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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUCENTRO DE CINCIAS HUMANAS E LETRASCOORDENAO DO MESTRADO EM LETRASLINHA DE PESQUISA LINGUAGEM E DISCURSO: ANLISE E VARIAO

ELINE DA SILVA REIS CALAA TEIXEIRA

A construo da imagem do ndio na Folha de So Paulo:Caso do ndio Galdino e do ataque de ndios a engenheiro da Eletrobras

TERESINA - PI2014

ELINE DA SILVA REIS CALAA TEIXEIRA

A construo da imagem do ndio na Folha de So Paulo:Caso do ndio Galdino e do ataque de ndios a engenheiro da Eletrobras

Projeto de pesquisa apresentado ao Programa de Ps-Graduao em Letras da Universidade Federal do Piau, como requisito para o Seminrio de Dissertao, sob orientao do Prof. Dr. Wellington Borges.

TERESINA - PI2014SUMRIO1 INTRODUO32 TEMA53 PROBLEMA54 OBJETIVOS6 4.1 Objetivo Geral 6 4.2 Objetivos Especficos65 justificativa76 fundamentao terica8 6.1 Semitica Peirciana 8 6.2 Anlise de Discurso117 metodologia13 7.1 Tipo de Pesquisa 13 7.1.1 Pesquisa exploratria13 7.1.2 Pesquisa documental13 7.2 Definio do Corpus 14 7.3 Procedimentos Metodolgicos 148 cronograma159 referncias bibliogrficas15

1 INTRODUO

Muitos so os olhares lanados para a questo indgena no nosso pas, olhares que partem de diversas esferas sociais; seja do poder pblico, das instituies de ensino ou fundirias, das organizaes no governamentais, da populao e dos meios de comunicao em geral. Este ltimo, por sua vez, consolidou-se como uma instituio formadora de opinio, no a nica, mas certamente, uma das que mais tem capacidade de mobilizar a opinio pblica na sociedade contempornea, pois ao menos num plano terico-ideolgico, a mdia tida como um lugar em que o debate pblico ocorre de forma isenta e imparcial.A imagem que fazemos do nativo, atualmente, resulta de um processo de construo imagtica que comeou a ser construdo desde a chegada dos portugueses no territrio brasileiro. Segundo Raminelli (1996), os europeus, ao se depararem com indivduos de hbitos e forma de organizao social to distintos daqueles que conheciam, qualificaram os nativos como seres selvagens, abominveis e inferiores. Com a pretenso de dominar o territrio e seus habitantes, os europeus deram incio a um processo de extermnio dos ndios, tanto pelo massacre literal de milhares de nativos quanto pela atividade de catequizao e imposio cultural a que foram submetidos. Hoje, no podemos negar a presena do estigma europeu quando falamos do ndio, pois a identidade cultural do brasileiro foi construda a partir do encontro entre ndios, negros e europeus, porm os valores culturais deste ltimo foram os que prevaleceram sobre aqueles e resistem at hoje, com uma carga elevada de preconceitos que pressupe a cultura europeia como padro superior. Nesse sentido, Lima (2001, p. 97) afirma que a imagem do ndio foi construda a partir da realidade social e cultural europeia e essa imagem perdura at hoje, tendo em vista que a nossa concepo de mundo resulta dos processos de socializao e educao adquiridos quando criana, considerando que, at a bem pouco tempo, a viso do homem branco sobre o ndio era legitimada pelas instituies de ensino do pas, estando presente nos livros e difundidas pelas escolas.Ainda sobre a participao do europeu no processo de construo da imagem dos nativos, importante ressaltar que, basicamente, duas concepes imagticas a respeito do ndio tiveram destaque; o bom e o mau selvagem, de acordo com Rodrigues (2004)Sabe-se que, ao longo de toda a colonizao, os povos nativos da Amrica eram tidos como bons selvagens ou como selvagens. Estas duas imagens diversas e contraditrias dos ndios foram sendo construdas desde os primeiros contatos dos europeus com as populaes nativas do Novo Mundo, sendo perpetuadas ao longo de toda a colonizao da Amrica pela historiografia mundial. (RODRIGUES, 2004, p. 75)

