MODELAÇÃO DO MICROPITTING - Repositório Aberto · 4.2.3- Tensões normais e tangenciais...
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DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA E GESTÃO INDUSTRIAL
MODELAÇÃO DO MICROPITTING
NOS DENTES DE ENGRENAGENS
SANDRA MARIA MATIAS GONÇALVES
2006
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA E GESTÃO INDUSTRIAL
MODELAÇÃO DO MICROPITTING
NOS DENTES DE ENGRENAGENS
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA À FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM ENGENHARIA MECÂNICA
SANDRA MARIA MATIAS GONÇALVES
2006
Orientador:
Jorge H. O. Seabra
Professor Associado com Agregação
RESUMO
O principal objectivo deste trabalho é a modelação do micropitting nos dentes de
engrenagens.
Foi desenvolvido um modelo de lubrificação em regime de filme misto a partir das soluções
correspondentes a dois casos limite: a lubrificação em regime de filme limite e a lubrificação
em regime de filme completo. Este modelo calcula as pressões e as tensões de corte no
contacto entre os dentes duma engrenagem, considerando a rugosidade real das duas
superfícies e uma função de repartição de carga, a qual define as cargas parciais suportadas
pelos filmes limite e completo tendo em consideração a espessura específica do filme
lubrificante.
As distribuições de pressão e de tensão de corte no contacto são usadas para determinar o
campo de tensões instaladas na sub-superfície dos flancos dos dentes, às quais são
adicionadas as tensões residuais instaladas, resultantes dos tratamentos térmicos e mecânicos
de endurecimento superficial.
Conhecido o campo de tensões instalado e a sua variação ao longo de vários ciclos de
carregamento é possível avaliar o risco de iniciação de fendas de fadiga recorrendo ao critério
de dano acumulado de Dang Van.
O modelo desenvolvido foi usado para avaliar o risco de iniciação de fendas de fadiga em três
engrenagens rectificadas usando processos de maquinagem diferentes e em duas dessas
engrenagens após rodagem cuidadosa e vários milhões de ciclos de funcionamento. A
correlação entre as previsões do modelo e os resultados experimentais é excelente.
ABSTRACT
The main objective of this work is the modelling of micropitting in gear teeth.
A mixed film lubrication model was developed, based on the solutions of two limiting cases:
boundary film and full film lubrication. This model calculates the pressures and the shear
stresses in the contact between gears teeth, considering the real roughness of the teeth flanks
and a load share function, which establishes the partial loads supported by the boundary and
full films, taking in account the specific lubricant film thickness in the contact.
The pressure and shear stress distributions inside the contact are used to evaluate the stress
field applied in each point of the teeth flanks subsurface, to which the installed residual
stresses, generated by the thermal and mechanical surface hardening treatments, are added.
Knowing the stress field installed and its variation throughout the load cycles, it is possible to
evaluate the risk of fatigue crack initiation applying the Dang Van accumulated damage
criterion.
The model developed was used to evaluate the risk of fatigue crack initiation in gears
manufactured using three different surface finishing procedures and in two of these gears after
careful running-in and several millions of operating cycles. The correlation between the
model predictions and the experimental results is excellent.
SOMMAIRE
L'objectif principal de ce travail est la modélisation du micropitting sur les dents d’engrenage.
Un modèle de lubrification en filme mixte a été développé à partir des solutions
correspondantes à deux cas limités: la lubrification filme limite et en filme complet. Ce
modèle calcule les pressions normales et de cisaillement dans le contact entre les dents
d’engrenage, prenant en compte la rugosité réel des deux surfaces et d’une fonction de
répartition de la charge au contact, laquelle établi les charges partielles soutenues par les films
limite et complet à partir de l'épaisseur spécifique du film lubrifiant.
Les distributions de pressions normal et de cisaillement dans le contact sont employées pour
déterminer le champ des contraintes installé dans la sous-surface des flancs des dents,
lesquelles sont ajoutés aux contraintes résiduels installés, dues aux traitements thermiques et
mécaniques du durcissement superficiel.
Connaissant le champ de contraintes installées et sa variation au long des cycles de
chargement, il est possible d'évaluer le risque de amorçage de fissures appliquant le critère
des endommagements accumulés de Dang Van.
Le modèle développé a été employé pour évaluer le risque de amorçage de fissures
d’engrenages rectifiées par trois procédures différentes et en deux de ces engrenages après
rodage et quelques millions de cycles de fonctionnement. La corrélation entre les prévisions
du modèle et les résultats expérimentaux est excellente.
v
AGRADECIMENTOS
Este trabalho aborda a modelização dos mecanismos de fadiga dos flancos activos dos dentes
das engrenagens, e foi efectuado no âmbito do Curso de Doutoramento em Engenharia
Mecânica, ministrado pela FEUP, para a obtenção do grau de Doutor em Engenharia
Mecânica.
A realização deste trabalho só foi possível graças ao apoio e incentivo de pessoas e
identidades, às quais deixo aqui os meus mais sinceros agradecimentos.
- Ao Prof. Jorge Seabra, pelo apoio, acompanhamento, paciência e orientação em todas as
fases do trabalho.
- Ao Prof. Matos Almas, do Departamento de Engenharia Mecânica do Instituto Superior
Técnico, pela colaboração e apoio prestado.
- Ao Engº Jorge Castro, por ter disponibilizado o seu tempo, auxiliado e acompanhado ao
longo da realização desta dissertação.
- Aos Engºs Beatriz Graça, Armando Campos, Alexandre Sottomayor, Luís Magalhães,
Romain Barral, Ramiro Martins, João Neves, e tantos outros por toda a colaboração,
companheirismo e apoio prestado.
- À Aida, do secretariado do Departamento de Engenharia Mecânica por todo o auxílio que
me prestou.
- À minha família e todos meus amigos, por todo o apoio e incentivos.
- Aos meus queridos pais, por todo o amor e apoio e a quem devo tudo o que sou.
- Ao meu companheiro de jornada por todo o apoio prestado e a quem dedico também este
trabalho.
- Ao INEGI (Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial), por me ter dado a
oportunidade de realizar este trabalho, acolhendo-me nas suas instalações.
- À Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto por me ter concedido a honra de
realizar este Doutoramento.
- À JNICT (Junta Nacional de Investigação Científica) e ao programa PRAXIS XXI pelo
financiamento de uma bolsa de Doutoramento ao abrigo do projecto BD/15644/98
À minha linda sobrinha-afilhada (a “luz” dos meus olhos)
Aos meus pais, irmão e cunhada
Ao António.
PALAVRAS-CHAVE
Lubrificação Elastohidrodinâmica.
Lubrificação Mista.
Rugosidade.
Pressão Limite
Pressão EHDR.
Pressão Mista.
Tensão de corte Limite.
Tensão de corte EHDR
Tensão de corte Mista.
Riscos de fadiga.
KEYWORDS
Elastohydrodynamic lubrication.
Mixed lubrication.
Rugosity.
Limit pressure.
EHDR pressure.
Mixed pressure.
Limit Tangenctial stress.
EHDR Tangenctial stress.
Mixed Tangenctial stress.
Fatigue risks
MOTS-CLÉS
Lubrification elastohydrodynamic.
Lubrification mélangéé
rugosité
Pression Limit.
Pression EHDR
Pression mélangée
Contraites de cissaillement Limit.
Contraites de cissaillement EHDR.
Contraites de cissaillement melangée.
Risques d’amorçage
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................1
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................................9
AVARIA DE MICROPITTING EM ENGRENAGENS........................................................9
1.1- Introdução .........................................................................................................................9
1.2- Caracterização das avarias de micropitting em engrenagens .........................................10
1.2.1- Fadiga de Contacto ......................................................................................................11
1.2.1.1- O mecanismo de fadiga de contacto em engrenagens...............................................14
Pitting .......................................................................................................................................16
Spalling ....................................................................................................................................18
Micropitting .............................................................................................................................19
1.3- Parâmetros que influenciam o micropitting de uma engrenagem ..................................25
1.3.1- Influência das características dos materiais .................................................................25
1.3.1.1- Materiais para engrenagens.......................................................................................26
1.3.1.2- Defeitos oriundos dos processos de fabrico ..............................................................30
Superfícies geradas por arranque de apara............................................................................30
Superfícies rectificadas............................................................................................................30
1.3.1.3- Influência das tensões residuais ................................................................................32
1.3.1.4- Tratamentos mecânicos - Shot-peening ....................................................................32
1.3.2- Influência da lubrificação ............................................................................................33
1.3.2.1- Influência da viscosidade do óleo base .....................................................................37
1.3.2.2- Influência dos aditivos ..............................................................................................38
1.3.2.3- Influência do ambiente ..............................................................................................39
1.3.2.4- Influência da temperatura..........................................................................................39
1.3.2.5- Espessura específica do filme lubrificante ................................................................40
1.3.3- Influência das condições de funcionamento ................................................................45
1.3.3.1- Coeficiente de atrito ..................................................................................................46
1.3.4- Influência da macro e micro geometrias das superfícies .............................................47
1.3.4.1- Macro-geometria .......................................................................................................48
1.3.4.2- Micro-geometria........................................................................................................48
[ii] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Rugosidade .............................................................................................................................. 50
Influência da rugosidade na distribuição de pressão de contacto ..................................... 53
Influência da rugosidade na distribuição das tensões internas ......................................... 54
Influência da rugosidade sobre a lubrificação elastohidrodinâmica ................................ 55
Campo de tensões/ deformações ............................................................................................. 58
Superfície lisa.......................................................................................................................... 59
Superfície rugosa.................................................................................................................... 60
1.4- Sumário e conclusão ...................................................................................................... 61
CAPÍTULO 2 ......................................................................................................................... 65
PRESSÕES NORMAIS DE CONTACTO EM REGIME MISTO DE LUBRIFICAÇÃO
.................................................................................................................................................. 65
2.1- Introdução ...................................................................................................................... 65
2.2- Campo de pressões normais em contacto seco rugoso................................................... 67
2.2.1- Deformação elástica dos corpos em contacto.............................................................. 67
2.2.2- Contacto seco............................................................................................................... 69
2.2.2.1- Contacto seco liso ..................................................................................................... 71
2.2.2.2- Contacto seco rugoso (regime limite)....................................................................... 72
2.3- Campo de pressões e espessura do filme lubrificante em contacto EHD rugoso- Modelo
de Ai e Cheng........................................................................................................................... 75
2.3.1- Lubrificação em regime de filme completo................................................................. 75
2.3.1.1- Contacto linear elastohidrodinâmico ........................................................................ 77
Equação de Reynolds .............................................................................................................. 77
Geometria do filme lubrificante.............................................................................................. 79
Comportamento do lubrificante.............................................................................................. 80
Equilíbrio de forças no contacto ............................................................................................ 81
2.3.1.2- Contacto linear elastohidrodinâmico liso ................................................................. 82
Distribuição de pressão em contactos EHD lisos................................................................... 82
Espessura do filme lubrificante em contactos EHD lisos ..................................................... 83
2.3.1.3- Contacto linear elastohidrodinâmico rugoso ............................................................ 86
2.4- Campo de pressões em regime de lubrificação misto .................................................... 90
2.5- Repartição de carga- Função fΛ ...................................................................................... 95
2.5.1- Função fΛ generalizada................................................................................................ 97
2.5.2- Cálculo da função f(Λ,Vt) dependente da velocidade no primitivo da engrenagem ... 99
Índice [iii]
2.6- Campo de pressão normal em regime misto de lubrificação. Aplicação a uma superfície
real ......................................................................................................................................103
2.6.1- Perfil de rugosidade composto...................................................................................105
2.6.2- Campos de pressão EHD e seco rugosos ...................................................................108
2.6.3- Campos de pressões para lubrificação em regime misto ...........................................110
2.7- Sumário e conclusão .....................................................................................................112
CAPÍTULO 3 ........................................................................................................................115
TENSÕES TANGENCIAIS DE CONTACTO EM REGIME MISTO DE
LUBRIFICAÇÃO.................................................................................................................115
3.1- Introdução .....................................................................................................................115
3.2- Tensões de corte no filme lubrificante em regime de filme completo rugoso..............116
3.2.1- Comportamento reológico de um lubrificante ...........................................................116
3.2.2- Comportamento térmico ............................................................................................119
3.2.3- Curva de tracção do lubrificante ................................................................................121
3.2.4- Comportamentos não-newtonianos do lubrificante ...................................................123
3.2.5- Tensões de corte em regime de filme completo.........................................................126
3.2.5.1- Coeficiente de atrito ................................................................................................128
3.3- Tensões de corte em regime limite de lubrificação ......................................................132
3.4- Tensões de corte em regime misto de lubrificação.......................................................133
3.5- Campo de tensão tangencial (ou de corte) em regime misto de lubrificação. Aplicação a
uma superfície real. ................................................................................................................139
3.6- Sumário e conclusão .....................................................................................................144
CAPÍTULO 4 ........................................................................................................................147
TENSÕES NO INTERIOR DOS SÓLIDOS EM CONTACTO......................................147
4.1- Introdução .....................................................................................................................147
4.2- Tensões em semi-espaços elásticos ..............................................................................148
4.2.1- Força normal concentrada..........................................................................................150
4.2.2- Força tangencial concentrada.....................................................................................151
4.2.3- Tensões normais e tangenciais distribuídas na superfície..........................................152
4.2.4- Tensões tangencial máxima (τmax) e octaédrica (τoct) ............................................154
4.2.5- Tensões no interior de sólidos em contacto linear - caso particular dos contactos
Hertzianos...............................................................................................................................155
[iv] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
4.3- Modelo numérico ......................................................................................................... 158
4.3.1- Discretização da superfície do semi-espaço elástico................................................. 158
4.3.2- Algoritmo de cálculo ................................................................................................. 160
4.3.3- Distribuição de tensões no maciço – aplicação a uma superfície real...................... 161
4.4- Sumário e conclusão .................................................................................................... 166
CAPÍTULO 5 ....................................................................................................................... 167
TENSÕES RESIDUAIS ...................................................................................................... 167
5.1- Introdução .................................................................................................................... 167
5.2- Definição e origem das tensões residuais..................................................................... 168
5.2.1- Origem das tensões residuais .................................................................................... 168
5.2.2- Classificação das tensões residuais ........................................................................... 169
5.3- Tensões residuais de superfície .................................................................................... 173
5.4- Métodos de medição de tensões residuais.................................................................... 174
5.5- Relaxação das tensões residuais................................................................................... 176
5.5.1- Influência da natureza do material ............................................................................ 177
5.5.2- Influência da solicitação aplicada.............................................................................. 179
5.5.3- Influência do gradiente das tensões residuais............................................................ 180
5.5.4- Influência da temperatura .......................................................................................... 180
5.6- Influência das tensões residuais sobre os critérios de iniciação de fissuras de fadiga. 181
5.7- Perfis de tensões residuais em dentes de engrenagens................................................. 184
5.8- Sumário e conclusão .................................................................................................... 186
CAPÍTULO 6 ....................................................................................................................... 189
CRITÉRIO DE DANG-VAN .............................................................................................. 189
6.1- Introdução .................................................................................................................... 189
6.2- Conceito de vida infinita à fadiga ................................................................................ 193
6.3- Critérios de fadiga multiaxial....................................................................................... 194
6.3.1- Formulação de um critério multiaxial de fadiga........................................................ 195
6.3.2- Critérios de fadiga multiaxial .................................................................................... 200
6.3.2.1- Critério de Sines ..................................................................................................... 200
6.3.2.2- Critério de Crossland .............................................................................................. 202
6.3.2.3- Critério de Dang-Van ............................................................................................. 203
6.4- Aplicação do critério de Dang-Van.............................................................................. 211
Índice [v]
6.4.1- Determinação do ciclo de tensões superficiais ..........................................................216
6.4.2- Aplicação do critério de Dang-Van a uma superfície real .........................................219
6.5- Sumário e conclusão .....................................................................................................222
CAPÍTULO 7 ........................................................................................................................225
RESULTADOS DA MODELAÇÃO ..................................................................................225
7.1- Introdução .....................................................................................................................225
7.2- Parâmetros fundamentais na modelação do micropitting em engrenagens ..................226
7.2.1- Micro-geometria.........................................................................................................226
7.2.2- Lubrificação em regime misto ...................................................................................227
7.2.2.1- Espessura média corrigida do filme lubrificante.....................................................227
7.2.2.2- Pressão normal de contacto em regime misto .........................................................228
7.2.2.3- Pressão tangencial de contacto em regime misto ....................................................229
7.2.3- Tensões instaladas......................................................................................................230
7.2.4- Modelação local do critério de fadiga acumulada de Dang-Van e iniciação de fendas
de fadiga .................................................................................................................................232
7.3- Propriedades dos materiais e condições de funcionamento..........................................233
7.3.1- Propriedades dos materiais.........................................................................................233
7.3.2- Condições de funcionamento .....................................................................................234
7.4- Rugosidade e tensões residuais nos flancos dos dentes de engrenagens ......................235
7.4.1- Rugosidade dos flancos dos dentes de engrenagens ..................................................235
7.4.2- Tensões residuais nos flancos dos dentes de engrenagens.........................................237
7.5- Procedimento de cálculo...............................................................................................239
7.6- Resultados da modelação..............................................................................................240
7.6.1- Geometria do filme lubrificante.................................................................................240
7.6.2- Pressões de contacto...................................................................................................241
7.6.3- Tensões de corte.........................................................................................................245
7.6.4- Tensões no interior dos sólidos em contacto (para µLIM = 0.15) .............................253
7.6.5- Aplicação do Critério de Fadiga Multiaxial de Dang-Van ........................................260
7.6.6- Análise de alguns pontos de iniciação de fissuras de fadiga......................................272
7.7- Sumário e conclusão .....................................................................................................280
CONCLUSÃO.......................................................................................................................285
[vi] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................. 293
ANEXO A ............................................................................................................................. 319
A.1- Contacto Normal entre sólidos elásticos (Teoria de Hertz) ........................................ 319
A.1.1- Apresentação do problema de contacto normal seco................................................ 319
A.1.2- Hipóteses da teoria de Hertz ..................................................................................... 320
A.1.3- Semi-espaços elásticos ............................................................................................. 321
A.1.4- Modelo de contacto: geometria não deformada ....................................................... 322
A.1.5- - Modelo de contacto: geometria deformada ............................................................ 324
A.1.6- - Deslocamentos de pontos da superfície em contacto normal................................. 326
A.1.7- - A força normal transmitida .................................................................................... 326
ANEXO B ............................................................................................................................. 327
B.1- Parâmetros reológicos do lubrificante ...................................................................... 327
B.1.1- Viscosidade ........................................................................................................ 327
B.1.2- Outros parâmetros reológicos ............................................................................ 328
B.1.2.1- Módulo de corte transversal............................................................................328
B.1.2.2- Tensão de Ree-Eyring .....................................................................................329
B.1.2.3- Tensão limite...................................................................................................329
B.1.3- Outras propriedades físicas do lubrificante........................................................ 329
B.1.3.1- Condutibilidade térmica..................................................................................329
B.1.3.2- Densidade........................................................................................................330
B.1.3.3- Calor específico...............................................................................................331
B.1.4- Formulação do modelo viscoelásto-plástico com tensão limite......................... 331
B.1.4.1- Elasticidade.....................................................................................................331
B.1.4.2- Plasticidade – modelo de Bair e Winer...........................................................331
B.1.4.3- Viscoelasticidade plasticidade........................................................................332
B.1.4.4- Análise do comportamento do modelo viscoelástico plástico........................332
B.1.4.5- Velocidade de deformação..............................................................................334
B.1.4.6- Tensões tangenciais.........................................................................................335
B.1.5- Solução numérica do modelo viscoelasto plástico............................................. 337
ANEXO C ............................................................................................................................. 339
C.1- Comportamento Térmico de um contacto EHD em regime de filme completo .... 339
Índice [vii]
C.1.1- Equação da energia - caso geral .........................................................................340
C.1.1.1- Equação da energia para as superfícies ......................................................343
C.1.1.2- Equação da energia para o filme lubrificante .............................................346
C.1.2- Solução das equações de energia. Métodos numéricos ......................................351
C.1.2.1- Solução para a temperatura das superfícies................................................352
C.1.2.2- Solução para a temperatura no filme lubrificante.......................................354
C.2- Hipótese simplificativa proposta por Tevaarwerk..................................................357
C.2.1- Solução para a temperatura no plano de corte....................................................358
C.2.2- Determinação do fluxo de calor dissipado, dissipação interna e potência dissipada
por corte ............................................................................................................................359
C.2.2.1- - Fluxo de calor...........................................................................................359
C.2.2.2- Potência dissipada ......................................................................................360
C.2.2.3- Dissipação interna ......................................................................................360
C.2.3- Determinação do fluxo de calor dissipado, dissipação interna e potência dissipada
por corte ............................................................................................................................360
C.2.3.1- Fluxo de calor .............................................................................................360
C.2.3.2- Potência dissipada ......................................................................................361
C.2.3.3- Dissipação interna ......................................................................................361
C.2.4- Aquecimento no convergente .............................................................................362
ANEXO D..............................................................................................................................363
D.1- Utilização do modelo de cálculo das tensões de corte em regime de filme completo
para determinação dos parâmetros reológicos do lubrificante ...............................................363
[viii] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1.1 - Detalhe da superfície de um dente de uma engrenagem do tipo FZG-C em ADI austemperado a 260ºC que foi afectada por pitting na zona do primitivo de funcionamento (Pmax Hertz no primitivo = 1.4 GPa ) [125]. 12 Figura 1.2 - Vista da superfície de trabalho de uma engrenagem FZG-A de ADI austemperada a 280ºC, onde foi gerada uma cratera através de um processo de spalling associado a um defeito sub-superficial [125]. 13 Figura 1.3 - Sentido da velocidade de rolamento VR e da velocidade de escorregamento VS sobre o flanco de dois dentes de engrenagem: (a) no início do engrenamento, (b) sobre o primitivo onde VS=0 e (c) no fim do engrenamento. Na situação intermédia representam-se também as orientações preferenciais das fissuras de fadiga de contacto [316]. 15 Figura 1.4 - Orientação das fissuras superfíciais nos dentes de uma engrenagem [125]. 16 Figura 1.5 - Desenvolvimento de um micropit no caso de uma iniciação na superfície [339]. 16 Figura 1.6 - Mecanismo de propagação das fissuras superfíciais por acção do óleo lubrificante [125]. 17 Figura 1.7 - Propagação das fissuras no caso de uma iniciação profunda [125]. 18 Figura 1.8 - Evolução possível a partir de um micropit na superfície (x 400) [111]. 22 Figura 1.9 - Valores de resistência à fadiga de contacto e da dureza de diferentes materiais [217]. 28 Figura 1.10 - Comparação da resistência à fadiga de contacto de engrenagens fabricadas em diferentes materiais [217]. 29 Figura 1.11 - Curvas-limite de fadiga de contacto, em termos de tensão, obtidas para engrenagens fabricadas em aço e em ADI [217]. 29 Figura 1.12 - Esquema do mecanismo de propagação de fissuras por efeito da pressão hidráulica [304]. 36 Figura 1.13 - Contacto entre picos de rugosidade e esmagamento de partículas de grandes dimensões no interior do contacto como causa de fadiga de contacto [304]. 37
Índice [ix]
Figura 1.14- Variação Distribuição de pressão e da velocidade do fluido lubrificante no interior de um contacto elastohidrodinâmico [284]. 43 Figura 1.15 - Espessura específica crítica do filme lubrificante para engrenagens rectas ou helicoidais (Λc) vs velocidade tangencial da engrenagem (Vt) - (probabilidade de avaria = 5%) [169]. 44 Figura 1.16- Efeito da rugosidade na distribuição da pressão local, no interior do contacto [284]. 50 Figura 1.17- a) Rugosidade longitudinal; b) Rugosidade isotrópica; c) Rugosidade transversal [42]. 52 Figura 1.18- Zonas de influência da micro e da macrogeometria no caso de: (a) rugosidade longitudinal e (b) rugosidade transversal [26]. 53 Figura 1.19- Distribuição da pressão de contacto e das tensões internas no contacto rugoso lubrificado, em função das diferentes escalas consideradas: (a) D1, (b) D1+D2, (e) D1+D2+D3. Não se representa a influência da lubrificação elastohidrodinâmica [128]. 56 Figura 1.20 - Distribuição de tensões τmáx/P0 para um contacto hertziano linear liso [126]. 59 Figura 1.21 - Distribuição das tensões de corte τmáx/P0 e τxz/P0 no plano Z=0 do sólido [126]. 60 Figura 1.22 - Alterações induzidas ao campo de tensões τmáx pela presença de rugosidades na sub-superfícies Hertzianas [126]. 61 Figura 2.1 – Distribuição de pressão p(x) a actuar num semi-espaço elástico. 68 Figura 2.2- Contacto seco rugoso: campo de pressões e geometria deformada. 73 Figura 2.3 – Geometria não deformada e deformada de duas superfícies em contacto, liso ou rugoso (superfície S1). 74 Figura 2.4- Distribuição de pressão px para um contacto seco, liso ou rugoso (superfície S1). 74 Figura 2.5 –Equivalência do contacto entre dentes de uma engrenagem recta, o contacto entre dois cilindros e o contacto entre um cilindro e um plano. 78
[x] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Figura 2.6 –Geometria do filme lubrificante elastohidrodinâmico em regime de filme completo. 80 Figura 2.7 – Campo de pressão de Hertz, campo de pressão EHD e geometria do filme lubrificante (contacto EHD liso). 83 Figura 2.8 - Distribuição de pressão elastohidrodinâmica rugosa em regime de filme completo. 90 Figura 2.9- Determinação do campo de pressões de contacto em regime de lubrificação misto (0≤Λ≤2). 94 Figura 2.10- Funções de repartição da carga normal em regime de lubrificação misto. 95 Figura 2.11 - Curvas de Wellauer e Holloway [23, 328] correspondente a 5% e 80% de probabilidade de avaria. 96
Figura 2.12 - Curvas BarralfΛ e 1
1cf
bΛ =
⎛ ⎞+ ⎜ ⎟Λ⎝ ⎠
para os pontos particulares (0.46; 0.20) e (1;
0.95). 98 Figura 2.13 – Campo de pressões adimensional da superfície de série (S1) para cada uma das funções fΛ. 98 Figura 2.14 - Conjunto de pontos (Λ,fΛ) para várias velocidades tangenciais da engrenagem. 100 Figura 2.15 - Curvas f(Λ,Vt) e valores de fΛ obtidos com base na curva de avarias de Wellaueur e Holloway. 101 Figura 2.16 - Curvas f(Λ,Vt) para as várias velocidades e valores de f(Λ,Vt) obtidos com base na curva de avarias de Wellaueur e Holloway. 103 Figura 2.17 – Rugosímetro Hommelwerke T4000, com apalpador mecânico (absoluto). 103 Figura 2.18 – Obtenção da rugosidade composta 105 Figura 2.19 – Definição do perfil de rugosidade composta a partir dos perfis de rugosidade da roda e do pinhão da superfície de série (S1). 107 Figura 2.20 – Superfície composta não deformada. 107
Índice [xi]
Figura 2.21 – Contacto EHD rugoso. Superfície composta deformada. 108 Figura 2.22 – Campos de pressão de Hertz e EHDR para a superfície de série (S1), condições de referência. 109 Figura 2.23 – Campos de pressão de Hertz e seco rugoso (limite) para a superfície de série (S1), condições de referência. 109 Figura 2.24 – Campo de pressões em regime misto e da correspondente deformada do contacto para a superfície de série (S1), condições de referência. 111 Figura 2.25 – Campos de pressões nos regimes misto, EHDR e seco rugoso para a superfície de série (S1), condições de referência. 111 Figura 3.1 –Relação velocidade de deformação/tensões de corte segundo Newton [301]. 116 Figura 3.2 – Curva velocidade de deformação/tensões de corte para um fluido não Newtoniano [152]. 119 Figura 3.3 – Comportamento da viscosidade com a velocidade de deformação [177]. 119 Figura 3.4 – Curva de tracção de acordo com a teoria térmica de Crook [147]. 120 Figura 3.5 – Curva típica de variação do coeficiente de atrito com a taxa de escorregamento [301]. 122 Figura 3.6 – Curva de Stribeck [332]. 134 Figura 3.7 – Modelo utilizado para a obtenção dos campos de tensões de corte em regime misto de lubrificação. 139 Figura 3.8 – Campo de pressões normais PEHDR e geometria deformada da superfície de contacto HRDEF para a superfície de série (S1), condições de referência. 140 Figura 3.9 – Campo de tensão de corte τEHDR para a superfície de série (S1), condições de referência. 141 Figura 3.10 – Coeficiente de atrito local µEHDR para a superfície de série (S1), condições de referência. 141 Figura 3.11 – Campo de tensões de corte limite τLIM para a superfície de série (S1), condições de referência. 142
[xii] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Figura 3.12 – Campo de tensões de corte em regime misto τMIX para a superfície de série (S1), condições de referência. 143 Figura 3.13 – Campo de tensões de corte misto, EHDR e limite (seco) para a superfície de série (S1), condições de referência. 144 Figura 4.1- Semi-espaço elástico submetido a solicitações p(x) e q(x) distribuídas na superfície [61, 283]. 149 Figura 4.2- Semi-espaço elástico submetido a uma força concentrada P, distribuida ao longo dos eixos dos yy [61]. 150 Figura 4.3- Semi-espaço elástico submetido a uma força concentrada Q, distribuída ao longo dos eixos dos yy [61]. 152 Figura 4.4- Semi-espaço elástico submetido a solicitações p(s) e q(s) distribuídas na superfície [61]. 153 Figura 4.5- Distribuição da tensão tangencial máxima adimensional (τmax/p0) – contacto Hertziano linear - µ=0 e υ1=υ2=0.3 [61]. 156 Figura 4.6- Influência da força tangencial sobre: (a) as tensões principais; (b) as tensões de corte; (c) a tensão de corte octaédrica, no interior do sólido [284]. 157 Figura 4.7- Discretização da superfície do semi-espaço elástico [61]. 158 Figura 4.8- Distribuição da tensão de corte ortogonal (τxz/p0) adimensional para a superfície S1 e µLIM=0.1 e µ.LIM=0.15, respectivamente. 161 Figura 4.9- Distribuição das tensões principais adimensionais, (σ1/p0, σ2/p0, σ3/p0) para a superfície S1 e µLIM=0.1e µ.LIM=0.15, respectivamente. 162 Figura 4.10- Distribuição da tensão tangencial máxima adimensional, (τmax/p0), para a superfície de série (S1) e µ.LIM=0.1 e µLIM=0.15, respectivamente. 163 Figura 4.11- Distribuição da tensão octaédrica adimensional, (τoct/p0), para a superfície de série (S1) e µ.LIM=0.1 e µLIM=0.15, respectivamente. 164 Figura 5.1- Definição esquemática das tensões residuais de primeira, segunda e terceira ordem para um material monofásico [212]. 171
Índice [xiii]
Figura 5.2- Representação esquemática das diferentes ordens de tensões residuais, para um material bifásico [212] . 173 Figura 5.3- Esquema da origem e das consequências da relaxação das tensões residuais [214]. 178 Figura 5.4- Efeito do endurecimento e das tensões residuais de compressão, introduzidas pelos tratamentos superfíciais, sobre os critérios multiaxiais [26, 79, 214]. 182 Figura 5.5- Perfil das tensões residuais correspondentes a 3 acabamentos (e correspondentes rugosidades) superficiais diferentes dos dentes de engrenagens após fabrico. (a) longitudinal (σlong). (b) transversal (σtransv). 184 Figura 5.6- Riscos de iniciação de fendas de fadiga (micropitting) para a superfície S1, não considerando as tensões residuais (µLIM=0.15, α=0.827, β=500MPa). 185 Figura 5.7- Riscos de iniciação de fendas de fadiga (micropitting) para a superfície S1, considerando as tensões residuais (µLIM=0.15, α=0.827, β=500MPa). 185 Figura 6.1 - Formulação geral de um critério multiaxial de fadiga [26]. 197 Figura 6.2 -Representação de um critério multiaxial da forma .a hydpτ α β+ ≤ , onde τa é uma
amplitude de tensão de corte, phyd uma pressão hidrostática, e A e B são as constantes características do material (α e β) [26]. 199 Figura 6.3 - Representação gráfica do critério de Dang-Van. 203 Figura 6.4 -Critério de Dang-Van: domínio de segurança e trajecto de carregamento [26]. 206 Figura 6.5– Processo de determinação da tensão de corte local [26, 79]. 207 Figura 6.6 - Efeito combinado da presença de tensões residuais e de endurecimento superficial de um componente na representação de um ciclo de carregamento num diagrama de Dang-Van. 211 Figura 6.7 –Perfil das tensões residuais transversais para uma dada superfície. 213 Figura 6.8 –Gráfico de Dang-Van para dois ciclos diferentes. 214 Figura 6.9– Definição do risco de iniciação de fissuras de fadiga. 215 Figura 6.10– Orientação do referencial. 216
[xiv] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Figura 6.11 – Referencial de referência e sentido das velocidades. 217 Figura 6.12 –Efeito das tensões residuais de compressão sobre o ciclo Dang-Van. 218 Figura 6.13 – Perfil das tensões residuais, longitudinal e transversal. 219 Figura 6.14– Espectros das 3 superfícies para duas ordens de grandeza de comprimentos de onda. 220 Figura 6.15– Riscos de iniciação de fissuras para as 3 superfícies estudadas para µLIM=0.15 , considerando as tensões residuais e α=0.827 e β=827 MPa. 221 Figura 7.1 - Perfis de rugosidade das superfícies novas e usadas . 236 Figura 7.2 - Perfil das tensões residuais antes (a) e depois (b) dos ensaios de engrenagens, para os vários acabamentos de superfície. 238 Figura 7.3 - Geometria das superfícies lisa e rugosa, não deformadas. 242 Figura 7.4 - Geometria das superfícies lisa e rugosa, após deformação. 242 Figura 7.5 - Campo de pressões seco e de Ai e Cheng para as superfícies novas e usadas. 243 Figura 7.6- Campo de pressões em regime misto para as superfícies novas e usadas. 244 Figura 7.7- Tensões de corte em regime limite para as superfícies novas e usadas (µLIM=0.10). 247 Figura 7.8- Tensões de corte em regime de filme completo para as superfícies novas e usadas. 248 Figura 7.9- Tensões de corte em regime misto (µLIM = 0.05) para as superfícies novas e usadas. 249 Figura 7.10- Tensões de corte em regime misto (µLIM = 0.10) para as superfícies novas e usadas. 250 Figura 7.11- Tensões de corte em regime misto (µLIM = 0.15) para as superfícies novas e usadas. 251 Figura 7.12- Tensões de corte em regime misto (µLIM = 0.20) para as superfícies novas e usadas. 252
Índice [xv]
Figura 7.13- Tensão principal máxima adimensional (σ1/p0) no interior dos sólidos em contacto (µLIM=0.15). 255 Figura 7.14- Tensão principal mínima adimensional (σ3/p0) no interior dos sólidos em contacto (µLIM=0.15). 256 Figura 7.15- Tensão de corte ortogonal adimensional (τxz/p0) no interior dos sólidos em contacto (µLIM=0.15). 257 Figura 7.16- Tensão de corte máxima adimensional (τmax/p0) no interior dos sólidos em contacto (µLIM=0.15). 258 Figura 7.17- Tensão de corte octaédrica adimensional (τoct/p0) no interior dos sólidos em contacto (µLIM=0.15). 259 Figura 7.18- Nº de pontos de iniciação de fissuras de fadiga para as superfícies S1 e S2, na ausência de tensões residuais e para β igual a 500, 600 e 700 MPa. 262 Figura 7.19- Nº de pontos de iniciação de fissuras de fadiga para as superfícies S1 e S2, na presença de tensões residuais e para β igual a 500 e 600 MPa. 263 Figura 7.20- Nº de pontos de iniciação de fissuras de fadiga para as superfícies S1 e S2, para β igual a 500 MPa: Influência das tensões residuais. 263 Figura 7.21- Nº de pontos de iniciação de fissuras de fadiga para as superfícies S1 e S2, para µLIM igual a 0.20: Influência de β e das tensões residuais. 264 Figura 7.22- Zonas de iniciação de fissuras de fadiga (micropitting) segundo o critério de Dang-Van, considerando as tensões residuais instaladas (µLIM = 0.15, β = 500 MPa). 266 Figura 7.23- Zonas de iniciação de fissuras de fadiga (micropitting) segundo o critério de Dang-Van, não considerando as tensões residuais instaladas (µLIM=0.15, β=500MPa). 267 Figura 7.24- Zonas de iniciação de fissuras de fadiga (micropitting) segundo o critério de Dang-Van, considerando as tensões residuais instaladas (µLIM=0.15). 268 Figura 7.25- Zonas de iniciação de fissuras de fadiga (micropitting) segundo o critério de Dang-Van, não considerando as tensões residuais instaladas (µLIM=0.15). 269 Figura 7.26- Zonas de iniciação de fissuras de fadiga (micropitting) segundo o critério de Dang-Van, considerando as tensões residuais instaladas (β = 600 MPa). 270
[xvi] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Figura 7.27- Zonas de iniciação de fissuras de fadiga (micropitting) segundo o critério de Dang-Van, não considerando as tensões residuais instaladas (β = 600 MPa). 271 Figura 7.28- Diagramas de Dang-Van para o ponto x=172, z=1 da superfície de série (S1): a vermelho- ciclo de Dang-Van não considerando as tensões residuais, a azul- ciclo de Dang-Van considerando as tensões residuais (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa). 273 Figura 7.29- Diagrama de Dang-Van para o ponto x=304, z=1 da superfície rectificada (S2) : a vermelho- ciclo de Dang-Van não considerando as tensões residuais, a azul- ciclo de Dang-Van considerando as tensões residuais (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa). 273 Figura 7.30- Histórico das tensões σx, σy, σz e τxz para o ponto x=172, z=1 da superfície de série (S1), considerando ou não a inclusão das tensões residuais (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa). 274 Figura 7.31- Histórico das tensões σx, σy, σz e τxz para o ponto x=304, z=1 da superfície rectificada (S2), considerando ou não a inclusão das tensões residuais (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa). 274 Figura 7.32- Rugosidade e campo de pressões e de tensões tangenciais misto para o ponto x=172, z=1 da superfície de série (S1) (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa). 275 Figura 7.33- Rugosidade e campo de pressões e tensões tangenciais misto para o ponto x=304, z=1 da superfície rectificada (S2) (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa). 276 Figura 7.34- Matriz que contém os valores de τ + αPhyd para cada uma das orientações do plano, para o ponto x=172, z=1 da superfície de série (S1) (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa). 278 Figura 7.35- Matriz que contém os valores de τ + αPhyd para cada uma das orientações do plano, para o ponto x=304, z=1 da superfície rectificada (S2) (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa). 278 Figura 7.36- Planos críticos no espaço, no plano XY e no plano XZ, para o ponto x=172, z=1 da superfície de série (S1) (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa). 279 Figura 7.37- Planos críticos no espaço, no plano XY e no plano XZ, para o ponto x=304, z=1 da superfície rectificada (S2) (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa) . 279 Figura A.1 – Representação esquemática de dois sólidos em contacto seco [301]. 319 Figura A.2 – Superfície do corpo 1 deformada e as pressões normais aplicadas [301]. 321
Índice [xvii]
Figura A.3 – Raios principais de curvatura e geometria não deformada do corpo 1 [301]. 322 Figura A.4 – A deformação dos corpos elásticos num contacto puramente normal [301]. 324 Figura B.1 – Variação da tensão de corte no filme lubrificante com o aumento da tensão limite [301]. 334 Figura C.1 – Equivalente térmico do contacto Hertziano idealizado com fluxo de calor e distribuição de temperaturas diferentes no filme lubrificante e nos sólidos. [301] 344 Figura C.2 – Contacto idealizado com espessura de filme lubrificante constante a separar os dois sólidos [301]. 348 Figura C.3 – Localização do plano de corte. [301] 351 Figura C.4 – Faixa central do contacto e fonte de calor genérica qj [301] 352
ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1.1- Micro-deteriorações da superfície [124, 125]. 24 Tabela 1.2- Comparação Aço/ADI [115, 217, 248] 27 Tabela 1.3- Rugosidade dos flancos dos dentes de engrenagens em função do processo de fabrico [284]. 51 Tabela 2.1 – Valores dos pontos (Λ;fΛ) para as várias velocidades. 99 Tabela 2.2 –Valores dos parâmetros b e c em função da velocidade. 100
Tabela 2.3 – Valores de f(Λ) obtidos através da função 1
1cf
bΛ =
⎛ ⎞+ ⎜ ⎟Λ⎝ ⎠
e valores de f(Λ)
obtidos 101
Tabela 4.1- Influência do coeficiente de atrito (µLIM) sobre o valor das tensões no interior da superfície S1. 165
[xviii] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Tabela 5.1 – Técnicas para a determinação experimental de tensões residuais [210-214]. 176 Tabela 6.1 – Relação entre os parâmetros do critério e tensões limite de fadiga [26]. 209 Tabela 6.2 – Parâmetros de rugosidade para as três superfícies. 219 Tabela 7.1 – Propriedades dos materiais 234 Tabela 7.2 – Propriedades físicas e reológicas do lubrificante. 234 Tabela 7.3 – Condições de funcionamento 235 Tabela 7.4 – Parâmetros de rugosidade e valores de Λ e fΛ para as superfícies analisadas. 236 Tabela 7.5 – Tensões residuais antes e após os ensaios de fadiga de engrenagens. 238
NOMENCLATURA
a - semi-largura do contacto
ampi - amplitude da componente i do perfil de rugosidade
Ai - parâmetro adimensional (Ai=ampi/h0)
Aijkl(P,M) - tensor localização elástica
b1, b2 - larguras do contacto respectivamente à esquerda e à direita do ponto de referência
b, c - constantes da função de repartição de carga fΛ
C1, C2, C3 - constantes da função de repartição de carga f(Λ, Vt)
CS - factor auxiliar do parâmetro do lubrificante Lp (relativo à taxa de escorregamento)
E - módulo de Young
E’ - módulo de Young equivalente
Eij(M,t) - tensor das deformações macroscópico
fΛ - função de repartição de carga normal
fΛBarral - função de repartição de carga normal obtida por R. Barral
fΛCastro - função de repartição de carga normal obtida por Castro
fΛZhu - função de repartição de carga normal para contactos pontuais obtida por Zhu
Fn - força normal
FnEHD - componente da carga normal em contacto EHD (ou em filme completo)
FnLIM - componente da carga normal em contacto seco (ou limite)
Ft - força tangencial
Ft - força transmitida (= Fn)
FtEHD - componente da carga tangencial em contacto EHD (ou em filme completo)
FtLIM - componente da carga tangencial em contacto seco (ou limite)
[xx] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
gΛ - função de repartição da carga tangencial derivada de fΛ
G - módulo de corte transversal do lubrificante
G0 - valor de referência do módulo de corte transversal do lubrificante
G - parâmetro material
h - geometria deformada (eq. Reynolds)
h0 - espessura do filme lubrificante no centro do contacto
h0C - espessura corrigida do filme lubrificante no centro do contacto
hmin - espessura do filme lubrificante minima
hmr - espessura média do filme lubrificante contacto rugoso
h0r - espessura do filme lubrificante corrigida de um factor térmico e de rugosidade
H0 - geometria não deformada do contacto
HRDEF - geometria deformada rugosa do contacto
HRMIXDEF - geometria deformada rugosa do contacto (em regime misto de lubrificação)
K0 - condutibilidade térmica do lubrificante à temperatura do banho de óleo
- comprimento do contacto (contactos lineares)
i - comprimento de onda da componente i do perfil de rugosidade
L - parâmetro do lubrificante
Li - parâmetro adimensional (Li= i/b)
Lp - parâmetro do lubrificante
mx - número de pontos da discretização do contacto
M - binário aplicado
Ox, Oy, Oz - sistema de coordenadas cartezianas
Or, Oθ, Oz - sistema de coordenadas cilíndricas
p - campo de pressão genérico
pLIM - campo de pressão do contacto seco ou limite
p0 - pressão máxima de Hertz
p(s) - campo de pressão genérico no contacto
px - campo de pressão no contacto seco liso
pH - campo de pressão de Hertz no contacto
pEHDR - campo de pressão do contacto em filme completo (regime elastohidrodinâmico)
pMIX - campo de pressão do contacto misto
phyd - pressão hidrostática
phydmax- pressão hidrostática máxima
Nomenclatura [xxi]
phydmed - pressão hidrostática média
Q - ponto sobre o plano de contacto
q(s) - campo de tensão tangencial genérico no contacto
Ra - rugosidade média aritmética
Raeq - rugosidade média equivalente: eq
a a1 a 21R (R R )2
= +
Rq - rugosidade média quadrática (RMS)
RqC - rugosidade média Rms da superfície composta (ou equivalente) não deformada
Req - raio de curvatura equivalente: 1
x1 x2eq
x1 x2 x1 x2
R .R1 1RR R R R
−⎛ ⎞
= + =⎜ ⎟ +⎝ ⎠
Rx - raio de curvatura na direcção de rolamento (ou direcção Ox)
Ry - raio de curvatura na direcção Oy
R[σ, β, α] - risco de iniciação de fissuras de fadiga segundo o Critério de Dang-Van
RT - desvio pico-vale máximo
RZ - média das 5 partes iguais dodesvio pico-vale máximo
s - variável sobre a área de contacto
s - expoente da temperatura na equação de Roelands
S1- superfície de série
S2 - superfície rectificada
S3 - superfície super-rectificada
T0 - temperatura do banho de óleo
t- tempo
T - periodo
TR - tensão residual
Cu - diferença dos deslocamentos no centro do contacto (para x=0)
z1u , z2u - deslocamento normal (direcção Oz) da superfície 1 e 2 respectivamente
zu - soma dos deslocamentos das superfícies em contacto
U - parâmetro velocidade
U1, U2 - velocidades lineraes na direcção do rolamento das superfícies 1 e 2 respectivamente
UM - velocidade média: 1 2M
U UU2+
=
Ve - taxa de escorregamento
VR - velocidade de rolamento
VS - velocidade de escorregamento
V(M) - volume
[xxii] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
v - velocidade tangencial de referência
Vt - velocidade tangencial
W - carga específica: nFW =
W - factor carga
x - abcissa sobre o perfil de rugosidade, abcissa sobre o campo de pressão no contacto e
eixo coincidente com a direcção de rolamento
y - eixo perpendicular à direcção de rolamento no plano de contacto
z - eixo perpendicular ao plano de contacto
z - expoente da pressão na equação de Roelands
α - coeficiente genérico de variação com a pressão
α, αη - coeficiente de piezoviscosidade
α0 - coeficiente de piezoviscosidade à temperatura do banho de óleo
αG - valor de referência para o expoente da influência da pressão no módulo de corte do
lubrificante
αn - ângulo de pressão
ατ - valor de referência para o expoente da influência da pressão na tensão limite do
lubrificante
αwt - ângulo de pressão de funcionamento
αη*P - expoente da variação da viscosidade com a pressão e temperatura (expressão de
Roelands)
αΘ - expoente do parâmetro reológico genérico de variação com a pressão
α, β - parâmetros da recta de Dang-Van
β - coeficiente genérico de variação com a temperatura
βG - valor de referência para o expoente da influência da temperatura no módulo de corte
do lubrificante
β0 - coeficiente de termoviscosidade à temperatura do banho de óleo
βτ - valor de referência para o expoente da influência da temperatura na tensão limite do
lubrificante
βη - coeficiente de termoviscosidade
βp - coeficiente de expansão térmica
δ - aproximação global dos sólidos em contacto
δPx - variação do campo de pressão em contacto EHD rugoso relativamente ao campo de
pressão de Hertz
∆x - discretização da superfície em Ox, passo da medida de rugosidade, discretização dos
Nomenclatura [xxiii]
campos de pressão e de tensão de corte em Ox
∆a - declive médio do perfil
∆q - rms dos declives do perfil
ε - deformação
φi - fase da componente i do perfil de rugosidade
φT - factor de correcção térmica da espessura média do filme
φr - factor de correcção da espessura do filme devido à rugosidade
γ - expoente para os critérios baseados em PV
γe - deformação elástica
γ - velocidade de deformação do lubrificante
eγ - velocidade de deformação elástica
η - viscosidade dinâmica
ηaparente - viscosidade aparente
η0 - viscosidade dinâmica à temperatura do banho de óleo (ou de referência)
ηM - viscosidade dinâmica à temperatura de massa (TM)
λ - espessura específica do filme lubrificante (não corrigida): 0
C
hλ =
σ
λ - comprimento de onda
Λ - espessura específica do filme lubrificante: 0 T
C
h φΛ =
σ
ΛC - espessura específica crítica (probabilidade de avaria genérica de 5%)
Coeficiente de atrito:
µ - coeficiente de atrito local
µi - coeficiente de atrito médio no contcto
µ - coeficiente de atrito médio ao longo da linha de engrenamento
EHDR – em regime elastohidrodinâmico rugoso
* - resultante de carga parcial
MIX – em regime misto
LIM – em regime limite. LIMµ = LIMµ = LIMiµ
σ − tensão
σr − tensão de ruptura à tracção
σR , σRES − tensão residual
σRm
- microtensões residuais
σy - tensão de cedência
[xxiv] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
σij(P,M,t) - tensor tensões locais
[σpel] - campo de tensões elástico
[σpres] - campo de tensões residuais
Σij(M,t) - tensor tensões macroscópico
ν - coeficiente de poisson
ν0 - viscosidade cinemática do lubrificante à temperatura do banho de óleo
ρ0 - massa específica do lubrificante à temperatura do banho de óleo
τ - tensão de corte no lubrificante
τ - velocidade de aplicação da tensão de corte
τL - tensão limite do lubrificante
τL0 - valor de referência para a tensão limite do lubrificante
τRE - tensão de referência de Ree-Eyring MIXmaxτ - valor máximo da tensão de corte no interior do contacto em regime misto
MIXiτ - valor médio da tensão de corte no interior do contacto em regime misto
τEHDR - campo de tensão de corte do contacto elastohidrodinâmico rugoso (EHDR)
τLIM - campo de tensão de corte do contacto seco ou limite
τMIX - campo de tensão de corte do contacto em regime de lubrificação misto
τxz - tensão de corte ortogonal
τmax - tensão de corte máxima
τoct - tensão de corte octaédrica
ω - rotações da roda (= rotações do motor)
ϖx - função auxiliar de compatibilidade entre zona de alta pressão e zona de pressão nula
índices:
i:
superfícies 1 , 2 e 3
engrenagens: 1 para o pinhão e 2 para a roda
ponto da linha de engrenamento (n pontos)
componente da transformada de fourier
j - ponto do interior do contacto (mx pontos)
0 - valores de referência normalmente relativos à pressão atmosférica e à temperatura do
banho de óleo
Nomenclatura [xxv]
Abreviaturas:
HRC - dureza do material
EHD - elastohidrodinâmico
EHDR -elastohidrodinâmico rugoso
EHL - Lubrificação elastohidrodinâmica
FFT - transformada de Fourier
ADI - austempered ductile iron
MAX – máximo
MIN - mínimo
[xxvi] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
INTRODUÇÃO
As engrenagens são orgãos de máquinas largamente difundidos, aplicados nos mais variados
tipos de componentes, nomeadamente em transmissões mecânicas usadas em automóveis,
helicópteros e outras máquinas. O seu estudo envolve particularidades associadas quer à
própria geometria das engrenagens quer aos materiais, às suas características de resistência
mecânica e de desgaste superficial, bem como às condições de trabalho que lhe são impostas,
necessariamente contemplando as solicitações em serviço e a lubrificação praticada, aspectos
estes que, de uma forma geral, condicionam as condições de contacto entre os dentes das
engrenagens. O estudo destes fenómenos tem conduzido a desenvolvimentos em vários
domínios científicos e tecnológicos, tais como a lubrificação, os revestimentos de superfícies,
os tratamentos térmicos e mecânicos dos materiais e a sua própria concepção metalúrgica.
São vários os factores limitativos da vida útil de uma engrenagem, assumindo particular
destaque três tipos característicos de avarias de superfície: o desgaste excessivo, a gripagem e
a fadiga de contacto [124, 125, 217, 248, 330].
A fadiga dos flancos activos dos dentes de uma engrenagem traduz-se numa degradação
progressiva da geometria dos flancos, acompanhada de um aumento progressivo dos níveis de
vibração e ruído, que pode conduzir à ruína da engrenagem.
[2/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
São vários os parâmetros que influenciam o comportamento à fadiga de contacto: a geometria
e a micro-geometria das superfícies, o material, o lubrificante, as condições de
funcionamento, ... , e embora se trate de um tipo de degradação superficial muito corrente, os
métodos de previsão actuais ainda não conseguem traduzir a influência de todos estes
parâmetros.
É frequente distinguirem-se dois grandes tipos de avarias de fadiga de contacto. Uma,
normalmente associada à formação de escamas ou spalls, é considerada uma avaria de fadiga
profunda, essencialmente dependente das propriedades dos materiais, da pressão de contacto e
das tensões intaladas em profundidade, cuja iniciação se supõe ligada à existência de
inclusões no material (spalling). A segunda forma de avaria de fadiga de contacto está
associada à formação de micro-escamas ou micropits, é considerada uma avaria de fadiga
superficial, onde, para além das propriedades dos materiais e das pressões de contacto,
assumem uma particular influência vários outros parâmetros, tais como, a rugosidade
superficial, a espessura do filme lubrificante, as propriedades mecânicas das camadas
superficiais dos materiais tratados e até a cinemática local em termos de rolamento e
escorregamento. Este segundo tipo de avaria de fadiga de contacto, normalmente designada
por micropitting nas engrenagens, atinge apenas as camadas superficiais dos flancos activos
dos dentes, sendo fortemente dependente da interacção entre a rugosidade e a espessura do
filme lubrificante. A evolução do micropitting tende a conduzir as superfícies a um estado de
deterioração mais grave, usualmente designado por pitting.
O trabalho desenvolvido é dedicado à modelação da avaria de micropitting em engrenagens.
As leis e as boas práticas de concepção actualmente usadas pelos projectistas para prever a
vida à fadiga dos flancos activos de uma engrenagem são baseadas na teoria de “Lundberg e
Palmgren” [207, 258] desenvolvida nos anos quarenta, a qual prevê uma vida finita que
depende da máxima tensão de corte que ocorre no contacto, da profundidade a que actua essa
tensão, e do volume de material que a suporta. Esta teoria tem sofrido sucessivas melhorias ao
longo dos anos através da introdução de factores que pretendem representar a influência dos
vários parâmetros de funcionamento, como sucede com os modelos de Tallian, Ioannides-
Harris e Dang-Van [93-96].
Introdução [3/366]
Apesar disso, ainda são numerosas as discrepâncias entre a teoria e as aplicações correntes,
existindo uma ambiguidade notável entre os vários critérios de decisão, nomeadamente no
que respeita à aplicabilidade de muitos dos factores que condicionam os resultados. Este
aspecto tem importância em qualquer dos modelos de previsão de ocorrência de avarias em
engrenagens actualmente disponíveis, sobretudo aqueles que permitem antever as avarias que
são devidas aos mecanismos de fadiga de contacto.
Além deste aspecto, tem-se assistido ao aparecimento e desenvolvimento de várias
tecnologias, quer ao nível dos tratamentos superficiais dos dentes das engrenagens (térmicos,
de endurecimento, de revestimento, de implantação iónica, etc.) quer ao nível dos materiais e
dos lubrificantes, que introduzem variáveis que não são tidas em conta pelos modelos
tradicionais que prevêem a vida útil à fadiga de contacto destes componentes.
O diferencial entre a evolução dos processos tecnológicos e o aperfeiçoamento dos modelos
teóricos que avaliam a “performance” das engrenagens actuais impõe, cada vez mais, uma
actualização efectiva das teorias que caracterizam as condições tribológicas do contacto entre
dentes de engrenagens.
Neste trabalho desenvolveu-se uma modelação numérica do mecanismo de micropitting dos
flancos activos dos dentes de engrenagens, tendo como principal objectivo uma melhor
previsão da iniciação de fendas de fadiga na superfície e sub-superfície Hertzianas. Para tal
são analisados varios aspectos considerados muito relevantes na avaria de micropitting:
I. Contacto entre os dentes de uma engrenagem
Determinação das pressões normais e tangenciais em cada ponto da superfície de contacto
entre os flancos activos dos dentes da engrenagem, em função das condições de
funcionamento (binário aplicado, frequência de rotação, temperatura, ...), do comportamento
reológico do lubrificante e da rugosidade dos flancos. Tal implica a consideração de um
modelo de lubrificação em Regime de Filme Misto, em que as solicitações (normal e
tangencial) são suportadas, em simultâneo, pelo filme elastohidrodinâmico rugoso (Regime de
Filme Completo) e pela interacção directa entre os picos de rugosidade dos flancos (Regime
de Filme Limite).
[4/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
II. Tensões instaladas na sub-camada Hertziana
Determinação do tensor das tensões, instalado em cada ponto da sub-camada hertziana, e ao
longo da linha de engrenamento, em função das pressões normais e tangenciais e das
propriedades elásticas do material da engrenagem. Inclusão do perfil de tensões residuais,
instaladas na superfície e sub-superfície Hertzianas, resultantes dos tratamentos térmicos
(carbonitruração, ...) e/ou mecânicos (shot-peening, ...) a que são submetidas as engrenagens.
Pode, ainda, ser relevante ter em consideração o eventual relaxamento das tensões residuais
provocado pelo trabalho mecânico e temperaturas a que estão submetidos os flancos durante
os vários milhares de ciclos de funcionamento da engrenagem.
III. Modelização dos critérios de fadiga acumulada e de inicialização de fissuras de fadiga
Determinação do dano acumulado na superfície e sub-superfície Hertzianas recorrendo a um
modelo de fadiga multiaxial, dada a complexidade do estado de tensão triaxial a que está
submetido o material na zona de contacto. Tal implica a modelação do critério de fadiga
acumulada de Dang-Van, considerando o tensor das tensões induzidas e o tensor das tensões
residuais e o seu eventual relaxamento durante o funcionamento da engrenagem, quer nos
flancos quer na sub-camada Hertziana, e também ao longo da linha de engrenamento, já que a
avaria de micropitting ocorre preferencialmente numa zona que se estende por alguns
milímetros abaixo do circulo primitivo do pinhão. Pode, também, ser importante conhecer
com precisão as propriedades mecânicas das camadas tratadas (térmica e/ou mecanicamente)
da superfície e sub-superfície Hertzianas, as quais têm uma influência significativa no dano
de fadiga acumulado e na vida útil dos flancos.
IV. Correlação com resultados experimentais
A correlação dos resultados da modelação com resultados experimentais de micropitting em
engrenagens ou discos, ainda que apenas qualitativa; é imprescindível para definir com rigor
os vários factores intervenientes no modelo, nomeadamente, o coeficiente de atrito limite, a
função de repartição de carga, os vários tipos de acabamento superficial dos flancos e as
propriedades mecânicas características das zonas tratadas dos flancos dos dentes da
engrenagem. Para tal, a probabilidade de iniciação de fendas de fadiga conducentes à avaria
de micropitting é correlacionada com a rugosidade dos flancos de 3 engrenagens rectificadas
Introdução [5/366]
por processos diferentes, com valores típicos do coeficiente de atrito limite e com valores
característicos das propriedades mecânicas das camadas superficiais carbonitruradas.
O modelo de micropitting arquitetado e desenvolvido procura responder a este conjunto de
requisitos com o objectivo de atingir uma previsão da iniciação de fendas de fadiga na
superfície e sub-superfície Hertzianas o mais correcta possível. O trabalho realizado para
atingir o objectivo enunciado é apresentado ao longo de sete capítulos, onde as várias etapas
do modelo de micropitting em engrenagens são detalhadas.
Dado que o objecto de estudo deste trabalho é a fadiga superficial (micropitting) dos flancos
activos dos dentes de engrenagens, e sendo esta uma das avarias de superfície mais frequentes
em engrenagens, a qual condiciona de forma decisiva a vida útil da mesma, o Capítulo 1 é
dedicado à caracterização dos vários tipos de avarias de fadiga de contacto e à sua iniciação e
propagação. Foi realizada uma sintese bibliográfica sobre os parâmetros que influenciam a
vida à fadiga de contacto/micropitting de uma engrenagem, nomeadamente, as condições de
funcionamento, os materiais usados e os processos de fabrico actuais, a lubrificação e a
geometria e micro-geometria das superfícies.
O Capítulo 2 apresenta a modelação da pressão de contacto normal em regime misto. A
rugosidade composta das superfícies dos flancos dos dentes em contacto é calculada a partir
da análise de Fourier da rugosidade de cada um dos flancos, guardando as amplitudes e os
comprimentos de onda mais significativas de cada superfície. O modelo de Ai e Cheng [2-4] é
usado para determinar do campo de pressões de um contacto elastohidrodinâmico rugoso em
regime de filme completo (Λ ≥ 2, limite inferior das pressões) e a teoria de Hertz é usada para
determinar o campo de pressões em contacto seco rugoso, o qual é considerado semelhante ao
campo de pressões em regime de filme limite (Λ → 0, limite superior das pressões). As
pressões de contacto em regime de filme misto são determinadas a partir dos casos limite
inferior e superior, recorrendo a uma função de repartição da carga. São apresentadas várias
funções de repartição da carga, sendo desenvolvida uma função dependente da espessura
específica do filme lubrificante, da velocidade tangencial da engrenagem e da probabilidade
de avaria determinada experimentalmente em ensaios de engrenagens.
No Capítulo 3 é desenvolvido um modelo de cálculo das pressões de contacto tangencias, ou
tensões de corte à superfície, em regime de filme misto. Inicialmente, as tensões de corte são
[6/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
determinadas em regime de filme completo, recorrendo a um modelo de lubrificação
elastohidrodinâmico térmico e não-Newtoniano desenvolvido por Sottomayor [301], e em
regime limite, multiplicando directamente as pressões normais limite por um coeficiente de
atrito limite (Lei de Coulomb). À semelhança do que acontece no caso das pressões normais,
as tensões de corte em regime misto resultam da combinação das tensões de corte em regime
de filme completo e em regime limite, através de uma função de repartição da carga
tangencial, a qual depende da própria função de repartição da carga normal.
Uma vez calculado o campo de pressões, normais e tangenciais, é possivel determinar as
tensões provocadas por estas solicitações no maciço. O Capítulo 4 é, portanto, dedicado às
tensões no interior dos sólidos em contacto, sendo efectuada de uma forma sintética, a
descrição das várias etapas do algoritmo de cálculo das tensões no interior de um semi-espaço
elástico.
Todos os processos de fabrico de engrenagens introduzem tensões residuais que podem
conduzir tanto a uma redução como a um aumento significativo da resistência à fadiga de
contacto dos flancos dos dentes. A introdução voluntária dessas mesmas tensões residuais é
mesmo um dos meios mais eficazes para melhorar a resistência à fadiga de componentes e
estruturas. Assim, no Capítulo 5 é apresentada uma breve descrição destas tensões residuais, a
sua origem, classificação e relaxação e, ainda, a sua influência sobre os critérios de iniciação
de fissuras de fadiga.
No caso de uma solicitação de fadiga multiaxial, o critério de Dang-Van permite antever os
locais onde preferencialmente pode ocorrer a iniciação de fissuras de fadiga de contacto, as
quais estão na origem do micropitting. O Capítulo 6 é dedicado à modelação do critério de
Dang-Van para acções de contacto, para além de uma breve descrição de vários outros
critérios alternativos de fadiga multiaxial.
O Capítulo 7 e último, é dedicado à análise dos resultados da aplicação do modelo de
micropitting às superficies dos flancos dos dentes estudadas. É apresentada uma breve
descrição das condições de funcionamento e das superfícies estudadas. São calculadas as
pressões de contacto, normais e tangenciais, em regime misto, as quais são utilizadas na
determinação do campo de tensões no interior dos sólidos em contacto, tomando em
consideração as tensões residuais instaladas nos flancos dos dentes devidas aos tratamentos
Introdução [7/366]
térmicos e mecânicos sofridos pelas engrenagens. Conhecido o campo de tensões é aplicado
um critério de fadiga acumulada, neste caso o critério de Dang-Van, que permite avaliar a
probabilidade de iniciação de fissuras de fadiga. Essa probabilidade é relacionada com a
rugosidade de várias engrenagens rectificadas por 3 processos diferentes e com vários valores
do coeficiente de atrito limite e da tensão equivalente admitida pelo material.
Finalmente, são apresentadas as conclusões gerais do trabalho realizado e as principais linhas
de desenvolvimento futuro.
[8/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
CAPÍTULO 1
AVARIA DE MICROPITTING EM ENGRENAGENS
1.1- Introdução
As avarias de fadiga de contacto ocorrem devido à propagação lenta de fissuras provocada
por tensões aplicadas ciclicamente à engrenagem.
A fadiga de contacto pode ocorrer na superfície ou em profundidade, e aparentemente trata-se
de uma avaria causada pela aplicação repetida de ciclos de tensão/deformação a um pequeno
volume de material, provocando a sua falha. Este dano por fadiga pode iniciar-se devido a um
defeito superfícial, uma inclusão, um carboneto, rugosidades ou indentação, ataque químico
pontual ou contaminação do lubrificante.
A vida útil de corpos rolantes submetidos a contactos hertzianos em regime de lubrificação
elastohidrodinâmica, é assim muitas vezes limitada pelo aparecimento à superfície de
pequenos defeitos provocados por fenómenos de fadiga de contacto. A fadiga dos flancos
activos dos dentes de engrenagens traduz-se numa degradação progressiva da geometria dos
flancos, acompanhada de um aumento progressivo dos níveis de vibração e ruído, que pode
conduzir à ruína da engrenagem.
São inúmeros os parâmetros que influenciam o comportamento à fadiga nos contactos
elastohidrodinâmicos: geometria e micro-geometria das superfícies, características dos
materiais, lubrificantes, condições de funcionamento, entre outros, e embora se trate de um
[10/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
tipo de degradação superficial muito corrente, os métodos de previsão actuais ainda não
conseguem traduzir a influência de todos estes parâmetros.
O presente capítulo constitui uma resenha bibliográfica sobre a caracterização das avarias de
micropitting em engrenagens e respectivos parâmetros que influenciam a vida à fadiga de
contacto de uma engrenagem.
1.2- Caracterização das avarias de micropitting em
engrenagens
As avarias de micropitting em engrenagens são devidas a mecanismos de fadiga de contacto e
à consequente propagação lenta de micro-fissuras nos flancos activos dos dentes em resultado
das tensões aplicadas ciclicamente à engrenagem. Para que ocorra a propagação de fissuras é
necessário que o valor das tensões aplicadas seja superior a um determinado valor
intrinsecamente ligado às propriedades mecânicas do material, nomeadamente à sua tensão de
rotura. No entanto, a existência de defeitos ou inclusões no seio do material são factores
concentradores de tensão capazes de favorecer a propagação das fissuras mesmo quando a
carga aplicada ao dentado da engrenagem tenderia a induzir tensões internas relativamente
baixas.
A fadiga de contacto conduz ao aparecimento de micropits, pits ou spalls (micro-escamas ou
escamas) nas superfícies dos sólidos em contacto elastohidrodinâmico, em especial nas zonas
submetidas a escorregamentos e cargas moderadas. Este tipo de avarias caracterizam-se por
períodos de incubação bastante longos, da ordem dos milhões ou mesmo das dezenas de
milhões de ciclos e correlacionam-se directamente com os valores da rugosidade, sobretudo
no caso do micropitting. Se a carga e/ou o escorregamento forem elevados podem surgir
outros tipos de avarias, nomeadamente gripagem ou desgaste excessivo, antes que estejam
reunidas as condições para que ocorra a fadiga de contacto.
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [11/366]
1.2.1- Fadiga de Contacto
A fadiga de contacto ocorre entre duas superfícies que contactam entre si e estão animadas de
movimento relativo com transferência de carga. O movimento relativo das superfícies pode
ser de simples rolamento ou de rolamento e escorregamento combinados (situação mais
desfavorável). Este mecanismo de avaria também se designa por fadiga de rolamento (rolling
contact fatigue) ou por fadiga superficial (surface fatigue).
A fadiga de contacto em rolamento e escorregamento combinados pode afectar o desempenho
de numerosos mecanismos, tais como engrenagens, rolamentos de rolos e de esferas, rodas e
carris das vias férreas, cames etc. Desde o trabalho pioneiro de Way [326], vários
investigadores têm estudado o assunto sob diferentes pontos de vista. Nenhuma teoria
conclusiva foi no entanto estabelecida, dada a complexidade do fenómeno que é afectado por
factores como as tensões de contacto [207, 228], a espessura específica do filme lubrificante
[97, 202], a topografia das superfícies e as interacções entre picos de rugosidade [174, 327,
343], as tensões residuais [84, 164, 241, 254], as tensões superficiais de tracção [297] e as
impurezas e não homogeneidade dos materiais [297].
A análise da literatura sobre o fenómeno da fadiga de contacto, permite verificar que não
existe uma terminologia ou nomenclatura bem definida ou uniforme sobre o assunto, podendo
os termos usados variar de acordo com as preferências de cada autor e com o domínio de
aplicação industrial considerado. Os termos micropicagem (frosting, micropitting), picagem
(pitting) e escamação (spalling) são usados por alguns autores [7, 91, 264, 323, 330] para
designar diferentes graus da degradação por fadiga de contacto. Neste texto o termo
micropitting será utilizado para designar o processo de degradação por fadiga de contacto à
escala dos picos de rugosidade, isto é, à escala microscópica e com origem superficial,
distinguindo-se do termo spalling que consiste na fadiga de contacto Hertziana à escala
macroscópica e de origem sub-superficial.
