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Mons. Bernard Fellay, Superior da Fraternidade Sacerdotal S. Pio X pediu a todos os sacerdotes e fiéis, para que, no período de 1 a 9 de Março rezassem uma novena pela eleição do Pontífice Romano. A eleição de um novo Pontífice é sempre aguardada com expectativa. Que ex- pectativa? Recordemos o grave múnus do Romano Pontífice. No juramento Papal pro- mete «não diminuir ou mudar nada daquilo que encontrei conservado pelos meus probatíssimos antecessores e de não admitir qualquer novidade, mas de conservar e de venerar com fervor, como seu verdadeiro discípulo e suces- sor, com todas as minhas forças e com todo empenho, tudo aquilo que me foi transmitido». Reconhecemos ainda que, «é absolutamente necessário à salvação de toda criatura humana estar sujeita ao romano pontífice» (Bula Unam Sanctam e Quinto Concílio de Latrão, em 1516), «não só nas coisas referentes à fé e aos costumes, mas também nas que se referem à disciplina e ao regime da Igreja». O Senhor nos prometeu: «tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas dos infernos não a vencerão» (Mt 16,18). Mas se tudo é caos?! Caos na liturgia, caos na lei, caos na doutrina. Como entender esta apostasia? Vejamos. Mons. Deschamps em 1882, na sua obra «Les Sociétés Secrètes et la société», comprova que «as reformas religiosas serão feitas por personagens de dentro da Igreja, que promoverão um concílio … que imporá a degradação dogmática e disciplinar, favorável à integração desta no Ecumenismo das Lo- jas». O maçon Rudolph Steiner declarando em 1910, que: «nós precisamos de um Concílio e de um Papa para proclamá-lo», identificava já a “necessidade” de um novo tipo de Papa «a quem os progressistas acreditavam favorecer a sua causa». Dom Lambert Beauduin, um amigo de Roncalli confidenciou ao Padre Bouyer que: «se eles elegessem Roncalli, (…), ele seria capaz de convocar um Concílio e de consagrar o ecumenismo». E assim aconteceu, tal como Dom Lambert havia predito. Roncalli foi eleito, convocou o Concílio e consagrou o ecumenismo. Facto que veio a ser audaciosamente comprovado em 1964, pelo maçon Barão Marsaudon, a afirmar que «os Católicos (…) não devem esque- cer que todos os caminhos levam a Deus. E vão ter de aceitar que esta corajosa ideia do livre pensamento, a que podemos realmente chamar uma revolução,

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Mons. Bernard Fellay, Superior da Fraternidade Sacerdotal S. Pio X pediu a todos os sacerdotes e fiéis, para que, no período de 1 a 9 de Março rezassem uma novena pela eleição do Pontífice Romano.

A eleição de um novo Pontífice é sempre aguardada com expectativa. Que ex-pectativa?

Recordemos o grave múnus do Romano Pontífice. No juramento Papal pro-mete «não diminuir ou mudar nada daquilo que encontrei conservado pelos meus probatíssimos antecessores e de não admitir qualquer novidade, mas de conservar e de venerar com fervor, como seu verdadeiro discípulo e suces-sor, com todas as minhas forças e com todo empenho, tudo aquilo que me foi transmitido».

Reconhecemos ainda que, «é absolutamente necessário à salvação de toda criatura humana estar sujeita ao romano pontífice» (Bula Unam Sanctam e Quinto Concílio de Latrão, em 1516), «não só nas coisas referentes à fé e aos costumes, mas também nas que se referem à disciplina e ao regime da Igreja».

O Senhor nos prometeu: «tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas dos infernos não a vencerão» (Mt 16,18).

Mas se tudo é caos?! Caos na liturgia, caos na lei, caos na doutrina. Como entender esta apostasia?

Vejamos. Mons. Deschamps em 1882, na sua obra «Les Sociétés Secrètes et la société», comprova que «as reformas religiosas serão feitas por personagens de dentro da Igreja, que promoverão um concílio … que imporá a degradação dogmática e disciplinar, favorável à integração desta no Ecumenismo das Lo-jas».

O maçon Rudolph Steiner declarando em 1910, que: «nós precisamos de um Concílio e de um Papa para proclamá-lo», identificava já a “necessidade” de um novo tipo de Papa «a quem os progressistas acreditavam favorecer a sua causa». Dom Lambert Beauduin, um amigo de Roncalli confidenciou ao Padre Bouyer que: «se eles elegessem Roncalli, (…), ele seria capaz de convocar um Concílio e de consagrar o ecumenismo». E assim aconteceu, tal como Dom Lambert havia predito. Roncalli foi eleito, convocou o Concílio e consagrou o ecumenismo. Facto que veio a ser audaciosamente comprovado em 1964, pelo maçon Barão Marsaudon, a afirmar que «os Católicos (…) não devem esque-cer que todos os caminhos levam a Deus. E vão ter de aceitar que esta corajosa ideia do livre pensamento, a que podemos realmente chamar uma revolução,

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difundida através das nossas lojas maçónicas, se espalhou de forma magnífi-ca sobre a cúpula de S. Pedro». Assumiu ainda a sua ‘paternidade’ ao assumir que «o ecumenismo é o filho legítimo da Maçonaria» (MARSAUDON, Yves, «Oecuménisme vu par um Maçon de tradition», L´horizon International, Ed. Vitiano, Paris,1964, p. 119-120). Posteriormente, «em Paulo VI havia a intenção ecumênica de eliminar, ou pelo menos de remover ou atenuar, o que na missa era demasiado católico no seu sentido tradicional, com o fim de aproximar a missa católica da missa calvinista» (Jean Guitton, no livro de Padre Dominique BOURMAUD, “Cien Años de Modernismo”). Sim, é um facto evidente! Vejamos: «uma nova linguagem teológica, um novo estilo ecle-siástico foi criado e encontramo-lo somente no esquema da Liturgia (do Con-cílio Vaticano II). (…) É um estilo em uso entre os ortodoxos, os protestantes e mesmo os pagãos» (A Igreja do Presente e do Futuro, História do Concílio Ecuménico Vaticano II).

Que expectativa, para o novo Pontífice, pergunta-se? Aonde nos falta che-gar neste mar de trevas? As «minhas palavras jamais passarão» (Lc 21, 33), diz Nosso Senhor. Disse ainda: «farão cessar o Sacrifício Perpétuo» (Antigo Testamento, Dn 11, 31). Logo, se um Pontífice consagrou o ecumenismo ma-çónico, outro Pontífice paganizou o culto a Deus, para quando a abolição do Sacrifício Perpétuo?

Face ao quadro de apostasia que se revelou, invoquemos frequentemente S. José Patrono da Igreja. Consagremos as Capelas, consagrem-se diariamente, as famílias e demais fiéis a este eleito de Deus, pedindo a sua protecção.

Peçamos a ajuda do Céu para o novo Pontificado!

O dedo miraculado

UmdiafreiMaximilianodeu-secontadumainfecçãománodedoindicadordamãodireita,quedeitavaabundantepus.Omédicoexaminouatentamenteodedoedissequesóhaviaumacoisaafazer:amputarodedoomaisrápidopossível,nodiaseguinte.

FoiumgolpeterrívelparafreiMaxi-miliano. A amputação do indicadordireitopodia impedir-lheatéaorde-nação sacerdotal, já que se tratavadum dedo indispensável para a cele-braçãodaS.Missa.

Frei Maximiliano estava desolado,masabandonou-senasmãosdeDeus.OPe.Reitorfoivê-loànoite;encon-trou-o sereno e contou-lhe que tam-bémaele,quandoerarapaz,lhesuce-deraumcasodogénero.Umabcessonopéfazia-ogritardedor.Omédicomarcou a amputação para a manhãseguinte.Entretanto,amãe,cheiadefé,pegouemáguadeLourdesemo-lhounelaumlençoquecolocousobreoabcesso.Namanhãseguinte,quan-doomédicoviuolençocomáguadeLourdes, criticou com dureza as su-perstiçõesreligiosas.Eraumperfeitoateu.Masquandoretirouo lençodopéesedeucontaqueestavacurado,ficou confuso e humilhado. Conver-teu-seemandouconstruirumaIgrejaàsuacusta.

“Nãotedigomaisnada”–concluiuo

Pe. Reitor. Tirou do bolso um frascocomáguadeLourdesecolocou-oso-breamesinha.

Quando o médico chegou de manhãpara amputar o dedo, frei Maximi-liano disse-lhe: “Doutor, se calhar en-contrei um medicamento capaz de curar sem amputação. Está ali, naquele frasco sobre a mesa. Quer fazer o favor de mo aplicar?”

Omédicoeraumbomcristão.Com-preendeueconsentiunaqueleactodefé de frei Maximiliano; preparou-lheacompressacomaáguadeLourdeseaplicou-lhanodedo.

No dia seguinte, também o médicoestava curioso para saber como agi-raaquelamedicaçãosingular.Eficoutambémeleestupefacto;nãoerapre-cisonenhumaamputação,odedoes-tavasalvo!AImaculadaprovidenciarasensivelmente à necessidade desteseufilhopredilecto.

Contra a Maçonaria

FreiMaximilianoviuemRomaascoi-sasmaisbelaseascoisaspiores.ViuoS.Padre,asBasílicas,ascatacumbas,asantiguidadesromanas,ostesourosdearte imortaldequeestárepletaaCidadeeterna.

Mas viu também o mundanismo e avaidade dominantes; viu sobretudoos espectáculos clamorosos e os sa-crilégiosqueamaçonariaorganizava

MaximilianoMariaKolbeeaImaculada

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estão contra a Igreja e o Vigário deCristo.

Ficouencantadocomascoisasbelas,sobretudocomafiguradoSumoPon-tíficedoqualfalavamuitasvezesnassuascartascomentusiasmoeestimacomoventes:masficouentristecidoechocadocoma impiedadedos inimi-gosdeCristoedaIgreja.

Em �9�7 comemorava-se o segundocentenário da maçonaria: Frei Maxi-milianoveioasaberdaimpiedadedoscortejossacrílegosorganizadospelosmaçónicoscontraoPapanasruasdeRoma e na praça de S. Pedro. Sobreos estandartes negros, aparecia a fi-guradeS.MiguelArcanjosobospésdeLúcifer, coma inscrição: “SatanásreinaranoVaticano”.Osverdadeirosmaçónicos são os verdadeiros parti-dáriosdeSatanás.Otristeespectácu-lofezsangrareestremecerocoraçãodeFreiMaximiliano.Efoientãoqueeleescreveu:“Serápossível que os nos-sos inimigos se apliquem tanto a ponto de terem a preponderância e nós perma-neçamos sem fazer nada, sem ao menos rezarmos, sem nos empenharmos a agir? Não temos, porventura armas mais po-derosas, a protecção do Céu e da Virgem Imaculada?... A vencedora “sem mácula” e debeladora de todas as heresias, não cederá campo ao inimigo que reergue a cerviz: se encontrar servos fieis, dóceis ao seu comando, fará novas vítimas, mais do que consigamos imaginar…”

Outravez,depoisdeterouvidoame-ditaçãodoPe.Reitorsobreaconver-

sãodo judeuAfonsoRatisbonnapormeio da Medalha Milagrosa e com aaparição da Santíssima Virgem naIgreja de S. Andrea delle Frate, FreiMaximiliano confiou a um confradecheiodealegriaeentusiasmo:“Agora temos mesmo de rezar a Nossa Senhora para que esmague o demónio e todas as heresias, especialmente os maçónicos…”

A Milícia da Imaculada

FoiassimquenasceuaMilíciadaIma-culada(comasiglaM.I.).Naoraçãomais intensaesofrida,FreiMaximi-lianoamadureceuumprojectodelutacontra os inimigos da S. Igreja, sobo comando da Rainha Universal, daguerreiraInvencível:aVirgemImacu-lada,AquelaqueDeusvaticinoucomovitoriosacomoFilhosobreaserpen-te infernal: “Esmagar-te-á a Cabeça” (Gen.�,�5).

AMilíciada ImaculadadeviaserumexércitodealmasconsagradasàIma-culadacomosua“propriedade”ecomoverdadeiros“instrumentos dóceis”,em-penhadosna lutapelaprópriasanti-ficaçãoepelaconversãodosinimigosda S. Igreja, particularmente os ma-çónicos,quesãoinimigosinfernaisdeCristoedaIgreja.Estasalmasconsa-gradasàImaculada,homens,mulhe-res,jovens,rapazesestãoorganizadosem três grupos que formam os trêsgrausdaMilícia.

�.ªgrau:ogrupodequemseconsagraà Imaculada, comprometendo-se aamá-Laeafazerumapostoladoindi-vidual paraAfazeramadaporoutros.

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��.º grau: o grupo dos consagradosquesecomprometeadesenvolverumapostoladomarianonãosóindividu-al,mastambémorganizado,numcír-culo, associação ou centro M. I. comestatutopróprio.

�.º grau: o grupo dos consagradosquesedãoàImaculadaincondicional-mente,colocando-seàSuadisposiçãocom todas as energias, por todos osmeios, sem reserva, até à imolaçãocompleta.

FreiMaximilianoproporáatodases-tasalmasoscumesmaisvertiginososdoamoràImaculadaimpelidoatéà“transubstanciação n‘Ela”.

“Instrumentos dóceis”

O coração deste jovem era ardente.O ideal da Imaculada, vencedora deSatanás, exaltava-o. A observaçãodasmisériasespirituaisemoraisquedevastavamasalmasimpelia-oanãoperdertempo,aservir-sedetodososmeiosetentartodasasvias,atéàau-dácia,para libertarasalmasda“con-cupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida” (Jo.��,�6).

A audácia dele, de resto, apoiava-seapenasnaomnipotênciadaImacula-da,serseu“instrumento dócil” eaIn-vencívelGuerreiradesbaratariaos“fi-lhos deste mundo (Lc.�6,8)e“as obras das trevas” (Rom.��,���).

