MOTIVAÇÃO E RECURSOS FAMILIARES
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REBECCA DE MAGALHES MONTEIRO
MOTIVAO E RECURSOS FAMILIARES: RELAO COM ACOMPREENSO DE LEITURA EM ESCOLARES
ITATIBA2010
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REBECCA DE MAGALHES MONTEIRO
MOTIVAO E RECURSOS FAMILIARES: RELAO COM ACOMPREENSO DE LEITURA EM ESCOLARES
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao Stricto Sensu em Psicologia da
Universidade So Francisco para obteno do
ttulo de Mestre.
ORIENTADOR(A): ACCIA APARECEIDA ANGELI DOS SANTOS
ITATIBA2010
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Ficha catalogrfica elaborada pelas bibliotecrias do Setor deProcessamento Tcnico da Universidade So Francisco.
37.015.319 Monteiro, Rebecca de Magalhes.M779m Motivao e recursos familiares: relao com a
compreenso de leitura em escolares / Rebecca de MagalhesMonteiro. -- Itatiba, 2010.
130 p.
Dissertao (mestrado) Programa de Ps-GraduaoStricto Sensu em Psicologia da Universidade SoFrancisco.
Orientao de: Accia Aparecida Angeli dos Santos.
1. Compreenso de leitura. 2. Ensino fundamental. 3.3. Famlia. 4. Aprendizagem. 5. Avaliao psicoeducacional.6. Metas de realizao. I. Santos, Accia Aparecida Angelidos. II. Ttulo.
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Ao meu marido e aos meus pais.
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AGRADECIMENTOS
Profa Dra. Accia Aparecida Angeli dos Santos, exemplo de profissional
competente, generosa e dedicada que durante todo o perodo de orientao apostou no meu
trabalho e me ensinou a lidar com os desafios de uma pesquisa;
Ao meu marido por me apoiar e acreditar nos meus sonhos, valorizando as minhas
conquistas e me incentivando a enfrentar os momentos difceis;
Aos meus pais que esto sempre do meu lado torcendo por mim;
minha sogra Cynthia e ao meu sogro Helosio por comemorarem comigo cada
passo importante que dou na minha vida;
minha tia Snia pelo carinho e por tornar parte desta pesquisa possivel;
Banca de Exame de Argio Final, composta pelos Professores Doutores
Makilim Nunes Baptista e Katya Luciane de Oliveira, pelas observaes feitas para a
melhoria deste trabalho;
Professora Doutora Selma de Cssia Martinelli pelas constribuies realizadas no
Exame de Qualificao;
Aos Professores do Mestrado, Ana Paula Porto Noronha, Maria Cristina de Azevedo
Joly, Fermino Fernandes Sisto, Claudette Maria Medeiros Vendramini e Ricardo Primi que
me ensinaram tanto e com certeza contriburam para meu crescimento acadmico;
s companheiras de pesquisa Thatiana e Jocemara pela colaborao em todos os
trabalhos desenvolvidos durante o Mestrado.
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RESUMO
Monteiro, R. M. (2010). Montivao e Recursos Familiares: relao com a compreensode leitura em escolares. Dissertao de Mestrado, Programa de Ps-Graduao StrictoSensu em Psicologia, Universidade So Francisco, Itatiba, 130 p.
Este estudo teve por objetivo explorar e verificar a relao existente entre a motivao paraaprendizagem, os recursos do ambiente familiar e o desempenho na compreenso da leitura.Alm disso, foram averiguados o desempenho dos alunos em cada um dos instrumentosutilizados e as diferenas encontradas entre as variveis sexo, tipo de escola e ano escolarem cada um dos testes. Participaram da pesquisa 518 crianas matriculadas do terceiro aoquinto ano do Ensino Fundamental de uma escola particular e uma escola pblica de BeloHorizonte, de ambos os sexos e com idades variando entre 7 e 16 anos. Os pais dessesalunos tambm responderam pesquisa, visto que um dos instrumentos era direcionadopara eles. Os testes escolhidos foram a Escala de Avaliao da Motivao para a
Aprendizagem verso infantil EMAPRE-I, o Inventrio dos Recursos do AmbienteFamiliar RAF e dois textos preparados de acordo com a tcnica de Cloze. Para a anlisedos dados utilizou-se provas estatsticas descritiva e inferencial. Os resultados permitiramencontrar diferenas significativas entre os sexos, o tipo de escola e os anos escolares dossujeitos nos quatro instrumentos. Quanto s correlaes entre os instrumentos, verificou-sea existncia de uma correlao negativa e significativa entre as metas performance-aproximao e performance-evitao em relao aos textos de Cloze e as categorias e ototal do RAF. Esses resultados revelam que nesta amostra os alunos mais voltados para ameta performance-aproximao e meta performance-evitao, possuiam os pioresresultados na compreenso da leitura e recebiam menos suporte e recursos familiares. Ascorrelaes mais significativas foram entre os textos de Cloze e as categorias e o total do
RAF. Isso sugere que os pais que acompanham mais os seus filhos na escola, sejasupervisionando as tarefas escolares, disponibilizando materiais promotores dodesenvolvimento ou proporcionando um enriquecimento cultural, favorecem o desempenhodos seus filhos em relao compreenso da leitura.
Palavras-chave: metas de realizao, famlia, ensino fundamental, aprendizagem, avaliaopsicoeducacional.
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ABSTRACT
Monteiro, R. M. (2010). Motivation and Family Resources: The relationship with students
reading comprehension. Masters Dissertation, Stricto Sensu Post-Graduation inPsychology Program, So Francisco University, Itatiba, 130 p.
This study aimed to explore and assess the relationship between motivation for learning, theresources of the family environment and performance in reading comprehension. Inaddition, investigated the performance of students in each of the instruments used and thedifferences between gender, type of school and school level in each test. The participantswere 518 children enrolled in the third to fifth grades at private and public schools in BeloHorizonte, of both genders and aged from 7 to 13 years old. The parents of these studentsalso responded to the survey, as one of the instruments was directed to them. The tests
chosen were the Escala de Avaliao da Motivao para a Aprendizagem verso infantil EMAPRE-I, o Inventrio dos Recursos do Ambiente Familiar RAF and two textsprepared with the Cloze technique. For the data analysis descriptive and inferentialstatistics tests were used. The results showed significant differences between the genders,the type of school and school levels of the subjects in the four instruments. With respect tocorrelations between the instruments, noted that there was a negative correlation betweenperformance-approach goal and performance-avoidance goal compared to Clozes textsand the categories and RAFs total. These results show that in this sample the studentsfocused on the performance-approach goal and performance-avoidance goal, have a worstresults in reading comprehension and receive less family support and resources. The mostsignificant correlations were between Clozes texts and the categories and RAFs total. This
suggests that parents who look after their children in school, overseeing homework,providing materials for further developing and providing cultural enrichment, promote theperformance of their children in relation to reading comprehension.
Keywords: achievement goals; family; elementary school; learning; psychologicalassessment.
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Sumrio
RESUMO ..................................................................................................................................................v
ABSTRACT ............................................................................................................................................vi
APRESENTAO..................................................................................................................................1
CAPTULO 1 ...........................................................................................................................................5
A MOTIVAO PARA APRENDIZAGEM E SUAS IMPLICAES NO CONTEXTO
ESCOLAR ................................................................................................................................................5
CAPTULO 2 .........................................................................................................................................22
SUPORTES E RECURSOS FAMILIARES NO CONTEXTO ESCOLAR DA CRIANA....22
CAPTULO 3 .........................................................................................................................................36
A COMPREENSO DA LEITURA E SUAS RELAES COM A APRENDIZAGEM DO
ALUNO ...................................................................................................................................................36
MTODO ...............................................................................................................................................50
Participantes...................................................................................................................50
Instrumentos ...................................................................................................................51
Procedimento .............................................................................................................................56
RESULTADOS......................................................................................................................................58
DISCUSSO DOS RESULTADOS ...................................................................................................83
CONSIDERAES FINAIS...............................................................................................................96
REFERNCIAS ..................................................................................................................................101
ANEXOS...............................................................................................................................................111
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APRESENTAO
As diversas influncias recebidas pela criana ao longo da sua vida escolar, como a
educao dos pais, o contexto scio-econmico e o prprio ambiente da escola, tm sido
amplamente discutidas por muitos educadores, sendo a psicologia educacional uma das
reas que mais se preocupa com essas questes. Coll (2004) considera a psicologia da
educao como uma disciplina ponte, de natureza aplicada, entre a psicologia e a educao.
Para o autor, o objeto de estudo dessa disciplina so os processos de mudana, basicamente
identificados com o desenvolvimento, com a aprendizagem e com a socializao, que
ocorrem em conseqncia da participao das pessoas numa diversidade de situaes ou
atividades educacionais. O autor acrescenta que o estudo da psicologia educacional implica
a elaborao de explicaes fundamentadas e coerentes sobre esses processos de mudana,
com base em pesquisa e interveno que orientam a atividade profissional de educadores.
Sob essa perspectiva, estudiosos de diversos pases, inclusive do Brasil, (Broussard
& Garrison, 2004; Gouveia, Diniz, Gouveia & Cavalcante, 2008; Shih, 2005; entre outros)
tm dirigido a ateno s questes motivacionais que se relacionam com o desempenho
escolar (aqui representado pela compreenso da leitura), e em como o contexto familiar
participa desses aspectos da aprendizagem (Baker, Scher & Mackler, 1997; Retelsdorf &
Mller, 2008; Marturano, 2006; McElvany, Becker & Ludtke; 2009; entre outros). A
motivao, entendida como um conjunto de crenas e valores conscientes que orientarao do sujeito (Anderman & Maehr, 1994; Dweck & Leggett, 1988; Elliott & Dweck,
1988; Maehr & Midgley, 1991), a compreenso da leitura considerada como uma das
habilidades fundamentais para o desenvolvimento cognitivo da criana (Joly, 2009; Santos,
Primi & Vendramini, 2002; Wang, Jiao, Young, Brooks & Olson, 2008) e os recursos
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familiares proporcionados pelos pais (DAvila-Bacarji, Marturano & Elias, 2005;
Marturano, 2006; Soares & cols., 2004), so temas de pesquisas importantes para a
compreenso do contexto infantil.
