MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

97
UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS HUMANAS E APLICADAS DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL JOSIMAR MELO RIBEIRO DA SILVA JUNIOR RAFAELA MOTA LIMA OS PADRÕES DE MANIPULAÇÃO DA MÍDIA: uma análise da veiculação de notícias nos jornais O Estado do Maranhão e Jornal Pequeno na candidatura e eleição do senador José Sarney à presidência do Senado São Luís 2009

description

Uma análise da veiculação de notícias nos jornais O Estado do Maranhão e Jornal Pequeno na candidatura e eleição do senador José Sarney à presidência do Senado

Transcript of MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

Page 1: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

1

UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS HUMANAS E APLICADAS

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

JOSIMAR MELO RIBEIRO DA SILVA JUNIOR

RAFAELA MOTA LIMA

OS PADRÕES DE MANIPULAÇÃO DA MÍDIA: uma análise da veiculação de notícias

nos jornais O Estado do Maranhão e Jornal Pequeno na candidatura e eleição do senador José

Sarney à presidência do Senado

São Luís

2009

Page 2: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

2

JOSIMAR MELO RIBEIRO DA SILVA JUNIOR

RAFAELA MOTA LIMA

OS PADRÕES DE MANIPULAÇÃO DA MÍDIA: uma análise da veiculação de notícias

nos jornais O Estado do Maranhão e Jornal Pequeno na candidatura e eleição do senador José

Sarney à presidência do Senado

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Comunicação Social da

Faculdade São Luís como pré-requisito para

obtenção de grau de bacharel em

Comunicação Social, habilitado em

Jornalismo.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Rios

Ribeiro.

São Luís

2009

Page 3: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

3

JOSIMAR MELO RIBEIRO DA SILVA JUNIOR

RAFAELA MOTA LIMA

OS PADRÕES DE MANIPULAÇÃO DA MÍDIA: uma análise da veiculação de notícias

nos jornais O Estado do Maranhão e Jornal Pequeno na candidatura e eleição do senador José

Sarney à presidência do Senado

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Comunicação Social da

Faculdade São Luís como pré-requisito para

obtenção de grau de bacharel em

Comunicação Social, habilitado em

Jornalismo.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Rios

Ribeiro.

Aprovada em: / / .

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________

Prof. Dr. Paulo Roberto Rios Ribeiro (Orientador)

Faculdade São Luís

_________________________________________

1.º Examinador

_________________________________________

2.º examinador

Page 4: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

4

Ao sonho do jornalismo ideal.

Page 5: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

5

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me deixar conhecê-Lo e aproveitar um tempo de graça e glória na Sua

presença. Obrigada por me mostrar outro caminho, que é difícil de seguir, mas que é

recompensador. Eu te amo.

À minha família, meu avô, que é o melhor ser humano que eu conheço e que sempre

incentivou a sua terceira geração a ser melhor sempre. A meu pai, arrimo de família, a

integridade e honestidade em pessoa. Minha mãe, sempre nos ajudando. À minha madrinha,

Socorro Mota, que sempre acreditou no meu sucesso e no meu avanço profissional. Muito

obrigada.

A Josimar Júnior, parceiro insubstituível de manhãs de domingo, tardes e noites de

quaisquer dias neste trabalho de tamanha importância acadêmica para nós dois. És meu irmão

de alma e conhecimento. Obrigada pelo apoio e parceria.

Aos meus „chefes‟, Antônio Bacelar Júnior e Allyson Perez, competentes,

compreensivos e flexíveis, meus exemplos de dedicação e garra. Obrigada também aos meus

companheiros da Via Mundo Intercâmbio e Turismo, que me ajudaram a completar este

caminho. A compreensão de vocês me fortaleceu e me ofereceu apoio todos os dias. Obrigada

ao meu outro „chefe‟, Moraes Júnior, por acreditar no meu trabalho mesmo antes de estar

completo.

A todos os peregrinos da Igreja Batista do Angelim, em especial a Rodrigo e Carla

Arrais, Rebeca Arrais e Patrícia Serra. Obrigada por me mostrarem sempre que o caminho de

Deus é o melhor a ser seguido. Vocês me dão força para continuar.

A todos os meus amigos e amigas ausentes e presentes, eu amo todos vocês. Em

especial a Mariana Melo, Renata Lima, Thâmara e Deyvid Camelo. Sou muito grata a tudo o

que vocês fizeram e ainda fazem por mim. Obrigada por acreditarem e incentivarem o meu

sucesso.

Aos Professores Paulo Rios e Larissa Leda, pela maravilhosa orientação e direção

neste trabalho. Agradeço a paciência, dedicação e sinceridade.

A todos, muito obrigada!

Rafaela Mota Lima

Page 6: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

6

AGRADECIMENTOS

Agradeço primordialmente a Deus, por me proporcionar a vivência na área

profissional que escolhi e, principalmente, pelas oportunidades dadas ao longo da minha

caminhada profissional. Não posso deixar de ser grato à minha família pelo inicio da minha

caminhada universitária, em especial a minha mãe, que dedicou seus poucos momentos de

tempo livre para me incentivar a continuar meus estudos. A coincidência se tornou presente

quando minha irmã me presenteou com o livro Padrões de Manipulação na Grande

Imprensa, de Perseu Abramo, que posteriormente se consolidou como base bibliográfica para

construção deste trabalho.

Agradeço aos meus amigos que, apesar da distância, sempre me incentivaram a

continuar estudando para alcançar o meu sonho de obter minha graduação de jornalista.

Lembro do meu primeiro emprego, no qual trabalhava mais de oito horas diárias e, acabando

meu expediente, saía correndo pelo centro da cidade para a Faculdade São Luís, para não me

atrasar nas aulas. Com isso, aprendi a valorizar ainda mais o ensino acadêmico que adquiri até

hoje.

Aos meus professores, devo meu conhecimento e discernimento. Com suas aulas

e conselhos, contribuíram para a construção do meu senso crítico e profissional. No decorrer

de minha vida na faculdade, tive que fazer uma escolha difícil, mas necessária - abandonar

meu emprego fixo para me aventurar no campo de estágio do jornalismo. Hoje vejo que se

não tivesse decido assim, não seria tão apaixonado pela minha profissão como sou agora.

Sinto-me privilegiado pelas amizades que adquiri nos estágios, em especial nas

empresas: Colégio O Bom Pastor, Futura Produções, Serviço Social do Comércio – SESC,

Instituto Trabalho Vivo, Grupo Santa Fé e SENAI. Toda essa caminhada me ensinou a ser

ético e responsável e o exercício da comunicação social trouxe uma imensa gratificação por

poder exercer minha contribuição em prol da sociedade.

Agradeço aos meus irmãos na vida André Rabelo, André Ramos, Rafaela Lima,

Paulo Junior, Mauricio Araya, Alice Albuquerque, Jackson Douglas, Diego Torres, Graci

Ataíde e Leilane Fonseca. Sem vocês ao meu lado, não suportaria esta caminhada cheia de

escolhas difíceis em que abdico da presença de quem realmente gosto em detrimento da

conquista do meu sonho. Uma batalha que começou há três anos e que agora posso dizer

obrigado por tudo.

Page 7: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

7

Agradecimentos especiais ao nosso orientador, o Profº Paulo Rios, que foi

compreensível com os contratempos que tivemos antes de sua orientação, seus ensinamentos e

conselhos nos acompanham durante toda nossa vida acadêmica, sua responsabilidade e

domínio no tema proposto foram de primordial ajuda para elaboração de nossa monografia.

Não posso esquecer-me de um dos meus referenciais na área da comunicação.

Suas aulas na faculdade influenciaram diretamente nos meus conhecimentos e escolhas de

referências teóricas. Minha admiração pela inteligência e capacidade desta mestra em repassar

seus ensinamentos, me faz agradecer ainda mais pela contribuição neste trabalho.

Infelizmente, a denominação de co-orientação no trabalho não traduz a importância da Profª

Larissa Leda em minha caminhada acadêmica, mas tenho nela meu exemplo de

conhecimentos e sabedoria.

Hoje vivo o meu sonho. Sonho que um jovem, ex-trabalhador do comércio,

sempre se esforçou e teve que abdicar do convívio da família e dos amigos para poder

realizar. Hoje me sinto um privilegiado, pois Deus me ajudou a trilhar o caminho que sempre

quis e agradeço diariamente a Ele por me fazer conhecer verdadeiros amigos na faculdade,

que contribuem não somente na minha vida profissional, mas na construção da pessoa que sou

hoje.

A todos, o meu muito obrigado.

Josimar Melo Ribeiro da Silva Júnior

Page 8: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

8

“O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o

exercício cotidiano do caráter”.

Cláudio Abramo

Page 9: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

9

RESUMO

Este trabalho é uma análise da veiculação de notícias publicadas nos jornais O Estado do

Maranhão e Jornal Pequeno sobre a candidatura e eleição de José Sarney à presidência do

Senado Federal. Tem o objetivo oferecer uma contribuição acadêmica para o aprofundamento

teórico dos estudos que abordem a realidade maranhense e o papel desempenhado pela mídia

nos processo de formação da opinião. A análise segue de acordo com os padrões de

manipulação adotados pela mídia segundo o jornalista Perseu Abramo, no discurso

empregado nas matérias publicadas sobre o assunto no período de 23 de janeiro a 04 de

fevereiro. Além da interpretação do discurso, estas matérias são classificadas quanto o seu

padrão de manipulação e confrontadas quanto à suas linhas de pensamento. Os padrões de

manipulação de Abramo são detalhados para um melhor entendimento do assunto. A posição

política dos jornais, bem como suas linhas editoriais, também é apresentada como

direcionamento.

Palavras-chave: Padrões de Manipulação. Discurso. Senado.

Page 10: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

10

ABSTRACT

This paper is an analysis of published articles on the newspapers O Estado do Maranhão and

Jornal Pequeno about the candidature and election of José Sarney to the Presidency of the

Senate. It has the objective to offer an academic contribution to the theoretical studies that

approach the local reality and the function developed by the media in the process of forming

opinion. The analysis follows the manipulation patterns adopted by the press according to the

journalist and sociologist Perseu Abramo, related to the speech used on articles published

from January 23rd to February 4th, 2009. Besides the interpretation of speech, these articles

are classified on their manipulation patterns and compared on their way of thinking. Perseu

Abramo‟s manipulation patterns are detailed for a better understanding of the matter. The

newspapers‟ political views, as well as their editorial line, are also presented as guidelines.

Key-words: Manipulation Patterns. Speech. Senate.

Page 11: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

11

SUMÁRIO

p.

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 13

2 A RELAÇÃO ENTRE MÍDIA E POLÍTICA........................................................ 15

3 CONTEXTO DA POLÍTICA BRASILEIRA ............................... 21

4 ANÁLISE DOS JORNAIS O ESTADO DO MARANHÃO E JORNAL

PEQUENO ...................................................................................................................

24

4.1 Jornal O Estado do Maranhão.............................................................................. 24

4.2 Jornal Pequeno........................................................................................................ 26

4.3 Análise dos periódicos maranhenses ................................................................... 28

4.3.1 Dia 23 de janeiro de 2009...................................................................................... 28

4.3.2 Dia 24 de janeiro de 2009...................................................................................... 31

4.3.3 Dia 25 de janeiro de 2009...................................................................................... 33

4.3.4 Dia 26 de janeiro de 2009...................................................................................... 35

4.3.5 Dia 27 de janeiro de 2009...................................................................................... 36

4.3.6 Dia 28 de janeiro de 2009...................................................................................... 37

4.3.7 Dia 29 de janeiro de 2009...................................................................................... 41

4.3.8 Dia 30 de janeiro de 2009...................................................................................... 44

4.3.9 Dia 31 de janeiro de 2009...................................................................................... 47

4.3.10 Dia 1 de fevereiro de 2009................................................................................... 50

4.3.11 Dia 2 de fevereiro de 2009................................................................................... 54

4.3.12 Dia 3 de fevereiro de 2009................................................................................... 57

4.3.13 Dia 4 de fevereiro de 2009................................................................................... 60

Page 12: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

12

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 63

REFERÊNCIAS 66

ANEXOS 71

Page 13: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

13

1 INTRODUÇÃO

A mídia aliada à política é um instrumento de grande poder dentro do atual

cenário em que se vive. O livro Política e Mídia no Brasil, de Luís Felipe Miguel (2002), faz

uma abordagem do estudo do relacionamento da mídia com a política, e é com este olhar que

se pode perceber o caráter ideológico das notícias, de acordo com a linha editorial dos jornais

que a veiculam.

Este trabalho se propõe a analisar as notícias veiculadas nos jornais O Estado do

Maranhão e Jornal Pequeno que abordam a candidatura e eleição de José Sarney à presidência

do Senado. As notícias, que tem como recorte histórico o período de 23 de janeiro a 04 de

fevereiro de 2009, serão classificadas dentro dos padrões de manipulação da mídia

identificados por Perseu Abramo, em sua obra Padrões de Manipulação na Grande Imprensa

(2003). O ponto inicial deste trabalho é analisar criticamente os dois veículos de comunicação

citados como divulgadores da informação e formadores de opinião, legitimando os fatos

ocorridos e noticiados. Visa entender a utilização dos padrões de manipulação na construção

das notícias e a influência das mesmas na construção do real, de forma neutra ou tendenciosa,

prejudicando assim o leitor, que pode absorver ou não as informações e significados inclusos

e objetivados pelo veículo de comunicação.

A primeira parte a ser explanada no trabalho é a relação entre a mídia e a política,

entendendo a posição em que ocupam e suas aplicações no contexto social. Foi feita a

conexão desta relação com os elementos da interpretação do discurso e, também, discorre-se

sobre as classificações dos padrões de manipulação que a mídia utiliza para melhor

entendimento e conceituação assunto do qual se embasou esta análise.

Na segunda parte, é trabalhado um breve contexto histórico político em que o país

e o Maranhão se encontram, para que se compreenda o meio em que as notícias selecionadas

foram publicadas, analisadas e criticadas.

A pesquisa está referida na terceira parte deste trabalho. É feito o histórico dos

jornais O Estado do Maranhão e Jornal Pequeno, para que seja possível aprofundar o

conhecimento dos objetos de estudo, estabelecendo-se, assim, uma melhor compreensão da

sua posição dentro da imprensa e da política local. A comparação e análise dos objetos

procura observar a construção textual de ambos, além de classificá-los dentro dos padrões de

Page 14: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

14

manipulação da mídia. Ao final do terceiro capítulo, é estabelecido quantativamente a

presença de cada padrão de manipulação nos objetos deste estudo.

Page 15: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

15

2 A RELAÇÃO ENTRE MÍDIA E POLÍTICA

Os meios de comunicação de massa influenciam a formação de opinião da

sociedade. A mídia exerce hoje um papel de interpretação dos fatos políticos para o melhor

entendimento das suas transformações na sociedade. Arbex (2001, p.104) afirma que “o

jornalismo é uma arte pragmatista. Não se pode desprender nunca do seu resultado, nem se

desligar do seu objeto. A veracidade, o realismo é a sua grande força”. Em todos os meios de

comunicação, a linguagem usada para divulgar os fatos e publicar as notícias segue padrões

específicos para abordar e demonstrar um sentido pré-determinado aos acontecimentos.

Historicamente, a política e a imprensa estão estreitamente ligadas, sendo isso comprovado

pelo sucesso político a que estão ligados os partidários e, à grande atenção da mídia a mesma.

No entanto, a objetividade jornalística (ARBEX, 2001, p. 111) camufla a operação

de produção da notícia. Fato e notícia não são acontecimentos naturais. Eles não

simplesmente existem, já que são designados por alguém, por algum motivo que não é sempre

explícito. O discurso jornalístico precisa estar condizente com a realidade e o repórter

funciona como intermediador entra o fato e o público. Costalles apud Medina (1998, p.68)

assegura que “a missão do repórter é captar essa realidade com a maior amplitude e precisão

possíveis e narrá-las com fidelidade, de tal forma que o leitor receba a mais cabal informação

sobre o fato”.

A mídia exerce uma função primordial como interceptora entre a política e os

cidadãos comuns. Como consequência, os meios de comunicação atendem às funções dos

partidos políticos e colaboram com seu declínio. Miguel1 afirma que “o discurso político

transformou-se, adaptando-se às formas preferidas pelo meio de comunicação de massa”. Este

discurso, porém, não pode ser considerado pré-existente, já que a atribui-se a mudança do

contexto histórico e social à construção do sentido. A mídia, por sua vez, utiliza de seus

artifícios tecnológicos para fragmentar informações, abusando de frases de efeito e

diminuindo, assim, o espaço da fala dos políticos. 2

Com isso, a mídia tem um papel de crucial importância na construção do jogo

político. As pautas nos órgãos públicos são baseadas na visibilidade que este assunto terá nos

meios de comunicação, fazendo com que alguns assuntos sejam escolhidos para terem

1 MIGUEL, Luis Felipe. Dossiê Mídia e Política. grifo suprimido. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n22/n22a02.pdf Acesso em: 21 mai. 2009. 2 Idem.

Page 16: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

16

divulgação na mídia e outros, não. Porém, não se pode afirmar que a política perdeu a sua

função ou esteja completamente tomada pelas ações midiáticas. Miguel afirma que

As relações entre mídia e política são bem mais complexas. Partidos e redes

tradicionais de apoio, ainda são, em geral, indispensáveis para o êxito em uma

disputa eleitoral. O discurso político, por mais que precise adaptar-se aos meios em

que transita, ainda guarda suas marcas de distinção em relação àquele comumente

veiculado pela mídia, como um vocabulário mais elaborado, signo de uma pretensa

competência. A pauta da mídia fixa a agenda pública, mas muitas vezes os agentes

com maior capital político são capazes de orientar o noticiário. A gestão da

visibilidade é uma tarefa política central, mas nem toda a política é visível – uma

parte significativa dela continua ocorrendo nos bastidores. (MIGUEL, 2004, p. 9).

Por apresentarem este caráter de semelhança com os partidos políticos, as grandes

empresas de comunicação no Brasil se transformaram em unidades de poder, e é justamente

por isso que essas empresas têm a necessidade de manipular a informação e exercer sua força:

A centralidade dos meios de comunicação de massa na prática política

contemporânea está fundada na dupla mediação que eles estabelecem nas relações

entre líderes, eleitores e a realidade que os cerca. O importante é destacar que a

mídia não se limita a difundir, ela também transforma o discurso político. (Miguel,

Luís Felipe. 2002. p.14).

Abramo (1998, p.14), coloca seis pontos comuns entre o órgão de comunicação e

os partidos políticos. São eles:

1. Da mesma forma que os partidos têm seus manifestos de fundação, seus

programas, suas teses, os órgãos de comunicação têm seus projetos editoriais, suas

linhas editoriais, seus artigos de fundo.

2. Os partidos têm estatutos, regimentos internos e regulamentos; os órgãos de

comunicação têm seus Manuais de redação, suas Normas de Trabalho.

3. Os partidos têm sede central, diretórios regionais e locais, células, núcleos, áreas

de influência e intercâmbio com entidades do movimento social. Os órgãos têm sede

central ou matriz, sucursais correspondentes e enviados especiais, contratos e

convênios com outros órgãos e agências internacionais.

4. Os partidos são pontos de referência para segmentos sociais, têm seus

simpatizantes e seu eleitorado. Os órgãos também são ponto de referência para

milhares ou milhões de leitores/espectadores, têm seus simpatizantes e seguidores, o

seu eleitorado.

5. Os partidos procuram conduzir partes da sociedade ou o conjunto da sociedade

para alvos institucionais, para a conservação de algumas instituições e para a

transformação de outras; têm enfim um projeto histórico relacionado com o poder.

Os órgãos de comunicação também procuram conduzir a sociedade, em parte ou no

todo, no sentido da conservação ou da mudança das instituições sociais; têm,

portanto, um projeto histórico relacionado com o poder.

6. Os partidos têm representatividade, em maior ou menos grau, na medida em que

exprimem interesses e valores de segmentos sociais; por isso destacam, entre seus

membros, os que disputam e exercem mandatos de representação, legislativa ou

executiva. Os órgãos de comunicação agem como se também recebessem mandatos

de representação popular, e alguns se proclamam explicitamente como detentores de

mandatos. Oscilam entre se auto-suporem demiurgos da vontade divina ou

mandatários do povo, e confundem o consumo dos seus produtos ou o índice de

tiragem ou audiência com o voto popular depositado em urna.

(ABRAMO, Perseu, 1998, p.14)

Page 17: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

17

O público é fundamental na transição da linha política para uma linha que

criticava, sim, mas nas entrelinhas, já que aceitou consumir a produção jornalística mais

direcionada à linha política. Bordieu explica que a literatura e o jornalismo faziam parte do

mesmo grupo, tinham elementos diferentes, mas com alguma coisa em comum: o limite de

veiculação. Desde os primórdios do jornalismo, existiam veículos de comunicação

independentes do poder central, porém comprometidos por ideologias políticas, oposição, e

ansiosos para entrar no jogo de poder que a imprensa sugere, e muitas vezes eram,

contraditoriamente, eram financiados por grupos políticos. Apesar de serem críticos aos

sistemas políticos, esses chamados “jornais alternativos” não eram desvinculados da política,

justamente por a criticarem. Segundo Bordieu (1989, p.14),

É necessário saber descobri-lo [o poder] onde ele se deixa ver menos, onde ele é

mais completamente ignorado, portanto, reconhecido: o poder simbólico é, com

efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles

que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem.

Nesse contexto, Os jornais são importantes meios de formação de opinião na

sociedade, portanto, o que é dito ou escrito é discutido como realidade e sua influência deve

ser analisada além do que se está escrito, pois as ações e o senso crítico de uma sociedade são

construídos a partir do conhecimento obtido e repassados pelos meios de comunicação, como

afirma Ghisleni (2006, p.2):

Ao centrar a discussão no jornalismo impresso, pode-se perceber que, afora as

questões tecnológicas, esta atividade também tem como guia as mudanças sociais,

políticas e econômicas que se sucedem. Estas mudanças devem ser entendidas não

somente como mudanças de articulações governamentais ou de oscilações sociais

mais ou menos esporádicas. Trata-se de algo mais universal, capaz de enraizar

profundas modificações no entendimento das pessoas acerca da atividade

jornalística, porque também provoca profundas modificações no entendimento das

pessoas acerca do mundo e das relações que se estabelecem nele.

Em todos os meios de comunicação, a linguagem usada para divulgar os fatos e

publicar as notícias segue padrões específicos para abordar e demonstrar um sentido pré-

determinado aos acontecimentos. Historicamente, a política e a imprensa estão estreitamente

ligadas, sendo isso comprovado pelo sucesso político a que estão ligados os partidários e, à

grande atenção da mídia a mesma.

Abramo procurou classificar os padrões que a mídia utiliza para manipular as

informações. São eles: Ocultação; Fragmentação; Inversão; Indução; E global ou específico

do jornalismo de televisão e rádio. Por este trabalho estar delimitado somente aos jornais O

Estado do Maranhão e Jornal Pequeno na mídia impressa, não será feita referência ao padrão

da radiodifusão.

Page 18: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

18

Os padrões de manipulação tratam de esconder do leitor um acontecimento que

possivelmente daria um entendimento de leitura diferente do que está sendo proposto por

aquele órgão de comunicação. A Teoria do Gatekeeper3 pode ser associada aos conceitos de

Abramo para exemplificar os padrões. A linha editorial do jornal é um fator de primordial

importância na seleção do que será impresso, e deve ser fielmente seguida pelo jornalista:

A ocultação do real está intimamente ligada àquilo que frequentemente se chama de

fato jornalístico. A concepção predominante – mesmo quando não explicita – entre

empresários e empregados de órgãos de comunicação sobre o tema é a de que

existem fatos jornalísticos e fatos não - jornalísticos e que, portanto, à imprensa

cabe cobrir e expor os fatos jornalísticos e deixar de lado os não-jornalisticos.

Evidentemente, essa concepção acaba por funcionar, na prática, como uma

racionalização a posteriori do padrão de ocultação na manipulação do real.

(ABRAMO, 2003 p.26).

Outra importante teoria jornalismo é empregada no uso da manipulação: a Teoria

da Agenda Setting ou Teoria do Agendamento4. Apesar desta teoria não defender que os

meios de comunicação pretendem controlar a mente do público, as rotinas organizacionais

destes mesmos meios possuem uma linha editorial própria, de acordo com seus próprios

critérios de noticiabilidade. Portanto, o que é exposto na mídia é discutido como realidade e o

que é ocultado do público não pode ser objeto das conversas, pois não se pode falar do que

não se possui conhecimento. Assim, a realidade ocultada passa a não existir e o leitor não

adquiriu conhecimento do acontecimento, pois este não foi considerado fato - jornalístico.

Selecionados os fatos jornalísticos e descartados os não – jornalísticos de acordo

com o processo de seleção e critérios de noticiabilidade dos meios de comunicação, os

acontecimentos em questão são divididos em fatos isolados. Para Abramo, este processo tem

como conseqüência a falta de ligação entre as partes selecionadas, isto é, a conexão entre os

fatos não possui nenhuma interligação histórica ou lógica entre os acontecimentos

antecedentes e os conseqüentes a ele. (ABRAMO, 2003, p.27).

Uma expressão utilizada pelo autor para explicar os padrões de manipulação é “o

real despedaçado”, explicando que a realidade é dividida em vários fragmentos

particularizados.

O todo real é estilhaçado, despedaçado, fragmentado em milhões de minúsculos

fatos particularizados, na maior parte dos casos desconectados entre si, despojados

de seus vínculos com o geral, desligados de seus antecedentes e de seus

conseqüentes no processo em que ocorrem, ou reconectados e revinculados de forma

3 Uma das teorias clássicas do jornalismo, A Teoria do Gatekeeper diz que o processo de seleção da notícia passa

pelos critérios de quem possui o „poder‟ de publicá-la. 4 A Teoria do Agendamento ou Teoria da Agenda Setting defende a idéia que os leitores são consumidores de

notícias e, por isso, possuem a visão direcionada para o que a mídia expõe.

Page 19: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

19

arbitrária e que não corresponde aos vínculos reais, mas a outros ficcionais e

artificialmente inventados. (ABRAMO, 2003 p.27).

Perseu afirma que a seleção das notícias chega até mesmo a possuir um

significado antagônico, criando artificialmente outra realidade:

A fragmentação da realidade em aspectos particulares, a eliminação de uns e a

manutenção de outros e a descontextualização dos que permanecem são essenciais,

assim à distorção da realidade e à criação artificial de uma outra realidade.

(ABRAMO, 2003 p.28).

