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CYNTHIA CÂNDIDA CORRÊA
CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA:
Estudo das Relações entre Fornecedores Primários, Frigoríficos e
Consumidores Primários para a Competição Internacional
Maringá
2005
CYNTHIA CÂNDIDA CORRÊA
CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA:
Estudo das Relações entre Fornecedores Primários, Frigoríficos e
Consumidores Primários para a Competição Internacional
Maringá
2005
Trabalho apresentado como requisito para aprovação na disciplina Estágio Supervisionado de Administração; da Universidade Estadual de Maringá, orientado pelo Prof. Juvancir da Silva.
CYNTHIA CÂNDIDA CORRÊA
CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA:
Estudo das Relações entre Fornecedores Primários, Frigoríficos e
Consumidores Primários para a Competição Internacional
Aprovado em ___/___/___
______________________________
Prof. Juvancir da Silva – UEM
-Assinatura-
______________________________
Prof. Convidado
-Assinatura-
Trabalho de Conclusão apresentado como requisito para obtenção do grau de bacharel, no Curso de Administração da Universidade Estadual de Maringá, sob apreciação da seguinte banca examinadora:
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, Nilo
Cândido Dias e Vilma Mª Corrêa Dias,
os quais me proporcionaram está
oportunidade e sempre me incentivaram
e acreditaram nos meus sonhos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por sempre me acompanhar e proteger em minha vida,
me concedendo saúde e força em mais esta jornada.
A Universidade Estadual de Maringá por me proporcionar um estudo de qualidade.
Ao Departamento de Administração por auxiliar no meu desenvolvimento intelectual.
Ao professor Juvancir da Silva, meu orientador pela confiança, atenção e paciência
durante este trabalho.
A todos os professores que me contribuíram para ampliar os meus conhecimentos
através dos seus ensinamentos.
Minha família, pelo carinho e apoio dado nos momentos de dificuldade, para que este
trabalho fosse levado até seu final.
As minhas amigas Layza e Patrícia, pela paciência e companheirismo, todos os dias
durante a realização desse estudo.
A todas as pessoas que de alguma maneira me apoiaram e estiveram presentes em mais
essa etapa de minha vida.
CORRÊA, Cynthia Cândida. Cadeia Produtiva da Carne Bovina: Estudo das Relações entre Fornecedores Primários, Frigoríficos e Consumidores Primários para a Competição Internacional. Trabalho de Conclusão de Conclusão de Curso. (Graduação em Administração). Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2005.
RESUMO
Os consumidores estão cada dias mais informados, requerem produtos de forma mais consciente e exigente. O mercado internacional da carne bovina é um mercado extremamente exigente por produtos de qualidade e seguro. É evidente que um novo posicionamento estratégico seja exigido de todos os segmentos da cadeia produtiva visando adequar-se à essa nova demanda. Desta forma, este estudo visa identificar a partir do processador, as estratégias implementadas pela industria de carnes bovina, considerando os aspectos que configuram a cadeia produtiva de carne bovina e analisando como a interação entre os elos dessa cadeia tornar-se um fator de competitividade, no sentido de melhorar a qualidade da carne e a comercialização no mercado externo. Para este estudo, foram coletados dados, através de questionários semi-estruturados e entrevistas junto a dois frigoríficos exportadores localizados na região Noroeste do Paraná. Pode-se observar que a cadeia produtiva da carne bovina é uma cadeia desregulamentada, desorgazinada e extremamente individualista, necessitando de mudanças nas relações entre seus integrantes para melhorar sua competitividade internacional.
Palavras-chave: Mercado Internacional. Cadeia Produtiva da Carne Bovina. Competitividade. Coordenação.
ABSTRACT
The consumers have more information each days, require products in a more conscientious and demanding form. The international market of the bovine meat is an extremely demanding market for quality and safe products. It is evident that a new strategical positioning is demanded of all the segments of the productive chain in order to adjust it to this new demand. In this way, this study aims to identify from the processor, the strategies implemented for the bovine meats industry, considering the aspects that configure the productive chain of bovine meat and analyzing as the interaction between the links of this chain can become a competitiveness factor, in the direction to improve the quality of the meat and the commercialization in the external market. For this study, had been collected information, through half-structuralized questionnaires and interviews with two exporting meat industry located in the Northwest of the Paraná. It can be observed that the productive chain of the bovine meat is a not regulated, disorganized and extremely individualistic chain, needing changes in the relations between its integrant to improve its international competitiveness.
Word-key: International Market. Productive chain of the Bovine Meat. Competitiveness. Coordination.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................8
2 REFERENCIAL TEÓRICO.........................................................................................11
2.1 CADEIAS PRODUTIVAS.......................................................................................11
2.1.1 Mudanças tecnológicas.........................................................................................16
2.1.2 Comportamento dos consumidores.....................................................................16
2.1.3 Estrutura de governança para cadeias produtivas............................................18
2.1.3.1 Mercado...............................................................................................................21
2.1.3.2 Contrato...............................................................................................................22
2.1.3.3 Integração Vertical..............................................................................................23
2.1.4 Empresa Liderante..............................................................................................23
2.2 GERENCIAMENTO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS......................................26
2.3 SISTEMA AGROINDUSTRIAL.............................................................................33
2.3.1 Visão sistêmica da agroindústria........................................................................33
2.3.2 Coordenação das cadeias dos sistemas agroindustriais de alimentos.............36
2.4 CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA.....................................................43
2.4.1 Panorama brasileiro da carne bovina................................................................43
2.4.2 Caracterização da cadeia produtiva da carne bovina e seus agentes.............46
2.4.2.1 Fornecedor..........................................................................................................49
2.4.2.2 Processador.........................................................................................................50
2.4.2.3 Consumidor Primário..........................................................................................53
2.4.3 Rastreabilidade.....................................................................................................56
2.4.4 Exportação............................................................................................................58
2.4.5 Governo.................................................................................................................62
2.4.6 Estratégias.............................................................................................................64
2.4.6.1 Alianças Estratégicas...........................................................................................67
2.4.6.2 Programa de Qualidade Nelore Natural (PQNN)................................................68
3 METODOLOGIA.......................................................................................................72
4 ESTUDO DE CASO...................................................................................................74
4.1 CARACTERÍSTICAS DOS ENTREVISTADOS....................................................74
4.2 CADEIA DE SUPRIMENTOS.................................................................................75
4.2.1 Interação entre processadores e fornecedores...................................................75
4.2.1.1 Modo de transação...............................................................................................77
4.2.1.2 Rastreabilidade....................................................................................................78
4.2.1.3 Distribuição: indústria/fornecedor ......................................................................79
4.2.1.4 Análise: Processador-Fornecedor........................................................................80
4.2.2 Interação entre processador e consumidor primário........................................85
4.2.2.1 Modo de transação...............................................................................................87
4.2.2.2 Interação entre o setor de venda e compra ..........................................................89
4.2.2.3 Distribuição: indústria/consumidor ....................................................................90
4.2.2.4 Análise: Processador – Consumidor....................................................................91
4.2.3 Atuação e importância do governo ....................................................................93
4.2.4 Riscos e incertezas na cadeia de produção da carne bovina.............................94
CONCLUSÃO................................................................................................................97
REFERÊNCIAS...........................................................................................................103
ANEXOS.......................................................................................................................106QUESTIONÁRIO - IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA.............................................106QUESTIONÁRIO PARA O SETOR DE EXPORTAÇÃO..........................................107QUESTIONÁRIO PARA O SETOR DE COMPRAS..................................................109
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 01: Articulação Intersetorial.................................................................................35
Figura 02: Fluxograma da Cadeia Produtiva da Carne Bovina.......................................47
LISTA DE TABELAS
Quadro 01: Percentual regionalizado Distribuição do Rebanho, Valor Bruto de
Produção (VBP) e distribuição das plantas industriais do Estado do Paraná..................42
Quadro 02: Mercados Internacionais Atendidos pelos Processadores............................86
1 INTRODUÇÃO
O Brasil alcançou o primeiro lugar em exportação de carne bovina em 2003, e,
atualmente, possui o maior rebanho comercial do mundo (EDWARD, 2004). O Estado
do Paraná, dentro deste contexto, ocupa a sétima posição, em termos de rebanho, no
Brasil.
Atualmente a ocorrência de contaminação em vários produtos alimentícios vem
aumentando a preocupação dos consumidores e dos governantes em relação a carne
bovina. De acordo com Souza (1999) a falta de rastreabilidade do produto e
coordenação da cadeia, prejudica a consolidação de padrões de qualidade,
confiabilidade e praticidade. As empresas exportadoras sofrem pela desorganização na
cadeia produtiva. Para se manterem no mercado essas empresas forçam os empresários
rurais a participar mais ativamente do jogo da globalização, ao invés de deixar tudo nas
mãos do governo federal.
A industria de alimentos, especialmente a de carnes passou a empregar
estratégias que possibilitassem a implementação de competência técnica e operacional,
para enfrentar a competição dentro do novo mercado global e se adequar as novas
demandas, por produtos de melhor qualidade, com baixo preço e dentro de determinadas
condições de uso. São estratégias como: diferenciação do produto, busca de vantagem
de custos, cooperação, integração com ênfase em relações contratuais, coordenação,
internacionalização e aquisição são destacadas individualmente ou de forma conjunta
(SOUZA, 1999).
Para uma maior competitividade as empresas do setor agroalimentar são
obrigadas a uma forma de organização com forte dependência entre os diferentes elos
da cadeia. O desenvolvimento do conceito de cadeias produtivas vem, ao longo do
tempo, despertando novos interesses de seus agentes, que passam a interpretar suas
ações sob o foco da interação. Percebendo essa consideração, identifica-se que a cadeia
de carne bovina no Brasil passa atualmente por profundas transformações, muitas delas
ainda não completamente percebidas por seus agentes. A cadeia produtiva de carne
bovina tem buscado a adoção de uma série de novos conceitos tais como rastreabilidade,
alianças mercadológicas, certificação e comercialização com marcas. Para conseguir
competitividade, a nova visão dos agentes busca um funcionamento harmônico dos
segmentos a fim de atender satisfatoriamente o consumidor final.
Zylberstajn (1995) refere-se a cadeias produtivas como operações organizadas
de forma vertical e percorridas pelo produto desde sua produção até sua distribuição,
podendo ser coordenadas via mercado ou através da intervenção dos diferentes agentes
que participam da cadeia, estes agentes contribuem ou interferem de alguma maneira no
produto final.
Para atender de maneira eficiente o mercado, além do gerenciamento da cadeia
produtiva, os elos da cadeia devem utilizar os conceitos de cadeia de suprimento.
Conforme Novaes (2001) a cadeia de suprimento abrange todo o caminho que um
produto percorre, desde o fornecedor da matéria-prima até o consumidor final, passando
pela manufatura, centros de distribuição, atacadistas e varejistas. O objetivo final de
toda cadeia de suprimento é a minimização do custo total associado aos esforços
logísticos empenhados, ou a melhoria do desempenho logístico para atendimento às
necessidades dos clientes e fornecedores, o que pode ser sintetizado em duas palavras:
eficiência e responsividade.
Dentro desse contexto, este trabalho procura apresentar a necessidade de se
produzir eficientemente bens manufaturados dentro dos conceitos de economia
globalizada, principalmente nos dias atuais de alta competitividade, ressaltando a
importância da coordenação da cadeia produtiva, buscando identificar a partir do
processador, as estratégias implementadas na cadeia agroindustrial de carnes.
9
Considerando os aspectos que configuram a cadeia de carne bovina, as possíveis formas
contratuais, e as estratégias adotadas pelos seus integrantes, assim como, das
dificuldades enfrentadas por eles, a fim de diminuir o custo e facilitar a
operacionalização das transações de um setor para o outro.
O trabalho se divide em duas partes, a revisão de literatura e apresentação e
análise de dados. A revisão de literatura vai tratar sobre competitividade das cadeias
produtivas, a influencia dos consumidores dentro dessas cadeias para a comercialização
internacional e a importância do gerenciamento da cadeia de suprimento para a o
sucesso do atendimento desse mercado. A segunda parte do trabalho representa a
relação entre a teoria relatada na revisão de literatura e os dados coletados nos
frigoríficos pesquisados.
Constitui-se como objetivo geral caracterizar os sistemas de inter-relações entre
os fornecedores e consumidores primários dos frigoríficos exportadores localizados na
região noroeste do estado do Paraná, na cadeia produtiva de carnes bovina.
E como objetivos específicos: verificar as principais exigências internacionais
dos consumidores primários em relação à carne bovina; verificar as exigências dos
produtores aos fornecedores primários do setor; caracterizar a cadeia produtiva da carne
bovina na região noroeste do Paraná e levantar os mecanismos de integração entre a
empresa e os seus fornecedores e consumidores primários.
10
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo tem por finalidade discutir o que é cadeia produtiva, como se dá o
seu gerenciamento e a sua importância para o crescimento e competitividade das
empresas. O conceito de Cadeia Produtiva será explorado com base nos conceitos dos
autores Farina e Zylbersztajn (1992). Inserindo os conceitos da Gestão da Cadeia de
Suprimento dentro deste contexto. Por último será estudada a cadeia produtiva da carne
bovina, seus segmentos e as formas de transação envolvidos nessa atividade.
2.1 CADEIAS PRODUTIVAS
As mudanças verificadas nas últimas décadas implicaram em alteração no
comportamento produtivo e competitivo das organizações. Neste contexto, as empresas
estão aprimorando a sua capacidade competitiva através da implementação de novas
estratégias, assim como novas técnicas de gerenciamento e negociação. A vantagem
competitiva da empresa resulta da estratégia adotada por ela, mas sob influência de
fatores ambientais propulsores.
Conforme Souza (2002) a competitividade a competitividade das empresas não
depende somente delas, é uma resultante do desenvolvimento de capacidades e
potencialidades dinâmicas, condicionadas à presença de fatores ambientais específicos,
envolvendo aspectos institucionais, comportamentais, tecnológicos, organizacionais,
dentre outros, relacionados, também, a ações individuais, mas considerada sob um
contexto sistêmico. Portanto, depende da capacidade de articulação das empresas com
os demais integrantes de sua cadeia de atividades. Em complemento Farina (1999)
define competitividade como a capacidade da empresa sobreviver e, de preferência,
crescer em mercados correntes ou novos mercados.
11
Para Batalha e Silva (2001, p. 26) “a competitividade sustentada de uma
empresa somente pode ser construída no âmbito de um sistema igualmente competitivo
no seu conjunto”. Para tanto, as empresas devem adaptar sua estrutura organizacional e
funcional a esta nova realidade. Esta interdependência estabelece que a dinâmica de
cada segmento produtivo influência e é influenciada pelos padrões de mudanças
tecnológicas dos outros segmentos, através da difusão de inovação, mudanças em
preços relativos e de demanda derivada (DOSI, 1984 apud FARINA;
ZYLBERSZTAJN, 1992).
O ambiente competitivo é constituído pela estrutura do mercado relevante (concentração, economias de escala e escopo, grau de diferenciação dos produtos, barreiras técnicas de entrada e saída), pelos padrões de concorrência vigentes (concorrência preço e extra-preço, presença de grupos estratégicos, barreiras de mobilidade, etc), pelas características do consumidor/cliente, que abrem possibilidades de segmentação de mercado e pelo ciclo de vida da indústria, coadjuvante na definição dos padrões de concorrência. (FARINA, 1999, p. 24).
Para explicar essas relações sistêmicas, Farina e Zylbersztajn (1992, p. 190),
descrevem sobre o conceito de Cadeia Produtiva, a qual definem como sendo “à
sucessão de estágios de transformação porque passa a matéria-prima, constituindo-se
num espaço unificado de geração e apropriação do lucro e da acumulação”. Já
Zylbersztajn (1995) refere-se a cadeias produtivas como operações organizadas de
forma vertical e percorridas pelo produto desde sua produção até sua distribuição, e
podem ser coordenadas via mercado ou através da intervenção dos diferentes agentes
que participam da cadeia. Esses agentes contribuem ou interferem de alguma maneira
no produto final.
Batalha e Silva (2001) referem-se a estes agentes como sendo os fatores
políticos, econômicos e financeiros, tecnológicos, socioculturais e legais ou jurídicos.
De acordo com os autores a eficácia de uma cadeia está ligada a sua capacidade de
fornecer produtos/serviços adaptados às necessidades dos consumidores, mas a sua
12
eficiência refere-se ao padrão competitivo de seus agentes e a capacidade de
coordenação necessária para que estes produtos sejam disponibilizados ao consumidor.
Portanto a gestão de cadeias produtivas é a forma como vão ser coordenados os
elos da cadeia produtiva em questão. A organização da cadeia se faz por meio dos seus
componentes e, parcialmente, pelas relações formais e informais desenvolvidas por eles.
Para Batalha e Silva (2001) uma cadeia de produção pode ser segmentada, de jusante
(inicio da cadeia) a montante (final da cadeia), em três macrossegmentos:
Comercialização: representa as empresas que estão em contato com o cliente
final da cadeia de produção e que viabilizam o consumo e o comércio dos
produtos finais. Podem ser incluídas neste macrossegmentos as empresas
responsáveis somente pela logística de distribuição.
Industrialização: representa as firmas responsáveis pela transformação das
matérias primas em produtos finais destinados ao consumidor. O consumidor
pode ser uma unidade familiar ou outra agroindústria.
Produção de matérias-primas: reúne as firmas que fornecem as matérias primas
iniciais para que outras empresa avancem no processo de produção do produto
final.
Uma cadeia de produção pode ser vista como um sistema aberto, a relação da
firma com seu meio ambiente concorrencial é um pré-requisito essencial a definição de
uma estratégia. Este é justamente um dos pontos fortes da análise de cadeias de
produção que busca estudar estas relações, portanto elas devem ser empregadas como
ferramenta de gestão empresarial. Por isso grande atenção tem sido dada aos
mecanismos de coordenação da cadeia e a sua estrutura de governança.
A coordenação da cadeia é um processo dinâmico para promover explicitação de
normas de relacionamentos vigentes, trazendo uma harmonia entre os agentes dos
segmentos envolvidos, como produtor, processador, consumidor. Essa coordenação
13
permite a empresa receber, processar, difundir e utilizar informações de modo a definir
e viabilizar estratégias competitivas, reagir a mudanças no meio ambiental ou aproveitar
oportunidades de lucro. Já Humphrey e Schmitz (online, 2001), usam o termo
coordenação para expressar o fato de que algumas empresas serem obrigadas a seguir
parâmetros estabelecidos por outras empresas dentro dessas cadeias.
Mecanismos de coordenação podem ser conceituados como qualquer ferramenta
administrativa para alcançar interação entre diferentes unidades dentro de uma
organização. Neste sentido, mecanismos de coordenação não são exclusivos de firmas,
mas podem ser empregados para sustentar cooperação interorganizacionais, e inclui
uma variedade de importantes aspectos sociais e econômicos. Os mecanismos podem
ser empregados em relações inter firmas, em adição ou em substituição aos
relacionamentos de mercado e hierarquia.
Esta coordenação pode ter maior importância naquelas cadeias expostas à
competição internacional ou às crescentes pressões dos clientes, alvos finais das cadeias
e a quem estas devem adaptar-se. O processo de coordenação pode ser alcançado
através de mecanismos de governança usados para interações com todos os envolvidos
em uma cadeia.
“A governança se refere a relações entre empresas e a mecanismos institucionais
através dos quais se consegue a coordenação extra-mercado das atividades dentro de
uma cadeia” (HUMPHREY; SCHMITZ, online, 2001, p. 06). Segundo os autores a
governança em cadeias produtivas ligadas a exportação de bens é importante para o
acesso a mercados, pois mesmo com a abertura das barreiras comerciais, produtores de
países em desenvolvimento não adquirem automaticamente acesso a mercados,
principalmente em cadeias agroalimentares. Isso acontece porque as cadeias são muitas
vezes governadas por um número limitado de compradores. Essas empresas liderantes
empreendem a integração funcional e a coordenação de atividades internacionalmente
14
dispersas. As estratégias de abastecimento das empresas liderantes são influenciadas
pelas expectativas dos consumidores, das ONGs e de agências governamentais com
relação a normas de segurança e a normas ambientais e trabalhistas.
De acordo com Batalha (1997), a utilização do conceito de cadeia de produção
como instrumento de formulação e análise de políticas públicas e privadas busca
fundamentalmente identificar os elos fracos de uma cadeia de produção e incentivá-los
através de uma política adequada. Dentro dessa ótica, Hiratuka (1997) descreve que há
toda uma dinâmica favorecendo contatos que não são instantâneos e nem autônomos,
são relações baseadas na busca por parte das empresas de coordenar de forma eficiente
às operações.
Segundo Batalha e Silva (2001) a utilização do conceito de cadeia de produção é
importante para a formulação e análise de políticas públicas e privadas; ferramentas de
descrição técnico-econômica; método de análise da estratégia das firmas; ferramenta de
análise das inovações tecnologias e apoio a tomada de decisão tecnológica e uma
metodologia de divisão setorial do sistema produtivo.
Portanto numa visão sistêmica, cada elo da cadeia está interconectado e cada
parte está inserida num todo, não existindo a atuação da empresa isoladamente. A visão
sistêmica é importante para explicar a organização dos negócios agroindustriais. As
estratégias não ocorrem dentro do ambiente interno da empresa, existem vários outros
fatores que vão orientar as estratégias empresariais, como: leis, regulamentos, políticas
governamentais, tecnologias, fatores culturais, mudança no comportamento dos
consumidores e a relação de forças entre concorrentes, fornecedores e clientes. No caso
de algumas cadeias como as cadeias agroindustriais, até mesmo o clima pode
influenciar no seu desenvolvimento. Por isso, se faz necessário o estudo de alguns
fatores que orientam as estratégias nas cadeia produtivas.
15
2.1.1 Mudanças tecnológicas
No sistema capitalista, destaca-se a importância da inovação na dinâmica
econômica, desempenhando um papel cada vez mais importante como fator explicativo
das estruturas industriais e do comportamento competitivo das firmas (BATALHA;
SILVA, 2001). A competitividade pode ser descrita como um componente da mudança
da tecnologia, entendendo-se tecnologia como a interface de aplicação prática de
determinado conjunto de conhecimentos.