A questo especfica sobre o envolvimento dos alunos na aprendizagem escolar temtomado espao nas pesquisas, nos ltimos anos, por representar um problema de
insatisfao geral de muitos daqueles responsveis pelas atividades educacionais
sistemticas (Pintrich & Schunck, 1996). Alguns autores consideram que a maneira como
os estudantes interagem com o ambiente educacional pode determinar a qualidade de seu
rendimento acadmico (Ames, 1992; Tapia & Montero, 2004; Zenorini, 2007).
Os professores, a escola e a famlia tambm so considerados importantes para o
sucesso da aprendizagem. Hidi e Harackiewicz (2000) ainda acrescentam dois aspectos
essenciais para essa questo, as habilidades e o esforo dos estudantes. Os autores
acreditam que a falta de esforo pode estar ligada a diversas variveis, tais como, trabalhos
escolares considerados muito difceis ou entediantes, professores exigirem mais do que
deveriam e atividades acadmicas no serem as preferidas entre outras disponveis aos
estudantes. Alm dessas variveis, percebe-se uma alterao da motivao escolar com o
passar dos anos de escolarizao. Alunos de anos mais avanados sentem-se mais
motivados pelo critrio nota, do que por curiosidade, prazer ou satisfao em realizar
tarefas escolares (Ames, 1992; Bzuneck, 2004a; entre outros).
Com o aumento de pesquisas sobre o tema, alguns estudiosos buscaram construir
instrumentos que pudessem avaliar a motivao para aprendizagem do aluno
(Boruchovitch, 2008; Gouveia & cols., 2008; Martinelli & Bartolomeu, 2007; Pintrich &
De Groot, 1990; Siqueira & Wechsler, 2006; Zenorini, 2007; entre outros). Esses autores
tm se baseado em diferentes abordagens sobre motivao, desde teorias que utilizam a
perspectiva da autodeterminao at a abordagem sobre Metas de Realizao. No caso da
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presente pesquisa, a teoria de motivao focalizada ser a de Metas de Realizao, sendo
elas, meta aprender, meta performance-aproximao e meta performance-evitao.
Independente da abordagem utilizada, todos os instrumentos procuram identificar o tipo de
orientao ou propsito que o aluno possui para aprender. Em muitos desses estudos arelao entre motivao e desempenho acadmico foi avaliada, revelando existir uma
associao entre eles (Gouveia & cols., 2008; Martinelli & Genari, 2009; Pintrich & De
Groot, 1990; Zenorini, 2007).
Ao se considerar o desempenho acadmico, estudos sobre a compreenso da leitura
tem apontado essa habilidade como fundamental na trajetria escolar. Para autores como
Cunha, (2006), Joly, (2009), Santos e cols. (2002) e Wang e cols., (2008), entre outros, a
leitura representa uma habilidade importante no ambiente escolar, j que muitas das
disciplinas curriculares dependem da compreenso que o aluno possui sobre o tema, o
enunciado da tarefa e sua interpretao. O aluno que capaz de dar sentido a um texto ou a
uma histria, consegue, por meio de habilidades adquiridas com a leitura, conquistar outras
aprendizagens exigidas em diversas disciplinas.
Ao refletir sobre o desempenho escolar e a motivao do aluno importante lembrar
que o contexto familiar o primeiro ambiente de aprendizagem, visto ser o local onde a
criana tem contato com uma srie de estmulos e informaes que so passadas por seus
pais/familiares (Marturano, 2006; Soares & cols., 2004). Esses estmulos e informaes
podem ser representados por recursos e suportes disponveis no ambiente familiar da
criana (DAvila-Bacarji & cols., 2005; Marturano, 2006; Silva & Hasenbalg, 2000; Soares
& cols., 2004). Sendo assim, outra questo que se torna relevante, a maneira como os
recursos e suportes familiares podem interferir no desempenho e envolvimento escolar da
criana. Em relao esses recursos e suportes sero delimitados os suportes parentais em
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relao s rotinas escolares, interao entre pais e filhos e recursos materiais disponveis no
ambiente fsico.
Conforme mencionado, a motivao, os recursos do ambiente familiar e a
compreenso em leitura, tm sido objetos de estudo da psicologia educacional. Porm,nenhum estudo, que envolvesse os trs temas, foi encontrado na literatura cientfica
pesquisada at o presente momento, embora algumas pesquisas que sero apresentadas
tenham relacionado pelo menos dois desses temas. Ao considerar essa questo, acredita-se
que essa pesquisa pode colaborar com a ampliao do conhecimento na rea, explorando as
possibilidades de associao entre esses temas.
Com esse propsito, o presente estudo prope-se a investigar a relao entre as
orientaes motivacionais e os recursos familiares e como eles podem estar associados ao
desempenho da criana na compreenso da leitura. Em termos de organizao, o texto est
dividido em trs captulos tericos. O primeiro captulo descrever algumas concepes
sobre motivao para aprender, sua relao com o contexto escolar e pesquisas que
procuraram investigar esse construto. O segundo captulo abordar a importncia dos
recursos familiares na formao e desenvolvimento da criana, relatando pesquisas na rea.
O terceiro captulo ser sobre a compreenso da leitura e suas relaes com o desempenho
escolar, tambm com descries de estudos sobre o tema. Em seguida, o texto ser
finalizado com a apresentao dos objetivos, do mtodo, dos resultados e sua discusso.
Finalmente, sero apresentadas as consideraes finais, as referncias nas quais o texto foi
baseado e os anexos julgados como ilustrativos.
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CAPTULO 1
A MOTIVAO PARA APRENDIZAGEM E SUAS IMPLICAES
NO CONTEXTO ESCOLAR
O presente captulo abordar a Teoria de Metas de Realizao, que constitui o
enfoque terico deste estudo, e algumas das pesquisas relacionadas ao tema. Por serem
muitas as teorias que abordam o construto motivao na aprendizagem, optou-se por
primeiramente apresentar algumas das concepes existentes e uma sntese sobre
motivao intrnseca e extrnseca j que so conceitos adotados em muitas das pesquisas
recuperadas.
A origem etimolgica da palavra motivao vem do latim, mais especificamente, do
verbo movere que motivo, o termo semntico mais aproximado para o portugus. Isso
significa que a motivao ou o motivo aquilo que move uma pessoa ou que a coloca em
ao. Em estudos sobre o tema, a motivao tem sido entendida no s como um fator
psicolgico ou um conjunto de fatores, mas tambm como um processo. H acordo entre os
estudiosos da rea em acreditar que a dinmica desses fatores psicolgicos ou do processo,
levam a uma escolha e fazem iniciar um comportamento direcionado a um objetivo. Para
isso, toda pessoa dispe de certos recursos pessoais, como tempo, energia, talentos,
conhecimentos e habilidades que podero ser investidos numa certa atividade. Esse
investimento pessoal destina-se a uma determina tarefa que ter continuidade enquanto os
fatores motivacionais estiverem ativados (Bzuneck, 2004a; Cabanach, Arias, Prez &
Gonzlez-Pienda, 1996; Pintrich & Schunk, 1996; entre outros).
Estudos sobre motivao, realizados na ltima dcada, apontam a importncia desse
construto no contexto escolar e familiar da criana. Esse tema tem sido investigado por
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muitos educadores e psiclogos com o propsito de analisar sua relao com o desempenho
acadmico. A motivao considerada uma varivel-chave para a aprendizagem, j que o
empenho dos alunos em aprender e as estratgias adotadas com tal propsito so
fundamentais no ambiente da escola (Bertolini & Silva 2005; Givvin, 2001; Gouveia &cols., 2008; entre outros). possivel dizer que as atividades acadmicas apresentam mais
de um significado e que contribuem para a consecuo de diferentes metas. Nesse sentido,
nem todas as metas tm o mesmo significado para cada aluno, visto que suas interpretaes
podem variar segundo as orientaes pessoais e as situaes acadmicas que os estudantes
enfrentam ao longo da vida (Ames, 1992; Tapia & Montero, 2004; Shih, 2005; entre
outros). Ainda nessa linha, Zenorini (2007) destaca que a motivao no ambiente escolar
vista como um dos principais fatores que favorecem a aprendizagem dos alunos. Um
estudante motivado, possivelmente, demonstra maior envolvimento e esforo no processo
de aprendizagem, enfrenta tarefas desafiadoras, no desanima diante do insucesso, persiste
ao realizar as tarefas e utiliza estratgias mais adequadas.
Para se compreender melhor a motivao do aluno, as abordagens e teorias tm
destacado os componentes cognitivos, como metas, crenas, atribuies, percepes,
ressaltando-se entre elas as percepes de competncia e as crenas de auto-eficcia,
portanto, variveis ligadas ao self(Bzuneck, 2004a). O conceito de auto-eficcia definido
aqui como a avaliao ou percepo pessoal quanto prpria inteligncia, habilidades e
conhecimentos capazes de organizar e executar determinada ao (Bzuneck, 2004c).
Alguns autores afirmam que dois tipos bsicos de motivao tm sido estudadas, a
intrnseca e a extrnseca (Broussard & Garrison, 2004; Bzuneck, 2004a; Deci & Ryan,
1985; Guimares, 2004; Zenorini, 2007; entre outros). Esses conceitos so abordados na
Teoria da Autodeterminao que de acordo com Reeve, Deci e Ryan (2004) trata-se de uma
macro teoria que agrega quatro perspectivas tericas, sendo elas a Teoria da Avaliao
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Cognitiva, a Teoria das Orientaes Causais, a Teoria das Necessidades Bsicas e a Teoria
da Integrao Organsmica.
Em relao Teoria da Avaliao Cognitiva Boruchovitch (2008) esclarece que o
foco estaria na influncia dos eventos externos na motivao do indivduo. J a Teoria dasOrientaes Causais busca explicar as muitas diferenas individuais implicadas na
motivao, assim como as caractersticas de personalidade do indivduo. A Teoria das
Necessidades Bsicas fundamenta-se no princpio de que o aluno possui necessidade de
autonomia, de competncia e de pertencer a algum contexto. Por fim, a Teoria da
Integrao Organsmica tem como pressuposto compreender a motivao extrnseca e o seu
grau de internalizao no indivduo.