O planejamento dessa ordem de apresentação na construção textual da notícia

coloca o que seria um fato jornalístico secundário como principal. Por sua vez, o fato

principal se torna secundário ou até mesmo em terceiro lugar, direcionando a atenção e a

interpretação à relevância do supérfluo. O que seria apresentado como notícia principal é

divulgado como uma simples informação.

Salomão apud Breed (1955)5 afirma que as notícias são escolhas, mas não são

escolhas individuais do jornalista. De acordo com a Teoria Organizacional6, são escolhas

feitas pelo veiculo de comunicação para o qual o jornalista trabalha. Para Breed, o

comunicólogo se conforma mais com regras impostas pela política editorial da empresa do

que com suas crenças pessoais.

Abramo também defende que as notícias são utilizadas para impor visões

particulares do mundo, criando uma falsa realidade, o que pode ser remetido também a Teoria

da Ação Política7.

As versões interpretativas dos órgãos de comunicação acabam por se tornar o

único meio de conhecimento do leitor sobre o atual contexto em que a sociedade está inserida.

Tal interpretação induz o condicionamento do público ao necessitar de informações, fatos

ditos jornalísticos são impostos ao cotidiano do público, e o meio social é utilizado como

objeto de manipulação, pois as interpretações da mídia são colocadas como realidade.

McLuhan (2001, p.26) conceitua essa vivencia em sociedade e a influência da mídia como

meio interpretativo, denominada Aldeia Global:

5 SALOMÃO, Mozahir. Os constrangimentos organizacionais no jornalismo. Disponível em:

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=283IMQ002. Acesso em: 17 de março de 2009. 6 A Teoria Organizacional explica que toda notícia é apenas uma das versões dos fatos e nunca uma versão

definitiva do acontecimento. 7 A Teoria da Ação Política diz que as mídias são instrumentos de visão política e defende que o posicionamento

das notícias são distorções sistemáticas, que servem a interesses políticos de agentes sociais.

Page 20: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

20

“Toda mídia trabalha sobre nós de uma forma total. Esses meios são tão intensos em

suas conseqüências pessoais, políticas, econômicas, estéticas, psicológicas, morais,

éticas e sociais que não deixam nenhuma parte nossa intocada, não afetada,

inalterada. O meio é a mensagem. Qualquer compreensão sobre mudanças sociais e

culturais é impossível sem um conhecimento do modo como a mídia funciona como

contexto”.

A existência da informação quando veiculada no texto aparece como ilustração,

como exemplificação da opinião que já foi arbitrariamente formada e imposta à sociedade. A

opinião no meio impresso jornalístico serve de base para a formação de opinião do próprio

leitor, tomando para si a visão do meio de comunicação, sem o questionamento de seus

processos de produção. Evidencia-se, assim, que a comunicação detém um forte poder de

influenciar a opinião pública, pois o meio de comunicação é utilizado como forma de dominar

os critérios de aceitação e rejeição do seu público:

A posse da comunicação e a informação tornam-se instrumento privilegiado de

dominação, pois criam possibilidade de dominar a partir da interioridade da

consciência do outro, criando evidências e adesões, que interiorizam e introjetam

nos grupos destituídos a verdade e a evidência do mundo do dominador, condenado

e estigmatizado a prática e a verdade do oprimido como prática anti-social.

(GUARESCHI, 1991 p.19).

O ato de induzir mostrando outra realidade é o principal método de controle

encontrado no meio impresso jornalístico, pois a verdade exposta muitas vezes é contrária ao

sentido real do acontecimento, manipulando, assim, o intelecto do leitor. O público assimila a

realidade apresentada com a visão editorial empregada pelo veículo de imprensa.

Esse mecanismo de “fabricação de opinião” simula a democracia: aparentemente, a

“opinião” divulgada pela mídia interfere no curso dos acontecimentos, dando alusão

de que o público foi levado em consideração. Na realidade, os indivíduos

permanecem isolados, espalhadas pelas mais distintas cidades, regiões, estados e

países, sendo virtualmente “unificados” pela mídia, mas sem terem exercido

qualquer interlocução. É a “ágora eletrônica” que simula a antiga polis, onde tudo se

debatia. As megacorporações simulam a ágora que legitimará suas próprias

estratégias de dominação e controle. (ARBEX, 2001, p.56)

Page 21: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

21

3 CONTEXTO DA POLÍTICA BRASILEIRA

Todas as características e os trâmites políticos que envolveram as eleições para a

presidência do Senado em 2009 tiveram início dois anos antes, em 2007, quando o PT e o

PMDB firmaram acordo para um rodízio na presidência da Câmara, mas a importância do

cargo de presidente do poder legislativo que possui bastante participação e influência nas

eleições presidenciais em 2010 traz as discussões para dentro do senado.

As relações entre o PMDB e o atual presidente Luís Inácio Lula da Silva

transformaram a política nacional, o PMDB está em constante crescimento desde 2006 e

vêem apoiando o presidente da república visando o cargo de vice-presidência nas eleições de

2010. Já o atual presidente ganharia com a vitória do PMDB tanto na Câmara como no

Senado, apoios diretos nas votações de projetos em combate a crise econômica8.

O então presidente do senado, o Senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), desejava

se reeleger no cargo por meios jurídicos, mas o devido o regimento interno do Senado não

permitir a reeleição no cargo dentro da mesma legislatura não obteve êxito. Garibaldi assumiu

a presidência do senado após a renúncia do Senador Renan Calheiros (PMDB-AL).

O DEM – Democratas, extinto PFL – Partido da Frente Liberal, deu total apoio a

candidatura do senador José Sarney (PMDB-AP) como nome forte para vencer a disputa

contra o senador Tião Viana (PT-AC) pela presidência do senado. O DEM firmava alianças

em outros estados junto ao PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira - visando

aumentar numericamente a sua bancada de deputados. O PSDB só apoiaria a candidatura de

Sarney se o PMDB apóia-se a candidatura de José Serra ao Palácio do Planalto. No dias finais

da eleição o PSDB decidiu apoiar o candidato Tião Viana.

Os acordos partidários para apoiar a candidatura de José Sarney envolviam a

preferência em cargos importantes em comissões como as presidências das Comissões de

Constituição e Justiça e Assuntos Econômicos e a Comissão de Relações Exteriores.

8 PMDB domina Congresso e quer vaga de vice para 2010. Disponível em:

http://www.sistemaodia.com/noticias/pmdb-domina-congresso-e-quer-vaga-de-vice-para-2010-9665.html.

Acesso em: 22 mai. 2009.

Page 22: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

22

Neste mesmo momento, o cenário da política maranhense girava em torno da

repercussão dos julgamentos dos processos contra o governador Jackson Lago que tramitavam

no Superior Tribunal de Justiça e no Tribunal Superior Eleitoral em relação às eleições de

2006, em que Jackson Lago derrotou Roseana Sarney, filha de José Sarney.

O senador José Sarney considerado político experiente com repercussão nacional

e principalmente em seu estado, além de focar sua estratégica na eleição da presidência do

senado, sempre teve seu olhar voltado para as disputa políticas maranhenses, que devido à

derrota de Roseana Sarney, para Jackson Lago nas eleições para o governo em 2006,

enfraqueceu sua influência e poder exercido a mais de 40 anos no cenário político estadual.

As relações de poder exercidas por Sarney sempre foram motivos de atenção da

mídia nacional e local. Um grupo de oposição intitulado “Frente de Libertação do Maranhão”,

encabeçado pelo ex-governador José Reinaldo Tavares, antes aliado político da família

Sarney, era formada pela coligação (PDT/PPS/PAN). A Frente de Libertação foi composta em

6 de fevereiro de 2006, com o objetivo de romper, destituir e enfraquecer o poder político da

família Sarney no Estado, visto que todos os governadores eleitos desde 1966 tinham apoio do

senador9.

No decorrer dos desdobramentos na eleição do Senado, o Maranhão vivia dias

conturbados, pois, em vários municípios do estado ocorreriam novas eleições. Vila Nova,

Centro Novo do Maranhão, Bacabeira e Amarante do Maranhão teriam que voltar às urnas. O

Ministério Público pedia a cassação do prefeito de Bacuri sob a acusação de compras de

votos, além dos noticiários locais e nacionais repercutirem os andamentos dos processos

movidos contra o Governador Jackson Lago por abuso de poder político nas eleições de 2006.

Sarney elege-se presidente do senado no dia 2 de fevereiro de 2009 com o apoio

do DEM PMDB, do PTB, do PR e do PCdoB. Neste mesmo dia, o deputado Marcelo Tavares

(PSB) tomou posse da nova mesa da Assembléia Legislativa do Maranhão. Na cerimônia da

nova mesa na Assembléia, o Governador Jackson Lago fez um balanço das ações do governo

no ano passado e mostrou as principais metas para 2009. No dia 17 de abril de 2009, Jackson

tem seu mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Lago acusou a justiça de ser

manipulada pelo poder que o senador José Sarney exerce na política nacional. A segunda

9 José Reinaldo tenta reconstruir Frente de Libertação. Disponível em:

http://www.oimparcialonline.com.br/noticias.php?id=7142. Acesso em: 22 mai. 2009.

Page 23: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

23

colocada nas eleições de 2006, Roseana Sarney (PMDB) e o ex-senador João Alberto

(PMDB) assumiram o cargo do governador cassado.

Já a oposição entrou com recurso no Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão,

com o intuito de ser realizada uma nova eleição. O recurso acusava Roseana Sarney de

também ter se beneficiado do poder político e de ter trocado de partido logo após as eleições

de 2006.10

Ela se elegeu pelo extinto PFL, atual DEM – Democratas e está atualmente no

PMDB.

Quando efetivada a vitória de José Sarney no senado, a revista inglesa The

Economist, publicou um artigo declarando que a vitória de Sarney no senado era a volta do

feudalismo11

. A reportagem “Onde os dinossauros ainda vagam” trata da trajetória política de

Sarney relatando que já é um fato histórico comum uma família deter o poder político dos

estados na região nordeste. O artigo cita a influência do Sistema Mirante de Comunicação

como forma de reforçar o poder político da família Sarney diante das precariedades em que se

encontram as classes menos favorecidas do Maranhão.

10

Partidos acusam Roseana de infidelidade partidária. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2009-abr-

25/pt-psdb-psb-entram-recurso-tse-tirar-roseana-governo. Acesso em: 22 mai. 2009. 11

The Economist é uma revista semanal inglesa sobre assuntos e notícias internacionais. Disponível em:

http://www.economist.com/world/americas/displaystory.cfm?story_id=13062220. Acesso em: 22 mai. 2009.

Page 24: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

24

4 ANÁLISE DOS JORNAIS O ESTADO DO MARANHÃO E JORNAL PEQUENO

Pode-se perceber a diferença no direcionamento das notícias no Jornal O Estado

do Maranhão e Jornal Pequeno sobre a candidatura e eleição do Senador José Sarney à

presidência do Senado Federal referindo-se à análise de discurso dos dois órgãos de

comunicação. É demonstrado que o desenvolvimento da linguagem utilizada para divulgação

dos acontecimentos mostra a visão política das empresas de comunicação e caracterizam

manipulação na formação de opinião, de acordo com os padrões estabelecidos por Perseu

Abramo. A pesquisa foi delimitada ao período de 23 de janeiro a 04 de fevereiro de 2009,

momento em que a repercussão regional da candidatura e eleição do Senador José Sarney à

presidência do Senado Federal ganha maior atenção dos periódicos.

Para apresentar a análise deste trabalho, é necessário fazer uma breve descrição

sobre a criação e a posição ideológica no cenário maranhense de cada um dos veículos

impressos estudados.

4.1 Jornal O Estado do Maranhão

Antes de tornar-se O Estado do Maranhão, o periódico chamava-se Jornal do Dia

– um órgão a serviço da comunidade. Lançado em 1 de maio de 1959, o jornal de oito

páginas era direcionado à política, teve entre seus anos de publicação e funcionamento vários

proprietários e diretores, como Arimathéia Athayde, Raimundo Emerson Bacelar, José Beto

Neiva, Eurico Bartolomeu Ribeiro, Cid Carvalho, Alexandre Alves Costa e Alberto Aboud.

Costa12

(2008. p. 4) afirma que José Sarney começa a fazer parte do quadro de

sócios do Jornal do Dia após apoio dado a ele pelo veiculo de comunicação impresso à sua

candidatura ao governo do Estado do Maranhão:

Aboud entrou no ramo da imprensa por pura conveniência política, pois julgava que

para executar um projeto político e alcançar a vida pública precisava de um veículo

12

Artigo As origens do Jornal O Estado do Maranhão, publicado por Ramon Bezerra Costa e apresentado no

GT – Jornalismo e Produção Editorial, do Iniciacom, evento componente do X Congresso de Ciências da

Comunicação na Região Nordeste.

Page 25: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

25

de comunicação. Por isso, negociou com Alexandre Costa a compra do Jornal do

Dia. Porém, mesmo antes de comprar o jornal elegeu-se deputado estadual pelo PTB

em 1958 e em 1962 entrou para a Câmara Federal pelo PSD, partido do então chefe

político do Maranhão Victorino Freire. Alberto Aboud ficou no PSD até 1965,

quando foi apoiar o candidato das Oposições Coligadas para o governo do estado,

José Sarney – esse apoio se materializou, entre outras coisas, com a colocação do

Jornal do Dia à disposição da campanha de José Sarney.

Em 1968, Alberto Aboud vende o Jornal do Dia para o grupo político pertencente

a José Ribamar Marão. Em novembro de 1968, José Sarney adquire as ações pertencentes a

José Ribamar Marão, 50% do total do periódico impresso. Os outros 50% pertenciam ao

grupo formado por Clodomir Millet e Nunes Freire, aliados de José Sarney no governo do

Estado. Sarney posteriormente adquire a outra metade, tornando-se proprietário do jornal.

Como tradição no meio jornalístico impresso na sociedade maranhense, todo jornal existente

no referido período tinha um caráter essencialmente político. Hoje, o jornal O Estado do

Maranhão compõe o Sistema Mirante de Comunicação, de propriedade da Família Sarney,

juntamente com três emissoras de televisão afiliadas a Rede Globo e seis emissoras de rádio.

O Portal Imirante13

descreve que a mudança da denominação do jornal para O

Estado do Maranhão deu-se no mês de maio de 1973, informando que a data da fundação

continuava a mesma do Jornal do Dia. O antigo Jornal do Dia funcionava na Rua Joaquim

Távora, número 105-B, hoje Rua Nazaré. Posteriormente, com a mudança de proprietário e

nova titulação de Jornal do Dia para O Estado do Maranhão, transfere suas instalações para

Avenida Ana Jansen, 200, São Francisco, onde funciona atualmente a sede do Sistema

Mirante de Comunicação.

Em entrevista a Paulo César D‟Elboux14

, Sarney afirma: “Eu criei o jornal porque

eu tinha que ter um instrumento político (...). O jornal não era de empresário, não era um

negócio que nós estávamos precisando, era uma inspeção do processo político”. (D‟ELBOUX

apud COSTA, 2008, p.5). De acordo com o 5º parágrafo do artigo 220 do 5º capítulo da

Constituição de 1988, os meios de comunicação não podem servir direta ou indiretamente

como objeto de monopólio ou oligopólio, o que acontece com o atual Sistema Mirante de

Comunicação, que tem o mesmo proprietário para diversas mídias.

No dia 02 de fevereiro de 2009, José Sarney de Araújo Costa (PMDB-AM) foi

eleito presidente do Senado Federal do Brasil.

13

O Portal Imirante é parte do Sistema Mirante de Comunicação. Informação Disponível em:

http://imirante.globo.com/oestadoma/paginas/conhecendo.asp. Acesso em: 26 de abril de 2009. 14

Trecho da Entrevista de José Sarney a Paulo César D‟Elboux em 18 de dezembro de 2002. (D‟ELBOUX apud

COSTA, 2008, p.5)

Page 26: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

26

Um trecho do primeiro editorial do jornal O Estado do Maranhão, intitulado Um

jornal, uma universidade, diz que: “A informação é, hoje, como a saúde, como a vida, um

direito. Numa sociedade democrática é a base sem a qual é impossível construir a liberdade; é

o oxigênio sem o qual ninguém respira”. (COSTA, 2008, p. 30). Escrito por José Sarney, o

editorial enfatizou ainda, que não aconteceu nenhuma inauguração e dá destaque às inovações

e modernizações do jornalismo no Maranhão e do direito à informação.

As principais mudanças técnicas aconteceram no sistema de produção, do antigo

linotipo para o offset, o mais moderno da época quando de sua inauguração, por ser um

sistema eletrônico. O Estado do Maranhão foi um dos primeiros jornais a trabalhar com

divisões de editorias e destaca-se por suas inovações que sempre procuraram a informatização

de todos os seus setores, inclusive, O Estado foi um dos primeiros jornais do nordeste a

utilizar cores.

Atualmente, o jornal O Estado do Maranhão tem a tiragem de 13 mil exemplares

de segunda a sábado e 18 mil aos domingos. O veiculo de comunicação impresso do Sistema

Mirante de Comunicação é dividido em 17 editorias, 5 suplementos, 8 colunas diárias, 6

colunas semanais e 2 colunas sociais. 15

4.2 Jornal Pequeno

O Jornal Pequeno foi criado pelo jornalista José de Ribamar Bogéa que, aos 12

anos, precisou trabalhar numa tinturaria para ajudar sua família. Ao final de seu dia de

trabalho, ia para a redação do Jornal O Globo, onde sempre observava os editores.

Ainda jovem, começou sua carreira de jornalista, mas só realmente foi

profissionalizado quando trabalhava 16 horas por dia nos Diários Associados, como repórter

de esporte e polícia. Em 1947, Bogéa cobria o jogo Moto x Fluminense e foi censurado por

fazer críticas ao juiz Élvio Furtado e foi demitido por isso. A partir daí, Bogéa direcionou sua

atenção para criar o Jornal O ESPORTE, evoluindo, posteriormente, para o Jornal Pequeno16

.

15

O Jornal. Disponível em: http://imirante.globo.com/oestadoma/paginas/conhecendo.asp . Acesso em 22 mai.

2009. 16

Disponível em: http://www.piratininga.org.br/artigos/2004/01/araujo-jornalpequeno.html. Acesso em: 26 de

abril de 2009.

Page 27: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

27

O primeiro exemplar do Jornal Pequeno foi publicado no dia 29 de maio de 1951.

Recebeu este nome exatamente pelo formato do jornal, que possuía apenas quatro paginas, ou

seja, duas folhas impressas dos dois lados e dobradas ao meio.

Bogéa fundou o Jornal Pequeno com o intuito de ter um instrumento que

representasse a voz do povo maranhense. Um veículo que atingisse a “baixa renda”, a

população em geral, e que abrangesse assuntos gerais. A linguagem do Jornal era bem ousada

para a época. Colunas como O Mundo em poucas palavras, Defendendo o Nosso Povo, No

Cafezinho, Dicionário do Povo, Língua de Trapo, Coisas que acontecem atingiam classes

diferentes das classes que os jornais da época atingiam. Desde seus primeiros exemplares, o

jornal tentava defender valores que eram considerados importantes e imprescindíveis para

clarear os fatos sociais e, mesmo passando por graves crises financeiras por falta de

anunciantes, Bogéa nunca se deixou abater e seguiu com a sua ideologia. Algumas propostas

indecorosas vindas de políticos apareciam, mas Bogéa não cedeu às tentações de “vender” o

seu jornal e sua idéia. 17

Na década de 60, o idealizador do jornal O Estado do Maranhão, Governador José

Sarney, moveu um processo contra Ribamar Bogéa. Na época, o deputado Freitas Diniz fez

uma denúncia contra José Sarney nas páginas do periódico criado por Bógea, mas o

Governador não podia processar o deputado devido sua imunidade parlamentar, então o

proprietário do jornal O Estado do Maranhão, tentando acabar com o Jornal Pequeno, moveu

um processo contra Bógea, porém, não teve êxito18

.

Bogéa faleceu no ano de 1996, deixando o jornal para seu filho, Lourival Marques

Bogéa, que é o atual chefe do Jornal Pequeno. Hilda Bogéa, esposa de Ribamar, é quem ainda

hoje orienta o jornal. Lourival fez mudanças importantes, como transformar o sistema de

impressão de tipográfico para offset, fazer a página policial ficar mais informativa e adquirir

um caráter político de combate frontal ao grupo de José Sarney.

A tiragem do Jornal Pequeno é de seis mil exemplares em dias de semana e onze

mil exemplares aos domingos e alcança 30% da preferência dos leitores do interior estado.

17

Disponível em: http://www.guesaerrante.com.br/2006/5/31/Pagina732.htm. Acesso em: 27 de abr. de 2009. 18

Informações retiradas da entrevista de Lourival Bógea concedida ao Portal AZ. Disponível

em:http://www.portalaz.com.br/noticia/maranhao/103558_diretor_do_jornal_pequeno_lourival_bogea_desabafa

_contra_a_familia_sarney.html. Acesso em 27 de abril de 2009.

Page 28: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

28

4.3 Análise dos Periódicos Maranhenses

4.3.1 Dia 23 de janeiro de 2009

As matérias analisadas no jornal O Estado do Maranhão e no Jornal Pequeno, do

dia 23 de janeiro de 2009, dão inicio à discussão sobre a possibilidade do Senador José Sarney

(PMDB-AP) assumir mais uma vez a presidência do Senado. A divulgação de tal tema

abrange não somente o fato em si, pois o cenário político regional é repleto de nuances e a

rede que envolve a política local é complexa. O jogo de interesses e a utilização dos meios de

comunicação para empregar ideologias, angulam e direcionam a atenção a disputas políticas,

que nada contribuem para a discussão do caso em destaque.

No periódico do dia 23, O jornal Estado do Maranhão noticiou a matéria “Jackson

faz política baixa”, diz Escórcio. Tal material jornalístico deu inicio a repercussão na

sociedade da eleição do senado, servindo de pano de fundo para as desavenças políticas e

pessoais entre a família do senador José Sarney, proprietária do meio impresso, e o

Governador do Estado do Maranhão, Jackson Lago. O título desta matéria deu-se em

decorrência das declarações públicas dadas pelo governador Jackson Lago (PDT) sobre a

possível candidatura do senador José Sarney (PMDB-AP) a presidência do Senado. Jackson

Lago afirmou suas desavenças ao afirmar que a possível eleição de Sarney seria um

“retrocesso”. A linha editorial do jornal O Estado do Maranhão direcionou a publicação da

matéria para consolidar uma resposta ao governador. O que deveria ser uma discussão sobre o

Senado, transformou-se em ataques à administração do governo do Maranhão.19

Usando da prática jornalista de buscar versões para embasar as críticas ao

governador Lago, o Estado publicou declarações do ex-senador Francisco Escórcio, que

demonstrou sua indignação com as declarações de Jackson Lago e atacou a administração do

governo. Rebatendo o dito “retrocesso” ao atual governador do Estado do Maranhão,

Francisco Escórcio declara:

“Retrocesso é o governo dele que não consegue tratar de maneira respeitosa a

população e as categorias grevistas. Seu governo levou o caos ao Maranhão e, em

19

Em 2006, a candidata Roseana Sarney (PFL), filha de José Sarney, perdeu a eleição do governo para Jackson

Lago, o que mudou a angulação das noticias do periódico para ataques diretos ao governador eleito.

Page 29: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

29

vez de trabalhar pelo estado, ele vem para Brasília fazer a baixa política, a

politicalha. Conversei hoje (ontem) com vários senadores do PDT e senti a grande

admiração deles por Sarney”. (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009, p.2).

Tal prática é definida como padrão manipulação de inversão da versão pelo fato,

pois, o que podemos observar foi o emprego da ideologia dos comandantes do periódico

impresso de propriedade da família Sarney, como tentativa de influenciar a opinião pública

através do uso do frasismo, tendo as declarações de Escórcio como base para a linha editorial

do jornal.

A matéria também pode ser classificada dentro do padrão de inversão da opinião

pela informação, pois, a construção textual do material jornalístico apresentado forma-se

substancialmente a partir da opinião pessoal de Francisco Escórcio. Dos sete parágrafos da

matéria, cinco são declarações integrais de Escórcio.

Mas o que chama atenção e predomina como uma manipulação do real é que o

foco em questão foi fragmentado – cabendo, assim, também classificar a matéria dentro do

padrão de fragmentação - e mudou da possível candidatura do senador José Sarney, para

críticas a administração pública do governador Jackson Lago. Tal direcionamento acarreta

como uma indução, pois o assunto principal foi utilizado somente como plano de fundo a

ataques pessoais e brigas políticas.

A nota publicada em O Estado, na coluna Panorama Político, do jornalista Ilimar

Franco, faz um resumo da situação política partidária da eleição do Senado. Segundo Franco,

quatro senadores do PSDB estariam cogitando votar no candidato adversário de José Sarney

(PMDB-AP), o senador Tião Viana (PT-AC) e outros nove senadores do PSDB estariam com

votos favoráveis a Sarney. O quadro de votos iria mudar, pois o PSDB faria uma reunião e um

apelo para que todos votassem em um único candidato. (O ESTADO DO MARANHÃO,

2009, p.2).

A nota acaba por fragmentar somente um aspecto do tramite partidário,

particularizando os votos do PSDB. Na nota, a dita reunião do partido para a decisão do voto

único de seus senadores, acabou por ocultar outra importante informação: um acordo pré-

existente entre PMDB e PT, que previa um rodízio entre os dois partidos na liderança do

senado já estava fechado para que os partidos votassem no senador José Sarney.

O Jornal Pequeno, por sua vez, tem como notícia principal do dia 23 de janeiro

que Garibaldi diz que denúncias contra filho de Sarney não prejudicam peemedebistas. Na

Page 30: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

30

matéria, é declarado que o Senador Garibaldi Alves (PMDB – RN) teria minimizado as

denúncias existentes contra Fernando Sarney, filho de José Sarney. O texto é repleto de

acusações a Fernando Sarney e de declarações que Garibaldi teria dado à imprensa,

acompanhado também de uma foto do Senador, que tem como legenda a frase Garibaldi

Alves torce para que Sarney saia do páreo. Entretanto, em nenhum momento da matéria é

apresentada alguma declaração de Garibaldi confirmando esta afirmação.

Percebe-se a presença do padrão de manipulação pela indução, por apresentar

fatos passados sobre a família Sarney que não condizem com o tema principal – a possível

candidatura de Sarney à presidência do Senado – e fatos que não estão relacionados

diretamente a José Sarney.

