Modelização Didática de Gêneros e a Formação Do Futuro Professor de Língua Inglesa Paula...

download Modelização Didática de Gêneros e a Formação Do Futuro Professor de Língua Inglesa Paula Sundy

of 21

Transcript of Modelização Didática de Gêneros e a Formação Do Futuro Professor de Língua Inglesa Paula...

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    1/21

    Modelizao didtica de gneros ea formao do futuro professor delngua inglesa:implicaes no processo

    de construo do conhecimentoPaula Tatianne Carrra Szundy

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

    Resumo: Com base na concepo de que a construo de modelos didticos de

    gneros pode se tornar um instrumento signicativo na formao pr-servio do

    professor ao engaj-lo na reexo sobre a trade didtica (sujeitos, objeto de en-

    sino e ferramenta), tornando-o um pesquisador da prpria prtica (CRISTVO,

    2002; SZUNDY; CRISTVO, 2008), este artigo discute a construo do conheci-

    mento sobre a futura prtica pedaggica em um projeto de modelizao didtica

    de gneros desenvolvido na disciplina Prtica de Ensino da Lngua Inglesa em uma

    universidade pblica do norte do Brasil. Para reexo sobre o processo de ensi-

    no-aprendizagem decorrente do projeto, a anlise realizada com base em duas

    fontes de dados: uma SD elaborada por duas professoras em formao em torno

    do gnero bloge excertos dos relatrios nais escritos pelas professoras aps a ex-

    perincia de aplicao da SD com alunos do ensino mdio. A comparao entre os

    dados destas duas fontes indica a relevncia da transposio didtica de gneros

    no processo de formao pr-servio.

    Palavras-chave: gneros, modelizao didtica, formao pr-servio

    Abstract: Framed on the conception that the construction of didactic models of

    genres can become a meaningful instrument in pre-service teacher education since

    it engages the future teacher in the reection about the didactic triad (subjects,

    teaching object and tool) and in research about his/her own practice (CRISTVO,

    2002; SZUNDY; CRISTVO, 2008), this paper discusses the construction of

    knowledge about the future pedagogical practice triggered by a didactic modeling

    genre project developed during English Methodology classes in a university in the

    North of Brazil. The reection about the teaching-learning process fostered by

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    2/21

    218

    Paula TatianneCarrra Szundy

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    the project is based on two data sources: a didactic sequence (SD) about blogs

    developed by two teachers during their pre-service education and excerpts from

    the nal report written by them after the experience of applying the SD with

    high school pupils. The comparison between these two data sources indicates the

    relevance of genres didactic transposition in pre-service education processes.Keywords: genres, didactic modeling, pre-service education

    INTRODUO

    O lugar central que o debate sobre a utilizao de gneros como instru-

    mento de ensino-aprendizagem tem ocupado nos diversos eventos na rea

    de Educao, Letras, Lingustica e Lingustica Aplicada no Brasil1represen-

    ta um indicativo importante da relevncia desse conceito no processo de

    produo de conhecimento sobre o fenmeno educacional, advindo dessas

    diferentes reas. Considervel parte desta relevncia, especicamente no

    que diz respeito ao ensino-aprendizagem de lnguas, pode ser atribuda

    ao lugar de destaque reservado concepo de gnero de discurso/texto

    no bojo de documentos pregurativos como os Parmetros Curriculares

    Nacionais (PCN) e as Orientaes Curriculares do Ensino Mdio (OCEM).

    Ao estabelecer parmetros para orientar e pregurar as prticas em

    sala de aula, estes documentos traduzem expectativas sociais (histri-

    ca, poltica e ideologicamente delimitadas) em relao ao ensino de ln-

    guas (materna e estrangeira), defendidas pela comunidade acadmica

    responsvel pela produo destes documentos, sob a encomenda do Mi-

    nistrio da Educao. Como esta mesma comunidade a principal encar-

    regada da formao inicial e continuada de professores que atuaro ou

    atuam no ensino bsico, parece-me fundamental reetir sobre o lugar que

    a transposio didtica de gneros encontra na formao pr-servio e

    1 Basta uma rpida anlise na programao de eventos como o Congresso Brasileiro de Lin-

    gustica; Congresso Brasileiro de Lingustica Aplicada; Intercmbio de Pesquisa em Lingus-tica Aplicada; Encontro do Interacionismo Scio-Discursivo, entre outros, para se constatara signicativa quantidade de trabalhos voltados para discusso sobre gneros do discurso/

    texto e ensino. Isso sem mencionar o Simpsio Internacional de Gneros Textuais (em sua

    quinta edio em 2009) dedicado exclusivamente s discusses acerca de gneros e sua circu-lao nas mais variadas esferas da atividade social. Considerando-se o fato de que o IV SIGET,realizado em Tubaro, SC, em 2007, reuniu cerca de mil pesquisadores dos vrios cantos domundo e que considervel parte dos estudos apresentados ocupavam-se das inter-relaesgnero-ensino, conclui-se que a discusso sobre tais inter-relaes ecoam para muito alm

    das esferas acadmicas brasileiras.

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    3/21

    219

    Modelizaodidtica de gnerose a formao dofuturo professorde lngua inglesa:implicaesno processo deconstruo doconhecimento

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    sobre as apreciaes de valor (Volochinov, 1929) acerca da prtica cons-

    trudas por futuros professores e alunos do ensino bsico durante a parti-

    cipao em projetos de modelizao didtica de gneros.

    Com base na concepo de que a construo de modelos didticos de

    gneros pode se tornar um instrumento signicativo na formao pr-servio do professor ao engaj-lo na reexo sobre a trade didtica sujei-

    tos (alunos e professores), objeto de ensino (lngua inglesa) e instrumento

    (modelizao do objeto de ensino em SDs), tornando-o um pesquisador da

    prpria prtica (SZUNDY; CRISTVO, 2008), o presente artigo pretende

    discutir a construo do conhecimento sobre a futura prtica pedaggica

    em um projeto de modelizao didtica de gneros, desenvolvido na dis-

    ciplina Prtica de Ensino da Lngua Inglesa em uma universidade pblica

    do norte do Brasil.

    O projeto em foco envolveu a elaborao de sequncias didticas (SDs)

    para construo da compreenso escrita em lngua inglesa por graduandos

    do ltimo perodo do Curso de Letras e a posterior aplicao dessas SDs em

    cursos de extenso para alunos do ensino bsico. As SDs so desenvolvi-

    das a partir de concepes scio-histricas do processo de aprendizagem-

    e-desenvolvimento (VYGOTSKY, 1930, 1934) e da linguagem (Volochinov,

    1929; BAKHTIN, 1953), de parmetros estabelecidos por documentos pre-

    gurativos (PCN e OCEM) e da noo de transposio e modelizao didtica

    de gneros (SCHNEUWLY; DOLZ et al., 2004).

    Aps breve contextualizao e discusso das concepes tericas que

    orientaram tanto as aes quanto o processo de reexo sobre essas aes

    no projeto, o artigo focar na anlise do processo de construo do conhe-

    cimento decorrente da elaborao e aplicao de uma SD sobre o gnero

    blog levando em considerao duas fontes de dados: a prpria SD e a ree-

    xo das alunas-professoras em relatrios sobre a prtica vivenciada.

