MICHELLYNNE BORROMEU DA SILVA · 2019. 10. 26. · universidade federal de pernambuco – ufpe...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO UFPE CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE NÚCLEO DE DESIGN MICHELLYNNE BORROMEU DA SILVA VITRINA, ESPELHO DE CULTURA: PROPOSTA DE UMA VITRINA DE MODA COM O TEMA DE SÃO JOÃO A PARTIR DA TEORIA DO IMAGINÁRIO DE GILBERT DURAND. CARUARU 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO ndash UFPE CENTRO ACADEcircMICO DO AGRESTE

NUacuteCLEO DE DESIGN

MICHELLYNNE BORROMEU DA SILVA

VITRINA ESPELHO DE CULTURA

PROPOSTA DE UMA VITRINA DE MODA COM O TEMA DE SAtildeO JOAtildeO A PARTIR DA TEORIA DO IMAGINAacuteRIO DE GILBERT DURAND

CARUARU 2016

MICHELLYNNE BORROMEU DA SILVA

VITRINA ESPELHO DE CULTURA

PROPOSTA DE UMA VITRINA DE MODA COM O TEMA DE SAtildeO JOAtildeO A PARTIR

DA TEORIA DO IMAGINAacuteRIO DE GILBERT DURAND

Monografia apresentada agrave Universidade Federal de Pernambuco Centro Acadecircmico do Agreste com o objetivo de ser avaliado como preacute-requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de bacharel no Curso de Design Orientador Prof Doutor Maacuterio de Faria Carvalho

CARUARU

2016

Catalogaccedilatildeo na fonte

Bibliotecaacuteria ndash Simone Xavier CRB4 ndash 1242

S586v Silva Michellynne Borromeu da

Vitrina espelho de cultura Proposta de uma vitrina de moda com o tema de Satildeo Joatildeo a

partir da teoria do imaginaacuterio de Gilbert Durand Michellynne Borromeu da Silva Juacutenior ndash 2016

108f il 30 cm Orientador Mario de Faria Carvalho Monografia (Trabalho de Conclusatildeo de Curso) ndash Universidade Federal de

Pernambuco Design 2016 Inclui Referecircncias 1 Vitrinas 2 Design 3 Imaginaacuterio 4 Festas juninas I carvalho Mario de Faria

(Orientador) II Tiacutetulo

740 CDD (23 ed) UFPE (CAA 2016-377)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO ndash UFPE

CENTRO ACADEcircMICO DO AGRESTE NUacuteCLEO DE DESIGN

PARECER DE COMISSAtildeO EXAMINADORA

DE DEFESA DE PROJETO DE

GRADUACcedilAtildeO EM DESIGN DE

Michellynne Borromeu da Silva

ldquoVitrina espelho de cultura

Proposta de uma vitrina de moda com o tema de Satildeo Joatildeo a partir da teoria do

imaginaacuterio de Gilbert Durandrdquo

A comissatildeo examinadora composta pelos membros abaixo sob a presidecircncia do

primeiro considera a aluna Michellynne Borromeu da Silva

APROVADA

Caruaru 29 de novembro de 2016

___________________________________________

Prof Dr Maacuterio de Faria Carvalho

___________________________________________

Prof(a) Dra Flavia Zimmerle

___________________________________________

Prof Dr Amilcar Bezerra

Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia ao meu companheiro aos meus amigos minhas famiacutelias adotivas ao universo e ao tempo que transforma tudo

AGRADECIMENTOS

Agradecimentosnatildeo haacute tiacutetulo melhor O problema eacute agradecer a quem

Agradeccedilo pelo apoio das minhas Marias que quando natildeo me incentivaram me

permitiramme ensinaram que mais vale lutar pelo que acredito do quer seguir a

mareacute Sim escolhi o design natildeo direito medicina administraccedilatildeo Natildeo sabia que

estudaria tanto sobre a sociedade e as necessidades humanas essa foi uma surpresa

boa dessa graduaccedilatildeo

Outra melhor ainda foi ter sido da turma 20091O erro na matricula do ano

anterior tornou-se o acerto pois tive uma turma sem igualforam os primeiros a

abrirem os braccedilos para a migrante da capitaldepois cruzei com pessoas

maravilhosas Caruaru me deu novas famiacutelias me senti acolhida cuidada protegida

e amadaAteacute que as vezes apertava a saudade das minhas MariasForam quatro

anos de curso e sete anos que disfrutei muito expandi horizontes dei a volta ao

mundo divide casa com pessoas impares divide o patildeo noites risos e chorosrisos

multiplicados e dores divididas

A saga que foi terminar essa monografia que insiste em se

reinventarGostaria de agradecer a paciecircncia que tem meu orientador para segurar

essa esquizofrenia de cacircmbios eu mudoe o projeto acompanha A certeza eacute que

em nenhum momento quis desistirmas sempre outras coisas me pareciam mais

importanteAinda bem Pois quando comecei pensava que ter uma graduaccedilatildeo

fosse a coisa mais importante da minha vidae estou ganhando muito mais famiacutelia

amigos parceiros para a memoacuteria para sempre Hoje estou terminando uma fase

importante mas ganho coisas que natildeo cabem no papel

Natildeo desejo dar nomes soacute queria ser poetizater o dom da palavrapara

liberar todos os agradecimentos e gratidotildees que tenho por essa cidade por todxs

RESUMO

A predileccedilatildeo por esse tema se deu principalmente pela experiecircncia vivida em

Caruaru de perceber como a cultura eacute valorizada e enraizada na cidade Tendo o

conhecimento de design e da vitrina como ferramentas de comunicaccedilatildeo social e

considerando a importacircncia econocircmica e cultural que os festejos de Satildeo Joatildeo

representam para a cidade Foi apresentada uma proposta de vitrina de moda

acatando os aspectos culturais e sociais da cidade como principal ecircnfase natildeo

havendo discriminaccedilatildeo de puacuteblico-alvo e cliente O principal objetivo foi verificar o

emprego da metodologia fenomenoloacutegica e da teoria do imaginaacuterio para o

desenvolvimento da vitrina que teve como tema as festas juninas Este processo

tornou possiacutevel a apresentaccedilatildeo de uma proposta de aproximaccedilatildeo entre a universidade

e a cidade atraveacutes do potencial esteacutetico que o designer pode oferecer como

diferencial aplicando seus meacutetodos e saberes as vitrinas de moda

Palavras-Chaves Vitrina Design Imaginaacuterio Festa de Satildeo Joatildeo

ABSTRACT

The predilection for this theme was mainly due to the experience lived in

Caruaru to realize how culture is valued and rooted in the city Having the knowledge

of the design and the showcase as tools of social communication and considering the

economic and cultural importance that the celebration of Saint Johnrsquos party represent

for the city It was presented a proposal of fashion showcase store abiding the cultural

and social aspects of the city as the main emphasis there being no discrimination of

target audience and costumer The main objective was to verify the employment of the

phenomenological methology and the theory of imaginary for the development of the

showcase which had as theme the Junersquos festivities This process has made it

possible to present a proporsal of approximation between the university and the city

through the aesthetic potencial that the designer can offer as differential applying his

methods and knowledge to the fashion showcase

Key-Words Showcase Design Imaginary Saint John Festival

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29

Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34

Painel 04ndash Fogueira 35

Painel 05ndash Bandeirinhas 35

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de

70 40

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de

festa 150ml 48

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73

Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82

Desenho 01 ndash Croqui A 83

Desenho 02 ndash Croqui B 84

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88

Painel 14 ndash Teste 1 88

Foto 04 ndashTeste 2 89

Painel 15 ndash Cores de Volpi 90

Figura 18 ndash Cartela de cores 90

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91

Foto 05 ndash Teste Final 92

Vetor 01 ndash Painel vitrina 93

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93

Vetor 04 ndash Molde casa 94

Vetor 05 ndash Molde display 94

Vetor 06 ndash Molde telhado 95

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96

Foto 07 ndash Cartolina guache 96

Foto 08 ndash Papel contato laminado 97

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17

211 Design e cultura material 17

212 Cultura popular e festejos juninos 19

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41

22 A vitrina no societal 50

221 Design e vitrina 50

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52

2221 As vidraccedilas na cidade 55

223 Da forma agrave vitrina 57

2231 A esteacutetica da forma 59

224 Sentidos e a vitrina 61

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71

3 METODOLOGIA 75

31 Metodologia fenomenoloacutegica 75

311 Imaginaacuterio 77

32 Instrumento de coleta 78

33 Metodologia do designer 78

4 RESULTADOS 81

41 Definiccedilatildeo do problema 81

42 Busca da informaccedilatildeo 81

421 Painel de inspiraccedilatildeo 82

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82

43 Preacute-projeto 83

431 Croquis fase 1 83

432 Croquis fase 2 84

433Testes 88

44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89

441 Memoria teacutecnico descritiva 92

442 Desenho teacutecnico 93

4421 Molde painel 93

4422 Molde casa 94

4423 Molde display 94

4424 Molde telhado 95

4425 Molde ceacuteu 95

443 Materiais empregados 96

444 Sequencia Operacional 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99

6 REFERENCIAS 101

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a

atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais

especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o

consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design

pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e

transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de

vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da

Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo

O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como

representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de

um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-

Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio

pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a

comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio

Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-

se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio

de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo

propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na

metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de

vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru

A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem

determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar

as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma

representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina

de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru

Com os objetivos especiacuteficos de

Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio

social

Analisar os festejos juninos

Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica

dos elementos que a compotildeem (Layout)

15

Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015

eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e

serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731

veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio

contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10

mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual

(PEREIRA 2016)

Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma

o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas

cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das

Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local

(APL)1 do setor de confecccedilotildees

Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees

de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos

pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos

comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As

exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator

agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que

simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade

local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas

comerciais

Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em

especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez

que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e

que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional

Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais

cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se

a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto

monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de

design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local

1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)

16

Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos

que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe

(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e

fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o

POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas

no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)

Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco

capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo

geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na

construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu

identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do

imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as

transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo

No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade

atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da

mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram

usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo

deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda

a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo

interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda

No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o

projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta

inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as

consideraccedilotildees finais do projeto

2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular

211 Design e cultura material

As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como

suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma

referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo

de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente

quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo

Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento

de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do

projeto e do mercado

A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o

fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos

em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na

legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia

contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente

inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais

Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura

material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo

respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a

material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico

Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no

caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e

portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998

p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que

se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de

expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo

elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das

3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)

18

populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes

dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por

diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades

funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor

Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no

objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e

comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como

mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da

sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo

sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica

(CARDOSO 1998 e ONO 2006)

Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-

STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui

conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado

deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida

transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que

transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana

que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas

No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische

Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma

e alma

A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)

Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do

sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-

subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica

O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e

atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes

niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais

e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na

mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados

ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o

19

objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores

referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado

Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso

apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe

atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem

variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada

Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria

cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma

parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo

(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual

que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos

212 Cultura popular e festejos juninos

O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com

Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de

um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela

para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo

dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante

heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007

p 7)

Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou

seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo

entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura

popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para

projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo

estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que

a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a

mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e

globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior

percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)

e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que

este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo

20

pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento

em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva

A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)

A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes

culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)

em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de

acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira

hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura

popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da

conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)

O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia

atribuiacuteda aos objetos na cultura popular

Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)

Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura

popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles

Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui

ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem

ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)

tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma

que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os

agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia

Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma

pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se

dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que

segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-

21

moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas

tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees

E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas

festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as

festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas

origens

As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das

culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios

Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do

repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece

[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)

Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo

de vaacuterios agentes

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo

Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste

projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-

se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a

magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e

produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor

para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos

A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)

Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social

de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de

produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem

22

celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees

como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios

norte e sul

Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais

mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)

afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila

do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees

o calendaacuterio solar e os solstiacutecios

Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes

grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno

satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal

influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo

periacuteodo

A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para

os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal

festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento

Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO

2007 p 9)

Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio

e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer

(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que

viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte

o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os

nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz

(Babilocircnia)

Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a

conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a

vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente

os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das

colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses

deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a

um novo ciclo

23

Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)

O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa

Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir

a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a

deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo

inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o

periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de

frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)

O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)

Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi

adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram

a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute

conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que

tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por

realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista

[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)

Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo

acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar

24

comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na

Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista

Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em

toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de

junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe

foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode

haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio

da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol

quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e

a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER

1982 p 539 e 540)

As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho

homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo

Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs

inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados

Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e

pagamento de promessas

As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com

suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e

em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo

Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)

A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa

da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui

seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual

No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru

em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que

ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF

1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero

de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo

expressatildeo do imaginaacuterio coletivo

25

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade

A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio

catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o

ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo

Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social

Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)

Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa

pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio

antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado

em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia

de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de

fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito

maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente

A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais

da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas

muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de

comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo

articula-se com a cidade

Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva

A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas

cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos

o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)

A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos

que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem

puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo

os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)

As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que

compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando

diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas

ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto

com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]

26

manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas

sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade

da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e

objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo

os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)

Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura

que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma

que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde

ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que

acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o

mito

Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)

o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da

natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por

exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o

como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na

infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)

o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo

de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)

com o coletivo (macrocosmo universo)

Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de

interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru

Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para

as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia

de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual

presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o

moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo

As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows

gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das

festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do

Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra

e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock

Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto

do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru

27

hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da

cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro

que fazem parte da cultura popular caruaruense

Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o

hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais

diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de

contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos

alastrados pela cidade

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro

As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores

regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem

elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas

No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o

cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave

festa junina

Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da

populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que

atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo

se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou

nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos

outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno

de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa

[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou

individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos

que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido

4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco

28

ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI

1998 p 181)

Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem

a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da

cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas

tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A

apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos

histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo

os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde

o mito de Tamuz o mito fundador

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil

Quadrilhas juninas

A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve

sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na

Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha

(GIFFONI 1973)

No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser

copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e

festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas

a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados

pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que

levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural

A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica

velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma

identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha

agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular

brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes

7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas

29

o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo

teatral da danccedila nobre

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos

Fonte Acervo do autor

30

A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por

outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um

conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que

marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam

o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos

reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo

sua bravura e o xaxado10

Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao

menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta

estilizadas e recriadas

[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da

tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um

periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica

e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos

regionais (MENEZES NETO 2008 p12)

Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o

desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional

traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da

performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se

estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados

exibindo banguelas

A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das

festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com

roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da

mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por

fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam

um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar

as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de

comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)

8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros

31

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas

TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS

MATUTA ESTILIZADA RECRIADA

PERSONAGENS Noivos padre

delegado fofoqueiras

matutos

Noivos rainha e

princesa do milho

lampiatildeo e Maria

Bonita ciganos

Tem noivos e matutos

VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e

calccedilas em cores vivas

com remendos em

chita e xadrez

Os trajes satildeo os

mesmos mas ganham

lantejoulas brilhos

cetins

O vestuaacuterio voltou o

uso das chitas e

xadrezes agora

incorporados como

recortes da

indumentaacuteria

MAQUIAGEM Homens de bigodes

mulheres de sardas e

dentes todos pintados

de preto

Maquiagem de festa

profissionais

Maquiagem de festa

profissionais

MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do

momento

Forroacute coco xaxado

ciranda ritmos

regionais

MARCADOR Coordena a danccedila

marca cada mudanccedila

de passo

Anima a torcida a

evoluccedilatildeo acontece

sem nenhuma

influecircncia do puxador

Anima a torcida e se

integra agrave evoluccedilatildeo da

quadrilha por vezes

marca alguns passos

Fonte Menezes Neto 2008

Casamento matuto

O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da

mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na

atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma

saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um

becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a

ajuda do cangaccedilo

Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma

criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas

na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo

XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de

paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem

saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo

Comidas tiacutepicas juninas

32

As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho

amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram

cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo

Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela

colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e

cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma

A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no

Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de

diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro

deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas

as guloseimas juninas no tamanho gigante

Cidades cenograacuteficas

As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes

incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de

cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os

festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino

com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11

e restaurantes compondo a Vila do Forroacute

11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos

de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas

33

Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas

Fonte Acervo do autor

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador

Balatildeo

Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as

preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se

o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas

formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi

criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato

de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou

qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar

incecircndios em florestas e acidentes

34

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo

Fonte Acervo do autor

Fogueira

A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de

agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela

aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada

das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono

da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda

a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma

simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da

fogueira de Satildeo Joatildeo

35

Painel 04ndash Fogueira

Fonte Acervo do autor

Bandeirinhas

As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de

tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em

madeiras preparadas pelo povo

Painel 05ndash Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

36

O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-

lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta

possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que

antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um

padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)

Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia

de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa

(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto

com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos

Fonte Acervo do autor

Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos

juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina

37

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo

Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se

na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais

Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi

tratado anteriormente

Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de

Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de

Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela

Fonte RIBEIRO 2008

As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de

Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava

oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de

fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver

Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista

(RIBEIRO 2008 p 2)

38

Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento

modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas

pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus

trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta

de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001

p110)

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas

Fonte GREGGIO 2001 p121

Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um

premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no

trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe

deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o

tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e

senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)

39

Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas

obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das

formas e cores Como falou o pintor em entrevista

ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar

uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com

essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as

fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com

bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)

O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E

esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para

este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois

utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou

volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva

brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas

alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura

40

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p52

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p92

41

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p98 e 99

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design

A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design

Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria

imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o

siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores

coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes

perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico

No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees

para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com

pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos

estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a

cultura popular

Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha

Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com

esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura

06)

42

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok

Fonte (OXFORD 2013)

Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo

inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco

em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo

as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo

(Figura 07)

43

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2015)

O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca

registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram

inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um

casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas

e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa

de Satildeo Joatildeo

44

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2016)

Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre

abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre

as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma

publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de

2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas

acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo

Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa

apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)

12 Estado emocional

45

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina

Fonte (FORUM 2016)

A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que

estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina

apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e

xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo

46

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013

Fonte (FARM 2013)

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016

Fonte (FARM 2016)

Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de

festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas

fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar

A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as

latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A

Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)

47

que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse

cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo

eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol

Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava

Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)

O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento

da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em

ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral

acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo

48

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)

inspirados nas comidas tiacutepicas juninas

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas

com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos

nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo

para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas

dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos

49

juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao

caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil

Fonte (SUVINIL 2015)

O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas

inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste

brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram

desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias

50

22 A vitrina no societal

221 Design e vitrina

Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que

possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute

importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo

momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente

e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada

eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como

valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo

Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo

conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e

valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal

objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo

[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)

Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com

diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador

Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano

mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso

(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta

as ideias abstratas e subjetivas

Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade

Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social

junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo

artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade

projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo

comportamental de uma sociedade

51

Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda

marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das

transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se

apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem

a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo

num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo

Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas

diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato

assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis

para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se

necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design

pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo

inseridos os designers

Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para

uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008

p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de

bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema

em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma

apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo

cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre

que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e

consumidor

Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios

artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria

de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as

atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante

assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem

atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas

das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem

poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio

e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo

Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando

esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio

52

convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo

que eacute oferecido na vitrina

Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As

vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando

dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma

eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)

O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar

dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design

Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um

convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma

encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e

relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer

O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design

levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja

percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco

Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a

palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais

precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma

textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing

quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e

mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)

O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em

bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A

vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um

espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo

A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a

todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste

entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano

como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz

53

de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas

possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o

urbano

A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa

explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante

do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia

Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo

exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O

socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem

e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam

sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior

A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)

Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as

caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de

mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel

perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior

com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa

ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior

satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo

Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e

o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois

espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo

e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser

observada das duas perspectivas de espaccedilo

Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina

como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro

dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o

qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma

encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um

54

cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de

vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas

No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao

flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente

para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta

(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de

estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio

em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta

uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador

Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui

o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta

imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido

pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o

consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar

com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de

quem a observa

Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona

como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso

ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele

Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um

reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute

diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute

onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas

A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel

funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que

Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso

agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser

Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo

evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que

transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no

ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte

eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum

momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela

55

transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente

comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso

2221 As vidraccedilas na cidade

Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do

ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o

natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o

socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia

esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-

se e relacionando-se com o mundo

Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no

ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos

valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses

elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo

(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir

em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno

Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta

e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante

onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no

fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no

caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do

passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este

frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca

pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador

Para Michel Maffesoli

Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de

nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de

acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados

pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um

espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos

apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)

Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real

atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da

mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com

56

o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-

se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo

vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o

conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos

comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda

simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador

As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das

transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da

representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse

mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o

espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a

cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta

diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma

preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla

Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas

que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma

instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de

maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas

retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo

que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia

entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta

a sociedade por retratar o mito social

[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de

relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees

interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto

sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando

sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI

2010 p 63)

Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como

um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees

como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o

tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo

vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois

57

ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o

consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas

Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as

mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees

do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado

(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado

mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier

(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social

representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais

de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com

o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem

para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel

223 Da forma agrave vitrina

Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de

materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e

mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para

concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura

luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao

mesmo valores espaciais sensoriais e visuais

Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre

espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como

seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute

de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como

exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH

em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que

forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A

personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas

assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser

Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece

[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um

58

elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)

Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo

nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as

formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute

forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma

histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado

Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual

resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode

configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina

masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta

condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna

possiacutevel compreender o conjunto social

Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de

melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados

contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo

deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa

A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si

podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico

filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este

estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica

Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio

S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que

conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular

[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam

a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)

A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao

seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do

significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos

e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao

longo da pesquisa

59

Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica

definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a

palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute

constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto

conceito (significado natureza proacutepria)

Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute

comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim

como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma

interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os

impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do

universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura

configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no

campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio

A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que

a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e

ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em

funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra

coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)

chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o

invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que

forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se

organicamente entre si

2231 A esteacutetica da forma

Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais

neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do

observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a

expectativas sociais e culturais

Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e

que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos

13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado

grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)

60

O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir

sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza

e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua

explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo

que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas

na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo

eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p

12)

Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos

Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia

formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com

o outro

Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da

aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que

abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados

conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]

o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e

em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno

da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima

pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que

invade o iacutentimo do flanador

A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o

contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens

constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado

revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar

o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra

socializa

Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se

define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado

anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como

adereccedilos luz cores e produtos

Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas

Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma

espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de

61

pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano

salvo raras exceccedilotildees

A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior

ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus

contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra

claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc

A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute

determinante do equiliacutebrio entre suas variantes

O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o

produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de

toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)

Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha

em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens

coacutedigos identificaccedilotildees

A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que

se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que

se vive atualmente

E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira

estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem

da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura

burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)

Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a

vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira

fluiacuteda no espaccedilo vitrina

224 Sentidos e a vitrina

A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e

diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo

com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas

primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de

sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer

dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade

62

primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e

une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a

espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real

A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas

causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela

eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico

desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua

sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior

proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo

fascinante

Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do

olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um

olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem

refletida (BIGAL 2001 p 60)

Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o

seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo

revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um

jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a

imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia

As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas

com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a

fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de

projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios

desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio

de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que

estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente

na percepccedilatildeo do eu sobre o outro

Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute

caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a

partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco

(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com

o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees

taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz

pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto

63

espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do

homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os

elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do

tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao

ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa

estranha ao observador

[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do

bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele

que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada

rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)

O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por

muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as

marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para

ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar

de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de

experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato

mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de

degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como

complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia

do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho

As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade

que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as

iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa

com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de

pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)

Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados

na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel

tempo Barreto afirma que

[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)

64

Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos

seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no

imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento

Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de

calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009

criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca

em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois

o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar

a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente

vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela

experiecircncia

Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional

espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares

captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver

fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de

sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como

uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo

eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da

matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados

tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas

Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em

eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes

emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se

barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos

perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na

qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)

Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e

identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que

simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das

14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas

televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico

15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo

desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias

65

inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre

espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto

os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam

e satildeo percebidos por diferentes meios

A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto

antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo

designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por

experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento

emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo

das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro

a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute

comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal

objetivo mostrar-se

Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura

O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de

comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente

do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia

fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)

Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam

originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute

importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos

do contemplador

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo

O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido

ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio

como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser

cultural ao ser humano

Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria

Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia

faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de

66

simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a

p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de

simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na

sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o

designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os

coletivos (MIZANZUK 2007)

Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem

Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial

que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010

p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o

coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas

o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas

aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de

carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a

cultura de uma regiatildeo de um povo

O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos

objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando

uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo

eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma

Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura

Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme

Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura

Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade

Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos

tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego

satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo

a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o

espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado

os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)

16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados

detalhadamente no toacutepico seguinte

67

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC

Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014

Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente

vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com

o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo

aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente

do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado

pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir

o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por

exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles

(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na

chuva

Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute

vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico

enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim

como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-

68

chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-

chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos

os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados

que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o

valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito

ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro

O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que

compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem

da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito

O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que

possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do

homem a morte

Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos

de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina

Fonte FASHINMAG 2011

A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social

masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a

mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses

69

imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura

heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do

guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como

se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina

suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o

terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes

os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor

de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes

Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do

imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo

usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia

de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina

Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura

miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico

harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e

dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do

homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina

Fonte MBASIC 2014

70

Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento

redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda

Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume

aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica

em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta

As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que

orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda

roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o

tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo

quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo

na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes

que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees

e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa

que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes

As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram

analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de

Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos

e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo

passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O

Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim

como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento

com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim

como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos

como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo

menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam

perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para

que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas

71

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo

Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras

principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por

ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades

incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de

diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios

cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o

Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo

para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo

com o passante

Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e

representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse

conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais

clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da

vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo

O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que

a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo

os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos

como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em

duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez

que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa

junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas

Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem

maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima

satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se

sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante

72

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma

cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia

que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo

de um mito

73

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura

17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria

narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os

mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto

04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011

Fonte Pinterest 2016

74

Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

75

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo

Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio

urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que

transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina

31 Metodologia fenomenoloacutegica

A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute

abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de

abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e

estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos

lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica

(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-

hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar

projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo

meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa

Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico

quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise

eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a

investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a

complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud

MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados

coletados nesse projeto eacute qualitativa

A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de

Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos

permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos

Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a

fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia

imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo

Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se

a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco

Ainda segundo a autora

76

[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)

A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a

ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um

ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada

como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa

Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento

filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl

considerado o pai da fenomenologia

A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)

A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo

verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos

de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo

de um uacutenico fenocircmeno

A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)

Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede

direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-

Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram

influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o

desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto

Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica

[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e

77

objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)

Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia

sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao

ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo

restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli

aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado

na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o

resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um

sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)

311 Imaginaacuterio

Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social

perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este

processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real

ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre

esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca

(PITTA 2005 p147)

A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo

abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em

sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir

do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli

(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a

experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma

visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o

imaginaacuterio e o prazer dos sentidos

Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o

aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de

mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma

melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo

fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel

eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o

fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste

78

meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida

cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave

origem do fenocircmeno

32 Instrumento de coleta

Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto

diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa

sendo o primeiro a ser empregado

Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e

explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e

trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao

projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa

cientifica

Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos

fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos

design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees

Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e

mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite

um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da

aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar

hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este

permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina

33 Metodologia do designer

Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por

Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que

tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento

de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de

um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes

de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas

consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor

adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia

79

para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem

vir a se desdobrarem

Metodologia projetual de Cerver

Fase 1 Definiccedilatildeo do problema

A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e

a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer

Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O

designer deve responder

Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos

Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais

Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam

Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc

Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)

Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos

requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser

respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto

A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como

a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos

objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)

afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde

seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente

Fase 2 Busca de informaccedilotildees

A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-

se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins

com os objetivos do projeto

Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e

igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados

O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro

fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias

80

existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado

a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e

manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)

Fase 3 Preacute-projeto

Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias

viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias

selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema

em questatildeo

Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e

protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os

fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos

projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de

geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute

uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual

Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto

Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias

necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do

mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente

Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e

ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve

ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para

montagem da mesma

Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos

o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois

da implantaccedilatildeo da vitrina

81

4 RESULTADOS

Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da

abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de

desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a

ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor

41 Definiccedilatildeo do problema

O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o

mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar

as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo

empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico

A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia

fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de

baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a

composiccedilatildeo da mesma

A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres

adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina

foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que

a festa junina tem em si

Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo

do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu

desenvolvimento

42 Busca da informaccedilatildeo

Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a

festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo

do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA

e papeis para compor a vitrina

Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como

Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em

outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas

82

421 Painel de inspiraccedilatildeo

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina

Fonte Acervo do autor

83

43 Preacute-projeto

431 Croquis fase 1

A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da

festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora

das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em

questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis

de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas

No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as

bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas

natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade

cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal

material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados

foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza

multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo

Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no

imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser

passado neste projeto

Desenho 01 ndash Croqui A

Fonte Acervo do autor

No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente

quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a

compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto

84

quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto

negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar

se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo

das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o

paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser

apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este

segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio

que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina

Desenho 02 ndash Croqui B

Fonte Acervo do autor

432 Croquis fase 2

Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto

considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior

Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser

usado na configuraccedilatildeo do projeto

No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha

de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo

passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro

croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das

85

manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse

aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No

sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas

possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro

do vento

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

86

Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase

anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores

aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada

anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como

bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e

dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e

movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira

Fonte Acervo do autor

87

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira

Fonte Acervo do autor

Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel

13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo

nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos

como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das

quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

88

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores

materiais e texturas

433Testes

No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para

estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel

tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as

bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17

Painel 14 ndash Teste 1

Fonte Acervo do autor

17

89

No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o

EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou

a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica

de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste

para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se

distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido

e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser

retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas

do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos

desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina

Foto 04 ndashTeste 2

Fonte Acervo do autor

44 Apresentaccedilatildeo do projeto

Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que

compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no

teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos

contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor

90

selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto

as demais cores

As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas

obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)

Painel 15 ndash Cores de Volpi

Fonte MATTAR 2014

Figura 18 ndash Cartela de cores

Fonte Acervo do autor

Estudo das combinaccedilotildees das cores

91

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores

Fonte Acervo do autor

Outras possiacuteveis combinaccedilotildees

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores

Fonte Acervo do autor

92

Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis

de diferentes finalidades e texturas

Foto 05 ndash Teste Final

Fonte Acervo do autor

441 Memoria teacutecnico descritiva

Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho

teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura

com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas

as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo

93

442 Desenho teacutecnico

4421 Molde painel

Vetor 01 ndash Painel vitrina

Fonte Acervo do autor

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas

Fonte Acervo do autor

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais

Fonte Acervo do autor

94

4422 Molde casa

Vetor 04 ndash Molde casa

Fonte Acervo do autor

4423 Molde display

Vetor 05 ndash Molde display

Fonte Acervo do autor

95

4424 Molde telhado

Vetor 06 ndash Molde telhado

Fonte Acervo do autor

4425 Molde ceacuteu

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu

Fonte Acervo do autor

96

443 Materiais empregados

Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80

espessura 09 mm nos telhados e displays

Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em

especial nos telhados) (Foto 6)

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado

Fonte Acervo do autor

Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina

guache (Foto 07) sobre papel camurccedila

Foto 07 ndash Cartolina guache

Fonte Acervo do autor

97

Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado

(Foto 08)

Foto 08 ndash Papel contato laminado

Fonte Acervo do autor

Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros

escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita

dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para

transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete

Fonte Acervo do autor

98

444 Sequencia Operacional

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia

Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo

OP Sequencia Operacional Ferramentas

1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal

2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas

respectivas cores no papelatildeo canelado

Tesoura papel carbono e

laacutepis

3 Cortar os moldes casa base display e painel C e

bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina

guache

Tesoura estilete reacutegua de

metal papel carbono e

laacutepis

4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e

laacutepis

5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em

cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar

com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais

moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio

Tesoura papel carbono e

laacutepis

6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP

4) Reservar

Cola para papel e pincel

7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal

8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida

9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais

moldes cortados nas OP 3 e OP 4

Cola para papel e pincel

10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as

combinaccedilotildees de cores

Cola para papel e pincel

12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e

luminaacuteria

13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

14 Colar uma casa na outra Fita dupla face

15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida

furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila

Laacutepis reacutegua furador

16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a

disposiccedilatildeo da base ceacuteu

Cola para papel e pincel

17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face

Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face

18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees

eleacutetricas por traacutes da base da vitrina

Fita dupla face

19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares

marcados

Furador

Fonte Acervo do autor

As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem

e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto

99

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e

projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender

agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa

foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as

simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo

da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal

Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida

pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que

o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a

vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao

construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a

marca e sua identidade

O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como

representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na

cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como

meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a

relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina

como exemplo dessa relaccedilatildeo

Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo

simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para

configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no

contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta

de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru

Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design

para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da

teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente

duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas

discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi

possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem

da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e

representante do imaginaacuterio social

100

A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no

periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor

O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do

imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina

enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal

E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com

ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de

poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram

enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho

contribuiu para um emprego mais social do produto de design

Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e

experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui

utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura

popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado

local

Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo

de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes

da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada

principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no

desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro

comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver

Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o

design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao

projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento

para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas

A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo

canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe

uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si

mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa

interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma

possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade

101

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MICHELLYNNE BORROMEU DA SILVA

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PROPOSTA DE UMA VITRINA DE MODA COM O TEMA DE SAtildeO JOAtildeO A PARTIR

DA TEORIA DO IMAGINAacuteRIO DE GILBERT DURAND

Monografia apresentada agrave Universidade Federal de Pernambuco Centro Acadecircmico do Agreste com o objetivo de ser avaliado como preacute-requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de bacharel no Curso de Design Orientador Prof Doutor Maacuterio de Faria Carvalho

CARUARU

2016

Catalogaccedilatildeo na fonte

Bibliotecaacuteria ndash Simone Xavier CRB4 ndash 1242

S586v Silva Michellynne Borromeu da

Vitrina espelho de cultura Proposta de uma vitrina de moda com o tema de Satildeo Joatildeo a

partir da teoria do imaginaacuterio de Gilbert Durand Michellynne Borromeu da Silva Juacutenior ndash 2016

108f il 30 cm Orientador Mario de Faria Carvalho Monografia (Trabalho de Conclusatildeo de Curso) ndash Universidade Federal de

Pernambuco Design 2016 Inclui Referecircncias 1 Vitrinas 2 Design 3 Imaginaacuterio 4 Festas juninas I carvalho Mario de Faria

(Orientador) II Tiacutetulo

740 CDD (23 ed) UFPE (CAA 2016-377)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO ndash UFPE

CENTRO ACADEcircMICO DO AGRESTE NUacuteCLEO DE DESIGN

PARECER DE COMISSAtildeO EXAMINADORA

DE DEFESA DE PROJETO DE

GRADUACcedilAtildeO EM DESIGN DE

Michellynne Borromeu da Silva

ldquoVitrina espelho de cultura

Proposta de uma vitrina de moda com o tema de Satildeo Joatildeo a partir da teoria do

imaginaacuterio de Gilbert Durandrdquo

A comissatildeo examinadora composta pelos membros abaixo sob a presidecircncia do

primeiro considera a aluna Michellynne Borromeu da Silva

APROVADA

Caruaru 29 de novembro de 2016

___________________________________________

Prof Dr Maacuterio de Faria Carvalho

___________________________________________

Prof(a) Dra Flavia Zimmerle

___________________________________________

Prof Dr Amilcar Bezerra

Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia ao meu companheiro aos meus amigos minhas famiacutelias adotivas ao universo e ao tempo que transforma tudo

AGRADECIMENTOS

Agradecimentosnatildeo haacute tiacutetulo melhor O problema eacute agradecer a quem

Agradeccedilo pelo apoio das minhas Marias que quando natildeo me incentivaram me

permitiramme ensinaram que mais vale lutar pelo que acredito do quer seguir a

mareacute Sim escolhi o design natildeo direito medicina administraccedilatildeo Natildeo sabia que

estudaria tanto sobre a sociedade e as necessidades humanas essa foi uma surpresa

boa dessa graduaccedilatildeo

Outra melhor ainda foi ter sido da turma 20091O erro na matricula do ano

anterior tornou-se o acerto pois tive uma turma sem igualforam os primeiros a

abrirem os braccedilos para a migrante da capitaldepois cruzei com pessoas

maravilhosas Caruaru me deu novas famiacutelias me senti acolhida cuidada protegida

e amadaAteacute que as vezes apertava a saudade das minhas MariasForam quatro

anos de curso e sete anos que disfrutei muito expandi horizontes dei a volta ao

mundo divide casa com pessoas impares divide o patildeo noites risos e chorosrisos

multiplicados e dores divididas

A saga que foi terminar essa monografia que insiste em se

reinventarGostaria de agradecer a paciecircncia que tem meu orientador para segurar

essa esquizofrenia de cacircmbios eu mudoe o projeto acompanha A certeza eacute que

em nenhum momento quis desistirmas sempre outras coisas me pareciam mais

importanteAinda bem Pois quando comecei pensava que ter uma graduaccedilatildeo

fosse a coisa mais importante da minha vidae estou ganhando muito mais famiacutelia

amigos parceiros para a memoacuteria para sempre Hoje estou terminando uma fase

importante mas ganho coisas que natildeo cabem no papel

Natildeo desejo dar nomes soacute queria ser poetizater o dom da palavrapara

liberar todos os agradecimentos e gratidotildees que tenho por essa cidade por todxs

RESUMO

A predileccedilatildeo por esse tema se deu principalmente pela experiecircncia vivida em

Caruaru de perceber como a cultura eacute valorizada e enraizada na cidade Tendo o

conhecimento de design e da vitrina como ferramentas de comunicaccedilatildeo social e

considerando a importacircncia econocircmica e cultural que os festejos de Satildeo Joatildeo

representam para a cidade Foi apresentada uma proposta de vitrina de moda

acatando os aspectos culturais e sociais da cidade como principal ecircnfase natildeo

havendo discriminaccedilatildeo de puacuteblico-alvo e cliente O principal objetivo foi verificar o

emprego da metodologia fenomenoloacutegica e da teoria do imaginaacuterio para o

desenvolvimento da vitrina que teve como tema as festas juninas Este processo

tornou possiacutevel a apresentaccedilatildeo de uma proposta de aproximaccedilatildeo entre a universidade

e a cidade atraveacutes do potencial esteacutetico que o designer pode oferecer como

diferencial aplicando seus meacutetodos e saberes as vitrinas de moda

Palavras-Chaves Vitrina Design Imaginaacuterio Festa de Satildeo Joatildeo

ABSTRACT

The predilection for this theme was mainly due to the experience lived in

Caruaru to realize how culture is valued and rooted in the city Having the knowledge

of the design and the showcase as tools of social communication and considering the

economic and cultural importance that the celebration of Saint Johnrsquos party represent

for the city It was presented a proposal of fashion showcase store abiding the cultural

and social aspects of the city as the main emphasis there being no discrimination of

target audience and costumer The main objective was to verify the employment of the

phenomenological methology and the theory of imaginary for the development of the

showcase which had as theme the Junersquos festivities This process has made it

possible to present a proporsal of approximation between the university and the city

through the aesthetic potencial that the designer can offer as differential applying his

methods and knowledge to the fashion showcase

Key-Words Showcase Design Imaginary Saint John Festival

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29

Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34

Painel 04ndash Fogueira 35

Painel 05ndash Bandeirinhas 35

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de

70 40

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de

festa 150ml 48

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73

Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82

Desenho 01 ndash Croqui A 83

Desenho 02 ndash Croqui B 84

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88

Painel 14 ndash Teste 1 88

Foto 04 ndashTeste 2 89

Painel 15 ndash Cores de Volpi 90

Figura 18 ndash Cartela de cores 90

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91

Foto 05 ndash Teste Final 92

Vetor 01 ndash Painel vitrina 93

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93

Vetor 04 ndash Molde casa 94

Vetor 05 ndash Molde display 94

Vetor 06 ndash Molde telhado 95

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96

Foto 07 ndash Cartolina guache 96

Foto 08 ndash Papel contato laminado 97

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17

211 Design e cultura material 17

212 Cultura popular e festejos juninos 19

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41

22 A vitrina no societal 50

221 Design e vitrina 50

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52

2221 As vidraccedilas na cidade 55

223 Da forma agrave vitrina 57

2231 A esteacutetica da forma 59

224 Sentidos e a vitrina 61

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71

3 METODOLOGIA 75

31 Metodologia fenomenoloacutegica 75

311 Imaginaacuterio 77

32 Instrumento de coleta 78

33 Metodologia do designer 78

4 RESULTADOS 81

41 Definiccedilatildeo do problema 81

42 Busca da informaccedilatildeo 81

421 Painel de inspiraccedilatildeo 82

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82

43 Preacute-projeto 83

431 Croquis fase 1 83

432 Croquis fase 2 84

433Testes 88

44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89

441 Memoria teacutecnico descritiva 92

442 Desenho teacutecnico 93

4421 Molde painel 93

4422 Molde casa 94

4423 Molde display 94

4424 Molde telhado 95

4425 Molde ceacuteu 95

443 Materiais empregados 96

444 Sequencia Operacional 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99

6 REFERENCIAS 101

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a

atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais

especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o

consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design

pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e

transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de

vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da

Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo

O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como

representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de

um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-

Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio

pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a

comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio

Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-

se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio

de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo

propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na

metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de

vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru

A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem

determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar

as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma

representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina

de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru

Com os objetivos especiacuteficos de

Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio

social

Analisar os festejos juninos

Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica

dos elementos que a compotildeem (Layout)

15

Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015

eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e

serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731

veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio

contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10

mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual

(PEREIRA 2016)

Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma

o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas

cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das

Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local

(APL)1 do setor de confecccedilotildees

Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees

de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos

pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos

comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As

exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator

agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que

simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade

local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas

comerciais

Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em

especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez

que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e

que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional

Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais

cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se

a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto

monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de

design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local

1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)

16

Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos

que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe

(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e

fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o

POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas

no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)

Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco

capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo

geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na

construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu

identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do

imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as

transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo

No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade

atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da

mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram

usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo

deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda

a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo

interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda

No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o

projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta

inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as

consideraccedilotildees finais do projeto

2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular

211 Design e cultura material

As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como

suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma

referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo

de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente

quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo

Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento

de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do

projeto e do mercado

A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o

fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos

em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na

legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia

contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente

inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais

Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura

material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo

respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a

material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico

Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no

caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e

portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998

p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que

se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de

expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo

elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das

3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)

18

populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes

dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por

diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades

funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor

Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no

objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e

comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como

mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da

sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo

sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica

(CARDOSO 1998 e ONO 2006)

Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-

STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui

conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado

deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida

transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que

transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana

que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas

No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische

Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma

e alma

A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)

Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do

sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-

subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica

O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e

atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes

niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais

e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na

mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados

ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o

19

objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores

referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado

Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso

apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe

atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem

variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada

Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria

cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma

parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo

(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual

que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos

212 Cultura popular e festejos juninos

O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com

Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de

um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela

para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo

dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante

heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007

p 7)

Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou

seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo

entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura

popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para

projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo

estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que

a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a

mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e

globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior

percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)

e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que

este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo

20

pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento

em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva

A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)

A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes

culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)

em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de

acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira

hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura

popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da

conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)

O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia

atribuiacuteda aos objetos na cultura popular

Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)

Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura

popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles

Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui

ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem

ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)

tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma

que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os

agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia

Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma

pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se

dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que

segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-

21

moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas

tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees

E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas

festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as

festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas

origens

As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das

culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios

Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do

repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece

[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)

Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo

de vaacuterios agentes

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo

Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste

projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-

se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a

magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e

produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor

para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos

A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)

Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social

de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de

produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem

22

celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees

como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios

norte e sul

Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais

mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)

afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila

do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees

o calendaacuterio solar e os solstiacutecios

Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes

grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno

satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal

influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo

periacuteodo

A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para

os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal

festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento

Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO

2007 p 9)

Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio

e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer

(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que

viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte

o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os

nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz

(Babilocircnia)

Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a

conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a

vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente

os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das

colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses

deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a

um novo ciclo

23

Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)

O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa

Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir

a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a

deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo

inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o

periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de

frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)

O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)

Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi

adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram

a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute

conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que

tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por

realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista

[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)

Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo

acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar

24

comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na

Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista

Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em

toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de

junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe

foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode

haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio

da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol

quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e

a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER

1982 p 539 e 540)

As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho

homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo

Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs

inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados

Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e

pagamento de promessas

As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com

suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e

em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo

Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)

A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa

da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui

seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual

No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru

em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que

ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF

1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero

de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo

expressatildeo do imaginaacuterio coletivo

25

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade

A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio

catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o

ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo

Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social

Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)

Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa

pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio

antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado

em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia

de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de

fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito

maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente

A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais

da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas

muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de

comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo

articula-se com a cidade

Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva

A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas

cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos

o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)

A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos

que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem

puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo

os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)

As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que

compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando

diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas

ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto

com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]

26

manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas

sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade

da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e

objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo

os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)

Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura

que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma

que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde

ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que

acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o

mito

Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)

o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da

natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por

exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o

como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na

infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)

o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo

de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)

com o coletivo (macrocosmo universo)

Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de

interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru

Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para

as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia

de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual

presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o

moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo

As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows

gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das

festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do

Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra

e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock

Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto

do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru

27

hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da

cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro

que fazem parte da cultura popular caruaruense

Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o

hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais

diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de

contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos

alastrados pela cidade

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro

As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores

regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem

elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas

No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o

cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave

festa junina

Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da

populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que

atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo

se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou

nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos

outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno

de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa

[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou

individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos

que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido

4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco

28

ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI

1998 p 181)

Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem

a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da

cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas

tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A

apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos

histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo

os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde

o mito de Tamuz o mito fundador

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil

Quadrilhas juninas

A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve

sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na

Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha

(GIFFONI 1973)

No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser

copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e

festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas

a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados

pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que

levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural

A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica

velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma

identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha

agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular

brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes

7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas

29

o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo

teatral da danccedila nobre

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos

Fonte Acervo do autor

30

A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por

outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um

conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que

marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam

o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos

reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo

sua bravura e o xaxado10

Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao

menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta

estilizadas e recriadas

[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da

tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um

periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica

e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos

regionais (MENEZES NETO 2008 p12)

Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o

desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional

traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da

performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se

estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados

exibindo banguelas

A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das

festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com

roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da

mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por

fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam

um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar

as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de

comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)

8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros

31

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas

TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS

MATUTA ESTILIZADA RECRIADA

PERSONAGENS Noivos padre

delegado fofoqueiras

matutos

Noivos rainha e

princesa do milho

lampiatildeo e Maria

Bonita ciganos

Tem noivos e matutos

VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e

calccedilas em cores vivas

com remendos em

chita e xadrez

Os trajes satildeo os

mesmos mas ganham

lantejoulas brilhos

cetins

O vestuaacuterio voltou o

uso das chitas e

xadrezes agora

incorporados como

recortes da

indumentaacuteria

MAQUIAGEM Homens de bigodes

mulheres de sardas e

dentes todos pintados

de preto

Maquiagem de festa

profissionais

Maquiagem de festa

profissionais

MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do

momento

Forroacute coco xaxado

ciranda ritmos

regionais

MARCADOR Coordena a danccedila

marca cada mudanccedila

de passo

Anima a torcida a

evoluccedilatildeo acontece

sem nenhuma

influecircncia do puxador

Anima a torcida e se

integra agrave evoluccedilatildeo da

quadrilha por vezes

marca alguns passos

Fonte Menezes Neto 2008

Casamento matuto

O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da

mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na

atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma

saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um

becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a

ajuda do cangaccedilo

Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma

criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas

na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo

XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de

paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem

saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo

Comidas tiacutepicas juninas

32

As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho

amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram

cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo

Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela

colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e

cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma

A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no

Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de

diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro

deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas

as guloseimas juninas no tamanho gigante

Cidades cenograacuteficas

As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes

incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de

cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os

festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino

com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11

e restaurantes compondo a Vila do Forroacute

11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos

de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas

33

Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas

Fonte Acervo do autor

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador

Balatildeo

Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as

preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se

o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas

formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi

criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato

de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou

qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar

incecircndios em florestas e acidentes

34

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo

Fonte Acervo do autor

Fogueira

A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de

agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela

aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada

das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono

da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda

a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma

simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da

fogueira de Satildeo Joatildeo

35

Painel 04ndash Fogueira

Fonte Acervo do autor

Bandeirinhas

As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de

tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em

madeiras preparadas pelo povo

Painel 05ndash Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

36

O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-

lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta

possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que

antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um

padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)

Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia

de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa

(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto

com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos

Fonte Acervo do autor

Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos

juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina

37

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo

Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se

na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais

Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi

tratado anteriormente

Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de

Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de

Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela

Fonte RIBEIRO 2008

As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de

Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava

oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de

fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver

Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista

(RIBEIRO 2008 p 2)

38

Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento

modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas

pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus

trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta

de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001

p110)

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas

Fonte GREGGIO 2001 p121

Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um

premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no

trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe

deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o

tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e

senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)

39

Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas

obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das

formas e cores Como falou o pintor em entrevista

ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar

uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com

essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as

fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com

bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)

O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E

esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para

este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois

utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou

volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva

brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas

alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura

40

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p52

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p92

41

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p98 e 99

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design

A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design

Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria

imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o

siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores

coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes

perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico

No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees

para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com

pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos

estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a

cultura popular

Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha

Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com

esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura

06)

42

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok

Fonte (OXFORD 2013)

Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo

inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco

em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo

as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo

(Figura 07)

43

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2015)

O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca

registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram

inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um

casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas

e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa

de Satildeo Joatildeo

44

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2016)

Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre

abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre

as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma

publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de

2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas

acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo

Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa

apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)

12 Estado emocional

45

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina

Fonte (FORUM 2016)

A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que

estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina

apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e

xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo

46

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013

Fonte (FARM 2013)

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016

Fonte (FARM 2016)

Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de

festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas

fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar

A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as

latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A

Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)

47

que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse

cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo

eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol

Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava

Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)

O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento

da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em

ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral

acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo

48

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)

inspirados nas comidas tiacutepicas juninas

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas

com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos

nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo

para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas

dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos

49

juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao

caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil

Fonte (SUVINIL 2015)

O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas

inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste

brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram

desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias

50

22 A vitrina no societal

221 Design e vitrina

Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que

possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute

importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo

momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente

e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada

eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como

valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo

Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo

conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e

valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal

objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo

[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)

Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com

diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador

Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano

mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso

(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta

as ideias abstratas e subjetivas

Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade

Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social

junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo

artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade

projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo

comportamental de uma sociedade

51

Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda

marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das

transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se

apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem

a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo

num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo

Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas

diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato

assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis

para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se

necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design

pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo

inseridos os designers

Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para

uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008

p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de

bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema

em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma

apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo

cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre

que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e

consumidor

Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios

artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria

de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as

atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante

assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem

atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas

das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem

poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio

e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo

Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando

esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio

52

convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo

que eacute oferecido na vitrina

Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As

vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando

dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma

eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)

O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar

dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design

Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um

convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma

encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e

relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer

O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design

levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja

percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco

Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a

palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais

precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma

textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing

quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e

mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)

O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em

bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A

vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um

espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo

A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a

todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste

entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano

como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz

53

de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas

possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o

urbano

A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa

explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante

do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia

Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo

exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O

socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem

e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam

sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior

A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)

Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as

caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de

mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel

perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior

com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa

ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior

satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo

Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e

o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois

espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo

e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser

observada das duas perspectivas de espaccedilo

Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina

como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro

dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o

qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma

encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um

54

cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de

vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas

No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao

flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente

para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta

(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de

estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio

em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta

uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador

Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui

o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta

imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido

pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o

consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar

com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de

quem a observa

Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona

como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso

ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele

Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um

reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute

diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute

onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas

A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel

funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que

Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso

agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser

Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo

evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que

transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no

ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte

eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum

momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela

55

transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente

comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso

2221 As vidraccedilas na cidade

Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do

ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o

natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o

socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia

esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-

se e relacionando-se com o mundo

Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no

ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos

valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses

elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo

(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir

em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno

Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta

e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante

onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no

fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no

caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do

passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este

frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca

pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador

Para Michel Maffesoli

Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de

nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de

acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados

pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um

espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos

apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)

Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real

atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da

mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com

56

o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-

se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo

vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o

conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos

comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda

simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador

As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das

transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da

representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse

mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o

espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a

cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta

diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma

preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla

Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas

que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma

instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de

maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas

retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo

que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia

entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta

a sociedade por retratar o mito social

[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de

relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees

interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto

sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando

sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI

2010 p 63)

Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como

um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees

como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o

tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo

vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois

57

ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o

consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas

Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as

mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees

do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado

(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado

mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier

(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social

representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais

de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com

o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem

para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel

223 Da forma agrave vitrina

Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de

materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e

mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para

concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura

luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao

mesmo valores espaciais sensoriais e visuais

Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre

espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como

seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute

de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como

exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH

em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que

forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A

personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas

assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser

Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece

[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um

58

elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)

Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo

nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as

formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute

forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma

histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado

Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual

resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode

configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina

masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta

condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna

possiacutevel compreender o conjunto social

Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de

melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados

contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo

deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa

A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si

podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico

filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este

estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica

Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio

S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que

conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular

[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam

a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)

A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao

seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do

significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos

e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao

longo da pesquisa

59

Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica

definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a

palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute

constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto

conceito (significado natureza proacutepria)

Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute

comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim

como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma

interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os

impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do

universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura

configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no

campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio

A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que

a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e

ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em

funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra

coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)

chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o

invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que

forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se

organicamente entre si

2231 A esteacutetica da forma

Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais

neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do

observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a

expectativas sociais e culturais

Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e

que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos

13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado

grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)

60

O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir

sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza

e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua

explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo

que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas

na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo

eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p

12)

Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos

Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia

formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com

o outro

Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da

aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que

abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados

conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]

o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e

em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno

da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima

pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que

invade o iacutentimo do flanador

A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o

contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens

constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado

revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar

o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra

socializa

Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se

define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado

anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como

adereccedilos luz cores e produtos

Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas

Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma

espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de

61

pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano

salvo raras exceccedilotildees

A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior

ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus

contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra

claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc

A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute

determinante do equiliacutebrio entre suas variantes

O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o

produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de

toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)

Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha

em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens

coacutedigos identificaccedilotildees

A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que

se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que

se vive atualmente

E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira

estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem

da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura

burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)

Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a

vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira

fluiacuteda no espaccedilo vitrina

224 Sentidos e a vitrina

A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e

diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo

com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas

primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de

sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer

dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade

62

primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e

une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a

espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real

A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas

causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela

eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico

desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua

sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior

proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo

fascinante

Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do

olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um

olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem

refletida (BIGAL 2001 p 60)

Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o

seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo

revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um

jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a

imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia

As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas

com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a

fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de

projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios

desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio

de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que

estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente

na percepccedilatildeo do eu sobre o outro

Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute

caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a

partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco

(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com

o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees

taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz

pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto

63

espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do

homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os

elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do

tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao

ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa

estranha ao observador

[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do

bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele

que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada

rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)

O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por

muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as

marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para

ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar

de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de

experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato

mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de

degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como

complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia

do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho

As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade

que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as

iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa

com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de

pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)

Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados

na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel

tempo Barreto afirma que

[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)

64

Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos

seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no

imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento

Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de

calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009

criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca

em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois

o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar

a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente

vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela

experiecircncia

Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional

espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares

captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver

fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de

sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como

uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo

eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da

matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados

tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas

Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em

eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes

emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se

barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos

perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na

qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)

Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e

identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que

simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das

14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas

televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico

15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo

desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias

65

inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre

espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto

os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam

e satildeo percebidos por diferentes meios

A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto

antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo

designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por

experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento

emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo

das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro

a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute

comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal

objetivo mostrar-se

Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura

O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de

comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente

do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia

fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)

Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam

originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute

importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos

do contemplador

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo

O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido

ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio

como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser

cultural ao ser humano

Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria

Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia

faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de

66

simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a

p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de

simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na

sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o

designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os

coletivos (MIZANZUK 2007)

Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem

Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial

que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010

p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o

coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas

o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas

aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de

carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a

cultura de uma regiatildeo de um povo

O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos

objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando

uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo

eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma

Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura

Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme

Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura

Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade

Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos

tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego

satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo

a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o

espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado

os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)

16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados

detalhadamente no toacutepico seguinte

67

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC

Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014

Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente

vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com

o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo

aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente

do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado

pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir

o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por

exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles

(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na

chuva

Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute

vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico

enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim

como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-

68

chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-

chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos

os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados

que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o

valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito

ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro

O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que

compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem

da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito

O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que

possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do

homem a morte

Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos

de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina

Fonte FASHINMAG 2011

A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social

masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a

mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses

69

imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura

heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do

guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como

se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina

suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o

terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes

os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor

de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes

Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do

imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo

usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia

de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina

Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura

miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico

harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e

dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do

homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina

Fonte MBASIC 2014

70

Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento

redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda

Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume

aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica

em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta

As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que

orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda

roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o

tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo

quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo

na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes

que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees

e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa

que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes

As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram

analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de

Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos

e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo

passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O

Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim

como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento

com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim

como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos

como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo

menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam

perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para

que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas

71

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo

Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras

principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por

ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades

incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de

diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios

cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o

Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo

para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo

com o passante

Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e

representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse

conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais

clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da

vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo

O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que

a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo

os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos

como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em

duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez

que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa

junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas

Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem

maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima

satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se

sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante

72

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma

cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia

que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo

de um mito

73

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura

17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria

narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os

mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto

04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011

Fonte Pinterest 2016

74

Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

75

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo

Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio

urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que

transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina

31 Metodologia fenomenoloacutegica

A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute

abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de

abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e

estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos

lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica

(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-

hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar

projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo

meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa

Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico

quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise

eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a

investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a

complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud

MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados

coletados nesse projeto eacute qualitativa

A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de

Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos

permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos

Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a

fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia

imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo

Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se

a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco

Ainda segundo a autora

76

[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)

A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a

ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um

ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada

como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa

Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento

filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl

considerado o pai da fenomenologia

A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)

A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo

verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos

de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo

de um uacutenico fenocircmeno

A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)

Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede

direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-

Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram

influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o

desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto

Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica

[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e

77

objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)

Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia

sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao

ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo

restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli

aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado

na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o

resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um

sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)

311 Imaginaacuterio

Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social

perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este

processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real

ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre

esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca

(PITTA 2005 p147)

A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo

abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em

sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir

do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli

(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a

experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma

visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o

imaginaacuterio e o prazer dos sentidos

Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o

aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de

mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma

melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo

fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel

eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o

fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste

78

meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida

cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave

origem do fenocircmeno

32 Instrumento de coleta

Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto

diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa

sendo o primeiro a ser empregado

Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e

explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e

trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao

projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa

cientifica

Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos

fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos

design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees

Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e

mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite

um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da

aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar

hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este

permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina

33 Metodologia do designer

Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por

Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que

tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento

de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de

um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes

de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas

consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor

adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia

79

para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem

vir a se desdobrarem

Metodologia projetual de Cerver

Fase 1 Definiccedilatildeo do problema

A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e

a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer

Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O

designer deve responder

Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos

Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais

Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam

Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc

Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)

Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos

requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser

respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto

A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como

a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos

objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)

afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde

seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente

Fase 2 Busca de informaccedilotildees

A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-

se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins

com os objetivos do projeto

Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e

igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados

O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro

fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias

80

existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado

a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e

manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)

Fase 3 Preacute-projeto

Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias

viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias

selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema

em questatildeo

Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e

protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os

fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos

projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de

geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute

uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual

Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto

Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias

necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do

mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente

Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e

ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve

ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para

montagem da mesma

Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos

o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois

da implantaccedilatildeo da vitrina

81

4 RESULTADOS

Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da

abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de

desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a

ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor

41 Definiccedilatildeo do problema

O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o

mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar

as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo

empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico

A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia

fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de

baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a

composiccedilatildeo da mesma

A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres

adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina

foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que

a festa junina tem em si

Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo

do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu

desenvolvimento

42 Busca da informaccedilatildeo

Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a

festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo

do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA

e papeis para compor a vitrina

Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como

Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em

outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas

82

421 Painel de inspiraccedilatildeo

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina

Fonte Acervo do autor

83

43 Preacute-projeto

431 Croquis fase 1

A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da

festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora

das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em

questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis

de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas

No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as

bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas

natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade

cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal

material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados

foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza

multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo

Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no

imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser

passado neste projeto

Desenho 01 ndash Croqui A

Fonte Acervo do autor

No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente

quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a

compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto

84

quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto

negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar

se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo

das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o

paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser

apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este

segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio

que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina

Desenho 02 ndash Croqui B

Fonte Acervo do autor

432 Croquis fase 2

Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto

considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior

Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser

usado na configuraccedilatildeo do projeto

No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha

de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo

passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro

croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das

85

manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse

aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No

sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas

possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro

do vento

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

86

Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase

anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores

aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada

anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como

bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e

dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e

movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira

Fonte Acervo do autor

87

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira

Fonte Acervo do autor

Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel

13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo

nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos

como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das

quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

88

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores

materiais e texturas

433Testes

No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para

estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel

tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as

bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17

Painel 14 ndash Teste 1

Fonte Acervo do autor

17

89

No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o

EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou

a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica

de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste

para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se

distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido

e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser

retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas

do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos

desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina

Foto 04 ndashTeste 2

Fonte Acervo do autor

44 Apresentaccedilatildeo do projeto

Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que

compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no

teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos

contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor

90

selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto

as demais cores

As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas

obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)

Painel 15 ndash Cores de Volpi

Fonte MATTAR 2014

Figura 18 ndash Cartela de cores

Fonte Acervo do autor

Estudo das combinaccedilotildees das cores

91

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores

Fonte Acervo do autor

Outras possiacuteveis combinaccedilotildees

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores

Fonte Acervo do autor

92

Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis

de diferentes finalidades e texturas

Foto 05 ndash Teste Final

Fonte Acervo do autor

441 Memoria teacutecnico descritiva

Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho

teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura

com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas

as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo

93

442 Desenho teacutecnico

4421 Molde painel

Vetor 01 ndash Painel vitrina

Fonte Acervo do autor

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas

Fonte Acervo do autor

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais

Fonte Acervo do autor

94

4422 Molde casa

Vetor 04 ndash Molde casa

Fonte Acervo do autor

4423 Molde display

Vetor 05 ndash Molde display

Fonte Acervo do autor

95

4424 Molde telhado

Vetor 06 ndash Molde telhado

Fonte Acervo do autor

4425 Molde ceacuteu

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu

Fonte Acervo do autor

96

443 Materiais empregados

Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80

espessura 09 mm nos telhados e displays

Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em

especial nos telhados) (Foto 6)

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado

Fonte Acervo do autor

Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina

guache (Foto 07) sobre papel camurccedila

Foto 07 ndash Cartolina guache

Fonte Acervo do autor

97

Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado

(Foto 08)

Foto 08 ndash Papel contato laminado

Fonte Acervo do autor

Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros

escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita

dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para

transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete

Fonte Acervo do autor

98

444 Sequencia Operacional

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia

Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo

OP Sequencia Operacional Ferramentas

1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal

2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas

respectivas cores no papelatildeo canelado

Tesoura papel carbono e

laacutepis

3 Cortar os moldes casa base display e painel C e

bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina

guache

Tesoura estilete reacutegua de

metal papel carbono e

laacutepis

4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e

laacutepis

5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em

cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar

com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais

moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio

Tesoura papel carbono e

laacutepis

6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP

4) Reservar

Cola para papel e pincel

7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal

8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida

9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais

moldes cortados nas OP 3 e OP 4

Cola para papel e pincel

10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as

combinaccedilotildees de cores

Cola para papel e pincel

12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e

luminaacuteria

13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

14 Colar uma casa na outra Fita dupla face

15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida

furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila

Laacutepis reacutegua furador

16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a

disposiccedilatildeo da base ceacuteu

Cola para papel e pincel

17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face

Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face

18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees

eleacutetricas por traacutes da base da vitrina

Fita dupla face

19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares

marcados

Furador

Fonte Acervo do autor

As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem

e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto

99

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e

projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender

agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa

foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as

simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo

da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal

Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida

pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que

o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a

vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao

construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a

marca e sua identidade

O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como

representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na

cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como

meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a

relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina

como exemplo dessa relaccedilatildeo

Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo

simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para

configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no

contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta

de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru

Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design

para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da

teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente

duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas

discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi

possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem

da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e

representante do imaginaacuterio social

100

A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no

periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor

O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do

imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina

enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal

E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com

ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de

poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram

enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho

contribuiu para um emprego mais social do produto de design

Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e

experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui

utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura

popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado

local

Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo

de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes

da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada

principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no

desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro

comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver

Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o

design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao

projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento

para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas

A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo

canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe

uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si

mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa

interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma

possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade

101

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Page 3: MICHELLYNNE BORROMEU DA SILVA · 2019. 10. 26. · universidade federal de pernambuco – ufpe centro acadÊmico do agreste nÚcleo de design michellynne borromeu da silva vitrina,

Catalogaccedilatildeo na fonte

Bibliotecaacuteria ndash Simone Xavier CRB4 ndash 1242

S586v Silva Michellynne Borromeu da

Vitrina espelho de cultura Proposta de uma vitrina de moda com o tema de Satildeo Joatildeo a

partir da teoria do imaginaacuterio de Gilbert Durand Michellynne Borromeu da Silva Juacutenior ndash 2016

108f il 30 cm Orientador Mario de Faria Carvalho Monografia (Trabalho de Conclusatildeo de Curso) ndash Universidade Federal de

Pernambuco Design 2016 Inclui Referecircncias 1 Vitrinas 2 Design 3 Imaginaacuterio 4 Festas juninas I carvalho Mario de Faria

(Orientador) II Tiacutetulo

740 CDD (23 ed) UFPE (CAA 2016-377)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO ndash UFPE

CENTRO ACADEcircMICO DO AGRESTE NUacuteCLEO DE DESIGN

PARECER DE COMISSAtildeO EXAMINADORA

DE DEFESA DE PROJETO DE

GRADUACcedilAtildeO EM DESIGN DE

Michellynne Borromeu da Silva

ldquoVitrina espelho de cultura

Proposta de uma vitrina de moda com o tema de Satildeo Joatildeo a partir da teoria do

imaginaacuterio de Gilbert Durandrdquo

A comissatildeo examinadora composta pelos membros abaixo sob a presidecircncia do

primeiro considera a aluna Michellynne Borromeu da Silva

APROVADA

Caruaru 29 de novembro de 2016

___________________________________________

Prof Dr Maacuterio de Faria Carvalho

___________________________________________

Prof(a) Dra Flavia Zimmerle

___________________________________________

Prof Dr Amilcar Bezerra

Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia ao meu companheiro aos meus amigos minhas famiacutelias adotivas ao universo e ao tempo que transforma tudo

AGRADECIMENTOS

Agradecimentosnatildeo haacute tiacutetulo melhor O problema eacute agradecer a quem

Agradeccedilo pelo apoio das minhas Marias que quando natildeo me incentivaram me

permitiramme ensinaram que mais vale lutar pelo que acredito do quer seguir a

mareacute Sim escolhi o design natildeo direito medicina administraccedilatildeo Natildeo sabia que

estudaria tanto sobre a sociedade e as necessidades humanas essa foi uma surpresa

boa dessa graduaccedilatildeo

Outra melhor ainda foi ter sido da turma 20091O erro na matricula do ano

anterior tornou-se o acerto pois tive uma turma sem igualforam os primeiros a

abrirem os braccedilos para a migrante da capitaldepois cruzei com pessoas

maravilhosas Caruaru me deu novas famiacutelias me senti acolhida cuidada protegida

e amadaAteacute que as vezes apertava a saudade das minhas MariasForam quatro

anos de curso e sete anos que disfrutei muito expandi horizontes dei a volta ao

mundo divide casa com pessoas impares divide o patildeo noites risos e chorosrisos

multiplicados e dores divididas

A saga que foi terminar essa monografia que insiste em se

reinventarGostaria de agradecer a paciecircncia que tem meu orientador para segurar

essa esquizofrenia de cacircmbios eu mudoe o projeto acompanha A certeza eacute que

em nenhum momento quis desistirmas sempre outras coisas me pareciam mais

importanteAinda bem Pois quando comecei pensava que ter uma graduaccedilatildeo

fosse a coisa mais importante da minha vidae estou ganhando muito mais famiacutelia

amigos parceiros para a memoacuteria para sempre Hoje estou terminando uma fase

importante mas ganho coisas que natildeo cabem no papel

Natildeo desejo dar nomes soacute queria ser poetizater o dom da palavrapara

liberar todos os agradecimentos e gratidotildees que tenho por essa cidade por todxs

RESUMO

A predileccedilatildeo por esse tema se deu principalmente pela experiecircncia vivida em

Caruaru de perceber como a cultura eacute valorizada e enraizada na cidade Tendo o

conhecimento de design e da vitrina como ferramentas de comunicaccedilatildeo social e

considerando a importacircncia econocircmica e cultural que os festejos de Satildeo Joatildeo

representam para a cidade Foi apresentada uma proposta de vitrina de moda

acatando os aspectos culturais e sociais da cidade como principal ecircnfase natildeo

havendo discriminaccedilatildeo de puacuteblico-alvo e cliente O principal objetivo foi verificar o

emprego da metodologia fenomenoloacutegica e da teoria do imaginaacuterio para o

desenvolvimento da vitrina que teve como tema as festas juninas Este processo

tornou possiacutevel a apresentaccedilatildeo de uma proposta de aproximaccedilatildeo entre a universidade

e a cidade atraveacutes do potencial esteacutetico que o designer pode oferecer como

diferencial aplicando seus meacutetodos e saberes as vitrinas de moda

Palavras-Chaves Vitrina Design Imaginaacuterio Festa de Satildeo Joatildeo

ABSTRACT

The predilection for this theme was mainly due to the experience lived in

Caruaru to realize how culture is valued and rooted in the city Having the knowledge

of the design and the showcase as tools of social communication and considering the

economic and cultural importance that the celebration of Saint Johnrsquos party represent

for the city It was presented a proposal of fashion showcase store abiding the cultural

and social aspects of the city as the main emphasis there being no discrimination of

target audience and costumer The main objective was to verify the employment of the

phenomenological methology and the theory of imaginary for the development of the

showcase which had as theme the Junersquos festivities This process has made it

possible to present a proporsal of approximation between the university and the city

through the aesthetic potencial that the designer can offer as differential applying his

methods and knowledge to the fashion showcase

Key-Words Showcase Design Imaginary Saint John Festival

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29

Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34

Painel 04ndash Fogueira 35

Painel 05ndash Bandeirinhas 35

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de

70 40

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de

festa 150ml 48

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73

Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82

Desenho 01 ndash Croqui A 83

Desenho 02 ndash Croqui B 84

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88

Painel 14 ndash Teste 1 88

Foto 04 ndashTeste 2 89

Painel 15 ndash Cores de Volpi 90

Figura 18 ndash Cartela de cores 90

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91

Foto 05 ndash Teste Final 92

Vetor 01 ndash Painel vitrina 93

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93

Vetor 04 ndash Molde casa 94

Vetor 05 ndash Molde display 94

Vetor 06 ndash Molde telhado 95

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96

Foto 07 ndash Cartolina guache 96

Foto 08 ndash Papel contato laminado 97

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17

211 Design e cultura material 17

212 Cultura popular e festejos juninos 19

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41

22 A vitrina no societal 50

221 Design e vitrina 50

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52

2221 As vidraccedilas na cidade 55

223 Da forma agrave vitrina 57

2231 A esteacutetica da forma 59

224 Sentidos e a vitrina 61

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71

3 METODOLOGIA 75

31 Metodologia fenomenoloacutegica 75

311 Imaginaacuterio 77

32 Instrumento de coleta 78

33 Metodologia do designer 78

4 RESULTADOS 81

41 Definiccedilatildeo do problema 81

42 Busca da informaccedilatildeo 81

421 Painel de inspiraccedilatildeo 82

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82

43 Preacute-projeto 83

431 Croquis fase 1 83

432 Croquis fase 2 84

433Testes 88

44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89

441 Memoria teacutecnico descritiva 92

442 Desenho teacutecnico 93

4421 Molde painel 93

4422 Molde casa 94

4423 Molde display 94

4424 Molde telhado 95

4425 Molde ceacuteu 95

443 Materiais empregados 96

444 Sequencia Operacional 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99

6 REFERENCIAS 101

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a

atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais

especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o

consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design

pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e

transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de

vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da

Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo

O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como

representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de

um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-

Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio

pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a

comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio

Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-

se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio

de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo

propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na

metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de

vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru

A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem

determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar

as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma

representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina

de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru

Com os objetivos especiacuteficos de

Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio

social

Analisar os festejos juninos

Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica

dos elementos que a compotildeem (Layout)

15

Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015

eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e

serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731

veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio

contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10

mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual

(PEREIRA 2016)

Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma

o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas

cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das

Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local

(APL)1 do setor de confecccedilotildees

Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees

de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos

pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos

comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As

exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator

agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que

simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade

local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas

comerciais

Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em

especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez

que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e

que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional

Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais

cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se

a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto

monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de

design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local

1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)

16

Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos

que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe

(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e

fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o

POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas

no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)

Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco

capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo

geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na

construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu

identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do

imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as

transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo

No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade

atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da

mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram

usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo

deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda

a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo

interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda

No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o

projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta

inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as

consideraccedilotildees finais do projeto

2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular

211 Design e cultura material

As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como

suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma

referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo

de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente

quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo

Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento

de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do

projeto e do mercado

A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o

fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos

em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na

legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia

contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente

inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais

Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura

material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo

respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a

material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico

Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no

caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e

portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998

p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que

se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de

expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo

elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das

3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)

18

populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes

dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por

diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades

funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor

Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no

objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e

comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como

mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da

sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo

sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica

(CARDOSO 1998 e ONO 2006)

Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-

STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui

conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado

deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida

transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que

transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana

que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas

No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische

Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma

e alma

A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)

Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do

sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-

subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica

O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e

atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes

niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais

e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na

mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados

ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o

19

objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores

referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado

Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso

apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe

atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem

variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada

Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria

cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma

parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo

(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual

que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos

212 Cultura popular e festejos juninos

O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com

Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de

um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela

para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo

dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante

heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007

p 7)

Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou

seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo

entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura

popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para

projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo

estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que

a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a

mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e

globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior

percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)

e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que

este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo

20

pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento

em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva

A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)

A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes

culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)

em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de

acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira

hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura

popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da

conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)

O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia

atribuiacuteda aos objetos na cultura popular

Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)

Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura

popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles

Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui

ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem

ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)

tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma

que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os

agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia

Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma

pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se

dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que

segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-

21

moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas

tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees

E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas

festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as

festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas

origens

As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das

culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios

Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do

repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece

[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)

Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo

de vaacuterios agentes

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo

Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste

projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-

se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a

magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e

produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor

para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos

A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)

Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social

de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de

produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem

22

celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees

como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios

norte e sul

Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais

mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)

afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila

do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees

o calendaacuterio solar e os solstiacutecios

Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes

grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno

satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal

influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo

periacuteodo

A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para

os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal

festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento

Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO

2007 p 9)

Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio

e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer

(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que

viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte

o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os

nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz

(Babilocircnia)

Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a

conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a

vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente

os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das

colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses

deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a

um novo ciclo

23

Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)

O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa

Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir

a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a

deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo

inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o

periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de

frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)

O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)

Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi

adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram

a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute

conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que

tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por

realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista

[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)

Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo

acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar

24

comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na

Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista

Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em

toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de

junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe

foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode

haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio

da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol

quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e

a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER

1982 p 539 e 540)

As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho

homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo

Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs

inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados

Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e

pagamento de promessas

As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com

suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e

em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo

Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)

A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa

da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui

seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual

No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru

em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que

ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF

1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero

de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo

expressatildeo do imaginaacuterio coletivo

25

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade

A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio

catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o

ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo

Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social

Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)

Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa

pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio

antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado

em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia

de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de

fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito

maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente

A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais

da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas

muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de

comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo

articula-se com a cidade

Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva

A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas

cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos

o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)

A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos

que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem

puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo

os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)

As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que

compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando

diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas

ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto

com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]

26

manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas

sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade

da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e

objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo

os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)

Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura

que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma

que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde

ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que

acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o

mito

Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)

o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da

natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por

exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o

como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na

infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)

o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo

de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)

com o coletivo (macrocosmo universo)

Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de

interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru

Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para

as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia

de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual

presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o

moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo

As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows

gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das

festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do

Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra

e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock

Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto

do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru

27

hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da

cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro

que fazem parte da cultura popular caruaruense

Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o

hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais

diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de

contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos

alastrados pela cidade

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro

As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores

regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem

elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas

No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o

cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave

festa junina

Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da

populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que

atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo

se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou

nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos

outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno

de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa

[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou

individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos

que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido

4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco

28

ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI

1998 p 181)

Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem

a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da

cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas

tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A

apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos

histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo

os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde

o mito de Tamuz o mito fundador

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil

Quadrilhas juninas

A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve

sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na

Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha

(GIFFONI 1973)

No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser

copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e

festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas

a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados

pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que

levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural

A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica

velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma

identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha

agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular

brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes

7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas

29

o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo

teatral da danccedila nobre

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos

Fonte Acervo do autor

30

A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por

outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um

conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que

marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam

o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos

reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo

sua bravura e o xaxado10

Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao

menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta

estilizadas e recriadas

[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da

tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um

periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica

e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos

regionais (MENEZES NETO 2008 p12)

Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o

desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional

traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da

performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se

estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados

exibindo banguelas

A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das

festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com

roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da

mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por

fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam

um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar

as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de

comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)

8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros

31

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas

TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS

MATUTA ESTILIZADA RECRIADA

PERSONAGENS Noivos padre

delegado fofoqueiras

matutos

Noivos rainha e

princesa do milho

lampiatildeo e Maria

Bonita ciganos

Tem noivos e matutos

VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e

calccedilas em cores vivas

com remendos em

chita e xadrez

Os trajes satildeo os

mesmos mas ganham

lantejoulas brilhos

cetins

O vestuaacuterio voltou o

uso das chitas e

xadrezes agora

incorporados como

recortes da

indumentaacuteria

MAQUIAGEM Homens de bigodes

mulheres de sardas e

dentes todos pintados

de preto

Maquiagem de festa

profissionais

Maquiagem de festa

profissionais

MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do

momento

Forroacute coco xaxado

ciranda ritmos

regionais

MARCADOR Coordena a danccedila

marca cada mudanccedila

de passo

Anima a torcida a

evoluccedilatildeo acontece

sem nenhuma

influecircncia do puxador

Anima a torcida e se

integra agrave evoluccedilatildeo da

quadrilha por vezes

marca alguns passos

Fonte Menezes Neto 2008

Casamento matuto

O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da

mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na

atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma

saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um

becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a

ajuda do cangaccedilo

Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma

criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas

na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo

XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de

paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem

saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo

Comidas tiacutepicas juninas

32

As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho

amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram

cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo

Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela

colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e

cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma

A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no

Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de

diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro

deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas

as guloseimas juninas no tamanho gigante

Cidades cenograacuteficas

As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes

incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de

cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os

festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino

com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11

e restaurantes compondo a Vila do Forroacute

11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos

de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas

33

Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas

Fonte Acervo do autor

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador

Balatildeo

Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as

preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se

o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas

formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi

criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato

de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou

qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar

incecircndios em florestas e acidentes

34

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo

Fonte Acervo do autor

Fogueira

A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de

agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela

aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada

das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono

da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda

a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma

simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da

fogueira de Satildeo Joatildeo

35

Painel 04ndash Fogueira

Fonte Acervo do autor

Bandeirinhas

As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de

tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em

madeiras preparadas pelo povo

Painel 05ndash Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

36

O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-

lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta

possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que

antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um

padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)

Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia

de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa

(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto

com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos

Fonte Acervo do autor

Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos

juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina

37

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo

Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se

na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais

Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi

tratado anteriormente

Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de

Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de

Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela

Fonte RIBEIRO 2008

As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de

Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava

oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de

fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver

Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista

(RIBEIRO 2008 p 2)

38

Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento

modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas

pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus

trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta

de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001

p110)

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas

Fonte GREGGIO 2001 p121

Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um

premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no

trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe

deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o

tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e

senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)

39

Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas

obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das

formas e cores Como falou o pintor em entrevista

ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar

uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com

essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as

fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com

bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)

O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E

esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para

este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois

utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou

volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva

brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas

alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura

40

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p52

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p92

41

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p98 e 99

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design

A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design

Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria

imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o

siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores

coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes

perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico

No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees

para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com

pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos

estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a

cultura popular

Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha

Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com

esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura

06)

42

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok

Fonte (OXFORD 2013)

Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo

inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco

em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo

as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo

(Figura 07)

43

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2015)

O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca

registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram

inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um

casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas

e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa

de Satildeo Joatildeo

44

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2016)

Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre

abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre

as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma

publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de

2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas

acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo

Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa

apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)

12 Estado emocional

45

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina

Fonte (FORUM 2016)

A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que

estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina

apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e

xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo

46

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013

Fonte (FARM 2013)

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016

Fonte (FARM 2016)

Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de

festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas

fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar

A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as

latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A

Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)

47

que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse

cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo

eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol

Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava

Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)

O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento

da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em

ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral

acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo

48

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)

inspirados nas comidas tiacutepicas juninas

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas

com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos

nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo

para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas

dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos

49

juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao

caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil

Fonte (SUVINIL 2015)

O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas

inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste

brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram

desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias

50

22 A vitrina no societal

221 Design e vitrina

Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que

possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute

importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo

momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente

e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada

eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como

valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo

Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo

conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e

valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal

objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo

[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)

Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com

diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador

Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano

mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso

(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta

as ideias abstratas e subjetivas

Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade

Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social

junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo

artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade

projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo

comportamental de uma sociedade

51

Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda

marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das

transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se

apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem

a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo

num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo

Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas

diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato

assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis

para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se

necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design

pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo

inseridos os designers

Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para

uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008

p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de

bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema

em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma

apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo

cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre

que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e

consumidor

Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios

artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria

de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as

atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante

assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem

atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas

das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem

poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio

e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo

Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando

esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio

52

convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo

que eacute oferecido na vitrina

Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As

vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando

dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma

eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)

O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar

dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design

Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um

convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma

encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e

relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer

O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design

levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja

percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco

Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a

palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais

precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma

textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing

quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e

mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)

O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em

bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A

vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um

espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo

A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a

todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste

entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano

como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz

53

de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas

possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o

urbano

A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa

explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante

do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia

Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo

exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O

socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem

e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam

sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior

A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)

Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as

caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de

mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel

perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior

com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa

ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior

satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo

Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e

o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois

espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo

e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser

observada das duas perspectivas de espaccedilo

Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina

como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro

dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o

qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma

encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um

54

cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de

vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas

No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao

flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente

para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta

(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de

estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio

em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta

uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador

Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui

o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta

imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido

pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o

consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar

com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de

quem a observa

Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona

como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso

ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele

Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um

reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute

diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute

onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas

A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel

funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que

Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso

agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser

Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo

evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que

transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no

ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte

eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum

momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela

55

transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente

comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso

2221 As vidraccedilas na cidade

Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do

ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o

natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o

socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia

esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-

se e relacionando-se com o mundo

Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no

ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos

valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses

elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo

(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir

em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno

Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta

e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante

onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no

fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no

caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do

passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este

frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca

pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador

Para Michel Maffesoli

Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de

nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de

acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados

pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um

espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos

apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)

Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real

atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da

mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com

56

o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-

se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo

vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o

conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos

comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda

simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador

As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das

transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da

representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse

mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o

espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a

cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta

diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma

preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla

Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas

que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma

instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de

maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas

retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo

que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia

entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta

a sociedade por retratar o mito social

[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de

relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees

interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto

sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando

sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI

2010 p 63)

Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como

um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees

como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o

tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo

vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois

57

ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o

consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas

Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as

mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees

do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado

(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado

mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier

(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social

representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais

de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com

o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem

para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel

223 Da forma agrave vitrina

Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de

materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e

mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para

concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura

luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao

mesmo valores espaciais sensoriais e visuais

Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre

espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como

seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute

de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como

exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH

em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que

forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A

personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas

assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser

Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece

[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um

58

elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)

Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo

nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as

formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute

forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma

histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado

Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual

resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode

configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina

masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta

condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna

possiacutevel compreender o conjunto social

Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de

melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados

contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo

deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa

A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si

podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico

filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este

estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica

Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio

S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que

conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular

[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam

a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)

A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao

seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do

significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos

e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao

longo da pesquisa

59

Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica

definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a

palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute

constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto

conceito (significado natureza proacutepria)

Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute

comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim

como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma

interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os

impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do

universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura

configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no

campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio

A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que

a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e

ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em

funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra

coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)

chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o

invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que

forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se

organicamente entre si

2231 A esteacutetica da forma

Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais

neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do

observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a

expectativas sociais e culturais

Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e

que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos

13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado

grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)

60

O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir

sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza

e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua

explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo

que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas

na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo

eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p

12)

Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos

Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia

formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com

o outro

Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da

aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que

abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados

conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]

o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e

em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno

da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima

pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que

invade o iacutentimo do flanador

A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o

contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens

constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado

revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar

o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra

socializa

Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se

define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado

anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como

adereccedilos luz cores e produtos

Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas

Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma

espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de

61

pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano

salvo raras exceccedilotildees

A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior

ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus

contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra

claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc

A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute

determinante do equiliacutebrio entre suas variantes

O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o

produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de

toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)

Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha

em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens

coacutedigos identificaccedilotildees

A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que

se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que

se vive atualmente

E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira

estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem

da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura

burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)

Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a

vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira

fluiacuteda no espaccedilo vitrina

224 Sentidos e a vitrina

A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e

diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo

com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas

primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de

sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer

dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade

62

primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e

une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a

espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real

A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas

causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela

eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico

desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua

sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior

proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo

fascinante

Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do

olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um

olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem

refletida (BIGAL 2001 p 60)

Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o

seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo

revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um

jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a

imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia

As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas

com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a

fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de

projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios

desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio

de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que

estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente

na percepccedilatildeo do eu sobre o outro

Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute

caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a

partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco

(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com

o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees

taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz

pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto

63

espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do

homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os

elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do

tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao

ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa

estranha ao observador

[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do

bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele

que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada

rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)

O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por

muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as

marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para

ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar

de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de

experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato

mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de

degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como

complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia

do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho

As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade

que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as

iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa

com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de

pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)

Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados

na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel

tempo Barreto afirma que

[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)

64

Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos

seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no

imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento

Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de

calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009

criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca

em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois

o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar

a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente

vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela

experiecircncia

Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional

espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares

captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver

fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de

sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como

uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo

eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da

matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados

tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas

Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em

eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes

emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se

barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos

perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na

qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)

Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e

identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que

simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das

14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas

televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico

15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo

desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias

65

inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre

espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto

os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam

e satildeo percebidos por diferentes meios

A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto

antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo

designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por

experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento

emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo

das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro

a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute

comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal

objetivo mostrar-se

Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura

O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de

comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente

do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia

fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)

Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam

originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute

importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos

do contemplador

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo

O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido

ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio

como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser

cultural ao ser humano

Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria

Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia

faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de

66

simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a

p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de

simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na

sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o

designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os

coletivos (MIZANZUK 2007)

Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem

Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial

que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010

p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o

coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas

o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas

aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de

carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a

cultura de uma regiatildeo de um povo

O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos

objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando

uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo

eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma

Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura

Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme

Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura

Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade

Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos

tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego

satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo

a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o

espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado

os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)

16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados

detalhadamente no toacutepico seguinte

67

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC

Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014

Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente

vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com

o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo

aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente

do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado

pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir

o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por

exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles

(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na

chuva

Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute

vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico

enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim

como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-

68

chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-

chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos

os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados

que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o

valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito

ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro

O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que

compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem

da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito

O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que

possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do

homem a morte

Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos

de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina

Fonte FASHINMAG 2011

A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social

masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a

mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses

69

imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura

heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do

guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como

se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina

suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o

terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes

os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor

de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes

Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do

imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo

usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia

de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina

Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura

miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico

harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e

dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do

homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina

Fonte MBASIC 2014

70

Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento

redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda

Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume

aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica

em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta

As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que

orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda

roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o

tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo

quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo

na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes

que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees

e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa

que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes

As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram

analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de

Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos

e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo

passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O

Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim

como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento

com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim

como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos

como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo

menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam

perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para

que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas

71

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo

Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras

principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por

ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades

incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de

diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios

cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o

Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo

para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo

com o passante

Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e

representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse

conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais

clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da

vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo

O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que

a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo

os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos

como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em

duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez

que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa

junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas

Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem

maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima

satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se

sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante

72

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma

cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia

que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo

de um mito

73

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura

17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria

narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os

mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto

04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011

Fonte Pinterest 2016

74

Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

75

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo

Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio

urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que

transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina

31 Metodologia fenomenoloacutegica

A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute

abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de

abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e

estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos

lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica

(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-

hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar

projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo

meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa

Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico

quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise

eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a

investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a

complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud

MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados

coletados nesse projeto eacute qualitativa

A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de

Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos

permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos

Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a

fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia

imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo

Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se

a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco

Ainda segundo a autora

76

[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)

A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a

ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um

ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada

como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa

Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento

filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl

considerado o pai da fenomenologia

A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)

A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo

verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos

de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo

de um uacutenico fenocircmeno

A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)

Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede

direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-

Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram

influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o

desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto

Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica

[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e

77

objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)

Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia

sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao

ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo

restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli

aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado

na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o

resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um

sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)

311 Imaginaacuterio

Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social

perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este

processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real

ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre

esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca

(PITTA 2005 p147)

A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo

abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em

sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir

do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli

(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a

experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma

visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o

imaginaacuterio e o prazer dos sentidos

Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o

aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de

mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma

melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo

fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel

eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o

fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste

78

meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida

cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave

origem do fenocircmeno

32 Instrumento de coleta

Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto

diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa

sendo o primeiro a ser empregado

Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e

explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e

trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao

projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa

cientifica

Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos

fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos

design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees

Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e

mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite

um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da

aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar

hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este

permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina

33 Metodologia do designer

Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por

Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que

tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento

de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de

um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes

de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas

consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor

adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia

79

para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem

vir a se desdobrarem

Metodologia projetual de Cerver

Fase 1 Definiccedilatildeo do problema

A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e

a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer

Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O

designer deve responder

Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos

Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais

Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam

Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc

Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)

Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos

requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser

respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto

A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como

a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos

objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)

afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde

seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente

Fase 2 Busca de informaccedilotildees

A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-

se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins

com os objetivos do projeto

Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e

igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados

O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro

fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias

80

existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado

a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e

manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)

Fase 3 Preacute-projeto

Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias

viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias

selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema

em questatildeo

Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e

protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os

fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos

projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de

geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute

uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual

Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto

Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias

necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do

mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente

Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e

ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve

ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para

montagem da mesma

Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos

o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois

da implantaccedilatildeo da vitrina

81

4 RESULTADOS

Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da

abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de

desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a

ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor

41 Definiccedilatildeo do problema

O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o

mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar

as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo

empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico

A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia

fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de

baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a

composiccedilatildeo da mesma

A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres

adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina

foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que

a festa junina tem em si

Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo

do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu

desenvolvimento

42 Busca da informaccedilatildeo

Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a

festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo

do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA

e papeis para compor a vitrina

Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como

Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em

outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas

82

421 Painel de inspiraccedilatildeo

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina

Fonte Acervo do autor

83

43 Preacute-projeto

431 Croquis fase 1

A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da

festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora

das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em

questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis

de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas

No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as

bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas

natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade

cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal

material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados

foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza

multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo

Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no

imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser

passado neste projeto

Desenho 01 ndash Croqui A

Fonte Acervo do autor

No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente

quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a

compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto

84

quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto

negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar

se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo

das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o

paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser

apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este

segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio

que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina

Desenho 02 ndash Croqui B

Fonte Acervo do autor

432 Croquis fase 2

Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto

considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior

Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser

usado na configuraccedilatildeo do projeto

No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha

de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo

passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro

croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das

85

manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse

aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No

sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas

possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro

do vento

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

86

Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase

anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores

aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada

anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como

bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e

dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e

movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira

Fonte Acervo do autor

87

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira

Fonte Acervo do autor

Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel

13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo

nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos

como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das

quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

88

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores

materiais e texturas

433Testes

No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para

estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel

tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as

bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17

Painel 14 ndash Teste 1

Fonte Acervo do autor

17

89

No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o

EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou

a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica

de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste

para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se

distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido

e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser

retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas

do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos

desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina

Foto 04 ndashTeste 2

Fonte Acervo do autor

44 Apresentaccedilatildeo do projeto

Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que

compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no

teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos

contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor

90

selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto

as demais cores

As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas

obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)

Painel 15 ndash Cores de Volpi

Fonte MATTAR 2014

Figura 18 ndash Cartela de cores

Fonte Acervo do autor

Estudo das combinaccedilotildees das cores

91

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores

Fonte Acervo do autor

Outras possiacuteveis combinaccedilotildees

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores

Fonte Acervo do autor

92

Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis

de diferentes finalidades e texturas

Foto 05 ndash Teste Final

Fonte Acervo do autor

441 Memoria teacutecnico descritiva

Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho

teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura

com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas

as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo

93

442 Desenho teacutecnico

4421 Molde painel

Vetor 01 ndash Painel vitrina

Fonte Acervo do autor

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas

Fonte Acervo do autor

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais

Fonte Acervo do autor

94

4422 Molde casa

Vetor 04 ndash Molde casa

Fonte Acervo do autor

4423 Molde display

Vetor 05 ndash Molde display

Fonte Acervo do autor

95

4424 Molde telhado

Vetor 06 ndash Molde telhado

Fonte Acervo do autor

4425 Molde ceacuteu

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu

Fonte Acervo do autor

96

443 Materiais empregados

Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80

espessura 09 mm nos telhados e displays

Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em

especial nos telhados) (Foto 6)

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado

Fonte Acervo do autor

Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina

guache (Foto 07) sobre papel camurccedila

Foto 07 ndash Cartolina guache

Fonte Acervo do autor

97

Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado

(Foto 08)

Foto 08 ndash Papel contato laminado

Fonte Acervo do autor

Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros

escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita

dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para

transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete

Fonte Acervo do autor

98

444 Sequencia Operacional

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia

Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo

OP Sequencia Operacional Ferramentas

1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal

2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas

respectivas cores no papelatildeo canelado

Tesoura papel carbono e

laacutepis

3 Cortar os moldes casa base display e painel C e

bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina

guache

Tesoura estilete reacutegua de

metal papel carbono e

laacutepis

4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e

laacutepis

5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em

cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar

com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais

moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio

Tesoura papel carbono e

laacutepis

6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP

4) Reservar

Cola para papel e pincel

7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal

8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida

9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais

moldes cortados nas OP 3 e OP 4

Cola para papel e pincel

10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as

combinaccedilotildees de cores

Cola para papel e pincel

12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e

luminaacuteria

13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

14 Colar uma casa na outra Fita dupla face

15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida

furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila

Laacutepis reacutegua furador

16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a

disposiccedilatildeo da base ceacuteu

Cola para papel e pincel

17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face

Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face

18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees

eleacutetricas por traacutes da base da vitrina

Fita dupla face

19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares

marcados

Furador

Fonte Acervo do autor

As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem

e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto

99

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e

projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender

agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa

foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as

simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo

da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal

Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida

pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que

o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a

vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao

construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a

marca e sua identidade

O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como

representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na

cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como

meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a

relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina

como exemplo dessa relaccedilatildeo

Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo

simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para

configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no

contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta

de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru

Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design

para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da

teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente

duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas

discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi

possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem

da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e

representante do imaginaacuterio social

100

A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no

periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor

O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do

imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina

enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal

E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com

ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de

poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram

enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho

contribuiu para um emprego mais social do produto de design

Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e

experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui

utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura

popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado

local

Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo

de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes

da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada

principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no

desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro

comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver

Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o

design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao

projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento

para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas

A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo

canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe

uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si

mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa

interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma

possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade

101

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Page 4: MICHELLYNNE BORROMEU DA SILVA · 2019. 10. 26. · universidade federal de pernambuco – ufpe centro acadÊmico do agreste nÚcleo de design michellynne borromeu da silva vitrina,

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO ndash UFPE

CENTRO ACADEcircMICO DO AGRESTE NUacuteCLEO DE DESIGN

PARECER DE COMISSAtildeO EXAMINADORA

DE DEFESA DE PROJETO DE

GRADUACcedilAtildeO EM DESIGN DE

Michellynne Borromeu da Silva

ldquoVitrina espelho de cultura

Proposta de uma vitrina de moda com o tema de Satildeo Joatildeo a partir da teoria do

imaginaacuterio de Gilbert Durandrdquo

A comissatildeo examinadora composta pelos membros abaixo sob a presidecircncia do

primeiro considera a aluna Michellynne Borromeu da Silva

APROVADA

Caruaru 29 de novembro de 2016

___________________________________________

Prof Dr Maacuterio de Faria Carvalho

___________________________________________

Prof(a) Dra Flavia Zimmerle

___________________________________________

Prof Dr Amilcar Bezerra

Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia ao meu companheiro aos meus amigos minhas famiacutelias adotivas ao universo e ao tempo que transforma tudo

AGRADECIMENTOS

Agradecimentosnatildeo haacute tiacutetulo melhor O problema eacute agradecer a quem

Agradeccedilo pelo apoio das minhas Marias que quando natildeo me incentivaram me

permitiramme ensinaram que mais vale lutar pelo que acredito do quer seguir a

mareacute Sim escolhi o design natildeo direito medicina administraccedilatildeo Natildeo sabia que

estudaria tanto sobre a sociedade e as necessidades humanas essa foi uma surpresa

boa dessa graduaccedilatildeo

Outra melhor ainda foi ter sido da turma 20091O erro na matricula do ano

anterior tornou-se o acerto pois tive uma turma sem igualforam os primeiros a

abrirem os braccedilos para a migrante da capitaldepois cruzei com pessoas

maravilhosas Caruaru me deu novas famiacutelias me senti acolhida cuidada protegida

e amadaAteacute que as vezes apertava a saudade das minhas MariasForam quatro

anos de curso e sete anos que disfrutei muito expandi horizontes dei a volta ao

mundo divide casa com pessoas impares divide o patildeo noites risos e chorosrisos

multiplicados e dores divididas

A saga que foi terminar essa monografia que insiste em se

reinventarGostaria de agradecer a paciecircncia que tem meu orientador para segurar

essa esquizofrenia de cacircmbios eu mudoe o projeto acompanha A certeza eacute que

em nenhum momento quis desistirmas sempre outras coisas me pareciam mais

importanteAinda bem Pois quando comecei pensava que ter uma graduaccedilatildeo

fosse a coisa mais importante da minha vidae estou ganhando muito mais famiacutelia

amigos parceiros para a memoacuteria para sempre Hoje estou terminando uma fase

importante mas ganho coisas que natildeo cabem no papel

Natildeo desejo dar nomes soacute queria ser poetizater o dom da palavrapara

liberar todos os agradecimentos e gratidotildees que tenho por essa cidade por todxs

RESUMO

A predileccedilatildeo por esse tema se deu principalmente pela experiecircncia vivida em

Caruaru de perceber como a cultura eacute valorizada e enraizada na cidade Tendo o

conhecimento de design e da vitrina como ferramentas de comunicaccedilatildeo social e

considerando a importacircncia econocircmica e cultural que os festejos de Satildeo Joatildeo

representam para a cidade Foi apresentada uma proposta de vitrina de moda

acatando os aspectos culturais e sociais da cidade como principal ecircnfase natildeo

havendo discriminaccedilatildeo de puacuteblico-alvo e cliente O principal objetivo foi verificar o

emprego da metodologia fenomenoloacutegica e da teoria do imaginaacuterio para o

desenvolvimento da vitrina que teve como tema as festas juninas Este processo

tornou possiacutevel a apresentaccedilatildeo de uma proposta de aproximaccedilatildeo entre a universidade

e a cidade atraveacutes do potencial esteacutetico que o designer pode oferecer como

diferencial aplicando seus meacutetodos e saberes as vitrinas de moda

Palavras-Chaves Vitrina Design Imaginaacuterio Festa de Satildeo Joatildeo

ABSTRACT

The predilection for this theme was mainly due to the experience lived in

Caruaru to realize how culture is valued and rooted in the city Having the knowledge

of the design and the showcase as tools of social communication and considering the

economic and cultural importance that the celebration of Saint Johnrsquos party represent

for the city It was presented a proposal of fashion showcase store abiding the cultural

and social aspects of the city as the main emphasis there being no discrimination of

target audience and costumer The main objective was to verify the employment of the

phenomenological methology and the theory of imaginary for the development of the

showcase which had as theme the Junersquos festivities This process has made it

possible to present a proporsal of approximation between the university and the city

through the aesthetic potencial that the designer can offer as differential applying his

methods and knowledge to the fashion showcase

Key-Words Showcase Design Imaginary Saint John Festival

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29

Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34

Painel 04ndash Fogueira 35

Painel 05ndash Bandeirinhas 35

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de

70 40

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de

festa 150ml 48

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73

Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82

Desenho 01 ndash Croqui A 83

Desenho 02 ndash Croqui B 84

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88

Painel 14 ndash Teste 1 88

Foto 04 ndashTeste 2 89

Painel 15 ndash Cores de Volpi 90

Figura 18 ndash Cartela de cores 90

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91

Foto 05 ndash Teste Final 92

Vetor 01 ndash Painel vitrina 93

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93

Vetor 04 ndash Molde casa 94

Vetor 05 ndash Molde display 94

Vetor 06 ndash Molde telhado 95

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96

Foto 07 ndash Cartolina guache 96

Foto 08 ndash Papel contato laminado 97

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17

211 Design e cultura material 17

212 Cultura popular e festejos juninos 19

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41

22 A vitrina no societal 50

221 Design e vitrina 50

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52

2221 As vidraccedilas na cidade 55

223 Da forma agrave vitrina 57

2231 A esteacutetica da forma 59

224 Sentidos e a vitrina 61

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71

3 METODOLOGIA 75

31 Metodologia fenomenoloacutegica 75

311 Imaginaacuterio 77

32 Instrumento de coleta 78

33 Metodologia do designer 78

4 RESULTADOS 81

41 Definiccedilatildeo do problema 81

42 Busca da informaccedilatildeo 81

421 Painel de inspiraccedilatildeo 82

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82

43 Preacute-projeto 83

431 Croquis fase 1 83

432 Croquis fase 2 84

433Testes 88

44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89

441 Memoria teacutecnico descritiva 92

442 Desenho teacutecnico 93

4421 Molde painel 93

4422 Molde casa 94

4423 Molde display 94

4424 Molde telhado 95

4425 Molde ceacuteu 95

443 Materiais empregados 96

444 Sequencia Operacional 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99

6 REFERENCIAS 101

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a

atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais

especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o

consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design

pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e

transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de

vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da

Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo

O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como

representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de

um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-

Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio

pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a

comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio

Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-

se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio

de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo

propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na

metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de

vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru

A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem

determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar

as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma

representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina

de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru

Com os objetivos especiacuteficos de

Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio

social

Analisar os festejos juninos

Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica

dos elementos que a compotildeem (Layout)

15

Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015

eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e

serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731

veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio

contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10

mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual

(PEREIRA 2016)

Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma

o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas

cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das

Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local

(APL)1 do setor de confecccedilotildees

Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees

de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos

pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos

comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As

exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator

agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que

simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade

local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas

comerciais

Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em

especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez

que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e

que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional

Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais

cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se

a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto

monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de

design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local

1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)

16

Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos

que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe

(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e

fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o

POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas

no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)

Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco

capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo

geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na

construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu

identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do

imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as

transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo

No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade

atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da

mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram

usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo

deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda

a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo

interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda

No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o

projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta

inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as

consideraccedilotildees finais do projeto

2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular

211 Design e cultura material

As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como

suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma

referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo

de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente

quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo

Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento

de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do

projeto e do mercado

A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o

fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos

em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na

legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia

contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente

inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais

Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura

material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo

respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a

material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico

Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no

caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e

portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998

p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que

se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de

expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo

elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das

3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)

18

populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes

dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por

diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades

funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor

Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no

objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e

comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como

mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da

sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo

sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica

(CARDOSO 1998 e ONO 2006)

Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-

STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui

conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado

deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida

transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que

transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana

que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas

No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische

Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma

e alma

A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)

Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do

sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-

subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica

O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e

atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes

niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais

e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na

mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados

ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o

19

objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores

referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado

Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso

apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe

atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem

variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada

Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria

cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma

parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo

(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual

que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos

212 Cultura popular e festejos juninos

O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com

Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de

um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela

para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo

dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante

heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007

p 7)

Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou

seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo

entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura

popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para

projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo

estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que

a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a

mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e

globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior

percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)

e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que

este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo

20

pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento

em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva

A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)

A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes

culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)

em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de

acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira

hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura

popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da

conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)

O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia

atribuiacuteda aos objetos na cultura popular

Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)

Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura

popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles

Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui

ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem

ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)

tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma

que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os

agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia

Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma

pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se

dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que

segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-

21

moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas

tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees

E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas

festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as

festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas

origens

As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das

culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios

Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do

repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece

[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)

Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo

de vaacuterios agentes

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo

Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste

projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-

se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a

magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e

produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor

para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos

A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)

Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social

de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de

produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem

22

celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees

como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios

norte e sul

Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais

mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)

afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila

do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees

o calendaacuterio solar e os solstiacutecios

Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes

grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno

satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal

influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo

periacuteodo

A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para

os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal

festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento

Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO

2007 p 9)

Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio

e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer

(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que

viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte

o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os

nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz

(Babilocircnia)

Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a

conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a

vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente

os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das

colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses

deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a

um novo ciclo

23

Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)

O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa

Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir

a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a

deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo

inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o

periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de

frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)

O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)

Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi

adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram

a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute

conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que

tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por

realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista

[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)

Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo

acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar

24

comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na

Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista

Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em

toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de

junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe

foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode

haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio

da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol

quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e

a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER

1982 p 539 e 540)

As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho

homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo

Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs

inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados

Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e

pagamento de promessas

As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com

suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e

em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo

Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)

A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa

da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui

seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual

No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru

em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que

ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF

1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero

de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo

expressatildeo do imaginaacuterio coletivo

25

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade

A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio

catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o

ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo

Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social

Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)

Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa

pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio

antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado

em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia

de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de

fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito

maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente

A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais

da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas

muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de

comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo

articula-se com a cidade

Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva

A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas

cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos

o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)

A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos

que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem

puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo

os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)

As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que

compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando

diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas

ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto

com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]

26

manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas

sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade

da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e

objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo

os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)

Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura

que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma

que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde

ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que

acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o

mito

Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)

o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da

natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por

exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o

como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na

infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)

o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo

de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)

com o coletivo (macrocosmo universo)

Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de

interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru

Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para

as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia

de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual

presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o

moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo

As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows

gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das

festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do

Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra

e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock

Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto

do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru

27

hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da

cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro

que fazem parte da cultura popular caruaruense

Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o

hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais

diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de

contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos

alastrados pela cidade

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro

As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores

regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem

elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas

No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o

cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave

festa junina

Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da

populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que

atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo

se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou

nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos

outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno

de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa

[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou

individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos

que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido

4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco

28

ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI

1998 p 181)

Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem

a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da

cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas

tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A

apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos

histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo

os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde

o mito de Tamuz o mito fundador

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil

Quadrilhas juninas

A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve

sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na

Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha

(GIFFONI 1973)

No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser

copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e

festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas

a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados

pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que

levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural

A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica

velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma

identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha

agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular

brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes

7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas

29

o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo

teatral da danccedila nobre

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos

Fonte Acervo do autor

30

A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por

outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um

conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que

marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam

o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos

reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo

sua bravura e o xaxado10

Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao

menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta

estilizadas e recriadas

[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da

tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um

periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica

e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos

regionais (MENEZES NETO 2008 p12)

Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o

desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional

traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da

performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se

estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados

exibindo banguelas

A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das

festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com

roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da

mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por

fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam

um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar

as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de

comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)

8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros

31

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas

TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS

MATUTA ESTILIZADA RECRIADA

PERSONAGENS Noivos padre

delegado fofoqueiras

matutos

Noivos rainha e

princesa do milho

lampiatildeo e Maria

Bonita ciganos

Tem noivos e matutos

VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e

calccedilas em cores vivas

com remendos em

chita e xadrez

Os trajes satildeo os

mesmos mas ganham

lantejoulas brilhos

cetins

O vestuaacuterio voltou o

uso das chitas e

xadrezes agora

incorporados como

recortes da

indumentaacuteria

MAQUIAGEM Homens de bigodes

mulheres de sardas e

dentes todos pintados

de preto

Maquiagem de festa

profissionais

Maquiagem de festa

profissionais

MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do

momento

Forroacute coco xaxado

ciranda ritmos

regionais

MARCADOR Coordena a danccedila

marca cada mudanccedila

de passo

Anima a torcida a

evoluccedilatildeo acontece

sem nenhuma

influecircncia do puxador

Anima a torcida e se

integra agrave evoluccedilatildeo da

quadrilha por vezes

marca alguns passos

Fonte Menezes Neto 2008

Casamento matuto

O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da

mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na

atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma

saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um

becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a

ajuda do cangaccedilo

Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma

criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas

na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo

XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de

paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem

saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo

Comidas tiacutepicas juninas

32

As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho

amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram

cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo

Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela

colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e

cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma

A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no

Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de

diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro

deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas

as guloseimas juninas no tamanho gigante

Cidades cenograacuteficas

As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes

incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de

cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os

festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino

com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11

e restaurantes compondo a Vila do Forroacute

11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos

de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas

33

Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas

Fonte Acervo do autor

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador

Balatildeo

Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as

preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se

o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas

formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi

criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato

de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou

qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar

incecircndios em florestas e acidentes

34

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo

Fonte Acervo do autor

Fogueira

A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de

agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela

aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada

das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono

da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda

a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma

simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da

fogueira de Satildeo Joatildeo

35

Painel 04ndash Fogueira

Fonte Acervo do autor

Bandeirinhas

As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de

tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em

madeiras preparadas pelo povo

Painel 05ndash Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

36

O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-

lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta

possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que

antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um

padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)

Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia

de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa

(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto

com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos

Fonte Acervo do autor

Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos

juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina

37

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo

Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se

na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais

Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi

tratado anteriormente

Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de

Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de

Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela

Fonte RIBEIRO 2008

As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de

Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava

oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de

fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver

Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista

(RIBEIRO 2008 p 2)

38

Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento

modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas

pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus

trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta

de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001

p110)

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas

Fonte GREGGIO 2001 p121

Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um

premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no

trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe

deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o

tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e

senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)

39

Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas

obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das

formas e cores Como falou o pintor em entrevista

ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar

uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com

essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as

fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com

bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)

O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E

esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para

este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois

utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou

volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva

brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas

alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura

40

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p52

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p92

41

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p98 e 99

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design

A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design

Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria

imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o

siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores

coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes

perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico

No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees

para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com

pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos

estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a

cultura popular

Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha

Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com

esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura

06)

42

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok

Fonte (OXFORD 2013)

Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo

inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco

em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo

as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo

(Figura 07)

43

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2015)

O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca

registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram

inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um

casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas

e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa

de Satildeo Joatildeo

44

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2016)

Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre

abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre

as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma

publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de

2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas

acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo

Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa

apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)

12 Estado emocional

45

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina

Fonte (FORUM 2016)

A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que

estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina

apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e

xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo

46

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013

Fonte (FARM 2013)

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016

Fonte (FARM 2016)

Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de

festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas

fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar

A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as

latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A

Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)

47

que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse

cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo

eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol

Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava

Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)

O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento

da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em

ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral

acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo

48

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)

inspirados nas comidas tiacutepicas juninas

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas

com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos

nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo

para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas

dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos

49

juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao

caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil

Fonte (SUVINIL 2015)

O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas

inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste

brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram

desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias

50

22 A vitrina no societal

221 Design e vitrina

Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que

possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute

importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo

momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente

e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada

eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como

valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo

Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo

conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e

valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal

objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo

[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)

Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com

diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador

Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano

mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso

(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta

as ideias abstratas e subjetivas

Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade

Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social

junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo

artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade

projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo

comportamental de uma sociedade

51

Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda

marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das

transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se

apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem

a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo

num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo

Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas

diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato

assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis

para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se

necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design

pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo

inseridos os designers

Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para

uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008

p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de

bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema

em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma

apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo

cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre

que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e

consumidor

Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios

artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria

de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as

atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante

assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem

atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas

das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem

poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio

e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo

Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando

esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio

52

convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo

que eacute oferecido na vitrina

Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As

vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando

dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma

eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)

O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar

dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design

Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um

convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma

encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e

relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer

O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design

levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja

percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco

Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a

palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais

precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma

textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing

quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e

mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)

O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em

bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A

vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um

espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo

A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a

todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste

entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano

como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz

53

de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas

possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o

urbano

A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa

explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante

do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia

Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo

exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O

socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem

e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam

sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior

A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)

Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as

caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de

mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel

perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior

com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa

ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior

satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo

Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e

o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois

espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo

e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser

observada das duas perspectivas de espaccedilo

Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina

como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro

dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o

qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma

encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um

54

cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de

vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas

No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao

flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente

para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta

(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de

estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio

em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta

uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador

Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui

o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta

imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido

pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o

consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar

com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de

quem a observa

Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona

como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso

ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele

Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um

reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute

diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute

onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas

A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel

funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que

Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso

agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser

Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo

evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que

transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no

ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte

eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum

momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela

55

transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente

comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso

2221 As vidraccedilas na cidade

Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do

ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o

natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o

socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia

esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-

se e relacionando-se com o mundo

Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no

ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos

valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses

elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo

(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir

em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno

Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta

e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante

onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no

fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no

caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do

passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este

frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca

pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador

Para Michel Maffesoli

Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de

nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de

acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados

pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um

espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos

apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)

Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real

atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da

mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com

56

o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-

se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo

vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o

conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos

comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda

simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador

As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das

transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da

representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse

mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o

espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a

cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta

diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma

preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla

Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas

que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma

instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de

maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas

retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo

que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia

entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta

a sociedade por retratar o mito social

[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de

relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees

interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto

sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando

sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI

2010 p 63)

Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como

um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees

como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o

tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo

vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois

57

ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o

consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas

Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as

mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees

do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado

(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado

mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier

(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social

representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais

de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com

o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem

para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel

223 Da forma agrave vitrina

Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de

materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e

mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para

concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura

luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao

mesmo valores espaciais sensoriais e visuais

Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre

espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como

seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute

de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como

exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH

em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que

forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A

personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas

assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser

Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece

[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um

58

elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)

Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo

nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as

formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute

forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma

histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado

Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual

resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode

configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina

masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta

condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna

possiacutevel compreender o conjunto social

Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de

melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados

contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo

deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa

A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si

podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico

filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este

estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica

Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio

S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que

conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular

[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam

a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)

A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao

seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do

significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos

e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao

longo da pesquisa

59

Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica

definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a

palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute

constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto

conceito (significado natureza proacutepria)

Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute

comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim

como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma

interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os

impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do

universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura

configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no

campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio

A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que

a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e

ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em

funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra

coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)

chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o

invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que

forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se

organicamente entre si

2231 A esteacutetica da forma

Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais

neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do

observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a

expectativas sociais e culturais

Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e

que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos

13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado

grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)

60

O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir

sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza

e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua

explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo

que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas

na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo

eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p

12)

Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos

Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia

formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com

o outro

Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da

aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que

abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados

conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]

o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e

em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno

da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima

pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que

invade o iacutentimo do flanador

A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o

contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens

constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado

revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar

o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra

socializa

Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se

define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado

anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como

adereccedilos luz cores e produtos

Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas

Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma

espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de

61

pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano

salvo raras exceccedilotildees

A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior

ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus

contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra

claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc

A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute

determinante do equiliacutebrio entre suas variantes

O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o

produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de

toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)

Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha

em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens

coacutedigos identificaccedilotildees

A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que

se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que

se vive atualmente

E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira

estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem

da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura

burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)

Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a

vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira

fluiacuteda no espaccedilo vitrina

224 Sentidos e a vitrina

A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e

diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo

com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas

primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de

sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer

dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade

62

primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e

une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a

espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real

A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas

causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela

eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico

desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua

sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior

proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo

fascinante

Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do

olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um

olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem

refletida (BIGAL 2001 p 60)

Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o

seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo

revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um

jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a

imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia

As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas

com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a

fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de

projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios

desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio

de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que

estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente

na percepccedilatildeo do eu sobre o outro

Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute

caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a

partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco

(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com

o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees

taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz

pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto

63

espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do

homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os

elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do

tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao

ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa

estranha ao observador

[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do

bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele

que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada

rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)

O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por

muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as

marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para

ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar

de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de

experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato

mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de

degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como

complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia

do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho

As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade

que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as

iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa

com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de

pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)

Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados

na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel

tempo Barreto afirma que

[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)

64

Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos

seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no

imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento

Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de

calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009

criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca

em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois

o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar

a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente

vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela

experiecircncia

Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional

espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares

captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver

fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de

sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como

uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo

eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da

matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados

tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas

Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em

eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes

emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se

barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos

perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na

qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)

Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e

identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que

simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das

14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas

televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico

15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo

desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias

65

inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre

espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto

os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam

e satildeo percebidos por diferentes meios

A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto

antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo

designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por

experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento

emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo

das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro

a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute

comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal

objetivo mostrar-se

Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura

O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de

comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente

do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia

fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)

Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam

originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute

importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos

do contemplador

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo

O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido

ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio

como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser

cultural ao ser humano

Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria

Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia

faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de

66

simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a

p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de

simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na

sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o

designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os

coletivos (MIZANZUK 2007)

Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem

Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial

que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010

p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o

coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas

o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas

aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de

carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a

cultura de uma regiatildeo de um povo

O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos

objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando

uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo

eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma

Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura

Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme

Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura

Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade

Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos

tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego

satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo

a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o

espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado

os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)

16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados

detalhadamente no toacutepico seguinte

67

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC

Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014

Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente

vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com

o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo

aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente

do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado

pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir

o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por

exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles

(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na

chuva

Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute

vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico

enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim

como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-

68

chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-

chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos

os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados

que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o

valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito

ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro

O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que

compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem

da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito

O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que

possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do

homem a morte

Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos

de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina

Fonte FASHINMAG 2011

A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social

masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a

mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses

69

imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura

heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do

guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como

se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina

suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o

terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes

os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor

de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes

Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do

imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo

usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia

de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina

Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura

miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico

harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e

dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do

homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina

Fonte MBASIC 2014

70

Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento

redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda

Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume

aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica

em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta

As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que

orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda

roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o

tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo

quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo

na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes

que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees

e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa

que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes

As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram

analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de

Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos

e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo

passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O

Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim

como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento

com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim

como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos

como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo

menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam

perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para

que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas

71

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo

Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras

principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por

ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades

incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de

diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios

cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o

Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo

para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo

com o passante

Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e

representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse

conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais

clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da

vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo

O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que

a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo

os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos

como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em

duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez

que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa

junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas

Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem

maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima

satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se

sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante

72

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma

cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia

que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo

de um mito

73

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura

17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria

narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os

mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto

04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011

Fonte Pinterest 2016

74

Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

75

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo

Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio

urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que

transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina

31 Metodologia fenomenoloacutegica

A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute

abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de

abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e

estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos

lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica

(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-

hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar

projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo

meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa

Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico

quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise

eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a

investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a

complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud

MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados

coletados nesse projeto eacute qualitativa

A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de

Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos

permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos

Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a

fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia

imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo

Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se

a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco

Ainda segundo a autora

76

[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)

A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a

ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um

ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada

como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa

Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento

filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl

considerado o pai da fenomenologia

A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)

A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo

verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos

de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo

de um uacutenico fenocircmeno

A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)

Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede

direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-

Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram

influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o

desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto

Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica

[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e

77

objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)

Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia

sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao

ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo

restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli

aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado

na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o

resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um

sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)

311 Imaginaacuterio

Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social

perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este

processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real

ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre

esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca

(PITTA 2005 p147)

A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo

abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em

sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir

do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli

(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a

experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma

visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o

imaginaacuterio e o prazer dos sentidos

Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o

aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de

mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma

melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo

fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel

eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o

fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste

78

meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida

cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave

origem do fenocircmeno

32 Instrumento de coleta

Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto

diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa

sendo o primeiro a ser empregado

Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e

explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e

trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao

projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa

cientifica

Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos

fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos

design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees

Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e

mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite

um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da

aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar

hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este

permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina

33 Metodologia do designer

Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por

Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que

tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento

de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de

um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes

de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas

consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor

adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia

79

para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem

vir a se desdobrarem

Metodologia projetual de Cerver

Fase 1 Definiccedilatildeo do problema

A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e

a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer

Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O

designer deve responder

Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos

Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais

Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam

Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc

Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)

Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos

requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser

respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto

A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como

a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos

objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)

afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde

seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente

Fase 2 Busca de informaccedilotildees

A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-

se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins

com os objetivos do projeto

Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e

igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados

O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro

fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias

80

existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado

a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e

manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)

Fase 3 Preacute-projeto

Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias

viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias

selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema

em questatildeo

Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e

protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os

fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos

projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de

geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute

uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual

Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto

Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias

necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do

mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente

Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e

ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve

ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para

montagem da mesma

Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos

o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois

da implantaccedilatildeo da vitrina

81

4 RESULTADOS

Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da

abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de

desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a

ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor

41 Definiccedilatildeo do problema

O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o

mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar

as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo

empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico

A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia

fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de

baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a

composiccedilatildeo da mesma

A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres

adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina

foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que

a festa junina tem em si

Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo

do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu

desenvolvimento

42 Busca da informaccedilatildeo

Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a

festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo

do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA

e papeis para compor a vitrina

Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como

Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em

outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas

82

421 Painel de inspiraccedilatildeo

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina

Fonte Acervo do autor

83

43 Preacute-projeto

431 Croquis fase 1

A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da

festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora

das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em

questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis

de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas

No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as

bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas

natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade

cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal

material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados

foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza

multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo

Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no

imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser

passado neste projeto

Desenho 01 ndash Croqui A

Fonte Acervo do autor

No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente

quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a

compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto

84

quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto

negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar

se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo

das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o

paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser

apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este

segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio

que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina

Desenho 02 ndash Croqui B

Fonte Acervo do autor

432 Croquis fase 2

Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto

considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior

Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser

usado na configuraccedilatildeo do projeto

No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha

de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo

passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro

croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das

85

manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse

aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No

sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas

possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro

do vento

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

86

Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase

anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores

aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada

anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como

bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e

dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e

movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira

Fonte Acervo do autor

87

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira

Fonte Acervo do autor

Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel

13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo

nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos

como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das

quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

88

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores

materiais e texturas

433Testes

No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para

estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel

tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as

bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17

Painel 14 ndash Teste 1

Fonte Acervo do autor

17

89

No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o

EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou

a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica

de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste

para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se

distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido

e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser

retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas

do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos

desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina

Foto 04 ndashTeste 2

Fonte Acervo do autor

44 Apresentaccedilatildeo do projeto

Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que

compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no

teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos

contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor

90

selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto

as demais cores

As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas

obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)

Painel 15 ndash Cores de Volpi

Fonte MATTAR 2014

Figura 18 ndash Cartela de cores

Fonte Acervo do autor

Estudo das combinaccedilotildees das cores

91

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores

Fonte Acervo do autor

Outras possiacuteveis combinaccedilotildees

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores

Fonte Acervo do autor

92

Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis

de diferentes finalidades e texturas

Foto 05 ndash Teste Final

Fonte Acervo do autor

441 Memoria teacutecnico descritiva

Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho

teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura

com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas

as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo

93

442 Desenho teacutecnico

4421 Molde painel

Vetor 01 ndash Painel vitrina

Fonte Acervo do autor

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas

Fonte Acervo do autor

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais

Fonte Acervo do autor

94

4422 Molde casa

Vetor 04 ndash Molde casa

Fonte Acervo do autor

4423 Molde display

Vetor 05 ndash Molde display

Fonte Acervo do autor

95

4424 Molde telhado

Vetor 06 ndash Molde telhado

Fonte Acervo do autor

4425 Molde ceacuteu

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu

Fonte Acervo do autor

96

443 Materiais empregados

Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80

espessura 09 mm nos telhados e displays

Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em

especial nos telhados) (Foto 6)

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado

Fonte Acervo do autor

Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina

guache (Foto 07) sobre papel camurccedila

Foto 07 ndash Cartolina guache

Fonte Acervo do autor

97

Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado

(Foto 08)

Foto 08 ndash Papel contato laminado

Fonte Acervo do autor

Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros

escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita

dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para

transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete

Fonte Acervo do autor

98

444 Sequencia Operacional

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia

Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo

OP Sequencia Operacional Ferramentas

1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal

2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas

respectivas cores no papelatildeo canelado

Tesoura papel carbono e

laacutepis

3 Cortar os moldes casa base display e painel C e

bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina

guache

Tesoura estilete reacutegua de

metal papel carbono e

laacutepis

4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e

laacutepis

5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em

cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar

com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais

moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio

Tesoura papel carbono e

laacutepis

6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP

4) Reservar

Cola para papel e pincel

7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal

8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida

9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais

moldes cortados nas OP 3 e OP 4

Cola para papel e pincel

10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as

combinaccedilotildees de cores

Cola para papel e pincel

12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e

luminaacuteria

13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

14 Colar uma casa na outra Fita dupla face

15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida

furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila

Laacutepis reacutegua furador

16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a

disposiccedilatildeo da base ceacuteu

Cola para papel e pincel

17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face

Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face

18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees

eleacutetricas por traacutes da base da vitrina

Fita dupla face

19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares

marcados

Furador

Fonte Acervo do autor

As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem

e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto

99

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e

projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender

agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa

foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as

simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo

da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal

Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida

pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que

o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a

vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao

construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a

marca e sua identidade

O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como

representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na

cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como

meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a

relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina

como exemplo dessa relaccedilatildeo

Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo

simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para

configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no

contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta

de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru

Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design

para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da

teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente

duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas

discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi

possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem

da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e

representante do imaginaacuterio social

100

A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no

periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor

O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do

imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina

enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal

E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com

ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de

poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram

enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho

contribuiu para um emprego mais social do produto de design

Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e

experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui

utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura

popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado

local

Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo

de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes

da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada

principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no

desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro

comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver

Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o

design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao

projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento

para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas

A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo

canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe

uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si

mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa

interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma

possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade

101

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Page 5: MICHELLYNNE BORROMEU DA SILVA · 2019. 10. 26. · universidade federal de pernambuco – ufpe centro acadÊmico do agreste nÚcleo de design michellynne borromeu da silva vitrina,

Dedico este trabalho agrave minha famiacutelia ao meu companheiro aos meus amigos minhas famiacutelias adotivas ao universo e ao tempo que transforma tudo

AGRADECIMENTOS

Agradecimentosnatildeo haacute tiacutetulo melhor O problema eacute agradecer a quem

Agradeccedilo pelo apoio das minhas Marias que quando natildeo me incentivaram me

permitiramme ensinaram que mais vale lutar pelo que acredito do quer seguir a

mareacute Sim escolhi o design natildeo direito medicina administraccedilatildeo Natildeo sabia que

estudaria tanto sobre a sociedade e as necessidades humanas essa foi uma surpresa

boa dessa graduaccedilatildeo

Outra melhor ainda foi ter sido da turma 20091O erro na matricula do ano

anterior tornou-se o acerto pois tive uma turma sem igualforam os primeiros a

abrirem os braccedilos para a migrante da capitaldepois cruzei com pessoas

maravilhosas Caruaru me deu novas famiacutelias me senti acolhida cuidada protegida

e amadaAteacute que as vezes apertava a saudade das minhas MariasForam quatro

anos de curso e sete anos que disfrutei muito expandi horizontes dei a volta ao

mundo divide casa com pessoas impares divide o patildeo noites risos e chorosrisos

multiplicados e dores divididas

A saga que foi terminar essa monografia que insiste em se

reinventarGostaria de agradecer a paciecircncia que tem meu orientador para segurar

essa esquizofrenia de cacircmbios eu mudoe o projeto acompanha A certeza eacute que

em nenhum momento quis desistirmas sempre outras coisas me pareciam mais

importanteAinda bem Pois quando comecei pensava que ter uma graduaccedilatildeo

fosse a coisa mais importante da minha vidae estou ganhando muito mais famiacutelia

amigos parceiros para a memoacuteria para sempre Hoje estou terminando uma fase

importante mas ganho coisas que natildeo cabem no papel

Natildeo desejo dar nomes soacute queria ser poetizater o dom da palavrapara

liberar todos os agradecimentos e gratidotildees que tenho por essa cidade por todxs

RESUMO

A predileccedilatildeo por esse tema se deu principalmente pela experiecircncia vivida em

Caruaru de perceber como a cultura eacute valorizada e enraizada na cidade Tendo o

conhecimento de design e da vitrina como ferramentas de comunicaccedilatildeo social e

considerando a importacircncia econocircmica e cultural que os festejos de Satildeo Joatildeo

representam para a cidade Foi apresentada uma proposta de vitrina de moda

acatando os aspectos culturais e sociais da cidade como principal ecircnfase natildeo

havendo discriminaccedilatildeo de puacuteblico-alvo e cliente O principal objetivo foi verificar o

emprego da metodologia fenomenoloacutegica e da teoria do imaginaacuterio para o

desenvolvimento da vitrina que teve como tema as festas juninas Este processo

tornou possiacutevel a apresentaccedilatildeo de uma proposta de aproximaccedilatildeo entre a universidade

e a cidade atraveacutes do potencial esteacutetico que o designer pode oferecer como

diferencial aplicando seus meacutetodos e saberes as vitrinas de moda

Palavras-Chaves Vitrina Design Imaginaacuterio Festa de Satildeo Joatildeo

ABSTRACT

The predilection for this theme was mainly due to the experience lived in

Caruaru to realize how culture is valued and rooted in the city Having the knowledge

of the design and the showcase as tools of social communication and considering the

economic and cultural importance that the celebration of Saint Johnrsquos party represent

for the city It was presented a proposal of fashion showcase store abiding the cultural

and social aspects of the city as the main emphasis there being no discrimination of

target audience and costumer The main objective was to verify the employment of the

phenomenological methology and the theory of imaginary for the development of the

showcase which had as theme the Junersquos festivities This process has made it

possible to present a proporsal of approximation between the university and the city

through the aesthetic potencial that the designer can offer as differential applying his

methods and knowledge to the fashion showcase

Key-Words Showcase Design Imaginary Saint John Festival

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29

Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34

Painel 04ndash Fogueira 35

Painel 05ndash Bandeirinhas 35

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de

70 40

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de

festa 150ml 48

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73

Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82

Desenho 01 ndash Croqui A 83

Desenho 02 ndash Croqui B 84

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88

Painel 14 ndash Teste 1 88

Foto 04 ndashTeste 2 89

Painel 15 ndash Cores de Volpi 90

Figura 18 ndash Cartela de cores 90

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91

Foto 05 ndash Teste Final 92

Vetor 01 ndash Painel vitrina 93

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93

Vetor 04 ndash Molde casa 94

Vetor 05 ndash Molde display 94

Vetor 06 ndash Molde telhado 95

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96

Foto 07 ndash Cartolina guache 96

Foto 08 ndash Papel contato laminado 97

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17

211 Design e cultura material 17

212 Cultura popular e festejos juninos 19

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41

22 A vitrina no societal 50

221 Design e vitrina 50

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52

2221 As vidraccedilas na cidade 55

223 Da forma agrave vitrina 57

2231 A esteacutetica da forma 59

224 Sentidos e a vitrina 61

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71

3 METODOLOGIA 75

31 Metodologia fenomenoloacutegica 75

311 Imaginaacuterio 77

32 Instrumento de coleta 78

33 Metodologia do designer 78

4 RESULTADOS 81

41 Definiccedilatildeo do problema 81

42 Busca da informaccedilatildeo 81

421 Painel de inspiraccedilatildeo 82

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82

43 Preacute-projeto 83

431 Croquis fase 1 83

432 Croquis fase 2 84

433Testes 88

44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89

441 Memoria teacutecnico descritiva 92

442 Desenho teacutecnico 93

4421 Molde painel 93

4422 Molde casa 94

4423 Molde display 94

4424 Molde telhado 95

4425 Molde ceacuteu 95

443 Materiais empregados 96

444 Sequencia Operacional 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99

6 REFERENCIAS 101

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a

atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais

especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o

consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design

pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e

transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de

vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da

Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo

O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como

representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de

um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-

Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio

pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a

comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio

Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-

se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio

de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo

propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na

metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de

vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru

A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem

determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar

as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma

representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina

de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru

Com os objetivos especiacuteficos de

Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio

social

Analisar os festejos juninos

Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica

dos elementos que a compotildeem (Layout)

15

Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015

eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e

serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731

veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio

contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10

mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual

(PEREIRA 2016)

Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma

o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas

cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das

Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local

(APL)1 do setor de confecccedilotildees

Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees

de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos

pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos

comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As

exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator

agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que

simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade

local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas

comerciais

Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em

especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez

que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e

que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional

Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais

cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se

a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto

monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de

design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local

1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)

16

Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos

que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe

(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e

fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o

POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas

no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)

Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco

capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo

geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na

construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu

identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do

imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as

transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo

No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade

atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da

mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram

usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo

deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda

a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo

interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda

No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o

projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta

inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as

consideraccedilotildees finais do projeto

2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular

211 Design e cultura material

As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como

suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma

referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo

de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente

quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo

Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento

de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do

projeto e do mercado

A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o

fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos

em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na

legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia

contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente

inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais

Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura

material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo

respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a

material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico

Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no

caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e

portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998

p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que

se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de

expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo

elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das

3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)

18

populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes

dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por

diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades

funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor

Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no

objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e

comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como

mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da

sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo

sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica

(CARDOSO 1998 e ONO 2006)

Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-

STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui

conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado

deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida

transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que

transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana

que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas

No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische

Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma

e alma

A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)

Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do

sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-

subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica

O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e

atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes

niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais

e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na

mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados

ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o

19

objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores

referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado

Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso

apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe

atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem

variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada

Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria

cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma

parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo

(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual

que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos

212 Cultura popular e festejos juninos

O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com

Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de

um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela

para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo

dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante

heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007

p 7)

Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou

seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo

entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura

popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para

projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo

estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que

a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a

mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e

globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior

percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)

e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que

este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo

20

pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento

em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva

A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)

A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes

culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)

em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de

acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira

hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura

popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da

conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)

O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia

atribuiacuteda aos objetos na cultura popular

Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)

Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura

popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles

Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui

ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem

ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)

tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma

que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os

agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia

Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma

pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se

dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que

segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-

21

moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas

tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees

E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas

festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as

festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas

origens

As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das

culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios

Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do

repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece

[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)

Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo

de vaacuterios agentes

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo

Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste

projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-

se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a

magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e

produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor

para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos

A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)

Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social

de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de

produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem

22

celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees

como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios

norte e sul

Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais

mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)

afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila

do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees

o calendaacuterio solar e os solstiacutecios

Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes

grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno

satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal

influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo

periacuteodo

A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para

os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal

festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento

Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO

2007 p 9)

Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio

e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer

(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que

viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte

o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os

nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz

(Babilocircnia)

Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a

conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a

vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente

os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das

colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses

deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a

um novo ciclo

23

Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)

O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa

Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir

a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a

deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo

inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o

periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de

frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)

O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)

Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi

adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram

a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute

conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que

tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por

realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista

[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)

Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo

acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar

24

comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na

Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista

Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em

toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de

junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe

foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode

haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio

da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol

quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e

a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER

1982 p 539 e 540)

As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho

homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo

Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs

inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados

Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e

pagamento de promessas

As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com

suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e

em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo

Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)

A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa

da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui

seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual

No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru

em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que

ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF

1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero

de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo

expressatildeo do imaginaacuterio coletivo

25

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade

A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio

catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o

ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo

Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social

Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)

Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa

pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio

antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado

em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia

de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de

fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito

maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente

A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais

da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas

muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de

comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo

articula-se com a cidade

Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva

A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas

cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos

o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)

A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos

que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem

puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo

os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)

As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que

compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando

diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas

ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto

com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]

26

manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas

sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade

da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e

objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo

os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)

Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura

que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma

que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde

ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que

acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o

mito

Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)

o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da

natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por

exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o

como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na

infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)

o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo

de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)

com o coletivo (macrocosmo universo)

Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de

interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru

Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para

as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia

de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual

presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o

moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo

As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows

gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das

festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do

Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra

e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock

Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto

do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru

27

hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da

cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro

que fazem parte da cultura popular caruaruense

Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o

hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais

diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de

contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos

alastrados pela cidade

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro

As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores

regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem

elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas

No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o

cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave

festa junina

Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da

populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que

atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo

se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou

nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos

outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno

de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa

[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou

individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos

que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido

4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco

28

ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI

1998 p 181)

Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem

a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da

cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas

tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A

apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos

histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo

os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde

o mito de Tamuz o mito fundador

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil

Quadrilhas juninas

A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve

sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na

Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha

(GIFFONI 1973)

No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser

copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e

festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas

a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados

pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que

levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural

A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica

velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma

identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha

agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular

brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes

7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas

29

o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo

teatral da danccedila nobre

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos

Fonte Acervo do autor

30

A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por

outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um

conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que

marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam

o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos

reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo

sua bravura e o xaxado10

Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao

menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta

estilizadas e recriadas

[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da

tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um

periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica

e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos

regionais (MENEZES NETO 2008 p12)

Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o

desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional

traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da

performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se

estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados

exibindo banguelas

A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das

festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com

roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da

mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por

fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam

um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar

as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de

comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)

8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros

31

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas

TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS

MATUTA ESTILIZADA RECRIADA

PERSONAGENS Noivos padre

delegado fofoqueiras

matutos

Noivos rainha e

princesa do milho

lampiatildeo e Maria

Bonita ciganos

Tem noivos e matutos

VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e

calccedilas em cores vivas

com remendos em

chita e xadrez

Os trajes satildeo os

mesmos mas ganham

lantejoulas brilhos

cetins

O vestuaacuterio voltou o

uso das chitas e

xadrezes agora

incorporados como

recortes da

indumentaacuteria

MAQUIAGEM Homens de bigodes

mulheres de sardas e

dentes todos pintados

de preto

Maquiagem de festa

profissionais

Maquiagem de festa

profissionais

MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do

momento

Forroacute coco xaxado

ciranda ritmos

regionais

MARCADOR Coordena a danccedila

marca cada mudanccedila

de passo

Anima a torcida a

evoluccedilatildeo acontece

sem nenhuma

influecircncia do puxador

Anima a torcida e se

integra agrave evoluccedilatildeo da

quadrilha por vezes

marca alguns passos

Fonte Menezes Neto 2008

Casamento matuto

O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da

mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na

atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma

saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um

becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a

ajuda do cangaccedilo

Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma

criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas

na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo

XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de

paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem

saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo

Comidas tiacutepicas juninas

32

As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho

amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram

cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo

Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela

colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e

cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma

A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no

Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de

diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro

deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas

as guloseimas juninas no tamanho gigante

Cidades cenograacuteficas

As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes

incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de

cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os

festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino

com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11

e restaurantes compondo a Vila do Forroacute

11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos

de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas

33

Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas

Fonte Acervo do autor

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador

Balatildeo

Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as

preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se

o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas

formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi

criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato

de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou

qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar

incecircndios em florestas e acidentes

34

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo

Fonte Acervo do autor

Fogueira

A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de

agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela

aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada

das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono

da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda

a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma

simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da

fogueira de Satildeo Joatildeo

35

Painel 04ndash Fogueira

Fonte Acervo do autor

Bandeirinhas

As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de

tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em

madeiras preparadas pelo povo

Painel 05ndash Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

36

O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-

lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta

possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que

antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um

padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)

Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia

de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa

(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto

com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos

Fonte Acervo do autor

Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos

juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina

37

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo

Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se

na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais

Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi

tratado anteriormente

Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de

Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de

Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela

Fonte RIBEIRO 2008

As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de

Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava

oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de

fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver

Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista

(RIBEIRO 2008 p 2)

38

Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento

modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas

pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus

trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta

de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001

p110)

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas

Fonte GREGGIO 2001 p121

Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um

premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no

trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe

deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o

tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e

senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)

39

Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas

obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das

formas e cores Como falou o pintor em entrevista

ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar

uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com

essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as

fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com

bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)

O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E

esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para

este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois

utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou

volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva

brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas

alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura

40

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p52

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p92

41

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p98 e 99

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design

A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design

Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria

imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o

siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores

coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes

perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico

No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees

para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com

pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos

estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a

cultura popular

Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha

Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com

esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura

06)

42

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok

Fonte (OXFORD 2013)

Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo

inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco

em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo

as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo

(Figura 07)

43

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2015)

O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca

registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram

inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um

casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas

e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa

de Satildeo Joatildeo

44

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2016)

Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre

abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre

as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma

publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de

2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas

acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo

Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa

apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)

12 Estado emocional

45

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina

Fonte (FORUM 2016)

A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que

estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina

apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e

xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo

46

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013

Fonte (FARM 2013)

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016

Fonte (FARM 2016)

Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de

festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas

fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar

A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as

latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A

Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)

47

que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse

cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo

eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol

Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava

Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)

O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento

da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em

ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral

acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo

48

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)

inspirados nas comidas tiacutepicas juninas

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas

com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos

nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo

para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas

dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos

49

juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao

caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil

Fonte (SUVINIL 2015)

O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas

inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste

brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram

desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias

50

22 A vitrina no societal

221 Design e vitrina

Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que

possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute

importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo

momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente

e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada

eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como

valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo

Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo

conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e

valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal

objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo

[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)

Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com

diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador

Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano

mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso

(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta

as ideias abstratas e subjetivas

Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade

Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social

junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo

artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade

projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo

comportamental de uma sociedade

51

Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda

marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das

transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se

apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem

a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo

num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo

Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas

diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato

assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis

para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se

necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design

pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo

inseridos os designers

Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para

uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008

p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de

bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema

em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma

apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo

cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre

que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e

consumidor

Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios

artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria

de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as

atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante

assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem

atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas

das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem

poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio

e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo

Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando

esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio

52

convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo

que eacute oferecido na vitrina

Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As

vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando

dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma

eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)

O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar

dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design

Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um

convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma

encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e

relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer

O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design

levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja

percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco

Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a

palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais

precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma

textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing

quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e

mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)

O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em

bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A

vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um

espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo

A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a

todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste

entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano

como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz

53

de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas

possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o

urbano

A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa

explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante

do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia

Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo

exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O

socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem

e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam

sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior

A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)

Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as

caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de

mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel

perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior

com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa

ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior

satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo

Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e

o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois

espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo

e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser

observada das duas perspectivas de espaccedilo

Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina

como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro

dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o

qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma

encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um

54

cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de

vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas

No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao

flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente

para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta

(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de

estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio

em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta

uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador

Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui

o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta

imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido

pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o

consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar

com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de

quem a observa

Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona

como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso

ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele

Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um

reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute

diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute

onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas

A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel

funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que

Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso

agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser

Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo

evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que

transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no

ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte

eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum

momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela

55

transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente

comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso

2221 As vidraccedilas na cidade

Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do

ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o

natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o

socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia

esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-

se e relacionando-se com o mundo

Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no

ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos

valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses

elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo

(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir

em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno

Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta

e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante

onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no

fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no

caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do

passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este

frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca

pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador

Para Michel Maffesoli

Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de

nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de

acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados

pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um

espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos

apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)

Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real

atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da

mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com

56

o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-

se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo

vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o

conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos

comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda

simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador

As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das

transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da

representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse

mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o

espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a

cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta

diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma

preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla

Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas

que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma

instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de

maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas

retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo

que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia

entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta

a sociedade por retratar o mito social

[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de

relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees

interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto

sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando

sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI

2010 p 63)

Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como

um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees

como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o

tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo

vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois

57

ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o

consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas

Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as

mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees

do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado

(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado

mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier

(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social

representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais

de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com

o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem

para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel

223 Da forma agrave vitrina

Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de

materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e

mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para

concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura

luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao

mesmo valores espaciais sensoriais e visuais

Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre

espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como

seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute

de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como

exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH

em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que

forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A

personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas

assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser

Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece

[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um

58

elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)

Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo

nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as

formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute

forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma

histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado

Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual

resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode

configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina

masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta

condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna

possiacutevel compreender o conjunto social

Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de

melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados

contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo

deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa

A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si

podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico

filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este

estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica

Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio

S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que

conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular

[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam

a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)

A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao

seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do

significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos

e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao

longo da pesquisa

59

Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica

definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a

palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute

constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto

conceito (significado natureza proacutepria)

Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute

comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim

como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma

interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os

impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do

universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura

configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no

campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio

A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que

a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e

ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em

funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra

coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)

chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o

invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que

forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se

organicamente entre si

2231 A esteacutetica da forma

Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais

neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do

observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a

expectativas sociais e culturais

Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e

que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos

13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado

grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)

60

O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir

sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza

e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua

explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo

que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas

na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo

eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p

12)

Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos

Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia

formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com

o outro

Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da

aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que

abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados

conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]

o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e

em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno

da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima

pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que

invade o iacutentimo do flanador

A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o

contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens

constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado

revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar

o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra

socializa

Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se

define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado

anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como

adereccedilos luz cores e produtos

Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas

Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma

espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de

61

pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano

salvo raras exceccedilotildees

A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior

ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus

contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra

claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc

A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute

determinante do equiliacutebrio entre suas variantes

O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o

produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de

toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)

Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha

em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens

coacutedigos identificaccedilotildees

A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que

se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que

se vive atualmente

E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira

estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem

da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura

burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)

Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a

vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira

fluiacuteda no espaccedilo vitrina

224 Sentidos e a vitrina

A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e

diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo

com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas

primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de

sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer

dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade

62

primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e

une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a

espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real

A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas

causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela

eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico

desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua

sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior

proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo

fascinante

Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do

olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um

olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem

refletida (BIGAL 2001 p 60)

Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o

seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo

revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um

jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a

imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia

As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas

com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a

fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de

projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios

desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio

de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que

estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente

na percepccedilatildeo do eu sobre o outro

Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute

caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a

partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco

(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com

o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees

taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz

pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto

63

espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do

homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os

elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do

tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao

ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa

estranha ao observador

[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do

bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele

que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada

rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)

O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por

muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as

marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para

ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar

de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de

experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato

mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de

degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como

complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia

do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho

As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade

que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as

iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa

com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de

pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)

Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados

na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel

tempo Barreto afirma que

[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)

64

Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos

seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no

imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento

Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de

calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009

criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca

em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois

o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar

a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente

vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela

experiecircncia

Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional

espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares

captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver

fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de

sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como

uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo

eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da

matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados

tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas

Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em

eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes

emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se

barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos

perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na

qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)

Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e

identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que

simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das

14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas

televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico

15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo

desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias

65

inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre

espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto

os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam

e satildeo percebidos por diferentes meios

A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto

antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo

designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por

experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento

emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo

das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro

a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute

comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal

objetivo mostrar-se

Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura

O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de

comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente

do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia

fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)

Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam

originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute

importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos

do contemplador

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo

O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido

ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio

como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser

cultural ao ser humano

Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria

Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia

faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de

66

simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a

p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de

simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na

sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o

designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os

coletivos (MIZANZUK 2007)

Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem

Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial

que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010

p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o

coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas

o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas

aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de

carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a

cultura de uma regiatildeo de um povo

O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos

objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando

uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo

eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma

Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura

Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme

Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura

Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade

Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos

tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego

satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo

a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o

espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado

os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)

16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados

detalhadamente no toacutepico seguinte

67

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC

Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014

Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente

vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com

o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo

aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente

do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado

pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir

o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por

exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles

(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na

chuva

Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute

vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico

enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim

como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-

68

chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-

chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos

os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados

que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o

valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito

ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro

O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que

compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem

da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito

O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que

possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do

homem a morte

Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos

de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina

Fonte FASHINMAG 2011

A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social

masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a

mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses

69

imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura

heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do

guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como

se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina

suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o

terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes

os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor

de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes

Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do

imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo

usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia

de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina

Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura

miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico

harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e

dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do

homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina

Fonte MBASIC 2014

70

Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento

redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda

Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume

aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica

em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta

As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que

orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda

roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o

tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo

quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo

na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes

que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees

e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa

que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes

As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram

analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de

Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos

e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo

passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O

Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim

como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento

com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim

como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos

como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo

menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam

perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para

que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas

71

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo

Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras

principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por

ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades

incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de

diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios

cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o

Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo

para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo

com o passante

Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e

representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse

conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais

clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da

vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo

O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que

a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo

os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos

como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em

duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez

que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa

junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas

Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem

maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima

satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se

sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante

72

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma

cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia

que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo

de um mito

73

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura

17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria

narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os

mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto

04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011

Fonte Pinterest 2016

74

Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

75

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo

Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio

urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que

transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina

31 Metodologia fenomenoloacutegica

A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute

abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de

abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e

estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos

lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica

(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-

hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar

projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo

meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa

Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico

quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise

eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a

investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a

complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud

MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados

coletados nesse projeto eacute qualitativa

A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de

Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos

permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos

Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a

fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia

imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo

Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se

a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco

Ainda segundo a autora

76

[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)

A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a

ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um

ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada

como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa

Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento

filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl

considerado o pai da fenomenologia

A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)

A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo

verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos

de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo

de um uacutenico fenocircmeno

A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)

Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede

direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-

Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram

influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o

desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto

Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica

[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e

77

objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)

Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia

sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao

ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo

restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli

aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado

na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o

resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um

sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)

311 Imaginaacuterio

Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social

perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este

processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real

ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre

esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca

(PITTA 2005 p147)

A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo

abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em

sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir

do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli

(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a

experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma

visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o

imaginaacuterio e o prazer dos sentidos

Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o

aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de

mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma

melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo

fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel

eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o

fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste

78

meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida

cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave

origem do fenocircmeno

32 Instrumento de coleta

Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto

diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa

sendo o primeiro a ser empregado

Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e

explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e

trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao

projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa

cientifica

Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos

fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos

design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees

Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e

mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite

um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da

aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar

hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este

permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina

33 Metodologia do designer

Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por

Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que

tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento

de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de

um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes

de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas

consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor

adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia

79

para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem

vir a se desdobrarem

Metodologia projetual de Cerver

Fase 1 Definiccedilatildeo do problema

A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e

a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer

Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O

designer deve responder

Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos

Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais

Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam

Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc

Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)

Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos

requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser

respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto

A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como

a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos

objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)

afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde

seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente

Fase 2 Busca de informaccedilotildees

A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-

se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins

com os objetivos do projeto

Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e

igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados

O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro

fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias

80

existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado

a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e

manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)

Fase 3 Preacute-projeto

Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias

viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias

selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema

em questatildeo

Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e

protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os

fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos

projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de

geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute

uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual

Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto

Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias

necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do

mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente

Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e

ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve

ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para

montagem da mesma

Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos

o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois

da implantaccedilatildeo da vitrina

81

4 RESULTADOS

Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da

abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de

desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a

ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor

41 Definiccedilatildeo do problema

O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o

mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar

as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo

empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico

A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia

fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de

baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a

composiccedilatildeo da mesma

A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres

adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina

foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que

a festa junina tem em si

Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo

do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu

desenvolvimento

42 Busca da informaccedilatildeo

Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a

festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo

do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA

e papeis para compor a vitrina

Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como

Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em

outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas

82

421 Painel de inspiraccedilatildeo

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina

Fonte Acervo do autor

83

43 Preacute-projeto

431 Croquis fase 1

A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da

festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora

das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em

questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis

de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas

No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as

bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas

natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade

cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal

material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados

foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza

multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo

Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no

imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser

passado neste projeto

Desenho 01 ndash Croqui A

Fonte Acervo do autor

No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente

quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a

compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto

84

quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto

negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar

se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo

das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o

paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser

apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este

segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio

que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina

Desenho 02 ndash Croqui B

Fonte Acervo do autor

432 Croquis fase 2

Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto

considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior

Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser

usado na configuraccedilatildeo do projeto

No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha

de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo

passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro

croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das

85

manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse

aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No

sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas

possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro

do vento

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

86

Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase

anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores

aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada

anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como

bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e

dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e

movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira

Fonte Acervo do autor

87

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira

Fonte Acervo do autor

Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel

13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo

nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos

como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das

quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

88

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores

materiais e texturas

433Testes

No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para

estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel

tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as

bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17

Painel 14 ndash Teste 1

Fonte Acervo do autor

17

89

No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o

EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou

a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica

de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste

para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se

distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido

e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser

retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas

do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos

desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina

Foto 04 ndashTeste 2

Fonte Acervo do autor

44 Apresentaccedilatildeo do projeto

Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que

compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no

teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos

contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor

90

selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto

as demais cores

As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas

obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)

Painel 15 ndash Cores de Volpi

Fonte MATTAR 2014

Figura 18 ndash Cartela de cores

Fonte Acervo do autor

Estudo das combinaccedilotildees das cores

91

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores

Fonte Acervo do autor

Outras possiacuteveis combinaccedilotildees

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores

Fonte Acervo do autor

92

Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis

de diferentes finalidades e texturas

Foto 05 ndash Teste Final

Fonte Acervo do autor

441 Memoria teacutecnico descritiva

Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho

teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura

com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas

as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo

93

442 Desenho teacutecnico

4421 Molde painel

Vetor 01 ndash Painel vitrina

Fonte Acervo do autor

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas

Fonte Acervo do autor

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais

Fonte Acervo do autor

94

4422 Molde casa

Vetor 04 ndash Molde casa

Fonte Acervo do autor

4423 Molde display

Vetor 05 ndash Molde display

Fonte Acervo do autor

95

4424 Molde telhado

Vetor 06 ndash Molde telhado

Fonte Acervo do autor

4425 Molde ceacuteu

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu

Fonte Acervo do autor

96

443 Materiais empregados

Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80

espessura 09 mm nos telhados e displays

Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em

especial nos telhados) (Foto 6)

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado

Fonte Acervo do autor

Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina

guache (Foto 07) sobre papel camurccedila

Foto 07 ndash Cartolina guache

Fonte Acervo do autor

97

Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado

(Foto 08)

Foto 08 ndash Papel contato laminado

Fonte Acervo do autor

Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros

escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita

dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para

transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete

Fonte Acervo do autor

98

444 Sequencia Operacional

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia

Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo

OP Sequencia Operacional Ferramentas

1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal

2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas

respectivas cores no papelatildeo canelado

Tesoura papel carbono e

laacutepis

3 Cortar os moldes casa base display e painel C e

bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina

guache

Tesoura estilete reacutegua de

metal papel carbono e

laacutepis

4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e

laacutepis

5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em

cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar

com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais

moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio

Tesoura papel carbono e

laacutepis

6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP

4) Reservar

Cola para papel e pincel

7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal

8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida

9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais

moldes cortados nas OP 3 e OP 4

Cola para papel e pincel

10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as

combinaccedilotildees de cores

Cola para papel e pincel

12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e

luminaacuteria

13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

14 Colar uma casa na outra Fita dupla face

15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida

furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila

Laacutepis reacutegua furador

16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a

disposiccedilatildeo da base ceacuteu

Cola para papel e pincel

17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face

Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face

18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees

eleacutetricas por traacutes da base da vitrina

Fita dupla face

19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares

marcados

Furador

Fonte Acervo do autor

As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem

e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto

99

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e

projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender

agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa

foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as

simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo

da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal

Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida

pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que

o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a

vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao

construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a

marca e sua identidade

O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como

representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na

cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como

meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a

relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina

como exemplo dessa relaccedilatildeo

Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo

simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para

configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no

contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta

de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru

Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design

para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da

teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente

duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas

discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi

possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem

da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e

representante do imaginaacuterio social

100

A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no

periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor

O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do

imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina

enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal

E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com

ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de

poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram

enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho

contribuiu para um emprego mais social do produto de design

Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e

experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui

utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura

popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado

local

Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo

de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes

da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada

principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no

desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro

comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver

Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o

design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao

projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento

para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas

A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo

canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe

uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si

mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa

interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma

possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade

101

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Page 6: MICHELLYNNE BORROMEU DA SILVA · 2019. 10. 26. · universidade federal de pernambuco – ufpe centro acadÊmico do agreste nÚcleo de design michellynne borromeu da silva vitrina,

AGRADECIMENTOS

Agradecimentosnatildeo haacute tiacutetulo melhor O problema eacute agradecer a quem

Agradeccedilo pelo apoio das minhas Marias que quando natildeo me incentivaram me

permitiramme ensinaram que mais vale lutar pelo que acredito do quer seguir a

mareacute Sim escolhi o design natildeo direito medicina administraccedilatildeo Natildeo sabia que

estudaria tanto sobre a sociedade e as necessidades humanas essa foi uma surpresa

boa dessa graduaccedilatildeo

Outra melhor ainda foi ter sido da turma 20091O erro na matricula do ano

anterior tornou-se o acerto pois tive uma turma sem igualforam os primeiros a

abrirem os braccedilos para a migrante da capitaldepois cruzei com pessoas

maravilhosas Caruaru me deu novas famiacutelias me senti acolhida cuidada protegida

e amadaAteacute que as vezes apertava a saudade das minhas MariasForam quatro

anos de curso e sete anos que disfrutei muito expandi horizontes dei a volta ao

mundo divide casa com pessoas impares divide o patildeo noites risos e chorosrisos

multiplicados e dores divididas

A saga que foi terminar essa monografia que insiste em se

reinventarGostaria de agradecer a paciecircncia que tem meu orientador para segurar

essa esquizofrenia de cacircmbios eu mudoe o projeto acompanha A certeza eacute que

em nenhum momento quis desistirmas sempre outras coisas me pareciam mais

importanteAinda bem Pois quando comecei pensava que ter uma graduaccedilatildeo

fosse a coisa mais importante da minha vidae estou ganhando muito mais famiacutelia

amigos parceiros para a memoacuteria para sempre Hoje estou terminando uma fase

importante mas ganho coisas que natildeo cabem no papel

Natildeo desejo dar nomes soacute queria ser poetizater o dom da palavrapara

liberar todos os agradecimentos e gratidotildees que tenho por essa cidade por todxs

RESUMO

A predileccedilatildeo por esse tema se deu principalmente pela experiecircncia vivida em

Caruaru de perceber como a cultura eacute valorizada e enraizada na cidade Tendo o

conhecimento de design e da vitrina como ferramentas de comunicaccedilatildeo social e

considerando a importacircncia econocircmica e cultural que os festejos de Satildeo Joatildeo

representam para a cidade Foi apresentada uma proposta de vitrina de moda

acatando os aspectos culturais e sociais da cidade como principal ecircnfase natildeo

havendo discriminaccedilatildeo de puacuteblico-alvo e cliente O principal objetivo foi verificar o

emprego da metodologia fenomenoloacutegica e da teoria do imaginaacuterio para o

desenvolvimento da vitrina que teve como tema as festas juninas Este processo

tornou possiacutevel a apresentaccedilatildeo de uma proposta de aproximaccedilatildeo entre a universidade

e a cidade atraveacutes do potencial esteacutetico que o designer pode oferecer como

diferencial aplicando seus meacutetodos e saberes as vitrinas de moda

Palavras-Chaves Vitrina Design Imaginaacuterio Festa de Satildeo Joatildeo

ABSTRACT

The predilection for this theme was mainly due to the experience lived in

Caruaru to realize how culture is valued and rooted in the city Having the knowledge

of the design and the showcase as tools of social communication and considering the

economic and cultural importance that the celebration of Saint Johnrsquos party represent

for the city It was presented a proposal of fashion showcase store abiding the cultural

and social aspects of the city as the main emphasis there being no discrimination of

target audience and costumer The main objective was to verify the employment of the

phenomenological methology and the theory of imaginary for the development of the

showcase which had as theme the Junersquos festivities This process has made it

possible to present a proporsal of approximation between the university and the city

through the aesthetic potencial that the designer can offer as differential applying his

methods and knowledge to the fashion showcase

Key-Words Showcase Design Imaginary Saint John Festival

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29

Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34

Painel 04ndash Fogueira 35

Painel 05ndash Bandeirinhas 35

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de

70 40

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de

festa 150ml 48

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73

Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82

Desenho 01 ndash Croqui A 83

Desenho 02 ndash Croqui B 84

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88

Painel 14 ndash Teste 1 88

Foto 04 ndashTeste 2 89

Painel 15 ndash Cores de Volpi 90

Figura 18 ndash Cartela de cores 90

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91

Foto 05 ndash Teste Final 92

Vetor 01 ndash Painel vitrina 93

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93

Vetor 04 ndash Molde casa 94

Vetor 05 ndash Molde display 94

Vetor 06 ndash Molde telhado 95

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96

Foto 07 ndash Cartolina guache 96

Foto 08 ndash Papel contato laminado 97

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17

211 Design e cultura material 17

212 Cultura popular e festejos juninos 19

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41

22 A vitrina no societal 50

221 Design e vitrina 50

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52

2221 As vidraccedilas na cidade 55

223 Da forma agrave vitrina 57

2231 A esteacutetica da forma 59

224 Sentidos e a vitrina 61

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71

3 METODOLOGIA 75

31 Metodologia fenomenoloacutegica 75

311 Imaginaacuterio 77

32 Instrumento de coleta 78

33 Metodologia do designer 78

4 RESULTADOS 81

41 Definiccedilatildeo do problema 81

42 Busca da informaccedilatildeo 81

421 Painel de inspiraccedilatildeo 82

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82

43 Preacute-projeto 83

431 Croquis fase 1 83

432 Croquis fase 2 84

433Testes 88

44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89

441 Memoria teacutecnico descritiva 92

442 Desenho teacutecnico 93

4421 Molde painel 93

4422 Molde casa 94

4423 Molde display 94

4424 Molde telhado 95

4425 Molde ceacuteu 95

443 Materiais empregados 96

444 Sequencia Operacional 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99

6 REFERENCIAS 101

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a

atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais

especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o

consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design

pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e

transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de

vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da

Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo

O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como

representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de

um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-

Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio

pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a

comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio

Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-

se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio

de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo

propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na

metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de

vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru

A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem

determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar

as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma

representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina

de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru

Com os objetivos especiacuteficos de

Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio

social

Analisar os festejos juninos

Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica

dos elementos que a compotildeem (Layout)

15

Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015

eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e

serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731

veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio

contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10

mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual

(PEREIRA 2016)

Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma

o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas

cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das

Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local

(APL)1 do setor de confecccedilotildees

Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees

de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos

pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos

comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As

exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator

agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que

simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade

local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas

comerciais

Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em

especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez

que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e

que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional

Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais

cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se

a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto

monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de

design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local

1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)

16

Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos

que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe

(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e

fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o

POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas

no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)

Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco

capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo

geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na

construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu

identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do

imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as

transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo

No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade

atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da

mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram

usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo

deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda

a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo

interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda

No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o

projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta

inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as

consideraccedilotildees finais do projeto

2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular

211 Design e cultura material

As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como

suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma

referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo

de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente

quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo

Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento

de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do

projeto e do mercado

A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o

fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos

em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na

legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia

contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente

inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais

Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura

material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo

respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a

material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico

Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no

caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e

portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998

p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que

se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de

expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo

elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das

3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)

18

populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes

dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por

diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades

funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor

Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no

objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e

comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como

mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da

sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo

sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica

(CARDOSO 1998 e ONO 2006)

Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-

STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui

conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado

deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida

transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que

transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana

que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas

No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische

Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma

e alma

A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)

Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do

sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-

subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica

O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e

atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes

niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais

e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na

mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados

ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o

19

objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores

referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado

Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso

apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe

atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem

variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada

Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria

cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma

parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo

(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual

que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos

212 Cultura popular e festejos juninos

O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com

Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de

um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela

para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo

dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante

heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007

p 7)

Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou

seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo

entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura

popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para

projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo

estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que

a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a

mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e

globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior

percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)

e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que

este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo

20

pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento

em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva

A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)

A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes

culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)

em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de

acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira

hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura

popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da

conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)

O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia

atribuiacuteda aos objetos na cultura popular

Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)

Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura

popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles

Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui

ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem

ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)

tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma

que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os

agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia

Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma

pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se

dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que

segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-

21

moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas

tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees

E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas

festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as

festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas

origens

As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das

culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios

Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do

repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece

[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)

Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo

de vaacuterios agentes

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo

Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste

projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-

se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a

magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e

produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor

para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos

A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)

Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social

de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de

produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem

22

celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees

como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios

norte e sul

Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais

mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)

afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila

do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees

o calendaacuterio solar e os solstiacutecios

Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes

grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno

satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal

influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo

periacuteodo

A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para

os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal

festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento

Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO

2007 p 9)

Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio

e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer

(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que

viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte

o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os

nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz

(Babilocircnia)

Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a

conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a

vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente

os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das

colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses

deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a

um novo ciclo

23

Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)

