Projeto de Pesquisa - Mestrado (UNESP)
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESPFACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS
Alexandre Mendes Zanatel
MAIS AFIRMAÇÃO E MENOS DEPRESSÃO:A ESCOLA COMO PONTO DE PARTIDA PARA A
EMANCIPAÇÃO HUMANA
Projeto de pesquisa para a dissertação de Mestrado em Educação Escolar, tendo como eixo temático Filosofia nos Anos Finais do Ensino Fundamental e como linha Estudos históricos, filosóficos e antropológicos sobre escola e cultura.
ARARAQUARA2013
RESUMO
A partir de estudos sobre o aumento da depressão no Brasil, este trabalho explora as possíveis relações entre o campo filosófico e a educação de crianças e adolescentes, com o objetivo de levar às escolas dos anos finais do ensino fundamental, assuntos que contribuem para uma reflexão no processo de ensino-aprendizagem. Sob a luz do legado do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, será fornecido e discutido elementos para que qualquer indivíduo possa encarar e enfrentar com consciência “o mal estar” causado por uma situação triste e angustiante. Será discutido, a saber, a ideia de amor fati que, segundo Nietzsche, designa o assentimento, o sim como atitude geral para com a realidade. Trata-se de pensar uma relação afetiva e não gnoseológica com o destino, longe de ser uma postura de resignação ou passiva em face da fatalidade inelutável, muito menos de dissimulação, pelo contrário, a aceitação afirmativa, seja quais forem as circunstâncias. Será debatido também o projeto nietzschiano de transvaloração dos valores a fim de um posicionamento pedagógico mais crítico, visto que, abre a possibilidade de uma nova prática do educador frente a uma venerada tradição. Isso possibilita novos caminhos para se pensar em novos valores, na medida em que o sujeito se faz humano pela criação e reflexão e não pela mera recepção e reprodução do existente. A pesquisa será realizada por meio de encontros com educadores para que seja dialogado a respeito da intencionalidade de se formar cidadãos críticos e reflexivos capazes de aceitar e assumir a vida em sua totalidade e, inegavelmente, poder utilizar a dor como impulso para a vida, evitando, assim, qualquer espécie de paliativos que repelem qualquer situação de desconforto e de infelicidade.
Introdução
A Organização Mundial de Saúde define depressão como um transtorno mental
comum, caracterizado por tristeza, perda de interesse, ausência de prazer, oscilações entre
sentimentos de culpa e baixa autoestima, além de distúrbios do sono ou do apetite. Também
há a sensação de cansaço e falta de concentração. Nos casos mais graves, a depressão pode
levar ao suicídio. “Cerca de um milhão de pessoas se suicida a cada ano e uma grande
porcentagem delas padece de depressão profunda”.1
Segundo o médico Shekhar Saxena, do Departamento de Saúde Mental da
Organização Mundial de Saúde, “os números da OMS mostram claramente que o peso da
depressão (em termos de perdas para as pessoas afetadas) vai provavelmente aumentar, de
modo que, em 2030, ela será sozinha a maior causa de perdas (para a população) entre todos
os problemas de saúde”.2
A conclusão do estudo, publicado em 2011, na revista BMC Medicine, mostra que
mais de 350 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão.3
Diante disso, com o mundo globalizado e o sistema capitalista se mostrando cada
vez mais agressivo, torna-se necessário reciclar a postura pedagógica frente às questões
humanas, pois com o interesse da escola em preparar o aluno apenas para o mercado de
trabalho, inserindo-o numa cultura de massa, acaba isentando-se de formar cidadãos
reflexivos, capacitados a olharem conscientemente para a si mesmos e para a parte humana.
1 Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/saude/mais-de-350-milhoes-de-pessoas-tem-depressao-diz-oms>. Acesso em: 11 fev. 2013.2 Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/09/090902_depressao_oms_cq.shtml>. Acesso em: 11 fev. 2013.3 Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/saude/mais-de-350-milhoes-de-pessoas-tem-depressao-diz-oms>. Acesso em: 11 fev. 2013.
