MOTIVAÇÕES PRAGMÁTICAS (ESQUEMA)

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MOTIVAÇÕES PRAGMÁTICAS Vitória Wilson ESQUEMA Dependendo do modo como os estudiosos concebem a linguagem, surge uma teoria, um método equivalente e adequado para explicar o seu funcionamento; As pesquisas linguísticas se dividem em dois grandes polos: a) O pólo formalista: dá ênfase a forma linguística, isto é, a ideia de que a língua é um sistema, uma estrutura. b) O polo funcionalista: dá ênfase ao funcionamento da língua, isto é, a ideia de que a língua é relação entre forma e função, entre fatores gramaticais e sociais. É dentro dessa perspectiva que se encontra a PRAGMÁTICA. A pragmática se constitui em uma área ampla e diversificada, adquirindo várias acepções conforme o enfoque adotado. Yule apresenta as seguintes definições: a) É o estudo do significado sob o ponto de vista do falante; b) É o estudo do significado contextual (para quem, onde, como e quando vão dizer); c) É o estudo de como se diz daquilo que é dito; d) É o estudo da expressão da proximidade/distanciamento. Assim, podemos concluir que a PRAGMÁTICA É A TEORIA DO USO LINGUÍSTICO. A concepção de competência gramatical

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MOTIVAÇÕES PRAGMÁTICAS

Vitória Wilson

ESQUEMA

Dependendo do modo como os estudiosos concebem a linguagem, surge uma teoria, um método equivalente e adequado para explicar o seu funcionamento;

As pesquisas linguísticas se dividem em dois grandes polos:

a) O pólo formalista: dá ênfase a forma linguística, isto é, a ideia de que a língua é um sistema, uma estrutura.

b) O polo funcionalista: dá ênfase ao funcionamento da língua, isto é, a ideia de que a língua é relação entre forma e função, entre fatores gramaticais e sociais. É dentro dessa perspectiva que se encontra a PRAGMÁTICA.

A pragmática se constitui em uma área ampla e diversificada, adquirindo várias acepções conforme o enfoque adotado. Yule apresenta as seguintes definições:

a) É o estudo do significado sob o ponto de vista do falante;

b) É o estudo do significado contextual (para quem, onde, como e quando vão dizer);

c) É o estudo de como se diz daquilo que é dito;

d) É o estudo da expressão da proximidade/distanciamento.

Assim, podemos concluir que a PRAGMÁTICA É A TEORIA DO USO LINGUÍSTICO. A concepção de competência gramatical é substituída pela concepção de competência comunicativa.

Fazem parte da competência comunicativa fatores como o contexto situacional, os participantes da cena comunicativa, o conhecimento das normas e convenções lingüísticas e sociais pertinentes ao contexto, a atribuição de papeis e as funções de cada um dos envolvidos.

São estudos pragmáticos:

a) Implicaturas conversacionais

b) Teoria dos atos da fala;

c) Teorias da polidez;

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d) Análise da conversação.

IMPLICATURAS CONVERSACIONAIS

a) Cabe ao filósofo Grice o desenvolvimento dessa teoria.

b) Segundo o autor são dois tipos de implicaturas: as convencionais (a significação é gerada internamente) e as conversacionais (a significação é ligada ao contexto).

c) As inferências conversacionais são inferências relacionadas ao discurso, ao uso da língua. O ouvinte participa ativamente da construção do significado do que ouve, preenchendo lacunas que o falante deixa em seu discurso.

(1) A. Você deu o dinheiro para Maria?

(2) B. Eu estou esperando ela chegar!

Informação não dada por B que deve ser inferida por A: B não deu o dinheiro para Maria.

(3) A. Você leu o texto para o seminário?

(4) B. Pretendo.

Informação não dada por B que deve ser inferida por A: B não leu o texto.

Segundo Grice, o que faz com que os falantes dessas sentenças se entendam é o princípio da cooperação, um tipo de entendimento tácito entre os falantes que estabelece uma cooperação na comunicação entre as pessoas.

Segundo Grice, os participantes de uma conversação sempre serão cooperativos no sentido de que a sua contribuição para aquela conversação seja adequada aos seus objetivos.

O princípio da cooperação tem regras que explicitam o acordo mútuo entre os participantes de uma conversação. Essas regras se traduzem em quatro máximas identificadas por Grice como segue abaixo:

Máxima da quantidade: faça sua contribuição tão informativa quanto necessária para o objetivo da comunicação. Seja informativo!

Máxima da qualidade: tente fazer de sua contribuição uma verdade. Seja verdadeiro!

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Máxima da relação: faça com que suas contribuições sejam relevantes. Seja relevante!

Máxima do modo: faça sua contribuição de forma clara, breve e ordenada, sem ambiguidades nem obscuridades. Seja claro!

