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181 181 181 181 181 Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras, Ministério da Saúde e Universidade Gama Filho Correspondência: José Barbosa Filho – Rua Sousa Lima, 324/201 – 22081-010 – Rio de Janeiro, RJ – E-mail: [email protected] Recebido para publicação em 25/10/00 Aceito em 14/3/01 Objetivo - Analisar a variabilidade da freqüência cardíaca (V-RR) em pacientes com hipertensão arterial sistêmica (HAS) leve e moderada. Métodos - Foram estudados 32 indivíduos normais (grupo I) e 70 com HAS (grupo II), divididos de acordo com idade (40-59 e 60-80 anos), com mesma distribuição de sexo. Trinta e um apresentavam hipertrofia ventricular esquerda (HVE), 22 sobrepeso (SP) e 16 diabete melito tipo 2 (DM2). A V-RR foi analisada no domínio do tempo (DT) utili- zando o desvio-padrão dos intervalos RR normais (DPN N) e a diferença entre a bradi- e a taquicardia máxima (D- BT máx ) durante inspiração sustentada. No domínio da fre- qüência (DF), analisou-se a banda de freqüência do es- pectro de potência entre 0,05 - 0,40 Hz, em repouso e du- rante respiração controlada. Resultados - Tanto no DT quanto no DF, as variáveis estudadas foram mais baixas no grupo II do que no grupo I. Os valores analisados só foram diferentes para os indiví- duos na faixa etária de 40 a 59 anos. A presença de HVE, SP ou DM2 não influenciaram significativamente a V-RR. Conclusão - A V-RR mostrou-se valiosa para detectar a perda da capacidade moduladora do SNA sobre o cora- ção na HAS, a qual foi mais evidente nos indivíduos entre os 40 e 59 anos. Palavras-chave: modulação autonômica cardíaca, hiper- tensão arterial sistêmica, variabilidade da freqüência cardíaca Arq Bras Cardiol, volume 78 (nº 2), 181-8, 2002 José Barbosa Filho, Paulo Roberto B. Barbosa, Ivan Cordovil Rio de Janeiro, RJ Modulação Autonômica do Coração na Hipertensão Arterial Sistêmica Artigo Original Estudos clínicos e experimentais têm demostrado que a capacidade de modulação autonômica do aparelho car- diovascular está alterada em várias doenças que acometem, direta ou indiretamente, o coração 1-9 . Essa alteração funcio- nal contribui, de forma significativa, para o desenvolvimen- to de arritmias potencialmente fatais, exercendo importante influência na morbi-mortalidade das doenças que se fazem acompanhar de alterações do sistema simpático-vagal 10-18 . O interesse em avaliar a modulação autonômica do co- ração, através da análise da variabilidade da freqüência car- díaca de batimento-a-batimento, na hipertensão arterial sis- têmica tem sido demonstrado por diversos autores. Esses pesquisadores provaram, através da variabilidade da fre- qüência cardíaca, que é possível identificar alterações dos mecanismos de controle autonômico cardíaco na hiperten- são arterial sistêmica e avaliar a ação de medicamentos que interferem na regulação do aparelho cardiovascular 9,19-27 . O presente trabalho tem por objetivo estudar o com- portamento da modulação autonômica do coração, através da análise da variabilidade da freqüência cardíaca de bati- mentos normais, tanto no domínio do tempo quanto no da freqüência, em grupos selecionados de indivíduos normais e com hipertensão arterial sistêmica primária. Métodos O protocolo do estudo foi realizado de acordo com os princípios da Declaração de Helsinque e da legislação brasi- leira e submetido à Comissão de Ética Médica do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras (INCL), tendo sido obtido autorização para sua realização. Estudo transversal, com a inclusão de 102 indivíduos, atendidos em primeira consulta no ambulatório da Divisão de Hipertensão Arterial do Instituto Nacional de Cardiolo- gia Laranjeiras para avaliação, no período de janeiro/98 a ju- lho/00. A idade variou entre 40 e 80 anos e foram divididos em dois grupos, emparelhados quanto à distribuição de ida- de e sexo, sendo 32 comprovadamente normais (grupo I) e 70 com hipertensão arterial sistêmica leve e moderada, de- finida como pressão artéria sistólica 140mmHg e 180mm

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Barbosa F° e colsModulação autonômica do coração na hipertensão

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Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras, Ministério da Saúde e UniversidadeGama FilhoCorrespondência: José Barbosa Filho – Rua Sousa Lima, 324/201 – 22081-010 –Rio de Janeiro, RJ – E-mail: [email protected] para publicação em 25/10/00Aceito em 14/3/01

Objetivo - Analisar a variabilidade da freqüênciacardíaca (V-RR) em pacientes com hipertensão arterialsistêmica (HAS) leve e moderada.

Métodos - Foram estudados 32 indivíduos normais(grupo I) e 70 com HAS (grupo II), divididos de acordocom idade (40-59 e 60-80 anos), com mesma distribuiçãode sexo. Trinta e um apresentavam hipertrofia ventricularesquerda (HVE), 22 sobrepeso (SP) e 16 diabete melitotipo 2 (DM2).

