Neolitização e Megalitismo na Plataforma do Mondego

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1. A PROBLEMÁTICA DO NEOLÍTICO ANTIGO NA PLATAFORMA DO MONDEGO Apesar de algumas propostas (Delibes de Castro, et alii. 1985), até aos nais da década de oitenta do século passado a própria existência de um Neolítico Antigo no interior e Nor- te da Península Ibérica era questionável e apenas os primeiros construtores de megálitos pareciam aí introduzir os primórdios da agro-pecuária (Municio, 1988: 324; Senna-Martinez, 1989: 657, 1994a). Em 1995, o primeiro Congresso Peninsular sobre o Neolítico assistiu a uma mudança de atitude com o pleno reconhecimento de vários arqueosítios no interior da Península, nomeadamente na Meseta Norte (cf. Delibes de Castro & Zapatero Magdaleno, 1995). Pela mesma altura diversos sítios eram identicados no Nordeste Português (Sanches, 1997; Aubry, Carvalho & Zilhão, 1997) e datados dos inícios do V milénio cal AC no nível 4 do abrigo do Buraco da Pala (Sanches, 1997). Na Plataforma do Mondego, a nossa área preferencial de estudo (Fig.1), a primeira identicação de um sítio arqueoló- gico integrável naquela etapa crono-cultural ocorreu em 1991 com a descoberta do sítio das Carriceiras (Senna-Martinez & Estevinha, 1994; Senna-Martinez, 1994b e 2000a). Em 1996/1997 surgem materiais atribuíveis ao Neolítico Antigo, remobilizados na mamoa da Orca 2 do Ameal (Ventu- ra, 1998a) um pequeno monumento da primeira fase regional do megalitismo atribuível ao Neolítico Médio. Esta situação contextual viria a repetir-se em 1997 na Orca 2 de Oliveira do Conde (Ventura, 2000) e em 1998 com o estudo da Orca do Folhadal (Senna-Martinez & Ventura, 1999). Uma primeira síntese em 1998 (Valera, 1998) agrega aos anteriores os materiais das primeiras ocupações dos abrigos do Buraco da Moura de S. Romão e Penedo da Penha 1 bem como a ocina de talhe da Quinta do Soito (Valera, 2000). Em 1998/1999 aparece a primeira cabana do Habitat do Folhadal (Senna-Martinez e Ventura, 1999) e é identicada a ocupação do Neolítico Antigo no Outeiro dos Castelos de Bei- jós (Senna-Martinez, 2000b). Em 2000 começa o estudo dos níveis do Neolítico Antigo da Quinta da Assentada (Valera, 2002-2003), seguido pela des- coberta em 2003 do sítio da Quinta das Rosas (Valera, 2003). No limite oriental da nossa área de estudo, os trabalhos de- senvolvidos na área do Côa permitem vericar igualmente a existência de uma ocupação do Neolítico Antigo, o que vem permitir corroborar a inserção dos níveis neolíticos da Fraga d’Aia nesta etapa (Carvalho, 1999 e 2003; Jorge, 1990; Jorge, et alii., 1988; Jorge, 1991; Monteiro-Rodrigues, 2000 e 2002; Sanches, 1997). A dezena de sítios conhecidos na Plataforma do Mondego (Fig.1) distribui-se, deste modo, entre quatro sítios de habitat abertos (Folhadal, Outeiro dos Castelos de Beijós, Quinta da Assentada e Quinta das Rosas), duas ocinas de talhe (Carri- NEOLITIZAÇÃO E MEGALITISMO NA PLATAFORMA DO MONDEGO: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A TRANSIÇÃO NEOLÍTICO ANTIGO/NEOLÍTICO MÉDIO João Carlos de Senna-Martinez* & José Manuel Quintã Ventura** Resumo. Apenas na década de noventa do século XX será, pela primeira vez, admitida a existência de um Neolítico Antigo para a Beira-Alta. Dos sítios de habitat hoje conhecidos e cuja informação disponível neste texto se discute, partiremos, como estudo de caso, do ainda parcialmente inédito Habitat do Folhadal (Concelho de Nelas, Distrito de Viseu) com cinco fundos de cabana já escavados e que é estratigracamente sobreposto por um monumento megalítico de primeira geração atribuível ao Neolítico Médio regional. Argumentaremos que a criação da “paisagem neolítica” na nossa área de estudo não parece traduzir uma ocupação agrícola do espaço, dadas as características dos solos e o quadro hoje disponível para realidades posteriores, a partir do Neolítico Final e que os grupos humanos neolitizadores da Plataforma do Mondego, poderão assim corresponder a sociedades de pastores, caçadores-recolectores e agricultores incipientes, cujo padrão de subsis- tência se caracterizaria pela enorme mobilidade, por isso mesmo baseada em recursos também eles moveis e não xos a um espaço especico, o que implica a exploração de diversos tipos de territórios de forma sazonalmente diferenciada. Deste modo, a primeira etapa regional do fenómeno megalítico parece caracterizar-se pela construção de monumentos que parecem corresponder, nomeadamente pela sua implantação, a estruturas que constituem, a um tempo, uma primeira monumentalização arquitectural funerária e verdadeiras âncoras na paisagem para populações que, por outro lado, mantêm ainda uma grande mobilidade sazonal, legitimando, assim, a apropriação das respec- tivas áreas de invernia e o acesso aos recursos correspondentes. Palavras-chave: Beira-Alta Portuguesa, Neolitização, Megalitismo, Transição Neolítico Antigo/Neolítico Médio. Abstract. the existence of an Early Neolithic in the interior regions of Portuguese Beira-Alta was rst acknowledged only in the nineties of the twentieth century. Taking into consideration the available evidence for the habitat sites belonging to this phase we’ll start from unpublished evidence on the Folhadal habitat site (Nelas County, Viseu District) with ve already excavated huts, partially stratigraphically overlapped by a rst generation megalithic tomb from the regional Middle Neolithic. We’ll argue that the establishment of a “Neolithic landscape” in our study area, taking into account the local soil characteristics and the evidence available for the Later Neolithic, does not seem to represent an agricultural occupation of space. The populations responsible for the Neolithic coloni- zation of the Mondego’s Platform can then be characterized as societies of herders-hunter-gatherers with incipient agricultural practices with seasonal settlement patterns based on different territories and resources. The rst megalithic tombs of the Middle Neolithic seem to be structures that constitute a rst monumental appropriation of the landscape as well as anchors in it for people that maintain a great seasonal mobility thus enabling them to reclaim the use of winter territories and their resources in the lowlands. Key-words: Portuguese Beira-Alta; Neolithic; Megalithic Monuments; Early/ /Middle Neolithic Transition. * Professor Titular do Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 1600-214 LISBOA PORTUGAL. [email protected] ** Mestre em Pré-História e Arqueologia pela F.L.U.L., Investigador Exterior do Instituto «Alexandre Herculano» de Estudos Regio- nais e do Municipalismo da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. [email protected]

