Museu e Museologia: Interfaces e Perspectivas

21
MAST Colloquia Museu e Museologias: Interfaces e Perspectivas MUSEU DE ASTRONOMIA E CIÊNCIAS AFINS - MAST Rua General Bruce, 586 - São Cristóvão CEP 20921-030 - Rio de Janeiro - RJ Tel.: 2580-7010 Fax.: 2580-7339 Vol.11

description

MAST Colloquia - Volume IIArtigo "Museologia, Novas Tendências", de Marília Xavier Cury

Transcript of Museu e Museologia: Interfaces e Perspectivas

  • MASTColloquia

    Museu e Museologias:Interfaces e

    Perspectivas

    MUSEU DE ASTRONOMIA E CINCIAS AFINS - MASTRua General Bruce, 586 - So CristvoCEP 20921-030 - Rio de Janeiro - RJ

    Tel.: 2580-7010 Fax.: 2580-7339

    Vol.11

  • MAST Colloquia - Vol.11

    Museu e Museologia: Interfaces e Perspectivas

    Museu de Astronomia e Cincias Afins MCTRio de Janeiro

    2009

  • Museu de Astronomia e Cincias Afins 2009

    COORDENAO DO MAST COLLOQUIAMarcus Granato, Cludia Penha dos Santos, Maria Lucia de Niemeyer Matheus Loureiro,Vnia Hermes Arajo e Lcia Alves da Silva Lino

    ORGANIZAO DA EDIOMarcus Granato, Cludia Penha dos Santos e Maria Lucia de Niemeyer Matheus Loureiro

    CAPA E DIAGRAMAOLuci Meri Guimares e Mrcia Cristina Alves

    As opinies e conceitos emitidos nesta publicao so de inteira responsabilidade de seus autores no refletindo necessariamente o pensamento do Museu de Astronomia eCincias Afins.

    permitida a reproduo, desde que citada a fonte e para fins no comerciais.

    FICHA CATALOGRFICA

    2.

    Museu de Astronomia e Cincias Afins MAST Museu e Museologia: Interfaces e Perspectivas/Museu de Astronomia e Cincias Afins - Organizao de: Marcus Granato, Claudia Penha dos Santos e Maria Lucia de N. M. Loureiro . Rio de Janeiro : MAST, 2009. p.(MAST Colloquia; 11)

    Inclui bibliografia e notas.

    1. Museologia. 2.Museu.3. Interdisciplinaridade I Granato, Marcus II. Santos, Cludia Penha. III. Loureiro, Maria Lucia de N.M. IV. MAST. V. Ttulo. VI. Srie.

    CDU 00

  • Sumrio

    Apresentao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

    Tecendo interfaces tericas e metodolgicas por sobre o conceito museologia: oexerccio de uma teseSuely Moraes Ceravolo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

    Museologia, novas tendnciasMarlia Xavier Cury . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

    Museologia ou Patrimoniologia: reflexesTereza Cristina Moletta Scheiner. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

    Museus, arquivos e bibliotecas entre lugares de memria e espaos de produode conhecimentoIclia Thiesen . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

    Educao e Museus: a dimenso educativa do museuMaria Esther Alvarez Valente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

    Museus, Museologia e Informao Cientfica: uma abordagem interdisciplinarMaria Lucia de Niemeyer Matheus Loureiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

    3.

  • Museologia, novas tendncias

    Marlia Xavier Cury

    25

  • Nota biogrfica

    Museloga. Possui graduao em Licenciatura em Educao Artstica pela Faculdade deBelas Artes de So Paulo (1982), especializao em Museologia (1985), mestrado (1999) edoutorado (2005) em Cincias da Comunicao pela Universidade de So Paulo. Atualmente Professora Doutora da Universidade de So Paulo, atuando no Museu de Arqueologia eEtnologia. Tem experincia na rea de Museologia, com nfase nos seguintes temas:comunicao museolgica, expografia, avaliao museolgica (estudos receptivos),educao patrimonial e em museus e pblico de museu.

