MODELAGEM DINÂMICA DO DESMATAMENTO NA PROVÍNCIA … · Gostaria de agradecer em primeiro lugar a...

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CASTIGO DAVID AUGUSTO MACHAVA MODELAGEM DINÂMICA DO DESMATAMENTO NA PROVÍNCIA DE MANICA MOÇAMBIQUE BELO HORIZONTE 2020 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS Programa de Pós-graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais

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CASTIGO DAVID AUGUSTO MACHAVA

MODELAGEM DINÂMICA DO DESMATAMENTO NA PROVÍNCIA DE MANICA –

MOÇAMBIQUE

BELO HORIZONTE

2020

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

Programa de Pós-graduação em Análise e Modelagem

de Sistemas Ambientais

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CASTIGO DAVID AUGUSTO MACHAVA

MODELAGEM DINÂMICA DO DESMATAMENTO NA PROVÍNCIA DE MANICA –

MOÇAMBIQUE

Versão Final

Orientadora:

Profa Dra. Sónia Maria Carvalho Ribeiro

BELO HORIZONTE

2020

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Análise e Modelagem de Sistemas

Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais,

como requisito para obtenção do título de mestre em

Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais.

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M149m

2020

Machava, Castigo David Augusto.

Modelagem dinâmica do desmatamento na província de Manica – Moçambique [manuscrito] / Castigo David Augusto Machava. – 2020.

ix, 74 f., enc.: il. (principalmente color.)

Orientadora: Sónia Maria Carvalho Ribeiro.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais,

Instituto de Geociências, 2020.

Bibliografia: f. 67-70.

Inclui anexos.

1. Modelagem de dados – Aspectos ambientais – Teses. 2.

Desmatamento – Manica (Moçambique) – Teses. I. Carvalho-Ribeiro,

Sónia Maria. II. Universidade Federal de Minas Gerais. Instituto de

Geociências. III Título.

CDU: 911.2:519.6(679)

Ficha catalográfica elaborada por Elisabete Quatrini Vieira – CRB6 2210

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Dedico

A minha mãe lutadora

A minha esposa

Aos meus filhos

Aos meus irmãos.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer em primeiro lugar a Deus pelo dom da vida.

Aos meus pais, Augusto Machava (in memoriam) e Cristina João por terem moldado o homem

que sou.

À minha esposa Meves Carlos Manuel Chapo Machava, meus filhos Yuna Machava, Arnaldo

Machava, Ailin Machava, Benvinda Machava pela paciência, coragem, superação durante os

meus anos de formação no Brasil.

À minha orientadora Professora Doutora Sónia Maria Carvalho Ribeiro que incansavelmente foi

costurando as linhas que fizeram a presente dissertação. Obrigado pelo apoio, ensinamentos,

contribuições e elucidações em cada reunião de orientação.

À coordenação do programa de pós-graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais

na pessoa do Professor Doutor Rodrigo Affonso de Albuquerque Nóbrega, que abriu as portas

para o primeiro africano moçambicano ingressar no programa.

Ao Centro de Sensoriamento Remoto (CSR – UFMG), pelo acolhimento e aprendizado.

Ao IBE (Instituto de Bolsas de Estudo – Moçambique) e a CAPES pelo financiamento durante o

período de formação.

À Cora de Alvarenga Guimarães (secretária do programa) pela flexibilidade, sorriso e

simplicidade.

Aos meus colegas do curso, Miluska Blas Leon, Marina Teixeira, Sande Oliveira, Welisson

Wendel (Dedé), Natália Souza, Clarice Malard, Marcos de Paulo Ramos, João Pedro, Thomas

Rickard, Guilherme Pinto, Matheus Santos, Túlio Lage, António Filho, Charles Rezende, Daniel

Araújo, pela amizade e ideias compartilhadas.

Aos meus amigos moçambicanos em Belo Horizonte Edson Raso, Frederico Machado Almeida,

Luís Comissario Manjate, Tiago Pinto, Francisco Macaringue, Xavier Mariano Maia, Marta

Maputere, Júlia Beira, Bonifácio Langa, Albino Simione pelo agradável convívio.

Por último e não menos importante a todos que de forma direta ou indireta, contribuíram na

produção da presente dissertação. O meu muito obrigado, Tabhonga maning, Maita Bhassa.

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“A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de

produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza”.

Mia Couto

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RESUMO

Moçambique é um país da Africa Austral que possui extensa e diversificada cobertura vegetal.

Essa riqueza natural está sendo ameaçada por um conjunto de fatores sendo a expansão de áreas

agrícolas recorrentemente apontada como principal causa do desmatamento. No sentido de conter

desmatamento a intensificação da produção agrícola tem sido apontada como solução. A presente

pesquisa tem como objetivo analisar o fenómeno de desmatamento para entender a sua dinâmica

na Província de Manica – Moçambique e explorar as possíveis contribuições da intensificação

da agricultura na diminuição do desmatamento. Pretendeu-se também efetuar a simulação de

cenários futuros para o desmatamento a partir das tendências passadas. Para alcançar os objetivos

propostos, foi primeiramente realizado o mapeamento do uso e cobertura do solo através da

classificação de imagens satélite Landsat 5 (TM) do ano de 2007 e Landsat 8 (OLI) dos anos de

2015 e 2018. Seguidamente foi aplicado um questionário a 227 chefes de famílias entre

Dezembro de 2018 a Março de 2019 na região centro da província de Manica para caracterizar o

sistema de produção dos agricultores familiares e identificar variáveis espaciais relacionadas com

o desmatamento. Depois da codificação e processamento de dados do questionário, foram

realizadas a Análise de Componentes Principais (PCA) e Análise de Clusters (CA) para criar

uma tipologia dos agricultores da região. Foi ainda estimada a aptidão agrícola das terras

aplicando o método de análise multicritério de modo a definir e delimitar áreas mais favoráveis

para intensificação da agricultura. Por fim foi aplicado a metodologia de modelagem dinâmica

do desmatamento no software DINAMICA EGO. Na análise dos questionários e através da

utilização da PCA foi possível reduzir 24 variáveis iniciais em 7 componentes que explicam 76%

da variância total. A Análise de Clusters (CA) realizada a partir das 7 principais componentes

identificou 3 grupos de agricultores familiares com características específicas dos modos de

produção agrícola e suas associações com o desmatamento. O Grupo 1 (N=86) é o majoritário,

constituído por agricultores imigrantes para os quais a diminuição de área de floresta é causada

principalmente pela expansão de áreas agrícolas e exploração da energia da biomassa (lenha e

carvão). O Grupo 2 (N=59) é de agricultores que vivem na área desde a nascença

maioritariamente líderes comunitários. Para estes agricultores o aumento da área de produção é

motivado pela necessidade de produzir mais para comercializar excedentes. O Grupo 3 (N=82)

é de jovens agricultores e produtores de combustível da biomassa. Essa análise permitiu concluir

que são múltiplas e complexas as causas do desmatamento cuja resolução tem que ir muito além

da atual proposta de intensificação da agricultura. A avaliação da aptidão agrícola das terras

identificou cerca de 1268400 hectares com alta aptidão para a intensificação agrícola sem que

ocorra a supressão de áreas de floresta remanescente. As áreas de alta aptidão são as mais

adequadas para expandir e intensificar a produção agrícola e assim evitar a expansão das mesmas

sobre a floresta. Finalmente, com a modelagem dinâmica foi possível notar que o desmatamento

ocorre nas proximidades de estradas principais e secundárias, na zona tampão de áreas de

proteção, nas menores declividades e nas áreas próximas de principais vilas e cidades da

província. Os cenários futuros de desmatamento baseados na tendência histórica do período

analisado estimam uma diminuição de área de cobertura florestal em cerca de 1592000 hectares

até ao ano de 2025, no qual a província terá apenas 5% de floresta. Este trabalho pode contribuir

para auxiliar a formulação de Políticas Públicas em Moçambique no sentido de aliar

desenvolvimento socioeconómico à conservação da natureza.

Palavras-Chaves: Modelagem dinâmica, desmatamento, simulação de cenários, Manica -

Moçambique.

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ABSTRACT

Mozambique is a Southern African Country with high and diversified plant cover. This natural

wealth is being threatened by a set of related factors being the expansion of agricultural areas

most cited as the main cause of deforestation. In order to stop deforestation the intensification of

agricultural production has been pointed as a solution. The continuous anthropic pressure on

forest resources has led to decreased patterns of vegetation cover. This research aims to analyze

the deforestation phenomenon in order to understand its dynamics in Manica Province -

Mozambique and to explore the possible contributions of the intensification of agriculture in the

reduction of deforestation. It was also intended to simulate future scenarios for deforestation from

past trends. To achieve the proposed objectives, the mapping of land use and land cover was first

carried out through the classification of satellite images Landsat 5 (TM) from the year 2007 and

Landsat 8 (OLI) from the years 2015 and 2018. Then a questionnaire was applied to 227 heads

of families between December 2018 and March 2019 in the central region of Manica province to

characterize the production system of family farmers and identify spatial variables related to

deforestation. After coding and processing the questionnaire data, Principal Component Analysis

(PCA) and Cluster Analysis (CA) were performed to create a typology of farmers in the region.

The agricultural suitability of the lands was also estimated by applying the multicriteria analysis

method in order to define and delimit more favorable areas for agricultural intensification.

Finally, the dynamic deforestation modeling methodology was applied in the DINAMICA EGO

software. In the analysis of the questionnaires and by using the PCA it was possible to reduce 24

initial variables in 7 components that explain 76% of the total variance. The Clusters Analysis

(CA) based on the 7 main components identified 3 clusters of family farmers with specific

characteristics of agricultural production modes and their associations with deforestation. Cluster

1 (N = 86) is the majority, consisting of immigrant farmers for whom the decrease in forest area

is mainly caused by the expansion of agricultural areas and exploitation of biomass energy

(firewood and coal). Cluster 2 (N = 59) consists of farmers living in the area since birth, mostly

community leaders. For these farmers the increase in production area is motivated by the need to

produce more to sell surpluses. Cluster 3 (N = 82) is young farmers and producers of biomass

fuel. This analysis led to the conclusion that the causes of deforestation are multiple and complex

and their resolution must go far beyond the current proposal for intensifying agriculture. The

assessment of the agricultural suitability of the land identified about 1268400 hectares with high

aptitude for agricultural intensification without the suppression of remaining forest areas. Areas

of high suitability are propitious for expanding and intensifying agricultural production and thus

preventing their expansion over the forest. Finally, with dynamic modeling it was noted that

deforestation occurs near of major and minor roads, in the buffer zone of protection areas, in the

smallest slopes and in the areas near the main towns and cities of the province. Future

deforestation scenarios based on the historical trend of the analyzed period estimate a decrease

in forest cover area by about 1592,000 hectares by the year 2025, in which the province will

remain only with 5% of forest area. This research can contribute to assist the formulation of

Public Policies in Mozambique to combine socioeconomic development with nature

conservation.

Keywords: Dynamic modeling, deforestation, scenarios simulation, Manica - Mozambique.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Área florestal total por província ………………………………………………..…...1

Figura 2 - Mapa dos diferentes tipos de vegetação natural de Moçambique ..................................4

Figura 3 - Zonas do mundo afetadas pela desflorestação ….………………………………….....4

Figura 4 – Comparação entre importações Chinesas e exportações Moçambicanas de madeira em

tora e serrada, 2007-2012 …………………………………………………………………..…..10

Figura 5 - Localização da área de estudo …………………………………………......……..….18

Figura 6 - População da província de Manica (1997-2017) …………………….……...……….21

Figura 7 - Fluxograma do modelo metodológico ……………………………………………….24

Figura 8 - Variáveis estáticas ……………….……………………………………...……….…..35

Figura 9 - Imagens classificadas da área de estudo. ……………………...……………...….….39

Figura 10 - Pontos de validação de campo da área de estudo ……………………...………...…41

Figura 11 - Fotos da área de estudo – Áreas de floresta e de Não Floresta …………...…........….42

Figura 12 - Forma de aquisição de direito de uso e aproveitamento dessa terra …….………….44

Figura 13 - Causa da expansão de áreas de produção ……………………………………….…..45

Figura 14 - Número de agricultores familiares de cada cluster por posto administrativo ……...51

Figura 15 - Clusters de agricultores familiares ………………………………………………...51

Figura 16 - Modelo conceitual do desmatamento na província de Manica – Moçambique ……54

Figura 17 - Relação do uso e cobertura da terra e aptidão agrícola ………….…………………55

Figura 18 - Aptidão agrícola das terras preservando a floresta ………………………………….56

Figura 19 - Variação de área de floresta 2007 – 2018 ………………………………………….57

Figura 20 - Variação dos pesos de evidência …………………………………………………..59

Figura 21 - Mapa de probabilidade de mudança 2018 …………………...….……………….....63

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Estimativas de taxa de desflorestação por província, MARZOLI, 2007 …………..….5

Tabela 2 - Imagens Landsat 5 e 8 órbita ponto 167/71-75 ……………………………...……....22

Tabela 3 - Qualidade da classificação associada ao índice Kappa …………………………..….26

Tabela 4 - Métricas da paisagem analisadas ……………………...…………………...……….27

Tabela 5 - Notas e pesos por cada fator de aptidão das terras ……………………….………….31

Tabela 6 - Níveis de aceitação encontrados nos valores do Índice de Kappa …..……………….39

Tabela 7 - Pontos de validação ……………………..……………………………………….….40

Tabela 8 - Métricas da paisagem ………………………………………………………………..42

Tabela 9 - Setor de atividade ………………………..…………………………………….…….43

Tabela 10 - Causas do desmatamento ………………….………………………………….……44

Tabela 11 - Aumento de área de produção ……………………….……………………….…….46

Tabela 12 - Toneladas de milho por hectare ……………...……….……………………………46

Tabela 13 - Teste de KMO e Bartlett ………………………………..……………….…………46

Tabela 14 - Variância total explicada ………….……………………………………….………47

Tabela 15 - Matriz das componentes …………………………………………………………...48

Tabela 16 - Centro final do Cluster ………………………………………………………….….50

Tabela 17 - Área das classes de uso e cobertura e da aptidão agrícola das terras ….....…….……55

Tabela 18 - Área de classes de uso e cobertura de terra e da aptidão agrícola preservando a

floresta……………………………………………………………………………………….....56

Tabela 19 - Quantificação das classes temáticas 2007 - 2018 …………...………………….…..57

Tabela 20 - Matriz de Transição 2007 – 2018 (single step) ………………..………………....…58

Tabela 21- Correlação entre mapas ……………………...………………………………….….61

Tabela 22 - Validação do índice de similaridade Fuzzy com diferentes tamanhos de janela …....62

Tabela 23 - Percentual de classe do mapa observado e simulado …….......………………….….62

Tabela 24 - Quantificação da probabilidade de cenários futuros ……………………………......64

Tabela 25 - Probabilidade de área desmatada entre 2019 a 2025 ………………...………….….64

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LISTA DE SIGLAS

AC – Autómatos Celulares

CAP – Censo Agropecuário

DDF – Desmatamento e Degradação Florestal

DNTF – Direção Nacional de Terra e Floresta

FAEF – Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal

IOF – Inquérito sobre Orçamento Familiar

INE – Instituto Nacional de Estatística

INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

LULCC – Land Use and Land Cover Change

MICOA – Ministério para a Coordenação da Acão Ambiental

MINAG – Ministério da Agricultura

MISA – Ministério de Agricultura e Segurança Alimentar

MITADER – Ministério de Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural

PEDPM – Plano Economico de Desenvolvimento da Província de Manica

SRTM - Shuttle Radar Topography Mission

TM – Thematic Mapper

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ……………………………………...………….……………………….ii

RESUMO ………………………………………………………………………………………iii

ABSTRACT ………………………………………………………………….…………….…..iv

LISTA DE FIGURAS …………………………………………………………....………….…..v

LISTA DE TABELAS ……………………………………………………...……………….….vi

LISTA DE SIGLAS ………………………………………………………………..…………..vii

1. INTRODUÇÃO …………………………………………………………………..…………1

1.1 DESMATAMENTO E SUAS CONSEQUÊNCIAS AMBIENTAIS…….........................1

1.2 O CONTEXTO DO DESMANTAMENTO EM MOÇAMBIQUE ……………….……..2

1.3 CAUSAS DO DESMATAMENTO EM MOÇAMBIQUE ………………..………..……8

2. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO ESTUDO……..…………………………..…….11

3. OBJETIVOS ………………………………………………………….……………..…..…13

3.1 Objetivo geral ……………………………………………………………...……………13

3.2 Objetivos Específicos ……………………………………………………………....…...13

4. REFERENCIAL TEÓRICO ……………………………………………………….……....14

4.1 MODELAGEM DINÂMICA DO USO E COBERTURA DE TERRA …….……….….14

4.1.1 Análise Temporal da Paisagem …………….…………………………….……........15

4.1.2 Análise Espacial da Paisagem ………………………………………….……...…....15

4.1.3 Simulação de Cenários ……………………………………………………...........…17

5. MATERIAL E MÉTODOS …………….………………………………………..…….......18

5.1 ÁREA DE ESTUDO …………………………...…………………………………..…...18

5.1.1 Características físico-geográficas e socioeconómicas da província de

Manica……………………………………………………………………………....19

5.2 MATERIAL ………………………………………………………...…………….…….22

5.3 MÉTODOS ………………………………………………………….………………….24

5.3.1 Processamento digital de imagens ……………………………………………..…....24

5.3.1.1 Pré-processamento …………………………………………...……………..…..25

5.3.1.2 Classificação digital……………………………………………..…………..…..25

5.3.1.3 Validação da exatidão da classificação …………………………..………...…....26

5.3.2 MÉTRICAS DA PAISAGEM …………………………………………..…………..27

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5.3.3 CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO DOS AGRICULTORES

FAMILIARES ……………………………………………………………………....28

5.3.4 AVALIAÇÃO DA APTIDÃO AGRÍCOLA DAS TERRAS ……………………….30

5.3.4.1 Níveis de avaliação da aptidão ……………………………………………….....30

5.3.5 MODELAGEM DINÂMICA …………………………………….……………...…32

5.3.5.1 Calibração do modelo …………………………………………………...……....32

5.3.5.2 Simulação e validação ………………………………………..………...…….....36

5.3.5.3 Obtenção de cenários futuros …………………………….…………...…………38

6. RESULTADOS …………………………………………………………….………….…..39

6.1 VALIDAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO …………………………………..………..…...39

6.1.1 Índice Kappa …………………………………………………………………...…...39

6.1.2 Validação de campo ………………………………………………….……………..40

6.2 QUANTIFICAÇÃO DAS MUDANÇAS NO USO E COBERTURA DO SOLO …..…42

6.2.1 Métricas da paisagem ……………………………………………………….……....42

6.3 CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO DOS AGRICULTORES

FAMILIARES DA PROVÍNCIA DE MANICA ………………………….……….…...43

6.3.1 Análise de Componentes Principais ………………………………………..........….46

6.3.2 Análise de Clusters ………………………………………………………………….49

6.3.2.1 Caracterização dos clusters ……………………………………………………..50

6.3.3 Modelo conceitual do desmatamento na província de Manica ……………..……....52

6.4 APTIDÃO AGRÍCOLA DAS TERRAS ……………………………………..……...….53

6.5 CALIBRAÇÃO DO MODELO DINÂMICO DO DESMATAMENTO E ANÁLISE DA

PAISAGEM………………………………………………………………….……….....57

6.5.1 Matriz de transição ……………………………………………….…………………57

6.5.2 Pesos de evidência ………………………………………………………….….…....58

6.5.3 Correlação entre mapas ……………………………………………………..........…60

6.5.4 Simulação e validação ……………………………………………...……………….61

6.5.5 Obtenção de cenários futuros ……………………………………………….……….64

7. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES …………………………………………………..65

8. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS …………………………………………….………67

9. ANEXOS ……………………………..…………………………………………………....71

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1. INTRODUÇÃO

1.1 DESMATAMENTO E SUAS CONSEQUÊNCIAS AMBIENTAIS

Desmatamento é entendido como operação/processo que objetiva/resulta na supressão

total da vegetação nativa de determinada área para o uso alternativo do solo (implantação de

projetos de assentamento de população, agropecuários; industriais; florestais; de geração e

transmissão de energia; de mineração; e de transporte) (IBAMA 2010). Com o processo de

desmatamento, uma área de floresta é convertida para uma área de não floresta (UNFCCC, 2011).