O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa

Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir

a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a

deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo

inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o

periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de

frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)

O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)

Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi

adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram

a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute

conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que

tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por

realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista

[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)

Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo

acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar

24

comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na

Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista

Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em

toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de

junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe

foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode

haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio

da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol

quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e

a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER

1982 p 539 e 540)

As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho

homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo

Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs

inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados

Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e

pagamento de promessas

As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com

suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e

em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo

Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)

A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa

da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui

seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual

No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru

em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que

ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF

1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero

de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo

expressatildeo do imaginaacuterio coletivo

25

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade

A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio

catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o

ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo

Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social

Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)

Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa

pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio

antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado

em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia

de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de

fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito

maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente

A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais

da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas

muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de

comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo

articula-se com a cidade

Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva

A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas

cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos

o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)

A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos

que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem

puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo

os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)

As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que

compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando

diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas

ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto

com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]

26

manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas

sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade

da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e

objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo

os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)

Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura

que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma

que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde

ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que

acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o

mito

Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)

o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da

natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por

exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o

como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na

infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)

o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo

de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)

com o coletivo (macrocosmo universo)

Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de

interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru

Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para

as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia

de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual

presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o

moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo

As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows

gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das

festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do

Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra

e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock

Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto

do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru

27

hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da

cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro

que fazem parte da cultura popular caruaruense

Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o

hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais

diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de

contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos

alastrados pela cidade

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro

As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores

regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem

elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas

No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o

cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave

festa junina

Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da

populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que

atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo

se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou

nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos

outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno

de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa

[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou

individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos

que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido

4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco

28

ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI

1998 p 181)

Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem

a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da

cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas

tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A

apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos

histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo

os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde

o mito de Tamuz o mito fundador

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil

Quadrilhas juninas

A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve

sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na

Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha

(GIFFONI 1973)

No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser

copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e

festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas

a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados

pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que

levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural

A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica

velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma

identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha

agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular

brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes

7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas

29

o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo

teatral da danccedila nobre

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos

Fonte Acervo do autor

30

A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por

outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um

conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que

marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam

o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos

reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo

sua bravura e o xaxado10

Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao

menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta

estilizadas e recriadas

[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da

tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um

periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica

e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos

regionais (MENEZES NETO 2008 p12)

Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o

desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional

traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da

performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se

estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados

exibindo banguelas

A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das

festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com

roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da

mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por

fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam

um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar

as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de

comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)

8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros

31

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas

TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS

MATUTA ESTILIZADA RECRIADA

PERSONAGENS Noivos padre

delegado fofoqueiras

matutos

Noivos rainha e

princesa do milho

lampiatildeo e Maria

Bonita ciganos

Tem noivos e matutos

VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e

calccedilas em cores vivas

com remendos em

chita e xadrez

Os trajes satildeo os

mesmos mas ganham

lantejoulas brilhos

cetins

O vestuaacuterio voltou o

uso das chitas e

xadrezes agora

incorporados como

recortes da

indumentaacuteria

MAQUIAGEM Homens de bigodes

mulheres de sardas e

dentes todos pintados

de preto

Maquiagem de festa

profissionais

Maquiagem de festa

profissionais

MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do

momento

Forroacute coco xaxado

ciranda ritmos

regionais

MARCADOR Coordena a danccedila

marca cada mudanccedila

de passo

Anima a torcida a

evoluccedilatildeo acontece

sem nenhuma

influecircncia do puxador

Anima a torcida e se

integra agrave evoluccedilatildeo da

quadrilha por vezes

marca alguns passos

Fonte Menezes Neto 2008

Casamento matuto

O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da

mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na

atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma

saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um

becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a

ajuda do cangaccedilo

Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma

criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas

na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo

XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de

paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem

saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo

Comidas tiacutepicas juninas

32

As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho

amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram

cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo

Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela

colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e

cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma

A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no

Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de

diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro

deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas

as guloseimas juninas no tamanho gigante

Cidades cenograacuteficas

As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes

incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de

cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os

festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino

com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11

e restaurantes compondo a Vila do Forroacute

11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos

de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas

33

Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas

Fonte Acervo do autor

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador

Balatildeo

Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as

preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se

o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas

formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi

criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato

de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou

qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar

incecircndios em florestas e acidentes

34

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo

Fonte Acervo do autor

Fogueira

A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de

agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela

aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada

das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono

da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda

a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma

simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da

fogueira de Satildeo Joatildeo

35

Painel 04ndash Fogueira

Fonte Acervo do autor

Bandeirinhas

As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de

tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em

madeiras preparadas pelo povo

Painel 05ndash Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

36

O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-

lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta

possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que

antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um

padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)

Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia

de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa

(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto

com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos

Fonte Acervo do autor

Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos

juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina

37

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo

Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se

na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais

Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi

tratado anteriormente

Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de

Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de

Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela

Fonte RIBEIRO 2008

As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de

Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava

oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de

fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver

Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista

(RIBEIRO 2008 p 2)

38

Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento

modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas

pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus

trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta

de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001

p110)

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas

Fonte GREGGIO 2001 p121

Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um

premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no

trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe

deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o

tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e

senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)

39

Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas

obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das

formas e cores Como falou o pintor em entrevista

ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar

uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com

essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as

fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com

bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)

O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E

esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para

este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois

utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou

volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva

brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas

alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura

40

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p52

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p92

41

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p98 e 99

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design

A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design

Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria

imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o

siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores

coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes

perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico

No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees

para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com

pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos

estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a

cultura popular

Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha

Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com

esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura

06)

42

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok

Fonte (OXFORD 2013)

Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo

inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco

em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo

as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo

(Figura 07)

43

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2015)

O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca

registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram

inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um

casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas

e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa

de Satildeo Joatildeo

44

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2016)

Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre

abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre

as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma

publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de

2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas

acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo

Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa

apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)

12 Estado emocional

45

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina

Fonte (FORUM 2016)

A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que

estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina

apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e

xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo

46

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013

Fonte (FARM 2013)

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016

Fonte (FARM 2016)

Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de

festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas

fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar

A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as

latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A

Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)

47

que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse

cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo

eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol

Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava

Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)

O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento

da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em

ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral

acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo

48

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)

inspirados nas comidas tiacutepicas juninas

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas

com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos

nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo

para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas

dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos

49

juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao

caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil

Fonte (SUVINIL 2015)

O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas

inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste

brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram

desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias

50

22 A vitrina no societal

221 Design e vitrina

Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que

possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute

importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo

momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente

e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada

eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como

valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo

Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo

conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e

valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal

objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo

[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)

Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com

diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador

Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano

mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso

(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta

as ideias abstratas e subjetivas

Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade

Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social

junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo

artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade

projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo

comportamental de uma sociedade

51

Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda

marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das

transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se

apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem

a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo

num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo

Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas

diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato

assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis

para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se

necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design

pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo

inseridos os designers

Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para

uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008

p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de

bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema

em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma

apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo

cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre

que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e

consumidor

Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios

artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria

de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as

atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante

assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem

atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas

das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem

poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio

e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo

Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando

esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio

52

convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo

que eacute oferecido na vitrina

Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As

vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando

dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma

eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)

O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar

dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design

Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um

convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma

encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e

relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer

O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design

levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja

percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco

Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a

palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais

precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma

textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing

quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e

mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)

O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em

bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A

vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um

espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo

A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a

todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste

entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano

como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz

53

de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas

possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o

urbano

A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa

explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante

do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia

Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo

exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O

socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem

e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam

sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior

A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)

Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as

caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de

mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel

perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior

com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa

ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior

satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo

Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e

o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois

espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo

e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser

observada das duas perspectivas de espaccedilo

Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina

como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro

dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o

qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma

encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um

54

cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de

vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas

No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao

flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente

para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta

(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de

estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio

em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta

uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador

Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui

o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta

imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido

pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o

consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar

com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de

quem a observa

Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona

como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso

ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele

Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um

reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute

diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute

onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas

A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel

funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que

Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso

agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser

Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo

evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que

transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no

ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte

eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum

momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela

55

transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente

comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso

2221 As vidraccedilas na cidade

Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do

ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o

natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o

socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia

esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-

se e relacionando-se com o mundo

Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no

ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos

valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses

elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo

(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir

em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno

Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta

e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante

onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no

fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no

caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do

passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este

frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca

pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador

Para Michel Maffesoli

Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de

nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de

acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados

pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um

espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos

apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)

Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real

atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da

mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com

56

o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-

se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo

vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o

conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos

comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda

simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador

As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das

transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da

representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse

mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o

espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a

cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta

diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma

preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla

Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas

que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma

instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de

maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas

retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo

que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia

entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta

a sociedade por retratar o mito social

[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de

relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees

interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto

sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando

sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI

2010 p 63)

Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como

um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees

como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o

tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo

vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois

57

ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o

consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas

Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as

mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees

do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado

(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado

mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier

(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social

representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais

de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com

o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem

para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel

223 Da forma agrave vitrina

Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de

materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e

mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para

concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura

luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao

mesmo valores espaciais sensoriais e visuais

Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre

espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como

seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute

de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como

exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH

em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que

forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A

personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas

assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser

Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece

[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um

58

elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)

Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo

nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as

formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute

forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma

histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado

Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual

resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode

configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina

masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta

condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna

possiacutevel compreender o conjunto social

Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de

melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados

contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo

deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa

A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si

podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico

filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este

estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica

Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio

S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que

conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular

[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam

a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)

A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao

seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do

significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos

e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao

longo da pesquisa

59

Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica

definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a

palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute

constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto

conceito (significado natureza proacutepria)

Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute

comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim

como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma

interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os

impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do

universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura

configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no

campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio

A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que

a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e

ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em

funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra

coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)

chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o

invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que

forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se

organicamente entre si

2231 A esteacutetica da forma

Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais

neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do

observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a

expectativas sociais e culturais

Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e

que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos

13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado

grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)

60

O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir

sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza

e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua

explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo

que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas

na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo

eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p

12)

Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos

Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia

formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com

o outro

Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da

aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que

abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados

conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]

o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e

em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno

da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima

pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que

invade o iacutentimo do flanador

A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o

contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens

constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado

revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar

o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra

socializa

Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se

define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado

anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como

adereccedilos luz cores e produtos

Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas

Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma

espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de

61

pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano

salvo raras exceccedilotildees

A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior

ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus

contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra

claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc

A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute

determinante do equiliacutebrio entre suas variantes

O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o

produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de

toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)

Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha

em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens

coacutedigos identificaccedilotildees

A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que

se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que

se vive atualmente

E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira

estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem

da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura

burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)

Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a

vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira

fluiacuteda no espaccedilo vitrina

224 Sentidos e a vitrina

A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e

diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo

com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas

primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de

sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer

dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade

62

primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e

une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a

espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real

A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas

causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela

eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico

desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua

sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior

proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo

fascinante

Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do

olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um

olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem

refletida (BIGAL 2001 p 60)

Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o

seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo

revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um

jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a

imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia

As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas

com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a

fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de

projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios

desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio

de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que

estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente

na percepccedilatildeo do eu sobre o outro

Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute

caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a

partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco

(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com

o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees

taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz

pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto

63

espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do

homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os

elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do

tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao

ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa

estranha ao observador

[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do

bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele

que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada

rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)

O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por

muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as

marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para

ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar

de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de

experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato

mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de

degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como

complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia

do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho

As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade

que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as

iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa

com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de

pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)

Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados

na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel

tempo Barreto afirma que

[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)

64

Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos

seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no

imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento

Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de

calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009

criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca

em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois

o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar

a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente

vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela

experiecircncia

Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional

espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares

captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver

fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de

sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como

uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo

eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da

matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados

tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas

Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em

eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes

emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se

barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos

perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na

qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)

Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e

identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que

simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das

14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas

televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico

15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo

desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias

65

inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre

espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto

os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam

e satildeo percebidos por diferentes meios

A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto

antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo

designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por

experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento

emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo

das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro

a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute

comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal

objetivo mostrar-se

Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura

O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de

comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente

do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia

fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)

Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam

originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute

importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos

do contemplador

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo

O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido

ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio

como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser

cultural ao ser humano

Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria

Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia

faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de

66

simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a

p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de

simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na

sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o

designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os

coletivos (MIZANZUK 2007)

Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem

Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial

que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010

p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o

coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas

o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas

aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de

carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a

cultura de uma regiatildeo de um povo

O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos

objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando

uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo

eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma

Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura

Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme

Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura

Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade

Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos

tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego

satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo

a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o

espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado

os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)

16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados

detalhadamente no toacutepico seguinte

67

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC

Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014

Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente

vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com

o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo

aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente

do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado

pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir

o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por

exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles

(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na

chuva

Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute

vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico

enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim

como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-

68

chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-

chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos

os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados

que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o

valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito

ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro

O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que

compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem

da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito

O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que

possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do

homem a morte

Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos

de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina

Fonte FASHINMAG 2011

A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social

masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a

mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses

69

imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura

heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do

guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como

se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina

suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o

terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes

os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor

de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes

Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do

imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo

usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia

de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina

Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura

miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico

harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e

dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do

homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina

Fonte MBASIC 2014

70

Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento

redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda

Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume

aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica

em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta

As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que

orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda

roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o

tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo

quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo

na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes

que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees

e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa

que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes

As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram

analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de

Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos

e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo

passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O

Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim

como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento

com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim

como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos

como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo

menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam

perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para

que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas

71

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo

Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras

principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por

ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades

incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de

diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios

cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o

Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo

para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo

com o passante

Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e

representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse

conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais

clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da

vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo

O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que

a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo

os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos

como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em

duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez

que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa

junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas

Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem

maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima

satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se

sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante

72

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma

cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia

que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo

de um mito

73

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura

17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria

narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os

mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto

04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011

Fonte Pinterest 2016

74

Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

75

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo

Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio

urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que

transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina

31 Metodologia fenomenoloacutegica

A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute

abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de

abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e

estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos

lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica

(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-

hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar

projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo

meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa

Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico

quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise

eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a

investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a

complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud

MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados

coletados nesse projeto eacute qualitativa

A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de

Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos

permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos

Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a

fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia

imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo

Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se

a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco

Ainda segundo a autora

76

[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)

A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a

ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um

ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada

como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa

Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento

filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl

considerado o pai da fenomenologia

A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)

A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo

verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos

de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo

de um uacutenico fenocircmeno

A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)

Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede

direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-

Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram

influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o

desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto

Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica

[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e

77

objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)

Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia

sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao

ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo

restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli

aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado

na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o

resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um

sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)

311 Imaginaacuterio

Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social

perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este

processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real

ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre

esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca

(PITTA 2005 p147)

A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo

abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em

sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir

do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli

(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a

experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma

visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o

imaginaacuterio e o prazer dos sentidos

Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o

aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de

mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma

melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo

fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel

eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o

fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste

78

meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida

cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave

origem do fenocircmeno

32 Instrumento de coleta

Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto

diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa

sendo o primeiro a ser empregado

Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e

explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e

trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao

projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa

cientifica

Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos

fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos

design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees

Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e

mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite

um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da

aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar

hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este

permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina

33 Metodologia do designer

Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por

Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que

tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento

de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de

um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes

de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas

consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor

adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia

79

para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem

vir a se desdobrarem

Metodologia projetual de Cerver

Fase 1 Definiccedilatildeo do problema

A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e

a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer

Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O

designer deve responder

Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos

Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais

Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam

Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc

Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)

Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos

requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser

respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto

A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como

a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos

objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)

afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde

seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente

Fase 2 Busca de informaccedilotildees

A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-

se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins

com os objetivos do projeto

Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e

igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados

O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro

fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias

80

existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado

a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e

manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)

Fase 3 Preacute-projeto

Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias

viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias

selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema

em questatildeo

Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e

protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os

fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos

projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de

geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute

uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual

Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto

Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias

necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do

mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente

Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e

ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve

ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para

montagem da mesma

Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos

o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois

da implantaccedilatildeo da vitrina

81

4 RESULTADOS

Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da

abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de

desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a

ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor

41 Definiccedilatildeo do problema

O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o

mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar

as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo

empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico

A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia

fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de

baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a

composiccedilatildeo da mesma

A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres

adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina

foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que

a festa junina tem em si

Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo

do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu

desenvolvimento

42 Busca da informaccedilatildeo

Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a

festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo

do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA

e papeis para compor a vitrina

Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como

Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em

outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas

82

421 Painel de inspiraccedilatildeo

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina

Fonte Acervo do autor

83

43 Preacute-projeto

431 Croquis fase 1

A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da

festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora

das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em

questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis

de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas

No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as

bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas

natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade

cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal

material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados

foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza

multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo

Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no

imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser

passado neste projeto

Desenho 01 ndash Croqui A

Fonte Acervo do autor

No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente

quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a

compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto

84

quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto

negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar

se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo

das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o

paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser

apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este

segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio

que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina

Desenho 02 ndash Croqui B

Fonte Acervo do autor

432 Croquis fase 2

Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto

considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior

Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser

usado na configuraccedilatildeo do projeto

No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha

de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo

passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro

croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das

85

manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse

aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No

sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas

possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro

do vento

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

86

Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase

anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores

aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada

anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como

bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e

dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e

movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira

Fonte Acervo do autor

87

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira

Fonte Acervo do autor

Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel

13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo

nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos

como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das

quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

88

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores

materiais e texturas

433Testes

No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para

estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel

tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as

bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17

Painel 14 ndash Teste 1

Fonte Acervo do autor

17

89

No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o

EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou

a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica

de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste

para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se

distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido

e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser

retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas

do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos

desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina

Foto 04 ndashTeste 2

Fonte Acervo do autor

44 Apresentaccedilatildeo do projeto

Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que

compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no

teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos

contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor

90

selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto

as demais cores

As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas

obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)

Painel 15 ndash Cores de Volpi

Fonte MATTAR 2014

Figura 18 ndash Cartela de cores

Fonte Acervo do autor

Estudo das combinaccedilotildees das cores

91

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores

Fonte Acervo do autor

Outras possiacuteveis combinaccedilotildees

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores

Fonte Acervo do autor

92

Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis

de diferentes finalidades e texturas

Foto 05 ndash Teste Final

Fonte Acervo do autor

441 Memoria teacutecnico descritiva

Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho

teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura

com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas

as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo

93

442 Desenho teacutecnico

4421 Molde painel

Vetor 01 ndash Painel vitrina

Fonte Acervo do autor

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas

Fonte Acervo do autor

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais

Fonte Acervo do autor

94

4422 Molde casa

Vetor 04 ndash Molde casa

Fonte Acervo do autor

4423 Molde display

Vetor 05 ndash Molde display

Fonte Acervo do autor

95

4424 Molde telhado

Vetor 06 ndash Molde telhado

Fonte Acervo do autor

4425 Molde ceacuteu

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu

Fonte Acervo do autor

96

443 Materiais empregados

Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80

espessura 09 mm nos telhados e displays

Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em

especial nos telhados) (Foto 6)

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado

Fonte Acervo do autor

Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina

guache (Foto 07) sobre papel camurccedila

Foto 07 ndash Cartolina guache

Fonte Acervo do autor

97

Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado

(Foto 08)

Foto 08 ndash Papel contato laminado

Fonte Acervo do autor

Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros

escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita

dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para

transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete

Fonte Acervo do autor

98

444 Sequencia Operacional

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia

Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo

OP Sequencia Operacional Ferramentas

1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal

2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas

respectivas cores no papelatildeo canelado

Tesoura papel carbono e

laacutepis

3 Cortar os moldes casa base display e painel C e

bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina

guache

Tesoura estilete reacutegua de

metal papel carbono e

laacutepis

4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e

laacutepis

5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em

cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar

com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais

moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio

Tesoura papel carbono e

laacutepis

6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP

4) Reservar

Cola para papel e pincel

7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal

8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida

9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais

moldes cortados nas OP 3 e OP 4

Cola para papel e pincel

10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as

combinaccedilotildees de cores

Cola para papel e pincel

12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e

luminaacuteria

13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

14 Colar uma casa na outra Fita dupla face

15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida

furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila

Laacutepis reacutegua furador

16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a

disposiccedilatildeo da base ceacuteu

Cola para papel e pincel

17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face

Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face

18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees

eleacutetricas por traacutes da base da vitrina

Fita dupla face

19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares

marcados

Furador

Fonte Acervo do autor

As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem

e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto

99

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e

projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender

agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa

foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as

simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo

da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal

Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida

pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que

o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a

vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao

construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a

marca e sua identidade

O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como

representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na

cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como

meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a

relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina

como exemplo dessa relaccedilatildeo

Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo

simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para

configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no

contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta

de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru

Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design

para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da

teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente

duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas

discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi

possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem

da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e

representante do imaginaacuterio social

100

A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no

periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor

O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do

imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina

enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal

E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com

ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de

poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram

enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho

contribuiu para um emprego mais social do produto de design

Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e

experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui

utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura

popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado

local

Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo

de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes

da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada

principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no

desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro

comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver

Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o

design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao

projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento

para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas

A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo

canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe

uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si

mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa

interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma

possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade

101

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RESUMO

A predileccedilatildeo por esse tema se deu principalmente pela experiecircncia vivida em

Caruaru de perceber como a cultura eacute valorizada e enraizada na cidade Tendo o

conhecimento de design e da vitrina como ferramentas de comunicaccedilatildeo social e

considerando a importacircncia econocircmica e cultural que os festejos de Satildeo Joatildeo

representam para a cidade Foi apresentada uma proposta de vitrina de moda

acatando os aspectos culturais e sociais da cidade como principal ecircnfase natildeo

havendo discriminaccedilatildeo de puacuteblico-alvo e cliente O principal objetivo foi verificar o

emprego da metodologia fenomenoloacutegica e da teoria do imaginaacuterio para o

desenvolvimento da vitrina que teve como tema as festas juninas Este processo

tornou possiacutevel a apresentaccedilatildeo de uma proposta de aproximaccedilatildeo entre a universidade

e a cidade atraveacutes do potencial esteacutetico que o designer pode oferecer como

diferencial aplicando seus meacutetodos e saberes as vitrinas de moda

Palavras-Chaves Vitrina Design Imaginaacuterio Festa de Satildeo Joatildeo

ABSTRACT

The predilection for this theme was mainly due to the experience lived in

Caruaru to realize how culture is valued and rooted in the city Having the knowledge

of the design and the showcase as tools of social communication and considering the

economic and cultural importance that the celebration of Saint Johnrsquos party represent

for the city It was presented a proposal of fashion showcase store abiding the cultural

and social aspects of the city as the main emphasis there being no discrimination of

target audience and costumer The main objective was to verify the employment of the

phenomenological methology and the theory of imaginary for the development of the

showcase which had as theme the Junersquos festivities This process has made it

possible to present a proporsal of approximation between the university and the city

through the aesthetic potencial that the designer can offer as differential applying his

methods and knowledge to the fashion showcase

Key-Words Showcase Design Imaginary Saint John Festival

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29

Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34

Painel 04ndash Fogueira 35

Painel 05ndash Bandeirinhas 35

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de

70 40

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de

festa 150ml 48

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73

Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82

Desenho 01 ndash Croqui A 83

Desenho 02 ndash Croqui B 84

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88

Painel 14 ndash Teste 1 88

Foto 04 ndashTeste 2 89

Painel 15 ndash Cores de Volpi 90

Figura 18 ndash Cartela de cores 90

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91

Foto 05 ndash Teste Final 92

Vetor 01 ndash Painel vitrina 93

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93

Vetor 04 ndash Molde casa 94

Vetor 05 ndash Molde display 94

Vetor 06 ndash Molde telhado 95

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96

Foto 07 ndash Cartolina guache 96

Foto 08 ndash Papel contato laminado 97

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17

211 Design e cultura material 17

212 Cultura popular e festejos juninos 19

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41

22 A vitrina no societal 50

221 Design e vitrina 50

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52

2221 As vidraccedilas na cidade 55

223 Da forma agrave vitrina 57

2231 A esteacutetica da forma 59

224 Sentidos e a vitrina 61

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71

3 METODOLOGIA 75

31 Metodologia fenomenoloacutegica 75

311 Imaginaacuterio 77

32 Instrumento de coleta 78

33 Metodologia do designer 78

4 RESULTADOS 81

41 Definiccedilatildeo do problema 81

42 Busca da informaccedilatildeo 81

421 Painel de inspiraccedilatildeo 82

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82

43 Preacute-projeto 83

431 Croquis fase 1 83

432 Croquis fase 2 84

433Testes 88

44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89

441 Memoria teacutecnico descritiva 92

442 Desenho teacutecnico 93

4421 Molde painel 93

4422 Molde casa 94

4423 Molde display 94

4424 Molde telhado 95

4425 Molde ceacuteu 95

443 Materiais empregados 96

444 Sequencia Operacional 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99

6 REFERENCIAS 101

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a

atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais

especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o

consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design

pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e

transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de

vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da

Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo

O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como

representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de

um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-

Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio

pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a

comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio

Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-

se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio

de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo

propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na

metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de

vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru

A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem

determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar

as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma

representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina

de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru

Com os objetivos especiacuteficos de

Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio

social

Analisar os festejos juninos

Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica

dos elementos que a compotildeem (Layout)

15

Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015

eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e

serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731

veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio

contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10

mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual

(PEREIRA 2016)

Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma

o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas

cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das

Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local

(APL)1 do setor de confecccedilotildees

Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees

de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos

pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos

comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As

exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator

agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que

simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade

local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas

comerciais

Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em

especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez

que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e

que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional

Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais

cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se

a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto

monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de

design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local

1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)

16

Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos

que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe

(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e

fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o

POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas

no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)

Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco

capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo

geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na

construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu

identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do

imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as

transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo

No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade

atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da

mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram

usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo

deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda

a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo

interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda

No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o

projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta

inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as

consideraccedilotildees finais do projeto

2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular

211 Design e cultura material

As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como

suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma

referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo

de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente

quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo

Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento

de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do

projeto e do mercado

A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o

fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos

em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na

legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia

contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente

inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais

Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura

material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo

respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a

material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico

Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no

caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e

portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998

p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que

se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de

expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo

elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das

3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)

18

populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes

dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por

diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades

funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor

Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no

objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e

comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como

mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da

sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo

sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica

(CARDOSO 1998 e ONO 2006)

Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-

STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui

conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado

deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida

transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que

transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana

que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas

No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische

Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma

e alma

A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)

Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do

sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-

subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica

O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e

atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes

niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais

e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na

mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados

ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o

19

objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores

referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado

Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso

apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe

atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem

variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada

Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria

cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma

parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo

(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual

que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos

212 Cultura popular e festejos juninos

O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com

Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de

um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela

para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo

dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante

heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007

p 7)

Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou

seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo

entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura

popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para

projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo

estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que

a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a

mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e

globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior

percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)

e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que

este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo

20

pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento

em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva

A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)

A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes

culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)

em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de

acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira

hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura

popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da

conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)

O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia

atribuiacuteda aos objetos na cultura popular

Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)

Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura

popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles

Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui

ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem

ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)

tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma

que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os

agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia

Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma

pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se

dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que

segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-

21

moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas

tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees

E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas

festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as

festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas

origens

As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das

culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios

Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do

repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece

[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)

Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo

de vaacuterios agentes

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo

Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste

projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-

se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a

magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e

produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor

para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos

A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)

Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social

de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de

produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem

22

celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees

como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios

norte e sul

Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais

mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)

afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila

do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees

o calendaacuterio solar e os solstiacutecios

Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes

grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno

satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal

influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo

periacuteodo

A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para

os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal

festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento

Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO

2007 p 9)

Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio

e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer

(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que

viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte

o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os

nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz

(Babilocircnia)

Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a

conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a

vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente

os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das

colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses

deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a

um novo ciclo

23

Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)

O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa

Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir

a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a

deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo

inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o

periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de

frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)

O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)

Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi

adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram

a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute

conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que

tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por

realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista

[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)

Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo

acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar

24

comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na

Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista

Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em

toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de

junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe

foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode

haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio

da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol

quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e

a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER

1982 p 539 e 540)

As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho

homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo

Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs

inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados

Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e

pagamento de promessas

As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com

suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e

em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo

Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)

A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa

da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui

seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual

No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru

em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que

ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF

1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero

de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo

expressatildeo do imaginaacuterio coletivo

25

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade

A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio

catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o

ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo

Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social

Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)

Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa

pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio

antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado

em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia

de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de

fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito

maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente

A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais

da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas

muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de

comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo

articula-se com a cidade

Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva

A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas

cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos

o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)

A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos

que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem

puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo

os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)

As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que

compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando

diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas

ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto

com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]

26

manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas

sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade

da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e

objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo

os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)

Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura

que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma

que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde

ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que

acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o

mito

Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)

o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da

natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por

exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o

como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na

infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)

o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo

de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)

com o coletivo (macrocosmo universo)

Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de

interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru

Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para

as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia

de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual

presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o

moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo

As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows

gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das

festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do

Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra

e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock

Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto

do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru

27

hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da

cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro

que fazem parte da cultura popular caruaruense

Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o

hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais

diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de

contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos

alastrados pela cidade

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro

As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores

regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem

elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas

No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o

cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave

festa junina

Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da

populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que

atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo

se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou

nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos

outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno

de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa

[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou

individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos

que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido

4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco

28

ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI

1998 p 181)

Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem

a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da

cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas

tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A

apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos

histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo

os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde

o mito de Tamuz o mito fundador

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil

Quadrilhas juninas

A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve

sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na

Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha

(GIFFONI 1973)

No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser

copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e

festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas

a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados

pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que

levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural

A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica

velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma

identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha

agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular

brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes

7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas

29

o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo

teatral da danccedila nobre

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos

Fonte Acervo do autor

30

A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por

outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um

conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que

marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam

o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos

reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo

sua bravura e o xaxado10

Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao

menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta

estilizadas e recriadas

[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da

tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um

periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica

e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos

regionais (MENEZES NETO 2008 p12)

Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o

desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional

traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da

performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se

estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados

exibindo banguelas

A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das

festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com

roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da

mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por

fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam

um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar

as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de

comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)

8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros

31

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas

TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS

MATUTA ESTILIZADA RECRIADA

PERSONAGENS Noivos padre

delegado fofoqueiras

matutos

Noivos rainha e

princesa do milho

lampiatildeo e Maria

Bonita ciganos

Tem noivos e matutos

VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e

calccedilas em cores vivas

com remendos em

chita e xadrez

Os trajes satildeo os

mesmos mas ganham

lantejoulas brilhos

cetins

O vestuaacuterio voltou o

uso das chitas e

xadrezes agora

incorporados como

recortes da

indumentaacuteria

MAQUIAGEM Homens de bigodes

mulheres de sardas e

dentes todos pintados

de preto

Maquiagem de festa

profissionais

Maquiagem de festa

profissionais

MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do

momento

Forroacute coco xaxado

ciranda ritmos

regionais

MARCADOR Coordena a danccedila

marca cada mudanccedila

de passo

Anima a torcida a

evoluccedilatildeo acontece

sem nenhuma

influecircncia do puxador

Anima a torcida e se

integra agrave evoluccedilatildeo da

quadrilha por vezes

marca alguns passos

Fonte Menezes Neto 2008

Casamento matuto

O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da

mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na

atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma

saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um

becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a

ajuda do cangaccedilo

Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma

criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas

na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo

XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de

paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem

saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo

Comidas tiacutepicas juninas

32

As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho

amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram

cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo

Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela

colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e

cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma

A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no

Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de

diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro

deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas

as guloseimas juninas no tamanho gigante

Cidades cenograacuteficas

As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes

incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de

cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os

festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino

com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11

e restaurantes compondo a Vila do Forroacute

11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos

de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas

33

Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas

Fonte Acervo do autor

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador

Balatildeo

Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as

preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se

o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas

formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi

criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato

de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou

qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar

incecircndios em florestas e acidentes

34

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo

Fonte Acervo do autor

Fogueira

A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de

agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela

aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada

das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono

da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda

a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma

simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da

fogueira de Satildeo Joatildeo

35

Painel 04ndash Fogueira

Fonte Acervo do autor

Bandeirinhas

As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de

tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em

madeiras preparadas pelo povo

Painel 05ndash Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

36

O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-

lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta

possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que

antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um

padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)

Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia

de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa

(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto

com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos

Fonte Acervo do autor

Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos

juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina

37

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo

Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se

na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais

Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi

tratado anteriormente

Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de

Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de

Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela

Fonte RIBEIRO 2008

As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de

Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava

oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de

fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver

Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista

(RIBEIRO 2008 p 2)

38

Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento

modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas

pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus

trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta

de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001

p110)

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas

Fonte GREGGIO 2001 p121

Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um

premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no

trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe

deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o

tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e

senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)

39

Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas

obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das

formas e cores Como falou o pintor em entrevista

ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar

uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com

essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as

fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com

bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)

O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E

esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para

este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois

utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou

volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva

brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas

alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura

40

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p52

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p92

41

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p98 e 99

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design

A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design

Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria

imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o

siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores

coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes

perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico

No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees

para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com

pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos

estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a

cultura popular

Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha

Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com

esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura

06)

42

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok

Fonte (OXFORD 2013)

Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo

inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco

em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo

as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo

(Figura 07)

43

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2015)

O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca

registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram

inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um

casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas

e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa

de Satildeo Joatildeo

44

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2016)

Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre

abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre

as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma

publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de

2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas

acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo

Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa

apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)

12 Estado emocional

45

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina

Fonte (FORUM 2016)

A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que

estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina

apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e

xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo

46

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013

Fonte (FARM 2013)

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016

Fonte (FARM 2016)

Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de

festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas

fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar

A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as

latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A

Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)

47

que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse

cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo

eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol

Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava

Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)

O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento

da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em

ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral

acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo

48

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)

inspirados nas comidas tiacutepicas juninas

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas

com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos

nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo

para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas

dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos

49

juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao

caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil

Fonte (SUVINIL 2015)

O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas

inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste

brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram

desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias

50

22 A vitrina no societal

221 Design e vitrina

Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que

possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute

importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo

momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente

e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada

eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como

valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo

Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo

conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e

valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal

objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo

[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)

Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com

diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador

Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano

mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso

(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta

as ideias abstratas e subjetivas

Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade

Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social

junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo

artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade

projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo

comportamental de uma sociedade

51

Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda

marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das

transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se

apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem

a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo

num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo

Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas

diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato

assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis

para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se

necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design

pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo

inseridos os designers

Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para

uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008

p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de

bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema

em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma

apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo

cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre

que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e

consumidor

Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios

artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria

de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as

atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante

assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem

atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas

das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem

poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio

e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo

Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando

esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio

52

convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo

que eacute oferecido na vitrina

Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As

vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando

dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma

eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)

O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar

dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design

Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um

convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma

encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e

relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer

O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design

levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja

percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco

Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a

palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais

precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma

textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing

quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e

mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)

O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em

bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A

vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um

espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo

A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a

todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste

entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano

como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz

53

de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas

possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o

urbano

A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa

explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante

do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia

Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo

exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O

socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem

e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam

sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior

A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)

Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as

caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de

mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel

perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior

com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa

ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior

satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo

Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e

o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois

espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo

e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser

observada das duas perspectivas de espaccedilo

Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina

como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro

dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o

qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma

encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um

54

cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de

vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas

No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao

flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente

para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta

(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de

estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio

em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta

uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador

Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui

o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta

imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido

pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o

consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar

com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de

quem a observa

Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona

como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso

ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele

Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um

reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute

diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute

onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas

A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel

funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que

Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso

agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser

Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo

evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que

transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no

ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte

eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum

momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela

55

transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente

comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso

2221 As vidraccedilas na cidade

Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do

ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o

natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o

socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia

esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-

se e relacionando-se com o mundo

Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no

ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos

valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses

elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo

(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir

em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno

Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta

e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante

onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no

fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no

caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do

passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este

frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca

pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador

Para Michel Maffesoli

Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de

nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de

acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados

pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um

espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos

apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)

Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real

atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da

mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com

56

o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-

se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo

vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o

conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos

comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda

simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador

As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das

transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da

representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse

mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o

espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a

cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta

diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma

preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla

Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas

que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma

instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de

maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas

retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo

que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia

entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta

a sociedade por retratar o mito social

[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de

relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees

interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto

sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando

sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI

2010 p 63)

Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como

um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees

como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o

tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo

vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois

57

ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o

consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas

Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as

mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees

do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado

(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado

mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier

(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social

representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais

de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com

o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem

para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel

223 Da forma agrave vitrina

Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de

materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e

mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para

concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura

luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao

mesmo valores espaciais sensoriais e visuais

Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre

espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como

seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute

de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como

exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH

em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que

forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A

personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas

assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser

Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece

[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um

58

elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)

Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo

nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as

formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute

forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma

histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado

Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual

resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode

configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina

masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta

condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna

possiacutevel compreender o conjunto social

Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de

melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados

contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo

deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa

A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si

podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico

filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este

estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica

Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio

S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que

conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular

[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam

a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)

A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao

seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do

significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos

e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao

longo da pesquisa

59

Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica

definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a

palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute

constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto

conceito (significado natureza proacutepria)

Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute

comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim

como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma

interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os

impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do

universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura

configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no

campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio

A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que

a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e

ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em

funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra

coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)

chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o

invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que

forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se

organicamente entre si

2231 A esteacutetica da forma

Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais

neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do

observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a

expectativas sociais e culturais

Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e

que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos

13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado

grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)

60

O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir

sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza

e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua

explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo

que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas

na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo

eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p

12)

Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos

Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia

formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com

o outro

Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da

aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que

abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados

conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]

o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e

em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno

da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima

pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que

invade o iacutentimo do flanador

A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o

contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens

constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado

revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar

o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra

socializa

Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se

define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado

anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como

adereccedilos luz cores e produtos

Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas

Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma

espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de

61

pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano

salvo raras exceccedilotildees

A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior

ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus

contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra

claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc

A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute

determinante do equiliacutebrio entre suas variantes

O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o

produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de

toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)

Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha

em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens

coacutedigos identificaccedilotildees

A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que

se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que

se vive atualmente

E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira

estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem

da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura

burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)

Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a

vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira

fluiacuteda no espaccedilo vitrina

224 Sentidos e a vitrina

A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e

diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo

com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas

primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de

sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer

dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade

62

primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e

une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a

espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real

A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas

causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela

eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico

desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua

sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior

proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo

fascinante

Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do

olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um

olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem

refletida (BIGAL 2001 p 60)

Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o

seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo

revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um

jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a

imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia

As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas

com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a

fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de

projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios

desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio

de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que

estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente

na percepccedilatildeo do eu sobre o outro

Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute

caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a

partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco

(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com

o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees

taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz

pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto

63

espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do

homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os

elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do

tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao

ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa

estranha ao observador

[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do

bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele

que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada

rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)

O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por

muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as

marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para

ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar

de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de

experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato

mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de

degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como

complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia

do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho

As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade

que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as

iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa

com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de

pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)

Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados

na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel

tempo Barreto afirma que

[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)

64

Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos

seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no

imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento

Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de

calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009

criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca

em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois

o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar

a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente

vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela

experiecircncia

Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional

espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares

captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver

fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de

sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como

uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo

eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da

matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados

tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas

Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em

eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes

emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se

barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos

perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na

qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)

Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e

identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que

simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das

14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas

televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico

15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo

desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias

65

inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre

espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto

os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam

e satildeo percebidos por diferentes meios

A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto

antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo

designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por

experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento

emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo

das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro

a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute

comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal

objetivo mostrar-se

Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura

O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de

comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente

do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia

fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)

Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam

originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute

importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos

do contemplador

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo

O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido

ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio

como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser

cultural ao ser humano

Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria

Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia

faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de

66

simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a

p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de

simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na

sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o

designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os

coletivos (MIZANZUK 2007)

Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem

Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial

que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010

p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o

coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas

o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas

aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de

carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a

cultura de uma regiatildeo de um povo

O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos

objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando

uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo

eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma

Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura

Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme

Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura

Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade

Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos

tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego

satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo

a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o

espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado

os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)

16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados

detalhadamente no toacutepico seguinte

67

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC

Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014

Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente

vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com

o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo

aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente

do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado

pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir

o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por

exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles

(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na

chuva

Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute

vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico

enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim

como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-

68

chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-

chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos

os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados

que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o

valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito

ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro

O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que

compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem

da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito

O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que

possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do

homem a morte

Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos

de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina

Fonte FASHINMAG 2011

A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social

masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a

mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses

69

imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura

heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do

guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como

se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina

suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o

terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes

os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor

de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes

Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do

imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo

usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia

de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina

Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura

miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico

harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e

dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do

homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina

Fonte MBASIC 2014

70

Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento

redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda

Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume

aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica

em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta

As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que

orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda

roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o

tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo

quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo

na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes

que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees

e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa

que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes

As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram

analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de

Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos

e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo

passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O

Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim

como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento

com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim

como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos

como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo

menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam

perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para

que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas

71

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo

Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras

principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por

ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades

incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de

diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios

cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o

Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo

para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo

com o passante

Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e

representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse

conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais

clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da

vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo

O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que

a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo

os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos

como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em

duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez

que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa

junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas

Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem

maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima

satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se

sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante

72

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma

cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia

que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo

de um mito

73

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura

17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria

narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os

mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto

04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011

Fonte Pinterest 2016

74

Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

75

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo

Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio

urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que

transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina

31 Metodologia fenomenoloacutegica

A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute

abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de

abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e

estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos

lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica

(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-

hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar

projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo

meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa

Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico

quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise

eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a

investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a

complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud

MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados

coletados nesse projeto eacute qualitativa

A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de

Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos

permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos

Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a

fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia

imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo

Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se

a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco

Ainda segundo a autora

76

[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)

A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a

ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um

ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada

como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa

Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento

filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl

considerado o pai da fenomenologia

A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)

A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo

verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos

de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo

de um uacutenico fenocircmeno

A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)

Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede

direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-

Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram

influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o

desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto

Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica

[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e

77

objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)

Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia

sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao

ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo

restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli

aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado

na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o

resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um

sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)

311 Imaginaacuterio

Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social

perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este

processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real

ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre

esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca

(PITTA 2005 p147)

A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo

abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em

sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir

do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli

(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a

experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma

visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o

imaginaacuterio e o prazer dos sentidos

Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o

aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de

mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma

melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo

fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel

eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o

fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste

78

meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida

cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave

origem do fenocircmeno

32 Instrumento de coleta

Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto

diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa

sendo o primeiro a ser empregado

Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e

explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e

trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao

projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa

cientifica

Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos

fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos

design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees

Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e

mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite

um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da

aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar

hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este

permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina

33 Metodologia do designer

Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por

Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que

tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento

de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de

um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes

de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas

consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor

adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia

79

para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem

vir a se desdobrarem

Metodologia projetual de Cerver

Fase 1 Definiccedilatildeo do problema

A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e

a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer

Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O

designer deve responder

Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos

Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais

Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam

Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc

Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)

Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos

requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser

respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto

A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como

a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos

objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)

afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde

seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente

Fase 2 Busca de informaccedilotildees

A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-

se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins

com os objetivos do projeto

Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e

igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados

O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro

fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias

80

existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado

a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e

manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)

Fase 3 Preacute-projeto

Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias

viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias

selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema

em questatildeo

Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e

protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os

fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos

projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de

geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute

uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual

Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto

Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias

necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do

mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente

Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e

ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve

ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para

montagem da mesma

Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos

o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois

da implantaccedilatildeo da vitrina

81

4 RESULTADOS

Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da

abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de

desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a

ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor

41 Definiccedilatildeo do problema

O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o

mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar

as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo

empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico

A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia

fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de

baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a

composiccedilatildeo da mesma

A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres

adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina

foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que

a festa junina tem em si

Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo

do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu

desenvolvimento

42 Busca da informaccedilatildeo

Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a

festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo

do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA

e papeis para compor a vitrina

Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como

Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em

outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas

82

421 Painel de inspiraccedilatildeo

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina

Fonte Acervo do autor

83

43 Preacute-projeto

431 Croquis fase 1

A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da

festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora

das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em

questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis

de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas

No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as

bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas

natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade

cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal

material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados

foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza

multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo

Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no

imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser

passado neste projeto

Desenho 01 ndash Croqui A

Fonte Acervo do autor

No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente

quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a

compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto

84

quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto

negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar

se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo

das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o

paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser

apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este

segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio

que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina

Desenho 02 ndash Croqui B

Fonte Acervo do autor

432 Croquis fase 2

Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto

considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior

Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser

usado na configuraccedilatildeo do projeto

No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha

de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo

passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro

croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das

85

manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse

aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No

sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas

possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro

do vento

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

86

Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase

anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores

aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada

anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como

bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e

dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e

movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira

Fonte Acervo do autor

87

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira

Fonte Acervo do autor

Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel

13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo

nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos

como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das

quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

88

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores

materiais e texturas

433Testes

No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para

estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel

tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as

bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17

Painel 14 ndash Teste 1

Fonte Acervo do autor

17

89

No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o

EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou

a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica

de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste

para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se

distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido

e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser

retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas

do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos

desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina

Foto 04 ndashTeste 2

Fonte Acervo do autor

44 Apresentaccedilatildeo do projeto

Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que

compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no

teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos

contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor

90

selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto

as demais cores

As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas

obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)

Painel 15 ndash Cores de Volpi

Fonte MATTAR 2014

Figura 18 ndash Cartela de cores

Fonte Acervo do autor

Estudo das combinaccedilotildees das cores

91

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores

Fonte Acervo do autor

Outras possiacuteveis combinaccedilotildees

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores

Fonte Acervo do autor

92

Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis

de diferentes finalidades e texturas

Foto 05 ndash Teste Final

Fonte Acervo do autor

441 Memoria teacutecnico descritiva

Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho

teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura

com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas

as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo

93

442 Desenho teacutecnico

4421 Molde painel

Vetor 01 ndash Painel vitrina

Fonte Acervo do autor

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas

Fonte Acervo do autor

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais

Fonte Acervo do autor

94

4422 Molde casa

Vetor 04 ndash Molde casa

Fonte Acervo do autor

4423 Molde display

Vetor 05 ndash Molde display

Fonte Acervo do autor

95

4424 Molde telhado

Vetor 06 ndash Molde telhado

Fonte Acervo do autor

4425 Molde ceacuteu

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu

Fonte Acervo do autor

96

443 Materiais empregados

Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80

espessura 09 mm nos telhados e displays

Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em

especial nos telhados) (Foto 6)

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado

Fonte Acervo do autor

Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina

guache (Foto 07) sobre papel camurccedila

Foto 07 ndash Cartolina guache

Fonte Acervo do autor

97

Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado

(Foto 08)

Foto 08 ndash Papel contato laminado

Fonte Acervo do autor

Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros

escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita

dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para

transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete

Fonte Acervo do autor

98

444 Sequencia Operacional

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia

Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo

OP Sequencia Operacional Ferramentas

1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal

2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas

respectivas cores no papelatildeo canelado

Tesoura papel carbono e

laacutepis

3 Cortar os moldes casa base display e painel C e

bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina

guache

Tesoura estilete reacutegua de

metal papel carbono e

laacutepis

4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e

laacutepis

5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em

cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar

com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais

moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio

Tesoura papel carbono e

laacutepis

6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP

4) Reservar

Cola para papel e pincel

7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal

8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida

9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais

moldes cortados nas OP 3 e OP 4

Cola para papel e pincel

10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as

combinaccedilotildees de cores

Cola para papel e pincel

12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e

luminaacuteria

13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

14 Colar uma casa na outra Fita dupla face

15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida

furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila

Laacutepis reacutegua furador

16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a

disposiccedilatildeo da base ceacuteu

Cola para papel e pincel

17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face

Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face

18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees

eleacutetricas por traacutes da base da vitrina

Fita dupla face

19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares

marcados

Furador

Fonte Acervo do autor

As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem

e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto

99

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e

projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender

agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa

foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as

simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo

da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal

Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida

pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que

o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a

vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao

construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a

marca e sua identidade

O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como

representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na

cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como

meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a

relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina

como exemplo dessa relaccedilatildeo

Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo

simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para

configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no

contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta

de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru

Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design

para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da

teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente

duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas

discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi

possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem

da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e

representante do imaginaacuterio social

100

A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no

periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor

O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do

imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina

enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal

E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com

ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de

poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram

enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho

contribuiu para um emprego mais social do produto de design

Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e

experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui

utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura

popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado

local

Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo

de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes

da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada

principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no

desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro

comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver

Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o

design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao

projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento

para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas

A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo

canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe

uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si

mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa

interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma

possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade

101

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ABSTRACT

The predilection for this theme was mainly due to the experience lived in

Caruaru to realize how culture is valued and rooted in the city Having the knowledge

of the design and the showcase as tools of social communication and considering the

economic and cultural importance that the celebration of Saint Johnrsquos party represent

for the city It was presented a proposal of fashion showcase store abiding the cultural

and social aspects of the city as the main emphasis there being no discrimination of

target audience and costumer The main objective was to verify the employment of the

phenomenological methology and the theory of imaginary for the development of the

showcase which had as theme the Junersquos festivities This process has made it

possible to present a proporsal of approximation between the university and the city

through the aesthetic potencial that the designer can offer as differential applying his

methods and knowledge to the fashion showcase

Key-Words Showcase Design Imaginary Saint John Festival

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29

Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34

Painel 04ndash Fogueira 35

Painel 05ndash Bandeirinhas 35

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de

70 40

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de

festa 150ml 48

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73

Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82

Desenho 01 ndash Croqui A 83

Desenho 02 ndash Croqui B 84

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88

Painel 14 ndash Teste 1 88

Foto 04 ndashTeste 2 89

Painel 15 ndash Cores de Volpi 90

Figura 18 ndash Cartela de cores 90

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91

Foto 05 ndash Teste Final 92

Vetor 01 ndash Painel vitrina 93

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93

Vetor 04 ndash Molde casa 94

Vetor 05 ndash Molde display 94

Vetor 06 ndash Molde telhado 95

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96

Foto 07 ndash Cartolina guache 96

Foto 08 ndash Papel contato laminado 97

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17

211 Design e cultura material 17

212 Cultura popular e festejos juninos 19

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41

22 A vitrina no societal 50

221 Design e vitrina 50

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52

2221 As vidraccedilas na cidade 55

223 Da forma agrave vitrina 57

2231 A esteacutetica da forma 59

224 Sentidos e a vitrina 61

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71

3 METODOLOGIA 75

31 Metodologia fenomenoloacutegica 75

311 Imaginaacuterio 77

32 Instrumento de coleta 78

33 Metodologia do designer 78

4 RESULTADOS 81

41 Definiccedilatildeo do problema 81

42 Busca da informaccedilatildeo 81

421 Painel de inspiraccedilatildeo 82

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82

43 Preacute-projeto 83

431 Croquis fase 1 83

432 Croquis fase 2 84

433Testes 88

44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89

441 Memoria teacutecnico descritiva 92

442 Desenho teacutecnico 93

4421 Molde painel 93

4422 Molde casa 94

4423 Molde display 94

4424 Molde telhado 95

4425 Molde ceacuteu 95

443 Materiais empregados 96

444 Sequencia Operacional 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99

6 REFERENCIAS 101

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a

atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais

especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o

consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design

pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e

transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de

vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da

Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo

O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como

representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de

um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-

Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio

pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a

comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio

Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-

se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio

de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo

propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na

metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de

vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru

A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem

determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar

as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma

representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina

de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru

Com os objetivos especiacuteficos de

Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio

social

Analisar os festejos juninos

Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica

dos elementos que a compotildeem (Layout)

15

Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015

eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e

serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731

veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio

contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10

mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual

(PEREIRA 2016)

Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma

o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas

cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das

Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local

(APL)1 do setor de confecccedilotildees

Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees

de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos

pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos

comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As

exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator

agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que

simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade

local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas

comerciais

Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em

especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez

que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e

que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional

Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais

cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se

a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto

monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de

design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local

1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)

16

Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos

que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe

(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e

fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o

POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas

no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)

Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco

capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo

geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na

construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu

identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do

imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as

transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo

No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade

atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da

mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram

usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo

deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda

a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo

interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda

No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o

projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta

inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as

consideraccedilotildees finais do projeto

2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular

211 Design e cultura material

As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como

suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma

referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo

de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente

quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo

Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento

de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do

projeto e do mercado

A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o

fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos

em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na

legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia

contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente

inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais

Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura

material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo

respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a

material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico

Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no

caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e

portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998

p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que

se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de

expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo

elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das

3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)

18

populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes

dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por

diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades

funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor

Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no

objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e

comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como

mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da

sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo

sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica

(CARDOSO 1998 e ONO 2006)

Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-

STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui

conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado

deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida

transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que

transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana

que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas

No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische

Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma

e alma

A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)

Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do

sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-

subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica

O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e

atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes

niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais

e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na

mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados

ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o

19

objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores

referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado

Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso

apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe

atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem

variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada

Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria

cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma

parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo

(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual

que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos

212 Cultura popular e festejos juninos

O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com

Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de

um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela

para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo

dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante

heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007

p 7)

Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou

seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo

entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura

popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para

projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo

estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que

a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a

mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e

globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior

percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)

e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que

este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo

20

pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento

em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva

A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)

A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes

culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)

em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de

acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira

hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura

popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da

conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)

O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia

atribuiacuteda aos objetos na cultura popular

Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)

Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura

popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles

Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui

ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem

ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)

tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma

que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os

agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia

Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma

pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se

dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que

segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-

21

moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas

tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees

E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas

festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as

festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas

origens

As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das

culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios

Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do

repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece

[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)

Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo

de vaacuterios agentes

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo

Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste

projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-

se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a

magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e

produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor

para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos

A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)

Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social

de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de

produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem

22

celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees

como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios

norte e sul

Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais

mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)

afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila

do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees

o calendaacuterio solar e os solstiacutecios

Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes

grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno

satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal

influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo

periacuteodo

A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para

os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal

festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento

Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO

2007 p 9)

Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio

e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer

(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que

viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte

o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os

nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz

(Babilocircnia)

Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a

conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a

vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente

os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das

colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses

deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a

um novo ciclo

23

Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)

O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa

Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir

a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a

deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo

inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o

periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de

frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)

O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)

Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi

adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram

a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute

conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que

tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por

realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista

[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)

Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo

acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar

24

comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na

Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista

Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em

toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de

junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe

foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode

haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio

da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol

quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e

a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER

1982 p 539 e 540)

As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho

homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo

Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs

inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados

Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e

pagamento de promessas

As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com

suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e

em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo

Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)

A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa

da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui

seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual

No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru

em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que

ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF

1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero

de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo

expressatildeo do imaginaacuterio coletivo

25

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade

A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio

catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o

ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo

Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social

Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)

Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa

pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio

antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado

em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia

de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de

fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito

maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente

A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais

da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas

muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de

comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo

articula-se com a cidade

Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva

A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas

cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos

o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)

A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos

que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem

puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo

os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)

As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que

compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando

diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas

ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto

com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]

26

manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas

sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade

da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e

objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo

os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)

Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura

que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma

que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde

ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que

acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o

mito

Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)

o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da

natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por

exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o

como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na

infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)

o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo

de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)

com o coletivo (macrocosmo universo)

Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de

interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru

Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para

as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia

de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual

presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o

moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo

As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows

gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das

festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do

Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra

e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock

Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto

do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru

27

hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da

cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro

que fazem parte da cultura popular caruaruense

Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o

hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais

diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de

contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos

alastrados pela cidade

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro

As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores

regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem

elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas

No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o

cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave

festa junina

Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da

populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que

atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo

se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou

nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos

outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno

de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa

[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou

individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos

que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido

4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco

28

ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI

1998 p 181)

Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem

a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da

cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas

tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A

apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos

histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo

os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde

o mito de Tamuz o mito fundador

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil

Quadrilhas juninas

A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve

sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na

Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha

(GIFFONI 1973)

No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser

copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e

festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas

a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados

pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que

levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural

A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica

velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma

identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha

agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular

brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes

7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas

29

o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo

teatral da danccedila nobre

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos

Fonte Acervo do autor

30

A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por

outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um

conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que

marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam

o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos

reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo

sua bravura e o xaxado10

Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao

menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta

estilizadas e recriadas

[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da

tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um

periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica

e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos

regionais (MENEZES NETO 2008 p12)

Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o

desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional

traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da

performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se

estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados

exibindo banguelas

A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das

festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com

roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da

mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por

fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam

um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar

as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de

comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)

8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros

31

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas

TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS

MATUTA ESTILIZADA RECRIADA

PERSONAGENS Noivos padre

delegado fofoqueiras

matutos

Noivos rainha e

princesa do milho

lampiatildeo e Maria

Bonita ciganos

Tem noivos e matutos

VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e

calccedilas em cores vivas

com remendos em

chita e xadrez

Os trajes satildeo os

mesmos mas ganham

lantejoulas brilhos

cetins

O vestuaacuterio voltou o

uso das chitas e

xadrezes agora

incorporados como

recortes da

indumentaacuteria

MAQUIAGEM Homens de bigodes

mulheres de sardas e

dentes todos pintados

de preto

Maquiagem de festa

profissionais

Maquiagem de festa

profissionais

MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do

momento

Forroacute coco xaxado

ciranda ritmos

regionais

MARCADOR Coordena a danccedila

marca cada mudanccedila

de passo

Anima a torcida a

evoluccedilatildeo acontece

sem nenhuma

influecircncia do puxador

Anima a torcida e se

integra agrave evoluccedilatildeo da

quadrilha por vezes

marca alguns passos

Fonte Menezes Neto 2008

Casamento matuto

O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da

mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na

atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma

saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um

becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a

ajuda do cangaccedilo

Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma

criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas

na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo

XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de

paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem

saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo

Comidas tiacutepicas juninas

32

As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho

amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram

cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo

Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela

colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e

cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma

A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no

Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de

diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro

deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas

as guloseimas juninas no tamanho gigante

Cidades cenograacuteficas

As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes

incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de

cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os

festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino

com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11

e restaurantes compondo a Vila do Forroacute

11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos

de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas

33

Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas

Fonte Acervo do autor

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador

Balatildeo

Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as

preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se

o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas

formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi

criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato

de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou

qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar

incecircndios em florestas e acidentes

34

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo

Fonte Acervo do autor

Fogueira

A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de

agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela

aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada

das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono

da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda

a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma

simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da

fogueira de Satildeo Joatildeo

35

Painel 04ndash Fogueira

Fonte Acervo do autor

Bandeirinhas

As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de

tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em

madeiras preparadas pelo povo

Painel 05ndash Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

36

O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-

lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta

possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que

antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um

padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)

Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia

de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa

(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto

com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos

Fonte Acervo do autor

Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos

juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina

37

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo

Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se

na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais

Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi

tratado anteriormente

Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de

Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de

Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela

Fonte RIBEIRO 2008

As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de

Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava

oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de

fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver

Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista

(RIBEIRO 2008 p 2)

38

Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento

modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas

pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus

trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta

de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001

p110)

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas

Fonte GREGGIO 2001 p121

Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um

premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no

trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe

deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o

tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e

senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)

39

Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas

obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das

formas e cores Como falou o pintor em entrevista

ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar

uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com

essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as

fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com

bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)

O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E

esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para

este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois

utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou

volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva

brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas

alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura

40

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p52

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p92

41

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p98 e 99

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design

A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design

Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria

imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o

siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores

coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes

perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico

No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees

para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com

pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos

estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a

cultura popular

Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha

Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com

esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura

06)

42

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok

Fonte (OXFORD 2013)

Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo

inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco

em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo

as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo

(Figura 07)

43

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2015)

O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca

registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram

inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um

casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas

e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa

de Satildeo Joatildeo

44

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2016)

Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre

abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre

as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma

publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de

2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas

acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo

Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa

apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)

12 Estado emocional

45

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina

Fonte (FORUM 2016)

A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que

estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina

apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e

xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo

46

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013

Fonte (FARM 2013)

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016

Fonte (FARM 2016)

Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de

festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas

fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar

A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as

latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A

Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)

47

que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse

cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo

eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol

Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava

Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)

O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento

da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em

ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral

acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo

48

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)

inspirados nas comidas tiacutepicas juninas

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas

com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos

nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo

para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas

dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos

49

juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao

caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil

Fonte (SUVINIL 2015)

O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas

inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste

brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram

desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias

50

22 A vitrina no societal

221 Design e vitrina

Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que

possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute

importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo

momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente

e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada

eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como

valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo

Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo

conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e

valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal

objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo

[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)

Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com

diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador

Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano

mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso

(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta

as ideias abstratas e subjetivas

Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade

Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social

junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo

artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade

projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo

comportamental de uma sociedade

51

Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda

marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das

transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se

apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem

a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo

num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo

Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas

diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato

assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis

para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se

necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design

pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo

inseridos os designers

Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para

uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008

p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de

bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema

em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma

apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo

cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre

que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e

consumidor

Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios

artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria

de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as

atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante

assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem

atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas

das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem

poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio

e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo

Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando

esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio

52

convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo

que eacute oferecido na vitrina

Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As

vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando

dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma

eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)

O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar

dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design

Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um

convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma

encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e

relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer

O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design

levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja

percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco

Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a

palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais

precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma

textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing

quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e

mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)

O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em

bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A

vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um

espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo

A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a

todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste

entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano

como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz

53

de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas

possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o

urbano

A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa

explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante

do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia

Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo

exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O

socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem

e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam

sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior

A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)

Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as

caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de

mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel

perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior

com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa

ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior

satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo

Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e

o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois

espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo

e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser

observada das duas perspectivas de espaccedilo

Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina

como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro

dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o

qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma

encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um

54

cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de

vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas

No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao

flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente

para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta

(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de

estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio

em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta

uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador

Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui

o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta

imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido

pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o

consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar

com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de

quem a observa

Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona

como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso

ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele

Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um

reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute

diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute

onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas

A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel

funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que

Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso

agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser

Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo

evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que

transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no

ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte

eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum

momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela

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transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente

comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso

2221 As vidraccedilas na cidade

Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do

ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o

natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o

socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia

esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-

se e relacionando-se com o mundo

Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no

ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos

valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses

elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo

(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir

em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno

Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta

e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante

onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no

fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no

caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do

passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este

frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca

pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador

Para Michel Maffesoli

Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de

nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de

acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados

pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um

espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos

apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)

Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real

atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da

mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com

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o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-

se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo

vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o

conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos

comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda

simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador

As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das

transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da

representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse

mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o

espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a

cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta

diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma

preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla

Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas

que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma

instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de

maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas

retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo

que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia

entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta

a sociedade por retratar o mito social

[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de

relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees

interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto

sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando

sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI

2010 p 63)

Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como

um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees

como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o

tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo

vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois

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ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o

consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas

Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as

mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees

do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado

(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado

mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier

(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social

representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais

de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com

o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem

para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel

223 Da forma agrave vitrina

Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de

materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e

mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para

concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura

luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao

mesmo valores espaciais sensoriais e visuais

Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre

espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como

seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute

de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como

exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH

em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que

forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A

personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas

assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser

Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece

[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um

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elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)

Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo

nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as

formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute

forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma

histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado

Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual

resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode

configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina

masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta

condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna

possiacutevel compreender o conjunto social

Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de

melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados

contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo

deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa

A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si

podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico

filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este

estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica

Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio

S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que

conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular

[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam

a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)

A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao

seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do

significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos

e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao

longo da pesquisa

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Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica

definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a

palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute

constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto

conceito (significado natureza proacutepria)

Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute

comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim

como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma

interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os

impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do

universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura

configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no

campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio

A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que

a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e

ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em

funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra

coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)

chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o

invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que

forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se

organicamente entre si

2231 A esteacutetica da forma

Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais

neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do

observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a

expectativas sociais e culturais

Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e

que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos

13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado

grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)

60

O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir

sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza

e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua

explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo

que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas

na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo

eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p

12)

Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos

Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia

formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com

o outro

Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da

aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que

abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados

conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]

o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e

em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno

da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima

pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que

invade o iacutentimo do flanador

A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o

contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens

constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado

revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar

o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra

socializa

Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se

define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado

anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como

adereccedilos luz cores e produtos

Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas

Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma

espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de

61

pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano

salvo raras exceccedilotildees

A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior

ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus

contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra

claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc

A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute

determinante do equiliacutebrio entre suas variantes

O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o

produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de

toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)

Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha

em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens

coacutedigos identificaccedilotildees

A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que

se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que

se vive atualmente

E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira

estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem

da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura

burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)

Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a

vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira

fluiacuteda no espaccedilo vitrina

224 Sentidos e a vitrina

A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e

diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo

com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas

primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de

sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer

dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade

62

primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e

une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a

espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real

A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas

causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela

eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico

desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua

sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior

proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo

fascinante

Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do

olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um

olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem

refletida (BIGAL 2001 p 60)

Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o

seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo

revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um

jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a

imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia

As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas

com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a

fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de

projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios

desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio

de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que

estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente

na percepccedilatildeo do eu sobre o outro

Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute

caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a

partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco

(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com

o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees

taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz

pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto

63

espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do

homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os

elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do

tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao

ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa

estranha ao observador

[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do

bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele

que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada

rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)

O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por

muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as

marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para

ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar

de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de

experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato

mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de

degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como

complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia

do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho

As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade

que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as

iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa

com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de

pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)

Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados

na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel

tempo Barreto afirma que

[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)

64

Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos

seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no

imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento

Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de

calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009

criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca

em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois

o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar

a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente

vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela

experiecircncia

Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional

espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares

captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver

fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de

sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como

uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo

eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da

matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados

tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas

Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em

eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes

emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se

barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos

perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na

qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)

Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e

identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que

simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das

14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas

televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico

15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo

desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias

65

inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre

espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto

os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam

e satildeo percebidos por diferentes meios

A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto

antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo

designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por

experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento

emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo

das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro

a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute

comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal

objetivo mostrar-se

Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura

O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de

comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente

do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia

fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)

Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam

originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute

importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos

do contemplador

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo

O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido

ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio

como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser

cultural ao ser humano

Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria

Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia

faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de

66

simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a

p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de

simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na

sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o

designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os

coletivos (MIZANZUK 2007)

Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem

Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial

que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010

p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o

coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas

o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas

aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de

carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a

cultura de uma regiatildeo de um povo

O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos

objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando

uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo

eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma

Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura

Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme

Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura

Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade

Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos

tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego

satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo

a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o

espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado

os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)

16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados

detalhadamente no toacutepico seguinte

67

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC

Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014

Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente

vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com

o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo

aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente

do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado

pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir

o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por

exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles

(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na

chuva

Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute

vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico

enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim

como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-

68

chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-

chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos

os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados

que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o

valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito

ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro

O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que

compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem

da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito

O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que

possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do

homem a morte

Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos

de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina

Fonte FASHINMAG 2011

A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social

masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a

mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses

69

imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura

heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do

guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como

se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina

suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o

terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes

os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor

de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes

Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do

imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo

usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia

de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina

Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura

miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico

harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e

dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do

homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina

Fonte MBASIC 2014

70

Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento

redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda

Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume

aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica

em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta

As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que

orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda

roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o

tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo

quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo

na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes

que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees

e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa

que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes

As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram

analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de

Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos

e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo

passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O

Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim

como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento

com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim

como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos

como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo

menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam

perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para

que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas

71

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo

Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras

principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por

ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades

incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de

diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios

cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o

Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo

para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo

com o passante

Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e

representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse

conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais

clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da

vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo

O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que

a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo

os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos

como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em

duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez

que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa

junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas

Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem

maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima

satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se

sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante

72

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma

cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia

que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo

de um mito

73

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura

17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria

narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os

mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto

04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011

Fonte Pinterest 2016

74

Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

75

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo

Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio

urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que

transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina

31 Metodologia fenomenoloacutegica

A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute

abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de

abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e

estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos

lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica

(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-

hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar

projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo

meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa

Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico

quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise

eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a

investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a

complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud

MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados

coletados nesse projeto eacute qualitativa

A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de

Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos

permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos

Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a

fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia

imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo

Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se

a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco

Ainda segundo a autora

76

[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)

A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a

ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um

ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada

como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa

Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento

filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl

considerado o pai da fenomenologia

A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)

A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo

verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos

de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo

de um uacutenico fenocircmeno

A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)

Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede

direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-

Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram

influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o

desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto

Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica

[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e

77

objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)

Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia

sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao

ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo

restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli

aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado

na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o

resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um

sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)

311 Imaginaacuterio

Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social

perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este

processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real

ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre

esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca

(PITTA 2005 p147)

A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo

abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em

sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir

do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli

(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a

experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma

visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o

imaginaacuterio e o prazer dos sentidos

Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o

aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de

mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma

melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo

fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel

eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o

fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste

78

meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida

cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave

origem do fenocircmeno

32 Instrumento de coleta

Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto

diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa

sendo o primeiro a ser empregado

Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e

explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e

trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao

projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa

cientifica

Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos

fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos

design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees

Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e

mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite

um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da

aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar

hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este

permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina

33 Metodologia do designer

Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por

Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que

tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento

de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de

um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes

de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas

consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor

adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia

79

para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem

vir a se desdobrarem

Metodologia projetual de Cerver

Fase 1 Definiccedilatildeo do problema

A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e

a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer

Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O

designer deve responder

Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos

Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais

Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam

Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc

Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)

Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos

requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser

respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto

A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como

a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos

objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)

afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde

seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente

Fase 2 Busca de informaccedilotildees

A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-

se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins

com os objetivos do projeto

Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e

igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados

O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro

fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias

80

existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado

a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e

manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)

Fase 3 Preacute-projeto

Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias

viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias

selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema

em questatildeo

Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e

protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os

fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos

projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de

geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute

uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual

Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto

Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias

necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do

mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente

Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e

ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve

ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para

montagem da mesma

Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos

o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois

da implantaccedilatildeo da vitrina

81

4 RESULTADOS

Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da

abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de

desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a

ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor

41 Definiccedilatildeo do problema

O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o

mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar

as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo

empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico

A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia

fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de

baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a

composiccedilatildeo da mesma

A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres

adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina

foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que

a festa junina tem em si

Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo

do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu

desenvolvimento

42 Busca da informaccedilatildeo

Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a

festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo

do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA

e papeis para compor a vitrina

Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como

Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em

outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas

82

421 Painel de inspiraccedilatildeo

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina

Fonte Acervo do autor

83

43 Preacute-projeto

431 Croquis fase 1

A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da

festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora

das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em

questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis

de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas

No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as

bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas

natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade

cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal

material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados

foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza

multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo

Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no

imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser

passado neste projeto

Desenho 01 ndash Croqui A

Fonte Acervo do autor

No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente

quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a

compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto

84

quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto

negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar

se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo

das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o

paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser

apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este

segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio

que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina

Desenho 02 ndash Croqui B

Fonte Acervo do autor

432 Croquis fase 2

Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto

considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior

Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser

usado na configuraccedilatildeo do projeto

No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha

de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo

passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro

croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das

85

manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse

aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No

sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas

possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro

do vento

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

86

Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase

anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores

aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada

anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como

bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e

dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e

movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira

Fonte Acervo do autor

87

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira

Fonte Acervo do autor

Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel

13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo

nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos

como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das

quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

88

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores

materiais e texturas

433Testes

No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para

estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel

tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as

bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17

Painel 14 ndash Teste 1

Fonte Acervo do autor

17

89

No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o

EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou

a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica

de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste

para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se

distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido

e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser

retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas

do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos

desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina

Foto 04 ndashTeste 2

Fonte Acervo do autor

44 Apresentaccedilatildeo do projeto

Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que

compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no

teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos

contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor

90

selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto

as demais cores

As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas

obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)

Painel 15 ndash Cores de Volpi

Fonte MATTAR 2014

Figura 18 ndash Cartela de cores

Fonte Acervo do autor

Estudo das combinaccedilotildees das cores

91

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores

Fonte Acervo do autor

Outras possiacuteveis combinaccedilotildees

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores

Fonte Acervo do autor

92

Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis

de diferentes finalidades e texturas

Foto 05 ndash Teste Final

Fonte Acervo do autor

441 Memoria teacutecnico descritiva

Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho

teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura

com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas

as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo

93

442 Desenho teacutecnico

4421 Molde painel

Vetor 01 ndash Painel vitrina

Fonte Acervo do autor

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas

Fonte Acervo do autor

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais

Fonte Acervo do autor

94

4422 Molde casa

Vetor 04 ndash Molde casa

Fonte Acervo do autor

4423 Molde display

Vetor 05 ndash Molde display

Fonte Acervo do autor

95

4424 Molde telhado

Vetor 06 ndash Molde telhado

Fonte Acervo do autor

4425 Molde ceacuteu

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu

Fonte Acervo do autor

96

443 Materiais empregados

Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80

espessura 09 mm nos telhados e displays

Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em

especial nos telhados) (Foto 6)

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado

Fonte Acervo do autor

Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina

guache (Foto 07) sobre papel camurccedila

Foto 07 ndash Cartolina guache

Fonte Acervo do autor

97

Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado

(Foto 08)

Foto 08 ndash Papel contato laminado

Fonte Acervo do autor

Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros

escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita

dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para

transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete

Fonte Acervo do autor

98

444 Sequencia Operacional

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia

Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo

OP Sequencia Operacional Ferramentas

1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal

2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas

respectivas cores no papelatildeo canelado

Tesoura papel carbono e

laacutepis

3 Cortar os moldes casa base display e painel C e

bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina

guache

Tesoura estilete reacutegua de

metal papel carbono e

laacutepis

4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e

laacutepis

5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em

cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar

com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais

moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio

Tesoura papel carbono e

laacutepis

6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP

4) Reservar

Cola para papel e pincel

7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal

8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida

9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais

moldes cortados nas OP 3 e OP 4

Cola para papel e pincel

10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as

combinaccedilotildees de cores

Cola para papel e pincel

12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e

luminaacuteria

13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

14 Colar uma casa na outra Fita dupla face

15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida

furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila

Laacutepis reacutegua furador

16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a

disposiccedilatildeo da base ceacuteu

Cola para papel e pincel

17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face

Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face

18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees

eleacutetricas por traacutes da base da vitrina

Fita dupla face

19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares

marcados

Furador

Fonte Acervo do autor

As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem

e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto

99

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e

projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender

agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa

foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as

simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo

da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal

Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida

pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que

o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a

vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao

construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a

marca e sua identidade

O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como

representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na

cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como

meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a

relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina

como exemplo dessa relaccedilatildeo

Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo

simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para

configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no

contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta

de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru

Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design

para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da

teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente

duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas

discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi

possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem

da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e

representante do imaginaacuterio social

100

A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no

periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor

O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do

imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina

enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal

E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com

ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de

poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram

enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho

contribuiu para um emprego mais social do produto de design

Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e

experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui

utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura

popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado

local

Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo

de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes

da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada

principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no

desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro

comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver

Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o

design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao

projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento

para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas

A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo

canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe

uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si

mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa

interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma

possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade

101

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LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos 29

Painel 02 ndash Cidades cenograacuteficas 33

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo 34

Painel 04ndash Fogueira 35

Painel 05ndash Bandeirinhas 35

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos 36

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela 37

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas 38

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 40

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de

70 40

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70 41

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok 42

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok 43

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok 44

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina 45

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013 46

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016 46

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol 47

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava 47

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de

festa 150ml 48

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados 48

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil 49

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC 67

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina 68

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina 69

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016 72

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2006 73

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011 73

Foto 04 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2006 74

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina 82

Desenho 01 ndash Croqui A 83

Desenho 02 ndash Croqui B 84

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88

Painel 14 ndash Teste 1 88

Foto 04 ndashTeste 2 89

Painel 15 ndash Cores de Volpi 90

Figura 18 ndash Cartela de cores 90

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91

Foto 05 ndash Teste Final 92

Vetor 01 ndash Painel vitrina 93

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93

Vetor 04 ndash Molde casa 94

Vetor 05 ndash Molde display 94

Vetor 06 ndash Molde telhado 95

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96

Foto 07 ndash Cartolina guache 96

Foto 08 ndash Papel contato laminado 97

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17

211 Design e cultura material 17

212 Cultura popular e festejos juninos 19

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41

22 A vitrina no societal 50

221 Design e vitrina 50

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52

2221 As vidraccedilas na cidade 55

223 Da forma agrave vitrina 57

2231 A esteacutetica da forma 59

224 Sentidos e a vitrina 61

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71

3 METODOLOGIA 75

31 Metodologia fenomenoloacutegica 75

311 Imaginaacuterio 77

32 Instrumento de coleta 78

33 Metodologia do designer 78

4 RESULTADOS 81

41 Definiccedilatildeo do problema 81

42 Busca da informaccedilatildeo 81

421 Painel de inspiraccedilatildeo 82

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82

43 Preacute-projeto 83

431 Croquis fase 1 83

432 Croquis fase 2 84

433Testes 88

44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89

441 Memoria teacutecnico descritiva 92

442 Desenho teacutecnico 93

4421 Molde painel 93

4422 Molde casa 94

4423 Molde display 94

4424 Molde telhado 95

4425 Molde ceacuteu 95

443 Materiais empregados 96

444 Sequencia Operacional 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99

6 REFERENCIAS 101

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a

atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais

especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o

consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design

pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e

transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de

vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da

Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo

O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como

representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de

um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-

Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio

pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a

comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio

Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-

se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio

de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo

propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na

metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de

vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru

A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem

determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar

as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma

representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina

de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru

Com os objetivos especiacuteficos de

Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio

social

Analisar os festejos juninos

Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica

dos elementos que a compotildeem (Layout)

15

Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015

eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e

serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731

veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio

contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10

mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual

(PEREIRA 2016)

Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma

o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas

cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das

Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local

(APL)1 do setor de confecccedilotildees

Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees

de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos

pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos

comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As

exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator

agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que

simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade

local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas

comerciais

Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em

especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez

que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e

que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional

Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais

cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se

a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto

monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de

design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local

1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)

16

Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos

que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe

(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e

fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o

POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas

no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)

Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco

capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo

geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na

construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu

identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do

imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as

transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo

No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade

atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da

mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram

usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo

deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda

a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo

interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda

No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o

projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta

inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as

consideraccedilotildees finais do projeto

2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular

211 Design e cultura material

As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como

suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma

referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo

de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente

quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo

Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento

de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do

projeto e do mercado

A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o

fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos

em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na

legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia

contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente

inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais

Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura

material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo

respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a

material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico

Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no

caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e

portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998

p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que

se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de

expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo

elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das

3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)

18

populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes

dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por

diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades

funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor

Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no

objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e

comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como

mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da

sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo

sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica

(CARDOSO 1998 e ONO 2006)

Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-

STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui

conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado

deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida

transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que

transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana

que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas

No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische

Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma

e alma

A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)

Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do

sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-

subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica

O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e

atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes

niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais

e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na

mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados

ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o

19

objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores

referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado

Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso

apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe

atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem

variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada

Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria

cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma

parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo

(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual

que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos

212 Cultura popular e festejos juninos

O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com

Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de

um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela

para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo

dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante

heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007

p 7)

Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou

seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo

entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura

popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para

projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo

estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que

a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a

mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e

globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior

percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)

e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que

este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo

20

pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento

em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva

A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)

A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes

culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)

em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de

acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira

hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura

popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da

conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)

O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia

atribuiacuteda aos objetos na cultura popular

Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)

Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura

popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles

Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui

ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem

ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)

tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma

que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os

agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia

Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma

pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se

dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que

segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-

21

moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas

tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees

E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas

festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as

festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas

origens

As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das

culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios

Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do

repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece

[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)

Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo

de vaacuterios agentes

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo

Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste

projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-

se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a

magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e

produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor

para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos

A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)

Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social

de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de

produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem

22

celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees

como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios

norte e sul

Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais

mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)

afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila

do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees

o calendaacuterio solar e os solstiacutecios

Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes

grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno

satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal

influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo

periacuteodo

A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para

os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal

festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento

Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO

2007 p 9)

Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio

e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer

(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que

viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte

o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os

nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz

(Babilocircnia)

Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a

conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a

vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente

os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das

colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses

deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a

um novo ciclo

23

Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)

O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa

Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir

a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a

deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo

inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o

periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de

frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)

O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)

Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi

adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram

a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute

conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que

tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por

realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista

[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)

Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo

acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar

24

comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na

Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista

Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em

toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de

junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe

foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode

haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio

da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol

quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e

a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER

1982 p 539 e 540)

As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho

homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo

Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs

inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados

Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e

pagamento de promessas

As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com

suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e

em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo

Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)

A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa

da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui

seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual

No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru

em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que

ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF

1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero

de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo

expressatildeo do imaginaacuterio coletivo

25

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade

A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio

catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o

ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo

Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social

Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)

Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa

pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio

antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado

em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia

de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de

fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito

maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente

A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais

da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas

muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de

comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo

articula-se com a cidade

Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva

A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas

cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos

o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)

A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos

que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem

puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo

os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)

As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que

compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando

diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas

ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto

com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]

26

manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas

sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade

da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e

objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo

os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)

Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura

que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma

que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde

ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que

acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o

mito

Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)

o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da

natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por

exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o

como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na

infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)

o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo

de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)

com o coletivo (macrocosmo universo)

Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de

interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru

Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para

as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia

de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual

presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o

moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo

As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows

gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das

festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do

Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra

e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock

Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto

do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru

27

hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da

cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro

que fazem parte da cultura popular caruaruense

Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o

hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais

diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de

contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos

alastrados pela cidade

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro

As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores

regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem

elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas

No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o

cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave

festa junina

Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da

populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que

atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo

se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou

nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos

outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno

de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa

[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou

individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos

que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido

4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco

28

ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI

1998 p 181)

Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem

a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da

cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas

tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A

apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos

histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo

os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde

o mito de Tamuz o mito fundador

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil

Quadrilhas juninas

A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve

sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na

Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha

(GIFFONI 1973)

No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser

copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e

festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas

a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados

pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que

levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural

A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica

velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma

identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha

agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular

brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes

7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas

29

o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo

teatral da danccedila nobre

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos

Fonte Acervo do autor

30

A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por

outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um

conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que

marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam

o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos

reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo

sua bravura e o xaxado10

Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao

menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta

estilizadas e recriadas

[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da

tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um

periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica

e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos

regionais (MENEZES NETO 2008 p12)

Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o

desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional

traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da

performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se

estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados

exibindo banguelas

A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das

festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com

roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da

mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por

fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam

um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar

as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de

comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)

8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros

31

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas

TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS

MATUTA ESTILIZADA RECRIADA

PERSONAGENS Noivos padre

delegado fofoqueiras

matutos

Noivos rainha e

princesa do milho

lampiatildeo e Maria

Bonita ciganos

Tem noivos e matutos

VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e

calccedilas em cores vivas

com remendos em

chita e xadrez

Os trajes satildeo os

mesmos mas ganham

lantejoulas brilhos

cetins

O vestuaacuterio voltou o

uso das chitas e

xadrezes agora

incorporados como

recortes da

indumentaacuteria

MAQUIAGEM Homens de bigodes

mulheres de sardas e

dentes todos pintados

de preto

Maquiagem de festa

profissionais

Maquiagem de festa

profissionais

MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do

momento

Forroacute coco xaxado

ciranda ritmos

regionais

MARCADOR Coordena a danccedila

marca cada mudanccedila

de passo

Anima a torcida a

evoluccedilatildeo acontece

sem nenhuma

influecircncia do puxador

Anima a torcida e se

integra agrave evoluccedilatildeo da

quadrilha por vezes

marca alguns passos

Fonte Menezes Neto 2008

Casamento matuto

O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da

mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na

atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma

saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um

becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a

ajuda do cangaccedilo

Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma

criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas

na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo

XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de

paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem

saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo

Comidas tiacutepicas juninas

32

As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho

amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram

cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo

Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela

colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e

cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma

A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no

Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de

diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro

deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas

as guloseimas juninas no tamanho gigante

Cidades cenograacuteficas

As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes

incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de

cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os

festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino

com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11

e restaurantes compondo a Vila do Forroacute

11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos

de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas

33

Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas

Fonte Acervo do autor

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador

Balatildeo

Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as

preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se

o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas

formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi

criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato

de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou

qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar

incecircndios em florestas e acidentes

34

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo

Fonte Acervo do autor

Fogueira

A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de

agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela

aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada

das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono

da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda

a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma

simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da

fogueira de Satildeo Joatildeo

35

Painel 04ndash Fogueira

Fonte Acervo do autor

Bandeirinhas

As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de

tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em

madeiras preparadas pelo povo

Painel 05ndash Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

36

O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-

lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta

possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que

antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um

padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)

Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia

de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa

(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto

com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos

Fonte Acervo do autor

Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos

juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina

37

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo

Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se

na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais

Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi

tratado anteriormente

Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de

Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de

Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela

Fonte RIBEIRO 2008

As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de

Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava

oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de

fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver

Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista

(RIBEIRO 2008 p 2)

38

Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento

modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas

pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus

trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta

de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001

p110)

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas

Fonte GREGGIO 2001 p121

Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um

premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no

trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe

deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o

tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e

senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)

39

Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas

obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das

formas e cores Como falou o pintor em entrevista

ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar

uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com

essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as

fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com

bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)

O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E

esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para

este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois

utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou

volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva

brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas

alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura

40

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p52

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p92

41

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p98 e 99

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design

A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design

Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria

imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o

siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores

coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes

perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico

No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees

para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com

pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos

estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a

cultura popular

Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha

Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com

esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura

06)

42

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok

Fonte (OXFORD 2013)

Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo

inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco

em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo

as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo

(Figura 07)

43

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2015)

O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca

registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram

inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um

casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas

e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa

de Satildeo Joatildeo

44

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2016)

Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre

abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre

as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma

publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de

2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas

acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo

Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa

apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)

12 Estado emocional

45

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina

Fonte (FORUM 2016)

A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que

estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina

apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e

xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo

46

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013

Fonte (FARM 2013)

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016

Fonte (FARM 2016)

Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de

festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas

fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar

A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as

latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A

Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)

47

que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse

cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo

eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol

Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava

Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)

O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento

da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em

ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral

acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo

48

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)

inspirados nas comidas tiacutepicas juninas

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas

com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos

nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo

para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas

dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos

49

juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao

caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil

Fonte (SUVINIL 2015)

O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas

inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste

brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram

desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias

50

22 A vitrina no societal

221 Design e vitrina

Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que

possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute

importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo

momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente

e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada

eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como

valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo

Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo

conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e

valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal

objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo

[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)

Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com

diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador

Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano

mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso

(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta

as ideias abstratas e subjetivas

Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade

Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social

junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo

artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade

projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo

comportamental de uma sociedade

51

Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda

marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das

transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se

apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem

a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo

num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo

Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas

diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato

assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis

para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se

necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design

pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo

inseridos os designers

Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para

uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008

p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de

bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema

em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma

apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo

cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre

que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e

consumidor

Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios

artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria

de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as

atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante

assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem

atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas

das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem

poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio

e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo

Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando

esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio

52

convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo

que eacute oferecido na vitrina

Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As

vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando

dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma

eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)

O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar

dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design

Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um

convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma

encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e

relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer

O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design

levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja

percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco

Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a

palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais

precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma

textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing

quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e

mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)

O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em

bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A

vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um

espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo

A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a

todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste

entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano

como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz

53

de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas

possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o

urbano

A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa

explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante

do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia

Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo

exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O

socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem

e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam

sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior

A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)

Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as

caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de

mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel

perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior

com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa

ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior

satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo

Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e

o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois

espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo

e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser

observada das duas perspectivas de espaccedilo

Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina

como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro

dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o

qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma

encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um

54

cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de

vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas

No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao

flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente

para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta

(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de

estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio

em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta

uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador

Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui

o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta

imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido

pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o

consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar

com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de

quem a observa

Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona

como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso

ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele

Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um

reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute

diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute

onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas

A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel

funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que

Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso

agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser

Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo

evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que

transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no

ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte

eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum

momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela

55

transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente

comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso

2221 As vidraccedilas na cidade

Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do

ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o

natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o

socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia

esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-

se e relacionando-se com o mundo

Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no

ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos

valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses

elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo

(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir

em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno

Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta

e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante

onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no

fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no

caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do

passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este

frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca

pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador

Para Michel Maffesoli

Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de

nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de

acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados

pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um

espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos

apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)

Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real

atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da

mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com

56

o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-

se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo

vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o

conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos

comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda

simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador

As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das

transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da

representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse

mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o

espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a

cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta

diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma

preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla

Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas

que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma

instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de

maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas

retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo

que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia

entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta

a sociedade por retratar o mito social

[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de

relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees

interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto

sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando

sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI

2010 p 63)

Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como

um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees

como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o

tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo

vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois

57

ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o

consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas

Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as

mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees

do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado

(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado

mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier

(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social

representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais

de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com

o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem

para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel

223 Da forma agrave vitrina

Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de

materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e

mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para

concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura

luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao

mesmo valores espaciais sensoriais e visuais

Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre

espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como

seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute

de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como

exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH

em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que

forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A

personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas

assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser

Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece

[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um

58

elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)

Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo

nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as

formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute

forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma

histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado

Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual

resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode

configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina

masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta

condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna

possiacutevel compreender o conjunto social

Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de

melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados

contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo

deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa

A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si

podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico

filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este

estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica

Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio

S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que

conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular

[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam

a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)

A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao

seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do

significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos

e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao

longo da pesquisa

59

Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica

definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a

palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute

constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto

conceito (significado natureza proacutepria)

Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute

comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim

como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma

interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os

impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do

universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura

configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no

campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio

A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que

a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e

ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em

funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra

coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)

chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o

invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que

forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se

organicamente entre si

2231 A esteacutetica da forma

Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais

neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do

observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a

expectativas sociais e culturais

Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e

que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos

13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado

grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)

60

O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir

sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza

e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua

explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo

que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas

na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo

eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p

12)

Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos

Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia

formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com

o outro

Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da

aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que

abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados

conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]

o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e

em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno

da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima

pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que

invade o iacutentimo do flanador

A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o

contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens

constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado

revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar

o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra

socializa

Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se

define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado

anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como

adereccedilos luz cores e produtos

Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas

Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma

espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de

61

pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano

salvo raras exceccedilotildees

A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior

ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus

contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra

claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc

A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute

determinante do equiliacutebrio entre suas variantes

O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o

produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de

toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)

Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha

em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens

coacutedigos identificaccedilotildees

A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que

se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que

se vive atualmente

E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira

estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem

da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura

burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)

Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a

vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira

fluiacuteda no espaccedilo vitrina

224 Sentidos e a vitrina

A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e

diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo

com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas

primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de

sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer

dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade

62

primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e

une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a

espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real

A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas

causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela

eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico

desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua

sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior

proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo

fascinante

Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do

olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um

olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem

refletida (BIGAL 2001 p 60)

Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o

seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo

revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um

jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a

imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia

As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas

com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a

fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de

projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios

desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio

de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que

estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente

na percepccedilatildeo do eu sobre o outro

Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute

caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a

partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco

(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com

o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees

taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz

pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto

63

espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do

homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os

elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do

tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao

ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa

estranha ao observador

[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do

bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele

que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada

rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)

O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por

muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as

marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para

ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar

de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de

experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato

mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de

degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como

complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia

do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho

As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade

que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as

iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa

com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de

pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)

Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados

na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel

tempo Barreto afirma que

[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)

64

Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos

seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no

imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento

Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de

calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009

criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca

em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois

o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar

a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente

vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela

experiecircncia

Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional

espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares

captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver

fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de

sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como

uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo

eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da

matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados

tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas

Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em

eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes

emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se

barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos

perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na

qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)

Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e

identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que

simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das

14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas

televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico

15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo

desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias

65

inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre

espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto

os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam

e satildeo percebidos por diferentes meios

A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto

antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo

designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por

experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento

emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo

das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro

a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute

comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal

objetivo mostrar-se

Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura

O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de

comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente

do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia

fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)

Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam

originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute

importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos

do contemplador

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo

O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido

ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio

como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser

cultural ao ser humano

Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria

Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia

faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de

66

simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a

p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de

simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na

sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o

designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os

coletivos (MIZANZUK 2007)

Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem

Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial

que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010

p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o

coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas

o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas

aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de

carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a

cultura de uma regiatildeo de um povo

O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos

objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando

uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo

eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma

Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura

Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme

Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura

Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade

Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos

tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego

satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo

a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o

espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado

os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)

16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados

detalhadamente no toacutepico seguinte

67

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC

Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014

Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente

vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com

o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo

aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente

do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado

pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir

o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por

exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles

(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na

chuva

Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute

vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico

enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim

como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-

68

chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-

chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos

os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados

que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o

valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito

ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro

O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que

compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem

da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito

O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que

possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do

homem a morte

Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos

de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina

Fonte FASHINMAG 2011

A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social

masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a

mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses

69

imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura

heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do

guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como

se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina

suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o

terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes

os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor

de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes

Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do

imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo

usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia

de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina

Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura

miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico

harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e

dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do

homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina

Fonte MBASIC 2014

70

Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento

redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda

Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume

aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica

em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta

As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que

orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda

roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o

tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo

quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo

na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes

que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees

e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa

que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes

As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram

analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de

Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos

e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo

passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O

Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim

como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento

com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim

como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos

como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo

menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam

perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para

que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas

71

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo

Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras

principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por

ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades

incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de

diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios

cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o

Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo

para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo

com o passante

Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e

representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse

conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais

clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da

vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo

O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que

a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo

os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos

como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em

duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez

que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa

junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas

Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem

maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima

satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se

sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante

72

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma

cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia

que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo

de um mito

73

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura

17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria

narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os

mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto

04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011

Fonte Pinterest 2016

74

Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

75

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo

Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio

urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que

transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina

31 Metodologia fenomenoloacutegica

A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute

abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de

abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e

estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos

lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica

(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-

hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar

projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo

meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa

Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico

quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise

eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a

investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a

complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud

MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados

coletados nesse projeto eacute qualitativa

A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de

Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos

permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos

Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a

fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia

imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo

Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se

a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco

Ainda segundo a autora

76

[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)

A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a

ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um

ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada

como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa

Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento

filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl

considerado o pai da fenomenologia

A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)

A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo

verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos

de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo

de um uacutenico fenocircmeno

A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)

Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede

direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-

Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram

influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o

desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto

Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica

[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e

77

objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)

Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia

sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao

ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo

restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli

aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado

na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o

resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um

sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)

311 Imaginaacuterio

Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social

perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este

processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real

ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre

esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca

(PITTA 2005 p147)

A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo

abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em

sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir

do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli

(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a

experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma

visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o

imaginaacuterio e o prazer dos sentidos

Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o

aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de

mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma

melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo

fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel

eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o

fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste

78

meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida

cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave

origem do fenocircmeno

32 Instrumento de coleta

Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto

diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa

sendo o primeiro a ser empregado

Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e

explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e

trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao

projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa

cientifica

Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos

fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos

design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees

Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e

mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite

um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da

aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar

hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este

permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina

33 Metodologia do designer

Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por

Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que

tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento

de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de

um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes

de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas

consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor

adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia

79

para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem

vir a se desdobrarem

Metodologia projetual de Cerver

Fase 1 Definiccedilatildeo do problema

A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e

a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer

Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O

designer deve responder

Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos

Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais

Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam

Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc

Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)

Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos

requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser

respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto

A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como

a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos

objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)

afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde

seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente

Fase 2 Busca de informaccedilotildees

A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-

se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins

com os objetivos do projeto

Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e

igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados

O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro

fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias

80

existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado

a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e

manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)

Fase 3 Preacute-projeto

Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias

viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias

selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema

em questatildeo

Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e

protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os

fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos

projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de

geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute

uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual

Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto

Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias

necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do

mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente

Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e

ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve

ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para

montagem da mesma

Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos

o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois

da implantaccedilatildeo da vitrina

81

4 RESULTADOS

Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da

abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de

desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a

ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor

41 Definiccedilatildeo do problema

O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o

mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar

as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo

empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico

A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia

fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de

baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a

composiccedilatildeo da mesma

A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres

adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina

foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que

a festa junina tem em si

Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo

do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu

desenvolvimento

42 Busca da informaccedilatildeo

Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a

festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo

do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA

e papeis para compor a vitrina

Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como

Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em

outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas

82

421 Painel de inspiraccedilatildeo

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina

Fonte Acervo do autor

83

43 Preacute-projeto

431 Croquis fase 1

A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da

festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora

das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em

questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis

de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas

No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as

bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas

natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade

cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal

material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados

foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza

multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo

Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no

imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser

passado neste projeto

Desenho 01 ndash Croqui A

Fonte Acervo do autor

No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente

quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a

compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto

84

quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto

negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar

se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo

das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o

paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser

apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este

segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio

que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina

Desenho 02 ndash Croqui B

Fonte Acervo do autor

432 Croquis fase 2

Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto

considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior

Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser

usado na configuraccedilatildeo do projeto

No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha

de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo

passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro

croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das

85

manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse

aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No

sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas

possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro

do vento

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

86

Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase

anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores

aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada

anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como

bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e

dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e

movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira

Fonte Acervo do autor

87

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira

Fonte Acervo do autor

Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel

13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo

nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos

como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das

quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

88

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores

materiais e texturas

433Testes

No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para

estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel

tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as

bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17

Painel 14 ndash Teste 1

Fonte Acervo do autor

17

89

No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o

EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou

a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica

de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste

para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se

distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido

e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser

retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas

do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos

desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina

Foto 04 ndashTeste 2

Fonte Acervo do autor

44 Apresentaccedilatildeo do projeto

Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que

compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no

teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos

contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor

90

selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto

as demais cores

As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas

obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)

Painel 15 ndash Cores de Volpi

Fonte MATTAR 2014

Figura 18 ndash Cartela de cores

Fonte Acervo do autor

Estudo das combinaccedilotildees das cores

91

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores

Fonte Acervo do autor

Outras possiacuteveis combinaccedilotildees

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores

Fonte Acervo do autor

92

Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis

de diferentes finalidades e texturas

Foto 05 ndash Teste Final

Fonte Acervo do autor

441 Memoria teacutecnico descritiva

Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho

teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura

com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas

as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo

93

442 Desenho teacutecnico

4421 Molde painel

Vetor 01 ndash Painel vitrina

Fonte Acervo do autor

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas

Fonte Acervo do autor

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais

Fonte Acervo do autor

94

4422 Molde casa

Vetor 04 ndash Molde casa

Fonte Acervo do autor

4423 Molde display

Vetor 05 ndash Molde display

Fonte Acervo do autor

95

4424 Molde telhado

Vetor 06 ndash Molde telhado

Fonte Acervo do autor

4425 Molde ceacuteu

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu

Fonte Acervo do autor

96

443 Materiais empregados

Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80

espessura 09 mm nos telhados e displays

Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em

especial nos telhados) (Foto 6)

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado

Fonte Acervo do autor

Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina

guache (Foto 07) sobre papel camurccedila

Foto 07 ndash Cartolina guache

Fonte Acervo do autor

97

Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado

(Foto 08)

Foto 08 ndash Papel contato laminado

Fonte Acervo do autor

Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros

escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita

dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para

transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete

Fonte Acervo do autor

98

444 Sequencia Operacional

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia

Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo

OP Sequencia Operacional Ferramentas

1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal

2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas

respectivas cores no papelatildeo canelado

Tesoura papel carbono e

laacutepis

3 Cortar os moldes casa base display e painel C e

bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina

guache

Tesoura estilete reacutegua de

metal papel carbono e

laacutepis

4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e

laacutepis

5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em

cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar

com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais

moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio

Tesoura papel carbono e

laacutepis

6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP

4) Reservar

Cola para papel e pincel

7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal

8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida

9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais

moldes cortados nas OP 3 e OP 4

Cola para papel e pincel

10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as

combinaccedilotildees de cores

Cola para papel e pincel

12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e

luminaacuteria

13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

14 Colar uma casa na outra Fita dupla face

15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida

furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila

Laacutepis reacutegua furador

16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a

disposiccedilatildeo da base ceacuteu

Cola para papel e pincel

17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face

Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face

18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees

eleacutetricas por traacutes da base da vitrina

Fita dupla face

19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares

marcados

Furador

Fonte Acervo do autor

As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem

e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto

99

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e

projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender

agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa

foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as

simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo

da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal

Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida

pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que

o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a

vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao

construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a

marca e sua identidade

O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como

representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na

cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como

meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a

relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina

como exemplo dessa relaccedilatildeo

Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo

simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para

configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no

contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta

de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru

Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design

para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da

teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente

duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas

discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi

possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem

da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e

representante do imaginaacuterio social

100

A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no

periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor

O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do

imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina

enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal

E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com

ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de

poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram

enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho

contribuiu para um emprego mais social do produto de design

Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e

experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui

utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura

popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado

local

Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo

de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes

da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada

principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no

desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro

comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver

Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o

design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao

projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento

para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas

A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo

canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe

uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si

mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa

interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma

possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade

101

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Page 10: MICHELLYNNE BORROMEU DA SILVA · 2019. 10. 26. · universidade federal de pernambuco – ufpe centro acadÊmico do agreste nÚcleo de design michellynne borromeu da silva vitrina,

Desenho 01 ndash Croqui A 83

Desenho 02 ndash Croqui B 84

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio 85

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio 85

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira 86

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira 87

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas 87

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas 88

Painel 14 ndash Teste 1 88

Foto 04 ndashTeste 2 89

Painel 15 ndash Cores de Volpi 90

Figura 18 ndash Cartela de cores 90

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores 91

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores 91

Foto 05 ndash Teste Final 92

Vetor 01 ndash Painel vitrina 93

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas 93

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais 93

Vetor 04 ndash Molde casa 94

Vetor 05 ndash Molde display 94

Vetor 06 ndash Molde telhado 95

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu 95

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado 96

Foto 07 ndash Cartolina guache 96

Foto 08 ndash Papel contato laminado 97

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete 97

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17

211 Design e cultura material 17

212 Cultura popular e festejos juninos 19

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41

22 A vitrina no societal 50

221 Design e vitrina 50

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52

2221 As vidraccedilas na cidade 55

223 Da forma agrave vitrina 57

2231 A esteacutetica da forma 59

224 Sentidos e a vitrina 61

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71

3 METODOLOGIA 75

31 Metodologia fenomenoloacutegica 75

311 Imaginaacuterio 77

32 Instrumento de coleta 78

33 Metodologia do designer 78

4 RESULTADOS 81

41 Definiccedilatildeo do problema 81

42 Busca da informaccedilatildeo 81

421 Painel de inspiraccedilatildeo 82

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82

43 Preacute-projeto 83

431 Croquis fase 1 83

432 Croquis fase 2 84

433Testes 88

44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89

441 Memoria teacutecnico descritiva 92

442 Desenho teacutecnico 93

4421 Molde painel 93

4422 Molde casa 94

4423 Molde display 94

4424 Molde telhado 95

4425 Molde ceacuteu 95

443 Materiais empregados 96

444 Sequencia Operacional 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99

6 REFERENCIAS 101

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a

atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais

especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o

consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design

pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e

transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de

vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da

Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo

O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como

representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de

um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-

Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio

pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a

comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio

Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-

se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio

de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo

propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na

metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de

vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru

A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem

determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar

as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma

representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina

de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru

Com os objetivos especiacuteficos de

Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio

social

Analisar os festejos juninos

Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica

dos elementos que a compotildeem (Layout)

15

Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015

eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e

serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731

veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio

contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10

mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual

(PEREIRA 2016)

Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma

o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas

cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das

Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local

(APL)1 do setor de confecccedilotildees

Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees

de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos

pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos

comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As

exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator

agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que

simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade

local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas

comerciais

Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em

especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez

que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e

que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional

Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais

cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se

a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto

monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de

design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local

1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)

16

Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos

que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe

(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e

fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o

POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas

no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)

Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco

capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo

geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na

construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu

identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do

imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as

transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo

No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade

atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da

mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram

usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo

deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda

a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo

interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda

No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o

projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta

inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as

consideraccedilotildees finais do projeto

2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular

211 Design e cultura material

As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como

suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma

referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo

de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente

quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo

Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento

de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do

projeto e do mercado

A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o

fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos

em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na

legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia

contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente

inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais

Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura

material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo

respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a

material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico

Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no

caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e

portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998

p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que

se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de

expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo

elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das

3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)

18

populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes

dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por

diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades

funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor

Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no

objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e

comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como

mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da

sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo

sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica

(CARDOSO 1998 e ONO 2006)

Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-

STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui

conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado

deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida

transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que

transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana

que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas

No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische

Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma

e alma

A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)

Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do

sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-

subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica

O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e

atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes

niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais

e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na

mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados

ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o

19

objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores

referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado

Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso

apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe

atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem

variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada

Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria

cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma

parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo

(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual

que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos

212 Cultura popular e festejos juninos

O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com

Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de

um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela

para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo

dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante

heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007

p 7)

Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou

seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo

entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura

popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para

projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo

estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que

a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a

mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e

globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior

percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)

e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que

este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo

20

pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento

em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva

A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)

A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes

culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)

em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de

acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira

hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura

popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da

conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)

O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia

atribuiacuteda aos objetos na cultura popular

Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)

Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura

popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles

Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui

ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem

ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)

tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma

que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os

agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia

Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma

pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se

dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que

segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-

21

moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas

tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees

E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas

festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as

festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas

origens

As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das

culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios

Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do

repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece

[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)

Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo

de vaacuterios agentes

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo

Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste

projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-

se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a

magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e

produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor

para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos

A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)

Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social

de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de

produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem

22

celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees

como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios

norte e sul

Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais

mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)

afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila

do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees

o calendaacuterio solar e os solstiacutecios

Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes

grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno

satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal

influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo

periacuteodo

A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para

os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal

festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento

Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO

2007 p 9)

Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio

e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer

(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que

viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte

o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os

nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz

(Babilocircnia)

Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a

conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a

vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente

os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das

colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses

deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a

um novo ciclo

23

Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)

O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa

Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir

a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a

deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo

inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o

periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de

frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)

O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)

Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi

adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram

a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute

conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que

tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por

realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista

[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)

Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo

acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar

24

comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na

Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista

Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em

toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de

junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe

foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode

haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio

da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol

quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e

a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER

1982 p 539 e 540)

As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho

homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo

Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs

inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados

Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e

pagamento de promessas

As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com

suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e

em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo

Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)

A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa

da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui

seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual

No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru

em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que

ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF

1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero

de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo

expressatildeo do imaginaacuterio coletivo

25

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade

A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio

catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o

ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo

Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social

Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)

Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa

pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio

antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado

em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia

de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de

fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito

maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente

A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais

da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas

muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de

comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo

articula-se com a cidade

Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva

A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas

cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos

o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)

A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos

que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem

puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo

os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)

As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que

compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando

diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas

ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto

com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]

26

manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas

sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade

da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e

objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo

os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)

Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura

que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma

que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde

ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que

acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o

mito

Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)

o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da

natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por

exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o

como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na

infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)

o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo

de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)

com o coletivo (macrocosmo universo)

Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de

interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru

Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para

as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia

de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual

presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o

moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo

As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows

gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das

festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do

Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra

e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock

Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto

do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru

27

hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da

cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro

que fazem parte da cultura popular caruaruense

Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o

hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais

diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de

contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos

alastrados pela cidade

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro

As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores

regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem

elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas

No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o

cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave

festa junina

Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da

populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que

atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo

se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou

nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos

outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno

de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa

[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou

individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos

que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido

4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco

28

ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI

1998 p 181)

Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem

a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da

cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas

tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A

apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos

histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo

os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde

o mito de Tamuz o mito fundador

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil

Quadrilhas juninas

A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve

sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na

Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha

(GIFFONI 1973)

No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser

copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e

festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas

a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados

pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que

levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural

A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica

velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma

identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha

agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular

brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes

7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas

29

o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo

teatral da danccedila nobre

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos

Fonte Acervo do autor

30

A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por

outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um

conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que

marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam

o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos

reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo

sua bravura e o xaxado10

Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao

menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta

estilizadas e recriadas

[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da

tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um

periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica

e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos

regionais (MENEZES NETO 2008 p12)

Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o

desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional

traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da

performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se

estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados

exibindo banguelas

A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das

festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com

roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da

mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por

fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam

um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar

as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de

comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)

