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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS / CIÊNCIAS AMBIENTAIS MERCADO DE CARBONO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA ANÁLISE DOS PROJETOS DE MDL QUE MAIS EMITEM CRÉDITOS DE CARBONO NO BRASIL MARCOS TAVARES DE ARRUDA FILHO RECIFE 2009

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    CENTRO DE CINCIAS BIOLGICAS

    CURSO DE CINCIAS BIOLGICAS / CINCIAS AMBIENTAIS

    MERCADO DE CARBONO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL:

    UMA ANLISE DOS PROJETOS DE MDL QUE MAIS EMITEM

    CRDITOS DE CARBONO NO BRASIL

    MARCOS TAVARES DE ARRUDA FILHO

    RECIFE

    2009

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    MARCOS TAVARES DE ARRUDA FILHO

    MERCADO DE CARBONO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL:

    UMA ANLISE DOS PROJETOS DE MDL QUE MAIS EMITEM

    CRDITOS DE CARBONO NO BRASIL

    Trabalho de concluso de curso apresentado

    coordenao do curso de Bacharelado em

    Cincias biolgicas modalidade Cincias

    ambientais, da Universidade Federal de

    Pernambuco, como parte dos requisitos para a

    obteno do grau em Bacharelado em Cincias

    biolgicas modalidade Cincias ambientais.

    rea de concentrao: Cincias biolgicas

    Orientadora: Prof Mce. Cynthia Carneiro de

    Albuquerque Suassuna

    RECIFE

    2009

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    Dedico este trabalho a Deus e a minha famlia.

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus, por ser minha fonte de sabedoria, meu blsamo de paz, minha inspirao,

    minha busca pela fora, por ter me ajudado nessa luta e por ter me proporcionado tudo o que

    sempre precisei na minha vida.

    A minha grandiosa e maravilhosa famlia, que eu amo muito e que sempre estiveram

    presentes em minha vida, aturando minhas tristezas e aplaudindo minhas vitrias:

    A minha me Jani, por ser a melhor me do mundo, por todo o cuidado e carinho e

    pelo incondicional apoio durante toda a minha existncia,

    Aos meus avs Georgina e Orestes (in memorian), por terem me dado fundamental

    suporte em meus estudos e por toda ateno e carinho,

    Aos meus tios: Orestes (in memorian), Edmari, Graa, Maria, Edna, lida, Conceio,

    Eliane e Assuno (in memorian) por terem me ajudado bastante e por serem grandes pai e

    mes em minha vida,

    Ao meu primo Diego, por ser um grande irmo e por me apoiar e me entender nos

    momentos de ansiedade e presso.

    A minha fabulosa orientadora Cynthia Suassuna, pelas instrues, amizade, apoio e

    pela confiana e respeito que teve por mim e pelo meu trabalho.

    A minha banca avaliadora por ter aceito o convite e por ter sido bastante vida com

    meu trabalho.

    Aos meus amigos Mariana Barros, Victor Batista, Manuela Souza, Alessandra

    Pedrosa, Thas Teixeira e Iris Arruda, por serem grandes irmos em minha vida, por me

    apoiarem bastante e por estarem do meu lado nos momentos mais felizes e nos mais tristes de

    minha vida.

    Aos meus amigos virtuais, que apesar de nunca t-los conhecido pessoalmente, me

    ajudaram substancialmente e psicologicamente nessa caminhada.

    A minha turma de graduao em Cincias ambientais 2009.2 pelas risadas e pela

    companhia.

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    Aos meus amigos extra-turma por terem compartilhado comigo os anseios e

    aspiraes de um graduando: Lucilene Barros, lber Salvino, Iris Arruda, e Maria Carolina,

    obrigado pelas conversas de corredor!

    Aos professores: Marilene Silva, Laura Mesquita, Luciana Iannuzzi e Jos Roberto

    (Betinho), por terem sido grandes mestres em minha vida.

    A todos os professores e funcionrios do CCB pela seriedade e ateno dispensadas a

    mim ao longo desses quatro anos.

    A todos do Colgio Walt Disney, meu antigo colgio, pelo patrocnio e confiana

    depositados em mim e a minha turma de 3 ano por ter sido a melhor turma de minha vida.

    A minha ex-orientadora Ktia Prto e a todas do meu antigo laboratrio Biologia de

    brifitas, pelos ensinamentos e pela ateno recebida.

    A todos os seres vivos que contriburam cedendo suas vidas, ou parte delas, para que

    eu reunisse conhecimentos e dedues lgicas e me tornasse um Bilogo.

    A todos que contriburam direta ou indiretamente com esse trabalho:

    MUITO OBRIGADO!

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    E no princpio era o verbo...

    Joo 1:1

    Enquanto eu tiver cho sob os ps

    Enquanto eu puder caminhar

    Enquanto eu puder estar vivo

    Enquanto minha hora no chegar

    Talvez eu no vena o tempo todo

    E ainda posso at cair

    S quero manter minha alma forte

    Erguer a cabea e seguir

    Sou guerreiro.

    Pitty

    It is difficult to get a man to understand something

    when his salary depends upon his not uderstanding it.

    Upton Sinclair

  • 8

    RESUMO

    Esta pesquisa tem por objetivo avaliar a relao existente entre a teoria do desenvolvimento

    sustentvel frente ao mercado de carbono, por meio da comparao dos princpios,

    mecanismos e bases de concepo dos mesmos. Foram amostrados 20 projetos de MDL que

    tivessem o Brasil como pas anfitrio e que j estivessem gerando crditos de carbono. Para a

    realizao do estudo, inicialmente foi levantado material bibliogrfico do assunto em questo.

    Procedeu-se ento uma documentao indireta e uma abordagem dedutiva do objeto em

    estudo. Utilizou-se o Mtodo Relacional das Homologias para a anlise dos projetos de MDL,

    comparando os resultados obtidos atravs de suas similaridades. Foram elaborados critrios

    de anlise de dados para cada um dos atributos em estudo: econmicos, ambientais e sociais.

    A descrio detalhada dos projetos foi realizada levantando-se sua contribuio para a

    reduo de CO2, a classificao em escopos setoriais, a distribuio por estados e regies

    brasileiras e os pases participantes dos mesmos. A planilha de atributos econmicos foi

    analisada atravs dos critrios: Emprego, Tecnologia, Impostos e renda e

    Incentivo/Patrocnio. Ficou constatado que a gerao de empregos vista como sendo fator

    econmico importante na avaliao da sustentabilidade de projetos de MDL. Os atributos

    sociais analisados foram: Emprego, Educao e Preocupao com a comunidade do entorno.

    Verificou-se que o ltimo o que mais citado pelos projetos. Dentre os atributos ambientais

    analisados (Tecnologias sustentveis, Reciclagem, Energia e Conservao dos recursos

    naturais), o fator da gerao de energia por fontes limpas e renovveis o que atrai mais

    ateno por parte dos participantes dos projetos, uma vez que sua maioria se encontra em

    indstria de gerao de energia a partir da captao de gases do efeito estufa. Na segunda

    parte da anlise, tem-se que a relao Desenvolvimento sustentvel e mercado de carbono,

    atravs do Mecanismo de Desenvolvimento limpo, apresenta-se como sendo uma forma

    pecuniria de tratar o meio ambiente, se tornando ineficaz e isso j pode ser visto na atual

    preocupao no no cumprimento das metas por parte dos pases do Protocolo. Por fim nota-

    se que a relao desenvolvimento sustentvel e mercado de carbono um assunto que tem

    muito a ser debatido e explorado.

    Palavras-chave: Mercado de carbono; Desenvolvimento sustentvel; Projetos de MDL; Brasil;

  • 9

    ABSTRACT

    This research aims to evaluate the relationship between theory of sustainable development

    facing the carbon market, through the comparsion of the principles, mechanisms and bases for

    their design. Tweenty projects of CDM that have Brazil as host country and who were already

    generating carbon credits were aproved. For the study, was initially raised bibliographic

    material on the subject. Evaluation was then an indirect documentation and a deductive

    approach the object under study. It used the method of Relational Homologies for the analysis

    of CDM projects, comparing the results obtained through their similarities. It have been

    developed for the analysis of data for each of the attributes under study: economic,

    environmental and social. A detailed description of the project was carried out rising

    contribution to the reduction of CO2, regarding sectoral scopes, the breakdown by states and

    regions of Brazil and the countries participating in them. The worksheet of economics was

    analyzed using the criteria: Employment, Technology, and Income Tax and Incentive /

    Sponsorship. It was found that the generation of jobs is seen as important economic factor in

    assessing the sustainability of CDM projects. The social attributes were analyzed:

    Employment, Education and Concern for the surrounding community. It was found that the

    last one is what is most cited by the projects. Among the environmental analysis (Sustainable

    Technology, Recycling, Energy, Conservation of natural resources), the factor of power

    generation by clean, renewable sources is what attracts most attention from project

    participants, since most is industry in power generation from the capture of greenhouse gases.

    In the second parto f the analysis is that the relationship Suataintable development and carbon

    market via the Clean Development Mechanism is presented as a form of money to treat the

    enviroment, becoming ineffective and it can already be seen in current concern in not meeting

    the targets by the countries of the Protocol. Finally note that the relationship between

    sustainable development and carbon market is an issue that has much to be discussed and

    explored.

