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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 24, pp. 63 - 108, 2008 MODERNIZAÇÃO E REPRODUÇÃO CRÍTICA: AGROINDÚSTRIA DO LEITE E CONTRADIÇÕES DO PROCESSO DE ACUMULAÇÃO Anselmo Alfredo* *Professora Doutor do Departamento de Geografia da FFLCH/USP. E-mail: [email protected] RESUMO: A incorporação da Renda da Terra ao capital urbano industrial é aqui vista como uma necessidade de acumulação que expressa a insuficiência do lucro urbano industrial na reprodução das relações sociais de produção. Assim, ao contrário do que aparenta, a expansão agro-industrial, ao compor o sobrelucro a sua acumulação, é fundamentada pela crise da reprodução e não por uma acumulação ascendente. A expansão extensiva e intensiva é uma necessidade precária de resolver contradições da acumulação posta no e pelo desenvolvimento das forças produtivas no campo, tornando a própria Renda da Terra uma insuficiência da reposição dos pressupostos do capital, sendo a extensão da agroindústria leiteira uma determinação do capital financeiro, mais do que da produção de valor, revelando-se, tal expansão agroindustrial, um fenômeno do capital fictício. O caso estudado é a Cooperativa Itambé, no Estado de Minas Gerais, Brasil. PALAVRAS-CHAVE: Modernização; Agroindústria; Relação campo-cidade; Capital fictício; Tempo e espaço. ABSTRACT: In this paper the incorporation of Soil Rent to the urban industrial capital is seen as a necessity of accumulation that expresses the insufficiency of the urban industrial profit for the reproduction of the social relations of production. As that, contrary of its appearance, the agro-industrial expansion, incorporating the over profit to its accumulation, is fundamented by the crises of the reproduction and not by an ascendant accumulation. The extensive and intensive expansion is a precarious necessity to solve contradictions of the accumulation put in and by the development of productive forces in the countryside, becoming the very Soil Rent an insufficient reposition of the capital presuppositions. So that, the extension of the milking agro-industry is an determination rather of the finance capital than of the value production, what reveals the agro-industrial expansion as a phenomenon of the fictitious capital. The matter in case is Itambé Corporation, in State of Minas Gerais, Brazil. KEY WORDS: Modernization; Agro-industry; Rural-urban relation; Fictitious capital; Time and space. Introdução Este trabalho 1 tem por objetivo analisar a formação de uma realidade agrária sob uma sociabilidade onde a lógica do valor -, isto é, a necessidade da sempre crescente reprodução ampliada da riqueza abstrata -, é determinante dos processos sócio-geográficos, pois dado o seu fim em si mesmo como sentido, os conteúdos concretos são subsumidos à equivalência monetária. Compreende-se a formação de uma realidade agrária, contudo, não necessariamente numa perspectiva

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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 24, pp. 63 - 108, 2008

MODERNIZAÇÃO E REPRODUÇÃO CRÍTICA: AGROINDÚSTRIA DOLEITE E CONTRADIÇÕES DO PROCESSO DE ACUMULAÇÃO

Anselmo Alfredo*

*Professora Doutor do Departamento de Geografia da FFLCH/USP. E-mail: [email protected]

RESUMO:A incorporação da Renda da Terra ao capital urbano industrial é aqui vista como uma necessidadede acumulação que expressa a insuficiência do lucro urbano industrial na reprodução das relaçõessociais de produção. Assim, ao contrário do que aparenta, a expansão agro-industrial, ao comporo sobrelucro a sua acumulação, é fundamentada pela crise da reprodução e não por uma acumulaçãoascendente. A expansão extensiva e intensiva é uma necessidade precária de resolver contradiçõesda acumulação posta no e pelo desenvolvimento das forças produtivas no campo, tornando aprópria Renda da Terra uma insuficiência da reposição dos pressupostos do capital, sendo a extensãoda agroindústria leiteira uma determinação do capital financeiro, mais do que da produção de valor,revelando-se, tal expansão agroindustrial, um fenômeno do capital fictício. O caso estudado é aCooperativa Itambé, no Estado de Minas Gerais, Brasil.PALAVRAS-CHAVE:Modernização; Agroindústria; Relação campo-cidade; Capital fictício; Tempo e espaço.

ABSTRACT:In this paper the incorporation of Soil Rent to the urban industrial capital is seen as a necessity ofaccumulation that expresses the insufficiency of the urban industrial profit for the reproduction ofthe social relations of production. As that, contrary of its appearance, the agro-industrial expansion,incorporating the over profit to its accumulation, is fundamented by the crises of the reproductionand not by an ascendant accumulation. The extensive and intensive expansion is a precariousnecessity to solve contradictions of the accumulation put in and by the development of productiveforces in the countryside, becoming the very Soil Rent an insufficient reposition of the capitalpresuppositions. So that, the extension of the milking agro-industry is an determination rather ofthe finance capital than of the value production, what reveals the agro-industrial expansion as aphenomenon of the fictitious capital. The matter in case is Itambé Corporation, in State of MinasGerais, Brazil.KEY WORDS:Modernization; Agro-industry; Rural-urban relation; Fictitious capital; Time and space.

Introdução

Este trabalho1 tem por objetivo analisara formação de uma realidade agrária sob umasociabilidade onde a lógica do valor -, isto é, anecessidade da sempre crescente reproduçãoampliada da riqueza abstrata -, é determinante

dos processos sócio-geográficos, pois dado oseu fim em si mesmo como sent ido, osconteúdos concretos são subsumidos àequivalência monetária. Compreende-se aformação de uma realidade agrária, contudo,não necessariamente numa perspect iva

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histórico-regressiva, mas que se conserva aqui,o sentido de movimento sempre presente, queinclui processos formativos de uma dadasociabilidade que se estende também dopresente para o futuro. Dinâmicas desociabilidades atuais, portanto, no que dizrespeito às formas de produção no campo,constituem objeto das preocupações entãopostas, sendo a problematização de como elasse inserem ou não na reprodução geral dasociedade fundada no valor o nosso objetivomais amplo.

Desta maneira, trata-se aqui de analisarse os aspectos part iculares, os projetosnacionais e internacionais, empresariais ourelativos à pequena produção consideradacamponesa, carregam a capacidade deexpressar a reprodução de uma sociabilidadeuniversalizada pela forma valor. Sob esteaspecto, coloca-se como desafio de nossaanálise, a compreensão de como e porque taisrealidades específicas constituem o trabalhoprodutor de uma riqueza abstrata ou como sedão os conflitos resultantes desta dimensãouniversal da sociedade capitalista em suarelação como os seus distintos momentosparticulares, sendo tais produções um momentode sua especificidade. Ou seja, a incorporaçãoou não destas realidades se apresenta comoque resultante de contradições postas pelaforma valor que se explicam a partir destas, sejao sim de sua incorporação, seja o não. Assim,mesmo aquelas realidades circunscritas a umaprodução não voltada ao mercado podem sercompreendidas como resultado de umasociabilidade que se põe como moderna e gestaformas distintas de reprodução através daatividade onde o solo se coloca como umamediação material para tal. Vale ressaltar quese as rupturas se constituem como dimensãotemporal fundamental da realização de umasociabilidade fundada na forma-valor,explicitadas de modo metodológico naAcumulação Primitiva de Marx, observe-se o fatode que, no caso brasileiro, a imposição objetivada modernização desdobra-se, já, sobre opróprio moderno, donde as populações nãoinseridas diretamente na produção do valor,

resultam desta mesma lógica. A própria formaçãodo caipira, na análise de Antonio Candido, paraficarmos com um exemplo, é estabelecida apartir e resultado desta formação do moderno.Diante de tal perspectiva, como permanência nointerior de processos desdobrados por rupturas,cabe-nos como questão de método e de objeto,a análise de fenômenos próprios da forma valorcomo que sempre resultantes de uma realidadeposta na e pela modernização. Do que deriva,segundo a perspect iva aqui posta, anecessidade de se compreender sob asdeterminações da forma valor os fenômenosentão postos.

Mesmo a produção da pequena roçacomo uma economia predominantemente parao próprio consumo, especialmente em áreasonde se tem o conflito das produçõesmonocultoras, acaba por suscitar elementos quepermitam compreender o desenvolvimento deatividades que a colocaram numa condição deextrema dif iculdade de sua reprodução,enquanto pequenas lavouras, derivando daí anecessidade de estabelecer os nexos atravésdos quais as mesmas se relacionam, sobdiferentes aspectos, à sociedade na qual estãoinseridas. Destaca-se, contudo, como elementode importância para a explanação de nossasobservações, o desenvolvimento da pecuárialeiteira na região de estudo (Sete Lagoas, noEstado de Minas Gerais, e municípiosadjacentes) como que impondo uma nova formade constituição espaço-temporal, a partir do quehá uma seletividade das formas possíveis deocupação produtiva do solo, donde a pequenalavoura, a economia do excedente, naexpressão de Martins (1997), acaba porintegrar-se de modo distinto e variado aosnexos sócio-espaciais determinados pelasobredeterminação da forma valor comoelemento fundante da realidade a qual nos é ocontexto explicativo e a analisar, enquantoobjeto de estudo.

Trata-se, por assim dizer, de analisar asnovas formas, daí originadas, da relação entrecampo e cidade visto que se observa hoje umaforte relação dos moradores destas áreas rurais

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com as cidades vizinhas, especialmente no quediz respeito aos serviços e, como parte destes,da compra dos bens que compõem a dietabásica das unidades camponesas. Observa-se,portanto, um aprofundamento da divisão socialdo trabalho que, num sentido importante,redefine o plano prático das relações entre eintra grupos de produtores. Sob estaperspectiva, analisar as transformações nocontexto de um aprofundamento, como já dito,da divisão social do trabalho gestado pelaincorporação, nestas áreas, da formamercadoria como modo predominante dasociabilidade ali posta.

A própria incorporação da forma-mercadoria pelo capital leiteiro, permite analisara forma pela qual as relações entre o trabalhoprodutor da mercadoria leite, matéria-prima paraa produção de seus respectivos derivados,incorpora um consumo produtivo,estabelecendo, nos termos de Umbelino deOliveira (2005), uma produção monopolista,onde os elos da estrutura produtiva incorporama reprodução do capital financeiro e do capitalprodutor de bens de produção (ordenhamecânica, resfriador, ração, dentre outros).

Não obstante a relação estrita destetrabalho produtor de valor incorporado a estescapitais, cabe ainda ressaltar a análise de comose dá a reprodução das unidades camponesasque, na impossibi lidade de se produzir amercadoria comercializável na área de estudo,mantém-se como moradoras de pequenas oumicro-propriedades. A partir daí, analisar asdeterminações da forma-valor que incorporam,de outras maneiras, estas unidades nareprodução geral da sociedade produtora devalor.

Como categoria basilar da compreensãodestes processos aí desenvolvidos,compreende-se a importância das relaçõesespaço-temporais do ponto de vista de que asimultaneidade passa a ser uma componentelógica e socialmente necessária para areprodução desta sociabilidade produtora dovalor. Nos termos de um aprofundamento do

desenvolvimento das forças produtivas - nosent ido geral que isto toma na sociedadecapitalista - a própria simultaneidade (LEFEBVRE,2000), constitui-se como a forma espacial quereproduz, ainda que de forma crítica, a formavalor no seu sent ido não exclusivamenteprodutivo, mas generalizando-se como modo devida. Contudo, a simultaneidade posta podeincorporar ou não a reprodução camponesacomo que subordinada aos nexos da produçãovalorativa da forma valor.

Problematizando as contradiçõestêmporo-espaciais de uma reprodução crítica

A modernização se constitui como umprocesso de âmbito não só mundial, mastambém universal. Trata-se, portanto, dauniversalização de uma sociabilidade pela formavalor e que tende, de modo lógico e histórico,a se constituir, necessariamente, como umarealidade que impõe a sua expansão mundial.Isto, contudo, embora necessário, não se fazlinearmente. Assim, a necessidade de suamundialização está posta logicamente a partirdo que se gesta um movimento temporal,contudo, as contradições entre tempo e lógicamostram-se como elementos particularizadoresdeste processo.

A dinâmica de uma realidade cujoelemento lógico se estabelece sob o prisma daacumulação ampliada da riqueza, projeta umsentido dos processos sociais cujastemporalidades co-existentes acabam por sera expressão da forma pela qual estauniversalidade da forma se efetivou. Assim,embora seja total izante, as contradiçõespróprias da forma exigem que a mesma seponha ilusória e antecipadamente enquantoconceito posto (GIANNOTTI, 2000), de modo aeludir as suas contradições, dentre elas aprópria i lusão temporal como necessáriaincorporação i lusória às determinaçõesespaciais da forma valor. Sob esta perspectiva,as resultantes cr ít icas da forma valor, aoestabelecerem o tempo como barreira a sersuperada para a sua própria reprodução,

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acabam por iludir o próprio tempo comoelemento constituinte daquilo que está posto,e não como algo a ser superado. Deste modo,a sociedade que se constitui pelo fetiche dascategorias próprias do capital, ou seja, asociedade capitalista, efetiva-se como tal demodo sempre crítico, como evidencia Marx emseus Elementos Fundamentales para la Critica dela Economia Politica 1857~1858. Nesta críticalógica e imanente de sua forma, a ilusão de suarealização, como fetiche de si mesmo, põe a suaefetividade como um a priori que difunde apossibilidade de se efetivar como forma desociabilidade. Neste objeto de múltiplas facesentre si relacionadas, o próprio tempo, comotempo de realização da verdade conceitualcapitalista não se efetiva a não ser como ilusãotemporal, que obscurece, a sua presençaenquanto sucessão, as barreiras que ele mesmoimpõe à realização de sua lógica conceitual.Destaca-se, contudo, dada a sua reproduçãonecessariamente crítica, de estabelecer umanão l inearidade entre os momentos quecomporiam a sua realização no sentido plenoda formação e reprodução do capital. Asimultaneidade e a co-presença dos termos,momentos e/ou categorias do capital que oformam como conceito apriorístico, portanto,estabelece-se como necessidade lógica desuperar, cont inuamente, a crise de umalinearidade temporal sempre possível, mascontraditória aos nexos da forma valor. Aantecipação do conceito de capital (GIANNOTTI,2000) em relação às suas categoriasconstituintes, portanto, é, ao mesmo tempo, apossibi lidade de se efetivar as dist intastemporalidades como que compondo apossibilidade de contornar a crise de uma formalógica que se produz para se auto-reproduzircomo identidade de si mesma, pondo, portanto,a diferença como momento necessariamenteinterno a si mesma, de modo a se estabelecercomo o outro de tudo o mais que se lhecontrapõe, mas em sua internalidade, põe-secomo auto-diferenciação. Desta maneira, aincorporação de relações de produçãoespecífica ou não-especificamente capitalistas(MARTINS, 1990) à validação de um conceito

apriorístico de valor, de capital, é fundado dapossível, mas imanente, realização crítica dopróprio capital. Nesta simultaneidade,fundamentada por uma crise imanente da formavalor, donde o tempo se põe como sua criseefetiva, portanto, a ser superado, asdeterminações espaciais passam a se constituircomo elementos próprios da reprodução destasociabilidade. Argumenta-se que aapresentação da modernidade em suasdeterminações espaciais (a forma dasimultaneidade na expressão de HenriLefebvre) constituem uma evidência da formaimanentemente crítica da reprodução de umasociedade produtora de mercadorias (KURZ, 1993).

Dentre as determinações da aparênciahá uma especificidade desta realidade fundadaem elementos críticos, contraditórios de suaefetivação. As formas de apresentação do real,do qual os distintos fenômenos são a expressãomesma destas apresentações, distinguem-sede seus sentidos imanentes e essenciais, namedida em que a apresentação da condição deser do capital enquanto um conceitocontraditório o é uma atividade da essência, nostermos da lógica hegeliana, exclusivamenteporque se põe, enquanto fenômeno,diferenciando-se, na apresentação de si, daquiloque de fato é, estabelecendo, tal diferenciação-apresentação, parte integrante de sua própriareprodução, ao mesmo tempo que potênciadeterminante de seu próprio ser, de modo queser e não ser, assim postos na esfera do ser, seauto referem como unidade co-presente econtraditória. Estabelece-se aí, portanto, aimportância de se desvendar as distinções entreo aparecer e o ser do capital2, pois que, nainterposição para com uma lógica materialista,as suas constituições abstratas e ilusóriasdeterminam não somente a sua forma de ser,mas se fazem como necessidade de ser, isto é,como razão suficiente, invertidamente, diga-se,de uma realidade material. Em outros termos,há que se observar a possibilidade de que oapresentar de si não só se diferencia do seuser outro como o elude, tornando a ilusão umarazão do ser. Observando-se isto do ponto de

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vista de uma lógica mais aproximada daquilo quese faz como objeto de investigação, tem-se queas formas de expansão da forma mercadoria seo fazem como que resultantes de suascontradições ou crises imanentes, de modo quea própria expansão do capital pode sersobredeterminada pelos seus aspectos críticos,ainda que se apresente como determinaçõesde sua capacidade de crescimento. Assim, comobuscaremos analisar ao longo das observaçõesaqui expostas, a própria expansão daagroindústria do leite pode se constituir comouma apresentação distinta daquilo que de fatose efetiva enquanto re-produção das relaçõessociais capitalistas de produção, apresentando-se como extensão que se efetiva a partir doaprofundamento das determinações críticas dareprodução social da forma mercadoria, isto é,entre a apresentação de si e o seu ser há,necessariamente, determinações que seespecificam como auto-diferenciação interna,sendo um e outro momentos constituintes deuma única totalidade.