“Nossa Senhora não precisa de nós –di-ziaoSanto-mas digna-Se servir-Se de nós para nos dar o mérito e para tornar mais maravilhosa a vitória com pessoas

simples e com meios, segundo o mundo, tão inadaptados, que até as suas armas espirituais são escarnecidas e despreza-das.

É preciso que nós nos coloquemos como instrumentos dóceis nas suas mãos, uti-lizando todos os meios lícitos, insinuan-do-nos com a palavra, com a difusão da imprensa mariana e da Medalha Mila-grosa, valorizando a acção com a oração e com o bom exemplo.

Elefoi realmenteum“instrumento dó-cil” entreas mãosdaImaculada,aten-to para não perder nenhuma opor-tunidade de agir, especialmente pelaoração e o bom exemplo. De jovemclérigooudesacerdoteamadurecido,foi sempre fácil vê-lo rezar o SantoTerçonasruasdeRomaoudeVarsó-via,noscomboiosounosbarcos,nasalamedasdoColégioounoscorredo-res de Niepokalanow. Devia ter umaestimaimensanovalordoTerço,pelasalvaçãodasalmas,seelemesmoes-creveestabrevemáxima:

“Quantos terços, tantas almas salvas”. ComoéreconfortanteparaquemamaoSantoRosário!Poroutrolado,anda-va sempre com os bolsos fornecidosdemedalhasmilagrosas,quechamavade“projécteis” epequenas“minas” paraabriralgumabrechanoscoraçõesdoshomens;esabiaesforçar-sedetantosmodosparaasdeixaraquieacolánoslugaresmaisadaptadosaqueoutroslhespegassem.

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É importante voltar ao tema da presença de ateus no dia 27 de outubro de 2011, em Assis, aquando da assembleia in-terreligiosa pretendida por Bento XVI. Como se pode explicar que o Papa tenha convidado estas pessoas para uma reu-nião que congregava representantes re-ligiosos?

Exactamente ��5 anos depois do en-contro histórico que teve lugar emAssis, em ��7 de Outubro de �986,e para solenizar este aniversário, opapa Bento XVI convocou uma «jor-nada de reflexão, diálogo e oraçãoparaapazejustiçanomundo»,aqualtinhaportema«Peregrinosdaverda-de,peregrinosdapaz».Eleconvidavaaassociarem-seaestecaminhoosre-presentantes de «todas as tradiçõesreligiosas do mundo» e igualmente«deformaideal,todososhomensdeboavontade»(�)entendendoporestadenominação aqueles que não têmnenhumareligião.

Uma grande novidade desta terceiraassembleia de Assis, com relação àssuas duas precedentes que haviamsido organizadas por iniciativa deJoão Paulo II, era assim constituí-da pelo convite endereçado a algunsrepresentantes do ateísmo e do ag-nosticismo. O jornal do Vaticano,Osservatore Romano (��) escreve: ”Opapa quis convidar, além dos repre-sentantes dos homens de fé, igual-mentequatrohomensdeculturanão

crentes”. Uma novidade absoluta nocontexto das celebrações da jornadaoriginalanálogaorganizadahávinteecincoanos,masquenãoénovanopensamentodopapaJosephRatzin-ger. Isso mesmo foi sublinhado porMelchor José Sanchez, secretário doConselhopontificaldacultura:naori-gemdestaescolharesideaconvicçãode que o homem, seja ele crente ounão, encontra-se permanentementeembuscadaplenitudedaverdade.

A par dos «homens de fé» (sic) pro-testantes, muçulmanos ou budistas,encontraram-se, pois, quatro perso-nalidades«nãocrentes».Importaten-tar compreender a presença destesúltimos:porqueéqueopapaoscon-vidouparaestareunião?Certamente,aIgrejatalcomoelaécompreendidadesdeoVaticanoII,«dialoga»frater-nalmentecomtodasasreligiões,ege-nericamentecomomundointeiro,aícompreendendoosateus.Masquan-doseproduziutalasserção,nãosefoiaofundodaexplicação;arazãoémaisprofunda.

É preciso advertir que se trata dequestões filosóficas, na exacta medi-daemqueosgrandeserrosdonossotemposão,antesdetudo,questõesfi-losóficas.Estetemaexigepoisanos-sa atenção e reflexão, e merece quefaçamos esse esforço. Para não cair-mos em interpretações incertas, nósvamosbuscararespostanosescritos

PorqueéqueBentoXVIconvidouAteusparaAssis

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ediscursosdoprópriopapa,poisqueele se expressou claramente sobreestetema.

É de Fé que se pode provar a Existência de Deus

Para bem compreender a sequência,nãoé inútilrelembrarcertosensina-mentos sobre a Revelação e a SantaMadre Igreja. É uma Verdade de Féque se pode provar a existência deDeus a partir das Suas obras. Deusno-loafirmouclaramentenaSagradaEscritura, tanto no Antigo como noNovoTestamento.ASantaIgrejade-finiuestaverdaderevelada:

«Se alguém disser que o Deus único e verdadeiro, nosso criador e Senhor não pode ser conhecido com certeza pelas suas obras graças à luz natural da razão humana: seja anátema».(�)

E o juramento anti-modernista afir-ma: «Eu professo que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido e, por conseguinte igualmente demons-trado duma maneira certa mediante a luz natural da razão, “por meio das coi-sas que foram feitas» (Rom 1, 20), quer dizer que pelas obras visíveis da criação, como a causa pelo seu efeito.»

Nós podemos assim conhecer e de-monstrar não somente a existênciadeDeus,masigualmentealgumasdasSuasperfeições.Anossa inteligênciaconheceissocomcerteza,semterne-cessidadedasluzesdaRevelação,bemcomodaFé.Eaquelesquenãoconhe-cemnemservemaDeussãoindescul-

páveis,talcomonosfoiditopelabocadeSãoPaulo.

O Agnosticismo é central no pensamento de Bento XVI

Apósestareferência,regressemosaomagistério de Bento XVI. Entre asdiferentes correntes filosóficas queo marcaram encontra-se particular-mente a de Emmanuel Kant ( �7����-�80��).ParaKant,nóssomentepode-mosconheceroqueresidenodomínioda nossa experiência: tudo o que seencontraparaládestafronteiranãoésusceptíveldeconhecimento;particu-larmente,nósnãopodemosconheceroqueascoisassãoemsimesmas,ouseja, a sua própria natureza íntima.Esteposicionamentofilosóficodeno-mina-seAgnosticismo.

Uma consequência deste sistema équetodasasquestõesquesereferemaDeusseencontramforadoalcancedainteligênciahumana:anossarazãonãopodeprovaraexistênciadeDeus,nem conhecer nada acerca das Suasperfeições.Deusé-nosdesconhecido.

Aquestãodoateísmo,bemcomodoagnosticismo,constituiumtemacen-traldesdesemprepresentenopensa-mentodeBentoXVI.Eleoexpôs,par-ticularmente,nasuaobra”Introduçãoao Cristianismo, publicada em �968(��).Trata-se duma obra que o PadreJoseph Ratzinger escreveu quandoera professor de Teologia emTubin-gen. Ele tinha então ��� anos; idadeemqueopensamentodumhomemseencontraformadoparaoessencial.O

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CardealRatzingerreeditoueste livrono ano ��000, enriquecendo-o entãocom um prefácio, para demonstrarque o seu pensamento é sempre omesmo(5).

NestelivrooPadreRatzingercomparaasituaçãodofielcomadonãocrente.Leiamo-lo para bem compreender oseu pensamento (6). Ele começa porassimilar a obscuridade ou as tenta-ções contra a fé, como disso podemter tido conhecimento os maioressantos- e certamente mais que o co-mumdoscristãos-àdúvidacontraFé;quandonarealidadeexisteumabismoentreambasasrealidades;vistoqueatentaçãocontraaqualselutareforçaaFé,enquantoqueadúvidaconsenti-daadestróicompletamente.

Neste quadro conceptual, Ratzingerestabeleceumparaleloentreofieleonãocrente,comoseasituaçãodeam-bosfosseidêntica.Ocrente,dizRat-zinger,está«continuamente ameaçado de queda no vazio», ameaçado na suafépeladúvida.Todavia«o que aconte-ce ao crente, em combate com as vagas de dúvida, acontece igualmente ao não crente, o qual experimenta a dúvida da sua descrença; ele não pode afirmar que este universo visível, que ele decreta ser o Todo, constitui verdadeiramente todo o real. (...). Consequentemente, o crente será sempre ameaçado pela descrença, e o não crente será sempre ameaçado pela fé.»

Na Doutrina Católica, a Fé é edifica-dano testemunhodeDeus,naPala-

vradopróprioDeus,queSerevelouanós,enadapodeexistirdemaiscertodoqueaSuaPalavra.AFééabsoluta-mentecerta,elaexcluitodaadúvida.Colocá-laemdúvida,éperdê-la,édes-truí-latotalmente.

ParaopadreRatzinger,aocontrário,o crente não se encontra seguro dasuafé,eonãocrentenãoestásegu-rodasuadescrença.Ocrentedizparasimesmo«talvezissosejafalso!»,talcomoonãocrentediz«talvezissosejaverdadeiro!». «Diferentemente afirma, o crente como o não crente, cada um à sua maneira, conhecerá a dúvida como a fé, caso não procurem enganar-se a eles mesmos. (…) Constitui uma lei funda-mental do destino humano, que ele rea-lize a sua existência nesta dialéctica per-manente entre a dúvida e a fé, entre a tentação e a certeza.»E« “o talvez não” do não crente deveria perturbar-nos, como nós desejamos que o “talvez” cris-tão o perturbe a ele (não crente)»(7).

Para ele (não crente) não existe cer-teza nem ciência fora das certezasmatemáticas. Ora «ninguém é capaz de apresentar uma prova matemática de Deus e do Seu reino»,oqueébemver-dade. A isso é necessário responderquenóspossuímosprovasfilosóficasda existência de Deus, as quais sãobem superiores às provas matemáti-cas!(8)

Maisàfrentenolivro,oPadreRatzin-ger faz ainda a esta reflexão surpre-endente:«Se aprofundarmos a análise, reencontraremos o problema das três

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formas do tema de Deus na História: monoteísmo, politeísmo e ateísmo. Ve-rificar-se-ia então, creio eu, a unidade subjacente destas três vias de aproxima-ção; unidade que, certamente, não é si-nónimo de identidade. (…) Certamente, a antinomia entre estas três fórmulas e seu conteúdo salta aos olhos; mas existe igualmente uma relação entre elas, que os simples termos não deixam prever. Efectivamente, nessas três declinações, (podê-lo-íamos demonstrar) domina a convicção da unidade e da unicidade do absoluto».(9)

Estasdiferentes citaçõesesclarecem-nos suficientemente acerca da posi-ção do teólogo Ratzinger. Para ele,«faceaoproblemadeDeus»,aatitudedohomem,detodoohomem,éadú-vida,aincerteza.Crerenãocrersãodoisladosdadúvida.

UmadeclaraçãodeJosephRatzinger,tornado papa, provará a perfeita co-erênciaecontinuidadedoseupensa-mento, o qual permaneceu imutávelao longo de toda a sua vida. A 6 deAbrilde��006aquandodumencontrocomjovensdadiocesedeRoma,disse:«Finalmente, para chegarmos à questão definitiva, eu diria: ou Deus existe, ou não existe. Há somente duas opções. (…) Não se pode, em última análise, “provar” um ou outro desígnio, todavia a grande opção do Cristianismo é a opção pela ra-cionalidade e pela prioridade da razão. Parece-me uma excelente opção, que nos mostra que por detrás de tudo se encon-tra uma grande inteligência, na qual

podemos confiar.» (�0) Portanto, paraBentoXVIaexistênciadeDeuséumaescolhanãodemonstrável,nãocons-tituisenãoumaopçãopersuasiva.

Este agnosticismo do papa (��) nãonos deve surpreender se tivermoscompreendido bem a essência domodernismo,doqualoagnosticismoconstitui um dos elementos funda-mentais.

São Pio X explicava tudo isto na suaencíclica“Pascendi”,aqualcondenouo modernismo. Constitui mesmo aprimeira frase da exposição da dou-trina modernista na encíclica: «Os modernistas estabelecem como base da sua filosofia religiosa a doutrina denomi-nada comummente de agnosticismo. A razão humana encerrada rigorosamente no círculo dos fenómenos, quer dizer, nas coisas que aparecem, não possui nem a faculdade, nem o direito, de lhes ultra-passar os limites; ela não é portanto ca-paz de se elevar até Deus, nem mesmo para Lhe reconhecer a existência através das criaturas.» A origem e o funda-mentodomodernismoé,portanto,oagnosticismo.

O santo Papa explica como é que omodernista concilia em si mesmo oagnósticoeocrente:naexactamedi-da em que a existência de Deus nãoé acessível à razão, não mais que osmotivosdecredibilidade,entãooho-memiráencontraroqueelechama“asuafé”emsimesmo,nasuaprópriaconsciência (���). Lendo São Pio X eBento XVI, torna-se claro que Bento

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XVI é no sentido estrito do termo -ummodernista.

O que, segundo o Papa, os Agnósticos possuem para facultar aos Crentes

Nós podemos agora compreendermelhor, porque é que o papa convi-douateusparaAssis.Jáem��009,eletinha lançado a ideia de fundar um“átriodosgentios”(emreferênciaaoátriodoTemplodeJerusalémqueeraacessível aos pagãos). Esta estruturaqueridaporBentoXVI,equeelevin-culou ao Conselho Pontifical da cul-tura, possui como objectivo dialogarcom os não crentes. Na medida emqueosagnósticoseosateussãoporassimdizer«peregrinosdaverdade»,elestambémpossuemoseulugarnoTemplodanovareligiãouniversal.

