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7 Biblíothecá Si y^7 ; oX bykyèl 1 msm xm„ «SflISfe PUBLICAÇÃO QUINZENAL iimo 8 1883 Dezembro 15. 0 FLUIDO UNIVERSAL IX Como promeüemos, vamos fallar sobre os phenomenos do somno, do sonho, da loucura e da obsessão. 0 somno é um estado em que nosso ei, a alma, abandona, em parte seu in- stnimerilo material, afastando então a sensibilidade cio apparelho das sensa- çfi.s. Pelo emprego do ipso-magnetismo, a alma tem a faculdade de so oppôr ás reacções das emoções vivas, que podem perturbar os trabalhos da intelligencia ; nós vemos que, quando nos oecupamos fortemente com uma idéia, o que não 6 mais que uma concentração da nossa vida em um certo sentido, tudo que não seja ella parece que deixa de existir para nós. O somno tem alguma cousa de ana- logo; nós podemos provocal-o ou repei- lil-o; elle é uma necessidade do orga- nismo submettida, até certo ponto, ao domínio da vontade. A actividade da alma gasta, durante a vigilia, grande parte do fluido vital, falta que traz, então, diíHculdadcs á execução dos movimentos do corpo; os organs faligadosnos reenviam uma sensação de niáo estar, e a alma experimenta neces- si.Jade de repousar. Tambem a ausência do sol, empohre- condo a nossa atmosphera, defliculta a rdlbrmação do fluido vital c, assim, concorre para esse entorpecimento do nosso corpo. O somno começa pelas extremidades, depois ganha o tronco e, finalmente, a cabeça. Nilo mais sustentados pela vontade, os músculos se dobram arrastando a queda do corpo, quando está de e não tem um apoio conveniente. Tambem podemos dizer que a altrac- ção terrena obra então com mais força sobre o corpo, onde ha falta de fluido e, por conseqüência, umaugmento de den- sidade média. Os olhos e os ouvidos, esses veladores da nossa conservação que nos previnem do que se passa ao longe, são os últimos sentidos que adormecem. No despertar dão-se as mesmas giada- çOes mas em uma ordem invertida ; a cabeça pôde estar acordada, quando as extremidades ainda dormem, ea sensa- ção vaga da existência do corpo, que a cireulação nervosa então comnmnica á alma, como a de uma cousa estranha, tem uma espécie de encanto que desap- parece, ao primeiro movimento. Rigorosamente falhando, o somno não existe senão na cabeça, porque ó nella que se encontra o centro de allectibili- Brazil R|0 <I0 Janeiro 1883 - Dezembro 15 M. »5 dade, com que a alma está em commu- nicação e do qual ella se isola, quando dormimos; mas, como ella se prende ao corpo pelo lluido nervoso, este, enfra- quecido pela pobreza do fluido vital de que elle é uma modificação, se retira pro- gressivamcnle do organismo, quando a necessidade de repouso se faz sentir. O somno é uma forte prova da existen- cia da alma; elle demonstra a união das duas naturezas, que em nós se reúnem quando vimos viver na Terra. Durante esse estado o fluido vital se accumula c, ainda augmentado com a chegada do sol, constrange o sys- tema nervoso, então mais rico na mesma proporção, a receber as sensa- ções que elle lhe envia; e é esta a causa natural do despertar que, pelo mesmo motivo, pôde tambem ser produzido por uma eommoção violenta, fonte tambem de concentração íluidica, como vimos. No estado de saúde, depois de longa vigilia, o primeiro somno é profundo; elle se torna mais leve, á medida que re- novando-se, o fluido restabelece o con- tacto intimo da sensibilidade com a affectibilidade. E' então que se dão os sonhos que, por isso, são extraordinariamente mais fre- quentes e seguidos pela manhã. As communicações imperfeitas que, durante o somno, continuam a existir entre a alma e o corpo, dão-nos semi- sensações que, oecupando-nos com ellas, podemos reproduzir, como nossas recor- ilações reproduzem no cérebro as im- pressões que tivemos eque, então, que- remos examinar. Isto se entre o trabalho da momo- ria e o dos sonhos, consistindo a diffe- rença em ser o primeiro feito com scien- cia nossa, ao passo que o segundo não Ha, porém, outros sonhos que não são recordações, mas factos novos ou então reminiscencias de acontecimentos dados em nossas outras enearnações. Nas condições de libertamente em que elle se acha, nosso ser pensante pode recordar-se de factos acontecidos em suas outras existências, como tambem pode receber impressões de factos novos, que se dão no próprio momento. Quantas questões importantes, quan- tos problemas difíiceistem sido resolvi- J dos durante esse estado de desprendi- mento d'alma! Algumas vezes a vivacidade dos qua- dros, nos sonhos, a sua ligação nos cap- tivam, a ponto de nada mais nos deixar sentir além; Absorvida nas sensações que recebe, nossa alma ordena então movimentos, que o magnetismo animal faz que o corpo execute, sem que o somno