Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI ADRIANO AUGUSTO VALLADO BATISTA METODOLOGIA EXPERIENCIAL APLICADA À VIDA ORGANIZACIONAL São Paulo 1

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Trabalho de conclusão de Curso de MBA em Gestão Empresarial

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

ADRIANO AUGUSTO VALLADO BATISTA

METODOLOGIA EXPERIENCIAL APLICADA À VIDA ORGANIZACIONAL

São Paulo

2007

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ADRIANO AUGUSTO VALLADO BATISTA

METODOLOGIA EXPERIENCIAL APLICADA A VIDA ORGANIZACIONAL

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção de título no curso de MBA em Gestão Empresarial da Universidade Anhembi Morumbi

Orientador: Professor Doutor Fernando de Souza Coelho

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ADRIANO AUGUSTO VALLADO BATISTA

METODOLOGIA EXPERIENCIAL APLICADA A VIDA ORGANIZACIONAL

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção de título no curso de MBA em Gestão Empresarial da Universidade Anhembi Morumbi

Aprovado em

Prof. Dr. FERNANDO DE SOUZA COELHO

Universidade Anhembi Morumbi

Profa. Mestre DANIELA MOTA ROMEIRO KHAUAJA

Universidade Anhembi Morumbi

Prof. Msc. FERNANDO MARTINSON RUIZ

Universidade Anhembi Morumbi

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................5

1. CAPACITAÇÃO E TREINAMENTO........................................................................7

1.1. TREINAMENTO X EDUCAÇÃO CORPORATIVA.................................................................................10

2. GESTÃO DE PESSOAS NO BRASIL E NO MUNDO: EVOLUÇÃO E MODERNIDADE........................................................................................................13

3. A METODOLOGIA VIVENCIAL COMO PRÁTICA DE ENSINO..........................20

3.1 JOGOS ORGANIZACIONAIS.....................................................................................................................223.1.1. ASPECTOS DO DESIGN DE JOGOS.............................................................................................243.1.2. OS JOGOS E A CULTURA................................................................................................................253.1.3. OS JOGOS DE EMPRESA................................................................................................................27

3.2. E-LEARNING................................................................................................................................................29

3.3. A EDUCAÇÃO AO AR LIVRE, A EDUCAÇÃO EXPERIENCIAL E O CENÁRIO...........................32

3.4. METODOLOGIA VIVENCIAL - BENEFÍCIOS........................................................................................33

4. MECANISMOS DE VALIDAÇÃO E AVALIAÇÃO DE TREINAMENTO...............35

4.1. VISÃO GERAL DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO...............................................................................384.1.1. FATORES DE SUCESSO DA AVALIAÇÃO DO TREINAMENTO.............................................39

4.2. AVALIAÇÃO SEGUNDO KIRKPATRICK...............................................................................................44

5. A AVALIAÇÃO DE RESULTADOS DE PROGRAMAS DE GESTÃO DE PESSOAS.................................................................................................................49

6. EVIDENCIAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS.....................................................55

7. CONCLUSÃO........................................................................................................62

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................65

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INTRODUÇÃO

Nos dias de hoje, os Recursos Humanos ou Capital Humano, como são

chamados atualmente os colaboradores de uma determinada empresa, órgão

público ou qualquer outro tipo de empregador, não são mais considerados um

centro de despesa, e sim um centro de investimento.

Uma vez que esses colaboradores são considerados um investimento e não

mais um centro de despesa fixa, torna-se praticamente obrigatório, avaliar de forma

clara e objetiva esse montante investido, tanto no que diz respeito à forma e

conteúdo, como a taxa de retorno deste investimento.

Esta monografia tem por objetivo diferenciar um simples treinamento dentro

de uma organização com intuito de aprimorar técnicas de uma capacitação de

recursos humanos. Quais são suas vantagens e desvantagens. Após isso, descrevo

a diferença entre Treinamento e Educação Corporativa e suas implicações nas

organizações. Completando ainda o assunto Educação Corporativa, comparo a

gestão de pessoas no Brasil e no Mundo, como evoluímos e quão distantes

estamos dos demais.

Após essa esse capítulo introdutório, descrevo como a Metodologia

Vivencial, tornou-se uma das práticas mais eficazes e utilizadas para a capacitação

humana, quais são os diferentes tipos de treinamentos que compõe a Metodologia

Vivencial, porque são tão aplicados e quais são os seus principais benefícios para

as organizações e para os treinandos. Dentre esses tipos, destaco os Jogos

Organizacionais, seus aspectos, design, cultura e aplicabilidade. Ainda dentre os

tipos apresentados, descrevo a respeito do e-learning, da Educação ao Ar Livre e

da Educação Experiencial.

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Feito essas descrições em relação à Metodologia Vivencial, o leitor desta

monografia, encontrará ainda quais são os mecanismos de validação e avaliação

de um treinamento, assim como quais são os seus respectivos fatores de sucesso.

No capítulo subseqüente, apresento de que maneira as organizações podem

calcular o retorno sobre os seus investimentos em capacitação humana e como isto

pode ser evidenciado dentro de uma empresa através de indicadores de produção

física, de produção monetária, de produtividade, de qualidade, de valor adicionado

bruto, de rentabilidade e de gestão de pessoas.

No último capítulo, apresento minha conclusão em relação ao melhor tipo de

treinamento vivencial a ser utilizado pelas organizações, qual a melhor maneira de

nos certificarmos da eficácia deste investimento, assim como a maneira mais

simples e eficiente de identificarmos o retorno sobre o investimento em capacitação

humana.

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1. CAPACITAÇÃO E TREINAMENTO

Segundo WOMACK (1992), a nova forma de organizar o trabalho e a

produção passa a exigir mão-de-obra capacitada e com maior nível de escolaridade

formal, com maior apropriação de tecnologia e conhecimento, capacidade de

decisão e responsabilidade pela concepção e execução de atividades, constituindo-

se em elementos capazes de aumentar a capacidade competitiva das organizações.

O momento de mudanças vem exigindo das organizações novos desafios

visando à melhoria da produtividade e da qualidade dos serviços prestados na busca

da competitividade. As tendências do trabalho com competência se apresentam de

várias formas no dia-a-dia principalmente nas pequenas e médias empresas

(CASTRO, 2002).

Para GITAHY (1994) capacitação é toda influência que o indivíduo recebe do

ambiente através do treinamento, assimila-as de acordo com suas inclinações e

predisposições e enriquece ou modifica seu comportamento dentro dos seus

próprios padrões pessoais. A capacitação pode ser institucionalizada e exercida não

só de modo organizado e sistemático, como também pode ser desenvolvida de

forma difusa, desorganizada, e assistemática como no lar e nos grupos sociais a que

o individuo pertence, sem obedecer qualquer plano preestabelecido.

Outro aspecto importante da capacitação é entendê-la como um conjunto de

competências profissionais que significa englobar as noções do “saber”

(conhecimentos), “saber fazer” (capacidade de transformar o conhecimento teórico

em trabalho) e “saber ser” (dimensão comportamental – conjunto de habilidades,

qualidades, competências), apresentada por GITAHY (1994).

“O treinamento visa fornecer ao empregado melhores conhecimentos,

habilidades e atitudes, para que não se dissocie das inovações em relação a seu

campo de atividade e das profundas mutações do mundo que o cerca” (AQUINO,

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1980). Já a capacitação profissional visa a preparar o homem para uma profissão

em determinado mercado de trabalho. Também, visa ampliar, desenvolver e

aperfeiçoar o homem para seu crescimento profissional em determinada carreira na

empresa ou para que se torne mais eficiente e produtivo no seu cargo. No que tange

à educação profissional pensa-se numa formação mais generalizada, que não esteja

atrelada ao “que fazer” mecanicamente, mas sim ao fazer, ao saber e ao querer

fazer, numa sintonia de trabalhos que precisam fundamentalmente de segurança,

delicadeza e dedicação daqueles que coordenam os processos de ensino-

aprendizagem. A aprendizagem de uma profissão não pode se resumir em dominar

os passos, as operações, as tarefas e as informações tecnológicas para sua

execução, mas também em acreditar na sua importância como função econômica e

social (CASTRO, 1995).

Em razão da rápida evolução tecnológica, a eficiência dos negócios começou

a depender mais da permanente atualização e aprendizagem do que da autoridade

gerencial. Sendo assim, a formação profissional tornou-se uma alternativa para a

autoridade gerencial na busca da eficácia. Os programas de formação e atualização

tornaram-se metas fundamentais para o sucesso nos negócios. BARRETO (1995)

afirma que treinamento é “a educação profissional que visa adaptar o homem ao

trabalho em determinada empresa, preparando-o adequadamente para o exercício

de um cargo, podendo ser aplicado a todos os níveis de setores da empresa”. É tido

como um meio de desenvolver competências nas pessoas, para que se tornem mais

produtivas criativas e inovadoras, a fim de alcançar os objetivos da organização.

“Bem antigamente, a palavra treinamento significara ‘adestramento’ e com

esse sentido era usada na preparação de animais (de cães de caça a pombos-

correio). No século XIV, os franceses criaram a palavra traîner para exercícios

militares, a partir do latim trahere, ‘puxar’, ‘carregar’, e os ingleses importaram a

palavra da França para designar a preparação de atletas para competição (e, por

extensão, surgiu o trainer, ‘treinador’). Interessante é que, já no século XIX, a

mesma palavra inglesa para treinamento – train – foi usada também para batizar o

‘trem’, no sentido de um grupo de vagões que segue a locomotiva, como a obediente

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fila de atletas seguia o treinador. Trainée, outra palavra francesa adotada pelas

empresas, significa ‘sendo treinado’ (Gehringer 2002)”.

Com base nos conceitos citados, pode-se dizer que aperfeiçoamento,

capacitação, desenvolvimento e formação, são os objetivos que o treinamento

busca, os quais, por sua vez, devem estar embasados no objetivo maior da

empresa, os que permitirá alcançar a eficiência de mão-de-obra envolvida no

processo produtivo, administrativo e técnico da organização.

A Secretaria da Educação dos EUA conduziu uma pesquisa para determinar

qual a influência do treinamento na produtividade. Os resultados foram segundo

MANTER (2001):

a) um aumento de 10% no nível de educação de uma pessoa aumenta sua

produtividade em 8,6%;

b) aumentar em 10% o período trabalhado aumenta a produtividade em 6%;

c) aumentar o capital da empresa em 10% aumenta a produtividade em 3,2%.

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1.1. TREINAMENTO X EDUCAÇÃO CORPORATIVA

As empresas têm diferentes opções estratégicas para o desenvolvimento

humano.

Um primeiro aspecto está em decidir entre programas de desenvolvimento

formais ou informais, programas de desenvolvimento extensos ou limitados,

formação de habilidades ou identificação e contratação externa de habilidades.

"Estes três tipos de opções apontam para o grau de compromisso que tem a

empresa para levar a cabo o desenvolvimento de seus executivos. As companhias

que consideram o desenvolvimento de seus gerentes como a atividade central na

gestão de Recursos Humanos optam por programas de desenvolvimento extensos e

formais, e estão desenvolvendo constantemente as habilidades e conhecimentos

requeridos para que os gerentes desempenhem eficazmente suas atividades. Ao

contrário, as companhias que recorrem à contratação externa de recursos humanos

tendem a ter programas de desenvolvimento informais e esporádicos e fazem uso

deles para identificar as habilidades que deveriam adquirir no mercado externo”

(HAX & MAJLUF, 1995).

Culturalmente, o processo de educação dentro das organizações era

considerado (e em muitos casos ainda é) função do departamento de recursos

humanos. À medida que cresce a consciência de que a educação é um processo

contínuo e não um evento isolado (treinamento), a educação corporativa ganha força

no cotidiano das organizações. O termo treinamento ainda é freqüentemente

utilizado como sinônimo de educação corporativa, alguns especialistas no assunto,

entretanto, fazem a distinção entre os termos.

O treinamento é focado e orientado para questões relacionadas a

desempenho em curto prazo, é orientado à tarefa, e a educação corporativa é

orientada à ampliação das habilidades e competências do funcionário, oferecendo-

lhe uma visão macro da empresa, com vistas ao aumento do capital intelectual da

organização (MARRAS, 2002).

