Metodologia Da Pesquisa Científica

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Pós -Graduação METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA Palavra Digital

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Metodologia da pesquisa científica da Universidade Anhanguera

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Pós -Graduação

METODOLOGIADA PESQUISA CIENTÍFICA

Palavra Digital

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Disciplina Metodologia da Pesquisa Científica

AutorAndré Luiz Glaser

FICHA TÉCNICA

Equipe de Gestão Editorial Flávia Mello Magrini

Análise de ProcessosJuliana Cristina e Silva Flávia Lopes

Revisão Textual Alexia Galvão Alves Giovana Valente Ferreira Ingrid Favoretto Julio Camillo Luana Mercúrio

DiagramaçãoGerência de Design Educacional

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Como citar esse documento:GLASER, André Luiz. Metodologia da Pesquisa Científica . Valinhos: Anhanguera Educacional, 2013. p. 1-86. Disponível em: <http://anhanguera.com>. Acesso em: 3 mar. 2014.

Chanceler Ana Maria Costa de Sousa

Reitora Leocádia Aglaé Petry Leme

Pró-Reitor Administrativo Antonio Fonseca de Carvalho

Pró-Reitor de Graduação Eduardo de Oliveira Elias

Pró-Reitor de Extensão Ivo Arcangêlo Vedrúsculo Busato

Pró-Reitora de Pesquisa e PósGraduação Luciana Paes de Andrade

Realização:

Diretoria de Extensão e Pós-Graduação Pedro Regazzo Vanessa Pancioni Claudia Benedetti Mario Nunes Alves

Gerência de Design EducacionalRodolfo PinelliGabriel Araújo

© 2014 Anhanguera EducacionalProibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua portuguesa ou qualquer outro idioma.

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Índice íNDICE

Tema 01: Epistemologia 09

Tema 02: Normatização 27

Tema 03: A Importância do Fichamento 47

Tema 04: A Escrita 68

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APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINAAs páginas que se seguem dão início aos quatro textos que formam a leitura fundamental

da disciplina de metodologia da pesquisa científica. A preocupação central é a de fornecer ferramentas para que os alunos dos cursos de especialização nas mais diversas áreas da Anhanguera Educacional possam redigir um trabalho de conclusão de curso satisfatório. Nossa meta, na elaboração deste material, foi a de fazer com que o conhecimento teórico, por mais fascinante que seja, não se desprendesse do interesse prático de um curso voltado para a elaboração de um artigo científico, que para os cursos na área jurídica, é certificado como monografia jurídica. Essa afirmação necessita de alguma especificação para que não fique a impressão de que este curso se reduza a uma série de dicas para se escrever bem. Evidentemente, as dicas podem ser de grande ajuda no momento da elaboração e escrita dos textos, mas de forma alguma ganharão status prioritário. O objetivo desta disciplina é o de orientar o aluno tendo como bases, por um lado, o seu próprio conhecimento e, por outro, formas de expandi-lo, para que possa construir um texto baseado na sua própria experiência.

Dizer que nossa preocupação é a de possibilitar que o aluno marque seu texto com a sua experiência não implica num reducionismo do conhecimento, como se o que o aluno sabe já seria o suficiente, assim como o acúmulo de conhecimento pelo conhecimento, desvinculado de sua realização na prática, também não basta. A maturidade de um texto científico depende de ao menos três fatores: conhecimento da área específica sobre a qual se debruça a pesquisa; clareza quanto aos objetivos prático-teóricos do trabalho a ser realizado; e domínio não só da linguagem escrita, mas, sobretudo, do estilo acadêmico. Nosso interesse, dessa forma, será o de preparar as atividades dessa disciplina sobre esse tripé, contribuindo para que o aluno organize da melhor forma possível o conhecimento que já possui, tenha condições de realizar uma pesquisa bem fundamentada e aprimore, se houver necessidade, a sua habilidade escrita.

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A grande quantidade de áreas profissionais às quais essa leitura é voltada coloca-nos o problema de até onde a generalização do que será dito pode responder aos interesses de pessoas dos mais diversos círculos profissionais, e de como conseguir o grau de especificação necessário tanto para que o interesse do aluno seja satisfatoriamente desperto quanto para que as diferenças entre os estilos dos artigos, de acordo com as áreas de atuação, sejam devidamente abordadas. Para sanar este problema, as leituras e textos comuns a todos buscarão um grau de especificidade que não comprometa o entendimento de seu conteúdo ou o interesse de alunos diversificados, as atividades mais específicas sendo trabalhadas diretamente com o tutor responsável pela disciplina.

Muitos alunos, pelos mais diversos motivos, possuem expectativas bastante baixas com relação a cursos de metodologia da pesquisa científica. É nosso interesse reverter esse quadro, concentrando nos aspectos fascinantes da pesquisa e da produção escrita de conhecimento, bem como da qualidade instrumental desse conhecimento nas mais diversas atividades profissionais. Um curso de especialização estabelece, em geral, um vínculo bastante estreito com a atividade profissional sobre a qual está organizado. Esta disciplina, em conjunto com as demais, pretende contribuir para a formação de um profissional preparado para enfrentar a realidade às vezes bastante exigente do mercado de trabalho atual.

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TEMA 01EpistemologiaAs aulas desta primeira unidade temática buscam auxiliar no entendimento do que seja a ciência, bem como gerar discussão sobre o próprio método científico. É importante refletir profundamente sobre este tipo de conhecimento, pois ele marca significativamente a sociedade contemporânea e, nela, o mundo acadêmico. Assista às aulas quantas vezes quiser, faça suas anotações e busque se aprofundar nos temas apresentados!

* Os vídeos podem ser acessados apenas na versão interativa, disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem.

Parte 1* Parte 2*

Clique aqui para baixar o slide da Aula 1

(Parte 1).

Clique aqui para baixar o slide da Aula 1

(Parte 2).

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LEGENDA DE ÍCONES

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seções

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Início

Pontuando

Referências

Vamos pensar

Glossário

Gabarito

Verificaçãode leitura

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Aula

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01

Epistemologia

Objetivos

• Refletir sobre ciência e método científico.

• Objetivos específicos.

• Refletir sobre a Verdade da ciência.

• Discorrer sobre os tipos de conhecimento.

• Definir as características da ciência.

1. A Esfera de Ciência: Delimitação de Campo

Tendo em vista que discorreremos sobre “metodologia da pesquisa científica”, devemos inicialmente definir, mesmo que brevemente, o que entendemos por “ciência” e por “método”. Tratemos de cada conceito separadamente.

1.1 A Esfera da Ciência

O que é necessário para que possamos dizer que algo é científico? Nossa sociedade está tão encharcada de verdades “cientificamente provadas” que não raro perdemos a noção de algumas qualidades intrínsecas do que seria uma ciência séria. Longe de defendermos uma intenção idealista, capaz de ver a ciência como “esfera autônoma”, não devemos, por outro lado, aceitar indiscriminadamente a subordinação total do conhecimento científico aos interesses do mercado. Isso porque, embora grande parte da produção científica esteja vinculada aos recursos provenientes das grandes empresas, com todas as complicações que daí advêm no que tange aos interesses por lucro que movimentam a esfera privada, a falta de critério no uso do conceito de “ciência” torna a pesquisa científica uma mera intervenção publicitária. O sucesso deste uso bastante específico do “científico” origina-se em certa crença popular de que o científico é uma verdade, legitimando como irrefutável, consequentemente,

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a voz do cientista ou a do pesquisador. Vejamos um exemplo: o café faz bem ou faz mal à saúde? Com certeza todos nós já nos deparamos com argumentos contra, parcialmente contra, parcialmente a favor e a favor de sua ingestão, muitos deles cientificamente provados. Até aí, não há nada de novo. Toda pesquisa científica bem feita possui um objetivo claro que delimita tanto a pesquisa propriamente dita quanto os resultados. Uma pesquisa sobre o poder estimulante da cafeína no cérebro tenderá a apresentar um resultado mais positivo sobre o café do que um estudo dos efeitos do café no estômago ou na pressão sanguínea. Contudo, dada a “idealização” da ciência como esfera da Verdade acima comentada, pode-se generalizar o que é específico com o intuito de se tirar proveito econômico ou político da pesquisa. Lembremo-nos, por exemplo, de que a supremacia ariana pregada pelo nazismo foi “cientificamente embasada” por um conjunto de ideias que se autointitulou uma “teoria”, conhecida como a eugenia nazista. Casos extremos não ditam regras, mas podem mostrar como certas tendências ideológicas trabalham desde as esferas mais amplas até as mais restritas.

Dito isso, podemos afirmar que a ciência nunca representa uma “Verdade” com “v” maiúsculo, tipo de conhecimento que, como veremos a seguir, pertence a outra esfera do conhecimento. A ciência só pode fornecer uma verdade relativa, uma vez que é uma conquista intrinsecamente humana. Daí as necessárias e frequentes contestações de teorias científicas por outras mais recentes que parecem explicar melhor a realidade. Mas se a ciência busca explicar a realidade, essa explicação tem como momento seguinte a sua manipulação. A ciência busca interferir na realidade, atuando nas mais diversas áreas das atividades humanas. E o faz pela união bem realizada da investigação científica, a pesquisa propriamente dita, com a lógica racional que permite a generalização das descobertas e a produção de leis.

Assim, podemos dizer que a ciência tem como características básicas a observação dos fatos, sua repetição (o experimento) e sua ordenação lógica, de forma a construir teorias que deem conta do comportamento dos eventos trabalhados, possibilitando sua utilização racional nas mais diversas áreas de atuação humana. Mas o que entendemos hoje como “científico” é algo relativamente novo. Embora a busca pelo conhecimento empírico tenha existido na Antiguidade, a sua aplicação prática em larga escala teve de esperar condições culturais e socioeconômicas favoráveis, o que ocorre já no período de

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transição da Idade Média para o mundo moderno. Entre as inúmeras transformações ocorridas neste período, um fator significativo para a expansão sem precedentes do conhecimento lógico-empírico foi a sua separação da filosofia, norteando-se cada vez mais, como veremos a seguir, pelo método indutivo. O mundo ocidental, a partir do humanismo, produziu uma contínua separação das esferas de conhecimento, pouco ou não separadas na Idade Média, tornando possível um grau de especialização surpreendente de um novo pensamento lógico vinculado à apreensão empírica do mundo. Neste período, a razão assume o papel de instrumento para a obtenção da verdade, antes nas mãos do místico religioso. Liberta das concepções religiosas não racionais e afastando-se do paradigma lógico ditado pelo método dedutivo, a ciência constrói, em suas teorias, outro mundo, movido por leis quantificáveis.

Este novo tipo de conhecimento pode ser mais bem visualizado com uma breve exposição das quatro grandes esferas geralmente aceitas como abrangendo os principais tipos de conhecimento no mundo ocidental: a popular, a filosófica, a religiosa, e a científica. Para efeitos didáticos, as três primeiras esferas do conhecimento relacionadas acima serão discutidas em oposição ao conhecimento científico. Iniciemos pelo conhecimento religioso. Este conhecimento é fundamentalmente transcendental. Sua base é a fé, pois parte de evidências não verificáveis. Assim, revela-se como dogmático. Religião e ciência possuíam uma grande proximidade no mundo medieval, muitas vezes sendo indissociáveis. Tomemos, por exemplo, a astrologia – na Idade Média, este campo de estudo abrangia tanto a astronomia quanto a astrologia, que viriam a se separar posteriormente. O homem que estudava os astros era o mesmo que traçava o destino das grandes nações. Dentre as discussões que levaram à sua cisão, que foram muitas, podemos citar a descoberta, dados os critérios cada vez mais empíricos e cuidadosos de observação, do 13º signo, a constelação de ofiúco, que passa pela eclíptica celeste e localiza-se entre sagitário e escorpião. Dado que essa nova constelação era “verificável”, a nova tendência pela busca da verdade nos fatos não podia compartilhar, com os astrólogos tradicionalistas, a não aceitação da inclusão de mais um signo no zodíaco. Daí, temos um novo impulso, entre tantos outros, para a formação de um campo empírico-científico, a astronomia, e um transcendente, a astrologia moderna.

É evidente que a ciência do humanismo não rompeu definitivamente com toda e qualquer concepção religiosa do mundo. O que ocorreu, um processo do qual a filosofia também

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participou ativamente, foi a mudança da própria concepção de Deus, que se torna “menos místico” e “mais racional”. O Deus místico medieval, embora não deixe de existir, perde espaço no campo filosófico e, sobretudo, no científico, que cada vez mais assume como uma das leis fundamentais do universo a lei de causa e efeito. Assim, Deus torna-se um ser absoluto em sua racionalidade, e o universo, antes sujeito aos seus caprichos, passa a ser regulado por suas leis, o movimento quantificável e regular dos astros sendo um dos exemplos máximos de sua obra. O universo, antes criação de um ser místico inacessível à inteligência humana, torna-se o grande relógio criado pelo relojoeiro divino – uma vez criadas as leis eternas, o funcionamento do mecanismo não é mais alterado por caprichos do criador.

Comparando filosofia e ciência, detectamos que ambas trabalham com sistemas lógicos. Porém, a filosofia medieval (e boa parte da filosofia moderna) não recorria ao mundo empírico como coração de suas indagações e hipóteses. Trabalhando com grandes questões da humanidade, como o belo, a verdade, a morte, a liberdade etc., construía seus sistemas lógicos sobre hipóteses muitas vezes não verificáveis, voltando-se para critérios valorativos. Fundamentalmente dedutiva, como veremos a seguir, não pode absorver totalmente os novos valores empírico-indutivos do novo conhecimento científico.

Não se trata aqui de um critério valorativo. A ciência, apesar de todas as vantagens da apropriação da realidade pela observação, não pode abarcar o mundo. No que tange à realidade social, histórica e cultural humana, há várias áreas das quais o conhecimento empírico ou não dá conta, ou o faz ao preço de um reducionismo gritante. A liberdade, por exemplo, é um conceito que só com contorcionismos surpreendentes pode ser investigada a partir de critérios empírico-mensuráveis. Quando muito, pesquisas podem mapear o que determinada cultura ou fração de uma cultura entende por “ser livre”, ou criar critérios econômicos para definir qual seria uma renda que tornaria possível algum critério específico de liberdade, mas as conclusões jamais poderão, a não ser de forma bastante ingênua, ser generalizadas em fórmulas ou leis. Isso nos coloca um problema dos mais complexos quando, no séc. XIX, surgem as ciências humanas, obrigando, em determinadas áreas do

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Saiba MaisEsta teoria recebeu o nome de “mecanicismo”. Saiba mais sobre ela, a partir de seu maior representante, em:<http://www.nexos.ufsc.br/index.php/peri/article/viewFile/80/29>

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saber, a uma reaproximação da ciência aos critérios dedutivos da filosofia. Discutiremos este tópico a seguir, ainda nesta aula.

No que tange às semelhanças e diferenças entre o conhecimento científico e o popular, o ponto de contato mais forte está na sua qualidade empírica – embora o conhecimento popular seja muitas vezes marcado pelo místico, tem sempre um objetivo prático a ser alcançado. O que o difere do científico são o seu caráter tradicional (não há conhecimento popular de ponta) e sua pouca preocupação com a reflexão sobre os sistemas de que faz uso. Embora o conhecimento científico pareça estar, à primeira vista, bastante acima do popular, nosso dia a dia é marcado pela predominância deste conhecimento. Um exemplo típico está na área da educação familiar. Não há pai ou mãe que confie toda a educação, por exemplo, às conquistas e metodologias da psicopedagogia moderna. Em vários momentos o que prevalece é a tradição, o que foi herdado de nossos pais e avós, e que define tanto do que somos hoje.

A separação dessas quatro formas de conhecimento obedece a critérios analítico-pedagógicos, já que não encontramos formas de conhecimento em “estado puro”. O que há são tendências predominantes de uma ou de outra esfera, mas sempre com a presença de outras. A religião, por exemplo, está sempre ligada seja à filosofia, quanto mais “intelectuais” os religiosos nela envolvidos, seja ao popular, que oferece a realidade concreta que será organizada e direcionada por ela. A ciência, por mais que possa julgar-se neutra, está sempre sujeita à visão de mundo do pesquisador, com seus pré-conceitos, suas crenças e sua cultura. Mesmo situações que pareçam partir puramente da observação podem ser entendidas como profundamente culturais. Poderíamos citar a famosa maçã de Newton. A história da queda da maçã como sendo um gatilho para as investigações sobre a gravidade (e a razão da lua não cair sobre nós como a fruta cai do galho da árvore) aponta para um interesse que vai muito além do cientista como “indivíduo”, pois o fato é que maçãs caem de árvores desde que macieiras existem. Apenas em um mundo que começa a valorizar a observação dos fatos como o local privilegiado do conhecimento faz sentido “estudar” a queda do objeto, buscando extrair do experimento as leis que movem o mundo. Na Idade Média, a queda de objetos faria mais sentido como “vontade divina” do que como lei quantificável a ser investigada.

Poderíamos ainda acrescentar a essas quatro esferas do conhecimento mais duas, geralmente ausentes de manuais de metodologia – o conhecimento jornalístico e o artístico. Quanto ao

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jornalístico, há um excelente artigo sobre o assunto de autoria do Prof. Eduardo Meditsch (2005), que discute o lugar específico do jornalístico como um conhecimento que vai além da forma tradicional de vê-lo como estando entre o popular e o científico. Já o artístico, tem sido bastante reconsiderado nas últimas décadas como recurso importante para a apreensão do mundo e atuação nele pela criatividade e pela fantasia. O espaço artístico parece possibilitar formas de dizer algo sobre o mundo que não poderia ser dito da mesma forma por outros meios. Embora não haja espaço para esta discussão aqui, um autor que defende o conhecimento artístico como fundamental é Edgar Morin. Vale a pena conferir suas ideias em seu livro A cabeça bem-feita (2003).

Dito isto, falemos um pouco do método científico.

1.2 O Método Científico

Podemos definir “método” como um caminho a ser percorrido. Este caminho está presente em várias áreas da atividade e do conhecimento humanos. Há certamente a necessidade de um método de ação no mundo dos negócios, por exemplo, mesmo que os passos a serem seguidos não sejam teoricamente explicitados, dependendo mais da intuição ou do conhecimento prático da pessoa envolvida. Em nossas atividades cotidianas, também fazemos constantemente uso de métodos que muitas vezes passam despercebidos por nosso ser consciente. Basta lembrarmo-nos de quantas vezes alguém nos revelou, para a nossa surpresa, alguma mania nossa, marcada por um método, ou como percebemos no outro formas de agir bastante metódicas que lhe são invisíveis, tão invisíveis que, em alguma situações, podem causar constrangimento se reveladas.