Torna-se necessário refletir possíveis caminhos e alternativas que se pretendem
dar a essas crianças e adolescentes e, neste sentido, discutir de que forma a escola pode
contribuir para fornecer meios para eles enfrentarem situações de angústias e sofrimento.
Em seu ensaio O mal-estar na cultura, Freud aponta três fontes de ameaça do
sofrimento humano:
A partir do próprio corpo, que, destinado à ruína e à dissolução, também não pode prescindir da dor e do medo como sinais de alarme; a partir do mundo externo, que pode se abater sobre nós com forças superiores, implacáveis e destrutivas, e, por fim, das relações com os outros seres humanos. O sofrimento que provém desta última fonte talvez seja sentido de modo mais doloroso que qualquer outro; [...] (FREUD, 2010, p. 63-64).
Ou seja, estando em um mundo onde esses três fatores são impossíveis de se
evitar, pode-se dizer, então, que a dor é inevitável.
A dor é um aspecto inevitável da vida, e negar a dor é negar a própria vida. O que caracteriza a vida é um jogo constante entre a dor e a alegria, entre a vida e a morte. Tudo que nasce tem que morrer para que a vida continue. É porque sabemos que vamos morrer que temos urgência de viver. É porque sentimos dor que valorizamos tanto a alegria. Além do mais, não há um ser humano que não tenha vivido a dor. E se houvesse, ele não saberia também o que é alegria (MOSÉ, 2012, p. 76).
Neste momento levantamos os seguintes questionamentos: Mas o que é a dor
senão vida? De que maneira a escola pode fornecer ou contribuir com elementos que auxiliem
crianças e adolescentes a enfrentarem seus problemas pessoais e existenciais? Uma das
hipóteses que levantamos é a de reciclar a prática do professor e sua postura pedagógica,
propiciando situações para que o educador atente-se ao aspecto humano no contexto de sala
de aula. O próximo passo é apontar as possíveis alternativas e caminhos para que nossa
hipótese se torne possível de ser realizada.
O campo filosófico se apresenta como possível dispositivo de reflexão, cujas
discussões podem fornecer subsídios que considerem a “dor humana”, de forma que se
apresenta com a melhor alternativa para os problemas da existência. Nesta direção, é
necessário estabelecer as possíveis relações entre filosofia e a educação de crianças e
adolescentes, com o intuito de atender aos questionamentos e a hipótese até então levantada.
Rosa Dias, na obra Nietzsche, vida como obra de arte, afirma que “viver não é
apenas manter-se vivo, sobreviver. Querer preservar a si mesmo é expressão de um estado
indigente, de uma limitação do verdadeiro impulso fundamental da vida, que tende à expansão
do poder”. E justamente esse impulso falta aos homens para superar uma situação de
desespero.
Nietzsche “é o pensador de nossas angústias, que não poupou nenhuma certeza
estabelecida – sobretudo as suas próprias convicções – e desvendou os mais sinistros
labirintos da alma moderna” (GIACOIA, 2000, p. 12). Por isso a escolha do filósofo para
fundamentar esta pesquisa.
Nietzsche propõe a superação da moral estabelecida e dos velhos costumes
vigentes, para que a história seja reinventada por homens que encaram uma existência
composta de infindáveis facetas.
Para tanto, a presente pesquisa tem a intenção de perscrutar e apontar alternativas
para se fazer uma educação que tem como meta formar cidadãos preparados e capazes de
repensar valores vigentes (que muitas vezes são praticados irrefletidamente na sociedade) e
prontos para potencializarem o valor da vida.
Isso se daria desenvolvendo projetos filosóficos com crianças e adolescentes
dentro das escolas – espaço ideal para se dar início às futuras transformações sociais visando a
uma emancipação humana.
“Se temos que repensar o pensamento, o que deve ser colocado em questão, antes
de tudo, é a escola” (MOSÉ, 2012, p. 17).