Se a co-presença de temporalidadesdistintas passa a ser a forma possível decontornar a contradição (crise) da reproduçãoda forma-valor, destaca-se a inserção da formamercadoria que realiza da diferença externa àident idade própria do valor um meio,equivalente, que transfigura a possibilidade dese efetivar o plano mais abstrato do mundo damercadoria, ou seja, o próprio valor. Se a formamercadoria constitui o sentido próprio e primevodo capitalismo enquanto uma formação socialcabal, nos termos expostos por José de SouzaMartins (1990), destaque-se, ainda uma vez, anão linearidade temporal dos processos aí emdesenvolvimento, ou seja, o elo f inal daconstituição do capital é o que, em termostemporais põe a efetivação de seu próprioconceito, no caso aqui citado.

A acumulação, portanto, é crítica, doponto de vista do capital, isto é, a crise daefetivação de sua possibilidade é algo imanente,próprio de sua racionalidade que, enquanto tal(crítico) deve se constituir como forma lógica,de modo a não revelar seu potencial não

realizável. Marx expõe esta reflexão nãosomente ao longo de distintas passagens emsua obra, através da análise da quedatendencial da taxa de lucro, das contradiçõespostas entre relações de produção e forçasprodutivas, que culmina, ao f inal, numarealidade que o autor chama de período daGrande Indústria, reprodução posta então pelaexacerbação do trabalho social, onde o própriopensamento se institui como força produtiva.Isto como derivação do aprofundamento dadivisão social do trabalho e, também, comoconseqüência da contradição posta pelaconcorrência entre capitais pr ivados quecolocam a redução do montante do trabalho,de forma absoluta e relat iva, como umacontradição fundamental da temporalidadeprópria do capitalismo enquanto uma forma desociabilidade. Isto é, esta redução prática ecategorial do trabalho como um dos sentidostemporais do capitalismo, expressa, em outraspalavras, a forma pela qual a linearidade daforma preserva, no não imediatamentereconhecível, o potencial não realizável daprópria acumulação capitalista. Como expressao autor sobre o sentido temporal do capitalismoenquanto um modo de produção global:

“Así como con el desarrollo de la gran industriala base sobre la que ésta se funda - laapropriación de tiempo de trabajo ajeno - cesade constituir o crear la riqueza, del mismo modoel trabajo inmediato cesa, conaquélla, de ser,en cuanto tal, base de la producción, por un ladoporque se transforma en una actividad másvigilante y reguladora, pero también porque elproducto deja de ser producto del trabajoinmediato, aislado, y más bien es la combinaciónde la actividad social la que se presenta como laproductora.” (MARX: 1997, 233)

Mas o autor também expressa talprocesso como um conteúdo lógico de suaprópria compreensão do capitalismo enquantouma realidade social. As contradições, portanto,ao serem eludidas pela forma lógica (D - M - D’)passam a ser o próprio objeto de suasinvestigações enquanto um método de análise.

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Se a efetivação desta linearidade formalé posta como fetiche do efetivado, a tese,exposta já por distintos autores, é a de que,embora a realização da forma seja posta comanterior idade, a sua efetivação se faz aposteriori dos processos sociais que estãopostos a realizá-la3. Em outros termos, oprocesso de acumulação se faz verificável aofinal de um ciclo produtivo, o que torna possívelcompreender a crise sempre imanente, possível,mas não evidente. Tal possibilidade crítica éiludida, no sentido da ilusão como necessidade,portanto, a um percurso temporal do antes edo depois que obscurece a necessidade de umaefetivação a prior i com i lusão da não-impossibilidade do capital.

Isto sugere pontuações importantes, noque diz respeito ao plano de nossa análise. Sea verificação do processo de acumulação se fazpost festum, como expõe, Francisco de Oliveira(1993), as conseqüências daí oriundas não selimitam exclusivamente às contradições no planoformal, mas que há descontinuidades, ou mesmorupturas, entre o plano formal e o planotemporal de realização ou não da forma- valor.

Assim, se se adota o plano destasdescontinuidades postas já na unidade da formavalor, o próprio processo de constituição docapitalismo, enquanto dimensão temporal deefetivação de sua racionalidade formal, seexpressa desigualmente, segundo a maior oumenor capacidade que dadas realidades tiveramem negar ou reafirmar a efetivação da forma.Contudo, mesmo do ponto de vista formal, odesdobrar temporal de realização da forma é jáde por si, na relação para com o capitalenquanto um conceito, uma descontinuidadelógica que a própria razão contradizente se põea si mesmo. Ou seja, no desdobrar do antes edo depois para a realização da verdadeconceitual do próprio capital este tempocontradiz a necessidade objetiva do a priori doconceito que, se assim o fosse, eliminariaqualquer potência crítica de si para consigomesmo; em não o sendo o é como ilusãonecessária. Disto deriva a importância de seconsiderar as determinações cr ít icas da

realização do conceito de capital para acompreensão de fenômenos a ele relacionados,donde a própria extensão espacial do capitalao longo de sua temporalidade de constituiçãopode ser vista como modos de superar barreirase limites4 por ele mesmo postos.

A expansão, digamos ainda de um modonão categorial, espacial da forma valor, foi, sobdiversas maneiras discutida por dist intosautores. Demandada pela necessidade lógica etautológica de reprodução ampliada da riquezaabstrata, Rosa Luxemburgo expressou estanecessidade como sendo resultante daincapacidade de o capital produzir, de formaampliada, a mais valia que, nos limites estritosde seu sítio, não se pode realizar.

Em outras palavras, “Como la produccióncapitalista es la única que adquiere su proprioplusproducto, no puede haber límites para laacumulación del capital.”5, então, a expansão docapital será também uma expansão de suafronteira. É certo que a autora aponta, em seudiálogo com Marx, o fato de ter de se considerara reprodução do capital sem que seja nosestritos limites de uma sociedade cujareprodução já se estabelece sob a forma dereprodução do valor. Ou seja, a reproduçãocapitalista envolveria o seu entorno, pois aprodução de seus meios de produção envolveriaa luta contra o campesinato e a luta contra aseconomias naturais. Caracteriza-se, através daautora, a expansão e a relação do capital sobree com as formas não capitalistas de produção.Na expressão da autora:

El otro aspecto de la acumulación del capital serealiza entre el capital y las formas de producciónno capitalistas. Este proceso se desarrolla en laescena mundial. Aqui reina como métodos, lapolítica colonial, el sistema de empréstitosinternancionales, la política de intereses privados,la guerra. Aparecen aquí, sin disimulo, la violencia,el engaño, la opresión, la rapiña. Por eso cuentatrabajo descubrir las leyes severas del procesoeconómico en esta confusión de actos políticosde violencia, y en esta lucha de fuerzas.”(LUXEMBURGO:1968, p.421)

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Sem esgotar a exposição da autora sobreo processo de reprodução ampliada do capital,apenas aponta-se para o fato de que talexpansão espacial e temporal é reveladora deque os processos de transformação derealidades não modernas inserem-nas nopercurso da modernidade pelas determinaçõesda forma valor, sendo o processo de acumulaçãoum dos quais nos parece vert icalmenteimportante. Cabe ainda salientar que, apesarda importância de sua análise, a mesmaencontrará uma interlocução polêmica, nosentido de que a interpretação de RosaLuxemburgo caracteriza um processo dedestituição total destas formas não-capitalistasde produção. Isto colocado nestes termos iráencontrar sua crítica em realidades como abrasileira, donde os processos de exploração eexpropriação não significam, necessariamente,a destituição destas formas de produção.

Esta mesma perspect iva pode serencontrada num dos importantes teóricos sobrea expansão do capital ismo em sua fasemonopolista imperialista. Para Lenin, a formaçãodo capitalismo na Rússia, constitui um processoque, ao mesmo tempo, deve ser compreendidocomo uma formação do mercado interno para agrande indústria, sendo a desintegração docampesinato, condição e resultado de todo oprocesso social ali em movimento. (LENIN: 1982,p.99)

Como destaca José de Souza Martins, apartir de Lefebvre, a compreensão de Leninsobre a expansão do capitalismo na Rússia estáassentada na idéia de Formação Econômico eSocial, justamente porque a forma destacadapor Marx, sobre o caso inglês, é consideradaum caso exemplar, mas que guarda nuanças,diferenças não somente nos distintos lugares,mas em relação à própria unidade do processocomo um todo. No caso de Lenin, aparticularidade da formação do capitalismo naRússia não comporia um processo quenecessariamente realizaria todo o campesinatorusso em trabalhador assalariado, embora osentido fosse o de sua desintegração. Destemodo, a noção de formação econômico e social

reitera as diferenças e as desigualdades dedesenvolvimento. Nas palavras de Martins:

“A noção de formação econômico-social em Marxe Lênin tem duas dimensões: ela designa tantoum segmento do processo histórico - a formaçãoeconômico-social capitalista - quanto o conjuntodo processo histórico. Mais do que umaimprecisão, essa duplicidade nos remete aoprincípio explicativo de totalidade e, ao mesmotempo, de unidade do diverso. Muitosvulgarizadores da obra de Marx entenderam queo diverso dessa unidade é apenas o diferente eque os termos da contradição, portanto, sãocontemporâneos. No exame da gênese e dopercurso da noção, Lefebvre descobre, porém,que o diverso não é, ou não é necessariamente- contemporâneo.” (MARTINS:1996, p.17)

Faz-se necessário evidenciar que oargumento em questão, contudo, permitecompreender que a própria reprodução docampesinato, no interior da expansão da formavalor não deixa de ser um fenômeno queconstitui, contraditoriamente, a reprodução docapitalismo enquanto um modo de produção quese põe também como questão agrária. Destamaneira, o modo descontínuo e contraditório daforma-valor estabelece, em sua expansãorelativa à questão agrária, a produção desociabilidades distintas (camponesas) comoreprodução de relações não especificamentecapital istas a reproduzir a própriamodernização.6 Portanto, entre a forma valor,cuja determinação é a expansão ampliada dariqueza, e o seu processo de formação, hádescontinuidades temporais e espaciais queconstituem uma sociabilidade contraditóriaexpressa na reprodução de relações nãoespecificamente capitalistas como necessidadede contornar as contradições próprias da formavalor. Isto compõe um aspecto fundamental damodernização enquanto formação. Trata-se dadesigualdade do desenvolvimento, dasdescontinuidades na continuidade que irãoconstituir elementos lógicos no processo demodernização, considerado aqui a expansão docapitalismo como um elemento que compõe umatotalidade, mesmo que contraditória. O ponto

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que nos cabe interrogar neste momento é,contudo, a observação de se a contínuasuperação da barreira temporal posta pelanecessidade de efetivação da verdadeconceitual do capital, põe, num dado momentode sua re-produção, a insuficiência de relaçõesprodutoras de valor, através da qual a própriaRenda da Terra é um elemento constituinte, paraesta efetivação conceitual, donde deriva anecessidade de interrogações a respeito daforma pela qual o próprio capital encontra meiosde se reproduzir. Ou seja, até que ponto aintegração, produção e reprodução do nãoespecificamente capitalista é, também, ou numdado momento, a formação econômico e socialcapitalista em suas determinações críticas que,por causa de sua dificuldade de reposição,incorpora e reproduz o outro de si como suanecessidade.

Acentue-se, portanto que, para além dare-produção ou não destas desigualdades comocampesinato, o ponto é buscar compreendercomo e em que condições tais desigualdadescomportam um dupla via de concomitantesrealizações. Isto é, compreender e analisar sea crise imanente da realização da forma valor(comentada mais acima) põe como suanecessidade estas formas de trabalho nareprodução geral do mundo da mercadoria e,assim, como segunda realização, se o que estáposto como resultado disto tem condições dese colocar como pressuposto categorial dareprodução geral da sociedade capitalista. Ouseja, se tais descontinuidades se constituemcomo mediação reprodutora.

O que nos remete ao problema dapequena produção camponesa no âmbito dareprodução crítica da forma valor, pois, trata-sedas descontinuidades entre o desenvolvimentodas forças produtivas e o trabalho, contradiçãofundamental destacada por Marx e que dá opróprio movimento da re-produção crítica docapital. O mundo contemporâneo, no que dizrespeito à reprodução ampliada da forma valor,pode ser caracterizado por aquilo que RobertKurz (1993) considerou de forma pertinente,como a terceira revolução industrial, baseada

na microeletrônica. Nesta tem-se apossibilidade de se obter uma produtividade emque o próprio trabalho se coloca ausente comonecessidade do processo produtivo e reitera anecessidade de se pensar a potência da crisedo trabalho como elemento constituinte dosfenômenos da sociedade hodierna, redefinindoos próprios sentidos da concorrência:

A concorrência, depois de alcançar um grau maisalto de desenvolvimento e de libertar-se daeconomia de guerra e de crise, impeliu, sob a égideda Pax Americana, a novos surtos enormes odesenvolvimento das forças produtivas e apenetração das ciências, até a introdução maisrecente da micro-eletrônica e dos computadorescom seus potenciais de automatização antesinimagináveis em todos os setores da reproduçãosocial. Para as unidades empresariais esseprocesso significa uma ‘coação muda’ daconcorrência, cada vez mais ligada ao mercadomundial, que obriga à intensificação do processode produção, isto é, uma coação que atua nosentido de uma racionalização a cada vezrenovada, penetração das ciências eautomatização (KURZ, 1993, p. 85)

O que reitera a necessidade de seconsiderar a importância própria de umasociabil idade que estaria passando pelasdeterminações de um capital nãonecessariamente produtivo, mas onde aextensão do crédito, constituindo o que Marxdenomina de capital fictício, teria um papelprimordial no processo de reprodução crítica daforma valor. Trata-se, para se refer ir aoproblema em outros termos, de umaracionalização necessária à reprodução cujaresultante mais fenomênica redunda numprocesso de brutal redução do trabalho (relativae absolutamente) no interior do processoprodutivo como um todo. No outro lado doiceberg tem-se, portanto, uma massa cada vezmaior e mais necessária de ser cada vez maior,de produtos mercadorias que correspondam ànecessidade da expansão desse capitalprodutivo, somada a uma crescente redução dospostos de trabalho e do próprio trabalho,produtor de valor.

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A extensão do crédito atinge umanecessidade que passa a autonomizar ossentidos do dinheiro em relação a sua formacomo capital produtivo, desenvolvendo-se, apart ir daí, uma extensão do capital comofinanceiro, creditício, fictício, pois que a circulaçãofinanceira passa a se constituir como um negóciopróprio e que toma a dimensão, certamenteilusória, de totalidade da reprodução da formavalor. Kurz (1993) precipita aí uma importantederivação sobre a análise dos países periféricosneste momento em que a contradição capitaltrabalho - redimensionada como a contradiçãoentre o conteúdo social e a forma não social dareprodução capitalista (KURZ, 1993, pp. 43-44)- demonstra e põe de modo objetivamenteprático, tanto a impossibilidade histórica de seatingir os níveis de desenvolvimento jáatingidos no centro do sistema produtor demercadorias (dada a impossibilidade absolutae relativa da extensão do trabalho, substânciado valor, devido à terceira revoluçãotecnológica) como um importante papel que aextensão da produção científ ica ganha nointerior da periferia. O ponto, contudo, que senos apresenta como emblemático, no que tangeao plano das relações sociais de produção nãoé necessariamente compreender a produção oure-produção do campesinato no interior docapitalismo, mas - apesar das distintas formasde expansão do capitalismo produtivo industrialno campo, redefinindo, talvez, os sentidosprimevos da relação campo cidade - nosperguntarmos por que, num determinadomomento da reprodução social capitalista, tornou-se necessário a sua extensão produtiva industrialpara o âmbito das relações de produção no campo,indicando uma importante insuficiência de suacapacidade de re-produção nos estritos limites deuma realidade urbano-industrial. Deste ponto devista, a própria reprodução do campesinato, nostermos distintos e problemáticos que cada formade reprodução encontra-se para se explicar,acaba por se const ituir como forma deexpressão desta necessidade expansiva ecrítica do capital enquanto tal. Se há, comoexpõe Martins (1993) uma composição da Rendada Terra ao lucro empresarial, de modo que o

lucro somente não explicitaria a potência deacumulação de um capital mundial, cabe ainda,a problematização de por que a Renda da Terracomporta-se como um ingrediente necessário àreprodução desta sociabilidade. Até que pontoisto não se integra à realidade capitalista comoum momento no sentido das relações postasentre barreiras e limites, como expressamos maisacima. Ou seja, até que ponto a extensão deuma realidade industrial como produção agrárianão estaria revelando, ao contrário do comoparece ser, as determinações da crise dareprodução social, que se fazem, se expressamcomo expansão capitalista. Mesmo aincorporação do trabalho camponês no interiordos monopólios industriais, como o caso doleite, por exemplo, pode ser vista sob aperspectiva desta superação de limites lógicosque se põem como barreiras históricas, ditadaspela lógica urbano industrial que, como já odissemos, por si só não é suficiente para a suare-posição. Neste sent ido, a própriaconfiguração teórica sobre o campesinatoadquire aqui um sentido relativamente distintodaquele expresso em suas acepções políticas,isto é, como resistência ou não, aos processosde expansão da forma mercadoria. Detém-seaqui, o sent ido de como ele expressacontradições da forma que incorporam-nosegundo a perspectiva da capacidade expansivado capital, mas cujo fundamento são as suasdeterminações críticas. Em outras palavras, seisto se faz seguindo uma incorporação da Rendada Terra à realização dos ganhos do capital emsua realização, constituindo o que se denominoude capitalismo rentista (MARTINS,1993), cabe-nos perguntar se a incorporação desta Rendada Terra ao lucro do capital urbano industrialnão se coloca como uma insuficiência da mais-valia e do lucro daí oriundos, para a reproduçãode seu próprio conceito. De modo que acontradição entre capital e trabalho poderia teratingido limites cuja superação histórica ter-se-ia dado como incorporação da Renda da Terraseguindo os moldes de uma produção industrial(no caso da agroindústria) ou seguindo a maiorpossibilidade de redução de custos (no caso daaquisição da Renda da Terra através da

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apropriação do trabalho camponês pelo capitalagro-industrial), como dentre outros, pode-seobservar em Amin e Vergopoulos (1986).