    A inter-relao e o confronto de dados advindos da trade didtica

    objeto de ensino, instrumento e sujeitos pretende dar conta da comple-

    xidade das apreciaes de valor sobre a utilizao de gnero como ins-

    trumento de ensino e aprendizagem, a m de contribuir para a discusso

    mais ampla acerca de gneros e formao de educadores.

    PROJETO DE MODELIZAO DIDTICA DEGNEROS: ESPAO P ARA (RE)CONSTRU ODO CONHECIMENTO SOBRE A PRTICA

    Conforme j descrito em outras publicaes (SZUNDY, 2007, 2009b; SZUN-

    DY; CRISTVO, 2008), o projeto de pesquisa intitulado Sequncias did-

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    4/21

    220

    Paula TatianneCarrra Szundy

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    ticas para construo da compreenso escrita em lngua inglesa: elaborao e

    aplicao por mim desenvolvido em uma universidade pblica no norte do

    Brasil foi composto por duas etapas centrais:

    elaborao de SDs com base em postulados da abordagem scio-his-

    trica de Vygotsky e Bakhtin, em teorias sobre gneros e ensino eem parmetros estabelecidos por documentos pregurativos (PCN

    e OCEM);

    aplicao das SDs elaboradas em cursos de extenso para alunos do

    ensino bsico; os cursos tiveram durao mdia de 30 horas e fo-

    ram voltados fundamentalmente para construo da compreenso

    escrita em lngua inglesa2.

    O projeto teve como participantes a professora de Prtica de Ensino da

    Lngua Inglesa, graduandos do 8 perodo do Curso de Letras, habilitao

    nica em lngua inglesa, bolsistas de iniciao cientca, alunos do Mes -

    trado em Letras, professores de lngua inglesa da rede pblica e alunos

    do ensino bsico. Em trs semestres de execuo, gneros variados como

    regras de jogos e de brincadeiras, fbula, notcia, biograa, tiras em qua-

    drinhos, blog, artigo de divulgao cientca, anncio publicitrio, entre

    outros foram modelizados didaticamente e aplicados em cursos de exten-

    so para alunos da rede pblica de ensino do estado do Acre.

    Com base no pressuposto de que as aulas de Prtica de Ensino no Curso

    de Letras devem formar o professor-pesquisador engajado na compreen-

    so, reexo crtica e transformao da sua prpria prtica e de prticas

    pedaggicas vigentes (MOITA LOPES, 1996; LIBERALLI, 2002; MAGALHES,

    2002), o projeto buscou criar zonas potenciais para a construo do conhe-

    cimento sobre a futura prtica. Pressups-se que, no processo de aprendi-

    zagem-e-desenvolvimento,3 a desestabilizao e o conito constituiriam

    etapas fundamentais para transformao da atividade e, portanto, para

    uma reexo de fato crtica que levasse reconstruo contnua da pr-

    tica de ensino.

    Ao possibilitar que o futuro professor confrontasse sua prpria expe-

    rincia enquanto aprendiz com ideologias historicamente cristalizadas4,

    2 Embora algumas das SDs j proponham atividades de produo escrita, o foco central do

    processo de construo do conhecimento foi a leitura de textos em lngua inglesa.

    3 O uso do hfen entre os termos aprendizagem e desenvolvimento baseia-se em Newmane Holzman (1993). Os autores propem que na Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) a

    aprendizagem conduz ao desenvolvimento e revoluciona a atividade, constituindo, portanto,uma zona de aprendizagem-e-desenvolvimento, em que os dois processos esto totalmenteimbricados, no podendo um existir sem o outro.

    4 Com base na classicao proposta por Volochinov (1929) de ideologias em ideologias do co-

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    5/21

    221

    Modelizaodidtica de gnerose a formao dofuturo professorde lngua inglesa:implicaesno processo deconstruo doconhecimento

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    que transpusesse essas ideologias para o planejamento e elaborao de

    materiais para o ensino da compreenso escrita em lngua inglesa e que

    analisassem de forma teoricamente informada a sua prtica em sesses

    reexivas, dirios e relatrios, o projeto em foco visou fazer da modeliza-

    o didtica de gneros um instrumento, no sentido vygotskiano do termo,capaz de transformar a atividade docente e tambm passvel de transfor-

    maes no decorrer dessa atividade.

    GNEROS COMO INSTRUMENTOS NAFORMAO DE PROFESSORES

    Apesar dos considerveis embates no que diz respeito ao escopo de atu-

    ao do linguista aplicado, possvel vislumbrar em meio a guas turbu-

    lentas relativa estabilidade na comunidade acadmica em relao ao que

    fazer Lingustica Aplicada (LA). Em discusses que remontam dcada de

    noventa (CELANI, 1992, 1998; MOITA LOPES, 1996, 1998; KLEIMAN, 1998;

    SIGNORINI, 1998 e outros) refuta-se a idia de que a LA ocupa-se da apli-

    cao de teorias lingusticas em contextos diversos e defende-se que seu

    objeto central constitui a compreenso, anlise e eventual transformao

    dos usos socialmente situados que fazemos da linguagem. Dada a hetero-

    geneidade dos usos sociais da linguagem, possvel tambm vislumbrar

    como consenso o carter transdisciplinar da LA que, ao buscar em outras

    reas do saber (psicologia, sociologia, antropologia, losoa, losoa da

    linguagem, anlise do discurso, lingustica, entre outras) aportes tericos

    para compreender e transformar usos situados da linguagem, acaba por

    ressignicar e redenir os conceitos utilizados em funo da singularida-

    de do objeto investigado.

    Para alm do carter transdisciplinar da LA, vista como uma espcie

    de interface que avana por zonas fronteirias (SIGNORINI, 1998, p. 99-100),

    observa-se, no sculo XXI, uma tendncia entre os linguistas aplicados

    de enfatizar o carter indisciplinar e implicado da LA (SILVA; RAJAGO-

    PALAN et al., 2004; MOITA LOPES et al., 2006). Ao se assumir tal carter,

    pressupe-se que, alm do cnone do conhecimento normativo, a LA deve

    enderear demandas ticas e se engajar em questes relacionadas po-

    ltica, desigualdades sociais e direitos humanos de forma a aliviar a dor

    (PENNYCOOK, 2001).

    tidiano e sistemas ideolgicos historicamente cristalizados, entende-se por ideologias historica-mente cristalizadas os sistemas ideolgicos que fundamentam e orientam as aes no projetoem foco: a abordagem scio-histrica de Vygotsky e Bakhtin; estudos sobre gneros discursivos/

    textuais e ensino e parmetros postulados por documentos pregurativos (PCN, OCEM).

