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Contos Selecionados
s Mil e Uma Noites
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CAPAThereza AlmeidasobreXerazad, de Edmund Dulac
PROJETO GRFICOThereza Almeida
REVISOMnica de Almeida
COORDENAOFrancisco Achcar
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Paulo Srgiode Vasconcellos
Seleo, Adaptao,Notas e Apresentao
Contos Selecionados
s Mil e Uma Noites
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umrio
Apresentao, 8
Influncia da civilizao rabee islmica no mundo ocidental, 14
Agradecimento, 19
As Mil e Uma Noites, 20
Como tudo comeou:a histria de Xerazad, 22
O pescador e o gnio, 36
Ali Bab e os 40 ladres, 48
Aventuras de Simbad, o marujo, 64
Aladim e a lmpada maravilhosa, 76
Crditos das ilustraes, 102
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Paulo Srgio de Vasconcellos
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10 A S MI L E U M A N O I T E S
uando se fala nAs Mil e Uma Noites, ima-gens de gnios, magos, lmpadas mgicas,
tapetes voadores vm nossa mente. Noh quem no tenha ouvido falar em Aladim
ou Ali Bab, cujas histrias tm sido recon-tadas inmeras vezes em livros, filmes, peas deteatro, desenhos animados. Como acontece com
muitas obras antigas de quase todos os povos, os textos quehoje lemos eram, no incio, histrias contadas oralmenteatravs dos tempos, passadas de gerao a gerao.
Ao falar nAs Mil e Uma Noites,pensamos tambm nummundo extico situado na Arbia. A origem dessas histrias,narradas em rabe, controversa. Segundo algumas fontes,teriam surgido na antiga Prsia (hoje, Ir). Segundo outras,teriam sido inicialmente elaboradas em Bagd, no sculo IX.Seja como for, as narrativas mencionam vrios pases: noapenas a Arbia, o Iraque (cuja capital, Bagd, foi um diaum poderoso centro cultural), como tambm ndia, norte dafrica (de onde vem, como se ver, o mago da histria de
Aladim e a lmpada maravilhosa) e, at mesmo, China (ondese passa essa narrativa).
Como pano de fundo dessas histrias, tem-se o mundoislmico, fundado na religio muulmana ou islmica, cujo ini-ciador foi o profeta Maom (em rabe,Muhammad), quenasceu por volta de 570 d.C. na cidade de Meca, na ArbiaSaudita. A religio islmica monotesta, como a catlica:
acredita na existncia de um s deus1
, que teria ditadoao profeta, atravs do arcanjo Gabriel, o texto do Alcoro (li-
1. A palavra Deus em rabe Allh.
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teralmente, A leitura recitada), livro sagrado dos muul-manos. Isl vem do rabe islm e significa submisso volun-
tria (a Deus). No Alcoro, alm de ensinamentos sobrea f, encontram-se, em linguagem potica, regras para a con-duta das pessoas em seu dia-a-dia, para a administrao dajustia, etc. Mais de um bilho de pessoas emtodo o mundo hoje se guiam pelosensinamentos contidos no Alcoro.Mas convm lembrar que
islmico ou muulmano nosignifica, necessariamente,rabe: os muulmanos no-rabes hoje em dia somuito mais numerosos queos muulmanos rabes.Alm do Oriente Mdio,h muulmanos no norte dafrica, na ndia, Indonsiae China.
O templo muulmano,a mesquita (da palavra rabe masjid,que significa lugar de adorao), no apresenta imagensde santos, ao contrrio do que ocorre na tradio catlica.O artista, ao desenhar ou esculpir uma figura viva, estaria,
simbolicamente, como que dando vida a um ser, o que seria,para um muulmano, uma espcie de sacrilgio, pois o nicocriador Deus. No obstante, sempre houve artistas muul-manos que representaram figuras humanas.
Foi um francs, Antoine Galland2 (1646-1715), quemprimeiramente tornou As Mil e Uma Noites conhecidas doseuropeus, atravs de uma traduo para o francs de cerca de
um tero da obra original. a verso mais conhecida e foinela que baseamos esta nossa seleo. Antoine Galland era
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2. Antoine Galland:pronuncia-se antun(e) gal.
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arquelogo, estudioso de lnguas e do mundo oriental; viajouvrias vezes para o Oriente e aprendeu o rabe, o turco
e o persa. De l para c, muitas outras verses se fizeram,em vrias lnguas; uma das mais conhecidas a inglesa, realiza-da por Richard Burton (1821-1890) e publicada em 1885.Richard Francis Burton foi um explorador muito erudito, queconhecia vrias lnguas e viajou para a ndia, o Oriente Mdio,o Egito e a frica. Burton esteve tambm no Brasil, em missoconsular, de 1864 a 1867, ano em que explorou as margens do
rio So Francisco. Outra curiosidade sobre Burton que foi elequem descobriu a nascente do rio Nilo, uma questo que vinhasendo discutida desde a Antiguidade.
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H alguns anos, por causa das duas guerras dos EstadosUnidos com o Iraque e da guerra no Afeganisto, temos ouvi-do falar muito no Islamismo. Na mdia, vimos mulheres, sob oregime do Taleb, no Afeganisto, obrigadas a se cobrir comvu dos ps cabea (embora esse costume no seja men-cionado no Alcoro, comum em pases como o Ir), bemcomo notcias sobre as disputas entre xiitas e sunitas noIraque, ou mulheres adlteras condenadas ao apedrejamentoem pases muulmanos na frica. Esses aspectos negativosno nos devem fazer esquecer a riqueza cultural do mundomuulmano nem nos dar uma viso errada de uma civilizaoque tanto influenciou o Ocidente. Acima de tudo, devemostomar cuidado para no ter desse mundo a idia de uma cul-tura atrasada ou ultrapassada, uma viso estereotipadae falsa que por vezes os meios de comunicao parecem nos
querer transmitir.Voc sabia que o mundo islmico, que se iniciou entre os
rabes mas se expandiu por vrias regies do mundo, j foium imprio poderoso, com uma civilizao muito avanada nacincia, na tecnologia, nas artes, na medicina, muito frentedo Ocidente? E que h muitas influncias dessa civilizao emnossa cultura?
A lngua portuguesa conserva muitas palavras de origemrabe, povo que dominou a pennsula ibrica, onde surgiria
Influncia da civilizao rabe
e islmica no mundo ocidental
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Portugal, e ali ficou do sculo VIII ao sculo XV! Muitosvocbulos que comeam com al(em rabe, o correspondente
ao nosso artigo) so de origem rabe: almoo, alface, lcool,almoxarifado, alquimia, algodo. Mas no apenas esses;poderamos recordar caf, xarope, azar (de uma palavra rabepara dadoou jogo de dados:az zahr), etc.
No toa que a palavra lgebra de origem rabe tam-bm, pois os rabes foram excelentes matemticos. Foi delesque herdamos os nmeros chamados arbicos (na verdade, de
origem hindu): 1,2,3..., que substituram quase completamenteos numerais romanos: I, II, III... O conceito de zero deorigem indiana, mas foram os rabes que lhe deram uma uti-lizao prtica e o transmitiram ao Ocidente.
A palavra rabe era sifr, que significa vazio; essetermo est na origem no apenas da palavra zero como tam-bm de cifra. Alm de matemticos, os rabes foram grandesastrnomos, mdicos, botnicos e filsofos.
Quanto aos hbitos alimentares e agricultura, bastalembrar que foi atravs dos rabes que o Ocidente conheceuo arroz, o acar, o limo, a laranja, a cana-de-acar, entreoutros produtos.
Os rabes tambm preservaram obras importantes daAntiguidade, como as do filsofo grego Aristteles. Em certoperodo da histria, tiveram uma escola de medicina que era das
melhores do mundo.
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Voc sabia...?
...que h no Brasil, segundo ocenso do IBGE de 2000, poucomais de 27.000 muulmanos?
...que um dos deveres sagrados detodo muulmano, homem ou mulher, a peregrinao cidade de Meca,na Arbia Saudita, bero do profetaMaom, pelo menos uma vez na vida?O explorador Richard Burton dis-farou-se de peregrino e fez aviagem cidade sagrada dos muulmanos.O muulmano deve rezar com o rostovoltado para Meca. De acordo com umcostume antiqssimo, em Meca os peregri-nos do sete voltas em torno do santuriochamado Caba e beijam uma pedra negra (na verdade,um meteorito) que h ali.
...que os muulmanos no comem carne de porco, animal con-siderado impuro, e so proibidos de se divertir com jogos deazar?
...que a Hgira foi a emigrao de Maom e seus aliados, deMeca, onde eram perseguidos, para Medina, em 622?A palavra Medina significa Cidade, elipse de Madinat Annabi,
cidade do Profeta. A Hgira marca o incio oficial da era edo calendrio muulmano.
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...que a palavra algarismo vem do rabeal-Khawarizmi, nomede um famoso matemtico que escreveu um tratado de lge-
bra?
...que, na viso do Alcoro, todos os homens so iguais, inde-pendentemente de sua nacionalidade, cor, etc., mas esto divi-didos em muulmanos e no-muulmanos ou infiis?
...que o Alcorojustifica a autoridade dos homens sobre as
mulheres mencionando uma suposta superioridade masculina?De incio, na Arbia islmica as mulheres estavam sempresubordinadas a um parente masculino ou ao marido, que tinhasobre elas uma espcie de direito de propriedade. Algo seme-lhante acontecia na antiga Roma. Em certos pases muul-manos a condio feminina ainda hoje muito difcil. Poroutro lado, nAs Mil e Uma Noites h figuras femininasretratadas muito positivamente, como Xerazad e a escravaMorjana (na histria de Ali Bab).
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18 A S MI L E U M A N O I T E S
Mais palavras portuguesasderivadas do rabe
Aafro, acelga, acm, aougue, aoite, aucena, aude, alam-
bique, alarde, alazo, alcaparra, aldeia, alecrim, alfafa, alfaze-
ma, alferes, alforria, algaravia, alicate, alicerce, algazarra,algema, alicate, alicerce, almeiro, almirante, alvar, alvoroo,
mbar, andaime, argola, armazm, arsenal, atalaia, atum,
azeite, azeitona, azulejo, balde, bar, bisnaga, bolota, cabide,
caravana, chafariz, damasco, enxaqueca, enxoval, farda, forro,
fulano, gengibre, gazela, girafa, leilo, macio, marfim, mas-
morra, mmia, naipe, oxal, quilate, quintal, recife, redoma,
refm, rs, rom, saguo, sapato, sorvete, tagarela, talco, tam-bor, tarefa, tarifa, tarrafa, xerife.
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Agradecemos
ao Prof. Mamede Mustafa Jarouche,da disciplina de Lngua e Literatura rabe
da Universidade de So Paulo,
por suas competentes indicaes e correes.
As falhas que porventura subsistam
neste trabalho so de nossa
inteira responsabilidade.