A escola deve procurar valorizar a potência de cada um de seus alunos e deixar de
vê-los como uma massa homogeneizada, ao promover situações e diálogos em torno de
reflexões filosóficas, que despertem nos adolescentes a importância da reflexão e da
capacidade de pensar criticamente em todos os níveis escolares. A filosofia nas escolas tem o
papel fundamental de levantar essas questões humanas que estão esquecidas. “Infelizmente,
esta disciplina quase sempre é ministrada nos últimos anos do Ensino Médio e seu objetivo é
ensinar história da filosofia e não o de desenvolver o pensamento multidimensional”
(OLIVEIRA, 2004, p. 51).
Neste sentido, uma das exigências fundamentais é que a escola assuma uma nova
postura pedagógica que tenha como finalidade apresentar novas possibilidades para
desenvolver a autorreflexão nos aprendizes sob uma perspectiva mais humanista e promover a
ruptura com os grilhões do passado e das crenças fossilizadas que se tornaram tradição –
portanto, intocáveis, indiscutíveis e incontestáveis.
Seguir um costume irrefletidamente não parece algo interessante para cidadãos
que necessitam e precisam libertar-se para poderem criar algo novo.
Nietzsche faz uma analogia quanto à questão da aceitação passiva de uma
tradição: “prescreve-se, por exemplo, tomar certos banhos em determinados momentos: não
se toma banho por uma questão de higiene, mas porque isso foi prescrito” (NIETZSCHE,
2007, p. 39).
Contra isso, é preciso exaltar e despertar o protagonismo dos alunos e procurar
desenvolver um indivíduo mais rígido e difícil de sucumbir frente aos tormentos da vida.
Crianças e adolescentes precisam aprender a suportar suas dores e seus fracassos,
sem inventar loucas saídas para o sofrimento e sem buscar subterfúgios para se desvencilhar
de um problema que precisa ser levado a cabo e atravessado.
“Para se transformar, a humanidade precisa da educação, mas de uma educação
fundada no cultivo de si, o que implica em construir a si mesmo, em tornar sua própria vida
uma obra de arte” (MOSÉ, 2012, p. 171).
O ambiente escolar, ao repensar sua posição, se empenha para alcançar uma
formação mais integral e humana dos alunos, com vista a combater a difusão inescrupulosa
dos bens culturais e aos interesses imediatos que eles visam satisfazer, ou seja, a escola
necessita urgentemente de
denunciar todas as formas de mistificação pelas quais o homem moderno oblitera sua visão dos perigos de sua condição; por fim, destruídos os falsos ídolos – e esses são os valores mais venerados pelo homem moderno -, assumir corajosamente o risco de pensar novos valores, abrir novos horizontes para a experiência humana na história (GIACOIA, 2000, p. 17).
Considerando que as escolas estão isoladas em universos de conceitos que não
correspondem às expectativas e ao cotidiano dos alunos, faltam a elas contextualização,
pensamento crítico, inventividade. Reciclando sua postura, podem preparar os aprendizes para
que sejam leitores críticos da sociedade em que vivem e não apenas consumidores de um
saber pronto e acabado.
Em seu livro A alegria de ensinar, Rubem Alves sugere que é necessário
caminhar na direção contrária do tipo de ensino que apenas enxerga “as crianças como
aquelas que precisam ser ensinadas, seres inacabados que [...] só se tornam pessoas de carne e
osso depois de serem submetidas às nossas artimanhas pedagógicas” (ALVES, 2000, p. 63).
Nesta direção, pode-se pensar em uma educação sedimentada e sustentada por
perspectivas que incluam definitivamente o indivíduo na vida. É hora de, ao menos, tentar
construir novos valores para que surja um novo tipo de homem, um homem vigoroso e com
coragem para encarar e suportar com lucidez as mazelas e frustrações da existência como
sendo nada além do que partes constitutivas da vida.
Neste ponto, o legado de Nietzsche contribui para o educador não só rever sua
prática pedagógica, sob uma perspectiva mais humanista, mas também capacitar os seus
aprendizes a enfrentar as intempéries da vida. “A gente não deve jamais poupar a si mesmo, a
gente tem de ter a dureza entre seus hábitos a fim de poder permanecer alegre e contente em
meio a tantas verdades duras” (NIETZSCHE, 2010, p. 76).
