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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA WASHINGTON NOGUEIRA DE ABREU A PRÁTICA INTERDISCIPLINAR FORA DA SALA DE AULA: RELATO DE EXPERIÊNCIA NO CORAL FRATER IN CHRISTI Natal/RN 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA

WASHINGTON NOGUEIRA DE ABREU

A PRÁTICA INTERDISCIPLINAR FORA DA SALA DE AULA: RE LATO DE EXPERIÊNCIA NO CORAL FRATER IN CHRISTI

Natal/RN 2009

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WASHINGTON NOGUEIRA DE ABREU

A PRÁTICA INTERDISCIPLINAR FORA DA SALA DE AULA: RE LATO DE EXPERIÊNCIA NO CORAL FRATER IN CHRISTI

Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do título de Licenciado pleno em Música à Banca Examinadora da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Orientador (a): Prof. Ms. Danilo Cesar Guanais de Oliveira

Natal/RN

2009

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A PRÁTICA INTERDISCIPLINAR FORA DA SALA DE AULA: RE LATO DE EXPERIÊNCIA NO CORAL FRATER IN CHRISTI

Washington Nogueira de Abreu

BANCA EXAMINADORA

Prof. Ms. Danilo Cesar Guanais de Oliveira ....................................................................

Orientador (a)

Prof. Dr. Jean Joubert Freitas Mendes ...................................................................

Prof.(a) Dr.(a) Valéria Carvalho ...................................................................

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho de conclusão da graduação a Deus, aos meus pais, irmãos, familiares, esposa, filhos e amigos que de muitas formas me incentivaram e ajudaram para que fosse possível a concretização deste trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus, o que seria de mim sem a fé que eu tenho nele.

Aos meus pais, irmãos, minha esposa Kátia, meus filhos Radkley Markley e Ricardo

Victor e a toda minha família que, com muito carinho e apoio, não mediram esforços

para que eu chegasse até esta etapa de minha vida.

À professora Eunádia Silva Cavalcante pela paciência na orientação e incentivo que

tornaram possível a conclusão desta monografia.

Ao professor e orientador Danilo Cesar Guanais de Oliveira por seu apoio e

inspiração no amadurecimento dos meus conhecimentos e conceitos que me

levaram a execução e conclusão desta monografia.

Aos professores da EMUFRN e da UFRN que foram importantes na minha vida

acadêmica e no desenvolvimento desta monografia.

Aos funcionários da EMUFRN por seus papéis tão importantes nos diversos setores

da escola.

À Dona Edith, que por sua ajuda constante, me auxiliou e incentivou em minha

busca pelo conhecimento, dando-me uma oportunidade única de conquista

profissional.

A todos que acreditaram na minha capacidade e que me ajudaram a conquistar meu

espaço como educador.

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RESUMO

O objetivo deste trabalho é tecer considerações relativas à experiência na educação musical, fora da sala de aula, com o canto coral, utilizando-se de uma prática educacional interdisciplinar que serviu como base para uma educação voltada à união de várias áreas do conhecimento, para a formação técnica do canto em grupo, bem como a formação do indivíduo para a vida, e auxiliar na constituição de músicos críticos, capazes de opinar e contribuir para a Educação Musical. Foi feita uma pesquisa bibliográfica, sobre a regência coral, técnicas na educação para coral, história da música, interdisciplinaridade, educação, e educação musical. A metodologia utilizada tem como princípio, a prática unida à teoria observando a realidade dos indivíduos, diretamente ligados ao processo educacional. Como resultado os coralistas desenvolveram habilidades na prática de conjunto e aumentaram seus conhecimentos na educação musical e na performance coral.

Palavras-Chave : Educação Musical, Interdisciplinaridade, Canto Coral.

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ABSTRACT

The aim of this paper is presents considerations of experience in music education outside the classroom, with the choral singing, using an interdisciplinary educational practice that served as the basis for an education union of several fields of knowledge, technical training, singing in groups, as well as training the individual for life, and assist in the establishment of critical musicians, able to provide feedback and contribute to music education. A search of literature on the regency coral, technical education for choir, music history, interdisciplinary, education, and music education. The methodology has as its principle, the practice attached to the theory by observing the reality of individuals, directly linked to the educational process. As a result the choristers have developed skills in group practice, and increased their knowledge in music education and choral performance.

Keywords: Music Education, Interdisciplinarity, Canto Coral.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Missa do Natal 2007 na Matriz de Santa Rita de Cássia Ponta Negra, Natal-RN ............................................................

19

Figura 2 - Apresentação na Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia em Santa Cruz – RN ......................................................................

19

Figura 3 - Apresentação na Paróquia do Beato André de Soveral,

Capela Sagrado Coração de Maria, agosto 2008 ...................

20

Figura 4 - Trecho da partitura “Bênção Aaraônica” que fez parte do repertório da festa em Homenagem à Santa Rita de Cássia ..

26

Figura 5 - Gráfico do desenho melódico adotado na partitura.................. 28

Figura 6 - Gráfico com exercícios ............................................................. 33

Figura 7 - Missa em ação de graças, em homenagem à Santa Rita de

Cássia Junho de 2009, em Ponta Negra, Natal – RN..............

34

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“Sê humilde para evitar o orgulho, mas voa alto para alcançar a sabedoria”. Santo Agostinho

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 09

2 HISTÓRIA DO CANTO CORAL ........................................................................ 11

3 INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO MUSICAL .................................. 12

4 O CORAL FRATERS IN CHRISTI ...................................................................... 17

4.1 A CONSTRUÇÃO DO CORAL ........................................................................... 20

4.2 REGÊNCIA .......................................................................................................... 22

4.3 HARMONIA ........................................................................................................ 23

4.4 EDIÇÃO DE PARTITURAS ................................................................................ 23

4.5 CANTO CORAL ................................................................................................. 24

4.6 O CUIDADO COM A VOZ NO DIA-A-DIA .......................................................... 29

4.7 A FISIOLOGIA VOCAL ....................................................................................... 30

4.8 TÉCNICA VOCAL .............................................................................................. 31

4.9 REPERTÓRIO .................................................................................................... 33

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 37

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 39

ANEXOS ............................................................................................................ 41

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1 INTRODUÇÃO

A educação musical está nas discussões educacionais nacionais por estar em

processo de regresso ao âmbito escolar com a aprovação da Lei 11.769 de 18 de

agosto de 2008, sancionada pelo Presidente da República, Luis Inácio “Lula” da

Silva, que prevê o retorno da música, como componente curricular obrigatório no

ensino de artes, nos currículos das escolas de nível básico no sistema educacional

brasileiro. E essas discussões remetem a um posicionamento sobre a educação

musical que é feita, na escola e fora dela, sempre levando em consideração o

processo de ensino-aprendizagem do indivíduo.