A adoção de novas tecnologias está subordinada a estratégia das empresas na
busca de aplicações lucrativas para seu capital. Isto significa que a organização das
cadeias em última instância também depende das estratégias das unidades decisórias,
embora aguardem uma relativa estabilidade (FARINA; ZYLBERSZTAJN,1992).
Entre os fatores de destaque na busca de minimização das ineficiências e à
construção de vantagens competitivas no setor de alimentos está o aspecto tecnológico,
que tem por objetivo romper as barreiras competitivas e de escala de produção,
renovando constantemente produtos e processos. Essa tecnológica é uma ferramenta
importante para a diferenciação das empresas frente ao mercado consumidor,
apresentando-se como essencial para influenciar a fixação de preços através de
agregação de valor. Porém, esta capacidade de resposta e influência, é limitada pelos
hábitos de compra, gostos e preferências do consumidor, bem como pelas diferenças
presentes nos diversos segmentos das cadeias produtivas (SOUZA, 2002).
2.1.2 Comportamento do consumidor
Mudanças nos padrões de consumo vem ocorrendo em todo o mundo,
principalmente nos países desenvolvidos. As empresas têm que conviver com as
16
especificidades impostas pelos consumidores espalhados em diferentes lugares, com
diferentes concepções e necessidades. De acordo com Kotler e Armstrong (2003),
existem cinco tipos de mercados de clientes: mercados consumidores, mercados de
negócios, mercados revendedores, mercados governamentais e mercados internacionais.
Conceitua-se como consumidor primário, aquele que compra diretamente do
processador, esse pode ser um revendedor ou o consumidor final. A empresa precisa
estudar o mercado onde estão seus clientes, daí a importância e influência do fator
cultural para produção e comercialização do produto. As escolhas relacionadas ao
consumo têm sido pré-determinadas por restrição de tempo e pela tecnologia alimentar
disponível, além de uma preocupação maior com a saúde por parte do consumidor. Este
fenômeno está ligado a fatores como distribuição de renda e hábitos de consumo
regional.
Cada consumidor tem uma característica, o mercado internacional exige um
padrão de qualidade para a comercialização de produtos, principalmente comestíveis. A
busca por mercados internacionais faz com que as empresas utilizem novos mecanismos
de organização e comercialização, como selos e certificações, para garantir ao
consumidor segurança no alimento adquirido. Relacionamento com clientes e
lucratividade da empresa estão intimamente vinculados a qualidade do produto e do
serviço, pois níveis mais altos de qualidade resultam em maior satisfação do cliente, ao
mesmo tempo que sustentam preços mais altos, geralmente a custos mais baixos. Dentro
dessa ótica, pode-se dizer que os programas de melhoria de qualidade normalmente
aumentam a lucratividade.
Sendo assim, os consumidores são identificados como os maiores responsáveis
pelas mudanças nas cadeias de produção, principalmente na cadeia alimentar, existe
uma crescente organização, informação e conscientização desses. É a industria
17
alimentar, segundo Farina e Zylbersztajn (1992), que decodifica as exigências do
consumidor. Nesse sentido, as empresas inovadoras irão assumir a frente do mercado.
As empresas ficam sujeitas a esse mercado consumidor, que pode ratificar ou
rejeitar suas estratégias de crescimento, ou seja, são eles quem vai condicionar suas
estratégias competitivas. As mudanças no consumo alimentar por produtos mais
específicos, faz com que aumente a exigência com a tecnologia para os produtores e
com que suas relações tende a ser reguladas por contratos adicionando valor aos
produtos.
Nesse contexto, para Souza (1999), as empresas devem adaptar suas estratégias
de internacionalização as demandas dos consumidores. Isso obriga as empresas do setor
alimentar a uma forma de organização que tem forte dependência entre os diferentes
elos da cadeia. Segundo o autor, cada um dos segmentos do sistema tem um papel que
tem a desempenhar no sentido de aproveitar as novas oportunidades de investimento e
acumulação que surgem com o movimento de valorização do consumidor.
2.1.3 Estruturas de governança para cadeias produtivas
De acordo com Souza (1999), a concepção de ambiente sistêmico exige que as
empresas busquem formas de organização, para que sejam capazes de sobreviver diante
das formas de incertezas, riscos e em especial pela especificidade dos ativos envolvidos
nas transações. Farina (1999) descreve que os sistemas são formados por segmentos que
podem exigir diferentes graus de dependência mútua, e essa dependência está
determinada pelos atributos da transação intersegmentos. Conforme a autora, governar a
transação significa incentivar o comportamento desejado e ao mesmo tempo conseguir
monitorá-lo. Com o objetivo de evitar possíveis atitudes oportunistas e preservar a
continuidade das transações.
18
Coase (1966) iniciou o debate sobre o uso de preço e autoridade como dois
mecanismos alternativos de coordenação de trocas. Ele questionou o pressuposto
dominante de que a direção de recursos seria dependente diretamente do mecanismo de
preço. Ele argumentou que poderia ser lucrativo estabelecer uma firma até mesmo em
circunstância onde os custos de usar o mecanismo de preço fossem altos (BALDI;
LOPES, 2004).
A discussão iniciado por Coase (1966) foi assumida algumas décadas mais tarde
por Williamson (1985) em sua Teoria dos Custos de Transação, proposta na Nova
Economia das Instituições (BALDI; LOPES, 2004). Hiratuka (1997), complementa, que
essa teoria contribuiu para a evolução do pensamento das relações nas cadeias
produtivas, considerando as possíveis formas contratuais a fim de diminuir o custo e
facilitar a operacionalização das transações de um setor para o outro. Para obter sucesso
nas transações, de acordo com a Teoria dos Custos de Transação, adotam-se três
atributos para obter o comportamento esperado do agente, lidando eficientemente com a
racionalidade limitada: a especificidade de ativos, a freqüência e a incerteza ou riscos.
A Especificidade de Ativos ocorre quando numa relação de transação exige-se
um investimento maior em determinado ativo, tornando sua finalidade específica.
Segundo Zylbersztajn (2000) a especificidade de ativos poder ser: de lugar; tendo
sentido apenas naquele local; de tempo, se houver determinado tempo para a
comercialização; de capital humano, cuja habilidade é limitada a único individuo. Na
especificidade de ativos é necessário completar a transação para que o investimento faça
sentido, culminando assim na procura de formas governamentais mais eficientes e
seguras.
A Freqüência refere-se a quantas vezes ocorre a utilização das estruturas, ou
acontece a comercialização dos produtos entre os agentes. Caso haja uma alta
freqüência à tendência é que exista um relacionamento confiante, diminuindo assim os
19
custos da operação. Entretanto se não houver periodicidade a formulação do contrato
será menos exigente nas cláusulas defensoras.
A Incerteza comportamental, gerada pela racionalidade limitada e o
oportunismo, deve-se a um elemento cognitivo presente nos agentes. Dessa forma
dificultando prever possíveis custos de transação e aumentando cláusulas contratuais
com o intuito de minimizar as conseqüências da descontinuidade da transação.
Conforme Hiratuka (1997, p. 20): “O grau de incerteza envolvido em uma determinada
transação está relacionado à confiança que os agentes possuem em sua capacidade de
antecipar eventos futuros”.
Conforme (BALDI; LOPES, 2004) a confiança entre os elos da cadeia vai
desenvolver um papel crucial na escolha da estrutura de governança, através da criação
de um sentimento de obrigação recíproca entre os parceiros. A idéia de confiança inter-
organizações é construída pela interação repetida entre as organizações. Conforme os
autores esse sentimento de obrigação recíproca tem como conseqüência um
comportamento de lealdade entre os parceiros, e diminui a apreensão de que um
parceiro vai agir oportunisticamente. Minimizando o comportamento oportunista, vão
reduzir os custos de transação de uma relação de troca e provê um mecanismo de
controle substituto, portanto, pode se dizer que confiança reduz o custo da necessidade
de se fazer contratos meticulosos e, desta forma, também economizam tempo.
Outro benefício é a redução dos custos de procura de parceiros, ao se formar
alianças com aqueles que você já tenha uma relação de confiança. Assim se torna mais
fácil o relacionamento entre os elos dentro de uma cadeia produtiva, tornando-a mais
competitiva no mercado. A confiança, também, pode ser justificada por um traço
cultural do povo. Laços sociais podem gerar confiança entre os parceiros, o que reduz os
custos de transação decorrentes da realização de contratos detalhados (BALDI; LOPES,
20
2004). Portanto, a governança de uma cadeia vai depender do relacionamento entre os
elos e das relações sociais existentes no mercado.
Para Siffert Filho e Faveret Filho (1998), cada cadeia apresenta suas
especificidades, sendo necessário o reconhecimento dos atributos de transação para que
possam ser examinadas as estruturas de coordenação que permitem lidar com sua
dimensão fundamental (dimensão temporal associada a perecibilidade dos produtos e a
sincronização da produção). A forma de governar as relações procura atender exigências
impostas pelo ambiente competitivo, no qual as organizações estão inseridas. A
exigência advém da interação entre estrutura de mercado, as características da demanda,
e os padrões de concorrência (HIRATUKA, 1997). Para obter certa eficiência no
desempenho da empresa a Teoria dos Custos de Transação considera a intensidade dos
atributos na escolha da forma de governança.
Os agentes das cadeias fazem uso de mecanismo apropriado para regular uma
determinada transação, com a finalidade de reduzir os custos, denominados “estrutura
de governança”. Quanto mais apropriada for a coordenação entre os componentes da
cadeia produtiva, menores serão os custos de cada um deles, e mais rápida será a
adaptação as modificações de clientes e fornecedor (FARINA, 1999). As formas de
governança, de acordo com a Teoria dos Custos de Transação podem ser: por mercado,
contrato (híbrido), ou integração vertical.
2.1.3.1 Mercado
O Mercado é a forma mais flexível existente e corresponde à compra e venda
com base apenas no valor da mercadoria. Aqui a negociação é realizada de acordo com
a oferta e demanda existente no mercado. Sendo assim, favorece transações com baixo
grau de especificidade e despreza a incerteza, apesar de existir permanentemente. Nessa
21
governança não há dependência dos agentes, gerando liberdade na escolha do
fornecedor e no critério para a compra. Em muitos casos, quando organizações já vêm
desenvolvendo um conjunto de transações de fornecimento ou distribuição, negociações
menos formais ou com menor interdependência entre as partes é comum.
2.1.3.2 Contrato
O Contrato preserva a autonomia das firmas, garantindo a relação de
dependência. Sua relevância se deve a um médio grau de incerteza da transação e média
ou alta especificidade de ativos. Esse tipo de governança seria uma forma intermediária
entre o mercado e a integração vertical.
A existência de relacionamentos prévios apresenta-se como um redutor do nível
de incerteza, e assim de ansiedade, a respeito do comportamento do parceiro.
Geralmente os contratos possuem salvaguardas e mecanismos administrativos que
possibilitem evitar a incerteza comportamental. Quando existe menor interdependência
entre as partes, são os laços sociais vão exercer um papel importante na estabilidade do
empreendimento cooperativo. Eles contribuem para redução dos custos de
gerenciamento das transações entre os parceiros.
Conforme Baldi e Lopes (2004) os contratos tem muitas vantagens distintas em
termos de eficiência, as quais não são possuídas pelas formas puras como mercados e
hierarquias. Formas híbridas são interessantes porque elas têm características únicas,
empregam recursos e/ou estruturas de governança de mais de uma organização
existente. Fazendo-o qualitativamente diferente tanto de mercados quanto de
hierarquias. Essas formas representam um modo diferente para coordenar trocas em
mercados internacionais.
22
2.1.3.3 Integração Vertical
Já a Integração Vertical, significa uma decisão da empresa em utilizar seus
recursos internos em vez de transações de mercado para atingir seus propósitos
econômicos. Azevedo (1998) define, genericamente, vertical como referência a
processos produtivos complementares que se inicia na produção de matéria-prima,
passando por sucessivos processos produtivos até chegar ao produto final. A integração
vertical é interessante em ocorrência de transações de ativos específicos, propiciando
condições de estabilidade e certeza, bem como na eliminação do risco do oportunismo,
entretanto, convém avaliar seus custos e benefícios.
Em um mundo globalizado, como o de hoje, faz-se necessário criar modelos
eficientes para lidar rapidamente com as transformações e minimizar os efeitos dos
imprevistos ocorridos no mercado. A hierarquia, mercado e a forma híbrida podem ser
diferenciadas pelos mecanismos de coordenação e controle e pelas suas habilidades para
responder às mudanças no ambiente (BALDI; LOPES, 2004). Dentro dos atributos
mencionados a Integralização Vertical permite um retorno mais rápido às mudanças
ocorridas no macroambiente, aumentando a sua capacidade de competir no mercado.
2.1.4 Empresa Liderante
A forma de governança, quando há especificidade de ativos é mais crítica, pois é
necessário completar a transação para que o investimento faça sentido, culminando
assim na procura de formas governamentais mais eficientes e seguras. A forma de
governar as relações procura atender exigências impostas pelo ambiente competitivo, no
qual as organizações estão inseridas. A exigência advém da interação entre estrutura de
23
mercado, as características da demanda e os padrões de concorrência (HIRATUKA,
1997).
Humphrey e Schmitz (online, 2001), descrevem sobre o termo empresa
liderante, como uma forma de governança nas cadeias produtiva. O termo é usado para
expressar o fato de que algumas empresas dentro dessas cadeias estabelecem e/ou
aplicam os parâmetros nos termos dos quais operam outras empresas. Isto significa que
uma empresa poderá exigir certos comportamentos de outras partes da cadeia, tendo em
vista sua interpretação e expectativas quanto ao mercado, para isso, estabelece e repassa
normas e padrão de produto e processo. Essa liderança pode ser realizada por um
comprador ou um produtor. No primeiro caso a organização obtém sua atividade
concentrada no varejo, ou na comercialização, ditando a forma de como produzir; já no
segundo focaliza a indústria, com a obtenção de tecnologia da produção e do produto.
Essa forma de governança pode ser ampliado para as cadeias globais de valor,
mencionando as transações entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento.
A necessidade da exigência de parâmetros ao longo da cadeia de valores tem a possibilidade de diminuir, caso os fornecedores de países em desenvolvimento melhorem e aumentem suas capacidades de adequação ao mercado. O acesso a mercados de países desenvolvidos tornou-se crescentemente dependente da entrada em redes globais de produção de empresas liderantes localizadas em países desenvolvidos. (HUMPHREY; SCHMITZ, 2001, p. 01).
Kaplinsky (2000) apud Humphrey e Schmitz (online, 2001), descreve que o
comportamento desejável nos demais segmentos da cadeia pode ser obtido, não somente
pela empresa liderante, mas também por agentes externos como leis governamentais,
imposições dos consumidores, ONGs, e outras instituições. O motivo da intervenção
destas varia entre saúde, preços, segurança, normas ambientais e outros. Os governos
podem estabelecer normas e padrões obrigatórios. As normas e os padrões também
podem ser estabelecidos por acordos não jurídicos (códigos de conduta, etc) e por uma
variedade de agencias não oficiais, que exercem pressões quanto ao cumprimento de
normas trabalhistas e ambientais.
24
Segundo Batalha (1997) o consumidor final é o principal indutor das mudanças
no sistema e desencadeamento das operações da cadeia devem ser de jusante a
montante. Mas, por outro lado, Farina e Zylbersztajn (1992), observam que é a industria
alimentar quem decodifica as exigências do consumidor, induz mudanças tecnológicas
na agropecuária e muitas vezes também na estrutura de distribuição. A organização
institucional da cadeia depende das relações tecnológicas entre seus segmentos.
Além disso, Souza (1999, p. 73) sustenta que “a industria caracteriza-se por
processos produtivos previsíveis, contínuos e controláveis, enquanto a agricultura
permanece sujeita aos riscos e ritmos sazonais da natureza”. Porém, o autor ainda
complementa que os relacionamentos dentro da cadeia produtiva, entre uma empresa
agroindustrial e seus fornecedores de matéria-prima, tendem a ser fundamentados na
dependência do primeiro em relação ao segundo, quanto ao abastecimento na
quantidade e regularidade consistente com sua escala de produção e a qualidade da
matéria-prima apresentada, principalmente quando existe especificidade de ativos.
Conforme Humphrey e Schmitz (online, 2001), os parâmetros vitais para a
governança de cadeias de valor são: o que deve ser produzido, e como deverá ser
produzido. Portanto, faz-se necessário o estudo da gestão da cadeia de suprimentos, para
minimizar os riscos de desempenho presentes nas transações, ligados a fatores como
qualidade, tempo de resposta e confiabilidade de entrega. Visando avançar nesta
discussão, alguns conceitos e definições vinculados a formação de gestão de cadeia de
suprimentos são apresentados. O conhecimento deste novo aporte teórico pode revelar-
se particularmente útil para definir os mecanismos de transação, permitindo localizar
certas disfunções na cadeia e proporcionar subsídios adequados a formulação e
implementação de uma política de segurança alimentar eficiente para o país, bem como
incrementar a competitividade internacional para a empresa.
25
2.2 GERENCIAMENTO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS
Certos produtos possuem um sistema de produção específico para ele, ou seja,
existe uma especificidade do ativo mantido pela industria: o equipamento industrial é
destinado a produzir determinado conjunto de produtos e depende de matéria-prima
com especificações corretas. Para isso é preciso investir em ativos específicos como:
desenvolvimento e consolidação da marca junto a clientes e consumidores,
equipamentos dedicados, logística de suprimento e distribuição, recursos humanos com
treinamento específico e outros (FARINA, 1999).
Neste contexto, Souza (1999, p. 73) descreve que: “a reestruturação
organizacional estaria fundamentada primeiramente na flexibilidade e na mobilidade da
produção, seguida de ganhos de produtividade na logística e na adoção de novas
tecnologia”. Segundo o autor, a produção está caminhando para um processo
denominado de sistema de produção flexível, com esquemas de terceirização que
possibilitam agilidade e redução de custos, fornecimento global de matéria-prima e o
produto segmentado conforme as preferências do consumidor.
A vantagem competitiva de uma empresa é originária das inúmeras atividades
que a mesma executa. Cada uma das atividades pode contribuir para a posição de custos
relativos de uma empresa, criando bases para a diferenciação. Neste sentido, assumindo
que a competitividade das empresas tem relação direta com a capacidade de
coordenação entre as atividades de produção e de distribuição desenvolvidas pelas
empresas ao longo de uma cadeia de produção. A gestão desse conjunto de etapas é o
que alguns autores chamam de Gestão da Cadeia de Suprimentos (SCM).
A gestão de cadeias de suprimento é um conjunto de abordagens utilizadas para integrar eficientemente fornecedores, fabricantes, depósitos e armazéns, de forma que a mercadoria seja produzida e distribuída na quantidade certa, para a localização certa, no tempo certo, de forma a minimizar os custos globais do sistema ao mesmo tempo em que atinge o nível de serviços desejado. (SINCHI-LEVI et al, 2003, p. 27).
26
A definição de Gestão da Cadeia de Suprimentos apresentada pode ser
confundida com a definição apresentada de Cadeia Produtiva. Para melhor
entendimento da diferença desses dois conceitos, aplica-se a noção de Cadeia Produtiva
a definição dos seus agentes organizacionais enquanto que a Gestão da Cadeia de
Suprimentos está focada no sistema de gerenciamento das fontes de suprimento e das
técnicas necessárias para integrar os componentes da cadeia de suprimentos. Pode-se
dizer que a Gestão da Cadeia de Suprimentos é um sistema gerencial da cadeia
produtiva, ou seja, de administração.
“A noção de Supply Chain Management ou Gestão da Cadeia de Suprimentos
(SCM) é baseada na crença de que a eficiência ao longo do canal de distribuição pode
ser melhorada pelo compartilhamento de informação e do planejamento conjunto entre
seus diversos agentes” (BATALHA; SILVA, 2001, p. 57). Segundo Sinchi-Levi et al
(2003), as cadeias de suprimento é constituída por fornecedores, centros de produção,
depósitos, centros de distribuição e varejistas, e ainda por matéria-prima, estoque de
produtos em processo e produtos acabados que fluem entre as instalações. Incluem
aspectos como: configuração da rede de distribuição; controle do estoque; estratégia de
distribuição; integração da cadeia de suprimentos e alianças estratégicas; projeto do
produto; sistema de apoio à decisão e tecnologia da informação e valorização do cliente.
O objetivo final de toda cadeia de suprimento é a minimização do custo total
associado aos esforços logísticos empenhados, ou a melhoria do desempenho logístico
para atendimento às necessidades dos clientes e fornecedores, o que pode ser sintetizado
em duas palavras: eficiência e responsividade. Para isso, segundo Batalha e Silva (2001,
p. 60), “sempre existirão fornecedores e clientes-chave, o que ocasionará diferenças na
importância e no tratamento de cada componente ou atividade da cadeia de suprimentos
entre diferentes parceiros”. O desempenho da cadeia de suprimentos pode ser afetado
por diversos fatores, como: globalização, meio ambiente, aumento das incertezas
27
econômicas, proliferação de produtos, menores ciclos de vida dos produtos e maiores
exigências de serviços, dentre outros.
A base conceitual para operacionalização da gestão da cadeia de suprimentos é
composta, segundo Cooper et al apud Batalha e Silva (2001) de três elementos
relacionados: a estrutura da cadeia de suprimentos, os componentes de gestão e os
processos de negócio. Conforme o autor a estrutura da cadeia de suprimentos será a
configuração que as empresas vão assumir dentro de uma cadeia de produção qualquer.
Essas cadeias, também, são conhecidas como rede logística. De acordo com
Cooper et al. apud Batalha e Silva (2001), a diferença entre seus conceitos refere-se ao
fato de que, nas cadeias de suprimento os relacionamentos e mesmo as parcerias entre
empresas envolvem uma variedade maior de processos e funções do que no caso da
logística. Ou seja, a gestão da cadeia de suprimentos, no entender do autor, acaba por
interferir e modificar muitos processos organizacionais sob os quais a Logística não
teria poder, nem conhecimento para interferir.
As atividades de logística são entendidas como todas as atividades que envolve
colocar produtos na quantidade, tempo e local certo. De acordo com o conselho de
administração de logística:
Logística é o processo de planejamento, implementação e controle do fluxo eficiente e economicamente eficaz de matérias-primas, estoque em processo, produtos acabados e informações relativas desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender às exigências dos clientes (BALLOU, 2001, p. 21).