A FAO define floresta como terreno medindo mais de 0,5 hectares com árvores com altura

superior a 5 metros e cobertura de copa superior a 10%, ou árvores capazes de alcançar estes

parâmetros in situ.

Nos últimos 30 anos vários estudos foram realizados sobre as alterações no coberto

florestal mundial pelas organizações e instituições como a FAO, UNEP (United Nations

Environment Programme),WRI (World Resources Institute), entre outras. Pese embora tais

estudos divergirem quanto à metodologia e às conclusões específicas, mas no essencial todos

afirmam uma constatação geral da diminuição e contínua degradação das florestas, especialmente

nos países em desenvolvimento. O mundo perdeu mais de 3% da sua cobertura florestal entre

1990 e 2005 e cerca de 96% da desflorestação recente teve lugar nas regiões tropicais (Figura 1)

e a mais significativa perda líquida de coberto florestal registou-se entre 2000 e 2005 em dez

países - Brasil, Indonésia, Sudão, Mianmar, Zâmbia, República Unida da Tanzânia, Nigéria,

República Democrática do Congo, Zimbabué e Venezuela (FAO, 2007).

Figura 1: Zonas do mundo afetadas pela desflorestação. As zonas a vermelho ilustram as principais frentes ativas

de desflorestação (Fonte: CCE, 2008)

A redução do tamanho das manchas/fragmentos florestais naturais em todo o mundo tem

ocorrido como resultado, principalmente, de incêndios (DIAS, 2009), corte de árvores para

propósitos comerciais (MPF, 2015), devastação de terras para utilização da agropecuária

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(RIVERO, 2009). Ao longo da história, indivíduos têm sempre se beneficiado da remoção de

árvores para usos diversos como fonte de energia, construções de habitações e tornar terra

disponível para agricultura. Em muitos aspetos, os desmatamentos que ocorrem atualmente em

regiões tropicais não são significativamente diferentes dos que ocorreram em regiões temperadas

séculos atrás (ARAES, 2012). O desmatamento, além de apresentar consequências no âmbito

local e regional, afeta também o planeta, resultando em mudanças climáticas causadas pela perda

do revestimento florestal, o efeito estufa causado pela queima de madeira, aumento da

sedimentação dos rios, erosão, degradação do solo e perda da biodiversidade (KITAMURA, 1994

e FEARNSIDE, 2005).

1.2 O CONTEXTO DO DESMANTAMENTO EM MOÇAMBIQUE

Moçambique é um país da África Austral que se situa entre a foz do Rio Rovuma e a

República da África do Sul, mais concretamente entre os paralelos 10° 27’ e 26° 56’latitude Sul

e os meridianos 30°12’ e 40°51’ longitude Este. Faz fronteira com a República da Tanzânia, a

Norte, Malawi, Zâmbia, Zimbabué, África do Sul e Swazilândia, a Ocidente, República da África

do Sul a Sul e é banhado pelo Oceano Índico em toda a sua extensão a Leste. O país ocupa uma

área de cerca de 799.380 km2 (CNDS, 2002, MAE, 2005) e, segundo dados do censo de 2017,

Moçambique conta com cerca de 28,9 milhões de habitantes e cerca de 70% da população vive

nas áreas rurais (INE, 2018). É um dos países com baixo índice de desenvolvimento humano

situando-se em 180 lugar dos 188 países (PNUD, 2018).

A República de Moçambique organiza-se territorialmente em províncias, distritos, postos

administrativos, localidades e povoações. Moçambique está dividido em 11 Províncias: ao Norte,

Niassa, Cabo Delgado e Nampula, ao Centro, Zambézia, Tete, Manica e Sofala, e a Sul,

Inhambane, Gaza, Maputo e Cidade de Maputo - a capital do país com estatuto de província

(CRM, 2004).

Em Moçambique, 70% do território está coberto por formações vegetais, sendo 51%

coberto por florestas e 19% por outras formações lenhosas. É um dos poucos países na região

que ainda mantém uma proporção considerável da sua cobertura com florestas naturais

(aproximadamente 45 milhões de hectares). Uma parcela com 30% de copa é considerada uma

floresta, de acordo com a definição nacional de floresta, mesmo que possua mais de 20% dos

assentamentos, agricultura ou outros tipos de uso (MITADER, 2018).

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Cerca de metade da floresta natural (27 milhões de hectares) são consideradas florestas

produtivas com potencial para produção de madeira geralmente localizados fora de áreas de

protegidas (BERF 2017; FAO 2010 e MARZOLI 2007). Mais de 13 milhões de hectares de

florestas estão localizadas em áreas de conservação (MITADER, 2018)

Segundo MICOA (2009) e UETELA, (2014), oito tipos amplos de vegetação foram

descritos e mapeados para Moçambique sendo:

1. Floresta de Miombo com maior abrangência espacial (2/3 do território nacional),

dominando no norte e centro do país. A palavra “Miombo” provém de várias línguas

faladas no centro da África e é dominado por espécies de gênero Brachystegia,

Julbernardia, e Isoberlina angolensis (Fabaceas, Subfamília Caesalpinioideae). Na sua

forma original é fisionomicamente uma vegetação fechada, decídua a semidecídua,

constituída de um estrato arbóreo que varia entre os 10 e 20 metros de altura, quando

maduro e não degradado, de árvores de folhas pinadas.

2. Floresta de Mopane que ocorre nas partes do sul e do norte do país. O terceiro tipo de

vegetação mais frequente. Floresta de Mopane é um tipo de vegetação caracterizada pela

dominância da espécie arbórea Colophospermum mopane, sendo a única espécie de copa

em quase toda sua extensão e distribui-se habitualmente em unidades descontínuas.

3. Floresta Indiferenciada, que abrange extensas partes do sul, centro e partes do norte

do país.

4. Os tipos de vegetação remanescentes incluem Elementos Afromontane, Mosaicos

litorais, Vegetação Halofítica, Mangais e Vegetação de Pântano.

Em relação à distribuição da área florestal total, cerca de 40,1 milhões de hectares, as

províncias de Moçambique apresentam valores consideravelmente diferentes (Figura 2). As

Províncias do Niassa, Zambézia e Cabo Delgado são as mais representativas enquanto as

Províncias de Maputo, Inhambane e Nampula são as que apresentam uma área de floresta mais

reduzida (DNTF, 2008).

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Figura 2: Área florestal total por província. Fonte: Falcão, 2013

Apesar deste grande potencial florestal, Moçambique enfrenta enormes desafios na gestão

destes recursos, em parte devido a grande demanda da indústria florestal, e pelo facto de cerca

de 85% das necessidades energéticas serem satisfeitas pela energia de biomassa (FALCÃO e

NOA, 2016). Cerca de 0.58% (219000 ha) da cobertura total perde-se anualmente (MARZOLI,

2007). Estudo desenvolvido pelo MITADER (2016), demonstra que cerca de 220000 hectares de

floresta perdem-se anualmente devido ao desmatamento (Figura 3). A conversão de áreas de

florestas em áreas de cultivo pela prática de agricultura itinerante é apontada como uma das

causas dominantes do desflorestamento.

Figura 3: Perda de cobertura florestal. Fonte: MITADER, 2016

Para além da expansão de áreas agrícolas, também constituem causas do desflorestamento

a exploração de combustíveis lenhosos para abastecimento dos centros urbanos e as queimadas

descontroladas. Essas práticas estão desflorestando vastas zonas do território a um ritmo

24%

13%

12%

11%

9%

9%

8%

7%

6%

2%

100%

Niassa

Zambezia

Cabo Delgado

Tete

Gaza

Manica

Sofala

Nampula

Inhambane

Maputo

Total

Pro

vin

cias

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alarmante, especialmente ao longo dos corredores económicos e em redor dos principais centros

urbanos do país (MINAG, 2011). Segundo RIBEIRO e NHABANGA (2009), apenas 7 a 9% da

população total de Moçambique tem acesso à eletricidade, cabendo à restante população fazer o

uso da lenha, do carvão, petróleo e do gás. No entanto, o baixo acesso à eletricidade, não se deve

à baixa produção de energia no país, mas à priorização desta para exportação e industrialização.

Consequentemente, a coleta de lenha e a produção de carvão vegetal para efeitos de cozinha e

aquecimento representa mais de 85% do consumo total de energia no país.

Dados do estudo desenvolvido por MARZOLI, (2007) (Tabela 1) revelam que Manica é

uma das províncias com um grande potencial florestal porém, registra elevadas taxas de

desmatamento. Cerca de 348,000 hectares de floresta densa nesta província foram desflorestadas

de 1990 a 2002, correspondendo a uma taxa anual de 1.27%, adicionalmente um total de 85,132

hectares de florestas abertas foram desflorestadas. Combinando as duas categorias a taxa anual

de desflorestamento foi de 30,962 hectares por ano (0.81% da província por ano). A maior parte

das áreas desflorestadas foram convertidas para terras agrícolas. No sistema produtivo local

existem duas formas de utilização pousio longo (4 anos) e pousio curto (2 anos). A maior

mudança das florestas densas foi para a categoria de florestas com agricultura itinerante (pousio

de longa duração) (67%), em seguida para a categoria agricultura itinerante/florestas (pousio de

curta duração) (19%) e culturas agrícolas, principalmente o tabaco (7.5%).

Tabela 1: Estimativas de taxa de desflorestação por província, MARZOLI, 2007

Província

Área de

floresta e outras

coberturas

lenhosas

estimadas para 1990

Área de

floresta e

outras coberturas

lenhosas

estimadas

para 2002 ('000 ha)

Mudança

anual de florestas e

outras

coberturas

lenhosas ('000 ha)

Mudança

anual de

área de

florestas ('000 ha)

Taxa anual de

desflorestamento 1990-2002 (%)

Cabo Delgado 5322 4989 28 25 0.54

Gaza 5182 5027 13 13 0.33

Inhambane 4585 4424 13 11 0.52

Manica 4340 4005 28 23 0.75

Maputo 1280 1078 17 16 1.67

Nampula 3958 3509 37 33 1.18

Niassa 9635 9379 21 21 0.22

Sofala 4430 4161 22 20 0.63

Tete 7376 7025 29 27 0.64

Zambézia 5819 5356 39 31 0.71

Total 51927 48953 247 220 0.58

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De acordo Constituição da República de 2004, o Estado Moçambicano deve promover

iniciativas para garantir o equilíbrio ecológico e a conservação e preservação do ambiente

visando a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos (número 1 do artigo 117). O Estado

Moçambicano deve também garantir o direito ao ambiente no quadro de um desenvolvimento

sustentável sendo de destacar a política para garantir o aproveitamento racional dos recursos

naturais com salvaguarda da sua capacidade de renovação, da estabilidade ecológica e dos

direitos das gerações vindouras.

O elevado nível de pobreza em Moçambique constitui o principal constrangimento para

a gestão sustentável dos recursos naturais. A fome e a urgência de satisfação de necessidade

básica não permitem que a comunidade tenha um horizonte de planificação e uso dos recursos

em longo prazo (NHANTUMBO e MACQUEEN, 2002). Assim, o Governo de Moçambique

definiu, na sua Política e Estratégia de Florestas e Fauna Bravia o objetivo social referente ao

“envolvimento das comunidades locais no manejo e conservação dos recursos florestais”, tendo

em consideração a dependência das comunidades dos recursos naturais. Com base nesse

conhecimento, surgiram as iniciativas de manejo comunitário dos recursos naturais que visam

melhorar simultaneamente as condições de vida das comunidades rurais e garantir a participação

e a gestão sustentável dos recursos disponíveis (CUCO, 2005).

Estudos recentes sobre o desmatamento em Moçambique (CEAGRE & WINROCK,

2016, MITADER 2016) demonstram uma tendência cada vez mais crescente deste problema

causado principalmente por dois processos: 1) expansão da agricultura itinerante e 2) exploração

de madeira, carvão vegetal e lenha. SITOE e SÁ-NOGUEIRA (2017) fazem referência da

insustentabilidade dos atuais níveis de desflorestamento na perspetiva económica e ambiental.

A expansão e a intensificação da agricultura é vista pelo Governo de Moçambique como

sendo importante para o aumento da produção e produtividade agrária e para aumentar sua

competitividade de modo a garantir a segurança alimentar e renda dos produtores rurais

(MINAG, 2011). Através do plano estratégico para o desenvolvimento do setor agrário (2011 –

2020), o Governo pretende que: A agricultura cresça, em média, pelo menos 7% ao ano. As

fontes de crescimento serão a produtividade (ton/ha) combinada com o aumento da área

cultivada, perspetivando duplicar os rendimentos em culturas prioritárias e aumentar em 25%

a área cultivada de produtos alimentares básicos até 2020, garantindo a sustentabilidade dos

recursos naturais.

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Dado o fato da expansão de áreas agrícolas (paradoxalmente incentivado pelo Governo

de Moçambique) constituir principal causa do desmatamento, têm sido apontadas várias

iniciativas para estancar essa expansão dentre as quais a intensificação da produção e aumento

da produtividade e a prática de agricultura de conservação associado ao uso de tecnologias limpas

de baixo capital que garantam a maximização de rendimentos e lucros (EGAS, et al, 2016,

SITOE, A., SALOMÃO, A. & WERTZ-KANOUNNIKOFF, S 2012, e GRAINGER et al 2002)

De acordo com KISSINGER et al, (2012), numa economia de elevada demanda por

produtos agrícolas e commodities, o aumento da produtividade não reduz a expansão de áreas

agrícola. Para que essa medida não provoque o desmatamento, é imprescindível que seja

combinada com outras medidas tais como o zoneamento da terra e atribuição do direito de uso e

aproveitamento de terra. Muitos países adotam a estratégia da intensificação da agricultura para

o combate de vetores do desmatamento no entanto, não se faz a explicita ligação espacial ou

politica entre a estratégia da intensificação e a reutilização de áreas agrícolas abandonadas (em

pousio) ou degradadas (KISSINGER et al, 2012).

Para além do que tem sido proposto, torna necessário a identificação de áreas adequadas

para a intensificação da agricultura ou seja, é importante definir onde é possível e desejável

intensificar. A identificação da variabilidade espacial da aptidão agrícola é essencial para um

planejamento adequado do uso de terra nas pequenas propriedades de agricultores familiares e

assim, limitar sua expansão garantindo deste modo a preservação de áreas florestais

remanescentes. Não basta avançar com estratégia de expansão e intensificação da agricultura sem

se alicerçar numa base técnica cientifica que permita orientar o uso mais adequado das terras pela

identificação de suas potencialidades ou limitações.

A disponibilidade de área para expansão da agricultura é, sem dúvida, um dos principais

direcionadores de tomada de decisão para o uso adequado das terras sem comprometer a

sustentabilidade dos recursos ambientais. Segundo RAMALHO FILHO e PEREIRA (1999), o

conhecimento da aptidão de terras é fator de grande importância para propiciar o uso adequado

da oferta ambienta1 e, sobretudo, evitar possível sobreutilizacão dos recursos naturais. Para

SUGAMOSTO, (2002) a utilização dos sistemas de informação geográfica (SIG) na avaliação

de aptidão das terras pode minimizar o grau de subjetividade de estimativas feitas a partir de

cruzamentos que anteriormente eram realizados de forma manual.

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A avaliação da aptidão agrícola possibilita não apenas identificar o potencial produtivo

das terras, nas suas diferentes categorias de uso e manejo, mas também oferece importantes

subsídios para planejamento do uso e manejo do solo de forma sustentável (NETO et al, 2018).