O que caracteriza, então, o método científico? Um elemento que definitivamente o constrói é a sequência racional das ações que constituem este processo ou caminho. Há, para falar de outra forma, uma organização lógica entre os vários momentos de uma pesquisa científica que é planejada e alterada de acordo com as necessidades impostas pelo próprio processo. Se devemos desenvolver um trabalho de campo sobre as tendências políticas de determinado eleitorado, há um processo, ou método, que depende, para o sucesso da pesquisa, de um estudo detalhado deste eleitorado que permita a elaboração de questões pertinentes e das

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quais possamos extrair material suficiente para possíveis generalizações, sempre limitadas pelo escopo da pesquisa. Mas também se deve fazer um estudo das metodologias estatísticas à disposição, para que detenhamos um repertório suficiente para uma escolha adequada às necessidades do trabalho a ser realizado. O método deverá ainda determinar as formas de coleta dos dados, sua organização, seleção e classificação, sempre tendo em vista uma conclusão satisfatória. A razão, então, ou a lógica racional, é um elemento indispensável para um método científico bem elaborado.

Mas a filosofia também faz uso de um método racional. Então, outro elemento distintivo deve ser considerado, uma vez que há uma diferença real entre o método filosófico e o científico. O que torna a ciência “científica” é um método que una a razão à observação dos fatos. A razão é compartilhada pela ciência e pela filosofia; a observação empírica, por sua vez, é comum à ciência e ao conhecimento popular. Contudo, razão e observação juntas constituem a marca do método científico. Isso não significa que devamos necessariamente fazer uso do método científico (razão + observação) em nossa pesquisa acadêmica. Há áreas de pesquisa acadêmica que trabalham sobre hipóteses não verificáveis, aproximando-se de linhas de um método filosófico. Outras áreas dependem tanto do método científico como do filosófico para desenvolverem seus trabalhos. Seria interessante agora discutirmos o que seria o método indutivo e o dedutivo, para então retomarmos a questão de sua aplicabilidade.

1.3 Dedução e Indução

Talvez, de forma genérica, possamos dizer que o método dedutivo seja o coração da filosofia, e o indutivo, o da ciência. A diferença essencial entre ambos é o movimento do pensamento lógico que, no primeiro caso, move-se do geral para o específico e, no segundo, do específico para o geral. O silogismo aristotélico, como formulação básica da dedução, é o exemplo mais frequente a que recorremos para exemplificar este encadeamento lógico de ideias:

• Todo ser humano é mortal.

• Sou um ser humano.

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• Portanto, sou mortal.

As três partes deste raciocínio são nomeadas “premissa maior”, de caráter geral, “premissa menor”, específica, e “conclusão”. Parte-se do que é aceito como verdade geral, de um axioma, para, através de uma premissa intermediária e específica, chegar-se a uma conclusão também verdadeira. O pensamento, movendo-se do geral conhecido à sua concretização, tem como um de seus fundamentos o conhecimento do mundo específico a partir das leis que o regem.

Como o encadeamento dos três momentos do silogismo é fundamentalmente racional, uma falsa lógica pode causar a impressão de verdade no que é falso ou parcialmente falso:

• Cão que ladra não morde.

• Este cão ladra.

• Portanto, não morde.

O erro, tomar o provérbio, de fundo moral, como axioma, pode levar a uma bela mordida na perna. Neste caso, a primeira premissa é falsa, por não comportar, em sua generalização, uma verdade ou mesmo algo que se aproxime de uma verdade – há muitos cães que ladram e mordem. Pode acontecer da lógica que articula as premissas não ser correta, ou ser ambígua, produzindo um raciocínio distorcido da realidade:

• A natureza é movida pela lei do mais forte.

• Eu sou mais forte.

• É natural que eu te domine.

O erro lógico aqui advém do fato do ser humano não ser movido unicamente por forças instintivas, mas possuir cultura e política. Em sociedades complexas como a nossa, a força muitas vezes provém de privilégios sociais que garantem sua legitimidade institucional. De outro lado, a mera aplicação da força física para a dominação do outro pode levar o indivíduo a atos passíveis de penalização, o que não ocorre na natureza.

O pensamento dedutivo foi retomado na modernidade por Descartes. Sua nova estruturação

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lógica, mais complexa, parte de uma evidência que é então analisada através de sua fragmentação. A análise busca localizar e isolar as partes constitutivas do objeto de estudo para reconstruir o todo através da síntese. Esta é uma forma de conhecimento mais profundo da evidência. Como a evidência, neste caso, pode ser hipotética, a ser ou não confirmada pela análise, o método possui grande potencial para a pesquisa. É usado, sobretudo, quando o estudo parte de formulações gerais já aceitas socialmente ou na comunidade científica. Também faz parte de toda pesquisa de raiz filosófica, corrente de pensamento construída a partir da formulação de hipóteses sobre as quais encadeamentos lógicos complexos das ideias são construídos. Profundamente racional, o método dedutivo pode atingir graus bastante abstratos, caso o encadeamento lógico não esteja de alguma forma atrelado ao mundo “vivido” da experiência sensível.

A indução apresenta um movimento oposto de apreensão da realidade ao da dedução e é parte intrínseca da nova ciência, em sintonia com a proposta humanista do mergulho no real sensível. O que mudou, entre tantas coisas, foi a própria concepção do real. Como vimos acima ao comentarmos o interesse de Newton pelas leis que movem o mundo sensível, desde que maçãs existem, elas caem das árvores quando maduras. Esta é uma evidência que poderia criar um silogismo simples: toda a maçã madura, salvo se for antes arrancada ou devorada por algum animal, cai da árvore. Esta é uma maçã madura presa a uma árvore. Portanto, dadas as ressalvas anteriores, cairá. O exemplo é apenas para chamar a atenção ao fato de que a evidência esteve sempre presente por toda a história do ser humano. Porém, é num determinado período histórico, denominado humanismo, parte de um movimento mais amplo de ascensão da classe burguesa, que emerge o interesse por investigar esta evidência, vista como fenômeno a ser estudado. A diferença em relação ao pensamento dedutivo é que agora não se parte de uma hipótese pré-estabelecida. É a análise dos elementos constitutivos do fenômeno que vai tornar possível a indução de hipóteses. A reprodução do fenômeno em condições controladas – o experimento – permite a contínua verificação das hipóteses induzidas e sua reformulação constante. Quando a quantidade e a qualidade dos experimentos permitem a formulação de uma forte tendência, esta é examinada até que alcance o grau de generalização de uma lei geral. Contudo, esta lei geral, se genuinamente científica, não tem a pretensão de ser Verdade Eterna, uma vez que novos estudos, realizados pelo mesmo pesquisador ou por outros na mesma época ou em épocas posteriores, pode mostrar as

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limitações ou mesmo os erros desta generalização, produzindo novas leis gerais.

Há pouco espaço para o purismo quando falamos desses métodos. O método indutivo, quando se estruturou como ciência, foi muitas vezes considerado o único capaz de revelar a verdade do mundo, como diz Francis Bacon no aforismo XIV de seu Novum Organum:

O silogismo consta de proposições, as proposições de palavras, as palavras são o signo das noções. Pelo que, se as próprias noções (que constituem a base dos fatos) são confusas e temerariamente abstraídas das coisas, nada que delas depende pode pretender solidez. Aqui está por que a única esperança radica na verdadeira indução.

Porém, dizer que devemos ser totalmente indutivos para podermos realizar o ideal de uma ciência imparcial é uma grande utopia, uma vez que não há pesquisador que possa remover, de sua pesquisa, seus conhecimentos, interesses e perspectivas de ordem cultural. Como vimos, o próprio fato de se olhar de forma diversa a maçã caindo de uma árvore não é fruto da genialidade de um homem, mas de um interesse coletivo gerado por uma nova concepção de mundo – a verdade não estava mais nos desígnios místicos de Deus, mas na observação dos fenômenos para o descobrimento das leis que movem o mundo físico. Não se deve partir do pressuposto de que só a indução é válida – tudo depende da área de atuação da pesquisa e da corrente crítica que se segue. A arqueologia, por exemplo, tem nas evidências encontradas nos sítios arqueológicos material para muita pesquisa indutiva, mas não pode se privar da construção de hipóteses que preencham os espaços vazios entre o que se tem para observação e formas de vida de uma época histórica inacessível em sua totalidade.

A que tudo isso nos serve? O importante é que tenhamos consciência do que estamos fazendo. Nossa pesquisa parte do geral ou do específico? O que queremos provar? Há a necessidade da formulação de hipóteses a serem testadas? Qual o caminho metodológico que nossa pesquisa percorrerá? Haverá levantamento de dados? Como se realizará a análise dos dados? De forma quantitativa, qualitativa ou ambas? Quanto mais claras essas questões estiverem em nossa mente, mais provável será que produzamos um trabalho de qualidade. Saber se o argumento percorre o caminho da generalização ou da especificação, e como o faz, possibilita que mantenhamos clara a espinha dorsal de nosso texto, não criando monstruosidades em sua forma.

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1.4 Trabalhos de Divulgação e Trabalhos Comparativos

O argumento de um artigo necessita ser sempre dedutivo ou indutivo? Não. Um artigo científico pode seguir outros modelos. Há bons artigos que funcionam como material de divulgação. Pega-se um livro importante e difícil, por exemplo, e após uma leitura e análise atentas do material, escreve-se um artigo explicitando o argumento central do livro, como ele se insere na obra do autor, como se insere na discussão teórica da qual faz parte, etc. Esse trabalho, de caráter didático, é relevante e bastante útil, dada a impossibilidade de tempo para lermos tudo o que nos interessa. Há teses de mestrado, e mesmo de doutorado, que funcionam nessa linha, situando determinada obra no trabalho do autor e/ou no desenvolvimento de teorias em determinada época e local. Em uma entrevista para o programa de radio Radioscopie1, em 7 de fevereiro de 1973, Jean-Paul Sartre faz um comentário interessante sobre os trabalhos de divulgação de seus escritos por outras pessoas.

No entanto, concordo que minhas obras filosóficas não são, na verdade, legíveis a não ser por filósofos. No entanto, pela mediação, elas atingirão o povo, pelos homens que a lerão e darão a ela uma forma mais acessível. Notei muitas vezes, após escrever, que há pessoas que escrevem melhor. Os professores, por exem-plo, que explicaram melhor o existencialismo, que eu não expliquei em O ser e o nada. Simplesmente porque, naquele momento, talvez fosse necessário inventar, compreender as coisas novas.

O trecho esclarece a importância do trabalho de divulgação tanto para fins pedagógico-escolares quanto para enriquecer a discussão no próprio meio científico-acadêmico. Se o trabalho for sério, certamente será bem recebido.

Outro tipo de artigo que não implica necessariamente na utilização dos métodos de indução e dedução é o trabalho de comparação e enfrentamento entre teorias. Também de grande relevância no meio acadêmico, permite mapeamentos bastante frutíferos de discussões teóricas. Muitas vezes cedemos a um ecletismo vulgar, que aproxima teorias que são, na verdade, diametralmente opostas. Trabalhos comparativos sérios permitem que compreendamos melhor o que está em jogo em teorias as mais diversas, o que está sendo defendido e o que está sendo questionado. Toda teoria é uma intervenção em uma discussão, embora muitas vezes não explicitada. Uma pesquisa desse tipo pode contribuir muito para o amadurecimento intelectual do pesquisador.

1 Entrevista realizada em 7 de fevereiro de 1973 por Jacques Chancel em seu programa Ra-dioscopie. Texto original (em francês) disponível em: <http://www.sartre.ch/Radioscopie.pdf>. Aces-so em: 3 mar. 2014.

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2. As Ciências Naturais e as Ciências Humanas

Como vimos, a ciência moderna inicia-se no humanismo como fundamentalmente empírica, atenta aos fatos, ao seu isolamento, à sua repetição e à sua análise com o objetivo de deles extrair leis gerais que os descrevam. O seu potencial foi e é extraordinário – basta vermos o desenvolvimento surpreendente das máquinas, que caminharam desde os primeiros relógios e teares mecânicos até os nossos sofisticados computadores, motores automotivos, etc. Mas essa forma de ver o mundo encontrou, sobretudo no século XIX, com o surgimento da sociologia e da psicologia modernas, dificuldades bastante grandes na transposição de um conhecimento acumulado por meio de um estudo das forças da natureza para o estudo do comportamento humano. O homem não é apenas natureza, é movido por interesses e desejos em dinâmica constante, dadas as relações sociais que constroem sua identidade. Assim, se é possível formular uma lei que descreva com exatidão fenômenos causados pela gravidade em todo o planeta e mesmo em outros astros, é muito mais difícil criar fórmulas que deem conta do comportamento psicológico humano ou que determinem com precisão o movimento da economia.

Diante disso, novas construções teóricas foram desenvolvidas, gerando por vezes uma grande disparidade entre as ciências naturais e as humanas, ou entre as ciências humanas baseadas nas teorias das ciências naturais e as ciências humanas mais preocupadas em entender o espaço não natural (sociológico, histórico, político e cultural) do homem. Deve-se ter em mente essa diferença para que não se corra o risco de avaliar erroneamente uma teoria, exigindo fundamentações que não são parte de seu núcleo duro. Por exemplo, a história não pode ter a precisão da física mecânica. Se às vezes aspira a essa “exatidão”, corre o risco de destruir o objeto que estuda – o ser humano, em prol de uma regularidade que, embora possa responder por certas tendências da história, não podem dar conta de toda a realidade do ser humano. Um dos grandes avanços na historiografia moderna, por exemplo, foi o questionamento da visão tradicional da história como uma história construída pela ação de grandes homens que sucedem uns aos outros em um movimento contínuo em direção ao futuro. O questionamento desse ideal teleológico (o “telos” do progresso, um caminho que seria marcado pelo avanço tecnológico e do processo civilizatório) é feito, nessa nova historiografia, pela constatação de que a história não é um caminho rumo ao progresso, mas uma sequência de lutas. Os que

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ganham e marcam seu lugar na história não são necessariamente os “melhores”, mas os mais fortes, com mais recursos, com mais homens e/ou mais estratégia. Essas qualidades, tão vinculadas ao ideal de guerra, não são necessariamente as qualidades que possibilitariam o progresso ético-moral do ser humano, por exemplo. A obra que melhor ilustra essa nova historiografia é A formação da classe operária inglesa, de E. P. Thompson, contando a história da classe operária como uma sequência de luta, de vitórias e de perdas, sempre opondo seus ideais de comunidade aos ideais individualistas burgueses. No caso em questão, a força da obra está no fato das generalizações não “passarem por cima” do levantamento de dados, mas serem construídas a partir deles ou como hipóteses a serem neles testadas.

Dependendo da área de pesquisa em que estamos envolvidos, critérios tanto metodológicos quanto da exposição dos argumentos mudam. Se, por exemplo, trabalhamos com um tema que procura articular certa corrente política com as forças culturais de determinada sociedade, essa relação cultura/política não pode ser transformada em números exatos, nem ser prevista com grande acuidade, como pode ser prevista a velocidade de um corpo caindo em condições específicas determinadas. Da mesma forma, com todo o conhecimento exato dos elementos químicos que agem no nosso corpo, a medicina não pode assegurar a cura total de uma doença. São tantas as forças determinantes, nas quais entra inclusive a disposição psicológica do doente em se curar, que qualquer afirmação categórica pode se mostrar falsa.

A indução e a dedução, dessa forma, embora marcadas pelo pensamento científico e pelo filosófico respectivamente, estão presentes, em graus variados, nas pesquisas as mais diversas. As ciências exatas podem ser muito dedutivas, especialmente quando atingem um alto grau de abstração. A matemática é um bom exemplo de uma área que permite tanto estudos indutivos quanto estudos altamente dedutivos, quando as relações internas entre os números ganham autonomia, distanciando-se do mundo empírico. Do mesmo modo, a economia pode ser estudada indutivamente, colocando à prova teorias existentes e produzindo outras a partir de pesquisas de campo, ou se fechar em amplos mapeamentos de ciclos históricos que se baseiam mais em equações matemáticas do que em um conhecimento do comportamento humano. As ciências humanas enfrentam constantemente essa dificuldade da presença de concepções bastante diversas, umas se aproximando das ciências naturais, com a produção de leis mais fixas e quantificáveis, aos poucos se distanciando do ser humano concreto, e outras procurando entender o ser humano no mundo, com trabalhos de campo mais empíricos e amarrados ao mundo concreto.

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3. Problemas Comuns

O artigo de conclusão do nosso curso de especialização pode percorrer tanto uma via mais dedutiva quanto uma mais indutiva. Contudo, o que deve estar sempre em pauta no momento da pesquisa e da escrita é que, independentemente do caminho metodológico tomado, o argumento tem de ser movido por critérios lógico-racionais. Vimos no início dessa aula os tipos de conhecimento. Tanto o religioso quanto o popular não podem ser pilares de sustentação do nosso argumento. Dizer que o líder deve ser persistente, justo e sincero, por exemplo, é algo de uma generalidade gritante. Uma pesquisa que se proponha a trabalhar com essas qualidades teria de, por exemplo, examiná-las em situações e momentos históricos específicos – quais as características de persistência que contribuem para uma boa gestão em uma empresa familiar? Como fazer com que a empresa X, que implantou uma gestão estratégica mais arrojada há cinco anos, solucione problemas em sua gestão, ainda amarrada a ideais de persistência mais funcionais em uma hierarquia vertical? Estes são problemas específicos que podem ser trabalhados de forma lógico-indutiva.

Mantendo o exemplo do líder, outro problema frequente é o da falta de método. É comum que alunos venham com uma listagem de qualidades do líder, por exemplo, tiradas de algum livro sobre o assunto, mas sem organizar os “itens” expostos seja dedutivamente, mostrando como essas qualidades se resolvem na prática, modificando-se em situações específicas diversas, seja indutivamente, mostrando como a prática pode ser generalizada em certas tendências mais amplas, mas sempre como generalizações que não podem ser simplesmente aplicadas como se fossem uma panaceia para todos os males. Temos de ter em mente que teorias são sempre generalizações e, consequentemente, sempre redutivas. São traços gerais retirados dos objetos de estudo a partir de um ponto de vista específico, nunca abarcando o objeto em sua completude. Uma teoria que desse conta de toda a realidade não seria mais teoria, mas a realidade propriamente dita. Façamos uso de teorias, mas para tal é preciso que trabalhemos com um método de aplicação; coloquemo-nas em xeque, trabalhando indutivamente ou comparando-as com outras teorias.