Os componentes (ou atividades) de gestão são os elementos por intermédio dos
quais os processos de negócio são estruturados e gerenciados. Podem existir em nível de
cada empresa ou de toda a cadeia a cadeia produtiva (BATALHA; SILVA, 2001).
Essas atividades podem gerar aumento de preço, que pode elevar a rentabilidade de uma
empresa.
28
Os componentes de um sistema logístico são: serviço ao cliente, previsão de vendas, comunicação de distribuição, controle de estoque, manuseio de materiais, processamento de pedidos, peças de reposição e serviços de suporte, seleção do local da planta e armazenagem (análise da localização), compras, embalagem, manuseio de mercadorias desenvolvidas, recuperação e descarte de sucata, tráfego e transporte, e armazenagem e estocagem (BALLOU, 2001, p. 23).
O sistema logístico é formado por uma combinação entre a rede de fluxo de
produtos e a rede de informações, não se pode projetá-los separadamente, e a
sincronização entre esses fluxos é o grande desafio dos gerentes. A logística controla o
valor do tempo e do lugar nos produtos, principalmente através dos transportes, dos
fluxos de informações e dos estoques. De acordo com Alves (2001) a gestão do fluxo de
informações, tem como objetivo o estabelecimento de um plano integrado para toda
cadeia de suprimento, pois as atividades logísticas exigem elevado grau de gestão intra e
interfirmas. Já a gestão do fluxo físico cuida da movimentação geral e armazenagem dos
produtos, que se dá pelas três áreas: suprimento, apoio à produção e distribuição física,
procurando operar com o menor custo total, com eficácia e qualidade.
Entre os fatores que influenciam o custo do transporte estão a distância e o
volume. Por isso é importante a projeção da localização perante essas instalações, tendo
em vista o fator distância, no caso de produtos perecíveis vencer essa distancia em
tempo hábil é questão de sobrevivência. A definição da localização de instalações em
uma rede logística sejam elas fábricas, depósitos ou terminais de transporte, é um
problema comum e dos mais importantes para os profissionais de logística (LACERDA,
2000). De acordo com Slack (1996) os custos de transporte podem ser considerados em
duas partes; os custos de transporte de insumos da fonte para o processador e os custos
de transporte dos bens do local de produção até o destino final, ou seja, até os clientes.
Os custos operacionais fixos de transporte são altos, dependendo do modal de transporte, conservação dos veículos e equipamentos usados, tamanho, valor e volume da carga, distância e condições das estradas a serem percorridos, a distância do destino, paradas e perspectivas de carga de retorno, condições de embarque e desembarque (ocorrência ou não de filas, equipamentos) e riscos envolvidos (ALVES, 2001, p. 224).
29
Portanto, além de definir o arranjo do sistema de distribuição, os gerentes de
distribuição devem, segundo Ballou (2001) tomar decisões de transporte que podem
envolver seleção de modal, tamanho do carregamento, roteirização e programação.
Essas decisões são influenciadas pela distância geográfica do armazém até os clientes,
os níveis de estoque e os pontos nodais da rede da cadeia de suprimentos. Gomes e
Leite (2001) afirmam que o redirecionamento de centros de distribuição, alterações de
rotas e novos designs para os veículos utilizados, são questões que estão na ordem do
dia-a-dia do segmento de distribuição, visando a uma melhor competição.
Os componentes da cadeia de suprimentos, além de satisfazer a demanda
preocupando-se apenas em suprir produtos e serviços no lugar, quantidade, qualidade e
preços esperados, também, tem a função de atuar como agentes estimuladores dessa
demanda. Ou seja, “o canal deve ser visto como uma rede de empresas independentes
que agem em sintonia de forma a criar valor para o usuário final por meio da
distribuição de produtos” (BATALHA; SILVA, 2001, p. 57).
Para definir qual o melhor modo de transporte para distribuição dos produtos, os
gerentes devem levar em conta as características desses produtos. Os modais de
transporte existentes são: aquaviário, ferroviário, rodoviário, aeroviário e dutoviário.
Em geral o transporte rodoviário é o mais utilizado em todos os segmentos, apesar de
possuir um custo maior de manutenção em relação aos outros. Quando a distribuição de
uma mercadoria exige mais de um meio de transporte são necessárias à integração e
coordenação entre vários modais, conhecido como intermodal.
A unitização de carga está relacionada ao tamanho da carga, tanto para
movimentação interna quanto externa. Alves (2001, p. 220) afirma que “os custos de
movimentação diminuem à medida que o tamanho unitário de carga aumenta”. Aqui,
define-se o conceito de carga fracionada e carga completa. Entendendo-se por carga
fracionada (LTL) a carga individual, que não se faz um aproveitamento ótimo do espaço
30
físico do transporte utilizado, atendendo apenas um ponto de destino; já a carga
completa ou consolidada (TL) significa a utilização do veiculo consolidando um
número pequeno de pacotes em uma única carga, geralmente essa unitização da carga
pode ser alcançada através de embalagens para agrupamento, de dispositivos especiais,
de equipamentos ou etiquetagem.
Quanto à armazenagem, Alves (2001) observa que sua gestão deve cuidar de
administrar os problemas associados ao espaço físico para manutenção de estoque e
manuseio de materiais. Entre esses problemas destaca-se: localização,
dimensionamento, arranjo físico, projeto de docas de embarque e desembarque,
movimentação interna, dentre outros. A manutenção de estoque consiste em manter a
disponibilidade dos produtos de acordo com a necessidade da cadeia de suprimento,
pois são os estoques que regulam as atividades de transporte, produção, processamento
e distribuição. Os estoques podem ser encontrados em armazéns, plataformas de
distribuição, chão de fábrica, veículos e lojas de varejo. Para Ballou (2001) o
gerenciamento de estoque se dá através de duas estratégias: a abordagem de puxar o
estoque, na qual cada armazém depende de todo o canal de distribuição; e a abordagem
de empurrar o estoque, nessa as decisões sobre cada estoque são feitas
independentemente.
Já, o manuseio de materiais, conforme Ballou (2001), refere-se às atividades de
carregamento e descarregamento, movimentação do produto para e de vários lugares
dentro do armazém e separação de pedidos. O projeto de unitização da carga, layout do
espaço físico interno, escolha do equipamento de estocagem e de movimentação
determinam a eficiência do sistema de manuseio de materiais.
Conforme se observou anteriormente, a organização da cadeia se faz por meio
dos seus componentes e, parcialmente, pelas relações formais e informais desenvolvidas
por eles. A coordenação da cadeia produtiva é um processo dinâmico para promover
31
explicitação de normas de relacionamentos vigentes, trazendo uma harmonia entre os
agentes dos segmentos envolvidos. Essa coordenação permite a empresa receber,
processar, difundir e utilizar informações de modo a definir e viabilizar estratégias
competitivas, reagir a mudanças no meio ambiental ou aproveitar oportunidades de
lucro. Quando analisado sobre o contexto da empresa liderante pode definir o
comportamento desejável dos na cadeia produtiva.
Em uma visão sistêmica, cada elo da cadeia está interconectado, um pode ajudar
ou prejudicar o outro, por isso é necessário uma coordenação de toda a cadeia para
manter a qualidade do produto final entregue ao consumidor e a logística é uma forma
de garantir essa qualidade. Portanto, pode-se entender como coordenação logística à
busca de padrões no processo de transporte e armazenagem adequado ás expectativas ou
as necessidades de eficiência e responsividade na cadeia produtiva.
Conforme Kotler e Armstrong (2003) as empresas devem, além de aprimorar a
sua logística, trabalhar com outros membros do canal para aperfeiçoar a distribuição do
canal como um todo. Hoje as empresas competitivas coordenam suas estratégias de
suprimento e constroem sólidas parcerias com fornecedores e clientes com o intuito de
melhorar o atendimento ao consumidor e reduzir os custos do canal.
Portanto a Gestão da Cadeia de Suprimentos busca ser eficiente e eficaz em
relação aos custos ao longo de todo o sistema, através de uma abordagem sistêmica.
Dentro dessa ótica se torna interessante o estudo da gestão da cadeia de suprimentos
para definição de mecanismos de transação, para cadeias produtivas, principalmente
para as cadeias agroindustriais. Esse tipo de cadeia, por se tratar de cadeias alimentares,
evolui ao longo do tempo, agindo de acordo com a demanda do cliente e a capacidade
de fornecimento do produtor. A busca dessa sintonia é exatamente o que a gestão de
cadeias de suprimentos objetiva.
32
2.3 SISTEMA AGROINDUSTRIAL
Essa seção tem como objetivo, primeiramente esclarecer o que é o Sistema
Agroindustrial em si, e diferenciá-lo das outras formas de organização na agropecuária,
assim como entender como a coordenação dessas cadeias produtivas serve para se
sustentar diante da competitividade global, definindo suas formas de governança.
2.3.1 Visão sistêmica da agroindústria
As atividades agrícolas passam por um intenso processo de modernização,
segundo Reis (2002) o conceito tradicional de economia primária (agricultura),
secundária (indústria) e terciária (serviços), como se fossem estanques e não integrados,
está sendo substituído por uma economia interligada. Os elos incorporam, além do setor
primário agropecuário, o setor a jusante (armazenamento, transporte, processamentos,
transformações, distribuição), caracterizando o agronegócio. Estas relações de
dependência ganharam novas e maiores dimensões com a formulação do conceito de
agribusiness que deu origem aos complexos agroindustriais.
Filho e Figueiredo (2004), descreve o Complexo Agroindustrial (CAI), também
denominado como Sistema Agroindustrial (SAI), como o conjunto formado pela
agricultura e as atividades que se estabelecem à montante e à jusante dela. Sendo
resultado da fusão ou integração de capitais intersetoriais que investem na indústria de
insumos e de bens de produção para a agropecuária e na indústria de processamento
para o mercado interno e para exportação. A formação de um complexo agroindustrial
exige a participação de um conjunto de cadeias de produção, cada uma delas associada a
um produto ou família de produtos. Batalha e Silva (2001) consideram que o SAI é
composto por seis conjuntos de atores: 1- agricultura, pecuária e pesca; 2- industria
33
agroalimentar; 3- distribuição agrícola e alimentar; 4- comercio internacional; 5-
consumidor; 6- industrias e serviços de apoio.
A constituição do complexo agroindustrial brasileiro teve impulso no final da
década de 60, com uma série de medidas adotada pelo Estado para a modernização da
agricultura, seguidas pela urbanização e ampliação das atividades industriais e de
serviços que, aumentaram a demanda interna por produtos agropecuários
industrializados (FILHO; FIGUEIREDO, 2004).
A maioria dos produtos agroindustriais comercializados são denominados
commodity, isto é, produtos padronizados, que não variam consideravelmente em
termos de qualidade, e de oferta abundante. Segundo Azevedo (2001) para que uma
mercadoria possa receber essa qualificação é necessário que ele atenda a pelo menos
três requisitos mínimos: padronização em um contexto de comércio internacional;
possibilidade de entregas nas datas acordadas entre comprador e vendedor e
possibilidade de armazenagem ou de venda em unidades padronizadas.
Segundo Alencar (2001) o complexo agroindustrial é representado pelas forças
sociais, econômicas e políticas dos agentes que integram um dado complexo e pela ação
do Estado por meio das políticas públicas e de suas agências ao estabelecer relações
particulares com os agentes que integram o complexo. A definição de agribusiness
envolve todas as instituições que afetam a coordenação dos estágios sucessivos do fluxo
de produtos, tais como instituições governamentais, mercados futuros e associações do
comércio, podendo ser verificadas na figura 01.
Nesse contexto Michellon apud Farina e Zylbersztajn (1992, p. 23), menciona
cadeia produtiva como: “um recorte dentro do complexo agroindustrial mais amplo que
privilegia relações entre agropecuária, indústria de transformação e distribuição, tendo
como foco um produto definido”. No CAI é estudada a lucratividade, estratégia das
34
corporações, estabilidade de preços e adaptabilidade das cadeias para a avaliação do seu
desempenho.
Figura 01: Articulação intersetorial Fonte: Alencar (2001)
Uma cadeia de produção agroindustrial, ao contrário de um complexo
agroindustrial, é definida a partir da identificação de determinado produto final. “Após
esta identificação, cabe ir encadeando, de jusante a montante, as várias operações
técnicas, comerciais e logísticas, necessárias a sua produção” (BATALHA; SILVA,
2001, p. 34). Conforme os autores, em uma cadeia de produção agroindustrial, podem
ser visualizados no mínimo quatro formas diferentes de comercialização: mercado entre
os produtores de insumos e os produtores rurais, mercado entre produtores rurais e
agroindústria, mercado entre agroindústria e distribuidores e mercado entre
distribuidores e consumidores finais.
A indústria processadora é fortemente influenciada pela produção primária e por
todas as forças que atuam no complexo agroindustrial. Os padrões de produção, no que
se refere a tipos de produtos, exigências sanitárias, qualidade e homogeneidade da
matéria-prima e ainda regularidade de sua entrega, impõem um perfil tecnológico à
produção que deve ser seguido pelos agricultores, o que significa uma retro-injeção de
influência. Tem-se, assim, uma interação de duplo sentido que é responsável por
Setor Financeiro
Estado
Setor a montante Agricultura Setor a jusante
35
avanços tecnológicos de processos e de produtos, tanto na produção primária quanto no
processamento.
Há condicionantes específicos a cada cadeia que podem estar associados tanto às
características tecnológicas do processo produtivo, quanto à dinâmica dos mercados
consumidores. A competitividade de uma empresa está relacionada a competitividade
do sistema no qual ela está inserida, portanto isso vai provocar alterações na maneira de
a empresa tomar e conduzir suas decisões estratégias e táticas. O problema, explica
Batalha e Silva (2001), é encontrar mecanismos, públicos e privados, que auxiliem na
operacionalização da coordenação da cadeia agroindustrial.
2.3.2 Coordenação das cadeias dos sistemas agroindustriais de alimentos
A noção de sistema abriga a idéia de organicidade na busca de um resultado e se
organiza a partir de cadeias produtivas. Para Souza (1999, p. 70): “A abordagem do
agronegócio sob o aspecto sistêmico implica na organização dos componentes para que
os objetivos comuns possam ser efetivamente atingidos”. De acordo com o autor a
forma de relacionamento pode definir as condições de fornecimento, garantias mútuas e
recursos necessários para impulsionar a produção da matéria-prima nos padrões
exigidos.
Nesse sentido, pode-se dizer que são nas formas de gerenciamento das
organizações e em suas formas de relacionamento com os elementos da cadeia de
produção em que está inserida que estão ocorrendo as principais mudanças na industria
de alimentos. Apesar da análise sistêmica ser muito discutida teoricamente para tratar
dos negócios agroindustriais, a sua prática é muito difícil. Esta dificuldade pode ser
atribuída, conforme Farina e Zylbersztajn (1992), aos conflitos entre seus vários
segmentos: fornecedores, processadores, consumidores e órgãos públicos.
36
Uma empresa agroindustrial é extremamente dependente de seus fornecedores
de matéria-prima, em termos de tempo, quantidade, e qualidade certas, para atender
corretamente as exigências dos consumidor. A falta de matéria-prima ou a algum
problema provocado por alguma irregularidade, afeta profundamente a industria e a sua
atuação no mercado, principalmente no mercado internacional. Segundo Farina e
Zylbersztjan (1992, p. 198):
[...] quanto maior importância for atribuída a características específicas do alimento, e quanto mais estas características estejam associadas à matéria-prima e não ao processamento industrial, tanto maior será a exposição da agroindústria ao comportamento oportunista de fornecedores.
O oportunismo caracteriza a procura do favorecimento do interesse próprio
(ZYLBERSZTAJN, 2000). Neste sentido, pode-se dizer que, uma das formas
comportamento oportunista ocorrido é o fato de um fornecedor estar desviando sua
produção para outras empresas e mercados, procurando obter preços melhores por seus
produtos, sem se preocupar com relacionamentos de longo prazo. Isso ocorre muito nas
cadeias agroindustriais, pois geralmente não são efetuados contratos formais entre os
fornecedores, pelo fato das negociações serem feitas com base no mercado, verificando
alterações principalmente na economia. De acordo com Farina e Zylbersztajn (1992)
para garantir o abastecimento adequado, a empresa pode recorrer à integração vertical,
aos contratos de fornecimento formais e informais, ou ao mercado.
Em um sistema agroindustrial, em que a incerteza quanto à obtenção de matéria-
prima em quantidade e qualidade consistente e regular se apresenta como importante
fator influenciador de competitividade, a integração vertical se torna uma alternativa
utilizada pelas empresas agroindustriais, como forma de garantir uma parcela da
matéria-prima necessária para manter o processo produtivo em funcionamento
(FARINA; ZYLBERSZTAJN, 1992). Entretanto, para garantir a competitividade da
empresa, a adoção deste mecanismo deve ser amparado em interesses coletivos.
37
Mas a competitividade global de uma empresa não depende apenas da eficiência
produtiva, isto é, do relacionamento com os fornecedores e agentes internos da empresa,
depende profundamente da sua eficiência na comercialização de seus insumos e
produtos. Segundo Azevedo (2001) são exemplos de mecanismos de coordenação:
mercado spot, contrato de suprimento regular, contrato de longo prazo com clausulas de
monitoramento, integração vertical, entre outros.
De acordo com esse autor produtos tipo commodity vai depender da incerteza da
transação, esse tipo de produto são mais eficientemente comercializados através de
mecanismos de mercado, e os mais usados são o mercado spot ou de futuros. Já os
produtos sensíveis a variação qualitativa e sujeitos a comercialização regulares são mais
eficientemente comercializados através de contratos de longo-prazo. Portanto, para se
determinar o meio de comercialização mais eficiente é necessário analisar o produto em
si, os elementos da demanda e da oferta dos produtos.
Quando se utiliza a forma de governança mercado, refere-se ao Mercado Spot.
Esse tipo de comercialização é tipicamente esporádico, ou seja, um tipo de mercado
cujas transações se resolvem em um único instante do tempo. Mesmo havendo repetição
da relação de transação, não há obrigatoriedade de compra futura. Esse tipo de
governança apresenta uma alta dose de incerteza no que se refere ao comportamento dos
preços, por esse motivo o mercado spot isoladamente não é um mecanismo adequado
para diversos tipos de transações. Nesse caso outros mecanismos de comercialização o
substituem ou complementam-no, entre eles o de maior importância é o mercado de
futuros (AZEVEDO, 2001).
No Mercado de Futuros as transações são padronizadas e simplificadas. Os
contratos de futuro especificam apenas o período para entrega, o lugar e objeto
transacionado; de modo limitado. Esse tipo de comercialização reduz problemas
informais e elimina as especificidades da relação contratual (Azevedo (2001). O autor
38
descreve, ainda, sobre os contratos de Heding, que são formas de mercado futuro, e
trata-se de uma estratégia de redução de risco que consiste na realização da operação
que exatamente neutraliza a especulação implícita a um negócio qualquer.
O mercado a termo é outra forma de comercialização de commodities. Trata-se
de um contrato em que as partes comprometem-se com obrigações futuras, apresenta
grande flexibilidade e pode acomodar o interesse das partes, mas não constroem relação
de longo prazo. O problema é que há o risco do não cumprimento dessas obrigações.
Conforme Azevedo (2001, p. 72): “A quebra de contrato pode decorrer de problemas
aleatórios, como quebra de safra, ou atitude oportunista por parte do agricultor, que
pode preferir revender seu produto a uma terceira pessoa, arcando com o ônus da perda
de reputação”.
Já o contrato preserva a autonomia das firmas, garantindo uma relação de
dependência, contratos possuem mecanismos administrativos que possibilitem evitar a
incerteza comportamental, ou seja, evitar o ambiente de racionalidade limitada sujeita a
ações oportunistas desses fornecedores, minimizando custos de produção e transação. É
uma forma intermediária entre o mercado e a integração vertical. Farina e Zylbersztajn
(1992) descrevem que as sua forma e conteúdo são definidos para tratar dos conjuntos
de riscos e incertezas, aqueles que podem ser previstos, e aqueles associados ao não
cumprimento do contrato.
As empresas procuram se garantir através de contratos formais e informais.
Contratos formais prevêem multas para o não-cumprimento de prazo e quantidade de
entrega. Farina e Zylbersztajn (1992), citam como exemplos de contratos formais,
contratos de longo prazo, leasing, licenciamento, franchising, contratos de parceria
rural. De acordo com os autores os arranjos contratuais representam as atividades da
firma com o meio externo, garantindo o cumprimento de uma conduta, o procedimento
e o tempo desejável pela empresa.
39
Para Azevedo (2001, p. 84): “Um contrato de longo prazo pode oferecer
garantias as partes de que o fornecimento (ou aquisição) das mercadorias se dará dentro
de padrões estipulados contratualmente”. O fornecimento geralmente é variável, mas o
contrato apresenta mecanismos que estipulem o fornecimento em bases regulares.
Freqüentemente as partes fazem um acordo comercial sem prazo para término, o que
define seu caráter de longo prazo.
Em alguns casos, é importante assegurar a regularidade do suprimento de um
produto, principalmente no caso de produtos perecíveis, porque a estocagem não é
viável por um período longo. Como forma de realizar ganhos de produção, e para
aproveitar mais eficientemente os investimentos feitos em máquinas e instalações
(AZEVEDO, 2001).
Muitas empresas do sistema agroindustrial formulam apenas contratos informais
baseados em relacionamento a longo prazo, construídos com base na confiança, com os
elos da cadeia de produção em que se insere para garantir o fornecimento da matéria-
prima necessária para a sua produção e a comercialização do seu produto pronto para o
mercado. Isso pode ser explicado pelo comportamento cultural, tanto do processador
quanto do produtor. “Esses acordos muitas vezes são verbais o que dificulta a adoção de
penalidades para o descumprimento, mas não descaracterizam sua característica de
longo prazo” (AZEVEDO, 2001, p. 83). Todavia, quando se fala em mercado
internacional, mecanismos de contratos formais, que garantem um compromisso entre
todos os segmentos da cadeia são especialmente importantes, dado que a concorrência é
mais intensa e a preservação de clientes é fundamental.
Farina e Zylbersztajn (1992) descrevem, ainda, que dentro do sistema
agroindustrial, existem os riscos e incertezas associados às condições naturais não
controláveis, e ao esforço dispendido pelos produtores no sentido de abastecer a
40
indústria com a matéria-prima de quantidade, qualidade e regularidade de que a
indústria necessita.
