n.magazine nº 5 :: preview

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OUTONO 2011 R$ 12 nmagazine.com.br VIAGEM Tailândia com filhos pequenos EXCLUSIVO Entrevista com Carolina Herrera BEM-ESTAR Benefícios da yoga infantil AUTISMO Crianças em um mundo particular LITERATURA Livros para ler antes de crescer PARA A NOVA GERAÇÃO DE PAIS magazine magazine ISSN 2176-6371 9 7 7 2 1 7 6 6 3 7 0 0 7 0 0 0 0 5

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A revista para a nova geração de pais

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ENT REVISTACarolina HerreraEm uma conversa exclusiva com a n.magazine, a herdeira do império fashion CH fala sobre maternidade, rotina atribulada e seu engajamento em temas ambientais

SAÚDEBem-vindo à minha bolhaUma reportagem especial apresenta o que é e como se manifesta o autismo e revela histórias de mães que aprenderam a conviver com filhos que têm o distúrbio

MODALost in translationO filme de Sofia Coppola foi o ponto de partida para o belo ensaio de moda clicado por André Brandão na Avenida Paulista, com styling de Flávia Padilha

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MODAOutonalAs tendências, estilos e cores para a moda infantil neste outono são revelados no ensaio fotografado pelo Javier Ferrer Vidal em Valência, na Espanha

VIAGEMBela ThaiQue tal visitar a exótica Tailândia com seus filhos? A publicitária Patrícia Papp percorreu o país com sua família e nos conta suas impressões e dicas

BEM-ESTARSemente de yogaConheça os benefícios da prática da yoga para o desenvolvimento físico, social e pessoal das crianças e confira uma aula montada especialmente para elas

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A culinária de sabores marcantes, as praias-cartão-postal, as cores vibrantes, a cultura exótica e os templos, muitos templos. Todas as imagens icônicas da Tailândia sempre me fascinaram. Quando surgiu a oportunidade de uma viagem de quase um mês para lá, nem passou pela minha cabeça deixar passar essa chance. Detalhe: com dois filhos pequenos – o Pedro tinha seis anos e a Luiza, um ano e dois meses. “Que loucura!”, alguns me diziam. Mas não foi um decisão toma-da no impulso, simplesmente por minha fascinação pelo país. Já tinha ouvido falar que os tailandeses eram super child friendly, e isto era um ótimo começo. Outro aspecto positivo é que a Tailândia é um destino barato para os brasileiros: um indicativo de que ficaríamos bem instalados com as crianças sem gastar muito. Além disso, eu adoro a culinária tailandesa e sabia que eles consomem muitas frutas, como melancia e abacaxi, então a alimentação também não parecia ser um empecilho – por via das dúvidas, levei um bom estoque de leite em pó, papinhas e barrinhas de cereais na mala.

Tailândia em família? A publicitária Patrícia Papp, autora do livro Crianças a Bordo – Como Viajar com Seus Filhos Sem Enlouquecer (Ed. Pulp), desbravou o país com o marido e os pequenos Pedro e Luiza e nos conta sua aventura Texto PATRÍCIA PAPP Fotos ClAudIo RuARo e NuNo PAPP Mapa FABIo dudAS

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Quando eu era criança e não entendia algum instinto mais abrupto da minha mãe, ela sempre me respondia com a frase “Mãe é bicho”. Eu não dava muito crédito e, de certa forma, até debochava dessa resposta excêntrica dela. Isso até me tornar mãe... No milésimo de segundo após o nascimento da minha filha, eu me transformei em bicho. Posso afirmar que o instinto de proteção da cria é tão intenso e avassalador que chega até a assustar a minha parte humana. Se a enfermeira da mater-nidade atrasasse para trazer meu filhote para amamentar, eu rosnava. Se eu achasse que ela a retirava do berço sem deli-cadeza, eu claramente bufava! Qualquer pessoa que ousasse tocar minha filha sem lavar as mãos antes, eu rugia! Não é qualquer um que eu gosto que a pegue no colo. Juro, não sou uma mãe fresca ou cismada com as pessoas, mas tem momentos em que, se uma pessoa que nunca vi na vida quiser tirar meu bebê do meu colo, eu vou mugir mesmo. Dou um exem-plo: estava mamãe-leoa (eu) e papai-urso (marido) com nossa gatinha almoçando calmamente num restaurante quando um senhor se aproximou e disse: “Ah, que gracinha! Que menininha mais sorridente! Olha aqui para o vovô, olha!? Dá vontade de sequestrar uma belezinha dessas!” Minha Nossa Senhora da Aparecida, me segura! Eu vou voar no pescoço desse homem e em dois segundos estraçalhá-lo! Eu devo ter feito uma cara de touro olhando para o pano vermelho que se agitava que o vovozinho foi embora rapidinho com o rabo entre as pernas. Pois é, virei bicho! Sou capaz de passar fome, frio, sono... Tudo só para ter a certeza de que meu rebentinho está bem. A todas as mães e pais bichos que, como eu, urram, grasnam, chirlam, latem, relincham, piam e cacarejam, saibam que não são os únicos. E fiquem tranquilos, lamber a cria é saudável!