A extensão da agroindústria, a partirdos anos 70 nos países per i f ér icos,apresenta-se, portanto, como um elementoexpressivo da contradição capital trabalho,no inte r ior dest a te rce i r a revoluçãoindustrial, mas que evidencia, por assimdizer, a contradição entre o conteúdo sociale a forma não social da reprodução críticado capital. O que permite i lusoriamentepensar-se, em nome do produtivismo e deuma pretensa superação através do mesmo,em uma passagem evolutiva a um estágiosocial superior, naturalizando-se os sentidosdestrutivos e miserabilizantes da produçãoem massa. A agroindústr ia e a produçãoc ient íf i ca no campo, por tanto, pode sercompreendida como resul tado destadimensão mundial da reprodução crítica docapital. Na análise de Kurz (1993):

“Natura lmente, esse desenvolv imentocontinuou durante os anos 80, e isso emprocesso ace lerado. Todo passo decrescimento agrário orientado no mercadomundial tinha que ser necessariamente umpasso em direção à agroindústria intensivade capital, cuja produtividade, bem comoaquela nos próprios centros do mercadomundial, está roendo o crescimento globaldo capital mundial, em vez de fomentá-lo.Assim estão se agravando também no setoragrário a concorrência e a concentração decapital em nível nacional e internacional.”(KURZ, 1993, p. 169)

Donde deriva não só uma corrosão daconcorrência porque posta já sob a égidede um capital financeiro que ultrapassa oslimites dos estados nacionais ( o que nãoimplica numa análise da des-importância dosmesmos), no sentido de que são capitais deemprést imo comandados por b l ocos depaí ses do cent ro , mas também umaexpropriação por vezes maciça de formastradicionais e familiares de agricultores.

Trata-se, enfim, de empréstimosinternacionais cujo endividamento se resolve,ao menos enquanto promessa, na intensificaçãoda economia de exportação, donde aagroindústria ganha um papel importante. Aoexpor essa lógica circular ascendente assimanalisa Umbelino de Oliveira:

Assim, tornou-se indispensável aumentar, aqualquer custo, as exportações. Acentuou-se,em conseqüência, o desequilíbrio no interior dosetor agropecuário. Aquele baseado em grandespropriedades e voltado para a exportação temrecebido todo incentivo e assistência da partedo governo, enquanto aquele voltado para aprodução de alimentos para o mercado interno(principalmente na agricultura camponesa) ficouainda mais desamparado.” (Umbelino deOLIVEIRA, 2005, p. 307)

Mesmo quando o processo permite amanutenção deste pequeno produtor trata-seda impossibilidade, num primeiro momento, desua reprodução, pois que as formas deexpropriação efetivam-se pela impossibilidadeda reprodução do pequeno produtor entre asdistintas gerações (Cf. SANTOS, 1978 e MARTINS,1975), dada a integração dos meios de vida7 àlógica da equivalência mercanti l, sendo apropriedade da terra um caso exemplar.

A desigualdade entre forma lógica e suaextensão temporal, na medida em que se referea uma intensificação nas contradições da própriaforma passa a compor maneiras de realizar aefetividade da reprodução crítica do valor. Emoutras palavras, do ponto de vista domovimento temporal desta relação, amodernização se faz nem sempre realizandouma transformação radical das formas detrabalho, por exemplo. Se se trata de considerarque há uma reprodução das relações nãocapitalistas de produção (MARTINS:1990), faz-se necessário também buscar compreender queesta coexistência de temporalidades se referea uma simultaneidade posta pela condição críticae contraditória da realização da forma enquantosociabilidade. Ou seja, da cr ise semprepresente, da possibilidade constantemente

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posta do capital não realizar o seu processo deacumulação, estabelecendo-se, portanto, umarelação contraditória entre reprodução dasrelações sociais de produção e crise da própriareprodução.

A própria expansão da fronteiracapitalista pode ser compreendida como ainteração de distintas temporalidades quecompõem o plano empír ico do que temoschamado aqui de descont inuidades edesigualdades que, em outras palavras, remeteà necessidade de se pensar a própriasimultaneidade 8 como determinação dareprodução em sua forma imanentementecrít ica9, o que nos remeteria ao problemareferente ao próprio espaço, categoria cara àGeografia e ao próprio pensamento geográfico.Tais desigualdades de desenvolvimento se sãopresentes, por vezes, podem ser malcompreendidas na medida em que se tem, sobdiferentes aspectos, uma expansão científicadas formas de produzir no campo. Isto postocomo desenvolvimento das forças produtivasleva à interpretação de que a desigualdade dedesenvolvimento não mais seria possível deexplanar as formas pelas quais o próprio capitalse põe a possibilidade de sua expansão, aindaque crítica, como temos argumentado. A próprianoção de que a distinção entre cidade e camponão mais faz presença na análise da reproduçãodo moderno deriva desta compreensão (mácompreensão, diga-se) sobre os sentidosmultitemporais do próprio capital. Contudo,cabe-nos ressaltar que a expansão da própriaagroindústria é resultado de necessidadespostas para a reposição do capital financeiro.Observe-se, então, que é no âmbito dasrelações agrárias que se obtém a desigualdadede desenvolvimento (capital produt ivoagroindustrial) apropriada pelo momentoposterior definido como capital financeiro. Demodo que o desenvolvimento das forçasprodutivas no campo não nos impede deobservar uma desigualdade de desenvolvimentoem relação às características financeiras docapital urbano da/na passagem deste século,ainda em andamento, diga-se. De modo que atese sobre a reunião entre cidade e campo nos

termos de um rururbano (ausência de se ter oque dizer, mascarada por um discurso científico)isenta-nos de pensar sobre os sentidos que astransformações no campo têm na reposiçãocrítica da forma valor. É certo que os sentidosque esta desigualdade comporta para areprodução da forma mercadoria em seu sentidoglobal adquire nova importância. Não se tratade uma expansão simplesmente, mas de umaincorporação da Renda da Terra aos desígniosda acumulação que omitem a dificuldade de suareprodução, de modo que os fenômenos deexpansão do capitalismo, ainda que pautadospela desigualdade de desenvolvimento, no casoa manutenção desta desigualdade na relaçãoentre campo e cidade, são fundamentados,contraditoriamente, pela simultaneidade negativa(KURZ, 2004), ou seja, toda desigualdade é umaforma de expressão da incapacidade de o capitalse reproduzir, ainda que se reproduzindo. Daíque a incorporação da Renda da Terra comonecessidade da reprodução capital ista serexpressão de sua crise, e não o contrário, aomesmo tempo que reitera a necessidade de serepor a desigualdade entre campo e cidadecomo forma específica e fundamental da divisãosocial capitalista do trabalho. A assim chamadaacumulação primitiva, ou o capítulo XXIV doprimeiro volume do capital, nos mostra comclareza meridiana, como que a separação entrecampo e cidade se forma como uma separaçãofundamental, mas específica da modernização.Se lá, na análise de Marx, ela se põe comoelemento condicional da formação de umarealidade industrial, nos termos em queestamos argumentando, a reiteração destadistinção incorpora a possibilidade crítica de umcapital que ultrapassa as barreiras e os limitesde uma racionalidade exclusivamente industrial,pondo a indústria no campo comotemporalidade distinta das formas de produçãode um capital urbano financeiro 10, daí aimportância de se considerar as característicascríticas desta reprodução.

A expansão da fronteira capitalista foimesmo objeto de estudo da Geografia, o quepode ser observado, para ficarmos com um deseus expoentes, através de pesquisa, já

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clássica, de Pierre Monbeig sobre a expansãoda cafeicultura no Oeste paulista.

O avanço da cultura do café apresenta-se, nesta obra, como uma realidade onde, aose constituir o café como produto de umarealidade capital ista, redefine ou constituirelações sociais novas que se efetivam tantopelo que estava previsto (produção do café)como por aquilo que se faz como resultado doelemento indutor do processo posto emmovimento. Ao que pese uma certa perspectivadesenvolvimentista posta em sua análise,Monbeig (1984) permite a compreensão de quea expansão como reprodução ampliada da formacapital é o sobrepor de temporalidadesnecessárias ou resultantes desta mesma lógica.

Ressalte-se que a necessidade de umamonocultura é também a extensão da trocamonetária visto que aqui se constitui uma claraprodução posta no e pelo mercado. Sob esteaspecto, Monbeig (1984) destaca que osprocessos daí oriundos referem-se à instituiçãoda mercadoria como abstração a gestar umasociabilidade fundada sob a perspectiva datroca. A extensão das fazendas de café, são,em seu movimento crítico, a expansão daspequenas propriedades (pequenos sítios)adquiridas pelos colonos pouco mais abonados,efetivando a necessidade de uma trocaresultante, em verdade, de uma intensificaçãoda divisão social do trabalho.

“As crises econômicas, cujos efeitos sociais sãoimediatos nos países novos, não deixaram demolestar a sociedade rural brasileira. Podemoscontentar-nos aqui com lembrar as quedassúbitas do preço do café, que deram um golpesensível nos lavradores, e o rápido progressoda pequena propriedade no Brasil tropical. Estatendência anterior à crise mundial de 1929 teveum novo impulso, e não é mais possívelconsiderar a faixa pioneira como sendo oapanágio dos fazendeiros. Apressemo-nos aacrescentar que seria errado acreditar que agrande fazenda desapareceu radicalmente; talnão aconteceu. Quando se deu a transformaçãoda fazenda, isto não ocorreu sem uma alteração

dos limites e formas tradicionais. Os fazendeiros,obrigados a vender todos os seus bens ou partedeles, não procederam de modo rigorosamenteanálogo.” (MONBEIG, 1957, p. 113)

A propriedade privada da terra ao secolocar como mercadoria, constitui apossibi lidade das grandes sociedades deloteamentos a produzirem os centros urbanos,através de um patrimônio que fomentaria aprópria possibilidade da presença dos pequenossitiantes em seus respectivos sítios o queevidencia este adensamento de temporalidadesdistintas a se efetivar em sua versão espacial.

A “faixa pioneira”, portanto, comodenominou em seu trabalho de 1957, é assim,o locus da realização das cidades que se fundamcomo expressão da mercadoria que se realizacomo os múltiplos momentos da vida social doOeste Paulista. A própria propriedade privadada terra como mercadoria, que se vende e secompra, expressa essa simultaneidade, essaco-temporaneidade posta pela forma da troca,cuja expressão primacial se dá pela produçãoespacial das cidades no Oeste Paulista. Assim,as “sementeiras de cidades”, como expressasinteticamente Monbeig (1984), observando oprocesso de ocupação no oeste paulista, refluemas dist intas temporalidades adensadas eefetivadas como espaço pelo aprofundamentoda divisão social do trabalho que a produçãodo café, enquanto elemento indutor destadivisão, permite resultar. Deriva-se daí, portanto,que o aprofundamento de uma realidademoderna se expressa numa divisão social dotrabalho sendo a divisão entre campo e cidadeum de seus resultados e pressupostos.

Não obstante este aspecto, pode-seainda pontuar a presença de variadas formasde apropriação capitalista da expansão do caféque não se limitam à sua produção propriamentedita. Ressalte-se a observação mais do queoportuna do autor (MONBEIG, 1984) no que serefere à formação das empresas de extraçãode madeiras de lei, no momento da própriaformação da fazenda de café. Evidenciando, nãosó uma simultaneidade posta na e pela forma

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mercadoria, mas especialmente, uma co-presença extensiva entre campo e cidade, namedida em que essa produção madeireira, comocondição da expansão do café, passa a ser umademanda da e na cidade, expressão de umarealidade que se efetiva em sua dimensãosocial. As necessidades médicas daí oriundas,graças às epidemias e doenças destacadas peloautor, resultantes da migração de insetos anteshabituados ao interior da floresta, apenasreitera o aproximar de temporalidades distintas(ciclos naturais e temporalidades sociais daprodução de mercadorias) a se adensarem comoespaço.

A violência expressa na expansão docapitalismo, no que se considera como zonasde fronteira11, pode ser a revelação destacontradição da forma que, enquanto tal, busca-se superar na sua efetivação têmporo-espacialjá que, na antecipação da forma, asimultaneidade é a efetivação crítica possível deseu gestar enquanto sociabil idade. Asexpropriações, portanto, são combinadas comsubordinações, pois que contemplam, na criseda forma, a possibilidade sempre crítica de suareprodução. Se a expansão se dá tambémespacialmente, particularidades na efetivaçãode uma sociedade produtora de valor, no casobrasileiro, estarão presentes, sendo que um dospressupostos foi a manutenção da propriedadeprivada da terra como elemento fomentador dareprodução de uma sociedade hierárquica eassentada na produção de mercadorias.

Esta tese pode bem ser observada naanálise de Caio Prado Jr. a respeito do sentidoda colonização. De forma sintética, a formaçãosocial brasileira estaria, desde sua gênese,pressuposta pela forma-mercadoria, pois aconstituição do Brasil enquanto sociedade, fez-se através de relações sociais de produçãocentradas na exportação de mercadorias. Asdesigualdades regionais, expostas ao longodesta obra, mostram como que as suasrespect ivas formações, povoamentos eatividades econômicas, tornam-se possíveis ounão segundo a maior ou menor integração dasmesmas no contexto mercantil colonial.

Se a forma valor aqui já está presente,desde a gênese da sociedade brasileira, que aprincípio se constitui como América Portuguesa(estamos apenas pontuando alguns aspectospara podermos desenvolver melhor oargumento) um dos meios, através do qual amesma se realiza, é a propriedade privada daterra, vinculada certamente com a escravidãoque, para Caio Prado Jr., se estabelece comouma das poucas instituições da sociedadecolonial brasileira.

O fato é que a propriedade da terratorna-se um elemento que integra a formaçãosocial na medida em que ela se estabelece comoum meio de produção da riqueza sob a formavalor. Se a princípio ela não tem a potência de,por si mesma, realizar um sentido de riquezaeconômica, a sua condição como meio detrabalho sob o qual resguarda a possibilidadede realizar o valor da mercadoria escravo traza ela um sentido econômico polít ico nãonegligenciável. Contudo, tal integração se fazsob a égide de uma dinâmica mundial, sejacolonial ou não, que se integra à formaçãoeconômica capitalista européia.

Do ponto de vista de uma interpretaçãohistór ica format iva, o per íodo colonialcaracterizar-se-á como um longo período deacumulação primitiva européia, contribuindo,a colônia, com o processo de acumulaçãoindustrial naquele continente. Marx mesmo jádestacava tal fato em várias passagens de suaobra, onde a relação entre colonização eindustrialização européia permitiria e exigiriaa consideração dos processos coloniais comoque compondo a formação capitalista no seuaspecto mundial.12 Tal caminho interpretativosuscitou uma dist inção entre centro eper ifer ia13, sendo esta o espaço onde areprodução social da forma valor se faz emum descompasso em relação às áreas dondea sociabilidade capitalista teria se difundido,tese que, em muitos sentidos, coincide com anoção de desenvolvimento desigual ecombinado expressa em diferentes obras deLenin.

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Isto significa dizer que os processos aquiformados guardam, tanto interna comoexternamente, temporalidades dist intasfomentadas por uma desigualdade mundial no/do processo de modernização. Em outrostermos, no que toca à discussão aqui posta, amanutenção da propriedade privada da terracomo elemento constituinte da forma pela quala realização do valor se dá no território nacionalpode configurar esta desigualdade dosprocessos, sendo que a própria Renda da Terrapode guardar esta busca de atualização em umarealidade mundialmente desigual e combinada.Isto é, na crise imanente da forma valor, aincorporação de aspectos temporalmentedistintos - Renda da Terra pela lógica industriale f inanceira, por exemplo - envolve umasimultaneidade determinada por esta crise daforma já referida. O breve recuo ao períodocolonial, justifica-se, portanto, para expressarcomo que um sentido posto na gênese de nossaformação restabelece seu sent ido epermanência na reprodução de uma realidadehodierna. Ainda mais, pode-se argumentar quepassa a ser integrado nessa reprodução dadoo seu momento cuja determinação se faz pelacrise da reprodução. Em outras palavras, arealização das determinações formais do capital,do valor, não tem condições lógicas de serealizar a partir de um processo total dehomogeneização. As contradições da forma que,no plano mais externo mostram-se comoimpossibilidade de realização do lucro, re-interpretam e absorvem, sob as suasdeterminações, elementos que passam, então,a participar, nesta desigualdade, da realizaçãodo moderno e da modernização. Este processode desigualdade do desenvolvimento,simultaneidade negativa ou atualização técnica,corrobora para a coexistência detemporalidades múltiplas unificadas pela e naforma valor. Contudo, o ponto de indagação quese tece aqui é que isto se faz por umaconfiguração crítica desta re-produção, mais doque por uma determinação reprodutiva, emboraum não se coloque sem o outro. Em termosmetafóricos, pode-se perguntar qual é o ladoda moeda que se nos apresenta, desta

totalidade. A tese relativa à subordinação daRenda da Terra camponesa ao capital mostraas formas pelas quais a propriedade da terrase reitera na re-produção crítica da forma valor,efetivando-se como espaço a simultaneidade daíresultante.

