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Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde ISSN: 1415-6938 [email protected] Universidade Anhanguera Brasil Resende Moura, Léa; Júnior, Arthur Francisco; Trevisan Orpinelli, Stiwens R.; Silva Francisco, Manoel Marcelo da; Coelho, Humberto Eustáquio SARCOCYSTIS NEURONA ASSOCIADO À MIELOENCEFALITE PROTOZOÁRIA EQÜINA EM PIRENÓPOLIS-GO: RELATO DE CASO Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, vol. XII, núm. 2, 2008, pp. 139-149 Universidade Anhanguera Campo Grande, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=26012841012 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Agrárias e da Saúde

ISSN: 1415-6938

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Universidade Anhanguera

Brasil

Resende Moura, Léa; Júnior, Arthur Francisco; Trevisan Orpinelli, Stiwens R.; Silva Francisco, Manoel

Marcelo da; Coelho, Humberto Eustáquio

SARCOCYSTIS NEURONA ASSOCIADO À MIELOENCEFALITE PROTOZOÁRIA EQÜINA EM

PIRENÓPOLIS-GO: RELATO DE CASO

Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, vol. XII, núm. 2, 2008, pp. 139-149

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Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde V. XII, Nº. 2, Ano 2008

Léa Resende Moura Faculdade Anhanguera de Anápolis [email protected]

Arthur Francisco Júnior Faculdade Anhanguera de Anápolis [email protected]

Stiwens R. Trevisan Orpinelli Faculdade Anhanguera de Anápolis [email protected]

Manoel Marcelo da Silva Francisco Faculdade Anhanguera de Anápolis [email protected]

Humberto Eustáquio Coelho [email protected]

SARCOCYSTIS NEURONA ASSOCIADO À MIELOENCEFALITE PROTOZOÁRIA EQÜINA EM PIRENÓPOLIS-GO: RELATO DE CASO

RESUMO

A mieloencefalite protozoária eqüina (MPE) é uma grave enfer-midade neurológica de eqüinos, causada principalmente pelo pro-tozoário Sarcocystis neurona, caracterizada por alteração na mar-cha, ataxia assimétrica dos membros posteriores, paralisia facial, fraqueza e atrofia muscular. É transmitida por gambás do gênero Didelphis que se infectam pela ingestão de tecido muscular que contém sarcocistos provenientes de um hospedeiro intermediário infectado. Os eqüinos adquirem a doença acidentalmente quando comem alimentos contaminados com fezes de gambás, que possu-em esporocistos infectantes. Depois de ingeridos, os esporocistos migram do trato intestinal para a corrente sanguínea, ultrapassam a barreira hematoencefálica e atacam o sistema nervoso central. O objetivo foi relatar um caso de mieloencefalite protozoária eqüina no município de Pirenópolis, Estado de Goiás. O diagnóstico ba-seou-se nos sinais clínicos, achados anátomo-patológicos e no re-sultado positivo para anticorpos contra Sarcocystis neurona no soro sanguíneo pela técnica de Western blot.

Palavras-Chave: Equinos, Didelphis, incoordenação motora, parasita, sistema nervoso.

ABSTRACT

The equine protozoal myeloencephalitis (EPM) is a severe neuro-logical disease of horses, mainly caused by protozoan Sarcocystis neurona, characterized mainly by changes in gait, ataxia asymmet-ric members later, facial paralysis, muscle weakness and atrophy. It is transmitted by opossums of gender Didelphis which infected by ingestion of muscle tissue that contains sarcocysts from an in-termediary host infected. The horses accidentally acquire the dis-ease when eating food contaminated with feces of opossums, which have infective sporocysts. Once ingested, the sporocysts migrate from the intestinal tract into the blood, exceeded the blood-brain barrier and attack the central nervous system. The objective was to report a case of equine protozoal myeloencephali-tis in the city of Pirenópolis, State of Goiás The diagnosis was based on clinical signs, anatomic-pathological findings and the positive result for antibodies against Sarcocystis neurona in the blood serum of Western blot technique.

Keywords: Horses, Didelphis, incoordenation motor, parasite, nervous system.

Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato

Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 [email protected]

Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE

Artigo Original Recebido em: 2/7/2008 Avaliado em: 4/8/2008

Publicação: 12 de dezembro de 2008

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1. INTRODUÇÃO

A mieloencefalite protozoária eqüina (MPE) é uma grave enfermidade neurológica de

eqüinos, causada principalmente pelo protozoário Sarcocystis neurona (STANEK et al.,

2003). Esse protozoário foi identificado em 1974 no sistema nervoso de cavalos com

MPE e pensava-se que o agente causal era o toxoplasma gondii. Em 1991, um protozoário

foi cultivado in vitro a partir de material proveniente de tecido nervoso de um cavalo

com paralisia e foi nomeado Sarcocystis neurona.

O hospedeiro definitivo é o Didelphis virginiana (FENGER, 1997a; DUBEY et

al., 2000) e o hospedeiro intermediário natural não é conhecido (DUBEY et al., 2001a).

Esporocistos de S. neurona foram recentemente isolados de gambás da espécie Didelphis

albiventris que são encontrados no Brasil (DUBEY et al., 2001b). De acordo com Stanek

et al. (2003) os gatos podem atuar como hospedeiro intermediário.

Os eqüinos acometidos costumam ter histórico de transporte, treinamento in-

tenso, parto ou qualquer outro fator que possa gerar estresse (STEPHEN; WARWICK,

2000).

A infecção ocorre após a ingestão de esporocistos presentes no alimento, água

e pastos contaminados com fezes do hospedeiro definitivo. Os eqüinos não transmitem

S. neurona a outros eqüinos ou gambás. (FENGER, 1997a). Após a ingestão dos esporo-

cistos, alcançam o estágio de esporozoitos e nas células intestinais e endoteliais vascu-

lares dos eqüinos, completam o primeiro estágio de merogonia. Em seguida, passam a

chamar-se merozoítos, que passam através do endotélio vascular da barreira hemato-

encefálica para alcançar o sistema nervoso central. Os merozoítos podem passar atra-

vés da barreira hemato-encefálica dentro de leucócitos ou atravessando os citoplasmas

das células endoteliais (GRANSTROM; REED, 1994).

A Encefalite protozoária é uma das principais causas de inflamação do sistema

nervoso de cavalos sendo o S. neurona o agente etiológico mais comumente associado à

MPE, uma doença neurológica progressiva caracterizada por ataxia assimétrica associ-

ada com atrofia muscular localizada (DUBEY, 2001). De acordo com Thomassian (2005)

as manifestações podem levar o cavalo a apresentar fraqueza, tropeçar no solo ou em

objetos, arrastar as pinças no solo, apresentar espasticidade em um ou mais membros e

incoordenação motora. Ainda segundo este mesmo autor, alterações encefálicas, para-

lisia de língua, perda de sensibilidade na córnea e nas narinas, disfagia e balançar

compulsivo da cabeça são as principais anormalidades apresentadas.

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Lesões localizadas no neurônio motor inferior da medula espinhal levam a pa-

resia e decúbito (VASCONCELLOS, 1995), e atrofia dos músculos quadríceps e glúteo

(THOMASSIAN, 2005). Já no caso de lesão sacral é observado paresia da cauda, incon-

tinência urinária e anal (RADOSTITIS et al., 2002).

O diagnóstico definitivo é realizado mediante a identificação do parasito no

sistema nervoso por visualização direta em histopatologia ou por meio de exames es-

pecíficos tais como imunohistoquímica e PCR (reação em cadeia polimerase). A detec-

ção de anticorpos contra S. neurona pela técnica de western blot no líquido cefalorra-

quidiano e no soro sanguíneo devem ser interpretados com cautela, pois apenas um

pequeno número de cavalos soropositivos desenvolve a doença (PAIXÃO et al., 2007).

O resultado positivo do teste no soro sangüíneo indica a exposição do animal ao para-

sito, enquanto o resultado positivo no líquor, indica que o parasito penetrou na barrei-

ra hematoencefálica estimulando a resposta imune local. O imunoblot (Western blot)

tem sido apontado como um teste que apresenta aproximadamente 90% de sensibili-

dade e 90% de especificidade (GRANSTRON e REED, 1994).

O diagnóstico diferencial deve incluir outras enfermidades neurológicas ou

osteomusculares tais como traumas encefálicos e medulares, mielopatia estenótica cer-

vical, doença do neurônio motor, otite média ou interna, mielite eqüina por herpesví-

rus, polineurite eqüina, mieloencefalite verminótica (FENGER, 1997; ZANATTO et al,

2006) e leucoencefalomalácia (BARROS, 2003).