O micropitting é um processo de degradação superficial, consistindo na formação de
pequenos micropits ou micro-escamas pouco profundos ( 10 µm a 20 µm) na superfície de
contacto, com diâmetros individuais que em geral não ultrapassam os 100 µm, como se
mostra na Figura 1.1. O spalling é uma forma de degradação por fadiga de contacto mais
[12/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
extensa, que se distingue do micropitting pela suas maiores dimensões à superfície e em
profundidade, envolvendo a criação de spalls ou crateras com diâmetros que podem atingir
vários milímetros e com profundidades que podem variar entre os 100 µm e alguns
milímetros, como se mostra na Figura 1.2. O pitting pode resultar do desenvolvimento ou
agravamento da avaria de micropitting, originando escamas de maiores dimensões, devido à
continuação em funcionamento do contacto.
A fadiga de contacto origina diversas formas de deterioração da superfície, e as fissuras de
fadiga podem ter origem na própria superfície ou no interior do material, usualmente à
profundidade onde ocorrem as tensões de corte máximas. A fadiga de contacto é, assim, a
responsável pelo aparecimento do microppiting, pitting, do spalling e de outras formas de
destruição das superfícies (ver Figuras 1.1 e 1.2).
Figura 1.1 - Detalhe da superfície de um dente de uma engrenagem do tipo FZG-C em ADI austemperado
a 260ºC que foi afectada por pitting na zona do primitivo de funcionamento (Pmax Hertz no primitivo = 1.4 GPa ) [125].
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [13/366]
Figura 1.2 - Vista da superfície de trabalho de uma engrenagem FZG-A de ADI austemperada a 280ºC,
onde foi gerada uma cratera através de um processo de spalling associado a um defeito
sub-superficial [125].
A fadiga de contacto resulta da aplicação de tensões cíclicas sobre a superfície e a sub-
superfície dos flancos activos dos dentes das engrenagens. As modificações progressivas do
estado de tensão/deformação do material ocorrem de cada vez que é excedido o valor limite
de endurance das tensões que o material pode suportar [125]. Como em todos os fenómenos
de fadiga, este tipo de deterioração caracteriza-se por periodos de incubação bastante longos,
da ordem das dezenas de milhões de ciclos, não ocorrendo nunca de forma instantânea.
Ao contrário dos fenómenos de desgaste, este tipo de avaria ocorre em engrenagens bem
lubrificadas (com óleo ou massa). O aspecto dos dentes e a evolução do processo dependem
sobretudo do estado superficial dos flancos activos dos dentes, dos tratamentos térmicos
impostos à engrenagem (e, consequentemente, da espessura da camada superficial
endurecida) e da geometria dos perfis em contacto (que impôem diferentes valores das taxas
de escorregamento e das pressões máximas no contacto).
Segundo R. A. Harding [91, 125, 356], existem actualmente dois mecanismos para explicar
concretamente como se inícia a avaria de fadiga de contacto, o primeiro em que a iniciação de
fissuras ocorre à superfície e deve-se ou a tensões tangenciais provocadas por efeito do atrito
ou à grande concentração de tensões que se verifica localizadamente em zonas das superfícies
contendo rugosidades, e o segundo em que as fissuras têm origem imediatamente abaixo da
[14/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
superfície, na zona onde ocorre a máxima tensão de corte e na presença de defeitos do
material (inclusões, etc..), mecanismo explicado pela teoria do contacto de Hertz e que se
quantifica, por exemplo, na análise do carregamento elástico de dois cilindros em contacto.
Em ambos os mecanismos os defeitos localizados (inclusões, rugosidades, etc.) actuam como
elementos concentradores de tensões, que na presença do campo de tensões resultantes do
contacto em regime misto de lubrificação geram as condições necessárias para que a iniciação
de fissuras se processe de forma mais rápida.
Alguns autores [7, 91, 264, 323, 330] consideram que o óleo lubrificante se introduz nestas
fissuras e, durante a passagem dessa zona pelo contacto, esse óleo é fortemente comprimido
no seu interior, provocando a sua propagação.
A fadiga de contacto envolve a consideração de múltiplos parâmetros mecânicos associados
aos sólidos em contacto e ao lubrificante (rugosidade, propriedades elásticas dos materiais,
carga, velocidade, escorregamento, viscosidade , espessura de filme, ...), químicos (natureza
dos óleos, aditivos,...) e metalúrgicos (tratamentos térmicos, inclusões, distribuição e
densidade de defeitos,...). Todo este processo contribui para que a vida à fadiga de um
componente seja aleatória. E por esta e outras razões é difícil não abordar a fadiga de forma
estatística.
1.2.1.1- O mecanismo de fadiga de contacto em engrenagens
O pitting e o spalling originados por fadiga de contacto, são geralmente atribuídos à passagem
repetida de um campo de tensões Hertzianas através do mesmo volume de material,
principalmente em condições de rolamento com escorregamento moderado, para as quais
outros tipos de deterioração concorrentes (gripagem, desgaste excessivo) têm menor
probabilidade de ocorrer.
Analise-se o movimento relativo de dois dentes de engrenagem em contacto [160, 316]. Na
roda mandante o engrenamento inicia-se no pé e termina na cabeça do dente, enquanto que na
roda mandada ele processa-se em sentido contrário. O sentido de rolamento é dado pelo
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [15/366]
sentido da progressão do contacto, sendo o mesmo para todas as posições sobre um mesmo
dente. Pelo contrário, o deslizamento apresenta sentidos opostos consoante o ponto de
contacto se encontra acima ou abaixo do diâmetro primitivo de funcionamento. Sobre a roda
mandada o sentido da velocidade de deslizamento aponta sempre para o primitivo, enquanto
sobre a roda mandante ela apresenta o sentido inverso. A sua intensidade é nula sobre o
primitivo, aumentando com a distância ao primitivo.
Na Figura 1.3 representam-se esquematicamente dois flancos dos dentes em contacto, no
início, sobre o primitivo e no fim do engrenamento. Verifica-se que a situação de
deslizamento negativo ocorre sempre na zona entre o pé do dente e o diâmetro primitivo,
tanto para a roda mandante, como para a roda mandada [67, 158, 160, 316]. Os resultados
experimentais mostram que esta é a situação mais favorável ao aparecimento e
desenvolvimento da deterioração superficial, sendo predominantes nessas zonas as avarias de
fadiga de contacto. Os sentidos das velocidades de rolamento e de escorregamento são
diferentes na roda mandante e na roda mandada, o que influencia a orientação predominante
das fissuras superficiais nos flancos dos dentes dos dois componentes. Na zona abaixo do
primitivo as fissuras orientam-se preferencialmente na direcção da cabeça do dente sobre a
roda mandante e na direcção do pé do dente sobre a roda mandada, como se representa
esquematicamente na Figura 1.4. Para materiais de resistência comparável a deterioração
atinge com maior frequência o pinhão mandante, devido ao seu menor número de dentes e,
consequentemente, maior número de contactos relativamente à roda.
Figura 1.3 - Sentido da velocidade de rolamento VR e da velocidade de escorregamento VS sobre o flanco
de dois dentes de engrenagem: (a) no início do engrenamento, (b) sobre o primitivo onde
VS=0 e (c) no fim do engrenamento. Na situação intermédia representam-se também as
orientações preferenciais das fissuras de fadiga de contacto [316].
[16/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Figura 1.4 - Orientação das fissuras superfíciais nos dentes de uma engrenagem [125].
Pitting
Quando as tensões de contacto se desenvolvem junto à superfície, o primeiro estágio de
deterioração consiste frequentemente no aparecimento de pitting de pequenas dimensões (10
a 20 µm de profundidade) como se mostra na Figura 1.5. Estes pits estão relacionadas com a
propagação de micro-fissuras da superfície para o interior do dente, com uma orientação que
depende do sentido da velocidade de escorregamento entre os dentes da engrenagem.
Figura 1.5 - Desenvolvimento de um micropit no caso de uma iniciação na superfície [339].
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [17/366]
Figura 1.6 - Mecanismo de propagação das fissuras superfíciais por acção do óleo lubrificante [125].
Estes pits não se formam na ausência de um filme lubrificante. De facto, a retenção de óleo no
interior de uma dada microfissura tende a causar a sua propagação quando submetida a alta
pressão durante os instantes em que o contacto ocorre sobre a zona fissurada. Essa pressão é
imposta ao fundo da cavidade da fissura original e cessa com a ejecção do óleo no final do
período de contacto. A repetição sucessiva deste processo faz com que o metal entre a fissura
e a superfície seja progressivamente eliminado, dando origem ao pitting. Na Figura 1.6 está
esquematizado o mecanismo de propagação das fissuras superfíciais, devido à compressão do
lubrificante no interior da fissura.
O pitting desenvolve-se à superfície e ocorre para carregamentos muito elevados próximos de
2 GPa, podendo, no entanto surgir também em contactos pouco carregados [31, 32]. O
aparecimento de pitting pode ser devido à interacção entre rugosidades, para o qual
contribuem a
• espessura de filme lubrificante insuficiente,
• excessiva rugosidade das superfícies,
• existência de partículas de grandes dimensões no lubrificante.
Este fenómeno também é possível que suceda por efeito da evolução em profundidade do
micropitting e as suas crateras, formadas de forma semelhante às crateras do micropitting,
distinguem-se destas últimas por apresentarem tamanhos e profundidades nitidamente
superiores (diâmetros entre 0.3 e 2 mm e profundidades geralmente superiores a 0.1 mm).
[18/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Spalling
Um outro tipo de fissuras tende a desenvolver-se na camada sub-superficial onde ocorrem os
valores máximos da tensão de corte. Estas propagam-se paralelamente à superfície e, quando
atingem dimensões consideráveis, podem fazer com que o material acima da fissura se liberte
da superfície provocando uma cratera de bordos vivos, diferente das criadas por efeito da
retenção do óleo [125]. Um tal desenvolvimento está representado na Figura 1.7.
Figura 1.7 - Propagação das fissuras no caso de uma iniciação profunda [125].
Estas fissuras têm frequentemente origem em inclusões não metálicas e ocorrem nas zonas de
rolamento com pequeno escorregamento,isto é, zonas onde a carga é normalmente suportada
por um só dente (o que provoca pressões de contacto maiores e consequentemente maiores
tensões de corte no interior do contacto) e zonas em que a máxima tensão de corte ocorre em
profundidade e atinge valores consideráveis, e onde não há condições para a iniciação
superfícial.
Os aços que sofreram tratamentos de endurecimento superficial podem ver arrancadas
grandes porções de material da superfície, sobretudo quando a espessura da zona endurecida é
inferior à profundidade a que ocorrem as máximas tensões de corte geradas pelo contacto
Hertziano. Esta é uma forma de degradação grave das superfícies.
Assim, podem distinguir-se os seguintes dois tipos de avarias de fadiga de contacto [91, 125,
356]:
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [19/366]
• pitting que se inícia a partir da superfície, originando deteriorações da superfície
de pequena profundidade ou pits; que se desenvolvem na sua superfície -
deteriorações profundas;
• spalling que se inícia em profundidade a partir de defeitos do material originando
deteriorações de grande profundidade designadas por spalls.
Micropitting
Os micropits (crateras superficiais microscópicas) ocorrem nos flancos dos dentes da
engrenagem, desenvolvem-se a partir da superfície, podendo apresentar tamanhos diversos. O
aparecimento deste tipo de falha resulta da conjugação de vários factores, nomeadamente, as
rugosidades superficiais, as pressões de contacto locais e o tipo de material e os tratamentos
térmicos que sofreu (que condicionam a dureza superficial).
O micropitting é uma forma particular de pitting, caracterizada pelo tamanho microscópico
das crateras superficiais ( 10 a 25 µm de extensão e 10 a 20 µm de profundidade). Esta forma
de pitting é característica das engrenagens endurecidas superficialmente e rectificadas. Ocorre
nas zonas mais carregadas dos flancos dos dentes e tende a propagar-se por mecanismos de
fadiga, conduzindo à formação e libertação de pequenas escamas superfíciais de material. As
zonas afectadas adquirem um aspecto baço acinzentado e revelam o desaparecimento de
vestígios das marcas de rectificação [7, 125, 330, 356].
Este fenómeno também se manifesta pelo aparecimento de manchas cinzentas localizadas em
apenas algumas zonas dos flancos activos dos dentes, nos casos em que as pressões de
contacto são relativamente baixas. Tal deve-se ao facto de apenas ocorrerem sobrecargas nas
zonas mais salientes dos flancos de trabalho.
As micro-crateras distribuem-se de forma generalizada quando se impõem pressões de
contacto elevadas nos flancos dos dentes. Quando as pressões de contacto são excessivas, a
influência do lubrificante não é capaz, por si só, de impedir o desenvolvimento deste
fenómeno. Embora este mecanismo de desgaste não seja, em geral, destrutivo, pode ocasionar
[20/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
problemas dinâmicos sensíveis no funcionamento de engrenagens de alta velocidade,
assistindo-se a um desgaste progressivo do perfil dos dentes na zona imediatamente abaixo
do primitivo. A evolução do micropitting tende a conduzir as superfícies a um estado de
deterioração mais grave, usualmente designado por pitting.
Distinguem-se, assim, duas variantes características de micropitting [124, 125]:
- As micro-crateras apresentam uma distribuição regular em banda entre o primitivo e
o pé do dente, e surgem apenas após um certo tempo de funcionamento da
engrenagem. São devidas à imposição de valores excessivos da pressão superficial,
podendo ser evitadas diminuindo a carga imposta, ou minimizadas através do
aumento da espessura do filme lubrificante ou da diminuição da rugosidade dos
flancos.
- As manchas cinzentas localizadas de forma aleatória, sobretudo nas zonas dos
flancos onde a carga é mais elevada, devem-se a uma lubrificação deficiente,
resultante de uma espessura de filme demasiado pequena ou de uma rugosidade
superficial elevada.
A selecção de um lubrificante contendo aditivos de extrema-pressão (EP) e um aumento da
espessura do filme lubrificante permitem atenuar gradualmente este fenómeno fazendo-o
desaparecer lentamente durante o funcionamento.
Para designar este tipo de deterioração encontram-se por vezes na literatura anglo-saxónica os
seguintes termos: micropitting, frosting, gray stainning, micro-spalling.
No caso do frosting ou gray staining a deterioração apresenta-se sob o aspecto de manchas
cinzentas ou difusas (taches grises), contrastando com a superfície polida do metal e
repartindo-se de modo bastante irregular sobre a superfície de contacto. Essas manchas
aparecem sobre as zonas mais solicitadas, sendo o seu desenvolvimento bastante influenciado
pelos erros de geometria dos perfis e pelas características do lubrificante onde a acção
amortecedora será limitada em presença dos pequenos excessos de matéria, devido às ligeiras
imperfeições de fabrico. A evolução deste tipo de degradação pode ser interrompida através
do aumento da espessura do filme lubrificante, que vai permitir uma melhor repartição da
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [21/366]
pressão de contacto e a consequente diminuição dos seus valores máximos. No caso particular
das engrenagens este tipo de degradação pode não se generalizar a todos os dentes.
No caso do micropitting a deterioração apresenta-se também sob a forma de manchas
cinzentas ou difusas (taches grises), mas que são agora muito mais densas. Este fenómeno
apresenta em geral uma evolução progressiva, conduzindo à formação permanente de
pequenas escamas. No caso das engrenagens este tipo de degradação dispõe-se regularmente
sobre todos os dentes, afectando parte do flanco activo abaixo do diâmetro primitivo e
terminando bruscamente no ponto mais baixo de engrenamento [111].
Logo, uma das diferenças entre frosting e o micropitting (ou micro-escamas) reside na
densidade das picadas, que é essencialmente função da pressão superficial suportada. No caso
do frosting essa pressão é relativamente mais baixa, o que explica que este tipo de
deterioração se desenvolva apenas nas zonas em que haja excesso de matéria e que possa ser
eliminado aumentando a viscosidade do lubrificante. No caso do micropitting a pressão
superficial é bastante mais elevada, o que explica a distribuição mais regular da deterioração,
menos sensível aos erros geométricos e à influência do lubrificante. Segundo Faure [124,
125], o lubrificante influencia a rapidez de desenvolvimento do micropitting e a sua evolução,
assim como o aspecto das "taches grises", mas não evita o desenvolvimento da
microescamação. Este tipo de deterioração desenvolve-se em camadas cuja espessura não
ultrapassa em geral os 20 µm, não evoluindo necessariamente para uma escamação mais
profunda.
A Figura 1.8 representa a evolução possível de uma micro-escama (micropit) que após ter
sido iniciada a uma profundidade de 20 µm se propaga para o interior do material até atingir
uma profundidade de 150 µm.
[22/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Figura 1.8 - Evolução possível a partir de um micropit na superfície (x 400) [111].
Segundo Tallian [125, 307, 310], o processo de formação dos micropits pode dividir-se em
três etapas sucessivas, envolvendo a formação de (i) áreas lustrosas (glazed) na superfície de
contacto, (ii) micro-fissuras à escala dos picos da rugosidade, e (iii) micro-escamas à escala
das asperezas da rugosidade. Quando duas superfícies são predominantemente solicitadas em
contacto de rolamento com lubrificação, os correspondentes picos da rugosidade aproximam-
se uns dos outros numa direcção próxima da normal à superfície. Para os contactos entre
picos das rugosidades nos quais a variação da tensão de corte excede um determinado limite,
dependente das características do material, dá-se início ao seguinte processo:
i) Dois tipos de deformação plástica (monótona e alternada) têm lugar ao nível dos
picos de rugosidade. A deformação plástica monótona ocorre no início da
solicitação cíclica, levando ao alisamento dos picos de rugosidade e dando à
superfície um aspecto progressivamente mais lustroso. O material da superfície e da
sub-superfície encontra-se agora bastante encruado, Por sua vez, a deformação
plástica alternada origina modificações estruturais à escala dos picos de rugosidade,
qualitativamente semelhantes às originadas pelas tensões Hertzianas à escala
macroscópica.
ii) Com a continuação da solicitação, a microplastificação cíclica vai originar uma
deterioração progressiva do material da superfície e da sub-superfície, levando à
formação de micro-fissuras. Estas tendem a progredir paralelamente à superfície, a
profundidades comparáveis às das tensões de corte máximas devidas aos contactos
entre rugosidades, podendo ou não atingir a superfície.
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [23/366]
iii) À medida que as micro-fissuras crescem em tamanho e em número, a superfície vai
sendo minada à escala dos picos de rugosidade, dando origem à formação de
numerosos micropits.
As duas variáveis dominantes com influência sobre este fenómeno são a espessura específica
do filme lubrificante e a microgeometria da superfície (amplitude e curvatura dos picos de
rugosidade). Para espessuras específicas do filme lubrificante suficientemente elevadas não se
observa o aparecimento de micropitting, uma vez que o filme lubrificante evita o
desenvolvimento de microtensões de contacto elevadas na interacção entre os picos de
rugosidade. Para valores de espessura específica superiores a 2, não ocorrerá micropitting
generalizado da superfície de contacto, uma vez que estatisticamente as sobretensões locais
devidas à rugosidade são desprezáveis. Pode, no entanto, ocorrer micropitting localizado nas
zonas onde a rugosidade seja elevada, relativamente à média da superfície, ou nas zonas em
que haja uma diminuição localizada da espessura do filme lubrificante, originada, por
exemplo, por um defeito superficial [91, 124, 125, 356].
Após formados, os micropits podem desaparecer, estacionar ou evoluir para outras formas de
deterioração, podendo promover a iniciação de pitting na ausência de defeitos superficiais
pré-existentes. A rapidez com que o micropitting pode evoluir para o pitting varia bastante,
sendo o factor mais influente a existência de tensões tangenciais de tracção nas superfícies em
contacto. Se essas tensões forem elevadas, o que pode resultar de velocidades de
escorregamento importantes, de uma espessura de filme lubrificante pequena relativamente à
rugosidade, ou de uma lubrificação em regime limite pouco eficiente, o pitting pode
desenvolver-se a partir do micropitting e levar rapidamente à ruína dos flancos dos dentes.
Observa-se, no entanto, que a abundante micro-fissuração que caracteriza o estado avançado
de micropitting, não dá necessariamente origem a um pitting tão importante como seria de
esperar, se todas as micro-fissuras se propagassem de modo a formar fissuras macroscópicas e
os correspondentes pits. Vários autores [34, 307, 308] explicam este facto pela dificuldade de
propagação da micro-fissuração em profundidade, devido à existência entre a zona de micro-
fissuração e a zona de tensões de corte máximas, de uma região com tensões de corte
insuficientes para induzir a propagação das micro-fissuras (quiescent zone). Este será o caso
quando as tensões tangenciais na superfície de contacto forem pequenas.
[24/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
No caso de não se dar o aparecimento posterior dos pits, o micropitting pode dar origem ao
desgaste da superfície, gerando muitas pequenas partículas (delamination wear). Este tipo de
dano tende a aparecer com uma certa periodicidade: depois da superfície inicial ter sido
removida, a superfície torna-se lisa e polida durante algum tempo, e o processo repete-se,
levando à perda das tolerâncias dimensionais e à consequente ruína do flanco do dente.
A avaria de micropitting parece estar intimamemte relacionada com a espessura específica do
filme lubrificante Λ.
A Tabela 1.1 resume os diferentes tipos de dano que é possivel encontrar nos flancos activos
dos dentes de engrenagens, assim como alguns conselhos de ordem prática.
Tabela 1.1- Micro-deteriorações da superfície [124, 125].
Micro-deteriorações da superfície (Engrenagens tratadas superficialmente)
- Frosting
- Gray staining Micropitting
Dimensões e aspecto
Abundância de micropits de 10 a 25 µm de extensão e de 10 a 20 µm de profundidade.
Localização e extensão
- Localização e extensão irregular. - Zonas onde a carga é mais elevada. - Zonas onde existe excesso de matéria. - Podem aparecer muito cedo na vida de
uma engrenagem.
- Distribuição regular ao longo da largura do dente na zona compreendida entre os círculos de deddendum e o primitivo.
- Só aparece ao fim de um certo tempo de funcionamento.
Causas possíveis - Filme lubrificante reduzido. - Rugosidade muito importante.
- Pressão de contacto muito elevada.
Remédios possíveis em serviço
- Aumento da espessura do filme lubrificante e a melhoria das propriedades do óleo deverá conduzir à estabilização destas degradações que se atenuam lentamente à medida que se desenvolve o desgaste sobre o flanco dos dentes.
- Aumento da espessura do filme lubrificante e das propriedades do óleo conduzirá a uma atenuação do fenómeno que continuará a progredir.
- Diminuição da carga parará a evolução do micropitting.
Consequências
possíveis sobre o componente em
serviço
- Ligeiro aumento do ruído que se atenuará ao longo do tempo no caso de estabilização do fenómeno.
- Risco reduzido de evolução para pits profundos.
- Aumento do ruído e das vibrações à medida que ocorre o desenvolvimento em profundidade do micropitting.
- Risco de formação de pits mais importantes na zona afectada se os micropits se desenvolverem em número e em profundidade.
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [25/366]
1.3- Parâmetros que influenciam o micropitting de uma
engrenagem
A experiência mostra que a fadiga de contacto em engrenagens lubrificadas em regime EHD
depende de múltiplos factores que influenciam a ocorrência deste tipo de dano: a rugosidade
superficial, o lubrificante através das suas características físico-químicas, a temperatura, a
poluição do lubrificante, o tipo de material e o seu grau de refinamento, a profundidade de
endurecimento superficial e o tipo de tratamento térmico utilizado, as tensões residuais
instaladas, a geometria do perfil dos dentes, as velocidades de rolamento e a taxa de
escorregamento, o binário transmitido, o campo de tensões resultante no interior dos sólidos
devido ao contacto EHD entre os flancos dos dentes, ...
Por outras palavras, a fadiga envolve a consideração de múltiplos parâmetros mecânicos
associados aos sólidos em contacto e ao lubrificante (rugosidade, propriedades elásticas dos
materiais, carga, velocidade, escorregamento, viscosidade, espessura de filme, ...), químicos
(natureza dos óleos, aditivos,...) e metalúrgicos (tratamentos térmicos, inclusões, distribuição
e densidade de defeitos,...). Em termos genéricos, as causas de fadiga de contacto estão
associadas às características dos materiais, lubrificação, condições de funcionamento e à
micro-geometria das superfícies, estando todas elas interligadas.
1.3.1- Influência das características dos materiais
Em termos genéricos, os materiais usados na fabricação das engrenagens devem ser de
elevada qualidade e pureza, isto é, as inclusões metalúrgicas devem estar reduzidas ao
mínimo possível já que eliminá-las completamente é difícil e dispendioso.
Como se sabe, todos os materiais têm defeitos, sendo particularmente importantes as
deslocações. As deslocações são defeitos lineares dos cristais que, quando ocorre deformação
plástica, crescem em quantidade de forma significativa. Sob acção de tensões de corte,
quando as deslocações ao escorregarem encontram um obstáculo, como por exemplo uma
[26/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
inclusão, são forçadas a juntarem-se umas às outras, dando origem a uma fissura por baixo
dos respectivos hemiplanos atómicos. São as chamadas fissuras provocadas pelo
empilhamento de deslocações.
Na proximidade das inclusões, o campo de tensões instalado sofrerá o efeito de concentração
de tensões, criando-se assim zonas que favorecem a iniciação rápida de fissuras.
1.3.1.1- Materiais para engrenagens
A maior parte das engrenagens da actualidade são fabricadas em aço. Os semi-produtos
laminados e forjados de aço foram a matéria prima utilizada generalizadamente, até à década
de 70, no fabrico de engrenagens. Nesta data apareceram incursões do ferro nodular
austemperado (ADI - Austempered Ductile Iron) neste monopólio, sendo hoje em dia
reconhecido, por importantes empresas do ramo automóvel, que a substituição do aço por
ADI permite ganhos significativos nos custos finais de produção de engrenagens com
melhoria simultânea do desempenho em serviço real.
O ferro nodular austemperado é um material com algum interesse para o fabrico de
engrenagens. A sua excelente capacidade de resistência ao desgaste superficial, aliada ao
menor peso específico, à sua capacidade de amortecimento de vibrações e aos baixos custos
de produção são factores importantes na promoção do desenvolvimento deste tipo de material.
À semelhança dos aços, a resistência mecânica de um ADI depende largamente da qualidade
do próprio material base, neste caso o ferro fundido nodular. Apesar das diferenças existentes
entre os processos de fabrico destes materiais, nomeadamente os diferentes tratamentos
térmicos praticados, encontram-se muitos pontos comuns no que diz respeito às condições
que interferem no bom desempenho das engrenagens neles fabricadas.
Na Tabela 1.2 apresentam-se as principais vantagens relativas do aço e do ADI.
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [27/366]
Tabela 1.2- Comparação Aço/ADI [115, 217, 248]
Pontos fortes do ADI em relação ao Aço Pontos fracos do ADI em relação ao Aço
• Permite o fabrico de componentes em dimensões muito
próximas das finais, tendo em conta que o subsequente
tratamento de austêmpera não impõe deformações
geométricas sensíveis à peça vazada. Este aspecto
representa uma economia muito importante no cômputo das
despesas associadas ao fabrico de engrenagens;
• Os diferentes passos de produção do ADI envolvem custos
inferiores aos da produção de aço de resistência mecânica
equivalente: o material de base é mais barato, os
tratamentos térmicos necessários envolvem custos menores
e equipamentos mais simples que aqueles usualmente
praticados em aços ligados de alta resistência e o número
de operações de fabrico é substancialmente reduzido;
• A grande capacidade de amortecimento de vibrações do
ADI e o seu baixo peso específico permitem o fabrico de
rodas dentadas mais leves e silenciosas que as rodas
convencionais em aço;
• A excelente resistência do ADI ao desgaste superficial e à
gripagem permitem assegurar maior fiabilidade dos
componentes em caso de falha momentânea de
lubrificação, favorecendo a utilização deste material em
aplicações críticas ou sujeitas a trabalho em condições
deficientes;
• As engrenagens ADI funcionam bem com óleos não
aditivados, o que permite dispensar a utilização de
elementos químicos potencialmente perigosos para o
ambiente (como são a maioria dos constituintes dos
aditivos EP); para além disso, a possibilidade de utilizar
óleos simples representa também uma economia de custos
sensível e permite a utilização destas engrenagens com uma
maior variedade de produtos disponíveis no mercado.
• Após o tratamento de austêmpera o ADI é um
material de maquinabilidade mais díficil do que o
aço tradicional usado em engrenagens. Deste modo,
só é viável de proceder a operações de maquinagem
utilizando ferramentas revestidas por CVD, PVD, ou
outros revestimentos duros especiais ou ainda
utilizando ferrramentas cerâmicas;
• O material, quando solicitado mecanicamente, isto é
quando sujeito a grandes cargas ou flexão,
desenvolve muitas micro-fissuras internas nas zonas
imediatamente abaixo das superfícies de trabalho,
que actuam como local preferencial de concentração
de tensões (estas micro-fissuras tendem-se a
propagar entre nódulos de grafite e entre os nódulos
e a superfície do material). Estas fissuras podem
constituir um problema sério para a vida útil à fadiga
do ADI.
A resistência à fadiga típica de um ADI aproxima-se das dos aços de liga cementados. A
generalidade dos testes realizados com ADIs mostram que, comparativamente ao aço de
média resistência, este material mostra melhor resistência à fadiga, ao desgaste e à erosão.
A Figura 1.9 mostra os resultados compilados por V.K.Sharma onde se apresentam alguns
materiais-tipo e a relação entre a sua capacidade de resistência à fadiga de contacto e a sua
dureza [217].
CO
MPA
RA
ÇÃ
O A
ÇO
/AD
I
[28/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Figura 1.9 - Valores de resistência à fadiga de contacto e da dureza de diferentes materiais [217].
Como se verifica, apenas alguns aços ligados e tratados termicamente conseguem melhores
prestações, a este nível, que o ADI apresentado - neste caso uma variante pioneira, a
Kymenite, desenvolvida na Europa (Finlândia) e actualmente considerada como um material
de relativamente baixa resistência à fadiga de contacto.
No que diz respeito ao fenómeno de fadiga de contacto o ADI, por conter muitos nódulos de
grafite, tem uma tendência acrescida à formação de micro-fissuras junto a estes nódulos que
actuam como local preferencial de concentração de tensões [248]. A propagação dessas
micro-fissuras entre nódulos promove o arrancamento lamelar citado, característica que deve
ser tida em conta ao usar este material em contactos que desenvolvam grande pressão e,
sobretudo, grande escorregamento. Em contrapartida, o aumento de volume verificado
durante a transformação da austenite em martensite, nas zonas de concentração de tensões no
interior do ADI, actua de modo favorável ao retardar a propagação dessas micro-fissuras,
contrariando o seu desenvolvimento. Sabe-se também, que o carbono que vai sendo libertado
dos nódulos de grafite por efeito de desgaste superficial tem propriedades lubrificantes, e que
o espaço deixado livre por este serve posteriormente de local de acomodação e permanência
do lubrificante [217].
A Figura 1.10 apresenta resultados, em termos de resistência à fadiga de contacto, obtidos
com engrenagens fabricadas em aço e em ferro fundido.
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [29/366]
Figura 1.10 - Comparação da resistência à fadiga de contacto de engrenagens fabricadas em diferentes
materiais [217].
Os escassos resultados divulgados de ensaios de fadiga realizados com engrenagens indicam
uma boa capacidade de resistência à fadiga de contacto, superada apenas por aços de grande
dureza superficial, nomeadamente os cementados. A Figura 1.11 mostra a resposta de um
determinado ADI em termos de fadiga de contacto apresentando uma curva equivalente
determinada para um aço cementado [217].
Figura 1.11 - Curvas-limite de fadiga de contacto, em termos de tensão, obtidas para engrenagens
fabricadas em aço e em ADI [217].
[30/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
1.3.1.2- Defeitos oriundos dos processos de fabrico
Superfícies geradas por arranque de apara
Os sulcos e protuberâncias resultantes da acção das ferramentas de corte sobre as superfícies
não constituem apenas um defeito físico: são potenciais locais de iniciação de fissuras,
independentemente da sua orientação relativamente à direcção de aplicação das solicitações
[7, 124, 125, 356]. Quando a maquinação é feita com velocidades exageradas ou não é feito
um arrefecimento conveniente pode ocorrer a fusão do material no interior dos sulcos de
maquinagem.
Outros riscos mais ou menos aleatórios resultantes do contacto das superfícies com
ferramentas cortantes e com as próprias rebarbas criadas pelas operações de maquinagem
podem estar na origem da libertação em serviço de pequenas partículas metálicas que, mais
tarde, se incorporam no fluido lubrificante, podendo conduzir, como se verá mais adiante, à
iniciação das fissuras de fadiga.
Superfícies rectificadas
As fissuras criadas durante operações de rectificação das superfícies (através de mós
abrasivas), têm comprimentos bastante curtos e dispõem-se sobre as superfícies de forma
paralela entre si e perpendicularmente ao sentido de deslocamento da mó. Muitas vezes estas
fissuras são latentes e só são visíveis nas superfícies algumas horas após a rectificação ou
mesmo após o uso da engrenagem. Detectam-se por magnetoscopia ou por ressonância
magnética [7, 124, 125].
As mós de rectificar actuam sobre as superfícies como um conjunto de pequenas ferramentas
cortantes, cada uma produzindo os seus pequenos sulcos. Os sulcos mais próximos
interceptam-se gerando uma imagem típica de superfície. Paralelamente vão surgindo
pequenas fissuras transversais relativamente à orientação da maquinagem por efeito de
deformações plásticas locais. Estas fissuras tendem a propagar-se ao longo das fases mais
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [31/366]
frágeis presentes no interior do material. Em adição às deformações plásticas impostas, o
aquecimento da superfície durante este tipo de operação também pode causar influências
nefastas, como seja a oxidação da superfície do material. Ao arrefecerem, as rugosidades
formadas pelos óxidos superficiais tendem a rasgar, separando-se em muitas zonas da
superfície. Como esta película de óxidos não é condutora e se encontra isolada do material de
base em muitos pontos pelas fissuras abertas durante o arrefecimento, as imagens obtidas
pelos microscópios electrónicos de varrimento mostram estas zonas com um brilho intenso.
As causas na origem deste tipo de fissuração são [7, 124, 125]:
• parâmetros de rectificação demasiado severos, modificando o estado de
residual de tensões à superfície, conseguindo transformar o estado de tensão
compressivo anterior num estado de tracção por vezes capaz de originar
fissuras;
• aquecimento localizado da superfície suficientemente elevado para provocar a
transformação da martensite, processo que é acompanhado da instalação de
tensões residuais. Esta rectificação pode ser considerada inadequada quer por
uma escolha errada do material da mó quer pela utilização de parâmetros
erróneos para a rectificação (velocidade da mó demasiado lenta, avanço
demasiado lento, penetração exagerada, lubrificação deficiente, etc.).
• defeitos na realização do tratamento térmico, sobretudo na realização do
revenido pós-têmpera, podem originar uma estrutura demasiadamente frágil à
superfície, muito susceptível aos fenómenos de fissuração. Nesta caso, é inútil
tentar evitar o fenómeno ajustando os parâmetros de rectificação.
Uma forma de eliminar este tipo de fissuras é proceder a uma nova rectificação dos flancos de
trabalho dos dentes das engrenagens. Obviamente, será necessário adoptar parâmetros
diferentes dos que anteriormente causaram essas fissuras e, de qualquer maneira, é necessário
garantir que a engrenagem trabalhará bem com os novos valores obtidos para a folga entre
dentes após a segunda rectificação. Não é aconselhável utilizar uma engrenagem contendo
este tipo de fissuras, uma vez que elas podem evoluir para fissuras profundas causando, mais
tarde, a ruptura de um ou mais dentes da engrenagem.
[32/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
1.3.1.3- Influência das tensões residuais
Na fadiga de contacto, assim como na fadiga clássica dos materiais, as tensões residuais de
compressão aumentam a duração de vida dos componentes uma vez que retardam a formação
e a propagação das fissuras de fadiga [84, 146, 157, 160, 164]. Pelo contrário, as tensões
residuais de tracção, assim como as de compressão de um valor absoluto relativamente
grande, são nefastas em termos de comportamento à fadiga. De facto, as tensões residuais
comportam-se como uma tensão média que se vai sobrepôr às tensões cíclicas de serviço. As
tensões residuais de compressão vão na realidade descarregar a peça, ao sobrepor-se às
tensões de serviço em tracção, aumentando consequentemente o limite de fadiga. Não basta
controlar o valor das tensões residuais na superfície do componente, sendo necessário ter em
atenção o seu valor nas camadas internas e a forma do gradiente de tensões residuais em
profundidade [199, 200]. De facto, em fadiga de contacto as tensões máximas ocorrem a uma
determinada profundidade, o que pode conduzir à iniciação de fissuras em profundidade. Por
outro lado é necessário não só tomar em atenção os processos de introdução das tensões
residuais, como também a sua estabilidade ao longo do tempo de serviço do componente, uma
vez que elas podem evoluir ao longo da solicitação, como se irá ver mais adiante.
1.3.1.4- Tratamentos mecânicos - Shot-peening
Como a existência de tensões residuais compressivas na zona superficial dos dentes das
engrenagens se mostra benéfica ao impedir a propagação das micro-fissuras é usual que as
engrenagens, em particular de ADI, sejam tratadas com shot-peening [7, 116, 217].
O shot-peening é um tratamento mecânico bastante eficaz ao aumentar sensivelmente a
capacidade de resistência à fadiga, induzindo tensões compressivas na superfície do material,
as quais melhoram substancialmente o desempenho à fadiga, nomeadamente à fadiga por
flexão.
O shot-peening promove uma maior tenacidade das superfícies dos dentes das engrenagens
pela indução de tensões compressivas nos seus flancos activos. No entanto, este tipo de
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [33/366]
tratamento gera irregularidades geométricas que prejudicam o funcionamento hidrodinâmico
dos flancos dos dentes em contacto. Este efeito traduz-se numa diminuição da espessura de
filme lubrificante entre as superfícies em contacto, no aumento do coeficiente de atrito e da
temperatura local e, em casos extremos, pode proporcionar condições para que surjam
fenómenos de adesão causados por contactos metal-metal entre os dentes das engrenagens.
Contudo, apesar de se ter constatado que o aumento da rugosidade superficial das
engrenagens assim tratadas pode influenciar de forma negativa o desempenho
elastohidrodinâmico do contacto, não se encontram documentados casos em que este efeito se
sobreponha de forma clara ao aumento da resistência à fadiga superficial conseguido por este
tratamento mecânico.
1.3.2- Influência da lubrificação
A lubrificação consiste na interposição entre dois corpos em contacto com movimento
relativo, de um filme de baixa resistência ao corte que diminua o atrito, o desgaste e a
temperatura de funcionamento, melhorando assim o comportamento tribológico dos corpos.
O tipo de lubrificação que se verifica em contactos não conformes é influenciado por dois
fenómenos físicos significativos:
• A deformação elástica dos sólidos em contacto, devido à acção da carga
aplicada.
• O aumento de viscosidade do fluido lubrificante sob efeito da pressão
(piezoviscosidade).
Para uma caracterização adequada de um lubrificante, deve ser conhecida a sua viscosidade e
a variação desta com a pressão e a temperatura, bem como as tensões de corte à qual se
encontra submetido. Seria, ainda, muito útil caracterizar o efeito específico de um aditivo,
como por exemplo os compostos à base de enxofre ou de fósforo, sobre o comportamento do
lubrificante, e não como acontece, caracterizar apenas, de forma global, o efeito do óleo base
[34/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
mais pacote de aditivos sobre o comportamento global do contacto. A alternativa seguida é,
actualmente, caracterizar a relação material/aditivo.
Sucessivos desenvolvimentos dos óleos base e dos aditivos traduziram-se em enormes
progressos dos lubrificantes: óleos mais resistentes à oxidação, maior viscosidade a elevadas
temperaturas, maior capacidade de carga. O resultado de tal evolução traduz-se, hoje em dia,
na obtenção de tempos de vida mais longos nos contactos, menores taxas de desgaste, maior
capacidade de carga à gripagem, menores interacções metálicas e consequentemente menores
probabilidades de ocorrência de fadiga, se esta resultar da iniciação devida às interacções
entre os picos de rugosidade. Porém, apesar da grande evolução dos lubrificantes, a fadiga
superficial continua a ser uma forma de dano muito corrente, mesmo na lubrificação em
regime de filme completo [125].
Os fluidos lubrificantes usados na lubrificação dos contactos permitem, em simultâneo,
diminuir e manter dentro de limites aceitáveis a temperatura de funcionamento. O efeito do
lubrificante sobre a vida à fadiga de contacto depende das suas propriedades físico-químicas,
sendo a viscosidade e sobretudo a espessura do filme lubrificante extremamente importantes,
devendo o lubrificante estar livre de impurezas e de partículas abrasivas [8, 26, 304].
As avarias de engrenagens que dependem da lubrificação raramente se devem ao lubrificante
em si, sendo quase sempre resultantes de uma selecção inadequada do lubrificante, de defeitos
no sistema de lubrificação, ou do doseamento erróneo ou contaminação do próprio
lubrificante. Este último fenómeno é o mais complexo de evitar: gases e líquidos podem
subtilmente dissolver-se ou ser absorvidos pelo lubrificante e destruir a físico-química de
funcionamento dos seus aditivos ou mesmo causar problemas de corrosão às superfícies dos
componentes. Os contaminantes sólidos, apesar de poderem ser os mais destrutivos (mineira,
poeira, partículas metálicas, etc.), são os mais fáceis de detectar e eliminar [125, 304, 356].
O lubrificante pode também ser veículo de partículas macroscópicas (3ºs corpos), por vezes
oriundas de componentes interiores à própria máquina que, ao introduzirem-se nas zonas de
contacto, podem danificar as superfícies. Neste aspecto, é a concepção do sistema de
lubrificação a única forma possível de minimizar o problema. Esse sistema deve promover o
acesso às zonas de contacto apenas do lubrificante recém filtrado e conseguir uma rápida
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [35/366]
evacuação do lubrificante após passagem nessas zonas. A evacuação de calor é também
melhorada por uma boa concepção do sistema de lubrificação [125, 304, 356].
O lubrificante tem um papel determinante na fadiga de contacto. Independentemente da sua
capacidade para formar uma película lubrificante com espessura suficiente para separar
completamente as superfícies, os elementos químicos da sua composição podem exercer
alguma influência sobre o desgaste e fadiga dos contactos EHD [125, 304, 356].
Os filmes lubrificantes nos contactos EHD provocam modificações na pressão de Hertz e na
distribuição das tensões de corte. Influenciam também o número e a severidade das
interacções entre os picos das rugosidades, assim como a concentração de tensões na
vizinhança dos defeitos das superfícies em contacto [125, 304, 356].
Contudo, os filmes EHD não são totalmente benéficos na prevenção da fadiga de contacto,
apresentando algumas limitações, entre as quais se destaca um aspecto que se prende com o
chamado mecanismo de propagação de fissuras por efeito da pressão hidráulica: uma fissura
superfícial pode crescer rapidamente por efeito da pressão do óleo contido no seu interior e da
concentração de tensões que se verifica no sua extremidade. O processo desenvolve-se em
três fases: a fase inicial corresponde à abertura da fissura por efeito das tensões de corte que
se desenvolvem à frente do contacto; a segunda diz respeito ao enchimento da fissura com
óleo; e finalmente, a pressurização do óleo, quando as tensões de corte (forças de tracção) e as
tensões de contacto actuam próximo da fissura. Este mecanismo de propagação das fissuras é
considerado muito importante na fadiga de contacto. A Figura 1.12 ilustra de forma clara
como se desenvolve este processo.
Para superar este efeito deve usar-se um lubrificante com maior viscosidade e
compressibilidade.
[36/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Figura 1.12 - Esquema do mecanismo de propagação de fissuras por efeito da pressão hidráulica [304].
Não é o facto de um óleo estar contaminado que provoca fadiga de contacto nem o facto das
partículas passarem continuamente no interior do contacto. Grave é o dano provocado quando
estas partículas passam no interior do contacto na fase inicial do seu funcionamento,
provocando pontualmente deformações plásticas e danos na superfície. Estes danos são a
fonte para a iniciação das fissuras que, agora, já só terão que passar pela sua fase de
propagação.
Por outras palavras, partículas de desgaste e contaminantes presentes no lubrificante podem
contribuir para a fadiga de contacto. As partículas contaminantes podem provocar pequenas
indentações nas superfícies quando passam no interior do contacto (ver Figura 1.13) dando
origem a zonas favoráveis para a iniciação de fissuras.
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [37/366]
Figura 1.13 - Contacto entre picos de rugosidade e esmagamento de partículas de grandes dimensões no
interior do contacto como causa de fadiga de contacto [304].
1.3.2.1- Influência da viscosidade do óleo base
A viscosidade é uma das propriedades mais importantes de um lubrificante.
Barwell e Scott [8, 26] afirmaram que, à temperatura ambiente, a viscosidade não é um factor
dominante na fadiga de contacto, já que alguns lubrificantes de menor viscosidade
apresentaram uma resistência à fadiga da mesma ordem de grandeza que outros fluidos de
maior viscosidade. Contudo, com certos óleos minerais provenientes do mesmo crude, Scott
descobriu que existe uma tendência contínua no sentido do aumento da vida à fadiga com o
aumento da viscosidade. Apesar dos óleos procederem do mesmo crude, o índice de
viscosidade decrescia com o aumento da viscosidade. Ainda assim, o lubrificante com menor
índice de viscosidade apresentava maior vida à fadiga, porque provavelmente possuia uma
maior viscosidade à temperatura de trabalho, o que está de acordo com trabalhos de
investigação mais recentes. Então para estes óleos índices de viscosidade mais baixos
correspondem elevados coeficientes de piezoviscosidade [8, 26]. Dado que óleos mais
viscosos possuem maior coeficiente de termoviscosidade, a viscosidade em condições de
pressão elevada pode ser mais importante no fenómeno de fadiga de contacto do que a
viscosidade medida à temperatura ambiente. Os poliglicois também evidenciam um aumento
[38/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
da vida à fadiga com o aumento da viscosidade, enquanto que no caso de fluídos à base de
silicones a vida à fadiga parece ser independente da viscosidade.
Scott postulou que, quanto mais viscosos fossem os óleos de baixo índice de viscosidade,
menor têndencia teriam a se introduzir na fissura de fadiga no sentido de aumentar a sua
propagação. Baughman por sua vez, considerou que a vida à fadiga de contacto parece estar
relacionada com a viscosidade real verificada na região de altas pressões do contacto.
Experiências desenvolvidas por Carter e Anderson com diversos óleos base levaram a afirmar
que a vida à fadiga de contacto cresce com valores crescentes do coeficiente de
piezoviscosidade. Determinaram também, que a vida à fadiga de contacto com óleos minerais
parafínicos cresce proporcionalmente à viscosidade elevada a uma potência de 0,2. Das
experiências levadas a cabo com óleos minerais, Rounds concluiu que óleos nafténicos de
baixo índice de viscosidade mostram de maneira consistente uma melhor vida à fadiga de
contacto que óleos parafínicos de alto índice de viscosidade. Cuervo concluiu que o aumento
de viscosidade conduz a um aumento da vida à fadiga de contacto entre óleos da mesma
família. Acrescenta ainda, que encontrou correlação positiva entre a vida à fadiga de contacto
e o coeficiente de piezoviscosidade e, consequentemente, com a espessura da película de óleo
[1, 7, 27, 116, 125, 244, 330, 356]
1.3.2.2- Influência dos aditivos
Os aditivos são compostos químicos que se adicionam aos lubrificantes com a finalidade de
propocionar ou reforçar uma propriedade desejada. Nomeadamente os aditivos de Extrema
Pressão (EP) são utilizados para impedir o contacto destrutivo entre superfícies metálicas com
movimento relativo e submetidas a cargas elevadas.
Rounds concluiu que a adição de compostos reactivos de cloro aos óleos minerais reduzem a
vida à fadiga, mas a adição de éteres polifenílicos clorados e silicone metilfenílico aumentam-
na. Cuervo concluiu que o aditivo anti-desgaste (AW) dialquil-ditiofosfato de zinco aumenta
notavelmente a vida à fadiga de contacto, principalmente quando a carga é elevada [1, 7, 116,
330].
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [39/366]
1.3.2.3- Influência do ambiente
O ambiente desempenha um papel importante no fenómeno da fadiga de contacto. Com
efeito, a fadiga de contacto é um fenómeno de superfície e como a relação superfície/volume
é elevada nos contactos de rolamento (dado que as zonas sob tensão circunscrevem-se
practicamente às camadas superfíciais ou muito próximas da superfície), é de esperar que o
factor ambiente seja mais relevante no processo de micropitting que nos processos de fadiga
de origem não tribológica.
Um ambiente corrosivo pode afectar o comportamento à fadiga de contacto. A presença de
água nos lubrificantes pode acelerar o colapso por fadiga em contactos de rolamento, uma vez
que segundo vários autores a presença da água induz a difusão de hidrogénio nas superfícies
sob tensões elevadas, provocando fragilização pelo hidrogénio e acelerando a propagação das
fissuras de fadiga. Circena e Szielet sugeriram que a oxidação ácida durante o rolamento de
contacto pode libertar hidrogénio devido à reacção electroquímica com o aço, assumindo a
água o papel de meio condutor [1, 7, 26, 116, 125, 330].
Em muitas aplicações industriais não é possivel impedir a contaminação por água mas os
efeitos danosos da sua presença na fadiga de contacto podem ser combatidos com aditivos
apropriados (álcoois, derivados de imidazolina).
A degradação do óleo lubrificante causada pelas altas temperaturas que ocorrem nas zonas do
contacto sujeitas a tensões elevadas leva ao aparecimento de substâncias ácidas que por sua
vez provocam uma redução na vida à fadiga de contacto.
1.3.2.4- Influência da temperatura
A influência da temperatura na fadiga de contacto é do maior interesse. O aumento de
temperatura provoca a redução da viscosidade do lubrificante e, em muitos casos, da vida à
fadiga.
[40/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Na fadiga de contacto, com ou sem escorregamento, o aumento da temperatura implica
normalmente o aumento do atrito entre duas superfícies, tendo um efeito negativo sobre a
vida e criando condições favoráveis para o desenvolvimento de deformações plásticas. Os
efeitos isolados ou combinados destes factores com a solicitação mecânica podem promover a
evolução da microestrutura e em particular a transformação de austenite residual, com os
consequentes efeitos sobre a resistência à fadiga. Assim, pode-se dizer que o aumento da
temperatura durante a fadiga de contacto é um fenómeno nocivo que deve ser eliminado ou
mantido dentro de limites convenientes.
MacPherson verificou que a temperatura superficial no contacto exerce uma poderosa
influência na fadiga de contacto, tendo sugerido a realização de ensaios a diferentes
temperaturas com o objectivo de avaliar as características resultantes da associação
óleo/materiais dos corpos em contacto. Segundo Otterbein, a vida à fadiga nos contactos de
rolamento decresce uniformemente com o aumento de temperatura no intervalo 50-150ºC,
utilizando um lubrificante do tipo diéster [1, 7, 8, 116, 330].
1.3.2.5- Espessura específica do filme lubrificante
Nos contactos secos as forças são directamente transmitidas entre as superfícies dos sólidos e
o atrito é muito elevado. Quando a pressão de contacto e as velocidades são elevadas as
superfícies tendem a aquecer rapidamente, pois o calor gerado no contacto varia
proporcionalmente ao atrito entre as superfícies. Isto provoca o abaixamento rápido da
resistência ao desgaste das superfícies metálicas e limita a utilização deste tipo de contactos a
casos em que as solicitações são suaves ou moderadas [8, 26].
Nos contactos lubrificados admite-se existir pelo menos algum lubrificante entre as
superfícies, mesmo que este não consiga formar uma película contínua.
A lubrificação elastohidrodinâmica (EHD) é muito comum em rolamentos, engrenagens,
cames e outros contactos mecânicos onde se transmitem esforços elevados. Nos contactos
EHD a aspiração do lubrificante para o interior do contacto ocorre no convergente por efeito
do arrasto das superfícies em movimento. A pressão de contacto assume o aspecto de uma
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [41/366]
parábola, com um máximo no centro do contacto e um pico de pressão imediatamente antes
da saída (divergente). É nesse ponto que a pressão atinge o seu máximo e é aí que a espessura
do filme lubrificante é mínima [8, 26].
A espessura específica do filme lubrificante é um indicador do tipo de regime de lubrificação
que se traduz numa severidade de funcionamento do contacto, do ponto de vista da gripagem
e de outros tipos de avarias que ocorrem nos dentes das engrenagens.
Existem gamas de valores típicos da espessura específica do filme lubrificante que se podem
relacionar com a intensidade do desgaste das engrenagens e de um modo geral com todos os
tipos de avarias de superfície.
A expressão de Dowson no caso dos contactos lineares para o cálculo da espessura do filme
lubrificante no centro de contacto, h0, estabelece que [63, 102, 140]:
0.727 0.727 0.091
0 1.950 eqh R U G W −= ⋅ × × × (1.1)
onde:
h0→ espessura do filme lubrificante;
U→ parâmetro velocidade = 0,
2R
eq
V
R E
η ⋅
⋅ ⋅;
Req→ raio de curvatura equivalente = 1 2
1 2
R RR R
⎛ ⎞⋅⎜ ⎟+⎝ ⎠
;
G→ parâmetro do material = ,
Eα ⋅ ;
W→ parâmetro carga = ,n
eq
F
R E⋅ ⋅.
[42/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
A espessura corrigida do filme lubrificante (h0C) tem em consideração a elevação da
temperatura devido ao aquecimento do lubrificante no convergente do contacto entre os
dentes da engrenagem, que resulta da deformação de corte piezoviscosa no lubrificante.
Assim:
0 0C Th h φ= ⋅ (1.2)
onde:
h0C → espessura corrigida do filme lubrificante;
φT → factor de correcção térmica, definido por [284]:
( ) 10.83 0.641 0.1 1 14.8 eTV Lφ
−= + × + × ×⎡ ⎤
⎣ ⎦ (1.3)
Ve→ taxa de escorregamento = 1 2
1 2
U UU U
−+
;
L → parâmetro térmico do lubrificante = 2
0 R
f
VK
β η⋅ ⋅ .
A espessura específica do filme lubrificante é então definida por:
0 C
q
hR
Λ = (1.4)
em que Rq a rugosidade composta das duas superfícies em contacto, é definida por:
2 21 2q q qR R R= + (1.5)
com
Rq1 → Rms da superfície 1;
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [43/366]
Rq2 → Rms da superfície 2;
Figura 1.14- Variação Distribuição de pressão e da velocidade do fluido lubrificante no interior de um
contacto elastohidrodinâmico [284].
A influência da espessura específica do filme lubrificante (Λ) é muito importante na fadiga de
contacto dos flancos dos dentes de engrenagens[7, 116, 125, 330, 356]:
Se Λ < 0.7 (lubrificação em regime limite), a fadiga ocorrerá principalmente à
superfície, facilitando, numa primeira fase, o aparecimento de pits, que por sua vez,
contribuirão para acelerar o aparecimento de spalls. Se a espessura específica for
muito reduzida (< 0.4), a probabilidade de ocorrer o micropitting é elevada, pois
serão frequentes as interacções metálicas entre os picos de rugosidade das
superfícies, que ocorrendo de forma pronunciada, vão deformar plásticamente a
zona superficial dos sólidos, criando-se assim condições para a propagação de
micropitting.
Se 0.7 < Λ < 2.0 (lubrificação em regime misto), podem acontecer em simultâneo
pits e spalls, de forma pontual ao longo da pista de contacto, assumindo aqui
grande importância parâmetros como a contaminação do lubrificante, água
dissolvida no óleo, forma das rugosidades e propriedades dos materiais.
[44/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Se Λ > 2.0 (lubrificação em regime de filme completo), a fadiga ocorrerá
principalmente no interior dos sólidos em contacto, sendo mais provável o
aparecimento de spalls do que pits. O facto do campo de tensões no interior dos
sólidos ser predominantemente devido ao contacto global de Hertz, conduz a que as
tensões máximas passem a acontecer no interior dos sólidos, à profundidade onde
ocorre a máxima tensão de corte. Por este motivo, é de crer que as fissuras se
iniciem e propaguem a partir do interior dos sólidos, originando principalmente
spalls.
A vida à fadiga, terá tendência a reduzir-se com a diminuição da qualidade superfícial. De
forma semelhante, terá tendência a reduzir-se de forma mais drástica com a diminuição da
espessura específica Λ.
Quando a fissuração se dá à superfície, a duração de vida à fadiga de contacto é muito mais
reduzida do que quando essa mesma iniciação se dá no interior dos sólidos. Todos os pontos
dos sólidos devem ser considerados susceptíveis de falha por fadiga de contacto, e não apenas
os pontos nos quais as tensões são máximas.
Observando a Figura 1.15 constata-se que a espessura específica crítica aumenta com a
velocidade tangencial da engrenagem e, a partir de um determinado valor (nomeadamente
acima dos 100-150 m/s) a espessura específica crítica mantêm-se constante (Λc=2) [121, 169].
Figura 1.15 - Espessura específica crítica do filme lubrificante para engrenagens rectas ou helicoidais (Λc)
vs velocidade tangencial da engrenagem (Vt) - (probabilidade de avaria = 5%) [169].
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [45/366]
1.3.3- Influência das condições de funcionamento
As condições de funcionamento conducentes à ocorrência de pressões normais e tensões de
corte elevadas e à presença de escorregamento, podem contribuir fortemente para a ocorrência
de fadiga de contacto.
Ao longo da linha de engrenamento de uma engrenagem coexistem o rolamento e os
escorregamentos positivo e negativo, parâmetros que influenciam fortemente o dano por
fadiga de contacto. Na linha primitiva não existe escorregamento. Na secção de deddendum,
ao contrário da secção de addendum, as velocidades de rolamento e de escorregamento têm
sentidos opostos, o que aparentemente favorece a ocorrência do dano por fadiga de contacto
no deddendum do pinhão em primeiro lugar, uma vez que a superfície a ele associada (a
superfície da roda) realiza menos ciclos.
O modo de solicitação de um componente ou de uma estrutura tem uma influência
determinante sobre a sua resistência à fadiga. No caso da fadiga de contacto os esforços
transmitem-se entre as superfícies em contacto sob a forma de uma pressão, acompanhada ou
não de atrito que vai criar um estado de tensão fortemente multiaxial na sub-superfície do
material. De entre os parâmetros mecânicos com maior influência sobre a fadiga de contacto
podem-se referir a força normal, as tensões de corte, os esforços tangenciais devidos ao atrito
de escorregamento e a frequência da solicitação.
O valor máximo da pressão aplicada no contacto condiciona directamente o valor máximo das
tensões aplicadas ao componente e consequentemente a duração de vida. Um parâmetro
fundamental com influência reconhecida no processo de fissuração é a amplitude da tensão de
corte que num contacto hertziano atinge o seu valor máximo em profundidade. De um modo
geral a deterioração em fadiga de contacto está directamente ligada à zona onde as tensões de
corte passam pelo seu valor máximo, verificando-se que a duração de vida diminui com o
aumento da amplitude da tensão de corte. A resistência à fadiga depende também do valor da
tensão média que, ao sobrepor-se à tensão cíclica, vai aumentar ou diminuir os seus valores
máximos. Este efeito traduz-se por uma diminuição da resistência à fadiga à medida que a
tensão média aumenta. Uma tensão média positiva diminui a duração de vida, enquanto uma
negativa produz o efeito contrário.
[46/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Ao sobrepor-se à pressão de contacto, os esforços tangenciais devidos ao atrito de rolamento
com escorregamento dão origem a uma distribuição de tensões mais complexa, em que o
ponto de tensão de corte máximo pode ocorrer na superfície. Estão assim criadas as condições
para que as fissuras de fadiga se iniciem na superfície, para o que contribui também para o
aparecimento de defeitos superficiais devidos ao atrito. Em geral, a existência de
escorregamento origina sempre uma redução da duração de vida em fadiga de contacto, tanto
mais elevada quanto maior o valor do coeficiente de atrito.
A frequência do ciclo de solicitação é um factor que pode influenciar a duração de vida à
fadiga de contacto, quer pelo aumento da temperatura no contacto, quer pelo aumento da
deformação plástica nas camadas superficiais. Em ambos os casos o aumento da frequência
diminui a duração de vida à fadiga de contacto, podendo os dois mecanismos actuar em
simultâneo.
1.3.3.1- Coeficiente de atrito
A determinação do coeficiente de atrito é importante pois ele vai condicionar o desempenho
desse contacto. No caso de uma engrenagem, quanto mais elevado for o coeficiente de atrito,
menor será a eficiência da engrenagem, porque maior será a energia consumida para vencer o
atrito, assim como menor será o tempo de vida desse contacto. Assim sendo, é de todo o
interesse reconhecer quais os mecanismos que provocam o atrito, o seu valor e suas
consequências.
A determinação do coeficiente de atrito num contacto EHD pode ser feita experimentalmente
ou numericamente.
O atrito num contacto EHD é devido essencialmente ao escorregamento e em menor escala ao
rolamento. Experimentalmente verifica-se que o aumento da temperatura no contacto,
provocando uma diminuição da viscosidade, provoca também uma diminuição do coeficiente
de atrito.
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [47/366]
Quando ocorre rolamento com escorregamento, as velocidades das superfícies em contacto
são diferentes, pelo que continuamente o fluído estará sujeito a deformações de corte [281].
Admitindo um regime de lubrificação de filme completo, as velocidades de deformação
provocam tensões de corte que estão na origem do atrito.
Conhecendo-se em toda a área de contacto quer o campo de pressões normais quer o campo
de tensões de corte, podem definir-se coeficientes de atrito locais, em cada ponto do interior
do contacto, e global, sendo este último possível de ser medido experimentalmente.
Os métodos numéricos actualmente disponiveis permitem determinar o coeficiente de atrito
no interior de um contacto, tendo em conta as variações de temperaturas locais [281]. Os
resultados assim obtidos aproximam-se já muito satisfatoriamente dos obtidos
experimentalmente. Numericamente, recorrendo a um modelo viscoelástico-plástico e
considerando o contacto térmico, nunca se atingem valores tão elevados para o coeficiente de
atrito como num contacto isotérmico teórico seguindo-se a mesma lei reológica [281].
1.3.4- Influência da macro e micro geometrias das superfícies
Tal como no caso da fadiga clássica dos materiais, os diferentes parâmetros geométricos têm
uma influência considerável sobre a resistência à fadiga de contacto. Neste caso interessa-nos,
particularmente, a geometria do contacto, cujo efeito pode ser analisado à escala global ou da
macrogeometria do contacto e à escala da microgeometria ou das rugosidades.
A macrogeometria do contacto condiciona de um modo global a forma como se transmitem os
esforços entre os dois sólidos em contacto, sendo um factor tão importante, em termos de
resistência à fadiga de contacto, como o próprio nível de carregamento.
A microgeometria das superfícies em contacto tem uma influência muito significativa sobre o
campo de pressões de contacto e a distribuição das tensões nas camadas superfíciais. De
facto, a microgeometria das susperfícies tem uma influência tripla sobre a resistência à fadiga
de contacto [281]:
[48/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
• Criando eventuais locais de iniciação de fissuras de fadiga,
• Perturbando localmente a distribuição das pressões de contacto, devido ao
contacto entre as rugosidades, originando importantes aumentos locais da pressão
de contacto e da distribuição das tensões nas camadas mais próximas da superfície,
• Influenciando a qualidade da lubrificação, o que pode afectar directamente a
espessura do filme lubrificante e, consequentemente, a distribuição de esforços
tangenciais e a distribuição da pressão na superfície de contacto.
De um modo geral, o aumento da rugosidade traduz-se por uma diminuição da resistência à
fadiga de contacto e por uma diminuição da carga limite admissível.
1.3.4.1- Macro-geometria
De forma geral, o contacto entre sólidos ocorre entre superfícies de revolução. Quando existe
uma força que comprime os sólidos, eles deformam-se gerando diferentes áreas de contacto
(rectangulares, circulares, ou elípticas) que tendem a aumentar de tamanho conforme a força
aplicada e, obviamente, conforme a elasticidade dos próprios corpos em contacto.
Designam-se por “contactos lineares” (ou contactos rectangulares) aqueles em que pelo
menos uma dimensão da área de contacto é rectilínea; os outros dizem-se, de forma genérica,
“contactos pontuais” (ou contactos elípticos).
1.3.4.2- Micro-geometria
As superfícies reais são sempre rugosas sendo essa rugosidade consequência dos processos de
maquinagem usados. A rugosidade das superfícies pode influenciar consideravelmente a
distribuição de pressões de contacto, bem como o campo de tensões no interior dos sólidos,
afectando simultaneamente a qualidade da lubrificação elasto-hidrodinâmica.
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [49/366]
A rugosidade é um dos aspectos que mais condiciona a vida de um contacto, pois algumas
rugosidades podem deformar-se plasticamente, tendo importantes implicações na vida à
fadiga. A rugosidade é, portanto, um parâmetro fundamental, influenciando, directamente ou
através da espessura específica do filme lubrificante (Λ), o comportamento à fadiga dos
contactos elastohidrodinâmicos.
A área de contacto rectangular ou elíptica é um modelo teórico. Na realidade, a rugosidade
das superfícies faz com que, para uma dada força normal aplicada, apenas alguns dos picos de
rugosidade mais salientes de cada uma contactem com a outra. Desta forma, a área real de
contacto pode ser muito menor que a área correspondente à geometria teórica, e a pressão de
contacto pode ser muito elevada quando toda a carga é suportada por um número reduzido de
picos de rugosidade.
Quando um componente metálico é colocada em serviço, a sua rugosidade superficial é a
resultante das ferramentas e dos processos de fabrico usados na sua realização. São
superfícies inevitavelmente irregulares, ao nível microscópico, e possuem zonas mais
salientes que outras. O contacto continuado vai originar deformações plásticas dos picos mais
salientes destas superfícies fazendo com que a sua rugosidade média diminua
progressivamente. Este efeito é muito acentuado no início da vida útil das superfícies e
designa-se vulgarmente por “rodagem”. A consequência imediata deste fenómeno é o
aumento gradual da área real de contacto e, consequentemente, o abaixamento da pressão
média instalada para uma dada força aplicada às superfícies [124, 284, 297]. No caso de
componentes metálicos que funcionam em regimes permanentes, o desgaste correspondente
essencialmente à remoção dos picos de rugosidade mais salientes até se atingir o equilíbrio
entre a pressão média no contacto e a resistência mecânica do material, através do aumento
gradual da área efectiva de contacto.
[50/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Figura 1.16- Efeito da rugosidade na distribuição da pressão local, no interior do contacto [284].
A Figura 1.16 mostra uma simulação numérica em que duas superfícies contactam gerando
uma área global com uma forma elíptica. Nesta imagem pode ver-se o efeito da ondulação
superficial sobre a distribuição de pressão local, no interior do contacto.
Rugosidade
A caracterização da rugosidade é um dos aspectos mais relevantes quando se pretende
modelar um contacto EHD. Uma rugosidade real apresenta, frequentemente, uma direcção
preferencial dos seus picos e vales, assim como uma forma estatística que não é possível de
definir analiticamente. Assim sendo, não basta, para a sua perfeita caracterização a medição
de um parâmetro, habitualmente Ra ou Rq. Estes dois parâmetros pretendem caracterizar a
distribuição de alturas numa dada direcção de medida.
Para melhor definir a rugosidade de forma bidireccional, é utilizado o coeficiente de
autocorrelação que procura evidenciar qual a influencia da direccionalidade da rugosidade
existente numa dada superfície [8, 26, 139].
A rugosidade das superfícies dos dentes de engrenagens está intimamente ligada às
ferramentas e aos processos de fabrico utilizados, como mostra na Tabela 1.3.
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [51/366]
Tabela 1.3- Rugosidade dos flancos dos dentes de engrenagens em função do processo de fabrico [284].
PROCESSO DE FABRICO
Rugosidade rms (µm)
Fresagem 2.3 - 4.6
Fresagem fina 1.2 - 2.3
Rectificação (shaving) 0.7 - 1.4
Rectificação fina (lapping) 0.6 - 1.1
Polimento 0.3 - 0.6
A caracterização matemática de uma rugosidade real não é possivel, pelo cariz estatístico e
aleatório que a caracteriza. Assim sendo, Berthe [6, 31, 57, 104, 288] estudou a possibilidade
de simular a rugosidade real através de uma rugosidade teórica sinusoidal, baseada em dois
parâmetros geométricos: comprimento de onda, λ, e amplitude, amp. Berthe validou este
modelo da rugosidade, demonstrando que a carga suportada por um contacto real, calculada
numericamente e assumindo a rugosidade como um modelo estatístico, se aproximava da
carga calculada numericamente quando se considerasse a rugosidade como sinusoidal.