Alguns aspectos são sistematicamente relembrados na composição das matérias

sobre determinados grupos sociais, mais igualmente evitados de forma sistemática

quando se trata de outros. Depois de distorcida, retorcida e recriada ficcionalmente,

a realidade é ainda assim dividida pela imprensa no campo do Bem e realidade do

campo do Mal, e o leitor/espectador é induzido a acreditar não só que seja assim,

mas que assim será eternamente, sem possibilidade de mudança. (ABRAMO, 2003.

p.35)

Analisando o texto, é constatado que o mesmo não condiz com o título,

caracterizando assim uma fragmentação de fatos. Como a fragmentação passa pelo processo

da seleção de aspectos e da descontextualização, percebe-se que, logo após relembrar as

acusações feitas a Fernando Sarney, a matéria foca supostas expectativas de Garibaldi para

que Sarney desista da candidatura. O padrão da inversão da relevância dos aspectos também é

identificado, uma vez que fatos secundários, como a declaração de Garibaldi, são

apresentados como fatos de principal importância para a eleição no Senado.

Além da matéria citada anteriormente, o Jornal Pequeno ainda publica mais duas

matérias relacionadas ao tema. São elas: Por Serra, oposição apóia Sarney no Senado e

Julião Amin põe pingos nos „is‟: Sarney sempre usou o Maranhão e o PMDB como moeda de

troca.

A primeira acima citada não é de criação do Jornal Pequeno, e sim, da Folha de

São Paulo. Acredita-se ter sido publicada por seguir a ideologia do Jornal e apresentar fatos

que possam prejudicar a campanha do Senador José Sarney. A matéria afirma que o único

motivo por qual a oposição estaria disposto a apoiar Sarney em sua candidatura seria atrair o

PMDB, juntamente com o alto comando do DEM e o PSDB para apoiar a candidatura de José

Page 31: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

31

Serra (PSDB-SP) ao Palácio do Planalto, induzindo o leitor por também relembrar fatos sobre

José Sarney, como o Caso Lunus.

A segunda matéria foi publicada na sessão Informe JP e também não é de criação

da equipe de jornalismo do Jornal Pequeno. É uma notícia que foi publicada pelo jornal O

Estado de São Paulo e se utiliza do padrão de inversão da versão pelo fato, já que o

pensamento de Julião Amin corresponde ao pensamento da linha editorial do Jornal Pequeno.

O uso do oficialismo é abusivo, e mostra vários trechos de um pronunciamento de Amin

afirmando que Sarney “sempre utilizou o Maranhão e o PMDB como moeda de troca para

chantagear o governo e se manter no poder através dos tempos”.

4.3.2 Dia 24 de janeiro de 2009

A matéria de capa do Jornal Pequeno no dia 24 de janeiro de 2009 anuncia que o

PT mantém rejeição a Sarney na disputa pelo comando do senado. O título da capa, porém,

difere do título da matéria nas páginas do jornal que, dando continuidade ao texto segundo

indicações da página, tem como título Berzoini afirma que a disputa entre Tião e Sarney será

decidida no voto. No decorrer da matéria, percebe-se o extremo uso do oficialismo, tendo as

afirmações do deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) como verdadeiras e únicas.

Nesta edição do jornal, é veiculado também o editorial Em todas as vitrines.

Identifica-se o padrão de inversão da opinião pela informação e, claro, mostra toda a linha de

pensamento do jornal. Os ataques a José Sarney são feitos a cada parágrafo, sempre

lembrando aos leitores fatos do passado dos membros da família e alertando o leitor sobre

possíveis conseqüências quando eleito a presidente do senado. Frases como “é uma situação

que faz de Sarney um candidato não recomendável para a saúde moral do Senado e do Brasil”

(JORNAL PEQUENO, 2009. p.2) permeiam o texto do editorial.

A matéria publicada no Jornal Pequeno que tem como título Renan busca votos

para Sarney dentro de um PMDB rachado, foi feita pela equipe da Folha Online e não pela

equipe de jornalismo do Jornal Pequeno. A ênfase dada a Renan Calheiros entra em consenso

com o editorial, focalizando em fatos de uma época em que ele estava em evidência por

Page 32: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

32

corrupção. Destaca-se o padrão de ocultação, por ter sido retirado o fato realmente jornalístico

e o padrão de indução, pelas lembranças da época Sarney.

Uma última matéria publicada neste dia segue o padrão de inversão da opinião

pela informação, com um uso exagerado de frasismos, do padrão de inversão da forma pelo

conteúdo, já que o texto está numa posição de maior importância do que a informação que ele

quer noticiar, e do padrão de indução. Sarney: sem consenso e sem Lula, escrita por Haroldo

Sabóia20

, afirma que Sarney está numa posição delicada após o presidente Lula não apóia-lo

na candidatura ao Senado e por não ser o preferido do presidente.

Otacílio (2005, p. 196), sobre a discussão sobre ideologias nos discursos políticos

relata que:

No entendimento de Bourdieu, os discursos políticos que se encontram em oferta no

mercado de bens políticos, são produtos das “lutas simbólicas” que determinados

agentes sociais travam entre si no campo político – um subespaço específico do

espaço social.

Assim, pode-se simplificar o entendimento que é observado no decorrer desta

pesquisas. O cenário político maranhense serve de base para veiculação de acontecimentos e

opiniões de relevância duvidosa, pois a importância de certas notícias consideradas fatos

jornalísticos pelos respectivos meios impressos, não contribuem para o assunto principal,

onde o que seria primário é tratado como plano de fundo em brigas políticas e a construção

textual sobre segmento oposto sempre é tratada negativamente e em tons considerados

pejorativos.

A disputa política entre o Governador do Maranhão eleito em 2007, Jackson

Lago, e a família Sarney, é retratada nas notícias publicadas pelo jornal O Estado do

Maranhão no início da cogitação do nome do Senador Sarney ao Senado, mas a candidatura

do Senado colocada como assunto principal é a entrada para críticas a Lago no dia 24 de

janeiro de 2009.

A matéria publicada e intitulada Jackson Lago age como bobo nas eleições do

Senado, diz Gastão, é uma espécie de resposta a declarações de Jackson Lago, assumidamente

contrário à possível eleição de José Sarney ao comando do Senado. Na notícia, ao exemplo do

que ocorre no dia 23 de janeiro no mesmo jornal ao publicar declarações na íntegra do ex-

senador Francisco Escórcio, as declarações de Gastão Vieira resumem o trâmite político que

20

Haroldo Sabóia foi Constituinte em 1988.

Page 33: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

33

acontece entre os partidos envolvidos na disputa/briga existente entre o PDT de Jackson Lago

e o PMDB de José Sarney. As opiniões do deputado federal Gastão Vieira são utilizadas

como julgamento e juízo de verdade, caracterizando assim o padrão de inversão da opinião

pela informação.

O fato é apresentado ao leitor arbitrariamente escolhido dentro da realidade,

fragmentado no seu interior, com sues aspectos correspondentes selecionados e

descontextualizados, reordenados invertidamente quanto a sua relevância, seu papel

e seu significado, e, ainda mais tendo suas partes reais substituídas por versões

opiniáticas dessa mesma realidade. (ABRAMO, 2003. p.32)

Gastão Vieira chega a afirmar que José Sarney ganharia naquele dia a eleição para

comandar o Senado, pois o senador do PMDB já teria votos suficientes para vencer a disputa.

Tal declaração pode ser considerada fato-jornalístico, mas o discurso do deputado e a matéria

em questão ocultam a informação que Sarney precisaria de 41 votos para se eleger e que até o

momento José Sarney teria supostamente 34 votos, quantidade insuficiente para vencer. A

declaração de Gastão Viera não está em discussão sobre os padrões de manipulação, mas o

periódico impresso deveria contestar mostrando o quadro atual dos votos. Quando o jornal se

omite, ele oculta a verdade e o leitor não toma conhecimento da realidade. O público é

induzido a acreditar no favoritismo devido à interpretação relatada pelo deputado federal, uma

indução construída pela inversão da versão interpretativa do fato em si.

4.3.3 Dia 25 de Janeiro de 2009

A matéria do dia 25 de janeiro publicada pelo jornal O Estado do Maranhão tende

a esclarecer todo o trâmite político presente na disputa pela escolha do candidato que irá

representar o PMDB na eleição para a presidência do Senado. O presidente do Senado até

aquela data, Garibaldi Alves, demonstrava vontade de voltar a disputar a vaga para se reeleger

no cargo mais alto do senado. Segundo a matéria,

Ele afirma que o acordo feito entre PT e PMDB não se estende ao Senado. Garibaldi

deixou oficialmente a disputa para apoiar José Sarney (PMBD-AP). Garibaldi

afirmou que o acordo firmado em 2007 que previa um rodízio na presidência entre

PT e PMDB tratava exclusivamente da Câmara. “Não houve reconhecimento de

nenhum acordo e isso não prosperou” afirmou o presidente do Senado. Garibaldi

pretendia disputar novamente a presidência, mas abriu mão depois que o senador

José Sarney anunciou que pretende concorrer ao posto. (O ESTADO DO

MARANHÃO, 2009.p.2).

Page 34: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

34

O jornal de propriedade de Sarney afirma que Garibaldi deixou a disputa para

apoiar a candidatura do senador maranhense. Ora, Garibaldi dava declarações públicas que

gostaria de continuar na presidência do Senado e logo após, deixa a disputa somente por causa

do anúncio de José Sarney declarando que gostaria de ser mais uma vez candidato

representante do partido, o que remete à importância do acordo firmado entre o PT e PMDB

para o rodízio de lideranças.

A matéria em si trata da desistência de Garibaldi, da não legitimação do acordo,

mas em momento algum na construção da notícia desenvolve-se a declaração de Garibaldi em

favor a José Sarney. O dito apoio entre os senadores é interpretado somente em detrimento da

desistência de um e candidatura efetiva do outro, Garibaldi em momento algum se diz

apoiador de Sarney. Acrescentado à falta de informação, a foto legenda diz que “Garibaldi

Alves declara apoio a Sarney e diz que PMDB tem legitimidade para assumir câmara e

Senado” (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.2)induzindo o leitor a acreditar em uma

declaração que não existe. A interpretação do fato jornalístico coloca a opinião e a linha

editorial à frente da informação, invertendo o sentido original e retratando uma realidade

inexistente.

Já no espaço destinado à publicação de notícias veiculadas no portal Imirante21

, o

jornal Estado do Maranhão publica uma nota do blog do jornalista Décio Sá, que trata do

envolvimento da influência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para consolidação e

apoio de outros partidos na votação do dia 2 de fevereiro. O partido em questão seria o

PSDB, sob a presidência do senador Sérgio Guerra (PE). A nota, publicada na internet no dia

22 de janeiro, caracteriza a busca de apoios à possível adesão a candidatura de José Serra ao

Palácio do Planalto.

Neste mesmo dia, o Jornal Pequeno exibe declarações do deputado federal

Domingos Dutra como informações de extrema importância para a eleição à presidência do

Senado, o que caracteriza o padrão de inversão pela relevância dos aspectos. A matéria diz

que Dutra enviará uma carta de apoio ao senador Tião Viana, por considerar sua luta como

legítima e necessária ao Brasil. Dutra afirma que

A eleição de Sarney para a Presidência do Senado será duro golpe à renovação

política almejada pela população, uma vez que eleito presidente do Congresso

Nacional, Sarney irá constranger e pressionar os ministros do TSE pela cassação do

governador Jackson Lago. Fará ainda mais pressões sobre o Presidente Lula para

21

O Portal Imirante é parte integrante do Sistema Mirante de Comunicação, de propriedade de José Sarney.

Page 35: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

35

obter mais cargos. Usará o poder do cargo para perseguir adversários no Maranhão

e no Amapá e fará a ponte que deseja ou para tentar impor um vice da ministra

Dilma, caso perceba que está em condições de ser eleita ou então para embarcar na

candidatura de José Serra, já que em seus 55 anos de mandato jamais ficou longe de

quem sentou na cadeira de Presidente da República. (JORNAL PEQUENO,

2009).22

Também é identificada a presença do padrão de indução, já que a matéria sobre

Dutra continua relembrando fatos passados da família Sarney. Percebe-se, então, certa

irritante e abusiva presença do mesmo discurso, já que em vários os artigos o jornal procura

destacar, de forma insistente, malfeitorias do governo Sarney ou quaisquer outros episódios

que envolvam o nome do senador e outros membros de sua família.

Publicado na coluna JP Artigos, de autoria de Jersan Araújo e título Sarney quer

ser presidente do Senado, o texto não foge à regra. Também usa o mesmo artifício de

indução, relembrando episódios envolvendo Fernando Sarney e fazendo referência às

declarações de Julião Amin e Domingos Dutra, publicadas em outras matérias. Além da

indução, o padrão de inversão da opinião pela informação também é presente.

A última notícia sobre o assunto publicada no periódico no dia 25 de janeiro é

intitulada Blogueiros organizam café da manhã em apoio a Tião Viana. A matéria é de

importância mínima ao fato, caracterizando, assim, um padrão de inversão pela relevância dos

aspectos. O teor da notícia – uma convocação para um café da manhã em apoio a Tião Viana,

convocada por blogueiros do Jornal Pequeno – de nada acrescenta à notícia principal da

candidatura de Sarney à presidência do Senado. A notícia, inclusive, diz que o café da manhã

é apenas uma idéia inicial e que está sujeito a alterações, o que mostra o descomprometimento

do jornal em dar notícias de relevância e que realmente sejam de extrema importância à

construção do real.

4.3.4 Dia 26 de Janeiro de 2009

A única notícia sobre as eleições no Senado publicada pelo Jornal Pequeno na

edição do dia 26 de janeiro de 2009 anuncia que o PSDB faz exigências para apoiar Zé

Sarney na disputa no Senado. O primeiro aspecto a ser destacado é que, mais uma vez, a

22

Por o site do Jornal Pequeno ter o caráter transpositivo e à não-disponibilidade da matéria impressa, esta

informação foi retirada do site do veículo. Disponível em:

http://www.jornalpequeno.com.br/2009/1/25/Pagina97278.htm. Acesso em: 10 de maio de 2009.

Page 36: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

36

notícia publicada não é de autoria de jornalistas do Jornal Pequeno, e sim, de Josias de Souza,

colunista da Folha de São Paulo. Josias defende em seu texto que o PSDB estaria negociando

cargos para fechar acordo com Sarney. Souza afirma que “O PSDB está a um passo de fechar

com Sarney (AP), o candidato do PMDB. Os tucanos exigiram de Sarney três postos. Se

forem atendidos, fecharão as portas para Tião Viana (AC), o candidato do PT. (JORNAL

PEQUENO, 2009. p.3).

Souza também afirma que “Tião já teve duas conversas telefônicas com Serra, que

não se bica com Sarney” (JORNAL PEQUENO, 2009. p.3). Na matéria publicada no dia 23

de janeiro, porém, este mesmo jornal diz que o PSDB fecharia acordo com Sarney em favor

de José Serra. O texto sugere uma negociação de cargos, mas em momento algum o Jornal

explica o porquê da animosidade entre Serra e Sarney, evidenciando, inclusive, que o apoio

viria por parte de Serra, desde que Sarney também cumprisse a sua parte no acordo.

Classifica-se a matéria de acordo com o padrão de inversão da opinião pela

informação, já que o Jornal Pequeno utiliza da opinião de Josias para veicular a informação

principal. Abramo explica que “não se trata de dizer que além da informação, o órgão de

imprensa apresenta também a opinião, o que seria justo, louvável e desejável, mas sim que o

órgão de imprensa apresenta a opinião no lugar da informação” (ABRAMO, 2009, p.31, grifo

suprimido).

Em contrapartida, O Jornal O Estado do Maranhão não publicou nenhuma matéria

relacionada ao tema neste dia.

4.3.5 Dia 27 de Janeiro de 2009

Os jornais O Estado do Maranhão e Jornal Pequeno publicam matérias com o

mesmo teor no dia 27 de janeiro. É interessante destacar que as duas se enquadram no padrão

de fragmentação, visto que selecionaram fatos jornalísticos e não-jornalísticos e cada jornal

publicou somente o fato que estava de acordo com a sua linha editorial e visão política.

O Jornal Pequeno afirma que Governadores fazem pressão contra Zé Sarney no

Senado, apostando em um movimento de rebelião de governadores nordestinos contra a

candidatura de Sarney e “pelo menos quatro deles manifestaram a intenção de levar ao

Page 37: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

37

presidente Luiz Inácio Lula da Silva sua desaprovação à idéia do PMDB de comandar as duas

Casas do Congresso” (JORNAL PEQUENO, 2009. p.3), havendo, assim, a possibilidade de

ameaça de boicote à candidatura de Michel Temer. Há uma contradição com o título, que

afirma que a ameaça é contra Sarney. A matéria também diz que os governadores devem

consultar a posição de Lula antes de liberar as bancadas nordestinas, temendo que a eleição de

Sarney fortaleça os grupos regionais do PMDB.

O mesmo fato não ocorre do Jornal O Estado do Maranhão. Praticamente decidida

a escolha do nome do PMDB para a disputa pela presidência do senado, este meio impresso

tratou de planejar a repercussão do fato esquematizando a opinião que viria a ser vista no

decorrer de suas futuras matérias. Tal planejamento fragmenta as informações pelos seus

aspectos ocultando todos os procedimentos e nuances envolvidas no caso até seu fechamento,

induzindo o pensamento do leitor a acreditar no clima de tranqüilidade para possível vitória

do Senador maranhense, tendo espaço, inclusive, para a citação envolvendo as disputas e

desavenças políticas. O que se observa nas notas intituladas Tranquilo e Bobo da corte, que

dão ênfase ao apoio do PMDB juntamente com a experiência adquirida na carreira política de

José Sarney, e ao papel de denegrir a imagem do governador Jackson Lago ao relembrar

declarações e críticas feitas por Gastão Vieira no dia 24 de janeiro de 2009.

4.3.6 Dia 28 de Janeiro de 2009

Dando prosseguimento à nítida campanha eleitoreira, o periódico do Sistema

Mirante trata de esclarecer a sua dita visão da realidade que expõe diariamente com o intuito

de influenciar o senso crítico de seus leitores.

O favoritismo deixa de ser mera especulação para se firmar como vitória

antecipada, mesmo antes dos pressupostos iniciarem uma perspectiva positiva para algum

posicionamento em relação a qualquer vertente. A produção jornalística acaba por ser

utilizada como mera ferramenta de disseminação de propagandas eleitorais. Daí a gravidade

da interpretação dos fatos, pois as relações entre os meios de comunicação e a política

representam um poder dentro da sociedade, repassando suas ideologias e seguimentos.

Page 38: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

38

Tomar para si a verdade dos meios de comunicação é um habito das classes que

consomem notícias. Dentro destas perspectivas, a matéria José Sarney garante apoio formal

das bancadas do PTB e do PR induz os leitores de várias formas com o objetivo de consolidar

o favoritismo do senador José Sarney na disputa para a presidência do Senado. É atribuída a

Sarney uma lista detalhada de seus aliados e apoiadores na eleição tratando dos trâmites das

coligações partidárias. O Estado confirma 46 votos para eleição, cogitando mais 13 votos no

decorrer das articulações, totalizando 59 votos contra 12 do senador Tião Viana.

Primeiramente, o jornal O Estado do Maranhão induz de maneira positiva que

Sarney alcançará os 59 votos, mas nem mesmo as alianças dão certeza do número exato de

senadores que apoiarão José Sarney. A notícia afirma que “Além destas legendas, Sarney tem

apoio do seu partido, o PMDB e do DEM, que somam algo em torno de 35 parlamentares já

levando em conta as eventuais defecções”. (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009. p.2).

Como as estatísticas do jornal podem dar certeza utilizando o termo “algo em

torno”, visto que tal expressão não dá conotação de certeza no contexto de significados? A

indução maior caracteriza-se pela desinformação, logo em seguida que a matéria afirma “já

levando em conta as eventuais defecções”. Ora, se em sua construção textual anterior, o jornal

não passa certeza e segurança por utilizar a expressão “algo em torno”, não poderia afirmar

tais fatos levando em consideração possíveis desistências. O que ocorre nesta matéria é uma

fragmentação por seleção dos aspectos, onde os fatos interpretados são interligados sem nexo

com o intuito de induzir e impor as ideologias de favoritismo.

Linguagem desnecessária e adjetivações são utilizadas para tentar aproximar as

classes junto às interpretações do jornal. Trechos como: “O PT esperava que Serra, velho

desafeto de Sarney, se animasse a arregaçar as mangas por Tião Viana” (O ESTADO DO

MARANHÃO, 2009. p.2, grifo nosso) e a declaração de José Serra: “Tira meu nome dessa

história” (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009. p.2, grifo nosso), se mantendo isento nas

buscas de votos por Tião Viana, fez com que o jornal induzisse que José Serra apoiava Sarney

com a interpretação “Um pedido que deixa os senadores do PSDB à vontade para optar por

Sarney” (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009. p.2). Outro fato que discorre juntamente ao

caso José Serra é a isenção de Aécio Neves, a mesma situação de Serra. A matéria fragmenta

os fatos utilizando a influência de grandes nomes da oposição política a conotações positivas

Sarney, uma indução do entendimento direto na repercussão da notícia.

Page 39: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

39

Outra inversão da relevância dos aspectos é encontrada na conotação negativa que

é dada as ações, busca de votos e contabilidade de apoios ao senador Tião Viana. Enquanto se

entra em detalhes de forma conturbada sobre os votos positivos a Sarney, Tião é citado de

maneira pejorativa:

Tião ainda rumina a expectativa de obter os votos de cinco senadores do PMDB.

Renan Calheiros (PMDB-AL), o centroavante da candidatura Sarney, desdenha da

aposta. Move-se para restringir a perspectiva de defecção a um mísero nome:

Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Com a saída do PR, Tião Viana tem agora o apoio

oficial de apenas cinco partidos. (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009. p.2, grifo

nosso).

Durante campanhas eleitoreiras no Senado, o que mais atenta aos próprios

políticos e aos poderosos partidos é o ganho de cargos com possíveis alianças firmadas em

favor de determinado candidato. Nos altos cargos de comando no Senado nacional esta rede

em busca de favorecimento em bancadas, comissões e vice-mandatos, forma uma complexa e

estratégica disseminação de planejamentos, visando postos de liderança em renome nacional.

Retratar essa rede de planejamento induzindo o favoritismo de algum candidato é

o papel da imprensa/órgão de comunicação atuando como partido político, visto que partidos

e meios de comunicação são ambos comandados por políticos adjetivados de “estrategistas”,

por possuírem meios de comunicação para disseminarem fatos jornalísticos positivamente

angulados aos seus próprios interesses.

Na matéria Aliados já pensam em desistência de Tião, o direcionamento explícito

ao favoritismo do senador maranhense tenta informar o leitor que, na disputa pelo Senado,

votar em José Sarney concederia possíveis cargos a opositores, dando então a entender que

pela corrida de cargos, senadores e partidos estariam fazendo alianças para votar em Sarney,

consolidando sua vitória em relação à Tião Viana.

Dada as devidas proporções à imagem positiva de José Sarney para a eleição do

dia 2 de fevereiro, a matéria do jornal O Estado do Maranhão contrabalança utilizando o

marketing negativo ao senador Tião Viana. O discurso de Viana divulgado na matéria passa a

imagem de desespero com uma possível derrota somente pela noticia da definição do nome de

Sarney como representante do PMDB na disputa.

O PTB também se apressou hoje em oficializar seu apoio à candidatura de Sarney.

Apesar de toda movimentação e pressão, o candidato do PT reiterou que

permanecerá na disputa até o fim. “Não tem pressão nenhuma. Eu não retiro a

minha candidatura por ninguém. Vou até o fim”, garante ele. (O ESTADO DO

MARANHÃO, 2009.p.2).

Page 40: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

40

A imposição de atribuições negativistas não é figurada somente a Tião Viana, mas

também a seu partido, que é alvo de ataques e a mesma busca de apoio que o PMDB pratica é

dita como uma atitude incorreta do PT. A fragmentação dos fatos jornalísticos firma a mídia

como partido político, pois a busca de apoios e promessas de futuros cargos é prometida por

todos, mas o ato errôneo é atribuído intitulado somente a oposição do senador José Sarney.

Nos bastidores, o PT do Senado que ainda resiste ameaça atrapalhar os planos do

PMDB no caso da derrota de Tião Viana: durante a divisão dos cargos, o PT pediria

os postos que já foram prometidos aos demais partidos... “O clima aqui está tão

pesado que não se consegue nem vender a alma ao Diabo, porque já tem gente

oferecendo de graça”, ironizou Wellington Salgado (PMDB-MG). (O ESTADO DO

MARANHÃO, 2009.p.2).

Revitalizando e prevendo a vitória do senador do PMBD, a pequena matéria

Atrasado, PSDB vai de Sarney, resume o apoio tardio do PSDB ao candidato peemedebista. O

termo “O roteiro está pronto” (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.2) caracteriza o

favoritismo, ao mesmo tempo em que a expressão “Perdeu a oportunidade de faturar no papel

de noiva” (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.2) remete o atraso como perda de

possíveis cargos e vantagens futuras:

O PSDB perdeu o timing e anunciará hoje apoio a José Sarney (PMDB-AP) quando

seus votos já não são mais decisivos para elegê-lo presidente do Senado. Perdeu a

oportunidade de faturar no papel de noiva. O roteiro está pronto. Para evitar a

imagem de decisões centralizadas na cúpula, o PSDB reunirá hoje sua bancada. O

passo seguinte é tentar afastar a impressão de que a decisão está atrelada a 2010.

Dirá que o apoio foi decidido com base em uma lista de compromissos, como

independência em relação ao Palácio do Planalto, direito de obstrução garantido e

posição contrária a um terceiro mandato para o presidente Lula. (O ESTADO DO

MARANHÃO, 2009. p.2).

Por outro lado, a edição impressa do Jornal Pequeno do dia 28 de janeiro publica

duas notícias sobre a eleição no Senado. Na primeira, o veículo divulga que Blogueiros do JP

manifestam apoio à candidatura de Tião Viana ao Senado. A notícia refere-se a evento já

anunciado no dia 25 de janeiro, quando ainda era apenas uma intenção de apoio a Tião Viana

e sujeita a alterações e sugestões. A matéria pouco utiliza agressões a Sarney em seu discurso

e aproveita o espaço para transmitir a notícia como aconteceu. As agressões típicas das

notícias do veículo, apesar de em menor quantidade no texto, ainda existem nas frases de

represália, que afirmam que

O Senador Zé Sarney quer se eleger presidente do Senado apenas para continuar

fazendo o que lhe é peculiar na política, o velho jogo das chantagens e barganhas

políticas em prol de seus interesses, isto é, nada mais é uma tentativa de reverter a

vexatória derrota que sofreu pra Frente de Libertação nas últimas eleições.