    26

  • Museologia, novas tendncias

    A discusso sobre Museologia e seu objeto de estudo remete-nos ao ICOFOM Comit Internacional de Museologia do ICOM Conselho Internacional de Museus, que,aps sua criao1, tornou-se um dos principais lugares para discusso sobre a disciplina. Oprincipal objetivo do ICOFOM, em seus primeiros anos de existncia, foi configurar aMuseologia como um campo de estudo independente. Os anos entre 1977 e 1979 foramdecisivos para a construo do papel do ICOFOM e para o incio dos debates, embora osresultados tenham sido desapontadores. Sobre o Encontro Anual em 1978, em Nieborw,Klausewitz (1997, p. 15) comenta: O resultado deste encontro foi a impresso de que pareceno existir qualquer conceito real e especialmente base terica para a museologia comodisciplina cientfica. Sobre o Encontro Anual de 1979, em Torgiano, o mesmo autorescreveu: Porm, os resultados para a museologia especial foram novamente um tantodesapontadores, uma vez que as interpretaes de um mesmo conceito foram muitodiferentes (KLAUSEWTZ, 1997, p. 15).

    Entre os anos de 1980 a 19832 os debates no bojo do ICOFOM foram profcuos,abordando os tpicos: Museologia, uma cincia em formao (1980, Mxico), Museologia einterdisciplinaridade (1981, Estocolmo), O sistema da museologia e interdisciplinaridade(1982, Paris), Metodologia da museologia e formao profissional (1983, Londres) e Museu,territrio e sociedade (1983, Londres).

    Desses anos, embora as resistncias e a crise, podemos vislumbrar resultadossignificativos, sobretudo no que se refere definio do objeto de estudo3 da museologia. Em 1980 Zbynek Z. Strnsky, afirma que museologia entendida como o estudo da relaoespecfica do Homem com a Realidade, tendo como objeto

    [...] uma abordagem especfica do homem frente realidade, cujaexpresso o fato de que ele seleciona alguns objetos originais darealidade, insere-os numa nova realidade para que sejam preservados, a despeito do carter mutvel inerente a todo objeto e da sua inevitveldecadncia, e faz uso deles de uma maneira, de acordo com suasprprias necessidades. (apud MENSCH, 1994, p. 12)

    Seguindo essa linha de idia, Anna Gregorov, 1981, acrescenta que museologia

    27

  • [...] cincia que estuda a relao especfica do homem com arealidade, que consiste na coleo e conservao intencional esistemtica de objetos selecionados, quer sejam inanimados,materiais, mveis e principalmente objetos tridimensionais,documentando assim o desenvolvimento da natureza e da sociedade edeles fazendo uso cientfico, cultural e educacional. (apud MENSCH,1994, p. 12)

    Posteriormente, Peter Van Mensch, 1994 comenta que museologia

    [...] uma abordagem especfica do homem frente realidade, cujaexpresso o fato de que eles selecionam alguns objetos originais darealidade, inserindo-os numa nova realidade para que sejampreservados, a despeito do carter mutvel inerente a todo objeto e dasua inevitvel decadncia, e faz uso deles de uma nova maneira, deacordo com suas prprias necessidades. (MENSCH, 1994, p. 12)

    No Brasil, essa proposio foi trabalhada por Waldisa Rssio Camargo Guarnieri,que entende que Museologia a cincia que tem como estudo o fato museolgico. Para aautora:

    Fato museolgico a relao profunda entre o homem, sujeito queconhece, e o objeto, parte da realidade qual o homem tambmpertence e sobre a qual tem poder de agir - relao esta que seprocessa num cenrio institucionalizado chamado museu. (1990, p. 7)

    A proposio de Strnsky incorporada por diversos autores tornou-se uma tradioque pode ser sintetizada no ternrio HOMEM, OBJETO e MUSEU ou H x O x M. O ternriorepresenta a relao entre o homem e a realidade mediada pelo objeto musealizado.

    O ternrio replicado, em uma outra verso, para atender nova Museologia. rplica como outra reproduo e como resposta s novas demandas da Museologia e seucontexto de aplicao fora dos muros do que podemos denominar como museus tradicionais.Nesse sentido, o ternrio constitudo pela SOCIEDADE, o PATRIMNIO e oTERRITRIO, ou S x P x T.

