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n/M* ISvS SsSaiSnüESf WfflfRftlfrTMfl -r.m ASSIGNATURA ANNUAL Brazil . 5$0Ò0 PAGAMENTO ADIANTADO PUBLICA-SE NOS DIAS 1 E 15DE CADA MEZ fi»*KiKgâ»i»a€» i<:v(»L9j^ii»\i.^a\% ASSIGNATURA ANNUAL Estrangeiro 6$000 OBGÃO DA FEDERAÇÃO SPIRITA BRAZILEIRA im>T,rAMEmo AD,ANTAD0 fJi/-|(.9L.L.inri PUBLICA-SE NOS DIAS 1 E 15 DE ___CADA MEZ Toda correspondência deve ser dirigida a ALFREDO PEREIRA Rua da Alfândega n. 342. .2S2BSÍ X líi».itt'zl'8 Fi43u> «i» •BiuiCiâí";» ©atailj ir ) 3 U. 330 -.jin^rg^j ¦.'^ji.-a^>iw A familia spirita, disseminada por lodosos ângulos d.'esté planeta, afastada pelas condições geograpbicas que (1'elle são próprias, mas unida realmente ífuma fraternidade unisona de pensamentos e de sentimentos, commemora hoje entre hymnos de reconhecimento e de affecto a data mais grandiosa para a geração d'este século, que não tardará em reconhecei-o unanimemente assim, porque foi a 3 de outubro de 1804- que lançou o primeiro vagido no seio d'esta humanidade que viera guiar para a luz, aqueile generoso espirito, eleito do Senhor para tão pode- rosa tarefa, aqueile a quem o nosso culto e a nossa justa veneração designam pelo Mestre. duas grandes datas que assignàlam o inicio e o termo da passagem d'aqueile es- pirito eleito no nosso planeta. Este anno, para commemorar a primeira (Vessas datas, um feliz ensejo se lhe offerece para essa publica homenagem de veneração e de affecto.—Entre os números do jornal spiri a La Paix Úniverselle, que se publica em Lyon (França) e q|e ao /{'formador a grata satisfação de suas assíduas visitas, encontramos entre outro-; testemunhos cíé apreço rendidos por occasião das festas celebradas em honra do Mestre em 31 de março, ivaquella cidade, uma noticia biographica apresentada pelo nosso irmão em crença, Sr. H. Sausse, noticia que a par de alguns detalhes inéditos até então, possue para nós o cunho especial de encerrar O século bruxoleava apenas nos arrebóes do seu despontar e, mal desatando os maiS ^tares exemplos, como os mais elevados conceitos, que nos retratara as faixas, nascituro. offerecia o grandioso espectacülo das maiores revoluções £Pa Vl«orosa (J serena aquella figura do Mestre querido, nas diversas phases de ordem moral e social que haviam abalado os povos cP.este globo.(le f'à 1'lbül'I0Sa f! fecunda existência. A França varrera do seu solo com a extincção das dynastias hereditárias osHa ir essas paginas, como em tudo o que lhe diz respeito, muito que estudar últimos arrancos do despotismo que escravizava o povo e acabava de proclamar e que aprender. E nós estamos certos de que os leitores do Reformador, nossos a liberdade do espirito humano.confrades geralmente, concordarão comnosco em que o tenio e atfectuoso inte- Um sopro revolucionário agitava o velho continente com essas conquistas da cesse, de que nos merece ser acompanhada essa leitura, é ainda um tributo de democracia, e os ideaes de, outrora ruiam por terra ao embate das novas crenças recolhimento e de estima nierécidamente votado á gloriosa memória do fundador e das novas instituições proclamadas na França. Começada no campo social, não tardou a revolução a alastrar-se por todos os terrenos das cogitações humanas, e a liberdade das consciências, dogma sublime democrático, converteu-se em pouco ha revolta contra o dogmatismo religioso, que se era um mal, eivado dos enxertos que as paixões humanas lhe tinham ac- crescentado, nem por isso deixava de alimentar-se ua fonte poronnc do toda a verdade e de toda a luz,—o christianismo. E desgraçadamente nem somente fora objecto de profanos enxertos a dou- trina sublime levada aos últimos extremos da exempliíicação no asperrinio Cal- vario. Tudo o que a ambição e os desatinos humanos puderam comportar, fora, em contradicção com aqueile sagrado exemplo posto em pratica por aquelles que se incuicáyãni representantes do Divino Cordeiro. do ppiritismo. Reproduzimos em seguida o discurso e a noticia biographica feitos pelo nosso confrade Sr. H. Sausse, (1) na mesma ordem em que vêm no collega acima ei- tado, ao qual pedimos venia para essa reprotlucção, que, para maior realce na olha, tomamos a liberdade de subordinar k epigraphe que sele abaixo. (]) Cumpre-nos pedir ao* leitores o seu perdão para uma grave, mas involuntária falta.E' o ea:i<) que tendo-nos proposto dar toda a biographia do Mestre n'este numero especial; para o que contávamos com o recebimento do :.'•. numero de agosto do La Paix Üniverselle, acontece que até o momento da paginaeftò da nossa folha, nao nos veiu á« mitos ess-e nem nenhum outro numero do referido periódico. Sendo tarde para suspender e substituir por outra essa publicação a que com tanto gosto nos dedicamos, por nos parecer a mais apropriada para o nin eommemorativo que nos prcoecupava, resignamo-nos a fazel-a incompleta, comproniettendo-nos, todavia, a A ignomínia do que se chamara a Santa Inquisição, os martyrios pura maiorprosegüil-u uos seguintes números ordinários do Reformador, glon,, ile Deus infligidos pelo Tribnnal, qne por um, barbara iríisãò Se flenfni-^Í^^^^^^^^^^^^^^S^ ilOU do Santo Officio, abalara demasiado a numa religião cujos apóstolos com-vida como a do nosso Mestre, nao pode haver solu-çaó de continuidade. Cada pagina ê féttiam o extermínio en, nome da fraternidade, para qne éSi recordação viva Hj^ggSJgSggS^^Í^ gS&gg $ $gÊ8S££SS£$£É pungente não se aproveitasse do primeiro ensejo para irromper num brado de revolta e de independência. Esse ensejo, offereceu-o ívuma eclosão vibrante a Revolução Franceza. Fez-se a libertação dos espirites e, como sóe acontecer em epochas de reac- ção, a tendência foi para o mais extremo opposto do que até alli a saneção dos costumes sagrara lei. Os homens libertando-se do dogma realista, baniam com elle a idéa religiosa que o integrava, e lançando-se ás investigações da scieneia que não mente á * verdade, corriam o risco de afastar-se demasiado do ideal sublime do seu des- tino. não havia, de resto, um código religioso que satisfizesse ás novas as- pirações e correspondesse ás modernas pesqttizas que a emancipação dos espirites auetorizava, sanecionando-as. A humanidade não estava no seu berço. Crescera, desenvolvera-se e, che- gada a um estado em que a razão pede melhores argumentos que a convençam, tomou o 89 por pretexto da sua declaração de maioridade, e lançou-se com febril enthusiasmo na larga senda que lhe acabava de rasgar a nova era A ItinDAcyAo BIOGRAPHIA DO MESTRE A L G II N S D E T A L H E S M. H. POR SAUSSE MtXlIAS SF.XUORAS, MEUS SENHORES^ IRMÃOS EM CRENÇA Pois que é para honrar Allan Kardec e festejar sua memória que nos acha- mos bojo reunidos ; pois que um mesmo sentimento de. veneração e de reconhe- Então, chegados os tempos, era justo que á humanidade fosse oferecida a cimento faz vibrar os nossos corações a respeito do fundador da philosophia nova luz para supportar a intensidade da qual se sentia com capacidade, e, a spirita ; permitri-me que vos entretenha alguns momentos com o mestra amado, revelação complementar da messiânica, promettida por Jesus, baixou á terra cujos trabalhos são universalmente conhecidos e apreciados, e cuja vida confiada em sua direcção áquelle sábio e grande espirito que se chamou Allan intima e laboriosa existência são apenas conjecturadas. Kardec.Se fácil foi a todos os investigadores conscieiiciosos pôrem-se ao facto do De como elle cumpriu a augusta e consoladora missão, dão testemunho quan-' alto valor e do grande alcf-.nce da obra de Allan Kardec pela leitura attenta de tos têm tido a fortuna de contemplar a sua obra e de admiral-a no seu con. suas producç.ões, elementos até hoje deixados á revelia, bem poucos puderam pe- juneto. E se profundamente grandiosa e admirável é essa obra, força é confessar iíetrar na vida do homem intimo e seguil-o passo a passo no desempenho de sua que esteve na altura do seu alevantado missionário. Allan Kardec é para nós, depois de Jesus Christo—o Divino Salvador—, o symbolo da nossa redeinpção. Amemos, portanto, e honremos sempre a sua me- moria abençoada. A Federação Spirita Brazileira, pelos seus órgãos naturaes, e especialmente tarefa, tão grande, tão gloriosa e. tão bem preenchida. Não somente a biographia de Allan Kardec é pouco conhecida, como ainda está por ser escripta. A inveja e o ciúme semearam sobre ella os maiores erroi manifestos, as mais grosesiras e as mais impudentes calumnias. Vou, portanto, esforçar-me por vos mostrar, sob uma luz mais verdadeira, pelo Reformador, tem todos os annos cumprido o seu dever de solennização das o grande iniciador de quem nos desvanecemos de ser discípulos.