seja inlerrom- pido; é o estado a que chamamos som- nambulismo natural, que se diaíraguè do somnambulismo magnético por ser o primeiro produzido pelo próprio espi- rito e o segundo devido a uma influencia estranha, venha esta de um encarnado ou de um desencarnado. No somnambulismo os membros estão despertados ea cabeça não. Em vez de invadir todo o cérebro, o fluido não obra sobre a affectibilidade, senão segundo a serie de sensações que o sonho produzio. A attenção que nossa alma lhe presta, a isola de tudo o mais. Como no somno, no phenomeno da morte enos dos diversos gráos de cata- lepsia,éa falta de fluido vital que produz o afastamento do espirito do corpo: afãs- lamento que cresce com essa falta. Esta pódc ser tal que uma reparação se torne impossível, e então os laços se rompem e o espirito parle. Pelos motivos acima citados o maior numero de mortes deve ter lugar á noite,entre a meia-noite e as três horas, oceasião em que o espirito está mais afastado, não porque a perda de fluido nao teve ainda a reparação proporcio- nal, como porque a pobreza da atmos- phera em electricidade é então a maior possível e, por conseqüência, menos neutralisa a acção magnética da Terra, sobre os corpos que estão em sua su- perficie. O corpo tendo então maior densidade, mais facilmente pode o espirito separar- se delle. Assim tambem. nas condições nor- mães, deve haver maior numero de obi- tos nas estações do (lutono e do Inverno; Todas as percepções do mundo physico nos são fornecidas pelos sentidos, por intermédio do cérebro, centro do nosso systema nervoso. Uma alterarão dos organs da visão pode privar o celebro da impressão correspondente e o espirito da faculdade de ver. Soffrimento idêntico em outro orgam impossibilita-o de transmiltir ao centro nervoso, as impressões que possa receber do inundo material, e o indivíduo assim ferido fica fora do caso de poder conhe- cer as propriedades dos corpos que o cercam. Se fôr o cérebro a parte enferma, as impressões vindas dos sentidos serão nelle alteradas e, assim communicadas ao espirito, o arrastam a formar idéias falsas sobre o mundo physico; e se cora ellas quizer conformar seus actos, pra ti- cará disparates, segundo o julgar daquel- les que se acham em perfeito estado normal. Dá-se assim a loucura, quando o cere- l)i'o está physicamente lesado. Neste caso, porém, a loucura não pôde ter interrniltencia: e o indivíduo, desap- parecida a lesão, ficará inteiramente curado. Existe, porém,a loucura com momen- tos lúcidos, durante os quaes o enfermo nos espanta com o acerto de suas idéias e a regularidade de seu modo de pro- ceder. Se examinarmos o cadáver de um infeliz que tenha suecurabido desta se- gnnda espécie de loucura, encontra- remos todos os seus organs perfeitos; o que nos leva a admittir qne a causa do mal não está no corpo. O homem é um espirito servido por organs; se estes estão perfeitos e o indi- viduo soffre, a origem do mal está no próprio espirito. A sciencia moderna começa a desper- sar o nevoeiro que nos oceultava o mundo espiritual; e hoje sabemos que é pelo cérebro, que nosso espirito tran- smitte suas determinações ao corpo e recebe as impressões vindas dos sen- tidos. Vae-se tornando conhecido o poder immenso do magnetismo, fluido que prende em um todo a creação inteira. E' por meio desse fluido que os espi- ritos se communicam uns cora os outros; é por elle que um espirito máo ou atra- zado, visto que a maldade não é mais que uma manifestação de atrazo intel- lectual c moral, pôde influir sobre um outro preso a um corpo, fazendo-lhe ter sensações desagradáveis e contrarias ás que seus organs lhe transmittem, levando-o a praticar actos que dão lugar a que o classifiquem de louco. E; a obsessão, na qual, a acção do es- pirito não sendo contínua, notamos nella iiitermittencias lúcidas. Perguntarão, sem duvida, porque per- initte a justiça divina que um espirito assim obscurecido pela matéria, esteja sujeito aos caprichos criminosos dos que erram no espaço —Responderemos que, antes de encarnar-se, o espirito pede as provas porque tem de passar. Nos momentos lúcidos o obsedado pôde julgar dos defeitos moraes que assim o collocam sob o jugo desses irmãos soffre dores, e, corrigindo-se, conseguirá afãs- tal-os de si. A vastidão do assumpto e a estreiteza dos limites de que dispomos, para lhe dar o preciso desenvolvimento, serão motivos que, na mente do benevolo lei- tor, pugnarão em nosso favor, contra a aceusação, que nos possam assacar, de havermos deixado na obscuridade mui- tos pontos importantes. SSo theses que a Redacção do Refor- mador submette á vossa apreciação e estudo. Estudae-as e, nos limites de vossas forças, dae-lhes a luz de que pre- cisam. v,. ; é. 8 Y ."-¦;¦ y-yy:

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    msm xm„«SflISfePUBLICAÇÃO QUINZENAL

    iimo 8

    1883 — Dezembro — 15.

    0 FLUIDO UNIVERSAL

    IX

    Como promeüemos, vamos fallar sobreos phenomenos do somno, do sonho, daloucura e da obsessão.

    0 somno é um estado em que nossoei, a alma, abandona, em parte seu in-stnimerilo material, afastando então asensibilidade cio apparelho das sensa-çfi.s.

    Pelo emprego do ipso-magnetismo, aalma tem a faculdade de so oppôr ásreacções das emoções vivas, que podemperturbar os trabalhos da intelligencia ;nós vemos que, quando nos oecupamosfortemente com uma idéia, o que não 6mais que uma concentração da nossavida em um certo sentido, tudo que nãoseja ella parece que deixa de existirpara nós.

    O somno tem alguma cousa de ana-logo; nós podemos provocal-o ou repei-lil-o; elle é uma necessidade do orga-nismo submettida, até certo ponto, aodomínio da vontade.

    A actividade da alma gasta, durante avigilia, grande parte do fluido vital, faltaque traz, então, diíHculdadcs á execuçãodos movimentos do corpo; os organsfaligadosnos reenviam uma sensação deniáo estar, e a alma experimenta neces-si.Jade de repousar.

    Tambem a ausência do sol, empohre-condo a nossa atmosphera, defliculta ardlbrmação do fluido vital c, assim,concorre para esse entorpecimento donosso corpo.

    O somno começa pelas extremidades,depois ganha o tronco e, finalmente, acabeça.

    Nilo mais sustentados pela vontade, osmúsculos se dobram arrastando a quedado corpo, quando está de pé e não temum apoio conveniente.

    Tambem podemos dizer que a altrac-ção terrena obra então com mais forçasobre o corpo, onde ha falta de fluido e,por conseqüência, umaugmento de den-sidade média.

    Os olhos e os ouvidos, esses veladoresda nossa conservação que nos previnemdo que se passa ao longe, são os últimossentidos que adormecem.

    No despertar dão-se as mesmas giada-çOes mas em uma ordem invertida ; acabeça pôde estar acordada, quando asextremidades ainda dormem, ea sensa-ção vaga da existência do corpo, que acireulação nervosa então comnmnica áalma, como a de uma cousa estranha,tem uma espécie de encanto que desap-parece, ao primeiro movimento.