Se uma superfície for ondulada e se a velocidade de rolamento aumentar, a deformação das
ondulações diminui, isto porque a espessura do filme aumenta e, consequentemente, a carga
suportada hidrodinamicamente aumenta, diminuindo o efeito da rugosidade e vindo os picos
de pressão devidos a esta substancialmente reduzidos. Assim, se as superfícies se encontram
sujeitas a menores pressões, logo sofrerão menores deformações elásticas.
Quando a altura das rugosidades aumenta, aumenta também a carga suportada directamente
pelos contactos metálicos entre as rugosidades, diminuindo a carga suportada pelo efeito
hidrodinâmico. A diminuição da carga suportada pelo filme de óleo pode ser também devida à
ruptura do filme lubrificante, sendo neste caso bastante mais acentuada essa diminuição, e
sendo o efeito do escorregamento proponderante para a ocorrência da ruptura.
Para a orientação da rugosidade são normalmente considerados três modelos, como se pode
ver na Figura 1.17.
[52/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Figura 1.17- a) Rugosidade longitudinal; b) Rugosidade isotrópica; c) Rugosidade transversal [42].
A rugosidade isotrópica é característica das esferas de rolamentos e cabeças de cames. Tem
efeitos benéficos porque conduz ao aumento da espessura do filme lubrificante [127].
A rugosidade longitudinal pode encontrar-se nos anéis interior e exterior de rolamentos,
cames, e rolos de rolamentos. Faz diminuir a espessura de filme lubrificante sobretudo
quando não há débito lateral.
A rugosidade transversal existe normalmente nos dentes das engrenagens, e faz aumentar a
espessura do filme sobretudo quando não há débito lateral.
Gohar [139] definiu duas expressões que traduzem o efeito da rugosidade transversal e
longitudinal na espessura do filme lubrificante, em condições de rolamento puro.
2
0
0 0
2
0
0 0
71 Rugosidade longitudinal12
71 Rugosidade transversal6
qr
C C
qr
C C
Rhh h
Rhh h
⎡ ⎤⎛ ⎞⎢ ⎥= − →⎜ ⎟⎢ ⎥⎝ ⎠⎣ ⎦
⎡ ⎤⎛ ⎞⎢ ⎥= + →⎜ ⎟⎢ ⎥⎝ ⎠⎣ ⎦
(1.6)
em que 0 0r c rh h φ= ⋅ e φr é o parâmetro de correcção devido à rugosidade.
Como se pode verificar, a rugosidade transversal provoca um aumento significativo da
espessura média do filme lubrificante, ao contrário da rugosidade longitudinal que provoca a
sua redução.
Assim, a severidade das interacções entre a rugosidade das superfícies pode ser afectada pela
orientação das estrias de maquinagem, relativamente à direcção de
rolamento/escorregamento. Dois casos particulares, típicos das aplicações correntes, são o da
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [53/366]
rugosidade longitudinal e o da rugosidade transversal, em que as estrias de maquinagem são
paralelas, ou perpendiculares, à direcção de rolamento/escorregamento, respectivamente (ver
Figura 1.18). As zonas de maior influência da micro e da macrogeometria têm lugar a
profundidades diferentes, razão pela qual um contacto linear deste tipo pode ser aproximado
por um modelo a duas dimensões, em que os vales da ondulação sejam definidos
perpendicularmente à direcção de rolamento, de modo a sobrepor as duas zonas de influência
no mesmo plano.
Figura 1.18- Zonas de influência da micro e da macrogeometria no caso de: (a) rugosidade longitudinal e
(b) rugosidade transversal [26].
Influência da rugosidade na distribuição de pressão de contacto
A análise de Fourier permite caraçterizar a rugosidade de urna superficie, decompondo-a no
espectro de frequências que a constituem. Cada frequência vai ter uma contribuição para a
distribuição das pressões de contacto, que não será igual para todas elas. As frequências mais
elevadas, por exemplo, têm pouco peso numa análise estatística devido principalmente à sua
pequena amplitude. Assim, podem eliminar-se as frequências mais elevadas, retendo apenas
os comprimentos de onda mais significativos para uma dada situação de contacto. Embora
seja possível determinar as frequências mais baixas a considerar, correspondentes à
macrogeometria, já a questão de saber quais as frequências mais elevadas a considerar num
determinado problema de contacto, não tem uma resposta simples [57].
[54/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
A rugosidade pode alterar significativamente a distribuição de pressão de contacto
relativamente ao caso hertziano [11, 129, 288]. De um modo geral as alterações mais
significativas são:
• A área de contacto é geralmente dividida numa série de pequenas áreas de contacto;
• A área real de contacto pode ser igual ou inferior (caso mais frequente) à área do
contacto Hertziano equivalente;
• Existência de vários máximos de pressão de contacto, em vez de um único;
• As pressões máximas do contacto são mais elevadas do que a pressão máxima no
contacto Hertziano equivalente.
Bailey e Sayles [11] estudaram as alterações da rugosidade das superffcies, fazendo a
aquisição dos perfis de rugosidade na mesma posição, antes e depois de solicitadas em fadiga
de contacto. A partir da análise elástica do contacto com o perfil de rugosidade inicial,
aqueles autores verificaram que muitos dos picos de pressão ultrapassavam o valor da pressão
de indentação correspondente à dureza do material, o que sugere que as correspondentes
pontas da rugosidade deverão ser deformadas plasticamente quando solicitadas. A análise
efectuada com o perfil de rugosidade da superfície ensaiada indica que, de facto, os picos
foram deformados plasticamente, de modo a obter valores máximos de pressão de contacto
ligeiramente inferiores à pressão de indentação correspondente à dureza do material. Este
último resultado sugere que, num contacto lubrificado, em rolamento com escorregamento
lubrificado, as pressões locais são limitadas pela deformação plástica independente das
rugosidades superficiais.
Influência da rugosidade na distribuição das tensões internas
Se a pressão de contacto não é estritamente Hertziana mas apresenta perturbações, mesmo que
bastante localizadas, o campo de tensões internas vai ser fortemente modificado. Este assunto
foi objecto de numerosos estudos teóricos [129, 231, 251, 327], segundo os quais, as
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [55/366]
perturbações da pressão de contacto devidas à rugosidade podem criar máximos de tensões de
corte com amplitudes importantes, na proximidade da superfície, sem alterar as tensões em
profundidade devidas à componente Hertziana. A posição e intensidade desses máximos estão
ligadas à largura e à intensidade das perturbações da pressão de contacto. Segundo Castro e
Seabra [61, 145], tudo se passa como se o problema rugoso pudesse ser visto como um
conjunto de pequenos problemas lisos, cada um correspondendo a um pico de pressão.
Influência da rugosidade sobre a lubrificação elastohidrodinâmica
Para a análise da distribuição de pressão no contacto rugoso lubrificado é conveniente definir
as grandezas características D1, D2 e D3, ligadas a três escalas diferentes do problema. A
dimensão D1 é a largura 2a do contacto hertziano, característica das condições do contacto
global e dependente da carga total aplicada. A dimensão D2 é o comprimento de onda médio
dos picos da rugosidade, característica das condições do contacto entre picos e
correspondente, portanto, às cargas locais. Finalmente, o terceiro parâmetro característico D3
corresponde à espessura específica do filme lubrificante Λ:
A Figura 1.19 esquematiza a evolução da distribuição de pressão de contacto e do campo de
tensões internas, considerando inicialmente apenas D1 e introduzindo depois, sucessivamente,
D2 e D3 [138, 231]. De modo a simplificar a Figura, não se considera a modificação da
distribuição da pressão devida à teoria elastohidrodinâmica (existência do convergente e do
divergente). A Figura 1.19a representa o campo de tensões para superfícies lisas,
considerando apenas D1. Na Figura 1.19b acrescentam-se as modificações devidas a D2. A
carga total, correspondente a D1, não é alterada, mas a distribuição de pressão de contacto é
profundamente modificada. Este parâmetro introduz grandes concentrações de tensões, muito
localizadas e muito próximas da superfície, sem afectar o campo de tensões hertzianas no
interior. A configuração controlada por D3 (Figura 1.19c) pode situar-se em qualquer caso
intermédio entre os dois primeiros. À medida que este parâmetro aumenta, as interacões entre
os picos de rugosidade tendem a diminuir e a carga suportada pelo filme lubrificante a
aumentar. Em termos de distribuição de pressão de contacto, tal corresponde,
respectivamente, a uma diminuição da intensidade dos picos de pressão e a vales de pressão
menos pronunciados, aproximando-nos da primeira situação. Para valores de Λ≥ 2 considera-
[56/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
se que as sobretensões locais devidas à rugosidade são estatisticamente desprezáveis, ou seja,
que a influência da rugosidade na distribuição de pressão é desprezável. Pelo contrário, a
diminuição de Λ tende a aumentar a carga suportada pelos contactos discretos entre picos,
aproximando-nos da segunda situação.
Figura 1.19- Distribuição da pressão de contacto e das tensões internas no contacto rugoso lubrificado, em
função das diferentes escalas consideradas: (a) D1, (b) D1+D2, (e) D1+D2+D3. Não se
representa a influência da lubrificação elastohidrodinâmica [128].
A rugosidade influencia, portanto, o regime de lubrificação e a espessura do filme
lubrificante, pelo que a formula teórica de Dowson para o cálculo do espessura de filme,
poderia também ser afectada por um parâmetro de correcção devido à rugosidade φr.
Gohar [139] termina a sua abordagem ao problema da influência da rugosidade sobre a
espessura de filme com as seguintes conclusões:
• A rugosidade superficial não afecta significativamente a pressão no convergente
para pequenas ondulações e amplitudes.
• A rigidez do óleo é superior à rigidez das rugosidades. Por isso, a separação média
entre as duas superfícies, h0r, é practicamente a mesma se for o filme a suportar
toda a carga.
• A pressão média sobre as rugosidades, Pmed, depende da combinação de Rq e da
separação média entre as superfícies, h0C. O número de contactos metálicos entre
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [57/366]
os dois corpos depende do valor do parâmetro Λ, o que explica a sua importância
na análise de contactos EHD em regime misto de lubrificação.
• Caso a espessura do filme EHD seja suficiente o efeito da rugosidade sobre o
campo de pressões é muito reduzido. O número de picos de pressão devidos à
rugosidade aumenta quando a carga também aumenta sendo proporcional à área de
contacto.
• Algumas rugosidades podem deformar-se plasticamente.
Finalmente Flamand [6, 32, 128-130, 153, 245, 246] acrescenta:
• Para um dado λ (comprimento de onda) e U (velocidade adimensional), a
espessura média no centro do contacto aumenta, mas a espessura real h0r diminui
fortemente com o aumento de amp/hm.
• Para uma amplitude e uma dada velocidade adimensional (U), h0C e h0r aumentam
ligeiramente com o aumento do comprimento de onda, λ.
• A ondulação provoca alterações notáveis sobre a geometria e a pressão no
divergente.
• h0r e hmr são muito sensíveis à ondulação, e os seus valores aproximam-se quando
amp →h0C.
• A carga normal num contacto liso tem uma influência reduzida sobre ho, mas
importante sobre a pressão, enquanto que a viscosidade e piezoviscosidade têm um
efeito considerável sobre h0 mas practicamente nenhum sobre a dimensão do
contacto e pico de pressão à saida.
• A rugosidade provoca uma redução considerável das espessuras mínimas e
diferentes distribuições da área real de contacto, assim como alterações na
geometria do filme lubrificante.
[58/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
• As engrenagens apresentam no flanco dos dentes uma rugosidade que, se
correctamente rectificadas, se pode considerar isotrópica ou, no limite, transversal.
Campo de tensões/ deformações
Na análise do comportamento à fadiga de um contacto é importante o conhecimento das
tensões instaladas nas camadas de material imediatamente abaixo da superfície (sub-
superfície Hertziana).
A determinação das tensões no interior de um corpo é realizada assumindo que os corpos são
espaços elásticos semi-infinitos o que, recorrendo à teoria de Boussinesq-Cerruti [284],
permite calcular os deslocamentos e as tensões em todos os pontos no interior do sólido
através de uma solução numérica, baseada na discretização da superfície onde está aplicado o
campo de pressões e do volume onde se pretendem calcular as tensões e deslocamentos.
A modelação de um contacto EHD com rugosidade transversal é complexa, já que se trata de
um problema transitório no tempo. Para uma correcta simulação numérica da passagem de
uma rugosidade no interior do contacto, é necessário definir um intervalo de tempo para se
seguir a evolução do efeito da passagem dessa rugosidade, e assim melhor se compreender os
fenómenos envolvidos. Uma das conclusões que se tiram é que não é indiferente o sentido do
escorregamento, ou seja, não é indiferente se a rugosidade se encontra na superfície lenta ou
na superfície rápida, principalmente no que se relaciona com a formação do filme no interior
do contacto.
Se a superfície rápida for a superfície rugosa, as rugosidades, em especial as transversais, vão
funcionar como “palhetas” que arrastam o óleo para o interior do contacto, fazendo com que a
espessura do filme lubrificante seja superior. Assim sendo, o efeito destas rugosidades sobre o
campo de pressões no sólido vai ser mais reduzido, pelo facto de que, aumentando a espessura
média de filme, aumenta a percentagem de carga que é suportada pelo efeito hidrodinâmico.
Reduz-se, também, a amplitude dos picos de pressão devidos às rugosidades, aproximando-se
da hipótese das superfícies lisas [8].
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [59/366]
Na situação em que a superfície lenta é a mais rugosa, ocorre um efeito contrário, ou seja, o
lubrificante encontra maior dificuldade em penetrar no interior do contacto, a espessura do
filme lubrificante reduz-se e a carga suportada pelos picos de pressão devidos às rugosidades
aumenta. Em termos das tensões no interior dos sólidos, ocorrem vários picos de tensão na
sub-superfície Hertziana, consequência dos micro-contactos EHD existentes.
O tempo de crescimento de uma fissura representa, aparentemente, uma grande proporção do
tempo de vida do mecanismo. No entanto, quando o atrito é elevado e ocorre lubrificação
limite, o campo de macro-tensões aproxima-se da superfície e da saída do contacto,
facilitando o crescimento e a propagação de todas as fissuras iniciadas.
Superfície lisa
Quando as superfícies em contacto são consideradas teoricamente lisas, o campo de tensões é
maioritariamente constituido por tensões de compressão, em resultado do contacto entre os
dois sólidos.
Num contacto hertziano liso, em que não são considerados os efeitos hidrodinâmicos, a
distribuição das tensões de corte máxima e das pressões de Hertz é simétrica em relação ao
plano XZ [126] (ver Figura 1.20).
Figura 1.20 - Distribuição de tensões τmáx/P0 para um contacto hertziano linear liso [126].
[60/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Quando, devido aos efeitos hidrodinâmicos, se passa de um contacto hertziano para um
contacto elastohidrodinâmico, verifica-se uma alteração no campo de tensões. Na Figura 1.21,
podem constatar-se não só a assimetria na distribuição das tensões de corte máxima/pressões,
como também a presença de um pico de tensão mais próximo da superfície, provocado pelo
coeficiente de atrito, que arrasta o ponto de máxima tensão de corte em direcção à saída do
contacto e à superfície desde uma profundidade Zo, medida sobre o eixo ZZ. Um efeito
semelhante a este acontece na presença de um pico de pressão à saida do contacto EHD.
Figura 1.21 - Distribuição das tensões de corte τmáx/P0 e τxz/P0 no plano Z=0 do sólido [126].
O facto da superfície real de contacto nunca ser perfeitamente lisa, pois existem defeitos,
rugosidades e outros elementos estruturais desfavoráveis que poderão funcionar como locais
de concentração de tensões, permite concluir que esta situação pode criar condições
vantajosas para o aparecimento da fadiga de contacto superficial.
Em termos de fadiga, são muito importantes as variações de tensão, ou seja, a variação de
amplitude. Neste aspecto assume especial relevo a tensão τxz que passa de -0.25P0 a 0.25P0
durante um ciclo de carregamento.
Superfície rugosa
Relativamente às superfícies rugosas, a presença de rugosidades nas superfícies leva a que
ocorram contactos metálicos entre as rugosidades. A consequência destas interacções é a
ocorrência de micro-contactos EHD que provocam no sólido o aparecimento de micro campos
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [61/366]
de tensão em tudo, inclusivé nos valores máximos, semelhantes ao contacto global EHD,
excepto na dimensão do volume de material afectado por esses micro-contactos EHD e no
nível das tensões máximas que podem ser bastante superiores. A sub-superfície Hertziana,
alguns micrómetros abaixo da superfície, fica submetido a campos de tensões muito severos,
dependentes do tipo de acabamento superfícial.
De notar que o campo de tensões atrás referido, vai contribuir fortemente para a iniciação de
fissuras à superfície - até porque, e com elevada probabilidade, se atingem valores da tensão
que ultrapassam o limite elástico - e o aparecimento de pits, que por sua vez crescerão e
induzirão os spalls (ver Figura 1.22).
Figura 1.22 - Alterações induzidas ao campo de tensões τmáx pela presença de rugosidades na sub-
superfícies Hertzianas [126].
Concluindo, as interacções entre as rugosidades geram tensões secundárias junto à superfície,
eventualmente do domínio plástico, contribuindo para a iniciação de fissuras e
consequentemente dano por fadiga de contacto.
1.4- Sumário e conclusão
O micropitting é um tipo de dano por fadiga de contacto directamente relacionado com a
rugosidade das superfícies. É uma forma particular de pitting caracterizada pelo tamanho
microscópico das crateras superficiais que se desenvolvem nos flancos activos dos dentes da
[62/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
engrenagem, apresentando tamanhos diversos e desenvolvendo-se sempre a partir da
superfície. O micropitting ocorre sempre antes do pitting, sendo acompanhado por uma
deformação plástica da camada superficial, mais notória do que no caso do pitting e do
spalling.
Para além da rugosidade das superfícies em contacto, o micropitting depende ainda das
propriedades dos materiais, dos tratamentos térmicos e mecânicos de endurecimento
superficial, das propriedades dos lubrificantes e finalmente das condições de funcionamento.
As características dos materiais têm a ver com a quantidade e natureza dos defeitos. A
influência da lubrificação pode ser descrita através da espessura específica do filme
lubrificante, Λ, que determina o regime de lubrificação: filme completo, misto ou limite, e é
determinante na vida à fadiga de contacto de um mecanismo. Entre as condições de
funcionamento, é de destacar que o micropitting ocorre normalmente em zonas de rolamento
puro ou escorregamento moderado e submetidas a cargas médias ou relativamente baixas,
dando-se a incubação das fissuras após períodos bastante longos de solicitação. Para cargas
mais elevadas, os modos de avaria predominantes podem ser o desgaste excessivo ou
gripagem, dependendo do valor do escorregamento.
O aumento da viscosidade do lubrificante retarda o aparecimento de “pits” que podem mesmo
ser evitados se a viscosidade for aumentada acima de um determinado valor. No entanto,
como o aumento da viscosidade tende a aumentar a temperatura das superfícies, o potencial
benefício do uso de um lubrificante mais viscoso pode não ser totalmente atingido.
A rugosidade das superfícies em contacto influencia, directamente ou através do parâmetro Λ,
a ocorrência de micropitting nas engrenagens. Um dos factores da rugosidade que contribuem
para a existência de uma espessura de filme maior ou menor, e por esse facto concorre para a
existência de um valor de Λ mais ou menos favorável, é a orientação da rugosidade.
O parâmetro Λ, que representa a relação entre a espessura do filme lubrificante e a rugosidade
Rq equivalente das superfícies de contacto, é determinante para o aparecimento do
micropitting.
Capítulo 1- Avaria de Micropitting em Engrenagens [63/366]
A redução da rugosidade das superfícies e o aumento da espessura do filme lubrificante têm
como consequência um aumento significativo da duração de vida à fadiga de contacto,
definida até ao aparecimento do pitting, diminuindo drasticamente a probabilidade de
iniciação de fissuras superficiais.
Em conclusão, a ocorrência de micropitting nos flancos activos dos dentes de engrenagens
pode ser devida à interacção entre as rugosidades, para o qual contribuem a:
espessura do filme lubrificante insuficiente;
excessiva rugosidade das superfícies;
existência de partículas de grandes dimensões no lubrificante.
O parâmetro com maior influência sobre o aparecimento do micropitting é a espessura
específica do filme lubrificante, Λ. O lubrificante pode também influenciar o aparecimento do
micropitting de três formas diferentes:
a viscosidade afecta directamente o valor de Λ,
a formulação do lubrificante (óleo base e aditivos),
a existência de água dissolvida no óleo que provoca reduções significativas
da duração de vida à fadiga dos contactos EHD.
[64/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
CAPÍTULO 2
PRESSÕES NORMAIS DE CONTACTO EM REGIME MISTO
DE LUBRIFICAÇÃO
2.1- Introdução
A aplicação dos diferentes critérios de fadiga de contacto (iniciação ou propagação) ao
contacto entre dois dentes de uma engrenagem, implica um conhecimento muito detalhado
das solicitações aplicadas na superfície de contacto. Estas solicitações têm duas componentes:
o campo de pressões normal e o campo de tensões tangenciais ou de corte.
Ao longo da linha de engrenamento inúmeros parâmetros contribuem para a definição do
campo de pressões. Deste modo, as condições de funcionamento (velocidade de rolamento,
escorregamento, carga, dimensão do contacto e temperatura), os estados da superfície e as
características físicas dos materiais em presença (lubrificante e sólidos), desempenham um
papel importante no estabelecimento de tais solicitações.
A configuração do contacto elastohidrodinâmico entre dois dentes de uma engrenagem é
muito complexa. Envolve duas superfícies rugosas, animadas de velocidades diferentes e
separadas por um filme lubrificante, que sob efeito da pressão e do escorregamento, imposto
pela diferença de velocidade entre as duas superfícies, aquece fortemente, conduzindo a fortes
modificações das suas propriedades físicas e nomeadamente da sua viscosidade.
[66/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Este tipo de contacto é denominado por contacto rugoso transitório. Além disso, nas
condições de funcionamento típicas das engrenagens, o filme lubrificante que separa as duas
superfícies é muito ténue, em geral da mesma ordem de grandeza da rugosidade das
superfícies, conduzindo, localmente, à ruptura do filme lubrificante. É portanto evidente, que
tais rupturas localizadas do filme lubrificante têm consequências importantes sobre a duração
de vida da superfície.
O regime de lubrificação mais corrente em engrenagens é a lubrificação mista, já que as
condições de funcionamento e as rugosidades dos flancos dos dentes das engrenagens
conduzem a valores da espessura específica do filme lubrificante (Λ) frequentemente situados
entre 0.7 e 2 que é precisamente a gama de valores correspondentes ao regime misto [159].
Este regime é caracterizado pela existência de zonas no contacto onde o filme lubrificante, se
existir, não desempenha qualquer função hidrodinâmica, sendo o contacto integralmente
suportado pelas rugosidades das superfícies (zona de lubrificação limite) e outras zonas onde
o filme lubrificante desenvolve uma função hidrodinâmica e onde a deformação elástica dos
sólidos em contacto não pode ser desprezada (zona dita de lubrificação elastohidrodinâmica
ou em filme completo).
A modelação clássica de um contacto EHD pressupõe a existência de um filme completo, ou
seja, não é compatível com este tipo de problema denominado por contacto rugoso em regime
misto de lubrificação. Uma solução possível para ultrapassar esta dificuldade passa pela
obtenção do campo de pressões normais de contacto em regime misto, através da conjugação
das soluções em filme completo e em contacto seco.
A modelação numérica do contacto EHD rugoso em regime misto de lubrificação é portatnto
muito complexa: o cálculo do campo de pressões é baseado em dois modelos anteriormente
desenvolvidos, que permitem ambos incluir as rugosidades da superfície por intermédio de
um perfil de rugosidade.
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [67/366]
2.2- Campo de pressões normais em contacto seco rugoso
A partir da teoria de Hertz foram desenvolvidos inúmeros estudos [13, 54, 291] com o
objectivo de modelar da melhor forma possível a realidade dos contactos não-conformes. Os
diversos algoritmos disponiveis permitem calcular o campo de pressões na superfície de
contacto e deduzir o campo de tensões na sub-superfície, o qual é a base dos estudos de
duração de vida.
O modelo aqui descrito foi desenvolvido por Campos [53, 54] e trata-se de um modelo que
aplica os princípios da deformação de um semi-espaço elástico a uma superfície rugosa,
obtida sobrepondo o perfil de rugosidade à forma média do contacto.
Este modelo não entra em consideração com o movimento das superfícies nem com a
existência de lubrificante. Trata-se apenas de colocar em contacto uma superfície rugosa e
uma superfície lisa. Deste modo, considera-se que a espessura do filme lubrificante é nula e
que o valor de Λ é nulo. O campo de pressões assim obtido pode conduzir a valores das
pressões de contacto muito elevadas, tratando-se, portanto, de um campo de pressões
caracterizador de um “caso limite superior” das pressões de contacto, a que corresponde uma
espessura do filme lubrificante nula (Λ=0). Considera-se que se trata do campo de pressões
típico de um funcionamento em regime limite, pLIM.
2.2.1- Deformação elástica dos corpos em contacto
A influência da distribuição de pressão aplicada às superfícies é muito grande na zona de
contacto decrescendo rapidamente com a distância ao centro do contacto. Nestas condições,
admitindo que as dimensões dos corpos em contacto são muito grandes quando comparadas
[68/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
com as dimensões da zona de contacto, as tensões e as deformações podem ser calculadas,
com muito boa aproximação, considerando cada corpo como um sólido elástico semi-infinito,
isto é, um semi-espaço elástico. Esta aproximação permite a utilização da Teoria da
Elasticidade desenvolvida para o semi-espaço elástico [181].
O contacto é designado de linear ou infinitamente longo quando os raios de curvatura das
duas superfícies em contacto são infinitos numa dada direcção comum do plano de contacto.
Neste caso, a distribuição de pressão é constante nessa direcção, como representado na Figura
2.1.
Figura 2.1 – Distribuição de pressão p(x) a actuar num semi-espaço elástico.
A determinação dos deslocamentos das superfícies obedece aos seguintes
pressupostos:
• Os corpos em contacto são considerados semi-espaços elásticos;
• A solicitação é infinitamente longa na direcção Oy e está aplicada na largura
( )21 bb + sobre o eixo Ox;
• Os semi-espaços elásticos estão submetidos a um estado plano de deformação.
b1
x
z
b2
ds
s
x
p(s)
q(x,0)
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [69/366]
Assim, o deslocamento normal de um ponto q da superfície do semi-espaço elástico, devido à
distribuição de pressão p(s), é definido por [181]:
( ) 2
1
2 bi
zii b
2 1u (x) p(s) ln x sds C
E −
− υ= − +
π ∫ (2.1)
No caso de um contacto linear entre dois corpos elásticos, cujas superfícies estão submetidas à
mesma distribuição de pressão, a diferença de deslocamentos de pontos homólogos de cada
uma das superfícies é
( ) ( ) 2
1
2 2 b1 2
z z1 z21 2 b
2 1 2 1u (x) u (x) u (x) p(s) ln x sds C
E E −
⎛ ⎞− υ − υ⎜ ⎟= − = + − +⎜ ⎟π π⎝ ⎠
∫ (2.2)
a qual pode ser simplificada tendo em conta o módulo de elasticidade equivalente E’,
12 21 2
1 2
1 1E ' 2E E
−⎛ ⎞− υ − υ
= +⎜ ⎟⎝ ⎠
, (2.3)
pelo que,
2
1
b
z 'b
2u (x) P(s) ln x sds CE −
= − +π ∫ (2.4)
2.2.2- Contacto seco
A teoria de Hertz (ver anexo A), para o problema de contacto normal entre dois sólidos de
revolução elásticos em contacto linear, foi desenvolvida a partir de várias hipóteses de base,
sendo de destacar as seguintes:
[70/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
a) O material dos sólidos em contacto tem um comportamento homogéneo, isotrópico
e linear-elástico, de acordo com a lei de Hooke;
b) Os sólidos, para efeitos da determinação dos deslocamentos locais, podem ser
considerados como semi-espaços elásticos;
c) Os sólidos são de revolução, as suas superfícies são contínuas e contraformais,
sendo conhecidos os seus dois raios principais de curvatura Rx1 e Rx2, na vizinhança
da linha inicial de contacto;
d) A carga é aplicada segundo a direcção Oz, perpendicular ao plano tangente comum.
e) Após a aplicação da carga normal forma-se em torno da linha inicial de contacto
uma superfície de contacto;
f) A área de contacto é plana e paralela ao plano tangente comum;
g) A área de contacto é rectangular;
h) As dimensões da área de contacto entre os dois sólidos são muito pequenas quando
comparadas com os raios de curvatura das superfícies dos sólidos;
O modelo de Hertz para o problema de contacto normal entre dois sólidos elásticos,
transmitindo entre si uma força normal (Fn), estabelece as seguintes condições de contacto:
0zu (x) H (x)− δ ≥ − (2.5)
xp 0≥ (2.6)
x ns
p ds F=∫ (2.7)
A inequação (2.5) é uma condição de não penetração entre os sólidos em contacto, onde zu
representa a diferença dos deslocamentos normais das superfícies em contacto, δ a
aproximação global entre os sólidos, ou penetração, e H0 a geometria não deformada do
contacto. A segunda inequação (2.6) estabelece que no interior da área de contacto as pressões
são positivas ou nulas, sendo nulas no exterior. Finalmente a equação (2.7) estabelece o
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [71/366]
equilíbrio entre a solicitação normal aplicada e a distribuição de pressões no interior da área
de contacto.
A solução, analítica ou numérica, do sistema de inequações e equações ((2.5),(2.6),(2.7))
permite determinar a distribuição de pressões no interior da área de contacto e a deformada
das superfícies. Tais soluções analíticas e numéricas são apresentadas com grande detalhe nas
referências [53, 285].
2.2.2.1- Contacto seco liso
A solução do problema de Hertz para o caso de duas superfícies lisas [181] conduz a um
campo de pressões parabólico definido por:
2
x 0xp p 1a
⎛ ⎞= − ⎜ ⎟⎝ ⎠
(2.8)
em que p0 é a pressão máxima de contacto (pressão máxima de Hertz) e a representa a semi-
largura do contacto.
A pressão máxima de contacto (p0) pode ser obtida através do equilíbrio entre a carga normal
aplicada Fn e o campo de pressões px definido pela expressão (2.8),
2a a
n nx 0 0a a
F 2Fxp dx p 1 dx pa a− −
⎛ ⎞= − = ⇔ =⎜ ⎟ π⎝ ⎠∫ ∫ ou '
n0 '
F2 EpR
=π
(2.9)
sendo o comprimento de contacto e Req o raio de curvatura equivalente,
[72/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
x1 x2eq
x1 x2
R RRR R
⎛ ⎞= ⎜ ⎟+⎝ ⎠
(2.10)
A semi-largura de Hertz é definida por,
'0
'
p RaE
= (2.11)
isto é, em função da carga normal,
'n
'
F2 RaE
=π
(2.12)
2.2.2.2- Contacto seco rugoso (regime limite)
O modelo usado foi desenvolvido por Campos [22, 23, 53], e trata-se de um algoritmo que
aplica os princípios da deformação de um semi-espaço elástico a uma superfície rugosa,
obtida sobrepondo o perfil de rugosidade à forma média do contacto.
Este modelo não considera a cinemática do contacto nem a presença de lubrificante. Trata-se
apenas de colocar em contacto uma superfície rugosa equivalente e uma superfície lisa, sendo
a superfície rugosa obtida por combinação das superfícies reais em contacto.
A solução do problema de contacto rugoso conduz a um campo de pressões (pLIM)
caracterizado pelos elevados picos de pressão e a uma deformada da superfície de contacto
onde os picos das rugosidades são fortemente deformados, como se mostra na figura 2.4.
Este campo de pressões normais determinado em regime de contacto seco rugoso pode ser
considerado como um limite superior da distribuição de pressão em que toda a carga é
suportada pelas rugosidades em contacto não existindo qualquer filme lubrificante (Λ=0).
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [73/366]
Figura 2.2- Contacto seco rugoso: campo de pressões e geometria deformada.
A Figura 2.3 representa a geometria equivalente de dois sólidos, para os contactos liso e
rugoso, antes e depois da deformação. A Figura 2.4 representa o campo de pressões em
contacto seco para uma superfície rugosa (superfície S1), para um contacto de referência
(p0=1.5 GPa, VR=6 ms-1, Ve=-0.3).
As rugosidades das duas superfícies são tidas em consideração, sendo definida uma macro e
uma micro-geometria equivalentes [83, 110, 130, 224, 245, 246, 285, 305]. Os algoritmos
desenvolvidos para análise do contacto seco rugoso mostram que estas rugosidades
modificam consideravelmente o campo de pressões, aumentando notavelmente as pressões
máximas, como mostra na Figura 2.4.
• Contacto seco rugoso (Λ=0)
– Consideração directa das superfícies reais – Cálculo do campo de pressões limite- PLIM – Cálculo da deformada do contacto
[74/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
0,00E+00
2,00E-06
4,00E-06
6,00E-06
8,00E-06
1,00E-05
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20
(mm)
(m)
Rugoso não deformado
Rugoso deformado
Liso não deformado
Liso deformado
Figura 2.3 – Geometria não deformada e deformada de duas superfícies em contacto, liso ou rugoso
(superfície S1).
-1,00E+09
0,00E+00
1,00E+09
2,00E+09
3,00E+09
4,00E+09
5,00E+09
6,00E+09
7,00E+09
8,00E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
PLISO
PLIM
PLISO
PLIM
Figura 2.4- Distribuição de pressão px para um contacto seco, liso ou rugoso (superfície S1).
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [75/366]
2.3- Campo de pressões e espessura do filme lubrificante
em contacto EHD rugoso- Modelo de Ai e Cheng
O modelo desenvolvido por Ai e Cheng [2-4] permite determinar o campo de pressões de um
contacto rugoso em condições de lubrificação em regime de filme completo, isto é, tal que Λ é
superior a 2.
Este modelo simplificado permite calcular as variações do campo de pressões de um contacto
rugoso a partir da transformada de Fourier do perfil (FFT), permitindo obter as suas
componentes frequenciais.
O campo de pressões, assim obtido, pode ser considerado como um limite inferior da
distribuição de pressão em que toda a carga é suportada pelo filme lubrificante apesar das
superfícies em contacto
2.3.1- Lubrificação em regime de filme completo
Considera-se que a lubrificação ocorre em regime de filme completo, quando não existe
contacto entre os picos das rugosidades das superfícies. Observa-se experimentalmente [159]
que para valores de espessura específica do filme lubrificante superiores a 2 (Λ>2)
praticamente não há contacto entre as superfícies dos flancos dos dentes das engrenagens.
A equação de Reynolds [53] permite determinar o campo de pressões de contacto, conhecidas
a geometria deformada e a cinemática do contacto, assim como as propriedades do
lubrificante (em particular a suas viscosidade e piezoviscosidade).
[76/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
De momento só estão disponíveis soluções numéricas da equação de Reynolds, para o caso da
lubrificação em filme completo, isto é, para contactos em que as superfícies estejam
completamente separadas por um filme lubrificante que suporta toda a carga transmitida ao
contacto. Na prática, tal significa que só são conhecidas soluções da equação de Reynolds
para valores de Λ≥2.
Para valores de Λ inferiores a 2 não é possível fazer convergir as soluções da equação de
Reynolds, o que é justificado pela incompatibilidade física entre a equação de continuidade do
filme lubrificante e a geometria deformada, isto é, pelo facto da carga poder ser suportada em
parte pelo filme lubrificante e em parte pelo contacto directo entre as rugosidades das
superfícies (regime misto).
Para valores de Λ superiores a 2 pode recorrer-se à solução de Ai-Cheng [2-4, 20-24, 134-
144] para a determinação do campo de pressões em regime EHD rugoso, o qual necessita do
conhecimento do valor médio de espessura do filme lubrificante e das componentes
frequenciais dos perfis de rugosidade das superfícies em contacto.
Conhecido o campo de pressões normais, pode obter-se a deformada elástica dos sólidos em
contacto que em conjunto com a espessura média do filme lubrificante define, de modo
simplificado, uma solução completa isotérmica do problema de contacto EHD rugoso (em
filme completo, para·> 2).
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [77/366]
2.3.1.1- Contacto linear elastohidrodinâmico
Equação de Reynolds
Partindo da forma mais geral das equações completas de Navier-Stokes [139] aplicadas a
fluidos newtonianos e considerando que nos problemas de lubrificação em filme fluído os
efeitos da pressão, da temperatura e da viscosidade são predominantes, ou seja, não
considerando os efeitos de inércia (desprezáveis quando comparados com os efeitos viscosos)
e não considerando as forças de volume (desprezando a massa do lubrificante), Reynolds
formulou a equação para o escoamento de um fluído entre duas superfícies em contacto
baseada ainda nas seguintes considerações [53]:
1) o meio é contínuo;
2) a espessura do filme lubrificante é muito pequena quando comparada com as
restantes dimensões do contacto, podendo por isso considerar-se a pressão
constante na direcção normal ao plano de contacto;
3) não há deslizamento entre o lubrificante e as superfícies em contacto,
admitindo por isso a mesma velocidade para a superfície e para o lubrificante
na interface;
4) os gradientes de tensão de corte e de velocidade só são considerados
significativos na direcção normal ao plano de contacto (pelo mesmo motivo
referido em 3);
5) é admitido um escoamento laminar, isto é, com um número de Reynolds baixo;
6) o comportamento do lubrificante é considerado Newtoniano;
7) é considerado que a viscosidade e a densidade não variam na direcção normal
ao plano de contacto;
[78/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Nestas condições, considerando que x é a direcção do escoamento (rolamento) que z é a
direcção perpendicular ao plano de contacto e que y representa a terceira direcção cartesiana,
a equação de Reynolds estabelece que :
( ) ( )3 3 1 2U Up ph h h hx 12 x y 12 y 2 x t
⎡ ⎤⎡ ⎤ +∂ ρ ∂ ∂ ρ ∂ ∂ ∂+ = ρ + ρ⎢ ⎥⎢ ⎥∂ η ∂ ∂ η ∂ ∂ ∂⎣ ⎦ ⎣ ⎦
(2.13)
Para uma dada geometria (h) a equação de Reynolds permite obter a correspondente
distribuição de pressão, conhecidas as velocidades das superfícies U1 e U2, a viscosidade
dinâmica (η) e a massa volúmica do lubrificante (ρ), devendo respeitar a condição de não
cavitação,
( ) 0,,,,, ≥∀∀ tyxpyxt (2.14)
O contacto entre os dentes de engrenagens cilíndricas (de dentado recto) é equivalente ao
contacto entre dois cilindros (contacto considerado infinitamente longo na direcção
perpendicular ao rolamento no plano de contacto, ou seja, na direcção y) e sendo assim o
problema elastohidrodinâmico analisado pode ser simplificado para o equivalente contacto
cilindro/cilindro que por sua vez é também equivalente (com a introdução do raio de
curvatura equivalente) a um contacto cilindro/plano como se mostra na Figura 2.5.
Figura 2.5 –Equivalência do contacto entre dentes de uma engrenagem recta, o contacto entre dois
cilindros e o contacto entre um cilindro e um plano.
y
z
R1
R2
x
R1
R2
Req
Fn
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [79/366]
No caso de um contacto infinitamente longo (ou linear), a equação de Reynolds (2.13) pode
ser simplificada, obtendo-se,
( ) ( )3 1 2U Up h h hx 12 x 2 x t
⎡ ⎤ +∂ ρ ∂ ∂ ∂= ρ + ρ⎢ ⎥∂ η ∂ ∂ ∂⎣ ⎦
(2.15)
Admitindo, ainda, que o regime de funcionamento é permanente, a equação de Reynolds toma
a forma:
( )3M
p h U hx 12 x x
⎡ ⎤∂ ρ ∂ ∂= ρ⎢ ⎥∂ η ∂ ∂⎣ ⎦
(2.16)
sendo UM=(U1+U2)/2 a velocidade média das duas superfícies. Integrando a equação (2.15) a
partir de uma determinada geometria obtém-se a solução para o problema do contacto linear
EHD para fluidos newtonianos em regime estacionário e isotérmico.
Geometria do filme lubrificante
O fluido lubrificante é submetido ao esmagamento e ao corte provocados pela carga e pelas
velocidades impostas aos corpos em contacto. A geometria inicial das superfícies é alterada
devido à deformação elástica provocada pelo efeito da pressão de contacto.
Atendendo à Figura 2.6, a geometria do filme lubrificante (h) pode ser definida por:
h=H0- zu +h0+ Cu (2.17)
onde,
H0 – geometria não deformada da superfície equivalente.
[80/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
h0 – espessura do filme lubrificante no centro do contacto.
zu – diferença dos deslocamentos, definido pela equação (2.4).
Cu – diferença dos deslocamentos no centro do contacto (para x=0).
Figura 2.6 –Geometria do filme lubrificante elastohidrodinâmico em regime de filme completo.
Comportamento do lubrificante
A relação entre a geometria do filme lubrificante, a cinemática das superfícies e o campo de
pressões de contacto é obtida através da equação de Reynolds (2.16) conhecendo o
comportamento do lubrificante, nomeadamente, a variação da viscosidade dinâmica e da
massa específica com a pressão e temperatura.
A expressão de Barus [105, 106, 338]
( ) ( )0 0 0 0P,T exp P T Tη = η α −β −⎡ ⎤⎣ ⎦ (2.18)
H0
Cu
h0
zu
h
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [81/366]
relaciona a viscosidade dinâmica de um lubrificante com a pressão e temperatura, onde, η0 é a
viscosidade dinâmica à pressão atmosférica e à temperatura do banho de óleo (T0), α0 é o
coeficiente de piezoviscosidade e β0 o coeficiente de termoviscosidade.
A equação de Dowson e Higginson [101], que descreve a variação da massa específica com a
pressão, foi modificada de forma a contemplar o efeito de expansão térmica [170, 274, 305]:
( ) ( )1p0 p 0
2p
PP,T 1 1 T T
1 P⎛ ⎞α
⎡ ⎤ρ = ρ + −β −⎜ ⎟ ⎣ ⎦⎜ ⎟+ α⎝ ⎠ (2.19)
onde α1p e α2p são os coeficientes de piezodensidade e βp é o coeficiente de expansão térmica.
Equilíbrio de forças no contacto
A distribuição de pressão normal px na área de contacto deve equilibrar a carga normal
aplicada ao contacto Fn, ou seja,
n xS
F p dx dy= ∫ (2.20)
Num contacto linear elastohidrodinâmico, com comprimento de contacto e largura de
contacto 2a, a condição de equilíbrio pode ser simplificada, obtendo-se
anxa
F p dx−
= ∫ (2.21)
[82/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
2.3.1.2- Contacto linear elastohidrodinâmico liso
A determinação do campo de pressões e da geometria do filme lubrificante em contactos EHD
lisos, considerando que o comportamento do contacto é isotérmico, resulta da solução
simultânea das equações apresentadas no ponto anterior, nomeadamente a equação de
Reynolds, a equação da geometria do filme lubrificante, as leis de variação da viscosidade
dinâmica e de massa específica do lubrificante com a pressão e temperatura e a equação de
equilíbrio de forças no contacto.
Devido à impossibilidade de obtenção de uma solução analítica para o problema do contacto
EHD liso recorrem-se a soluções numéricas como mostram alguns exemplos descritos na
literatura [53].
Distribuição de pressão em contactos EHD lisos
A Figura 2.7 mostra um exemplo típico do campo de pressão e da geometria do filme
lubrificante num contacto EHD liso. Pode observar-se na Figura 2.7 que o campo de pressões
EHD prolonga-se para a zona do convergente e do divergente do contacto, tendo uma largura
superior à do correspondente campo de pressões seco (Hertz). principalmente na zona do
convergente do contacto. Também se verifica um ligeiro decréscimo do valor da pressão
máxima EHD em relação à pressão máxima de Hertz. A espessura do filme mantém-se
praticamente constante e igual à espessura no centro (h0) na região correspondente às pressões
elevadas. Imediatamente antes da saída do contacto ocorre um pequeno pico de pressão
associado a um decréscimo local da espessura do filme lubrificante.
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [83/366]
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1
x/b
P/P
0
0
1
2
3
4
5
6
h/h 0
Hertz
EHD
h/ho
Figura 2.7 – Campo de pressão de Hertz, campo de pressão EHD e geometria do filme lubrificante
(contacto EHD liso).
Espessura do filme lubrificante em contactos EHD lisos
São inúmeras as propostas de expressões para cálculo da espessura do filme lubrificante em
contactos lineares. Dowson & Higgison [103, 160] desenvolveram a expressão apresentada no
capítulo 1 para a espessura do filme lubrificante em contactos lineares, contudo não
apresentam nos seus trabalhos os limites para a aplicação dessa expressão nem referem quais
os resultados considerados no ajuste dos expoentes da mesma equação.
A solução de Grubin [149] para o cálculo da espessura do filme lubrificante em contactos
elastohidrodinâmicos assume um comportamento isotérmico do contacto em toda a sua
extensão. Esta hipótese foi considerada por diversos autores, entre eles Dowson & Higgison
[103, 360] para o contacto linear e Hamrock & Dowson [154] para o contacto pontual.
Constatou-se experimentalmente que a espessura do filme lubrificante, quer em casos de
rolamento puro quer de rolamento e escorregamento, é quase unicamente determinada pelas
[84/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
condições de funcionamento no convergente [100]. Com base neste facto e tendo em conta as
pequenas velocidades de deformação do filme lubrificante que ocorrem no convergente,
diversos autores, Crook [86], Dowson & Whitaker [101] e Cheng [74], sugeriram que o
aumento da temperatura no convergente era muito pequeno e como tal a sua influência na
viscosidade igualmente pequena. Neste pressuposto a influência do aumento da temperatura
no convergente na espessura de filme não era significativa.
No entanto, verifica-se que o comportamento isotérmico apenas acontece em situações em
que a velocidade de rolamento é muito pequena e para lubrificantes de baixa viscosidade.
Dyson, Naylor e Wilson (1965), segundo refere Greenwood [148], depois de encontrarem
valores experimentais para a espessura de filme inferiores aos previstos teoricamente
sugeriram que a causa podia estar na diminuição da viscosidade do lubrificante no
convergente.
Em 1972, Cheng (segundo Greenwood [148]) apresenta um modelo para o contacto
elastohidrodinâmico, assinala que a espessura do filme lubrificante pode ser
significativamente reduzida devido ao aumento da temperatura no convergente, faz uma
estimativa teórica desse aumento de temperatura no caso de rolamento puro e, a partir desses
resultados, obtém uma equação para prever a redução da espessura do filme lubrificante.
Este aquecimento no convergente resulta da deformação viscosa a que é submetido o
lubrificante devido à diferença de velocidades entre as superfícies, ao gradiente de pressão no
convergente e à velocidade de rolamento.
Este tema voltou a ser revisto por diversos autores, entre eles Greenwood & Kauzlarich [148]
em 1973, Murch & Wilson [240] em 1975 e mais recentemente por Pandey & Ghosh [260].
Os vários modelos propostos reconheciam a necessidade da inclusão do efeito térmico no
convergente na variação da espessura de filme, embora prevendo valores de redução da
espessura algo diferentes a elevadas velocidades de rolamento.
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [85/366]
Neste trabalho foi adoptada a expressão sugerida por Cheng [2-4] à qual foi acrescentado um
factor, desenvolvido por Sottomayor e Seabra [302], que tem em consideração o efeito do
escorregamento.
0.740 0.740 0.1100 1.989 eqh R U G W −= ⋅ × × × (2.22)
O factor de redução da espessura do filme lubrificante devido ao aquecimento no
convergente, apresentado por Sottomayor e Seabra [302], é definido pela expressão,
actualizada para as unidades S.I,
( )0.420
'
T 0.84 0.64e
p1-7.374 LE=
1+0.089 1+3.964 V Lφ
⋅
⋅ (2.23)
onde a taxa de escorregamento Ve é definida por,
1 2e
1 2
U UV
U U−
=+
(2.24)
sendo o parâmetro térmico do lubrificante (L) definido por,
( )21 2
f
U UL
Kβ⋅ + ⋅η
= (2.25)
Assim, a espessura corrigida do filme lubrificante no centro do contacto será definida pela
expressão
h0C = φT.h0 (2.26)
À medida que se eleva a velocidade de rolamento o parâmetro L aumenta consideravelmente
e consequentemente há uma redução significativa de φT. Deste facto resulta que a taxa de
crescimento da espessura corrigida (ao contrário do que se passa com a espessura de filme não
corrigida) vai diminuindo até se tornar negativa. Em qualquer caso, a espessura de filme
[86/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
corrigida nunca atinge o valor nulo, ou seja, o valor de φT é sempre maior do que zero o que
implica que teoricamente não está prevista a ruptura do filme lubrificante.
2.3.1.3- Contacto linear elastohidrodinâmico rugoso
Partindo da equação de Reynolds simplificada (2.15), o modelo desenvolvido por Ai e Cheng
[2-4, 134-144] permite determinar o campo de pressões de um contacto rugoso em condições
de lubrificação em filme completo, isto é, para valores da espessura específica do filme
lubrificante, Λ, superiores a 2.
Este modelo simplificado determina as perturbações locais do campo de pressões de um
contacto rugoso, a partir da transformada de Fourier (FFT) do perfil de rugosidade composto
das superfícies, permitindo obter as suas componentes frequenciais. Assim, a distribuição de
pressões em filme completo para o contacto EHD rugoso EHDRp é dada pela equação:
EHDR Hx x xp p p= + ϖ δ (2.27)
onde,
Hxp - pressão de Hertz do contacto onde x é abcissa sobre o perfil de rugosidade.
ϖx – função auxiliar de compatibilidade entre a zona de alta pressão no contacto e a
zona exterior ao contacto (pressão nula), definida por:
( ){ }x
1 x / a 0.9
0.5 1 cos 10 x / a 0.9 0.9 x / a 1
0 x / a 1
⎧ ≤⎪⎪ ⎡ ⎤ϖ = + π − < ≤⎨ ⎣ ⎦⎪
>⎪⎩
(2.28)
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [87/366]
onde a é a semi-largura do contacto.
δpx - variação da pressão relativamente a HxP , com
fn0.768 0.806
x i i ii 1 i
2 xp Lp A L senL
−
=
⎛ ⎞πδ = + φ⎜ ⎟
⎝ ⎠∑ (2.29)
Ai=ampi/h0
em que ampi é a amplitude da componente i do perfil de rugosidade,
Li=λi/a
em que λi é o comprimento de onda da componente i do perfil de rugosidade, φi é a fase da
componente i do perfil de rugosidade e nf representa o número de componentes utilizados na
definição do perfil de rugosidade.
O parâmetro Lp caracteriza as condições de funcionamento do contacto em termos de carga,
velocidade, escorregamento, geometria e propriedades do lubrificante, sendo definido por:
0.35152 0.55084 '0.61052 0.09768 0.16132 0.16132eq R 0 SLp 0.01576 W R E V C− − −
η= α η (2.30)
onde
0.899S eC 0.9454 V 0.074= β + (2.31)
com
β=1 se Ve < 0 e β=0.83 se Ve ≥ 0.
[88/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Este modelo considera o lubrificante como sendo um fluído newtoniano e o contacto como
isotérmico.
As modelizações que conduziram à definição do parâmetro Lp foram realizadas em condições
de funcionamento tais que os valores de Λ foram sempre superiores a 2 (lubrificação em
regime de filme completo), isto é, para superfícies com excelente acabamento onde os valores
da rugosidade RMS eram da ordem dos 0.120 µm. É importante referir que estes valores de Λ
dizem respeito à espessura não corrigida do filme lubrificante no centro do contacto, h0 e não
ao valor corrigido termicamente h0C.
As amplitudes ai de cada componente do perfil de rugosidade composta das superfícies em
contacto têm uma influência muito significativa sobre a amplitude das variações de pressão.
Sendo assim, a aplicação directa deste modelo ao contacto entre os dentes de uma
engrenagem não é praticável, já que os valores típicos das rugosidades das superfícies dos
dentes das engrenagens são largamente superiores aos atrás referidos, e os valores de Λ
significativamente inferiores, originando campos de pressões com valores localmente
negativos.
O modelo de Ai-Cheng só é válido para valores de Λ≥2. De modo a satisfazer esta condição, a
velocidade de rolamento é artificialmente aumentada de modo a que a espessura de filme não
corrigida termicamente atinja o valor mínimo requerido, isto é, h0=3RqC (RqC é a rugosidade
RMS da superfície composta não deformada, 0xH - ver ponto 2.6.1). Este procedimento de
variação da velocidade de rolamento não conduz a modificações significativas nos campos de
pressão [155], já que se destina unicamente à definição do campo de pressão correspondente
ao regime EHD rugoso, em regime de filme completo.
A implementação do modelo de Ai-Cheng, para a determinação do campo de pressões
correspondente à lubrificação em regime de filme completo rugoso em engrenagens, implicou
a adopção de algumas simplificações.
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [89/366]
Entre essas simplificações encontra-se a anulação do efeito da taxa de escorregamento sobre
os campos de pressão. Dadas as condições de funcionamento das engrenagens e a rugosidade
das superfícies em presença, torna-se necessário tal procedimento, caso contrário os campos
de pressão resultantes, para além de provocarem um efeito exagerado nos desvios à pressão de
Hertz, conduzem sistematicamente a pressões de contacto negativas, fisicamente
inadmissíveis e que quando consideradas nulas acarretam erros de carga significativos. Nestas
circunstâncias, optou-se por não considerar o efeito do escorregamento entre as superfícies
(Ve=0), sendo neste caso o valor do parâmetro CS constante e igual a 0.074, como se deduz da
expressão (2.31).
A Figura 2.8 mostra o princípio de funcionamento do modelo de Ai e Cheng.
O campo de pressões, assim obtido, pode ser considerado como um limite inferior da
distribuição de pressão em que toda a carga é suportada pelo filme lubrificante apesar das
superfícies em contacto (ver limite superior, pág. 73).
As variações (δp) do campo de pressão de Hertz são corrigidas com a função de
amortecimento na entrada e na saída do contacto, já que o modelo determina variações de
pressão absolutas. Por vezes a função de amortecimento não é suficientemente forte para o
nível de rugosidade das superfícies das engrenagens, o que também provoca erros de carga,
embora muito menos significativos do que os referidos no caso anterior devidos à taxa de
escorregamento.
[90/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Figura 2.8 - Distribuição de pressão elastohidrodinâmica rugosa em regime de filme completo.
2.4- Campo de pressões em regime de lubrificação misto
O modelo desenvolvido por Ai e Cheng não pode ser aplicado directamente ao estudo dos
dentes das engrenagens, não só porque os perfis de rugosidade das engrenagens são muito
mais irregulares que os perfis para os quais o modelo foi desenvolvido, mas principalmente
porque o regime de lubrificação mais corrente em engrenagens é o regime misto, já que as
Contacto lubrificado rugoso (Λ>2)
- Integração da superfície através da sua FFT
- Cálculo da perturbação do campo de pressões de Hertz provocada pelas rugosidades para um contacto lubrificado
Cálculo do campo de pressões: ( )EHDR Hx xp p p xδ= +
PhaseAmplitude
∑ ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛+= −
ii
806.0i
768.0i l
X2sinlaLp)X(dP Φπ( ) 0.768 0.806 2sinp i i ii
xp x L amp LLπδ − ⎛ ⎞
= ⋅ ⋅ + Φ⎜ ⎟⎝ ⎠
∑
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [91/366]
condições de funcionamento das engrenagens conduzem a valores da espessura específica do
filme lubrificante (Λ) normalmente situados entre 0.7 e 2 que é precisamente a gama de
valores correspondentes ao regime misto [159].
O regime misto é caracterizado pela existência de zonas no contacto onde o filme lubrificante,
se existir, não desempenha qualquer função hidrodinâmica, sendo o contacto integralmente
suportado pelas rugosidades das superfícies (zona de lubrificação limite) e outras zonas onde
o filme lubrificante desenvolve uma função hidrodinâmica e onde a deformação elástica dos
sólidos em contacto não pode ser desprezada (zona dita de lubrificação elastohidrodinâmica
ou em filme completo).
A modelação clássica de um contacto EHD pressupõe a existência de um filme completo, ou
seja, não é compatível com este tipo de problema denominado por contacto rugoso em regime
misto de lubrificação. Uma solução possível para ultrapassar esta dificuldade passa pela
obtenção do campo de pressões normais de contacto em regime misto, através da conjugação
das soluções em regime de filme completo e em regime limite (⇔contacto seco).
Para valores de Λ muito baixos (Λ<0.1) a componente hidrodinâmica não tem significado
sendo a carga suportada integralmente pelas superfícies (limite superior). Neste caso, o
regime de lubrificação é dito limite, podendo a correspondente distribuição de pressão ser
considerada idêntica à do contacto seco rugoso (pLIM).
Para valores de Λ elevados (Λ>2) o filme hidrodinâmico lubrificante suporta totalmente a
carga aplicada não havendo contacto entre as rugosidades das superfícies (limite inferior).
Neste caso a correspondente distribuição de pressão pode ser considerada idêntica à do
contacto EHD rugoso (pEHDR).
Para valores de Λ inferiores a 2, o regime de lubrificação é misto, ou seja, uma parte da carga
normal imposta ao contacto é suportada pelo filme lubrificante e a outra parte é suportada
directamente pelos picos de rugosidade das superfícies.
[92/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Neste caso, a distribuição de pressão do contacto misto pode ser obtida a partir da solução do
contacto seco rugoso e do contacto EHD rugoso em filme completo, considerando uma
função de repartição de carga adequada.
Em regime misto, a função de repartição de carga normal determina que parte da carga é
suportada pelo contacto seco (limite superior, LIMnF ) e que parte da carga é suportada pelo
filme completo hidrodinâmico (limite inferior, EHDRnF ). A carga total é
EHDR LIMn n nF F F= + , (2.32)
e definindo por fΛ a percentagem de carga suportada pelo filme lubrificante, tem-se que:
EHDRn nF F fΛ= (2.33)
logo,
( )LIMn nF F 1 fΛ= − . (2.34)
Nestas circunstâncias, a distribuição de pressão correspondente à lubrificação em regime
misto pode ser considerada como uma situação intermédia entre os dois limites referidos.
Considerando que fΛ é uma função global ao nível do contacto e que depende apenas do valor
da espessura específica do filme lubrificante (Λ), a distribuição de pressão em regime misto
(pMIX) pode ser determinada pela expressão:
( )MIX EHDR LIMp p f p 1 fΛ Λ= + − (2.35)
A pressão EHD EHDRp e a pressão limite LIMp , são o resultado da aplicação da carga total a
cada uma das situações limite, ou seja, considera-se que o contacto em regime misto é
equivalente à soma de uma fracção de um contacto EHD rugoso (lubrificação em regime de
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [93/366]
filme completo rugoso) com outra fracção de um contacto seco rugoso (lubrificação em
regime limite).
Em síntese, a determinação do campo de pressões de contacto em regime de lubrificação
mista, pode ser representada esquematicamente pela Figura 2.9.
Conhecidos que são os campos de pressões correspondentes aos dois casos extremos, o
contacto seco rugoso ou em regime de lubrificação limite e o caso do contacto EHD rugoso
ou em regime de lubrificação por filme completo, pode, agora, ser obtido o campo de pressões
em regime de lubrificação mista, combinando esses dois casos extremos usando uma função
de repartição de carga normal fΛ.
Este modelo permite assim obter o campo de pressões para os contactos entre os dentes de
engrenagens, mesmo quando o valor de Λ é reduzido, como frequentemente acontece nas
engrenagens.
[94/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Figura 2.9- Determinação do campo de pressões de contacto em regime de lubrificação misto (0≤Λ≤2).
0T
q C
hR
φ ⋅Λ =
Teoria de Hertz aplicada às
condições de contacto
Calculo do campo de pressão em
contacto seco para a superfície
estudada pLIM(x)
Cálculo da espessura do
filme lubrificante h (fórmula de
Cheng)
Medição dos perfis de rugosidade do pinhão e
roda
Filtragem para determinar curvatura do perfil dos dentes. Composição dos
perfis de rugosidade das duas superfícies em contacto.
Transformada de fourier do perfil de rugosidade
composto, rugosidade equivalente, cálculo dos
parâmetros de rugosidade(Rms)-
(rugosidade do pinhão e da roda)
Campo de pressão em regime de filme
completo EHD rugoso (modelo de Ai e Cheng)
pEHDR(x)
CÁLCULO DO CAMPO DE PRESSÃO EM REGIME DE LUBRICAÇÃO MISTO
(PMIX) E DA CORRESPONDENTE DEFORMADA DO CONTACTO (MIX
DEFRH )
pMIX(x)=(1-fΛ).pLIM(x)+fΛ.pEHDR(x)
Função de repartição de carga
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5
Λ
f( Λ)
1c
afb
Λ =⎛ ⎞+ ⎜ ⎟Λ⎝ ⎠
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [95/366]
2.5- Repartição de carga- Função fΛ
A função fΛ permite determinar a importância relativa de cada um dos dois campos de pressão
extremos sobre o campo de pressão final. A função fΛ é uma função global ao nível do
contacto e que depende apenas da espessura do filme lubrificante, podendo ser considerada
constante no interior do contacto.
A função fΛ utilizada está representada na Figura 2.10, sendo também apresentadas as funções
propostas por Zhu [350-352], e Castro [64]. A principal característica da função proposta por
Zhu, 26.1
64.0
37.0121.1
Λ+Λ
=ΛZhuf , é que para valores de Λ superiores a 2 o contacto deixa de ser misto e
passa a ser em filme completo. Outros autores propõem soluções semelhantes para contactos
pontuais [75, 77, 117] e pode admitir-se que a função pode ser dependente de outros factores
para além da espessura específica do filme lubrificante, como por exemplo a orientação da
rugosidade [75] e o tipo de contacto (linear ou pontual). A forma da função fΛ pode
obviamente ser diferente. A curva fΛ proposta para as engrenagens em estudo foi determinada
tendo como base a curva de avarias de Wellauer e Holloway [328] apresentada na Figura 2.11
e uma função fΛ determinada por Barral [23].
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
Λ
f Λ
flamdaZhuCastroPontos de referência
Figura 2.10- Funções de repartição da carga normal em regime de lubrificação misto.
5.210.61
fΛ =⎛ ⎞+ ⎜ ⎟Λ⎝ ⎠
26.1
64.0
37.0121.1
Λ+Λ
=ΛZhuf
28.082.0 Λ=ΛCastrof
[96/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
0.01
0.1
1
10
0.1 1 10 100 1000
Velocidade linear no primitivo (m.s-1)
Λ
80%
5%
0.46
7.5
Figura 2.11 - Curvas de Wellauer e Holloway [23, 328] correspondente a 5% e 80% de probabilidade de
avaria.
Estas curvas, resultantes de trabalhos experimentais, mostram os valores de Λ para os quais as
probabilidades de avaria do contacto são superiores a 5% ou a 80%, em função da velocidade
linear do primitivo. Como neste caso a velocidade de referência para a qual fΛ vai ser
calculada é de 7.5 m/s, obtém-se os valores de 0.46 para uma probabilidade de avaria de 80%
e Λ=1 para uma probabilidade de avaria de 5%.
Como simplificação, admitiu-se que 5% de probabilidade de avaria corresponde a fΛ=0.95
(isto é 1-5%) e 80% de probabilidade de avaria corresponde a fΛ=0.20 (isto é 1-80%). Deste
modo relacionou-se de um modo simples, a repartição de carga à probabilidade de avaria,
tendo em conta a velocidade tangencial da engrenagem e a espessura específica do filme
lubrificante.
É importante referir que outras duas funções fΛ, mais severas, foram estudadas por R. Barral
[22, 23] e os resultados em termos de distribuição de pressão foram muito próximos, variando
apenas os valores máximos dos picos de pressão.
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [97/366]
2.5.1- Função fΛ generalizada
Tendo por base a função fΛ determinada por Barral [23], e que é apresentada na Figura 2.12, e
os quatro pontos particulares resultantes da curva de Wellauer e Holloway para uma
probabilidade de avaria de 80% (80% de contacto seco rugoso) e 5% (5% de contacto seco
rugoso) e para uma velocidade tangencial de 7.5 m/s , procurou-se encontrar uma expressão
geral para a função fΛ.
Inserindo o conjunto de pontos no software “TableCurve” [141-144] e após análise das várias
expressões [141-143] que aproximavam os respectivos pontos, chegou-se a uma expressão do
tipo:
1c
afb
Λ =⎛ ⎞+ ⎜ ⎟Λ⎝ ⎠
(2.36)
onde a=1.0, b=0.6 e c=5.2, com r2=99.9865% e um resíduo = 0.000105.
A Figura 2.12 representa a curva da função fΛ para a variação dos pontos de abcissa 0.46 e 1,
e sua comparação com a função fΛ original determinada por R. Barral [23]. A Figura 2.13
representa o campo de pressão adimensional calculado com cada uma das funções.
[98/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5
Λ
f Λ
fBarral
flambda
Figura 2.12 - Curvas BarralfΛ e
1
1cf
bΛ =
⎛ ⎞+ ⎜ ⎟Λ⎝ ⎠
para os pontos particulares (0.46; 0.20) e (1; 0.95).
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20
mm
P/P 0
Pressão f(L)original
Pressão f(L)
Figura 2.13 – Campo de pressões adimensional da superfície de série (S1) para cada uma das funções fΛ.
( )MIXxp fΛ
( )MIX Barralxp fΛ
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [99/366]
2.5.2- Cálculo da função f(Λ,Vt) dependente da velocidade no
primitivo da engrenagem
Tendo em conta a função fΛ generalizada para a velocidade linear no primitivo de 7.5 m/s,
pretende-se encontrar uma expressão geral válida qualquer que seja a velocidade linear no
primitivo.
Deste modo para cada uma das seguintes velocidades: 4.31, 8.62, 12.94 e 17.25 m/s, e
seguindo o procedimento atrás referido, determinou-se através da curva de Wellauer e
Holloway, os respectivos valores de Λ, para as probabilidades de avaria de 5% e 80%
respectivamente. Com estes valores de Λ, e seguindo o raciocínio efectuado anteriormente,
aquando do calculo da função fΛ generalizada, calculou-se os respectivos valores de f(Λ,Vt).
O conjunto de pontos particulares (Λ;fΛ) para cada uma das velocidades, incluindo a
velocidade de 7.5 m/s é apresentado na tabela 2.1 e na Figura 2.14.
Tabela 2.1 – Valores dos pontos (Λ;fΛ) para as várias velocidades.
Vt - Velocidade (m/s) Λ FΛ
0.0 0.0 0.36 0.157 0.8 0.94
4.31
2.0 1.0
0.0 0.0 0.46 0.20 1.0 0.95
7.5
2.0 1.0
0.0 0.0 0.5 0.217 1.1 0.995
8.62
2.0 1.0
0.0 0.0 0.78 0.339 1.8 0.99
12.94
2.0 1.0
0.0 0.0
0.87 0.378
1.9 0.995 17.25
2.0 1.0
[100/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
0 0.5 1 1.5 2 2.5
Λ
f( Λ)
exp v4.31exp v7.5exp v8.62exp v12.94exp v17.25
Figura 2.14 - Conjunto de pontos (Λ,fΛ) para várias velocidades tangenciais da engrenagem.
De seguida, tendo em conta a forma da função fΛ generalizada cbf
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
Λ+
=Λ
1
1 , procurou-se,
recorrendo ao “software TableCurve” [141-144], os valores dos parâmetros b e c que melhor
correlacionassem os pontos particulares para cada uma das velocidades, tendo-se obtido os
valores dos parâmetros, que se encontram apresentados na tabela 2.2.
Tabela 2.2 –Valores dos parâmetros b e c em função da velocidade.
Vt - Velocidade no primitivo da engrenagem (m/s)
Parâmetros 4.31 7.5 8.62 12.94 17.25
b 0.48 0.6 0.605 0.84 0.94
c 6.0 5.2 6.7 8.91 6.55
Correlação (%) 99.9804 99.9865 99.9505 99.9941 99.9997
Resíduos 1.62E-4 1.05E-4 3.96E-4 4.38E-5 2.39E-6
Deste modo, analisando os valores dos parâmetros b e c, constata-se que estes dependem da
velocidade, pelo que a função fΛ depende dessa mesma velocidade.
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [101/366]
Em seguida, apresentam-se na tabela 2.3 e na Figura 2.15 uma comparação entre os valores de
fΛ obtidos com base na curva de avarias de Wellauer e os valores de fΛ calculados
analiticamente através da expressão (2.37), usando os valores de b e c referidos na tabela 2.2.
Tabela 2.3 – Valores de f(Λ) obtidos através da função 1
1cf
bΛ =
⎛ ⎞+ ⎜ ⎟Λ⎝ ⎠
e valores de f(Λ) obtidos
com base na curva de Wellaueur e Holloway para as velocidades de 4.31, 7.5, 8.62, 12.94 e 17.25 m/s.