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Na educação corporativa os ambientes de aprendizagem tornam-se pró-

ativos, centralizados, determinados e estratégicos e o resultado esperado é que o

empregado possa desenvolver a capacidade de aprender e dar continuidade a esse

processo na volta ao trabalho. Segundo Meister (1999), as empresas começam a

perceber a necessidade de transferir o foco dos esforços de treinamento para a

educação corporativa.

A educação corporativa tem ainda, como proposta, alinhar os membros da

organização aos objetivos empresariais, oferecendo soluções de aprendizagem para

cada família de cargos. Por tratar o ambiente corporativo como um todo, permite que

o aprendizado organizacional seja direcionado para o resultado global e não para a

melhoria individual, agregando valor ao resultado corporativo (MEISTER, 1999).

A visão que a educação corporativa traz, pode impulsionar as grandes

organizações a atuarem como uma escola de negócios, otimizando a cadeia de

relacionamentos entre empresa-cliente-fornecedores e possibilitando o

desenvolvimento em longo prazo dos talentos intelectuais da empresa.

O que está por trás disso tudo é uma mudança de paradigma, que seja capaz

de instaurar uma filosofia de educação permanente, pautada em estratégias

organizacionais.

Senge (2000), Edvinsson e Maone (1998) e Santos et al (2001) destacam três

correntes que classificam o modo como as empresas atuam dentro deste panorama:

(I) corrente learning organizations (organizações de aprendizagem) – enfatizam o

desenvolvimento humano como fator de sucesso das empresas;

(II) corrente management of intellectual capital (gestão do capital intelectual) – foca

os aspectos econômicos do know-how da empresa;

(III) corrente knowledge management (gestão do conhecimento) – envolve aspectos

como competências, estruturas e relacionamentos e busca a integração das

relações humanas, com enfoque à competitividade.

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O que evidencia uma organização do conhecimento é a criação de

procedimentos e estruturas tecnológicas e sociais para administrar a captação,

distribuição, organização, troca e aplicação do conhecimento, permitindo que todos

os funcionários participem e desenvolvam seu potencial, dando retorno a

organização.

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2. GESTÃO DE PESSOAS NO BRASIL E NO MUNDO: evolução e modernidade

A prática de Gestão de Pessoas - ou conforme evidenciam Almeida, Teixeira

e Martinelli (1993), as unidades responsáveis pela gestão de RH (Departamento de

Pessoal) -, nas décadas de 1930 a 1950, tinham como objetivos centrais a mediação

do relacionamento entre patrões, sindicatos e empregados; a promoção de uma

política paternalista e assistencialista de bem-estar social, assim como a realização

de um trabalho de caráter paliativo, visando à neutralização das insatisfações dos

funcionários. Com atividades voltadas para regulamentos e procedimentos, dirigidas

através de exigências legais, as empresas consideravam o fator humano uma

ferramenta a mais na produção, juntamente com o físico e o tecnológico.

Segundo a concepção de Gil (1994), só se pode falar em Administração de

RH em determinado local quando se identifica a existência de uma base industrial

sólida. Apesar da presença de trabalhadores europeus e da ocorrência de algumas

greves no cenário brasileiro, sobretudo entre os anos de 1907 e 1917, é somente a

partir de 1930 que se observam alterações significativas nas relações de trabalho no

país, através da criação, no governo Getúlio Vargas, do Ministério do Trabalho,

Indústria e Comércio, que tinha como finalidade tratar das questões relativas aos

problemas trabalhistas.

De acordo com Orlickas (2001), o Departamento de Pessoal, terminologia

ainda muito utilizada pelas empresas, apresentava funções consideradas típicas e

rotineiras como é o caso da contratação, da demissão e da promoção de

funcionários. A autora acrescenta, ainda, que a evolução das técnicas de

administração, o advento da Escola de Relações Humanas e o aperfeiçoamento das

teorias sobre comportamento organizacional contribuíram para que estas unidades

organizacionais assumissem um novo redirecionamento de suas ações no âmbito

organizacional, ao considerar questões como seleção, cargos e salários,

treinamento, benefícios e serviço social.

Segundo Almeida, Teixeira e Martinelli (1993), a partir da década de 1950,

surgiu o Gerente de Relações Industriais em substituição ao Chefe de Pessoal,

sendo que, a partir de meados da década de 1960, emerge a figura do Gerente de

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RH. Gil (1994, p. 24) menciona que a década de 1950 foi marcada pela expansão da

indústria siderúrgica, petrolífera, química, farmacêutica e automobilística. Estas

mudanças passaram a requerer um novo profissional para gerenciar os problemas

de pessoal. É importante, porém destacar que "o sistema de ensino não se mostrara

adequado para preparar esse novo profissional." Desta forma, as empresas

aproveitaram os mesmos chefes de pessoal, mudando apenas a nomenclatura de

seus órgãos.

Conforme Wood Jr (1995) é a partir da década de 1960 que se iniciou a fase

sistêmica, uma vez que correspondia a uma época em que se observavam

características de integração dos enfoques estruturalista e comportamental.

Para Gil (1994), a partir de 1973, após o “milagre econômico”, a conjuntura

nacional não era favorável às organizações. Para sobreviver a esse momento, as

empresas necessitavam conferir maior atenção a certas áreas de RH, pouco

consideradas até então, como, por exemplo, o treinamento de pessoal. Argumenta

ainda, que a partir de 1978, as relações de trabalho no Brasil tornaram-se mais

tensas, pois os trabalhadores passaram a demonstrar uma maior capacidade de

organização, fazendo com que o Governo e os empresários começassem a sentir a

necessidade de negociar com eles.

Prosseguindo neste enfoque, a abertura da economia aos produtos

estrangeiros nos anos 90, assim como a pressão por qualidade dos produtos e a

acirrada competitividade faz com que as empresas procurem se adequar aos novos

tempos, pois, segundo a concepção de Almeida, Teixeira e Martinelli (1993), o

surgimento de novas tecnologias, das maiores especializações funcionais, assim

como de uma maior ênfase ao treinamento empresarial acarretaram o

desenvolvimento de novos profissionais.

Neste contexto, Wood Jr (1995) destaca o surgimento de tendências que

evidenciam a terceirização de algumas atividades; a migração da função RH para as

áreas operacionais; assim como mudanças na denominação da unidade

organizacional, que, de Gestão de Pessoal, passou a ser considerada Gerência de

RH. Acrescenta-se que na contemporaneidade, Boog (1999) incorpora a utilização

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de novas terminologias para essa função, como Gestão de Pessoas ou expressões

como Patrimônio Humano e Talentos Humanos.

Tachizawa e Rezende (2000) afirmam que para se manterem competitivas em

um ambiente de profundas transformações, as organizações têm sido

constantemente induzidas a repensarem seus modelos de gestão. De acordo com

Caldeira (apud ALMEIDA; TEIXEIRA; MARTINELLI, 1993), a história da evolução da

administração é acompanhada pela necessidade de gerir as pessoas de forma

estratégica. Os RH passam a ser considerados fundamentais, dada a importância

que assumem na sociedade pós-industrial, provocando a necessidade de mudança

nos sistemas administrativos com novas formas, voltadas para a obtenção e a

manutenção de equipes de trabalho criativas, atualizadas, efetivas e conscientes

dos objetivos organizacionais. Considera-se este salto de conceito e postura como

reflexo de um mundo contemporâneo, de uma nova sociedade, voltada para a

qualidade em todos os sentidos. A velocidade e o impacto das mudanças requisitam

profissionais com habilidades para captar novidades, filtrá-las e repassá-las ao corpo

diretivo das empresas (MENDONÇA, 2000). Para Chiavenato (1999a), existem três

aspectos fundamentais na abordagem do termo Gestão de Pessoas:

_ primeiro - as pessoas passam a ser compreendidas enquanto seres humanos

dotados de personalidade, e não meros recursos da organização;

_ segundo - as pessoas são caracterizadas como elementos impulsionadores de

recursos organizacionais; e

_ terceiro - as pessoas representam os parceiros ativos da organização.

Wood Jr (1995) destaca que tem sido enfatizada a questão da valorização do

fator humano e da transformação da função RH nas empresas. Neste sentido, de

acordo com Boog (1999), o fato mais marcante foi a percepção de que o Gestor de

Pessoas deverá ser mais interagente com a estratégia da organização. Para este

autor, o engajamento de Gestão de Pessoas ao negócio passa a ser vital para a

sobrevivência e desenvolvimento da organização, destacando, ainda, que existe

uma tendência ascendente evidenciando que o Gerente é também um Gerente de

Pessoas.

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Nesta linha de entendimento, Costa (1994) esclarece que a democratização

do desenvolvimento de RH surge enquanto uma proposta. Isto requer a

descentralização das atividades de desenvolvimento de RH, o que implica admitir

que este desenvolvimento seja encarado mais como uma função gerencial do que

apenas atribuição de um centro de treinamento. A Gestão de pessoas tem por

responsabilidade fazer com que a organização desenvolva e explicite sua visão de

futuro, seu “sonho”, sua missão e seus objetivos maiores, aonde ela quer chegar,

que valores devem apoiar esse “sonho” e de quais pontos fortes ela dispõe para

chegar lá (CARNEIRO, in BOOG, 1999, p. 168).

Verifica-se, então, que a cultura empresarial tem dado uma ênfase cada vez

maior à valorização do ser humano enquanto patrimônio, ao invés de recurso da

organização, pois, conforme explicita Vieira (1994) é certo e reconhecido por

administradores e empresários que são as pessoas os agentes responsáveis pelas

mudanças numa organização. Sendo assim, o fator humano é decisivo para o

sucesso da administração.

De acordo com Orlickas (2001), existe, na contemporaneidade, uma nova

perspectiva para os profissionais de RH, que lhes atribui o exercício de atividades

como Consultores Internos. O Consultor Interno é compreendido pela autora como

sendo um funcionário de uma empresa que ocupa um cargo de nível médio,

apresenta um perfil generalista com relação à sua área de intervenção (RH,

marketing, finanças e informática), atuando como um link entre o cliente interno e a

gerência (ou direção) da área e como um facilitador ao elaborar diagnósticos na

tentativa de identificar soluções para os possíveis problemas, sugerindo, opinando e

criticando.

Ainda neste sentido, sobre consultoria interna de RH, Girardi (2001)

argumenta que o profissional de Recursos Humanos tem sua atuação ampliada no

seu novo papel de consultor interno. De forma geral, atua como suporte na

resolução das questões de RH, estabelece metas de RH para a sua área, pesquisa,

acompanha e controla a eficácia dos produtos de RH oferecidos pela empresa,

adaptando-se às necessidades do seu cliente interno e desempenhando o papel,

finalmente, de orientador de todos os processos de recursos humanos.

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Esse modelo tem como objetivo antecipar tendências de Gestão de Pessoas,

tendo a sua atuação alinhada com as estratégias organizacionais. Ademais, esta

proposta, segundo Orlickas (2001), objetiva prover a organização de informações

descentralizadas - que é um dos principais objetivos da implantação de um projeto

de Consultoria Interna de RH -, cuja finalidade é a valorização das competências e

do capital intelectual, assegurando seu envolvimento nos processos de mudanças

organizacionais, com enfoque no cliente interno e externo. Alves Filho (2001, p. 22),

cita uma afirmação do autor Stewart (1998), em que este último compreende que o

capital intelectual representa a soma do conhecimento de todos da empresa,

proporcionando vantagem competitiva. Ao contrário dos ativos contabilmente

considerados, o capital intelectual é intangível; é o conhecimento da força de

trabalho, é a rede eletrônica que transporta a informação da empresa à velocidade

da luz, é a cooperação (aprendizado compartilhado) entre uma empresa e seus

clientes que forja uma ligação entre eles, trazendo, com muita freqüência, o cliente

de volta. Stewart (1998) conceitua as pessoas de uma organização como sendo

ativos intelectuais. Dessa forma, afirma que a principal tarefa dos negócios

(organizações) contemporâneos, sob o ponto de vista estratégico, refere-se à gestão

desses ativos intelectuais, uma vez que vivemos num contexto em que a nova

economia baseia-se no conhecimento e na informação, marcando, assim, o

surgimento da Era do Conhecimento, que exige a construção de um novo modelo

organizacional e novos métodos gerenciais. Alves Filho (2001, p. 23) tomou como

referência os estudos realizados por Nonaka (1997), assim como por Nonaka e

Takeuchi (1997), descrevendo que um conhecimento novo tem como ponto de

partida o indivíduo. Esse conhecimento individual necessita ser transformado em

conhecimento organizacional, valioso para toda a "empresa criadora de

conhecimento", que se desenvolve continuamente e em todos os níveis da

organização. Essa é a base para a gestão do conhecimento. Cury (1995) argumenta

que a administração contemporânea valoriza funcionários multifuncionais, que

atuam em diversas áreas, com uma visão holística da empresa, pois a

departamentalização das estruturas empresariais está deixando de existir de forma

tão definida e estanque, passando a ser substituída por equipes com atribuições

diversas, antes restritas a órgãos específicos. De acordo com Boog (1999), essa

visão holística da organização está mais convergente com as concepções atuais,

que estão transformando a configuração das relações de trabalho nas organizações.

