAFIOS ................................. 62

5.1. CARACTERIZAÇÃO DOS CODEMAS DOS MUNICÍPIOS PESQUISADOS .................................................. 63 5.2. PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NOS CODEMAS .................................................................................. 75

6. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 89

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................ 92

APÊNDICES .................................................................................................................................................. 99

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VI

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 Triangulação da coleta de dados usada na pesquisa............................................8

Figura 3.1. Percentual de municípios com Conselho de Meio Ambiente, por grandes

regiões – 1999/2009. ........................................................................................................... 42

Figura 3.2. Percentual de municípios com Conselho Municipal de Meio Ambientde acordo

com as classes de tamanho da população dos municípios – 2009 ...................................... 43

Figura 4.1. Localização dos municípios pesquisados em Minas Gerais e na Bacia do Rio

Piracicaba............................................................................................................................. 47

Figura 4.2. Serra do Caraça - Catas Altas/MG ................................................................... 49

Figura 4.3. Minas em atividade nos municípios pesquisados.............................................. 53

Figura 4.4. Crescimento populacional dos municípios pesquisados (1991 – 2010). ......... 55

Figura 4.5. Distribuição do PIB nos municípios pesquisados. ............................................ 58

Figura 4.6. Ocupação irregular às margens do Córrego São Miguel em Barão de Cocais. 60

Figura 5.1. Perfil dos membros dos Codemas, segundo segmento que representam...... 65

Figura 5.2. Forma como os integrantes do conselho tomaram conhecimento do Codema. 67

Figura 5.3. Perfil dos membros dos Codemas, segundo o sexo...................................... 69

Figura 5.4. Perfil dos membros dos Codemas, segundo a escolaridade.......................... 70

Figura 5.5. Perfil dos membros dos Codemas, segundo a idade..................................... 71

Figura 5.6. Tempo de participação dos conselheiros nos Codemas................................ 72

Figura 5.7. Percepção dos Conselheiros Municipais de Meio Ambiente sobre seu nível de

conhecimento da legislação ambiental.................................................................................73

Figura 5.8. Percepção dos Conselheiros Municipais de Meio Ambiente quanto necessidade

de participar de cursos que abordem temas relacionados à questão ambiental................... 74

Figura 5.9. Meios de divulgação das ações e reuniões dos Codemas............................. 76

Figura 5.10. Frequência com as pessoas da comunidade procuram pelos membros dos

Codemas para discutir questões ambientais.................................................................... 77

Figura 5.11. Frequência da participação da comunidade nas reuniões dos Codemas..... 78

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Figura 5.12. Forma de participação da comunidade nas reuniões dos Codemas............ 79

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VIII

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1. Distribuição, por município selecionado, dos questionários respondidos pelos

membros dos Codemas entre Novembro e Dezembro de 2012....................................... 07

Tabela 4.1. Área, População Urbana, População Rural e Densidade Demográfica dos

Municípios da Microrregião do Médio Piracicaba ............................................................. 54

Tabela 4.2. IDH-M do Brasil, de Minas Gerais e dos Municípios da Microrregião do

Médio Piracicaba ................................................................................................................. 56

Tabela 4.3. Municípios com maior PIB per capita de Minas Gerais ................................. 57

Tabela 5.1. Características dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente dos municípios

pesquisados...........................................................................................................................64

Tabela 5.2. Fatores que influenciam nas decisões do Codema nos municípios selecionados

no Médio Piracicaba/MG..................................................................................................... 81

Tabela 5.3. Percepção dos conselheiros sobre medidas para melhorar a atuação dos

Codemas nos municípios pesquisados............................................................................. .... 85

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA: Agência Nacional das Águas

CENIBRA: Celulose Nipo-Brasileira

CEPAM: Centro de Estudos e Pesquisas em Administração Municipal

CIPAM: Comitê de Integração de Políticas Ambientais

CMMA: Conselho Municipal de Meio Ambiente

Codema: Conselho Municipal de Meio Ambiente

CONAMA: Conselho Nacional de Meio Ambiente

CVRD: Companhia Vale do Rio Doce

ETE: Estação de Tratamento de Esgoto

IBAMA: Instituto Brasileiro de Meio Ambiente

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMBio: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

IDH: Índice de Desenvolvimento Humano

IDH-M: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

IETS: Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade

MMA: Ministério do Meio Ambiente

MUNIC: Pesquisa de Informações Básicas Municipais

ONGs: Organizações Não Governamentais

ONU: Organização das Nações Unidas

OP: Orçamento Participativo

PIB: Produto Interno Bruto

PNC: Programa Nacional de Capacitação

PNMA: Programa Nacional de Meio Ambiente

RIMA: Relatório de Impacto Ambiental

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SFB: Serviço Florestal Brasileiro

SISMUNA: Sistema Municipal de Meio Ambiente

SISNAMA: Sistema Nacional de Meio Ambiente

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RESUMO

A descentralização e a democratização da gestão ambiental têm sido cada vez mais

debatidas nos meios acadêmicos e profissionais. A década de 1980, quando foi instituída a

Política Nacional de Meio Ambiente e a Constituição de 1988, significou um grande

avanço para que os municípios recebessem maior autonomia e responsabilidades na gestão

ambiental. Muitas dessas responsabilidades representam grandes desafios, principalmente,

para os pequenos municípios. Um desses desafios é garantir a participação da população na

condução das políticas públicas de meio ambiente. Dentre os mecanismos de participação

popular na gestão ambiental merecem destaque os Conselhos Municipais de Meio

Ambiente (Codemas), que são órgãos colegiados criados para assessorar o poder executivo

municipal nas questões ambientais. Embora tenha ocorrido um grande crescimento

quantitativo dos Codemas no Brasil nos últimos anos, muitos autores questionam se esse

órgão tem garantido a participação efetiva de diferentes segmentos da sociedade na

condução das políticas ambientais locais. Esta dissertação buscou contribuir para o melhor

entendimento da efetividade dos conselhos municipais de meio ambiente, ao investigar o

grau e a qualidade da participação da população nos Codemas de cinco municípios da

região do Médio Piracicaba/MG. Os resultados apontam que há um recente esforço das

administrações dos municípios em criar espaços institucionais na área de meio ambiente,

ainda que alguns funcionem precariamente. Também ficou constatado que ainda é baixo o

grau de participação da população nesse espaço e, quando essa se dá, ocorre

principalmente para atender interesses individuais. Apesar dos Codemas pesquisados

serem paritários, há desigualdades de força e qualificação técnica de seus membros e isso

influencia nas deliberações dos conselhos. A cidade com maior Índice de Desenvolvimento

Humano Municipal apresentou o Codema mais organizado, o que coincide com as

estatísticas nacionais, mas seriam necessários futuros estudos para comprovar essa

tendência.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão ambiental municipal; Conselhos Municipais de Meio

Ambiente (Codema); política ambiental; participação popular.

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ABSTRACT

Environmental management decentralization and democratization is increasingly

discussed in academic and professional sectors. In the 1980s, when the environmental

domestic policies and the 1988 Brazilian Constitution were established, there was great

advance for the cities to be more autonomous and responsible for their environmental

management. Many of these responsibilities represent major challenges, especially for

small municipalities, and these challenges include ensuring the participation of the people

to conduct environmental public policies. Among these mechanisms of social participation,

it is municipal environmental council (Codema, in Portuguese), which are collegiate bodies

developed to assist the municipal executive branch in environmental issues. Although there

has been quantitative growth of Codemas in Brazil in the last few years, several authors

questioned whether these bodies have guaranteed the effective participation of different

social branches in the conduction of local environmental policies. In this manner, the

present work is intended for contributing to a better understanding of the effectiveness of

environment city boards when investigating the level and the quality of social influence in

Codemas of five cities outside Médio Piracicaba, MG. The results point to a recent effort

by cities administration in creating institutional spaces in environmental fields, yet some

actuate poorly. It was also verified that the level of social participation is still low and,

whenever there is participation, it is applied mostly in order to satisfy individual interests.

Although the researched Codemas are joint-natured, there are inequalities of power and

technical qualification of their members, which have some influence on the board

deliberations. The city presenting the highest Municipal Human Development Index has

the most organized Codema, which matches the domestic statistics. However, further

studies are necessary to prove this trend.

KEYWORDS: Municipal environmental management; municipal environmental council;

environmental policy; public participation.

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1. INTRODUÇÃO

O aumento da preocupação com as questões ambientais, observado principalmente

a partir da década de 1970, incluiu na agenda das administrações públicas e privadas a

necessidade de uma gestão ambiental eficaz com foco no desenvolvimento sustentável.

Nesta agenda, a descentralização e a democratização das decisões em torno das questões

ambientais são fundamentais para conferir legitimidade à política de meio ambiente.

No Brasil, a década de 1980 foi marcada por grandes avanços na legislação

ambiental, que contribuíram, ainda que teoricamente, para um processo de

descentralização e democratização da gestão ambiental na esfera pública. A Lei Federal Nº

6938/81, que instituiu a Política Nacional de Meio Ambiente, já considerava os municípios

como parte do Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA, atribuindo a estes

responsabilidades acerca do meio ambiente local. Mas foi com a Constituição Federal de

1988 que os municípios ganharam mais autonomia, ao serem reconhecidos como entes

federados. Segundo Pereira, Mungai e Cruz (2007, p.10) “A descentralização defendida

pela Constituição Federal de 1988 fortaleceu o papel dos municípios brasileiros na gestão

do seu espaço especialmente no que se refere às políticas ambientais, um desafio para as

representações políticas locais”.

Dentre os desafios enfrentados pela gestão ambiental local está o de garantir a

participação da comunidade na formulação e implementação de políticas públicas. Vários

autores defendem que a ampla participação da população no debate e formulação das

políticas ambientais locais é fundamental para garantir a legitimidade e o alcance dos

objetivos das mesmas.

De acordo com Milaré (2005, p. 181), “atualmente é consensual que não se pode

fazer uma gestão ambiental eficaz sem a implementação de políticas públicas com

participação comunitária”. Avritzer (2011) reforça esse argumento ao afirmar que a

participação da sociedade civil é uma precondição para o êxito dos processos deliberativos.

Philippi Jr. e Zulauf (1999) também observam que o sucesso da gestão ambiental,

principalmente no âmbito municipal, está diretamente ligada à participação da comunidade

no debate e nas deliberações que envolvem o meio ambiente.

Atualmente, existem vários mecanismos legais que preceituam a participação da

sociedade na condução das decisões em torno das questões ambientais. Dentre esses

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mecanismos podem ser citados as audiências públicas, o orçamento participativo, a

iniciativa popular de projeto de lei e os conselhos de meio ambiente.

Na esfera local, os Conselhos Municipais de Meio Ambiente (Codemas) merecem

uma atenção especial, uma vez que constituem um importante mecanismo de participação

da comunidade na gestão ambiental local. Os Conselhos de Meio Ambiente

São órgãos colegiados que têm como função a formulação de políticas de meio

ambiente. São instituições de caráter oficial que incluem a participação da

comunidade. No Brasil, O Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA –

foi instituído pela Lei Federal nº 6.938, de 31/08/1981; os Estados e Municípios

também têm criado os seus Conselhos. De acordo com a resolução CONAMA

nº 237, de 19/12/1997, tais Conselhos devem ter função deliberativa sobre

políticas ambientais (planos, programas e projetos) se o Estado ou Município

exercer o licenciamento Ambiental. (MAZZINI, 2004, p. 113)

Os últimos anos foram marcados por um expressivo crescimento quantitativo de

Conselhos Municipais de Meio Ambiente no Brasil, especialmente após 1997 quando a

Resolução CONAMA nº 237 facultou aos municípios a atuação no licenciamento

ambiental local. Essa prerrogativa de licenciamento municipal ficou condicionada à

capacidade técnica do órgão municipal de meio ambiente e à implementação de Codemas.

Souza e Novicki (2010) afirmam que essa resolução foi a grande indutora da disseminação

dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente no Brasil e não a sensibilização do poder

público local.

De acordo com dados do IBGE (2012), em 2001 a proporção de municípios

brasileiros com Codemas ativos era de 22,3%. Em 2009, esta proporção passou para

39,9%. Os Codemas podem ser consultivos, deliberativos, normativos e ou fiscalizadores.

Têm como finalidade assessorar o poder executivo no que tange as questões ambientais.

Esses conselhos “institucionalizam a participação dos diversos segmentos da sociedade

civil organizada e possibilitam a entrada em vigor de uma nova cultura cívica” (IBGE,

2009, p. 130). Já Alcântara (2010, p. 1814) afirma que os conselhos de meio ambiente “são

espaços de discussão, debates e conflitos de interesses.” De fato, o caráter plural do

conselho favorece o embate de ideias e traz a tona diferentes visões e demandas

relacionadas ao meio ambiente.

De acordo com Gohn (2011) os conselhos viabilizam o acesso e a participação de

diversos segmentos sociais nos espaços onde importantes decisões políticas são tomadas,

entretanto a mesma autora questiona a efetividade dos conselhos como canais de

participação social. Pereira, Mungai e Cruz (2007, p. 26) advertem que “Os processos

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envolvidos nas ações dos Codemas caracterizam-se por embates entre forças de agentes

políticos, econômicos e sociais de diversas naturezas com graus distintos de influência.”

Esse embate de interesses pode fazer com que os conselhos sirvam apenas para legitimar as

decisões que priorizem os interesses econômicos ou das elites dominantes, principalmente

em pequenos municípios. Leme (2010, p. 40) ainda alerta que “A simples criação de

conselhos não representa que sua finalidade seja cumprida; a sua composição também não

representa a real participação dos atores”.

Vários autores vêm defendendo a relevância dos Conselhos de Meio Ambiente,

dentro da administração pública, na condução das políticas ambientais. Contudo, não é raro

verificar a emergência de questionamentos sobre a garantia da participação democrática e

os interesses políticos e econômicos envolvidos nesses conselhos, principalmente a nível

municipal. Muitos Conselhos Municipais de Meio Ambiente enfrentam dificuldades no

acompanhamento e controle das ações direcionadas ao meio ambiente. As causas são

diversas, dentre as quais podem ser citadas a falta de capacidade técnica, de infraestrutura,

de interesse e disponibilidade dos membros, divergência de interesses, inexistência de

apoio e desconhecimento a respeito do seu papel e competência (PEREIRA, MUNGAI e

CRUZ, 2007). Contudo, para Philippi Jr. et al. (1999, p. 130)

As experiências existentes mostram que, apesar de todas as dificuldades

inerentes ao tema e ao conflito com poderosos interesses econômicos, os

Conselhos têm tido um papel relevante e crescente na política, passando

inclusive, em muitos casos, da marginalidade inicial à centralidade das decisões

que afetam os interesses coletivos.

Já Carvalho (2003, p. 8) alerta sobre “o risco de transformar os conselhos em

estruturas burocratizadas que, ao contrário de fortalecer os movimentos e a vontade

popular, acabam se transformando em estruturas que reforçam o poder político local ou

estruturas inoperantes apenas formais”. Nos municípios de pequeno ou médio porte esse

risco pode ser ainda maior, uma vez que essas localidades carregam muitas vezes uma

herança clientelista ou sofrem a dependência econômica monoindustrial. É o caso de

alguns municípios da região do Médio Piracicaba, MG.

Os municípios selecionadas para este estudo, Barão de Cocais, Catas Altas, Itabira,

Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo, embora constituam um grupo heterogêneo,

com características próprias, vêm vivenciando um dinamismo demográfico e econômico

motivados principalmente pela mineração. Embora a atividade mineradora tenha acelerado

o crescimento desses municípios, ela também gera, ainda que indiretamente, diversos

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problemas socioambientais como a pressão imobiliária, aumento significativo do fluxo de

veículos nas cidades, ocupações de áreas inadequadas, aumento da demanda por serviços

de saúde, educação e segurança pública. Alguns desses problemas são objetos de discussão

dentro do Codema.

Todos os municípios pesquisados possuem Conselho Municipal de Meio Ambiente

e, embora este conselho tenha papel fundamental nas deliberações de questões que podem

influenciar a qualidade de vida nessas localidades, seu trabalho é, em geral, desconhecido

pela população. Mesmo no meio acadêmico ainda há uma carência de estudos sobre o

papel dos Codemas e o cumprimento de seus objetivos, especialmente em pequenos

municípios.

Dentro dessa perspectiva é pertinente discutir: Os Conselhos Municipais de Meio

Ambiente têm garantido, de forma adequada, a participação democrática da sociedade na

condução das questões ambientais inerentes aos mesmos?

1.1 Objetivos

O objetivo central deste trabalho consiste em investigar, através do estudo dos

casos dos Municípios da Microrregião do Médio Piracicaba - MG, o grau e a qualidade da

participação da população local nos Conselhos Municipais de Meio Ambiente.

Para que este objetivo seja alcançado é necessário que os seguintes objetivos

secundários sejam atendidos:

Conhecer e comparar a estrutura e o funcionamento dos Conselhos Municipais de Meio

Ambiente dos municípios da Microrregião do Médio Rio Piracicaba;

Averiguar quantitativa e qualitativamente o grau de participação da população local nos

Conselhos Municipais de Meio Ambiente; e

Identificar as ações e os limites contidos no trabalho dos Conselhos e discutir as

práticas municipais, ensejando melhor compreender as articulações e conflitos.

1.2 Aspectos Metodológicos

Considerando que esta pesquisa não visa à construção de um novo marco teórico,

mas sim o estabelecimento de uma relação entre a teoria e a prática, dentre outros fatores,

optou-se por uma pesquisa descritiva e explicativa.

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Dentro dessa classificação, ao ser descritiva, a pesquisa aborda aspectos como:

investigação, descrição, registro, análise e interpretação de fenômenos atuais. E explicativa

porque busca “identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos

fenômenos” (GIL, 2007, p.42). Ainda de acordo com Gil (2007), as pesquisas

exploratórias e descritivas são bastante usadas nas pesquisas sociais, inclusive naquelas

que visam, por exemplo, investigar o nível de atendimento de estruturas e órgãos públicos

à sociedade.

Triviños (1987) ressalta que estudos de natureza exploratória conferem ao

pesquisador maior familiaridade com o objeto de estudo. Gil (2007, p. 41), por sua vez,

afirma que a pesquisa exploratória geralmente “assume a forma de pesquisa bibliográfica

ou de estudo de caso.” Tal apontamento feito por Gil (2007) cita dois dos procedimentos

utilizados neste trabalho e serão aqui descritos.

A fim de atender aos objetivos propostos, a pesquisa utilizou-se de um recorte

geográfico – cinco municípios da região do Médio Piracicaba/MG – para desenvolver um

estudo de múltiplos casos. A escolha dos municípios levou em consideração os seguintes

fatores: o fato de todas estarem inseridas num processo de dinamismo relacionado aos

projetos de mineração, possuírem Conselhos de Meio Ambiente e, embora com tamanhos

distintos, vivenciarem alguns problemas socioambientais comuns, facilitando assim a

comparação do tratamento dos mesmos pelos Conselhos Municipais de Meio Ambiente e

da participação da população nesses conselhos.

Os objetos de estudo desse trabalho foram os Conselhos Municipais de Meio

Ambiente de cinco municípios dessa região. De acordo com Gil (2007, p. 139) “A

utilização de múltiplos casos é a situação mais frequente nas pesquisas sociais.” Ainda de

acordo com esse autor o estudo de múltiplos casos corrobora para uma pesquisa de melhor

qualidade, uma vez que permite a coleta de evidências em diferentes contextos. Todavia,

esse tipo de pesquisa demanda maior tempo para coleta e análise dos dados, bem como

uma metodologia mais apurada.

Quanto aos procedimentos de coleta de dados, trata-se de uma revisão da literatura,

investigação documental, entrevistas, aplicação de questionários e observação in loco. A

revisão da literatura pertinente ao tema constituiu a primeira etapa da pesquisa. O

conhecimento do estudo da arte referente ao assunto pesquisado é fundamental para

fornecer embasamento teórico e permitir a fundamentação das análises das informações

posteriormente colhidas. Segundo Marconi e Lakatos (2010, p. 166) a revisão da literatura

“não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre o assunto, mas propicia o exame

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de um tema sob um novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras”.

Todavia a revisão da literatura deve ser criteriosa, uma vez que o uso dessa técnica, assim

como as outras, também pode apresentar desvantagens como o risco de trabalhar com

fontes secundárias cujas informações apresentem equívocos. Gil (2007) alerta que o

trabalho baseado em informações distorcidas tende a levar o pesquisador a “reproduzir ou

mesmo a ampliar esses erros” (GIL, 2007, p. 45).

A fim de obter maior qualidade na revisão da literatura é necessário fazer uma

leitura criteriosa das informações, observar as condições de obtenção dos dados e utilizar

diversas fontes, ensejando identificar possíveis contradições e conhecer a visão de

diferentes autores.

Para a revisão da literatura, nesse trabalho, foram selecionados livros, publicações

em periódicos impressos e digitais, trabalhos acadêmicos como teses e dissertações, bem

como a legislação pertinente. Também foram levantadas informações e estatísticas em sites

e publicações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, do Ministério do

Meio Ambiente e da Fundação João Pinheiro.

Na segunda etapa, que não encerra a revisão da literatura, foi feita uma investigação

documental, visando conhecer a realidade formal dos Conselhos Municipais de Meio

Ambiente dos municípios pesquisados. Foram recolhidas e analisadas cópias das

legislações municipais, dos cinco municípios pesquisados, relativas à criação e

regulamentação dos Codemas e à Política Municipal de Meio Ambiente. Também foram

coletadas cópias das atas das reuniões dos Codemas compreendidas entre janeiro de 2011 e

dezembro de 2012, além das listas com os nomes dos membros efetivos e suplentes do

conselho e os segmentos que os mesmos representam. Nos cinco municípios pesquisados, a

coleta dos documentos foi realizada junto à Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

Gil (2007) elenca uma série de vantagens da pesquisa documental como o fato de

constituir uma rica fonte primária de dados. Marconi e Lakatos (2010) também ressaltam

que documentos, como as leis e registros de atas, geralmente são fidedignos, todavia,

alertam para o fato de que o pesquisador “não exerce controle sobre a forma como os

documentos foram criados” (MARCONI e LAKATOS, 2010, p. 161).

Nessa etapa também foi realizada uma pesquisa de campo, a fim de colher dados

complementares sobre a estrutura e funcionamento dos Codemas e das Secretarias

Municipais de Meio Ambiente dos Municípios pesquisados. Os dados foram obtidos

através de entrevista estruturada com os Secretários Municipais de Meio Ambiente,

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aplicação de questionários aos membros dos Codemas e observação das reuniões entre

Setembro e Dezembro de 2012.

De acordo com Marconi e Lakatos (2010) a entrevista estruturada oferece muitas

vantagens como a possibilidade de comparar respostas de diferentes sujeitos, o que é muito

útil para atender aos objetivos dessa pesquisa. Outra vantagem dessa técnica é a

possibilidade de obter informações relevantes não encontradas em fontes documentais.

Contudo Marconi e Lakatos (2010) alertam que a entrevista deve atender a uma série de

requisitos como clareza e relevância. Para validar uma entrevista é ainda interessante

comparar as informações, sempre que possível, com fontes externas.

Já o questionário estruturado foi aplicado aos membros dos Codemas dos

municípios pesquisados, entre novembro e dezembro de 2012, com o objetivo de conhecer

o perfil dos integrantes dos conselhos e a percepção dos mesmos quanto ao grau e o tipo de

participação da população local nos trabalhos desse órgão.

Dos 63 membros efetivos dos Codemas dos municípios selecionados, 41

responderam ao questionário, o que representa uma amostra de 65% do total, conforme

pode ser observado na Tabela 1.1.

Tabela 1.1. Forma de participação da comunidade nas reuniões dos Codemas.

Município Membros efetivos

do Codema

Membros do

Codema que

responderam ao

questionário

Porcentagem da

amostra

Barão de Cocais 10 6 60% Catas Altas 11 5 45% Itabira 20 12 60% Santa Bárbara 12 12 100% São Gonçalo do Rio Abaixo 10 6 60% Total 63 41 65%

Fonte: Elaborado pela autora com base nas nos questionários respondidos pelos membros dos Codemas dos

municípios pesquisados em Nov. e Dez. de 2012.

Nos municípios de Itabira, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo, os

questionários foram aplicados aos membros do Codema antes das reuniões. Já em Barão de

Cocais e Catas Altas, os questionários foram enviados por e-mail, uma vez que não houve

reuniões do Codema no período de aplicação dos questionários, ou seja, novembro e

dezembro de 2012.

Marconi e Lakatos (2010) citam diversas vantagens no uso do questionário

estruturado, como a obtenção de respostas mais rápidas e precisas e uma maior

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uniformidade na avaliação, dado o caráter impessoal desse instrumento. Entretanto, essa

técnica também apresenta desvantagens. O desconhecimento das circunstâncias em que os

questionários são preenchidos, torna muitas vezes difícil o controle e a verificação

(MARCONI E LAKATOS, 2010).

A fim de minimizar possíveis desvios, como a entrega de questionários (Apêndice

A) para serem respondidos por pessoas que não eram alvos da pesquisa, buscou-se entregar

o questionários em mãos ou enviando diretamente para o e-mail dos membros dos

Codemas, explicando anteriormente a natureza da pesquisa.

Para completar a fase de pesquisa de campo, foram realizadas observações das

reuniões do Codema dos municípios de Barão de Cocais (21/09/2012), Itabira

(22/11/2012), Santa Bárbara (29/11/12) e São Gonçalo do Rio Abaixo (05/12/2012) . Não

foi possível participar de reuniões do Codema do município de Catas Altas para fazer

observações. De acordo com Marconi e Lakatos (2010, p. 174) a observação “permite a

evidência de dados não constantes do roteiro de entrevistas ou de questionários”, portanto

essa técnica é uma importante fonte de informações complementares.

Como já fora exposto, o trabalho utilizou diferentes formas de coleta de dados, o

que contribuiu para uma análise baseada na triangulação. Segundo Triviños (1987, p. 138)

“A técnica da triangulação tem por objetivo básico abranger a máxima amplitude na

descrição, explicação e compreensão do foco em estudo”. A figura 1.1 ilustra as diferentes

fontes de dados usadas na pesquisa.

Figura 1.1. Triangulação da Coleta de Dados usada na pesquisa

Fonte: Elaborado pela autora com base em Triviños (1987).

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A técnica da triangulação se mostra bastante útil na pesquisa qualitativa, pois

permite comparar os dados obtidos de diferentes formas, confirmar a veracidade dos

mesmos ou identificar possíveis contradições.