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Silvia Faro, 31 anos, é atriz, licenciada em Letras, apresentadora do programa Mãe de Primeira Viagem no YouTube e mãe de Lis, de 8 meses. silvinhafaro.com.br

pMãe é bicho pPor SILVIA FARO Ilustração BWOKAA

Sonhei que estava em um labirinto e não parava de correr. O labirinto era rosa. Tinha água e fantasmas. Quando eu pedia algo, aparecia. Então disse “escada”, e escapei por ela. Jesus, Espanha

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Elmonstruodecoloresnotieneboca é um projeto no qual artistas de todo o mundo desenham os sonhos descritos por crianças. Quer ver o sonho de seu filho ilustrado na n.magazine? Envie um email para [email protected] contando a história. Não esqueça de colocar a palavra SONHO no “assunto” do email.

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Sim, pode ser um cavalinho... ou o animal que a imaginação mandar! Com design de formas inusitadas, é revestido de couro sintético ecológico e pode ser encontrado também na versão sem rodinhas– ideal para os cowboys menorzinhos. Aiooooooooooo, Silver? loludi.com.br

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Não é à toa que nossa colunista de tendências, Murielle Bressan, está sempre antenada com as novidades no mercado infantil. Ela percorre as principais feiras do setor no mundo para selecionar para os leitores os produtos que virão por aí e também para escolher novos produtos para as suas lojas Nobodinoz, localizadas em Barcelona. Mas não é preciso ir até a Espanha para ver os brinquedos, roupas e itens de decoração garimpados por Murielle. No site, há um shopping online com tudo. E o melhor: a entrega pode ser feita no Brasil! nobodinoz.com

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A visita ao incrível Museu Inhotim, em Brumadinho, pertinho de Belo Horizonte, rende surpresas até o final. Na lojinha, peças de design como este banco infantil e jogos de memória descolados garantem mais alguns bons momentos de contato com a arte. inhotim.org.br

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As estampas divertidas já são marca registrada da grife Ovo. Na coleção de inverno 2011, elas passeiam por épocas distintas, da era dos grandes dinossauros a um futuro com robôs e estranhos seres de Marte. Já dá para embarcar nessa máquina do tempo? familiaovo.com

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O quarto do filho precisa de vida nova? Que tal colocar monstrinhos inspirados em toy art subindo pelas paredes? Ou então apostar nos adesivos-brinquedo da Playstick. Tem pista de carrinhos e até a tradicional amarelinha. É só colar no chão para começar a brincadeira. playstick.com.br

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Carolina Herrera carrega o peso de ter o mesmo nome da mãe, a fundadora do colosso fashion CH, e está à frente da criação das fragrâncias da grife. Mas ela quer

mais. Mãe de três filhos, nos últimos anos, tornou-se porta-voz de programas ambientais e investe em projetos que envolvem a educação ecológica de crianças