O agnosticismo está na base da reu-nião de Assis. É ele, que explica apresença dos representantes do hu-manismo ateu. Um desses represen-tantes, Madame Júlia Kristeva, noseudiscursonaBasílicaSantaMariados Anjos, «celebrou o humanismo»(��).Elaapeloua«ousar o humanismo: edificando cumplicidades entre o huma-nismo cristão e aquele que, procedendo da Renascença e das Luzes, ambiciona esclarecer os arriscados caminhos da li-berdade». O humanismo a que ela serefere encontra-se fundado sobre arecusa da ordem sobrenatural, exal-tando a grandeza do homem sem aGraça. Constitui um outro nome dareligiãodohomem(���).

OCardealRatzingertinhaexplicadoo

queesperadosagnósticos:«Eu falaria de boa vontade duma forma necessária de correlação entre razão e fé, razão e religião, chamadas a uma purificação e a uma regeneração mútuas.»(�5)Assim,destemodo,arazão(aqualétomadaaqui no seu sentido humanista e ra-cionalista) vai «purificar» e «regene-rar»afé.Oqueéqueissoquerdizer?Quer dizer fazê-la duvidar, impedin-do-adesetornarintolerante:«Aquele que procura falar sobre a fé a pessoas condicionadas pela vida e mentalidade modernas (…) se ele for até ao fundo das coisas, este estranho empreendimento, perante os homens do nosso tempo, mos-trar-lhe-á não somente a dificuldade em se fazer compreender, mas ainda lhe re-velará a insegurança da sua própria Fé, o poder da descrença que se atravessa no caminho da sua própria vontade de crer»(�6).

Para o papa, é pelo intercámbio e aconfrontação queseprogride,queseprocede ao avanço do pensamentocomum.«A dúvida, que impede, quer o crente quer o descrente, de se entrinchei-rarem na sua torre de marfim, poderia então tornar-se um lugar de comunhão. Longe de se flectirem sobre si mesmos, eles (crente e descrente) aí encontrarão ( na dúvida) uma ocasião de recípro-ca abertura»(�7).O«crente»eonãocrente vão reencontrar-se sobre ocampodadúvida,realidadequepos-suememcomum,comoseviu,eondeo«crente»vaibeneficiardaquiloqueonãocrentelhefaculta.

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Assim,destemode,cadaumdosdois,«fé»edúvida,enriqueceooutro,facul-tando-lhequalquercoisaquelhefalta:adúvidaforneceà«fé»umapartedasua inquietação, de instabilidade, dereposição em causa. É, com efeito, anegaçãodoactodeFé,noqualanossainteligênciaadere,complenacertezaesegurança,aDeus,queaelaSere-vela.

Finalmente, o papa exprimiu-se naalocução que proferiu aquando dajornadadeAssis.Eleprocedeuaoelo-gio do agnosticismo, afirmando queos agnósticos «colocam em causa os adeptos das religiões, para que eles não considerem Deus como sua propriedade, de modo a que se sintam autorizados a cometer violência para com os outros».A fé tem assim a necessidade de serpurificadaesubmetidaàprovadoag-nosticismo.Segundoestaconcepção,«adeptos das religiões» e agnósticosvão poder «reencontrar-se» e «com-prometerem-se resolutamente peladignidade do homem, servindo jun-tosacausadapaz».

Estes poucos textos do papa, exami-nadosemparalelo-enósprocurámosinclusive abreviá-los tanto quantopossível- esclarecem-se uns aos ou-tros e mostram-nos Bento XVI, nãotalcomoalgunsoimaginam,ouque-reriamqueelefosse,mastalcomoeleénarealidade:porumladoelecolocaemdúvidaacertezaqueconduzàde-monstração pela razão da existênciadeDeus(preambulafidei);poroutro

lado, ele submete à dúvida a certezadaprópriafé(virtudeteologalsobre-natural).

AbbéHervéGresland

Notas:

Angelusde�deJaneirode��0��OsservatoreRomano(OR)delínguafrancesa(ORLF)de��7-�0-��0��.p.��Concílio Vaticano I, ConstituiçãoDogmáticaDeiFilius.Traducção francesa sob o título: FéCristãontemehoje,Mame�969.Novo aparecimento em língua fran-cesa,sobotítuloAfécristãontemehoje,Cerf��005.Salvoindicaçãoemcontrário,ascita-çõesqueseseguemsãoextraídasdoprimeiro capítulo do livro, páginas��a��.Obracitada,página��0.UmacoisaéafirmarqueaexistênciadeDeuséindemonstrávelpelarazão,outra é afirmar que essa demons-tração carece de certeza. Ratzingercolocaemdúvidaumatalcerteza-eportanto inquina indirectamentea possibilidade para a razão huma-na de alcançar essa demonstração,todavia não a nega explicitamente,porqueeleconhececertamenteasas-serçõesdoConcílioVaticanoIsobreademonstraçãopelarazãodaexistên-ciadeDeus.Masnamedidaemqueéhistoricista,eleprocuraumaoutraviaparasedirigiraohomemcontem-porâneo,oqual “apriori” recusa talpossibilidade.(talconstituioobjec-tivodoseulivro).Obracitada,página58.Diálogodopapacomosjovens,res-postaàquestãonúmero5deGiovan-

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ni,estudantedoLiceucientífico-téc-nico“GiovanniGiorgi”emRoma.Poder-se-á acusar o papa de ser ag-nóstico, quando acontece que eledenunciaa influênciadoagnosticis-mo?Arespostaéquetalnãoconsti-tuiverdadeiracontradição,naexactamedida em que estas contradiçõesnutremoseupensamentoemordemao desenvolvimento de ulterioressínteses que constituirão a molduradoespíritohumanonofuturo.É esta realidade que é denominadaimanentismo,queéaoutrafacetadomodernismo. Seria preciso um tex-

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tobemmaislongoparadesenvolveraquiessetema.Giovanni Maria Vian, director del’Or,ORLFde�/��/��0��A integridade do discurso de JúliaKristeva pode ser lido no seu sítio:www.kristeva.fr/assise��0��.htmlAquando dum diálogo com JurgenHabermasemMuniqueem��00��;ci-tadoporMonsenhorTissierdeMal-lerais: A estranha teologia de BentoXVI.EdiçõesduSel,��0�0,p.���7.Fécristãontemehojep.8-9.Loc.Cit.Página.��

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Em certas épocas do ano há estrelas(asestrelascadentes)quepassamnocéudeixandoatrásdelasduranteunssegundosumrastodeluz.DamesmamaneiraJesusCristo,“céudejustiça”mal entrou no mundo logo deixouatrásdesiumrastodacordosanguee a Igreja assinala este facto estabe-lecendologonodiaaseguiraoNatalfestascordesangue

No dia ��6 de Dezembro é a festa deSanto Estêvão, o primeiro adulto aderramaroseusanguepelacausadeJesus Cristo. No dia ��7 é a festa deSão João Evangelista, mártir no seucoração e no seu corpo que foi mer-gulhadoemazeiteaferveremRoma.

Nodia��8deJaneiroéafestadosSan-tosInocentes.Nodia��9éafestadeSãoTomásdeCantuáriaquemorreucomomártiraoserdecapitadonasuaprópriaigrejaporordemdeHenriqueVIII. São Tomás tinha-se recusado asubmeter-seàsordensdoReiqueiamcontraaLeideDeusedaIgreja.

A Igreja, ao fixar estas festas, querevidentemente nos relembrar queo Presépio é somente uma etapa navida do Salvador pois o objectivo fi-nalcontinuaaseroCalvário.Ou,poroutras palavras: A Paixão de NossoSenhorJesusCristocomeçajáemBe-lém. No Presépio, o Deus Menino jáestá no caminho da crucificação. Já

Esperança��0��

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namanjedouraElenosdizoquedirámaistardenasuavidapúblicaouseja:”Queaquelequemequiserseguir,pe-guenasuacruzemesiga”.

Anossacruzsãoasprovaçõesqueocéu nos envia, as contrariedades danossa vida actual, os esforços quedevemos fazerparapermanecerfiéisnaFéenaVirtude.Ocaminhodocéupassa irremediavelmente pelo Calvá-rio.

Eis aqui então um novo ano que co-meça,umanoquesevaieoutroquechega e isso não tem a mesma im-portância para as crianças e para osjovenssendonoentanto,muitomaisimportante para aqueles que já per-correrammaisdemetadedasuavida.Éaprovadequãobreveéavida;sen-doquequantomaisnosaproximamosdoseufim,maisrapidamentepassamos anos: é a lei da gravidade segun-doaqualoscorposquecaemnova-zio vêem a sua velocidade aumentarà medida que eles se aproximam docentrodaterra.

Qualéosentidodavida?Seotemponãovaidesaguarnaeternidade,entãoavidanãotemsentidonenhum,nãotemnenhumpropósitoenãopassa-ráentãodeumvooaoacasoqueseráum dia interrompido por uma falhado motor e donde não ficarão maistarde que alguns ossos, ossos essesquebrevementeserãoreduzidosapó.Seráqueéapensardestamaneiraquevamoscomeçaresteano?Comosen-timentodequeesta nossavidaefé-

meraéabsurdaequeapenastemosànossafrenteaumvazioescancarado?Certamente que não. O nosso modode pensar é outro. Nós podemosavançar no bom sentido, basta quenos deixemos incluir na eternidadeequeametamosnotempoterrestre,emqualquermomentodanossavida.ÉessapossibilidadequeDeusnosdánapessoadoseufilhoincarnado.“Co-meço do Evangelho de Jesus Cristosegundo São Marcos”, tal é o inícioimpressionantedanarraçãofeitaporSão Marcos. Graças ao Verbo, Deus,oSoberanoeEternoSenhordavida,residenotempo;Elefez-secarneparaaparecer na nossa fugaz existência.Eis aí o verdadeiro começo. A BoaNova é fundadora de tempos novos.Ao fazer-se homem, Deus intervémnocontingentee lhedáumaconsis-tência absoluta. O Filho que estavaaopédeDeus,encontra-seagoranomeio de nós cuja vida é necessaria-mente temporária. Ele está no meiodenóscomasuacarne,oseusangue,a sua vida, o seu reino, a sua glória,a sua eternidade. Nós acedemos aorochedo da eternidade graças a Ele.Porisso,paraaIgreja,aIncarnaçãoéoeventohistóricodecisivoquemar-caaviragemparaasalvaçãodetodaahumanidade.AcriançadoPresépiodá finalmente um sentido à vida detodasasépocaspassadasoufuturas.

EisqueDeusnospermiteatodosdecomeçaresteanoedaráàmaioriadenósapossibilidadedeopercorrermosatéaoseufimeassimnóslheconsa-

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gramososeuprimeirodia;oDeusdeBelémnãoseráesquecidonemnegli-genciado.AalegriadoNatal,passadossomenteoitodias,felizmentenãoseapagará.

Nósvosdesejamosatodosumbomesantoanode��0��.Oqueéqueque-reráissodizer?Issosignificaquenósvosdesejamostudooquehádebom,todoobemetudooquevossirvaparaovossocrescimentotemporaleespi-ritual, compreendendo vós porém,queDeussóno-lodaráseissonosfornecessário e que não deveremos pôrem causa a sua bondade se Ele nãonosdernadadoquelhepedimos.Comefeito,oquediríeisvósdeumpobreque depois de se lhe ter asseguradoreceberamanhãumagrandefortuna,estepobreamaldiçoasseoseubenfei-torporqueele,nodiadehoje,sólhedeu alguns tostões? Esse benfeitorimensamente bom e infinitamentericoéDeus.Essafortunacujaimensagrandeza desafia as nossas mais au-daciosasexpectativaséocéu.Iremosnós blasfemar porque só recebemosalgunstostõesdefelicidadehoje,estehojedavidapresentequetãodepres-sasevai?

Os votos dos cristãos

Enãodeveríamosnós,aofazermososnossosvotosparaoanonovo,desejarem primeiro lugar a nossa santifica-çãoeporissopedirtambémalémdeumbomano,umanosanto?AbramolivrodovossoCatecismoeeste,compalavrassimplesvosirárelembrarda-

quilo que é verdadeiramente impor-tantenavida,aquiloqueéessencial,aúnicacoisaverdadeiramenteneces-sáriaasaberafidelidadeàLeiDivina,oamordeDeusedopróximodondenasceráozelo:etodasasoutrasvirtu-descristãs,sobretudoasmaishumil-des, os dias bem ritmados pela ora-ção,avidadagraçaenriquecidapelossacramentos.Quebeloprograma!

O estado de perfeita satisfação aquinaterraéumamerailusão;oparaísotão sonhado não existe sobre a ter-ra,eleestánoutrosítio,éistotalvezoutra lição que teremos de aprenderhojeedurantetodoorestodesteano.Aânsiadeencontrarocontentamen-to,afelicidade,faz-noslembraroricoproprietáriodasSagradasEscrituras.As suas terras produziram muito.“Que irei fazer agora?” pergunta-seele.“Nãotenhoondeguardaraminhacolheita.”Eleacreditaentãoteratin-gidoafelicidadesuprema,terrealiza-do todos os seus desejos.” Eu direi àminhaalma:Descansa,comeebebe,gozaavida.Tensalimentosemreser-vaparamuitosanos.“Agarradoàma-téria,eleacreditaqueéaabundânciade riquezas que lhe assegurará a fe-licidade. A feliz exploração das suasterrasdeu-lheumacolheitaquebatetodososrecordes.Apartirdaí,elevaiviveremabundância,vaidesfrutardetodososprazeres.MasavozdeDeusdiz-lhe então:” ó homem insensato,estanoitemesmairásentregaratuaalma.Paraquemserãotodasasrique-zasqueamassaste?”Porissoémuito

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imprudenteohomemesquecer, comopassardosanos,queelecaminhadeummundoparaoutro,sendoooutromundoeterno,tantonobemcomonomal.Nósnãomoramospermanente-menteaquinaterraesóporaquipas-samos à procura, o que espero paratodosvós,dacidadefutura,dopara-íso,onossosonhodesemprequesóexiste no céu. Às vezes acreditamos,pelomenosalguns,queotempopoderealizaraspromessasqueseatribuemaocéueseguimosentãoumcaminhoque, longedenos levaraoobjectivo,nos conduz ao abismo, às trevas dovazio e ao desespero eterno. Assimnos enganamos a nós próprios. ”As-simédaquelequeamontoariquezasparasipróprio,dizSãoLucas,emvezdeseenriquecerperanteDeus.”