    Keywords: Carbon Market; sustainable development; CDM projects; Brazil;

  • 10

    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 - Desenho da pesquisa ......................................................................................... 18

    Figura 2 - Tringulo representando a Teoria do Desenvolvimento Sustentvel ............... 24

    Figura 3 - Aumento da temperatura global ao longo dos anos ......................................... 26

    Figura 4 - Grfico com o aumento da quantidade de emisso de CO2 ao longo dos anos

    ...................................................................................................................................... 27

    Figura 5 - Ciclo do Efeito Estufa ....................................................................................... 28

    Figura 6 - Ciclo de etapas do projeto de MDL .................................................................. 35

    Figura 7 - Participao no total de atividades de projetos no mbito do MDL no mundo36

    Figura 8 - Nmero de projetos de MDL brasileiros por Escopo setorial .......................... 36

    Figura 9 - Distribuio dos projetos de MDL no Brasil por estado .................................. 37

    Figura 10 - Reduo de CO2 da atmosfera dos projetos brasileiros que mais emitem

    crditos de carbono ...................................................................................................... 49

    Figura 11 - Diviso por escopo setorial dos 20 primeiros projetos brasileiros no ranking

    de crditos de carbono.................................................................................................. 51

    Figura 12 - Distribuio dos projetos analisados pelos estados brasileiros ..................... 53

    Figura 13 - Distribuio dos projetos analisados pelas regies brasileiras ..................... 53

    Figura 14 - Participao de outros pases em projetos de MDL brasileiros que mais

    emitem crditos de carbono .......................................................................................... 54

    Figura 15 - Atributos econmicos apontados pelos projetos de MDL analisados ............ 56

    Figura 16 - Atributos sociais apontados pelos projetos de MDL analisados .................... 60

    Figura 17 - Atributos ambientais apontados pelos projetos de MDL analisados ............. 64

  • 11

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Encontros realizados da Conveno-Quadro das Naes Unidas Sobre

    Mudanas do Clima ...................................................................................................... 22

    Tabela 2. Gases do Efeito estufa, frmula qumica e suas principais fontes de emisso .. 29

    Tabela 3. Lista de Escopos setoriais dos projetos de MDL ............................................... 50

    Tabela 4. Planilha 01 contendo os atributos econmicos dos projetos amostrados ......... 57

    Tabela 5. Planilha 02 contendo os atributos sociais dos projetos amostrados ................. 61

    Tabela 6. Planilha 03 contendo os atributos ambientais dos projetos amostrados ........... 65

  • 12

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1. Lista dos 20 projetos que mais emitem crditos de carbono no Brasil ............ 48

    Quadro 2. Descrio da emisso de CO2 ........................................................................... 49

    Quadro 3. Descrio dos escopos setoriais ....................................................................... 50

    Quadro 4. Distribuio por estados brasileiros ................................................................. 52

    Quadro 5. Distribuio por pases dos projetos analisados .............................................. 54

    Quadro 6. Distribuio dos projetos pelos atributos econmicos ..................................... 56

    Quadro 7. Distribuio dos projetos pelos atributos sociais ............................................. 60

    Quadro 8. Distribuio dos projetos pelos atributos ambientais ...................................... 64

  • 13

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    CCX Chicago Climate Exchange

    CE Conselho Executivo do MDL

    CIE Comrcio Internacional de emisses

    COP Conferncia das Partes

    CQNUMC Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudana no Clima

    CTO Certified Tradable Offsets

    DCP Documento de Concepo do Projeto

    DDT Dicloro-Difenil-Tricloroetano

    ECO 92 ou RIO 92 Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente e o

    Desenvolvimento

    EOD Entidade Operacional Designada

    GEE Gases do Efeito Estufa

    IC Implementao Conjunta

    IPCC Painel Intergovernamental de Mudanas Climticas

    IUCN ou UICN Internacional Union for Conservation of Nature ou Unio Internacional de

    Conservao da Natureza

    MCT Ministrio de Cincia e Tecnologia

    MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PNUMA Programa das Organizaes das Naes Unidas sobre o Meio ambiente

    RCE Redues Certificadas de Emisses

    UEA ou AAU Unidades Equivalentes Atribudas ou Assigned Amount Units

    UNCED Conferncia Mundial da ONU sobre Meio ambiente e Desenvolvimento

  • 14

    SUMRIO

    RESUMO................................................................................................................................. 8

    ABSTRACT .............................................................................................................................. 9

    LISTA DE ILUSTRAES ......................................................................................................... 10

    LISTA DE TABELAS ................................................................................................................. 11

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ........................................................................................ 13

    INTRODUO ....................................................................................................................... 16

    DEFINIO DO PROBLEMA DA PESQUISA ........................................................................................ 18

    DESENHO DA PESQUISA .............................................................................................................. 18

    OBJETIVOS .............................................................................................................................. 19

    OBJETIVO GERAL ....................................................................................................................... 19

    OBJETIVOS ESPECFICOS .............................................................................................................. 19

    CAPTULO 1 - REFERENCIAL TERICO ..................................................................................... 20

    1.1 BREVE HISTRICO DA QUESTO AMBIENTAL NO MUNDO ............................................................... 20

    1.2 ASPECTOS GERAIS SOBRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL ....................................................... 22

    1.3 AQUECIMENTO GLOBAL, EFEITO ESTUFA E MUDANAS CLIMTICAS .................................................. 25

    CAPTULO 2 - REVISO DA LITERATURA ................................................................................. 31

    2.1 HISTRICO DO PROTOCOLO DE QUIOTO ................................................................................... 31

    2.2 MECANISMOS DE FLEXIBILIZAO ............................................................................................ 32

    2.3 OS CRDITOS DE CARBONO .................................................................................................... 33

    2.3.1 O MERCADO DE CRDITOS DE CARBONO .............................................................................. 37

    CAPTULO 3 - REFERENCIAL METODOLGICO ........................................................................ 40

    3.1 TIPO DE PESQUISA ............................................................................................................... 40

    3.1.1 BASE TERICA ............................................................................................................... 42

    3.1.2 BASE EMPRICA ............................................................................................................. 42

    3.2 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ......................................................................................... 43

    3.2.1 LEVANTAMENTO BIBLIOGRFICO ....................................................................................... 43

    3.2.2 DOCUMENTAO INDIRETA .............................................................................................. 43

  • 15

    3.2.3 ABORDAGEM DEDUTIVA .................................................................................................. 44

    3.2.4 MTODO RELACIONAL DAS HOMOLOGIAS ........................................................................... 44

    CAPTULO 4 - ANLISE E DISCUSSO...................................................................................... 46

    4.1 DESCRIO DOS PROJETOS DE MDL ........................................................................................ 47

    4.1.1 REDUO DE CO2 .......................................................................................................... 47

    4.1.2 CLASSIFICAO DOS PROJETOS DE MDL QUANTO AO ESCOPO SETORIAL ...................................... 49

    4.1.3 DISTRIBUIO POR ESTADOS E REGIES BRASILEIRAS .............................................................. 51

    4.1.4 PASES PARTICIPANTES DOS PROJETOS................................................................................. 53

    4.2 IDENTIFICAO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL NOS PROJETOS DE MDL .................................. 54

    4.2.1 IDENTIFICAO DOS ATRIBUTOS ECONMICOS NOS PROJETOS DE MDL ANLISE DA PLANILHA 01 .. 55

    4.2.2 IDENTIFICAO DOS ATRIBUTOS SOCIAIS NOS PROJETOS DE MDL ANLISE DA PLANILHA 02 .......... 60

    4.2.3 IDENTIFICAO DOS ATRIBUTOS AMBIENTAIS NOS PROJETOS DE MDL ANLISE DA PLANILHA 03 .... 64

    CONSIDERAES FINAIS ....................................................................................................... 68

    REFERNCIAS ........................................................................................................................ 70

    APNDICES ........................................................................................................................... 78

  • 16

    INTRODUO

    As mudanas climticas so o maior fenmeno ambiental da atualidade. Trata-se do

    maior e mais complexo problema para a cooperao internacional deste sculo em diante

    (MLLER, 2002, p.1). O aquecimento global surte efeitos em diferentes camadas da

    sociedade, provocando devastaes e prejuzo ambiental em vrios pases. Suas principais

    causas advem das atividades de origem antrpica, sendo fortemente agravado aps a

    Revoluo Industrial onde houve um acentuado aumento da queima de combustveis fsseis

    por indstrias e termoeltricas (carvo, gs natural e petrleo), bem como do aumento do

    nmero de veculos que consomem energia no-renovvel. Segundo o IPCC (Painel

    Intergovernamental de Mudanas Climticas) o aumento da emisso dos chamados Gases do

    Efeito Estufa - GEE1, dentre eles o mais famoso o Dixido de Carbono (CO2), aconteceu de

    maneira acelerada ao longo dos anos. Em virtude disso obteve-se o aumento do Efeito estufa,

    fenmeno em que uma camada de CO2 isola a superfcie terrestre deixando passar o

    comprimento de luz ultravioleta e a luz solar visvel e retardando a perda de calor na forma de

    radiao infravermelha (RICKLEFS, 2003, p. 472), tal como os vidros de uma estufa. Esse

    aumento impede que o calor volte ao espao como forma de radiao, aumentando as

    temperaturas ao longo do globo terrestre.

    Como resposta s mudanas climticas ocorridas no mundo, a ONU (Organizao das

    Naes Unidas) promoveu, durante a Cpula da Terra realizada no Rio de Janeiro em 1992

    (RIO-92 ou ECO-92), a Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudana no Clima

    (CQNUMC). Esse foi o primeiro instrumento internacional a versar sobre as alteraes no

    clima, tendo sua vigncia iniciada em 21 de maro de 1994. Um significativo nmero de

    pases reconheceu este como sendo um grande instrumento, conferindo ateno ao clima de

    forma compartilhada por todos.

    Foi a partir da reunio dos pases da CQNUMC, nas chamadas Conferncias das

    Partes ou COPs, e mais precisamente na COP-3 realizada no ano de 1997 no Japo, que foi

    1 Segundo o Protocolo de Quioto, so considerados GGE: dixido de carbono (CO2), metano, (CH4), xido

    nitroso (N2O), hezafluoreto de enxofre (SF6) e as famlias dos perfluorcarbonos (PFCs) e dos hidrofluorcarbonos

    (HFCs).

  • 17

    firmado o Protocolo de Quioto, que leva o mesmo nome da cidade onde foi criado, e

    determina aos pases desenvolvidos a obrigao de reduzir as emisses de gases do efeito

    estufa e cria procedimentos financeiros para tal. Alm disso, esse documento tambm prope

    metas de redues dos GEE entre pases desenvolvidos durante os anos de 2008 e 2012.

    Um dos objetivos desse protocolo o de preservar os recursos naturais, atravs de

    projetos que gerem Redues Certificadas de Emisses (RCEs), ou os chamados crditos de

    carbono. Esse procedimento denominado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL e

    onde repousa o mercado de carbono propriamente dito. Os crditos podem ser negociados

    entre pases desenvolvidos e em desenvolvimento tornando oportuna uma forma pecuniria de

    preservao ambiental.

    Contudo, utilizando mecanismos de mercado, poderia o Protocolo de Quioto promover

    o Desenvolvimento Sustentvel tal qual foi proposto pela ONU? Toda essa questo levanta

    interesse por parte de pases de uma forma geral e constitui-se o tema central desse estudo.

    Este trabalho encontra-se dividido da seguinte forma: Introduo, onde se apresenta e

    se problematiza o objeto de estudo, apontando tambm os objetivos da pesquisa; Referencial

    terico, onde se faz um breve histrico da questo ambiental do mundo, desde os primeiros

    pensadores at os dias atuais, bem como atributos do desenvolvimento sustentvel (seus

    princpios, o desenvolvimento de sua teoria) e a questo climtica global tratando de suas

    causas, consequncias e solues; Reviso da literatura sobre o histrico do Protocolo de

    Quioto, seus mecanismos de flexibilizao, e o funcionamento da fisiologia dos crditos de

    carbono e da dinmica desse mercado no mundo; Referencial metodolgico, onde

    classificado o tipo de pesquisa utilizada, a confeco da base terica e emprica, e os

    procedimentos metodolgicos adotados para a realizao da mesma; Resultados e discusso

    sobre os 20 projetos de MDL que mais geram crditos de carbono no Brasil, caracterizando-os

    e confrontando-os com os princpios do desenvolvimento sustentvel, bem como trazendo

    uma anlise comparativa entre tais correlativos; e Consideraes finais fazendo um apanhado

    geral do trabalho, inferindo concluses acerca da pesquisa e indicando discusses e

    questionamentos futuros.