No caso específico de Moçambique, a definição de áreas adequadas para uma maior

produção e rendimento pode limitar a expansão de áreas agrícolas e permitir o manejo adequado

de terras para fins agrícolas. É nessa ótica que achamos pertinente a avaliação da taxa de

adequação das terras para o uso agrícola de modo a subsidiar o planejamento de pequenas

propriedades de agricultores familiares da região centro da Província de Manica em

Moçambique.

1.3.CAUSAS DO DESMATAMENTO EM MOÇAMBIQUE

Estudo desenvolvido pelo CEAGRE e WINROCK INTERNATIONAL 2016, concluiu

que as causas de desmatamento em Moçambique são na realidade múltiplas e complexas, e que

muitas das causas diretas agem de forma combinada sendo por vezes difíceis de separar, podendo

numa mesma região atuar em combinação num mesmo período de tempo ou em sequência. Com

base na análise levada a cabo neste estudo, sete sistemas de múltiplos agentes e causas de

desmatamento agindo em interação são propostos, apresentando um conhecimento compreensivo

das sinergias e interações sistémicas entre agentes e causas de desmatamento singulares. Estes

sete sistemas descrevem as interações sistémicas entre múltiplos agentes, e são dominados por:

1. Agricultura comercial – S1

2. Agricultura itinerante ou familiar de pequena escala – S2

3. Exploração de produtos florestais – S3

4. Lenha e carvão – S4

5. Expansão urbana e outras infraestruturas – S5

6. Mineração – S6

7. Pecuária – S7.

O resultado mais evidente é a dominância do sistema representado por agricultura

itinerante (S2) como principal causa de desmatamento, tendo a proporção de desmatamento

associado a este sistema variado entre 72% nos distritos da região Centro e Norte de Moçambique

e 59% nos distritos do Sul do país. A expansão urbana (S5) também representa uma proporção

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considerável (12%), sobretudo no Sul do país (23%). O tipo de floresta também influencia na

taxa de desmatamento, por exemplo, a floresta de mopane é a mais afetada pela produção de

carvão, exploração madeireira e pastagem. As florestas de miombo são as mais afetadas pela

expansão de áreas agrícolas (CEAGRE & WINROCK INTERNATIONAL, 2016).

A agricultura de subsistência é a maior causa do desmatamento, devido à necessidade

constante de abertura de novos campos agrícolas, motivada pelo baixo rendimento das

explorações agrícolas e pelo crescimento populacional (SITOE, A., SALOMÃO, A. & WERTZ-

KANOUNNIKOFF, S, 2012).

A exploração de madeira comercial tem vindo a crescer nos últimos anos, em resultado

da crescente demanda dos mercados asiáticos (SITOE, A., SALOMÃO, A. & WERTZ-

KANOUNNIKOFF, S 2012). Esta crescente demanda também tem motivado um aumento das

exportações ilegais, tendo sido estimado que o volume exportado ilegalmente é o dobro do

volume licenciado (FAEF, 2013).

Um estudo da Environmental Investigation Agency (EIA) publicado em 2013 indica que

em 2012, o Governo de Moçambique registrou exportações de 260.385 m3 de madeira em tora e

serrada, enquanto por exemplo a China registrou importações de 450.000 m3 de madeira em tora

e serrada proveniente de Moçambique (EIA, 2013). A discrepância é de 189.615 m3, constituída

quase inteiramente de madeira em tora ilegalmente exportada para fora de Moçambique por

empresas Chinesas, e provavelmente composta primariamente por espécies de 1ª classe – as quais

se encontram proibidas de serem exportadas em tora (Figura 4) (FALCÃO, 2013).

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Figura 4: Comparação entre importações Chinesas e exportações Moçambicanas de madeira em tora e serrada,

2007-2012

Mais de 90% da produção de carvão em Moçambique é ilegal, havendo poucas licenças

florestais para a produção de carvão (CUVILAS et al., 2010), o que implica que não há uma

exploração com reposição das árvores cortadas. Em resultado desta falta de reposição, o elevado

consumo per capita 1,2 m3/ano, (BROUWER e FALCÃO, 2004)), especialmente perto dos

grandes centros de consumo (CUVILAS et al., 2010), resulta na redução da cobertura florestal

nos locais de produção.

A expansão urbana tem vindo a aumentar nos últimos anos, em resultado do crescimento

populacional e migração das zonas rurais para zonas urbanas, especialmente no sul do país

(SITOE, A., MIRIRA, R. & TCHAÚQUE, F 2007). A expansão urbana está também muito

interligada com a produção de carvão, devido ao facto deste constituir a principal fonte energética

nos principais centros urbanos (ATANASSOV et al., 2012).

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

350000

400000

450000

2007 2008 2009 2010 2011 2012

m3

Importacoes registradas pela China de madeira em toro e serrada proveniente de Mocambique

Exportacoes registradas por Mocambique de madeira em tora e serrada a nivel mundial

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2. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Em Moçambique, as mudanças na cobertura florestal foram reportadas pelo inventário

florestal de MARZOLI (2007), e ocorrem sobretudo, ao redor de grandes cidades, corredores de

desenvolvimento, áreas de conservação, assim como em florestas de gestão comunitária

(SAKET, 1994). É um fenómeno comum em Moçambique e é resultado do corte seletivo de

árvores (exploração madeireira), queimadas descontroladas ou abertura de pequenas áreas de

machambas dentro de áreas de vegetação densa ou esparsa (SITOE, A., SALOMÃO, A. e

WERTZ-KANOUNNIKOFF, S. 2012), desta forma, áreas de cobertura vegetal densa são

convertidas em áreas de vegetação esparsa ou em áreas agrícolas e de cidades e vilas.

O desmatamento em Moçambique está associado a forte dependência da população em

relação aos recursos naturais, visto que cerca de 80% da população total depende dos recursos

florestais para sua subsistência. Estudos mostram que a elevada dependência da população

moçambicana em relação aos recursos florestais, associado ao lento crescimento das florestas

naturais pode levar a escassez dos recursos florestais num futuro próximo caso este cenário

prevaleça (NHANTUMBO et al, 2009). As florestas desempenham um papel preponderante na

economia moçambicana e nos modos de vida da população rural. O setor de florestas contribui

com cerca de 3% a 4% do PIB do país e além disso, satisfaz as necessidades básicas da população

rural, no que concerne a comida, combustível, abrigo, medicamento e subsistência (MITADER,

2016 e BILA, 2005).

O monitoramento do desmatamento com o uso de dados de sensoriamento remoto e

técnicas de geoprocessamento, associados ao desenvolvimento de modelagem espacialmente

explícita podem contribuir para melhor compreensão das variáveis relacionadas ao

desmatamento, permitindo também a simulação de prováveis trajetórias futuras deste fenômeno

(MATRICARDI et al, 2017).

As pesquisas com modelagem se apresentam como ferramenta que pode contribuir para

o melhor entendimento dos efeitos de atividades antrópicas sobre os recursos naturais. Os

modelos podem predizer possíveis trajetórias de impactos ambientais, utilizando informações das

práticas do passado (MATRICARDI, 2017).

Segundo SOARES-FILHO et al., (2007) modelos espaciais de simulação têm-se tornado

um importante instrumento de auxílio ao ordenamento territorial, considerando que qualquer

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planejamento regional ou estratégia de conservação ambiental que não leve em conta o fator

tempo está fadado ao insucesso. Portanto, modelos espaciais de simulação, que realisticamente

reproduzem padrões espaciais de mudanças, são, hoje, requisito para o entendimento e avaliação

de complexas questões ambientais em escalas local, regional e global.

A construção de políticas voltadas para a conservação do meio natural pode utilizar-se da

modelagem espacial visto que a mesma permite aos planejadores: ter uma visão global do

ecossistema estudado, ultrapassando limites territoriais definidos pelo homem; identificar as

variáveis-chaves que influenciam no processo de mudanças no uso do solo naquela localidade e

criar mecanismos específicos para as mesmas; alem de facilitar a integração dos objetivos de

planejamento no âmbito local e regional (MORAN-ORDONÉZ et al, 2011).

Em Moçambique são escassos estudos sobre a modelagem dinâmica do desmatamento

com perspetiva de simular cenários futuros. A reduzida investigação nessa área pode constituir

entrave para uma eficiente definição de estratégias de conservação e preservação de recursos

ambientais e, constitui desafio para a presente pesquisa trazer um suporte científico da simulação

de cenários futuros de desmatamento de modo a que os tomadores de decisão vislumbrem com

antecedência os possíveis danos e assim, auxiliar na definição de políticas públicas e tomada de

decisão mais consentânea para um planejamento eficiente de uso de recursos florestais na região

de estudo assim como em outras regiões de Moçambique que experimentam cenários idênticos

de desmatamento.

A proteção de áreas florestais remanescentes associada à prática de agricultura de

conservação pode garantir o equilíbrio dos ecossistemas proporcionando maior produtividade,

geração de renda e redução da pobreza nas comunidades rurais moçambicanas. Por isso, torna

imprescindível a avaliação da aptidão agrícola das terras associada a dados de desmatamento

para auxiliar na identificação de áreas com elevado potencial de produção agrícola e que as

mesmas não coincidam com áreas de florestas.

Ao longo desse trabalho pretendemos estudar o processo de desmatamento à escala

nacional e regional tendo como área de estudo a província de Manica. Nesta perspetiva, busca-

se responder o seguinte questionamento para o presente estudo: Como a modelagem dinâmica

do desmatamento pode contribuir para a definição de políticas públicas capazes de conciliar

desenvolvimento socioeconómico e preservação da floresta nativa e seus serviços ambientais?

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3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Analisar a dinâmica do desmatamento e efetuar a simulação de cenários na

Província de Manica - Moçambique.

3.2 Objetivos Específicos

Quantificar as mudanças no uso e cobertura do solo entre os anos de 2007 a

2018;

Caracterizar a dinâmica da agricultura familiar através do desenvolvimento

de uma tipologia de agricultores

Identificar variáveis espaciais relacionadas com desmatamento especialmente

o papel da intensificação da agricultura para redução do desmatamento;

Construir e validar o modelo dinâmico de desmatamento e efetuar a simulação

de cenários de intensidade e localização de desmatamento;

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4. REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 MODELAGEM DINÂMICA DO USO E COBERTURA DE TERRA

O termo modelo refere-se a uma abstração da realidade, que se aproxima do

comportamento que se observa em um sistema, mas que inevitavelmente é mais simples do que

o próprio sistema real (ABDALLA et al, 2015). Para SOARES-FILHO (1998), o termo modelar,

pode ser visto como a tentativa de representar a realidade de forma simplificada. Ainda de acordo

com SOARES-FILHO (1998) a modelagem é o processo de pesquisa que leva a geração do

modelo (representação) de um sistema, o qual se desenvolve definindo um conjunto de hipóteses

ou predições que podem ser comparadas com medidas do mundo real. O modelo pode ser aceito,

rejeitado ou modificado para novamente ser testado dependendo da concordância entre o

resultado deste e o observado.

A questão de mudanças nos padrões de Uso e Cobertura da Terra tem despertado

interesse, dentro e fora do meio científico, devido ao acelerado processo de mudança das últimas

décadas e aos possíveis impactos ambientais e socioeconômicos dessas mudanças, os quais

causam preocupações desde o nível local até o global (AGUIAR, 2002)

A questão mais importante que se coloca atualmente é a sustentabilidade do

desenvolvimento, e o balanço adequado entre as questões sociais, econômicas e ambientais

envolvidas. Devido a essas preocupações, inúmeras iniciativas tem ocorrido no sentido de: (a)

entender os processos de mudanças de uso e cobertura do solo e seus principais fatores

determinantes; (b) diagnosticar regiões de maior incidência de mudanças e projetar áreas de risco

em curto prazo; (c) prever a intensidade e/ou a localização das mudanças a médio e longo prazo;

e (d) analisar os impactos de tais mudanças. O processo de mudança e seus impactos têm sido

observados e analisados por diversas disciplinas (ecologia da paisagem, economia, etc.), em

diferentes escalas (local, regional e global), mas, na maior parte das vezes, de modo não integrado

(AGUIAR, 2002).

SANTOS (2004) explica que a partir de uma escala espacial e temporal, podem ser

construídos cenários pela interpretação das mudanças ocorridas no uso da terra, que podem

resultar em mapas ambientais, que por sua vez vêm a contribuir para planejamento ambiental

sendo de destacar dois processos de estudo inseridos nessa temática: a análise temporal da

paisagem e a modelagem dinâmica espacial.

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4.1.1 Análise temporal da paisagem

A análise temporal da paisagem segundo HUANG et al. (2000), tornou-se possível a

partir da disponibilidade de imagens de satélite de uma mesma região da Terra ao longo do

tempo, que permite a realização de comparações dos dados de diferentes períodos em uma

dimensão temporal. O geoprocessamento permite a comparação de cenários para comparação de

séries de dados temporais, resultando na deteção das mudanças ocorridas em uma superfície,

tornando possível a interpretação do modelo de uso e cobertura da Terra SANTOS (2004).

4.1.2 Modelagem dinâmica espacial

Um modelo para ser dinâmico, segundo WEGENER, et al (1986), precisa possuir uma

dimensão temporal explícita, entradas e saídas variando de acordo com o tempo e estados atuais

dependendo dos anteriores.

A modelagem dinâmica espacial presta-se a simular, em ambiente computacional,

fenômenos do mundo real que possuem uma dimensão tanto espacial quanto temporal. Modelos

dinâmicos espaciais envolvem uma ampla gama de aplicações, que compreendem a simulação

de incêndios florestais, escoamento superficial e enchentes, expansão de epidemias, migração de

espécies florestais, circulação de pedestres e veículos, mudanças de uso e cobertura da terra como

expansão urbana, desmatamento, entre outras (SOARES-FILHO et al., 2002; ALMEIDA, 2003).

Para BENEDETTI (2010), a modelagem dinâmica tem como propósito simular mudanças

espaço-temporais nos atributos do meio ambiente atreladas a um território geográfico, e permite

avaliar como um sistema evolui diante um conjunto de circunstâncias definidas pelo modelador

entendendo os mecanismos que influem na determinação da função de mudança.

Os modelos de simulação dinâmica se desenvolvem mais dedutivamente e tomam como

ponto de partida o que se conhece sobre um sistema e o utiliza para informar pressupostos de um

modelo e avaliar o comportamento do sistema. Isso também libera a modelagem de simulação

dinâmica de exigências para trabalhar somente com unidades espaciais à mão em dados

disponíveis (PERZ et al, 2009).

Os modelos dinâmicos de simulação de mudanças de uso e cobertura da terra tentam

replicar possíveis padrões da evolução da paisagem e assim possibilitar a avaliação de futuras

implicações ecológicas sobre o meio ambiente (SOARES-FILHO et al., 2002).

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Os modelos espaciais dinâmicos têm a função de realizar simulações matemáticas de

processos identificados no mundo real, onde se observa a mudança de variáveis e, em

consequência a variações de suas forças direcionadoras (BURROUGH, 1998). Segundo

SOARES-FILHO (1998), são os modelos mais complexos e detalhados, dentre os modelos de

paisagem, e tem a capacidade de modelar a tendência da configuração e divisão da paisagem. É

este tipo de modelo que gera os mapas de mudanças.

Os modelos espaciais, segundo SOARES-FILHO (1998), vêm se tornando cada vez mais

importantes, resultado da vasta disponibilidade de dados espaciais obtidos pelo sensoriamento

remoto e da possibilidade de processamento desses dados através dos SIGs. Portanto, os modelos

dinâmicos espaciais possuem capacidade de modelar uma paisagem, sua configuração e

localização.

Os modelos de alteração do uso do solo são uteis aos planejadores, pois possibilitam

compreender a dinâmica das atividades humanas, verificar seus efeitos no presente e tentar prever

seus impactos no futuro a fim de concentrar esforços nos pontos críticos, constituindo-se em uma

ação preventiva (PONTIUS, CORNELL, HALL 2001). A construção de políticas voltadas para

a conservação do meio natural pode utilizar essa ferramenta visto que a mesma permite aos

planejadores: ter uma visão global do ecossistema estudado, ultrapassando limites territoriais

definidos pelo homem; identificar as variáveis-chaves que influenciam no processo de mudanças

no uso do solo naquela localidade e criar mecanismos específicos para as mesmas; alem de

facilitar a integração dos objetivos de planejamento no âmbito local e regional (MORAN-

ORDONÉZ et al, 2011).

Não há modelo perfeito que represente a realidade, nem existe um modelo único;

entretanto, pode existir aquele que melhor descreve determinado fenômeno (ABDALLA et al,

2015). Dependendo da concordância entre o observado e o simulado, o modelo será aceito,

rejeitado ou modificado, para novamente ser testado (SOARES-FILHO, 1998).

Na modelagem dinâmica de uso e ocupação de terra é importante definir principais classes

de variáveis estáticas para melhor compreender o direcionamento das mudanças. E segundo

XIMENES et al. (2008) a escolha adequada das variáveis explicativas é determinante para o

sucesso do uso de modelos, pois com base nas suas relações com a variável dependente, são

definidas as células com maior ou menor probabilidade de transição de cobertura da terra.

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17

4.1.3 Simulação de cenários

O objetivo imediato do desenvolvimento de cenário é vislumbrar múltiplas trajetórias

plausíveis de mudança, dada a incerteza sobre o futuro. Essa projeção frequentemente é feita

mediante a colaboração entre cientistas, formuladores de políticas públicas e gestores informados

sobre a região e suas questões de interesse (PERZ et al, 2009).

Para MACEDO et al (2013), através de modelagem, é possível propor cenários

prospetivos, os quais podem representar a continuidade das alterações pretéritas (cenários

estacionários), simular alterações prescritas (cenários prescritivos), ou ainda, explorar diferentes

conjeturas político-socioeconômicas (cenários exploratórios não-estacionários).