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Vamos pensar

Faça uma pesquisa sobre a história da sua cidade e verifique se houve casos de governantes que “adotaram” o patrimonialismo como forma de governo. Veja se houve condenações e faça um texto comparativo com o momento atual.

Pontuando

Vimos nesta aula os seguintes pontos importantes:

• A Verdade da ciência.

• Os tipos de conhecimento.

• As características da ciência.

Referências

ALVES, Rubem. Filosofia da ciência. São Paulo, Ars Poética, 1996.

BACON, Francis. Novum Organum. Arquivo eletrônico. Site: TRIPLOV.com.org. Disponível em: <http://www.triplov.com/hist_fil_ciencia/francis_bacon/novum_organum/index.htm>. Acesso em: 3 mar. 2014.

CERVO, A. L. & Bervian, P. A. Metodologia Científica. São Paulo: Makron Books, 1996.

DANTON, Gian. Metodologia Científica. MG: Virtual Books, 2002. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/6638241/Gian-Danton-Metodologia-Cientifica>. Acesso em: 3 mar. 2014.

Edgar MORIN. A cabeça bem-feita. RJ: Ed. Bertrand Brasil LTDA, 2003.

LAkATOS, E. Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1991.

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MEDITSCH, E. O jornalismo é uma forma de conhecimento? Media & Jornalismo, Brasil, v. 1, n. 1, 2005. Disponível em: <http://revistas.univerciencia.org/index.php/mediajornalismo/article/view/1084/5273>. Acesso em: 3 mar. 2014.

RODRIGUES, André Figueiredo. Como elaborar citações e notas de rodapé. SP: Humanitas, 2007.

______ . Como elaborar e apresentar monografias. SP: Humanitas, 2008.

______ . Como elaborar referência bibliográfica. SP: Humanitas, 2008.

SIMÕES, Darcília. Trabalho acadêmico. O que é? Como se faz? Rio de Janeiro: Dialogarts, 2004. Disponível em: <http://www.dialogarts.uerj.br/arquivos/trabalhoacademico2004.pdf>. Acesso em: 3 mar. 2014.

Referências

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TEMA 02NormatizaçãoNesta segunda unidade temática, as aulas apresentam a importância e a necessidade de normatização dos trabalhos científicos, considerando-se a padronização alcançada com tal procedimento. Assista às aulas quantas vezes quiser, faça suas anotações e busque se aprofundar nos temas apresentados – lembre-se de que a prática constante da normatização (aplicação das regras) leva à rápida assimilação!

* Os vídeos podem ser acessados apenas na versão interativa, disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem.

Parte 1* Parte 2*

Clique aqui para baixar o slide da Aula 2

(Parte 1).

Clique aqui para baixar o slide da Aula 2

(Parte 2).

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LEGENDA DE ÍCONES

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seções

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Início

Pontuando

Referências

Vamos pensar

Glossário

Gabarito

Verificaçãode leitura

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Aula

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Normatização

Objetivos

• Auxiliar o aluno na formatação e normatização de seu artigo científico.

• Expor a formatação e normatização de artigos científicos.

1. O Formato SARE

Os artigos científicos resultantes de sua pesquisa devem seguir alguns padrões e normatizações vigentes. Veremos nesta aula algumas destas normas.

A primeira forma é a do SARE (Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas), você deve seguir esta formatação somente se quiser publicar seu artigo nas revistas da Anhanguera Educacional. Se não for o que pretende, deve seguir as demais normatizações e a estrutura descrita em seu Manual de TCC.

O formato SARE está disponível para download. O acesso direto ao documento pode ser feito pelo link Modelo_Artigo_AESA.doc. O texto desse arquivo é uma explicação detalhada de como o modelo funciona. Contudo, como a formatação possui seções diversas para o título, subtítulo e texto, seu uso pode apresentar problemas para pessoas que não estão muito familiarizadas com os recursos do Word. Algumas dicas podem tornar o seu manuseio bastante simples. Primeiro trataremos dos textos escritos diretamente no SARE, e depois discutiremos o problema da importação de documentos para esse formato.

1.1. Escrevendo no SARE

Como dito acima, o SARE possui vários estilos para formatações diversas. Todos esses estilos podem ser selecionados no ícone “estilo” do Word. Essa ferramenta oferece acesso direto a toda formatação do texto, como vemos a seguir:

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Figura 2.1 Tela de Estilos I

Clicando sobre o ícone “subseção”, por exemplo, temos o formato automaticamente selecionado no texto. Toda a formatação do SARE está lá, incluindo inclusive a formatação dos itens, numeração, legendas. Se o ícone “mostrar visualização” for pressionado, você tem acesso inclusive ao estilo real da fonte, como na imagem abaixo:

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Figura 2.2 Tela de Estilos II

Com um pouco de prática este recurso pode ser usado com muita facilidade.

Contudo, podem permanecer algumas dúvidas quanto à formatação do arquivo. Faremos, então, uma descrição de como o SARE funciona, apontando problemas que possam ocorrer e maneiras de se formatar o texto manualmente.

Comecemos pelo título e pelo subtítulo. O SARE possui formatações específicas para o título e para o subtítulo. O título, em abóbora (cor personalizada) e fonte arial narrow tamanho 14, não aceita letras minúsculas. O subtítulo, em arial 12, deve ser escrito com as primeiras letras em maiúsculo, com exceção de artigos, preposições e conjunções. Uma forma de se trabalhar com essa formatação é digitar no próprio título disponível no modelo, excluindo o que está escrito. Quem for utilizar este sistema, deve “guardar” um título e um subtítulo para que, sempre que necessário, corte-o e cole-o no lugar devido.

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2. Título Para Uso Posterior

2.1. Subtítulo Para Uso Posterior

A numeração é automática. Uma vez colado o título ou o subtítulo, a numeração será reorganizada de acordo com as seções e subseções do texto. Para começar a escrever, basta pressionar <enter> e a fonte muda para book antiqua tamanho 11. O primeiro parágrafo não possui paragrafação. A partir do segundo, a paragrafação passa a ser 1,5. Esse ajuste também é automático.

2.2. Título

• O primeiro parágrafo se inicia colado à margem esquerda.

• O segundo parágrafo se inicia com recuo esquerdo de 1,5cm. O mesmo ocorre com o subtítulo.

Pode-se proceder da mesma forma para o título e subtítulo do artigo – basta selecionar o texto e escrever sobre ele. No final do modelo, há espaço para agradecimentos e depois para as referências bibliográficas. Mantenha o formato original – essas seções não são numeradas.

Quanto a tabelas e figuras, o título deve ser colocado acima das tabelas e abaixo das figuras. Para tabelas, use letra Times New Roman tamanho 10, espaçamento simples, 6 pt antes e 3 pt depois; e para figuras Times New Roman tamanho 10, espaçamento 1,5 linhas, 3 pt antes e 3 pt depois). Exemplo:

Tabela 1 – Exemplo de um Título para uma Tabela.

Figura 3 – Exemplo de uma imagem inserida no artigo.

Há no arquivo SARE um modelo de gráfico. Use a formatação indicada, acrescentando ou eliminando linhas e colunas conforme a necessidade.

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Quanto ao cabeçalho, no topo da página pode-se ler, no arquivo do formato SARE, “título do artigo” nas páginas pares e “nome do autor” nas páginas ímpares. Para modificar o texto, basta clicar duas vezes sobre o cabeçalho, selecionar o trecho e digitar os dados por cima. O procedimento deve ser realizado em uma página par (título) e em uma página ímpar (autor). A formatação é automática (letra arial tamanho 8, espaçamento simples, antes 30 pt, depois 0 pt). Deve-se manter a formatação pedida – no título, somente substantivos próprios devem vir com a primeira letra em maiúsculo.

Na primeira página, canto esquerdo, há a frase “nome da revista”. Seu preenchimento será realizado apenas em caso de publicação. Acerte apenas o ano. Na parte “autor”, coloque seu nome, unidade e email:

autorafiliação autoremailautor@dominioAndré Luiz GlaserAnhanguera Educacional – Unidade [email protected]

No caso de mais de um autor, basta repetir o procedimento. Porém, não se deve colocar na parte “coautor” o nome do orientador. O orientador não é coautor! Pode-se colocar o nome do orientador em nota de rodapé ou na seção “agradecimentos”.

No caso de mais de um autor, basta repetir o procedimento. Porém, não se deve colocar na parte “coautor” o nome do orientador. O orientador não é coautor! Pode-se colocar o nome do orientador em nota de rodapé ou na seção “agradecimentos”.

2.3. Importando Documentos para o SARE

Há várias situações em que essa importação se faz necessária, as mais comuns sendo quando há textos escritos anteriormente e no caso de citações diretas. A importação de documentos para o arquivo do SARE pode ser feita de duas formas: pré-formatando o documento ou o colando no SARE, selecionando-o e então escolhendo, na seção ‘estilo’, o estilo apropriado. Esta última é a forma mais simples, mas, para os que queiram trabalhar manualmente, abaixo serão explicados os passos para a formatação.

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Antes de cortar o documento, devem ser realizados os seguintes procedimentos:

• O texto deve ser justificado e formatado em espaço 1,5 cm com a letra book antiqua tamanho 11. Em seguida, deve-se entrar na seção “parágrafo” do Word para formatar as margens. O novo padrão é:

RECUO: esquerda 1, direita 0.

ESPAÇAMENTO: antes 3 pontos, depois 3 pontos (provavelmente os números deverão ser digitados – o procedimento automático pula de 0 para 6 pontos). Para isso, no Word 2007, o ícone “início” deve ser clicado (barra de ferramentas no topo) e, em seguida, o ícone “parágrafo”. Na versão antiga, deve-se procurar o ícone “formatar parágrafo”. O texto, então, deve ser transferido em blocos (subseções), cortando e colando no SARE.

• O resumo e o abstract possuem letra book antiqua tamanho 10 e espaçamento simples entre as linhas (incluindo as palavras-chave). A formatação é:

RECUO: esquerda 0, direita 0.

ESPAÇAMENTO: antes 0 pontos, depois 12 pontos (no caso das palavras-chave, o espaçamento é antes 0 pt, depois 0 pt).

• A Bibliografia possui a mesma letra das páginas do texto, mas em fonte tamanho 10 e espaço simples sem justificação. As margens e espaçamento são:

RECUO: esquerda 1, direita 0.

ESPAÇAMENTO: antes 3 pontos, depois 3 pontos.

Se, ao colar o texto, a formatação aparecer como a da seção título ou subtítulo, basta pressionar o ícone para voltar este passo, digitar qualquer letra no novo parágrafo, colar novamente e depois apagar a letra. Isso pode ocorrer quando o texto a ser colado vier logo após um título ou subtítulo. Vamos ao exemplo. Quero importar um parágrafo de um texto sobre tradução. Ao colar o documento já formatado como especificado acima, logo após o título da seção (“A tradução hoje”), tenho esse resultado:

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3. A TRADUÇÃO HOJE

AO FALARMOS DE TRADUÇÃO, NÃO ESTAMOS DISCUTINDO UMA ESFERA AUTÔNOMA, CAPAZ DE ESTABELECER SUA PRÓPRIA PROBLEMÁTICA COMO INERENTE AO SEU CAMPO DE AÇÃO, EXCLUINDO-SE, MESMO QUE PARCIAL-MENTE, A ESTRUTURA SOCIAL MAIS AMPLA. ASSIM, TORNA-SE INGÊNUO DIS-CUTIR UM “GRAU DE OBJETIVIDADE” QUE PERMITA GERAR UMA TRADUÇÃO “IMPARCIAL”.

Vejam que o parágrafo foi incorporado ao texto com a formatação do título, ou seja, o modelo SARE não reconheceu que se trata de uma nova seção. A forma mais prática de resolver este problema seria digitar qualquer letra, ou mesmo espaço, antes da colagem:

3. A TRADUÇÃO HOJE

Z Ao falarmos de tradução, não estamos discutindo uma esfera autônoma, capaz de estabelecer sua própria problemática como inerente ao seu campo de ação, excluindo-se, mesmo que parcialmente, a estrutura social mais ampla. Assim, torna-se ingênuo discutir um “grau de objetividade” que permita gerar uma tradução “imparcial”.

Após o procedimento, não se esqueça de apagar o caractere ou espaço incluído, neste caso, a letra Z.

2.4. Algumas Dicas de Formatação

No caso de trabalhos de módulo com a formatação tradicional, as margens são: esquerda 3 cm, direita 2 cm, superior 3 cm, e inferior 2 cm. Os parágrafos devem ser justificados e a paginação no canto superior direito. Utilize espaço 1,5 e, preferencialmente, as letras Times New Roman ou Arial. Para a formatação da Falsa Folha de Rosto, da Folha de Rosto e do Sumário consulte o site Fazendo Acontecer, que apresenta figuras para facilitar o uso das ferramentas do Word, ou qualquer material similar. O resumo e o abstract devem vir com espaço simples e devem ser seguidos pelas palavras-chave e keywords (de 3 a 6).

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3. O Problema do Plágio

O plágio merece uma seção à parte, dada a sua frequência nos trabalhos acadêmicos nos dias de hoje. O uso constante do computador e, sobretudo, da internet tem gerado uma cultura “corta e cola” inaceitável do ponto de vista acadêmico, mas é cada vez mais frequente nas atividades escolares, desde trabalhos de menor porte até monografias, dissertações e teses. É surpreendente que isso ocorra, visto que o trabalho intelectual não é contra o diálogo com outros textos, mas sim o recomenda vivamente, basta que as referências sejam colocadas para que o plágio deixe de existir. O plágio consiste, basicamente, na apropriação indevida do texto ou ideias do outro. Como nos lembra o advogado e professor José Augusto Paz Ximenes Furtado, em artigo publicado no site Jus Navigandi, em setembro de 2002:

No Código Penal em vigor, no Título que trata dos Crimes Contra a Propriedade Intelectual, nós nos deparamos com a previsão de crime de violação de direito autoral – artigo 184 – que traz o seguinte teor: Violar direito autoral: Pena – de-tenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. E os seus parágrafos 1º e 2º, consignam, respectivamente:

§1º Se a violação consistir em reprodução, por qualquer meio, com intuito de lu-cro, de obra intelectual, no todo ou em parte, sem autorização expressa do autor ou de quem o represente, [...]: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, [...].

§ 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, empresta, troca ou tem em depósito, com intuito de lucro, original ou cópia de obra intelectual, [...], produzidos ou re-produzidos com violação de direito autoral.

Um pouco adiante, o Professor Furtando lembra que a Constituição Federal diz, em seu artigo 5º, XVII, que:

[...] aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodu-ção de suas obras, (...). E a devida proteção legal em legislação ordinária nós a encontramos na Lei nº 9.610/98, mais precisamente nos seus artigos 7º, 22, 24, I, II e III, e 29, I.

Porém, a citação com as devidas referências não constitui plágio:

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Mas, se a própria Lei acima citada, nos informa, no seu artigo 46, III, que não se constitui ofensa aos mencionados direitos, a citação em livros, jornais, revistas ou em qualquer outro meio de comunicação, de trechos de qualquer obra, desde que sejam indicados o nome do autor e a proveniência da obra, aonde consta-taremos a incidência dessa contrafação (reprodução não autorizada) tão grave, especificamente entendida na sua forma conhecida como PLÁGIO? Exatamente no modo como o plagiário se apossa do trabalho intelectual produzido por ou-trem.

Ainda no mesmo artigo, o Professor Furtado cita então, como abominável, uma prática muito comum no meio escolar:

O plagiário recorre dolosamente aos expedientes mais sutis, porém não menos recrimináveis, e não reluta em fazer inserções, alterações, enxertos nas ideias e nos pensamentos alheios, muitas vezes apenas modificando algumas palavras, a construção das frases, a fim de ludibriar intencionalmente e assim prejudicar, de forma covarde, o trabalho original de alguém e ofendendo os direitos morais do seu verdadeiro autor.

O assunto é da maior seriedade, sobretudo pela aparente falta de informação dos alunos com relação à ilegalidade do plágio. A cultura “corta e cola” mencionada acima, que ganha cada vez mais espaço com o crescente uso dos computadores pessoais, não é, em si, ilegal. Cortamos e colamos constantemente material para a nossa leitura diária, enviamos trechos copiados a amigos por email ou em redes sociais, cortamos e colamos partes de nossos próprios textos em nossos trabalhos. O uso contínuo desse recurso, contudo, nos induz a “facilitarmos nossa vida”, inserindo em nosso texto trechos retirados de outras fontes sem colocarmos as devidas referências. Há casos piores, e infelizmente frequentes, em que, como comentado na citação acima, o texto plagiado é “levemente modificado” em uma tentativa intencional de ludibriar o leitor.

Uma vez detectado o plágio, o aluno terá de responder por ele. Não vale a pena arriscar a ter um artigo recusado por conta de algumas páginas sem as devidas referências. E mesmo que o aluno tenha “sorte” e o trabalho seja aprovado sem que o plágio tenha sido detectado, haverá sempre a possibilidade de um leitor futuro conhecer a fonte original e denunciar o autor. Hoje em dia, grande parte dos trabalhos de final de curso, ao invés de ser enviada para bibliotecas em forma de material impresso, é alojada em bancos de dados de acesso aberto na internet. Um plágio pode vir a ser detectado mesmo anos após sua publicação, podendo gerar processos e perda do título adquirido.

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Como, então, citar? As citações podem ser literais ou livres (paráfrases). Para as citações literais, que consistem na importação do texto original sem alterações, as aspas são usadas apenas se a citação for breve (até três linhas). Se for longa (mais de três linhas), deve-se usar um tamanho menor da fonte (no SARE, use book antiqua 9) e um espaçamento menor entre as linhas (em geral, de 1,5 para 1,0). Em ambos os casos, a pontuação antes da citação é a que melhor se adequar ao contexto. Há duas formas de colocar as referências: em nota de rodapé e na forma “autor-data”. Embora a ABNT recomende ambas, a tendência atual tem sido a de utilizar a forma “autor-data”. Nela, coloca-se entre parênteses o sobrenome do autor em letras maiúsculas, a data da publicação e o número da página, sempre separados por vírgula. Se o sobrenome vier no corpo do texto, não se usam letras maiúsculas. Exemplo:

a. Assim, define-se um novo gênero como “sempre a transformação de um ou vários gêneros antigos” (TODOROV, 1980, p. 34).

b. Segundo Todorov (1980, p. 34), um novo gênero “é sempre a transformação de um ou vários gêneros antigos”.