Vale ressaltar que um dos importantesmomentos de modernização do Brasil, emrelação ao capitalismo mundial, deu-se, nadécada de 60, pela reunião do grande capitalnacional e internacional com a propriedadecapitalista da terra (OLIVEIRA, 1998 e MARTINS,1985)

Isto porque se o período de 1930significou já um processo de nacionalização, istoé, de fortalecimento do Estado Nacional emdetrimento dos potentados locais, significou umafrouxamento dos poderes que, localmente,controlavam as tensões oriundas daconcentração da propriedade privada da terra.

Desta forma, as tensões relativamentelatentes até então passam a se desenvolverem forma de conflitos os mais variados. Istoimplica dizer que a distensão destes podereslocais trouxe ao Estado Nacional contradiçõesque o mesmo não era capaz de conter oucontornar.

A formação das ligas camponesas, em1954, movidas por um aumento no pagamentoda Renda da Terra pelos posseiros, devido aum aumento no preço do açúcar (ANDRADE,1998), são um expoente desta realidade, poisque passam a se constituir de forma regional-nacional. A expansão de outros conflitos aolongo do territór io nacional brasileiro,concomitantes, também revelam esta potênciasubversiva ao Estado e às dimensões urbano-industriais pelas quais o país passava.

Deste modo, um momento destaintegração - constituído aqui o nosso argumentosob a perspectiva do desenvolvimento desigualno plano das relações internacionais - àreprodução do capital ismo mundial com aextensão de políticas públicas integracionistase desenvolvimentistas repõe a necessidade de

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integrar a propriedade privada da terra aogrande capital nacional e internacional. Amilitarização da questão agrária14, portanto,através da distribuição dos incentivos fiscais quefacilitariam a aquisição da grande propriedadeprivada da terra pelos grandesempreendimentos e através da constituição deórgãos executivos militares para suprimir à forçaas tensões sociais, é reveladora daincorporação de temporalidades distintas nareprodução, agora, de um capitalismomonopolista mundial. Há, de fato, uma reuniãoentre o capital urbano industrial e a Renda daTerra que irá compor os lucros das grandesempresas multinacionais.

Contudo, a potência da Renda da Terrana reprodução das relações sociais de produção,na expressão de Henri Lefebvre, se expressanão somente através da incorporação da mesmaa compor o lucro empresarial, na medida em quea propriedade da terra se torna uma mercadoria,independente da realização de si como meio deprodução, como pontuamos mais acima. Mastrata-se de compreender como ela (a Renda daTerra) passa a compor os pressupostos de umareprodução da forma valor que, a partir de umdado momento se define pelas suasdeterminações de crise. Odette Seabra, em seutrabalho de livre docência (SEABRA, 2003),mostra como que a venda (que se dá mais comoexpropriação da terra) através doendividamento das populações do cinturãocaipira daquilo que estava se constituindo comometrópole de São Paulo, constitui uma formade a Renda da Terra ampliar os sentidos daforma valor, ao mesmo tempo que projeta deforma ilusória uma sobrevida do caipira. Pois quenesta lógica o mesmo subsume-se àmodernização metropolitana. Trata-se de umprocesso rentista que constitui, ao que pese aanálise sobre a metrópole, formas dereprodução de uma realidade agrária a pôr,nesta reprodução, a própria incorporação nourbano. Aqui, ressalte-se o fato de que se o fazcom um sentido ascendente da modernização,na passagem do XIX para o XX, dado o momentoespecífico da formação capitalista por que passa

o fenômeno analisado, o que se redefinequando da passagem do XX para o XXI, comopontuaremos ao longo deste artigo.

Deste ponto de vista, reata-se umadinâmica de extensão dos sentidos da produçãoe re-produção do valor no campo a realizar-secomo questão agrária, na medida em quepromove um processo de monetarização destasrelações, seja de forma completa ou parcial. Sobo ponto de vista de uma problematização volta-se a questionar se a forma pela qual estaspequenas produções consideradas pelageografia e sociologia, como produçãocamponesa, são capazes de integrar anecessidade da produção de valor, demandadapela re-produção crítica do capital enquantouma lógica socialmente posta. O que implicariana compreensão de porque o mesmo se fazapropriando-se daquilo que lhe é diferente,incorporando temporalidades distintas que,nesta medida, realizam-se abstrata econcretamente, como uma determinaçãoespacial do processo em movimento, de modoa desvendar os sentidos críticos, isto é, de criseda reprodução que fazem desta incorporaçãouma sua necessidade.

A produção de leite na micro-regiãode Sete Lagoas (MG): A Itambé e aReprodução crítica do capital agroindustrialleiteiro

A micro-região de Sete Lagoas comporta21 municípios com uma população aproximadade 822.379 habitantes, segundo dados doIBGE, referentes a 2003, onde a atividadeleiteira nos últimos anos tem aumentado a suaprodução e produtividade. Segundo o Censoagropecuário do IBGE (apud GALINARI et al,2002) entre 1985 e 1996 a região passou de78.387.000 de litros de leite ao ano para134.382.000 de litros, com um aumento de58,49% no quociente de sua produtividade. Ouseja, aumentou tanto em termos absolutoscomo em capacidade produtiva.

Isto significa dizer que a produção

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mercant il do leite nesta região tem secaracterizado por uma maior presença deinsumos relativos à ordenha, conservação inlocu da produção de leite, além de um maiorconsumo de nutrientes alimentícios, através decomplementos alimentícios como a ração animal,que promova uma qualidade da produção damatéria-prima leite mais adequada às exigênciasde uma indústria produtora de seus derivados,como a Itambé , principal receptadora daprodução nessa região, além da CooperativaRegional de Produtores de Leite de Sete Lagoas.

O aumento da produtividade do setorprodutivo do leite no Brasil, contudo, deve sersalientado - ao contrário de uma perspectivadesenvolvimento-ufanista, que faz a apologiado profissionalismo e da produtividade - comoconseqüência da intensificação da concorrênciamonopolista no interior desse ramo produtivo,como uma expressão da forma pela qual aenorme capacidade produt iva do capitalexpande a necessidade de assegurar para siuma remuneração que, ao mesmo tempo,signifique um aumento da capacidade não sóprodutiva, mas que configure a possibilidade deexpansão do montante de riqueza asseguradanas relações de troca entre produtor e empresamonopolista. Deste ponto de vista, a expansãodeve ser tanto intensiva como extensiva, o queainda implicará na necessidade de uma reflexãoa respeito da Renda da Terra a compor a riquezamonetária em mãos dessas empresas.

O que se tem é que a intensificaçãodesta capacidade implica numa necessidadede assegurar uma ext ensão tambémabsoluta da r emuneração des tesinvestimentos que se configura na extensãoda produção desta mercadoria. Ou seja, aconcorrênc ia inte r-monopol ista dasempresas de comercialização do leite implicana necessidade da extensão areolar destaprodução, sendo o Estado de Minas Geraisuma expressão desta lógica determinadapelos nexos da forma valor, por se tratar domaior p rodut or de le i te da unidade daFederação.

Em outras palavras, no que diz respeitoao mercado interno brasileiro, há que se refletirsobre a presença de um volume de leite e seusderivados a partir de uma maior integração doBrasi l no mercado internacional, maisespecificamente no Mercosul15. Cabe ressaltarque as principais empresas monopolistas noBrasil disputam a ordem de 207.393 produtorescom uma produção de 6.060mi de litros de leite,isto para o ano de 1997 (GALINARI, et al, 2002).

Essa integração é, do ponto de vista dareprodução ampliada do capital em questão,uma necessidade de se incorporar cada vezmaiores contingentes de produtores com maisalta produt ividade para que se possarestabelecer um nível mínimo de reposição dosinvestimentos que passam a ser necessários àremuneração do lucro médio requerido numaprofundamento do desenvolvimento das forçasprodutivas. Estamos aqui salientando, portanto,que a necessidade de um maior volume domontante de Renda da Terra reunido em mãosdas distintas empresas, repartido segundo acapacidade produtiva de seu monopólio naesfera da produção, repõe as determinações daforma crítica pela qual a mesma se reproduz.Sob esta perspectiva, mais do que produzir amercadoria própria leite para o processamentode seus derivados, estamos diante dapossibilidade deste ramo produtivo estabelecer-se, a partir da produção propriamente dita, comoum importante consumidor produt ivo dosimplementos e insumos agrícolas destinados aosetor. Sob este ponto de vista temos umaduplicidade de elementos pressupostos quecolocam, sob distintas formas, a subordinaçãoda Renda da Terra ao capital da indústria doleite.

Destaca-se que a necessidade deremuneração de um montante de capitaldestinado ao desenvolvimento das forçasprodutivas - o que, neste caso, envolve oconhecimento científico químico e biológico quepassa a compor possibilidades de novos e maiseficientes produtos no mercado - carece, noâmbito da produção, de uma especificidade damatéria prima (leite) cujos riscos de produção

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passam a ser incorporados como consumoprodutivo dos pequenos, médios ou maioresprodutores16. Isto implica dizer que, no ano de1998, 48,36% do número de produtoresfornecedores à Itambé constituíam-se comofornecedores de até 50 litros de leite por dia,35,77% relativo aos fornecedores de 51 a 200litros e, acima de 200 litros/dia, reúne-se aprodução de 15,87% do fornecimento do leite aesta empresa. Sendo que os dois primeirosgrupos comportam 90,78% do volume daprodução receptado pela Itambé17.

Os anos entre 2000 a 2005, contudo,parecem indicar uma significativa seletividadedos produtores determinada, na esfera daprodução da matéria-prima láctea, isto é, juntoao produtor, pela queda nos preços do litro deleite ao produtor18, conjuminada à inserçãoconcorrencial da produção de lácteos nomercado sul americano. Deste ponto de vista,as exigências de uma maior produtividadetornou não só mais custosa a produção damatéria-prima como, consequentemente,redefiniu a faixa de produtores capazes defornecer aos atuais custos versus preço aoprodutor.

Há uma necessidade crescente deadequação desta produção da matéria-prima

láctea às exigências do aumento da capacidadee variedade produtivas na transformação damesma matéria. O que significa dizer que, naobtenção dos produtos necessários àadequação da qualidade do leite, tais custospassam a ser incorporados pelos produtores,que não mais se mantêm no mercado com umapequena produção (Cf. Foto 1).

O que se tem, portanto, de um modobastante importante, é a formação de um ramoprodutivo cuja característica, enquanto umaagroindústria é, certamente, a sua participaçãonão somente no fornecimento da matéria primaa ser industrializada, mas, especialmente, noquanto esta integração/subordinação doprodutor comporta a capacidade de reproduzirum capital urbano industrial que se configura,também, como fornecedor de implementosagrícolas. Estando subordinado a estes doispólos da produção urbano-industrial,determinados pela concorrênciaintermonopolista da produção de leite e seusderivados, redefine-se, assim, a adequação doprodutor às exigências da acumulaçãoempresarial monopolista. A Renda da Terra,enfim, é disputada tanto à jusante, como àmontante pelos capitais envolvidos neste ramoprodutivo, caracterizando a extorsão aoprodutor, necessária a esta forma de troca.

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A forma pela qual a participação docapital leiteiro no Estado de Minas Gerais temse desenvolvido pode estar associada àmovimentação do volume de crédito ao setorpecuário no que diz respeito aos anos 80.Segundo NABUCO (1988), o montante de créditodestinado ao setor agropecuário pode estarrelacionado com a extensão da fronteira agrícolado próprio Estado, à qual foi incorporado 600mil ha de lavouras. Com isto, a agropecuáriaapresentou um decréscimo do crédito de custeio,investimento e comercialização até o ano de1984, com recuperação a partir do ano de 1985,o que permite a autora dividir a dinâmica damodernização, nesse Estado, em dois períodos,já expostos, ou seja, até 84 e posterior a 84.Sob a perspectiva da pecuária, o volume decrédito reduziu em 40% em 1980, atingindomenos de 20% no ano de 1985. O que nos cabeanalisar, portanto, é, até que ponto, a reduçãodo crédito via Estado, permitiu uma abertura naparticipação da Itambé , ou mesmo dacooperativa intermediária acima citada, comofornecedores particulares de crédito, no que dizrespeito à produção leiteira na região em estudo.Ou seja, até que ponto este retirar do Estadocomo fornecedor do capital financeiro não é umaforma de sua atuação, na medida em quepossibilita uma integração/ dependência aindamaior entre produtores e a própria empresa. Aextensão desse crédito pode significar umaascensão do capital financeiro a movimentarformas de produção que o remunere nos seusdiferentes aspectos, seja no fornecimento deimplementos, seja na industr ialização dopróprio leite. Destaque-se o fato de que a quedanos invest imentos do setor agropecuáriosmineiro atingiram especialmente o setor decusteio, investimento e comercialização(NABUCO, 1988), o que pode ter propiciado aexpansão deste capital na sua forma específicacomo agroindústr ia na medida em quesubordina, tanto via implementos como peloprocessamento da matéria-prima.

Isto significa dizer que a expansão dabacia e mesmo da produtividade leiteira podeser, ao contrário do que parece, uma expressão

da dimensão crítica da reprodução dos grandescapitais produtores de leite - e isto justamentepor se constituírem como capitais monopolistasde dimensões dilatadas - que, assim sendo,necessitam subordinar a Renda da Terra aocapital, dado a menor necessidade deinvestimento, por esta forma, na composiçãodo que se colocaria como capital próprio daempresa. A intensif icação do nível daconcorrência, portanto, reflete uma necessáriaextensão e intensif icação da produção damercadoria leite para que se possa, dessamaneira, estabelecer a reprodução dessescapitais nesse específico ramo produtivo daeconomia brasileira. Ou seja, tal expansão,repitamo-lo, é expressão de uma reproduçãocrítica que aparece - no sentido próprio daaparência - como dinâmica ascendente dosetor em discussão. Isso terá derivações nasformas mais ou menos violentas, mais ou menosexplícitas de violência que suportará ou não opequeno agricultor, na medida em que estaindústria se efetivará não só pela subordinaçãoda Renda da Terra ao capital, masespecialmente, pela, e por isso, redefinição dasociabilidade de bairro aí então constituída, poisa readequação espaço-temporal do produtorimprime uma razão empresarial à propriedadeque subverte os sentidos de uma sociabilidadenão-monetária.

Expressão dessa dinâmica crítica pode,inclusive, ser observada na forma descendentedo preço oferecido ao fornecedor entre os anosde 1994 a 1997 (de 43 centavos, em 1994, para26 centavos, em 1997) ao mesmo tempo emque o volume da produção de 1980 para 1998passa de 11.162 mi de litros para 20.088mi delitros19. Ou seja, ao mesmo tempo em que asempresas receptadoras de leite tiveram umvolume maior de captação da Renda da Terra,através do trabalho no campo, precisaram,ainda assim, aumentar a taxa de Renda da Terraque em suas mãos estiveram detidas. Assim, oaumento da necessidade de remuneração docapital de tais empresas aponta para umaperspectiva reprodutora crítica destes mesmoscapitais. Os limites e contradições postos pela

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lógica produtora de valor são contornados, masnão superados, nas formas mais ou menosexpropriativas que tal capital se efetiva narelação entre trabalho, Renda da Terra, lucromédio e acumulação capitalista, determinada,possivelmente, pelo nível necessário deremuneração de um capital que não se limitamais aos estreitos padrões de um capitalprodutivo. O crédito aí presente evidencia aextensão do capital financeiro em busca de umaremuneração cuja participação do setorprodutivo pode, contraditoriamente, dilatar adimensão daquele que busca se remunerar. Ouseja, o próprio capital financeiro estende suaparticipação, determinando as formas dereprodução e exponencial izando o quechamamos de reprodução crítica! Os termos decomo isto se dá veremos na análise dosinvestimentos de uma empresa específica, aItambé, maior cooperativa receptadora deMinas Gerais.