Com cenários em mãos, podem-se identificar as forças que determinam resultados

desejáveis e não desejáveis da mudança, as quais, por sua vez, dão suporte às formulações de

políticas públicas e ações sociais de modo a encorajar as desejáveis e desencorajar as indesejáveis

(PERZ et al, 2009).

Uma questão chave para o desenvolvimento de cenário quantitativo diz respeito à escala

temporal dos cenários; cenários de mais longo prazo devem ser considerados mais especulativos

do que prováveis em razão das incertezas crescentes sobre as mudanças projetadas para períodos

mais longos de tempo. Retroalimentações a partir de mudanças iniciais, surpresas (“choques”), e

outras fontes de mudanças não lineares tornam os cenários de longo prazo mais difíceis de serem

articulados plausivelmente e em detalhes (PERZ et al, 2009).

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18

5. MATERIAL E MÉTODOS

5.1 ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo compreende a província de Manica (Figura 5) situada na região centro

de Moçambique, sendo limitada a norte pelo rio Zambeze e Luenha que a separa da província de

Tete, a sul pelo rio Save que a separa da província de Inhambane e Gaza, a oeste pela fronteira

com Republica do Zimbabwe e a leste encontra-se a província de Sofala. Tem uma área de

61 661 km² e uma população de 1 911 237 habitantes de acordo com o censo geral da população

e habitação de 2017.

Figura. 5: Localização da área de estudo

A Província está dividida em 10 distritos nomeadamente, Barué, Gondola, Machaze,

Macossa, Mossurize, Sussundenga, Guro, Tambara e a cidade de Chimoio. É nesta Província

onde se localiza o ponto mais alto do país, o monte Binga, com 2436 m de altitude.

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19

5.1.1 Caracterização físico-geográfica e socioeconómica da província de Manica

A Província de Manica é caracterizada por um clima tropical alterado pela altitude (altitude

mínima de 100m e máxima 2436m) com tendência para quente e úmido, com duas estações distintas:

Uma chuvosa, a qual é quente e húmida, estende-se de Novembro a Março, sendo seguida por

uma estação seca e relativamente fria entre Abril e Outubro (BAZIMA et al., 2011).

As temperaturas médias no verão são de 20ºC e ocorrem em metade da província. Contudo,

as temperaturas mais quentes (25ºC) ocorrem nos vales do Save e do Zambeze. As temperaturas mais

amenas (15 a 20ºC) ocorrem nos distritos de Gondola, Manica, Mossurize, Barué e nas zonas

montanhosas junto à fronteira com o Zimbabwe (PEDPM, 2015).

Em relação aos aspetos de relevo, a província é constituído por três zonas altimétricas,

designadamente áreas de montanhas, planaltos e planícies. As montanhas situam-se

essencialmente no extremo Oeste, com mais de 1000m de altitude, junto a fronteira com o

Zimbabwe. É nesta zona que se localizam os pontos mais altos da província, nomeadamente: O

Monte Binga, localizado na cordilheira de Chimanimani com 2.436m, por sinal o pico mais alto

do País; O Monte Gorongue, localizado na Serra de Espungabera com 1.887m e; A Serra Choa,

localizada no Posto Administrativo do mesmo nome, com 1.844m (BAZIMA, et al, 2011).

Os planaltos com altitudes que variam entre 200 e 1000m localizam-se na região Central

e Este, e ocupam cerca de 70% da área da província. As planícies, com altitudes que variam de

100 a 200m estão localizadas no extremo Sudeste da província (BAZIMA, et al, 2011).

Ocorrem na Província de Manica três tipos de solos principais: os francos argilosos-

arenosos vermelhos com camada superficial mais leve, profundidade variável, fertilidade baixa

e suscetíveis à erosão, estão localizados na faixa Central e Norte; os solos arenosos, com

fertilidade muito baixa e baixa retenção de água, localizam-se no Sul e no extremo Nordeste; e,

os solos pesados, de difícil lavoura, localizam-se a Sul da província (MAE, 2014 e BAZIMA et

al., 2011).

Quanto à hidrografia, a província de Manica possui quatro principais bacias hidrográficas

que são: Bacia do Zambeze, no extremo Norte é constituída pelo rio do mesmo nome. É o maior

rio de Moçambique e o quarto maior do continente africano; Bacia do Púnguè - Nasce no

Zimbabué e segue para leste. Em território inteiramente moçambicano, ruma para sueste, bordeja

o limite meridional do Parque Nacional da Gorongosa e desagua a norte da baía de Sofala,

formando um estuário baixo e pantanoso em cuja margem esquerda se situa a cidade da Beira;

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20

Bacia do Búzi - Nasce no lado moçambicano da fronteira com o Zimbabué, seguindo depois

sensivelmente de sudoeste para nordeste, até desaguar imediatamente a sul do estuário do Púnguè

e; Bacia do Save - Nasce no Zimbabué e corre de norte para sul até à confluência com o Runde,

a partir da qual inflete para leste e penetra em território inteiramente moçambicano e vai desaguar

no Oceano Índico, junto à povoação de Mambone, entre a baía de Sofala e a ilha do Bazaruto

(BAZIMA, et al, 2011).

A vegetação da província de Manica é predominantemente constituída por floresta de

miombo com estratos diferenciados (altos, médios e baixos), cobrindo cerca de 25.2% de

cobertura florestal total. As espécies dominantes neste tipo de vegetação são Brachystegia

speciformis frequentemente misturada com Jubernardia globiflora e Isoberlinia spp.; savanas

(árvores e arbustos) cobrindo 13.5%; floresta de mopane (aberta e fachada) cobrindo 10.1% e

áreas de florestas com mosaico de agricultura itinerante ocupando 13.2% (JANSEN et al., 2008,

e MICOA, 2014).

De acordo com os resultados do Censo de 2017, a província de Manica tem 1911237

habitantes em uma área de 61 661km² e, portanto, uma densidade populacional de 31 habitantes

por km². O valor de 2017 representa um aumento de 472851 habitantes (32,9%) em relação aos

1438386 residentes registados no censo de 2007.

De acordo com as projeções do INE (2018) para o ano de 2030, a província de Manica

terá 3 056 583 habitantes, sendo 684 033 na área urbana e 2 372 550 na área rural.

A província de Manica registra elevadas taxas de mortalidade infantil (75/1000 nados

vivos), uma baixa expectativa de vida (49,4 a 53,6 anos), e um número elevado de crianças por

mulher (6 por mulher).

De acordo com IOF (2008 – 2009), a incidência de pobreza da Província é de 55,1% com

uma taxa abaixo da linha de pobreza abaixo de 15,2%.

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Figura 6: População da província de Manica (1997-2017). Fonte: INE, 1997, 2007 e 2018

Predomina na província de Manica agricultura familiar caracterizada por uma forte

dependência a condições naturais e baixa produtividade. Em relação aos produtos básicos

alimentares a Província de Manica produz, de entre vários, o milho (93%), Feijão Nhemba (53%),

Mapira (44,4%) e batata-doce (11%). Na mesma perspetiva, as culturas de rendimento mais

cultivadas são: O girassol com 24%, o Chá (32%), Trigo (23, 7%), Gergelim (12, 4%), Paprica

(23%) e a Jatrofa com 30% (INE, 2011).

171,0

56

81,0

02

184,6

29

45

,68

0

75,8

04

13,9

69

155,7

31

122,2

44

92,6

22

31,4

71

241,8

27

139,6

64

263,4

54

69

,62

2

104,8

14

27,6

36

219,3

46

198,0

94

131,3

47

42,5

81

372,8

21

185,1

79 2

86,7

35

96

,93

0

129,0

99

48,6

48

379,0

64

219,5

51

168,2

00

54,9

48

0

50,000

100,000

150,000

200,000

250,000

300,000

350,000

400,000

POPULAÇÃO DA PROVINCIA DE MANICA POR DISTRITO (1997-

2017)

1997 2007 2017

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5.2 MATERIAL

Para a modelagem dinâmica do desmatamento na província de Manica foram utilizado os

seguintes materiais:

1. Imagens do satélite Landsat 5 TM referente ao ano de 2007 e, Landsat 8 OLI

Operational Land Imager) referente aos anos de 2015 e 2018 com as órbitas/pontos

167/75 e 168/71-75, resolução espacial 30 m, que cobrem a área de estudo em período

seco (Agosto) e sem interferência de nuvens, disponibilizadas gratuitamente no site do

Earth Explorer (http://earthexplorer.usgs.gov/) (Tabela 2).

Satélite Data de

Aquisição

Orbita/ponto Resolução

espacial

Bandas

espectrais

usadas

Intervalo

Espectral

(μm)

Landsat 05

08 / 2007 167/75

168/71-75

30

3

4

5

(0,63-0,69)

(0,76-0,90)

(1,55-1,75)

Landsat 08

08 / 2015

e

08 / 2018

67/75

168/71-75

30

4

5

7

(0,64-0,67)

(0,85-0,88)

(2,11-2,29)

Tabela 2 - Imagens Landsat 5 e 8 órbita ponto 167/71-75, selecionadas nos diferentes anos

analisados.

Essas imagens foram pré-processadas e classificadas pelos Sistemas de Informação

Geográfica (SPRING 5.5.2, ArcGis 10.2.1 e QGis 3.2.3).

2. Imagens SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), adquiridas em formato matricial

Tiff/GeoTiff, que foram usadas para compor um Modelo Numérico do Terreno (MNT),

gerando um mapa de declividade da área de estudo.

3. Dados vetoriais da área de estudo (limite administrativo da província, hidrografia, rede

viária, solo e relevo) disponibilizados pela CENACARTA (Centro Nacional de

Cartografia e Teledeteção) - www.cenacarta.com. Os mesmos foram posteriormente

rasterizados.

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4. O software ArcGis versão 10.2.1 para o pré-processamento de imagens Landsat e

geração do layout dos mapas de uso do solo e mapas simulados dos cenários futuros

da área de estudo.

5. O software QGis 3.2.3 para o pré-processamento de imagens Landsat especificamente

para a correção atmosférica.

6. O software Sistema de SPRING (Processamento de Informações Georreferenciadas)

versão 5.5.2 gratuita obtida no site do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais), utilizado na classificação de imagens Landsat para a geração das classes

de uso e cobertura de terra no qual foi criado um banco de dados para o armazenamento

das informações processadas.

7. O Software FRAGSTATS 4.2.1. para a quantificação da estrutura da paisagem e função

de sua cobertura florestal através do cálculo de métricas da paisagem.

8. O software estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 19

para análise de dados de entrevista de modo a conhecer o padrão e funcionamento dos

sistemas de produção e sua relação com o desmatamento.

Como plataforma para simulação foi utilizado neste estudo o software DINAMICA EGO

(Environment for Geoprocessing Objects). O DINAMICA EGO se baseia em um algoritmo de

Autômato Celular, sendo um modelo de simulação espacial da dinâmica da paisagem (SOARES-

FILHO et al, 2007). Num estudo comparativo entre programas para modelagem de mudanças de

uso e cobertura da terra (CLUE, DINAMICA EGO, CA_MARKOV e Land Change Modeler),

MAS et al (2014) apontam DINAMICA EGO como aplicativo com maior potencial, devido a

sua grande flexibilidade e possibilidade de interação com outras ferramentas.

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5.3 MÉTODOS

Os principais passos metodológicos aplicados para o presente estudo estão descritos no

fluxograma da figura 4.

Imagem satélite

Pré-processamento

Classificação

Imagens

Multitemporais

Modelo conceitual do

desmatamento

Mudança de

uso e

cobertura e

Modelagem

dinâmica

Caracterização

do Sistema de

produção e

sua relação

com causas do

desmatamento

Matriz de Transição

Obtenção de

Cenários futuros

Figura 7: Fluxograma do modelo metodológico

Solo

Declividade

Altitude

Temperatura

Precipitação

Avaliação da

Aptidão

Agrícola das

terras para

redução do

desmatamento

Rios

Uso de Terra

Serviços de

Extensão

Atribuição

de Notas

Atribuição de

Pesos

Pesos de Evidencia

Correlação de variáveis

Montar e rodar o

modelo de LULCC

Simulação e Validação

Métricas da

Paisagem

Aptidão Agrícola

das Terras

RESULTADOS E

DOCUMENTAÇÃO

Variáveis Estáticas

Entrevista

semiestruturada

Montagem de base

de dados

PCA

CA

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25

5.3.1 Processamento digital de imagens

As imagens utilizadas foram analisadas inicialmente quanto à necessidade de melhoria

do aspeto visual e geração de produtos para posteriormente serem submetidos a outros

processamentos metodológicos. As imagens foram pré-processadas e classificadas pelos

Sistemas de Informação Geográfica (SPRING 5.5.2, ArcGIS 10.2.1 e QGIS 3.2.3).

5.3.1.1 Pré-processamento

As técnicas de pré-processamento são, essencialmente, funções operacionais para

remover ou corrigir os erros e as distorções introduzidos nas imagens pelos sistemas sensores

devidos a erros instrumentais (ruídos espúrios), às interferências da atmosfera (erros

radiométricos) e à geometria de imageamento (distorções geométricas) (MENESES, 2012).

As imagens Landsat em uso nesse estudo passaram pela correção atmosférica,

radiométrica, georreferenciamento tendo como base as imagens de um banco de dados já

existentes (CENACARTA) e por fim a criação de mosaico.

5.3.1.2 Classificação digital

Existem essencialmente duas abordagens na classificação de imagens multiespectrais de

sensoriamento remoto. A primeira delas denomina-se classificação supervisionada e nela o

usuário identifica alguns dos pixels pertencentes às classes desejadas e deixa ao computador a

tarefa de localizar todos os demais pixels pertencentes àquelas classes, baseado em alguma regra

estatística pré-estabelecida. A segunda abordagem é chamada de classificação não-

supervisionada e nela o computador decide, também com base em regras estatísticas, quais as

classes a serem separadas e quais os pixels pertencentes a cada uma (CRÓSTA, 1992).

No presente trabalho foi usado a classificação supervisionada de imagem do satélite Landsat,

utilizando-se o classificador estatístico MAXVER (máxima verossimilhança), integrante do

aplicativo SPRING – Sistema de Processamento de Informações Georreferenciadas versão 5.5.2.

Em função da problemática que se pretende estudar – o desmatamento, foram definidas duas

classes (floresta e não floresta). Na classe floresta inclui as áreas de floresta de miombo, de

mopane e de floresta indiferenciada que ocorrem dentro da província (vede figura 1) sendo que

o restante do tipo de uso e cobertura de terra foi incluída na classe não floresta.

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5.3.1.3 Validação da Exatidão da Classificação

A validação da exatidão da classificação visa avaliar o grau de concordância dos

resultados da classificação obtidos pela interpretação de imagens de satélite. Conforme JANSEN

et. al., (2009) uma das formas mais usadas para avaliar a exatidão da classificação temática de

cobertura de terra é a matriz de confusão também denominada matriz de erro ou tabela de

contingência. Neste estudo empregou-se a análise de qualidade de mapeamento a partir do índice

Kappa (K) construído da matriz de confusão de cada um dos anos analisados (2007 a 2018),

gerado em relatório no software SPRING após a classificação. O índice Kappa foi calculado pela

equação a baixo indicada:

Onde:

K - Índice Kappa

L - Número de categorias analisadas na matriz

Xii- Número de parcelas corretamente classificados na linha i coluna i

Xi+ - Total marginal da linha i

X+i - Total marginal da coluna j

N - Número total de parcelas contempladas na matriz

O resultado da estatística Kappa normalmente é comparado aos valores contidos na

TABELA 3, a fim de indicar a qualidade do mapa temático.

Índice Kappa Desempenho

< 0 Péssimo

0 < k ≤ 0,2 Ruim

0,2 < k ≤ 0,4 Razoável

0,4 < k ≤ 0,6 Bom

0,6 < k ≤ 0,8 Muito Bom

0,8 < k ≤ 1,0 Excelente

Tabela 3 - Qualidade da classificação associada ao índice Kappa. Fonte: Adaptada de Landis e Koch (1977).

A validação também foi realizada a partir da marcação de pontos georreferenciados com

auxílio do aparelho GPS tendo sido obtido registros fotográficos para comparação de padrões de

realidade terrestre com dados de classificação digital da imagem do ano de 2018.

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5.3.2 MÉTRICAS DA PAISAGEM

Uma das formas de caracterizar as mudanças de uso e cobertura da terra é a utilização das

métricas da paisagem. As métricas da paisagem possibilitam a quantificação da composição e da

configuração da paisagem. Com este propósito, foram utilizadas imagens multitemporais de uso

e cobertura de terra dos anos de 2007, 2015 e 2018, através do cálculo pelo software FRAGSTATS

4.2.1. de métricas da paisagem e posterior sua análise, (Tabela 4)

Métricas Formula Unidade Descrição

Índice de Área (CA)

ha CA - Área total de cada classe presente na paisagem. Maiores valores de CA indicam domínio da matriz.

Percentual de Área

por Classe

(PLAND)

%

PLAND – proporção ocupada por cada classe na paisagem. Onde: aij - Área (m ) da mancha ij. A – Área

total da paisagem. A interpretação de PLAND é a mesma

descrita para CA, porém expressa em porcentagem.

Tamanho médio das

manchas (MPS)

ha

É calculado com base na área total da classe e de seu

respetivo número de fragmentos (ni) o que permite

estimar o tamanho médio para seus fragmentos. As

paisagens que apresentam menores valores para tamanho médio das manchas devem ser consideradas como as mais

fragmentadas.

Número de

Manchas (NP)

Adimensional

Número total de manchas numa classe ou paisagem

(maior número de manchas é indicador de uma maior

fragmentação da classe ou paisagem). NP deve ser

analisado juntamente com a métrica CA e PLAND. Por

exemplo: Se NP diminui, porém CA e PLAND

aumentam, isso indica que houve união de fragmentos,

mas se NP diminui, entretanto CA e PLAND também diminuem, isso indica que fragmentos foram extintos da

paisagem.

Densidade de

manchas (PD)

Número por 100

hectares

(Número de manchas/100 ha) é o número de fragmentos

da classe em 100 hectares da paisagem. A interpretação

de PD é a mesma descrita para NP.