(JORNAL PEQUENO, 2009. p.3).

Page 41: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

41

A mesma notícia também traz uma carta aos blogueiros, vinda do candidato Tião

Viana, que expressa sua gratidão pelo apoio e relembra o papel do Senado, de “efetivar

medidas imprescindíveis à modernização do país, como a reforma política e tributária, e a

criação de uma agenda ambiental que garante nossa soberania sobre a Amazônia e a

sustentabilidade do seu desenvolvimento”. (JORNAL PEQUENO, 2009. p.3). Ao final de sua

carta, o Senador diz que a atividade política do país está sendo prejudicada por velhas

oligarquias, se referindo a Sarney. Apesar de o discurso de Viana ter ligação com o texto e

não apresentar palavras de baixo calão e agressões verbais, está de forma coerente à linha

editorial do jornal e não foge dos padrões de manipulação, já que o veículo utiliza a

declaração de Viana como oficial em relação ao fato, classificado, assim, como oficialismo.

Pode-se também classificar a notícia dentro do padrão de inversão da relevância dos aspectos,

tendo “o acessório e supérfluo no lugar do importante e decisivo.” (ABRAMO, 2003. p.29).

A segunda notícia do Jornal Pequeno publicada neste dia parece ser a de maior

coerência nesta análise. O jornal não utiliza seu espaço para agredir verbalmente o senador

José Sarney e nem mostra seu apoio ao senador Tião Viana. A matéria intitulada Partidos

trocam apoio por cargos na Mesa Diretora do Senado fala da disputa de partidos por cargos

em troca de apoio a Sarney ou Viana. São listados os cargos que cada partido pretende

assumir, beneficiando, assim, suas legendas para os próximos dois anos.

4.3.7 Dia 29 de Janeiro de 2009

No dia 29 de janeiro foi feita uma ampla divulgação no jornal O Estado do

Maranhão, concretizando a candidatura de José Sarney, representante do PMDB, na disputa

pela presidência do senado. A cobertura jornalística dava ênfase à experiência do ex-

presidente da república, abordando, inclusive, sua passagem como presidente do senado em

duas vezes anteriores.

Durante toda a semana e períodos anteriores, o nome de Sarney foi cogitado para

disputar a vaga do então senador Garibaldi Alves, mas José Sarney sempre negava tal fato.

Nesta edição, o senador do Amapá declara: “A partir deste momento, eu sou candidato”, (O

ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.2). Visto que campanhas eleitorais nunca começam de

três a quatro dias antes de uma votação e que a briga pela disputa de cargos começa mesmo

Page 42: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

42

antes de um possível nome de candidato seja definido, a reiteração de José Sarney à

presidência do senado vem sendo planejada mesmo antes deste período eleitoreiro.

Sarney declara: “Disseram que eu seria a pessoa indicada para presidir o Senado”.

(O ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.2). O senador joga a repercussão anterior à escolha

do seu nome para afirmações e especulações de terceiros, induzindo e invertendo um caráter

de idoneidade, com o intuito de se resguardar dos planejamentos e acordos já tratados pelo

seu partido através de alianças por promessas de futuros cargos, deixando a responsabilidade

destes acordos aos partidos. Tais fatos já ocorriam em um período anterior à escolha de seu

nome. Ocorreu inclusive, uma ocultação de informações não descritas de qual segmento da

sociedade o estava apoiando como melhor alternativa, induzindo que foi solicitado para uma

missão, com a afirmação:

“Não pude deixar de atender uma solicitação de meu partido”, completou Sarney,

destacando que, além da solicitação da bancada, setores da sociedade consideraram

que ele seria a melhor opção para presidir a Casa... O candidato do PMDB disse que

a partir de agora (de ontem) iria começar a conversar com os colegas de outras

legendas em busca de votos. (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.2).

Os acordos já firmados entre partidos são consolidados, mas logo após a definição

dos candidatos, existe uma corrida para firmar novas alianças, a fim de fortalecimento político

partidário e a presença em decisões e cargos de renome da casa. Partidos de oposições

juntam-se a novas bases para garantir o futuro das coligações. Estes referidos acordos não são

tratados de maneira explícita a luz de todos os olhos da sociedade:

O candidato peemedebista não quis adiantar o teor da conversa com os senadores

tucanos, mas mostrou-se entusiasmado com a possibilidade de apoio do PSDB.

“Pelo que ouvi deles, o PSDB vai apoiar nosso projeto”, disse. (O ESTADO DO

MARANHÃO, 2009. p.2).

Favoritismo assumido pelas notícias veiculadas, O Estado do Maranhão tenta

inverter e induzir a vitória de Sarney descaracterizando e descontextualizando a campanha do

senador Tião Viana, dando uma conotação que nem mesmo os membros do PT o apoiariam:

Candidato à presidência do Senado, o senador José Sarney tem o apoio de 21

colegas do PMDB, 13 do DEM, sete do PTB, quatro do PR e um do PCdoB.

Matematicamente, esse grupo de apoio garante sua eleição – são 46 votos num total

de 81 - mas ele ainda espera o apoio dos 13 senadores do PSDB e até no PT, que

tem como candidato o acreano Tião Viana. Os aliados de Sarney calculam que ele

será eleito com mais de 50 votos. (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.3).

Firmado os nomes, o que mais influência em uma eleição, além do número de

votos, é passar a tranqüilidade de favorecimento à sociedade, repassando o clima de desespero

a campanha do outro candidato. Por sua linha editorial, o jornal O Estado do Maranhão não

Page 43: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

43

cometeria o erro de atribuir desconfiança e medo de uma possível derrota ao candidato

proprietário do Sistema Mirante de Comunicação.

Depois de passar meses negando que seria candidato à presidência do Senado,

alegando inclusive que já tem quase 80 anos, José Sarney (PMDB-AP) não levava

nenhum obstáculo em consideração, ontem, no almoço da bancada. Ele lembrou,

segundo os presentes, que Magalhães Pinto, quando resolveu se candidatar à

Presidência da República, aos 69 anos, foi questionado se não era muito velho. “Ele

respondeu: „Não, aliás estou indo tomar vacina contra paralisia infantil agora‟”. (O

ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.2).

As matérias escritas e publicadas relacionadas ao tema fragmentam

particularidades da realidade, interconectando fatos relevantes e irrelevantes a sociedade, tal

ações não descaracterizam a prática jornalística, mas o seu poder de influência deve ser

rigorosamente analisado.

O Jornal Pequeno, por sua vez, consolida o seu apoio a Tião Viana e utiliza do

padrão de manipulação por ocultação para publicar a matéria Tião Viana reafirma que não

desistirá de sua candidatura. Em momento algum é publicado um depoimento que reafirme o

título. Ao contrário, o Jornal se prende a mostrar as declarações de fúria de Viana ao saber

que Sarney seria ser candidato, declarando que

Quando ele escondeu a candidatura dele por quatro meses dizendo que não era

[candidato] e agora manda recado por líderes, ele só pode estar pensando que o

Senado é o quintal da casa dele, respondeu Viana, quanto à possibilidade de ser

procurado por líderes de partidos para propor que desista da candidatura petista em

favor de Sarney. (JORNAL PEQUENO, 2009.p.3).

Ao longo da matéria, também é afirmado que Viana já aceitou todas as propostas

do PSDB, incluindo a indicação de Marcone Perilo para a 1.ª vice-presidência e Flecha

Ribeiro para a 4.ª secretaria. (JORNAL PEQUENO, 2009, p.3). Além do padrão de ocultação,

também é presente o padrão de fragmentação, por passar claramente pela seleção de aspectos

e pela descontextualização e não estar condizente com a proposta inicial da matéria.

Sarney anuncia ser candidato para „atender solicitações‟, a segunda matéria

publicada pelo Jornal Pequeno neste dia, já começa a manipular seu discurso pelo título. As

palavras demarcadas entre aspas dão uma idéia além do significado semântico de seu uso, que

caracterizam declaração de alguém. Neste caso, a idéia de mentira, de discurso forjado para

justificar o ato de quem falou, é bem mais forte que apenas uma declaração. A notícia se

utiliza de frasismos e deixa a entender que Sarney quer a desistência de Tião Viana e que se

tornou candidato para atender solicitações do partido, de senadores e de setores da sociedade.

Em outro momento, a notícia publica uma declaração de Sarney alegando que “não poderia

Page 44: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

44

pensar no próprio bem-estar, abdicando de „prestar um serviço para o país‟.” (JORNAL

PEQUENO, 2009, p.3). Novamente, a presença das aspas nas declarações passa a intensão de

ironia no discurso do candidato. O padrão de indução está presente ao longo da matéria, que

tenta mostrar somente a visão da oposição, ignorando o fato de que disputas por cargos e

negociações também aconteceriam, caso Viana fosse eleito presidente do Senado.

O Jornal Pequeno também publica uma matéria da Folha Online neste mesmo dia,

que contradiz o texto analisado acima e é intitulada Sarney cede a apelos e oficializa

candidatura ao comando do Senado. Nesta, existem declarações de Sarney afirmando que

estaria disposto a enfrentar Viana na disputa pela presidência do Senado, enquanto a matéria

anterior publica declarações de Sarney insinuando uma possível desistência de Tião para que

houvesse uma candidatura de unidade. O teor da matéria é o mesmo da anterior e não se

considera necessária a repetição do assunto no mesmo dia, o que caracteriza também a

pobreza de conteúdo do meio impresso, não buscando por matérias novas.

A quarta matéria publicada no dia 29 de janeiro diz que o PSDB adia decisão

sobre apoio a Sarney ou Tião Viana e está enquadrada nas características do padrão de

ocultação, pois só torna jornalístico o fato de que Viana cedeu às exigências do PSDB, não

levando em consideração que Sarney também o fez. Segundo a notícia, a decisão foi adiada

por causa da carta que foi entregue por Viana a Arthur Virgílio, líder do PSDB. Outra matéria

publicada no mesmo dia afirma, porém, que o PSDB já teria decidido por José Sarney, por

considerarem que uma aliança com Viana os prejudicaria em 2010. A matéria foi escrita pela

Folha Online. Ora, se um veículo de comunicação possui uma linha editorial e deve segui-la,

é inconcebível que erros como este sejam deixados de lado por editores.

4.3.8 Dia 30 de Janeiro de 2009

O artigo Sarney: sem consenso e sem Lula, é publicado novamente no Jornal

Pequeno sob a justificativa de ter sido repetido a pedidos. O mesmo não acrescenta nada de

novo a esta discussão, é repetido na íntegra. Além deste, o veículo publica mais duas matérias

acerca do tema.

Page 45: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

45

A matéria Dutra afirma que haverá retrocesso, se Sarney ganhar eleição no

Senado é a publicação de uma carta de apoio que Dutra entregou a Tião Viana, mostrando sua

solidariedade ao candidato petista. A notícia se enquadra perfeitamente no padrão de inversão

da versão pelo fato, já que usa declarações de Dutra como oficiais para dar veracidade e

legitimidade ao fato. Sobre o oficialismo, Abramo (2009. p. 31) diz:

Ela [a autoridade] sempre vale mais do que as versões de autoridades subalternas,

sempre muito mais que a dos personagens que não detêm qualquer forma de

autoridade e, evidentemente, sempre infinitamente mais do que a realidade. Assim, o

oficialismo se transforma em autoritarismo.

A carta ataca diretamente ao Senador José Sarney. Dutra incita que

A sociedade terá ainda direito de se questionar: qual arma secreta e o poder invisível

que possui o senador Sarney, capaz de derrotar um senador do PT, encurralar o

governo e seduzir os democratas do Brasil, após servir militares, presidir a Arena e o

PDS. Ampliar o seu mandato de quatro para cinco anos em troca de canais de TV e

rádio e deixar o País com a maior inflação da história? A sociedade terá de se

perguntar: quais interesses estão movendo um político com 79 anos, a ponto de fazê-

lo mudar de idéia após negar por três vezes ao presidente da república que não seria

candidato, imitando o Apóstolo Pedro que também por três vezes negou Cristo antes

de traí-lo? (JORNAL PEQUENO, 2009.p.3).

Dutra chega a comparar Lula a Jesus Cristo em seu discurso e Sarney ao apóstolo

bíblico Pedro, o que não é coerente ao discurso e ao contexto histórico o qual ele representa.

O deputado também afirma que Sarney quer presentear o Maranhão a sua filha, Roseana

Sarney, já que ela não ganhou a eleição ao governo nas urnas (JORNAL PEQUENO,

2009.p.3).

A coluna Informe JP comunica que o PSDB resolveu apoiar a candidatura de Tião

Viana após carta-compromisso assinada pelo senador no dia anterior à decisão do partido. O

PSDB, por sua vez, afirma que fez a opção que considera melhor e mais adequada ao

Legislativo (JORNAL PEQUENO, 2009.p.3). A notícia se enquadra no padrão de indução,

visto que fala daquilo que é dito sem ser falado (ABRAMO, 2009, p.34). O discurso do Jornal

é de que o PSDB estaria aparentemente desprendido do desejo de ter pelo menos três cargos

na mesa diretora e das comissões, mas declarações de Viana afirmam que o PSDB informou

que vai tratar do assunto dentro do que está previsto nas regras da proporcionalidade das

bancadas (JORNAL PEQUENO, 2009.p.3). O PSDB tinha evidências de que Viana não seria

eleito. De acordo com dados publicados pela imprensa, se Sarney já teria 35 dos 41 votos

necessários para ser eleito sem o apoio do PSDB, que motivos levariam o tucanato a apoiar

Viana, se a eleição já teria um favorito? Tal fato pode ser considerado como uma jogada

Page 46: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

46

estratégica, já que a regra da proporcionalidade das bancadas existe e o partido poderá apelar

para ela na composição da mesa diretora.

Com alianças já firmadas e acordos em prosseguimento, é chegado o momento do

ápice da eleição. Este final de semana firma a reta final da eleição para o senado, onde

partidos e membros partidários correm para garantir seus lugares de visibilidade no cenário

nacional. A matéria relata o apoio do DEM ao candidato José Sarney para consolidar o

favoritismo ao senador maranhense, diferente da imagem relatada de Tião Viana em dias

anteriores no periódico impresso do Sistema Mirante de Comunicação.

O DEM formalizou nesta quinta-feira o apoio à candidatura do senador José Sarney

(PMDB) à presidência do Senado. A decisão da bancada foi unânime e ninguém

faltou à reunião. Com o apoio, Sarney consolida ainda mais sua candidatura. (O

ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.2).

A matéria, intitulada DEM formaliza apoio a Sarney e fortalece PMDB no

Senado, não discute somente o apoio dado a Sarney, mas trata de vincular a imagem do DEM

como partido forte e de influência positiva como a segunda maior bancada do senado. Um dos

fatos marcantes em discussão na matéria é a utilização da inversão da versão pelo fato, onde

as falas do líder do DEM, José Agripino Maia, são excessivamente utilizadas como juízo de

verdade diante da realidade apresentada. Tal fato entra em contradição com a seguinte

declaração:

“Tião Viana é do PT, que já detém o Poder Executivo. Ter a presidência da

República e presidência no Congresso já é demais”, disse Maia.“O senador Sarney é

um homem de diálogo, não é petista, não tem alinhamento com o Executivo. O

senador Tião é integrante do PT, que já detém o Executivo. Ter a presidência da

República e do Congresso é um pouco demais”, afirmou o democrata. (O ESTADO

DO MARANHÃO, 2009.p.2).

Nesta fala, somente uma das vertentes acaba por ser noticiada e, obviamente, a

que favorece o senador Sarney é a que o jornal de sua propriedade irá divulgar. Tais críticas

do senador José Agripino Maia se dão a vontade partidária do PT de comandar o senado e a

presidência da república, mas o líder do DEM se esquece de comentar o favoritismo do

PMDB em relação à câmara e o senado nacional.

Os trâmites envolvendo acordos de ultima hora retratam a obstinação em se

destacar a nível nacional, principalmente em relação a partidos, buscando e prometendo

favorecimentos futuros nas eleições no ano que virá. Estes acordos não são tratados de forma

a esclarecer seus verdadeiros teores, o que os parlamentares sempre argumentam é a

preocupação com a situação nacional, porém, o verdadeiro significado de seus discursos

Page 47: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

47

encontra-se nas entrelinhas e nos bastidores da política articulada nos corredores da capital

nacional, como é observado na afirmação de Maia:

O líder democrata desvinculou o apoio a Sarney à eventual aliança com o PMDB em

2010, para a disputa pela presidência da República. “Não há compromisso de

votarem Sarney para o PMDB estar alinhado conosco em 2010. A opção é em cima

das necessidades do Congresso Nacional”, afirmou. (O ESTADO DO

MARANHÃO, 2009.p.2).

O que mais se destaca na análise dos discursos encontrados no jornal O Estado do

Maranhão do dia 30 de janeiro é exatamente o excesso de frases na matéria. Como dito

anteriormente, o veículo publica varias opiniões do senador Agripino Maia, o qual deixa

escapar uma declaração que contradiz e revela as verdadeiras nuances entre os acordos e

apoios a Sarney, relatando que apóia aquele que tem condição de vencer. Isso nos remete a

analisar que o apoio é dado a quem pode vencer, não sendo necessariamente o mais correto ou

o que fará o melhor pelo senado e a população brasileira, confirmado pela afirmação de Maia:

“Não há compromisso de votarem Sarney para o PMDB estar alinhado conosco em

2010. A opção é em cima das necessidades do Congresso Nacional”, afirmou.

Agripino reconheceu, porém, que o DEM decidiu migrar para a candidatura de

Sarney porque a oposição não tem votos suficientes para eleger candidato próprio à

presidência do Senado. “Se tivéssemos número para ganhar, teríamos uma

candidatura nossa. Mas não temos. Então, apoiamos a candidatura mais viável. Não

estou votando no Renan, estou votando no Sarney.” (O ESTADO DO

MARANHÃO, 2009.p.2).

Enquanto isso, a cobertura dos acontecimentos jornalísticos continua a fragmentar

os fatos, abrangendo ainda mais o seu papel de denegrir, passar a imagem de derrotado e

induz críticas questionando a postura do senador Tião Viana, relacionando sempre a notícia

com o favoritismo exacerbado a José Sarney:

O senador Tião Viana (PT-AC) é um pote de mágoas. Atribui suas dificuldades ao

fato de ter sido abandonado pelo presidente Lula e a setores da imprensa que teriam

fabricado uma preferência inexistente por José Sarney (PMDB-AP). Favorito à

presidência do Senado, Sarney também está magoado, mas com Tião. O petista

afirmou que Sarney tinha uma visão patrimonialista da política e tratava o Senado

como seu quintal. Indignado, Sarney reage: “Estou surpreso, eu não conhecia essa

face agressiva e grosseira do senador Tião Viana”. (O ESTADO DO MARANHÃO,

2009.p.2).

4.3.9 Dia 31 de Janeiro 2009

Campanhas definidas de ambos os lados à espera somente do dia da votação. Este

seria o clima da disputa no Senado, porém, uma notícia abala as estruturas, trazendo mais

Page 48: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

48

polêmica à complexa eleição que se definiria dia 2 de fevereiro. O último dia de janeiro no

Senado teve como repercussão o apoio inusitado do PSDB a Tião Viana – os tucanos já

haviam aderido à campanha do senador do Amapá.

As notícias publicadas pelo jornal O Estado do Maranhão direcionaram a notícia

como algo de pouca relevância na disputa, como é percebido na nota de capa de título José

Sarney é favorito à presidência do senado. A matéria do caderno de política, intitulada

Candidatos articulam apoios na disputa pelo comando do Senado, com os subtítulos

Peemedebista José Sarney mantém favoritismo e PSDB apóia petista Tião Viana, retrata a

busca final por votos na eleição vindoura. A angulação da matéria trata cada vez mais do

favoritismo dado ao senador do Amapá, ressaltando que, mesmo após a adesão do PSDB a

Tião Viana nos instantes finais, nada muda o cenário político apresentado até então pelo

periódico impresso maranhense. O Estado do Maranhão (2009, p. 2) afirma:

O PSDB declarou apoio à candidatura de Tião Viana, mas não impediu o

favoritismo de Sarney (PMDB-AP), que já tinha o apoio do PMDB e do DEM, as

duas maiores bancadas na Casa. A eleição no Senado acontece na manhã de

segunda-feira e vence a eleição quem tiver, ao menos, 41 votos. Pelos cálculos dos

aliados de Sarney, ele mantém o favoritismo com 48 dos 81 votos do Senado.

A mudança do PSDB a apoiar Tião Viana é tratada com o que Abramo descreve

de uma inversão da relevância dos aspectos, pois o secundário é tratado como principal

(ABRAMO, 2009. p. 29); a notícia em questão seria a mudança repentina do partido que há

dois dias antes apoiava Sarney e resolveu mudar seu posicionamento em relação a Viana. Mas

cada veículo/empresa de comunicação possui linha editorial própria determinada a direcionar

suas reportagens. O que ocorre nesta matéria é um reordenamento dos fragmentos

considerados fatos jornalísticos de acordo com sua relevância. No referido reordenamento,

acontece a recontextualização do sentido, induzindo o leitor a uma determinada realidade e

relembrando que nem sempre pode ser atribuída culpa ao jornalista pela angulação

condicionada pela empresa de comunicação.

No dia 31, todas as esperanças de Tião são apresentadas de formas pejorativas,

enquanto o jornal passa um clima de tranqüilidade por parte da cúpula de Sarney. O caso

PSDB mostrado por O Estado do Maranhão, inclusive traz afirmações de senadores que,

apesar do partido apoiar Tião Viana, continuam ao lado de José Sarney como é o caso de

Papaléo Paes (PSDB-AP), Marcone Perillo (GO), cotado para assumir o cargo de vice de

Sarney e Álvaro Dias (PR), que também pleiteia algum cargo na possível vitória do senador

maranhense.

Page 49: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

49

Na matéria Antes e Depois da Noite de quinta-feira, a mudança do PSDB é

comparada a uma traição, visto que dois dias antes de anunciar o apoio a Tião Viana,

Fernando Henrique Cardoso teria se comunicado com José Sarney declarando sua adesão.

Em resposta as declarações exaltadas do Deputado Domingos Dutra no dia 30 de

janeiro no Jornal Pequeno, o periódico impresso do Sistema Mirante de Comunicação publica

algumas declarações contrárias às de Dutra, feitas pelo presidente do Partido dos

Trabalhadores em Brasília, o ex-deputado Chico Vigilante. Na matéria, Chico afirma que

Dutra age como um irresponsável e leviano a falar de José Sarney:

“Uma coisa é a disputa em si, que se mantém em alto nível. Outra coisa é esta

tentativa de desqualificação, inaceitável, até por ser o ex-presidente Sarney o que é,

um símbolo da redemocratização do país”, disse o dirigente petista.... “De um lado

temos um ex-presidente, a experiência política de Sarney. Do outro, um jovem

político como Tião Viana (PT-AC), que representa a força da juventude. Os dois

candidatos disputam dentro do mais alto nível. Não há espaços para as intrigas como

as que Domingos Dutra quer fazer”, desqualificou Vigilante. (O ESTADO DO

MARANHÃO, 2009.p.2).

A matéria inverte o sentido real e principal da notícia quando começa a fazer

ligações entre o senador José Sarney e o atual Presidente da República, Luís Inácio Lula da

Silva. Tal inversão ocorre devido às mesmas declarações de Chico Vigilante. O uso em

excesso de frases de entrevistados caracteriza uma inversão da opinião pela informação,

invertendo o sentido dado inclusive anteriormente pelo início da matéria. Abramo (2003.

p.31) define o padrão afirmando que

Deve-se destacar que não se trata de dizer que, além da informação, o órgão de

imprensa apresenta também a opinião, o que seria justo, louvável e desejável, mas

sim que o órgão de imprensa apresenta a opinião no lugar da informação, e com a

agravante de fazer passar a opinião pela informação. O juízo de valor é

inescrupulosamente utilizado como se fosse um juízo de realidade, quando não

como se fosse a própria mera exposição narrativa/descritiva da realidade. O

leitor/espectador já não tem mais diante de si a coisa tal como existe ou acontece,

mas sim uma determinada valorização que o órgão quer que ele tenha de uma coisa

que ele desconhece, porque o seu conhecimento lhe foi oculto, negado e

escamoteado pelo órgão.

No lado oposto da política, a notícia principal no Jornal Pequeno sobre as

articulações no Senado afirma que o Apoio do PSDB a Tião Viana abala a candidatura de

Sarney, por ter equilibrado a disputa à presidência do Senado. Apesar das dissidências dentro

dos partidos, o veículo afirma que Viana contabiliza 42 votos e que o PSDB não fecharia

inteiramente com o petista. Além disso, também é publicada na íntegra uma carta de apoio

vinda dos líderes do PT, PSB, PDT, PR e PRB, que seria uma reposta a informações de que

Tião estaria fazendo acordos com os líderes partidários em troca de cargos em Comissões

Page 50: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

50

permanentes e na Mesa Diretora do Senado. (JORNAL PEQUENO, 2009.p.3). O padrão de

manipulação de inversão da opinião pela informação é identificado nesta notícia, por ter a

opinião dos líderes dos partidos como juízo de realidade. Na carta, os líderes afirmam:

Tião Viana inspira avanços que a sociedade brasileira reclama. E a sociedade quer

um Senado transparente, ágil, atuante e com a firma iniciativa, especialmente frente

à crise econômica que vive o mundo. Neste sentido, avaliamos que Tião Viana

presidirá esta Casa com os olhos voltados não apenas para o seu funcionamento

interno, para os interesses específicos do Governo, mas para o bem do país.

(JORNAL PEQUENO, 2009.p.3).

Com isso, o padrão de indução também é presente, fazendo o leitor pensar que

Viana é a melhor opção para a presidência do Senado e não deixando o leitor tomar

conhecimento de acordos que também existem entre outros partidos.

O Jornal Pequeno, na mesma edição, publica em outra matéria que os aliados de

Sarney tentam conquistar a vitória sem precisar dos votos dos tucanos e assegura que o

peemedebista vai ganhar a eleição, independente do PSDB, o que teria causado desconforto

no senador Arthur Virgílio. A notícia segue o padrão de fragmentação, pois, o título da

matéria, Aliados de Sarney afirma ter seis dos 13 votos tucanos, sofre uma seleção de

aspectos e descontextualização ao longo do texto, quando o veículo assegura que a Flecha

Ribeiro e Marconi Perillo foram prometidas a quarta-secretaria e a primeira vice-presidência,

respectivamente.