A prevenção resume em impedir o acesso dos gambás às cocheiras e estábu-

los. Os gambás são onívoros e por isso deve-se evitar deixar alimentos tais como ra-

ções, grãos, frutas e lixo disponíveis a esses animais (MACKAY, 2001). Recentemente

foi desenvolvida uma vacina contra MPE, que atualmente só está liberada nos Estados

Unidos. Ela é produzida a partir de protozoários mortos, e sabe-se que não provoca e-

feitos colaterais nos animais, entretanto, testes de eficácia e potência ainda estão sendo

desenvolvidos (SILVA et al., 2003).

Segundo Stashak (2006) tratamento é baseado na utilização de drogas antipro-

tozoárias que atuam inibindo a síntese de ácido fólico. As recomendações incluem o

uso de pirimedina a 1 mg/kg a cada 24 horas, por via oral, em combinação com sulfa-

diazina ou sulfadiazina-trimetropin, por via oral, 20 a 25 mg / kg, a cada 12 horas, por

no mínimo 90 dias ou até a exame de Western blot apresentar resultado negativo. O di-

clazuril está sendo avaliado no tratamento da MPE em eqüinos. Resultados prelimina-

res de um ensaio utilizando a 2,5 mg /450 kg, por via oral, por 21 a 28 dias indicaram

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que 60 % dos eqüinos tiveram melhora nos déficits neurológicos. Outro coccidiostático

utilizado é o toltrazuril na dose diária 5 a 10 mg/kg, por via oral, por 30 dias. Além

destes, nitazoxanida outro agente antiprotozoário, também pode ser utilizado na dose

de 25 mg/kg, a cada 24 horas, por 5 dias, seguidos de 50 mg/kg, a cada 24 horas, du-

rante 23 dias. Agentes antiinflamatórios não esteroidais e DMSO, podem ser úteis, par-

ticularmente, nas fases iniciais do tratamento.

Em 1986, BARROS et al. relataram um caso de mieloencefalite por protozoá-

rios em um eqüino de 10 anos de idade, no Sul do Brasil. Posteriormente, a presença de

esquizontes e merozoítos de Sarcocystis, em cortes histológicos de sistema nervoso, foi

associada a sinais de ataxia em eqüinos (MASRI et al., 1992).

Sofaly et al, (2002) induziram MPE experimentalmente e avaliaram diferentes

doses de esporocistos de S. neurona no desenvolvimento de doença neurológica. Para

isso utilizaram 6 grupos de 4 cavalos com doses de 102, 103, 104, 105, 106 de esporocistos

de S. neurona, e um grupo controle, que foram fornecidas aos animais por meio de son-

da nasogástrica. Exames neurológicos foram realizados semanalmente e amostras de

soro sanguíneo coletadas para determinação de anticorpos pela técnica western blot.

Coletou-se líquido cerebroespinhal antes da inoculação e da eutanásia para determina-

ção de anticorpos para S. neurona. Sinais clínicos moderados foram evidenciados com

todas as dosagens administradas e foram mais pronunciados na dosagem de 106 espo-

rocistos. Lesões histológicas sugestivas de MPE foram detectadas em 4 dos 20 equinos.

Os parasitas não foram detectados por microscopia de luz e imunohistoquímica.

Paixão et al. (2007) em estudo retrospectivo de 1942 a 2005 avaliaram o SNC

de 203 equídeos dos quais 54 (62,8%) apresentavam alterações inflamatórias e foram

avaliados para detecção de antígenos de Sarcocystis neurona pela técnica de imunohis-

toquímica que foi positiva em um caso de encefalite eqüina. De acordo com os autores

este foi o primeiro caso de MPE no Brasil confirmado imunohistoquimicamente.

Importantes trabalhos epidemiológicos foram realizados no Brasil e caracteri-

zaram positividade sorológica, indicando que existiu contato com o parasita (DUBEY

et al., 1999), além disso, houve a confirmação da presença desse parasita na espécie de

gambá presente no país (DUBEY et al., 2001b). Visando contribuir com dados epidemi-

ológicos, este trabalho tem como objetivo relatar um caso de MPE em Pirenópolis, Goi-

ás.