Eisoresultadodaprocuraterrena.Otempoéenganador,poisacadaminu-toquepassa,amorteestáàespreita.

Masoqueéqueesperamosrealmen-te?Paraalémdos�65diasdesteanoedosanosquenosrestamaviver,ele-vemos o nosso olhar para Deus quevemanós.AsantaacçãoqueOtornapresenteentrenósésempreumapie-dosapreparaçãoparaonossoúltimodiaeanossapassagemimediataparaa eternidade. O tempo desvanece-seinexoravelmente. Mas, numa trocaadmirável,àcriaturavotadaàmortequesomosnós,DeustrazpeloSeuFi-lhoavidasobrenatural,asalvaçãoquecuraamisériadopecado.Eleintegraàeternidadeotemposemconsistência,

edáincorruptibilidadeàcarnedesti-nadaatornar-se novamentepó.ElenosconvidaàsantaMesaparanosfa-zerparticiparnasuanaturezaDivinaenosencherdagrandefelicidadequeéasuapresença.

As falsas promessas dos tempos futuros

Alguns vos farão promessas de pazsendo isso mesmo o que esperavamos habitantes do pequeno reino deIsrael, há alguns 800 anos antes deCristo.Eeisentãoqueumhomem,denomeAmós,se fazouvir.Masoqueele diz, longe de tranquilizar, espan-ta e inquieta. Sem consideração demaior ele denuncia activamente: “Aídaqueles que derrubam a Justiça, aidaqueles que odeiam quem defendeo Direito, ai daqueles que detestamquemfalacomintegridade.Poisbem,jáqueesmagaisofraco,estascasasdepedra lavrada que construístes paravóspróprios,nãoashabitareis.”Que-rementãoexpulsarestehomem,quevádarsentençasparaoutrolado.Porúnicaresposta,Amoscontaoquelheaconteceu:“Eueraumsimplespastor,disseele,ecultivavasicómoros.FoioSenhorquemeretiroudosmeusreba-nhos.FoioSenhorquemedisse:“VaiprofetizaraomeupovodeIsrael”

Amos é um profeta. Quer ele queiraquer não, ele foi escolhido por Deuse por Ele foi enviado. Mas o que eledisse não foi ele que o inventou e éo próprio Deus quem fala por seuintermédio, quem mostra que Ele é

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umDeusjusto.“Euseiqueosvossoscrimessãomuitosequeosvossope-cadossãoenormes,vósosopressoresdo justo. “Deus é justo e a sua ira áapenas a expressão do seu amor, dasuaimpaciência,sesepodedizerisso,dedaraconheceraoshomensaquiloque os pode salvar.“Procurem fazero bem e não o mal afim de viverdesequedessamaneiraoSenhorestejaconvosco. “Falando assim Deus nãofalasóparaopovoqueouveoprofe-taAmós.Deus,peloseuprofeta,falapara todos os homens que queremouvi-lo, aos homens de ��0�� comoaos homens que viveram 800 anosantes de Cristo. É portanto tambémanósqueDeusdirigeestaspalavras:“Que o Direito flua como a água e aJustiçacomoumatorrentequenuncaseesgota”.

PorintermédiodoseuprofetaAmós,opróprioDeusnosdizcomofazerparaqueesteanocorrespondaaosnossosdesejos,paraqueelesejaumanodepazemCristoJesusNossoSenhor.

Mascomohavemosdeteresperança?Não é certamente contando unica-mentecomasnossasprópriasforças,masaesperançanosensinaquequan-doaProvidênciapermiteumaprova-çãoemváriasfrentes,quenosenchedemedo,Deusnosenviaasuagraçana exacta medida da provação e datentação.Oraaíestáentãoumverda-deiroestímulo;poisseostempossãodifíceisétalvezentãoomomentodenosalegrarmospoisestetempotam-

béméumtempodegraças.

OEspíritodeDeuséaquelequenãonos deixa órfãos nos momentos daprovação, aquele que tudo nos ensi-na. Quais serão então as graças des-ta época de desordem, de confusão?Parece-mequedoexcessomesmodadesordem, triste privilégio da nossaépoca,podenascernoscoraçõesrec-tos,umasededeordem,deverdade,de pureza que será a graça do nossotempo.Àquelesqueestãoferidos,es-candalizados, traumatizados, acon-tecemuitasvezesqueaFéeaMoralCatólicas lhes apareçam finalmentecomoasalvaçãodasuavida,umaân-corasólidaquelhespermitirámanterarotaenquantoquetodososoutrosandam à deriva. Na desordem e naconfusãoactuais,nestamarénegraoucor-de-rosaqueoliberalismodespejasobreonossopobrepaís,apurezadoEvangelho, pregado sem concessõesdeespéciealguma,brilhacomumbri-lho surpreendente. Aos assaltos fu-riososdasperversõesdetodaaespé-cieDeusrespondecomumacréscimodegraças.Enojadoscomoliberalismoda nossa sociedade e os seus frutosamargos,possamasnossasalmasnãocairnodesânimo,noderrotismoenafaltadeesperança.ÉjustamenteesteanoqueoSenhoresperadenósquetenhamosesperançaequenãofique-mosagemereanoslamentardema-neira pessimista sobre a dureza realdostempos.

O acto da Esperança leva-nos ao en-

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contro de Jesus, o Salvador. “MeuDeus,euesperocomfirmezanavos-sagraçanestemundoenavidaeter-nanooutro,seeuforfielaosvossosmandamentos.”

Poisbem,oquevoshei-dededesejarsenãoquetenhamesperança?Porqueobservar os mandamentos com cadavezmaiorgenerosidadenummundocadavezmaisalheadodaFéCatólica,nummeioqueseafastacadavezmaisdos princípios elementares da moraledobomsenso,tudoistopoderianosdesanimarsenãotivéssemosaespe-rança.EstemundoemquevivemoséummundoquevirouascostasaDeus.Quantoàsautoridadescivis, elases-tão impotentes, imersas na imorali-dade,escravizadaspelomundialismosempátria,correndounicamenteemseu proveito próprio. Então, temosque ter a esperança, esta ancora so-lidamente agarrada às promessas deDeus e que nos afaz aguentar firmeapesar das contracorrentes, dos tur-bilhões desta sociedade, da loucuradoshomenssemfénemlei.

No decurso das minhas leituras, euanotei as seguintes reflexões: “Qual-querquesejaagravidadedascircuns-tâncias, tão aguda que seja a crisee tão extremo que seja o mal, existeumavozsecretaquenosordenaatermaisesperançanonossotempo.Ditodeoutramaneira:OesforçoquesefazhojeemdiacontraoCristianismosóétãoenérgicoporqueoseupropósi-toépoderproporcionaravitóriaaos

muitos e potentes elementos e ins-trumentosactuaisdoBem.Trabalhe-mos pois pelo intermédio da nossacaridade,danossapaciência,danos-samodéstiaparatornaraceitávelaosnossosprópriosadversáriosavitóriafinal.Sejamostaisquenosnossossen-timentos, nos nossos discursos, nasnossasmaneirasdeproceder,emto-dasasnossasrelações,façamosamare desejar o triunfo dos princípios deque somos os guardiões e os defen-sores, princípios esses cuja aplicaçãofrancaeprudente,podesomenteela,procuraraospovosasrealidadesporelesprocuradas.”

Quevoshei-deeuentãodesejar?De-sejo-vosagraçadeaguentar,desejo-vosagraçadepermanecerfiéis.NósrecebemosnoBaptismoavirtudedaEsperança.EstejamossempreprontosatestemunharaFéCatólica,aMoralCatólica. Não nos o esqueçamos dequenóssomososdiscípulosdaqueleque“temaspalavrasdevidaeterna”.MesmosehojeaIgrejaeasociedadenosdãooespectáculodummontededesastresmateriaisemoraissempre-cedentes, mesmo se tudo foi sujeitoaos efeitos destruidores duma refor-mulaçãoestérilemuitasvezessacrí-lega,mesmosenadafoipoupado,nósdevemos sempre estar entre aquelesqueresistemàgrandedemissão.Ade-sordemimoralnaqualnóssobrevive-mosnãotemqualquerfuturo.Fortifi-cadospelaConfirmação,alimentadospelaComunhão,renovadospelaCon-fissão,eisoqueaolongodetodoeste

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ano nos enxertará em Cristo Jesus,eis o que será ao longo de todo esteanoafontedondebrotaráafidelida-de,aperseverança,afirmeza,afontedoentusiasmoedasantidade.

Oqueaconteceránesteanode��0��?Ofimdomundo?Muitosdizemquesim. Só Deus sabe. Mas, em contra-partidaoquenóssabemosequenãoénadadenovoéquedevemosestarsemprevigilantes,porcausadavindasemprepossíveleimprevistadoMes-tre. Aquilo que nós sabemos, é quetudo concorre para o bem daquelesque amam a Deus. Por conseguinte,preenchamostodososdiasdesteanocomumgrandeamoraDeus.Aeste

Deus consagremos neste dia toos osnossospensamentos,todasasnossaspalavras,todasasnossasacções,tudooquesomosetudooquepossuímos.Ponhamo-nosaoserviçodeDeusqueé tão bom. Ernest Hello escreveu:“Todoaquelequenãocomeçaporsepôrde joelhoscorre todosos riscos”Ponhamo-nos portanto de joelhosnestedia�deJaneiro,dejoelhosparanoshumilhar,dejoelhosparadizeranossacontrição,dejoelhosparadizera nossa esperança, de joelhos paranãocorrerem��0��qualquerriscodemaior.

AbbéXavierBeauvais

Padre, o Sr. ama o Sacrifício da Missa?

Sim, porque Ela regenera o mun-do.

Que glória dá a Deus a Missa?

Umaglóriainfinita.

Que devemos fazer durante a Missa?

Compadecer-noseamar.

Padre, como devemos assistir à Santa Missa?

ComoassistiramaSantíssimaVir-

gemeaspiedosasmulheres.ComoassistiuS.JoãoEvangelistaaoSa-crifício Eucarístico e ao SacrifíciocruentodaCruz.

Padre, que benefícios recebemos ao as-sistir à Santa Missa?

Nãosepodemcontar.Vê-lo-ásnocéu. Quando assistires à SantaMissa,renovaatuaféemeditanaVítimaqueseimolaportiàDivi-naJustiça.Nãoteafastesdoaltarsemderramarlágrimasdedorede

AmissadoPadrePio

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amoraJesus,Crucificadoportuasalvação. A Virgem Dolorosa teacompanharáeserátuadoce ins-piração.

Padre, que é sua Missa?

Uma união sagrada com a PaixãodeJesus.Minharesponsabilidadeé única no mundo. (Dizia-o cho-rando.)

Que devo descobrir na sua Santa Mis-sa?

TodooCalvário.

Padre, diga-me tudo o que o senhor sofre durante a Santa Missa.

Sofro tudo o que Jesus sofreu nasua Paixão, embora sem propor-ção,sóenquantopodefazê-loumacriaturahumana.Eisto,apesardecadaumademinhasfaltasesóporsuabondade.

Padre, durante o Sacrifício divino o se-nhor carrega os nossos pecados?

Nãopossodeixardefazê-lo,jáqueéumapartedoSantoSacrifício.

O senhor considera a si mesmo um pe-cador?

Não o sei, mas temo que assimseja.

Eu já vi o senhor tremer ao subir aos de-graus do altar. Por quê? Pelo que tem de sofrer?

Nãopeloquetenhodesofrer,maspeloquetenhodeoferecer.

Em que momento da Missa o senhor so-

fre mais?

NaConsagraçãoenaComunhão.

Padre, esta manhã na Missa, ao ler a história de Esaú, que vendeu os direitos de sua primogenitura, seus olhos se en-cheram de lágrimas.

Parece-te pouco desprezar o domdeDeus!?

Por que, ao ler o Evangelho, o senhor cho-rou quando leu estas palavras: “Quem come a minha carne e bebe o meu san-gue...”

Choracomigodeternura!

Padre, por que o senhor chora quase sem-pre que lê o Evangelho na Missa?

Anósnosparecequenãotemim-portânciaqueumDeusfaleàssuascriaturas e elas O contradigam econtinuamente O ofendam comsuaingratidãoeincredulidade.

Sua Missa, Padre, é um sacrifício cruen-to?

Herege!

Perdão, Padre, quis dizer que na Missa o Sacrifício de Jesus não é cruento, mas a sua participação em toda a Paixão o é. Engano-me?

Não, nisso não te enganas. Creioquetenstodaarazão.

Quem lhe limpa o sangue durante a Mis-sa?

Ninguém.

Padre, por que o senhor chora no Ofer-

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tório?

Queressaberosegredo?Poisbem:porqueéomomentoemqueaalmaseseparadascoisasprofanas.

Durante sua Missa, Padre, o povo faz um pouco de barulho...

SeestivessesnoCalvário,nãoou-viriasgritos,blasfêmias,ruídos,eameaças?Haviaumalvoroçoenor-me.

Não o distraem os ruídos?

Emnada.

Padre, por que sofre tanto na Consagra-ção?

Não sejas maldoso... (Não queroquemeperguntesisso...)