Por NACHO LARRAZABAL, de Madri

Filha de uma das grandes figuras mundiais da moda, o que se esperava de Carolina Herrera é que crescesse à sua sombra. Porém, essa empresária, nascida em Caracas, na Venezuela, desde cedo se empenhou para não ser mera coadjuvante da história de sucesso da mãe. Cursou Bioquímica e Biologia em Nova York e começou a trabalhar na empresa familiar em 1997. Há 14 anos, leva com pulso firme e extremo êxito o de-partamento de criação das fragrâncias Carolina Herrera, uma das principais bandeiras da marca. O casamento com o toureiro-celebridade Miguel Báez “El Litri”, em 2003, a fez trocar Nova York por Madri, na Espanha, onde fixou sua base para criar os três filhos pequenos – de seis, cinco e dois anos e meio. Ao seu papel de mãe e de empresária, nos últimos anos, também tem somado o de figura defensora da ecologia e da proteção ao meio-ambiente. Atividade que desenvolve desde seu posto como embaixadora do The Climate Project, impulsionado pelo ex-vice-presidente americano Al Gore e através da criação da Baby Deli, platafor-ma multidisciplinar que nasceu com a ideia de orientar as mães sobre os benefícios para os filhos – e para o meio-ambiente –

dos produtos orgânicos e que conta com uma rede de lojas com espaços para cursos e oficinas focados na educação ecológica dos pequenos. Foi no estúdio da Baby Deli de Madri que Carolina Herrera recebeu o repórter Nacho Larrazabal. “Seu look simples e elegante, seu aspecto jovem e o sorriso relaxado transmitem uma grande sensação de serenidade, algo surpreendente tendo em conta o ritmo frenético da sua rotina diária”, conta Nacho. Na entrevista para n.magazine, ela fala sobre seu papel de mãe, sobre a avó Carolina Herrera e revela como ensina os filhos a respeito dos cuidados com o meio-ambiente.

Diretora de criação das fragrâncias Carolina Herrera, embaixa-dora da Fundação Al Gore, seu trabalho na Baby Deli, mãe de três crianças... De onde tira tempo para tudo?Como tudo na vida, é uma questão de organização. Algumas vezes você tem que dizer não a muitas coisas interessantes, e para outras, não resta outro remédio senão sacrificar sua vida pessoal pelo trabalho. É um pouco como um jogo, um quebra-ca-beças no qual tem que ir buscando o lugar adequado para cada peça. Se você gosta do que faz e não cria nenhum drama, dá para

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Os novos desafios da herdeira do imperio CH

Carolina Herrera carrega o peso de ter o mesmo nome da mãe, a fundadora do colosso fashion CH, e está à frente da criação das fragrâncias da grife. Mas ela quer

mais. Mãe de três filhos, nos últimos anos, tornou-se porta-voz de programas ambientais e investe em projetos que envolvem a educação ecológica de crianças

Por NACHO LARRAZABAL, de Madri

Filha de uma das grandes figuras mundiais da moda, o que se esperava de Carolina Herrera é que crescesse à sua sombra. Porém, essa empresária, nascida em Caracas, na Venezuela, desde cedo se emprenhou para não ser mera coadjuvante da história de sucesso da mãe. Cursou Bioquímica e Biologia em Nova York e começou a trabalhar na empresa familiar em 1997. Há 14 anos, leva com pulso firme e extremo êxito o de-partamento de criação das fragrâncias Carolina Herrera, uma das principais bandeiras da marca. O casamento com o toureiro-celebridade Miguel Báez “El Litri”, em 2003, a fez trocar Nova York por Madri, na Espanha, onde fixou sua base para criar os três filhos pequenos – de seis, cinco e dois anos e meio. Ao seu papel de mãe e de empresária, nos últimos anos, também tem somado o de figura defensora da ecologia e da proteção ao meio-ambiente. Atividade que desenvolve desde seu posto como embaixadora do The Climate Project, impulsionado pelo ex-vice-presidente americano Al Gore e através da criação da Baby Deli, platafor-ma multidisciplinar que nasceu com a ideia de orientar as mães sobre os benefícios para os filhos – e para o meio-ambiente –

dos produtos orgânicos e que conta com uma rede de lojas com espaços para cursos e oficinas focados na educação ecológica dos pequenos. Foi no estúdio da Baby Deli de Madri que Carolina Herrera recebeu o repórter Nacho Larrazabal. “Seu look simples e elegante, seu aspecto jovem e o sorriso relaxado transmitem uma grande sensação de serenidade, algo surpreendente tendo em conta o ritmo frenético da sua rotina diária”, conta Nacho. Na entrevista para n.magazine, ela fala sobre seu papel de mãe, sobre a avó Carolina Herrera e revela como ensina os filhos a respeito dos cuidados com o meio-ambiente.