F(lambda)
lambda vt4.31 vt7.5 vt8.62 vt12.94 vt17.25 exp 4.31 exp 7.5 exp 8.62 exp 12.94 exp 17.250 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0.36 0.151088 0.065602 0.029941 0.000526 0.001858 0.1570.46 0.436505 0.200743 0.137547 0.004654 0.009185 0.20.5 0.560929 0.279273 0.218035 0.009733 0.015753 0.2170.78 0.948488 0.796457 0.845827 0.340672 0.22756 0.940.8 0.955424 0.816969 0.866674 0.393 0.258016 0.3390.87 0.972568 0.873485 0.919374 0.577535 0.375925 0.3780.9 0.977504 0.891719 0.934687 0.649018 0.4292711 0.987917 0.934398 0.966655 0.825417 0.599957 0.95
1.1 0.993143 0.958984 0.982111 0.917033 0.736832 0.9551.8 0.999641 0.996707 0.999328 0.998877 0.986009 0.991.9 0.99974 0.997512 0.999532 0.999306 0.990141 0.9952 0.999809 0.998094 0.999668 0.99956 0.992934 1 1 1 1 1
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
0 0.5 1 1.5 2 2.5
Λ
f( Λ)
vt4.31vt7.5vt8.62vt12.94vt17.25exp 4.31exp 7.5exp 8.62exp 12.94exp 17.25
Figura 2.15 - Curvas f(Λ,Vt) e valores de fΛ obtidos com base na curva de avarias de Wellaueur e
Holloway.
[102/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Tendo em conta os resultados obtidos, representados na Figura 2.14, o passo seguinte foi
encontrar uma expressão de f(Λ,Vt), que dependendo da velocidade, representa o melhor
possível o conjunto de pontos particulares obtidos para uma dada velocidade.
Obteve-se a uma expressão geral de f(Λ,Vt), que é dependente da velocidade linear no
primitivo e que aproxima relativamente bem o conjunto de pontos particulares obtidos para
cada uma das velocidades. Esta expressão é da forma:
3
21
1
1C
t
fV CC
Λ =+⎛ ⎞+ ⋅⎜ ⎟Λ⎝ ⎠
sendo Vt a velocidade linear no primitivo. Os valores das constantes C1, C2 e C3 foram obtidos
através de um software de correlação não linear que utiliza o método Markquardt [141-144],
elaborado em Fortran, e são os seguintes: C1 = 6.68E-9, C2 = 8.62 e C3 = 5.71,com r2 = 99%.
Deste modo, a expressão geral de f(Λ,Vt) é dada por:
5.719
18.621 6.68 t
fV
Λ−
=+⎛ ⎞+ ⋅⎜ ⎟Λ⎝ ⎠
De notar que esta função de f(Λ,Vt), assim como a anterior, é apenas válida para valores de Λ
diferentes de zero. Quando Λ = 0 então f(Λ,Vt)=0, por imposição.
As curvas de f(Λ,Vt) calculadas com a expressão geral atrás enunciada, para cada uma das
velocidades, e sua comparação com os valores obtidos com base na curva de avarias de
Wellaueur e Holloway, são apresentadas na figura 2.16 (de notar que foram introduzidos, para
cada velocidade, mais alguns pontos, correspondentes a outras probabilidades de avaria, com
o objectivo de tornar a correlação o mais fiável possível).
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [103/366]
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
1,1
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50
Λ
f Λ
Zhu
Castro
vt4.31
vt7.5
vt8.62
vt12.94
vt17.25
exp 4.31
exp 7.5
exp 8.62
exp 12.94
exp 17.25
Figura 2.16 - Curvas f(Λ,Vt) para as várias velocidades e valores de f(Λ,Vt) obtidos com base na curva de
avarias de Wellaueur e Holloway.
2.6- Campo de pressão normal em regime misto de
lubrificação. Aplicação a uma superfície real
O primeiro passo para a obtenção do campo de pressões, quer seja em filme completo rugoso
ou em contacto seco rugoso, passa pela obtenção da rugosidade das superfícies em contacto,
por exemplo, usando um rugosímetro, como se mostra na Figura 2.17.
Figura 2.17 – Rugosímetro Hommelwerke T4000, com apalpador mecânico (absoluto).
[104/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Um factor importante é o passo de apalpação dos perfis de rugosidade que, normalmente, se
pode fazer coincidir com o passo de discretização (∆x) dos campos de pressão. No
desenvolvimento do modelo de Ai e Cheng foram utilizados passos de apalpação e de
discretização de 2.5µm. Na medição das superfícies das engrenagens foi utilizado um passo
de apalpação de 2.0µm, ou seja, um valor muito próximo do utilizado na modelização de Ai-
Cheng. O passo de apalpação é um factor determinante na amplitude e comprimento de onda
dos picos de pressão. A utilização de passos mais pequenos (ex. 1.2µm) origina campos de
pressões com amplitudes dos picos substancialmente maiores.
A obtenção do campo de pressões em regime de filme completo rugoso (modelo EHD rugoso
de Ai-Cheng) pressupõe que uma superfície rugosa com um determinado raio de curvatura
esteja em contacto com uma superfície lisa e plana. Logo, é necessário definir uma superfície
com rugosidade equivalente à do contacto pinhão-roda e com uma curvatura equivalente à das
duas superfícies em contacto.
De uma forma geral, e em forma de resumo os passos para a obtenção do campo de pressões
em regime misto de lubrificação são:
1º Medição dos perfis de rugosidade das superfícies em contacto (roda e pinhão) e, se
necessário, filtragem para eliminar a curvatura do perfil dos dentes (eliminando os
comprimentos de onda macroscópicos – eliminação de eventuais “ruídos” das medições
obtidas no rugosímetro).
2º Composição dos perfis de rugosidade das duas superfícies em contacto e determinação das
componentes frequenciais através da análise de Fourier do perfil de rugosidade composta.
3º Contacto seco rugoso - determinação do campo de pressões pLIM.
4º Contacto EHD rugoso (modelo de Ai-Cheng), considerando a espessura do filme
lubrificante não corrigida para a determinação do campo de pressões pEHDR.
5º Cálculo dos valores de espessura específica do filme lubrificante Λ,
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [105/366]
0C T 02 2
qC q1 q2
h hR R R
φΛ = =
+.
6º Cálculo do valor da função de repartição de carga fΛ,
7º Determinação do campo de pressões para a lubrificação em regime misto pMIX a partir de
pLIM, pEHDR e fΛ: pMIX = pEHDR fΛ + pLIM (1-fΛ), e da deformada do contacto correspondente
a pMIX.
2.6.1- Perfil de rugosidade composto
A rugosidade composta do contacto entre os dentes do pinhão e da roda é obtido invertendo o
ficheiro de rugosidade medido no rugosímetro, por exemplo do pinhão, primeiro em x e
depois em z, de forma a poder ser conjugado com o ficheiro de rugosidade da roda (Figura
2.18).
Figura 2.18 – Obtenção da rugosidade composta
X Z Pinhão
X
Z Roda
[106/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
De seguida, procedeu-se ao cálculo da distância entre as alturas dos picos de rugosidade
(Z=Z1 - Z2), e com o valor mínimo dessa diferença (Min(Z)), é calculado o novo referencial,
que é dado pela diferença entre a distância das alturas das rugosidades e o seu mínimo (Zf =Z-
Min(Z)). Deste modo, a nova rugosidade Ra ou Rms será dada pelo valor dessa rugosidade
adicionada do valor desse referencial, isto é Ra= Ra + Zf ou Rms = Rms + Zf.
O perfil de rugosidade equivalente, correspondente ao contacto entre os dentes do pinhão e da
roda, foi obtido, portanto, combinando os perfis de rugosidade das duas superfícies.
Verifica-se que a rugosidade (Rms) da superfície composta equivalente, RqC, é igual à
rugosidade composta (Rms) obtida a partir das rugosidades (Rms) de cada uma das superfícies
(Rq1 e Rq2), ou seja, verifica-se que,
2 2qC q1 q2R R R= + (2.37)
o que mostra a validade da solução utilizada.
Na Figura 2.19 mostram-se os perfis de rugosidade do pinhão e da roda, assim como o perfil
de rugosidade resultante da sua composição, para a superfície de série S1 (S1)
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [107/366]
Rugosidade sem filtragem (S1*)
-2,5
-2,0
-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20
x (mm)
(µm)
compostopinhaoroda
Figura 2.19 – Definição do perfil de rugosidade composta a partir dos perfis de rugosidade da roda e do
pinhão da superfície de série (S1).
A Figura 2.20 representa a geometria do contacto não deformado da superfície rugosa,
composta (S1). A Figura 2.21 mostra a geometria do contacto EHD rugoso, correspondente à
superfície rugosa anterior, deformada elasticamente.
0,00E+00
2,00E-06
4,00E-06
6,00E-06
8,00E-06
1,00E-05
1,20E-05
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20
x (mm)
(m)
Não deformada
Superf. lisa
Figura 2.20 – Superfície composta não deformada.
[108/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
0,00E+00
5,00E-07
1,00E-06
1,50E-06
2,00E-06
2,50E-06
3,00E-06
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20
x (mm)
(m)
Deformada
Deformada lisa
Figura 2.21 – Contacto EHD rugoso. Superfície composta deformada.
2.6.2- Campos de pressão EHD e seco rugosos
A Figura 2.22 mostra um exemplo de um campo de pressões EHD rugoso em filme completo
(EHDR) obtido a partir de medições reais das rugosidades das superfícies (pinhão e roda) da
superfície de série considerando o contacto de referência: p0= 1.5 GPa, VR= 6 ms-1, Ve= -0.3.
O campo de pressão em contacto seco rugoso (ou limite), representado na Figura 2.23, resulta
da aplicação da teoria da deformação de um semi-espaço elástico a uma superfície rugosa
referido em 2.2.2.2.
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [109/366]
0,00E+00
5,00E+08
1,00E+09
1,50E+09
2,00E+09
2,50E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
PLISO
PEHDR
PLISO
PEHDR
Figura 2.22 – Campos de pressão de Hertz e EHDR para a superfície de série (S1), condições de
referência.
-1,00E+09
0,00E+00
1,00E+09
2,00E+09
3,00E+09
4,00E+09
5,00E+09
6,00E+09
7,00E+09
8,00E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
PLISO
PLIM
PLISO
PLIM
Figura 2.23 – Campos de pressão de Hertz e seco rugoso (limite) para a superfície de série (S1), condições
de referência.
[110/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
2.6.3- Campos de pressões para lubrificação em regime misto
Para as condições de funcionamento referidas, o valor da espessura específica do filme
lubrificante para a superfície de série (S1) é de 0.544877 e a função de repartição de carga fΛ
calculada segundo a formúla 5.210.61
fΛ =⎛ ⎞+ ⎜ ⎟Λ⎝ ⎠
para a velocidade linear no primitivo de 7.5
ms-1 toma o valor de 0.386. Tal implica que o campo de pressão misto é equivalente a 38.6%
do campo de pressão EHDR (Figura 2.22) mais 61.4% do campo de pressão seco rugoso
(Figura 2.23).
A Figura 2.24 mostra o campo de pressões correspondente à lubrificação em regime misto
resultante dos campos de pressão EHDR (filme completo) e seco rugoso (filme limite) e da
correspondente deformada do contacto.
A Figura 2.25 compara os três campos de pressões obtidos. É notório que há uma diferença
muito significativa entre o campo de pressões seco rugoso, caracterizado por “picos” de
pressão muito elevados e uma forte descontinuidade e o campo de pressões EHDR,
caracterizado pela sua continuidade e pela existência de pequenos desvios de pressão em
relação à pressão de Hertz teórica. O campo de pressões misto resultante é caracterizado por
uma partilha das características dos dois casos limites superior e inferior, ou seja, o campo é
essencialmente contínuo como o campo de pressões EHDR, mas apresenta “picos de pressão”
correspondentes ao contacto seco rugoso embora mais atenuados, dando uma ideia clara da
repartição de carga entre o filme lubrificante e os picos de rugosidade mais salientes.
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [111/366]
0,00E+00
1,00E+09
2,00E+09
3,00E+09
4,00E+09
5,00E+09
6,00E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
PMIX(Pa)
0,00E+00
1,00E-06
2,00E-06
3,00E-06
4,00E-06
5,00E-06
6,00E-06
H (m)
PMIX
HDEFR
PMIX
HRDEFMIX
Figura 2.24 – Campo de pressões em regime misto e da correspondente deformada do contacto para a
superfície de série (S1), condições de referência.
-1,00E+09
0,00E+00
1,00E+09
2,00E+09
3,00E+09
4,00E+09
5,00E+09
6,00E+09
7,00E+09
8,00E+09
9,00E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
PEHDR
PLIM
PMIX
PEHDR
PLIM
PMIX
Figura 2.25 – Campos de pressões nos regimes misto, EHDR e seco rugoso para a superfície de série (S1),
condições de referência.
[112/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
2.7- Sumário e conclusão
A partir da teoria de Hertz inúmeros estudos foram desenvolvidos de forma a modelizar da
melhor forma possível a realidade dos contactos não-conformes, permitindo a determinação
do campo de pressões na superfície de contacto.
O modelo de cálculo do contacto seco rugoso (regime limite) desenvolvido por Campos [53]
aplica os princípios da deformação de um semi-espaço elástico a uma superfície rugosa,
obtida sobrepondo o perfil de rugosidade à forma média do contacto. Este modelo não entra
em consideração com o movimento das superfícies nem com a existência de lubrificante.
Trata-se apenas de colocar em contacto uma superfície rugosa e uma superfície lisa. Deste
modo, considera-se que a espessura do filme lubrificante é nula e que o valor de Λ é nulo. O
campo de pressões assim obtido pode conduzir a valores de pressão muito elevados, tratando-
se, portanto, de um campo de pressões caracterizador de um “caso limite superior” a que
corresponde uma espessura do filme lubrificante nula (Λ=0). Considera-se que se trata do
campo de pressões em regime limite, pLIM.
Na lubrificação elastohidrodinâmica, o efeito combinado da deformação elástica das
superfícies e da variação de viscosidade do lubrificante na distribuição da pressão de contacto
e na geometria do filme lubrificante é considerável, permitindo ao contacto suportar uma
carga muito maior, para uma mesma espessura do filme lubrificante, relativamente aos outros
regimes. O contacto é modelizado como o contacto de um cilindro infinito de raio R (raio
equivalente) com um plano. A superfície não deformada é obtida adicionando a este cilindro o
perfil de rugosidade composto corrigido e filtrado a partir do qual o campo de pressão foi
calculado.
O modelo desenvolvido por Ai e Cheng [2-4] permite determinar o campo de pressões de um
contacto rugoso em condições de lubrificação em filme completo, isto é, para valores da
espessura específica do filme lubrificante, Λ, superiores a 2. Este modelo simplificado
Capítulo 2- Pressões Normais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [113/366]
determina as perturbações locais do campo de pressões de um contacto rugoso, a partir da
transformada de Fourier (FFT) do perfil de rugosidade composto das superfícies, permitindo
obter as suas componentes frequenciais. O modelo considera o lubrificante como sendo um
fluído newtoniano e o contacto como isotérmico.
A implementação do modelo de Ai-Cheng, para a determinação do campo de pressões
correspondente à lubrificação em regime de filme completo rugoso em engrenagens, implicou
a adopção de algumas simplificações. Entre essas simplificações encontra-se a anulação do
efeito da taxa de escorregamento sobre os campos de pressão.
O campo de pressões, assim obtido, pode ser considerado como um “limite inferior” da
distribuição de pressão em que toda a carga é suportada pelo filme lubrificante apesar das
superfícies em contacto
Contudo o modelo desenvolvido por Ai e Cheng não pode ser aplicado directamente ao
estudo dos dentes das engrenagens já que as condições de funcionamento das engrenagens
conduzem a valores da espessura específica do filme lubrificante (Λ) normalmente situados
entre 0.7 e 2 que é precisamente a gama de valores correspondentes ao contacto misto.
O regime misto é caracterizado pela existência de zonas no contacto onde o filme lubrificante,
se existir, não desempenha qualquer função hidrodinâmica, sendo o contacto integralmente
suportado pelas rugosidades das superfícies (zona de lubrificação limite) e outras zonas onde
o filme lubrificante desenvolve uma função hidrodinâmica e onde a deformação elástica dos
sólidos em contacto não pode ser desprezada (zona dita de lubrificação elastohidrodinâmica
ou em filme completo). Neste caso, a distribuição de pressão e a geometria deformada do
contacto misto podem ser obtidas a partir das soluções do contacto seco rugoso e do contacto
EHD rugoso em filme completo, considerando uma função de repartição de carga adequada.
A modelização numérica do mecanismo de fadiga dos flancos activos dos dentes de uma
engrenagem é portanto dependente de uma função f(Λ,Vt), cujos pontos são determinados
[114/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
através da curva de Wellauer e Holloway para uma probabilidade de avaria de 5 e 80%, e para
várias velocidades lineares no primitivo e que assume a forma: 3
211
1CCvC
f
⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
Λ+
⋅+
=Λ com
os valores das constantes C1, C2 e C3 a valerem respectivamente, 6.68E-9, 8.62 e 5.71. Para o
caso particular em estudo a velocidade no primitivo é de 7.5 m/s e a função de repartição de
carga assume a forma: 1
cafb
Λ =⎛ ⎞+ ⎜ ⎟Λ⎝ ⎠
, com b= 0.6 e c= 5.2. A função fΛ é uma função global
ao nível do contacto e que depende apenas da espessura do filme lubrificante, podendo ser
considerada constante no interior do contacto.
A obtenção dos campos de pressões para a lubrificação em regime misto recorre à solução
elástica para a determinação do campo de pressões seco rugoso (considerada equivalente à
lubrificação em regime limite – limite superior) e a um modelo simplificado para obtenção do
campo de pressões em lubrificação EHD rugosa (considerada equivalente à lubrificação em
regime de filme completo – limite inferior). A percentagem de cada uma das componentes do
contacto misto é definida pela função de repartição de carga. A distribuição de pressão em
regime misto (pMIX) pode ser determinada pela expressão:
( )MIX EHDR LIMp p f p 1 fΛ Λ= + −
CAPÍTULO 3
TENSÕES TANGENCIAIS DE CONTACTO EM REGIME
MISTO DE LUBRIFICAÇÃO
3.1- Introdução
A partir do campo de pressões EHD rugoso, em regime de filme completo, são calculadas as
correspondentes tensões de corte EHD rugoso e a partir do campo de pressões em regime
limite (contacto seco rugoso) são calculadas as correspondentes tensões de corte limite. Os
dois campos de tensões de corte, EHD rugoso e limite, são combinados de modo a produzir o
campo de tensões de corte em regime misto.
O campo de pressões em regime misto não intervém directamente no cálculo das tensões de
corte em regime misto, mas a função de repartição de carga normal fΛ tem um papel
determinante.
A componente das tensões de corte em filme completo é determinada admitindo que o
lubrificante tem um comportamento reológico não-newtoniano e considerando as variações de
temperatura no interior do contacto. A outra componente das tensões de corte, em regime de
lubrificação limite, é obtida a partir das pressões de contacto seco rugoso, admitindo um
coeficiente de atrito em condições de lubrificação limite.
[116/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
3.2- Tensões de corte no filme lubrificante em regime de
filme completo rugoso
No cálculo das tensões de corte em regime EHD rugoso o comportamento reológico dos
lubrificantes é determinante. Considera-se que o lubrificante tem um comportamento não-
newtoniano, onde podem coexistir o comportamento elástico, plástico e viscoso não-linear, os
quais são integrados no modelo do cálculo das tensões de corte.
A equação de energia permite determinar as variações de temperatura no fluído lubrificante
assim como nas superfícies em contacto e o resultado final é obtido pelo equilíbrio dos
diversos fenómenos físicos envolvidos.
3.2.1- Comportamento reológico de um lubrificante
A lei reológica clássica, lei de Newton, é definida por τ = ηγ e pressupõe que a tensão de
corte τ é proporcional à velocidade de deformação γ , sendo a constante de proporcionalidade
a viscosidade dinâmica do lubrificante η, como se mostra na figura 3.1 [301].
γ
τη
.
Figura 3.1 –Relação velocidade de deformação/tensões de corte segundo Newton [301].
Capítulo 3- Tensões Tangenciais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [117/366]
Ao termo η que representa a inclinação da recta, velocidade de deformação v.s. tensão de
corte, denomina-se viscosidade dinâmica do fluido. Assim, quando se considera que o fluido é
Newtoniano e se assume a lei proposta por Newton, a relação entre τ e γ fica apenas
dependente dos factores que modificam a viscosidade, sendo os mais importantes a pressão e
a temperatura.
Em contactos lubrificados submetidos a pequenas velocidades de deformação e baixas
pressões de Hertz, o que pressupõe baixos escorregamentos, elevadas espessuras de filme e
cargas reduzidas, o modelo Newtoniano descreve bem o comportamento do lubrificante [177]
prevendo tensões de corte no filme lubrificante aceitáveis.
Por exemplo, aplicando a lei de Newton a um contacto com uma velocidade de
escorregamento de 1m/s, uma espessura de filme de 1x10-6 m e um lubrificante com uma
viscosidade dinâmica de 0.1 Paּs, obtém-se uma tensão de corte de 0.1 N/m2(0.1 MPa) [147].
No entanto, cedo se verificou que nas condições de um contacto elastohidrodinâmico, onde as
velocidades de deformação e pressão aumentam significativamente, os lubrificantes não
poderiam manter um comportamento Newtoniano, pois isso conduziria a tensões de corte
muito elevadas e consequentemente a coeficientes de atrito igualmente muito elevados.
De facto, aplicando a mesma lei de Newton nas condições típicas de um contacto EHD, com
uma espessura da ordem de 0.5 x10-6 m e uma viscosidade de 106 Paּs, obtém-se uma tensão
de corte de 2x1012 N/m2, a qual excederia a tensão de cedência do aço, sendo, portanto,
irrealista [147].
Esta previsão contraria radicalmente as medições experimentais onde o coeficiente de atrito
em contactos EHD, raramente excede o valor de 0.1.
[118/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Uma outra evidência do comportamento não Newtoniano do lubrificante, embora levada ao
limite, é a rotura do filme lubrificante que ocorre em muitos tipos de contactos por motivos
que não a falta de lubrificante. Se o comportamento Newtoniano se verificasse, mesmo que o
filme lubrificante entre picos de rugosidade fosse muito fino, ele seria, em princípio, capaz de
gerar uma pressão local suficientemente alta para deformar as rugosidades e assim impedir o
contacto entre as superfícies e consequentemente a gripagem [177].
Verifica-se, experimentalmente, que quando um fluido está submetido ao corte entre duas
superfícies com velocidades diferentes, as tensões no seu interior aumentam linearmente até
se atingir um ponto em que o fluido já não é capaz de dar resposta, passando a corresponder a
um aumento da diferença de velocidades com um aumento das tensões de corte cada vez
menor, atingindo mesmo um ponto a partir do qual as tensões de corte não aumentam mais. O
ponto onde as tensões deixam de evoluir linearmente com a diferença de velocidades das
superfícies é considerado o limite do comportamento Newtoniano [177].
Assim, para determinados valores de temperatura e pressão, a curva velocidade de
deformação/tensões de corte seria composta por dois tramos distintos como se mostra na
figura 3.2. O primeiro tramo até se atingir a velocidade de deformação crítica, γ crítica,
corresponde ao comportamento linear Newtoniano. A partir de γ crítica o comportamento passa
a não-linear e a relação entre γ e τ é mais complexa, envolvendo mais factores para além da
temperatura e pressão usualmente considerados, nomeadamente factores que dependem do
tempo, como a velocidade de deformação, e que podem ser integrados numa “viscosidade
aparente”, η aparente, de forma a ser possível aplicar a mesma equação newtoniana
aparenteτ η γ= ⋅ a um comportamento não-newtoniano [139, 177].
Capítulo 3- Tensões Tangenciais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [119/366]
ηaparente
η
γ critica
γ
τ
..
Figura 3.2 – Curva velocidade de deformação/tensões de corte para um fluido não Newtoniano [152].
Alternativamente, poder-se-ia considerar como fluido Newtoniano aquele cuja viscosidade
não é dependente da velocidade de deformação, e de não-Newtoniano aquele cuja viscosidade
depende da velocidade de deformação, como apresentado na figura 3.3 [177].
.
Fluido Newtoniano
Fluido não-Newtoniano
γ
η
Figura 3.3 – Comportamento da viscosidade com a velocidade de deformação [177].
3.2.2- Comportamento térmico
A primeira justificação para o andamento da curva de tracção de um lubrificante foi proposta
por Crook [86, 119, 147] em 1961. Crook mantinha como lei reológica a lei de Newton e
justificava a diminuição das tensões no interior do contacto para valores aceitáveis com a
diminuição da viscosidade devida ao aumento da temperatura provocado pela dissipação
energética causada pelas próprias tensões de corte. Deste modo, as elevadíssimas tensões a
[120/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
que o lubrificante, segundo a lei de Newton, estaria sujeito seriam as responsáveis por uma
grande dissipação de energia com consequente diminuição da viscosidade e portanto das
tensões até que um equilíbrio para valores de tensão razoáveis seria atingido.
Crook concluiu ainda, que num contacto EHD o fluxo de calor dominante era de condução
através do filme lubrificante para as superfícies, e que a dissipação de calor devido aos
gradientes de pressão na zona de Hertz podiam ser desprezados face à dissipação devida ao
corte.
Assim, aplicando a teoria térmica de Crook, mesmo mantendo a lei de Newton é possível
obter curvas como a apresentada na Figura 3.4, como demonstrado por J A Greenwood [147].
h - Espessura do filme
mτ - Tensão média
η - Viscosidade
sU - 21 UU −
Figura 3.4 – Curva de tracção de acordo com a teoria térmica de Crook [147].
No entanto, uma análise mais pormenorizada da curva mostra que, utilizando valores típicos
para um lubrificante, o valor de coeficiente de atrito para uma pressão de 1 GPa é cerca de 6.5
[147] no ponto de tracção máxima. Tal significa que a teoria térmica, embora represente um
avanço assinalável, não é por si só capaz de explicar o comportamento da curva de tracção de
um lubrificante, devendo existir pelo menos um outro mecanismo envolvido que permita a
diminuição das tensões e conduza a valores do coeficiente de atrito compatíveis com os
obtidos experimentalmente.
Capítulo 3- Tensões Tangenciais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [121/366]
3.2.3- Curva de tracção do lubrificante
Aos efeitos não Newtonianos do comportamento do lubrificante, é necessário sobrepor o
efeito do aquecimento do lubrificante no interior do contacto EHD, normalmente designado
por “efeito térmico”, o qual modifica as propriedades físicas do lubrificante, alterando,
consequentemente, não só os vários tipos de comportamento reológico atrás referidos como
também as gamas de condições de funcionamento em que se manifestam [301].
Num contacto EHD, as forças de atrito têm duas componentes sempre presentes, que actuam
em zonas diferentes. A primeira ocorre no convergente, estando relacionada com os
gradientes de pressão que aí ocorrem e com a velocidade de rolamento. Aqui as taxas de
deformação são pequenas já que a espessura de filme é elevada. A segunda ocorre na zona de
alta pressão onde as pressões elastohidrodinâmicas e a velocidade de deformação são
elevadas, já que a espessura de filme é muito pequena e a velocidade de escorregamento
elevada.
A componente de atrito resultante do escorregamento na zona de alta pressão é sempre
dominante [73], excepto no caso do rolamento puro ou do quase rolamento (taxas de
deformação do lubrificante nulas ou muito pequenas).
A curva de tracção de um lubrificante, isto é, a curva típica de variação do coeficiente de
atrito (µ) com taxa de escorregamento
1 2
1 2e
U UV
U U−
=+
está representada na figura 3.5. De um modo geral podem ser consideradas três zonas
distintas, das quais uma ou mais podem não estar presentes em função do tipo de lubrificante
e da pressão e temperatura de funcionamento.
[122/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Figura 3.5 – Curva típica de variação do coeficiente de atrito com a taxa de escorregamento [301].
Zona I - Nesta zona o coeficiente de atrito varia linearmente com a taxa de
escorregamento e as velocidades de deformação são pequenas.
O lubrificante tem um comportamento viscoso-linear a baixas pressões.
Quando a pressão aumenta o seu comportamento torna-se semelhante ao de
um sólido elástico linear.
Esta modificação de comportamento para altas pressões deve-se ao aumento
do tempo de relaxação do lubrificante enquanto o tempo de solicitação se
mantém, não permitindo que o lubrificante atinja o equilíbrio. A dependência
em relação ao escorregamento é em qualquer dos casos linear [73, 301].
Zona II - Nesta zona as velocidades de deformação já são importantes.
A variação não linear da viscosidade, η , com a taxa de escorregamento, Ve, é
explicada por um comportamento viscoso não-linear do lubrificante a baixas
pressões, que poderá, em caso de altas pressões, passar a viscoelástico ou a
elásto-plástico.
As zonas I e II são consideradas típicas de um contacto isotérmico, pois a potência dissipada
no filme lubrificante não é suficientemente elevada para provocar um aumento significativo
da sua temperatura [73, 301].
Capítulo 3- Tensões Tangenciais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [123/366]
Zona III - Nesta zona, o aquecimento do lubrificante e os designados efeitos térmicos são
preponderantes.
Existe uma grande dissipação térmica, acompanhada de grandes aumentos de
temperatura, devido às elevadas velocidades de deformação a que o filme
lubrificante está submetido.
A tendência decrescente da curva de tracção nesta zona é explicada pelo
aumento da temperatura provoca uma diminuição da viscosidade do
lubrificante e consequente diminuição das tensões de corte.
O interesse no conhecimento do comportamento reológico do lubrificante nesta
fase, é de primordial importância. Embora a elevação de temperatura seja o
principal factor influente no coeficiente de atrito, ela depende do
comportamento reológico do lubrificante, o qual determina as tensões de corte
em presença que são as principais responsáveis pela elevação da temperatura.
Estes comportamentos não-lineares mostram a influência de outros parâmetros, para além da
pressão e da temperatura, nomeadamente, da velocidade de deformação [139, 177], sobre a
viscosidade dinâmica de um fluído.
Vários estudos realizados [25, 85, 100, 118, 162, 172, 178, 296, 301] mostraram a existência
de três tipos distintos de comportamentos não-newtonianos: elástico, viscoso não linear e
plástico.
3.2.4- Comportamentos não-newtonianos do lubrificante
No caso das condições de funcionamento típicas de um contacto EHD, o lubrificante pode ser
solicitado numa fracção de tempo tão pequena (solicitação de choque) que não tem tempo de
se deformar completamente, comportando-se como um sólido elástico – comportamento
elástico do lubrificante. Este tipo de comportamento elástico é essencialmente dependente da
velocidade com que são aplicadas as tensões de corte ( τ ).
[124/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
As elevadas pressões de contacto existentes no interior de um contacto EHD, também podem
provocar a solidificação do lubrificante (transição líquido - sólido amorfo [139, 177]), mesmo
atendendo às elevadas temperaturas de contacto em presença [139], justificando este
comportamento elástico.
A representação matemática de um comportamento do tipo elástico pode ser obtida a partir da
definição de tensão de corte elástica,
eGτ = γ (3.1)
em que G é o módulo de corte transversal e γe a deformação elástica.
Derivando em ordem ao tempo a definição de tensão de corte elástica obtém-se, a equação
que relaciona a velocidade de deformação elástica com a velocidade de aplicação das tensões
de corte,
eGτ = γ (3.2)
Segundo Ree-Eyring [166] quando um fluido lubrificante está submetido a uma tensão de
corte, as barreiras energéticas que as moléculas devem ultrapassar para se moverem no
sentido da tensão aplicada, vêm diminuídas de uma quantidade igual ao trabalho mecânico
efectuado pelas moléculas em movimento, quantidade essa que é acrescida no sentido oposto
ao da aplicação da tensão.
Quando a velocidade de deformação é pequena, existe uma relação quase linear entre a
velocidade de deformação e as tensões de corte. No entanto, a partir de um certo nível de
velocidade de deformação, as barreiras energéticas no sentido da aplicação das tensões
decrescem acentuadamente e a relação passa a ser não linear [166] originando o designado
comportamento viscoso não linear, como se mostra na zona II da figura 3.5.
Capítulo 3- Tensões Tangenciais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [125/366]
Da formulação da teoria de Ree-Eyring, tal como apresentada por Greenwood [6], obtém-se a
equação que relaciona a velocidade de deformação com as tensões de corte, para um fluido
viscoso não-newtoniano de Ree-Eyring,
RE
RE
sh⎛ ⎞τ τ
γ = ⎜ ⎟η τ⎝ ⎠ (3.3)
A tensão de referência de Ree-Eyring, τRE, define o ponto a partir do qual a não linearidade do
comportamento é significativa [139].
Os comportamentos elástico e viscoso não-linear não justificam o facto de haver um limite
para o coeficiente de atrito de aproximadamente 0.1 [118] ou mesmo a possibilidade de
existência de ruptura do filme lubrificante. De facto a teoria de Ree-Eyring deixa de ser
aplicável quando o trabalho realizado pela tensão de corte na direcção da deformação, que
diminui a energia necessária a essa mesma deformação, se aproxima da energia de activação
total, ou seja, quando a energia fornecida pelas tensões for igual à energia necessária para a
deformação, esta acontece sem que seja necessário qualquer incremento das tensões e
portanto as tensões não aumentam mais. Smith avançou com a hipótese [100, 147, 172, 296,
345, 346] de que quando a tensão de corte atinge um determinado valor limite o lubrificante
simplesmente cede como um sólido plástico, apresentando uma tensão de cedência que não
pode ser ultrapassada e originando o designado comportamento plástico do lubrificante. Esta
tensão de corte, que provoca uma deformação plástica do lubrificante, mantém-se constante
independentemente do aumento da velocidade de deformação, sendo usualmente designada
por tensão limite, Lτ .
Bair & Winer [16], em 1979, baseados em dados experimentais propuseram que a
componente plástica com característica viscosa linear fosse representada por:
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ττ
−ητ
−=γL
L 1ln (3.4)
[126/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Esta característica viscosa linear é observada para valores de tensão de corte muito inferiores
à tensão limite (τ << τL), situação para a qual a equação (3.4) resulta na equação de Newton
( τ = ηγ ).
3.2.5- Tensões de corte em regime de filme completo
O modelo de cálculo das tensões de corte no filme lubrificante foi elaborado por Sottomayor
et al. [299] tendo em conta as variações locais de temperatura no interior do contacto. Trata-se
de um modelo complexo que permite determinar as tensões de corte no filme lubrificante a
nível local, a partir do campo de pressões, da geometria do filme lubrificante e das condições
de funcionamento do contacto EHD, independentemente das superfícies em contacto serem
lisas ou rugosas. Para isso integra o comportamento reológico do lubrificante a partir de uma
lei viscoelástica e também as variações das propriedades do lubrificante (viscosidade, módulo
elástico de corte, tensão limite) em função da temperatura e da pressão (ver Anexo B). O
resultado final é obtido por convergência de todos estes parâmetros, calculando
nomeadamente os efeitos térmicos que são primordiais quando o contacto funciona em
rolamento com escorregamento como no caso do contacto entre os dentes de uma engrenagem
em pontos que não o primitivo (ver Anexo C).
O modelo admite que o lubrificante tem um comportamento reológico viscoelasto-plástico, de
acordo com a lei proposta por Bair e Winer (1979) que associa a componente elástica da
equação (3.2) com a componente plástica e viscosa linear da equação (3.4), isto é,
L
L
ln 1G
⎛ ⎞ττ τγ = − ⋅ −⎜ ⎟η τ⎝ ⎠
(3.5)
onde τ=τEHDR, representa as tensões de corte em regime de filme completo rugoso, isto é, em
regime EHD rugoso e P=pEHDR.
Capítulo 3- Tensões Tangenciais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [127/366]
A viscosidade dinâmica varia segundo a lei de Barus [105, 106, 338],
( )( )0 0T T
00P
.e−α −β
η = η (3.6)
O módulo de corte transversal G e a tensão de corte limite τL, também intervenientes na lei
reológica, variam com a pressão e a temperatura segundo leis exponenciais [301],
0
G G0
1 1.P T TG G .e
⎡ ⎤⎛ ⎞⎢ ⎥⎜ ⎟⎢ ⎥⎜ ⎟
⎝ ⎠⎣ ⎦
α +β −
= (3.7)
e
00
1 1.P T T.e
⎡ ⎤⎛ ⎞⎢ ⎥⎜ ⎟⎢ ⎥⎜ ⎟
⎝ ⎠⎣ ⎦τ τα +β −
τ = τ (3.8)
As variações de temperatura no filme lubrificante e nas superfícies dos sólidos são obtidas
através da solução da equação da energia aplicada ao filme lubrificante e às superfícies em
contacto, usando o método proposto por Tevaarwerk (1979) [301, 314] (ver anexo C).
O resultado final é obtido pelo equilíbrio dos diversos fenómenos físicos envolvidos,
nomeadamente, os efeitos térmicos, que são primordiais quando o contacto funciona em
regime de rolamento com escorregamento (caso das engrenagens em pontos da linha de
engrenamento que não o primitivo) (ver anexo C).
Para mais detalhes sobre o modelo usado para determinar as tensões de corte em regime de
filme completo rugoso sugere-se a leitura dos anexos B e C e a consulta da referência [301].
A utilização de um modelo viscoelasto-plástico em detrimento de qualquer um dos outros
modelos reológicos que podem caracterizar o lubrificante é justificada. Um modelo reológico
aplicado a condições de funcionamento que conduzem à fadiga de contacto de engrenagens
tem necessariamente que permitir rupturas do filme lubrificante. Os únicos modelos que
[128/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
permitem abordar a ruptura do filme lubrificante por um processo mecânico são os que
incluem uma componente plástica.
Por outro lado, de modo a contemplar uma gama alargada de condições de funcionamento é
necessário considerar também a componente viscosa não linear (que em algumas situações
funciona como viscosa linear) e considerar a componente elástica importante para elevadas
velocidades de rolamento e/ou pequenas taxas de escorregamento.
Um aspecto essencial para determinar correctamente os valores das tensões de corte no filme
lubrificante é a obtenção dos parâmetros reológicos do lubrificante utilizado, nomeadamente o
módulo de elasticidade transversal, G, e a tensão de corte limite, τL, e as suas variações com a
pressão e temperatura.
Os coeficientes de piezoviscosidade αη e de termoviscosidade βη foram obtidos
experimentalmente, estando disponiveis na referência [301]. As curvas de tracção
experimentais do lubrificante [41, 110] foram reproduzidas numéricamente permitindo a
determinação dos parâmetros reológicos do lubrificante, a tensão de corte limite (τL, ατ e βτ) e
o módulo de elasticidade transversal (G, αG e βG).
3.2.5.1- Coeficiente de atrito
Em situações envolvendo escorregamento ou rolamento, um termo associado ao desgaste é o
atrito. O atrito pode ser definido como a força que se opõe ao movimento relativo entre duas
superfícies. Genericamente, a magnitude da força de atrito é descrita em termos de um
coeficiente de atrito, que é a razão entre a força de atrito e a força normal que pressiona os
corpos entre si.
Capítulo 3- Tensões Tangenciais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [129/366]
Conforme mencionado por Budinski (1991) [49, 219], o coeficiente de atrito com essa
descrição foi proposto originalmente por Leonardo da Vinci, por volta de 1500 [219]. Apesar
de outras formulações existentes, o coeficiente de atrito descrito pela relação entre as forças
de atrito e normal é vastamente utilizado como caracterizador do atrito do sistema.
No início da era da tecnologia, o coeficiente de atrito era considerado como uma constante de
um determinado par de materiais. Ludema (1988) [206] ressalta que, na tecnologia moderna,
o coeficiente de atrito é considerado como sendo variável e dependente de parâmetros
operacionais (por exemplo, humidade, temperatura, velocidade e pressão de contato), de
lubrificantes, de propriedades do substrato e dos filmes superficiais. Desses, a dependência é,
em geral, maior com as propriedades das superfícies e com o acabamento superficial do que
com as propriedades do substrato [206].
Em termos de valores do coeficiente de atrito, Ludema (1996) [205] lembra que a
característica do atrito, de não ser uma propriedade intrínseca de um material nem de uma
combinação de materiais, traz complexidade no uso de valores tabelados como fonte de dados
para projecto. Os valores na maioria das vezes são obtidos com algumas combinações de
materiais e em condições estabelecidas com sistemas laboratoriais que empregam geometrias
simples. Obviamente, as informações tabeladas fornecem orientações; entretanto, Ludema
[205] menciona que uma análise mais criteriosa deve ser efectuada nos casos mais críticos.
Mesmo com críticas a valores tabelados, Ludema (1996) apresentou uma faixa possível para o
coeficiente de atrito em sistemas deslizantes lubrificados com óleo, com valores desde um
pouco maiores que 0 a quase 0,5. Essa faixa ampla de valores é praticamente sem sentido, e
reflete uma deficiência que ocorre em geral, de uma descrição da relação dos valores
tabelados aos tipos de sistemas e condições em que foram obtidos.
Em termos de considerações históricas do estudo do atrito, Ludema [205] descreve as teorias
envolvidas, desde Leonardo da Vinci, por volta de 1500, passando a Guillaume Amontons,
que cerca de dois séculos depois (por volta de 1700), confirmou as observações de da Vinci
através de experiências com vários pares de materiais (cobre, ferro, chumbo e madeira).
Amontons considerou, também como da Vinci, que o atrito era causado pela colisão entre as
[130/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
irregularidades superficiais [219]. Conforme observa Ludema, tais irregularidades deveriam
ser de escala macroscópica pois naquela época pouco se sabia das irregularidades
microscópicas. Ludema [205] também menciona que nas experiências de Amontons, todas as
superfícies eram cobertas com banha de porco, porém, de maneira errónea, ainda hoje muitos
autores descrevem as teorias de Amontons como leis do atrito a seco.
Posteriormente, Charles A. Coulomb (1736-1806) [219]descreveu o atrito novamente como
sendo devido à interacção dos picos de rugosidade, similar a Amontons e outros. A teoria da
interacção dos picos de rugosidade é limitada, por não explicar, entre outros fenómenos, o
efeito da rugosidade no atrito e da inserção de filmes fluídos na interface. Ludema [205] cita
também Hardy, que na década de 1920, com as suas experiências de deposição de lubrificante
em camadas moleculares em superfícies, concluiu que o atrito é devido à actuação de forças
moleculares na interface. Em meados de 1930, a hipótese do atrito devido a um processo de
adesão na interface é a melhor aceite, cuja autoria da teoria tem sido atribuída a Bowden e
Tabor, e foi formulada para evidenciar a inadequabilidade da teoria da interacção. Conforme
Ludema, os modelos de atrito devido à adesão consideravam que a deformação plástica das
asperezas produz um aumento da área real de contato que é limitado pela resistência ao
cisalhamento dos filmes superficiais. Porém, tais modelos são limitados por algumas
características, como por exemplo, o envolvimento de mecanismos não completamente
conhecidos, como a fractura das junções e a não explicação do efeito da rugosidade [205,
219].
Ludema [206] menciona que mais recentemente, o atrito é visto como sendo devido à adesão
limitada por efeitos de adsorção e, em alguns casos, com determinadas superfícies rugosas,
uma segunda componente de atrito poderia aparecer devido à colisão dos picos de rugosidade.
No caso de superfícies lubrificadas, a adesão não é comummente discutida como uma causa
do atrito, entretanto, a molhabilidade, tensão superficial e até mesmo a viscosidade são
manifestações de forças de ligação, que são em parte relacionadas ao fenómeno da adesão
[219]. Uma descrição apresentada por Bayer [27] para uma expressão geral do atrito é o
somatório de todas as forças que se opõe ao movimento relativo de duas superfícies, a saber,
forças associadas com a adesão, abrasão, fadiga (ou dissipação de energia via efeitos de
histerese) e forças viscosas.
Capítulo 3- Tensões Tangenciais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [131/366]
Do exposto, é possível ver que o atrito é sensível aos mesmos parâmetros e aos mesmos tipos
gerais de fenómenos envolvidos no desgaste, ou seja, aqueles relacionados com as
modificações das tribo-superfícies [219]. E como resultado dessa dependência comum,
alterações nas tribo-superfícies que resultam em mudanças no desgaste frequentemente
produzem modificações também no atrito e vice-versa. Com isso, Bayer [27] menciona que a
monitorização do atrito durante ensaios de desgaste podem auxiliar na identificação dos
fenómenos de transição do desgaste, embora se ressalte que as tendências observadas do
desgaste não são necessariamente as mesmas do atrito. Segundo Bayer, uma maneira de
entender a distinção entre as tendências do atrito e do desgaste é a consideração da energia
dissipada pelo sistema. O atrito pode ser relacionado com a energia total dissipada pelo
sistema, sendo essa energia constituída de duas partes: energia na forma de calor e energia na
forma de desgaste. A razão entre essas duas energias pode variar para diferentes
tribossistemas e diferentes mecanismos de desgaste. A energia associada ao movimento ou ao
dano do material da superfície, que é o desgaste, é normalmente pequena em comparação com
a energia devida ao calor gerado [219].
Por outro lado, Dowson [102] menciona que pesquisas recentes têm elevado o conhecimento
do fenómeno atrito através da aplicação de conceitos de ciência das superfícies e de técnicas
em escala molecular ou atómica, estas últimas permitindo investigações relacionadas com
contactos simples entre picos de rugosidade, numa escala nanométrica. Em tais investigações,
medições de força de atrito, realizadas através do microscópio de força atómica, mostram que
essa força não é proporcional à carga normal, devido às influências das forças de adesão.
Ainda segundo Dowson, estudos do atrito em escala atómica também vêm sendo realizados
através da aplicação da dinâmica molecular. Nessa abordagem, as equações newtonianas de
movimento são resolvidas para um sistema de partículas atómicas governadas por interações
interatómicas específicas [219]. Simulações de dinâmica molecular do contato de superfícies
lubrificadas demonstraram que o comportamento de filmes de lubrificação de espessuras
moleculares, ou seja, tipicamente menores que 40 Å (4 nm), não podem ser relacionados às
propriedades volumétricas (bulk) do lubrificante. Explicita ainda que tais estudos em escala
atómica representam uma área potencial para avanços quanto a um melhor entendimento do
fenómeno do atrito.
[132/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
A força tangencial no contacto é, neste caso em que o regime de lubrificação é em filme
completo, igual à força resultante das tensões de corte aplicadas τEHDR, ou seja,
EHDR EHDRt t
S
F F .ds= = τ∫ (3.9)
No regime de filme completo a carga normal Fn aplicada ao contacto é integralmente
suportada pelo filme lubrificante, ou seja, EHDRn nF F= (função de repartição da carga normal
fΛ=1).
Nestas condições e atendendo à formulação do contacto, o coeficiente de atrito médio no
contacto, em regime de filme completo, é
EHDREHDR t ti
n n
F FF F
µ = = (3.10)
3.3- Tensões de corte em regime limite de lubrificação
A força tangencial no contacto, no caso do regime limite de lubrificação, é igual à resultante
das tensões de corte em regime de limite τLIM, ou seja,
LIM LIMt t
S
F F .ds= = τ∫ (3.11)
A carga normal Fn aplicada ao contacto é, no regime limite, suportada integralmente pelos
picos de rugosidade das superfícies (função de repartição da carga normal fΛ=0).
Nestas condições, o coeficiente de atrito médio no contacto LIMiµ é definido por
Capítulo 3- Tensões Tangenciais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [133/366]
LIMLIM ti
n
FF
µ = (3.12)
Considera-se, para efeitos do cálculo das tensões de corte limite, que o coeficiente de atrito
em regime limite de lubrificação não varia no interior do contacto, ou seja, o coeficiente de
atrito limite local LIMµ é igual ao coeficiente de atrito limite médio no contacto LIMiµ . Para
além disso, também se considera que o coeficiente de atrito médio, neste regime de
lubrificação, é independente das condições de funcionamento e da geometria da engrenagem,
embora dependa do lubrificante usado e da rugosidade das superfícies.
As tensões de corte em regime limite de lubrificação τLIM são determinadas a partir das
pressões de contacto obtidas no mesmo regime de lubrificação (que se considerou equivalente
ao contacto seco rugoso) pLIM, através da consideração do coeficiente de atrito em regime
limite LIMµ . Como o coeficiente de atrito não varia no interior do contacto as tensões de corte
em regime limite são definidas por
LIM LIM LIM.pτ = µ (3.13)
3.4- Tensões de corte em regime misto de lubrificação
O coeficiente de atrito em regime misto de lubrificação é caracterizado, em termos globais,
por uma diminuição do seu valor com o aumento da espessura do filme lubrificante [154,
332]. Este facto deve-se sobretudo a uma diminuição acentuada da contribuição da
componente limite enquanto que a componente hidrodinâmica viscosa aumenta de uma forma
mais moderada, resultando um decréscimo do coeficiente de atrito global em regime misto.
[134/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
A Figura 3.6 mostra uma curva genérica da variação do coeficiente de atrito com o parâmetro
(ηω/p) designada genericamente curva de Stribeck, e que determina o regime de lubrificação
predominante [332].
Castro [64] desenvolveu uma solução aproximada para o coeficiente de atrito em regime
misto, para o caso das engrenagens, que tal como no caso da carga normal (Fn) suportada pelo
contacto, a força tangencial aplicada (Ft) é suportada quer pelo filme lubrificante, EHDRtF , quer
pelo contacto directo entre as rugosidades, LIMtF , pelo que
EHDR LIMt t tF F F= + (3.14)
com,
0.001
0.01
0.1
1
3 6 9 12 15 18 21
ηω/P
µ
Limite Mista Hidrodinâmica / EHD
Figura 3.6 – Curva de Stribeck [332].
EHDRt tF F gΛ= (3.15)
LIMt tF F (1 g )Λ= − (3.16)
em que gΛ é a função de repartição da força tangencial do contacto.
Capítulo 3- Tensões Tangenciais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [135/366]
Por outro lado, pode relacionar-se cada uma das componentes da força tangencial com a
respectiva componente normal através do coeficiente de atrito médio, isto é,
EHDR EHDR EHDR EHDRt i* n i* nF F F fΛ= µ = µ (3.17)
LIM LIM LIM LIMt i* n i* nF F F (1 f )Λ= µ = µ − (3.18)
onde EHDRi*µ e LIM
i*µ são os coeficientes de atrito médios relativos à componente EHD rugosa e
limite, respectivamente.
O coeficiente de atrito médio em regime misto pode ser definido por
MIX ti
n
FF
µ = . (3.19)
Atendendo às expressões anteriores (3.17), (3.18) e (3.19) pode escrever-se que
EHDR EHD LIM LIM EHDR LIMMIX i* n i* n i* n i* ni
n n
F F F f F (1 f )F F
Λ Λµ + µ µ + µ −µ = = . (3.20)
O coeficiente de atrito médio em regime misto é então definido por
MIX EHDR LIMi i* i*f (1 f )Λ Λµ = µ + µ − . (3.21)
Não se conhecendo, à priori, o valor do coeficiente de atrito médio em regime EHD rugoso
devido a uma carga parcial EHDRnF , designado por EHDR
i*µ , admite-se que a relação entre esse
coeficiente de atrito e o seu equivalente para a carga total Fn, designado por EHDRiµ , possa ser
obtida através da equação para o coeficiente de atrito global de Michaelis [335] , em que a
influência da carga sobre o coeficiente de atrito é afectada do expoente 0.2.
[136/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
O coeficiente de atrito resultante da carga normal suportada pelo filme lubrificante EHDRnF é
então,
( ) ( )0.2 0.2EHDR EHDR
i* n nF F fΛµ ∝ ∝ (3.22)
e o resultante de uma carga normal total Fn é,
( )0.2EHDRi nFµ ∝ (3.23)
sendo a razão entre os dois definida por,
( )( )
( ) ( )0.2EHDR
0.2 0.2n EHDR EHDRi*i* i0.2EHDR
i n
F ff f
FΛ
Λ Λ
µ= = ⇔ µ = µ
µ (3.24)
O expoente 0.2 poderá ter outro valor se for considerada uma expressão para o coeficiente de
atrito diferente da proposta por Michaelis.
De acordo com o admitido anteriormente, o coeficiente de atrito em regime limite é
independente da carga aplicada logo,
LIM LIMi* iµ = µ (3.25)
Esta hipótese de que o coeficiente de atrito limite é considerado independente da carga e das
outras condições de funcionamento, é suportada por alguns autores que propõem valores
constantes para o coeficiente de atrito. Robbe-Valoire [273] propõe o valor de 0.08, Williams
[332] e Barnsby et al [20] apresentam valores próximos de 0.1 enquanto Gelinck [137] propõe
0.13. Outros autores consideram que o valor de coeficiente de atrito em condições de
lubrificação limite pode variar: Hamrock [155] sugere valores entre 0.07 e 0.13 e Horng [165]
entre 0.08 e 0.15 enquanto que Zhu [352] refere que o atrito limite varia com o tipo e
amplitude da rugosidade entre 0.09 para superfícies rectificadas e 0.1 para superfícies polidas.
Capítulo 3- Tensões Tangenciais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [137/366]
Conhecendo os coeficiente de atrito em filme completo rugoso e limite, pode determinar-se o
coeficiente de atrito médio em regime misto de lubrificação. Substituindo as expressões (3.24)
e (3.25) em (3.21), obtém-se que
( )0.2MIX EHDR LIMi i if f (1 f )Λ Λ Λµ = µ + µ − , (3.26)
ou seja,
( )1.2MIX EHDR LIMi i if (1 f )Λ Λµ = µ + µ − , (3.27)
Considerando que a função de repartição de carga normal fΛ não varia no interior do contacto,
tal como no cálculo das pressões normais, pode admitir-se que as tensões de corte no interior
do contacto em regime misto são definidas por [64]
( )1.2MIX EHDR LIMf (1 f )Λ Λτ = τ + τ − (3.28)
Admite-se na expressão (3.28) que o campo de tensões de corte em regime misto de
lubrificação, tal como o campo de pressões normais, também pode ser dividido em duas
componentes correspondentes às tensões de corte suportadas pelo contacto entre os picos das
rugosidades, relativas ao regime limite, e às tensões de corte suportadas pelo filme
lubrificante relativas ao regime de filme completo rugoso.
A expressão (3.27) pode também ser apresentada em termos de carga tangencial e as
respectivas componentes EHDR e limite, resultando em,
( )1.2EHDR LIMt i n i nF f F (1 f )FΛ Λ= µ + µ − (3.29)
Podem também relacionar-se a função de repartição de carga normal fΛ com a função de
repartição de carga tangencial gΛ relacionando as expressões (3.15) e (3.16) com a expressão
(3.29),
[138/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
( )1.2EHDRt i nF g f FΛ Λ= µ (3.30)
e
LIMt i nF (1 g ) (1 f )FΛ Λ− = µ − (3.31)
resultando a função de repartição de carga tangencial gΛ em,
( ) ( )1.2 1.2EHDR EHDRi i
MIXt n i
f fg
F / FΛ Λ
Λ
µ µ= =
µ (3.32)
ou
LIMi
MIXi
(1 f )g 1 ΛΛ
µ −= −
µ (3.33)
A Figura 3.7 mostra o procedimento utilizado para a obtenção dos campos de tensões de corte
em regime misto de lubrificação.
O cálculo do campo de tensões de corte em regime misto passa pela determinação de cada
uma das componentes que compõem o contacto misto, ou seja, o cálculo das tensões de corte
tangenciais no filme lubrificante, considerando a lubrificação em regime de filme completo
rugoso (τEHDR), o cálculo das tensões de corte devidas à interacção entre os picos de
rugosidade considerando o campo de pressões seco rugoso (limite) e o coeficiente de atrito
limite (τLIM=µLIM.pLIM). A partir destas duas componentes e através da função de repartição de
carga, fΛ, determinam-se as tensões de corte em regime de lubrificação misto (eq. (3.28)).
Capítulo 3- Tensões Tangenciais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [139/366]
Figura 3.7 – Modelo utilizado para a obtenção dos campos de tensões de corte em regime misto de
lubrificação.
3.5- Campo de tensão tangencial (ou de corte) em regime
misto de lubrificação. Aplicação a uma superfície real.
O modelo para determinação dos campos de tensões de corte em regime misto vai ser
aplicado para a superfície de série (S1) em que foram determinados os campos de pressões
Rugosidade das superfícies (incluí filtragem e composição)
Campo de Pressões EHDR Modelo de Ai-Cheng
pEHDR
Deformada HR
DEF
Campo de tensões de corte em regime EHDR
τEHDR
Condições de funcionamento
Parâmetros globais de
contacto
Espessura de filme corrigida h0C
Campo de tensões em regime limite
τLIM
Campo de pressões em regime limite
pLIM
Coeficiente de atrito limite µLIM
Campo de tensões de corte em regime misto
τMIX (Obtido a partir da função de repartição de carga fΛ)
( )1.2MIX EHDR LIMf (1 f )Λ Λτ = τ + τ −
[140/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
seco (pLIM) e em filme completo rugoso (pEHDR), obtidos a partir de uma medição da
rugosidade real das superfícies e para as condições de funcionamento p0 = 1.5 GPa, VR= 6 ms-
1, Ve= -0.3.
A Figura 3.8 mostra o campo de pressões normais pEHDR e a correspondente geometria
deformada da superfície de contacto HRDEF.
0,00E+00
5,00E+08
1,00E+09
1,50E+09
2,00E+09
2,50E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
PEHDR(Pa)
0,00E+00
1,00E-06
2,00E-06
3,00E-06
4,00E-06
5,00E-06
6,00E-06
H (m)
PEHDR
HDEFR
PEHDR
HRDEF
Figura 3.8 – Campo de pressões normais PEHDR e geometria deformada da superfície de contacto HRDEF
para a superfície de série (S1), condições de referência.
A Figura 3.9 mostra o campo de tensões de corte τEHDR obtido a partir do campo de pressões
pEHDR e da geometria deformada da superfície de contacto HRDEF. Estas variáveis (geometria
deformada e campo de pressões) e os parâmetros globais do contacto definem as condições
para o cálculo das tensões de corte neste regime de filme completo rugoso (τEHDR).
Capítulo 3- Tensões Tangenciais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [141/366]
0,00E+00
5,00E+06
1,00E+07
1,50E+07
2,00E+07
2,50E+07
3,00E+07
3,50E+07
4,00E+07
4,50E+07
5,00E+07
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
tEHDRτEHDR
Figura 3.9 – Campo de tensão de corte τEHDR para a superfície de série (S1), condições de referência.
A Figura 3.10 mostra a variação do coeficiente de atrito local em filme completo rugoso
µEHDR, resultantes do campo de pressões pEHDR (Figura 3.8) e do campo de tensões de corte
τEHDR (Figura 3.9), admitindo que EHDR
EHDREHDRp
τµ = .
0,000
0,005
0,010
0,015
0,020
0,025
0,030
0,035
0,040
0,045
0,050
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
caehdrµEHDR
µiEHDR=0.0235
Figura 3.10 – Coeficiente de atrito local µEHDR para a superfície de série (S1), condições de referência.
[142/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
A partir do campo de pressão seco pLIM e do coeficiente de atrito local limite µLIM obtém-se o
correspondente campo de tensões de corte limite τLIM ( LIM LIM LIM.pτ = µ ). A Figura 3.11
mostra o campo de tensões de corte limite obtido com o campo de pressões pLIM (Figura 2.25)
considerando neste caso o valor de 0.15 para o coeficiente de atrito limite LIMiµ .
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
tLIMτLIM
Figura 3.11 – Campo de tensões de corte limite τLIM para a superfície de série (S1), condições de
referência.
O valor da função de repartição da carga tangencial gΛ é obtido através do valor médio dos
coeficientes de atrito EHD rugoso ( EHDRiµ ) e misto ( MIX
iµ ), e também do valor da função de
repartição de carga fΛ de acordo com a expressão (3.32), ou, em alternativa pode ser obtido
considerando o coeficiente de atrito médio em regime limite LIMiµ através da expressão (3.33).
LIMi
MIXi
(1 f )g 1 ΛΛ
µ −= −
µ⇔
( )1.2EHDRi
MIXi
fg 0.0753Λ
Λ
µ= =
µ
A Figura 3.12 mostra o campo de tensões de corte em regime misto de lubrificação τMIX
obtido a partir do campo de tensões de corte limite τLIM (Figura 3.11), do campo de tensões de
Capítulo 3- Tensões Tangenciais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [143/366]
corte em filme completo rugoso τEHDR (Figura 3.9) e do valor da função fΛ, de acordo com a
expressão ( )1.2MIX EHDR LIMf (1 f )Λ Λτ = τ + τ − .
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
tMIXτMIX
Figura 3.12 – Campo de tensões de corte em regime misto τMIX para a superfície de série (S1), condições de
referência.
A Figura 3.13 compara os três campos de tensões de corte obtidos. É notório que o campo de
tensões de corte resultantes da consideração do filme completo rugoso (τEHDR), caracterizado
por ser contínuo, é pouco relevante quando comparado com o campo de tensões de corte
resultante da consideração de filme limite (τLIM), caracterizado por “picos” de tensão muito
elevados e forte descontinuidade. O contacto misto resultante é caracterizado por um campo
de tensões de corte que é essencialmente resultante do campo limite atenuado através da
função de repartição de carga fΛ.
[144/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
tEHDR
tLIM
tMIX
τEHDR
τLIM
τMIX
Figura 3.13 – Campo de tensões de corte misto, EHDR e limite (seco) para a superfície de série (S1),
condições de referência.
3.6- Sumário e conclusão
O modelo viscoelasto-plástico para o comportamento reológico do lubrificante em regime de
filme completo foi escolhido por ser o mais apropriado para trabalhar numa gama alargada de
condições de funcionamento, permitindo a limitação das tensões de corte viscosas quando é
atingido o limite plástico e integrando uma componente elástica.
Um aspecto essencial para determinar correctamente os valores das tensões de corte no filme
lubrificante é a obtenção dos parâmetros reológicos do lubrificante utilizado, nomeadamente o
módulo de elasticidade transversal, G, e a tensão de corte limite, τL, e as suas variações com a
pressão e temperatura.
Capítulo 3- Tensões Tangenciais de Contacto em Regime Misto de Lubrificação [145/366]
Deste modo, a partir das condições de funcionamento das propriedades dos materiais, dos
campos de pressões e da geometria do filme lubrificante, é possível determinar as tensões
tangenciais, o coeficiente de atrito local (dado pela razão em cada ponto da tensão tangencial
pela pressão normal) e as elevações de temperatura no lubrificante nas superfícies, em regime
de filme completo.
Foi considerado um coeficiente de atrito limite, independente das condições de
funcionamento e da geometria do contacto, mas dependente das propriedades do lubrificante.
Esta limitação será contornada posteriormente, procedendo a um varrimento so valor de µLIM
dentro de uma gama de valores razoáveis (0.05≤µLIM≤0.20) para o contacto entre os dentes de
uma engrenagem.
O modelo desenvolvido para a obtenção de campos de tensões de corte em regime misto de
lubrificação recorre às soluções dos campos de tensões de corte em regime limite
(τLIM=µLIM.pLIM) e a um modelo para obtenção dos campos de tensões de corte em
lubrificação EHDR (filme completo rugoso (τEHDR)). A contribuição de cada uma das
componentes para o contacto misto é definida por uma função de repartição da carga
tangencial no contacto. A partir destas duas componentes e através da função de repartição de
carganormal, fΛ, determinam-se as tensões de corte em regime de lubrificação misto através
da expressão:
( )1.2MIX EHDR LIMf (1 f )Λ Λτ = τ + τ −
[146/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
CAPÍTULO 4
TENSÕES NO INTERIOR DOS SÓLIDOS EM CONTACTO
4.1- Introdução
O contacto entre corpos elásticos não conformes, submetidos a deformações suficientemente
pequenas para que a teoria da elasticidade linear seja aplicável, produzem, inevitavelmente,
uma área de contacto de pequenas dimensões quando comparadas com os raios de curvatura
das superfícies não deformadas em contacto.
Nestas condições as tensões estão intensamente concentradas na região de contacto,
decrescendo rapidamente com a distância ao ponto de contacto, podendo ser calculadas, com
boa aproximação, considerando cada corpo como um maciço semi-infinito com superfície
plana, isto é, um semi-espaço elástico.
As tensões em semi-espaços elásticos provocadas por acções de contacto linear podem ser
calculadas analiticamente a partir das equações de Boussinesq e Cerruti para casos teóricos
como o de um contacto hertziano.
O caso real, do contacto entre sólidos com superfícies rugosas, a distribuição de pressões de
contacto ou os esforços tangenciais (atrito) não têm uma distribuição eliptica e logo nao
podem ser integradas nas equações de Boussinesq e Cerruti, tornando-se necessário recorrer
a métodos numéricos.
[148/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
4.2- Tensões em semi-espaços elásticos
A teoria da elasticidade linear estipula que, as componentes de tensão devem satisfazer as
equações de equilíbrio no sólido [23, 46, 61],
0 e 0 =∂∂
+∂∂
=∂∂
+∂∂
xzzxxzzxzx τστσ
e as correpondentes deformações εx, εz, γxz devem satisfazer a condição de compatibilidade,
2
2
2
2
2
zxxzxzzx
∂∂∂
=∂∂
+∂∂ γεε
Se as funções de tensão forem definidas por:
; ; ;2
2
2
2
2
zxxz xzzx ∂∂∂
=∂∂
=∂∂
=φτφσφσ
as equações de equilibrio, compatibilidade, juntamente com a lei de Hooke, satisfazem a
equação biharmónica:
02
2
2
2
2
2
2
2
=⎭⎬⎫
⎩⎨⎧
∂∂
+∂∂
⎭⎬⎫
⎩⎨⎧
∂∂
+∂∂
zxzxφφ
A Figura 4.1 mostra um semi-espaço elástico, submetido a uma solicitação distribuída na
fronteira z=0. A solicitação tem uma componente normal p(x) e uma componente tangencial
q(x).
As condições fronteira do problema em análise são:
i. Para z=0 e x < -b ou x > a, σz=τxz=0 trata-se de uma superfície “livre”;
ii. Para z=0 e –b ≤ x≤ a, σz= -p(x) e τxz= -q(x) - zona de aplicação da solicitação
na superfície do semi-espaço elástico;
Capítulo 4- Tensões no Interior dos Sólidos em Contacto [149/366]
iii. Para pontos muito afastados da zona de carga (x e z → ∞), as tensões tornam-se
infinitamente pequenas.
Usando coordenadas cilindricas (r, θ, y), as correspondentes equações para as componentes de
tensão σr, σθ, e τrθ são definidas por:
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
∂∂
−=∂∂
=∂∂
+∂∂
=θφτφσ
θφφσ θθ
2
2
2
2
2
2
1 ; ;11rrrrrr rr (4.1)
e a equação biharmónica toma a seguinte forma:
011112
2
22
2
2
2
22
2
=⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
+∂∂
+∂∂
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
+∂∂
+∂∂
θφφφ
θ rrrrrrrr
sendo as deformadas εr, εθ e γrθ obtidas através dos deslocamentos:
ru
ruu
ru
rru
ru rrr
rθθ
θθ
θ θγ
θεε −
∂∂
+∂∂
=∂∂
+=∂∂
=1 ;1 ; r
Figura 4.1- Semi-espaço elástico submetido a solicitações p(x) e q(x) distribuídas na superfície [61, 283].
O x
z
b a
q(x) p(x)
x z
Ux
θ
Ur
Uθ
σθ
τrθ
r
Uz
σz
τxz σx
[150/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
4.2.1- Força normal concentrada
Pretende-se analisar a tensão produzida por uma força concentrada de intensidade P por
unidade de comprimento, uniformemente distribuída ao longo do eixo dos yy e actuando
normalmente à superfície do semi-espaço elástico, como se mostra na Figura 4.2.
Figura 4.2- Semi-espaço elástico submetido a uma força concentrada P, distribuida ao longo dos eixos dos
yy [61].
A solução é dada pela função de tensão φ(r,θ)=A r θ sinθ, em que A é uma constante
arbitrária e θ representa o ângulo entre o eixo Oz e a direcção radial Or.
Usando as equações 4.1 as componentes de tensão são:
0 e cos2 === θθ τσθσ rr rA
Como se verifica, esta distribuição de tensões satisfaz as condições de fronteira. Assim, na
superfície do semi-espaço elástico (θ= +/- π/2), a tensão normal (σθ) é nula, excepto na
origem, e a tensão de corte também é nula. Para pontos afastados do ponto de aplicação da
força (r → ∞) a tensão tende para zero.
P
O
r
x
z
Uθ
Ur θ
σr
d
Capítulo 4- Tensões no Interior dos Sólidos em Contacto [151/366]
A constante A é obtida equacionando as componentes verticais de tensão que actuam num
semi-círculo de raio r centrado no ponto O, quando é aplicada a força P.
/ 2 / 22
/ 2 0
cos 2 (cos )rP rd A d Aπ π
π
σ θ θ θ θ θ π−
− = = =∫ ∫ ,
ou seja,
cos 2rP
rθσ
π= − (4.2)
Em coordenadas cartesianas a distribuição de tensão é dada pelas seguintes expressões:
( )
( )
( )222
2
222
32
222
22
2sincos
2cos
2sin
zxxzP
zxzP
zxzxP
rxz
rz
rx
+−==
+−==
+−==
πθθστ
πθσσ
πθσσ
(4.3)
4.2.2- Força tangencial concentrada
Uma força concentrada Q por unidade de comprimento, uniformemente distribuida ao longo
do eixo dos yy, e actuando tangencialmente à superfície do semi-espaço elástico, como se
mostra na Figura 4.3, origina um campo de tensões radiais similar ao da força normal mas
rodado de π/2.