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omo tudo comeou:a histria de Xerazad
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ouve, muito tempo atrs, um reipoderosssimo, da dinastia dosantigos reis persas, que domi-naram at a ndia e a China. Seupovo o amava por sua sabedoria
e prudncia. Quando morreu, o poder passou smos do filho mais velho, Xariar. Homem justo,Xariar fez questo de que seu irmo mais novo,Xazaman, tambm governasse ao seu lado. Deu-lhe,ento, um de seus reinos, cuja capital era a cidade deSamarcanda3. Passaram-se vinte anos de prosperi-dade, cada irmo vivendo em seu reino. Mas um diaXariar, no suportando mais a saudade, decidiu reverXazaman. Ordenou a seu gro-vizir4 que fosse at oirmo entregar-lhe os mais ricos presentes e um con-vite para vir visit-lo.
Seu desejo uma ordem disse o gro-vizir.E partiu o mais rpido que pde.Ao saber que o gro-vizir se aproximava da
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3. A cidade de Samarcanda fica, atualmente, na fronteira doAfeganisto. Estava na rota da seda, pela qual seda e outros pro-dutos eram trazidos da China, atravs da ndia. Samarcanda per-
tence hoje ao Uzbequisto, que j foi parte da Unio Sovitica e pas muulmano.
4. Gro-vizir: auxiliar influente do soberano, era uma espcie deprimeiro-ministro do reino. Em rabe moderno, vizir significaministro.
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cidade, Xazaman foi ao seu encontro e pediu notciasdo irmo. O gro-vizir, ento, transmitiu as palavrasdo soberano. Xazaman ficou comovido e disse:
Meu irmo, o sulto5,
honra-me com esse convite.Estou morto de vontadede o rever. Mas precisode dez dias parapreparar a viageme partir. Fiquem emmeu reino e partire-mos juntos. No preciso que vocs sedesloquem at acidade: armem aquimesmo suas tendas.Ordenarei que voc e a suacomitiva sejam muito bem trata-dos!
O vizir aceitou a oferta. Xazaman se dirigiu aSamarcanda para cuidar dos preparativos da viagem.Nomeou um conselho para cuidar de tudo durante
a sua ausncia; no comando, colocou um homem desua total confiana. Dez dias depois, encaminhou-seat onde estavam as tendas. Ento, desejandoabraar a esposa mais uma vez antes da partida,voltou sozinho ao palcio. Foi at os aposentos darainha; ela, que no esperava rev-lo to cedo, tinhaintroduzido no quarto um dos criados do marido.
Qual no foi a emoo de Xazaman quando, chegan-do sem fazer rudo para fazer uma surpresa
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5. Sulto: governante muulmano.
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esposa, por quem se julgava muito amado, avistouem seu quarto, luz das tochas, um outro homem!6
Furioso, Xazaman pegou seu sabre e, numsegundo, deu aos dois o sono da morte. Em seguida,saiu da cidade e se dirigiu s tendas. Sem contar aningum o que tinha acontecido, deu ordem de partirimediatamente. Antes de raiar o dia, partiram todos.
fcil imaginar a alegria de Xariar e Xazamanquando se reencontraram depois de tantos anos!Abraaram-se, trocaram mil manifestaes de afetoe entraram na cidade, em meio aos gritos de alegriada multido. O sulto levou seu irmo a um palcioque tinha comunicao com o seu e possua um bels-simo jardim.7
noite, celebraram o reencontro com um jantarque durou at tarde. Depois, cada um se recolheua seu quarto. Xazaman tinha passado momentos dealegria ao lado do irmo; mas, quando se viu sozinhoem sua cama e pensou na infidelidade da esposa,ficou angustiado. Incapaz de dormir, levantou-se.To triste estava que seu rosto denunciava seus senti-mentos. O irmo notou:
Que est acontecendo com ele? Estar comsaudades de seu reino e de sua esposa?
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6. Uma passagem do Alcoro recomenda que as esposas sejam obe-dientes e conservem sua virtude na ausncia do marido; aos adl-teros, o livro prescreve cem chicotadas.
7. Os jardins tm grande importncia na cultura rabe desde antesdo Islamismo. Os soberanos construam jardins que simboliza-vam o paraso e se destinavam no apenas ao prazer, mas tambm contemplao e meditao. No Alcoro fala-se em jardins cor-tados por rios como recompensa divina para os benfeitores.
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Na manh seguinte, Xariar deu de presente aoirmo o que a ndia produz de mais valioso e de maisbelo e fez o possvel para diverti-lo. Mas Xazamanparecia ainda mais triste.
Um dia Xariar organizou uma caada numaregio distante do reino; a viagem at l demoravacerca de dois dias. Xazaman no quis acompanharo irmo; deu como pretexto sua sade, que noestaria boa. O sulto aceitou a desculpa e partiu comtoda a sua corte. Sozinho no palcio, Xazaman serecolheu a seu quarto e ps-se a olhar o jardimatravs de uma janela. De repente, algo chamou suaateno: uma porta secreta se abriu e por ela saramvinte mulheres; ao lado delas, estava a sultana.Xazaman via a cena sem ser visto. De repente,as mulheres tiraram o vu,8 e ele pde ver que, naverdade, eram dez homens com as mulheres! Ento asultana bateu palmas, chamando:
Massud! Massud!quele chamado, um homem desceu do alto de
uma rvore e foi at a sultana.Xazaman, ento, percebeu que Xariar era to
infeliz quanto ele. Sem dvida, aquela era a sorte detodos os maridos: serem trados. J que assim,
8. Em certos pases muulmanos, especialmente no Ir, as mulheresdevem usar em pblico oxador, um vu que recobre todo ocorpo. No Afeganisto, na poca do regime dos Talebs, as mu-lheres eram obrigadas a usar em pblico a burca, uma roupa ques deixa os olhos mostra. O uso do vu e a separao das mu-lheres (afastadas dos olhares masculinos dos homens de fora dafamlia) eram prticas difundidas na maior parte do mundoislmico. Movimentos de defesa dos direitos da mulher (inclusivemuulmanos) lutam contra o uso do vu, mas encontram resistn-cia por vezes at mesmo das prprias mulheres.
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por que me atormentar lembrandoo tempo todo uma infelicidade que to comum? disse ele a simesmo. E daquele momento emdiante esqueceu a tristeza.Mandou que lhe preparassemo jantar e comeu com apetite.Nos dias que se seguiram, estavaalegre e bem-disposto.
Quando Xariar retornou dacaa, espantou-se ao ver comoo estado de esprito do irmohavia mudado. E quis saber deleo motivo. Xazaman respondeu:
Voc meu sulto e meusenhor, mas, eu suplico, no exijaque eu responda a essa pergunta!
Xariar insistiu e, ento, Xazamancontou tudo sobre a infidelidade darainha de Samarcanda, sua prpria esposa.Xariar aprovou o modo como o irmo tinha reagido:
Meu irmo, que histria mais terrvel essa!
Voc fez bem em castigar os traidores; foi uma aojusta. Agora compreendo a sua tristeza. Mas meconte o motivo de sua alegria.
Xazaman tentou inutilmente fazer com que oirmo desistisse de querer uma resposta quela per-gunta. Xariar ficou ainda mais curioso, e ele teve decontar tudo o que acontecera durante a ausncia do
sulto. Terminou a histria assim: Tendo visto tantas infmias, cheguei conclu-
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so de que todas as mulheres se comportam assim. tolice fazer com que a nossa serenidade dependa dafidelidade delas. Por isso, o melhor consolar-se!
Xariar inicialmente se recusou a acreditar no queo irmo lhe contara. Xazaman, ento, props que osdois fingissem ir a uma caada e se ausentassem dopalcio. Na mesma noite da partida, retornariam aosaposentos de Xazaman. Assim se fez. Partiram e, aocair da noite, o sulto mandou que seu vizir ficasseno comando dos homens e no permitisse queningum sasse do acampamento. Os irmos partiramsozinhos a cavalo at o palcio e, pela janela do quar-to de Xazaman, viram a porta secreta se abrir,os dez homens disfarados aparecerem acompanha-dos das mulheres, e a sultana chamar por Massud.
Enfurecido, Xariar deu ordem ao gro-vizirde estrangular a esposa. Com suas prprias mos,cortou a cabea de todas as mulheres que acompa-nhavam a sultana. E, daquele dia em diante, decidiuque jamais voltaria a confiar nas mulheres. Ele secasaria com elas por uma noite e as faria estrangularno dia seguinte.
Pouco tempo depois, Xazaman regressou a seureino.Foi assim que o revoltado Xariar ps em prtica
seu plano. Casava-se com uma das moas do reino,passava com ela uma noite, mas no dia seguinte man-dava que fosse estrangulada. A cidade ficou abaladacom aquela desumanidade. Pais e mes choravam
por suas filhas. Todos temiam que elas se tornassemvtimas do sulto.
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O gro-vizir tinha duas filhas: a mais velha sechamava Xerazad e a mais nova, Dinarzad. Xerazadtinha grande coragem e inteligncia; lia muito e tinhauma memria fabulosa. Era belssima e muito virtuo-sa. O gro-vizir a amava muito. Um dia Xerazad lhedisse:
Meu querido pai, quero lhe pedir um favor.Peo que no me recuse o que desejo! Quero darum basta nas crueldades do sulto contra as famliasdesta cidade.
Sua inteno muito justa, filha. Mas comopretende conseguir isso?
Casando-me com o sulto.O vizir horrorizou-se com aquelas palavras. Mas
nada do que disse filha pde fazer com queXerazad desistisse de seu plano. O pai, vencido pelainsistncia da moa, finalmente consentiu: angustia-do, foi at o sulto e lhe disse que naquela noite lhetraria a filha. O sulto ficou muito espantado eameaou:
Mas saiba que, de manh, eu lhe darei ordenspara estrangul-la. E se voc se recusar, mandarei
mat-lo!Quando o pai contou filha que Xariar aceitaracasar-se com ela, Xerazad ficou muito contente,como se tivesse recebido a melhor notcia do mundo.Agradeceu a seu pai e o consolou, assegurando-lheque ele no se arrependeria por t-la dado em casa-mento ao sulto. Depois, chamou a irm e lhe disse
em segredo: Querida irm, preciso de sua ajuda. Pedirei ao
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sulto que voc durma no quarto nupcial. Amanh,uma hora antes de raiar o dia, acorde-me e diga:Minha irm, por favor, conte uma daquelas belashistrias que voc conhece!
De noite, Xerazad foi levada ao quarto nupciale, chorando, implorou que a irm Dinarzad pudessepassar a noite ali ao seu lado. O sulto concordou.Quando faltava uma hora para raiar o dia, a irm fezexatamente como Xerazad havia pedido; acordou-auma hora antes do nascer do sol, dizendo:
Minha querida irm, antes que nasa o dia,conte uma daquelas belas histrias que voc conhe-ce! Talvez seja a ltima vez que terei o prazer deouvi-las!