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Segundo Kotter (1997), o funcionário do século XXI precisará conhecer mais

sobre liderança e gerenciamento, para satisfazer as demandas da organização que

aprende. Afirma ainda que, sem esses conhecimentos, as empresas terão

dificuldades para se adaptar e mover-se com o dinamismo necessário. Desta forma,

a Gestão de Pessoas deve estar sintonizada com os novos tempos, adotando

políticas condizentes. No centro das mudanças está a necessidade de contar com

profissionais capacitados e comprometidos, que saibam trabalhar em equipes,

enfrentando os desafios com maior autonomia e responsabilidade, agregando mais

valor à organização.

Existe um conjunto de propostas e práticas contemporâneas, entre outras,

que corresponde a iniciativas voltadas para a valorização de capital humano que têm

sido implementadas por empresas inovadoras como:

a avaliação de desempenho 360 graus que, segundo Vassalo (1996), é

realizada pelos subordinados e parceiros em relação às suas chefias e vice-

versa;

empowerment que, de acordo com Robbins (2000), pode ser compreendido

como delegação de poder, energizando os colaboradores;

aprendizagem contínua que, para Boog (1999), visa à defesa da prática de

desenvolvimento contínuo em habilidades técnicas e sociais;

remuneração e horários flexíveis, compreendidos por Robbins (2000) como

sendo uma remuneração vinculada a variáveis de desempenho e habilidades

desenvolvidas e horários de trabalho alternativos;

benefícios flexíveis que, segundo Garcia (1999), objetivam o atendimento das

necessidades de cada funcionário;

prêmios por participação ativa, através de distribuição de bônus

(CASTANHEIRA, 1995);

projetos específicos, visando retenção de talentos nas empresas.

(BERNARDI,1997);

atividades diferenciadas com vistas a promover a qualidade de vida das

pessoas. (GOMES, 1997).

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Silveira (2001) enfatiza que os funcionários têm valorizado as empresas que

investem na formação de seu pessoal e mantêm políticas de comunicação aberta,

transparente e intensa. Estudiosos como Axelrod, Handfield-Jones e Michaels

(2002) sugerem que a organização crie uma "proposta de valorização do

funcionário" que leve o profissional talentoso a buscar sua empresa e nela

permanecer. Esses autores defendem a avaliação sistêmica de desempenho

(feedbacks), no intuito de melhor investir nos profissionais talentosos.

Drucker (2002) alerta as organizações para a necessidade de desenvolverem

talentos, sendo esta a tarefa mais importante da competição numa economia do

conhecimento, enfatizando que até mesmo nas relações com terceirizados e

trabalhadores temporários deve haver essa preocupação.

Assim, pode-se inferir que, após muitas décadas de evolução, a teoria

contemporânea de Gestão de Pessoas sinaliza uma abordagem mais voltada para o

ser humano, incluindo práticas e posturas que resgatam o papel do indivíduo como

ser humano capaz de gerir e maximizar, de forma efetiva, os demais recursos da

organização. A partir de então, verifica-se que o ser humano permeia o meio

ambiente e o espaço interno das organizações, constituindo-se, portanto, a chave de

qualquer processo de mudança que for gerado a partir das pressões externas sobre

a organização. Entender como as pessoas mudam ou são mudadas, como

percebem a necessidade de mudança ou como aprendem sobre a necessidade de

mudar, torna-se ponto fundamental na Gestão de Pessoas (MENEGASSO; SALM,

2001).

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3. A METODOLOGIA VIVENCIAL COMO PRÁTICA DE ENSINO

Uma vez visto que o desenvolvimento e capacitação dos seres humanos de

uma organização são fatores fundamentais de sucesso das empresas, torna-se

necessário identificar a melhor maneira de educá-los ou formá-los. Esta forma está

diretamente ligada a motivação do treinando em receber determinado conteúdo.

Diferentemente das crianças, os adultos escolhem naturalmente o que

querem aprender e de que maneira preferem receber o conteúdo proposto.

Pensando nisto, durante as últimas décadas, várias metodologias foram

desenvolvidas no sentido de educar de maneira leve, lúdica e rápida.

Nos próximos tópicos, abordarei algumas dessas metodologias baseadas na

metodologia vivencial.

A grande vantagem da simulação, como metodologia de

ensino/aprendizagem, é o fato de conseguir proporcionar ao aluno, dentro do espaço

da sala de aula, uma aproximação muito consistente entre a teoria e a prática,

simulando situações empresariais como relações entre os departamentos de uma

empresa, estudos de mercado, divisão de trabalho, reuniões, decisões financeiras,

políticas de estoque, tomada de decisão, riscos, relacionamento entre empresas etc.

(KNABBEN e FERRARI, 1995).

Rego (1995) identifica a Aprendizagem Vivencial como um tipo de

aprendizagem que tem como especificidade ser "plena de sentido" e apresenta

como características:

a) envolvimento pessoal (aspecto afetivo quanto cognitivo);

b) auto-iniciada (mesmo com estímulos externos, o senso de descoberta, de captar,

de compreender, vem de dentro);

c) penetrante (suscita modificação no comportamento, nas atitudes);

d) avaliada (participante sabe se a aprendizagem está indo ao encontro de suas

necessidades);

e) verificada (elemento de significação que traz ao participante).

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Page 21: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

No entanto, Gramigna (2004) ressalta que qualquer processo de

desenvolvimento e/ou mudança de cultura é composto por fases distintas, tais como:

a crença e o reconhecimento dos envolvidos de que é necessário mudar, a

aquisição de habilidades necessárias à mudança, a vontade de mudar e a promoção

da mudança individual. Nas palavras do autor, “as intervenções de desenvolvimento

devem estar focadas nas pessoas - no ser humano e nas suas peculiaridades, pois

é delas que partem todas as ações. Antes, ou em paralelo às mudanças de

processo, faz-se necessário intervir na sensibilização e conscientização do ser

humano para uma nova ordem”.

A essência desta metodologia é promover uma experiência para os alunos e

facilitar a reflexão sobre a mesma. A experiência, o desafio por si só, é insuficiente

para trazer aprendizado. O processo de reflexão é que transforma a experiência em

aprendizado.

"O cérebro está ligado quando se planeja, escolhe, quando se toma decisão. O

cérebro está desligado quando alguém está tentando despejar informações dentro

dele.”

Leslie Hart, no livro How The Brain Works.

21

Page 22: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

3.1 JOGOS ORGANIZACIONAIS

Na busca da excelência na formação e no treinamento de funcionários e

executivos, grande número de empresas sediadas nos países industrializados

utiliza-se de uma série de expedientes e atividades, físicas, mentais e psicológicas,

quase sempre adequadas ao perfil sócio-econômico de seus treinandos, muitas das

vezes até lançando modismos e descobrindo novos valores, como a onda atual em

torno da “inteligência emocional”.

Uma série de empresas sediadas no Brasil como o Citybank, a Rhodia e

entidades como a Febraban, dentre outras, já se utilizam de jogos do tipo carteado,

de dados e de perguntas para treinar seus funcionários visando a melhoria no

desempenho dos mesmos.

Aprende-se brincando, o que possibilita melhor assimilação de conceitos e

procedimentos, além de enriquecer o aprendizado. Outras submetem seus

executivos do topo da hierarquia e de média gerência a uma série de psico-

atividades do tipo psicodrama, testes de perseverança e de desempenho correlato,

acreditando ser possível despertar nos participantes dessas atividades uma série de

atributos favoráveis à Administração e que poderiam estar adormecidos ou em

estado potencial.

Para diferenciarmos esse tipo de atividade lúdica que se utiliza de papel,

canetas, dados, tabuleiros ou aquelas mais eminentemente psicomotrizes – que não

utilizam o computador como ferramenta ou mídia – daquelas atividades apoiadas por

ou desenvolvidas para computador, denominaremos as primeiras de “jogos

analógicos” e as últimas de “jogos computacionais”.

Mário Seabra, consultor de empresas na área de Gamming, concebe jogos

“analógicos” há 34 anos. Na área de treinamento de Recursos Humanos já produziu

jogos, somente para citar dois casos, para a Febraban e para o Citybank, que

enfocavam o funcionamento de uma agência bancária no primeiro caso e como

vencer no mercado financeiro, no segundo. Segundo ele, os principais segredos

para obterem-se bons resultados nesse tipo de treinamento é ter em mente a noção

22

Page 23: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

de tempo, o timing, e ser o mais histriônico possível, ou seja, eletrizante a fim de

manter a atenção e transmitir emoção para empolgar os treinandos. O design de

jogos computacionais para o contexto da formação no trabalho ainda é um tópico de

pesquisa em aberto. A interdisciplinaridade envolvida no assunto e a aparente

associação de jogo com diversão, enquanto que trabalho é uma coisa “séria”, é

apenas um dos desafios que têm impulsionado nosso trabalho (Fernandes et al.,

1995,1996) nessa área.

23

Page 24: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

3.1.1. ASPECTOS DO DESIGN DE JOGOS

Tanto o design quanto o desenvolvimento de qualquer jogo para uso na

formação profissional requerem certo número de cuidados e decisões a serem

tomadas desde o início, começando pela identificação e pertinência do mesmo

quanto às necessidades específicas a serem satisfeitas, as quais servirão para

estabelecer grosseiramente a natureza do jogo. Estas decisões são tão importantes

quanto difíceis – quando não impossíveis – que chegam a mudar radicalmente a

fase de desenvolvimento.

Num trabalho realizado para o Royal Military College of Science, em 1981,

seus autores estabeleceram três áreas principais que condensavam alguns aspectos

problemáticos a serem levados em conta pelo designer de jogos: problemas

relacionados com o usuário, problemas no desenvolvimento e problemas

computacionais [Hartley, Ritchie, Fitzsimons;1981].

24

Page 25: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

3.1.2. OS JOGOS E A CULTURA

O mundo dos Jogos é tão variado e tão complexo que o seu estudo pode ser

abordado de inúmeras maneiras. O jogo é mais do que um fenômeno fisiológico ou

um reflexo psicológico. É uma função significante, ou seja, encerra um determinado

sentido. É também uma evasão da vida real para uma esfera temporária de

atividade com orientação própria [Huizinga, 1938]. Ele se insinua como atividade

temporária que possui uma finalidade autônoma, como um intervalo em nossa vida

quotidiana. Porém, tem um caminho e um sentido próprios, início e fim, e é limitado

pelo tempo, apesar de poder ser repetido a qualquer momento. Além de todos esses

predicados, o jogo cria ordem e é ordem [Huizinga,1938]. Ou seja, introduz na

confusão da vida e na imperfeição do mundo, uma perfeição temporária e limitada,

devido às regras que são estabelecidas. Essas regras deixam de ser separadas do

jogo assim que este adquire a existência institucional, passando a fazer parte de sua

natureza de cultura. Schiller [Schiller, 1862] talvez tenha sido o primeiro a salientar a

excepcional importância do jogo na história da cultura. A avaliação dos recursos

disponíveis e o cálculo das eventualidades previstas fazem-se de súbito

acompanhar duma outra especulação, uma espécie de aposta que supõe uma

comparação entre o risco aceito e o resultado previsto. E a essência do espírito

lúdico é ousar, correr riscos, suportar a incerteza e a tensão.