Sob a perspectiva da Teoria da Autodeterminao, a motivao intrnseca refere-se
escolha e realizao de determinada atividade por ela prpria, por ser interessante e de
alguma forma produzir satisfao. Guimares (2004) esclarece que a motivao intrnseca
gera um comprometimento espontneo com a atividade, que emerge como parte do
interesse individual e autotlico, isto , a atividade um fim em si mesma. Desse modo, a
participao na tarefa a principal recompensa, no sendo necessrias presses externas,
internas ou prmios por seu cumprimento. Em acrscimo, Siqueira e Wechsler (2006)
afirmam que alunos com esse tipo de motivao trabalham nas atividades por consider-las
agradveis.
A motivao extrnseca abordada como ponto de contraste nas avaliaes da
motivao intrnseca (Guimares, 2004). Sua definio parte do princpio que o sujeito
trabalha em resposta a algo externo tarefa ou atividade, visando obteno de
recompensas materiais ou sociais e o reconhecimento de outras pessoas. Esse
reconhecimento objetiva atender aos comandos ou presses externas ou ainda demonstrar
competncias ou habilidades. No contexto escolar a motivao extrnseca vista como a
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auto-regulao para aprendizagem se relacionavam entre si e com o desempenho escolar.
Os estudantes responderam ao questionrio de estratgias motivacionais para a
aprendizagem, Motivated Strategies for Learning Questionnaire MSLQ, que dividido
em duas escalas, uma de orientaes motivacionais e outra sobre estratgias auto-reguladoras para a aprendizagem. A escala sobre orientaes motivacionais inclui trs
fatores, a saber, a auto-eficcia, valores intrnsecos e teste de ansiedade. J a escala de
estratgias auto-reguladoras para a aprendizagem apresenta dois fatores, estratgias
cognitivas e auto-regulao. Para avaliar o desempenho dos alunos, o estudo considerou os
conceitos de atividades realizadas em sala de aula e em casa, provas e testes feitos pelos
alunos, e tambm as notas do boletim.
Os resultados da pesquisa de Pintrich e De Groot (1990) revelaram que o fator auto-
eficcia se correlacionou positiva e significativamente com os fatores auto-regulao
(r=0,44) e estratgias cognitivas (r=0,33). O fator de valores intrnsecos apresentou
correlaes positivas e significativas com os mesmos fatores, auto-regulao (r=0,73) e
estratgias cognitivas (r=0,63). Tambm apontaram correlaes positivas e significativas
entre os valores intrnsecos (r=0,27) e a auto-eficcia (r=0,25) do sujeito em relao
performance acadmica, assim como o uso de estratgias para a aprendizagem (r=0,19) e
da auto-regulao (r=0,36) em relao aos valores intrnsecos. Existe, portanto, segundo os
autores, um melhor aproveitamento escolar quando os alunos se utilizam de valores
intrnsecos para a aprendizagem.
Na literatura brasileira recuperada foi identificado um estudo recente, desenvolvido
por Martinelli e Genari (2009), que investigou especificamente a relao da motivao com
o desempenho escolar em 150 alunos do ensino fundamental. Para isso foram utilizadas a
prova de rendimento escolar da Secretaria de Educao do Estado de So Paulo (SARESP)
e uma escala de avaliao da motivao escolar, desenvolvida com base na teoria
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sociocognitiva. Os resultados da pesquisa revelaram que tanto na 3, como na 4 srie a
motivao extrnseca correlacionou-se negativa e significativamente com o desempenho
escolar, ou seja, quanto menor o desempenho, maior a motivao extrnseca. Esses achados
foram congruentes com a literatura na rea, embora as autoras afirmem que h poucaevidncia emprica a respeito.
Os resultados dessas pesquisas refletem a necessidade de se estudar o ambiente
escolar e suas relaes com o desempenho do aluno. Para Guimares e Boruchovitch
(2004), a escola representa para a sociedade ocidental um local de socializao, que exerce
forte influncia na vida das pessoas. Para as autoras, necessrio que haja nesse espao a
promoo do entusiasmo e interesse entre os estudantes para que a aprendizagem e o
desempenho escolar ocorram de maneira satisfatria. Suas idias esto em consonncia
com os resultados de Pintrich e De Groot (1990) e Martinelli e Genari (2009), ao
identificarem a motivao no contexto escolar como determinante crtico do nvel e da
qualidade da aprendizagem e do desempenho. Um aluno motivado mostra-se envolvido no
processo de aprendizagem, persistente nas tarefas desafiadoras e orgulhoso acerca dos
resultados obtidos.
Pode-se inferir assim que o desempenho escolar tem sido visto como diretamente
relacionado motivao para aprender. Segundo Zenorini (2007), a motivao para
aprendizagem caracteriza-se por percepes acerca da prpria inteligncia, das atribuies
de causalidade, orientaes motivacionais intrnsecas e extrnsecas, variveis relativas ao
selfcomo o autoconceito e auto-eficcia do aluno e metas de realizao. Sob esse aspecto,
Bzuneck (2004b) considera que as metas ou propsitos que a pessoa deseja atingir esto
entre os mais potentes motivadores do comportamento humano. Assim, possvel afirmar
que a Teoria de Metas de Realizao, surgida no final dos anos 70 do sculo passado,
considerada por ambos os autores como possvel de ser empregada para a compreenso dos
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fatores motivacionais que podem influenciar o comportamento do aluno especicamente
atinente s situaes de aprendizagem escolar (Dweck, 1986; Nicholls, 1990).
Essa teoria, ainda de acordo com Zenorini (2007), caracteriza o termo meta como
sendo o aspecto qualitativo do envolvimento do aluno com situaes de aprendizagem,expressando em nvel hierrquico o propsito de uma pessoa dedicar-se a uma tarefa. Desse
modo, a meta de realizao que a pessoa adota representa o motivo ou a razo pela qual ela
ir realizar determinada tarefa. As metas de realizao podem ser consideradas como um
conjunto de pensamentos, crenas, propsitos e emoes que traduzem as expectativas dos
alunos em relao a determinadas tarefas que devero executar (Ames, 1992). importante
salientar que metas de realizao no so sinnimos de motivao, j que nesse caso o foco
est no propsito ou objetivo a ser atingido e no especificamente no tipo de envolvimento
do aluno. Em geral, os professores sabem que os alunos investem seus esforos acadmicos
com diferentes metas. Existem os alunos que buscam tirar uma nota alta, os que passam de
ano com o mnimo de dedicao necessria, os que se comparam o tempo todo com os
colegas e querem obter a melhor nota da sala e os que querem aprender, simplesmente, para
adquirir mais conhecimento. De acordo com a teoria de metas de realizao, essas metas
podem facilitar as experincias dos alunos durante o perodo de escolarizao (Bzuneck,
2004b; Senko & Harackiewicz, 2005; Tapia & Montero, 2004; entre outros).
Segundo Givvin (2001), a teoria de Meta de Realizao pode ser caracterizada
tambm como uma abordagem cognitiva social para o estudo da motivao. As abordagens
cognitivas centram-se nos processos do pensamento que envolvem reflexes e resultados
efetivos. Os indivduos so vistos no apenas como respondentes passivos a recompensas e
punies, mas como ativos na interpretao de acontecimentos passados e na construo de
expectativas a eventos futuros. A Meta de Realizao difere da teoria cognitiva social, na
medida em que foi desenvolvida, especificamente, para explicar aes do comportamento
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humano. Isso significa que ela focaliza na teoria de razes individuais para aproximar e
participar das tarefas ou atividades, assim como de suas interpretaes e respostas.
Os estudos iniciais dessa teoria identificaram trs metas com caractersticas
distintas, a meta aprender, a meta performance e alienao acadmica. Para Dweck eLeggett (1988), o aluno voltado meta aprender tem a convico de que os resultados
positivos nas tarefas derivam de esforo, que um fator interno. Este objetivo corresponde
ao desejo de aprender e adquirir conhecimento. Diversos estudos tm demonstrado que a
meta aprender pode levar a aes adaptativas, tais como esforo e persistncia aps o
fracasso (Darnon, Harackiewicz, Butera, Mugny & Quiamzade, 2007; Zenorini, Santos &
Bueno, 2003). Tambm Givvin (2001) observa que quando uma pessoa est envolvida em
uma tarefa com o objetivo de melhorar sua competncia, ganhar novas habilidades, ou
compreender alguma coisa nova, essa pessoa est centrada na aprendizagem. Nesse
contexto, os alunos acreditam que o sucesso escolar alcanado mediante o esforo, a
dedicao e o aprendizado adquirido naquela tarefa. Vale a ressalva de Bzuneck (2004b),
de que embora a meta aprender e a motivao intrnseca, descrita anteriormente, se
assemelham, elas no so idnticas. A motivao intrnseca caracteriza-se tipicamente pela
escolha autodeterminada da ao, sem qualquer obrigao com o seu resultado, ou seja, o
sujeito se envolve em determinadas tarefas por curiosidade, prazer ou desejo. Alm disso,
esse tipo de motivao no especfica do contexto escolar, como o caso da meta
aprender. Nesse sentido, contudo, as estratgias utilizadas na meta aprender podem
conduzir o desenvolvimento da motivao intrnseca.
Para o aluno voltado meta performance, os resultados so associados ao nvel de
capacidade. possvel dizer que essa meta destina-se a uma orientao externa de presses
e exigncias sociais. A preocupao do sujeito volta-se para a opinio do outro em relao
s suas conquistas, sendo o reconhecimento considerado fundamental (Elliot & Church,
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1997). Segundo Bzuneck (2004b), a meta performance, tambm chamada de capacidade ou
de ego, pode ser dividida em dois aspectos: a meta performance-aproximao e meta
performance-evitao. A primeira caracteriza-se pela busca de parecer inteligente, mostrar-
se capaz e at mesmo querer ser o melhor em comparao com o seus pares. A segundatrata do medo do fracasso, sendo que o sujeito que se orienta pela meta performance-
evitao demonstra uma preocupao em no parecer incapaz diante dos outros colegas.