Xerazad, ento, comeou a contar uma histria.Quando chegou a um ponto decisivo, interrompeua narrativa, dizendo:
Que pena, o dia j nasceu. No vou poder con-tar o final de minha histria... A continuao aindamais bonita e interessante. Mas eu no poderei con-tar a voc, cara irm, a menos que o sulto permitaque eu a retome na prxima noite...
O sulto, que j gostara muito do que Xerazadcontara e ficara cheio de curiosidade em saber o queaconteceria depois, decidiu no matar a moa parapoder ouvir o final daquela histria. Mas, na noiteseguinte e nas outras, Xerazad usou da mesma ast-cia. Quando terminava uma histria, comeava acontar outra ainda mais interessante. A cada dia,
prosseguia em sua narrao at um certo ponto e,fazendo suspense, interrompia-a num momento deci-
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sivo, despertando a curiosidade do sulto, que dizia asi mesmo:
Vou deix-la viva s mais esta vez para sabercomo essa histria maravilhosa termina; mas amanh,sem dvida, mando execut-la.
E assim, por meio das histrias dAs Mil e UmaNoites, Xerazad conseguiu enfeitiar o esposo e adiara morte. O sulto se encantava com as narrativas,com a memria fabulosa da esposa e com sua incrvelcoragem. Por fim, um dia lhe disse:
Querida Xerazad, vejo que as suas maravilho-sas histrias no tm fim. Voc conseguiu acabar como dio que eu alimentava contra todas as mulheres:meu amor por voc me leva a renunciar quela leicruel que eu tinha estabelecido. Voc salvou todas asmoas que eu iria ainda sacrificar para satisfazerminha raiva. O gro-vizir foi o primeiro a saberdaquela notcia, que em pouco tempo se espalhou portoda a cidade. Assim, de todas as partes do pas seouviram muitos elogios e bnos para o sulto e suaadorvel esposa Xerazad.
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pescador e o gnio
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avia um pescador muito velho e muitopobre que mal conseguia ganhar di-nheiro para no deixar morrer de fome
sua mulher e seus trs filhos. Todos osdias, de madrugada, ele saa para pescar.Lanava sua rede ao mar quatro vezes.
Um dia, numa noite de lua, foi at a praia.Tirou a roupa, entrou na gua e lanou a rede.
Quando a puxou, sentiu resistncia. Pensou: Desta vez, fiz uma boa pescaria! e ficou muitocontente. Porm, quando foi ver o que estava nasmalhas da rede, notou que no passava de uma car-caa de burro, e passou da alegria mais completatristeza.
O pescador, ento, costurou a rede, que tinha-serasgado com a carcaa, e a lanou de novo s guas.
Ao pux-la, sentiu grande resistncia e concluiu: Ah, desta vez minha rede est cheia de peixes!.Mas s encontrou nas malhas da rede um grandecesto cheio de areia e lama. Ficou desesperadoe disse:
sorte!, deixe de estar com raiva de mim.No persiga um pobre coitado que est suplicando
para que voc o poupe! Sa de minha casa e s vimganhar o meu sustento; voc me anuncia a morte!
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No sei fazer outra coisa para sobreviver, mas, ape-sar de todos os meus esforos, no consigo nemmesmo satisfazer as necessidades mais bsicas deminha famlia.
Pondo fim a suas queixas, o pescador jogouo cesto e, depois de ter lavado cuidadosamente a redeenlameada, lanou-a ao mar pela terceira vez. Mass conseguiu tirar das guas do mar pedras e sujeira.Quase enlouqueceu de tanto desespero. Entretanto,como o dia comeava a nascer, no se esqueceude sua prece, como bom muulmano.9 Em seguida,suplicou:
Meu Deus, bem sabeis que s lano a redequatro vezes por dia. J a joguei trs vezes, e nadaconsegui com o meu trabalho. S me resta umachance. Suplico: fazei o mar favorvel a mim!
Terminada a prece, lanou a rede pela quartavez. Quando achou que deveria haver peixe, puxou-asem muito esforo. No, no havia peixe, mas, emvez disso, um estranho vaso de cobre que, pelo peso,pareceu estar cheio. Estava fechado e lacrado comchumbo. Vou vend-lo e, com o dinheiro, com-
prarei trigo, pensou ele.Depois de examinar o vaso cuidadosamente,o pescador sacudiu-o para ver se o que havia dentrodele fazia barulho. No pde ouvir coisa alguma.Pensou que deveria estar cheio de algo muito pre-cioso. Para acabar com a dvida, pegou sua facae abriu-o com um pouco de esforo. Virou a boca do
vaso para o cho, mas nada saiu, o que o deixoumuito espantado. Ento, colocou o vaso na sua
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9. A reza uma atividade fundamental para os muulmanos, quefazem suas oraes cinco vezes por dia.
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frente. Enquanto o observa, eis que sai do interiordo vaso uma densa fumaa. O pescador recua, assus-tado. A fumaa se eleva at as nuvens e forma umnevoeiro intenso sobre o mar e a praia. Que era aqui-lo?
Quando a fumaa saiu totalmente do vaso, jun-tou-se e tornou-se um corpo s, do qual se formouum gnio duas vezes mais alto do que o mais altode todos os gigantes.10Vendo monstro to monstruo-samente grande, com cara de poucos amigos, opescador quis fugir, mas, aterrorizado, nem con-seguiu se mover! O gnio disse com uma horrvelvoz de trovo:
Salomo, grande profeta de Deus, perdoai-me!Nunca mais me oporei vossa vontade e obedecereia todas as vossas ordens.
Assim que ouviu as palavras do gnio, opescador lhe disse:
esprito orgulhoso, que voc est dizendo?Faz sculos que Salomo, o profeta de Deus, estmorto. Mas conte-me a sua histria. Por que estavaencerrado nesse vaso to pequeno?
O gnio, ento, lanando um olhar orgulhosoe cheio de dio ao pescador, respondeu: Dirija a palavra a mim com mais respeito!
Voc bem atrevido em me chamar de esprito orgu-lhoso!
Pois bem, falarei com mais respeito se chamar
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10. Os gnios, ou djins, na crena muulmana, so seres superioresaos homens e inferiores aos anjos e podem ser bons ou maus.Essa crena em espritos que habitam fontes ou rvores e podemficar encerrados em certos objetos pr-islmica.
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voc de ave da felicidade? perguntou o pescador. Eu estou lhe dizendo: dirija-me a palavra com
mais respeito antes que eu o mate! E por que voc me mataria? replicou o
pescador. Acabo de pr voc em liberdade, jesqueceu?
No, no esqueci. Mas isso no me impedirde mat-lo; e s concedo a voc uma graa disseo gnio.
E qual essa graa? perguntou o pescador. Voc pode escolher a maneira pela qual quer
que eu o mate. Mas que mal eu lhe fiz? essa a recompensa
que eu recebo pelo bem que fiz a voc? No posso trat-lo de outra maneira respon-
deu o gnio. E passou a contar sua histria:Sou um dos espritos rebeldes que se
revoltaram contra a vontade de Deus. Todos os ou-tros gnios reconheceram o poder do grandeSalomo11 e a ele se submeteram. Eu e mais umoutro fomos os nicos a no querer cometer essabaixeza. Para se vingar, Salomo encarregou Assaf,
o filho de seu primeiro-ministro, de ir buscar-mee levar-me a sua presena. Ordenou, ento, que euabandonasse meu modo de vida, reconhecesse seupoder e me submetesse s suas ordens. Recuseie preferi expor-me a seu dio a prestar-lhe juramentode fidelidade e submisso. Querendo me castigar,encerrou-me neste vaso de cobre. Para que eu no
pudesse escapar, na tampa de chumbo do vaso ps
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11. Para os muulmanos, o rei Salomo tinha o poder de controlaras criaturas sobre-humanas, como os gnios.
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seu sinete, onde est escrito o nome de Deus. Depois,mandou que um dos gnios que lhe obedeciam ati-rassem o vaso ao mar, o que fizeram. No primeirosculo de meu aprisionamento, jurei que, se algumme livrasse antes de se passarem cem anos, eu o fariamilionrio. Mas os cem anos se passaram e ningumapareceu para me prestar to bom servio. Nosegundo sculo, jurei revelar todos os tesouros daterra para quem me libertasse, mas ainda dessa vezno tive sorte. No terceiro, prometi fazer do meulibertador um poderoso soberano, estar sempre aoseu lado em esprito e conceder-lhe trs desejos tododia, qualquer desejo! Mas tambm esse sculo se foi,assim como os outros, e eu continuei na mesma situa-o. Finalmente, enraivecido por me ver preso porto longo tempo, jurei que, se algum me livrasse, euo mataria sem d nem piedade e no lhe concederiaoutra graa seno a de escolher o tipo de morte pelaqual morreria. Assim, uma vez que voc me libertouhoje, s lhe resta escolher a maneira pela qual querque eu o mate!
Aquelas palavras deixaram o pescador desespe-
rado: Sou realmente desgraado! Vim aqui prestarum grande servio a um ingrato. Suplico-lhe: pensena injustia que voc est praticando e anule umjuramento to pouco sensato! Se voc me perdoar,Deus o perdoar. Se me deixar viver, Ele o protegerem todas as situaes crticas de sua vida.
No, no: sua morte certa! respondeuo gnio. Falta s voc escolher a maneira como
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deseja morrer. Ai de mim! Tenha piedade! Lembre-se do que
fiz por voc! J lhe disse: justamente por essa razo que
eu sou obrigado a mat-lo. estranho, no entendo por que voc quer
pagar o bem com o mal prosseguiu o pescador,provocando a rplica do gnio:
No vamos perder mais tempo! Suas palavrasno me faro mudar de idia. Vamos logo: diga-mecomo deseja morrer.
A necessidade obriga o homem a recorrer esperteza; assim fez o pescador. Disse ele ao gnio:
J que no poderei mesmo evitar a morte, sub-meto-me vontade de Deus. Mas antes de escolhercomo desejo morrer, suplico-lhe, pelo nome de Deusgravado no sinete do profeta Salomo, filho deDavi, responda pergunta que desejo lhe fazer.
Quando o gnio viu que aquele homemlhe fazia uma splica que o obrigavaa responder de forma favorvel,estremeceu e disse:
Pergunte-me o quequiser, mas se apresse!Eu responderei dizendoa verdade.
Eu queria saberse voc estava realmentepreso nesse vaso...
Voc juraria pelo nome deDeus?
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Sim, respondeu o gnio juro pelo grandenome que est gravado no lacre deste vaso.
Para ser franco, no posso acreditar no quevoc est dizendo. Nesse vaso no caberia nemmesmo um p seu, como possvel que o corpointeiro estivesse preso a dentro?
Mas eu juro que verdade respondeuo gnio. Voc no acredita, mesmo depois de eu terjurado?
No mesmo! Conte outra... impossvelacreditar, a menos que voc me mostre como fez paraficar fechado a dentro... Ver para crer...