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Neolitização e Megalitismo na Plataforma do Mondego

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1. A PROBLEMÁTICA DO NEOLÍTICO ANTIGO NA PLATAFORMA DO MONDEGO

Apesar de algumas propostas (Delibes de Castro, et alii. 1985), até aos fi nais da década de oitenta do século passado a própria existência de um Neolítico Antigo no interior e Nor-te da Península Ibérica era questionável e apenas os primeiros construtores de megálitos pareciam aí introduzir os primórdios da agro-pecuária (Municio, 1988: 324; Senna-Martinez, 1989: 657, 1994a).

Em 1995, o primeiro Congresso Peninsular sobre o Neolítico assistiu a uma mudança de atitude com o pleno reconhecimento de vários arqueosítios no interior da Península, nomeadamente na Meseta Norte (cf. Delibes de Castro & Zapatero Magdaleno, 1995). Pela mesma altura diversos sítios eram identifi cados no Nordeste Português (Sanches, 1997; Aubry, Carvalho & Zilhão, 1997) e datados dos inícios do V milénio cal AC no nível 4 do abrigo do Buraco da Pala (Sanches, 1997).

Na Plataforma do Mondego, a nossa área preferencial de estudo (Fig.1), a primeira identifi cação de um sítio arqueoló-gico integrável naquela etapa crono-cultural ocorreu em 1991

com a descoberta do sítio das Carriceiras (Senna-Martinez & Estevinha, 1994; Senna-Martinez, 1994b e 2000a).

Em 1996/1997 surgem materiais atribuíveis ao Neolítico Antigo, remobilizados na mamoa da Orca 2 do Ameal (Ventu-ra, 1998a) um pequeno monumento da primeira fase regional do megalitismo atribuível ao Neolítico Médio. Esta situação contextual viria a repetir-se em 1997 na Orca 2 de Oliveira do Conde (Ventura, 2000) e em 1998 com o estudo da Orca do Folhadal (Senna-Martinez & Ventura, 1999).