Segundo Azevedo (2001, p. 69): “A comercialização de produtos agroindustriais
necessariamente subordinam-se ao comportamento sazonal da oferta agrícola”. Por
sazonalidade entende-se a concentração da produção em algumas épocas do ano, pois a
sucessão de safras e entressafras decorre da natureza biológica da produção. Essa
característica da produção agrícola é um determinante fundamental do comportamento
do preço da matéria-prima utilizada para a produção, e, conseqüentemente, no produto
final. Portanto, pode-se dizer que, conciliar a demanda com uma oferta agrícola que
flutua sazonal e aleatoriamente é o principal desafio da comercialização de produtos
agroindustriais.
Dentro deste contexto, detectam-se várias outras formas de risco que estão
sujeitas as cadeias agroindustriais. Uma dela é a imagem do País no mercado externo e a
atuação econômica interna deste e a economia global, afetam o desempenho da cadeia
produtiva como um todo.
A produção de produtos agroindustriais está sujeita a ação de políticas públicas,
para a redução de riscos associados a atividade agrícola e o conseqüente estímulo a sua
produção (AZEVEDO, 2001). A atuação do governo tem extrema importância para a
coordenação do Sistema Agroindustrial, ele passa a ser um regulador das cadeias
produtivas. A imagem negativa do País prejudica a empresa no mercado externo, por
isso o Estado se torna responsável por coordenar a cadeia para garantir que os
produtores e processadores produzam produtos de qualidade para garantir a segurança
alimentar dos consumidores.
Azevedo (2001) afirma que o governo assume a responsabilidade pelo
estabelecimento da infra-estrutura e de transportes necessário para a competitividade
das cadeias produtivas, e são responsáveis em parte pelo custo final dos produtos
41
agroindustriais. Segundo o autor o sistema de transportes é muito importante para os
produtos agroindustriais, devido a perecibilidade e alta relação peso valor desses
produtos. O sistema de transporte é um fator de competitividade no mercado
internacional, para atender esse mercado, um sistema de transporte mais eficiente pode
reduzir os custos das mercadorias. A infra-estrutura é especialmente relevante porque
determina, em ultima análise os custos para deslocar o produto da área de produção até
a área de consumo, incluem-se os custos de movimentação de mercadoria, assim como
custos de embarque e desembarque.
O Estado, também, se torna responsável pela regulamentação de aspectos
sanitários dos produtos, a fim de garanti a saúde dos consumidores. Conforme Azevedo
(2001, p. 93): “As regras de controle sanitário disciplinam a comercialização de
produtos agroindustriais, impondo restrições as quais a empresa tem de submeter-se”.
Essas regras são de vital importância para a elevação da competitividade do produto no
contexto do comércio internacional.
O setor agroalimentar está muito vulnerável a doenças, o que prejudica a
produção e a venda para os consumidores. Se não investir corretamente dando apoio
aos produtores e processadores, podem ocorrer focos de doenças que vão prejudicar a
imagem do País. Um único foco de doença ocorrida em alguma parte do país prejudica a
imagem de todos os estados, mesmo esses tomando as providencias necessárias para
não ocorrer a contaminação. Os países exportadores vão fechar suas barreiras para o
país como um todo com medo de prejudicar a saúde dos seus consumidores. Isso pode
ocorrer por alguma negligencia do Estado ou falta de políticas intervencionistas e
auxiliares no setor. Se não existir uma coordenação eficiente de todo o sistema, de nada
vale o esforço dos processadores por um controle de qualidade.
42
2.4 CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA
2.4.1 Panorama brasileiro da carne bovina
Atualmente a pecuária de corte passa por processo de modificações em todo o
mundo. Crescimento na produção mundial, aumento do consumo de carnes, maior uso
de tecnologias na produção, melhoria genética dos rebanhos e preocupação cada vez
maior com a segurança alimentar são fatos marcantes no atual cenário.
A produção global de carne bovina em 2004 atingiu 62,2 milhões de toneladas.
A participação dos países em desenvolvimento na produção global aumentou em 2004,
atingindo 54%, 10% a mais do que há 10 anos. A previsão para 2005 é de que a
América do Sul atinja o maior crescimento na produção, ao redor de 5%, onde deverá
atingir 31 milhões de toneladas (MEZZADRI, online, 2005).
Dentro do cenário mundial, o Brasil é um dos países que mais possui condições
de expandir seu rebanho, pois, possui área territorial extensa, água abundante,
diversidade de clima, favorecendo a criação de diversas raças possibilitando vários
cruzamentos além da grande variedade de espécies forrageiras. A estes fatores, se
acrescem a difusão cada vez maior de técnicas e bom nível genético dos animais,
elementos condicionais para aumentar a produção por área.
O Brasil, atualmente, possui o maior rebanho comercial do mundo com 195
milhões de cabeças, segundo dados do IBGE (online, 2005). Esse País ocupou a
segunda posição entre os países produtores e assumiu a liderança mundial na quantidade
exportada, com 1,1 milhão de toneladas. A produção total de carne é de 5.820.000
toneladas, sendo que 5.770.000 toneladas estão destinadas ao mercado interno, com um
consumo per capita de 36,0 Kg/ano. A produção brasileira de carne bovina, em 2003,
foi de 7,40 milhões de toneladas. A pecuária de corte é uma das explorações
43
agropecuárias mais significativas, tanto na geração de receitas internas, como na pauta
de exportação. A receita cambial foi de US$ 1,4 bilhão (SEAB, online, 2005).
O segmento bovino (carne, couro, peles, calçados e lácteos), segundo o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, representa o terceiro
complexo do agronegócio brasileiro, com mais de 3 bilhões de dólares exportados em
2002. Os números da pecuária brasileira impressionam pela sua magnitude, envolvem
220 milhões de hectares de pastagens, 1,8 milhão de propriedades, sete milhões de
empregos, 700 empresas industriais de processamento, 100 de armazenagem e 55 mil
pontos de comércio varejista (MEZZADRI, online, 2005).
O abate de bois foi, no primeiro trimestre de 2005, de 2,953 milhões de cabeças.
O abate de vacas foi de 2,543 milhões e de novilhos de 986,628 mil unidades (SEAB,
online, 2005). Os estados que mais abateram bovinos foram: São Paulo, Mato Grosso
do Sul, Mato Grosso e Goiás. Na região Norte, destaque para o estado do Pará.
O Estado do Paraná, dentro deste contexto, ocupa a sétima posição, com um
rebanho bovino representado por 10.240.484 cabeças, ou seja 5,25% do rebanho
nacional. Os bovinos de corte no Paraná, representam cerca de 70% do rebanho total, ou
seja, ao redor de 7.168.338 cabeças, com 114.286 produtores envolvidos (MEZZADRI,
online, 2005). No Paraná, nas médias e grandes propriedades, os sistemas de produção
de bovino de corte predominantes são os de cria, cria recria, cria recria e engorda.
A pecuária paranaense está distribuída aproximadamente em 216.000
propriedades, com rebanho dividido em animais leiteiros (20%), de corte (70%) e
mistos (10%). Na região Norte e Oeste do Estado encontram-se, em maior número
rebanhos formados por animais zebuínos, especialmente o nelore e seus cruzamentos, já
no Sul, predominam as espécies de origem européia. (MEZZADRI, online, 2005).
44
Quadro 01: Percentual regionalizado Distribuição do Rebanho, Valor Bruto de Produção (VBP) e distribuição das plantas industriais do Estado do Paraná.
Região N° de cabeças de gado
VBP Plantas industriais
Noroeste 36 % 30,6 % 57 %Norte 23 % 30,6 % 25 %Oeste 16 % 3,0 % 6 %
Sudoeste 9 % 11,3 % 3 %Sul 16 % 14,6 % 9 %
Fonte: Mezzadri, online, 2005
A prática da criação extensiva, isto é, criação a pasto, ainda é dominante no
Brasil, porém também existem confinamentos (animais concentrados no cocho) e semi-
confinamentos (animais permanecem no pasto, sendo fornecido concentrado específico
complementar), entretanto, são mais custosos do que o sistema de produção a pasto.
O Estado conta ainda com uma vasta quantidade de matéria-prima, conforme
(MEZZADRI, online, 2005), o Paraná, conta com uma área de aproximadamente 6,7
milhões de hectares destinados a pastagens: cerca de 1,4 milhões de Hectares (Ha), são
formados por pastagens nativas e 5,3 milhões de Ha por pastagens cultivadas. Os
pecuaristas além de criar seus rebanhos bovinos principalmente a pasto, ainda tem a
vantagem e a facilidade de utilizar em grande escala, “subprodutos” das culturas
vegetais, como o trigo, o soja, o milho, a mandioca e a cana-de-açucar, possibilitando
que mesmo os animais produzidos em confinamento, recebam uma dieta equilibrada,
totalmente natural e principalmente sem o uso de resíduos de origem animal, fato de
importância extrema, para a segurança alimentar e para a comercialização interna e
externa do produto
Com a escassez de chuva a quantidade de alimentação para o gado reduz
consideravelmente, causando a perda de peso para o gado. Portanto a bovinocultura é
considerada uma atividade sazonal, e tem seu pico de safra durante o mês de outubro
quando as chuvas são abundantes. Como conseqüência o preço desses insumos varia ao
longo das estações do ano. Como a entrada da seca encarece a manutenção dos animais
45
a maior parte dos produtores começam a desovar seus rebanhos, nos meses que
antecedem o inverno e durante a estação. Segundo (MEZZADRI, online, 2005), esta
prática ocasiona uma grande oferta de animais no mercado nestas épocas, com
conseqüente queda no preço da arroba. Passado este período crítico, com a chegada da
primavera e com a renovação e restabelecimento das pastagens, os pecuaristas passam a
segurar seus animais no campo, diminuindo a oferta de animais no mercado, fazendo
com que os preços da arroba se elevem. O fenômeno da safra e entressafra impossibilita
um fluxo contínuo de exportação, pois quando o preço aumenta na entressafra retira-se a
competitividade de preço no mercado externo. Para manter o seu nível de produção
algumas empresas passaram a premiar aqueles que vendem seus produtos fora da safra.
2.4.2 Caracterização da cadeia produtiva da carne bovina e seus agentes
Os agentes que movimentam a cadeia produtiva da carne bovina podem ser
identificados a partir da representação gráfica da cadeia proposta por Neves e Machado
(2000). Para estes autores a cadeia parte da integração intersetorial entre as indústrias
fornecedoras de insumos, a produção pecuária bovina em si, as agroindústrias
processadoras e distribuidores. Este trabalho fixará seus estudos apenas nas relações
entre os segmentos fornecedor (pecuarista), frigorífico e consumidor primário. Ressalta-
se para tanto que fazem parte ainda da cadeia produtiva da carne bovina, bancos,
seguradoras, leilões, órgãos de fiscalização, institutos de pesquisa, empresas de
embalagens, empresas de máquinas e equipamentos para frigoríficos, entre outros.
De acordo com Sato (1997) apud Souza, Pereira e Santana (2000) a cadeia
produtiva de carnes envolve a produção de frangos, suínos, bovinos, cortes especiais e
produtos cárneos industrializados. A cadeia produtiva da carne bovina possui
particularidades que a distinguem bem das outras cadeias de carnes. Essa cadeia
46
envolve a obtenção de produtos com características distintas, A carne é considerada o
principal produto do abate bovino que tem como subprodutos principais: pele, sebo,
vísceras e ossos.
Figura 02 – Fluxograma da Cadeia Produtiva da Carne Bovina
Fonte: Neves & Machado(2000).
A carne bovina brasileira além de competir com outros mercados compete
diretamente com a carne suína e a avicultura, existindo, ainda, a competição com
abatedouros clandestinos. Em 2005 a produção de carne suína deverá ser responsável
pela maior parte no crescimento do setor de carnes. Mais difícil ainda será afinar
mudança de padrão de gado para abate, de acordo com mudança nos padrões do
consumidor final. Nesse caso, a triste tendência é uma dificuldade cada vez maior da
cadeia da carne em competir com produtos substitutos, como frango e carne suína, por
apresentar relativa falta de variabilidade e de conveniência dos produtos.
Adicionalmente pode-se ressaltar a inconstância na qualidade e padronização da
Insumos Pecuária Indústria Processadora
Distribuidor
MercadoExterno
Indústria deCouro
Super-mercados
Varejo
OutrosC
O
N
S
U
M
I
D
O
R
47
matéria-prima, aliada a falta de credibilidade de produtores, processadores e
distribuidores (FILHO; FIGUEIREDO, 2004).
A incorporação de novas tecnologias produtivas é bastante diferenciada mesmo
dentro de um mesmo segmento. Os interesses particulares prevalecem sobre o interesse
comum que beneficiaria toda a cadeia. Outras características muito importantes são: a
perecibilidade da carne que influencia todo o processo de abate, processamento e
distribuição e a relação valor/peso que varia de acordo com a localização geográfica da
produção, plantas industriais e distribuição
A cadeia bovina no Brasil se caracteriza, de acordo com Siffert Filho e Faveret
Filho (1998), diversificada e descoordenada. A diversidade se configura na grande
variedade de raças, sistemas de criação, de condições sanitárias de abate e de formas de
comercialização. A descoordenação é estabelecida pela baixa estabilidade nas relações
entre criadores, frigoríficos, atacadistas e varejistas, manifestada pela relação via
mercado (SOUZA; PEREIRA; SANTANA, 2000). Como conseqüência, ocorre redução
de ganhos para todos os segmentos. A industria não valoriza os ganhos de
produtividade, nem a diferenciação na matéria-prima dos produtores.
A cadeia produtiva da carne bovina necessita de mudanças nas relações entre os
integrantes, o sistema da bovinocultura é extremamente individualista, os pecuaristas,
ainda, não experimentam a necessidade de se aglutinarem em cooperativas ou
integração com grandes empresas do setor. A produção e comercialização do bovino de
corte é uma atividade diversificada e desregulamentada. Isso, conforme Prado (2000, p.
53) é decorrente da mentalidade do setor: “grandes inversões capitais em terras e no boi,
atividade secundária, medo de investimentos para modernização do setor, desconfiança
no setor de comercialização, status pessoal, usado como refúgio de impostos, etc”.
O resultado do esforço para um desempenho competitivo através da coordenação
dos elos da cadeia reverte-se a todos os membros da cadeia. Conforme Souza, Pereira e
48
Santana (2000) o produtor é beneficiado com ganhos de produtividade, a industria com
matérias-primas adequadas que exigem menor esforço de produção e conseqüentemente
menor custo e para a distribuição que se beneficia da regularidade, preços adequados
sem intermediação e de produtos com qualidade, sadios e identificados com os anseios
dos consumidores.
No mercado internacional, a carne bovina utiliza, como formas de defesas
concorrenciais, políticas protecionistas praticadas na forma de barreiras tarifárias e não-
tarifárias, são obstáculos para a entrada do produto em outros países, podem ser padrões
de qualidade, padrões de processamento, cumprimentos das especificações sanitárias,
certificados de origem, padrões ambientais e outros. Um sistema de identificação e de
transferência de informações deve integrar a cadeia, partindo, principalmente, do
varejista que vai detectar as necessidades e expectativas do consumidor final. Neste
sentido, a industria deverá desempenhar um papel decisivo de gerador de mudanças,
gerando e repassando informações ao produtor.
2.4.2.1 Fornecedor
O Brasil vêm evoluindo na pecuária de corte em níveis de produtividade e na
difusão, através do uso de tecnologias. O progresso na genética animal e a adoção de
técnicas de manejo, nutrição e sanidade expandiram as fronteiras tecnológicas e
financeiras da criação. Os produtores estão cada vez mais tecnificados e conscientizados
em assegurar a sanidade de seus rebanhos; aumento da qualidade pastagens e
conseqüentemente lotação das pastagens(> 8 cab/ha), rebanhos de alto valor genético.
O setor fornecedor de insumos tem um papel relevante na cadeia produtiva, pois
inicia o processo e é, notadamente, responsável pelo desenvolvimento tecnológico em
toda a cadeia. Mesmo as propriedades menos tecnificadas fazem uso das vacinas
49
obrigatórias e do sal comum e tem gastos de manutenção e, na medida em que a
atividade aumenta a produtividade, conseqüentemente, aumenta-se o consumo de
insumos. Este setor pode ser dividido em três segmentos: farmacêutico, suplementação
alimentar e equipamentos.
Contudo, nota-se que, a produtividade da carne bovina tem crescido
principalmente, pela redução da idade de abate dos animais. Dados da Associação
Brasileira do Novilho Precoce prevêem que o abate de animais mais jovens, (18 a 24
meses) já atinge 4% do abate da produção nacional (SEAB, online, 2005). A redução da
idade de abate gera uma melhor qualidade das carcaças1, o que para Souza, Pereira e
Santana (2000) representa ganhos financeiros para o produtor; aumento de escala, de
eficiência e redução significativa dos custos unitários de produção.
2.4.2.2 Processador
Pereira e Baracat (online, 2004) defendem que o segmento da industria no Brasil
está altamente preparado em termos de instalações, apresentam elevado nível
tecnológico, estando aptas a responder as demandas tanto de aumento de exportação
como de elevação do nível de exigência do consumidor, mas, no entanto, apresentam
elevado nível de ociosidade, isso nas indústrias exportadoras de carne. Desta forma,
para reduzir o problema da ociosidade das instalações e buscar maior eficiência
operacional, Souza, Pereira e Santana (2000), descrevem sobre a gestão da cadeia de
1 “A carcaça, que contém cortes cárneos e a fração óssea, equivale a cerca de 87% do valor do animal abatido (LAZZARINI ET AL., 1995, apud SOUZA; PEREIRA; SANTANA, 2000, P.85). O rendimento de carcaça é determinante sobre o custo de produção e sobre a rentabilidade da atividade de engorda, seja de animais terminados a pasto ou em confinamento. Vários fatores interferem sobre este: grupo genético, grau de acabamento da carcaça, idade, jejum pré-abate e nível energético da dieta. Por exemplo, à medida que o animal aumenta de peso e deposita mais gordura de cobertura, o rendimento de carcaça aumenta.
50
suprimentos, buscando oferta de boi de melhor qualidade e aproveitamento de
benefícios fiscais.
Conforme (MEZZADRI, online, 2005) os frigoríficos dentro do Estado, estão
distribuídos de acordo com a disponibilidade da matéria prima de cada região.
Atualmente no Estado, funcionam 24 abatedouros fiscalizados pelo Serviço de Inspeção
Federal (SIF) e 67 estabelecimentos com Serviço de Inspeção Estadual (SIP). O Estado
do Paraná, atualmente conta com três grandes unidades frigoríficas exportadoras, uma
em Paranavaí e duas na região de Maringá.
Porém, a taxa de produtividade brasileira ainda é pequena diante do potencial de
matéria-prima existente. Prado (2000) considera o fato de que o bovino de corte é
considerado um ativo financeiro de rápida liquidez e com remurações acima de outras
atrações financeiras como uma explicação cabível para o problema acima.
Conseqüentemente, além do preço da carne acompanhar as variações financeiras, o boi
permanece ganhando peso no pasto, o que atrapalha a produção da industria, além de
elevar o preço do produto.
Outro problema da produção de carne é a mistura de animais de diferentes tipos
e categorias de animais, idades, pesos e tipos e qualidade de carcaças nos processadores.
Isso reduz a qualidade do alimento, além de aumentar os custos de produção. Para
alcançar o mercado externo o segmento da industria necessita de aumento da
especificidade do local do bovino para abate, determinando uma necessária adequação
dos frigoríficos as tendências de movimentação espacial dos rebanhos, bem como a
especificidade física da matéria-prima. Desta forma, estes fatores irão determinar o
desmantelamento da transação via mercado, visando a regularidade do fornecimento e
qualidade da matéria-prima (SOUZA; PEREIRA; SANTANA, 2000).
Mas, segundo Prado (2000) a produtividade da carne bovina nacional poderia
ser aumentada, ainda mais, começando com a oferta de animais mais precoces para o
51
abate, pelos produtos, assegurando qualidade tanto em termos do produto principal
como de subprodutos e com a garantia de identificação e valorização do seu produto. E
os frigoríficos, a partir da garantia de recebimento de matérias-prima de acordo com os
padrões adequados de qualidade requeridos, abatendo, desossando e embalando o
produto de acordo com as novas normas. Os supermercados ou distribuidores
assegurando condições de armazenagem e exposição do produto, destaque e integridade
ao mesmo, além de condições de rastreabilidade (SOUZA; PEREIRA; SANTANA,
2000).
Conforme Cavalcanti (online, 2005), a estrutura oligopolista da demanda por boi
gordo que deu aos frigoríficos a força de conter os preços, aumentar as escalas e
introduzir um sistema discriminatório de pagamento em função de características
qualitativas do produto. Segundo ele, quando os frigoríficos definiram as novas tabelas
de preços deveriam ter envolvido os parceiros produtores, pois, sem dúvida teria saído
um tabelamento bastante parecido e eles teriam ficado sem o ônus de pouco cooperativo
ou democrático. O que interessa, no entanto, é voltar aos fatos reais, ou seja, ao atual
desequilíbrio do poder no mercado de animais para abate.
Contudo, os frigoríficos possuem, por enquanto, todo este poder por que o setor
bovino quer vender mais animais do que o mix de demanda nacional e de exportação é
capaz de absorver. Numa economia de mercado, sem estoques estratégicos, seja por
parte de cooperativas ou do governo, o preço se forma no 'spot' do dia. E o frigorífico,
que é prestador de serviço (abate) e agente interlocutor com os diversos elos da cadeia
produtiva em direção ao prato do consumidor, não sentem nenhuma obrigação para
defender preço de nenhum terceiro, seja este o consumidor final ou o produtor da
matéria prima (CAVALCANTI, online, 2005).
52
2.4.2.3 Consumidor Primário
No segmento de distribuição, entende-se os consumidores primários, percebe-se
que seus agentes estão tendo sua importância reconhecida pela posição estratégica que
ocupam na cadeia, pois os agentes que a movimentam fazem o elo de ligação entre os
demais segmentos e o consumidor. Nesta posição, esses agentes podem perceber quais
são as características valorizadas pelos consumidores e ter condições de poder e
liderança sobre o produtor e o fabricante. Os agentes atuantes na distribuição da carne
no setor de varejo são supermercados, casas de carne e açougues com níveis de
tecnologia e profissionalização muito diferentes.