Imediatamente o corpo do gnio dissolveu-se emfumaa, que se estendeu sobre o mar e a praia e,depois, juntando-se, comeou a entrar de novonaquele vaso de cobre, lentamente, lentamente, atque nada ficou de fora. Logo saiu dali uma voz quedisse:
E ento, pescador incrdulo, eis-me dentrodo vaso. Acredita em mim agora?
O pescador, em vez de responder ao gnio,pegou correndo a tampa de chumbo e, fechando
o vaso, disse: Gnio, pea-me perdo e escolha a maneirapela qual deseja morrer! Mas no... ser melhor queeu o lance de novo ao mar, no mesmo lugar de ondeo tirei. Depois, construirei uma casa nesta praia paranela morar. Aqui, avisarei os pescadores para que, sepor acaso lanarem as redes nestas guas, no
pesquem um gnio mau como voc, que jurou matarseu libertador!
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O gnio implorou e implorou que o pescadoro libertasse. Dizia:
Meu amigo pescador, no seja cruel! No justo vingar-se; pelo contrrio, devemos pagar o malcom o bem. Liberte-me, e eu contarei a voc umahistria muito interessante.
Qual? Se deseja ouvi-la, abra este vaso, por favor!
Como que eu posso contar histrias fechado aqui,nesta priso minscula! Eu contarei quantas vocquiser, depois que sair daqui...
No, no respondeu o pescador. No vou li-bertar voc, no. No adianta insistir. Vou jogar ovaso no fundo do mar.
Mas antes, escute-me gritou, apavorado,o gnio. Se voc me soltar, juro que no lhe farei mal.Melhor: ensinarei como voc pode se tornar muitorico.
A esperana de sair da pobreza convenceuo pescador, que disse:
Jure em nome de Deus que voc far o queacaba de prometer, e eu o soltarei.
O gnio jurou, e ento o pescador abriu o vaso.Primeiramente, saiu dele uma fumaa, que logotomou a forma do gnio. Este, assim que pisou nocho, deu um pontap no vaso, que foi se afundarnas guas do mar... O pescador ficou aterrorizado,mas o gnio deu uma gargalhada e o tranqilizou:
No tenha medo. Vou cumprir a minha
palavra.O gnio levou o pescador, ainda desconfiado, at
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um lago entre montanhas. Ali, insistiu para que elelanasse a sua rede s guas transparentes. Qual nofoi o espanto quando o pescador viu que com suarede pescara quatro peixes, um de cada cor: branco,vermelho, azul e amarelo. O gnio lhe disse:
Leve esses peixes para o sulto: ele lhe darpor eles mais dinheiro do que voc jamais teve navida. Mas cuidado: venha pescar neste lago s umavez por dia!
Depois de dizer essas palavras, o gnio bateuforte no cho com o p. A terra se abriu, engoliu-o e,por fim, se fechou. O pescador fez exatamente o queo gnio lhe recomendara. O sulto, por aqueles pei-xes, recompensou-o de tal forma que ele nunca maispassou necessidade. Mas essa j uma outrahistria...
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li Bab e os 40 ladres
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Numa cidade da Prsia12
viviam os irmos Cssim13
e Ali Bab.14 Cssim era umdos mercadores mais ricos dacidade, mas Ali Bab vivia na
misria e tinha de cortar lenha numa floresta parasustentar a famlia.
Um dia Ali Bab estava cortando lenha quandoviu se aproximar uma nuvem de poeira. Que serisso? pensou. Percebeu que se tratava de homensa cavalo que vinham em sua direo e, temendo quefossem bandidos, subiu numa rvore, junto a umagrande rocha, e se escondeu em meio folhagem.Do alto podia ver tudo sem ser visto. Entochegaram quele lugar quarenta homens muito fortese bem armados, com caras de poucos amigos. Ali
concluiu que eram quarenta ladres. Os homensdesapearam dos cavalos e puseram no cho sacospesados que continham ouro e prata. O mais fortedos ladres, que era o chefe, aproximou-se da rochae disse:
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12. Hoje, Ir. A Prsia foi conquistada pelos rabes no sculo VII.
13. Cssim um nome prprio muito freqente entre os rabes esignifica divisor.
14. Em rabe,Alisignifica elevado, excelente.
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Abre-te, Ssamo!15
Assim que essas palavras foram pronunciadas,abriu-se uma porta na caverna. Todos passaram porela, e a porta se fechou novamente.
Depois de muito tempo, a passagem voltou a seabrir, e por ela saram os quarenta ladres. Quandotodos estavam fora, o chefe disse:
Fecha-te, Ssamo!
Os bandidos colocaram os sacos em suas mon-tarias e voltaram pelo mesmo caminho pelo qual ti-nham vindo. Ali os seguiu com os olhos at desapare-cerem. Quando se viu em segurana, desceu darvore, dirigiu-se rocha e disse:
Abre-te, Ssamo!A porta se abriu e Ali Bab ficou sem palavras
diante do que seus olhos viram: uma grande cavernacheia dos tecidos mais finos, tapetes belssimos e umaenorme quantidade de moedas de ouro e prata dentrode sacos. Ali entrou com os trs burros que costuma-va levar quando ia cortar lenha, e a porta imediata-mente se fechou atrs dele. O rapaz carregou os ani-mais com sacos de moedas de ouro e, depois disso,
pronunciou as palavras mgicas que abriam efechavam a porta da caverna e foi em direo cidade.
Quando viu o ouro, sua mulher pensou que omarido tinha-se tornado um ladro, mas ele contoutudo o que acontecera, recomendando-lhe que man-tivesse segredo absoluto a respeito daquela histria.
Quando Ali falou em esconder as moedas num bura-co, a mulher, ento, disse:
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15. Ssamo,proveniente do rabe, um outro nome dado ao gerge-lim, palavra que tambm de origem rabe.
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Boa idia, mas antes quero contar quantasmedidas de ouro temos. Vou pedir um medidor aovizinho, enquanto voc cava o buraco.
O vizinho era, justamente, Cssim, irmo de AliBab, que no estava em casa.16 Ela, ento, pediu mulher dele o medidor emprestado: uma espcie deconcha grande, com a qual se calculavam as medidasde acar e outros mantimentos. Cheia de descon-fiana, a cunhada pensou:
Que coisa mais estranha! Para que queremum medidor? O que que a mulher de Ali Bab estquerendo contar naquela casa to miservel?
Para descobrir o que era, decidiu untar com seboo medidor; talvez um pouco daquilo ficasse grudadosem que ningum percebesse...
Enquanto Ali cavava, sua mulher calculouas medidas de ouro; depois, foi devolver o medidor vizinha sem perceber que uma das moedas ficarapresa ao sebo. A vizinha viu a moeda, ficou espanta-da, ardeu de inveja e, quando o marido chegou acasa, disse-lhe:
Voc pensa que rico, Cssim, mas Ali Bab
muito mais: at calcula quantas medidas de ourotem!Cssim tambm foi tomado pela inveja e nem
pde dormir aquela noite. No dia seguinte, foi at acasa do irmo disposto a esclarecer aquilo tudo. L,at ameaou denunciar Ali justia, se ele no lhe
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16. Na tradio islmica, tratar bem os vizinhos uma obrigao dohomem de bem. Na histria de Ali Bab, o vizinho , ainda porcima, seu irmo; o amor e o respeito pelos laos de parentescoso outras virtudes prezadas e recomendadas. Na histria, os vi-zinhos, apesar do parentesco, so invejosos e maldosos.
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contasse tudo. Ali Bab, ento, acabou por contar oque lhe acontecera; depois, pediu segredo ao irmo,prometendo-lhe, em recompensa, uma partedo tesouro. Cssim concordou e se des-pediu do irmo. Mas na manhseguinte, bem cedo, dirigiu-se cavernasozinho, com dez burros, disposto avoltar carregado de ouro. Ao chegar porta da rocha, disse:
Abre-te, Ssamo!A porta se abriu, Cssim entrou e
ela se fechou de novo atrs dele. Quesurpresa e contentamento sentiu quandoa sua frente pde ver tesouros que elenem em sonho poderia imaginar! Apoderou-se detudo o que podia levar, carregando os burros, e,quando foi sair, disse:
Abre-te, Cevada!Mas a porta continuou fechada. Foi ento que
ele se deu conta de que esquecera qual era a frmulamgica para abrir a passagem. Apavorado, tentououtras frases, mas nada, no conseguia acertar!
Por volta de meio-dia, os ladres retornaram rocha. Pronunciaram as palavras mgicas e entraram.Ao verem Cssim, ficaram furiosos e imediatamenteo mataram. Depois, interrogaram-se surpresos: comoaquele homem conseguira entrar? Como descobrirao segredo? Para que ningum ousasse sequer seaproximar da rocha novamente, cortaram o corpo de
Cssim em quatro partes e o deixaram pendurado ldentro. Depois, foram embora.
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A esposa de Cssim ficou muito preocupadaquando viu cair a noite sem que seu marido regres-sasse. Foi casa do cunhado e expressou seustemores. Ali, suspeitando de que algo grave aconte-cera, foi para a caverna. Quase desmaiou quando viuo corpo do irmo cortado em pedaos. Recolheu-osem dois pacotes e voltou para a cidade com ainteno de sepult-los.
Os quarenta ladres ficaram espantados aoretornar caverna e no avistarem o corpo deCssim. O chefe disse ao bando:
Estamos perdidos! Precisamos dar um jeitonisso, ou perderemos todas as nossas riquezas.O corpo desaparecido mostra que duas pessoas con-seguiram descobrir nosso segredo: liquidamos umadelas, agora precisamos acabar com a outra.
Um dos ladres se disps a ir cidade, encar-regando-se da misso de descobrir quem era a pessoaque sabia do segredo. Se falhasse, seria morto porseus colegas, que, despedindo-se dele, elogiarammuito sua bravura.
Havia um sapateiro na cidade, muito trabalhador
e querido, chamado Baba Mustaf.17
Ali Bab oencarregara de costurar o corpo do irmo Cssimpara o enterrar com decncia. Por uma infeliz coin-cidncia, foi justamente esse homem que o ladroprimeiramente viu ao chegar cidade de manhzi-nha, pois a loja do sapateiro era a nica aberta quelahora. O ladro o cumprimentou e disse:
O senhor comea seu trabalho muito cedo!
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17. Mustaf, em rabe, significa Purificado e foi um dos eptetos(qualificativos habituais) do profeta Maom.
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Na sua idade, no sei como consegue enxergar paracosturar esses sapatos!
Apesar de velho, meus olhos so muito bons.H pouco tempo costurei um morto num lugar quetinha menos luz que nesta minha loja respondeuBaba Mustaf.
Contente com aquela informao, o ladro colo-cou duas moedas de ouro na mo do sapateiro,rogando-lhe que dissesse onde ficava a casa em queele costurara o morto. Depois de olhar para aquelasmoedas brilhantes, Baba Mustaf acabou por concor-dar e levou o ladro at a frente da casa de Cssim,que agora pertencia a Ali Bab. O ladro pegou umpedao de giz e fez uma cruz na porta. Depois, foi-seem direo floresta.