Se o ângulo θ for medido desde a linha de acção da força, neste caso a direcção xx, as
expressões são formalmente iguais às do caso normal, ou seja,
[152/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
0 e cos2 === θθ τσθσ rr rA
As expressões das tensões em coordenadas rectangulares são neste caso:
( )
( )
( )222
2
222
2
222
3
2
2
2
zxzxQ
zxxzQ
zxxQ
xz
z
x
+−=
+−=
+−=
πτ
πσ
πσ
(4.4)
Figura 4.3- Semi-espaço elástico submetido a uma força concentrada Q, distribuída ao longo dos eixos dos
yy [61].
4.2.3- Tensões normais e tangenciais distribuídas na superfície
Geralmente, as superfícies em contacto estão submetidas a tensões tangenciais, devidas ao
atrito entre as superfícies, para além das tensões normais (pressões). O semi-espaço elástico
representado na Figura 4.4, está submetido a uma carga distribuída segundo xx, com
componente normal p(s) e tangencial q(s).
Ox
z
d d
Q
(σr)1
Ur Uθ
(σr)2
r2 r1 θ1
θ2
Capítulo 4- Tensões no Interior dos Sólidos em Contacto [153/366]
As forças que actuam na área elementar ds, em torno de B, situado a uma distancia s da
origem (ver Figura 4.4), podem ser vistas como forças concentradas de magnitude p.ds
actuando normalmente à superfície e q.ds tangencialmente à superfície.
As tensões no ponto A, de coordenadas (x,z), podem ser obtidas considerando as equações
das forças concentradas normais (4.3) e tangenciais (4.4), nas quais x é substituído por (x-s).
Figura 4.4- Semi-espaço elástico submetido a solicitações p(s) e q(s) distribuídas na superfície [61].
Estendendo-as a toda a superfície do semi-espaço elástico, obtem-se:
( )( )( )
( )( )( )
( )( )
( )( )( )
( )( )( )
( )( )( )
2 3
2 22 22 2
3 2
2 22 22 2
22
2 22 22 2
2 2
2 2
2 2
a a
xb b
a a
zb b
a a
xzb b
p s x s q s x sz ds dsx s z x s z
p s q s x sz zds dsx s z x s z
p s x s q s x sz zds dsx s z x s z
σπ π
σπ π
τπ π
− −
− −
− −
− −= − −
⎡ ⎤ ⎡ ⎤− + − +⎣ ⎦ ⎣ ⎦
−= − −
⎡ ⎤ ⎡ ⎤− + − +⎣ ⎦ ⎣ ⎦
− −= − −
⎡ ⎤ ⎡ ⎤− + − +⎣ ⎦ ⎣ ⎦
∫ ∫
∫ ∫
∫ ∫
(4.5)
O x
z
ab
q(s)
p(s)
A(x,z)
s
ds
[154/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
4.2.4- Tensões tangencial máxima (τmax) e octaédrica (τoct)
No caso de um estado tridimensional de tensão e plano de deformação (εy=0 ⇒ σy=υ(σx+σz)),
em que υ é o coeficiente de Poisson, as tensões principais são raízes da equação:
3 2I1 I2 I3 0σ σ σ− + − =
com,
2
2
I1
I2
I3
x y z
x y y z x z xz
x y z y xz
σ σ σ
σ σ σ σ σ σ τ
σ σ σ σ τ
= + +
= + + −
= −
σy é uma tensão principal, já que τxy=τyz=0.
As outras tensões são dadas pela equação:
( ) ( ) 0I2I1I1 22 =+−+−+ yyy σσσσσ
Se σ1, σ2 e σ3 forem as tensões principais, sendo σ1 a maior e σ3 a menor, a tensão tangencial
máxima e a tensão tangencial octaédrica vêm definidas por:
( )31max 21 σστ −⋅= (4.6)
e
( ) ( ) ( )232
231
2213
1 σσσσσστ −+−+−⋅=oct , (4.7)
respectivamente.
Capítulo 4- Tensões no Interior dos Sólidos em Contacto [155/366]
As distribuições da tensão tangencial máxima e da tensão tangencial octaédrica, no interior de
um semi-espaço elástico, são muito importantes, pois condicionam directamente a resistência
à fadiga do sólido em análise.
4.2.5- Tensões no interior de sólidos em contacto linear - caso particular dos
contactos Hertzianos
A distribuição de pressão num contacto Hertziano linear é do tipo [288]:
( )2
0 1 sp s pa
⎛ ⎞= − ⎜ ⎟⎝ ⎠
(4.8)
onde p0 é a pressão máxima de Hertz e a é a semi-largura do contacto.
Considerando que a distribuição de pressão tangencial é do tipo q(s)=µ p(s), onde µ é o
coeficiente de atrito, substituindo estas equações em (4.5) e integrando, obtém-se:
( )( )
( )( )
( )
2 2 222 2 2
01 2 2 2 2
1
2 2 222 2 2
01 2 2 2 2
1
201 2 2
2 2 32 2 2 3 2 2
2 2 2
x
y
z
x a zp a z xz x x xa a a x z
a a
x a zp a z xz x x xa a a x z
a a
p z a x z
πσ µ ππ
πσ µ ππ
σ µπ
τ
⎧ ⎫⎡ ⎤− − Φ⎛ ⎞+ +⎪ ⎪⎢ ⎥= − Φ − − Φ +⎨ ⎬⎜ ⎟ ⎢ ⎥⎝ ⎠ + + − − Φ⎪ ⎪⎢ ⎥⎣ ⎦⎩ ⎭
⎧ ⎫⎡ ⎤− − Φ⎛ ⎞+ +⎪ ⎪⎢ ⎥= − Φ − − Φ +⎨ ⎬⎜ ⎟ ⎢ ⎥⎝ ⎠ + + − − Φ⎪ ⎪⎢ ⎥⎣ ⎦⎩ ⎭
⎡ ⎤= − Φ − Φ + Φ⎣ ⎦
( )2 2 2 202 1 22 2 2 3xz
p z zz a x z xza a
µ ππ⎧ ⎫⎡ ⎤= − Φ + + + Φ − − Φ⎨ ⎬⎢ ⎥⎣ ⎦⎩ ⎭
(4.9)
[156/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
( )
( )
( ) ( )
1 2
1 2 2 2
2 2 2 2
2 22 2
e são definidos por:
2 2 2 2
2 2 2 2com,
e
M N
MN MN x z a
M N
MN MN x z a
M a x z N a x z
π
π
Φ Φ
+Φ =
+ + −
−Φ =
+ + −
= + + = − +
σy é uma tensão principal já que o estado de tensão a que estão submetidos os sólidos em
contacto pode ser considerado, frequentemente, como um estado plano de deformação ou um
estado plano de tensão. Assim τxy e τyz=0 e σy =σ3. As tensões σx e σz não são tensões
principais devido à presença da tensão de corte ortogonal τxz. A tensoes principais σ1 e σ2
podem ser determinadas a partir do conhecimento de σx , σz e τxz em cada ponto da sub-
superfície de um sólido em contacto.
Na Figura 4.5 pode observar-se a distribuição da tensão tangencial máxima (τmax), num caso
de uma solicitação puramente normal (µ=0) e para sólidos elásticos com um coeficiente de
poisson igual a 0.3 (υ1=υ2=0.3).
Figura 4.5- Distribuição da tensão tangencial máxima adimensional (τmax/p0) – contacto Hertziano linear -
µ=0 e υ1=υ2=0.3 [61].
Capítulo 4- Tensões no Interior dos Sólidos em Contacto [157/366]
A Figura 4.6 mostra a distribuição das tensões principais (σ1, σ2 e σ3), das tensões de corte
(τ1, τ2 e τ3) e da tensão de corte octaédrica τoct, segundo a direcção de x, para pontos da
superfície do sólido e pontos situados à profundidade z = a/4, calculadas considerando um
coeficiente de atrito igual a 1/3.
(a) (b)
(c)
Figura 4.6- Influência da força tangencial sobre: (a) as tensões principais; (b) as tensões de corte; (c) a
tensão de corte octaédrica, no interior do sólido [284].
[158/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
4.3- Modelo numérico
A resolução analítica dos integrais (4.5) pode ser muito complexa, ou até impossivel,
dependendo das expressões que definem p(s) ou q(s), tornando-se absolutamente necessário
recorrer a soluções numéricas.
4.3.1- Discretização da superfície do semi-espaço elástico
A superfície do semi-espaço elástico é dividida num conjunto de n células rectangulares de
comprimento ∆x e infinitamente longas.
Ao ponto si corresponde uma pressão p(si) e uma tensão tangencial q(si) que se consideram
constantes no intervalo [si-∆x/2, si+∆x/2].
O cálculo das tensões, para um ponto A de coordenadas (x,z) é um somatório de n parcelas,
correspondendo, cada uma, a uma celúla de carga si.
Figura 4.7- Discretização da superfície do semi-espaço elástico [61].
As expressões (4.5) são agora definidas por:
O x
zA(x,z)
∆x
p(x) p(si)
si
Capítulo 4- Tensões no Interior dos Sólidos em Contacto [159/366]
( ) ( )( )
( ) ( )( )
( )( )
( ) ( )( )
2 3/ 2 / 2
2 22 22 21 / 2 / 2
/ 2 / 23 2
2 22 22 21 / 2 / 2
2 2
2 1 2
2
i i
i i
i i
i i
s x s xn
x i ii s x s x
s x s xn
z i ii s x s x
xz
x s x sz p s ds q s dsx s z x s z
x sz zp s ds q s dsx s z x s z
z
σπ π
σπ π
τ
+∆ +∆
= −∆ −∆
+∆ +∆
= −∆ −∆
⎛ ⎞− −⎜ ⎟= − −⎜ ⎟
⎡ ⎤ ⎡ ⎤− + − +⎜ ⎟⎣ ⎦ ⎣ ⎦⎝ ⎠
⎛ ⎞−⎜ ⎟= − −⎜ ⎟
⎡ ⎤ ⎡ ⎤− + − +⎜ ⎟⎣ ⎦ ⎣ ⎦⎝ ⎠
= −
∑ ∫ ∫
∑ ∫ ∫
( ) ( )( )
( ) ( )( )
2/ 2 / 22
2 22 22 21 / 2 / 2
2i i
i i
s x s xn
i ii s x s x
x s x szp s ds q s dsx s z x s zπ π
+∆ +∆
= −∆ −∆
⎛ ⎞− −⎜ ⎟−⎜ ⎟
⎡ ⎤ ⎡ ⎤− + − +⎜ ⎟⎣ ⎦ ⎣ ⎦⎝ ⎠
∑ ∫ ∫
Resolvendo os integrais obtém-se:
(4.10)
( ) ( )( )
( )( )
( )
( ) ( )( )
/ 2
2 2
/ 2
/ 21
22 2
2 2
/ 2
3
322 2
2 122
2 1 ln22
2 122
i
i
i
i
s x
i
n s xx s x
i
i
s x
i
z
x sz x sp s arctgz zx s z
zq s x s zx s z
x sz x sp s arctgz zz x s z
π
σ
π
π
σ
+∆
−∆
+∆=
−∆
⎧ ⎫⎡ ⎤−⎪ ⎪−⎢ ⎥− − −⎪ ⎪⎢ ⎥⎡ ⎤− +⎪ ⎪⎢ ⎥⎣ ⎦⎣ ⎦⎪ ⎪= ⎨ ⎬⎡ ⎤⎪ ⎪⎢ ⎥⎪ ⎪⎡ ⎤− − +⎣ ⎦⎢ ⎥⎪ ⎪⎡ ⎤− +⎢ ⎥⎪ ⎪⎣ ⎦⎣ ⎦⎩ ⎭
⎡ ⎤− −⎢ ⎥− −⎢ ⎥⎡ ⎤− +⎢ ⎣ ⎦⎣ ⎦=
∑
( )( )
( )( )
( ) ( )( )
/ 2
/ 2
/ 21
2
2 2
/ 2
/ 22
2 2
/ 2
/ 2
2 2
/ 2
2 1
2
2 1
2
2 122
i
i
i
i
i
i
i
i
s x
n s x
s xi
i
s x
s x
i
s xxz s x
i
s x
z q sx s z
z p sx s z
x sz x sq s arctgz zx s z
π
π
τ
π
+∆
−∆
+∆=
−∆
+∆
−∆
+∆
−∆
⎧ ⎫⎪ ⎪
−⎪ ⎪⎪ ⎪⎥⎪ ⎪⎨ ⎬
⎡ ⎤⎪ ⎪⎢ ⎥⎪ ⎪⎢ ⎥⎪ ⎪⎡ ⎤− +⎢ ⎥⎪ ⎪⎣ ⎦⎣ ⎦⎩ ⎭
⎧ ⎡ ⎤⎪ ⎢ ⎥−⎪ ⎢ ⎥⎡ ⎤− +⎪ ⎢ ⎥⎣ ⎦⎣ ⎦
= ⎨⎡ ⎤− −⎢ ⎥− −⎢ ⎥⎡ ⎤− +⎢ ⎥⎣ ⎦⎣ ⎦
∑
1
n
i=
⎫⎪⎪⎪⎪ ⎪⎬
⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎪⎪ ⎪⎩ ⎭
∑
[160/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
4.3.2- Algoritmo de cálculo
Em seguida são apresentadas, de um modo sintético, as várias etapas do algoritmo de cálculo
das tensões no interior de um semi-espaço elástico [61, 283].
1-INPUT
Características do contacto: semi-largura do contacto Hertziano –a; pressão máxima de Hertz
– p0; coeficiente de atrito - µ ; coeficiente de Poisson - υ.
Definição da malha: espaçamento entre pontos segundo xx-∆x e segundo zz-∆z; número de
pontos em xx e em zz; ponto inicial da malha em xx e em zz.
2-DISCRETIZAÇÃO DA SUPERFÍCIE CARREGADA
Leitura (em ficheiro) dos esforços normais p(s) e tangenciais q(x) e os respectivos pontos de
aplicação (abcissas). Considera-se que o eixo dos zz divide a meio o campo de pressões e
esforços tangenciais que actuam à superfície.
3-CÁLCULO DAS TENSÕES σx, σz e τxz
Cálculo das tensões σx, σz e τxz, através de somatórios de n parcelas (expressões (4.10)),
correspondendo cada uma a um ponto de aplicação da carga discretizada.
4-CÁLCULO DAS TENSÕES
Cálculo da tensão σy, das tensões principais σ1, σ2 e σ3, das tensões de corte τ1 (= τmax ), τ2 e
τ3 e ainda de τoct, utilizando as expessões apresentadas em 4.2.4.
Capítulo 4- Tensões no Interior dos Sólidos em Contacto [161/366]
4.3.3- Distribuição de tensões no maciço – aplicação a uma superfície real
Uma vez calculado o campo de pressões normais e tangenciais para a superfície de série (S1)
(ponto 2.6 e 3.5), determina-se as tensões provocadas por estas solicitações no maciço. A
Figura 4.8 e a Figura 4.9 apresentam, respectivamente, a distribuição da tensão de corte
ortogonal (τxz) e a distribuição das tensões principais (σ1, σ2 e σ3) para a superfície S1,
considerando um coeficiente de atrito limite (µLIM) de 0.1 e 0.15 (caso analisado no capítulo
anterior), e para um contacto de referência (p0= 1,5 GPa, VR= 6 ms-1, Ve= -0.3, a= 455 µm,
largura do contacto 2.4 a= ⋅ ⇒ 545 pontos de discretização, centro do contacto ⇒ ponto
273). As pressões e as tensões de corte na superfície de contacto, em regime misto, estão
apresentadas na Figura 2.24 e na Figura 3.12, respectivamente.
Figura 4.8- Distribuição da tensão de corte ortogonal (τxz/p0) adimensional para a superfície S1 e µLIM=0.1
e µ.LIM=0.15, respectivamente.
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-0.6
-0.5
-0.5
-0.4
04
-0.3-0.2
-0.1
-0.1
0
0
0.1
0.1
0.1
0.1
0.2
0.2
0.2
0.2
0.3
0.30.3
0.3
0.4
0.4
0.5
160 165 170 175 180
2
4
6
8
10
12
14
-0.5
0
0.5
-0.1 -0.10
0
0
0
0.1 0.1
0.1
0.2
0.2
0.3
0.3
0.3
0.4
0.4 0.5
0.5
0.6
260 265 270 275 280
2
4
6
8
10
12
14
τxz[µLIM.=0.1]
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-0.5
-0.5
-0.4
-0.4
-0.4
-0.3
-0.3
-0.2
-0.2
-0.1
-0.1
0
001
0.1
0.1
0.10.1
0.2 0.2
0.2 0.2
0.2
0.2
0.30.3
0.3
0.3
0.3
0.3
0.3 0.3
0.3 0.4
0.40.
4
0.5
0.5
0.6
160 162 164 166 168 170 172 174 176 178 180
2
4
6
8
10
12
14
-0.5
0
0.5
τxz[µ.LIM=0.15]
(µm*0.5)
(µm)
(µm)
(µm*0.5)
[162/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-1.6-1.5-1.4-1.3
-1.2-1.1
-1.-1 -1-1
-0.9
-0.9
-0.8
-0.8
-0.8
-0.7
-0.7
-0.6
-0.6
-0.5
-0.4
215 220 225
2
4
6
8
10
12
14
0
00.02
0.02
0.04
0.04
0.06
0.06
0.080.1
490 500 510 520 530 540
2
4
6
8
10
12
14
-4
-3
-2
-1
0.1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-1.6-1.5-1.4-1.3-1.2
-1.1
-1.1
-1-1
-0.9
-09
-0.9
-0.8-0.8
-0.8
-0.7
-0.7
-0.6
-0.6
-0.5
0.4
215 220 225
2
4
6
8
10
12
14
0
0
0.02
0.02
0.04
0.04
0.06
0.06
0.08
0.08
0.10.1
0.120.14
490 500 510 520 530 540
2
4
6
8
10
12
14
-4
-3
-2
-1
0.1
σ1[µLIM=0.1] σ1[µLIM=0.15]
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-1.5
-1.2
-1.2
-0.9
-0.6215 220 225
2
4
6
8
10
12
14
0
0
0.01
0.02
490 500 510 520 530 540
2
4
6
8
10
12
14
-4
-3
-2
-1
0.1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-2.2-2-1.8-1.6
-1.4 -1
-1.2
-1.2
-1.2-1
-1
-1
-0.8
-0.8
-0.8
-0.6
215 220 225
2
4
6
8
10
12
14
0
0
0.01
0.01
0.02
0.02
0.03
0.03
0.04
490 500 510 520 530 540
2
4
6
8
10
12
14
-4
-3
-2
-1
0.1
σ2[µLIM=0.1] σ2[µLIM=0.15]
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-2.7
-2.5 -2.3
-2.1
-1.9
-1.7
-1. 5
- 1.3
11
215 220 225
2
4
6
8
10
12
14
02e
-006
490 500 510 520 530 540
2
4
6
8
10
12
14
-4
-3
-2
-1
0.1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-2.7
-2. 5 -2. 3
-2.1
-2.1
-1.9
1. 9
- 1.7
-1.7
-1.5
215 220 225
2
4
6
8
10
12
14
0
0
1e-0
05
490 500 510 520 530 540
2
4
6
8
10
12
14
-4
-3
-2
-1
0.1
σ3[µLIM=0.1] σ3[µLIM=0.15]
Figura 4.9- Distribuição das tensões principais adimensionais, (σ1/p0, σ2/p0, σ3/p0) para a superfície S1 e
µLIM=0.1e µ.LIM=0.15, respectivamente.
(µm*0.5) (µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm) (µm)
(µm) (µm)
(µm) (µm)
(µm*0.5) (µm*0.5)
(µm*0.5)
Capítulo 4- Tensões no Interior dos Sólidos em Contacto [163/366]
As Figuras 4.10 e 4.11 apresentam os resultados da distribuição da tensão tangencial máxima
e da tensão octaédrica para a mesma superficie, nas condições de referência e para µLIM=0.1 e
µLIM=0.15, respectivamente.
Figura 4.10- Distribuição da tensão tangencial máxima adimensional, (τmax/p0), para a superfície de série
(S1) e µ.LIM=0.1 e µLIM=0.15, respectivamente.
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.4
0.4
0.40.5
0.50. 6
0 .60.70.8
210 212 214 216 218 220 222 224 226 228 230
2
4
6
8
10
12
14
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
τmax[µLIM.=0.1]
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.3
0.4 0 .4
0.4
0.4
0.4
0.5
0.5
0.5
0.5
0.60.7
0.8
210 212 214 216 218 220 222 224 226 228 230
2
4
6
8
10
12
14
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
τmax[µ.LIM=0.15]
(µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm)
(µm)
[164/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Figura 4.11- Distribuição da tensão octaédrica adimensional, (τoct/p0), para a superfície de série (S1) e
µ.LIM=0.1 e µLIM=0.15, respectivamente.
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.3
0.3 0.
3
0.3
0.4
0.4
0.4
0. 5
0.5
0.5
0.60.6
0.7
270 272 274 276 278 280 282 284 286 288 290
2
4
6
8
10
12
14
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
τoct[µ.LIM=0.1]
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.3
0.3
0.3
0.3
0.3 0.
30. 4
0.4
0.4
0.40.5
0.5
0. 50.6
0.6 0.
7
270 272 274 276 278 280 282 284 286 288 290
2
4
6
8
10
12
14
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
τoct[µ.LIM=0.15]
(µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm)
(µm)
Capítulo 4- Tensões no Interior dos Sólidos em Contacto [165/366]
O valor do coeficiente de atrito determina o valor da força tangencial, para uma determinada
força normal aplicada ao contacto entre dois sólidos. Consequentemente, os valores da tensão
principal máxima e da tensão de corte máxima também vão depender do coeficiente de atrito.
A influência do coeficiente de atrito (µLIM) sobre as tensões mais importantes no interior da
superfície S1 está representada na Tabela 4.1.
Tabela 4.1- Influência do coeficiente de atrito (µLIM) sobre o valor das tensões no interior da superfície S1.
Superfície Lisa Superfície de Série (S1) Coeficiente de atrito - µLIM
0.0 0.10 0.15
Localização Localização Localização Tipo de tensão z/a x/a
0
Valor das tensõesp
z/a x/a
0
Valor das tensõesp
z/a x/a 0
Valor das tensõesp
Tensão de tracção
principal máxima
/
/
0.00
Não há tensões de
tracção
0
1.003
0.12
0
1.003
0.17
Tensão de
compressão
principal máxima
0
0
-1.00
-3.92
-4.08
Tensão de corte
máxima (τmax)
0.786
0
0.30
0
-0.232
0.88
0
-0.232
0.96
Tensão de corte
octaédrica
máxima (τoct)
0.786
0
0.27
0
0.044
0.78
0
0.044
0.79
Tensão de corte ortogonal máxima
( maxxzτ )
0.42
1
0.25
0.007
0.009
0.64
0.004
-0.451
0.69
Tensão de corte ortogonal miníma
( minxzτ )
0.42
-1
-0.25
0.009
-0.425
-0.62
0.011
-0.425
-0.57
Como se pode constatar, através dos gráficos e tabela, os valores máximos encontram-se
próximos da superfície e por isso o estudo centralizou-se sempre na faixa superfícial (zona
preferencial de ocorrência de micropitting).
[166/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
4.4- Sumário e conclusão
Uma vez calculado o campo de pressões normais e tangenciais em regime misto de
lubrificação, é possivel determinar as tensões provocadas por estas solicitações no maciço.
Para tal é utilizado um modelo desenvolvido por Castro [61, 283], o qual considera que o
maciço se deforma em estado plano de deformação.
A presença da solicitação tangencial, ou de atrito, introduz alterações significativas no estado
de tensão no interior dos sólidos em contacto, que se traduzem numa modificação da
intensidade das tensões, da natureza (compressão/tracção) das tensões em presença e da
localização dos pontos da tensão máxima.
A força de atrito altera a natureza das tensões que deixam de ser exclusivamente de
compressão passando a tensões de compressão e tracção. Essas tensões de tracção embora
pequenas, como no caso de um contacto bem lubrificado, podem tornar-se suficientemente
grandes devido à concentração de tensões resultante das irregularidades superficiais ou das
pequenas fissuras microscópicas normalmente presentes numa superficie real. Estas tensões
de tracção, quando analisadas em conjunto com muitos outros factores envolvidos (tais como
o desgaste, a não homogeneidade do material, o tipo de lubrificação, entre outros.) ajudam a
explicar porque motivo uma fenda ou fissura se pode desenvolver até atingir a superfície de
contacto, como se observa na superfícies dos dentes de engrenagens.
A presença da força de atrito provoca um aumento significativo dos valores máximos das
tensões instaladas, aumento este que está directamente relacionado com a razão entre a força
de atrito normal, isto é o coeficiente de atrito. É responsável também por alterar a localização
dos pontos onde actuam os valores máximos das tensão instaladas na sub-camada Hertziana.
Os valores dos máximos positivo e negativo da tensão de corte ortogonal são ligeiramente
alterados por influência do coeficiente de atrito, assim como a máxima variação dessa tensão
de corte ortogonal (∆τxz).
CAPÍTULO 5
TENSÕES RESIDUAIS
5.1- Introdução
A resistência à fadiga de componentes mecânicos é consideravelmente influenciada pelos
processos de fabrico, que modificam as características mecânicas, geométricas e metalúrgicas
das camadas superficiais. Em particular, todos os processos de fabrico introduzem tensões
residuais que podem influenciar significativamente o comportamento dos componentes à
fadiga.
Tensões residuais são aquelas que permanecem em um componente na ausência de forças
externas e/ou gradientes de temperatura. Estas tensões são originadas sempre que o
componente sofre deformação plástica localizada ou deformação elástica não-homogênea.
Elas podem ser classificadas como macro ou microtensões residuais, em função da escala na
qual se distribuem e seus efeitos podem ser benéficos ou prejudiciais ao componente,
dependendo do sinal, magnitude e distribuição destas tensões. As tensões residuais podem
melhorar o desempenho dos materiais frente às agressividades do meio externo e reduzir as
falha por fadiga.
A introdução voluntária de tensões residuais é um dos meios mais eficazes para melhorar a
resistência à fadiga dos componentes mecânicos e estruturas, tendo contudo apenas interesse
caso se mantenham estáveis durante o serviço. Verifica-se, no entanto, que elas podem relaxar
quando os componentes são submetidos a solicitações mecânicas ou térmicas, o que pode
implicar a perda parcial ou mesmo total do efeito benéfico pretendido. Essa relaxação das
tensões residuais é função da amplitude e do número de ciclos da solicitação aplicada e da
[168/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
temperatura, mas depende sobretudo da natureza e das características mecânicas do material
utilizado, bem como do tipo de tratamento que introduziu as tensões residuais.
5.2- Definição e origem das tensões residuais
5.2.1- Origem das tensões residuais
De um modo geral as tensões residuais podem ser definidas como tensões que existem num
dado componente ou corpo na ausência de qualquer solicitação exterior, sendo o resultado de
deformações de origem térmica ou mecânica acompanhadas de cedência plástica do metal. As
tensões residuais existem praticamente em todas as peças rígidas, sejam metálicas ou não, e
traduzem a história mecânica e metalúrgica do componente, no decorrer da sua elaboração,
dos tratamentos superfíciais a que foi submetido, e dos períodos de rodagem e de
funcionamento posterior [26, 79, 131, 199, 212, 214]. As tensões residuais podem ter causas
diversas, tais como:
• Operações de laminagem e forjagem
• Operações de conformação e corte
• Operações de soldadura,
• Tratamentos térmicos, etc.
As tensões residuais podem ocorrer a uma escala macroscópica ou a uma escala microscópica,
consoante a área do componente afectada. A nível microscópico ou atómico podem incluir-se
as tensões formadas quando se dá a transformação austenite/martensite nos aços. Pelo
contrário, as tensões geradas durante uma operação de soldadura podem afectar áreas da
estrutura de dimensões consideráveis [131, 199, 212, 214].
Capítulo 5- Tensões Residuais [169/366]
As origens das tensões residuais são bastante diversificadas, podendo dizer-se que elas
resultam da heterogeneidade das deformações introduzidas a qualquer escala do componente
mecânico. Essas deformações podem ser criadas por efeitos térmicos, químicos, metalúrgicos
ou mecânicos, em geral interdependentes, mas que actuam frequentemente de forma
combinada, o que torna a previsão das tensões residuais extremamente complexa.
5.2.2- Classificação das tensões residuais
Dado o carácter policristalino e heterogéneo dos materiais metálicos, as fontes das tensões
residuais podem resultar de deformações à escala macroscópica, microscópica ou
submicroscópica. De facto, um material cristalino é constítuido de fases, sendo as mesmas
constítuidas por grãos. Cada grão, num modelo simples, pode ser considerado como dividido
em pequenos domínios separados por uma rede de deslocações, cada um desses domínios
constituído por um empilhamento regular de átomos. Qualquer que seja a escala à qual se
considere o material pode colocar-se em evidência a existência de tensões residuais. Uma
classificação das tensões residuais em três ordens, em corrrespondência com aquelas três
escalas de deformação, foi proposta por Macherauch e outros [26, 79, 210]:
• Tensões residuais de 1ª ordem, σIR, que são aproximadamente homogéneas ao
longo de áreas relativamente extensas (vários grãos) e que estão em equilíbrio
quando estendidas à globalidade do material; qualquer interferência no equilíbrio
de forças e momentos de um elemento de volume contendo tensões de 1ª ordem
trará como consequência uma alteração das suas dimensões. As tensões residuais
de primeira ordem podem ser determinadas por extensómetros que detectem as
deformações por elas produzidas. Em difracção de raios X os seus efeitos
manifestam-se pela modificação da posição dos picos de difracção.
• Tensões residuais de 2ª ordem, σIIR, que são aproximadamente homogéneas ao
longo de um grão ou de parte de um grão e que estão em equilíbrio para uma zona
do material abrangendo vários grãos. Só são detectáveis variações macroscópicas
de dimensões de um elemento de volume contendo tensões residuais de 2ªordem se
[170/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
ocorrerem várias destas perturbações elementares em diferentes regiões do
material. Estas tensões podem ser determinadas por difração de raios X.
• Tensões residuais de 3ª ordem, σIIIR, que são heterogéneas quando analisadas
numa área submicroscópica, ou seja, à escala de algumas distâncias interatómicas,
estando em equilíbrio só ao longo de regiões muito reduzidas de um grão. Se
houver uma ruptura do equilíbrio deste tipo de tensões não será detectável
nenhuma variação macroscópica de dimensões.
O estado de tensões residuais resulta da sobreposição das três ordens de tensões, como se
esquematiza na Figura 5.1, para um material monofásico. A tensão residual num ponto do
material é dada por [26, 79, 210, 211]:
IIIR
IIR
IRR σσσσ ++=
As tensões de primeira ordem correspondem a um valor médio num volume contendo vários
grãos:
grãos vários⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ ⋅=
∫∫
dVdVRI
Rσ
σ
onde dV representa um elemento de volume. Por sua vez, as tensões de segunda ordem
correspondem à diferença entre a tensão média sobre cada grão e as tensões de primeira
ordem:
IR
RIIR dV
dVσ
σσ −⎟
⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ ⋅=
∫∫
grão um
As tensões de terceira ordem oscilam em torno do valor médio ao nível de cada grão,
correspondendo à diferença entre as tensões locais e a soma das tensões de primeira e segunda
ordem:
( ) ponto umIIR
IRR
IIIR σσσσ −−=
Capítulo 5- Tensões Residuais [171/366]
Figura 5.1- Definição esquemática das tensões residuais de primeira, segunda e terceira ordem para um
material monofásico [212].
No caso dos materiais metálicos com grãos muito pequenos (da ordem de 10 µm) é difícil
distinguir para uma dada fase os efeitos das tensões de segunda e terceira ordem, sendo
habitual dividir as tensões residuais em [212-214]:
• macrotensões, que correspondem às tensões de primeira ordem. São estas as
tensões que usualmente são objecto de atenção numa análise do ponto de vista de
engenharia,
• microtensões, que estão ligadas às deformações introduzidas pelos defeitos
existentes na microestrutura, ao nível de cada grão ou de cada fase, e que
correspondem à soma das tensões de segunda e terceira ordem definidas
anteriormente.
Para um material monofásico com grão muito fino, as macrotensões residuais σMR serão
iguais às tensões residuais de primeira ordem:
IR
MR σσ =
[172/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
As microtensões residuais σmR são iguais à soma das tensões residuais de segunda e de
terceira ordem, uma vez que não se consegue colocar em evidência o seu efeito separado:
IIIR
IIR
mR σσσ +=
Para um material contendo várias fases as definições anteriores continuam válidas, se se
tomar a escala de fase como referência. De facto, pode separar-se os efeitos de ordem I e de
ordem II ao nível de cada uma das fases, o que conduz a uma separação das tensões residuais
de ordem II em tensões macroscópicas de segunda ordem ou pseudomacrotensões σIIMR , à
escala de uma fase, e em tensões microscópicas de segunda ordem ou microtensões σIImR , à
escala de cada grão de uma fase, como se esquematiza na Figura 5.2 para um material bifásico
[26,79, 88, 211, 212]. As macrotensões residuais médias em cada uma das fases serão dadas
por:
IIMR
IR
IR
MR
IIMR
IR
IR
MR βββααα σσσσσσσσ +==+== ,
e as microtensões residuais correspondentes a cada uma das fases por:
IIIR
IR
mR
IIIR
IR
mR ββαα σσσσσσ +=+= ImIm ,
sendo as tensões locais no material dadas pela sobreposição das diferentes ordens:
IIIR
IR
IIMR
RRR
IIIR
IR
IIMR
RRR ββββαααα σσσσσσσσσσ +++=+++= ImIm ,
Num material com várias fases, as tensões residuais macroscópicas correspondem à média das
tensões em cada uma das fases, ponderada pela fracção volúmica de cada fase. Para um
material bifásico, tem-se:
0=+
=+
IIMR
IIMR
IR
IR
IR
VV
VV
ββαα
ββαα
σσ
σσσ
Capítulo 5- Tensões Residuais [173/366]
onde Vα e Vβ são as fracções volúmicas das fases. De notar que a difracção de raios X
permite a determinação das macrotensões residuais ao nível de cada uma das fases.
Figura 5.2- Representação esquemática das diferentes ordens de tensões residuais, para um material
bifásico [212].
5.3- Tensões residuais de superfície
A introdução voluntária de pré-tensões é um dos meios mais eficazes para melhorar a
resistência à fadiga dos componentes mecânicos e estruturas, quer no domínio da construção
mecânica quer no domínio da construção metálica. O objectivo dos tratamentos superfíciais
de pré-tensão é a introdução de tensões de compressão nas camadas superfíciais de um
material e podem ser classificados em [26]:
Tratamentos mecânicos ou de encruamento superfícial, como a grenalhagem de
pré-tensão (shot peening), que utilizam a deformação plástica local (não homogénea)
obtida por uma acção mecânica como fonte das tensões residuais de compressão. As
[174/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
pré-tensões são acompanhadas de variações do estado superficial e da taxa de
encruamento que conduzem a um endurecimento superficial para os materiais mais
macios e a um amaciamento para os materiais muito duros.
Tratamentos térmicos ou de têmpera superfícial que permitem a introdução de pré-
tensões de compressão por intermédio de diferenças de dilatação entre a superfície e
o interior do componente e pelas deformações plásticas locais associadas. A maioria
destes tratamentos originam importantes aumentos de dureza.
Tratamentos termoquímicos ou de difusão, como a carbonitruração, que associam
ao tratamento térmico a difusão de elementos de liga (carbono, azoto, etc…) na
camada superfícial do metal, podendo ou não ser seguidos de outros tratamentos
térmicos. Estes tratamentos melhoram a temperabilidade e aumentam a dureza e a
resistência à rotura, dando origem a tensões residuais de compressão bastante
estáveis.
Além da introdução de pré-tensões de compressão nas camadas superfíciais, muitos destes
tratamentos permitem obter uma camada superficial com uma dureza bastante superior à do
núcleo, que resulta em componentes com uma elevada resistência ao desgaste, associada a
uma tenacidade importante devido ao material mais macio no interior. O problema que se
coloca é a escolha do processo melhor adaptado a cada situação, assegurando-se da sua
eficácia a longo termo [26].
5.4- Métodos de medição de tensões residuais
Existem vários métodos diferentes de determinação de tensões residuais. De um modo geral a
tensão residual não é medida directamente, e sim calculada através de medidas de
deformações causadas pelo alívio das tensões residuais.
Actualmente existem muitos métodos para a medida e determinação das tensões residuais.
Alguns são baseados na medida da deformação aliviada, devido à remoção localizada de
Capítulo 5- Tensões Residuais [175/366]
material (métodos destrutivos). Outros são baseados na interacção entre o campo de tensões
residuais e as propriedades fisicas do material (métodos não-destrutivos). As técnicas não-
destrutivas são aquelas que utilizam a difracção ou as que utilizam propriedades sensíveis à
tensão. As técnicas destrutivas são aquelas que necessitam de um certo grau de destruição,
utilizando técnicas mecânicas que podem até introduzir tensões residuais adicionais,
dependendo da operação a ser efectuada [210-214].
As técnicas de relaxação de tensões são baseadas na medida da deformação elástica que
ocorre quando uma parte do corpo de prova contendo tensões residuais é removida. A
mudança de forma resultante da deformação pode ser medida por diferentes sensores. Assim,
dependendo do tipo de sensor usado, da sua forma de colocação e da remoção do material,
diferentes técnicas são empregadas.
As técnicas de difracção de raios X baseiam-se na determinação dos parâmetros cristalinos
de pequenas regiões da peça e na associação de eventuais variações deste parâmetro com as
deformações elásticas presentes no material submetido a tensões residuais. Esta técnica
permite medir deformações superficiais em pequenas áreas (= 3 .µm de diâmetro) e não é
destrutiva. Contudo, tende a ser mais demorada e menos precisa do que as destrutivas.
Técnicas baseadas em propriedades sensíveis à tensão, de forma similar à anterior, medem
alterações de alguma propriedade do material e as associam com as deformações elásticas
presentes na região medida. São também técnicas não destrutivas. Técnicas com ultra-sons
baseiam-se na determinação da velocidade de propagação do som para estimar o estado de
tensão no material. Técnicas de dureza são baseadas em pequenas variações na dureza do
material com a presença de tensões elásticas. Finalmente, técnicas magnéticas baseiam-se em
variações de propriedade magnéticas de materiais ferromagnéticos (basicamente aços) com as
tensões elásticas. Destas técnicas, apenas a última tem aplicação actual fora de laboratórios,
existindo dispositivos portáteis para a determinação não destrutiva de tensões residuais [210-
214].
Finalmente, técnicas de fissuração são baseadas na avaliação qualitativa do padrão de
fissuração desenvolvido em corpos de prova colocados em ambientes capazes de formar
fissuras induzidas pelo estado de tensões dos corpos de prova.
[176/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
A Tabela 5.1 resume as principais técnicas para a determinação experimental das tensões
residuais.
Tabela 5.1 – Técnicas para a determinação experimental de tensões residuais [210-214].
GRUPO TÉCNICA
Técnica de relaxação de tensão • Técnicas com strain Gages eléctricos
• Técnicas com strain Gages mecânicos
• Técnicas com revestimentos frágeis
• Técnicas com revestimento fotoelástico
Técnica de difracção de Raios-X • Difracção em filme
• Difracção com difractómetro
Técnicas baseadas em propriedades
sensíveis à tensão
• Técnicas com ultra-sons
• Técnicas com medidas de dureza
• Técnicas magnéticas
Técnicas de fissuração • Fissuração pelo hidrogénio
• Fissuração por corrosão sob tensão
5.5- Relaxação das tensões residuais
Na previsão da resistência à fadiga deverá ter-se em consideração o fenómeno da relaxação
das tensões residuais. Na fase de projecto essa relaxação é frequentemente mal conhecida,
podendo apenas ser avaliada através da realização de ensaios de fadiga e pela determinação
experimental dessas tensões ou, alternativamente, tomando como referência os resultados
encontrados na bibliografia para materiais e tratamentos similares [26].
Qualquer metal ou liga metálica que tenha sido mecanicamente solicitado a um certo nível de
tensão, correspondente a uma dada deformação, experimentará um decréscimo gradual com o
tempo se a deformação for mantida constante. Este fenómeno denominado Relaxação de
Tensão, de interesse tanto prático quanto fundamental, oferece um meio para estudar a
Capítulo 5- Tensões Residuais [177/366]
deformação dinâmica dos metais. Numa situação real a relaxação das tensões residuais
depende da interacção complexa de numerosos factores, entre os quais podem citar-se [131]:
a natureza do material e as suas características mecânicas,
a solicitação cíclica aplicada,
o número de ciclos de solicitação,
a intensidade e o gradiente das tensões residuais,
a temperatura.
5.5.1- Influência da natureza do material
No caso dos tratamentos superficiais que façam intervir a deformação plástica directa, como é
o caso da grenalhagem de pré-tensão, a estabilidade das tensões residuais será directamente
função da natureza e das propriedades do material encruado, assim como dos mecanismos que
conduzem à deformação plástica. A relaxação das tensões residuais é neste caso
essencialmente condicionada pela possibilidade de movimentação das deslocações,
convertendo as deformações plásticas associadas às tensões residuais em microdeformações
plásticas [322], como se esquematiza na Figura 5.3. São os materiais mais duros e que
encruam melhor que conduzem às tensões residuais mais estáveis. Os materiais que
apresentam reduzida capacidade de encruamento, logo de bloqueio das deslocações,
apresentam geralmente uma relaxação importante das tensões residuais. Segundo Wohlfahrt
[26, 337], a relaxação será tanto mais importante quanto mais baixo for o limite de
elasticidade do material.
[178/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Figura 5.3- Esquema da origem e das consequências da relaxação das tensões residuais [214].
No caso das tensões residuais produzidas por tratamentos térmicos ou termoquímicos, a
relaxação é função da possibilidade de movimentação das deslocações e da estabilidade da
estrutura metalúrgica (transformação da austenite residual, decomposição da martensite, etc.).
Toda a modificação da microestrutura conduz a uma modificação da distribuição das tensões
residuais.
O mecanismo de relaxação das tensões residuais pode ser dividido em duas etapas distintas
[26, 199]:
• Durante os primeiros ciclos de solicitação observa-se uma evolução das tensões
residuais que corresponde à adaptação do material, resultante da ultrapassagem do
limite de elasticidade do material, ao nível macroscópico, ou do limite de
elasticidade dos grãos ou cristalitos, ao nível microscópico.
• Segue-se uma fase de relaxação mais suave, função do nível de solicitação e da
natureza do material. Para os materiais de características mecânicas mais
“baixas”, as tensões residuais macroscópicas podem relaxar-se até se anularem.
Solicitações mecânicas
Solicitações térmicas
Movimentação de deslocações
Microplasticidade
Relaxação das tensões residuais
Efeitos favoráveis Efeitos
• Diminuição das tensões de tracção
• Estabilidade dimensional durante maquinagens posteriores
• Diminuição das tensões de compressão
• Deformação das peças ao longo da relaxação
Capítulo 5- Tensões Residuais [179/366]
Para os materiais de resistência média, a relaxação pode produzir-se ou não em
função da solicitação cíclica aplicada. Nos materiais muito duros observa-se uma
pequena relaxação.
A estabilidade das tensões residuais depende essencialmente da microestrutura do material e
será favorecida por toda a estrutura metalúrgica capaz de bloquear os movimentos de defeitos
e deslocações. De um modo geral, a estabilidade das tensões residuais introduzidas por
tratamentos termoquímicos é bastante superior à estabilidade das tensões residuais
introduzidas por tratamentos mecânicos [26, 59, 214].
5.5.2- Influência da solicitação aplicada
As tensões residuais podem ser relaxadas por solicitações monótonas ou cíclicas, em tracção
ou compressão. Vohringer [322] estudou a influência da deformação plástica uniaxial sobre a
relaxação das tensões residuais de grenalhagem de pré-tensão, verificando que a relaxação se
iniciava mais cedo para a solicitação em compressão, mas que se processava mais
rapidamente, podendo ser mais completa, para a solicitação em tracção. A relaxação induzida
pela deformação plástica monótona unidireccional inicia-se para cargas ou deformações
plásticas relativamente pequenas, podendo ser completa ou parcial. Tanto o grau como a
velocidade da relaxação dependem do estado inicial do material e da natureza da carga
aplicada.
A relaxação das tensões residuais é governada pela ultrapassagem global ou local do limite
de elasticidade. No caso de um carregamento monótono para haver relaxação o limite de
elasticidade deve ser atingido. Para um carregamento cíclico a tensão limite de fadiga
constitui também um limite para a estabilidade das tensões residuais [26, 33]:
• para solicitações inferiores à tensão limite de fadiga, as tensões e as
microdeformações residuais evoluem pouco,
[180/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
• para solicitações superiores à tensão limite de fadiga, mas inferiores ao limite de
elasticidade, as tensões e as microdeformações residuais evoluem de modo
contínuo, tanto maior quanto maior for a amplitude da solicitação cíclica aplicada.
A relaxação das tensões residuais também é influenciada pela direcção de aplicação da
solicitação, verificando-se, de um modo geral, que ela é favorecida para as tensões residuais
com a mesma direcção da solicitação aplicada [199]. A relaxação aumenta também com o
número de ciclos se solicitação. Após a rápida relaxação durante os primeiros ciclos, a
maioria dos autores propõe leis da evolução em que as tensões são proporcionais ao logaritmo
do número de ciclos [26].
5.5.3- Influência do gradiente das tensões residuais
O gradiente em profundidade das tensões residuais pode ter uma influência significativa sobre
a sua estabilidade. De um modo geral, quanto mais elevado é o gradiente mais importante é a
relaxação observada [26].
5.5.4- Influência da temperatura
A temperatura pode conduzir a uma relaxação importante das tensões residuais. A origem da
relaxação está situada ao nível da microestrutura, estando ligada a um processo activado
termicamente ao qual se pode associar uma determinada energia de activação [310]. Ao elevar
a temperatura, a microestrutura metalúrgica recebe uma energia que pode favorecer os
rearranjos microestruturais (movimentação de deslocações, etc…), provocando uma evolução
do material para uma estrutura mais estável. A temperatura necessária para activar a relaxação
aumenta com a diminuição da intensidade das tensões residuais, com o aumento da resistência
à deformação plástica e com a diminuição do tempo de manutenção a essa temperatura. De
um modo geral, em materiais comparáveis, a relaxação das microtensões necessita de tempos
de manutenção mais longos e de temperaturas mais elevadas do que a relaxação das
macrotensões.
Capítulo 5- Tensões Residuais [181/366]
Além da temperatura e do tempo de manutenção, a relaxação activada termicamente depende
fundamentalmente do estado inicial do material e do estado de tensões residuais. De salientar
que no caso dos tratamentos mecânicos de pré-tensão certas temperaturas não deverão ser
ultrapassadas em serviço ou na sequência de tratamentos posteriores, uma vez que poderão
promover a relaxação das pré-tensões de compressão. A ordem de grandeza destas
temperaturas depende essencialmente do tipo de material [26, 131]:
ligas de alumínio - 100º a 120ºC,
aços ao carbono - 250ºC,
aços de ferramentas - 450ºC,
ligas de titânio - 450º a 500ºC,
aços inoxidáveis austeníticos - 500ºC,
materiais à base de níquel 700ºC.
5.6- Influência das tensões residuais sobre os critérios de iniciação
de fissuras de fadiga
Na fadiga de contacto as tensões residuais de compressão aumentam a duração de vida dos
componentes uma vez que retardam a formação e a propagação das fissuras de fadiga [84,
146, 157, 164, 190]. Pelo contrário, as tensões residuais de tracção, assim como as de
compressão de um valor absoluto relativamente grande, são nefastas em termos de
comportamento à fadiga. De facto, as tensões residuais comportam-se como uma tensão
média que se vai sobrepor às tensões cíclicas de serviço. As tensões residuais de compressão
vão na realidade descarregar a peça, ao sobrepor-se às tensões de serviço em tracção,
aumentando consequentemente o limite de fadiga.
[182/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Não basta controlar o valor das tensões residuais na superfície do componente, sendo
necessário ter em atenção o seu valor nas camadas internas e a forma do gradiente de tensões
residuais em profundidade [199, 200]. De facto, na fadiga de contacto as solicitações
máximas fazem-se sentir frequentemente a uma determinada profundidade (sub-superfície), o
que pode conduzir à iniciação de fissuras em profundidade. Por outro lado, é necessário não
tomar apenas em consideração os processos de introdução das tensões residuais, mas também
a sua estabilidade ao longo do tempo de serviço do componente, uma vez que elas podem
evoluir ao longo da solicitação [26].
Os tratamentos de endurecimento superficial induzem tensões residuais de compressão que
influenciam a resistência à fadiga dos materiais.
Em termos da sua influência sobre os critérios de fadiga multiaxial, os efeitos acumulados do
endurecimento do material e da introdução de tensões residuais de compressão de compressão
traduzem-se por um deslocamento vertical da recta limite desses mesmos critérios, e por um
deslocamento horizontal do ciclo de carregamento para menores pressões hidrostáticas,
devido à sobreposição das tensões residuais de compressão que funcionam como uma tensão
média. Este duplo efeito traduz-se por um aumento do domínio de segurança como se
esquematiza na Figura 5.4, directamente ligado à intensidade do endurecimento e das tensões
residuais de compressão introduzidas pelos tratamentos superfíciais [84, 146, 157, 164, 190,
214].
Figura 5.4- Efeito do endurecimento e das tensões residuais de compressão, introduzidas pelos
tratamentos superfíciais, sobre os critérios multiaxiais [26, 79, 214].
Capítulo 5- Tensões Residuais [183/366]
De facto, as tensões residuais apenas podem modificar o valor das tensões médias, uma vez
que são independentes do ciclo de carregamento. Para um material com um estado biaxial de
tensões residuais, em que as duas únicas componentes não nulas do tensor das tensões
residuais são as tensões normais no plano da superfície tratada σR11=σR22=σR, o valor da
pressão hidroestática será afectado de uma quantidade 2σR/3. Se as tensões residuais forem de
compressão, como normalmente é o que acontece quando se aplicam tratamentos superfíciais,
o trajecto de carregamento no plano τa-Phyd será deslocado horizontalmente no sentido das
pressões hidroestáticas mais baixas de uma quantidade |2σR/3| como se mostra na Figura 5.4.
Já para um tratamento que introduza uma compressão numa direcção e uma tracção idêntica
segundo a outra direcção (caso de algumas maquinagens) o seu efeito será nulo, uma vez que
a pressão hidroestática não é modificada [26].
O aumento da dureza está directamente associado a um aumento da resistência à tracção que
por sua vez está ligada à tensão limite de fadiga. O endurecimento do material aumentará
então a resistência à fadiga de contacto, enquanto o seu amaciamento produzirá o efeito
inverso. Localmente as características α e β (respectivamente declive e ordenada na origem
da recta de Dang-Van) dos critérios serão modificadas pelos tratamentos superfíciais, sendo
agora função da profundidade. Para os critérios de fadiga multiaxial isso traduz-se numa
modificação da posição da recta limite do critério, sem que a sua inclinação α seja
sensivelmente modificada [59, 99]. No Capítulo 6 o critério de Dang-Van será analisado em
detalhe.
Estes são os principais efeitos dos tratamentos superfíciais sobre a resistência à fadiga de
contacto, mas é preciso não esquecer que outros poderão existir com uma influência não
desprezável, tais como alterações na rugosidade superfícial ou corrosão originada pelo
tratamento superfícial, etc. A influência destes factores poderá ter de ser introduzida no
critério, embora esta não seja uma tarefa fácil.
[184/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
5.7- Perfis de tensões residuais em dentes de engrenagens
No presente estudo, como se verá mais adiante foram estudados três acabamentos de
superfície dos dentes de uma engrenagem. Os valores das medições das tensões residuais a
diferentes profundidades para os três tipos de acabamento superficial dos dentes de
engrenagens, após fabrico e após ensaio das engrenagens em testes de endurance, estão
disponíveis na referência [145].
As diferentes operações de acabamento da superfície dos flancos dos dentes conduziram a
diferenças significativas de tensões residuais, nomeadamente na proximidade da superfície. A
Figura 5.5 mostra os perfis das tensões residuais considerados. Estes valores das tensões
residuais foram medidos segundo duas direcções: longitudinal e transversal [145]. De notar,
as importantes tensões de compressão na proximidade da superfície para a superfície S3.
(a) (b)
Figura 5.5- Perfil das tensões residuais correspondentes a 3 acabamentos (e correspondentes rugosidades)
superficiais diferentes dos dentes de engrenagens após fabrico. (a) longitudinal (σlong). (b)
transversal (σtransv).
Estes valores valores de tensões residuais foram introduzidos no critério de fadiga multiaxial
de Dang-Van, tendo-se constatado que, como era previsível, conduzem a uma diminuição
importante do risco de iniciação da fadiga de contacto superficial (micropitting). Na Figura
5.6 e na Figura 5.7 mostram-se os mapas de probabilidade de iniciação do micropitting,
correspondentes à superfície S1, respectivamente, sem e com tensões residuais, numa escala
-1200
-1000
-800
-600
-400
-200
0
0 10 20 30 40 50 60
Profundidade (µm)
σ lon
g(MPa
)
S1 S2 S3
-1200
-1000
-800
-600
-400
-200
0
0 10 20 30 40 50 60
Profundidade (µm)
σ tra
ns(M
Pa)
S1 S2 S3
Capítulo 5- Tensões Residuais [185/366]
de 0.2 a 1. De notar que o valor 1 significa um ponto de iniciação de uma fissura de fadiga,
segundo este critério.
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Figura 5.6- Riscos de iniciação de fendas de fadiga (micropitting) para a superfície S1, não considerando
as tensões residuais (µLIM=0.15, α=0.827, β=500MPa).
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Figura 5.7- Riscos de iniciação de fendas de fadiga (micropitting) para a superfície S1, considerando as
tensões residuais (µLIM=0.15, α=0.827, β=500MPa).
A localização dos pontos de iniciação de fissuras de fadiga na superfície e sub-superfície
(Z≤15 µm) está indicada pela côr vermelha. A introdução das tensões residuais de
compressão conduziram a um deslocamento vertical da recta limite de Dang-Van e a um
deslocamento horizontal do ciclo de carregamento para menores pressões hidrostáticas o que
se traduziu numa redução nítida da extensão (profundidade) das zonas de risco de iniciação de
micropitting e numa redução drástica do número de pontos de iniciação de fissuras de fadiga
(NIF) que passou de 87 para 5. Esta análise será retomada mais adiante com a devida
profundidade, pretendendo-se aqui mostrar apenas a influência das tensões residuais.
µm
µm
µm*0.5
µm*0.5
[186/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
5.8- Sumário e conclusão
A introdução voluntária de tensões residuais é um dos meios mais eficazes para melhorar a
resistência à fadiga de componentes mecânicos. As tensões residuais introduzidas pelos
tratamentos de pré-tensão apenas têm interesse caso se mantenham estáveis durante o serviço.
Verifica-se, no entanto, que elas podem ser relaxadas quando os componentes são submetidos
a solicitações mecânicas ou térmicas, o que pode implicar a perda parcial ou mesmo total do
efeito benéfico pretendido. Essa relaxação é função da amplitude e do número de ciclos da
solicitação aplicada e da temperatura, mas ela depende sobretudo da natureza e das
características mecânicas do material utilizado, bem como do tipo de tratamento que induziu
as tensões residuais.
Na fadiga de contacto as tensões residuais de compressão aumentam a duração de vida dos
componentes uma vez que retardam a formação e a propagação das fissuras de fadiga
superficiais. Pelo contrário, as tensões residuais de tracção, assim como as de compressão de
um valor absoluto relativamente grande, são nefastas em termos de comportamento à fadiga.
De facto, as tensões residuais comportam-se como uma tensão média que se vai sobrepor às
tensões cíclicas de serviço. As tensões residuais de compressão vão na realidade
“descarregar” a peça, ao sobrepor-se às tensões de serviço em tracção, aumentando
consequentemente o limite de fadiga.
Em termos da sua influência sobre os critérios de fadiga multiaxial, os efeitos acumulados do
endurecimento do material e da introdução de pré-tensões de compressão traduzem-se por um
deslocamento vertical da recta limite desses mesmos critérios, e por um deslocamento
horizontal do ciclo de carrregamento para menores pressões hidrostáticas, devido à
sobreposição das tensões residuais de compressão que funcionam como uma tensão média.
Este duplo efeito traduz-se por um aumento do domínio de segurança e consequentemente um
aumento à resistência à fadiga de contacto.
As tensões residuais das engrenagens utilizadas foram obtidas nas direcções longitudinal e
transversal, a diferentes profundidades e para os três tipos de superfície considerados, antes e
após os ensaios de fadiga de contacto realizados no banco de engrenagens. As variações das
tensões residuais entre as várias profundidades de medição foi considerada como sendo linear.
Capítulo 5- Tensões Residuais [187/366]
A observação do perfil das tensões residuais permitiu notar as diferenças significativas no
perfil das tensões nomeadamente na proximidade da superfície para as três superfícies
consideradas e as fortes tensões de compressão para a superfície S3 que como se irá ver no
Capítulo 7 irão influenciar o risco de iniciação de fissuras de fadiga segundo o critério de
Dang-Van.
[188/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
CAPÍTULO 6
CRITÉRIO DE DANG-VAN
6.1- Introdução
A maioria dos critérios de fadiga propostos pelos diferentes investigadores baseia-se na teoria
dos danos acumulados. Esta abordagem é algo intuitiva, uma vez que muitas avarias de
superfície dependem de processos de fadiga de contacto que ocorrem ao longo de muitos
ciclos de solicitação e em que existe um efeito cumulativo da aplicação sucessiva desses
ciclos, modificando o estado das superfícies e condicionando a iniciação e ocorrência de
avarias.
Os primeiros trabalhos nesta área, apresentados por Palmgren [258] no início do século XX e,
mais tarde, já em meados do século, por Miner [233], que propôs a ”regra linear de dano
acumulado”, têm vindo a ser sucessivamente adaptados e melhorados. Actualmente estão
publicados muitos outros critérios de fadiga não lineares, como os que são baseados na
mecânica da fractura ou em aspectos energéticos.
Três análises distintas estão na base da maioria dos critérios actuais: em 1983, French [133]
focou o seu estudo no efeito da aplicação de sobretensões no limite de endurance dos
materiais; em 1938, Kommers [191] sugeriu a utilização da variação da tensão limite de
fadiga como critério; em 1937, Langer [195] propôs a separação do processo de fadiga em
dois estágios: um primeiro que trata a iniciação de fissuras de fadiga e um segundo que
analisa a sua propagação.
[190/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Os modelos de previsão da vida à fadiga são baseados na propagação de fissuras, quer em
profundidade, quer superficialmente. Para que os resultados destes modelos sejam aceitáveis,
é necessário incluir os efeitos de outros factores tais como a rugosidade, inclusões não
metálicas, coeficiente de atrito, sensibilidade à fadiga do material, etc.
A previsão da vida à fadiga de um contacto EHD é muito complexa, quer pela quantidade de
variáveis influentes no processo de fadiga, quer pela sua variação ao longo do tempo e da
zona de contacto.
As tensões são multiaxiais, variando com o tempo e em profundidade. O próprio material não
é homogéneo, sendo a anisotropia, numa primeira fase, função do processo de obtenção e
produção do aço, e posteriormente do processo de maquinagem do componente mecânico.
Sendo assim, os corpos não apresentam um comportamento perfeitamente elástico, pois
existem tensões residuais devidas aos defeitos que provocarão deformações plásticas
localizadas.
A rugosidade e os defeitos superfíciais estão distribuídos aleatoriamente, podendo qualquer
um deles dar ínicio à fissura que provoca a avaria.
Estes aspectos contribuem para a crescente complexidade dos modelos de previsão da vida à
fadiga que apenas pode ser avaliada de forma estatística.
Lundberg-Palmgren [207, 258] publicaram o primeiro modelo teórico para a previsão da vida
à fadiga. Estes autores procuraram com o seu modelo modelizar principalmente problemas de
fadiga com iniciação na zona de máxima tensão de um contacto Hertziano. Este modelo tem
servido como ponto de partida para os novos modelos que têm surgido. Lundberg e Palmgren
definiram vida à fadiga como o número de ciclos a que um componente resiste antes de surgir
a primeira escama, e basearam o seu modelo na consideração de que a solicitação que provoca
a fadiga é a tensão ortogonal τXY, com um valor máximo τ0 a uma profundidade z0. Contudo
este modelo apresenta várias limitações tais como:
• Não prevê a presença de partículas no fluído, isto é, a contaminação do
lubrificante, e a sua influência na vida à fadiga.
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [191/366]
• Não entra em conta com a conjunção dos factores elasticidade e hidrodinâmica do
contacto sobre o número de ciclos de vida à fadiga, ou seja, o modelo de
Lundberg-Palmgren não prevê a influência dos parâmetros associados ao
lubrificante e à teoria EHD.
• Previligia principalmente o estudo da ocorrência de spalling (escamas), mas a
realidade é que, se ocorrer o pitting (picadas), a probabilidade de ocorrer o
spalling aumenta.
• Não permite obter durações de vida infinitas apesar delas existirem e se
verificarem experimentalmente.
Com base nas limitações deste primeiro modelo teórico, Tallian [292, 307-309] desenvolveu
um modelo onde procurou incluir numerosos factores, relacionados com a
elastohidrodinâmica e a rugosidade, não considerados por Lundberg e Palmgren. Um outro
aspecto muito importante e inovador introduzido por Tallian é o desenvolvimento que ele
esboça do modelo de fadiga em dois sentidos, o modelo sub-superfícial, associado aos
coeficientes φ0, φ1, φ2, φ3 e φ4, e o modelo superfícial, associado aos coeficientes, φ`0, φ`1, φ`2,
φ`3 e φ`4. Esta visão do modelo, associado à superfície faz sentido apenas com a consideração
da rugosidade, que introduz nos corpos múltiplos pontos de concentração de tensões que,
quando sujeitos a esforços, traduzir-se-ão por pontos de iniciação de fendas cuja propagação
terminará com o aparecimento de pits e, posteriormente, de spalls. Esta abordagem não fazia
sentido com o modelo de Lundberg e Palmgren porque estes consideravam as superfícies
lisas, e a tensão máxima a que ocorria no interior do sólido devido ao contacto global de
Hertz. Surge assim um modelo - de Tallian - que procura abordar de forma distinta as fissuras
iniciadas à superfície e subsuperficialmente.
Um ainda mais recente modelo de fadiga foi proposto por Harris e Ioannides [56, 175]. Estes
autores recorrem fortemente ao cálculo numérico para determinação do campo de tensões no
interior do sólido. Além disso, toda a zona de contacto submetida a tensões é entendida como
crítica e sujeita a falha e dano, e não apenas, como consideraram Lundberg, Palmgren e
Tallian, limitadas às zonas de máxima tensão. Também neste modelo, tal como considerado
por Tallian, o risco de dano não é constante em todo o volume de risco. Este modelo inclui a
fadiga com origem superfícial, e o efeito do parâmetro Λ na previsão média da vida efectiva à
fadiga.
[192/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
A metodologia a seguir, segundo Flamand [129, 130], consiste em identificar o tipo de
solicitação e condições que originam a avaria, exprimi-las em termos probabilísticos e
localizar a zona de risco como limite para essa dada avaria.
Vários autores formularam várias hipóteses para justificar o aparecimento de fissuras por
fadiga sem que, no entanto, tenham desenvolvido um modelo de previsão da vida à fadiga
propriamente dito [2, 3, 34, 50, 52, 68-76, 79, 100-102, 104, 154, 182, 296, 319, 338]:
Hipótese de Way [326, 68-71]: devido ao processo de fabrico, as superfícies
apresentam fissuras, nas quais o óleo vai penetrar. Devido às pressões Hertzianas, e
ao facto do óleo ter uma rigidez superior à do aço, o óleo no interior das fissuras vai
provocar um progressivo crescimento destas.
Hipótese de Cameron [50-52, 68-71, 182]: Cameron sugere que o pico de pressão
EHD provoca tensões de corte elevadas que deterioram a superfície. Mas
experimentalmente verifica-se que este efeito é reduzido, senão nulo.
Hipótese de Dowson [100-104, 68.71, 154]: não só a avaria mas também o número
de contactos metálicos aumentam com a diminuição do parâmetro Λ. Então, as
pressões transmitidas pelo contacto directo das rugosidades será responsável pelas
avarias.
Hipótese de Smith e Liu [296, 202, 68-71]: as tensões de corte na superfície podem
ser, ao nível de uma rugosidade, da superfície ou do contacto global, a origem das
fissuras.
Hipótese de Scott [296, 319]: a sua hipótese justificativa para o aparecimento de
fissuras é a presença de partículas no fluído lubrificante. Além disso, e segundo
Scott, a ocorrência de cavitação no interior do filme pode originar o pitting.
Hipótese de Cheng [2-4, 68-77, 338]: Cheng propõe, para rolamento puro, três
modos distintos de iniciação das fissuras:
1.1- caso em que as rugosidades entram em contacto directo;
1.2- explicado pela teoria EHD em filme de óleo completo, a iniciação das
fissuras é devida ao pico de pressão que, na superfície, provoca concentração
local de tensões de corte;
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [193/366]
1.3- modo misto de iniciação das fendas.
Quanto à fase de propagação das fendas, Cheng formula as três hipóteses a seguir expostas:
2.1- as fendas podem-se propagar devido ao corte cíclico no contacto;
2.2- o óleo introduz-se nas fendas devido à carga. A pressão do óleo no interior
das fendas provoca a sua abertura e consequente crescimento;
2.3- a fenda pode-se propagar de forma mista.
É referido também que o desgaste pode interromper a propagação de fissuras próximas da
superfície.
6.2- Conceito de vida infinita à fadiga
O principal objectivo dos estudos de fadiga é, idealmente, a obtenção de um modelo de
previsão da vida à fadiga de um componente ou, ainda melhor, a determinação dos esforços
para os quais a vida à fadiga seja, na realidade, infinita.
A ocorrência de vida infinita à fadiga é possível em duas situações:
I) não existir deformação plástica em torno da inclusão/matriz ou defeito superfícial,
e sendo a deformação puramente elástica, não ocorrer emissão de deslocações,
logo não exista acumulação de dano - garantindo-se assim vida infinita à fadiga;
II) ou existe deformação plástica em torno da inclusão mas, após determinado
número de ciclos, mais nenhuma deslocação é emitida, estando-se, mais uma vez,
perante vida infinita à fadiga.
Uma fissura é nucleada quando a intensidade de deslocações em determinado volume do
corpo ultrapassar o valor crítico. A iniciação de uma fissura não significa impreterivelmente
que o dano seja irreversível. Pode acontecer que, após um determinado número de ciclos, não
[194/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
sejam emitidas mais deslocações e a dimensão da fissura estabilize. No entanto, um ligeiro
aumento da solicitação imediatamente e irreversivelmente provocará a reactivação do
crescimento da fissura, surgindo o pitting e, mais tarde, o spalling.
A investigação nesta área pretende conseguir obter os valores limite para as cargas de
contacto a partir das quais o contacto, à fadiga, apresenta vida infinita. As formas de o
conseguir, ou pelo menos de prolongar a duração do contacto poderá passar pela diminuição
do tamanho das inclusões, produção de melhores materiais, mais homogéneos através do
refinamento da composição química, tratamentos térmicos mais adequados, indução de
tensões residuais negativas na camada superfícial, etc.
A determinação da tensão de corte máxima (τmáx), da tensão de corte octaédrica máxima (τoct)
e da tensão de corte (τxz), são frequentemente usadas para avaliar o risco de avaria por fadiga
de contacto em todos os materiais.
Associadas às superfícies rugosas, as zonas de maior tensão de corte encontram-se perto da
superfície, ou seja, num contacto real (rugoso e com escorregamento) as zonas de maior risco
de avaria por fadiga de contacto encontram-se à superfície.
6.3- Critérios de fadiga multiaxial
Os modelos uniaxiais de fadiga não são adaptados ao estudo da fadiga de contacto uma vez
que neste caso o estado de tensão é fortemente multiaxial. Por outro lado, as tensões residuais
são sempre multiaxiais, pelo que, para ter em consideração a sua influência, será também
necessário utilizar um critério de fadiga multiaxial.
Quando a previsão da vida útil é feita em termos de fadiga de contacto, muitas das teorias
derivadas da análise de provetes falham, uma vez que derivam de solicitações uniaxiais
simples impostas em condições que não correspondem àquelas que estão na base dos
mecanismos de avaria das superfícies. É comum que muitos factores de intensidade de tensão
presentes na literatura sejam obtidos em testes de flexão rotativa ou similares, assim como
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [195/366]
muitas das teorias baseadas na mecânica da fractura dependem da evolução de entalhes feitos
em provetes ou da propagação de fissuras em modos específicos. Quando se trata de fadiga de
contacto os mecanismos envolvidos são nitidamente diferentes e os processos são quase
sempre resultantes de estados de tensão multiaxiais [26, 79].
No caso particular das engrenagens que sofrem desgaste superficial por fadiga de contacto, a
existência de tensões residuais, o carácter multiaxial das solicitações, a geometria típica do
engrenamento e outros fenómenos, como a penetração de lubrificante no interior de fissuras
que afloram à superfície, introduzem variáveis que tornam muito complexa a definição de um
critério de fadiga suficientemente abrangente. A. Baptista [26] aborda a questão das tensões
residuais classificando-as em três ordens: macroscópicas, que se estendem sobre vários
milímetros de material e que podem ser medidas por extensometria, microscópicas, tensões
que se instalam ao nível dos grãos do material e que eventualmente podem ser estudadas por
difracção de raios X, e tensões de terceira ordem, cujo domínio se estende à escala das
distâncias interatómicas e que dependem sobretudo de características locais da rede cristalina
do metal. Segundo o autor, o estado total de tensão resulta da sobreposição directa das três
ordens de tensões residuais citadas.