    28

  • CENRIO TERRITRIO

    Ilustrao 1 - Ternrio

    O Campo museolgico trata do ternrio em seu conjunto ou a partir de um de seusaspectos, sem perder de vista o todo trilgico. Assim, a produo em Museologia pode serconsiderada aquela em que o objeto de estudo trata do ternrio, mesmo que considerando uma de suas partes, sem perder, no entanto, a perspectiva do todo. Talvez este seja um dos pontospara discernirmos sobre a produo em Museologia da produo de outras reas que seaproximam do ternrio ou de um de seus pontos constitutivos, mas com outras problemticas. Essas reas, certamente, contribuem com a Museologia trazendo outros elementos,argumentos, teorias e conceitos, ampliam os limites da disciplina museolgica, trazendocontribuies que podero ser apropriadas pelo campo, transformando-o. De outra forma,essas mesmas reas e/ou outras que, inseridas no ternrio, no todo ou em um de seus pontosconstitutivos, produzem Museologia, participando dela. Sem perder sua identidade original,essa outra rea se identifica com os discursos museolgicos, sentindo-se parte deles. Ascontribuies ou participaes de outras reas na Museologia acontecem namultidisciplinaridade ou na interdisciplinaridade. Como a Museologia uma transdisciplinaem formao, semelhana da rea de comunicao, a aproximao e reciprocidade comoutras reas essencial para a construo da transversalidade, da estrutura epistemolgicatransdisciplinar e do quadro terico-conceitual.

    A museologia, h dcadas, deslocou o seu objeto de estudo dos museus e dascolees4 para o universo das relaes, como: a relao do homem e a realidade; do homem eo objeto no museu; do homem e o patrimnio musealizado; do homem com o homem,

    29

    SOCIEDADE PATRIMNIO

    HOMEM OBJETO

  • relao mediada pelo objeto. Esse universo de relaes deve ser enfrentado na perspectivatransdisciplinar dada a sua complexidade. Se a Museologia disciplina com objeto de estudo, o enfrentamento desse objeto deve ocorrer com clareza e com bases tericas fundamentadasnas cincias humanas e sociais.

    Museografia e gesto

    No ternrio HOMEM, OBJETO E MUSEU o museu adquire uma posiofundamental, pois se constitui no cenrio que permite a relao entre o homem e a realidadede uma forma particular. O museu um cenrio construdo e sua construo processualdenomina-se museografia.

    A museografia abrange toda a prxis da instituio museu, compreendendoadministrao, avaliao e parte do processo curatorial (aquisio, salvaguarda ecomunicao).

    A gesto museolgica organiza a prxis formando o cotidiano institucional queopera no tempo. A gesto museolgica faz as aes museogrficas atuarem em sinergia,como um sistema que opera com atividades meio e fim. A administrao atividade meio que d suporte ao processo curatorial, aes fim em torno do objeto museolgico.

    O museu como um sistema o conjunto de procedimentos metodolgicos,infra-estrutura, recursos humanos e materiais, tcnicas, tecnologias, polticas, informaes,procedimentos e experincias necessrios para o desenvolvimento de processos museais.

    O museu como sistema necessita de clareza quanto sua misso que a finalidade evocao da instituio, o propsito do museu: 1- O que podemos fazer com sucesso? 2- Qual o nosso papel social? 3- Quais so os compromissos que podemos assumir com asociedade? (CURY, 2008, p. 77)

    Vejamos a definio de misso adequada ao museu para entender o seu alcance:Razo de ser de um museu, que ajuda a explicitar tambm a sua finalidade (relao entre oque faz e a demanda social), os pblicos, os produtos e servios e expectativas, orientando osesforos de todos no museu (CURY, 20068, p. 76). Observamos que devemos sempreconsiderar os conceitos de pblicos interno e externo.

    30

  • Uma ferramenta gerencial contempornea adequada aos museus o planejamentoestratgico porque cria horizontes a partir de uma viso de futuro e tem a capacidade deestabelecer uma direo para onde o museu dever seguir, como um processo contnuo deelaborao. O planejamento estratgico um instrumento administrativo flexvel para adevida adequao a um organismo cultural, como o museu. Com o planejamento estratgicoa equipe toma conscincia quanto s oportunidades e riscos aos quais o museu est sujeito eorientando-o para o estabelecimento da direo a seguir, a partir das caractersticas doambiente e cumprimento da misso institucional. Ainda, com o planejamento estratgicopodemos: perceber os pontos positivos e negativos, fortes e fracos (as caractersticas,oportunidades e riscos) e saber trabalhar com eles; adaptar s mudanas; visualizar osproblemas e limitaes e saber trabalh-los; canalizar recursos.

    O plano museolgico ou diretor instrumento de gesto, ferramenta deplanejamento estratgico articuladora de todas as dimenses de um museu. Para tanto,preocupa-se com a eficincia e a eficcia da instituio.