A esposa de Cssim tinha uma criada de rarabeleza e esperteza, Morjana.18A moa, ao sair dacasa, notou o sinal e desconfiou de alguma tramia:
Que ser isso? Que coisa mais estranha!Certamente querem prejudicar meu patro!
Pegou, ento, um pedao de giz e marcou como mesmo sinal trs portas direita e mais trs
esquerda.Os ladres foram at cidade e pararam diantede uma das portas que tinham a marca de giz feitapor Morjana. O ladro que tinha estado ali no diaanterior disse:
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18. No mundo islmico, os criados e escravos eram geralmente bemtratados, como se mostra aqui. A tradio recomenda no consi-der-los pessoas de segunda classe; se moram com a famlia, sotratados como pessoas da famlia. A histria de Ali Bab exalta alealdade da criada Morjana para com seu patro.
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esta!O chefe, porm, notou que havia outras seis
casas cujas portas traziam o mesmo sinal e per-guntou-lhe qual era, de fato, a porta que ele tinhamarcado. Confuso, o homem no soube o queresponder. Voltaram todos para a floresta, e o ladroque falhara em sua misso foi executado pelos cole-gas.
Aquilo j era uma afronta! Um dos ladresse disps espontaneamente a retornar cidadee descobrir onde morava o homem que descobrirao segredo da caverna. Chegou, como o primeiro, aoraiar do dia, e topou com Baba Mustaf. A histriase repetiu: o sapateiro acabou por conduzir o ladroat a casa de Ali Bab. Para no se confundir comoo primeiro, o ladro marcou a casa com um sinal ver-
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melho e voltou para junto dos seus. Como da outravez, Morjana notou o sinal e marcou vrias outrasportas das proximidades com marca semelhante.Quando o bando rumou para a cidade, viu-se dianteda mesma confuso da outra vez, e o segundo bandi-do encarregado daquela misso foi executado.
Os ladres agora eram trinta e oito. Depoisdaquele segundo fracasso, o chefe resolveu elemesmo se encarregar da misso. Foi pessoalmente cidade, encontrou Baba Mustaf e, diante da casade Ali Bab, em vez de deixar algum sinal, limitou-sea observ-la cuidadosamente, examinando cadadetalhe que a distinguia das outras. Depois, voltoupara a floresta e ps em execuo o seu plano.Mandou comprar trinta e oito grandes barris paraguardar azeite. Encheu de azeite apenas um deles e,nos outros, fez com que entrassem os bandidos,fortemente armados. Em cada barril, havia pequenosburacos para que os homens pudessem respirar.
Com os trinta e sete barris que serviam de escon-derijo aos ladres e mais um barril cheio de azeite,carregaram-se dezenove mulas, e l se foi o chefe
cidade. Localizou facilmente a casa de Ali Bab, queestava na frente tomando ar. Disse-lhe: Venho de muito longe e vim cidade para
vender meu azeite. Mas cheguei cedo demais. A noiteest caindo e eu preciso dar algum descanso para asminhas mulas. O senhor no poderia me abrigarem sua casa s por esta noite?
Ali Bab no reconheceu o bandido, que estavadisfarado, e aceitou amigavelmente receb-lo em sua
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casa.19 Mandou que Morjana preparasse parao hspede um jantar e uma cama. Os barris foramdescarregados das mulas e colocados no ptio dacasa.
Aps a refeio, Ali Bab foi dormir, e o chefedos ladres conseguiu s escondidas encaminhar-separa onde estavam os barris. Disse a cada um dosseus homens que neles se escondiam:
meia-noite, quando ouvirem minha voz,usem suas facas para abrir a tampa dos barrise saiam.
Aps instruir seus homens, foi ao quarto queMorjana lhe havia preparado e fingiu que dormia.A escrava foi cuidar do servio de casa. Estavaentretida com seus afazeres, quando, de repente,
as lamparinas se apagaram. Mas no havia azeite nacasa. Que fazer? O escravo Abdullah,20vendo-a todaatrapalhada, disse:
Por que essa tempestade em copo de gua? Htantos barris cheios de azeite no ptio! Por que vocno vai l pegar a quantidade necessria?
Assim fez Morjana. Mas, ao se aproximar do
primeiro barril, ouviu o bandido que estava escondi-do dentro dele dizer, baixinho: J est na hora?Assustada, Morjana ficou um tempo sem saber
o que responder. Percebeu que em vez de azeiteaqueles barris escondiam bandidos perigosos.Rapidamente, pensou num meio de enfrentar aquela
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19. A hospitalidade uma virtude muito apreciada pelos muul-manos.
20. Em rabe,Abdullah significa servo de Deus.
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situao delicada. Criou coragem e, imitando a vozdo chefe dos bandidos, disse:
Ainda no hora. Tenha pacincia.Morjana foi de barril em barril, dando sempre
a mesma resposta aos ladres que lhe perguntavamse tinha chegado a hora. O ltimo barril continhaazeite de verdade. Morjana encheu um jarro, acen-deu uma lamparina e ps em prtica seu plano.Numa grande panela ferveu azeite. Depois, indode barril em barril, derramou o lquido ferventesobre cada bandido, matando-os todos.
meia-noite, o chefe se levantou da cama, foiat o ptio e chamou seus homens. No houveresposta. Sentindo cheiro de carne queimada, assus-tou-se. Abriu o primeiro barril, depois o segundo e osdemais e s encontrou cadveres. Temendo pelasua prpria vida, fugiu correndo.
De manh, Ali Bab levantou-se e foi tomar seubanho, sem desconfiar do que se passara. Ao voltarpara casa, estranhou que os barris ainda estivessemno ptio. Morjana, ento, mostrou-lhe o que eles naverdade traziam e contou o que acontecera. Ali Bab
ficou muito agradecido e prometeu recompensar aescrava por ela lhe ter salvado a vida. Depois, juntocom um criado, tratou de enterrar os mortos numagrande fossa no jardim de sua casa. Escondeu os bar-ris e as armas e vendeu as mulas no mercado.
O chefe dos ladres voltou para a floresta,furioso e indignado, disposto a se vingar de qualquer
maneira. Depois, arquitetou um plano. Com riquezastiradas da gruta, comprou tecidos finssimos e abriu
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uma loja na cidade, fazendo-se passar pelo mercadorCodja Hussan. A loja ficava em frente do estabeleci-mento que pertencera a Cssim e que agora eradirigido pelo filho de Ali Bab. O falso mercadorpouco a pouco acabou por fazer com que o rapaz oconsiderasse seu amigo. O bandido muitas vezes oconvidava para jantar.
Um dia, o filho de Ali Bab decidiu retribuir agentileza, convidando Codja Hussan para jantar. AliBab se encarregou de preparar um grande banquetepara o amigo do filho. No dia combinado, o bandido,chamado para a mesa, desculpou-se dizendo que nocomia comida com sal, pois assim lhe recomendaraum mdico. Ali Bab, ento, mandou que Morjanano pusesse sal na carne que seria servida no ban-quete. A escrava ficou aborrecida e disse:
Mas quem esse homem que no come sal?Intrigada, quando foi ajudar a levar os pratos
mesa, lanou um olhar muito atento para o convi-dado. De repente, estremeceu: era o chefe dosladres que desejava atacar seu amo! Por isso, noqueria comer sal junto com ele...21 E imediatamente
pensou num plano para salvar seu patro.Chegada a hora das frutas, Morjana as levoujunto com o vinho.22 O falso mercador pensava em
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21. Provavelmente est implicada aqui a crena de que o ato dedividir o sal com algum represente um pacto de hospitalidade.Os vnculos de hospitalidade so profundamente respeitadospelos rabes.
22. Entre os rabes no-muulmanos o uso de bebidas alcolicas,especialmente o vinho, era comum nas festividades. O Alcoro,porm, atribui o vinho (assim como os jogos de azar) obra dodemnio. Assim, o Islamismo probe todo tipo de bebida alcoli-ca, mas tal proibio nunca foi inteiramente respeitada.
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seu plano: embriagar pai e filho e cravar um punhalno corao de Ali Bab.
Morjana vestiu-se de danarina, colocou umpunhal no cinto e cobriu o rosto com um vu.Chamou um criado para tocar tamborim23 e os doisentraram na sala do banquete, pedindo permissopara se apresentarem. Ali Bab respondeu:
Capriche, Morjana, e faa o melhor que puderpara entreter nosso hspede Codja Hussan!
O hspede fingiu estar encantado com aquelaproposta que, na verdade, vinha atrapalhar seusplanos. O criado ps-se a tocar o tamborime Morjana a danar com passos e movimentos delica-dos. Depois, a danarina passou para um novo tipode dana, a que mais agradou: tomou do punhal ecom ele fingiu atacar um inimigo invisvel. Por fim,parou e pegou o tamborim para pedir aos presentesum pagamento, como faziam os danarinos profis-sionais. Ali Bab deu-lhe uma moeda de ouro,e o mesmo fez seu filho. Quando chegou a vez deCodja Hussan, no momento em que ele ps a moem sua bolsa para pegar uma moeda, Morjana mais
do que depressa cravou o punhal em seu corao,matando-o. Ali Bab exclamou: O que voc fez? Matou um hspede, um
amigo de meu filho. Isso ser a minha runa!Morjana, ento, contou ao amo o que descobrira.
Fez com que ele olhasse atentamente o rosto do falso
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23. As criadas entretinham os convidados da casa com suas danas;muitas vezes eram acompanhadas pelo som de um tamborim, oinstrumento mais empregado para marcar o ritmo. Por vezes,danavam tendo nas mos uma espcie de punhal, como fazMorjana para concretizar seu plano sem despertar suspeitas.
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mercador e reconhecesse o chefe dos ladres. Maisuma vez, fora salvo pela criada. Agradecido, disse:
Voc me salvou por duas vezes; agora eu lheconcedo a liberdade. Mais: em recompensa por sualealdade, voc ser minha nora.
Enterraram, ento, o corpo do chefe dos bandi-dos e, dias depois, festejou-se o casamento do filho deAli Bab com Morjana, em meio a cantos, danas emuitas outras diverses.
Ali Bab demorou um ano para retornar gruta,pois ainda no sabia que todos os quarenta ladresestavam mortos. Depois de um ano, mais tranqilo,voltou para l. Diante da caverna, disse:
Abre-te, Ssamo!E a porta se abriu. Ali Bab notou que ningum
mais entrara na caverna; os ladres, portanto,estavam todos mortos. Agora s ele sabia do segredo.Encheu alguns sacos com moedas de ouro e pratae voltou para sua cidade.
Com o passar do tempo, Ali Bab contou o se-gredo a seu filho e depois a seus netos. Ali Babe sua famlia viveram o resto de sua vida na riqueza,
naquela cidade onde um dia ele fora muito pobre.Graas quele tesouro, Ali se tornou um homemrespeitado e honrado.