A V-RR foi analisada no domínio do tempo (DT) utili-zando o desvio-padrão dos intervalos RR normais (DPN N)e a diferença entre a bradi- e a taquicardia máxima (D-BTmáx ) durante inspiração sustentada. No domínio da fre-qüência (DF), analisou-se a banda de freqüência do es-pectro de potência entre 0,05 - 0,40 Hz, em repouso e du-rante respiração controlada.

Resultados - Tanto no DT quanto no DF, as variáveisestudadas foram mais baixas no grupo II do que no grupoI. Os valores analisados só foram diferentes para os indiví-duos na faixa etária de 40 a 59 anos. A presença de HVE,SP ou DM2 não influenciaram significativamente a V-RR.

Conclusão - A V-RR mostrou-se valiosa para detectara perda da capacidade moduladora do SNA sobre o cora-ção na HAS, a qual foi mais evidente nos indivíduos entreos 40 e 59 anos.

Palavras-chave: modulação autonômica cardíaca, hiper-tensão arterial sistêmica, variabilidadeda freqüência cardíaca

Arq Bras Cardiol, volume 78 (nº 2), 181-8, 2002

José Barbosa Filho, Paulo Roberto B. Barbosa, Ivan Cordovil

Rio de Janeiro, RJ

Modulação Autonômica do Coração naHipertensão Arterial Sistêmica

Artigo Original

Estudos clínicos e experimentais têm demostrado quea capacidade de modulação autonômica do aparelho car-diovascular está alterada em várias doenças que acometem,direta ou indiretamente, o coração 1-9. Essa alteração funcio-nal contribui, de forma significativa, para o desenvolvimen-to de arritmias potencialmente fatais, exercendo importanteinfluência na morbi-mortalidade das doenças que se fazemacompanhar de alterações do sistema simpático-vagal 10-18.

O interesse em avaliar a modulação autonômica do co-ração, através da análise da variabilidade da freqüência car-díaca de batimento-a-batimento, na hipertensão arterial sis-têmica tem sido demonstrado por diversos autores. Essespesquisadores provaram, através da variabilidade da fre-qüência cardíaca, que é possível identificar alterações dosmecanismos de controle autonômico cardíaco na hiperten-são arterial sistêmica e avaliar a ação de medicamentos queinterferem na regulação do aparelho cardiovascular 9,19-27.

O presente trabalho tem por objetivo estudar o com-portamento da modulação autonômica do coração, atravésda análise da variabilidade da freqüência cardíaca de bati-mentos normais, tanto no domínio do tempo quanto no dafreqüência, em grupos selecionados de indivíduos normaise com hipertensão arterial sistêmica primária.

Métodos

O protocolo do estudo foi realizado de acordo com osprincípios da Declaração de Helsinque e da legislação brasi-leira e submetido à Comissão de Ética Médica do InstitutoNacional de Cardiologia Laranjeiras (INCL), tendo sidoobtido autorização para sua realização.

Estudo transversal, com a inclusão de 102 indivíduos,atendidos em primeira consulta no ambulatório da Divisãode Hipertensão Arterial do Instituto Nacional de Cardiolo-gia Laranjeiras para avaliação, no período de janeiro/98 a ju-lho/00. A idade variou entre 40 e 80 anos e foram divididosem dois grupos, emparelhados quanto à distribuição de ida-de e sexo, sendo 32 comprovadamente normais (grupo I) e70 com hipertensão arterial sistêmica leve e moderada, de-finida como pressão artéria sistólica ≥140mmHg e ≤ 180mm

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HG e diastólica ≥90mmHg e ≤110mmHg (grupo II), 72% eramvirgens de tratamento e os demais 28% faziam uso irregularde tiazídicos, antagonista dos canais de cálcio dihidropiridí-nicos ou inibidores da enzima conversora de angiotensina.Todos estavam em ritmo sinusal (tab. I).

No grupo I, 20 indivíduos tinham idade entre 40 e 59anos (grupo Ia), (média±desvio padrão [mediana]) igual a48,7±5,2 [48,0] anos e 14 eram do sexo masculino. Doze ti-nham idade ≥60 anos e ≤80 anos (71,3±5,9 [71,0] anos) (grupoIb) e oito eram do sexo masculino. A história clínica, o exa-me físico, os exames laboratoriais, o exame radiológico, oeletrocardiograma de repouso encontravam-se dentro doslimites da normalidade (tab. I).

No grupo II, 40 indivíduos tinham idade ≥40 e <60 anos(48,7±6,2 [48,0] anos) e 26 eram do sexo masculino (gru-po IIa). Trinta tinham idade ≥60 anos e ≤80 anos (69,3±5,7[69,0] anos) (grupo IIb) e 10 eram do sexo masculino (tab. I).Trinta e um apresentavam hipertrofia ventricular esquerdaao ecocardiograma de repouso, definida pela espessura dosepto e da parede posterior do ventrículo esquerdo >1,1cm,utilizando as rotinas do setor de ecocardiografia do INCL.Vinte e dois apresentavam sobrepeso, definido pelo índice

de massa corporal ≥25kg/m-2. Dezesseis apresentavam dia-betes mellitus não-insulino dependente (diabetes mellitustipo 2) e mantinham controle da glicemia através de dieta e/ou hipoglicemiante oral. O hábito de fumar, a ingestão alco-ólica e o nível de sedentarismo foram avaliados em ambos osgrupos e não apresentaram diferenças em sua distribuição.