4.3.10 Dia 1 de fevereiro de 2009

Três das quatro matérias publicadas pelo Jornal Pequeno no dia primeiro de

fevereiro são de autoria de agências ou foram encontradas em sites, o que é uma prática

constante do jornal, já percebida em outros dias. As matérias acusam Sarney de negociar

votos e cargos para ganhar a eleição à presidência do Senado e, por lógica, assumem que será

o vencedor. Percebe-se que, com a proximidade do dia de eleição, o Jornal torna mais

agressivo o seu discurso e não mede esforços para destruir a campanha do Senador, buscando,

além de notícias em outros meios de comunicação, palavras de baixo calão para escrever as

atitudes de Sarney. Um dos artigos publicados é de Otávio Cabral23

. Ele afirma:

23

Otávio Cabral é colunista da Revista Veja.

Page 51: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

51

Sarney fez uma campanha de bastidores usando a mesma fórmula que marcou sua

trajetória ao longo de mais de meio século de política. Prometeu cargos aos que não

têm, assumiu o compromisso de manter os cargos dos que já têm, garantiu um

ambiente de tranqüilidade ao governo e, ao mesmo tempo, assegurou à oposição que

será um presidente independente, como se isso tudo fosse possível. (JORNAL

PEQUENO, 2009.p.4).

Nenhuma das notícias mostra que Tião Viana também cedeu às exigências do

PSDB e que também negocia cargos. Sarney é tido como o grande „vilão‟ do Senado. A

notícia Estratégia de Sarney é distribuir cargos e vantagens de está classificada dentro dos

padrões de ocultação, visto que é evidente que a edição da matéria escondeu o fato e a edição

opera nos antecedentes, nas preliminares da busca da informação, no “momento” das decisões

de planejamento das edições (ABRAMO, 2009, p.26).

O artigo extraído do Blog de Josias de Souza não nega a presença do padrão de

inversão da opinião pela informação na notícia „Acho que o tempo do Sarney já foi‟, afirma

Simon. O texto fala de uma notícia que teria sido publicada no blog de Pedro Simon (PMDB-

RS), com declarações do senador que atacam diretamente Sarney. Não deixam a desejar na

baixa qualidade das palavras utilizadas nas declarações, repetindo a notícia na íntegra e não se

preocupando em retirar declarações esdrúxulas, afirmando que Simon faz “troça” quando diz

que “O Sarney não nasceu com aquilo virado pra Lua, ele nasceu com a Lua naquele lugar.

Onde ele entra dá tudo certo pra ele. [...] Coisa ruim eu vou deixar para segunda-feira”

(JORNAL PEQUENO, 2009. p.4).

A entrevista com Arthur Virgílio, também retirada do Blog de Josias Souza, segue

o mesmo padrão da notícia descrita anteriormente, abusando do oficialismo para tentar fazer

valer a posição da linha editorial do Jornal Pequeno. Em trechos da entrevista Virgílio deixa a

entender que não existem acordos entre Viana e o PSDB quando, ao mesmo tempo, dispara

que as conversas com o peemedebista estavam avançadas. (JORNAL PEQUENO, 2009.

p.24).

O artigo A disputa no Senado, publicado no Informe JP, já teme a vitória de

Sarney e não mostra estar tão confiante na candidatura de Viana. Apesar de afirmar ao longo

do texto que Viana fortalece a sua candidatura e cresce politicamente, a matéria claramente

foca, através do padrão de indução, as estratégias e articulações políticas que José Sarney faz

para chegar à presidência do Senado. É corroborado que

Sarney já não teme os holofotes da imprensa, não teme envidraçar-se ou ser o alvo

preferencial dos adversários políticos. Ele precisa de força institucional para salvar o

filho que não sai da mira da Polícia Federal. Presidente do Senado espera, como

Page 52: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

52

frisou o deputado Domingos Dutra, ter mais espaço para constranger os membros do

Tribunal Superior Eleitoral a cassarem o mandato do governador Jackson Lago. Essa

disputa, a priori, deveria salvaguardar os interesses da Nação. Para Sarney, no

entanto, transformou-se num vale-tudo em que, para além de seus interesses

pessoais, está a salvação política e moral de sua família. (JORNAL PEQUENO,

2009.p.3)

Por outro lado, a um dia das eleições para a presidência do senado, o jornal O

Estado do Maranhão continuou com sua campanha eleitoral em favor de José Sarney. Dadas

as devidas proporções propagandistas, a manipulação ocorre com o resumo de todos os

acontecimentos gerados até o presente momento. Informar o leitor somente com suas próprias

interpretações e versões sobre determinados fatos considerados jornalísticos é um fator

primordial para a disseminação de discursos de caráter ideológicos:

Ao leitor/espectador, assim, não é dada qualquer oportunidade que não a de

consumir, introjetar e adotar como critério de ação a opinião que lhe é

autoritariamente imposta sem que lhe sejam igualmente dados os meios de distinguir

ou verificar a distinção entre informação e opinião. (ABRAMO, 2003 p.32).

O cenário político maranhense se agitou no mês de fevereiro com diversas

disputas evolvendo maranhenses em proporções locais e nacionais como, por exemplo, a

reforma municipal e a cassação do governador Jackson, que foi profunda e minuciosamente

analisada e divulgada ao leitor maranhense devido à briga entre as facções políticas. Tal

desavença serviu inclusive de pano de fundo por várias vezes para atribuir incompetência a

administração de Jackson lago e atribuir elogios ao senador José Sarney.

A matéria Ano político começa para valer com fortes decisões este mês, no

Estado do Maranhão, exalta a importância do cargo de liderança no senado e sua influência e

participação nas eleições presidenciais da república de 2010, sem deixar, é claro, de dar um

teor de favoritismo à Sarney para a eleição do dia 2 de fevereiro. O Estado do Maranhão

(2009. p. 3) afirma:

Uma eventual vitória de José Sarney no Senado dá ao senador maranhense posição

privilegiada no PMDB para discutir o cenário da sucessão do presidente Luís Inácio

Lula da Silva (PT). O chefe do Congresso Nacional tem estatura para influenciar e

participar de todas as etapas – da escolha do candidato à definição de alianças

partidárias. Por isso, é que a disputa mostra-se acirrada nesta reta final, com

favoritismo do ex-presidente.

Ainda repercute a mudança inesperada do PSDB em aderir à campanha do

senador Tião Viana, mas a virada de mesa foi tratada por O Estado como fato jornalístico de

pouca relevância, pois o proprietário do Sistema Mirante de Comunicação já dava como certo

o apoio do partido. Apesar deste fato, o enfoque foi direcionado ao voto de alguns membros

Page 53: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

53

que iriam contra a decisão do PSDB, fortalecendo ainda mais o caráter favoritista atribuído a

Sarney. Tal direcionamento caracteriza-se pela nova ordem dada aos acontecimentos

induzindo a dita verdade, principalmente neste dia antes da eleição. O Estado, além de

propagar a boa reputação do senador José Sarney, induz essa ideologia de maneira excessiva

em suas páginas. Ainda a intenção de inverter a opinião pública em relação a este caso,

colocando o PSDB como único partido que se interessa pelos cargos públicos.

As cúpulas do PMDB e do DEM no Senado não parecem preocupadas com a

manifestação de apoio do PSDB à candidatura de Tião Viana (PT-AC) à presidência

da Casa. Pelo menos seis senadores tucanos decidiram não seguir a orientação do

partido e vão votar em José Sarney (PMDB-AP), que soma 18 votos do seu próprio

partido, 14 do Democratas, sete do PTB, quatro do PR e até dois do PT. Além do

apoio de partidos, Sarney conta também com votos individuais de senadores de

outros partidos, como PSB e PDT. O PMDB não cedeu às exigências do PSDB para

apoiar Sarney: dois cargos na Mesa e a presidência de duas importantes comissões.

O PSDB quer impor Tasso Jereissati (CE) como chefe da Comissão de Assuntos

Econômicos e Eduardo Azeredo (MG) na comissão de Relações Exteriores. Se o

PMDB cedesse às pressões do PSDB, não sobrariam vagas na Mesa, nem nas

comissões, para composição de outros partidos. (O ESTADO DO MARANHÃO,

2009.p.2).

Uma nota foi publicada na seção Estado Maior em resposta a declarações dadas

por Haroldo Sabóia ao Jornal Pequeno. Na nota, Haroldo Sabóia é tratado de forma pejorativa

por causa de suas opiniões, que serviram de ferramenta de ataque contra Sarney. Alguns

segmentos da sociedade acabam por serem citados em determinados veículos de comunicação

somente para serem atacados ou ridicularizados e, apenas seguindo esta linha de manipulação

indutiva e fragmentando todo o acontecimento antes do ocorrido – fato semelhante ao que

aconteceu com o Deputado Federal Domingos Dutra, adjetivado como irresponsável e leviano

– Haroldo é adjetivado como “Mãe Diná” e citado como a voz do fracasso:

Estranho que o economista Haroldo Sabóia se disponha a vestir a fantasia de “Mãe

Diná” para falar sobre a eleição no Senado. Carimbado como retumbante fracasso

político, Sabóia deveria cuidar mais da auto-estima, evitando parecer patético. Não é

sem razão que o deputado federal Julião Amin ficou furioso quando um político

disse que ele está parecendo com Haroldo Sabóia. (O ESTADO DO MARANHÃO,

2009.p.3).

Neste mesmo periódico, encontra-se o claro e óbvio posicionamento do jornal: o

editorial Lastro, experiência e legitimidade, que faz um histórico extremamente favorável a

vida e obra do senador do Amapá. A essência e a construção textual remetem a Sarney como

única esperança de salvação em momentos difíceis da política e crise nacional. É citado o

caso de Sarney nunca ter feito declarações se seria candidato ao posto mais alto do senado,

porém, o episódio se demonstra fragmentado e a atitude é mostrada como se José Sarney

tivesse atendido uma necessidade nacional encabeçada pelo seu partido. O exagero de elogios

Page 54: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

54

busca a indução em seu grau máximo, como se o senador peemedebista não fosse obter

nenhuma vantagem pessoal em estar ocupando o almejado posto, o mesmo que já tinha sido

ocupado por ele duas vezes.

De todos os materiais jornalísticos analisados até agora, o editorial do dia 1 de

fevereiro de o Estado torna-se o maior objeto de manipulação direcionado a favor do senador

maranhense. O editorial oculta, inclusive, algumas informações, tentando passar a idoneidade

de Sarney e deixando de citar os acordos feitos antes e pós-indicação de seu nome a eleição.

Inverte o sentido real de uma disputa política onde desgastes aconteceram em várias

situações.

O editorial como retrato da linha política não somente induz o leitor a acreditar

em uma predeterminada realidade, mas também manipula ocultando, fragmentando e

invertendo o sentido real, o real estilhaçado, (ABRAMO, 2003. p.27) e é totalmente

recontextualizado criando uma realidade inexistente:

O principal efeito dessa manipulação é que os órgãos de imprensa não refletem a

realidade. A maior parte do material que a Imprensa oferece ao público tem algum

tipo de relação com a realidade. Mas essa relação é indireta. É uma referência

indireta à realidade, mas que distorce a realidade. Tudo se passa como se a Imprensa

se referisse à realidade apenas para apresentar outra realidade, irreal, que é a

contrafação da realidade real. É uma realidade artificial, não-real, irreal, criada e

desenvolvida pela Imprensa e apresentada no lugar da realidade real. A relação que

existe entre a Imprensa e a realidade é parecida com a que existe entre um espelho

deformado e um objeto que ele aparentemente reflete: a imagem do espelho tem algo

a ver com o objeto, mas não só não é o objeto como também não é a sua imagem: é a

imagem de outro objeto que não corresponde ao objeto real. (ABRAMO, 2003

p.23).

4.3.11 Dia 02 de Fevereiro de 2009

É chegado o tão esperado dia da eleição que definirá o comandante pelo biênio

2009/2010 no senado. Tião Viana (PT-AC) e José Sarney (PMDB-AP) encontram – se em

momentos finais de uma espera que culminaram inúmeros episódios de apoio e traições,

declarações de adesão e ataques pessoais, tudo que pode envolver uma disputa política

recheou e incrementou a disputa do senado um ano antes da disputa presidencial.

No dia da eleição e o Jornal Pequeno assegura em sua manchete que Sarney

enfrenta Tião em clima de desespero. A matéria veiculada pelo jornal considera a vitória de

Page 55: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

55

Sarney, se realiza, com um placar apertado. Entretanto, nenhuma divulgação de pesquisas que

embasem tal fato é realizada, o que faz com que o jornal trabalhe com suposições. O texto é

uma narração de fatos que explicariam o suposto “desespero” de Sarney e nele são utilizadas

palavras que induzem o leitor a pensar em Viana como o verdadeiro futuro do Senado. O

padrão de inversão da forma pelo conteúdo encontra no texto do veículo um perfeito aliado,

em trechos que parecem ser mais importantes que o fato que reproduz, o ficcional

espetaculoso sobre a realidade (ABRAMO, 2009, p.29), como:

José Sarney telefonou para Lula. Queixou-se ao presidente do comportamento do

chefe de gabinete dele, Gilberto Carvalho. Segundo Sarney, Carvalho rompera a

prometida neutralidade do Planalto ao envolver-se de corpo e alma na campanha de

seu rival Tião Viana. Lula disse que carvalho não age como funcionário do governo,

mas como filiado do PT e amigo de Tião. Sarney não se deu por achado. (JORNAL

PEQUENO, 2009. p.3).

No mesmo dia, outra matéria do mesmo veículo informa à sociedade que Arthur

Virgílio, líder do PSDB, diz que punirá traições a Viana e nega que tenham feito acordos com

o candidato em troca de votos. “O senador Virgílio não me pediu nada em relação a 2010”,

afirma Viana (JORNAL PEQUENO, 2009.p.3). Sabe-se que a aliança do PT e do PSDB é

inusitada, porém, os peessedebistas asseguram que é uma aliança despretensiosa. A

declaração de Virgílio se nega por outra, quando ele mesmo diz que o senador Papaléo Paes

será punido se efetivar seu voto a Sarney e não será indicado para nenhum cargo. É ilógico

pensar em uma aliança efetivada sem intenções que se porta dessa forma, já que declarações

do PMDB asseguram que a troca na decisão de apoio aos candidatos foi dada ao PT pelo

PMDB não poder atender todas as solicitações de cargos dos tucanos. O padrão de indução é

presença forte ao longo do texto, levando o leitor a pensar que o PSDB é um partido que apóia

a melhor escolha para o Brasil.

O padrão de inversão da forma pelo conteúdo é identificado na matéria Na reta

final, grupo de apoio a Tião diz contar com 43 dos votos no Senado. Novamente, não é

divulgada nenhuma pesquisa para embasar os números; ao contrário, o jornal afirma que

Viana chegou a esses números “ouvindo e conversando com cada senador” (JORNAL

PEQUENO, 2009.p.3), o que dá um tom de especulação à matéria. Também, a inversão da

opinião pelo fato é presente, pela caracterização do uso do frasismo. Percebem-se erros de

demarcação temporal ao longo do texto, exemplificado pela frase de Jarbas Vasconcelos

(PMDB-PE), que disse esperar que pelo menos quatro ou cinco senadores do PMDB

votassem em Tião amanhã, quando o dia da votação é no dia da publicação da matéria.

Page 56: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

56

As matérias do O Estado do Maranhão que marcam os trâmites gerais estão todas

anguladas ao favoritismo de Sarney e a indução se torna tão presente neste dia como em todos

os outros anteriores analisados até agora, mas um fato curioso que causa certa confusão na

cabeça do leitor/espectador neste ultimo dia é a contabilidade de possíveis adesões unidas as

palavras de confirmação de apoios, causando uma difícil interpretação e entendimento das

verdadeiras fontes dos votos.

No decorrer das noticias são dadas fontes para embasar a numeração dos votos,

mas como cada segmento afirma ter um determinado número de votos fica ainda mais difícil

entender a real situação. Dentre as fontes citadas no dia 2 de fevereiro estão: a Agência

Estado, que conta com 32 votos para Sarney e 24 para Viana; o próprio senador Tião Viana,

que contabiliza 48 votos para si e 38 para a oposição; e o senador Epitácio Cafeteira, que

conta com 45 votos para seu aliado Sarney e 36 para o candidato petista.

Na construção textual segue-se o resumo de todos os fatos jornalísticos como o

episódio da mudança do PSDB que antes apoiava Sarney e agora está apoiando Tião. Tal fato

é retratado novamente como traição induzindo a opinião do leitor a acreditar que o PSDB

mudou de posição por não ter seus desejos de cargos atendidos. Explicação várias vezes

comentada e exibida pelo jornal O Estado do Maranhão. Como cita o trecho da matéria

Enquete aponta favoritismo de Sarney à presidência do Senado publicada o dia 2 de fevereiro

“Os tucanos, que indicavam adesão à candidatura Sarney, mudaram de posição depois de não

terem atendidas as suas reivindicações, incluindo cargos na Mesa Diretora e nas principais

comissões.” (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.3).

Mantendo o clima de favorecimento a Sarney e traição do PSDB, as declarações

do senador Papaléo Paes são novamente utilizadas com o intuito de denotar sentidos negativos

ao partido e apoio mesmo de membros opostos a José Sarney.

“Mantenho meu voto no Sarney. Não entendi essa decisão do PSDB de ir para o

Viana”, afirmou Papaléo Paes (PSDB-AP). “Outros do meu partido vão manter o

voto no Sarney. Mas eu serei o único que vou confessar isso”, acrescentou. Outro

partido em que as traições são dadas como certas é o PDT - a expectativa é de que

pelo menos dois dos cinco senadores votem em Sarney. (O ESTADO DO

MARANHÃO, 2009.p.3).

Uma ligação inusitada foi percebida no desenvolvimento de nossas análises, assim

como percebemos o erro do Jornal Pequeno no dia 29 de janeiro relatando em uma matéria

que o PSDB ainda não tinha definido apoio a Sarney e logo em seguida na próxima matéria

Page 57: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

57

afirma que o PSDB fechou com o senador tucano, no Estado do Maranhão do dia 2 de

fevereiro duas matérias se contradizem.

Na notícia Favoritos no Congresso o texto afirma o seguinte: “Nas contas feitas

ontem, Sarney deverá ser eleito com pelo menos 50 votos. Mas o próprio ex-presidente não

canta vitória, preferindo trabalhar até o último momento.” E em uma matéria anterior Sarney

declara “Não estou, de maneira alguma, preocupado. Tenho certeza que a convocação que me

foi feita pelos colegas do Senado, pelos partidos, certamente assegura uma grande e folgada

vitória” (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.3). A fragmentação dos fatos foi tão

utilizada que a divulgação e a conexão das matérias não foram atentamente observadas.

4.3.12 Dia 03 de Fevereiro de 2009

Como já detectado anteriormente, as duas matérias publicadas no Jornal Pequeno

novamente são de composição da Folha Online e intituladas PMDB assume comando do

Senado e da Câmara e Arthur Virgílio diz que „companhias‟ de Sarney não permitirão

avanços.

A primeira matéria trata da vitória no Senado e na Câmara por representantes do

PMDB e classifica o fato como “monopólio partidário” (JORNAL PEQUENO, 2009.p.3). Ao

longo do texto, o discurso utilizado pela Folha e reproduzi pelo Jornal Pequeno conta com a

presença do padrão de fragmentação, já que passa por uma seleção de aspectos e pela

descontextualização. O texto não condiz com o título, pois faz uma breve referência à carreira

política de Sarney e não se delimita apenas a abordar da presença do PMDB no comando das

duas Casas. Além disso, traz declarações de Sarney que não embasam o título e, ainda, faz um

breve resumo de toda a campanha política nos três últimos meses com acusações de partidos e

de políticos da oposição e trata da posição dos peemedebistas quanto às eleições presidenciais

em 2010. O jornal continua utilizando do recurso de implicar o uso das aspas a outro

significado semântico que não o da mesma, com um tom de zombaria dado às palavras sob o

uso das mesmas.

A última matéria neste dia é classificada no padrão de indução. Abramo (2009.

p.35) afirma que, neste padrão, a verdade é retorcida para que o leitor a aceite como esteja

Page 58: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

58

sendo mostrada sem a possibilidade de modificação. Esta afirmação pode ser caracterizada

pela declaração de Virgílio:

“Eu pergunto se é possível se fazer renovação dos costumes da casa mantendo o

senhor Agaciel Maia [diretor-geral do Senado]? Na minha opinião, não é. As

pessoas do entorno do Senador José Sarney, eu vi ali não mudança, eu vi

conservação”, disse. (JORNAL PEQUENO, 2009. p.3).

Além disso, o senador Virgílio deixa a entender, em seus depoimentos ao longo

da matéria que a inovação tão esperada pelo partido não acontecerá, e não por causa de

Sarney, e sim, por causa de seus aliados. O Jornal Pequeno publicou no dia 30 de janeiro de

2009 algumas declarações de Arthur Virgílio afirmando que, se apoiasse Sarney, estaria

colaborando para a “manutenção da mesmice” (JORNAL PEQUENO, 2009. p.3).

Eleições definidas, o senador José Sarney (PMDB-AP) é eleito presidente do

senado derrotando senador Tião Viana (PT-AC) por 49 a 32. Dadas e atendidas às

expectativas do jornal O Estado do Maranhão em querer concretizar antecipadamente a vitória

de Sarney, o dia pós-eleição serviu de ilustração para enaltecer o vencedor publicando

matérias extremamente elogiosas e comprovativas de tudo o que ocorrera até esta data.

O discurso de posse de Sarney é publicado na íntegra e baseiam todas as matérias

publicadas neste dia. As induções podem ser confirmadas através das inversões das opiniões

pela informação, o frasismo é abundante com o teor de compromisso e exaltação do caráter do

senador vencedor, com o intuito de passar a imagem de idoneidade e as próprias declarações

do senador ilustram o dever e os desafios que o senador enfrentará o futuro, Sarney ressalta

que os interesses da casa estão em primeiro lugar:

“Tenho deveres de amizades, deveres partidários e deveres políticos. Mas não será

com o Senado que resgatarei qualquer dever de amizade, político ou partidário.

Acima de tudo isso, estão a independência, a autonomia, a dignidade e os grandes

interesses de nossa Casa. Que o Senado tenha a certeza de que reafirmaremos nossa

independência e exigiremos cada vez mais respeito à nossa instituição”, disse. (O

ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.3).

A tarefa de induzir logo após uma vitória é uma estratégia minuciosamente

planejada, pois os fatos decorridos até o dia da eleição são fragmentados para direcionar o

sentido positivo ao que era demonstrado como negativo por outros veículos de comunicação,

em relação à oposição que tinha o dever de ultrapassar e até mesmo vincular a imagem do

opositor a algo pejorativo. Observando atentamente estes fatos, as matérias deste período

tratam de trazer a oposição para junto da base, induzindo uma possível ocultação de trâmites

partidários que geraram desconforto nas eleições. Senadores de oposição dão declarações

Page 59: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

59

após a vitória de Sarney e o periódico de propriedade do senador exalta através de frasismos

os elogios da oposição:

Os senadores alinhados à candidatura de Tião Viana fizeram questão de ressaltar, em

seus discursos, a admiração que tinham pelo candidato do PMDB, José Sarney. O

líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), agradeceu a forma como foi tratado pelo ex-

presidente nas negociações para a aliança que não vingou com o partido. Lamentou

o fato dele não ter assinado a carta-compromisso dos tucanos, apesar de ter

concordado com os 12 pontos do documento. “O Sarney foi da maior dignidade

conosco. Nenhuma queixa. Só elogios”, ressaltou. (O ESTADO DO MARANHÃO,

2009.p.3).

Dadas as proporções nacionais à eleição, trazer o fato jornalístico para a realidade

maranhense era uma estratégia calculada da manipulação. A opinião pública estadual firmaria

ainda mais a vitoriosa campanha do senador maranhense. Em todas as matérias, o excesso de

declarações se torna evidente para caracterizar o real sentido e importância do acontecimento,

como é visto na matéria Conterrâneos enfatizam importância política, com declarações dos

senadores Epitácio Cafeteira, Roseana Sarney, Edison Lobão Filho e do deputado Gastão

Vieira.

Já assumido o alto posto do senado, Sarney rebateu todas as críticas em que fora

acusado de retrógrado, injusto e velho. Com a oportunidade de ser unicamente ouvido naquele

momento Sarney, de certa forma, aproveitou para rebater e induzir o direcionamento de

informações antes vinculadas a seu nome e o jornal O Estado do Maranhão usa o discurso

como fato a ser noticiado, induzindo, através das opiniões do presidente do Senado, o

discernimento do leitor:

“Ouvi muitos discursos aqui. Uma parte quero contestar porque é injusta. Desde que

comecei como político, sempre procurei caracterizar-me como inovador. Nunca

meus olhos ficaram como lanternas voltadas para trás. [...] Não me chamem de um

homem retrógrado, como se fosse um velho que chega aqui sem querer renovar o

Senado. Sempre tive esta vontade”, afirmou. “Fundei os primeiros circuitos fechados

de TV, depois a primeira TV educativa do Brasil. Não me chamem de um velho que

não tem gosto pela inovação. aqui no Senado, quando cheguei, a idéia da

informatização foi minha. Acho injusta a informação de que é um retrocesso eu

disputar o Senado.” (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.5).

Para fortalecer a imagem de político experiente e conhecedor dos trâmites que

envolvem o cenário da política nacional, uma biografia de Sarney é publicada com o intuito

de firmá-lo como a melhor escolha para presidir o Senado.

Na coluna Estado Maior percebe-se o caráter de afirmação que a linha editorial do

jornal O Estado do Maranhão apresentou desde o começo das eleições, dando apoio

exacerbado a Sarney e fazendo críticas ao governador Jackson Lago devido às disputas

políticas iniciadas desde antes da derrota da senadora Roseana Sarney.

Page 60: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

60

Confirmando prognósticos isentos e mergulhando, mais uma vez, seus adversários

na frustração, o ex-presidente da República e senador José Sarney (PMDB) se

tornou ontem o primeiro senador a comandar a Câmara Alta e o Congresso Nacional

pela terceira vez. A repercussão mais forte da sua eleição foi mesmo no Maranhão.

Explica-se: o governador Jackson Lago e seus “balaios” resolveram meter o bedelho

na eleição da Presidência do Senado. À custa de dinheiro público, Lago bancou uma

campanha destinada a atacar o ex-presidente da República. Planejou errado e se deu

mal, já que a campanha foi um fracasso retumbante. O fato é que o meio político

maranhense ganhou fôlego ontem, com os “balaios” e seus aliados em baixa,

comprimidos por uma verdade que se consolidou definitivamente: a de que José

Sarney é o grande nome do Congresso Nacional. (O ESTADO DO MARANHÃO,

2009.p.3).

