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    INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXVI Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao BH/MG 2 a 6 Set 2003

    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Relaes Pblicas e Comunicao Organizacional, XXVI CongressoAnual em Cincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    A NOVA ASSESSORIA DE IMPRENSA

    Panorama e perspectivas na sociedade informacional

    Laura Maria Gluer

    Jornalista

    Mestranda em Comunicao Social na PUC-RS

    Nas ltimas dcadas, uma srie de mudanas est marcando o comportamento dos

    indivduos e organizaes. Cada vez mais, a sociedade compreendida a partir de suasferramentas tecnolgicas e possibilidades de comunicao e interconexo, em uma lgica de

    redes.

    Neste contexto, as novas tecnologias e suas possibilidades comunicacionais cumprem

    papel relevante, como pano de fundo de um novo modelo de sociedade, denominado, segundo

    Castells (1999), de sociedade informacional. Trata-se de uma nova lgica de modelo social

    que tem sua estrutura baseada em redes, enfatizando o papel da informao em seu

    desenvolvimento. O termo se assemelha ao usado para definir a sociedade industrial, noapenas como uma sociedade onde h indstrias, mas como uma sociedade na qual as formas

    sociais e tecnolgicas de organizao industrial permeiam todas as esferas de atividade.

    Neste novo modelo de sociedade, a instantaneidade e a abrangncia ilimitada de

    difuso eliminaram os intervalos de tempo entre o momento da materializao dos fatos e sua

    divulgao. O ambiente de difuso das notcias est mudando rapidamente. Conforme enfatiza

    Mamou (1992, p.13), a diferena entre o momento em que o acontecimento se produz e o de

    quando ele difundido tende a se anular. Confirma Neves (2002, p.17), exemplificando:

    Em 1937, quando o Zeppelin Hindenburg chocou-se com uma torre e explodiu emNew Jersey, matando 39 pessoas, um locutor de rdio descrevia emocionado o que sele via. Nos dias seguintes, jornais publicaram as fotos. Em 11 de setembro de 2001,acompanhamos ao vivo o desabamento das torres do World Trade Center.

    Alm da amplitude de alcance, existe nos dias atuais uma enorme diversidade de

    canais, mdias e interlocutores. Antigamente, quando um fato negativo afetava uma pessoa ou

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Relaes Pblicas e Comunicao Organizacional, XXVI CongressoAnual em Cincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    organizao, havia defasagem de tempo at que o pblico tomasse conhecimento e reagisse.

    Prossegue Neves (2002, p. 17):

    Com a mdia observando o que se passa no mundo ininterruptamente, 24 horas pordia, pode acontecer que uma empresa venha a saber muito depois da torcida do

    Flamengo que o seu produto principal, seis sigma, o xod da organizao,campeonssimo de vendas, provocou mortes de consumidores.

    Hoje, a defasagem de tempo acabou, abrindo espao no somente para o surgimento

    de um novo fluxo informacional, muito mais dinmico, mas tambm para uma nova forma de

    expresso da opinio pblica, entendendo-se aqui a manifestao dos diferentes grupos

    sociais.

    Cabe ressaltar, conforme Castells (1999), que a prpria organizao se estrutura em

    uma lgica de redes, concretizando a economia informacional pois fora das redes, a

    sobrevivncia ficar cada vez mais difcil s organizaes. Neste contexto, discute-se o

    papel das organizaes frente a um cenrio onde imperam, como vimos, a instantaneidade e a

    abrangncia.

    Crises na sociedade informacional: o papel da mdia

    A suscetibilidade organizacional a crises junto opinio pblica tende a aumentar na

    sociedade informacional. Alm de manter uma cultura de comunicao, as organizaes

    devem criar uma cultura de comunicao em tempo real para atender, com velocidade

    diferenciada, a uma gama crescente de necessidades de comunicao de seus diferentes

    pblicos. Precisam aprofundar relaes com a comunidade, disseminar melhorias em suagesto ambiental, cuidar com ateno redobrada da comunicao com seu pblico interno.