Assim, esta pesquisa faz uso das significativas ideias do filósofo alemão, pois elas
são capazes de tornar – com grande lucidez e consciência - as situações belas e atraentes
quando elas não o são.
Uma das tarefas que Nietzsche se dedicou em vida, foi a de destruir os falsos ídolos – que na verdade são os valores mais venerados pelo homem moderno -, e a de “assumir corajosamente o risco de pensar novos valores, abrir novos horizontes para a experiência humana na história” (GIACOIA, 2000, p. 17).
O ensino atual se esquiva de adotar o hábito de ensinar o indivíduo a se colocar no
mundo prontamente, a ser duro e ao mesmo tempo alegre em meio a infinitas contradições e
desafios que a vida oferece.
“Se o que o processo educativo faz não é despertar e fazer brotar os universos selvagens que moram em nós, mas antes espalhar herbicidas para depois plantar as sementes da monocultura (afinal de contas, cada corpo deve ser útil socialmente...) que um Outro ali semeia, então o caminho da verdade exige um esquecimento: é preciso esquecer-se do aprendido, a fim de se poder lembrar daquilo que o conhecimento enterrou. Drummond, no poema que escreveu para seu neto, dizia-lhe que muitas leis lhe seriam ensinadas, leis que deveriam ser esquecidas para que ele pudesse aprender leis mais altas” (ALVES, 2000, p. 56).
Para Nietzsche, falta ao sistema de educacional ensinar a suportar a solidão. Diz
ele: “Ninguém aprende, ninguém aspira, ninguém ensina – a suportar a solidão [...]
(NIETZSCHE, 2007, p. 238). O filósofo de Aurora considera a solidão necessária para que
não se beba das cisternas que estão dispostas para todos.
Nietzsche apresenta ideias para se levar uma vida que potencializa o viver, por
isso a escolha deste grande pensador para a realização deste trabalho A filosofia pode
despertar nos alunos a necessidade de se consumir menos remédios para suas dores ou evitar
outras saídas de igual efeito paliativo.
É preciso conscientizar crianças e adolescentes sobre as questões complexas que
estão ao redor de si, pois eles merecem estar preparados e cientes de que o homem é um ser
inacabado que necessita sempre estar em constante aperfeiçoamento, pois “onde há vida há
inacabamento” (FREIRE, 2011, p. 50).
É finalidade da escola lançar luz sobre os elementos mais subterrâneos da
existência. Somente assim se pode erigir uma sociedade assertiva, que suporte as vicissitudes
de maneira cônscia e tenaz.
“Para que haja um progresso de base no século XXI, os homens e as mulheres não podem mais ser brinquedos inconscientes não só de suas ideias, mas das próprias mentiras. O dever principal da educação é de armar cada um para o combate vital para a lucidez” (MORIN, 2005, p. 33).
Fazendo uso da filosofia, a escola pode pulverizar o conhecimento necessário para
que seus alunos saibam se comportar frente ao desamparo e o desespero humano evitando,
assim, a simples resignação, os atenuantes da indústria farmacêutica ou ainda as drogas
ilícitas que estão disponíveis no mercado negro.
Discutindo a filosofia e apresentando as “fórmulas” de Nietzsche dentro das salas
de aula é possível gerar alunos capazes de superar a angústia e o medo frente a um problema.
Minha fórmula para a grandeza no homem é amor fati: não querer ter nada de diferente, nem para a frente, nem para trás, por toda a eternidade... Não apenas suportar aquilo que é necessário, muito menos dissimulá-lo – todo o idealismo é falsidade diante daquilo que é necessário -, mas sim amá-lo... (NIETZSCHE, 2010, p. 68).
No prefácio do livro Da Utilidade e do Inconveniente da História para a Vida,
Nietzsche, usando a palavras do escritor e político alemão Goethe, afirma: “de resto, detesto
tudo o que só serve para me instruir sem aumentar minha atividade ou animá-la diretamente”
(NIETZSCHE, 2008, p. 15). Ou seja, para ele não há importância alguma um ensino sem
vivificação, que não expõe aquilo que há de mais necessário para se posicionar na vida. A
escola ensina o supérfluo e “o supérfluo é inimigo do necessário” (NIETZSCHE, 2008, p. 15).