Índice da maior

mancha (LPI)

%

LPI - Informa a área da maior mancha encontrada em

toda a paisagem ou seja, é a porcentagem da área da

paisagem (A) ocupada pela maior mancha (max aij).

Permite perceber se a paisagem é dominada por uma só

mancha e portanto da sua homogeneidade. Quando LPI é próximo de 100 significa que a maior mancha ocupa

quase a total idade da área da paisagem.

Tabela 4: Métricas da paisagem analisadas. Fonte: MCGARIGAL, 2015 e LUDWIG & REYNOLDS, 1988.

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5.3.1 CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO DOS

AGRICULTORES FAMILIARES DA PROVÍNCIA DE MANICA

Entre Dezembro de 2018 a Março de 2019 foi realizado o trabalho de campo em

Moçambique e especificamente na província de Manica, com dois objetivos chave: i) coletar

dados e informações relevantes junto dos agricultores familiares para caracterizar os modos de

produção agrícola e explorar suas associações com o desmatamento e, ii) obter com auxílio de

GPS posições geográficas de pontos e seus respetivos usos da terra que permitissem a validação

da classificação do uso e cobertura de 2018.

Para a obtenção das informações, foi aplicado uma entrevista semiestruturada (Anexo 1)

a um número de 228 chefes de família nos distritos da região centro da província de Manica

(Gondola, Manica e Sussundenga). A entrevista não obedeceu nenhum critério de seleção do

grupo alvo sendo que qualquer chefe de família que estivesse disponível era entrevistado.

Buscou-se levantar informações sobre: Tipo de uso e cobertura de terra que predominava quando

foi ocupada a área; tamanho de propriedade; funcionamento de sistemas de produção; presença

ou ausência de desmatamento; causas do desmatamento; Dimensão de área de produção com as

respetivas culturas e rendimento por hectare. Todas as respostas do questionário foram

codificadas para facilitar a análise.

Todas as respostas do questionário foram codificadas para facilitar a análise. Depois da

codificação, o processamento de dados foi realizado através do pacote estatístico SPSS

(Statistical Package for the Social Sciences), versão 19 e Excel. Uma análise multivariada foi

conduzida para se conhecer o grau de relacionamento entre a expansão de áreas agrícolas e o

desmatamento a partir da matriz constituída por 24 variáveis.

A análise multivariada realizada numa primeira fase foi a Análise de Componentes

Principais (PCA – Principal Component Analysis) que é um método que tem por finalidade

básica, a análise de dados usados, visando sua redução e escolha de formas mais representativas

de dados a partir de combinações lineares das variáveis originais (PAIVA, 2006, VICINI, 2005,

HAIR, et al 2005). Por meio desta técnica foi possível identificar as variáveis que melhor

explicam a relação da expansão de áreas agrícolas e o desmatamento.

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De acordo com ALCÂNTARA, et al (2011) e SILVA, et al, (2012), para a determinação

da validade e aplicação da Analise de Componentes Principais faz-se necessário avaliar a

existência da relação entre as variáveis pois, só assim é possível reduzir o número de variáveis a

um número menor de componentes principais sem perda significativa de informação. Esta

avaliação pode ser realizada através da matriz de correlações ou de covariâncias.

Existem dois principais testes estatísticos usados para avaliar se as variáveis são

significativamente correlacionadas entre elas. São o teste de esfericidade de Bartlett (Bartlett's

Test of Sphericity) e o KMO (Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy)

(CARVALHO, 2013).

O teste de esfericidade de Bartlett é utilizado para observar se as correlações entre as

variáveis são significativas. Caso sejam, permitem a Analise dos Componentes Principais através

da Matriz de Correlações. Um valor elevado da estatística de teste favorecerá a rejeição da

hipótese nula. Se a hipótese nula não poder ser rejeitada, então deve-se reconsiderar a utilização

do PCA. No entanto, este teste é sensível ao tamanho das amostras no sentido de que para

amostras grandes até pequenas correlações poderão ser estatisticamente significantes, pelo que

se torna preferível usar o KMO. O teste KMO explica o grau de ajuste das variáveis com o

fenómeno em estudo. Valores próximos a 1 indicam que o método de análise das componentes

principais é perfeitamente adequado para a o tratamento de dados. Por outro lado, valores

menores a 0.5 indicam a inadequação do método (ALCÂNTARA et al 2011).

A segunda técnica de análise multivariada utilizada nesta pesquisa foi a análise de

agrupamentos (Análise de Clusters) que consiste em associar dados observados através de

medidas de proximidade, semelhança, similaridade ou correlação. Essa análise foi utilizada

usando o método K-Means que se baseia na escolha antecipada pelo usuário de um número de

agrupamentos que conterão todos os casos. Segundo LINDEN (2009), o K-Means é uma

heurística de agrupamento não hierárquico que busca minimizar a distância dos elementos a um

conjunto de k centros dado por c={X1,X2,...,Xk} de forma iterativa. A distância entre um ponto

Pi e um conjunto de clusters, dada por d(Pi,X), é definida como sendo a distância do ponto ao

centro mais próximo dele. A função a ser minimizada então, é dada por:

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5.3.2 AVALIAÇÃO DA APTIDÃO AGRÍCOLA DAS TERRAS

A FAO (1976) define avaliação da terra como um processo de predizer o comportamento

da terra quando usada para atividades específicas, envolvendo a execução e interpretação de

levantamento do relevo, solos, vegetação, clima e outros aspetos do ambiente, com o objetivo de

identificar e comparar tipos potenciais de uso aplicáveis à finalidade da avaliação.

No presente estudo, a avaliação da aptidão agrícola das terras baseou-se na metodologia

descrita por RAMALHO FILHO e BEEK (1995) e FAO (1976) com modificações. O método

adotado para a definição da aptidão agrícola é qualitativo1 e com forte dominância de fatores

ecológicos. Foi considerado apenas um nível de manejo (nível A)2.

5.3.2.1 Níveis de classificação da aptidão

Foram considerados duas categorias ou níveis de classificação: ordens; classes. As

ordens separam as terras em aptas (S) e não aptas (N). As classes indicam o grau de aptidão,

dentro da ordem de terras aptas e divide-se em: muito aptas (S1); moderadamente aptas (S2);

marginalmente aptas (S3).

Para estimar a quantidade potencial de áreas propícias para a agricultura foi utilizada a

sobreposição de planos de informação (PI’s) de solos, declividade, altitude, temperatura,

precipitação, distância aos rios, serviços de extensão agrária de instituições de ensino e mapa

atual de uso e cobertura de solo. Para cada fator de aptidão agrícola foram atribuídas notas que

variam de 1 a 4 através da reclassificação de acordo com sua importância de influência (TABELA

7). Posteriormente, para cada fator foi atribuído peso percentual de influência no modelo. Por

1 É aquela em que a aptidão da terra é expressa em termos qualitativos em relação a cada uso específico

(exemplo: aptidão elevada; aptidão moderada ou marginal; sem aptidão)

2 Nível de manejo A: reflete baixo nível tecnológico; quase ausência de aplicação de capital; trabalho

fundamentalmente braçal;

Nível de manejo B: reflete um nível tecnológico médio; modesta aplicação de capital; trabalho com base

na tração animal ou na tração motorizada, apenas para desbravamento e preparo inicial do solo e;

Nível de manejo C: reflete um alto nível tecnológico; aplicação intensiva de capital; trabalho mecanizado

em quase todas as fases de atividades (RAMALHO FILHO, 1995).

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31

fim e com o uso do método de análise multicritério, foram cruzados os planos de informação para

a geração de mapa de favorabilidade agrícola no DINAMICA EGO.

Variável Peso Intervalos Nota

Altitude

15%

100 a 200 – S1 1

200 a 500 – S2 2

500 a 1000 – S3 3

1000 a 2500 – N 4

Declividade

15%

0 a 3% (Plano) – S1 1

De 3% a 13% (Suave Ondulado) – S2 2

De 13% a 45% (Ondulado) – S3 3

> 45% (Forte ondulado a montanhoso) – N 4

Temperatura

15%

Entre 17.5 a 25 graus – S1 1

Entre 15 a 22.5 graus – S2 2

Entre 10 a 15 graus – S3 3

Acima de 25 – N 4

Precipitação

15%

Entre 1400 a 1600 mm – S1 1

Entre 1200 a 1400 mm – S2 2

Entre 1000 a 1200 mm – S3 3

De 800 a 1000 mm – N 4

Rios

10%

30 a 1000 metros – S1 1

1000 a 2000 metros S2 2

2000 a 5000 metros – S3 3

Maior que 5000 metros – N 4

Serviços

Agrários

10%

0 a 25 km – S1 1

25 a 35 km – S2 2

35 a 50 km – S3 3

50 a 122 km – N 4

Solos

20%

Solos argilosos vermelhos, pretos e profundos 1

Solos franco-arenosos, castanhos e acinzentados, de

textura média

2

Solos de aluviões estratificados, vermelhos de

textura média, castanhos de textura arenosa, solos

de aluviões e de mananga

3

Solos líticos, vermelhos argilosos oxicos, arenosos

alaranjados, solos pouco profundos.

4

Tabela 5: Notas e pesos por cada fator de aptidão das terras

As terras inaptas para todos os tipos de uso devem ser utilizadas para proteção da vida

selvagem (fauna e flora), apicultura, cinegética ou mesmo atividades recreativas.

As notas para a classe dos solos foram definidas tomando em consideração fatores

limitantes como condições de enraizamento; fertilidade; drenagem e riscos de erosão. O grau de

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aptidão muito apto (S1) é constituído por solos que apresentam boas condições pedológicas para

o cultivo de várias culturas. São solos de boa drenagem, menor acidez, teor médio a alto de

matéria orgânica, de menor declividade, baixa suscetibilidade a erosão, maior profundidade. O

grau de inaptidão (N) é constituída por solos de excessiva drenagem, maior acidez, menor teor

de matéria orgânica, de maior declividade (acima de 45%), maior suscetibilidade a erosão, menor

profundidade).

O balanceamento entre as duas classes extremas de aptidão definiu a classe media a baixa.

No modelo final, o grau de inaptidão também é constituído por áreas de florestas

remanescentes mesmo que essas sejam de grau muito apto (SI) para a lavoura.

5.3.3 MODELAGEM DINÂMICA

Os principais procedimentos aplicados para a modelagem dinâmica do desmatamento

para a província de Manica usando o software DINAMICA EGO foram:

1. Calibração do modelo e análise da dinâmica da paisagem;

2. Simulação e validação do modelo;

3. Obtenção de cenários futuros.

5.3.3.1 Calibração do modelo

A calibração de um modelo consiste na adequação e preparação de dados de entrada, no

DINAMICA EGO. O processo inclui o cálculo do percentual das mudanças de classe, efetuado

através do cálculo das matrizes de transição; do cálculo dos pesos de evidência; e análise da

correlação dos pesos entre as variáveis de entrada para todas as transições (FURLAN, 2012).

A base para estruturação da modelagem foi composta com os mapas classificados da

paisagem dos anos de 2007 (mapa de uso e cobertura inicial) e de 2015 (mapa de uso e cobertura

final) com informações sobre os aspetos de uso e ocupação do solo. Desses mapas de entrada,

foram geradas as matrizes de transição entre 2007 a 2015 com um intervalo de 08 passos.

A matriz de transição compreende o processo de estimativa das taxas de transição ou

mudanças na paisagem ocorridas entre o ano inicial e final do período de estudo. Define as taxas

de transição de áreas com vegetação nativa para áreas desmatadas ocorrido entre o ano inicial e

final do período de estudo.

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Utilizou-se a ferramenta Determine Transition Matrix, um functor da modelagem no

DINAMICA EGO, que permite estimar as taxas denominadas “Single Step” e “Multiple Step”

(SOARES-FILHO et al., 2009). O termo “Single Step” refere-se à matriz de transição ocorrida

durante todo período de tempo da análise (global) e o termo “Multiple Step” refere-se a matriz

de transição gerada por intervalo de tempo durante o período da análise (anual).

A determinação de componente que assinala a localização das mudanças foi possível

através da definição de pesos de evidência baseado no teorema da probabilidade condicional de

Bayes, que se refere à disposição de um evento ocorrer em face da ocorrência passada de outro

evento. Os pesos de evidência definem as células com maior ou menor probabilidade de transição

de cobertura da terra (NOVAES, 2010). Para SOARES-FILHO et al., (2007), os mapas

resultantes da integração dos pesos assinalam as áreas mais favoráveis para cada tipo de

mudança, podendo, portanto, ser interpretados como mapas de probabilidades espaciais de

transição. Os pesos são obtidos a partir das formulações 1 e 2.

Em que O{D} e O{D/B} são os odds ou chances, respetivamente, de ocorrer a priori o

evento D e ocorrer D dado um padrão espacial B. W+

é o peso de evidência de ocorrer o evento

D, dado um padrão espacial B. A probabilidade a posteriori de uma transição i → j, dado um

conjunto de dados espaciais e considerando que O{D}=1, pois esta já é passada ao modelo via

matriz de transição, é expressa pela seguinte equação:

(3)

Onde V representa um vetor de k variáveis espaciais, medidas nas localidades x, y e

representadas por seus pesos W+k1xy

, W+ k2xy,…., W+

knxy, sendo n o número de categorias de cada

variável k. (BONHAM-CARTER, 1994; SOARES-FILHO et al., 2003; TRENTIN, 2010).

Os valores de pesos de evidência positivos referem-se à associação positiva entre a

evidência e o evento, ou seja, favorecem a mudança de estado; já valores negativos indicam a

repulsão causada pela evidência (variável) para a ocorrência do fenômeno (evento de mudança),

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e valores próximos de zero significam que a variável não exerce efeito sobre a transição

(SOARES-FILHO et al., 2009).

Antes do cálculo de pesos de evidência foi necessário primeiramente calcular faixas para

classificar as variáveis em escalas contínuas para a derivação dos pesos de evidência utilizando

o modelo Determine Weights of Evidence Ranges. Utilizou-se os mapas de uso e cobertura do

solo e os mapas das variáveis estáticas tendo sido obtido um arquivo esqueleto de pesos de

evidência (WofE_ranges). Depois da categorização de variáveis estáticas e com o mesmo

conjunto de dados no passo anterior, foram calculados os pesos de evidência por meio do modelo

Determine Weights of Evidence Coefficients. No cálculo utilizou-se para os parâmetros mapas

inicial e final (2007 e 2018) o de entrada o arquivo “WofE” e variáveis estáticas interligando-os

ao functor “Determine Weights of Evidence Coefficients”, tendo como arquivo de saída dos

Coeficientes de Pesos de Evidencia “Weights_table.dcf.

Principais classes de variáveis estáticas (dados vetoriais de hidrografia, distância as

estradas, distância a áreas protegidas, distância a principais vilas e cidades, declividade e solos)

foram obtidas a partir da base de dados disponibilizada pela CENACARTA (Centro Nacional de

Cartografia e Teledeteção de Moçambique) (Figura 8). Essas variáveis foram rasterizadas com

pixels de 30m. Após a rasterização, os mesmos inseridas no modelo para a atribuição dos pesos

de evidência que representa a influência dessas variáveis na probabilidade espacial de uma

transição de uso de terra na fase de calibração. Foram também consideradas como variáveis

estáticas a distancia dos principais centros urbanos e distancia a área de proteção.

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Figura 8: Variáveis estáticas

Essas variáveis devem ser independentes espacialmente entre si. Para a determinação

dessa independência, foi realizado o teste de Crammer e da Incerteza de Informação Conjunta

(U). BONHAM-CARTER (1994) mencionam que valores inferiores a 0,5, tanto para o teste de

Crammer (V) como para a Incerteza de Informação Conjunta (U), sugerem dependência espacial

entre as variáveis consideradas, o que não leva a desconsideração de nenhuma delas no modelo.

Assim, adota-se a limiar de 0,5 para decidir sobre a inclusão (V ou U < 0,5) ou exclusão (V ou

U > 0,5) das variáveis no modelo ou seja, valores abaixo de 0,5 indicam que as variáveis não

possuem dependência, podendo ser utilizadas para modelagem.

O índice de Cramer é definido por BONHAM-CARTER (1994) pela seguinte fórmula:

Onde:

T = totais marginais da matriz de tabulação cruzada entre dois mapas A e B;

X2 = estatística qui-quadrado;

M = mínimo de (n-1, m-1), em que n é igual ao número de linhas e m é o número de

colunas da matriz de tabulação cruzada entre os mapas A e B.

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A Incerteza de Informação Conjunta (U) pertence à classe das medidas de entropia,

também baseadas na matriz de tabulação cruzada T, que podem ser usadas para medir associações

e é definida por (BONHAM-CARTER, 1994):

Onde, pode variar entre 0 e 1, sendo que quando os dois mapas são completamente

independentes, então H (A,B) = H (A) + H (B) e U (A,B) é 0, e quando os dois mapas são

completamente dependentes, H (A) = H (B) = H (A,B) = 1, e U (A,B) é 1 (ALMEIDA, 2003).

Com os parâmetros de entrada mapa inicial (2007), variáveis estáticas e o arquivo de

Pesos de Evidências “Weights”, interligados com o functor “Determine Weights os Evidence

Correlation” com os mapas das distâncias dos números de classes de uso desejada, foi avaliada

a existência de variáveis que influenciavam no modelo.

5.3.3.2 Simulação e validação

Obtidos os pesos de evidência e o grau de dependência ou associação entre as variáveis,

proceder-se-á à execução do modelo de simulação e validação.