    A eficincia est ligada ao processo, ao passo que a eficcia com o produto. Assim,na perspectiva de planejamento estratgico, o museu deve fazer a coisa certa da forma certa,ou seja, realizar produtos de qualidade com processos de qualidade.

    O plano museolgico define: as caractersticas da instituio (trajetria eabrangncia de acervo e pblico), a misso institucional, os objetivos estratgicos,programas, metas, cronograma, recursos, etc. O plano museolgico a melhor expressoprtica da poltica cultural5 do museu, abrangendo os seus programas e programao e asestratgias para alcan-los na prtica.

    Por ser o museu uma instituio comprometida com a sociedade, o planomuseolgico sempre se alicera em aspectos administrativo (planejar estrategicamente),poltico (reunir pessoas estrategicamente para planejar e realizar) e tcnico (decidir e agircom base em procedimentos tcnicos), respeitando assim o ambiente que lhe agrega.

    Faz parte do processo de elaborao do plano a misso, o diagnstico, as metasestratgicas, as estratgias de ao, as opes e escolhas, as propostas, objetivos, etapas aserem construdas cooperativamente, como as demais, para que os profissionais no s sesintam, mas, sobretudo, sejam de fato agentes do processo.

    31

  • Os programas do plano museolgico6 devem ser adequados e exeqveis, apresentar a metodologia a ser adotada, descrio das aes e indicao das formas de avaliao.

    Processo curatorial

    O conceito de curadoria foi se alterando no decorrer do tempo e, mesmo hoje, hdiferentes concepes em lugares, instituies, regies ou pases diferentes. No raro, emuma mesma instituio encontramos distintas formas de entender, tratar e fazer curadoria.

    Uma forma contempornea de entender curadoria seria aquela elaborada porUlpiano Bezerra de Meneses. Para esse autor

    [...] curadoria o ciclo completo de atividades relativas ao acervo,compreendendo a execuo e/ou orientao cientfica das seguintestarefas: formao e desenvolvimento de colees, conservao fsicadas colees, o que implica solues pertinentes de armazenamento eeventuais medidas de manuteno e restaurao; estudo cientfico edocumentao; comunicao e informao, que deve abranger deforma mais aberta possvel, todos os tipos de acesso, apresentao ecirculao do patrimnio constitudo e dos conhecimentos produzidos,para fins cientficos, de formao profissional ou de cartereducacional genrico e cultural (exposies permanentes (sic) etemporrias, publicaes, reprodues, experincias pedaggicas,etc.). (USP, 1986)

    Curadoria ou processo curatorial uma das formas de se entender o trabalho domuseu, agora a partir da cadeia operatria em torno do objeto. A partir desta concepo opapel do curador se amplia, ou seja, so curadores todos aqueles que participam do processocuratorial.

    Em sntese, esse processo constitudo pelas aes integradas (realizadas pordistintos profissionais) por que passam os objetos em um museu, denominados objetosmuseolgicos ou muselia, conforme definido por Strnsky em 1969. O processo curatorialdiferencia a muselia de outros objetos que pertencem a outros contextos, entendendo-se queo objeto museolgico aquele que foi retirado do contexto natural ou circuito econmicoe/ou funcional, adquirindo um estatuto diferenciado. O objeto museolgico no um objeto

    32

  • em um museu e sim aquele que sofre as aes que compem a musealizao por meio doprocesso curatorial.

    As aes do processo curatorial so: formao de acervo, pesquisa, salvaguarda(conservao e documentao museolgica), comunicao (exposio e educao). Apesarde ser cadeia operatria, no deve ser entendido como sequncia linear, o que o caracterizariacomo estrutura esttica, mecnica e artificial. Ao contrrio, uma viso cclica seria a melhorrepresentao do processo, visto a interdependncia de todos os fatores entre si e a sinergiaque os agrega e que agrega valor dinmico curadoria. Se um museu deve ser dinmico,igualmente deve ser o processo curatorial.

    O processo curatorial organiza o cotidiano em torno do objeto museolgico, mastraz luz do processo um outro elemento constitutivo do que entendemos ser o museu: opblico. O pblico o receptor dos museus e do patrimnio cultural musealizado e trazconsigo, como sujeito ativo, uma participao no processo curatorial.