    Rigorosamente falhando, o somno nãoexiste senão na cabeça, porque ó nellaque se encontra o centro de allectibili-

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    ASSIGNATURASPARA O INTERIOR E EXTERIOR

    Semestre 0#000

    PAGAMENTO ABÍANTADO

    Toda a correspondência deve ser diri-gida a

    A. I lius

  • UmREFORMADOR — 188» — Dezembro — 13

    A plancheta começou a mover-sedocemente e com grande dificuldadeescreveu a palavra hoivevcr, que, vol-tando-me, vi ser a que o dedo cobria.

    Fazendo esta experiência, eu tinhaexpressamente evitado olhar para ojornal ; ao médium era impossível verpalavra alguma, visto que elle estavasentado a uma mesa, quando o jornalduscançavs.1 sobre outra completamenteescondida por men corpo.

    (Continua).

    Miiis dois organs de propaganda Spiritaencetaram a publicação; « La Redençion »em Santiago dc Cuba, e Amor,Paz kCari-dai»; Univeiísal ern Barccllona. Aos deno-dados trabalhadores, desejamos todas asprós Mondados.

    « : »—O tirupo Spirita Regeneração, fundado

    em Vianna (Maranhão) realisou, no dia 8do inez próximo passado, uma sessão so-leinne; anniversario de sua fundação.

    (C » —

    l). alisou-se cm Liège, a 16 dc Setembroultimo, o segundo Congresso Spirita daFede ação Belga, sob a presidência do Sr.Loymarie.

    Fntre outras deliberações, ficou resolvidoque a prim°ira sessão do anno vindouroso rcalise em Braxellas.

    Foi nomeado Presidente Honorário o Sr.H. J. deTurck, redactor do MoniteurSpi-uni:; c eleita a nova directoria, cujo Pre-sidente 6 o Sr. de Bassompièrre.

    —«:» —

    A ;u de Outubro ultimo instalou-se emItfacahé uma Sociedade Spirita, denominadaLuz Macahense, da qual fazem parte algu-mas pessoas gradas e respeitáveis do lugar.

    Coragem e perseverança é o que aconse-lhamos ao novo batalhador do progresso,a quem enviamos um fraternal abraço.

    —«: y>—

    Deixou a 7 do corrente o envoltórioterreno nossa irmã em crença, a Exma.Sra. D.Natalia de Mascarenhas Imperial,esposa do Sr. Capitão Manuel FranciscoImperial.

    Spirita convicta, teve um passamentocalmo, aconselhando a resignação aosque deixava na Terra.

    E' uma prova evidente das vantagensda crença segura na vida de além-tu-mulo.

    Irmã! do reino da luz em que ora vosachaes, não deixae de vir sempre emauxilio daquelles que ainda aqui traba-lham, pela propagação das verdadess.ihtas da doutrina que professastes.

    SECÇÃO ECLÉTICA

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  • KEEOKlf ADOI& Ç- iHH:% — l»o/oml —1&

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    O 4|IIC é o ft§»ig'i*i.«iiBio

    Introducção ao conhecimento do mundoinvisível pela manifestação dos espi-ritos, contendo o resumo dos princípiosda doutrina spiríta e a resposta ásprincipaes objecções.

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    ALLAN-KARDECSom caridade não lia salvarão.

    CAPITULO 1

    PEQUENA CONFERÊNCIA SPIRÍTA

    2.° DIALOGO

    OSCEPT1C0

    (Contínua ção)

    ESQUECIMENTO DO PASSADO.

    V.—Não consigo explicar a mimmesmo, como pôde o homem aprovei-tar da experiência adquirida em suasanteriores existências, quando elle nãose lembra dellas? porque, desde o mo-mento em que lhe falta essa rominis-cencia, cada existência é para ellecomo se fosse a primeira : e destemodo está elle sempre a recomeçar.

    Supponhamos que cada dia, ao des-portar, perdemos a memória de tudoque fizemos no anterior, quando che-gassemos aos setenta annos, não esta-riamos mais adiantados do que aosdez ; ao passo que recordando nossasfaltas, nossos desasos, e as puniçõesque disso nos provieram, esforçar-nos-liemos por evital-as.

