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DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA
Região Norte
Gripe – Vigilância Epidemiológica
Semana 40 de 2011 (desde 3 de outubro de 2011)
à
Semana 9 de 2012 (até 4 de março de 2012)
Março 2012
Ministério da SaúdeMinistério da Saúde
Destaque:
O pico da procura dos serviços de saúde dos cuidados de saúde primários, ocorrido no início da segunda quinzena de fevereiro, foi de maior magnitude do que em anos anteriores;
A letalidade observada nos doentes que recorreram aos serviços de urgência dos hospitais por síndrome gripal foi mais elevada do que em anos anteriores;
Os dados laboratoriais disponíveis até ao momento apontam para um predomínio do vírus Influenza A(H3N2).
Departamento de Saúde Pública – Unidade de Vigilância Epidemiológica
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1. INTRODUÇÃO
A Unidade de Vigilância Epidemiológica (UVE) do Departamento de Saúde Pública da
Administração Regional de Saúde do Norte I.P. (ARS Norte), é responsável pelo Programa de
Vigilância da Gripe, implementado desde 2008, o qual sofreu um impulso considerável em
2009, ano em que ocorreu uma pandemia de gripe. Nessa altura foram criados diversos
sistemas de informação que têm permitido fazer a vigilância epidemiológica da gripe desde
então e de cuja sustentabilidade depende a manutenção da vigilância daquele problema de
saúde.
A análise da situação epidemiológica da gripe na região Norte que agora se apresenta baseia-
se em dados provenientes dos seguintes sistemas de informação:
Sistema de notificação de síndromes gripais dos cuidados de saúde primários;
Sistema de notificação de síndromes gripais dos serviços de urgência hospitalares;
Resultados laboratoriais da pesquisa de vírus Influenza pelos laboratórios que na
região integram a Rede Nacional de Laboratórios para o Diagnóstico da Gripe (RNLDG)
coordenada pelo Laboratório Nacional de Referência para o Vírus da Gripe do
Departamento de Doenças Infeciosas do Instituto Nacional de Saúde (INSA) Dr.
Ricardo Jorge;
Vigilância Diária da Mortalidade (VDM) por todas as causas através dos dados cedidos
ao DSP pelo INSA.
Apesar de a vigilância da gripe ser desenvolvida com maior acuidade durante a época de gripe
sazonal, a qual decorre entre a semana 40 de cada ano e a semana 20 do ano subsequente, a
UVE mantém durante todo o ano atividades de receção e análise dos dados provenientes dos
sistemas de informação ativos. Para além disso, e em relação aos sistemas que não estão
ativos durante todo o ano, são realizados os contactos necessários à reativação desses
sistemas.
No relatório final de vigilância da época 2010/2011, elaborado em junho de 2011 (1),
chamava-se a atenção para a eventual necessidade de, face à ausência de uma estratégia
nacional de vigilância da gripe que permita o acesso atempado a dados de âmbito regional de
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qualidade, serem criados a nível regional sistemas de vigilância próprios. Nesse documento era
equacionada a criação de um sistema de vigilância de internamentos hospitalares e de óbitos
em casos de gripe, envolvendo unidades hospitalares regionais, no entanto não foi possível
implementá-lo.
O presente relatório encerra algumas limitações que decorrem dos problemas que de seguida
se enunciam:
Irregularidade com que a UVE teve acesso aos dados dos sistemas de informação, que
são origem da notificação de síndromes gripais dos cuidados de saúde primários e dos
serviços de urgência hospitalares;
Alterações sofridas nos sistemas informáticos dos serviços de saúde e que originaram
ausência de dados durante alguns dias dos períodos em estudo (sem dados de
notificação de síndromes gripais nos serviços de urgência hospitalares relativos aos
dias: 24 de janeiro de 2012, 4, 5, 6, 11, 12, 18 e 19 de fevereiro de 2012) e ausência
total de dados de alguns serviços de saúde, nomeadamente do Hospital de Braga;
Heterogeneidade no tipo de dados de algumas fontes de informação o que impediu,
por exemplo, a análise conjunta dos dados provenientes dos dois laboratórios que
integram a RNLDG.