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n/M* ISvS

SsSaiSnüESf WfflfRftlfrTMfl

-r.m

ASSIGNATURA ANNUALBrazil . 5$0Ò0

PAGAMENTO ADIANTADO

PUBLICA-SE NOS DIAS 1 E 15DECADA MEZ

fi»*KiKgâ»i»a€» i<:v(»L9j^ii»\i.^a\% ASSIGNATURA ANNUALEstrangeiro 6$000

OBGÃO DA FEDERAÇÃO SPIRITA BRAZILEIRA im>T,rAMEmo AD,ANTAD0fJi/-|(.9L.L.inri PUBLICA-SE NOS DIAS 1 E 15 DE

___ CADA MEZ

Toda correspondência deve ser dirigida a ALFREDO PEREIRA — Rua da Alfândega n. 342.

.2S2BSÍ X líi».itt'zl'8 Fi43u> «i» •BiuiCiâí";» — — ©atailjir ) 3 U. 330-.jin^rg^j ¦.'^ji.-a^>iw

A familia spirita, disseminada por lodosos ângulos d.'esté planeta, afastadapelas condições geograpbicas que (1'elle são próprias, mas unida realmente ífumafraternidade unisona de pensamentos e de sentimentos, commemora hoje entrehymnos de reconhecimento e de affecto a data mais grandiosa para a geraçãod'este século, que não tardará em reconhecei-o unanimemente assim, porque foi a3 de outubro de 1804- que lançou o primeiro vagido no seio d'esta humanidade queviera guiar para a luz, aqueile generoso espirito, eleito do Senhor para tão pode-rosa tarefa, aqueile a quem o nosso culto e a nossa justa veneração designam peloMestre.

duas grandes datas que assignàlam o inicio e o termo da passagem d'aqueile es-pirito eleito no nosso planeta.

Este anno, para commemorar a primeira (Vessas datas, um feliz ensejo selhe offerece para essa publica homenagem de veneração e de affecto.—Entre osnúmeros do jornal spiri a La Paix Úniverselle, que se publica em Lyon (França)e q|e dá ao /{'formador a grata satisfação de suas assíduas visitas, encontramosentre outro-; testemunhos cíé apreço rendidos por occasião das festas celebradasem honra do Mestre em 31 de março, ivaquella cidade, uma noticia biographicaapresentada pelo nosso irmão em crença, Sr. H. Sausse, noticia que a par dealguns detalhes inéditos até então, possue para nós o cunho especial de encerrar

O século bruxoleava apenas nos arrebóes do seu despontar e, mal desatando os maiS ^tares exemplos, como os mais elevados conceitos, que nos retrataraas faixas, nascituro. já offerecia o grandioso espectacülo das maiores revoluções £Pa

Vl«orosa (J serena aquella figura do Mestre querido, nas diversas phasesde ordem moral e social que já haviam abalado os povos cP.este globo. (le f'à

1'lbül'I0Sa f! fecunda existência.A França varrera do seu solo com a extincção das dynastias hereditárias os Ha ir essas paginas, como em tudo o que lhe diz respeito, muito que estudar

últimos arrancos do despotismo que escravizava o povo e acabava de proclamar e que aprender. E nós estamos certos de que os leitores do Reformador, nossosa liberdade do espirito humano. confrades geralmente, concordarão comnosco em que o tenio e atfectuoso inte-

Um sopro revolucionário agitava o velho continente com essas conquistas da cesse, de que nos merece ser acompanhada essa leitura, é ainda um tributo dedemocracia, e os ideaes de, outrora ruiam por terra ao embate das novas crenças recolhimento e de estima nierécidamente votado á gloriosa memória do fundadore das novas instituições proclamadas na França.

Começada no campo social, não tardou a revolução a alastrar-se por todos osterrenos das cogitações humanas, e a liberdade das consciências, dogma sublimedemocrático, converteu-se em pouco ha revolta contra o dogmatismo religioso,que se era um mal, eivado dos enxertos que as paixões humanas lhe tinham ac-crescentado, nem por isso deixava de alimentar-se ua fonte poronnc do toda averdade e de toda a luz,—o christianismo.