Nesta coluna, a fragmentação pela seleção dos aspectos e a interpretação dos fatos

se torna evidente como ferramenta de manipulação, descontextualizando o sentido original

dos fatos e redirecionando a visão que o órgão de comunicação quer que o leitor tenha, uma

indução do senso crítico.

O editorial História, dignidade e fé, não traz nada de novo em relação a todos os

textos apresentados pelo veículo em questão. Fatos fragmentados e indutivos não só

caracterizam este editorial, como a mesma ordem de construção textual é seguida por todo o

conteúdo publicado, repassando de forma elogiosa a vitória do senador maranhense. Ressalta

a história de vida, as dificuldades que o país sofre economicamente e afirma que José Sarney

é o líder mais preparado para presidir o Senado em um momento como esse. A indução é

exacerbada pela repetição das mesmas palavras e informações em cada matéria e nota

relacionada ao tema. Tal acontecimento nos atenta a pobreza de conteúdo e ausência de

criatividade na angulação das matérias:

Como registra sua biografia, Sarney é um vencedor, demolidor de obstáculos, e

um lutador que nunca se dobra, mesmo diante das situações mais complicadas. E

a eleição de ontem foi um exemplo da sua capacidade de líder com entraves e de

driblar a adversidade. Ontem, o senador José Sarney honrou a classe política

brasileira e entrou definitivamente para a História como um dos seus maiores

nomes em todos os tempos. E o fez com a humildade de um homem de fé,

agradecendo a Deus pelo destino que lhe deu. (O ESTADO DO MARANHÃO,

2009.p.4).

4.3.13 Dia 04 de Fevereiro de 2009

Passados dois dias da eleição da eleição no Senado, o Jornal Pequeno publica um

editorial cheio de intenções e mensagens diretas a Sarney. Intitulado de Políticos sem alma, o

texto compara atitudes de políticos como o senador eleito à definição de poder dada por

Page 61: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

61

Maquiavel em sua obra O Príncipe, em que afirmava que política é a arte de conquistar,

manter e exercer o poder, o próprio governo. (JORNAL PEQUENO, 2009.p.2). O texto,

enquadrado no padrão de inversão da opinião pela informação, avalia que

Sarney chegou mais uma vez à presidência do Senado a troco de prebendas e

favores, que sua performance na luta pelo poder desenvolve-se precisamente a partir

da dubiedade, da falsidade e do oportunismo rançoso que o atual presidente da

Assembléia condena. (JORNAL PEQUENO, 2009.p.2).

Outra notícia veiculada no Jornal Pequeno no mesmo dia segue o padrão de

manipulação pela indução, refrescando a memória do leitor com todos os atos de corrupção

dos aliados de Sarney, como o ex-presidente da República Fernando Collor de Mello, o

senador Renan Calheiros, o deputado federal Francisco Escórcio, o diretor financeiro da

Eletrobrás Astrogildo Quental e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira.

Uma vez consignada a vitória, as atividades como novo presidente do Senado

fazem parte da rotina de José Sarney e, obviamente, o jornal de propriedade do senador do

Amapá conduz seus noticiários baseado somente em induzir e controlar a opinião pública com

o intuito de repassar a sociedade o caráter de renovador e político sério em cenário nacional.

A primeira ação anunciada em O Estado foi o corte de 10% no orçamento do

Senado, o que representa uma economia entre R$ 50 milhões nos cofres públicos. Em meio ao

clima de trabalho, volta à cena uma discussão iniciada na época das eleições: os acordos

firmados entre os partidos e a polêmica da troca em instantes finais do apoio do PSDB a Tião

Viana. O Estado do Maranhão continua sua função de assessoria de imprensa quando atribui

a Sarney uma imagem de apaziguador em meio às disputas por posse em cargos importantes:

O impasse está justamente na 4ª secretaria onde PDT, que se alinhou à candidatura

de Tião Viana (PT-AC), e o PR, que apoiou Sarney, reivindicam a vaga. Devido à

disputa, o presidente deixou para realizar a eleição nesta quarta-feira. Ele tenta um

acordo para que não haja a briga no voto. Ambos os partidos elegeram em 2006

quatro senadores e hoje estão com cinco. Sarney disse esperar o consenso entre as

legendas. “Acredito sempre que vamos encontrar um terreno de concórdia, de

interesse comum e que se possa concluir a eleição da mesa diretora tranquilamente”,

declarou. (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.3).

Assim como foi feito em outras publicações, o veículo tenta trazer planejadamente

a eleição para dentro do Maranhão. Tal fato ocorre utilizando novamente as versões pelo fato

em discussão. Relatos de conterrâneos políticos embasam a matéria, a maioria das declarações

citadas como fatos jornalísticos foram coletadas na Assembléia Legislativa do Estado do

Maranhão e fazem alusão histórica a época que Sarney foi presidente da república, citando as

Page 62: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

62

dificuldades passadas pelo país naquele momento induzindo que o senador maranhense seria a

melhor escolha devido suas experiências em épocas de crise.

Os deputados Joaquim Haickel (PMDB), Chico Gomes (DEM), Graça Paz (PDT),

Penaldon Moreira (PSC), Alberto Franco (PSDB) e Antonio Carlos Bacelar (PDT)

exaltaram ontem, em discursos na tribuna da Assembléia Legislativa, a eleição do

senador José Sarney (PMDB) à presidência do Congresso Nacional. Os deputados

César Pires, Max Barros e Carlos Alberto Milhomem - todos do DEM – também

exaltaram a vitória de Sarney em conversa com jornalistas. Primeiro a subir à

tribuna, Joaquim Haickel levantou um pouco da história política de Sarney e frisou

ser ele o responsável pela tranquilidade democrática e pelo desenvolvimento

econômico que o Brasil desfruta hoje. “Hoje, o Brasil não é mais o país da inflação,

não é mais o Brasil da Ditadura. Isto ocorre hoje porque, muito antes, um

maranhense teve que engolir seco para trazer o Brasil à democracia” frisou Haickel.

(O ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.3).

Como feito em outras edições, a coluna Estado Maior dá prosseguimento a

análise a fim de dar conhecimento ao leitor da situação política em que o país e o Maranhão

se encontram. O texto Controle e Severidade evidentemente proporciona total glória a Sarney

por qualquer ação que o senador venha a fazer. Induzindo e fragmentando os fatos, a linha

interpretativa da construção textual contextualiza e insere a visão editorial na vida e no

cotidiano dos leitores:

O gestor público José Sarney é também partidário intransigente da transparência nos

gastos públicos. Sua maior contribuição para que os gastos de governos sejam do

conhecimento do contribuinte foi a criação do Sistema Integrado de Administração

Financeira do Governo Federal (SIAF), um revolucionário mecanismo de controle e

acompanhamento dos gastos públicos. Depois de sua implantação, durante o seu

mandato presidencial, a administração pública nunca mais foi a mesma e os

distúrbios foram drasticamente reduzidos. Ninguém, portanto, deve ter qualquer

dúvida de que o controle dos gastos do Senado será severo nesta gestão, como o foi

nas outras duas comandadas por Sarney. Com a diferença que a severidade tem

como motivo uma crise monumental. (O ESTADO DO MARANHÃO, 2009.p.3).

Terminado deste estudo, a interpretação dos textos identificou quantitativamente no

Jornal O Estado do Maranhão a presença dos padrões de: ocultação por 6 vezes; de

Fragmentação por 17 vezes; Inversão da relevância dos aspectos por 2 vezes; inversão da

forma pelo conteúdo por 3 vezes; Inversão da versão pelo fato, por 7 vezes; Inversão da

Opinião pela Informação por 9 vezes; e, o padrão de indução por 24 vezes, predominando,

assim, sob o discurso do jornal. No Jornal Pequeno, foram identificadas a presença dos

padrões de: ocultação, em 3 das matérias publicadas; fragmentação, em 6 das notícias;

Inversão da relevância dos aspectos, por 3 vezes; Inversão da forma pelo conteúdo, por 2

vezes, sendo a mesma quantidade de apresentação do padrão de inversão da versão pelo fato;

Inversão da opinião pela informação por 10 vezes; e padrão de indução, também

predominante neste jornal, se apresenta por 14 vezes.

Page 63: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

63

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa, analisou-se e identificou-se os padrões de manipulação da mídia

de acordo com as classificações de Perseu Abramo, no discurso das matérias dos jornais O

Estado do Maranhão e Jornal Pequeno, os dois principais veículos de comunicação impressos

do Maranhão. Entretanto, não se pretendeu determinar qual dos dois periódicos é o detentor

da verdade, uma vez que cada jornal possui linha editorial própria, estabelecida de acordo

com suas visões políticas.

O discurso naqueles jornais permitiu contextuar e situá-los politicamente, uma vez

que se percebe um discurso desequilibrado e tendencioso quanto à candidatura e eleição de

José Sarney à presidência do Senado, fazendo com que a imagem do candidato fosse

favorecida ou desfavorecida de acordo com a intenção da linha editorial da empresa de

comunicação.

As notícias produzidas pelos dois impressos e analisadas de acordo com os

propósitos desta pesquisa, permitiram a identificação de um processo de seletividade de fatos

no momento da edição, trazendo textos voltados para interesses político-ideológicos de

determinados grupos, fazendo com que os fatos aparecessem distorcidos e fossem

apresentados diferentemente da forma que eles realmente são. Tanto o jornal O Estado do

Maranhão quanto o Jornal Pequeno tratam de forma expressiva as suas preferências políticas.

O Jornal Pequeno ataca de forma explícita e agressiva o grupo Sarney. Percebeu-

se que as matérias, em sua maioria, são originadas em agências de notícias e não pela equipe

de jornalismo deste veículo. Além disso, a maioria de seus artigos trata a notícia com o tom

opinioso, ou seja, consideram as opiniões dos seus entrevistados como se fosse o fato em si, o

que não pode ser considerado como verdadeiro, visto que estes entrevistados são aliados

políticos à oposição que o grupo do Jornal Pequeno representa. O veículo também apresenta,

no recorte histórico desta análise, matérias contraditórias entre si e publicadas no mesmo dia.

Também foi identificada a má organização e distribuição das notícias em alguns casos,

podendo ser encontradas notícias do tema da política nas páginas policiais.

O jornal O Estado do Maranhão é utilizado como ferramenta de propagação

ideológica. Nas discussões analíticas percebe-se que a angulação das matérias remete

diretamente a indução de caráter propagandístico com objetividades claras de controle social.

Page 64: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

64

Grande parte de seus textos que remetem à política nacional são produzidos pela Agência

Senado, mas obviamente, as notícias reproduzidas no periódico maranhense são voltadas à

boa imagem do Senador José Sarney. Suas ações e declarações são sempre retratadas e

denotadas para um sentindo positivo em relação a seu adversário nas eleições para a

presidência do Senado, o senador Tião Viana.

As matérias que são produzidas pelos repórteres do órgão de comunicação de

Sarney direcionam o sentido das mesmas para disputas políticas internas. Quando são

analisadas as matérias de O Estado, observa-se que o assunto principal era a disputa pela

presidência do Senado, porém, o fato sempre se interligava à disputa política da família

Sarney com o até governador do Maranhão, Jackson Lago, cassado após 2 anos de mandato

por abuso de poder político. Jackson venceu Roseana Sarney, filha do Senador José Sarney,

nas eleições para governador em 2006. A adjetivação é utilizada de maneira exacerbada,

conotações exageradamente positivas são atribuídas a Sarney, enquanto termos pejorativos

são empregados a Tião Viana. A essência deste trabalho é a observação e a análise dos

padrões de manipulação na grande mídia maranhense tais padrões são encontrados no jornal

de propriedade de José Sarney em forma de construir uma ideologia a ponto de induzir o

leitor a absolver seus critérios de noticiabilidade e opiniões editoriais.

Encontrou-se nenhuma dificuldade em enquadrar as matérias em questão nos

padrões de manipulação relacionados por Abramo em cada veículo que serviu como objeto de

pesquisa, sendo que ambos apresentam, em sua maioria, mais de uma possibilidade de

classificação, já que os padrões não seguem uma seqüência classificatória e podem ser

apresentados em grupos nas notícias.

Em relação às especificidades que esta análise identificou, conclui-se que a

produção da notícia nos meios de comunicação maranhense está marcada pelas relações de

poder político vigente no meio sócio-político em que se vive. Percebe-se que o Jornal O

Estado do Maranhão, por estar ligado ao grupo Sarney, tem uma linha editorial atrelada aos

ideais políticos dos mesmos, assim como o Jornal Pequeno possui a sua linha editorial voltada

à oposição.

Trabalhada a relação da mídia com a política, que é tratada também neste

trabalho, pode-se afirmar que os veículos impressos analisados pautam sua produção

jornalística de acordo com os interesses do grupo que os dominam, considerando as análises

feitas nesta pesquisa.

Page 65: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

65

Por fim, considerando os teóricos que embasaram este trabalho, afirma-se que os

veículos impressos locais utilizam os padrões de manipulação, mesmo que de forma

inconsciente, para atingir os seus objetivos.

Page 66: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

66

REFERÊNCIAS

ABRAMO, P. Significado político da manipulação na grande imprensa. São Paulo:

Fundação Perseu Abramo, 1998.

ABRAMO, Perseu. Padrões de manipulação na grande imprensa. São Paulo: Editora

Fundação Perseu Abramo, 2003.

ARAÚJO, Ed Wilson. 200 anos da Imprensa no Brasil, 50 anos do Jornal Pequeno.

Disponível em: http://www.piratininga.org.br/artigos/2004/01/araujo-jornalpequeno.html.

Acesso em: 26 abr. 2009.

ARBEX JUNIOR, José. Showrnalismo: a notícia como espetáculo. São Paulo: Casa

Amarela, 2001.

BOURDIEU, P. O poder simbólico. Tradução de Fernando Tomaz, 8ª ed. Rio de Janeiro:

Bertrand, 1989.

BRINGS, Asa. Uma história social da mídia: de Gutenberg à internet. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar Ed., 2004.

Conhecendo o jornal. Disponível em:

http://imirante.globo.com/oestadoma/paginas/conhecendo.asp. Acesso em: 23 abr. 2009.

COSTA, Ramon Bezerra. Sistema Mirante de Comunicações: elementos para uma trajetória

crítica do grupo. 2008. 101 f. Monografia (Graduação em Comunicação Social habilitação em

jornalismo) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2008.

COSTA, Wagner Cabral da. Do “Maranhão Novo” ao “Novo Tempo”: a trajetória da

oligarquia Sarney no Maranhão. Disponível em:

http://www.fundaj.gov.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicat

ionCode=16&pageCode=391&textCode=6403&date=currentDate. Acesso em: 26 abr. 2009.

D´AIOLA, Carla. A função do Gatekeeper na imprensa. Disponível em:

http://www.iscafaculdades.com.br/estacaojornalismo/artigo_14.htm. Acesso em: 20 abr. 2009.

DANTON, Gian. A teoria do jornalismo e a seleção de notícias. Disponível em:

http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=893. Acesso em: 26 abr.

2009.

Page 67: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

67

Depoimentos: Uma versão democrática da história do Jornal Pequeno. Disponível em:

http://www.guesaerrante.com.br/2006/5/31/Pagina732.htm. Acesso em: 27 abr. 2009.

Diretor do Jornal Pequeno, Lourival Bógea, desabafa contra família Sarney. Disponível

em:http://www.portalaz.com.br/noticia/maranhao/103558_diretor_do_jornal_pequeno_louriva

l_bogea_desabafa_contra_a_familia_sarney.html. Acesso em 27 abr. 2009.

FERREIRA, Lusimar Silva, NAHUZ, Cecília dos Santos. Manual para Normalização de

Monografias. 4.ªed., São Luís: Visionária, 2007.

GUARESCHI, Pedrinho A. (Coord.). Comunicação & controle social. Petrópolis: Vozes,

1991.

José Reinaldo tenta reconstruir Frente de Libertação. Disponível em:

http://www.oimparcialonline.com.br/noticias.php?id=7142. Acesso em: 22 mai. 2009.

KARAM, Francisco José Castilhos. A ética jornalística e o interesse público. São Paulo:

Summus Editorial, 2004.

LEAL FILHO, Laurindo Lalo. Atrás das câmeras, relações entre cultura, estado e

televisão. São Paulo: Summus Editorial, 1988.

MCLUHAN, Marshal. Os meios de comunicação como extensão do Homem. Tradução:

Délcio Pignatari. São Paulo: Cultrix, 1969.

MEDINA, Cremilda de Araújo. Noticia: um produto à venda: jornalismo na sociedade

urbana e industrial. São Paulo: Alfa Omega, 1978.

MIGUEL, Luís Felipe. Dossiê “Mídia e Política. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n22/n22a02.pdf Acesso em: 21 mai. 2009.

MIGUEL, Luís Felipe. Política e mídia no Brasil: episódios da história recente. Brasília:

Plano Editora, 2002.

MOTTA, L. Imprensa e Poder. Brasília; São Paulo: Ed. Da UNB; Imprensa Oficial do

Estado, 2002.

Page 68: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

68

O jornal. Disponível em: http://www.jornalpequeno.com.br/2005/3/14/Pagina10.htm. Acesso

em: 23 abr. 2009.

Os presidentes e a república. Disponível em:

http://www.portalbrasil.net/politica_presidentes_sarney.htm. Acesso em: 26 abr. 2009.

OTÁCILIO, José. Tempo de Ciência. A produção de discursos políticos na visão de Pierre

Bourdieu. v.12,23, p.187-200, 1 semestre de 2005.

Partidos acusam Roseana de infidelidade partidária. Disponível em:

http://www.conjur.com.br/2009-abr-25/pt-psdb-psb-entram-recurso-tse-tirar-roseana-governo.

Acesso em: 22 mai. 2009.

Plano Cruzado. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Plano_Cruzado. Acesso em 26

abr. 2009.

PMDB domina Congresso e quer vaga de vice para 2010. Disponível em:

http://www.sistemaodia.com/noticias/pmdb-domina-congresso-e-quer-vaga-de-vice-para-

2010-9665.html. Acesso em: 22 mai. 2009.

SALOMÃO, Mozahir. Os constrangimentos organizacionais no jornalismo. Disponível

em: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=283IMQ002. Acesso em: 17

mar. 2009.

SANTOS, Rogério et al. O Jornalismo Português em Análise de Casos, Lisboa: Editorial

Caminho S.A., 2001.

SCHERRE, Maria Marta Pereira. Doa-se lindos Filhotes de Poodle: variação lingüística,

mídia e preconceito. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

SFEZ, Lucien. Crítica da comunicação. São Paulo: Edições Loyola, 1994.

VANEIGEM, Raoul. Nada é sagrado tudo pode ser dito: Reflexões sobre a liberdade de

expressão. São Paulo, 2004.

Where dinosaurs still roam. Disponível em:

http://www.economist.com/world/americas/displaystory.cfm?story_id=13062220. Acesso em:

22 mai. 2009.

Page 69: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

69

Periódicos

O Estado do Maranhão. São Luís, 23 de janeiro de 2009.

O Estado do Maranhão. São Luís, 24 de janeiro de 2009.

O Estado do Maranhão. São Luís, 25 de janeiro de 2009.

O Estado do Maranhão. São Luís, 27 de janeiro de 2009.

O Estado do Maranhão. São Luís, 28 de janeiro de 2009.

O Estado do Maranhão. São Luís, 29 de janeiro de 2009.

O Estado do Maranhão. São Luís, 30 de janeiro de 2009.

O Estado do Maranhão. São Luís, 31 de janeiro de 2009.

O Estado do Maranhão. São Luís, 1 de fevereiro de 2009.

O Estado do Maranhão. São Luís, 2 de fevereiro de 2009.

O Estado do Maranhão. São Luís, 3 de fevereiro de 2009.

O Estado do Maranhão. São Luís, 4 de fevereiro de 2009.

Jornal Pequeno. São Luís, 23 de janeiro de 2009.

Jornal Pequeno. São Luís, 24 de janeiro de 2009.

Jornal Pequeno. São Luís, 25 de janeiro de 2009.

Jornal Pequeno. São Luís, 26 de janeiro de 2009.

Page 70: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

70

Jornal Pequeno. São Luís, 27 de janeiro de 2009.

Jornal Pequeno. São Luís, 28 de janeiro de 2009.

Jornal Pequeno. São Luís, 29 de janeiro de 2009.

Jornal Pequeno. São Luís, 30 de janeiro de 2009.

Jornal Pequeno. São Luís, 31 de janeiro de 2009.

Jornal Pequeno. São Luís, 1 de fevereiro de 2009.

Jornal Pequeno. São Luís, 2 de fevereiro de 2009.

Jornal Pequeno. São Luís, 3 de fevereiro de 2009.

Jornal Pequeno. São Luís, 4 de fevereiro de 2009.

Page 71: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

71

ANEXOS

Page 72: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

72

Por Serra, oposição apóia José Sarney no Senado

23 de janeiro de 2009

PSDB e DEM avaliam que disputa atrai peemedebistas para a candidatura do

governador de SP à Presidência em 2010

Interessados na adesão do PMDB à candidatura de José Serra ao Palácio do Planalto, o alto

tucanato e o comando do DEM se mobilizam para fechar o apoio dos dois partidos à eleição

de José Sarney (PMDB-AP) para a presidência do Senado.

Na quarta-feira, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso telefonou para o presidente do

PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), defendendo a formalização de apoio ao peemedebista.

“Vamos todos votar num candidato só”, disse Guerra, após reunião com o governador de

Minas, Aécio Neves, defensor da eleição de Sarney.

Além da atuação de FHC, o ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen (SC) visitou o senador

Demóstenes Torres (GO), que se recupera de uma cirurgia em São Paulo, para consultá-lo

sobre os rumores de que votaria no petista Tião Viana (AC). “Demóstenes está fechado com o

DEM, que já manifestou apoio a Sarney”, assegurou Bornhausen. No PSDB e no DEM, a

avaliação é que a disputa no Senado atrai o PMDB para a candidatura Serra.

Caso Lunus – Atualmente os Sarney representam um dos principais focos de resistência à

aliança com o governador paulista, a quem atribuem as investigações da Polícia Federal que

enterraram a candidatura de Roseana Sarney à Presidência em 2002. Na operação da PF, R$

1,3 milhão em dinheiro foi apreendido na Lunus, empresa de Roseana. Segundo Guerra, Serra

disse que não pretende interferir na eleição no Senado. Mas, segundo tucanos, a omissão é

tida como um gesto pró-Sarney. Já Aécio “manifestou simpatia” à candidatura do senador.

No momento, Sarney conta com o apoio oficial do PMDB, do DEM e do PP, o que

oficialmente lhe renderia 34 dos 41 votos necessários para a vitória. Além do seu próprio

partido, estão ao lado de Viana, PSB, PC do B, PRB, PR e PSOL. Ontem, ele ganhou o apoio

do PDT. Somados esses partidos, ele estaria hoje com 26 votos. O PDT também anunciou que

na Câmara apoiará o candidato Michel Temer (PMDB-SP). (Folha de S. Paulo)

Page 73: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

73

Em todas as vitrines

24 de janeiro de 2009

Dois acontecimentos a nível nacional chamam a atenção da classe política. A probabilidade

de Sarney voltar à presidência do Senado, enfraquecendo o Partido dos Trabalhadores, e a

iminente intimação do filho do senador, Fernando, para depor em inquérito aberto na Polícia

Federal.

São notícias que dizem respeito diretamente ao Maranhão, vítima contumaz da corrupção

descarada e vítima também do inconformismo do senador que desde que deixou de comandar

as forças políticas do Estado abriu diversas frentes de combate ao desenvolvimento e ao

progresso. Além de engendrar nos bastidores da Justiça a cassação do governador Jackson

Lago.

A idéia é fazer com que os maranhenses paguem caro a derrocada do grupo político que

insiste em se alimentar das benesses do poder.

Para o PT, perder o comando das duas casas legislativas do país significa render-se, de uma

vez por todas, ao PMDB como principal força política da Federação. Para Fernando Sarney, a

notícia de sua intimação representa uma queda valorativa na influência que o último herdeiro

da ditadura militar, seu pai, ainda possa exercer nos bastidores da República.

Os dois acontecimentos se misturam porque é provável que a intimação de um provoque a

desistência do outro na luta pela presidência do Senado. Sarney eleito presidente da Câmara

Alta do país estará em todas as vitrines, exposto às pedradas dos adversários políticos. E seu

filho é, hoje, o mais visível alvo da Polícia Federal e do Ministério Público.

A ocupação simultânea de duas casas legislativas pelo PMDB, além de ser um fenômeno

histórico, deixará a impressão de que o presidente da República se afasta cada vez mais do

Partido dos Trabalhadores e se integra às forças reacionárias que elegeram a ideologia do "é

dando que se recebe", do "toma lá dá cá", como principal prática política do país.

Não se tirem as razões do governador Jackson Lago ao tratar de retrocesso uma eventual

vitória de Sarney para a presidência do Senado. Não apenas por suas ligações com a direita

que sustentou a ditadura militar, mas também pelo impacto que isso representará nas

instituições públicas. Há gente demais em torno de Sarney envolvida em denúncias de

corrupção. Não apenas o chamado Grupo da Poli, mas quase todos aqueles por ele indicados

para ocuparem cargos públicos no país.

Page 74: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

74

Por outro lado, a tardia decisão de intimar Fernando Sarney a depor traz de volta o foco dos

holofotes para os membros da família, quase todos eles listados em complexas operações

financeiras que vão das propinas (Gautama) à remessa de divisas para o exterior. É uma

situação que faz de Sarney um candidato não recomendável para a saúde moral do Senado e

do Brasil.

SARNEY: SEM CONSENSO E SEM LULA

24 de janeiro de 2009

Haroldo Saboia

O senador José Sarney, após meses fazendo campanha pelo consenso em torno de seu próprio

nome para a presidência do Senado, acabou derrotado.

Foi uma campanha inovadora. Todos os dias, o velho coronel fazia publicar uma declaração

sua negando ser candidato, tendo o cuidado sempre de lembrar que "se chamado por seus

pares", para "evitar disputas inúteis", poderia pensar em aceitar ser "o nome de consenso".

E sempre, sempre, dava lá o seu jeito para que os jornalistas nunca esquecessem ser ele,

Sarney, "o candidato preferido do presidente Lula".

Creio que muitos brasileiros (e brasileiras) foram convencidos de que o presidente Lula não

pensou em outra coisa, em suas férias de fim de ano, na Ilha de Fernando de Noronha, a não

ser em Sarney, presidente por consenso do Senado. É que do Natal ao Dia de Reis, não vi

jornal que não lembrasse que a primeira coisa que faria o Lula quando voltasse a Brasília era

falar com o Sarney.