Padre, diga-me: por que sofre tanto na Consagração?

Porquenessemomentoseproduzrealmente uma nova e admiráveldestruiçãoecriação.

Padre, por que chora no altar, e que sig-nificam as palavras que pronuncia na Elevação? Pergunto por curiosidade, mas também porque quero repeti-las com o senhor.

Os segredos do Rei Supremo nãopodem revelar-se nem profanar-se. Perguntas-me por que choro,maseunãoqueriaderramaressaspobreslagrimazinhas,mastorren-tesdelágrimas.Nãomeditasnestegrandiosomistério?

Padre, o senhor sofre, durante a Missa, a

amargura do fel?

Sim,muitofrequentemente...

Padre, como pode estar-se de pé no Al-tar?

ComoestavaJesusnaCruz.

No altar, o senhor está pregado na Cruz, como Jesus no Calvário?

Eaindameperguntas?

Como se acha o senhor?

ComoJesusnoCalvário.

Padre, os carrascos deitaram a Cruz no chão para pregar os cravos em Jesus?

Evidentemente.

Ao senhor também lhos pregam?

Edequemaneira!

Também deitam a Cruz para o senhor?

Sim,masnãodevemostermedo.

Padre, durante a Missa o senhor pro-nuncia as Sete Palavras que Jesus disse na Cruz?

Sim, indignamente, mas tambémaspronuncio.

E a quem diz: “Mulher, eis aí teu filho”?

DigoparaEla:“EisaquiosfilhosdeTeuFilho”.

O senhor sofre a sede e o abandono de Jesus?

Sim.

Em que momento?

DepoisdaConsagração.

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Até que momento?

CostumaseratéaComunhão.

O senhor diz que tem vergonha de di-zer: “Procurei quem me consolasse e não achei”. Por quê?

Porquenossossofrimentosdever-dadeiros culpados não são nadaemcomparaçãocomosdeJesus.

Diante de quem sente vergonha?

DiantedeDeusedaminhacons-ciência.

Os Anjos do Senhor o reconfortam no Al-tar em que o senhor se imola?

Pois...nãoosinto.

Se não lhe vem o consolo até à alma du-rante o Santo Sacrifício, e o senhor sofre, como Jesus, o abandono total, nossa pre-sença não serve para nada.

A utilidade é para vós. Por acasofoiinútilapresençadaVirgemDo-lorosa,deSãoJoãoedaspiedosasmulheres aos pés de Jesus agoni-zante?

Que é a Sagrada Comunhão?

É toda uma misericórdia interioreexterior,todoumabraço.PedeaJesusquesedeixesentirsensivel-mente.

Quando Jesus vem, visita somente a alma?

Oserinteiro.

Que faz Jesus na Comunhão?

Deleita-senasuacriatura.

Quando se une a Jesus na Santa Comu-nhão, que quer peçamos a Deus pelo se-nhor?

QueeusejaoutroJesus,todoJe-susesempreJesus.

O senhor sofre também na Comunhão?

Éopontoculminante.

Depois da Comunhão, continuam seus sofrimentos?

Sim, mas não sofrimentos deamor.

A quem se dirigiu o último olhar de Jesus agonizante?

ÀsuaMãe.

E o senhor para quem olha?

Parameusirmãosdeexílio.

O senhor morre na Santa Missa?

Misticamente, na Sagrada Comu-nhão.

É por excesso de amor ou de dor?

Por ambas as coisas, porém maisporamor.

Se o senhor morre na Comunhão, conti-nua a ficar no Altar? Por quê?

JesusmortopermaneciapendentedaCruznoCalvário.

Padre, o senhor disse que a vítima mor-re na Comunhão. Colocam o senhor nos braços de Nossa Senhora?

NosdeSãoFrancisco.

Padre, Jesus desprega os braços da Cruz

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para descansar no Senhor?

Soueuquemdescansan’Ele!

Quanto ama a Jesus?

Meu desejo é infinito, mas a ver-dadeéque,infelizmente,tenhodedizernadaemecausapena.

Padre, por que o senhor chora ao pro-nunciar a última palavra do Evangelho de São João: “E vimos sua glória como do Unigénito Pai, cheio de graça e de verda-de”?

Parece-tepouco?SeosApóstolos,com seus olhos de carne, viramessaglória,comoseráaquevere-mos no Filho de Deus, em Jesus,quandosemanifestarnocéu?

Que união teremos então com Jesus?

AEucaristianosdáumaideia.

A Santíssima Virgem assiste à sua Mis-sa?

JulgasqueaMãenãoseinteressaporseuFilho?

E os Anjos?

Emmultidões.

Padre, quem está mais perto do Altar?

TodooParaíso.

O senhor gostaria de celebrar mais de uma Missa por dia?

Seeupudesse,nãoquereriadescerdoAltar.

Disseram-me que traz com o senhor o seu próprio Altar...

Sim,porqueserealizamestaspala-vrasdoApóstolo:“Eutragonomeucorpo os estigmas de Jesus”. “Es-tou cravado com Cristo na Cruz.”“Castigoomeucorpo,eoreduzoàescravidão...”

Nesse caso, não me engano quando digo que estou vendo Jesus Crucificado!

(Nenhumaresposta)

Padre, o senhor se lembra de mim na Santa Missa?

Durante toda a Missa, desde oprincípioatéofim,lembro-medeti.

A Missa do Padre Pio, em seus primeiros anos, durava mais de duas horas. Sem-pre foi um êxtase de amor e de dor. Seu rosto estava inteiramente concentrado em Deus e cheio de lágrimas. Um dia, ao confessar-me, perguntei-lhe sobre este grande mistério:

Padre, quero fazer-lhe uma pergunta.

Diz-me,filho.

Padre, queria perguntar-lhe que é a Mis-sa?

Porquemeperguntasisto?

Para ouvi-la melhor, Padre.

Filho,possodizer-tequeéaminhaMissa.

Pois é isso o que quero saber, Padre.

Meu filho, estamos na Cruz, e aMissaéumacontínuaagonia.

Tirada de Tradition Catolica, nº 141,

���

nov. 98 citando “Assim Falou o Padre Pio” (S. Giovanni Rotondo, Foggia, Itá-

lia, 1974) com o Imprimatur de D. Fan-ton, Bispo Auxiliar de Vicenza.

Destruir a Missa

ConferênciadeDomMarcelLefebvre,���demarçode�97�

Qual é a crise que estamos atraves-sando atualmente? Manifesta-se, nomeu entender, sob quatro aspectosfundamentais para a Santa Igreja.Manifesta-se,àprimeiravista,acredi-toeu,emeparecequeéumdosaspec-tosmaisgraves,porque,paramim,sese estuda a história da Igreja, dá-secontadequeagrandecrisequeatra-vessouoséculoXVI,criseespantosa,quearrebatouàSantaIgreja,milhõese milhões de almas, regiões inteiras,Estados na sua totalidade, esta crisefoi,antesdetudo,umacrisedocultolitúrgico;eque,seatualmenteexistemdivisões entre aqueles que se dizemcristãos,háqueseatribuirmaisqueaoutrascausasàformadecelebrarocultolitúrgico;eseosprotestantessesepararamdaIgreja,acausaprincipaléqueosinstigadoresdoprotestantis-mo, como Lutero, disseram, desde oprimeiromomento:“Se queremos des-truir a Igreja temos que destruir a Santa Missa”.EstafoiachavedeLutero.

Tinha-se dado conta de que, se che-gasseaporasmãosnaSantaMissa,seconseguissereduziroSacrifíciodaMissaaumapurarefeição,aumaco-memoraçãoourecordação,aumasig-nificaçãodacomunidadecristã,aumarememoraçãooumemorialdaPaixãodeNossoSenhore,comoconsequên-cia,queficassemaisdébilomaissa-gradoquehánaIgreja,omaissantoque nos legou Nosso Senhor, o maissacrossanto, ele conseguiria destruiraIgreja.Ecertamente,conseguiu,pordesgraça,arrebataràIgrejanaçõesin-teiras,obrandodessaforma.

A Missa, um sacrifício

Poisbem.Hojeexisteumatendência,que ninguém pode negar, de pôr asmãos sobre a Santa Missa. Chega-seaalterarcoisasquesãoessenciaisnaSantaMissa.Equaissãoestascoisasessenciais, na Santa Missa? Em pri-meirolugar,aSantaMissaéum sacri-fício.Umsacrifícionãoéumarefeição.Mas,naatualidade,sequisdesterraratéapalavrasacrifício.SefaladeCeiaEucarística, se faladecomunhãoeu-

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carística..., se fala de tudo o que sequer, com tal de não mencionar se-querapalavrasacrifício.

E apesar disso, a Missa é, essencial-mente, um sacrifício, o Sacrifício daCruz;nãoéoutracoisa.Substancial-mente,oSacrifíciodaCruzeoSacri-fíciodaMissasãoamesmacoisaeomesmoeúnicoSacrifício.

Nãoháoutramutaçãoquenaformadeoblação.NossoSenhorseofereceude uma forma sangrenta, cruenta,noaltardaCruz,sendoElemesmooSacerdoteeaVítima.Esobrenossosaltares,seoferece,sendoigualmenteoSacerdoteeaVítima,porministériodossacerdotes.

SomenteosacerdoteéoMinistrocon-sagrado pelo Sacramento da Ordem,configurado, pelo Caráter, ao Sacer-dóciodeNossoSenhorJesusCristo,oferecendo o Sacrifício da Missa, napessoadeCristo: “in persona Christi”.

A presença real

SesetiraaTransubstanciaçãodaMis-sa...JáquevosfaleideSacrifício,fale-mosagoradasegundacoisanecessá-ria,essencial,queéaPresençaRealdeNossoSenhor,naSagradaEucaristia.Se se elimina a Transubstanciação...Estapalavraédeumaimportânciaca-pital,porque,aosuprimi-la,seomiteapresençareal,edeixa,portanto,dehaverVítima.

DeixadehaverVítimaparaoSacrifí-cio.E,portanto,deixadehaverMis-sa. Dizendo de outra maneira: deixa

de existir Sacrifício e nossa Missa évã. Ficamos sem Missa. (Deixou deseroSacrifícioquenosdeuNossoSe-nhor,naSantaCeiaenaCruz,equemandouosApóstolosoperpetuaremsobreoaltar).Éosegundoelementoindispensável. Primeiro, o Sacrifício,logo,aPresençaReal.FalemosagoradoCarátersacerdotaldoMinistro.

É o sacerdote, não os fieis

Éosacerdoteoquerecebeuoencargo,deDeusNossoSenhor,paracontinu-ar o Sacrifício. E de nenhuma formaosfieis.ÉcertoqueosfieistêmdeseuniraoSacrifício,unir-sedetodoco-ração,comtodaasuaalma,àVítima,queestásobreoaltar,comodevefazertambémosacerdote.Masosfieisnãopodem oferecer, de forma alguma, oSanto Sacrifício, “in persona Christi”,comoosacerdote.

O sacerdote está configurado ao Sa-cerdóciodeCristo,estámarcadoparasempre, para a eternidade. “Tu es sacerdos in aeternum”... Somente elepodeoferecerverdadeiramenteoSa-crifíciodaMissa,oSacrifíciodaCruz.E,porconseguinte,somenteelepodepronunciar as palavras da Consagra-ção.

De joelhos!

Não é normal que os leigos se colo-quemaoredordoaltarequepronun-ciemtodasaspalavrasdaMissa,jun-to com o sacerdote. Porque eles nãosãosacerdotesnosentidopróprioemqueoéosacerdoteconsagrado.Tam-

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poucopodemosconsiderarcomocoi-sanormalotersuprimidotodosinalde respeito à Real Presença. À forçadenãovernenhumrespeitoàSagra-da Eucaristia, acaba por não se crerna Presença Real. E quem se atreve-rá a chegar, por tal caminho, a coisaparecida, depois de meditar a divinaPalavra, segundo a qual “ao nome de Jesus, que se dobre todo joelho, no céu, na terra e nos infernos”?Sesomenteaonomeháqueajoelhar-se,vamosper-manecerdepé,quandoestápresenteemrealidade,naSagradaEucaristia?

Aolugarondeseofereceumsacrifício,sedáonomedealtar.Porisso,nãosepode aceitar, como substituto do al-tar, uma mesa comum, destinada àsrefeições,que,segundorecordavaSãoPaulo, se encontram nos refeitóriosdascasas,paracomerebeber.Oaltartemqueserpeçaquenãosetrasladeeondeseofereceesederramaosan-gue.Nomomentoemqueseconverte

oaltaremmesaderefeitóriosedeixadeseraltar.

Tomado do protestantismo

Suprimirtodososaltaresquesãover-dadeiramentetais,pôr,emseulugar,uma mesa de madeira, diante do al-tar que foi solenemente consagrado,é, precisamente, fazer desaparecer anoção de Sacrifício, que vimos é deimportânciacapitalparaa IgrejaCa-tólica. E é desta forma como chegoueseconsolidouoprotestantismo.PorestadesapariçãodaideiadeSacrifício,passouaInglaterrainteiraaocismaelogoàheresia.

... Deslizando, deslizando, pouco apouco, vamos tornar-nos protestan-tes,sequersemdar-nosconta.

(Granby,Canada,���/0�/7�)

Retirado do Livro “La Misa Nueva - Mons. Marcel Lefebvre” Editora IC-TION, BuenosAires�98�

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Aos Veneráveis Irmãos Patriarcas, Pri-mazes, Arcebispos, Bispos a outros Ordinários em paz e comunhão com a Sé Apostólica: acerca do Matrimônio Cristão em face das atuais condições, exigências, erros e vícios da família e da sociedade.

VeneráveisIrmãos:

Saudaçãoebênçãoapostólica.