Uma primeira síntese em 1998 (Valera, 1998) agrega aos anteriores os materiais das primeiras ocupações dos abrigos do Buraco da Moura de S. Romão e Penedo da Penha 1 bem como a ofi cina de talhe da Quinta do Soito (Valera, 2000).

Em 1998/1999 aparece a primeira cabana do Habitat do Folhadal (Senna-Martinez e Ventura, 1999) e é identifi cada a ocupação do Neolítico Antigo no Outeiro dos Castelos de Bei-jós (Senna-Martinez, 2000b).

Em 2000 começa o estudo dos níveis do Neolítico Antigo da Quinta da Assentada (Valera, 2002-2003), seguido pela des-coberta em 2003 do sítio da Quinta das Rosas (Valera, 2003).

No limite oriental da nossa área de estudo, os trabalhos de-senvolvidos na área do Côa permitem verifi car igualmente a existência de uma ocupação do Neolítico Antigo, o que vem permitir corroborar a inserção dos níveis neolíticos da Fraga d’Aia nesta etapa (Carvalho, 1999 e 2003; Jorge, 1990; Jorge, et alii., 1988; Jorge, 1991; Monteiro-Rodrigues, 2000 e 2002; Sanches, 1997).

A dezena de sítios conhecidos na Plataforma do Mondego (Fig.1) distribui-se, deste modo, entre quatro sítios de habitat abertos (Folhadal, Outeiro dos Castelos de Beijós, Quinta da Assentada e Quinta das Rosas), duas ofi cinas de talhe (Carri-

NEOLITIZAÇÃO E MEGALITISMO NA PLATAFORMA DO MONDEGO: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A TRANSIÇÃO NEOLÍTICO ANTIGO/NEOLÍTICO MÉDIO

João Carlos de Senna-Martinez* & José Manuel Quintã Ventura**

Resumo. Apenas na década de noventa do século XX será, pela primeira vez, admitida a existência de um Neolítico Antigo para a Beira-Alta.Dos sítios de habitat hoje conhecidos e cuja informação disponível neste texto se discute, partiremos, como estudo de caso, do ainda parcialmente

inédito Habitat do Folhadal (Concelho de Nelas, Distrito de Viseu) com cinco fundos de cabana já escavados e que é estratigrafi camente sobreposto por um monumento megalítico de primeira geração atribuível ao Neolítico Médio regional.

Argumentaremos que a criação da “paisagem neolítica” na nossa área de estudo não parece traduzir uma ocupação agrícola do espaço, dadas as características dos solos e o quadro hoje disponível para realidades posteriores, a partir do Neolítico Final e que os grupos humanos neolitizadores da Plataforma do Mon dego, poderão assim corresponder a sociedades de pastores, caçadores-recolectores e agricultores incipientes, cujo padrão de subsis-tência se caracterizaria pela enorme mobilidade, por isso mesmo baseada em recursos também eles moveis e não fi xos a um espaço especifi co, o que implica a exploração de diversos tipos de territórios de forma sazonalmente diferenciada.

Deste modo, a primeira etapa regional do fenómeno megalítico parece caracterizar-se pela construção de monumentos que parecem corresponder, nomeadamente pela sua implantação, a estruturas que constituem, a um tempo, uma primeira monumentalização arquitectural funerária e verdadeiras âncoras na paisagem para populações que, por outro lado, mantêm ainda uma grande mobilidade sazonal, legitimando, assim, a apropriação das respec-tivas áreas de invernia e o acesso aos recursos correspondentes.

Palavras-chave: Beira-Alta Portuguesa, Neolitização, Megalitismo, Transição Neolítico Antigo/Neolítico Médio.

Abstract. the existence of an Early Neolithic in the interior regions of Portuguese Beira-Alta was fi rst acknowledged only in the nineties of the twentieth century.

Taking into consideration the available evidence for the habitat sites belonging to this phase we’ll start from unpublished evidence on the Folhadal habitat site (Nelas County, Viseu District) with fi ve already excavated huts, partially stratigraphically overlapped by a fi rst generation megalithic tomb from the regional Middle Neolithic.

We’ll argue that the establishment of a “Neolithic landscape” in our study area, taking into account the local soil characteristics and the evidence available for the Later Neolithic, does not seem to represent an agricultural occupation of space. The populations responsible for the Neolithic coloni-zation of the Mondego’s Platform can then be characterized as societies of herders-hunter-gatherers with incipient agricultural practices with seasonal settlement patterns based on different territories and resources.