    A vigilncia da sociedade, em parte decorrente do novo fluxo informacional vigente e

    tambm resultado do avano dos regimes democrticos no mundo, criou a necessidade de

    uma agenda de mudanas na comunicao das organizaes. O olhar atento dos

    consumidores, contribuintes e rgos de imprensa vo requerer das organizaes uma atuao

    transparente, com inevitveis penalidades para aquelas que ousarem esconder suas crises.

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Relaes Pblicas e Comunicao Organizacional, XXVI CongressoAnual em Cincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    O cotidiano organizacional feito de crises. Qualquer organizao, com ou sem fins

    lucrativos, independentemente de tamanho, ramo de atividade, origem, reputao, etc, pode

    vir a enfrentar uma crise com a opinio pblica. Entende-se por crise organizacional com a

    opinio pblica, conforme Neves (2002, p.15):

    uma situao que surge quando algo feito pela organizao ou deixado de fazer

    ou ainda de sua responsabilidade afeta, afetou ou poder afetar interesses de

    pblicos relacionados empresa e o acontecimento tem repercusso negativa junto

    opinio pblica.

    Nesta mesma linha, Lopes (2000, p.67) enfatiza que: qualquer coisa negativa que

    escape ao controle da empresa e ganhe visibilidade tem potencial para detonar uma crise.

    Admite-se como crise, do ponto de vista de comunicao, acontecimentos que pelo seu

    potencial tm o poder de desestabilizar organizaes e governos e suscitar pauta negativa na

    mdia. Muitos so os exemplos de como o mundo dos negcios e a sociedade so cada vez

    mais sensveis forma como as crises so divulgadas e resolvidas.

    Neves (2002) relembra o caso relativamente recente do Fokker 100 da TAM, que saiu

    do aeroporto de Congonhas, em So Paulo, com 99 pessoas a bordo e caiu logo depois da

    decolagem em bairro na periferia. O relato descreve como todos na empresa e seu fundador e

    ento principal dirigente Comandante Rolim foram para linha de frente, facilitaram o

    entendimento por parte da imprensa e tambm da opinio pblica sobre o problema tcnico,

    explicando didaticamente a questo do reverso. Tambm aborda o assessoramento s famlias

    das vtimas, ainda que tempos depois a TAM tenha enfrentado um longo processo acerca das

    indenizaes. Na viso do autor citado, o que foi feito, evidentemente, no fez esquecer a

    tragdia, mas amenizou uma crise de grandes propores com a opinio pblica.

    Outro episdio recente relatado pelo mesmo autor envolve um menino de 7 anos, que

    teve seu olho atingido por um brinquedo distribudo dentro do ovo de chocolate da marca

    Trakinas, produzido pela Kraft Foods do Brasil. Na narrativa, Neves (2002) explica que a

    empresa transferiu o menino do SUS para um apartamento particular, localizou o melhor

    oftalmologista da regio, deslocou um profissional de comunicao para o hospital a fim de

    lidar com a imprensa e autoridades. Paralelamente, trs mil vendedores foram convocados

    para fazer o recall dos ovos de Pscoa que estavam nas dezenas de milhares de postos de

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Relaes Pblicas e Comunicao Organizacional, XXVI CongressoAnual em Cincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    venda. Para Neves (2000), esta mais uma histria de habilidade no gerenciamento de crises

    organizacionais com a opinio pblica, que serve para ilustrar este estudo.

    Os dois exemplos citados reforam que preciso, em momentos de crise, informar e

    agir com agilidade e transparncia, sob pena de aprofundar os prejuzos e comprometer a

    imagem organizacional. Poderamos citar inmeros outros exemplos de acertos e desacertos

    neste sentido e analisar teoricamente algumas discusses correntes no meio organizacional,

    como a manuteno de comits para gerenciamento de crises nas empresas, mas lembramos

    que nosso tema principal no so as crises, mas a atuao das organizaes frente a esta nova

    sociedade informacional na qual a suscetibilidade s crises muito maior.

