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Comunidade vinho novo Os Judeus e a História do Brasil A participação do elemento judaico no processo da construção do povo brasileiro é ainda um tema pouco conhecido, ventilado apenas em ambientes acadêmicos. E, em se tratando de Brasil, isso significa estar restrito a uma minoria, longe do público comum. Quando o assunto é colonização portuguesa no Brasil, um erro é muito comum, nos remetermos apenas aos grupos étnicos de “maior” inferência, o famoso tripé étnico, a saber: o português, o índio e o negro. A contribuição desses grupos é algo do conhecimento de todos. Um exemplo clássico, para entendermos melhor, é a contribuição do negro à culinária brasileira. Quem nunca experimentou a famosa feijoada que, diga-se de passagem, era a salvação dos escravos trazidos da África e que hoje virou prato símbolo de nosso país? Do índio herdamos muitas palavras que hoje fazem parte do nosso vocabulário cotidiano. Araruama, Sorocaba, aipim, são alguns exemplos. Não podemos nos esquecer dos europeus, nesse caso os portugueses que nos colonizaram. E é aqui a grande incógnita de nossa formação étnico-social. É sabido que boa parte dos portugueses que para cá vieram possuíam uma identidade secreta, uma mancha sanguínea que os rebaixava a condição de portugueses de segunda classe, ou melhor, cristãos de segunda classe. O marrano seria o quarto elemento tributário de nossa formação étnico cultural se não fosse o temor que assombrou e ainda assombra o imaginário popular e pior, continua segregando os descendentes desses indivíduos. Uma espécie de judeufobia que assola a mente do nosso povo quando assuntos do passado são trazidos novamente à tona. Mas, que crimes cometeram os judeus para serem apagados da construção histórica brasileira? Quem os condenou? Que pecados cometeram contra a fé da Santa Igreja para serem “excomungados da história”? Que crimes cometeram os judeus para serem apagados da construção histórica brasileira?

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Comunidade vinho novo

Os Judeus e a História do Brasil

A participação do elemento judaico no processo da construção do povo brasileiro é ainda um tema pouco conhecido, ventilado apenas em ambientes acadêmicos. E, em se tratando de Brasil, isso significa estar restrito a uma minoria, longe do público comum. Quando o assunto é colonização portuguesa no Brasil, um erro é muito comum, nos remetermos apenas aos grupos étnicos de “maior” inferência, o famoso tripé étnico, a saber: o português, o índio e o negro.  A contribuição desses grupos é algo do conhecimento de todos. Um exemplo clássico, para entendermos melhor, é a contribuição do negro à culinária brasileira. Quem nunca experimentou a famosa feijoada que, diga-se de passagem, era a salvação dos escravos trazidos da África e que hoje virou prato símbolo de nosso país? Do índio herdamos muitas palavras que hoje fazem parte do nosso vocabulário cotidiano. Araruama, Sorocaba, aipim, são alguns exemplos.  Não podemos nos esquecer dos europeus, nesse caso os portugueses que nos colonizaram. E é aqui a grande incógnita de nossa formação étnico-social. É sabido que boa parte dos portugueses que para cá vieram possuíam uma identidade secreta, uma mancha sanguínea que os rebaixava a condição de portugueses de segunda classe, ou melhor, cristãos de segunda classe.

O marrano seria o quarto elemento tributário de nossa formação étnico cultural se não fosse o temor que assombrou e ainda assombra o imaginário popular e pior, continua segregando os descendentes desses indivíduos. Uma espécie de judeufobia que assola a mente do nosso povo quando assuntos do passado são trazidos novamente à tona. Mas, que crimes cometeram os judeus para serem apagados da construção histórica brasileira? Quem os condenou? Que pecados cometeram contra a fé da Santa Igreja para serem “excomungados da história”? 

Que crimes cometeram os judeus para serem apagados da construção histórica brasileira? 

 Tomando como ponto de partida esses paradigmas excludentes, um estudo desse tema se torna cada vez mais recorrente já que nossa história está permeada de personagens judeus, ou melhor, cristãos-novos ― judeus que foram convertidos ao cristianismo por força do decreto de D.João em 1497 (Novinsky, 1983) ― Sendo assim é preciso trazer a lume esse assunto tão significativo sob o ponto de vista histórico. Conhecer o passado é fundamental para termos um futuro sólido e

bem sucedido já que o povo que não sabe de onde veio dificilmente saberá para onde vai

 Conhecer o passado é fundamental para termos um futuro sólido e bem sucedido já que o povo que não sabe de onde veio dificilmente saberá para onde vai. Talvez seja esse nosso grande desafio, descobrir nossa verdadeira história e origem étnica. A identidade de um

povo que foi forjado pelo desafio de possuir a terra, desbravando a imensidão territorial e vencendo as muitas dificuldades aqui encontradas.  O pré-sal étnico cultural ainda precisa ser explorado pela brava gente brasileira e por que não dizer judaica.