As simulações foi realizadas a partir da calibração do modelo, que envolve a definição

dos percentuais de contribuição dos algoritmos expander e patcher. O algoritmo expander

dedica-se unicamente à expansão ou contração de manchas de uma determinada classe e o

patcher busca as células que apresentam a maior probabilidade de transição e gera novas manchas

de uma determinada classe usando um mecanismo de semeadura. Ambos os processos usam um

mecanismo nucleador de manchas, que opera sobre o mapa de probabilidades de transição e tem

como parâmetros de entrada a isometria, a variância e o tamanho médio das manchas (SOARES-

FILHO et al., 2007). Quanto maior o valor adotado, mais geometricamente regulares serão as

manchas produzidas pelos algoritmos de transição, e, de forma contrária, quanto mais próximo

de zero, mais dendríticas serão as manchas (KAWASHIMA et al, 2016). O tamanho médio das

manchas e a variância são definidos em unidades de área (hectares) e a isometria varia de 0 a 2

sendo que quanto maior, mais isométrica (células agregadas) a mancha aparece (DIAS, 2011).

Os arquivos de entrada utilizados foram o mapa inicial (2015), as variáveis estáticas, o

arquivo “Weights_table.dcf dos Coeficientes de Pesos de Evidencia e a matriz de transição

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“passos múltiplos” com fins de repetir todas as operações durante os intervalos de tempo (2015

e 2018 = 3 anos), foi adicionado o conteiner “Repeat”, para a modelagem foram inseridos dentro

deste conteiner os functores: Patche, “Calc W. OF. E. Probability Map”, “Calc Distance”,

“Modulate Change Matrix”, “Expander” e “Mux Categorical Map”. Os parâmetros de saída

gerados foram os mapas de probabilidades de mudanças e os mapas da paisagem.

Por conseguinte, realizou-se a etapa do teste de validação que consistiu em certificar a

similaridade mínima entre o mapa simulado e o mapa de referência (observado).

O método de validação na plataforma DINAMICA EGO é baseado no conceito de

“fuzziness of location” (dubiedade de localização) no qual a representação de uma célula é

influenciada por ela mesma, e, em menor magnitude, pelas células na sua vizinhança (HAGEN,

2003). Trata-se de um teste de comparação de similaridade fuzzy entre o mapa simulado e o mapa-

referência. O método faz o cálculo dos erros e acertos do processo de modelagem, dando maior

precisão na análise. Este método é implementado de forma modificada no DINAMICA EGO,

onde foi nomeado de Calc Reciprocal Similarity e considera que mesmo mapas que não

apresentam similaridade célula a célula podem ainda apresentar padrões similares, baseando-se

na comparação do mapa final simulado com um mapa de referência e utilizando contextos de

vizinhança (SOARES-FILHO et al., 2009).O resultado deste teste varia de zero (0) a um (1);

quanto mais próximo de um (1), mais similar estará a simulação da situação real (TRENTIM e

FREITAS, 2010).

Os dados utilizados nesta fase do trabalho foram os mapas de entrada inicial do uso e

ocupação da terra do ano de 2015 e final 2018 (real), sendo o simulado final de 2018.

Foi realizada a comparação dos mapas de desmatamento projetado e de desmatamento

observado (resultantes da classificação das imagens LANDSAT) para o ano de 2018 em função

da incerteza da localização de uma classe dentro de sua vizinhança de células através das funções

de decaimento exponencial e do decaimento constante. Trata-se de um teste de comparação de

similaridade fuzzy entre o mapa simulado e o mapa-referência.

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5.3.3.1 Cenários futuros

Segundo KAWASHIMA et al, 2016 cenários consistem em uma metodologia capaz de

explorar diferentes alternativas de futuro que servem para facilitar a tomada de decisões. Eles

exploram conjeturas político-económicas, sociodemográficas, legais, institucionais, ambientais,

tecnológicas e outras, que serão responsáveis por desencadear mudanças passíveis de previsão,

segundo um grau de certeza, em horizontes de projeto específicos. Os mesmos autores fazem

referência da subdivisão de cenários em estacionários e não-estacionários, em que os primeiros

utilizam o diagnóstico das alterações pretéritas para direcionar as alterações que ocorrerão no

futuro, reproduzindo tendências observadas no passado. Os não-estacionários, por sua vez,

podem utilizar o diagnóstico das alterações pretéritas para simular alterações futuras, mas

incorporam novas condições de contorno, como mudanças na conjuntura macro ou

microeconômica, alterações em dispositivos legais, novas instalações de infraestrutura etc.

No presente estudo, trabalhou-se com cenário estacionário.Com o grau de similaridade

aceitável entre o mapa simulado e observado, efetuou-se a simulação de prognósticos até ao ano

de 2025.Para a execução do modelo para prognósticos, foram utilizados os arquivos de matriz de

transição e de pesos de evidência, variáveis estáticas e mapa de uso final (2018).

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6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 VALIDAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO DIGITAL

6.1.1 Índice Kappa

No presente estudo empregou-se a análise de qualidade de mapeamento a partir do índice

Kappa (K) construído da matriz de confusão de cada um dos anos analisados (2007, 2015 e 2018),

gerado em relatório no software SPRING após a classificação.

Figura 9: Imagens classificadas da área de estudo.

Os valores do Índice Kappa (Tabela 6) calculados a partir do software SPRING 5.5.2 para

a província de Manica utilizando a matriz de erros das imagens de satélite dos anos de 2007,

2015 e 2018, mostraram níveis de aceitação excelente.

Ano Índice Kappa Nível de Aceitação

2007 99.92 Excelente

2015 98.96 Excelente

2018 99.95 Excelente Tabela 6 - Níveis de aceitação encontrados nos valores do Índice de Kappa gerados a partir das imagens de 2007 à

2018.

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6.1.2 Validação de campo

Durante o trabalho de campo foram levantados 300 pontos amostrais para a validade da

classificação do uso e cobertura da terra (Tabela 7).

Ponto Distrito Coordenadas UTM Zona 36S Classe Status

X Y

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

Gondola

Gondola

Gondola

Gondola

Gondola

Sussundenga

Sussundenga

Sussundenga

Sussundenga

Sussundenga

Sussundenga

Sussundenga

Sussundenga

Manica

Manica

Manica

Manica

Manica

Manica

Manica

568775

569422

582743

589824

567960

531318

534515

535474

536226

535511

535223

534446

530838

508429

511458

535467

5102204

508862

516280

514855

7893313

7894827

7908252

7880179

7889541

7850012

7832277

7829040

7821927

7819494

7818930

7866923

7850827

7899197

7897780

7829038

7898724

7899296

7896058

7897154

Não Floresta

Não Floresta

Não Floresta

Não Floresta

Não Floresta

Floresta

Não Floresta

Não Floresta

Floresta

Floresta

Floresta

Não Floresta

Floresta

Não Floresta

Floresta

Não Floresta

Não Floresta

Não Floresta

Não Floresta

Floresta

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Corresponde

Tabela 7: Alguns Pontos de validação

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41

Figura 10: Pontos de validação de campo da área de estudo

A

B

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42

C

D

Figura 11: Fotos da área de estudo. A e B – Áreas de floresta (Distrito de Sussundenga), C e D – Não Floresta

(Campos agrícolas no distrito de Gondola).

6.2 QUANTIFICAÇÃO DAS MUDANÇAS NO USO E COBERTURA DO SOLO

6.2.1 Métricas da paisagem

Tabela 8: Métricas da paisagem

A área de estudo apresenta uma diminuição significativa da cobertura florestal. Pela

Métrica CA, existia em 2007 cerca de 2546500 ha de florestas. Em 2018 a área de florestas

passou para 953900 ha correspondendo a uma taxa de redução de 56%. No mesmo período, a

classe de não floresta passou de 3680600 hectares em 2007 para 5273200 hectares em 2018

correspondendo a 90% de aumento da sua área.

Class Period

Metrics 2007 2015 2018

Forest

CA 2546591 1866537 953965

PLAND 41 30 15

NP 264635 301476 343722

PD 4.2496 4.8413 5.5197

LPI 34.2886 19.8504 3.6629

MPS 9.6230 6.1913 2.7754

No-Forest

CA 3680639 4360693 5273265

PLAND 59 70 85

NP 288238 230326 106130

PD 4.6287 3.6987 1.7043

LPI 34.8448 40.8450 81.6099

MPS 12.7694 18.9327 49.6868

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No que tange ao número de fragmentos florestais, existia 264600 fragmentos em 2007.

Para o ano de 2018 registrou-se aumento de fragmentos florestais, passando de 264600 em 2007

para 343700 fragmentos. Neste mesmo ano, notou-se a diminuição do índice da maior mancha

passando de 34% em 2007 para 4% em 2018. De acordo com SAUNDERS et al. (1991),

fragmentos pequenos apresentam risco de não se manterem na área, dada a intensidade do efeito

borda a que estão sujeitos e, remanescentes de área pequena apresentam frágeis padrões de

sustentabilidade ao longo do tempo, diferente de fragmentos de área grande que têm capacidade

de proteger a diversidade biológica.

Em 2007, a classe de floresta representava 41% da paisagem. Nos 11 anos que

intermedeiam período de estudo, esta classe perdeu mais de metade da sua área, passando a

ocupar apenas 15% da área total da paisagem em 2018. As áreas de floresta foram convertidas

em áreas agrícolas (em uso e/ou em pousio) e em áreas residências.

O período de grandes mudanças na paisagem ocorreu entre 2015 e 2018. De acordo com

os resultados da análise de métricas da paisagem, verificou-se que o processo de fragmentação

foi intenso e é resultado da conversão de áreas de florestas para não floresta (agricultura, áreas

residências, pastagens e florestas degradadas).

6.3 CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO DOS AGRICULTORES

FAMILIARES DA PROVÍNCIA DE MANICA

Em relação ao tipo de ocupação, maior parte dos inquiridos afirmou trabalhar por conta

própria (89%) sendo agricultura sua principal atividade e base de sobrevivência. Um número

bastante reduzido (11%) de inquiridos é funcionário público ou da empresa florestal (Tabela 9).

Em relação aos produtos básicos alimentares a Província de Manica produz, de entre

vários, o milho, feijão, sorgo, mandioca e batata-doce.

Tabela 9: Setor de atividade

Dos 227 entrevistados, um pouco menos que a metade vive na área de estudo desde da

nascença (47%) sendo que o restante ocupou a área há menos de 5 anos atras (22%) e (31%) há

mais de 6 anos.

Principal ocupação Respostas Porcentagem (%)

1. Trabalha por conta própria no setor agrário;

2. Funcionário público ou da empresa

201

26

89

11

Total 227 100

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44

O direito de uso e aproveitamento de terra é adquirido por três vias principais: herança,

doação e compra. Maior parte dos inquiridos (39%) obtiveram as suas propriedades via

costumeira (herança e ocupação de boa fé), (34%) por doação de líderes comunitários e sendo

menor número (27%) por comprar. Figura 4.

Figura 12: Forma de aquisição de direito de uso e aproveitamento dessa terra

De acordo com resultados da tabela 10, a principal causa da diminuição de áreas de

florestas segundo os entrevistados é a expansão de áreas agrícolas e exploração de energia da

biomassa (lenha e carvão vegetal).

Tabela 10: Causas do desmatamento

Os resultados da análise do questionário parecem indicar que expansão de áreas agrícolas

para aumentar os níveis de produção está causando a diminuição da cobertura florestal na

província de Manica. No entanto, a causa de expansão de áreas agrícolas é diferente nos grupos

de agricultores familiares. O esgotamento da capacidade produtiva dos solos em produção e a

necessidade de aumentar a produção para a comercialização de excedentes agrícolas constituem

causas comummente apontadas de expansão de áreas agrícolas sobre as florestas. O crescimento

da população urbana de baixo poder de compra associado a elevados valores de energia elétrica

faz aumentar a demanda pelo carvão vegetal como fonte alternativa de energia. Segundo

MAGALHÃES, (2014) a produção de carvão vegetal para efeitos de cozinha e aquecimento

representa mais de 85% do consumo total de energia no país. O aumento da demanda pelo carvão

Causas do desmatamento Respostas Porcentagem (%)

1. Expansão de áreas agrícolas e exploração da energia de biomassa

(lenha e carvão);

2. Exploração madeireira;

3. As duas causas atuam em simultâneo

132

48

47

58

21

21

Total 227 100

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45

vegetal nos principais centros urbanos provoca o desmatamento nas áreas adjacentes e não só,

atualmente os produtores e vendedores de carvão percorrem longas distâncias para pôr seu

produto no mercado.

Apesar de 70% da população atual residir nas zonas rurais, tendo como fonte única o

combustível lenhoso, curiosamente, não é esta parte da população que ameaça o recurso, mas

sim os restantes 30% da população que habitam zonas urbanas e periurbanas mas continuam

dependentes da lenha e do carvão vegetal como principal fonte de energia doméstica (SITOE,

A., MIRIRA, R. & TCHAÚQUE, F 2007).

O aumento da produção para comercialização de excedentes (33%) e a perda da

capacidade produtiva dos solos (27%) foram apontadas pelos entrevistados como principais

causas da expansão de áreas de produção (33%).

O aumento do agregado familiar foi uma das causas citadas mas com menor expressão

(14%) quando comparado com as anteriores causas (FIGURA 13). No entanto, MARZOLI, 2007

faz referência ao aumento da população como principal causa da exploração desenfreada de

recursos florestais através da expansão de áreas agrícolas e produção de carvão.

Figura 13: Causa da expansão de áreas de produção

CUNGUARA et al (2012) faz referência de que a alta dos preços de alimentos no mercado

mundial motivou expansão da área cultivada e maior uso de tração animal, mas sem nenhum

aumento significativo na proporção de agregados familiares que usam fertilizantes químicos.

A área de produção varia de 1.5 hectares a 5 hectares sendo que a média é de 2.6 hectare

por família. Cerca de 30% dos entrevistados produzem em área de 3 hectares e 3% em 5 hectares.

27

26

14

33

0 5 10 15 20 25 30 35

AS TRES CAUSAS JUNTAS

PERDA DA CAPACIDADE PRODUTIVA

AUMENTO DO AGREGADO FAMILIAR

AUMENTO DA PRODUCAO PARA COMERCIALIZACAO

Porcentagem

Cau

sas

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46

Dos 227 entrevistados constatou-se que 116 (51%) indivíduos aumentaram 1 hectare de

área de produção nos últimos 2 anos. (21%) aumentou 0.5 hectares e apenas 3 indivíduos (1%)

aumentaram 2.5 hectares.

Tabela 11: Aumento de área de produção

Os níveis de produção e produtividade são muito baixos devido a práticas de cultivo

tradicional caracterizado pelo baixo uso de insumos agrícolas. Maior parte dos agricultores,

(cerca de 49% dos entrevistados) produzem uma tonelada de milho por hectare e 16% produzem

2 toneladas de milho por hectare, (Tabela 12). A média nacional de acordo com o MISA (2015)

ronda em 1.2 toneladas de milho por hectare.

Tabela 12: Toneladas de milho por hectare.

Dado o fato de não existir empresas florestais na maior parte da área de estudo, 171

entrevistados (75%) apontam a exploração da energia da biomassa como ação inicial do

desmatamento ou seja, os exploradores de carvão vegetal e de lenha são os primeiros a devastar

florestas intactas que posteriormente as áreas são usadas pelos agricultores para produção de

alimentos - machambas. Os restantes 25% (que vivem em áreas onde simultaneamente existem

operadores de carvão e madeireiros) apontaram os madeireiros como os que começam com ação

de desmatamento e só depois é que entram os exploradores de carvão e lenha. Os entrevistados

apontaram a existência de operadores furtivos que abatem de forma seletiva, espécies madeireiras

de interesse comercial.

Aumento da área de produção em ha. Respostas Porcentagem (%)

0.5

1

1.5

2

2.5

47

116

43

18

3

21

51

19

8

1

Total 227 100

Toneladas de milho por hectare Respostas Porcentagem

1

1.5

2

112

79

36

49

35

16

Total 227 100

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47

6.3.1 ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS (PCA)

O teste KMO foi de 0.832, indicando a adequabilidade do método (Tabela 13).

Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy. .832

Bartlett's Test of Sphericity Approx. Chi-Square 4233.996

df 276

Sig. .000

Tabela 13: Teste de KMO e Bartlett

As comunalidades (communalities) são quantidades das variâncias (correlações) de cada

variável explicada pelas componentes. Quanto maior a comunalidade, maior será o poder de

explicação daquela variável pelo fator. No caso específico, todas as variáveis apresentaram

comunalidades superiores a 0.40 sendo que a maior foi de 0.96.

No estudo em caso, os dados colhidos em campo, após o uso do algoritmo PCA, foi

possível a redução do número de componentes em estudo para sete (7) com autovalores maior

que 1 explicando cerca de 76% da variância total dos dados (Tabela 14).

Component

Initial Eigenvalues Extraction Sums of Squared Loadings

Total % of Variance

Cumulative

% Total % of Variance

Cumulative

%

1 5.889 24.538 24.538 5.889 24.538 24.538

2 4.938 20.576 45.114 4.938 20.576 45.114

3 1.914 7.974 53.088 1.914 7.974 53.088

4 1.662 6.924 60.012 1.662 6.924 60.012

5 1.486 6.193 66.205 1.486 6.193 66.205

6 1.212 5.049 71.254 1.212 5.049 71.254

7 1.028 4.285 75.539 1.028 4.285 75.539

8 .890 3.710 79.249

9 .711 2.964 82.213

Tabela 14: Variância total explicada

A tabela 14 representa a percentagem de variância explicada por cada componente

principal. Quando esta porcentagem se reduz e a curva passa a ser quase paralela ao eixo das

abcissas, são de excluir as componentes correspondentes. Conforme a tabela, nota-se que a taxa

de variação dos autovalores em relação ao número de componentes decresce abruptamente em

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48

um determinado ponto do gráfico. Por isso, foram levado em consideração apenas 7 componentes

principais que tem valor de variância maior que 1as quais representam uma variância explicada

de 76% dos dados.