  • 18

    Definio do Problema da Pesquisa

    A partir do Protocolo de Quioto em 1997 uma srie de questes foi levantada para

    discutir se os mecanismos envolvidos em sua fisiologia realmente levavam a sustentabilidade

    ambiental ou, at mesmo, se no haveria a um objetivo de prejudicar as principais economias

    mundiais. E, sabendo-se que a ONU tem como uma de suas metas do milnio garantir a

    sustentabilidade ambiental, bem como proteger os recursos naturais do mundo, torna-se

    relevante a questo:

    O mercado de carbono, atravs do mecanismo de desenvolvimento limpo, condiz com

    os princpios presentes na teoria do desenvolvimento sustentvel?

    Desenho da pesquisa

    Figura 1 - Desenho da pesquisa

  • 19

    Objetivos

    Objetivo geral

    Avaliar a relao existente entre a teoria do desenvolvimento sustentvel frente ao

    mercado de carbono, por meio da comparao dos princpios, mecanismos e bases de

    concepo dos mesmos.

    Objetivos especficos

    Discernir acerca do mercado de carbono, atravs da anlise dos seus

    mecanismos;

    Confrontar os objetivos do mercado de carbono com a teoria do

    desenvolvimento sustentvel, identificando semelhanas e diferenas entre eles;

    Identificar os princpios da teoria do desenvolvimento sustentvel e avaliar sua

    existncia atravs da viso do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo;

    Identificar, atravs dos projetos de MDL que mais emitem crditos de carbono

    no Brasil, os atributos do desenvolvimento sustentvel.

  • 20

    CAPTULO 1 - REFERENCIAL TERICO

    1.1 Breve histrico da questo ambiental no mundo

    O debate acerca das questes ambientais surgiu em diferentes fases da histria da

    humanidade, por parte de diferentes pensadores. Entre as personalidades que contriburam

    com estudos cientficos de carter ambiental, pode-se destacar: Plato, na Antiguidade; Hans

    Staden, em 1557; John Evelyn, em 1661; Friederich Engels, em 1825; Charles Darwin, em

    1859; Thomas Huxley, em 1863; George Perkins Marsh, em 1864; Joaquim Nabuco, em

    1883; Theodore Roosevelt, em 1914; Fagg e Huthuings, em 1930; Cons e Fletcher, em 1938;

    Aldo Leopold e Ren Dubos, em 1945; Rachel Carson, em 1962. (PELICIONI, 2005). O

    agravamento e a generalizao da problemtica ambiental ocorreram no sculo XIX com a

    expanso da Revoluo Industrial pelo mundo, onde houve o aumento da urbanizao e da

    retirada de matria-prima da natureza, gerando grandes impactos ambientais. At meados da

    dcada de 30, o meio ambiente era tratado como fonte inesgotvel de recursos.

    A problemtica ambiental comeou a ser percebida pela comunidade internacional no

    final da dcada de 40, com a fundao da IUCN Internacional Union for Conservation of

    Nature ou Unio Internacional de Conservao da Natureza (UICN), organizao que tem por

    misso influir sobre as sociedades do mundo inteiro, encoraj-las e ajud-las a conservar a

    integridade e a diversidade da natureza e que monitora o uso justo e ecologicamente

    sustentvel dos recursos naturais. Outro marco que teve grande contribuio para essa

    discusso foi a obra Silent Spring (Primavera Silenciosa, ttulo em portugus) de Rachel

    Carlson lanada em 1962 e que abria os olhos do mundo para os resultados da interveno

    humana com a natureza atravs do uso de DDT (sigla de Dicloro-Difenil-Tricloroetano) na

    agricultura.

    Uma das maiores contribuies no mbito da questo ambiental foi o relatrio

    elaborado por cientistas do Massachusetts Institute of Technology, por solicitao do Clube de

    Roma no ano de 1972. O estudo intitulado Limites do crescimento indicava que a crise

    ambiental poderia por em xeque a sobrevivncia da espcie humana e que a mesma decorria

    do crescimento exponencial da economia e da populao.

  • 21

    A divulgao destes resultados provocou um perodo conturbado no mundo e, em

    reflexo disto, a ONU promoveu em 1972, na cidade de Estocolmo, Sucia, a I Conferncia

    das Naes Unidas sobre o Meio ambiente Humano. A Conferncia de Estocolmo, como

    ficou conhecida, reuniu representantes de 113 pases para discutir questes sociais, polticas e

    econmicas relativas ao meio ambiente. Na ocasio teve-se a votao da Declarao de

    Estocolmo, documento da ONU sobre meio ambiente e que pode ser considerada, na sua

    importncia, como correlativo Declarao Universal dos Direitos do Homem, adotada pela

    ONU em 1945, no s por sua relevncia como fonte de inspirao da maioria das normas

    convencionais sobre a proteo do meio ambiente que se seguiram, mas tambm pela

    constante referncia que a ela passaram a fazer doutrina, as decises judicirias e arbitrais

    internacionais e os trabalhos das organizaes governamentais e no-governamentais. Na

    Conferncia tambm ficou institudo o Programa das Organizaes das Naes Unidas sobre

    o Meio ambiente PNUMA, um rgo subsidirio da Assemblia Geral da ONU

    especialmente dedicado ao meio ambiente.

    No ano de 1973 foi lanado o conceito de Ecodesenvolvimento por Maurice Strong

    que trazia referncias s necessidades bsicas da populao e a preservao dos recursos

    naturais e do meio ambiente. Esse conceito serviu de base para em 1987 a Conferncia

    Mundial da ONU sobre Meio ambiente e Desenvolvimento (UNCED), presidida por Gro

    Harlem Brundtland e Mansour Khalid, elaborasse um documento chamado Our Common

    Future (Nosso Futuro Comum) que ficou conhecido como Relatrio Brundtland. Esse

    documento trouxe uma definio de Desenvolvimento sustentvel de forma que, em suma,

    trata de atender as necessidades humanas atuais sem interferir nos recursos naturais

    disponibilizados para as geraes futuras.

    Com o aumento do interesse mundial pelo futuro do planeta, a ONU organizou em

    1992 a Conferncia das Naes Unidas sobre Meio ambiente e Desenvolvimento no Rio de

    Janeiro, Brasil. Com a participao de 178 governos e a presena de mais de cem chefes de

    Estado ou de governo, a ECO-92, como ficou mais conhecida, foi a maior conferncia j

    realizada pela ONU at aquele momento (SOARES, 2005). Seus resultados principais foram a

    adoo da Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudanas Climticas, da Conveno

    sobre a Diversidade biolgica e a produo da Agenda 21, programa de ao que viabiliza o

    novo padro de desenvolvimento ambientalmente racional.

  • 22

    Atualmente as reunies internacionais relativas a questes ambientais esto focadas

    nos efeitos e solues para as mudanas climticas globais. A ONU promove, anualmente,

    Conferncias das Partes signatrias da Conveno-Quadro sobre Mudanas Climticas

    (Tabela 1), j obtendo mecanismos e solues para o aumento do aquecimento global, sendo

    o Protocolo de Kyoto produto de uma destas reunies.

    Tabela 1. Encontros realizados da Conveno-Quadro das Naes Unidas Sobre Mudanas do Clima

    1.2 Aspectos gerais sobre o Desenvolvimento Sustentvel

    O desenvolvimento sustentvel comeou a ser pensado na dcada de 80, com a

    expanso dos movimentos ambientalistas pelo mundo e o aumento de demandas sociais pela

    preocupao com a sade do planeta. Logo aps a Segunda Guerra mundial, a economia das

    grandes potncias passou por grandes rearranjos, aumentando o mbito industrial nas cidades

    COP Ano Local

    COP-1 1995 Berlim, Alemanha

    COP-2 1996 Genebra, Sua

    COP-3 1997 Quioto, Japo

    COP-4 1998 Buenos Aires, Argentina

    COP-5 1999 Bonn, Alemanha

    COP-6 2000 Haia, Holanda

    COP-7 2001 Marrakesh, Marrocos

    COP-8 2002 Nova Deli, ndia

    COP-9 2003 Milo, Itlia

    COP-10 2004 Buenos Aires, Argentina

    COP-11 2005 Montreal, Canad

    COP-12 2006 Nairbi, Qunia

    COP-13 2007 Bali, Indonsia

    COP-14 2008 Poznan, Polnia

    COP-15 2009 Copenhagen, Dinamarca

  • 23

    e, por conseqncia, o aumento do consumo de fonte de matria-prima advinda da natureza.

    Nessa atmosfera, o movimento verde comeou a se disseminar pelo mundo, com os

    consumidores passando a se preocupar com a origem ou o destino final dos produtos que

    consumiam e os polticos demonstrando preocupao com as questes ambientais. Inspirados

    pelo conceito de Ecodesenvolvimento, esses movimentos comearam a questionar a sociedade

    contempornea cada vez mais dependente do setor industrial. Este novo ambientalismo

    emerge, em meio a movimentos estudantis e hippies, com objetivos e demandas bem

    definidos, chamando a ateno para as conseqncias devastadoras que um desenvolvimento

    sem limites estava provocando, de modo politicamente consciente. (GONALVES, 2005).

    Durante a ECO 92, deu-se a confeco da Declarao do Rio de Janeiro em 1992. Em

    11 de seus princpios h meno ao desenvolvimento sustentvel e seu conceito vem

    delineado no de nmero 3: direito ao desenvolvimento deve ser realizado de modo a

    satisfazer as necessidades relativas ao desenvolvimento e ao meio ambiente das geraes

    presentes e futuras.

    Com o intuito de formar uma viso de desenvolvimento que relacionasse as esferas

    econmica, ecolgica e social, a UNCED criou o documento Nosso Futuro Comum, que

    propunha estratgias ambientais de longo prazo, recomendando maneiras de cooperao

    internacional para os problemas ambientais e dando referncias para a elaborao de polticas

    pblicas nos pases. O relatrio prope um regramento jurdico da conduta humana, da

    sociedade e do Estado em face do meio ambiente (SCHMIDT & ZANOTELLI, 2003).