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2. RELATO DE CASO

Foi atendido no Hospital Veterinário São Francisco de Assis da Faculdade Latino Ame-

ricana no município de Anápolis, Goiás, um Eqüino, macho, SRD, 7 anos, proveniente

de Pirenópolis, Goiás, com histórico de dificuldade em se levantar, locomoção e inco-

ordenação a mais ou menos 4 dias. O animal era utilizado para lida com gado de corte,

criado a pasto sem complementação alimentar e vacinado contra raiva. Houve também

histórico de outros dois animais que vieram a óbito em um período de três meses, com

os mesmos sinais clínicos. Ao exame clínico contatou-se incoordenação motora pro-

gressiva, déficit proprioceptivo, fraqueza muscular, ataxia, hiperestesia, sonolência,

ranger de dentes, cegueira evidenciada por miose permanente e pela incapacidade de

desvio a obstáculos, cabeça pendente, apoio contra obstáculos, disfagia e sialorréia. O

animal apresentou temperatura retal de 37,7°C, freqüência respiratória de 25 rpm, fre-

qüência cardíaca de 48 bpm, em estação, com postura e estado mental sem alteração,

micção e defecação normais. Foi realizado exame físico com completa avaliação do sis-

tema nervoso e locomotor.

Amostras de sangue total foram obtidas a cada 2 dias após anti-sepsia por

meio de punção da veia jugular em tubos a vácuo (Labnew, Ind. Comércio Ltda, Cam-

pinas, SP, Brasil.) com anticoagulante para realização do hemograma e sem anticoagu-

lante para obtenção do soro sanguíneo. O soro sanguíneo foi encaminhado congelado

para realização da pesquisa de anticorpos contra antígenos de S. neurona pelo teste de

Western blot (Equine Biodiagnostic, Lexington, KY, USA). As contagens de eritrócitos

foram realizadas na câmara de Neubauer e a contagem diferencial de leucócitos, em es-

fregaços sangüíneos corados pelo Leishman, seguindo recomendações de Jain (1986). A

determinação do volume globular foi efetuada pelo método do microhematócrito

(Quimislabor, Marília, SP, Brasil) e a determinação da hemoglobina, pelo método da

cianometahemoglobina.

Os sinais clínicos foram progressivos e a terapêutica instituída à base de sul-

fametoxazol/trimetroprima, cetoprofeno e solução glicofisiológica a 5%. No dia

28/03/2008 foi eutanasiado e realizou-se necropsia onde foram coletadas amostras de

encéfalo, tronco encefálico, cerebelo e medula espinhal. As amostras foram conserva-

das parte em formol a 10% destinada à histopatologia e outra resfriada que foi encami-

nhada para realização de diagnósticos diferenciais incluindo raiva, encefalomielite tipo

leste e oeste e herpesvírus.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Levantamento realizado na Universidade Estadual de Ohio revelou que, de 158 eqüi-

nos acometidos com MEP, 80% apresentavam comprometimento medular e apenas 6%

apresentavam alterações encefálicas, enquanto 14% manifestavam anormalidades me-

dulares e encefálicas (PEIXOTO et al., 2003). Em animais que apresentavam envolvi-

mento da medula espinhal, com freqüência, observou-se fraqueza nos membros, ataxia

e incoordenação, simétricas ou assimétricas (MACKAY, 1997). O animal em questão

apresentou alterações medulares e encefálicas. Observou-se nos testes de reação postu-

ral um “déficit” proprioceptivo nos membros torácicos e pelvinos. A sensibilidade à

dor superficial estava presente em todos os membros e no exame com o animal em

movimento pôde-se observar incoordenação dos membros pélvicos. As alterações en-

cefálicas foram evidenciadas pela cegueira central que indicou comprometimento do

segundo par de nervos cranianos e pela disfagia. De acordo com Thomassian (2005), al-

terações encefálicas observadas podem afetar qualquer núcleo dos nervos cranianos.

As principais anormalidades relacionadas aos nervos cranianos citados por este autor

foram encontradas como: paralisia do nervo facial, ataxia vestibular, incapacidade de

desvio a obstáculos, cabeça pendente, apoio contra obstáculos e sialorréia..Contudo se-

gundo RADOSTITIS et al., (2002), andar em círculos, decúbito agudo, pressionar a ca-

beça contra obstáculos e convulsões podem ser os únicos sinais clínicos observados.

Com relação aos problemas músculo-esqueléticos primários, o exame detalhado do sis-

tema locomotor excluiu essa possibilidade.

Com relação ao sexo, raça e, idade tratou-se de um eqüino, macho, SRD, de 7

anos. Nossos resultados estão de acordo com Silva et al. (2003) ao relatarem que a faixa

etária pode variar de 2 meses a 24 anos, sendo a maior ocorrência com o aumento da

idade e sem predileção aparente por raça ou sexo.