Diretora de criação das fragrâncias Carolina Herrera, embaixa-dora da Fundação Al Gore, seu trabalho na Baby Deli, mãe de três crianças... De onde tira tempo para tudo?Como tudo na vida, é uma questão de organização. Algumas vezes você tem que dizer não a muitas coisas interessantes, e para outras, não resta outro remédio senão sacrificar sua vida pessoal pelo trabalho. É um pouco como um jogo, um quebra-ca-beças no qual tem que ir buscando o lugar adequado para cada peça. Se você gosta do que faz e não cria nenhum drama, dá para

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Os museus infantis convidam as crianças a descobrir o mundo que as rodeia com os cinco sentidos. Arte, cultura e ciências são apresentadas a elas em atividades interativas – e com muita diversão! Por roCÍo MACHo

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Não ultrapasse. Não toque. Não fale. Entre tantas boas lembranças das idas aos museus nos tempos da escola, também ficou decorada a lista de restrições a que éramos submetidos. Encostar naquele quadro supercolorido que chega a dar vertigem? Não. Posso entrar debaixo do dinossauro? Nem pensar. E se eu cruzar essa linha amarel... Lá vem o segurança com cara de buldogue. Para a sorte da nova geração, tem se multiplicado nos últimos anos o número de museus infantis. Locais onde, ao invés de serem proibidas de tocar nas peças, as crianças são incentivadas a se aproximar, experimentar e descobrir por si próprias os mistérios da natureza, da arte e de outros temas. Esses museus são desenhados especial-mente para que elas, através da brinca-deira e de experiências educativas cheias de interatividade, aprendam a conhecer e compreender a complexidade de seu entorno. Algo essencial para a turma que passa horas na frente da TV ou do videogame. O psicólogo americano Daniel Goleman ressalta em seu livro O Espírito Criativo (Editora Cultrix), que as crianças de hoje “dispõem de mais informações sobre uma maior variedade de lugares e coisas, porém, têm menos experiências em profundidade”. Ou seja, elas até sabem mais, mas compreendem menos os proces-sos pelos quais acontecem as coisas ao seu redor. Os museus infantis podem, de certa forma, suprir parte dessa carência. A ideia de um museu para crianças não é de hoje: o primeiro foi criado em Nova York em 1899. Mas nos últimos anos eles têm se multiplicado. “A tendência é que vá continuar na mesma linha, já que cada vez mais comunidades buscam enriquecer a vida cívica e familiar com os museus para crianças”, diz Janet Rice Elman, diretora da Association of Children’s Museums, entidade que agrupa mais de 500 museus infantis. Conheça a seguir, algumas dessas instituições onde, sim, é permitido tocar, falar e dar asas à imaginação.

a minha BOLHA ,Ben-vindo

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Enquanto os meninos de 7 anos vibram com os saltos do Homem-Aranha, Diego prefere seus brinquedinhos de borracha. Matheus, de 11 anos, pode passar horas no gira-gira do parquinho, sem sentir-se atordoado

ou notar a presença de outra criança. Já Lucas, de 8 anos, tem madrugadas agitadas, sem dormir, quando recebe uma visita em casa. Diego, Matheus e Lucas não gostam de sair de casa, não estudam em uma escola convencional e evitam o contato visual, seja com desconhecidos ou com parentes próximos. Os três são portadores do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e têm uma visão muito particular do mundo. “Os autistas enxergam o mundo de maneira caótica e vivem em confusão permanente. Recebem as informações fragmenta-das e não conseguem organizá-las de forma coerente”, explica o psiquiatra Estevão Vadasz, coordenador do Programa de Transtornos do Espectro Autista (Protea) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, de São Paulo. Por não saber decodificar essa cascata de informações, sofrem de problemas comportamentais. “O autista é voltado para si próprio e sua maior dificuldade é a comunicação. Eles têm uma captação sensorial diferente, confusa. Minha filha, por exemplo, diz que correr é vermelho e já conheci crianças que, quando comem sal, dizem que sentem frio ou que, quando escutam um barulho, decodificam uma cor”, conta Eliana Boralli, psicóloga e fundadora da Associação dos Amigos da Criança Autista (Auma). Eliana é mãe de Natália que, aos 2 anos, parou de andar, falar e voltou para a fralda. Um caso raro de autismo, no qual a criança tem uma primeira infância aparentemente normal e depois começa a regredir. Depois de passar por diversos consultórios, saga comum entre os pais com filhos especiais, Eliana teve o diagnóstico e o prognóstico que, na adolescência, Natália teria de ser internada em uma clínica. “Se eu deixasse, minha filha ficaria na quina da parede, de costas para o mundo, balançando o corpo o dia todo, mas resolvi lutar”, diz Eliana. No quintal da sua casa, fundou a Auma para receber crianças que tinham o mesmo problema e não conseguiam estudar em uma escola convencional e passou a estudar o distúrbio. “Eu poderia ter sido uma vítima do autismo e ter me entregue, mas daí minha dor teria sido maior do que o amor que tenho pela minha filha”, diz. Para ela, o conhecimento é o melhor caminho para os pais de crianças especiais. “Cada mãe tem de construir o seu manual. Ler muito, ter contato com outros pais na mesma situação, trocar informações. Com isso, o medo, a negação, a angústia, a culpa, tudo tende a melhorar”, ensina. “Com os estudos, Natália voltou a ser minha filha e eu passei a ter novamente domínio sobre ela, não tinha mais medo dela porque nada mais me era desconhecido”, diz Eliana.