    A definio de desenvolvimento sustentvel que consta no Relatrio :

    O desenvolvimento sustentvel aquele que atende s necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as geraes futuras atenderem a suas prprias

    necessidades. Ele contm dois conceitos-chave:

    - o conceito de necessidades, sobretudo as necessidades essenciais dos mais pobres do mundo, que devem receber a mxima prioridade;

    - a noo das limitaes que o estgio da tecnologia e da organizao social impe

    ao meio ambiente, impedindo-o de atender s necessidades presentes e futuras;

    Os autores do relatrio Brundtland afirmam que o desenvolvimento sustentvel deve

    significar no apenas a equidade intrageracional, mas tambm a intergeracional, promovendo

  • 24

    a honestidade com as geraes futuras (CAIRNCROSS, 1992, p. 53). Seis princpios norteiam

    a nova viso de desenvolvimento. So eles: a satisfao das necessidades bsicas, a

    solidariedade com as geraes futuras, a participao da populao envolvida, a preservao

    dos recursos naturais e do meio ambiente em geral, a elaborao de um sistema social

    garantindo emprego, segurana social e respeito a outras culturas e programas de educao

    (CRUZ, 2006, p.37).

    O desenvolvimento sustentvel um conceito que abrange vrias reas, assentado

    essencialmente num ponto de equilbrio entre o crescimento econmico, equidade social e a

    proteo do meio ambiente (Figura 1). O entendimento mais comum sobre sustentabilidade

    est relacionado com a possibilidade de se obterem continuamente condies iguais ou

    superiores de vida para um grupo de pessoas ou seus sucessores em um dado ecossistema.

    Sustentar significa, portanto, prolongar a produtividade do uso dos recursos naturais, ao longo

    do tempo e espao, mantendo-se a integridade da base desses recursos, viabilizando a

    continuidade de sua utilizao (CAVALCANTI, 2001).

    Figura 2 - Tringulo representando a Teoria do Desenvolvimento Sustentvel

    Fonte: http://www.licenciamentoambiental.eng.br/wp-content/uploads/2008/09/triangulo_sustentabilidade_2.jpg

    acessado em 10 de outubro de 2009.

  • 25

    Essa sustentabilidade a qual se prope o Relatrio pode ser avalidada atravs de

    Indicadores de sustentabilidade, ndices que monitoram e avaliam o cumprimento do

    desenvolvimento sustentvel e servem de referncia para pases desenvolvidos na criao de

    polticas pblicas ambientais. Foram criados em 1995 pela UNCED e esto divididos em 14

    temas:

    1. Pobreza

    2. Perigos Naturais

    3. Desenvolvimento econmico

    4. Governo

    5. Ambiente

    6. Parcerias globais

    7. Sade

    8. Terra

    9. Padres de consumo e produo

    10. Educao

    11. Oceanos, mares e costa

    12. Demografia

    13. gua doce

    14. Biodiversidade

    O princpio do desenvolvimento sustentvel requer que os recursos renovveis, como a

    gua fresca, a biodiversidade, florestas, solo frtil e outros bem ambientais no sejam

    explorados num nvel superior ao de suas taxas de reposio. Tal princpio foi adotado no

    artigo 12 do Protocolo de Quioto, o qual determina que os projetos de MDL devem contribuir

    para o desenvolvimento sustentvel do pas hospedeiro de acordo com os critrios prprios

    que cada nao define para tal desenvolvimento.

    1.3 Aquecimento global, efeito estufa e mudanas climticas

    O aquecimento global um fenmeno climtico de amplas dimenses, que provoca o

    aumento da temperatura nos oceanos e na superfcie terrestre. Tem sido provocado pelo

    aumento da poluio da atmosfera, principalmente por gases como o dixido de carbono

    (CO2), o metano (CH4), xido nitroso (N2O), dixido de enxofre (SO2), entre outros. Seus

    primeiros indcios datam da poca da Revoluo industrial, perodo de grande industrializao

    onde houve uma sbita demanda por combustvel fssil, o que ocasionou uma grande emisso

  • 26

    desses gases diretamente para a atmosfera, sem tratamento prvio. Desde ento o consumo de

    tais fontes de energia, como o petrleo e o carvo natural, vem provocando uma mudana na

    composio da camada de ar que envolve a Terra e gerando grandes alteraes climticas em

    diferentes partes do planeta.

    Conforme apresentado na Figura 2, a partir de 1860, ano da Revoluo Industrial, a

    temperatura global aumentou 0,6C e estima-se que at o final do sculo XXI o planeta fique

    entre 1,1 e 6,4C mais quente (IPCC, 2007).

    Figura 3 - Aumento da temperatura global ao longo dos anos

    Fonte: http://www.apolo11.com/imagens/etc/grafico_temperatura_global.gif acessado em 17 de setembro de

    2009

    Consequentemente a emisso de CO2 na atmosfera aumentou na mesma proporo que

    a temperatura. O dixido de carbono na atmosfera aumentou de 320 ppm (partes por milho)

    em 1960, para 380 no ano de 2009 (Figura 3). Isso devido ao perodo de forte

    industrializao e do aumento do uso de veculos e eletrodomsticos, aumentando o consumo

    de energia no renovvel.

  • 27

    Figura 4 - Grfico com o aumento da quantidade de emisso de CO2 ao longo dos anos

    Fonte: http://www.ecodebate.com.br/foto/co2a.png acesso em 19 de setembro de 2009

    Uma das principais causas do aquecimento global o aumento do efeito estufa.

    Segundo Ricklefs (2003) o efeito estufa um sistema de cobertura isolante sobre a superfcie

    terrestre que deixa o comprimento de onda ultravioleta (curta) e a luz visvel passarem, mas

    retarda a perda de calor na forma de radiao infravermelha de comprimento de luz longo, tais

    quais os vidros de uma estufa. Esse fenmeno foi um dos responsveis por moldar a

    biodiversidade ao longo da histria natural da Terra.

    O problema no est no efeito estufa, mas sim na intensificao deste. O processo

    acontece da seguinte forma: os raios de luz solar ultrapassam a atmosfera e so absorvidos

    pela superfcie terrestre. Em seguida essa radiao convertida em calor, e parte dela

    encontra mais uma vez a atmosfera, sendo refletida para o espao. Quando h um aumento da

    quantidade de gases poluidores na atmosfera, esses raios so bloqueados e acabam ficando na

    Terra gerando aumento das temperaturas globais (Figura 4).

  • 28

    Figura 5 - Ciclo do Efeito Estufa

    Fonte: Rezende et al. (2001)

    A cobertura isolante supracitada a composio de gases da atmosfera que engloba a

    Terra. Quando h um aumento acentuado dos chamados Gases do Efeito Estufa, ocorre o

    aquecimento terrestre. A Tabela 2 traz uma lista dos diferentes gases, dando suas diferentes

    formas e fontes de emisso.

  • 29

    Tabela 2. Gases do Efeito estufa, frmula qumica e suas principais fontes de emisso

    Fonte: Pinheiro, 2005

    As mudanas climticas so o maior e mais complexo desafio para a cooperao

    internacional desse sculo em diante (MLLER, 2005, p.1). O avano do mar por sobre as

    Gases do Efeito

    Estufa

    Frmula Principais atividades humanas

    responsveis pelas emisses destes

    gases

    Dixido de carbono CO2 Queima de combustveis fsseis (gs natural,

    carvo mineral, petrleo e derivados)

    Queimadas em florestas

    Metano CH4 Extrao, transporte e distribuio de

    combustveis fsseis (emisses fugitivas)

    Combusto completa de combustveis fsseis

    Decomposio de resduos lquidos e slidos

    Produo de animais

    xido Nitroso N2O Combusto de combustveis fsseis

    Atividades agrcolas (principalmente pela

    adio de fertilizantes nitrogenados)

    Processos industriais

    Oznio O3 Formado na baixa atmosfera a partir de

    outros poluentes gerados pela combusto

    de combustveis fsseis

    Halocarbonos diversas Vazamentos em equipamentos que utilizam

    CFCs ou HFCs

    Processos industriais

    Hexafluoreto de

    enxofre

    SF6 Usado como isolante em equipamentos

    eltricos

    Processos industriais

  • 30

    cidades litorneas, a perda de grandes safras na agricultura, a seca, a fome, a converso de

    habitats, entre outras consequncias dessas alteraes, so fatores preocupantes para a

    sociedade, pois ocasionam mortes e destruio em massa em vrias cidades.

    Os efeitos do aquecimento global j vem sendo percebidos em vrias partes do mundo.

    Na sia, pequenos territrios, formados por arquiplagos, j esto sumindo do mapa, graas

    ao aumento do nvel dos oceanos, gerando os chamados refugiados ambientais, grupos que se

    deslocam graas a problemas ambientais ocorridas em seu local de origem. No rtico o nvel

    dos gelos vem derretendo a cada ano e algumas geleiras, antes tidas como eternas, comeam a

    derreter. Vrias espcies esto se extinguindo por mudana de habitats, muitas delas sem

    nunca terem sido conhecidas pela Cincia.

    Uma srie de solues est sendo propostas para minimizar os reflexos do

    aquecimento global. Dentre elas, tm-se a reduo do consumo e desperdcio de materiais e

    energia, adaptao e reduo dos impactos ambientais gerados e mecanismos de reduo de

    emisso dos gases do efeito estufa.

  • 31

    CAPTULO 2 - REVISO DA LITERATURA

    2.1 Histrico do Protocolo de Quioto

    Visando promover o debate e levantar solues para os problemas que se agravavam

    com o aumento do efeito estufa, bem como de seus reflexos para a humanidade em geral, a

    ONU estabeleceu, em 1992, durante a ECO-92, a Conveno-Quadro da ONU sobre Mudana

    do Clima. Esta conveno tinha por meta estabelecer propostas de aes para os pases do

    Anexo I2 (especificamente para pases industrializados), para que estes reduzissem suas

    emisses de CO2 na atmosfera, impedindo que as atividades antrpicas proporcionassem

    danos irredutveis ao planeta.

    Aps a assinatura de adeso de 186 pases, a Conveno entrou em vigor no dia 21 de

    maro de 1994. Desde ento ocorreu uma srie de reunies das Partes (pases) envolvidas,

    com o intuito de estabelecer aes que permitam o cumprimento das metas de reduo das

    emisses de gases. Esses encontros so denominados Conferncias das Partes signatrias da

    Conveno-Quadro sobre Mudanas Climticas e ocorrem pelo menos uma vez por ano.