Embora estejamos nesse momentorefletindo sobre dados relativos ao Brasil,considere-se o rebatimento dessa produção noEstado de Minas Gerais, dado ser este último o

Estado de maior produção leiteira no país. Oatual nível de desenvolvimento das forçasprodutivas neste ramo produtivo pode serobservado, segundo as mesmas fontes, jácitadas, a partir do índice relat ivo àprodutividade por vaca ordenhada no Brasil.Trata-se de uma variação sempre ascendente,ao longo dos anos de 1970 a 1996 de 100 (anobase de 1970) para 193. Ou seja, uma quaseduplicação da produtividade no âmbito daordenha ao longo de 26 anos, sendo que entre75 e 80 tem-se um salto de 113 para 138, noíndice de produtividade. Em termos absolutos,trata-se da passagem de 678 litros vaca/ano,em 1970, para 1.307 litros vaca/ano, em 1980.Para os dados relativos ao município central damicro-região em estudo, observa-se que em2003 de 4.122 vacas ordenhadas em SeteLagoas, pôde-se obter 10.818.000 litros deleite, o que resulta numa média de 2.624 litrosde leite ao ano por vaca. O que evidencia umcrescimento na capacidade produtiva da matériaprima do setor ao longo das décadas. Os dadosabaixo mostrarão a produtividade por vaca nosmunicípios que comportam a micro região deSete Lagoas:

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Se há aqui a possibi l idade já deapontarmos para o fato de que a subordinaçãoda Renda da Terra ao capital revela aimportância da pequena propriedade junto àreprodução dos capitais monopolistas urbano-industriais, como aponta, por exemplo, Amin eVergopoulos (1986), de modo a compreender aintegração da pequena produção à reproduçãogeral da sociedade, cabe ainda estabelecer, apartir daqui, a relevância da Renda da Terra,nesta subordinação, para a expansão possívelde um capitalismo crítico. Isto significa pensarsobre as determinações da questão agrária paracom a reprodução do capitalismo em sua versãoa mais dinâmica, isto é, a mais crítica, expressapela sua enorme capacidade produtiva.Destaque-se que a presença entre pequenos egrandes proprietários estabelece apossibilidade de se analisar, sob o enfoque dacomposição da Renda da Terra o papel que daíderiva a formação tanto da Renda da TerraDiferencial como aquela relativa entre adiferença da composição orgânica do capitalentre a agricultura e indústria. O que sugerederivações importantes para a compreensão doque, a partir do monopólio da indústria leiteira,pode-se constituir como a questão agrária nasua especificidade brasileira.

Do ponto de vista da produção de leiteno Estado de Minas Gerais e da capacidade queeste capital agro-industrial tem de se reproduzir,deve-se destacar que a análise damovimentação da principal receptadora de leiteno Estado de Minas Gerais, a CooperativaCentral dos Produtores de Minas Gerais Ltda(Itambé), revela algumas das contradições quefaz da própria Renda da Terra uma necessidadede sua reprodução. Não se trata aqui,evidentemente, de traçar parâmetros históricosda própria empresa, mas de observar os limitesdo processo geral de acumulação que a mesmapode permitir observar, embora a análise aquipossa ser verdadeira exclusivamente para coma mesma empresa citada.

A análise de 15 anos de seu processode acumulação (1989-2005) é reveladora doslimites encontrados pelo próprio capital e,

portanto, de sua reprodução ampliada. Ou seja,a forma pela qual se dá a reposição ampliadade seus pressupostos não vai sem dificuldadesque passam a incorporar, como iremos em breveexpor, tanto elementos do capital financeirocomo a própria Renda da Terra.

Destaque-se, em primeiro lugar, que osníveis de investimento da empresa em questão,ao longo do período em análise, aumentam dacasa de 71 mi de Reais em 1989 para 988 mi deReais em 200520. Do ponto de vista do montantetotal de investimentos realizados, tem-se umamultiplicação a 13 vezes, ao longo de 15 anosde acumulação. Contudo, a análise maisaproximada da composição destesinvestimentos revela que a percentagem decapital invest ido por terceiros, isto é,empréstimos, aumenta sua participação namedida em que novos investimentos vão setornando necessários para a manutenção dareprodução ampliada deste capital. Assim, seem 1989 a empresa mantém uma percentagemde capitais de terceiros por volta de 24,7% dototal de investimentos, este montante tende aum crescimento constante, excetuando os anosde 1992 e 1993, cujo índice de acumulação foinegativo, isto é, significou uma perda, sendoque no ano de 1999 este capital externo, istoé, incluído no capital de invest imento daempresa a partir do setor financeiro, atingequase a metade do montante de investimentosda empresa, ou 43,84%. Já em 2000 e 2001 aparticipação de capitais de empréstimos nodesenvolvimento das forças produtivas daempresa representa (ou seja, tanto nasindústr ias transformadoras como noempreendimento de captação do leite),respectivamente, 55,44 e 55,73%, a evidenciar,dentre outros elementos, que o processo deacumulação deste capital específ ico nãocomporta um montante suficiente que, por si só,seja capaz de repor os seus própriospressupostos. A expansão de seu parqueindustrial, mostra-se, contraditoriamente, comouma insuficiência de seu processo deacumulação gerar a sua reprodução ampliada.

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Trata-se de um montante que permiteuma dada confiabilidade de empréstimo que fazo capital a juros participar dos investimentosnecessários para que a empresa mantenha suacompetitividade e seu padrão de acumulaçãono mercado nacional. Pode-se ainda derivardaqui que a necessidade de ampliação de suacapacidade produtiva, especialmente no que dizrespeito à produção de derivados, se estabeleçacom anterior idade de seu investimentoprecedente permitir tal investimento. Assim, astransformações no processo geral de produção,isto é, o desenvolvimento social total das forçasprodutivas, incluindo-se a ciência química ebiológica como parte profundamenteparticipante deste processo, através datransformação do leite em seus derivados, exigeuma variedade de produtos e uma capacidadede produção que se estabelece anteposta àprópria capacidade de invest imento daempresa, ou seja, a inovação produtiva - graçasàquilo que Marx denominou de trabalho social,constituinte da Grande Indústria - antecede aprópria capacidade de reprodução. Em outros

termos, a expansão do capital aqui em análisereflete, por assim dizer, os limites da acumulaçãomais do que a potência deste capital mesmo,trata-se daquilo que buscamos evidenciar comouma reprodução no interior da crise dareprodução, ou ainda, de uma reprodução crítica,ainda que ampliada. Se considerarmos osperíodos de 5 anos como de renovação de suasforças produtivas, os mesmos seguem, como jáo demonstramos, uma sempre constantecrescente part icipação do capital deempréstimos para que a mesma reproduçãoocorra, permitindo compreender a possibilidadede que a renovação das forças produtivas sedê pelo desenvolvimento geral do setor quepressiona esta antecipação do próprio conceito(reposição posta dos pressupostos sem de fatose efet ivar) cuja expressão se dá pelaparticipação do capital financeiro como elementoviabilizador desta necessidade. Vejamos ográfico 1, que representa esta participação decapital próprio e de terceiros em valoresabsolutos:

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O biênio de 2004 e 2005 expressa demodo flagrante a necessidade de participaçãodestes capitais de empréstimo, onde aimobilização de capital próprio passou de 109,64para 190, 95%21, ou seja, uma evolução de maisde 90% desta imobilização para a ampliação deseu parque industrial cuja participação de outroscapitais na renovação de sua capacidade detransformação atinge mais de 75%, resultadade investimentos em duas novas unidades, umaem Uberlândia, no Triângulo Mineiro, outra emGoiás. Em outros termos, a participação decapitais de terceiros, isto é, de empréstimo, édiretamente proporcional à necessidade derenovação de sua capacidade produtiva,revelando, como já o dissemos, a insuficiênciado processo de acumulação para corresponderà capacidade de acumulação geral do capital.Não se trata aqui apenas de observar que ocapital de emprést imos, nos termos dadiscussão do capital a juros, do terceiro volumed’ O Capital, constituir-se como um superar deuma etapa que adianta a produção capitalistapropriamente dita22, mas sim, especialmente, deevidenciar a presença estruturante deste capitalcomo forma de reposição de seus pressupostos,o que mostra que tal reposição é, efetivamente,fictícia, isto é, ocorre de modo não efetivo, aremunerar um capital cuja produtividade édeterminada pela capacidade média social de

produtividade impulsionada, agora, pela fixaçãodos juros bancários. Ou seja, o empréstimobancário implica uma adequação da empresa auma produtividade social média e sua expansãosignifica, a contrapelo, a remuneração destecapital, mais do que o seu próprio. Sugere-se,falemos com precaução, que a “saúdefinanceira” da empresa passa a se constituircomo capacidade de pagar empréstimos a longoprazo, mas que a própria condição geral daprodutividade social exige sempre novasparticipações de capitais de terceiros, tornandoa reposição ampliada dos pressupostos docapital uma determinação do capital a juros.

Assim, observa-se, de um ponto de vistada própria composição da Renda da Terra a estecapital um aumento substancial de sua massa,nos termos da seção VI do 3o. volume de OCapital, passível de ser observada através docrescimento da captação do leite. Ou seja, em1991 a maior receptadora de leite do Estadode Minas Gerais atinge a ordem de 146,1 mi delitros de leite, passando em 2001 para 843,2milhões de litros e atingindo a casa do bilhãode litros em 2005, quando do funcionamentoda fábrica de Uberlândia, que permitiu aextensão de suas at ividades no TriânguloMineiro. O gráfico 2 contribui para analisarmosesta ascensão da captação do leite pelaCooperativa Itambé:

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Ou seja, do ponto de vista da massa decaptação de valor pode-se observar um real eimportante crescimento através do volume dematéria-prima captada, contudo, possivelmente,a taxa de remuneração deste capital atravésdeste ganho não corresponde aos níveisexigidos pela massa de investimento destinadaao aumento desta mesma captação e outransformação industrial da matéria prima. Aindaque se possa estabelecer uma extensão domontante de valor através da Renda da Terra,os preços f inais, sejam crescentes ouconstantes, não são suficientes para remuneraros níveis de investimentos necessários emforças produtivas. Assim, a produtividade docapital é proporcionalmente menor do que amassa de Renda da Terra obtida para remunerá-lo, ainda que, como observamos no gráfico sobrecaptação de leite, o seu montante sejaascendente. Ou seja, ainda que aumente a suaprodutividade, os custos para isto se realizarsão maiores do que a massa de Renda da Terradaí resultante seja capaz de remunerá-lo. O quebuscamos destacar é que, enfat izemos, aextensão da Renda da Terra como algoestruturante, isto é, necessário e nãocontingencial, à reprodução do capital urbanoindustrial, seja na forma de monopólio, seja naforma de remuneração do capital financeiro, éreveladora de uma reprodução crítica doconceito de capital, o que faz, de fato, a suaverdade conceitual. Se a Renda da Terra édeterminada como necessidade de sobrelucropor sobre o lucro, como evidência de uma crisede acumulação, pois que aqui revela-se que olucro não é mais suficiente, trata-se, neste caso,de um aprofundamento das determinaçõescríticas quando da insuficiência do sobrelucropara com essa remuneração. Em outraspalavras, a metamorfose do sobrelucro em rendafundiária, como temos insistido, não compõe areprodução dos pressupostos, tornando, talreposição, uma f icção efet ivada, enquantoficção, pelo capital a juros.

Marx, no terceiro volume d’O Capital,mostra como que a Renda da Terra, ao seconstituir como sobrelucro pode compor distintas

formas de combinação na relação entre seucusto de produção, preço de venda e o montantede sua produção que geraria, nesta relação, ataxa de sobrelucro ou taxa de Renda da Terra.Os casos analisados pelo autor são o de preçode venda decrescente ou constante. Noprimeiro, os solos menos férteis tendem a nãomais compor a possibilidade de produção, poisque, com preços decrescentes o próprio lucrofica comprometido. O que se tem, contudo, éque mesmo com investimentos duplicados decapital na produção agrícola e com um aumentoconseqüente da massa de produtos e de Rendada Terra em produtos, a Renda da Terra emdinheiro, libras esterlinas no caso analisado peloautor, implica numa redução, é o que se podeaveriguar no confronto entre as tabelas I e IVb,desta seção d’O Capital23. Ou seja, mesmo comum grande aumento do montante da renda emprodutos, o resultado disto, em termos de valor,não compõe a possibilidade de compensaçãodos investimentos realizados para estaexpansão. Uma das consequências destarealidade é, justamente, o fato de que os solosmenos férteis, solo A, passam a não mais seconstituir como solos produtivos, do ponto devista de uma produção capitalista, de modo queo solo regulador do preço passa a se constituircomo o solo B, segundo pior solo, o que implica,consequentemente, numa redução da renda,como sobrelucro, obtida a partir de um solo cujocusto de produção menor permite umacomposição menor de Renda da Terra paraoutros solos.

O que temos, no caso em análise é que,igualmente, os produtores de menor rendimentotendem a deixar o mercado dado o preço menorpago ao produtor, mantendo apenas osprodutores de maior rendimento que,igualmente na análise de Marx, já satisfazem omercado, devido a maior produtividade.Contudo, isto não se dá pelo preço de vendadecrescente, mas especialmente, pelos custosdeterminados pelo desenvolvimento das forçasprodutivas que, em termos de resultado,equivale a um preço decrescente ao consumidorfinal. Isto implica que, apesar de a massa de

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renda ser maior em termos de produto,enquanto valor monetário a mesma se reduznas mãos da empresa monopolista.

Tem-se o estabelecimento, portanto, dodesenvolvimento desigual entre capital urbanoindustrial - transformador do setor agrícola daagroindústria - e produção agrícola, que põeuma necessidade sempre crescente deaproximação dos níveis de produtividade desteúltimo para que a remuneração se o façaatravés da Renda da Terra, mas cujacapacidade produtiva do setor propriamenteindustrial sempre a põe como insuficiente parasua própria remuneração. Isto como umfenômeno próprio de um momento em que háum encurtamento do tempo de investimento nodesenvolvimento das forças produtivas, antesmesmo que a remuneração do investimentoanterior se o faça de modo completo, o quepermite a participação do capital financeirocomo determinação desta reposição fictícia. Doponto de vista do produtor, isto se revela comoseletividade e endividamento, pois tem de estarsempre inovando para remunerar um montantecada vez maior à empresa captadora, tambémendividada.

Assim, não é surpreendente que aprópria empresa utilize parte de seu capitalpara absorver sua remuneração no setorf inanceiro. São 107 milhões de reais doexercício de 200524 que constituíram sobralíquida, a buscarem aplicação no mercadofinanceiro. Ou seja, a sobra líquida correspondea 107mi por 988 bi na relação com capital totalinvestido a longo prazo, ou 107 mi por 743,4bilhões, na relação do capital investido, deempréstimo, a longo prazo. Ou seja, 107milhões de sobra remunerar-se-ão no mercadofinanceiro como uma das formas de pagar um

capital 9,2 vezes maior cuja maior parte foiobtida através de empréstimos a juros demercado. Trata-se de um capital financeiroconstituindo possibilidade de pagar um outrocapital f inanceiro, ou seja, nem todaconstituição do capital se explica pela produção,ou ainda, se se quiser aprofundar a assertiva,a própria produção perde potência dedeterminação da forma na reposição do capital.

Há ainda que se destacar que a aberturade novas áreas produtora permite compor umdiferencial de produção e de produtividade cujaresultante irá constituir um dos pilares daatividade monopolista que é a política de preços,o que terá importância fundamental para acompreensão da Renda da Terra que seincorpora à produção industrial da empresa nãosó como forma de redução de custos daprodução de matéria prima, – através daexploração da pequena propriedade - mastambém como forma de captação de valor pelodiferencial da produt ividade, o quefundamentará a própria política de preços,explicitando os aspectos cr ít icos destareprodução. Assim, não se trata apenas de umaextensão e intensividade da produção leiteira,demandada a posteriori pela capacidadeprodutiva transformadora do monopólio, masespecialmente de reduzir de modo total (isto éem todas as áreas produtoras) e de formarelativa (ou seja, apropriando-se do diferencialde produtividade como forma de incorporarmaior valor no preço final do produto) os custosdesta reprodução total do capital. A política depreços ao produtor é ind icat iva destaestratégia de acumulação que fundamenta opróprio sentido do monopólio. Observemos aevolução dos preços no Estado de MinasGerais no gráfico 3:

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Desta forma, podemos observar,segundo gráfico apresentado, dois aspectosimportantes em relação à empresa que nos éobjeto de análise. Um primeiro é que ocrescimento de seu parque industr ialcorresponde, no período de 2000 a 2007 a umadiminuição global, no Estado de Minas Gerais,do preço do leite pago ao produtor. Ou seja, nomomento de desenvolvimento das forçasprodutivas ou de reprodução ampliada docapital, o preço ao produtor diminui, seja pelaconcorrência, seja pela necessidade depressionar a diminuição dos custos da matéria-prima para aumentar a margem de ganhonecessária no âmbito do aumento doendividamento pelos motivos já expostos. Nãoobstante esta queda geral, as principais áreasde captação da Itambé , Belo Horizonte eTriângulo Mineiro, apresentam os menorespreços por litro pagos ao produtor em todo oEstado, especialmente a partir dos novosinvestimentos já citados (2004 e 2005) quandocoincide uma queda geral do preço ao produtorno Estado. Isto pode nos indicar uma reduçãode sua capacidade de pagamento - liquidezgeral - como resultante da incapacidade de aRenda da Terra cobrir os investimentos emcapital. Ou seja, embora a massa de Renda da

Terra aí seja ascendente; proporcionalmente aoinvestimento exigido para a captação etransformação dessa mesma massa, ocrescimento é negativo, isto é, pode crescer, massempre menos e cada vez menos do que aproporção exigida para a remuneração docapital. A Renda da Terra não corresponde àsexigências de remuneração do capital global daempresa, de modo que sua crescente expansãoé fundamentada numa reprodução crítica de seucapital, expresso na importância que o capitalfinanceiro adquire como componente de suaacumulação/endividamento, tornando sinônimoscategorias antepostas, de modo a expressar ossentidos de uma reprodução ampliada e críticado capital. Nos termos de Marx, não é o capitalque explica a Renda da Terra, mas a existênciada Renda da Terra que explica sua expansãono campo. Vale ainda destacar o fato de que adiferenciação de preços ao produtor, comflagrante desigualdade entre a tendência geralde queda e a ascensão na área do vale do RioDoce, pode, não o sabemos com certeza,significar um acrescentamento de Renda daTerra, na medida em que o alto preço desta áreapode nivelar-se como custo geral da produção- sem de fato o ser - repassado ao preço finaldas mercadorias. Isto feito, teríamos duas vias

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de realização da Renda da Terra como forma defomentar a precária remuneração do capital.Uma através dos preços ao produtor, outra,através dos preços ao consumidor final25.