E desgraçadamente nem somente fora objecto de profanos enxertos a dou-trina sublime levada aos últimos extremos da exempliíicação no asperrinio Cal-vario. Tudo o que a ambição e os desatinos humanos puderam comportar, fora,em contradicção com aqueile sagrado exemplo posto em pratica por aquelles quese incuicáyãni representantes do Divino Cordeiro.

do ppiritismo.Reproduzimos em seguida o discurso e a noticia biographica feitos pelo nosso

confrade Sr. H. Sausse, (1) na mesma ordem em que vêm no collega acima ei-tado, ao qual pedimos venia para essa reprotlucção, que, para maior realce naolha, tomamos a liberdade de subordinar k epigraphe que sele abaixo.

(]) Cumpre-nos pedir ao* leitores o seu perdão para uma grave, mas involuntáriafalta.E' o ea:i<) que tendo-nos proposto dar toda a biographia do Mestre n'este numeroespecial; para o que contávamos com o recebimento do :.'•. numero de agosto do La PaixÜniverselle, acontece que até o momento da paginaeftò da nossa folha, nao nos veiu á«mitos ess-e nem nenhum outro numero do referido periódico.

Sendo tarde para suspender e substituir por outra essa publicação a que com tantogosto nos dedicamos, por nos parecer a mais apropriada para o nin eommemorativo quenos prcoecupava, resignamo-nos a fazel-a incompleta, comproniettendo-nos, todavia, a

A ignomínia do que se chamara a Santa Inquisição, os martyrios pura maior prosegüil-u uos seguintes números ordinários do Reformador,glon,, ile Deus infligidos pelo Tribnnal, qne por um, barbara iríisãò Se flenfni- ^Í^^^^^^^^^^^^^^S^ilOU do Santo Officio, abalara demasiado a fé numa religião cujos apóstolos com- vida como a do nosso Mestre, nao pode haver solu-çaó de continuidade. Cada pagina ê

féttiam o extermínio en, nome da fraternidade, para qne éSi recordação viva j^ggSJgSggS^^Í^ gS&gg $ $gÊ8S££SS£$£Épungente não se aproveitasse do primeiro ensejo para irromper num brado derevolta e de independência. Esse ensejo, offereceu-o ívuma eclosão vibrante aRevolução Franceza.

Fez-se a libertação dos espirites e, como sóe acontecer em epochas de reac-ção, a tendência foi para o mais extremo opposto do que até alli a saneção doscostumes sagrara lei.

Os homens libertando-se do dogma realista, baniam com elle a idéa religiosaque o integrava, e lançando-se ás investigações da scieneia que não mente á *

verdade, corriam o risco de afastar-se demasiado do ideal sublime do seu des-tino.

Já não havia, de resto, um código religioso que satisfizesse ás novas as-pirações e correspondesse ás modernas pesqttizas que a emancipação dos espiritesauetorizava, sanecionando-as.

A humanidade já não estava no seu berço. Crescera, desenvolvera-se e, che-gada a um estado em que a razão pede melhores argumentos que a convençam,tomou o 89 por pretexto da sua declaração de maioridade, e lançou-se com febrilenthusiasmo na larga senda que lhe acabava de rasgar a nova era

A ItinDAcyAo

BIOGRAPHIA DO MESTRE

A L G II N S D E T A L H E S

M. H.POR

SAUSSEMtXlIAS SF.XUORAS, MEUS SENHORES^ IRMÃOS EM CRENÇA

Pois que é para honrar Allan Kardec e festejar sua memória que nos acha-mos bojo reunidos ; pois que um mesmo sentimento de. veneração e de reconhe-

Então, chegados os tempos, era justo que á humanidade fosse oferecida a cimento faz vibrar os nossos corações a respeito do fundador da philosophianova luz para supportar a intensidade da qual já se sentia com capacidade, e, a spirita ; permitri-me que vos entretenha alguns momentos com o mestra amado,revelação complementar da messiânica, promettida por Jesus, baixou á terra cujos trabalhos são universalmente conhecidos e apreciados, e cuja vidaconfiada em sua direcção áquelle sábio e grande espirito que se chamou Allan intima e laboriosa existência são apenas conjecturadas.Kardec. Se fácil foi a todos os investigadores conscieiiciosos pôrem-se ao facto do

De como elle cumpriu a augusta e consoladora missão, dão testemunho quan-' alto valor e do grande alcf-.nce da obra de Allan Kardec pela leitura attenta detos têm tido a fortuna de contemplar a sua obra e de admiral-a no seu con. suas producç.ões, elementos até hoje deixados á revelia, bem poucos puderam pe-juneto. E se profundamente grandiosa e admirável é essa obra, força é confessar iíetrar na vida do homem intimo e seguil-o passo a passo no desempenho de sua

que esteve na altura do seu alevantado missionário.Allan Kardec é para nós, depois de Jesus Christo—o Divino Salvador—, o

symbolo da nossa redeinpção. Amemos, portanto, e honremos sempre a sua me-moria abençoada.

A Federação Spirita Brazileira, pelos seus órgãos naturaes, e especialmente

tarefa, tão grande, tão gloriosa e. tão bem preenchida.Não somente a biographia de Allan Kardec é pouco conhecida, como ainda

está por ser escripta. A inveja e o ciúme semearam sobre ella os maiores erroimanifestos, as mais grosesiras e as mais impudentes calumnias.

Vou, portanto, esforçar-me por vos mostrar, sob uma luz mais verdadeira,pelo Reformador, tem todos os annos cumprido o seu dever de solennização das o grande iniciador de quem nos desvanecemos de ser discípulos.

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« Ilg£FOIftlI/tl>OK -»l«?Mí.¦"¦ Jii.i-

Outubro Í-S

Todos sabeis que a nossa cidade pode orgulhar-se, por justo titulo, de ter ticas, volumes para os superiores estudos pedagógicos; traduzia obras inglez.visto nascer entre seus muros esse pensador tão arrojado (pião methodico, esse e allemãs e preparava todos os cursos de Levy-Alvaires, freqüentados por disciphilosopho sábio, clarividehte e profundo, esse trabalhador obstinado cujo labor pulos de ambos os sexos àòfaubourg Saint Germain. Organizou também em susacudiu o edifício religioso do velho mundo e preparou os novos elementos que casa, á rua de Sèvres, cursos gratuitos de chimica, physica, astronomia e ana-deviam servir de base á evolução e á renovação da nossa sociedade caduca, im- tomia comparada, que eram muito freqüentados. ipellindo-a para um ideal mais são, mais elevado, para um adiantamento intel»lectual e moral seguros.

Foi, com effeito,em Lyon que a 3 de outubro de 1804 nasceu de uma antigafamilia lyoneza com o nome de Rivail aquelle que devia mais tarde illustrar onome de Allan Kardec e conquistar para elle tantos títulos á nossa profundasympathia, ao nosso filial reconhecimento.