Considerando estes aspectos podemos definir essencialmente o jogo como

sendo uma atividade prazerosa, livre, delimitada, incerta, regulamentada e fictícia. A

extensão e variedade infindas dos jogos provocam inicialmente certa preocupação

em classificá-los segundo algum princípio, haja vista que podem existir várias

classificações concorrentes. Roger Caillois [Caillois, 1958], um dos fundadores do

“Collège de Sociologie”, numa de suas obras sobre os mitos sociais, propôs a

divisão em quatro classes principais, conforme predomine no jogo o papel de

competição: Agôn; da sorte: Alea; do simulacro: Mimicry e da vertigem: Ilynx.

Assim, tanto o futebol quanto o xadrez seriam exemplos de Agôn; o pôquer e

a loteria, de Alea. Como exemplo de Mimicry – termo oriundo da língua inglesa e

que é usado para designar mimetismo – poderíamos citar a representação do papel

de mãe, pelas meninas, nas brincadeiras infantis com bonecas, bem como a

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Page 26: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

representação de super-herói pelos meninos. Segundo Platão, com meia hora de

jogo é possível conhecer-se melhor alguém do que olhando sua vida inteira.

Baseada nesta teoria, a Psicologia Industrial se vale de uma série de role-playing

games, onde são apresentadas situações e distribuídos diversos papéis aos

entrevistados, num exemplo típico de Mimecry. E, finalmente, as brincadeiras de

rotação rápida ou de queda do corpo, levadas a termo até atingir-se um estado

orgânico de confusão e desordem, seriam exemplos de Ilynx.

De maneira semelhante, Caillois ainda polariza esses quatro componentes

primordiais em dois extremos antagônicos. Um, onde reina um princípio de diversão,

turbulência, improviso e fantasia, que ele designa por Paidia, é a manifestação

espontânea do instinto do jogo. Outro, onde essa aparente indisciplina alegre é

contida por uma necessidade imperiosa de submeter-se a regras convencionais e

até incômodas, exigindo um número crescente de tentativas, de persistência, de

habilidade ou de artifício, é denominado de Ludus.

Durante muito tempo o estudo dos jogos limitou-se a ser a história dos

brinquedos. Enquanto Huizinga define a tese de que “a cultura é proveniente do

jogo”, para Caillois, “o espírito do jogo é essencial à cultura, embora jogos e

brinquedos, no decurso da história, sejam efetivamente os resíduos dessa cultura”.

E, finalmente, a questão de saber quem precedeu quem, o jogo ou a estrutura séria,

parece não ter muita importância, embora a pretenção de definir-se uma cultura a

partir, simplesmente, de seus jogos seria uma operação arrojada e provavelmente

enganadora.

26

Page 27: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

3.1.3. OS JOGOS DE EMPRESA

Segundo CEL (2003), os jogos de empresa são utilizados como instrumentos

facilitadores do aprendizado e integração. Permitem que seus participantes

desenvolvam suas habilidades de planejamento e tomada de decisão em cenários

simulados. Para Simchi-Levi et al (2003), permitem estabelecer as decisões dentro

de um ambiente controlado, sendo que a propriedade de simulação permite a

reprodução dos elementos da incerteza da demanda, concorrência, estratégia

logística e outros que possam ser relevantes para uma situação prática em

particular.

O Jogo é um tipo muito característico de simulação. Em contraste com a

simulação pura, necessita do emprego do elemento humano ativamente para ser

executado, seja de forma real ou simulada, pois, segundo Teixeira (2004), quando

simulamos temos a oportunidade de vivenciar determinadas experiências obtendo

insights que certamente irão auxiliar na aprendizagem e torná-la mais efetiva. Além

disso, os bloqueios desaparecem e ficamos mais livres para sermos quem realmente

somos atuando como parceiros e não como concorrentes.

No jogo, o jogador poderá agir como ele próprio ou assumir outra identidade e

personalidade (totalmente diferentes do seu real), obedecendo a regras previamente

estabelecidas em um ambiente que poderá ser também real ou simulado. Os

jogadores tanto podem ser o objeto do estudo e, por conseguinte, serem observados

e controlados, quanto participantes de um processo de ensino, treinamento, ou

propósito operacional, onde serão eles os observadores, analisando, aprendendo e

testando uma dada situação ou procedimento. Segundo Gramigna (2004), os

cenários empresariais montados em ambiente de laboratório (entenda-se sala de

aula) procuram reproduzir os desafios e problemas do dia-a-dia; os jogadores são

incentivados a montar seu próprio modelo organizacional, baseados em sua

experiência sobre o assunto. Durante o jogo, alguns grupos ou pessoas destacam-

se com resultados positivos, sobressaindo-se em aspectos, tais como: planejamento

e organização, alto nível de colaboração, comprometimento com resultados, atenção

ao cliente, racionalização de processos, energia e motivação dos participantes,

busca de informações e trabalho participativo, dentre outros. Estes aspectos são

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Page 28: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

ponderados após a realização do jogo e servem de ponto de partida para analogias

e comparações com a realidade na qual convivem os jogadores e de reflexão sobre

o comportamento de cada jogador em situações reais. Há casos em que os

vencedores chegam à conclusão que muitos dos procedimentos adotados no jogo

poderiam ser implantados em suas empresas e não o são. Neste caso, são

estimulados a detectarem os motivos e a elaborarem planos de mudança que

favoreçam a adoção de novos procedimentos, fato que reforça a tríade vida x

metodologia x aprendizagem.

Na verdade, as pessoas que vivem e utilizam os jogos como mecanismos de

aprimoramento passam a ter uma nova visão de si e do mundo. Os jogos propõem

um exercício de ampliação da visão sobre a realidade da vida refletida no jogo.

Percebendo os diferentes estilos do jogo-vida é possível escolher com consciência o

estilo mais adequado para cada momento. Cada indivíduo joga de acordo com seu

próprio jeito de ver-e-viver cada situação. O ser humano age de acordo com suas

crenças e valores. Ele vai responder ao meio que o cerca baseado em seus

programas e condicionamentos internos.

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Page 29: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

3.2. E-LEARNING

A educação corporativa fundamentada nos pressupostos da EAD surge como

uma resposta para esta mudança. Assim, o e-learning pode apresentar-se como

uma ferramenta para a gestão do conhecimento, buscando dinamizar o

desenvolvimento de competências e criando e gerenciando o conhecimento, através

de diversos recursos multimídia que facilitam a interação entre os envolvidos,

propiciando o cumprimento das metas propostas para o processo de educação

corporativa.

O e-learning é uma metodologia da Educação à Distância (EAD) que pode ser

perfeitamente ajustada às características de nosso tempo, marcado pela velocidade,

agilidade e grandes volumes de informação a serem gerenciados. No que se refere

às organizações, sugere-se que o objetivo não seja apenas a substituição da forma

de treinamento tradicional pelo e-learning, mas que as organizações utilizem-se

dessa ferramenta na medida adequada às suas necessidades, de forma que os

objetivos sejam satisfatoriamente atingidos.

O objetivo do presente estudo é analisar a adoção da educação corporativa

baseada em e-learning como ferramenta para a gestão do conhecimento

empresarial.

Do ponto de vista técnico, o e-learning é a educação realizada através de

meios eletrônicos, especificamente através da Internet. Para Varella (2002), é um

sistema hospedado dentro do servidor da empresa e que vai transmitir, através da

Internet ou da Intranet, informações aos alunos, visando criar, agregar e difundir o

conhecimento. O sistema pode substituir o instrutor, total ou parcialmente, na

condução do processo de ensino. As etapas de ensino são pré-programadas,

normalmente divididas em módulos, e utiliza diversos recursos como o e-mail, chat,

link, entre outros, para obtenção de informações internas e/ou externas.

O e-learning é uma modalidade de EAD que pode possibilitar ao aluno a

capacitação de competências, sem que para isso o mesmo precise estar em hora e

local previamente definidos. Assim, é possível que matriz, filial, assistência técnica,

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Page 30: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

parceiros, fornecedores e clientes de uma empresa possam receber

capacitação/qualificação sincronicamente. Após a implantação do e-learning na

organização, o que envolve a tomada de grande número de decisões estratégicas

de cunho tecnológico, como a escolha da infra-estrutura de rede, do modelo de

acesso, e de softwares de gerenciamento de conteúdo e aprendizado, as vantagens

podem ser muitas.

Como já exposto, uma vantagem a ser considerada é a quebra de barreiras

temporais e geográficas. Com o e-learning, um curso sobre um produto ou

processo, por exemplo, pode ser realizado em qualquer local e a qualquer tempo,

bastando para isso um computador ligado à rede. Em síntese, ao aluno é dada a

possibilidade de gerenciar seu próprio tempo, dentro de parâmetros estabelecidos

pelo curso.

Outra vantagem está relacionada à reprodução do conteúdo. Uma vez

montado um curso na modalidade EAD, a sua reprodução pode ser feita com custo

reduzido. Com o treinamento tradicional, as turmas de alunos são formadas até que

se complete todo o universo que se pretende atingir, numa escala normalmente

crescente de custos, energia e tempo despedido. Para Maia (2002), é possível que

o e-learning, venha a representar uma verdadeira revolução na geração e

disseminação do conhecimento empresarial.

A partir da visita aos sites de algumas empresas, como por exemplo: Accor,

Algar, AmBev, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Datasul, Eletronorte,

McDonald`s, Motorola, Telemar e Unimed, entre outras, verifica-se que o e-learning

conta rapidamente com aceitação e adesão dessas organizações, que perceberam

que os benefícios proporcionados por essa modalidade de educação podem ser

enormes. Ao imaginar a ruptura com o limite físico imposto pelas salas de aula, as

organizações percebem a diminuição de gastos, pois os custos de viagem e de

substituição para envio de funcionários a centrais de treinamento tendem a diminuir.

Pode-se verificar, a partir dos conceitos e dados apresentados, que o “surto”

de interesse pela educação corporativa baseada em e-learning, dentre outros

fatores, é motivada pela necessidade das organizações de promoverem programas

30

Page 31: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

de aprendizagem voltados à sua necessidade empresarial, com finalidade de

aumento de competitividade e conseqüente retorno financeiro.

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Page 32: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

3.3. A EDUCAÇÃO AO AR LIVRE, A EDUCAÇÃO EXPERIENCIAL E O CENÁRIO

Segundo a Experiential Education Association/EEA a Educação Experiencial,

é uma filosofia e uma metodologia na qual os educadores, de forma determinada,

levam os aprendizes a experiências diretas e a reflexões focadas com o intuito de

elevar o conhecimento, desenvolver habilidades e tornar claro valores. Seguindo a

mesma linha da Educação Experiencial, surge o conceito de Educação ao Ar Livre

ou Outdoor Education.

Segundo Barros(2000), Outdoor Education ou Educação ao Ar Livre é uma

vivência educacional que faz uso de desafios presentes em áreas naturais como

metodologia educativa. A Educação ao Ar Livre é um método de aprendizagem

experiencial que utiliza todos os sentidos de uma pessoa, e ocorre principalmente

através da exposição do aluno ou do visitante a ambientes naturais.