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venturas de Simbad,o marujo
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o reinado do califa Harunar-Rachid,24vivia em Badg umcarregador muito pobre chamadoHindbad. Um dia, sob fortecalor, Hindbad transportava uma
carga muito pesada de um extremo a outro dacidade. Cansado, parou perto de um grande palcio,de cujas janelas provinham um delicioso perfume e osom harmonioso de instrumentos e de pssaros.
A msica e o cheiro apetitoso dos mais requintadospratos levaram Hindbad a concluir que ali aconteciaum grande banquete. Querendo saber quem moravanaquele lugar luxuoso, perguntou a um dos criadosque estavam na entrada do palcio como se chamavaseu dono. Esta foi a resposta:
O qu? Voc mora em Bagd e no sabe
que esta a morada de Simbad, o famoso naveganteque percorreu todos os mares iluminados pelo sol?O carregador que, de fato, tinha ouvido falar
em Simbad, sentindo inveja desse homem, disse: poderoso criador de todas as coisas,
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24. Califa: lder espiritual e poltico de uma comunidade islmica,considerado sucessor de Maom. A palavra significa vigrio,isto , aquele que substitui algum. Sob o governo do califaHarun ar-Rachid, o imprio islmico estava em seu apogeu. Ocalifado turco foi abolido em 1924.
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que diferena existe entre a minha situao e a deSimbad! Eu tenho de trabalhar como um condenadoe suportar mil males todo dia! Enquanto isso,Simbad gasta suas imensas riquezas numa vida cheiade prazeres. Que foi que ele fez para merecer tantafelicidade? Que eu fiz para merecer um destino todesgraado?
O carregador estava entregue a esses pensamen-tos, quando um criado saiu do palcio e tomou-o pelobrao, dizendo:
Venha comigo! Meu senhor quer falar comvoc.
Hindbad quis escapar, temeroso de que o senhordo palcio quisesse castig-lo pelas palavras que eletinha dito. Mas o criado no o deixou ir embora e oconduziu a uma grande sala. Ali, em volta de umamesa repleta de iguarias estavam sentadas muitaspessoas; no lugar de honra, via-se um homem de bar-bas brancas, cercado de criados. Era Simbad.O carregador tremia vendo aquelas pessoas e umbanquete to requintado. Simbad o chamou, fez quese sentasse sua direita e ele prprio o serviu daque-
la comida deliciosa. Terminada a refeio, Simbaddisse ao carregador: Ouvi o que voc dizia l fora. No sou injusto,
por isso no guardo rancor contra voc. Alis, lamen-to a sua sorte. Mas voc se engana em achar que euconquistei o que tenho sem dificuldade e sem muitoesforo. No se iluda: cheguei a esta minha situao
depois de sofrer por muitos anos tudo o que depenoso podem sofrer o corpo e a alma! Corri tantos
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perigos em minhas viagens pelos mares!E passou a narrar suas aventuras. Das sete via-
gens de Simbad, uma das mais espantosas foia seguinte, contada pelo prprio marujo:
Depois de minha primeira viagem, eu tinhadecidido passar o resto de meus anos tranqilamenteem Bagd, mas um dia comecei a me aborrecer comaquela vida montona e de novo tive vontade denavegar. Comprei mercadorias para vender ou trocare parti com outros mercadores. Embarcamos numbom navio, pedimos a proteo de Deus e soltamosas velas.
Fomos de ilha em ilha, fazendo negcios muitovantajosos. Um dia paramos numa pequena ilha.Enquanto meus companheiros colhiam florese frutas, sentei-me perto de um riacho, tomei a minharefeio e depois adormeci. Quando acordei, vi quenosso navio tinha partido, deixando-me sozinhonaquele lugar desconhecido! Achei que ia morrerde dor e desespero, arrependendo-me amargamentede no ter me contentado com minha primeiraviagem. Finalmente, aceitei, conformado, a vontade
de Deus e subi numa grande rvore para verse avistava alguma coisa que pudesse me trazeresperana de salvao.
Lanando a vista ao mar, meus olhos s viramgua e cu. Mas de repente enxerguei uma coisabranca em terra e decidi ir at ela. Desci da rvoree caminhei em direo quilo. Ao chegar a certa dis-
tncia, pude observar que se tratava de um globocuja altura e dimetro eram espantosos. Procurei
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Eu estava num vale cercado de montanhas muitoaltas. Caminhando por ali, notei que havia diamantespor toda parte, alguns espantosamente grandes. Nohouve muito tempo para ficar alegre com aquelaspedras, pois de repente avistei seres monstruosos:serpentes enormes, capazes de devorar um elefante.Para tentar escapar dosrukhs, elas se escondiam emcavernas durante o dia e s saam de noite.
Caminhei pelo vale at o anoitecer. Ento, escon-di-me numa caverna que me pareceu segura. Fecheia entrada com uma pedra para me proteger das ser-pentes, dali ouvindo o assobio horripilante que vinhade fora... Assustado, no passei uma noite muitoagradvel...
Ao nascer do dia, as serpentes foram embora.Sa da caverna ainda tremendo de medo e caminheipor entre os diamantes sem sentir a menor vontadede peg-los. No havia conseguido fechar os olhosdentro da caverna, e, por isso, com muito sono,depois de comer um pouco acabei adormecendo.Mas de repente algo caiu perto de mim e me acor-dou. Era um grande pedao de carne. Imediatamente
notei que outros pedaos caam das rochas emlugares diferentes do vale. Ento era verdade o que me contavam os
marinheiros! pensei. Aquele vale era um ver-dadeiro precipcio; era impossvel descer at ele. Paraconseguir pegar alguns diamantes, os marinheirosesperavam a poca em que as guias davam crias.
Naquele lugar, as guias eram muito maiores e maisfortes. Os marinheiros jogavam grandes pedaos de
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carne que, caindo nas pontas dos diamantes, ficavampresos neles. As guias se apoderavam dos pedaosde carne e os levavam aos ninhos no alto das rochaspara alimentar seus filhotes. Os mercadores corriamaos ninhos, afugentavam as aves com seus gritos epegavam os diamantes presos na carne.
Foi ento que eu tive uma idia para escapardaquele precipcio e salvar minha vida. Enchi minhabolsa de couro com os maiores diamantes que encon-trei, depois peguei um pedao bem grande de carne ecom meu turbante me prendi a ele, amarrando-mebem forte. Deitei-me de bruos e prendi a bolsa nacintura.
Mal tinha terminado quando apareceram asguias. Cada uma pegou um pedao de carne. Umadas mais fortes apanhou o pedao em que eu estavae l fui eu, erguido no ar at chegar ao alto da mon-tanha, dentro de seu ninho. Os mercadores, ento,comearam a afugentar as aves com seus gritos.Depois que elas fugiram, um deles se aproximou doninho em que eu estava e, quando me viu, teve medo.Depois, mais calmo, acusou-me de apoderar-me de
diamantes que lhe pertenciam. Mas eu lhe respondi: No seja rude. Tenho diamantes para nsdois, e mais do que todos os outros mercadoresjuntos poderiam conseguir. Eu escolhi pessoal-mente as melhores pedras, que trago nestaminha bolsa.
Enquanto dizia isso, mostrava ao homem os
diamantes. Os outros me cercaram, maravilhadoscom a minha histria e o modo como eu con-
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seguira salvar minha vida. Levaram-me para o acam-pamento onde estavam e, vendo os meus diamantes,disseram que nunca tinham visto iguais, nem mesmonas cortes dos reis mais ricos e poderosos. Insisti como mercador que me encontrara:
Por favor, pegue os diamantes que voc quiser! No, respondeu ele, escolhendo apenas uma
das pedras eu me contento com este aqui: to pre-cioso que basta para me sustentar para o resto deminha vida.
Passei a noite com aqueles mercadores, alegrepor ter escapado de tantos perigos; mal podia acredi-tar que j no havia mais nada a temer.
Permanecemos muitos dias naquela ilha e, quan-do todos pareciam contentes com os diamantes quetinham conseguido, partimos. Caminhamos por mon-tanhas muito altas e finalmente chegamos ilha deRoha, onde nasce a rvore da qual se extrai a cnfo-ra. Nessa ilha h rinocerontes, animais que lutamcom os elefantes. O rinoceronte rasga a barriga doelefante com seu chifre, ergue-o e assim o carregasobre a cabea. A gordura e o sangue do elefante
caem nos olhos do rinoceronte e o cegam. O animalcai por terra e ento aparece orukh e leva os doispresos nas garras at seu ninho para alimentar os fi-lhotes.
Nessa ilha troquei alguns dos meus diamantespor excelentes mercadorias. Depois, fomos a outrasilhas at chegarmos ao porto de Basra, de onde me
dirigi a Bagd. Assim que cheguei, dei muita esmolaaos pobres e vivi decentemente, sustentado pelas
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imensas riquezas que consegui com tanto esforo.Simbad terminou o seu relato e nos dias
seguintes contou outras aventuras para seus convida-dos; entre eles, sempre estava presente o carregadorHindbad, que, encantado com aquelas histrias, atj se esquecera de sua misria.
Quando terminou de contar tudo o que passaraem sua vida agitada, Simbad disse a Hindbad:
Ento, meu caro amigo, j ouviu falar emalgum que tenha sofrido mais do que eu? Nomereo uma vida agradvel e tranqila depois detudo o que eu passei?
Hindbad, em resposta, beijou a mo de Simbade disse:
O senhor merece no apenas uma vida tran-qila, depois de ter passado por situaes to ter-rveis, mas todos os bens que possvel imaginar,porque emprega bem as suas riquezas e muito ge-neroso. Seja feliz at o fim de seus dias!
Simbad deu ao carregador cem moedas, tratan-do-o como amigo.25 Depois, pediu-lhe que aban-donasse a sua profisso e viesse ao palcio ban-
quetear-se com ele todos os dias.25. H uma forte tradio no Islamismo a respeito da caridade;
socorrer outro muulmano que se encontra na pobreza umaobrigao para todo muulmano, sobretudo para um rico que,conforme essa concepo religiosa, recebeu sua riqueza de Deus.A histria de Simbad mostra-o muito bem: o marujo, enriquecido,trata generosamente o carregador pobre. Segundo o Alcoro, aocolocar um homem em posio social acima dos outros, Deustambm o est colocando prova. E o comportamento de Simbad
mostra que ele conhecia bem essa concepo.
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ladim e a lmpadamaravilhosa
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um reino da China26, viviaum alfaiate muito pobre
chamado Mustaf. Seu filhoAladim27, um menino teimosoe desobediente, passava o dia
todo nas ruas e praas dacidade. Com a morte do pai, Aladim se sentiu livre,no quis aprender uma profisso e assim viveu at osquinze anos.
Um dia, Aladim brincava numa praa com ou-tros meninos quando chegou um estrangeiro ecomeou a observ-lo atentamente. Era um magoafricano.28 Chamou o menino e lhe perguntou:
Meu filho, seu pai no se chama Mustaf e alfaiate?