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    6/21

    222

    Paula TatianneCarrra Szundy

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    Assumindo, portanto, o carter transdisciplinar, indisciplinar e im-

    plicado da LA, e situando minha atuao como linguista aplicada na for-

    mao inicial de professores de lngua inglesa, as questes centrais que

    se colocam de que forma projetos de modelizao didtica de gneros

    criam zonas potenciais para transformao da atividade de ensino e deformao pr-servio e como tais projetos contemplam as novas deman-

    das em relao ao ensino de lnguas postuladas pela LA e por documentos

    pregurativos (PCN e OCEM).

    Rojo (2006, 2008) defende que as privaes lingusticas e culturais so-

    fridas pela populao brasileira na escola e fora dela tem sido objeto de

    estudo profcuo da LA e prope que os dilogos transdisciplinares com as

    vertentes scio-histricas dos processos de ensino-aprendizagem e da lin-

    guagem so caracterizados pela leveza de pensamento necessria para lidar

    com estas privaes. Segundo a autora (ROJO, 2008), justamente para

    lidar com as privaes sofridas e atender as novas demandas sociais no

    ensino de lnguas que a educao brasileira parece ter convocado para si o

    conceito de gneros do discurso/texto.

    Aps a anlise da proposta curricular dos PCN-LM (Brasil/SEF/MEC,

    1998) e de referenciais curriculares de outros pases como Estados Uni-

    dos, Inglaterra, Sua Francfona e Canad, Rojo (2008) sublinha que as

    relaes gneros do discurso/texto e ensino transcendem as fronteiras

    nacionais e prope que o conceito parece ter encontrado sua poca.

    Embora boa parte dessas propostas5ainda divida os componentes

    da rea por capacidades, competncias ou habilidades em geral,

    envolvidas em escrever, ler, falar e ouvir os gneros aparecem

    sempre nelas referenciados quando no propostos explicitamente

    como objetos de ensino, indicados no elenco de atividades possveis

    de desenvolver tais capacidades ou habilidades. Os objetivos dos

    currculos esto voltados s competncias e capacidades de leitura

    e escrita e de fala/escuta, mas os gneros em lugar dos tipos de

    texto (narrao, descrio, dissertao, argumentao), to presen-

    tes nas dcadas anteriores aparecem como os objetos capazes de

    desenvolv-las. Todos os referenciais enfocam a linguagem e a ln-

    gua em uso, por meio deprticas situadas para a cidadania, o que por

    si s j convoca as noes de texto, gnero e discurso (ROJO, 2008,

    p. 76-77).

    5 As propostas curriculares do Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Sua Francfona e Cana-

    d analisadas pela autora.

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    7/21

    223

    Modelizaodidtica de gnerose a formao dofuturo professorde lngua inglesa:implicaesno processo deconstruo doconhecimento

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    Embora os referenciais curriculares nacionais para ensino de lngua es-

    trangeira (PCN-LE e OCEM-LE) no sejam objeto de anlise de Rojo (2008),

    o enfoque na lngua em usopor meio de prticas situadas para cidadania tam-

    bm esto, conforme ilustram os excertos abaixo, no cerne das propostas

    defendidas por esses dois documentos.

    Um procedimento pedaggico til para mostrar ao aluno que a lin-

    guagem uma prtica social, ou seja, envolve escolhas da parte de

    quem escreve ou fala para construir signicados em relao a ou -

    tras pessoas em contextos culturais, histricos e institucionais

    especcos submeter todo texto oral e escrito a sete perguntas:

    quem escreveu/falou o que, sobre o que, para quem, quando, de que

    forma, onde? (BRASIL, 1998a, p. 43).

    Compare-se o texto sobre uma escova de dentecom outros que

    problematizem as questes que se vivenciam no mundo social:

    a tica na poltica, as diculdades cada vez maiores de se conseguir

    emprego, a importncia de se utilizar prticas preventivas na vida

    sexual, o respeito aos direitos de todos os cidados sem distino

    de gnero, etnia ou opo sexual. O engajamento discursivoaqui

    imediato, tendo em vista as temticas sugerirem a vida social

    de forma explcita.

    Continuando-se com o mesmo fenmeno do texto sobre a escova

    de dente, pode-se dizer, contudo, que o uso em sala de aula de pro-

    pagandas de diferentes tipos de escova de dentepode situar os

    participantes discursivos fazendo algo no mundo social por

    meio da linguagem(por exemplo, vendendo um produto utilizan-

    do uma propaganda) se for tratado como tal (BRASIL, 1998a, p. 45).

    (...)Nas propostas atuais, essa viso de cidadania como algo homog-

    neo se modicou. Admite-se que o conceito muito amplo e hetero-

    gneo, mas entende-se que ser cidado envolve a compreenso

    sobre que posio/lugar uma pessoa (o aluno, o cidado) ocupa

    na sociedade. Ou seja, de que lugar ele fala na sociedade? Por que

    essa a sua posio? Como veio parar ali? Ele quer estar nela? Quer

    mud-la? Quer sair dela? Essa posio o inclui ou o exclui de qu?

    Nessa perspectiva, no que compete ao ensino de idiomas, a disci-

    plina Lnguas Estrangeiras pode incluir o desenvolvimento da

    cidadania(BRASIL, 2006, p. 91) .

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    8/21

    224

    Paula TatianneCarrra Szundy

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    Da mesma maneira que diante dessa nova concepo de hetero-

    geneidade da linguagem e da cultura passa a ser difcil susten-

    tar um ensino em termos de quatro habilidades, tambm passa

    a ser difcil sustentar o ensino isolado da gramtica. A razo

    dessa diculdade que o conceito e a valorizao da gramtica es-to ligados concepo da linguagem como algo homogneo, xo

    e abstrato, composto por regras abstratas tudo isso distante de

    qualquer contexto sociocultural especco, de qualquer comu-

    nidade de prticae qualquer conjunto especco de usurios

    (BRASIL, 2006, p. 107).

    Apesar de no serem explicitamente sugeridos como objeto de ensino

    nas propostas curriculares nacionais para o ensino de lnguas estrangei-

    ras, possvel propor, com base nas partes destacadas nos excertos acima,

    que o conceito de gneros de discurso/texto est referendado nos PCN-

    LE e nas OCEM-LE na medida em que contempla uma proposta de ensino

    que toma a linguagem como prtica social, consciente da heterogeneidade da

    linguagem e da cultura e capaz de problematizar as questes que se vivenciam

    no mundo socialde forma a promover o engajamento discursivo do aprendiz

    e levar a compreenso sobre que posio/lugar uma pessoa (o aluno, o cidado)

    ocupa na sociedade.

    A denio bakhtiniana (BAKHTIN, 1953) de gneros do discurso como

    tipos relativamenteestveis de enunciados desenvolvidos por cada esfera

    de utilizao da lngua e o reconhecimento da riqueza, diversidade e cons-

    tante transformao dos gneros em funo da heterogeneidade e trans-

    formao da atividade humana no mundo social d ao conceito de gnero

    um foro privilegiado nos processos de ensino-aprendizagem e formao

    de professores de lnguas.