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Page 33: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

3.4. METODOLOGIA VIVENCIAL - BENEFÍCIOS

A metodologia de treinamento experiencial tem se mostrado poderosa por

certas vantagens e resultados, notadamente:

1. Maior compreensão de conceitos antes vistos como abstratos;

2. Conscientização da necessidade de um realinhamento de atitudes e

comportamentos perante momentos de mudanças;

3. Redução do tempo de programas, sem prejuízo de qualidade;

4. Maior possibilidade de comprometimento do grupo com objetivos e resultados;

5. Reconhecimento do próprio potencial e das dificuldades individuais;

6. Maior aproximação e integração entre consultoria e grupo-cliente;

7. Mudanças de atitude e comportamento favoráveis ao desempenho e

desenvolvimento profissional;

8. Clima favorável à participação ampla nas diversas etapas de processos;

9. Resgate do prazer criativo e descoberta de diferentes possibilidades;

10. Favorece a solução de problemas através da cooperação;

11. Desenvolvimento de habilidades de liderança;

12. Desenvolvimento de equipe com coesão, time;

13. Ideal para o desenvolvimento de competências comportamentais diversas;

14. Maiores chances de auto-conhecimento, permitindo identificar pontos fortes e

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Page 34: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

dificuldades pessoais

15. Favorece a conscientização e sinalização do rumo para o aperfeiçoamento

individual e profissional;

16. Resgate do lúdico – aprender com prazer.

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Page 35: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

4. MECANISMOS DE VALIDAÇÃO E AVALIAÇÃO DE TREINAMENTO

Uma vez que todas as organizações consideradas “de ponta” têm investido

em processos sofisticados de Treinamento e Desenvolvimento, no sentido de

maximizar as competências de seus profissionais, o processo de avaliação e

validação dos programas de T&D se constitui numa ferramenta de tomada de

decisão estratégica para a alta gerência da organização. Torna-se essencial

desenvolver e reter não somente os melhores profissionais, mas também o

conhecimento que estes possuem, em função de sua larga experiência

comportamental e conceitual.

Para Milioni (2001), conceituando-se treinamento como sendo “a ação

sistematizada de educação para a capacitação, o aperfeiçoamento e o

desenvolvimento do indivíduo (MILIONI, 2001, p.10)”, deve-se considerar, a fim de

se evitar uma interpretação conceitual e operacional equivocada, que:

a) avaliar consiste em submeter algo a um processo de análise normalmente

determinado por parâmetros concretos ou referenciais;

b) validar significa reconhecer o valor esperado do objeto da análise efetuada,

comparando a situação identificada após uma ação de modificação do

comportamento do público-alvo, com os fatos que levaram à realização do

treinamento, o que geralmente se denomina de “carência”.

Assim, na visão de Castro (2001), podem ser citados os seguintes

mecanismos para validação e avaliação do desempenho de um programa de

treinamento:

a) análise ou diagnóstico das necessidades de treinamento;

b) definição dos objetivos do treinamento;

c) definição da população-alvo;

d) avaliação de reação;

e) retorno sobre o investimento (avaliação custo-benefício);

f) julgamento por parte de especialistas no assunto referente ao treinamento;

g) definição de medidas-padrão para comparações pré e pós-treinamento;

h) definição de incidentes críticos na diferenciação sucesso/insucesso do

treinamento, com relação às tarefas de trabalho;

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Page 36: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

i) esquemas de subsídios (listando informações de apoio) para o trabalho;

j) conhecimentos (fatos, conceitos, princípios) necessários para realizar uma tarefa

de trabalho;

k) teste baseado em conhecimentos (lembrar ou aplicar fatos, conceitos ou

princípios);

l) avaliação de aprendizado;

m) plano de ação do participante (registro do desempenho no trabalho pré e pós

treinamento);

n) definição de tarefas de trabalho significativas;

o) medição de desempenho em tarefas específicas;

p) programa-piloto (ensaio de um programa instrucional);

q) pré-teste (avaliação prévia ao treinamento para determinar o nível inicial de

conhecimento de cada participante);

r) pós-teste (avaliação posterior ao treinamento, geralmente enfocando o domínio

dos objetivos do curso por parte dos participantes);

s) definição de competências (comportamentos, conhecimentos e capacidades

necessárias para determinadas tarefas e/ou resultados);

t) escalas de classificação com âncora comportamental (avaliação de desempenho

individual com uso de comparações a amostras de comportamento/âncoras

comportamentais com classificação numérica);

u) grupos focais (grupo dirigido pelo facilitador com participantes convocados com o

objetivo de reunir informações sobre as necessidades de treinamento e/ou o impacto

do treinamento);

v) observação (registro do comportamento de treinandos antes, durante e após o

treinamento);

w) avaliação de comportamentos no trabalho.

Ainda, para o mesmo autor, quanto aos benefícios esperados, o processo de

validação e avaliação deve considerar os seguintes aspectos:

a) resultados mensuráveis – impactos quantificáveis nos indicadores operacionais;

b) período de retorno – geralmente são considerados os benefícios prolongados

além dos 12 meses. Ao se determinar o valor do treinamento, é importante

considerar “impactos” futuros;

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Page 37: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

c) custo da não-intervenção – pode haver custos futuros se o conjunto de

necessidades não for atendido. O avaliador pode precisar considerar o custo para a

empresa se os problemas identificados no diagnóstico continuarem aumentando.

Alguns problemas tendem a ficar piores com o tempo;

d) outros benefícios e retornos não-monetários – além de resultados objetivos,

advindos de indicadores, o programa também gera benefícios subjetivos e valiosos,

que devem ser considerados.

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Page 38: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

4.1. VISÃO GERAL DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO

O processo não deve ser realizado apenas após o programa de treinamento.

Ele fornece dados e constatações tão importantes que deve ser utilizado, pelo

pessoal responsável pela estratégia organizacional, como uma ferramenta de

decisão sobre os investimentos a serem feitos que possam gerar um maior impacto

no desempenho empresarial.

Portanto, pode-se considerar que o processo de avaliação de desempenho

enobrece os processos de T&D, elevando-os à categoria de questão organizacional

estratégica. Este processo deve iniciar-se, então, com a identificação e o diagnóstico

das necessidades de aprimoramento de desempenho organizacional, bem como

com a escolha dos métodos de levantamento dos dados a serem aplicados pré e

pós-programa. O método a ser usado dependerá dos propósitos, instrumentos,

níveis de mensuração, planejamento e custo da coleta de dados para a avaliação.

Geralmente, os benefícios são anualizados, i.e., considerando a quantia

economizada ou ganha no ano posterior ao treinamento. Estes benefícios podem

continuar após o primeiro ano; no entanto, os efeitos geralmente começam a

diminuir. Para Castro (2001), em uma abordagem conservadora, os benefícios a

longo prazo são omitidos dos cálculos. No custo total de um programa, o custo de

desenvolvimento é dimensionado e pró-rateado no primeiro ano da implementação.

Pode-se também pró-ratear os custos de desenvolvimento pela vida projetada do

programa.

Assim, em função das necessidades diagnosticadas, a organização deverá

decidir o nível de profundidade do processo de validação e avaliação, utilizando-se

do modelo dos quatro níveis, a ser descrito ainda neste tópico.

38

Page 39: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

4.1.1. FATORES DE SUCESSO DA AVALIAÇÃO DO TREINAMENTO

Na visão de Castro (2001), o sucesso da avaliação do treinamento depende

de fatores críticos, como:

a) análise das necessidades – esta é uma análise essencial, posto que é a partir do

quê se espera do treinamento que se determinará a sua efetividade global;

b) preparo organizacional – tal condição implica no envolvimento total da gerência

superior, do pessoal de treinamento e, enfim, de todas as áreas da organização no

processo de avaliação, devendo os colaboradores estar totalmente cientes do

esforço de avaliação e de seu papel neste processo. Neste contexto, a organização

deve estar disposta a investir os recursos humanos, financeiros e de tempo

necessários para conduzir a avaliação até o final, considerando-a um importante

instrumento de decisão estratégica;

c) competências necessárias – o pessoal de T&D deve desenvolver competências e

habilidades (conhecimento técnico) para fazer avaliações efetivas. Dentre estas

competências, estão as habilidades de planejamento das tarefas de avaliação,

pesquisa de técnicas de investigação, coleta sistemática de dados de avaliação,

aplicação de modelos estruturados para a solução de problemas, análise e

sumarização de informações quantitativas e qualitativas resultantes do processo

avaliativo, preparação de relatórios e documentos de avaliação apropriados e, ainda,

a habilidade de fornecer clara e efetivamente os resultados de uma avaliação,

valorizando tanto aspectos objetivos quanto subjetivos.

As avaliações de treinamento podem auxiliar a empresa a atingir muitos

objetivos diferentes durante o ciclo de vida de um programa de treinamento. Tendo-

se como razão primária para uma avaliação de treinamento a relação custo x

benefício, podem ser consideradas razões adicionais, como:

a) determinar quão bem o treinamento satisfaz às necessidades dos participantes;

b) determinar em que extensão os participantes dominaram o conteúdo do

treinamento;

c) identificar se os métodos e os meios de treinamento ajudaram os participantes a

atingir os objetivos de aprendizado;

d) avaliar quanto do conteúdo do treinamento, incluindo conhecimento e habilidades

recém adquiridos, foi transferido para os comportamentos no trabalho;

39

Page 40: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

e) determinar se os resultados do treinamento contribuíram para o cumprimento das

metas da empresa.

Quando um programa de treinamento não é avaliado, podem dele resultar

conseqüências como:

a) os participantes podem continuar a fazer cursos em que não conseguem

aprender;

b) as modificações do curso podem não ser baseadas nos dados de resultado do

participante, e as mudanças podem fazer com que atividades de treinamento

efetivas sejam substituídas por atividades ineficientes;

c) o treinamento pode ser visto como um uso esbanjador de recursos.

Ainda, para o mesmo autor, um processo de avaliação requer uma análise de

valor antes e após o treinamento. Antes do treinamento, deve-se determinar o valor

previsto. Durante a análise das necessidades, deve-se trabalhar com os tomadores

de decisão para esclarecer os benefícios esperados e a quantidade de recursos que

eles estejam dispostos a investir para a obtenção destes benefícios.

Também, podem-se identificar os custos previstos da não-solução dos

problemas que estão sendo tratados pelo treinamento. Para Marras (2001), os

custos de treinamento compõem-se, essencialmente, de:

a) despesas com pessoal – salários para empregados com funções de docência,

ajudas de custo (despesas com viagens e alimentação para treinandos, docentes

e/ou palestrantes convidados a ministrar cursos in company), serviços

extraordinários (pagamentos a terceiros, geralmente por serviços de logística

espacial, como iluminação e decoração), gratificações (por prestação de serviços

por parte de pessoal da empresa), horas extras como compensação para

treinandos;

b) despesas com material – material didático (apostilas, vídeos, livros, etc.),

equipamentos (retroprojetor, TV, videocassete, computadores, etc.), material de

escritório (canetas, lápis, papel, clipes, etc.);

c) despesas diversas – todas as demais despesas relacionadas à montagem e

aplicação do programa (transporte, aluguel de salas, contratação de instrutores ou

palestrantes, encargos sociais, etc.).

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Page 41: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

Após o treinamento, deve-se comparar o valor previsto com o valor real gasto

com o treinamento e, neste sentido, considerar as necessidades originais da

empresa e determinar se elas foram satisfeitas pelo treinamento. Se o foram, pode-

se, então, determinar se os custos foram os previstos.

Os benefícios e custos previstos devem ser identificados antes do

treinamento. Se esta etapa não for completada durante a análise das necessidades

de treinamento, será preciso trabalhar com os tomadores de decisão para atribuir

um valor à comparação custo-benefício. Após ter sido determinado se o

desempenho no trabalho modificou-se com o treinamento, pode-se então questionar

de que maneira a organização se beneficiou com estas modificações.