O principal objetivo deste relatório é divulgar a caracterização da situação epidemiológica da
atividade gripal na região Norte desde a semana 40 de 2011 (com início a 3 de outubro) até à
semana 9 de 2012 (término a 4 de março).
Sempre que possível, procedeu-se ao enquadramento dos dados da atual época de gripe com
os dados de épocas precedentes, de forma a melhor enquadrar a situação epidemiológica. A
análise da situação na região foi complementada com dados nacionais disponíveis e ainda com
dados europeus relevantes divulgados nos relatórios do European Centre for Disease
Prevention and Control (ECDC).
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2. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
2.1 Atividade gripal nos cuidados de saúde primários
Dados
Na figura 1 observa-se a evolução do número de episódios de síndrome gripal registados pelos
médicos dos serviços de cuidados de saúde primários da região Norte entre a semana 1 de
2010 e a semana 8 de 2012 (4 de janeiro de 2010 a 1 de março de 2012), período durante o
qual se registaram 72 847 episódios.
Entre 3 de outubro de 2011 e 1 de março de 2012, registaram-se na região Norte 29 083
episódios de síndrome gripal, correspondendo a uma taxa de declaração de 37,5/100 000
habitantes-semana. O pico foi atingido durante a semana 7 (13 a 19 de fevereiro) com 4 356
episódios, tendo este pico sido mais tardio e de maior magnitude do que o observado na
época 2010/2011 (atingido na semana 1 com 3 788 episódios). De acordo com dados
publicados noutros relatórios (1), na época 2009/2010 o pico ocorreu na semana 48 de 2009
com 3 429 episódios.
Figura 1 – Distribuição semanal dos episódios de síndrome gripal registados nos Agrupamentos de Centros de Saúde da região Norte desde a semana 1 de 2010 até à semana 8 de 2012
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Dos 29 083 episódios registados entre a semana 40 de 2011 e a semana 8 de 2012, 16 814
ocorreram no sexo feminino (57,8%).
A distribuição etária dos casos de síndrome gripal registados ao longo deste período evidencia
um ligeiro predomínio do grupo etário com idades compreendidas entre os 40-49 anos, sendo
de realçar que mais de metade dos casos registados tinha mais de 30 anos (Quadro 1),
contrastando com o que se passou na época gripal 2010/2011, em que a maioria dos casos
tinha menos de 30 anos.
Quadro 1 – Distribuição dos casos declarados de síndrome gripal nos Agrupamentos de Centros de Saúde da região Norte por grupo etário nas semanas 40 de 2011 à 8 de 2012
Grupo etário N.º casos Percentagem <10 4 602 15,8
10-19 4 490 15,4 20-29 3 934 13,5 30-39 3 517 12,1 40-49 4 784 16,4 50-59 4 207 14,5 ≥ 60 3 549 12,2 Total 29 083 100,0
A distribuição da notificação de síndrome gripal por Agrupamento de Centros de Saúde (ACES)
foi bastante heterogénea. No Quadro 2 observa-se a distribuição da taxa de declaração de
síndrome gripal registada em cada ACES da região durante o período que decorreu entre a
semana 40 de 2011 e a semana 8 de 2012, tendo a mesma variado entre um valor mínimo de
29,9/100 000 habitantes-semana na ULS do Alto Minho e um valor máximo de 98,7/100 000
habitantes-semana registado no ACES Douro Sul.