Do ponto de vista do produtor, atendência é a de se acentuar a seletividade, ouseja, só os mais produtivos e os que produzemmaior montante de leite poderão fomentar ospróprios investimentos na ordenha,assalariamento, implementos, dentre outros.Isto é, a faixa de produtores que está entre 25e 300 l itros por dia tenderá a ter umaparticipação menor no montante de leitecaptado por essas empresas, pois os custos docapital financeiro, mediados pela ampliação docapital industrial do monopólio, acabam porrebater no produtor através da política depreços e da necessidade de aumento deprodutividade. Se a média do Estado de MinasGerais cai, em 1999, de R$ 0,62 para R$ 0,51, opreço do litro de leite pago ao produtor, em 2007,as áreas de maior receptação da Itambé, BeloHorizonte e Triângulo Mineiro, já mencionadas,têm um decréscimo médio anual no preço aoprodutor de R$ 0,57 para R$ 0,47 entre os anosde 2001 a 2006, respectivamente, estando, apartir de 2004, abaixo da média do Estado ecom um crescimento negativo contínuo dopreço26. No caso do Triângulo Mineiro a queda éde R$ 0,57 para R$ 0,50, no mesmo período,respectivamente e sob as mesmas condiçõesdescendentes. Ou seja, a parte que cabe aoprodutor no pagamento dos investimentos daampliação do monopólio tem significado ummontante maior, ainda que insuficiente, para asnecessidades de um capital que, ao que tudoindica, antes mesmo de sua remuneração temque se renovar. Neste sentido, podemos afirmarque as dimensões do capital financeiro acabampor ser os elementos mais explicativos daquiloque compõe a mobilidade deste capital emtermos de expansão areolar. Assim, como temosbuscado argumentar, a expansão da massa decapital pode coincidir com os sentidos críticosda reprodução deste mesmo capital, emboraapareça como expansão ascendente do capital.Trata-se, por assim dizer, não de uma crise de

produção do capital, isto é, de uma massa demercadorias maior do que a capacidade deconsumo, mas de uma crise de acumulação, ouseja, os níveis de investimentos exigidos nãocorrespondem à remuneração possível dessesmesmos investimentos, tornando o capitalfinanceiro o elemento determinante de suareposição. Desta maneira, cabe comentar que apolítica de preços, quando utilizada como umaforma de aumento da remuneração do capital,de modo estruturante, implica numa explicitaçãode que a própria produção do valor não é maissuficiente para se fomentar como determinanteno processo de acumulação e mesmoreprodução da sociabilidade capitalista. Daí aprópria Renda da Terra, quando participante docapital produtivo e, no caso, financeiro (atravésde empréstimos de terceiros) evidenciar, em suaincorporação, aspectos críticos da reprodução,especialmente porque ela (a Renda da Terra)se efetiva numa diferença de preços cujo tributo,como bem o sabemos, é pago por toda asociedade. Ou seja, os níveis de acumulaçãopassam a ter a participação dos preços comoelemento mais importante, talvez, para aacumulação do que a própria produção de valor,embora ambos se componham, ainda quereunindo descontinuidades.27

Marx já afirmava que, embora o preçose apresente como a régua do valor, isto é,aquilo que o expressa, ao se constituir comolinguagem da mercadoria, a relação de trocacom o dinheiro, antecipa, como preço, o valorque na forma de mercadoria pode captar,evidenciando uma medida necessária a umasociabilidade sem medida. Assim, ao serexpoente do valor e expoente de sua relaçãode troca com o dinheiro, não é correto que asua relação com o dinheiro seja,necessariamente, uma exposição de seu valor,de modo que, enquanto expressão de valorpode, contraditoriamente, realizar a posterioriuma relação de valor: Assim:

“Com a transformação da grandeza de valor empreço, essa relação necessária aparece comorelação de troca de uma mercadoria com amercadoria monetária, que existe fora dela. Mas

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nessa relação pode expressar-se tanto agrandeza de valor da mercadoria como o maisou o menos em que, sob dadas circunstâncias,ela é alienável. A possibilidade de umaincongruência quantitativa entre o preço e agrandeza de valor ou da divergência entre o preçoe a grandeza de valor é, portanto, inerente àprópria forma preço. Isso não é um defeito dessaforma, mas torna-a, ao contrário, a formaadequada a um modo de produção em que aregra somente pode impor-se como lei cega damédia à falta de qualquer regra.” (Marx, 1988,Vol. I, p. 91)

O preço, de resultado, transforma-se emcondição, em medida do valor a ser captado pelamercadoria. O ponto, contudo, é compreendero momento em que a produção de valor tomauma importância menor do que a diferenciaçãodo preço (condição da própria Renda da Terra).Assim, pode-se dizer que a Renda da Terra,ainda que se efetive, no seu sentido categorialcomo sobrelucro do capital, esta transferênciaao montante da acumulação da empresa nãocondiz, como já discutido, com as necessidadesde remuneração de um capital sempre carentede novos investimentos, dado odesenvolvimento social das forças produtivas docapital ao qual a própria agroindústria do leiteé participante.

Assim, os níveis de investimento nodesenvolvimento das forças produtivascaminham num montante absoluto eproporcional ao patrimônio total da empresa,numa curva sempre ascendente, dada a

necessidade de adequação de sua forçaprodutiva aos parâmetros gerais das forçasprodutivas da sociedade, resultante isto, comojá o expressamos mais acima, da constituiçãodo trabalho social como aprofundamento dadivisão social do trabalho, neste momentoespecíf ico de reprodução do capital ismo,enquanto uma sociabilidade específica.

Em contrapartida aos níveis deinvestimento em capital constante, tem-se adiminuição da liquidez (Gráfico 4), isto é, omontante monetário disponível no interior daempresa, de modo que a sua disponibilidadede pagamento tende a uma diminuição, o que,do ponto de vista dos preços ao produtor dolitro de leite, contribui significativamente a estatendência geral de queda, como demonstramosno gráfico sobre os preços. Se a noção depatrimônio líquido, contudo, refere-se apenasao montante de capital monetário, é certo queesta porcentagem é maior do que o própriográfico evidencia, pois não estão computadosnesses dados o patrimônio que corresponde aocapital constante propriamente dito, porém, aevolução das duas curvas são reveladoras daimportância que a necessidade deinvest imentos tem para a manutenção dareprodução do próprio capital. Se a remuneraçãodeste capital não corresponde aos níveis deinvestimentos, temos, assim, um preenchimentodesta ausência através de um capital financeiroque ficcionaliza, na expressão de Robert Kurz(2004) portanto, a própria expansão,fundamentando a aparência expansivaascendente do próprio capital.

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Ainda cabe salientar que os níveis deinvestimento sempre crescentes de capitalpróprio apresentam uma constância, senãoredução, do próprio percentual de retorno doque a economia política da empresa chama deretorno do ativo operacional médio, ou seja, trata-se de observar daquilo que foi investido (ativo),quanto retornou em termos de rendimento destecapital (cf. gráfico 5). Observa-se, assim, queeste retorno, apesar do sempre constantecrescimento dos investimentos tem oferecido umpercentual decrescente no período em análise,com variações abruptas que em texto nãocomentaremos sobre índices financeiros daempresa. Assim, para o ano de 1989, quandose tem 38% de imobilização de capital esteretorno está em 35,8%, reduzindo, a medidaem que os investimentos em desenvolvimentoprodutivo vão se ampliando. Em 2001, porexemplo, quando possivelmente começam os

investimentos para a ampliação das novasfábricas, quando se at inge 88,11% deimobilização, este retorno reduz-se a 0,44%, oque mostra uma redução sensível naremuneração dos investimentos, reduzindo adisponibilidade de capital para pagamentos,dentre outros, do próprio produtor. Se isto seconstatar como uma tendência geral do capitalagroindustrial, tem-se, então, a revelação doaprofundamento da contradição entre capital etrabalho, donde este último, como substânciado valor, é relativamente insuficiente para areprodução da sociabilidade posta, o que nosremete ao argumento das determinaçõesfinanceiras desta reprodução comentadas maisacima. Ainda que a participação da Renda daTerra seja significativa como forma deremuneração, o sentido é de insuficiência paraa reposição de seus pressupostos.

A distinção na capacidade produtiva entreagricultura e indústria, posta num mesmo ramo deatividade, refere-se, portanto, a um desenvolvimentodesigual entre os momentos componentes do setorque integra o que temos aqui chamado deagroindústria28. Como aponta Guimarães (1982) ocomplexo agroindustrial caracteriza-se não pela suaenorme capacidade produtiva, mas especialmente

porque tem, à jusante e à montante da produçãoagrícola, propriamente dita, duas indústrias quedeterminam, sob diferentes aspectos, a intensidadeda produção no campo. No primeiro caso, temos aindústria fornecedora de implementos e, nosegundo, a processadora da produção que consiste,com frequência, na produção de produtosalimentícios.

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Portanto, a novidade desta nova formade produção consiste justamente no fato de quea agricultura, ou melhor, a produção agrícolapassa a ser consumidora produtiva dos bensindustriais que aí se realizam como implementose insumos agrícolas. Nesta nova perspectiva, aRenda da Terra passa a compor a remuneraçãodesses capitais, com frequência, multinacionais.Ressalte-se o destaque de Argemiro Brum(1988) ao evidenciar que o início da expansãoagroindustrial no mundo, deu-se a partir de umgrupo econômico norte-americano (Rockfeller),a demonstrar a necessária internacionalização,através da produção agrícola, que as economiasnacionais e regionais passam a ter nestecontexto de re-produção dos capitais financeirose industriais. Note-se, ainda, a partir desteautor, a participação do Estado Nacional, nãosó no financiamento de momentos da produção,na isenção de taxas de importação e expansãodesses capitais, mas, especialmente, nainserção da ciência, através de seus maisdiversos institutos de pesquisa e tecnologiadirecionada à agricultura, como força produtiva.Esta extensão das relações de produção sob alógica e a égide do capital, ao que pesem assuas distinções nas áreas incorporadas - o quepor si só constitui a condição de objeto depesquisa - confere a realização do próprioconhecimento como força produtiva. Não setrata apenas de expressar esta realidade, masde conferir o envolvimento do trabalho socialcomo necessidade da realização ampliada desua reprodução e, por isso mesmo, crítica.

A posição da realidade agrária brasileirana realização de uma reprodução mundial docapital se torna possível justamente quando damaior intervenção do Estado no interior darealidade nacional. A própria passagem,segundo observa Aguiar (1986), doDepartamento Nacional de Pesquisa eExperiência Agropecuária, para, na década de60, sob o regime ditatorial, o do PlanoEstratégico de Desenvolvimento, é umaevidência de que a intervenção estatal naprodução nacional direcionava um novo papelda agricultura que punha, segundo nossaavaliação, novos sentidos à questão agrária

nacional, na medida em que a produção daíderivada iria compor o que o próprio autorconsidera como a internacionalização daeconomia brasileira.

Em outros termos trata-se de constituir,na forma do que o próprio autor em questãonomeia, um pacote tecnológico onde crédito,pesquisa e agricultura, irão se integrar numimportante papel, para a extensão darealização, através da produção agrícola, nareprodução internacional do capitalismo. Trata-se, enfim, da expansão da agricultura, comoconsumidora de produtos e insumos modernosdestinados à realização da agricultura paraexportação, onde a própria criação da Embrapa,em 1972, comporta um dos momentos derealização desta possível inserção do Brasil nareprodução geral da sociedade capitalista,agora, incluindo-se aí a produção agrícola etrazendo novos elementos à questão agráriabrasileira. Isto é, não se trata exclusivamentede compreender uma forma de produçãosegundo o ritmo e ou padrão produtivo daindústria no campo, mas, especialmente decompreender como que, na extensão de vastasáreas de produção monocultora, a composiçãodas dist intas rendas da terra, aqui, porenquanto, a renda diferencial, irá ser disputadapor diferentes capitais urbanos industriais, àmontante e à jusante da produção agrícola. Istoporque na extensão das áreas cultivadas háuma diferenciação dos preços de produção quepermitem a realização de fato da Renda da Terra.

Não obstante este aspecto, a formaçãodo monopólio agroindustrial compõe uma trocaentre agricultura e indústria, nos termos de umconsumo produt ivo, onde a diferença deprodutividade entre o capital urbano e industrialirá compor a renda absoluta da terra, nostermos da análise de Marx em seção d’O Capital,já indicada. Trata-se de observar como que asrelações de troca capital industrial, insumos eimplementos, irá permitir a formação de umpreço médio onde, em condições nãomonopolistas, estabelece-se acima do preço deprodução dos produtos agrícolas, produzidospara o mercado, certamente. Neste preço médio

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acima de tais custos é que se forma atransferência de riqueza socialmente produzidana forma de sobrelucro ou Renda da Terra aoprodutor capitalista agrícola. O incremento quese tem na análise que fazemos sobre omonopólio da agroindústria é justamente o fatode que, ao contrário de a renda absoluta nostermos de uma produção não monopolizada,este sobrelucro, inserido nos trâmitesmonopolistas, acaba por ser transferido para aempresa através, justamente, da política depreços estabelecida pela empresa que detém omonopólio de compra da matéria-prima láctea.Desta maneira, há uma característica quedestacamos de fundamental importância paraa identidade do monopólio: fundamentada nadistinção entre cidade e campo a agroindústriapermite a transferência da renda absoluta daterra do produtor para a empresa.

Portanto, a incorporação da Renda daTerra ao lucro do capital urbano industrial a nívelmundial - como demonstra a própria RevoluçãoVerde - é expressão de uma crise da reproduçãodeste mesmo capital, a insuficiência da Rendada Terra, contudo, como demonstra-se naempresa em que nos é objeto de análise, revelaum aprofundamento de uma crise já posta. Anecessidade, do ponto de vista do produtor, dereduzir os custos de sua produção para permitira retenção de parte desta renda terra, será umaforma possível de o mesmo se reproduzir comoprodutor, incorporando em sua prática cotidianade trabalho um redimensionamento das formasde utilização da propriedade que passa a seadequar à supressão desta renda em suaspróprias mãos. A seletividade do produtor depoucos litros, como mencionamos mais acima, éapenas uma das formas de expressão disto quetemos ressaltado. Trata-se de uma revelaçãodas formas de atuação da própria rendadiferencial, sobredeterminada pelos nexos darenda absoluta da terra, onde a satisfação domercado consumidor é já estabelecida pelosprodutores mais produtivos, de modo que ficamfora da concorrência aqueles que exigemmaiores custos e menores produções da mesmamatéria-prima láctea. Os que se adequam,

desenvolvem formas de redefinição espaço-temporais para suprirem as necessidadespostas pelos níveis de produt ividade erendimento exigidos.

A necessidade de maiores montantes deRenda da Terra, através da produtividade domomento de produção de matéria-primapropicia uma política da própria empresa embeneficiar aqueles que produzem acima de1.000 L de modo que estes obtém um preçomaior pago ao litro de leite em relação àquelesque produzem abaixo de 1000 L, incorporandoa redefinição das espacialidades comoadequação empresarial da unidade produtivaàs exigências de remuneração do capitalagroindustrial leiteiro.

Expansão da agroindústria leiteira enovas espacialidades

A extensão da atividade pecuária na áreaem estudo demonstra que uma nova forma deocupação do solo se estabelece comonecessária tanto para a sua reprodução comopara a sua expansão, nos termos quebuscaremos relacionar a partir de agora.

Fala-se, lembremo-lo, de uma realidadedeterminada pelos sentidos críticos de suareprodução, donde os mais distintos momentosde sua realização reprodutiva, seja do pontode vista do monopólio, seja do ponto de vistado produtor, demandam uma intensa eestruturante necessidade de redução doscustos para a reprodução do capital o que, doponto de vista da produção stricto sensu, implicanuma redefinição da produtividade da própriaatividade.