    Avaliao museolgica e pesquisa de recepo

    Para os museus, a avaliao museolgica est ligada ao projeto de gesto. O projetode gesto integra organicamente a museografia com o processo curatorial. O projeto degesto tambm unifica, de modo a operar com eficincia, as atividades meio com asatividades fim. A avaliao museolgica parte inerente do projeto de gesto, pois traz luzda conscincia o andamento das estratgias, mtodos, tcnicas, aes propostas, posies,comportamentos etc. a avaliao que unifica o cotidiano do museu ao projeto de gesto,ajustando-os reciprocamente para a eficincia e a eficcia. Para tanto, a avaliao deve serpraticada em todo o museu e atingir diferentes nveis e planos, envolvendo seus atores(pblico interno e externo), ou seja, avaliar os mtodos e estratgias, aes, atividades,produtos e servios. A avaliao alimenta, ajusta, adequa, corrige... faz o sistema andar emdireo aos objetivos traados e aos propsitos institucionais.

    33

  • Quadro 1 Nveis de alcance e correlaes da avaliao museolgica

    Com o plano museolgico o sistema opera plenamente na interdependncia deelementos e na sinergia, na globalidade onde o todo maior do que a soma das partes.Planejamento pensar e agir, sendo que a avaliao move o processo nos limites definidospelo grupo e cria uma conscincia sobre o processo e a tomada de deciso. Unificao dasaes, construindo o cotidiano institucional e uma rotina afinada com os propsitosinstitucionais e com as finalidades museais.

    A avaliao serve ao museu para organizao do cotidiano, reflexo sobre cultura de trabalho, construo de conhecimento prtico e para a implementao de uma inteligncia daprxis. Porque serve ao museu, a avaliao est no domnio da museografia.

    Para a museologia, a avaliao museolgica7 passa a ser pesquisa ou estudo derecepo, ou seja, ela deixa de ser avaliao de processos e resultados para alimentar,corrigir e ajustar o projeto de gesto, faz-lo acontecer, enfim , e passa a ser estudo derecepo, das formas de uso que o pblico faz do museu e das interaes geradas pelasexposies, em face das mediaes culturais. A pesquisa de recepo de pblico importantepara o museu, porque so os usos que o pblico faz dele que lhes do forma social. A pesquisa de recepo fundamental para a museologia porque uma das possibilidades de produode conhecimento e construo terica. A questo : como realiz-la? Com que aporte?

    34

    Produtividade

    Desenvolvimento do processomuseal

    Qualidade

    Relao entre o pblico,produto e aes do museu

    Dizem respeitoa

    O modo de utilizar os recursosdisponveis

    Experincia do pblico

    Medem A eficincia dos processosA eficcia dos produtos eaes

    Tem foco Nos esforosNos resultados erealizaes

    Indicam Como fazer O que fazer

  • necessria a adoo de um multimtodo associao de mtodos capaz de enfrentar acomplexidade da experincia do pblico na sua relao com o patrimnio culturalmusealizado. Lauro Zavala (1998, p. 84) afirma que estratgia seria usar ferramentasconceituais de diferentes tradies metodolgicas para responder a indagaes noortodoxas, ou seja, hipteses outras muito alm daquelas formuladas a partir do potencial deestmulo que um museu e/ou exposio capaz provocar no pblico em vista de umamudana comportamental passiva. Ou seja, ir alm da relao estmulo/resposta e dacapacidade do museu e da exposio de atrair, prender ou reter a ateno do pblico visitante.

    Porque a pesquisa de recepo ocorre na relao do pblico com o patrimniomusealizado, o campo para a construo de experimentos empricos de coleta e anlise dedados a museografia, campo autnomo e auxiliar como a etnografia para a antropologia.Por outro lado, o campo para a construo da interpretao dos dados coletados e analisados transpondo esses dados descritivos para um contexto compreensivo e terico amuseologia. Sendo assim, e referenciando-nos no Quadro Geral da Disciplina Museologia, aavaliao museolgica um item da Museologia Aplicada, ao passo que a recepoenquadra-se perfeitamente e honestamente na Museologia Geral.

    Museologia, museografia e musealizao

    Houve um tempo que museografia e museologia eram a mesma coisa, hoje elas sediferenciam.

    O cenrio museu onde se d a construo museogrfica, campo prtico do museu eauxiliar da museologia. O lugar da museografia no museu, o tradicional ou outras formas,na sua estruturao administrativa, tcnica, poltica e metodolgica.

    O lugar da museologia onde esto as relaes do homem com o patrimniocultural e a posio da museologia est na construo de conhecimento para compreenso dofato museolgico.