Esse trabalho é um relato de experiência interdisciplinar, fora da sala de

aula, no Coral “Frater in Christi”, coro formado por jovens e adultos que fazem parte

das pastorais da Paróquia do Cristo Ressuscitado, em Ponta Negra, Natal – RN.

Essa experiência é relevante para mostrar a importância da prática

educacional, mesmo que no espaço não escolar, como ambiente de ensino-

aprendizagem no qual todos os envolvidos, nessa prática educacional, têm

consciência de uma educação dialógica, onde há uma troca de informações e

experiências nas atividades, e tem o objetivo de unir áreas de conhecimento com

influência mútua e sintonia para que seja alcançada uma harmonia ao final do

projeto. Para tanto, foram utilizados, como suporte teórico-metodológico, autores

como Freire que trata da educação dialógica, tendo como foco o educando, fazendo

parte do aprendizado e sendo respeitado seu conhecimento prévio. Zander, cuja

experiência mostra a importância do canto coral, no decorrer dos séculos, bem como

Souza e Lima, que deu o suporte para desenvolvimento de uma prática

interdisciplinar no canto coral, mostrando às características da inter e

multidisciplinaridade, bem como Morin demonstrando que a união de disciplinas

ajuda a entender melhor as várias áreas do saber que se unem para uma única

função, a educação, evidenciando assim, a importância da troca de informações

interdisciplinares fazendo parte da vivência do indivíduo no processo pedagógico de

ensino-aprendizagem com si próprio e com o meio. Para a aplicação prática deste

trabalho utilizou-se de recursos tecnológicos e técnicas vocais e corporais dos

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ensinamentos de Marsola que foram empregados como metodologia de ensino, bem

como o uso de gráficos, cópias do repertório proposto para os eventos, softwares de

edição de partitura, exercícios vocais e corporais, vocalize, bibliografia específica

para o canto coral e fisiologia vocal.

Os resultados alcançados no decorrer das atividades foram satisfatórios pelo

fato das pessoas, que não conheciam a leitura musical, com a prática do canto coral

e do empenho do educador, alcançaram um conhecimento de leitura, mesmo que

informal, demonstrando um interesse pelo novo código ao qual foram apresentados.

E ao mesmo tempo cantar em harmonia a quatro vozes nos repertórios escolhidos

para as apresentações.

O trabalho está estruturado em capítulos que tratam das etapas do

desenvolvimento da experiência interdisciplinar. O capítulo “História do canto coral”

trata das diversas funções do canto coral na história da música; o capítulo

“Interdisciplinaridade na Educação Musical” discorre sobre a contextualização das

diversas áreas do conhecimento no desenvolvimento educativo dos envolvidos; em

seguida, a base da experiência apresentada nesse trabalho é relatada no capítulo

“O coral Frater in Christi”, no qual se apresentam: a construção do coral e suas fases

de desenvolvimento no projeto, a metodologia utilizada no processo de ensino-

aprendizagem no canto coral, bem como o resultado alcançado no decorrer do

processo.

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2 HISTÓRIA DO CANTO CORAL

Fazendo um passeio pela história, pode-se observar que o canto coral teve

funções diferentes nos diversos períodos: Na Idade Média, o canto coral era uma

ferramenta Litúrgica, onde tudo se voltava para o divino no “pensamento religioso”,

como afirma Zander (1979, p. 31), as apresentações se concentravam nas Igrejas,

através do canto gregoriano, que tinha a palavra como princípio para a execução

vocal. Na Renascença e Barroco, o canto era um símbolo de status, e com a

ascensão da Burguesia, era determinante, mostrando que a música se apresentava

como forma de poder aquisitivo e social nas mãos dos mais abastados; no

Classicismo e Romantismo, o canto coral era uma “ferramenta expressiva da

interpretação estética” (ZANDER, 1979, p.35). Os compositores da época se

apropriaram de técnicas de composição voltados ao intérprete, que tinha liberdade

de se expressar, observando as regras musicais vigentes; no Século XX até hoje, o

canto é uma ferramenta de integração social, como afirma Candé (2001 p. 15):

Ela permanece por muito tempo um prolongamento, um esteio, uma exaltação da ação. Ligada a magia, a religião, à ética, a terapêutica, a política, ao jogo e ao prazer também, ela constitui um dos aspectos fundamentais das velhas civilizações. Sua transmissão será assegurada, de geração em geração, pela imitação depois pelo ensino sistemático.

Desde os primórdios, a ação musical, desenvolvida no canto coral, estava

presente, em todos os níveis sociais, através das músicas sacras da Igreja Católica,

em cujos cultos eram expressamente proibidas músicas de caráter profano. Essas

músicas eram ensinadas através da repetição do canto Gregoriano. Apenas os

homens tinham o privilégio de participar do coro litúrgico. A Igreja era a detentora

desse conhecimento, que era ensinado para poucos, pois apenas o clero e os

nobres tinham acesso à educação nos Mosteiros. Em contrapartida, a sociedade,

nos diversos períodos da história, tinha suas festas comuns, com músicas profanas,

ainda que escondidas das autoridades eclesiásticas.

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3 INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO MUSICAL

No mundo contemporâneo, somos cercados por informações educacionais,

dando fortes indícios de conteúdos imutáveis, não passíveis de modificações para

um relacionamento, entre as várias áreas do conhecimento e do ser, como também,

observa-se o educador como um provocador de situações a serem resolvidas de

uma ou várias maneiras o qual tem a função de formar cidadãos críticos observando

a realidade dos mesmos e, ao mesmo tempo, levando à prática educacional onde for

requisitada.

No sistema educacional brasileiro, sempre houve espaço para mudanças,

desde a relação ensino-aprendizagem, como também, entre o maior número de

áreas do conhecimento que, mesmo sendo considerados como multidisciplinares,

como revela Souza (2002, p. 3), “A multidisciplinaridade é a ordenação

epistemológica própria de uma visão de mundo [...]”, também, podem interagir, entre

si, tornado-se interdisciplinares, contextualizando os diversos conteúdos:

Interdisciplinaridade pode abranger os seguintes aspectos: a síntese de duas ou mais disciplinas estabelecendo um tipo de discurso caracterizado por relações estruturais – as interdisciplinas e as interações e reciprocidades entre diferentes disciplinas também a partir de relações estruturais. (SOUZA, 2007, p. 2).

Nas diversas áreas do conhecimento tem-se uma cumplicidade de

informações que podem ser entrelaçadas dando uma oportunidade de união do

conhecimento, desde a formação dos conteúdos até mesmo na própria difusão do

saber, como afirma Lima (2007, p.3), “Era importante estabelecer uma seqüência

organizada na comunicação do saber, partindo do centro das estruturas disciplinares

para o seu entorno, cuidando de integrar e comunicar as disciplinas e de fazê-las

mais conectadas com as necessidades sócio-culturais”.