A terceira etapa da pesquisa compreendeu a análise das informações levantadas, à

luz do referencial teórico. Os dados obtidos através das entrevistas e aplicação de

questionários foram tabulados e comparados com a pesquisa documental e a literatura

pertinente. Os questionários aplicados podem ser conferidos nos APÊNDICES A e B. A

análise buscou entender o grau e a qualidade da participação da população local, através

dos Codemas, na formulação de políticas públicas ambientais nos municípios pesquisados.

A dissertação está organizada em seis capítulos, sendo o Capítulo 1 a Introdução,

onde consta a contextualização geral do tema, os objetivos e aspectos metodológicos da

pesquisa. O Capítulo 2 apresenta uma revisão da literatura sobre a participação pública e os

Conselhos Municipais de Meio Ambiente na gestão ambiental local. No Capítulo 3 são

apresentados os principais desafios da Gestão Ambiental Pública Municipal, bem como a

institucionalização e evolução dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente no Brasil. O

Capítulo 4 apresenta as principais características da área do estudo selecionada para esta

pesquisa, ou seja, cinco municípios do Médio Piracicaba –MG. No Capítulo 5 os resultados

da pesquisa são discutidos à luz do referencial teórico. No Capítulo 6 são contempladas as

conclusões e considerações finais do trabalho.

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2. IMPORTÂNCIA E DESAFIOS DA PARTICIPAÇÃO POPULAR NA GESTÃO

AMBIENTAL PÚBLICA

2.1 Considerações sobre o conceito de participação

Nas últimas décadas, as discussões acerca da participação popular na atuação

pública foram intensificadas, gerando um grande impacto na literatura sobre o tema.

Apesar deste grande impacto, as discussões sobre a temática participação popular é

marcada por “ambiguidades que expressam as diferentes perspectivas com que se utiliza o

termo” (VALLA, 1998, p. 9). Tal fato se deve à análise ampla do tema ao longo da história

da humanidade, tendo em vista a origem do tema nas lutas sociais para a garantia dos

direitos sociais (CREVELIM e PEDUZZI, 2005).

Mas o que vem a ser participação popular? Diversas são as definições sobre o

termo. Valla (1998, p.9) aponta que a “participação popular compreende as múltiplas ações

que diferentes forças sociais desenvolvem para influenciar a formulação, execução,

fiscalização e avaliação das políticas públicas e/ou serviços básicos na área social”.

Modesto (2002, p. 2) afirma ainda que a participação está “relacionada à garantia de

situações individuais da participação ocupada com garantia da legalidade, moralidade,

impessoalidade e eficiência da gestão da coisa pública”. Outras correntes já definem a

participação como sendo “a integração dos grupos ‘marginalizados’ e o mutirão” (VALLA,

1998, p. 9).

Valla (1998) aponta que o termo participação popular ainda possui um significado

especificamente especial na América Latina

Embora o termo participação popular seja hoje utilizado universalmente, sua

aplicação tem um significado especial para a América Latina. A própria ideia de

uma participação popular surge, justamente, para se distinguir de uma outra

concepção de sociedade, onde quem tem estudo e recursos aponta o caminho

‘correto’ para as classes populares. A ambiguidade do termo não vem somente

das várias interpretações que poderiam resultar do seu uso, mas também do fato

de que a tradição autoritária da América Latina, e do Brasil, contamina tanto os

grupos conservadores, como também, frequentemente, os progressistas. Há uma

busca de controle das populações que moram nas periferias dos grandes centros e

trabalham e moram nas áreas rurais. Controle com a finalidade de pôr em prática

as suas concepções de como deve ser a sociedade brasileira (VALLA, 1998, p.

8).

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Mesmo tendo como origem as lutas pelos direitos sociais, a participação social,

recentemente, vem sofrendo pelo enfraquecimento dos movimentos populares em função

do aumento das incertezas sociais, o que levou à carência da legitimidade democrática e

obrigou os governantes a realizarem novas formas de articulação sociopolítica para a

abertura da participação social na gestão pública. Tal questão é retratada por Frey (2004, p.

120):

Enquanto se observa uma tendência ao enfraquecimento dos movimentos

populares em função do aumento das incertezas sociais, do enxugamento dos

sistemas de seguridade social, da fragmentação social, particularmente no âmbito

comunitário, os governos, carecendo de legitimidade democrática, abrem-se para

a sociedade civil, criando novas formas de articulação sociopolítica, como o

orçamento participativo, conselhos-gestores ou participação comunitária,

visando a conciliar o objetivo da legitimidade democrática com o aumento da

eficiência.

Essa tendência ao aumento da articulação sociopolítica realizada pelos governos

para uma maior participação popular, fez com que as propostas se tornassem vagas e

difusas, o que é explicado pela fragilidade das normas relacionadas à matéria e mesmo pela

centralização das mesmas nas mãos dos técnicos e na burocracia governamental (VALLA,

1998).

Como se pode observar, os governos apresentam uma tendência de centralização do

conhecimento acerca das garantia e condições da participação social, ao mesmo tempo,

“assumem um papel propulsor na ampliação da participação pública, a análise teórica da

participação requer abordagens renovadas capazes de integrar a dimensão governamental

que desempenha papel central na configuração das relações sociopolíticas” (FREY, 2004,

p. 120).

Assim, o fomento da participação popular é vista como uma tarefa fundamental do

governo, contudo, no Brasil esta questão pouco prosperou, tendo em vista a ausência de

inovações que permitam uma maior participação popular, muito menos que contribuíram

para a melhoria da qualidade de população (VALLA, 1998).

A participação cidadã caracteriza-se pela substituição da categoria comunidade

ou povo, pela sociedade como categoria central. Este conceito está

fundamentado na universalização dos direitos sociais, na ampliação do conceito

de cidadania e em uma nova compreensão do caráter do Estado, remetendo à

definição das prioridades nas políticas públicas com base em um debate público

(CREVELIM; PEDUZZI, 2005, p. 326).

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No intuito de solucionar tal questão, faz-se necessário estruturar a participação

popular em prol da garantia de um melhor nível no processo de negociação política,

conciliando a participação democrática ampliada com o gerenciamento efetivo (FREY,

2004).

Cabe ressaltar que, a Constituição Federal de 1988 restabeleceu o regime

democrático brasileiro, efetivando e dando condições de atuação de uma democracia

participativa, com base no princípio da soberania popular e no Estado Democrático de

Direito (OLIVEIRA, 2011).

Machado (2010), por sua vez, afirma que a Constituição Federal de 1988 introduziu

no ordenamento brasileiro o princípio da participação, o qual é reafirmado por diversas

legislações infraconstitucionais em diversos nichos de conhecimento, não sendo diferente

da gestão ambiental, tema central deste trabalho.

Nesta perspectiva, Jacobi & Barbi (2007) apontam que existem diversos

instrumentos de participação da população previstos na Constituição Federal, destacando, o

projeto de lei de iniciativa popular, o referendo e o plebiscito, além dos conselhos

comunitários e as audiências públicas.

Como demonstrado, a participação da sociedade teve uma retomada triunfal na

década de 1980, iniciando um processo de conscientização da realidade social e gestão

pública por parte da população, afinal de contas, sem o conhecimento dos problemas é

impossível exercer ações transformadoras. Neste sentido Franco (1999, p. 28) aponta que:

[...] um meio de exercer, de levar para a prática esta consciência, se faz através

de ações como cobrar o cumprimento de suas obrigações aos que exercem cargos

e funções públicas, cobrar a responsabilidade social dos empreendedores e

empresas, e também exigir dos outros cidadãos a participação em ações que

visem ao bem comum.

Diante disso, a participação popular representa uma força imprescindível para fazer

valer as conquistas e garantir as mudanças necessárias à sociedade, proporcionando

melhores condições de vida a toda a população sem discriminação.

Portanto, a participação social deixou de ser uma questão apenas relacionada aos

movimentos sociais e aos emergentes processos e dinâmicas sociais, tornando-se temática

fundamental para a gestão e administração pública, com relevância no desempenho

administrativo como variável central na avaliação das experiências participativas (FREY,

2004).

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Gohn (2011, p. 22) reforça a importância da participação da comunidade na

administração pública ao afirmar que

Participar é visto como criar uma cultura de dividir as responsabilidades na

construção coletiva de um processo, é dividir responsabilidades com a

comunidade. Essa última é vista como parceira, como corresponsável

permanente, não apenas um ator coadjuvante em programas esporádicos.

Vistos os principais aspectos e conceitos relacionados à participação é

extremamente importante, antes de adentrar ao tema principal deste capítulo, qual seja: a

participação popular na gestão ambiental pública brasileira, apresentar alguns dos

principais tipos de participação popular na gestão pública.

2.2 Tipos de Participação

Como descrito anteriormente, a participação popular é fundamental na estrutura

democrática na qual o Brasil está inserido. Porém, diante da grande discussão sobre o

tema, este passou a apresentar diversas formas de representação, sendo definida pelos

autores de forma variável, não existindo um consenso na doutrina acerca dos tipos de

participação existentes. Modesto (2002) relata que a participação popular se apresenta de

diversas formas e de forma heterogênea.

A existência das diversas formas de tipificar a participação social deve-se à

percepção social na qual a mesma está inserida, afinal de contas, a mesma representa a

principal forma de reflexão da democracia, ou seja, representa o exercício pleno da

cidadania. Esse também é o entendimento de Loures (2004, p. 3) quando afirma que, “o

exercício da cidadania, como reflexo da aplicação do princípio da participação popular,

empresta legitimidade, transparência e segurança aos processos decisórios”.

Segundo Modesto (2002), a participação popular pode ser tipificada de duas

maneiras: quanto à sua eficácia de ação e quanto à matéria e a estrutura de sua intervenção.

Quanto à eficácia de ação, Modesto (2002) relata que a participação pode ser vinculante e

não vinculante. A participação vinculante pode ser decisória, com definição de cogestão,

além do mais, a participação vinculante ainda pode ser condicionadora, sendo está última

referente aos conselhos administrativos, que limitam a discricionariedade da autoridade

superior, exigindo motivação extensa em pronunciamentos divergentes; por fim, a

participação não vinculante refere-se aos conselhos meramente consultivos.

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Já em relação à matéria e a estrutura de sua intervenção, Modesto (2002) define que

a participação pode ser consultiva e executiva. A participação consultiva subdivide-se em

individual, quando se tem uma colaboração especializada; colegiada, sendo realizada por

conselhos consultivos e, coletiva, quando se apresenta em audiências públicas com atuação

populacional. Em relação à participação executiva, esta se da de duas formas: cogestão,

através do conselho de gestão, e autônoma, por meio de organizações sociais,

Organizações não- governamentais - ONGs, entidades de utilidade pública.

Apesar de ter este entendimento acerca dos tipos de participação, Modesto (2002)

apresenta ainda duas outras formas muito utilizadas pela literatura. O autor relata a

classificação apontada por dois autores Eduardo Garcia de Enterria e por Maria Sylvia

Zanella Di Pietro.

O primeiro autor relatado por Modesto (2002), Eduardo Garcia de Enterria,

apresenta como forma de classificação da participação em: orgânica (com a inserção dos

cidadãos em órgãos da estrutura do poder Público); funcional (com a atuação cidadã fora

do aparato administrativo) e, por fim, cooperativa (com a atuação do cidadão como sujeito

privado, sem exercer função materialmente pública, mas em atividades de interesse geral).

Já Maria Sylvia Zanella Di Pietro (1993) apud Modesto (2002), classifica a participação

em direta (quando realizada sem a presença de intermediários eleitos) e indireta (quando

realizada através de intermediários, eleitos ou indicados).

Já Flavia Tavares Rocha Loures (2004) aponta que as principais formas de

manifestação da participação popular são: a organização jurídica das comunidades (em

associações de bairro); a participação popular no processo legislativo (das discussões à

aprovação final); a pressão e controle sobre as autoridades públicas; a participação direta

na gestão dos organismos, de forma consultiva ou deliberativa, federais, estaduais,

distritais ou municipais; e, por fim, a utilização de instrumentos jurídico-processuais de

efetivação da participação social.

A última classificação apontada por Loures (2004) leva-se ao entendimento de que,

além dos tipos de participação fazem-se necessários definir quais instrumentos podem

garantir a efetivação da participação social.

Sobre este assunto, Modesto (2002) define que, existem diversos mecanismos de

participação social, os quais são aplicados com maior ou menor grau de autenticidade e

integração social. O autor aponta os seguintes: consulta pública; audiência pública;

colegiados públicos; assessoria externa; denúncia pública; reclamação relativa ao

funcionamento dos serviços públicos; colaboração executiva; ombudsman (ouvidor);

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participação ou controle social; e, por fim, fiscalização orgânica. Sendo certo que, vários

desses mecanismos encontram fundamentados na Constituição Federal de 1988.

Além dos mecanismos apontados por Modesto (2002), a literatura acadêmica

apresenta ainda os seguintes mecanismos como aqueles que visam garantir a participação

social, são eles: audiência pública; orçamento participativo; a governança solidária local;

poder delegado e controle cidadão.

Em relação ao primeiro mecanismo, a audiência pública, Oliveira (2011) aponta

com excelência seu conceito, ao definir que esta representa a efetivação do princípio da

participação no Estado Democrático de Direito com a obtenção direta ou por meio de

entidades representativa da participação popular no processo de tomada de decisão.

A audiência pública é um instrumento que leva a uma decisão política ou legal

com legitimidade e transparência. Cuida-se de uma instância no processo de

tomada da decisão administrativa ou legislativa, através da qual a autoridade

competente abre espaço, conforme determina a lei, para que todas as pessoas que

possam sofrer os reflexos dessa decisão tenham a oportunidade de se

manifestarem, exporem as suas opiniões e aflições, antes da conclusão do

processo [...] Indiscutivelmente, a audiência pública está associada à prática da

democracia. (OLIVEIRA, 2011, p. 2).

Segundo Milaré (2009) as audiências públicas são manifestações realizadas pela

população, sendo um tipo de mecanismos de controle feitos pelo Estado conjuntamente

com a sociedade. Na área ambiental, as Resoluções do CONAMA n° 09/1987 e n.º

237/1997 determinam a necessidade de realização das audiências públicas para informação

sobre o projeto e seus impactos ambientais, além da discussão do Relatório de Impacto

Ambiental (RIMA) junto à população.

Oliveira (2011, p. 3) esclarece que as audiências públicas sempre terão espaço

quando os interesses difusos e coletivos estiverem em jogo, pois se trata de um mecanismo

que zela pelo “efetivo cumprimento dos princípios da informação, participação,

publicidade e oralidade, para a construção e manutenção do Estado Democrático

Participativo”.

O segundo mecanismo a ser relatado é o orçamento participativo que representa

uma experiência transformadora na gestão pública brasileira. Considera-se o orçamento

“uma peça política por excelência, embora seja costumeiramente visto apenas como parte

integrante da economia. Elaborar ou preparar um orçamento público é prever e determinar

as receitas e despesas públicas, mediante aprovação expressa do respectivo Poder

Legislativo” (SALLES, 2010, p. 82).

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A Lei de Responsabilidade Fiscal, no parágrafo único do artigo 48, prevê a

participação da sociedade na discussão e na elaboração dos planos e dos orçamentos,

garantindo, a transparência da Administração Pública, fazendo surgir assim, o orçamento

participativo.

Assim, o Orçamento Participativo é “um instrumento que demanda da população

discussões e definições sobre parte do orçamento público, seja ele municipal, regional ou

federal” (FIGUEIREDO et al, 2009, p. 2). O mesmo autor ainda acrescenta que, o

orçamento participativo pode ser instrumentalizado presencialmente ou na modalidade

digital, quando as opiniões dos cidadãos são colhidas por via online.

Salles (2010, p. 91) aponta ainda que, o orçamento participativo é conhecido como

sendo uma representação da participação popular de baixo para cima, tal fato é

demonstrado pela eleição dos delegados e dos conselheiros pela população “que se cria

uma institucionalidade de “baixo para cima”, embora não seja negada a iniciativa do

Estado de implementar as políticas públicas formuladas por meio desse processo”.

O Orçamento Participativo tem sua origem no inicio dos anos de 1980 com base na

Gestão Pública Participativa, a qual é caracterizada pela “visão ‘alternativa’ de gestão

fundada na participação popular e que tem como elementos centrais, além da participação

cidadã, a busca de um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil” (FERREIRA e

SANTOS, 2008, p. 20).

O Orçamento Participativo tem como principais aspectos a democratização do

processo decisório com submissão das estruturas do Estado ao controle direto da

população, com alteração significativa das relações Estado-sociedade; a inversão das

prioridades das políticas públicas, colocando as populações mais carentes com atendimento

prioritário; e, por fim, a “função pedagógica em relação à democracia participativa; a

participação cresce à medida que se desenvolve, seus resultados aparecem e a população

passa a acreditar na sua efetividade” (SALLES, 2010, p. 90).

Outro mecanismo a ser retratado é a governança solidária local que, conforme

ensina Ferreira e Santos (2008, p. 23) representam “a pluralidade, o diálogo e o consenso;

assim, pretende reconhecer as múltiplas diferenças presentes na sociedade, contribuir para

um ‘sistema de conexões sempre aberto’ e promover a formação de uma Comunidade de

Projeto e de um Pacto de corresponsabilidade pelo desenvolvimento local”. Este

mecanismo pode ser observado no governo Municipal de Porto Alegre/RS, tendo como

base do governo a governança participativa.

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A Governança Solidária Local é um programa vinculado à Secretaria de

Coordenação Política e Governança Local, dirigida por César Busatto, e atua

paralelamente ao OP no que diz respeito ao organograma da PMPA. Assim como

no OP, há uma Gerência responsável por seu funcionamento e coordenação na

cidade como um todo. No âmbito de cada região, conta com o Comitê Gestor

Local, composto de agentes que representam os órgãos de governo locais e são

responsáveis por atuar com a comunidade para viabilizar as ações do programa e

acompanhar o Plano de Investimentos do Orçamento Participativo na respectiva

região (FERREIRA; SANTOS, 2008, p. 28)

Cabe esclarecer que, governança significa a mudança na gestão política através de

reformas administrativas, com atuação conjunta de diversos atores, públicos ou privados

(sociedade e sindicatos), que tem como objetivo principal a avaliação das ações atuais e a

projeção de novas ações que visem à solução dos problemas sociais, por meio do

desenvolvimento sustentável e participativo (SALLES, 2010).

Por fim, é bom apresentar o ponto de vista retratado por Pery Saraiva Neto (2010,

p. 153) o qual aponta que a participação popular, além das formas retratadas acima, pode

ser utilizada como meio de prova sobre as questões ambientais, afinal de contas, “amolda-

se ao indicativo da participação popular, como meio de contribuir nos processos de tomada

decisão”.

É interessante apresentar ainda, os ensinamentos descritos por Arnstein (1969), o

qual aponta que a participação possui uma evolução condizente em oito níveis, quais

sejam: manipulação; terapia; informação; consulta; aplacamento; parceria; poder delegado

e, por fim, controle cidadão.

As duas primeiras (manipulação e terapia) representam o nível de “não

participação”, ou seja, os cidadãos participam apenas para como meios de educação por

parte dos tomadores de decisão, nestes níveis, em momento algum, é permitido às pessoas

a participação no planejamento ou realização dos programas.

Após estes níveis tem-se a informação e a consulta, que representam os próximos

degraus da extensão total da participação, onde os cidadãos podem realmente ouvir e serem

ouvidos acerca das informações de seus direitos, responsabilidades e opções, o que

representa um passo muito importe para a plena participação do cidadão (ARNSTEIN,

1969).

Em sexto nível tem-se o aplacamento que representa o nível mais elevado da fase

do simbolismo, onde os cidadãos começam a ter influência, contudo, ainda aparente, pois

permite que o mesmo apenas aconselhe, sendo que o direito de decidir continua com os

governantes (ARNSTEIN, 1969).

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O próximo nível é a parceria, a qual permite aos cidadãos negociar e se envolver

nas tomadas de decisão, por meio da negociação entre os cidadãos e os tomadores. Neste

ponto ambos concordam em compartilhar o planejamento, a tomada de decisão e as

responsabilidades, através de uma política conjunta, por comitês de planejamento e

mecanismos para a resolução de impasses (ARNSTEIN, 1969).

Por fim, os dois últimos níveis são o poder delegado e controle cidadão, os quais

permitem aos cidadãos tomar decisões, podendo, assim, exercer um grau de poder (ou

controle), que garante a participação em programas e projetos, sendo capaz de negociar as

condições e poder alterá-los (ARNSTEIN, 1969).

Gohn (2011) também elenca três tipos de participação política, quais sejam: 1)

presencial: o indivíduo apresenta comportamento passivo; 2) ativação: o indivíduo

desenvolve atividades que lhe foram confiadas; 3) participação (real): o indivíduo contribui

para decisões políticas.

Diversos são instrumentos que efetivam a participação social, que representa “a

expressão política da coletividade, mesmo quando sejam desencadeados por indivíduos

singulares” (MODESTO, 2002, p. 7). Todos esses tipos e nuanças da participação social

afetam e povoam o campo da gestão e do planejamento ambiental nos três níveis

federativos, conforme se verá a seguir.

2.3 Contexto Histórico da Evolução da Participação Social na Gestão Ambiental

no Brasil

A consciência ecológica e as preocupações ambientais estão crescendo em

consequência principalmente dos riscos ambientais que ameaçam a existência humana no

planeta. Nesse sentido, Édis Milaré (1999, p. 34) afirma que

Os riscos globais que ameaçam o planeta Terra, a escassez ou finitude dos

recursos, a deterioração da qualidade ambiental e, em decorrência, da qualidade

de vida das populações; as pressões sobre o uso do solo, a ameaça de extinção

que paira sobre espécies animais e vegetais; as taxas de crescimento demográfico

e a consequente demanda de bens e serviços – estes, entre muitos outros fatores –

adquirem peso bem maior com o fenômeno da globalização que vai mudar o

estilo de vida e as relações sobre o globo terrestre. Dos grandes centros, este

impulso alcança também as comunidades menores.

Porém, é importante ressaltar que a preocupação com os recursos naturais não é

recente na história brasileira. No tocante às políticas ambientais, no início do século XIX

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houve uma preocupação intelectual com a degradação do ambiente no país. Esta

preocupação foi impulsionada por José Bonifácio de Andrada e Silva e outros críticos

ambientais, os quais realizaram uma coleta de dados sobre o assunto, tendo em vista a

qualidade dos materiais escritos e das pessoas envolvidas nesta temática, para a época,

resultou em “um prenúncio das discussões sobre gestão ambiental e participação cidadã no

Brasil de hoje” (BARBOSA, 2011, p. 5).

Apesar deste início rudimentar acerca da discussão da atuação social na questão

ambiental no século XIX, a luta pela conquista de espaços tornou-se um desafio para o

alcance da democracia. Valla (1998) aponta que, a discussão mais sistemática sobre

participação popular iniciou nos anos 30 e 40 do século XX, quando também foram

iniciados os estudos sobre as políticas públicas. Já Jacobi e Barbi (2007) apontam que as

discussões sobre a temática foram realmente inauguradas dos anos 1980 pelos movimentos

sociais e sua capacidade em explicitar as demandas relacionadas à distribuição de bens

públicos e na formulação de políticas públicas, principalmente após os arranjos

participativos apresentados pela Constituição Federal de 1988, quando se abriu espaço para

a prática da democracia participativa:

A revitalização da sociedade civil, desde meados da década de 1980, reflete-se

no aumento do associativismo e na presença dos movimentos sociais

organizados que se explicitam na construção de espaços públicos que pressionam

pela ampliação e democratização da gestão estatal (AVRITZER, 2002). Na

década de 1990, a participação é amparada e institucionalizada dentro dos

marcos das democracias representativas, como é o caso do orçamento

participativo (AVRITZER e NAVARRO, 2003). A participação popular se

transforma no referencial de ampliação de possibilidades de acesso dos setores

populares aos serviços urbanos básicos e equipamentos sociais, dentro de uma

perspectiva de desenvolvimento da sociedade civil e de fortalecimento dos

mecanismos democráticos. Isto também se configura como uma garantia da

execução eficiente de programas de compensação social no contexto das

políticas de ajuste estrutural, de liberalização da economia e de privatização do

patrimônio do Estado. (JACOBI e BARBI, 2007, p. 238).

Importante ressaltar que inicialmente a participação foi por atuação de cidadãos,

com a mudança de práticas sociais, e entidades civis, com a mobilização em espaços de

debate. É o que relata Jacobi e Barbi (2007, p. 238):

A participação citadina se configura nas práticas dos movimentos organizados,

das entidades civis ou simplesmente de cidadãos, mobilizados através de fóruns

e espaços públicos múltiplos e diferenciados, nos quais direitos e demandas

coletivas são apresentados como questões a serem incluídas na agenda pública.

Os movimentos sociais organizados, apesar dos argumentos em torno da sua

fragmentação, dispersão e fragilidade, colocaram na agenda da democratização a

necessidade de garantir direitos sociais básicos como parte componente da

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conquista de cidadania. A constituição de cidadãos consubstancia-se a partir da

mudança das práticas sociais existentes e na sua substituição por novas formas

de referências, que têm na participação um componente essencial. Isto ocorre, na

medida em que o impacto dessas práticas na constituição de uma arena societária

em expansão permite, aos sujeitos sociais ativos, perceber que a multiplicação de

práticas democratizantes pode gerar mudanças nas suas vidas cotidianas

(JACOBI; BARBI, 2007, p. 238).

Diante das dificuldades em estruturar melhores condições de vida à população, a

comunidade e organizações intermediárias passaram a integrar a gestão pública para,

assim, garantir uma maior participação social. Em relação ao meio ambiente não foi

diferente, pois a problemática ambiental cada vez mais integra como fator preponderante

para a manutenção da qualidade de vida da população (DERANI, 2009).

Milaré (1999, p. 135) aponta que tal questão existe em virtude da tomada de

consciência e do amadurecimento político das instituições e das pessoas, afinal de contas,

“nenhum processo político-administrativo pode ser desencadeado sem a participação

comunitária se quiser obter legitimidade e eficácia”.

Na gestão ambiental, a participação social tem seu inicio integrado com as

discussões acerca dos problemas ambientais na década de 1980, após inúmeras catástrofes

ambientais ocorridas nos anos de 1970 (VARGAS, 2006). Milaré (1999, p. 35) relata que

“a consciência do meio ambiente como bem comum proporciona novos rumos na

participação da comunidade para definir seus objetivos, implementar suas ações e alcançar

seus resultados”. Exemplo dessa integração da participação social na gestão ambiental a

partir dos anos de 1980 foi à promulgação em 1981 da Lei n.º 6.938, a qual dispôs acerca

da Política Nacional do Meio Ambiente e em seu artigo 2°, inciso X relatou o princípio da

participação através da capacitação pela educação comunitária, veja:

Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação,

melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando

assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos

interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana,

atendidos os seguintes princípios: [...]