Portanto, mostrar-se capaz ou no capaz a grande questo do aluno caracterizado pela
meta performance. Givvin (2001) identifica essa meta quando uma pessoa desempenha
uma tarefa com a esperana de provar sua capacidade, tentando superar outros colegas.
A meta alienao acadmica ou de evitao do trabalho, diz respeito falta de
preocupao do aluno em aumentar sua competncia ou demonstrar capacidade, mas sim de
executar as tarefas escolares com o mnimo de esforo. O resultado da tarefa no tem
importncia para o aluno que possui a meta alienao acadmica, possivelmente porque sua
auto-estima pode ser garantida em atividades fora da escola (Bzuneck 2004b). Alm disso,
o que mais importa para o sujeito ficar livre das obrigaes escolares e escolher aquilo
que exige menos esforo. Embora essa meta no seja abordada na escala de motivao
escolhida para o presente estudo, considerou-se importante cit-la, visto que ela tambm
encontrada em estudos que adotam a teoria de metas de realizao.
Outra questo sobre a teoria que existem muitas denominaes diferentes para as
metas. Pode-se encontrar em alguns estudos outros nomes diferentes dos aqui citados, como
por exemplo, aprendizagem-aproximao, definida em termos intrapessoais e caracterizada
pela busca da aprendizagem e conhecimento; aprendizagem-evitao, definida em termos
intrapessoais, porm negativamente, j que o foco est em no obter um entendimento ruim
ou deficiente; execuo-aproximao, definida em termos normativos e positiva, estando o
seu foco em ser superior ou melhor que os outros; e execuo-evitao, definida em termos
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normativos e negativa, j que o sujeito busca evitar a inferioridade, no ser visto como
estpido em comparao aos outros (Gouveia & cols., 2008). Isso depende da abordagem
terica utilizada pelo autor. No presente estudo optou-se pelas denominaes, definidas por
Bzuneck (2004b) e adotadas por Zenorini e Santos (no prelo), autoras da escala escolhidapara a coleta de dados.
Percebe-se que para Ames (1992), Bzuneck (2004b), Elliot e Church, 1997,
Gouveia e cols (2008), Senkoe Harackiewicz (2005), Tapia e Montero, (2004) e Zenorini
(2007), a motivao do aluno no contexto escolar associada a metas de realizao, que
correspondem a um conjunto de cognies ou esquemas mentais envolvendo propsitos,
crenas, atribuies e percepes que podem levar a decises comportamentais e a reaes
afetivas. O aspecto da teoria de metas que a torna particularmente relevante educao
que ela explica a qualidade do envolvimento do aluno. Alm disso, os autores ressaltam que
existe uma importante questo sobre os fatores que favorecem os alunos a abraarem
determinada meta, sejam eles intra-individuais ou ambientais. Sendo assim, algumas
pesquisas apontam que a meta performance-aproximao correlaciona-se positivamente
com a meta aprender e o desempenho acadmico. Embora a busca por um ideal seja a
orientao voltada para a meta aprender, a meta performance-aproximao no tem sido
negativa no ambiente escolar (Bzuneck, 2004b; Shih 2005; entre outros).
Para melhor ilustrar essa questo, descreve-se a pesquisa de Shih (2005) realizada
com 198 estudantes do sexto ano do ensino fundamental, com idade mdia de 11 anos e
provenientes de escolas localizadas no norte de Taiwan. O autor buscou verificar as
relaes existentes entre as metas de realizao (meta aprender, performance-aproximao
e performance-evitao), estratgias de aprendizagem (cognitiva e metacognitiva),
motivao intrnseca e a ansiedade frente a provas escolares. Para obter as informaes
necessrias foram aplicados um questionrio sobre metas de realizao, Achivement Goal
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Questionnaire, subescalas de estratgias cognitivas e metacognitivas, uma escala de valores
intrnsecos e uma escala de ansiedade, que se encontram no Motivated Strategies for
Laerning Questionnaire. Os resultados apontaram uma correlao positiva e significativa
entre a meta aprender e a meta performance-aproximao (r=0,73, p
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particular do estado da Paraba. Os autores pretenderam, conhecer evidncias de validade
fatorial e de consistncia interna de um instrumento de Metas de Realizao para o contexto
brasileiro, e avaliar em que medida as pontuaes desse instrumento se correlacionavam
com indicadores de desempenho. Assim, escolheram o Questionrio de Metas deRealizao QMR, elaborado originalmente em ingls e dividido em quatro metas de
realizao, sendo elas, aprendizagem-aproximao, aprendizagem-evitao, execuo-
aproximao e execuo-evitao. Para avaliar os indicadores de desempenho, foi
perguntado aos alunos sobre suas notas em matemtica e portugus do ano escolar anterior,
o tempo que dedicam aos estudos, se desejam ou no fazer um curso universitrio e sobre
sua auto-percepo de desempenho em comparao com os estudantes que so
considerados bons.
Os resultados encontrados por Gouveia e cols. (2008) foram satisfatrios em relao
s evidncias de validade fatorial e consistncia interna. No que diz respeito aos
indicadores de desempenho, a pesquisa apontou uma correlao positiva e significativa
entre as metas de aprendizagem-aproximao e as notas de portugus (r=0,16; p
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negativamente a comportamentos de evitao (r=-0,27; p
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a percepo das tarefas; o propsito e o significado das tarefas acadmicas; o senso de
participao escolar referente s sensaes dos alunos em serem respeitados e se sentirem
confortveis nas suas escolas; as metas sociais, relativas ao desejo do estudante em formar
relacionamentos positivos com os outros na escola; a meta de status social ligada vontadede ganharstatus por meio da identificao com o grupo popular da escola e a meta de
responsabilidade social relacionada disposio do aluno em seguir as instrues dos
professores e realizar as atividades escolares com constncia. Por fim, foi verificado
tambm o desempenho acadmico, obtido por meio das notas nas matrias bsicas no final
das sries.
Os resultados indicaram que os estudantes da 6 srie relataram nveis mais baixos na
meta aprender (M= 3,52) do que na 5 srie (M= 3,66; F(1,640) = 14,29; p
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O estudo de Broussard e Garrison (2004) realizado com 249 crianas do primeiro e
do terceiro ano do Ensino Fundamental, provenientes de 17 escolas localizadas no sul dos
Estados Unidos, teve como objetivo verificar a relao existente entre as orientaes
motivacionais e o desempenho em matemtica e leitura. Para avaliao da motivao, osestudantes responderam a uma escala de motivao denominada Scale of Intrinsic Versus
Extrinsic Motivational Orientation in Classroom. Os resultados apontaram uma correlao
positiva e significativa entre a motivao intrnseca e o desempenho em matemtica
(r=0,20; p
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Hoang (2007) pesquisou 140 estudantes do Ensino Mdio, provenientes de uma
escola pblica do norte da Califrnia, e com idades variando entre 14 e 17 anos. Um dos
objetivos da pesquisa era investigar as relaes existentes entre estilos parentais e as
orientaes motivacionais dos estudantes. Os alunos responderam a um questionrio depercepo sobre os estilos parentais, The Self-Report Measure of Family Functioning,
divido em trs estilos, a saber, democrtico, permissivo e autoritrio. Outro instrumento
utilizado foi o questionrio sobre metas de realizao, Patterns of Adaptive Learning
Survey, tambm dividido em trs metas, sendo elas meta aprender, meta performance-
aproximao e meta performance-evitao. Os autores observaramum ndice de correlao
positivo e significativo entre a meta aprender e o estilo parental democrtico (r=0,34;
p
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CAPTULO 2
SUPORTES E RECURSOS FAMILIARES NO CONTEXTO ESCOLAR
DA CRIANA
A fim de fundamentar os suportes e recursos familiares, relacionando-os com a
aprendizagem da criana, este captulo apresentar uma reviso da literatura sobre algumas
questes levantadas por estudiosos sobre a participao da famlia na vida escolar de seus
filhos, e uma breve recuperao sobre a fundamentao terica do instrumento escolhido
para este trabalho. Tambm sero apresentadas pesquisas que tratam da relao da famlia
com o contexto educacional da criana, principalmente as que utilizaram o Inventrio dos
Recursos Familiares RAF.
Durante a primeira infncia os principais cuidados e estmulos necessrios ao
crescimento e desenvolvimento so fornecidos pela famlia. O suporte e o apoio oferecidos
pelos pais associam-se aos aspectos fsico e afetivo-social, decorrentes de condies
estveis de vida, tanto socioeconmicas quanto psicossociais. Esses fatores so
considerados importantes, j que a famlia desempenha tambm o papel de mediadora entre
a criana e a sociedade. Isso possibilita a socializao da criana, que considerada um dos
elementos essenciais para o desenvolvimento cognitivo infantil (Andrade & cols., 2005;
Baptista, 2005; DAvila-Bacarji, Marturano & Elias, 2005; Steensel, 2006; entre outros).
Outro aspecto importante do contexto familiar e que discutido em algumas
pesquisas a atual estrutura familiar, que sofreu alteraes significativas nos ltimos 20
anos. Segundo Guidetti (2007), o ncleo familiar que era constitudo de pai, me e filho no
se caracteriza somente dessa forma nos dias atuais. Existem famlias de pais separados e
que casaram novamente, pais homossexuais, avs que assumem o cuidado dos netos, mes
solteiras, entre outras tantas estruturas. O modelo tradicional, no qual o ncleo familiar era
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lado disso, o ambiente familiar pode contribuir como uma base segura de estabilidade
emocional e uma diversidade de recursos de apoio, a saber, a disponibilidade de materiais e
brinquedos promotores de desenvolvimento, e de suportes como a superviso dos pais nas
atividades escolares dos filhos e interao entre pais e filhos nos momentos de lazer dafamlia (Baptista, 2007; Marturano, 1999; Marturano, 2006; entre outros).