Eis aqui a esse respeito um documento positivo e official :«A 12 do vindimario do anno XIII, auto do nascimento de Denizard Ilyp*»

polite—Léon Rivail, nascido hontem ás 7 horas da noite, filho de Jean Baptis-te—Antoine Rivail, magistrado e juiz, e Jean ie Duhamel, sua esposa, residem-tes em Lyon, rua Sala, n. 76.

«O sexo da creança foi reconhecido masculino.«Testemunhas maiores:Syriaque— Fréderic Dettmar, direetor do estabelecimento das águas mine-

raes da rua Sala, e Jean François Targe, mesma rua Sala, a pedido do medicoPierre Radámel, rua Saint Dominique, n. 78.

«Feita a leitura, as testemunhas assignaram, assim como o mairè da regiãodo Meio-dia.

« O presidente do tribunal,Assignado : «mathioü»

O futuro fundador do spiritismo recebeu desde o berço um nome querido erespeitado e todo um passado de virtudes de honra, de probidade ; grande nu-mero de seus antepassados se tinha distinguido na advocacia e na magistraturapor seu talento, saber e escrupulosa probidade. Parecia que o joven Rivail deviasonhar, também elle, com os louros e as glorias de sua familia. Nada (Pisso, po-rem, deu-se, porque desde o começo de sua juventude elle sentiu-se attrahidopara as sciencias e a philosophia.

Rivail Denizard fez em Lyon os seus primeiros estudos e completou emseguida sua bagagem escholar em Yverdun (Suissa) com o celebre professor Pes-talozzi, de quem cedo tornou-se um dos mais eminentes discípulos e um colla-borador intelligente e devotado. Elle se tinha applicado de todo coração ápropaganda do systema de educação que exerceu tão grande influencia sobre areforma dos estudos na França e na Allemanha. Muitíssimas vezes, quando Pes-talozzi era chamado pelos governos, um pouco de todos os lados, para fundarinstituições semelhantes á de Yverdun, confiava a Denizard Rivail o cuidado de

D'entre suas numerosas obras convém citar por ordem chronologica : Plautapresentado para o melhoramento da instrucção publica, em 1828; em 1829 se.guudo o methodo de Pestalozzi, elle publicou, para uso daa mães de familia e dosprofessores, Curso pratico e iheorico de aritlimeticà; em 1831 fez apparecer aGrammalica franceza clássica; em 1846, Manual dos exames para os diplomas decapacidade, soluções racionaes das questões e problemas de arithmetica e geome-tria ; em 1848 foi publicado o Compêndio grammalical da língua franceza ; final.mente, em 1840 encontramos Mr. Rivail professor no Instituto Polymathico, emque elle rege cadeiras de physiologia, astronomia, chimica e physica. Era umaobra muito apreciada resume seus cursos, e depois edita : Ditados nêrmats dosexames do Palácio da Câmara Municipal e da Sorbonnc; Ditados especiaes sobrtas dificuldades orlhographicas.

Tendo essas diversas obras sido adoptadas pela Universidade de França evendendo-se ellas abundantemente, ponde Mr. Rivail conseguir, graças a ellas eao seu assíduo trabalho, uma modesta abastança. Como pode-se julgar poresta muito rápida exposição, Mr. Rivail estava admiravelmente preparadopara a rude tarefa que ia ter (pie desempenhar e fazer- tritimphar. Seu nome eraconhecido e respeitado, seus trabalhos justamente apreciados, muito antes mesmoque elle immortalizasse o nome de Allan Kardec.

Proseguindo em sua carreira pedagógica, Mr. Rivail poude viver felizhonrado e tranquillo, estando sua fortuna reconstituída pelo seu trabalho perse-verante e pelo brilhante suecesso que tinha coroado seus esforços ; mas sua mis-são chamava-o a uma obra maior, e, como teremos muitas vezes oceasião de oconstatar, elle mostrou-se sempre na altura da missão gloriosa que lhe estava re-servada. Seus instinetos, suas aspirações tel-o-hiam impellido para o mysticisrao,mas sua educação, seu juizo são, sua observação methodica, conservaram-n'oigualmente ao abrigo dos exaggeros desarrazoados e das negações não justifi-cadas.

Foi em 1854 que Mr. Rivail ouviu pela primeira vez falar nas mesas giran-tes, a principio a Mr. Fortier, magnetizador com o qual mantinha relações emrazão dos seus estudos sobre o magnetismo. Mr. Fortier disse-lhe um dia : «Eisaqui uma coisa que é bem extraordinária : não somente faz-se girar uma mesa,magnetizando-a, mas faz-se-a falar. Interroga-se-a, e ella responde.»

—Isto, replicou Mr. Rivail, é uma outra questão : eu o acreditarei quando osubstituil-o na direcção da sua eschola.O discípulo tornado mestre tinha, alem de vir e QLUandÒ me tiverem provado que uma mesa tem um cérebro para pensar,tudo, com os mais legítimos direitos, a capacidade requerida para dar boa conta nervos para sentir, e (pie ella pode tornar-se somnambula. Até então, permitta-meda tarefa que lhe era confiada. Elle era bacharel em lettras e em sciencias, quo "ão veja n'isso senão um conto para dormir de pé.doutor em medicina, tendo feito todos os seus estudos médicos e defendido bri- Tal era a principio o estado de espirito de Mr. Rivail, tal encontral-o-hemoslhaiitemente sua these. Lingüista distineto, elle conhecia a fundo e falava cor- muitas vezes, não negando coisa alguma por parti pris, mas pedindo provas e que-rectamente o allemão e o inglez, o italiano e o hespanhol, conhecia também rendo ver e observar para crer, taes devemos nós mostrar-nos sempre no estudohollandez e podia facilmente exprimir-se n'esta língua. tão attrahente das manifestações do outro mundo.

Denizard Rivail era um alto e bello rapaz de maneiras distinetas e humor Até agora não vos falei senão de Mr. Rivail professor emérito, auetor pedajovial, bom e obsequioso. Tendo-o a conscripç.ão incluído para o serviço militar, gogico de renome. N'essa epocha, porem de sua vida, de 1854 a 1856, um novoelle obteve isenção e dois annos depois veiu fundar em Paris, á rua de Sèvres, horizonte rasga-se para esse pensador profundo, para esse sagaz observador. En-n. 35, ura estabelecimento semelhante ao de Yverdun. Para essa empresa asso- tão o nome de Rivail entra na sombra, para ceder o logar ao de Allan Kardec,ciara-se com um de seus tios, irmão de sua mãe, o qual era seu sócio capitalista, que a fama levará a todos os cantos do globo, que todos os echos repetirão e que

No mundo das lettras e do ensino, que freqüentava em Paris, Denizard to(íos os 110SS0S corações idolatram.Rivail encontrou Mlle. Amelie Boudet, (pie era professora, com diploma de V. Eis aqui como Alian Kardec nos revela suas duvidas, suas hesitações e tam-classe. Pequena, muito bem feita entretanto, gentil e graciosa, rica por causa bem sua primeira iniciação :de seus pães, e filha única, intelligente e viva, por seu sorriso e por seus predi- «Eu encontrava-me, pois, no cyclo de um facto inexplicado na apparenciacados ella soube fazer-se notar poi Denizard Rivail, em quem adivinhou, sob contrario ás leis da natureza e que minha razão repellia. Nada tinha ainda vistofranca e comniunicativa alegria do homem amável, o pensador sábio e profundo nem observado ; as experiências feitas em presença de pessoas honradas e dignasalliando uma grande dignidade á mais esmerada urbanidade. de fé, firmavam-me na possibilidade do effeito puramente material, mas a Idéa

O registro civil informa-nos que de uma mesa falante não entrava-me ainda no cérebro.«Amélie Gabrielle Boudet, filha de Julien— Louis Boudet, proprietário e

antigo tabellião, e de Julie Louise Seigneat de Lacoinbe, nasceu em Thiais(Seine) aos 2 do frimario do anno IV (23 do novembro de 1795).»