    Na sociedade informacional proposta por Castells (1999), a mdia constitui o grandereverberadordas crises organizacionais, campo social no qual os interesses tornam-se visveis

    na batalha pela conquista do apoio da opinio pblica. A crise passa pelos meios de

    comunicao, porque eles instalam-se nas grandes encruzilhadas da atualidade, diz

    Mamou (1992). Por essa razo, a imprensa deve ter tratamento diferenciado nas crises

    organizacionais, porque tem a capacidade de atingir todos os pblicos.

    As organizaes podem e devem ser pr-ativas e prover informaes aos meios de

    comunicao para que suas informaes possam ser includas na cobertura. Conformeestabelece o conceito de agenda-setting so os meios de comunicao que determinam quais

    acontecimentos, assuntos e problemticas, figuram na agenda de preocupaes da opinio

    pblica, como temas importantes. Na viso de Wolf (1995, p.146): tematizar um problema

    significa, de fato, coloc-lo na ordem do dia da ateno do pblico, dar-lhe o relevo

    adequado, salientar a sua centralidade e o seu significado em relao ao fluxo da informao

    no tematizada.

    J ao demarcar o territrio em que transita a notcia empresarial, entendendo-se aquide forma mais ampla notcia organizacional, Rego (1986, p.123) observa tambm que: alm

    de estar contida no arcabouo da teoria jornalstica, sua dimenso relaciona-se com a

    necessidade da organizao de criar e manter fluxos de comunicao para sobreviver.

    Finalmente no se pode deixar de mencionar que, em relao ao valor-notcia, que

    faculta a uma informao a possibilidade de ganhar relevncia jornalstica (Wolf, 1995),

    avana a importncia da macrointerlocuo de interesses de trs instncias: do pblico, da

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Relaes Pblicas e Comunicao Organizacional, XXVI CongressoAnual em Cincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    prpria imprensa e tambm das fontes, no nosso caso, as fontes organizacionais. Conforme

    Wolf (1995, p.175) valores-notcia podem ser assim caracterizados:

    Definida a noticiabilidade como o conjunto de elementos atravs dos quais o rgo

    informativo controla e gere a quantidade e o tipo de acontecimentos dentre os quais

    selecionar as notcias, podemos definir os valores-notcia (news values) como umacomponente da noticiabilidade. Esses valores constituem a resposta pergunta

    seguinte: quais os acontecimentos que so considerados suficientemente

    interessantes, significativos e relevantes para serem transformados em notcias? (...)

    So critrios de relevncia espalhados ao longo de todo o processo de produo; isto

    , no esto presentes apenas na seleo das notcias, participam tambm nas

    operaes posteriores, embora com um relevo diferente.

    Profissionais de comunicao: interlocutores da organizao

    Na interlocuo das fontes organizacionais com a imprensa esto empresas de

    consultoria ou assessoria, departamentos, setores e profissionais que atuam em uma atividade

    denominada assessoria de imprensa. Para Duarte (2002, p.236), a assessoria de imprensa

    historicamente definida pela gesto dos fluxos de informao e relacionamento entre fontes

    e jornalistas

    Com o passar do tempo, no entanto, os profissionais que atuam nesta atividade viram

    ampliadas suas possibilidades de atuao. Em muitos casos, o profissional deixou de se

    limitar ao relacionamento com os jornalistas (embora a importncia permanea) para ser um

    administrador da informao de interesse de diversos pblicos da organizao. Ainda segundo

    Duarte (2002, p.236), o nome assessoria de imprensa passou a ser restritivo diante desse

    papel mais amplo de comunicador.