�. Quão grande seja a dignidade dacasta união conjugal, podemos prin-cipalmente reconhecê-lo, VeneráveisIrmãos,pelofatodeCristo,NossoSe-nhor,FilhodoPaiEterno,tendotor-nadoacarnedohomemdecaído,nãosóterincluído,deformaparticular,omatrimônio—princípioefundamen-to da sociedade doméstica e até detodaasociedadehumana—naqueledesígnio de amor por que realizou auniversal restauração do gênero hu-mano;mas,depoisdeoterreintegra-donapurezaprimitivadesuadivinainstituição,tê-loelevadoàdignidadedeverdadeiroe“grande”(Ef5,���)sa-cramentodaNovaLei,confiando,porisso,todaasuadisciplinaecuidadoàIgreja,SuaEsposa.

��. Para que, todavia, esta renovaçãodomatrimônioproduza,emtodosos

povosdomundointeiroedetodosostempos, os seus desejados frutos, épreciso,primeiro,queasinteligênciashumanasseesclareçamacercadaver-dadeiradoutrinadeCristoarespeitodo matrimônio; e convém ainda queosespososcristãos,fortificadaafra-queza da sua vontade pela graça in-teriordeDeus,façamconcordartodoo seumododepensaredeprocedercomessapuríssimaleideCristo,pelaqualassegurarãoasipróprioseàsuafamíliaaverdadeirafelicidadeapaz.

�.Mas,aocontrário,quandodestaSéApostólica,comodeumobservatório,olhamosànossavolta,verificamosnamaior parte dos homens, com o es-quecimentodestaobradivinaderes-tauração,aignorânciatotaldaaltíssi-masantidadedomatrimôniocristão.Vós o verificais, tão bem como Nós,Veneráveis Irmãos, e o deplorais co-nosco. Desconhecem essa santidade,ouanegamimpudentementeou,ain-da,apoiando-senosprincípiosfalsosde uma moralidade nova e absoluta-mente perversa, a calcam aos pés.Esses erros perniciosíssimos e essescostumes depravados começaram aespalhar-seatéentreosfiéisepoucoapouco,dediaparadia,tendemain-

CartaEncíclicadoPapaPioXI.

Casti connubii

AcercadoMatrimónioCristão

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sinuar-senomeiodeles;porisso,emrazãodaNossamissãodeVigáriodeCristonaterra,deSupremoPastoreMestre, julgamos que Nos competelevantaraNossavozApostólicaparaafastarmosdospascigosenvenenadosas ovelhas que Nos foram confiadas,e,tantoquantoemNóscaiba,conser-vá-lasimunes.

Divisão da Encíclica

��.Resolvemos,pois, falar-vos,Vene-ráveis Irmãos, e, por meio de vós, atodaaIgrejadeCristoeatéatodoogênero humano, a respeito da natu-reza do matrimônio cristão, da suadignidade, das vantagens a benefí-ciosquedeledimanamparaafamíliae para a própria sociedade humana;dos gravíssimos erros contrários aestapartedadoutrinaevangélica,dosvícios contrários à vida conjugal, e,enfim,dosprincipaisremédiosqueémisterempregar,seguindoospassosdo Nosso predecessor de feliz me-mória,LeãoXIII,cujaCartaEncíclicaArcanum (Enc. Arcanum divinae sa-pientiae),acercadomatrimôniocris-tão, publicada há 50 anos, fazemosNossa e confirmamos pela presenteEncíclica;edeclaramosque,seexpo-mos mais largamente alguns pontosdeacordocomascondiçõesenecessi-dadesdanossaépoca,aquelaEncícli-canãosónãosetornouobsoletamasconservaseuplenovigor.

Os supremos princípios

5. E, para tomarmos como ponto departida aquela mesma Encíclica, que

équasetodaconsagradaaprovaradi-vinainstituiçãodomatrimônio,asuadignidade de sacramento e a sua in-quebrantável perpetuidade, lembre-mosemprimeirolugarofundamentoquepermaneceintactoeinviolável:omatrimônio não foi instituído nemrestaurado pelos homens, mas porDeus;nãofoipeloshomens,maspelorestauradordapróprianatureza,Cris-to Nosso Senhor, que o matrimôniofoi resguardado por lei, confirmadoeelevado;por issoessas leisnãopo-demdependeremnadadasvontadeshumanasnemsujeitar-seanenhumaconvençãocontráriadospróprioses-posos. É esta a doutrina da SagradaEscritura(Gn�,��7-��8;��,����-���;Mt�9,�eseg.;Ef5,���eseg.);éestaaconstante e universal tradição daIgreja,estaadefiniçãosolenedoSa-gradoConcíliodeTrento,que,toman-do as próprias palavras da SagradaEscritura,proclamaeconfirmaqueaperpetuidadeeaindissolubilidadedomatrimônio,bemcomoasuaunidadeeimutabilidade,provêmdeDeus,seuautor(Conc.Trid.sess.����).

6.Mas,emboraomatrimônioporsuaprópria natureza seja de instituiçãodivina, também a vontade humanatemneleasuaparte,epartenotabi-líssima;poisque,enquantoéauniãoconjugaldedeterminadohomemededeterminadamulher,nãonascesenãodo livre consentimento de cada umdosesposos:esteatolivredavontadepor que cada uma das partes entre-ga e recebe o direito próprio do ma-

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trimônio (Cf.Cod. Iur.Can. c.�08�,§ ��) é tão necessário para constituirum verdadeiro matrimônio, que ne-nhum poder humano o pode suprir(Cf.Cod.Iur.Can.c.�08�,§�).Estaliberdade, todavia,dizrespeitoaumpontosomente,queéodesaberseoscontraentesefetivamentequeremounãocontrairmatrimônioeseoque-rem com tal pessoa; mas a naturezado matrimônio está absolutamentesubtraída à liberdade do homem, demodoque,desdequealguémotenhacontraído,seencontrasujeitoàssuasleisdivinaseàssuaspropriedadeses-senciais. O Doutor Angélico, disser-tandoacercadafidelidadeconjugaleda prole, diz: “No matrimônio estascoisas derivam do próprio contratoconjugal,detalmodoque,senocon-sentimentoqueproduzomatrimôniose formulasse uma condição que lhefossecontrária,nãohaveriaverdadei-romatrimônio”(Sum.Theol.part.III,Suplem.,q.XLIX,art.�.º).

7.Auniãoconjugalé,pois,acimadetudo,umacordomaisestreitoqueodoscorpos;nãoéumatrativosensí-velnemumainclinaçãodoscoraçõesoqueadetermina,masumadecisãodeliberada e firme das vontades: edestaconjunçãodosespíritos,porde-terminaçãodeDeus,nasceumvíncu-losagradoeinviolável.

8. Esta natureza própria e especialdocontratootornairredutivelmentediferentedas relaçõesque têmentresiossimplesanimais,soboúnicoim-

pulsodeumcegoinstintonatural,emque não existe nenhuma razão nemvontade deliberada; torna-o total-mentediferente,também,dessasuni-ões humanas irregulares, realizadasforadequalquervinculoverdadeiroehonesto por vontades destituídas dequalquer direito de convívio domés-tico.

9.Emvirtudedisto, claroestáqueaautoridade legítima tem o direito eatéodeverdeproibir, impedirepu-nirasuniõesvergonhosasquerepug-namàrazãoeànatureza;mas,comosetratadealgoqueresultadapróprianaturezahumana,nãoémenoscertaaquelaprópriaadvertência,dadapeloNosso Predecessor Leão XIII, de fe-liz memória (Enc. Rerum Novarum,�5demaiode�89�):“Naescolhadogênerodevida,nãohádúvidadequetodostêmliberdadeplenaeinteiraoudeseguiroconselhodeJesusCristorelativo à virgindade, ou de se ligarpelo vínculo matrimonial. Nenhumaleihumanapoderiatiraraohomemodireito natural a primordial do casa-mento,ou limitardequalquermodoaquiloqueéaprópriacausadauniãoconjugal,estabelecidadesdeoprincí-piopelaautoridadedeDeus:“cresciteetmultiplicamini”(Gn�,��8).

�0.Por isso,auniãosantadoverda-deiro casamento é constituída, aomesmotempo,pelavontadedivinaehumana:deDeusvemaprópria ins-tituiçãodomatrimônio,osseusfins,assuasleiseosseusbens;comoau-

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I. OS BENS DO MATRIMÔNIO CRISTÃO

xílioecoadjuvaçãodeDeus,éaosho-mens,medianteodomgenerosoqueuma criatura humana faz a outra dasuaprópriapessoa,portodootempo

dasuavida,quesedevequalquerma-trimônioparticular,comosdeveresebenefíciosestabelecidosporDeus.

��.Nomomentoemquenosprepara-mosparaexporquaisequãograndessejamestesbensdivinamenteconce-didosaoverdadeiromatrimônio,aco-dem-Nosàmente,VeneráveisIrmãos,aspalavrasdaquelepreclaríssimodou-tordaIgreja,querecentementecome-moramoscomaEncíclicaAdsalutem,noXVcentenáriodesuamorte[Enc.Adsalutem,��0deabrilde�9�0]:“Sãotodosestesosbens”,dizSantoAgos-tinho,“porcausadosquaisasnúpciassãoboas:aprole,afidelidade,osacra-mento” (Santo Agost. De bono conj.c.XXIV,n.���).Quecombomdireitose pode afirmar conterem estes trêspontosumesplêndidocompêndiodetoda a doutrina acerca do matrimô-nio cristão, declara-o eloqüentemen-teomesmosanto,aodizer:“Nafide-lidade, tem-se em vista que, fora dovínculoconjugal,nãohajauniãocomoutrooucomoutra:naprole,queestaseacolhaamorosamente,sesustentecom solicitude, se eduque religiosa-mente;comosacramento,enfim,quenão se rompa a vida comum, e queaqueleouaquelaqueseseparanãosejunteaoutremnemmesmoporcausadosfilhos.Éestacomoquearegradasnúpcias,naqualseenobreceafecun-

didade da incontinência”. (S. Agost.DeGen.ad lit., livro IX., cap.VII;n.���).

O primeiro bem: os filhos

���. Entre os benefícios do matrimô-nioocupa,portanto,oprimeirolugara prole. Em verdade, o próprio Cria-dordogênerohumano,oqual,emsuabondade,quisservir-sedoministériodos homens para a propagação davida,nosdeuesteensinoquando,noparaíso terrestre, instituindo o ma-trimônio,disseaosnossosprimeirospaise,neles,atodososfuturosespo-sos:“cresceiamultiplicai-voseencheiaterra”.(Gen�,��8).Estamesmaver-dade a deduz brilhantemente SantoAgostinhodaspalavrasdoApóstoloS.PauloaTimóteo(�Tim5,���),dizen-do: “que a procriação dos filhos sejaa razãodomatrimôniooApóstolootestemunhanestes termos:euqueroqueasjovenssecasem.E,comoselhedissessem:masporquê?, logoacres-centa: para procriarem filhos, paraseremmãesdefamília”.(S.Agost.Debonoconj.cap.XXIV,n.���).

��.Paraapreciaragrandezadestebe-nefíciodeDeuseaexcelênciadoma-trimônio,bastaconsideraradignida-

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dedohomemeasublimidadedoseufim.Naverdade,ohomemultrapassatodas as outras criaturas visíveis, jápelaexcelênciadesuanaturezaracio-nal.Masacresceque,seDeusquisasgeraçõesdoshomens,nãofoisomen-teparaqueelesexistissemeenches-sematerra,masparaquehonrassemaDeus,oconhecessem,oamassemeogozassemeternamentenoCéu;emconseqüência da admirável elevaçãodo homem, feito por Deus à ordemsobrenatural, este fim ultrapassatudooque“osolhosvêem,osouvidosouvem e o coração do homem podeconceber”.(Cf.�Co��,9).Porissosevê facilmente quão grande dom dabondade divina e que precioso frutodomatrimônioéaprole,nascidapelavirtude onipotente de Deus e com acooperaçãodosesposos.

Concidadãos dos santos, familiares de Deus

���. Os pais cristãos compreenderão,além disso, que não são destinadossóapropagareconservarnaterraogênero humano e não só também aformarquaisqueradoradoresdover-dadeiroDeus,masadarfilhosàIgre-ja,aprocriarconcidadãosdossantosefamiliaresdeDeus(Ef��,�9),afimde que o povo dedicado ao culto donosso Deus e Salvador cresça cadavezmais,dediaparadia.E,emboraos cônjuges cristãos, conquanto se-jam santificados eles próprios, nãopossamtransmitirasuasantificaçãoaos filhos, porque a geração natural

davidasetornou,aocontrário,cami-nhodemorte,peloqualpassaàproleopecadooriginal,elesparticipam,to-davia,dealgummodo,dacondiçãodaprimeira união no paraíso terrestre,cabendo-lhes oferecer a sua prole àIgreja,afimdequeestamãefecundís-simadefilhosdeDeusaregenerepelaágua purificadora do batismo para ajustiça sobrenatural e a torne prolede membros de Cristo, participantesdaglória,àqual todosaspiramosdoíntimodocoração.

�5. Se uma mãe verdadeiramentecristãmeditarnestascoisas,compre-enderácertamentequeselheaplicam,nosentidomaisaltoecheiodeconso-lação,estaspalavrasdoNossoReden-tor:“Amulher...quandodeuàluzumacriança, jánãorecordaosseussofri-mentos,pelaalegriaquesenteporqueum homem veio ao mundo” (Jo �6,���); tornando-sesuperiora todasasdores, a todos os cuidados, a todosos encargos da maternidade, muitomaisjustaesantamentedoqueaque-lamatronaromana,mãedosGracos,gloriar-se-ánoSenhordeumaflores-centíssimacoroadefilhos.Ambososcônjugesolharão estesfilhos, recebi-dosdasmãosdeDeus,comalvoroçoereconhecimento,comoaumtalentoque lhes foi confiado por Deus, nãojá para o empregar somente no seuprópriointeresseounodapátriater-restre,masparaLhorestituirdepois,comoseu fruto,nodiadoJuízoFi-nal.