    O processo de musealizao aproxima a museografia e a museologia porquedescreve (o qu), especifica (para quem) e analisa (como) o processo no qual a sociedadeatribui o status patrimonial a determinados objetos e preserva-os para distintos usos(BRUNO, 2007, p. 147).

    35

  • Por outro lado, e a partir da definio de Guarnieri, podemos entender o fatomuseolgico como um processo comunicacional, numa perspectiva da interao entre omuseu e a sociedade. Para tanto, o museu vai de encontro cultura ao assumir que asignificao da mensagem museal uma construo cultural que acontece a partir dasmediaes do cotidiano do pblico visitante, ou seja, o cotidiano cultural sustenta ainterpretao do pblico, da mesma forma que o receptor (o visitante de museu) construtorativo de sua prpria experincia museal. Dessa maneira, a exposio o local de encontro enegociao do significado museal (a retrica) e do meio (a exposio mesma) para ainterao, como dilogo e exerccio de tolerncia, onde h reciprocidade entre museu epblico.

    A pesquisa museolgica, na forma como apresentamos, pesquisa de recepo depblico de exposio e de outras aes de comunicao, onde o processo museal todo revisto, revisitado a partir do ngulo de viso do pblico.

    A museografia (da qual a expografia faz parte), aqui entendida como conjunto deaes prticas que existem e acontecem em sinergia sistmica a prxis museal campo deconhecimento autnomo ligado ao museu a instituio , ao mesmo tempo que auxiliar damuseologia a disciplina. Ento, a museografia o suporte que a pesquisa de recepo emexposies necessita para se realizar como pesquisa em museologia, porque corrobora naconstruo do experimento investigativo e anlise e interpretao dos dados coletados.Ento, ao invs de fazer a etnografia de uma exposio devemos fazer a museografia damesma.

    Museografia est para a museologia, assim como a etnografia est para aantropologia. Isso um dos pontos que queremos pr em discusso.

    Pesquisa em Museologia

    A pesquisa em museologia pode se dar a partir de distintas perspectivas, tanto as decarter processual, metodolgica e historiogrfica quanto as tericas, sendo que aspossibilidades de abordagens no so excludentes.

    A pesquisa terica em museologia, por seu lado, pode se dar a partir de distintasvises epistemolgicas e paradigmticas.

    36

  • A pesquisa de recepo , no entanto, uma possibilidade de problematizao do fatomuseolgico (relao do homem e o objeto mediada pelo museu, qualquer que seja o seuformato), aprendendo a identific-lo e a delimit-lo na realidade emprica, apreendendo-o.Em sntese, a aproximao das reas de comunicao e recepo para possibilitar oposicionamento do cotidiano do pblico e suas interpretaes e significaes junto aouniverso patrimonial das coisas musealizadas. Tambm, entender como as mensagensmuseolgicas so apropriadas, reelaboradas e inseridas no cotidiano do pblico visitante, ouseja, como as mensagens museolgicas so veiculadas na vida das pessoas e qual o impactosociolgico dessa veiculao. Dos meios s mediaes proposio de Jesus Martn-Barbero (1997) consiste no deslocamento dos estudos de recepo dos meios (no caso do museu, aexposio) para as mediaes culturais, desde onde as mensagens museolgicas fazemsentidos e onde elas passam a ter importncia ou caem no esquecimento.

    Nesse sentido, duas iniciativas se fazem necessrias:

    1- criar um quadro terico-metodolgico que sustente as pesquisas de recepo emface de hipteses museolgicas, que so distintas de outras hipteses de outras reas, mesmoque o objeto de anlise seja o museu e/ou seu pblico.

    2- construo de uma teoria compreensiva da relao do pblico com o patrimniocultural musealizado, partindo da construo de um conjunto de dados descritivos sobre arelao do pblico com o patrimnio musealizado o que inexiste, visto que o que h incipiente em direo um quadro terico que explique a descrio.

    Para finalizar, importante discernirmos entre pesquisar o e pesquisa no. Pesquisarum contexto diferente de pesquisar no contexto. O contexto o museu. Pesquisar o museu tarefa do plano de gesto, a avaliao a servio da gesto e da produo de conhecimentooriundo da reflexo sobre a prxis, visando construo de uma inteligncia prtica.Pesquisar no museu outra forma de produo de conhecimento que transcende o cotidianoinstitucional. Consiste em, a partir da definio de um objeto de estudo, construirconhecimento terico museolgico. Nestas perspectivas esto presentes as correlaes entremuseografia e museologia.