Se houver dois ou três autores, devem ser separados com ponto e vírgula. Se houver mais de três, usa-se apenas o primeiro sobrenome e, após, a expressão latina et alli, mais comumente usada de forma abreviada: et al.

Importante: Toda alteração feita em uma citação literal deve vir entre colchetes, seja ela uma omissão, um acréscimo ou uma alteração. Exemplo:

a. Omissão: “A visão conservadora, neste caso, está correta. [...] A ambiguidade do discurso mantém-se por toda a obra.” (Aqui as reticências marcam a omissão de uma parte do discurso original.)

b. Acréscimo: “Sua obra [a escrita em sua primeira fase, de 1890 até 1903], apesar de coesa, ainda não possuía uma maturidade literária.” (Aqui, o acréscimo clarifica ao leitor informações que só seriam acessíveis lendo trechos anteriores ao citado.)

c. Alteração: Segundo o autor, “[o] livro se constituiu num marco do pensamento científico.” (Aqui os colchetes marcam a alteração do “o” maiúsculo para o “o” minúsculo).

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Se o texto original apresenta erros ortográficos, problemas de coesão ou coerência textuais, não corrija. Coloque, após a passagem, (sic).

É importante ter em mente que não apenas as citações literais sem referências são plágio, mas também as paráfrases, que consistem na exposição, com as palavras do escritor, das ideias do outro. Essas exposições devem necessariamente conter, antes, após ou durante sua execução, as devidas referências ao texto original. Evidentemente as paráfrases, por não serem transcrições literais, não virão entre aspas ou destacadas do texto, como no caso das literais. Mas não basta (e essa é uma dúvida comum dos alunos) citar a obra usada apenas nas referências finais. Mesmo que o texto esteja nas referências, se houver paráfrase ou citação literal sem a devida indicação antes, durante ou depois da citação, há plágio. Aqui não há concessão possível.

A título de ilustração, vejamos como poderíamos construir uma paráfrase da citação do Professor Furtado já apresentada acima:

O plagiário recorre dolosamente aos expedientes mais sutis, porém não menos recrimináveis, e não reluta em fazer inserções, alterações, enxertos nas ideias e nos pensamentos alheios, muitas vezes apenas modificando algumas palavras, a construção das frases, a fim de ludibriar intencionalmente e assim prejudicar, de forma covarde, o trabalho original de alguém e ofendendo os direitos morais do seu verdadeiro autor.

Uma opção de paráfrase seria (no texto em que a paráfrase for usada, como visto acima, não há recuo ou mudança no tamanho da fonte, alterados aqui por se tratar de um exemplo):

Dentre os recursos ilícitos utilizados pelos plagiadores, o Professor Furtado (2002) cita as inserções e alterações que modificam o sentido do texto. Tal atitu-de, entendida como recriminável e covarde, possui, seguindo o autor, uma inten-ção de ludibriar o leitor e infringe os direitos do autor.

Outra opção de leitura bastante agradável se for feita, é a mistura de paráfrases e citações literais breves:

Dentre os recursos ilícitos utilizados pelos plagiadores, o Professor Furta-do (2002) cita “inserções, alterações, enxertos nas ideias e nos pensamentos alheios”, manobras vistas como sutis, “porém não menos recrimináveis”. Tal atitu-de, entendida como recriminável e covarde, possui, segundo o autor, a intenção de ludibriar o leitor, simultaneamente prejudicando o trabalho original e “ofenden-do os direitos morais do seu verdadeiro autor”.

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Outro problema bastante frequente que, caso citado incorretamente, também se configura como plágio, é o da citação da citação, que tem de ser feita com o famoso apud. A citação da citação pode ocorrer tanto na forma literal quanto na forma de paráfrase. Em ambos os casos, trata-se de citarmos um texto que já é uma citação no original que lemos. Para que as referências estejam corretas, é preciso citar primeiro a obra e/ou o autor de onde foi extraído o texto e, depois, a obra consultada. Vejamos a definição e exemplos fornecidos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, s/d), que são, eles próprios, citação de citação (o texto se inicia com a seguinte informação: “‘Menção de uma informação extraída de outra fonte.’ (ABNT, 2002, p.1)”:

Citação de Citação

Transcrição direta ou indireta de um texto em que não se teve acesso ao original, ou seja, retirada de fonte citada pelo autor da obra consultada.

Indicar o autor da citação, seguido da data da obra original, a expressão latina “apud”, o nome do autor consultado, a data da obra consultada e a página onde consta a citação.

Exemplo:

• Citações curtas e inseridas no parágrafo:

“O homem é precisamente o que ainda não é. O homem não se define pelo que é, mas pelo que deseja ser”. (GOMENSORO DE SÁNCHEZ, 1963 apud SALVADOR, 1977, p. 160).

Segundo o autor (SILVA, 1983 apud ABREU, 1999, p. 3) diz ser “[...] a educação compreende desde [...]”

• Citações longas e destacadas no recuo de 4 cm.

[...] com realidades como pobreza, menor, escolaridade, menor acesso a oportunidades laborais, maior chance de sofrer exploração no trabalho, desemprego, alcoolismo, dificuldades na família e/ou na escola entre outras tantas problemáticas as quais jovens de classe média. (FERNANDES apud RACOVSCHIK, 2002, p. 2).

Vejamos um último comentário sobre citação, um problema bastante frequente em trabalhos universitários. O aluno, ao discutir um tema específico, discorre sobre vários autores e suas articulações teóricas sem tê-los lido. O conhecimento desses autores foi realizado por meio de um livro que trata do assunto. Neste caso, não dar crédito para quem de fato realizou o

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árduo trabalho de ler obras completas de teóricos para torná-los acessíveis a um público mais amplo é, no mínimo, muito desonesto. Se não se tratar de uma paráfrase ou citação literal, informe o leitor que as informações forma extraídas do livro X, entre as páginas 34 e 67, por exemplo.

4. Referências Bibliográficas

Ao invés de repetirmos o que já foi escrito centenas de vezes, um domínio muito útil para checarmos a formatação padrão de trabalhos, que merece ser consultado frequentemente, é o da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que oferece o arquivo em versão PDF e HTML. Chamemos apenas a atenção para alguns tópicos frequentemente esquecidos pelos alunos:

• Como fazer referências.

• As referências devem ser listadas pelo sobrenome do autor, que vem em letra maiúscula. Quando há repetição do autor, ao invés de repeti-lo, deve-se usar um traço de seis caracteres. Na bibliografia deste texto, por exemplo, temos os seguintes exemplos:

DEMO, P. Introdução à metodologia da ciência. São Paulo: Atlas, 1991.

______. Metodologia científica em ciências sociais. São Paulo: Atlas, 1989.

RODRIGUES, André Figueiredo. Como elaborar citações e notas de rodapé. SP: Humanitas, 2007.

______ . Como elaborar e apresentar monografias. SP: Humanitas, 2008.

______ . Como elaborar referências bibliográficas. SP: Humanitas, 2008.

• É inadmissível a entrega de uma listagem de “www’s”. Se as referências eletrônicas possuírem autor, devem ser realizadas da mesma forma que um artigo impresso: nome do autor, título, data se houver e, se for revista eletrônica, todos os dados pertinentes disponíveis no site. Após isso, deve-se usar a expressão “Disponível em: < >” seguida do endereço eletrônico e a expressão “Acesso em:” seguida do dia, mês abreviado e ano de acesso.

• Sites como a Wikipédia, embora muito úteis para nossos trabalhos, não são bem vistos

Aula 02 | Normatização

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como referências por não haver critério de seleção para a publicação das informações neles contidas. Se o aluno fizer uso de sites desse tipo, os bons artigos possuem links para sites mais confiáveis, vinculados a universidades ou a revistas idôneas. Opte sempre por referências confiáveis.

• As referências impressas e as eletrônicas podem vir juntas ou separadas, à escolha do autor. Caso deseje separá-las, o autor pode usar termos como “Referências Eletrônicas” ou “Referências Webgráficas”.

• A formatação do SARE para as referências é fonte book antiqua tamanho 10, espaçamento simples com três pontos antes e três depois. Não esquecer que, com exceção da primeira página, o formato SARE possui margem esquerda de 1 cm.

Para facilitar a vida do pesquisador, há uma ferramenta do SARE que escreve as referências seguindo as normas da ABNT, a partir da digitação dos dados; você pode acessá-la clicando AQUI.

Não há mais razão para a entrega de trabalhos com referências fora dos padrões da ABNT.

Há uma infinidade de casos específicos que podem gerar dúvidas ao pesquisador na hora da elaboração das referências. A melhor coisa a fazer é consultar boas referências como site aqui sugerido da UFSC ou outros materiais disponíveis. Para quem gosta de ter bons livros de consulta em casa, os livros de metodologia de André Figueiredo Rodrigues, professor da Anhanguera Educacional, são boas opções por um excelente preço.

5. Gerenciamento do Tempo

Antes de discutirmos o projeto e o artigo, é importante discorrermos um pouco sobre o gerenciamento do tempo. Como veremos na próxima aula, o pré-projeto possui uma seção dedicada ao cronograma. A construção do cronograma, porém, deve ser feita com bastante cuidado, dando atenção tanto às necessidades da pesquisa propriamente dita quanto ao ritmo de trabalho do pesquisador. Em outros termos, precisamos nos conhecer. É muito comum que alunos estabeleçam prazos para ler uma quantidade grande de textos ou apresentar versões avançadas do trabalho que simplesmente não poderão cumprir, seja por questões de tempo, seja por questões de disposição e organização. Vamos tratar brevemente delas.

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Aula 02 | Normatização

Quanto ao tempo, cada um sabe quanto dele tem disponível para o trabalho acadêmico. Talvez a maior dificuldade esteja em uma certa “segurança” de que, se deixarmos para amanhã o que faríamos hoje, ainda haverá tempo o suficiente para o término do trabalho. Essa segurança é comum no início das atividades, quando temos muitos meses para o término do artigo. Contudo, essa postura pode nos trazer problemas, porque é praticamente inevitável que o trabalho tome mais tempo do que o imaginado, principalmente se o aluno não está familiarizado com o trabalho acadêmico. O resultado, em geral, é muita pressão no final do processo e um trabalho regular, quando um texto de mais qualidade teria sido possível. Leituras e fichamentos demandam tempo, e não é uma boa solução deixar de fichar para economizá-lo, sobretudo em textos que serão, com muita probabilidade, usados direta ou indiretamente no artigo. Após um tempo relativamente longo, tendemos a esquecer o que lemos (e mesmo onde lemos aquele parágrafo que resolveria muito do nosso problema, o que é ainda mais frustrante).

Uma boa dica é programarmos o nosso cérebro com um prazo final anterior ao prazo oficial. Terminar o trabalho um ou dois meses antes é excelente, pois permite que ele seja relido após duas ou três semanas, período que contribui para que mantenhamos a distância do texto que, na fase da escrita, é muito difícil de ser alcançada. Horas sem dormir nos últimos dias antes da entrega contribuem para que nosso rendimento caia drasticamente. Para retomarmos o tópico discutido anteriormente, fichamentos bem feitos permitem um ganho de tempo surpreendente na hora da escrita do texto final. Quanto mais material lido e fichado à disposição, mais rapidamente construiremos nosso texto.

Quanto à disposição, seria ingênuo tentar traçar tendências universais, uma vez que pessoas diferentes podem apresentar variações imensas neste tópico, ou a mesma pessoa em momentos diversos de sua vida. Em geral, para os que se sentem rapidamente desmotivados, um bom recurso é a troca de atividades. Se a leitura não está rendendo, talvez valha a pena ler algum outro texto que, embora tratando do mesmo tema, seja mais agradável. Outras opções seriam escrever, rever o que já foi escrito, buscar mais material na internet, assistir um vídeo sobre o assunto, em suma, fazer algo que permita que o trabalho continue fluindo. O contato prolongado com o tema é fundamental para que nossa mente possa articular toda a informação recebida. Só assim escreveremos “como nós mesmos”, a partir de nossa experiência. Claro que apenas quem faz as coisas com antecedência pode desfrutar desse privilégio. Sob pressão, há menos escolha.

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Aula 02 | Normatização

Uma organização adequada de nossas atividades pode contribuir muito para uma boa disposição. Façamos uma listagem do que tem de ser feito, classificando as atividades em longas e curtas, e o que deve ser feito a curto, médio e longo prazo. Uma boa planilha pode permitir mudanças de atividade que não afetem o andamento do trabalho, garantindo-nos aquele dia ou semana de folga merecidos, quando adiantamos as nossas tarefas. O estresse pode ser evitado com uma organização eficiente. Trabalhar muito em um feriado pode significar um próximo feriado bastante tranquilo. Tenhamos em mente que o que deve ser buscado é o máximo possível de tranquilidade no último terço de nosso prazo.

Há momentos em que temos de saber parar. Um caso comum é o das leituras. Sempre haverá centenas, se não milhares de bons textos sobre o assunto com o qual estamos lidando. Mas é importante estabelecermos prazos para parar de ler e escrever. Nunca teremos lido tudo o que gostaríamos. As paradas para a escrita permitem que o trabalho avance significativamente, com a vantagem de o texto poder ser melhorado com as novas leituras a serem feitas posteriormente. Tudo o que é escrito com antecedência permite revisões e acréscimos para melhorá-lo.

Em suma, o trabalho intelectual exige muita atividade mental, de modo que, em geral, se torna improdutivo se estivermos cansados. Poucas pessoas têm treino para ficarem oito horas por dia lendo e escrevendo, por exemplo. Há ainda outro problema: uma pesquisa, para ser bem realizada, necessita de familiaridade com o objeto de estudo e maturidade diante de nossos textos-base. É muito mais produtivo um contato diário menor, mas frequente, com sua pesquisa do que dez horas de atividade no domingo. Ou seja, deixar para a última hora é sempre um problema, com o agravante da tensão emocional gerada pela pressão dos prazos. Não nos esqueçamos também de um problema prático – o orientador estará mais disponível no início do prazo do que no final, quando terá de ler muitos artigos em um período curto. Quem quer uma atenção privilegiada não pode se dar ao luxo de deixar tudo para o último mês.

Clique aqui e confira outras dicas para melhor desenvolver seus estudos.

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Vamos pensar

Realize uma primeira tentativa de estruturação de seu projeto, faça uma pesquisa bibliográfica sobre o tema escolhido, veja o que você encontrou e inicie as leituras que julga mais importante.

Pontuando

Nós vimos nesta Aula:

• Exposição da formatação e normatização de artigos científicos.

• A questão de trabalhos plagiados.

• A diferença entre bibliografia e referência bibliográfica.

ABNT. NBR 10520. Informação e documentação: citações e, documentos – elaboração. Rio de Janeiro: ABNT 2002.

BUENO, Marco. Monografia sem segredo: Algumas dicas importantes (Texto extraído da revista Nova Escola, abril de 2004). GO: CESUC, 2004. Disponível em: <http://www.simaodemiranda.com.br/Dicas_Importantes.pdf>. Acesso em: 3 mar. 2014.

CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia Científica. São Paulo: Makron Books, 1996.

COMO FAZER REFERÊNCIAS. Arquivo eletrônico. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Disponível em: <http://www.bu.ufsc.br/home982.PDF> (Formato PDF); <http://www.bu.ufsc.br/framerefer.html>. Acesso em: 3 mar. 2014.

Referências

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DANTON, Gian. Metodologia Científica. MG: Virtual Books, 2002. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/6638241/Gian-Danton-Metodologia-Cientifica>. Acesso em: 3 mar. 2014.

FURTADO, José Augusto P. X. Trabalhos acadêmicos em Direito e a violação de direitos autorais

através de plágio. Site: Jus Navigandi, 09/2002. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/3493/trabalhos-academicos-em-direito-e-a-violacao-de-direitos-autorais-atraves-de-plagio> Acesso em: 3 mar. 2014.

LAkATOS, E. Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1991.

MECANISMO ONLINE PARA REFERÊNCIAS. Aplicativo eletrônico. UFSC. Disponível em: <http://www.rexlab.ufsc.br:8080/more/formulario1> Acesso em: 3 mar. 2014.

RODRIGUES, André Figueiredo. Como elaborar citações e notas de rodapé. SP: Humanitas, 2007.

______ . Como elaborar e apresentar monografias. SP: Humanitas, 2008.

______ . Como elaborar referências bibliográficas. SP: Humanitas, 2008.

SIMÕES, Darcília. Trabalho acadêmico. O que é? Como se faz? Rio de Janeiro: Dialogarts, 2004. Disponível em: <http://www.dialogarts.uerj.br/arquivos/trabalhoacademico2004.pdf> Acesso em: 3 mar. 2014.

Referências

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TEMA 03A Importância do FichamentoEstas aulas trazem a temática geral do artigo científico, mostrando não se tratar unicamente de começar a escrever de modo automático sobre um tema: é preciso organizar o raciocínio para bem elaborar o projeto e, depois, o próprio trabalho. Neste desenvolvimento, o cuidado com as fontes de pesquisa e a delimitação temática é de suma importância. Assista às aulas com muita atenção e aproveite os estudos!

* Os vídeos podem ser acessados apenas na versão interativa, disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem.

Parte 1* Parte 2*

Clique aqui para baixar o slide da Aula 2

(Parte 1).

Clique aqui para baixar o slide da Aula 2

(Parte 2).

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LEGENDA DE ÍCONES

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seções

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Início

Pontuando

Referências

Vamos pensar

Glossário

Gabarito

Verificaçãode leitura

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Aula

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03

A Importância do Fichamento

Objetivos

• Discorrer sobre os níveis de leitura.

• Expor o fichamento como instrumento de pesquisa.

• Explicar os caminhos para a realização do fichamento.

• Abordar a escolha do tema de pesquisa.

• Apresentar boas fontes para a escolha do tema.

1. O FICHAMENTO

A pesquisa bibliográfica é indispensável para a realização de um bom artigo, contenha ele trabalho de campo ou não. Mas nem sempre o pesquisador sabe como lidar com os dados lidos nos mais diversos livros e artigos. O fichamento é um dos mais importantes recursos para que as paráfrases e citações literais ocorram de forma apropriada no corpo do texto.