    Para me servir da comparação quefizeste* do homem sobre a Terra com oalumiio de um collegio, eu não com-prehendo corno este poderia aproveitaras lições da quarta classe, não se lem-brando do que aprendeu na anterior.

    _ Essas soluções de continuidade navida do Espirito interrompem todas asrelações e fazem delle, de algumasorte, uma entidade nova ; do que po-demos concluir que nossos pensamen-tos morrem com cada uma das nossasexistências, para renascer em outrasem consciência do que já foram ; éuma espécie de aniquilamento.

    A. K.—Dequestões em questões melevareis a fazer-vos um curso completode spiritismo; todas as objecções queapresentaes, são naturaes n'aquelleque ainda nada conhece, mas que emum estudo serio pôde achar a ellasuma resposta, muito mais explicita doque a que lhe posso dar em uma expli-cação summaria que, por certo, devesempre ir provocando novas questões.Tudo se encadeia no Spiritismo, equando se acompanha e^e nexo, vê-seque seus princípios demanam uns dosoutros, servindo-se mutuamente deapoio ; e então o que parecia unia ano-malia contraria á justiça e á sabedo-ria de Deus, se torna natural e vemconfirmar essa justiça e essa sabe-doris.

    Tal é o problema do esquecimentodo passado, que se prende a outrasquestões de não menor importância ;pelo que eu não farei senão nellastocar neste lugar.

    : Se em cada uma de suas existen-cias um véo lhe esconde o passado oEspirito, com isso, não perde o quenelle adquirio ; elle só se esquece domodo por que o fez.

    Servindo-me ainda da comparaçãosupra, com o alumno, direi que poucolhe importa saber onde, como, comque professores elle estudou as mate-rias da sua quinta classe, uma vezque elle as saiba, quando passa paraa quarta.

    Que lhe importa saber quando foicastigado por sua preguiça e insubor-dinaç.rio, castigos que o tornaram la-borioso e dócil ?

    E' assim que, se reencarnando, ohomem traz,por intuição e como idéasinnatas, o que elle adquirio em scien-cia e moralidade.

    •ai idadeDigo em ínoraimaoe porque se, noi^a-nteceüicurso de unia existência, elle si; me- *"*e se ellelliorou, se elle soube tirar proveitodas lições da experiência, elle serámelhor, quando voltar ; seu Espirito,amadurecido na oseola do sóffíimehtoe do traba lho, terá mais firmeza; longede ter de recomeçar tudo, elle possuoum fundo que vai sempre crescendo,sobre o qual elle se apoia para fazermaiores conquistas.

    A segunda parte da vossa objecção,relativa ao aniquilamento do pensa-mento, não tem mais seguro funda-mento, porque esse esquecimento sóse dá durante a vida corporal ; umavez terminada ella, o Espirito recobraa lembrança do seu passado; então po-dera elle julgar da marcha que seguiae do que lhe resta ainda a fazer ; demodo qne não ha essa solução de con-tmiíidade há sua vida espiritual, queé a vida normal do Espirito.

    Esse esquecimento temporário é unibeneficio da Providencia ; a expéri-encia só se adquire, muitas vezes, porprovas rudes e terríveis expiáções

    ii antecedentes, elle seria bem acolhido;mesmo podesse esquecel-os,

    poderia ser honesto c andar com acabeça erguida, em vez de ser obri-gado a dobral-a sob o peso da vergo-nlia do que elle não pôde olvidar.

    Isto está em perfeita concordânciacom a doutrina dos Espíritos, a res-peito dos mundos superiores ao nossomundo , nos quaes só reina o bem, emque a lembrança do passado nada temde penoso; eis porque seus habitantesse recordam de sua existência prece-dente, como nós nos recordamos hojedo que hontem fizemos.

    Quanto á lembrança do que fizeramem mundos inferiores, ella produznelles a impressão de nm máo sonho.

    ELEMENTOS DE CONVICÇÃO.