Neste contexto, as mudanças no desempenho no trabalho podem traduzir-se

em benefícios, como aumento de rendimento ou produtividade, economia de tempo,

melhora da qualidade e abstenção de erro. Após terem sido determinados os

benefícios, devem ser definidos os indicadores associados a estes tipos de

benefícios. Alguns tipos comuns de indicadores são apresentados por Castro (2001):

Benefícios organizacionais Indicadores

Aumento de rendimentos

Número de produtos/serviços produzidos

Número de processos concluídos

Quantidade de trabalho em carteira

Economias de tempo

Quantidade de tempo não-produtivo

Quantidade de licença para tratamento de saúde e/ou atrasos

Quantidade de horas extras

Quantidade de tempo de adaptação de novos funcionários

Tempo parado de equipamentos

Melhora da qualidade

Quantidade de feedback positivo versus negativo dos clientes

Quantidade de resultados positivos versus negativos de auditorias e

inspeções externas

Volume de retrabalho requerido

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Page 42: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

Número de soluções inovadoras ou produtos desenvolvidos

Volume de envolvimento do funcionário na tomada de decisões

Mudanças no estado de espírito/motivação do colaborador

Freqüência de comunicação dentro da empresa

Número de queixas e outros problemas de pessoal

Redução de erro

Número de erros

Número de queixas relativas à segurança de funcionários e clientes

Número de problemas de segurança

Número de acidentes

Número de violações de regras/procedimentos

Pode-se fazer uma série de entrevistas ou de grupos focais para identificar os

potenciais benefícios e indicadores organizacionais. Antes de tentar determinar o

valor dos benefícios, pode ser sensato determinar a percepção da empresa sobre

quais benefícios foram produzidos pela mudança de desempenho no trabalho. A

etapa seguinte é estabelecer o valor dos benefícios:

a) medir o benefício usando os indicadores selecionados, calculando, para cada

indicador, a diferença entre os níveis de pré-treinamento e pós-treinamento;

b) converter a mudança do benefício para um valor monetário indicando seu valor,

viabilizando o processo de ROI – Retorno de Investimento. No caso de não se poder

determinar uma cifra objetiva, deve-se utilizar um valor subjetivo, aproximado,

estimado pelos responsáveis da área.

Duas fórmulas usuais para calcular o retorno de investimento são a Relação

Custo-Benefício e o Retorno de Investimento (ROI). Para encontrar a Relação

Custo-Benefício divide-se o total de benefícios pelos custos; no modelo ROI, os

custos são subtraídos dos benefícios totais para gerar o valor do benefício líquido, o

qual é dividido pelos custos.

Exemplo:

Benefícios= R$ 600.000,00

Custo = R$ 73.000,00

Relação Custo-Benefício = R$ 600.000,00/73.000,00 = R$ 8,219 = R$ 8,22

(Para cada R$ 1,00 investido, houve o retorno de R$ 8,22 em benefícios)

42

Page 43: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

Já para o cálculo do ROI, procede-se da seguinte forma:

[(Benefícios – Custos) / Custos] x 100 = R$ [(600.000,00 – 73.000,00) / 73.000,00] x

100 = R$ 527.000,00 / 73.000 x 100 = R$ 7,219 x 100 = 721,9 ou 722% (Neste caso,

para cada R$ 1,00 investido, tem-se um retorno de R$ 7,22 em benefícios líquidos.)

43

Page 44: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

4.2. AVALIAÇÃO SEGUNDO KIRKPATRICK

Kirkpatrick (1998) pode ser considerado como o introdutor do processo de

análise de retorno do investimento em programas de treinamento, apresentando, em

seu modelo, quatro níveis para a mensuração de desempenho de um sistema de

treinamento: reação, aprendizado, comportamento e resultados.

Embora aparentemente visando à objetivação em uma avaliação de

treinamento, a proposta dos quatro níveis compreende peculiaridades em cada uma

das fases, mas, sobretudo, na fase de resultados, verificando-se constantemente

certo distanciamento entre a avaliação de reação e a avaliação de resultados finais

propriamente. Deve-se atentar para o fato de que o sucesso em uma etapa não

necessariamente aponta para o sucesso em outra etapa.

Nível 1: Reação. O aluno é avaliado pela sua participação nas atividades de

aprendizado, indicando se está se adaptando à forma como o material é

apresentado. É o método de avaliação mais fácil, rápido e de baixo custo de

administração, fornecendo um número considerável de informações para a

modificação do conteúdo do curso, da apresentação, etc. Neste contexto, uma

reação positiva ao treinamento é importante tanto para os instrutores de treinamento

internos quanto para os que oferecem programas abertos ao público, pois o futuro

do programa depende desta reação. Além disto, se os participantes não reagem de

forma favorável, provavelmente não estarão motivados a aprender. Reação positiva

e satisfação podem não assegurar o aprendizado (embora possam demonstrar a

aceitabilidade de determinado curso), mas reação negativa e insatisfação,

certamente, reduzem a possibilidade de aprendizado. Porém, segundo Castro

(2001), uma avaliação de reação tem, como custos potenciais, o tempo usado

durante o treinamento para se realizar a avaliação, o tempo necessário para se

analisar e relatar as descobertas, e uma falta de parâmetros dos participantes para

avaliar adequadamente o programa.

Nível 2: Aprendizado. De acordo com Kirkpatrick (1998), ocorre a

aprendizagem quando há uma mudança na forma de perceber a realidade e/ou um

aumento de conhecimentos e/ou, ainda, um aumento de habilidades. A utilização de

44

Page 45: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

ferramentas para implantar este nível serve como um controle de qualidade, para

confirmar se o aprendizado está alcançando os seus objetivos. Através das

respostas obtidas, têm-se informações para a melhoria do material apresentado e os

resultados desta análise podem identificar áreas que necessitem de reforço.

Ressalta-se, todavia, que as avaliações neste nível podem representar

comportamentos que tenham mais a ver com a resposta ao processo de avaliação

do que com o quê foi aprendido. Na observação do progresso do aluno, o professor

precisa ter habilidade para prover um feedback construtivo, sendo este feedback

considerado como o centro da experiência de aprendizado. É importante se medir o

aprendizado, porque nenhuma mudança de comportamento pode ser esperada a

não ser que tenha sido alcançado pelo menos um dos objetivos do aprendizado.

Entretanto o inverso nem sempre é verdade, ou seja, pode haver aprendizado sem

mudança de comportamento. Conforme Castro (2001), uma avaliação de

aprendizado tem, entretanto, como custos potenciais: certo tempo durante o

treinamento para concluir os pré-testes e os pós-testes de conhecimento, um tempo

adicional durante o treinamento, usado para fazer testes com base no desempenho,

e ainda o tempo necessário para pontuar e rever os resultados dos testes com os

participantes. Às questões acima, somam se os problemas gerados pela

necessidade prática de se garantir que os testes estejam medindo o conhecimento

ou as habilidades corretas e uma avaliação do investimento necessário para treinar

os avaliadores, caso os testes envolvam observações ou uso de escalas de

classificação.

Nível 3: Comportamento. O primeiro ponto que se deve considerar é que o

aluno deve ter tempo e oportunidade para assimilar os conhecimentos-alvo do

treinamento e procurar mudar o seu comportamento. Em segundo lugar, é

impossível prever quando ocorrerão mudanças, o que pode não ser imediato. E em

terceiro lugar, o aluno poderá chegar à conclusão de que, mesmo com o

aprendizado, não deverá mudar o seu comportamento. É importante medir o

comportamento do aluno, pois o objetivo principal do aprendizado é exatamente

proporcionar uma mudança no comportamento, e novos ensinamentos somente

são bons se refletirem nas atitudes e habilidades dos alunos. Portanto, este nível

procura identificar quais as mudanças que são esperadas se o aluno cumprir o

programa de treinamento. O principal objetivo para a utilização do nível 3 é

45

Page 46: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

determinar se há barreiras no processo de aprendizagem. Assim, para Kirkpatrick

(1998), há cinco requisitos que devem estar presentes para que ocorram mudanças

no comportamento:

a) desejo de mudança;

b) conhecimento de o quê fazer e de como fazê-lo;

c) um clima de trabalho adequado;

d) auxílio na aplicação do aprendizado;

e) recompensa pela mudança no comportamento.

Baseado nestes aspectos, o nível 3 deverá proporcionar informações para

determinar se cada um dos requisitos acima foram satisfeitos, e, caso contrário,

poderá fornecer subsídios para se direcionar ações visando melhorias nos

programas de treinamento. No entanto, deve se identificar quando é oportuno se

avaliar o comportamento, com que freqüência fazê-lo e que meios utilizar para isto.

Torna-se necessário atentar ao fato de que os alunos reagem de maneira

distinta às formas com que são estimulados a mudar seu comportamento, e,

portanto, é importante que se observe as realidades do grupo ao qual se destina a

avaliação.

Para Castro (2001), como custo potencial, uma avaliação de comportamento

tem a dificuldade relacionada com a definição e com a coleta de medidas de

desempenho no trabalho que efetivamente estejam relacionadas aos novos

comportamentos. Este autor também apresenta como custo potencial a dificuldade

com o envolvimento e apoio do pessoal de supervisão na definição e na coleta de

medidas de desempenho no trabalho, de outras despesas (como, por exemplo, de

viagens) relacionadas com a coleta de medidas de desempenho no trabalho e com o

tempo relacionado com a análise e o relato dos resultados.

Nível 4: Resultados. Este é, segundo Kirkpatrick (1998), o mais importante e

talvez o mais difícil dos quatro níveis, a determinação do resultado final, do efeito da

participação no programa de treinamento. Isto, porque muitas vezes não se sabe

como medir os resultados, e também porque o que existe são apenas evidências de

que houve melhora, e não provas incontestáveis. O objetivo deste nível é identificar

46

Page 47: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

se a empresa obteve um retorno do seu investimento, e podem ser adicionados

indicadores como os dados do mercado, crescimento, etc., para proporcionar uma

visão mais completa do impacto do aprendizado na empresa. A identificação dos

resultados é um procedimento simples, e tais resultados são facilmente relacionados

com melhorias na empresa. No entanto, obter, organizar e analisar informações

neste nível pode ser difícil, consome tempo, e é mais caro que nos outros três

níveis, mas os resultados compensam e a organização deve ser vista num contexto

mais amplo.

No entanto, percebe-se que é difícil o estabelecimento de ligações entre o

aprendizado e os resultados, ou seja, nem todo programa de aprendizado suporta o

nível 4, e, além disto, o processo pode ser complicado, demorado e caro. Para

Castro (2001), como custos potenciais nesta etapa, tem-se o tempo relacionado com

a definição e com a coleta de medidas e análise dos resultados, o grau de

envolvimento e apoio da gerência superior na determinação de valor dos resultados

e a dificuldade para isolar os efeitos específicos do programa de treinamento.

Para Hack (2000), segundo Kirkpatrick (1998), a avaliação deve iniciar no

nível 1, e avançar para os demais níveis conforme se avança no curso. Alguns

professores querem chegar logo aos níveis 3 ou 4, pois acham que os outros dois

não são importantes, o que não representa a realidade. Observando e analisando

esta estrutura de avaliação, e procurando encaixá-la nos diversos tipos de curso que

são ministrados, pode-se considerar que o nível 1 deverá ser feito para todos os

tipos de cursos. O nível 2 deverá ser feito para cursos onde o aluno deverá assimilar

um conjunto de conhecimentos ou desenvolver certa habilidade. O nível 3 é

necessário nos casos em que o principal objetivo do curso seja a mudança no

comportamento do aluno no trabalho. E o nível 4 deverá ser desenvolvido quando os

resultados representam alta prioridade para a empresa.

Assim, a utilização de vários instrumentos para proceder à avaliação do aluno

proporciona uma maior credibilidade e um maior conjunto de informações, as quais

são as bases para que o professor proceda a esta avaliação do aluno. Fica difícil

aceitar que um único instrumento possa fornecer informações suficientes que

completem os quatro níveis mencionados.

47

Page 48: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

No entanto, deve-se tomar bastante cuidado ao selecionar estes

instrumentos, para que sejam adequados às características do curso e do perfil do

aluno, verificando assim se fornecem informações de forma consistente e completa.

Para cursos presenciais, os instrumentos que normalmente são utilizados para

preencher o modelo de Kirkpatrick (1998) são os questionários (níveis 1 e 2),

entrevistas (níveis 1, 2 e 3), testes (níveis 2 e 3), observações (níveis 1, 2 e 3) e

registro da performance (nível 4).