Os critérios de inclusão e exclusão neste estudo sãoapresentados na tabela II. Na avaliação clínica, foram aferi-dos freqüência cardíaca, pressão arterial em ambos os bra-ços, conforme protocolo descrito abaixo, diâmetro torácicoântero-posterior, peso corporal e altura para o cálculo do ín-dice de massa corporal. Foi realizada anamnese dirigida parainvestigação de queixas clínicas, exame físico e examescomplementares (glicemia, colesterolemia, função renal ehepática, eletrocardiograma de repouso e radiografia do tó-rax). O critério eletrocardiográfico utilizado para o diagnós-tico de hipertrofia ventricular esquerda foi o índice Rom-hilt-Estes. Os sinais do eletrocardiograma foram utilizadospara análise da variabilidade da freqüência cardíaca, descri-ta no item 5. Todas as consultas e exames foram realizadosno período entre 8h e 18h.

A pressão arterial foi medida em ambos os braços, na

Tabela I - Valores demográficos e parâmetros avaliados

Grupo Ia Grupo IIa p* Grupo Ib Grupo IIb +

N 20 40 - 12 30 -Idade (anos)** 48,7±5,2 [48,0] 48,7±6,2 [48,0] NS 71,3±5,9 [71,0] 69,3±5,7 [69,0] NSSexo (F/M) 6/14 14/26 NS 8/4 20/10 NSPAS (mmHg) 125,1±10,0 170,2±14,4 <0,05 138,1±10,6 180,2±12,2 <0,05PAD (mmHg) 83,2±5,1 98,4±10,2 <0,05 80,5±5,4 90,8±9,1 <0,05HVE (septo e PP>1,1cm) - 22 - - 9 -Glicemia>120 mg/dL 0 7 - 0 9 -IMC>25kg×m-2 0 18 - 0 4 -FCM (bpm) 69,2±8,6 72,4±13,5 NS 71,0±11,4 73,0±10,3 NSDPNN (ms) 39,4±14,4 27,0±12,0 <0,001 24,5±8,0 20,6±5,5 NSAF LnT (Ln ms2) 5,2±0,9 3,9±1,3 <0,001 4,1±0,9 3,6±1,1 NSAF RC LnT (Ln ms2) 7,3±0,7 5,6±1,3 0,02 5,2±0,4 4,9±0,4 NSEMT LnT (Ln ms2) 6,4±0,7 5,1±1,0 <0,001 4,8±0,8 4,5±0,9 NSD-BTmáx (bpm) 21,6±4,1 16,2±7,6 0,03 15,4±4,3 16,7±6,1 NS

PAS - pressão arterial sistólica; PAD - pressão arterial diastólica; HVE - hipertrofia ventricular esquerda; PP - parede posterior; IME - índice de massa corpórea;FCM - freqüência cardíaca média; *-nível de significância estatística; **-valores da Idade expressos em média±DP [mediana], demais valores expressos em média±DP.AF- alta freqüência; EMT- energia moduladora total; RC- respiração controlada; D-BTmáx- diferença entre a bradi- e a taquicardia máximas durante e após a inspiraçãosustentada; LnT- transformação logarítmica (referir ao texto para detalhes).

Tabela II - Critérios de inclusão e exclusão nos grupos do estudo

Grupo I Grupo II

Critérios de inclusão: Critérios de exclusão: Critérios de inclusão: Critérios de exclusão:Idade ≥40 e ≤80 anos Ritmo não-sinusal Idade≥40 e ≤80 anos Ritmo não-sinusalPAD<90mmHg Doenças psiquiátricas ou 90≤PAD≤110mmHg Doenças psiquiátricas ouPAS<140mmHg neurológicas 140≤PAS≤180mmHg neurológicas

IAM ou DAC*** IAM ou DACMulheres grávidas ICT ≥50% ou FE<45%

Disfunção tireoideana, Disfunção tireoideana,renal ou hepática renal ou hepática

ICT ≥50% Uso de β-bloqueadorDiabete melito DPOC

HAS secundária

*PAD- pressão arterial diastólica; **PAS- pressão arterial sistólica; ***DAC- doença arterial coronária prévia, IAM- infarto agudo do miocárdio prévio, AVE- acidente vascularencefálico prévio;†ICT- índice cárdio-torácico; ††FE- fração de ejeção de ventrículo esquerdo em repouso ao ecocardiograma; ††††DPOC- doença pulmonar obstrutiva crônica.