Mademoiselle Amélie Boudet tinha, pois, mais dez annos do que Mr. Ri-

«No anno seguinte — era no começo de 1855 — encontrei M. Carlotti, umamigo de vinte cinco annos, que discorreu-me acerca d'esses phenomenos durantemais de uma hora com o enthusiasmo que elle punha em todas as idéas novas.M. Carlotti era corso, de uma natureza ardente e enérgica ; eu tinha sempre dis-

vail, mas na apparencia tinha menos dez do que elle quando; em 6 de fe- tinguido n'elle as qualidades que caracterizam uma grande e bella alma masvereiro de 1832, firmou-se em Paris o contrato de casamento de Hyppolite- desconfiava da sua exaltação. Primeiramente elle falou-me da intervenção dosLéon—Denizard Rivail, direetor do Instituto technico á rua de Sèvres (methodo espíritos, e contou-me tantas coisas surpreliendentes que, longe de convencer-mePestalozzi), filho de Jean-Baptiste Antoine e senhora, Jeanne Duhamel, resi-dentes em Château—du Loir, com Amélie-Gabr ielle Boudet, filha de JulienLouis e senhora, Julie Louise Seigneat de Lacombe, residente em Paris, 35rua de Sèvres.

O sócio de Mr. Rivail tinha a paixão do jogo : arruinou seu sobrinho per-dendo grossas sommas em Spa e em Aix-la-Chapelle. Mr. Rivail requereu a li-

augmentou nynhas duvidas. — V. um dia será dos nossos,—disse-me elle.—Não digo que não, respondi-lhe eu ; — veremos isso mais tarde.

«D'ahi a algum tempo, pelo mez de maio de 1855, encontrei-me em casa dasomnambula madame Roger, cora M. Fortier, seu magnetizador. Lá encontreiM. Pàtier e madame Plainemaison, que me falaram d'esses phenomenos no mes-mo sentido que M. Carlotti, mas n'outro tom. M. Pâtier era funecionario publicoquidação do Instituto, de cuja partilha couberam 45.000 francos a cada um d'el- de uma certa idade, homem muito instruído, de um caracter grave, frio e"calmo ;les. Essa somma foi collocada por M. e Mme. Rivail em casa de um de seus sua linguagem pausada, isenta de todo enthusiasmo, produziu-me uma viva im-«amigos íntimos, negociante que fez maus negócios e cuja fallencia nada produ- pressão, e quando elle fez-me oferecimento para que eu assistisse ás experiências

zia para os credores. que tinham logar em casa de Mme. Plainemaison, rue Grange-Batelière, n? 18„Longe de desanimar comesse duplo revez. Mr. e Mme. Rivail lança- eu acceitei com solicitude. O renãéz-vous foi marcado para a terça-feira (2) de"

ram-se corajosamente ao trabalho. Elle encontrou para oecupação três contabi- maio, ás 8 horas da noite.lidades que produziam-lhe cerca de 7000 francos por anno ; e, terminado o seudia, esse trabalhador infatigavel fazia á noite, em serão, gramraaticas, arithme- (¦>) Es»* data ficou cm branco ho manuseripto de Allan Kardee.

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Page 3: PAGAMENTO ADIANTADO OBGÃO DA FEDERAÇÃO ...memoria.bn.br/pdf/830127/per830127_1896_00326.pdfO século bruxoleava apenas nos arrebóes do seu despontar e, mal desatando os maiS ^tares

lli:i OIMI tI»OIt—Í806— Outr-ili-r» 3

«Foi ahi, pela primeira vez, que fui testemunha do plienomeno das mesasgirantes e que saltavam e corriam, e isso em condições taes que a duvida não erapossivel.

«Ahi vi também alguns ensaios muito imperfeitos de escripta mediumnicaem uma ardosia com o auxilio de uma cesta. As minhas idéas achavam-se longede estar suspensas, mas n'aquillo havia um facto que devia ter uma causa. En"trevi, sob essas apparentes futilidades e espécie de recreação que com esses phe-nomenos fazia-se, alguma coisa de serio e como a revelação de uma nova lei, queprometti a mim mesmo aprofundar.

«A occasião se offereceu antes de observar mais atentamente do que eu otinha podido fazer. Em um dos serões de Mme. Plainemaison, fiz conhecimentocom a familia Baudin, que morava então na rua Rochechouart. M. Baudin fez-meoíferecimento no sentido de assistir eu ás sessões hebdomadárias que realizavamse em sua casa, e ás quaes eu fui, desde esse momento, muito assíduo.

«Foi ahi que fiz os meus primeiros estudos sérios em spiritisino/ menosainda por effeito de revelações do que por observações. Appliquei a essa novasciencia, como até então o tinha feito, o methodo da experimentação ; nunca formulei theorias preconcebidas ; observava attentamente, comparava, deduzia aconseqüências ; dos effeitos procurava remontar ás causas pela deducção, pelo encadeamento lógico dos factos, não admittindo uma explicação valida senão quandella podia resolver todas as difnculdades da questão. Foi assim que procedi seniprem meus trabalhos anteriores, desde a idade de quinze a dezeseis annos. Comprehendi desde o principio a gravidade da exploração que ia emprehender. Entrevi n'esses phenómenos a chave do problema tão obscuro e tão controvertidodo passado e do futuro da humanidade, a solução do que eu havia procurado todaminha vida ; era, em uma palavra, toda uma revolução nas idéas e nas crenças :preciso, portanto, se fazia agir com circumspecçáo e não levianamente, ser posi-tivista e não idealista, para se não deixar arrastar pelas illusões.

«Um dos primeiros resultados das minhas observações foi que os espiritoso utra coisa não sendo senão as almas dos homens, não tinham nem a soberana,Sabedoria, nem a soberana sciencia ; que seu saber era limitado ao grau do seuadiantamento, e que sua opinião não tinha senão o valor de uma opinião pessoaEsta verdade, reconhecida desde o começo, preservou-me do grave escolho d

cre r na sua infállibilidade e obstou-ine a formular theorias prematuras sobredizer de um só ou de alguns.