Contudo, vale ressaltar que o suporte ao desenvolvimento da criana, reflete uma
disposio dos pais para investir tempo e recursos em arranjos da vida familiar que tm
como objetivo o crescimento dos filhos em sentido amplo, aliada preocupao de adequar
esses recursos ao nvel de desenvolvimento de cada um e priorizao de atividades de
lazer em que os filhos estejam includos. Aqueles pais que compartilham com a criana
parte do seu tempo livre, proporcionando-lhe um elenco de atividades culturais e
educacionais enriquecedoras, seja no lar seja na comunidade, favorecem o desenvolvimento
cognitivo, o desempenho escolar e o ajustamento interpessoal (Baptista, 2007; Bradley &
Corwyn, 2002; entre outros).
Ao relatar sobre os suportes e recursos familiares disponveis para o bom
desenvolvimento da criana preciso definir o que suporte e recursos familiares. Sendo
assim, a reviso de literatura efetuada por Baptista (2005) mostra o suporte familiar
associado a competncia social, enfrentamento de problemas, percepo, controlabilidade,
senso de estabilidade, autoconceito, afeto positivo e bem-estar psicolgico. O autor tambm
chama a ateno para o fato de que muitas so as definies sobre suporte familiar no
mbito da pesquisa cientfica. J os recursos familiares, segundo Marturano (1999), podem
ser caracterizados pelos bens materiais disponibilizados no ambiente familiar, como livros,
revistas e brinquedos promotores do desenvolvimento. Como tambm existem distintas
definies para recursos familiares, o presente estudo baseou-se na concepo da autora do
Inventrio dos Recursos do Ambiente Familiar RAF, assim como os tipos de suporte que
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tambm so abarcados pelo instrumento. Para esclarecer as definies de suporte e recursos
aqui empregadas, a seguir ser relatado o estudo de Marturano (2006) que descreve
brevemente os conceitos utilizados pela autora na construo do RAF.
Com o objetivo de desenvolver um instrumento que pudesse avaliar os recursosfamiliares e sua relao com o desempenho da criana, Marturano (2006) fez uma reviso
bibliogrfica sobre aspectos que contribuem para o bom rendimento escolar. Nessa
perspectiva, a autora encontrou alguns conceitos importantes, sendo eles os processos
proximais, estabilidade ambiental, microssistema e mesossistema. Os processos proximais
so definidos como processos de interao entre o sujeito em desenvolvimento e as pessoas,
objetos e smbolos que fazem parte do seu ambiente mais imediato. O conceito de
estabilidade ambiental relaciona-se com o de processos ambientais, na medida que esses
processos no ocorrem em ambientes instveis e desordenados no tempo e no espao. A
famlia e a escola esto inseridas no conceito de microssistema, onde acontecem os
processos proximais, constituindo o mesossistema que envolve todas as ligaes e
processos entre os dois sistemas. O desenvolvimento da criana ocorre nesses espaos e
processos.
Aps a reviso da literatura, Marturano (2006) relata que organizou o Inventrio dos
Recursos do Ambiente Familiar em trs domnios amplos. No que diz respeito ao
microssistema familiar, os recursos foram agrupados em dois domnios, a saber, os recursos
que promovem processos proximais e atividades previsveis sinalizando algum grau de
estabilidade familiar. Os recursos do mesossistema famlia-escola foram identificados nas
prticas parentais que promovem a ligao famlia-escola. Em relao aos processos
proximais, a autora considerou a possibilidade de experincias estimuladoras do
desenvolvimento, como passeios e viagens, oportunidade de interao com os pais,
disponibilidade de brinquedos e materiais que estimulam o pensar, assim como de livros,
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revistas e jornais, alm de atividades programadas de aprendizagem. No domnio das
atividades previsveis que sinalizam algum grau de estabilidade na vida familiar,
encontram-se as rotinas e reunies regulares da famlia e cooperao da criana em tarefas
domsticas. As prticas parentais promotoras da ligao famlia-escola envolvem aparticipao dos pais nas reunies escolares e acompanhamento das notas. Dessa maneira, a
autora considera que os suportes esto associados ao tipo de apoio afetivo, social e
educacional oferecido criana, enquanto os recursos caracterizam-se pelos bens materiais
e econmicos disponibilizados pelos pais e pelo ambiente familiar para o bom
desenvolvimento da aprendizagem.
Na recuperao da literatura de pesquisas que utilizaram o RAF foram encontradas
diferentes maneiras de utilizao do instrumento, inclusive no que diz respeito s divises
das dimenses ou categorias que o RAF pode avaliar. Para melhor descrever essas
diferentes formas de utilizao do RAF, instrumento que tambm foi escolhido para o
presente trabalho, apresentam-se as pesquisas de Ferreira e Marturano (2002), DAvila-
Bacarji e cols (2005) e Trivellato-Ferreira e Marturano (2008). Cada uma delas ser
detalhada e descrita nos pargrafos que se seguem.
Com o objetivo de verificar as associaes entre problemas de comportamento e
variveis do ambiente familiar, em crianas com queixa de dificuldade de aprendizagem,
Ferreira e Marturano (2002) desenvolveram uma pesquisa com 67 crianas, provenientes de
uma clnica de Psicologia de um hospital universitrio. Todas as crianas foram
encaminhadas a essa clnica com queixa de rendimento escolar pobre, e foram dividas em
dois grupos, o grupo 1 (G1) com as crianas sem problemas de comportamento (n=30) e o
grupo 2 (G2) com crianas com problemas de comportamento (n=37) com base em
informaes obtidas com a Escala Comportamental Infantil A2. As idades dos dois grupos
variaram entre 7 e 11 anos. Os outros instrumentos utilizados foram a Entrevista para
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Esclarecimento da Queixa EEQ, a Escala de Eventos Adversos EEA e o Inventrio de
Recursos do Ambiente Familiar RAF. Do RAF foram derivados dois conjuntos de
medidas de recursos e um indicador socioeconmico. A diviso ficou, portanto, da seguinte
forma, superviso dos pais, envolvimento e suporte dos pais e indicadoressocioeconmicos, representados por itens de conforto disponveis na moradia, como
eletrodomsticos, eletroeletrnicos, veculos, entre outros.
Os resultados encontrados pelas autoras apresentaram diferenas significativas entre
os grupos relacionadas ao escore total do RAF e aos escores obtidos nos tpicos, passeios,
atividades compartilhadas pelos pais e filhos, pessoa a quem a criana recorre para pedir
ajuda ou conselho, oferta de brinquedos e outros materiais promotores do
desenvolvimento. Em todas as questes as crianas do G1 tiveram escores maiores do que
as crianas do G2. Isso sugere que crianas sem problemas de comportamento possuem
maior superviso dos pais em relao organizao de tempo e espao para realizao de
tarefas escolares, tm mais disponibilidade de brinquedos e materiais que auxiliam na
aprendizagem, realizam passeios e viagens com os pais, alm de compartilharem histrias e
casos em casa. Quando a criana necessita de ajuda recorre no somente me, como as
crianas do G2, mas tambm ao pai e a um irmo ou irm. Os grupos tambm se
diferenciaram quanto aos indicadores socioeconmicos, apontando menos recursos no
grupo com problemas de comportamento.
O ambiente familiar considerado, para DAvila-Bacarji e cols. (2005), como uma
base segura para o crescimento em todos os aspectos da vida da criana. Dessa maneira, as
autoras diferenciam trs tipos de suporte parental ao utilizarem o Inventrio de Recursos do
Ambiente Familiar RAF. Esses recursos familiares foram representados pelos seguintes
suportes, o primeiro, o suporte especfico para realizao escolar; em seguida, o suporte ao
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desenvolvimento e por ltimo, o suporte emocional, tal como descrito a seguir na
concepo assumida pelas autoras.
O suporte s rotinas escolares caracteriza-se pelo acompanhamento das atividades
escolares como tarefas, lies, trabalhos e pesquisas que a criana precisa desenvolvercomo parte da rotina da escola. Alm disso, inclui toda a organizao de tempo, espao e o
acompanhamento oferecido para a criana dentro de casa. O suporte ao desenvolvimento
representado pelas atividades culturais e de entretenimento proporcionada pelos pais. Essas
atividades referem-se aos passeios que a criana realiza com a famlia, assim como a
disponibilidade de livros, revistas, filmes, entre outros, que os pais incentivam o filho a
utilizarem. Por fim, o suporte emocional que significa o clima afetivo do ambiente familiar,
ou seja, as relaes estabelecidas entre os pais e os filhos. Essas relaes podem gerar
conflitos emocionais ou segurana criana (DAvila-Bacarji & cols., 2005).
Com o objetivo de comparar o suporte parental criana com queixa escolar
encaminhada para atendimento psicolgico com o suporte parental de crianas identificadas
como no tendo dificuldades acadmicas, DAvila-Bacarji e cols. (2005) realizaram um
estudo com 60 crianas de 7 a 11 anos. A seleo ocorreu em uma clnica de psicologia e
em uma escola ambas pblicas e do interior de So Paulo. Os grupos formados, cada qual
com 30 crianas, receberam o nome de Grupo Clnico e Grupo no Clnico, j que o critrio
de diviso foi o do encaminhamento ou no clnica de psicologia. Os instrumentos
selecionados foram o Teste Matrizes Progressivas de Raven Escala Especial, o Teste de
Desempenho Escolar TDE, o Inventrio de Comportamentos da Infncia e Adolescncia
CBCL, Entrevista Breve sobre o histrico escolar da criana, o comportamento observado
pela me sobre o filho e, por fim, o Inventrio de Recursos do Ambiente Familiar - RAF,
com a diviso dos suportes sugerida pelas autoras e j descritas anteriormente.
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Os resultados do estudo revelaram que quanto ao suporte acadmico os grupos no
apresentaram diferenas, o que significa que as crianas dos dois grupos recebem esse tipo
de apoio dos pais. Em relao ao suporte ao desenvolvimento, o Grupo no Clnico obteve
melhores resultados, caracterizando esses pais como mais atentos ao apoio cultural. Oresultado considerado mais importante para as autoras foi a diferena entre os grupos
quanto ao suporte emocional, que engloba as relaes estabelecidas entre os pais e os
filhos. Crianas do Grupo Clnico possuem um clima afetivo no ambiente familiar menos
favorvel em comparao s crianas do Grupo no Clnico. Esse fato sugere que a relao
conflituosa entre pais e filhos pode prejudicar o desempenho escolar e principalmente afetar
o comportamento da criana aumentando a possibilidade de ocorrncia do fracasso
acadmico.