    Nas duas primeiras conferncias, realizadas em Berlim na Alemanha e Genebra na

    Sua, nos anos de 1995 e 1996, respectivamente, comeou-se a pensar na utilidade de

    mecanismos de mercado para a mitigao dos custos do efeito estufa, bem como para a

    promoo do Desenvolvimento Sustentvel em pases sub-desenvolvidos. Contudo foi

    durante a Conferncia das Partes realizada em Quioto, no Japo, em 1997, que ficou

    fundamentado, sob consenso, os princpios e mecanismos que regeriam o acordo que define as

    metas de reduo de emisses de GEE para os pases do Anexo B. Esse documento ficou

    conhecido como Protocolo de Quioto e entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, em

    seguida da ratificao da Rssia em novembro de 2004. Este tratado institui metas individuais

    aos pases do Anexo I da CQNUMC e tem por objetivo estabelecer que os pases

    2 So pases integrantes do Anexo I da Conveno-Quadro: Alemanha, Austrlia, Astria, Blgica, Bulgria,

    Canad, Dinamarca, Eslovquia, Espanha, Estados Unidos da Amrica, Estnia, Federao Rssia, Finlndia,

    Frana, Grcia, Hungria, Irlanda, Islndia, Itlia, Japo, Letnia, Liechtenstein, Luxemburgo, Mnaco, Noruega,

    Nova Zelndia, Pases baixos, Polnia, Portugal, Reino Unido da Gr-Bretanha e Irlanda do Norte, Repblica

    Checa, Romnia, Sucia e Sua.

  • 32

    industrializados reduzam suas emisses de gases no controlados pelo Protocolo de

    Montreal3, em 5,2% abaixo dos nveis observados em 1990, durante o perodo de 2008 a

    2012.

    2.2 Mecanismos de flexibilizao

    Com o objetivo de auxiliar os pases do Anexo I da Conveno para que os mesmos

    possam cumprir parte das metas de reduo de GEEs previstas, o Protocolo de Quioto

    proporciona em seu texto trs mecanismos de flexibilizao:

    Implementao Conjunta IC: No artigo 6 do Protocolo, h a definio da

    Implementao conjunta ou Join Implementation JI. Por meio deste mecanismo, um pas

    pertencente ao Anexo I da Conveno pode compensar suas emisses adquirindo de outro

    pas, tambm do Anexo I, unidades de redues de emisses resultantes de projetos que

    tenham viso de reduo das emisses antrpicas por fontes ou o aumento das remoes

    antrpicas por sumidouros de GEEs em qualquer setor da economia. Segundo Sister (2007), a

    inteno do presente mecanismo envolver setores privados na transferncia de tecnologia e

    know-how.

    Comrcio Internacional de emisses CIE: Assim como na IC, o Comrcio

    Internacional de Emisses pode ser realizado somente entre pases desenvolvidos, ou seja,

    pases do Anexo I da Conveno. De acordo com o artigo 17 do Protocolo: as partes

    includas no Anexo I podem participar do comrcio de emisses com o objetivo de cumprir os

    compromissos assumidos sob o artigo 3, sendo este ltimo o artigo que estabelece os

    compromissos quantificados de limitao e reduo de emisses para as Partes da Conveno.

    Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL: O Mecanismo de

    desenvolvimento limpo est caracterizado no artigo 12 do Protocolo de Quioto. Trata-se de

    uma maneira subsidiria para os pases do Anexo I alcanarem seus objetivos de reduo de

    emisso de gases do efeito estufa, uma vez que vedado o seu uso como forma de

    3 O Protocolo de Montreal tem por objetivo reduzir a quantidade de substncias que destroem a camada de

    Oznio e foi adotado em 16 de setembro de 1987. So controladas por esse Protocolo as substncias: CF,

    Halognio, Tetraclorometano, HCFC, HBFC, Brometo de metila e Metilclorofrmio.

  • 33

    cumprimento total das metas de reduo. Nesse caso, cada tonelada mtrica de carbono

    retirada ou emitida na atmosfera por um pas em desenvolvimento poder ser negociada com

    pases com meta de reduo, criando um novo atrativo para reduo das emisses globais

    (SISTER, 2007). A fisiologia do MDL proporciona que pases do Anexo I adquiram

    Redues Certificadas de Emisses, os chamados crditos de carbono, de pases em

    desenvolvimento, sendo este o nico dos mecanismos de flexibilizao a permitir a

    participao de pases que no estejam presentes no Anexo I. Klabin (2000) julga esse como

    sendo a melhor opo dentre todos os mecanismos de flexibilizao.

    2.3 Os crditos de carbono

    Os crditos de carbono, ou Redues Certificadas de carbono, so certificados gerados

    pelo procedimento de MDL em virtude da diminuio de emisso de GEEs. Cada tonelada

    capturada ou no-emitida de CO2 convertida a um crdito de carbono e, em se tratando de

    outros gases, um crdito de carbono equivalente.

    Na criao do MDL o Brasil teve grande importncia, uma vez que o mesmo surgiu a

    partir de uma proposta brasileira. Inicialmente se tratava de um Fundo de Desenvolvimento

    Limpo, onde pases lderes em emisses e que no conseguissem se adequar s suas metas

    acordadas deveriam dispor de uma verba para tal. Posteriormente, em Kyoto, essa sugesto

    foi modificada para agir como um dos mecanismos de flexibilizao, sendo chamada de

    Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Segundo Ribeiro (2002), o MDL foi institudo para

    auxiliar os pases em desenvolvimento na implantao de tecnologias de recuperao e

    preservao ambiental e de ajudar os pases desenvolvidos a cumprir suas metas de reduo

    de emisses.

    O processo de certificao dos projetos de MDL est regulamentado no Protocolo de

    Quioto pela Comisso Interministerial de Mudanas Globais de Clima, e segue as seguintes

    etapas:

    Elaborao do Documento de Concepo do Projeto DCP

    Validao

  • 34

    Aprovao pelo pas anfitrio

    Registro

    Monitoramento

    Verificao e certificao

    Emisso dos RCEs

    Para a realizao de tais projetos, como primeiro passo, estabeleceu-se um Conselho

    Executivo do MDL CE (Executive Board), designado pela Conferncia das Partes, que

    delegou entidades operacionais para as funes de certificao.

    Na fase de elaborao do Documento de concepo do projeto DCP tem-se o

    desenvolvimento deste, criando linhas de base para o norteamento do mesmo. Alm disso,

    devem-se criar tambm os limites das atividades do projeto e citar metodologias para a

    contabilizao da reduo das emisses de GEE. O Conselho executivo disponibilizou um

    documento para auxiliar os Estados-membros na concepo do projeto, que se encontra

    disponvel na internet.

    Aps a concluso do DCP, deve-se selecionar a Entidade Operacional Designada

    EOD que ter a funo de realizar as etapas de validao e aprovao. Aps a anlise de uma

    srie de quesitos, a EOD deve emitir um relatrio de validao a ser avaliado pelo Conselho

    Executivo do MDL que dever se pronunciar a favor ou contra a linha de base e a

    metodologia do monitoramento. Em caso de aceitao do projeto, a fase de registro no CE

    feita e, a partir da, h a implantao e o incio do processo de emisso de RCEs. Caso

    contrrio a EOD poder negar o projeto ou pedir reviso do mesmo.

    A etapa de monitoramento envolve a produo de relatrios para a EOD como forma

    de avaliao dos resultados previstos. A verificao se d com a reviso peridica das

    redues de emisses de GEEs.

  • 35

    na certificao quando ocorre a comprovao que o projeto cumpriu o principal

    objetivo ao qual se pretende: sequestro de carbono ou de reduo das emisses, e se houve

    alguma diferena em relao ao perodo anterior a implantao do mesmo. Aps isso, deve-se

    solicitar ao CE a emisso das RCEs, sendo esta etapa cabvel de reviso em situao de fraude

    ou incompetncia da EOD ou quando solicitada por alguma parte envolvida. Na Figura 5 tem-

    se um esquema com todas as etapas do processo de certificao.

    Figura 6 - Ciclo de etapas do projeto de MDL

    Fonte: http://www.institutogenesis.org.br/internas/imagens/projeto_mdl.jpg acessado em 12 de setembro de

    2009, com alteraes do autor

    Segundo o Ministrio de Cincia e Tecnologia MCT, h no mundo, at o dia 02 de

    outubro de 2009, 5448 projetos de MDL em atividade, sendo a China o pas que contem o

    maior nmero deles, com 2024 (37%) do total, seguida da ndia que tem 1446 (27%). O

    Brasil vem em terceiro lugar com 417 (8%) projetos aprovados (Figura 6).

  • 36

    Figura 7 - Participao no total de atividades de projetos no mbito do MDL no mundo

    Fonte: MCT, 2009

    No Brasil, a maioria dos projetos se concentra no setor energtico, sendo este a rea

    que responde por quase metade das atividades no pas (Figura 7). Os estados de So Paulo e

    Minas Gerais so os que mais possuem aprovaes de MDL com 23% e 16% respectivamente

    (Figura 8).

    Figura 8 - Nmero de projetos de MDL brasileiros por Escopo setorial

    Fonte: MCT, 2009

  • 37

    Figura 9 - Distribuio dos projetos de MDL no Brasil por estado

    Fonte: MCT, 2009

    2.3.1 O mercado de crditos de carbono

    O comrcio de crditos de carbono se d atravs da compra e venda das RCEs. Este

    mercado foi baseado no Cap and Trade (limitar e comercializar), sistema de compra e venda

    de emisses de dixido de enxofre (SO2) implementado pelo Congresso americano para

    reduzir as fontes de emisses de gases provocadores da chuva cida. Tal qual nesse modelo,

    cotas de emisses podem ser negociadas, ou seja, pases que emitem menos do que suas cotas

    estabelecidas podem vender tal diferena para pases que no conseguiram limitar suas aes

    s suas metas. Essas permisses so chamadas Unidades Equivalentes Atribudas UEAs ou

    Assigned Amount Units AAUs.

    O negcio gerado pelo MDL destina-se a auxiliar pases a atingir suas metas e

    contribuir para o objetivo final da CQNUMC. O Mercado de carbono decorrente do Protocolo

    de Quioto no se encontra totalmente regulamentado em mbito internacional, faltando

    aprovao da norma, pelos pases signatrios da CQNUMC e do Protocolo, que dite as regras

    relacionadas com a negociao de RCEs entre os pases do Anexo I da Conveno (SISTER,

    2007, p.13). Igualmente importante o fato de que no h nos documentos pertinentes

  • 38

    CQNUMC, qualquer definio do que sejam, em termos percentuais, essas redues a serem

    realizadas (COELHO, 2007).

    As RCEs j so consideradas commodities ambientais, ou seja, mercadorias

    provenientes de recursos naturais, como o ar, a gua, a madeira, a diversidade biolgica, entre

    outros. Diferenciam-se das demais mercadorias por serem produzidas ou extradas de forma

    sustentvel, em processos que no gerem externalidades negativas e nem comprometam o

    potencial de recuperao do ambiente, respeitando o equilbrio dos ecossistemas em que esto

    inseridas (KHALILI, 2000). Em vrios pases j existe o comrcio de crditos de carbono no

    mbito de commodities ambientais. Na Costa Rica, por exemplo, tem-se desde 1997 a emisso

    de CTO - Certified Tradable Offsets ou Certificados Transacionveis de absoro de carbono.