A sociedade está em processo constante de mudanças pelo aceleramento da

tecnologia que induz a todos a se atualizarem nas novidades do sistema capitalista,

segundo Marx (apud PAULA, p.11, 2001) “a burguesia só pode existir com a

condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por

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conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais”.

Contrapondo a isso a educação está sempre à procura de uma socialização e

inclusão da diversidade fazendo um processo constante de adaptação ao currículo.

Com isso, o sistema de ensino está interessado nessas mudanças, para fazer com

que os educadores procurem rever conteúdos adaptando-os às realidades de cada

público a ser envolvido no processo de ensino-aprendizagem. A educação está em

um processo constante de transformação e adequação dos currículos, e no decorrer

dos anos, vem observando suas atitudes, como nas tendências pedagógicas

existentes no sistema educacional que, desde a tradicional, que tem como princípio

o professor como detentor do saber, sem levar em consideração a aprendizagem

que o aluno adquire no decorrer de seu convívio com a família e com a sociedade,

deixando a autoridade do professor, prevalecer sobre a fragilidade do aluno que não

tem o direito de se expressar como um indivíduo que faz parte do aprendizado.

Como afirma Freire (1996, p.30):

Por isso mesmo pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes populares, chegam a ela saberes socialmente construídos na prática comunitária – mas também, como há mais de trinta anos venho sugerindo, discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos.

Precisa-se de um educador motivador e provocador para, junto ao aluno,

conduzir aos problemas propostos, levando à reflexão, e ambos organizarem

soluções, dando oportunidade de construir uma educação voltada ao aluno que ao

mesmo tempo sirva para renovação de aprendizagem do educador. O educador

precisa também estar interligado às mudanças que ocorrem no mundo e sempre

estar atualizado nos trabalhos científicos dos pesquisadores para estar em

constante aprendizado, em uma busca incessante à procura do conhecimento das

diversas áreas do saber, como revela Freire (1996, p. 29)

Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho intervindo, educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar e anunciar a novidade.

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O educador em sua prática de ensino, também tem que se posicionar de

forma a se questionar, a cada dia, sobre seus conhecimentos e atitudes e, ao

mesmo tempo, conduzir um aprendizado íntegro, unindo a teoria e a prática, como

revela Lima (2007, p. 10) quando afirma que:

[...] a integração teoria e prática de que trata a interdisciplinaridade refere-se à formação integral na perspectiva da totalidade. Deve-se observar a interdisciplinaridade não apenas, entre as disciplinas, mas na própria epistemologia, pois a busca incessante do conhecimento observando a realidade dos alunos, seus gostos, sua bagagem de aprendizado. Isto permite modificar os conteúdos adaptando-os a cada fato e, ao mesmo tempo as trocas de experiência são fundamentais para um trabalho interdisciplinar.

Toda interligação de saberes é essencial para um aprendizado, e

principalmente quando há contextualização entre as disciplinas, levando em

consideração que: “aqui convém fazer a convergência de diversos ensinamentos,

mobilizar diversas ciências e disciplinas, para ensinar a enfrentar a incerteza.”

(MORIN 2008, p. 56). Com isso todo e qualquer ensinamento, faz com que o

indivíduo que participa do processo de ensino-aprendizagem, crie ferramentas para

solucionar problemas, que aparentemente não se resolvem, mas com a observância

de pensar para obter conhecimento: “Conhecer e pensar é chegar a uma verdade

absolutamente certa, mas dialogar com a incerteza” (MORIN 2008, p. 59).

Para que haja uma correlação entre as áreas do conhecimento deve haver

um intercâmbio para incentivar o aluno a pôr em prática os ensinamentos adquiridos

num processo dialógico entre: área do conhecimento, aluno, professor e meio,

fazendo um elo de informações a ser decodificadas para uma formação madura e

coerente, “portanto, a disciplina nasce não apenas de um conhecimento e de uma

reflexão interna sobre si mesma, mas também é um conhecimento externo. Não

basta, pois, estar por dentro de uma disciplina para conhecer todos os problemas

aferentes a ela”. (MORIN 2008, p. 105).

Com essa reflexão devemos lembrar que tudo pode ser modificado para se

chegar ao conhecimento, não havendo “fechamento disciplinar” (MORIN 2008, p.

109), dando possibilidades de haver modificações quando necessária para auxiliar

na compreensão. Existe um vasto sistema de informações das diversas áreas, pois

estamos num processo constante de formação e temos que lembrar que o processo

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faz parte de um todo e que na música, como por exemplo, ela é um todo, dividida

em partes (harmonia, ritmo, melodia...), e são essas parte que se co-relacionam

permitindo assim, trocas de informações para integralizar toda busca do

conhecimento possível e cabível, formando um conjunto de saberes direcionado à

educação: “Considero impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, tanto

quanto conhecer o todo sem conhecer, particularmente, as partes.” (MORIN 2008, p.

116). Por isso a necessidade de interligar as partes ao todo, para obter um

aprendizado certo e coerente, ou seja, o professor está diretamente ligado ao

sistema educacional buscando sempre o conhecimento e ao mesmo tempo o aluno

ir à procura do saber, tendo autonomia para decisões e desenvolver sua

aprendizagem com o auxílio de uma educação dialógica entre educando e educador.

Nós temos que ter como arma o maior número de informações que interagindo entre

si, nos ofereça condições de interpretar e opinar, deixando que haja uma reflexão

ampla a partir da problematização exposta pelo educador, deixando aberta também,

uma discussão para que as áreas do saber façam uma reflexão em si própria, não

se fechando, sendo excludente, mas permitindo que seja para a diversidade

existente uma fonte inesgotável de informações.

Tendo em vista que a interdisciplinaridade proposta por Morin nos permite

agregar conhecimentos, entrelaçar informações dando oportunidade de quebrar

fronteiras entre elas difundindo e se apropriando das informações das partes para

um todo e vice-versa.

Pronto que a história das ciências não se restringe à de constituição e proliferação das disciplinas, mas abrange, ao mesmo tempo, a das rupturas entre as fronteiras disciplinares, da invasão de um problema de uma disciplina para outra, de circulação de conceitos, de formação de disciplinas híbridas que acabam tornando-se autônomas; enfim, é também a história da formação de complexos, onde diferentes disciplinas vão ser agregadas e aglutinadas. (MORIN 2008, p. 107).

Com isso deve haver trocas entre as disciplina e entres as partes para que

tenham relações múltiplas entre si, para poder disseminar uma semente que brotará

uma educação voltada ao pensamento e não apenas ao conceito de si própria,

dando uma ampla margem de opções e propostas de troca de informações entre

elas, tornando assim, um elo entre a informação e a educação.

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A educação musical pode ser ministrada em vários espaços: formal, informal

e não-formal. O relato de uma experiência de educação musical no ambiente, não-

formal a Igreja, por exemplo, ou seja, fora da sala de aula, sendo utilizada como

espaço de aprendizagem e formação do indivíduo, tornando-o um cidadão capaz de

se expressar criticamente na sociedade vigente, sendo respeitada a autonomia do

educando: “O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético

e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros”. (FREIRE, 1996, p.