X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da

comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio

ambiente; [...]

Santilli e Santilli (2009) afirmam que a consolidação da democrática no Brasil

resultou em um grande espaço de mobilização e articulação em prol de políticas

estratégicas ambientalistas, cabendo também às comunidades a viabilização e o fomento de

políticas ambientais. Assim, para a “construção de uma cidadania ambiental, entendida

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como sendo o reconhecimento público dos direitos e deveres de todos, diante de questões

referentes ao meio ambiente, enquanto bem difuso, ainda está em processo no nosso país”

(BARBOSA, 2011, p. 6).

A Constituição Federal de 1988 fixou essa consolidação da democracia no Brasil, e

em seu artigo 225 passou a determinar o dever da coletividade na defesa ambiental, ao

afirmar que, “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à

coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”

(BRASIL, 1988).

Passados quatro anos da consolidação da democracia no texto constitucional

brasileiro, no Rio de Janeiro/Brasil, realizou-se a Conferência das Nações Unidas sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento, onde representantes de diversos países do mundo

reuniram-se para discutir a temática ambiental e soluções para os problemas existentes.

Nesta Conferência foram firmados inúmeros documentos na área ambiental, dentre os

quais se destaca a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

(Declaração Rio-92), que em seu princípio 10, tornou expresso o Princípio da Participação

na área ambiental, conforme descrito a seguir:

A melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a participação, no

nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada

indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de

que disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca de

materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade

de participar dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a

conscientização e a participação popular, colocando as informações à disposição

de todos. Será proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judiciais e

administrativos, inclusive no que se refere à compensação e reparação de danos

(ONU, 1992).

Philippi Jr. et al (1999) destaca que, após a Conferência Rio 92, iniciou-se no Brasil

um novo conceito de gestão ambiental, o qual é inspirado no princípio da gestão

compartilhada, onde todos os agentes são responsáveis pela proteção do meio ambiente.

Coloca-se, portanto, o fortalecimento de uma gestão compartilhada com ênfase

na co-responsabilização na gestão do espaço público e na qualidade de vida, e

mais especificamente no diálogo entre políticas de uso e ocupação do solo e

gestão da água nos municípios e regiões conturbadas (JACOBI; BARBI, 2007, p.

243).

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Surgiu, assim, o princípio da participação na gestão ambiental, indissociável da

informação e da cooperação, o qual tem relação “ao cumprimento, pela coletividade, da

função ambiental privada, ou seja, da obrigação, imposta constitucionalmente a toda a

coletividade, de cuidar do meio ambiente” (LEUZINGER e CUREAU, 2008, p. 18).

Portanto, a participação da sociedade civil na gestão ambiental e na implementação de

políticas públicas ambientais baseia-se em uma lógica verticalizada, que significa

um maior questionamento sobre o papel do Estado como principal agente indutor

das políticas sociais. A noção de participação é pensada principalmente pela

ótica dos grupos interessados e não apenas da perspectiva dos interesses globais

definidos pelo Estado” (JACOBI e BARBI, 2007, p. 239).

A evolução da participação social na gestão ambiental no Brasil possui suas ideias

estruturadas desde o século XIX. Contudo, sua institucionalização sistemática ocorreu

muito recentemente, com a consolidação da democracia no Brasil, através da Constituição

Federal de 1988, após longos anos de ditadura, fator que proporcionou o estabelecimento

de um novo nível de atuação da população na gestão de ações para defesa ambiental e

promoção do bem-estar de toda a comunidade. No nível municipal não foi diferente,

porque, como se verá a seguir, é neste nível que a participação social pode ser realizada de

forma mais direta e aparentemente objetiva.

2.4 Importância da Participação Social na Gestão Ambiental dos Municípios

Conforme define Alonso & Costa (2002, p. 116) “a incorporação dos problemas

ambientais contribuiu para abrir e ampliar o espaço de participação da sociedade civil nos

processos de decisão política em geral”. Porém, “a participação comunitária na gestão

ambiental ainda se encontra em processo de evolução” (MILARÉ, 2009, p. 193), sendo

altamente influenciada pela atuação governamental, afinal de contas, quando se tem uma

pluralidade de atores e um aumento potencial de participação dos mesmos na gestão

pública, acaba por reduzir o poder decisório dos governantes, o que torna um entrave para

a solução das questões ambientais (BARBOSA, 2011).

Assim, é fundamental a realização de “modificações no paradigma prevalecente

para assegurar uma cidadania efetiva, uma maior participação e avanços em políticas que

promovam e ampliem ações pautadas pelo conceito de desenvolvimento sustentável”

(JACOBI e BARBI, 2007, p. 243), devendo tais mudanças realizar-se de forma continua e

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em todos os níveis de atuação, principalmente na questão cultural e de comportamento da

comunidade e dos gestores.

Neste aspecto, a participação social na gestão ambiental pública apresenta um

aspecto importante, pois busca “uma conscientização social dos valores intrínsecos que a

Natureza carrega em si, necessários para a vida social humana” (BARBOSA, 2011, p. 6).

Entretanto, hoje em dia, não há como se pensar a preservação do meio ambiente

distanciada da participação popular, porque ele faz cumprir o que determina o

artigo 225 da Constituição Federal de 1988, pois todos têm o direito e a

obrigação de preservar um bem ambiental que não é só nosso, mas também das

gerações futuras (OLIVEIRA, 2011, p. 2).

Os órgãos de representação institucional não são suficientes para alcançar os

objetivos almejados pela população, sendo necessário que a sociedade civil organizada,

apresente-se de forma a compartilhar e melhorar as atuações implantadas na gestão

ambiental (MILARÉ, 1999). Contudo, é importante esclarecer que “nada garante que da

expansão da participação popular venham a emergir decisões consensuais relativas a

dilemas ambientais” (ALONSO e COSTA, 2002, p. 121). É necessário considerar que,

quando se aborda a temática ambiental, a solução dos problemas que integram o tema é um

grande desafio.

Este desafio também é enfrentando em níveis municipais, pois “na medida que a

população toma consciência dos problemas ambientais existentes em sua cidade, cresce a

busca de espaços para as discussões e as deliberações sobre os mesmos” (FRANCO, 1999,

p. 29).

Como visto, a participação social é fator preponderante para a garantia de uma

gestão ambiental eficiente, este fato não seria diferente com a gestão ambiental dos

municípios, mesmo porque, para se “construir uma ‘cidade cidadã’ é necessário a

elaboração e implementação de políticas públicas direcionadas aos interesses da

comunidade (CARON et al, 1999, p. 59).

As reflexões sobre a cidadania, no Brasil, centram-se nos obstáculos ao seu

desenvolvimento, decorrentes da cultura política tradicional, e nas perspectivas

da sua transformação. A nova dimensão da cidadania inclui, de um lado, a

constituição de cidadãos enquanto sujeitos sociais ativos, e de outro lado, para a

sociedade como um todo, um aprendizado de convivência com esses cidadãos

emergentes que recusam permanecer nos lugares que lhes foram definidos social

e culturalmente (JACOBI e BARBI, 2007, p. 239).

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Portanto, a participação social possui uma grande importância na gestão ambiental

dos municípios, estando retratada na Lei n.º 10.257, de 10 de julho de 2001, que

estabeleceu diretrizes gerais da política urbana, denominado de Estatuto das Cidades. O

capítulo IV do Estatuto das Cidades apresenta uma nova visão da gestão administrativa do

Poder Público, retirando a ideia de que, somente o Estado pode apresentar e definir regras.

Fiorillo (2010) aponta que esta nova definição apresentada pelo Estatuto está baseada nos

princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da cidadania, que permite a

participação social na gestão ambiental.

No capítulo IV do Estatuto está prevista a gestão democrática da cidade, sendo que,

no artigo 43 estão retratados alguns mecanismos de participação popular para as cidades:

CAPÍTULO IV

DA GESTÃO DEMOCRÁTICA DA CIDADE

Art. 43. Para garantir a gestão democrática da cidade, deverão ser utilizados,

entre outros, os seguintes instrumentos:

I – órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e

municipal;

II – debates, audiências e consultas públicas;

III – conferências sobre assuntos de interesse urbano, nos níveis nacional,

estadual e municipal;

IV – iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de

desenvolvimento urbano;

V – (VETADO)

Fiorillo (2010) aponta de forma categórica que, apesar de o artigo 43 do Estatuto

listar mecanismos de atuação, nada impede a utilização de outros instrumentos de controle

ambiental, mesmo porque existem diversos outros já implantados, como as ações coletivas

visando à tutela jurisdicional em defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado, que

poderão ser manejadas pela população.

Dentre os instrumentos de participação listados pelo artigo 43, vale destacar as

audiências e consultas públicas como sendo um dos principais instrumentos. Lopes (2011,

p. 2) ressalta que este instrumento é um dos “mais festejados e debatidos, pois ali será um

dos momentos para o cidadão expor suas reivindicações”, porque não se trata de uma mera

liberalidade a participação popular nestes os debates, audiências e consultas públicas, mas

de uma obrigação. Sobre este instrumento Nalini (2010, p. 162) considera que devem ser

precedidos de “coleta de opinião, de divulgação de pontos de vista, de ampla conclamação

da comunidade. Ela tem um caráter nitidamente pedagógico, pois estabelece real

oportunidade de conscientização e educação da população sobre as diretrizes e políticas

públicas”.

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Outro instrumento muito comentado pela literatura são as conferências sobre

assuntos de interesse urbano, nos níveis nacional, estadual e municipal, as quais devem ser

realizadas com a participação dos vários setores envolvidos nos processos de

desenvolvimento urbano, cabendo à população torná-lo funcional, alcançando assim, a

efetividade da implementação e dando novos rumos a discussão ambiental (NALINI,

2010).

Tem-se ainda, iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos

de desenvolvimento urbano como instrumento de garantia da participação popular na

atuação das cidades, contudo, essa iniciativa popular foi prevista pelo constituinte e em

caráter distanciado da realidade. Apesar deste distanciamento, criou-se na Câmara dos

Deputados atos que tentam flexibilizar as excessivas exigências do constituinte, de molde a

tornar a iniciativa popular pouco mais utilizada, através da Comissão de Participação

Legislativa (NALINI, 2010).

Nesta mesma linha, tem-se como instrumento de participação popular também a

obrigação da constituição de orçamento participativo, acompanhado de debates, consultas e

audiências públicas, contudo, este instrumento não está previsto no artigo 43, mas sim no

artigo 44 do Estatuto das Cidades, conforme descrito a seguir:

Art. 44. No âmbito municipal, a gestão orçamentária participativa de que trata a

alínea f do inciso III do art. 4o desta Lei incluirá a realização de debates,

audiências e consultas públicas sobre as propostas do plano plurianual, da lei de

diretrizes orçamentárias e do orçamento anual, como condição obrigatória para

sua aprovação pela Câmara Municipal.

Como se pode observar, o Estatuto das Cidades tornou obrigatória a consulta da

população diretamente envolvida quando da elaboração da lei orçamentária. Lopes (2011,

p. 3) aponta que “essa obrigatoriedade faz com que a população interessada participe da

elaboração do orçamento de sua cidade, expondo seus anseios, suas necessidades,

definindo prioridades, para que depois sejam positivadas através do orçamento

participativo”.

Além dos pontos definidos no Estatuto das Cidades, deve-se considerar ainda que a

gestão municipal poderá desenvolver-se em parceria com organizações não

governamentais (ONGs) que demonstram uma representação atuante da sociedade civil

(PHILIPPI JR. et al, 1999).

Outro ponto que cada vez mais se torna essencial à presença da sociedade na gestão

ambiental é na composição dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente, os quais são

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participativos e porta-vozes da comunidade, apesar de serem instituições oficiais da

administração pública (PHILIPPI JR. et al, 1999). Contudo, um dos principais problemas

dos municípios nesta área é a falta de participação comunitária nestes Conselhos

Municipais de Meio Ambiente, o que dificulta a ampliação da atuação dos Conselhos. Mas,

mesmo existindo tais dificuldades, “os Conselhos têm tido um papel relevante e crescente

na política, passando inclusive, em muitos casos, da marginalidade inicial à centralidade

das decisões que afetam os interesses coletivos” (PHILIPPI JR et al, 1999, p.130).

Em nível municipal a participação da população é extremamente importante para o

alcance dos resultados almejados, para tanto, faz-se necessário definir mecanismos para a

implementação dessa participação social (LOBO; MEDEIROS e ANTÔNIO NETO,

1999). Os Conselhos Municipais de Meio Ambiente surgiram como um importante

instrumento da participação cidadã, que tem como objetivo proporcionar o funcionamento

uma política ambiental com efetividade, além de ter a democracia e participação social

inclusa (PHILIPPI JR et al, 1999). O elo entre a participação social e os Conselhos

Municipais de Meio Ambiente e a importância dessa integração são os pontos a serem

abordados no próximo tópico.

2.5 Conselhos Municipais de Meio Ambiente: espaços de participação?

Como já mencionado nesse trabalho, a Constituição Federal de 1988 enfatizou a

participação e a democracia por meio da formação de grupos sob a forma de associações e

cooperativas, estimulando, assim, a cidadania a uma participação mais ativa na gestão da

coisa pública. (NALINI, 2010). Uma destas formas de participação do cidadão são os

Conselhos Municipais, os quais, conforme descrito por Crevelim & Peduzzi (2005, p. 35),

representam uma das formas de constituição de sujeitos democráticos e representam canais

de participação que “articulam representantes da população e membros do poder público

estatal em práticas que dizem respeito à gestão de bens públicos, são agentes de inovação e

espaços de negociação de conflitos”. Os Conselhos não representam inovação recente. Sua

formulação é relativamente antiga, contudo eles retomam com uma fisionomia nova,

apresentando uma cidadania mais consciente, atuante e participativa, não representando um

mero aconselhamento, dispensável a critérios da hierarquia, como no passado (NALINI,

2010).

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Alguns desses conselhos têm a função de regulamentar leis, o que torna a

participação nesses espaços ainda mais importante para os diferentes segmentos

com interesse na matéria de preservação ambiental. Outros têm função

consultiva, e propiciam que a sociedade apresente seu ponto vista na formulação

de políticas públicas e programas. (JACOBI e BARBI, 2007, p. 210).

Fator preponderante é em relação à super-representação de setor da sociedade civil,

para isso é importante salientar que, deve existir equilíbrio na participação social, pois se

ocorrer à representação demasiada de um único setor, pode debilitar a representatividade

do Conselho, o qual tem por objetivo representar a toda a sociedade de forma igualitária

(NALINI, 2010, p. 159).

Assim, é possível compreender as ações realizadas pelos Conselhos, que estão

inseridos em um quadro histórico de fomento da participação da sociedade civil e, na

atualidade, possuem atribuídas ainda maiores responsabilidades na participação social nas

relações governo-sociedade civil (CREVELIM e PEDUZZI, 2005). Os Conselhos do Meio

Ambiente, órgãos colegiados de política ambiental em nível local, articulam os meios

necessários para a gestão ambiental participativa, “através das consultas populares,

debates, audiências públicas, conferências municipais de desenvolvimento urbano,

acompanhamento de obras e fiscalização de prestação de contas etc” (MIRANDA, 2010, p.

286).

Esses conselhos são compostos por representantes de entidades ambientalistas e de

outros segmentos da sociedade civil, fator que favorece a participação de toda a sociedade

na definição de políticas ambientais (JACOBI e BARBI, 2007). Os conselheiros possuem

representatividade e honorabilidade, sendo estes aspectos fundamentais, pois “a cidade

passa a vê-los como defensores de seus interesses, gerando uma interessante dinâmica de

cobrança e legitimação para as atitudes a serem tomadas pela Municipalidade” (PHILIPPI

JR. et al, 1999, p.130). Contudo, muitos gestores criam os Conselhos apenas para o

atendimento da lei, fator que coloca o Conselho em um baixo grau de institucionalização.

Nalini (2010, p. 60) aponta que somente os Conselhos que “nascem de verdadeiro anseio

da sociedade tendem a obter êxito e participação nas políticas públicas municipais”.

Uma forma de ampliar a participação social na gestão ambiental, que pode ser

intensificada pelos Conselhos Municipais de Meio Ambiente, é a atuação na educação e

conscientização ambiental, mesmo porque, uma população que não possui conhecimento

dos direitos não poderá atuar e cobrar nenhum ato de seus governantes, muito menos

contribuir para o planejamento de novas atuações. Sobre esse assunto Franco (1999, p. 28)

relata que:

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A educação e a conscientização ambiental são indubitavelmente associadas a

qualquer programa que se queria conduzir, como os citados acima, para que ele

se sustente e se enraíze na sociedade. A busca da cidadania ambiental faz parte

de uma dinâmica participativa e solidária, que pode transformar profundamente

os lugares e as comunidades em que se implanta. E talvez seja esta a explicação

para a resistência surda e inconfessa que existe em tantos lugares no que

concerne aos programas de meio ambiente.

Assim sendo, a ampliação da participação está diretamente ligada à criação de

espaços públicos e plurais de articulação e participação, sendo que, os Conselhos

Municipais representam, mesmo que com pouca percepção por parte da maioria da

população, a garantia desses espaços participativos transparentes e pluralistas (JACOBI e

BARBI, 2007).

A participação social repercute em uma partilha de poder, partilha essa saudável e

necessária para uma gestão de excelência. Através da participação ativa da população na

gestão ambiental das cidades pode-se negociar a melhor estratégia, sobre esse assunto,

Nalini (2010, p. 160) considera que:

Como ensinar à municipalidade a partilhar poder? E a prefeitura deve ter claro

que a existência do conselho – assim como qualquer mecanismo de participação

popular na Administração Pública – implica uma partilha do poder. A população,

adquirindo voz ativa na gestão da cidade, pode expressar posições contrárias à do

Executivo, que deve estar preparado para negociar e ceder em alguns pontos. As

tensões e disputas serão tanto maiores quanto maior for o poder atribuído ao

conselho.

Portanto, é extremamente importante discutir a participação social nos Conselhos

Municipais de Meio Ambiente, considerando que, quanto mais voz tiver a população de

uma cidade em um Conselho de Meio Ambiente, mais justas e efetivas tenderão a ser as

ações realizadas por este.

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3. A GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA MUNICIPAL E OS CONSELHOS

MUNICIPAIS DE MEIO AMBIENTE

3.1. Problemas e desafios da gestão ambiental pública municipal

Os últimos trinta anos foram marcados por um processo de redemocratização e

descentralização da gestão pública no Brasil. Historicamente, tal tendência ganhou corpo

na da década de 1980 com o fim do regime militar e, principalmente a promulgação da

Constituição de 1988. O texto da Constituição trouxe uma série de avanços.

Mesmo não havendo um consenso sobre os conceitos de descentralização e

democratização, é possível encontrar concordância com o fato de que tal tendência é

fundamental para tornar o aparato estatal mais ágil e eficaz, aproximando o Estado das

reais necessidades da sociedade. Para Pereira (2000, p. 126) “Politicamente, a

descentralização é estreitamente associada à democracia (...) é também vista pela maioria

dos cientistas políticos e economistas como condição necessária para o desenvolvimento

social, econômico e político.”

Phillip Jr., Bruna e Roméro (2002) afirmam que a descentralização trazida por

novas políticas públicas e pela atuação governamental tem promovido a transferência de

responsabilidades, tanto de serviços quanto de políticas de desenvolvimento da União para

os estados e destes para os municípios, destacando entre essas políticas, as questões

ambientais e urbanas.

No tocante à questão ambiental é possível perceber que, apesar de os problemas

ambientais serem de ordem global, os movimentos ambientalistas surgem e se

materializam a partir de situações locais. Como exemplo, é pertinente citar o movimento

ambientalista decorrente do smog Londrino de 1952. . Para Carlos Lopes, Ladislau

Dowbor e Ignacy Sachs (2010) “O desenvolvimento local permite a apropriação efetiva do

desenvolvimento pelas comunidades, e a mobilização destas capacidades é vital para um

desenvolvimento participativo”.

No Brasil, a partir da Constituição de 1988, o Estado vem preconizando uma gestão

marcada pela descentralização das políticas públicas e pelo envolvimento das comunidades

locais. De acordo com Dallari (2002, p. 41)

O artigo 23 da Constituição Federal trata das competências comuns, atribuindo

responsabilidades para União, Estados, Distrito Federal e Municípios,

mencionando, inclusive, a exigência de saneamento básico. Já o artigo 30,

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também fundamental para as questões ambientais, dispõe que é competência do

município legislar sobre assuntos de interesse local – e a proteção do meio

ambiente é assunto de interesse local – e promover o ordenamento territorial

mediante planejamento e controle do uso, parcelamento e ocupação do solo

urbano. Se houver uma efetividade no controle, a qualidade de vida e do meio

ambiente sairão ganhando.

Dentro desse contexto, os órgãos responsáveis pela gestão ambiental municipal

tiveram um aumento significativo nos últimos anos, não só em número como nas

atribuições de responsabilidades. De acordo com a pesquisa Munic (IBGE, 2009) 84,5%

dos municípios brasileiros possuíam algum órgão para tratar de questões ambientais. A

presença de uma estrutura ambiental municipal é ainda mais significativa nos municípios

mais populosos chegando a 100% nos municípios com mais de 500 000 habitantes. A

mesma pesquisa revelou, contudo, que grande parte desses órgãos não são dedicados

exclusivamente ao trato de questões ambientais, sendo mais comum a sua integração ou

subordinação à outra secretaria, como a de agricultura, por exemplo.

O incremento da gestão ambiental municipal representa um grande avanço para o

atendimento real das demandas locais. Carlo (2006) reforça a importância da gestão local

de políticas públicas ambientais apontando as seguintes oportunidades: aumento da

possibilidade do envolvimento da sociedade nos processos decisórios; diminuição da

centralização do poder; maior conhecimento e sensibilidade do governo municipal para

com os problemas ambientais locais. Todavia, a implantação e crescimento da gestão

ambiental municipal nem sempre se traduz em soluções. Para Milaré (1999) a estruturação

e capacitação dos municípios é um condicionante para que essas soluções sejam

viabilizadas. “Para tanto necessitam eles de instrumentos legais e econômicos que lhes

sustentem e ampliem as ações apropriadas.” (MILARÉ, 1999, p. 33).

Apesar da crescente autonomia dos municípios e do significativo aumento de

órgãos municipais de gestão ambiental, a eficiência e eficácia dos mesmos são cercadas de

desafios e paradoxos. Segundo Scardua e Bursztyn (2003, p. 302)

A elevação do município à categoria de ente federativo trouxe mais obrigações e

competências para eles; ficaram, porém, desprovidos de capacidade institucional,

administrativa e financeira para cumprir essas novas atribuições.

O tratamento da questão ambiental, a nível local, é abordado em diferentes

momentos na legislação. A Constituição Federal de 1988 inclui os municípios como entes

federados em seu artigo 1º e reforça, no artigo 18, a sua autonomia nos termos da

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Constituição. Já o artigo 23 confere competência a todos os entes federados, o que inclui os

municípios, para a proteção ao meio ambiente. A Lei nº 6983/81, por sua vez, já presumia

a participação dos municípios, enquanto parte integrante do Sistema Nacional de Meio

Ambiente – SISNAMA, na proteção da qualidade ambiental. Nesse contexto, Phillip Jr e

Zulauf (1999, p. 47) afirmam que

Cabe, portanto, a cada ente federativo integrante do Sisnama desenvolver os

mecanismos necessários ao cumprimento de sua missão constitucional,

adequando sua estrutura administrativa, incorporando uma atuação integrada

entre os órgãos do Sistema, e criando o seu próprio sistema de gestão ambiental.

Através da Resolução CONAMA nº 237/97, os municípios receberam também a

competência para conduzir o licenciamento ambiental de acordo com o disposto no artigo

6º que prevê a atuação do município no licenciamento ambiental para empreendimentos de

impacto local, ou daqueles para os quais os Estado tenha delegado tal função através de

convênio. Já o artigo 7º da mesma resolução estabelece que “Os empreendimentos e

atividades serão licenciados em um único nível de competência, conforme estabelecido nos

artigos anteriores” (CONAMA, 1997).

Apesar de o município figurar na legislação como parte responsável e imbuída de

competências dentro da área ambiental, ainda existe uma grande celeuma sobre a

competência legislativa do município em matéria ambiental. Sobre este assunto Milaré

(1999, p. 36) afirma “No que respeita à competência legislativa, cabe à União estabelecer

normas gerais e aos Estados e municípios, as normas complementares ou suplementares.”

Todavia, a dúvida acerca das competências legais do município, principalmente no que diz

respeito ao licenciamento ambiental, constituem um desafio para a consolidação da gestão

ambiental local, trazendo, muitas vezes, insegurança jurídica, sobreposição de

competências e uma burocratização dispendiosa e desnecessária.

A insuficiência de recursos financeiros e estrutura de trabalho também constituem

um desafio para a concretização da municipalização da gestão ambiental. Segundo Alves

(2002) os recursos oferecidos aos municípios estão aquém das tarefas a eles atribuídas, isso

faz com que os mesmos não consigam atendê-las satisfatoriamente. Ademais, na maioria

dos municípios brasileiros, meio ambiente ainda não foi colocado na pauta de prioridades.

Dessa forma, quando os municípios enfrentam alguma dificuldade financeira, como a

queda de arrecadação, os setores ligados à gestão ambiental são um dos primeiros a sofrer

cortes. De acordo com Franco (1999, p. 30)

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A necessidade de recursos para o funcionamento das estruturas ambientais, em

especial em períodos de crise financeira, torna crítico e urgente estabelecerem-se

sistemas de cobranças pelos custos de análise para o licenciamento, bem como

de arrecadação de multas por eventuais infrações ambientais. Pretende-se

também, o funcionamento de um fundo ao qual estes recursos possam ser

recolhidos e posteriormente aplicados, de maneira transparente e com destinação

definida de preferência colegiadamente, para a escolha de ações com maior

significado ambiental.