O jornalista Kennedy Alencar, repórter especial da Folha de São Paulo, chegou mesmo a

afirmar;

"Lula deseja uma conversa definitiva com José Sarney. Se ele disser sim, Lula falará com o

senador Tião Viana (AC), candidato do PT a presidente do Senado, para que ele desista da

candidatura" (Folha de São Paulo, 14/01/2009).

Sarney disse sim e Lula, não. (O primeiro, que era como sempre foi candidatíssimo; o

segundo, que não o apoiaria nem tampouco pediria a desistência do senador Tião Viana).

O velho coronel Sarney acabou, assim, sem consenso e sem Lula; mas agarrado como nunca

em suas ambições e interesses.

Page 75: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

75

Derrotado, comete um gravíssimo erro na própria formulação de sua candidatura. Na matéria

que citamos, o colunista da Folha de São Paulo afirma:

- "Sarney quer ser candidato para fortalecer o seu clã político no Maranhão";

- "a Presidência do Senado daria ao ex-presidente da República força para tentar frear

eventual operação da Polícia Federal contra um filho dele"

Essas afirmações - não contestadas nem desmentidas - são reveladoras tanto quanto

estarrecedoras.

Reveladoras, pois, informam ao país que um seu ex-presidente da República ao colocar,

meses a fio, seu nome a disposição de seus pares para presidir o Senado e o Congresso

Nacional, o fazia não por espírito público, por ideais republicanos, mas por mesquinhas

motivações decorrentes de disputas regionais.

Estarrecedoras à medida que dão conta que o senador José Sarney busca o cargo também com

propósitos confessadamente criminosos tais como o de obstruir investigações policiais e

eventuais processos judiciais contra seu filho e sócio, Fernando Macieira Sarney, em

liberdade por força de salvo conduto.

Deste episódio fica claro que o presidente Luis Inácio Lula da Silva não se deixou levar pela

cantilena consensual do seu caríssimo aliado José Sarney (Ministério de Minas e Energia,

Eletrobrás, Eletronorte, ANTAQ, Banco da Amazônia, todos os cargos federais no Maranhão

e Amapá, etc. etc. etc.).

Enquanto José Dirceu, com certeza por afinidades éticas, acha natural apoiar Sarney e reitera

em seu blog de 21/01/2009 "inclusive para lhe fortalecer frente às derrotas no Maranhão",

Lula, inteligente, já percebe enfraquecimento de Sarney. (Não é a toa que Lula é presidente

com 80 por cento de aprovação, e Dirceu não pode sequer freqüentar lugares públicos...)

Paciente e exímio negociador, amadurecido nos embates sindicais, Lula tem extraordinária

intuição política e aguçado sentido de autoridade. Não se deixa pautar por matérias como

aquelas que Sarney costuma tanto "plantar" na imprensa. Quantas vezes não lemos nos jornais

que Lula iria oferecer o Ministério da Saúde em troca do apoio do senador Tião Viana a

Sarney?

Sem Lula e sem consenso, Sarney caiu na vala comum e sua campanha no vale tudo.

Já voltou até mesmo, em outras escalas e graus, a oferecer troca-troca de votos. Agora, dizem

correligionários seus nos quatro cantos de São Luis sem pedir segredo, Sarney estaria, enfim,

disposto a negociar com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vaga na Academia

Brasileira de Letras em troca do apoio do PSDB a sua candidatura a presidência do Senado.

Page 76: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

76

(Nesse andar da carruagem, Sarney vai ter logo, logo, que propor aumento de cadeiras na

ABL).

O certo é que não está fácil para o velho coronel da Maguary.

Como convencer o PSDB e o PFL, partidos de oposição a Lula, com forte presença no Senado

a abrir mão da presidência de Comissões importantes como a de Justiça, a de Relações

Exterior, e a de Economia? Esses cargos fariam parte de um protocolo a ser formalizado pelo

senador Tião Viana, do PT, e as bancadas dos tucanos e pefelistas.

Apoiada por partidos de esquerda e centro esquerda, como o PSOL e o PDT, a candidatura do

petista Tião Viana ganha força apesar de toda a influencia que Sarney ainda tem na grande

imprensa. Mas é questão de tempo.

Derrotado na busca do consenso, derrotado na tentativa de conquistar o apoio de Lula, Sarney

agora será derrotado no voto, como no voto foi derrotada sua filha Roseana pelos

maranhenses que elegeram Jackson governador.

Nota:

Recebi do Secretario de Estado do Turismo, Sr.João Martins, carta tentando explicar a

exclusão do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses na disputa pela escolha das 7

Maravilhas Naturais do Mundo . Nela o Dr. João Martins afirma:

... "pessoas, órgãos, comitês é que falharam em suas proposições inclusive assumindo sem a

devida competência suas funções e gerando fracasso.

Como faço parte de uma equipe de Governo muitas vezes necessitamos ficar em silêncio para

não gerar conflitos, porém o Senhor Governador tem conhecimento de todos estes fatos."

Haroldo Saboia, 58 anos, economista, advogado, Constituinte de 1988.

PT mantém rejeição a Sarney na disputa pelo comando do Senado

24 de janeiro de 2009

Berzoini afirma que a disputa entre Tião e Sarney será decidida no voto

Brasília - O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), disse ontem que a

disputa entre os senadores Tião Viana (PT-AC) e José Sarney (PMDB-AP) pela presidência

do Senado será decidida no voto. Apesar de reconhecer que Sarney integra um partido aliado

ao governo federal, Berzoini disse que a candidatura do peemedebista "não contribui" para o

processo democrático.

Page 77: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

77

"Sarney é um aliado do governo desde 2003. O PT ajudou a elegê-lo naquela eleição. Mas sua

candidatura, apresentada na reta final do processo, depois de inúmeras negativas, inclusive em

interlocução com o senador Tião Viana, não contribui para o processo", disse Berzoini em

entrevista ao site do PT.

O deputado reiterou que os petistas vão se manter na campanha do deputado Michel Temer

(PMDB-SP), na disputa pelo comando da Câmara, mesmo com a ameaça do PMDB ficar com

a presidência das duas Casas Legislativas.

Berzoini foi enfático ao afirmar que a candidatura de Tião será mantida até o final. "A

candidatura de Tião está mantida e a decisão será no voto, a partir da avaliação de bancadas e

também de cada parlamentar", disse. O petista afirmou que Tião lançou sua candidatura no

final do ano passado e que representa a renovação que o Senado necessita.

"O Tião Viana colocou seu nome com antecedência e com uma proposta política, respaldada

pela maneira como conduziu uma interinidade difícil, em momento de grande crise no

Senado. Tião representa uma renovação, com apoio de seis partidos e de vários senadores

individualmente", afirmou. As eleições para os comandos do Senado e da Câmara estão

marcadas para o dia 2.

Palpite - Berzoini evitou arriscar um palpite sobre os efeitos do impasse no Senado na

campanha de Temer na Câmara. "Esse assunto se resolve no dia da eleição. Cabe a todos que

defendemos o governo dissociarmos o assunto da eleição da Mesa com os interesses maiores

do país e as respectivas votações", afirmou.

O petista classificou a Câmara como um espaço "gerado para intrigas e tentativas de

desestabilização", mas garantiu que seu partido vai manter o acordo com Temer e ficará com

ele na campanha.

"Quanto à Câmara, apesar do espaço gerado para intrigas e tentativas de desestabilização,

entendo que o PT está unido em torno do cumprimento do acordo firmado em 2007 e que os

demais apoiadores de Michel Temer também estarão firmes. Vamos trabalhar para que a falta

de acordo do PMDB com o PT no Senado não desestabilize o quadro para a eleição do Temer.

Acordo se cumpre e palavra dada deve ser palavra honrada", disse.

No entanto, políticos que acompanham as negociações afirmam que o PT deverá ir rachado no

dia da eleição e não deve apoiar de forma integral o nome de Temer. Mas, no último dia 20, o

peemedebista se reuniu com vários aliados, entre eles petistas que lhe asseguraram que a

bancada se manterá unida a seu favor. No próximo dia 30, a bancada do PT na Câmara deverá

se reunir para tratar do assunto e oficializar uma posição.

Page 78: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

78

SARNEY QUER SER PRESIDENTE DO SENADO

25 de janeiro de 2009

Jersan Araújo

O senador José Sarney quer presidente do Senado Federal pela terceira vez. E será. Apesar de

ter dito e repetido muitas vezes que não seria candidato, no fundo, gostaria de receber um

apelo do presidente Lula e ser aclamado pelos colegas de partidos atrelados ao governo.

Paralelamente, agia à calada da noite, e viabilizou-se com o apoio dos partidos de oposição,

com destaque para o PSDB e DEM. Diante da impossibilidade de Lula em abraçar a sua

candidatura e da recusa do petista Tião Viana em renunciar, o senador amapaense sinaliza, a

essas alturas, apoio ao candidato da oposição ao do presidente Lula, principalmente se esse

candidato for Aécio Neves.

As mágoas que guarda contra o governador de São Paulo, José Serra, a quem é atribuída a

denúncia contra Roseana Sarney em 2002, que culminou com a retirada da candidatura dela à

Presidência da República, também, são "negociáveis" desde que o PSDB se disponha,

realmente a apoiá-lo. Não há dúvida de que o motivo preponderante dessa postulação do

senador amapaense está diretamente ligada à necessidade de ter mais poderes para tentar

livrar o filho das garras da justiça e da polícia. Quer salvar, como sempre o fez, a própria pele

e a pele dos seus filhos, envolvidos em atos ilícitos.

Cheguei a admitir nesta coluna que o senador José Sarney não teria coragem de disputar, no

voto, a presidência da Câmara Alta. Errei na avaliação. Nas confirmo que essa "disposição"

dele de "topar a briga" está impulsionada pela necessidade de adquirir mais poderes e

influenciar nas decisões sobre os processos envolvendo o filho Fernando Sarney. Para ver

prosperar os próprios interesses, Sarney enfrenta qualquer desafio, e, para tanto, usa o partido

em que estiver (agora o PMDB) e o Maranhão, como moeda de troca, como bem o diz o

deputado Julião Amim (PDT) e ratifica Domingos Dutra (PT).

O senador amapaense não está um pouco incomodado se a sua candidatura vai ou não

prejudicar a eleição de Michel Temer para a direção da Câmara Federal. Também, a essas

alturas, não se está nem aí para Lula, em fim de mandato. Assim foi em 1985 quando chutou

seus aliados do regime militar e se transformou no mais ferrenho defensor da candidatura de

Tancredo Neves, de quem foi vice-presidente e depois, com a morte do mineiro, ascendeu à

Presidência da República.

Page 79: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

79

PSDB faz exigências para apoiar Zé Sarney na disputa no Senado

26 de janeiro de 2009

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Para apoiar Sarney, PSDB exige a vice e 2 comissões

Convertido em fiel da balança da disputa pela presidência do Senado, o PSDB está a um passo

de fechar com José Sarney (AP), o candidato do PMDB. Os tucanos exigiram de Sarney três

postos. Se forem atendidos, fecharão as portas para Tião Viana (AC), o candidato do PT. Eis

as posições reivindicadas pelo PSDB: Na primeira vice-presidência, o tucanato deseja

acomodar na cadeira o senador Marconi Perilo (PSDB-GO).

Para a Comissão de Assuntos Econômicos, o PSDB não abre mão de entregar a presidência

dessa comissão ao senador Tasso Jereissati (CE). Para o comando da Comissão de Relações

Exteriores, os tucanos indicaram Eduardo Azeredo (MG).

As exigências do PSDB foram levadas a Sarney pelo líder tucano Arthur Virgílio (AC). O

candidato mostrou-se receptivo. Sarney condicionou o atendimento das exigências apenas a

um acerto com os líderes dos demais partidos que o apóiam. Incumbiu-se Renan Calheiros

(AL), virtual novo líder do PMDB e centro-avante de Sarney, de conduzir a articulação que

deve levar à formalização do acordo.

Fixou-se a próxima quarta-feira (28) como data limite para a conclusão das negociações.

Nesse mesmo dia, Sarney reúne o PMDB num almoço. O encontro servirá para oficializar a

candidatura de Sarney e sacramentar a saída de Garibaldi Alves (PMDB-RN) do jogo. No dia

seguinte, quinta-feira (29), reunem-se as duas bancadas de oposição: a do PSDB e a do DEM.

No caso dos 'demos', que já fecharam com Sarney, o encontro da bancada será mera

formalidade. Vai-se apenas ratificar o decidido. Quanto aos tucanos, se forem atendidos em

suas reivindicações, tendem também a derramar os seus 13 votos no colo de Sarney.

É essa a tendência de Arthur Virgílio e do presidente do PSDB, Sérgio Guerra. A dupla

recebera, no final de 2008, delegação da bancada para tratar do tema. Confirmando-se a

adesão do PSDB a Sarney, só por um milagre o petista Tião Viana prevaleceria na disputa

pelo comando do Senado.

Dentro do próprio PT a posição do PSDB é vista como definidora do jogo. Vem daí o esforço

de Tião Viana para arrastar para o centro da disputa o governador José Serra. Tião já teve

duas conversas telefônicas com Serra, que não se bica com Sarney. Deve ter uma terceira.

Page 80: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

80

Parte-se da avaliação de que um pedido de Serra, hoje o presidenciável tucano mais bem-

posto nas pesquisas, poderia inverter a tendência da bancada do PSDB. Por ora, Serra não se

moveu na direção pretendida por Tião. Parceiros de 2010, líderes do PSDB e do DEM

duvidam que o governador venha a fazer o pedido.

Ainda que Serra peça, não é negligenciável a hipótese de não ser atendido. No final de 2007,

Serra recomendara a aprovação da CPMF. Os senadores tucanos votram contra. De resto, o

sarneyzista DEM também mexe os seus pauzinhos em São Paulo. Jorge Bornhausen (DEM-

SC) esteve com o ex-presidente FHC.

O petista Jorge Viana, ex-governador do Acre e irmão do candidato do PT, também foi a

FHC. Contou a lideranças petistas ter ouvido dele palavras de apreço a Tião. A julgar, porém,

pelo telefonema de apoio que FHC deu a Sarney na sexta (23) a embaixada de Bornhausen

teve mais sucesso.

Na fase em que o candidato do PMDB inda era Garibaldi Alves, Tião Viana colecionara algo

como seis promessas de voto no DEM e dividira ao meio a bancada do PSDB. Com Sarney,

afirmam lideranças 'demos' e tucanas, a chance de haver defecções seria pequena, muito

pequena, mínima.

(Blog de Josias de Souza).

Tião diz que terá apoio de cinco peemedebistas

27 de janeiro de 2009

Brasília - O senador Tião Viana (PT-AC), que disputa a presidência do Senado, aposta no

apoio de pelo menos cinco dos 20 senadores do PMDB à sua candidatura -mesmo após o

ingresso do senador José Sarney (PMDB-AP) na disputa. Embora o PMDB oficialmente

mantenha o discurso de que estará unido em torno de Sarney, candidato do partido, Tião disse

que um grupo de peemedebistas já manifestou interesse em apoiar o seu nome na corrida pelo

comando do Senado.

"Eu acredito que terei o apoio de cinco a sete senadores do PMDB, além de votos no DEM e

no PTB, hoje não muito simpático à minha candidatura. Isso sem contar os seis partidos que

já declararam apoio ao meu nome", afirmou.

Page 81: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

81

O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), disse não acreditar em um racha no

PMDB capaz de viabilizar a vitória de Tião. "Acho muito pouco provável que exista uma

dissidência deste tamanho no partido. Se ele tiver colocando esses votos na conta dele, vai

acabar dando conta errada", afirmou o peemedebista.

Garibaldi, que recuou de sua candidatura em favor de Sarney, disse não acreditar em traições

contra o peemedebista na bancada -mesmo com a votação secreta no plenário do Senado. "Se

ele [Tião] estiver esperando isso, tá mal. Eu tenho falado com os senadores e não noto esse

propósito [de traições]."

O DEM vai oficializar esta semana o apoio à candidatura de Sarney, mas Tião se mostrou

otimista em conquistar votos da oposição. Além dos democratas, o petista mira nos votos dos

tucanos - que são apontados como responsáveis por definir a corrida sucessória no Senado.

Com uma bancada de 13 senadores, o PSDB está rachado entre Tião e Sarney. O petista disse

ter convicção que parte dos votos dos tucanos serão seus, mesmo com a disputa entre PT e

PSDB no cenário nacional. Eu acredito que o PSDB será muito importante na decisão que

vier a tomar. É uma luta dura que vai até o último momento na segunda-feira [dia das

eleições]", afirmou.

Câmara - Tião disse esperar que o deputado Michel Temer (PMDB-SP), candidato à

presidência da Câmara, declare apoio à sua candidatura. Apesar de Temer e Sarney serem

peemedebistas, a dupla candidatura pode prejudicar o deputado porque muitos parlamentares

são contrários ao PMDB no comando simultâneo da Câmara e do Senado. "Sei que o Temer

defende o apoio ao meu nome", afirmou Tião.

Garibaldi, por sua vez, disse não acreditar que os peemedebistas da Câmara sejam favoráveis

à candidatura do petista no Senado. "Existe uma realidade na Câmara que é descolada do

Senado. Ao que sei, a candidatura do Temer vai muito bem. As duas eleições estão correndo

de maneira autônoma, não vejo que uma atrapalhe a outra."

Partidos trocam apoio por cargos na Mesa Diretora do Senado

28 de janeiro de 2009

Brasília - Os partidos deflagraram no Senado a corrida por cargos na Mesa Diretora da Casa

Legislativa e nas comissões permanentes. Além da disputa pela presidência da Câmara e do

Page 82: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

82

Senado, os parlamentares lutam por indicações em cargos estratégicos que possam beneficiar

as legendas nos próximos dois anos.

No Senado, o PSDB negocia cargos em troca do apoio do partido aos senadores Tião Viana

(PT-AC) ou José Sarney (PMDB-AP). Os tucanos estão dispostos a definir o voto da bancada

de acordo com a oferta do candidato, mas reivindicam a primeira-vice presidência do Senado

e as presidências da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) e a CRE (Comissão de

Relações Exteriores).

O partido pretende indicar o senador Marconi Perillo (PSDB-GO) para a 1ª vice-presidência,

enquanto os senadores Tasso Jeiressati (PSDB-CE) e Eduardo Azeredo (PSDB-MG) ficariam,

respectivamente, com as presidências da CAE e da CRE.

O DEM, por sua vez, não está disposto a abrir mão da presidência da CCJ (Comissão de

Constituição e Justiça), a mais cobiçada da Casa, que atualmente está com o senador Marco

Maciel (DEM-PE). A presidência da CCJ, no entanto, foi prometida pelo PMDB ao senador

Garibaldi Alves (PMDB-RN), que deixou a disputa pela presidência da Casa em favor de

Sarney.

Nos bastidores, o PMDB já admite ceder a presidência da CCJ em troca do apoio da bancada

do DEM a Sarney. A estratégia do peemedebistas, para acomodar Garibaldi, será ceder a

presidência da Comissão de Infraestrutura da Casa, responsável por analisar obras do PAC

(Programa de Aceleração do Crescimento).

O DEM ficaria, além da presidência da CCJ, com a 1ª secretaria do Senado -cargo atualmente

ocupado pelo senador Efraim Morais (DEM-PB). O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) briga

pelo comando da 1ª. secretaria, embora Efraim já tenha sinalizado que gostaria de permanecer

no cargo.

Além da Comissão de Infra-Estrutura, o PMDB também reivindica a presidência da Comissão

de Ciência e Tecnologia --já que na Mesa Diretora o único cargo que lhe resta além da

presidência é a segunda secretaria da Casa Legislativa. Na eventual vitória de Sarney, o PT

deve ficar com a presidência da CAS (Comissão de Assuntos Sociais) e da Comissão de

Direitos Humanos.

Page 83: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

83

Sarney anuncia ser candidato para 'atender solicitações'

29 de janeiro de 2009

Brasília - Com um discurso cheio de mea-culpas e insinuações de que seu adversário deveria

desistir da disputa, o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) contrariou o que vinha dizendo

há cinco meses e oficializou ontem, após almoço da bancada do partido, sua candidatura à

presidência do Senado.

Em sabatina realizada pela Folha de S.Paulo, em agosto do ano passado, ele fora taxativo: "O

que posso adiantar é que não serei candidato. Não quero ser presidente de nada". Depois

disso, repetiu o mesmo discurso a senadores, ministros e ao próprio presidente Lula, a quem

em quatro ocasiões garantiu que não entraria na disputa.

Ontem, ao formalizar que mudara de idéia, ele alegou que não poderia pensar no próprio bem-

estar, abdicando de "prestar um serviço para o país". "Não desejei, não quis, não queria,

esperava que não se chegasse a essa situação. Mas não pude deixar de atender as solicitações

que recebi do partido, de muitos senadores de nossa casa, de todos os partidos e de alguns

setores da sociedade."

O peemedebista entra na disputa como favorito, com votos em quase todas as bancadas da

Casa. Ontem, havia expectativa que o PSDB, terceiro maior partido, oficializasse o apoio a

Sarney, o que não ocorreu até o agora porque os tucanos não tiveram garantias de que ficarão

com os cargos almejados na Mesa Diretora e nas comissões.

"Existe uma preferência por Sarney, mas ainda não fechamos", disse Sérgio Guerra (PE),

presidente do PSDB. "A gente vai reagir se não nos tratarem bem", afirmou o líder do partido,

Arthur Virgílio (AM). Confiante na vitória, o PMDB colocou obstáculos para acomodar os

tucanos Tasso Jereissati (CE), na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), e Eduardo

Azeredo (MG), nas CRE (Relações Exteriores).

Além das duas comissões, o PSDB quer emplacar Marconi Perillo (GO) na primeira vice-

presidência. No começo da noite, os tucanos cogitavam trocá-lo por Tasso, diante das

dificuldades de fazê-lo presidente da CAE.

Na primeira entrevista como candidato oficial, Sarney negou em público o que senadores de

seu próprio partido admitem nos bastidores: que a projeção da presidência do Senado dará a

seu grupo mais força nas articulações para 2010. "Ao contrário, me tomará mais tempo o

próprio Senado, em detrimento das articulações políticas."

Page 84: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

84

O peemedebista concorrerá ao cargo com Tião Viana (AC), senador do PT que em dezembro

passado anunciou que concorreria ao cargo. Mas hoje Sarney deixou claro que seu grupo

ainda trabalha com a possibilidade de fazer dele candidato único. "Eu não queria [que

houvesse disputa]. Muito melhor se tivéssemos uma candidatura de unidade."

Viana, horas depois, demonstrou irritação com as declarações do colega. "Ele cometeu mais

uma indelicadeza ao sugerir que eu renunciasse. Se tem uma candidatura que deve ser

repensada é a dele, que não disse a que veio, além de ter dado a palavra de que não seria

candidato por cinco vezes", afirmou.

Sarney cede a apelos e oficializa candidatura ao comando do Senado

29 de janeiro de 2009

O senador José Sarney (PMDB-AP) oficializou ontem, 28, sua candidatura à presidência do

Senado. O peemedebista atendeu aos apelos da bancada do partido na Casa e, durante almoço,

que reuniu integrantes da legenda, formalizou o seu ingresso na disputa com o discurso de

que, apesar de suas resistências pessoais, decidiu ser o candidato do PMDB.

"Não queria, resisti, mas eu acho que é importante a minha candidatura num momento como

esse em que há uma crise mundial", afirmou.

Foto: FOLHA IMAGEM

José Sarney oficializa candidatura ao Senado Federal

Sarney não quis adiantar suas estratégias de campanha, porque disse que só agora vai começar

a buscar votos - embora nos bastidores já tenha contabilizado o apoio da maioria dos

parlamentares, inclusive senadores do DEM e partidos da base do governo federal. O

peemedebista disse que mais importante que sua vontade são os interesses do país - por isso

aceitou lançar-se candidato.

Page 85: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

85

Questionado sobre a neutralidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida pela

presidência do Senado, Sarney disse que o petista desejava apenas uma candidatura. Mesmo

assim, o peemedebista afirmou estar disposto a uma disputa direta com o senador Tião Viana

(PT-AC), do partido de Lula.

Ausências - A reunião que selou a candidatura de Sarney não contou com as presenças dos

senadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS), contrário ao nome do peemedebista.

Jarbas declarou apoio a Tião, enquanto Simon disse que não concorda com a decisão tardia de

Sarney de ingressar na disputa. Ex-presidente da República, Sarney chegou a negar em

diversas ocasiões a possibilidade de disputar o cargo. O senador Garibaldi Alves (PMDB-

RN), atual presidente da Casa, lançou sua candidatura pelo partido, mas teve que recuar

depois que Sarney aceitou disputar o cargo.

Com a pressão do partido e o aval indireto do Planalto, o peemedebista acabou por formalizar

hoje sua candidatura.

(Da Folha Online)

PSDB divide oposição e decide apoiar Tião Viana

30 de janeiro de 2009

Informe JP

O PSDB optou por apoiar a candidatura do petista Tião Viana (AC) à presidência do Senado.

O líder tucano Arthur Virgílio (AM) já comunicou a decisão ao candidato petista. Deu-se num

telefonema disparado pouco antes das 22h de ontem. Antes, Virgílio discara para Rosena

Sarney, filha e coordenadora da campanha de José Sarney (PMDB-AP), o rival de Tião.

A deliberação do PSDB foi tomada em reunião realizada no Recife (PE), na casa de Sérgio

Guerra (PE), presidente do partido. Além de Virgílio e Guerra, participou do encontro o

senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Os outros senadores tucanos foram consultados pelo

telefone. Exceto Mário Couto (PA). Em viagem ao exterior, Couto não foi localizado.

O senador Arthur Virgílio confirmou a notícia ao blog de Josias de Souza, da Folha de S.

Paulo: "Nossa decisão está tomada. Apoiaremos o senador Tião Viana. Fizemos a opção que

consideramos melhor e mais adequada para o Legislativo".

Page 86: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

86

Tião disse que "o elo" do entendimento de sua candidatura com o tucanato "foi a carta-

compromisso do PSDB", que assinara e respondera na véspera. "O PSDB me informou que

não reivindica nada além disso". E quanto aos cargos na mesa diretora e nas comissões do

Senado?

Tião responde: "Esse assunto, o PSDB me informou que vai tratar dentro do que está previsto

nas regras da proporcionalidade das bancadas."

Sob a aparência de desprendimento, o tucanato almeja pelo menos três cargos: a primeira

vice-presidência do Senado e o comando das comissões de Economia e de Relações

Exteriores. São posições que, na véspera, Tião dissera aos tucanos que conseguiria prover.