Considerando o importante papel desempenhado pelos meios de comunicao, visto na atualidade como o grande mediador do novo espao pblico, conforme pontua Pena, o homem comum no se informa mais pelos relatos da praa, mas sim pelo que os mediadores [os jornalistas, a imprensa] do novo espao pblico trazem at ele (PENA, 2007, p. 31) e levando em conta o nosso interesse em estudar a figura do ndio na nossa sociedade, propomos um estudo sobre como a imagem do ndio construda a partir do discurso veiculado pela mdia e, para ser mais precisa, desejamos analisar de que modo a imagem do ndio concebida no jornal Folha de So Paulo.Em sntese, pretendemos apontar qual a representao social desse sujeito nos apresentada pelo veiculo de comunicao em questo. Adotaremos nesta pesquisa o conceito de representao social situado na fronteira entre a sociologia, a antropologia e a psicologia, do qual Moscovici (1989) notvel representante. Costa & Almeida (1999) resumem o que o terico defende sobre o termo ao afirmarem que, para Moscovici (1989), as representaes so geradas no social e reestruturadas pelo indivduo, nesse sentido, importante analisar o processo interacional em que emergem tais representaes. Seguindo essa mesma perspectiva Sga (2000) conclui que

a representao sempre a atribuio da posio que as pessoas ocupam na sociedade, toda representao social representao de alguma coisa ou de algum. Ela no cpia do real, nem cpia do ideal, nem a parte subjetiva do objeto, nem a parte objetiva do sujeito, ela o processo pelo qual se estabelece a relao entre o mundo e as coisas (SGA, 2000, p. 129).

Este conceito de representao mantm relao com a Semitica e a Anlise de Discurso, correntes tericas que vo fornecer os recursos metodolgicos que utilizaremos nesta pesquisa. Estas duas teorias compreendem um vasto universo de tendncias, cada uma delas diferenciando-se pela forma como apreende o objeto ou mesmo pelos procedimentos adotados nas anlises semiticas e discursivas. Nesta pesquisa nos filiaremos Semitica Peirceana e Anlise de Discurso fundamentada na perspectiva de Pcheux.

2 TEMA

Construo da imagem do ndio na mdia impressa.

3 PROBLEMA

importante ressaltar que o nativo est inserido no convvio social tanto das aldeias como dos centros urbanos. Dessa forma, quando ele aparece no noticirio h todo um contexto social que justifica a sua presena nas agendas miditicas. Em nosso estudo, o cenrio que ser utilizado como pano de fundo para nossa pesquisa o da violncia. A escolha do tema violncia relacionado ao ndio no foi feita por acaso, alguns estudos sobre o tema apontam que o ndio aparece mais frequentemente nos noticirios quando est envolvido em episdios de violncia. Ao analisar alguns peridicos quanto s reportagens em que o ndio citado, Melo (2003, p. 2375) observou que a imagem do ndio na mdia est focada em um tema maior, relacionado violncia, seja ele praticante ou vtima de atos violentos.Com base nisto, dois acontecimentos que tiveram grande repercusso nos meios de comunicao do pas nos levaram a propor uma anlise sobre a abordagem dada a esses fatos levando em considerao a presena da figura do ndio enquanto vtima da violncia e enquanto agressor. O primeiro caso refere-se ao assassinato do ndio Galdino Jesus dos Santos, queimado em 20 de abril de 1997 enquanto dormia no banco de uma praa em Braslia, o fato mobilizou todo o pas que condenou o ato cometido por alguns jovens da capital federal. O outro episdio diz respeito ao engenheiro da Eletrobras Paulo Fernando Rezende que foi atingido por um golpe de faco desferido por ndios, o fato ocorreu em 20 de maio de 2008 em Altamira-Par, durante o II Encontro dos Povos Indgenas do Xingu Xingu Vivo para Sempre, o evento debatia questes relativas construo da Hidreltrica de Belo Monte. nesse contexto que pretendemos identificar como se concebe a imagem do nativo; quando ele se apresenta como agente causador de um ato violento e quando ele se apresenta como vtima da violncia que assola nossa sociedade, promovendo o confronto discursivo desses dois lugares em que o ndio aparece no noticirio.Portanto, esta pesquisa tem o propsito de identificar qual (ou quais so) a imagem(s) que temos do ndio, histrica e ideologicamente construda desde a chegada dos portugueses a essas terras. Alm disso, pretendemos apontar como tais concepes atuam na construo do texto jornalstico da Folha e como ela prpria concebe o ndio. E por fim, identificar os elementos semitico-discursivos que nos permitam responder a seguinte questo: qual a representao social que a Folha de So Paulo apresenta para seus leitores sobre a figura do ndio nos dois casos em estudo?