estima-se que 1 em cada 110 crianças seja portadora de autismo. apesar disso, ainda há muita falta de informação e erros de diganóstico relacionados ao distúrbio. Conheça como ele se manifesta e histórias de mães que aprenderam a entender o mundo particular de seus filhos Por RENATA GALLO Ilustrações MIGUEL GALLARDO

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A ilustradora Julie Hendriks mudou-se recentemente da casa onde morava com sua família em Haia, na Holanda. Como despedida, ela fotografou para a n.magazine o lar onde seus filhos viveram os primeiros anos Por EDUArDo BUrCKHArDT

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Uma casa para lembrar

Paredes e mais paredes para rabiscar livremente com giz colorido. Balanço bem no meio do corredor. Não apenas um, mas vários cômodos para brincar – e ser feliz. Essas talvez sejam algumas das imagens que os pequenos Puck e Beer vão lembrar da primeira casa na qual viveram. Para sua mãe, a ilustradora Julie Hendriks, autora do belíssimo blog Berlala (juliehendriks.blogspot.com), as recordações vão ainda mais longe. O casarão, localizado num simpático bairro entre a praia e o Centro de Haia, na Holanda, era a an-tiga oficina de seu pai. Foi um local onde circulou por toda a infância e que depois serviu de primeira moradia para todos os seus irmãos quando saíam das asas dos pais e, até o final

do ano passado, para ela e sua família. Antes de dar adeus ao lar que observou os primeiros passos de Puck e Beer, Julie fotografou para a n.magazine os cômodos preferidos de sua (agora antiga) casa e contou detalhes que podem inspirar os pais a construir para seus filhos um lugar que, certamente, também será repleto de boas recordações .

O que você levou em conta ao decorar sua casa?Tinha que ser lugar no qual pudéssemos viver bem com nossos filhos, com muitos espaços para brincar – e lugar para um balanço e um trampolim! E também precisava ser acolhedor, onde houvesse inspiração para desenhar e pintar.

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LOST IN TRANSLATIONFotografia ANDRÉ BRANDÃO Styling FLÁVIA PADILHA

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Fotografia JAVIER FERRER VIDAL Styling ANALIA LANFRANCO

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Fotografia e styling Le Jeans

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ja pra rua!Fotografia e styling Le Jeans

1. Têmis TIP TOEY JOEY 2. Saila de tule, acervo. Calça sarouel GREEN. Galocha estampada SANTA PACIÊNCIA. 3. Tênis RONALDO FRAGA PARA FILHOTES para BIBI.4. Camiseta EL CABRITON. Calça CAMÚ-CAMÚ. Tênis BIBI5. Vestido CAMÚ-CAMÚ. Bota PAMPILI.