«O facto só da communicação com os espiritos, o que quer que elles pudessemdizer, provava a existência de um mundo invisível ambiente : era já um poh-tcapital, um iinmenso campo franqueado ás nossas explorações, a chave de umamultidão de pheuomeuos inexplicados. O segundo ponto, não menos importante,era conhecer o estado d'esse mundo, seus costumes, se assim nos podemos expri-mir. Cedo eu vi que cada espirito, em razão de sua posição pessoal e de seus°onhecimeiitos, revelava-me acerca d'elle toda uma pliase, exactamente como sechega a conhecer o estado de um paiz interrogando os habitantes de todas as cias-ses e de todas as condições, podendo cada um nos ensinar alguma coisa, e nenhum(1'elles podendo, individualmente, ensinar-nos tudo. Compete ao observador for-mar o conjuncto com o auxilio dos documentos recolhidos em differentes lados,^olleccionados, coordenados e confrontados entre si. Eu, pois, agi quanto aos espintos como o teria feito acerca de homens ; elles foram para mim, desde o me.nor até o mais elevado, meios de colher informações e não reveladores predesli.nmãos».

A estas informações colhidas nas Obras Poslhumaa de Allan Kardec, convémacerescentar que a principio Mr. Rivail, longe de ser um enthiisiasta d'essas mainfestações, e absorvido por suas outras preoccupaç.ões, esteve a ponto de aban.donal-as, o que talvez tivesse feito se não fossem as instantes solicitações dos Srs.Carlotti, René Taillandier, membro da Academia das Sciencias, Thiedeman—Manthèse, Sardou pae e filho, e üidier, editor, que acompanhavam havia cinc0annos o estudo d'esses phenómenos e haviam reunido chicocnla cadernos de com-municações diversas que elles não conseguiam pôr em ordem. Conhecendo as vastas e raras aptidões de synthese de M. Rivail, esses senhores remetteram-llie oscadernos pedindo-lhe que (Velles tomasse conhecimento e os puzesse em termos,0s arranjasse. Esse trabalho era árduo e exigia muito tempo, em virtude das la-cunas e obscuridades d'essas cominunicações, e o sábio encyclopedista recusava-se a essa tarefa enfadonha e absorvente, por causa dos seus outros trabalhos.

Uma noite, seu espirito protector, Z., deu-lhe por um médium uma communicação toda pessoal, em a qual dizia-lhe entre outras coisas tel-o conhecido emuma precedente existência, quando, pelo tempo dos brüidas, viviam juntos nasGallias. Elle se chamava então Allan Kardec, e, como a amizade que elles lhehaviam votado não fazia senão crescer, promettia-llie esse espirito secundai-0na tarefa muito importante a que elle era chamado e que facilmente levaria atermo.

M. Rivail, portanto, pôz-se á obra; tomou os cadernos, annotou-os com cui-dado, após uma attenta leitura, suppriniiu as repetições e pôz na respectiva ordemcada dictado, cada relato de sessão ; assignalou as lacunas a preencher, as obscu-ridades a aclarar, preparou as perguntas necessárias para completal-as.

«Até então, diz elle próprio, as sessões ein casa de M. B.iudin não tinhamnenhum fim determinado; propuz-me ahi fazer íesolver os problemas que interes-savam-me sob o ponto de vista da philosophia, da psychologia e da natureza domundo invisível. Comparecia a cada sessão com uma serie de questões prepara-das e niethodicameiite dispostas : eram respondidas com precisão, profundeza ede um modo lógico. Desde esse momento as reuniões tiveram um caracter muitooutro : entre os assistentes encontravam-se pessoas serias que tomaram por isso

uni vivo interesse. Se me acontecia faltar, ficavam como que tolhidas, tendo asquestões luteis perdido o attractivo para o maior numero. A principio eu nãotinha em vista senão minha própria instrucção ; mais tarde, quando vi que tudoisso formava uni iodo e tomava as proporções de uma doutrina, tive o pensa-mento de o publicar para instrucção de todos. Foram essas mesmas questões que,successivaniente desenvolvidas e completadas, fizeram a base do Livro dos Etpiritos.,,

Em 1856, M. Rivail freqüentou as reuniões spiritas que tinham logar á rualiquetone, em casa de M. Roustan com Mlle. Japhet, somnambula, que obtinhacomo médium cominunicações muito interessantes com o auxilio da cesta aguçada(3): fez examinar por esse médium as conimunicações obtidas e postas em ordemprecedentemente. Esse trabalho teve a principio logar nas sessões ordinárias ;mas a pedido dos espiritos, e para que fosse consagrado mais cuidado, malattenção, a esse exame, foi continuado em sessões particulares.

«Não me contentei com essa verificação, diz ainda Allan Kardec, e os espi--ritos liaviam-m'0 recommendado. Tendo-me as circumstancias posto em relaçãocom outros mediums, toda vez que se offerecia a occasião, eu aproveitava-a parapropor algumas das questões que me pareciam mais melindrosas. Foi assim quemais de dez mediums prestaram seu concurso a esse trabalho. E foi da compara-ção e da fusão de todas essas respostas coordenadas, classificadas e muitas vezesrefeitas no silencio da meditação, que formei a primeira edição do Livro dos Es-piritos, que appareceu em 18 de abril de 1857.»

Esse livro era um grande in 4? em duas columnas, uma para as perguntas eoutra em frente para as respostas. No momento de o publicar o auetor ficoumuito embaraçado por não saber como o assignaria, se com o seu nome DenizardHipòlyte-Léon Rivail, ou com um pseuilonymo. Sendo o seu nome muito coube-cido do mundo scientiíico em virtude dos seus anteriores trabalhos, e podendooriginar uma confusão, talvez mesmo prejudicar o suecesso do seu emprehendi-mento, elle adoptou o alvitre de assígnal-o com o nome de Allan Kardec que,havia-lhe o seu guia revelado, elle tinha no tempo dos Druidas.

A obra alcançou um tal suecesso (pie a primeira edição foi logo esgotada.Allan Kardec reeditou-a em 1858 sou a forma actual in 12, revista, correcta econsideravelmente auginentada.

No dia 25 de Março de 1856 estava Allan Kardec no seu gabinete de trabalho em via de compulsar sua communicação e preparar o Litro dos Espíritos'quando ouviu resoarein pancadas repetidas no tabique ; procurou, sem deseobril-a:a causa d'isso, e em seguida tornou a pôr mãos á obra. Sua mulher, entrando'cerca das dez horas, ouviu os mesmos ruídos ; procuraram, mas sem resultadode onde podiam elles provir. Moravam elles então á rua dos Martyres n? 8, nosegundo andar, ao fundo do pateo.

«No dia seguinte, sendo dia de sessão em casa de M. Baudin, escreve AllanKardec, contei o facto e pedi a sua explicação.