59).

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4 O CORAL FRATER IN CHRISTI

O Coral “Frater in Christi” foi criado no mês de outubro de 2006 com o intuito

de condensar em apenas um coral, os diversos grupos de canto, existentes na

Paróquia do Cristo Ressuscitado, Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia, localizada à

Praça Itamaracá, s/nº, no Conjunto Habitacional Ponta Negra, litoral sul, em Natal –

RN.

Nesta Paróquia existem nove grupos musicais:

• MEJ – Movimento Eucarístico Jovem, que trabalha com crianças, jovens e

assume como grupo de canto, no primeiro domingo pela manhã. Tem como

instrumento acompanhador o violão.

• Perseverança – Grupo de crianças e adolescentes que tem o objetivo de

formar cristãos através de ensinamentos. Tem seu grupo de canto que

assume o primeiro domingo do mês à noite. Seu instrumento acompanhador

é o teclado.

• Legião de Maria – Grupo de senhoras que tem como culto a devoção à Nossa

Senhora da Conceição. Seu grupo de canto assume o segundo domingo pela

manhã. Utiliza o teclado para acompanhamento.

• Grupo de Oração “Maria Santíssima” – Tem um trabalho de oração e

evangelização na Paróquia. É formado por senhores e senhoras. Assume,

com seu grupo de canto, o segundo domingo à noite. O teclado é o

instrumento de acompanhamento.

• ECC – Encontro de Casais com Cristo tem o objetivo de conduzir o casal à

reflexão matrimonial sobre o evangelho. O grupo de canto assume a liturgia

no terceiro domingo do mês. Tem como base harmônica o violão. Também

se utiliza de percussão.

• Pastoral da Juventude – seus componentes são jovens adolescentes que

estão, em seus encontros, meditando e comentando os textos da liturgia.

Assume o terceiro domingo à noite. Utiliza-se de uma formação instrumental

com percussão, guitarra, contrabaixo elétrico, e violão, para desenvolver suas

atividades.

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• Cristo Ressuscitado – Seus componentes são casais que resolveram

desenvolver suas habilidades e seus ensinamentos através de encontros que

expressam seus conhecimentos e os transmite a outros jovens. Seu grupo de

canto assume o quarto domingo pela manhã e tem como instrumento

harmônico: o teclado e violão.

• Grão de Mostarda – São jovens que se reúnem para estudar a Palavra ligada

à liturgia e está se vinculando ao Grupo “Cristo Ressuscitado”. O teclado é a

base do acompanhamento.

O Padre Alcimário Pereira de Oliveira, Administrador Paroquial, precisava

formar um coral que unisse os demais grupos das diversas pastorais existentes na

Paróquia, e tivesse formação vocal para um melhor desempenho nas celebrações

dominicais. São distribuídos dois grupos aos domingos para a animação da liturgia,

sendo um pela manhã e outro à noite, por isso, ao mês, tem-se oito grupos e um fica

na reserva para cantar no quinto domingo, quando houver.

Neste projeto de canto coral, os componentes terão formação da técnica

vocal para também desempenharem, em seus grupos de origem, um melhor

trabalho em seus ensaios, atividades mensais de reflexão, ensinamentos e formação

espiritual.

O projeto inicial do novo coral previa duas apresentações ao ano: uma na

Festa da Padroeira Santa Rita de Cássia, que se realiza todos os anos, no mês de

maio, e outra, na Missa do Natal do Menino Jesus (Fig. 1) no dia vinte e quatro de

dezembro, ambas na Matriz. No decorrer dos ensaios e apresentações, o novo coral

foi convidado a participar das Festividades em Homenagem à Padroeira Santa Rita

de Cássia em Santa Cruz (Fig. 2), região agreste do Estado do Rio Grande do Norte,

a pedido do Pároco Padre Aerton Sales da Cunha, Vigário Geral da Arquidiocese,

Pároco de Santa Rita de Cássia - Santa Cruz e Membro dos Conselhos: Presbiterial

e Pastoral. Na ocasião, foram apresentadas músicas cujas letras falam da vida de

Santa Rita, considerada pela crença local, como “Santa dos Impossíveis”. Essas

músicas foram compostas por Eugênio Lima1, e arranjadas para coral pelo aluno de

1 Doutorando pela Universidade Federal da Bahia. Faz parte do quadro de docentes efetivos da Escola de

Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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Licenciatura em Música, Washington Nogueira de Abreu2. Em outro momento, o

coral foi convidado a participar da Festa da Padroeira do Parque Industrial, situado

na região metropolitana de Natal, em Parnamirim – RN, a convite do Padre Valdir

Cândido de Morais, administrador paroquial da Paróquia do Beato André de Soveral

(Fig. 3) que tem como padroeiro o Sagrado Coração de Maria, naquela comunidade.

Fig. 1- Missa do Natal 2007 na Matriz de Santa Rita de Cássia Ponta Negra, Natal – RN.

Fig. 2- Apresentação na Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia em Santa Cruz – RN

2 Aluno de Graduação em Música: Licenciatura Plena, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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Fig. 3- Apresentação na Paróquia do Beato André de Soveral, Capela Sagrado Coração de

Maria, agosto 2008.

4.1 A CONSTRUÇÃO DO CORAL

O projeto inicial previa uma seleção vocal para classificação das vozes dos

candidatos para que, posteriormente, fossem distribuídas nos naipes, de acordo com

suas classificações naturais (soprano, contralto, tenor e baixo). As pessoas

interessadas foram convidadas a participar de uma aula demonstrativa, proposta

pelo regente, que é o professor imediato, e está à frente do coral, conduzindo-os a

um aperfeiçoamento na afinação, com técnica vocal específico para a prática de

conjunto, bem como a conscientização de como fazer a obra do autor sair do papel e

dar forma à apresentação. Além disso, foi proposto, pelo professor, um exercício de

alongamento, movimentando os membros superiores e inferiores; respiração,

observando a movimentação do diafragma, que é essencial para a música vocal;

relaxamento, para melhorar as tensões físicas do dia-a-dia; e aquecimento vocal

para não prejudicar as pregas vocais.

Com isso, eles começaram, desde cedo, a interagir com um todo,

observando, passo a passo, os procedimentos de ensaios de um coro, e não apenas

cantar, como faziam em seus grupos. A atenção e concentração, em uma atividade

ministrada pelo regente, que muitos nem conheciam, já começou promover

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melhoras em seus desempenhos e habilidades de ritmo e afinação. Depois de várias

conversas, ficou resolvido que todos que quisessem participar de uma atividade

coral em grupo seriam aceitos. No projeto do novo coral não houve distinção de

idade, pois temos uma variação entre jovens e adultos. Entre os participantes,

existem alguns idosos, e muitos, já gozam do benefício da aposentadoria. Isso foi

muito interessante, pois a experiência de vida contribuiu muito para o desempenho

da prática de conjunto, onde os mesmos eram respeitados e, ao mesmo tempo,

podiam dar suas opiniões, enquanto acolhiam opiniões dos outros. Houve uma

educação dialógica entre todos, contribuindo muito no ensino-aprendizagem

musical, na prática coral, inclusive, para o crescimento do regente.