O estudo de Leme (2010) sobre a pesquisa Munic de 2002 e 2008 constatou que

houve um crescimento do número de municípios que contavam com recursos específicos

para o meio ambiente passando de 18% em 2002 para 37,4% no ano de 2008. Também

houve um aumento significativo dos municípios que declararam possuir o Fundo

Municipal de Meio Ambiente. Segundo Leme (2010) em 2002 apenas 81 municípios

brasileiros afirmaram possuir esse Fundo. Em 2008 o número saltou para 1260 municípios.

Esse aumento tão expressivo levanta dúvidas sobre a confiabilidade dos dados suscitando

algumas hipóteses: 1) mudança de interpretação dos gestores ambientais para a pergunta

constante na pesquisa Munic; 2) muitos municípios não conheciam o Fundo de Meio

Ambiente em 2002; 3) muitos fundos já existiam na legislação municipal, mas não eram do

conhecimento de quem respondeu a pesquisa.

Apesar dos dados acima apresentados carecerem de uma análise mais apurada, que

não é o objetivo do presente trabalho, eles oferecem um indicador do significativo aumento

da aplicação de recursos na área ambiental pelos municípios anos últimos anos.

Carlo (2006) observa que, além do contexto de restrição orçamentária, os

municípios precisam assumir tarefas que não estavam habituados a desempenhar.

Entretanto a mesma autora, baseada em IETS (2004) verifica que, em muitos municípios,

os principais problemas da gestão local não se devem à insuficiência de recursos, mas sim

a ineficiência e ineficácia do uso desses recursos decorrentes da falta de planejamento e

controle social.

A capacitação da equipe técnica responsável pela gestão ambiental dos municípios

também se apresenta deficitária em grande parte das cidades brasileiras. Franco (1999, p.

30) alerta que “Para assumir as políticas ambientais em nível local, os municípios têm que

se estruturar e capacitar-se técnica e gerencialmente.” As novas responsabilidades

assumidas pelos municípios nos últimos anos ensejam a provisão de recursos humanos

preparados tecnicamente e com conhecimento da realidade local.

Dispor de uma equipe pronta para atender as demandas da área ambiental não é

tarefa fácil. Primeiro é necessário considerar que a gestão ambiental abrange diversas áreas

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do conhecimento, sendo assim, o ideal é que os órgãos municipais de meio ambiente

pudessem contar com uma equipe multidisciplinar. Entretanto, a formação de uma equipe

com essas características está longe de ser uma realidade, principalmente nos pequenos

municípios. Vários fatores contribuem para a fragilidade da formação de equipe de gestão

ambiental municipal, dentre os quais podem ser destacados os baixos salários e a

deficiência na estrutura de trabalho que fazem com que muitos profissionais migrem para o

setor privado, a escassez de investimentos em capacitação técnica e a rotatividade de

pessoal.

A última década foi marcada por um aumento de políticas públicas de qualificação

como o Programa Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais e Conselhos

Municipais (PNC) e o Programa Nacional de Meio Ambiente (PNMA), dentre outros.

Contudo, o processo de qualificação dos gestores ambientais não alcança, muitas vezes, o

seu objetivo. Dentre os fatores que interferem negativamente nesse processo Leme (2010)

aponta a falta de continuidade de alguns programas e a rotatividade de pessoal nos

municípios, principalmente em períodos eleitorais. Carlo (2006, p. 172) reforça esses

argumentos

A provisão de recursos humanos para o desempenho de serviços de

planejamento, controle e execução de ações ambientais é fundamental para as

estruturas administrativas dos municípios. Todavia, os municípios dispõem de

escassos recursos humanos especializados para desenvolverem suas ações

ambientais. Acrescenta-se, ainda, o fato das constantes alterações nos quadros

dos funcionários municipais em função das mudanças de governo e a

conseqüente falta de estabilidade e prosseguimento de funções. Em especial,

para exercer atividades de licenciamento ambiental.

Além da capacitação da equipe técnica, faz-se necessário favorecer a qualificação

de outras pessoas envolvidas com a gestão ambiental municipal, como os representantes

dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente. É imperativo respeitar a diversidade dos

conselheiros ambientais, contudo, também é fato que pessoas mais bem informadas e

capacitadas tendem a tomar decisões mais acertadas dentro do contexto de pressões

políticas e econômicas comuns no trato das questões ambientais.

Uma possibilidade de buscar maior segurança no trato da questão ambiental local é

a integração com outros órgãos ambientais. Philippi Jr. e Zulauf (1999) sugerem ser

interessante que os órgãos ambientais municipais possam contar, sempre que necessário,

com o apoio técnico de instituições, ainda que em outros níveis de governo, e do

Ministério Público, garantindo uma cooperação institucional. Essa cooperação também é

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fundamental para a composição de uma base de dados confiáveis, uma vez que o

município sozinho, geralmente não dispõe de recursos financeiros e tecnológicos para tal.

Diante disso, é importante que os gestores municipais possam se articular para buscar

parcerias, não só com os demais órgãos públicos, mas também com o setor privado e as

universidades. Milaré (1999) também defende que o Sistema Municipal de Meio

Ambiente – SISMUNA deve manter interação com as demais esferas da gestão ambiental,

no âmbito federal e estadual.

A integração entre municípios também é citada na literatura como uma

oportunidade de fortalecimento regional e otimização de recursos. Leme (2010) afirma que

a integração dos municípios através de comitês de bacias, ações consorciadas ou outras

lógicas regionais são fundamentais para o planejamento ambiental, pois em muitas

situações, as questões ambientais transcendem os limites dos municípios como é o caso da

política de recursos hídricos ou de conservação da biodiversidade. A mesma autora sugere

que a ação consorciada de municípios pode ser a mais adequada para os municípios que

não dispõem de recursos para manter uma estrutura específica para o meio ambiente.

Segundo Carlo (2006) a integração dos municípios através de gestão consorciada pode

potencializar o poder dos municípios no diálogo e negociação com outros níveis do

governo e com o setor privado.

A heterogeneidade dos municípios brasileiros também deve ser considerada para a

estruturação da gestão ambiental local. Apesar dos entes federados estarem inseridos no

Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA e sujeitos às leis e normas aplicáveis aos

membros desse sistema, é importante salientar que os municípios brasileiros apresentam

perfis bastante distintos. Para alguns autores essa heterogeneidade influencia

decisivamente na estruturação dos órgãos ambientais municipais, bem como nos interesses

e conflitos em jogo. Carlo (2006, p. 37) exemplifica que

As preocupações de uma determinada comunidade na Amazônia são

completamente diferentes das preocupações de uma comunidade em um país

desenvolvido. Isso sugere que os valores relacionados à sustentabilidade são

diferentes para diferentes espaços e situações no tempo.

Da mesma forma é preciso considerar que os problemas ambientais presentes nos

grandes centros urbanos são bastante distintos daqueles existentes nos pequenos

municípios. Enquanto nas grandes cidades predominam os problemas relacionados à

poluição, impermeabilização do solo e ocupação urbana desordenada, nos pequenos

municípios os principais problemas geralmente estão ligados às pressões sobre os recursos

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naturais, como na mineração e seus impactos socioambientais, ou na expansão da

agropecuária.

A pesquisa Munic (IBGE, 2009) concluiu que o tamanho da população é um fator

intimamente relacionado à capacidade estrutural da gestão ambiental nos municípios. De

acordo com essa pesquisa, os municípios com maior população são os que apresentam

maiores avanços na estruturação de órgãos municipais ambientais, funcionamento de

Conselhos de Meio Ambiente, e existência de Fundos de Meio Ambiente. Contudo, a

pesquisa não abordou a relação entre o tamanho da população e a eficiência e eficácia

dessas estruturas. De acordo com Leme (2010) outros fatores como renda per capita,

diversidade populacional (comunidades urbanas, rurais, tradicionais) e grau de mobilização

da população também interferem no perfil socioambiental das localidades.

Segundo Carlo (2006) a desigualdade entre os municípios brasileiros dificulta o

empoderamento dos mesmos no tocante a gestão ambiental. A autora pondera que a agenda

ambiental acaba sendo protelada em função de outras políticas públicas consideradas

prioritárias como saúde e educação.

Nesse contexto, Scardua e Bursztyn (2003) reforçam a necessidades do grau de

centralidade do governo federal na articulação do SISNAMA considerando, contudo, ações

voltadas para as peculiaridades locais.

Apesar das oportunidades que a gestão ambiental a nível local pode proporcionar

aos municípios, não é raro encontrar na literatura apontamentos sobre os riscos associados

ao clientelismo tão arraigado na cultura brasileira. Scardua e Bursztyn (2003) afirmam que,

em muitos casos, a sociedade local é controlada pelas oligarquias locais e essas, por sua

vez, encontram na descentralização da política pública ambiental a oportunidade de

revigorar práticas que atendem apenas às elites locais. Pereira (2000, p. 222) afirma que

O poder local, em aparente paradoxo, é o nível de poder que mais se adapta à

participação comunitária, possibilitando até mesmo a existência de formas de

Democracia Direta, e, por outra via, é onde o poder, quando autoritário, pode ser

mais sectário, porque extremamente personalizado e personificado.

De acordo com Carlo (2006, p. 134) “devido à proximidade das forças econômicas

com as autoridades locais há resistência da classe empresarial que age em nome do

discurso do progresso associado ao crescimento urbano”. Diante disso, a mesma autora

salienta que, para o desempenho eficaz da gestão ambiental, é de fundamental importância

a presença de conselhos de meio ambiente, de caráter deliberativo, com representação

paritária da sociedade civil.

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Romper com o ciclo do clientelismo e da hegemonia de poder, principalmente nos

pequenos municípios, bem como empoderar e garantir a participação de diversos atores

sociais na gestão ambiental não é tarefa fácil. Para Franco (1999, p. 31) “Os municípios

brasileiros têm que assumir seu papel na criação de uma nova consciência e de novas

práticas ambientalmente corretas, rompendo ciclos e atitudes erroneamente consolidadas”.

Em seus estudos Giaretta (2011) observa que alguns fatores como a falta de

informação e transparência, a descrença da sociedade no processo de participação social na

gestão ambiental e o baixo nível de escolaridade e politização da população podem

comprometer o processo de democratização na tomada de decisão acerca das questões

ambientais. Consequentemente, uma população que está à margem do processo de gestão

ambiental municipal, também não se envolve em ações emanadas por ele, ainda que estas

sejam destinadas à melhoria da qualidade de vida da comunidade. De acordo com Giaretta

(2011, p. 127 e 128)

Nos casos de sucesso, a existência de processos educativos relacionados a

conscientização e percepção da importância do meio ambiente para a qualidade

de vida da população asseguraram uma maior participação da sociedade e de

continuidade de processos como coleta seletiva de resíduos sólidos e manutenção

de espaços verdes. (...) situações de sensibilização da sociedade por meio de

informações divulgadas de modo correto, em momento propício e para grupos de

pessoas selecionadas para as ações, acarretaram em elevação da conscientização

com o meio ambiente e despertaram nos indivíduos processos de

corresponsabilização das ações efetuadas em seus municípios.

A construção de espaços democráticos, onde ocorram diálogos permanentes na

busca de soluções para o desenvolvimento sustentável, entre órgãos públicos, organizações

representativas da sociedade civil, setor empresarial e político, é o principal desafio da

gestão ambiental municipal (CEPAM, 2008).

3.2. Institucionalização e evolução dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente no

Brasil

Desde as últimas décadas do século XX, o mundo assiste a uma propagação da

consciência ecológica e a uma crescente preocupação com alternativas de desenvolvimento

sustentável. Essas transformações estão permitindo que a busca de mecanismos de ação

para utilização responsável dos recursos e serviços naturais seja inserida na agenda de

governos e da sociedade civil. Nesse contexto, descentralização e a democratização das

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decisões em torno das questões ambientais são fundamentais para a constituição da

legitimidade da política de meio ambiente.

No início da década de 1980 a legislação brasileira dá um importante passo

participação democrática e descentralizada nas decisões que tangem a questão ambiental.

A Lei Federal nº 6.938/81, institui a Política Nacional de Meio Ambiente, e cria o

SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente. De acordo com a referida lei

Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios, bem como as fundações instituídas pelo poder público, responsáveis

pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema

Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA. (BRASIL, 1981)

A estrutura do SISNAMA é composta por um órgão superior, o Conselho de

Governo, que tem a função de assessorar a Presidência da República nos assuntos

relacionados às diretrizes para o meio ambiente. O órgão central é representado pelo

Ministério do Meio Ambiente que tem a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e

controlar a Política Nacional de Meio Ambiente. Os órgãos seccionais, representados por

órgãos ou entidades estaduais, são responsáveis pela execução de programas, projetos e

pela fiscalização de atividades que possam degradar o meio ambiente. Os órgãos locais

também foram contemplados dentro desse sistema e são responsáveis pelo controle e

fiscalização de atividades nas suas respectivas jurisdições (MMA, 2006).

Também fazem parte dessa estrutura os órgãos executores, como o Instituto

Brasileiro de Meio Ambiente – IBAMA. Os últimos anos foram marcados pela criação de

vários órgãos ambientais vinculados ao Ministério do Meio Ambiente, como a Agência

Nacional das Águas (ANA), instituída pela Lei nº 9.984/2000; o Serviço Florestal

Brasileiro (SFB), instituído pela Lei nº 11.284/2006 e o Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade (ICMBio) instituído pela Lei nº 11.516/2007.Para LEME

(2012, p. 30) tal fato “aponta para uma tendência de especialização e setorização das

agendas ambientais”.

Entre os órgãos que compõe o SISNAMA ainda merece destaque o Conselho

Nacional de Meio Ambiente – CONAMA. A redação da Lei Federal nº 6.938/81 apresenta

o CONAMA como

Órgão consultivo e deliberativo (...) com a finalidade de assessorar, estudar e

propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o

meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência,

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sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente

equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida (BRASIL, 1981).

O CONAMA é presidido pelo Ministro do Meio Ambiente e é composto por

Plenário, Comitê de Integração de Políticas Ambientais - CIPAM, Grupos Assessores,

Câmaras Técnicas e Grupos de Trabalho. O Conselho é um órgão colegiado representativo

de cinco setores, a saber: órgãos federais, estaduais e municipais, setor empresarial e

sociedade civil. (MMA, 2006). Dentre as competências do CONAMA está a de “incentivar

a criação, a estruturação e o fortalecimento institucional dos Conselhos Estaduais e

Municipais de Meio Ambiente e gestão de recursos ambientais e dos Comitês de Bacia

Hidrográfica” (MMA, 2006). Isso reforça a importância dos Conselhos de Meio Ambiente

e a necessidade de descentralização da gestão ambiental.

A estrutura do SISNAMA também se aplica aos Estados e Municípios sendo que o

órgão central é representado pela secretaria, departamento ou fundação de meio ambiente.

Este órgão pode ser exclusivo ou compartilhado com outras áreas. Uma das demandas é

que sejam constituídos os Conselhos de Meio Ambiente passíveis de desempenharem

competência consultiva, deliberativa, normativa e fiscalizadora (SOUZA e NOVICKI ,

2010).

Ao implantar o SISNAMA, a Política Nacional de Meio Ambiente, através da Lei

Federal nº 6.938/81, abre espaço para a participação social e a gestão integrada dos

recursos naturais, o que englobaria o fortalecimento da gestão descentralizada e a formação

de Conselhos de Meio Ambiente. Mas foi somente com a Constituição Federal de 1988

que os conselhos gestores ganharam importância dentro das políticas públicas. Isso ocorre,

principalmente, em função dos princípios constitucionais que preceituam a participação da

sociedade na condução das políticas públicas. A Constituição também trouxe grandes

avanços para o aumento da autonomia das gestões locais, pois os municípios passaram a

integrar o texto Constitucional como Ente Federado e receberam algumas competências

comuns com a União, os Estados e o Distrito Federal e também competências privativas

como a de legislar em assuntos de interesse local (Art. 30 da CF/88).

Já no artigo 1º da Constituição Federal fica claro o reconhecimento dos municípios

como Entes Federados, fato que será confirmado pelo Artigo 18 “A organização político-

administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição”.

(BRASIL, 1988). O texto da Constituição Federal também preceitua a competência dos

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municípios, como ente federado, de defender o meio ambiente, proteger as paisagens

naturais e preservar fauna e flora. O Artigo 225 da Constituição, por seu turno, deixa clara

a responsabilidade do poder público e da coletividade quanto à defesa do meio ambiente.

Leme (2010) afirma que a descentralização e o federalismo representam

mecanismos complementares com grande potencial na implementação de políticas

públicas, inclusive na área de meio ambiente, mas é necessário que limites sejam

identificados e discutidos.

Para Cunha e Pinto citados por Leme (2010) a Constituição reforçou a

descentralização e o compartilhamento de responsabilidades entre os entes federados, mas

não esclarece os mecanismos de coordenação interfederativa. Todavia, Giaretta (2011)

afirma que Constituição Federal não só determinou o papel dos municípios no novo

contexto democrático brasileiro como consolidou a questão da proteção ambiental.

Também através da Constituição houve um fortalecimento da Política Nacional do Meio

Ambiente e do modelo de gestão ambiental do SISNAMA que tem, como descrito

anteriormente, o objetivo de implantar uma gestão ambiental descentralizada em todas as

esferas do governo.

Em relação à competência para conceder o licenciamento ambiental, a Lei n.º

6.938/81 (Politica Nacional de Meio Ambiente), conferia, até o mês de dezembro de 2011,

a competência de licenciar ao órgão estadual, denominada de “estadualização” do

licenciamento, e, supletivamente, à autarquia federal, IBAMA. Contudo, a doutrina, por

vários anos criticou essa repartição trazida pela Política Nacional de Meio Ambiente, pois

a própria Constituição Federal de 1988 instituirá a partilha de responsabilidade por todos

os entes da federação (União, Estados e Municípios). Essa critica da doutrina tinha total

respaldo no artigo 6º da Resolução CONAMA n.º 237, de 19 de dezembro de 1997, que

desde esta época já confere competência aos órgãos municipais ambientais para licenciar

atividades com impacto local e das atividades delegadas pelo Estado, por meio de

instrumento legal ou convênio. Os doutrinadores que defendiam “estadualização” do

licenciamento relatavam que o artigo 6º da Resolução CONAMA n.º 237/97 era

inconstitucional, porém, conforme entendimento explanado por Jeferson Nogueira

Fernandes (2010, p. 122), “não há nada de ilegal ou inconstitucional na resolução

CONAMA, o que é necessário é uma nova interpretação do art. 10, da Lei Federal

6.938/81”.

Neste mesmo entendimento Luís Paulo Sirvinskas (2010, p. 230) aponta que, diante

da redação do artigo 10 Política Nacional de Meio Ambiente, a competência em regra geral

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é do órgão público estadual, contudo, esta licença “não dispensa a possibilidade de

concessão ou a aquiescência de outros órgãos (federal ou municipal)”. Como forma de

explicar o seu posicionamento Jeferson Nogueira Fernandes (2010, p. 122) afirma ainda

que:

[...] os que ainda afirmam que o Município não tem competência para o

licenciamento ambiental, fazem uma interpretação aos moldes da Constituição

Federal passada, que substanciou a edição da referida lei e que não pode ser mais

realizada desta forma, mas condizente ao novo ordenamento jurídico

constitucional, que possibilita o exercício do licenciamento aos Munícipios

preparados para tal.

A fim de contornar os problemas existentes acerca desta competência, evitando

diversões acerca da interpretação do artigo, o legislador pátrio em 08 de dezembro de

2011, sancionou a Lei Complementar n.º 140, que fixa diretrizes para a cooperação entre

os entes federativos em matéria ambiental, onde modificou o artigo 10 da Política Nacional

do Meio Ambiente o qual passou a vigorar com a seguinte redação:

Art. 10. A construção, instalação, ampliação e funcionamento de

estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou

potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação

ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental.

§ 1º Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão serão

publicados no jornal oficial, bem como em periódico regional ou local de grande

circulação, ou em meio eletrônico de comunicação mantido pelo órgão ambiental

competente.

Guerra (2012) também observa que

Com efeito, de acordo com a Lei Complementar nº 140/2011, a União, os

Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão desenvolver ações de

cooperação de modo a atingir os objetivos previstos no art. 3o da citada lei, bem

como garantir o desenvolvimento sustentável, harmonizando e integrando todas

as políticas governamentais. Por isso mesmo é que o artigo 7o identifica ações

administrativas a serem desenvolvidas pela União, o artigo 8o trata das ações

administrativas dos Estados e o artigo 9o versa sobre as ações dos Municípios e

o artigo 10 identifica como ações administrativas do Distrito Federal as previstas

nos arts. 8º e 9º da Lei. (GUERRA, 2012, p. 132).

Assim, deve-se considerar que o licenciamento ambiental “não é procedimento

exclusivo de nenhum ente da federação” (PEDRO, 2005, p. 76), cabendo a todos (União,

Estados e Municípios) a prática de tal ato administrativo. Deve-se ressaltar ainda que cada

ente terá uma área de domínio para o exercício do licenciamento ambiental, assim, se a

atividade atingir dois ou mais estados, a competência caberá a União, enquanto que, se

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atingir dois ou mais municípios, a competência é do Estado-membro e, por fim, se atingir

apenas um município, a competência é do Município para o licenciamento.

De fato, a instituição da Resolução CONAMA nº 237/97 (BRASIL, 1997) já havia

contribuído de forma incisiva para o fortalecimento dos municípios e de seus respectivos

conselhos de meio ambiente, dentro da política ambiental. Essa Resolução reordena o

licenciamento ambiental no Brasil atribuindo aos municípios funções específica na gestão

do meio ambiente, especialmente nas matérias de interesse local. A redação do Artigo 6º

estabelece que:

Compete ao órgão ambiental municipal, ouvidos os órgãos competentes da

União, dos Estados e do Distrito Federal, quando couber, o licenciamento

ambiental de empreendimentos e atividades de impacto ambiental local e

daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por instrumento legal ou convênio

(BRASIL, 1997).

Contudo, o Artigo 20 da mesma Resolução, condiciona a competência do

município em promover o licenciamento ambiental dos empreendimentos, à

implementação e funcionamento dos Conselhos de Meio Ambiente, bem como ter à sua

disposição profissionais habilitados. Souza e Novicki (2010, p. 44) definem os Conselhos

Municipais de Meio Ambiente, em linhas gerais, como “órgãos colegiados encarregados de

opinar e assessorar o poder executivo municipal nas questões relativas ao meio ambiente

[...].”.

O primeiro Conselho Municipal de Meio Ambiente foi criado no município de

Cubatão (SP) em 1975 (SOUZA e NOVICKIII, 2010). Tal fato pode ser considerado

vanguardista para a época, uma vez que o Brasil ainda não havia passado por um processo

de redemocratização e os espaços para a participação popular na política eram limitados.

Mas foi a partir da implementação da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei Federal nº

6.938/81) e principalmente após a Resolução CONAMA nº 237/97 que se verificou um

incremento quantitativo desses órgãos. A Pesquisa de Informações Básicas Municipais –

Munic1 (IBGE, 2009) aponta para uma expansão no número de Conselhos Municipais de

Meio Ambiente nos últimos dez anos. Esse incremento foi mais acentuado nos anos

imediatamente posteriores aos das eleições municipais, ou seja, 1997, 2001 e 2005. De

1 Realizada pelo IBGE desde 1999 a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) inclui registros

administrativos das prefeituras de todos os municípios brasileiros. A Munic oferece uma base de informações

com dados estatísticos cadastrais atualizados que proporcionam um conjunto de indicadores do quadro

institucional dos municípios brasileiros.

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acordo com Leme (2010, p. 40) isso “pode indicar iniciativa proativa do prefeito e/ou

pressão da sociedade”.

De acordo com os dados da Munic, em 2009 mais da metade dos municípios

brasileiros (56,3%) já dispunham de Conselhos de Meio Ambiente. Isso representa um

aumento da ordem de 166,3% em apenas uma década (1999 -2009), já que em 1999,

primeiro ano em que essa informação foi pesquisada pelo IBGE, os Conselhos Municipais

de Meio Ambiente existiam em apenas 21,4% dos municípios brasileiros (IBGE, 2009). A

figura 3.1 apresenta a evolução dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente no Brasil

entre 1999 e 20092.

Figura 3.1. Percentual de municípios com Conselho de Meio Ambiente, por

grandes regiões – 1999/2009

Fonte: IBGE, 2009. Adaptado

Apesar do incremento dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente na primeira

década do Século XX, os números ainda são tímidos quando comparados a outros

conselhos municipais como o de Assistência Social e de Saúde presentes, respectivamente,

em 99,3% e 97,3% dos municípios brasileiros. Leme (2010) aponta que, diferentemente da

área ambiental, nas políticas de saúde e de assistência social, a transferência de recursos

está condicionada à existência de conselhos.

2 Período em que a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) foi realizada. A partir de 2002, a

pesquisa passou a investigar um maior número de variáveis relativas à gestão ambiental.

1999 2001 2002 2004 2008 2009

Brasil 21,4 29,0 34,1 36,7 47,6 56,3

Norte 11,4 18,5 21,6 26,3 38,5 47,7

Nordeste 9,0 14,3 19,7 20,3 29,9 36,8

Sudeste 32,5 39,3 43,5 46,8 58,7 71,0

Sul 29,1 39,6 44,2 49,6 61,1 67,2

Centro-Oeste 19,1 32,4 41,7 40,6 50,6 59,7

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

Per

cen

tua

l

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43

Se forem considerados apenas os Conselhos Municipais de Meio Ambiente ativos,

esses números são ainda menos expressivos. De acordo com o IBGE (2012)3, em 2009

apenas 39,9% dos municípios brasileiros contavam com Codema ativo.

Quanto à distribuição geográfica, a pesquisa Munic constatou que os Conselhos

Municipais de Meio Ambiente estão mais presentes nos municípios populosos e nas

regiões com maior desenvolvimento econômico do país (IBGE, 2009). De acordo com os

dados dessa pesquisa, em 2009 a totalidade dos municípios com mais de 500 000

habitantes contava com o Conselho de Meio Ambiente. Já nos municípios menos

populosos, a existência dos Conselhos gira em torno de 50% conforme pode ser observado

na figura 3.2.

Figura 3.2. Percentual de municípios com Conselho Municipal de Meio Ambiente de

acordo com as classes de tamanho da população dos municípios -2009

Fonte: IBGE, 2009. Adaptado

Mesmo sendo menos frequente nos municípios de menor porte, com até 20 000

habitantes, a pesquisa Munic (IBGE, 2009) evidenciou que os municípios dessa classe

populacional apresentaram um maior crescimento da implementação dos Conselhos

Municipais de Meio Ambiente. Tal fato pode estar relacionado ao aumento da divulgação

3 A publicação Indicadores de Desenvolvimento Sustentável – Brasil 2012 (IBGE, 2012) foi baseada na

Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2009, porém considerou apenas os Conselhos Municipais de

Meio Ambiente Ativos, ou seja, que se reuniram pelo menos uma vez nos doze meses que antecederam a

pesquisa.