    A atividade de assessoria de imprensa est inserida em uma rea modernamente

    denominada comunicao organizacional. Entende-se por comunicao organizacional, na

    viso de Nassar e Figueiredo (1995, p.19), a somatria de todas as atividades de

    comunicao da empresa, elaborada de forma multidisciplinar. Goldhaber (1984, p.32)

    assim a define:

    A comunicao organizacional considerada como um processo dinmico por

    meio do qual as organizaes se relacionam com o meio ambiente e por meio do

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Relaes Pblicas e Comunicao Organizacional, XXVI CongressoAnual em Cincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    qual as subpartes da organizao se conectam entre si. Por conseguinte, a

    comunicao organizacional pode ser vista como o fluxo de mensagens dentro de

    uma rede de relaes interdependentes.

    Comunicao organizacional tambm aparece como novo paradigma das relaes

    pblicas, na viso de Kunsch (1997, p.33):

    as relaes pblicas acabaram perdendo seu espao como gerenciadoras da

    comunicao organizacional. Foi o resultado da falta de uma viso estratgica por

    parte do setor. A rea no soube ler e interpretar os sinais do tempo, para captar as

    grandes oportunidades, que se delineavam com as mudanas em curso.

    Embora nosso estudo no tenha a pretenso de aprofundar a discusso sobre novos

    paradigmas para as diferentes reas da Comunicao Social, podemos dizer, a partir da

    diviso proposta por Curvello (2002, pg. 122):

    que a comunicao organizacional foi sendo desenvolvida por pesquisadores comoKunsch, Simes, Peruzzo, entre outros, no espao das relaes pblicas, e Torquato,

    Bueno, Chaparro, para citar alguns, na rea de jornalismo empresarial.

    Optamos nesta pesquisa pela vertente do jornalismo empresarial, como referencialterico, por acreditar ser ela a mais adequada para descrever e analisar a atividade de

    assessoria de imprensa. A seguir, vamos traar um breve panorama desta atividade e suas

    pespectivas na atual sociedade informacional.

    A trajetria da atividade de assessoria de imprensa

    Os profissionais que hoje atuam na atividade de assessoria de imprensa so de certaforma herdeiros de um jornalista americano chamado Yve Lee. Com um bem sucedido

    projeto profissional de relaes com a imprensa, a servio do poderoso cliente John

    Rockefeller, baro do capitalismo norte-americano, no incio do sculo XX, Ivy Lee

    conquistou o ttulo de fundador das relaes pblicas, bero da atividade de assessoria de

    imprensa, conforme Chaparro (2002, p.33,34).

    Chaparro (2002, p.36,37) tambm descreve que Lee estabeleceu um pequeno conjunto

    de regras tico-morais no trato com a imprensa, em favor do pressuposto da confiabilidade.

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Relaes Pblicas e Comunicao Organizacional, XXVI CongressoAnual em Cincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    Comprometeu-se a fornecer notcias apenas notcias e a colocar-se disposio dos

    jornalistas, sempre que solicitado, para respostas honestas e verdadeiras. A partir de uma

    carta de princpios enviada aos principais editores, Ivy Lee criou fatos noticiveis e com

    eles formou valores sobre os quais moldou a nova imagem de seu cliente. Apesar das crticas

    e julgamentos que muitos autores tendem a conotar em relao ao fundador das relaes

    pblicas e da assessoria de imprensa, no h como lhe recusar o fato de ter criado o conceito e

    a prtica do informante profissional competente, no nosso entender uma das funes mais

    importantes da comunicao organizacional contempornea.

    No Brasil, a atividade de assessoria de imprensa desenvolveu-se nos ltimos 30 anos.

    Em 1967, aps a realizao do I Concurso Nacional de Revistas e Jornais de Empresa,organizado pela Associao Brasileira de Administrao de Pessoal nasce a Associao

    Brasileira de Editores de Revistas e Jornais de Empresa (Aberj), hoje Associao Brasileira de

    Comunicao Empresarial - ABERJE, como descreve Kunsch (1997, p.57).