O fichamento não deve se reduzir a uma anotação direta das ideias principais do que se está lendo. Este é um primeiro momento, importante, mas não exaustivo. Após essa primeira leitura, deve-se fazer um esquema geral do argumento central do texto. Um dos problemas mais comuns ocorre quando o leitor apreende o texto apenas em sua superfície, “entendendo” as ideias na medida em que são lidas, mas sem conseguir visualizar a articulação do argumento como um todo. Neste ponto, a introdução é de suma importância – em um texto bem-construído, a condução inicial das ideias explicita como o argumento central será desenvolvido e oferece as informações iniciais para que o leitor possa tirar o máximo proveito da leitura.

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Aula 03 | A Importância do Fichamento

Discutiremos, mais adiante, as implicações da introdução em um texto acadêmico, seja artigo, monografia, dissertação ou tese (vale lembrar que as quatro categorias mencionadas comportam o conceito de “monografia”, uma vez que se trata, basicamente, do desenvolvimento de uma ideia).

Uma leitura apenas não é suficiente, na maioria das vezes, para que um argumento seja plenamente entendido. Por isso, é didaticamente improdutivo deixar as coisas para a última hora. O tempo de reflexão, tão esquecido nos dias da tecnologia da informação, é fundamental para que o amadurecimento de uma ideia se realize. Após ler o texto, fichando suas partes centrais, deve-se relê-lo, do início, com o dobro de atenção. Agora sim, o fichamento das ideias pode ser acompanhado pela reconstrução analítica da espinha dorsal do texto, entendendo como o argumento se organiza, em quais teorias se fundamenta, com o que concorda e do que discorda.

Tomemos como exemplo o resumo e a introdução do artigo “O planejamento estratégico dentro do conceito de administração estratégica” (ALDAY, 2000). A título de ilustração, o resumo será fichado em forma de fluxograma e a introdução, em forma de itens e fluxograma. Vejamos primeiramente o resumo:

Resumo

Este texto visa destacar a importância do Planejamento Estratégico na gestão das organizações, dentro do conceito de Administração Estratégica. Apresenta as principais etapas para a implantação do processo de administração estra-tégica e procura esclarecer os aspectos fundamentais do relacionamento dos conceitos de visão estratégica e gestão na implantação do planejamento estraté-gico, bem como destacar algumas opiniões atuais de como devem ser tratados o planejamento para o presente e o planejamento para o futuro.

Embora o texto seja curto, as ideias nele presentes estão todas articuladas. Repare como o fluxograma pode ser de grande utilidade na visualização dessas articulações:

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Aula 03 | A Importância do Fichamento

Figura 3.1 Fluxograma do resumo.

O fluxograma apresentado é capaz de organizar as ideias do texto com grande eficácia. A prática na sua construção pode contribuir muito para visualizarmos a espinha dorsal de um argumento. Conforme já destacado, a compreensão de um texto não ocorre apenas pelo entendimento dos tópicos elencados nos parágrafos, mas sim pela apreensão de como eles se articulam no discurso. Vejamos uma possibilidade para o fichamento da introdução do artigo, agora trabalhando, para compararmos ambas as formas, com itens e com o fluxograma:

Introdução

Muito se fala em Planejamento Estratégico (PE), e nas organizações de maneira geral ainda se pode encontrar uma série de interpretações em relação a esta ferramenta da administração.

O Planejamento Estratégico, que se tornou o foco de atenção da alta administra-ção das empresas, volta-se para as medidas positivas que uma empresa poderá tomar para enfrentar ameaças e aproveitar as oportunidades encontradas em seu ambiente.

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Aula 03 | A Importância do Fichamento

Empresas de todos os tipos estão chegando à conclusão de que essa atenção sistemática à estratégia é uma atividade muito proveitosa. Empresas pequenas, médias e grandes, distribuidores e fabricantes, bancos e instituições sem finali-dade de lucro, todos os tipos de organizações devem decidir os rumos que sejam mais adequados aos seus interesses.

As razões dessa atenção crescente à estratégia empresarial são muitas, algu-mas mais evidentes que outras. Entre as causas mais importantes do cresci-mento recente do Planejamento Estratégico, pode-se citar que os ambientes de praticamente todas as empresas mudam com surpreendente rapidez. Essas mu-danças ocorrem nos ambientes econômico, social, tecnológico e político. A em-presa somente poderá crescer e progredir se conseguir ajustar-se à conjuntura, e o Planejamento Estratégico é uma técnica comprovada para que tais ajustes sejam feitos com inteligência.

Trata-se de um instrumento mais flexível que o conhecido Planejamento a Longo Prazo. Um elemento-chave da estratégia é a seleção de apenas algumas carac-terísticas e medidas a serem consideradas tomadas.

É um instrumento que força, ou pelo menos estimula, os administradores a pen-sar em termos do que é importante ou relativamente importante, e também a se concentrar sobre assuntos de relevância.

O mais importante na utilização do Planejamento Estratégico é o seu estreito vínculo com a administração estratégica nas organizações. Não se pode tratar isoladamente o planejamento estratégico sem entrar no processo estratégico, contribuindo assim de forma mais eficaz com a gestão dos administradores na obtenção dos seus resultados.

A introdução, constituída de sete parágrafos, prepara o leitor para o desenvolvimento. O argumento se desenvolve, em cada parágrafo, da seguinte forma:

• Várias interpretações para o Planejamento estratégico (PE).

• Objetivos do PE.

• Aceitação do PE em empresas de todos os tipos.

• Razões para essa aceitação.

• PE: mais flexível que o Planejamento a Longo Prazo (PLP).

• PE: concentra-se no importante e no relevante.

• O PE possui vínculo estreito com a Administração Estratégica (AE).

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Discutiremos, a seguir, as partes constitutivas de um artigo. Por ora, vale a pena focarmos como cada item emerge do item anterior, construindo o tecido do argumento.

Após apresentar o PE, o autor, no parágrafo cinco, já adianta um dos tópicos centrais a serem tratados no seu texto, embora apenas superficialmente – o confronto entre o PE e o PLP. Em um fluxograma, poderíamos representar essa introdução de forma mais rica, explicitando as articulações do argumento (o número do parágrafo aparece entre parênteses):

Figura 3.2 Fluxograma da introdução.

Uma vez que o fichamento pode vir a ser usado um bom tempo após ser feito, uma boa dica para quem está fichando textos para o artigo final é, após o fichamento, escrever um ou dois parágrafos com suas impressões e eventuais intuições sobre o texto. Após três ou seis meses, essas impressões, se não registradas, terão sido, muito provavelmente, esquecidas. Esses pequenos parágrafos podem ser, então, de grande valia para o autor.

Aula 03 | A Importância do Fichamento

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Aula 03 | A Importância do Fichamento

Claro que há quem não goste de trabalhar nem com itens nem com fluxograma, preferindo escrever parágrafos coesos. O fichamento é para uso próprio, de modo que não há imposições quanto à forma de sua execução. O pesquisador deve fazê-lo como preferir – escrever em papel, no computador, riscar o próprio texto etc. Contudo, vale a pena praticar a construção de fluxogramas, pois eles permitem, indubitavelmente, uma ótima visualização do argumento. O mesmo vale para a construção do próprio artigo – construções gráficas anteriores ou paralelas à sua redação colaboram para que criemos um argumento claro e coerente.

Clique aqui e veja mais.

2. O Projeto de Pesquisa

O projeto de pesquisa pode ser entendido como o planejamento detalhado da pesquisa a ser realizada. Apesar de ser um passo inicial, com a devida abertura para as descobertas da pesquisa (o projeto não pode conter a conclusão do trabalho ainda por realizar), seu texto tem de demonstrar clareza e uma relativa familiaridade com o tema, com uma boa exposição da proposta de trabalho. Embora possa haver alterações nos planos do trabalho devido ao ritmo que a própria pesquisa tende a impor ao pesquisador, a proposta inicial tem de ser viável e séria. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define o projeto como devendo ter as seguintes partes constitutivas:

• Introdução.

• Levantamento de Literatura.

• Problema.

• Hipótese.

• Objetivos gerais e específicos.

• Justificativa.

• Metodologia.

• Cronograma (opcional).

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• Recursos (opcional).

• Referências.

• Anexos (opcional).

A Introdução é o momento de maior liberdade no projeto. Nela, pode-se discorrer de forma mais geral, trazendo exemplos e dados que contribuam para dar um bom panorama do tema e de seu futuro desenvolvimento ao leitor. Embora haja uma seção posterior dedicada à Justificativa, a Introdução é um bom lugar para reforçar a importância da pesquisa.

O Levantamento de Literatura não são as referências bibliográficas, mas um comentário sobre as referências que nortearão o trabalho. Em outros termos, aqui não se trata de discutir todos os textos relacionados nas referências bibliográficas, mas apenas os que serão a base teórica ou o objeto da pesquisa. Para escrever o projeto, algumas leituras já devem ter sido feitas. Este é o momento de falar sobre as mais relevantes. Contudo, devemos sempre manter o foco. Um livro que achamos fantástico, mas que será usado apenas parcialmente no artigo, não pode ganhar mais evidência do que um texto que será uma das sustentações do argumento. O gosto pessoal não pode prevalecer sobre as exigências da pesquisa.

O aluno que não tem leitura e/ou experiência na área em que pretende trabalhar não terá condições de discorrer sobre o problema, a hipótese, os objetivos, a justificativa e a metodologia a ser empregada. Esses tópicos devem ser escritos da forma mais objetiva, sucinta e clara possível. Não há espaço aqui para generalizações ou comentários.

O Problema é a questão levantada no artigo, em geral algum assunto em uma área específica que não esteja resolvido. Há, frequentemente, uma preocupação dos alunos com uma suposta necessidade de ser original. Porém, os trabalhos acadêmicos, em sua maioria, não são “originais”, mas intervenções em discussões relevantes. A originalidade está mais no ponto de vista adotado do que no tema propriamente dito. Não se encontra um tema original para se escrever um artigo de especialização. Vale mais a pena pensar que estamos contribuindo para uma discussão mais ampla.

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O que seria a Hipótese? Trata-se de uma proposição inicial que orientará a pesquisa e que será validada ou não. Um estudo de caso sobre a queda nas vendas de determinada empresa, apesar da aparente aceitabilidade do produto no mercado, deverá seguir certo caminho investigativo. Esse caminho é norteado pela hipótese inicial. Sem hipótese, a pesquisa perde o foco. O que teria causado o frio rigoroso na Europa em 2011? Hipóteses são lançadas e então investigadas. A investigação pode provar que a hipótese é verdadeira, parcialmente verdadeira ou falsa, abrindo caminho para novas pesquisas e novas hipóteses.

Alguns artigos possuem um argumento que pode não ser orientado por uma hipótese. Isso ocorre, sobretudo, em textos de divulgação. Salvo este caso, hipóteses estão sempre presentes, mesmo que não explicitadas. Mesmo um trabalho que compare duas teorias sobre o ensino da língua estrangeira, uma teoria behaviorista e uma comunicativa, por exemplo, tem de possuir um ponto de entrada em ambas as teorias que justifique a comparação. Uma hipótese inicial poderia ser, por exemplo, de que os mecanismos de ensino da abordagem comunicativa são mais eficientes. O trabalho poderia levar a uma conclusão de que essa eficiência seria maior para algumas habilidades linguísticas e menor para outras ou, até mesmo, surpreender o pesquisador com um resultado oposto à hipótese inicial.

Assim, temos de enfrentar o problema dos Objetivos Gerais e Específicos. O objetivo não seria a própria verificação da hipótese, uma vez que o objetivo é a meta a ser alcançada? De certa forma, sim, uma vez que os dois tópicos estão intimamente relacionados. Mas, nesta seção, deve-se especificar melhor o que se pretende fazer. Retomando o exemplo do estudo de caso, os objetivos poderiam ser especificados do seguinte modo:

O objetivo do presente trabalho é detectar as causas das dificuldades enfrenta-das pela empresa “X”. Para tal, tem-se como objetivos específicos: investigar o panorama do mercado atual para o produto “y”, a qualidade dos produtos dos concorrentes e o modo como fazem a publicidade; investigar como a empresa “X” está atuando no mercado, por meio de um exame minucioso de seu depar-tamento de marketing; estabelecer uma comparação entre a empresa “X” e seus concorrentes; realizar uma pesquisa de satisfação com os clientes atuais e os antigos clientes que deixaram de comprar os produtos da empresa; e, por fim, buscar uma estratégia, diante das evidências encontradas, para reverter o qua-dro atual e médio prazo.

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A Justificativa é a razão pela qual vale a pena tratar deste assunto. Neste caso, a justificativa pode ser a inconsistência entre as expectativas da empresa e o resultado alcançado ou, em um plano mais geral, o mapeamento de problemas de estratégia que possam atingir também outras empresas. As possibilidades de justificativa são várias, mas têm de estar sempre relacionadas à pesquisa. A justificativa não pode ser do tipo: “trabalho na empresa e quero saber o que está acontecendo”. Embora questões pessoais não raro motivem a investigação, o trabalho deve apresentar sempre objetivos fora dessa esfera.

A Metodologia refere-se ao modo como a pesquisa será realizada. Será um trabalho fundamentalmente teórico, com base em pesquisa bibliográfica e análise de textos? Haverá pesquisa de campo? Qual será a metodologia empregada para a pesquisa? Será qualitativa ou quantitativa? Haverá estudo de caso? Como o objeto de estudo será abordado? Haverá classificação dos dados levantados? Como serão trabalhados? Essas são algumas perguntas a serem respondidas nesta seção, sempre de acordo com as exigências da pesquisa.

Após a seção Metodologia, temos o Cronograma. Embora a ABNT o considere opcional, ele permite um planejamento das atividades a serem cumpridas. O problema mais evidente neste tópico é que há uma forte tendência de o aluno desconsiderar os prazos estipulados, seja porque foram malplanejados, seja por questões de organização pessoal. Uma boa atitude diante do cronograma preestabelecido no projeto é a de tentar, de fato, cumprir as datas estabelecidas, mas sempre com a possibilidade de alterações no decorrer do trabalho conforme as novas necessidades da pesquisa. Em geral, os cronogramas são apresentados em forma de tabelas, como a mostrada a seguir:

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Tabela 3.1 Exemplo de cronograma.

Atividades Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov.Levantamento bibliográfico x x xElaboração do projeto x xElaboração de fichamentos x x x x xEnvio das entrevistas xAnálise das entrevistas x xElaboração do texto x x x x x xEntregas parciais x xRevisão da versão final x xEntrega da versão final x

A Tabela 3.1 é apenas um exemplo. As datas parciais de entrega, por exemplo, serão decididas pelo orientador. Manter um cronograma atualizado permite uma melhor organização das atividades a serem realizadas e, consequentemente, um melhor gerenciamento do nosso tempo.

A seção “recursos” é utilizada quando há auxílio financeiro para a pesquisa. Os gastos são então relacionados para um ressarcimento futuro ou para a prestação de contas de valores recebidos. Os anexos são, em geral, documentos (textos, fotos, comprovantes etc.) que venham a ser importantes para o projeto.

Clique aqui e Veja os elementos importantes para a elaboração de um projeto de pesquisa.

3. As Partes Constitutivas de um Artigo

3.1 A Introdução

A Introdução de um artigo científico é um texto que antecede o desenvolvimento da pesquisa e que tem a função de introduzir o leitor na discussão que se seguirá. Logo, a lógica da

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organização de uma pesquisa pressupõe que a introdução seja escrita após sua realização. A introdução para a pesquisa é o projeto, que o antecede. Mas a escrita final, que apresenta o desenvolvimento e a conclusão do trabalho, obedece a outra ordem. É comum que o aluno inicie a escrita da introdução antes de ter a pesquisa terminada ou de estar em um estágio avançado. O resultado pode ser um texto que não se mostre articulado adequadamente ao desenvolvimento.

Uma boa introdução é estratégica e conduz o leitor ao texto que se segue. Deve passar segurança e manter uma clareza só possível quando os resultados já estão concluídos. Repetindo, a introdução é para o leitor. Mesmo o resultado, em geral, não sendo dado no início do trabalho, deve ser conhecido do escritor, garantindo o conhecimento que tornará possível um estilo claro e seguro. A introdução de uma monografia ou de um artigo científico deve conter:

• A definição do tema.

• A delimitação do tema.

• A indicação do problema.

• A indicação do objeto de estudo.

• A apresentação dos objetivos.

• A justificativa.

• A metodologia empregada.

Ao se deparar com esta lista, a tendência do aluno é de enrijecer seu texto, que tenta a todo custo se moldar à exigência das partes constitutivas mencionadas. Muitas vezes, o resultado é um texto duro, pouco fluente, que acaba por não realizar uma das funções essenciais da introdução: cativar o leitor.

Ressaltemos que a introdução não é um projeto de pesquisa, de modo que estas partes não

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necessitam estar destacadas. É bastante comum que apareçam em um texto único, sem subseções.

A ordem, também, não é rígida, embora exista uma tendência a segui-la. Uma forma de não perder o “estilo” é, tendo em mente todas as partes da introdução, escrever um texto único e fluente sem se preocupar, em um primeiro momento, com todos estes itens. Deve-se escrever um texto interessante que, além de dizer ao leitor a sua importância, mostre a relevância do trabalho. Para isso, deve-se ir além dos tópicos expostos, trazendo material que desperte a curiosidade e/ou o interesse do leitor. Feito isso, uma leitura atenta poderá checar se todos os itens estão presentes. É mais fácil acrescentar um que esteja ausente do que se preocupar com todos eles exaustivamente desde o início, o que tende, caso o escritor não domine a escrita acadêmica, a gerar um texto pouco fluente.

Muitas vezes, tópicos como “tema específico”, “objetivo”, ou “justificativa” não são tão distantes um do outro. Assim, ao construir um texto único, corre-se um risco menor de exagerar nas repetições do mesmo assunto para tentar suprir as demandas da introdução. Suponha estarmos trabalhando com Gestão Estratégica para empresas com mudanças na direção. Seguindo o nosso esquema, para uma boa introdução, teremos:

• A definição do tema – problemas da gestão em casos de mudanças na direção da empresa.

• A delimitação do tema – as dificuldades com a gestão da empresa de embalagens kYk (fictícia) após ser comprada pela empresa JMMC (fictícia).