0 20 40 60 80 100 120

Até 5.000

De 5.001 a 10.000

De 10.001 a 20.000

De 20.001 a 50.000

De 50.001 a 100.000

De 100.001 a 500.000

Mais de 500.000

Percentual

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44

de informações e discussões em torno da questão ambiental e, consequentemente, uma

maior pressão da sociedade civil. Contudo Souza e Novicki (2010, p. 53) observam que “a

mera existência dos CMMA4 [sic] não garante o encaminhamento democrático da política

ambiental e da consequente participação sociopolítica em seu interior”.

As regiões Sudeste e Sul com, respectivamente, 71% e 67% dos municípios são as

que apresentavam em 2009 o maior número de cidades com Conselhos de Meio Ambiente.

Já as regiões Norte e Nordeste, apesar do crescimento verificado nos últimos anos, ainda

carecem de Conselhos de Meio Ambiente em mais da metade de seus municípios.

Os Conselhos Municipais de Meio Ambiente não apresentam funcionamento

homogêneo em todo o país. Suas atribuições e composição podem variar de um município

para outro, mas para que este órgão possa cumprir seus objetivos é necessário que ele seja

representativo e, preferencialmente, possua uma composição paritária entre o poder

público e a sociedade civil organizada. Apesar da tendência de crescimento de espaços

institucionais na área de meio ambiente e de um maior comprometimento com a gestão

ambiental nos municípios, esse quadro ainda se apresenta bastante precário e heterogêneo.

(CARLO, 2006).

A pesquisa Munic (IBGE, 2009) mostra que há uma predominância dos Conselhos

Municipais de Meio Ambiente de caráter5 deliberativo (80,9%) e/ou consultivo (77,8%).

Os Conselhos de caráter fiscalizador estavam presentes em 47,9% dos municípios e os de

atribuição normativa em 40,2% dos municípios. A maioria dos Conselhos (87,6%) possuía

representação paritária, ou seja, eram compostos de forma igualitária por representantes do

governo e da sociedade civil.

Quanto ao grau de atividade dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente, a

pesquisa Munic (IBGE, 2009) considerou como ativos os Conselhos que se reuniram no

período de 12 meses anteriores à coleta de informações. De acordo com os dados dessa

pesquisa, em 2009, 71,0% dos municípios que dispunham de Conselhos de Meio Ambiente

se reuniram no período considerado pela pesquisa. A maior frequência de reuniões foi

verificada nos municípios com mais de 500 000 habitantes. Dos 37 municípios que

figuravam nessa classe populacional, 92,5% declararam ter realizado reunião no período

4 Souza e Novicki (2010) usam a sigla CMMA para definir Conselhos Municipais de Meio Ambiente. Nessa

dissertação optou-se por utilizar a sigla Codema. 5 De acordo com o IBGE (BRASIL.IBGE, 2009) o conselho possui caráter deliberativo quando tem o poder

de decisório; consultivo quando seus integrantes têm o papel de estudas e indicar ações ou políticas sobre

determinada matéria; o caráter fiscalizador refere-se aos conselhos que fiscalizam a implementação e o

funcionamento de políticas e/ou administração de recursos; já o caráter normativo ocorre nos conselhos que

estabelecem normas e diretrizes para as políticas e/ou administração de recursos dentro da sua área de

atuação.

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45

especificado pela pesquisa. Já nos municípios com menos de 10 000 habitantes, apenas

66,6% realizaram reunião dos conselhos, segundo informações prestadas durante a

pesquisa.

Os dados da pesquisa do Perfil dos Municípios Brasileiros fornecem importantes

elementos que comprovam um crescimento da preocupação com a gestão ambiental local,

bem como demonstra um aumento considerável dos Conselhos Municipais de Meio

Ambiente no Brasil. Ao criar os Conselhos de Meio ambiente, os municípios criam

também um espaço integrador da gestão ambiental e da participação democrática devendo

também zelar pela “(...) continuidade das ações estabelecidas para a área ambiental por

meio do cumprimento de políticas públicas claras e condizentes com a sua própria

realidade” (PHILIPPI JR. et al, 2004).

No entanto, a expansão quantitativa dos conselhos gestores e mesmo o seu caráter

deliberativo não significam necessariamente seu sucesso em superar os desafios a eles

interpostos. Deficiências quanto à representatividade dos conselheiros e quanto à

capacidade de deliberar e impor suas decisões ao governo foram destacadas na literatura

(TEIXEIRA, 2000).

Apesar de ser grande a abordagem acadêmica sobre a importância dos canais de

participação da população na formulação de políticas públicas, quando se trata dos

Conselhos Municipais de Meio Ambiente “[...] do ponto de vista empírico, é possível

afirmar que pouco se sabe a respeito do funcionamento institucional, político e normativo

desses conselhos” (SOUZA E NOVICKI , 2011, p. 237). Ao desenvolver uma pesquisa de

Estado da Arte sobre os Conselhos Municipais de Meio Ambiente no Brasil, contemplando

o período compreendido entre 1981 e 2007, Souza e Novicki (2010) concluíram que o

número de publicações sobre o tema é bastante reduzido. Considerando apenas os meios de

difusão de informações científicas de maior alcance, como livros e periódicos, esse número

é insignificante.

Um maior aprofundamento e difusão dos estudos sobre os Conselhos Municipais de

Meio Ambiente poderia, segundo Souza e Novicki (2010, p. 66) “[...] fornecer subsídios

para a formulação de políticas públicas na área ambiental e, em especial para a

participação sociopolítica nas mais variadas instâncias da gestão ambiental”

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4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

4.1 Localização e características físicas da região do Médio Piracicaba

As cidades selecionadas para esta pesquisa estão localizadas na região do Médio

Piracicaba/MG, são elas: Barão de Cocais, Catas Altas, Itabira, Santa Bárbara e São

Gonçalo do Rio Abaixo. A escolha das cidades, conforme explicado anteriormente na

seção 1.2, levou em consideração os seguintes fatores: o fato de todas estarem inseridas

num processo de dinamismo relacionado aos projetos de mineração, possuírem Conselhos

de Meio Ambiente e, embora com tamanhos distintos, vivenciarem alguns problemas

socioambientais comuns, facilitando assim a comparação do tratamento dos mesmos pelos

Conselhos Municipais de Meio Ambiente e da participação da população nesses conselhos.

A economia da região apresenta um crescente dinamismo, principalmente em

projetos ligados à mineração. Se por um lado este crescimento econômico abre

perspectivas de maiores investimentos e modernização das cidades, por outro, traz consigo

uma maior pressão sobre os recursos naturais, bem como problemas socioambientais

associados ao incremento econômico e demográfico vivenciado pela região nos últimos

anos.

Considerando este cenário, é imperativo caracterizar a área de estudo, a fim de

melhor compreender o contexto em que estão inseridos os Conselhos Municipais de Meio

Ambiente – objeto de estudo do presente trabalho - dos municípios estudados.

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47

Figura 4.1. Localização dos municípios pesquisados em Minas Gerais e na Bacia do Rio Piracicaba

Fonte: Adaptado de IGAM (2010)

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48

Localizada no Centro-leste de Minas Gerais, a Bacia do Rio Piracicaba, uma sub-

bacia do Rio Doce, é composta por vinte e um municípios abrangendo uma área de

aproximadamente 6.000 Km 2

(TRINDADE, 2007).

O Rio Piracicaba nasce nos contrafortes da Serra do Caraça, no município de

Ouro Preto, a uma altitude de 1680 m. Com uma extensão de 241 Km ele se

desloca na direção leste, indo desaguar no Rio Doce, na cidade de Ipatinga”

(GUERRA, 2001, p. 24).

Dentre os principais afluentes do Rio Piracicaba destaca-se o Rio Santa Bárbara,

Rio Conceição, Rio da Prata e Rio do Peixe, possuindo ainda uma grande ramificação de

cursos d’água. Para Guerra (2001, p. 39) o Rio Piracicaba “tem uma enorme importância

econômica, social, ambiental e histórica para esta região”.

O relevo da Bacia do Piracicaba é bastante acidentado com predominância de serras

e colinas. Os vales em V ocorrem com pouca frequência, mas a topografia acidentada

contribui para a susceptibilidade à erosão (GUERRA, 2001). Tal fato é agravado pela

redução da cobertura vegetal causada, principalmente, pela ocupação rápida e muitas vezes

irregular da bacia. Ainda segundo Guerra (2001) é possível encontrar na região a presença

de uma topografia ondulada formando os chamados “mares de morros”.

Dentre as unidades de relevo, destaca-se a Serra do Caraça (figura 4.2). Ab’Saber

(2003) considera a Serra do Caraça como um compartimento dentro do Quadrilátero

Ferrífero, com características morfológicas que se assemelham a Serra do Espinhaço. Parte

da Serra do Caraça está compreendida na RPPN do Caraça, reserva particular do

patrimônio natural, localizada entre os municípios de Catas Altas e Santa Bárbara.

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49

Figura 4.2. Serra do Caraça – Catas Altas/MG

Fonte: Arquivo pessoal (2013)

A configuração geológica exerce influência direta na economia da bacia do Rio

Piracicaba, pois grande parte do Quadrilátero Ferrífero, um dos principais sítios minerais

do país, está localizada nessa região. A abundância de minerais metálicos, em especial o

ouro e o minério de ferro, tem relação direta com o processo histórico de ocupação da

região. Ainda hoje, a geologia da região influencia diretamente na vocação econômica e na

ocupação da região. Segundo Guerra (2001, p. 13)

O ouro foi descoberto nas cabeceiras do Rio Piracicaba, no final do século XVII

e início do século XVIII, com a chegada ali das primeiras Expedições paulistas.

O trabalho corajoso dos bandeirantes se embrenhando pelos sertões a pé, a

cavalo, de canoa, enfrentando os índios, as florestas, doenças, animais selvagens

etc desempenhou um papel fundamental na ocupação e ampliação do território

brasileiro. No trabalho de exploração do ouro, os bandeirantes estavam sempre

em constantes deslocamentos e assim criaram inúmeros povoados. Para isto, eles

tinham os rios como principal referência.

A bacia do Rio Piracicaba está localizada numa área de transição entre os biomas

da Mata Atlântica e do cerrado. De acordo com Jurandyr Ross (1995) o cerrado faz parte

da formação savânica e tem como características principais a presença de um estrato

herbáceo recobrindo o solo, árvores e arbustos com troncos tortuosos e casca espessa. Já a

Mata Atlântica é caracterizada por Ross como

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Fisionomicamente semelhante às matas amazônicas. São igualmente densas, com

árvores altas em setores mais baixos do relevo (...) Os troncos são recobertos por

grande diversidade de epífitas (...) guardam, apesar de séculos de destruição, a

maior biodiversidade por hectare entre as florestas tropicais. (ROSS, 1995, p.

171)

Também Paula (1997) afirma que a região da Bacia do Piracicaba, originalmente

recoberta pela Mata Atlântica, apresenta uma grande diversidade botânica. Entretanto,

Guerra (2001, p. 24) observa que a região

Sofreu um avassalador processo de desmatamento com predomínio marcante de

práticas extrativas predatórias adotadas, principalmente pelas indústrias

siderúrgicas a carvão vegetal que se instalaram na região. Além delas, a extração

de madeiras para fins comerciais e consumo de lenha, a formação de pastagens e

a exploração em grande escala do minério de ferro participaram deste processo.

O autor aponta ainda outros fatores que contribuíram para a significativa

devastação da Mata Atlântica e do cerrado na região, como o rápido, e por vezes

desordenado, processo de urbanização e o manejo inadequado do solo nas atividades

agrícolas.

A região conta ainda com a presença de campos de altitude e campos rupestres. Os

campos de altitude e campos rupestres estão associados a solos rasos em altitudes elevadas.

Apresentam uma vegetação de pequeno porte. São encontrados nas porções mais elevadas

do Quadrilátero Ferrífero, como na Serra do Caraça, onde é possível encontrar espécies

típicas como orquídeas e canelas de ema.

4.2 O processo de ocupação da região

O processo de ocupação da região do Médio Piracicaba ocorreu no contexto da

descoberta e exploração do ouro em Minas Gerais. A “abundância” do metal precioso foi o

chamariz que faria valer a pena transpor os obstáculos naturais como florestas e serras que

protegiam Minas Gerais (PAULA, 1997). De acordo com Guerra (2001, p. 29)

No final do século XVII e início do século XVIII, vários grupos de

desbravadores descobriram ouro em diferentes ribeirões e rios daquela região. A

partir daí , os desbravadores passaram a “descer o rio Piracicaba” a procura do

ouro. No início dos anos de 1700, são fundados vários arraiais, dando origem

assim às hoje cidades de Catas Altas, Santa Bárbara, Nova Era, Itabira e Antônio

Dias.

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51

Também August de Saint-Hilaire, ao passar por essa região em 1819, destacou a

importância da atividade minerária na região e observou ainda a modificação da paisagem

natural. Segundo o botânico “Em todos os arredores da colina a terra foi rasgada em todos

os sentidos pelos mineradores, que revolveram igualmente as margens do riacho Una, que

corre sobre um leito enegrecido suas águas sujas pela argila vermelha que resulta da

lavagem do ouro” (SAINT-HILAIRE, 1941, p. 94).

A exploração do ouro foi responsável pelo surgimento de vários núcleos de

povoamento na região. O aumento populacional gerou uma demanda pelo abastecimento

dos povoados, principalmente de gêneros alimentícios. Com terrenos íngremes e solos não

muito férteis a região, que a princípio não possuía vocação agrícola, presencia o

surgimento da agricultura de pequeno porte para o abastecimento local. Com a efetiva

ocupação do Médio Piracicaba, começam a surgir grandes fazendas agrícolas como a

Fazenda do Rio do Peixe em Itabira (GUERRA, 2001).

Assim como em Ouro Preto e Mariana, a atividade aurífera não tardou entrar em

declínio na região do médio Piracicaba. A tecnologia disponível no período do Ciclo do

Ouro já não era eficiente para explorar o metal que agora se tornara de difícil acesso. Mas a

atividade mineradora continuou ditando os rumos do desenvolvimento econômico da

região, entretanto o foco mudou do ouro para o minério de ferro.

A descoberta de grandes jazidas de minério de ferro foi fator fundamental para a

instalação de empresas siderúrgicas na região. “Já na década de 1920 iniciou-se a

implantação de grandes siderúrgicas na bacia. Em 1925, uma usina foi criada em Barão de

Cocais, pelo grupo inglês Hime & Cia”. (PAULA, 1997, P. 93).

Paralelo à siderurgia, cresce também a demanda por carvão vegetal. Guerra (2001,

p.34) afirma que

No final da década de 40, as siderúrgicas já tinham percebido que era impossível

a regeneração das matas nativas no compasso da demanda do carvão vegetal.

Surgiu, então, a ideia de substituir as florestas destruídas por eucalipto, cuja

capacidade de regeneração era mais rápida e possuía um ciclo médio de três

colheitas em 21 anos.

Ainda de acordo com Guerra (2001) na década de 60, somente a Belgo-Mineira

(atual Arcelor Mittal) já possuía florestas de eucalipto plantadas em mais de 20 municípios

da região. Contudo a atividade de reflorestamento não se restringiu apenas ao fornecimento

de carvão para a siderurgia. A partir da década de 1970 com a chegada da empresa

Celulose Nipo-Brasileira CENIBRA à região, houve um aumento significativo das áreas de

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plantio de eucalipto. Dentre as cidades que passaram fazer maior uso o solo para a

silvicultura na região está Santa Bárbara.

Outro fator que contribuiu para o desenvolvimento da região foi à construção da

Estrada de Ferro Vitória-Minas. Concebida no fim do século XIX para ligar o litoral até

Diamantina, a ferrovia viu sua história mudar com a descoberta de grandes jazidas de

minério de ferro na região de Itabira. Em 1942 o governo brasileiro cria a Companhia Vale

do Rio Doce – CVRD, que passa a explorar e transportar o minério pela Vitória – Minas.

Isso leva Itabira a sofrer um grande crescimento econômico adquirindo um status de centro

regional. De acordo com Paula

A grande importância da Vitória-Minas não se deveu apenas ao transporte do

minério de ferro para a exportação, mas principalmente porque foi o eixo em

torno do qual se construiria o maior complexo siderúrgico brasileiro. A ferrovia

traçou, ainda, um caminho de desmatamento necessário à construção e

manutenção e estabeleceu uma ocupação demográfica regional que, de fato, sé se

aceleraria mais tarde com a expansão da indústria madeireira, da pecuária e da

própria siderurgia. (PAULA, 1997, p. 61)

As décadas de 1980 e 1990 foram marcadas, respectivamente por um período de

baixo crescimento econômico e por mudanças que ocasionaram mudanças em grandes

empresas da região.

Em 1988, a empresa siderúrgica Cimetal, em Barão de Cocais, diante de uma grave

crise foi vendida para a Gerdau. Já Itabira presencia, em 1997, a privatização da empresa

cuja história se confunde com a da própria cidade: a Companhia Vale do Rio Doce, atual

Vale. Tais fatos já demonstravam que a dependência de uma única empresa pode

comprometer a sustentabilidade socioeconômica de um município.

Observando esse breve relato do processo da ocupação da região do médio

Piracicaba, é possível perceber que esta ocorreu de forma atrelada e dependente da

exploração de recursos naturais. Sobre esse assunto, Guerra (2001, p. 35) afirma que “Seu

crescimento econômico aconteceu à custa de uma demanda sem precedentes sobre os

recursos minerais, as florestas, as águas, a biodiversidade (fauna e flora), os quais vêm

sendo explorados até sua quase exaustão.”

Tal panorama não se modificou nos últimos anos, ao contrário, as cidades da região

vivem atualmente o paradoxo do desenvolvimento econômico à custa da exploração voraz

dos recursos naturais.

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53

A dependência da mineração na região é tão grande que todos os municípios

pesquisados possuem pelo menos uma mina de ouro ou minério de ferro em atividade

(figura 4.3).

Figura 4.3. Minas em atividade nos municípios pesquisados (2013)

Fonte: Elaborado pela autora com base em

<http://www.saladeimprensa.vale.com/pt/multimedia/fotos.asp ; http://www.defeatoonline.com.br

4.3 Aspectos demográficos e socioeconômicos dos municípios pesquisados

A população residente nas cidades pesquisadas é superior a 180 mil habitantes

(IBGE, 2010). Destes, mais da metade está concentrada na cidade de Itabira, conforme

pode ser observado na tabela 4.1. De acordo com Trindade (2007, p.88)

O município de Itabira também recebeu pessoas de várias localidades, quando a

Companhia Vale do Rio Doce começou a operar na cidade e precisava de mão de

obra. Em toda sua história de ocupação a bacia do Rio Piracicaba passou por

diferentes momentos de uma migração intensa, seja com o ciclo do ouro dando

início a sua ocupação, seja com a descoberta das grandes jazidas de minério de

ferro ou com a consolidação do seu complexo siderúrgico.

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54

Ainda hoje Itabira representa um importante centro regional polarizando os

municípios da região. Contudo, a finitude do minério de ferro e a timidez na diversificação

da economia trazem dúvidas sobre a sustentabilidade socioeconômica do município nas

próximas décadas.

Tabela 4.1. Área, População Urbana, População Rural e Densidade Demográfica dos

Municípios da Microrregião do Médio Piracicaba.

Cidades Área

(km2)

População

absoluta

População

urbana

População

rural

Densidade

demográfica

(hab/km2)

Barão de Cocais 340,6 28. 442 25. 782 2. 660 83,5

Catas Altas 240,0 4 846 4. 233 613 20,2

Itabira 1. 253,7 109. 783 102. 213 7 .570 87,5

Santa Bárbara 684,0 27. 876 24 .784 3. 092 40,7

São Gonçalo do Rio

Abaixo

363,8 9 .777 4. 659 5 .128 26,8

Total 2. 882,1 180. 724 161 .671 19 .063 62,7

Fonte: Adaptado de IBGE, 2010.

Do total da população residente nos municípios pesquisados, 89,5 % se concentram

nas áreas urbanas, fato que se assemelha à distribuição populacional brasileira na qual o

grande fluxo migratório, denominado êxodo rural, fez com que, a partir da década de 1960,

a população do país se tornasse predominantemente urbana. A exceção, dentro da região

pesquisada é a cidade de São Gonçalo do Rio Abaixo que possui 52,4% da população

vivendo na área rural. Cruz (2009, p. 45) afirma que “O alto índice de concentração em

áreas urbanas refere-se ao êxodo rural para os centros microrregionais minerais e

industriais de transformação ligadas ao ramo metalúrgico”.

Quando comparadas à densidade demográfica brasileira, que é de 22 hab/Km2

(IBGE, 2010), as cidades pesquisadas apresentam um índice elevado de habitantes por

quilômetro quadrado, com uma média de 62,7 hab/Km2 ficando, contudo, dentro da média

da região Sudeste. As cidades com maior densidade demográfica são Itabira e Barão de

Cocais, conforme pode ser observado na tabela 4.1.

Na última década, as cidades da região do médio Piracicaba vêm sofrendo um

crescimento populacional, conforme pode ser observado na figura 4.4. Esse crescimento

está intimamente relacionado aos projetos mineradores que têm atraído mão de obra de

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diversas localidades do país. Somente em Barão de Cocais, entre os anos de 2004 e 2007,

estima-se que a cidade sofreu um incremento de população flutuante da ordem de 6 000

pessoas6, o que representa um aumento de aproximadamente 20% em relação a população

residente no município.

Figura 4.4. Crescimento populacional das cidades pesquisadas (1991 – 2010).

Fonte: IBGE, 2010.

É inegável que o incremento populacional e o aumento do fluxo de dinheiro trouxe

alguns benefícios para as cidades do médio Piracicaba, como o aumento das receitas

municipais e a diversificação do setor de serviços. O município de São Gonçalo do Rio

Abaixo, por exemplo, cuja economia era baseada principalmente na agropecuária, passou a

ser focada na mineração e viu sua receita crescer em 400% no ano de 2006 com a

instalação da Mina do Brucutu pertencente à empresa Vale. (DIAS, 2006)

Todavia, é importante salientar que o crescimento demográfico e econômico

também traz consigo aspectos negativos como o aumento do custo de vida, aumento

significativo do fluxo de veículos, elevação dos índices de violência e grande pressão

imobiliária que leva, muitas vezes, ao crescimento desordenado das cidades.

A qualidade de vida dos municípios pode ser analisada através do Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal – IDH - M. O Índice de Desenvolvimento Humano

Municipal considera os três indicadores do IDH Global em sua composição, educação,

6 Dados da Prefeitura Municipal de Barão de Cocais

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

1991 1996 2000 2007 2010

mer

o d

e h

ab

ita

nte

s

Barão de Cocais

Catas Altas

Itabira

Santa Bárbara

São Gonçalo do Rio

Abaixo

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56

renda per capita e expectativa de vida, adequando a metodologia ao contexto brasileiro. De

acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013), disponibilizado pelo

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, os municípios pesquisados

apresentam um nível médio de desenvolvimento humano, conforme pode ser observado na

tabela 4.2.

Tabela 4.2. IDH-M do Brasil, de Minas Gerais e dos Municípios da Microrregião do

Médio Piracicaba.

Município IDH – M (1991) IDH – M (2000) IDH – M (2010)

Barão de Cocais 0,459 0,613 0,722

Catas Altas 0,423 0,592 0,684

Itabira 0,505 0,649 0,756

Santa Bárbara 0,432 0,605 0,707

São Gonçalo do Rio Abaixo 0,368 0,521 0,667

Minas Gerais 0,478 0,624 0,731

Brasil 0,493 0,612 0,727

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, PNUD, 2013.

De maneira geral, os índices de desenvolvimento humano municipal dos

municípios selecionados ficaram abaixo da média de Minas Gerais e do Brasil, a exceção é

a cidade de Itabira, que conta com maior dinamismo econômico e presença de Faculdades

apresentando, dentro do grupo selecionado, os melhores indicadores de desenvolvimento

humano municipal.

Já São Gonçalo do Rio Abaixo foi o município que apresentou os piores

indicadores dentro do grupo de cidades selecionadas para este trabalho. Todavia, é

importante salientar que o município vem apresentando uma evolução do IDH – M

bastante significativa. A partir de 2004, o município sofreu grandes mudanças econômicas

com a instalação da Mina do Brucutu. A chegada deste empreendimento ao município

elevou significativamente o Produto Interno Bruto – PIB per capita e a arrecadação

municipal. Houve também um incremento educacional com a instalação no município de

cursos técnicos e de uma faculdade.

O impacto da indústria extrativa na economia da região é tão grande que alçou três

dos cinco municípios pesquisados, para as primeiras colocações no ranking dos municípios

com maior PIB per capita de Minas Gerais de acordo com os dados da Fundação João

Pinheiro (2010).

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57

Tabela 4.3. Municípios com maior PIB per capita de Minas Gerais (2010)

Municípios PIB per capita (R$)

Confins 239 774

Araporã 147 965

São Gonçalo do Rio Abaixo 144 753

Tapira 82 791

Fortaleza de Minas 78 307

Ouro Preto 78 013

Betim 74 951

Extrema 68 952

Itabira 64 259

Catas Altas 64 028

Minas Gerais 17 932

Fonte: Fundação João Pinheiro, 2010. Adaptado

Embora o Índice de Desenvolvimento Humano apresente um quadro geral da

qualidade de vida na região, ele não abrange problemas ambientais que podem interferir na

qualidade de vida da população, como a disponibilidade e condições da água distribuída à

população, coleta e destinação de resíduos sólidos e poluição atmosférica. Trindade (2007)

cita o exemplo da cidade de Itabira na qual a poluição atmosférica, proveniente das

partículas em suspensão das minas que circundam a área urbana da cidade, contribui para o

acometimento de problemas respiratórios em parte da população.

A economia das cidades pesquisadas está baseada na mineração, especialmente nas

atividades desenvolvidas pela empresa Vale. O minério de ferro extraído na região é

exportado para diversos países. A participação da indústria de extração mineral influencia

significativamente na composição do Produto Interno Bruto da Região, como pode ser

observado na figura 4.5.

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58

Figura 4.5. Distribuição do PIB nos municípios pesquisados

. Fonte: IBGE, 2010

A concentração do Produto Interno Bruto na indústria contraria a tendência

econômica do estado de Minas Gerais e do Brasil, em cuja composição do PIB, tem-se

destacado no setor de serviços.