Pergunta : — Ouvistes o facto que acabo de narrar ; podereis dizer-me acausa (Pessas pancadas que se fizeram ouvir com tanta persistência ?

Resposta:—Era o teu espirito familiar.P. — Com que fim vinha elle bater assim ?R. — Queria communicar-se condigo.P. — Podereis dizer-me o que me queria elle ?R. — Podes perguntar a elle mesmo, porque está aqui.P. — Meu espirito familiar, quem quer que sejaiü, agradeço-vos o me terdes

vindo visitar. Quereis ter a bondade de dizer-me quem sois ?R. — Para ti, cliamar-me-liei a Verdade, e todos os mezes, durante um

quarto de hora, estarei aqui á tua disposição.P. — Hontem, quando batestes emquantó eu trabalhava; tinheis alguma

coisa de particular a me dizer ?R. — O que eu tinha a dizer-te era sobre o trabalho que fazias ; o que es-

crevias desagradava-me e eu queria fazer-te parar.Nota. — O que eu escrevia era precisamente relativo aos estudos que fazia

sobre os espiritos e suas manifestações.P. — Vossa desapprovação versava sobre o capitulo que eu escrevia ou s o l

hre o conjuncto do trabalho ?R. — Sobre o capitulo de hontem : faço-te juiz d'elle. Torna a lel-o esta

noite, rèconhecer-llie-has os erros e os corrigirás.P.

melhor ?R. — Está melhor, mas não muito bom. Lê da terceira á trigesima linha,

reconhecerás um grave erro.P. — Rasguei o que tinha feito hontem !R- — Não importa. Essa iniitilização não impede que subsista o erro. Relê

e verás.P. — O nome de Verdade (pie tomais é uma allusão á verdade que procuro pR. — Pode ser, ou pelo menos é uni guia que te auxiliará e proteírer-te-ha'1*. — Posso evocar-vos em minha casa?R. — Sim, para que eu te assista pelo pensamento ; mas quanto a respostas

escriptas em tua casa, não será tão cedo que as poderás obter.P. — Podereis vir mais freqüentemente do que todos os mezes ?

Eu mesmo não estava satisfeito com esse capitulo e reíil-o hoje. Está

I

(3) Arranjada com uma forma de bico—comprehende-ae,N. T.

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R. — Sim ; mas não prometto mais do que uma voz por mez, até nova ordem.p. — Animastes algum personagem conhecido na terra ?

r. __ Disse-te que para ti eu era a Verdade, o que por tua parte queria di-zer discreção : não saberás mais do que isto.»

De volta á casa, Allan Kardec apressou-se a reler o que escrevera e pòudeconstatar o grave erro que com effeito havia çpmmettido. A diláção de um mezfixada para cada communicação do espirito Verdade, raramente foi observada.Elle manifestou-se freqüentemente a Allan Kardec. mas não em i--.ua casa, ondedurante cerca de um anuo não poude este receber nenhuma communicação pormédium algum. E cada vez que elle esperava obter alguma coisa, era obstado

por uma causa qualquer e imprevista (pie vinha oppor-se a isso.

Foi a 30 de abril de 1856, em casa de, M. Roustah, pelo médium Mije. Ja-

phet, que Allan Kardec recebeu a primeira revelação da missão que elle tinha acumprir. Esse aviso, a principio muito vago. foi precisado no dia 12 de junho do

1856 por intermédio do Mlle. Aline C, médium. A 6 de maio de 1857, Mme.Gardone. pela inspecção das linhas da mão de Allan Kardec, confirmou as duascommunicações acima, que ella ignorava. Finalmente a 12 do abril de 1860, emcasa de M. Dehan, sendo intermediário M. Crozet, médium, essa missão foi no-vãmente confirmada em uma communicação espontânea, obtida na ausência deAllan Kardec.

Assim também se deu a respeito do seu pseudonymo. Numerosas communi-cações, vindas dos mais diverso.-; pontos, vieram referendar e corroborar a pri-meira communicação obtida a esse respeito.

Urgido pelos acontecimentos e pelos documentos que linha em seu poder,Allan Kardec, formara, em razão do suecesso do Livro dos Espiritas, o projecto decrear um jornal spirita. Havia se dirigido a M. Tièdman para solicitar-lhe o con-curso pecuniário, mas este não estava resolvido a tomar parte ívessa empresa.Allan Kardec perguntou aos seus guias, no dia 15 de novembro de 1S57, por in-termedio de Mme E. Dufaux, o qué devia fazer. Foi-lhe. respondido que pnzessesua idéa em execução e que não se inquietasse com o resto.

«Apressei-me em redigir o primeiro numero, diz Allan Kardec, e o fiz ap-parecer no dia 1°. de janeiro de 1858, sem nada dizer d'isso á pessoa alguma,Não tinha um único assignante nem sócio algum capitalista. Fil-o, pois, inteira-mente por minha conta e risco, e não tive do que airepender-me. porque o sue-cesso ultrapassou a nossa espectativa. A partir do l". de janeiro; os númerossuecederam-se sem interrupção, e, comi o previra o espirito, esse jornal tornou-se-me um poderoso auxiliar. Reconheci mais tarde, que, era uma felicidade paramim não ter tido um sócio capitalista, porque estava mais livre, emquanto queum extranho interessado teria podido pretender impor-me suas idéas e. sua vou-tade e entravar a minha marcha. Só, eu uão tinha que prestar contas a ninguém,por mais que como trabalho fosse onerosa a minha tarefa.»

E essa larefa devia ir sempre crescendo em trabalho e em responsabilida-des, em luctas incessantes contra obstáculos, emboscadas, perigos de toda sorte-A' medida, porem, que a lida tornava-se maior, a lueta mais áspera, esse enérgicotrabalhador elevava-se também á altura dos acontecimentos que, nunca o surpre-ii enderam : e durante onze annos, n'e:-sa Revista Spirita que, como tão modesta-mente começou acabamos de ver, elle resistiu a todas as tempestades, a todas asemulações, a todos os ciúmes que não lhe foram poupados, como elle mesmo o re-vela e como lh'o fora annunciado quando foi-lhe feita a revelação da sua missão.Essa communicação e as reflexões de que annotou-as Allau Kardec mostram-nosSob um prisma pouco lisongeiro a situação n'aquella epocha, mas fazem tambémresaltar o grande valor do fundador do spiritismo e o seu mérito em d'ella lerPodido triumphar.