    Os CTOs se originam de um programa de seqestro de carbono em parques nacionais e so

    negociados na Chicago board of Trade.

    O mercado de carbono se d de duas formas distintas. Na primeira pode-se negociar a

    aquisio dos certificados por fundos de investimentos. O Banco mundial administra nove

    desses fundos, que contam com a participao de agentes pblicos e privados, com o objetivo

    de adquirir transaes de pases em desenvolvimento (BANCO MUNDIAL, 2009). O

    segundo modo est na regulamentao dentro dos prprios pases, atravs de leis especficas,

    para a aquisio de RCEs por parte de indstrias com grande potencial poluidor. Nesta forma,

    apenas o setor privado negocia. Um bom exemplo disso a criao do Chicago Climate

    Exchange (CCX), mercado criado nos Estados Unidos da Amrica para tramites de carbono

    entre empresas e que funciona como qualquer mercado financeiro. Uma srie de grandes

    empresas j aderiu de forma voluntria ao CCX e outras formas de negociao vem

    despontando no mundo como a Montreal Commodity Exchange no Canad, a Mumbai

    Commodity na ndia (GORE, 2006, p.252) e a European Climate Exchange na Unio

    europia.

    No mundo, o mercado de carbono vem surgindo como bom negcio de investimentos.

    A Unio europia se apresenta como a maior negociadora dessas commodities de carbono,

    sendo responsvel por 83% do valor movimentado por programas de MDL no ano de 2006.

    Logo aps tem-se os pases em desenvolvimento, dentre os quais o Brasil ocupa a terceira

    posio (MCT, 2009).

  • 39

    As perspectivas do mercado de carbono so as mesmas de um mercado global, uma

    vez que a ateno dada a questes ambientais vem aumentando ao longo do tempo. O valor do

    carbono depende de quantas empresas esto comprando, e no de quantas esto vendendo.

    Como as empresas esto vendendo mais que comprando, o preo do carbono baixo, porm

    na Europa, onde o mercado de carbono bastante avanado, os crditos valem muito mais,

    pois os limites para as emisses so determinados pelo governo s indstrias. Em outras

    partes do mundo tambm h um movimento nesta direo (GORE, 2006, p. 252).

  • 40

    CAPTULO 3 - REFERENCIAL METODOLGICO

    3.1 Tipo de pesquisa

    A investigao cientfica depende de um conjunto de procedimentos intelectuais e

    tcnicos, para que seus objetivos sejam atingidos: os mtodos cientficos, conjunto de

    processos ou operaes mentais que se deve empregar na investigao. a linha de raciocnio

    adotada no processo de pesquisa. Os mtodos que fornecem as bases lgicas investigao

    so: dedutivo, indutivo, hipottico-dedutivo, dialtico e fenomenolgico (MARCONI &

    LAKATOS, 2006, p. 108).

    Com relao ao mtodo de trabalho, pode-se ressaltar que:

    ... a lgica aplicada aborda o problema de pr o pensamento de acordo com o objeto;

    para tanto, indica o processo a ser seguido, ou seja, o caminho a ser percorrido,

    tendo em vista o objetivo a ser atingido, que a verdade. O mtodo esse conjunto

    de processos que etimologicamente tem o significado de caminho para se chegar a

    um fim (PARRA FILHO & SANTOS, 1998, p. 51).

    Conforme as orientaes do estudo da Selltiz et al. (1987), os objetivos de uma

    pesquisa podem ser divididos em trs grandes grupos: i) familiarizar-se com o fenmeno de

    estudo ou conseguir uma nova compreenso deste, de maneira a poder formular um problema

    de pesquisa mais preciso ou criar novas hipteses; ii) apresentar precisamente as

    caractersticas de uma situao, um grupo ou um indivduo especfico (com ou sem hipteses

    especficas iniciais a respeito da natureza de tais caractersticas); iii) verificar a freqncia

    com que algo ocorre ou com que est ligado a alguma outra coisa (geralmente, mas no

    sempre, com uma hiptese inicial especfica); iv) verificar uma hiptese de relao causal

    entre variveis.

    Dentre as possibilidades apresentadas acima, o estudo do relacionamento dos

    princpios do desenvolvimento sustentvel e os mecanismos do mercado de crditos de

    carbono, enquadra-se na pesquisa do tipo descritiva, onde procura descobrir, com a preciso

    possvel, a frequncia com que um fenmeno ocorre, sua relao e conexo, com os outros,

  • 41

    sua natureza e caractersticas, correlacionando fatos ou fenmenos sem manipul-los.

    (CERVO & BERVIAN, 1996, p. 49). Malhotra (2001) concorda com tal afirmativa,

    destacando que a pesquisa descritiva objetiva conhecer e interpretar a realidade, por meio da

    observao, descrio, classificao e interpretao de fenmenos, sem nela interferir para

    modific-la.

    Ao mesmo tempo, essa pesquisa tambm uma pesquisa qualitativa, que se

    caracteriza por um maior foco na compreenso dos fatos do que propriamente na sua

    mensurao (LAZZARINI, 1997). Segundo Malhotra (2001), h vrias razes para se usar a

    pesquisa qualitativa, mas a principal que nem sempre possvel, ou conveniente, utilizar

    mtodos plenamente estruturados ou formais para obter informaes dos respondentes. A

    pesquisa qualitativa desestruturada e de natureza exploratria, baseada em amostras

    pequenas, e pode utilizar tcnicas qualitativas conhecidas como grupos de foco

    (MALHOTRA, 2001).

    Dentro do contexto de pesquisa descritiva e qualitativa, o trabalho atual far uso de

    uma tcnica de pesquisa (ou estratgia) denominada anlise relacional, a qual busca a

    identificao de fatores em relao a outro, a partir de comparaes entre os diversos estudos

    com a finalidade de estabelecer parmetros de anlise. Trata-se, portanto, de um estudo para

    conhecer as contribuies cientficas sobre o tema, tendo como objetivo recolher, selecionar,

    analisar e interpretar as contribuies tericas existentes sobre o fenmeno pesquisado

    (MARTINS, 2000, p.28).

    Esta pesquisa buscou identificar as relaes existentes entre a teoria do

    desenvolvimento sustentvel e os princpios e mecanismos de promoo do mercado de

    crditos de carbono. Para a realizao desse objetivo foi definido uma estratgia de pesquisa

    capaz de conhecer os contedos tericos sobre o assunto e investigar tambm a situao dos

    projetos de MDL que mais produzem crditos de carbono no Brasil.

    Seguindo as orientaes metodolgicas de Bourdieu (2002, p. 24), que recomenda a

    utilizao de opes tericas associadas a opes empricas, optou-se por uma lgica de

    pesquisa estruturada em duas bases, a saber:

    base terica e conceitual- constituda pelos fundamentos tericos e

  • 42

    conceituais necessrios para dar consistncia e validade aos dados obtidos e

    atribuir-lhes significados;

    base emprica - constituda por dados concretos de projetos de MDL

    que mais geram crditos de carbono no Brasil;

    3.1.1 Base terica

    No referencial terico apresentada uma teorizao e uma conceitualizao dos

    aspectos envolvidos com o tema tratado para que se haja a compreenso do objeto da

    pesquisa. Na reviso da literatura foi reportado e avaliado o conhecimento produzido em

    pesquisas prvias, destacando conceitos, procedimentos, resultados, discusses e concluses

    relevantes para o trabalho. A metodologia utilizada para sua elaborao foi a pesquisa

    bibliogrfica, sobre vrios aspectos que envolvem a relao entre mercado de carbono e

    desenvolvimento sustentvel, iniciando-se pela anlise do material bibliogrfico coletado,

    tirando concluses dos dados analisados e buscando a correlao existente entre fatores

    pertinentes ao tema.

    3.1.2 Base Emprica

    A definio da estratgia de pesquisa parte fundamental para o sucesso de qualquer

    pesquisa. Algumas estratgias de pesquisa, j reconhecidas, e que tm aplicaes definidas de

    acordo com as especificidades de cada estudo, so: a pesquisa experimental; a survey

    (levantamento); a histrica; a anlise de informaes de arquivos (documental) e o estudo de

    caso. Para a base prtica, houve a necessidade de definir-se uma estratgia de pesquisa, que

    contemplasse o universo de princpios e mecanismos correspondentes ao objeto de estudo.

    Para a formao da base emprica, foram escolhidos para anlise os 20 projetos de

    MDL que tem o Brasil como pas anfitrio e que mais emitem crditos de carbono no pas.

    Seus textos foram analisados, classificados e comparados por meio dos atributos sociais,

    ambientais e econmicos do desenvolvimento sustentvel.

  • 43

    3.2 Procedimentos metodolgicos

    3.2.1 Levantamento bibliogrfico

    Inicialmente foi realizada uma ampla pesquisa bibliogrfica com o intuito de levantar

    ttulos relacionados rea de estudo. A busca de literatura especializada deu-se em sites de

    pesquisa acadmica como SCIELO Brazil (Scientific Electronic Library Online), Portal

    Peridicos (CAPES), Portal Domnio Pblico, entre outros, e dos acervos das bibliotecas da

    Universidade Catlica de Pernambuco, da Universidade Federal de Pernambuco e da

    Biblioteca Pblica do Recife. Ttulos como revistas, peridicos internacionais e nacionais,

    artigos, reportagens, livros, teses, dissertaes e monografias foram levantados.

    Utilizou-se a base de dados da ONU, do Ministrio da Cincia e Tecnologia, do

    Observatrio do Clima e do IPCC, alm de sites de organizaes especializadas em crditos

    de carbono, para a atualizao das informaes encontradas.

    3.2.2 Documentao indireta

    A tcnica utilizada foi a de documentao indireta, atravs da anlise de material

    pertinente ao tema. A coleta de dados baseada na documentao indireta consiste na leitura e

    anlise de materiais produzidos por terceiros, que podem apresentar-se sob forma de textos,

    jornais, gravuras, fotografias e filmes, entre outras (MARCONI & LAKATOS, 2006, p. 278).

    A documentao indireta documental trata especificamente da coleta de informaes de fontes

    primrias, tais como documentos de arquivos pblicos e privados, cartas, contratos, dirios e

    autobiografias.

    A anlise do material deu-se de forma exploratria, reflexiva e crtica com o objetivo

    de se estudar o estado da arte em que se encontra a relao existente entre o mercado de

    carbono e o Desenvolvimento sustentvel.