O que se observa nos municípios pesquisados é uma relação de dependência

econômica com a empresa Vale. Braga (2000) denomina essas cidades de

“monoindustriais”. De acordo com a autora

A cidade monoindustrial é o caso particular mais agudizado da cidade industrial.

Nela, uma única grande indústria assume o papel de provedora das condições

gerais de produção, da produção ampliada da força de trabalho e da urbanização.

A cidade é concebida como apenas mais uma atividade de apoio à produção

industrial. (BRAGA, 2000, p.328)

O domínio econômico de poucas empresas na região serve com um fator limitador

de importantes questionamentos ambientais, pois a dependência das mesmas faz com que o

poder público e a própria população fiquem vulneráveis ao poder exercido por essas

empresas.

Nesse contexto de cidades monopolizadas pela grande empresa mineradora, Santa

Bárbara aparece como uma exceção. Apesar da grande influência da atividade mineradora

no município, ele apresenta um setor de serviços mais expressivo quando comparado às

cidades vizinhas, seguindo uma tendência estadual e nacional.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Barão de

Cocais

Catas Altas Itabira Santa

Bárbara

São Gonçalo

do Rio

Abaixo

Serviços

Indústria

Agropecuária

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59

A siderurgia também está presente na região, com destaque para a Gerdau,

localizada no município de Barão de Cocais. A agropecuária é praticada de forma

tradicional, com predomínio da agricultura de subsistência e representa uma parcela muito

pequena na composição do Produto Interno Bruto – PIB dos municípios selecionados para

esse trabalho. Já a silvicultura, especialmente a monocultura de eucalipto, ocupa grandes

extensões de terra, principalmente no município de Santa Bárbara.

4.4 Problemas ambientais

A região do Médio Piracicaba apresenta problemas ambientais tipicamente

relacionados à intensa exploração de recursos naturais, base da economia regional, e do

crescimento urbano desordenado. Durante o início da ocupação da região a mineração do

ouro causou mudanças significativas na paisagem, atualmente essas mudanças são

atribuídas principalmente à exploração do minério de ferro. Em Itabira, por exemplo, as

minas que circundam a cidade já fazem parte da paisagem. Além do impacto visual, a

atividade mineradora também causa poluição atmosférica e sonora na cidade, tal a

proximidade com a área urbana. Embora a empresa Vale afirme, através de seu material de

divulgação e dos jornais locais impressos, que toma todas as medidas para evitar tais

problemas, não é raro se deparar com alguns bairros cobertos pelas partículas sólidas

provenientes das minas. As queixas dos moradores da cidade sobre os impactos causados

pela mineração também são constantes, conforme apurado em entrevista com o Secretário

Municipal de Meio Ambiente de Itabira.

Também Catas Altas, guardadas as proporções, convive com a descaracterização

paisagística uma vez que a mineração que vem “rasgando” a Serra do Caraça em sua

porção Sul. O assoreamento dos cursos d’água e a ocupação urbana não planejada também

são visíveis no município. Paula (1997, p. 332) alerta que

A mineração pode ter um alto potencial de impacto em áreas que apresentam

bens de valor histórico e cultural, como ruínas e sítios arqueológicos (municípios

de Santa Bárbara e Barão de Cocais), ou de valor ecológico, como o parque do

Caraça.

Apesar das minas de Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo

estarem localizadas na zona rural, esses municípios não estão isentos dos problemas

relacionados a esta atividade. Em Barão de Cocais, por exemplo, os projetos ligados à

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60

mineração trouxeram para a cidade um aumento significativo do fluxo de veículos nas

estreitas ruas da cidade, bem como uma pressão imobiliária que tem levado à uma

ocupação não planejada, e muitas vezes ilegal, de várias regiões da cidade, algumas destas

consideradas áreas de interesse ambiental e áreas de risco.

Os impactos ambientais anteriormente descritos se repetem nos demais municípios

da região e, associados a eles tem-se um crescimento também dos problemas sociais como

o aumento da violência e do custo de vida nesses municípios.

Outros problemas, que não são exclusividade da região, também estão presentes nas

cidades pesquisadas como a disposição inadequada de resíduos sólidos, o assoreamento e

poluição dos cursos hídricos.

Figura 4.6. Ocupação irregular às margens do Córrego São Miguel em Barão de

Cocais

Fonte: Arquivo pessoal (2013).

Embora todas as cidades pesquisadas possuam coleta regular de lixo na zona urbana

e aterro sanitário, não é raro encontrar vazadouros irregulares em terrenos baldios. Quanto

à questão dos recursos hídricos, a situação é mais preocupante. Apenas Itabira e Catas

Altas possuem Estação de Tratamento de Esgoto – ETE e a taxa de atendimento à

demanda, em ambos os municípios, gira em torno de 70% de acordo com informações das

Secretarias Municipais de Meio Ambiente. Nas demais cidades citadas nesse trabalho todo

o esgoto doméstico é despejado diretamente nos rios e córregos da região.

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61

A silvicultura praticada na região, constituída basicamente pela monocultura de

eucalipto, também causa impactos ao meio ambiente. De acordo com Paula (1997, p. 318)

alguns dos impactos causados pela monocultura do eucalipto são: drástica mudança na

paisagem regional, grande consumo de fertilizantes e agrotóxicos, susceptibilidade do solo

à erosão, redução da biodiversidade regional e desperdício de biomassa na produção do

carvão.

É pertinente ressaltar que parte dos municípios encontra-se na região da Serra da

Gandarela, área de grande importância ambiental, sobre a qual há uma grande divergência

sobre seu uso. A ocupação dessa área, para exploração mineral, trará reflexos diretos, que

não são o foco de estudo desse trabalho, sobre os municípios pesquisados.

Considerando que os municípios pesquisados nesse trabalho possuem

características monoindustriais, como citado anteriormente, com grande dependência

econômica de uma única ou de poucas empresas, é possível aferir que os problemas

socioambientais da região são de difícil solução. De acordo com Guerra (2001, p. 36)

Na bacia do Rio Piracicaba é notória a concentração do poder econômico, social

e político nas mãos das grandes empresas (mineradoras, siderúrgicas, indústria

de celulose), o que é determinante nas suas relações com os poderes públicos e

as comunidades locais. Assim, “a cultura” das grandes empresas operando na

região bloqueia as discussões sobre os conflitos ambientais. Não há interesse em

fazê-lo. Esta é a principal razão pela qual estes conflitos são “amortecidos” e

parecem não existir: a dependência econômica contribui para que eles não sejam

colocados nas situações rotineiras da vida de uma cidade do interior.

A solução ou minimização dos problemas ambientais e a garantia da

sustentabilidade socioeconômica e ambiental dos municípios passa pela participação

efetiva da sociedade nas discussões dessas questões. Todavia, Guerra (2001, p. 113)

ressalta que “(...) ela precisa de informação, conhecimento, experiência, competência e

maturidade política para participar da negociação social com o setor privado e os órgãos

públicos”.

Diante do exposto, é imperativo que a população desses municípios passe por um

processo de esclarecimento. Os órgãos públicos tem um papel fundamental de promover

espaços de discussões sobre tais questões facilitando a participação popular, quer de forma

direta, quer através de seus representantes. Os Conselhos Municipais de Meio Ambiente,

objeto de estudo desse trabalho, podem constituir um espaço privilegiado para essas

discussões.

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62

5. CONSELHOS MUNICIPAIS DE MEIO AMBIENTE DE PEQUENAS E

MÉDIAS CIDADES DA MICRORREGIÃO DO MÉDIO PIRACICABA:

CENÁRIOS E DESAFIOS

Conforme discutido anteriormente, o advento da Constituição Federal de 1988, ao

considerar o município como um ente federado, atribui a este maior autonomia e

responsabilidades, entre elas, a de articular a gestão ambiental local. Tais responsabilidades

foram ampliadas com a Resolução CONAMA nº 237 e com a Lei Complementar 140/2011

que atribuem ao município a competência de executar licenciamento de atividades de

impacto local e daquelas que forem delegadas por instrumento legal. Entretanto, para que o

município goze dessa prerrogativa faz-se necessário a constituição do Conselho Municipal

de Meio Ambiente e a disponibilidade de uma equipe técnica capacitada.

Os Conselhos Municipais de Meio Ambiente são espaços propícios à participação

do poder público e de vários segmentos da sociedade civil. Seu caráter democrático

pressupõe a participação da sociedade em torno da gestão ambiental no âmbito local.

Contudo, para que o Conselho Municipal de Meio Ambiente cumpra seu papel, é

fundamental a existência de uma estrutura técnico-administrativa e a mobilização da

população no intuito de realmente promover sua participação, ainda que de forma indireta,

nas discussões e deliberações do Codema.

A fim de caracterizar a estrutura e o funcionamento dos Conselhos Municipais de

Meio Ambiente dos municípios pesquisados, foram realizadas entrevistas semi-

estruturadas com os secretários municipais de meio ambiente, entre os meses de novembro

e dezembro de 2012. Na ocasião também foram recolhidas cópias das atas das reuniões dos

Codemas dos anos de 2011 e 2012 e das legislações ambientais dos municípios.

Para conhecer o perfil dos Codemas dos municípios selecionados para esta pesquisa

bem como a dinâmica de sua atuação e a percepção dos conselheiros em relação à

participação da sociedade nos mesmos, foram aplicados questionários junto aos membros

dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente.

Do total de 63 membros efetivos, dos cinco municípios pesquisados, 41

responderam ao questionário, o que representa uma amostra de 65% da população

pesquisada. Os questionários foram aplicados no período de novembro a dezembro de

2012, durante a realização das reuniões dos Codemas dos dias 22/11/2012 (Itabira),

29/11/2012(Santa Bárbara) e 05/12/2012 (São Gonçalo do Rio Abaixo), das quais a

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63

pesquisadora participou. As exceções foram Barão de Cocais e Catas Altas, cujos

questionários foram enviados aos representantes dos Codemas por e-mail, uma vez que não

foram realizadas reuniões dos Codemas no período acima citado.

5.1 Caracterização dos Codemas dos municípios pesquisados

A preocupação com a gestão ambiental local nos pequenos municípios é

relativamente recente. Nos municípios selecionados para esta pesquisa, por exemplo, a

criação das secretarias municipais de meio ambiente data do século XXI. Dos cinco

municípios pesquisados, apenas Itabira possui a secretaria municipal de meio ambiente

funcionando há mais de dez anos7. Atualmente, Itabira e Barão de Cocais contam com uma

secretaria exclusiva de meio ambiente, nos demais municípios pesquisados – Catas Altas,

Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo – a secretaria de meio ambiente está

subordinada ou atrelada à outra secretaria, como agricultura e obras.

Itabira, cidade com maior população e Produto Interno Bruto - PIB, dentre as

pesquisadas, é o município que apresenta a maior estrutura na secretaria de meio ambiente,

tendo em seu corpo técnico diversos profissionais com curso técnico e superior.

Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo também contam com pelo menos um

profissional de nível técnico e um de nível superior em seu quadro técnico. Já Barão de

Cocais e Catas Altas possuem apenas um técnico em meio ambiente que, segundo

informações dos secretários municipais de meio ambiente, não são suficientes para atender

toda a demanda. A escassez de recursos humanos na secretaria foi, inclusive, uma das

principais dificuldades apontadas pelo secretário municipal de meio ambiente de Barão de

Cocais na gestão ambiental local.

Nenhum dos municípios pesquisados possui convênio com o órgão estadual para

delegação de competência de licenciamento ambiental relacionado às atividades que vão

além do impacto local. Todavia, todos os secretários entrevistados declararam que os

municípios recebem apoio técnico de órgãos estaduais, quando necessário, para a resolução

de questões ambientais locais e regionais. O licenciamento de atividades de impacto local,

em geral, passa pelo crivo do Codema.

Em três, dos cinco municípios pesquisados, a instituição do Codema antecedeu a

própria criação da secretaria municipal de meio ambiente. A Tabela 5.1 apresenta alguns

7 A secretaria municipal de meio ambiente de Itabira foi criada pela Lei 37/2002. Antes o município possuía

um departamento que agregava o setor de meio ambiente e desenvolvimento urbano.

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64

dados que ajudam a caracterizar os conselhos municipais de meio ambiente dos municípios

pesquisados.

Tabela 5.1. Características dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente dos municípios

pesquisados

Cidade Ano de

criação

Paridade Número de

membros

(efetivos)

Periodicida

de das

reuniões

Caráter do

Conselho

Legislação

Municipal

de criação

do

Codema

Barão de

Cocais

1995 Sim 10 Mensal Consultivo e

deliberativo

Lei nº

996/1995

Catas Altas 1998 Sim 11 Não há

regularidade

Consultivo,

deliberativo

e normativo

Lei nº

038/1998

Itabira 1985 Sim 20 Quinzenal Consultivo,

deliberativo,

normativo e

fiscalizador

Lei nº

2324/1985

Santa

Bárbara

2005 Sim 12 Mensal Consultivo,

deliberativo

e normativo

Lei nº

1352/2005

São Gonçalo

do Rio

Abaixo

2005 Sim 10 Mensal Consultivo e

deliberativo

Lei nº

622/2005

Fonte: Elaborado pela autora com base na legislação ambiental dos municípios pesquisados e nos

questionários aplicados aos secretários municipais de meio ambiente

O município de Itabira, dentro do universo dos municípios pesquisados, pode ser

considerado vanguardista em relação ao Codema. A criação do seu Conselho de Meio

Ambiente data de 1985, apenas quatro anos após a promulgação da Lei nº 6.938/81 que

estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente. O conselho possui membros que atuam

desde a sua criação, conforme pôde ser averiguado através da aplicação dos questionários.

Na década de 1990 foram criados os Codemas de Barão de Cocais (1995) e Catas

Altas (1998). Interessante observar que, nesses municípios, os Codemas foram criados

antes mesmo das secretarias municipais de meio ambiente. Em Catas Altas o Conselho

Municipal de Meio Ambiente foi criado no âmbito da Secretaria de Educação e Cultura,

vindo a ser transferido para a esfera da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio

Ambiente apenas em 2007 através da Lei Municipal nº 221/2007.

Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo possuem Codemas mais jovens,

ambos criados em 20058.

8 O Conselho Municipal de Meio Ambiente de Santa Bárbara foi criado pela primeira vez em 1994 pela Lei

Municipal nº 928/94, entretanto essa lei foi revogada pela Lei Municipal nº 1.352/2005 que instituiu

novamente o Codema.

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65

Uma das premissas para que o Conselho Municipal de Meio Ambiente constitua

um espaço democrático é a paridade de seus membros. De acordo com IBGE (2009, p.

133)

Para que o Conselho Municipal de Meio Ambiente cumpra com suas atribuições

de maneira satisfatória, precisa ser representativo. Portanto, espera-se que tenha

uma composição paritária, ou seja, que considere, em igualdade numérica,

representantes do poder público e da sociedade civil organizada.

Segundo informações dos secretários municipais de meio ambiente, todos os

municípios pesquisados possuem conselhos paritários. Essa paridade também está prevista

no regimento dos conselhos, entretanto, os dados coletados junto aos membros dos

Codemas destes municípios, através da aplicação de questionários, indica que a

participação paritária nem sempre é respeitada.

Em Santa Bárbara, onde 100% dos conselheiros efetivos responderam ao

questionário, apenas 33% declararam representar o poder público, conforme pode ser

observado na Figura 5.1.

Figura 5.1. Perfil dos membros dos Codemas, segundo segmento que representam.

Fonte: Questionários respondidos pelos membros dos Codemas dos municípios pesquisados entre Novembro

e Dezembro de 2012.

A amostragem de Itabira também aponta para o predomínio da sociedade civil na

composição do Conselho Municipal de Meio Ambiente. Todavia, a lista de representantes

do Codema, fornecida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, apresenta uma

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

120,0%

Outro

Associação de bairro

ONG

Empresa privada

Câmara

Prefeitura

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66

composição paritária do conselho. A diferença de dados pode se dar em função do

questionário não ter sido respondido por 100% dos membros ou pode indicar que, embora

haja uma paridade “oficial” na composição do conselho, os representantes da sociedade

civil são mais ativos no mesmo. Essa hipótese é reforçada por um dos conselheiros que

sugeriu, ao responder o questionário, a obrigatoriedade, por lei, da participação do poder

público nas reuniões.

Catas Altas foi o município que apresentou a maior representação do poder público,

tendo 60% dos entrevistados declarado representar a Prefeitura ou a Câmara Municipal.

Tal fato não pôde ser averiguado oficialmente, uma vez que lista de conselheiros, fornecida

pela secretaria de meio ambiente deste município estava desatualizada e incompleta.

Barão de Cocais e São Gonçalo do Rio Abaixo foram os municípios cujas amostras

demonstraram maior paridade nos conselhos. A paridade nos conselhos, todavia, não

significa, necessariamente, a garantia de representatividade das opiniões e demandas da

população, tampouco imparcialidade nas decisões. Segundo Alcântara (2010, p. 1817) “Os

conselhos ambientais, muitas vezes, se apresentam colonizados por grupos de interesses

mais conscientes e civicamente mais preparados, ligados às elites sociais”. O autor ainda

alerta que muitas vezes os conselheiros são meros reprodutores de opiniões, já

cristalizadas, dos segmentos que representam, o que tornaria as discussões dos Codemas

desnecessárias, uma vez que o conselheiro já tem um posição inflexivelmente tomada

(ALCÂNTARA, 2010).

No caso das pequenas cidades, que em geral carregam a herança do coronelismo e

da dependência econômica monoindustrial, o risco dos Codemas servirem apenas para

viabilizar os interesses dos sistemas produtivo e do gestor público em exercício é ainda

maior. “Nesse sentido forja-se com a legitimidade democrática pertinente a esses espaços,

a imposição da vontade dos mais fortes na sociedade” (ALCÂNTARA, 2010, P. 1817).

A diversidade na composição dos Codemas é interessante, do ponto de vista

democrático, pois enriquece o debate, lançando sobre um determinado tema diferentes

pontos de vista. Mas para que ela de fato ocorra, faz-se necessário uma maior divulgação

das eleições de composição do Codema a fim de oportunizar uma maior participação de

diversos segmentos da sociedade.

No caso dos cinco municípios pesquisados, ficou nítida que essa divulgação é

deficiente, ficando com a Secretaria de Meio Ambiente e o prefeito em exercício o poder

de convidar ou indicar os representantes do Codema. Do total dos conselheiros

entrevistados 56% declararam ter tomado conhecimento do Codema por meio do convite

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67

da Secretaria Municipal de Meio Ambiente ou da Prefeitura, 25% por indicação de

empresa e apenas 11% através de divulgação nos meios de comunicação, conforme pode

ser observado na Figura 5.2.

Figura 5.2. Forma como os integrantes do conselho tomaram conhecimento do Codema

Fonte: Questionários respondidos pelos membros dos Codemas dos municípios pesquisados entre Novembro

e Dezembro de 2012.

Itabira foi a única, das cinco cidades pesquisadas, que apresentou maior potencial

de divulgação para a sociedade do processo de composição do Codema. Em Catas Altas,

Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo, mais da metade dos entrevistados declararam

ter tomado conhecimento do Codema através de convite da Prefeitura ou da Secretaria de

Meio Ambiente. Embora essa atitude não fira a legalidade, é preciso tomar cuidado para

que o Codema não seja composto apenas por atores que representam a vontade político-

partidária dos gestores públicos em exercício.

Já em Barão de Cocais os dados indicam uma tendência de prevalecer os interesses

do setor produtivo, uma vez que 60% dos entrevistados declararam ter tomado

conhecimento do Codema através de indicação de empresa.

Alguns fatores, que não podem ser desconsiderados nessa reflexão, também

colaboram para que a composição do Conselho Municipal de Meio Ambiente seja

predominantemente restringida a convidados pela prefeitura ou por empresas. Dentre eles

podem ser citados o desconhecimento ou descomprometimento de vários segmentos da

sociedade em relação ao trabalho do Codema e o próprio desinteresse da população com a

questão ambiental. Entretanto, essa não pode ser uma justificativa aceitável dos gestores

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

Convite da

Prefeitura/Secretaria de

Meio Ambiente

Indicação de empresa

Divulgação nos meios de

comunicação

Não responderam

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68

ambientais locais, uma vez que tal situação também é resultado da ausência ou ineficácia

de um trabalho de educação que envolva a coletividade na discussão de questões

ambientais.

A leitura e análise das leis de criação dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente

dos municípios pesquisados, bem como de seus respectivos regimentos, mostrou que os

conselhos têm caráter consultivo e deliberativo. Em Santa Bárbara, o secretário municipal

de meio ambiente, através do preenchimento do questionário, declarou que o conselho da

cidade também possui caráter normativo. Já o secretário municipal de meio ambiente de

Itabira informou que o Codema do município possui caráter consultivo, deliberativo,

normativo e fiscalizador, embora o regimento do mesmo apresente apenas as funções

consultiva e deliberativa.

Em São Gonçalo do Rio Abaixo, Santa Bárbara e Barão de Cocais a periodicidade

das reuniões é mensal, conforme previsto em regimento próprio. Contudo, no município de

Barão de Cocais, foi verificado que essa periodicidade não tem funcionado na prática. No

período compreendido entre janeiro de 2011 e dezembro de 2012 foram encontrados

registros de apenas dez reuniões do Codema. De acordo com a secretária do Codema do

município, muitas reuniões são canceladas por falta de quorum, o que de certa maneira,

demonstra o pouco comprometimento de parte dos conselheiros.

Em Catas Altas esse problema se repete. Embora haja uma previsão de reuniões

mensais do Codema, o secretário municipal de meio ambiente declarou que não existe

regularidade. O Codema deste município reúne-se apenas quando há demanda. Foram

encontrados apenas seis registros de reuniões no período compreendido entre janeiro de

2011 e dezembro de 2012.

De acordo com IBGE (2009, p. 134)

Outra forma de qualificar os conselhos do ponto de vista estatístico e do analítico

é verificar se esses fóruns têm se reunido. A intenção desse procedimento é

escapar daquelas situações em que o conselho existe formalmente, mas não tem

qualquer operacionalidade no cotidiano da administração municipal.

Considerando o critério citado anteriormente, Itabira demonstrou possuir o

Conselho de Meio Ambiente mais ativo dentre os municípios pesquisados. Além de

realizar reuniões quinzenais, previstas em calendário, o Conselho ainda reuniu-se

extraordinariamente em diversas ocasiões, entre 2011 e 2012, para atender a demanda do

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município. Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo também mantiveram a

regularidade na realização das reuniões do Codema.

É importante salientar que a existência, a divulgação e o cumprimento de um

calendário de reuniões podem favorecer não só o funcionamento do Codema, mas a

participação da população nos mesmos.

Para caracterizar adequadamente os Conselhos Municipais de Meio Ambiente dos

municípios selecionados, também é interessante conhecer o perfil de seus membros. De

forma generalizada, os Codemas pesquisados são compostos predominantemente por

pessoas do sexo masculino, com alto nível de escolaridade e um bom conhecimento da

legislação ambiental.

Dentre os 41 integrantes dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente

entrevistados, 71% são do sexo masculino e 29% do sexo feminino, conforme pode ser

observado na Figura 5.3.

Figura 5.3. Perfil dos membros dos Codemas, segundo o sexo.

Fonte: Questionários respondidos pelos membros dos Codemas dos municípios pesquisados entre Novembro

e Dezembro de 2012.

São Gonçalo do Rio Abaixo, Barão de Cocais e Itabira são os municípios que

apresentaram a maior presença de integrantes do sexo masculino no conselho. Já Catas

Altas e Santa Bárbara, apesar de também possuírem um conselho predominantemente

masculino, apresentaram maior porcentagem de membros do sexo feminino.

Quanto à escolaridade, ficou evidenciada uma maior participação nos conselhos de

pessoas com um alto nível de escolaridade, quando comparado à realidade brasileira. Mais

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

Total Barão de

Cocais

Catas

Altas

Itabira Santa

Bárbara

São

Gonçalo

Masculino

Feminino

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70

da metade dos entrevistados, 65,8%, declarou possuir nível superior de escolaridade e

apenas 7,3% possui somente nível fundamental (Figura 5.4).

Figura 5.4. Perfil dos membros dos Codemas, segundo a escolaridade.

Fonte: Questionários respondidos pelos membros dos Codemas dos municípios pesquisados entre Novembro

e Dezembro de 2012.

Santa Bárbara e Itabira foram os municípios que apresentaram conselheiros com os

níveis de escolaridade mais elevados. Em ambos os municípios, 75% dos membros do

Codema entrevistados declararam possuir curso superior. Embora também apresentem uma

alta porcentagem de conselheiros com curso superior, Catas Altas e São Gonçalo do Rio

Abaixo foram os municípios nos quais um maior percentual de membros do Codema

declarou possuir o nível de escolaridade menor. Em São Gonçalo do Rio Abaixo, por

exemplo, um terço dos membros do Codema declarou possuir apenas o ensino

fundamental.

A princípio, um alto nível de escolaridade dos membros do Codema representaria

um fator bastante positivo para o seu funcionamento, pois, pessoas mais esclarecidas

geralmente estão mais preparadas para debater e tomar decisões mais racionais. Todavia, já

fora discutido neste trabalho que os Conselhos de Meio Ambiente devem ter um caráter

plural e representativo da sociedade. “Ou seja, o discurso tecnoburocrático, técnico-

científico, jurídico e formal não pode suplantar interesses legítimos daqueles que por suas

condições não os representem dessa forma” (ALCÂNTARA, 2010, P. 1816).

Ademais, é importante valorizar o “saber local”, ou seja, o conhecimento adquirido

através da vivência e do contato com o ambiente local, bem como o significado desse

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Total Barão de

Cocais

Catas

Altas

Itabira Santa

Bárbara

São

Gonçalo

Fundamental

Ens. Médio

Superior

Não responderam

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71

ambiente para as comunidades que nele vivem. Isso se aplica principalmente nas pequenas

comunidades, muitas vezes vulneráveis aos interesses econômicos de grandes empresas ou

de uma minoria elitizada.

Em relação à idade dos conselheiros ficou constatado, através da análise dos dados

coletados, que a maioria está compreendida na faixa etária dos 31 aos 60 anos de idade.

Itabira foi município que apresentou um conselho com membros mais longevos, tendo

67% dos entrevistados declarado ter mais de 50 anos de idade. O conselho com a

distribuição mais equilibrada de membros por faixa etária foi encontrado em Santa

Bárbara, conforme pode ser observado na Figura 5.5.