Dentre os cantores, existem apenas dois com um grau satisfatório de leitura

musical. Não foi descartada a falta de conhecimento específico dos demais, que se

interessaram em aprender um código novo, mágico, onde: “bolinhas escritas em

linhas”, como disseram alguns, poderiam ser transformados em música através da

voz. Eles começaram a trabalhar a partir de então, observando o cantar do outro

para melhorar a afinação e perceberam o quanto era agradável sua voz suave, isso

se deu, através da técnica vocal, e também observaram que as vozes faziam uma

harmonia e outra a melodia principal.

Hoje o coral é composto por nove sopranos, dezessete contraltos, cinco

tenores e quatro baixos. Essa formação foi observada, através da análise âmbito

vocal dos alunos notado no primeiro encontro, isso contribuiu para a formação

inicial. No decorrer dos ensaios, as vozes foram criando um colorido na sonoridade e

com isso migraram para os naipes adequados, principalmente nos naipes das

sopranos e contraltos, que, com técnica vocal, foram criando uma beleza sonora às

suas vozes. E algumas mulheres mudaram de naipe porque descobriram que suas

vozes poderiam chegar a uma extensão maior do que no primeiro encontro. Os

naipes tinham ensaios específicos de acordo com a obra a ser estudada,

observando as características nas obras do autor. No decorrer dos ensaios, sentiu-

se a necessidade de um preparador vocal para auxiliar no desempenho vocal de

todos. Esse preparador teve um papel importante, nas peças em Latim, pois o

mesmo por já ter executado várias peças, nesse idioma, ministrado aulas na

pronúncia, impostação vocal, respiração e interpretação dessas peças.

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Os ensaios eram divididos entre: sábados das 14h00min às 16h00min e aos

domingos 08h30min às 11h00min. Todos eram avisados, via email dos ensaios e

quais músicas iriam ser ensaiadas. Tínhamos problemas relacionados a horário,

pois alguns não conseguiam chegar a tempo do relaxamento, respiração,

aquecimento, vocalize e alguns coralistas apenas chegavam a tempo de fazer a

passagem das vozes, e isso, a princípio, foi muito prejudicial, pois, sem essas

técnicas, alguns não conseguiam desempenhar bem o cantar em algumas regiões

agudas, que foram previamente designadas nas composições propostas. Ao

perceber isso, fomos mostrando que, sem técnica, não se pode modelar uma voz,

ou seja, ela vai se adaptando às maneiras de colocação e impostação para fazer do

canto coral um momento de ensino-aprendizagem que tenta alcançar o máximo da

beleza vocal.

4.2 REGÊNCIA

Na regência, foram observados os seguintes aspectos: a importância dos

gestos na regência; regente formador e educador, que deve estar preparado para

ensinar os diversos conteúdos musicais do repertório escolhido nas diferentes

apresentações; liderança do regente que, por estar à frente de um coro, tem que

demonstrar segurança e preparo nas atividades ministradas, bem como o respeito

no decorrer dos ensaios, para que os objetivos sejam alcançados, nesse caso, a

melhor interpretação das peças. Na interpretação foram ressalvadas as dinâmicas

escritas pelo autor, para um melhor entendimento do que foi proposto pelo

compositor para que o coro se aproxime, ao máximo, de sua expectativa. A

importância dos gestos do regente é muito relevante, pois sem gesto, não há

regência. E para que essa ação seja eficaz todos os envolvidos devem conhecer os

movimentos do regente para compreender a métrica musical, os intervalos, as

propriedades, as entradas nas peças, finalizações. Outra coisa muito importante é a

atenção por parte dos coralistas ao olhar do regente, pois uma pequena falta de

atenção pode comprometer o desempenho nas apresentações. Além desses

aspectos, precisamos comentar e esclarecer alguns fatores:

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• Gestos – Na prática coral o gesto é muito importante, pois “o gesto revela e

exprime”, como afirma Zagonel, (1990, pag. 11). Não se tem um aperfeiçoamento na

apresentação de uma peça musical por um coro sem ter um Regente e seus gestos,

através do qual é criado um laço de entendimento com seus cantores, que

conhecem o que é pedido e gesticulado pelo dirigente musical.

• Regente formador e educador - Para educar, o regente não precisa apenas

ter conhecimento de técnicas e repertório escolhido para coro, e sim, estar

preparado para solucionar problemas que venham ocorrer em seu desempenho da

prática de ensino. “Educar não é depositar nem transferir conhecimento”, como

afirma Freire, (1996, p. 47). Saber que a exaustão das repetições não pode estar

diretamente ligada à fadiga e sim entusiasmar os alunos a uma aprendizagem lúdica

que desperte um interesse e gosto de cantar em grupo para, gradativamente,

aumentar suas habilidades e musicalidade vocal. Deve também compreender que

uma educação dialógica tende a uma interação de conhecimentos propiciando uma

aprendizagem mútua, dando oportunidade a todos, de se posicionarem com

opiniões e experiências.

4.3 HARMONIA

Na harmonia foi ensinado como eram distribuídas as vozes de um coral de

acordo com a formação a quatro vozes. Os arranjos foram feitos com uma base

harmônica para uma melodia, onde existia um acorde de três vozes e uma melodia

principal.

4.4 EDIÇÃO DE PARTITURAS

Na edição das partituras foi disponibilizada uma versão demo para teste e

avaliação de um software musical: FINALE 20073 para todos os coralistas que

tiveram aulas de manuseio do programa em suas residências, o que serviu para

auxiliar na audição do repertório, como também ajudar o aluno em seu naipe

3 Copyright 2007 by MakeMusic, inc. , versão DEMO.

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específico. Foi enviado, via email, o repertório escolhido em partituras, que seriam

abertas pelo software, para as ocasiões específicas citadas no início do trabalho.

Com a utilização desse software, aumentou muito o rendimento dos coralistas

nos ensaios, pois todos já vinham com o conhecimento dos arranjos para seu naipe

e isso adiantou muito os trabalhos, aumentando o conhecimento da escrita e leitura

musical dos participantes do projeto. Foi observada a linha melódica, dinâmica,

entradas das músicas pelos coralistas. Com isso os alunos tiveram autonomia para

desenvolver suas habilidades. Com a audição das músicas, eles foram observando

a harmonia e melodia existentes e, ao mesmo tempo, tiveram o prazer de estar em

grupo, nos ensaios, escutando notas diferentes que se combinam, formando uma

harmonia vocal, como também, um maior entendimento ao se deparar com uma

partitura e suas particularidades.