4 OBJETIVOS

4.1 Objetivo Geral

Analisar como se constitui o discurso da mdia impressa (aqui representada pelo jornal Folha de So Paulo), no sentido de apontar a participao da mesma no processo de construo da imagem do ndio no caso do ndio Galdino e no ataque de ndios a engenheiro da Eletrobras.

4.2 Objetivos Especficos

Vislumbrar as relaes ideolgicas e semitico-discursivas, que ao longo do tempo contriburam para a formao da imagem do ndio em nossa sociedade.

Comparar a construo do discurso da mdia impressa sobre o ndio quando ele se apresenta como agente causador de um ato violento e quando ele se apresenta como vtima da violncia.

Mostrar qual a participao da mdia impressa, aqui representada pela Folha de Paulo, na representao social da figura do ndio.

Apontar como a imagem socializada do ndio influencia o(s) sujeito(s) do discurso jornalstico e como este, por sua vez, exerce influncias em relao viso estereotipada sobre o nativo.

Identificar os elementos semitico-discursivos que nos permitam responder a seguinte questo: qual a imagem que a Folha de So Paulo apresenta para seus leitores sobre a figura do ndio nos dois casos em estudo?

5 JUSTIFICATIVA

Esta pesquisa poder trazer contribuies importantes compreenso dos mecanismos de produo do discurso miditico a respeito do ndio e como tais discursos atuam nas relaes sociais em que costumamos externar a viso que temos sobre o mundo e sobre as coisas e indivduos que o preenchem. Para tanto, procuraremos mostrar qual a participao da mdia impressa, aqui representada pela Folha de So Paulo, no processo de construo da imagem do ndio tal qual a concebemos hoje. A imprensa ocupa um espao privilegiado na sociedade contempornea, pois ela foi se constituindo ao longo da histria como o palco para o debate pblico, lugar que lhe confere o papel de legtimo porta voz da sociedade, ao mesmo tempo em que formadora da opinio pblica. Nessa perspectiva, a mdia possui mecanismos que lhe possibilitam informar, formar ou deformar fatos, pessoas e imagens, pois, de acordo com Melo (2006), mais do que manter-nos informados sobre os fatos do cotidiano, a imprensa conduz, ainda que parcialmente, as aes concretas dos indivduos.Partindo dessa premissa de que a mdia participa ativamente do processo de formao da opinio e que ela, inclusive, leva o individuo a uma ao concreta na sociedade, esta pesquisa se faz necessria para tentarmos compreender melhor qual a participao da imprensa no processo de construo e mesmo de consolidao da imagem do ndio no cenrio brasileiro, uma vez que este estudo ainda no foi abordado neste contexto. Vale dizer, esta pesquisa se justifica por apresentar um novo olhar sobre dois acontecimentos que tiveram grande repercusso na mdia nacional e, que por terem como sujeito principal a figura do ndio, poder contribuir no sentido de desvelar como este sujeito representando socialmente por um jornal de grande influncia para a sociedade brasileira.A semitica e a anlise de discurso sero importantes para o desenvolvimento deste trabalho porque por meio dessas teorias ser possvel compreender como a Folha de So Paulo articula elementos simblicos e discursivos em suas notcias, produzindo efeitos de sentido que reverberam a representao social do ndio no cenrio nacional. Sendo assim, na prxima seo faremos uma breve apresentao dessas duas teorias, comentando sobre suas origens e os principais conceitos por elas defendidos e que embasaro esta pesquisa.