    A ABERJE contribuiu e continua mantendo papel fundamental no aperfeioamento

    das publicaes empresariais e no desenvolvimento da comunicao organizacional no Brasil.

    Para Kunsch (1997, p.59), possvel detectar duas etapas distintas na trajetria da entidade:

    de 1967 a 1983, em que a preocupao dominante girava em torno da profissionalizao daspublicaes empresariais e, de 1983 at hoje, em que a atuao concentra-se em uma viso

    mais abrangente da comunicao organizacional.

    Voltando ao desenvolvimento da rea de comunicao organizacional e da atividade

    de assessoria de imprensa no Brasil, Kunsch (1997, p.62) menciona a criao em So Paulo

    da empresa Proal, em 1968, que teve como um de seus fundadores Manuel Carlos Chaparro e

    consistiu em uma forma pioneira de terceirizao dos servios de comunicao. A principal

    atividade dessa empresa era a assessoria, a planificao, a execuo editorial e a supervisotcnica de jornais e revistas para terceiros, alm da produo de relatrios, boletins, folhetos

    promocionais e reportagens especiais. A Proal era integrada pelo Centro de Pesquisa de

    Jornalismo Empresarial (Cepeje), que alm de estudo sistemtico sobre jornalismo

    empresarial, manteve contatos efetivos e intercmbio de informaes com outras entidades,

    editava os Cadernos Proal, que na poca representaram notvel avano para o setor.

    Em 1971, surge a assessoria de imprensa da Volkswagen, apontada como pioneira no

    Brasil. Como relata Chaparro (2002, p.45), o setor de imprensa da montadora, orientado

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Relaes Pblicas e Comunicao Organizacional, XXVI CongressoAnual em Cincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    jornalisticamente, tornou-se fonte de consulta obrigatria para editores, pauteiros e

    reprteres de economia das grandes redaes, atuando como alimentador de pautas. Duarte

    (2002, p.85) tambm cita o pioneirismo da assessoria de imprensa da Volkswagen: a

    primeira estrutura formada em uma organizao privada para atuar com relacionamento

    planejado, sistematizado e permanente com a imprensa, numa perspectiva estratgica.

    Na dcada de 1980, consolida-se a ocupao jornalstica no segmento profissional de

    assessoria de imprensa. Em 1986, como relata Duarte (2002, p.92), o Manual de Assessoria de

    Imprensa da Federao Nacional dos Jornalistas (FENAJ) torna-se referncia histrica ao

    legitimar e balizar a prtica do jornalismo especializado em assessoramento de imprensa,

    orientando, inclusive, que a produo de publicaes seria um dos seus produtos.A presena de jornalistas na coordenao de aes de comunicao nas organizaes

    tem se confirmado at os dias atuais, como revela a pesquisa realizada pela ABERJE, em

    2002, que buscou identificar o uso e os meios da comunicao corporativa, com amostragem

    de 100 empresas em todo pas 58 indstrias, 9 empresas do ramo do comrcio e 36

    empresas prestadoras de servios. Nesta pesquisa, constatou-se que 54% dos profissionais

    encarregados pela rea de comunicao das organizaes so jornalistas. A rea de relaes

    pblicas responsvel por 32% dos profissionais que atuam nesta rea, seguida por marketing(15%), administrao de empresas (13%) e publicidade (10%). Vrios profissionais tm mais

    de uma formao acadmica, sendo comum a dupla jornalismo/administrao de empresas e

    relaes pblicas/marketing.

    No se trata aqui de analisar a formao acadmica, mas qual profissional atualmente

    est conseguindo dar conta de forma mais gil e abrangente dos desafios da comunicao

    organizacional na nova sociedade informacional. Palma (1994, p.16) define da seguinte forma

    a questo do profissional que estar frente deste processo:

    se a comunicao organizacional macrorea, se relaes pblicas, publicidadee propaganda e jornalismo so subsistemas, ento fica estabelecido que o

    gerenciamento do supersistema, do processo global no atribuio pr-definida,

    de nenhum dos subsistemas e sim do profissional melhor habilitado.