The fi rst megalithic tombs of the Middle Neolithic seem to be structures that constitute a fi rst monumental appropriation of the landscape as well as anchors in it for people that maintain a great seasonal mobility thus enabling them to reclaim the use of winter territories and their resources in the lowlands.

Key-words: Portuguese Beira-Alta; Neolithic; Megalithic Monuments; Early/ /Middle Neolithic Transition.

* Professor Titular do Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 1600-214 LISBOA PORTUGAL. [email protected]

** Mestre em Pré-História e Arqueologia pela F.L.U.L., Investigador Exterior do Instituto «Alexandre Herculano» de Estudos Regio-nais e do Municipalismo da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. [email protected]

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In: Actas do IV Congreso del Neolítico en la Península Ibérica. Alicante, 27 a 30 de Novembro de 2006. No prelo
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JOÃO CARLOS DE SENNA-MARTINEZ & JOSÉ MANUEL QUINTÃ VENTURA2

ceiras e Quinta do Soito) a segunda provavelmente relaciona-da com o habitat do Folhadal do qual, ao contrário de António Valera (2002-2003) pensamos constituir um outro locus, dois habitats em abrigo (Penedo da Penha 1 e Buraco da Moura de S. Romão) e duas situações estratigráfi cas de palimpsesto com materiais remobilizados em terras de mamoas pertencentes a monumentos megalíticos de primeira fase (Orca 2 do Ameal e Orca 2 de Oliveira do Conde).

O arqueosítio do Folhadal, localiza-se numa rechã sita aproximadamente a meio da ver tente norte do vale do Mon-dego, a uma altitude de cerca de 310 m, aproximadamente a um quilómetro a su-sueste da povoação de Folhadal, concelho de Nelas, Distrito de Viseu. As suas coordenadas hectométricas são 224.500/392.500 GAUSS, na Folha 200 da C.M.P. 1:25000. A menos de 500m de distância e 100m mais abaixo fi ca a “ofi -cina de talhe” da Quinta do Soito.

A área aplanada, rasgada pelo vale do Mon dego, onde se situa o sítio arqueológico, é constituí da, a nível geomorfológi-co, maioritariamente por granitos, ainda que esporadicamente, estes sejam, atravessados por fi lões quartzosos. O gra nito surge nas suas variedades de monozonítico de duas micas e biotítico de grão médio a fi no. Os depó sitos quaternários de co ber tura, são formados por argilas e arcoses diversas (Tei xeira, et alii.

1961:8-9) de fraca potência, re duzidos a escassas manchas na envolvência imediata do sítio arqueológico em questão.

Embora o estudo deste arqueosítio tenha sido iniciado, nas campanhas 1(997) e 2(998), pelo estudo do respectivo monu-mento megalítico, durante a segunda campanha, a decapagem superfi cial de seis metros quadrados na periferia sudeste da ma-moa revelou uma zona onde terras argilosas castanho amarela-do claras (10YR6/4), correspondentes ao topo do “solo antigo” subjacente às estruturas do monumento [UE.3], se apresenta-vam mais compactadas e pareciam corresponder a um “piso de habitat” de que era visível igualmente um primeiro “buraco de poste”.

Nas Campanhas 3(999), 4(2000) e 5(2001) a continuação daquela decapagem e o posterior alargamento da área inter-vencionada, exterior aos limites da mamoa, a toda a periferia este do monumento megalítico, abrangendo uma área total de 55m2 (Fig.2), veio confi rmar a existência de um habitat anterior à construção daquele monumento e materializado num conjun-to de cinco “cabanas”. Estruturam cada uma destas realidades buracos de poste dispostos de forma a delimitar “pisos” ovais com cerca de 4m por 3m, orientados de NNE a SSW, de que conhecemos a totalidade do perímetro nos casos das cabanas 1 e 3 (dez buracos de poste) e a quase da totalidade na cabana

Fig. 1. Localização da área de estudo na Península Ibérica e dos sítios do Neolítico Antigo na Plataforma do Mondego (sg. VALERA, 2003 – Modifi ca-do): 1- Carriceiras; 2- Mamoa da Orca 2 do Ameal; 3-Buraco da Moura de S. Romão; 4- Penedo da Penha; 5- Quinta do Soito; 6- Habitat do Folhadal; 7- Outeiro dos Castelos de Beijós; 8- Quinta da Assentada; 9- Mamoa da Orca 2 de Oliveira do Conde; 10- Quinta das Rosas.