    Como, alm de tipicar a forma textual, os gneros tambm do forma

    e orientam as atividades sociais (BAZERMAN, 2005), estes constituem, con-

    forme Schneuwly e Dolz (2004, p. 28), instrumentos semiticos complexos

    que permitem agir efcazmente numa classe bem defnida de situaes de comu-

    nicaoe, ao serem transpostos para sala de aula, possibilitam o desenvol-

    vimento das capacidades lingustico-discursivas necessrias para compre-

    enso dos diferentes textos orais e escritos que circulam no mundo social,

    podendo desencadear, conforme defendido pelos documentos pregura-

    tivos, a reexo crtica sobre signicados socialmente situados veiculados

    nos diferentes discursos e contra-discursos revozeados nos textos.

    Por requerer do futuro professor a anlise do contexto de ensino, o

    levantamento do conhecimento de expertssobre o gnero e a anlise lin-

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    9/21

    225

    Modelizaodidtica de gnerose a formao dofuturo professorde lngua inglesa:implicaesno processo deconstruo doconhecimento

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    gustico-discursiva de um corpus de textos do gnero para a transposio

    didtica por meio da elaborao de sequncias didticas (DOLZ; NOVER-

    RAZ; SCHNEUWLY, 2004), a modelizao didtica de gneros engaja o futu-

    ro professor na (re)construo de concepes sobre ensino-aprendizagem

    e sobre os diversos usos da linguagem no mundo social. Iniciada a etapada aplicao, este futuro professor convocado a se tornar um analista da

    prpria prtica e da prtica de outrem, o que demanda dele um distancia-

    mento crtico para confrontar as aes planejadas na SD e aquelas de fato

    realizadas em sala de aula, tornando-o um professor-pesquisador.

    Considerando-se que nos processos de modelizao e transposio di-

    dtica de gneros e de aplicao das SDs, as atividades do futuro-professor

    so orientadas por um conjunto de gneros (BAZERMAN, 2005), as partes

    subsequentes desse artigo propem-se a discutir como dois dos gneros

    que integram esse conjunto a prpria SD e o relatrio nal escrito pelos

    estagirios conguraram as apreciaes de valor acerca da utilizao de

    gneros como mega-instrumentos para construo da compreenso escri-

    ta em lngua inglesa durante a elaborao e aplicao de uma SD desenvol-

    vida em torno do gnero blog.

    MODELIZAO DIDTICA DO GNERO BLOG

    A SD sobre blogsfoi elaborada por duas estagirias do 8 perodo do Curso

    de Letras/Ingls Nae Va para a construo da compreenso escrita

    em lngua inglesa em um curso, ministrado por elas, para alunos do 2 ano

    do ensino mdio, durante o segundo semestre de 2007. Antes, porm, da

    elaborao e aplicao da SD propriamente dita, Na e Va, juntamente com

    o restante da turma (por meio de atividades de leitura, discusso, semin-

    rios, apresentao de psteres, resumo, resenha, entre outras, nas quais

    se engajaram na disciplina Metodologia e Prtica de Ensino da Lngua In-

    glesa) tiveram contato com as ideologias historicamente cristalizadas que

    embasam os documentos pregurativos para o ensino de LE e LM (PCN

    e OCEM), concepes scio-histricas dos processos de aprendizagem-e-

    desenvolvimento (VYGOTSKY, 1930) e da linguagem (BAKHTIN, 1953) e

    concepes sobre gneros do discurso/texto e ensino (SCHNEUWLY, DOLZ

    et al., 2004; ROJO, 2000; CRISTVO, 2002; SZUNDY, 2007, entre outros).

    Antecedeu tambm o processo de aplicao da SD, a anlise do contexto

    de ensino, a seleo de um corpus de textos do gnero e a descrio desse

    corpus com base em conhecimentos de experts sobre blogs.

    A inuncia de todas essas etapas que integraram o processo de mode-

    lizao didtica do gnero pode ser observada nos objetivos da SD deline-

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    10/21

    226

    Paula TatianneCarrra Szundy

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    ados por Nae Va:

    Objetivos da SD:

    desenvolver a procincia em leitura a partir do gnero Blog, so-

    mando estratgias verbais e no verbais de leitura1

    que auxiliemo processo de compreenso e interpretao crtica do texto2;

    analisar as marcas lingusticas como fonte de expresso do au-

    tor3, reconhecendo o vnculo existente entreBlog, seu processo

    de interpretao e seu contexto scio-cultural4;

    trabalhar o conhecimento textual e sistmico (Simple Present, Simple

    Past, Present Perfect, Adjectives, Adverbs) de forma relacionada s

    funes desempenhadas por essas estruturas no gneroBlog5;

    desenvolver a percepo da LE como instrumento de acesso

    tecnologia, alm do papel do Blog como ferramenta colabora-

    tiva de mdia social6.

    (Capa da SD sobre o gnero blog, desenvolvida pelas estagirias Nae Va)

    Reconhece-se claramente nos objetivos enunciados na capa da SD, o

    revozeamento de ideologias cristalizadas encontradas nas concepes

    apontadas acima e nas propostas dos PCN-LE e das OCEM-LE, quais sejam:

    o uso situado da linguagem para fazer coisas no mundo social (3, 4 e 6); o

    reconhecimento da importncia de se levar em considerao os aspectos

    no verbais para uma compreenso de fato crticado texto (1 e 2), inter-

    relacionado ao pressuposto de que o gnero no acontece em um vcuo

    social; o trabalho com os componentes sistmicos levando em considera-

    o seu papel na construo e negociao de signicados, ou seja, o estudo

    da gramtica relacionado s funes por ela desempenhada em blogs(5).

    Termos como cidado e cidadania no aparecem explicitados nos obje-

    tivos da SD. Entretanto, a preocupao enunciada com a construo de um

    processo de compreenso e interpretao crtica do textoa partir da anlise de

    marcas lingusticas, como fonte de expresso do autor, e o reconhecimento do

    vnculo existente entre Blog, seu processo de interpretao e seu contexto scio-

    culturalesto em consonncia com a viso do papel educacional da LE na

    formao do cidado. Tal cidado engajado nas prticas sociais expres-

    sas nos PCN-LE, atravs da preocupao com o trabalho no eixo atitudinal,

    e nas OCEM, com a leitura/letramento crtico.

    A progresso do conhecimento na SD, resumida no Quadro 1, retrata a

    coerncia entre os objetivos propostos e a modelizao didtica realizada

    para construo da compreenso escrita do gnero blog.