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Quadro 2 – Distribuição da taxa de declaração de síndrome gripal por Agrupamento de Centro de Saúde (semana 40 de 2011 à 8 de 2012) da região Norte
ACES/ULS Taxa
(por 100 000 habitantes-semana)
ULS Alto Minho 29,9
Alto Tâmega e Barrosos 77,6
Aveiro Norte 64,6
Baixo Tâmega 40,1
Barcelos/Esposende 47,3
Braga 40,3
Douro Sul 98,7
Famalicão 54,6
Feira/Arouca 45,2
Gaia e Espinho 55,4
Gerês/Cabreira 67,1
Gondomar 43,5
Guimarães/Vizela 40,2
Maia 54,0
Marão e Douro Norte 69,6
ULS Nordeste 50,9
Porto 44,0
Póvoa Varzim/Vila Conde 51,1
Santo Tirso/Trofa 66,1
Terras de Basto 41,7
ULS Matosinhos 45,2
Vale do Sousa Norte 41,6
Vale do Sousa Sul 77,9
Valongo 38,7
Total 37,5
Nota: Os valores dos ACES Porto Ocidental e Porto Oriental foram agregados juntamente com os do SASU do Porto. Agregaram-se também os valores correspondentes aos ACES de Gaia e Espinho/Gaia.
Durante as 21 semanas em análise foram realizadas cerca de 260 000 consultas por semana
nos ACES da região, estando aqui incluídas todas as consultas médicas independentemente do
motivo. A importância relativa das consultas por síndrome gripal em relação ao total de
consultas efetuadas na região variou entre um valor mínimo de 0,1% na semana 41 de 2011 e
1,6% na semana 7 de 2012.
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Descrição do sistema
Todos os serviços de saúde das unidades de cuidados de saúde primários da região Norte
utilizam a aplicação do Sistema de Apoio ao Médico (SAM) do Sistema de Informação das
Unidades de Saúde. Na opção Subjectivo, Objectivo, Avaliação e Procedimentos do SAM é
possível fazer o registo do motivo da consulta segundo a Classificação Internacional de
Cuidados Primários (ICPC-2). Assim, sempre que o médico observa e regista um caso de
síndrome gripal o sistema classifica o episódio com o código R80.
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2.2 Atividade gripal nos serviços de urgência
Dados
Na figura 2 observa-se a evolução do número de episódios de síndrome gripal registados pelos
médicos dos serviços de urgência dos Hospitais e dos Serviços de Atendimento de Situações
Urgentes (SASU) da região Norte entre a semana 40 de 2011 e a semana 9 de 2012. Durante
aquele período registaram-se 6 682 episódios de urgência por síndrome gripal. Foi na semana
8 de 2012 que se atingiu o pico da curva, com 863 episódios.
Figura 2 – Distribuição semanal dos episódios de síndrome gripal registados nos Hospitais/SASU da
região Norte entre a semana 40 de 2011 e a semana 9 de 2012
Nota - Não estão incluídos os dados relativos aos seguintes dias: 24 de janeiro de 2012, 4, 5, 6, 7, 11, 12, 18 e 19 de fevereiro de 2012
Do total de episódios de síndrome gripal registados nos serviços de urgência, 3 653 ocorreram
no sexo feminino (54,7%).
No Quadro 3 observa-se a distribuição etária dos casos, evidenciando-se um ligeiro predomínio
de casos nos grupos etários dos com 60 e mais anos e nas crianças menores de 10 anos de
idade.
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Quadro 3 – Distribuição dos casos declarados de síndrome gripal nos Hospitais/SASU da região Norte por grupo etário nas semanas 40 de 2011 a 9 de 2012
Grupo etário N.º casos Percentagem
<10 1 371 20,5
10-19 717 10,7
20-29 812 12,2
30-39 894 13,4
40-49 663 9,9
50-59 658 9,8
> 60 1 567 23,5
Total 6 682 100,0
No quadro 4 observa-se o número de casos de síndrome gripal registados nos diferentes
serviços de urgência.