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posição sentada, após 5 a 10min de repouso em decúbitodorsal, em ambiente calmo e refrigerado, mantido em tornode 25oC. A pressão arterial foi aferida no 1o, 3o e 5o minutos a-pós o repouso e computada a média das duas últimas medi-das. O braço que apresentou os maiores valores da pressãoarterial foram tomados como padrão. Foram usados esfig-momanômetros de coluna de Hg calibrados pelo INMETRO(Instituto Nacional de Metrologia).

Os sinais do eletrocardiograma foram captados durante300s, utilizando o amplificador AECG03 (Lynx TecnologiaLtda., São Paulo), e analisados utilizando o sistema ECGAR®

desenvolvido para esta finalidade e já descrito 28. Os sinais fo-ram adquiridos com os indivíduos deitados em decúbito dorsale respirando em sua freqüência natural, em um ambiente isola-do com a temperatura ambiente mantida em 25oC e no períodoentre 10h e 18h. Os exames foram realizados com intervalo depelo menos 2h após a última refeição e nos indivíduos fuman-tes com pelo menos 30min após a última carga tabágica.

Os indivíduos de ambos os grupo tiveram dois regis-tros adicionais de eletrocardiograma de 60s de duração ca-da. No 1º registro, 10 indivíduos selecionados aleatoria-mente de cada grupo (6 dos grupos Ia e IIa; 4 dos Ib e IIb)foram mantidos sob respiração controlada, a uma freqüên-cia respiratória de 12 incursões/minuto (0,20Hz) e acompa-nhados pelo examinador com o auxílio de um equipamentotemporizador. No 2º registro, 20 indivíduos do grupo I (12do grupo Ia e 8 do Ib) e 35 do grupo II (15 do grupo IIa; 20 doIIb) tiveram o registro do eletrocardiograma durante a mano-bra de inspiração sustentada 7, constituída de três fases,com durações de 15s, 15s e 30s, respectivamente. Na 1ª faseo indivíduo era solicitado a respirar espontaneamente. Na 2ªfase, ou fase de sustentação, que realizasse apnéia apósinspiração máxima sem esforço expiratório, diferente,portanto, da manobra de Valsalva. Nessa fase, observa-se,inicialmente, elevação da freqüência cardíaca entre 10 a15% do valor médio da 1ª fase, com duração de 2 a 3s, se-guindo-se de bradicardia intensa, mantida por 8 a 10s, no-tando-se em seguida, progressivo aumento da freqüênciacardíaca. Ao término dos 15s, solicita-se que o ar inspiradoseja liberado e retorne à respiração espontânea. Nesse mo-mento (3ª fase), há elevação da freqüência cardíaca acimados valores da média da 1ª fase, que gradualmente retor-nam aos níveis basais, com resposta transiente típica comduração de 5 a 10s (fig. 1). Todos os registros foram realiza-dos em seqüência, permanecendo o indivíduo em decúbitodorsal entre os exames.

Os sinais de eletrocardiograma foram analisados utili-zando o programa ECGAR®. A análise da variabilidade dafreqüência cardíaca foi dividida em duas etapas: análise dodomínio da freqüência e do tempo.

No domínio da freqüência, a série de intervalos RR nor-mais consecutivos foi interpolada e o espectro de potênciafoi calculado utilizando técnica já descrita 28. Foi calculada aárea sob o espectro de potência na região entre 0,05Hz e0,40Hz, correspondente às energias de modulação simpáti-ca e parassimpática. Classicamente, a região analisada é de-composta em duas bandas de freqüência: uma de 0,05Hz a

0,15Hz, ou baixa freqüência correspondente às influências,predominantemente, simpáticas, e outra de 0,15Hz a 0,40Hz,ou de alta freqüência, correspondente às influências pa–rassimpáticas sobre a variabilidade da freqüência cardíaca.Devido à forte sobreposição de influências simpático-va-gais na região de fronteira (0,15Hz), optou-se pela análise detoda a região, denominada energia de modulação total. Du-rante a manobra de respiração controlada, virtualmente to-da energia do espectro de potência concentrou-se na regiãode alta freqüência, indicando predominância da atividadevagal e portanto, foi comparada aos valores obtidos duran-te o repouso. A diferença entre ambas foi tomada como re-presentativa da reserva autonômica de modulação da varia-bilidade da freqüência cardíaca (fig. 2).

Para análise do domínio do tempo, foram calculados afreqüência cardíaca média, ou a média das relações 60/RR(RRº intervalo RR, em segundos), e o desvio-padrão(DPNN) de todos os intervalos normais consecutivos. A di-ferença entre os valores da bradicardia máxima durante e dataquicardia máxima imediatamente após a fase de sustenta-ção da inspiração sustentada foi tomada como índice da ati-vidade autonômica (D-BTmáx), correspondente ao potencialmodulador do sistema nervoso autônomo.

O índice de massa corporal foi calculado utilizando-sea fórmula IMC= peso (kg altura-2 (m-2).

As variáveis contínuas foram apresentadas em termosde média±desvio padrão. A variável da energia de modula-ção total foi transformada em seu logaritmo natural (LnT)para normalização, antes da análise, devido à forte assime-tria em sua função de distribuição de probabilidade.