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    11/21

    227

    Modelizaodidtica de gnerose a formao dofuturo professorde lngua inglesa:implicaesno processo deconstruo doconhecimento

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    Quadro 1: Progresso do conhecimento na SD

    Atividade ComponentesConhecimentos

    enfocados

    Contextuali-

    zao

    perguntas sobre hbitos de leitura; acesso Internet e blogs

    de mundo

    Gnero Blog blog em LM e atividades de compreensode mundo, da or-ganizao textuale atitudinal

    Caracteri-

    zando Blogs

    caracterizao dos elementos constitutivos dognero, sua funo social e registros lingusticos

    anlise do blog em LM

    da organizaotextual

    Organizao

    Textual do

    Blog

    apresentao dos tipos de blogs

    identicao da tipologia de um blog em LM

    da organizaotextual

    Gnero Blog

    blogs do tipo dirio pessoal e jornalstico em LI

    atividade de compreenso, anlise e compara-o dos blogs

    de mundo, da or-ganizao textuale atitudinal

    Os Com-

    ponentes

    Lingusticos

    no Blog

    descrio das funes dosimple present, simplepast, present perfect, adjetivos e advrbios nosblogs

    anlise da funo lingustica dos componentesgramaticais em excertos dos blogs e anlise deum blog misto em LI

    sistmico, daorganizaotextual

    Gnero Blogcomparao entre dois blogs em LI(texto 1 e texto 3)

    da organizaotextual e atitu-dinal

    Expandindo

    os Olhares

    pesquisa de blogs com temas de interesse dosalunos na Internet e anlise do contedo eorganizao textual

    de mundo, da or-ganizao textuale atitudinal

    Consolidan-

    do o Conhe-

    cimento

    projeto nal de criao de um blog coletivo da

    turma

    de mundo, da or-ganizao textuale atitudinal

    Em consonncia com os objetivos explicitados, o processo de compre-

    enso escrita construdo ao longo das quinze pginas da SD revelam a preo-

    cupao em se situar a linguagem utilizada nos blogs com o contexto hist-

    rico, cultural e institucional de circulao do gnero. Observa-se tambm

    a signicativa inuncia dos documentos pregurativos, especialmente

    dos PCN-LE, nos conhecimentos enfocados ao longo da SD. Conforme pro-

    posto pelos PCN-LE, a construo do conhecimento da compreenso escri-

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    12/21

    228

    Paula TatianneCarrra Szundy

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    ta ocorre em trs nveis: conhecimento de mundo, da organizao textual

    e sistmico. Nota-se tambm uma progresso do conhecimento de mundo,

    demandado especialmente nas atividades de Contextualizao e de inter-

    pretao do contedo e descrio das caractersticas de um blog em LP,

    para o conhecimento da organizao textual, trabalhado prioritariamentenas partes intituladas Caracterizao do Blog e Organizao Textual do Blog,e,

    nalmente, para o conhecimento sistmico enfocado apenas a partir da

    pgina nove na parte Os Componentes Lingusticos nos Blogs.

    A partir do Quadro 1, se verica tambm a tentativa das estagirias de

    realizar uma progresso espiralada do conhecimento, caracterizada espe-

    cialmente por retomadas. Nesse sentido, os conhecimentos de mundo, da

    organizao textual e sistmico no so trabalhados de forma estanque,

    mas inter-relacionados e retomados no decorrer das atividades medi-

    da que nveis mais profundos e detalhados de compreenso escrita so

    demandados. Para analisar as caractersticas do blog em lngua mater-

    na, o aluno precisar mobilizar o seu conhecimento prvio sobre o con-

    tedo e organizao textual do gnero levantado nas questes realizadas

    nas atividades de Contextualizao que iniciam a SD. Esse conhecimento

    prvio utilizado na anlise ser confrontado nas partes da SD dedicadas

    descrio das caractersticas do gnero. Essa descrio, por sua vez, ser

    requerida para compreenso e anlise dos blogs em lngua inglesa. Por m,

    as atividades que compem as seesExpandindo os Olharese Consolidando

    o Conhecimentoprocuram promover a mobilizao dos conhecimentos de

    mundo, da organizao textual e sistmico, construdos ao longo da SD

    para anlise de blogspesquisados pelos alunos e, nalmente, para elabora-

    o de um blog coletivo da turma.

    Essa progresso espiralada do conhecimento pode ser observada nas

    atividades de compreenso que se iniciam na sexta pgina da SD elabora-

    das a partir de um blogdo tipo jornalstico em lngua inglesa.

    O blog jornalstico Defning the Enemy as an Islamic Nihilist o terceiro

    texto utilizado na SD. As atividades de compreenso escrita sobre esse

    blog sucedem as etapas de contextualizao do gnero, anlise de um blog

    do tipo dirio pessoal em LM, caracterizao do gnero quanto ao seu con-

    tedo e organizao textual e compreenso e anlise das caractersticas

    de um blog tambm tipo dirio pessoal na LE. A preocupao das estagi-

    rias em retomar o conhecimento trabalhado anteriormente no processo

    de compreenso escrita desse terceiro blog visvel nas questes que en-

    focam tanto o conhecimento de mundo quanto o da organizao textual

    na medida em que a evoluo para um nvel mais complexo do espiral no

    processo de construo desses conhecimentos demanda a recuperao do

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    13/21

    229

    Modelizaodidtica de gnerose a formao dofuturo professorde lngua inglesa:implicaesno processo deconstruo doconhecimento

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    que j foi apresentado e discutido em atividades precedentes acerca do

    contedo, pblico-alvo, tipologia, organizao textual e nvel de formali-

    dade do gnero.

    Quadro 2: Construo da compreenso escrita do gnero

    Blog em lngua inglesa: defning the enemy as an islamic nihilist

    Conhecimento enfocado

    de mundo

    Em sua opinio, de que trata o texto?Como voc chegou a essa concluso?Qual o tema do texto? Qual seu pblico-alvo e tipologia?

    Da organizao

    textual

    O texto possui uma estrutura diferente dos dois textos ante-riores? Em que so diferentes?Qual seu pblico-alvo e tipologia?O texto formal ou informal? Retire do texto trs marcas

    lingusticas que levam voc a esta concluso?

    Atitudinal

    O autor a favor ou contra o fato/tema abordado no blog?E voc, qual sua opinio acerca do tema?O tema atual? O que voc acha da guerra travada entreislmicos e norte-americanos em nome da religio?Voc conhece ou j ouviu falar de outros conitos religiosos

    entre pases, ou no? Em caso armativo, quais?

    A partir da discusso acima, como voc avalia o papel e a im-portncia do blog como ferramenta de formao de opinio?Voc considera o blog um veculo de informao eciente?

    No que diz respeito ao papel educacional da LE compreendido nos do-

    cumentos pregurativos como prticas de engajamento discursivas vol-

    tadas para cidadania, nota-se a tentativa das estagirias de implementar

    tais prticas nas questes de compreenso escrita elencadas no eixo do

    conhecimento atitudinal. No entanto, o trabalho nesse eixo ocorre atravs

    da tomada de posies de forma generalizante e pouco crtica, no levan-

    do o aprendiz a relacionar o que est verbalmente materializado com o

    contexto no verbal em que o gnero est histrica, cultural e institucio-

    nalmente situado.

    A breve anlise dos objetivos, da progresso do conhecimento e da

    construo da compreenso escrita em um dos blogs retrata a capacidade

    das estagirias de inter-relacionar teoria e prtica na construo de um

    modelo didtico do gnero blog. Para nalizar o artigo, passo anlise de

    excertos de um outro gnero o relatrio nal escrito pelas estagirias

    integrante do conjunto de gneros (BAZERMAN, 2005) que orientaram as

    aes dos participantes do projeto em foco.