    Os contextos para a pesquisa museolgicas so inmeros, superando o espao domuseu tradicional. A museologia est se libertando dos museus tradicionais e, com isto,ampliando a concepo de cenrio e da idia do que seja museu. Com isto, outras

    37

  • transformaes so possveis, a prpria museologia se transformando e se construindo deuma forma dinmica e acadmica.

    Notas

    1 A criao oficial do ICOFOM foi em 1976, por iniciativa de Jan Jelinek (Presidente doICOM entre 1971 e 1977). A instalao desse Comit deu-se em 1977 durante daConferncia Trianual do ICOM em maio de 1977, em Moscou e Leningrado.

    2 Em depoimento Vinos Sofka declara que os primeiros anos do ICOFOM foram difceis,pois o Comit sofreu resistncias. Por outro lado, os anos de 1980 e 1982 foram de sria crise(SOFKA, 1995, p. 15-16). Sobre a trajetria do ICOFOM, vide CERAVOLO, 2004a,CERAVOLO, 2004b, CURY, 2005b.

    3 Quanto s discusses sobre o objeto de estudo da Museologia, vide MENSCH, 1994.

    4 Mensch, 1994, discrimina essas tendncias ora superadas: Museologia como o Estudo daFinalidade e Organizao de Museus; Museologia como o Estudo da Implementao eIntegrao de um Conjunto de Atividades Visando Preservao e Uso da Herana Cultural e Natural; Museologia como o Estudo dos Objetos de Museu, Museologia como Estudo daMusealidade.

    5 Poltica cultural a discusso sobre como a instituio quer agir e se relacionar com asociedade. Define o alcance social do museu em todos os seus aspectos, cientficos ecomunicacionais, entendendo o museu como uma instituio preservacionista e decomunicao. Assim, situa-se face ao patrimnio cultural e conceitua o seu pblico, paraento propor o seu papel nas construes da memria e identidade.

    6 So estes os programas: 1- Institucional, que integra as dimenses poltica, tcnica eadministrativa do museu. 2- Gesto de pessoas, que envolve a insero das pessoas emequipes, funes e responsabilidades, o que engloba um contnuo processo decapacitao/treinamento e, sobretudo, uma educao patrimonial para a plena conscinciados papis que desempenham junto ao museu. 3- De acervos, compreende a salvaguardapatrimonial. 4- Comunicao, compreende os temas e recortes temticos que a instituioelenca como prioritrios. traado um mapa cognitivo com temas gerais e especficos,prioritrios e secundrios com relao de interdependncia e/ou hierarquia. Esses temas e

    38

  • recortes sero tratados em exposies e nas aes educativa e cultural. 5- Pesquisa, trata daformao do acervo e da produo de conhecimento a partir da perspectiva da culturamaterial. Ainda, ocupa-se da pesquisa em museologia nos aspectos da sua aplicaoinstitucional. 6- Arquitetnico, compreende todos os aspectos de adequao e manuteno do edifcio e seu entorno, atendendo ao programa museolgico (conjunto de aes museais), dasquestes de acessibilidade, sinalizao e circuito. Ainda, compreende as especificidadesnecessrias preservao patrimonial. 7- Segurana, aes administrativas e de conservaonecessrias para garantir a segurana do acervo e do pblico. Compreende os aspectos contraroubo e vandalismo, sinistros, fogo, inundao e catstrofes, e outros que possam prejudicar a integridade dos objetos do acervo e das pessoas que convivem no espao do museu. 8-Financiamento e fomento, trata-se do estabelecimento de estratgias para captao derecursos para implementao do plano museolgico. 9- Difuso e Divulgao, criao deformas de popularizao do museu, difundindo o seu papel e trabalho na sociedade. Tornar omuseu conhecido, disponibilizando-o para o consumo cultural. Para tanto, recorre-se adiversas estratgias e mdias.

    7A avaliao museolgica uma denominao (ou termo) que engloba, at ento, todos osestudos com pblico realizados no contexto do museu, inclusive aqueles relativos a produocientfica.

    Referncias bibliogrficas

    ALMEIDA, Maria Christina Barbosa de. A informao em museus de arte: de unidadesisoladas a sistema integrado. Musas-Revista Brasileira de Museus e Museologia. Rio deJaneiro: IPHAN: DEMU, n. 2, p.140-154, 2006

    BACCEGA, M. Aparecida. Comunicao e linguagem: discursos e cincia. So Paulo:Editora Moderna, 1998. 126 p.