O JudeuEm meio à terceira geração de uma família brasileira, surge um nome comum: Antônio José da Silva, nascido a 8 de Maio de 1705, que mesmo levando consigo um sobrenome comum, foi o responsável pela renovação do teatro português no século XVIII. Poeta, escritor e dramaturgo, Antônio José da Silva, revelou à corte portuguesa um talento cômico, e nada comum, destacando-se como o mais importante entre Gil Vicente e Almeida Garrett.Há quem diga não ter existido teatro de qualidade no Brasil em épocas coloniais, visto que as encenações eram de enfoque religioso, lideradas pelo Padre José de Anchieta para atenuar a aprendizagem clerical nos colonizados. Em contrapartida, no livro O teatro no século XVIII(Perspectiva), Renata Soares Junqueira e Maria Glória Cusumano Mazzi afirmam haver uma formação teatral no Brasil Colônia e que ele não se limitava apenas à catequese.

Antônio José estudou Direito na Universidade de Coimbra, iniciou-se na advocacia, mas assim como seu pai, obteve uma inclinação para a escrita, acabando a dedicar-se a ela. Com linguagem satírica, Antônio José criticava toda a sociedade portuguesa da época, onde muitas de suas obras foram encenadas, nos palácios em Portugal. Sob a influência do Iluminismo, sua obra teatral era de cunho igualitário, expressando o espírito do povo, atribuindo o canto e a música aos elementos do espetáculo.

Com linguagem satírica, Antônio José criticava toda a sociedade portuguesa da época, onde muitas de suas obras foram

encenadas, nos palácios em PortugalDentre todas as suas comédias, merece destaque: Vida de D. Quixote de La Mancha e do gordo Sancho Pança - atribuindo à obra de Cervantes um ponto de vista Silva - e posteriormente, Esopaida, ou Vida de Esopo, época a qual se casava com Leonor Maria, sua prima. O teatro era a principal atração na corte de D. João V, e o nome de Antônio José da Silva, o mais popular em Lisboa. Mesmo transcorrido mais de trezentos anos, suas peças teatrais ainda são encenadas, como recentemente em Paris, na Comédie-Française, um dos teatros mais tradicionais da França, arrancando gargalhadas da plateia.

No entanto, por trás das risadas que suas peças ainda provocam nas pessoas, a vida de Antônio José não foi nada engraçada. Também conhecido como “O judeu”, Antônio passou longe de ter vivido dias com tom de comédia.

Também conhecido como “O judeu”, Antônio passou longe de ter vivido dias com tom de comédia.

Filho de João Mendes da Silva e Lourença Coutinho, ambos judeus, forçados à conversão ao cristianismo, viviam sob contínuas ameaças e torturas do Tribunal do Santo Ofício. Aos oito anos de idade, Antônio José descobriu que era judeu, porém não compreendia qual crime havia cometido. Vivia muitas vezes com a ausência da mãe, que habitualmente era pega praticando o judaísmo secretamente, como limpando a casa às sextas-feiras.Acusado e torturado por suspeitas judaizantes, Antônio José deixava transparecer em suas óperas o sofrimento que carregava em seu sangue, em citações como estas: “Ouve D'us os ecos, os clamores de um mísero infeliz, a quem a sorte dá na vida o rigor da mesma morte”. Tempos se passaram e Antônio teve mais uma vez a sorte de receber a visita dos inquisidores, acusado por uma escrava negra, chamada Leonor Gomes que levantava falsos testemunhos sobre ele e todos de sua casa.

Era Yom Kipur, todos os Silvas estavam reunidos, o que facilitou para os inquisidores. Na prisão, sua esposa dera a luz a mais um filho, cujo destino jamais se soube. Mais uma vez era ouvido em seus espetáculos, relatos de sua vida, atribuídos a personagens: "Que delito fiz eu para que sinta o peso desta aspérrima cadeia nos horrores de um cárcere penoso”. Ao fim, condenado como judaizante, Antônio José da Silva em 1739, aos 34 anos, foi degolado e atirado à fogueira.

"Que delito fiz eu para que sinta o peso desta aspérrima cadeia nos horrores de um cárcere penoso”

Uma vida de risos e choros foi contracenada no filme O judeu, dirigido pelo carioca Jom Tob Azulay, estreado em 1996, onde a plateia pode conhecer o lado amargo da vida do dramaturgo que fez a alegria no início do século 18. O Filme foi também exibido em Nova York no Film forum, recebendo críticas favoráveis do The New York Times e também do público brasileiro, como um simples e merecido “gostei muito” do ex Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, dentre outras várias reportagens que o longa fez repercutir.

Antônio José da Silva foi um autor brasileiro que os próprios brasileiros ainda não conheceram. Um homem que aos 34 anos, perante sua esposa e sua mãe, apresentou seu último espetáculo, o qual não obteve risos, nem aplausos, apenas seu coração judeu alimentando o fogo dos fanáticos enquanto a cortina daquele tenebroso enredo abaixava...