8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros

31

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas

TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS

MATUTA ESTILIZADA RECRIADA

PERSONAGENS Noivos padre

delegado fofoqueiras

matutos

Noivos rainha e

princesa do milho

lampiatildeo e Maria

Bonita ciganos

Tem noivos e matutos

VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e

calccedilas em cores vivas

com remendos em

chita e xadrez

Os trajes satildeo os

mesmos mas ganham

lantejoulas brilhos

cetins

O vestuaacuterio voltou o

uso das chitas e

xadrezes agora

incorporados como

recortes da

indumentaacuteria

MAQUIAGEM Homens de bigodes

mulheres de sardas e

dentes todos pintados

de preto

Maquiagem de festa

profissionais

Maquiagem de festa

profissionais

MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do

momento

Forroacute coco xaxado

ciranda ritmos

regionais

MARCADOR Coordena a danccedila

marca cada mudanccedila

de passo

Anima a torcida a

evoluccedilatildeo acontece

sem nenhuma

influecircncia do puxador

Anima a torcida e se

integra agrave evoluccedilatildeo da

quadrilha por vezes

marca alguns passos

Fonte Menezes Neto 2008

Casamento matuto

O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da

mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na

atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma

saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um

becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a

ajuda do cangaccedilo

Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma

criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas

na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo

XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de

paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem

saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo

Comidas tiacutepicas juninas

32

As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho

amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram

cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo

Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela

colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e

cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma

A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no

Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de

diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro

deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas

as guloseimas juninas no tamanho gigante

Cidades cenograacuteficas

As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes

incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de

cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os

festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino

com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11

e restaurantes compondo a Vila do Forroacute

11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos

de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas

33

Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas

Fonte Acervo do autor

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador

Balatildeo

Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as

preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se

o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas

formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi

criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato

de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou

qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar

incecircndios em florestas e acidentes

34

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo

Fonte Acervo do autor

Fogueira

A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de

agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela

aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada

das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono

da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda

a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma

simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da

fogueira de Satildeo Joatildeo

35

Painel 04ndash Fogueira

Fonte Acervo do autor

Bandeirinhas

As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de

tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em

madeiras preparadas pelo povo

Painel 05ndash Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

36

O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-

lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta

possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que

antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um

padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)

Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia

de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa

(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto

com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos

Fonte Acervo do autor

Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos

juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina

37

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo

Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se

na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais

Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi

tratado anteriormente

Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de

Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de

Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela

Fonte RIBEIRO 2008

As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de

Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava

oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de

fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver

Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista

(RIBEIRO 2008 p 2)

38

Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento

modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas

pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus

trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta

de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001

p110)

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas

Fonte GREGGIO 2001 p121

Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um

premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no

trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe

deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o

tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e

senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)

39

Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas

obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das

formas e cores Como falou o pintor em entrevista

ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar

uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com

essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as

fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com

bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)

O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E

esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para

este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois

utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou

volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva

brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas

alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura

40

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p52

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p92

41

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p98 e 99

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design

A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design

Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria

imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o

siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores

coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes

perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico

No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees

para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com

pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos

estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a

cultura popular

Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha

Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com

esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura

06)

42

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok

Fonte (OXFORD 2013)

Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo

inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco

em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo

as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo

(Figura 07)

43

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2015)

O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca

registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram

inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um

casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas

e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa

de Satildeo Joatildeo

44

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2016)

Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre

abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre

as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma

publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de

2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas

acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo

Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa

apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)

12 Estado emocional

45

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina

Fonte (FORUM 2016)

A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que

estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina

apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e

xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo

46

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013

Fonte (FARM 2013)

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016

Fonte (FARM 2016)

Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de

festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas

fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar

A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as

latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A

Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)

47

que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse

cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo

eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol

Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava

Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)

O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento

da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em

ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral

acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo

48

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)

inspirados nas comidas tiacutepicas juninas

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas

com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos

nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo

para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas

dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos

49

juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao

caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil

Fonte (SUVINIL 2015)

O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas

inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste

brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram

desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias

50

22 A vitrina no societal

221 Design e vitrina

Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que

possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute

importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo

momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente

e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada

eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como

valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo

Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo

conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e

valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal

objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo

[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)

Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com

diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador

Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano

mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso

(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta

as ideias abstratas e subjetivas

Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade

Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social

junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo

artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade

projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo

comportamental de uma sociedade

51

Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda

marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das

transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se

apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem

a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo

num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo

Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas

diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato

assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis

para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se

necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design

pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo

inseridos os designers

Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para

uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008

p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de

bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema

em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma

apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo

cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre

que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e

consumidor

Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios

artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria

de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as

atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante

assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem

atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas

das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem

poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio

e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo

Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando

esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio

52

convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo

que eacute oferecido na vitrina

Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As

vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando

dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma

eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)

O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar

dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design

Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um

convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma

encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e

relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer

O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design

levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja

percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco

Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a

palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais

precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma

textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing

quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e

mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)

O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em

bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A

vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um

espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo

A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a

todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste

entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano

como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz

53

de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas

possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o

urbano

A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa

explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante

do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia

Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo

exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O

socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem

e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam

sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior

A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)

Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as

caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de

mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel

perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior

com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa

ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior

satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo

Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e

o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois

espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo

e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser

observada das duas perspectivas de espaccedilo

Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina

como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro

dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o

qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma

encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um

54

cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de

vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas

No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao

flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente

para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta

(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de

estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio

em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta

uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador

Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui

o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta

imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido

pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o

consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar

com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de

quem a observa

Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona

como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso

ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele

Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um

reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute

diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute

onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas

A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel

funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que

Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso

agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser

Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo

evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que

transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no

ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte

eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum

momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela

55

transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente

comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso

2221 As vidraccedilas na cidade

Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do

ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o

natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o

socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia

esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-

se e relacionando-se com o mundo

Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no

ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos

valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses

elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo

(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir

em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno

Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta

e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante

onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no

fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no

caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do

passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este

frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca

pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador

Para Michel Maffesoli

Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de

nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de

acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados

pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um

espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos

apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)

Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real

atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da

mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com

56

o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-

se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo

vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o

conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos

comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda

simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador

As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das

transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da

representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse

mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o

espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a

cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta

diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma

preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla

Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas

que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma

instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de

maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas

retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo

que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia

entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta

a sociedade por retratar o mito social

[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de

relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees

interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto

sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando

sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI

2010 p 63)

Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como

um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees

como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o

tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo

vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois

57

ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o

consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas

Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as

mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees

do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado

(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado

mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier

(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social

representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais

de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com

o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem

para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel

223 Da forma agrave vitrina

Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de

materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e

mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para

concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura

luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao

mesmo valores espaciais sensoriais e visuais

Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre

espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como

seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute

de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como

exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH

em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que

forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A

personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas

assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser

Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece

[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um

58

elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)

Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo

nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as

formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute

forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma

histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado

Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual

resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode

configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina

masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta

condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna

possiacutevel compreender o conjunto social

Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de

melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados

contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo

deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa

A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si

podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico

filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este

estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica

Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio

S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que

conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular

[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam

a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)

A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao

seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do

significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos

e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao

longo da pesquisa

59

Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica

definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a

palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute

constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto

conceito (significado natureza proacutepria)

Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute

comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim

como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma

interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os

impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do

universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura

configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no

campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio

A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que

a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e

ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em

funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra

coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)

chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o

invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que

forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se

organicamente entre si

2231 A esteacutetica da forma

Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais

neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do

observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a

expectativas sociais e culturais

Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e

que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos

13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado

grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)

60

O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir

sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza

e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua

explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo

que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas

na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo

eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p

12)

Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos

Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia

formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com

o outro

Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da

aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que

abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados

conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]

o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e

em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno

da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima

pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que

invade o iacutentimo do flanador

A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o

contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens

constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado

revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar

o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra

socializa

Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se

define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado

anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como

adereccedilos luz cores e produtos

Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas

Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma

espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de

61

pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano

salvo raras exceccedilotildees

A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior

ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus

contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra

claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc

A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute

determinante do equiliacutebrio entre suas variantes

O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o

produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de

toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)

Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha

em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens

coacutedigos identificaccedilotildees

A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que

se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que

se vive atualmente

E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira

estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem

da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura

burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)

Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a

vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira

fluiacuteda no espaccedilo vitrina

224 Sentidos e a vitrina

A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e

diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo

com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas

primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de

sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer

dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade

62

primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e

une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a

espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real

A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas

causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela

eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico

desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua

sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior

proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo

fascinante

Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do

olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um

olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem

refletida (BIGAL 2001 p 60)

Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o

seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo

revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um

jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a

imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia

As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas

com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a

fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de

projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios

desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio

de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que

estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente

na percepccedilatildeo do eu sobre o outro

Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute

caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a

partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco

(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com

o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees

taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz

pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto

63

espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do

homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os

elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do

tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao

ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa

estranha ao observador

[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do

bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele

que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada

rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)

O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por

muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as

marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para

ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar

de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de

experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato

mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de

degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como

complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia

do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho

As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade

que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as

iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa

com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de

pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)

Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados

na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel

tempo Barreto afirma que

[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)

64

Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos

seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no

imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento

Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de

calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009

criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca

em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois

o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar

a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente

vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela

experiecircncia

Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional

espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares

captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver

fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de

sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como

uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo

eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da

matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados

tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas

Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em

eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes

emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se

barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos

perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na

qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)

Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e

identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que

simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das

14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas

televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico

15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo

desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias

65

inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre

espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto

os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam

e satildeo percebidos por diferentes meios

A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto

antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo

designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por

experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento

emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo

das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro

a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute

comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal

objetivo mostrar-se

Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura

O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de

comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente

do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia

fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)

Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam

originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute

importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos

do contemplador

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo

O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido

ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio

como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser

cultural ao ser humano

Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria

Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia

faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de

66

simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a

p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de

simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na

sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o

designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os

coletivos (MIZANZUK 2007)

Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem

Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial

que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010

p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o

coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas

o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas

aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de

carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a

cultura de uma regiatildeo de um povo

O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos

objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando

uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo

eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma

Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura

Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme

Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura

Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade

Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos

tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego

satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo

a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o

espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado

os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)

16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados

detalhadamente no toacutepico seguinte

67

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC

Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014

Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente

vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com

o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo

aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente

do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado

pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir

o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por

exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles

(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na

chuva

Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute

vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico

enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim

como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-

68

chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-

chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos

os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados

que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o

valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito

ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro

O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que

compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem

da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito

O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que

possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do

homem a morte

Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos

de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina

Fonte FASHINMAG 2011

A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social

masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a

mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses

69

imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura

heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do

guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como

se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina

suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o

terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes

os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor

de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes

Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do

imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo

usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia

de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina

Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura

miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico

harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e

dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do

homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina

Fonte MBASIC 2014

70

Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento

redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda

Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume

aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica

em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta

As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que

orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda

roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o

tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo

quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo

na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes

que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees

e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa

que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes

As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram

analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de

Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos

e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo

passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O

Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim

como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento

com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim

como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos

como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo

menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam

perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para

que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas

71

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo

Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras

principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por

ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades

incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de

diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios

cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o

Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo

para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo

com o passante

Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e

representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse

conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais

clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da

vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo

O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que

a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo

os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos

como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em

duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez

que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa

junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas

Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem

maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima

satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se

sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante

72

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma

cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia

que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo

de um mito

73

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura

17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria

narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os

mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto

04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011

Fonte Pinterest 2016

74

Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

75

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo

Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio

urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que

transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina

31 Metodologia fenomenoloacutegica

A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute

abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de

abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e

estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos

lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica

(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-

hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar

projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo

meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa

Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico

quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise

eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a

investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a

complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud

MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados

coletados nesse projeto eacute qualitativa

A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de

Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos

permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos

Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a

fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia

imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo

Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se

a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco

Ainda segundo a autora

76

[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)

A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a

ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um

ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada

como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa

Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento

filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl

considerado o pai da fenomenologia

A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)

A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo

verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos

de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo

de um uacutenico fenocircmeno

A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)

Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede

direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-

Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram

influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o

desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto

Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica

[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e

77

objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)

Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia

sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao

ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo

restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli

aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado

na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o

resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um

sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)

311 Imaginaacuterio

Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social

perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este

processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real

ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre

esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca

(PITTA 2005 p147)

A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo

abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em

sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir

do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli

(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a

experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma

visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o

imaginaacuterio e o prazer dos sentidos

Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o

aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de

mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma

melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo

fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel

eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o

fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste

78

meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida

cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave

origem do fenocircmeno

32 Instrumento de coleta

Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto

diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa

sendo o primeiro a ser empregado

Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e

explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e

trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao

projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa

cientifica

Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos

fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos

design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees

Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e

mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite

um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da

aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar

hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este

permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina

33 Metodologia do designer

Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por

Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que

tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento

de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de

um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes

de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas

consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor

adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia

79

para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem

vir a se desdobrarem

Metodologia projetual de Cerver

Fase 1 Definiccedilatildeo do problema

A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e

a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer

Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O

designer deve responder

Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos

Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais

Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam

Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc

Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)

Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos

requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser

respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto

A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como

a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos

objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)

afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde

seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente

Fase 2 Busca de informaccedilotildees

A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-

se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins

com os objetivos do projeto

Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e

igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados

O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro

fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias

80

existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado

a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e

manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)

Fase 3 Preacute-projeto

Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias

viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias

selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema

em questatildeo

Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e

protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os

fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos

projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de

geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute

uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual

Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto

Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias

necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do

mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente

Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e

ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve

ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para

montagem da mesma

Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos

o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois

da implantaccedilatildeo da vitrina

81

4 RESULTADOS

Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da

abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de

desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a

ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor

41 Definiccedilatildeo do problema

O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o

mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar

as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo

empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico

A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia

fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de

baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a

composiccedilatildeo da mesma

A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres

adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina

foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que

a festa junina tem em si

Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo

do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu

desenvolvimento

42 Busca da informaccedilatildeo

Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a

festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo

do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA

e papeis para compor a vitrina

Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como

Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em

outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas

82

421 Painel de inspiraccedilatildeo

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina

Fonte Acervo do autor

83

43 Preacute-projeto

431 Croquis fase 1

A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da

festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora

das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em

questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis

de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas

No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as

bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas

natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade

cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal

material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados

foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza

multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo

Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no

imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser

passado neste projeto

Desenho 01 ndash Croqui A

Fonte Acervo do autor

No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente

quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a

compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto

84

quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto

negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar

se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo

das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o

paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser

apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este

segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio

que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina

Desenho 02 ndash Croqui B

Fonte Acervo do autor

432 Croquis fase 2

Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto

considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior

Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser

usado na configuraccedilatildeo do projeto

No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha

de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo

passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro

croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das

85

manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse

aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No

sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas

possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro

do vento

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

86

Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase

anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores

aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada

anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como

bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e

dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e

movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira

Fonte Acervo do autor

87

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira

Fonte Acervo do autor

Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel

13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo

nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos

como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das

quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

88

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores

materiais e texturas

433Testes

No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para

estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel

tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as

bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17

Painel 14 ndash Teste 1

Fonte Acervo do autor

17

89

No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o

EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou

a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica

de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste

para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se

distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido

e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser

retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas

do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos

desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina

Foto 04 ndashTeste 2

Fonte Acervo do autor

44 Apresentaccedilatildeo do projeto

Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que

compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no

teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos

contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor

90

selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto

as demais cores

As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas

obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)

Painel 15 ndash Cores de Volpi

Fonte MATTAR 2014

Figura 18 ndash Cartela de cores

Fonte Acervo do autor

Estudo das combinaccedilotildees das cores

91

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores

Fonte Acervo do autor

Outras possiacuteveis combinaccedilotildees

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores

Fonte Acervo do autor

92

Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis

de diferentes finalidades e texturas

Foto 05 ndash Teste Final

Fonte Acervo do autor

441 Memoria teacutecnico descritiva

Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho

teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura

com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas

as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo

93

442 Desenho teacutecnico

4421 Molde painel

Vetor 01 ndash Painel vitrina

Fonte Acervo do autor

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas

Fonte Acervo do autor

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais

Fonte Acervo do autor

94

4422 Molde casa

Vetor 04 ndash Molde casa

Fonte Acervo do autor

4423 Molde display

Vetor 05 ndash Molde display

Fonte Acervo do autor

95

4424 Molde telhado

Vetor 06 ndash Molde telhado

Fonte Acervo do autor

4425 Molde ceacuteu

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu

Fonte Acervo do autor

96

443 Materiais empregados

Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80

espessura 09 mm nos telhados e displays

Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em

especial nos telhados) (Foto 6)

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado

Fonte Acervo do autor

Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina

guache (Foto 07) sobre papel camurccedila

Foto 07 ndash Cartolina guache

Fonte Acervo do autor

97

Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado

(Foto 08)

Foto 08 ndash Papel contato laminado

Fonte Acervo do autor

Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros

escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita

dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para

transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete

Fonte Acervo do autor

98

444 Sequencia Operacional

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia

Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo

OP Sequencia Operacional Ferramentas

1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal

2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas

respectivas cores no papelatildeo canelado

Tesoura papel carbono e

laacutepis

3 Cortar os moldes casa base display e painel C e

bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina

guache

Tesoura estilete reacutegua de

metal papel carbono e

laacutepis

4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e

laacutepis

5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em

cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar

com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais

moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio

Tesoura papel carbono e

laacutepis

6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP

4) Reservar

Cola para papel e pincel

7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal

8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida

9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais

moldes cortados nas OP 3 e OP 4

Cola para papel e pincel

10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as

combinaccedilotildees de cores

Cola para papel e pincel

12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e

luminaacuteria

13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

14 Colar uma casa na outra Fita dupla face

15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida

furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila

Laacutepis reacutegua furador

16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a

disposiccedilatildeo da base ceacuteu

Cola para papel e pincel

17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face

Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face

18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees

eleacutetricas por traacutes da base da vitrina

Fita dupla face

19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares

marcados

Furador

Fonte Acervo do autor

As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem

e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto

99

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e

projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender

agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa

foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as

simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo

da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal

Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida

pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que

o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a

vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao

construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a

marca e sua identidade

O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como

representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na

cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como

meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a

relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina

como exemplo dessa relaccedilatildeo

Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo

simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para

configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no

contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta

de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru

Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design

para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da

teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente

duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas

discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi

possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem

da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e

representante do imaginaacuterio social

100

A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no

periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor

O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do

imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina

enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal

E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com

ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de

poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram

enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho

contribuiu para um emprego mais social do produto de design

Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e

experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui

utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura

popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado

local

Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo

de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes

da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada

principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no

desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro

comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver

Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o

design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao

projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento

para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas

A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo

canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe

uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si

mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa

interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma

possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade

101

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas 31

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia 98

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO 17

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular 17

211 Design e cultura material 17

212 Cultura popular e festejos juninos 19

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo 21

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade 25

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro 27

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil 28

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador 33

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo 37

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design 41

22 A vitrina no societal 50

221 Design e vitrina 50

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo 52

2221 As vidraccedilas na cidade 55

223 Da forma agrave vitrina 57

2231 A esteacutetica da forma 59

224 Sentidos e a vitrina 61

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo 65

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo 71

3 METODOLOGIA 75

31 Metodologia fenomenoloacutegica 75

311 Imaginaacuterio 77

32 Instrumento de coleta 78

33 Metodologia do designer 78

4 RESULTADOS 81

41 Definiccedilatildeo do problema 81

42 Busca da informaccedilatildeo 81

421 Painel de inspiraccedilatildeo 82

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo 82

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo 82

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina 82

43 Preacute-projeto 83

431 Croquis fase 1 83

432 Croquis fase 2 84

433Testes 88

44 Apresentaccedilatildeo do projeto 89

441 Memoria teacutecnico descritiva 92

442 Desenho teacutecnico 93

4421 Molde painel 93

4422 Molde casa 94

4423 Molde display 94

4424 Molde telhado 95

4425 Molde ceacuteu 95

443 Materiais empregados 96

444 Sequencia Operacional 98

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 99

6 REFERENCIAS 101

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

A composiccedilatildeo da ambientaccedilatildeo deve ser pensada de modo que apreenda a

atenccedilatildeo do passante Para atender a esta necessidade surgem profissionais

especiacuteficos que criam ambientaccedilotildees como verdadeiros cenaacuterios para atrair o

consumidor conduzindo este a perceber os espaccedilos atraveacutes dos sentidos O design

pode ser apresentado como um ramo do conhecimento com atuaccedilatildeo multi inter e

transdisciplinar e portanto neste contexto uma abordagem sobre a produccedilatildeo de

vitrinas requer uma pesquisa que perpasse os campos da Sociologia da Filosofia da

Comunicaccedilatildeo por exemplo para explicar o fenocircmeno em estudo

O intuito deste projeto eacute apresentar uma possiacutevel configuraccedilatildeo da vitrina como

representaccedilatildeo social e do imaginaacuterio na poacutes-modernidade com a apresentaccedilatildeo de

um proposta de vitrina desenvolvida para festa junina na cidade de Caruaru-

Pernambuco Bem como propor discussotildees a respeito de como a teoria do imaginaacuterio

pode contribuir significativamente para os projetos de design que satildeo vinculados a

comunicaccedilatildeo com o usuaacuterio

Temos como grande aacuterea a esteacutetica aplicada ao design de vitrinas baseando-

se na afirmaccedilatildeo que consideramos que o design de vitrina pode enriquecer o cenaacuterio

de moda podendo ser usado como diferencial competitivo Partindo deste processo

propotildee-se projetar uma vitrina junina para o puacuteblico feminino com base na

metodologia do imaginaacuterio A problema da pesquisa eacute Como elaborar um projeto de

vitrina considerando o imaginaacuterio social da cidade de Caruaru

A criaccedilatildeo da ambientaccedilatildeo em uma vitrina natildeo soacute valoriza como tambeacutem

determina a configuraccedilatildeo de um espaccedilo comercial Essa adaptaccedilatildeo deve considerar

as perspectivas da sociedade contemporacircnea A vitrina pode ser considerada uma

representaccedilatildeo simboacutelica do social Eacute objetivo deste trabalho desenvolver uma vitrina

de moda com o tema da festa de Satildeo Joatildeo na Cidade de Caruaru

Com os objetivos especiacuteficos de

Discorrer a relaccedilatildeo design de vitrina como representante do imaginaacuterio

social

Analisar os festejos juninos

Desenvolver uma vitrina de moda considerando a dimensatildeo simboacutelica

dos elementos que a compotildeem (Layout)

15

Caruaru com 347088 habitantes de acordo com estimativa do IBGE em 2015

eacute a cidade-polo no Agreste pernambucano por congregar comeacutercio induacutestria e

serviccedilos Ainda de acordo com dados do IBGE (2016) em 2015 eram 148731

veiacuteculos matriculados aleacutem de 700 veiacuteculos do tipo utilitaacuterio e em 2014 o municiacutepio

contava com 8019 empresas formais e em agosto de 2016 foram contabilizados 10

mil microempreendedores formalizados no MEI o Microempreendedor Individual

(PEREIRA 2016)

Junto com as cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Toritama Caruaru forma

o segundo maior polo de confecccedilotildees do Brasil e o maior da regiatildeo Nordeste Estas

cidades juntamente com Agrestina Brejo da Madre de Deus Cupira Riacho das

Almas Surubim Taquaritinga do Norte e Vertentes formam o Arranjo Produtivo Local

(APL)1 do setor de confecccedilotildees

Assim a regiatildeo eacute grande produtora distribuidora e consumidora de confecccedilotildees

de vestuaacuterio e acessoacuterios de moda Esses produtos satildeo comercializados em diversos

pontos de vendas seja em feiras livres lojas de ruas ou de shoppings e polos

comerciais existentes em Caruaru Santa Cruz do Capibaribe e Toritama As

exposiccedilotildees desses produtos nem sempre satildeo de fato consideradas como um fator

agregador de valores e diferenciaccedilatildeo em um mercado tatildeo diversificado e que

simultaneamente deteacutem muita similaridade nos produtos produzidos Essa realidade

local pode ser constada nas feiras livres nos polos comerciais e nos bairros e ou ruas

comerciais

Nesse contexto surgiu o interesse de analisar as particularidades da vitrina em

especial as de moda utilizando como ferramenta o meacutetodo fenomenoloacutegico Uma vez

que o sensiacutevel e o siacutembolo tambeacutem vendem sendo a aacuterea mais subjetiva do design e

que mais se aproxima do usuaacuterio por intermeacutedio do emocional

Ao observar as diversas vitrinas de moda que existem nas trecircs principais

cidades da APL de confecccedilatildeo de Pernambuco em especial de Caruaru percebe-se

a diversidade existente neste segmento de mercado e atraveacutes de um projeto

monograacutefico eacute possiacutevel desenvolver uma vitrina de moda com a metodologia de

design como diferencial competitivo e reafirmaccedilatildeo da cultura local

1 [] APL pode ser descrito como um grande complexo produtivo geograficamente definido caracterizado por um grande nuacutemero de firmas envolvidas nos diversos estaacutegios produtivos na fabricaccedilatildeo de um produto cuja coordenaccedilatildeo das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento eacute submetida ao jogo do mercado e a um sistema de sanccedilotildees sociais aplicado pela comunidade (BECATTINI 2002 apud ARAUacuteJO et 2015 p 3)

16

Os flacircneurs aqui percebidos na concepccedilatildeo de Baudelaire como os indiviacuteduos

que caminha tranquilamente pelas ruas observando e entendendo cada detalhe

(PASSOS et al 2003) estabelecem com a vitrina diversos diaacutelogos que justificam e

fortalecem o empenho do designer em trabalhar o cenaacuterio da vitrina Segundo o

POPAI Brasil2 as vitrinas satildeo responsaacuteveis por 85 das compras realizadas nas lojas

no Brasil e a niacutevel mundial fica entre 60 e 70 (MATOS 2013 p 40)

Essa pesquisa de caraacuteter exploratoacuterio e bibliograacutefico estaacute dividida em cinco

capiacutetulos No primeiro a pesquisa foi direcionada para uma anaacutelise e compreensatildeo

geral sobre cultura festa junina design e imaginaacuterio e suas devidas relaccedilotildees na

construccedilatildeo da representaccedilatildeo social na poacutes-modernidade Este estudo permitiu

identificar os elementos em que a festa junina se sustenta como representaccedilatildeo do

imaginaacuterio social como ela se mitifica no contemporacircneo Considerando as

transformaccedilotildees que a sociedade brasileira vem transitando e transcendendo

No segundo capitulo foi abordado a vitrina e sua interaccedilatildeo com a sociedade

atraveacutes do espaccedilo forma e sentido e como o design contribui para ratificaccedilatildeo da

mesma Autores como Bachelard Simmel Durand Maffesoli dentre outros que foram

usados ao longo do referencial teoacuterico tiveram grande importacircncia na construccedilatildeo

deste projeto Atraveacutes desse estudo procurou-se revelar o universo da vitrina de moda

a partir representaccedilatildeo do imaginaacuterio social e mostrar a importacircncia da relaccedilatildeo

interdisciplinar entre a teoria do imaginaacuterio e o design de moda

No capiacutetulo trecircs foi apresentado a metodologia aplicada ao longo de todo o

projeto O capiacutetulo seguinte consiste no resultado final que atende em parte a proposta

inicial deste trabalho monograacutefico Por fim o capitulo cinco apresenta as

consideraccedilotildees finais do projeto

2 ldquoO POPAI Brasil eacute uma associaccedilatildeo sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento da atividade de Marketing de Varejo no Ponto de Venda [] o perfil das empresas associadas ao POPAI Brasil eacute muito amplo e abrange aacutereas tatildeo diversas como o design fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e setores tatildeo variados como eletrocircnicos alimentos moda ou atividades de cuidados pessoaisrdquo Disponiacutevel em lthttpwwwpopaibrorgbrgt Acesso em 18092016

17

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO

21 Festa junina design como representaccedilatildeo da cultura popular

211 Design e cultura material

As raacutepidas mudanccedilas no comportamento da sociedade brasileira assim como

suas demandas e necessidades fazem com que o objeto de design seja uma

referecircncia de identidade cultural3 de um tempo de um determinado espaccedilo ou mesmo

de uma geraccedilatildeo Todo que eacute projeto de design eacute espelho da sociedade principalmente

quando o mesmo considera aspectos subjetivos psicoloacutegicos e cognitivos Segundo

Krucken (2008) o desafio do design contemporacircneo encontra-se no desenvolvimento

de soluccedilotildees para questotildees complexas as quais exigem uma ampla percepccedilatildeo do

projeto e do mercado

A partir dessa observaccedilatildeo eacute possiacutevel compreender a dinacircmica do design e o

fenocircmeno que ocorre entre o mesmo e a sociedade os quais satildeo organismos vivos

em simbiose De acordo com Ono (2006 p 27) o design tornou-se uma referecircncia na

legitimaccedilatildeo de comportamento e valores na cultura de consumo e uma influecircncia

contundente na construccedilatildeo de padrotildees sociais visto que estaacute constantemente

inserindo e promovendo artefatos impregnados de valores e fundamentos culturais

Em um processo orgacircnico no qual a sociedade espira cultura imaterial e inspira cultura

material como na organicidade que eacute respirar E o design realiza o mesmo processo

respiratoacuterio tatildeo somente em ordem contraria Ele exala cultura material e absorve a

material nesse sentido a sociedade e o design conectam-se em um ciclo orgacircnico

Neste intercacircmbio os elementos em transiccedilatildeo satildeo as culturas materiais no

caso ldquoque a coisa projetada reflete a visatildeo do mundo a consciecircncia do projetista e

portanto da sociedade e da cultura agraves quais o projetista pertencerdquo (CARDOSO 1998

p 37) e imateriais que ldquodizem respeito agravequelas praacuteticas e domiacutenios da vida social que

se manifestam em saberes ofiacutecios e modos de fazer celebraccedilotildees formas de

expressatildeo cecircnicas plaacutesticas musicais ou luacutedicas e nos lugaresrdquo (COSTA 2015) Satildeo

elementos intangiacuteveis como valores crenccedilas mitos siacutembolos e costumes das

3ldquoFalar em referecircncias culturais nesse caso significa pois dirigir o olhar para representaccedilotildees que configuram uma identidade da regiatildeo para seus habitantes e que remetem agrave paisagem agraves edificaccedilotildees e objetos aos fazeres e saberes agraves crenccedilas haacutebitos etcrdquo (FONSECA 2000)

18

populaccedilotildees Este intercacircmbio de culturas se daacute em diferentes contextos Atraveacutes

dessa articulaccedilatildeo o design alcanccedila uma experiecircncia multidisciplinar passando por

diversas aacutereas de conhecimento para projetar produtos que atendam agraves necessidades

funcionais e agraves aspiraccedilotildees do consumidor

Os artefatos satildeo impregnados de valores e conceitos que natildeo tecircm origem no

objeto mas no repertoacuterio e experiecircncia do usuaacuterio obtidas a partir de associaccedilotildees e

comparaccedilotildees com outros artefatos de mesma categoria Esses produtos atuam como

mediaccedilotildees simboacutelicas e representaccedilatildeo do imaginaacuterio e da cultura dos indiviacuteduos e da

sociedade Assim a cultura eacute compreendida como processo social de produccedilatildeo

sendo ela o agente transformador das sociedades atraveacutes da representaccedilatildeo simboacutelica

(CARDOSO 1998 e ONO 2006)

Como cultura partindo do enfoque antropoloacutegico Tylor (1871 apud LEacuteVI-

STRAUSS 2008 p 80) assume ser um ldquo[] conjunto complexo que inclui

conhecimento crenccedila arte moral lei costumes e vaacuterias outras aptidotildees e haacutebitos

adquiridos pelo homem como membro de uma sociedaderdquo podendo ser considerado

deste modo que toda produccedilatildeo humana eacute cultura seja adquirida desenvolvida

transformada ou em seus muacuteltiplos aspectos O ser humano atribui significados que

transpassam a funcionalidade dos objetos Simbolizar faz parte da natureza humana

que atribui emoccedilotildees e afetos aos artefatos dando uma dinacircmica simboacutelica agraves formas

No ensaio O conceito e a trageacutedia da cultura publicado no livro Philosophische

Kultur Simmel aborda o processo cultural de maneira dual numa dialeacutetica entre forma

e alma

A cultura origina-se ndash e isto eacute simplesmente o essencial para o seu entendimento ndash na medida em que se reuacutenem dois elementos que ela natildeo conteacutem por si mesma a alma subjetiva e o produto objetivamente espiritual (SIMMEL 1911 apud WAIZBORT 2000 p 117)

Tendo o objeto como mediador da dialeacutetica o percurso a ser seguido se daraacute do

sujeito para o objeto (objetivaccedilatildeo) e no rumo oposto do objeto para o sujeito (re-

subjetivaccedilatildeo) Por isso a cultura eacute dual e simbioacutetica

O objeto enquanto forma pleno em significaccedilatildeo transpassa o mundo material e

atinge a imaginaccedilatildeo simboacutelica Segundo Cardoso (1998) os artefatos detecircm diferentes

niacuteveis de significados uns mais intriacutensecos e inseparaacuteveis e outros mais superficiais

e mutaacuteveis Os do primeiro grupo (intriacutensecos) funcionam como raiz do objeto estaacute na

mateacuteria e na sua transformaccedilatildeo enquanto no segundo (inseparaacuteveis) os significados

ocorrem na apropriaccedilatildeo do objeto pelo consumidor Com isto o autor apresenta o

19

objeto como manifestaccedilatildeo cultural pois sua materialidade comporta valores

referentes ao tempo e espaccedilo em que satildeo desenvolvidos e usado

Os conceitos de cultura apresentados acima segundo Tylor Simmel e Cardoso

apresentam em comum o homem como formante da cultura que ela apenas existe

atraveacutes do homem que a cria e agrega valores a essas criaccedilotildees Valores que podem

variar de acordo com o tempo e o espaccedilo em que a cultura eacute vivenciada

Eacute nesse sentido como formante na produccedilatildeo dos artefatos que o design cria

cultura material ldquoO designer participa na criaccedilatildeo e desenvolvimento da cultura toma

parte da histoacuteria da sua eacutepoca atraveacutes dos produtos e objetos que cria e desenvolverdquo

(FERREIRA NEVES e RODRIGUES 2012 p 37) Em especial na sociedade atual

que baseia sua identidade cultural nos materiais que satildeo produzidos

212 Cultura popular e festejos juninos

O termo cultura popular deteacutem muitos conceitos e concepccedilotildees de acordo com

Arantes (2007 p 7) essa expressatildeo recobre diferenciados pontos de vista que vatildeo de

um extremo ao outro desde a negaccedilatildeo da mesma como saber ateacute a apropriaccedilatildeo dela

para resistecircncia de um tempo ou mesmo de classes Os inuacutemeros conceitos do termo

dependem do contexto inserido ldquoSatildeo muito os seus significados e bastante

heterogecircneos e variaacuteveis os eventos que essa expressatildeo recobrerdquo (ARANTES 2007

p 7)

Segundo Canclini (1998) as culturas devem ser tomadas como hiacutebridas ou

seja as culturas de massa popular e culta natildeo satildeo estaacuteticas existe sempre transiccedilatildeo

entre as mesmas nenhuma delas eacute absolutamente pura Ainda sobre a cultura

popular o autor defende basicamente trecircs pontos que devem ser considerados para

projetar o olhar sobre as culturas populares primeiro que ela eacute tradicional mas natildeo

estaacutetica depois critica a importacircncia dada ao objeto de cultura e por uacuteltimo afirma que

a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

No primeiro ponto a cultura popular eacute tradicional e isso natildeo significa que a

mesma eacute estaacutetica ao contraacuterio ela vem se adaptando aos tempos urbanizando-se e

globalizando-se Na atualidade a cultura camponesa jaacute natildeo representa o maior

percentual da cultura popular Existe uma concordacircncia teoacuterica entre Arantes (2007)

e Candini (1998) quanto ao olhar da cultura popular como tradiccedilatildeo ao afirmar que

este olhar deturpa as mudanccedilas pelas quais os objetos passam ao longo do tempo

20

pois o olhar de tradiccedilatildeo enquadra a cultura popular no passado em um dado momento

em uma idade de ouro como define o autor Sob essa perspectiva

A ldquocultura popularrdquo surge como uma ldquooutrardquo cultura que por contraste ao saber culto dominante apresenta-se como ldquototalidaderdquo embora sendo na verdade construiacuteda atraveacutes da justaposiccedilatildeo de elementos residuais e fragmentaacuterios considerados resistentes a um processo ldquonaturalrdquo de deterioraccedilatildeo (ARANTES 2007 p 18 grifo do autor)

A partir desta perspectiva a cultura popular eacute construiacuteda pelos agentes

culturais os artesatildeos os espectadores dos meios massivos (CANCLINI 1998 p 13)

em um processo de justaposiccedilatildeo de siacutembolos eacute a encenaccedilatildeo do popular Ainda de

acordo com Canclini (1998 p 221) a apropriaccedilatildeo do popular acontece de maneira

hiacutebrida e complexa eacute a identificaccedilatildeo da tradiccedilatildeo de um povo ldquoO que define a cultura

popular [hellip] eacute a consciecircncia de que a cultura tanto pode ser instrumento da

conservaccedilatildeo como de transformaccedilatildeo socialrdquo (ARANTES 2007 p 54)

O segundo ponto abordado por Canclini (1998) faz uma criacutetica agrave importacircncia

atribuiacuteda aos objetos na cultura popular

Interessam mais os bens culturais ndash objetos lendas muacutesicas ndash que os agentes que os geram e consomem Essa fascinaccedilatildeo pelos produtos o descaso pelos processos e agentes sociais que os geram pelos usos que os modificam leva a valorizar nos objetos mais a sua repeticcedilatildeo que sua transformaccedilatildeo (CANCLINI 1998 p 211)

Por essa oacutetica os objetos tornam-se os principais representantes da cultura

popular e por isso o autor criacutetica essa importacircncia demasiada atribuiacuteda agrave eles

Cardoso (1998) chama esta relaccedilatildeo de fetichismo do objeto mais precisamente atribui

ao design a accedilatildeo de conferir ao objeto valores que natildeo satildeo de sua natureza podem

ser significados de ordens diversas aderindo-o novos estimas Para Canclini (1998)

tambeacutem possui a visatildeo de construccedilatildeo quanto ao popular e suas formas ele afirma

que a cultura popular deve ser vista como algo construiacutedo e natildeo preacute-existente E os

agentes que preservam e transmitem a cultura devem ter igual importacircncia

Conforme Canclini (1998) ainda sobre a concepccedilatildeo da cultura uma mesma

pessoa pode participar de vaacuterios circuitos culturais simultaneamente Conclui-se

dessa forma que os indiviacuteduos estatildeo em constante construccedilatildeo de um processo que

segundo Maffesoli (1998) eacute a dinacircmica social dando um perfil mutante ao sujeito poacutes-

21

moderno de futuro incerto e de presente vivo Eacute um indiviacuteduo de multifaces de muitas

tribos de muacuteltiplas qualidades profissotildees e paixotildees

E no terceiro ponto Canclini afirma que a cultura popular natildeo eacute melancoacutelica

uma vez que os agentes sociais vivenciam com fervor essa cultura inclusive nas

festas nas escolas e nos museus por exemplo Neste contexto enquadram-se as

festas juninas quando as tradiccedilotildees satildeo ritualizadas teatralizadas para legitimar suas

origens

As escolas satildeo de fundamental importacircncia na passagem das informaccedilotildees das

culturas populares atraveacutes do ensino dos festejos celebraccedilotildees ou mesmo passeios

Assim como os museus Canclini (1998) os tem como um palco uma vitrine do

repertoacuterio das tradiccedilotildees contidas nos objetos E reconhece

[hellip] que as alianccedilas involuntaacuterias ou deliberadas dos museus com os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o turismo foram mais eficazes para a difusatildeo cultural que as tentativas dos artistas de levar a arte para as ruas (CANCLINI 1998 p 170)

Nesse sentido a arte se faz presente no cotidiano das pessoas a partir da accedilatildeo

de vaacuterios agentes

2121 Festa Junina do solstiacutecio agraves maiores festas de Satildeo Joatildeo do mundo

Eacute na perspectiva das festas e da cultura popular que o objeto de estudo deste

projeto seraacute situado A festa junina existe desde a Antiguidade muito antes de tornar-

se uma festa popular brasileira Para Arauacutejo (2007) as festas tecircm em sua aurora a

magia de agradecer e pedir proteccedilatildeo agrave natureza para que permita bons plantios e

produccedilotildees Estes rituais e celebraccedilotildees surgiram na transiccedilatildeo do homem de coletor

para agricultor quando ele pode plantar haacute cerca de 10 mil anos

A festa inter-relaciona-se natildeo soacute com a produccedilatildeo mas tambeacutem com os meios de trabalho exploraccedilatildeo e distribuiccedilatildeo Ela eacute portanto consequecircncia das proacuteprias forccedilas de coesatildeo grupal reforccediladora da solidariedade vicinal cujas raiacutezes estatildeo no instinto bioloacutegico da ajuda nos grupos familiares (ARAUacuteJO 2007 p 5)

Partindo desta afirmaccedilatildeo a festa eacute uma forma de manifestaccedilatildeo de vida social

de agrupamentos humanos Ainda levando em consideraccedilatildeo os periacuteodos de

produccedilotildees e colheitas fizeram com que em determinados periacuteodos do ano o homem

22

celebrasse e pedisse proteccedilatildeo para os seus plantios dando origem agrave celebraccedilotildees

como as de solstiacutecios de veratildeo e ou inverno que satildeo comemorados nos hemisfeacuterios

norte e sul

Muitos aspectos do cotidiano satildeo relacionados agrave astronomia para estes rituais

mais precisamente a movimentaccedilatildeo do sol eacute levada em consideraccedilatildeo Mouratildeo (2001)

afirma que o homem observou o sol e suas alteraccedilotildees e o que a ausecircncia e presenccedila

do mesmo ocasionava a natureza Dessas observaccedilotildees surgiram as quatro estaccedilotildees

o calendaacuterio solar e os solstiacutecios

Segundo Arauacutejo (2007) existe a influecircncia dos solstiacutecios nos dois grandes

grupos o ciclo do veratildeo e o do inverno No Brasil durante as festas do ciclo de inverno

satildeo comemorados os festejos juninos entretanto esses festejos tecircm como principal

influecircncia as festas dos solstiacutecios de veratildeo que acontecem na Europa no mesmo

periacuteodo

A festa junina recebeu grande influecircncia dos paiacuteses ibeacutericos e foi adaptada para

os costumes e realidades brasileiros Satildeo Joatildeo eacute a festa da produccedilatildeo eacute a principal

festa do solstiacutecio de inverno ldquoonde haacute esperanccedila de colheita promessa de casamento

Eacute a festa da alegria do agradecimento do pagamento de promessasrdquo (ARAUacuteJO

2007 p 9)

Toda a fauna e a flora possuem seu ciclo de reproduccedilatildeo e gestaccedilatildeo de plantio

e colheita satildeo os ritos de fertilidade da terra ligados ao cultivo Segundo Frazer

(1982) dos mitos de celebraccedilotildees para esses ritos da natureza os dos povos que

viviam as margens do Mediterracircneo Oriental na Idade Antiga fundamentam em parte

o mito contemporacircneo da festa de Satildeo Joatildeo Eles celebravam esses periacuteodos sob os

nomes de seus deuses Osiacuteris (Egito) Aacutetis (Siacuteria) Adocircnis (Greacutecia) e Tamuz

(Babilocircnia)

Cada povo tinha o seu deus e seu mito que tinham como tema essencial a

conexatildeo entre o ciclo da vegetaccedilatildeo e a vida e morte desses deuses Assim como a

vegetaccedilatildeo que possui sua morte e surgimento prevista plantio e colheita anualmente

os deuses tambeacutem tinham sua morte e ressureiccedilatildeo relacionados com as datas das

colheitas ou o contraacuterio as colheitas relacionadas com o renascimento desses

deuses No outono as folhas caem e na primavera floresce e semeia dando iniacutecio a

um novo ciclo

23

Na literatura religiosa da Babilocircnia Tamuz surge como o jovem esposo ou amante de Istar a grande deusa-matildee a personificaccedilatildeo das energias reprodutivas da natureza [hellip] a crenccedila de que Tamuz morria anualmente passando da alegre terra para o sombrio mundo subterracircneo e que todos os anos sua amante divina viajava em busca dele [hellip] Durante sua ausecircncia a paixatildeo do amor deixava de atuar homens e animais esqueciam de reproduzir-se toda a vida ficava ameaccedilada de extinccedilatildeo Tatildeo intimamente ligadas agrave deusa estavam as funccedilotildees sexuais de todo o reino animal que sem a sua presenccedila elas natildeo podiam ser realizadas Um mensageiro do grande deus Ea era por isso enviado para resgatar a deusa de quem tanta coisa dependia A inflexiacutevel rainha das regiotildees infernais Alatu ou Eresh-Kigal permitia natildeo sem relutacircncia que Istar fosse aspergida com a aacutegua da vida e partisse provavelmente em companhia de seu amante Tamuz para o mundo superior e que com esse retorno toda a natureza revivesse (FRAZER 1982 p 304-305)

O mito se repete na literatura grega Adocircnis eacute um jovem amado pela deusa

Afrodite que o ocultou numa arca e a confiou a Perseacutefone a deusa da morte Ao abrir

a arca a mesma se encantou com a beleza do jovem dando iniacutecio a disputa com a

deusa do amor Zeus determinou que Adocircnis deveria viver parte do ano no mundo

inferior com Perseacutefone sendo este o periacuteodo de preparaccedilatildeo da terra enquanto que o

periacuteodo em que o jovem estava no mundo superior com Afrodite era o periacuteodo de

frutificaccedilatildeo da colheita (FRAZER 1982)

O culto de Adocircnis era praticado pelos povos semitas da Babilocircnia e da Siacuteria e os gregos deles o tomaram jaacute no seacuteculo VII aC O verdadeiro nome do deus era Tamuz o nome de Adocircnis eacute meramente o adon semita ldquosenhorrdquo tiacutetulo de honra pelo qual os seus adoradores a ele se dirigiam (FRAZER 1982 p 303)

Estes rituais de fertilidade perduraram atraveacutes do tempo e na era cristatilde foi

adotado e adaptado pela Igreja Catoacutelica logo a festa de Tamuz e Adocircnis passaram

a ser a festa de Satildeo Joatildeo ou a festa do solstiacutecio de veratildeo na Europa Satildeo Joatildeo eacute

conhecido como santo festeiro e protetor dos casados e o uacutenico santo catoacutelico que

tem seu nascimento comemorado no caso em de 24 de junho e natildeo sua morte Por

realizar batizados inclusive o de Jesus seu primo ficou conhecido como o Batista

[] eacute o ritual pagatildeo que se transladou para o catolicismo romano que lhe deu como padroeiro um santo cuja data agiograacutefica [sic] se localiza no periacuteodo solsticial eacutepoca no Brasil do iniacutecio das colheitas dentre as quais se destaca a do milho (Arauacutejo 2007 12 e 13)

Em todo o calendaacuterio ocidental haacute inuacutemeras festas dos fogos onde satildeo

acendidas fogueiras para espantar os maus espiacuteritos o frio ou mesmo chamuscar

24

comidas Frazer faz a relaccedilatildeo entre a festa dos fogos dos solstiacutecios de veratildeo (na

Europa) com a festa de Satildeo Joatildeo Batista

Mas a eacutepoca em que geralmente essas festas dos fogos eram realizadas em

toda a Europa eacute o solstiacutecio de veratildeo isto eacute a veacutespera do solstiacutecio (23 de

junho) ou o proacuteprio dia do solstiacutecio (24 de junho) Um leve colorido cristatildeo lhe

foi dado atribuindo-se lhe o nome de festa de Satildeo Joatildeo Batista mas natildeo pode

haver duacutevidas de que a celebraccedilatildeo data de uma eacutepoca muito anterior ao iniacutecio

da nossa era O solstiacutecio de veratildeo eacute o grande momento na carreira do sol

quando depois de ir subindo dia a dia cada vez mais alto no ceacuteu ele para e

a partir de entatildeo faz de volta o caminho celeste que havia trilhado (FRAZER

1982 p 539 e 540)

As festas juninas no Brasil assim nomeadas por ocorrerem no mecircs de junho

homenageia trecircs santos Santo Antocircnio (13 de junho) Satildeo Joatildeo (24 de junho) e Satildeo

Pedro (29 de junho) Em algumas cidades do Nordeste as festas ocorrem o mecircs

inteiro tendo os aacutepices nas veacutesperas dos dias dedicados aos santos homenageados

Nessas noites satildeo acendidas fogueiras realizam-se simpatias sortileacutegios e

pagamento de promessas

As celebraccedilotildees juninas ocorrem em todo o Brasil e varia em cada regiatildeo com

suas comidas tipos de danccedilas cantos brincadeiras e simpatias Mas em essecircncia e

em comum homenageia-se os santos com danccedilas e fogueiras Como afirma Arauacutejo

Festa presente em todas as aacutereas culturais brasileiras nas quais uniformemente gira em torno do fogo Nela se tiram sortes prevendo o futuro e embora seja nosso paiacutes tropical onde a vigiacutelia eacute indispensaacutevel eacute esta [sic] elemento que permanece pois nessa noite come-se muito e principalmente os alimentos chamuscados pelo fogo [hellip] (ARAUacuteJO 2007 p 13)

A festa de Satildeo Joatildeo eacute a festa do fogo que teve iniacutecio como festa caipira festa

da colheita e na atualidade eacute uma festa popular de identidade de um povo que possui

seu apogeu nas cidades grandes as quais se tornam de caipira para abraccedilar o ritual

No Nordeste brasileiro as cidades de Campina Grande na Paraiacuteba e Caruaru

em Pernambuco disputam o tiacutetulo de maior Satildeo Joatildeo do mundo com festas que

ultrapassam trinta dias e reuacutenem cerca de dois milhotildees de pessoas cada uma (WOLF

1997) Fazem parte do calendaacuterio brasileiro de turismo e recebem um grande nuacutemero

de visitantes Afirmaccedilatildeo do enraizamento da cultura popular em forma de espetaacuteculo

expressatildeo do imaginaacuterio coletivo

25

213 Anaacutelise da festa junina no nordeste brasileiro o mito e a cidade

A festa Junina tem origem rural eacute associada ao ciclo da colheita e ao calendaacuterio

catoacutelico O processo de migraccedilatildeo da populaccedilatildeo rural para a cidade fez com que o

ritual tambeacutem migrasse pois o mesmo faz parte do repertoacuterio do homem do campo

Nas cidades as festas juninas tornaram-se um evento turiacutestico poliacutetico e social

Tornou-se um grande espetaacuteculo (MORIGI 2005 p 2)

Em algumas cidades do Nordeste como Campina Grande e Caruaru a festa

pode durar mais de 30 dias Nessas cidades geralmente as celebraccedilotildees tem iniacutecio

antes do dia 12 veacutespera de Santo Antocircnio perpassa o dia se Satildeo Joatildeo que eacute feriado

em todo Nordeste e se prologam ademais do dia 28 de junho na noite anterior ao Dia

de Satildeo Pedro que conhecido por portar as chaves dos ceacuteus tem a reputaccedilatildeo de

fechar o ciclo junino A importacircncia dada a esta festa no Nordeste brasileiro eacute muito

maior do que a dada agraves festas natalinas tanto cultural como politicamente

A festa popular no Nordeste estaacute enraizada no lugar tem os valores culturais

da regiatildeo expressa o pertencimento e o orgulho de ser nordestino Estaacute marcada nas

muacutesicas tradicionais nas cantorias e repentes nas quadrilhas nas barracas de

comidas e bebidas O ritual da festa de Satildeo Joatildeo manifesta o imaginaacuterio de um povo

articula-se com a cidade

Certeau (2012 p 41) trata com a seguinte perspectiva

A linguagem do imaginaacuterio multiplica-se Ela circula por toda as nossas

cidades Fala agrave multidatildeo e ela a fala Eacute o nosso o ar artificial que respiramos

o elemento urbano no qual temos de pensar (Certeau 2012 p 41)

A importacircncia da festa pode ser medida pela quantidade de turistas e curiosos

que as celebraccedilotildees atraem Caruaru e Campina Grande satildeo as que mais atraem

puacuteblico juntas ultrapassam 2 milhotildees de pessoas ao longo dos 30 dias de festas satildeo

os maiores Satildeo Joatildeo do mundo (CONCEICcedilAtildeO e JANSEN 2016)

As cidades se preparam para receber e condensar os participantes que

compartilham a mesma vivacidade de viver e festejar a cultura regional Agregando

diversos fragmentos e caracteriacutesticas da cultura popular da regiatildeo como muacutesicas

ritmos danccedilas crenccedilas e imagens elementos que remetem ao tradicional entretanto

com uma caracteriacutesticas contemporacircneas Arantes (2007 p15) afirma que eacute ldquo[hellip]

26

manipulando repertoacuterios de fragmentos de lsquocoisas popularesrsquo que em muitas

sociedades inclusive a nossa expressa-se e reafirma-se simbolicamente a identidade

da naccedilatildeo como um todo ou quando muito das regiotildees [hellip]rdquo Satildeo esses modos e

objetos que satildeo formantes da cultura popular mesmo tendo sofrido mudanccedilas satildeo

os processos de hibridizaccedilotildees abordados por Canclini (1998)

Eacute um ciclo iniciado pelo mito que eacute ritualizado o ritual tomado como cultura

que eacute composta por siacutembolos os quais representam os mitos Mizanzuk (2007) afirma

que o mito expotildee o siacutembolo liga o coletivo ao individual quando a razatildeo natildeo responde

ele pode explicar cabe ao receptor aceitar ou negar-lhe O ritual eacute a vivecircncia que

acontece partindo da aceitaccedilatildeo do mito ratifica-o revive e daacute nova energia para o

mito

Haacute diversas definiccedilotildees sobre o mito Para Gilbert Durand (PITTA 2015 p 148)

o mito eacute uma reflexatildeo que revela o estado de espiacuterito responde a perguntas da

natureza humana que natildeo tecircm soluccedilotildees racionalista restritas Campbell (1997) por

exemplo reflete sobre a funccedilatildeo de ligaccedilatildeo que o mito oferece ao homem tendo-o

como harmonia entre corpo e a mente a alma sendo o mesmo fundamental na

infacircncia para a mente e o trajeto entre ambos Enquanto para Mizanzuk (2007 p 20)

o mito demonstra um conhecimento infindaacutevel um grande respeito ao meio coacutedigo

de conduta e eacutetica ldquoregulador reflexivordquo do homem conecta o individual (microcosmo)

com o coletivo (macrocosmo universo)

Sobre esta conexatildeo do micro com macro eacute possiacutevel perceber nas cidades de

interior que se transformam nas ldquocapitais do forroacuterdquo como Campina Grande e Caruaru

Ocorre uma grande migraccedilatildeo do puacuteblico das capitais e regiotildees metropolitanas para

as cidades do interior dos Estados As cidades transformam-se numa efervescecircncia

de turistas dando origem a uma grande massa que tecircm em comum vivenciar o ritual

presente nos festejos juninos que une o profano e o sagrado o tradicional e o

moderno o rural e o urbano nas suas praacuteticas e imaginaacuterio coletivo

As cidades se preparam para receberem os turistas com grandes shows

gratuitos e satildeo decoradas com formas simboacutelicas que estatildeo ligadas ao ritual das

festas juninas Em Caruaru satildeo distribuiacutedos diversos polos culturais ao longo do

Centro da cidade onde ocorrem apresentaccedilotildees de quadrilhas repentes peacute-de-serra

e a oferta palcos para shows alternativos como por exemplo de grupo de rock

Nos palcos se apresentam cantores tradicionais e atraccedilotildees que estatildeo no gosto

do povo integrando cultura pop e de massa respectivamente tornando Caruaru

27

hiacutebrida e acolhedora aleacutem do polo do Alto do Moura que fica afastado do Centro da

cidade e deteacutem todo um repertoacuterio cultural com as esculturas e os mestres do barro

que fazem parte da cultura popular caruaruense

Na contemporaneidade a festa junina representa a heterogeneidade e o

hibridismo da sociedade da diversidade que povoa a cidade Ela unifica as mais

diversas configuraccedilotildees que a cidade pode apresentar de gecircneros de ritmos de

contraacuterios Para danccedilar em torno da fogueira nas quadrilhas eou nos palcos

alastrados pela cidade

214 A construccedilatildeo imageacutetica da esteacutetica da festa junina no nordeste brasileiro

As festas juninas ocorrem em todo o Brasil e cada regiatildeo agrega valores

regionais criando caracteriacutesticas uacutenicas em cada lugar apesar de todas trazerem

elementos em comum como as fogueiras as quadrilhas e as bandeirinhas coloridas

No caso especiacutefico do Nordeste destacam-se os siacutembolos da cultura local como o

cangaccedilo4 os repentistas5 os bacamarteiros6 entre outros que acabam integrados agrave

festa junina

Albuquerque Jr (2009 p 68) ressalta que a manifestaccedilatildeo artiacutestica da

populaccedilatildeo nordestina eacute a marca de sua cultura e nesse sentido eacute percebido que

atraveacutes desses elementos o Nordeste busca uma afirmaccedilatildeo do existir no global ldquoNatildeo

se trata pois de buscar uma cultura nacional ou regional uma identidade cultural ou

nacional mas de buscar diferenccedilas culturais buscar sermos sempre diferentes dos

outros e em noacutes mesmosrdquo (ALBUQUERQUE JUacuteNIOR 2009 p310) A este fenocircmeno

de autoconhecimento a partir de si para com o outro Maffesoli (1998) observa

[hellip] antes de poder ser pensada em sua essecircncia a existecircncia social ou

individual se daacute a ver em sua aparecircncia Ela estaacute inteira nesses fenocircmenos

que podem ser observados e que exprimem aquilo que convida a ser vivido

4 Cangaccedilo eacute o nome dado a um tipo de luta armada no Sertatildeo nordestino existiu do fim do seacuteculo XVIII aacute princiacutepio do seacuteculo XX Teve como principal liacuteder e representante Lampiatildeo (Virgulino Ferreira 1897-1938) 5 Repentistas satildeo poetas populares que fazem poemas e rimas espontacircneos a partir de motivos do cotidiano sempre acompanhados de algum instrumento como violatildeo ou pandeiro 6 Satildeo grupos armados com bacamartes que atiram para cima e danccedilam sincronizados ldquo[hellip] teriam se originado de soldados vitoriosos em batalhas de geraccedilotildees anteriores principalmente na Guerra do Paraguai entre os anos de 1864 e 1870 O grupo de Vertentes por sinal se veste sempre com elementos que relembram os cangaceiros e os soldados da guerrardquo (COUTINHO 2016) Cultura popular muito forte nas cidades do interior de Pernambuco