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A educação cristã

�6.Obemdosfilhosnãoterminacer-tamente no benefício da procriação;éprecisoquese lhe junteoutro,queconsiste na devida educação da pro-le. Apesar de toda a sua sabedoria,Deus teria provido deficientementea sorte dos filhos e de todo o gêne-ro humano se àqueles a quem deu opodereodireitodegerarnãotivessedado também o dever e o direito deeducar. Ninguém efetivamente podeignorarqueofilhonãopodebastar-see prover-se a si mesmo, nem sequerno que respeita à vida natural nem,muitomenos,noqueserefereàvidasobrenatural,masprecisapormuitosanosdoauxíliodeoutrem,deforma-çãoaeducação.É,aliás,evidenteque,conforme as exigências da naturezaeaordemdivina,estedeveredireitodeeducaçãodaprolepertenceempri-meiro lugar àqueles que começarampelageraçãoaobradanaturezaeaosquaiséproibidoexporaquesepercaaobracomeçada,deixando-aimperfei-ta. Ora, a esta tão necessária educa-çãodosfilhosprovêdomelhormodopossívelomatrimônioemque,estan-doospaisligadosentresiporvínculoindissolúvel, sempre se coadjuvem eauxiliemmutuamente.

�7.Mas,tendojátratadolongamenteemoutrolugardaEducaçãoCristãdajuventude(Enc.DiviniilliusMagistri,�� de dezembro de �9��9), podemosresumirtudoisto,repetindoaspala-vras de Santo Agostinho: “a prole...

sejarecebidacomamoresejaeducadareligiosamente”. (Santo Agostinho,De Gen. ad litt., livro IX, cap. 7, n.���),oqueestátambémsucintamenteexpressonoCódigodeDireitoCanô-nico:“ofimprimáriodoMatrimônioéaprocriaçãoeeducaçãodaprole”(C.J.C.c.�0�8,§�).

�8. Nem se deve passar em silêncioque, sendo de tanta dignidade e detanta importância ambos os deveresconfiadosaospaisparaobemdosfi-lhos, qualquer honesto uso da facul-dade dada por Deus para a geraçãodeumanovavida, segundoaordemdo Criador e da própria lei natural,é exclusivo direito a prerrogativa domatrimônioedevemanter-seabsolu-tamentedentrodos limitessagradosdocasamento.

Segundo bem: A fidelidade conjugal

�9. O segundo bem do matrimônio,mencionado por Santo Agostinho,como dissemos, é o bem da Fé, queéamútuafidelidadedoscônjugesnocumprimento do contrato matrimo-nial, de sorte que tudo o que com-pete, por este contrato, sancionadopelaleidivina,sóaocônjuge,nãolhesejanegadonempermitidoaterceirapessoa;equenemaoprópriocônjugesejaconcedidoaquiloquenãosepodeconceder,porcontrárioàsleisedirei-tosdivinoseinconciliávelcomafide-lidadeconjugal.

Unidade absoluta

��0. Esta fidelidade, portanto, exige

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emprimeirolugaraunidadeabsolutado casamento que o próprio Criadoresboçou no matrimônio dos nossosprimeiros pais, não querendo queele fosse senão entre um só homeme uma só mulher. E, embora depoisDeus, supremo Legislador, alargasseporalgumtempoestaprimeira lei,éindubitávelqueaLeiEvangélicares-tabeleceuplenamenteaantigaeper-feita unidade, ab-rogando qualquerdispensa,oqueclaramentemostramas palavras de Jesus Cristo e a dou-trinaeapráticaconstanteda Igreja.Combomdireitodeclarou,pois,sole-nementeoSagradoConcíliodeTren-to: “Cristo Nosso Senhor ensinoumaisclaramentequeporestevínculoseunemsóduaspessoas,quandodis-se:Nãosão,pois,jáduas,masumasócarne”(Conc.Trident.,sess.XXIV).

Fidelidade da castidade

���.ENossoSenhorJesusCristonãoquissomenteproibirqualquerformadoquesechamapoligamiaepolian-dria, quer sucessiva, quer simultâ-nea, ou qualquer outra ação externadesonesta,masainda,paraassegurarcompletamente a inviolabilidade dosantuáriosagradodafamília,proibiuos próprios pensamentos voluntá-riosedesejosdetaiscoisas:“Maseuvosdigoquetodoaquelequevirumamulhercomolhosdeconcupiscênciajá cometeu adultério com ela no seucoração”(Mt5,��8).Eestaspalavrasde Cristo não podem ser anuladasnem sequer pelo consentimento do

outro cônjuge, porque representama própria lei de Deus e da Natureza,quenenhumavontadehumanapodedestruir ou modificar (Confr. Decr.S.Ofício,��demarçode�679,prop.50).

����.Eaté,paraqueobemdafidelidaderesplandeçacomtodooseubrilho,asprópriasmanifestaçõesmútuasdefa-miliaridadeentreoscônjugesdevemser caracterizadas pela castidade, desortequeoscônjugessecomportememtudosegundoaleidivinaenaturaleprocuremseguirsempreavontadedo seu sapientíssimo Criador, comgrandereverênciaparacomaobradeDeus.

Amor conjugal e auxílio mútuo

���.Estafidelidadedacastidade,comolhe chama admiravelmente SantoAgostinho, resultará mais fácil e atémuitomaisagradávelenobreporou-tra consideração importantíssima: adoamorconjugal,quepenetratodososdeveresdavidafamiliarequetemno matrimônio cristão como que oprimado da nobreza. “Requer, alémdisso,afidelidadedomatrimônioquemarido e a mulher estejam entre siunidosporumamorespecial,santoepuro, equenão seamemumao ou-tro como os adúlteros, mas do mes-mo modo que Cristo amou a Igreja;porque o Apóstolo prescreveu estaregra quando disse: “Homens, amaivossasmulherescomoCristoamouaIgreja” (Ef 5, ��5; cf. Col. �, �9); cer-tamente Ele a amou com aquela sua

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caridade infinita, não por vantagemprópria,maspropondo-seunicamen-teàutilidadedaEsposa(Catec.Rom.,II,cap.VIII,q.����).Falamos,pois,deumamorfundadojánãosomentenainclinaçãodossentidos,queembrevesedesvanece,nemtambémsomentenas palavras afetuosas, mas no ínti-moafetodaalma,manifestadoaindaexteriormente,porqueoamorsepro-va com obras (Cf. São Greg. M., Ho-mil.XXXinEvang.Jo���,���-��,n.�).Estaaçãonasociedadedomésticanãocompreende somente o auxílio mú-tuo, mas deve estender-se também,ou melhor, visar sobretudo a que oscônjugesseauxiliementresiporumaformaçãoeperfeiçãointeriorcadavezmelhores,demodoquenasuauniãode vida progridam cada vez mais navirtude,principalmentenaverdadei-racaridadeparacomDeuseparacomopróximo,essacaridadeque“resumetodaaleieosprofetas”(Mt����,��0).Emsuma,todospodemedevem,sejaqual for a sua condição e o honestomododevidaquetenhamescolhido,imitaromodeloperfeitíssimodetodaa santidade, proposto por Deus aoshomens, que é Nosso Senhor JesusCristo,ecomoauxíliodeDeuschegarao cume da perfeição cristã, como oprovam os exemplos de muitos san-tos.

����.Estamútuaformaçãointeriordoscônjuges,comaassíduaaplicaçãoemse aperfeiçoarem reciprocamente,pode dizer-se com toda a verdade,comoensinaoCatecismoRomano(p.

II,cap.VIII,q.��),causaerazãopri-máriadomatrimônio,nãoseconside-randojápormatrimônio,nosentidomaisrestrito,ainstituiçãodestinadaà legítimaprocriaçãoeeducaçãodosfilhos,mas,nosentidomaislato,aco-munidade,aintimidadeeasociedadedeumavidainteira.*

A ordem no amor

��5.Comestemesmoamorsedevemconciliartantoosoutrosdireitoscomoosoutrosdeveresdomatrimônio,demodo que sirva não só como lei dejustiçamas tambémcomonormadecaridadeaquelapalavradoApóstolo:“Omaridodêàmulheraquiloquelheédevido;igualmenteamulheraoma-rido”(�Cor7,�).

��6.Ligada,enfim,comovínculodes-ta caridade a sociedade doméstica,floresceránecessariamenteaquiloqueSanto Agostinho chama a ordem doamor.Essaordemimplicadeumladoa superioridade do marido sobre amulhereosfilhos,edeoutroaprontasujeiçãoeobediênciadamulher,nãopelaviolência,mascomoarecomendaoApóstolocomestaspalavras:“Sujei-tem-seasmulheresaosseusmaridoscomoaoSenhor;porqueohomemécabeçadamulher,comoCristoécabe-çadaIgreja”.(Ef5,����-���).

��7. Tal sujeição não nega nem tira àmulher a liberdade a que tem plenodireito, quer pela nobreza da perso-nalidade humana, quer pela missãonobilíssimadeesposa,mãeecompa-nheira,nemaobrigaacondescender

���

com todos os caprichos do homem,quando não conformes à própria ra-zão ou à dignidade da esposa, nemexigeenfimqueamulherseequipareàs pessoas que se chamam em direi-to “menores”, às quais, por falta demaiormadurezadejuízoouporinex-periênciadascoisashumanas,nãosecostumaconcederolivreexercíciodosseusdireitos;masproíbeessalicençaexageradaquedesprezaobemdafa-mília,proíbequenocorpodestafamí-liasesepareocoraçãodacabeça,comgrandedetrimentodetodoocorpoeperigo próximo de ruína. Se efetiva-menteohomeméacabeça,amulheré o coração; e, se ele tem o primadodogoverno,tambémaelapodeedeveatribuir-secomocoisasuaoprimadodoamor.

Hierarquia doméstica

��8.Ograueomododestasujeiçãodamulheraomaridopodevariarsegun-doavariedadedaspessoas,dosluga-resadostempos;eaté,seohomemmenosprezaroseudever, competeàmulhersupri-lonadireçãodafamília.Masemnenhumtempoelugarélíci-tosubverterouprejudicaraestruturaessencialdaprópriafamíliaeasualeifirmementeestabelecidaporDeus.

��9. Da observância desta ordem en-treomaridoeamulherjáfaloucommuitasabedoriaonossopredecessorLeão XIII, de feliz memória, na En-cíclica que já recordamos acerca doMatrimônio Cristão: “O marido é ochefedafamíliaeacabeçadamulher;

e esta, portanto, porque é carne dasuacarneeossodosseusossos,nãodevesujeitar-seaobedeceraomaridocomoescrava,mascomocompanhei-ra,istoé,detalmodoqueasujeiçãoquelheprestanãosejadestituídadedecoro nem de dignidade. Naqueleque governa e naquela que obedece,reproduzindoneleaimagemdeCris-toenelaadaIgreja,seja,pois,aca-ridade divina a perpétua reguladoradosseusdeveres”(Enc.Arcanum,�0defev.de�880).

�0. São estas, portanto, as virtudesquesecompreendemnobemdafide-lidade: unidade, castidade, caridade,nobreedignaobediência;palavrasquequeremdizeroutrastantasvantagensdoscônjugesedoseucasamento,en-quanto asseguram ou promovem apaz,adignidadeeafelicidadedoma-trimônio.Nãoadmira,pois,queestafidelidade seja sempre consideradaentreosinsignesbenefíciosprópriosdomatrimônio.

O terceiro bem: O Sacramento

��.Entretanto,oconjuntodetantosbenefícioscompleta-seecoroa-seporestebemdomatrimôniocristãoaquechamamos, com a palavra de SantoAgostinho, “sacramento”, o qual sig-nificaaindissolubilidadedovínculoetambémaelevaçãoeconsagraçãoqueJesusCristofezdocontratocomosi-naleficazdagraça.

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���.E,antesdemaisnada,noqueres-peitaà indissolubilidadedocontratonupcial,opróprioCristoneleinsiste,dizendo:“Nãosepareohomemaquiloque Deus uniu” (Mt �9, 6); e: “Todoaquelequeabandonaasuamulheretoma outra comete adultério; e todoaquelequetomaamulherabandona-dapelomaridocometeadultério”(Lc�6,�8).

��. Nesta indissolubilidade colocaSanto Agostinho, em termos claros,aquiloaqueelechamaobemdosa-cramento, com estas claras palavras:“Porsacramento,pois,seentendequeomatrimôniosejaindissolúvelequeo repudiado ou a repudiada não seunaaoutrem,nemsequerporcausadosfilhos”.(S.Agost.,DeGen.adlitt.,liv.IX,c.7,n.���).