  • 44

    3.2.3 Abordagem dedutiva

    A abordagem dedutiva tem como objetivo primordial a verificao de uma dada teoria,

    independentemente da maneira com esta foi elaborada ou formulada (LESSARD-HBERT,

    GOYETTE e BOUTIN, 2005, p.95). Segundo Marconi e Lakatos (2006), este mtodo permite

    tirar concluses particulares prprias por meio de levantamento e anlise de dados gerais. Os

    textos foram minuciosamente analisados e sintetizados para se obter informaes

    significativas e consistentes. Fontes primrias do tema, como o Protocolo de Kyoto e o

    Relatrio Brundtland, foram consultadas.

    3.2.4 Mtodo Relacional das Homologias

    Para anlise dos projetos de MDL, escolheu-se trabalhar de acordo com as orientaes

    metodolgicas de Pierre Bourdieu, por serem elas as mais inovadoras na rea, tendo sido

    utilizadas em diversas pesquisas em todo mundo. O mtodo da Anlise Relacional de

    Bourdieu (2002) consiste na construo de um sistema coerente de relaes, que deve ser

    posto prova como tal. Trata-se de interrogar sistematicamente o caso particular, para retirar-

    se dele as propriedades gerais ou invariantes que s so evidenciadas atravs de uma

    interrogao assim conduzida.

    Para assim proceder-se, foram elaborados grupos temticos relacionados ao objeto de

    estudo e em cima destes, um conjunto de quadros de caracteres, que possibilitam a anlise dos

    dados. O quadro de caracteres, na realidade uma planilha, onde nas linhas, so colocadas os

    elementos que se deseja analisar, e nas colunas as propriedades necessrias para caracterizar-

    se estes elementos. medida que os dados so colocados no quadro, vai-se identificando a

    presena ou a ausncia de determinada propriedade. Depois se faz desaparecer as repeties e

    renem-se as colunas que registram caractersticas equivalentes, de maneira a reter todas as

    caractersticas que permitem discriminar de modo mais ou menos rigoroso, as diferentes

    unidades.

    Tal anlise se deu de forma a comparar princpios e mecanismos entre os dois fatores

    envolvidos no objeto de estudo. Depois da construo dos quadros de caracteres, procedeu-se

    anlise das homologias, como mais uma etapa para a construo do objeto. O que se

    props nesta etapa da pesquisa foi analisar as semelhanas ou as correspondncias

    identificadas nos quadros de caracteres, utilizando-se o raciocnio analgico e o mtodo

  • 45

    comparativo para demonstrar a relao entre o mercado de carbono e o desenvolvimento

    sustentvel.

    3.3 Critrios de anlise de dados

    Seguindo a metodologia prevista para o estudo, foram amostrados 20 Documentos de

    concepo do projeto, aprovados pela Comisso Interministerial de Mudana do Clima

    (CIMGG) brasileira, entre 2003 e 2009, e que j tivessem passado pela etapa (7) Certificao,

    ou seja, j estivessem emitindo crditos de carbono, bem como tivessem o Brasil como pas

    anfitrio. As informaes foram obtidas dos sites do Ministrio de Cincia e Tecnologia

    MCT, entidade nacional designada conforme normas do Protocolo, e da United Nations

    Framework Convention on Climate Change - UNFCCC Conveno-Quadro das Naes

    Unidas sobre Mudana no Clima - CQNUMC. Foi feita uma caracterizao dos projetos

    quanto a reduo de CO2 at o momento, analisados a distribuio por escopo setorial, por

    estado e por regio brasileira e os pases participantes juntamente com o Brasil.

    Para a anlise dos atributos do desenvolvimento sustentvel, foram levantados

    indicadores para cada um. Dos atributos econmicos usou-se o Emprego (sua

    disponibilizao, a gerao para a sociedade, etc), a Tecnologia (o uso de novas tecnologias

    no Brasil, a importao de tais mecanismos, etc), os Impostos e Renda (afim de verificar

    como os projetos viam a renda gerada a governos e municpios bem como os impostos por

    sobre os crditos de carbono) e o Incentivo/Patrocnio (o apoio dado a outros projetos da

    mesma rea a fim de fazer desenvolver a economia no pas). Para os atributos sociais tem-se o

    Emprego (aqui afim de se analisar como a populao do entorno do empreendimento seria

    beneficiada), a Educao (apoio a projetos de educao ambiental, de capacitao de jovens e

    adultos, etc) e a Preocupao com a comunidade do entorno (a reverso de parte do lucro ou

    de servios e produtos a populao prxima ao projeto). E nos atributos ambientais foram

    verificadas as seguintes variveis: Tecnologias sustentveis (o uso de tais ou a busca de tornar

    os processos mais sustentveis), a Reciclagem (o reuso ou reaproveitamento de materiais

    durante os processos), Energia (produo de energia limpa, uso de fontes alternativas) e a

    Conservao dos recursos naturais (retirada de GEEs do meio ambiente, reduo da

    contaminao de recursos hdricos, etc).

  • 46

    CAPTULO 4 - ANLISE E DISCUSSO

    Este captulo tem por objetivo descrever os resultados da pesquisa e foi estruturado em

    trs partes: a primeira, relativa a descrio dos projetos de MDL amostrados, caracterizando-

    os quanto a reduo de CO2 que conseguem, ao escopo setorial em que esto inseridos, aos

    estados e regies brasileiras que abrangem e aos pases participantes do mesmo; a segunda

    parte, onde h a identificao dos atributos ambientais dos projetos; a terceira com os

    atributos econmicos e a quarta com os atributos sociais dos mesmos.

  • 47

    4.1 Descrio dos projetos de MDL

    Os projetos de MDL passam por vrias etapas onde so analisados e, se aprovados,

    passam a emitir crditos de carbono aps a etapa (7) Certificao. Neste trabalho foram

    escolhidos os 20 projetos que j tivessem passado por esta etapa e que mais emitem crditos

    de carbono no Brasil, tendo o mesmo como pas anfitrio dos empreendimentos.

    Conhecer os meios de promoo da sustentabilidade nestes projetos fundamental

    para a compreenso da relao mercado de carbono e desenvolvimento sustentvel.

    A amostra foi selecionada segundo os critrios de:

    a) ter o Brasil como pas anfitrio, ou seja, que todas as instalaes e os crditos

    gerados ficassem no pas;

    b) terem passado pela etapa (7) Certificao, e j tivessem gerando crditos de

    carbono;

    c) estarem entre os 20 projetos que mais emitem crditos de carbono para o pas.

    Os projetos foram lidos um a um e analisados quanto a critrios relacionados a

    sustentabilidade de cada um. A descrio dos mesmos foi feita considerando-se quatro

    variveis: quantidade da reduo de CO2 alcanada pelos participantes; classificao quanto o

    escopo setorial em que os projetos esto inseridos; distribuio pelos estados e regies do pas

    que abrangem; e pases participantes do projeto juntamente com o Brasil (Apndice A).

    Os resultados so apresentados em valores numricos e em valores percentuais, que

    foram transformados em grficos para melhor visualizao.

    4.1.1 Reduo de CO2

    Os projetos analisados foram enumerados de 1 a 20, de acordo com a quantidade de

    toneladas mtricas de carbono que foram reduzidas e/ou retiradas da atmosfera, seguindo a

    contabilizao emitida pela UNFCCC. Foram preservados os ttulos originais em ingls

    (Quadro 1).

  • 48

    Quadro 1. Lista dos 20 projetos que mais emitem crditos de carbono no Brasil

    Fonte: dados do autor

    Os projetos foram classificados em duas categorias: os que emitiram acima de 1

    milho de toneladas mtricas de carbono e os que emitiram abaixo desse valor (Quadro 2).

    Apenas os quatro primeiros projetos ultrapassam 1 milho de toneladas mtricas de carbono

    retirada da natureza. Todos os demais se situam abaixo dessa marca.

    Nmero do

    projeto

    Ttulo do Projeto

    1 N2O Emission Reduction in Paulnia, SP, Brazil

    2 Bandeirantes Landfill Gas to Energy Project (BLFGE)

    3 Methane capture and combustion at Granja Paraiso

    4 So Joo Landfill Gas to Energy Project (SJ)

    5 Manaus Landfill Gas Project

    6 Campos Novos Hydropower Plant CDM Project Activity

    7 Gramacho Landfill Gas Project

    8 Salvador da Bahia Landfill Gas Management Project

    9 NovaGerar Landfill Gas to Energy Project

    10 Landfill gas to energy project at Lara landfill, Maua, Brazil

    11 Production and use of Biodiesel Blends with Variations of B20 to

    B50, it will be used in Automotive Vehicles and Fuel Retailers.

    12 CoGeneration of Electrical Energy in Heat Recovery Coke Plant SOL Coqueria

    13 Heat Recovery Coking Plant at TKCSA, in Rio de Janeiro, Brazil

    14 Incio Martins Biomass Project

    15 Imbituva Biomass Project

    16 BAESA CDM Project

    17 Termonorte CCGT Project.

    18 Ponte de Pedra Energtica Hydro Power Project, in Brazil

    19 Fuel switch project in a cement manufacturing plant, in Brazil.

    20 Passo do Meio, Salto Natal, Pedrinho I, Granada, Ponte and Salto

    Corgo Small Hydroelectric Power Plants (the Brascan Project

    Activity)

  • 49

    Quadro 2. Descrio da emisso de CO2

    Emitiram acima de 1 milho de toneladas mtricas de

    carbono (20%)

    Emitiram abaixo de 1 milho de toneladas mtricas de

    carbono (80%)

    [1]; [2]; [3]; [4]; [5]; [6]; [7]; [8]; [9]; [10]; [11]; [12]; [13]; [14]; [15]; [16]; [17]; [18]; [19]; [20];

    Em termos percentuais, a reduo da emisso de CO2 dos projetos analisados contribui

    enormemente para a gerao de crditos de carbono no pas. No entanto h, entre os 20

    projetos analisados, grande disparidade quanto ao volume de redues (Figura 9).

    Figura 10 - Reduo de CO2 da atmosfera dos projetos brasileiros que mais emitem crditos de carbono

    4.1.2 Classificao dos projetos de MDL quanto ao escopo setorial

    O Conselho executivo do MDL elaborou uma lista de setores onde os projetos de

    MDL podem ser desenvolvidos (Tabela 3). Um projeto de MDL pode estar relacionado a mais

    de um setor.

  • 50

    Tabela 3. Lista de Escopos setoriais dos projetos de MDL

    Setor Escopo setorial

    1 Gerao de energia (renovvel e no-renovvel)

    2 Distribuio de energia

    3 Demanda de energia (projetos de eficincia e conservao de energia)

    4 Indstrias de produo

    5 Indstrias qumicas

    6 Construo

    7 Transporte

    8 Minerao e produo de minerais

    9 Produo de metais

    10 Emisses de gases fugitivos de combustveis

    11 Emisses de gases fugitivos na produo e consumo de halocarbonos e hexafluorido de enxofre

    12 Uso de solventes

    13 Gesto e tratamento de resduos

    14 Reflorestamento e florestamento

    15 Agricultura

    Fonte: MCT, 2009

    Os projetos foram classificados em escopos setoriais seguindo a classificao

    estabelecida pelo CE do MDL. Apenas o projeto 7 se enquadra em mais de um escopo. H

    uma maior concentrao na rea de Indstria de energia, onde 12 dos 20 projetos esto

    classificados (Quadro 3).