O hemograma mostrou intensa leucopenia (tabela 1). Segundo Mackay (1997),

a mieloencefalite por protozoários não produz alterações consistentes no hemograma

ou na bioquímica sérica, embora possam ser observadas anormalidades inespecíficas

como linfopenia, hiperfibrinogenemia, elevações na bilirrubina sérica, uréia e enzimas

teciduais, possivelmente relacionadas com estresse, terapia com corticóides, traumas,

anorexia e danos musculares (MACKAY et al., 1992).

Os achados de necropsia não revelaram alterações macroscópicas significati-

vas, além de hiperemia no sistema nervoso, concordando com Fenger (1997a) ao relatar

que em muitos casos não são encontradas lesões visíveis macroscopicamente. Confor-

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me Granstron e Reed (1994), lesões macroscópicas podem, quando presentes, revelar

áreas multifocais de hemorragia com perda da coloração normal do tecido nervoso e

malácia podendo ser muito discreta ou ter vários centímetros.

Microscopicamente, a medula espinhal e os tecidos cerebrais e cerebelarares

exibiram áreas de necrose com gliose reacional e focos de infiltrado linfocitário e he-

morragia na substância branca e cinzenta. Quanto as localizações das lesões, nossos re-

sultados concordam com Barros (2003), ao relatar que elas são restritas ao sistema ner-

voso, mais freqüentes na medula e tronco encefálico do que em outras partes do encé-

falo. Com relação às características microscópicas, observam-se malácia e reação infla-

matória não supurativa. O infiltrado inflamatório é geralmente formado por linfócitos,

mas podem ocorrer eosinófilos, neutrófilos e células “Gitter” (BARROS, 2003). Hahn et

al.(1999) relataram que extensas áreas de necrose com hemorragia estão presentes nos

casos mais graves e agudos. No presente estudo os microorganismos não foram visua-

lizados. Este resultado corrobora com Fenger (1997b) ao afirmar que parasitos não são

comumente encontrados, particularmente nos pacientes tratados. Quando vistos, apa-

recem como um modelo clássico em formato de rosa, dentro dos corpos celulares dos

neurônios, células microgliais ou raramente dentro das células endoteliais dos vasos

sanguíneos. A pouca quantidade de microorganismos visualizados, mesmo em lesões

extensas, sugerem que citocinas ou metabólitos celulares podem estar associados com

as lesões (DUBEY, 2001).

Mesmo que não seja possível a visualização dos parasitos, deve-se suspeitar

de EPM quando as alterações histopatológicas forem compatíveis com as da doença

(HAHN et al., 1999).

Embora o diagnóstico definitivo para a mieloencefalite protozoária eqüina seja

realizado mediante a identificação do parasito no sistema nervoso, os resultados posi-

tivos para pesquisa de anticorpos contra S. neurona no soro sangüíneo do animal rela-

tado, demonstrou que houve exposição ao parasito. Diante dos sinais clínicos apresen-

tados, da exclusão de outras enfermidades neurológicas eqüinas tais como traumas en-

cefálicos e medulares, mielopatia estenótica cervical, doença do neurônio motor, otite

média ou interna, encefalomielite por vírus tipo leste e oeste, encefalite por herpesví-

rus, raiva e dos resultados positivos para pesquisa de anticorpos contra S. neurona no

soro sangüíneo do caso relatado, pode-se concluir que houve exposição do animal ao

parasito fechando o diagnóstico em Mieloencefalopartia protozoária eqüina.

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Tabela 1. Hemograma de um eqüino (Gaúcho) com mieloencefalite protozoária eqüina.

Hemácias (/µL) 7.130.000

Hemoglobina (g/dL) 12,33

Volume Globular (%) 51,89

Leucócitos (/µL) 600

Neutrófilos (/µL) 102

Linfócitos (/µL) 486

Monócitos (/µL) 12

Eosinófilos (/µL) 00

Basófilos (/µL) 00

Figura 1. Foto macroscopia: hiperemia cerebral.

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Figura 2. Microscopia (H.E.) 100x. Medula espinhal com áreas de gliose reacional.

Figura 3. Microscopia (H.E.) 40x. Medula espinhal com manguito perivascular linfocitário.

REFERÊNCIAS

BARROS, C. S. L.; BARROS, S. S.; SANTOS, M. N.; SILVA, C. A. M; WAIHRICH, F. Mieloencefalite eqüina por protozoário. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.6, 1986, p.45-49.

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