���. Esta inviolável firmeza, emboranãopertençaacadamatrimôniocoma mesma medida de perfeição, cabe,todavia,atodososverdadeirosmatri-mônios,porqueapalavradoSenhor:“NãosepareohomemaquiloqueDeusuniu”,tendosidopronunciadaapro-pósito do matrimônio dos primeirosprogenitores, protótipo de qualqueroutromatrimôniofuturo,deveneces-sariamenteabrangerdemodoabsolu-totodososverdadeirosmatrimônios.Se, antes de Cristo, a sublimidade eseveridade da lei primitiva fora umpoucoatenuadaeMoiséspermitiraaalguns membros do próprio povo de

Deus, em virtude da dureza de seuscorações,daro libeloderepúdiopordeterminados motivos, Jesus Cristo,pelo seu poder de Legislador supre-mo,revogouessapermissãodemaiorliberdade e reintegrou no seu plenovigoraleiprimitivaporestaspalavrasquenuncamaissepoderãoesquecer:“NãosepareohomemaquiloqueDeusuniu”. Muito sabiamente, pois, res-pondia um Nosso predecessor de fe-lizmemória,PioVI,aoBispodeÉgernosseguintestermos:“Porissosevêclaramentequeomatrimônio,aindano estado de natureza e certamentemuitoantesdetersidoelevadoàdig-nidade de sacramento propriamentedito, importavaconsigo,pelasuadi-vina instituição, a perpetuidade e aindissolubilidadedovínculo,demodoquenãopudesseserdissolvidodepoispornenhumaleicivil.Éporissoque,embora o casamento possa existirsemoSacramento,comoentreosin-fiéis, ainda nesse matrimônio deve,todavia, existir e certamente existeaquelevínculoperpétuo,quedesdeaprimeiraorigemétãoinerenteaoma-trimônio, que não está sujeito a ne-nhum poder civil. Por isso, qualquermatrimônioquesedigacontraídoouestá contraídodemodoqueseja umverdadeiro matrimônio, e neste casoteráanexoessevínculoquepordirei-todivinoéinerenteaqualquerverda-deiromatrimônio;ouentãosesupõecontraídosemessevínculoperpétuo,

II. A Indissolubilidade

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e neste caso não é matrimônio masunião ilícita, contrária pelo seu ob-jetoà leidivina,eque,por isso,nãose pode licitamente contrair nemmanter”. (Pio VI, Rescript. ad Episc.Agriens.,��dejulhode�789).

Exceções da indissolubilidade

�5. Se esta indissolubilidade parecesofreralgumaexceção,emborararís-sima, como em certos matrimôniosnaturais, contraídos somente entreosinfiéis,ouentrefiéisemmatrimô-nios ratos mas não consumados, talexceçãonãodependedavontadedoshomens, mas sim do direito divino,de que é única guarda e intérpretea Igreja de Cristo. Mas tal faculdadenuncapoderáaplicar-sepornenhummotivoaomatrimôniocristãoratoeconsumado.Neste,efetivamente,as-sim como o vínculo conjugal obtéma plena perfeição, também resplan-deceporvontadedeDeusamáximaestabilidade e indissolubilidade, quenenhumaautoridadehumanapoderáabalar.

A íntima razão da indissolubilidade

�6.Sequisermosperscrutarreveren-tementeaíntimarazãodestavontadedivina, facilmente a encontraremos,Veneráveis Irmãos, naquela signifi-caçãomísticadomatrimôniocristão,queplenaeperfeitamenteseverificano matrimônio consumado entre osfiéis.Defato,omatrimôniodoscris-tãos,segundootestemunhodoApós-tolo,nasuaepístolaaosEfésios,aquenoprincípionosreferimos(Ef5,���),

representa a união perfeitíssima deCristocomaIgreja:“Égrandeestesa-cramento, mas, digo, em Cristo e naIgreja”;estauniãonuncapoderádis-solver-sepornenhumaseparação,en-quantoviverCristoeporeleaIgreja.Claramente ensina Santo Agostinhocom estas palavras: “Em Cristo e naIgreja garantiu-se efetivamente isto:queovivonãosesepareeternamen-tedovivopornenhumdivórcio.Tãozelosa é a observância deste sacra-mentonacidadedenossoDeus...istoé,naIgrejadeCristo...,que,quando,paraterfilhos,ouasmulherestomammarido ou os homens tomam mu-lher,nãoélícitoabandonaramulherestéril para tomar outra fecunda. Sealgumfazisto,éréudeadultério,nãopelaleidesteséculo(emque,median-teorepúdio,seconcedecontrairma-trimônio com outra, sem considerarissocomocrime,oque,segundootes-temunhodoSenhor,oSantoMoiséspermitiu aos Israelitas, por causa dadurezadosseuscorações)—maspelalei do Evangelho, assim como tam-bémérédeadultérioamulherquesecasar com outro” (Santo Agostinho,Denupt.etconcup.,livroI,cap.�0).

As vantagens da indissolubilidade

�7. Quantas e quão grandes vanta-gensderivamdaindissolubilidadedomatrimônio, facilmente o entendetodo aquele que refletir um instantequernobemdospróprioscônjugesedosfilhos,quernasalvaçãodetodaasociedade humana. Em primeiro lu-

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gar, os cônjuges têm na estabilidadeabsoluta do vínculo aquele sinal cer-to de perenidade que é exigido porsua natureza pela generosa doaçãodetodaapessoaepelaíntimauniãodos corações, visto que a verdadeiracaridade não conhece limites (� Cor��,8).Elaconstitui,alémdisso,pelacastidade fiel, um sólido baluarte dedefesacontraastentaçõesdeinfideli-dade,querinternas,querexternas,seelassobrevierem;excluindoqualqueransiedade ou terror de que, pela ad-versidadeouvelhice,ooutrocônjugeseafaste,estabelece-lheumatranqüi-lidade segura. Concorre igualmenteparaaumentaradignidadedoscônju-geseoseumútuoauxílio,damanei-ramaisoportuna, recordando-lhesopensamento do vínculo indissolúvelquenãocomvistasainteressescadu-cosnemparasatisfaçãodosprazeres,masparacooperaremjuntamentenaconsecuçãodebensmaisaltoseeter-nos, é que eles contraíram o pactonupcialquesóamortepoderádissol-ver.Admiravelmenteainda,aestabili-dadedomatrimônioprovêaocuidadoeeducaçãodosfilhos,obradelongosanos,cheiadegravesdeveresedefa-digas, que mais facilmente poderãorealizar os pais unindo suas forças.Enãosãomenoresosbenefíciosquedeladimanamparatodaasociedade.Defato,aexperiênciaensinaquecon-correimensamenteparaahonestida-dedevidaemgeraleparaa integri-dade dos costumes a inquebrantávelestabilidade dos matrimônios, e que

aestritaobservânciadessaordemas-seguraafelicidadeeasalvaçãodoEs-tado.EqueoEstadoseráoqueforemasfamíliaseoqueforemoshomensde que se compõe, como o corpo demembros. Donde vem que todos osquedefendemenergicamenteainvio-lável estabilidade do matrimônio setornam altamente beneméritos querdobemprivadodosespososedeseusfilhos,querdobempúblicodasocie-dadehumana.

A graça sacramental

�8.MasnestebenefíciodoSacramen-to, além das vantagens da inviolávelestabilidade,secontêmaindaoutras,maisexcelentes,admiravelmentede-signadas no próprio vocábulo de Sa-cramento;paraoscristãos,estapala-vranãoévãevaziadesentido,porquesabemqueCristo,instituidoreaper-feiçoador dos veneráveis Sacramen-tos(Conc.Trid.Sess.XXIV),aoelevarà dignidade de verdadeiro e real Sa-cramentodaNovaLeiomatrimôniodosseusfiéis,otornou,defato,sinalefontedaquelaespecialgraçainteriorporque“elevaoamornaturalàmaiorperfeição,confirmaasuaindissolúvelunidadeesantificaospróprioscônju-ges”(Cone.Trid.Sess.XXIV).

�9.VistoqueCristoestabeleceuaindaqueoválidoconsentimentomatrimo-nialentreosfiéisfosseosinaldagra-ça,daíderivaqueocaráterdeSacra-mentoestátãointimamenteanexoaomatrimôniocristãoque,entreosba-tizados, não pode haver matrimônio

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“quenãosejaaomesmotempoSacra-mento”(Cod.Jur.Can.c.�0���).

Outros dons especiais

��0.Porisso,quandoosfiéisprestamesse consentimento sinceramente,abrem para si mesmos o tesouro dagraçasacramental,ondepodemhau-rirasforçassobrenaturaisparacum-prir a sua missão e os seus deveresfielmente,santamente,comperseve-rança,atéamorte.

���. É que este sacramento, naquelesque não lhe opõem obstáculo posi-tivo, não só aumenta o princípio devidasobrenatural,istoé,agraçasan-tificante,maslhesacrescenta,ainda,outros dons especiais, disposições egermes de graça; aumenta e aperfei-çoaasforçasdanatureza,afimdequeos cônjuges possam não só compre-ender bem mas sentir intimamente,apreciarcomfirmeconvicçãoe reso-lutavontade,epraticartudooqueserefere ao estado conjugal e aos seusfinsedeveres;paratalefeitoconfere-lhes,enfim,direitoaoauxíliodagraçatodasasvezesquedeleprecisamparacumprirasobrigaçõesdesteestado.

Cooperação generosa

����. Assim como é lei da providênciadivina, na ordem sobrenatural, queo homem não colha o fruto comple-todosSacramentos,recebidosdepoisdousodarazão,senãocooperarcoma graça, assim também a graça pró-priadomatrimôniopermaneceriaemgrandepartetalentoinútilsepultado

na terra se os cônjuges não aprovei-tassem as forças sobrenaturais, cui-dandodecultivarefazerfrutificaraspreciosassementesdagraça.Mas,se,aocontrário,seesforçamquantopo-dem por ser dóceis à graça, poderãosuportar os encargos do seu próprioestado, cumprir os deveres e sentir-se-ão, por virtude de tão grande Sa-cramento,fortificados,santificadosecomoqueconsagrados.Porque,comoensinaSantoAgostinho,assimcomopeloBatismoepelaOrdemohomemé designado e ajudado ou para levarumavidacristãouparaexerceromi-nistériosacerdotal,enuncalhepode-ráfaltaroauxíliosacramental,assimtambém(aindaquesemocarátersa-cramental) os fiéis, unidos uma vezpelovínculodosacramentodomatri-mônio,nuncamaispoderãoserpriva-dosdoseuauxílioedoseulaço.Eaté,comoafirmaomesmoSantoDoutor,essevínculosagradoolevarãoconsi-go,aindaquandocaídosemadultério,embora não já para glória da graça,mas para castigo da culpa, “do mes-mo modo que a alma do apóstata,quebrandoauniãocomCristo,aindadepois de perdida a fé, não perde oSacramentodaférecebidonaáguadaregeneração”(S.Agostinho,Denupt.etconcup.,livroI,cap.�0).

Imagem de uma união divina

���.Queosesposos,pois,nãopresosmas adornados pela cadeia áurea doSacramento,nãoentravadosmasfor-talecidosporele,empreguemtodosos

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seusesforçosafimdequesuaunião,nãosópelaforçaesignificaçãodoSa-cramentomastambémporseuespí-ritoeporseuscostumes,sempresejae permaneça imagem viva da uniãofecundíssima de Cristo com a Igreja,queécertamentemistériovenerandodeperfeitíssimacaridade.

����. Se se considerarem todas estascoisas, Veneráveis Irmãos, com pon-deração e fé viva; se estes preciosos

bens do matrimônio, a prole, a fide-lidade e o sacramento, forem postosnadevidaluz,ninguémpoderádeixardeadmirarasabedoria,asantidadeeabondadedivinaquetãoabundante-mente providenciou que ao mesmotemposemantivesseadignidadeeafelicidadedoscônjugeseseobtivesseaconservaçãoepropagaçãodogênerohumano,somentepelacastaesagra-dauniãodovínculonupcial.

AdeslealdadesupremaparacomDeuséaheresia!Éopecadodospecados,amaisrepugnantedascoisasqueDeusreprova neste mundo enfermo. Noentanto, quão pouco entendemos desuaodiosidadeexcessiva!ÉapoluiçãodaverdadedeDeus,oqueéapiordetodasasimpurezas.

Porém,comosomosquaseindiferen-tesaela!Nósafitamosepermanece-mos calmos. Encostamos nela e nãotrememos. Misturamo-nos com seusfautoresenãotemosmedo.

Nósavemostocarascoisassantasenão percebemos o sacrilégio. Inala-mosseuodorenãomostramosqual-quersinaldedetestaçãooudesgosto.Algunsdenósafetamostersuaami-

zade;ealgunsatébuscamatenuarasculpasdela.

Nós não amamos a Deus o bastantepara termos raiva pela glória d’Ele.Não amamos os homens o bastantepara sermos caridosamente sincerospelasalmasdeles.

Tendoperdidootato,opaladar,avi-sãoetodosossentidosdascoisasce-lestiais,somoscapazesdearmarten-da no meio dessa praga odienta, emtranquilidade imperturbável, recon-ciliadoscomsuarepulsividade,enãosemdeclaraçõesemquenosgabamosde admiração liberal, talvez até comumademonstraçãosolícitadesimpa-tiastolerantes[porseusfautores].

Aheresia

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Por que estamos tão, tão abaixo dossantosantigos,emesmodosapósto-losmodernosdestesúltimostempos,naabundânciadenossasconversões?

Porque não temos a antiga firmeza!Falta-nosovelhoespíritodaIgreja,ovelhogênioeclesiástico.

Nossa caridade é insincera, pois nãoé severa; e não é persuasiva, pois éinsincera.Carecemosdedevoçãopelaverdadecomoverdade,comoverdadedeDeus.

Nosso zelo pelas almas é débil, poisnão temos zelo pela honra de Deus.AgimoscomoseDeusficasselisonjea-docomconversões,aoinvésdeseremalmas que tremem, resgatadas porumexcessodemisericórdia.

Dizemos aos homens meia-verdade,

a metade que calha melhor à nossaprópriapusilanimidadeeaosprecon-ceitosdeles;edepoisnosadmiramosdetãopoucosseconverterem,eque,dessespoucos,tantosapostatem.

Somostãofracosapontodenossur-preendermosdequenossameia-ver-dadenãotevetantosucessoquantoaverdadeinteiradeDeus.

Onde não há ódio à heresia, não hásantidade.

Umhomem,quepoderiaserumapós-tolo,torna-seumaúlceranaIgrejaporfaltadejustaindignação”(Pe.Frede-rickWilliamFABER[�8���-�86�],ThePrecious Blood, or: The Price of OurSalvation [O Preciosíssimo Sangue,ou:OPreçodeNossaSalvação],�860,pp.����-��6.