6 FUNDAMENTAO TERICA6.1 Semitica Peirceana

Para o desenvolvimento desta pesquisa ser necessrio nos munir de conhecimentos do campo da Lingustica, do Jornalismo, da Semitica e da Anlise de Discurso. A lingustica por ser a cincia que se dedica ao estudo da lngua em suas diversas perspectivas se constitui como base para esta pesquisa, tendo em vista que ela abrange as duas correntes tericas as quais nos filiaremos (semitica e anlise do discurso), alm de ser a linguagem instrumento fundamental para o jornalismo. As contribuies do campo do jornalismo sero importante pois, sendo a notcia de jornal impresso o suporte que comporta o nosso objeto de estudo, preciso compreender como se d o processo de transformao dos fatos cotidianos em acontecimentos noticiveis, compreender ainda que mecanismos esto imbricados na prtica jornalstica. A Semitica e a Anlise de discurso caminharo juntas no nosso trabalho de anlise posto que ser com base nos mecanismos de anlise simblica (signos) e discursiva propostos por estas duas correntes que tentaremos vislumbrar como o ndio est representado socialmente pela Folha de So Paulo nesses dois acontecimentos.O norte-americano Charles Sanders Peirce considerado o fundador da Semitica moderna. De acordo com a Teoria Semitica proposta por Peirce, signo aquilo que funciona como representao de algo. Para o estudioso, o mundo inteiro est permeado de signos, se que ele no se componha exclusivamente de signos (PEIRCE apud NRT, 2003, p. 62). Em tese, tudo no mundo passvel de significao, desse modo, a teoria peirceana defende e sistematiza uma metodologia que nos permite analisar semioticamente as coisas no mundo; o verbal e o no verbal significam, assim, as palavras e as imagens so analisveis semioticamente e constroem sentido no e pelo mundo. Nesse sentido, pretendemos saber como os signos so articulados nas notcias veiculadas na Folha de So Paulo de modo a construir sentido.Peirce (Coltected Papers, 2.228) relaciona trs elementos constituintes do processo de significao ou semiose: o representmen (signo primeiro), o objeto (remete ao referente) e o interpretante (significado), portanto para Peirce, o signo tridico. Santaella confirma a natureza tridica do signo:Signo qualquer coisa de qualquer espcie que representa uma outra coisa, chamada de objeto do signo, e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial, efeito este que chamado de interpretante do signo. (SANTAELLA, 2005, p. 8)