28

ou que permite que cada um e a sociedade como um todo viva (MAFFESOLI

1998 p 181)

Assim a festa junina no Nordeste eacute identificada por elementos que constroem

a proacutepria identidade nordestina inseridos num contexto onde vaacuterios elementos da

cultura popular representam os siacutembolos tradicionais no caso a fogueira as comidas

tiacutepicas as bandeirinhas coloridas o chapeacuteu de palha e o vestuaacuterio por exemplo A

apresentaccedilatildeo desses elementos se daraacute em duas etapas considerando os momentos

histoacutericos de inserccedilatildeo dos elementos no ritual da festa de Satildeo Joatildeo O primeiro satildeo

os acrescentados no Brasil e no segundo momento os elementos que existem desde

o mito de Tamuz o mito fundador

2141 Elementos simboacutelicos inseridos no Brasil

Quadrilhas juninas

A quadrilha chegou ao Brasil com a corte portuguesa em 1808 O baile teve

sua origem na contradanccedila7 da Gratilde-Bretanha expandida por toda a Europa Na

Franccedila chamava-se quadrille enquanto os portugueses a chamavam quadrilha

(GIFFONI 1973)

No Brasil natildeo levou muito tempo para se popularizar o baile logo passou a ser

copiado pelo povo que bailava nas grandes festas como batismos casamentos e

festas dos santos No final do seacuteculo XIX novas formas de danccedila surgiam entre elas

a polcae o lundu No Brasil Repuacuteblica os costumes coloniais foram menosprezados

pela burguesia urbana Segundo Chianca (2007) este foi provavelmente o motivo que

levou a quadrilha a concentrar-se na zona rural

A quadrilha foi permanecendo na zona rural Em 1930 com o fim da Repuacuteblica

velha e com Getuacutelio Vargas como presidente foi estimulado a busca de uma

identidade cultural brasileira Os valores da vida rural foram retomados a quadrilha

agora quadrilha junina (Painel 01) voltava a cena como elemento da cultura popular

brasileira (ALBUQUERQUE 2013 p45) Sintetizada como o festejo que ocorre apoacutes

7 Danccedila tradicional usada desde o seacuteculo XVIII essencialmente composta por pares que apresentam passos semelhantes entre rodopios avanccedilos e recuos posicionam-se geralmente em fileiras opostas ou intercaladas

29

o casamento junino fantasiada de rural traccedilada em trejeitos caipiras uma versatildeo

teatral da danccedila nobre

Painel 01 ndash Quadrilha e trajes tiacutepicos

Fonte Acervo do autor

30

A abertura da danccedila fica por conta da noiva e do noivo que satildeo seguidos por

outros pares todos vestidos como matutos8 organizados em fileiras compondo um

conjunto com evoluccedilotildees ordenadas pelo marcador9 da quadrilha As muacutesicas que

marcam o ritmo ganharam a sanfona o triangulo e a zabumba e canccedilotildees que retratam

o cotidiano da vida na roccedila Aleacutem do casamento matuto a quadrilha traz o casal dos

reis do cangaccedilo Lampiatildeo e Maria Bonita que no geral participam da danccedila trazendo

sua bravura e o xaxado10

Na contemporaneidade Menezes Neto (2008) descreve caracteriacutesticas de ao

menos trecircs diferentes tipos de quadrilhas juninas Satildeo elas as quadrilhas matuta

estilizadas e recriadas

[hellip] as quadrilhas matutas reconhecidas como as legiacutetimas portadoras da

tradiccedilatildeo as quadrilhas estilizadas apontadas como precursoras de um

periacuteodo laboratorial no qual aconteceram as primeiras mudanccedilas na esteacutetica

e as quadrilhas recriadas como uma proposta teatral aliada a elementos

regionais (MENEZES NETO 2008 p12)

Todas essas classificaccedilotildees levam em consideraccedilatildeo a incorporaccedilatildeo e o

desenvolvimento das quadrilhas no meio urbano A quadrilha matuta ou tradicional

traz para a cidade uma caricatura do homem do campo Este eacute o centro da

performance da danccedila Os danccedilarinos trazem roupas remendadas como se

estivessem velhas bigodes sardas pintados assim como os dentes pintados

exibindo banguelas

A quadrilha tambeacutem contribui com a adesatildeo do forroacute como ritmo tiacutepico das

festas de Satildeo Joatildeo no Nordeste Enquanto a quadrilha estilizada apresenta-se com

roupas luxuosas que em nada lembram a matuta a danccedila eacute o foco principal da

mesma Foi responsaacutevel pela introduccedilatildeo de outros gecircneros musicais na quadrilha Por

fim a quadrilha recriada apresenta um mix das duas anteriores as roupas mesclam

um pouco das duas integra outros ritmos musicais regionais Para melhor apresentar

as semelhanccedilas e diferenccedilas entre o objeto estudado segue uma tabela de

comparaccedilatildeo (Tabela 01) entre as trecircs baseada na tese de Menezes Neto (2008)

8 No Nordeste brasileiro eacute um adjetivo ou nome atribuiacutedo para pessoas que tecircm trejeitos campestres sotaques e modos do campo mas que vivem ou passam algum tempo nas cidades 9 Eacute o organizador da quadrilha que grita os passos e comum mente narra o casamento representado durante a apresentaccedilatildeo da danccedila Tambeacutem anima a plateia 10 Danccedila popular no Sertatildeo pernambucano praticada inicialmente pelos cangaceiros

31

Tabela 01 ndash Comparaccedilatildeo entre as quadrilhas

TABELA DE COMPARACcedilAtildeO ENTRE AS QUADRILHAS

MATUTA ESTILIZADA RECRIADA

PERSONAGENS Noivos padre

delegado fofoqueiras

matutos

Noivos rainha e

princesa do milho

lampiatildeo e Maria

Bonita ciganos

Tem noivos e matutos

VESTUAacuteRIO Vestidos camisas e

calccedilas em cores vivas

com remendos em

chita e xadrez

Os trajes satildeo os

mesmos mas ganham

lantejoulas brilhos

cetins

O vestuaacuterio voltou o

uso das chitas e

xadrezes agora

incorporados como

recortes da

indumentaacuteria

MAQUIAGEM Homens de bigodes

mulheres de sardas e

dentes todos pintados

de preto

Maquiagem de festa

profissionais

Maquiagem de festa

profissionais

MUacuteSICA Forroacute Forroacute axeacute hits do

momento

Forroacute coco xaxado

ciranda ritmos

regionais

MARCADOR Coordena a danccedila

marca cada mudanccedila

de passo

Anima a torcida a

evoluccedilatildeo acontece

sem nenhuma

influecircncia do puxador

Anima a torcida e se

integra agrave evoluccedilatildeo da

quadrilha por vezes

marca alguns passos

Fonte Menezes Neto 2008

Casamento matuto

O casamento eacute inseparaacutevel da quadrilha pois ele faz parte da teatralizaccedilatildeo da

mesma Na vida rural o casamento eacute o evento mais importante para a famiacutelia Na

atualidade a representaccedilatildeo dele nas quadrilhas juninas eacute na sua grande maioria uma

saacutetira ao casamento tradicional principalmente nas quadrilhas matutas o noivo eacute um

becircbado que natildeo quer casar com a noiva graacutevida e o pai tecircm que capturaacute-lo com a

ajuda do cangaccedilo

Jaacute nas quadrilhas estilizados satildeo mais romacircnticos e por vezes fazem uma

criacutetica agrave sociedade e agrave poliacutetica O escritor Martins Pena retratou os casamentos festas

na roccedila e na cidade pagamentos de dote e outros temas no contexto social do seacuteculo

XIX Duas comeacutedias teatrais do carioca satildeo claacutessicos do casamento matuto O juiz de

paz na roccedila (1842) e O namorador ou A noite de Satildeo Joatildeo (1845) Estas obras fazem

saacutetiras aos casamentos rurais do periacuteodo

Comidas tiacutepicas juninas

32

As comidas tiacutepicas satildeo produtos genuinamente agriacutecolas como milho

amendoim macaxeira (mandioca) batata-doce No periacuteodo de colonizaccedilatildeo eram

cultivadas pelos nativos e permaneceram fazendo parte da base alimentar Segundo

Arauacutejo (2007) no periacuteodo dos festejos juninos como forma de agradecimento pela

colheita farta os produtos satildeo preparados das mais diversas formas bolos patildees e

cozidos Tambeacutem satildeo chamuscados na fogueira e consumidas ao redor da mesma

A cidade de Caruaru possui o recorde de maior cuscuz do mundo registrado no

Guinnes book de 1996 (GIL 2012) A cuscuzeira mede 33 metros de altura e 15 de

diacircmetro 700 quilos de massa podem ser preparados de uma uacutenica vez O registro

deu iniacutecio a muitas outras comidas colossais A cidade eacute famosa por preparar todas

as guloseimas juninas no tamanho gigante

Cidades cenograacuteficas

As cidades cenograacuteficas (Painel 02) satildeo um dos elementos mais recentes

incorporados agrave festa junina Tanto as de Campina Grande e Caruaru satildeo reacuteplicas de

cidades A de Campina Grande eacute uma reacuteplica dela mesma quando teve iniacutecio os

festejos juninos A de Caruaru eacute inspirada em uma cidade tiacutepica do sertatildeo nordestino

com casas de arquitetura vernaacutecula e coloridas tendo igreja teatro do mamulengo11

e restaurantes compondo a Vila do Forroacute

11 Teatro de bonecos(fantoches) tiacutepicos de Pernambuco eacute praticado em praccedilas puacuteblicas nos periacuteodos

de festas Representam passagens biacuteblicas e cotidianas

33

Painel 02 ndash Cidades cenoacutegraficas

Fonte Acervo do autor

2142 Elementos simboacutelicos com origem no mito fundador

Balatildeo

Segundo Arauacutejo (2007) o balatildeo surgiu para levar pedidos para Satildeo Joatildeo as

preces devem ser feitas quando o balatildeo estaacute subindo O pedido natildeo seraacute atendido se

o balatildeo queimar pois o santo natildeo iraacute recebecirc-lo Os balotildees tem as mais variadas

formas charuto piatildeo zepelim e os tradicionais de gomos (Painel 03) Em 1998 foi

criado o ldquoArtigo 42 da Lei 9605 de crimes ambientais que passou a considerar o ato

de fabricar vender transportar ou soltar balotildees como ilegal [] em aacutereas urbanas ou

qualquer tipo de assentamento humanordquo (PENSATA 2016 p95) a fim de evitar

incecircndios em florestas e acidentes

34

Painel 03ndash Balotildees de Satildeo Joatildeo

Fonte Acervo do autor

Fogueira

A fogueira (Painel 04) eacute a alma da festa eacute o fogo como bom pressaacutegio de

agradecimento batismo e para espantar os maus espiacuteritos das plantaccedilotildees Ela

aquece e une as pessoas ao seu redor Cada santo tem uma fogueira a qual eacute armada

das mais diversas formas quadradas redondas triangulares Ela eacute acesa pelo dono

da casa depois que o sol se potildee (ARAUacuteJO 2007 p 22) Menezes Neto (2008) aborda

a fogueira com base no mito fundador com respeito agrave fertilidade que a mesma

simboliza como sacramento do casamento que pode ser consagrado com benccedilatildeo da

fogueira de Satildeo Joatildeo

35

Painel 04ndash Fogueira

Fonte Acervo do autor

Bandeirinhas

As bandeirinhas tecircm origem no mastro junino (Painel 05) Satildeo bandeiras de

tecido com as figuras dos santos sendo cada uma com um santo Satildeo fixadas em

madeiras preparadas pelo povo

Painel 05ndash Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

36

O mastro recebe tratamento especial por parte daquele [SIC]que vatildeo prepara-

lo a escolha da madeira qualidade e forma Tem que ser a mais reta

possiacutevel deve ser cortada numa sexta-feira minguante por trecircs pessoas que

antes de iniciarem a derrubada de empurrarem o machado rezaratildeo um

padre-nosso (ARAUacuteJO 2007 p 22)

Reza-se e lava-se as bandeiras em aacutegua para purifica-las como uma cerimocircnia

de batismo Assim as bandeirinhas permanecem no mastro purificando toda a festa

(Painel 06) por este motivo estaacute por toda a parte no periacuteodo de festejo junino Junto

com os balotildees satildeo os elementos mais usados para representar o festejo

Painel 06ndash Mastros dos santos juninos

Fonte Acervo do autor

Aqui foram abordados alguns entre tantos siacutembolos que compotildeem os festejos

juninos a fim de fundamentar o trabalho desses elementos no projeto de vitrina

37

215 Representaccedilotildees artiacutesticas da festa de Satildeo Joatildeo

Aqui seratildeo exibidos alguns trabalhos de artistas brasileiros que inspiraram-se

na temaacutetica dos festejos juninos Assim como os designers e outros profissionais

Considerando que este tema eacute uma forte caracteriacutestica da cultura brasileira como foi

tratado anteriormente

Com suas celebres vistas aeacutereas repletas de balotildees em chamas nas obras de

Veiga Guignard (1896 - 1962) os balotildees juninos satildeo marcantes retratando a noite de

Satildeo Joatildeo como na (Figura 01)

Figura 01 - Noite de Satildeo Joatildeo 1961 oacuteleo sobre tela

Fonte RIBEIRO 2008

As noites de Satildeo Joatildeo foram inuacutemeras vezes motivo das pinturas de

Guignard Natildeo eacute por acaso Seu pai fazia aniversaacuterio neste dia e costumava

oferecer um almoccedilo ao ar livre e agrave noite arranjava uma linda exibiccedilatildeo de

fogos de artifiacutecio com balotildees subindo ao ceacuteu acordando o menino para ver

Estas noites marcaram para sempre a sensibilidade deste menino-artista

(RIBEIRO 2008 p 2)

38

Anita Malfatti (1889-1964) foi uma das representantes do movimento

modernista no Brasil era uma rebelde a teacutecnica natildeo era o mais importante nas suas

pinturas sim a liberdade em retratar Pintava o povo suas festas populares seus

trabalhos a vida na roccedila de maneira livre (Figura 02) Buscava uma arte livre ldquoFesta

de cores e de formas e livre roacutetulos e preocupaccedilotildees esteacuteticasrdquo (GREGGIO 2001

p110)

Figura 02 - Festa Satildeo Joatildeo com guirlandas

Fonte GREGGIO 2001 p121

Conhecido como o pintor das bandeirinhas Alfredo Volpi (1896-1988) um

premiado pintor da segunda geraccedilatildeo do modernismo no Brasil Foi singular no

trabalho com as cores ele criava suas cores atraveacutes da teacutecnica de tecircmpera que lhe

deu a liberdade de possuir cores uacutenicas tornando-se uma de suas marcas ldquoCom o

tempo seu domiacutenio da tecircmpera foi atingindo a excepcionalidade e iria tornaacute-lo dono e

senhor da Corrdquo (MATTAR 2014 p 6)

39

Dentre inuacutemeras fases de sua expressotildees artiacutesticas na de deacutecada de 50 suas

obras passaram a ter caracteriacutesticas concretistas expressas atraveacutes dos usos das

formas e cores Como falou o pintor em entrevista

ldquo() estava soacute esperando o horaacuterio do trem de madrugada fui dar

uma volta entatildeo tive este impacto vi aquelas bandeiras Tudo fechado com

essas bandeiras me emocionou isso Fiz uma tentativa entatildeo compus as

fachadas com as bandeiras Mais tarde entatildeo consegui resolver soacute com

bandeirasrdquo (SCHENBERG 1971 apud MATTAR 2014 p6)

O artista afirmava que seu problema se tratava de formas linhas e cores E

esta fase de suas produccedilotildees artiacutesticas eacute a que melhor expressa sua resposta para

este problema Primeiro com as fachadas com bandeiras (Figura 03) e depois

utilizando-se apenas das formas linhas e cores das bandeiras (Figura 04) trabalhou

volume movimento profundidade nos seus afrescos Potencializada na expressiva

brincadeira de ogivas (Figura 05) que com as mesmas linhas e formas apenas

alterando combinaccedilotildees das cores mudava completamente a expressatildeo da pintura

40

Figura 03 ndash Fachadas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p52

Figura 04 - Bandeirinhas estruturadas com mastros Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p92

41

Figura 05 ndash Ogivas Tecircmpera sobre tela Deacutecada de 70

Fonte MATTAR 2014 p98 e 99

216 As influecircncias da esteacutetica da festa de satildeo Joatildeo no design

A apropriaccedilatildeo da cultura popular pode ser um diferencial no campo do design

Mizanzuk (2007) aborda o design como ponte Segundo o autor o design cria

imagens entendamos a imagem como reflexo de algo maior como ponte para o

siacutembolo Por isso o designer pode e deve auxiliar a sociedade na retomada de valores

coletivo Alguns exemplos deste elo seratildeo tratados aqui sob as diferentes

perspectivas de atuaccedilatildeo do design como produto moda e graacutefico

No mecircs de junho a TokampStok apresenta uma coleccedilatildeo de louccedilas e decoraccedilotildees

para usar nas festas juninas Todas as linhas destinadas a essa temaacutetica contam com

pratos canecas copos panos de prato bandejas e outros utensiacutelios Todos

estampados por artistas brasileiros renomados e que juntos agrave TokampStok valorizam a

cultura popular

Em 2013 o estilista e cenoacutegrafo Ronaldo Fraga foi o responsaacutevel pela linha

Mamulengo inspirada nos bonecos feitos de papel machecirc moldados agrave matildeo Com

esta temaacutetica o artista ornamentou as mesas da Festa de Satildeo Joatildeo pelo Brasil (Figura

06)

42

Figura 06 ndash Linha Mamulengos Ronaldo Fraga para TokampStok

Fonte (OXFORD 2013)

Em 2015 foi o grafiteiro Derlon Almeida que assinou a coleccedilatildeo Sertatildeo Joatildeo

inspirada na literatura de cordel e na teacutecnica de xilogravura O uso do preto e branco

em simbiose com poucos toques de cores primarias azul amarelo e vermelho satildeo

as marcas registradas do artista que deixa suas impressotildees nas paredes do mundo

(Figura 07)

43

Figura 07 ndash Linha Sertatildeo Joatildeo Derlon Almeida para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2015)

O artista Cloacutevis Junior neste junho de 2016 tambeacutem deixou sua marca

registrada na linha de produtos juninos para TokampStok (Figura 08) Os produtos foram

inspirados na tela do artista chamada Festa das Cores na obra eacute representado um

casamento matuto com sanfoneiro e violinista A criaccedilatildeo traz estampas multicoloridas

e com personagens tiacutepicos da festa junina do Nordeste Celebrando com estilo a festa

de Satildeo Joatildeo

44

Figura 08 ndash Linha Festa das Cores Cloacutevis Junior para TokampStok

Fonte (TOKampSTOK 2016)

Algumas empresas de moda brasileira como a Forum e a Farm estatildeo sempre

abordando as raiacutezes culturais brasileiras em suas criaccedilotildees A Forum que estaacute entre

as marcas mais importantes na moda brasileira no mecircs de junho exibiu uma

publicaccedilatildeo no seu blog chamada ldquoEacute tempo de Satildeo Joatildeordquo para as festas juninas de

2016 A publicaccedilatildeo fica na categoria de cultura pop A empresa retrata como as festas

acontecem em todo o Brasil e propotildeem looks (Painel 07) ldquoPara entrar no clima de Satildeo

Joatildeo os looks seguem o mood12 com referecircncias nas cores e estampas da festa

apostando nos florais xadrez e claro muito jeansrdquo (FORUM 2016)

12 Estado emocional

45

Painel 07 ndash Seleccedilatildeo de peccedilas da Forum para festa junina

Fonte (FORUM 2016)

A Farm com loja fiacutesica no Rio de Janeiro e lojas virtuais eacute outra empresa que

estaacute sempre salientando a cultura popular e aderiu ao agrave efervescecircncia da festa junina

apresentando coleccedilatildeo (Painel 08) e lookbook (Painel 09) com estampas florais e

xadrezes como proposta de looks para usar na festa de Satildeo Joatildeo

46

Painel 08 ndash Seleccedilatildeo da Farm para festa junina 2013

Fonte (FARM 2013)

Painel 09 ndash Lookbook da Farm para festa junina 2016

Fonte (FARM 2016)

Alguns produtos tecircm suas embalagens caracterizadas para o periacuteodo de

festejos juninos Os artefatos satildeo os mais diversos como perfumes bebidas comidas

fogos de artificio mesmo tintas ganham roupagem especiais para celebrar

A Skol eacute patrocinadora do Satildeo Joatildeo de Caruaru e em 2015 personalizou as

latas das cervejas com elementos tiacutepicos como bandeirinhas fogueiras (Figura 09) A

Itaipava cerveja do grupo Petroacutepolis tambeacutem teve uma ediccedilatildeo especial (Figura 10)

47

que aleacutem dos elementos citados acima estampava frase como ldquoSe beleza desse

cadeia vocecirc pegaria prisatildeo perpeacutetuardquo e ldquoAcredita em amor agrave primeira vista Se natildeo

eu passo aqui mais uma vezrdquo (MEIOampMENSAGEM 2016)

Figura 09 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Skol

Fonte(MEIOampMENSAGEM 2015)

Figura 10 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Itaipava

Fonte (MEIOampMENSAGEM 2015)

O Boticaacuterio fez tambeacutem referecircncia agraves festas juninas em 2010 com o lanccedilamento

da linha Fun tendo a coleccedilatildeo Fun Arraiacutea disponibilizada para a regiatildeo Nordeste em

ediccedilatildeo limitada Os produtos foram a colocircnia Acqua (Figura 11) fragracircncia ciacutetrica floral

acompanhada com uma flor que pode ser usada no cabelo

48

Figura 11 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Desodorante colocircnia acqua cheiro de festa 150ml

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

E um kit de dois sabonetes nos aromas pamonha e peacute-de-moleque (Figura 12)

inspirados nas comidas tiacutepicas juninas

Figura 12 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo ndash Kit sabonetes perfumados

Fonte (DESIGNINNOVA 2010)

A empresa Suvinil em junho de 2015 fez referecircncia agrave tradiccedilatildeo das festas juninas

com uma embalagem especial para a lata de vinte litros (Figura 13) Vendidas nos

nove estados do Nordeste ldquoa embalagem traz um ceacuteu estrelado como pano de fundo

para bandeirinhas coloridas e dois sanfoneiros que embalam as canccedilotildees tiacutepicas

dessas festasrdquo (SUVINIL 2015) A Suvinil tambeacutem tem cores nomeadas com siacutembolos

49

juninos como maccedilatilde-do-amor (tom similar ao vermelho vinho) quentatildeo (tom similar ao

caqui) e festa junina (tom similar ao laranja terroso)

Figura 13 ndash Embalagem especial Satildeo Joatildeo - Suvinil

Fonte (SUVINIL 2015)

O que todos esses produtos tecircm em comum eacute que satildeo coleccedilotildees limitadas

inspiradas nas festas juninas e em sua maioria disponiacuteveis apenas no Nordeste

brasileiro O puacuteblico consumidor eacute tatildeo grande que algumas empresas consideram

desenvolver uma coleccedilatildeo para atender ao periacuteodo de 30 dias

50

22 A vitrina no societal

221 Design e vitrina

Estatildeo vinculados ao design diversos objetos fatores e conceitos que

possibilitam muitas ramificaccedilotildees configurando lhe como plural Essa multiplicidade eacute

importante na aproximaccedilatildeo com o mesmo O design estaacute relacionado conosco a todo

momento de manhatilde agrave noite estaacute em casa no trabalho no lazer de forma consciente

e inconsciente Para Faggiane (2006 p 49) ldquo[] eacute importante entender que em cada

eacutepoca dentro de um dado contexto satildeo apresentadas novas formas de design como

valor agregado e fator de diferenciaccedilatildeordquo

Neste contexto o design encontra-se em constante transformaccedilatildeo eacute um elo

conciliador entre diversas aacutereas sendo esse elo uma condiccedilatildeo inerente a praacutetica e

valores do design Para Schulmann o designer eacute multidisciplinar e seu principal

objetivo eacute atender agraves necessidades do seu puacuteblico-alvo

[] design eacute antes de tudo um meacutetodo criador integrador e horizontal O designer tem uma abordagem e uma experiecircncia multidisciplinares Ele eacute o especialista de um trabalho especifico para a anaacutelise e para a resoluccedilatildeo de problemas ligados ao desenvolvimento de um novo produto [] eacute preciso que o aspecto desse objeto comunique alguma mensagem permitindo ao comprador identificar caracteriacutesticas e as qualidades do que ele adquire em funccedilatildeo dos seus proacuteprios desejos e aspiraccedilotildees (SCHULMANN 1994 p56)

Com esta definiccedilatildeo o autor aponta que o design deve relacionar-se com

diferentes aacutereas afim de atender de modo satisfatoacuterio agraves necessidades do comprador

Cardoso (1998) pactua com Schulmann ao trazer o design como fenocircmeno humano

mais do que o processo de projetar e o da fabricaccedilatildeo dos objetos Para Cardoso

(1998) do ponto de vista antropoloacutegico o design visa dar existecircncia tornar concreta

as ideias abstratas e subjetivas

Levando em consideraccedilatildeo que o projeto de design reflete na sociedade

Moraes (1999 p 114) assegura que o designer tem como exerciacutecio de funccedilatildeo social

junto com a induacutestria diminuir a margem de erro na tentativa de construir um mundo

artificial mais interativo e inteligente Portanto o design natildeo eacute apenas uma atividade

projetual mas dentre outras caracteriacutesticas pode ser um gesto de representaccedilatildeo

comportamental de uma sociedade

51

Representaccedilotildees que estatildeo presentes principalmente no mercado de moda

marketing e comunicaccedilatildeo a globalizaccedilatildeo intensificou a velocidade das

transformaccedilotildees Segundo Maffesoli (2010 p23) quanto a esses sinais que se

apresentam na sociedade ldquoNatildeo se podem mais ignoraacute-los tanto mais que eles tendem

a encarnar-se Esses sinais enraiacutezam-se nesta terra Pois eacute bem neste mundo e natildeo

num outro por vir que estaacute a preocupaccedilatildeo primordial da sociedade poacutes-modernardquo

Para Faggiane (2006 p 62) ldquo[] o design eacute uma das diversas aacutereas

diretamente atingidas pela globalizaccedilatildeo A anaacutelise dos fatores que abrangem este fato

assim como das novas tendecircncias provenientes da globalizaccedilatildeo satildeo indispensaacuteveis

para o gerenciamento do designrdquo Com a abertura do mercado internacional torna-se

necessaacuterio estimular constantemente a venda atraveacutes da diferenciaccedilatildeo pelo design

pela publicidade pela comunicaccedilatildeo e pela promoccedilatildeo No panorama globalizado estatildeo

inseridos os designers

Nesse cenaacuterio o design de vitrina deve contribuir de forma significativa para

uma melhor utilizaccedilatildeo do potencial mercadoloacutegico conforme Moraes e Krucken (2008

p 7) ldquoA complexidade tende a tensotildees contraditoacuterias e imprevisiacuteveis e atraveacutes de

bruscas transformaccedilotildees impotildeem contiacutenuas adaptaccedilotildees e reorganizaccedilatildeo do sistema

em niacutevel de produccedilatildeo das vendas e do consumordquo Diante desse paradigma

apresenta- se a intervenccedilatildeo do designer de vitrina A cada renovaccedilatildeo de coleccedilatildeo

cada temporada inuacutemeras duacutevidas e questotildees surgem para o profissional como sobre

que meacutetodos e percursos usados para atender adequadamente empresa e

consumidor

Os profissionais que atuam na projeccedilatildeo de vitrinas em geral satildeo publicitaacuterios

artistas plaacutesticos designers de interior eou moda De modo geral atuam em parceria

de maneira multidisciplinar todos com objetivos de atender os flanadores renovar as

atraccedilotildees manter a vitrina alegre viva surpreendente para o diaacutelogo com o passante

assim como atender as perspectivas da marca satildeo os principais objetivos a serem

atendidos Existe uma certa felicidade no homem contemporacircneo em olhar as vitrinas

das lojas e em comprar como aborda Maffesoli (2010) eacute o prazer em flanar do homem

poacutes-moderno Concretizando uma conversaccedilatildeo imaginaacuteria com o exterior com o meio

e do designer como conciliador nessa interaccedilatildeo

Utilizando-se dos sentidos do receptor para atraiacute-lo construindo e organizando

esteticamente elementos como luz movimento cor textura criando um cenaacuterio

52

convidativo para que o observador tenha a possibilidade de perceber aleacutem daquilo

que eacute oferecido na vitrina

Sabemos que as vitrinas qualificam o lugar em que se encontram [] As

vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social representando

dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais de uma

eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacuterico (DEMETRESCO 2004 p12)

O designer de vitrinas desenvolve ambientaccedilotildees que possam se diferenciar

dentre outros espaccedilos para seduzir o apreciador articulando instrumentos de design

Um dos objetivos eacute tornar o curto tempo que o sujeito passa frente agrave vitrina em um

convite para aprofundar-se e natildeo apenas vecirc-la Construir uma imagem uma

encenaccedilatildeo em sintonia com a ideologia da empresa com a moda vigente e

relacionada com a sociedade deve ser o maior interesse do designer

O processo criativo se daacute de modo semelhante a todo processo de Design

levando-se em consideraccedilatildeo o briefing cria-se e executa-se para que esta accedilatildeo seja

percebida pelo consumidor Ainda segundo Demetresco

Para produccedilatildeo de uma vitrina o criador tem como recurso orientador a

palavra ideacuteias de cor noccedilotildees de sentimentos e conceitos para os quais

precisa criar um linguajar visual dotando-lhe de uma materialidade de uma

textura de uma cor e por fim aportando uma lisibilidade agrave ideacuteia pois o briefing

quer uma proposta visual ldquoconcretardquo jaacute que uma encenaccedilatildeo eacute visual e

mateacuterica (DEMETRESCO 2005 p81)

O modo de expor os artigos para venda eacute diversificado seja no chatildeo em

bancas nas ruas nas feiras em lojas deve ser exposto aos olhos do consumidor A

vitrina eacute um espaccedilo delimitado que se propotildee a compor os diversos produtos em um

espaccedilo visual idealizando um consenso entre o lojista e o cliente

222 Vitrina seu lugar no espaccedilo

A vitrina estaacute ligada agrave vida e toda a sua efervescecircncia Sendo susceptiacutevel a

todas as mudanccedilas sociais e culturais de suas adjacecircncias A partir deste

entendimento a vitrina seraacute observada na complexidade que eacute a cidade o urbano

como se mostra e como eacute percebida A vitrina quando inserida na sociedade eacute capaz

53

de estabelecer ligaccedilotildees e transiccedilotildees entre diferentes elementos no espaccedilo Suas

possiacuteveis relaccedilotildees com os espaccedilos seratildeo aqui contextualizados em diaacutelogo com o

urbano

A vitrina estaacute em constante diaacutelogo com a cidade ambas freneacuteticas numa

explosatildeo de imagens e siacutembolo Para Bigal (2001 p7) ldquo[] a vitrina eacute parte integrante

do espaccedilo urbano e isso faz dela como ele um lugar de passagem por excelecircncia

Diante da vidraccedila passam a imagem e o imaginaacuterio da cidaderdquo Esta relaccedilatildeo

exterioriza informaccedilotildees que permeiam esta teia que da forma a vitrina e a cidade O

socioacutelogo Georg Simmel no ensaio intitulado a ponte e a porta trata da relaccedilatildeo homem

e espaccedilo assim como Gaston Bachelard no livro A poeacutetica do espaccedilo ambos tratam

sobre a conexatildeo do ser com os espaccedilos exterior e interior

A ponte se torna um valor esteacutetico agrave medida que realiza a conexatildeo entre o que estaacute separado natildeo soacute na realidade e para cumprir uma finalidade pratica mas tambeacutem torna estaacute unificaccedilatildeo diretamente visiacutevel A ponte oferece ao olho o mesmo suporte para a uniatildeo dos lados de uma paisagem que ela oferece ao corpo na realidade pratica (SIMMEL 2002 p67 apud PULS 2006 p 461)

Quando relacionada a ponte citada acima a vitrina apresenta todas as

caracteriacutesticas que o autor atribui agrave construccedilatildeo As vidraccedilas exercem o papel de

mediadoras das lojas com a cidade A partir de uma visatildeo mais aproximada eacute possiacutevel

perceber a relaccedilatildeo que elas proporcionam entre os objetos dispostos em seu interior

com os indiviacuteduos que se movimentam nas ruas e avenidas da cidade Atraveacutes dessa

ligaccedilatildeo ocorre uma troca como ratifica Bachelard (2008 p 221) ldquoO exterior e o interior

satildeo ambos iacutentimos e estatildeo sempre prontos a inverter-se a trocar sua hostilidaderdquo

Percebida dentro deste contexto a vitrina agrega nas suas vidraccedilas o exterior e

o interior num espaccedilo comum natildeo haacute uma separaccedilatildeo ou extremidades entre os dois

espaccedilos mas uma relaccedilatildeo intima entre ambos A vitrina expotildeem tudo no seu espaccedilo

e a sua percepccedilatildeo pelo flacircneur eacute distinta Existindo a possibilidade de ela ser

observada das duas perspectivas de espaccedilo

Quanto a esta comunicaccedilatildeo e exposiccedilatildeo Demetresco (2001) aborda a vitrina

como sendo a caixa de pandora onde o estaacutetico natildeo tem espaccedilo que tudo dentro

dela fervilha tem vida eacute uma encenaccedilatildeo com o conceito de corpos em movimento o

qual escaparaacute e tocaraacute todos ao seu entorno ldquoO mito eacute uma alegria e a vitrina uma

encenaccedilatildeordquo (DEMETRESCO 2001 p 264) A autora concebe a vitrina como um

54

cenaacuterio construiacutedo em um espaccedilo translucido havendo qualquer interaccedilatildeo algo de

vital na mesma que magnetiza e que quer escapar aleacutem das vidraccedilas

No instante que eacute contemplada de maneira nuclear interna limita-se ao ser ao

flacircneur tocando o indiviacuteduo no seu iacutentimo estaacute relaccedilatildeo dar-se-aacute de forma diferente

para cada observador considera-se pois o trajeto antropoloacutegico do mesmo Pitta

(2005 p 21) define trajeto como ldquoUma maneira proacutepria para cada cultura de

estabelecer a relaccedilatildeo existente entre sua sensibilidade (pulsotildees subjetivas) e o meio

em que vive (tanto o meio fiacutesico como histoacuterico e social)rdquo Esta definiccedilatildeo fundamenta

uma ligaccedilatildeo simboacutelica entre as duas dimensotildees em questatildeo a vitrina e observador

Conexatildeo esta que permite um fluxo afetivo entre ambas as partes que constitui

o ser e que o permite reconhecer-se na dimensatildeo fluida da vitrina na qual se apresenta

imagens manifestaccedilotildees esteacuteticas que fica sob o olhar do observador que eacute regido

pela cultura formadora pelo trajeto antropoloacutegico Ela eacute o facilitador eacute o que o

consumidor leva da loja com o miacutenimo contato possiacutevel com apenas um raacutepido olhar

com o cheiro que o impregna a imagem da vitrina fica no imaginaacuterio nos sentidos de

quem a observa

Ainda quanto agrave vitrina ser tomada como espaccedilo interno a mesma funciona

como as aacuteguas em que Narciso mergulhou Vettorazzo (2007 p 2) narra que Narciso

ldquo[] ao procurar saciar sua sede em uma fonte outra sede surge dentro dele

Enquanto bebe arrebatado pela beleza que vecirc em sua imagem apaixona-se por um

reflexo sem substacircnciardquo neste sentido a vitrina seria a aacutegua mas o reflexo seraacute

diferente para cada observador considerando o trajeto antropoloacutegico de cada um eacute

onde o indiviacuteduo contempla sua perfeiccedilatildeo no cenaacuterio e em suas formas

A vitrina estaacute condicionada a trazer o flacircneur como a ponte do Simmel

funcionando como um mecanismo em neon para surpreendecirc-lo como o jarro que

Pandora destrancou curiosamente Apresentando-se ainda como no mito de Narciso

agrave qual natildeo estaacute no espelho mas no proacuteprio ser

Reiterando-se na teoria de Bachelard em que exterior e interior satildeo

evidentemente separados e simultaneamente confundem-se no iacutentimo que

transpassa o espaccedilo fiacutesico Simmel apresenta este conceito com o mesmo sentido no

ensaio A ponte e a porta a porta eacute objeto que separa o interior do exterior e a ponte

eacute o elo com exterior um uacutenico ser deteacutem ambos os instrumentos onde em algum

momento em comum eles se entrelaccedilam A vitrina insere-se na condiccedilatildeo de ponte ela

55

transborda a caixa de vidro expondo-se existindo por si mesma e simultaneamente

comunicando o interior ao meio externo assim como o inverso

2221 As vidraccedilas na cidade

Maffesoli (1998) afirma que tantos as relaccedilotildees interpessoais quanto agrave do

ambiente fiacutesico constitui o social o espaccedilo onde se vive Sendo esta relaccedilatildeo entre o

natural e o social o eu e o meio sinais latentes da poacutes-modernidade Eacute o que o

socioacutelogo chama eacutetica do instante no livro No fundo das aparecircncias eacute a experiecircncia

esteacutetica onde o dual externo e interno encontra-se num dado momento significando-

se e relacionando-se com o mundo

Para o autor na poacutes-modernidade a sociedade baseia-se na aparecircncia no

ldquoexperimentar junto emoccedilotildees participar do mesmo ambiente comungar dos mesmos

valores perder-se numa teatralidade geral permitindo assim a todos esses

elementos que fazem a superfiacutecie das coisas e das pessoas fazer sentidordquo

(MAFFESOLI 2010 p163) Assim eacute traduzido a existecircncia em sociedade o sentir

em comum tudo estaacute em movimento e siacutentese no mundo poacutes-moderno

Com base no conceito acima podemos dizer que a cidade que se movimenta

e socializa-se O designer de vitrina interfere e insere-se na trajetoacuteria do passante

onde novos modos e modas satildeo impressas agraves populaccedilotildees urbanas do ocidente Eacute no

fluxo cotidiano que a vitrina impotildeem-se no percurso do passante no passeio no

caminho do trabalho Compondo a trajetoacuteria diaacuteria do pedestre do motorista do

passageiro Faz parte do espetaacuteculo diaacuterio que satildeo as megaloacutepoles por isso este

frenesi cenograacutefico que a vitrina representa nas cidades eacute espaccedilo no qual a marca

pode mostrar-se materializar-se no imaginaacuterio do observador

Para Michel Maffesoli

Que o flanador seja o indiviacuteduo ou a massa natildeo faz diferenccedila [] as ruas de

nossas metroacutepoles satildeo estruturalmente atravessadas por uma sequecircncia de

acontecimentos Sejam eles reais ou potenciais atualizados ou fantasiados

pouco importa sublinham bem o primado da experiecircncia vivida a de um

espiacuterito que se materializa numa sequecircncia de pequenos espaccedilos

apropriados coletivamente (MAFFESOLI 2010 p 83)

Sob esta apropriaccedilatildeo do espaccedilo cria-se um laccedilo com o lugar eacute o territoacuterio real

atingindo o campo simboacutelico o flacircneur para em frente agrave vitrina para apreciaccedilatildeo da

mesma neste instante ocorre uma permuta um reconhecimento e identificaccedilatildeo com

56

o espaccedilo em contato O que estaacute em jogo satildeo os aspectos culturais do indiviacuteduo dar-

se um diaacutelogo social eacute o que Durand chama trajeto antropoloacutegico Assim o espaccedilo

vitrina natildeo eacute apenas geograficamente perceptiacutevel mas atinge um valor simboacutelico o

conjunto dos elementos que a compotildeem e o cenaacuterio onde a mesma projeta-se ambos

comunicam Ela deteacutem em si tudo que necessita toda a essecircncia para ser construiacuteda

simbolicamente no imaginaacuterio do apreciador

As vidraccedilas apresentam-se como espelho do cotidiano da cultura e das

transformaccedilotildees contemporacircneas Inserida no espaccedilo urbano faz parte da

representaccedilatildeo do espaccedilo em que estaacute inserida Ademais sofre influecircncia desse

mesmo espaccedilo haacute uma completa simbiose entre as duas membranas a vitrina e o

espaccedilo urbano Ferrara (2002) no livro Design em espaccedilos aborda o urbano e a

cultura na formaccedilatildeo de uma interface a autora constroacutei uma rede que conecta

diferentes perspectivas da cidade ou ainda mais amplamente da cultura Haacute uma

preocupaccedilatildeo em compreender agrave cidade de maneira mais ampla

Para a autora as expressotildees citadinas podem ser percebidas nas fachadas

que satildeo fixas ldquoestaacuteveis caracteriacutesticas culturais de um rito de um mito de uma

instituiccedilatildeo ou empresardquo (FERRARA 2002 p118) As expressotildees tambeacutem datildeo-se de

maneira fluida no ritmo global A vitrina afeta a sociedade pois em suas vidraccedilas

retrata Apresentando-se numa simbiose perfeita entre o exterior e o interior Sendo

que o espelho eacute reflexo mas a percepccedilatildeo do reflexo natildeo eacute simeacutetrica a luz a distacircncia

entre outros fatores influenciam na captaccedilatildeo do mesmo Nesse sentido a vitrina afeta

a sociedade por retratar o mito social

[] percebe-se que a sociedade natildeo eacute apenas um sistema mecacircnico de

relaccedilotildees econocircmico-poliacuteticas ou sociais mas um conjunto de relaccedilotildees

interativas feito de afetos emoccedilotildees sensaccedilotildees que constituem stricto

sensu o corpo social Um conjunto encarnado de certo modo repousando

sobre um movimento irreprimiacutevel de atraccedilotildees e de repulsotildees (MAFFESOLI

2010 p 63)

Nessa perspectiva de interaccedilotildees e sentidos a sociedade se descreve como

um sistema complexo de comunicaccedilatildeo No movimento de atraccedilatildeo e de repulsotildees

como relatado acima a vitrina como espaccedilo entra em simbiose com o meio urbano o

tecnoloacutegico o econocircmico dentre outros Esse contexto acrescenta sentido na relaccedilatildeo

vitrina e espectador ao mesmo tempo em que se propotildeem a exigecircncias hostis pois

57

ao adotar o contexto a vitrina torna-se suscetiacutevel a agradar ou desagradar o

consumidor nas relaccedilotildees aqui tratadas

Na contemporaneidade a vitrina natildeo eacute apenas o espaccedilo onde se apresenta as

mercadorias para o consumidor ela eacute hoje um cenaacuterio nela realizam-se encenaccedilotildees

do cotidiano da magia da vida que acontece num espaccedilo fisicamente delimitado

(presente) mas sensivelmente infinito (imagem imaginaacuterio) eacute o dual entrelaccedilado

mesclado na contemporaneidade representando o mito social Demetresco e Maier

(2004 p12) apontam ldquoAs vitrinas satildeo uma forma de manifestar o imaginaacuterio social

representando dessa maneira um modo possiacutevel de apreender as relaccedilotildees sociais

de uma eacutepoca da perspectiva de um contexto histoacutericordquo Construindo uma ponte com

o vestuaacuterio eacute como adequar-se as estaccedilotildees ao calor e ao frio o que melhor conveacutem

para cada periacuteodo afim do usuaacuterio sentir-se confortaacutevel

223 Da forma agrave vitrina

Consoante Demetresco (2001 p16) ldquoO vitrinista constroacutei espaccedilos a partir de

materiais distintos para por eles qualificar produtos prometer transformaccedilotildees e

mostrar sua eficaacutecia para serem natildeo soacute vistos mas tambeacutem desejadosrdquo Para

concepccedilatildeo deste objeto de desejo se fazem presentes elementos como cor textura

luz entre outros que compotildeem o espaccedilo transformando-o em cenaacuterio vinculando ao

mesmo valores espaciais sensoriais e visuais

Assim por meio do cenaacuterio construiacutedo a partir da composiccedilatildeo comum entre

espaccedilo e objetos a vitrina torna-se proacutepria para desempenhar muacuteltiplas accedilotildees como

seduzir atrair ou mesmo opor-se a convenccedilotildees culturais Com efeito a aparecircncia eacute

de estrema significacircncia para compreender o social no espaccedilo e no tempo Como

exemplo a autora Clarice Lispector (1996 p 8) sob a condiccedilatildeo da personagem GH

em estado de reflexatildeo sobre si mesma pondera ldquoMas eacute que tambeacutem natildeo sei que

forma dar ao que me aconteceu E sem dar uma forma nada me existerdquo A

personagem na busca do seu eu percebe que natildeo seraacute possiacutevel existir sem formas

assumindo assim que a forma modela o reconhecimento do ser

Ratificado por Michel Maffesoli que reconhece

[] cada fragmento eacute em si significante e conteacutem o mundo na sua totalidade Eacute esta a liccedilatildeo essencial da forma Eacute isto o que faz da friacutevola aparecircncia um

58

elemento de escolha para compreender um conjunto social (MAFFESOLI 2010 p 41)

Logo a forma conteacutem o mundo em sua plenitude Simultaneamente o mundo

nada eacute sem dar-se uma forma A forma conteacutem um mundo e o mundo conteacutem as

formas O universo eacute por inteiro descrito em formas da substacircncia ao caos tudo eacute

forma ela eacute muacuteltipla dimensiona-se e se faz espaccedilo Nada existe sem forma uma

histoacuteria uma localizaccedilatildeo tudo eacute formado transformado deformado

Segundo Bigal (2001 p 19) a vitrina existe como uma composiccedilatildeo visual

resultante da articulaccedilatildeo de diversas variantes dentre as quais sua forma pode

configurar outras formas como um jardim uma sala de jantar pode ser feminina

masculina infantil pode apresentar produtos de esporte alimentaccedilatildeo livros Esta

condiccedilatildeo de cenaacuterio ratifica a vitrina como parte do elemento da aparecircncia que torna

possiacutevel compreender o conjunto social

Por essa razatildeo torna-se relevante uma reflexatildeo da funccedilatildeo da forma a fim de

melhor compreender esta simbiose E considerando a multiplicidade de significados

contidos na palavra forma eacute necessaacuterio limitar o sentido da palavra na elaboraccedilatildeo

deste texto para melhor compreensatildeo da pesquisa

A palavra forma do latim forma possui diferentes sentidos eacute muacuteltipla em si

podendo ser considerada a partir de numerosos pontos de vista como loacutegico

filosoacutefico epistemoloacutegico esteacutetico Dentre todas as possiacuteveis definiccedilotildees para este

estudo as definiccedilotildees abordadas neste projeto seratildeo a esteacutetica e a filosoacutefica

Respectivamente definidas no Dicionaacuterio Aureacutelio

S f 1 Os limites exteriores da mateacuteria de que eacute constituiacutedo um corpo e que

conferem a este um feitio uma configuraccedilatildeo um aspecto particular

[] 17 Filos Princiacutepio que confere a um ser os atributos que lhe determinam

a natureza proacutepria (FERREIRA 2004 p 922)

A primeira definiccedilatildeo relaciona-se a aparecircncia do objeto a esteacutetica da forma ao

seu exterior enquanto a segunda refere-se ao filosoacutefico que estaacute na dimensatildeo do

significado da interpretaccedilatildeo da forma As definiccedilotildees de forma nos sentidos filosoacuteficos

e esteacutetico satildeo as que mais se aproximam da oacutetica que a forma seraacute observada ao

longo da pesquisa

59

Concatenando os conceitos apresentados por Ferreira (2004) em uma uacutenica

definiccedilatildeo a qual foi designada para definir a palavra forma sob a perspectiva que a

palavra eacute assumida neste projeto obteacutem-se a seguinte descriccedilatildeo a forma eacute

constituiacuteda pela mateacuteria (estrutura aparecircncia) e eacute definida pelo sentido intelecto

conceito (significado natureza proacutepria)

Para Cardoso (2012 p 141) o que o design deve considerar eacute que a forma eacute

comunicadora Sendo estaacute uma das inuacutemeras funccedilotildees que a forma pode ter assim

como os significados como foi levantado no paraacutegrafo anterior ela tem uma

interlocuccedilatildeo com a mente humana por ser plena em significados natildeo apenas os

impostos agrave mesma mas agregando particularmente os fatores de percepccedilatildeo do

universo do observador A forma eacute um conjunto de aparecircncia funccedilatildeo estrutura

configuraccedilatildeo simbolismo que viola o real a mateacuteria o mundo fiacutesico e define-se no

campo da mente humana Apoiada nas imagens nos siacutembolos no imaginaacuterio

A forma eacute a mensagem eacute o meio a plataforma Eacute enquanto comunicadora que

a vitrina inserida na cidade e sociedade enraiacuteza-se no cotidiano social por conter e

ser contida pelas formas permite o entendimento entre elementos objetos Eacute em

funccedilatildeo dessa relaccedilatildeo sineacutergica entre elementos que uma coisa pode tornar-se outra

coisa numa dinacircmica simboacutelica cultural social A esta conexatildeo Maffesoli (2010)

chama formismo eacute a relaccedilatildeo existente entre a forma exterior e a forccedila interior eacute o

invisiacutevel suportando o visiacutevel partindo do princiacutepio da forma formante a forma que

forma Cada elemento eacute soberano entretanto natildeo altera o ato de comunicarem-se

organicamente entre si

2231 A esteacutetica da forma

Nesse contexto esta siacutentese assume valores esteacuteticos13 Valores os quais

neste texto satildeo tomados como sendo subjetivos resultados da avaliaccedilatildeo do

observador obtidas atraveacutes do trajeto antropoloacutegico de cada um vinculando-se a

expectativas sociais e culturais

Ainda sobre valores esteacuteticos Simmel conceitua a relaccedilatildeo entre elementos e

que estaacutes relaccedilotildees apresentam valores de beleza e esteacuteticos

13 ldquoUm determinado OBJECTO (rarr) ou certo tipo de EXPERIEcircNCIA (rarr) possuem valor esteacutetico quando os preferimos a outros quer pelo prazer que suscitam em noacutes quer por lhes atribuirmos determinado

grau de BELEZArdquo (CARCHIA e DrsquoANGELO 1999 p 355)

60

O mais forte atractivo da beleza consiste porventura no facto de ela constituir

sempre a forma de elementos que em si satildeo indiferentes e alheios agrave beleza

e que soacute juntos adquirem valor esteacutetico [] [T]alvez que isto tenha a sua

explicaccedilatildeo naquela indiferenccedila esteacutetica dos elementos e aacutetomos do mundo

que soacute satildeo portadores de beleza um em relaccedilatildeo com o outro e este apenas

na relaccedilatildeo com o primeiro de modo que ela lhes eacute inerente eacute certo mas natildeo

eacute inerente a nenhum deles isoladamente (SIMMEL apud FONTANA 2012p

12)

Ao abordar os valores esteacuteticos extraiacutedos da permutaccedilatildeo entre elementos

Simmel evidecircncia que o valor esteacutetico dar-se do singular para o plural do fio agrave teia

formada pelo todo que o belo decorre da interaccedilatildeo entre as formas na relaccedilatildeo com

o outro

Nietzsche (1992) poeticamente reduz agrave lsquoredenccedilatildeo atraveacutes do mundo da

aparecircnciarsquo a aparecircncia prazerosa sentida ingecircnua Numa exaltante avaliaccedilatildeo que

abrange todos os valores considerando tempo espaccedilo valores criados considerados

conceituados passiacuteveis de transformaccedilatildeo pela vontade O mesmo assume que ldquo[]

o poeta soacute eacute poeta porque se vecirc cercado de figuras que vivem e atuam diante dele e

em cujo ser mais iacutentimo seu olhar penetrardquo (NIETZSCHE1992 p 59) Eacute o fenocircmeno

da forma que se permite muacuteltiplos valores ao substituir ldquoo poetardquo na citaccedilatildeo acima

pelo contemplador da vitrina tem-se novamente a vitrina como vidraccedila o espelho que

invade o iacutentimo do flanador

A vitrina apresenta-se como uma moldura para ressaltar o conteuacutedo o

contingente O espaccedilo social que eacute formado a partir de objetos elementos imagens

constituindo o dia-a-dia numa loacutegica de identidade de identificaccedilatildeo que de um lado

revela-se e do outro se porta como moldura A forma eacute importante pois por ultrapassar

o indiviacuteduo e integrar-se ao coletivo eacute a forma que une a forma social integra

socializa

Mais que um espaccedilo de exposiccedilatildeo de objetos e formas a vitrina comunica e se

define na cidade com os passantes aleacutem de configurar as formas como foi abordado

anteriormente ela articula outras variantes na sua composiccedilatildeo e mensagem como

adereccedilos luz cores e produtos

Bigal descreve as variantes que formam a vitrina dentre elas

Os adereccedilos mais frequentes satildeo display e manequim O display eacute uma

espeacutecie de suporte geralmente utilizado para destacar os produtos de

61

pequeno porte O manequim tambeacutem eacute um display mas de formato humano

salvo raras exceccedilotildees

A luz adquire sua realidade na cor variando-lhe os tons e fornecendo maior

ou menor intensidade Ela tambeacutem descreve os objetos dispostos e seus

contornos no espaccedilo da vitrina usando recursos como contraste (luzsombra

claroescuro) brilho vibraccedilatildeo saturaccedilatildeo etc

A distribuiccedilatildeo das cores em uma vitrina proporcionalmente agrave luz eacute

determinante do equiliacutebrio entre suas variantes

O produto eacute naturalmente o elemento principal da vitrina Seja qual for o

produto suas caracteriacutesticas mercadoloacutegicas determinaratildeo a concepccedilatildeo de

toda trama visual (BIGAL 2001 p 19 e 20 grifo nosso)

Ela eacute paradoxal exibe o invisiacutevel e atrai atraveacutes do mesmo a vitrina partilha

em torno de imagens objetos siacutembolos que brincam entre si formando mensagens

coacutedigos identificaccedilotildees

A vitrina eacute forma enquanto concatena imagens eacute objeto para se comunicar que

se comunica com a cidade com os flanadores na efervescecircncia presenteiacutesta em que

se vive atualmente

E a publicidade os costumes tribais os estilos de vida a criaccedilatildeo linguageira

estatildeo aiacute para provar haacute efetivamente uma vitalidade social que eacute da ordem

da criaccedilatildeo ainda que escape aos cacircnones estabelecidos pela cultura

burguesista (MAFFESOLI 2010 p 109)

Eacute como criaccedilatildeo a como forma formante transformante que representa a

vitalidade social com cores geometrias figuras moldando o ser social de maneira

fluiacuteda no espaccedilo vitrina

224 Sentidos e a vitrina

A vitrina adota diversas estrateacutegias como mimese transgressatildeo e

diferenciaccedilatildeo com base nessas articulaccedilotildees os sentidos satildeo explorados De acordo

com Maffesoli (2010a) as emoccedilotildees paixotildees sentimentos satildeo caracteriacutesticas

primarias dos indiviacuteduos eacute o vitalismo o sentimento de vida o desejo incessante de

sentir de existir que determinam o social Conforme o autor (2010a p73) ldquoo prazer

dos sentidos eacute constitutivo do impulso vital ele lsquofazrsquo sociedade funda a sociedade

62

primordialrdquo Os sentidos potencializam o perceber do mundo assim como diferencia e

une as pessoas Valorizando situaccedilotildees remetem agraves lembranccedilas emoccedilotildees ateacute a

espaccedilos atraveacutes de simples ou complexos estiacutemulos o sentido eacute real

A vitrina insere-se no social articulando valores necessidades humanas

causando uma vertigem visual em quem a contempla ela encena-se para atrair Ela

eacute poesia que remodela a cidade encantando e surpreendendo com um freneacutetico

desejo de abduzir de transportar para dentro para o inimaginaacutevel Eacute o vidro com sua

sublime transparecircncia que possibilita uma perfeita conexatildeo entre o interior e o exterior

proporcionando uma maior interatividade entre o sujeito e o produto num espaccedilo

fascinante

Tudo na vidraccedila se emoldura em uma transparecircncia que cega agrave diversidade do

olhar [] Natildeo haacute desvio do ponto de vista natildeo haacute reajuste do foco no olhar mas um

olhar centrado e fixo que imobiliza o usuaacuterio distante inclusive de sua proacutepria imagem

refletida (BIGAL 2001 p 60)