A comparação das variáveis do domínio da freqüênciae do domínio do tempo entre os grupos I e II foi realizada em-pregando-se o teste ‘t’ de Student bicaudal. As variáveis decontagem foram analisadas através do teste do quiquadra-do com correção de Yates ou a comparação de Fisher parapequenas amostras.

A influência da respiração controlada sobre a regiãode alta freqüência do espectro de potência foi comparadaem relação ao repouso, em cada grupo, através do teste ‘t’ deStudent bicaudal pareado. A diferença dos valores de altafreqüência LnT entre a respiração controlada e repouso foi

Fig. 1 - Efeito da inspiração sustentada (IS) sobre a série de intervalos RR, em indiví-duo do grupo I. Observar as diversas fases da manobra. Notar as características dafase 2, que representam a oscilação decorrente da inspiração sustentada, e os pontosde análise e da bradi- (Bmáx) e da taquicardia (Tmáx) máxima. Fase 1- pré-IS; fase 2 – IS;fase 3 – pós-IS.

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comparada entre os grupos, empregando o mesmo testenão-pareado.

No grupo II, os indivíduos de cada faixa de idade anali-sada foram estratificados quanto à presença de hipertrofia ven-tricular esquerda, sobrepeso e diabetes mellitus tipo 2, e suasvariáveis do domínio da freqüência e do domínio do tempo fo-ram comparadas através do teste ‘t’ de Student bicaudal.

Para análise do valor diagnóstico, as variáveis do domí-nio da freqüência e do domínio do tempo foram dicotomiza-das nos grupos de indivíduos das faixas de idade entre 40 e59 anos e acima de 60 anos. Para esta tarefa, empregou-se ométodo que analisa a função definida pelo produto das fun-ções de distribuição de probabilidade de cada grupo (apên-dice). Os valores da especificidade e da sensibilidade sãoidentificados nos pontos que maximizam esta função e ossignificados estatísticos avaliados através do teste do qui-quadrado aplicado à comparação de proporções. Os dadosforam analisados no módulo estatístico Statgraphics(Statistical Graphics Corporation, EUA). O nível designificância global foi fixado em 0,05 para todos os testes.

Resultados

No domínio da freqüência, os valores da energia demodulação total LnT dos grupos estudados encontram-sedispostos na tabela I e mostram que os valores da energiade modulação total LnT do grupo IIa foi significativamentemenor (p<0,001) que no grupo Ia. Para o grupo IIb, a diferen-

ça com o Ib não teve significado estatístico (p=NS). Quantoàs elevações da alta freqüência LnT durante a respiraçãocontrolada (AF RC LnT), verificamos que os valores atingi-dos pelo grupo IIa foram menores que os do Ia (p=0,02) eque os do grupo IIb foram semelhantes ao do Ib (p=NS).

No domínio do tempo, enquanto os valores da DPNN ea D-BTmáx do grupo IIa foram menores que os do Ia (p<0,001 ep=0,03, respectivamente) os registrados no grupo IIb não fo-ram diferentes dos observados no grupo Ib (p=NS) (tab. I).

A presença de hipertrofia ventricular esquerda, sobre-peso e diabetes mellitus tipo 2 não influenciaram de formasignificativa os valores das variáveis da variabilidade dafreqüência cardíaca, tanto no grupo IIa quanto no IIb (tabs.III e IV), exceto no grupo IIa para alta freqüência respiraçãocontrolada e hipertrofia ventricular esquerda.

Os valores de corte das variáveis do domínio da fre-qüência e do domínio do tempo acham-se na tabela V, paraos grupos I e II, separados por faixas de idade. Para aquelesentre 40 e 59 anos, os valores de corte encontrados apresen-taram especificidade de 74,1% para alta freqüência (p<0,001),de 100,0% para alta freqüência respiração controlada(p<0,001) e de 72,6% para a energia de modulação total(p<0,001). A sensibilidade, por sua vez, foi de 67,1% paraalta freqüência (p<0,001), de 71,4% para alta freqüência res-piração controlada (p<0,001) e de 80,7% para energia de mo-dulação total (p<0,001). Para as variáveis do domínio dotempo, os valores de corte apresentaram especificidade de76,2% para o DPNN (p<0,001) e de 91,3% para a D-BTmáx

Fig. 2 - Efeito da respiração controlada (RC) sobre o espectro de potência em indivíduos do grupo I. Série de intervalos RR normais (à esquerda) e respectivo espectro de potência(à direita), em registro basal (acima) e durante a manobra de respiração controlada (abaixo). Notar que durante a respiração controlada, a energia do espectro de potência concentra-se na banda alta freqüência e seu valor é significativamente aumentado. MBF- muito baixa freqüência [0,01-0,05] Hz; BF- baixa freqüência [0,05-0,15] Hz; e AF- alta freqüência[0,15-0,40] Hz; insp. - inspiração; exp. - expiração.

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(p<0,001). A sensibilidade apresentou valores de 61,0% parao DPNN (p<0,001) e de 54,4% para a D-BTmáx (p<0,001).