• A indicação do objeto de estudo – as estratégias utilizadas pela empresa kYk nos últimos 12 meses (após a compra).

• A apresentação dos objetivos – análise da raiz da ineficácia das estratégias, detecção dos erros nas projeções de curto e médio prazo e formulação de uma ação estratégica de curto prazo capaz de solucionar problemas imediatos com custo acessível e de uma estratégia de médio prazo visando à recuperação do mercado perdido e possível expansão futura.

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• A justificativa – a empresa apresentava resultados positivos antes da compra; apesar da crise, após a compra sua posição ficou bastante inferior à média.

• A metodologia empregada – revisão bibliográfica sobre gestão estratégica em nosso caso específico; análise dos dados da empresa antes e depois da venda; análise das ações estratégicas tomadas; análise do ambiente externo; síntese para a busca de soluções.

Feito isso, devemos iniciar nossa introdução. Há inúmeras estratégias a serem empregadas, dependendo da experiência, do conhecimento e da habilidade do escritor. Podemos iniciar o artigo, por exemplo, trazendo casos de sucesso em situações similares, para então apresentarmos nosso objeto de estudo:

Indicadores dos últimos meses têm mostrado uma retomada na expansão das indústrias em São Paulo. Essa tendência geral pode ser verificada se tomarmos, por exemplo, as empresas SSRE e DEEW, voltadas para o mercado de emba-lagens, tradicionalmente visto como um dos sinalizadores de expansão ou crise do mercado. De fato, a SSRE teve, após uma queda de 7% em sua produção no primeiro semestre de 2009, uma expansão de 19% nos últimos seis meses, um pouco acima da DEEW, embora, em linhas gerais, a curva decrescente seguida por uma forte alta tenha se mantido. Situação bastante diversa ocorreu com a empresa kYk, objeto de nosso estudo, que tem apresentado queda constante no último ano, após sua compra pela empresa IMMC. Antes concorrente das empre-sas citadas, tem perdido uma fatia considerável do mercado, especialmente nos grandes centros comerciais.

O parágrafo introdutório apresentado, sem dizer de forma explícita, já aponta para o tema e o objeto de estudo, bem como para a justificativa – o insucesso da empresa kYk. O texto poderia prosseguir apresentando mais detalhes da empresa, o conceito de gestão estratégica e a metodologia a ser usada. Outra estratégia de introdução bastante comum é o movimento do geral para o particular. Vejamos um exemplo na área odontológica (os dados são fictícios):

Atitudes simples podem gerar efeitos surpreendentes. Tem-se constatado, no Brasil e no mundo, uma redução considerável das cáries nos primeiros anos de vida por conta da mudança na rotina das crianças, mais habituadas à escovação e à melhor qualidade dos produtos odontológicos pediátricos. Outra ação eficaz para a saúde bucal, a fluoretação da água nos sistemas de abastecimento, tem sido alvo de polêmicas constantes. O assunto tem sido amplamente discutido no meio acadêmico, sua possível eficácia sendo contraposta a possíveis malefícios do produto no organismo humano. O presente trabalho tem como objeto de estu-do a cidade de São João Pedro, região bastante pobre do litoral sul de São Paulo, na qual em torno de 15% da população, predominantemente da região norte, não tem acesso à água encanada. Como a cidade possui uma população grande de pobres com acesso a este serviço na região sul, uma pesquisa foi realizada com

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a população de ambas as regiões para a formulação de um quadro estatístico de frequência da cárie nas suas crianças.

Novamente, o tema, o objetivo, a justificativa e até mesmo a metodologia já começam a ser delineados no primeiro parágrafo do trabalho, sem a necessidade de uma fragmentação do texto em subseções. A Introdução tem de ser muito bem-escrita, cativar o leitor desde o início. A relevância do conteúdo é fundamental, mas, se o texto for muito fraco em estilo, há a possibilidade de o leitor desistir da leitura. Um texto acadêmico não tem de ser chato. Não há critério de objetividade que elimine o prazer da leitura de um texto bem-elaborado. Podemos citar como exemplo Sigmund Freud, que, em vida, recebeu apenas um prêmio – o Prêmio Goethe de Literatura. Seus textos são claros, didáticos, envolventes... e científicos.

3.2 O Desenvolvimento

O desenvolvimento é o coração do artigo, o momento em que a pesquisa propriamente dita é exposta e discutida. Aqui, o pesquisador deve apresentar ao leitor, de forma mais ampla, a pesquisa feita, articulando os dados que constroem o argumento defendido. O artigo não possui um único formato. Há diferenças de acordo com seu conteúdo e a área da pesquisa. Após a introdução, artigos mais teóricos tendem a ter uma revisão da literatura sobre o tema estudado e uma análise posterior ou simultânea de seu objeto de estudo propriamente dito. Já artigos com pesquisa de campo ou estudo de caso podem apresentar, no desenvolvimento, seções de revisão da literatura, da metodologia empregada, dos resultados e da discussão. É o orientador, familiarizado com o formato mais aceito em publicações científicas na sua área, quem pode melhor orientá-lo quanto ao formato a ser empregado. Uma consulta a artigos em revistas sérias da área ou no site da SciELO também pode ajudar bastante na escolha das seções do desenvolvimento.

Como dito, em geral, o desenvolvimento inicia-se com a revisão da literatura sobre o assunto ou com a seção denominada fundamentação teórica. Esta parte tende a apresentar bastante dificuldade ao aluno, na medida em que o que está sendo discutido deve ter relação com a pesquisa. Há uma tendência a discutir, nesta seção, muitas obras que não são retomadas ou não estão vinculadas à pesquisa realizada, criando um problema estrutural grave no trabalho.

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O aluno lê vários livros e, preocupado com a quantidade de referências que o trabalho deveria conter, pode cair na tentação de trazer a seu texto leituras que lhe agradam ou que tomaram muito de seu tempo, mesmo que elas acarretem um desvio injustificável do núcleo do argumento. O erro está na ausência de um critério de seleção adequado. Incluir o que se leu implica uma ausência de qualquer seleção, dificultando a construção de uma perspectiva teórica forte. Para uma pesquisa, deve-se ler muito para selecionar pouco. Não há sentido em trazer um número muito grande de autores ao texto se o preço pago for a dissolução da coerência do argumento. Melhor seria trazer apenas os autores e textos relevantes, deixando-os falar mais.

A pesquisa pode ter sido realizada com pesquisa de campo ou não. Em áreas mais teóricas, mas não apenas nelas, há a possibilidade de um trabalho conceitual, no qual teorias são expostas, defendidas ou rejeitadas em um nível mais abstrato. Muitas vezes, mesmo em áreas bastante práticas, há a necessidade de um trabalho teórico de elaboração conceitual que pode constituir o argumento em si. Neste caso, não há pesquisa de campo, trabalho com dados, estudo de caso etc. Consequentemente, não haverá as seções de Metodologia, de Resultados e de Discussão dos Resultados. A fundamentação teórica pode se fundir com a pesquisa, uma vez que a movimentação teórica já é, desde o início, o objetivo último do trabalho. Contudo, é muito comum a pesquisa com estudo de caso e a utilização de questionários, estudo que pode ser organizado indutiva ou dedutivamente. No primeiro caso, é a própria pesquisa de campo que levanta as questões centrais a serem desenvolvidas e que permite possíveis generalizações, sempre parciais, na conclusão. No segundo, trata-se de uma demonstração da validade de uma teoria definida previamente.

É na seção sobre o método ou metodologia empregada que o pesquisador deixará claro ao leitor como o objeto de estudo foi abordado. Se a pesquisa for laboratorial, por exemplo, será preciso definir as substâncias que serão trabalhadas, suas densidades, diluições etc., bem como os processos de controle e observação dos movimentos, das reações, das respostas a estímulos, entre outros fatores. O material teórico, exposto na seção de Revisão da Literatura, pode ser retomado em sua forma mais prática – descrição das metodologias, fórmulas etc. Se, por outro lado, a pesquisa trabalhar com dados, ela deve ser bem-elaborada e fundamentada no que tange à sua qualidade estatística. Trabalhos de cunho muito local dão pouca margem

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a generalizações. Deve-se, neste caso, ter claras as limitações da pesquisa que se faz, mostrando ao leitor a pouca abrangência da pesquisa e a necessidade do cruzamento destes dados com dados de outros estudos semelhantes. Um trabalho brilhante pode não chegar conclusão nenhuma ou chegar à conclusão de que o processo foi “inútil” como gerador de resultados satisfatórios. Se o tema for relevante, este pode ser um ponto de partida para trabalhos posteriores que reconhecerão o valor deste primeiro esforço para a obtenção de determinado conhecimento.

Se a pesquisa envolver dados estatísticos, não se deve deixar para a última hora a elaboração de gráficos e tabelas. Utilize recursos diversos de visualização dos resultados, o que facilita a leitura. O uso de gráficos ou tabelas deve ser acompanhado de textos explicitando-os e conduzindo, pela análise dos dados, à síntese esperada. Não se deve acrescentar nenhum dado que não seja produtivo ao argumento, dado este que pode corroborá-lo ou se opor a ele. O enfrentamento, neste último caso, podendo gerar discussões fecundas.

As seções de Resultado e de Discussão podem vir juntas ou separadas. A discussão do Resultado pode ser entendida como um movimento além da especificidade da pesquisa. Os resultados são, grosso modo, vinculados diretamente aos dados trabalhados. Sua discussão permite que sejam situados em um contexto mais amplo, ganhando aspectos mais gerais. Se uma pesquisa de campo mercadológica trabalhou com uma amostragem de pessoas de 20 a 25 anos, do sexo feminino, pertencentes à classe C em São Bernardo, a discussão pode, por exemplo, comparar os resultados com os de outras pesquisas ou apresentar um panorama mais amplo das classes e suas inter-relações, aprofundando a discussão sobre os resultados obtidos.

3.3 A Conclusão

Terminado o desenvolvimento, chega o momento da conclusão. Um bom texto conclusivo deve retomar os principais tópicos discutidos e explicitar, de forma breve e clara, a lógica que organizou o desenvolvimento do argumento. Os resultados também devem ser descritos, mesmo que já tenham sido comentados no desenvolvimento. A conclusão é o momento ideal para a indicação de novos rumos que venham a ampliar o escopo da pesquisa realizada. É importante, também, apontar as limitações do trabalho realizado e dos resultados obtidos,

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para não se passar uma ideia falsa de que a pesquisa realizada seria exaustiva (e nunca o é).

Informações novas não devem ser trazidas neste momento do artigo, pois não poderão ser desenvolvidas. A conclusão tem duas características essenciais. Primeiramente, trata-se das considerações finais a respeito da pesquisa, que em geral é parte de uma rede de pesquisas no mesmo campo e, logo, não é o ponto final da discussão. Mas, também, no que tange à construção do texto, a conclusão é a finalização de um trabalho específico, mesmo que parcial, e deve dar ao leitor a sensação de unidade. Os recursos retóricos para se atingir este objetivo são vários, mas uma breve retomada das questões levantadas, por exemplo, na introdução é um dos recursos mais usuais. Um bom fechamento causa uma boa impressão ao leitor, que “aguarda” uma finalização bem-construída. Lembremos que estamos na esfera retórico-textual – o fechamento do texto não implica o fechamento da pesquisa como parte de um diálogo científico-acadêmico.

Se em alguns momentos do desenvolvimento do trabalho parágrafos densos podem ser necessários, devido à própria complexidade do tema, a conclusão deve ser mais direta, com estruturas sintáticas que exigem menos do leitor. A estratégia responde a uma necessidade inclusive persuasiva, pois é um momento de clarificação de tudo o que foi feito.

3.4 O Resumo e o Abstract

Terminemos esta aula discorrendo um pouco sobre o Resumo, o último texto a ser escrito. Não faz sentido escrevê-lo antes do término do trabalho. O Resumo deve conter apenas informações precisas sobre o assunto e como o argumento foi desenvolvido. Nele, não constam exemplos nem comentários. O Resumo é seco, e seu objetivo é informar ao leitor muito rapidamente do que o texto trata. A função desta seção é auxiliar o leitor em uma primeira seleção do que ele deve ler. Dada a grande quantidade de textos escritos, quando fazemos uma pesquisa, temos de selecionar o que nos interessa. Em geral, não há tempo para se ler a Introdução de uma grande quantidade de artigos e de livros. Essa primeira seleção é feita por meio do Resumo.

Este Resumo também deve ser apresentado em inglês, o chamado Abstract. Caso o autor

Aula 03 | A Importância do Fichamento

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não domine o inglês, deve pedir ajuda a uma pessoa competente no que tange não apenas ao conhecimento da língua, mas também ao estilo acadêmico. Uma pessoa com conhecimento do inglês, mas pouco familiarizada com o estilo acadêmico, não será capaz de escrever um bom texto. E nunca se deve confiar em tradutores eletrônicos. A possibilidade de erros e frases ininteligíveis é enorme.

O Resumo e o Abstract são curtos, mas tão importantes que não há justificativa para não os tratar com a seriedade devida. É comum que o aluno os deixe para o último minuto, escrevendo-os um dia antes da entrega final. Neste caso, a probabilidade de ter como resultado um texto ruim é grande.

Quanto às palavras-chave, evite termos muito gerais. Elas são, como o próprio nome diz, uma chave de acesso ao texto. Palavras muito gerais vão gerar milhões, senão bilhões de opções pelos algoritmos dos mecanismos virtuais de busca, tornando-se ineficientes. O leitor também pode vir a se desinteressar por um texto que possua palavras-chave mal escolhidas. O número de termos ou expressões deve ser no mínimo três e, no máximo, seis.

O Resumo e o Abstract são escritos, cada um, em um único parágrafo. O texto deve ter entre 100 e 150 palavras.

Aula 03 | A Importância do Fichamento

Vamos pensar

Elabore um cronograma com o planejamento do desenvolvimento de sua pesquisa.

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Pontuando

Vimos nesta aula os seguintes assuntos:

• A escolha do tema de pesquisa.

• Fontes para a escolha do tema.

• A leitura: seus níveis e formas de realizar.

• O fichamento como instrumento de pesquisa.

• Elaboração do fichamento.

Referências

ALDAY, H. E. C. O planejamento estratégico dentro do conceito de administração estratégica. Revista

FAE, Curitiba, v. 3, n. 2, p. 9-16, maio/ago. 2000. Disponível em: <http://www.fae.edu/publicacoes/pdf/revista_da_fae/fae_v3_n2/o_planejamento_estrategico.pdf>. Acesso em: 3 mar. 2014.

BUENO, Marco. Monografia sem segredo: Algumas dicas importantes. Revista Nova Escola, abril 2004. GO: CESUC, 2004. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/42661406/Monografia-Sem-Segredo-Algumas-Dicas-Importantes-1> Acesso em: 3 mar. 2014.

CERVO, A. L. & BERVIAN, P. A. Metodologia Científica. São Paulo: Makron Books, 1996.

DANTON, Gian. Metodologia Científica. MG: Virtual Books, 2002. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/6638241/Gian-Danton-Metodologia-Cientifica>. Acesso em: 3 mar. 2014.

FURTADO, José Augusto P. X. Trabalhos acadêmicos em Direito e a violação de direitos autorais

através de plágio. Site: Jus Navigandi, 09/2002. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/3493/trabalhos-academicos-em-direito-e-a-violacao-de-direitos-autorais-atraves-de-plagio. Acesso em: 3 mar. 2014.

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GÜNTHER, Hartmut. Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão? Psicologia:

Teoria e Pesquisa, Mai-Ago 2006, Vol. 22 n. 2, pp. 201-210. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-37722006000200010&script=sci_arttext&tlng=em#nt02 Acesso em: 3 mar. 2014.

LAkATOS, E. Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1991.

RODRIGUES, André Figueiredo. Como elaborar citações e notas de rodapé. SP: Humanitas, 2007.

______ . Como elaborar e apresentar monografias. SP: Humanitas, 2008.

______ . Como elaborar referência bibliográfica. SP: Humanitas, 2008.

SIMÕES, Darcília. Trabalho acadêmico. O que é? Como se faz? Rio de Janeiro: Dialogarts, 2004. Disponível em: <http://www.dialogarts.uerj.br/arquivos/trabalhoacademico2004.pdf> Acesso em: 3 mar. 2014.

Referências

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TEMA 04A EscritaAs aulas da quarta unidade temática têm o objetivo de auxiliar na redação do artigo científico, apresentando os diferentes estilos e modos de escrever. É importante saber de que maneira escrever para que o texto esteja adequado ao âmbito científico, buscando sempre maiores clareza e objetividade. Assista às aulas e aproveite para aprimorar seus conhecimentos e sua escrita!

* Os vídeos podem ser acessados apenas na versão interativa, disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem.

Parte 1* Parte 2*

Clique aqui para baixar o slide da Aula 2

(Parte 1).

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(Parte 2).

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LEGENDA DE ÍCONES

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seções

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Início

Pontuando

Referências

Vamos pensar

Glossário

Gabarito

Verificaçãode leitura

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Aula

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04

A Escrita

Objetivos

• Apresentar o estilo de escrita, com foco no estilo científico.

• Refletir sobre a importância do caráter monográfico do discurso científico.

1. A Escrita Como Meio de Comunicação

As pressões por prazo e a necessidade de notas para que cumpramos os quesitos necessários para a aprovação em nossos exames, embora necessárias, provocam seus efeitos colaterais. Um deles é uma certa alienação da função fundamental da escrita – comunicar algo. Nesse tópico, a escrita não difere muito da comunicação oral. Falamos ou escrevermos a alguém, para dizermos alguma coisa.

Evidentemente, apesar deste tópico em comum, há diferenças marcantes entre ambas as formas de comunicação. Ter consciência dessas diferenças pode ser decisivo na hora da construção de um texto escrito. Como na oralidade, a escrita também possui vários estilos. Não usamos a mesma linguagem com familiares e colegas, em uma situação mais tensa de entrevista de emprego ou em uma reunião com nossos superiores. Do mesmo modo, certas gírias e expressões muito coloquiais que usamos frequentemente com pessoas próximas tendem a ser evitadas com pessoas que ainda não conhecemos bem, um registro mais formal oferecendo maior segurança para evitar constrangimentos ou uma má impressão inicial. Um bom vendedor é uma pessoa que é capaz de moldar seu discurso rapidamente, “pescando” o que o comprador quer ouvir; da mesma forma, pessoas extremamente agradáveis tendem a possuir um pouco dessa qualidade “camaleônica”, no interesse consciente ou inconsciente de causar uma boa impressão. Se prestarmos atenção ao modo como usamos nossa linguagem em diferentes situações num mesmo dia, notaremos quão variados são os registrados usados, desde a escolha sintática e vocabular até alterações na entonação e no ritmo do discurso. Com a escrita, dadas as diferenças entre os meios de comunicação, a variedade de estilos também é marcante. Antes de prosseguirmos, seria interessante falarmos um pouco do conceito de estilo.