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    14/21

    230

    Paula TatianneCarrra Szundy

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    APRECIAES VALORATIVAS SOBRE O PROCESS ODE CONSTRUO DO CONHECIMENTO

    Tomando como base a concepo postulada por Bazerman (2005, p. 32)

    de conjunto de gneroscomo os tipos de texto que uma pessoa num determinadopapel tende a produzir, discuto a seguir como as apreciaes de valor deli-

    neadas por Na e Vaem seus relatrios nais esto inter-relacionadas com

    a modelizao didtica de blogs realizada pelas estagirias, que constituiu

    objeto de anlise da seo anterior.

    Da mesma forma que a modelizao didtica do gnero blog revelou a

    capacidade das estagirias de transpor os pressupostos tericos que fun-

    damentaram o projeto para a prtica de selecionar textos, estabelecer ob-

    jetivos e elaborar atividades para construo da compreenso escrita em

    lngua inglesa, os excertos de relatrios retratam a liao de Na e Va

    a esses construtos tericos e a capacidade de utiliz-los para estabelecer

    apreciaes de valor sobre o processo de construo do conhecimento.

    Excerto 1: Relatrio de Na

    Ademais, a centralizao em umdiscurso no qual o ensino se desenrolacontextualizadamente, ou seja,

    inserido e tratado como veculo de

    expresso de uma ideologia coletiva,

    pertencente a determinado grupo, posta pela fundamentao terica destaprtica em Bakhtin, que concebe alinguagem um produto scio-histrico,concepo esta que mais tarde foitransposta para situaes de ensino, eVygotsky, que concebe o ensino scio-historicamente, arcabouos tericosque depois de analisados e reetidos se

    relacionavam aos documentos nacionais

    da educao bem como se mostravamum bom caminho a ser trilhado poratenderem ao movimento natural dosaspectos sociais, entre eles a educao,ou seja, respeitando e evidenciandoque as produes humanas soconstrudas e so reexo de ideologias,

    prvias e atuais, no havendo razo

    para um estudo segregado de sua

    situao social de produo.

    Excerto 2: Relatrio de Va

    Enfatizo que sairemos dos bancos dauniversidade e nos depararemos com um

    sistema educacional regido por documentosociaiselaborados com propostas deumapoltica docente preocupada coma alteridade, em busca da qualidade

    de ensino. Se nossa prtica ocorrer como desconhecimento desses documentos etambm se no nos munirmos de alternativasde inovao estaremos contribuindocom idias retrgadas de excluso.Enquanto universitrios criticamos bastanteum sistema que exclui, que por baixar seusnveis de avaliao estimula a formao deignorantes, que no mostra avanos por

    sempre reforar mtodos tradicionais deensino,pois quando nos proporcionadaa oportunidade desermos protagonistas que devemos acreditar ainda mais emdedicarmos a devida ateno a essa novaproposta para que o projeto tenha xito, poisa reforma do ensino deve levar reformado pensamento e a reforma do pensamento

    deve levar a reforma do ensino(MORIN, 2000 apud BRASIL 2006, p. 87).

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    15/21

    231

    Modelizaodidtica de gnerose a formao dofuturo professorde lngua inglesa:implicaesno processo deconstruo doconhecimento

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    Os excertos 1 e 2 sugerem que o engajamento de Nae Vaem um pro-

    jeto de modelizao didtica de gneros, o qual as fez interagir com um

    conjunto de gneros responsveis por orientar as aes durante o proje-

    to: artigos cientcos e textos tericos diversos, documentos pregurati-

    vos, roteiros para elaborao da SD, dirios reexivos e relatrios, entreoutros, possibilitou que as estagirias convocassem as concepes scio-

    histricas dos processos de ensino-aprendizagem e da linguagem, espe-

    cialmente em sua vertente vygotskiana e bakhtiniana, para a reexo

    acerca da experincia docente vivenciada. Nota-se tambm que a reexo

    delineada capaz de estabelecer inter-relaes entre estas concepes e

    os parmetros postulados pelas OCEM-LE de forma a avaliar o ensino no

    segregado de sua situao social de produocomo adequado para lidar com

    as privaes sofridas pelo ensino de LE no Brasil.

    Conforme sugerido em um outro texto em que os excertos acima so

    analisados

    percebe-se no enunciado das estagirias a viso transformadora

    da educao que segundo Fogaa e Gimenez (2007) pode ser per-

    cebida tanto nos PCN-LE quanto nas OCEM-LE. Segundo essa viso,

    educao cabe formar cidados capazes de interagir com e agir

    sobre o mundo em que vivem e, para tal, ao contrrio do que ocor-

    re em uma concepo de ensino classicada como tradicional, as

    aulas de LE devem levar em considerao o uso que o homem faz

    da linguagem para interagir nas variadas esferas do meio social. Em

    comparao com as prticas tradicionaisde ensino da lngua inglesa,

    pautadas quase que exclusivamente no ensino descontextualizado

    do conhecimento sistmico, o ensino no segregado de sua situao

    social de produoadquire um carter redentor6na avaliao de Va

    e Naque, como protagonistas do processo de ensino-aprendizagem,

    contribuem para incluirao invs de excluir,para formao de cida-

    dos crticos e no de ignorantes. (SZUNDY, 2009b)

    Alm da capacidade fundamental no processo de formao de professo-

    res de fazer avaliaes informadas, ou seja, pautadas em sistemas ideol-

    gicos historicamente cristalizados, sobre as aes envolvidas no processo

    de ensino-aprendizagem, os excertos a seguir revelam tambm a capa-

    cidade das estagirias de descrever problemas e conitos vivenciados e

    propor reconstrues para prtica7.

    6 Fogaa e Gimenez (2007) tambm identicam a viso de educao como redeno nos PCN-

    LE e nas OCEM-LE.

    7 Smyth (1992) prope a diviso do processo reexivo em quatro aes, cada uma ligada a

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    16/21

    232

    Paula TatianneCarrra Szundy

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    Excerto 3: Relatrio de Na

    Outra falha especca da

    minha prtica foi a ausncia

    do esclarecimento dos objetivos

    esperados em cada atividade.Euexplicava o material lingustico,contextualizadamente, reforando suafuno no gnero, pormem momentoalgum, listei o que se almejava

    com o exerccio especicamente.Considero que estes apontamentosprvios serviriam para melhor

    situar os alunos no desenrolar das

    atividadese, consequentemente, noaprimoramento da compreenso do

    gnero ao estabelecer alvos a serematingidos

    Excerto 4: Relatrio de Va

    Os componentes lingusticos tambmcompuseram a SD, e estes foramensinados de forma contextualizada

    com o gnero, sendo apontada a suafuno. Por sugesto dos prprios alunosreforamos essas aulas ilustrando comoutros exemplos (excertos extradosdos textos dos blogs presentes na SD). Mas ainda que ns os tenhamos

    estimulado a ver os componentes no

    contexto em que foram escritos, os

    alunos alegaram que no foi dado o

    enfoque correto lngua inglesa.