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A culinária de sabores marcantes, as praias-cartão-postal, as cores vibrantes, a cultura exótica e os templos, muitos templos. Todas as imagens icônicas da Tailândia sempre me fascinaram. Quando surgiu a oportunidade de uma viagem de quase um mês para lá, nem passou pela minha cabeça deixar passar essa chance. Detalhe: com dois filhos pequenos – o Pedro tinha seis anos e a Luiza, um ano e dois meses. “Que loucura!”, alguns me diziam. Mas não foi uma decisão to-mada no impulso, simplesmente por minha fascinação pelo país. Já tinha ouvido falar que os tailandeses eram super child friendly, e isto era um ótimo começo. Outro aspecto positivo é que a Tailândia é um destino barato para os brasileiros: um indicativo de que ficaríamos bem instalados com as crianças sem gastar muito. Além disso, eu adoro a culinária tailandesa e sabia que eles consomem muitas frutas, como melancia e abacaxi, então a alimentação também não parecia ser um empe-cilho – por via das dúvidas, levei um bom estoque de leite em pó, papinhas e barrinhas de cereais na mala.

Tailândia em família? A publicitária Patrícia Papp, autora do livro Crianças a Bordo – Como Viajar com Seus Filhos Sem Enlouquecer (Ed. Pulp), desbravou o país com o marido e os pequenos Pedro e Luiza e nos conta sua aventura Texto PATRÍCIA PAPP Fotos ClAudIo RuARo e NuNo PAPP Mapa FABIo dudAS

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Já pensou em cultivar autoconhecimento, concentração e calma em seus filhos? a prática dessa atividade milenar pode ajudar no melhor desenvolvimento físico, social e pessoal das crianças Por GREICE COSTA Ilustrações ThAíS UzAn

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Nossas crianças vivem em um mundo bem mais agitado daquele que habitamos quando éramos menores – pai e mãe superocupados, computadores, informações de todo tipo e uma agenda infantil que deve comportar de pressões da escola a horários para se exercitar, além de atividades ex-tracurriculares que as “preparam” para um mercado compe-titivo. Não à toa, há cada vez mais problemas ligados a essa quantidade de estímulos a que estão expostas, como déficit de atenção, depressão, ansiedade e obesidade infantil. Nesse mar de informações, a prática de yoga pode ser um alívio. “O autoconhecimento é um dos maiores benefícios trazidos pela atividade, em qualquer idade”, diz o professor de yoga e pedagogo João Soares, do Yoga com Histórias, que oferece aulas para crianças, cursos, livros e CDs. Conhe-cendo melhor quem é, a criança apropria-se de seu corpo e de suas características emocionais, ganhando mais capaci-dade em conseguir se acalmar e manter a autoconfiança. O processo funciona como um todo. Por meio das posturas de yoga, os ásanas, a criança conhece cada parte do seu corpo, suas capacidades e limitações em força, flexibilidade e equilíbrio. Alguns professores adicionam histórias ou meditações guiadas nas aulas. “É uma oportunidade para a criança entrar em contato com valores importantes, como a não violência e a verdade, que nem sempre são aprofun-dados fora de casa”, diz Rosa Muniz, pedagoga e professora

Semente de yoga

IOGA PARA O BOM DESEMPENHO NA ESCOLA

• O fortalecimento dos músculos de sustentação da coluna e do abdome permite que a criança mantenha naturalmente uma boa postura, oca-sionando melhor oxigenação para o cérebro. Isso contribui para o seu desempenho em qualquer situação, principalmente quando passa tantas horas do dia sentada na sala de aula.

• Os exercícios respiratórios ajudam a ter mais controle sobre a sua respi-ração e, consequentemente, sobre a agitação mental. Por isso, são um excelente recurso para se usar antes de provas ou de estudar.

Fonte: João Soares e Rosa Muniz, do Yoga com Histórias

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a jornalista inglesa Julia eccleshare, que reuniu em um livro as 1001 melhores obras da literatura infantil mundial, fala à n.magazine sobre a importância da leitura para as crianças e revela as dez obras que ocupam o topo da lista na sua opinião Por RAFAEL TEIXEIRA

Para ler antes de crescer

Detalhe da capa do livro de Julia Eccleshare que reuniu as 1001 melhores obras da literatura infantil mundial