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NEOLITIZAÇÃO E MEGALITISMO NA PLATAFORMA DO MONDEGO 3

4. Destas três cabanas conhecemos igualmente no seu interior a base de estruturas negativas ovais cuja argila se apresenta cozida e que, também por alguns restos de termoclastos que continham, interpretamos como lareiras. Das cabanas 2 e 5 ape-nas conhecemos cerca de um terço da área respectiva, pois são sobrepostas pela estrutura da mamoa do monumento megalítico do Folhadal, demonstrando, inequivocamente, a sua anteriori-dade estratigráfi ca em relação a este1.

1. Desfazendo deste modo as dúvidas a respeito levantadas por António Valera (2000: 15-16).

A pequena espessura conservada dos “pisos” das cabanas juntamente com a descoberta, durante a escavação dos cortes respectivos, de elementos de indústria lítica remobilizados em terras da mamoa da Orca do Folhadal e em tudo coerentes com os encontrados nas escavação das cabanas conduz-nos a pensar que as terras utilizadas na construção da mamoa provêm, como aliás seria de esperar, dos níveis do povoado subjacente e cir-cundante que, deste modo, apresentam as estruturas das caba-nas conservadas apenas na sua parte inferior2.

2. Estimamos que os buracos de poste e lareiras estejam reduzidos em altura a cerca de um terço das suas dimensões reais.

Fig. 2. Planta fi nal de escavação do Habitat do Neolítico Antigo do Folhadal.

Sílex Quartzo CalcárioSilicifi cado Total %

Núcleos 5 5 5,2Restos de Núcleos 9 9 9,4Flancos de Núcleo 1 7 1 9 9,4Restos de Talhe 28 1 29 30,2Produtos brutos de debitagemLascas parcialmente corticais 2 2 2,1Lascas não corticais 12 12 12,5Lamelas 11 11 11,5Lamelas parcialmente corticais 2 2 2,1Lâminas 4 4 4,2UtensíliosGeométricos sobre lasca 1 1 1Raspadores e Lascas retocadas 7 7 7,3Furador sobre entalhe 1 1 1Denticulado sobre Lasca 2 2 2,1Buril 1 1 1Furador sobre Lâmina 1 1 1Total 1 93 2 96 100

Quadro 1. Habitat do Folhadal – Inventário da Indústria Lítica de Pedra Lascada (N=96)

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JOÃO CARLOS DE SENNA-MARTINEZ & JOSÉ MANUEL QUINTÃ VENTURA4

Os materiais, predominantemente indústria lítica, prove-nientes dos cinco pisos de cabana (Quadro 1) enquadram-se bem nos conhecidos para os outros contextos regionais do Ne-olítico Antigo (Gráfi co 1). Este surge artefactualmente carac-terizado por indústrias líticas com alguma variabilidade mas predominantemente sobre suportes lamelares e em que embora estejam presentes rochas siliciosas de tipo sílex, que represen-tam mais de 50% dos conjuntos do Buraco da Moura de São Romão, Complexo 1 do Penedo da Penha e Orca 2 do Ameal, apresentam contudo percentagens signifi cativas de quartzo o qual predomina com frequências muito elevadas nos restantes conjuntos (Gráfi co 2).

O estudo dos módulos de debitagem de produtos alonga-dos nos sítios de que existe informação disponível – Carricei-ras, Folhadal e conjuntos remobilizados nas mamoas das Orcas 2 do Ameal e 2 de Oliveira do Conde3 (Gráfi co 3) – aponta para uma debitagem de cariz predominantemente lamelar (larguras

3. O pequeno número de peças sobre suportes alongados recuperado no Outeiro dos Castelos de Beijós não permite grandes conclusões estatísticas.

dos suportes inferiores a 11mm). A comparação destes quatro contextos com os contextos estremenhos da Gruta do Almon-da, Pena de Água (Carvalho, 1998) e S. Pedro de Canaferrim (Simões, 1999) reforça uma impressão que vimos referindo desde o início do estudo do sítio das Carriceiras ou seja, que existe grande semelhança entre os conjuntos líticos das duas áreas.

A olaria –proveniente dos sítios das Carriceiras, Outeiro dos Castelos de Beijós (Fig. 3), Orca 2 do Ameal, Quinta do Soito, Buraco da Moura de São Romão e Complexo 1 do Penedo da Penha– apresenta características que se integram nas tradições do Neolítico Antigo dito “evoluído” quer da área Estremenha Atlântica quer da Andaluzia (Valera, 1998), permitindo colo-car a questão de uma eventual dualidade de origens para este mundo cultural.