Sim, senhor, mas morreu h muito tempo
respondeu Aladim.O mago, ento, abraou o menino derramandomuitas lgrimas e dizendo:
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26. O Isl se expandiu at o oeste da China. Hoje os muulmanosconstituem, nesse pas, uma minoria expressiva.
27. Em rabe,Aladim significa elevao da f.
28. A religio muulmana condena a magia; segundo o Alcoro, amagia foi ensinada aos homens por demnios.
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Ai, meu filho! Eu sou seu tio. Faz muito tempoque estou viajando na esperana de reencontrar meuirmo, mas voc me diz que ele morreu! S tenho umconsolo: reconheo os traos de meu querido irmoem voc e foi por isso que parei para olh-lo.
Depois disso, o mago perguntou onde a me deAladim morava e lhe deu um punhado de moedaspara que o menino as entregasse a ela. QuandoAladim chegou a casa, contou o que acontecera e ame ficou espantada, pois no se lembrava de que omarido tivesse irmo ainda vivo.
No dia seguinte, Aladim brincava com outrosmeninos, quando de novo o mago se aproximou e lhedeu duas moedas de ouro, dizendo:
Conte a sua me que esta noite eu irei visit-lae que ela deve preparar um bom jantar, pois comere-mos juntos.
A me de Aladim fez o que pde para prepararum timo jantar. noite, bateram porta. Era omago, que trazia vinho e muitas frutas. Pediu que amulher lhe mostrasse onde Mustaf costumava sesentar e, chorando, beijou o lugar. Ento, disse:
No se espante por no me ter visto desde quese casou com meu irmo Mustaf. Faz quarenta anosque eu deixei esta cidade e viajei por vrios pases atme estabelecer na frica. Mas recentemente me deuuma grande vontade de rever meu querido irmo!Nada me deixou mais aflito do que a notcia de suamorte, mas me consolo vendo os traos dele nesse
menino que seu filho.A me de Aladim contou, ento, chorando, que o
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rapaz no queria saber de aprender uma profisso evivia pelas ruas da cidade como um vagabundo. Umdia, teria de mandar que ele fosse buscar seu sustentoem outra parte! Ao ouvir as queixas da me, o magoprometeu montar para o rapaz uma bela loja, cheiade tecidos finos, para que Aladim pudesse viver ho-nestamente como comerciante.
Aladim ficou muito contente com aquela idia,afinal tinha percebido que os comerciantes estavamsempre bem vestidos e eram muito estimados portodos. Depois dessa proposta, a me de Aladim noteve mais dvidas de que aquele homem que se inte-ressava pelo futuro do filho era mesmo seu tio.
Na manh seguinte, o mago voltou casa deAladim. Levou o menino a uma loja fina e deixou queele escolhesse a roupa que mais lhe agradasse.Depois, andaram pelas lojas e lugares mais luxuososda cidade. Ao se despedir de me e filho, o magodisse:
Amanh, sexta-feira, as lojas estarofechadas29 e no poderemos, por isso, alugar umapara Aladim, como eu pretendia fazer. Mas passeare-
mos pelos jardins da cidade, onde as pessoas ele-gantes se encontram.Na manh seguinte, Aladim se levantou muito
cedo e esperou, impaciente, o tio. No cabia em si dealegria. Ao deixarem a casa, o mago africano lhedisse:
Meu filho, hoje eu lhe mostrarei coisas belssi-
mas!29. Para os muulmanos, a sexta-feira o dia sagrado, equivalente
ao domingo para os cristos; o dia de fazer suas preces e des-cansar.
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O mago conduziu Aladim para os arredores dacidade; no caminho, viram lindos palcios. E forampenetrando cada vez mais no campo at chegaremperto das montanhas. Aladim ficou muito cansado:ele jamais caminhara tanto!
Coragem, sobrinho! Voc ver um jardim que mais belo do que todos quantos viu at agora. J jchegaremos disse o mago.
Aladim, ento, foi levado ainda mais longe. Porfim, chegaram a um lugar situado entre dois montes.O mago pediu que o menino juntasse uma grandequantidade de gravetos e com eles fez uma fogueira.Na lenha que queimava jogou um perfume muitoforte. Levantou-se, nesse momento, uma grandenuvem de fumaa e o mago pronunciou certaspalavras mgicas que Aladim no conseguiu com-preender. De repente, a terra tremeu e se abriudiante dos dois, deixando ver uma pedra com umaargola de bronze no meio. Aladim quis fugir, mas omago o deteve e lhe deu um violento tapa no rosto.Depois, vendo o menino chorar e se lamentar, disse:
No tenha medo. Obedea-me e tudo sair
bem. Voc ser recompensado. Embaixo desta pedra,h um tesouro que far de voc o homem mais ricodo mundo. E s voc poderia tocar esta pedra eergu-la. Eu no posso fazer isso. Venha, segure aargola, pronunciando o nome de seu pai e de seu av,e levante a pedra.
Aladim obedeceu. Ao erguer a pedra, viu-se
aparecer uma caverna e uma escada que levava paradebaixo da terra. O mago fez estas recomendaes ao
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menino: Meu filho, escute bem o que eu vou lhe dizer.
Desa por esta escada. No final dela, voc ver umaporta aberta. Entre. Voc passar por trs grandessalas. Em cada uma delas, ver quatro grandes vasosde bronze cheios de ouro e prata. Mas no toqueneles! Passe pelas trs salas sem parar. Cuidado parano tocar nas paredes: isso provocaria sua morte. Nofim da terceira sala, h uma porta que d acesso a umjardim. Atravesse esse jardim e voc chegar a umaescada de cinqenta degraus. Ao subir, estar numterrao onde ver uma lmpada30 acesa. Apague-a etraga-a para mim. Pegue as frutas que quiser dasrvores do jardim.
O mago, ento, tirou do dedo um anel e o deu aAladim, dizendo que ele o protegeria se algo de ruimacontecesse. Aladim fez como o mago lhe recomen-dara: desceu caverna, atravessou as salas, subiu aescada e pegou a lmpada. Depois, parou no jardim.Os frutos das rvores que ali estavam brilhavam;havia-os de todas as cores; os brancos eram, na ver-dade, prolas; os transparentes, diamantes; os ver-
melhos, rubis; os verdes, esmeraldas; os violetas,ametistas, e assim por diante. Aladim, que no sabiao valor daquelas pedras preciosas, ficou decepciona-do, pois esperava encontrar figos, uvas e outras fru-tas comuns na China. Em todo caso, encheu os bol-sos com aquelas pedras coloridas que para ele notinham valor. Depois, voltou at a entrada da caver-
na, onde o mago o esperava com a maior impacin-cia. Ao v-lo, Aladim disse:
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30. A famosa lmpada da histria uma lamparina, que serviapara iluminar as casas. Esse objeto j apareceu na histria de AliBab; seu combustvel era o azeite de oliva.
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Tio, por favor, estenda a mo para me ajudar asubir!
Antes me passe a lmpada para que ela noatrapalhe voc respondeu o mago.
Aladim, porm, respondeu que s lhe daria almpada quando tivesse sado da caverna. O mago,irritado, lanou mais perfume na fogueira e pronun-ciou palavras mgicas. Nisso, a pedra que servia deporta para a caverna voltou a seu lugar, deixandoAladim preso embaixo da terra!
O suposto tio de Aladim era, na verdade, con-forme j dissemos, um mago africano31 que, depoisde investigar muito, descobrira a existncia da lm-pada capaz de tornar seu dono o homem maispoderoso do mundo. Descobrira que o objeto estavaembaixo da terra no centro da China. Mas ele mesmono podia entrar ali nem pegar a lmpada, e por issodecidira usar Aladim, que lhe pareceu til aos seusobjetivos. Quando viu que seus planos deram errado,decidiu retornar frica.
Ao se ver enterrado vivo, Aladim entrou emdesespero: gritou sem parar pelo tio, prometendo
entregar-lhe a lmpada. Chorava em meio escurido, julgando que seu fim tinha chegado. Ficoudois dias assim, sem comer nem beber. No terceirodia, ao erguer as mos para dirigir suas preces aDeus, sem querer acabou esfregando o anel que omago lhe dera. De repente, como que surgindo dasprofundezas da terra, apareceu diante dele um gnio
enorme, com um aspecto terrvel, e disse:
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31. Como voc j viu no captulo Como tudo comeou: a histriade Xerazad, o Isl chegou at o norte da frica.
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como escravo que sou de quem possui a lmpada!A me de Aladim desmaiou. Aladim tomou a
lmpada na mo e ordenou: Estou com fome, traga-me algo para comer!O gnio se retirou e voltou logo depois com uma
bandeja de prata; em cima dela, havia doze pratostambm de prata cheios dos quitutes mais saborosos,alm de vinho e po. Colocou tudo sobre a mesa edesapareceu.
Quando a me de Aladim se recuperou, ficouespantada com o que viu. O filho insistiu para quefossem comer, depois ele lhe contaria o que tinhaacontecido. Puseram-se mesa e comeram commuito apetite. Era seu caf da manh, mas a comidaque o gnio trouxera tambm foi suficiente para oalmoo, o jantar e mais duas refeies do diaseguinte. Quando a me quis saber como aquilo tudoviera parar em sua casa, Aladim contou o que ocor-rera. Disse que aquele gnio da lmpada era comple-tamente diferente do gnio do anel, que ele vira nacaverna.
Ai, meu filho, melhor dar um fim na lmpada
ou no anel em vez de correr de novo o risco de mor-rer de medo diante desses gnios! Gnios sodemnios, como dizia o nosso profeta Maom!
Mas Aladim convenceu sua me da necessidadede guardar o anel e a lmpada. No dia seguinte, nadahavia para comer. Aladim colocou um dos pratos deprata embaixo da roupa e saiu para vend-lo.
Dirigiu-se a um mercador muito esperto, queresolveu enganar o menino. Ele percebera que
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Aladim no tinha a menor idia de como era valiosoaquele objeto. Deu-lhe uma moeda de ouro. Com ela,o menino comprou po, dando o troco a sua me,para que ela comprasse comida. E assim foramvivendo; quando acabavam os mantimentos, Aladimvendia um prato para o mercador. Depois que ospratos acabaram, vendeu a bandeja, recebendo porela dez moedas de ouro.
Quando no havia mais moedas, Aladim recor-reu lmpada. Esfregou-a e viu surgir o gnio.De novo, Aladim pediu algo para comer, e o gnioprovidenciou as mesmas coisas que da primeira vez.A histria se repetiu. Quando s restaram os objetosde prata, Aladim resolveu vender um dos pratos.Mas dessa vez topou com um ourives,32 um senhorhonesto que mostrou a Aladim quanto valia real-mente o prato: setenta e duas moedas de ouro!Daquele momento em diante, Aladim s vendeu osobjetos para aquele senhor. E assim me e filho iamvivendo: recorriam lmpada, mas viviam modesta-mente.