Quadro 4 – Distribuição dos casos de síndrome gripal registados nos serviços de urgência dos serviços de saúde da região Norte entre a semana 40 de 2011 e 9 de 2012 (exceto dados do Hospital de Braga)
Centro Hospitalar/Hospital Número de casos
Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim / Vila do Conde, E.P.E. 321
Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, E.P.E. 20
Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho, E.P.E. 463
Centro Hospitalar do Alto Ave, E.P.E. 132
Centro Hospitalar do Alto Minho, E.P.E. 383
Centro Hospitalar do Nordeste, E.P.E. 45
Centro Hospitalar do Porto, E.P.E. 276
Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa - Vale do Sousa, E.P.E. 1288
Centro Hospitalar do Médio Ave, E.P.E. 737
Centro de Saúde Macedo de Cavaleiros 185
Centro Hospitalar de São João, E.P.E. 671
Hospital Santa Maria Maior, E.P.E. 373
Serviço de Urgência Básica de Mogadouro 125
Serviço de Urgência Básico de Montalegre 51
Serviço de Urgência Básico de Vila Nova de Foz Côa 56
Serviço de Urgência Básico de Cinfães 311
Serviço de Urgência Básico de Arouca 499
Serviço de Urgência Básico de Moimenta da Beira 79
ULS Matosinhos 233
Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, E.P.E. 434
Total 6 682
De acordo com os dados da Quadro 5, a maioria dos doentes com síndrome gripal observados
nas urgências tiveram alta para o domicílio. A proporção de casos de síndrome gripal que ficou
internada foi de 8,7% e a percentagem de óbitos foi de 0,9%.
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Quadro 5 – Distribuição do destino dos casos de síndrome gripal registados nos serviços de urgência dos serviços de saúde da região Norte na semana 40 de 2011 a 9 de 2012
Destino Número de casos Percentagem
Ambulatório 440 6,6
Domicílio/ Alta 5578 83,4
Falecido 59 0,9
Internamento 581 8,7
Outro 24 0,4
Total 6 682 100,0
Do total de 59 óbitos registados, 34 eram do sexo feminino, correspondendo a uma
percentagem de 57,6%. A evolução do número de óbitos ocorridos em doentes que
recorreram aos serviços de urgência por síndrome gripal ao longo das semanas em análise
(Quadro 6) revela que a partir da semana 5 de 2012 (30 de janeiro a 5 de fevereiro) se verificou
um aumento no número desses óbitos, tendo o pico sido atingido na semana 8 de 2012 (20 a
26 de fevereiro) com 16 óbitos, para na semana subsequente se verificar um decréscimo.
Quadro 6 – Distribuição do número de óbitos ocorridos nos casos de síndrome gripal registados nos serviços de urgência dos serviços de saúde da região Norte por semana (semana 40 de 2011 a 9 de 2012)
Período Número de óbitos
Semana 40 a 43 de 2011 3
Semana 44 a 47 de 2011 2
Semana 48 a 51 de 2011 2
Semana 52 de 2011 2
Semana 1 de 2012 1
Semana 2 de 2012 0
Semana 3 de 2012 3
Semana 4 de 2012 1
Semana 5 de 2012 5
Semana 6 de 2012 8
Semana 7 de 2012 9
Semana 8 de 2012 16
Semana 9 de 2012 7
Total 59
Registaram-se óbitos em todos os grupos etários, no entanto, foi no grupo dos com 60 e mais
anos de idade que se verificou o maior número de mortes (Quadro 7).
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Quadro 7 – Distribuição do número e proporção de óbitos ocorridos no total de casos declarados de síndrome gripal nos Hospitais/SASU da região Norte por grupo etário nas semanas 40 de 2011 a 9 de 2012
Grupo etário N.º óbitos Percentagem
<10 3 0,2
10-19 3 0,4
20-29 11 1,4
30-39 11 1,2
40-49 6 0,9
50-59 5 0,8
> 60 20 1,3
Total 59 0,9
Os episódios de urgência por síndrome gripal atendidos nos serviços de urgência da região
representaram 1,1% e 1,6% do total de episódios de urgência registados naqueles serviços em
janeiro e fevereiro de 2012, respetivamente.
Descrição do sistema
O sistema de informação dos serviços de urgência da região Norte permite o registo do motivo
da consulta segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID9-MC). Assim, sempre que o
médico observa um doente com síndrome gripal classifica o episódio com o código 487
daquela classificação.