    Como expresso nas OCEM, por herana

    de certas culturas de ensino de lnguaestrangeira a gramtica tem sidoutilizada como algo que precede o usoprtico da linguagem.(p.107).Essamesma cultura faz com que projetos

    como o que vivenciamos caiam na

    descrena.

    As apreciaes de valor de Na e Va sugerem que a construo do co-

    nhecimento sistmico no processo de construo escrita do gnero blog

    foi marcada por conitos e por certo desinteresse por parte dos alunos.

    Embora nenhuma das estagirias atribua o problema a modelizao did-

    tica do gnero na SD, visto que os componentes lingusticos foram traba-

    lhados de forma contextualizada e situada, levando-se em conta as suas

    funes no gnero blog, Na e Va avaliam o embate apontado de forma

    diferente. Enquanto, para Na, uma possvel explicao para o problema

    (que se esboa tambm como uma proposta de reconstruo para a pr-

    tica) est na falta de esclarecimento dos objetivos de cada atividade para

    os alunos, de forma a engaj-los no processo ensino-aprendizagem, Va

    compreende que a no liao dos aprendizes ao ensino contextualizado

    da gramtica deve-se inuncia de prticas historicamente cristalizadas

    na escola, em que o ensino abstrato de regras gramaticais precede o uso

    da linguagem em situaes concretas.

    A partir do pressuposto de que confrontos e embates so fundamentais

    uma srie de questes especcas: descrever o que eu fao?; informar o que isso signi-ca?; confrontar como eu me tornei assim? e reconstruir como eu posso fazer as coisas de

    forma diferente?

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    17/21

    233

    Modelizaodidtica de gnerose a formao dofuturo professorde lngua inglesa:implicaesno processo deconstruo doconhecimento

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    para desestabilizar e, portanto, revolucionar a atividade (SZUNDY, 2009a),

    os quatro excertos acima sugerem que o projeto de modelizao didtica

    de gneros constituiu um instrumento, na acepo vygotskiana do termo

    (Vygotsky, 1930, 1934), capaz de transformar tanto a atividade de ensino-

    aprendizagem quanto os participantes nela envolvidos.

    CONSIDERAES FINAIS

    Dado o propsito desse artigo de contribuir para discusso acerca da utili-

    zao de gneros como instrumentos na formao de professores, gostaria

    de nalizar a presente reexo endereando, a partir da anlise realizada,

    trs questes:

    De que forma projetos de modelizao didtica de gneros esto em

    sintonia com uma perspectiva implicada e indisciplinar de atuao

    da LA?

    Que zonas potenciais projetos dessa natureza podem propiciar para

    transformao da atividade docente?

    Que reconstrues se fazem necessrias?

    possvel vislumbrar no processo de modelizao didtica do gnero

    blog uma construo do conhecimento da LE pautada por uma viso impli-

    cada e indisciplinar da LA na medida em que a progresso das atividades

    na SD procura contemplar: usos histrica, cultural e institucionalmente

    situados de blogs de diferentes tipos; a compreenso de que elementos

    verbais, no verbais e multimodais contribuem igualmente para constru-

    o de signicados socialmente situados no corpus de blogs didatizados;

    o reconhecimento do papel da compreenso escrita de blogs na constru-

    o de uma educao lingustica que requer o engajamento discursivo do

    aprendiz de forma a lev-lo a compreender o papel do blog como veculo

    de formao de opinies e de que forma este gnero orienta as aes da co-

    munidade de internautas que escreve, acessa e posta mensagens em blogs.

    No que diz respeito s zonas potenciais propiciadas para transforma-

    o da atividade docente, a anlise realizada sugere que projetos de mo-

    delizao didtica de gneros podem se tornar instrumentos signicati-

    vos no processo de construo de conhecimento sobre a futura prtica

    pedaggica. Ao colocar o futuro professor em contato com um conjunto

    de gneros que o levam a (re)pensar o processo de ensino-aprendizagem

    da LE, a (re)construir um modelo didtico com base em ideologias histo-

    ricamente cristalizadas que traduzem expectativas sociais em relao ao

    papel educacional da LE no currculo do ensino bsico e a confrontar o que

    foi planejado na SD com o que de foi de fato internalizado, construdo em

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    18/21

    234

    Paula TatianneCarrra Szundy

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    sala de aula, projetos dessa natureza podem desencadear a compreenso e

    transformao das prticas de ensino e de seus participantes.

    Entretanto, para que as transformaes sejam mais profundas, fun-

    damental que o trabalho no eixo do conhecimento atitudinal e, portanto,

    da leitura crtica, no seja levado a cabo simplesmente por meio de to-madas de posio generalizantes que no demandam de fato uma inter-

    relao entre elementos verbais e no verbais na construo de signica-

    dos socialmente relevantes sobre o texto. Para uma leitura de fato crtica,

    parece-me fundamental que as questes de compreenso propostas sejam

    capazes de relacionar prticas de uso da linguagem em blogs (ou qualquer

    outro gnero) com prticas de reexo sobre a linguagem que estabele-

    am inter-relaes mais profundas entre os elementos verbais e no ver-

    bais que caracterizam os textos e as ideologias por eles veiculadas. Isso

    demanda, a meu ver, um processo de modelizao que transcenda a mera

    descrio lingustica do gnero com base em conhecimentos de expertse

    engaje o futuro professor em uma anlise de fato crtica sobre os signica-

    dos veiculados no corpus de textos a ser modelizado, pois, como sublinha

    Moita Lopes (2003, p. 31), no se pode transformar o que no se entende.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BAKHTIN, M. M. The problem of speech genres. In BAKHTIN, M.

    M. Speech genres and other late essays. Transl. Vern W. McGee.

    University of Texas Press, 1953/1986, p. 60-98.

    BAZERMAN, C. Gneros textuais, tipicao e interao. Organizao

    de Dionisio, A. P.; Hoffnagel, J. C. e traduo e adaptao de Judith

    Chambilis Hoffnagel. So Paulo: Cortez, 2005.

    BRASIL, SEF/MEC. Parmetros Curriculares Nacionais 3 e 4 ciclos do

    ensino fundamental Lngua Estrangeira. Braslia: SEF/MEC, 1998a.

    ______. Parmetros Curriculares Nacionais 3 e 4 ciclos do ensino

    fundamental Lngua Portuguesa. Braslia: SEF/MEC, 1998b.

    ______. Orientaes Curriculares para o Ensino Mdio: linguagens,

    cdigos e suas tecnologias. Braslia: SEB/MEC, 2006.

    CELANI, M. A. A. Anal, o que lingustica aplicada? In: ZANOTTO DE

    PASCHOAL, M. (Org.). Lingustica aplicada: da aplicao da lingustica

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    19/21

    235

    Modelizaodidtica de gnerose a formao dofuturo professorde lngua inglesa:implicaesno processo deconstruo doconhecimento

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    lingustica transdisciplinar. So Paulo: Educ, 1992. p. 15-23

    ______. Transdisciplinaridade na lingustica aplicada no Brasil. In:

    SIGNORINI, I.; CAVALCANTI, M. C. (Orgs.). Lingustica aplicada e

    trandisciplinaridade. Campinas: Mercado de Letras, 1998/2004, p. 129-142.