Durante a vida escolar a criana reconhecida e valorizada pelo seu desempenho
acadmico e socioemocional na escola (DAvila-Bacarji & cols., 2005). Sendo assim, um
ambiente familiar que possui um clima afetivo ruim desencadeia uma srie de dificuldades
pelo fato de a criana no se sentir muitas vezes segura e acolhida dentro do local que
considerado a base para todo o desenvolvimento, a famlia. Essa e outras questes so
levantadas pelas autoras que tambm ponderam o fato da pesquisa no trabalhar com uma
amostra significativa cujos resultados possam ser generalizados. Ressaltam, ainda, que essa
preocupao no deve ser apenas da famlia, mas tambm do setor pblico, do sistema
educacional e da comunidade.
A pesquisa de Trivellato-Ferreira e Marturano (2008), realizada em duas escolas da
rede municipal de Ribeiro Preto, teve como participantes 32 meninos e 38 meninas, com
idade entre 6 e 8 anos, suas mes e professoras. Todas as crianas freqentavam a 1 srie
pela primeira vez. O objetivo foi verificar como as diferenas em resultados de
competncia no final da transio da 1 srie poderiam ser explicadas em termos de
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experincia escolar prvia, suporte familiar e recursos da criana ao iniciar a transio. Os
instrumentos utilizados foram o Inventrio de Recursos do Ambiente Familiar RAF e o
Teste de Desempenho Escolar TDE, alm de testes e avaliaes sobre inteligncia, estress
infantil, ajustamento social e escolar. As observaes das variveis do final do ano com asdo incio, apontaram que o desempenho escolar, o ajustamento e a competncia social se
correlacionaram com quase todos os preditores do incio do ano, ao passo que os sintomas
de estresse e a percepo de estressores escolares se correlacionaram apenas com o
indicador de tempo de exposio educao infantil. Observou-se tambm que a
freqncia educao infantil e o acesso a recursos promotores de desenvolvimento no
ambiente familiar se associam, e que cada um se correlaciona com pelo menos um dos
recursos da criana avaliados no incio da 1 srie.
Trivellato-Ferreira e Marturano (2008) analisaram os resultados de regresso para
cada indicador de competncia no final do ano letivo e concluiram que o modelo final
preditivo de desempenho escolar explica 43% da varincia nos resultados do TDE e inclui
conscincia fonolgica, recursos do ambiente familiar e prticas parentais positivas, nessa
ordem de importncia. Outro resultado apresentado que o grupo sem experincia prvia
de pr-escola teve um desempenho significativamente mais pobre na maioria das medidas
de competncia avaliadas no final da 1 srie. Em relao ao desempenho escolar, o TDE e
a avaliao dos professores do vantagem ao grupo que freqentou a educao infantil, com
exceo do desempenho na escrita, em que a diferena apenas marginalmente
significativa.
O contexto onde a criana est inserida tambm pode relacionar-se a trs
importantes dimenses de suporte parental citadas por Silva e Hasenbalg (2000) em um
estudo amplo sobre a evoluo da educao no Brasil. A primeira e bastante estudada a
dos recursos econmicos ou capital econmico, usualmente caracterizada por meio da
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renda ou riqueza familiar. Segundo os autores, costuma-se estudar a situao de bem-estar
material dos domiclios desde recursos fsicos, como lugar e materiais que facilitam o
aprendizado das crianas, at os bens de consumo como geladeira, televiso, entre outros.
Outra dimenso apontada a de recursos educacionais ou capital cultural, definida peladistribuio da educao entre os membros adultos da famlia. Nesse caso, a escolaridade
dos pais e o consumo cultural da famlia, (ex. a presena de livros) sugerem que os pais
podem perceber melhor os benefcios futuros da educao de seus filhos. Por fim, a terceira
dimenso relatada a estrutura familiar, representada pelo tamanho da famlia, pelas
relaes estabelecidas entre seus membros e a participao e acompanhamento dos pais na
vida de seus filhos. Corroborando com Silva e Hasenbalg (2000), os estudos de Ferreira e
Marturano (2002) e DAvila-Bacarji e cols (2005) tambm apresentaram a relevncia dos
fatores materiais, estruturais e sociais do ambiente familiar, quando relacionados
educao das crianas.
Outro trabalho com resultados similares foi o de Andrade e cols (2005). Os autores
investigaram a associao entre a qualidade do estmulo domstico e o desempenho
cognitivo infantil, identificando o impacto da escolaridade materna sobre a qualidade dessa
estimulao. Essa pesquisa foi um estudo de corte transversal com 350 crianas entre 17 a
42 meses, examinadas em reas centrais e perifricas de Salvador, Bahia. Os resultados
indicaram que quanto melhor a qualidade da estimulao ambiental disponvel para a
criana, melhor o seu desempenho cognitivo. A escolaridade materna tambm apresentou
uma associao positiva com a qualidade da estimulao ambiental recebida pela criana.
Tambm em pases desenvolvidos a preocupao com o contexto familiar e escolar
comum. Em sua pesquisa Steensel (2006) analisou a relao entre o ambiente familiar e o
desempenho na fase da alfabetizao de crianas do Ensino Infantil. Participaram 116
alunos e pais de 19 escolas primrias de uma cidade da Alemanha com idade mdia de 6,4
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anos. Os instrumentos utilizados foram um questionrio de pais denominado Home Literacy
Environment HLE e os testes escolares padronizados. O HLE dividido em duas partes
sendo a primeira referente a atividades de leitura e escrita desenvolvidas pelos pais, (ex. ler
livros, revistas, jornais, escrever cartas e usar o computador). A outra parte caracteriza-sepelas atividades de leitura e escrita que os pais realizam com os filhos, (ex. ler livros, contar
histrias, assistir programas educacionais na televiso e compartilhar atividades de escrita).
Os alunos foram submetidos a testes escolares padronizados, incluindo habilidades de
leitura, escrita e matemtica, consideradas bsicas para o aprendizado formal na fase da
alfabetizao.
Os resultados da pesquisa de Steensel (2006) revelaram que crianas com um alto
escore no HLE obtiveram notas altas tambm nas medidas de desempenho para a
alfabetizao, exceto em decodificar palavras nos primeiros e segundos anos do Ensino
Infantil, e soletrar palavras no segundo ano. Foi observado que a compreenso da leitura
mais afetada pelos aspectos do ambiente familiar, j que a diferena entre os grupos de
maior e menor escores foi significativa. A comparao das habilidades vocabulrio e
compreenso da leitura, entre os alunos que alcanaram um bom rendimento e os que no
alcanaram, revelou que o desempenho estava relacionado uma maior pontuao do HLE.
Sendo assim, o autor considera que pais que desenvolvem mais atividades que estimulam
sua leitura e escrita e a de seus filhos, podem contribuir para um melhor resultado das
crianas na escola.
Pode-se dizer que o nvel de instruo dos pais e os recursos disponibilizados por
eles para o desenvolvimento dos seus filhos so de extrema relevncia. Nesse sentido, o
estudo Steensel (2006) chama a ateno para a questo da compreenso da leitura e a
aquisio de vocabulrio dentro de casa. Isso se reflete nas informaes recebidas pelas
crianas ao longo de seu desenvolvimento. Conforme afirmam Lopes e Paula (2008),
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Santos e cols (2002) e Sternberg (2000), a leitura envolve processos cognitivos mentais,
como o processamento e armazenamento de informaes. Esses conhecimentos adquiridos
facilitam a aquisio de novas aprendizagens e o crescimento intelectual da criana. Dessa
maneira, possvel identificar a importncia da qualidade do estmulo recebido pela crianadesde o ambiente familiar at o escolar. A criana, inserida em um contexto cultural rico e
diversificado, tem uma maior possibilidade de desenvolver um amplo vocabulrio, por
exemplo, e dessa forma usufruir disso em futuras aprendizagens (Baker & cols., 1997;
Retelsdorf & Mller, 2008; McElvany & cols., 2009, entre outros). Importante destacar que
os estudos at ento relatados, consideraram as percepes dos pais em relao s
condies, recursos e suportes oferecidos para seus filhos. Outras, como a de Spera (2006)
nos Estados Unidos e Guidetti e Martinelli (2009) no Brasil, mostram que as percepes
dos filhos sobre os recursos familiares, tambm se relacionam de maneira significativa com
o desempenho escolar, o interesse e a compreenso da leitura. Considerando sua
importncia para o presente estudo, essas duas ltimas sero descritas nos prximos
pargrafos.
A pesquisa de Spera (2006) teve como um dos objetivos relacionar as percepes de
adolescentes do stimo e oitavo ano do Ensino Fundamental sobre os suportes parental no
desenvolvimento, acompanhamento e envolvimento com atividades escolares e seus
resultados em relao ao interesse, notas, aprendizagem e performance nos estudos. A
pesquisa foi realizada com 184 estudantes, com idade mdia de 13,6 anos, de duas regies
dos Estados Unidos. Os instrumentos utilizados foram questionrios e escalas sobre
performance acadmica, interesse nos estudos e suportes parentais. O material sobre
suporte parental englobou diferentes instrumentos que abordavam as metas dos pais em
relao aos filhos, os valores educacionais dos pais, aspiraes educacionais para seus
filhos, escolaridade e ocupao dos pais, estilos parentais e a superviso e o envolvimento
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deste captulo sobre as diferentes influncias familiares relacionadas aos aspectos culturais,
sociais e econmicos.