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2.3 Resultados laboratoriais da pesquisa do vírus Influenza 2.3.1. Centro Hospitalar do Porto
Dados
Entre 14 de dezembro de 2011 e 5 de março de 2012 registaram-se 55 pedidos de pesquisa do
vírus Influenza no laboratório do Centro Hospitalar do Porto, 51 pedidos internos e 4 vindos do
exterior. Cerca de um terço dos pedidos foram positivos (34,5%). Em todos os resultados
positivos foi identificado o vírus Influenza A, e em dois daqueles casos foi identificado o vírus
A(H3). Do total de pedidos, 28 eram doentes do sexo feminino (51%) e 27 do sexo masculino
(49%). A maior parte dos resultados positivos registou-se no grupo etário das crianças com
menos de 10 anos de idade (Quadro 8).
Quadro 8 – Distribuição dos resultados dos pedidos de pesquisa do vírus Influenza por grupo etário e resultado. Laboratório do Centro Hospitalar do Porto (14 de dezembro 2011-5 de março 2012)
Grupo etário Positivo Negativo Total <10 11 19 30
10-19 1 4 5 20-39 0 2 2 40-59 2 5 7 > 60 3 3 6
Desconhecida 2 3 5 Total 19 36 55
Seis dos 55 doentes a quem foi feito o pedido de pesquisa do vírus Influenza estiveram
internados em Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), e destes apenas um doente teve
resultado positivo para o vírus Influenza A. À data em que os dados nos foram enviados não
tinha ocorrido nenhum óbito.
2.3.2. Centro Hospitalar de S. João
Dados
Entre 14 de janeiro de 2012 e 28 de fevereiro de 2012 registaram-se 29 resultados positivos
para pesquisa do vírus Influenza no laboratório do Centro Hospitalar de S. João, sendo 27
pedidos internos e dois externos. A distribuição por sexo indica um ligeiro predomínio do sexo
feminino: 17 versus 12 do sexo masculino. Dos 28 doentes em relação aos quais foi possível
calcular a idade, a maioria tinha 40 ou mais anos de idade (Quadro 9).
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Quadro 9 – Distribuição dos resultados positivos de pesquisa do vírus Influenza por grupo etário. Laboratório do Centro Hospitalar de S. João (14 de janeiro a 28 de fevereiro de 2012)
Grupo etário Número de doentes <10 1
10-19 0
20-39 4
40-59 9 > 60 14
Desconhecida 1 Total 29
Do total de 29 resultados positivos, em 28 foi identificado o vírus Influenza A e em apenas um
caso o vírus tipo B. A caraterização dos vírus Influenza A foi a seguinte: cinco A(H1)pdm09, 19
A(H3N2), um não subtipado e três resultados com subtipagem desconhecida.
Sete dos 29 doentes estiveram internados em UCI, seis com identificação do vírus Influenza A
(quatro H3N2 e dois com subtipagem ignorada) e um com vírus tipo B.
Descrição do sistema
Na região Norte há dois laboratórios que aderiram à RNLDG do INSA, o laboratório do Centro
Hospitalar do Porto e do Centro Hospitalar de S. João. A ARS Norte elaborou um ficheiro Excel
e solicitou aos laboratórios o envio semanal dos dados a partir da semana 40 de 2011. Os
dados recebidos no Departamento de Saúde Pública reportam-se apenas ao período desde o
início de 2012 e têm informação com formato e conteúdo diverso. Apesar da discrepância da
informação recebida consideramos que era pertinente incluí-la neste relatório.
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2.4 Mortalidade geral
Dados
Na figura 3 observa-se a evolução do número semanal de óbitos por todas as causas registados
na região Norte e em Portugal. Face ao atraso que pode ocorrer no registo dos óbitos nas
Conservatórias do Registo Civil, os valores observados nas duas últimas semanas ainda
poderão sofrer atualizações. Os dados apresentados indicam que tanto na região Norte como
em Portugal se verificou um aumento do número de óbitos a partir do final de 2011, aumento
esse que atingiu o seu pico na semana 8 de 2012.
Figura 3 – Número de óbitos registados por data do óbito em todas as conservatórias por semana em Portugal e na região Norte (semana 24 de 2009 a semana 9 de 2012, inclusive). Os valores relativos ao
período compreendido entre 1 e 10 de março de 2012 são, ainda, provisórios.