Nietzsche era contra a vida fácil, acomodada e humilde em seus objetivos como
parece querer o ensino atual, que nada tem de princípios criativos. Para ele, “o homem pode
ser visto não como um fim – como o deseja o último homem -, mas como um meio para
conquistar possibilidades mais sublimes de existência” (GIACOIA, 2000, p. 57).
Essa travessia que conduz do animal ao além-do-homem, na visão de Nietzsche,
só pode ser empreendida pelo homem moderno renunciando ao conformismo de sua
mediocridade e autossatisfação.
A questão é pensar em uma escola dirigida para o desenvolvimento dos alunos,
que saiba preparar seus estudantes para a vida e não para o mercado de trabalho. Do contrário,
se tornarão alunos incapazes de superar as dores do mundo. Para isso é preciso se pensar em
uma escola
onde a arte, a filosofia, a ética estejam tão presentes que não precisem de 50 minutos na grade curricular: ou melhor, que não tenha grande curricular, mas temas, assuntos, questões. Uma escola que não se acovarde diante das perguntas mais difíceis, como a morte, o tempo, a dor, a violência, a discriminação social e racial, mas que construa espaços onde essas questões sejam discutidas, pensadas. Enfim, uma escola viva, alegre, corajosa, sempre aberta a novas questões. Precisamos resgatar nossa humanidade, que reside não na capacidade de guardar e acumular dados e coisas, mas na criação de sempre novos conceitos e valores, quer dizer, na produção de conhecimentos que acontece em função da coragem de ir sempre a novos lugares, e viver novas coisas.4
4 MOSÉ, Viviane. A educação e a vida. Coleção Guias de Filosofia - Nietzsche: o filósofo e a educação. Escala, São Paulo, ano 1, n. 3, p. 54-65, fev. 2012.
Justificativa
De acordo com a previsão feita pela Organização Mundial de Saúde de que a
depressão será a doença mais comum do mundo em 20305, é preciso preparar os alunos,
futuros cidadãos, com teorias filosóficas para que eles sejam capazes de enfrentar e suportar
as dificuldades das questões humanas de maneira reflexiva e consciente. Este trabalho
pretende desenvolver, usando o legado de Nietzsche, alternativas para que os cidadãos de
amanhã não se sintam desprevenidos frente às adversidades e as dores do existir, evitando
assim, que recorram às drogas lícitas ou ilícitas e a outros paliativos.
Na intenção de evitar essa previsão, algo precisa ser pensado para que os alunos
de hoje não se tornem dependentes de paliativos que pouco resolvem suas angústias, muito
pelo contrário, apenas mascaram, protelam e atenuam as sensações de desconforto
(obviamente há casos em que um tratamento especializado e o uso de remédios se faz
necessário).
É preciso mostrar aos alunos que a filosofia, em especial a filosofia de Nietzsche,
pode ajudá-los a enfrentar com grande lucidez todos os desarranjos inerentes à condição
humana.
Seria de grande conquista se a educação pensasse na possibilidade de renovação
de antigos costumes pelo inédito que as novas gerações podem produzir e criar. “O
pensamento conceitual e moral devem assumir que por trás de todas as perspectivas, de todos
os valores [até hoje conhecidos], existe um homem que cria” (MOSÉ, 2012, p. 177).
“Quero ensinar aos homens o sentido de sua existência, que é o além-do-homem,
o relâmpago que surge da sombria nuvem chamada Homem” (NIETZSCHE, 2008, p. 30).
5 Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/09/090902_depressao_oms_cq.shtml>. Acesso em: 11 fev. 2013.
Aqui, Nietzsche aponta para a necessidade de que o homem da atualidade deve ser
ultrapassado e ultrapassar esse homem significa aceitar a possibilidade de viver de maneira
autêntica as dores da existência. Por isso, quanto mais cedo forem apresentadas as ideias e os
conceitos nietzschianos às crianças e adolescentes em fase escolar, mais chances há de se
evitar um definhamento no impulso humano da vontade de existir.