Na tentativa de sistematizar como, no processo de semiose, se relacionam os trs elementos constituintes do signo (representamen-objeto-interpretante), Peirce (CP, 1.23) elaborou categorias tricotmicas de ordem fenomenolgica que se diferenciam conforme a relao que estabelecem com o signo, bem como com seus elementos constituintes. Tais categorias tm por finalidade explicar como os fenmenos so apreendidos pela mente. A tricotomia universal que engloba o fenmeno da primeiridade, secundidade e terceiridade, a mais conhecida e estudada.A primeiridade diz respeito ao sentimento mais imediato que temos ao observar alguma coisa. o que sentimos ao ver algo, antes de estabelecer relao com qualquer outra coisa que j esteja em nossa mente. quando lanamos mo de um olhar contemplativo. Nas palavras de Peirce algo que aquilo que sem referncia a qualquer outra coisa dentro dele, ou fora dele, independentemente de toda fora e de toda razo (PEIRCE, 1999, p.24).A secundidade o instante em que a mente comea a reagir s coisas do mundo, dando conta daquilo que, de fato, existe e est estabelecido. Aqui, predomina o olhar observacional. aquele elemento que, tomado em conexo com a originalidade, faz de uma coisa aquilo que uma outra a obriga ser, considera Peirce (1999, p.27).E por fim, a terceiridade corresponde ao reconhecimento do signo enquanto lei ou conveno. quando lanamos um olhar generalizador.A interpretao sgnica perpassa essas trs etapas que se sucedem e ressignificam continuamente, pois a forma como apreendemos as coisas do mundo esto, segundo Peirce, permanentemente condicionadas a semioses infinitas.O pensamente peirceano sintetizado por Santaella (2005) quando a autora define propriedades formais que conferem a qualquer coisa do mundo a capacidade de funcionar como signo.As trs propriedades formais que lhes do capacidade para funcionar como signo: sua mera qualidade, sua existncia, quer dizer o simples fato de existir, e seu carter de lei. [Assim], pela qualidade, tudo pode ser signo, pela existncia, tudo signo, e pela lei, tudo deve ser signo. (SANTAELLA, 2005, p 12)Essas propriedades formais apesar de estarem categorizadas no so excludentes entre si. Elas se relacionam por meio do processo de semiose e em funo dessa relao que se constituem como signo. De acordo com Santaella (2004), Peirce no diz que essas categorias tricotmicas so inconciliveis, ela afirma que: Todas as tricotomias estabelecidas por Peirce no funcionam como categorias separadas de coisas excludentes, mas como modos coordenados e mutuamente compatveis pelos quais algo pode ser identificado semioticamente. [...]. Assim, o modo de ser de um signo depende do modo como esse signo apreendido, isto , depende do ponto de referncia de quem o apreende. (SANTAELLA, 2004, p.96)

Com base na semitica peirceana ser possvel apreender como as notcias que sero analisadas significam segundo a Folha de So Paulo e, principalmente, como tais notcias representam a figura do ndio. Conforme postulou Santaella (1995), o signo se constitui, em certa medida, de acordo com o modo como apreendido, nessa perspectiva, o jornal Folha de So Paulo enquanto instituio possui uma imagem ou imagens sobre o ndio, visto que tudo na sociedade passvel de funcionar como signo e, portanto, dotado sentidos. Essa imagem ou esses sentidos atribudos aos ndio/signo esto embutidos no texto jornalstico na forma de notcias, ilustraes e so consolidados na categoria denominada terceiridade, quando valores e experincias peculiares ao sujeito subsidiam a construo do sentido dado ao signo. na terceiridade que se manifesta a viso generalizada sobre as coisas do mundo. O signo, enquanto qualidade e existncia, funde-se s experincias de vida do sujeito para a cristalizao de sentidos. A semiose em nvel de terceiridade evoca sentidos cristalizados ao mesmo tempo em que exerce a funo de conveno social. nesse processo tambm que se constituem as representaes sociais dos signos que circundam no mundo. Um signo representado socialmente quando colocado em relao com o mundo conforme a percepo do sujeito, assim se consolida a trade semitica.

6.2 Anlise de Discurso

Ao lado da compreenso dos signos e dos sentidos que eles podem produzir nas mentes dos interpretantes colocamos a anlise de discurso, que de acordo com Orlandi (2013), visa compreender como um objeto simblico produz sentidos para e por sujeitos. Embora possuam especificidades na relao que estabelecem com o seus objetos de estudo e na aplicao metodolgica, ambas as teorias se mostram interessadas na relao signo-sujeito-sentido.A semitica concebe o signo como aquilo que representa alguma coisa para algum, ela est centrada no processo de transformao dos signos e nos sentidos produzidos, ou seja, na semiose. A anlise de discurso, por sua vez, dedica-se ao discurso e aos efeitos de sentidos por meio dele produzidos. Sobre o discurso, Carneiro & Carneiro (2007) entendem que no a mesma coisa que transmisso de informao, nem um simples ato do dizer. O discurso evoca uma exterioridade linguagem a ideolgica e o social.A relao estabelecida entre linguagem e ideologia, a concepo de discurso como a representao lingustica e ideolgica dos atos comunicativos configuram o cenrio adequado para as proposies da anlise de discurso, que surgiu no final dos anos 1960. Para muitos estudiosos, o lanamento em 1969 do livro Anlise Automtica do Discurso de Michel Pcheux, considerado o marco inicial da Anlise de Discurso como disciplina ou campo terico da Lingustica.Pcheux (1969) afirma que a anlise de discurso nasceu em meio a trs disciplinas. Essa trplice aliana, como foi denominada pelo terico, contm os princpios do Marxismo, que subsidiam esclarecimentos sobre os fenmenos sociais; da Teoria da Lingustica, para a compreenso dos processos de enunciao; e da Psicanlise, teoria do sujeito que visa esclarecer questes da subjetividade humana. O autor prope o discurso como objeto de anlise e, nesse sentido, ele diferencia lngua, fala e discurso, embora estes elementos se relacionem. Segundo Gadet (1997), a AD na percepo de Pcheux pode ser definida comoum dispositivo que coloca em relao, sob uma forma mais complexa do que o suporia uma simples co-variao da lngua (suscetvel de ser estudada pela lingustica em sua forma plena) e o campo da sociedade apreendida pela histria (nos termos das relaes e de dominao ideolgica). (GADET, 1997, p. 8)