Na figura 4 observa-se a distribuição do número de óbitos por dia na região Norte durante o
período de 1 de outubro a 4 de março de cada uma das três épocas gripais mais recentes:
2009/2010, 2010/2011 e 2011/2012. Verifica-se que, a partir do início de janeiro de 2012,
ocorreu um número de óbitos superior ao registado nos dois anos anteriores.
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Figura 4 – Número de óbitos registados por dia e por data de ocorrência na região norte durante o
período de 1 de outubro a 4 de março de cada uma das três épocas gripais mais recentes. Os valores relativos ao período compreendido entre 1 e 4 de março de 2012 são, ainda, provisórios.
Restringindo a análise da mortalidade ao período entre 1 de janeiro e 4 de março de cada ano,
observa-se que, em 2012, ocorreram mais 1385 (22,0%) óbitos do que em igual período de
2011 e mais 1302 (20,4%) do que em igual período de 2010 (Quadro 10).
Quadro 10 – Número de óbitos registados por período de ocorrência na região Norte entre 1 de janeiro e 4 de março de 2010, 2011 e 2012 e respetiva variação percentual
Período 2010
Nº (variação % - referência 2012)
2011 Nº (variação % - referência 2012)
2012 Nº
1 - 7/01 652 (-14,1) 804 (+7,5) 744
8 - 14/01 719 (-7,4) 705 (-9,5) 772
15 - 21/01 639 (-30,4) 669 (-24,5) 833
22 - 28/01 672 (-10,4) 677 (-9,6) 742
29/01 - 4/02 732 (-11,7) 762 (-7,3) 818
5 - 11/02 686 (-36,2) 759 (-23,1) 934
12 – 18/02 738 (-34,1) 679 (-45,8) 990
19 – 25/02 755 (-28,3) 673 (-44,0) 969
26/02 - 4/03 701 (-25,1) 649 (-35,1) 877
Total 6294 (-22,0) 6377 (-20,4) 7679 Nota: Entre parêntesis aparece a variação percentual em relação ao período homólogo do ano de 2012.
O excesso de mortalidade registado em 2012 foi mais notório nos períodos de 15 a 21 de
janeiro e de 5 de fevereiro a 4 de março, tendo a maior variação ocorrido entre 5 e 18 de
fevereiro em relação ao ano de 2010 e entre 12 e 25 de fevereiro em relação ao ano de 2011.
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A não existência de dados de mortalidade por área de residência, sexo e grupo etário, impede
uma análise mais detalhada da situação.
Descrição do sistema
O Instituto Nacional de Saúde (INSA) Dr. Ricardo Jorge implementou um sistema de Vigilância
Diária da Mortalidade (VDM) em parceria com o Instituto dos Registos e do Notariado, de
forma a monitorizar diariamente a mortalidade da população portuguesa. O sistema VDM
monitoriza o número de registos de óbito nas Conservatórias do Registo Civil em Portugal. O
INSA envia à ARS Norte os dados relativos aos óbitos registados nas conservatórias da região.
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2.5 Situação nacional e europeia
De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge no
boletim de vigilância epidemiológica semanal, clínica e laboratorial de síndrome gripal (2),
relativo à semana 10 de 2012 (5 a 13 de março), a atividade gripal em Portugal foi considerada
alta, com tendência decrescente. O grupo etário dos 65 e mais anos registou a mais elevada
taxa de incidência de síndrome gripal. O vírus predominante era o Influenza A(H3), com registo
de alguns casos de gripe por vírus B. Não foram detetados vírus Influenza com resistência ao
oseltamivir e ao zanamivir. A mortalidade semanal registou um valor acima do esperado, mas
com tendência decrescente (pico de mortalidade atingido na semana 8).