Por fim, vale destacar o interesse de pesquisadores em relacionar os recursos
familiares com o desempenho de crianas na compreenso da leitura (Spera, 2006; Guidetti& Martinelli, 2009; entre outros). A famlia pode ser fonte de estmulos para a aquisio de
novos conhecimentos e com isso possibilitar um armazenamento de informaes,
instrues e aprendizagens que sero necessrias para a compreenso da leitura. Sendo
assim, optou-se por desenvolver no prximo captulo os conceitos mais importantes sobre a
compreenso da leitura, suas implicaes na vida escolar da criana e algumas
investigaes sobre o construto relacionando-o com o desempenho acadmico e outras
variveis consideradas relevantes.
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CAPTULO 3
A COMPREENSO DA LEITURA E SUAS RELAES COM A
APRENDIZAGEM DO ALUNO
Para finalizar a discusso terica do presente trabalho, este captulo tecer algumas
consideraes realizadas pelos estudiosos da compreenso em leitura sob a tica da
Psicologia Cognitiva. A importncia e a possibilidade de avaliao da compreenso em
leitura ser abordada em um breve relato da tcnica de Cloze e algumas pesquisas na rea.
O estudo sobre a leitura importante, visto ser ela uma habilidade requisitada
durante todo o perodo de escolarizao que vai, sobretudo, relacionar-se com a
aprendizagem de contedos diversos (Santos, Boruchovitch & Oliveira, 2009a; Guidetti &
Martinelli, 2007; Wang & cols. 2008). A leitura representa uma ferramenta indispensvel
para a formao social e cognitiva do sujeito, contribuindo de maneira efetiva com a
insero cultural do indivduo e para a sua formao como cidado. Assim, ela deve ser
adequadamente avaliada, j que muitos estudos tm apontado sua relao com o
desempenho de outras disciplinas curriculares (Joly, 2009; Santos & cols., 2002; Santos,
Boruchovitch & Oliveira, 2009; Wang & cols., 2008) .
Segundo Santos e cols. (2002), a leitura ocupa um papel importante na vida
humana, em especial no sistema escolar, que tem como um de seus principais objetivos
ensinar conceitos por meio de atividades que requerem habilidades de leitura. O
desenvolvimento da leitura favorece a aprendizagem de outras disciplinas escolares por
envolver aspectos como o propsito do leitor, a cultura social, o conhecimento prvio, o
controle lingstico, as atitudes e os esquemas conceituais. Por meio da leitura possvel
familiarizar-se com tipos de expresso que no so utilizados em outras formas de
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linguagem, j que as estruturas prprias da linguagem escrita so base do uso da lngua
num nvel culto formal (Cunha, 2006).
O ato de ler pode ser compreendido como um processo, no qual a interpretao do
que lido depende, no s do que est impresso, mas tambm das hipteses do prprioleitor, formuladas com base no seu conhecimento prvio (Santos & cols., 2002). Dessa
maneira, cabe ressaltar que a leitura relaciona-se com o desenvolvimento da fala fluente.
Essa fala est diretamente associada a outras reas da comunicao, como o
desenvolvimento da competncia lingstica, que envolve a aquisio e o desenvolvimento
adequado do vocabulrio, da sintaxe, da morfologia e da fonologia; e a habilidade de
utilizar esses aspectos da linguagem em situaes de comunicao (Lopes & Paula, 2008).
Nesse sentido, pode-se dizer que a leitura engloba uma srie de operaes
cognitivas sendo uma delas, que no deve ser confundida com a totalidade do processo, a
decodificao, compreendida apenas como a capacidade de decifrar o cdigo de uma
mensagem e captar seu significado. Aps essa operao, realizada geralmente nas primeiras
etapas da aprendizagem da leitura, todo o esforo posterior deve ser dirigido compreenso
(Alliende & Condemarin, 1987). Ao analisar a compreenso da leitura, Cunha (2006)
reitera que aprender a ler significa dominar progressivamente textos cada vez mais
complexos, captando seu significado.
Dada a abordagem adotada no presente estudo, julgou-se pertinente resgatar alguns
conceitos bsicos da Psicologia Cognitiva para sua fundamentao terica. Essa
abordagem, baseada na teoria do processamento humano de informao, postula que a
mente um sistema cognitivo que permite o ser humano interagir no seu meio. Este
sistema, por sua vez, tem a capacidade de se monitorar e auto-regular, potencializando o
prprio sistema, definido por metacognio (Jou & Sperb, 2006). A cognio e a
metacognio esto diretamente relacionadas com o aprendizado da leitura. Sob essa
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perspectiva, Nicholson (1999) explica que a leitura e a escrita so processos que consistem
de vrios subprocessos utilizados para desempenhar tarefas, que so comparados a um
computador. Isso significa que esses subprocessos tm funes especializadas que
interagem para completar uma tarefa, cada um deles com uma funo diferente. A autoraacrescenta que os modelos de processamento da informao para leitura so similares aos
da escrita. Alm disso, os leitores operam vrios nveis, incluindo o reconhecimento e
identificao de palavras, entendimento e uso das estruturas sintticas, acesso a
conhecimentos bsicos e operao de fluncia da leitura.
Eysenck e Keane (2007) consideram que a leitura requer vrios processos
perceptuais e outros cognitivos, assim como um bom conhecimento da lngua e da
gramtica. Na verdade, os autores acreditam que a maior parte das atividades mentais est
relacionada leitura, que pode ser encarada como pensamento visualmente guiado. Como
j mencionado a leitura competente tem muito valor na sociedade contempornea, e os
adultos sem habilidades efetivas de leitura ficam em grande desvantagem, o que refora a
importncia do estudo do tema.
Ainda para Eysenck e Keane (2007) alguns processos de leitura esto relacionados
com a identificao e a extrao de significados das palavras individuais. Outros processos
operam no nvel da frase ou sentena, e outros ainda lidam com a organizao geral ou a
estrutura temtica de uma histria ou livro, sendo o seu objetivo principal o entendimento
do texto. Existem vrias tcnicas que procuram estudar os processos envolvidos na leitura,
como por exemplo, a tarefa de deciso lexical (decidir se uma srie de letras forma uma
palavra), a tarefa de nomeao (dizer uma palavra em voz alta o mais rapidamente
possvel), a conscincia fonolgica (diz respeito ao som das palavras), a tarefa de
identificao de palavras (considera-se o acesso ao significado de uma palavra), entre
outros.
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A esse respeito, Sternberg (2008) afirma que o ato de ler envolve diferentes
processos que podem ser observados, como a percepo das letras, seus formatos e
ligaes, aspectos relacionados ortografia. Em seguida, o sujeito traduz a letra em som,
criando um cdigo fonolgico, depois deve sequenciar todos os smbolos visuais e os sonspara formar uma palavra relacionando-a a um significado. O conjunto de palavras
constituir uma frase ou sentena, e ao conjunto de sentenas o leitor dar um sentido,
passando a entender o texto como um todo. Sendo assim, ao aprender a ler o leitor deve
chegar a dominar dois tipos bsicos de processos perceptuais, os processos lexicais, usados
na identificao de letras e palavras, e os processos de compreenso, usados para entender o
texto como um todo. Para a compreenso da leitura necessrio ativar a memria de
trabalho, que ir resgatar as experincias e conhecimentos prvios para identificar e
codificar as palavras do texto. A compreenso de texto est intimamente ligada com o
conhecimento e significado das palavras, ou seja com o vocabulrio que o leitor tem
armazenado. Muitas vezes no preciso ter conhecimento de todas as palavras do texto
para compreend-lo, visto que possvel dar sentido a um texto como um todo, por meio de
conhecimento anterior sobre o tema. Isso facilita o entendimento do texto, mesmo que o
leitor tenha que buscar o significado de algumas palavras que so novas naquele momento.
Percebe-se que a compreenso da leitura depende da inter-relao entre vrios
processos cognitivos conforme admitido pela Psicologia Cognitiva. Reitera-se que apenas
processos bsicos como o reconhecimento de palavras e extrao do significado das
palavras impressas no so suficientes para a compreenso textual bem sucedida. Pode-se
dizer que so os processos cognitivos de alto nvel, que incluem a capacidade de realizar
inferncias, habilidades de memria e o conhecimento de mundo, que permitem ao leitor a
representao macroestrutural do texto (Kintsch, 1994; Kintsch & Dijk, 1978). Em outras
palavras, Neves, Dias e Pinheiro (2006) afirmam que o processo de compreenso da leitura,
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assim um instrumento cognitivo (Taylor 1956 citado por Oliveira e cols., 2009a). A
dificuldade de um item no Cloze pode estar relacionada a fatores intrnsecos, que so
elementos positivos que facilitam a execuo da tarefa e funcionam como um estmulo para
o entendimento do item, e extrnsecos, que incluem os conhecimentos que o estudante temsobre o assunto e as estratgias utilizadas para o desempenho da tarefa (Oliveira e cols.,
2009a). Para as autoras ao apreender um texto de Cloze, o leitor age como um processador
de textos escritos que, por meio de conhecimentos prvios, faz inferncias e analogias que
resultam na compreenso. Para melhor ilustrar a relao entre o desempenho no Cloze e o
rendimento escolar sero apresentadas alguns estudos brasileiros (Guidetti & Martinelli,
2007; Oliveira & cols., 2008; Oliveira e cols., 2009b).
O estudo de Guidetti e Martinelli (2007) teve por objetivo investigar as relaes entre
a compreenso em leitura e o desempenho em escrita de alunos do primeiro ciclo do ensino
fundamental. Participaram da pesquisa 148 crianas, entre 8 e 12 anos de idade, de trs
escolas pblicas. A compreenso em leitura foi avaliada por um texto elaborado segundo a
tcnica Cloze e o desempenho em escrita por uma escala de avaliao da escrita. A
correo da escala de avaliao da escrita feita pontuando o nmero de erros da criana,
ou seja, quanto maior a pontuao pior o desempenho no teste. Os resultados de acordo
com a prova de correlao de Pearson revelaram uma correlao negativa e significativa
(r= -0,57, p
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disciplinas de Portugus e Matemtica. Participaram 434 estudantes de quinta a oitava
sries do ensino fundamental, com idades variando entre 10 e 16 anos, provenientes de
escolas pblicas de duas cidades do interior de So Paulo. Alm do teste de Cloze, foram
apurados as notas de Portugus e Matemtica de cada aluno fornecidas pela escola segundoos conceitos Realiza plenamente, Realiza e Em processo. Os resultados apontaram uma
diferena significativa entre os alunos que apresentavam um bom e mau desempenho
escolar em Portugus e Matemtica, em relao pontuao do Cloze. Os alunos com
conceito Realiza plenamente foram os que obtiveram as melhores pontuaes no teste de
Cloze, seguidos dos alunos com conceito Realiza e Em processo. Os dados dessa pesquisa
revelaram haver uma relao positiva e significativa entre a compreenso da leitura e o
desempenho acadmico de duas disciplinas consideradas importantes, no ensino
fundamental.