A anlise de discurso proposta por Pcheux rejeita a noo de subjetivismo idealista que coloca o sujeito como fonte exclusiva do discurso, no centro de todo o dizer, por outro lado, o terico tambm no acredita numa lngua abstrata, fora de contexto e que no leva em considerao o tempo, o espao e os interlocutores que produzem um discurso. Ele defende que a histria e a ideologia esto intrinsecamente ligadas linguagem, sendo influenciadas e influenciando os sentidos que construmos ao nos comunicarmos. Nesse sentido, a ideologia se materializa no discurso e este, por sua vez, se materializa na lngua.Com base nessas proposies podemos inferir que o sentido do texto/enunciado no corresponde ao significado literal que ele carrega, mas depende de toda uma conjuntura histrica e ideolgica que circunscrevem todo dizer. Pcheux (1969) afirma que o texto no transparente, ao contrrio, ele dotado de uma opacidade oriunda das formaes discursivas das quais todo sujeito se serve para comunicar-se no mundo. Orlandi (2005) sintetiza o que Pcheux prope sobre o sentido do texto/enunciado ao afirmar que as palavras no tem um sentido ligado sua literalidade, o sentido sempre uma palavra por outra, ele existe nas relaes de metfora (transparncia) acontecendo nas formaes discursivas que so seu lugar histrico provisrio. Assim, todo enunciado intrinsecamente suscetvel de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente de seu sentido para derivar para um outro. (PCHEUX, 1983 apud ORLANDI, 2005, p. 11)

Nessa perspectiva, pretendemos por meio desta pesquisa e embasados tambm nos recursos metodolgicos da anlise de discurso, deslindar a opacidade presente no discurso da Folha de So Paulo quando esta retrata o ndio, a fim de apontar comparativamente a representao social que faz o impresso a respeito do ndio, quando este vtima da violncia e quando agressor. Conforme j citamos anteriormente, tanto a AD quanto a semitica se preocupam com os sentidos que permeiam o mundo atravs dos signos e do discurso, assim, com base nos recursos metodolgicos destas duas correntes tericas que pretendemos analisar as notcias veiculadas na Folha Paulo a respeito do ndio Galdino e do ataque de ndio a engenheiro da Eletrobrs.

7 METODOLOGIANesta seo delinearemos o percurso a ser feito durante este estudo, apontando o tipo de pesquisa que realizaremos, os critrios adotados para a definio do corpus a ser analisado e os procedimentos a serem desenvolvidos no sentido de atingirmos os objetivos pretendidos por este trabalho.