Component

1 2 3 4 5 6 7

Idade .039 .787 .319 .040 .134 -.025 -.006

Tipo de ocupação -.086 -.013 -.013 .886 -.069 .048 -.028

Agregado familiar .033 .299 .782 -.051 .181 .022 -.004

Tempo de utilização da terra .153 .020 .089 -.059 .884 .042 -.090

Forma de aquisição do direito de uso e aproveitamento de

terra

.082 -.422 -.021 .120 .735 -.046 -.057

Tipo de uso e cobertura de terra dominante aquando da ocupação

-.008 -.831 -.181 -.094 .112 -.038 .065

Dimensão da propriedade -.056 .757 .323 -.230 -.263 -.004 -.017

Hectares de florestas -.107 .767 .169 -.113 -.351 .090 -.010

Dimensão da área para produção .026 .194 .885 -.064 .006 .099 .046

Aumento de área de produção nos últimos 2 anos .010 .170 .874 -.088 -.054 .055 -.029

Número de machambas -.039 .371 .567 .079 -.087 -.025 .358

Quantidade de milho (em toneladas) por hectare -.102 .072 .167 .019 -.068 .829 -.008

Instrumentos de produção .151 -.012 -.027 .019 .067 .828 -.046

Motivo de expansão de área de produção .006 -.090 -.068 -.021 .004 .085 .792

Uso de técnicas de pousio -.031 .556 .072 -.220 .179 -.022 .361

Atividades económicas complementares -.004 -.144 -.123 .889 .110 -.015 .079

Assistência de extensionistas .031 -.114 -.192 -.100 .182 .193 -.575

Empresas florestais na área .953 -.041 .002 .027 .087 .073 -.030

Forma de aquisição de terra pelas empresas florestais .960 .071 .020 -.062 .019 .041 .023

Consulta à comunidade para concessão de terra .979 .016 -.035 -.019 .051 .008 .020

Mudança no provimento de recursos florestais depois da

existência de empresas florestais .975 -.011 -.018 -.033 .061 .010 -.001

Causas da diminuição do provimento -.825 .061 .034 .061 -.041 .077 .048

Início da ação do desmatamento -.633 .148 -.163 -.037 .001 -.103 .015

Melhoria da vida pelo serviço social da empresa .900 .052 -.056 -.019 .090 -.070 -.003

Extraction Method: Principal Component Analysis.

Rotation Method: Varimax with Kaiser Normalization.

a. Rotation converged in 7 iterations.

Tabela 15: Matriz das componentes

Levando em consideração que pesos de componentes mais elevados em valor absoluto

identificam o componente a que cada variável se associa. Assim, considerando apenas os pesos

de componentes em valor absoluto superiores a 0.45 (os que estão em negrito na tabela rotated

componente matrix), podemos descrever os seguintes componentes:

Componente 1 – Constituído por 7 variáveis dos quais 5 são fortemente

correlacionadas positivamente e 2 são fortemente correlacionadas negativamente. No primeiro

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49

grupo incluem-se as variáveis: existência de empresas florestais na área, formas de aquisição de

terra pelas empresas florestais, consulta à comunidade para aquisição de terra, mudança no

provimento de recursos florestais depois da existência de empresas florestais, e melhoria da vida

pelo serviço social prestado pelas empresas florestais. No segundo grupo incluem-se as variáveis:

causas da diminuição do provimento de recursos florestais e, inicio da ação do desmatamento.

Componente 2 – Constituído por 3 variáveis sendo todas elas fortemente

correlacionadas positivamente. São elas: a idade do chefe de família, a dimensão da sua

propriedade e os hectares de florestas.

Componente 3 – As variáveis que apresentam pesos fatoriais mais elevados em valor

absoluto neste fator são: Número do agregado familiar, dimensão da área (em hectares) para

produção e ao aumento da área para produção nos últimos 5 anos.

Componente 4 - As variáveis que apresentam pesos fatoriais mais elevados neste fator

são: tipo de ocupação e atividades económicas complementares.

Componente 5 – Tempo de utilização da terra e a forma de aquisição do direito de uso

e aproveitamento de terra são variáveis que tem pesos fatoriais mais elevados neste componente.

Componente 6 – Quantidade de milho em toneladas por hectare e instrumentos de

produção utilizados são variáveis que tem pesos fatoriais mais elevados neste componente.

Componente 7 – Constituído por duas variáveis sendo uma fortemente correlacionada

positivamente – motivo de expansão de área de produção, e outra fortemente correlacionada

negativamente – assistência de extensionistas.

A análise dos componentes extraídos da amostra permite entender que características das

florestas (componente 1) é o elemento com maior carga fatorial e que maior explica a

diferenciação de agricultores familiares.

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50

6.3.2 Análise de clusters

A análise de clusters é um método que permite agrupar sujeitos ou variáveis em grupos

com uma ou mais características comuns. No caso em análise, foram utilizadas todas variáveis

para a formação de grupos de agricultores com características homogéneas e determinar a

heterogeneidade entre os grupos formados.

Tabela 16: Centro final do Cluster

Cluster

1 2 3

Idade 50 67 33

Tipo de ocupação 1 1 1

Agregado familiar 8 9 6

Tempo de utilização da terra 2 2 2

Forma de aquisição do direito de uso e

aproveitamento de terra 2 1 2

Tipo de uso e cobertura de terra dominante aquando

da ocupação 2 1 2

Dimensão da propriedade 10 14 6

Hectares de florestas 1 3 0

Dimensão da área para produção 2.8 3.1 2.3

Aumento de área de produção nos últimos 2 anos 1.2 1.3 .9

Número de machambas 1 2 1

Quantidade de milho (em toneladas) por hectare 1.3 1.4 1.3

Instrumentos de produção 1 1 1

Motivo de expansão de área de produção 2 3 3

Uso de técnicas de pousio 1 2 1

Atividades económicas complementares 2 2 2

Assistência de extensionistas 2 2 2

Empresas florestais na área 2 1 2

Forma de aquisição de terra pelas empresas florestais 2 2 2

Consulta à comunidade para concessão de terra 2 2 2

Mudança no provimento de recursos florestais depois da existência de empresas florestais

2 1 2

Causas da diminuição do provimento 2 2 2

Início da ação do desmatamento 1 1 1

Melhoria da vida pelo serviço social da empresa 3 2 2

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51

6.3.2.1 Caracterização de clusters

Figura 14: Número de agricultores familiares de cada cluster por posto administrativo.

Figura 15: Clusters de agricultores familiares

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52

Cluster 1 (Agricultores não nativos)

Cluster majoritário constituído por 86 indivíduos entrevistados (38%) com idade média

de 50 anos. Têm sua maior representatividade na região Sul e Centro Leste da área de estudo. Os

agricultores familiares deste cluster são imigrantes e adquiriram o direito de uso e aproveitamento

da terra por via da doação e compra. Sua propriedade tem uma dimensão média de 10 hectares e

desta área, 2.8 hectares são para produção. Nos últimos 2 anos aumentaram em media 1.2 hectare

da sua área de produção. Esse aumento é motivado pelo crescimento do agregado familiar. A

diminuição de área de floresta é causada principalmente pela expansão de áreas agrícolas e

exploração da energia da biomassa (lenha e carvão).

Cluster 2 (Velhos agricultores nativos)

Constituído por 59 indivíduos entrevistados (26%) com idade média de 67 anos e vivem

na área desde a nascença. É o cluster com menor número de postos administrativos alocado

(apenas o posto administrativo de Zembe). Os agricultores familiares deste cluster adquiriram o

direito de uso e aproveitamento de terra por via da herança. Possuem maior área de propriedade

(14ha em média dos quais 3.1 hectares são para produção). Aumentaram nos últimos 2 anos cerca

de 1.3 hectares de terra para produção. O aumento da área de produção é motivado pela

necessidade de produzir mais para comercializar excedentes. A exploração da madeira é citada

como a causa da diminuição de áreas de florestas.

Cluster 3 (Jovens agricultores e produtores de carvão)

Constituído por 82 indivíduos entrevistados (36%) com idade media de 33 anos. Vivem

na área desde a nascença e adquiriram o direito de uso e aproveitamento de terra por via da

doação. A dimensão media de sua propriedade é de 6 hectares e utilizam 2.3 hectares para a

produção sendo que aumentaram 0.9 hectare nos últimos 2 anos. O aumento da área de produção

é motivado pela necessidade de produzir mais para comercializar excedentes. Tem como

atividade complementar a venda de carvão e comercialização de excedentes agrícolas. A

expansão de áreas agrícolas é citada como principal causa da diminuição de áreas de florestas.

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53

6.3.3 Modelo conceitual do desmatamento na província de Manica

São distinguidos dois potenciais fatores do desmatamento: imediatos (diretos) e

subjacentes (indiretos) (Figura 16).

Fatores imediatos do desmatamento são na sua totalidade atividades humanas que

diretamente impactam a cobertura florestal tais como: a agricultura itinerante - A ação da

agricultura causa imediata do desmatamento é estimada em cerca de 80% a nível mundial

(KISSENGER et al, 2012). Exploração madeireira - Os impactos diretos resultam da conversão

direta de florestas para áreas agrícolas permanentes ou agricultura itinerante (SITOE, A.,

SALOMÃO, A. e WERTZ-KANOUNNIKOFF, S. 2012); A elevada procura por madeiras

tropicais no mercado internacional, especialmente Ásia, e a fraca fiscalização das políticas e

regulamentos nacionais afiguram como causas do desmatamento associadas com a exploração

florestal de madeiras. Inicialmente abrem pequenas trilhas que posteriormente são usadas por

lenhadores e carvoeiros e; exploração e consumo da energia da biomassa (lenha e carvão) -

A elevada procura por lenha e carvão está associada a várias questões, entre elas o baixo poder

de compra e a falta de fontes alternativas viáveis de energias nas zonas urbanas (SITOE, A.,

SALOMÃO, A. & WERTZ-KANOUNNIKOFF, S, 2012).

Fatores subjacentes atuam em múltipla escala: internacional (mercados e preços de

commodities); nacional (crescimento da população, mercados internos, politicas nacionais e

governança); e circunstancias locais (subsistência e pobreza) (KISSENGER, et al).

Fatores subjacentes geram desmatamento de forma indireta. Constituem uma interação

complexa de processos sociais, económicas, politicas, culturais e tecnológicas que afetam as

causas imediatas (KISSINGER eta al, 2012). Segundo SITOE, A., SALOMÃO, A. & WERTZ-

KANOUNNIKOFF, S, 2012, os efeitos indiretos sobre a floresta incluem uma fase de transição

em que é extraída a madeira nobre, seguida de extração de lenha e carvão, que se beneficiam do

acesso aberto pelos caminhos para a exploração madeireira. Estas áreas são mais tarde utilizadas

como áreas agrícolas, sugerindo, mais uma vez que a agricultura e a exploração de combustíveis

lenhosos trabalham em combinação sobre a mudança da cobertura florestal.

O rápido crescimento da população associado ao elevado nível de pobreza e fraca

fiscalização pelo poder público de principais vetores de desmatamento constituem principais

fatores subjacentes de desmatamento na província de Manica.

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A expansão de áreas agrícolas para aumentar níveis de produção está causando a

diminuição de cobertura florestal na província de Manica. Essa expansão ocorre sobre áreas de

florestas quando as antigas áreas de produção perdem sua capacidade produtiva. O crescimento

da população urbana de baixo poder de compra associado a elevados valores de energia elétrica

faz aumentar a demanda pelo carvão vegetal como fonte alternativa de energia. Esta forte

demanda provoca desmatamento de áreas próximas às principais cidades e vilas e não só,

atualmente os produtores e vendedores de carvão percorrem longas distâncias para a

comercialização do seu produto. O aumento da procura por recursos madeireiros no mercado

nacional e internacional também constitui uma das fortes causas do desmatamento.

Figura 16: Modelo conceitual do desmatamento na província de Manica – Moçambique

DESMATAMENTO

Crescimento da população

- Aumento da procura por produtos

alimentares, energia e áreas

habitacionais;

- Distribuição e Densidade populacional;

Políticas governamentais

- Fraco monitoramento e fiscalização de

recursos florestais.

Exploração madeireira

- Aumento da procura de recursos

madeireiros no mercado nacional e

internacional;

- Concessões florestais e corte ilegal.

Exploração e consumo da bioenergia

- Aumento de necessidades energéticas nas

cidades (Demanda por lenha e carvão).

Agricultura itinerante

- Expansão de áreas agrícolas

- Aumento da procura interna por produtos

agrícolas;

- Esgotamento da capacidade produtiva

dos solos.

1

2

3

IMEDIATOS SUBJACENTES

Afetam

fatores

imediatos

Subsistência e

pobreza

- Recursos naturais

única fonte de

sobrevivência

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55

6.4 APTIDÃO AGRÍCOLA DAS TERRAS

Pelo método de análise multicritério foi possível identificar cerca de 1499680 hectares do

nível de aptidão muito apta (S1); 3478932 hectares moderadamente aptas (S2); 1072019 hectares

marginalmente aptos (S3) e 14867 hectares inaptas (N.

As áreas de alta potencialidade são áreas próximas dos rios e com boas condições de

irrigação, de baixa declividade, com solos férteis e próxima de áreas de influência de

extensionistas de principais instituições de ensino na província. Quanto mais distantes dessas

condições, as áreas tornam-se poucas atrativas para prática da atividade agrícola nas condições

técnicas e socioeconómicas dos agricultores familiares (Nível A).

Figura 17: Relação do uso e cobertura da terra e aptidão agrícola.

Uso e cobertura da terra Aptidão das terras Aptidão preservando área de de

floresta remanescente

Floresta - 953965

S1 - 1499680 S1 – 1268400

S2 - 3478930 S2 – 3051800

Não Floresta - 5273265 S3 - 1072010 S3 – 803900

N - 14860 N - 14860

Tabela 17: Área das classes de uso e cobertura e da aptidão agrícola das terras

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56

Com as imagens de uso e cobertura de terra do ano 2018 e da aptidão agrícola das terras foi

possível através do software DINAMICA EGO retirar das áreas de alta e baixa aptidão

preservando as florestas. Assim sendo, foram identificados 1268400 hectares muita aptas,

3051800 moderadamente apta, 803900 marginalmente apta e 14860 não apta.

Figura 18: Aptidão agrícola das terras preservando a floresta

Uso e cobertura da terra Aptidão das terras Relação do uso e cobertura da terra com aptidão preservando

área de floresta remanescente

Floresta - 953965

S1 - 1499680 S1_Floresta - 231250

S2 - 3478930 S2_Floresta – 427110

Não Floresta - 5273265 S3 - 1072010 S2_Nao Floresta - 3051810

N - 14860 S1_Nao Floresta - 1268420

Tabela 18: Área de classes de uso e cobertura de terra e da aptidão agrícola preservando a floresta

Cerca de 1268420 hectares são da classe muito apta e coincidem com áreas de não

floresta. É sobre áreas muito aptas que deveriam ser direcionadas iniciativas para expansão e

intensificação da produção agrícola. Também existem cerca de 3051810 hectares que são

moderadamente aptos e que não coincidem com áreas de florestas. Essas terras também podem

ser usadas para a produção.

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57

6.5 CALIBRAÇÃO DO MODELO DINÂMICO DO DESMATAMENTO E

ANÁLISE DA PAISAGEM

6.5.1 Matriz de transição

A tabela 19 apresenta os dados de perda de floresta na área de estudo. A partir dos dados

apresentados, é possível perceber a expressiva transição de área de floresta em não floresta. A

área de floresta tende a diminuir de 2007 a 2018.

Figura 19: Variação de área de floresta 2007 – 2018

2007 2015 2018

Área em (Ha)

% do

Total

Área em

(Ha) % do Total

Área em

(Ha) % do Total

Floresta 2546591 41% 1866537 30% 953965 15%

Não Floresta 3680639 59% 4360693 70% 5273265 85%

Total 6227230 100% 6227230 100% 6227230 100%

Tabela 19: Quantificação das classes temáticas 2007 - 2018

Com os mapas de uso e cobertura da terra inicial (2007) e final (2018), foram obtidas as

matrizes de transição global (single step) e anual (multiple step) da área de estudo. A Tabela 20

apresenta a matriz de transição de uso e cobertura da terra para a área de estudo, com base nos

períodos de 2007 a 2018.

De uma área total de 2546591 hectares de floresta em 2007, houve um decréscimo de

1592626 hectares de floresta até o ano de 2018, o que representa certa de 26% da área total da

província. Para o período de 2007 a 2015, houve um decréscimo de 680054 hectares nas áreas

de floresta, o que representa um percentual de 35.7%.

25

46

59

1

18

66

53

7

95

39

65

36

80

63

9

43

60

69

3

52

73

26

5

2 0 0 7 2 0 1 5 2 0 1 8

Floresta Nao Floresta

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58

A partir da matriz de transição multi step, as taxas anuais estimadas de desmatamento

foram de 5.6% para o período de 2007 e 2015, e 26.7% para o período de 2015 a 2018. Para o

período de 2007 a 2018 foi de 10.3%.

Para a matriz de transição single step, as taxas anuais estimadas de desmatamento foram

de 35.7% para o período de 2007 a 2015 e 59.3% para o período de 2015 a 2018 (Tabela 20).

2007 – 2015 Floresta Não Floresta

Floresta 64.3% 35.7%

Não Floresta 6.2% 93.8%

2015 – 2018

Floresta 40.7% 59.3%

Não Floresta 4.4% 95.6%

2007 - 2018

Floresta 32% 68%

Não Floresta 3.8% 96.2%

A

Tabela 20: Matriz de Transição single step (A) e multi step (B) 2007 -2018

Para a classe floresta na matriz de transição, o percentual em verde-claro, corresponde a

área remanescente da classe na transição. O mesmo acontece para a cor laranja na classe não

floresta. Apenas 15% de área de floresta em 2007 permaneceu intacta ate ao ano de 2018.

6.5.2 Pesos de evidência

O cálculo dos valores de pesos de evidência das variáveis estáticas e dinâmicas permitiu

a obtenção de probabilidades de transição (Floresta para Não Floresta) das células. Os pesos de

evidência permitiram inferir sobre qual contribuição uma classe ocorreu em uma dada transição.