Apoio do PSDB a Tião Viana abala a candidatura de Sarney

31 de janeiro de 2009

DISPUTA NO SENADO

Brasília - O apoio do PSDB ao PT na sucessão do Senado já produziu um forte abalo na

candidatura do senador José Sarney (PMDB-AP), ainda que não seja suficiente para derrubar

o favoritismo do peemedebista na votação em plenário, marcada para segunda-feira. Avesso a

disputas, Sarney só aceitara o confronto com o petista Tião Viana (AC) na expectativa de ser

legitimado pela eleição e de sair "consagrado" do plenário.

Sem o apoio oficial do PSDB, no entanto, não haverá consagração para Sarney, ainda que lhe

sobrem votos além do mínimo de 41, imprescindíveis para levar qualquer candidato à vitória.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), explicou que o PSDB tomou esta decisão

"às pressas", para que o candidato petista tivesse mais tempo para trabalhar o fato novo e virar

o jogo eleitoral a seu favor.

A despeito da larga margem de vantagem do candidato do PMDB, alardeada por todos até a

noite de quinta-feira, quando houve a reviravolta no PSDB, o líder tucano afirma que seu

partido "entrou para valer" na campanha de Viana e mais: "Já equilibrou a disputa".

"Queremos ganhar esta eleição e estamos trabalhando duro para isto", disse Virgílio.

O PSDB aposta que conseguirá inverter o movimento dos indecisos que aderiram a Sarney na

última semana, certos de que a candidatura de Tião perdera competitividade. "Aqueles que

Page 87: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

87

foram para lá (Sarney) no efeito manada, agora voltam para cá (Tião). O Tião Viana está no

jogo", avalia.

A contabilidade do PT do Senado ontem apontava algo em torno de 37 ou 38 votos, logo de

manhã. Nas contas de Viana, que entrou madrugada adentro avisando os companheiros do

Senado da novidade bastariam três novas adesões para virar o jogo. No fim do dia, o petista já

falava em 42 votos. A dificuldade é que há dissidências em todos os partidos, tanto para um

lado quanto para o outro.

Até mesmo o PSDB, que anunciou o voto em bloco de seus 13 senadores, a exemplo do que

ocorreu na votação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), não

fechará inteiramente com Viana. Diferentemente da CPMF, que foi derrubada com o apoio

maciço dos tucanos, o painel de votação não exibirá publicamente a posição de cada um, já

que o voto para presidente do Senado é secreto.

Contas - O grupo de Sarney afirma, contudo, que tem vitória garantida com pelo menos, 55

dos 81 votos. Os peemedebistas acreditam que o PSDB apostou mais na confusão do que na

definição do jogo sucessório, quando aderiu ao PT. O PMDB admite que o fato novo altera as

contas, mas mantém a previsão de vitória com folga de votos. A aposta do grupo é que o

PSDB vai rachar e dar a Sarney pelo menos sete votos. A conta do PT é outra. Os apoiadores

de Tião Viana acreditam que a dissidência tucana não passará de quatro votos.

No caso do PMDB, os partidários de Sarney contabilizam apenas uma defecção - Jarbas

Vasconcelos (PE) - na bancada de 20 senadores. Mas o PT aposta que, com o apoio dos

tucanos, tomará de volta votos perdidos. Um dirigente do PMDB avalia que o senador Gerson

Camata (PMDB-ES), por exemplo, é um dos que podem fazer o caminho de volta.

Segundo o parlamentar, Sarney teve muito trabalho para obter o apoio do capixaba, que,

apesar do carinho e da atenção dispensados pelo candidato peemedebista, mostrava-se

desconfortável com a opção. O raciocínio neste caso é de que todos os que aderiram

"contrariados" a Sarney, porque a candidatura de Viana parecia inviável, agora podem

repensar o voto.

Líderes de cinco partidos declaram apoio a Tião Viana

Brasília - Os líderes dos cinco partidos que apoiam a candidatura do senador Tião Viana (PT-

AC) à presidência do Senado divulgaram nota ontem reafirmando a adesão ao petista. No

documento, os líderes do PT, PSB, PDT, PR e PRB afirmam que o grupo rechaça as

negociações envolvendo a troca de cargos por apoio político. Na nota, não está incluído o

PSDB nem integrantes da legenda.

Page 88: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

88

A nota é uma resposta às informações de que Tião estaria fazendo acordos com líderes

partidários nos quais daria sua palavra de que os partidos teriam os comandos de comissões

permanentes e cargos na Mesa Diretora do Senado, se for eleito.

Para os aliados de Tião, apesar de ele pertencer ao PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,

não comandará o Senado como uma extensão do governo federal. Segundo eles, Tião

consagra a renovação no Senado e aprofunda o processo democrático brasileiro.

"Neste sentido, avaliamos que Tião Viana presidirá esta Casa com os olhos voltados não

apenas para seu funcionamento interno, para os interesses específicos do governo, mas para o

bem do país", diz o documento. Íntegra da nota:

"Carta de apoio do PT, PSB, PDT, PR e PRB a Tião Viana presidente do Senado

A candidatura do senador Tião Viana a presidente do Senado no período 2009-2010 consagra

a renovação da Casa no sentido de aprofundar o processo democrático brasileiro e o

fortalecimento da República. Reafirmamos nosso apoio à sua candidatura, confiantes no

cumprimento de um mandato voltado para as mudanças que o Senado Federal exige.

Tião Viana inspira os avanços que a sociedade brasileira reclama. E a sociedade quer um

Senado transparente, ágil, atuante e com a firme iniciativa, especialmente frente à crise

econômica que vive o mundo. Neste sentido, avaliamos que Tião Viana presidirá esta Casa

com os olhos voltados não apenas para seu funcionamento interno, para os interesses

específicos do Governo, mas para o bem do País.

Repelimos, ao reiterar este apoio, acordos de bastidores sem a participação de todos os

partidos para a distribuição de cargos ao arrepio da lei e da tradição desta Casa. A

Constituição e o Regimento Interno são claros e consagram a prática adotada por esta Casa.

Diz o art. 58, º 1º da Constituição Federal:

"Na constituição das Mesas e de cada Comissão, é assegurada, tanto quanto possível, a

representação proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que participam da

respectiva Casa".

Esse dispositivo confere aos partidos políticos o direito à proporcionalidade na composição da

Mesa Diretora e das Comissões do Senado Federal. A Constituição é clara e taxativa. O verbo

utilizado é "assegurar". Não é uma garantia aleatória, susceptível de recusa por interpretação,

mas de caráter incondicional, impositivo.

O texto constitucional apenas permite variação ou flexibilidade na medida da

proporcionalidade, que será observada "tanto quanto possível". A dimensão da

Page 89: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

89

proporcionalidade, portanto, é que pode ser graduada, tendo em vista o número de partidos e a

representação (número de senadores) de cada um deles.

A Constituição não afirma "quando possível" ou "se possível" e sim "tanto quanto possível".

É, portanto, inegável que a garantia da representação proporcional dos partidos, em cada

comissão, tem caráter obrigatório. O texto constitucional, aliás, está inscrito no artigo 59,

parágrafo 1º, do Regimento Interno, e no artigo 78."

Líder do PR, João Ribeiro (TO)

Líder do PSB, Renato Casagrande (ES)

Líder do PRB, Marcello Crivella (RJ)

Líder do PDT, Osmar Dias (PR)

Líder do PT, Ideli Salvatti (SC)

Aliados de Sarney afirmam ter seis dos 13 votos tucanos

31 de janeiro de 2009

Brasília - Aliados do candidato do PMDB à presidência do Senado, José Sarney (AP), vão se

mobilizar durante o fim de semana para conquistar o maior número de votos na bancada do

PSDB, cuja cúpula anunciou apoio a Tião Viana (PT-AC). A eleição é na segunda-feira.

De imediato, o grupo de Sarney diz contar com seis do 13 votos tucanos. Dentro da bancada,

três trabalham pelo peemedebista: Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Marconi Perillo (PSDB-GO) e

Papaléo Paes (PSDB-AP). Este último chegou a declarar publicamente que votará no

candidato peemedebista.

"Eu voto no Sarney. Já declarei meu voto, depois de uma reunião que indicava tendência pró-

PMDB. E, depois que eu dou minha palavra, mudar é quase impossível", disse.

Paes, que é aliado de Sarney no Amapá, disse ter sido "comunicado" da decisão do PSDB na

quinta à noite, por meio de um telefonema do líder da bancada tucana, Arthur Virgílio (AM).

"Acho que não vou sofrer represália", afirmou.

Flexa Ribeiro e Marconi Perillo trabalham por Sarney nos bastidores. Ambos tentam garantir

seus lugares na Mesa Diretora. Ao paraense, foi prometida a quarta-secretaria e, ao goiano, a

primeira vice-presidência. No domingo, Marconi reúne a bancada em sua casa.

Os aliados de Sarney, porém, tentarão conquistar a vitória sem precisar dos votos tucanos.

Ontem o grupo reuniu-se na casa da senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), que admitiu ter

Page 90: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

90

ficado surpresa com a decisão dos tucanos. Sobre o pai, afirmou: "Quando ele virou

candidato, ele aceitou o jogo".

Aliado de Sarney, o DEM minimizou o apoio tucano ao PT. "Lamentei. Gostaria de ganhar a

eleição ao lado do PSDB. Mas Sarney vai ganhar, independentemente do PSDB", disse o líder

José Agripino Maia (RN). Arthur Virgílio reagiu ao ser avisado que o grupo de Sarney diz

contar com seis votos tucanos. "Eles estão pensando o quê? Se é assim, diga que eu conto

com os 20 votos deles. Acho que eles estão confundindo os partidos", afirmou.

Estratégia de José Sarney é distribuir cargos e vantagens

1 de fevereiro de 2009

PROMETENDO TUDO A TODOS

Para derrotar Tião Viana na disputa pelo comando do Senado, o velho ex-oligarca mais

uma vez vira as costas para a moralidade política

O senador Tião Viana, do PT do Acre, acreditava que o apoio do presidente da República, sua

biografia e as elogiáveis propostas de moralização do Parlamento seriam suficientes para

convencer os colegas de que seu nome era o que havia de melhor para presidir o Congresso. A

política, porém, não se move apenas por virtudes. Há interesses gigantescos, alguns

inconfessáveis, a maioria infelizmente direcionada ao fisiologismo. Na semana passada, o

senador José Sarney apresentou-se como candidato do PMDB e, mantida a lógica, assumirá

nesta segunda-feira o comando do Senado. Sarney fez uma campanha de bastidores usando a

mesma fórmula que marcou sua trajetória ao longo de mais de meio século de política.

Prometeu cargos aos que não têm, assumiu o compromisso de manter os cargos dos que já

têm, garantiu um ambiente de tranqüilidade ao governo e, ao mesmo tempo, assegurou à

oposição que será um presidente independente, como se isso tudo fosse possível.

Page 91: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

91

José Sarney é o candidato do fisiologismo

Em novembro do ano passado, Tião Viana procurou Sarney e pediu apoio. "Conte comigo",

respondeu o senador, que já estava costurando sua candidatura com a ajuda de Renan

Calheiros, um de seus principais discípulos na política e que dispensa maiores apresentações.

E tome promessas. O DEM, que flertava com Tião Viana, foi o primeiro a fechar com Sarney,

após a garantia de que continuará comandando a primeira-secretaria, responsável pela

administração de um orçamento anual de 2 bilhões de reais e epicentro de uma série de

escândalos de corrupção. O PSDB chegou a piscar diante da proposta de assumir a primeira-

vice-presidência, a quarta-secretaria e a presidência da Comissão de Assuntos Econômicos.

Adversário histórico de Sarney, até o senador Fernando Collor prometeu entregar seu voto e o

de mais seis petebistas em troca do comando da Comissão de Relações Exteriores. O PR,

partido com quatro senadores, obteve o compromisso mais prosaico: a troca da frota de carros

oficiais, hoje composta de Fiat Marea da década de 90.

No atacado, Sarney garantiu ainda que não mexerá na estrutura do Conselho de Ética - uma

promessa que agrada em cheio a um colégio eleitoral no qual um quarto de seus membros

responde a processos. O senador também avisou a Dilma Rousseff que a apoiará na sucessão

de Lula, ao mesmo tempo em que falou a José Serra, o provável candidato tucano, que não

tem nada contra ele e que ainda está indeciso sobre os rumos que tomará em 2010. Foram

tantas promessas que elas acabaram se sobrepondo e criando um incidente. Na quinta-feira

passada, depois de anunciarem o apoio a Sarney, os tucanos voltaram atrás e se alinharam ao

petista Tião Viana. Descobriram que os cargos prometidos ao partido entraram em

negociações com outras bancadas. A confusão, que pode acabar criando dificuldades para o

PMDB na Câmara, onde o deputado Michel Temer tinha uma eleição tranqüila, expõe o nível

de preocupação institucional que orienta as decisões de uma boa parte dos nossos políticos.

Caso Sarney confirme seu favoritismo, os petistas ameaçam trair Temer em benefício de Ciro

Nogueira, do PP. Ciro é afilhado político de Severino Cavalcanti, que renunciou ao ser

apanhado em negociações nada institucionais. Solução no Senado, problema na Câmara.

(Otávio Cabral, da Veja)

Page 92: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

92

Informe JP

1 de fevereiro de 2009

A disputa no Senado

Diferente da Câmara Federal, o Senado é um território restrito, com 81 votos, onde a

hegemonia partidária do PMDB, reforçada pela presença de outras siglas de pequeno porte,

pode sempre garantir a eleição de qualquer de seus membros. Uma eleição de José Sarney,

por mais que implique em retrocesso político para o país, nesse território, é perfeitamente

possível.

De característica conservadora, se não reacionária, posto que, pelo menos em tese, abriga a

nata dos caciques partidários responsáveis pelo clientelismo e pelo "toma lá da cá" da política

brasileira, o Senado é propício a todas as formas de traições. Bem mais que na Câmara, é

neste espaço que as prebendas e favores ganham força na hora de impor decisões políticas e

orientar distorções institucionais, como o troca-troca partidário, por exemplo. É a zona franca

dos lobistas, a gruta para ação preferencial dos homens das malas pretas, conforme o chavão

em voga no país.

Uma vitória de Sarney é possível também porque o PMDB sintetiza, hoje, para vergonha de

figuras póstumas históricas como Ulisses Guimarães e Teotônio Vilela, esse espírito de

avacalhação que, volta e meia, ronda o Congresso Nacional.

O PSDB tem feito a oposição que dele se esperava, mas é de tal modo nefasta a figura de

Sarney entre os homens sérios deste país, que o partido prefere aliar-se momentaneamente ao

PT do que contribuir como sigla e agremiação para a eleição do "maranhamapaense" à

presidência do Senado.

A inadmissível credibilidade do Poder Legislativo no Brasil certamente estará mais rastejante

se Sarney, neste momento em que as instituições públicas parecem ter descurado de seus

apanágios morais, vencer a eleição. Mas as disputas corporativas, mormente em campos

reduzidos e eticamente fragilizados como o Senado brasileiro, induzem ao erro, a todo tipo de

erro.

Sarney já não teme os holofotes da imprensa, não teme envidraçar-se ou ser o alvo

preferencial dos adversários políticos. Ele precisa de força institucional para salvar o filho que

não sai da mira da Polícia Federal. Presidente do Senado espera, como frisou o deputado

Domingos Dutra, ter mais espaço para constranger os membros do Tribunal Superior Eleitoral

Page 93: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

93

a cassarem o mandato do governador Jackson Lago. Essa disputa, a priori, deveria

salvaguardar os interesses da Nação. Para Sarney, no entanto, transformou-se num vale-tudo

em que, para além de seus interesses pessoais, está a salvação política e moral de sua família.

Felizmente, a candidatura do senador Tião Viana cresce a ponto de minar o franco-

favoritismo do senhor José Sarney, pelas razões aqui já expostas. Mas o ringue dessa peleja é

o território das traições, do tráfico de influência, das prebendas e troca de favores. Um terreno

desfavorável para a democracia onde ninguém, hoje, neste país, se movimenta melhor que o

donatário do Convento das Mercês e da Ilha de Curupu.

Sarney enfrenta Tião em clima de desespero

2 de fevereiro de 2009

Sarney trava dura disputa com Tião Viana no Senado

Ex-presidente queixa-se a Lula e Roseana chora ao se lamentar com Sérgio Guerra

Brasília - José Sarney telefonou para Lula. Queixou-se ao presidente do comportamento do

chefe de gabinete dele, Gilberto Carvalho. Segundo Sarney, Carvalho rompera a prometida

neutralidade do Planalto ao envolver-se de corpo e alma na campanha de seu rival Tião Viana.

Lula disse que Carvalho não age como funcionário do governo, mas como filiado do PT e

amigo de Tião. Sarney não se deu por achado.

Para o morubixaba do PMDB, um pedido de Gilberto Carvalho, que trabalha em gabinete

contíguo ao de Lula, se confunde com uma requisição do presidente. Foi a segunda vez em

menos de 48 horas que Sarney retirou o telefone do gancho para reclamar do vaivém de

Gilberto Carvalho. Conforme noticiado aqui, o candidato do PMDB já havia despejado sua

inconformidade no ouvido da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).

A despeito dos queixumes, não há sinal em Brasília de que Gilberto Carvalho tenha se

recolhido. Ao contrário. Segue de mangas arregaçadas por Tião. Roseana Sarney,

coordenadora da campanha do pai, tocou o telefone para o colega Sérgio Guerra, presidente

nacional do PSDB. A poucas horas da eleição do Senado, Roseana soou como se ainda não

tivesse deglutido a "traição" do tucanato.

Depois de quase fechar com Sarney, o PSDB evoluiu, na semana passada, para o apoio à

candidatura rival de Tião Viana. A adesão dos tucanos como que ressuscitou Tião, livrando-o

Page 94: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

94

de uma derrota acachapante. Sarney ainda pode prevalecer, mas prenuncia-se um placar

apertado. Ao relatar o telefonema de Roseana a colegas de partido, Sérgio Guerra disse ter

tido a impressão de que a filha de Sarney chorava do outro lado da linha. Segundo a descrição

do presidente tucano, Roseana lamuriou-se da atmosfera de guerra que se estabeleceu no

Senado.

Disse que, se tivesse idéia de que a coisa tomaria esse rumo, não teria permitido que o pai, já

entrado em anos, se envolvesse na refrega. De duas uma, concluiu um interlocutor de Sérgio

Guerra: ou Roseana tentava amalocer o coração do tucanato ou o otimismo que reinava ao

redor de Sarney se dissipou.

Na reta final, grupo de apoio a Tião diz contar com 43 votos no Senado

2 de fevereiro de 2009

Brasília - Aliados do senador Tião Viana (PT-AC) contabilizam o apoio de 43 senadores à

candidatura do petista, o que lhe garantiria vitória nas eleições desta segunda-feira. O senador

José Sarney (PMDB-AP), que disputa o cargo com o petista, teria pelas contas do grupo pró-

Tião o apoio de 38 senadores. A "virada" de Tião ocorreu, segundo os seus aliados, devido à

decisão do PSDB de apoiar o seu nome na disputa.

"Estamos realistas, computados 43 votos para a minha candidatura contra 38 do senador

Sarney. Chegamos a esses números ouvindo e conversando com cada senador. Somos

devedores a sete partidos que declararam apoio à minha candidatura", disse Tião.

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que declarou apoio ao petista, disse esperar que

pelo menos quatro ou cinco senadores do PMDB votem em Tião amanhã. "É uma eleição

muito difícil, imprevisível, mas acho que a dissidência no PMDB vai ficar entre quatro e

cinco votos", afirmou.

Jarbas desistiu de apoiar o candidato do seu partido porque argumenta que os aliados de

Sarney, como o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), não devem estar no comando da Casa.

"O Sarney não tem condições de fazer isso [boa gestão] porque o entorno dele é muito ruim.

Eu acho que o senador Tião, quando se colocou como candidato, já tinha experiência no

episódio que resultou no afastamento do senador Renan. Ele conduziu a Casa de uma maneira

muito equilibrada", disse em referência ao período que Tião assumiu a presidência do Senado

logo após o afastamento de Renan. Na opinião de Jarbas, o Senado vai estar dividido

Page 95: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

95

independentemente da vitória de Tião ou de Sarney. "Será um Senado dividido, embora não

nos interesse agora ter uma Casa dividida", afirmou.

PMDB assume comando do Senado e da Câmara

3 de fevereiro de 2009

Com Sarney e Temer, PMDB comandará Casas do Legislativo

MONOPÓLIO NO CONGRESSO

O senador pelo Amapá José Sarney e o deputado paulista Michel Temer, ambos do PMDB,

venceram ontem as eleições para as presidências do Senado e da Câmara federais. Sarney

obteve 49 votos contra 32 dados ao petista Tião Viana. Temer teve 304 votos. Ele disputou o

cargo com os deputados Ciro Nogueira (PP-PI) e Aldo Rebelo (PC do B-SP), que receberam,

respectivamente, 129 e 76 votos. Com isso, o PMDB comandará as duas Casas no biênio

2009-2010. É a primeira vez que vigora tal "monopólio partidário" no Congresso. Em seu

discurso, antes de serem conhecidos os resultados, tanto na Câmara como no Senado, Aldo

Rebelo criticou a virtual vitória do PMDB nas duas Casas: "O peixe grande invade o espaço

dos peixes pequenos. Não se pode dar o monopólio do Congresso a um partido só. Não creio

que isso seja saudável para a democracia", disse o comunista.

Foto: reprodução

Sarney e Renan Calheiros: dupla debocha da moralidade

É a terceira vez que Sarney ocupa a presidência do Senado - ele já exerceu o cargo nos

biênios 1995-1997 e 2003-2005. Para ser eleito presidente do Senado, é preciso conquistar a

maioria simples dos votos dos senadores presentes - os 81 senadores compareceram. A

votação foi manual.

Page 96: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

96

'Velho retrógrado' – Sarney rebateu críticas de aliados de Tião de que seu retorno à

presidência representa a manutenção do conservadorismo político na Casa. "Ouvi muitos

discursos aqui. Uma parte quero contestar porque é injusta. Desde que comecei como político,

sempre procurei caracterizar-me como inovador. Nunca meus olhos ficaram como lanternas

voltadas para trás. [...] Não me chamem de um homem retrógrado, como se fosse um velho

que chega aqui sem querer renovar o Senado. Sempre tive esta vontade", afirmou.

O senador listou uma série de medidas implementadas durante sua gestão na Casa para

mostrar que, no passado, foi favorável à renovação. "Fundei os primeiros circuitos fechados

de TV, depois a primeira TV educativa do Brasil. Não me chamem de um velho que não tem

gosto pela inovação. aqui no Senado, quando cheguei, a idéia da informatização foi minha.

Acho injusta a informação de que é um retrocesso eu disputar o Senado."

Ele disse ainda que decidiu lançar-se na corrida à presidência da Casa após ser "convocado"

por parlamentares de partidos diversos. Depois de ser criticado por ter lançado seu nome na

disputa tardiamente, Sarney disse que não desejou disputar o comando do Senado, mas que

não poderia "fugir ao dever" de atender aos colegas -tendo "a Deus como testemunha" da sua

disposição inicial de não concorrer ao cargo.

"Eu nunca fui candidato pela minha vontade, mas por convocação. Eu não queria disputar a

presidência do Senado, fui convocado como um homem público que não pode deixar de fugir

ao dever de atender a essa convocação no momento em que colegas de quase todos os

partidos me solicitavam que assim eu fizesse", afirmou.

Interesses – A disputa pela presidência do Senado envolve interesses partidários que vão

além do desejo de comandar o Congresso Nacional. O novo presidente da Casa terá a

prerrogativa de selecionar o que entra na pauta de votações em pleno ano eleitoral. Com

mandato de dois anos, Sarney estará no comando da Casa durante a disputa pela Presidência

da República, em 2010.

Cabe ao presidente do Senado ditar o ritmo de votações e elaborar a pauta, o que poderá

beneficiar ou prejudicar o governo em meio à corrida rumo ao Palácio do Planalto.

Os peemedebistas, que não mostram disposição em lançar candidato próprio à Presidência no

ano que vem, são cortejados pelo PT e pela oposição para uma eventual composição de chapa.

Com a presidência do Senado, o partido ganha força para as negociações com governo e

oposição nas negociações pré-eleitorais.

Além da força política de presidir o Congresso, o senador eleito para comandar a Casa vai

administrar um orçamento estimado em R$ 2,7 bilhões ao ano. O valor supera orçamentos de

Page 97: MONOGRAFIA - Os Padrões de Manipulação da Mídia - Por Josimar Melo e Rafaela Lima

97

várias capitais e grandes municípios brasileiros, o que reforça a importância do cargo para os

partidos - que também pleiteiam cargos na Mesa Diretora.

O presidente ainda autoriza, ou não, a instalação de CPIs (Comissões Parlamentares de

Inquérito).

Apego ao poder é marca da biografia de Sarney

O senador José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, o José Sarney, 78 anos, nasceu em 24 de

abril de 1930, em Pinheiro (Baixada Maranhense). Ocupou seu primeiro cargo político há

mais de 50 anos, como deputado. Desde então, nunca deixou de estar próximo ao Poder,

alternando mandatos no Legislativo e no Executivo. Neste ano, volta à presidência do Senado,

cargo que já exerceu por duas vezes - de 1995 a 1997 e de 2003 a 2005.

Filho de Sarney de Araújo Costa e Kiola Ferreira de Araújo Costa, José Sarney é bacharel em

Direito pela Faculdade de Direito do Maranhão. Integrou a UDN (União Democrática

Nacional), partido que fazia oposição ao governo de Getúlio Vargas.

Também foi líder do governo Jânio Quadros na Câmara e presidiu a Arena e o PDS (Partido

Democrático Social), braços políticos do regime militar (1964-1985). Com a

redemocratização do país, integrou-se ao PMDB.

Em 1965, elegeu-se ao governo do Maranhão com o apoio do presidente Castelo Branco. Em

1971, entrou no Senado e saiu em 1985 para ser vice de Tancredo Neves.

Com a morte de Tancredo, antes da posse, foi Sarney o primeiro presidente do país após a

ditadura. Foi sob seu governo que a Assembléia Constituinte aprovou, em 1988, a atual

Constituição.

Após deixar a Presidência, Sarney voltou ao Senado, agora eleito (e reeleito duas vezes) pelo

PMDB do Amapá, já que no Maranhão sua eleição era incerta.

Membro da Academia Brasileira de Letras, Sarney costuma dizer que sua verdadeira vocação

é a literatura. A política, segundo ele, foi seu destino. Como escritor, é autor de diversos

romances, livros de poesia e obras sobre política no país.

(Folha Online)