No estado actual dos nosso conhecimentos, o povoa-mento associado ao Neolítico antigo parece escolher locais abertos, sem condições especiais de controle da paisagem e muito menos defensivas, localizados preferencialmente em vertentes suaves ou rechãs com boa exposição a nascente ou, ainda, em abrigos sob penedos graníticos. No caso do Complexo 1 do Penedo da Penha também o abrigo abre a nascente.

A remobilização de materiais em terras das mamoas de monumentos megalíticos (casos de Ameal 2, Oliveira do Con-de 2 e Folhadal) seguida da identifi cação do Habitat do Fo-lhadal, indiciam localizações na proximidade de locais onde futuramente se desenvolverá a implantação de necrópoles me-galíticas.

Tal situação é consentânea com a nossa hipótese, de que a construção das necrópoles megalíticas no Neolítico Médio e Final vem legitimar, pela presença próxima dos antepassados, a reocupação sazonal dos territórios de invernia situados nas terras “baixas” da Plataforma do Mondego (Senna-Martinez, 1994a, 1995-1996 e 1996; Senna-Martinez, López Plaza & Hoskin, 1997).

Como resulta do do estudo palinológico de uma série de sondagens efectuadas nas décadas de oitenta e noventa nas tur-feiras da Serra da Estrela (cf. Knaap & Leeuwen, 1994), é hoje possível ler a evolução holocénica do respectivo coberto vege-tal como a sucessão de uma série de episódios de degradação cuja causa mais plausível parece ter sido a intervenção antró-pica através do pastoreio (revelada nomeadamente por indícios de desfl orestações por incêndio sem consequente regeneração integral da fl ores ta, Idem).

ARQUEOSÍTIOS

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1

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20

30

40

50

60

70

80Frequências relativas

Grupos Tipológicos

Gráfi co 1. Neolítico Antigo da Plataforma do Mondego (CARR – Car-riceiras; Q.SOITO – Quinta do Soito; COCB-C – Outeiro dos Caste-los; ORFOL-H – Folhadal; Q.ASSENT – Quinta da Assentada; BMSR – Buraco da Moura de S.Romão; CPP1 – Penedo da Penha; ORAM2 e OROC2 – Mamoas das Orcas 2 do Ameal e 2 de Oliveira do Conde.

Neolítico Antigo. Relação Restos/Productos/Utensílios

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100Frequências Relativas

ARQUEOSÍTIOS Matérias Primas

CARRORFOL-H

ORAM2 [7]OROC2-M

AlmondaSPCAN [4]

PAGUA [Eb]

Gráfi co 2. Neolítico Antigo da Plataforma do Mondego.

Neolítico Antigo - Matérias-Primas<

6 m

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6-7,

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CARRORFOL-H

ORAM2 [7]OROC2-M

AlmondaSPCAN [4]

PAGUA [Eb]0

10

20

30

40

50

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Frequências relativas

Classes de LARQUEOSÍTIOS

Gráfi co 3. Neolítico Antigo da Plataforma do Mondego e da Estrema-dura – módulos de talhe.

Neolítico Antigo. Produtos alongados em bruto e retocados

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NEOLITIZAÇÃO E MEGALITISMO NA PLATAFORMA DO MONDEGO 5

Ao contrário do que chegámos a supor (Senna-Martinez, 1995/1996), uma cronologia do V milénio cal AC4 para um pri-meiro episódio de desfl orestação, resultando em “general forest lightening, but with few and scattered clearings5” (Knaap & Janssen, 1991), pode ser consentâneo com a nova evidência disponível para o Neolítico Antigo regional correspondendo bem às cronometrias radiocarbónicas disponíveis para esta eta-pa, nomeadamente: para as ocupações da Quinta da Assentada (Valera, 2002-2003), Buraco da Pala, Fraga d’Aia e do Prazo (Sanches, 1997; Monteiro-Rodrigues, 2000 e 2002); as análi-ses palinológicas da Serra da Freita (Cordeiro, 1992) e Galiza (Fernández Rodríguez & Ramil Rego, 1994); e também para os conjuntos de datas da Estremadura (Simões, 1999), Sul de Portugal (Simões, 1999 e Diniz, 2001) e Meseta Norte (Rojo Guerra & Estremera Portela, 2000; Estremera Portela, 2003).

Conquanto nos faltem evidências arqueográfi cas directas para podermos ser conclusivos, a criação da “paisagem neolí-tica” na nossa área de estudo não parece traduzir uma ocupa-ção agrícola do espaço, dadas as características dos solos e o quadro hoje disponível para realidades posteriores, a partir do Neolítico Final (Senna-Martinez, 1995/1996; Senna-Martinez & Ventura, 2000b).