    Quadro 3. Descrio dos escopos setoriais

    Indstria qumica

    Agricultura Eliminao de resduos slidos

    Emisses de gases

    fugitivos

    Indstrias de energia

    Indstrias de manufaturamento

    [1]; [7]; [3]; [2];[4]; [8]; [9]; [10]; [5]; [6]; [7]; [11]; [12]; [13]; [14]; [15]; [16]; [17]; [18]; [20];

    [19];

  • 51

    No que tange aos escopos setoriais que mais atraem o interesse dos participantes de

    projetos no Brasil, podemos notar que h a predominncia no setor energtico, indstria

    energtica e energia renovvel. Observou-se que essa tendncia tambm existe entre os

    projetos amostrados, sendo o setor de Indstria de energia responsvel por 55% do total,

    seguido da rea de Eliminao dos resduos slidos (18%) (Figura 10). Isso justificvel por

    boa parte dos projetos estarem localizados em aterros sanitrios que promovem a captao e a

    converso de GEEs em energia limpa.

    Figura 11 - Diviso por escopo setorial dos 20 primeiros projetos brasileiros no ranking de crditos de

    carbono

    4.1.3 Distribuio por estados e regies brasileiras

    Os projetos tambm foram analisados quanto aos estados que abrangiam. Vale

    ressaltar que um projeto pode se apresentar em mais de um estado. Ficou verificado que So

    Paulo contem 5 dos 20 projetos e que os projetos de nmero 16, 18 e 20 so os nicos que se

    encontram em mais de um estado (Quadro 4).

  • 52

    Quadro 4. Distribuio por estados brasileiros

    Projetos Estados

    AM BA ES MG MS MT PR RJ RO RS SC SP

    1 X

    2 X

    3 X

    4 X

    5 X

    6 X

    7 X

    8 X

    9 X

    10 X

    11 X

    12 X

    13 X

    14 X

    15 X

    16 X X

    17 X

    18 X X

    19 X

    20 X X

    Na anlise da distribuio dos projetos amostrados pelos estados brasileiros, verifica-

    se que So Paulo o estado com maior porcentagem na distribuio destes (Figura 11). Esse

    estado possui tipos de projetos variados e concentra maior parte da gerao de energia por

    biomassa, tratamento de resduos e captao de metano (LUCAS, 2007, p. 25) e essa maior

    concentrao, bem como em toda a regio sudeste, se d pelo reflexo da situao atual da

    distribuio dos projetos de MDL no pas. Igualmente foi verificada a distribuio por regio

    brasileira (Figura 12).

  • 53

    Figura 12 - Distribuio dos projetos analisados pelos estados brasileiros

    Figura 13 - Distribuio dos projetos analisados pelas regies brasileiras

    4.1.4 Pases participantes dos projetos

    Os projetos tiveram os pases participantes analisados, sendo possvel que um projeto

    esteja vinculado a um ou mais pases participantes do Protocolo de Quioto. No Quadro 1 se

    encontram os pases e seus respectivos projetos, sendo os que esto marcados com asterisco

    com ocorrncia exclusiva do Brasil. No caso dos projetos amostrados, o Reino Unido o pas

  • 54

    que mais participa da emisso dos crditos de carbono brasileiros, atuando em quatro projetos,

    46% do total da amostra (Figura 13).

    Quadro 5. Distribuio por pases dos projetos analisados

    Pases

    Frana Japo Canad Sua Alemanha Reino Unido

    Holanda Brasil

    [1]; [1]; [5]; [10]; [13]; [14]; [15]; [17]; [18];

    [20]; [1]; [2]*;[3]*;[4]*; [5]; [6]*; [7]*; [8]*; [9]*; [10]; [11]*; [12]*; [13]; [14]; [15]; [16]*; [17]; [18]; [19]*; [20];

    Figura 14 - Participao de outros pases em projetos de MDL brasileiros que mais emitem crditos de

    carbono

    4.2 Identificao do desenvolvimento sustentvel nos projetos de MDL

    A percepo dos pilares da teoria do desenvolvimento sustentvel nos projetos de

    MDL importante para se avaliar a inter-relao do mecanismo de mercado com a questo

    ambiental.

  • 55

    Seguindo este entendimento, buscou-se analisar os trs atributos da sustentabilidade

    nos projetos de MDL amostrados. A identificao do Desenvolvimento sustentvel no MDL

    se deu atravs do desmembramento em trs atributos diferentes: atributos econmicos, sociais

    e ambientais.

    Para tal anlise, foram utilizados indicadores de cada um dos grupos de atributos, que

    foram plotados em planilhas conforme o texto de cada projeto.

    a) Planilha 1 - referente aos atributos econmicos dos projetos, tendo como variveis

    indicadoras a gerao de empregos, tranferncia de tecnologias para o pas, gerao de

    impostos, incentivo a outros projetos e capacitao de mo-de-obra.

    b) Planilha 2 - referente aos atributos sociais dos projetos, que tomou como

    indicadores gerao de empregos, projetos de educao e preocupao com a populao do

    entorno.

    c) Planilha 3 - referente aos atributos ambientais dos projetos, tendo como indicadores

    o uso de tecnologias sustentveis, a reciclagem e o reuso de materiais, a gerao de energia

    limpa e a conservao dos recursos naturais.

    Com os dados organizados desta forma, pode-se comparar os resultados e identificar-

    se as homologias (semelhanas) entre os eles, conforme orientaes de Bourdieu (2002, p. 32-

    33).

    4.2.1 Identificao dos atributos econmicos nos projetos de MDL Anlise da

    Planilha 01

    A Planilha 01 foi elaborada a partir dos dados de cunho econmico dos 20 projetos

    amostrados, atravs da anlise de quatro variveis qualitativas: Emprego, Tecnologia,

    Impostos e renda e Incentivo/Patrocnio. Os projetos tiveram sua avaliao por base nessas

    quatro variveis (Quadro 6). As porcentagens que cada varivel foi citada encontram-se na

    Figura 14. Os dados levantados foram plotados e analisados comparativamente conforme a

    Tabela 4.

  • 56

    Quadro 6. Distribuio dos projetos pelos atributos econmicos

    Emprego Tecnologia Impostos e Renda

    Incentivo/Patrocnio

    [1]; [4]; [5]; [6]; [13]; [15]; [16]; [19]; [20];

    [1]; [4]; [5]; [8]; [10]; [13];

    [1]; [4]; [5]; [10]; [20];

    [1]; [4]; [5]; [9]; [14]; [15]; [16]; [17];

    Figura 15 - Atributos econmicos apontados pelos projetos de MDL analisados

  • 57

    Tabela 4. Planilha 01 contendo os atributos econmicos dos projetos amostrados

    Projetos Emprego Tecnologia Impostos e renda Incentivo/Patrocnio

    1 Traz benefcios economia do pas por gerar empregos diretos e indiretos

    Gera benefcios diretos e indiretos ao pas, pois prov a transferncia de tecnologias termais para o pas, promovendo o seu avano tecnolgico

    O projeto ir gerar impostos ao governo, acelerando a economia local

    Incentiva o desenvolvimento do agrobussiness brasileiro;

    2 O projeto no mencionou esse atributo O projeto no mencionou esse atributo

    O projeto no mencionou esse atributo O projeto no mencionou esse atributo

    3 O projeto no mencionou esse atributo O projeto no mencionou esse atributo

    O projeto no mencionou esse atributo O projeto no mencionou esse atributo

    4 Gerao de empregos temporrios durante a fase de implementao; Gerao de empregos fixos durante a operao;

    Transferncia de novas tecnologias para o pas aumentando seu potencial energtico

    Benefcios para o fluxo de caixa da cidade de So Paulo, com a circulao dos crditos de carbono nas bolsas de valores; Supervit na economia local;

    Explorao do uso de biogs como energia alternativa no Brasil, incentivando a economia desse ciclo.

    5 Gerao de empregos durante o empreendedimento

    Contribuio para a capacitao tecnolgica, com a liberao da divulgao das informaes obtidas a universidades e governos

    Contribuio para a gerao de renda com os crditos de carbono circulando nas bolsas de valores

    Haver um incremento para que outros setores da economia promova projetos semelhantes

    6 Criao de empregos a comunidade do entorno

    O projeto no mencionou esse atributo

    O projeto no mencionou esse atributo O projeto no mencionou esse atributo

    7 O projeto no mencionou esse atributo O projeto no mencionou esse atributo

    O projeto no mencionou esse atributo O projeto no mencionou esse atributo

    8 O projeto no mencionou esse atributo Traz novas tecnologias de captura de metano para o Brasil

    O projeto no mencionou esse atributo O projeto no mencionou esse atributo

  • 58

    9 O projeto no mencionou esse atributo O projeto no mencionou esse atributo

    O projeto no mencionou esse atributo Incentivo a projetos que venham a buscar alternativas s energias no-renovveis

    10 O projeto no mencionou esse atributo Traz tecnologias novas para o pas, promovendo o desenvolvimento econmico deste

    Incremento a economia da cidade e do governo nacional com a gerao dos crditos

    O projeto no mencionou esse atributo

    11 O projeto no mencionou esse atributo O projeto no mencionou esse atributo

    O projeto no mencionou esse atributo O projeto no mencionou esse atributo

    12 O projeto no mencionou esse atributo O projeto no mencionou esse atributo

    O projeto no mencionou esse atributo O projeto no mencionou esse atributo

    13 Gerao de empregos na instalao e na operao

    Diversificao das fontes de gerao de energia

    O projeto no mencionou esse atributo O projeto no mencionou esse atributo

    14 O projeto no mencionou esse atributo O projeto no mencionou esse atributo

    O projeto no mencionou esse atributo Incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologias que promovem o progresso do pas

    15 Criao de empregos diretos e indiretos O projeto no mencionou esse atributo

    O projeto no mencionou esse atributo Incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologias que promovem o progresso do pas

    16 Gerao de empregos diretos e indiretos O projeto no mencionou esse atributo

    O projeto no mencionou esse atributo Incentivo ao crescimento econmico atravs da gerao de energia

    17 O projeto no mencionou esse atributo O projeto no mencionou esse atributo

    O projeto no mencionou esse atributo Incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologias no setor energtico

    18 O projeto no mencionou esse atribu