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Aula 04 | A Escrita

1.1. Estilo e Variedade no Discurso

Uma dificuldade com o termo “estilo” advém do fato de ele comportar ideias que, se de uma perspectiva são semelhantes, de outra podem ser opostas. Se, por um lado, o estilo marca a recorrência de certas estruturas sintáticas, retóricas, semânticas, sonoras ou rítmicas em um texto, por outro lado essa recorrência ganha projeções bastante diversas se se referem à obra de um escritor, por exemplo, ou a um gênero. Em ambos os casos, o mesmo termo pode ser empregado. Falamos do estilo de Machado de Assis e do estilo jornalístico ou acadêmico.

Este uso do mesmo termo para ideias que guardam certa diversidade pode gerar ambiguidades. Quanto mais “literário” o estilo do texto, mais ele está livre nas convenções de gênero em que se encontra. Textos acadêmicos, por exemplo, podem ser escritos de formas bastante variadas, mas não possuem o escopo de possibilidades que textos literários possuem, liberdades que justificam até mesmo desvios da gramática formal e mesmo informal em prol da criação de um efeito estético. O que está por trás disso é o grau de importância da forma na mensagem comunicada. Um contrato é construído com jargões; qualquer desvio do significado tende a gerar ambiguidades que podem levar ao prejuízo financeiro. Não há espaço para o “belo”, para o trabalho sobre a linguagem. Para escrever um bom contrato temos de conhecer o termo específico para uma determinada operação financeira ou para um determinado documento, com um espaço bastante reduzido para inovações. No outro extremo, a literatura trabalha com o manuseio estético da própria forma, o que abre possibilidades infinitas para o trabalho sobre a linguagem. Um texto acadêmico, entre ambos esses extremos, possui certas liberdades, mas deve obedecer a critérios por vezes bastante rígidos.

Vejamos alguns exemplos. Se estivermos fechando um contrato para a aquisição de um imóvel, encontraremos cláusulas que podem ser reproduzidas infinitamente, algumas vezes apenas com a alteração dos dados dos envolvidos na transação. Um modelo disponível na internet oferece exemplos bastante evidentes dessas cláusulas fixas:

NOME DO VENDEDOR, nacionalidade, estado civil, profissão, CPF nº ????, cédula de identidade nº ???? expedida por ????, e sua mulher ????????, estado civil, profissão, portadora do CPF nº ?????, cédula de identidade de nº ??? expedida por ???, residentes e domiciliados à rua ????, bairro ?????, na cidade de ?????, CEP ?????, , a seguir

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denominados simplesmente VENDEDORES, e de outro lado NOME DO COMPRADOR, nacionalidade, estado civil, profissão, CPF nº ????, cédula de identidade nº ???? expedida por ????, e sua mulher ????????, estado civil, profissão, portadora do CPF nº ?????, cédula de identidade de nº ??? expedida por ???, residentes e domiciliados à rua ????, bairro ?????, na cidade de ?????, CEP ?????, a seguir denominados simplesmente COMPRADORES, mediante cláusulas reciprocamente estipuladas, aceitas e a seguir articuladas:

I. OBJETO DA COMPRA E VENDA

É objeto da presente Promessa de Compra e Venda o imóvel constituído pelo (casa/lotes/apartamento) de número ???, sito à rua ???, no bairro ????, matrícula de nº ???, constante do Cartório do ????? Ofício de Registro de Imóveis de Belo Horizonte, livre e desembaraçado de quaisquer ônus ou gravame.1

Neste exemplo, não se justificaria qualquer alteração que tivesse como preocupação a beleza do texto, uma vez que o que interessa é a mensagem da qual o texto é apenas um veículo. Variantes como as seguintes:

André Luiz Glaser, bem casado e nascido neste país jovem e tão contraditório, possui duas profissões e tem interesse em fechar este contrato [...]

O interesse pela compra de um novo imóvel me move a redigir e assinar este contrato. Sou Brasileiro, tendo sempre vivido em São Paulo, mas sempre gostei do interior. Tenho condições de arcar com essa compra [...]

são, no mínimo, ridículas. Contudo, alterações consideráveis na forma não soam mais estranhas se estamos no campo literário. Tomemos um trecho de um texto de A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo2:

1 “Modelo de Contrato Particular de Promessa de Compra e Venda de Imóvel”. Disponível em: http://www.consumidorbrasil.com.br/consumidorbrasil/textos/modelos/imoveis/compraevenda.htm2 Início do capítulo V. Disponível em: http://www3.universia.com.br/conteudo/literatura/A_more-ninha_de_joaquim_manuel_de_macedo.pdf

Aula 04 | A Escrita

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Ao escutar aquele aviso animador que, repetido pela boca de Filipe, tinha chega-do até o gabinete onde conversavam Augusto e Fabrício, raios de alegria brilha-vam em todos os semblantes. Cada cavalheiro deu o braço a uma senhora e, par a par, se dirigiram para a sala de jantar. Eram, entre senhoras e homens, vinte e seis pessoas.

Aqui, podemos realizar uma série de alterações que, se de um lado modificam o texto, de outro não se tornam “não literárias” ou esquisitas. Por exemplo, podemos “modernizar” o texto, trazendo-o para uma linguagem mais próxima a nós:

Quando escutaram aquelas palavras animadoras que, repetidas por Filipe, ti-nham chegado até o quarto onde conversavam Augusto e Fabrício, todos os semblantes adquiriram expressões de alegria. Cada rapaz tomou o braço de uma moça e, pares em fila, se dirigiram para a sala de jantar. Ao todo, eram vinte e seis pessoas.

Ou, ainda, podemos alterar o próprio estilo do discurso, construindo, por exemplo, um texto em discurso indireto livre, assumindo a perspectiva de alguma personagem fictícia:

Havia escutado aquele aviso animador. Sabia que havia sido proferido pela boca de Filipe, aquela voz que tanto conhecia. Olhar fixo em Augusto e Fabrício, o ritmo de seu corpo se acelerava. Será que Augusto a escolheria? Será que a tomaria como seu par? Todos os semblantes brilhavam, mas apena o dela esta-va marcado pela preocupação. Os cavalheiros voltaram-se para as damas. Não pode acreditar ao ver Augusto tomar outra garota como par.

Entre esses extremos, tomemos um exemplo de um parágrafo em estilo acadêmico, retirado de uma Atividade preparada para alunos do Curso de Especialização em Estudos Literários:

Fim do romance tradicional? Mundo digital mimetizando a realidade concreta? Ou uma nova forma convivendo com a antiga – ainda tão presente e, apesar de tantos augúrios, viva? Qual o lugar da hiperficção na literatura? As promessas e realizações pós-modernas, construindo-se ao lado da expansão da tecnologia di-gital, tornaram possível a prosa da ruptura, prosa da narrativa textual-imagética, formalização do labirinto como arte possível. Dentro desta dialética continuidade/ruptura, perguntas emergem: Quais os limites da abertura para a construção do sentido? Indo além, quais novos sentidos estão sendo criados por essas novas produções culturais que parecem atender à necessidade de representação de um momento específico das relações sociais modernas, cada vez mais depen-dentes da nova tecnologia digital? Como definir esta nova estética digital?

Aula 04 | A Escrita

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Um dos recursos mais valiosos na escrita acadêmica é o da variedade. No caso, o parágrafo foi construído com uma série de perguntas em seu início e em seu final. Trata-se de uma escolha que pode ser alterada, por exemplo, se nos dermos conta que o parágrafo anterior ou posterior também contém perguntas. A monotonia formal pode destruir o prazer de uma leitura que, sob outros aspectos, pode apresentar como bastante interessante. O texto sem as perguntas poderia ficar assim:

A discussão sobre o fim do romance tradicional, cedendo lugar ao mundo digital, ou da coexistência de ambos como formas diversas de mimetizar a realidade, está entre as questões-chave da crítica literária contemporânea. Do lado das formas do mundo virtual, o estudo da hiperficção como literatura tem sua rele-vância. As promessas e realizações pós-modernas, construindo-se ao lado da expansão da tecnologia digital, tornaram possível a prosa da ruptura, prosa da narrativa textual-imagética, formalização do labirinto como arte possível. Dentro desta dialética continuidade/ruptura, pode-se perguntar quais seriam os limites da abertura para a construção do sentido, bem como quais novos sentidos esta-riam sendo criados por essas novas produções culturais que parecem atender à necessidade de representação de um momento específico das relações sociais modernas, cada vez mais dependentes da nova tecnologia digital. Dentro desta temática, deparamo-nos com a necessidade de definição desta nova estética digital.

Outro recurso importante para variar o texto é deslocar seu tópico frasal, ou a frase que contém o centro do argumento do parágrafo. A tendência é que essa frase venha no início do parágrafo, mas se isso se repete constantemente, pode-se gerar uma monotonia no leitor. O próximo exemplo traz um parágrafo curto com seu tópico frasal deslocado do início para o centro e então para o final (o tópico frasal está em itálico):

A habilidade para produzir variedade em um texto acadêmico pode garantir um maior interesse por parte do leitor. Um texto formalmente monótono, mesmo que rico em conteúdo, tende a causar cansaço ao ser lido, mesmo que o leitor não identifique a causa deste aparente desinteresse. Alguns recursos, como inversão do tópico frasal e a alternância de períodos curtos e longos, podem contribuir para a solução deste problema.

Um texto formalmente monótono, mesmo que rico em conteúdo, tende a causar cansaço ao ser lido, mesmo que o leitor não identifique a causa deste aparente desinteresse. O recurso à variedade pode ser decisivo para evitar este problema e garantir um maior interesse por parte do leitor. A inversão do tópico frasal e a alternância de períodos curtos e longos estão entre técnicas para a produção de um texto diversificado em sua forma.

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Um texto formalmente monótono, mesmo que rico em conteúdo, tende a causar cansaço ao ser lido, mesmo que o leitor não identifique a causa deste aparente desinteresse. Alguns recursos, como inversão do tópico frasal e a alternância de períodos curtos e longos, podem contribuir para a solução deste problema. Estes recursos produzem variedade em um texto acadêmico, o que pode garantir um maior interesse por parte do leitor.

Essa preocupação com o estilo está relacionada à qualidade comunicativa do texto escrito, como vimos acima. Em um diálogo, ficamos irritados ou desinteressados quando nosso interlocutor não articula as ideias ou as palavras de forma compreensível, mesmo que o que ele tenha a dizer seja relevante. Não cometamos o mesmo erro ao escrevermos nossos trabalhos. O estilo é uma porta de entrada para conquistarmos nosso leitor. Passemos agora às características essenciais do discurso científico.

2. O Discurso Científico

Dentre as características do discurso científico, podemos citar a necessidade de clareza e a de objetividade. Contudo, o discurso científico varia de acordo com a sua área de atuação. Não há um estilo que seja abrangente o suficiente para abarcar todas as áreas de pesquisa. Os critérios de objetividade de uma pesquisa de elementos químicos ou de uma pesquisa desenvolvida para a construção de uma ponte não são os mesmos dos de uma pesquisa sociológica. Quando entramos na esfera da literatura, da educação ou da política, a escrita pode tomar rumos bastante divergentes dos da de uma pesquisa “exata”, pois interesses políticos ganham uma dimensão explícita. Digo “explícita” porque sempre há interesses, mesmo quando o pesquisador se coloca como “neutro”. Toda pesquisa envolve atividades que têm alguma relevância social e que, desta forma, respondem por interesses, na grande maioria dos casos, do governo ou do mercado. Nós podemos nos “esquecer” destes interesses, ou não tomar conhecimento deles, mas os investimentos não são, nunca, despropositados.

Aula 04 | A Escrita

Saiba MaisHá um curso interessante sobre escrita científica, ministrado por professor da USP de São Carlos, que pode ser de grande auxílio; acesse-o aqui.Disponível em: <http://www.escritacientifica.com/>. Acesso em: 28 set. 2014.

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2.1. Clareza

Alguns cuidados podem nos auxiliar muito na construção de um texto claro e objetivo. A clareza depende de pelo menos dois fatores: uma lucidez a respeito do que temos a comunicar e um bom controle da língua. Quanto ao primeiro, não é possível escrevermos bem sobre algo que não está claro em nossa mente. Uma ideia complexa depende de vários articuladores lógicos no discurso; se essa ideia não estiver madura na mente do escritor, o resultado será bastante confuso. Vejamos um exemplo com erros típicos no que se refere à organização das ideias:

Mudanças climáticas de grande porte ocorrem com frequência. Há hoje pesqui-sas e esforços por ações políticas que possam minimizar o impacto dos avanços tecnológicos no clima, e essa preocupação com as reservas naturais e com o fu-turo do planeta deixou de ser restrita a especialistas no assunto. Também temos de frear o consumismo, por causar danos em nosso ecossistema global. Mas há opositores à ideia do aquecimento global, pois não há unanimidade quanto às causas reais dessas mudanças. Para a grande mídia, o aquecimento global é considerado inquestionável. Vejamos abaixo alguns exemplos de posições radi-calmente divergentes entre especialistas.

Embora o argumento acima seja relevante, a confusão na sua organização torna a sua leitura difícil, transparecendo ao leitor a falta de domínio na organização de seu pensamento. O argumento se move do geral para o particular, e poderíamos “arrumá-lo” reorganizando a ordem dos períodos e modificando os articuladores quando necessário. Uma possibilidade seria colocarmos, primeiramente, a ideia mais geral – o fato da preocupação com as reservas naturais e com o futuro do planeta ter deixado de ser assunto de especialistas. Movendo-se para o particular, o ponto seguinte seria a existência de pesquisas e ações políticas para diminuir o impacto sobre o planeta. Depois, teríamos a questão da falta de unanimidade sobre as causas, já apontando para questões acadêmicas a serem tratadas no artigo. O novo texto ficaria assim:

A preocupação com as reservas naturais e com o futuro do planeta deixou de ser restrita a especialistas no assunto. Mudanças climáticas de grande porte têm ocorrido com frequência, levando a pesquisas e esforços por ações políticas que possam minimizar o impacto dos avanços tecnológicos e, sobretudo, do con-sumismo no ecossistema global. Contudo, ainda não há unanimidade quanto às causas reais dessas mudanças. O próprio aquecimento global, considerado inquestionável pela grande mídia, possui seus opositores no campo científico, pesquisadores que têm apresentado outras teorias para o fenômeno. Vejamos abaixo alguns exemplos de posições radicalmente divergentes entre especialis-tas.

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Em muitos casos, textos problemáticos podem ser resolvidos com uma nova disposição dos períodos ou parágrafos. Organizar os tópicos em forma de itens ou de fluxograma, antes de escrever, pode ser bastante útil para evitar a construção de textos confusos, como vimos na aula passada. Uma leitura atenta após a escrita nunca é dispensável, e em geral é mais produtiva se não for realizada logo após a escrita. Um ou dois dias de intervalo é um tempo razoável para uma leitura mais distante de um texto produzido por nós. Outro recurso é pedirmos para outras pessoas lerem o que escrevemos. Uma crítica honesta e bem recebida pode nos poupar muitos transtornos futuros.

O outro aspecto fundamental para um texto claro, como colocado acima, é o bom controle da língua. Aqui há uma dificuldade das mais sérias. Quem não possui esse controle tem de ter em mente que, quando o que está em jogo é a linguagem, nada acontece de forma rápida. A maturidade com a escrita vem de anos de leitura e produção de textos, experiência que gera uma familiaridade com este discurso. Se o aluno apresenta dificuldades muito grandes nessa área, a leitura e o estudo da língua, embora fundamentais, não surtirão um efeito imediato, às vezes necessário devido aos prazos para a entrega de trabalhos. Nesse caso, uma revisão por um colega ou mesmo por um profissional, para monografias, por exemplo, pode ser de grande valia.

Podemos discutir a questão da especificidade do texto acadêmico por dois vieses: o primeiro, mais geral, se refere à diferença entre o discurso escrito e o discurso falado; o segundo refere-se ao discurso científico dentro do campo da escrita. Quanto ao primeiro tópico, a interferência do discurso falado no escrito pode gerar um texto bastante pobre. Não se trata aqui do escrito ser superior ao falado, mas do fato de ambos possuírem especificidades bastante diversas. No discurso falado, temos o interlocutor à nossa frente, ou do outro lado da linha telefônica. Se houver algum problema de entendimento, nosso interlocutor poderá nos interromper e pedir para repetirmos o que foi dito. Da mesma forma, se percebemos que a pessoa com quem conversamos não nos entendeu, podemos imediatamente reformular o que foi dito. No texto escrito esse diálogo instantâneo não ocorre. Por outro lado, há tempo para a elaboração do texto, de forma que podemos refletir sobre eventuais problemas de entendimento que o leitor venha a ter. A ausência deste tempo de reflexão no discurso falado gera a presença de repetições e de palavras e sons “desnecessários” do ponto de vista do

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que está sendo dito, mas instrumentais para nos dar o tempo necessário para a organização das ideias. Essas marcas não podem estar presentes em um texto escrito, salvo se for uma mimetização do falado, como no discurso direto. Vejamos um exemplo:

Então, acontece que, como eu havia falado, o discurso oral difere do escrito. O discurso oral é mais informal e depende mais da atenção do leitor.

Se esse trecho for “traduzido” para a linguagem escrita, deverá ser “enxugado”. Numa escrita mais formal, a expressão “então, acontece que” desapareceria. Também poderia ser retirado o “eu”, do “como eu havia falado”, e o tempo verbal poderia ser substituído pela segunda pessoa do plural ou pelo impessoal. Outra alteração bem-vinda seria a remoção da repetição de “discurso oral” no trecho “o discurso oral difere do escrito, o discurso oral é mais informal”. Poderíamos, ao invés disso, dizer:

O discurso oral, mais informal, difere do escrito.

O resultado final ficaria assim:

Como havíamos falado, o discurso oral, mais informal, difere do escrito, e depen-de mais da atenção do leitor.