De acordo com os dados publicados pelo ECDC (3), a época de gripe 2011/2012 teve o seu
início mais tarde do que é habitual, não se tendo verificado o padrão de progressão geográfica
característico (de Sul para Norte e de Oeste para Leste). A epidemia tem sido dominada pelo
vírus Influenza A(H3N2), verificando-se, no entanto, circulação de vírus B e de vírus
A(H1N1)pdm09. Apesar de existir alguma preocupação em relação à ocorrência de um drift
genético no vírus A(H3N2), a evidência científica disponível aconselha a manutenção da
disponibilização da vacina sazonal, principalmente para os grupos de risco (idosos, portadores
de doença crónica e profissionais de saúde). Não se tem registado pressão nos serviços de
saúde dos cuidados de saúde primários e apenas alguns países registam alguma pressão nos
hospitais. Os clínicos devem ser sensibilizados para a possibilidade de a gripe se poder
manifestar este ano, principalmente nos idosos, sob a forma de pneumonias e de patologia
cardiovascular e cerebrovascular. Vários países europeus registaram um aumento na
mortalidade por todas as causas, principalmente nos idosos. No entanto, a informação
disponível no momento não permite saber se aquele acréscimo é atribuível ao tempo frio, à
gripe ou a outras causas.
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3. Conclusões e comentário geral
Os dados apresentados neste relatório indicam que a atividade gripal na época 2011/2012 se
iniciou na região Norte, mais tardiamente do que em épocas anteriores e que o pico na
procura dos cuidados de saúde primários foi de maior magnitude do que em anos anteriores.
O mesmo não se poderá dizer em relação à procura dos serviços de urgência hospitalares por
síndrome gripal, a qual, mesmo na semana em que se verificou maior procura, ficou muito
aquém dos valores atingidos nas épocas de 2010/2011 e de 2009/2010. No entanto, deve ser
realçado que nem nos cuidados de saúde primários nem nas urgências hospitalares se
verificou um impacto significativo da gripe na procura de cuidados de saúde.
Em relação ao perfil etário dos doentes, não se verificam diferenças dignas de nota nos
cuidados de saúde primários quando comparado com anos anteriores, enquanto na procura
dos serviços de urgência se observa maior preponderância de idosos na atual época.
De realçar ainda que a letalidade global observada nos doentes que procuraram os serviços de
urgência foi mais elevada na época atual do que na anterior época de gripe (0,9% versus 0,4%).
Este achado pode permitir levantar a hipótese de que este acréscimo da letalidade por gripe
pode ter contribuído para o acréscimo de mortalidade por todas as causas verificado este ano,
o qual, em relação a igual período de anos anteriores, foi de cerca de 20%. Apesar de não
dispormos dos dados de mortalidade por todas as causas por grupo etário, a análise dos dados
de procura dos serviços de urgência por síndrome gripal, e o maior número de óbitos ocorrido
nos idosos, permite-nos admitir a hipótese de que o excesso de mortalidade global poderá ter
atingido principalmente os grupos etários mais velhos, podendo ser a gripe uma das causas
para esse aumento. A letalidade observada no grupo dos mais jovens, atrás descrita, pode
estar relacionada com a virulência dos vírus em circulação. Os dados laboratoriais, apesar de
muito escassos e heterogéneos, apontam para o predomínio de circulação do vírus Influenza
A(H3N2).
Duma forma geral, os dados apresentados neste relatório indicam que a atividade gripal está a
diminuir na região Norte, à semelhança do que se verifica em Portugal e nalguns países da
Europa Ocidental.
Porto, 16 de março de 2012
Departamento de Saúde Pública – Unidade de Vigilância Epidemiológica
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4. Referências bibliográficas
1 - Administração Regional de Saúde do Norte, I.P. Departamento de Saúde Pública. Unidade de Vigilância Epidemiológica. Gripe – Vigilância Epidemiológica. Região Norte – Semana 40 de 2010 a 20 de 2012. Disponível em http://portal.arsnorte.min-saude.pt/portal/page/portal/ARSNorte.
2 – Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Síndroma gripal. Vigilância epidemiológica semanal, clínica e laboratorial. Portugal, época 2011/2012. Semana 10 – de 05/05/2012 a 11/03/2012. Disponível em www.insa.pt. 3 – European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC). Risk assessment. Seasonal influenza 2011-2012 in Europe (EU/EEA countries), 9 March 2012. ECDC, Stockholm, 2012. Disponível em www.ecdc.europa.eu.