Nestes casos a utilização de critérios simples como o de Tresca ou de Von Mises tende a
produzir resultados pouco rigorosos. Enquanto os critérios de fadiga multiaxial de Sines ou de
Crossland [26, 87, 295] abordam o problema de forma macroscópica, ou seja, não consideram
o facto de a iniciação de uma fissura ser um fenómeno tipicamente microscópico. Dang-Van
[93-96] propôs um critério de fadiga multiaxial que permite contemplar formas complexas de
solicitação e que tem vindo a ser utilizado no estudo da fadiga de contacto de engrenagens já
que permite contabilizar a influência da pressão hidrostática.
6.3.1- Formulação de um critério multiaxial de fadiga
Estabelecer um critério de fadiga de contacto é definir um domínio no espaço das tensões, no
interior do qual um componente tem uma duração de vida infinita. A fronteira desse domínio
será definida, por uma equação que liga as tensões locais instaladas às propriedades
mecânicas do material relevantes em termos de fadiga. Existem muitos critérios e diferentes
[196/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
formas de abordagem na perspectiva de os classificar,os quais podem ser encontrados na
bibliografia, contudo não se pretende apresentar aqui um estudo aprofundado dos critérios
multiaxiais de fadiga mecânica. Para um estudo bibliográfico mais completo dos critérios
multiaxiais, diversas obras [107, 134] podem ser consultadas.
As variáveis com influência sobre o processo de fissuração podem ser agrupadas em quatro
famílias [134]:
1. Variáveis que traduzem o efeito das solicitações exteriores (Vso1ic) nos pontos
analisados, tais como invariantes do tensor das tensões ou das deformações,
tensões normais ou de corte ligadas a um plano particular, etc.
2. Características intrínsecas do material (Vmat), definidas a partir de ensaios
monótonos ou de ensaios de fadiga, geralmente para solicitações simples. Estas
últimas incluem em geral, a variável tempo ou o número de ciclos associado a
uma certa probabilidade de iniciação das fissuras de fadiga.
3. Coeficientes de influência (Vinfl), que agrupam todas as variáveis ligadas ao
desenho e à elaboração do componente analisado, tais como a isotropia ou
anisotropia do material, o estado e natureza da superfície do componente, as
dimensões, as tensões residuais, os acidentes geométricos não tomados em
consideração no cálculo do tensor das tensões, etc.
4. Coeficientes de serviço (Vserv), que traduzem as características de funcionamento
do componente, tais como a temperatura, as sobrecargas, a agressividade do meio,
a frequência das solicitações, etc.
Na formulação de um critério multiaxial de fadiga são geralmente tomadas em consideração
as duas primeiras famílias, enquanto as duas últimas agrupam as variáveis ligadas à sua
aplicação aos casos industriais. Os critérios propostos na bibliografia exprimem-se geralmente
em função de duas variáveis (XI, X2) da família Vso1ic, com influência reconhecida no
processo de fissuração, e de variáveis da família Vmat , sendo estas últimas naturalmente
fixadas logo que se faça a escolha do material. Obtém-se, assim, a seguinte formulação geral
de um critério multiaxial de fadiga [26]:
F(Xl,X2 ;Vmat) = 0 (6.1)
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [197/366]
As variáveis das duas últimas famílias, Vinfl e Vserv, são inicialmente fixas em valores iniciais,
sendo tomadas em consideração, não durante a formulação, mas durante a fase de exploração
e da aplicação do critério (ver parágrafo 6.3.2).
A equação 6.1 define um domínio no espaço do critério, que corresponde à zona de segurança
do componente (Figura 6.1). Define-se trajecto de carregamento à curva paramétrica (que se
pode reduzir a um ponto ou a um segmento de recta) descrita pelas variáveis X1 e X2
calculadas num ponto do componente durante o serviço. O componente está em segurança
desde que os trajectos de carregamento para os vários pontos da estrutura não entrem na zona
de dano. As posições da curva limite e do trajecto de carregamento podem ser alteradas pelas
variáveis das famílias Vinfl e Vserv , o que deverá ser tomado em consideração durante a
aplicação do critério.
Figura 6.1 - Formulação geral de um critério multiaxial de fadiga [26].
Um estado de tensão num ponto de uma estrutura pode ser caracterizado por um tensor de
tensões (σij) o pelas tensões principais σ1, σ2 e σ3. No caso da fadiga uniaxial, o ciclo de
tensão pode decompor-se numa tensão média, σmed; e numa amplitude de tensão, σa. Para
solicitações multiaxiais em que todas as componentes do tensor das tensões variam em fase,
podemos, tal como no caso de uma solicitação uniaxial, decompor o tensor das tensões num
tensor de tensões médias (σij,med) e num tensor de tensões alternadas (σij,a). Para um
carregamento sinusoidal, por exemplo, obtém-se:
( ) ( ) consttsent ijijaijmedijij ==+= ωωωσσσ , ,, (6.2)
[198/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
A experiência mostra que os critérios de Tresca e de Von Mises não podem ser utilizados na
presença de fortes tensões médias ou residuais, uma vez que eles não tomam em consideração
a influência da pressão hidrostática [214], conduzindo a resultados idênticos para solicitações
com uma pressão hidrostática positiva ou negativa, o que sabemos não ser correcto.
Fisicamente a iniciação das fissuras de fadiga de contacto é facilitada quando a matéria se
encontra globalmente dilatada, o que acontece quando a pressão hidrostática é globalmente
positiva. Um outro parâmetro fundamental com influência reconhecida no processo de
fissuração é a amplitude de tensão em torno do valor médio, que origina distorções cíclicas
repetidas. No critério de Von Mises intervém a tensão de corte octaédrica, o que por definição
só é possível para o caso de carregamentos radiais, ou não radiais, mas com direcções
principais que coincidam no maior ou menor valor da solicitação mecânica [79]. Deste modo
é preferível utilizar critérios que façam intervir uma amplitude de tensão e uma pressão
hidrostática. Alguns dos critérios multiaxiais de fadiga mais utilizados prevêem a ausência de
iniciação de fendas de fadiga, se a seguinte condição for verificada:
.a hydpτ α β+ ≤ (6.3)
onde τa é uma amplitude de tensão de corte, phyd é uma pressão hidrostática, e α e β são
constantes características do material, que podem ser determinadas através de ensaios
específicos de fadiga.
O coeficiente α representa a influência da pressão hidrostática, que pode ser determinado a
partir da razão entre o limite de fadiga em torção alternada e o limite de fadiga em flexão
rotativa ou em tracção alternada ou repetida, por exemplo, sendo o limite de fadiga σD
(corresponde ao ponto B da Figura 6.2). O coeficiente β pode ser determinado a partir do
limite de fadiga do material em torção alternada, τD (corresponde ao ponto A da Figura 6.2).
Com estes dois pontos traça-se a recta limite de segurança, sendo o seu declive α.
A zona de segurança é constituída pela parte do plano τa-phyd situada entre duas rectas limite
simétricas, como se representa na Figura 6.2. Os critérios multiaxiais de fadiga de Sines, de
Crossland e de Dang-Van são os mais utilizados.
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [199/366]
Figura 6.2 -Representação de um critério multiaxial da forma .a hydpτ α β+ ≤ , onde τa é uma amplitude
de tensão de corte, phyd uma pressão hidrostática, e A e B são as constantes características do
material (α e β) [26].
Os critérios de Sines e de Crossland, derivados do critério de Von Mises, são expressos
inicialmente em função das tensões no plano octaédrico e posteriormente em função dos
invariantes do tensor desviador das tensões, o que conduz a uma interpretação do tipo
energético. No caso de solicitações não proporcionais, estes critérios têm o mesmo defeito do
critério de Von Mises, pois o corte octaédrico deixa de ser intrínseco e depende dos eixos de
coordenadas escolhidos.
O critério de Dang-Van, baseado numa abordagem microscópica desenvolvida por Dang-Van,
permite tomar em consideração a forma de um trajecto de carregamento complexo, em vez de
considerar apenas a sua amplitude. Neste critério intervém as grandezas intrínsecas, τ(t) e
phyd(t), independentes do referencial escolhido e que permitem um controlo local e
instantâneo da situação, fazendo intervir a forma precisa do trajecto de carregamento.
[200/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
6.3.2- Critérios de fadiga multiaxial
6.3.2.1- Critério de Sines
Partindo da observação que uma tensão média em torção tem uma fraca influência sobre a
resistência à fadiga, Sines [26, 294, 295] formulou inicialmente o seu critério fazendo intervir
a amplitude da tensão de corte octaédrica, τoct,a, e a pressão hidrostática média, hydmedp , numa
relação linear da forma:
,med
oct a hydpτ α β+ ⋅ ≤ (6.4)
onde α e β são constantes características do material que podem ser determinadas por ensaios
de torção alternada e de flexão repetida, por exemplo. A pressão hidrostática, phyd, que é na
realidade a tensão normal octaédrica: σoct, e a tensão de corte octaédrica, τoct , representam as
tensões que se exercem no plano octaédrico, sendo dadas por :
( )
( ) ( ) ( ) ( )
11 22 33
2 2 2 2 2 211 22 22 33 33 11 12 23 13
13
2 1 63 3
hyd oct
oct VM
p σ σ σ σ
τ σ σ σ σ σ σ σ τ τ τ
= = + +
= = − + − + − + + +
(6.5)
onde σVM representa a tensão equivalente de Von Mises. No caso de carregamentos não
radiais este critério perde todo o seu significado físico, não podendo ser utilizado para um
carregamento multiaxial complexo.
O critério de Sines [284, 285] foi posteriormente reformulado, reescrevendo as suas variáveis
em função do segundo invariante, J2, do tensor desviador das tensões, S, e do primeiro
invariante, I1, do tensor das tensões de Cauchy, σ :
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [201/366]
( ) ( )
( ) ( )
22 1 2
1 11 22 33
2 2 2 22 11 22 33
1 1 1 1: 32 2 2 3
3
1 12 2
ij ij ij ijij
ii hyd
J S S S S S S I I
I tr p
I tr
σ σ σ σ σ
σ σ σ σ
⎛ ⎞= = = = +⎜ ⎟
⎝ ⎠
= = = + + =
= = + +
∑
(6.6)
onde o operador ":" representa o produto duplamente contraído. Para um carregamento
cíclico, o ponto representativo do tensor desviador das tensões S(t) descreve uma curva
fechada no espaço dos desviadores. O seu diâmetro, definido como o comprimento da maior
corda que é possível definir no trajecto do desviador das tensões, é dado pela seguinte
expressão [26]:
( ) ( )[ ] ( ) ( )[ ]⎭⎬⎫
⎩⎨⎧ −−=
∈∈ 2121 :21
tStStStSMaxMaxDTtTt
(6.7)
A amplitude de ( )tJ 2 , designada por ( )( )atJ 2 é definida como sendo igual ao raio do
trajecto de S(t), multiplicado pelo factor 12
, ou seja:
( )( )22
12
DtJ a = (6.8)
De notar que no caso de carregamentos não radiais, a amplitude de ( )tJ 2 não poderá ser
calculada pela semi-diferença entre os valores extremos de J2(t). A partir do primeiro
invariante do tensor das tensões I1(t) ligado à pressão hidrostática I1 (t) = 3.phyd(t), pode
igualmente definir-se um valor médio I1,med, uma amplitude I1,a e um valor máximo I1,max [26]:
( ) ( )[ ]
( ) ( )[ ]
amed
TtTta
TtTtmed
III
tItIMaxI
tItIMaxI
,1,1max,1
11,1
11,1
min21
min21
+=
−=
+=
∈∈
∈∈
(6.9)
[202/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Segundo Sines [284, 285] a tensão equivalente é uma combinação linear da amplitude
de ( )tJ 2 e do valor médio do primeiro invariante do tensor das tensões, resultando para o
seu critério:
( )( ) βα ≤⋅+ meda ItJ ,12 (6.10)
onde α e β são características do material. Esta formulação conduz a uma interpretação do
tipo energético, uma vez que I1 está ligado à energia de volume e J2 à energia de distorção do
material. Esta formulação do critério de Sines é aplicável a qualquer carregamento periódico.
No caso de um carregamento radial ( )( ) aoctatJ ,2 23 τ⋅= , obtém-se a formulação original.
6.3.2.2- Critério de Crossland
O critério de Crossland [87] foi formulado no seguimento de um vasto programa experimental
sobre o comportamento à fadiga do aço En25T (normas inglesas), tendo como objectivo
principal determinar a influência de uma pressão hidrostática elevada sobre a resistência à
fadiga do metal. De modo a traduzir o melhor possível o conjunto dos seus resultados
experimentais, Crossland propôs um critério que faz intervir o valor máximo da pressão
hidrostática ao longo do ciclo de carga, maxhydp , em vez do seu valor médio:
max,oct a hydpτ α β+ ⋅ ≤
onde α e β são constantes características do material, que podem ser identificadas, por
exemplo, por ensaios de torção e de flexão alternada.
Como no critério de Sines, também esta formulação é válida apenas para carregamentos
radiais, aos quais corresponde um plano octaédrico bem definido, procedendo-se também à
sua reformulação reescrevendo as variáveis em função dos invariantes. Segundo Crossland, a
tensão equivalente é uma combinação linear da amplitude de ( )tJ 2 e do valor máximo do
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [203/366]
primeiro invariante do tensor das tensões, ao longo do ciclo de carregamento, tomando o seu
critério a forma [26]:
( )( ) βα ≤⋅+ max,12 ItJ a (6.11)
onde α e β são características do material. Esta formulação do critério de Crossland é
aplicável a qualquer carregamento periódico. A utilização da pressão hidrostática máxima em
vez da pressão hidrostática média permite diferenciar os trajecto de carregamento reais
sofridos pelo material e de distinguir, nomeadamente, os ensaios de fadiga em torção dos
ensaios de fadiga em tracção e flexão. O critério de Crossland descreve uma gama
relativamente larga de materiais e reproduz bem a tendência geral dos resultados
experimentais.
6.3.2.3- Critério de Dang-Van
O critério de Dang-Van permite prever os locais onde preferencialmente pode ocorrer a
nucleação de fendas de fadiga de contacto, para o caso de uma solicitação de fadiga
multiaxial.
Graficamente, este critério baseia-se no estabelecimento de um domínio espacial de
segurança, zona de não ocorrência de danos por fadiga, na qual os efeitos das solicitações
devem ser representados, conforme mostra a Figura 6.3.
Figura 6.3 - Representação gráfica do critério de Dang-Van.
τa ponto crítico
Zona de segurança
phyd
Trajecto cíclico
do carregamento
[204/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Considera-se ocorrer dano quando algum ponto do trajecto cíclico do carregamento intersecta
as rectas-limite da zona de segurança. No diagrama da Figura 6.3 o eixo vertical contabiliza a
amplitude da tensão de corte e no eixo horizontal são representados os valores da pressão
hidrostática.
O princípio físico deste critério baseia-se no facto de que a formação de uma fissura de fadiga
é um fenómeno microscópico, que se dá à escala de um ou vários grãos, sendo de facto
inadequado considerar que o material é homogéneo e isotrópico. A escala macroscópica é
caracterizada por um elemento de volume V(M) que envolve um dado ponto M da estrutura e
sendo constituído por um elevado número de grãos. As grandezas macroscópicas, tensão
Σij(M, t) e deformação Eij(M, t), são assumidas como homogéneas em V(M). A escala
microscópica, da ordem do tamanho de um grão ou de alguns grãos, corresponde a uma
subdivisão de V(M), onde cada elemento é identificado pelo parâmetro P. As grandezas
locais, tensão σij(P,M, t), deformação εij(P,M, t) e deformação plástica εpij(P,M, t), são
consideradas homogéneas dentro de cada domínio, mas variam de domínio para domínio e
são diferentes de Σij e de Eij. Se Σ é o valor médio de σ [93-96]:
( ) ( ) ( )( )1 ,
V MM P M dV
V Mσ= ⋅∑ ∫ (6.12)
e
σij(P, M, t)=Aijhk(P, M).Σhk(M, t)+ ρij(P, M, t) (6.13)
Aijhk(P, M) é o tensor de localização elástica no elemento de volume e ρij(P, M, t) é o campo
de tensões residuais locais.
Dang-Van desenvolve o seu modelo supondo que um dado grão ou elemento de volume
microscópico que esteja inserido numa matriz elástica sofre deformações plásticas por efeito
das solicitações impostas pela matriz [93]. Este autor refere que o campo de tensões residuais
que se vai formar em torno desse elemento tende a estabilizar de forma isotrópica ao longo do
carregamento cíclico e que, se isso não acontecer, existem condições para a iniciação de uma
fissura. Pretende, desta forma, simular o facto de alguns grãos de uma dada matriz metálica
apresentarem uma orientação desfavorável que condiciona a sua possibilidade de recuperarem
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [205/366]
de eventuais deformações elasto-plásticas que tenham sofrido ao longo do carregamento,
facto que se supõe estar na origem da iniciação microscópica de fissuras de fadiga [92-96].
Dang-Van propõe, portanto, a determinação do ciclo de carregamento microscópico [σ], com
o auxílio de uma aproximação elastoplástica e a partir do ciclo de tensões macroscópicas [Σ].
Um cálculo iterativo permite determinar para cada ponto da discretização o estado adaptado
do material, isto é o estado que faz com que o ciclo de tensões do material não saia do
domínio elástico. Este estado adaptado caracteriza-se por dois parâmetros [24, 25, 302]:
- um domínio elástico mais importante;
- tensões residuais [ρ] que caracterizam o “deslocamento” do domínio elástico no
espaço das tensões.
Deste modo, determina-se em cada ponto da discretização o tensor das tensões residuais do
estado adaptado, e depois o tensor das tensões locais, aplicando a lei seguinte:
[σ]=[Σ]-[ρ] (6.14)
Segundo Dang-Van [93-96], haverá iniciação de uma fissura ao nível de um grão orientado
desfavoravelmente se este sair do seu estado de adaptação, ou seja, se o seu critério de
plasticidade não for verificado. Como a iniciação se produz em geral nas bandas de
deslizamento intergranulares, a tensão de corte local que se exerce sobre esses planos é um
factor importante a tomar em consideração. Por outro lado, se bem que a evolução
elastoplástica do grão seja a priori independente da pressão hidrostática, o critério de fadiga
deve fazê-la intervir, uma vez que a pressão hidroestática, quando positiva, tende a abrir
fissuras e a favorecer o crescimento e a coalescência das microfissuras, e quando negativa
produz o efeito contrário. Dang-Van propõe então para o seu critério a seguinte relação linear
entre aqueles parâmetros:
, ( ) ( )hydt T t p tτ α β∀ ∈ + ≤ (6.15)
onde ( )tτ representa a tensão de corte microscópica, phyd(t) a pressão hidrostática
microscópica (igual à pressão hidroestática macroscópica), t o tempo e T o período do ciclo
[206/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
de carregamento. As constantes α e β são características do material, podendo ser obtidas,por
exemplo, a partir das tensões limite de fadiga em flexão rotativa e em torção alternada. A
adopção de ( )tτ permite limitar a zona de segurança à zona compreendida entre o eixo da
pressão hidrostática e a recta superior do critério, substituindo o trajecto de carregamento Γ
pelo projecto de carregamento Γ’ (ver Figura 6.4), o que não altera nada do ponto de vista da
previsão da resistência à fadiga.
Figura 6.4 -Critério de Dang-Van: domínio de segurança e trajecto de carregamento [26].
A pressão hidrostática, phyd(t), é calculada a partir do valor médio dessa tensão ao longo de
um ciclo, Σ(t), através da expressão (6.16).
( )1( )3hydp t tr t⎡ ⎤= Σ⎣ ⎦
(6.16)
Se a resposta elástica do sólido for proporcional a um tensor independente do tempo, a
pressão hidrostática pode ser descrita pela expressão da tensão normal octaédrica, ou seja, de
acordo com a expressão (6.17).
( )11 22 331( )3hydp t σ σ σ= + +
(6.17)
O cálculo de ( )tτ é mais complexo. O cálculo da tensão de corte microscópica, τ(t), é feito
recorrendo à amplitude, em cada ciclo, do valor da tensão de corte macroscópica segundo um
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [207/366]
plano normal n e do estado estabilizado de tensão residual local, ρ*(n). Considere-se no ponto
M da zona crítica um plano de normal n , e seja ( )tnT , a tensão de corte macroscópica nesse
plano. Ao longo de um ciclo de carregamento a extremidade do vector ( )tnT , , com origem no
ponto M, descreve uma curva fechada no plano considerado, cujo raio máximo corresponde à
amplitude da tensão de corte (ver Figura 6.5). O estado estabilizado de tensão residual local,
( )n*ρ , que permite simetrizar o ciclo, é determinado do seguinte modo [26, 79, 93-96]:
Figura 6.5– Processo de determinação da tensão de corte local [26, 79].
• Determina-se o círculo de diâmetro mínimo circunscrito ao trajecto de ( )tnT , ,
isto é o círculo de Dang-Van.
• Seja C o centro do círculo de Dang-Van. O vector CM representa a tensão
residual que permite simetrizar o ciclo, ( )n*ρ . Os trajectos das tensões de corte
micro e macroscópica correspondem-se por uma simples translação (A=1, na
equação (6.13)) e o círculo circunscrito ao trajecto da tensão de corte
microscópica está centrado no ponto M. A tensão de corte local, ( )tn,τ , pode
então deduzir-se de ( )tnT , por aquela translação:
( ) ( ) ( )ntnTtn *,, ρτ += (6.18)
Sendo τ *y o limite de elasticidade no estado estabilizado, a condição de não violação do
critério de plasticidade permite escrever:
[208/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
*),(, ytnTt ττ ≤∈∀ (6.19)
A tensão de corte local ( )tn,τ , deve estar completamente contida no círculo de raio τ *y , que
deve ser o menor possível.
Depois de calculados os valores da pressão hidrostática e das tensões de corte locais, é
necessário encontrar o plano em que a combinação destes dois parâmetros é a mais
desfavorável, de forma a seleccionar os valores que maximizam o dano por fadiga. A
formulação do critério faz-se neste caso por uma dupla maximização:
( ) ( ){ }, hydn t T
n t p tMax Max τ α β∈
⎡ ⎤+ ⋅ ≤⎣ ⎦ (6.20)
Na prática a aplicação do critério é muitas vezes simplificada, ou porque o plano procurado é
o plano sujeito à amplitude de tensão de corte macroscópica máxima, ou porque o problema
se reduz a um problema plano.
A expressão final para o critério vem:
maxmax,a hydpτ α β+ ⋅ = (6.21)
Nesta expressão, τmax,a é dado pela diferença entre o valor da tensão de corte no instante t e o
seu valor médio por ciclo, resultando na equação (6.22).
[ ] 2/)()(max 31amax, tt aa σστ −= (6.22)
Os valores σ1a(t) e σ3a(t) são, respectivamente, a maior e a menor tensão principal do tensor
σa (t) =σij(t) - σij med. Será escolhido o tempo t dentro do período T, correspondente a cada
ciclo, que maximiza σa, o que obriga a calcular este tensor em cada ponto do material e para
cada combinação de solicitações ao longo de um ciclo de carregamento.
Ekberg [26, 66, 114, 201] propõe uma simplificação neste aspecto sugerindo a utilização da
amplitude da maior tensão de corte no elemento de volume. Assim, substitui directamente o
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [209/366]
valor de τmax,a pelo maior valor encontrado da tensão equivalente resultante do critério de
Tresca:
[ ]{ }2/)()()(max 31max, ttttrescaa σσττ −== (6.23)
A definição da recta de segurança de Dang-Van pode ser feita de forma experimental. A
Tabela 6.1 apresenta alguns valores característicos para o cálculo dos parâmetros que definem
essa recta, onde as tensões σD e τD representam valores limite de fadiga obtidos em ensaios
experimentais.
Tabela 6.1 – Relação entre os parâmetros do critério e tensões limite de fadiga [26].
Sendo σr o valor da tensão de ruptura à tracção, em Mpa, Z a estricção em %, e A o
alongamento, também em %, pode ser feita a estimativa de algumas das tensões limite de
fadiga. O valor da tensão limite de fadiga em flexão rotativa, , . .D Flex rotσ pode ser determinado,
para o caso dos aços com predominância ferrítica, pela relação proposta por Lieurade [26, 79,
199]:
AZ rrrotFlexD 241.039.0.., +=+= σσσ (6.24)
ou através da relação proposta pelo CETIM [66]:
( )( )
4
, . . 4
0.56 1.4 10 para 800MPa ou 1300MPa
0.57 1.2 10 para 800MPa< <1300MPa
r r r r
D Flex rot
r r r
σ σ σ σσ
σ σ σ
−
−
⎧ − × < >⎪= ⎨− ×⎪⎩
(6.25)
A tensão limite de fadiga em flexão plana alternada, , . ,D Flex plan altσ , ou tracção alternada,
, ,D Tracção altσ , pode ser obtida a partir do valor determinado para flexão rotativa, usando as
seguintes relações propostas pelo CETIM [66]:
amax,τ maxhydp α β
Torsão alternada altD,τ 0
Flexão rotativa
Flexão plana alternada
Tracção alternada
altD,21 σ
altD,31 σ
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−
213
,
,
altD
altD
στ
altD,τ
[210/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
rotFlexDaltplanFlexD ,,,., 05.1 σσ = (6.26)
rotFlexDaltTracçãoD ,,,, 9.0 σσ = (6.27)
O valor da tensão limite de fadiga em torção alternada, , ,D Torção altτ , é estimado a partir da
seguinte relação [66]:
rotFlexDaltTorçãoD ,,,, 6.0 στ = (6.28)
É comum que, em trabalhos de índole experimental, o critério de Dang-Van seja representado
graficamente pela grandeza f(σ) ao longo de uma determinada direcção (em diagramas
f(σ)/profundidade, por exemplo, na forma da expressão (6.29).
( ) . hydf pσ τ α β= + − (6.29)
A função em (6.29) corresponde, na Figura 6.3, à distância entre o trajecto do carregamento e
a linha de segurança no ponto crítico assinalado (o ponto mais próximo da linha de segurança)
[18].
Em termos de danos por fadiga o ponto crítico aproxima-se daquele em que o valor de f(σ)
atinge o seu máximo. Para que não haja ocorrência de danos por fadiga, o valor desta função
deve permanecer menor ou igual a zero durante todo o ciclo de carregamento.
O endurecimento da superfície modifica os parâmetros α e β, neste caso deslocando para
cima a recta que define o limite de segurança, conforme mostra a Figura 6.6.
A aplicação de tensões residuais compressivas diminui o valor da pressão hidrostática (o
inverso ocorre se estas tensões forem de tracção), deslocando a curva representativa do
carregamento cíclico num diagrama de Dang-Van ao longo do eixo XX
Se as duas únicas componentes não nulas do tensor das tensões residuais forem as tensões
normais no plano da superfície, σ11=σ22=σR, então o valor da tensão hidrostática é afectado de
uma quantidade de 2σR / 3.
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [211/366]
Figura 6.6 - Efeito combinado da presença de tensões residuais e de endurecimento superficial de um
componente na representação de um ciclo de carregamento num diagrama de Dang-Van.
6.4- Aplicação do critério de Dang-Van
Royer e Bonte [41] aplicaram um critério de fadiga multiaxial, neste caso o critério de Dang-
Van, ao contacto entre dois dentes de engrenagens considerando o perfil de pressões dado
pela teoria de Hertz. Estes autores puseram em evidência a pertinência deste critério para
estimar as condições de iniciação de fadiga de superfície (ou pitting), isto é a determinação
dos pontos de potencial nucleação de fissuras de fadiga de contacto.
São portanto, os limites da teoria de Hertz, que considera uma superfície lisa ou sinusoidal e
que não tem em consideração os efeitos da presença do lubrificante, que não permitem
simular correctamente o contacto entre dois dentes de uma engrenagem.
τa
phyd
Efeito do tratamento
térmico de
endurecimento
superficial
Efeito da
aplicação de
pré-tensões
[212/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Afim de melhor estimar as tensões que se exercem sobre a zona de contacto entre dois dentes
de uma engrenagem, foi desenvolvido e aperfeiçoado [22, 141-144] um modelo que permite
calcular o campo de pressões em regime de lubrificação mista. Este modelo, como foi visto
anteriormente, permite integrar as rugosidades reais das superfícies, e calcula a geometria do
filme lubrificante a partir da deformação da superfície real, aquando da sua passagem no
contacto. Um outro modelo desenvolvido permite, a partir destes resultados e do modelo
desenvolvido por Sottomayor [299] (que determina as tensões tangenciais em regime de filme
completo devidas ao cisalhamento do lubrificante no contacto, integrando os efeitos térmicos
e as variações das propriedades do lubrificante, aquando da sua passagem no contacto),
determinar o campo de tensões de corte em regime misto de lubrificação.
As pressões de contacto, normais e tangenciais, em regime misto, são usadas para determinar
o estado de tensão em cada ponto do maciço, usando um modelo desenvolvido por Castro
[61].
Deslocando a solicitação aplicada ao longo da linha de engrenamento e dos correspondentes
perfis de rugosidade, podem ser determinados os campos de tensões em cada ponto do
maciço, e aplicar-se o critério de Dang-Van.
Embora os resultados da aplicação do critério de Dang-Van já serem bastante satisfatórios,
verifica-se a necessidade de melhorar a modelização das pressões superficiais, integrando
nomeadamente a ruptura do filme lubrificante, aperfeiçoando a caracterização das
propriedades mecânicas das camadas superficiais dos dentes das engrenagens, e finalmente,
tendo em consideração as tensões residuais e principalmente a sua evolução ao longo da vida
do contacto.
É pois, importante integrar no critério de Dang-Van as tensões residuais devidas aos
diferentes tratamentos da superfície (tratamentos térmicos, acabamentos da superfície, etc.).
As tensões residuais adicionam-se às tensões devidas às solicitações superficiais.
No entanto, estas tensões são apenas medidas para determinadas profundidades e a hipótese
de uma variação linear das tensões entre os pontos de medida foi retida para determinar as
tensões residuais a outras profundidades, como mostra o perfil das tensões residuais da Figura
6.7, onde os valores medidos são representados pelos triângulos.
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [213/366]
-1200
-1000
-800
-600
-400
-200
0
0 10 20 30 40 50 60
Profundidade (µm)
Tens
ão re
sidu
al tr
ansv
ersa
l(MPa
)
Figura 6.7 –Perfil das tensões residuais transversais para uma dada superfície.
O critério de Dang-Van estipula que a iniciação das fendas de fadiga de contacto acontece no
ponto onde a relação seguinte é verificada:
( )max 0hydpτ β α− − ⋅ ≥
Os parâmetros α e β, próprios de cada material, caracterizam a lei das avarias do critério de
Dang-Van e são determinados com a ajuda de ensaios de tracção e de flexão alternados.
O critério pode ser representado graficamente usando um referencial cuja abcissa é a pressão
hidrostática,
1 2 3
3hydp σ σ σ+ +=
e a ordenada a tensão de corte máxima de Tresca. A lei da avaria do critério é representada
por uma recta, cujo declive é α e a ordenada na origem é β. A Figura 6.8 representa um
exemplo de um gráfico de Dang-Van.
[214/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
0,00E+00
2,50E+08
5,00E+08
7,50E+08
1,00E+09
1,25E+09
1,50E+09
-1,50E+09 -1,00E+09 -5,00E+08 0,00E+00 5,00E+08 1,00E+09Pressão hidrostática (Pa)
τmax (P
a)
.
Figura 6.8 –Gráfico de Dang-Van para dois ciclos diferentes.
A recta de avarias do critério de Dang-Van está representada a preto na Figura 6.8. O ciclo de
carregamento representado a azul não atinge esta recta pelo que não existe nucleação de uma
fissura de fadiga. Pelo contrário o ciclo de carregamento representado a vermelho apresenta
um ponto onde ocorreu a nucleação de uma fenda de fadiga.
É importante notar que, as características da recta de Dang-Van são geralmente consideradas
como exactas em tracção (isto é para pressões hidrostáticas positivas), uma vez que os ensaios
de fadiga que permitem calcular os parâmetros α e β são ensaios de tracção, sendo mais
delicado fazer tal afirmação para a compressão, nomeadamente para fortes compressões.
Com efeito, extrapolando a recta de Dang-Van na zona de compressão, podemos admitir que
quanto mais importante for a compressão, mais difícil é a inicialização de uma fenda de
fadiga, uma vez que é difícil de imaginar que um material possa estar indefinidamente
comprimido. Parece, portanto, correcto imaginar que os parâmetros de Dang-Van se alteram
em compressão. É por isso, que com base na variedade de informações a este respeito, a recta
de Dang-Van pode, eventualmente, não ser exacta nas zonas de forte compressão.
Dado que os ciclos de tensão para os carregamentos estudados encontram-se na maior parte
do tempo no semi-espaço das compressões, o coeficiente de segurança FS, geralmente
calculado a partir da origem do referencial não pode ser aplicado. Deste modo definiu-se um
risco de iniciação de fissuras de fadiga RF, calculado como a razão mais elevada no ciclo
hydpτ β α= − ⋅
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [215/366]
entre a tensão de corte em um ponto do ciclo de carregamento e a tensão de corte da recta de
Dang-Van, à mesma pressão hidrostática. A Figura 6.9 ilustra essas diferenças.
4.1.1.1-
Figura 6.9– Definição do risco de iniciação de fissuras de fadiga.
Deste modo, de forma a poder comparar a probabilidade de iniciação de fendas de fadiga em
diferentes pontos, foi definido um “risco de iniciação”. Para cada ponto da discretização, a
relação
max
hydpτ
β α− ⋅
mais desfavorável ao longo do ciclo representa esse risco de iniciação. Se esta relação for
igual ou superior a 1 ocorre a iniciação de uma fenda, segundo o critério de Dang-Van. Pode-
se, assim, construir uma carta de riscos de iniciação, representando este risco para cada ponto
da discretização.
O critério de Dang-Van estipula igualmente que assim que ocorre a iniciação de uma fenda,
esta tem lugar na faceta mais desfavoravelmente orientada em relação às tensões. Deste
modo, é possível determinar a orientação da fenda, determinando esta faceta. Para tal, calcula-
se para cada faceta do espaço as tensões tangenciais τ e normais ρ, induzidas pelo campo de
pressões calculados no referencial (O,X,Y,Z) e aquele que apresentar o valor ρατ ×+
mais elevado é a orientação mais desfavorável.
0.E+00
1.E+08
2.E+08
3.E+08
4.E+08
5.E+08
6.E+08
7.E+08
8.E+08
9.E+08
1.E+09
-2.E+09 -1.E+09 -5.E+08 0.E+00 5.E+08 1.E+09Pression Hydrostatique
Con
train
te d
e ci
saille
men
t
M O
T
FS= OM/OT
0.E+00
1.E+09
2.E+09
3.E+09
4.E+09
5.E+09
6.E+09
7.E+09
8.E+09
9.E+09
-8.E+09 -6.E+09 -4.E+09 -2.E+09 0.E+00Pression Hydrostatique
Con
train
te d
e ci
saille
men
t
R
M O’
RF= O’M/O’R
Tens
ão d
e co
rte
Tens
ão d
e co
rte
Pressão hidrostática Pressão hidrostática
[216/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
6.4.2- Determinação do ciclo de tensões superficiais
O modelo de cálculo do campo de pressões tem em conta o perfil da superfície e considera-se
que o contacto se desloca sobre o perfil de rugosidade, ao longo da linha de engrenamento
[24].
Para obter um ciclo de solicitações superficiais, é aplicado o seguinte procedimento: o
contacto desloca-se ao longo do perfil e em cada posição o campo de pressões, a geometria do
filme lubrificante e as tensões tangenciais são calculadas graças aos modelos referidos
anteriormente.
Os diferentes modelos de cálculo são lineares, e daí o tensor das tensões no referencial
O,X,Y,Z (representado na Figura 6.10) ter a forma seguinte:
0
0 0
0
xx xz
yy
zx zz
σ τ
σ
τ σ
⎡ ⎤⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥⎢ ⎥⎣ ⎦
O referencial é orientado da seguinte forma: o eixo OX é o eixo das abcissas sobre o perfil das
rugosidades, e o eixo dos OZ é o eixo das profundidades no maciço.
Figura 6.10– Orientação do referencial.
X perfil das rugosidades
Y
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [217/366]
Em todos os cálculos efectuados, a escala de referência em abcissa é a posição do ponto
estudado sobre o perfil em milímetros. A origem deste referencial é o primeiro ponto do
perfil. É este ponto que entra primeiro em contacto, e é também origem do referencial
temporal. O deslocamento do contacto sobre o perfil de rugosidade efectua-se no sentido
crescente das abcissas. É importante notar que este sentido do deslocamento implica uma
velocidade de rolamento do contacto negativa sobre a escala de referência (ver Figura 6.11).
Deslocamento da carga
Abscissa sobre o perfil
Escala temporal
x0
t0
ω2
ω1
Velocidade da carga
Velocidade de rolamento
Figura 6.11 – Referencial de referência e sentido das velocidades.
Por outro lado, parece indispensável ter em conta as tensões residuais devidas aos tratamentos
de superfície como a carbo-nitruração ou a rectificação. Com efeito, o seu papel é muito
importante na formação das escamas de fadiga. As tensões residuais de compressão permitem,
nomeadamente, abrandar a propagação de fissuras.
Dentro dos limites de um estudo elasto-plástico de iniciação de fendas de fadiga, estas tensões
conjugam-se com as tensões resultantes do encruamento para deformar o material. Na óptica
de uma aproximação determinista da iniciação, a evolução destas tensões residuais ao longo
da vida do contacto (relaxação) deverá, sempre que possível, ser tida em consideração.
No que diz respeito ao critério de Dang-Van as tensões residuais somam-se às tensões
macroscópicas. As tensões residuais são geralmente medidas segundo duas direcções, uma
longitudinal e outra transversal, e são representadas por um tensor de tensões com a forma
seguinte:
[218/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
000
00
00
transv
long
σ
σ
O seu efeito sobre os resultados do critério de Dang-Van é simples: somam-se à pressão
hidrostática devida ao carregamento, provocando a deslocação do ciclo de carregamento no
sentido da compressão para as tensões residuais de compressão e no sentido da tracção para as
tensões residuais de tracção [26, 201]. As tensões de compressão permitem assim diminuir a
probabilidade de iniciação de fissuras (ver Figura 6.12).
O ciclo a vermelho é equivalente ao ciclo a azul, correspondendo este último à consideração
das tensões residuais de compressão de 750 MPa nas duas direcções longitudinal e
transversal. Deste modo o ciclo de carregamento translada no sentido das compressões de 500
MPa, e a probabilidade de iniciação de fissuras diminuiu (ver Figura 6.8).
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
-2,00E+09 -1,50E+09 -1,00E+09 -5,00E+08 0,00E+00 5,00E+08 1,00E+09Pressão hidrostática (Pa)
τmax (P
a)
Figura 6.12 –Efeito das tensões residuais de compressão sobre o ciclo Dang-Van.
O critério proposto por Dang-Van não depende do material estudado. É independente da
geometria e do tipo de solicitação. Entenda-se por material, qualquer matéria, tipo de fabrico,
tratamento térmico, etc. A determinação dos parâmetros α e β da recta de avarias do critério
de Dang-Van são obtidos experimentalmente. Segundo Bonte e Royer [10] os valores de α e
β para o aço 27MC5 são respectivamente α=0.987 e β=827 MPa. No entanto o autor refere a
pouca fiabilidade destes resultados. Segundo Luís Coelho [79] os valores de α e β para o aço
32CDV13 nitrurado são respectivamente α=0.419 e β=544 MPa.
Translação de -500 MPa do ciclo de Dang-Van
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [219/366]
6.4.3- Aplicação do critério de Dang-Van a uma superfície real
Como se irá ver no capítulo 7, foram estudados três tipos diferentes de acabamentos
superficiais dos flancos activos dos dentes da engrenagem: a superfície de série (denominada
S1), a superfície rectificada (S2) e a superfície super-rectificada (denominada por S3).
A tabela 6.2 apresenta os parâmetros de rugosidade para as três superfícies estudadas.
Tabela 6.2 – Parâmetros de rugosidade para as três superfícies.
Parâmetros Superfície de série (S1)
Superfície rectificada(S2)
Superfície super-rectificada (S3)
Rq 0.57016 0.55631 0.25443 Rz 3.2939 2.5047 1.6128 ∆a 38.272 29.730 52.289 ∆q 50.651 43.685 69.095
Um contacto de referência foi definido (p0=1.5GPa, VR=6 ms-1, Ve=-0.3 e a=455 µm), e os
diferentes parâmetros de rugosidade estudados. Da referência [138] foram retiradas as
medidas das tensões residuais a diferentes profundidades para os três tipos de superfície, antes
e após os ensaios de fadiga realizados no banco de engrenagens. Estes valores, foram
introduzidos no critério de Dang-Van, juntamente com os resultados obtidos para o cálculo do
campo das pressões normais e tangenciais e das tensões tangenciais no maciço. A Figura 6.13
apresenta os perfis das tensões residuais introduzidas no critério de Dang-Van.
Figura 6.13 – Perfil das tensões residuais, longitudinal e transversal.
-1200
-1000
-800
-600
-400
-200
0
0 10 20 30 40 50 60
Profundidade (µm)
σ lon
g(MPa
)
S1 S2 S3
-1200
-1000
-800
-600
-400
-200
0
0 10 20 30 40 50 60
Profundidade (µm)
σ tra
ns(M
Pa)
S1 S2 S3
[220/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
As 3 superfícies apresentam características de rugosidade diferentes, destacados
nomeadamente pelos parâmetros geométricos de rugosidade ∆a e ∆q (tabela 6.2), mas
também pelas transformadas de Fourier (FFT) dos perfis. A figura apresenta nomeadamente
os FFT para as três superfícies. Para mais legibilidade, a Figura 6.14 comporta duas
representações gráficas: uma para os pequenos comprimentos de onda, e outro para os
grandes. Observa-se que a superfície S2 apresenta para os grandes comprimentos de onda
fortes amplitudes, o que traduz motivos de rugosidade longos e elevados, enquanto que a
superfície S3 distingue-se por amplitudes mais importantes para fracos comprimentos de
onda, traduzindo assim motivos de rugosidade curtos. A superfície S1 combina estes dois
fenómenos.
Figura 6.14– Espectros das 3 superfícies para duas ordens de grandeza de comprimentos de onda.
A Figura 6.15 apresenta os mapas de iniciação de fissuras de micropitting para as três
superfícies, nas condições de referência, com as tensões residuais apresentadas na Figura 6.13
e µLIM=0.15, numa escala de 0.2 a 1. Cada mapa representa 1.01 mm do perfil. Em abcissa e
ordenada encontram-se a posição de cada ponto na discretização. A superfície do material
corresponde aos pontos de ordenada 1, os pontos de ordenada 15 encontram-se a uma
profundidade de 14 µm.
00.050.1
0.150.2
0.250.3
0.350.4
0.1 0.4 0.7 1
S1
S2
S3
0
0.003
0.006
0.009
0.012
0.015
0.004 0.008 0.012 0.016 0.02
Am
plitu
de (µm
)
Comprimentos de onda (mm)
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [221/366]
Figura 6.15– Riscos de iniciação de fissuras para as 3 superfícies estudadas para µLIM=0.15 , considerando
as tensões residuais e α=0.827 e β=827 MPa.
As diferenças entre as superfícies são muito nítidas, nomeadamente no que diz respeito ao
risco de iniciação de fissuras e à profundidade das zonas de risco. Assim, a superfície S1 e a
superfície S2 apresentam zonas de iniciação de fissuras que se estendem sobre os 14 µm da
zona estudada. Em contrapartida, para a superfície S3 estas zonas de iniciação de fissuras são
praticamente inexistentes. Dois factores permitem explicar estas diferenças: por um lado as
Superfície S1
Superfície S2
Superfície S3
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
[222/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
diferenças geométricas entre as superfícies, por outro as diferenças de perfis das tensões
residuais. Estas diferenças de profundidade de zonas com riscos podem ser muito importantes
para a propagação das microfissuras. Com efeito, para o critério de Murakami [183-185, 235-
239], quanto mais uma fissura é longa, mais fácil é propagar-se. Consequentemente, se as
fissuras que se formam para a superfície S1 ou para a superfície S2 são mais longas que para a
superfície S3, a diferença de duração de vida pode sem dúvida explicar-se também pela
diferença de velocidade de propagação das fissuras.
6.5- Sumário e conclusão
Os modelos de previsão da vida à fadiga são baseados na propagação de fissuras, quer em
profundidade, quer superficialmente. A previsão da vida à fadiga de um contacto EHD é
muito complexa, quer pela quantidade de variáveis influentes no processo de fadiga, quer pela
sua variação ao longo do tempo e da zona de contacto.
Os modelos uniaxiais de fadiga [122, 175, 207, 216, 233, 258, 292, 309] não são adaptados ao
estudo realizado, visto que em fadiga de contacto o estado de tensão é fortemente multiaxial.
Por outro lado, as tensões residuais são sempre multiaxiais, pelo que, para levar em conta a
sua influência, será também necessário utilizar um critério de fadiga multiaxial.
De entre o conjunto de critérios multiaxiais de fadiga existentes, alguns dos mais utilizados
são os de Sines, Crossland, Dang-Van:
Os critérios de Sines e de Crossland [87, 294, 295], estenderam o critério de Von Mises à
fadiga em solicitações multiaxiais alternadas à volta de um valor médio, fazendo intervir a
pressão hidrostática média no caso do critério de Sines, ou a pressão hidrostática máxima no
caso do critério de Crossland. A diferença entre a pressão hidrostática média e a pressão
hidrostática máxima, é que na primeira entram apenas as componentes médias das tensões
principais (e eventualmente as tensões residuais) e na segunda entram todas as componentes
das tensões principais (e eventualmente as tensões residuais). Estes critérios utilizam o
conceito de faceta octaédrica e no caso de solicitações não proporcionais, têm o mesmo
Capítulo 6- Critério de Dang-Van [223/366]
defeito do critério de Von Mises, pois o corte octaédrico deixa de ser intrínseco e depende dos
eixos de coordenadas escolhidos.
O critério de Dang-Van [93, 96], baseado numa abordagem microscópica desenvolvida por
Dang-Van, permite tomar em consideração a forma de um trajecto de carregamento
complexo, em vez de considerar apenas a sua amplitude. Neste critério intervém as grandezas
intrínsecas, τ(t) e phyd(t), independentes do referencial escolhido e que permitem um controlo
local e instantâneo da situação, fazendo intervir a forma precisa do trajecto de carregamento.
De notar que, de entre os critérios de fadiga multiaxial, o mais utilizado é o critério de Dang-
Van. Dang-Van baseou-se no facto de a nucleação de uma fissura de fadiga ser um fenómeno
microscópico, que se dá à escala de um ou de alguns grãos. O critério de Dang-Van propõe
um controlo local e instantâneo da situação relativamente à fadiga, fazendo intervir a forma
precisa do trajecto de carregamento, e permite prever os locais onde preferencialmente pode
ocorrer a nucleação de fendas de fadiga de contacto, para o caso de uma solicitação de fadiga
multiaxial.
Este critério tem por base a hipótese de que a formação de uma fenda é um fenómeno
microscópico, à escala de um ou vários grãos, sendo de facto inadequado considerar que o
material é homogéneo e isotrópico. Dang-Van propõe, portanto, a determinação do ciclo de
carregamento microscópico [σ], com o auxílio de uma aproximação elastoplástica e a partir
do ciclo de tensões macroscópicas [Σ]. Um cálculo iterativo permite determinar para cada
ponto da discretização o estado adaptado do material, isto é o estado que faz com que o ciclo
de tensões do material não saia do domínio elástico. Este critério foi testado em vários casos
industriais (Renault, etc.) e ensaios laboratoriais [79, 99], tendo os resultados obtidos sido
satisfatórios.
Afim de melhor estimar as tensões que se exercem sobre a zona de contacto entre dois dentes
de uma engrenagem, foi desenvolvido e aperfeiçoado [22, 141-144] um modelo que permite
calcular o campo de pressões em regime de lubrificação mista. Este modelo, como foi visto
anteriormente, permite integrar as rugosidades reais das superfícies, e calcula a geometria do
filme lubrificante a partir da deformação da superfície real, aquando da sua passagem no
contacto. Um outro modelo desenvolvido permite, a partir destes resultados e do modelo
desenvolvido por Sottomayor [299] (que determina as tensões tangenciais em regime de filme
[224/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
completo devidas ao cisalhamento do lubrificante no contacto, integrando os efeitos térmicos
e as variações das propriedades do lubrificante, aquando da sua passagem no contacto),
determinar o campo de tensões de corte em regime misto de lubrificação.
As pressões de contacto, normais e tangenciais, são usadas para determinar o estado de tensão
em cada ponto do maciço, usando um modelo desenvolvido por Castro [61].
Deslocando o contacto ao longo da linha de engrenamento e dos correspondentes perfis de
rugosidade composto, pode ser determinado o ciclo de tensões em cada ponto da superfície e
da sub-superfície do sólido.
Conhecido esse ciclo de tensões é possível aplicar um critério de fadiga acumulada, neste
caso o critério de Dang-Van, permitindo avaliar o “risco de iniciação” de fendas de fadiga,
definido por:
[ ]máx
hydR =
τβ - α pσ α β ⋅, ,
Para cada ponto considerado, a relação máx
hyd
τβ - α p⋅
mais desfavorável ao longo do ciclo de
tensões aplicado, representa esse risco de iniciação. Se esta relação for igual ou superior a 1
ocorre a iniciação de uma fenda, segundo o critério de Dang-Van. Pode, assim, construir-se
uma carta de riscos de iniciação, representando este risco para cada ponto da superfície e sub
superfície. O modelo de Dang-Van permite, assim, identificar os pontos da superfície e sub-
superfície cujo risco de iniciação de uma fissura de fadiga é maior.
CAPÍTULO 7
RESULTADOS DA MODELAÇÃO
7.1- Introdução
São inúmeros os parâmetros que influenciam o comportamento à fadiga de contacto: material,
geometria e micro-geometria, lubrificante, condições de funcionamento, etc., e embora se
trate de um tipo de degradação superficial muito corrente, os métodos de previsão actuais
ainda não conseguem traduzir a influência de todos estes parâmetros. Antes de se
apresentarem os resultados de todas as simulações realizadas e atendendo à complexidade dos
vários modelos numéricos utilizados, é pertinente apresentar um resumo dos parâmetros
fundamentais na modelação do micropitting em engrenagens e do modo como são obtidos.
[226/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
7.2- Parâmetros fundamentais na modelação do micropitting
em engrenagens
7.2.1- Micro-geometria
A micro-geometria das superfícies tem grande influência ao nível do micro-contacto, sendo
determinante em termos dos valores das tensões instaladas localmente nas superfícies e sub-
superfícies. Os picos de rugosidade mais salientes podem induzir valores das pressões no
contacto muito superiores à pressão máxima de Hertz e valores das tensões de corte muito
superiores aos correspondentes a um contacto liso em regime de filme completo.
É conhecida a enorme influência dos picos de rugosidade sobre as avarias de superfície em
engrenagens, nomeadamente, o desgaste excessivo e a fadiga de contacto, assim como a sua
influência sobre o coeficiente de atrito no contacto.
O modelo desenvolvido para o cálculo das pressões de contacto, normais e tangenciais, e da
geometria do filme lubrificante integra as rugosidades dos flancos activos dos dentes do
pinhão e da roda, sendo definida uma rugosidade composta do contacto entre os dentes da
engrenagem a partir da transformada de Fourier do perfil de rugosidade de cada superfície.
São analisados três tipos diferentes de acabamentos superficiais dos flancos activos dos dentes
da engrenagem: a superfície de série (denominada S1), a superfície rectificada (S2) e a
superfície super-rectificada (denominada por S3). São também analisadas as superfícies S1 e
S3 após terem funcionado durante vários milhões de ciclos.
Capítulo 7- Resultados da Modelação [227/366]
7.2.2- Lubrificação em regime misto
No regime misto de lubrificação, considera-se que a força normal e a força tangencial
aplicadas ao contacto são suportadas, em simultâneo, pelo filme lubrificante e pelo contacto
directo entre os picos de rugosidade.
O contacto directo entre os picos de rugosidade ocorre em determinados pontos no interior do
contacto onde não há condições para gerar um filme hidrodinâmico. Tal ocorrência aumenta à
medida que a espessura específica do filme lubrificante (Λ = h0C / RqC) diminui, isto é, à
medida que a espessura do filme lubrificante (h0C) diminui (velocidade menor, viscosidade do
lubrificante menor, temperatura maior, força de contacto maior, ...) e/ou a rugosidade
composta das superfícies aumenta ( 2 2qC q1 q2R = R + R ).
7.2.2.1- Espessura média corrigida do filme lubrificante
A espessura média do filme lubrificante é determinada através da fórmula de Cheng [2-4]
para os contactos lineares (isotérmicos, lisos e com lubrificação abundante), isto é,
R0.110
-0.1100.370 0.740 0.740 0.740 n
0F= 1.191 α E'h ηη ⎛ ⎞⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅⎜ ⎟
⎝ ⎠⋅ 0eq VR , (7.1)
corrigida de um factor térmico (φT) que tem em linha de conta o aquecimento do filme
lubrificante no convergente do contacto devido à deformação viscosa a que é submetido e ao
qual foi acrescentado um factor, desenvolvido por Sottomayor e Seabra [302], que tem em
consideração o efeito do escorregamento.
[228/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
( )0.420
'
T 0.84 0.64e
p1-7.374 LE=
1+0.089 1+3.964 V Lφ
⋅
⋅ (7.2)
Logo, a espessura média corrigida do filme lubrificante é dada por,
T0C 0=h hφ ⋅ . (7.3)
7.2.2.2- Pressão normal de contacto em regime misto
O modelo elaborado determina a distribuição de pressões normais de contacto (pMIX),
considerando a micro-geometria (rugosidade real) das superfícies em regime misto de
lubrificação. Esta distribuição de pressão normal é obtida recorrendo à conjugação dos
campos de pressões normais calculados em dois casos extremos: em regime de filme
completo (regime elastohidrodinâmico rugoso, pEHDR), usando o modelo de Ai e Cheng [2-4],
e em regime limite (pLIM) usando um modelo de contacto seco rugoso [53]. A função de
repartição de carga fΛ estabelece a distribuição de pressão normal a partir dos dois casos
extremos referidos, isto é,
( )MIX EHDR LIM1 - fp = f p + pΛ Λ⋅ ⋅ (7.4)
Este modelo permite assim obter o campo de pressões normais de contacto mesmo quando o
valor de Λ é reduzido, como frequentemente acontece entre os dentes das engrenagens. Para
além disso, integra, de modo simples, a rugosidade composta das superfícies em contacto
através da transformada de Fourier do perfil de rugosidade. A função de repartição de carga fΛ
depende essencialmente da espessura específica do filme lubrificante Λ.
Capítulo 7- Resultados da Modelação [229/366]
7.2.2.3- Pressão tangencial de contacto em regime misto
A partir das condições de funcionamento, das propriedades dos materiais, dos campos de
pressões normais e da geometria do filme lubrificante, é possível determinar a distribuição de
pressões tangenciais (tensões de corte superficiais) em ambos os regimes de lubrificação
(filme completo rugoso τEHDR e filme limite τLIM).
As tensões de corte em filme completo (τEHDR) dependem do modelo reológico do
lubrificante, tendo sido considerado um modelo do tipo visco-elasto-plástico [289], isto é,
EHDREHDR
Elástica Viscosaτ τγ= γ + γ = + ×ln
G η ττ ⎛ ⎞
⎜ ⎟⎜ ⎟⎝ ⎠
ii i i
, (7.5)
que depende da propriedades reológicas do lubrificante (módulo de corte transversal G, tensão
de corte limite τℓ e viscosidade dinâmica η) as quais são função da pressão e temperatura em
cada ponto do filme lubrificante no interior do contacto.
As tensões de corte em filme completo τEHDR são determinadas tendo em conta o
comportamento energético do filme lubrificante, nomeadamente a dissipação viscosa no
interior do contacto e a evacuação de calor por convecção e por condução através das
superfícies metálicas.
As tensões de corte em filme completo (τEHDR) dependem também da espessura do filme
lubrificante. Para tal efeito foi usado um valor da espessura do filme lubrificante que garanta a
condição de filme completo, isto é, ΛFilme Completo = 2. Assim, as tensões de corte em filme
completo (τEHDR) foram determinadas usando um valor de espessura de filme lubrificante
dado por
[230/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
T0C 0h hφ= ⋅ , (7.6)
de tal modo que
EHDR
qCΛ = R
0 2Ch , (7.7)
As tensões de corte em regime limite (τLIM) são determinadas directamente a partir das
correspondentes pressões normais, usando a lei de Coulomb e definindo um coeficiente de
atrito limite [299], isto é, τLIM = µLIM x pLIM.
A distribuição de tensões de corte no contacto (pressões tangenciais), em regime de filme
misto, é determinada a partir das tensões de corte nos regimes de filme completo e limite
(τEHDR e τLIM, respectivamente) e da repartição de carga fΛ, isto é,
( )1.2MIX EHDR LIM1 - f= f +τ τ τΛ Λ⋅ ⋅ . (7.8)
7.2.3- Tensões instaladas
As pressões contacto, normais e tangenciais, são utilizadas na determinação do campo de
tensões elásticas ⎡ ⎤⎣ ⎦elPσ em qualquer ponto no interior dos sólidos em contacto [23, 61], tendo
em consideração as tensões residuais devidas aos tratamento térmicos e/ou mecânicos sofridos
pelas engrenagens ⎡ ⎤⎣ ⎦resPσ . Logo, em qualquer ponto do interior dos sólidos,
Capítulo 7- Resultados da Modelação [231/366]
⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎡ ⎤⎣ ⎦ ⎣ ⎦⎣ ⎦el res
P P Pσ σ + σ= . (7.9)
As tensões elásticas devidas às pressões de contacto, normais e tangenciais, são determinadas
usando um modelo desenvolvido por Castro [60], onde se considera que o maciço se deforma
em estado plano de deformação, hipótese que é inteiramente compatível com o caso do
contacto linear entre sólidos, e permite obter os tensores das tensões ⎡ ⎤⎣ ⎦elPσ em qualquer ponto
do interior dos sólidos em contacto. Podem, ainda, ser determinadas em cada ponto, a Tensão
de Corte Máxima (Critério de Tresca - τmáx), a Tensão de Corte Octaédrica (Critério de von-
Mises - τoct) e qualquer outro tipo de tensão equivalente.
De um modo geral podem definir-se as tensões residuais ⎡ ⎤⎣ ⎦resPσ como as tensões que existem
presentes num determinado componente, quando este se encontra em equilíbrio mecânico e
não está sujeito a nenhum esforço exterior. A introdução voluntária de pré-tensões é um dos
meios mais eficazes para melhorar a resistência à fadiga de componentes e estruturas, tanto no
domínio da construção mecânica como da construção metálica. As tensões residuais são
introduzidas pelos tratamentos superficiais de pré-tensão.
Para cada um dos três tipos de acabamentos superficiais dos flancos dos dentes, anteriormente
referidos (superfície de série - S1, superfície rectificada - S2 e superfície super-rectificada -
S3), foram obtidas medições das tensões residuais a diferentes profundidades, nas direcções
longitudinal e transversal, e antes e após a realização de ensaios de fadiga realizados em
banco de engrenagens [145].
[232/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
7.2.4- Modelação local do critério de fadiga acumulada de Dang-Van
e iniciação de fendas de fadiga
A modelação do critério de fadiga acumulada de Dang-Van, implica a determinação do ciclo
de tensões a que está submetido cada ponto da superfície e da sub-superfície dos sólidos em
contacto. O ciclo de tensões é obtido deslocando o contacto ao longo da linha de
engrenamento, isto é, ao longo do perfil de rugosidade composto dos flancos activos dos
dentes. Deste modo obtém-se para cada ponto da superfície e da sub-superfície do sólido um
ciclo de tensões.
Conhecido esse ciclo de tensões é possível aplicar um critério de fadiga acumulada, neste caso
o critério de Dang-Van, permitindo avaliar o “risco de iniciação” de fissuras de fadiga,
definido por:
[ ]máx
hydR =
τβ - α pσ α β ⋅, ,
(7.10)
Para cada ponto considerado, a relação máx
hyd
τβ - α p⋅
mais desfavorável ao longo do ciclo de
tensões aplicado, representa esse risco de iniciação. Se esta relação for igual ou superior a 1
ocorre a iniciação de uma fissura, segundo o critério de Dang-Van. Pode, assim, construir-se
uma carta de riscos de iniciação, representando este risco para cada ponto da superfície e sub-
superfície.
Para melhor análise dos resultados deste critério de fadiga acumulada, foi elaborada uma
função no programa MatLab®, que permite visualizar a orientação das fissuras de fadiga nos
casos em que ocorrer iniciação.
Capítulo 7- Resultados da Modelação [233/366]
O risco de iniciação de fissuras de fadiga é relacionado com a rugosidade de várias
engrenagens rectificadas por 3 processos diferentes, antes do funcionamento e após
funcionamento durante alguns milhares de ciclos.
7.3- Propriedades dos materiais e condições de funcionamento
7.3.1- Propriedades dos materiais
As engrenagens consideradas são engrenagens do pinhão de 4ª velocidade pertencentes a uma
caixa de velocidades manual. São engrenagens cilíndricas de dentado helicoidal fabricadas no
aço 27MC5 e sofreram um tratamento de carbo-nitruração. Após tratamento a dureza
superficial é de 58-60 HRC.
Os valores dos parâmetros da recta de Dang-Van [41] são α = 0.987 e β = 827 MPa. Contudo,
é importante salientar que estes resultados foram obtidos a partir de um reduzido número de
ensaios realizados com provetes que não reflectem adequadamente o comportamento das
camadas superficiais carbo-nitruradas e maquinadas dos flancos dos dentes de engrenagens.
As propriedades dos materiais são apresentadas na Tabela 7.1.
O lubrificante considerado é o óleo ELF XT 3556, tipicamente usado em caixas de
velocidades manuais para automóveis. As suas propriedades físicas são apresentadas na
Tabela 7.2. As propriedades reológicas deste lubrificante, necessárias ao cálculo das tensões
de corte no filme lubrificante em regime de filme complecto foram determinadas a partir das
curvas de tracção do lubrificante obtidas em ensaios em máquina de discos.
[234/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Tabela 7.1 – Propriedades dos materiais
Parâmetro Designação Unidade Valor Módulo de elasticidade E1 =E2 GPa 210 Coeficiente de Poison υ1 =υ2 / 0.3 Dureza dos flancos dos dentes HRC1=HRC2 Kgf/mm2 58 – 62
α α1 =α2 / 0.987
β β1 =β2 MPa 827
Tabela 7.2 – Propriedades físicas e reológicas do lubrificante.
Propriedades Designação Unidade Valor Viscosidade Diâmica @ 40ºC ηo Pa.s 0.03825 Coeficiente de piezoviscosidade αη Pa-1 0.114E-7 Coeficiente de termoviscosidade βη ºK-1 0.0268 Módulo de Corte Transversal Go Pa 9E6 Expoente para a pressão em G0 αG Pa-1 0.1E-8 Expoente para a temperatura em G0 βG ºK 2000 Tensão de Corte Limite τL Pa 2.4E7
Expoente para a pressão em τL ατ Pa-1 0.93E-9
Expoente para a temperatura em τL β τ ºK 510 Massa volúmica ρ Kgm-3 850 Condutividade Térmica Kf Wm-1K-1 0.164 Calor mássico Cp JKg-1K-1 460
7.3.2- Condições de funcionamento
As condições de funcionamento, apresentadas na Tabela 7.3, são idênticas para todas as
superfícies, e correspondem às encontradas na zona imediatamente abaixo da linha primitiva
do flanco do dente de uma engrenagem, zona onde prioritariamente, ocorre a avaria de
micropitting geradora de micro-escamas ou pits.
Capítulo 7- Resultados da Modelação [235/366]
Tabela 7.3 – Condições de funcionamento
Parâmetro Designação Unidade Valor Binário aplicado M N.m 170
Velocidade de rotação ω r.p.m 3000 Raio de Curvatura das Superfícies R1 = R2 mm 35 Velocidade de Rolamento VR m/s 6 Taxa de Escorregamento Ve / 0.3
Pressão máxima de Hertz p0 GPa 1,5
Temperatura de Referência T0 ºC 80
7.4- Rugosidade e tensões residuais nos flancos dos dentes de
engrenagens
7.4.1- Rugosidade dos flancos dos dentes de engrenagens
Foram analisadas as rugosidades superficiais dos flancos dos dentes de uma engrenagem,
correspondentes a três processos de fabrico alternativos: a superfície de série (denominada
S1), a superfície rectificada (S2) e a superfície super-rectificada (denominada por S3). Foram
ainda analisadas as superfícies S1 e S3 após rodagem, designadas respectivamente por S1US
e S3US.
Na Figura 7.1 mostram-se os perfis de rugosidade das superfícies analisadas e na Tabela 7.4
apresentam-se os valores de diferentes parâmetros de rugosidade para os cinco perfis de
rugosidade estudados.
[236/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
-2,50
-1,50
-0,50
0,50
1,50
2,50
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20(mm)
(µm)
S1 S1US
-2,50
-1,50
-0,50
0,50
1,50
2,50
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20(mm)
(µm)
S2
-2,50
-1,50
-0,50
0,50
1,50
2,50
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20(mm)
(µm)
S3 S3US
Figura 7.1 - Perfis de rugosidade das superfícies novas e usadas.
Tabela 7.4 – Parâmetros de rugosidade e valores de Λ e fΛ para as superfícies analisadas.
Parâmetro (Unidades)
Superfície Série Nova (S1)
Superfície Série
Usada (S1US)
Superfície Rectificada
Nova (S2)
Superfície Super Rectificada
Nova (S3)
Superfície Super Rectificada
Usada (S3US)
RqC (µm) 0.570 0.462 0.556 0.254 0.108 Rz (µm) 3.294 2.602 2.505 1.613 0.688 ∆a (µm) 38.272 30.099 29.730 52.289 8.466 ∆q (µm) 50.651 47.189 43.695 69.095 17.854
Λ 0.549 0.678 0.562 1.230 2.893 fΛ 0.386 0.653 0.417 0.977 1.000
A função de repartição de carga fΛ tem a forma
Capítulo 7- Resultados da Modelação [237/366]
( )Λ 5.21f =
0.61+ Λ (7.11)
para uma velocidade tangencial no ponto primitivo de 7.5 m/s.
Aplicando esta expressão a cada um dos perfis de rugosidade das superfícies estudadas
obtém-se os valores de fΛ indicados na Tabela 7.4.
7.4.2- Tensões residuais nos flancos dos dentes de engrenagens
Gounet-Lespinasse e Liraut [145] realizaram medições das tensões residuais instaladas nos
dentes das engrenagens. Estas medições foram obtidas nas direcções longitudinal e
transversal, a diferentes profundidades e para os três tipos de superfícies considerados, antes e
após os ensaios de fadiga de contacto realizados no banco de engrenagens.
Na Figura 7.2 representam-se os correspondentes perfis das tensões residuais. As variação das
tensões residuais entre as várias profundidades de medição foi considerada como sendo linear.
São de notar as fortes tensões de compressão medidas no caso da superfície super-rectificada
(S3) que influenciam o risco de iniciação de fissuras de fadiga segundo o critério de Dang-
Van.
Na Tabela 7.5 são apresentados os valores das tensões residuais medidas a cada profundidade,
nas direcções longitudinal e transversal, que são usados na aplicação do critério de fadiga
multiaxial de Dang-Van.
[238/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
-1200
-1000
-800
-600
-400
-200
0
0 10 20 30 40 50 60
Profundidade (µm)
σ lon
g(MPa
)
S1 S2 S3
-1200
-1000
-800
-600
-400
-200
0
0 10 20 30 40 50 60
Profundidade (µm)
σ lon
g(MPa
)
S1US S3US
-1200
-1000
-800
-600
-400
-200
0
0 10 20 30 40 50 60
Profundidade (µm)
σ tra
ns(M
Pa)
S1 S2 S3
-1200
-1000
-800
-600
-400
-200
0
0 10 20 30 40 50 60
Profundidade (µm)
σ tra
ns(M
Pa)
S1US S3US
(a) (b)
Figura 7.2 - Perfil das tensões residuais antes (a) e depois (b) dos ensaios de engrenagens, para os vários
acabamentos de superfície.
Tabela 7.5 – Tensões residuais antes e após os ensaios de fadiga de engrenagens.
Tensão Tensão longitudinal (Mpa) Tensão transversal (Mpa) Profundidade 0 µm 10 µm 30 µm 50 µm 0 µm 10 µm 30 µm 50 µm
S1 -287 -366 -463 -164 -287 -366 -463 -164 S1US -625 -173 -164 -234 -625 -173 -164 -234 S2 -276 -343 -271 -371 -550 -254 -271 -200 S3 -771 -424 -306 -214 -1193 -383 -238 -206 Su
perf
ície
S3US -576 -220 -170 -224 -666 -243 -145 -127
Capítulo 7- Resultados da Modelação [239/366]
7.5- Procedimento de cálculo
Cada perfil de rugosidade corresponde a um comprimento de apalpação de 6000 µm e um
passo de apalpação de 2 µm, discretizado em 3001 pontos de apalpação. Cada caso de
contacto elementar analisado correspondente a 2.4 vezes a semi-largura do contacto Hertziano
(a = 455 µm), isto é 1092 µm, a que correspondem 545 pontos de discretização.