Passaram-se muitos anos. Aladim descobriu que
as pedras que trouxera da caverna no eram vidropintado, como imaginava, mas pedras preciosasvaliosssimas.
Um dia, Aladim passeava pela cidade, quandoescutou algum anunciar a ordem do sulto:33todasas lojas e as portas das casas deveriam ser fechadas,todos deveriam ir para dentro de suas casas e l per-
32. Ourives:pessoa que trabalha com metais preciosos como o ouroe a prata.
33. Ver nota 5.
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manecer para que Badr al-Budur,34 a filha do sulto,pudesse ir ao banho e retornar ao palcio.
Desejando ver o rosto da moa, Aladim se escon-deu atrs da porta dos banhos.35 Quando a filha dosulto chegou perto da porta, tirou o vu,36 e Aladimpde ver seu rosto atravs de uma fresta. Era aprimeira vez em sua vida que Aladim via uma mulhersem vu que no sua me. Ficou encantado com
aquela viso. Badr al-Budur era linda; tinha olhosgrandes e muito vivos, nariz e boca bem propor-cionados; em resumo, todo seu rosto era perfeito.
Aladim voltou para casa triste e perturbado e sedeixou cair no sof, pensando somente na princesa.No dia seguinte, contou me o que tinha visto: ajia mais preciosa do mundo, Badr al-Budur:
por isso que voc me viu to triste ontem,minha me. Estou to apaixonado pela princesa queno vou ter sossego enquanto no a pedir em casa-mento.
Ao ouvir as palavras do filho, a me de Aladim
34. Badr al-Budur significa lua cheia das luas cheias. Esse nomecorresponde a uma forma de superlativo tpica do hebraico e dorabe um superlativo no do adjetivo (bela: belssima), masdo substantivo (rainha das rainhas, lua das luas).
35. A casa dos banhos, comparvel s antigas termas dos romanos,chamava-sehammm.Ali, alm de se banhar, as pessoas erammassageadas, faziam sauna, etc.
36. A histria de Aladim ambientada numa China muulmanaque, portanto, tem traos culturais da civilizao islmica, comoo uso do vu pelas mulheres. Note como os nomes so rabes,no chineses. Note tambm como a princesa se comporta daforma recatada que o Alcoro recomenda; Aladim s conseguever seu rosto inteiro porque a surpreende num momento em queela acredita que no ser vista por nenhum homem.
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caiu na gargalhada, achan-do que aquela idia notinha p nem cabea.Aladim perdera ojuzo? Esquecera queera filho de um alfaiate?Atravs de quem eleousaria pedir ao sulto a mode sua filha em casamento?
Atravs de voc, minha me respon-deu Aladim. No mudarei de idia. No menegue este favor, se no quiser ver seu filhomorto.
A me de Aladim tentou em vo convenc-loa desistir da idia: a beleza da princesa tinha pro-vocado uma emoo muito forte no corao dofilho. Lembrou, porm, que era costume oferecerpresentes ao sulto quando se ia pedir-lhe algumacoisa. Ora, que presente altura do pedido seufilho poderia oferecer? Afinal, ele queria a mo daprpria filha do sulto! Aladim escutou paciente-mente; depois, mostrou-lhe as pedras preciosas que
ele, quando menino, tomara por vidro sem valor.Vistas luz do dia, brilharam intensamente, enchen-do os dois de admirao. Aquele era um presente altura.
No dia seguinte, Aladim acordou cedo e, impa-ciente, foi despertar a me para que ela fosse at opalcio participar da audincia com o sulto. Ela se
vestiu rapidamente, colocou as pedras num vaso deporcelana e partiu. Mas s conseguiu ser recebida
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muitos dias depois. O gro-vizir37 a levou ato sulto. Quando o soberano viu as pedras preciosas,to perfeitas e brilhantes, ficou espantado:
Que belo presente! Nunca vi nada mais per-feito e valioso! Este presente digno de minha filha.Mas seu filho deve esperar mais trs mesese depois voltar a fazer o pedido!
Aladim ficou desconsolado com a resposta, mas
no desistiu. Trs meses depois, sua me voltava afalar com o sulto, que j se havia esquecido total-mente daquele primeiro encontro. O gro-viziro aconselhou a pedir pelo seu consentimento umpreo to alto que aquele desconhecido no con-seguisse pagar; assim, ele desistiria de proposta toinsensata. O sulto disse me de Aladim:
Minha senhora, promessa promessa. Mas euno posso dar minha filha em casamento sem saberse ela ser recompensada por isso e ter uma vidaconfortvel. Assim, concedo a mo dela desde queseu filho me traga quarenta bandejas de ouro maciocheias daquelas pedras preciosas que vocs mederam da ltima vez. Elas devem ser carregadas por
quarenta escravos negros conduzidos por quarentaescravos brancos, todos vestidos luxuosa-mente. Eis as condies!
Quando a me lhe contou as exignciasdo sulto, Aladim esfregou a lmpada e deu
ordens para que o gnio providenciassetudo o que o soberano queria. No mesmo
dia, l se foram os escravos, vestidos comoreis, em direo ao palcio; sua passagem, a
37. Ver nota 4.
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multido parava para olh-los com espanto e admi-rao. Quando chegaram diante do sulto, a me deAladim dirigiu-lhe a palavra:
Senhor, meu filho Aladim sabe que estes pre-sentes no esto altura da princesa, mas espera queeles agradem ao sulto e sua filha.
Vendo tamanhas riquezas e a rapidez com queAladim conseguira atender suas exigncias, o rei noteve mais dvidas e prometeu a mo da filha.Quando soube da notcia, Aladim pediu ao gnio dalmpada que o vestisse como um rei e assim sedirigiu ao palcio. Seu aspecto e suas atitudescausaram admirao geral. Mas, quando o sultopediu que Aladim permanecesse no palcio para quea cerimnia de casamento fosse realizada naquelemesmo dia, o rapaz recusou:
Antes preciso construir um palcio digno dereceber a princesa. Peo a Vossa Alteza que me con-ceda um terreno para que eu erga nele uma constru-o altura de vossa filha.
Mal chegou a sua casa, Aladim fez surgir o gnioe pediu que ele erguesse no menor tempo possvel
um palcio magnfico em frente ao do sulto. O sol seescondia no horizonte. Na manh seguinte, o gniodisse a Aladim que o palcio estava pronto. Era mag-nfico, coberto de ouro, prata e pedras preciosas, lu-xuoso como nenhum outro jamais tinha havido. Anotcia daquela maravilha se espalhou rapidamente.Ningum conseguia compreender como uma constru-
o to magnfica surgira de um dia para o outro.Finalmente, a princesa Badr al-Budur e Aladim
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se casaram. O pai da moa no cansava de admirar abeleza do palcio e as qualidades de Aladim.
Mas eis que alguns anos depois o mago africano,que sem querer tornara possvel a felicidade deAladim, voltou a pensar nele. Com seus instrumentosmgicos, conseguiu descobrir que, em vez de mortoembaixo da terra, o rapaz estava bem vivo, casadocom uma princesa, amado e respeitado por todos. Elehavia descoberto o segredo da lmpada! Furioso, omago jurou vingar-se. Imediatamente, partiu emviagem e logo chegou ao reino da China, onde mora-va Aladim. Ali informou-se sobre ele e seu palcio,decidido a fazer de tudo para recuperar a lmpada.
Por infelicidade, Aladim tinha deixado o palciopara caar e permaneceria vrios dias longe de casa.
Est na hora de agir! disse o mago ao saberda ausncia de Aladim.
Depois se dirigiu a um fabricante de lmpadas ecomprou uma dzia, brilhantes de to novas queeram. Colocou-as num cesto e se dirigiu ao palcio deAladim. Por ali, ps-se a anunciar repetidamente,andando de um lado para o outro:
Quem quer trocar lmpadas velhas por novas?Todos os que o viam, pensavam que se tratavade um doido. As crianas zombavam dele. Ouvindo obarulho, a princesa mandou que uma escrava fossever o que estava acontecendo.
Princesa, disse a escrava, est aqui nafrente um doido com um cesto cheio de lmpadas
novas em folha. Imagine s: em vez de vend-las,quer trocar por velhas. As crianas o cercam e zom-
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bam dele. Lmpadas?, disse uma outra escrava. Vossa
Alteza deve ter percebido que h uma lmpada velhano palcio. Seu dono ficar contente quando encon-trar uma novinha no lugar dela. Ser que esse loucoaceitar trocar a lmpada sem pedir uma compensaopela troca?
A princesa, que no sabia dos poderes da lmpa-da, mandou chamar o mago e propor a troca, que foiaceita imediatamente. O mago, com a lmpada deAladim em mos, saiu apressado, deixando o cesto nomeio de uma das ruas da cidade. Afastou-se parao campo e ali ficou at escurecer. Ento, vendo-se so-zinho, pegou a lmpada e esfregou-a. O gnio apare-ceu, e o mago lhe ordenou:
Leve o palcio que voc construiu com todas aspessoas que esto dentro dele para a frica, numlugar que eu lhe indicarei.
No dia seguinte, qual no foi a surpresa do sultoquando se levantou da cama e foi espiar de umajanela, como costumava fazer, o palcio de Aladime sua filha. Viu apenas um espao vazio: tudo tinha
desaparecido! Furioso, ordenou que fossem buscarAladim e o prendessem.Aladim foi conduzido ao palcio. Ao chegar, os
guardas tiveram o cuidado de fechar os portes, poiso povo, que amava Aladim e pressentia que desejavammat-lo, parecia disposto a enfrentar tudo paraimpedir sua morte. Levaram-no presena do sulto
e este ordenou que o carrasco lhe cortasse a cabea.O carrasco fez Aladim ficar de joelhos, tapou-lhe
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os olhos com uma venda e manteve-se espera daordem do sulto para dar o golpe fatal. Mas o gro-vizir veio avisar o soberano de que a multido l fora,revoltada, armara um grande tumulto. O sulto,assustado, mandou libertar o genro. Aquele gestoacalmou a multido.
A Aladim, que perguntava por que desejaramat-lo, o sulto disse, apontando-lhe o espao vazioonde se localizava o palcio desaparecido:
Voc deve saber o que aconteceu com seu pal-cio. Onde est ele? Onde est minha filha? EncontreBadr al-Budur, ou eu mandarei que cortem suacabea e, dessa vez, ningum me impedir!
Aladim, espantado e confuso, conseguiu que osulto lhe concedesse o prazo de quarenta dias paraencontrar a princesa. Perturbado, foi de casa em casaperguntando se algum sabia onde estava seu pal-cio. A maioria das pessoas julgavam que ele tinhaperdido a cabea e, comovidas, lamentavam suasorte; outras zombavam dele.
Aladim retirou-se para o campo. Estava deses-perado. Parou perto de um rio disposto a se lanar
nas guas; antes, porm, resolveu dirigir uma pre