No Brasil, a preferência do consumidor pela compra da carne bovina em
açougues prevaleceu por muitos anos, mas os supermercados estão se tornando os
maiores distribuidores atualmente. Nota-se que o novo perfil do consumidor final está
levando à incessante busca por tecnologias mais adequadas de produção e novas formas
de atendimento para satisfazer, inclusive, às novas exigências quanto ao produto, forma
de apresentação e local de distribuição.
Pereira e Baracat (online, 2004) avaliam o aumento no consumo de carne,
basicamente, pelo aumento populacional, pela melhoria da renda da população e a
urbanização dos povos. De acordo com ele, do início da década de 70 até o meio da
década de 90 o volume de carnes consumida nos países em desenvolvimento já
aumentou aproximadamente 3 vezes mais que nos países desenvolvidos, fazendo com
esses países aumentem a demanda de carnes. Só os países em desenvolvimento deverão
consumir 188 milhões de toneladas no ano 2020.
Os consumidores estão cada dias mais informados, requerem produtos de forma
mais consciente e exigente. Para atender esses consumidores as empresas tiveram a
53
necessidade de maior modernização, adotando novos padrões de qualidade na indústria
e nos rebanhos, o que exige uma coordenação maior de toda a cadeia produtiva.
Conforme Pereira e Baracat (online, 2004) a tendências do consumidor moderno
consistem na preferência por menor teor de gordura na carne, redução no consumo de
carne vermelha e menor teor de calorias total. Os autores consideram, ainda, como
fatores de influencia na aceitação do produto, preço, tamanho da embalagem, cor,
informação, conveniência e preparo, dieta/saúde, tamanho da porção e segurança do
alimento. Animais abatidos mais jovens apresentam carcaças com melhor qualidade,
contem menos gordura e mais maciez, neste caso a solução estaria na conscientização
dos pecuaristas para ofertar esses animais mais jovens para atender a demanda por esse
tipo de produto. Neste contexto, o desafio da cadeia de produção é oferecer um produto
de boa qualidade a um bom preço, aumentando o consumo global da carne, ao mesmo
tempo padronizando a qualidade do produto final.
Haveria, ainda, uma disposição dos consumidores em pagar a mais por maiores
informações, como a procedência/origem do produto e a garantia de que o produto é
seguro, verificada por meio de rotulagem e mecanismos de rastreabilidade. Nesse
sentido, a rastreabilidade deixou de ser um atributo do produto ampliado, constituindo-
se em uma exigência do consumidor ao comprar o produto. A Europa (EU) adquire o
produto carne bovina preferencialmente de fornecedores externos que possuem (ou,
como no caso brasileiro, instituam o mais breve possível) sistemas confiáveis de
rastreabilidade.
Para alcançar esse mercado consumidor as empresas deverão cumprir quatro
condições básicas: segurança higiênico-sanitária, valor nutricional garantido, qualidade
sensorial e o rastreamento do produto até a gôndola do consumidor (PINEDA; ROCHA,
2002, apud PEREIRA; BARACAT, online, 2004). O atendimento aos atributos exigidos
54
pelos consumidores, conforme eles, permeia toda cadeia e envolve a coordenação eficaz
de todos os agente.
A segurança alimentar é um assunto de vital importância, que tem atraído a
tenção dos consumidores. As discussões sobre a falta de regulamentações de segurança
alimentar na cadeia de carne, passaram a ter mais intensidade depois episódio da vaca
louca ocorrido na Europa, após este evento surgiu a exigência de um sistema de
rastreabilidade na cadeia de carne bovina pelos países importadores do produto, em
especial países da União Européia. (PEREIRA; BARACAT, online, 2004). “Exigências
quanto a critérios mais rígidos de fiscalização sanitária e atributos de qualidade,
segurança alimentar, higiene e confiabilidade no produto consumido faz com que a
carne bovina adquira mais especificidade, determinando a ineficiência do mercado na
execução das transações” (SOUZA; PEREIRA; SANTANA, 2000, p. 86).
Ao considerar o aspecto legal da questão, Pereira e Baracat (online, 2004)
observam sobre a dificuldade do governo na fiscalização e repreensão dos agentes que
operam de forma ilegal. Apesar das tentativas do Ministério da Agricultura e
Abastecimento de melhorar a situação da carne comercializada no Brasil, lançando
portarias que exigem embalagem, carimbo de inspeção e outras melhorias, o abate
clandestino ainda é uma realidade.
No Paraná, governo e produtores estão cada vez mais conscientes em vacinar e
zelar pela sanidade dos seus animais. Como há 10 anos não são encontrados registros de
casos da Febre Aftosa, o Paraná é considerado área livre de febre aftosa, isso devido a
campanhas semestrais de vacinação contra a Febre Aftosa, contra a brucelose. Além
disso a SEAB (Secretaria da Agricultura do Estado do Paraná) controla a incidência de
doenças como a raiva e tuberculose, entre outras (MEZZADRI, online, 2005).
O controle sanitário almejado deverá abrir espaço para novos mercados
importadores, porém aumentará ainda mais, a responsabilidade e cooperação dos
55
produtores e de fiscalização por parte de órgãos governamentais, no que diz respeito
principalmente a saúde animal.
2.4.3 Rastreabilidade
Um sistema de rastreabilidade que permita identificar a causa primária de um
problema sanitário diagnosticado em cortes exportados é desejado pela Europa (EU) e
outros mercados consumidores, não bastando, portanto, a identificação de grupos de
produtores ou lotes adquiridos.
A rastreabilidade é a identificação individualizada dos animais e o
acompanhamento da fazenda até o frigorífico, conhecendo e registrando dados sobre a
espécie, sexo, raça, data de nascimento, filiação, sistema de criação e alimentação,
vacinações e exames realizados. Existem diversos sistemas de rastreabilidade que
diferem em complexidade dado os custos de implementar e operar o sistema. Segundo
Cavalcanti (online, 2005) o animal terá identificação dupla, podendo ser adotada uma
das opções: Duplo brinco ( brinco grande + bótom ); o Brinco grande + dispositivo
eletrônico; o Brinco grande + tatuagem; o Brinco grande + marca à fogo
(desaconselhável).
A aplicação da rastreabilidade trará, conseqüentemente, uma maior padronização
do setor e dos produtos, assim como uma melhoria da imagem do mesmo junto ao
consumidor final, o aumento no fluxo de informações, a visualização e conseqüente
melhoria das falhas, permitindo então a melhoria contínua do produto final e o aumento
permanente da satisfação dos consumidores (PEREIRA; BARACAT, online, 2004).
Para atender esses mercados o Brasil está implantando um sistema de
identificação visual, denominado SISBOV (Sistema Brasileiro de Identificação e
Certificação de Bovinos e Bubalinos), que deverá ser concluído até 2007, dado o
56
tamanho do rebanho bovino brasileiro. Este sistema foi instituído pela Instrução
Normativa nº 1/2002, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e regras
adicionais foram definidas com a publicação da Instrução Normativa nº 47/2002
(ALENCAR; ROCHA, 2004).
Mas os custos com o sistema de rastreabilidade têm sido pagos pelos pecuaristas,
que não têm recebido um valor superior do frigorífico. Com as margens apertadas,
ambos criam um ambiente de baixa cooperação, disputando quem deve se
responsabilizar pelo custo adicional.
Este problema está vinculado ao custo da certificação dos animais, considerado,
ainda, muito alto. Segundo Cavalcanti (online, 2005) apenas duas dezenas de
certificadoras2, em todo o país, são credenciadas pelo Governo Brasileiro para prestar o
serviço de cadastrar e certificar o gado de corte. Não há ainda um nível concorrencial
que possa estabelecer um preço de equilíbrio para o serviço, dada a fase inicial do ciclo
deste negócio.
O governo do Paraná está promovendo um Programa Estadual de
Rastreabilidade de Bovídeos, A rastreabilidade será executada por entidades
certificadoras credenciadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento -
MAPA. A Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento - SEAB, do Estado por
meio do Departamento de Fiscalização e Defesa Agropecuária/Divisão de Defesa
Sanitária Animal (DEFIS/DDSA), dispõe da certificadora oficial denominada CERT
SEAB/DDSA.
A Rastreabilidade é obrigatória para animais registrados em associações de raça
e que participam de Exposições e Feiras classificadas como internacionais, nacionais e
2 A entidade certificadora identifica os animais individualmente e registra todos os dados de relevância ao longo de sua vida em banco de dados do seu próprio sistema e também dados das propriedades e proprietários. Supervisiona o registro das informações, o controle das movimentações de animais, o manejo reprodutivo, alimentar, sanitário e a utilização de insumos.
57
interestaduais e de leilões; para os animais destinados ao abate para a exportação à
Comunidade Européia, a rastreabilidade é obrigatória. E os prazos para liberação do
animal cadastrado no SISBOV para o abate destinado à exportação desde maio de 2005,
é de 365 dias. A rastreabilidade passará a ser obrigatória a todos os animais, a partir de
1.º de janeiro de 2006 (CAVALCANTI, online, 2005).
2.4.4 Exportação
O mercado para exportação de carne resfriada e congelada do Brasil, é limitado
pelas Barreiras Sanitárias, que impedem a entrada de carne brasileira in natura nos
principais mercados consumidores de carne bovina: Japão, Coréia do Sul, Estados
Unidos, Canadá e o México. Do total importado pelos 20 maiores importadores
mundiais, apenas 12% é exportado pelo Brasil.
Na União Européia, além das Barreiras Sanitárias, existem problemas de cotas de
importação e subsídios para agricultores locais. Esses países se preocupam com a
presença da febre aftosa no Brasil, pois 20% dos rebanhos nacional estão concentrados
em áreas que ainda não foram consideradas oficialmente livres da febre aftosa, e pela
falta de fiscalização e segurança da cadeia bovina. Os mercados mais nobres são
abastecidos hoje pela Austrália em função das restrições dos paises importadores a
aftosa. Para aumentar a participação nesses mercados, deve buscar que esses
importadores aceitem o princípio da regionalização
Somente países que tem algum sistema de identificação de origem animal
exportam carne para a União Européia (UE). O bloco europeu consegue impor regras ao
mercado internacional porque tem peso relativo na carteira comercial de um grande
número de países, sendo um dos principais importadores mundiais de carne bovina.
Deste modo, determina que a certificação de origem seja obtida com identificação
58
individual do animal, com base de dados informatizada em órgão do governo, e ainda
que seja feito o controle da movimentação de animais.
O Brasil exporta, atualmente, para 104 países, e a expectativa é ampliar o
número de compradores. No ano de 2003, o país tornou-se o maior exportador mundial
de carne bovina, consolidou novos mercados como Egito e Israel, abrindo novas
fronteiras para a comercialização internacional de carnes, difundindo seu produto,
tornando-o mais competitivo e requisitado por possuir aspectos, principalmente
sanitários, necessários e exigidos pelas nações importadoras. A Holanda é incluída entre
os principais países consumidores da carne bovina resfriada produzida no Brasil, sendo
também um dos países responsáveis pela aquisição de grande parte da carne bovina in
natura, ao lado da Itália e do Reino Unido. Verifica-se, portanto a importância do
mercado europeu para as exportações brasileiras de carne bovina (ALENCAR;
ROCHA, 2004).
A Europa Ocidental, principalmente a Inglaterra, Alemanha, Itália e Espanha, e
alguns países do Oriente Médio (Israel e Iraque) respondem por aproximadamente 70%
das importações de carne in natura, enquanto que os Estados Unidos, Inglaterra e a Itália
absorvem mais de 70% da carne industrializada exportada pelo Brasil (PRADO, 2000).
Os países europeus representam, atualmente, cerca de 40% das vendas externas
brasileiras e prevêem crescimento, impulsionado, principalmente, pela valorização da
moeda (Euro), estabilidade do consumo interno e queda na produção local (PEREIRA;
BARACAT, online, 2004).
O consumo de carne bovina durante 2004 totalizou 8,22 milhões de toneladas,
tornando a UE um importador líquido, tendência que deverá continuar durante o período
previsto. Com a expectativa de firme demanda, mas queda na oferta, o consumo deverá
cair levemente para 8,13 milhões até 2012 (PEREIRA; BARACAT, online, 2004). Os
59
preços da carne bovina na UE, que já estão bem acima dos preços mundiais, deverão
aumentar sem um relaxamento nas rígidas barreiras de importação.
Mezzadri (online, 2005) acredita que as expectativas são de que os mercados
mundiais gradualmente começarão a diminuir suas barreiras à medida que os países
alcançarem o status de livre de doença. Entretanto, de acordo com o autor, a ampla
extensão dos fechamentos de mercados e as preocupações referentes à segurança
alimentar entre os consumidores levaram a uma queda inesperada de 2% no comércio
global de carnes em 2004, para 19,1 milhões de toneladas, o primeiro declínio desde o
meio da década de 80.
O problema é que casos de deficiência de segurança na cadeia produtiva da
carne causam grandes prejuízos para a exportação, não só da carne bovina, mas,
também, as outras carnes sofrem embargos a sua comercialização. Em 2004, o país foi
surpreendido por dois casos de “Febre Aftosa”, um no Estado do Pará e outro no
Amazonas. Estes dois fatos resultaram em muita polêmica e principalmente em grandes
prejuízos causados pelos embargos à carne brasileira, que passou a ter sua entrada
barrada nos países importadores (MEZZADRI, online, 2005). Recentemente, em
outubro de 2005 o país sofreu com um caso da mesma doença no estado de Mato
Grosso do Sul.
O fato de muitos Estados brasileiros terem índices de vacinação baixos e
levarem mais tempo para se tornarem área livre de aftosa prejudica o reconhecimento de
países mais exigentes, que exigem que o país inteiro seja livre sem vacinação e não
aceitam a regionalização. A descoberta de focos de aftosa pode prejudicar o Brasil de
maneiras distintas: proibição total das importações de carne bovina brasileira; proibição
das importações de determinadas regiões localizadas próximas aos focos da doença; e a
pressão com relação aos preços de exportação da carne brasileira. Mas o
60
comportamento dos países importadores de carne bovina após o aparecimento do foco
de aftosa no Mato Grosso do Sul foi variado.
A Rússia como apresenta dependência com relação a carne brasileira não pode
barrar as importações do país como um todo, tendo bloqueado apenas as exportações do
MS. Além disso, as importações foram mantidas por questões políticas, devido ao apoio
brasileiro a entrada da Rússia para a OMC. A UE barrou a importação de alguns estados
brasileiros, porém as exportações de carne para a UE não podem ser interrompidas, pois
o bloco depende da carne estrangeira para suprir sua demanda interna - a Europa
apresenta uma deficiência de cerca de 5 a 6% no volume de carne produzido. Além
disso, o Brasil fornece carne a preços relativamente baixos para esse mercado
(ERMITÃ, online, 2005).
Crises e mais crises que, certamente, poderiam ter sido evitadas ou minimizadas
se houvesse maior empenho do setor em realizar um trabalho dedicado e constante de
monitoramento, planejamento e administração das causas e efeitos dessas tantas crises.
Dentro dessa ótica, segundo Ermitã (online, 2005), o Brasil deve trabalhar firme em três
ações que considero de suma importância: I) abertura de mercados; II) marketing
institucional; e III) sanidade animal e vegetal. No caso da logística, o País se encontra
no limite da sua capacidade. Investimentos, nesse setor, tornam-se, portanto,
imprescindíveis.
A carne brasileira ainda não corresponde aos requisitos de qualidade e sanidade
conforme padrões internacionais. Mesmo resolvendo o problema da regularidade da
oferta, ainda resta a problemática da logística que também tem a ver com qualidade,
pontualidade e custos.
Por outro lado, ao analisarmos o vizinho do Brasil no Mercosul, o Uruguai,
extremamente especializado em produção de carne bovina (uma das principais
atividades econômicas do país) e preocupado em aumentar o valor da produção interna,
61
busca através de certificações reconhecidas internacionalmente aumentar a confiança da
carne uruguaia e posicionar o produto de forma diferente, além de desenvolver um
interessante trabalho de posicionamento do país como fornecedor de carne segura,
saudável e saborosa.
O Brasil assumiu a liderança no mercado há apenas 2 anos, mas seu produto
ainda é considerado de baixa qualidade, o preço de venda da carne bovina é um dos
mais baixos do mercado externo e a prática sanitária das indústrias é questionada com
recorrência pelos importadores. Contudo, o elo produtivo da cadeia da pecuária de corte
no Brasil tem passado por muitas transformações ao longo dos últimos anos, isso é bom,
pois uma das premissas do mundo dos negócios é a contínua busca pela inovação e
diferenciação para a conquista de mercados. No caso da carne bovina é necessário que
isto ocorra, caso contrário, as crises serão recorrentes e sempre serão sentidas pelo elo
fraco da cadeia: o produtor.
2.4.5 Governo
Instituições são as estruturas de incentivos e punições de uma sociedade. Elas
são formadas por regras formais (Constituição, leis ordinárias, etc.), por restrições
informais (normas de comportamento, códigos de conduta, convenções, valores,
crenças, costumes, religiões, etc.) e pela forma como estas são cumpridas. Em outras
palavras, instituições são as 'regras do jogo', formais e informais, utilizadas pelas
organizações econômicas da sociedade, ou os seus 'jogadores': empresas, cooperativas,
sindicatos, órgãos de imprensa, ONGs, igrejas, escolas, congressistas, juízes, partidos
políticos e gestores do setor público.
Além dos fundamentos macroeconômicos de curto prazo, o êxito do comércio
exterior depende da infra-estrutura de suporte e da redução das barreiras ao comércio,
62
tanto as impostas pelo País - e que dificultam, por exemplo, a importação de bens de
capital - como aquelas com que deparamos em nossos principais mercados-destino.
Em um recente estudo, O`Shaughnessy & O`Shaughnessy (2000) apud Alencar e
Rocha (2004), indicaram que o capital reputacional de uma categoria de produtos de
uma nação pode influenciar a escolha dos consumidores deste produto. Há, portanto,
coerência na ação do Governo Brasileiro no que tange à medidas que visem o
constrangimento de práticas que possam afetar o desempenho de toda uma categoria de
produtos no exterior.
O Governo tem o dever de desenvolver programas e leis com a finalidade de
estimular o uso de práticas modernas de produção e comercialização, além de ser o
órgão de fiscalização e regulamentação de parte do setor produtivo. No entanto, em
termos de Brasil, não se tem observado grandes acertos do governo junto à política de
comercialização dos bens agrícolas.
O Estado do Paraná vem desenvolvendo alguns Programas voltados à pecuária
de corte, entre eles: Programa “Pecuária de Curta Duração” SEAB/EMATER; Programa
Paranaense de Rastreabilidade e Bovinos e Bubalinos SEAB/DEFIS; Programa de
Produção de Carne e Leite do Paraná, a Base de Pasto FAEP (MEZZADRI, online,
2005).
Falta uma organização do setor da bovinocultura, sem censo agropecuário
razoavelmente atualizado e sem um banco nacional de dados representativo sobre
espécies, raças, especificidades regionais, atores setoriais e informações de mercado não
tem sido possível construir um 'referencial macro' que possa servir como bússola para a
tomada de decisões dos agentes micro-econômicos. Assim, a conjuntura continua
movimentar-se nos tradicionais 'ciclos de oferta' cujas direções e amplitudes
dificilmente se engrenem nos 'ciclos da demanda'. Com isto perpetua-se a problemática
63
do desencontro temporário dos custos de produção e dos preços de produto. Ou seja,
sem ninguém ter culpa direta e sendo que todos são culpados de uma forma ou outra.
Política comercial é a área da política econômica que cuida de discriminações
impostas e recebidas por meio de tarifas aduaneiras, subsídios, salvaguardas, restrições
sanitárias, etc. Atribuir o desempenho de curto prazo do comércio exterior à ação da
política comercial me parece uma postura equivocada e perigosa. Negociações
comerciais produzem resultados a longo prazo, não raro superior a uma década.
Assim, será pelo próprio mecanismo de mercado (que só funciona com alto nível
de transparência e diálogo sobre a combinação mais eficaz dos fatores nas diversas
regiões) que se vai fomentar uma distribuição mais equilibrada de poder. Espera-se que
este esforço resultará (1) em preços mais justos em relação à contribuição efetiva para a
criação de valor do produto final, (2) em custos mais transparentes e, finalmente, (3) na
redução dos riscos de negócio de cada elo da cadeia produtiva de carne.
2.4.6 Estratégias
Como o setor de alimentação tem forte dependência entre os diversos elos da
cadeia, as alianças se tornam uma estratégia eficiente para atender as necessidades
associadas à estratégia de internacionalização das companhias e a demanda dos
consumidores. No caso da cadeia produtiva da carne bovina essas estratégias são
fundamentais para a comercialização, principalmente internacional do produto, e tem
por objetivo qualificar e certificar a carne.
A estratégica de competição privilegia a comercialização de produtos
elaborados, de maior valor agregado, porém o Brasil se destaca como produtor de carne
bovina in natura. Portanto, avanços em base tecnológica e logística de distribuição são
64
fundamentais para que em conjunto com as ações organizacionais possam contribuir
para a competitividade da cadeia (SOUZA; PEREIRA; SANTANA, 2000).
O pressuposto competitivo reside na capacidade de dar ao consumidor condições de rastreabilidade e seleção de produtos. Estas condições permitem a atuação do consumidor na escolha do consumidor, estabelecendo a valorização do produto de melhor qualidade por extensão dos responsáveis por esse diferencial. (SOUZA; PEREIRA; SANTANA, 2000, P. 104).
Para que isso ocorra exige-se ação sinérgica coletiva com a essencial e sempre
difícil organização do setor privado. O desafio maior do nó da qualidade do alimento
começa pela saúde do animal. São inúmeras as questões de qualidade ambiental e
social, bem como o controle territorial e a origem da produção sustentável de alimentos.
A reação dos setores envolvidos na cadeia produtiva da carne bovina deve ser
pressionar o governo por maior verba no orçamento destinado a saúde animal e vegetal.
A carga tributária é imensa e a fragilidade institucional pode ser caracterizada como
fruto das dificuldades do serviço público.
Porém, a coordenação na cadeia de carne bovina no Brasil se caracteriza por
iniciativas individuais. No entanto, iniciativas modernizantes na cadeia e busca de novas
formas de qualificar e certificar a carne bovina começam a se efetivar.