    V. — Convenho, Senhor, que, noponto de vista philosophieo, a doutrinaspirita ú perfeitamente racional ; masfica sempre de pé a questão das mani-fesUações, que não pôde ser resolvidasenão por factos ; ora, é a realidade

    cuja recordação seria muito penosa e [ destes que muita gente contesta ; oviria augmentar as aim-ustias e trihu-lações da vida presente.

    Se os soffrimentos da. vida parecemlongos, que seria se a elles se juntassea lembrança dos do passado ?

    Vós, por exemplo, senhor, sois hojeum homem de bem, mas, talvez, de-vais isso aos rudes castigos que reee-bestes, por malefícios que hoje répu-gnam á vossa consciência; ser-vos-hiaagradável a lembrança de ter sido ou-tr'pra enforcado por vossa maldade ?Não vos persegui ria a vergonha desaber que o mundo não ignorava omal que unheis feito ?

    Que vos importa o que fizestes e oque soffrestes para expiar, quandohoje,sois um homem estiníavel I

    Aos olhos do mundo, sois um lio-mem novo, e aos olhos de Deus um Es-pirito rehabilitado.

    Livre da reminiscencia de um pas-sado imiportuno, vós obraes com maisliberdade ; é para vós um novo pontode partida ; vossas dividas anterioresestão pagas, e a vós o cuidado nãocontrahir outras,

    Quantos homens desejariam assimpoder, durante a vida, lançar um véosobre os seus primeiros annos 1

    Quantos, ao chegar ao termo de suacarreira, não têm dito : « Se eu ti-vesse de recomeçar, não faria mais oque fiz ! »

    Pois bem ! O que elles não podemrefazer nesta mesma vida, fal-o-hãoem uma outra : em nova existência,seu Espirito trará, em estado de in-tiiição, as boas resoluções que tivertomado.

    E' assim que se effectua gradual-mente o progresso da humanidade.

    Supponhamos ainda, o que é umcaso muito ordinário, que, em vossasrelações, em vosso intimo mesmo, seencontre um individuo que vos deuoutr'ora muitos motivos de queixa,que talvez vos arruinou, vos deshon-rou em uma outra existência, e que,Espirito arrependido,veio encarnar-seem vosso meio ; ligar-se a vós peloslaços de familia, para reparar suasfaltas para comvosco por seu devota-mento e sua aftéição, não vos acha-rieis mutuamente na mais falsa po-sição, se ambos vos lembrasseis devossas passadas inimisades?

    Em vez de se extinguir, os ódios seeternisariam.

    Disto resulta que a reminiscenciado passado perturbaria as relaçõessociaes, e seria um tropeço pára oprogresso.

    Quereis disso uma prova ?Supponde que um individuo con-

    demnado ás galés tome a firme reso-lução de tornar-se um homem de bem ;que acontece quando elle termina ocumprimento de sua pena ?

    A sociedade o repelle, e essa re-pulsa o lança de novo nos braços dovicio.

    Se,porém,todos desconhecessem sjeus

    não deveis achar extraordinário o desèjo que vos manifestam de testemu-n ha 1-os.

    A-K.—Acho-o muito natural ; só-mente, como eu procuro que ellessejam aproveitados, explico em quecondições convém qne cada um secolloque, para. melhor observnl-os o,sobretudo, comprehendel-ns ; ora,aquelle que não aceita essas condições,mostra não ter um serio desejo dèesclarecer-se, e com este ó inútil per-dermos tempo.

    Convireis também, Senhor, que seriasingular, que uma philosophia tãoracional tivesse sabido de factos illu-sorios e controvertidos.

    Em bôa lógica, a realidade do e,f-feito implica a da causa que o produz ;se um é verdadeiro, a outra não pôdeser falsa, porque onde não ha arvores,não pôde se colher Iructos.

    Todos, é certo, ainda não testemu-nharám os factos,porque se não collo-cararri nas condições precisas paraobserval-os ; não tiveram a paciênciae a perseverança exigidas.

    Mas, isso também se dá com todasas sciencias : o que uns não fazem, éfeito por outros ; todos os dias, acei-tamos o resultado dos cálculos astro-nomicos, sem os fazermos nós mesmos.