Quinta etapa: Decidindo os níveis a avaliar. Muitas organizações pretendem

que 100% de seus programas de treinamento sejam avaliados no primeiro nível

(reação), já que é relativamente fácil aplicar os instrumentos para avaliar as reações

dos participantes. O segundo nível (aprendizado) também é relativamente fácil de

mensurar. O terceiro nível de avaliação (comportamento ou aplicação no trabalho)

envolve mais tempo e despesas para conduzir o processo, e, portanto, o alvo desta

avaliação deve ser menor, entre 30% e 50%. Já o nível 4 (resultados e/ou retorno do

investimento) requer um aporte significativo de recursos, e, assim, o percentual de

programas avaliados tende a ser menor. Assim, Castro (2001) apresenta uma tabela

com um percentual de avaliação para cada nível:

1 - 100%

2 - 40% a 70%

3 - 30% a 50%

4 - 10%

48

Page 49: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

5. A AVALIAÇÃO DE RESULTADOS DE PROGRAMAS DE GESTÃO DE

PESSOAS

A avaliação de resultados de programas de Gestão de Pessoas não é um

assunto novo, mas atualmente tem sido pouco investigado de forma científica.

Porém há estudos com outros enfoques que podem ser correlacionados com a

avaliação de resultados em Gestão de Pessoas. Os estudos sobre a mensuração de

ativos intangíveis, proposta por Sussland (2001), e mensuração de resultados de

programas de gestão do conhecimento (Skyrme e Amidon, 1998) são importantes

referenciais deste tipo de estudo.

Morilha, Albuquerque e Muritiba (2003) apresentam um meta-estudo de

trabalhos publicados em caráter nacional (16 trabalhos) e internacional (44

trabalhos), sobre a avaliação dos resultados em gestão de pessoas, no período de

1999 a 2002. A categoria "abordagem temática" foi analisada classificando os artigos

em famílias, de acordo com o modo como a avaliação de resultados foi estudada.

Foram identificadas cinco categorias de abordagens temáticas, definidas

arbitrariamente, conforme os temas que foram surgindo no levantamento dos

trabalhos. As famílias identificadas foram:

1) Efeitos da Gestão de Pessoas sobre os resultados das empresas: nesta

família, estão agrupados os trabalhos que analisaram os efeitos da gestão de

pessoas sobre os resultados das empresas. Dentre os trabalhos que analisam os

efeitos da gestão de pessoas sobre os resultados das empresas, destaca-se o

trabalho da consultoria Watson Wyatt Worldwide, do Canadá (Brown, 2001), que

analisou 750 empresas norte americanas e européias, e mapeou suas práticas de

RH, correlacionando-as com o sucesso financeiro das empresas em um estudo

longitudinal, de 1999 a 2001.

2) Estratégia de Gestão de Pessoas: artigos que analisam os resultados

provenientes da integração entre a Gestão de Pessoas e a estratégia da empresa.

3) Metodologias de Avaliação da Gestão de Pessoas: artigos que propuseram

ou analisaram métodos para avaliar a gestão de pessoas das empresas. Merecem

destaque, pela originalidade, os trabalhos que propõem metodologias para avaliação

49

Page 50: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

de intangíveis, aplicando-as ao caso da gestão de pessoas. Bontis et alli (1999)

discorrem de maneira teórica sobre os quatro métodos de mensuração de

intangíveis que os autores consideram mais importantes e populares: (1) a

contabilidade de recursos humanos; (2) o EVA — economic value added; (3) o

balanced scorecard e (4) o conceito de capital intelectual.

4) Balanced Scorecard (BSC): artigos que falavam sobre a utilização do

Balanced Scorecard para a gestão de pessoas, ou que apresentavam casos de sua

utilização. Solomon (2000) apresenta o estudo do caso da GTE, uma empresa do

ramo de eletrônicos, que se baseou nos trabalhos de Norton e Kaplan (1996) para

modelar seu scorecard aplicado à área de Recursos Humanos, adotando uma

abordagem desenvolvida pela própria empresa, e adequada à sua cultura e

processos internos.

5) Eficácia da gestão de pessoas: artigos que apresentavam a avaliação de

resultados como uma maneira de aumentar a eficácia da função gestão de pessoas

na empresa. O trabalho de Lawler III e Mohrman (2000) coloca a avaliação de

resultados entre os fatores apontados para eficácia da gestão de pessoas de uma

empresa, em uma pesquisa realizada pelo Center of Effective Organizations,

destacando a necessidade de se utilizar instrumentos de tecnologia de informação

para monitorar os aspectos quantitativos de RH.

Das linhas de pesquisa identificadas acima, dois enfoques agregam a maior

parte dos trabalhos sobre a avaliação de resultados. A primeira linha de pesquisa

busca indicadores financeiros para demonstrar os resultados da gestão de pessoas,

utilizando-se para isso do conhecimento aplicado pela área de finanças para

avaliação de ativos diversos. Sobre indicadores, destacam-se os trabalhos de Fitz-

Enz (1984; 2001). O autor se dedica há 10 anos ao levantamento de indicadores

para se mensurar o retorno dos programas de Recursos Humanos.

Em uma de suas primeiras publicações (1984), o autor aponta alguns dos

principais entraves que a avaliação dos resultados em Gestão de Pessoas encontra,

e que não dizem respeito necessariamente à natureza subjetiva das atividades

dessa função. Ao invés disso, os principais entraves dizem respeito à própria

formação do profissional de RH, que muitas vezes, não foi exposto a conhecimentos

50

Page 51: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

sobre mensuração e até "teme" utilizar métodos quantitativos, já que a maior parte

destes profissionais tem uma formação estritamente humana. O próprio autor é

psicólogo, porém utiliza técnicas financeiras e estatísticas para propor os

indicadores que utiliza no Instituto Saratoga, do qual é presidente.

Seu mais recente trabalho (2001) utiliza conceitos financeiros para calcular o

retorno sobre o investimento (ROI) em Recursos Humanos. O autor propõe uma

fórmula para se calcular o valor econômico agregado pelo capital humano. Para

isso, ele utiliza o conceito de valor agregado econômico, ou EVA, definido como o

lucro operacional líquido após a incidência de impostos, descontando o custo de

capital. O objetivo desta medida é determinar se as atitudes da gerência

acrescentaram um real valor econômico em vez de simplesmente gerar as

demonstrações financeiras típicas, que podem mascarar resultados verdadeiros. O

EVA é muito útil, pois revela quanto realmente sobra de lucro, não somente após o

pagamento de todas as despesas, inclusive impostos, mas também depois de

subtrair o custo do capital investido.

Finalmente, o autor propõe uma equação para se calcular o retorno sobre o

investimento em capital humano (Human Capital Return on Investment — HCROI),

que considera o retorno no investimento em termos de lucro por quantias de dinheiro

despendidas nos ordenados e benefícios dos funcionários.

A fórmula do Human Capital ROI proposta pelo autor é:

Nesta equação, ao se subtrair todas as despesas, exceto as relativas aos

ordenados e benefícios, obtém-se uma estimativa ajustada de lucro. Encontra-se,

desta forma, a quantia de lucro obtida por unidade monetária investida no

pagamento do capital humano (não contando treinamento e atividades afins) — na

realidade, a alavancagem dos ordenados e benefícios.

Outra vertente dos modelos propostos por Fitz-Enz (2001) é a medição do

impacto do capital humano nos processos. O conceito por trás deste modelo é de

que o capital humano tem impacto sobre processos da empresa que constituem uma

51

Page 52: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

cadeia valor, onde, no final, é possível calcular economias ou ganhos financeiros. O

quadro 1 abaixo ilustra esse raciocínio com exemplos.

 

 

A segunda linha de pesquisa busca explicações que vão além da ótica

estritamente financeira, para analisar a contribuição da gestão de pessoas nos

resultados das empresas.

O principal destaque desta linha é o "Balanced Scorecard" aplicado a

Recursos Humanos. O Balanced Scorecard consiste em um método de

monitoramento das atividades da empresa, por meio de indicadores quantitativos.

Este método foi proposto inicialmente por Kaplan e Norton (1996), e posteriormente

adaptado à Gestão de Pessoas por Becker, Huselid e Ulrich (2001). Sua premissa é

de que a contabilidade tradicional é muito limitada e focada exclusivamente no

desempenho financeiro.

Kaplan e Norton (1996) identificaram 4 processos gerenciais críticos às

empresas, que não podem deixar de ser avaliados. Eles são: o esclarecimento e a

tradução da visão e da estratégia da empresa; a comunicação e associação de

objetivos e medidas estratégicas; o planejamento e estabelecimento de metas,

alinhando as iniciativas estratégicas e, por fim, o feedback e o aprendizado

estratégico. Para os autores, estes quatro processos devem ser medidos e

gerenciados. No processo "Aprendizado e crescimento" estão as ações e programas

52

Page 53: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

de gestão de pessoas, que visam garantir a capacitação do funcionário para atuar

em um processo onde a execução da estratégia traz, por fim, retorno sobre o capital

empregado. Isso é demonstrado pelo esquema 1.

 

 

Becker, Huselid e Ulrich (2001) basearam-se na dimensão "Aprendizado e

Crescimento" para propor a aplicação do Scorecard à Gestão de Pessoas. Ela pode

ser resumida a sete fases cujo objetivo final é garantir que os indicadores definidos

pelas empresas estejam coerentes com sua estratégia de negócios. Assim, essa

metodologia tem o grande mérito de alinhar a gestão de pessoas da empresa aos

objetivos principais de longo prazo da Organização. Esse alinhamento é avaliado por

meio de indicadores quantitativos. Os autores trazem 50 possíveis indicadores como

exemplos, e que consistem em medidas verificáveis na prática na maioria das

organizações, contrariando o senso comum de que é impossível encontrar

indicadores mensuráveis de gestão de pessoas.

De acordo com os autores, o modelo do Balanced Scorecard, quando

implementado adequadamente, pode trazer vários benefícios para as empresas,

dentre eles:

Avaliaria a contribuição de RH para a implementação da estratégia e para os

resultados da empresa.

53

Page 54: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

Reforçaria a diferenciação entre rotinas e produtos da área de RH. O sistema

de avaliação dos resultados de RH deve distinguir com clareza entre

produtos, que influenciam diretamente a implementação da estratégia, e

rotinas, que não exercem efeitos estratégicos.

Capacitaria para o controle de custos e criação de valor. Ao mesmo tempo,

Recursos Humanos deve ser uma função que reduz os custos na empresa e

que agrega valor para o crescimento da organização.

Permitiria a comparação com indicadores anteriores da área de Recursos

Humanos, mantendo, desta maneira, um sistema de avaliação da função RH

no tempo.

Os profissionais de Gestão de Pessoas como qualquer outro profissional da

organização, podem valorizar sua posição e a contribuição de seu departamento se

puderem comprovar os resultados de suas atividades e sua influência no resultado

da Organização. O esforço para formular a avaliação, por si só, já conduz a algumas

alterações na maneira de se trabalhar na Organização, na medida em que faz com

que os gestores estimem os resultados que desejam obter dos programas

(Albuquerque, 1975).

54

Page 55: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

6. EVIDENCIAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS

Pesquisadores entre esses: (Riccio, 1989); (Moscove e Simkin, 1981); (Hicks

e Leininger,1981); (Laudon e Laudon, 1999), expõem ser necessário trabalharem-se

os dados, os eventos, as transações contábeis, enfim, o metier próprio da

contabilidade, numa abordagem sistêmica. Esta por sua vez, deve, a nosso juízo,

conter transações avaliadas e mensuradas monetariamente, bem como transações

registradas, avaliadas e mensuradas fisicamente e em termos de gestão da

qualidade. Fazendo-se uso da abordagem sistêmica, o valor dos recursos humanos

seriam avaliados como ativos monetariamente, bem como em termos físicos e de

qualidade. Assim, o seu agregado de serviços, ou seja, sua contribuição para o

resultado das entidades não deve ser feita, exclusivamente em termos monetários,

(ainda que necessário, porque o denominador comum monetário é o ente

harmonizador das transações contábeis das entidades) devendo também levar em

consideração outras medidas de valor, tais como:

• unidades físicas de produtos vendidos;

• produção física, produtividade, horas trabalhadas;

• qualidade e não qualidade dos produtos fabricados;

• diminuição/aumento de falhas e de refugos na produção;

• minimização de perdas e de desperdícios;

• impacto do acréscimo/decréscimo do absenteísmo e do turnover sobre:

• produção

• rentabilidade

Usando-se os critérios de mensuração expostos anteriormente, que

contemplam, no seu bojo, o método das partidas dobradas, com os históricos-

padrão especificados, a contabilidade pode fornecer uma série de indicadores de

desempenho, físicos e financeiros, que devem ser reportados, com saída diárias,

mensais, semestrais e/ou anuais, que permitirão um acompanhamento do

55

Page 56: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

desempenho das entidades, além de favorecer o confronto do efetivamente

realizado com o planejado, da forma mais transparente, entre os usuários da

informação contábil, seus stakeholders, especialmente os internos, objetivo maior da

contabilidade.