O contacto foi deslocado sobre o perfil de rugosidade com um passo de 50 µm (25 pontos de
discretização), sendo possível definir 99 contactos elementares (99 posições) ao longo de cada
perfil de rugosidade, isto é, ao longo da linha de engrenamento.
Um ciclo completo de carregamento, corresponde à solução de 99 casos de contacto, isto é,
corresponde a 99 soluções de:
• Pressões de contacto em regime limite (Campos [53]) - pLIM;
• Pressões de contacto em regime de filme completo (Ai e Cheng [2-4]) – pEHDR;
• Pressões de contacto em regime misto – ( )Λ ΛMIX EHDR LIM1 - fp = f × p + × p ;
• Tensões de corte em regime limite - τLIM = µLIM x pLIM;
• Tensões de corte em regime de filme completo (Sottomayor [299]) - τEHDR;
• Tensões de corte em regime misto – ( )τ τ τΛ Λ1.2MIX EHDR LIM1 - f= f × + × ;
• Tensor das tensões em cada ponto (Castro [61]) - ⎡ ⎤⎣ ⎦Pσ .
[240/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
As 99 soluções são obtidas sequencialmente e de modo automático, o que implicou a
alteração de vários dos modelos utilizados. No caso das tensões instaladas a discretização na
direcção do interior dos sólidos em contacto (direcção OZ) é feita em 36 pontos separados de
1 µm, o que corresponde a uma profundidade máxima de 35 µm [140-146] e à gama de
profundidades onde tipicamente ocorrem as avarias de micropitting.
O critério de Dang-Van é, então, aplicado ao ciclo de carregamento correspondente a cada
superfície, recorrendo aos 99 casos de contacto e correspondentes tensões instaladas, sendo
determinado ponto a ponto o risco de iniciação de fissuras de fadiga.
Para os pontos da superfície ou sub-superfície que apresentam um risco de fadiga superior a 1,
admite-se a iniciação de uma fissura de fadiga, sendo usada uma função desenvolvida em
MatLab® que permite visualizar a orientação das correspondentes fissuras de fadiga.
7.6- Resultados da modelação
7.6.1- Geometria do filme lubrificante
A Figura 7.3 mostra a geometria não deformada do contacto correspondente a cada um dos
perfis de rugosidade considerados, sendo notórias as diferenças de perfis de rugosidade entre
as superfícies de série (S1), rectificada (S2) e super-rectificadas (S3) e entre perfis novos e
perfis usados, tal como se tinha já observado na Figura 7.1.
Capítulo 7- Resultados da Modelação [241/366]
A Figura 7.4 mostra a geometria deformada do contacto correspondente a cada um dos perfis
de rugosidade considerados. As diferenças observadas no caso dos perfis não deformados,
reflectem-se, obviamente, nos perfis deformados.
As diferenças entre as superfícies superectificadas (S3 e S3US) e as restantes superfícies são
muito importantes como mostra os correspondentes valores de Ra, Λ e fΛ. Em relação à função
de repartição de carga fΛ as superfícies S3 e S3US comportam-se praticamente como
superfícies lisas em regime de filme completo.
7.6.2- Pressões de contacto
A Figura 7.5 apresenta os campos de pressão obtidos para cada superfície nos regimes de
filme limite pLIM e filme completo pEHDR. As diferenças são muito importantes, observando-se
picos de pressão muito elevados e uma redução da área de contacto no caso do regime de
lubrificação limite, e uma distribuição de pressão suave, embora perturbada pela presença da
rugosidade, e uma área de contacto idêntica à definida pela teoria de Hertz no caso do regime
de lubrificação em filme completo.
Os campo de pressões em regime limite e em regime de filme complecto podem ser
entendidos como os “limite superior” e “limite inferior” do campo de pressões real a que
estarão submetidas as superfícies dos dentes da engrenagem em contacto.
[242/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Superfície de série (S1) Superfície de série usada (S1US)
0,00E+00
2,00E-06
4,00E-06
6,00E-06
8,00E-06
1,00E-05
1,20E-05
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20(mm)
(m) Não deformada Superf. lisa
0,00E+00
2,00E-06
4,00E-06
6,00E-06
8,00E-06
1,00E-05
1,20E-05
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20(mm)
(m) Não deformada Superf. lisa
Superfície rectificada (S2)
0,00E+00
2,00E-06
4,00E-06
6,00E-06
8,00E-06
1,00E-05
1,20E-05
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20(mm)
(m) Não deformada Superf. lisa
Superfície RqC (µm) S1 0.570 S1US 0.462 S2 0.556 S3 0.254 S3US 0.108
Superfície super-rectificada (S3) Superfície super-rectificada usada (S3US)
0,00E+00
2,00E-06
4,00E-06
6,00E-06
8,00E-06
1,00E-05
1,20E-05
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20(mm)
(m) Não deformada Superf. lisa
0,00E+00
2,00E-06
4,00E-06
6,00E-06
8,00E-06
1,00E-05
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20(mm)
(m) Não deformada Superf. lisa
Figura 7.3 - Geometria das superfícies lisa e rugosa, não deformadas.
Superfície de série (S1) Superfície de série usada (S1US)
0,00E+00
1,00E-06
2,00E-06
3,00E-06
4,00E-06
5,00E-06
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20(mm)
(m) Deformada Deformada lisa
0,00E+00
1,00E-06
2,00E-06
3,00E-06
4,00E-06
5,00E-06
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20(mm)
(m) Deformada Deformada lisa
Superfície rectificada (S2) Espessura específica do filme lubrificante
0,00E+00
1,00E-06
2,00E-06
3,00E-06
4,00E-06
5,00E-06
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20(mm)
(m) Deformada Deformada lisa
Superfície Λ fΛ S1 0.549 0.386 S1US 0.678 0.653 S2 0.562 0.417 S3 1.230 0.977 S3US 2.893 1.000
Superfície super-rectificada (S3) Superfície super-rectificada usada (S3US)
0,00E+00
1,00E-06
2,00E-06
3,00E-06
4,00E-06
5,00E-06
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20(mm)
(m) Deformada Deformada lisa
0,00E+00
1,00E-06
2,00E-06
3,00E-06
4,00E-06
5,00E-06
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20(mm)
(m) Deformada Deformada lisa
Figura 7.4 - Geometria das superfícies lisa e rugosa, após deformação.
Capítulo 7- Resultados da Modelação [243/366]
Verifica-se que a superfície super rectificada (S3) apresenta picos de pressão mais elevados
do que as superfícies de série (S1) e rectificada (S2) em temos de pressão limite (pLIM), ao
contrário do que eventualmente seria de esperar (ver Tabela da Figura 7.5). Tal resulta do
facto do acabamento de super rectificação gerar um perfil de rugosidade que contém
componentes sinusoidais de muito pequeno comprimento de onda.
Superfície de série (S1)
Superfície de série usada (S1US)
0,00E+00
2,00E+09
4,00E+09
6,00E+09
8,00E+09
1,00E+10
1,20E+10
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
PEHDRPLIMPEHDR
PLIM
0,00E+00
2,00E+09
4,00E+09
6,00E+09
8,00E+09
1,00E+10
1,20E+10
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
PehdrPlim (pa)PEHDR
PLIM
Superfície rectificada (S2)
Pressões máximas
0,00E+00
2,00E+09
4,00E+09
6,00E+09
8,00E+09
1,00E+10
1,20E+10
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
PehdrPlim (pa)PEHDR
PLIM
Superfície LIMmáx
0
pp
EHDRmáx
0
pp
S1 5.06 1.28 S1US 4.40 1.34 S2 6.01 1.46 S3 6.79 1.36 S3US 2.39 1.11
Superfície super-rectificada (S3)
Superfície super-rectificada usada (S3US)
0,00E+00
2,00E+09
4,00E+09
6,00E+09
8,00E+09
1,00E+10
1,20E+10
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
PehdrPlim (pa)PEHDR
PLIM
0,00E+00
2,00E+09
4,00E+09
6,00E+09
8,00E+09
1,00E+10
1,20E+10
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
PehdrPlim (pa)PEHDR
PLIM
.
Figura 7.5 - Campo de pressões seco e de Ai e Cheng para as superfícies novas e usadas.
Embora de pequena amplitude, essas componentes de muito pequeno comprimento de onda
são responsáveis pelos elevados picos de pressão que perturbam os campos de pressões em
[244/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
regime limite e em filme completo (pLIM e pEHDR). Não se deve no entanto esquecer que estes
campos de pressão correspondem a casos limite superior e inferior e não ao caso real
(correspondente ao regime misto).
Superfície de série (S1)
Superfície de série usada (S1US)
0,00E+00
1,00E+09
2,00E+09
3,00E+09
4,00E+09
5,00E+09
6,00E+09
7,00E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
PMIXPMIX
0,00E+00
1,00E+09
2,00E+09
3,00E+09
4,00E+09
5,00E+09
6,00E+09
7,00E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
PmistaPMIX
Superfície rectificada (S2)
Pressões máximas
0,00E+00
1,00E+09
2,00E+09
3,00E+09
4,00E+09
5,00E+09
6,00E+09
7,00E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
PmistaPMIX
Superfície MIXmáx
0
pp
S1 3.58 S1US 2.32 S2 4.12 S3 1.45 S3US 1.11
Superfície super-rectificada (S3)
Superfície super-rectificada usada (S3US)
0,00E+00
1,00E+09
2,00E+09
3,00E+09
4,00E+09
5,00E+09
6,00E+09
7,00E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
PmistaPMIX
0,00E+00
1,00E+09
2,00E+09
3,00E+09
4,00E+09
5,00E+09
6,00E+09
7,00E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
PmistaPMIX
.
Figura 7.6- Campo de pressões em regime misto para as superfícies novas e usadas.
Na Figura 7.6 apresentam-se os campos de pressão obtidos para cada superfície em regime
misto (pMIX), sendo claro que a superfície super rectificada (S3) apresenta um campo de
Capítulo 7- Resultados da Modelação [245/366]
pressões muito menos perturbado do que as outras superfícies novas (S1 e S2). Tal diferença
está relacionada com o valor da espessura específica do filme lubrificante em cada caso
(ΛS1 = 0.55, ΛS2 = 0.56, ΛS3 = 1.23) e com os correspondentes valores da função de repartição
de carga (fΛ,S1 = 0.386, fΛ,S2 = 0.417, fΛ,S3 = 0.977), verificando-se que no caso da superfície
S3 a força normal é quase totalmente suportada pelo filme lubrificante elastohidrodinâmico
enquanto no caso das superfícies S1 e S2 cerca de 60% da força normal é suportada pelo
contacto directo entre os picos de rugosidade.
Também as superfícies usadas (S1US e S3US) mostram reduções muito significativas dos
picos de pressão em regime misto (pMIX), quando comparadas com as respectivas superfícies
novas (S1 e S3). A justificação é idêntica, isto é, durante o funcionamento da engrenagem o
progressivo desgaste da superfície conduz a um diminuição da rugosidade dos flancos dos
dentes (RqC), a um aumento da espessura específica do filme lubrificante (Λ) e da função de
repartição de carga (fΛ), como se pode constatar analisando a tabela da Figura 7.4. Logo, a
carga suportada pelo filme lubrificante aumenta em detrimento da carga suportada pelo
contacto directo entre os picos de rugosidade, o que se traduz numa diminuição da intensidade
dos picos de pressão.
7.6.3- Tensões de corte
A Figura 7.7 mostra as tensões de corte que actuam no contacto em regime de filme limite
(τLIM), as quais são directamente proporcionais às correspondentes pressões em regime limite
(pLIM) de acordo com a lei de Coulomb, isto é, τLIM = µLIM x pLIM. No caso apresentado
µLIM=0.10.
Segundo vários autores [20, 137, 155, 165, 205, 273, 332, 352], o coeficiente de atrito limite
(µLIM) apresenta valores que se situam entre 0.05 e 0.20, dependendo de vários factores,
nomeadamente, a rugosidade das superfícies, as velocidades de rolamento e escorregamento e
[246/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
as características do lubrificante. Não sendo possível definir com exactidão o valor de µLIM
correspondente a cada superfície considerada e para o lubrificante usado, optou-se por realizar
os cálculos para quatro valores diferentes de µLIM , respectivamente, 0.05, 0.10, 0.15 e 0.20.
Como se verificará posteriormente esta incerteza não afecta de modo significativo as
conclusões desta análise.
Na Figura 7.8 apresentam-se as tensões de corte em regime de filme completo, τEHDR . As
tensões de corte em regime de filme completo (τEHDR), para além de serem afectadas pelas
pressões de contacto (pEHDR), dependem fortemente do modelo visco-elasto-plástico de
comportamento reológico do filme lubrificante e do comportamento térmico do contacto que
é bastante complexo e não linear. O campo de pressão na superfície rugosa é mais severo e
origina aquecimentos no interior do contacto mais fortes, o que resulta em tensões de corte
mais baixas relativamente à superfície rodada. Tais comportamentos justificam porque razão
as superfícies usadas (S1US e S3US) apresentam valores máximos das tensões de corte
superiores às correspondentes superfícies novas (S1 e S3).
Capítulo 7- Resultados da Modelação [247/366]
Superfície de série (S1)
Superfície de série usada (S1US)
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03(m)
(Pa)
tauxlimτLIM
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03(m)
(Pa)
tauxlimτLIM
Superfície rectificada (S2)
Tensões de corte máximas
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03(m)
(Pa)
tauxlimτLIM
Superfície LIMmáx
0pτ
µ LIMavg
S1 0.506 0.100 S1US 0.440 0.100 S2 0.601 0.100 S3 0.679 0.100 S3US 0.239 0.100
Superfície super-rectificada (S3)
Superfície super-rectificada usada (S3US)
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03(m)
(Pa)
tauxlimτLIM
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03(m)
(Pa)
tauxlimτLIM
.
Figura 7.7- Tensões de corte em regime limite para as superfícies novas e usadas (µLIM = 0.10).
A comparação das Figuras 7.7 e 7.8, mostra claramente que as tensões de corte em regime de
filme completo são, no mínimo, uma ordem de grandeza inferiores às tensões de corte em
regime limite, o que está de acordo com os valores típicos dos coeficientes de atrito médios
observados para estes dois regimes, isto é, 0.05 < µLIM < 0.20 e 0.005 < µEHDR < 0.05 (ver
Tabelas das figuras 7.7 e 7.8).
[248/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Superfície de série (S1)
Superfície de série usada (S1US)
0,00E+00
1,00E+07
2,00E+07
3,00E+07
4,00E+07
5,00E+07
6,00E+07
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
tauxehdrτEHDR
0,00E+00
1,00E+07
2,00E+07
3,00E+07
4,00E+07
5,00E+07
6,00E+07
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
tauxehdrτEHDR
Superfície rectificada (S2)
Tensões de corte máximas
0,00E+00
1,00E+07
2,00E+07
3,00E+07
4,00E+07
5,00E+07
6,00E+07
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
tauxehdrτEHDR
Superfície EHDRmáx
0pτ
µ EHDRavg
S1 0.0316 0.0235 S1US 0.0361 0.0304 S2 0.0340 0.0262 S3 0.0307 0.0215 S3US 0.0389 0.0323
Superfície super-rectificada (S3)
Superfície super-rectificada usada (S3US)
0,00E+00
1,00E+07
2,00E+07
3,00E+07
4,00E+07
5,00E+07
6,00E+07
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
tauxehdrτEHDR
0,00E+00
1,00E+07
2,00E+07
3,00E+07
4,00E+07
5,00E+07
6,00E+07
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
tauxehdrτEHDR
.
Figura 7.8- Tensões de corte em regime de filme completo para as superfícies novas e usadas.
Nas Figuras 7.9 a 7.12, apresentam-se as tensões de corte em regime misto (τMIX) para cada
uma das superfícies e para os quatro valores do coeficiente de atrito limite (µLIM - 0.05, 0.10,
0.15 e 0.20) considerados.
Capítulo 7- Resultados da Modelação [249/366]
A comparação entre as Figuras 7.9 a 7.12 mostra, claramente, que as tensões de corte em
regime misto (τMIX) aumentam significativamente à medida que o coeficiente de atrito limite
aumenta, sobretudo no caso das superfícies S1, S1US e S2.
No caso das superfícies S3 e S3US tal não se observa, uma vez que para estas superfícies o
valor da função de repartição de carga (fΛ) é igual a 1, o que significa que a carga tangencial
absorvida pelo contacto directo entre os picos de rugosidade (regime limite) é muito reduzido
ou mesmo nulo.
Superfície de série (S1) Superfície de série usada (S1US)
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
Superfície rectificada (S2) Tensões de corte máximas
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
Superfície MIXmáx
0pτ
µ MIXavg
S1 0.1640 0.0382 S1US 0.0934 0.0355 S2 0.1850 0.0383 S3 0.0355 0.0220 S3US 0.0389 0.0323
Superfície super-rectificada (S3) Superfície super-rectificada usada (S3US)
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
Figura 7.9- Tensões de corte em regime misto (µLIM = 0.05) para as superfícies novas e usadas.
[250/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
As tensões de corte suportadas pela superfície S1 são em geral ligeiramente inferiores às
suportadas pela superfície S2 (ver Figuras 7.9 a 7.12) o que é devido ao facto desta superfície
suportar menor carga tangencial em regime limite, tendo em atenção que
( )1.2MIX EHDR LIM1 - f= f +τ τ τΛ Λ⋅ ⋅
e
(1 - fΛ,S2) = 0.583 < (1 - fΛ,S1) = 0.614
Superfície de série (S1) Superfície de série usada (S1US)
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
Superfície rectificada (S2) Tensões de corte máximas
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03(m)
(Pa)
TAUXmist
τMIX
Superfície τ MIX
máx
Hp µ MIX
avg
S1 0.319 0.0689 S1US 0.170 0.0528 S2 0.360 0.0675 S3 0.0413 0.0232 S3US 0.0389 0.0323
Superfície super-rectificada (S3) Superfície super-rectificada usada (S3US)
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmist
τMIX
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
Figura 7.10- Tensões de corte em regime misto (µLIM = 0.10) para as superfícies novas e usadas.
Capítulo 7- Resultados da Modelação [251/366]
Observa-se algo de análogo mas mais significativo quando se comparam entre si as superfíces
S1 e S1US, qualquer que seja o valor de µLIM considerado.
Superfície de série (S1)
Superfície de série usada (S1US)
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
Superfície rectificada (S2)
Tensões de corte máximas
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
Superfície MIXmáx
0pτ
µ MIXavg
S1 0.474 0.0995 S1US 0.246 0.0701 S2 0.536 0.0967 S3 0.0493 0.0244 S3US 0.0389 0.0323
Superfície super-rectificada (S3)
Superfície super-rectificada usada (S3US)
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
.
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
Figura 7.11- Tensões de corte em regime misto (µLIM = 0.15) para as superfícies novas e usadas.
Refira-se, finalmente, que no caso das superfícies S1 e S2, as tensões de corte em regime
misto (τMIX) atingem em vários pontos da superfície valores muito elevados, da ordem dos
600 MPa (ver Figura 7.11 para µLIM = 0.15), o que é um valor extremamente elevado com
consequências nefastas ao nível da resistência à fadiga da superfície.
[252/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Superfície de série (S1)
Superfície de série usada (S1US)
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
Superfície rectificada (S2)
Tensões de corte máximas
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
Superfície MIXmáx
0pτ
µ MIXavg
S1 0.629 0.1302 S1US 0.322 0.0874 S2 0.711 0.1258 S3 0.057 0.0256 S3US 0.039 0.0323
Superfície super-rectificada (S3)
Superfície super-rectificada usada (S3US)
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
.
0,00E+00
2,00E+08
4,00E+08
6,00E+08
8,00E+08
1,00E+09
1,20E+09
0,00E+00 2,00E-04 4,00E-04 6,00E-04 8,00E-04 1,00E-03 1,20E-03
(m)
(Pa)
TAUXmitτMIX
Figura 7.12- Tensões de corte em regime misto (µLIM = 0.20) para as superfícies novas e usadas.
Capítulo 7- Resultados da Modelação [253/366]
7.6.4- Tensões no interior dos sólidos em contacto (para µLIM = 0.15)
Conhecidos os campos de pressões (pMIX) e de tensões de corte (τMIX) superficiais, em regime
misto de lubrificação, é possível determinar o tensor das tensões em qualquer ponto da
superfície ou do interior dos sólidos em contacto. Uma vez obtido o tensor das tensões podem
calcular-se as correspondentes tensões equivalentes, nomeadamente, a tensão de corte
máxima (τMÁX), segundo o critério de Tresca, e a tensão de corte octaédrica (τOCT), segundo o
critério de Von-Mises.
Nas Figuras 7.13, 7.14 e 7.15 apresentam-se, respectivamente, a tensão principal máxima
(σ1), a tensão principal mínima (σ3) e a tensão de corte ortogonal, adimensionalizadas em
relação à pressão máxima de Hertz, em cada ponto do interior do sólido, para todas as
superfícies e para um valor do coeficiente de atrito limite (µLIM) de 0.15.
Na Figura 7.16 apresenta-se a tensão de corte máxima adimensionalizada em relação à
pressão máxima de Hertz (τMÁX/p0) em cada ponto do interior do sólido, para todas as
superfícies e para um valor do coeficiente de atrito limite (µLIM) de 0.15.
Verifica-se, que quer a sub-superfície S1 quer a sub-superfície S2 apresentam valores da
tensão de corte máxima (τMÁX) extremamente elevados e significativamente superiores aos da
sub-superfície S3, o que é de esperar tendo em atenção os campos de pressões (pMIX) e de
tensões de corte (τMIX) a que estavam submetidas cada uma das correspondentes superfícies
(ver Figuras 7.6 e 7.11). As sub-superfícies S1US e S3US exibem valores da tensão de corte
máxima (τMÁX) bastante inferiores aos das correspondentes superfícies novas S1 e S3.
Na Figura 7.14 apresenta-se a tensão de corte octaédrica (τOCT) em cada ponto do interior do
sólido, para todas as superfícies e para um valor do coeficiente de atrito limite (µLIM) de 0.15.
[254/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Os valores correspondentes à superfície S3US podem ser considerados como os
correspondentes ao contacto liso equivalente e ser usados como valores de referência. No caso
da superfície S3 os valores das tensões adimensionais τmax e τoct à superfície (ou próximo) são
muito idênticos aos obtidos para profundidades de 0.7za
(superfície lisa). Nestes casos, em
que o nível à superfície e interior são próximos, o critério de Dang–Van poderia ser aplicado
em profundidade, de forma a estudar os riscos de iniciação de fissuras de fadigas, em zonas
aonde não ocorre micropitting.
Capítulo 7- Resultados da Modelação [255/366]
Superfície de série (S1) Superfície de série usada (S1US)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-0.0
8-0
.04
0
0
0.04
0.08
490 495 500 505 510 515 520 525 530 535 540 545
2
4
6
8
10
12
14
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
Superfície rectificada (S2) Tensões de tracção principais máximas
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-0.7-0.5
-0.3
-0.1 -0.1
470 472 474 476 478 480 482 484 486 488 490
2
4
6
8
10
12
14
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
Localização Superfície 0
Valor da tensãop
x/a z/a
S1 0.17 1.003 0 S1US 0.12 1.003 0 S2 0.31 0.898 0 S3 0.04 1.034 0 S3US 0.05 1.003 0
Superfície super-rectificada (S3) Superfície super-rectificada usada (S3US)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-0.15
-0.1
2
-0.09 -0.06
- 0.0
30
0
0.03
490 495 500 505 510 515 520 525 530 535 540 545
2
4
6
8
10
12
14
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
Figura 7.13- Tensão principal máxima adimensional (σ1/p0) no interior dos sólidos em contacto
(µLIM=0.15).
(µm)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0
0
0.02
0.02
0.04
0.04
0.06
0.06
0.08
0.08
0.1
0.10.12
0.14
490 495 500 505 510 515 520 525 530 535 540 545
2
4
6
8
10
12
14
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
(µm)
(µm*0.5) (µm*0.5)
(µm)
(µm*0.5)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.18
-0.14
-0.1-0.06
-0. 0
2 0.02
490 495 500 505 510 515 520 525 530 535 540 545
2
4
6
8
10
12
14
-5
-4
-3
-2
-1
0
1(µm)
(µm*0.5)
(µm)
(µm*0.5)
[256/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Superfície de série (S1) Superfície de série usada (S1US)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-3.3-3.1-2.9-2.7 -2.5
-2.3
-2.3
-2.1 -2.1-1.9
-1.9 -1
-1.7
-1.7
-1.7
-1.5
-1.5-1.3
-1.1
215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225
2
4
6
8
10
12
14
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-2-1.75 -1.7
5
-1.5
-1. 5
-1.25
-1. 25
-1.25
-1
-1
240 242 244 246 248 250 252 254 256 258 260
2
4
6
8
10
12
14
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
Superfície rectificada (S2) Tensões de compressão principais máximas
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-3-2.5
-2.5-2
-2-1. 5
-1.5
-1 -1
300 302 304 306 308 310 312 314 316 318 320
2
4
6
8
10
12
14
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
Localização Superfície 0
Valor da tensãop x/a z/a
S1 -4.08 -0.232 0 S1US -2.53 -0.114 0
S2 -4.74 0.140 0 S3 -1.52 -0.385 0
S3US -1.15 0.289 0
Superfície super-rectificada (S3) Superfície super-rectificada usada (S3US)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-1.3-1
-1
-1 -1 -1
-1
180 182 184 186 188 190 192 194 196 198 200
2
4
6
8
10
12
14
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-1.1 -1.05
-1 - 1
- 1
-1
-0.9
5
-0. 9
5
-0. 95
-0.9
5
-0.9
-0.9 -0
.9
-0.9
330 332 334 336 338 340 342 344 346 348 350
2
4
6
8
10
12
14
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
Figura 7.14- Tensão principal mínima adimensional (σ3/p0) no interior dos sólidos em contacto
(µLIM=0.15).
(µm)
(µm*0.5)
(µm) (µm)
(µm)
(µm)
(µm*0.5) (µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm*0.5)
Capítulo 7- Resultados da Modelação [257/366]
Superfície de série (S1) Superfície de série usada (S1US)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-0.5
-0.5
-0.4
-0.4
-0.4
-0.3
-0.3
-0.2
-0.2
-0.1
-0.1
0
00
0.1
0.1
0.1
0.10.1
0.2 0.2
0.2
0.2 0.2
0.2
0.2
0.3
0.3 0.3
0.3
0.3
0.30.
30.30.3
0.4
0.4
0.4
0.5
0.5
0.6
160 162 164 166 168 170 172 174 176 178 180
2
4
6
8
10
12
14
-1
-0.5
0
0.5
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-0.1
-0.1
0
0
0
0
0. 1
0.1
0.1
0.1
0.1
0.2 0.2 0.2
0.3
240 242 244 246 248 250 252 254 256 258 260
2
4
6
8
10
12
14
-1
-0.5
0
0.5
1
Superfície rectificada (S2) Tensões de corte ortogonais máximas
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-0.3
-0.2
-0.2
-0. 1
-0.1
- 0.1
0
0
0
0.1
0.1
0.1
0.2 0.2
0.2
0.3
0.30.4
0.4
0.50.5
0.6 0.7
75 80 85 90 95
2
4
6
8
10
12
14
-1
-0.5
0
0.5
1
Localização Superfície 0
Valor da tensãop
x/a z/a
S1 0.69 -0.451 0.004S1US 0.36 -0.118 0.004S2 0.76 -0.837 0.004S3 0.19 -0.788 0.004S3US 0.13 0.285 0.004
Superfície super-rectificada (S3) Superfície super-rectificada usada (S3US)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
-0.05
-0.05
0
0
0
0.05
0.05
0.05
0.05
0.05
0.1
0.15
80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 100
2
4
6
8
10
12
14
-1
-0.5
0
0.5
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
00
0
0 0.05
0.05
0.05
0.1
330 332 334 336 338 340 342 344 346 348 350
2
4
6
8
10
12
14
-1
-0.5
0
0.5
1
Figura 7.15- Tensão de corte ortogonal adimensional (τxz/p0) no interior dos sólidos em contacto
(µLIM=0.15).
(µm)
(µm*0.5)
(µm) (µm)
(µm)
(µm)
(µm*0.5) (µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm*0.5)
[258/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Superfície de série (S1) Superfície de série usada (S1US)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2 0.2
3
0.3
0.3
0.4
0.4
0.4
0.4
0.4 0.4
0
0.5
0.5
0.50.5
0.5 0.5
0.60.6
0.6
0.7 0.8
210 212 214 216 218 220 222 224 226 228 230
2
4
6
8
10
12
14
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
140.2
0.3
0.3
0.3 0.30.
4
0.40.5
240 242 244 246 248 250 252 254 256 258 260
2
4
6
8
10
12
14
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
Superfície rectificada (S2) Tensões de corte máximas
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.4
0.4
0.6 0.6
0.8
1
295 300 305 310 315
2
4
6
8
10
12
14
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
Localização Superfície
MÁXmax
0pτ x/a z/a
S1 0.96 -0.232 0 S1US 0.58 -0.114 0 S2 1.11 0.140 0 S3 0.32 -0.385 0.002 S3US 0.25 0.289 0.004
Superfície super-rectificada (S3) Superfície super-rectificada usada (S3US)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.24
0.24
0.24
0.24
0.3
180 182 184 186 188 190 192 194 196 198 200
2
4
6
8
10
12
14
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.18
0.18
0.2
0.2 0.2
0.2
0.20.22
0.22
0.22
0.22
0.24
330 332 334 336 338 340 342 344 346 348 350
2
4
6
8
10
12
14
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
Figura 7.16- Tensão de corte máxima adimensional (τmax/p0) no interior dos sólidos em contacto
(µLIM=0.15).
(µm)
(µm*0.5)
(µm) (µm)
(µm)
(µm)
(µm*0.5) (µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm*0.5)
Capítulo 7- Resultados da Modelação [259/366]
Superfície de série (S1) Superfície de série usada (S1US)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.10.20.20.3
0.3
0.30.3
0.3
0.3
0.30.4
0.4
0.4
0.4
0.5
0.5 0.50.6
0.6
0.6
0.7
270 272 274 276 278 280 282 284 286 288 290
2
4
6
8
10
12
14
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.20.30.4
240 242 244 246 248 250 252 254 256 258 260
2
4
6
8
10
12
14
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
Superfície rectificada (S2) Tensões de corte octaédricas máximas
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.2
0.2 0.4
0.6 0.
8
290 292 294 296 298 300 302 304 306 308 310
2
4
6
8
10
12
14
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
Localização Superfície
MÁXoct
0pτ x/a z/a
S1 0.79 0.044 0 S1US 0.49 -0.114 0.002S2 0.98 0.140 0.002S3 0.28 -0.385 0 S3US 0.21 0.289 0
Superfície super-rectificada (S3) Superfície super-rectificada usada (S3US)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.18
0.18
0.18
0.21 0. 21 0.
21
0.21
0.24
180 182 184 186 188 190 192 194 196 198 200
2
4
6
8
10
12
14
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.16
0.18
0.18
0. 18
0.2
330 332 334 336 338 340 342 344 346 348 350
2
4
6
8
10
12
14
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
Figura 7.17- Tensão de corte octaédrica adimensional (τoct/p0) no interior dos sólidos em contacto
(µLIM=0.15).
(µm)
(µm*0.5)
(µm) (µm)
(µm)
(µm)
(µm*0.5) (µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm*0.5)
[260/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
7.6.5- Aplicação do Critério de Fadiga Multiaxial de Dang-Van
Na aplicação do Critério de Fadiga Multiaxial de Dang-Van para determinação do risco de
iniciação de fissuras de fadiga, foram considerados os seguintes casos:
• As cinco superfícies anteriormente referidas, S1, S1US, S2, S3 e S3US;
• Os quatro valores possíveis do coeficiente de atrito limite (µLIM), isto é, 0.05, 0.10,
0.15 e 0.20, anteriormente considerados;
• Quatro valores possíveis para β, isto é, 500, 600, 700 e 800 [MPa];
• A presença ou não de tensões residuais [σRES], nas superfícies e sub-superfícies.
Foram considerados vários valores para o coeficiente de atrito limite (µLIM) já que não há
garantia do valor correcto a considerar para cada superfície. O mesmo se aplica ao valor de β
como foi anteriormente referido.
A determinação da função de repartição de carga fΛ, do coeficiente de atrito limite (µLIM) e da
resistência da superfície β, implica uma correlação com resultados experimentais resultantes
de ensaios de micropitting em engrenagens, o que certamente obrigará à realização de uma
longa e extensa campanha experimental.
No entanto, o facto de serem conhecidos valores de referência para estes parâmetros permite
realizar um varrimento na vizinhança de tais valores, obtendo-se uma caracterização muito
precisa sobre a sua influência no comportamento à fadiga de contacto dos flancos dos dentes
de engrenagens.
Capítulo 7- Resultados da Modelação [261/366]
A Tabela 7.7 mostra o número de pontos de iniciação de fissuras de fadiga (NIF)
determinados para cada superfície em função do coeficiente de atrito limite (µLIM), de β e da
presença ou não de tensões residuais [σRES]. A análise da Tabela 7.7 permite, de imediato,
estabelecer algumas considerações interessantes:
1. Só ocorre iniciação de fissuras de fadiga nas superfícies novas S1 e S2, onde os
valores de rugosidade inicial são consideráveis (Rq = 0.56 µm);
2. A superfície S3 e as superfícies usadas (ou rodadas) S1US e S3US têm um risco de
iniciação de fissuras de fadiga muito baixo;
3. Na presença de tensões residuais e para β ≥ 700 MPa, o risco de iniciação de fissuras
de fadiga é nulo em todas as superfícies e qualquer que seja o valor do coeficiente de
atrito limite.
Tabela 7.7 - Número de pontos de iniciação de fissuras de fadiga (NIF) em cada superfície.
[262/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
No caso das superfícies S1 e S2 podem ainda ser estabelecidas algumas considerações
adicionais (ver Tabela 7.7 e Figuras 7.18, 7.19, 7.20 e 7.21):
4. À medida que aumenta o coeficiente de atrito limite (µLIM) aumenta também o
número de pontos de iniciação de fissuras de fadiga, para β ≤ 600 MPa , quer se
considerem ou não as tensões residuais (ver Figuras 7.18, 7.19 e 7.20);
5. À medida que aumenta a resistência da superfície (β) diminiu, drasticamente, o
número de pontos de iniciação de fissuras de fadiga, quer se considerem ou não as
tensões residuais (ver Figura 7.21);
6. Para β ≥ 700 MPa, a influência do coeficiente de atrito limite (µLIM) só se faz sentir
na ausência tensões residuais [σRES] (ver Tabela 7.7);
7. A presença de tensões residuais [σRES] provoca uma diminuição drástica do número
de pontos de iniciação de fissuras de fadiga (ver Figuras 7.20 e 7.21).
Nº de Pontos de Iniciação de Fissuras de Fadiga - Sem Tensões Residuais
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20
Coeficiente de Atrito Limite
S1-500
S2-500
Nº de Pontos de Iniciação de Fissuras de Fadiga - Sem Tensões Residuais
0
5
10
15
20
25
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20Coeficiente de Atrito Limite
S1-600
S1-700
S2-600
S2-700
Figura 7.18- Nº de pontos de iniciação de fissuras de fadiga para as superfícies S1 e S2, na ausência de
tensões residuais e para β igual a 500, 600 e 700 MPa.
Capítulo 7- Resultados da Modelação [263/366]
Nº de Pontos de Iniciação de Fissuras de Fadiga (NIF) - Com Tensões Residuais
0
2
4
6
8
10
12
14
16
0.00 0.05 0.10 0.15 0.20Coeficiente de Atrito Limite
S1-500
S1-600
S2-500
S2-600
Figura 7.19- Nº de pontos de iniciação de fissuras de fadiga para as superfícies S1 e S2, na presença de
tensões residuais e para β igual a 500 e 600 MPa.
Nº de Pontos de Iniciação de Fissuras de Fadiga (NIF) - Sem e Com Tensões Residuais
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0.00 0.05 0.10 0.15 0.20Coeficiente de Atrito Limite
S1-500 s/ TR
S1-500 c/ TR
S2-500 s/ TR
S2-500 c/ TR
Figura 7.20- Nº de pontos de iniciação de fissuras de fadiga para as superfícies S1 e S2, para β igual a 500
MPa: Influência das tensões residuais.
[264/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Nº de Pontos de Iniciação de Fissuras de Fadiga (NIF) - sem e com Tensões Residuais
1
10
100
500 600 700 800 β [MPa]
S1 - s/TR
S1 - c/TR
S2 - s/TR
S2 - c/TR
Figura 7.21- Nº de pontos de iniciação de fissuras de fadiga para as superfícies S1 e S2, para µLIM igual a
0.20: Influência de β e das tensões residuais.
Na Figura 7.21 está sintetizada a influência de β sobre o nº de pontos de iniciação de fissuras
de fadiga (NIF), para as superfícies S1 e S2. À medida que β aumenta o NIF diminiu
significativamente, na presença ou não de tensões residuais e para qualquer uma das
superfícies.
A Figura 7.21 mostra também que existe alguma proporcionalidade entre o logaritmo decimal
do nº de pontos de iniciação de fissuras de fadiga (NIF) e o inverso de β, isto é,
( ) ⎛ ⎞⎜ ⎟⎝ ⎠
∝ −101log NIFβ
,
quer se considerem ou não as tensões residuais.
8. Finalmente, verifica-se que, na presença de tensões residuais, o comportamento das
superfícies S1 e S2, em termos do número de pontos de iniciação de fissuras de fadiga,
é muito semelhante, como mostram as Figuras 7.20 e 7.21.
Capítulo 7- Resultados da Modelação [265/366]
Na Figura 7.22 mostra-se a localização dos pontos de iniciação de fissuras de fadiga (cor
vermelha), na superfície e na sub-superfície (Z ≤ 15µm), para µLIM = 0.15, β = 500 MPa e
para as cinco superfícies estudadas, na presença de tensões residuais e numa escala de 0.2 a 1.
É notório que as superfícies S1US, S3 e S3US, não apresentam qualquer ponto de iniciação de
fadiga, enquanto nas superfícies S1 e S2 as zonas de iniciação de fadiga podem ocorrer até
uma profundidade entre 10 a 12 µm.
Na Figura 7.23 apresenta-se um resultado obtido nas mesmas condições da Figura 7.22,
(Z ≤ 15µm, µLIM = 0.15, β = 500 MPa), mas agora na ausência de tensões residuais. Em
relação às superfícies S1US, S3 e S3US a situação mantém-se, não ocorrendo nenhum ponto
de iniciação de fissuras fadiga. Já no que diz respeito às superfícies S1 e S2 observa-se um
aumento muito importante das zonas onde ocorre iniciação de fissuras, atingindo, nalguns
casos, uma profundidade superior à analisada (Z ≤ 15µm) [140-146].
A comparação entre as Figuras 7.22 e 7.23 mostra, claramente, a importância das tensões
residuais de compressão, da super-rectificação (superfície S3) e da rodagem (superfícies
S1US e S3US), sobre a iniciação de fissuras de fadiga.
Nas Figuras 7.24 e 7.25 comparam-se as superfícies S1 e S2, para Z ≤ 15µm e µLIM = 0.15, na
presença ou não de tensões residuais, e para todos os valores de β (500 MPa ≤ β ≤ 800 MPa).
Tal como na Figura 7.21, à medida que β aumenta, diminiu significativamente a zona de
iniciação de fissuras de fadiga, mais na superfície S1 do que na superfície S2, atingindo cada
vez uma menor profundidade, independentemente da presença ou não de tensões residuais.
Note-se, no entanto, que para β = 500 MPa e β = 600 MPa, mesmo na presença de tensões
residuais, as zonas de iniciação de fissuras de fadiga são numerosas, atingindo uma
profundidade da ordem de 10 µm.
Nas Figuras 7.26 e 7.27 comparam-se as superfícies S1 e S2, para Z ≤ 15µm e β = 600 MPa,
na presença ou não de tensões residuais, e para todos os valores de µLIM (0.05, 0.10, 0.15 e
[266/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
0.20). Tal como nas Figuras 7.18, 7.19 e 7.20, à medida que µLIM aumenta, também aumenta a
zona de iniciação de fissuras de fadiga, mais na superfície S2 do que na superfície S1,
atingindo cada vez uma maior profundidade, independentemente da presença ou não de
tensões residuais.
Superfície de série (S1)
Superfície de série usada (S1US)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Superfície rectificada (S2)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Superfície super-rectificada (S3)
Superfície super-rectificada usada (S3US)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Figura 7.22- Zonas de iniciação de fissuras de fadiga (micropitting) segundo o critério de Dang-Van,
considerando as tensões residuais instaladas (µLIM = 0.15, β = 500 MPa).
(µm)
(µm)
(µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm)
(µm*0.5)
(µm)
(µm*0.5)
(µm)
Capítulo 7- Resultados da Modelação [267/366]
Superfície de série (S1)
Superfície de série usada (S1US)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Superfície rectificada (S2)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Superfície super-rectificada (S3)
Superfície super-rectificada usada (S3US)
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
.
Figura 7.23- Zonas de iniciação de fissuras de fadiga (micropitting) segundo o critério de Dang-Van, não
considerando as tensões residuais instaladas (µLIM=0.15, β=500MPa).
(µm) (µm)
(µm) (µm)
(µm*0.5) (µm*0.5)
(µm*0.5) (µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm)
[268/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Superfície de série (S1), β = 500 MPa Superfície rectificada (S2) , β = 500 MPa
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Superfície de série (S1), β = 600 MPa Superfície rectificada (S2) , β = 600 MPa
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Superfície de série (S1), β = 700 MPa Superfície rectificada (S2) , β = 700 MPa
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
. 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Superfície de série (S1), β = 800 MPa Superfície rectificada (S2) , β = 800 MPa
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Figura 7.24- Zonas de iniciação de fissuras de fadiga (micropitting) segundo o critério de Dang-Van,
considerando as tensões residuais instaladas (µLIM=0.15).
(µm)
(µm)
(µm)
(µm) (µm)
(µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm*0.5) (µm*0.5)
(µm)
(µm*0.5)
(µm)
(µm*0.5)
(µm)
(µm*0.5)
Capítulo 7- Resultados da Modelação [269/366]
Superfície de série (S1), β = 500 MPa Superfície rectificada (S2), β = 500 MPa
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Superfície de série (S1), β = 600 MPa Superfície rectificada (S2), β = 600 MPa
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Superfície de série (S1), β = 700 MPa Superfície rectificada (S2), β = 700 MPa
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
. Superfície de série (S1), β = 800 MPa Superfície rectificada (S2), β = 800 MPa
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Figura 7.25- Zonas de iniciação de fissuras de fadiga (micropitting) segundo o critério de Dang-Van, não
considerando as tensões residuais instaladas (µLIM=0.15).
(µm)
(µm)
(µm) (µm)
(µm)
(µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm*0.5) (µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm)
(µm*0.5)
(µm)
(µm*0.5)
(µm)
(µm*0.5)
[270/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Superfície de série (S1), µLIM = 0.05 Superfície rectificada (S2), µLIM = 0.05
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Superfície de série (S1), µLIM = 0.10 Superfície rectificada (S2), µLIM = 0.10
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Superfície de série (S1), µLIM = 0.15 Superfície rectificada (S2), µLIM = 0.15
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
. Superfície de série (S1), µLIM = 0.20 Superfície rectificada (S2), µLIM = 0.20
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Figura 7.26- Zonas de iniciação de fissuras de fadiga (micropitting) segundo o critério de Dang-Van,
considerando as tensões residuais instaladas (β = 600 MPa).
(µm)
(µm) (µm)
(µm) (µm)
(µm*0.5) (µm*0.5)
(µm*0.5) (µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm)
(µm*0.5)
(µm)
(µm*0.5)
(µm)
Capítulo 7- Resultados da Modelação [271/366]
Superfície de série (S1), µLIM = 0.05 Superfície rectificada (S2), µLIM = 0.05
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Superfície de série (S1), µLIM = 0.10 Superfície rectificada (S2), µLIM = 0.10
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Superfície de série (S1), µLIM = 0.15 Superfície rectificada (S2), µLIM = 0.15
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
. Superfície de série (S1), µLIM = 0.20 Superfície rectificada (S2), µLIM = 0.20
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
2
4
6
8
10
12
14
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Figura 7.27- Zonas de iniciação de fissuras de fadiga (micropitting) segundo o critério de Dang-Van, não
considerando as tensões residuais instaladas (β = 600 MPa).
(µm) (µm)
(µm)
(µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm*0.5) (µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm*0.5)
(µm)
(µm)
(µm*0.5)
(µm)
(µm*0.5)
(µm)
(µm)
[272/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
7.6.6- Análise de alguns pontos de iniciação de fissuras de fadiga
Neste parágrafo efectua-se a análise de alguns pontos de iniciação de fisuras de fadiga das
superfícies de série (S1) e rectificada (S2), as únicas onde ocorrem iniciação de fissuras de
fadiga.
Para cada ponto considerado calcula-se a relação máx
hyd
τβ - α p⋅
mais desfavorável ao longo do
ciclo de carregamento aplicado, ocorrendo a iniciação de uma fissura de fadiga segundo o
critério de Dang-Van quando essa relação for igual ou superior a 1. O valor desta relação
depende, como se verificou, do valor do coeficiente de atrito limite (µLIM) e da resistência do
material (β). De uma maneira geral a zona de iniciação de fissuras de fadiga aumenta à
medida que aumenta o coeficiente de atrito limite (µLIM) e que diminui o valor de β.
As Figuras 7.28 e 7.29 apresentam o diagrama de Dang-Van correspondentes a cada ciclo de
carregamento para os pontos de abcissa x= 172 (0.342 mm) e x=304 (0.606 mm) para as
superfícies de série (S1) e rectificada (S2), respectivamente, e situados à profundidade de Z
=1 (Z=0 µm - pontos da superfície), considerando ou não a inclusão de tensões residuais e
para um coeficiente de atrito limite (µLIM) igual a 0.15 e β igual a 500 MPa. As Figuras 7.30 e
7.31 apresentam o historial das tensões para esses mesmos pontos .
Capítulo 7- Resultados da Modelação [273/366]
Superfície de série (S1)
0.00E+00
1.00E+09
2.00E+09
3.00E+09
4.00E+09
5.00E+09
6.00E+09
-6.00E+09 -5.00E+09 -4.00E+09 -3.00E+09 -2.00E+09 -1.00E+09 0.00E+00 1.00E+09
Pressão hidroestática
τmáx
Taumax
Recta DV
Taumax
Figura 7.28- Diagramas de Dang-Van para o ponto x=172, z=1 da superfície de série (S1): a vermelho-
ciclo de Dang-Van não considerando as tensões residuais, a azul- ciclo de Dang-Van
considerando as tensões residuais (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa).
Superfície rectificada (S2)
0.00E+00
1.00E+09
2.00E+09
3.00E+09
4.00E+09
5.00E+09
6.00E+09
-6.00E+09 -5.00E+09 -4.00E+09 -3.00E+09 -2.00E+09 -1.00E+09 0.00E+00 1.00E+09
Pressão hidroestática
τmax
Taumax
Recta DV
Taumax
Figura 7.29- Diagrama de Dang-Van para o ponto x=304, z=1 da superfície rectificada (S2) : a vermelho-
ciclo de Dang-Van não considerando as tensões residuais, a azul- ciclo de Dang-Van
considerando as tensões residuais (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa).
max
RESsem στ⎡ ⎤⎣ ⎦
max
REScom στ⎡ ⎤⎣ ⎦
max
REScom στ⎡ ⎤⎣ ⎦
max
RESsem στ⎡ ⎤⎣ ⎦
[274/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Superfície de série (S1)
-1,00E+10
-5,00E+09
0,00E+000 10 20 30 40 50
numero caso
σxx (Pa)
sxxσxx
Superfície de série (S1)
-1,00E+10
-5,00E+09
0,00E+000 10 20 30 40 50
numero caso
σzz (Pa)
szzσzz
Superfície de série (S1)
-1,00E+10
-5,00E+09
0,00E+000 10 20 30 40 50
numero caso
σyy (Pa)
syyσyy
Superfície de série (S1)
-2,00E+080,00E+002,00E+084,00E+086,00E+088,00E+08
0 10 20 30 40 50
numero caso
τxz (Pa)
txzτxz
Superfície rectificada (S2)
-1,00E+10
-5,00E+09
0,00E+000 10 20 30 40 50
numero caso
σxx (Pa)
sxxσxx
Superfície rectificada (S2)
-1,00E+10
-5,00E+09
0,00E+000 10 20 30 40 50
numero caso
σzz (Pa)
szzσzz
Superfície rectificada (S2)
-1,00E+10
-5,00E+09
0,00E+000 10 20 30 40 50
numero caso
σyy (Pa)
syyσyy
Superfície rectificada (S2)
-2,00E+080,00E+002,00E+084,00E+086,00E+088,00E+081,00E+09
0 10 20 30 40 50numero caso
τxz (Pa)
txzτxz
Figura 7.30- Histórico das tensões σx, σy, σz e τxz para o ponto x=172, z=1 da superfície de série (S1),
considerando ou não a inclusão das tensões residuais (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa).
Figura 7.31- Histórico das tensões σx, σy, σz e τxz para o ponto x=304, z=1 da superfície rectificada (S2),
considerando ou não a inclusão das tensões residuais (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa).
Carregamento nº Carregamento nº
Carregamento nº Carregamento nº
Carregamento nº Carregamento nº
Carregamento nº Carregamento nº
Capítulo 7- Resultados da Modelação [275/366]
As Figuras 7.32 e 7.33 representam as rugosidades compostas, o campo de pressões normais e
tangenciais em regime misto, para o ponto de abcissa 0.342 mm da superfície S1 e para o
ponto de abcissa 0.606 mm da superfície S2, respectivamente. O ponto de abcissa 0.342 mm
encontra-se representado a vermelho e o de abcissa 0.606 mm representado a verde.
-2.0
-1.5
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
(µm) Rugosidade composta de S1
0.0E+00
1.0E+09
2.0E+09
3.0E+09
4.0E+09
5.0E+09
6.0E+09
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
(Pa) PMIX
0.0E+00
1.0E+08
2.0E+08
3.0E+08
4.0E+08
5.0E+08
6.0E+08
7.0E+08
8.0E+08
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
(Pa) τMIX
Figura 7.32- Rugosidade e campo de pressões e de tensões tangenciais misto para o ponto x=172, z=1 da
superfície de série (S1) (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa).
[276/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
-2.0
-1.5
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
(µm) Rugosidade composta de S2
0.0E+00
1.0E+09
2.0E+09
3.0E+09
4.0E+09
5.0E+09
6.0E+09
7.0E+09
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
(Pa) PMIX
0.0E+00
1.0E+08
2.0E+08
3.0E+08
4.0E+08
5.0E+08
6.0E+08
7.0E+08
8.0E+08
9.0E+08
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
(Pa) τMIX
Figura 7.33- Rugosidade e campo de pressões e tensões tangenciais misto para o ponto x=304, z=1 da
superfície rectificada (S2) (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa).
O ponto da superfície S1 (a vermelho) corresponde a um pico de rugosidade absoluto o que
conduz à formação de um pico de pressão muito importante e consequentemente a uma
reduzida espessura do filme lubrificante e a fortes tensões tangenciais. O ponto da superfície
S2 (a verde) embora não corresponda a um pico de rugosidade absoluto, apresenta uma
combinação pressão normal- tensão tangencial muito desfavorável.
O estudo destes pontos de iniciação de fissuras de fadiga mostra a coerência do modelo como
um todo: o ponto de iniciação de fadiga corresponde a um pico de rugosidade (absoluto ou
Capítulo 7- Resultados da Modelação [277/366]
relativo), o que provoca uma forte sobrepressão, uma fraca espessura de lubrificante, e por
conseguinte elevadas tensões tangenciais.
Por último, apresenta-se a orientação dos planos críticos, ou seja a orientação preferencial de
formação das fissuras. Estes planos são definidos pelo seu vector normal. Obtém-se sempre
um par de planos simétrico em relação ao eixo das abcissas dado que o cálculo das tensões é
efectuado considerando a hipótese de deformações planas. Este par de planos tem a mesma
inclinação relativamente à superfície, e forma por conseguinte uma fissura. Da mesma
maneira, por razões de simetria em relação ao centro do referencial, obtém-se sempre 2 pares
de fissuras.
O espaço é assim percorrido em 360º em redor do eixo Z, e em 180º à volta do eixo Y, com
um passo de 5º (ou seja uma matriz de 73 linhas e 37 colunas). Para cada um dos planos assim
definido, calcula-se o valor para qual a relação τ + αPhyd é máxima. Obtém-se assim para cada
orientação um valor que varia entre 0 e 1, sendo o valor 1 o que designa os planos mais
desfavoravelmente orientados face ao carregamento. Em abcissa temos a orientação (em
graus) dos planos críticos em relação ao eixo dos X, no plano XY, e em ordenada encontra-se
a orientação dos planos em relação ao eixo dos Z.
As Figuras 7.34 e 7.35 apresentam a matriz que contém os valores de τ + αPhyd para cada uma
das orientações do plano numa escala de 0 a 1, para as superfícies de série e rectificada,
respectivamente, considerando ou não a presença de tensões residuais e µLIM= 0.15 e β= 500
MPa. As Figuras 7.36 e 7.37 apresentam os planos críticos no espaço, no plano XY e no plano
XZ, para a superfície de série e rectificada, respectivamente, considerando ou não a presença
de tensões residuais. São indicadas as direcções da velocidade de rolamento, do atrito e dos
eixos. É também indicada a abertura das fissuras no plano XY e o ângulo formado com a
superfície. A superfície é representada pelo plano XY. De notar que, há normalmente duas
figuras, cujo as fissuras são simétricas em relação ao centro do referencial.
[278/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
0 90 180 270 360º0
45
90
135
180º
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50º
115º
Eixo de Simetria
fissura 2fissura 1
c=50 310 115130 230 65
Orientação do planoem relação eixo Z
Orientação do planoem relação eixo X
Simétrico em relação eixo X (0º ou 180º)
130º
65º
130º 230º 310º 0 90 180 270 360º0
45
90
135
180º
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50º
115º
Eixo de Simetria
fissura 2fissura 1
c=50 310 115130 230 65
Orientação do planoem relação eixo Z
Orientação do planoem relação eixo X
Simétrico em relação eixo X (0º ou 180º)
130º
65º
130º 230º 310º
Com [σRES] Sem [σRES]
Figura 7.34- Matriz que contém os valores de τ + αPhyd para cada uma das orientações do plano, para o
ponto x=172, z=1 da superfície de série (S1) (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa).
0 90 180 270 360º0
45
90
135
180º
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
55º
120º
Eixo de Simetria
fissura 2fissura 1
c=55 305 120125 235 60
Orientação do planoem relação eixo Z
Orientação do planoem relação eixo X
Simétrico em relação eixo X (0º ou 180º)
60º
125º 235º 305º
0 90 180 270 360º0
45
90
135
180º
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
50º
115º
Eixo de Simetria
fissura 2fissura 1
c=50 310 115130 230 65
Orientação do planoem relação eixo Z
Orientação do planoem relação eixo X
Simétrico em relação eixo X (0º ou 180º)
130º
65º
130º 230º 310º
Com [σRES] Sem [σRES]
Figura 7.35- Matriz que contém os valores de τ + αPhyd para cada uma das orientações do plano, para o
ponto x=304, z=1 da superfície rectificada (S2) (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa).
Capítulo 7- Resultados da Modelação [279/366]
X+
Y+Z+
Vr
F
X+X+
Y+ Z+
80º 54.0411º
Vr
F
X+
Y+Z+
Vr
F
X+X+
Y+ Z+
80º 54.0411º
Vr
F
Com [σRES] Sem [σRES]
Figura 7.36- Planos críticos no espaço, no plano XY e no plano XZ, para o ponto x=172, z=1 da superfície
de série (S1) (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa).
X+
Y+Z+
Vr
F
X+X+
Y+ Z+
70º 44.8121º
Vr
F
X+
Y+Z+
Vr
F
X+X+
Y+ Z+
80º 54.0411º
Vr
F
Com [σRES] Sem [σRES]
Figura 7.37- Planos críticos no espaço, no plano XY e no plano XZ, para o ponto x=304, z=1 da superfície
rectificada (S2) (µLIM = 0.15 e β = 500 MPa).
As fissuras de ambas superfícies estão dirigidas no sentido do atrito, com uma abertura de 80º
para a superfície S1 e de 70º para a superficie S2, no caso da presença de tensões residuais e
com uma abertura de 80º, para ambas as superfícies, no caso da não inclusão dessas mesmas
tensões. A inclinação das fissuras em relação à superfície, na presença das tensões residuais, é
[280/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
de 54º para a superfície S1 e de 44,8º para a superfície S2, que é um pouco superior às
inclinações geralmente constatadas experimentalmente (de 10 a 30º).
7.7- Sumário e conclusão
Foram analisadas as rugosidades superficiais dos flancos dos dentes de uma engrenagem,
correspondentes a três processos de fabrico alternativos: a superfície de série (denominada
S1), a superfície rectificada (S2) e a superfície super-rectificada (denominada por S3). Foram
ainda analisadas as superfícies S1 e S3 após rodagem, designadas respectivamente por S1US
e S3US.
Cada perfil de rugosidade corresponde a um comprimento de apalpação de 6000 µm e um
passo de apalpação de 2 µm, discretizado em 3001 pontos de apalpação. Cada caso de
contacto elementar analisado correspondente a 2.4 vezes a semi-largura do contacto Hertziano
(a = 455 µm), isto é 1092 µm, a que correspondem 545 pontos de discretização.
As condições de funcionamento são idênticas para todas as superfícies, e correspondem às
encontradas na zona imediatamente abaixo da linha primitiva do flanco do dente de uma
engrenagem, zona onde prioritariamente, ocorre a avaria de
micropitting geradora de micro-escamas ou pits. As propriedades do lubrificante são as do
óleo ELF XT 3556.
Da referência [145] foram retiradas as medidas das tensões residuais a diferentes
profundidades para os três tipos de superfície, antes e após os ensaios de fadiga realizados no
banco de engrenagens. Estas tensões foram medidas segundo duas direcções: longitudinal e
Capítulo 7- Resultados da Modelação [281/366]
transversal, ao longo do programa “rectificação dos dentes das engrenagens” da UET de
Tribologia.
A função de repartição de carga fΛ tem a forma ( )Λ 5.2
1f =0.61+ Λ
para uma velocidade
tangencial no ponto primitivo de 7.5 m/s.
O contacto foi deslocado sobre o perfil de rugosidade com um passo de 50 µm (25 pontos de
discretização), sendo possível definir 99 contactos elementares (99 posições) ao longo de cada
perfil de rugosidade, isto é, ao longo da linha de engrenamento.
Um ciclo completo de carregamento, corresponde à solução de 99 casos de contacto, isto é,
corresponde a 99 soluções de:
• Pressões de contacto em regime limite (Campos [53]) - pLIM;
• Pressões de contacto em regime de filme completo (Ai e Cheng [2-4]) – pEHDR;
• Pressões de contacto em regime misto – ( )Λ ΛMIX EHDR LIM1 - fp = f × p + × p ;
• Tensões de corte em regime limite - τLIM = µLIM x pLIM;
• Tensões de corte em regime de filme completo (Sottomayor [299]) - τEHDR;
• Tensões de corte em regime misto – ( )τ τ τΛ Λ1.2MIX EHDR LIM1 - f= f × + × ;
• Tensor das tensões em cada ponto (Castro [61]) - ⎡ ⎤⎣ ⎦Pσ .
[282/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
O critério de Dang-Van é, então, aplicado ao ciclo de carregamento correspondente a cada
superfície, recorrendo aos 99 casos de contacto e correspondentes tensões instaladas, sendo
determinado ponto a ponto o risco de iniciação de fissuras de fadiga:
[ ]máx
hydR =
τβ - α pσ α β ⋅, ,
Para os pontos da superfície ou sub-superfície que apresentam um risco de fadiga superior a 1,
admite-se a iniciação de uma fissura de fadiga, sendo determinada a orientação preferencial
das correspondentes fissuras de fadiga.
A superfície super rectificada (S3) apresenta um campo de pressões em regime misto (pMIX),
muito menos perturbado do que as outras superfícies novas (S1 e S2). Tal diferença está
relacionada com o valor da espessura específica do filme lubrificante em cada caso e com os
correspondentes valores da função de repartição de carga, verificando-se que no caso da
superfície S3 a força normal é quase totalmente suportada pelo filme lubrificante
elastohidrodinâmico enquanto no caso das superfícies S1 e S2 cerca de 60% da força normal é
suportada pelo contacto directo entre os picos de rugosidade.
Também as superfícies usadas (S1US e S3US) mostram reduções muito significativas do
campo de pressões em regime misto (pMIX), quando comparadas com as respectivas
superfícies novas (S1 e S3). A justificação é idêntica, isto é, durante o funcionamento da
engrenagem o progressivo desgaste da superfície conduz a uma diminuição da rugosidade dos
flancos dos dentes (Rq), a um aumento da espessura específica do filme lubrificante (Λ) e da
função de repartição de carga (fΛ). Logo, a carga suportada pelo filme lubrificante aumenta
em detrimento da carga suportada pelo contacto directo entre os picos de rugosidade, o que se
traduz numa diminuição da intensidade dos picos de pressão.
Segundo vários autores [20, 137, 155, 165, 205, 273, 332, 352], o coeficiente de atrito limite
(µLIM) apresenta normalmente valores que se situam entre 0.05 e 0.20, dependendo de vários
Capítulo 7- Resultados da Modelação [283/366]
factores, nomeadamente, a rugosidade das superfícies, as velocidades de rolamento e
escorregamento e as características do lubrificante. Não sendo possível definir com exactidão
o valor de µLIM correspondente a cada superfície considerada e para o lubrificante usado,
optou-se por realizar os cálculos para quatro valores diferentes de µLIM , respectivamente,
0.05, 0.10, 0.15 e 0.20.
As tensões de corte em regime misto (τMIX) aumentam significativamente à medida que o
coeficiente de atrito limite aumenta, sobretudo no caso das superfícies S1, S1US e S2.
Verifica-se, que quer a sub-superfície S1 quer a sub-superfície S2 apresentam valores da
tensão de corte máxima (τMÁX) extremamente elevados e significativamente superiores aos da
sub-superfície S3, o que é de esperar tendo em atenção os campos de pressões (pMIX) e de
tensões de corte (τMIX) a que estão submetidas cada uma dessas superfícies.
Os valores dos parâmetros da recta de Dang-Van são os mesmos utilizados na referência [40].
O parâmetro α é igual a 0.987 e o parâmetro β é igual a 827 MPa. Contudo, é importante
salientar que estes resultados foram obtidos a partir de um reduzido número de ensaios
realizados com provetes que não reflectem adequadamente o comportamento das camadas
superficiais carbo-nitruradas e maquinadas dos flancos dos dentes de engrenagens, pelo que
não existe garantia do valor correcto a considerar para cada superfície. Deste modo efectuou-
se um varrimento na vizinhança destes valores de referência, obtendo-se uma caracterização
muito precisa sobre a sua influência no comportamento à fadiga de contacto dos flancos dos
dentes das engrenagens.
Deste modo, a aplicação do Critério de Fadiga Multiaxial de Dang-Van para determinação do
risco de iniciação de fissuras de fadiga permitiu caracterizar a influência de vários parâmetros
sobre a iniciação de fissuras de fadiga de contacto responsáveis pelo micropitting: Ra, Λ, fΛ,
pMIX, τMIX, µLIM, β, …
[284/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Os resultados da modelação confirmaram plenamente os resultados experimentais obtidos em
ensaios de engrenagens realizados com pinhões de caixas de velocidade normais por um
fabricante de automóveis.
Em funcionamento as superfícies S1 e S2 originam, com grande frequência, o aparecimento
de micropitting, o que nunca acontece com a superfície S3. O micropitting gerado na
superfície S1 é não evolutivo, e após alguns milhares de ciclos a superfície torna-se mais
“suave” (S1US) e o micropitting não evolui para formas de avaria mais severas (pitting). O
mesmo aconteceu com a superfície S2 não analisada (S2US).
Tais ensaios de engrenagens foram realizados anteriormente independentemente deste
trabalho, o qual confirmou qualitativamente os resultados experimentais obtidos., e de acordo
com a análise efectuada os valores de coeficiente de atrito devem ser superiores a 0.05 e o
valor do parâmetro β inferior a 800 MPa.
CONCLUSÃO
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
A fadiga de contacto resulta da aplicação de tensões cíclicas sobre a superfície e a sub-
superfície dos flancos activos dos dentes das engrenagens. As modificações progressivas do
estado de tensão/deformação do material ocorrem de cada vez que é excedido o valor limite
de endurance das tensões que o material pode suportar [125]. Como em todos os fenómenos
de fadiga, este tipo de deterioração caracteriza-se por periodos de incubação bastante longos,
da ordem das dezenas de milhões de ciclos, não ocorrendo nunca de forma instantânea.
Na fadiga de contacto podem ocorrer diversas formas de deterioração da superfície, e as
fissuras de fadiga podem ter origem na própria superfície ou no interior do material,
usualmente nas zonas onde se desenvolvem as máximas tensões de Hertz (tensões de
contacto). A fadiga de contacto é, assim, a responsável pelo aparecimento de micropitting,
pitting, spalling e outras formas de destruição das superfícies.
O micropitting é um processo de degradação superficial, consistindo na formação de
pequenos micropits ou micro-escamas pouco profundos ( 10 µm a 20 µm) na superfície de
[286/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
contacto, com diâmetros individuais que em geral não ultrapassam os 100 µm. O spalling é
uma forma de degradação por fadiga de contacto mais extensa, que se distingue do
micropitting pela suas maiores dimensões à superfície e em profundidade, envolvendo a
criação de spalls ou crateras com diâmetros que podem atingir vários milímetros e com
profundidades que podem variar entre os 100 µm e alguns milímetros. O pitting pode resultar
do desenvolvimento ou agravamento da avaria de micropitting, originando escamas de
maiores dimensões, devido à continuação em funcionamento do contacto.
A fadiga superficial pode aparecer devido à existência de defeitos nos materiais,
nomeadamente deslocações e inclusões. Sob a acção de tensões de corte importantes, as
deslocações tendem a escorregar. Ao encontrarem uma inclusão são forçadas a empilharem-
se, dando origem a uma fissura por baixo dos respectivos hemiplanos atómicos. A fadiga nos
contactos elastohidrodinâmicos é normalmente devida aos seguintes factores: características
dos materiais, lubrificantes, condições de funcionamento e micro-geometria das superfícies.
São inúmeros os parâmetros que influenciam o comportamento à fadiga (micropitting) de uma
engrenagem, tais como a pressão superficial de Hertz, a velocidade de escorregamento e
rolamento, a rugosidade, o atrito, as propriedades do lubrificante (e aditivos), etc. e embora se
trate de um tipo de degradação superficial muito corrente, os métodos de previsão actuais
ainda não conseguem traduzir a influência de todos estes parâmetros. É complexo conjugar
todos estes parâmetros de forma a obter um critério de dimensionamento satisfatório. Na
maioria dos casos a pressão é o único critério utilizado, sendo necessária uma melhor
compreensão dos mecanismos de degradação, de forma a melhorar a previsão da vida de uma
engrenagem.
Os modelos de previsão da vida à fadiga são baseados na propagação de fissuras, quer em
profundidade, quer superficialmente. A previsão da vida à fadiga de um contacto EHD é
muito complexa, quer pela quantidade de variáveis influentes no processo de fadiga, quer pela
sua variação ao longo do tempo e da zona de contacto. Dentro dos principais modelos de
previsão destacam-se: o de Lundberg & Palmgren, o de Tallian, o de Harris & Ioannides e os
critérios de fadiga multiaxial tais como os de Sines, Crossland e de Dang-Van.
Conclusão [287/366]
MODELAÇÃO DO MICROPITTING NOS FLANCOS ACTIVOS DOS DENTES DE ENGRENAGENS
Neste trabalho desenvolveu-se uma modelação numérica do mecanismo de micropitting dos
flancos activos dos dentes de engrenagens, tendo como principal objectivo uma melhor
previsão da iniciação de fissuras de fadiga na superfície e sub-superfície Hertzianas. O
modelo de micropitting arquitectado e desenvolvido procurou responder a este conjunto de
requisitos com o objectivo de atingir uma previsão da iniciação de fissuras de fadiga na
superfície e sub-superfície Hertzianas o mais correcta possível.
Em forma de resumo os passos para a modelação do micropitting em engrenagens, em regime
misto de lubrificação são:
1. Superfícies em contacto- A micro-geometria das superfícies tem grande influência ao
nível do micro-contacto, sendo determinante em termos dos valores das tensões
instaladas localmente nas superfícies e sub-superfícies. Os picos de rugosidade mais
salientes podem induzir valores das pressões no contacto muito superiores à pressão
máxima de Hertz e valores das tensões de corte muito superiores aos correspondentes
a um contacto liso em regime de filme completo. Deste modo, deve efectuar-se uma
medição dos perfis de rugosidade das superfícies em contacto (roda e pinhão) e, se
necessário, proceder a uma primeira filtragem para eliminar a curvatura do perfil dos
dentes (eliminando os comprimentos de onda macroscópicos e eventuais “ruídos” de
medição.