    CRISTOVO, V. L. L. Gneros e ensino de leitura em LE: os modelos

    didticos de gneros na construo e avaliao de material didtico. Tese

    (Doutorado em Lingustica Aplicada e Estudos da Linguagem) Pontifcia

    Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 2002.

    DOLZ, J.; NOVERRAZ, M.; SCHNEUWLY, B. Sequncias didticas para o oral

    e a escrita: apresentao de um procedimento. In: SCHNEUWLY, B.; DOLZ,

    J. et al. (Orgs.). Gneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado

    de Letras, 2004, p. 95-128.

    FOGAA, F.C.; GIMENEZ, T. Ensino de lngua estrangeira e sociedade.

    Revista Brasileira de Lingustica Aplicada, v. 7, p. 51-68, 2007.

    KLEIMAN, A. O estatuto disciplinar da lingustica aplicada: o traado de

    um percurso, um rumo para o debate. In: SIGNORINI, I.; CAVALCANTI,

    M. C. (Orgs.). Lingustica aplicada e trandisciplinaridade. Campinas:

    Mercado de Letras, 1998/2004. p. 51-77.

    LIBERALLI, F. C. Agente e pesquisador aprendendo na ao colaborativa.

    In: GIMENEZ, T. (Org.). Trajetrias na formao de professores de

    lnguas. Londrina: UEL, 2002. p. 109-127.

    MAGALHES, M.C.C. O professor de lnguas como pesquisadora da sua

    ao: a pesquisa colaborativa. In: GIMENEZ, T. (Org.). Trajetrias na

    formao de professores de lnguas. Londrina: UEL, 2002. p. 39-58.

    MOITA LOPES, L. P. Ocina de lingustica aplicada: a natureza social e

    educacional dos processos de ensino-aprendizagem de lnguas. Campinas:

    Mercado das Letras, 1996/2000.

    ______. A transdisciplinaridade possvel em lingustica aplicada?

    In: SIGNORINI, I.; CAVALCANTI, M. C. (Orgs). Lingustica aplicada e

    trandisciplinaridade. Campinas: Mercado de Letras, 1998/2004. p. 113-128.

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    20/21

    236

    Paula TatianneCarrra Szundy

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    ______. A nova ordem mundial, os parmetros curriculares nacionais e

    o ensino de ingls no Brasil: a base intelectual para uma ao poltica.

    In: BARBARA, L.; RAMOS, R. C. G. (Orgs.). Reexo e aes no ensino-

    aprendizagem de lnguas.Campinas: Mercado de Letras, 2003. p. 29-57.

    ______.Por uma lingustica aplicada indisciplinar.So Paulo: Parbola,

    2006.

    NEWMAN, F.; HOLZMAN, L. Lev Vygotsky: cientista revolucionrio. So

    Paulo: Loyola, 1993/2002.

    PENNYCOOK, A. Critical applied linguistics. Mahwah: Erlbaum, 2001.

    ROJO, R. H. R. Modos de transposio didtica dos PCNs s prticas de

    sala de aula: progresso curricular e projetos. In: ROJO, R. H. R. (Org.). A

    prtica de linguagem em sala de aula: praticando os PCNs. Campinas:

    Mercado de Letras, 2000. p. 27-38.

    ______. Fazer lingustica aplicada em perspectiva scio-histrica: privao

    sofrida e leveza de pensamento. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma

    lingustica aplicada indisciplinar. So Paulo: Parbola, 2006. p. 253-276.

    ______. Gneros do discurso/texto como objeto de ensino de lnguas: um

    retorno ao trivium? In: SIGNORINI, I. (Org.). [Re]Discutir texto, gnero e

    discurso. So Paulo: Parbola, 2008. p. 73-108.

    SCHNEUWLY, B. Gneros e tipos de discurso: consideraes psicolgicas e

    ontogenticas. In: SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. et al. (Orgs.). Gneros orais e

    escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004. p. 21-39.

    ______; DOLZ, J. Gneros orais e escritos na escola. So Paulo: Mercado

    de Letras, 2004.

    SIGNORINI, I. Do residual ao mltiplo e ao complexo: o objeto a pesquisa

    em Lingustica Aplicada. In: SIGNORINI, I.; CAVALCANTI, M. C. (Orgs).

    Lingustica aplicada e trandisciplinaridade. Campinas: Mercado de

    Letras, 1998/2004. p. 99-110.

    SILVA, F. L; RAJAGOPALAN, K. A lingustica que nos faz falhar. So

    Paulo: Parbola, 2004.

  • 7/21/2019 Modelizao Didtica de Gneros e a Formao Do Futuro Professor de Lngua Inglesa Paula Sundy

    21/21

    237

    Modelizaodidtica de gnerose a formao dofuturo professorde lngua inglesa:implicaesno processo deconstruo doconhecimento

    Letras, Santa Maria, v. 20, n. 40, p. 217-237, jan./jun. 2010

    SMYTH, J. Teachers work and the politics of reection.American

    Educational Research Journal, v. 29, n. 02, p. 267-300, 1992.

    SZUNDY, P. T. C. Sequncias didticas para desenvolvimento da

    habilidade de leitura em lngua inglesa: elaborao e aplicao. SignumEstudos da Linguagem, v. 10, n. 2, p. 243-263, 2007.

    ______; CRISTOVO, V. L. L. Projetos de formao pr-servio do professor

    de lngua inglesa: sequncias didticas como instrumento no ensino-

    aprendizagem. Revista Brasileira de Lingustica Aplicada, v. 8, n. 1, p.

    115-137, 2008.

    ______. Zona de desenvolvimento potencial: uma zona de conitos e

    revolues no dilogo pesquisadora-professores. In: SCHETTINI, R. H.;

    DAMIANOVIC, M. C.; HAWI, M. M.; SZUNDY, P. T. C. (Orgs). Vygotsky:

    uma revisita no incio do sculo XXI. So Paulo: Andross, 2009a. p. 79-103.

    ______. Construo do conhecimento sobre a futura prtica pedaggica:

    reexes de alunos-professores sobre um projeto de Prtica de Ensino da

    Lngua Inglesa. In: TELLES, J. A. (Org.). Formao inicial e continuada

    de professores de lnguas: dimenses e aes na pesquisa e na prtica.

    Campinas: Pontes, 2009b. p. 167-181.

    VOLOCHINOV, V. N. Marxismo e losoa da linguagem. So Paulo:

    Editora Hucitec, 1929/1999.

    VYGOTSKY, L. S. A formao social da mente. Trad. Jos Cipolla Neto,

    Lus Silveira Menna Barreto e Solange Castro Apeche. So Paulo: Martins

    Fontes, 1930/1998.

    ______. Pensamento e linguagem. Trad. Jefferson Luiz Camargo. So

    Paulo: Martins Fontes, 1934/1998.

    Recebido em 31 mar. 2010 / Aprovado em 30 ago. 2010