Tais indicadores, segundo Tinoco (1996) são, entre outros, os, a seguir,

relacionados:

♦ produção, produtividade e de qualidade;

♦ valor adicionado bruto,

♦ rentabilidade e

♦ gestão de pessoas.

Esses indicadores podem ser detalhados, tais como:

a) Indicadores de produção física:

• relação produção/pessoal:

fórmula: produção/pessoal da produção;

significado: indica a produção média de unidades físicas de produto, por funcionário,

em determinado centro de resultado, no período de, por exemplo, março de 2002,

• taxa de variação da produção:

fórmula: (produção em t1/produção em t0) – 1;

significado: informa a variação da produção, em termos físicos, realizada num

determinado período de tempo, por centro de resultado, quanto maior, melhor.

• horas alocadas versus planejadas, por CR:

fórmula: total de horas efetivamente trabalhadas/potencial planejado de horas

trabalháveis;

56

Page 57: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

significado: informa o desempenho alcançado, das horas reais trabalhadas,

comparativamente às horas planejadas, esse indicador correlaciona-se diretamente

com o indicador de absenteísmo, ou seja, quanto maior um, menor o outro.

b) Indicadores de produção avaliados monetariamente:

• relação produto/horas de mão-de-obra direta:

fórmula: valor da produção/horas/pessoa trabalhadas;

significado: indica o valor da produção média horária realizada, em determinado

período de tempo, por centro de resultado, quanto maior, melhor.

c) Indicadores de produtividade:

• produtividade do trabalho:

fórmula: (valor da produção em t1/t0) / (volume de horas consumidas em t1/t0),

significado:mede a relação entre o valor da produção obtida e as horas da mão-de-

obra utilizada. Essa produtividade é aparente porque se a refere um só fator de

produção, ou seja, ao trabalho humano.

• produtividade de valor adicionado ao trabalho:

fórmula: (valor adicionado bruto) / (quadro de pessoal médio);

significado: mede o valor adicionado bruto, por funcionário, na empresa

“acrescentada”, no período de ......., quanto maior, melhor.

• desempenho social:

fórmula: (resultados obtidos por uma pessoa, um grupo) / (tempo ou custo

necessário à obtenção do resultado);

significado: especifica a relação entre resultados obtidos do trabalho realizado por

uma pessoa, um grupo ou uma empresa, no tempo, inerentes ao trabalho;

exemplo: resultados obtidos em março/02 na empresa “Z” $6.000.000;

57

Page 58: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

horas efetivamente trabalhadas nessa empresa: 200.000 horas/ pessoa,

resultado: $6.000.000/200.000 horas pessoa = $30,00 pessoa/hora.

d) Indicadores de qualidade:

• peças defeituosas:

fórmula: peças defeituosas / peças produzidas;

significado: especifica o número de peças defeituosas, que devem ser

retrabalhadas, eedesenhadas, refugadas etc., no centro de resultado “X” , em

março/02, quanto menor, melhor.

• custos da qualidade:

fórmula: custos da qualidade / vendas incrementais,

significado: mede os gastos realizados por uma entidade na busca da melhoria da

qualidade, com base nas vendas de produtos, em março/02; quanto menor, melhor,

desde que a produção realizada, geradora das vendas, não tenha sido afetada para

menos e sim acrescida.

e) Indicadores de valor adicionado bruto:

• valor adicionado por hora e por centro de resultado:

fórmula: (valor das vendas – compras de outros centros – compras externas/

(volume de horas trabalhadas no centro de resultados),

significado: mede o valor adicionado bruto gerado em determinado centro de

f) Indicadores de rentabilidade:

• vendas por empregado:

fórmula: (vendas do período / (número médio de empregados no período);

58

Page 59: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

significado: mede o total das vendas dividido pelo número médio de empregados

(início e final do período dividido por 2). É uma medida de produtividade dos

trabalhadores da empresa, quanto maior, melhor.

g) Indicadores de gestão (operacionais) de pessoas:

• média dos salários por emprego:

fórmula: massa salarial anual da empresa/ quadro de pessoal médio, significado:

especifica o salário médio por funcionário. Considera o total de salários incorridos

pela empresa no ano de 2001, dividido pelo número médio de funcionários no ano,

multiplicado este por doze meses.

• carga salarial:

fórmula: despesas com pessoal/valor adicionado bruto,

significado: mede a participação das despesas com pessoal, em relação ao valor

adicionado bruto, gerado por uma entidade, centro de resultado, em determinado

período (mês/semestre/ ano) etc.

• custos de supervisão:

fórmula: remuneração da direção/remuneração total da empresa,

significado: mede a participação das despesas com remuneração, inclusive

encargos sociais, da direção da empresa, em relação às despesas com a

remuneração do pessoal, no ano de 2001.

• indicador de estrutura do pessoal:

fórmula: quadro efetivo de técnicos/efetivo total da empresa,

significado: apresenta a partição do pessoal, por nível de qualificação.

• indicador de mão-de-obra direta:

fórmula: quadro efetivo de mão-de-obra direta/ efetivo total da empresa,

59

Page 60: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

significado: mede a participação percentual da mão-de-obra direta, no total do

efetivo da empresa, no ano de .......2001.

• indicador de antigüidade relativa:

fórmula: tempo médio de permanência no emprego/tempo médio de permanência na

empresa,

significado: indica o tempo médio que os funcionários permanecem na empresa.

• indicador de recrutamento por vaga:

fórmula: número de candidatos admitidos/ candidatos examinados,

significado: indica a porcentagem de candidatos examinados e admitidos, em

relação a candidatos examinados para preenchimento de vagas, na empresa, em

março de 2002.

• indicador de investimento por empregado:

fórmula: investimentos na geração de empregos/ empregos gerados,

significado:representa o total de recursos, investidos no ativo permanente, para criar

um único emprego na empresa.

• indicador de treinamento:

fórmula: custos de treinamento/custos de recursos humanos,

significado: representa os gastos com treinamento e formação do pessoal da

empresa, visando a incrementar a produtividade.

• indicador de desenvolvimento:

fórmula: gastos de formação/gastos de exploração,

significado: relaciona os gastos investidos em treinamento e melhoria dos

funcionários, em relação às despesas operacionais com o pessoal, visando a

melhorar a qualidade e a produtividade.

60

Page 61: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

• indicador de rotatividade:

fórmula: número de empregados desligados/total de empregados na empresa,

significado: medir o grau de rotatividade da mão-de-obra, num determinado

• indicador de absenteísmo:

fórmula: horas por pessoa não trabalhadas/horas por pessoa planejadas;

significado: mede a taxa de horas perdidas produtivas, por ausência ao trabalho,

quanto maior, pior.

61

Page 62: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

7. CONCLUSÃO

O que podemos concluir após este estudo, é que dentre as metodologias

aplicadas no desenvolvimento de profissionais, a Metodologia Vivencial se destaca

claramente das demais por vários motivos, trata a educação do profissional como

adulto, diferentemente da metodologia presencial clássica, onde existe a figura do

professor e aluno. Na Metodologia Vivencial, o educador tem um papel de facilitador,

onde ele é responsável por extrair um conhecimento prévio já adquirido pelo

treinando ou em cursos passados ou em experiências prévias. O que o facilitador

faz, é provocar o treinando através de exposições simuladas do dia-a-dia do

profissional em um ambiente de laboratório controlado.

O aluno é exposto a estímulos previamente preparados para que as

respectivas competências que serão abordadas durante o treinamento sejam

afloradas e desenvolvidas. Uma vez que o aluno vivencia uma situação similar a

vivenciada no treinamento, ele saberá exatamente como deverá proceder, pois já

vivenciou algo semelhante durante seu período de capacitação.

A grande vantagem deste tipo de metodologia é que o treinando acaba

desenvolvendo suas habilidades e conhecimentos já adquiridos e, principalmente,

desperta para a necessidade da utilização das mesmas no seu dia-a-dia,

completando dessa maneira o famoso tripé do desenvolvimento humano,

Conhecimento, Habilidade e Atitude.

Em relação à validação de treinamento e seu respectivo ROI, gostaria de

salientar que alguns dos motivos para que não haja a tradição de se mensurar o ROI

são: a pouca familiaridade dos profissionais de Treinamento e Desenvolvimento em

usar termos financeiros; o receio de ser demitido da empresa, mostrando que a área

não está dando lucro; a falta de apoio da alta gerência; o mito de não ser possível

mensurar o ROI; a existência de muitas variáveis afetando o comportamento para

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Page 63: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

calcular o impacto do treinamento; o fato da medição provavelmente custar muito;

entre outros. O problema não está na dificuldade de calculá-lo, mas no fato de os

treinadores terem medo de fazer o cálculo, por não saberem se permanecerão na

posição após mostrar resultados abaixo do esperado.

Alguns problemas sobre a avaliação de resultados dos programas de

capacitação são a falta de tempo e pessoas para promover o processo, a crença de

não poder medir o que é treinamento comportamental e a ausência de uma

tecnologia para mensurar resultados em capacitação.

O fato é que cada vez mais se cobram resultados de todas as áreas das

empresas e o ROI é uma medida familiar para a alta gerência, destacando-se por

ser de fácil compreensão para aqueles que aprovam os orçamentos de Recursos

Humanos. O ROI é uma medida que pode ajudar a provar o valor agregado pelos

programas de desenvolvimento junto ao negócio, mostrando o resultado do trabalho

do Departamento de Recursos Humanos ou de terceiros contratados por este.

Podemos dessa maneira entender que o desejo de muitos responsáveis pelas

áreas de treinamento é ir diretamente para o nível 4 na escala de avaliação de

treinamento segundo Kirkpatrick, em busca dos resultados financeiros do

investimento em capacitação, que é o que mais interessa na hora de provar o valor

de um determinado treinamento, principalmente, porque, para os níveis de

aprendizagem (2) e comportamento (3), o cálculo envolve tempo e recursos,

normalmente indisponíveis.

No Brasil, tradicionalmente a área de Treinamento e Desenvolvimento, em

tempos de redução de custos, tem seus investimentos cortados ou reduzidos. Medir

o ROI pode garantir a sobrevivência de um programa. O valor do retorno do

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Page 64: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

investimento pode ser um aliado na hora de convencer alguém a não eliminar ou até

aprovar um programa de capacitação, quando seu cálculo é efetuado previamente a

sua realização. Pode servir também como uma evidência de que o departamento de

recursos humanos fez um bom trabalho, quando feito depois de sua ocorrência.

Tão importante quanto decidir quando calcular ou não o ROI de um programa,

é também o próprio cálculo de quanto este processo vai custar. Em alguns

programas, basta saber que os benefícios superam os custos, ao invés de custear

um processo que afirme com exatidão o ROI.

Historicamente, nós brasileiros, nunca fomos incentivados a calcular os

investimentos efetuados em treinamento. Durante o período de 1975 e 1990, onde a

lei 6297/75 permitia a dedução dos gastos de treinamento em dobro do imposto de

renda devido, levava as empresas a grandes investimentos em projetos de formação

profissional, sem observarem se estavam relacionados à melhoria do desempenho

do negócio. A falta de alinhamento de alguns programas em relação aos objetivos

estratégicos das empresas é um dos motivos que explicam fracassos em

Treinamento e Desenvolvimento no país, há décadas.

É mais do que chegada a hora dos profissionais de Recursos Humanos

exercitarem pouco a pouco a experiência do cálculo do ROI de Treinamento, mesmo

que seja para iniciar com programas mais simples de serem mensurados, como por

exemplo, um treinamento de venda de produto ou um treinamento para redução de

desperdício ou retrabalho.

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Page 65: Metodologia Vivencial aplicada a vida organizacional

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