Isso não quer dizer que as marcas apagadas no segundo exemplo estão erradas. Elas são um erro quando aparecem em um discurso de caráter predominantemente escrito, e, sobretudo, de caráter mais formal.

Outra interferência bastante comum da oralidade no discurso escrito, embora também faça parte do discurso escrito informal, mais próximo do registro falado, são os pressupostos que o emissor da mensagem assume ser conhecidos pelo receptor. Em um texto formal, situações familiares ou que envolvem círculos pequenos de amigos jamais poderão ser generalizadas como de conhecimento do leitor. Podemos visualizar nosso leitor como conhecedor do assunto do qual falamos, mas nunca como alguém que vivencia situações particulares de nossa vida. Vejamos um exemplo. Pode-se escrever um email para um amigo com as seguintes palavras:

Então, aquela festa rolou legal. E ela tava lá! Você acredita? Disse que tinha que estudar para a prova de amanhã, mas no fim acabou indo.

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Contudo, se formos escrever sobre o mesmo assunto para uma pessoa que não nos conhece e que não sabe nada da situação descrita, haverá a necessidade de adicionar mais informações sobre o evento:

Ontem à noite houve uma festa na casa de uma amiga minha, a Carla. Foi seu aniversário. Eu estava animado a ir porque encontraria a Márcia, uma garota da minha sala que me interessa. Mas naquela manhã, na faculdade, ela me disse que não iria, porque não havia estudado o suficiente para a prova de cálculo que seria realizada no dia seguinte. Qual foi a minha surpresa quando a encontrei na festa!

Há a necessidade, aqui, de se explicar o que não precisa ser explicado para uma pessoa que conheça a situação. Isso, que parece tão óbvio, é bastante difícil de ser realizado na prática. Quando escrevemos para alguém que não nos conhece, as informações têm de ser trabalhadas de forma tão clara que dependem da construção de uma distância do nosso próprio texto, para que o leiamos como se fôssemos este leitor distante.

O assunto ganha uma dimensão ainda mais séria quando o que temos a comunicar é, por si só, complexo – quando não se trata de ter ido ou não a uma festa, mas dos resultados de uma pesquisa realizada por todo um ano, ou de uma análise complexa que nos tomou um tempo imenso para ser realizada. Em casos como esses, não basta dizer apenas os resultados. O leitor não acompanhou o processo da pesquisa e não sabe o que foi feito. É tão prejudicial aqui escrever menos do que o mínimo necessário para comunicar a pesquisa quanto escrever demais, cansando o leitor com informações desnecessárias.

Há vários modos, ou estilos, de escrita. No exemplo do email ao amigo, trata-se de uma escrita informal, que pressupõe uma intimidade com a pessoa com quem nos comunicamos. Já o texto acadêmico é construído mais formalmente. Muito do vocabulário e das construções sintáticas que são comuns num discurso informal não cabem nesse discurso. Tomando o mesmo exemplo, podemos imaginar que ele agora seja parte de um relato em um estudo de caso. Uma possibilidade para o texto seria:

O adolescente Marcelo havia sido convidado para uma festa que se realizaria na noite do dia 3 de setembro, na residência de uma amiga da faculdade de nome Carla, por conta do aniversário da moça. Marcelo relatou que estava bas-tante animado a ir, pois se encontraria, em um ambiente fora da faculdade, com Márcia, uma estudante de sua classe por quem estava se apaixonando. Mas na manhã do dia da festa, ao perguntar à sua colega se ela estaria lá, Márcia res-

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pondeu que não, pois teria de estudar para a prova de cálculo a ser realizada no dia seguinte. O adolescente ficou bastante alterado com a notícia, mas foi à festa mesmo assim. Lá, teve a surpresa de encontrar a colega de classe que, de última hora, decidiu distrair-se um pouco antes da prova do dia seguinte.

2.2. Objetividade

Com relação à objetividade, o problema da definição do conceito é primordial. Estamos falando do discurso científico ou da ciência propriamente dita, com seus métodos, pesquisas e resultados? A ciência, sobretudo as ciências naturais, sempre teve como ideal a objetividade. Contudo, não existe a menor possibilidade da objetividade plena em atividades humanas. O que há é um cuidado para que haja a menor interferência possível do observador no fato observado, vinculado ao interesse por uma análise investigativa a mais exaustiva possível no campo delimitado de observação. Mas, principalmente com o desenvolvimento de metodologias próprias às ciências sociais, fica cada vez mais evidente a distância entre a aspiração pela objetividade e a sua efetiva concretização.

Não discutiremos essa questão aqui, já de certa maneira abordada na aula I, quando discutimos as ciências naturais e as ciências humanas. Focaremos no discurso escrito, ou seja, focaremos na objetividade na escrita. Como no caso anterior, devemos ter em mente que essa objetividade é sempre parcial. Ela responde por um interesse de isolamento do objeto, um distanciamento do sujeito observador com relação ao fato descrito. É como se fosse possível dizer algo sem um envolvimento no que se diz. Antes de tratarmos do estilo objetivo, é produtivo discutirmos um pouco essa ilusão da objetividade que, em seu ideal de apreensão desinteressada de um evento, não se dá conta muitas vezes da própria mediação da experiência realizada através da linguagem e da cultura. Como vimos na aula I, o mero interesse por investigar algo não pode ser entendido como individual, mas parte de um impulso histórico-cultural que nos faz “ver” certas manifestações humanas e naturais como de interesse para o estudo, e outras não.

Hoje, por exemplo, há um interesse bastante acentuado, difundido nos Estados Unidos e exportado para o mundo, em explicar propensões a doenças e ao humor (e mesmo à felicidade) por meio da genética. Esse interesse vincula-se ao interesse maior por pesquisas no campo genético, que movimentam bilhões de dólares ao ano na produção

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e venda de novos medicamentos. A difusão generalizada de uma concepção que vincula a genética ao humor e mesmo ao nosso sucesso ou fracasso na vida faz com que muitos de nós tomemo-la como “objetiva”, próxima à realidade dos fatos. No entanto, basta nos distanciarmos um pouco que seja dessas teorias para nos darmos conta da existência de outras teorias de peso que trabalham sobre uma infinidade de outros fatores tão ou mais importantes na determinação de nosso humor, como condições econômicas, preconceitos sociais ou a construção do consumidor no mundo moderno (o verdadeiro consumidor é o eterno insatisfeito, uma realidade psicológica que contribui muito para o estresse e a frustração, por exemplo). Qual teoria seria mais “objetiva”? Talvez a pergunta seja menos relevante do que a investigação dos interesses político-econômicos que as movem antes de fazermos a nossa escolha. Desse ponto de vista, mais importante do que um critério de “objetividade plena”, seria o desenvolvimento de um olhar crítico e não preconceituoso.

Dito isso, podemos afirmar que, no que tange à escrita, o estilo objetivo é um estilo, uma forma convencional de dizer algo que pode ser verdadeiro ou não. O estilo acadêmico é um jeito de dizer algo, e como tal, possui as suas características próprias. Essas características devem ser incorporadas à escrita de quem busca escrever um bom texto acadêmico, pois contribuem tanto para uma melhor exposição das ideias quanto para uma maior aceitação do trabalho no meio acadêmico. Entre elas podemos citar:

• Economia no uso de adjetivos. Os adjetivos têm grande poder de expressão de nossas opiniões pessoais. Como o texto acadêmico não é sustentado pela retórica, mas pelo que é mostrado e logicamente construído, os adjetivos, mesmo que estejam corroborando o que está sendo dito, tendem a enfraquecer o discurso. Se, por outro lado, os adjetivos não estiverem nem mesmo expressando algo que esteja sendo provado, seu uso configura-se como um erro crasso. Uma frase como “A pesquisa a ser discutida neste trabalho ilustra de forma excelente as terríveis consequências desumanas dos usos indevidos da tecnologia para fins movidos por uma ética duvidosa” soaria muito melhor com a remoção de vários adjetivos: “A pesquisa a ser discutida neste trabalho ilustra as consequências dos usos da tecnologia para fins movidos por uma ética duvidosa.”

• Persuasão pela descrição e por citações, não pela retórica. Aspecto relacionado ao

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exposto no item anterior, um problema comum em textos acadêmicos de alunos é estarem mais próximos de um estilo jornalístico do que de um estilo acadêmico propriamente dito. Não se trata, evidentemente, de um critério de valor, mas sim de um critério de adequabilidade. O texto jornalístico possui um forte elemento retórico-persuasivo baseado na escolha de palavras fortes ou com forte carga persuasiva. O texto acadêmico, embora deva também ser persuasivo (afinal, quem escreve está defendendo uma opinião), deve ser legitimado não pela força de sua retórica, mas pela qualidade das descrições, pela fundamentação teórico-prática e pela articulação lógico-racional do argumento. Ao invés de “dizer”, a prioridade deve estar no “mostrar”; ao invés de tentar persuadir o leitor, a preocupação deve estar em apresentar um argumento coerente o suficiente para passar pelo seu crivo. Os dois exemplos abaixo mostram a mesma ideia em um estilo mais jornalístico e em um estilo mais acadêmico:

(1) Não podemos mais nos orientar pelas estratégias administrativas anteriores ao mercado mais agressivo dos últimos vinte anos, baseadas numa burocra-cia vertical. Embora isso pareça óbvio, muitas empresas têm encontrado dificul-dades sérias de gestão por não terem se modernizado, mantendo técnicas de planejamento a curto, médio e longo prazo arcaicas e ações para lidar com a concorrência que não dão conta da dinâmica do mercado atual.

(2) A insistência na manutenção de técnicas de gestão antigas engessa a buro-cracia de uma empresa em uma verticalização que não mais responde pelas ne-cessidades do mercado atual. A visão sistêmica oferecida pelo planejamento es-tratégico, sobretudo a baseada na quinta disciplina de Senger, oferece recursos para uma avaliação crítica da empresa no novo mercado. As discussões teóricas a seguir, perseguindo os trabalhos de Peter Senge, R. L. Ackoff e Robert L. Flood, buscam clarificar a ideia desses autores e como podem contribuir para técnicas eficientes de planejamento a curto, médio e longo prazos, bem como com ações capazes de lidar com a nova dinâmica da concorrência no mercado atual.

• Marcas linguísticas de formalidade. Vimos que as marcas da oralidade não devem estar presentes no discurso acadêmico-científico. Pelo mesmo motivo, deve-se evitar tratar o leitor com intimidade. Alguns acadêmicos aproximam-se do leitor em alguns momentos, para conseguir um efeito persuasivo maior. Isso não é proibido, mas devemos estar bem cientes dos limites desses recursos estilísticos antes de fazermos uso deles. Uma dúvida vinculada a este tópico está na exigência ou não da proibição da primeira pessoa do plural e, mesmo, da primeira pessoa do singular no discurso acadêmico. Alguns livros

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de metodologia, acompanhando a sugestão da própria ABNT, defendem que somente o impessoal seja usado. Contudo, livros e artigos de grande alcance são publicados com o uso da primeira pessoa tanto do plural como do singular. Vale aqui o bom senso e o meio em que e pesquisador se encontra. Se a exigência for pelo impessoal, ela deve ser respeitada. Se há espaço para uma maior liberdade, não há por que se limitar apenas ao impessoal. Em geral, quanto mais a pesquisa pertence a áreas exatas, mais se faz uso do impessoal, ao passo que em pesquisas no campo das ciências humanas a primeira pessoa é mais frequente. O que não devemos ter é uma visão preconceituosa do uso da primeira pessoa do plural, preconceito que não condiz com a quantidade de material de excelente qualidade que se utiliza deste recurso. Quanto à primeira pessoa do singular, mais agressiva, deve ser reservada, quando seu uso não é questionado, para momentos em que o autor expressa uma opinião bastante clara de suas escolhas ou quanto defende um ponto de vista definitivamente seu (situação bastante rara, pois depende de uma maturidade e experiência enormes do pesquisador).

2.2. O Caráter Monográfico do Discurso Acadêmico

Não só aquela monografia que tivemos de escrever na graduação, mas quase a totalidade dos textos acadêmicos é monográfica, incluindo aqui dissertações de mestrado e teses de doutorado. Também será monográfico o artigo a ser escrito como atividade final deste curso de especialização. Isso significa que o argumento deve restringir-se ao assunto tratado, que tem de ser específico. Devemos tratar de um único tema que pode, de acordo com a complexidade e os objetivos do texto, ser abordado a partir de perspectivas diversas.

Ao ler um texto monográfico, o leitor tem de “sentir”, a cada parágrafo, o pulso do tema do trabalho. Não que não possa haver digressões, mas elas têm de ter uma razão para existirem e devem estar sempre articuladas com o argumento central. Em suma, a cada momento o texto tem de estar respondendo, implícita ou explicitamente, à questão central – ao problema – que motivou a pesquisa. Se o autor tiver o cuidado de manter sua linha de raciocínio bem construída, terá mais chance de sucesso na construção de um bom artigo.

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3. Revisão do Material Escrito

O processo de revisão do material escrito não deve ser negligenciado. Ao escrevermos, como temos uma imagem mental forte sobre o assunto com o qual estamos trabalhando, só com muita prática conseguiremos a distância necessária do texto para corrigirmos deslizes em sua execução. Uma primeira revisão deve ser feita no próprio ato da escrita, relendo os períodos ou parágrafos que acabamos de escrever. Mas outra revisão, mais cuidadosa, se faz necessária. Para esta, é preciso uma distância do texto de pelo menos um dia para que possamos lê-lo “como leitores”, e não “como autores”.

Discutiremos alguns dos principais itens que devem fazer parte de uma revisão:

• O argumento está bem construído? Ao contrário do que muitos pensam, a revisão não é apenas “gramatical”. Às vezes, durante a escrita, achamos que estamos sendo claros. No entanto, uma leitura posterior pode evidenciar problemas na organização do argumento que o tornam de compreensão difícil. Pedir a outras pessoas para lerem ajuda bastante, inclusive pessoas fora da área que, como não têm formação no assunto tratado, dependem da clareza do texto para saber do que ele trata.

• Ligado ao tópico anterior, podemos citar problemas na ordem do texto. As ideias devem ser amarradas umas às outras e possuir, dentro do argumento, tanto uma posição espacial (início, centro ou finalização do argumento) quanto uma posição hierárquica (ideias centrais ou periféricas). Uma leitura atenta após a escrita do texto pode revelar problemas na disposição das ideias. Em geral, a correção é feita com alterações na organização do texto. Um texto “ilegível” não é, necessariamente, um texto sem conteúdo. Pode ser que o problema esteja na sua organização lógico-racional.

• Fiquemos atentos ao registro da língua. A redação final é formal? O registro informal não é bem-vindo no texto acadêmico. Muitos alunos que dominam bem a escrita informal podem ter problemas com o estilo mais formal. Como vimos acima, devemos remover as marcas de oralidade de nosso texto e verificar se há termos que poderiam ser substituídos por outros mais adequados. A escrita formal não é um sinônimo de artificialismo. Pode-se escrever um texto bastante fluente sem a necessidade de recorrer a marcas da oralidade.

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• Quanto à revisão gramatical, pode ser feita pelo autor ou, se este julgar necessário, por um profissional da área. Entregar versões ao orientador, e principalmente a versão final do artigo, com problemas graves de pontuação e de ortografia pode causar uma péssima impressão, além da perda de pontos na nota final. Os corretores automáticos ajudam, mas se fossem suficientes não haveria tanto problema com textos mal revisados.

• Também é importante realizar uma revisão da formatação.

Para que essas revisões tenham sucesso, é necessário que estejamos com “olhos frescos”. Olhos e mente cansados não podem oferecer a atenção necessária para uma leitura atenta do texto. Algumas pessoas conseguem um maior grau de atenção ao lerem textos impressos, sobretudo devido à luminosidade das telas. Neste caso, vale a pena, para versões a serem entregues, imprimir o material a ser revisado.

Alguns “truques” colaboram para uma boa revisão. Um deles é separar os períodos pressionando <enter> após cada ponto final ou mesmo no meio de períodos longos. O texto assim “quebrado” desvia um pouco nossa atenção da organização das ideias, ajudando-nos a concentrar nos problemas de revisão mais pontuais. Ler os períodos do final do texto para o seu início também traz bons resultados.

Terminar as tarefas com antecedência é fundamental para que tenhamos disponibilidade para realizar uma boa revisão, oferecendo como artigo final um texto apresentável e digno de um curso de pós-graduação.

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Vamos pensar

Para esta última aula, prepare a versão final do seu projeto de pesquisa, seguindo as especificações descritas em seu Ambiente Virtual.

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Pontuando

Você conferiu nesta aula os seguintes tópicos:

• A escrita: estilo e variedade no discurso.

• Estilo de escrita do discurso científico.

• O discurso científico: o caráter monográfico.

ALVES, Rubem. Filosofia da ciência. São Paulo, Ars Poética, 1996.

BUENO, Marco. Monografia sem segredo: Algumas dicas importantes (Texto extraído da revista Nova Escola, abril de 2004). GO: CESUC, 2004. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/42661406/Monografia-Sem-Segredo-Algumas-Dicas-Importantes-1>. Acesso em: 3 mar. 2014.

DANTON, Gian. Metodologia Científica. MG: Virtual Books, 2002. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/6638241/Gian-Danton-Metodologia-Cientifica>. Acesso em: 03 mar. 2014.

FURTADO, José Augusto P. X. Trabalhos acadêmicos em Direito e a violação de direitos autorais

através de plágio. Site: Jus Navigandi, 09/2002. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/3493/trabalhos-academicos-em-direito-e-a-violacao-de-direitos-autorais-atraves-de-plagio> Acesso em: 03 mar. 2014.

GÜNTHER, Hartmut. Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão? Psicologia:

Teoria e Pesquisa, Mai-Ago 2006, Vol. 22 n. 2, pp. 201-210. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-37722006000200010&script=sci_arttext&tlng=em#nt02>. Acesso em: 3 mar. 2014.

LAkATOS, E. Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1991.

Referências

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RODRIGUES, André Figueiredo. Como elaborar citações e notas de rodapé. SP: Humanitas, 2007.

______ . Como elaborar e apresentar monografias. SP: Humanitas, 2008.

______ . Como elaborar referência bibliográfica. SP: Humanitas, 2008.

SIMÕES, Darcília. Trabalho acadêmico. O que é? Como se faz? Rio de Janeiro: Dialogarts, 2004. Disponível em: <http://www.dialogarts.uerj.br/arquivos/trabalhoacademico2004.pdf> Acesso em: 3 mar. 2014.

Referências

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