    Apesar da rea estar sendo cada vez mais povoada por jornalistas, talvez pelo senso de

    urgncia natural da profisso adequar-se mais facilmente ao modelo de sociedade vigente,

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    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Relaes Pblicas e Comunicao Organizacional, XXVI CongressoAnual em Cincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    cabe ressaltar, como temos observado na prtica e enfatiza a pesquisa da ABERJE, que a

    formao destes profissionais ampla e o trabalho em si conta com o apoio de diferentes

    reas da organizao jurdico, recursos humanos, etc. Para Nassar (2002), neste princpio

    de sculo, a gesto da comunicao tende a ser, cada vez mais, multidisciplinar com

    contribuies de praticamente todos os setores das cincias humanas e das organizaes.

    Como atua a nova assessoria de imprensa?

    Nas condies que se estabeleceram, em especial no mercado brasileiro, e pelas novas

    demandas, o assessor de imprensa deixou de ser mero emissor de releases, despontando hojecomo produtor ou mesmo executivo de informaes. Tambm encontramos referncias ao

    fato deste profissional apresentar-se, cada vez mais, como intrprete do macroambiente, isto

    , da nova sociedade informacional em curso, oxigenando a organizao.

    Muitas so as atribuies e processos hoje a cargo de uma assessoria de imprensa,

    compreendendo aqui sua atuao mais ampla na rea de comunicao organizacional. Cada

    vez mais, este setor que est pensando estrategicamente, coordenando e executando as aes

    comunicacionais da organizao, oferecendo apoio tomada de deciso e facilitando aconvergncia de objetivos.

    As organizaes deixaram de reter informaes para tornarem-se instituies

    produtoras de contedos da atualidade com valores-notcia na nova sociedade informacional.

    Atualmente, uma assessoria de imprensa pode editar publicaes, elaborar contedos para

    internet, atuar com planejamento, gesto de equipes, poltica, comunicao interna,

    divulgao e uma srie de outras atividades.

    Superar o confinamento ao aspecto operacional desta rea de atuao e a tradicionalimagem de atividade-meio, assumindo viso estratgica, prospectando cenrios, montando

    diagnsticos, planejando, coordenando e avaliando so alguns dos desafios do assessor de

    imprensa na sociedade informacional, ou do novo assessor de imprensa como ousamos

    propor.

    O envio de um release, o agendamento de uma entrevista ou o servio de clipping,

    quando simples tarefas, mantm-se operacionais. Quando vinculadas a polticas e planos de

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    ao da organizao, por exemplo, buscando determinada finalidade, tornam estas tarefas

    estratgicas.

    Afinal, nas organizaes que se estruturam como redes hiperconectadas

    internamente e com o ambiente, a viso de comunicao tende a mudar de mero instrumento

    e recurso para ser a essncia da organizao (Curvello, 2002, p.134). A hiptese que estas

    organizaes s existem porque uma rede de comunicao viabiliza a construo de sua

    identidade.

    Estudos apontam para o papel educador do profissional de comunicao nestas

    organizaes, compartilhando habilidades de comunicao por toda a rede e sensibilizando

    para a importncia de manter relaes transparentes e honestas com os diversos pblicos.Alm de atuar diretamente na interface com a mdia, este profissional destina aes para um

    trabalho pedaggico interno abrindo perspectivas fechadas e unindo vises fragmentadas,

    comuns no universo das organizaes.