Cantar, em grupo, requer concentração e disciplina, esses dois pontos e a

repetição dos ensaios serviram para consolidar o aprendizado. Com o ensino

sistemático, os cantores puderam observar a textura do repertório, ressaltando que a

voz, em conjunto, pode formar uma melodia, duas ou mais melodias e uma melodia

acompanhada por acordes, e não apenas uma só melodia, como muitos deles

comentaram. Antes todos cantavam, em uníssono sendo acompanhados por

instrumentos musicais, como um teclado, por exemplo, que fazia a base harmônica.

Na prática coral, eles perceberam que suas vozes eram o instrumento harmônico e

melódico. Ensaiar, em conjunto, proporciona a todos uma troca de experiências ao

ouvir o outro. Os que sentiam dificuldades em afinação e ritmo, ao escutar o outro,

aperfeiçoaram suas habilidades. Foi notada uma atenção maior, por parte dos

coralistas, ao ensaiar os naipes separados. Eles se preocupavam em não atrapalhar

os outros, por isso ensaiavam para alcançar o cantar mais harmonioso possível, ao

juntar os naipes.

4.5 CANTO CORAL

O canto coral é muito importante para todos que queiram desenvolver suas

habilidades vocais, pois o ato de cantar aumenta a autoestima, a capacidade de

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concentração e atenção. Para isso, têm que ser observados pontos que são

relevantes para essa atividade: o alongamento, a respiração, o relaxamento, o

aquecimento, a técnica, os ensaios, manutenção, desenvolvimento e aquisição do

repertório, o cuidado com a voz, no dia-a-dia, a fisiologia vocal, a postura e a

interpretação. Esses fatores juntos são indispensáveis para quem se dispuser a uma

prática vocal, pois todos se beneficiam com essas atividades, de forma a melhorar

seus conhecimentos e, no decorrer do tempo, perceber que houve alterações no

jeito e forma de cantar, ou seja, cantar com consciência de executar uma obra que

tem o ouvinte como alvo.

A estrutura do arranjo nas composições é composta por uma voz principal,

recheio e base. Com isso, foi mostrada a função de cada naipe no repertório

selecionado. Os ensaios foram distribuídos por naipes e, depois em conjunto,

mostrando as dinâmicas das composições. Nos arranjos, foi discutida a melhor

forma de execução. Todos podiam opinar principalmente na escolha, por via de

audições dos solistas.

Em algumas composições, foi ensinado sobre a importância de conhecer a

história para melhor interpretar. Como também a pronúncia, em Latim de algumas

composições que foi ministrada ao regente e ao preparador pelo Professor Danilo

Cesar Guanais4, que é compositor e tem obras musicais escritas em Latim. Também

o Padre Alcimário Pereira de Oliveira5, que passou três anos de sua vida sacerdotal

em Roma-Itália, celebrando as missas, nesse idioma, ministrou aulas de leitura do

Latim aos integrantes do coral.

A estrutura musical de qualquer peça tem uma linguagem própria de acordo

com a forma de composição. A análise musical foi ministrada, através da partitura,

com aulas de teoria. Esse exemplo do fragmento da música “Benção Aaraônica”

(Fig. 4) que foi executada, no final da celebração da Missa em homenagem à Santa

Rita de Cássia, é um exemplo de como foi abordada a teoria. Apenas conhecendo

esse período da história, eles conseguem executar a obra de acordo com o que está

escrito pelo autor.

4 Mestre em música pela UFRN/UNICAMP e faz parte do quadro de docente efetivo da Escola de Música da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 5 Mestre em História da Igreja pela Universidade Pontifícia Gregoriana, Itália.

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Fig. 04 – Trecho da partitura “Bênção Aaraônica” que fez parte do repertório da festa

em Homenagem à Santa Rita de Cássia.

Essa partitura foi enviada, via email, a todos os cantores do projeto que em

suas residências, puderam abri-las, através do Software FINALE, tendo assim, um

primeiro contato com a peça. Eles começaram a estudar os seus naipes específicos,

escritos para cada extensão de voz e perceberam que não existia nota alguma além

dos âmbitos de cada naipe. Por ser uma partitura bastante detalhada, os alunos

perguntaram sobre o “muito ligado e moderado”, se a peça tinha apenas ligaduras,

em pontos específicos, como o autor queria que fosse executada dessa forma?

Todos perceberam que, no decorrer dos ensaios, a própria composição demonstra

que deve ser executada de forma mais moderada e ligada e entenderam que era a

forma como o autor gostaria que fosse realizada a obra.

Os saltos melódicos que eles notaram fazem um desenho descendente e

ascendente como curvas com inicio e fim. A verticalidade da harmonia também foi

ministrada aos alunos pelo regente, através da qual aprenderam a tonalidade da

música, mostrando que cada uma das vozes começava em uma nota do acorde na

base harmônica da peça que tem Dó maior como início da progressão harmônica. E

eles já estavam falando, bem como executando, o som da nota de seus naipes.

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Ao se depararem com as dinâmicas de intensidade, precisaram ajustar a

força a se empregar na peça, como também os crescendos e decrescendos. A

entrada foi bastante indagada pelo regente, pois muitos não apresentavam firmeza,

que foi obtida, mostrando que para executar uma peça é preciso haver segurança no

regente e em si mesmo, sabendo que todos são capazes e tem habilidades para

desenvolver e executar as peças propostas.

A duração das notas foi um ponto que demonstraram dificuldade em

compreender, pois notas cantadas, em tempo específico, com pequenos intervalos

de duração entre si, foi um motivo de dúvidas que foi resolvido com vários ensaios,

mostrando a duração de cada figura, relacionando-as nas alturas determinadas pelo

autor. Esse aprendizado foi possível tendo em vista o interesse de entendimento,

por parte dos coralistas que perguntavam e não deixavam dúvidas, e houve, entre

eles, uma troca de ensinamentos, onde os que compreendiam com mais facilidade

ensinavam ao outro, mostrando assim um espírito de equipe. Como foi mostrado, no

recorte da composição “Benção Aaraônica”, esses ensinamentos sobre conteúdos

de teoria da música foram determinantes para o aprendizado.

Trabalhado com base numa partitura, foi iniciada uma formação para leitura

alternativa, observando as notas que subiam e desciam e, se estavam paradas,

através de uma linha que uniam essas notas que são as ligaduras ou pontos de

aumento, se eram próximas e distantes as notas umas das outras nos espaços e

linhas do pentagrama, os intervalos. A situação numa proporção de valores

temporais das figuras de valor foi abordada na escrita dessas figuras que, quanto

mais aberta, mais tempo é sustentado o som ao cantar e quanto mais fechado, com

“bandeirolas”, menos tempo de sustentação, os tons e semitons decorrentes na

composição.