    Seja como fòr, se achais a philoso-phia bòa, podeis aceital-a como acei-tarieis outra qualquer, reservandovossa opinião sobre as vias e meios quea ella conduziram, ou, ao menos, nãoadmittindò-as senão a titulo de líypo-theses, até mais ampla constatação.

    Os elementos de convicção não sãoos mesmos para todos ; o que convencea uns, não produz alguma impressãosobre outros : pelo que é preciso umpouco do tudo.

    E', porém, um engano crer-se queas experiências physicas sejam o sómeio de convencer.

    Tenho notado que em algumas pes-soas os mais importantes plienomenosnão fizeram a menor mossa, ao passoque uma simples resposta escriptatri-umphou de suas duvidas.

    Quando se vê um facto que não secompreliende, quanto mais extraordi-nano elle é,mais suspeitas desperta, emais o pensamento se esforça paralhe dar uma causa vulgar; se elle,porém, for comprehendido, se o ad-mitt.e logo, porque elle tem umarazão de ser, o maravilhoso o o so-brenatural desappareceni.

    Certamente, as explicações que vosacabo de dar nesta conversa, longeestão de ser completas; mas, sumina-rias como são, estou persuadido quevos levarão a reílectir ; e, se as cir-cumstancias vos fizerem testemunharalguns factos de manifestação, vós asveréis com menos prevenção, porquepossuireis uma base para neila firmaro vosso raciocínio.

    Ha duas cousas no Spiritismo : a

    i <parte experimental das manifestaçõesi' a doutrina philosophiea.

    Ora, ou sou todos os dias visitadopor pessoas que ainda nada viram eque crera tão íirinemente como eu,pelo só estudo que fizeram da partephilosophiea; paraelleso phenomenodas manifestações é o accessorio ; ofundo é a doutrina, a sciencia ; elles avêem tão grande, tão racional, queneila encontram tudo o que pôde sa-tisfazer ás suas aspirações interiores,á parte o facto das manifestações ; doque concluem que, suppondo que asmanifestações não existissem, a dou-trina não deixaria de sir sempre a quemelhor resolve uma multidão de pro-blemas reputados insoluveis.

    Quantos me disseram que essas idéasestavam em germens nos seus cere-bros, apenas em estado de confusão.

    O spiritismo veio formulal-as, dar-lhes um corpo, e foi para elles comoum raio de luz.

    E' o que explica o numero de ade-ptos que fez a simples leitura doLivro dos Espíritos.

    Acreditaes vós que esse numeroseria o que é hoje, se nunca tivéssemospassado das mesas giratórias e fal-lanles ?

    V.—Tinheis razão de dizer, senhor,que das mesas giratórias e fallantes êtsahio uma doutrina philosophiea ; elonge estava eu de suspeitar as conse-qtiencias que surgiram de uma cousa,olhada como um simples objecto decuriosidade.

    Agora vejo quanto é ,-v^asto o campoaberto pelo novo systema, $fc

    A-iÇ.Ahi eiívos detenho, senhor ;daís-Üe 'subida honra me aürrbuindoesse sys-têma, pois elle não me peivten.ee ; elle foi totalmente tfeduzido doeiis$hp dos Espíritos.**Eu vi, observei, coordenei, e pro--curo fazer comprehender aos outrosaquillo que eu comprehendo esta étoda a parte que merCãbe.

    Ha entre o Spiritismo e os outros"systema.s philosophicos esta diffe-í*rença capital, que estes são todos àrobra de homens, mais ou menos, es->aclurecidos, ao passo que naquelle quC;me attribuis, eu não tenho o meritõfe*da invenção de um só principio.

    Diz-se : a philosophia de Platão,de Descartes, de Leibnitz ; nunca sepoderá dizer: a doutrina de Allan-Kardec ; o isto felizmente,porque quepeso pôde ter um nome em umá)!^questão de tanta gravidade ?

    O Spiritismo tem auxiliàrès de umaoutra preponderância, ao lado dosquaes nós somos simples átomos.

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