Discussão

Estudos iniciais observando o comportamento da va-riabilidade da freqüência cardíaca na hipertensão arterial sis-têmica foram realizados utilizando técnicas que analisavam o

Tabela III – Comparação dos parâmetros de VRR no grupo IIa, entre pacientes com e sem hipertrofia ventricular esquerda, diabete melito tipo 2e sobrepeso

C/ HVE S/ HVE p* C/ DM S/ DM p* C/ SP S/ SP p*

N 22 18 - 7 33 - 18 22 -

Idade (anos) 47,8±5,5 49,8±6,7 NS 54,9±5,7 47,4±4,4 0,003 48,2±5,5 48,9±7,2 NSSexo (F/M) 9/13 5/13 NS 2/5 12/21 NS 7/11 7/15 NSFCM (bpm) 72,7±14,0 72,1±13,2 NS 73,0±8,0 72,3±14,5 NS 73,1±12,3 71,2±12,1 NSDPNN (ms) 27,4±11,2 26,5±13,3 NS 26,1±5,8 27,2±13,0 NS 28,1±13,4 27,3±10,6 NSEMT LnT (Ln ms2) 5,2±1,0 5,0±1,0 NS 5,0±0,4 5,1±1,1 NS 5,2±0,9 5,1±0,9 NSAF LnT (Ln ms2) 4,0±1,4 3,9±1,3 NS 3,7±0,8 4,0±1,4 NS 4,1±1,2 3,9±1,2 NSAF RC LnT (Ln ms2) 4,1±0,7 6,3±0,7 0,01 5,1±1,3 6,5±0,7 NS 6,0±1,1 4,9±1,8 NSD-BTmáx (bpm) 14,9±3,8 17,0±9,5 NS 16,4±8,7 16,0±7,0 NS 15,0±7,6 19,2±7,2 NS

*-nível de significância estatística; **- valores expressos em média±DP. AF- alta freqüência; EMT- energia moduladora total; RC- respiração controlada; D-BTmáx-diferença entre a bradi e a taquicardia máximas durante e após a inspiração sustentada; LnT- transformação logarítmica (referir ao texto para detalhes).

Tabela IV – Comparação dos parâmetros de VRR no grupo IIb, entre pacientes com e sem hipertrofia ventricular esquerda, diabete melito tipo 2 esobrepeso

C/ HVE S/ HVE p* C/ DM2 S/ DM2 p* C/ SP S/ SP p*

N 9 21 - 9 21 - 4 26 -

Idade (anos) 68,9±5,7 70,0±5,5 NS 72,2±5,8 68,5±5,1 NS 72,0±7,0 69,3±5,4 NSSexo (F/M) 8/1 12/9 NS 6/3 14/7 NS 4/0 16/10 NSFCM (bpm) 70,6±10,2 73,4±10,4 NS 71,4±11,1 73,1±10,1 NS 71,7±7,8 73,7±9,6 NSDPNN (ms) 21,0±3,8 20,8±5,9 NS 21,0±4,2 20,8±5,8 NS 20,8±4,8 21,0±5,5 NSEMT LnT (Ln ms2) 4,5±1,0 4,6±0,8 NS 4,5±1,1 4,5±0,8 NS 5,0±0,8 4,5±0,9 NSAF LnT (Ln ms2) 3,4±1,4 3,8±0,9 NS 3,6±1,4 3,7±0,9 NS 4,1±1,1 3,6±1,0 NSAF RC LnT (Ln ms2) 4,9±0,4 4,9±0,4 NS 4,6±0,2 5,1±0,6 NS 4,9±0,4 4,9±0,4 NSD-BTmáx (bpm) 16,8±6,1 17,0±6,3 NS 18,7±6,2 16,4±6,2 NS 14,9±3,8 14,9±3,8 NS

*-nível de significância estatística; **- valores expressos em média±DP; AF- alta freqüência; EMT- energia moduladora total; RC- respiração controlada; D-BTmáx-diferença entre a bradi taquicardia máximas durante e após a inspiração sustentada; LnT- transformação logarítmica (referir ao texto para detalhes).

controle reflexo da freqüência cardíaca mediada pelosbarorreceptores. Bristow e cols. 29 e Gribbin e cols. 30 mos-traram que a redução da freqüência cardíaca decorrente daativação dos barorreceptores, provocada pelo aumento dapressão arterial, era significativamente menor nos indivíduoshipertensos. Por outro lado, Mancia e cols. 31 verificaram quea taquicardia reflexa, induzida pela redução da pressão arteriale decorrente da desativação dos barorreceptores, era signifi-cativamente menor nos indivíduos com hipertensão arterialsistêmica. Esses achados demonstraram a estreita relaçãoentre os mecanismos de controle da pressão arterial e da vari-abilidade da freqüência cardíaca que, na presença de hiper-tensão arterial sistêmica, estão comprometidos.