Ao levar uma linguagem musical com partitura e, ao mesmo tempo, uma

forma simples de ensinar, observando os acontecimentos nas composições:

• Clave – o regente pediu aos cantores que olhassem o início da

partitura para ver se todos cantariam as notas na mesma clave e os cantores do

naipe dos baixos e tenores disseram que a deles era diferente das mulheres. Com

isso foi comentado que a clave de fá foi designada para as notas graves e a clave de

sol para as notas agudas.

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Clave de Sol - V

Clave de Fá -

• Altura – Todos os coralistas observaram se suas vozes chegariam às

notas mais graves e às mais agudas no âmbito adequado a cada naipe. Depois se

sua nota era a tônica, terça ou quinta que compõem uma tríade. Nesse caso, tem

uma extensão adequada para cada naipe que é distribuído assim:

Soprano – de Dó três a Lá quatro;

Contralto – de Fá dois a Ré quatro;

Tenor – de Dó dois a Lá três;

Baixo – de Fá um a Ré três.

No desenho melódico do trecho da composição supracitada, foi utilizado um

gráfico para determinar a altura das notas, como se vê a seguir:

Fig. 05- Gráfico do desenho melódico adotado na partitura.

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Dessa forma, os coralistas puderam perceber que, ao subir a linha do

gráfico, sua voz fica mais aguda e ao descer mais grave.

• Fórmula de compasso – foram mostrados a todos os movimentos dos

gestos do regente, que se utilizaria da métrica do compasso quaternário para

identificar, mais claramente, as entradas nos compassos para eles que, nesse

exemplo, é uma entrada anacrústica, ou seja, começa no quarto tempo.

• Dinâmicas – Foi ensinado que o piano (p) proposto pelo autor, no início

da composição, era para ser cantado, como se estivesse “colocando um bebê para

dormir, suave e docemente”. Nos crescentes e decrescentes, foi mostrado, várias

vezes, como se executava, utilizando as mãos com gestos ascendentes, mostrando

a posição dos gestos indo até a intensidade forte (f) e descendente, suavizando até

chegar à intensidade piano (p).

• Ligaduras – foi falado que a ligadura serve para sustentar o som.

Podendo ser de duas formas: com mesma nota (ligadura de prolongamento), ou com

notas diferentes (ligadura de expressão), cantadas sem suspensão da continuidade

sonora, bem como o ponto de aumento.

• Vozes – foi ensinado a todos os cantores a respeito das vozes internas

e externas desempenhadas por cada naipe, tendo na formação: sopranos e baixos

são como externas e contraltos e tenores como internas, e essa informação serve

para que conheçam seus naipes e suas atribuições.

• Abreviaturas - na ocasião, foi informado sobre o ritornelo, e para onde

deveriam voltar: a um refrão, primeira “casa”, segunda “casa”, ou mesmo para

finalizar a composição. Como afirma Med (1996, p. 239), “Se um trecho de música é

repetido, mas com terminação diferente, usamos duas chaves, uma com expressão

1ª vez e a outra com expressão 2ª vez para finalizar”.

4.6 O CUIDADO COM A VOZ NO DIA-A-DIA

Segundo Marsola (2001, p. 53), “o cantor deve ter mais preocupação com a

higiene bucal, pois qualquer irregularidade pode contaminar a garganta provocando

rouquidão ou alterações vocais”. Com esse ensinamento, foi proposto ao coro um

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cuidado com a voz, desde a preocupação com seus atos diários de manuseio da

voz, como também as formas corretas de cuidar da voz: antes e depois do cantar

como, por exemplo: ao cantar, as pregas vocais estão aquecidas e não se pode dar

um choque térmico com água gelada “causando uma descarga imediata de muco”,

Marsola (2001, p. 56). Ao se trabalhar com a voz, alguns pontos foram ensinados:

• Como relaxar;

• Exercitar as técnicas vocais;

• Respirar corretamente pelo diafragma;

• Postura;

• Impostação;

• Afinação;

• Vocalizes;

• Manutenção vocal;

Tudo que se faz com a voz reflete no cantar, ou seja, se o cantor trata sua

voz com zelo e consciência, ela se refletirá no ato de cantar e interpretar.

4.7 A FISIOLOGIA VOCAL

Cantar é emitir som, através das pregas, que são vibradas, através do ar que

é expirado nas pregas vocais na caixa de ressonância, que consiste em vários

aparelhos juntos, foram mostradas e ensinadas suas funções aos componentes do

coro, segundo Marsola (2001, p.13), “Como qualquer instrumentista, o cantor

também necessita conhecer a fundo seu instrumento de trabalho...” o instrumento

vocal é dividido em três partes:

• O aparelho respiratório;

• O aparelho fonador;

• O aparelho ressonador;

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A conscientização da função de cada aparelho propiciou um melhor cuidado

com o corpo em geral, dando mais importância à fisiologia vocal, em que estão

interligados os diversos aparelhos envolvidos na produção da voz.

4.8 TÉCNICA VOCAL

A técnica é uma prioridade para desenvolver uma habilidade vocal entre os

coralistas, pois com técnica são adquiridos: respiração, impostação vocal, extensão,

timbre vocal, intensidade, duração e andamento. Todos os exercícios propostos

foram retirados do livro “Canto uma expressão” de Mônica Marsola.

A respiração é muito importante para a prática coral, pois, “a voz é o som

produzido pelas pregas vocais durante a expiração. O que faz as nossas pregas

vocais vibrarem é a passagem do ar. Sem ar, não há som”. (MARSOLA, 2001, p.

21). Por isso fizemos alguns exercícios propostos por Marsola para respiração como,

por exemplo:

Respirar enchendo o diafragma e expirar fazendo stacato com a letra “S”; faz

com que o diafragma comece a funcionar e os cantores percebam que sua

respiração não pode ser apenas com os pulmões;

“Vocalização é a impostação da voz” (MARSOLA, 2001, p. 27). No canto os

vocalizes são uma forma de treinamento que permite distinguir as vogais orais e

nasais e dão suporte para a impostação vocal. Para essa prática foram feitos alguns

vocalizes que serão mostrados abaixo.

a) “Brrrrrrrrrr” (MARSOLA, 2001, p.86. exercício 01).

b) “Trrrrrrrrrr”

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a) “Mmmm” – Boca chiusa (lábios cerrados, língua abaixada). (MARSOLA, 2001,

p.86. exercício 02).

a) O- o- o – a- a – a – o. (MARSOLA, 2001, p. 87, exercício 04).

a) Já – je – já- je – já – je - ji (MARSOLA, 2001, p. 88, exercício 07)

Com esses e outros vocalizes, os cantores puderam ampliar sua técnica,

desempenho na prática coral e seus conhecimentos que no decorrer dos ensaios

puderam observar uma melhora significativa, no grupo como um todo, e faziam

comentários da melhora no timbre e afinação do conjunto.