A extensão dos sentidos destaprodutividade pode ser observada a partir doaumento relativo da utilização de implementosagrícolas mecanizados tanto na microrregiãocomo no município de Sete Lagoas. Segundo osdados observados a part ir do censoagropecuário do IBGE, observa-se umimportante decréscimo, na região, da utilizaçãode implementos de tração por animais, sendo

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da ordem de 4.045 instrumentos, em 1975, para2.631, relativos ao ano de 1996 (último censoagropecuário realizado). Ou seja, trata-se deum decréscimo da ordem de 35% ao longo dosanos em análise, mantendo-se, contudo, estávela relação de implementos por informantes, ouseja, 1.4 para 1.3 implementos nos anosextremos do período. Em contrapartida, quantoà presença de implementos mecanizados, temosum sentido ascendente de sua utilização, istoé, se no ano de 1975 encontramos a presença,em toda a microrregião de Sete Lagoas, de 224implementos com tração mecânica, em 1996 onúmero sobe para 924, isto é, um acréscimode 408% ao longo de 20 anos. Não obstante,observe-se que em 1975 o número deimplementos agrícolas por informante está narelação de 1.6, enquanto que esta mesmarelação é de 1.39 no último ano do período,indicando os sentidos de uma possívelgeneralização de seu uso.

Este padrão de transformação, isto é, depassagem da ut il ização de implementosagrícolas de tração animal para o de traçãomecânica repete-se no município sede da região.Assim, de 155 (1975) tem-se uma redução para149 (1996), ou 4,9% a menos, com umasignificativa dispersão, contudo, que passa de1.9 implementos por informantes, para 1.1

implementos por informante. Quanto à utilizaçãode implementos mecânicos, observa-se umcrescimento mais acentuado, neste município,que é da ordem de 19 (1975) para 91, no anode 1996, ou seja, um crescimento de 478,9%,com uma evolução no índice de concentraçãode 2 por informante, em 1976, para 1.4implementos por informantes em 1996, ou seja,ainda que tenha acrescentado o número deimplementos mecânicos, a distribuição dosmesmos foi de menor concentração, ou seja,apesar do crescimento do número deimplementos e do número de informantes comimplementos, a quantidade de implemento porinformante, em média, diminui, o que implica, jána década de 90 os sentidos da difusão destesimplementos impostos pela Renda da Terra emsua relação com o processo de acumulaçãogeral, como analisamos no item anterior.Destaque-se, ainda, que a passagem da décadade 80 para a posterior é aquela quecorresponde ao momento de inversão dasformas de uti lização, ou seja, trata-se domomento em que a intensif icação do usomecânico coincide com um decréscimo do usopor tração animal. Esta dinâmica entre osdiferentes tipos de implementos agrícolas podeser observada a partir dos dois gráficos (6 e 7)que mostramos a seguir.

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Destaque-se ainda, que o maioraumento de implementos mecânicos na cidadesede (17% a mais que em toda região, ou seja408:478%) implica que a modernização maiorneste município indica os sentidos da produçãoresultantes da exigência de maior produtividadeposta por uma agricultura comercial e, nestecaso, monopolista, impressa na sociabilidadeposta.

Os implementos mostram, de modoexpressivo, as determinações que a própriaprodutividade adquire como sentido daprodução no campo, não obstante isto, revelamos sent idos próprios de uma realidadeagroindustrial, onde a Renda da Terra passa aser disputada tanto pelas empresastransformadoras da matéria-prima, como,também, por aquelas que fornecem osimplementos mecânicos necessários para oestabelecimento de uma produtividade cada vezmais exigente que traga para o produtor docampo a possibilidade crítica de o mesmo sereproduzir enquanto tal. (Cf. Fotos 2, 3 e 4)

O sentido geral da reprodução daprodução no campo se estabelece por umaincorporação do produtor ou sitiante, nostrâmites da divisão social do trabalho. Ou seja,cada vez o mesmo participa mais intensamentede uma sociabilidade da troca, onde a produçãona lavoura perde, ao menos na área em estudo,as determinações de uma produção para oconsumo. Isto implica uma produção em que amonetarização das relações sociais deprodução, ao atingirem o âmbito da reproduçãoagrária, redefinem os sentidos daquilo que semantém como consumo próprio, mesmo quandoda manutenção da produção para esta formade consumo ela adquire outros sentidos nocontexto de uma generalizada divisão social dotrabalho.

Observa-se, assim, uma fragmentaçãodas antigas propriedades por herança29, ondea manutenção do trabalho junto à produçãoagrícola se estabelece em unidades menores,caso o trabalho de toda a família contemple asnecessidades da reprodução propriamente dita.Disto deriva-se que, a redução geral das

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dimensões da propriedade imprimem umareadequação da produção que começa aatender os nexos da produtividade, trata-se,enfim, de estabelecer a incorporação monetáriadesta produção de modo que o trabalho nocampo passa a participar dos níveis médiossociais de produção e produtividade. O âmbitoda troca estabelecida entre campo e cidaderepõe o trabalho no campo, segundo asexigências de uma produção média social egeral. O que não se contempla aqui, nestetrabalho, são as causas destas transformações,que se dão por elementos externos àpropriedade e dizem respeito a conjunturas quenão nos é objeto de análise, embora não sejammenos importantes para a questão.

No caso da microrregião de Sete Lagoas,as áreas destinadas a algum tipo de cultivoagrícola, incluindo pastagens e f lorestas,implicam em 612.076 ha para um conjunto de4.915 informantes, ou seja, 124.5 ha porinformantes em média, mantendo-se, nos anosde 1980 e 1985 a área total em torno de 61.000ha e reduzindo-se, em 1996 para 548.317 ha,mas com uma redução contínua de 124,5 ha porinformantes para 98,4 ha por informante,obtendo-se um aumento no número deinformantes (indicando uma possívelfragmentação da propriedade) com umaredução na área plantada por informante e emtermos absolutos.

Pode-se observar os mesmos dadospara o município sede da microrregião, isto é,Sete Lagoas, onde se tem uma área em 1980de 39.670 ha destinados às plantações (queinclui pastagens) reduzida, em 1996, para35.077, sendo que o número de hectaresplantados por informantes cai, em média, de 91.8para 75,9%, entre os anos de 1980 e 1996, o

que indica uma sensível redução do número dehectares por informantes, destacando-se, umavez mais os padrões de fragmentação dapropriedade.

Isto remete ao problema de que aspropriedades que buscam se reproduzir a partirde uma produção agrícola, propriamente dita30,passam a inserir esta produção nas relaçõesde troca com o capital urbano industrial efinanceiro, como forma possível de manutençãodas novas necessidades impostas pela divisãosocial do trabalho, onde o dinheiro, seja comocapital, seja como meio circulante, do ponto devista do produtor, coloca-se como mediação paraa reprodução.

Se a incorporação deste trabalho se deuespecialmente pela produção de leite,determinada pela participação das empresasmonopolistas, como o caso da Itambé, emestudo, trata-se, como contrapartida doprodutor, pequeno sitiante, em sua maioria, deadequar o seu sítio às necessidades destaprodução tornando-a, muito mais, uma unidadeprodutiva.

É o que se pode observar quando daafirmação de seu José Feliciano de Figueredo,quando comenta que no tempo de seu pai ogado comia pastagens naturais, mas que hojeesses pastos, além de não mais existirem, nãoseriam suficientes para alimentar o rebanho.Informando que as novas pastagens, hoje, sãotodas plantadas com capim específico, para queo gado possa fornecer leite suficiente,especialmente a braquiara. Comenta , ainda,que era costume o uso de queimada para queo gado pudesse comer a brota do capim, formaflagrantemente diferente do uso de pastagensplantadas, atualmente.

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Segundo nos informa, a própria maneirade se realizar a venda do leite era, até 1960,com a confecção de creme e leite desnatado, oque ampliava a durabilidade do mesmo, paraque se chegasse até a sede do município, sendoque, quando da incorporação dessa produçãopela própria Itambé, até 1995 mais ou menos,tinha-se o uso de pontos de leite, com latõesna beira da estrada para captação pela própriaempresa.31 Contudo, com a necessidade deintensificação da produtividade, mesmo essespontos, a part ir dos anos 1990, foramsubstituídos por implementos como ordenhamecânica, resfriadores (granelizador) no interiorda unidade produtiva como forma de melhoriana qualidade da matéria–prima (melhorhigienização), assim como redução nos custosde transporte da empresa, que passa a coletarmaiores quantidades em dias intercalados, poiso resfriador garante o leite em boas condiçõesde uso ficando até 3 dias guardado em talimplemento32. Ou seja, dado o desenvolvimentoda capacidade transformadora da empresa aunidade produtiva de matéria-prima passa aincorporar, na forma de crédito, as inovaçõesnecessárias às novas formas de produção.

A presença de produção para o consumopróprio, neste contexto produtivo, adquire osentido não de uma subsistência, exatamente,mas o de uma economia que faça valer aremuneração obtida pela atividade comercial,ainda que o sent ido desta não seja,necessariamente, o da acumulação. Trata-se,ainda assim, de uma lógica produtiva de custoe benefício que envolve a produção daquilo quese faz para o consumo, esta entra no cálculo daprodução com o sentido da e para amonetarização que, do ponto de vista daempresa, contribui na possibilidade de reduçãodo preço do leite pago ao produtor.

O aumento das pastagens plantadas, demodo considerável, concomitante à diminuiçãodas pastagens naturais, revela a adequaçãoespacial destas unidades às determinaçõespara uma produção mercantil. Assim, observa-se, por exemplo, na microrregião de SeteLagoas que há um aumento de pastagensplantadas de 28.377 ha, em 1975, para182.966ha, no ano de 1996, ou seja, umaumento de 644,7%, sendo que as pastagensnaturais decrescem de 427.208 ha, para 169.362ha, ou seja, 60,4%, no mesmo período, comose observa do gráfico 8, abaixo.

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O mesmo movimento pode-se observarpara o município sede, onde, no ano de 1975tem-se 1.136 ha de pastagens plantadas para11.982 ha no ano de 1996, isto é, um cresci-mento da área em 1054%. Enquanto que as

pastagens naturais têm uma redução de 29.075ha para 12.289 ha, ou seja, uma redução de58%, segundo dados do censo agropecuário doIBGE.

Não só o avanço das pastagensplantadas e selecionadas passam a compora unidade produtiva segundo os cálculos decus to e bene f íc io mone tár i o, mesmonaquelas em que o trabalho dos membrosda família é integrante na produção, como aprópria utilização de milho e sorgo passama compor as novas formas de plantaçõestemporárias, como redução dos custos dealimentação do gado. Assim, o aluguel detratores (Cf. foto 5 e 6) e a formação de silospara a silagem de capins e milho, compõemum aumento da pr odut iv idade cuja

determinação é, com ou sem o sentido daacumulação capitalista, a monetarização dasre l ações a l i pos tas. Trat a-se de umaincorporação, inclusive, da Renda da Terraa compor o pagamento de implementos comoo trator, obtido por um proprietário produtor,por exemplo, mas que incorpora, no preçoda hora de trabalho do trator, o pagamentodo mesmo implemento33. Trata-se, enfim, deum cálculo cap i ta l i s ta, a inda que aacumulação capitalista nem sempre estejapresente como objetivo desta produção.

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Dentro deste contexto, observa-se quea própria Renda da Terra ao participar comoelemento da reprodução crítica dos capitaismonopolistas adquire uma transformação dossentidos gerais da produção na unidadeagrícola, cujos custos, ao serem assumidos pelaunidade propriamente, ainda assim, não sãosuficientes para estabelecer os sentidos dareprodução produtiva da empresa monopolista,como observamos no item referente à análiseda Itambé. Os níveis de incorporação da Rendada Terra, ao atingirem a necessidade de umapolít ica de preços, portanto, acabam porimpossibil itar a generalização posta destaatividade nas pequenas e médias produções, oque redefine, em alguns sitiantes, as atividadesem relação ao leite, que passam, por exemplo,a produzir queijos artesanais para seremvendidos no comércio municipal, ao invés decontinuarem no fornecimento do leite à Itambé34

(Cf. Fotos 7 e 8).

Há também o caso daqueles que aindafornecem leite à empresa monopolista, porémo endividamento junto à mesma evidencia aimpossibilidade de se continuar produzindo nosmesmos termos. Trata-se de produtor de 300litros de leite por dia, cuja dívida junto àempresa chega a R$1.000,00. Isto devido àutilização de ração e insumos, como vacinas,dentre outros que o próprio leite não comportao pagamento. Isto nos contribui para observarque a transferência de renda se dá por umacapacidade produtiva distinta entre a própriaempresa e o produtor onde, no fornecimentode implementos e insumos para que o mesmopossa produzir nos níveis de exigência dacapacidade produtiva da empresa, o mesmoacaba por transferir mais do que produz. Ouseja, a adequação produtiva como desinfecçãodo úbere, teste da mamite, uso do resfriador(R$ 7.000,00, a prestação), uso de raçãoespecífica para a lactação35, além de umaseleção na qualidade do gado, implicam numabusca de adequação à desigualdade entrecampo e cidade (Itambé e produção do leite)que acabam por fomentar as mais diferentesformas de transferência de riqueza, através da

Renda da Terra, que são tanto mais extorsivasquanto mais profunda a crise de reprodução daempresa propriamente dita. Do ponto de vistada seletividade de um gado mais produtivo emais resistente, observa-se a presença deinseminação artificial, com banco de sêmen, aproduzir o girolandês36, onde 99% das novascrias são fêmeas (sexada de fêmea), forma,inclusive, de diminuir os custos que os bezerrosrepresentam ao produtor, de modo que naprópria busca de aproximação dodesenvolvimento produtivo da unidade agrária(produtora de leite) o capital urbano industrialfirma aí a possibilidade de sua reproduçãoatravés dos custos que isto significa aoempreendimento sitiante.

Não obstante isto, a empresa paga,segundo nos informa seu Mozart, já citado, com15 dias após a entrega do leite, sendo quequalquer dívida junto ao armazém da empresaleva juros de 5% ao mês. O que imprime umanecessidade de a própria unidade agrícolaestabelecer uma variada forma de atividadepara compor os rendimentos da mesma. Assim,há 5 alqueires de plantação de cana, para ogado, criação de búfalos para o abate que sãomenos custosos na criação, 20 hectares de milhopara silagem, produção de carvão vegetal, comtrês grandes fornos, para a indústriasiderúrgica, dentre outras atividades a comporo rendimento monetário da unidade, sendo que,diante disso, segundo nos informa, ainda possui,junto à Itambé, uma dívida de R$ 1.500,00, oque nos permite a compreensão da insuficiênciada Renda da Terra a essa acumulação que, doponto de vista do produtor, efetiva-se como umaredução de seus custos, incorporando, tanto naempresa monopolista quanto ao produtor,propriamente, níveis de capital financeiro cadavez mais necessários que, do ponto de vista doprodutor, em análise agora, implica umaseletividade cada vez mais acentuada.

Considere-se, por fim, as propriedadesque, fragmentadas por herança, acabam setornando incapazes de uma produção, sejacomercial, seja para o próprio consumo (dada aausência de pessoas disponíveis para o

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trabalho) o que implica a uti lização destamicropropriedade apenas como local de moradia,sendo todas as relações estabelecidas emtermos de reprodução da família, vinculadas aoconsumo urbano. Este é o caso de uma sériede micropropriedades no distrito de Estiva,município de Sete Lagoas, onde a presença deaposentadorias, o trabalho das gerações mais

novas no comércio da sede municipal, sãoos pr inc ipa is r esponsáve is por e stareprodução. Trata-se de uma selet ividadeque atingiu a impossibi lidade de qualquerforma produt iva de modo a inser i r ta ismoradores no âmbito da reprodução maispelo consumo do que pela produção.

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Considerações Finais

O problema relativo às dimensões damodernização no seu aspecto agrário revelauma necessidade teórica e prática relativa àsformas de incorporação de elementos distintosà reprodução da sociabilidade efetivada pelaforma valor. Isto implica dizer que, de fato, nãose trata de desconsiderar os termos de umadiferenciação entre o campo e a cidade, masde, especialmente, compreender a importânciadesta diferença no que diz respeito ànecessidade da própria reprodução. Assim, aprópria incorporação da realidade produtiva nae pela agricultura, nos seus diferentes aspectos,sugere uma interpretação a contrapelo do quese tem delimitado em relação à própria Rendada Terra. Ou seja, o tornar uma necessidade deincorporação produtiva industrial, no caso queanalisamos, o campo em relação à reproduçãodo mundo da mercadoria, implica já, numacompreensão da insuficiência desta mesmareprodução nos termos de uma realidadeurbano-industrial que, então, demonstra umacontradição que se busca superar na extensãodesta realidade como produção agrícola. Emoutros termos, a própria extensão docapitalismo ou se se preferir, do capital, comoprodução agrícola, nos termos de umaagroindústria, implica, como necessidade, numainsuficiência das formas anteriores de suareprodução, de modo que tal extensão ouincorporação vela a necessidade de revelar umacrise da reposição dos pressupostos do conceitode capital.