O aluno precisa começar a refletir e a reconhecer que é necessário afirmar e
conciliar situações inerentes e indissociáveis da vida - felicidade e dor, prazer e repulsa,
guerra e paz, caos e ordem etc. e admiti-las de forma segura, sem prostrar-se.
É intenção dessa pesquisa que, após expostos, refletidos e ruminados os
pensamentos de Nietzsche, os estragos da depressão possam ser minimizados ou, talvez, até
eliminados por futuros cidadãos dotados de um pensamento crítico e emancipados que estarão
munidos de meios para suportar as ameaças da existência.
Objetivos
Partindo do ponto de vista nietzschiano de que é necessário repensar os valores
que até agora estão sendo difundidos, e de que é preciso assumir uma perspectiva de que a
existência não tem uma justificação a não ser estética e, por fim, de que é imprescindível
suportar as adversidades em quaisquer circunstâncias e situações, se pretende, com este
estudo, em linhas gerais, levar ao conhecimento dos alunos da rede municipal de ensino de
São José do Rio Preto o legado do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, a fim de que eles
disponham de teorias que possam ajudá-los a lidar com as instâncias frustrantes inerentes à
condição humana.
Para isso, o projeto será iniciado em uma escola da rede municipal, que atende
alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental, localizada na cidade de São José do Rio Preto.
Se houver interesse por parte da Secretaria Municipal de Educação da cidade, o projeto
poderá ser estendido a outras escolas.
Mais precisamente, os objetivos do presente estudos são:
1. Levar ao conhecimento dos educadores da rede de ensino de São José do Rio
Preto o porquê da necessidade de ensinar filosofia para crianças e jovens.
2. Desenvolver estratégias de aprendizagem evitando que os educadores ensinem
a história da filosofia, mas sim, uma filosofia de modo que possa ser aplicada no cotidiano
dos alunos a fim de ensiná-los a pensar e não simplesmente contar a história linear da
filosofia.
3. Expor aos educadores as ideias fundamentais de Nietzsche e de que forma elas
podem colaborar para se evitar a depressão.
4. Disponibilizar material sobre Nietzsche (livros, revistas, filmes etc.) aos
professores e alunos onde o projeto será realizado.
5. Montar um Grupo de Estudos sobre Nietzsche dentro da rede municipal de
ensino de São José do Rio Preto, com reuniões mensais, usando as instalações e as
dependências de alguma escola da rede.
5. Pleitear, junto à Secretaria Municipal de Cultura, material (livros, filmes,
revistas etc.) sobre filosofia e sobre Nietzsche para disponibilizá-los nas bibliotecas e
videotecas das escolas da rede municipal de ensino, na intenção de que os alunos possam dar
continuidade em seus estudos filosóficos.
6. Viabilizar a confecção de um livro cujos autores serão os próprios alunos, caso
o projeto obtenha resultados significativos.
Metodologias
Pesquisa bibliográfica sobre filosofia e Nietzsche;
Exibição de filmes, slides, vídeos e livro-áudio sobre filosofia e as obras de
Nietzsche;
Material impresso para ser distribuído nos encontros;
Publicação, no jornal da cidade, de artigos elaborados pelos alunos (após revisão
dos professores);
Fotos dos encontros para publicação em redes sociais e blogs.
Fontes
Livros, jornais, revistas, monografias, teses, filmes e internet.
Plano de Trabalho
Todos os sábados serão feitos encontros com os professores de uma escola de
Ensino Fundamental (6º ao 9º ano), da rede municipal de ensino de São José do Rio Preto.
Esses encontros acontecerão no pátio da escola e terão duração de duas horas.
A proposta inicial será sobre como a escola pode contribuir para alterar essa
perspectiva a respeito da depressão se tornar a doença mais comum em 2030, de acordo com a
Organização Mundial de Saúde.
Para isso, será estudado e debatido o pensamento de Nietzsche. Não que isso seja
a única solução para os problemas da existência, mas que seja, ao menos, uma alternativa que
merece ser apresentada e disponibilizada aos educandos que, muitas vezes, perpassam a fase
escolar desconhecendo as valiosas e profundas reflexões que este filósofo deixou para a
humanidade.