• Exercícios corporais - é imprescindível o aquecimento e relaxamento,

até mesmo antes de começar os vocalizes, pois um corpo relaxado, como afirma

Marsola (2001, p. 75), “Antes da vocalização é necessário acontecer um

aquecimento e relaxamento corporal”. Como mostra, o exemplo abaixo, alguns

exercícios voltados ao relaxamento de pescoço.

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Fig. 06- Gráfico com exercícios

Fonte: Marsola (2001, p.77)

4.9 REPERTÓRIO

O repertório foi escolhido de acordo com a necessidade das apresentações

propostas pelo Administrador Paroquial. Para a Festa, em homenagem à Santa Rita

(Fig. 7), foram sequenciadas as seguintes Músicas:

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:

Fig. 07- Missa em ação de graças, em homenagem à Santa Rita de Cássia

Junho de 2009, em Ponta Negra, Natal – RN.

Missa festiva em homenagem à santa Rita de Cássia

1. Entrada – É festa do povo - composição de Eugênio Lima e registro e arranjos

Washington Nogueira;

2. Ato Penitencial - composição de Eugênio Lima e registro e arranjos

Washington Nogueira;

3. Glória – Autor Desconhecido e arranjos Washington Nogueira;

4. Aclamação – Palavra suave como o mel, composição de Eugênio Lima e

registro e arranjos Washington Nogueira;

5. Ofertório – Ofertar ao Senhor, composição de Eugênio Lima e registro e

arranjos Washington Nogueira;

6. Santo - composição de Eugênio Lima e registro e arranjos Washington

Nogueira;

7. Abraço da Paz – Vamos viver como irmãos (Olhar autor) e registro e arranjos

Washington Nogueira;

8. Cordeiro de Deus – Autor desconhecido e registro e arranjos Washington

Nogueira;

9. Comunhão – O pão da Palavra, composição de Eugênio Lima e registro e

arranjos Washington Nogueira;

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10. Bênção – Bênção Aaraônica, composição e arranjo Peter C. Lutkin Sec. XIX;

11. Final – Hino em homenagem à Santa Rita de Cássia, Composição Hosana

Almeida e Silva.

Apresentação em Santa Cruz

1. Entrada – É festa do povo - composição de Eugênio Lima e registro e arranjos

Washington Nogueira;

2. Aclamação – Palavra suave como o mel, composição de Eugênio Lima e registro e arranjos Washington Nogueira

3. Ofertório – Ofertar ao Senhor, composição de Eugênio Lima e registro e

arranjos Washington Nogueira;

4. Final – Hino em homenagem à Santa Rita de Cássia, Composição Hosana

Almeida e Silva.

5. Bênção – Bênção Aaraônica, composição e arranjo Peter C. Lutkin Sec. XIX;

Missa do Natal 2008

1. Entrada – Festa de Luz, composição Nizan Guanaes/Maria Célia Monteiro,

arranjo para o naipe dos baixos, Washington Nogueira;

2. Ato Penitencial – Perdão Senhor, composição Luiz Carlos Agostini, arranjo

Washington Nogueira;

3. Glória – Vinde Cristãos – autor desconhecido, arranjado por Washington

Nogueira;

4. Aclamação – Aleluia, autor desconhecido, arranjado por Washington

Nogueira;

5. Ofertório – Festa dos Dons, autor João de Araújo e André J. Zamur, arranjo

para o naipe dos baixos, Washington Nogueira;

6. Santo – composição de Eugênio Lima e registro e arranjos Washington

Nogueira;

7. Cordeiro de Deus – Autor desconhecido, arranjos Washington Nogueira;

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8. Comunhão – Vem e eu mostrarei; composição Waldeci Farias, arranjos

Washington Nogueira;

9. Noite Feliz composição e arranjos F. Gruber.

10. Bênção – Bênção Aaraônica, composição e arranjo Peter C. Lutkin Sec. XIX;

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Toda experiência para um docente é válida, principalmente, para quem está à

procura de novos conhecimentos, ou seja, em um constante processo de formação

para poder desempenhar seu papel como educador. “Educar é aprender! E aprender

é educar!” Como afirma Freire (1996), “educação não é um banco, onde é

depositado conhecimento, e, sim, é um meio de interação entre educador-

educando”. E todas as informações retiradas dos textos e aplicadas nas aulas,

ensinaram que é preciso levar o conhecimento a todos que desejam compartilhar

dessa atividade dialógica interagindo com o meio social em que se vive. A

educação musical, através do canto coral, veio como um fator social e cultural, na

formação do indivíduo, levando a leitura musical como um meio de interlocução,

entre os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

Somos sempre chamados a buscar informações, mas lembrando que

devemos ter uma postura em relação aos conhecimentos: “mais vale uma cabeça

bem-feita que bem cheia” (MONTAIGNE apud MORIN 2008, p. 21), garantindo que

temos que processar as informações adquiridas para podermos analisar e

compreender os ensinamentos. Com isso o professor deve interligar as disciplinas,

bem como as partes de uma mesma área para, com isso, conseguir um melhor

desempenho na educação do indivíduo. Entrelaçar disciplinas para compreender

que temos muitas informações, mas precisamos selecionar, indagar, para melhor

aprender.

Somos indagados a sempre questionar nosso papel na sociedade, e por isso

temos que nos entregar à prática docente com muito respeito e dedicação, para que,

sempre que necessário, possamos adequar os conteúdos à realidade do aluno, sem

prejudicar o desempenho do mesmo, e, ao mesmo tempo, dar-lhes oportunidade de

mostrar suas qualidades e habilidades sem repreendê-los, pois todos são providos

de conhecimentos prévios que se deve acatar. Através da prática coral, os coralistas

puderam compartilhar de uma apreciação musical que, ao passar do tempo, foi

dando um brilho especial às belas composições que foram ensinadas e ensaiadas

para as apresentações que foram feitas para os diversos eventos, onde

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compartilhamos e mostramos que a educação musical é uma área do conhecimento,

como as demais, com características próprias e, capaz de levar o ouvinte a uma

reflexão ou até mesmo, a uma emoção, porque a música consegue se expressar por

si mesma.

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REFERÊNCIAS

CANDÉ, Roland de. História universal da música. 2. ed. São Paulo: Martins

Fontes, 2001. v. 1.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia : saberes necessários à prática

educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

LIMA, Sônia Albano de. Interdisciplinaridade: uma prioridade para o ensino musical.

Música Hodie: Revista do Programa de Pós-Graduação Stricto-Senso da Escola de Música e Artes Cênicas da

Universidade Federal de Goiás. Goiânia, v. 7, n.2, 2007. Disponível em:

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ANEXOS

PARTITURAS DO REPERTÓRIO DOS DIFERENTES EVENTOS

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