A manutenção da fl oresta densa de carvalhos nas áreas bai-xas sem evidência de desbaste (cf. Knaap & Leeuwen, 1994), a relativa ausência de elementos de moagem nos sítios de habitat conhecidos e a fraca representação (contrastando com momen-tos subsequentes) de instrumentos cortantes em pedra polida são elementos a favor da fraca componente agrícola nas econo-mias regionais deste período.

Já tivemos abundantemente oportunidade de, para a nos-sa área de estudo, defender um modelo para a economia dos construtores e utilizadores dos sepulcros megalíti cos valorizan-do práticas de recolecção (bolota e outros “frutos de Inverno”), caça e pastorícia transumante como os seus elementos funda-mentais (Senna-Martinez, 1994a, 1995 e 1998; Senna-Marti-nez, López Plaza & Hoskin, 1997). Tudo parece indicar que tal estado de coisas pode remontar aos primeiros grupos neolíticos que ocuparam este espaço, podendo o desenvolvimento dos mundos neolíticos no Neolítico Médio e Final ser interpretado

4. Esta cronologia resulta da calibragem das datas obtidas por aqueles investigadores como termini post quem para os primeiros episódios como tal interpretados nos perfi s da Candeeira (C10/D1–5730 100 BP = 4802-4354 cal AC) e da Lagoa das Salgadeiras (4/5–5700 60 BP = 4713-4369 cal AC), cf. KNAAP & JANSSEN, 1991.

5. “...uma fase de abertura geral da fl oresta mas com poucas clareiras dispersas...”.

como um processo de consolidação e intensifi cação deste tipo de economia.

2. O NEOLÍTICO MÉDIO, O PRIMEIRO MEGALITISMO

Volvido um milénio sobre o aparecimento regional das primeiras comunidades neolíticas, a pressão humana sobre os espaços da Beira Alta cresceu progressiva mente. Cerca de 4000 a.C., as linhas de cumeada e os interfl úvios entre os cursos de água vão começar a povoar-se dos primeiros marcadores artifi -ciais de um espaço crescentemente humanizado. Nascem assim as primeiras necrópoles megalíticas.

Fig. 3. Habitat do Neolítico Antigo do Folhadal. O piso da Cabana 5 “desaparecendo” sob a mamoa do monumento megalítico.

Fig. 4. Olaria do Neolítico Antigo do Outeiro dos Castelos de Beijós.

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JOÃO CARLOS DE SENNA-MARTINEZ & JOSÉ MANUEL QUINTÃ VENTURA6

A utilização de áreas formais de deposição dos mortos correlaciona-se normalmente com estratégias de utilização do espaço com fi xação sazonal ou permanente (Chapman, 1981: 80). Deste modo, os mais antigos monumentos megalíticos da Plataforma do Mondego, quase sempre de dimensões modes-tas, constituem, a um tempo, uma primeira monumentalização arquitectural funerária e verdadeiras âncoras na paisagem para populações que, por outro lado, mantêm uma grande mobilida-de sazonal.

Neste sentido os dados obtidos da escavação dos monu-mentos do Folhadal e 2 de Oliveira do Conde, ao revelarem a

existência de estruturas frontais complexas incluindo átrios e corredores intratumulares, possibilitam interpretá-las como os primeiros “espaços cénicos” ou “representacionais”, os quais fariam deste tipo de monu mentos “templos”, no sen tido pleno do termo, com espaços fechados e de acesso reservado (câmara e corredor) e es paços abertos (átrios), para um público alarga-do.

A antropização do espaço no início de um momento ple-no do Neolítico (correspon dente à emergência do fenómeno megalítico) parece estar assim associada à legitimação da ocu-pação das áreas de invernia (Outono/Inverno) através de uma recreação da paisagem que, pelo(s) acto(s) fundador(es) da(s) necrópole(s), simbolicamente garante ao grupo o usufruto do território envolvente.

O pacote artefactual associado às deposições nestes primei-ros monumentos revela, a um tempo, uma grande similitude com etapas análogas de outros grupos regionais peninsulares e também o carácter restrito dos tipos artefactuais que são, então, considerados adequados à deposição com os mortos, os quais constituem apenas uma fracção dos utilizados pelos vivos. É clara a valorização dos geométricos e lâminas sem retoque em detrimento da olaria aqui totalmente ausente. Podendo tal indi-car uma predominância do elemento masculino da sociedade o que seria consentâneo com uma economia em que caça e pasto-rícia seriam elementos fundamentais.