Médium, Mlle. Aline, C. — 12 de junho de 1856 :

P. — Quaes são as causas que poderiam fazer-me naufragar? Seria a insuf-ficiencia de minhas aptidões ?

R. — Não ; mas a missão dos reformadores é cheia de escolhos e perigos ; atua é rude, previno-t'o, porque é o mundo inteiro que se trata de agitar e de^ransformar. Não creias que seja-te sufficiente publicares um livro, dois livros,dez livros, e íicares tranquillamente em tua casa ; não ; é preciso mostrares-te noconflicto : contra ti açularás terríveis ódios ; encarniçados inimigos tramarão atua perda ; estarás exposto á malevolencia. á calumnia, á traição mesmo d'aqueliesque parecer-te-hão os mais dedicados ; tuas melhores instrucçôes serão desconhe-cidas e desnaturadas; suecumbirás mais de uma vez ao peso da fadiga ; em umapalavra, é uma lueta quasi perpetua que terás de sustentar, com o sacrifício doteu repouso, da tua tranquillidade, da tua saúde e mesmo da tua vida—porquetu não viverás muito tempo. — Pois bem ! Mais de um recria quando, em logarde uma vereda florida, não encontra sob seus passos senão espinhos, agudas pe-dras e serpentes. Para taes missões, não basta a intelligencia. E? preciso antesde tudo, para agradar a Deus, humildade, modéstia, desinteresse, porque elleabate os orgulhosos e os presumpçosos. Para luetar contra os homens é necessa-ria coragem, perseverança e uma firmeza inquebrantavel; é preciso também terprudência e tacto para conduzir a propósito as coisas e não comprometter-lhes osuecesso com medidas ou palavras intempestivas ; é preciso, emfim, devotamento,abnegação e estar apparelhado para todos os sacrifícios.

Vês que tua missão está subordinada a condições que dependem de ti.

nota. (E' Allan Eãrdèe quo assim se exprime;) — «Escrevo esta nota no dia 1..de janeiro do 1S(í7, dez annos e meio depois que essa communicação me foi dada, e Cphs-tato que ella realizou-so em todos os pontos, porque experimentei tòdãsVnsiviQisaifcudesque n'ella mo foram annunciadas. Tenho sido alvo do ódio de encarniçados inimigos, da iinjuria, da calumnia, da inveja e do ciúme ; tÊm sido publicados contra mim infameslibeltos ; minhas instrucçôes melhores tôm sido desnaturadas ; tenho sido trahido poraqüelles cm quem depositará confiança o pago com a. ingratidão por áquelles a quemtenho prestado auxilio. A Sociedade de Paris tem sido um continuo foco de intrigas uv-didas por áquelles qué,- apresentando-me bom rosto na presença, detraetavnm-me n aminha ausência. Disseram que áquelles que adóptavam o meu partido eram assalariadospor mim com o dinheiro que ou arrecadava do spiritismo. Nfto tenho conhecido mais orepouso ; mais dc urna voz sucòumbi .cob o excesso do trabalho, a saúde te-se-me alterado,e tem-se-nie compiomèttidò a vida.

ei Entretanto, graças íí prptecçfto e a assistência dos bons espiritos, que sem cessarme tôm dado provas manifestas de sua solicitude, sou feliz em reconhecer que nfto tenhoexperimentado uni único instante dc desfalleeimento nem de desanimo e qus tenhoconstantemente proseguido na minha tarefa com o mesmo ardor, sem preoecupar-me danialevoleneia de que cru alvo. Segundo a communicação do Espirito Verdade eu deviacontar com tudo isso, e tudo se tem verificado.»

Quando se conhecem todas essas luctas. todas torpezas de que Allan Kardecfoi alvo, quanto elle se engrandece aos nossos olhos e o seu brilhante triumphoadquire mérito e esplendor ! O que tornaram-se esses invejosos, esses pygmeuque procuravam obstruir-lhe o caminho ? Na maior parte, são desconhecidos oseus nomes ou nenhuma recordação despertam mais; o esquecimento retomou-oe sepultou-os para sempre em suas sombras, emquanto que o de Allan Kardec, otemerário luetador, o campeão ousado, passará á posteridade com a sua sureolade gloria tão legitimemente adquirida.

Na nota acima lançada pelo próprio Allan Kardec, trata-se da SociedadeSpirita de Paris, fundada no dia l". de abril de 1858. Até então as reuniõestinham tido logar em casa de Allan Kardec, á rua dos Martyres. com Mlle. E.Dufaux como principal médium ; o seu salão poderia fionter de quinze a vintepessoas. Cedo ahi reuniu elle mais de trinta. Encontrando-se então muito emestreiteza e não querendo onerar Allan Kardec da todos os encargos, alguns dosassistentes propunham-se formar uma sociedade spirita e alugar um sitio em quetivessem logar as reuniões. Mas era preciso, para se poderem reunir, obter oreconhecimento e a auetorização da prefeitura, M. Dufaux, que conhecia pesso-almèntè o prefeito de policia de então, encarregou-se de dar os passos para essefim e, graças ao ministro do interior, o general X... que era favorável ás novasidéas, a autorização foi obtida em quinze dias, emquanto que pelo processoordinário teria exigido mezes sem grande, probabilidade de êxito.

~*èX*Xmn

AALLAN KARDECPara condescender com os justos desejo? externados pelo Centro da União

Spirita de, se. nos associar n'esía homenagem rendida hoje ao Mestre, supprimi-mos da noticia biogrnphica, que vem acima, o trecho necessário para abrir espaçoao seguinte original que nos acaba de ser confiado, cuja epigraphe conservamose que é a que se lò no alto.

Eil-o : •

Hoje que se. commemora o teu nascimento n'este planeta, ao qual vieste em 3tfe outubro de 1804, não podemos, como teus discípulos, deixar de render-te asnossas homenagens.

Espirito predestinado, em todas as incarnações, para derrocar os erros eSuperstições das seitas religiosas da epocha, ainda vieste n'essa ultima inçarná-ção dar o golpe de misericórdia na cúria romana, já desmoralizada desde os ata-quês de João Huss.

Ensinaste-nos as leis e os princípios básicos do spiritismo, que pacientemenete codificaste em tuas obras immorredouras que diariamente são compulsadas pomilhares de teus discípulos abnegados e formam um corpo de doutrina completopara a boa marcha e evolução do progresso da humanidade na consecução do seuideal—a perfeição. E's, com todo o direito, o fundador da philosophia spirita, syn-tjiese da religião e da sciencia, padrão de gloria que ninguém poderá te contes-tar.

Pouco importa que hoje o século não te consagre o titulo de reformador dahumanidade; as gerações futuras, e teus discípulos desde já,te entoarão as hosiin.nas merecidas.

Em espirito e verdade, sem superstições e mysticismo, continua, ó Mestr equerido, a ensinar-nos .essa divina philosophia. que veiu congraçar a religião ;com a sciencia, como nos demonstras em teu Evangelho e na Gênese.

Completa a tua obra :abate os erros dos fanáticos sectários, inimigos da scien .cia integral e progressiva,

Em nome da Sociedade Acadêmica Deus—Christo—Caridade e de todas asagremiações filiadas ao Centro da União Spirita de Propaganda no Brazil te sau-damos.

3 de outubro de 1896.A Directoria Central

Espirito Verdade Typographia do Reformador