Outro estudo similar de Oliveira, Boruchovitch e Santos (2009b), tambm
utilizando a tcnica de Cloze, investigou no apenas a relao entre compreenso em leitura
e desempenho escolar real, mas tambm incluiu o desempenho escolar autopercebido.
Foram participantes 164 alunos da quinta srie do Ensino Fundamental, com idade mdia
de 11 anos e 5 meses, provenientes de escolas pblicas e particulares dos estados de So
Paulo e de Minas Gerais. O instrumento utilizado foi um texto de 250 vocbulos,
estruturados nos parmetros da tcnica do Cloze. Para a medida do desempenho escolar
real, foi considerada a nota de Portugus, classificada como conceitos, a saber, Em
processo, Realiza e Realiza plenamente. J o desempenho escolar autopercebido foi
avaliado conforme a resposta do aluno sobre o seu desempenho na escola. Os resultados
revelaram que os alunos com conceito Realiza plenamente se saram melhor no Cloze,
seguidos por aqueles com conceito Realiza e por fim Em processo. Isso significa que os
alunos que demonstraram maior habilidade em compreenso de leitura, tambm foram os
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que obtiveram os melhores conceitos em Portugus. No que se refere ao desempenho
autopercebido, as autoras verificaram que os alunos que tiveram uma autopercepo
negativa do desempenho tambm obtiveram menor pontuao no teste de Cloze, o mesmo
vale para o inverso, sugerindo uma conscincia dos alunos acerca de seu desempenhoescolar.
Existem outras pesquisas que tambm utilizaram o Cloze, porm com diferentes
objetivos. Dentre eles, encontram-se estudos que buscaram comparar algumas variveis
como sexo, tipo de instituio e srie de acordo com o desempenho no Cloze. Essas
pesquisas sero detalhadas a seguir (Cunha & Santos, 2008; Oliveira, Boruchovitch &
Santos, 2007).
Oliveira e cols. (2007) investigaram as diferenas na compreenso em leitura,
considerando o gnero, tipo de escola e srie escolar. Participaram 206 estudantes
matriculados nas 7 e 8 sries do ensino fundamental de escolas pblicas e particulares. O
instrumento utilizado foi um texto com a tcnica de Cloze desenvolvido especilamente para
essa faixa etria. A diferena de desempenho no Cloze entre os gneros foi observada pelo
teste tde Student. Os dados mostraram que as meninas apresentaram uma mdia mais alta
de acertos no Cloze (M=25) em relao ao meninos (M=22,8), diferena essa,
estatisticamente significativa (t=3,04; p
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matriculados na 8 srie apresentaram um melhor desempenho na compreenso em leitura
do que os que estavam na 7 srie.
A pesquisa de Cunha e Santos (2008) teve como um dos objetivos averiguar as
habilidades lingsticas tal como mensuradas pela Escala de Avaliao de Dificuldades naAprendizagem da Escrita (ADAPE),a Escala de Reconhecimento de Palavras e o teste de
Cloze de acordo com a varivel tipo de instituio. Participaram 266 crianas, de ambos os
sexos, entre 8 e 13 anos, de terceiras e quartas sries, do Ensino Fundamental de escolas
pblicas, particulares e do SESI, em cidade do interior de So Paulo. Observou-se que nas
escolas particulares as mdias nos trs instrumentos indicaram melhor desempenho dos
alunos em relao aos das escolas pblicas (n=189), confirmando a hiptese levantada
pelas autoras de que o desempenho dos alunos da escola particular seria melhor. As
diferenas entre as mdias, por tipo de instituio, apresentaram ndices estatisticamente
significativos para os trs instrumentos ADAPE (t=-4,99; p
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aprendizagem de leitura est sujeito a ritmos e caractersticas diferentes (Cunha, 2006; Joly,
2009; Neves & Boruchovitch, 2004; Sol 2003).
Algumas experincias de aprendizagem, que auxiliam no processo de aquisio da
leitura, ocorrem antes mesmo da entrada na escola sendo o ambiente familiar a principalreferncia da criana. Dessa maneira, os resultados da pesquisa de Retelsdorf e Mller
(2008) sobre condies familiares e individuais para a compreenso da leitura em crianas,
revelaram que questes socioeconmicas, escolaridade dos pais, e atividades de leitura
desenvolvidas pelos pais junto a seus filhos, podem influenciar na motivao para leitura.
Sendo assim, os autores consideram que a compreenso da leitura depende de condies
cognitivas do sujeito e do suporte familiar recebido por ele. Nessa perspectiva, Baker e
cols. (1997) e McElvany e cols (2009) consideram que as influncias familiares na
educao e aprendizagem das crianas, principalmente no que diz respeito compreenso
da leitura, precisam de ser mais bem investigadas. As condies e as estruturas da famlia,
associados a questes individuais de cada sujeito, podem contribuir para incrementar a
motivao e o desempenho escolar.
Ao refletir sobre a participao da famlia na aprendizagem da leitura, pode-se
inferir que as crianas que receberam mais estmulos positivos ambientais e afetivos em
relao realizao da leitura tem mais possibilidade de apresentar um melhor desempenho
acadmico (Gilabert, Martinez & Vidal Abarca, 2005). Ao lado disso, supe-se que quando
o aluno apresenta um bom repertrio de conhecimentos armazenados, possivelmente
apresentar melhor compreenso, pois a compreenso em leitura depende do processo de
retroalimentao (Nicholson, 1999).
Para melhor ilustrar a questo do conhecimento prvio apresenta-se a pesquisa de
Anmarkrud e Braten (2009) que buscou analisar a dimenso da motivao para
compreenso em leitura e sua relao com o conhecimento prvio e as estratgias de
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leitura. Participaram 104 estudantes, entre 14 e 15 anos, provenientes de quatro escolas de
Ensino Mdio da Noruega. Os materiais para coleta de dados foram dois textos da
disciplina de estudos sociais, uma escala tipo Likert sobre a percepo do estudante em
relao ao seu desempenho em estudos sociais, um teste de mltipla escolha sobre oconhecimento do aluno em relao aos textos, um inventrio de estratgias para a leitura,
um inventrio sobre motivao para leitura e uma medida de compreenso em leitura. Os
resultados apontaram uma relao positiva e significativa entre o conhecimento prvio e a
compreenso em leitura, inclusive uma das anlises feitas revelou que esse conhecimento
pode predizer o desempenho do aluno em relao ao texto. Outro resultado encontrado foi
que os alunos com melhor desempenho em leitura foram os que atribuam maior
importncia e utilidade compreenso em leitura. Alm disso, esses alunos possuam uma
orientao motivacional intrnseca, bem como utilizavam estratgias de aprendizagem
(cognitivas e metacognitivas) para entender melhor o texto.
Ainda a respeito da relao entre a motivao e leitura um estudo anterior realizado
por Roeschl-Heils e cols. (2003) teve como objetivo correlacionar a motivao, a
metacognio e a leitura. Os sujeitos foram 59 estudantes, de uma amostra de 140 que j
haviam participado de uma pesquisa anterior em 1999 e em 2000. Na ocasio da coleta de
dados 32 estudantes estavam cursando a stima srie do Ensino Fundamental e 27
estudantes encontravam-se na oitava srie. Os alunos eram provenientes de trs escolas da
regio de Wrzburg na Alemanha. Os instrumentos utilizados foram apenas alguns dos
aplicados no estudo anterior, devido idade dos estudantes nesse segundo estudo. Sendo
assim, os pesquisadores aplicaram um teste de habilidades verbais, um instrumento de
estratgias metacognitivas, uma subescala de um teste de metamemria, um instrumento
sobre autopercepo em leitura, uma escala de interesse por leitura e um teste sobre
habilidades de leitura.
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Foram identificadas, na pesquisa de Roeschl-Heils e cols. (2003), correlaes
positivas e significativas entre interesse por leitura, habilidades verbais e de leitura,
autopercepo em leitura e estratgias metacognitivas. Esses resultados tambm
apareceram no primeiro estudo realizado com essa amostra, sugerindo uma estabilidade dosconstrutos correlacionados ao longo desse perodo de trs anos. Isso significa que alunos
que utilizam bem as estratgias metacognitivas desenvolvem melhor suas habilidades
verbais e de leitura, e apresentam um maior interesse por leitura. Outra questo sugerida
pelo estudo que as variveis da metacognio e da motivao, assim como as habilidades
de leitura, podem distinguir os bons e os maus leitores. Os alunos considerados maus
leitores demonstraram utilizar menos as estratgias metacognitivas, baixo escore em leitura
e pouco interesse por ela.
Ao longo do captulo discutiu-se a importncia de diferentes variveis na
aprendizagem da leitura, como o conhecimento prvio (Eysenck & Keane, 2007; Sternberg,
2008), as habilidades verbais e de leitura (Roeschl-Heils, Schneider & Kraayenoord, 2003),
a motivao para a leitura (Anmarkrud & Braten, 2009; Roeschl-Heils, Schneider &
Kraayenoord, 2003) e as influncias ambientais e de contexto da criana (Retelsdorf &
Mller, 2008). Dentre as diversas variveis relacionadas leitura, o presente estudo optou
por estudar a motivao e os recursos familiares.
Sabe-se que as experincias de aprendizagem da criana esto inseridas em
determinados contextos e so incentivadas por diferentes estmulos. Conforme apresentado
nos captulos anteriores, a motivao, na teoria de Metas de Realizao, apontada como
fun