Quanto maior o valor de peso de evidência, maior é a probabilidade de ocorrência de

desmatamento (favorece o desmatamento) e, valores entorno de 0 (zero) não tem efeito para

desmatamento e, valores abaixo de 0 (negativos) repelem o desmatamento.

2007 – 2015 Floresta Não Floresta

Floresta 5.6%

Não Floresta 0.97%

2015 – 2018

Floresta 26.7%

Não Floresta 2%

2007 - 2018

Floresta 10.3%

Não Floresta 0.58%

B

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59

Figura 20: Variação dos pesos de evidência

Valores positivos de pesos de evidência caracterizam a atração na ocorrencia da transição de

floresta para a classe de não floresta. No caso específico, o aumenta a declividade na área de

estudo, repele o desmatamento. Ou seja, áreas de menor declividade (abaixo de 5%), atraem o

desmatamento e áreas de maior declividade (de 5% a 75%) repelem o desmatamento.

De acordo com a variavel distância aos rios, pode entender-se que até os 200 metros de distancia

aos rios não ocorre o desmatamento. Dos 500 metros até 2 km ocorre o desmatamento. Dos 2km

a mais diante o desmatamento tende a diminuir.

-1

-0.5

0

0.5

0 5 10 15 20

Declividade

-0.2

-0.1

0

0.1

0.2

0.3

0 1000 2000 3000

Distância aos rios

-0.1

0

0.1

0.2

0 1000 2000 3000

Distância as estradas

-1

-0.5

0

0.5

0 500 1000 1500

Distância a areas desflorestadas

-1

-0.5

0

0.5

1

0 2000 4000 6000 8000

Distância a areas protegidas

-0.5

0

0.5

1

1.5

0 5000 10000 15000 20000

Distância a principais vilas e

cidades

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Nas primeiras faixas da variável distância às estradas (até 1 km) os pesos são positivos,

demonstrando que a proximidade as estradas tende a atrair o desmatamento. À medida em que

se afasta das estradas (2 km a mais), o desmatamento diminui ou seja, maior distância às estradas

tende a repelir o desmatamento.

Outra variável também importante é a distância a áreas já desmatadas. A proximidade às áreas já

desmatadas tende atrair o desmatamento. O afastamento dessas áreas tende a repelir o

desmatamento. Áreas já desmatadas coincidem com áreas de agricultura e estas tendem a

expandir em direção a áreas de floresta remanescente fazendo com que suas proximidades

atraiam o desmatamento.

Uma importante constatação é que os resultados mostram que a proximidade às áreas protegidas

tende a atrair o desmatamento. Ao se afastar das áreas protegidas o desmatamento diminui. As

áreas protegidas são as que ainda possuem varias espécies de valor comercial e localizadas em

terras de alto potencial produtivo o que faz com que suas proximidades atraiam o desmatamento.

Estes resultados apontam que existe a necessidade de reverter esta tendência para que as áreas

protegidas possam cumprir o propósito da sua criação que é proteger e conservar a biodiversidade

Moçambicana.

As áreas próximas das principais vilas e cidades são as que verificam maiores taxas de

desmatamento. Á medida que se desloca para fora das áreas próximas dos centros urbanos, o

desmatamento tende a diminuir. Este fato deve se à crescente demanda de combustível lenhoso

nas cidades. A produção de combustíveis lenhosos para comercialização é geralmente efetuada

ao redor das grandes cidades e ao longo das estradas principais para abastecimento do mercado

urbano.

A análise dos pesos de evidência mostra que áreas próximas das estradas e distantes dos rios e

de baixa declividade, são as mais favoraveis para a transição de classe de floresta para a classe

de não floresta. Contrariamente, áreas próximas dos rios e distantes das estradas e de alta

declividade, repelem o desmatamento ou seja, têm maior probabilidade de se manterem intactas.

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61

6.5.3 Correlação entre os mapas

O teste da independência espacial dos mapas de entrada foi analisada pelos indices de

Cramer (V) e o Joint Information Uncertainty (Incerteza de Informação Conjunta - JIU) como

explicado na metodologia. Valores menores que 0,5 no Índice de Crammer (V) assim como no

Joint Information Uncertainty (JIU), indicam menor associação (Bonham-Carter, 1994).

De acordo com os dados da Tabela 11, no teste de dependência espacial, nenhum par de

variáveis apresentou correlação acima de 50% confirmando que ambas variáveis previamente

selecionadas poderiam ser usadas simultaneamente no modelo. Portanto, não foi preciso retirar

nenhuma das variáveis e consequentemente não foi necessário recalcular os pesos de evidência.

Transition

from*

Transition

to* First_Variable* Second_Variable* Cramer

Joint_

Uncertainty

declividade/layer_0 distance/distance_to_2 0.117901 0.027992

declividade/layer_0 estradas/layer_0 0.025916 0.002673

declividade/layer_0 municipios/layer_0 0.095956 0.03228

declividade/layer_0 protegidas/layer_0 0.052135 0.009541

declividade/layer_0 rios/layer_0 0.025319 0.002319

declividade/layer_0 solos/layer_0 0.154793 0.087467

distance/distance_to_2 estradas/layer_0 0.056923 0.005583

distance/distance_to_2 municipios/layer_0 0.11407 0.018538

distance/distance_to_2 protegidas/layer_0 0.078877 0.0117

distance/distance_to_2 rios/layer_0 0.022526 0.000934

distance/distance_to_2 solos/layer_0 0.187629 0.05839

estradas/layer_0 municipios/layer_0 0 0.031549

estradas/layer_0 protegidas/layer_0 0 0.023987

estradas/layer_0 rios/layer_0 0 0.002524

estradas/layer_0 solos/layer_0 0.092845 0.028515

municipios/layer_0 protegidas/layer_0 0 0.107626

municipios/layer_0 rios/layer_0 0 0.011126

municipios/layer_0 solos/layer_0 0.305916 0.205007

protegidas/layer_0 rios/layer_0 0 0.005954

protegidas/layer_0 solos/layer_0 0.156386 0.078289

rios/layer_0 solos/layer_0 0.069885 0.01458

Tabela 21: Correlação entre mapas

6.5.4 Simulação e validação

Como mencionado no item 5.3.3.2, o DINAMICA EGO utiliza os functores Expander e

Patcher como algoritmos de transição, responsáveis pela expansão e contração de manchas de

células de cada classe e pelo surgimento de novas manchas respetivamente. Na etapa de

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simulação do desmatamento, foi produzido o mapa de desmatamento simulado para o ano 2018

e validado através da comparação quantitativa com o mapa de desmatamento observado do ano

2018. Utilizando o índice de similaridade Fuzzy observou-se uma similaridade de 96% em

janelas de 11X11 pixel (Tabela 16). Com esse resultado, foi possível validar a simulação, pois

conforme sugerido por HAGEN (2003) a obtenção de valores acima de 50% de similaridade

entre os mapas categóricos pode ser considerada satisfatórios para validação de uma

classificação.

MODELO

Tamanho das

janelas (pixel)

Índice de

Similaridade

Mínima

Índice de

Similaridade

Máxima

SIMULAÇÕES

2015 a 2018

1 0.534515 0.614646

3 0.589485 0.804204

5 0.638414 0.88426

7 0.680676 0.923689

9 0.715171 0.945765

11 0.742611 0.95926

Tabela 22: Validação do índice de similaridade Fuzzy com diferentes tamanhos de janela.

Real Porcentagem Simulado Porcentagem

Floresta (ha) 953965 15.3% 735659 12%

Não Floresta (ha) 5273265 84.7 5491571 88

Total (ha) 6227230 100% 6227230 100

Tabela 23: Percentual de classe do mapa observado e simulado

No mapa real de 2018, a quantidade de floresta do mapa observada foi aproximadamente

de 953965 hectares. Para o mapa simulado de 2018, a quantidade de floresta observada foi

aproximadamente de 735659 hectares. A diferença de área de floresta entre o mapa observado e

o simulado é de 218306 hectares o que corresponde a 3.5% da área total da província. Ou seja, o

erro entre o mapa simulado e o real está abaixo de 5% fato que nos permite aceitar e validar o

modelo.

Segundo NOVAES et al (2011), para além da análise de pesos de evidência para

reconhecer áreas passiveis de mudança de estado em cada transição, existe outra técnica que é a

análise de mapas de probabilidade de transição que compilam o efeito de todas as variáveis

estáticas inseridas no modelo permitindo a observação dessas variáveis no plano espacial.

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63

Figura 21: Mapa de probabilidade de mudança 2018

O mapa da figura 14 representa a probabilidade de ocorrer mudança na classe floresta

para não floresta. Quanto mais próximo da cor vermelha, maior é a probabilidade de ocorrer

mudança e quanto mais próxima da cor verde, menor é a probabilidade de ocorrer mudança. As

áreas próximas a floresta remanescente até 2018 são as que maior probabilidade têm de sofrer o

desmatamento. Áreas já desmatadas e de menor abundância de floresta são as que menor

probabilidade têm de serem desmatadas.

6.5.5 Cenários futuros

Após a validação do modelo, foi realizada a simulação de desflorestamento para os anos

2019 a 2025. Os dados de saída desta etapa final consistem em mapas de probabilidades.

Após obtenção dos mapas simulados dos anos de 2019 a 2025, no software DINAMICA-

EGO, usou se o software ArcGIS 10.2.1, para construir mapas de transição ano a ano dos futuros

desflorestamentos e suas respetivas áreas de transição da classe floresta para desflorestamento.

Deforestation Probabitity 2018

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As Tabelas 18 e 19 quantificam probabilidades de cenários futuros de desmatamento na província

de Manica entre o ano de 2019 a 2025.

Classe em

(Ha) 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025

Floresta 512813 375987 275668 202115 148188 108649 79670

Não Floresta 5714417 5851243 5951562 6025115 6079042 6118581 6147570

Tabela 24: Quantificação da probabilidade de cenários futuros

Tabela 25: Probabilidade de área desmatada entre 2019 a 2025

Os cenários simulados para os anos 2019 a 2025 apresentados nas tabelas 18 e 19

demonstram a diminuição de área de floresta em cerca de 433000 hectares em todo período de

análise. Ou seja, até ao ano de 2025 a província de Manica terá apenas 5% da atual cobertura

florestal se as tendências históricas de desmatamento dos últimos 10 anos mantiverem-se

estacionárias.

Desmatamento em

(Ha)

2019 -2020 2020 -2021 2021-2022 2022 -2023 2023 -2024 2024 -2025

136826 100319 73553 53927 39539 28979

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7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Este trabalho permitiu compreender a dinâmica do processo de desmatamento bem como

dos fatores associados. Foi possível também compreender a complexidade do sistema de

produção dos agricultores familiares da província de Manica e sua relação com o desmatamento.

Através da análise de resultados de entrevistas foi possível obter a compreensão do

funcionamento do sistema de produção e sua relação com o desmatamento.

A expansão de áreas agrícolas e a exploração de energia da biomassa (lenha e carvão

vegetal) são apontadas como principais causas do desmatamento. Na fase inicial do

desmatamento, a floresta nativa intacta é devastada pela exploração madeireira e produção de

energia da biomassa que, posteriormente é transformada pelos agricultores familiares em áreas

de produção (machamba).

A população pratica agricultura em áreas de 2 a 3 hectares e o esgotamento da capacidade

produtiva dos solos faz com que o campo seja abandonado por um período mínimo de 3 anos

abrindo-se machambas em novas áreas outrora exploradas pelos madeireiros e carvoeiros ou

então retorna-se em áreas de pousio (caso pouco habitual dada a grande disponibilidade de terra)

– Agricultura itinerante.

A expansão de áreas agrícolas sobre a floresta é causada pela necessidade de aumentar a

produção para atender a demanda do mercado de excedentes agrícolas e também pelo

esgotamento da capacidade produtiva dos solos. Essa expansão é em média 0.5ha por ano.

A venda de excedentes agrícolas e exploração de energia da biomassa (lenha e carvão

vegetal) são principais atividades económicas geradoras de renda para população da região centro

da província de Manica.

A classificação de imagens Landsat para o mapeamento de classes de uso e cobertura de

solo permitiu a quantificação de mudanças ocorridas através do cálculo da matriz de transição de

principais classes em estudo (Floresta e Não Floresta). O método da modelagem dinâmica

permitiu compreender através da série histórica, cenários futuros do desmatamento na província

de Manica. O modelo de simulação apresentou resultados satisfatórios de acordo com o índice

de similaridade de Fuzzy obtido através da função de decaimento constante. Foi possível notar

que o desmatamento é intenso na Província de Manica e se a tendência for estacionária, a área

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poderá perder cerca de 433000 hectares de floresta nos próximos 6 anos e ser vulnerável a

ocorrência de problemas ambientais graves com repercussões negativas nos modos de produção

agrícola da população rural local.

No presente estudo foram identificados cerca de 1268420 hectares terra muito apta para

a prática da atividade agrícola e coincidem com áreas de não floresta. Essas áreas foram definidas

pelo cruzamento de sete planos de informação nos SIG de acordo com os códigos definidos na

Tabela 7. É sobre áreas muito aptas que deveriam ser direcionadas iniciativas para expansão e

intensificação da produção agrícola. Também existem cerca de 3051810 hectares que são

moderadamente aptos e que não coincidem com áreas de florestas. Essas terras também podem

ser usadas para a produção.

Para a preservação de áreas de floresta remanescente há que levar em consideração o

modelo de avaliação de terras agrícolas definido no presente estudo. O modelo de desmatamento

e da aptidão agrícola das terras pode subsidiar na definição de políticas públicas de planejamento

e ordenamento do território e evitar consequências ambientais negativas nas comunidades locais.

A metodologia aplicada no presente estudo pode ser aplicada para estudos de caso em áreas que

experimentam situações semelhantes de desmatamento na Província de Manica. No sentido de

melhorar as análises realizadas ao longo deste trabalho, propomos seguintes recomendações para

futuras pesquisas:

A expansão de áreas agrícola foi citada como principal causa do desmatamento. Para

simular cenários futuros de desmatamento, a definição e quantificação de áreas agrícolas é de

extrema importância pois, pode ajudar a perceber como esse tipo de uso poderá vir a contribuir

para o desmatamento;

Com objetivo de preservar áreas de florestas, torna imprescindível a produção de

mapas de aptidão agrícola (específicos para diferentes culturas) das terras associado a dados de

desmatamento para auxiliar na melhor definição de áreas com elevado aptidão agrícola e que as

mesmas não coincidam com áreas de florestas;

A aquisição e incorporação no modelo de dados socioeconómicos pode vir a dar

resultados que possibilitam uma melhor precisão na análise do fenómeno de desmatamento na

Província de Manica;

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO 1

ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA PARA AGRICULTORES FAMILIARES

Província: Manica; Distrito ----------------; Localidade ------------------; Povoado -----------

Nome do agricultor / régulo (opcional): ------------- Idade: ---------------- Sexo: ------------ No

de agregado familiar ----------------- Nível de escolaridade --------------

No de agregado que participa diretamente na produção ------------

Tipo de Machamba e/ou exploração: Familiar ( ) Comercial ( )

1. É funcionário público/empresa ou trabalha por conta própria?

2. Há quanto tempo usa essa terra?

3. Como adquiriu o direito de uso e aproveitamento dessa terra? Herança familiar ( ), Compra (

), doação ( ), Outra forma ( )

4. Que tipo de uso e cobertura havia quando ocupou essa área? Machamba ( ), Floresta ( )

5. Qual a dimensão da sua propriedade? Medir com GPS

6. Dessa área, quantos hectares são de floresta e quantos utiliza para a produção?

7. Nos últimos 2 anos aumentou quantos hectares de sua área de produção?

8. O que motiva a expansão de áreas de produção? Crescimento do agregado familiar ( ),

Aumentar a produção para comercializar ( ), Perda da capacidade produtiva ( ), Os três

motivos atuam em simultâneo ( )

9. Usa técnicas de pousio? Sim ( ) Não ( ). Se sim, por quanto tempo abandona

temporariamente uma parcela? 3 a 5 ( ) 6 a 10 ( ) 11 a mais anos ( ).

10. Quais principais culturas alimentares e de rendimento produz?

11. Qual a estimativa da quantidade de milho em toneladas que produz por hectare?

12. Qual o destino da sua produção? Consumo ( ), Venda ( )

13. Que instrumentos de produção utiliza? Trator ( ), Enxada ( ), Tração animal ( ), Catana ( )

14. Que atividades económicas complementares garantem a subsistência da família?

15. Recebe assistência de extensionistas ou técnicos rurais?

16. Participa de cursos ou troca de experiências com outros agricultores em matéria de conservação

e preservação de recursos naturais?

17. Que fonte de energia usa na sua casa? Lenha ( ), Carvão ( ), energia elétrica ( ) Energia solar

( ), Outra fonte (especificar) ( )

18. Há empresas florestais que exploram dentro da vossa comunidade?

19. Como é que as empresas florestais adquiriram a terra na vossa comunidade?

20. Houve consulta à comunidade ou lideres para a concessão de áreas de exploração florestal?

21. Nota alguma mudança no provimento desses recursos pelas florestas antes e depois da existência

de empresas florestais? Se nota, qual deve ser a principal causa?

22. Nota alguma diminuição da área de floresta dentro da sua comunidade / localidade?

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23. Qual deve ser a causa? Aumento da área de produção ( ), Queimadas descontroladas ( ),

Exploração madeireira ( ), Lenha e Carvão ( ), Outra (especificar) ------------

24. Quem começa com a ação de desflorestação? Madeireiros ( ), Lenhadores e Carvoeiros ( ),

Agricultura itinerante ( ), Queimadas descontroladas ( ). Qual a ordem?

25. Acha que a ocupação da terra pela empresa melhorou a vida na comunidade?

ANEXO 2

Fotografias da área de estudo

Entrevista com um dos camponeses no distrito de Gondola

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Lenha para o abastecimento das cidades

Forno de carvão vegetal no Distrito de Manica

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Corte de Arvores para o fabrico de carvão vegetal

Queimadas para limpeza de campos agrícolas