Nota-se, por exemplo, que a sobrevivência (e lucratividade) do frigorífico é
fundamental para a sobrevivência (e lucratividade) do produtor, e vice-versa. Porém, no
histórico das negociações, o frigorífico se preocupava apenas com resultados,
negligenciando o relacionamento. Todavia, algumas reações e associações de
pecuaristas, para mudanças na forma de comercialização (exemplo: transporte de gado
em pé, terceirização ou associações para compra de frigoríficos) podem servir como
alerta para frigoríficos de que cada vez mais será preciso investir em relacionamentos
duradouros com fornecedores (pecuaristas).
Especialistas em negociação afirmam que se deve buscar quatro questões básicas
em uma negociação: metas tangíveis (ex.: valores monetários); metas emocionais ou
65
simbólicas (ex.: percepção de que fez um bom negócio); resultados desejados (ex.:
preço de compra); impactos nos relacionamentos (entre comprador e vendedor)
(ERMITÃ, online, 2005).
No entanto, na maioria das vezes, o frigorífico negocia de olho apenas nas metas
tangíveis e no resultado. Isto é, por estar comprando o item que representa mais de 80%
de sua planilha de custo total, busca comprar esse produto pelo menor preço possível,
parecendo não se preocupar muito com o impacto no relacionamento.
A negociação entre frigoríficos e produtores deveria primar pela importância do
relacionamento. O que determina do peso do relacionamento, é a freqüência das
negociações. Nesse caso busca-se balancear resultado e relacionamento. Infelizmente,
não é o que ocorre hoje na grande maioria das vezes. Os produtores reclamam de
imposição de preços e exigências, que vem piorando com o tempo (ERMITÃ, online,
2005). Apesar disso, segundo o autor, percebe-se uma considerável mudança no
discurso dos frigoríficos, buscando parcerias e acordos de mais longo prazo.
Neste sentido, conclui-se que quando um negociador se vê numa situação ganha-
perde, onde ele é o "perdedor", a tendência é que busque a não repetição dessa
negociação. Portanto, o desgaste do relacionamento entre esses dois elos não permite o
avanço do Brasil a mercados mais exigentes e que melhor remuneram no mercado
externo e interno. Não será possível produzir carne com padrões cada vez mais
específicos (provenientes de animais com padrões específicos) sem que haja
relacionamentos mais duradouros (ERMITÃ, online, 2005).
Por isso Lazzarini et al (1995) apud Souza, Pereira e Santana (2000) descrevem
que as relações entre os agentes da cadeia bovina, exclusivamente via mercado, sempre
foram ruins. A preocupação básica dos frigoríficos tem sido o preenchimento das
escalas de abate, como conseqüência as relações são de conflito com o produtor.
66
Neste contexto, o ideal seria passar da coordenação pelo mercado para contratos
de longo prazo. Segundo Souza, Pereira e Santana (2000) isto propiciará coordenação e
integração da cadeia e benefícios mútuos ao sistema produtivo e ao consumidor,
elevando a produtividade e reduzindo custos ao longo cadeia e estabelecendo a
manutenção da competitividade dos produtos finais. As transações, via mercado, em que
a identidade dos atores tem pouca importância, ainda, passam a tornarem-se
inadequadas em função das mudanças nos atributos valorizados pelos consumidores.
2.4.6.1 Alianças Estratégicas
As alianças são importantes para proporcionaram maior capacidade de
coordenção dos agentes envolvidos no ciclo de produção, funcionando como uma
parceria entre produtores, indústria e varejo; ou até mesmo, segundo Souza, Pereira e
Santana (2000), com o setor público relacionadas, principalmente, a logística de
transporte.
Ao se associar o produtor pode assinar um contrato que o obriga a entregar a
quantidade de produto, com data, local de entrega e padrões de qualidade pré-
estabelecidos. Caso o contrato não seja cumprido, o parceiro paga multas. Dessa forma
o frigorífico garante o fornecimento de matéria-prima a sua operação, diminuindo seus
riscos. Além disso, tem menores custos, uma vez que não precisará de um departamento
de compra de matéria-prima. Quando a empresa tem um número certo de fornecedores-
parceiros e, conseqüentemente, contratos de fornecimento estipulados, a empresa pode
controlar exatamente a oferta de matéria-prima, sua produção e qualidade do produto
final.
Através de uma relação contratual forte e estável, passa a existir uma fidelidade
tanto da parte dos produtores, da empresa, e dos consumidores primários. E o sucesso
67
dessa parceria vai ter grande influencia na lucratividade dos segmentos envolvidos. As
dificuldades da formação de alianças estratégicas podem ser definidas como: falta de
conhecimento do mercado de carne e as dificuldades de se vender uma grande variedade
de produtos oriundos do bovino, comercializados em diferentes mercados e a
governança da cadeia.
De acordo com (MEZZADRI, online, 2005), são exemplos de alianças, no
Estado do Paraná, Aliança Novilho Precoce de Guarapuava e a Carne Qualidade
Identificada (QI), de Paranavaí, pioneiras no Estado. Nestas alianças existe um controle
em todas as fases de produção, o pecuarista produz um produto especial, entregue a
nichos mercadológicos específicos a preços diferenciados, buscando produzir animais
criados de forma ecologicamente correta e que sejam abatidos no máximo aos 24 meses,
produzindo uma carne saudável, com maior sabor e maciez; e os pecuaristas recebem
preços diferenciados e bonificações pela qualidade de seus animais.
2.4.6.2 Programa de Qualidade Nelore Natural (PQNN)
Pedroso e Raggio (online, 2005) relatem, ainda, sobre Programa de Qualidade
Nelore Natural (PQNN), como uma estratégia para expandir e valorizar a carne
brasileira. Pois constatou-se que o melhor caminho para atingir esse objetivo seria a
adoção de um plano de marketing visando ao lançamento de um produto diferenciado,
com a marca da carne, no caso Nelore Natural, que gerasse demanda e agregasse valor à
carne comercializada, beneficiando todos os segmentos envolvidos, inclusive o
pecuarista e, conseqüentemente, valorizando a raça. Portanto, esse programa trata-se da
elaboração de um plano de comunicação para fomentar a valorização da raça Nelore,
sustentada pelo conceito publicitário: “Nelore Natural. Boi de Capim. Carne Saudável”.
68
Conforme Kotler e Armstrong (2003), marca é o signo capaz de distinguir
produtos, mercadorias ou serviços de outros idênticos ou semelhantes. Produto ou
serviço é o que a empresa faz. O que o consumidor compra é uma marca. A marca
identifica o produto e exprime seus valores agregados: funcionalidade, prazer e
simbolismo. É uma idéia visual que possibilita fixação na memória residual, gerando
recall. Os aspectos mais importantes de uma marca são: o poder de síntese, a
originalidade, as possibilidades de desdobramento conceitual e a reprodutibilidade
técnica.
De acordo com os autores, Nelore é a melhor raça para o ambiente tropical e
subtropical, típico do Brasil, apresenta resistência natural a parasitas, elevada
fertilidade, longevidade reprodutiva e rusticidade. Criada a pasto, alimentando-se de
capim e sal mineral, a raça produz uma carne saudável e nutritiva, com baixo teor de
gordura. Sua convivência é pacífica com o meio ambiente, tornando-a ecologicamente
correta.
O PQNN - Programa de Qualidade Nelore Natural é um conjunto de normas e
procedimentos que visam a garantir a conformidade de carcaças bovinas, sistemas de
cria, sistemas de engorda e reprodutores da raça Nelore e tem toda sua organização e
gestão controlada pela ACNB – Associação dos Criadores de Nelore do Brasil
(PEDROSO; RAGGIO, online, 2005). Seu objetivo é fornecer ao mercado carne bovina
com identificação de origem e qualidade controlada, proporcionando maior
transparência e conforto aos consumidores, ou seja, garantir o pleno atendimento da
demanda por carne de qualidade.
É fundamental esclarecer que a carne "Nelore Natural" é um produto de
qualidade controlada pela ACNB, que desenvolveu o projeto através de convênios com
o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que estabelece os
seguintes critérios:
69
A carne é procedente de animais da raça Nelore, criados a pasto, que podem ter
passado por um período limitado de confinamento ou semi-confinamento;
O criador se responsabiliza pela não utilização de ração que contenha qualquer
produto de origem animal e outros produtos proibidos por lei, inclusive
implantes hormonais;
O criador adota as recomendações relativas ao bem estar animal;
Os frigoríficos são habilitados pelo Sistema de Inspeção Federal e previamente
habilitados pela ACNB;
Os estabelecimentos de varejo seguem as normas e recomendações da vigilância
sanitária e preservam a identidade da carne Nelore Natural.
Para a habilitação, como condição básica, o frigorífico deve ser aprovado pelo
Serviço de Inspeção Federal – SIF e passar por uma avaliação prévia de um inspetor da
ACNB. O representante do frigorífico preenche e assina o termo de responsabilidade do
frigorífico em que consta a declaração de que dispõe de condições técnicas e de controle
de qualidade para atender às exigências do programa. Todo o processo é acompanhado
por um técnico capacitado pelo programa.
Os pecuaristas interessados em participar do PQNN devem ser sócios da ACNB e
estarem inscritos no programa. Para tanto, devem preencher o termo de adesão e
responsabilidade, atestando o conhecimento das normas e procedimentos do programa,
assumindo as responsabilidades pelo cumprimento das normas estabelecidas e
autorizando a realização de auditorias feitas pelo corpo técnico da ACNB. Os
pecuaristas devem, ainda, divulgar as recomendações relativas ao bem-estar animal
entre os seus funcionários e prestadores de serviços.
Para que haja crescimento harmonioso no setor, com distribuição de renda entre
os participantes da cadeia, é necessário que todos os elos evoluam, buscando inovações,
adequando os produtos às novas realidades do mercado e garantindo, assim, a ampliação
70
na demanda. Infelizmente, esta não é a realidade da cadeia da carne bovina.
Respaldando nossa análise, segundo estudo do BNDES, as fragilidades do setor
"começam pela mentalidade conservadora de vários participantes da cadeia e terminam
na inadequação das estruturas empresariais. Na cadeia da carne bovina não há, vínculo
entre produtores e indústrias, e isso gera obstáculos à competitividade do produto,
dentre elas destacam-se: ausência de rastreabilidade, subaproveitamento das economias
de escala, descoordenação dos esforços de ajuste e, consequentemente, falta de
segmentação e diferenciação do produto" (BNDES, 1998, apud ERMITÃ, online,
2005).
71
3 METODOLOGIA
Diante dos objetivos, estabelece-se como orientação mais adequada para o
desenvolvimento da pesquisa àquela fundamentada nos pressupostos humanistas,
através da adoção da pesquisa qualitativa. Tal posicionamento leva ao entendimento dos
fenômenos organizacionais sob a perspectiva do comportamento e interação de seus
atores. Destaca-se que a pesquisa de cunho qualitativo envolve a “[...] obtenção de
dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do
pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a
perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo” (GODOY,
1995, p. 58).
Através de uma análise criteriosa dos diferentes tipos de pesquisa, identifica-se
como a mais adequada, para o desenvolvimento do presente trabalho, o uso de um
estudo descritivo exploratório do tipo estudo de caso. Procurou-se, com essa opção,
compreender a manifestação do problema, as percepções e expectativas a ele ligada,
numa base empírica que enfatiza o contexto natural onde o problema se encaixa e
procura vivenciar a multiplicidades de variáveis presentes na situação.
Compreendidos estes procedimentos, como essa pesquisa qualitativa tem
propósito descritivo exploratório, os instrumentos de coleta de dados utilizados serão:
observação direta, análise documental e entrevistas gravadas.
Esse trabalho analisa o sistema de gestão da cadeia produtiva de carnes em dois
frigoríficos exportadores localizados na região Noroeste do Paraná, levantando as
implicações no sistema de produção e nos fornecedores e consumidores primários
caracterizando suas inter-relações. Neste contexto, pretende-se analisar como essa
interação pode tornar-se um fator de competitividade, no sentido de melhorar a
rastreabilidade da carne interna e comercialização no mercado externo, visando tornar a
carne brasileira mais forte no mercado internacional.
72
Nessa perspectiva, a operacionalização dessa pesquisa seguirá as seguintes
etapas: Aprofundamento dos aspectos teóricos envolvendo as estratégias individuais e
os padrões de concorrência existentes nas cadeias agroindustriais; Caracterização da
estrutura organizacional da cadeia em análise; Elaboração dos roteiros das entrevistas
que orientarão o levantamento de informações junto aos entrevistados; Levantamento e
análise das características e impactos do padrão de concorrência e das estratégias
individuais presentes na cadeia, e seu impacto na obtenção de vantagem competitiva.
73
4 ESTUDO DE CASO
Neste tópico são apresentados e discutidos os resultados obtidos por meio de
entrevistas realizadas com base em questionário semi-estruturado aos processadores e
exportadores de carne bovina da região Noroeste do Paraná. Inicialmente apresenta-se o
perfil desses processadores, em seguida, apresentam-se as ações e interações entre os
elos da cadeia produtiva da carne bovina e logo depois serão discutidos os resultados
obtidos. Os questionários estão arquivados em meio eletrônico.
No estado do Paraná existem apenas 3 frigoríficos exportadores de carne bovina,
e todos se localizam na região noroeste do Estado, sendo 2 na cidade de Maringá e 1 em
Paranavaí. Destes 2 pertencem ao mesmo grupo, conseqüentemente possuem as mesmas
políticas administrativas. Portanto, a pesquisa foi realizada em apenas 2 dos 3
frigoríficos. Por uma questão ética, e procurando preservar o nome destes frigoríficos,
neste trabalho serão descritos como Empresa A e Empresa B, e não por seus nomes
reais.
4.1 CARACTERÍSTICAS DOS ENTREVISTADOS
A empresa A está no mercado a 1 ano e 2 meses em Maringá, porém o grupo a
qual pertence já está no mercado a 15 anos. Essa empresa conta, atualmente, com
aproximadamente 450 funcionários, e tem um processamento médio diário de 2000
peças. A capacidade máxima do frigorífico é de 500 cabeças/dia, seriam necessário 500
funcionários, ou seja, 1 funcionário para cada boi, porque existem vários setores que
distribuem os funcionário para chegar no produto final. A quantidade mínima de abate é
de 200 cabeças/dia, menos que isso se torna inviável para o frigorífico, porque os custos
de produção são muito altos.
74
Já a Empresa B conta com um número de 1000 funcionários, e seu
processamento médio diário é de 10000 peças. A capacidade máxima do frigorífico é de
1200 cabeças/dia, mas geralmente são abatidos de 900 a 1000 cabeças/dia. Essa
empresa está no mercado desde o começo deste ano, mas o grupo a qual pertence se
encontra no setor desde 1984.
Tanto a Empresa A quanto a Empresa B só comercializam carne bovina e
miúdos in natura, resfriado e congelado para o mercado externo. A exportação é
formada apenas por cortes de primeira, ex: file e picanha, o restante da carcaça é
absorvida pelo mercado interno.A Empresa A vende o couro do animal, mas somente
para o mercado interno, já a empresa B não comercializa esse tipo de produto.
Os dois frigoríficos negociam seus produtos para o mercado externo com
atacadistas e varejistas, estes são grandes redes de supermercados. A Empresa B revelou
que até agosto desse ano, só podia vender para atacado em seu maior mercado, a Rússia,
porém a partir desse mês foi habilitado a exportar para varejo. Na Europa a maioria é
pra varejo, para supermercados.
4.2 CADEIA DE SUPRIMENTOS
4.2.1 Interação entre processadores e fornecedores
Quando questionado sobre a quantidade de fornecedores a Empresa A não soube
fornecer um número preciso de fornecedores, e justificou que procura fornecedores de
acordo com a necessidade, não trabalham com fornecedores fixos. Neste contexto, para
que nunca falte matéria-prima para a produção, o frigorífico tenta atrair os fornecedores
oferecendo alguma vantagem para conquistá-lo, como melhores preços. Mas afirmou
que tem como fornecedores apenas pecuaristas do Estado do Paraná.
75
De acordo com essa empresa o boi no Paraná está concentrado na mão de
atravessadores, que são pessoas que compram por um preço x dos pecuaristas de uma
determinada região e vendem aos frigoríficos por um preço maior. Geralmente, os
produtores confiam nesses atravessadores e não confiam no frigorífico. Os
atravessadores não são associações, são pessoas particulares que tem escritórios de
compra e venda de gado. A empresa conta atualmente com uma média de 10
atravessadores principais, que comandam o mercado na região do Paraná, mas existem
outros menores.
Já a Empresa B, também, respondeu que só compra gado do Estado do Paraná, e
como nesse Estado a maioria dos fornecedores são pequenos pecuaristas a empresa
conta com um grande número de fornecedores, uma média de 200 fornecedores. Essa
empresa também afirmou contar com pessoas que intermedeiam a compra do gado entre
pecuaristas e o frigorífico, porém não os chamam de atravessadores, e sim de
Intermediários ou Corretores. Atualmente a empresa conta com uma média de 20
intermediários. Para conseguir seus fornecedores a empresa vai a procura, 80% são por
busca por parte da empresa, principalmente na entressafra, mas os pecuaristas também
procuram a empresa.
Em nenhuma das empresas pesquisadas demonstraram a existência de um
processo de seleção de fornecedores. O entrevistado B respondeu que passa para o
pecuarista a condição que deseja o animal e esse é responsável por providenciar o
animal que vai cumprir a exigência do frigorífico. No processador A, também, verifica-
se o mesmo processo, porém apresentaram que os fornecedores já são selecionados a
priori, mas isso devido ao conhecimento que os compradores de gado adquiriram pelo
convívio permanente com alguns fornecedores, por essa relação já da pra saber se o
produto dele é de qualidade ou não. O problema é que o produto desse fornecedor que
investe em qualidade muitas vezes se mistura aos demais animais.
76
As duas empresas responderam que a maioria dos seus fornecedores criam o
animal a pasto, a raça mais abatida, e preferida por eles é o Nelore, porém esse não é um
processo de seleção, abatem também animais de cruzamento industrial. Afirmaram
ainda que os pecuaristas estão abatendo o animal com uma idade reduzida.
4.2.1.1 Modo de transação
Não existem contratos de longo prazo elaborada para negociação com o
pecuarista em nenhuma das empresas, essas se utilizam apenas de contratos informais,
como forma de controle interno. Esses contratos legalmente não tem valor,
conseqüentemente, se um fornecedor vir a cancelar a venda que já havia sido negociada,
a empresa não terá como impedi-lo, obrigando-o a entregar a mercadoria. Não existem
contratos nem com os atravessadores ou intermediadores, todas as negociações de
compra e venda são realizadas com base na confiança, vale a palavra de cada um dos
interessados.
Na Empresa B existem duas formas de pagamento ao fornecedor, a vista no ato
da entrega da mercadoria, ou a prazo, sendo 60% no ato da entrega e 40% em 30 dias.
Neste caso, o valor será baseado no peso da carcaça abatida, depois de tirado o couro e
feita a limpeza, além do valor teto, ou seja, valor pago pela arroba do boi, igual para
todos os pecuaristas. Na Empresa A o pagamento ao fornecedor é realizado apenas
depois que o animal é abatido. Quando o animal é bem tratado o pecuarista terá um
rendimento melhor da carcaça do animal, neste caso receberá 3% a 4% em cima do
rendimento.
Neste contexto, na Empresa A, o fornecedor de qualidade vai ganhar na hora do
abate, com os rendimentos de carcaça. O problema é que o boi de qualidade se mistura
com os outros. Apenas os compradores de couro dentro do frigorífico classificam o boi,
77
e paga um valor diferenciado pelo cuidado que o pecuarista tem com o boi. Mas fora
esses critérios, a empresa não tem mais nenhuma diferenciação de pagamento. O
entrevistado da Empresa B afirmou efetuar pagamento diferenciado em função da
qualidade, porém quando pesquisado mais a fundo descobriu ser apenas por rendimento
de carcaça também.
Existe, também, diferenciação no preço do boi rastreado, esse animal sempre
teve uma diferenciação de R$ 2,00 acima do boi não rastreado. De acordo com os
entrevistados da Empresa A, essa diferenciação não se encontra muito transparente na
empresa, isso porque está vendendo mais para o mercado interno, e este, como já foi
dito, é menos exigente a essa questão da rastreabilidade, mesmo porque este está mais
preocupado com o preço do produto. Quando as exportações aumentam essa
diferenciação se torna visível novamente. Mas afirmam que os consumidores locais se
beneficiam muito pelas exigências internacionais pela rastreabilidade do gado, porque
isso dificulta a clandestinidade da carne bovina, e acreditam que futuramente também
optarão pela rastreabilidade do animal.
4.2.1.2 Rastreabilidade
A Empresa A afirmou que existe uma extrema preocupação com a questão da
rastreabilidade, mas, também afirmou que em termos de qualidade a carne não tem
muita diferenciação, porque todo boi abatido na empresa tem que passar por uma
vistoria, e o que não está de acordo com os padrões dos órgão fiscais é descartado, não
vai para consumo humano. Portanto, assumem que a qualidade da carne não é afetada
pelo rastreamento do animal, porque ele já está pronto para abate, a única diferença é
burocrática. Mesmo assim, a empresa tem uma equipe na empresa responsável pelo
78
processo de rastreabilidade para os pecuaristas, isso porque precisa gerar os documentos
exigidos pelos compradores internacionais.
A empresa B admite que o único auxilio oferecido ao pecuarista é a disposição
de profissionais, como veterinário e zootecnista, para orientar os pecuaristas, mas não
dá nenhum tipo de apoio que envolva recursos financeiros. E a Empresa A fornece o
sistema de rastreamento do boi para o pecuarista, caso esse pecuarista venha a abater o
animal na empresa esse sistema não tem custo, porém se resolver abater em outro
frigorífico será cobrado um valor de R$ 3,50 por animal pelo rastreamento. Isso é uma
forma de fidelizar o fornecedor. Porém, afirmam que na cadeia da carne bovina é cada
um por si, não existe parceria ou fidelidade entre os segmentos nela contidos.
4.2.1.3 Distribuição: indústria/fornecedor
As duas empresas se responsabilizam pelo transporte do animal da fazenda para
o frigorífico. Como isso não tem custo para o pecuarista, encarece muito a carne. Mas
um dos principais problemas é que os pecuaristas do Paraná são pequenos fazendeiros,
isso onera o custo com o transporte, pois a empresa recolhe uma quantidade pequena de
animais em cada ponto.