No domínio da freqüência, a faixa do espectro de po-tência que representa a energia moduladora do sistema sim-pático-vagal (ou energia de modulação total) apresentouvalores significativamente mais baixos no grupo IIa do queno grupo Ia (tab. I), demonstrando que, em indivíduos comhipertensão arterial sistêmica nessa faixa etária, a variabili-dade da freqüência cardíaca está significativamente amor-tecida. Por outro lado, conforme Aono e cols. 32, verificamosque os valores de energia de modulação total não foram dife-rentes entre os grupos Ib e IIb, evidenciando que, enquantono grupo IIa a modulação autonômica do coração está com-prometida pela hipertensão arterial sistêmica, no grupo IIb aredução da modulação imposta pela idade não é agravada

Tabela V - Valor diagnóstico das variáveis analisadas

Valor de corte Especificidade Sensibilidade

≥ 40 anos e < 60 anos

FCM (bpm) 67,2 51,4 % (p<0,001) 33,5 % (p<0,001)DPNN (ms) 27,8 76,2 % (p<0,001) 61,0 % (p<0,001)EMT (ms2) 304,9 72,6 % (p<0,001) 80,7 % (p<0,001)AF (ms2) 121,5 74,1 % (p<0,001) 67,1 % (p<0,001)AF RC (ms2) 497,7 100,0 % (p<0,001) 71,4 % (p<0,001D-BTmáx (bpm) 16,4 91,3 % (p<0,001) 54,3 % (p<0,001)

≥ 60 anos e ≤ 80 anos

FCM (bpm) 60,7 60,1 % (p<0,001) 18,3 % (p<0,05)DPNN (ms) 18,1 65,0 % (p<0,001) 53,8 % (p<0,001)EMT (ms2) 102,5 48,2 % (p<0,001) 61,6 % (p<0,001)AF (ms2) 44,7 54,6 % (p<0,001) 62,3 % (p<0,001)AF RC (ms2) 141,2 65,0 % (p<0,001) 75,0 % (p<0,001)D-BTmáx (bpm) 15,9 58,7 % (p<0,001) 56,3 % (p<0,001)

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pela presença de hipertensão arterial sistêmica. Fato refo-rçado quando a região de modulação predominantementevagal é analisada. Assim, comparando os grupos Ia e IIa,observamos que, tanto no repouso quanto durante a respi-ração controlada, os valores são maiores no grupo Ia(p<0,05). Entretanto, quando os valores de alta freqüência ealta freqüência respiração controlada são analisados entreos indivíduos dos grupos Ib e IIb, nas mesmas condições,verificamos que não apresentam diferenças significativas(p=NS, tab. I).

Analisando a diferença entre os valores de alta fre-qüência, antes e durante a respiração controlada, dentro domesmo grupo, verificamos que o aumento da energia de mo-dulação vagal foi menos expressiva nos indivíduos dosgrupos IIa, Ib e IIb. Esse comportamento evidencia que, noprocesso de desmodulação autonômica do coração, a alçaparassimpática esteve significativamente amortecida, tantopela ação da idade quanto pela hipertensão arterial sistê-mica. Importante é notar que entre os indivíduos com idade≥60 anos, a presença de hipertensão arterial sistêmica nãointensifica a diminuição da energia moduladora imposta pelaidade, diferente, portanto, do observado entre os indivíduosdo grupo IIa. Naquela faixa de idade, o aumento da rigidezarterial decorrente do envelhecimento, que reduz direta-mente a sensibilidade dos pressorreceptores, não é agrava-da pela elevação dos níveis tensionais. Em outras condi-ções, como na doença de Parkinson, em que pode haver le-são direta do sistema nervoso autonômico, os valores daenergia do espectro de potência em indivíduos idosos sãosignificativamente menores do que os observados no gru-po controle da mesma faixa etária 7.

Semelhante ao que observamos no domínio da fre-qüência, as variáveis do domínio do tempo também sofre-ram alterações. Ao analisar os valores da DPNN do grupoIIa, verificamos que eram significativamente menores queos do grupo Ia (p<0,001, tab. I). Essas diferenças ficaram me-nos nítidas entre os grupos Ib e IIb (p=NS). Ainda no domí-nio do tempo, observamos que a D-BTmáx foi significativa-mente menor no grupo IIa do que no grupo Ia (p=0,03) e nãohouve diferença entre os grupos Ib e IIb (p=NS).

Quando analisamos as variáveis da variabilidade dafreqüência cardíaca em função da existência de diabetesmellitus tipo 2, hipertrofia ventricular esquerda e sobrepe-so, verificamos que não foram agravadas pela presençadesses estados mórbidos, tanto no domínio da freqüênciaquanto no do domínio do tempo (tabs. III e IV), diferente,portanto, de alguns registros da literatura especializada 33-35.Parece plausível considerar que a presença dessas condi-ções não agrave as alterações autonômicas determinadaspela própria hipertensão arterial sistêmica.

Do ponto de vista etiopatogênico, a disfunção auto-nômica determinada pela idade 32,36 e a observada em váriasdoenças 6,7 está relacionada a duas causas básicas: 1) altera-ções dos reflexos mediados pelos pressorreceptores e 2) alte-rações intrínsecas da atividade do sistema simpático/vagal.