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Qual é o seu livro de infância preferido? Editora da seção de literatura infantil do jornal The Guardian, consultora sobre o tema para a BBC, escritora, professora e crítica, a inglesa Julia Eccleshare titubeia diante da pergunta. “Meus favoritos mudam o tempo todo”, diz. Agraciada com diversos prêmios por sua contribuição à difusão da literatura para crianças, esta mãe de quatro filhos foi a responsável pela edição do livro 1001 Children’s Books You Have to Read Be-fore You Grow Up (em tradução literal, “1001 Livros Infantis que Você Tem que Ler Antes de Crescer”), de 2009 – e que em breve será lançado no Brasil em versão traduzida. Para chegar aos 1001 livros da lista, Julia contou com dezenas de conselheiros espalhados pelo mundo, que deram dicas preciosas sobre livros que ela não conhecia – do Brasil, por exemplo, foram incluídos dois: Bisa Bia, Bisa Bel, de Ana Maria Machado, e Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcellos. Mais de 70 colaboradores escreveram os verbetes de livros de diversos países, que vão desde tem-pos antes de Cristo até os dias de hoje. Em entrevista exclu-siva à n.magazine, Julia fala sobre a importância da leitura e os requisitos de uma boa publicação para crianças: “No coração de todo bom livro infantil deve haver uma história poderosa.” E ainda faz a sua própria lista dos dez melhores livros infantis – mesmo sabendo que amanhã, é claro, eles poderão ser outros.

Quanto tempo levou da ideia à publicação e quais foram as principais dificuldades?Tudo levou dois anos. Foi um longo tempo até a finalização da lista! O critério foi reunir clássicos que perduraram ao longo dos anos e os melhores dos livros publicados mais recentemente. No Reino Unido, não temos o espírito muito aventureiro no que diz respeito a ler livros de outros países. Então, foi vital ter bons colaboradores de toda parte do mundo. O desafio seguinte foi encontrar pessoas para es- crever sobre cada um dos livros que escolhemos. Para a nos-sa sorte, ótimos professores, bibliotecários e especialistas de todo o mundo colaboraram escrevendo os verbetes.Que diferenças você percebeu entre as literaturas infantis dos países ou mesmo dos continentes pesquisados?Uma das coisas interessantes sobre livros infantis é que, apesar de haver muitas diferenças de um país para outro, porque todas as histórias dizem algo sobre o lugar e o tem-po em que são escritas, eles também têm muito em comum para crianças de onde quer que sejam. Esta é uma razão pela qual livros infantis podem ser lidos e apreciados em qualquer parte do mundo. A história é uma linguagem uni-

versal. Além disso, uma mesma história pode ocorrer em diferentes países no mesmo espaço de tempo. Os grandes temas – família, crescimento, encontrar coragem, ser bom etc – são a pedra fundamental da ficção infantil.Quais são os requisitos para um bom livro infantil?No coração de todo bom livro infantil deve haver uma história poderosa. E esta história serve bem às crian-ças, se existem bons personagens. Elas começam a ler por divertimento. E assim que descobrem que as histórias podem ser divertidas, estão prontas para aprender a amar as complexidades da ficção e tudo que ela oferece, a capacidade de explorar mundos passados, presentes e futuros da imaginação.Qual é a importância dos livros para a infância? Acredito que ler ainda é muito importante para qualquer criança. Dá a elas a chance de usar a imagi-nação e serem livres no modo de pensar. Livros são instrumentos muito poderosos para abrir a mente dos leitores! É com muita leitura que as crianças aprendem a pensar de forma diferente de seus pais... Isso pode ser perigoso em alguns casos, mas é sem-pre muito empolgante! Como você vê a relação das crianças com os livros hoje em dia?Com tantas mídias disponíveis e, especialmente com o surgimento das redes sociais, as crianças têm tido a chance de serem entretidas de várias formas. Os livros hoje têm que competir com tantas, tantas outras formas de divertimento. Mas eles vão so-breviver! Histórias permanecem como o coração de todo o entretenimento cultural. Atualmente, muitos cineastas, dramaturgos e até criadores de games estão se voltando para os livros infantis como fonte de inspiração.Como essa relação entre crianças e livros mudou nas últimas décadas?No Reino Unido, desde 1950 vem sendo dito que as crianças vão substituir a leitura pela televisão ou outra mídia moderna. Surpreendentemente, como resultado do enorme sucesso dos livros de Harry Potter, de J.K. Rowling, as obras infantis não apenas sobreviveram como suplantaram o sucesso da TV. A leitura é e sempre será uma forma mais ativa e demandante de acesso a entretenimento, o que significa que ela estará sempre lutando contra outras formas mais passivas de diversão.