Os encontros terão exibição de filmes, leitura filosóficas, debates, socialização das
ideias levantadas, elaboração de artigos para publicação em jornais da cidade, e o mais
importante, como fazer chegar essa filosofia nietzschiana dentro da sala de aula.
Quando o grupo já estiver se inteirado sobre o assunto – o que pode levar um
tempo -, a ideia é difundir o trabalho a fim de chamar a atenção de representantes de outras
escolas da rede municipal de ensino e, principalmente, de alunos e alunas de outras escolas.
Para isso, será feito um blog para divulgar fotos e textos produzidos durante o
projeto, mostrando o engajamento de educadores e alunos na proposta. Em sala de aula, após
levantadas as dúvidas e a socialização das ideias e reflexões, seria interessante incentivar os
alunos a divulgarem nas redes sociais o novo conteúdo filosófico que estão aprendendo, haja
vista que talvez seja o lugar onde as crianças e adolescentes mais gostam de estar para
expressar suas opiniões, ideias e pensamentos.
Os professores podem abordar o tema de forma transversal, uma vez que “rompe a
limitação da atuação dos professores às atividades formais e amplia a sua responsabilidade
com a sua formação dos alunos” (PCN, 1997, p. 30).
Conforme os encontros foram se acentuando e a proposta estiver murmurando
pelas salas de aula, é importante questionar os alunos a respeito de que maneira as ideias do
filósofo podem contribuir em suas vidas. Depois, pode se propor que eles escrevam artigos
sobre o assunto debatido em sala. Revisado pelo professor da sala, esses artigos serão
transcritos em um único artigo, cuja autoria será dos próprios alunos da sala, e será
encaminhado mensalmente ao mais importante jornal da cidade de São José do Rio Preto para
publicação.
Por fim, caso esta pesquisa obtenha resultados satisfatórios, não se pode
prescindir da probabilidade da publicação de um livro de coletâneas dos artigos que foram
produzidos pelos alunos durante a realização deste projeto.
CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
ATIVIDADES ANO: 20131ºSemestre 2ºSemestre
Levantamento bibliográfico XLeitura de material sobre Nietzsche XLeitura das obras de Nietzsche e discussão com os professores e alunos X X
Leitura de material sobre filosofia para crianças e discussão com os professores e alunos X X
Cumprimento de disciplinas e créditos e discussão com professores e alunos X X
ATIVIDADES ANO: 20141ºSemestre 2ºSemestre
Discussão com os sujeitos envolvidos na pesquisa e análise do corpus X
Análise do corpus X XRedação parcial X XConclusão da análise XRedação da versão final da dissertação XEnvio de versão final para a banca X
ATIVIDADES ANO: 20151ºSemestre 2ºSemestre
Defesa e conclusão (fevereiro) XEntrega de exemplar à biblioteca (março) X
BIBLIOGRAFIA
ALVES, R. A alegria de ensinar. 14. ed. Campinas, SP: Papirus, 2000.
DIAS, R. M. Nietzsche, vida como obra de arte. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
FREUD, S. O mal-estar na cultura. Porto Alegre: L&PM, 2010.
GIACOIA JÚNIOR, O. Nietzsche. São Paulo: Publifolha, 2000.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2005.
MOSÉ, V. O homem que sabe: do homo sapiens à crise da razão. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
NIETZSCHE, F. Assim falava Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. São Paulo: Escala, 2008.
_____________. Aurora. São Paulo: Escala, 2007.
_____________. Crepúsculo dos ídolos, ou, como se filosofa com o martelo. Porto Alegre: L&PM, 2011.
_____________. Da Utilidade e do Inconveniente da História para a Vida. São Paulo: Escala, 2008.
_____________. Ecce Homo: de como a gente se torna o que a gente é. Porto Alegre: L&PM, 2010.
_____________. Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
OLIVEIRA, P. R., Filosofia para a formação de crianças. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: apresentação dos temas transversais, ética. Brasília, DF: MEC/SEF, 1997. 146 p. v. 8.