Neste sentido pode-se considerar que a vitrina guia o olhar do sujeito para o

seu interior o olhar para dentro do cenaacuterio desapegando-se do seu proacuteprio ser Logo

revela-se a porta de entrada Bigal na citaccedilatildeo acima descreve que a vitrina expotildee um

jogo estrateacutegico de olhares cuja combinaccedilatildeo culmina em uma sintonia teatral a

imagem eacute percebida com intensidade pelos sentidos e pela consciecircncia

As vitrinas estimulam as experiecircncias sensoriais por meio de cenas construiacutedas

com elementos objetos formas mateacuterias que se unem num simulacro e ambienta a

fantasia A qual Marcondes Filho (1988 p 28) assume ldquoA fantasia com espaccedilo de

projeccedilatildeo dos desejos natildeo satisfeitos comprova a existecircncia real desses proacuteprios

desejosrdquo Acerca dos desejos a vitrina os satisfaz pois apresenta o mundo por meio

de siacutembolos e sensaccedilotildees Satildeo as formas percebidas por intermeacutedio dos sentidos que

estimulam o imaginaacuterio do contemplador envolvendo o consciente e o inconsciente

na percepccedilatildeo do eu sobre o outro

Percepccedilatildeo essas que podem dar-se por meio dos cinco sentidos o produto eacute

caracterizado pelo uso de estiacutemulos visuais auditivos taacuteteis olfativos e gustativos a

partir deles existe a comunicaccedilatildeo e interaccedilatildeo com a vitrina com a marca Demetresco

(2005 p 143) apresenta os sentidos como sendo fundamentais na comunicaccedilatildeo com

o espectador ldquo[] todos querem seduzir e tentar o consumidor por meio de sensaccedilotildees

taacuteteis visuais olfativas gustativas auditivas e oniacutericasrdquo Sendo a visatildeo o que conduz

pois eacute o mais explorado quando comparado aos outros principalmente no contexto

63

espaccedilo vitrina De acordo com Mendes (2006 p 21) o principal meio de interaccedilatildeo do

homem com o mundo eacute a visatildeo do ponto de vista sensorial e perceptivo Os

elementos que estimulam esse sentido satildeo as cores as linhas a luz Jaacute o estimulo do

tato estaacute sendo mais ocorrente na atualidade o toque estaacute fortemente vinculado ao

ver na medida em que um objeto eacute visto podendo ser percebido de maneira curiosa

estranha ao observador

[] sentir o calor da pele sentir os braccedilos da pessoa amada sentir a pele do

bebe sentir a barba de um homem ndash esse sentir faz sentido e eacute nossa pele

que suscita outras peles vaacuterias peles[] suave asseacuteptica lisa enrugada

rugosa seca quem sabe ateacute capitoneacute (DEMETRESCO 2006 p 2)

O olhar natildeo seria suficiente para definir a escolha do produto de moda por

muacuteltiplas vezes o toque o provar se faz necessaacuterio poreacutem na vitrina satildeo poucas as

marcas que trabalham com este sentido jaacute que o mesmo necessita de contato para

ser ativado o tato eacute uma extensatildeo da visatildeo Nessa perspectiva o designer pode usar

de tecidos aacutesperos pelos geacuteis tachas explorar das mais diversas texturas a fim de

experimentar o sentir o toque Enredando pelo tato alcanccedila-se o paladar que eacute o tato

mais sensiacutevel e natildeo menos importante principalmente quando se trata de

degustaccedilatildeo por estar muito proacuteximo ao olfato ao ponto que funcionam como

complementares que a ausecircncia de um deles afetaraacute significativamente a eficiecircncia

do existente O comer eacute um ritual reuacutene famiacutelia amigos ateacute encontros de trabalho

As marcas podem explorar este universo e este sentimento de proximidade

que representa agradar o paladar do visitante Seratildeo bem vindas as

iniciativas de recepcionar o puacuteblico como se estivesse recebendo-o em casa

com todos os agrados que lhe seriam dedicados a sensaccedilatildeo de

pertencimento e acolhimento pode fidelizaacute-lo (BARRETO 2008 p 147)

Para estimula-los aromas e fragracircncias devem ser manipulados e empregados

na encenaccedilatildeo Os quais as induacutestrias de higiene e beleza fazem uso haacute consideraacutevel

tempo Barreto afirma que

[]o olfato eacute o que mais habilidade tem de estabelecer viacutenculos emocionais Dos cinco sentidos eacute o que mais intensamente se relaciona com as lembranccedilas O fato eacute que os aromas ficam gravados na memoacuteria por muito tempo (Barreto 2008 p 139)

64

Por este motivo empresas das mais diversas aacutereas tem associados aromas aos

seus produtos como mensagens passivas jaacute que os produtos se materializam no

imaginaacuterio do inalador ao associar o cheiro ao produto a um evento

Como exemplo da experiecircncia olfativa nas vitrinas de moda temos as lojas de

calccedilados Melissa14 que tem as lojas e os calccedilados aromatizados Ademais em 2009

criou uma aacutegua de colocircnia com ediccedilatildeo limitada para comemorar os 30 anos da marca

em pareceria com casa de fragracircncias Givaudan15 A questatildeo natildeo eacute aromatizar pois

o aroma estaacute vinculado agrave marca mas agregar valor emocional a marca a fim de captar

a afeiccedilatildeo do apreciador Essas accedilotildees envolvem os consumidores emocionalmente

vinculando-se ao inconsciente do cliente de modo empiacuterico unicamente pela

experiecircncia

Assim como o olfato a audiccedilatildeo eacute um sentido de percepccedilatildeo mais emocional

espacialmente mais que os demais sentidos eles funcionam como antenas radares

captadores de modo passivo Pois o ser humano pode fechar os olhos para natildeo ver

fechar a boca para natildeo comer e as matildeos para natildeo tocar mas natildeo pode deixar de

sentir e ouvir de maneira natural necessita de algum dispositivo para auxiliar como

uma maacutescara respiratoacuteria mesmo um fone de ouvido ou protetor auricular A audiccedilatildeo

eacute o primeiro sentido que o ser humano efetivamente usa o bebecirc reconhece a voz da

matildee mesmo antes de nascer A audiccedilatildeo atua diretamente no humor determinados

tipos de muacutesicas acalmam enquanto outros estimulam sensaccedilotildees opostas

Esta capacidade de gerar percepccedilotildees tem sido amplamente utilizada em

eventos coletivos Atraveacutes da muacutesica experimenta-se as mais diferentes

emoccedilotildees que vatildeo da euforia agrave melancolia total Com a muacutesica rompe-se

barreiras culturais a melodia o ritmo e a harmonia permitem aos indiviacuteduos

perceberem os sentimentos independentemente de dominarem a liacutengua na

qual a mensagem estaacute sendo transmitida (BARRETO 2008 p 151 e 152)

Nesse contexto a audiccedilatildeo pode ser uma estrateacutegia de diferenciaccedilatildeo e

identificaccedilatildeo do sujeito com a marca algumas lojas usam de o som ambiente que

simbolicamente remetem ao aconchego ou proporcionam energia Para tratar das

14 A melissa foi uma das marcas de sapato pioneiras a usar o merchandising nas propagandas

televisivas a marca vende design ideologia nos seus sapatos de plaacutestico

15 Uma casa de perfumaria fundada em 1895 em Zurique Suiacuteccedila Possui sede instalada em satildeo Paulo

desde 1945 Atualmente eacute consolidada como liacuteder do ramo de aromas e fragracircncias

65

inter-relaccedilotildees do espaccedilo com os sentidos do indiviacuteduo a forma eacute o mediador entre

espaccedilo e sentido como fenocircmeno sensorial relacionando cenaacuterio e sentido Por isto

os sentidos devem ser trabalhados simultaneamente em sinestesia pois comunicam

e satildeo percebidos por diferentes meios

A fim de harmonizar os sentidos as experiecircncias dos seres humanos o trajeto

antropoloacutegico dos mesmos o espaccedilo geograacutefico todos devem ser considerados pelo

designer quando constroacutei essas interaccedilotildees que apenas satildeo possiacuteveis por

experiecircncias anteriormente vividas pelo consumidor havendo um envolvimento

emocional sinesteacutesico entre forma e sentidos Tendo igual importacircncia a composiccedilatildeo

das formas no espaccedilo vitrina mais as sensaccedilotildees que podem ser provocadas no outro

a experiecircncia sensorial que dar-se atraveacutes dos sentidos Pois a essecircncia da vitrina eacute

comunicar e o design eacute mediador atua antes de a mesma atingir seu principal

objetivo mostrar-se

Ainda sobre design e comunicaccedilatildeo Cardoso assegura

O que importa em termos de design eacute que a capacidade das formas de

comunicar informaccedilotildees agrave mente humana eacute muito mais profunda e abrangente

do que ldquosimplesmenterdquo o conjunto de significados impostos pela sequecircncia

fabricaccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo (CARDOSO 2012 p 141)

Formas essas como foram tratadas anteriormente que se aglutinam

originando novos significados formando-se e transformando-se Para tanto eacute

importante perceber que a simbiose entre o espaccedilo e as forma estimulam os sentidos

do contemplador

225 Vitrina e imaginaacuterio em diaacutelogo

O imaginaacuterio eacute o estudo sensiacutevel dos fatos a essecircncia de como o ser daacute sentido

ao mundo atraveacutes da emoccedilatildeo dos siacutembolos e mitos Pitta (2005) ressalta o imaginaacuterio

como o estudo que conteacutem a essecircncia do espirito imagens que pertencem ao ser

cultural ao ser humano

Para Durand a imagem eacute dinacircmica significa e simboliza natildeo eacute arbitraria

Segundo Pitta ldquo[] a imagem natildeo eacute simplesmente um fenocircmeno da consciecircncia

faculdade independente ou um signo mas a mateacuteria de todo o processo de

66

simbolizaccedilatildeo fundamento da consciecircncia na percepccedilatildeo do mundordquo (PITTA 2005a

p146) Partindo do pressuposto da imagem como mateacuteria do processo de

simbolizaccedilatildeo e do princiacutepio que o designer cria imagem Considerando que na

sociedade atual haacute uma busca considerada de valores pessoais em bens materiais o

designer pode auxiliar a sociedade na retomada de valores principalmente os

coletivos (MIZANZUK 2007)

Gilbert Durand (1998) chama a sociedade atual de civilizaccedilatildeo da imagem

Maffesoli a chama mundo imaginal ambos os nomes referem-se ao ldquoconjunto matricial

que transcende e ordena as imagens e experiecircncias mundanasrdquo (MAFFESOLI 2010

p 113) Satildeo as imagens que vinculam a sociedade pelas quais o individual e o

coletivo se reconhecem Isso eacute a forma da imagem que partilhada modela as pessoas

o social e o reconhecimento do ser Eacute o que faz com que um conjunto de linhas

aglutinadas em veacutertices inanimados riscado sobre uma folha com um pedaccedilo de

carbono simbolizem uma casa para uma pessoa eacute a imagem social que baseia a

cultura de uma regiatildeo de um povo

O ser humano atribui significados que transpassam a funcionalidade dos

objetos simbolizar faz parte da natureza humana que atribui emoccedilotildees e afetos dando

uma dinacircmica simboacutelica ao objeto as formas Para Durand (PITTA 2005) o siacutembolo

eacute um modo de expressar o imaginaacuterio e se organizam da seguinte forma

Schegraveme eacute anterior a imagem eacute o verbo a accedilatildeo baacutesica a estrutura

Arqueacutetipo eacute primeira apariccedilatildeo da imagem a representaccedilatildeo do schegraveme

Siacutembolo eacute a junccedilatildeo dos arqueacutetipos satildeo visiacuteveis se figura

Mito eacute um sistema de dinacircmico dos siacutembolos um relato um conto a verdade

Retomando as configuraccedilotildees do design temos por outro lado que os objetos

tambeacutem podem ser percebidos pelos sentidos pelo corpo como conforto aconchego

satildeo os schegravemes16 segundo Durand que considera as emoccedilotildees e as afeiccedilotildees eacute verbo

a accedilatildeo baacutesica atribuiacuteda ao objeto que dificilmente se modifica com o tempo e o

espaccedilo Logo o produto obteacutem conceitos de diversas variaacuteveis quanto mais enraizado

os valores menos variaacutevel e friacutevolo seraacute o produto (Figura 14)

16 O scheacuteme e um melhor detalhamento da teoria do imaginaacuterio de Durand seratildeo retomados

detalhadamente no toacutepico seguinte

67

Figura 14 ndash Vitrina temaacutetica dia dos namorados Banana Republic NYC

Fonte DEBI WARD KENNEDY 2014

Por exemplo na vitrina representada acima no ocidente seria possivelmente

vinculada como vitrina temaacutetica do dia dos namorados construindo uma ligaccedilatildeo com

o imaginaacuterio simboacutelico de Durand que foi introduzido no paraacuterafo anterior O verbo

aqui representado o schegraveme eacute amar jaacute o arqueacutetipo traz um amor romacircntico diferente

do amor de matildee que eacute genuiacuteno mais um amor apaixonado quente que eacute demostrado

pela proximidade dos corpos (manequins) o arqueacutetipo do estar junto na chuva e dividir

o guarda-chuva essas cenas que em geral satildeo percebidas como romacircnticas por

exemplo como ocorre no filme O amante de lady Chartterley (1981) na cena que eles

(o casal) correm desnudos e cheios de prazer e paixatildeo se tocam e fazem amor na

chuva

Quanto aos siacutembolos temos os coraccedilotildees a cor vermelha que no ocidente eacute

vinculada a paixatildeo o proacuteprio guarda-chuva torna-se siacutembolo do amor romacircntico

enquanto protege dois corpos apaixonados da chuva Essa estoacuteria jaacute eacute o Mito assim

como na imagem acima os coraccedilotildees vermelhos estatildeo localizados dentro do guarda-

68

chuva como que evidenciando que o amor estaacute ali naquele espaccedilo e assim o guarda-

chuva e o que ele conteacutem no espaccedilo projetado por ele se aninham na paixatildeo todos

os elementos juntos formam o mito do amor romacircntico No Brasil o dia dos namorados

que diferente de outros paiacuteses do ocidente que comemoram no dia 14 de fevereiro o

valentinersquos day noacutes o comemoramos no dia 12 de junho pois temos mais um mito

ligado a essa data o do Santo Antocircnio adotado como santo casamenteiro

O schegraveme o arqueacutetipo o siacutembolo e o mito satildeo esses os quatro elementos que

compotildeem o imaginaacuterio segundo Durand (PITTA 2005 a) Esses sistemas dependem

da cultura ou seja depende do meio do espaccedilo das experiecircncias do sujeito

O autor ainda classifica o imaginaacuterio em dois regimes o diurno e o noturno que

possuem caracteriacutesticas opostas satildeo as respostas para a questatildeo fundamental do

homem a morte

Regime Diurno Trata-se de dividir de separar e de lutar Englobam siacutembolos

de elevaccedilatildeo relativos agrave visatildeo e as armas caracteriacutestico pelo schegraveme do heroacutei

Figura 15 ndash Vitrina De Fusarc moda social masculina

Fonte FASHINMAG 2011

A grife De Fursac evidenciou o Regime Diurno na vitrina de moda social

masculina (Figura 15) a vitrina eacute de caracteriacutestica minimalista mas deixa clara a

mensagem do heroacutei com seus ternos que parecem armaduras junto agraves poses

69

imponentes dos manequins que seguem em marcha para lutar retratando a estrutura

heroica O siacutembolo de ascensatildeo estaacute presente enquanto os acessoacuterios tiacutepicos do

guarda roupa social masculino foram projetados para uma dimensatildeo gigante como

se o homem que o vestia tivesse ganhado asas e voado restando no espaccedilo da vitrina

suas lembranccedilas quase apagadas auxiliado pelo pouco contraste existente entre o

terno gigante e o background da vitrina Simultaneamente tambeacutem estatildeo presentes

os siacutembolos espetaculares com o uso da luz e sua projeccedilatildeo utilizando a mesma cor

de fundo e usando a luz para exaltar os punhos gravata e colarinho gigantes

Esta eacute uma representaccedilatildeo de vitrina que corresponde ao regime diurno do

imaginaacuterio representam a estrutura heroica Em plena verticalidade na gradaccedilatildeo

usada o cenaacuterio eacute dramaticamente dividido ao meio por uma espeacutecie de hierarquia

de um lado o gigante invisiacutevel do outro o seu exeacutercito eacute a prosa da vitrina

Regime Noturno empenha-se em unir fundir harmonizar Agrega na estrutura

miacutestica a inversatildeo a intimidade Jaacute na estrutura sinteacutetica tem-se o ciacuteclico

harmonizando os contraacuterios As estruturas durandianas satildeo partes menores e

dinacircmicas que compotildeem os regimes satildeo formas construiacutedas a partir da interaccedilatildeo do

homem com o mundo concreto (PITTA 2005 p152)

Figura 16 ndash Vitrina Blazer for Men moda social masculina

Fonte MBASIC 2014

70

Jaacute na vitrina da loja Blazer for men (Figura 16) que foi apresentada no evento

redefing design 2014 o qual acontece anualmente na faculdade e escola de moda

Seneca localizada em Toronto no Canadaacute o tema roupa social masculina assume

aqui o regime noturno que ao contraacuterio do diurno propotildee a mistura a unidade Fica

em profusatildeo representada na estrutura miacutestica eacute o que a imagem acima apresenta

As portas estatildeo abertas a vitrina mostra-se intimamente exibe a ordem e o caos que

orquestram uma relativa harmonia Tambeacutem encontrada nas multifaces desse guarda

roupa do homem poacutes-moderno representado na junccedilatildeo do vestuaacuterio social com o

tecircnis esportivo Nesse momento as cores tambeacutem datildeo suas pinceladas nesse diaacutelogo

quebrando a sobriedade Enquanto a estrutura sinteacutetica estaacute presente por exemplo

na harmonizaccedilatildeo da amaacutelgama das gravatas e camisas com a ordem dos paletoacutes

que estatildeo organizados nos cabides aqui existe um pacto ldquosalvaguarde as distinccedilotildees

e oposiccedilotildeesrdquo (PITTA 2005 p 36) nem por isso uma peccedila apresenta-se mais valiosa

que a outra ocorre uma assimilaccedilatildeo total de ambas as partes

As imagens natildeo satildeo percebidas pelo receptor da maneira que aqui foram

analisadas pois a analise aqui realizada eacute baseada a partir da teoria do imaginaacuterio de

Gilbert Durand como teacutecnica para criaccedilatildeo da vitrina urbana que encena esses mitos

e integra-se ao societal Mitos que satildeo abduzidos em um uacutenico lance de olhar pelo

passante pelo espectador e seraacute interpretada de muacuteltiplas formas por estes O

Design de vitrina deve atender e respeitar ao projetar e desenvolver as vitrinas assim

como deve compreender o espaccedilo da vitrina e suas dimensotildees no relacionamento

com a cidade Do mesmo modo que as formas em sua unicidade e siacutembolo assim

como quando a mesma agrupa-se a outras formas e adquire novos simbolismos

como aconteceu com o guarda-chuva na primeira vitrina analisada neste toacutepico E natildeo

menos importante os sentidos do flanador que satildeo os receptores e que o possibilitam

perceber e sentir o mundo que o rodeia Esse ser sensiacutevel deve ser respeitado para

que a vitrina seja um mar que convide a mergulhar em suas aacuteguas profundas

71

226 Vitrina de Satildeo Joatildeo

Consideramos que na atualidade os consumidores na maioria das compras

principalmente no campo da moda natildeo consomem por necessidade vital e sim por

ideologias ou mesmo por vontade de conhecer algo novo Nestas novidades

incessantes eacute que a vitrina apresenta-se como um fator sobressalente e de

diferenciaccedilatildeo para uma loja No periacuteodo junino a demanda por roupas e acessoacuterios

cresce de forma consideraacutevel em Caruaru pois as pessoas as pessoas frequentam o

Paacutetio de Eventos e demais festas que ocorrem na cidade e arredores Por este motivo

para a loja a vitrina talvez seja a melhor ferramenta de atraccedilatildeo e raacutepida comunicaccedilatildeo

com o passante

Para atrair mais clientes as lojas devem ser criativas em suas campanhas e

representaccedilotildees Cada vez mais as lojas investem em profissionais detentores desse

conhecimento como os de venda ou de design para que as vitrinas atraiam mais

clientes e aumentem as vendas A escolha do tema dos mateacuterias e composiccedilatildeo da

vitrina demanda um conhecimento de comunicaccedilatildeo

O desenvolvimento da vitrina deve considerar a identidade da empresa o que

a mesma deseja comunicar para o seu puacuteblico Na vitrina junina as bandeirinhas satildeo

os elementos mais usados junto com o tecido de chita Depois seguem elementos

como chapeacuteus de palha as tranccedilas em lsquomarias chiquinhasrsquo (juntar todo o cabelo em

duas tranccedilas nas laterais da cabeccedila) nas manequins os balotildees e a estampa xadrez

que tem a mesma relevacircncia que a chita no repertoacuterio da vitrina de moda de festa

junina A comunicaccedilatildeo pode ocorrer basicamente de trecircs formas satildeo elas

Primeiramente uma vitrina mais baacutesica nessa o produto de venda eacute o que tem

maior relevacircncia logo o uso dos elementos mais tradicionais como os citados acima

satildeo os que servem de apoio para que os produtos a serem comercializados se

sobressaiam (Foto 01) Havendo uma comunicaccedilatildeo objetiva com o passante

72

Foto 01 ndash Vitrina A em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

No segundo modelo de vitrina os elementos juninos construiriam uma

cenografia junto com os produtos de venda podendo ter igual ou de maior importacircncia

que o produto Proporcionando maior liberdade para contar um estoacuteria na construccedilatildeo

de um mito

73

Foto 02 ndash Vitrina B em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

Por uacuteltimo seria a vitrina conceitual uma vitrina sem produto de venda (Figura

17) ou que esses produtos se integrem com elementos tradicionais da estoacuteria

narrada Permite-se a inserccedilatildeo de novos elementos natildeo- tradicionais desde que os

mesmo estejam contextualizados na narrativa construiacuteda na vitrina no cenaacuterio (Foto

04) Eacute a vitrina como encenaccedilatildeo como afirma Demetresco (2001)

Figura 17 ndashUrban Outfitters 2011

Fonte Pinterest 2016

74

Foto 03 ndash Vitrina C em Caruaru Junho 2016

Fonte Acervo do autor

75

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa tem como propoacutesito o desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo

Joatildeo Bem como analisar e compreender a relaccedilatildeo do design de vitrina com o meio

urbano e seus mitos Consiste em um estudo de caso de natureza qualitativa que

transita entre temas como festa junina imaginaacuterio e vitrina

31 Metodologia fenomenoloacutegica

A realidade pode ser concebida de diferentes formas resulta de como eacute

abordada Martins e Theoacutephilo (2009 p39) apresenta trecircs diferentes meios de

abordar um projeto sendo estes empiacuterico-positivista (sistemaacuteticas funcionalistas e

estruturalistas) esses sendo as mais convencionais E outros dois meacutetodos

lsquoalternativosrsquo mais utilizados nas ciecircncias sociais na atualidade satildeo a criacutetico-dialeacutetica

(inter-relaciona avaliaccedilotildees quantitativas e qualitativas) e a fenomenoloacutegica-

hermenecircutica (prioriza a avaliaccedilatildeo qualitativa) O tipo de meacutetodo pode configurar

projetos de mesma origem em distintos o olhar do pesquisador direcionado pelo

meacutetodo de abordagem diferencia o resultado da pesquisa

Essa monografia eacute quanto ao tipo da pesquisa exploratoacuterio-bibliograacutefico

quanto agrave abordagem eacute qualitativa o meacutetodo eacute fenomenoloacutegico e a teacutecnica de anaacutelise

eacute a teoria do imaginaacuterio Lazarsfeld afirma que uma das situaccedilotildees em que a

investigaccedilatildeo demanda uma avaliaccedilatildeo qualitativa eacute ldquo[] para descobrir e entender a

complexidade e a interaccedilatildeo de elementos relacionados ao objeto de estudordquo (apud

MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 140) Por essa razatildeo a anaacutelise dos dados

coletados nesse projeto eacute qualitativa

A partir do olhar projetado sob a metodologia do imaginaacuterio sobre a festa de

Satildeo Joatildeo e toda a representaccedilatildeo simboacutelica que eacute manifestada nos eventos

permitindo uma interaccedilatildeo entre festivos e siacutembolos

Cidreira (2014 p20) afirma que desde os primeiros aparecimentos ldquo[] a

fenomenologia se define como uma vontade de se ater aos fenocircmenos a experiecircncia

imediatamente vivida e de descrevecirc-la tal qual ela aparece sem referecircnciardquo

Descrever o fenocircmeno assim como eacute vivido O meacutetodo fenomenoloacutegico restringe-se

a anaacutelise e descriccedilatildeo da experiecircncia vivida sendo este seu foco

Ainda segundo a autora

76

[] o comportamento humano natildeo pode se compreender e se explicar se natildeo for em relaccedilatildeo com as significaccedilotildees que as pessoas datildeo agraves coisas e agraves suas accedilotildees Adicionamos a estas duas correntes essenciais a perspectiva dialeacutetica que sugere uma relaccedilatildeo dinacircmica entre o sujeito e o objeto o que quer dizer entre a subjetividade e o fato concreto entre o mundo da cultura e o mundo da natureza (CIDREIRA 2014 p17)

A partir desta conceituaccedilatildeo eacute possiacutevel considerar a fenomenologia como a

ciecircncia do existir uma possiacutevel compreensatildeo de que tudo que compotildeem a vida de um

ser significa-se Devido agrave dimensatildeo sensiacutevel do trabalho a fenomenologia foi utilizada

como meacutetodo para clarificar os fundamentos e projetos ao longo desta pesquisa

Segundo Moreira (2002 59 e 60) a fenomenologia como um movimento

filosoacutefico foi incorporada agrave sociedade ocidental no seacuteculo XX por Edmund Husserl

considerado o pai da fenomenologia

A fenomenologia era uma forma totalmente nova de fazer filosofia deixando de lado especulaccedilotildees metafisicas abstratas e entrando em contato com as ldquoproacuteprias coisasrdquo dando destaque a experiecircncia vivida (MOREIRA 2002 p62 grifo do autor)

A investigaccedilatildeo de caraacuteter fenomenoloacutegica preocupa-se com a descriccedilatildeo

verdadeira da experiecircncia tal como ela eacute Neste aspecto pode existir diferentes tipos

de descriccedilatildeo considerando-se as muacuteltiplas interpretaccedilotildees que pode ocorrer partindo

de um uacutenico fenocircmeno

A fenomenologia foi criada entre o final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Embora o precursor dessa escola tenha sido Franz Brentano que a partir de anaacutelises sobre a intencionalidade da consciecircncia humana tentou descrever compreender e interpretar os fenocircmenos dispostos agrave percepccedilatildeo Husserl (1859-1938) eacute considerado o fundador da Fenomenologia abrindo caminho para outros pesquisadores (MARTINS e THEOacutePHILO 2009 p 44)

Esta ciecircncia eacute difundida nos mais diversos campos na atualidade como sauacutede

direito e comunicaccedilotildees A obra de Hurssel inspirou e inspira pesquisadores Merleau-

Ponty Durand e Maffesoli satildeo trecircs entre tantos outros autores que foram

influenciados pela fenomenologia Os dois uacuteltimos autores foram utilizados para o

desenvolvimento do meacutetodo fenomenoloacutegico neste projeto

Merleau-Ponty contextualiza a percepccedilatildeo numa abordagem fenomenoloacutegica

[] a fenomenologia eacute a uacutenica entre todas as filosofias a falar de um campo transcendental Esta palavra significa que a reflexatildeo nunca tem sob seu olhar o mundo inteiro e a pluralidade das mocircnadas desdobradas e

77

objetivadas que ela soacute dispotildee de uma visatildeo parcial e de uma potecircncia limitada (MERLEAU-PONTY 1999 p 95 e 96)

Para o autor a fenomenologia eacute a essecircncia da percepccedilatildeo e da consciecircncia

sendo este o ponto de partida para compreender o mundo A percepccedilatildeo eacute inerente ao

ser limitasse geograficamente a experiecircncia vivida pelo observador Sua aplicaccedilatildeo

restringe-se agraves experiecircncias vivenciadas pelo indiviacuteduo O socioacutelogo Michel Maffesoli

aborda o meacutetodo fenomenoloacutegico como um processo natildeo necessariamente focado

na conclusatildeo mas na experiecircncia adquirida ao longo do processo para o autor o

resultado de uma pesquisa fenomenoloacutegica natildeo traz uma verdade absoluta ou um

sentido definitivo (MAFFESOLI 1998 p112)

311 Imaginaacuterio

Para Durand a imaginaccedilatildeo eacute a ldquofaculdade de o homem ou o grupo social

perceber a cultura e a natureza e com elas interagirrdquo (PITTA 2005 p147) Este

processo se daacute em trecircs funccedilotildees ligadas a percepccedilatildeo do real suplementar o real

ampliar o real e ou revelar um real ateacute entatildeo incompreendido O modo como ocorre

esta interaccedilatildeo eacute o imaginaacuterio Este caracteriza um ser uma cultura ou uma eacutepoca

(PITTA 2005 p147)

A fim de compreender a relaccedilatildeo entre homem forma e espaccedilo seratildeo

abordados organicamente de maneira interligada e fluente os aspectos de viver em

sociedade precisamente a relaccedilatildeo vitrina e o socieacutetal A observaccedilatildeo se daraacute a partir

do prazer dos sentidos do imaginaacuterio Por fim eacute a ldquoEacutetica da Esteacuteticardquo que Maffesoli

(1998 p195) ldquoremete efetivamente para o cuidado de perceber em sua globalidade a

experiecircncia humana da qual o elemento sensiacutevel natildeo eacute o menos importanterdquo Uma

visatildeo voltada para a compreensatildeo dos fenocircmenos integrando meacutetodo e emoccedilatildeo o

imaginaacuterio e o prazer dos sentidos

Para contemplaccedilatildeo do ser social na poacutes-modernidade deve-se considerar o

aspecto sensiacutevel do mesmo assim como suas dimensotildees esteacuteticas Uma visatildeo de

mundo orgacircnica privada de preacute-julgamentos e com sensibilidade permitiraacute uma

melhor aproximaccedilatildeo das accedilotildees projetadas por esses seres na sociedade O meacutetodo

fenomenoloacutegico aqui pela proposiccedilatildeo de Maffesoli no livro Elogio da razatildeo sensiacutevel

eacute o que melhor se adequa agrave natureza desta pesquisa pois torna possiacutevel analisar o

fenocircmeno pela essecircncia de maneira intuitiva na sua pureza Seraacute atraveacutes deste

78

meacutetodo o caminho de aproximaccedilatildeo do objeto de estudo pois o mesmo clarifica a vida

cotidiana natildeo busca um resultado imediato mas na descriccedilatildeo propotildee-se a volta agrave

origem do fenocircmeno

32 Instrumento de coleta

Meacutetodo observacional Atraveacutes deste meacutetodo foi possiacutevel ver sem ser visto

diante do contexto Este meacutetodo se estende durante todo o periacuteodo da pesquisa

sendo o primeiro a ser empregado

Pesquisa bibliograacutefica Foi plicada para aprofundamento nas discussotildees e

explicaccedilotildees anaacutelises das teorias que envolvem o projeto atraveacutes de livros e

trabalhos reconhecidos cientificamente E para escolha da metodologia adequada ao

projeto Segundo Martins e Theoacutephilo (2009) satildeo aplicados a qualquer pesquisa

cientifica

Estudo de caso Consiste na descriccedilatildeo compreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos

fatos e fenocircmenos que envolvem o projeto Um aprofundamento nos festejos juninos

design e vitrina e suas inter-relaccedilotildees

Meacutetodo exploratoacuterio Segundo Aaker (2010 p207) eacute menos estruturado e

mais intensivo diferencia-se de meacutetodos que satildeo aplicados questionaacuterios Ele permite

um relacionamento mais profundo e com maior riqueza de contexto Atraveacutes da

aplicaccedilatildeo deste meacutetodo de pesquisa eacute possiacutevel definir problemas sugerir e testar

hipoacuteteses gerar novos conceitos de produtos avaliar reaccedilotildees dos usuaacuterios Este

permite uma imersatildeo no meio pesquisado entre as vitrinas e a festa junina

33 Metodologia do designer

Para o desenvolvimento da vitrina foi adequada a metodologia apresentada por

Cerver (1990) para planejamento e desenvolvimento de vitrinas O autor enfatiza que

tanto o consumidor quanto a empresa devem ser contemplados no desenvolvimento

de vitrinas Cerver afirma que o primeiro e mais importante passo para a existecircncia de

um projeto eacute que haja um problema assim como Munari Como afirma o autor antes

de definir cada uma das fases da metodologia projetual deve-se ter algumas

consideraccedilotildees pois natildeo haacute uma receita perfeita e sim uma metodologia que melhor

adequa-se agraves necessidades a serem solucionadas no problema Na sua metodologia

79

para desenvolvimento de vitrinas Cerver divide em quatro grandes fases que podem

vir a se desdobrarem

Metodologia projetual de Cerver

Fase 1 Definiccedilatildeo do problema

A primeira fase do projeto consiste em traccedilar os objetivos a serem atendidos e

a demanda que a vitrina vem agrave satisfazer

Para conhecer os fatores que devem ser considerados no desenvolvimento O

designer deve responder

Que requisitos baacutesicos devem ser satisfeitos

Quais satildeo desejaacuteveis e quais satildeo opcionais

Quais elementos determinam esses trecircs requisitos e de que modo se relacionam

Que tipo de soluccedilatildeo deve buscar-se relacionada com alguma atitude cultural comercial institucional econocircmico comunicacional etc

Os meios disponiacuteveis e necessaacuterios e outros recursos acessiacuteveis incluso a proacutepria experiecircncia do designer (CERVER 1990 p 72)

Respondendo estas perguntas e relacionando-as principalmente quanto aos

requisitos baacutesicos elementos e soluccedilatildeo Esses satildeo os trecircs fatores que devem ser

respeitados durante todo o desenvolvimento do projeto a fim de acercar-se ao acerto

A estruturaccedilatildeo do problema eacute o passo seguinte respondendo questotildees como

a finalidade geral e especificas programa e plano de trabalho a definiccedilatildeo dos

objetivos tambeacutem devem ser realizadas neste momento Para isto Cerver (1990)

afirma que o designer deve reconhecer o ambiente e caracteriacutesticas do lugar onde

seraacute estruturada a vitrina aleacutem de considerar as expectativas e sugestotildees do cliente

Fase 2 Busca de informaccedilotildees

A segunda parte do projeto consiste na criaccedilatildeo da vitrina primeiramente deve-

se buscar informaccedilotildees teacutecnicas e teoacutericas pesquisar em todos os campos que afins

com os objetivos do projeto

Em seguida deve-se analisar os concorrentes e similares para natildeo repetir e

igualmente para analisar pontos positivos e negativos em projetos jaacute realizados

O autor sugere dois meacutetodos para criaccedilatildeo o brainstorming e a sinestesia Outro

fator a ser considerado para a criaccedilatildeo da vitrina satildeo os materiais e tecnologias

80

existentes que possam ser usados para o desenvolvimento ldquoO vitrinista estaacute obrigado

a ter em conta a tecnologia os materiais empregados suas utilizaccedilotildees e

manipulaccedilatildeordquo (Cerver 1990 79)

Fase 3 Preacute-projeto

Nesta fase do processo projetual devem ser consideradas todas as ideias

viaacuteveis da fase anterior e traduzi-las em dados formais teacutecnicos As ideias

selecionadas devem ser confrontadas ateacute obter-se a melhor soluccedilatildeo para o problema

em questatildeo

Nesse momento tambeacutem seratildeo realizados os desenhos teacutecnicos maquetes e

protoacutetipos para testes de mateacuterias de volumetria mecacircnicos mesmo de logiacutestica Os

fundamentos de linguagem visual devem ser considerados na elaboraccedilatildeo dos

projetos como ponto linha plano e volume De igual importacircncia conhecimentos de

geometria descritiva devem ser usados como perspectivas e escalas Pois a vitrina eacute

uma produccedilatildeo tridimensional aleacutem de visual

Fase 4 Apresentaccedilatildeo do projeto

Memoacuteria teacutecnico descritiva todas as medidas formas cores e mateacuterias

necessaacuterios para executar o projeto assim como cada etapa para realizaccedilatildeo do

mesmo devem ser descritas Para que o projeto possa ser executado novamente

Montagem e instalaccedilatildeo trata-se de uma planificaccedilatildeo dos materiais e

ferramentas necessaacuterios para montagem da vitrina a logiacutestica como a mesma deve

ser transportada armazenada se haacute necessidade de outros colaboradores para

montagem da mesma

Verificaccedilatildeo e seguimento quais satildeo os fornecedores dos mateacuterias e serviccedilos

o acompanhamento da instalaccedilatildeo da vitrina mesmo uma anaacutelise de aceitaccedilatildeo depois

da implantaccedilatildeo da vitrina

81

4 RESULTADOS

Para este projeto foi estruturada uma metodologia fundamentada a partir da

abordagem metodoloacutegica de Cerver que tem como foco a metodologia de

desenvolvimento de vitrina Segue abaixo a aplicaccedilatildeo da metodologia seguindo a

ordem cronoloacutegica das etapas propostas pelo autor

41 Definiccedilatildeo do problema

O problema consiste no desenvolvimento de uma vitrina de Satildeo Joatildeo para o

mercado de moda na cidade de Caruaru Como requisitos a vitrina deve contemplar

as necessidade baacutesicas do cliente que satildeo quanto ao investimento baixo custo

empregado para desenvolvecirc-la e quanto a efetividade na atraccedilatildeo do puacuteblico

A soluccedilatildeo encontrada foi aprofundar-se ao tema da festa junina a metodologia

fenomenoloacutegica foi o meio de aproximaccedilatildeo Outra soluccedilatildeo foi buscar mateacuterias de

baixo custo mas que pudessem compor a vitrina sem comprometer a estrutura e a

composiccedilatildeo da mesma

A vitrina foi desenvolvida para uma loja de moda feminina para mulheres

adultas A loja pode vender roupas sapatos bijuterias um ou mais produtos A vitrina

foi direcionada para agregar todos esses perfis distanciando-se da religiosidade que

a festa junina tem em si

Assim na primeira fase segundo a metodologia de Cerver foi traccedilado o custo

do projeto e o puacuteblico alvo a quem a vitrina deve ser focada durante seu

desenvolvimento

42 Busca da informaccedilatildeo

Atraveacutes da teacutecnica do imaginaacuterio foi definhado os elementos que compotildeem a

festa junina Foi selecionada a bandeirinha como elemento principal na composiccedilatildeo

do projeto Nesta fase tambeacutem ficaram definidos o uso de materiais como TNT EVA

e papeis para compor a vitrina

Tambeacutem foi estudado como outros artistas usaram o tema pintores como

Guignard e Volpi Ademais como outros designers empregaram o tema mesmo em

outros produtos como roupas louccedilas e embalagens diversas

82

421 Painel de inspiraccedilatildeo

4211 Tema Festa de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulos 14 15 e 16 a partir da paacutegina X

4212 Tema Vitrinas de Satildeo Joatildeo

Ver capiacutetulo 226 a partir da paacutegina 68

4213 Tema Teacutecnicas na Vitrina

Painel 10 ndash Teacutecnicas na vitrina

Fonte Acervo do autor

83

43 Preacute-projeto

431 Croquis fase 1

A partir do reconhecimento dos elementos representativos do imaginaacuterio da

festa de Satildeo Joatildeo atraveacutes da pesquisa exploratoacuteria da experiecircncia vivida pela autora

das anaacutelises de outros artistas que tinham igualmente trabalhado com o tema em

questatildeo e de analises de similares foram desenvolvidos algumas opccedilotildees de croquis

de possiacuteveis vitrinas a serem desenvolvidas

No primeiro croqui (Desenho 01) os elementos utilizados foram as

bandeirinhas os balotildees e o cenaacuterio das cidades de interior enquanto as festas juninas

natildeo haviam migrado para as cidades Os pontos relevantes foram o uso da cidade

cenograacutefica e das bandeirinhas assim como a utilizaccedilatildeo de papeis como o principal

material a ser empregado no desenvolvimento da vitrina Os pontos a serem revisados

foram a ausecircncia de cores as quais ajudam a enfatizar o festejo que eacute de natureza

multicolorida e as disposiccedilotildees as quais as bandeirinhas se enquadram no espaccedilo

Considerando a disposiccedilatildeo de cerca e amarraccedilatildeo aos punhos do manequim que no

imaginaacuterio se apresentam como algemas prisatildeo natildeo sendo este um valor a ser

passado neste projeto

Desenho 01 ndash Croqui A

Fonte Acervo do autor

No segundo croqui as questotildees principais a considerar foram primeiramente

quanto ao fogo na vitrina e na interaccedilatildeo deste com os demais elementos que a

compotildeem O fogo na vitrina dois eacute representado pela fogueira de Satildeo Joatildeo entretanto

84

quanto ao imaginaacuterio o fogo queima aquece ou alimenta O fato de queimar eacute o ponto

negativo do uso da fogueira na vitrina apesar da ideia de aquecer a accedilatildeo de queimar

se sobressai aos demais sentidos atribuiacutedos ao elemento O outro fator eacute disposiccedilatildeo

das bandeirinhas que sairiam como borboletas da chama como no mito da fecircnix o

paacutessaro que ressurge das cinzas Sendo que esta natildeo eacute uma relaccedilatildeo que deve ser

apresentada nesta vitrina natildeo eacute importante este sentido do renascer Logo este

segundo croqui teve mais pontos negativos e evidenciou os elementos do imaginaacuterio

que natildeo deveriam ser utilizados na vitrina

Desenho 02 ndash Croqui B

Fonte Acervo do autor

432 Croquis fase 2

Apoacutes agrave primeira analise foram desenvolvidas outras alternativas para o projeto

considerando todos os pontos positivos e negativos filtrados da avaliaccedilatildeo anterior

Com a bandeirinha como o principal elemento representativo da festa junina a ser

usado na configuraccedilatildeo do projeto

No primeiro croqui foi retomada a ideia da inserccedilatildeo do cenaacuterio da cidadezinha

de interior (Painel 11) entretanto as bandeirinhas atraveacutes da forma e disposiccedilatildeo

passariam a compor este cenaacuterio Este croqui (Desenho 03) foi a evoluccedilatildeo do primeiro

croqui da analise anterior com inserccedilatildeo de cores soltando as amarraccedilotildees das

85

manequins e agregando novos conceitos do emprego da forma da bandeira Nesse

aspecto as obras do artista plaacutestico Volpi foram a grande fonte de inspiraccedilatildeo No

sentido da experiecircncia de trabalhar a forma cores e volumes e agregar novas

possibilidades a partir do emprego baacutesico da bandeirinha o de menear com o sopro

do vento

Painel 11 ndash Referecircncia cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

Desenho 03 ndash Croqui cenaacuterio

Fonte Acervo do autor

86

Para elaboraccedilatildeo do segundo croqui foi considerado o segundo croqui da fase

anterior entretanto agora o fogo natildeo estaacute mais como a fogueira mas nas cores

aplicadas (Painel 12) agraves bandeiras Manteve-se a ideia de movimento apresentada

anteriormente entretanto natildeo representa a fecircnix ou a borboleta Firma-se como

bandeira natildeo a leve que se deixa levar pelo vento mas a que se movimenta e

dinamiza-se Aqui a bandeira foi trabalhada como uma onda ganhando volume e

movimento envolvendo a manequim apresentando-se em festa (Desenho 04)

Painel 12 ndash Referecircncia fogueira

Fonte Acervo do autor

87

Desenho 04 ndash Croqui Fogueira

Fonte Acervo do autor

Na terceira alternativa a bandeira foi empregada no seu uso habitual (Painel

13) dependurada tranccedilada de um lado para o outro O que foi agregado de novo

nesta geraccedilatildeo e alternativas eacute que as bandeiras seriam grandes e ganham elementos

como fuxicos pedrarias sianinhas Materiais que satildeo usados nos trajes das

quadrilhas juninas seriam empregados as bandeiras (Desenho 05)

Painel 13 ndash Referecircncia Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

88

Desenho 05 ndash Croqui Bandeirinhas

Fonte Acervo do autor

Apoacutes a escolha do croqui a ser desenvolvido foram realizados testes de cores

materiais e texturas

433Testes

No primeiro teste o principal material utilizado foi o TNT e isopor apenas para

estruturar nesse momento o mais importante foi verificar o uso do volume e a possiacutevel

tridimensionalidade do projeto (Painel 14) tendo como ponto de partida as

bandeirinhas das obras de Volpi Tambeacutem foi empregada a teacutecnica de capitonecirc17

Painel 14 ndash Teste 1

Fonte Acervo do autor

17

89

No segundo teste aleacutem da utilizaccedilatildeo dos materiais usados anteriormente o

EVA passou a integrar a composiccedilatildeo da vitrina (Foto 05) Nessa etapa o teste passou

a ser o mais proacuteximo possiacutevel do projeto real foi empregado o uso de escala teacutecnica

de modelagem estudo das cores e a sequecircncia operacional Este foi o uacuteltimo teste

para a construccedilatildeo do protoacutetipo final Na avaliaccedilatildeo foi decidido que ceacuteu de capitonecirc se

distancia da representaccedilatildeo do ceacuteu da festa de Satildeo Joatildeo que eacute um ceacuteu negro liacutempido

e estrelado logo o azul empregado deve ser mais escuro e o capitonecirc deve ser

retirado pois agrega um volume um tanto turbulento natildeo atendendo agraves expectativas

do projeto As casinhas compostas por bandeiras passaram a ser displays de sapatos

desempenhando uma maior integraccedilatildeo do projeto enquanto vitrina

Foto 04 ndashTeste 2

Fonte Acervo do autor

44 Apresentaccedilatildeo do projeto

Com a mudanccedila da tonalidade do azul empregado ao ceacuteu as demais cores que

compotildeem o cenaacuterio foram alteradas para preservar a harmonia e contraste obtido no

teste anterior A base da vitrina foi coberta na textura de madeira por ser menos

contrastante que a cor branca na composiccedilatildeo visual da unidade da vitrina A cor

90

selecionada foi o papel contato carvalho japonecircs que garantiu uma neutralidade junto

as demais cores

As cores empregada nesta composiccedilatildeo foram inspiradas igualmente nas

obras do artista plaacutestico Volpi (Painel 15)

Painel 15 ndash Cores de Volpi

Fonte MATTAR 2014

Figura 18 ndash Cartela de cores

Fonte Acervo do autor

Estudo das combinaccedilotildees das cores

91

Figura 19 ndash Possiacuteveis harmonias das cores

Fonte Acervo do autor

Outras possiacuteveis combinaccedilotildees

Figura 20 ndash Outras alternativas de cores

Fonte Acervo do autor

92

Outro diferencial eacute que a vitrina passou a ser composta unicamente de papeacuteis

de diferentes finalidades e texturas

Foto 05 ndash Teste Final

Fonte Acervo do autor

441 Memoria teacutecnico descritiva

Para produccedilatildeo da maquete foi utilizada a escala 110 a partir do desenho

teacutecnico Desenvolvido para uma vitrina com 3m de peacute direito por 265m de largura

com aproximadamente 1m de profundidade Nesta uacuteltima etapa foram repetidas todas

as teacutecnicas de design utilizadas anteriormente assim como a iluminaccedilatildeo

93

442 Desenho teacutecnico

4421 Molde painel

Vetor 01 ndash Painel vitrina

Fonte Acervo do autor

Vetor 02 ndash Painel com as cores definidas

Fonte Acervo do autor

Vetor 03 ndash Painel com definiccedilatildeo de materiais

Fonte Acervo do autor

94

4422 Molde casa

Vetor 04 ndash Molde casa

Fonte Acervo do autor

4423 Molde display

Vetor 05 ndash Molde display

Fonte Acervo do autor

95

4424 Molde telhado

Vetor 06 ndash Molde telhado

Fonte Acervo do autor

4425 Molde ceacuteu

Vetor 07 ndash Molde ceacuteu

Fonte Acervo do autor

96

443 Materiais empregados

Para estruturar foi utilizado papelatildeo couro em placa 100 x 080m nordm 80

espessura 09 mm nos telhados e displays

Na cobertura e finalizaccedilatildeo foram usados cartolina guache e papel canelado (em

especial nos telhados) (Foto 6)

Foto 6 ndash Papel Canelado ou microondulado

Fonte Acervo do autor

Para feitura do ceacuteu foi realizada uma composiccedilatildeo de bandeirinhas em cartolina

guache (Foto 07) sobre papel camurccedila

Foto 07 ndash Cartolina guache

Fonte Acervo do autor

97

Para os acabamentos do display de sapatos foi utilizado papel contato laminado

(Foto 08)

Foto 08 ndash Papel contato laminado

Fonte Acervo do autor

Os instrumentos utilizados (Foto 09) para confecccedilatildeo foram reacuteguas esquadros

escalimetro tesouras estilete Na fixaccedilatildeo foram utilizados os seguintes materiais fita

dupla face cola para papel cola instantacircnea e pincel para espalhar a cola Para

transferecircncias dos riscos de um papel para outro foi utilizado papel carbono

Foto 09 ndash Instrumentos e materiais utilizados para confecccedilatildeo da maquete

Fonte Acervo do autor

98

444 Sequencia Operacional

Tabela 02 ndash Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo Sequencia

Sequencia Operacional Maquete Vitrina Satildeo Joatildeo

OP Sequencia Operacional Ferramentas

1 Cortar os moldes casa telhado e display no papelatildeo couro Estilete e reacutegua de metal

2 Cortar os moldes telhado display e painel T em suas

respectivas cores no papelatildeo canelado

Tesoura papel carbono e

laacutepis

3 Cortar os moldes casa base display e painel C e

bandeirinhas em suas respectivas cores na cartolina

guache

Tesoura estilete reacutegua de

metal papel carbono e

laacutepis

4 Cortar os moldes detalhe no papel contato laminado Tesoura papel carbono e

laacutepis

5 Eleger como base do molde painel a cor predominante em

cartolina guache (Neste projeto a cor vermelha) Marcar

com papel carbono onde vatildeo ser colados os demais

moldes que se encaixam para formar o cenaacuterio

Tesoura papel carbono e

laacutepis

6 Colar os anteriormente cortados painel T e C (OP 3 e OP

4) Reservar

Cola para papel e pincel

7 Vincar as linhas pontilhadas (Dobras dos moldes) da OP 1 Estilete e reacutegua de metal

8 Fechar os moldes das casas com as pontes Cola fixaccedilatildeo raacutepida

9 Cobrir os moldes casa telhado e display com os demais

moldes cortados nas OP 3 e OP 4

Cola para papel e pincel

10 Colar os displays acabados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

11 Dobrar e colar as bases nas casas respeitando as

combinaccedilotildees de cores

Cola para papel e pincel

12 Fazer as instalaccedilotildees para iluminaccedilatildeo nos displays Furador instalaccedilotildees e

luminaacuteria

13 Fixar os telhados nas casas Cola fixaccedilatildeo raacutepida

14 Colar uma casa na outra Fita dupla face

15 Marcar as bandeirinhas no papel milimetrado e em seguida

furar os encontros das bandeirinhas no papel camurccedila

Laacutepis reacutegua furador

16 Colar as bandeirinhas cortadas na OP 3 respeitando a

disposiccedilatildeo da base ceacuteu

Cola para papel e pincel

17 Colar o ceacuteu montado na estrutura base da vitrina Fita dupla face

Colar o painel reservado (OP 6) nas marcaccedilotildees do ceacuteu Fita dupla face

18 Fixar as casas finalizadas (OP 14) escondendo as fiaccedilotildees

eleacutetricas por traacutes da base da vitrina

Fita dupla face

19 Fazer as instalaccedilotildees de iluminaccedilotildees no ceacuteu nos lugares

marcados

Furador

Fonte Acervo do autor

As duas seguintes etapas da uacuteltima fase da metodologia de Cerver (Montagem

e instalaccedilatildeo e Verificaccedilatildeo e seguimento) natildeo foram realizadas nesse projeto

99

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Todos os elementos que estatildeo na vitrina devem ser pensados estudados e

projetados Eacute o cuidar da mensagem pois a comunicaccedilatildeo eacute importante deve atender

agraves expectativas do lojista da marca Para atingir esses objetivos nesta pesquisa

foram estudados os valores socioculturais os diferentes materiais e texturas as

simbologias que compotildeem as formas como cores odores e sons O proacuteprio espaccedilo

da vitrina foi estudado na sua relaccedilatildeo dinacircmica com o sociegravetal

Ao dar iniacutecio a esta pesquisa ficou evidente a trama multidisciplinar exercida

pelo designer ao projetar todos os possiacuteveis campos da ciecircncia e da sociedade que

o profissional pode transitar De acordo com os estudos que aqui foram realizados a

vitrina tem como objetivo possibilitar a comunicaccedilatildeo da marca com o passante ao

construir uma vitrina o designer deve buscar uma aproximaccedilatildeo do consumidor com a

marca e sua identidade

O referencial teoacuterico permitiu compreender as relaccedilotildees do design como

representante e agente da sociedade por apreender e criar formas baseadas na

cultura contribuindo para a difusatildeo dessa uacuteltima A vitrina entra nesse contexto como

meio difusor dessas representaccedilotildees Atraveacutes desta pesquisa ficou evidente toda a

relaccedilatildeo que existe entre design e cultura assim como a importacircncia do uso da vitrina

como exemplo dessa relaccedilatildeo

Ademais foi possiacutevel conhecer os elementos que compotildeem a representaccedilatildeo

simboacutelica da festa junina e como outros designers utilizam esses elementos para

configurar suas criaccedilotildees Aleacutem da melhor compreensatildeo do imaginaacuterio da vitrina no

contexto social e sua relaccedilatildeo ao apresentar o mito na cidade Culminando na proposta

de uma vitrina de moda para o periacuteodo das festas juninas na cidade de Caruaru

Para elaboraccedilatildeo do projeto foi utilizada a proposta metodoloacutegica de design

para desenvolvimento de vitrinas apresentada por Cerver Assim como a teacutecnica da

teoria do imaginaacuterio e a abordagem fenomenoloacutegica A niacutevel nacional basicamente

duas renomadas pesquisadoras Bigal e Demestresco abordam o tema ambas

discutem a vitrina sob a perspectiva da semioacutetica Entretanto com esta pesquisa foi

possiacutevel observar que a metodologia do imaginaacuterio pode ser um meio de abordagem

da vitrina Considerando a sua relaccedilatildeo como elemento de comunicaccedilatildeo e

representante do imaginaacuterio social

100

A vitrina foi desenvolvida para fazer parte do cenaacuterio da cidade de Caruaru no

periacuteodo da festa junina representando a identidade de uma loja e de seu consumidor

O objetivo foi alcanccedilado primeiramente enquanto designer no aprofundamento do

imaginaacuterio popular que envolve as festas assim como na percepccedilatildeo da vitrina

enquanto agente social integrando-se ao socieacutetal

E posteriormente os objetivos foram atendidos em todos os aspectos com

ecircxito O layout final da vitrina atende as expectativas iniciais deste projeto aleacutem de

poder ser reproduzido Na realizaccedilatildeo desta monografia todas as fases foram

enfatizadas com igual importacircncia A dimensatildeo simboacutelica empregada no trabalho

contribuiu para um emprego mais social do produto de design

Durante o desenvolvimento do projeto foram aplicadas teacutecnicas e

experimentaccedilotildees sempre levando em consideraccedilatildeo a metodologia de design aqui

utilizada Com o objetivo de alcanccedilar o melhor resultado relacionando a cultura

popular o imaginaacuterio e a vitrina sem deixar de atender as necessidades do mercado

local

Os dois pontos fortes esteticamente da vitrina aqui desenvolvida eacute a utilizaccedilatildeo

de papel em toda a concepccedilatildeo da mesma e abordagem sensiacutevel permitida atraveacutes

da teacutecnica do imaginaacuterio A vitrina aqui prototipada teve sua criaccedilatildeo fundamentada

principalmente nas obras do artista Volpi A anaacutelise de outras teacutecnicas aplicadas no

desenvolvimento de vitrinas tambeacutem possuem igual importacircncia como paracircmetro

comparativo para um uso proporcional do espaccedilo a desenvolver

Com esta monografia ficou possiacutevel compreender que a criatividade para o

design eacute parte do processo bem estruturado por uma metodologia adequada ao

projeto referencias visuais diversificadas pesquisas teoacutericas que deem fundamento

para o desenvolvimento do projeto assim como praacuteticas acertadas

A vitrina eacute a janela entre o meio externo (clientes) e o interno (loja) e o uacuteltimo

canal do merchandising que apresenta ao puacuteblico a identidade da loja A vitrina exibe

uma visatildeo de mundo a ser apresentada e compreendida pois a mesma deteacutem em si

mesma o fenocircmeno a ser estudado A expressatildeo simboacutelica lhe permite exercer essa

interaccedilatildeo sensiacutevel com o observador Considera-se que o estudo imaginaacuterio eacute uma

possibilidade sensiacutevel para o desenvolvimento de vitrinas na contemporaneidade

101

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