    BRUNO, Maria Cristina Oliveira. Museological action`s main fields. Sociomuseology.Liboa: Edies Universotrias Lusfonas, p. 145-151, 2007.

    CERAVOLO, Suely Morais. Em nome do cu, o que Museologia? Perspectivas demuseologia atravs de publicaes. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia. SoPaulo: USP: MAE, n. 14, p. 311-343, 2004b.

    CERAVOLO, Suely Morais. Delineamentos para uma teoria da Museologia. Anais do Museu Paulista. So Paulo: USP: MP, v. 12, p. 237-268, 2004a.

    CHAGAS, Mario de Souza. Muselia. Rio de Janeiro: JC Editora, 1996. 124 p.

    39

  • CHIAVENATO, Idalberto. Introduo teoria geral da Administrao. So Paulo:McGraw-Hill do Brasil, 1977. 562 p.

    CURY, Marlia X. Comunicao museolgica. Uma perspectiva terica e metodolgica derecepo, 2005a. Tese de Doutorado, ECA/USP.

    CURY, Marlia Xavier. Exposio. Concepo, montagem e avaliao. So Paulo:Annablume, 2008. 160 p.

    CURY, Marlia Xavier. Museologia. Marcos referenciais. Cadernos do CEOM. Chapec:Argos, n. 21, p. 45-73, 2005b.

    CURY, Marlia Xavier. Os usos que o pblico faz dos museus: a (re)significao da culturamaterial e do museu. Musas-Revista Brasileira de Museus e Museologia. Rio de Janeiro:IPHAN: DEMU, n. 1, p. 84-106, 2004.

    DAVIES, Stuart. Plano diretor. Traduo Maria Luiza Pacheco Fernandes. So Paulo:EDUSP; Vitae, 2001.

    GUARNIERI, Waldisa Rssio Camargo Guarnieri. Conceito de cultura e sua inter-relaocom o patrimnio cultural e a preservao. Cadernos Museolgicos. Rio de Janeiro: IBPC, n.3, p. 7-12, 1990.

    KLAUSEWITZ, Wolfgang. The first histirical phase of ICOFOM a review with personalreflections. ICOFOM Study Series. Paris/Grenoble/annecy, n. 27, p.13-15, 1997.

    MARTN-BARBERO, Jess. Dos meios s mediaes: comunicao, cultura e hegemonia.Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997. 360 p.

    MARTN-BARBERO, Jess. Amrica Latina e os anos recentes: o estudo da recepo emcomunicao social. In: SOUZA, Mauro Wilton de. (Org.). Sujeito, o lado oculto doreceptor. So Paulo: Brasiliense, 1995. p. 39-68.

    MENSCH, Peter van. O objeto de estudo da Museologia. Traduo de Dbora Bolsanello eVnia Dolores Estevam de Oliveira. Rio de Janeiro: UNIRIO, 1994. 22 p. (PrtextosMuseolgicos, 1).

    MORA, Claudia Corvi; GANDHOUR, Nada. Evolution et extension de la thoriemusologique de l`ICOFOM. ICOFOM Study Series. Paris: ICOFOM/ICOM, n. 28, p.44-55, 1997.

    REVISION = REVIEW 1989-1992 Organizacin Regional para Amrica Latina y ElCaribe. ICOM, 1992.

    SOFKA, Vinos. My adventurous life with ICOFOM, museology, museologists,anti-museologists, giving special reference to ICOFOM Study Series. ICOFOM StudySeries, v, 1, p. 1-25, 1995 (Reimpresso).

    SOUZA, Mauro Wilton de. Recepo e comunicao: a busca do sujeito. In: ______ (Org.).Sujeito, o lado oculto do receptor. So Paulo: Brasiliense, 1995. p. 13-38.

    40

  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO. Relatrio elaborado pela Comisso designada pelaPortaria GR.2073 de 15/07/1986. ARRUDA, Jos Jobson de Andrade (Org.).

    ZAVALA, Lauro. La tendncia transdisciplinar em los estdios culturales. 9 p. Disponvelem http://www.google.com.br. Acesso em: 26/10/2006.

    ZAVALA, Lauro. Towards a theory of museum reception. In: BICKNELL, Sandra;FARMELO, Grahan (Eds.). Museum visitor studies in the 90s. Londres: Science Museum,1998. p. 82-85.

    41