Nayara

17
Literatura

Transcript of Nayara

Page 1: Nayara

Literatura

Page 2: Nayara

C a r lo s d r u m m o n d d e A n -d r a d e

B io g r a f ia

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Hori-zonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Fribur-go RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro

Page 3: Nayara

Carlos Drum-mond de An-

drade

Page 4: Nayara

Poesias de carlos Drummond de Andrade

O Seu Santo NomeNão facilite com a palavra amor.

Não a jogue no espaço, bolha de sabão.

Não se inebrie com o seu engalanado som.

Não a empregue sem razão acima de toda a razão ( e é raro).

Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão

de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra

que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.

Não a pronuncie

Page 5: Nayara

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim.

Page 6: Nayara

Fazenda (Drummond)

Vejo o Retiro: suspiro

no vale fundo.

O Retiro ficava longe

do oceanomundo.

Ninguém sabia da Rússia

com sua foice.

A morte escolhia a forma

breve de um coice.

Mulher, abundavam negras

socando milho.

Rês morta, urubus rasantes,

logo em concílio.

O amor das éguas rinchava

no azul do pasto.

E criação e gente, em liga,

tudo era casto..

Page 7: Nayara

Jorge de LimaBiografia

Jorge de Lima nasceu em 1893 em União, Alagoas, perto da Serra da Barriga, onde Zumbi fundou seu famoso quilombo. Aos dez anos, passou a escrever para um jornal de seu colé-gio, onde publicou os poemas que fazia desde os sete anos.

Jorge de Lima estudou medicina na Bahia e no Rio de Janeiro. Ainda estudante, publicou seu primeiro livro, "XIV Alexandrinos". Exerceu as funções de médico e ocupou diver-sos cargos públicos no estado de Alagoas.

Page 8: Nayara

VINHA BOIANDO O CORPO ADOLESCENTE...

Vinha boiando o corpo adolescente,

belo pastor e sonho perturbado.

Deus abaixou-lhe os cílios alongados

para que ele dormindo flutuasse.

Ressuscita-o, Senhor, essa medusa

de sangue juvenil em rosto impúbere,

desterrado da vida, flor perdida,

irmão gêmeo de Apolo trimagista.

Seca-lhe a espuma que lhe inunda o peito

e as convulsões mortais que o imolaram

às Sodomas ardidas em seu leito.

Anjo adoecido, alheio dançarino

que dançasse em Gomorras incendiadas,

estás cansado; deita-te, menino!

Page 9: Nayara

ALTA NOITE QUANDO ESCREVEIS

À senhora Heitor Usai

Alta noite, quando escreveis um poema qualquer

sem sentirdes o que escreveis,

olhai vossa mão — que vossa mão não vos per-tence mais;

olhai como parece uma asa que viesse de longe.

Olhai a luz que de momento a momento

sai entre os seus dedos recurvos.

Olhai a Grande Mão que sobre ela se abate

e a faz deslizar sobre o papel estreito,

com o clamor silencioso da sabedoria,

com a suavidade do Céu

ou com a dureza do Inferno!

Se não credes, tocai com a outra mão inativa

as chagas da Mão que escreve

Page 10: Nayara

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES

Lá vem o acendedor de lampiões de rua!

Este mesmo que vem, infatigavelmente,

Parodiar o Sol e associar-se à lua

Quando a sobra da noite enegrece o poente.

Um, dois, três lampiões, acende e continua

Outros mais a acender imperturbavelmente,

À medida que a noite, aos poucos, se acentua

E a palidez da lua apenas se pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita:

Ele, que doira a noite e ilumina a cidade,

Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

Tanta gente também nos outros insinua

Crenças, religiões, amor, felicidade

Como este acendedor de lampiões de rua!

Page 11: Nayara

Jorge de Lima

Page 12: Nayara

Murilo Mendes

Murilo Monteiro Mendes era filho de Onofre Mendes e Eliza M. de Barros Mendes. Fez seus primeiros estudos em Juiz de Fora e depois, no Colégio Salesiano de Niterói. Dois acontecimentos

marcaram a juventude de Murilo Mendes, a passagem do cometa Halley, em 1910, e sua fuga do colégio interno em Niterói para

ver, no Rio de Janeiro, as apresentações do dançarino russo Ni-jinski, em 1917. Ambos, cometa e bailarino, foram co

nsiderados por ele, verdadeiras revelações poéticas.

Page 13: Nayara

Murilo Mendes

Page 14: Nayara

Poesias A mãe do primeiro filho

Carmem fica matutando

no seu corpo já passado.

— Até à volta, meu seio

De mil novecentos e doze.

Adeus, minha perna linda

De mil novecentos e quinze.

Quando eu estava no colégio

Meu corpo era bem diferente.

Quando acabei o namoro

Meu corpo era bem diferente.

Quando um dia me casei

Meu corpo era bem diferente.

Nunca mais eu hei de ver

Meus quadris do ano passado…

A tarde já madurou

E Carmem fica pensando.

Page 15: Nayara

SOLIDARIEDADE

Sou ligado pela herança do espírito e do sangue

Ao mártir, ao assassino, ao anarquista.

Sou ligado

Aos casais na terra e no ar,

Ao vendeiro da esquina,

Ao padre, ao mendigo, à mulher da vida,

Ao mecânico, ao poeta, ao soldado,

Ao santo e ao demônio,

Construídos à minha imagem e semel-hança

Page 16: Nayara

ESTUDO PARA UM CAOS

O ÚLTIMO anjo derrama seu cálice no ar.

Os sonhos caem da cabeça do homem

As crianças são expelidas do ventre materno

As estrelas se despregam do firmamento.

Uma tocha enorme pega fogo no fogo.

A água dos rios e dos mares jorra cadáveres.

Os vulcões vomitam cometas em furor

E as mil pernas da Grande Dançarina

Fazem cair sobre a terra uma chuva de sangue.

Rachou-se o teto do céu em quatro partes.

Instintivamente eu me agarro ao abismo.

Procurei meu rosto, não o achei.

Depois a treva foi ajuntada à própria treva.

Page 17: Nayara

EvennynayaraElizia3°c