Na empresa A todo o roteiro de coleta do gado é efetuado pelo encarregado pelo
setor de compras, que monta um roteiro por região e por horário, mas o planejamento é
feito apenas de cabeça. A frota de caminhão é terceirizada, mas não se refere a uma
empresa terceirizada, o frigorífico conta com 20 caminhões agregados, esse pessoal não
tem vínculo nenhum com o frigorífico, podendo sair a hora que quiserem, porém ficam
a sua disposição todo o tempo. Cada caminhão é responsável por recolher o gado de um
pecuarista, e a carga é determinada de acordo com a capacidade do caminhão, mas em
geral os lotes são fechados em 18 bois, lote mínimo. Já a empresa B conta com 50
79
caminhões para a coleta do gado nas fazendas, sendo 70% deles particular e 30%
terceirizado.
As principais dificuldades enfrentadas na coleta do animal seria mais na parte de
negociação com o pecuarista, outros empecilhos seriam as estradas e chuva. Os dois
frigoríficos entrevistados consideraram sua localização estratégica, pois o Estado do
Paraná, principalmente a região Noroeste do Estado, tem matéria-prima em abundancia.
4.2.1.4 Análise: Processador-Fornecedor
Na pesquisa verificou-se que o animal percorre mais de um percurso do
pecuarista até o frigorífico. Detectou-se a presença de um segmento intermediário na
cadeia produtiva da carne, são os atravessadores ou intermediadores, a presença desse
segmento faz com que o preço de compra do animal se eleve, além do pagamento do
real valor da mercadoria as empresas serão obrigada a pagar o lucro desses
intermediadores.
A presença desses segmentos demonstra que não existe nenhum sistema de
parceria ou fidelização dos fornecedores com a empresa, existe uma maior confiança
por parte dos fornecedores nessas pessoas responsáveis por compra e venda de animais
do que nos frigoríficos. Dentro desta ótica, pode-se dizer que a relação entre o
frigorífico e os pecuaristas é totalmente descoordenada, sem cooperação e de alto risco e
incerteza, concordando com os pesquisados na formulação da revisão de literatura, que
a cadeia produtiva da carne se caracteriza por formas individuais de produção. O que
vai de encontro com a afirmação de Siffert Filho e Faveret Filho (1998), quando define
a cadeia bovina no Brasil diversificada e a descoordenada.
Quanto a rastreabilidade, não foi detectada muita preocupação com o sistema,
apesar de responderem o contrário. Apesar de considerarem fundamental para a
80
comercialização essa rastreabilidade não foi considerada como um fator de intervenção
na carne bovina, serve apenas para geração de papéis para atender as exigências do
mercado externo.
Neste contexto, os custos com o sistema de rastreabilidade têm sido pagos pelos
pecuaristas, que não têm verificado um pagamento superior do frigorífico. Portanto,
pode-se considerar que a disponibilização do sistema de rastreabilidade oferecido pela
Empresa A é um meio de fidelização do fornecedor, pois esse vai se sentir obrigado a
abater seu boi nesse frigorífico.
Os consumidores internacionais exigem que a carne bovina adquirida por eles
seja da mais completa qualidade, macia, livre de doenças, e rastreada. Para isso, o
trabalho deve começar no pecuarista, portanto os fornecedores primários (pecuaristas)
dos frigoríficos são, sim, implicados nas exigências feitas por esses consumidores. O
problema é que a indústria não valoriza os ganhos de produtividade, nem a
diferenciação na matéria-prima dos produtores. Não possuem um programa em que
efetua um pagamento diferenciado aos pecuaristas por freqüência de entrega, por idade
do animal, pela qualidade da fazenda, pelo número de animeis entregues. A única coisa
que o produtor recebe a mais pelo primor em sua produção é no rendimento da carcaça,
essa é a única diferenciação encontrada no pagamento. Contudo, no item sobre
pagamento, a Empresa A se destaca por pagar a vista o pecuarista pelo rendimento de
carcaça do seu animal, o que já é uma estratégia para conquistá-lo, apesar disso ser um
custo para a empresa.
Além disso, as empresas não fornecem auxilio financeiro aos pecuaristas para
satisfazer essa demanda, mesmo assumindo que no Estado os pecuaristas são pequenos
produtores e que tem dificuldades para investir em melhoria de qualidade em sua
fazenda.
81
Outro problema verificado na produção de carne bovina é a mistura de animais
de diferentes tipos e categorias de animais, idades, pesos e tipos e qualidade de carcaças
nos processadores. Isso reduz a qualidade do alimento, além de aumentar os custos de
produção. Para alcançar o mercado externo o segmento da industria necessita de
aumento da especificidade do local do bovino para abate, determinando uma necessária
adequação dos frigoríficos as tendências de movimentação espacial dos rebanhos, bem
como a especificidade física da matéria-prima. Desta forma, estes fatores irão
determinar o desmantelamento da transação via mercado, visando a regularidade do
fornecimento e qualidade da matéria-prima (SOUZA, PEREIRA; SANTANA, 2000).
Entretanto, apesar de todos os problemas demonstrados, detectou-se um aumento
da produtividade das empresas, pela redução da idade de abate do animal e aumento do
abatimento da raça Nelore. Todavia, mesmo assumindo que isso é importante para o
sucesso da empresa, os frigoríficos não valorizam e muito menos incentivam os
fornecedores que trabalham dessa forma (redução da idade e seletividade da raça do
animal).
Ficou constatado que não existem contratos de longo prazo com os fornecedores,
as empresas se utilizam apenas dos conhecimentos do mercado como forma de
transação, procurando os pecuaristas de acordo com suas necessidades. Lazzarini et al.
(1995) apud Souza, Pereira e Santana (2000), descrevem que as relações entre os
agentes da cadeia bovina, exclusivamente via mercado, sempre foram ruins. A
preocupação básica dos frigoríficos tem sido o preenchimento das escalas de abate,
como conseqüência as relações são de conflito com o produtor. Tanto os frigoríficos
como os pecuaristas estão sujeitos as alterações no comportamento do consumidor, e
isso aumenta os custos do produto. Como as empresas não oferecem nenhuma
estabilidade para os fazendeiros, para que não falte matéria-prima para a produção, o
82
frigorífico tem que oferecer vantagens para conquistar o fornecedor, como melhores
preços e melhores condições.
A falta de uma organização na cadeia leva os fornecedores a um comportamento
oportunista, por falta de um contrato com valor legal. De acordo com Zylbersztajn
(2000) o oportunismo caracteriza a procura do favorecimento do interesse próprio. O
autor cita como exemplo de comportamento oportunista o fato de um fornecedor desviar
sua produção para outras empresas e mercados, procurando obter preços melhores por
seus produtos, sem se preocupar com relacionamentos de longo prazo, isso foi
verificado nas empresas quando visualizado a presença de outro elo na cadeia, os
atravessadores.
Apesar disso detectou-se a existência de uma relação de longo prazo entre
alguns pecuaristas e frigoríficos, destacando-se apenas o tempo de relacionamento entre
os dois segmentos, e não consideram necessária a utilização de contratos de longo
prazo. Explicam que passando a conhecê-los, vão saber a qualidade do seu animal e vão
adquirindo um potencial grau de confiança com esse. Porém, não definindo uma relação
de fidelidade, também não foi considerada confiável, sendo destacada como dotada de
riscos e incertezas, pois não é possível antecipar eventos futuros nas transações
existentes entre eles. Isso confirma a afirmação de Azevedo (2001), para ele os acordos
formulados entre as duas partes podem ser verbais, isso dificulta a adoção de
penalidades para o descumprimento de uma negociação, mas não descaracterizam sua
característica de longo prazo.
A cultura da empresa conta muito na hora de definir mecanismos de transação.
Como as duas empresas fazem parte de grupos antigos, prevalece o fator confiança, que
não tem muitas exigências na hora de negociar um produto, procuram sempre manter os
mesmos fornecedores e clientes. A idéia de confiança inter-organizações é construída
pela interação repetida entre as organizações.
83
Os produtores são apresentados na revisão de literatura como o elo mais fraco da
cadeia, porém foram apresentados pelos frigoríficos como grandes formadores do
preços, concentram um grande poder de negociação,pois tem o poder de controlar a
quantidade e o valor da matéria-prima. Já os consumidores tem o poder de fazer
exigências quanto ao produto adquirido, porém não podem obter esse produto se os
pecuaristas não estiverem de acordo com eles. Portanto, concorda-se com FARINA;
ZYLBERSZTJAN, (1992), quando afirmam que uma empresa agroindustrial é
extremamente dependente de seus fornecedores de matéria-prima, em termos de tempo,
quantidade, e qualidade certas, para atender corretamente as exigências dos
consumidores.
As empresas não apresentaram adotar em nenhuma ocasião em nem considerar o
fato ou achar viável a integração vertical como forma de governança, apesar de ser uma
forma interessante de garantir uma parcela da matéria-prima necessária para manter o
processo produtivo em funcionamento. Como não utilizam essa forma de governança
seria interessante um sistema de parceria com os pecuaristas principais, pois as
empresas não possuem nenhuma forma de garantia de matéria-prima. Quanto a relação
verificada observou-se que a cadeia produtiva da carne bovina necessita de mudanças
nas relações entre os integrantes, pois o sistema da bovinocultura realmente é
extremamente individualista, diversificada e desregulamentada.
O sistema de transportes é muito importante para os produtos agroindustriais,
devido a perecibilidade e alta relação peso valor desses produtos. Para melhorar a
eficiência a gestão da cadeia de suprimentos as empresas utilizam esquemas de
terceirização que possibilitam agilidade e redução de custos, assim reduzem seus
investimentos em ativos para distribuição e coleta do produto. As empresas utilizam em
sua maioria veículos terceirizados, e são responsável pela coleta e distribuição do
84
produto. Isso aumenta os custos, porém é um fator que causa dependência dos
fornecedores e consumidores.
Entre os fatores que influenciam o custo do transporte estão a distância e o
volume. As duas empresas se responsabilizam pelo transporte do animal da fazenda
para o frigorífico. As empresas estão bem localizadas, pois é na região Noroeste do
Estado onde se concentram o maior número de pecuaristas, isso dentro do Paraná. O
problema identificado é a maioria dos pecuaristas são pequenos fazendeiros, isso
aumenta os custos com o transporte, pois tem que atender mais propriedades com menos
animais. Todavia, as empresas utilizam bem os seus meios de transporte, solicitam um
lote mínimo para recolher o animal. De acordo com Alves (2001), os custos de
movimentação diminuem à medida que o tamanho unitário de carga aumenta.
4.2.2 Interação entre processador e consumidor primário
Os dois frigoríficos possuem basicamente os mesmos consumidores, podendo
ser visualizado no Quadro abaixo. A Empresa A afirma que seu principal mercado
internacional a Europa Ocidental3, e considera esse mercado como o mercado
consumidor que tem maior perspectiva de vendas. Já a Empresa B considera a Europa
Oriental o seu maior mercado consumidor, pois é onde está localizada a Rússia, o seu
maior comprador, pois 70% da sua exportação é para a Rússia. Considera, ainda, que
este País é o que tem maior perspectiva de crescimento, por conter barreiras mais
flexível.
O Mercosul é o responsável pelo comércio das duas empresas na América do
Sul, mas ambas indicaram comercializar apenas com os Países Peru e Chile. Nenhuma
das empresas comercializam com a América Central, Oceania e América do Norte, pois
3 Para melhor entendimento, dividiremos a Europa em dois hemisférios, Europa Ocidental e Europa Oriental.
85
esses mercados estão fechados para a carne brasileira. As empresas responderam não
comercializar para a América do Norte, pois esse mercado consome, em sua maioria,
carne industrializada, e elas comercializam somente carne resfriada e congelada in
natura. Porém esse fator cultural não é o único empecilho para a comercialização do
produto, pois nesse mercado é expressamente proibido a entrada de carne brasileira in
natura.
Países Empresa A Empresa BÁfrica x x
África do Sul x xAmérica Central
América Do NorteAmérica Do Sul x x
Ásia xEuropa Ocidental x xEuropa Oriental x x
Oceania (Austrália)Oriente Médio x x
Quadro 02- Mercados Internacionais Atendidos pelos Processadores
As duas empresas afirmaram que as principais barreiras encontradas para
atender esses mercados internacionais, principalmente a Europa, são as exigências com
qualidade. Mas não concordam que essas barreiras sejam impostas por defesas
concorrenciais, políticas protecionistas. Pois acreditam que cada País faz suas
exigências de acordo com os padrões exigidos pelos consumidores finais e pela
legislação do país.
Os consumidores internacionais como forma de verificar se a empresa que
pretende negociar está apta a atendê-los, envia uma missão, formada por profissionais
que irão investigar todas as instalações da indústria, desde a parte administrativa até o
final da produção, passando por instalações sanitárias, como vestiários, banheiros,
refeitório e etc. Em geral cada País tem sua missão, mas existem alguns Países, como no
86
caso da Europa, que seguem as mesmas normas, nesse caso vão seguir as determinações
de apenas uma missão.
Portanto para atender esses mercados, a principal medida que as empresas
procuram adotar é a suprema busca de qualidade. A Empresa A afirma que os países
menos exigentes por qualidade também serão beneficiados com produtos melhores, pois
geralmente a empresa segue o mesmo padrão de qualidade para todos. É claro que não
seria o mesmo produto, por exemplo, de um traseiro se tira dois tipos de carne, uma vai
para a Europa e a outra para a África, mas as duas partes saíram do mesmo boi que
estava de acordo com as exigências da Europa. Nesse caso o país que não tem grandes
exigências sai beneficiado, porque independente do país o produtor deve seguir um
padrão de qualidade único.
Porém, apesar de todas as restrições quanto a qualidade, nenhuma da empresas
seguem algum tipo de certificação, como forma de facilitar o conhecimento quanto ao
seu padrão de qualidade, segue apenas as exigências determinadas pelos consumidores.
Nas duas empresas existe um setor responsável pelo controle de qualidade do produto.
4.2.2.1 Modo de transação
Existe um departamento comercial na Empresa A responsável pela negociação
com os países internacionais. Essa empresa conta, ainda, com um escritório na Irlanda,
que é responsável pelas vendas de todo o grupo na Europa. A Empresa B realiza todas
as suas negociações no próprio frigorífico, por meio de telefone ou Internet.
Geralmente, não tem problema em comercializar seu produto, pois a maioria de seus
clientes são clientes antigos, portanto sua função é apenas renovar as vendas, pois já
sabem todas as especificidades do produto que seus consumidores requerem, além de ter
uma noção da quantidade necessária para atendê-los. Consideram essa forma de
87
negociação como um tipo de parceria. É claro que também procuram novos clientes,
nesse caso o setor de exportação fica responsável por entrar em contato com eles, e em
caso de exigência de um produto especifico é enviado uma amostra via aérea.
Nenhuma das empresas respondeu formular contratos de longo prazo com seus
consumidores, porém a Empresa B elabora contratos mensal de vendas, a alguns anos
atrás seus contratos eram de longo prazo, de 3 a 6 meses, porém, por questões práticas e
devido aos riscos econômicos, mudou-se essa forma de negociação, passando a ser
mensal. Os consumidores podem variar seus pedidos, mas a perspectiva de venda é feita
de acordo com a capacidade da empresa e a época do ano (por causa da entressafra).
Já na Empresa A os pedidos, geralmente, são semanais. E não são elaborados
contratos de longo prazo, apenas contratos informais. Justificam que isso ocorre pelo
fato do mercado da carne bovina ser muito variável e, também, por uma questão cultural
do grupo ao qual a empresa pertence. A empresa deposita uma grande confiança em
seus clientes, pois estão com eles desde que a empresa começou a exportação, em 1997.
Portanto, afirmam que já existe um compromisso com a quantia comprada por mês, não
havendo necessidade de ser formulado um contrato de longo prazo. Essa empresa
procura trabalhar numa faixa de 2 semana, devido ao risco da variação econômica, pois
o preço é negociado de acordo com a flutuação de cambio, é o preço praticado naquele
momento
Apesar de notar-se uma mudança nas escolhas relacionadas ao consumo ligado a
uma preocupação maior com a saúde e maior conveniência. Os entrevistados não se
viram retroagido, pois afirmaram satisfazer todas as necessidades dos consumidores,
produzindo de acordo com suas exigências. O que influencia é a concorrência da carne
bovina brasileira com a de outros países, principalmente da América do Sul, como a
carne Uruguaia e Argentina.
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O padrão de qualidade foi considerado o diferencial das empresas entrevistadas
para consolidar e conquistar clientes. Porque quando a empresa atende as exigências do
consumidor primário internacional, esse terá facilidade de revender o produto para o
consumidor final O preço também conta na negociação, mas sabem que o consumidor
prefere pagar um pouco a mais para garantir a segurança do alimento e as suas
preferências.
4.2.2.2 Interação entre o setor de venda e compra
Na Empresa A as reivindicações dos clientes internacionais são repassadas
diretamente para o setor de compra, porque existe uma diferença do tratamento do gado
para a carne tipo exportação e mercado interno, no sentido de estar adquirindo um
animal melhorado, mais pesado e outros, existindo sempre uma comunicação entre as
duas partes. Já a Empresa B, demonstrou não ter interação entre os dois setores. De
acordo com o entrevistado, o setor de compra sabe exatamente o que comprar, podendo
exigir uma interação quanto a informação para a quantidade necessária para cumprir o
contrato.
Apesar das duas empresas afirmarem que possuem sistemas de produção flexível
para atender as exigências de cada país, a Empresa B reconheceu que não atende alguns
Países Árabes (Oriente Médio) porque esses exigem que o animal seja abatido de uma
forma diferente, devido aos seus costumes religiosos. Nesse caso, a empresa deveria
mudar todo o seu sistema de produção, o que não considera viável, pois se tornaria
muito oneroso para a empresa. Portanto as condições mínimas exigidas pelo frigorífico
para firmar um contrato de fornecimento seriam que os consumidores sejam mais
flexíveis, e que suas exigências não interfiram na estrutura produtiva.
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4.2.2.3 Distribuição: indústria/consumidor
A distribuição é realizada diariamente nas duas empresas. Na Empresa A, para o
escoamento da produção são utilizadas várias transportadoras terceirizadas, e a maioria
da produção é entregue ao porto de Santos (SP). A escolha do porto se faz por um
costume da firma, apesar de estar começando a distribuir a sua carga, para não ficar toda
concentrada apenas em um porto. Já a Empresa B trabalha atualmente com cinco portos.
No Estado do Paraná contam com o porto de Paranaguá (em Paranaguá), Ponta do Felix
(em Antonina); em Santa Catarina utiliza o porto de São Francisco do Sul e Itajaí; e o
porto de Santos, no Estado de São Paulo. Para o escoamento da produção dessa
empresa, são utilizados caminhões pertencentes a própria transportadora, mas quando
precisa de mais caminhões costuma terceirizar.
Quando questionados sobre as dificuldades enfrentadas pela empresa na hora da
distribuição em relação aos meios logísticos, a Empresa A considerou ser durante as
negociações de frete, pois sempre contam com os transportadores a sua disposição e
consideram que os portos possuem estrutura adequada as suas necessidades. Como a
responsabilidade do exportador acaba quando o produto é embarcado, não vão ter
dificuldades logísticas referente ao transporte até o porto de chegada e até o armazém do
distribuidor, pois a partir dali a responsabilidade é do importador. Mas os dois
frigoríficos concordaram que uma problema que enfrentam com relação a distribuição
do produto seria quanto a falta de equipamento quando as exportações estão em alta.
Geralmente é no começo do ano, de fevereiro a maio, quando outros produtos também
estão em sua época de safra, geralmente falta caminhões e contêineres. Para contornar
esse problema a Empresa B utiliza a seguinte estratégia: transporta seu produto em
porão, mas isso vale apenas para a Rússia.
90
4.2.2.4 Análise: Processador – Consumidor
A Europa realmente é um mercado importante para a comercialização da carne
brasileira e paranaense. Na pesquisa realizada as duas empresas demonstraram que esse
é o seu principal mercado consumidor. O Mercosul apesar de ser um bloco criado para
facilitar a comercialização entre alguns países da América do Sul não se demonstrou
importante para a cadeia produtiva da carne no Estado.
Os consumidores, como pode ser verificado durante as entrevista, é o
responsável pelas mudanças em toda a cadeia produtiva da carne bovina, tendo grande
poder de negociação na cadeia e obtém produtos de maior qualidade e com preço
menor. Atualmente, os consumidores vêm se preocupando mais com a saúde e a carne
bovina está sendo atingida, quase sempre, por campanhas contra seu consumo.
Entretanto, as empresas não se sentem atingidas pelas mudanças no comportamento do
consumidor, visto que sempre atendem as especificações exigidas. Também, não
consideram que a concorrência com os outros tipos de carne representa um risco para a
carne bovina, apesar de assumirem que essa concorrência existe.
Como na relação com os fornecedores, nenhuma das empresas apresentaram
trabalhar com contratos de longo prazo, todas as suas negociações com os consumidores
primários são com base no mercado, isso pode ser justificado pelas transformações que
ocorrem na economia ou por um fator cultural da empresa. Para comercializar com o
mercado externo depende muito da variação do cambio, é um mercado que está muito
vulnerável as flutuações econômicas. Porém todas as empresas apresentaram uma certa
programação da sua demanda, a Empresa A pode se preparar melhor quanto aos riscos e
incertezas existentes na cadeia, além de controlar melhor a sua produção, porém mesmo
com essa demanda prevista, ela não coordena seu fornecimento.
91
Por toda as restrições e condições impostas pelos consumidores internacionais
para adquirir a carne brasileira, pode-se concordar com Souza, Pereira e Santana (2000)
quando se referem a ineficiência do meio de governança por mercado na execução das
transações, visto que nesse tipo de transação a comercialização é tipicamente esporádico
e para atender esses mercados as empresas precisam de tempo para se organizar, é um
processo de longo prazo. Como as empresas descreveram a cadeia produtiva da carne
individualista, ou seja, cada um se organiza a parte, a dificuldade se torna ainda maior.