Os módulos de talhe identifi cados para os suportes alon-gados situam-se na transição dos claramente lamelares do Ne-olítico Antigo Regional e dos que utilizam as grandes lâminas como suporte predominante no Neolítico Final (Gráfi cos 4 e 5). Contudo, as dimensões dos produtos alongados utilizados e a predominância absoluta do sílex como matéria-prima indicam uma origem deste estranha à nossa área regional de estudo onde estão ausentes nódulos de dimensões sufi cientes para a sua pro-dução6. Dadas as condicionantes geológicas das envolventes da Plataforma do Mondego, a fonte mais próxima localizar-se-ia na orla litoral atlântica (Serras de Sicó ou da Boa Viagem na Estremadura).

A emergência de áreas formais de deposição dos mortos correlaciona-se frequentemente com períodos de desequilíbrio entre a sociedade e os recursos críticos disponíveis (Chapman, 1981: 80). Estamos em crer que na Plataforma do Mondego estes recursos estariam relacionados com os respectivos territó-rios de invernia. Se admitirmos que entre o “pacote neolítico” introduzido pelos primeiros povoadores neolíticos na Beira-Alta se encontravam os ovicaprinos, como os dados disponí-veis para os sítios do Prazo (Monteiro Rodrigues, 2002) e de Quebradas (Carvalho, 1999) revelam e o impacto antrópico na Serra da Estrela corrobora, a uma Primavera e Verão passados nos pastos altos sucederia a invernia nas terras baixas. Uma vez que, como referimos atrás, a componente agrícola da economia, a existir, não ultrapassaria uma pequena horticultura, além de forragens, os recursos essenciais à invernia passariam necessa-riamente pela caça7 e recolecção.

Se o padrão económico-alimentar de uma recolecção e tor-refacção intensiva de bolota, regionalmente detectado em ter-mos arqueográfi cos desde o Neolítico Final até ao Bronze Final (Senna-Martinez e Ventura, 2000b; Senna-Martinez & Pedro,

6. Conhecemos regionalmente fontes de produtos siliciosos de tipo sí-lex mas apenas de pequenas dimensões e permitindo apenas produ-ção de lamelas e pequenas lascas (Valera, 1997: Anexo III).

7. A relativa escassez de elementos líticos polidos nos monumentos da primeira fase e o grande número de pontas de projéctil (nas quais se podem integrar os geométricos desde a 1ª fase) presentes nos monu-mentos da fase plena são elementos que podem concorrer para a va-lorização da caça (Ventura & Senna-Martinez, 2003.), a que podemos associar diversas representações da “Arte Megalítica”.

Gráfi co 4. Comparação dos módulos de talhe dos produtos alongados em bruto e retocados entre sítios do Neolítico Antigo (CARR – Car-riceiras; ORFOL-H – Folhadal; ORAM2 [7] – Mamoa da Orca 2 do Ameal; OROC2-M – Mamoa da Orca 2 de Oliveira do Conde) e Médio (ORAM2 - Orca 2 do Ameal; ORFOL – Orca do Folhadal; ORPRA; Orca de Pramelas) da Plataforma do Mondego.

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Gráfi co 5. Comparação dos módulos de talhe dos produtos alongados em bruto e retocados entre sítios do Neolítico Antigo (CARR – Carri-ceiras; ORFOL-H – Folhadal), Médio (ORFOL – Orca do Folhadal; ORPRA; Orca de Pramelas) e Final (D1MV – Dólmen 1 dos Moinhos de Vento) da Plataforma do Mondego.

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NEOLITIZAÇÃO E MEGALITISMO NA PLATAFORMA DO MONDEGO 7

2000), for já aplicável ao Neolítico Médio, o que nada parece contrariar, então este poderia muito bem ser um dos recursos críticos por detrás da crescente apropriação territorial do espaço revelada pela implantação das necrópoles megalíticas. O surgi-mento frequente de elementos de mós manuais fragmentadas e incorporadas nas estruturas megalíticas ou até, como no caso da Orca de Pramelas (Senna-Martinez e Valera, 1989), depositadas como oferenda é inteiramente consentâneo com esta perspec-tiva.

Nesta lógica, os elementos causais predominantes8 do pro-cesso de transição entre o Neolítico Antigo e Médio na Platafor-ma do Mondego seriam por um lado o crescimento demográfi -co, por outro a necessidade de assegurar o direito de usufruto de recursos cruciais para a invernia nas terras baixas conduzindo ao nascimento regional do megalitismo.

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