Nos indivíduos normais, as oscilações da pressão in-tratorácica, provocadas pelos movimentos respiratórios,

determinam aumentos e diminuições do débito sistólico 37.Estas variações contribuem, de forma significativa, para asmodificações dos níveis da pressão arterial ocorridas du-rante o ciclo respiratório. As variações da pressão arterialintravascular, condicionadas pelos movimentos respirató-rios, são percebidas pelos pressorreceptores que modifi-cam, momento a momento, os potenciais aferentes, condu-zidos ao centro vasomotor pelos nervos depressoresaórtico e carotídeo. Ao chegar ao centro vasomotor e lá pro-cessadas, essas informações caminham por vias eferentessimpático-vagais em direção ao coração e aos vasos, deter-minando, respectivamente, variações cíclicas da freqüênciacardíaca (arritmia sinusal respiratória) e da resistência peri-férica arterial, contrabalançando as variações do débito eimpedindo grandes flutuações da pressão arterial (fig. 3).

Na hipertensão arterial sistêmica, os mecanismosreguladores mediados pelos pressorreceptores sofrem umareciclagem 38 e, da mesma forma que observado nos indiví-duos idosos, ficam menos sensíveis. Como conseqüência,os reflexos passam a ter o seu ganho reduzido, isto é, há ummenor número de potenciais de ação nos nervos depresso-res por mmHg de oscilação da pressão arterial. Os primeirosagem deslocando o limiar de atuação dos pressorreceptorespara níveis mais elevados de pressão arterial e os segundosimpedem o processamento de pequenas variações da pres-são arterial, atenuando a capacidade moduladora reflexa dosistema vagal sobre a variabilidade da freqüência cardíaca eaumentando a simpática sobre os vasos arteriais.

Do ponto de vista diagnóstico, a variável energia demodulação total (EMT) e aquelas relativas aos testes demodulação autonômica, isto é, alta freqüência respiraçãocontrolada e D-BTmáx, por apresentar melhores índicesdiscriminatórios entre os grupos I e II, podem representarimportante ferramenta auxiliar para o diagnóstico da hiper-tensão arterial sistêmica. A alta freqüência respiração con-trolada permitiu identificar 100% dos indivíduos do grupo Iae 71,4% do grupo IIa, e obteve os valores diagnósticos mais

Fig. 3 - Esquema representativo do efeito das fases do ciclo respiratório (inspiraçãoe expiração) sobre o controle da freqüência cardíaca mediado pelo pressorreceptores.DS- débito sistólico; PA- pressão arterial; SIMP- simpático; RAP- resistência arte-rial periférica; DC- débito cardíaco.

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elevados, entre todas as variáveis analisadas, para os indi-víduos dos grupos Ib e IIb. Assim, a presença de alteraçõesdestes índices em pacientes com cifras tensionais elevadasreforça o diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica, umavez que indica a existência de comprometimento do sistemamodulador do coração.

Portanto, podemos afirmar que as variáveis quequantificam a variabilidade da freqüência cardíaca, tanto nodomínio do tempo quanto no domínio da freqüência, quan-do registradas em pacientes com hipertensão arterialsistêmica, têm valores significativamente mais baixos que osobservados em indivíduos normais. Diferença que retrata ograu de comprometimento da modulação autonômica car-díaca mediada pelos barorreflexos, podendo corroborar nodiagnóstico da hipertensão arterial sistêmica, ressaltando aimportância da faixa etária no processo de controle autonô-mico do coração.

Apêndice

Para o cálculo dos valores de sensibilidade e especifi-cidade, define-se uma função empírica cujas etapas de aná-lise são descritas a seguir.

a)Construir o histograma de distribuição dos valoresda variável X, dividido em N classes, com intervalos de am-plitude fixas para cada iésima classe (Ci), para os grupos I e II(veja definição dos grupos no capítulo de Métodos). Os in-tervalos Ci são definidos por limites inferiores (Inf(Ci)) e su-periores (Sup(Ci)), sendo que a variável X pertence ao inter-valo se Inf(Ci) ≤ X < Sup(Ci). Definem-se, portanto, as fun-ções p(XÎCi) e q(XÎCi), que representam os valores de pro-babilidades de X associados a cada classes Ci dos respecti-vos histogramas dos grupos I (p) e II (q).

b)A função de distribuição de probabilidade da variávelX é definida pela soma cumulativa das probabilidades de to-das as N classes (Ci) do histograma do respectivo grupo.Definem-se, portanto, as funções P(X≤Ci) e Q(X≤Ci), ou fun-ções distribuições de probabilidade de X que representam aprobabilidade de os valores de X < Sup(Ci), respectivamenteaos grupos I (P) e II (Q). P(X≤Ci) e Q(X≤Ci) têm valores iguaisa 1 para CN, zero para C0 e são monotônicas crescentes.

c)Define-se a função M(Ci)=[1-P(X≤Ci)]×Q(X≤Ci).M(Ci) apresenta valores iguais a zero nos extremos (CN e C0)e valor máximo entre eles (Cmáx). Define-se sensibilidadeigual ao valor Q(X≤Cmáx) e especificidade igual a [1-P(X≤Cmáx)].

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