Figura 5.5. Perfil dos membros dos Codemas, segundo a idade.

Fonte: Questionários respondidos pelos membros dos Codemas dos municípios pesquisados entre Novembro

e Dezembro de 2012.

Por meio da análise da Figura 5.5, também é possível verificar que a participação

de pessoas mais jovens, até os trinta anos de idade, ainda é pequena nesses municípios,

correspondendo a 7,5% do total de entrevistados.

Também foi perguntado aos conselheiros, dos municípios pesquisados, o tempo de

participação dos mesmos no Codema. Do total de entrevistados, 39,5% declararam

participar do conselho há mais de cinco anos. Barão de Cocais é o município, dentre os

pesquisados, que apresentou o Codema com a maior permanência de membros, 66%

declararam participar do conselho municipal de meio ambiente há mais de cinco anos. Tais

informações podem ser observadas na Figura 5.6.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Total Barão de

Cocais

Catas

Altas

Itabira Santa

Bárbara

São

Gonçalo

20-30

31-40

41-50

51-60

mais de 60

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72

Figura 5.6. Tempo de participação dos conselheiros nos Codemas

Fonte: Questionários respondidos pelos membros dos Codemas dos municípios pesquisados entre Novembro

e Dezembro de 2012.

Catas Altas, por sua vez, foi o município que apresentou maior rotatividade de

membros do Codema nos últimos anos, 40% dos entrevistados declararam participar do

conselho há apenas um ano.

Sobre o período de permanência dos membros no Conselho Municipal de Meio

Ambiente, é pertinente tecer algumas reflexões. A baixa rotatividade de integrantes no

conselho pode ser um ponto bastante positivo, ao analisar tal fato sob a ótica da

experiência e do conhecimento adquirido por seus membros no trato da questão ambiental.

Acrescente-se a isso o fato de que, a permanência de alguns membros por vários anos,

resistindo inclusive às trocas de governo nos municípios, pode indicar certa autonomia dos

mesmos.

Por outro lado, um conselho que permanece com os mesmos membros, por longos

períodos, pode ter sua visão engessada e dificultar a entrada de novos atores e,

consequentemente, novas ideias no mesmo.

Importante salientar que a troca de membros do Codema, principalmente entre os

representantes do poder público, está intimamente relacionada às mudanças nos poderes

legislativo e executivo dos municípios. Considerando que Barão de Cocais, Santa Bárbara,

Itabira e São Gonçalo do Rio Abaixo estavam sob a mesma administração municipal a dois

mandatos consecutivos, isso pode ter influenciado a baixa rotatividade dos conselheiros.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

Total Barão de

Cocais

Catas

Altas

Itabira Santa

Bárbara

São

Gonçalo

1 ano

2 anos

3 anos

4 anos

5 anos ou mais

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73

De acordo com Gohn (2011, p. 95) “Alguns analistas têm sugerido que a renovação

do mandato dos conselheiros seja parcial, para não coincidir com o mandato dos dirigentes

e alcaides municipais e para que fiquem desacoplados dos períodos dos mandatos

eleitorais”.

Os membros dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente também responderam

questões relativas ao seu conhecimento sobre a legislação ambiental. Dentre os

entrevistados, 2,8% declararam ter um ótimo conhecimento da legislação, 22%

responderam que seu conhecimento era muito bom, 47,2% bom e 27,8% marcaram a opção

regular, conforme pode ser constatado na Figura 5.7.

Figura 5.7. Percepção dos Conselheiros Municipais de Meio Ambiente sobre seu

nível de conhecimento da legislação ambiental.

Fonte: Questionários respondidos pelos membros dos Codemas dos municípios pesquisados entre Novembro

e Dezembro de 2012.

Santa Bárbara foi o município no qual houve a maior porcentagem de membros que

declararam ter um maior conhecimento da legislação ambiental. Já Barão de Cocais e

Catas Altas apresentaram a maior porcentagem de conselheiros que consideram seu

conhecimento sobre a legislação ambiental regular, sendo respectivamente 40% e 75%.

Embora grande parte dos membros do Codema entrevistados tenha declarado

possuir um bom conhecimento da legislação ambiental, 91,7% consideraram necessária a

participação em cursos com temas relacionados à questão ambiental. Em Barão de Cocais,

Catas Altas e São Gonçalo do Rio Abaixo 100% dos entrevistados declararam sentir

necessidade de participar de cursos que abordem a temática ambiental (Figura 5.8).

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

Total Barão de

Cocais

Catas

Altas

Itabira Santa

Bárbara

São

Gonçalo

Ótimo

Muito bom

Bom

Regular

Fraco

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74

Figura 5.8. Percepção dos Conselheiros Municipais de Meio Ambiente quanto a

necessidade de participar de cursos que abordem temas relacionados à questão ambiental.

Fonte: Questionários respondidos pelos membros dos Codemas dos municípios pesquisados entre Novembro

e Dezembro de 2012.

A disponibilização de cursos de capacitação, todavia, ainda não é uma realidade nos

municípios pesquisados. De acordo com informações dos secretários municipais de meio

ambiente, os municípios não contam com programas de capacitação para os integrantes do

Codema, bem como nenhum tipo de convênio para esse fim. Em São Gonçalo do Rio

Abaixo, o secretário municipal de meio ambiente informou que, embora não haja um

programa voltado para os membros do Codema, estes participam de seminários9 sobre

temas ambientais promovidos pelo município.

Gohn (2011) confirma que os cursos para a capacitação de conselheiros são raros.

Faltam cursos ou capacitação aos conselheiros de forma que a participação seja

qualificada em termos, por exemplo, da elaboração e gestão das políticas

públicas [...] é preciso capacitação ampla que possibilite a todos os membros do

conselho uma visão geral da política da administração (GOHN, 2011, p. 96).

De fato, a falta de qualificação dos conselheiros pode comprometer a qualidade das

deliberações do Codema, bem como favorecer a desigualdade de condições de participação

de seus membros. Em muitas situações, prevalece a posição daqueles que são mais

qualificados tecnicamente, em geral representantes do poder público ou de grandes

empresas.

9 Não foram prestados maiores esclarecimentos sobre esses seminários.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

Total Barão de

Cocais

Catas

Altas

Itabira Santa

Bárbara

São

Gonçalo

Sim

Não

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75

5.2 Participação da sociedade nos Codemas

Uma vez consideradas as principais características dos Codemas, dos municípios

pesquisados, bem como o perfil de seus membros, os esforços deste trabalho se voltaram

para avaliar o grau de participação da população local nos Conselhos Municipais de Meio

Ambiente. Para isso é importante verificar a forma como se dá essa participação, os fatores

facilitadores ou limitadores para que a mesma ocorra e as articulações e conflitos que

influenciam no trabalho desses conselhos.

A fim de atender os objetivos anteriormente expostos, procedeu-se uma análise das

atas das reuniões e dos dados coletados por meio da aplicação de questionários aos

membros dos Codemas nos cinco municípios selecionados.

Como outrora discutido neste trabalho, a participação de vários segmentos da

sociedade, seja de forma direta ou por meio de seus representantes, é fundamental para que

o conselho municipal de meio ambiente cumpra com seus objetivos e tenha legitimidade

em suas decisões. Segundo Milaré (1999, p. 35)

(...) os governos devem encarar as aspirações da sociedade, quer explícitas quer

implícitas, e para tanto são eles constituídos. Não é outra a base de sustentação

dos regimes democráticos. A consciência do meio ambiente como bem comum

proporciona novos rumos na participação da comunidade para definir seus

objetivos, implementar suas ações e alcançar seus resultados.

Uma das ações que pode favorecer a participação da população, bem como sua

colaboração na gestão ambiental municipal, é a divulgação das reuniões e do trabalho

desenvolvido pelo Codema. Para Faria e Ribeiro (2011) a publicidade das ações do

conselho, bem como a divulgação das pautas e decisões do mesmo, podem influenciar

positivamente no caráter público dessas instituições.

A fim de conhecer as formas de divulgação do trabalho do Codema, foi perguntado

aos conselheiros quais são os meios de divulgação das reuniões e das ações do conselho. A

internet foi o meio de divulgação mais apontado pelos integrantes dos Codemas, sendo que

48,7% dos entrevistados marcaram essa opção (Figura 6.9). Todavia, a divulgação pela

internet é muito restrita, uma vez que se refere apenas ao envio de e-mail de convocação e

pauta das reuniões para os integrantes do Codema, não atingindo, portanto, a população.

Ademais, apesar de todas as prefeituras dos municípios pesquisados possuírem um website

com informações sobre as cidades, os serviços da prefeitura, leis e decretos, entre outros,

em nenhum deles o conselho municipal de meio ambiente dispõe de espaço para a

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76

divulgação de suas reuniões e ações. Nos websites das prefeituras de Barão de Cocais e

Itabira o Codema é apenas citado como parte integrante da secretaria de meio ambiente. Já

no website dos demais municípios pesquisados, essa citação sequer existe.

A divulgação feita através de editais e circulares foi citada por 31,7% do total de

entrevistados, conforme pode ser observado na Figura 5.9.

Figura 5.9. Meios de divulgação das ações e reuniões dos Codemas

Fonte: Questionários respondidos pelos membros dos Codemas dos municípios pesquisados entre Novembro

e Dezembro de 2012.

Os meios de divulgação de massa, que tem um potencial de atingir um maior

número de pessoas, como jornais impressos, rádio/TV local e cartazes foram citados por

apenas 12% dos entrevistados. Apenas integrantes dos conselhos de Itabira e Catas Altas

citaram tais meios de divulgação, contudo, nenhum dos municípios possuía exemplares

desse material para comprovação dessa informação.

Ainda sobre essa questão, 24% dos entrevistados declararam que a divulgação das

reuniões e ações do Codema não é realizada. Embora tenha ficado claro que a divulgação

do trabalho do Codema, nos municípios pesquisados, é insuficiente, grande parte dos

conselheiros apontou essa divulgação como um fator essencial para a melhoria da

participação e colaboração da população nas deliberações do conselho. Uma maior

divulgação dos trabalhos do Codema foi sugerida por 46% dos entrevistados para o

aprimoramento da participação popular nas políticas ambientais locais.

A divulgação das informações, denominada por Philippi Jr. e Zulauf (1999) de

comunicação social

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

Editais /circulares

Jornal impresso

Rádio ou TV local

Cartazes/panfletos

Internet

A divulgação não é feita

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77

É um dos instrumentos mais valiosos para a obtenção de apoios institucionais,

sociais, políticos e financeiros para projetos de responsabilidade do órgão

ambiental [...] criam clima propício para a importância das ações desenvolvidas,

e frequentemente revertem em benefícios para o andamento dos planos,

programas e projetos dos sistema de gestão ambiental. (PHILIPPI JR. e

ZULAUF, 1999, p. 53)

Também foi questionado, aos integrantes dos Codemas, a frequência com que as

pessoas da comunidade procuram por eles para discutir questões ambientais do município

e/ou encaminhar sugestões para a reunião. Do total de entrevistados 11% responderam que

essa procura ocorre frequentemente (Figura 5.10).

Figura 5.10. Frequência com as pessoas da comunidade procuram pelos membros dos

Codemas para discutir questões ambientais.

Fonte: Questionários respondidos pelos membros dos Codemas dos municípios pesquisados entre Novembro

e Dezembro de 2012.

Para 39% dos conselheiros entrevistados a procura ocorre eventualmente, quando o

assunto em pauta é do interesse da pessoa. Tal fato demonstra certo individualismo e

contradiz o exposto no Art. 225 da Constituição Federal que preceitua não só o direito de

todos ao meio ambiente equilibrado, mas também o dever do poder público e da

coletividade de defendê-lo (BRASIL, 1988). Ainda de acordo com 31% dos entrevistados,

essa procura por parte das pessoas da comunidade, para discutir questões ambientais,

raramente ocorre e, de acordo com 19% dos conselheiros que responderam ao questionário,

ela nunca ocorre.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

Frequentemente

Eventualmente (quando

o assunto em pauta é do

interesse da pessoa)

Raramenete

Nunca

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78

O município que, de acordo com os dados do questionário, pareceu ter uma menor

procura dos conselheiros por parte da comunidade para discutir questões ambientais é

Catas Altas, onde 60% dos integrantes do Codema entrevistados afirmaram nunca serem

procurados pela comunidade com esse fim.

As reuniões do Codema são públicas e devem ser amplamente divulgadas junto à

população. Todavia, ao analisar a frequência da população, sob a ótica da percepção dos

membros do Codema, é possível observar que essa participação não é tão expressiva e,

quando ocorre, está ligada à priorização de interesses individuais. Souza e Novicki (2010)

alertam para o fato de que muitos Conselhos Municipais de Meio Ambiente se atêm a

questões de caráter pontual, para responder às demandas emergenciais, geralmente de

interesse particular, em detrimento de um maior debate em torno de políticas públicas para

o meio ambiente. Tal alerta é reforçado por um membro do Codema de Catas Altas ao

declarar que “O trabalho do Codema é mais voltado para decidir liberações de serviços

emergenciais” (Membro do Codema de Catas Altas).

Do total dos conselheiros entrevistados, somente 20% afirmaram ser frequente a

participação de pessoas da comunidade, que não fazem parte do conselho, nas reuniões.

Para 37% dos entrevistados essa participação ocorre eventualmente, quando há um tema

polêmico em pauta. Outros 34% declararam que é rara a participação da comunidade nas

reuniões do Codema, enquanto que 10% disseram que ela nunca ocorre (Figura 5.11).

Figura 5.11. Frequência da participação da comunidade nas reuniões dos Codemas.

Fonte: Questionários respondidos pelos membros dos Codemas dos municípios pesquisados entre Novembro

e Dezembro de 2012.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Frequentemente (em quase

todas as reuniões)

Eventualmente (sempre

que há um tema polêmico

na pauta)

Raramente

Nunca

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79

Dentre os municípios pesquisados, Barão de Cocais e Catas Altas foram os que

apresentaram a menor frequência de pessoas da comunidade nas reuniões. Já em Santa

Bárbara e Itabira, a participação de pessoas externas ao Codema nas reuniões é mais

significativa. Em Itabira, um terço dos conselheiros (33%) informou que a participação da

comunidade ocorre de forma frequente.

Ao contrário de Santa Bárbara e Itabira, no município de São Gonçalo do Rio

Abaixo, mais da metade dos conselheiros declarou que a participação da comunidade nas

reuniões do Codema ocorre raramente (33%) ou nunca (33%). Alcântara (2010) aponta que

uma das fragilidades dos conselhos é a baixa tradição participativa da população. O autor

afirma ainda que

Na realidade brasileira, não se constata uma efetiva tradição participativa na

gestão da coisa pública e nem, tampouco, se estimula ou se educa para a

formação dessa cultura. O exercício da cidadania é concebido e estimulado

muito mais pelo voto (quase exclusivamente na escolha dos representantes) do

que qualquer tipo de ação política mais direta. (ALCÂNTARA, 2010, p. 1816)

A forma como se dá a participação da comunidade nas reuniões do Codema

também foi avaliada. Do total de entrevistados 26% afirmaram que essa participação

ocorre em forma de protesto, 39% por expressão verbal, 3% através de abaixo assinado,

12% por apresentação de documentos, 2% através do trabalho da mídia e 39% declaram

que a comunidade comparece apenas como ouvinte. Os dados estão ilustrados na Figura

5.12.

Figura 5.12. Forma de participação da comunidade nas reuniões dos Codemas.

Fonte: Questionários respondidos pelos membros dos Codemas dos municípios pesquisados entre Novembro

e Dezembro de 2012.

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

80,0%

90,0%

Protesto

Expressão verbal da

opinião

Abaixo assinado

Apresentação de

documentos

Trabalho de mídia

Apenas como ouvinte

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80

A forma de participação da comunidade nas reuniões do Codema varia bastante de

um município para outro. Em Barão de Cocais e São Gonçalo do Rio Abaixo a opção

“participa apenas como ouvinte” foi a mais lembrada pelos conselheiros o que demonstra

que, mesmo quando ocorre a participação da comunidade nas reuniões, ela se dá de forma

passiva.

Itabira, segundo a percepção dos conselheiros entrevistados, é o município onde a

participação da comunidade ocorre de forma mais ativa. Dentre os membros do Codema

entrevistados nesse município, 75% apontaram o protesto como uma das formas de

participação da comunidade e 42% também declararam que esta ocorre através de

expressão verbal. A opção “expressão verbal da opinião durante a reunião” também foi a

mais lembrada pelos conselheiros de Catas Altas (60%) e Santa Bárbara (50%).

Chama atenção a inexpressividade de apresentação de abaixo assinado nas

reuniões. Apenas os conselheiros de Barão de Cocais apontaram essa opção como uma das

formas de participação da comunidade nas reuniões. Tal fato remete novamente à hipótese

de que, mesmo quando ocorre a participação ou influência da comunidade nos trabalhos do

Codema, ela não tem como objetivo a defesa dos interesses coletivos, mas individuais.

Essa hipótese também é reforçada por um integrante do Codema de Santa Bárbara que

declarou: “Acho que a população participa pouco ou quase nada nas questões ambientais.

Os interesses são individuais. O coletivo não é considerado” (Membro do Codema de

Santa Bárbara).

O trabalho da mídia nas reuniões do Codema praticamente não foi citado. Essa

opção foi marcada apenas pelos conselheiros de Itabira (8%). Uma hipótese é que há um

desinteresse ou falta de articulação de ambas as partes, mídia e Codemas, na divulgação do

trabalho do conselho. Para Carlo (2006, p. 178) “É fundamental considerar a vontade

política e o envolvimento da sociedade em torno de questões ambientais para avaliar o grau

de comprometimento do município com a gestão ambiental”.

A aplicação do questionário também buscou averiguar a percepção dos membros

dos Codemas sobre os fatores que exercem influência nas decisões do conselho. As

respostas foram compiladas na Tabela 5.2.

Page 94: MESTRADO PROFISSIONAL Sustentabilidade Socioeconômica ...‡ÃO... · cristina maria soares “participaÇÃo popular na gestÃo ambiental pÚblica de pequenas e mÉdias cidades:

81

Tabela 5.2. Fatores que influenciam nas decisões do Codema nos municípios selecionados

no Médio Piracicaba/MG

Fatores que influenciam nas decisões do Codema

insignificante pouco

significativa significativa

muito

significativa

Movimentos

populares

Barão de Cocais 17% 33% 33% 17%

Catas Altas 0% 25% 75% 0%

Itabira 25% 25% 42% 8%

Santa Bárbara 0% 33% 50% 17%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 50% 0% 0% 50%

Total 16% 26% 42% 16%

Interesses da

mídia

Barão de Cocais 0% 66% 17% 17%

Catas Altas 25% 75% 0% 0%

Itabira 25% 58% 17% 0%

Santa Bárbara 66% 17% 17% 0%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 0% 100% 0% 0%

Total 32% 53% 14% 3%

Interesses de

outras

Secretarias

Municipais

Barão de Cocais 0% 33% 50% 17%

Catas Altas 25% 50% 25% 0%

Itabira 42% 17% 33% 8%

Santa Bárbara 42% 25% 25% 8%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 0% 50% 50% 0%

Total 29% 29% 34% 8%

Interesses do

Prefeito

Barão de Cocais 0% 17% 83% 0%

Catas Altas 75% 0% 0% 25%

Itabira 50% 8% 25% 17%

Santa Bárbara 17% 42% 33% 8%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 25% 25% 25% 25%

Total 32% 21% 34% 14%

Interesses do

Poder

Legislativo

Municipal

Barão de Cocais 33% 33% 17% 17%

Catas Altas 75% 0% 0% 25%

Itabira 58% 17% 25% 0%

Santa Bárbara 25% 25% 42% 8%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 25% 25% 25% 25%

Total 42% 21% 26% 11%

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82

Fatores que influenciam nas decisões do Codema (continuação)

insignificante pouco

significativa significativa

muito

significativa

Interesses político-

partidários

Barão de Cocais 66% 34% 0% 0%

Catas Altas 50% 25% 0% 25%

Itabira 83% 17% 0% 0%

Santa Bárbara 42% 42% 17% 0%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 25% 50% 0% 25%

Total 58% 32% 5% 5%

Interesses de

Associações

Comerciais

Barão de Cocais 16% 50% 17% 17%

Catas Altas 75% 0% 25% 0%

Itabira 58% 34% 0% 8%

Santa Bárbara 17% 42% 33% 8%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 0% 50% 50% 0%

Total 34% 37% 21% 8%

Interesses de

empresas/indústrias

Barão de Cocais 0% 17% 50% 33%

Catas Altas 75% 0% 0% 25%

Itabira 17% 66% 17% 0%

Santa Bárbara 0% 25% 58% 17%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 0% 25% 50% 25%

Total 14% 34% 37% 16%

Atuação de

ONG/Sociedade Civil

Barão de Cocais 33% 0% 33% 34%

Catas Altas 25% 50% 25% 0%

Itabira 33% 42% 8% 17%

Santa Bárbara 25% 8% 50% 17%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 50% 50% 0% 0%

Total 32% 26% 26% 16%

Fonte: Questionários respondidos pelos membros dos Codemas dos municípios pesquisados entre Novembro

e Dezembro de 2012.

Os dados da tabela 5.2 mostram que, de acordo com os membros dos Codemas dos

municípios selecionados, de maneira geral, os fatores elencados exercem influência pouco

significativa nas decisões dos conselhos. Com exceção dos movimentos populares e dos

interesses de empresas/indústrias, a influência de todos os outros fatores listados foi

considerada, pela maioria dos conselheiros como insignificante ou pouco significativa.

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O fato da maioria dos fatores exercerem pouca influência nas decisões do Codema

pode ser considerado positivo caso a análise seja feita sob o ponto de vista da autonomia e

isonomia necessárias ao conselho. Todavia é pertinente um questionamento: Sendo o

conselho um fórum representativo de diversos segmentos da sociedade, não estaria ele se

distanciando dos interesses daqueles que ele representa quando nega a influência dos

mesmos?

Os movimentos populares foi o fator considerado mais influente nas decisões dos

Codemas sendo sua influência classificada por 42% dos entrevistados como significativa e

por 16% como muito significativa. Catas Altas e Santa Bárbara são os municípios nos

quais a influência desse fator se mostrou mais significativa nas decisões do Codema.

Nos cinco municípios pesquisados a influência da mídia foi considerada

insignificante (32%) e pouco significativa (53%) pela maioria dos conselheiros. Esses

dados confirmam a baixa articulação entre o Codema e os meios de comunicação, fato que

pode comprometer a divulgação dos trabalhos do conselho, bem como o acesso da

população à informação.

Os interesses de outras secretarias municipais, segundo os entrevistados, também

exercem pouca influência nas decisões do Codema. A exceção é o município de Barão de

Cocais onde mais da metade dos entrevistados declarou que outras secretarias municipais

exercem influência significativa (50%) e muito significativa (17%) nas decisões do

conselho.

Apesar de não ser consenso da maioria, quase metade dos entrevistados considerou

a influência dos interesses do prefeito como significativa (34%) ou muito significativa

(14%). Os municípios nos quais a influência do chefe do poder executivo se mostrou mais

expressiva foram Barão de Cocais, onde 83% dos entrevistados classificou a influência dos

interesses do prefeito como significativa e São Gonçalo do Rio Abaixo, onde esse fator foi

considerado por metade dos entrevistados como significativo (25%) e muito significativo

(25%).

De maneira geral, a influência do chefe do poder executivo, nos Codemas dos

municípios pesquisados, se mostrou abaixo da expectativa, principalmente quando se leva

em consideração o fato de que todos os presidentes dos conselhos, aferidos nesta pesquisa,

são os secretários municipais de meio ambiente, indicados pelo prefeito. Soma-se a isso o

fato de que a maioria dos membros dos Codemas (56%) já havia declarado ter tomado

ciência dos conselhos através de convite da prefeitura ou da secretaria municipal de meio

ambiente.

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84

Os interesses do poder legislativo também não foram considerados como muito

influentes nas decisões do Codema. Para 42% dos entrevistados a influência desse

segmento é insignificante e para 21%, pouco significativa. A influência dos interesses

político-partidários foi considerada ainda menos expressiva, do total de entrevistados 58%

consideraram-na insignificante e 32% pouco significativa.

Quanto à influência de segmentos que representam setores privados foi verificada

uma grande diferença, de acordo com a percepção dos conselheiros entrevistados, entre o

poder exercido pelos interesses de associações comerciais e os interesses de empresas e

indústrias.

Menos de um terço dos entrevistados consideraram a influência de associações

comerciais significativa (21%) ou muito significativa (8%). Itabira foi o município no qual

os interesses das associações comerciais foram considerados menos significativas nas

decisões do Codema, tendo 58% dos entrevistados classificado a influência desse segmento

como insignificante e 34% como pouco significativa.

Já quando se trata da influência dos interesses das empresas/indústrias nas

deliberações do Codema, observa-se que a força exercida por esse setor é bem mais

expressiva. Do total de entrevistados, mais da metade considerou a influência de

empresas/indústrias significativa (37%) ou muito significativa (16%). Barão de Cocais foi

o município no qual os conselheiros atribuíram maior grau de influência desse segmento

nas decisões do conselho. Em Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo ficou

constatado que a influência desse segmento nas decisões do Codema também é bastante

significativa. Já em Catas Altas e Itabira a maioria dos conselheiros consideraram a

influência de empresas/indústrias, nas decisões do Codema, como insignificante ou pouco

significativa.

É importante ressaltar, como já foi abordado anteriormente, que os municípios

pesquisados são economicamente dependentes de poucas empresas, quando não de uma

única, e que, grande parte dos impactos ambientais sofridos pela região estão relacionados

às atividades desenvolvidas por estas empresas, sejam eles diretos ou indiretos.

A Tabela 5.2 mostra ainda o grau de influência das ONGs e da sociedade civil nas

decisões do Codema. Mais da metade dos entrevistados consideraram a influência desses

segmentos insignificante (32%) ou pouco significativa (26%). Catas Altas, Itabira e São

Gonçalo do Rio Abaixo foram os municípios nos quais os conselheiros consideraram a

influência de ONGs e da sociedade civil menos expressiva. Já em Barão de Cocais e Santa

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Bárbara, mais da metade dos entrevistados consideram a influência desses segmentos

significativa ou muito significativa.

De forma geral, a baixa influência da sociedade civil nas deliberações do Codema é

fruto da desinformação, falta de uma educação da população para o exercício pleno da

cidadania participativa e até mesmo do individualismo que impede que a sociedade se

organize em torno de causas coletivas, como a defesa do meio ambiente.