    Nesta perspectiva, por exemplo, esto inseridos os treinamentos para fontes,

    conhecidos como Media Training. Conforme Lopes (2002, p. 408), o termo designa cursos

    encomendados pelas assessorias de comunicao, com o objetivo de otimizar o contato das

    fontes da empresa com a mdia. Entre os temas abordados esto o conhecimento sobre as peculiaridades do modo de produo da notcia, dos interesses da imprensa e outras regras

    bsicas para uma boaperformance enquanto fonte.

    Outra atuao freqente dos profissionais que atuam na atividade de assessoria de

    imprensa a coordenao de comits ou sistemas de gerenciamento de crises nas

    organizaes, prtica que se dissemina em muitas empresas. Para Forni (2002, p. 374) estes

    comits so formados por pessoas ligadas direo, com poder de deciso, acionadas to

    logo ocorra algum acontecimento capaz de ameaar a imagem da empresa ou provocarrepercusso negativa na opinio pblica. O comit sinaliza os pontos vulnerveis da

    organizao e, com isso, define objetivos, estratgias e tticas para o enfrentamento das crises.

    As novas tecnologias tambm permitem a inovao de algumas das prticas de

    assessoria de imprensa. A distribuio de releases a uma lista de jornalistas especfica pode

    ser combinada com a criao de uma sala de imprensa no website da organizao. Nas

    palavras de Penteado Filho (2002, p.350):

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    uma pgina desenvolvida especificamente para este pblico na qual estoreunidas informaes como notcias, eventos, posicionamentos, informaes sobre

    produtos e servios, lista de contatos, banco de imagens e possibilidades de busca,

    entre outras.

    Segundo o referido autor, o website da organizao tambm lugar nobre para abrigar

    informaes e posicionamentos quando ocorre alguma crise.

    Inserem-se nesta discusso as ouvidorias, funo que cresce nas organizaes por

    permitir o encaminhamento de demandas de forma direta e com possibilidade de interferir na

    gesto, em muitos casos sob a responsabilidade da assessoria de imprensa.

    Concluses

    Muitas so as possibilidades comunicacionais na nova sociedade informacional.

    Certamente, no esgotaremos aqui sua discusso, mas esperamos ter trazido tona uma

    reflexo acerca de um campo importante da comunicao, cada vez mais demandado do ponto

    de vista das organizaes, e para o qual, na nossa opinio, os profissionais da comunicao

    nem sempre esto sendo preparados. Por preparo, entenda-se aqui no somente a formao

    acadmica, mas resistncias culturais que o prprio modus operanti da comunicao vem

    impondo ao longo de dcadas.

    Ser preciso uma discusso mais ampla entre profissionais de comunicao,

    empresrios e lideranas para uma melhor compreenso do papel desta nova assessoria de

    imprensa no contexto de uma sociedade informacional? Ser preciso que jornalistas libertem-

    se da ditadura da produo miditica como nico referencial da profisso e que relaes

    pblicas aceitem uma discusso mais ampla da rea da comunicao organizacional para que

    a atividade seja legitimada de fato? Ser necessrio um amplo redesenho curricular nos cursos

    de comunicao, repensando a estrutura atual que cristaliza e no permite o dilogo das

    habilitaes para uma formao mais ampla do comunicador, se entendermos e defendermos

    que no campo da Comunicao Social que deve estar o gerenciamento deste processo

    importante da sociedade informacional?

    Com indagaes desta natureza talvez possamos consolidar e legitimar no somente a

    assessoria de imprensa, mas a rea de comunicao organizacional como um todo, permitindo

  • 8/3/2019 Nova Assessoria de Imprensa

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    INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXVI Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao BH/MG 2 a 6 Set 2003

    1 Trabalho apresentado no Ncleo de Relaes Pblicas e Comunicao Organizacional, XXVI CongressoAnual em Cincia da Comunicao, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003.

    que os profissionais de comunicao assumam de forma definitiva seu papel estratgico para

    as organizaes nesta nova sociedade informacional. Esta a nossa luta, nosso desafio

    acadmico e tambm nossa motivao.

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