7.1 Tipo de pesquisa

7.1.1 Pesquisa exploratria

Em relao aos objetivos esta pesquisa classifica-se como um estudo exploratrio. De acordo com Gil (2002, p. 41), as pesquisas exploratrias visam proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torn-lo mais explcito ou a constituir hipteses. As pesquisas de natureza exploratria possibilitam o aperfeioamento de ideias e com base nas novas inferncias feitas, por meio de anlise rigorosa de dados/fatos, possvel fazer o levantamento de hipteses sobre determinado tema, assim, o valor desse tipo de estudo est no carter enriquecedor das novas informaes a cerca de um dado problema, proporcionando a ampliao do conhecimento sobre o tema.Nesse sentido, pretendemos trazer contribuies no tocante a problemtica que envolve a representao social do ndio no jornal Folha de So Paulo nos dois casos em estudo.Dentre as etapas que podem ser desenvolvidas nesse tipo de pesquisa, destacamos o levantamento bibliogrfico e a anlise de exemplos que devem subsidiar a compreenso do problema aqui apresentado.

7.1.2 Pesquisa documental

Segundo Gil (2002) esse tipo de pesquisa vale-se de material escrito ou oral que ainda no receberam tratamento analtico. Quanto a origem, o material da pesquisa documental pode ser classificado como: fonte primria ou fonte secundria. Lakatos e Marconi (2003) sugerem uma classificao mais complexa, podendo ser a fonte escrita ou no; primria ou secundria; contempornea ou retrospectiva.Neste estudo a fonte utilizada o jornal impresso, que se constitui como uma fonte escrita, secundria e, neste caso, retrospectiva, tendo em vista que os exemplares que sero analisados foram originalmente publicados nos anos de 1997 e 2008.Durante a pesquisa documental sero operacionalizados os diversos conceitos da semitica e da anlise de discurso articulados ao conhecimento histrico a respeito do ndio, alm do conhecimento sobre a prtica jornalstica no intuito de satisfazer aos objetivos deste trabalho. Sobre o valor cientfico de estudos baseados em documentos Gil (2002) afirma que pesquisas elaboradas com base em documentos so importantes no porque respondem definitivamente a um problema, mas porque proporcionam melhor viso desse problema ou, ento, hipteses que conduzem a sua verificao por outros meios. (GIL, 2002, p. 47)Apresentar um novo olhar sobre o que foi noticiado pela Folha de So Paulo sobre os acontecimentos j mencionados anteriormente a nossa pretenso mnima com esta pesquisa.

7.2 Definio do corpusO corpus a ser analisado ser composto por textos jornalsticos que se enquadrem nos gneros textuais reportagem e notcia, a escolha desses dois gneros justifica-se pela natureza objetiva e impessoal que caracterizam esses gneros. necessrio tambm que esses textos relacionados ao fato-notcia em estudo tenham sido veiculados no jornal Folha de So Paulo no perodo de 21 a 25 de abril de 1997, para o assassinato do ndio Galdino e no perodo de 21 a 25 de maio de 2008, para o ataque de ndios a engenheiro da Eletrobras. A especificao de um perodo de veiculao das notcias facilitar nosso estudo, pois nos permitir apreender melhor o contexto histrico e sociopoltico em que esses textos foram produzidos, ademais, o espao para o desenvolvimento desta pesquisa limitado, assim tambm deve ser o corpus que ser analisado.

7.3 Procedimentos metodolgicosA partir da estruturao deste projeto de pesquisa, as etapas a seguir consistem na elaborao de resenhas a partir do levantamento bibliogrfico j realizado, posteriormente, na fase de coleta documental faremos a catalogao das notcias e reportagens que sero analisadas. Aps a seleo dos textos, precederemos a leitura exploratria dessas notcias no intuito de identificar marcas textuais que vo delinear nosso percurso analtico. A redao dos captulos tericos inicias ser importante para apreciao da pesquisa durante a Qualificao. A anlise do corpus com base nos pressupostos da semitica peirceana e da anlise de discurso, e posterior apresentao dos resultados alcanados so as etapas que findam o processo redacional desta pesquisa.

8 CRONOGRAMAAtividades/MesesFev. a Jun.(2014)Jul. a Ago.(2014)Set. a Nov.(2014)Jan. a Mar.(2015)

SeminrioX___

Pesquisa documentalX___

RedaoXXX_

Qualificao_X__

Anlise do material_XX_

Redao final da Dissertao__XX

Defesa da Dissertao___X

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