A aplicação do questionário buscou ainda averiguar quais são as medidas mais

importantes, de acordo com a percepção dos membros do Codema, para melhorar a

atuação do conselho.

Foram listados oito itens para os quais os entrevistados deveriam atribuir um grau

de importância. Os resultados estão reunidos na tabela 5.3.

Tabela 5.3. Percepção dos conselheiros sobre medidas para melhorar a atuação dos

Codemas nos municípios pesquisados

Percepção dos conselheiros sobre medidas para melhorar a atuação dos Codemas nos municípios

pesquisados

Nenhuma

importância

Pouco

importante Importante

Muito

Importante

Infraestrutura física

Barão de Cocais 17% 0% 50% 33%

Catas Altas 0% 25% 50% 25%

Itabira 36% 27% 9% 27%

Santa Bárbara 8% 17% 50% 25%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 0% 50% 50% 0%

Total 16% 22% 38% 24%

Recursos humanos

Barão de Cocais 0% 0% 0% 100%

Catas Altas 0% 0% 25% 75%

Itabira 18% 9% 18% 55%

Santa Bárbara 25% 9% 33% 33%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 0% 0% 100% 0%

Total 14% 5% 30% 51%

Qualidade da

participação dos

membros do Codema

Barão de Cocais 0% 17% 17% 66%

Catas Altas 0% 25% 50% 25%

Itabira 9% 9% 27% 55%

Santa Bárbara 25% 8% 42% 25%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 0% 0% 50% 50%

Total 11% 11% 35% 43%

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Percepção dos conselheiros sobre medidas para melhorar a atuação dos Codemas nos municípios

pesquisados (continuação)

Nenhuma

importância

Pouco

importante Importante

Muito

Importante

Frequência da

comunidade nas

reuniões

Barão de Cocais 17% 17% 50% 17%

Catas Altas 0% 0% 0% 100%

Itabira 0% 0% 27% 73%

Santa Bárbara 8% 0% 9% 2%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 25% 0% 25% 50%

Total 8% 3% 43% 46%

Qualidade da

participação da

comunidade nas

reuniões

Barão de Cocais 0% 33% 33% 34%

Catas Altas 0% 0% 50% 50%

Itabira 0% 9% 36% 55%

Santa Bárbara 8% 17% 42% 33%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 25% 0% 0% 75%

Total 5% 14% 35% 46%

Acompanhamento

das decisões do

Codema

Barão de Cocais 0% 0% 33% 64%

Catas Altas 0% 0% 75% 25%

Itabira 0% 9% 18% 73%

Santa Bárbara 8% 8% 42% 42%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 0% 0% 50% 50%

Total 3% 6% 38% 54%

Divulgação das

reuniões

Barão de Cocais 0% 0% 83% 17%

Catas Altas 0% 0% 100% 0%

Itabira 0% 18% 36% 46%

Santa Bárbara 8% 0% 42% 50%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 0% 0% 50% 50%

Total 3% 6% 54% 38%

Divulgação das atas

do Codema

Barão de Cocais 0% 17% 50% 33%

Catas Altas 0% 25% 75% 0%

Itabira 0% 18% 46% 36%

Santa Bárbara 8% 0% 58% 34%

São Gonçalo do Rio

Abaixo 25% 25% 0% 50%

Total 6% 14% 49% 32%

Fonte: Questionários respondidos pelos membros dos Codemas dos municípios pesquisados entre Novembro

e Dezembro de 2012.

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Numa análise geral dos dados apresentados na tabela 5.3, é possível perceber que

todas as medidas elencadas foram consideradas importantes ou muito importantes pelos

conselheiros entrevistados. Os itens qualificados como mais importantes foram aqueles

relacionados à participação da comunidade nas reuniões do Codema ou aos fatores que

privilegiem a divulgação e acompanhamento do trabalho do conselho.

De todas as medidas listadas, a infraestrutura física foi a que recebeu a atribuição

de menor grau de importância, principalmente no município de Itabira. Tal resultado pode

ser explicado pelo fato de que, apesar de não contar com sede própria, todos os conselhos

pesquisados dispõem de espaço e equipamentos das secretarias municipais de meio

ambiente para realizar suas reuniões.

Já os recursos humanos foram apontados por mais de 80% dos entrevistados como

importante ou muito importante. Os conselheiros do município de Barão de Cocais foram

os que atribuíram o maior grau de importância a esse item.

De acordo com Pereira, Mungai e Cruz (2007, p. 17) “Os suportes financeiro,

técnico e administrativo indispensáveis ao funcionamento dos Codemas constituem-se em

responsabilidades diretas das Prefeituras Municipais”. Todavia, muitas prefeituras,

principalmente em pequenas cidades, não dispõem de recursos financeiros e humanos

suficientes para atender as demandas da própria secretaria de meio ambiente, tampouco do

Codema.

A qualidade da participação dos membros dos Codemas também foi considerada

importante (35%) ou muito importante (43%) pela maioria dos conselheiros entrevistados.

A pluralidade na composição do conselho pode favorecer a qualidade da participação de

seus membros, uma vez que possibilita diferentes olhares sobre o tema a ser discutido. Mas

há que se ter o cuidado para que os conselheiros não tenham uma opinião engessada, nem

sejam manipulados por interesses que não objetivam o bem comum. Também é

fundamental que cada membro do Codema tenha real interesse no trabalho desenvolvido

no conselho e não seja apenas um sujeito para “fazer número” em atendimento a

legislação.

Como já foi citado anteriormente, a frequência e a qualidade da participação da

comunidade nas reuniões do Codema obtiveram a atribuição de grande grau de importância

para melhorar a atuação dos Codemas nos municípios pesquisados.

Do total de entrevistados, 43% consideram a frequência da comunidade nas

reuniões importante e 46% muito importante. Em Catas Altas 100% dos entrevistados

qualificaram a frequência da comunidade nas reuniões como muito importante, todavia

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essa participação é dificultada pelo próprio conselho do município que, como citado

anteriormente, não possui regularidade na realização de suas reuniões.

O acompanhamento das decisões do Codema foi o item considerado mais

importante pelos conselheiros. Mais de 90% dos entrevistados avaliam essa medida como

importante e muito importante para melhorar a atuação do conselho. Essa medida também

foi citada, por escrito, por alguns conselheiros: “O Codema deveria acompanhar mais de

perto o cumprimento das decisões do órgão” (Membro do Codema de Itabira). Em outro

caso: “É preciso fazer valer as decisões e exigências tomadas, assim as pessoas sentirão

que o conselho tem valia” (Membro do Codema de Barão de Cocais).

Pereira, Mungai e Cruz (2007) esclarecem que o Codema não detém o poder para

autuar, multar ou embargar atividades, ainda que estas degradem o meio ambiente, contudo

o conselho pode receber denúncia, acompanhar a execução de suas deliberações e propor

medidas cabíveis aos órgãos responsáveis, quando o que fora acordado em conselho não

for respeitado.

Os representantes do Codema também demonstraram ter ciência da importância da

divulgação das reuniões do conselho. Do total de entrevistados, 54% consideram a

divulgação das reuniões importante; e para 38%, ela é muito importante. Esse resultado vai

ao encontro da opinião de Pereira, Mungai e Cruz (2007, p. 16) que afirmam que “As

reuniões do Codema são abertas ao público e como órgão de representação social, suas

ações devem ser amplamente divulgadas junto à sociedade que ele representa”.

A divulgação das atas do Codema também foi considerada uma medida importante

ou muito importante para mais de 80% dos entrevistados. Tal resultado mostra que, apesar

da baixa articulação entre o Codema e os meios de comunicação, como já discutido

anteriormente, os conselheiros concordam que o acesso à informação, pela população, é

fundamental para melhorar a atuação do conselho e, consequentemente, favorecer a

participação da sociedade na gestão ambiental local.

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6. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desenvolvimento sustentável, descentralização e participação social na gestão

ambiental local são temas que vêm ocupando cada vez mais espaço no debate sobre

políticas públicas em torno da questão ambiental. Com a promulgação da Constituição

Federal de 1988 os municípios receberam mais autonomia, mas também mais

responsabilidades, inclusive nas matérias relacionadas ao meio ambiente. Para atender a

essa nova demanda muitos municípios criaram estruturas locais que incluem legislação

própria, secretarias de meio ambiente e Codemas – Conselhos Municipais de Meio

Ambiente.

Os Conselhos Municipais de Meio Ambiente são, teoricamente, espaços

privilegiados para o debate democrático e participativo em torno da questão ambiental. De

acordo com o que fora pesquisado, percebe-se que nos últimos anos, especialmente após a

publicação da Resolução CONAMA 237/1997, houve um avanço quantitativo bastante

significativo no número de Codemas nos municípios brasileiros. Todavia a criação dos

Conselhos Municipais de Meio Ambiente nem sempre se traduz em garantia da

representatividade e participação da sociedade em suas deliberações.

O foco deste trabalho consistiu em investigar, através do estudo de caso dos

Municípios da Microrregião do Médio Piracicaba - MG, o grau e a qualidade da

participação da população local nos Conselhos Municipais de Meio Ambiente.

A análise dos dados mostrou que, a exemplo do restante do país, os municípios

pesquisados vêm investindo esforços para criar uma estrutura institucional na área

ambiental. Essa estrutura, contudo, ainda se mostra precária, principalmente nos

municípios de menor porte, como Catas Altas, onde a carência de recursos humanos e de

capacidade técnica demonstrou ser um fator que limita o trabalho voltado para a resolução

de questões ambientais urgentes.

Todos os municípios selecionados para esse estudo contam com Conselhos

Municipais de Meio Ambiente, mas o funcionamento dos mesmos se dá de forma

heterogênea. Com base nas informações pesquisadas ao longo do trabalho, foi possível

constatar que o município de Itabira, detentor do maior Índice de Desenvolvimento

Humano Municipal – IDH-M e do maior Produto Interno Bruto –PIB, dentre os municípios

investigados, foi o que apresentou o Codema mais organizado. Tal fato coincide com as

estatísticas nacionais que evidenciam que municípios de maior porte tendem a estar mais

bem estruturados, inclusive no que tange aos conselhos, para lidar com questões

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ambientais. Todavia, para comprovação dessa tendência, que não é objeto de estudo desse

trabalho, seriam necessários novos esforços analíticos.

Quanto à participação da população junto ao Codema, a análise documental e dos

dados obtidos através de entrevistas e aplicação de questionários aos representantes dos

conselhos, evidenciou que ela é pouco expressiva e, quando ocorre, se dá principalmente

em função de interesses individuais contrariando o disposto no Artigo 225 da Constituição

Federal de 1988 que preceitua o dever coletivo de defender o meio ambiente.

Dentre os fatores que contribuem para a baixa participação da população local nos

trabalhos dos Codemas, foi possível identificar:

O desconhecimento, por parte da população, acerca do papel e das competências do

conselho, fato relacionado à falta de divulgação das reuniões e ações do Codema para

os moradores das cidades estudadas;

A dificuldade de acompanhamento e controle das deliberações do Codema que

colocam em dúvida a credibilidade do conselho;

A falta de interesse e disponibilidade de alguns membros que, além de afetar o

cumprimento do calendário de reuniões, acaba por comprometer a representatividade

dos interesses da população no conselho;

A desigualdade de força e qualificação técnica entre os representantes dos diferentes

segmentos do Codema, o que leva muitas vezes à predileção dos interesses de grandes

empresas ou elites sociais, em detrimento das demandas da população ou da própria

defesa do meio ambiente; e

A negligência da população local no que tange os interesses coletivos sobre as

questões ambientais e de desenvolvimento sustentável.

Embora os Codemas dos municípios pesquisados tenham apresentado um cenário

desfavorável à participação da população no âmbito da questão ambiental, na formulação

de políticas públicas locais é inegável que esses conselhos representam um instrumento

potencial para a democratização das mesmas. Tal constatação é reforçada por Carvalho

(2003, p.12) ao afirmar que a criação dos conselhos “constitui um primeiro passo no

sentido de organizar a sociedade civil, introduzindo-a nas questões mais amplas que

envolvem a administração pública”. A autora observa ainda que a consolidação dessa

participação exige tempo e que os conselhos podem ser caminhos para que isso ocorra.

Fazer com que a participação da sociedade saia dos níveis mais baixos (onde, como

observa Arnstein (1969), a participação tem caráter manipulativo, terapêutico ou

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meramente burocrático) de modo a alcançar níveis mais elevados nos quais a população

compartilha responsabilidades e realmente participa da tomada de decisões, é ainda um

grande desafio.

Nesse sentido, faz-se necessário implementar estratégias que promovam o

fortalecimento dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente, bem como uma maior

integração destes com a população local. E essas estratégias passam inevitavelmente por

um processo de educação que qualifique e estimule a sociedade a participar de forma ativa

nos Codemas e, consequentemente, na formulação das políticas públicas de meio ambiente.

Além de um processo educacional que qualifique e estimule a participação cidadã

nas questões que envolvam políticas públicas ambientais, podem ainda serem citadas as

seguintes propostas:

Criação ou melhoria de mecanismos de diálogo e cooperação técnica entre os

Conselhos Municipais de Meio Ambiente e os órgãos ambientais para facilitar a busca

de soluções e a qualidade das decisões dos conselhos;

Viabilização e estímulo à qualificação dos membros do Codema, através de cursos

presenciais ou pela internet, a fim de garantir maior equidade de forças dentro do

debate ambiental;

Divulgação dos trabalhos do Codema nos meios de comunicação

adequados e acessíveis à população; e

Fortalecimento da articulação regional, pois as questões ambientais desconhecem os

limites territoriais dos municípios. Portanto, uma integração, não só das secretarias

municipais de meio ambiente, mas também dos Codemas, poderia garantir um espaço

rico para a troca de experiências e o debate em torno de problemas regionais comuns

que afetam diretamente os municípios.

É importante ressaltar que tais propostas não constituem uma solução estanque para

as questões que comprometem o alcance dos objetivos dos Conselhos Municipais de Meio

Ambiente, mas sim sugestões que podem ser adaptadas às características de cada

município. Uma vez garantido o envolvimento da população na formulação e deliberação

em torno das políticas públicas ambientais, abre-se um caminho não só para a solução de

problemas na esfera local, mas também para a melhoria da relação entre Estado, sociedade

e meio ambiente.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – Questionário aplicado aos Secretários Municipais de Meio Ambiente dos

municípios pesquisados.

Mestranda: Cristina Maria Soares

_________________________________________________________________________

Questionário 1: Secretário Municipal de Meio Ambiente

Este questionário é parte integrante de um trabalho de dissertação de mestrado. As informações aqui prestadas serão compiladas em dados e servirão de suporte às análises propostas no trabalho. Sua participação é muito importante

Secretário Municipal de Meio Ambiente

1- Nome: ____________________________________________________

2- Idade: ____________

3- Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

4- Escolaridade: ( ) Fundamental ( ) Ens. Médio ( ) Superior. Curso:___________________________ ( ) Pós-Graduação. Curso:_____________________

5- A quantos anos o (a) Sr. (a) ocupa esta função? __________

Secretaria Municipal de Meio Ambiente

6- Quantos funcionários estão subordinados a esta secretaria? a) Concursados: ________________ b) Contratados pela Prefeitura: ___________ c) Terceirizados: ________________

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

PROÁGUA

Programa de Pós-Graduação em

Sustentabilidade Socioeconômica Ambiental

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7- A secretaria possui em seu corpo técnico funcionários com:

a) Nível Superior ( ) Sim Curso: ______________________ ( ) Não

b) Nível Médio/ Técnico ( ) Sim Curso: ______________________ ( ) Não

8- Quanto à estrutura institucional, este órgão é caracterizado como:

( ) Secretaria municipal de meio ambiente, exclusivamente. ( ) Secretaria municipal em conjunto ou subordinada a outra secretaria (agricultura, obras, por exemplo). ( ) Departamento subordinado diretamente à chefia do executivo.

9- O município possui legislação específica para tratar da questão ambiental?

( ) Sim ( ) Sim, mas não a conheço ( ) Não

10- Caso você tenha respondido sim à pergunta anterior, a legislação ambiental está organizada sob forma

de: ( ) Capítulo ou artigo da Lei Orgânica ( ) Capítulo ou artigo no Plano Diretor ( ) Código Ambiental ( ) Código de Posturas ( ) Diversas Leis

11- O município faz parte de Comitê de Bacia hidrográfica? ( ) Sim. Quais?______________________________________________ ( ) Não

12- O município tem algum instrumento de cooperação com órgão estadual de meio ambiente para delegação de competência de licenciamento ambiental relacionado a atividades que vão além do impacto local? ( ) Sim

( ) Não

Conselho Municipal de Meio Ambiente

13- O município possui Conselho Municipal de Meio Ambiente?

( ) Sim. Lei/ano de criação ________________ ( ) Não

14- O Conselho é paritário? ( ) Sim ( ) Não

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15- O Conselho possui caráter: (admite múltipla marcação)

( ) Consultivo ( ) Normativo ( ) Deliberativo ( ) Fiscalizador ( ) Outros

16- As reuniões do Conselho ocorrem: ( ) Mensalmente ( ) Bimestralmente ( ) Trimestralmente ( ) Somente quando há necessidade, não havendo regularidade ( ) Outro período________________________________

17- A divulgação das reuniões e ações do Codema é feita através de: ( ) Editais/ Circulares ( ) Jornal impresso ( ) Rádio ou TV local ( ) Cartazes/ panfletos ( ) Internet ( ) Essa divulgação não é feita

18- Qual a sua opinião a respeito do funcionamento e das ações propostas pelo Codema para o município? O Sr (a) tem sugestões para aperfeiçoar/melhorar o trabalho do Codema?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

19- Pessoas da comunidade (não convidados) participam das reuniões do Codema: ( ) Frequentemente (em quase todas as reuniões) ( ) Eventualmente (sempre que há um tema polêmico na pauta) ( ) Raramente ( ) Nunca

20- Na prática, a participação da comunidade (pessoas não convidadas) nas reuniões do Codema ocorre, geralmente, através de: ( ) Protesto ( ) Expressão verbal da opinião durante a reunião ( ) Abaixo assinado ( ) Apresentação de documentos ( ) Trabalho de mídia (filmagem/reportagem) ( ) Apenas como ouvinte

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21- Numa escala de 1 a 4, como você classifica a influência dos seguintes fatores nas decisões do Codema, sendo: 1- Insignificante, 2- Pouco significativa, 3- Significativa e 4- Muito significativa ( ) Movimentos populares ( ) Interesses da mídia ( ) Interesses de outras Secretarias Municipais (Obras, Agricultura, Saúde) ( ) Interesses do Prefeito ( ) Interesses do Poder Legislativo Municipal ( ) Interesses político-partidários ( ) Interesses de Associações comerciais ( ) Interesses de empresas/indústria ( ) Atuação de ONG/Sociedade civil

22- O que o(a) Sr.(a) considera mais importante para melhorar a atuação do Codema do seu município? Numere as alternativas de acordo com os seguintes critérios de importância: 1- Nenhuma importância, 2- Pouco importante, 3- Importante e 4- Muito importante.

( ) Infraestrutura física (sala, equipamentos) ( ) Recursos humanos (apoio de funcionários da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. ( ) Qualidade da participação dos membros do Codema ( ) Frequencia da comunidade nas reuniões ( ) Qualidade da participação da comunidade nas reuniões ( ) Acompanhamento das decisões do Codema. ( ) Divulgação das reuniões ( ) Divulgação das atas do Codema

23- O município possui algum programa de capacitação (ou convênio para capacitação) para os integrantes

do Codema? ( ) Sim. Especifique: ________________________________________ ( ) Não

24- O Sr.(a) teria sugestões para o aprimoramento da participação popular nas políticas ambientais locais?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Aspectos ambientais do município

1- a) Existe coleta regular de lixo no município?

b) A coleta de lixo atende toda a área urbana?

c) A disposição final do lixo é feita em: ( ) Aterro sanitário ( ) Aterro controlado ( ) Lixão

d) Existe algum programa de coleta seletiva na cidade?

e) Caso a resposta anterior seja positiva, a prefeitura apoia este programa?

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2- a) O abastecimento de água na cidade é feito por: ( )Autarquia municipal ( ) Copasa ( ) Outro. _____________________

b) Como é feita a captação da água para o abastecimento da cidade?

c) Todos os domicílios da área urbana contam com água encanada e tratada?

d) Toda a área urbana possui rede de esgoto?

d) O município possui ETE (Estação de Tratamento de Esgoto)?

f) Caso a resposta anterior seja positiva, a ETE atende: ( ) até 35% da demanda ( ) de 36% a 75% da demanda ( ) Mais de 76% da demanda

3- a) A poluição do ar é um problema na cidade?

b) A cidade possui estações de monitoramento da qualidade do ar?

c) Caso a poluição atmosférica seja um problema no município, com qual frequência e como vocês lidam com reclamações da população sobre a qualidade do ar?

4- a) O município enfrenta problemas com a regularização fundiária?

b) O município possui programa e/ou plano específico para regularização fundiária? __________ Em caso positivo, especifique:

c) O município possui problemas com a ocupação em áreas de risco?

d) O município possui áreas com favelização?

5- a) O município conta com parques ambientais ou unidades de conservação? ___________ Em caso positivo, especifique:

b) O município possui áreas verdes urbanas?

c) O município desenvolve programas de educação ambiental?

Obrigada pela colaboração!

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APÊNDICE B – Questionário aplicado aos membros dos Conselhos Municipais de Meio

Ambiente dos municípios pesquisados.

Mestranda: Cristina Maria Soares

______________________________________________________________________

Questionário 2: Representantes do Codema

Este questionário é parte integrante de um trabalho de dissertação de mestrado. O seu preenchimento é de cunho voluntário, sem identificação de nomes. As informações aqui prestadas serão compiladas em dados e servirão de suporte às análises propostas no trabalho. Sua participação é muito importante

1- Idade: ____________ 2- Sexo:

( ) Masculino ( ) Feminino

3- Escolaridade: ( ) Fundamental ( ) Ens. Médio ( ) Superior

4- O (a) Sr.(a) representa qual segmento? ( ) Prefeitura ( ) Câmara ( ) Empresa ( ) ONG

( ) Associação de bairro ( ) Outro _______________

5- A quanto tempo participa do Codema? ___________

6- Como tomou conhecimento do Codema?

( ) A convite da Prefeitura/ Secretaria de Meio Ambiente ( ) Por indicação de empresa ( ) Através de divulgação nos meios de comunicação (rádio, jornal, panfleto)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

PROÁGUA

Programa de Pós-Graduação em

Sustentabilidade Socioeconômica Ambiental

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7- O (a) Sr.(a) considera seu nível de conhecimento sobre a legislação ambiental: ( ) Ótimo ( ) Muito bom ( ) Bom ( ) Regular ( ) Fraco

8- O (a) Sr.(a) sente necessidade de participar de cursos de capacitação que abordem temas relacionados à questão ambiental?

( ) Sim ( ) Não

9- O município possui legislação específica para tratar da questão ambiental? ( ) Sim ( ) Sim, mas não a conheço ( ) Não

10- Caso você tenha respondido sim à pergunta anterior, a legislação ambiental está organizada sob forma

de: ( ) Capítulo ou artigo da Lei Orgânica ( ) Capítulo ou artigo no Plano Diretor ( ) Código Ambiental ( ) Código de Posturas ( ) Diversas Leis

11- Nas reuniões do Conselho, o estudo e discussão sobre a legislação ambiental ocorre: ( ) Frequentemente ( ) Raramente, pois assuntos mais urgentes ocupam toda a reunião.

12- A divulgação das reuniões e ações do Codema é feita através de:

( ) Editais/ Circulares ( ) Jornal impresso ( ) Rádio ou TV local ( ) Cartazes/ panfletos ( ) Internet ( ) Essa divulgação não é feita

13- Qual a sua opinião a respeito do funcionamento e das ações propostas pelo Codema para o município? O Sr (a) tem sugestões para aperfeiçoar/melhorar o trabalho do Codema? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

14- Pessoas da comunidade procuram pelo (a) Sr.(a) para discutir questões ambientais do município e encaminhar suas sugestões para a reunião ( ) Frequentemente ( ) Eventualmente (quando o assunto em pauta é do interesse da pessoa) ( ) Raramente ( ) Nunca

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15- Pessoas da comunidade (não convidados) participam das reuniões do Codema: ( ) Frequentemente (em quase todas as reuniões) ( ) Eventualmente (sempre que há um tema polêmico na pauta) ( ) Raramente ( ) Nunca

16- Na prática, a participação da comunidade (pessoas não convidadas) nas reuniões do Codema ocorre, geralmente, através de: ( ) Protesto ( ) Expressão verbal da opinião durante a reunião ( ) Abaixo assinado ( ) Apresentação de documentos ( ) Trabalho de mídia (filmagem/reportagem) ( ) Apenas como ouvinte

17- Numa escala de 1 a 4, como você classifica a influência dos seguintes fatores nas decisões do Codema, sendo: 1- Insignificante, 2- Pouco significativa, 3- Significativa e 4- Muito significativa ( ) Movimentos populares ( ) Interesses da mídia ( ) Interesses de outras Secretarias Municipais (Obras, Agricultura, Saúde) ( ) Interesses do Prefeito ( ) Interesses do Poder Legislativo Municipal ( ) Interesses político-partidários ( ) Interesses de Associações comerciais ( ) Interesses de empresas/indústria ( ) Atuação de ONG/Sociedade civil

18- O que o (a) Sr.(a) considera mais importante para melhorar a atuação do Codema do seu município? Numere as alternativas de acordo com os seguintes critérios de importância: 1- Nenhuma importância, 2- Pouco importante, 3- Importante e 4- Muito importante.

( ) Infraestrutura física (sala, equipamentos) ( ) Recursos humanos (apoio de funcionários da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. ( ) Qualidade da participação dos membros do Codema ( ) Frequência da comunidade nas reuniões ( ) Qualidade da participação da comunidade nas reuniões ( ) Acompanhamento das decisões do Codema. ( ) Divulgação das reuniões ( ) Divulgação das atas do Codema.

19- O Sr.(a) teria sugestões para o aprimoramento da participação popular nas políticas ambientais locais?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

20- Na sua opinião, os principais problemas ambientais do município estão relacionados: ( ) Ao saneamento básico (coleta e destinação do lixo, tratamento de esgoto) ( ) Uso e ocupação irregular do solo (loteamentos irregulares, ocupação de áreas de preservação) ( ) Pressão sobre os recursos naturais (mineração, extrativismo vegetal) ( ) Outro:___________________________________

Obrigada pela colaboração!

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