Essas máximas são parâmetros que servirão como base para a comunicação.

(5) A. João é engenheiro civil e mecânico.

(Eu acredito que João é engenheiro civil e mecânico)

(6) A. Você fez todos os exercícios?

B. Fiz alguns.

(B não fez todos)

(7) A. Você vai à festa hoje?

B. Puxa! Estou com uma gripe de matar.

( B não vai a festa)

(8) A. Eu entrei no carro e dirigi.

B. ??Eu dirigi e entrei no carro.

O princípio cooperativo diverge do linguístico, no sentido de que eles podem e ser e são violados frequentemente. Quando isso ocorre o falante sabe e reconhece que as máximas foram violadas de uma maneira intencional. E para lidar com esses desvios, o falante tem duas alternativas: A primeira é alertar seu interlocutor. A segunda é entender que a violação é proposital, pois o falante quer transmitir uma informação extra.

TEORIA DOS ATOS DE FALA

a) Tem como seu precursor o filósofo inglês John Austin;

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b) Considera as frases da língua como ações sobre o real;

c) Sob essa perspectiva, quando falamos, não fazemos apenas declarações, mas ordenamos, pedimos, lamentamos, rogamos, julgamos, reclamamos etc.

d) Baseado nesse fato Austin propõem que o ato comunicativo pode se apresentar em vários níveis, sendo omais relevante: ato locutório, ato ilocutório e ato perlocutório.

Ato locutório: conteúdo linguístico usado para dizer algo, sentido restrito da sentença, descrição dos estados de coisas.

Ato ilocutório: intenção do proferimento do falante, modo de dizer algo em função da força com que é proferido. Ações que realizamos quando falamos: ordem, pergunta, aviso...

Ato perlocutório: efeitos causados sobre o outro obtidos pelo ato ilocutório. Efeitos assustamos, convencemos, desagradamos... Não é, geralmente, considerado relevante para o estudo do significado linguístico.

Exemplo:

(1) Vou desligar o videogame. Ato locutório

(2) Vou desligar o videogame! (Com tom ameaçador) Ato ilocutório

Em (2), a força ilocutória está presente no proferimento, não faz parte do ato locutório.

(3) Prometo-lhe que não chegarei atrasada.

(4) Concordo que vc participe do grupo.

Em (3) e (4), a força ilocutória está explícita no próprio ato locutório. Nesse caso a sentença recebe o nome de proferimento performativo. Esses proferimentos não constituem descrições, mas ações. Um interessante teste para verificar se uma sentença é performativa é acrescentar a expressão ‘por meio deste’ e ver se a sentença tem aceitabilidade.

Por meio destas palavras, prometo-lhe que não chegarei atrasada.

Por meio destas palavras, eu concordo que vc participe do grupo.

*Por meio detas palavras, vou desligar o videogame!

(5) Ela prometeu que não chegaria atrasada.

(6) Ela concordou que vc participasse do grupo.

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Em (5) e (6) os proferimentos tem os mesmos verbos de (3) e (4), mas constituem descrições de situações. Podemos considerá-los verdadeiros ou falsos. São apenas atos locutórios.

o TEORIA DA POLIDEZ

a) Tem como precursores Brown e Levinson (1987);

b) Deriva dos trabalhos de Goffman sobre a face e do princípio da cooperação de Grice;

c) Essa teoria está associada ao processo de elaboração da face (auto-imagem pública dos indivíduos);

d) Partindo desse princípio, vários autores formularam algumas regras de conduta com base no tipo de interação observado e no tipo de cultura implicado.

e) Lakoff (1993) e outros autores distinguem três regras de polidez:

o Não imponha

o Dê opções

o Faça A sentir-se bem; seja amigável.

ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO

a) Seus precursores são Harvey Sacks, Emanuel Schegloff e Gail Jefferson;

b) No início, a ênfase dessas pesquisas reside na descrição das estruturas, na organização da conversação e no papel dos gestos na interação em contextos institucionais.

c) A partir de 1980, não só os contextos se diversificaram como também as análises se expandiram em torno de descrições e interpretações acerca do modo como os falantes agem e interpretam a ação e a conduta dos outros nas situações espontâneas de conversação.

d) O interesse dessa área consiste em investigar a interação em sua manifestação espontânea.

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e) Marcuschi (1991) destaca cinco elementos básicos que caracterizam uma conversação:

o Interação entre os falantes;

o Ocorrência de pelo menos uma troca de falantes;

o Presença de ações coordenadas;

o Execução de uma atividade temporal (a conversação deve ocorrer em um mesmo tempo).

o Interação centrada, é preciso que os interlocutores tenham algo sobre o que conversar.

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