A própria Renda da Terra, incorporadaaos desígnios desta acumulação, reflete, demodo importante, uma dinâmica crítica destarealidade. Talvez não por acaso, a elaboraçãorelativa a esta questão em O Capital - aindaque a edição do terceiro volume o tenha sidofeita por Engels - seja objeto de explanação emseu terceiro volume. Não só porque se trata deuma exposição que vai das determinaçõesabstratas do mundo da mercadoria à concretude(a forma da troca a seus elementos, dentre elesas formas de propriedade, da qual apropriedade da terra, que implicam em relações

de produção), mas também, de modoimportante, destaca-se o fato de que a análisemarxiana relativa à Renda da Terra incorpora-se no volume último de suas reflexões sobre oconceito de capital, onde a concreticidadeanalítica do capital coincide com uma realizaçãoconceitual que é, ao mesmo tempo, sinônimode crise da reprodução, o que nos sugerecompreender a própria análise relativa à seçãoVI do terceiro volume como elementoincorporado à exposição da crise da reproduçãosocial capitalista, ao contrário de ser umelemento integrado à sua reproduçãoascendente, isto é, como formação de capital,necessariamente. Incorpore-se aí, o problemarelativo à proximidade analítica entre Renda daTerra e a própria externalização do capitalenquanto capital financeiro ou, melhor, fictício.Não estaria aí, uma aproximação intencional entreintegração da Renda da Terra, que traz em si mesmoelementos de crise de acumulação, e a extensão daprópria ficcionalização (KURZ, 2004) da reproduçãosocial capitalista? Em resumo, a importância tomadada Renda da Terra na reprodução social não seriareveladora de uma crise conceitual, prática, do capitalenquanto reposição de sua própria identidade? Ouentão, a análise da Renda da Terra não comporiaum capítulo da crise da reprodução além da formaçãode capital?

Destaque-se, mesmo, que a análisemarxiana sobre o problema passa da rendadiferencial a renda absoluta, como sendo esta a qualincorpora a diferença de desigualdade dedesenvolvimento entre o campo e a cidade, ou entreagricultura e indústria, como forma de incorporaçãodo sobrelucro ao capital agrícola, contudo, segundouma análise de que esta é a forma pela qual o própriocapital se estende às relações de produção nocampo. Não obstante este aspecto, considere-seainda que a própria incorporação da renda diferencialII, ou seja, aquela referente a sucessivosinvestimentos no mesmo tipo de solo, constitui umainvolução da própria taxa de Renda da Terra, demodo que, em suas diferentes formas, a reproduçãodo capital se faz pelas suas determinações críticase a Renda da Terra se constitui como uma de suasexpressões.

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As diversificações na forma de produzire de adequar a produção segundo asnecessidades datadas de acumulação do capitalrefletem as implicações da Renda Capitalista daTerra - a que nos refer imos em todos osmomentos de nosso trabalho - na redefiniçãodas formas de sociabilidade. Implica dizer que,sob as mais distintas formas a mesma seestabelece como mediação da incorporação dadivisão social do trabalho como generalizaçãopossível - ao menos enquanto sentido, porquenão estamos desconsiderando aqui a produçãode relações não-capitalistas de produção - dasrelações de produção no campo, introjetadas,sob a moldura da agroindústria, comonecessidade do capital urbano-industrial.

Em assim sendo, cabe-nos refletir sobreo fato de que, no âmbito de cada produção emparticular, isto é, nas unidades de propriedadesprodutoras, ainda que o objetivo deste e nestemomento da produção geral que o pequenoprodutor constitui não seja, necessariamente,mas nem sempre, uma acumulação capitalistade riqueza, há aí um importante elemento a sepensar. Embora o resultado do trabalho nointerior da pequena propriedade não seja umaacumulação capitalista, trata-se, sob muitosaspectos, da incorporação do cálculo custobenefício como forma de redefinição espaço-temporal da propriedade enquanto

sociabilidade. Assim, os elementos queconstituem-se como exclusivamente própriospara o consumo são reinterpretados comoredução de custos que fomentam apossibilidade de maior presença monetária apartir da atividade de fornecimento do leite. Aprópria condição de campesinato, portanto, nãose estabelece, necessariamente, no casoanalisado, a partir de uma integração moral,mas sim como uma forma de participação naconstituição do valor sem que se estabeleçamrelações de trabalho assalariado. Trata-se deformas de incorporação de desigualdades àracionalidade capitalista, ainda que sob relaçõesde produção distintas, como salientamos.

Não se trata aqui, como mencionamos,de conclusões, mas de considerações finais, apartir do que se estabelecem elementospolêmicos através dos quais a reflexão pode tercontinuidade. A própria análise da Renda daTerra e a conformação de um capitalismorentista, visto sob o pólo invertido do movimentode formação do capital, não deixa de seconst ituir como uma possibi lidade decompreensão dos sentidos que a Renda da Terradá a esta formação, contudo, de modo polêmico.Desta maneira, espera-se ter trazido aqui umacontribuição à reflexão sobre os sentidos damodernização na passagem deste século.

Notas

1 Agradecimentos aos alunos de Geografia Agrária(2006) IG-UFMG. Agradeço, especialmente, àGeógrafa Ana Cristina Mota Silva pela leituracrítica e acompanhamento em pesquisas decampo que contribuíram para a elaboração daversão final deste texto.

2 Em análise sobre a circulação simples demercadorias, Ruy Fausto apresenta o primeiroperíodo de O Capital para explicitar que o capitalaparece como uma imensa produção demercadorias, distinguindo-se de seu ser - comoacumulação de riqueza abstrata - de modo quena aparência está também a contradição entre

presença e ausência, sendo ambas formas deregência do próprio ser do capital. Nesta suaanálise, portanto, se o pressuposto do universodas mercadorias é a produção capitalista, nacirculação simples há uma aparência de ausência,mas que, contraditoriamente, enquantopressuposto está posto. (Cf. FAUSTO, 1997)

3 Trata-se aqui da inversão da forma pela qual oConceito em Marx é pensado em relação aoConceito hegeliano. Para este, o Conceito realiza-se como síntese superada das contradiçõespostas, enquanto para Marx, a efetivação doCapital enquanto um conceito crítico, isto é, em

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crise, o põe como ilusoriamente realizado noprincípio, coagindo a sociedade a realizar a suaverdade. Essa inversão foi pertinentementedestacada por José Arthur Giannotti, Certaherança marxista: São Paulo, Companhia dasLetras, 2000.

4 Para Marx, a temporalidade do capital pode sercompreendida como uma autotransformação definidapelo superar de suas barreiras - que se expressamcomo elementos históricos a serem ultrapassados -,postas a partir de seus próprios limites, isto é,contradições a serem superadas oriundas de sualógica intrínseca. Deste ponto de vista, pode-se derivardaí o fato de que os limites (lógicos) num dadomomento constituem-se como história, isto é, efetivamtransformações sócio-espaciais a serem superadaspara a sua re-produção. Trata-se da transmutaçãoda lógica contradita em história. (Cf. Karl Marx, 1997,Vol. 2).

5 Rosa Luxemburgo, La acumulacion del Capital, BuenosAires, Editorial,1968, p. 296.

6 A explanação teórica no que tange à reprodução docapitalismo no caso brasileiro, do ponto de vista dareprodução das relações não capitalistas de produçãodeve ser vista em José de Souza Martins, O cativeiroda Terra: São Paulo, Hucitec, 1990.

7 Sobre a relação entre meios de vida e modo de vida,numa relação intrínseca e pertinente à modernizaçãoé de fundamental importância consultar Odette Seabra,Territórios do Uso, In: Cidades, Presidente Prudente,2004.

8 A noção de simultaneidade é retomada de HenriLefebvre, onde se pode observar uma restrição, naformação social capitalista, do tempo como sucessão.Isto porque, para Henri Lefebvre, em suas diferentesreflexões, o mundo moderno, põe, de modo objetivo,a redução do sequencial através das abstrações,portanto, redução do próprio tempo. Desta maneira,a necessidade de se realizar, cada vez mais, dada ahistoricidade crítica da forma valor enquanto um modode vida, a redução do tempo a esta simultaneidade,onde o original e o terminal perdem as suas distinçõesna simultaneidade, refere-se à exacerbação do espaçocomo elemento determinante desta re-produçãocrítica do mundo moderno. Daí, a referência às

temporalidades, neste projeto, ser, simultaneamente,uma forma de abordagem espacial, especialmente,por se tratar da lógica do moderno e do capital. Sobrea simultaneidade em Henri Lefebvre destacamos:Henri Lefebvre, La production de l´espac, Paris,Anthropos, 2000; Henri Lefebvre, De l etat. Le modede production étatique, Union General de Edition, 1977.Dentre outros que serão aqui abordados.

9 Uma importante apreciação sobre a forma crítica docapital pode ser observada em Robert Kurz, OColapso da modernização. Da derrocada dosocialismo de caserna à crise da economia mundial:Petrópolis, Paz e Terra, 1993.

10 Sobre a importância que a produção do espaçometropolitano adquire na reposição dos sentidos deum capital financeiro deve-se confrontar: Ana FaniAlessandri Carlos, São Paulo: Do Capital Industrialao Capital Financeiro, In: Carlos, Ana Fani Alessandri& Oliveira, Ariovaldo Umbelino de (org.), Geografiasde São Paulo. A Metrópole do Século XXI, Vol. 2,Contexto, 2004, pp. 51-84.

11 Cf. José de Souza Martins, Expropriação e violência. Aquestão política no campo: São Paulo, Hucitec,1991.

12 Sobre essa discussão cabe citar Novais, Fernando,Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial(1777-1808): São Paulo, Hucitec, 2000; Marx, Karl,O Capital. Crítica da economia política. O processode produção do capital: São Paulo, Vol. II, Tomo 2,Livro primeiro, Trad. Regis Barbosa e Flávio R. Kothe,Nova Cultural, 1988, (cap. 25).

13 Destaque-se aqui Roberto Schwarz, Um mestre naperiferia do capitalismo. Machado de Assis: SP, Editora34 e Livraria Duas cidades, 2000. Robert Kurz, OColapso da Modernização. Da derrocada doSocialismo de Caserna à crise da economia mundial:RJ, Paz e Terra, 1993.

14 Cf. José de Souza Martins, A militarização da QuestãoAgrária no Brasil (Terra e Poder: o problema da terrana crise política), Petrópolis ,Vozes, 1985. Idem, Opoder do atraso. Ensaio de Sociologia de História Lenta:SP, Hucitec, 1996.

15 A notificação desta inserção foi possível a partir deGOMES, Sebastião Teixeira, Efeitos da Globalizaçãona Produção do Leite do Brasil, In: InformeAgropecuário, Belo Horizonte, v. 20, n. 199, p. 93-102, jul./ago. 1999.

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16 Não se trata aqui de uma definição categorial do quepossa ser o pequeno e o médio produtor de leite,mas apenas uma expressão de que este consumoprodutivo passa a ser um custo de reprodução docapital monopolista do leite tanto para aqueles queproduzem maiores, como para os que produzemmenores quantidades de leite.

17 Relatório Anual da Itambé, apud, GOMES, op. cit., p.96.

18 No município de Sete Lagoas (MG) o proprietário, Sr.José Geraldo Lara, nos informa sobre a incorporaçãode vários insumos para a adequação da qualidade equantidade de leite às exigências da produtividadeda Itambé. Dentre vacinas, desinfetantes, melhoracondicionamento do local de ordenha (mangueira),ordenha mecânica (não foi nos informado o preço),granelizador (R$12.000,00), brete (R$8.000,00) e todauma aquisição de tratores para promover a produçãodo alimento do gado produtor, em torno de 30 cabeças,ainda assim, seus 226 litros diários de leite (últimacaptação em julho de 2006), segundo cupom impressopela própria Itambé, não foi possível manter aprodução do leite devido aos baixos preços aoprodutor. Trabalho de campo realizado em 03 demarço de 2007, no Distrito de Silva Xavier, FazendaGameleira.

19 Anuário Estatístico do IBGE, apud GOMES, SebastiãoTeixeira, op. cit.

20 Fonte a partir dos relatórios anuais Itambé (1989-2005).No que tange aos dados oferecidos deve-se observarque todos estão em Reais, embora a correção peloÍndice geral de Preço (IGP-DI) não esteja feita demodo padronizado ao longo do período, mas sim emperíodos agrupados de 5 anos. Contudo, acreditamosque se a mesma fosse realizada não redefiniria osentido de nossos argumentos, embora aaproximação numérica fosse mais precisa. Destaque-se, ainda, que o ajuste pelo índice referido não mudariaem nada o percentual apresentado no gráficosubsequente, o que nos permite maior segurança naapresentação dos mesmos argumentos.

21 Cf. Relatório Anual Itambé, 2005, p. 20.

22 Assim como qualquer categoria do capital, a próprianoção de crédito não detém as mesmasdeterminações ao longo da formação capitalista.Observa-se que, na formação de uma lógicaindustrial, ele tem a capacidade de impedir a

necessidade de acumulações primitivas para aextensão da indústria, em outras, a própriaconstituição do crédito substitui a ausência depeças monetárias como forma de constituir apossibilidade desta monetarização posta comosociabilidade, mas apenas pressupostas em suamaterialidade monetária. No caso brasileiro, aprópria produção do espaço urbano no séculoXIX foi pressuposto para a monetarização efetivade uma sociabilidade sem dinheiro, masmonetarizada, enquanto sentido e relações reaisde produção. Isto pode ser observado em AnaCristina Mota Silva, Do “Entesouramento” àAcumulação Urbana. A Produção do EspaçoUrbano de Fortaleza no Século XIX (Doutorado)Geografia, FFLCH-USP, 2005. Em nosso caso,portanto, a expansão do crédito expressa limitesdaquilo que então se formava, ou seja, acategoria de trabalho, a revelar os diferentessentidos que uma dada categoria adquire naformação do Conceito de Capital.

23 Cf: Karl Marx, O Capital. Crítica da EconomiaPolít ica. O Processo Global de ProduçãoCapitalista, Volume V, Livro Terceiro, Tomo 2(parte segunda), Trad. Flávio Kothe e RegisBarbosa, São Paulo, Nova Cultural, 1988, pp. 160e 169, respectivamente. A seção VI é relativa àRenda da Terra, deste mesmo volume, entre aspáginas 111 a 262.

24 Cf. Itambé: Boletim Informativo, 2005, p. 14.

25 Com relação à Renda da Terra pelo preço aoconsumidor final, só se é possível observar a suaefetividade caso o Vale do Rio Doce seja área decaptação de leite e se os custos à Itambé maisaltos dessa região forem repassados como sefossem custos gerais, embora não o sejam, comodissemos. Contudo, isto não foi possível de serverificado. Deste modo, a reflexão fica como umexercício para se pensar a categorização deRenda Capitalista da Terra.

26 Embora as variações do preço mensal do litro deleite ao produtor sejam importantes para adiscussão, observamos que a utilização da médiaanual não compromete a análise na medida emque se preservou áreas produtoras distintas quecorrespondem à diferença de preços. Nestesentido, esta média é distinta da média estadual,representada por linha em separado, e permite

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a comparação menos generalizada do que sefosse uma única média, o que contribui, nestasdistintas faixas de preço ao produtor, na análiseda Renda da Terra.

27 Giannotti (2000) destaca como , na intensificaçãoda contradição capital trabalho, a própriacontradição não se rompe, mas “fibr ila”,justamente porque a sociabilidade fundamentadano valor pode se reproduzir na e pela categoriade preço, sua expressão externa e, agora,autônoma; extensão de uma sociabilidade cujareprodução tem como determinação a sua própriacrise.

28 Sobre a importância e a caracterização do quedenomina de agroindústria pode-se consultar,dentre outros: BRUM (1988), GUIMARÃES (1982),WILKSON (1986), AGUIAR (1986), MÜLLER,(1989).

29 Isto foi possível observar em pesquisa de campojunto aos moradores da “comunidade” de Estiva,em Sete Lagoas, maio de 2006, e junto àentrevista com seu José Feliciano de Figueiredo,no município de Paraopeba, em março de 2007.

30 Isto porque não estabelecemos aqui a análise dasunidades de moradores em áreas rurais que sereproduzem com o custeio de rendas nãoagrícolas, como é o caso das aposentadorias ebolsas oferecidas pelo governo federal, que têmum peso significativo na reprodução da unidadeagrícola e na inserção destas nos trâmites de umasociedade de trocas. O caminho aqui trilhado é ode compreender como, em se mantendo aprodução agrícola, esta teve, cada vez mais,corresponder às exigências da reprodução de um

capital monopolista, como um dos elementosconstituintes da produção agrária em estudo,embora não o único. Afinal, o eixo de nossadiscussão é observar como a Renda da Terracontribui, ao mesmo tempo, para revelar formasde acumulação de capitais urbano industriais euma reprodução crítica destes mesmos capitaisque tornam a Renda da Terra uma necessidadesua.

31 Segundo pesquisa de campo na FazendaCanabrava, no município de Paraopeba, MG,março de 2007.

32 Segundo pesquisa de campo na Fazenda de seuMozart Francisco Silveira, Paraopeba, MG, marçode 2007.

33 Segundo o proprietário Márcio Franco da Silveira,produtor de leite em Paraopeba (MG), a hora dotrator está em R$ 50,00, custo que o mesmo nãopode pagar porque o preço do leite não compensa,para uma produção de 300 litros por dia, aindaque usando, por exemplo, o resfriador de seuirmão. Trabalho de Campo, março de 2007.

34 Segundo trabalho de campo em Paraopeba (MG),março de 2007.

35 Na Fazenda Manga Grande, em Paraopeba, porexemplo, adquiriu-se um depósito de ração comcapacidade de 10.000 Kg para tratamento dogado, ração essa adquirida da Itambé,descontada da produção do leite mesmo, o quecaracteriza, sobremaneira, a formação de umaagroindústria.

36 Mistura do Gir com o Holandês, que busca aprodutividade do Holandês com a resistência doGir.

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Trabalho enviado em agosto de 2008

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