Composição dos perfis de rugosidade das duas superfícies em contacto e determinação
das componentes frequenciais através da análise de Fourier do perfil de rugosidade
composta.
2. Pressões normais e tensões tangenciais de contacto em regime misto de
lubrificação- A obtenção dos campos de pressões para a lubrificação em regime misto
recorre à solução elástica para a determinação do campo de pressões seco rugoso
(considerada equivalente à lubrificação em regime limite – limite superior (pLIM)) e a
um modelo simplificado para obtenção do campo de pressões em lubrificação EHD
[288/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
rugosa (considerada equivalente à lubrificação em regime de filme completo – limite
inferior (pEHDR)). A percentagem de cada uma das componentes do contacto misto é
definida pela função de repartição de carga.
A função de repartição de carga fΛ tem a forma ( )Λ 5.2
1f =0.61+ Λ
para uma velocidade
tangencial no ponto primitivo de 7.5 m/s e é uma função global ao nível do contacto e
que depende apenas da espessura do filme lubrificante, podendo ser considerada
constante no interior do contacto.
A distribuição de pressão em regime misto (PMIX) pode então ser determinada pela
expressão: ( )Λ ΛMIX EHDR LIM1 - fp = f × p + × p
A partir das condições de funcionamento, das propriedades dos materiais, dos campos
de pressões normais e da geometria do filme lubrificante, é possível determinar a
distribuição de pressões tangenciais (tensões de corte superficiais) em ambos os
regimes (filme completo rugoso τEHDR e filme limite τLIM).
As tensões de corte em filme completo τEHDR são determinadas tendo em conta o
comportamento energético do filme lubrificante, nomeadamente a dissipação viscosa
no interior do contacto e a evacuação de calor por convecção e por condução através
das superfícies metálicas. Dependem também da espessura do filme lubrificante. Para
tal efeito foi usado um valor da espessura do filme lubrificante que garantisse a
condição de filme completo, isto é, ΛFilme Completo = 2.
As tensões de corte em regime limite (τLIM) são determinadas directamente a partir das
correspondentes pressões normais, usando a lei de Coulomb e definindo um
coeficiente de atrito limite, isto é, τLIM = µLIM x pLIM.
O modelo desenvolvido para a obtenção de campos de tensões de corte em regime
misto de lubrificação recorre, portanto, às soluções dos campos de tensões de corte em
regime limite (τLIM=µLIM.PLIM) e a um modelo para obtenção dos campos de tensões
de corte em lubrificação EHDR (filme completo rugoso (τEHDR)). A contribuição de
cada uma das componentes para o contacto misto é definida por uma função de
repartição da carga tangencial no contacto. A partir destas duas componentes e através
da função de repartição de carga, fΛ, determinam-se as tensões de corte em regime de
lubrificação misto através da expressão: ( )1.2MIX EHDR LIMf (1 f )Λ Λτ = τ + τ −
Conclusão [289/366]
3. Tensões instaladas na sub-superfície Hertziana- As pressões contacto, normais e
tangenciais, são utilizadas na determinação do campo de tensões elásticas ⎡ ⎤⎣ ⎦elPσ em
qualquer ponto no interior dos sólidos em contacto [22, 60], tendo em consideração as
tensões residuais devidas aos tratamento térmicos e/ou mecânicos sofridos pelas
engrenagens ⎡ ⎤⎣ ⎦resPσ . Logo, em qualquer ponto do interior dos
sólidos, ⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎡ ⎤⎣ ⎦ ⎣ ⎦⎣ ⎦el res
P P Pσ σ + σ= .
As tensões elásticas devidas às pressões de contacto, normais e tangenciais, são
determinadas usando um modelo desenvolvido por Castro [60], onde se considera que
o maciço se deforma em estado plano de deformação, hipótese que é inteiramente
compatível com o caso do contacto linear entre sólidos, e permite obter os tensores das
tensões ⎡ ⎤⎣ ⎦elPσ em qualquer ponto do interior dos sólidos em contacto. Podem, ainda,
ser determinadas, em cada ponto, a Tensão de Corte Máxima (Critério de Tresca -
τmáx), a Tensão de Corte Octaédrica (Critério de von-Mises - τoct) e qualquer outro tipo
de tensão equivalente.
De um modo geral podem definir-se as tensões residuais ⎡ ⎤⎣ ⎦resPσ como as tensões que
existem presentes num determinado componente, quando este se encontra em
equilíbrio mecânico e não está sujeito a nenhum esforço exterior. A introdução
voluntária de pré-tensões é um dos meios mais eficazes para melhorar a resistência à
fadiga de componentes e estruturas, tanto no domínio da construção mecânica como
da construção metálica. As tensões residuais são introduzidas pelos tratamentos
superficiais de pré-tensão. Na fadiga de contacto, assim como na fadiga clássica dos
materiais, as tensões residuais de compressão aumentam a duração de vida dos
componentes uma vez que retardam a formação e a propagação das fissuras de fadiga.
Pelo contrário, as tensões residuais de tracção, assim como as de compressão de um
valor absoluto relativamente grande, são nefastas em termos de comportamento à
fadiga.
4. Critério de fadiga multiaxial- O critério de Dang-Van permite prever os locais onde
preferencialmente pode ocorrer a nucleação de fissuras de fadiga de contacto, para o
caso de uma solicitação de fadiga multiaxial. Este critério tem por base a hipótese de
que a formação de uma fissura é um fenómeno microscópico, à escala de um ou vários
[290/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
grãos, sendo de facto inadequado considerar que o material é homogéneo e isotrópico.
Dang-Van propõe, portanto, a determinação do ciclo de carregamento microscópico
[σ], com o auxílio de uma aproximação elastoplástica e a partir do ciclo de tensões
macroscópicas [Σ]. Um cálculo iterativo permite determinar para cada ponto da
discretização o estado adaptado do material, isto é o estado que faz com que o ciclo de
tensões do material não saia do domínio elástico.
A modelação do critério de fadiga acumulada de Dang-Van, implica a determinação
do ciclo de tensões a que está submetido cada ponto da superfície e da sub-superfície
dos sólidos em contacto. O ciclo de tensões é obtido deslocando o contacto ao longo
da linha de engrenamento, isto é, ao longo do perfil de rugosidade composto dos
flancos activos dos dentes. Deste modo obtém-se para cada ponto da superfície e da
sub-superfície do sólido um ciclo de tensões.
Conhecido esse ciclo de tensões é possível aplicar um critério de fadiga acumulada,
neste caso o critério de Dang-Van, permitindo avaliar o “risco de iniciação” de
fissuras de fadiga, definido por: [ ]
máx
hydR =
τβ - α pσ α β ⋅, ,
.
Para cada ponto considerado, a relação máx
hyd
τβ - α p⋅
mais desfavorável ao longo do
ciclo de tensões aplicado, representa esse risco de iniciação. Se esta relação for igual
ou superior a 1 ocorre a iniciação de uma fissura, segundo o critério de Dang-Van.
Pode, assim, construir-se uma carta de riscos de iniciação, representando este risco
para cada ponto da superfície e sub-superfície.
RESULTADOS DA MODELAÇÃO
Para comprovar a validade do modelo a probabilidade de iniciação de fissuras de fadiga
conducentes à avaria de micropitting foi correlacionada com a rugosidade dos flancos de 3
engrenagens rectificadas por processos diferentes, com valores típicos do coeficiente de atrito
limite e com valores característicos das propriedades mecânicas das camadas superficiais
carbonitruradas.
A análise de todos os casos permitiu estabelecer algumas considerações interessantes:
Conclusão [291/366]
1. Só ocorre iniciação de fissuras de fadiga nas superfícies novas S1 e S2, com
valores de rugosidade inicial considerável (Rq = 0.56 µm);
2. A superfície S3 e as superfícies usadas (ou rodadas) S1US e S3US têm um
risco de iniciação de fissuras de fadiga nulo;
3. Na presença de tensões residuais e para β ≥ 700 MPa, o risco de iniciação de
fissuras de fadiga é nulo em todas as superfícies e qualquer que seja o valor do
coeficiente de atrito limite.
No caso das superfícies S1 e S2 puderam ainda ser estabelecidas algumas considerações
adicionais:
4. À medida que aumenta o coeficiente de atrito limite (µLIM) aumenta também o
número de pontos de iniciação de fissuras de fadiga, para β ≤ 600 MPa, quer se
considerem ou não as tensões residuais;
5. À medida que aumenta a resistência da superfície (β) diminui, drasticamente, o
número de pontos de iniciação de fissuras de fadiga, quer se considerem ou não
as tensões residuais;
6. Para β ≥ 700 MPa, a influência do coeficiente de atrito limite (µLIM) só se faz
sentir na ausência tensões residuais [σRES] ;
7. A presença de tensões residuais [σRES] provoca uma diminuição drástica do
número de pontos de iniciação de fissuras de fadiga;
8. Finalmente, verifica-se que, na presença de tensões residuais, o
comportamento das superfícies S1 e S2, em termos do número de pontos de
iniciação de fissuras de fadiga, é muito semelhante.
[292/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
A análise dos resultados permitiu também estabelecer uma proporcionalidade entre o
logaritmo decimal do número de pontos de iniciação de fissuras de fadiga (NIF) e o inverso
de β, isto é,
( ) ⎛ ⎞⎜ ⎟⎝ ⎠
∝ −101log NIFβ
,
quer se considerem ou não as tensões residuais.
A análise da superfície e o respectivo estudo dos pontos de iniciação de fissuras de fadiga
permitiram confirmar plenamente os resultados experimentais obtidos em ensaios de
engrenagens realizados anteriormente independentemente deste trabalho e mostraram a
coerência do modelo como um todo: o ponto de iniciação de fadiga corresponde a um pico de
rugosidade (absoluto ou relativo), o que provoca uma forte sobrepressão, uma fraca espessura
de lubrificante, e por conseguinte elevadas tensões tangenciais.
TRABALHO FUTURO
Após apreciação do trabalho desenvolvido e do conjunto de resultados obtidos, várias
propostas de desenvolvimento futuro do trabalho podem ser avançadas, tais como:
1. Validação experimental do modelo desenvolvido: Função de repartição de carga,
coeficiente de atrito limite e a iniciação de micropitting.
2. Implementação de um modelo de comportamento elasto-plástico das superfícies e sub-
superfícies em contacto.
3. Determinação experimental do coeficiente de atrito limite e das propriedades
mecânicas das superfícies endurecidas (cementadas, carbonitruradas, ...)
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Stress: Part II-Load Influence”, STLE, Tribology Transactions, Volume 45, 2, pg. 211-216,
2002.
[350] Zhu D. , “Effect of Surface Roughness on Mixed EHD Lubrication Characteristics”,
Tribology transactions, Vol. 46, 2003, 1, pp 44-48.
[351] Zhu D, Wen S. Z, “A Full Solution for the Thermal elastohydrodynamic Problem in
Elliptical Contacts”, ASME Journal of Tribology, vol. 106, 1984.
[352] Zhu D., Hu, Y.-Z. “A Computer Program Package for Prediction of EHL and Mixed
Lubrication Characteristics, Friction, Subsurface Stresses and Flash Temperatures Based
on Measured 3-D Surface Roughness”. Tribology Transactions. Vol 44, Nº3, pg. 383-390,
2001.
[353] "Modélisation du champ de pression dans un contact élastohydrodynamique rugueux",
Rapports d’avancements du CSN:
[354] “Application du critère de Dang Van sur des Surfaces d’Engrenages. Etude de l’évolution
des surfaces au cours d’un essai de fatigue sur machine à galets“., Rapports d’avancements
du CSN:
[355] “Etude bibliographique sur l’endommagement par fatigue de surface des contacts
élastohydrodynamiques-Pitting“, Rapports d’avancements du CSN:
[356] “Failure Analysis and Troubleshoud”; ASM Handbook.
Bibliografia [317/366]
[357] “Modélisation du Champ de Pression, du Film de Lubrifiant et des Contraintes
Tangentielles dans un Contact EHD rugueux. Premières études des contraintes engendrées
dans les massifs“, Rapports d’avancements du CSN:
[358] 5ªs Jornadas Portuguesas de Tribologia, Universidade do Minho, Junho 1995.
[359] III Encontro de Mecânica Computacional, 2º Volume, Coimbra, setembro, 1992.
[360] DIN 3990 parte 4, norma DIN para o coeficiente de atrito em engrenagens, 1987.
[318/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
ANEXO A
A.1- Contacto Normal entre sólidos elásticos (Teoria de Hertz)
A.1.1- Apresentação do problema de contacto normal seco
A Figura A.1 mostra, esquematicamente, a geometria do contacto entre dois sólidos.
Z
1
2X
Plano
Tangente
Comum
Superfície
Superfície
(x,y)
2Z
1ZO
Y
Figura A.1 – Representação esquemática de dois sólidos em contacto seco [301].
No caso do problema de contacto normal, quando postas em contacto e na ausência de
solicitação exterior as duas superfícies tocam-se pelo menos num ponto O designado por
[320/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
ponto inicial de contacto. O plano XOY, simultaneamente tangente às duas superfícies em O é
designado por plano tangente comum. A carga é aplicada segundo o eixo OZ, sendo portanto
perpendicular ao plano tangente comum.
A.1.2- Hipóteses da teoria de Hertz
A teoria de Hertz que permite analisar o problema do contacto puramente normal entre dois
sólidos de revolução elásticos, foi desenvolvida a partir de várias hipóteses de base sendo de
destacar as seguintes [284]
a) Os sólidos em contacto são perfeitamente homogéneos, isotrópicos e
elásticos de acordo com a lei de Hooke;
b) Os sólidos podem ser considerados como semi-espaços elásticos;
c) As superfícies são definidas por dois raios de curvatura principais 1xR ,
2xR e 1yR , 2yR conhecidos na vizinhança do ponto inicial de contacto;
d) Após a aplicação da carga normal forma-se em torno do ponto inicial de
contacto uma superfície de contacto;
e) As dimensões da área de contacto entre os dois sólidos são muito
pequenas quando comparadas com os raios de curvatura das superfícies
dos sólidos;
f) A área de contacto é elíptica;
g) A área de contacto é plana e paralela ao plano tangente comum;
h) A carga é aplicada segundo a direcção OZ, perpendicular ao plano
tangente comum.
Anexo A [321/366]
A.1.3- Semi-espaços elásticos
Por acção da solicitação exterior, os dois sólidos de revolução deformam-se elasticamente,
originando uma pequena área de contacto na vizinhança do ponto inicial de contacto.
A análise do problema mostra que as deformações elásticas locais são muito pequenas, e que
as tensões de contacto estão muito concentradas junto à superfície de contacto, decrescendo
rapidamente quando se afastam do ponto inicial de contacto.
S
Y
Fn
P
Superfície1
x
y dsO
NormalComum
Z
X
Figura A.2 – Superfície do corpo 1 deformada e as pressões normais aplicadas [301].
Cada um dos sólidos, isoladamente, pode ser assimilado a um semi-espaço elástico submetido
às pressões de contacto numa zona muito pequena (área de contacto) da superfície, como se
mostra na Figura A.2. Esta idealização na qual cada um dos sólidos, de superfície arbitrária, é
visto como um semi-espaço limitado pelo plano da sua superfície é usada quase
universalmente na teoria das deformações elásticas e permite modelizar com grande precisão
as condições existentes no contacto entre dois sólidos.
[322/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
A.1.4- Modelo de contacto: geometria não deformada
A geometria não deformada da cada sólido pode ser definida, no sistema de eixos (O,X,Y.Z),
como sendo a distância de um ponto da superfície de cada um dos sólidos ao plano tangente
comum segundo OZ:
( )yxfZ ,11 = , (A.1)
( )yxfZ ,22 = , (A.2)
sendo a distância entre dois pontos, segundo a normal ao plano comum, OZ, igual a (ver
Figura A.1):
( )yxfZZH nd ,21 =+= . (A.3)
(x,y)
1ZRx1
X
Plano
Tangente
Comum
Z
Ry11Superfície
α
Y
zr
=z r2R
2=>pequeno
z
α
R
Figura A.3 – Raios principais de curvatura e geometria não deformada do corpo 1 [301].
Conhecendo os raios principais de curvatura de cada uma das superfícies dos sólidos na
vizinhança do ponto inicial de contacto é possível definir a geometria não deformada. A
análise da Figura A.3 mostra que a geometria da superfície 1, isto é a distância de cada ponto
da superfície ao plano tangente comum (O,X,Y), é na vizinhança do ponto de contacto (para
pequenos valores de X e Y) definida por:
Anexo A [323/366]
1
2
1
2
1 22 yx Ry
RxZ
⋅+
⋅= , (A.4)
sendo portanto função dos raios principais de curvatura, 1xR e 1yR .
De igual modo a geometria não deformada da superfície 2 é definida pela expressão:
2
2
2
2
2 22 yx Ry
RxZ
⋅+
⋅= . (A.5)
A geometria global não deformada do contacto, representada pela equação (A.3), pode ser
agora definida por:
2221 yBxAZZH nd ⋅+⋅=+= , (A.6)
Onde
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛+=
21
1121
xx RRA e ⎟
⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛+=
21
1121
yy RRB .
A equação (A.6) é válida para as aplicações mais correntes, tais como rolamentos e
engrenagens, nas quais os planos principais de curvatura das duas superfícies em contacto são
coincidentes.
[324/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
A.1.5- - Modelo de contacto: geometria deformada
Plano XOY
Fn
T2
O
δ2
Superfície2
Z
δ
FnT1
δ 1Superfície1
uz 22S
uz11S
Figura A.4 – A deformação dos corpos elásticos num contacto puramente normal [301].
Após a aplicação da solicitação, os centros de curvatura das superfícies 1 e 2 deslocam-se
elasticamente das quantidades 1δ e 2δ respectivamente, na direcção paralela a OZ. A
aproximação dos centros de curvatura, usualmente designada por deformação global ou
penetração, isto é, a soma de 1δ e 2δ , altera a distância entre os pontos 1S e 2S , a qual passa
a ser definida por
δ−+= 21 ZZH G , (A.7)
com
21 δδδ += .
Se estes fossem os únicos deslocamentos elásticos que sofrem os dois sólidos, eles
interpenetrar-se-iam na vizinhança do ponto inicial de contacto, como mostra a Figura A.4.
Como a existência de penetração é fisicamente impossível, as superfícies 1 e 2 deformam-se
localmente na vizinhança do ponto O, a zona de contacto, sofrendo deslocamentos 1zu e 2zu ,
respectivamente. Assim, após a deformação global, a geometria final, isto é , a distância entre
os pontos 1S e 2S é representada pela equação
Anexo A [325/366]
2121 zz uuZZH ++−+= δ . (A.8)
Se dois pontos 1S (x,y,z) e 2S (x,y,z), após deformação, estão situados no interior da área de
contacto, a expressão (A.8) toma a forma
021 =++− zznd uuH δ . (A.9)
Se 1S (x,y,z) e 2S (x,y,z) estão fora da área de contacto
021 >++− zznd uuH δ . (A.10)
Então, após a aplicação da solicitação a ser transmitida entre dois sólidos, a distância entre
dois quaisquer pontos, 1S (x,y,z) e 2S (x,y,z), é representada pela inequação
021 ≥++− zznd uuH δ , (A.11)
isto é,
0≥+− nnd uH δ , (A.12)
onde 21 zzn uuu += é a diferença dos deslocamentos normais de cada uma das superfícies,
quando sujeitas a uma distribuição de pressão normal p(x,y).
A resolução do problema passa pela determinação da distribuição da pressão entre os sólidos,
pela área de contacto e pela penetração. Tal resultado deve conduzir a deslocamentos normais
da superfície que satisfaçam a equação (A.9) dentro da área de contacto e a inequação (A.10)
fora da área de contacto.
[326/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
A.1.6- - Deslocamentos de pontos da superfície em contacto normal
Conhecidas as pressões normais de contacto, p(x,z), é muito simples determinar a geometria
deformada do contacto, recorrendo à expressão (A.12), uma vez que un e δ dependem apenas
de p(x,y). Assim:
nndd uHH +−= δ , (A.13)
A.1.7- - A força normal transmitida
Após a deformação elástica das superfícies o contacto entre os sólidos acontece num conjunto
de pontos para além do ponto inicial de contacto, dando origem a uma pequena área através
da qual é transmitida a força entre os dois sólidos. Como se considera um carregamento
puramente normal a força normal ( nF ) tem de ser equilibrada pelas pressões normais que se
desenvolvem no interior da área de contacto, ou seja
( )∫= Sn dxdyyxpF , , (A.14)
em que p(x,y) corresponde à pressão normal em cada ponto de contacto.
ANEXO B
B.1- Parâmetros reológicos do lubrificante
Todos os comportamentos existentes num modelo reológico são obrigatoriamente
representados por um parâmetro, cujo valor, em conjunto com o próprio modelo em si,
determina a sua contribuição na deformação total sofrida pelo lubrificante no interior do
contacto.
B.1.1- Viscosidade
A viscosidade é sem dúvida o parâmetro reológico de maior relevância no estudo da
lubrificação. Na lei de Newton, o modelo reológico mais simples, a viscosidade é o único
parâmetro caracterizador do lubrificante. A sua influência é sentida em todas as zonas do
contacto, nomeadamente, no convergente onde é factor essencial na formação da espessura de
filme e na zona de Hertz onde o seu grande aumento com a pressão é responsável pela
manifestação de comportamentos não Newtonianos.
Surgiram inúmeras leis para descrever a variação da viscosidade com a temperatura e a
pressão, inicialmente com base unicamente empírica e mais tarde com base na estrutura
atómica e/ou molecular e no comportamento físico dos lubrificantes.
Lei resultante da conjugação da lei de piezoviscosidade de Barus com a lei de
termoviscosidade de Reynolds, usualmente conhecida apenas por lei de Barus,
[328/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
( ))(0
0TTPe −−⋅⋅= δαµµ (B.1)
ou noutra variante,
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−+⋅
⋅=)11(
00TT
P
eβα
µµ (B.2)
Trata-se de uma lei de base unicamente empírica, no entanto, devido, à sua simplicidade, por
conter em si a lei de Reynolds normalmente utilizada numa análise apenas hidrodinâmica e
ainda por ser a primeira a conter a variação com a pressão é a lei mais comummente utilizada
[301, 284].
Esta lei apresenta grandes limitações na previsão da viscosidade, nomeadamente, para
pressões elevadas, em que prevê viscosidades muito elevadas, e para gamas de temperatura
grandes. Por outro lado os dois parâmetros nela intervenientes,α, e β ou δ não são
independentes da própria pressão e temperatura.
B.1.2- Outros parâmetros reológicos
B.1.2.1- Módulo de corte transversal
Houpert [166] 1980 ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−+⋅
⋅=)11(
00TT
P GG
eGGβα
Barlow et al. (segundo Evan
& Johnson [118]) 1978 PGG Gα+= 0
Bair & Winer [13] 1992 ( )PTbaG ⋅−=
Anexo B [329/366]
B.1.2.2- Tensão de Ree-Eyring
Houpert [166] 1980 ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−+⋅
⋅=)
11(
00TT
P
RERE
RERE
eβα
ττ
PRERERE αττ += 0
B.1.2.3- Tensão limite
Houpert [166] 1980 ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−+⋅
⋅=)
11(
00TT
P
LL
LL
eττ βα
ττ
B.1.3- Outras propriedades físicas do lubrificante
B.1.3.1- Condutibilidade térmica
A espessura do filme lubrificante que separa as superfícies em contacto é extremamente fina,
pelo que a condução de calor através dos sólidos que constituem o contacto é o mais
importante modo de evacuação do calor gerado. Assim, a condutibilidade térmica do
lubrificante é um parâmetro essencial no equilíbrio térmico do contacto.
A maioria dos autores considera a condutibilidade térmica do lubrificante constante, no
entanto, estudos efectuados por Bridgeman (segundo Winer [135]) e mais tarde por Richmond
et al. (segundo Winer [135] e Wang [325]), demonstram que os lubrificantes apresentam uma
condutibilidade térmica quando submetidos a uma pressão de 1.2-1.5 GPa que é cerca de duas
vezes superior à apresentada à pressão atmosférica.
[330/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
A importância desta variação da condutibilidade térmica com a pressão parece não ser
relevante quando se trata do cálculo da espessura do filme lubrificante, uma vez que esta é
essencialmente formada no convergente onde as pressões são baixas. No entanto, como
referem B Gecim & W. O. Winer [135], quando se pretende fazer um estudo do
comportamento térmico e da tracção num contacto EHD onde a equação da energia é
resolvida dentro da zona de Hertz, portanto a pressões elevadas, a consideração de uma
condutibilidade térmica variável é, sem dúvida, importante.
Wang et al [325] ajustaram os resultados experimentais apresentados por Richmond et al.
(segundo Wang [325]) a uma curva que foi posteriormente utilizada por S.Wang, T.F.Conry e
C. Cusano [324].
( )PPKK KKf ⋅+⋅+= βα 1/0 (0.22)
Esta expressão para variação da condutibilidade térmica com a pressão apresenta dois
parâmetros, um coeficiente primário, Kα e um secundário, Kβ .
A variação da condutibilidade térmica com a temperatura é também um facto, diminuindo
ligeiramente com o aumento da temperatura [319], no entanto essa variação é muito mais
reduzida do que com a pressão, pelo que é normalmente desprezada não sendo sequer
mencionada na bibliografia quando se trata de análise de contactos elastohidrodinâmicos.
B.1.3.2- Densidade
A densidade de um lubrificante é também função da temperatura e pressão, no entanto a
influência da temperatura é normalmente desprezada, já o efeito da pressão, principalmente
quando se trata de estabelecer a espessura do filme lubrificante e portanto a geometria
deformada das superfícies em contacto é de importância fundamental. Dowson e Higginson
[103] formulam uma equação de variação da densidade com a pressão que é quase
universalmente usada,
Anexo B [331/366]
PP⋅+
⋅+=
7.116.01
0ρρ (B.3)
B.1.3.3- Calor específico
Normalmente considera-se que o calor específico de um lubrificante não varia com a
temperatura e com a pressão.
B.1.4- Formulação do modelo viscoelásto-plástico com tensão limite
B.1.4.1- Elasticidade
Se o lubrificante for considerado linear elástico, da definição de tensão de corte elástica [139,
144, 166, 177, 299, 301] obtém-se que
Ge
eτ
γ = . (B.4)
Derivando em ordem ao tempo, obtém-se a velocidade de deformação elástica,
Ge
eτ
=γ (B.5)
B.1.4.2- Plasticidade – modelo de Bair e Winer
Segundo o modelo de Bair e Winer [12], para um lubrificante com um comportamento
reológico do tipo visco-plástico, a velocidade de deformação visco-plástica é definida por
[332/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−−=
L
Lvp n
ττ
ητ
γ 1 , (B.6)
onde τL é a tensão limite.
B.1.4.3- Viscoelasticidade plasticidade
Se a definição de visco-plasticidade (B.6) for introduzida no modelo de Maxwell como sendo
a componente viscosa não linear, obtém-se um modelo de Maxwell modificado com
características viscoelásto-plásticas [12]
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−−=+=
L
Levpe n
G ττ
ηττ
γγγ 1 . (B.7)
A determinação das tensões tangenciais pelo modelo viscoelásto-plástico é formalmente
idêntica ao caso viscoelástico.
B.1.4.4- Análise do comportamento do modelo viscoelástico plástico
O modelo pode assumir um comportamento elástico ou viscoso de acordo com a relação
existente entre a velocidade de rolamento, comprimento do contacto, modúlo de corte
transversal e viscosidade conforme definido pelo número de Deborah. No entanto o modelo
pode também assumir um comportamento viscoso linear de acordo com a lei de Newton
[301].
O modelo reológico viscoelástico plástico como apresentado anteriormente é definido pela
expressão (B.7),
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−−=+=
L
Levpe n
G ττ
ηττ
γγγ 1
Anexo B [333/366]
Verifica-se que o termo que representa a elasticidade, expressão (B.5),
Ge
eτ
=γ
Tende para 0 à medida que o valor do módulo de corte transversal, G, aumenta. Logo, quando
G toma valores muito elevados o modelo reológico reduz-se na prática a
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−−==
L
Lvp n
ττ
ητ
γγ 1
que corresponde à expressão (B.6), que representa o modelo reológico viscoso não linear com
tensão limite.
Reorganizando a expressão (B.6) em ordem a τ , obtém-se
⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢
⎣
⎡−=
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−
LeLτηγ
ττ 1 , (B.8)
e tendo em consideração que segundo a lei de Newton, ητγ N= , de onde, ηγτ =N que
substituindo em (B.8) permite obter
⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢
⎣
⎡−=
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−
L
N
eLττ
ττ 1 . (B.9)
A Figura B.1 apresenta a variação da tensão obtida pelo modelo viscoso com tensão limite
com o aumento da tensão limite
[334/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
τ
τN
=0.1τN
τL
=10τN
τL
=1τN
τL
τL
τL [1-e ]τN
τL(- )
τL Figura B.1 – Variação da tensão de corte no filme lubrificante com o aumento da tensão limite [301].
Como se pode verificar pela análise da figura B.1 o valor da tensão calculada através do
modelo viscoso com tensão limite tende rapidamente para a tensão obtida pelo modelo
Newtoniano à medida que a tensão limite aumenta.
Assim, pode-se concluir que o modelo viscoelástico de Maxwell com tensão limite, tende para
o modelo Newtoniano quando os parâmetros reológicos módulo de corte transversal e tensão
limite assumem valores muito elevados.
Verifica-se que a tensão obtida pelo modelo viscoso com tensão limite, não é nunca superior
ao valor da tensão limite. Este comportamento é previsível uma vez que a tensão limite actua
como uma tensão máxima admissível no lubrificante.
B.1.4.5- Velocidade de deformação
Quando existe escorregamento em duas direcções ortogonais a equação (B.7) é substituída
pelo seguinte sistema de duas equações [301],
⎪⎪⎪
⎩
⎪⎪⎪
⎨
⎧
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−⋅−=
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−⋅−=
)1
)1
bnG
anG
L
eL
e
yyy
L
eL
e
xxx
ττ
ητ
τττ
γ
ττ
ητ
τττ
γ
, (B.10)
Anexo B [335/366]
22yxe τττ += . (B.11)
As tensões tangenciais são funções espaciais e logo a sua derivada deverá observar a regra de
derivação em cadeia para funções de mais do que uma variável
( ) ( ) ( ) ( )
⎥⎥⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
∂∂∂∂∂∂
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
∂∂
∂∂
=
zt
yt
xt
zyxz
zyxy
zyxx
zyx zyxx ,,,,,,,,,, ττττ (B.12)
Considerando que existe apenas rolamento na direcção do eixo xx, pode-se afirmar que
⎪⎪⎪
⎩
⎪⎪⎪
⎨
⎧
==∂∂
==∂∂
≠=∂∂
0
0
0
Wzt
Vyt
Uxt
(B.13)
E, portanto,
( ) ( )zyxUzyx xx
x ,,,, ττ∂∂
= . (B.14)
B.1.4.6- Tensões tangenciais
Definindo,
( ) ( ) ( )x
zyxxzyxLimzyx xx
xxx ∆
∆−−=
∂∂
→∆
,,,,,,
0
τττ , (B.15)
quando ∆x é pequeno o limite pode ser aproximado pelo quociente finito
[336/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
( ) ( )x
zyxxzyx xx
∆∆−− ,,,, ττ
, (B.16)
obtendo-se
( ) ( ) ( )x
zyxxzyxUzyx xx
x ∆∆−−
=,,,,
,,ττ
τ , (B.17)
e por analogia
( ) ( ) ( )x
zyxxzyxUzyx yy
y ∆
∆−−=
,,,,,,
τττ . (B.18)
Definindo,
τx (x) → Tensão de corte τxz no ponto x,
τx (x-∆x) → Tensão de corte τxz no ponto (x-∆x),
τx (x) → Tensão de corte τyz no ponto x,
τx (x-∆x) → Tensão de corte τyz no ponto (x-∆x),
E substituindo em (B.10) obtém-se, após agrupar os termos comuns,
( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )⎪⎪⎪
⎩
⎪⎪⎪
⎨
⎧
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛+
∆=
∆
∆−+
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛+
∆=
∆∆−
+
r
er
ey
yy
r
er
ex
xx
shxG
Uxx
xxGUx
shxG
Uxx
xxGUx
ττ
ητ
ττ
τγ
ττ
ητ
ττ
τγ
11
11
(B.19)
Dividindo a segunda equação pela primeira, determina-se que
( ) ( )
( ) ( )( )( ) Cxx
xxx
GUx
xxx
GUx
x
y
xx
yy
==
∆∆−
+
∆
∆−+
ττ
τγ
τγ
. (B.20)
Introduzindo a constante C na definição da tensão equivalente (B.11) obtém-se
( ) 21 Cxxe +=ττ . (B.21)
Anexo B [337/366]
Substituindo a definição de tensão equivalente, função da tensão de corte na direcção do eixo
ox e de C, na equação (B.10), a velocidade de deformação segundo o eixo OX pode ser escrita
como
( ) ( ) ( ) ( )
⎟⎟⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜⎜⎜
⎝
⎛
+
−+
−∆−∆
−∆
=
2
2
1
11
C
xLnC
xxxG
UxxG
UxL
xLxxx τ
τ
η
τττγ . (B.22)
Igualando a zero e reordenando, determina-se que
( ) ( ) ( ) ( ) 0
1
11
2
2=−
⎟⎟⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜⎜⎜
⎝
⎛
+
−+
−∆−∆
−∆
x
C
xLnC
xxxG
UxxG
Ux
r
xrxx γ
ττ
η
τττ . (B.23)
B.1.5- Solução numérica do modelo viscoelasto plástico
Para se obter o valor de τx(x) da equação (B.23), procede-se a uma iteração por bissecções
sucessivas entre 0.0 e 0.999 τL.
Se o valor de τx (x) é encontrado neste intervalo, τy (x) é calculado pela equação (B.20).
Se o valor de τx (x) não se encontra dentro deste intervalo, isso significa que o valor de τe seria
maior do que τL, o que é impossível fisicamente de acordo com o modelo de comportamento
do lubrificante considerado. Também numericamente ocorreria um erro já que se estaria a
calcular o logaritmo de um número negativo. Neste caso, considera-se que τe é igual a τL e
determina-se τx (x) e τy (x) pelas equações (B.20) e (B.21) [301].
[338/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
ANEXO C
C.1- Comportamento Térmico de um contacto EHD em regime de
filme completo
No trabalho elaborado por Sottomayor [301] adoptou-se a solução térmica proposta por
Tevaarwerk [301, 314] em 1980. Esta selecção foi baseada em dois aspectos [291]:
i)As capacidades do modelo e a quantidade de informação que ele fornece quando
aplicado integralmente, o que embora fora do âmbito deste trabalho permite um
posterior estudo detalhado do comportamento térmico de um contacto EHD,
ii)O permitir, através de uma simplificação que não compromete os resultados
obtidos, calcular expeditamente os principais dados referentes ao comportamento
térmico que são necessários ao cálculo da tracção num contacto EHD.
Quando aplicado integralmente, embora com tempos de cálculo longos para um processo de
ajuste de parâmetros, este modelo térmico permite:
O cálculo da temperatura do filme lubrificante a nível local nas três direcções do contacto, x,
y e z;
A localização do plano de corte (tensão máxima ao longo do contacto);
O cálculo do fluxo de calor para cada superfície;
O cálculo separado da temperatura de cada superfície.
[340/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Quando utilizada a simplificação feita por Tevaarwerk, com tempos de cálculo relativamente
pequenos, este modelo permite [301]:
O cálculo da temperatura no plano de corte (supostamente a meio da espessura do
filme lubrificante);
O cálculo do fluxo de calor para cada superfície (supostamente iguais);
O cálculo da temperatura nas superfícies (supostas à mesma temperatura).
C.1.1- Equação da energia - caso geral
O comportamento energético de um sólido ou do escoamento de um fluido, considerando:
- regime permanente,
- a ausência de fontes de calor externas, e
- a pressão constante ao longo da espessura de filme,
pode ser descrito pela seguinte equação [139],
+⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
+∂∂
+∂∂
zEW
yEV
xEUρ →A
=⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
+⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
+⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
ρρρρ 111
zW
yV
xUp →B
+⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
+⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
∂∂
+⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
∂∂
zTK
zyTK
yxTK
x
→C
(C.1)
Anexo C [341/366]
⎪⎪
⎭
⎪⎪
⎬
⎫
⎪⎭
⎪⎬⎫
⎪⎩
⎪⎨⎧
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
+∂∂
+⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
+∂∂
+⎟⎠⎞
⎜⎝⎛
∂∂
+∂∂
+⎟⎠⎞
⎜⎝⎛∂∂
+⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
+⎟⎠⎞
⎜⎝⎛∂∂
+
+⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
+∂∂
+∂∂
+
222222
2
212
yW
zV
yU
xV
zU
xW
zW
yV
xU
zW
yV
xU
η
λ
→
D
onde cada termo representa um determinado fenómeno termodinâmico:
A - Convecção,
B - Compressão adiabática,
C - Condução, e
D - Dissipação viscosa, usualmente designada por φ .
Os vários parâmetros representam as seguintes grandezas físicas:
E - Energia interna,
T - Temperatura,
U,V,W - Velocidades nas direcções x, y e z respectivamente,
ρ - Densidade,
η - Viscosidade,
λ - Viscosidade volúmica (3λ+2η=0),
K - condutividade térmica.
Definindo a Energia Interna E em função da Entalpia I, obtém-se
[342/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
ρpIE −= ,
E, considerando a teoria das variações, pode-se escrever
ppIE ∂−⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂−∂=∂
ρρ11 , (C.2)
sendo a variação de Entalpia definida por
pT
TTCI p ∂⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
−+∂=∂ρρ11 , (C.3)
e o coeficiente de expansão térmica, ν, definido por
ρν
ρ=⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂ 1T
. (C.4)
Substituindo Error! Reference source not found. e (C.4) em (C.2), obtém-se
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂−∂−∂=∂
ρρν 1ppTTCE p ,
ou em termos das três direcções do espaço
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
−∂∂
−∂∂
=∂∂
ρρν 1
xp
xpT
xTC
xE
p
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
−∂∂
−∂∂
=∂∂
ρρν 1
yp
ypT
yTC
yE
p
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛∂∂
−∂∂
−∂∂
=∂∂
ρρν 1
zp
zpT
zTC
zE
p .
Substituindo as definições da variação da energia interna na equação da energia, reordenando
os dois primeiros termos e considerando a condutibilidade térmica constante dentro do
contacto, obtém-se a equação da energia para um contacto EHD, no caso geral
Anexo C [343/366]
−⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
+∂∂
+∂∂
zEW
yEV
xEUC pρ →A’
=⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
+∂∂
+∂∂
−zpW
ypV
xpUTν →B’
+⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
+∂∂
+∂∂
= 2
2
2
2
2
2
zT
yT
xTK
→C’
(C.5)
( )zyx ,,φ+ →D’
Onde cada termo (A’, B’, C’ e D’) representa:
A`- Arrefecimento por convecção,
B`- Aquecimento de compressão,
C`- Arrefecimento por condução,
D`- Aquecimento viscoso.
C.1.1.1- Equação da energia para as superfícies
É possível reduzir o problema térmico de dois sólidos em contacto em movimento relativo, ao
de uma fonte de calor em movimento num semi-espaço infinito em que o plano de contacto é
considerado adiabático com a excepção da área da fonte de calor [301, 314], como se mostra
na figura C.1.
[344/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Ti
Ti
T (x,y)
q (x,y)T (x,y)
q (x,y)
T (x,y)
T (z)h
U
U
1
2
s2
s1
2
1
ci x
z
Figura C.1 – Equivalente térmico do contacto Hertziano idealizado com fluxo de calor e distribuição de
temperaturas diferentes no filme lubrificante e nos sólidos. [301]
Retomando a equação da energia na forma (C.1),
−⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
+∂∂
+∂∂
zEW
yEV
xEUC pρ →A’
=⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
+∂∂
+∂∂
−zpW
ypV
xpUTν →B’
+⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
+∂∂
+∂∂
= 2
2
2
2
2
2
zT
yT
xTK →C’
( )zyx ,,φ+ →D’
e considerando que [301]:
- as superfícies se deformam de uma forma puramente elástica e são isotrópicas,
- o aquecimento viscoso e o aquecimento por compressão não são significativos no
caso das superfícies dos sólidos, (=> D`=B`=0),
Anexo C [345/366]
- só existe velocidade na direcção de rolamento, eixo ox, (=> V=W=0),
a equação da energia pode ser escrita [314] na forma,
xTU
zT
yT
xT si
isisisisi
∂∂
=∂∂
+∂∂
+∂∂
α2
2
2
2
2
2
(C.5)
onde siα é a difusividade do material dos sólidos em contacto, definida por,
si
psisi K
Csi
ρα =
e siT é a temperatura da cada superfície.
Como se pode ver na figura C.2, as condições fronteira do problema são:
isi TT = para ±∞=z , em que Ti é a temperatura de cada sólido num ponto afastado
da fonte de calor;
02
=⎟⎠⎞
⎜⎝⎛∂∂
±= hz
si
zT
, no exterior da área de aplicação da fonte de calor, e
( )sihz
si
Kyxq
zT ,
2
−=⎟⎠⎞
⎜⎝⎛∂∂
±=
, no interior da área de aplicação da fonte de calor.
Adimensionalizando as coordenadas x, y e z da equação (C.5) fazendo,
2
2
22
2 11XT
axT
XT
axTaXx
axX sisisisi
∂∂
=∂∂
⇒∂∂
=∂∂
⇒=⇒=
2
2
22
2 11YT
byT
YT
byTbYy
byY sisisisi
∂∂
=∂∂
⇒∂∂
=∂∂
⇒=⇒=
[346/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
2
2
22
2 11ZT
cZT
ZT
czTcZz
czZ sisisisi
∂∂
=∂∂
⇒∂∂
=∂∂
⇒=⇒=
onde a, b e c representam as dimensões do contacto nas direcções x, y e z, respectivamente.
Substituindo em (C.5) obtém-se
XT
aU
ZT
cYT
bXT
asi
siisisisi
∂∂
=∂∂
+∂∂
+∂∂ 1111
2
2
22
2
22
2
2 α ,
E, finalmente, multiplicando por 2a , obtém-se
XTP
XT
aU
ZT
ca
YT
ba
XT si
esisi
siisisisi
∂∂
=∂∂
=∂∂
+∂∂
+∂∂ 1
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
α .
O termo sii aU α , é o número adimenssional de Peclet ( esisii PaU =α ), que indica qual o
modo de transferência de calor que é predominante [301]. Valores elevados de Pes
correspondem a uma transferência de calor essencialmente por convecção, e valores baixos de
Pes a uma transferência de calor essencialmente por condução.
C.1.1.2- Equação da energia para o filme lubrificante
Retomando a equação da energia na forma (C.5),
−⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
+∂∂
+∂∂
zEW
yEV
xEUC pρ →A’
=⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
+∂∂
+∂∂
−zpW
ypV
xpUTν →B’
+⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡∂∂
+∂∂
+∂∂
= 2
2
2
2
2
2
zT
yT
xTK →C’
( )zyx ,,φ+ →D’
e considerando as seguintes hipóteses simplificativas:
Anexo C [347/366]
- o lubrificante é incompressível (⇒ B`= 0),
- só existe velocidade na direcção de rolamento, eixo ox, e esta é igual à velocidade
média das superfícies nessa direcção (⇒ V = W = 0),
a equação da energia pode ser escrita na forma [314]
( )x
TUK
zyxzT
yT
xT f
ff
fff
∂
∂=+
∂
∂+
∂
∂+
∂
∂αφ ,,
2
2
2
2
2
2
, (C.6)
onde fα é a difusividade do fluido lubrificante definida por f
pfff K
Cρα = .
Adimensionalizando as coordenadas x, y e z, fazendo:
2
2
22
2 11XT
axT
XT
axT
aXxaxX ffff
∂
∂=
∂
∂⇒
∂
∂=
∂
∂⇒=⇒= ,
2
2
22
2 11YT
byT
YT
byT
bYybyY ffff
∂
∂=
∂
∂⇒
∂
∂=
∂
∂⇒=⇒= ,
2
2
22
2 11ZT
cZT
ZT
czT
cZzczZ ffff
∂
∂=
∂
∂⇒
∂
∂=
∂
∂⇒=⇒= ,
em que a, b e c representam as dimensões do contacto nas direcções x, y e z, respectivamente,
e substituindo na equação (C.6), obtém-se
( )XT
aUK
zyxZT
cYT
bXT
af
ff
fff
∂
∂=+
∂
∂+
∂
∂+
∂
∂ 1,,1112
2
22
2
22
2
2 αφ ,
e, finalmente, multiplicando por c2 determina-se que
( )XT
acUzyx
Kc
ZT
YT
bc
XT
ac f
ff
fff
∂
∂=+
∂
∂+
∂
∂+
∂
∂ 22
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
,, αφ .
[348/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
Nos contactos EHD a espessura de filme (h ≡ c) é muito inferior às restantes dimensões do
contacto, portanto, c<<a e b, o que implica que a transferência de calor por condução na
direcção ox e oy podem ser desprezadas quando comparadas com a direcção z, obtendo-se
( )XT
PXT
ahUzyx
Kh
ZT f
eff
ff
f
∂
∂=
∂
∂=+
∂
∂ 22
2
2
,, αφ . (C.7)
O termo ahU f2α , é o número adimensional de Peclet do fluido ( eff PahU =2α ).
U1
U2
Ts2
Ts1
Ti
-1 10
z
x
Figura C.2 – Contacto idealizado com espessura de filme lubrificante constante a separar os dois sólidos
[301].
As condições fronteira do problema, como se pode verificar analisando a figura C.2, são:
( )zyxTT if ,,= na entrada do contacto ( )1−=X
( )yxTT sif ,= para 21±=Z ; 2
hz ±=
O termo da fonte de calor na equação (C.7), pode ser subdividido em duas componentes, uma
devida à compressão do lubrificante e outra devida ao corte do mesmo lubrificante.
A componente devida à compressão está provavelmente igualmente distribuída ao longo da
espessura de filme [314].
Anexo C [349/366]
A componente devida ao corte pode também ser considerada igualmente distribuída ao longo
da espessura, no entanto é aceitável considerar que ela está concentrada apenas num plano
paralelo as superfícies dos sólidos [314].
Considerando esta simplificação, é possível estabelecer uma condição fronteira extra no plano
de corte (x,y,zc),
( )f
c
zz
f
KzyxQ
X c
,,Γ−=
∂
∂
=
θ
onde Γ representa o coeficiente de repartição do fluxo de calor entre as duas superfícies.
Blok [38], O´Donoghue, Cameron [253] e Bordenet [44] baseados no conceito de
temperaturas "flash", apresentam uma forma de cálculo da razão entre o fluxo de calor que é
emitido para cada superfície, γ = q1/q2.
O coeficiente de repartição Γ pode ser obtido a partir de γ, sabendo que
( )
⎪⎪⎪
⎩
⎪⎪⎪
⎨
⎧
=
+=Γ⇒Γ−=
Γ=
2
1
2
1
11
γ
γγ .
Definindo a temperatura na superfície de dois discos em contacto, como sendo,
21
21
2⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎠⎞
⎜⎝⎛=
sisisi
si
si
isi UC
KbK
qTρπ
,
a razão entre o fluxo da calor emitido para cada superfície pode, portanto, ser obtida dividindo
esta equação quando definida na superfície 1 pela mesma equação definida na superfície 2,
obtendo-se
[350/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
21
2222
1111
2
1
2
1⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛==
spsss
spsss
s
s
UCKUCK
TT
ρρ
γ .
O coeficiente de repartição do fluxo de calor entre as superfícies, Γ depende portanto das
[301]:
- Temperaturas nas superfícies,
- Velocidades das superfícies,
- Propriedades físicas das superfícies.
Os trabalhos experimentais de Merritt [227, 301] sobre a repartição de temperatura no filme
lubrificante entre dois discos em rotação, em regime elastohidrodinâmico, verificaram uma
distribuição do tipo parabólica em que o vértice da parábola se desloca para perto do disco
mais lento, assim,
Γ = 0 ⇒ o plano de corte está na superfície 1,
o fluxo de calor para a superfície 1, q1 → 0 ,
a coordenada da posição do plano de corte, zc → h/2.
Γ = 0.5 ⇒ o plano de corte está a meio da espessura de filme,
o fluxo de calor para a superfície 1, q1 → q2 ,
a coordenada da posição do plano de corte, zc = 0.
Γ = 1 ⇒ o plano de corte está na superfície 2,
o fluxo de calor para a superfície 2, q2 → 0 ,
a coordenada da posição do plano de corte, zc → -h/2.
Anexo C [351/366]
A coordenada da posição do plano de corte, zc , na espessura de filme pode ser definida por
(ver figura C.3)
( )Γ−= 212hzC .
z
x
U
h
qαh/2
-h/2
1
q2
1
α2
1
U2Ts2
Ts1
Figura C.3 – Localização do plano de corte. [301]
1α e 2α são a distância adimensional do plano de corte as respectivas superfícies, sendo
definidas por
Γ=1α .
12 −Γ=α .
C.1.2- Solução das equações de energia. Métodos numéricos
O problema da solução das equações de energia foi ultrapassado fazendo uso de soluções
conhecidas, para o fluxo de calor constante, ou para a temperatura na fronteira constante,
aplicadas a cada célula da discretização, após o que se efectua uma assemblagem dos
resultados para obter a temperatura na área de contacto.
[352/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
C.1.2.1- Solução para a temperatura das superfícies
Devido ao valor de Pes a que a maior parte dos contactos elastohidrodinâmicos operam (10 <
Pés < 1500), o principal modo de transporte de calor é a convecção, e pouco calor se difunde
na direcção (oy) perpendicular à direcção de rolamento. Nestas condições a variação de
temperatura na direcção perpendicular ao rolamento é desprezável.
Portanto, uma faixa de largura infinita aproximaria a solução com pequeno erro [314].
Assim, pode-se subdividir a zona de contacto em faixas com a direcção de rolamento que são
tratadas isoladamente das outras. Estas faixas são depois divididas em células para aplicação
do método, como se pode ver pela Figura C.4, que representa a faixa central do contacto
[301].
z
x
x
y
a
q
α
∆Ti
j
≡
Figura C.4 – Faixa central do contacto e fonte de calor genérica qj [301]
Carslaw e Jaeger [58], dão a solução para a variação de temperatura numa faixa da superfície
de largura considerada infinita sujeita a um fluxo de calor constante. Esta variação de
temperatura pode ser calculada pela equação
( ) ( )[ ] ( ) ( )[ ]⎪⎭
⎪⎬⎫
⎪⎩
⎪⎨⎧
+⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ −
++⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ +
⋅=∆−
61602
515022
2SKSKe
axSKSKe
axeqaT a
Pa
Pa
xP
ss
eseses αα ααπλ
, (C.8)
Anexo C [353/366]
onde K0 e K1 são as funções de Bessel modificadas de 2ª espécie, de ordem zero e um
respectivamente, e
( )α+= xa
PesS25 , (C.9)
( )α−= xa
PesS26 , (C.10)
sendo ji xxx −= a distância entre a célula i e a célula j.
A equação (C.8) permite calcular a variação da temperatura, na célula i da superfície de cada
sólido, devido à influência de uma fonte de calor constante colocada na célula j, posicionada a
uma distância X.
Para a resolução do problema completo com fonte de calor não constante, basta considerar
uma fonte de calor constante correspondente a cada célula como um caso isolado, após o que,
devido à linearidade do problema, se pode aplicar uma sobreposição dos efeitos de cada uma
das fontes de calor sobre uma dada célula da discretização.
Efectuando esta operação para todas as células, equações (C.11), obtém-se a temperatura em
cada célula da superfície de cada sólido [44, 253, 269, 301, 314]:
{ } [ ] { }jijsi qRT =∆ , (C.11)
{ }siT∆ - vector temperatura,
[ ]ijR - matriz dos coeficientes de influência,
{ }jq - vector fluxo de calor,
j
siij q
TR ∆= - coeficiente de influência da fonte de calor j sobre a célula i.
[354/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
sendo o coeficiente de influência do fluxo de calor colocado na posição j, sobre a temperatura
na superfície da célula colocada na posição i, definido por
( ) ( )[ ] ( ) ( )[ ]⎪⎭
⎪⎬⎫
⎪⎩
⎪⎨⎧
+⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ −++⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ +⋅=
−
ijij
es
ijij
esesij
SKSKea
xSKSKe
ax
eaR aP
ijaP
ijaPx
sij 6160
25150
22
2
αα ααπλ
C.1.2.2- Solução para a temperatura no filme lubrificante
A solução da equação (C.7) para o filme completo é complexa, sendo no entanto possível
encontrar a solução para um cilindro de fluido, com fonte de calor interna igualmente
distribuída, plano de corte a meio do filme lubrificante, paredes adiabáticas e os dois topos
sujeitos a uma temperatura conhecida.
Esta solução é mais facilmente conseguida através de transformadas de Laplace, como
delineado por Carslaw e Jaeger [58], e apresentado por Tevaarwerk [314].
Efectuando as mudanças de variável
hzz
Z c−=
e
aaxX +
= ,
e considerando as simplificações previamente definidas, o problema é representado pela
equação [44, 269, 314]
( )XTPzyx
Kh
ZT
eff ∂
∂=+
∂∂ ,,
2
2
2
φ , (C.12)
submetida às seguintes condições fronteira e condições iniciais:
Anexo C [355/366]
T=0 para X≤ 0 ∀Z,
T=Ts1 para X>0 e Z=α1,
T=Ts2 para X>0 e Z=α2.
Obtém-se, assim, que
φψψψ 321 +Γ+=∆ QTT isif , (C.13)
com
Γ1=Γ e Γ2=1-Γ
e,
( ) ( )( )[ ] ( )( )[ ]{ }∑∞
=
+++−+−=0
1 12121n
iin ZnZnerfc ξαξαψ ,
( ) ( ) ( )( )[ ] ( )( )[ ]{ } ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎠
⎞⎜⎝
⎛+++−+−−= ∑
∞
=02 12121
nii
n
f
YnierfcYnierfcYierfcK
h ξαξαξξ
ψ ,
( ) ( )( )[ ] ( )( )[ ]{ } ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛⎟⎠
⎞⎜⎝
⎛+++−+−−= ∑
∞
=0
222
2
3 1212141
nii
n
f
ZnerfciZnerfciK
h ξαξαξ
ψ ,
o que dá a temperatura do lubrificante para a coordenada Z, permitindo determinar a
temperatura na espessura do filme.
Se se pretender apenas obter a temperatura máxima do lubrificante localizada no plano de
corte onde z=zc e Z=0, obtém-se [44, 269, 314]
φψψψ cicsicfc QTT 321 +Γ+=∆ , (C.14)
com
Γ1=Γ e Γ2=1-Γ
[356/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
e,
( ) ( )[ ]{ }∑∞
=
+−=0
1 1212n
in
c nerfc ξαψ ,
( ) ( )[ ]{ }⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛+−−= ∑
∞
=02 12121
ni
n
fc nierfc
Kh ξα
πξψ ,
( ) ( )[ ]{ }⎟⎠
⎞⎜⎝
⎛+−−= ∑
∞
=0
22
2
3 121241
ni
n
fc nerfci
Kh ξαξ
ψ ,
χξ 4efP
= ,
onde
( )a
xx i−= 0χ
é a distância adimensional à entrada do contacto, e erfc, ierfc, i2erfc são funções de erro.
Finalmente para obter a temperatura num dado ponto i do filme lubrificante, que é o resultado
do conjunto das influências que um dado volume de lubrificante sofreu até chegar ao ponto i,
é possível aplicar uma forma simplificada discretizada do integral de Duhamel apresentada
por Hildebrand (segundo Tevaarwerk [301, 314])
( )∑−
=+ ∆−⋅−=
1
01 ))(,(),(),(),(
i
kkki XkiZXZFXZFXZ ψθ , (C.15)
em que
XkiZ ∆− )(,(ψ é o coeficiente de influência da célula k sobre a célula i,
),( XZF é o parâmetro em causa.
No caso da expressão (C.14) a expressão (C.15) toma a forma
Anexo C [357/366]
( )∑−
=
++=1
0
),(i
kinternadissipadasuperíciei DPTXZθ , (C.16)
em que
XkiTTT cSSsuperficie kk∆−⋅−=
+)()( 11
ψ
XkiQQP ckkkkdissipada ∆−⋅Γ−Γ= ++ )()( 211 ψ
XkiD ckkinterna ∆−⋅−= + )()( 31 ψφφ
C.2- Hipótese simplificativa proposta por Tevaarwerk
Para simplificar os cálculos, Tevaarwerk [314], propôs uma hipótese simplificativa que
consiste em considerar que o plano de corte se situa sempre a meio da espessura do filme
lubrificante, plano (X,Y,Zc=0.5), e ainda que os números de Peclet das superfícies são iguais,
(o que implicaria que as velocidades e características das superfícies são iguais), que o
coeficiente de repartição Γ é 0.5, pelo que a temperatura das duas superfícies serão iguais,
uma vez que recebem e absorvem a mesma quantidade de calor.
Esta hipótese proposta por Tevaarwerk, não se verifica a partir do momento em que os
números de Peclet sejam diferentes, o que no caso mais geral é causado pela existência de
escorregamento, trata-se no entanto de uma aproximação válida cuja principal consequência é
perder informação sobre a temperatura em cada superfície mas que não altera
significativamente a temperatura do plano de corte e ainda menos o coeficiente de atrito
[301].
A aplicação da hipótese simplificativa de Tevaarwerk diminui consideravelmente a
complexidade uma vez que:
[358/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
O cálculo da temperatura das superfícies é aplicado apenas uma vez em cada
iteração pois as temperaturas das superfícies são iguais;
O cálculo do fluxo de calor do plano de corte para as superfícies é aplicado apenas
uma vez em cada iteração pois o calor que vai para cada superfície é igual;
Uma vez que se impõe que o plano de corte se localiza a meio da espessura do filme,
não é preciso uma iteração externa para localizar a posição do plano de corte na
espessura de filme evitando o cálculo de todo o problema n vezes.
C.2.1- Solução para a temperatura no plano de corte
O cálculo da temperatura do lubrificante no plano de corte é obtido a partir da expressão
(C.17)
φψψψ ccsc QTT 321 +Γ+=∆ , (C.17)
com Γ=0.5, e
( )∑∞
= ⎭⎬⎫
⎩⎨⎧
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ +−=
01 2
112n
nc nerfc ξψ ,
( ) ( )[ ]{ }⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛+−−= ∑
∞
=02 1121
n
n
fc nierfc
Kh ξ
πξψ ,
( ) ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛
⎭⎬⎫
⎩⎨⎧
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ +−−= ∑
∞
=0
22
2
3 2112
41
n
n
fc nerfci
Kh ξξ
ψ ,
onde erfc, ierfc e i2erfc são funções de erro e ξ e χ como definidos anteriormente.
Anexo C [359/366]
A assemblagem dos resultados pode uma vez mais ser feito utilizando a expressão
( )∑−
=
++=1
0
),(i
kinternadissipadasuperíciei DPTXZθ .
C.2.2- Determinação do fluxo de calor dissipado, dissipação interna e
potência dissipada por corte
C.2.2.1- - Fluxo de calor
O fluxo de calor que o filme lubrificante transmite às superfícies, pode ser obtido por
derivação da solução para a temperatura do fluido, equação (C.17), em ordem a Z na parede,
ou seja, quando Z=0.5 [301, 314]
21
21±=
∂
∂−==
z
ff Z
TKqq , (C.18)
φϕϕϕ 321 +Γ+= QTq s , (C.19)
com Γ=0.5, e
( ) ( )[ ] ( )[ ]( ){ }∑∞
=
+−− −−=0
121 11
2 22
n
nnnf eeh
K ξξ
π
ξϕ ,
( )∑∞
= ⎭⎬⎫
⎩⎨⎧
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ +−⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡⎟⎠⎞
⎜⎝⎛ +−−⎟
⎠⎞
⎜⎝⎛=
02 2
1231
2 n
n nerfcnerfcerfc ξξξϕ ,
( ) [ ] ( )[ ]{ }∑∞
=
+−−=0
3 11n
n nierfcnierfch ξξξ
ϕ ,
onde erfc e ierfc são funções de erro e ξ e χ como definidos no capítulo 3.
[360/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
C.2.2.2- Potência dissipada
Admitindo a hipótese que o corte acontece apenas num plano paralelo às superfícies, o valor
do calor dissipado pelas tensões de corte pode ser definido por [301, 314],
VUQ yx ∆⋅+∆⋅= ττ .
C.2.2.3- Dissipação interna
A função de dissipação interna φ é definida como sendo o produto da tensão equivalente pela
velocidade de deformação [166, 282, 301, 324], isto é,
γτφ = .
C.2.3- Determinação do fluxo de calor dissipado, dissipação interna e
potência dissipada por corte
C.2.3.1- Fluxo de calor
O fluxo de calor que o filme de lubrificante transmite às superfícies, pode ser obtido por
derivação da solução para a temperatura do fluido, equação (C.14), em ordem a Z na parede,
ou seja, quando Z=α1 e Z=α2 [44, 269, 314],
21 ,2,1
αα=∂
∂−=
z
ff Z
TKq , (C.20)
Anexo C [361/366]
φϕϕϕ 321 +Γ+= QTq isii , (C.21)
( ) ( )[ ] [ ]{ }∑ −+− −−=222222 422
1 12 ξαξα
π
ξϕ ii nnnf ee
h
K,
( ) ( ) ( )[ ] ( )[ ]{ }∑∞
=
+−+−−=0
2 12321n
iin
i nerfcnerfcerfc ξαξαξαϕ ,
( ) [ ] ( )[ ]{ }∑∞
=
+−−=0
3 2221n
iin nierfcnierfch ξαξα
ξϕ ,
onde erfc e ierfc são funções de erro e ξ e χ como definidos anteriormente.
C.2.3.2- Potência dissipada
Admitindo a hipótese que o corte acontece apenas e integralmente num plano paralelo as
superfícies em contacto, o valor do calor dissipado pelas tensões de corte pode ser definido
por [301, 314]
VUQ yx ∆⋅+∆⋅= ττ . (C.22)
C.2.3.3- Dissipação interna
A função de dissipação interna φ é definida como sendo o produto da tensão equivalente pela
velocidade de deformação [166, 282, 301, 324], isto é
[362/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
γτφ = . (C.23)
C.2.4- Aquecimento no convergente
A modelação da pressão e geometria deformada pela teoria de Hertz (anexo A), como
apresentado anteriormente não contempla a existência de pressão fora da zona de Hertz, pelo
que as pressões no convergente são nulas. Esta limitação do modelo não permite que a
solução térmica adoptada calcule qualquer variação de temperatura no convergente uma vez
que se a pressão é nula também as tensões o são.
A impossibilidade do cálculo das temperaturas no convergente apresenta alguns
inconvenientes. Um seria a não contabilização da forte influência da temperatura na espessura
de filme, no entanto esta influência encontra-se já contabilizada pelo factor de correcção da
espessura de filme como apresentado no ponto 1.4 do capítulo 3.
Outro inconveniente é a não inclusão do aumento de temperatura no convergente na variação
total da temperatura do lubrificante. Verifica-se, no entanto, que o aumento de temperatura no
convergente, embora essencial ao cálculo da espessura de filme, é muito reduzido,
especialmente quando comparado com o verificado na zona de alta pressão. Verifica-se,
ainda, que o aumento de temperatura no convergente diminui significativamente na passagem
para a zona de alta pressão devido a uma grande condução de calor para as superfícies à
medida que a espessura de filme diminui drasticamente. Assim, tendo em linha de conta estes
dois factores a contribuição do convergente na variação total da temperatura do lubrificante
pode ser considerada pouco significativa e como tal não contabilizada.
ANEXO D
D.1- Utilização do modelo de cálculo das tensões de corte em
regime de filme completo para determinação dos parâmetros
reológicos do lubrificante
A procura dos valores dos parâmetros reológicos que permitem melhor aproximação aos
resultados experimentais é feita pelo método de Levemberg-Markquardt que recorre a uma
combinação dos métodos do gradiente (método de Cauchy) e de Newton. Este método
apresenta as vantagens de uma grande simplicidade, rapidez e excelente convergência na
vizinhança da solução, sendo particularmente atractivo nos problemas de regressão em que a
função corresponde a um somatório de quadrados [203, 271, 299, 301].
A formula de recorrência do método do gradiente (método de Cauchy) para a optimização de
funções de n variáveis pode ser definida por [203, 271],
)(1 KKK XfhXX ∇−=+ (D.1)
onde:
KX Valor na iteração K,
1+KX Valor na iteração seguinte,
[364/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
h Passo,
)( KXf∇ Gradiente da função em KX ,
)( KXf Função,
este método apresenta como vantagens uma convergência segura, embora com problemas na
vizinhança do ponto óptimo, e como principal desvantagem a de ser relativamente lento.
A formula de recorrência do método de Newton para a optimização de funções de n variáveis
pode ser definida por [203, 271],
)()( 11 KKKK XfXHXX ∇−= −+ (D.2)
onde:
1)( −KXH Matriz Hesseana,
e os restantes termos como definidos para a expressão (D.1),
este método apresenta como vantagem uma convergência rápida e como desvantagem uma
convergência pouco segura.
A semelhança formal entre os métodos do gradiente e de Newton levou Markquardt a,
introduzindo ligeiras modificações, fazer a sua combinação de forma a evitar as desvantagens
e aproveitar as vantagens de ambos.
Assim, introduzindo uma matriz identidade no método do gradiente obtém-se [203, 271, 301]
)(11 KKK XfIhXX ∇−= −+ (D.3)
onde:
I Matriz identidade,
Anexo D [365/366]
365
e os restantes termos como definidos para a expressão (D.1),
e fazendo intervir um passo h no método de Newton obtém-se
)()( 11 KKKK XfXHhXX ∇−= −+ (D.4)
o que permite fazer a conjugação dos dois métodos obtendo-se como formula de recorrência
[ ] )()( 11 KKKK XfIXHhXX ∇+−= −+ λ . (D.5)
Na fórmula de recorrência do método de Levenberg-Marquardt o parâmetro λ determina a
influência de cada um dos métodos por que é composto.
Estes métodos foram concebidos para a optimização de funções, ou seja para a determinação
de máximos e mínimos de funções, situação em que )( KXf seria por exemplo o modelo
EHD e em que KX seriam as condições de funcionamento, por exemplo, P0, U, T0, etc.
Assim, ao aplicar o método obter-se-ia o conjunto de condições de funcionamento que
conduziriam ao valor máximo ou mínimo, conforme a situação, do resultado de )( KXf , o
coeficiente de atrito Numµ [301].
Na situação em causa, a determinação dos parâmetros reológicos por ajuste de um modelo
EHD a resultados experimentais, é feita uma alteração do significado da função )( KXf e de
KX . Assim, )( KXf passa a ser o somatório do quadrado das diferenças entre o valor
experimental, Expµ , e o valor numérico, Numµ , calculado pelo modelo nas condições de
funcionamento respectivas, ou seja, [ ]∑=
−=N
iKiNumiExpK XXf
1
2)()( µµ em que N é o número
de casos experimentais, e KX passa a ser os parâmetros reológicos a determinar. Ao aplicar o
método, tal como na situação anterior, vai-se obter o máximo ou o mínimo de )( KXf ,
conseguido com o valor dos parâmetros reológicos procurados.
Na prática o método inicia-se com um valor elevado de λ , isto é, tomando uma direcção de
pesquisa muito próxima da direcção do método do gradiente. Se o valor de )(Xf diminuir,
[366/366] Modelação do Micropitting nos Dentes de Engrenagens
então na próxima iteração o valor de λ é diminuído. Pelo contrário, se o valor de )(Xf
aumentar, na próxima iteração o valor de λ é incrementado. Pode dizer-se que enquanto a
pesquisa do mínimo progredir a direcção de pesquisa de Levenberg-Markquardt se vai
aproximando da direcção de pesquisa de Newton (o que permite tirar proveito da
convergência quadrática do método de newton). Quando a pesquisa do mínimo registar um
retrocesso o último ponto é ignorado e a nova direcção de Levenberg-Markquardt afasta-se da
direcção de Newton e aproxima-se da direcção do método do gradiente (a fim de abandonar
uma região desfavorável e na qual a função se afasta de uma quadrática, recorrendo para isso
à convergência “segura” embora lenta do método do gradiente). Na vizinhança do mínimo o
parâmetro λ é sucessivamente reduzido pelo que a direcção de pesquisa nas últimas iterações
é, virtualmente, a direcção de Newton (pelo menos é desejável que assim seja) [299, 301]
Verifica-se assim que cada iteração no método Levenberg-Markquardt implica o cálculo da
matriz Hesseana, )( KXH e do gradiente, )( KXf∇ , o que acarreta a necessidade de recorrer
inúmeras vezes à função a ajustar, função essa que nesta aplicação é o modelo EHD. Assim,
tempos de corrida longos do modelo EHD implicariam tempos de ajuste dos parâmetros
inaceitáveis.