A comunicação entre consumidores e frigorífico, demonstrou ser mais eficiente
na Empresa A, pois essa está mais perto do seu consumidor, e assim pode conhecê-lo
melhor. Neste sentido, a industria deverá desempenhar um papel decisivo de gerador de
mudanças, gerando e repassando informações ao produtor, para atender esse mercado. A
gestão da cadeia de suprimento não vai preocupar-se apenas em suprir produtos e
serviços no lugar, quantidade, qualidade e preços esperados, mas atuam também como
agentes estimuladores da demanda. Ou seja, o canal deve ser visto como uma rede de
empresas independentes que agem em sintonia de forma a criar valor para o usuário
final por meio da distribuição de produtos.
As empresas pesquisadas estão de acordo com as mudanças no modo de
produção, demonstraram possuir um sistema de produção flexível, pois o sistema de
produção da carne é particularmente flexível. Apesar disso, para atender alguns países,
devido a presença de certos costumes, é necessário um investimento em equipamento e
treinamento que efetuarão uma mudança significativa no processo produtivo, mas isso é
recomendável desde que demonstre uma viabilidade no investimento.
A carne necessita de mais de um tipo de transporte. Precisa ser transportada da
fazenda até o frigorífico, que vai exigir um tipo de veículo, que será caminhão de carga
seca, do frigorífico até o porto, caminhão refrigerado, e do porto para o país
consumidor, navio ou avião. Para diminuir os custos com esse transporte a empresa
92
terceiriza os veículos, não é viável comprar todos os caminhões. Quando a distribuição
de uma mercadoria exige mais de um meio de transporte são necessárias à integração e
coordenação entre vários modais, conhecido como intermodal. A distribuição do
produto para o consumidor internacional por meio do modal navio demonstrou ser o
mais usado para o transporte da carne, somente pequenas remessas de amostras do
produto são enviadas por meio aeroviário.
4.2.3 Atuação e importância do governo
Quanto a atuação do governo na a cadeia produtiva da carne, ambos os
entrevistados consideraram a sua atuação irrisória, deixando muito a desejar. De acordo
com a Empresa A o sucesso da carne bovina no mercado global é mérito apenas dos
pecuaristas e dos frigoríficos, o governo não tem influencia nenhuma. O governo não
toma nenhuma medida de fiscalização, para precaver as doenças existentes ou para
divulgar a carne brasileira. O governo não disponibiliza assistência técnica aos
produtores e falta uma fiscalização na cadeia em geral. Mas, a Empresa A aceita que a
legislação desenvolvida pelo governo facilitam a comercialização, quando existe acordo
do Brasil com outro País. A Empresa B afirmou que todo mérito alcançado pela carne
brasileira no mercado se deve somente ao desempenho individual dos pecuaristas e
processadores.
A imagem que as empresas tem do governo é totalmente destrutiva, e não vai de
encontro com os pensamentos de Azevedo (2001), que demonstra que o Estado é
responsável pela regulamentação de aspectos sanitários dos produtos e a fiscalização
das atividades na cadeia a fim de garantir a saúde dos consumidores. Como Pereira e
Baracat (2004), as empresas entrevistadas consideram o governo altamente deficiente
em relação ao progresso da bovinocultura brasileira e paranaense, existe uma grande
dificuldade do governo em relação a fiscalização do processo produtivo da carne, desde
93
o pecuarista até a comercialização, e repreensão dos agentes que operam de forma
ilegal.
O Estado do Paraná foi relatado por Mezzadri (2005) como grande provedor de
conscientização e mudança no setor da bovinocultura, promovendo campanhas de
vacinação e outros. Entretanto, os entrevistados revelaram que esses programas não tem
nenhuma influencia positiva para aumento da exportação da carne bovina.
4.2.4 Riscos e incertezas na cadeia de produção da carne bovina
Os riscos são a razão principal para a especificação de parâmetros de processo
ao longo da cadeia. Na cadeia produtiva da carne bovina existem diversos risco, tanto
no relacionamento entre processador/fornecedor, como entre processador/consumidor.
Esses riscos estão ligados a fatores como qualidade, tempo de resposta e confiabilidade
de entrega.
Na primeira relação, as empresas enfrentam o risco quanto a disponibilidade do
produto, visto que a atividade da bovinocultura é uma atividade sazonal, e, ainda, se
trata de um produto alimentício, e está sujeito ao risco de doenças infecciosas que
oferecem perigo para a saúde humana.
A cadeia da carne ainda convive com a incerteza no que se refere ao
comportamento dos preços, pois existe um comportamento oportunista presente em
todos os segmentos cadeia. Os pecuaristas podem segurar o boi no pasto para aumentar
o valor da mercadoria, esse aumento será repassado para os consumidores. Mas o
inverso também pode acontecer, os consumidores podem diminuir a demanda pelo
produto para que reduza o valor do produto, assim os pecuaristas também serão
prejudicados, pois serão obrigados a vender seus produtos por um valor menor, pois
haverá muita oferta no mercado. Os frigoríficos ficam no meio dessa guerra, vulneráveis
94
aos comportamentos dos dois lados, sendo um intermediador. Para manter essas
relações equilibradas seria interessante que mantivesse uma demanda o mais estável
possível, assim como a garantia de entrega de matéria-prima.
As empresas enfrentam ainda o risco de problemas de desistência da compra de
mercadoria, que pode ocorrer por algum engano por parte do consumidor sobre a
especificidade do produto, isto é, quando compra um produto e quando recebe percebe
que errou no pedido ou por desacordo comercial, isto é, quando o cliente faz um pedido
maior do que ele pode armazenar pode começar a criar problemas comerciais pra que
essa carne seja devolvida.
O cliente também tem a opção de abandonar a mercadoria no porto de chegada,
quando isso ocorre o exportador é prejudicado, porque para ele retirar o contêiner do
lugar precisa efetuar o pagamento que era responsabilidade do cliente. Como trata-se de
um produto perecível com prazo de validade, se não conseguir repassar essa mercadoria
para outro comprador em muitos casos o exportador acaba perdendo a mercadoria. Para
evitar esses problemas a Empresa B procura sempre trabalhar com clientes antigos, pois
já existe uma credibilidade e confiança de ambas as partes, ou busca referencias, caso o
cliente seja novo. De acordo com a Empresa A isso já ocorreu, mas não é algo que
ocorre com freqüência, mesmo porque o comprador também vai perder a credibilidade
com a empresa.
A Empresa B afirmou que já aconteceu da mercadoria chegar ao consumidor
com a sua forma alterada, por exemplo, o caso de uma mercadoria vendida como
resfriada, congelar enquanto espera no terminal para o embarque ou no navio.
Normalmente, dependendo do País essa mercadoria não é aceita, porém a empresa tenta
revender para outro mercado. Mas isso só é possível quando o navio está em transito ou
no porto de transbordo, quando está no porto final, a mercadoria é devolvida.
95
Contudo, existem várias outras formas de risco que estão sujeitas as cadeias
agroindustriais, uma dela é a imagem do País no mercado externo e a atuação
econômica interna deste e a economia global, afetam o desempenho da cadeia produtiva
como um todo. O surgimento de doenças é um dos maiores riscos que deterioram a
imagem do produto, como a Febre aftosa no estado de Mato Grosso do Sul, que atingiu
todos os outros estados brasileiros, não com a doença, mas a deteriorização da imagem.
Por causa do alarde da doença a Europa fechou as portas para a carne paranaense, a
Empresa A respondeu que só está exportando para a Rússia, e se vê obrigada a procurar
novos clientes.
Na pesquisa verificou-se que as empresas estavam tendo um bom crescimento
no mercado internacional, e a tendência da carne bovina brasileira era crescer cada vez
mais, mas devido os problemas de doenças ocorridos atualmente vai se estacionar um
pouco.
96
CONCLUSÃO E SUGESTÕES
Neste trabalho, verificou-se que a cadeia produtiva da carne bovina na região
Noroeste do Paraná é individualista, diversificada e desregulamentada, e necessita de
mudanças nas relações entre os integrantes. Na cadeia da carne bovina não há, vínculo
entre produtores e indústrias, nem entre industrias e consumidores. A coordenação na
cadeia de carne bovina no Brasil se caracteriza por iniciativas individuais.
Os processadores exportadores do noroeste do Paraná mostraram que o grande
problema do setor é a dificuldade na hora da comercialização. Verificou-se que as
relações entre os agentes da cadeia bovina são exclusivamente via mercado. A
preocupação básica dos frigoríficos tem sido o preenchimento das escalas de abate para
atender aos pedidos, não regulamentares, dos consumidores internacionais. As empresas
além de lidar com o fator cultural dos países externos, ainda tem que se superar as suas
barreiras a comercialização, tendo que se adequar as exigências de cada consumidor
para produção e comercialização do produto.
As principais exigências internacionais dos consumidores primários em relação a
carne bovina, são por produtos de qualidade. Porém, existem outras exigências, nesse
caso quanto a produção do produto que será adquirido, como o tipo do corte, forma de
abate, marca própria do atacadista dentre outros. Existe uma preocupação alimentar
tanto por parte dos consumidores finais quanto dos governos, e os consumidores
primários são os responsáveis por adquirir e repassar produtos alimentares que
satisfaçam suas exigências e necessidades. Dentro deste contexto, esses consumidores
primários, que são os distribuidores, exigem que a carne produzida pelos frigoríficos
estejam dentro das normas sanitárias formuladas por seu país de origem ou por algum
país de influência, e que todo o processo de produção seja rastreado.
97
O problema constatado é que os processadores exigem apenas que os pecuaristas
lhes forneçam a quantidade de animal necessário para o processo de produção. Não
exigem que seus fornecedores lhes garantam uma matéria-prima de qualidade, que
facilitaria o processo de venda internacional das empresas. O fato é que não existe
nenhum tipo de auxilio ou incentivo aos fornecedores de matéria-prima, além de que os
frigoríficos não valorizam o produtor pelo seu desempenho, principalmente pelo
processo de rastreabilidade. Não existe programas concreto nas empresas de pagamento
diferenciado pelo produto de qualidade. A formação de preços deveria envolver toda a
cadeia na formulação dos preços, que deverão ser elaborados por meio de um acordo
com a empresa e uma comissão formada por representantes dos pecuaristas.
O fato de não haver diferenciação de preço não estimula o fornecimento de
matéria prima de qualidade e gera insatisfação por parte de quem produz esses animais.
Ao evitar o sobre-preço, infalivelmente também se evita uma maior oferta da melhor
matéria-prima. Porém, mesmo com a falta de incentivo aos produtores, nota-se que a
pecuária de corte vem melhorando sua produtividade, abatendo animais cada vez mais
jovens e mais cuidados.
A Gestão da Cadeia de Valor assenta-se no seguinte raciocínio da dinâmica e da
interdependência do processo de transformação de matérias primas em produtos finais.
Tradicionalmente a relação entre pecuaristas e frigoríficos é competitiva, com
negociações que visam o retorno no curto prazo. No quesito tempo, os frigoríficos têm
desvantagem, uma vez que precisam que suas plantas operem com baixa capacidade
ociosa, diariamente. O pecuarista, principalmente o que produz a pasto, e a maioria dos
fornecedores paranaense produzem dessa maneira, tem uma maior flexibilidade,
podendo influenciar no preço do animal.
Verificou-se que não existe uma fidelização dos fornecedores de matéria-prima
para as empresas. O frigorífico negocia de olho nas metas tangíveis e no resultado,
98
busca comprar esse produto pelo menor preço possível, parecendo não se preocupar
muito com o impacto no relacionamento. Nota-se que a sobrevivência (e lucratividade)
do frigorífico é fundamental para a sobrevivência (e lucratividade) do produtor. No
histórico das negociações, o frigorífico se preocupava apenas com resultados,
negligenciando o relacionamento. Isso vem causando uma reação não esperada, os
pecuaristas passam a procurar os atravessadores.
O Governo diante de todas as contradições na cadeia bovina tem um papel
importante para a sua competitividade. Tem o dever de desenvolver programas e leis
com a finalidade de estimular o uso de práticas modernas de produção e
comercialização, além de ser o órgão de fiscalização e regulamentação de parte do setor
produtivo. No entanto, não foi observado, no Paraná e também em nível nacional, que o
governo tem dado aportes para o desenvolvimento da cadeia de uma maneira geral. Não
existe um quadro regulatório claro e rigoroso (rastreamento) e, no caso da existência de
regras bem definidas, peca pela ausência de informações e na fiscalização. Deveria
haver mais exigências quanto ao comportamento do governo perante esse produto, visto
que, se esse não investir corretamente dando apoio aos produtores e processadores,
podem ocorrer focos de doenças como o que está acontecendo atualmente, que vão
prejudicar a imagem do País e destruir toda uma cadeia.
Essa cadeia pesquisada demonstrou que seus elos são bons individualmente
(aumento de produtividade), mas ainda são muito ruins coletivamente (controle de
aftosa, rastreabilidade, promoção da carne bovina). O sucesso da carne bovina brasileira
se deve apenas a atitudes individuais dos elos, produtor e processador. Descobrir como
melhorar nossa atuação coletiva é nosso grande desafio.
Com foco no consumidor, o objetivo não é mais aumentar os lucros de um
membro da cadeia individual, mas sim reduzir ao máximo o preço para o consumidor
final, visando à qualidade do produto ao mesmo tempo a empresa aumenta as vendas, e
99
com isso o lucro e o giro de produtos. Portanto, tanto o governo, como os produtores, os
frigoríficos, não devem agir sozinhos, mas sim em conjunto, para que se possa melhorar
a infra-estrutura do estado e da carne bovina em geral.
Dentro dessa ótica, os processadores devem adotar algumas estratégias para
garantir sua sobrevivência e sucesso no mercado internacional, como: criação e
consolidação de marcas; formação de alianças estratégicas com os pecuaristas e com
associações para pressionar o governo a tomar atitudes perante a cadeia produtiva,
investigar sobre atravessadores e orientar pecuaristas; e uso de contratos de longo e
médio prazo como forma de governança das transações.
Enquanto o produto brasileiro for sempre ofertado, de qualquer maneira, o poder
de negociação estará com as grandes redes, que com todo o mérito farão o máximo para
adquirir o produto da forma mais cômoda (preço, prazo, etc.). Torna-se, então,
interessante a criação de marcas próprias, que exigem a colaboração de todos os elos da
cadeia. Investimentos na marca Nelore seria uma boa opção, por ser a raça mais abatida
e preferida pelas empresas pesquisada. As empresas podiam usar isso como um
diferencial e fazer um sistema de parceria com os produtores para ser a raça única
abatida no local.
Um programa de qualidade Estadual pode servir como exemplo de algo a ser
desenvolvido para a realidade brasileira. Se a carne no estado do Paraná for produzida
seguindo normas similares, assegurando melhor qualidade do produto final brasileiro, o
mercado consumidor poderá potencialmente se expandir. O desenvolvimento de algo
assim pode potencialmente aumentar o nível de confiança do mercado internacional do
produto. A garantia de uma carne brasileira produzida dentro de um rígido sistema de
qualidade irá assegurar o fornecimento de um produto diferenciado.
As alianças são fundamentais para a comercialização, principalmente
internacional do produto, e tem por objetivo qualificar e certificar a carne. Entende-se
100
por qualidade assegurada a capacidade do fornecedor de produzir e garantir a qualidade
de seu produto no nível de confiabilidade exigido pelo cliente, para que isso ocorra
ações em toda a cadeia de produção são necessárias, com fornecedores trabalhando no
regime de parceria. Condições que devem ser atendidas isoladamente ou em conjunto:
confiabilidade total e assegurada pela experiência de série histórica e consistente de
dados; auditoria para verificar se há segurança no processo produtivo do fornecedor,
segundo os critérios do cliente; consciência para a parceria, inclusive com contrato de
responsabilidade, se for o caso.
Contudo, para cumprir as exigências internacionais seria necessário um
relacionamento duradouro entre processadores e fornecedores. Neste contexto, o ideal
seria passar da coordenação pelo mercado para contratos de longo prazo e médio prazo.
Isso propiciará coordenação e integração da cadeia e benefícios mútuos ao sistema
produtivo e ao consumidor, elevando a produtividade e reduzindo custos ao longo
cadeia e estabelecendo a manutenção da competitividade dos produtos finais.
No contrato de comercialização o pecuarista assume o compromisso de entregar
a quantidade pré-determinada do produto na data acordada entre produtor e processador.
Este fator se apresenta como importante vantagem competitiva, pois assim o
processador vai poder suprir a sua demanda com regularidade, qualidade e nas
quantidades combinadas, além de facilitar a conquista de novos clientes. De outro lado,
os frigoríficos passam a atuar repassando informações e incentivando o pecuarista a
produzir conforme demanda específicas de mercado, o que permite desenvolver
diferenciação do produto e explorar nichos específicos e mercado, permitindo elevar a
rentabilidade do produtor.
Gerenciar o ambiente empresarial não pressupõe apenas empregar recursos e
expedientes para alcançar um determinado objetivo. É preciso, antes, prever os impactos
resultantes dos processos. Instituições eficientes são aquelas que reduzem os custos das
101
transações econômicas, diminuem conflitos e incertezas, incentivam comportamentos
íntegros, garantem a proteção dos direitos de propriedade e o cumprimento dos
contratos, enfim, ampliam os mercados e os investimentos.
Progresso que significa ganho não só para todos os elos da cadeia produtiva, mas
para toda a sociedade brasileira. Para o consumidor que passa a ter opções de compra,
melhorando sua qualidade de vida. Porém, na cadeia produtiva da carne ocorre a
incapacidade dos elos da cadeia encarregados da industrialização e da comercialização
do produto de se adequarem e conquistarem mercados.
102
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105
ANEXOS
1. QUESTIONÁRIO - IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA
Nome fantasia: Razão Social: Nome do responsável: Telefone para contato:E-mail:Cidade: Atividade:Idade da empresa: Número de funcionários:Produtos comercializados:Processamento médio mensal:
Relações sistêmicas
1. Qual a tendência na quantidade e na forma de comercialização da carne bovina?
2. Quais os principais riscos e incertezas presentes na cadeia de produção da carne bovina?
3. Como as relações entre fornecedores, distribuidores e consumidores afetam as decisões dos processadores?
4. Para firmar um contrato de fornecimento com produtores e/ou distribuidores, que condições mínimas seriam exigida?
5. Quem, no momento, na cadeia da carne mais se beneficia?
6. Qual dos segmentos apresenta maior poder de negociação na cadeia? Por quê?
7. Como é a atuação do governo hoje na pecuária? Quais as principais expectativas em relação a sua atuação?
8. Como o aspecto legal está influenciando o processo de produção e comercialização da carne?
9. Como a empresa vê a atuação da carne bovina no mercado internacional? Quais as perspectivas para esse mercado?
10. Quais as estratégias adotadas pela empresa para consolidação do mercado externo?
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2. QUESTIONÁRIO PARA O SETOR DE EXPORTAÇÃO
1. Quais os mercados internacionais atendidos pela empresa?( ) América Do Norte ( ) América Central ( ) América Do Sul( ) África ( ) Europa Ocidental ( ) Europa Oriental( ) Oriente Médio ( ) Oceania (Austrália) ( ) Ásia
2. Destes qual o maior mercado em volume de vendas?
3. Este mercado tem maior perspectiva de crescimento em volume de vendas do que os outros? Se não, qual tem?
4. Do mercado de maior perspectiva, quais as principais barreiras encontradas para o atendimento das expectativas dos consumidores primários (corporativos)?
5. Quais as principais exigências de cada mercado internacional para a comercialização do produto?
6. O sistema produtivo é flexível para o atendimento dessas exigências? Por que?
7. Quais os produtos comercializados pela empresa? Quais são exportados?
8. Qual o percurso que a carne faz até o consumidor internacional?
11. Quem são os consumidores primários internacionais da empresa:( ) atacadistas( ) pequenos varejistas( ) supermercados ( ) industrias( ) instituições( ) outros:
12. Como se dá à interação entre o mercado externo e a empresa, ou seja, como é divulgado o produto?
13. Como é feita a negociação com o consumidor internacional?
14. Como são elaborados os contratos para a negociação entre o consumidor e a empresa?
15. Existe uma quantidade certa de pedidos mês ou as compras são alternadas?
16. Como a empresa realiza a distribuição? Qual os meios de distribuição utilizados?
17. Como planeja a distribuição?
18. Quais as condições especiais de armazenagem para a distribuição?
19. Quais as dificuldades enfrentadas pela empresa na hora da distribuição em relação aos meios logísticos?
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20. A empresa já teve problemas com perda de mercadoria, reclamação do consumidor quanto ao produto adquirido ou desistência da compra? Como reagiu diante desses problemas?
21. Como se dá à comunicação entre o setor de venda e comprar no sentido de atender as exigências do mercado internacional?
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3. QUESTIONÁRIO PARA O SETOR DE COMPRAS
1. A empresa conta atualmente com quantos fornecedores?
2. Onde se localizam esses fornecedores?
3. Os fornecedores primários (pecuaristas) são implicados nas exigências feitas pelos consumidores internacionais?
4. Como a empresa auxilia os fornecedores no atendimento a estas exigências?
5. Como a empresa interage com o fornecedor?
6. Como seleciona os fornecedores?
7. Existe contratos elaborados pela empresa para negociar com o produtor?
8. Como é feito o pagamento ao produtor?
9. Existe alguma forma de assistência técnica ao produtor? Qual?
10. Existe diferenciação no pagamento para o fornecedor quanto ao produto adquirido? Existe pagamento diferenciado em função da qualidade?
11. A empresa se preocupa com a questão da rastreabilidade? Como se da esse processo?
12. Qual a quantidade média coletada por dia?
13. Qual a capacidade processada por dia? Qual a freqüência de produção da empresa? Como planeja a produção da carne?
14. Como é feita a entrega da matéria-prima? É a industria ou o fornecedor responsável pelo transporte?
15. Quantos caminhões são utilizados? A frota é própria, alugada ou esse serviço é terceirizado?
16. Quais as principais dificuldades enfrentadas na coleta e processamento da carne?
17. A empresa tem algum programa de qualidade?
18. Existem testes de qualidade aplicados na empresa quando é feita a entrega do produto?
19. Como considera a localização da empresa par a sua atuação no mercado? Influencia seu desempenho? Como?
20. Quais as estratégias adotadas pela empresa para manter o fornecedor?
21. Existe alguma prescrição da empresa quanto à alimentação do animal?
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Quais as raças mais abatidas pela empresa? Quais as mais apropriadas para atender o mercado externo? Mas são as preferidas pela empresa?
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